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Apostila Legislação

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Legislação 
 
 
 
Índice 
 
Apresentação 02 
 
Contextualização 02 
 
Relevância 02 
 
Bibliografia 03 
 
Avaliação 05 
 
Aula 1 – Direito – Conceitos, noções gerais e aspectos relevantes 06 
 
Aula 2 – Dos Direitos e Garantias Fundamentais 13 
 
Aula 3 - A Segurança Pública no Ordenamento Jurídico brasileiro 19 
 
Aula 4 - O Profissional de Segurança Pública e a juridicidade de sua atuação 29 
 
Aula 5 - Resposta Penal à Criminalidade e sua Análise no Contexto da 
Segurança Pública 36 
 
Aula 6 - Políticas Criminais de Drogas e de Desarmamento 42 
 
Trabalho final 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Apresentação 
 
O estudo desta disciplina pretende traçar os principais institutos jurídicos que tenham 
pertinência com a matéria do presente curso, que seja a segurança pública. Inicialmente, 
vivendo em um Estado Democrático de Direito, devemos ter ciência que toda e qualquer 
política de segurança a ser criada deve estar em sintonia com os ditames inerentes a 
este modelo constitucional, o qual define uma intervenção regrada e limitada por lei. Esta 
lei, quando respaldada pelo modelo supracitado, ao definir os crimes e as regras 
processuais, legitimará o poder público na prevenção e intervenção punitiva tendo por 
fim a proteção dos bens jurídicos tidos como relevantes pela sociedade. 
 
Contextualização 
 
O Estado Democrático de Direito idealizado e desejado pelo constituinte originário 
caminha a passos firmes rumo a sua solidificação no Brasil. A Constituição Republicana 
de 1988 é defendida por todos, e nesse contexto, o Estado deixou de ser um fim em si 
mesmo e, gradativamente, focou seus esforços na satisfação dos legítimos interesses da 
sociedade. O cidadão passou a ter consciência de seu papel e importância no contexto 
social, digamos que tenha abandonado as praxes passivas, e em postura ativa, exige, a 
todo instante, a concretização e a preservação de seus direitos e garantias, sejam 
individuais, coletivos ou difusos. Neste cenário, imposições arbitrárias, apoiadas 
exclusivamente na vontade da autoridade não são mais aceitas como outrora. Toda e 
qualquer restrição a direitos deve encontrar fundamento na legalidade, 
proporcionalidade, necessidade e adequação, caso contrário será combatida pelos seus 
destinatários. 
 
Relevância 
 
Muito ainda há que se fazer para que o cidadão tenha serviços públicos condizentes com 
sua dignidade, porém, são explícitas as melhoras já alcançadas. Neste contexto, importa 
salientar a exigência de concurso público para a investidura em cargo ou emprego 
público, as diversas formas de controle da administração e a transparência vivenciada 
atualmente, os diversos órgãos públicos e civis que aos poucos se interam da destinação 
das ações e verbas públicas. No entanto, em todo esse desenvolvimento experimentado, 
o certo é que a vida em sociedade ainda clama pela presença do Estado. A sociedade 
para manter sua sobrevivência impõe normas de condutas a serem seguidas. Ao ser 
humano não é permitida a livre e incondicionada satisfação dos seus interesses. Caso 
 
 
 
 
 
 
 
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contrário, retornaríamos à barbárie, a um estado de natureza, situação em que só os 
mais fortes encontrariam voz. E mais, por vezes, a harmonia social é quebrada por 
conflitos de interesses. Diante disso, dependendo da natureza do bem jurídico, o Estado 
deixa a vontade da parte sua solução ou intervém de modo brando. Mas, quando os 
valores de maior relevo para a sociedade são violados, o Estado age de forma mais 
enérgica, impondo punições mais graves, inclusive com a privação da liberdade aos seus 
transgressores. A atividade policial, com nítida natureza de ato administrativo, encontra 
limites que buscam tutelar (proteger) a dignidade humana, bem como a legitimidade da 
atuação estatal.O profissional de Segurança Pública deverá agir dentro das balizas 
definidas em lei, alinhado com o propósito firme de ser um agente defensor da dignidade 
da pessoa humana. O bom policial é justamente aquele que defende a sociedade por 
meio da proteção de seus indivíduos, e isso implica, obrigatoriamente, em enxergar o 
cidadão, mesmo que infrator, como detentor de direitos e garantias fundamentais, 
inerentes à sua condição de pessoa humana. 
 
Bibliografia 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
AMARAL, Luiz Otavio de Oliveira. Direito e segurança pública: a juridicidade 
operacional da polícia. Brasília: Consulex, 2003. 
BEATO, Cláudio C. Políticas Públicas de Segurança: Equidade, Eficiência e 
Accountability. Belo Horizonte: UFMG, 1998. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 
2008. v. 1. Parte Geral. 
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10ª ed. Brasília: UnB, 1999. 
BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasil, DF. 
Senado, 1988. 
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2007. 
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2002. 
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. 5ª ed. rev. São 
Paulo: Saraiva, 2002. 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 
1996. 
______. A Verdade e as Formas Jurídicas. Rio de Janeiro: Nau Ed, 1999. 
 
 
 
 
 
 
 
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LAZZARINI, Álvaro. Direito Administrativo da Ordem Pública. Rio de Janeiro: 
Forense, 1987. 
KANT DE LIMA, Roberto. A polícia da cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e 
pardoxos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. 
______, Polícia, Justiça e Sociedade no Brasil: uma abordagem comparativa dos 
modelos de administração de conflitos no espaço público. Curitiba: Revista Sociologia e 
Política, 13 de novembro de 1999. 
MEIRELLES, Helly Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 
2001. 
MENEZES, Sidraki da Silva. Atividade policial: direitos e garantias individuais. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2004. 
MISSE. Michel. Crime e violência no Brasil contemporâneo: estudos de Sociologia do 
Crime e da Violência Urbana. Rio de Janeiro: Lumen & Juris, 2006. 
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2003. 
_________. Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2003. 
OLIVEIRA, Cláudio Brandão de. Manual de direito administrativo. Niterói: Impetus, 
2008. 
SETTE CÂMARA, Paulo. Reflexões sobre segurança pública. Belém: Imprensa oficial 
do Estado do Pará, 2002. 
SILVA, Jorge da. Criminologia crítica: segurança e polícia. Rio de Janeiro: Forense, 
2007. 
SOARES, Luiz Eduardo. Violência e política no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relumé 
Dumara, ISER, 1996. 
________. Segurança tem saída. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. 
WACQUANT, Loic. As Prisões da Miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Avaliação 
 
Em todas as disciplinas da pós-graduação online existem: 
 
Avaliação formativa 
Não valem ponto, mas são importantes para o aprofundamento e a fixação do conteúdo: 
 
 Atividades de fixação: são atividades de passagem, presentes 
dentro das aulas; são testes contextualizados ao conteúdo 
explorado. 
 Exercícios de autocorreção: questões para verificação da 
aprendizagem; são essenciais, pois marcam a sua presença em 
cada aula. 
Avaliação somativa 
Formam a sua nota final nesta disciplina: 
 Temas para discussão em fórum: aprofundam e atualizam os temas 
estudados em aula, além de ser um espaço para tirar suas dúvidas. Sua 
participação vale ponto; 
 Prova em data especificada no calendário acadêmico do curso, que será 
realizada no seu Pólo; 
 Trabalho final da disciplina: Fundamentado nas discussões das aulas 
online. Escolha um dos temas propostos abaixo,escreva uma resenha de 
no máximo uma lauda em arquivo do Word e envie para seu professor 
online: 
Tema 1: Direitos e Garantias Fundamentais já são realidade no Brasil? 
Tema 2: O Título V da Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988 refere-se à Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, sendo 
o Capítulo I – Do Estado de Defesa e Do Estado de Sítio, O Capítulo II – 
Das Forças Armadas e o Capítulo III – Da Segurança Pública. Porque o 
legislador decidiu incluir a Segurança Pública na Defesa do Estado. 
Tema 3: Como o Direito se torna um meio de adaptação e controle social? 
 
Orientações sobre a realização do trabalho podem ser obtidas com o professor online no 
Fórum de Discussão , no tópico Orientações do Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 1: Direito – Conceitos, noções gerais e aspectos relevantes 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Explicar o fundamento do Direito na sociedade moderna; 
2) Diferenciar Direito Objetivo do Subjetivo; 
3) Relacionar o Direito com a justiça; 
4) Contrastar vigência, validade e eficácia. 
 
Estudo dirigido da aula: 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
Olá! Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina Legislação. 
 
A presente aula visa traçar alguns conceitos que objetivam proporcionar a compreensão 
da ciência do Direito, da relação deste com a sociedade e definir seus aspectos principais, 
bem como sua exteriorização através da norma jurídica como delimitadora do 
comportamento humano. 
Boa aula! 
 
Não cabe no presente curso um 
aprofundamento das várias vertentes que 
procuram definir e analisar as origens do 
Direito, bem como seus vários conceitos e 
ramificações, mas, tão somente, lançar luz 
sobre as bases necessárias a fim de nos 
ajudar a compreender melhor a relação entre a segurança pública e seu necessário 
contexto jurídico-legal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Considerando que o homem ou a mulher é um ser que vive em sociedade e a sua relação 
com os outros membros do grupo deve ser pacífica, criou-se um conjunto de regras com 
a função de garantir uma “convivência ordenada”. 
 
O Direito, com isto, seria um compêndio normativo da conduta humana, determinando 
quais condutas serão consideradas proibidas mediante determinado instrumento coativo, 
protegendo os valores mais relevantes para o corpo social, buscando solucionar os 
eventuais conflitos que poderiam emergir caso não houvesse disposições claras ditando 
as regras de convivência entre os indivíduos. 
 
Apesar da Constituição em vigor no inciso II de seu art. 5º assegurar que “ninguém será 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, quase tudo 
em nossas vidas, em nosso dia a dia, é regrado pelo direito. Quando dirigimos nosso 
carro, quando compramos algo no mercado, no exercício de nosso trabalho e até quando 
nos relacionamos com alguém, estamos praticando atos juridicamente relevantes. 
 
A Sociedade e a Cultura 
 
O ser humano, para sua subsistência, sempre se valeu de bens concedidos pela natureza 
para se alimentar, se abrigar, se aquecer, etc. Todavia, em determinado momento, 
começou a alterar o estado das coisas transformando-as e sujeitando-as às suas 
necessidades, criando assim bens culturais. 
 
Podemos definir cultura como tudo aquilo que o indivíduo constrói sobre a base da 
natureza, quer para modificá-la, quer para modificar-se a si mesmo. 
 
Se um ser humano pega uma maçã da macieira para alimentar-se, estará adquirindo um 
bem natural, porém, se ele a utiliza para fazer uma torta e usa a casca para fazer um 
quadro, teremos um bem cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O Direito como Ciência Cultural 
 
Logicamente, toda ciência é um bem cultural, pois passa a integrar o patrimônio cultural 
daquela sociedade, uma vez que ela se apropria do conhecimento sobre o objeto 
estudado. Aquelas que estudam os fenômenos naturais, como a Biologia, a Geologia, a 
Física e a Química são “ciências naturais”, enquanto os estudos feitos sobre o próprio ser 
humano e sobre sua atividade consciente são as “ciências culturais”. 
 
O Direito, por sua vez, como regras que tentarão definir o “dever ser” do comportamento 
humano dentro daquele grupo social, será estudado e interpretado pela ciência do Direito 
que terá como objeto não só as leis, mas também como elas se manifestam na 
sociedade. 
 
Enquanto ciência, o Direito possui um método lógico e dedutivo que parte de uma 
premissa geral (a lei) para chegar a uma conclusão particular. Porém, o processo 
legislativo que cria estas leis e as decisões que selecionam os bens jurídicos, e as 
relações sociais que serão tutelados pelas normas, não são objeto do Direito como 
ciência (salvo as normas que regulam a produção destas leis). Só as normas já 
promulgadas interessam para o seu estudo. 
 
Segundo Miguel Reale e sua teoria tridimensional, a palavra Direito possui três 
aspectos: normativo, enquanto inserido em um ordenamento jurídico; fáctico, em sua 
efetividade social e histórica; e axiológico, enquanto valor de justiça. 
 
Principais distinções 
 
Direito Natural X Direito Positivo: O Direito Positivo é aquele que se encontra 
estabelecido em legislação promulgada, presente em alguma norma emanada pelo 
Estado, que em algum momento entrou em vigor e que já teve ou continua tendo 
eficácia. O Direito Natural seria anterior ao próprio Estado, pois diz respeito a 
determinadas garantias inerentes ao ser humano que já nascem com ele e, por isso, não 
poderiam ser atingidas nem pelo Direito Positivo. 
 
Direito Objetivo X Subjetivo: O Direito Objetivo é o conjunto de normas que estão em 
vigor, enquanto o Direito Subjetivo é a possibilidade de exigir-se, de maneira garantida, 
aquilo que as normas de direito atribuem a alguém como próprio (ex.: o direito de exigir 
o pagamento de uma dívida não paga). 
 
 
 
 
 
 
 
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O Direito e a Justiça 
 
Segundo Aristóteles, justo é aquele que cumpre a lei, a qual deve ser compreendida 
como o ato do Estado que tem por finalidade satisfazer o bem comum, sendo justos os 
atos que tendem a produzir e a preservar a felicidade e os elementos que a compõe para 
a sociedade política. Também, para este filósofo, seria justa a busca da igualdade, da 
proporcionalidade, a fim de se alcançar o equilíbrio entre as necessidades e os interesses 
dos seres humanos. A justiça seria a plena virtude, pois esta seria exercida para o bem 
de outro. 
 
Sem dúvida, a ideia de injustiça está intimamente ligada a alguma violação à lei, ao 
Direito. Hegel, ao tratar do crime, define o injusto como uma violência contra a 
existência da minha liberdade sobre uma coisa exterior, ou seja, trata-se de uma 
agressão à liberdade do indivíduo de dispor (ou não) de seus direitos. 
 
Kelsen, um dos mais importantes filósofos do Direito do século XX, foi responsável pela 
distinção entre Direito, justiça e moral. Para o autor, o anseio por justiça é o anseio por 
felicidade, protegendo determinados interesses que são considerados relevantes pela 
maioria, sendo a lei um instrumento para satisfazer tais necessidades. Nega, assim, o 
chamado Direito Natural, ou seja, a existência de um Direito anterior à criação do 
Estado, e afirma que o conceito de justiça decorre de um juízo de valor – sendo, por isso, 
subjetivo. 
 
Para Kelsen, a justiça da lei se esgota nela mesma, ou seja, uma lei é legítima quando 
criada pelo soberano, pelo Estado. A origem da lei autorizaria a presunção de sua 
virtude, de sua correção, não se exigindo, portanto, para sua avaliação, qualquer relação 
com um conceito de justiça anterior ao Estado. 
 
Por outro lado,não podemos presumir que todas as leis sejam criadas para satisfazer os 
interesses da coletividade. É necessário conscientizarmo-nos de que o legislador, 
geralmente oriundo das camadas mais favorecidas, muitas vezes faz refletir seus 
próprios valores e interesses na lei que produz. Tenhamos presente que, afinal, o Direito 
não deixa de ser um forte instrumento de poder e controle social, amplamente utilizado 
pela classe dominante. 
 
Da norma jurídica: considerações gerais 
 
 
 
 
 
 
 
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Segundo Miguel Reale, norma jurídica é uma estrutura proposicional enunciativa - pois 
seu conteúdo pode ser enunciado mediante uma ou mais proposições entre si 
correlacionadas -, que se refere a uma forma de organização ou de conduta, a qual deve 
ser seguida de maneira objetiva e obrigatória. 
 
Assim, as normas são as células que compõe o corpo do Direito. Muitos autores, como 
Kelsen, resumiam a norma jurídica como aquela que impele determinada conduta, 
envolvendo, portanto, um juízo hipotético que relaciona um fato a uma consequência. 
Porém, não podemos esquecer que o Direito também possui um cunho organizacional, 
estabelecendo regras administrativas ou até conceitos a fim de organizar o poder público 
e a vida em sociedade. (Ex.: Art. 18, parágrafo 1º da Constituição Federal: “Brasília é a 
capital federal”) 
 
Todavia, para garantir a vigência das normas de conduta, que visam impor ou proibir 
determinados comportamentos, é preciso recorrer, ao menos potencialmente, a 
instrumentos coercitivos: ou seja, meios de força podem vir a ser necessários para 
que se cumpra o conteúdo normativo. 
 
Já a sanção jurídica é uma consequência desfavorável normativamente prevista para o 
caso de violação de uma regra, e reforça a imperatividade desta. (Ex.: o dever de 
indenizar uma lesão; a penhora de bens; a prisão.) 
 
Cabe ressaltar que nem toda sanção é pena, devendo ser entendida como a mais severa 
e drástica das sanções. A pena é prevista somente pelo Direito Penal, sendo ele o 
instrumento mais coercitivo de todo o ordenamento, exatamente por ter como função a 
tutela dos bens jurídicos mais relevantes para a sociedade. Em poucas palavras: todo 
ilícito deverá sofrer uma sanção, mas nem todo ilícito é crime. (Ex.: uma pessoa que 
atravessa um sinal vermelho com seu carro pratica um ilícito, por violar uma norma do 
código de trânsito, e deverá sofrer uma sanção: pagar multa. Ela praticou crime? Não, 
pois não há crime, uma vez que tal norma não impõe uma pena, mas uma sanção). 
 
E, por fim, cabe definir três últimos conceitos relevantes para a ciência do Direito, no que 
tange a aplicabilidade de suas normas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A validade de uma norma está relacionada à observância das regras estipuladas para 
sua elaboração, à legitimidade do órgão que a criou, e à competência específica para 
legislar sobre a matéria em questão. 
 
A vigência se refere à obrigatoriedade da observância de uma determinada norma, ou 
seja, é uma qualidade da norma que permite a sua incidência no meio social naquele 
período histórico. 
 
Eficácia é a capacidade concreta e atual da norma de produzir seus efeitos. (Ex.: uma 
norma que é válida e está em vigor pode ser ineficaz se precisar da complementação de 
uma outra norma que ainda não foi criada). 
 
ATIVIDADE PROPOSTA 
 
Marcos com 15 anos, vivendo com a mãe, Maria, que é divorciada de seu pai, Roberto, 
está sem receber os alimentos deste a quatro meses. Representando seu filho, Maria 
entra com uma ação de execução de alimentos e consegue a prisão de Roberto, a fim de 
impeli-lo a quitar os alimentos não pagos. Com isto, é possível afirmar que houve uma 
lesãol a um direito subjetivo de Marcos? A prisão de Roberto configura uma sanção 
penal? Pesquise a matéria e responda, justificadamente. 
 
 
 
 
Leia o texto “Norma jurídica: conceito e estrutura ”, da professora Gisele Leite. 
 
Assista ao filme “Medo da verdade”. 
Sinopse: dois detetives começam a investigar o desaparecimento de 
uma criança, mas logo descobrem que nada é o que parece ser. 
Dirigido por Ben Affleck e com Casey Affleck, Michelle Monaghan, 
Morgan Freeman e Ed Harris no elenco. Recebeu uma indicação ao 
Oscar. (Fonte: http://www.adorocinema.com ) 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Acesse o Fórum de Discussão e opine: “A aplicação de qualquer norma de Direito 
configura uma ação justa? Ou seja, a aplicação da lei corresponde, necessariamente, à 
realização de justiça?” 
 
 
Nesta aula, você viu a definição e a relevância do Direito na vida em sociedade, bem 
como suas principais características e fundamentos que lhe autorizam, através das 
normas jurídicas, compor os eventuais conflitos existentes no corpo social. 
 
 
Acabamos de ver as linhas básicas que definem e estruturam o Direito e suas normas 
jurídicas. Na próxima aula, estudaremos os mais relevantes princípios do Direito e seus 
fundamentos constitucionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 2: Dos Direitos e Garantias Fundamentais 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Relacionar o modelo de Estado com o sistema penal adotado; 
2) Definir o Estado Democrático de Direito; 
3) Identificar os limites ao poder punitivo do Estado. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula Dos Direitos e Garantias Fundamentais. 
Esta aula visa traçar alguns conceitos objetivando proporcionar a compreensão da 
criação do Estado, da relação deste com a sociedade e com o Direito, e analisar os 
principais paradigmas elencados em nossa Constituição de 1988 que o define como um 
Estado Plural Democrático e de Direito. 
 
O Estado, a sociedade e o ordenamento jurídico 
 
Conforme uma concepção contratualista definida pelos autores iluministas ou proto-
iluministas dos séculos XVII e XVIII, como Hobbes, Locke e Rousseau, o Estado nasce 
(ou se legitima quando pensado como se essa fosse sua origem verdadeira, ainda que 
não passe de um modelo reflexivo) quando a sociedade, não mais tolerando os inúmeros 
conflitos decorrentes do chamado “estado de natureza” (ou por tê-lo pervertido por 
ambição e pela invenção arbitrária da propriedade, como preferiria dizer Rousseau), cede 
uma parcela de suas liberdades para que um soberano concentre poder e passe a gerir 
as necessidades e os anseios da sociedade, reduzindo os conflitos e proporcionando a 
paz e a estabilidade de expectativas (Hobbes), ou para que regras do jogo sejam 
respeitadas e se oponham à violência e à disputa sem fim (Locke e Rousseau). 
 
Segundo o modelo contratualista, esta seria a fonte que atribuiria legitimidade à 
existência do Estado e do Direito, os quais já nasceriam, portanto, limitados, uma vez 
 
 
 
 
 
 
 
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que teriam de responder às necessidades do povo, jamais podendo atingir, por exemplo, 
liberdades que não foram cedidas no momento do pacto (ou, no caso de Hobbes, jamais 
podendo deixar de garantir a prosperidade dos súditos, mesmo que ao preço do arbítrio e 
da supressão das liberdades). O pacto, apesar de não ser uma realidade histórica, 
constituiria uma necessária alegoria para a compreensão dos limites do poder punitivo do 
Estado. 
 
A Constituição como norma fundamental da ordem jurídica 
 
Segundo a nossa estrutura jurídico-normativa, pode-se afirmar que o sistema penal, 
delineado pelo princípio da legalidade, encontra-se em um degrau hierárquico inferior aos 
princípios que emanam da Constituição Republicana de 1988, devendo, com isto, guardar 
inteira sintonia e sujeição aos valores lá consagrados, não podendo, em momento algum, 
decidir por metase meios que venham a feri-los, sob pena de agredir as próprias bases 
do Estado democrático de direito. 
 
Assim, é relevante definirmos alguns conceitos fundamentais para melhor compreender 
os limites impostos ao sistema penal como um todo 
 
Estado Democrático 
 
O Estado democrático baseia-se no princípio da soberania popular, onde todo o poder 
emana do povo, que influencia nas diretrizes do Estado diretamente ou através de seus 
representantes. 
 
Pode-se determinar como principais objetivos de uma constituição democrática dois 
axiomas: assegurar os direitos da minoria e garantir o pluralismo político. 
 
Costuma-se confundir democracia com aquilo que é alcançado pela decisão da maioria. 
Todavia, apesar da fórmula de aferição da vontade popular ser determinada, de fato, de 
forma quantitativa, sendo, com isto, um pressuposto necessário para a legitimação das 
opções políticas, é certo que nem todas as matérias poderão ser objeto de apreciação 
(ou não apreciação), ainda que pela maioria. 
 
O Estado Democrático funda-se como instrumento garantidor dos direitos das minorias, 
sendo certo que determinados direitos, por serem fundamentais, jamais poderão ser 
 
 
 
 
 
 
 
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violados, ainda que digam respeito a um número ínfimo de indivíduos e que a decisão 
sobre tal violação venha da maioria. 
 
Pluralismo Político 
 
O pluralismo político, previsto no inciso V do artigo 1º de nossa Constituição, refere-se 
à tolerância. O Estado não só deve respeitar as desigualdades culturais, religiosas e 
ideológicas existentes entre os membros da sociedade, como deve se abster totalmente 
de impor qualquer opinião própria ou de uma maioria, intervindo, tão somente, em 
determinadas situações a fim de funcionar como árbitro em um eventual conflito que 
possa surgir entre as diversas correntes de pensamento, buscando sempre a edificação 
de uma sociedade pluralista que, nas palavras de José Cretella Júnior, se constitui do 
“conjunto de pessoas que admitem a diversidade de concepções ou opiniões, 
classificando-se, assim, como aberta, pronta ao diálogo, à discussão, repelindo a 
concepção fechada ou unilateral” (Cretella Júnior, José. Comentários à Constituição 
brasileira de 1998, vol. 1. p. 101-102.) 
 
Deduz-se, com este dois princípios emanados da Carta democrática, que não cabe ao 
Direito Penal, ainda que direcionado pela maioria, impor qualquer ordem que tenha por 
fim ditar um determinado comportamento ou punir condutas, que não geram qualquer 
lesão a um bem jurídico, apenas por não estarem em conformidade com os conceitos 
aceitos por maiorias eventuais ou por eventuais governos. 
 
Estado de Direito 
 
Já o conceito de Estado de Direito, inicialmente construído com o Iluminismo, vem 
delimitar os campos de atuação deste Estado, o qual encontra no Direito tanto um 
obstáculo às decisões arbitrárias como um arcabouço jurídico vinculando as decisões 
políticas à direção da realização das metas constitucionais. 
 
O Direito, como elemento constitutivo do próprio Estado, fará dele uma entidade capaz 
de afirmar direitos e contrair obrigações face aos membros da coletividade, exigíveis, 
inclusive, judicialmente, uma vez presente a inadimplência de uma das partes. 
 
Canotilho nos ensina que “como meio de ordenação racional, o Direito é indissociável da 
realização da justiça, da efetivação de valores políticos, econômicos, sociais e culturais; 
como forma, ele aponta para a necessidade de garantias jurídico-formais de modo a 
 
 
 
 
 
 
 
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evitar ações e comportamentos arbitrários e irregulares de poderes públicos” (Canotilho, 
J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. p. 224). 
 
Por fim, mas não menos importante, ainda temos como um dos fundamentos deste 
modelo democrático e de Direito a dignidade da pessoa humana, presente no artigo 
1º, III da Constituição da República e no pacto internacional de São José da Costa Rica 
(decreto 678/92). 
 
Este princípio significa que o ser humano é um fim em si mesmo, não podendo ser 
concebido como meio para uso arbitrário de uma ou qualquer vontade, oriunda ou não do 
Poder Público. 
 
Ou seja, todo ato do Estado que recaia sobre um indivíduo e não tenha como fim 
satisfazer uma necessidade sua, respeitando sua liberdade e seus direitos, assim como 
os direitos coletivos, será inconstitucional, por ferir sua dignidade como ser humano, 
colocando em risco a própria democracia. 
 
 
Conclusão 
 
Após o estudo destes princípios, cabe ressaltar, porém, que o Estado Democrático de 
Direito não é a simples reunião formal dos elementos do Estado Democrático e do Estado 
de Direito, uma vez que incorpora um componente revolucionário, transformador. 
 
O nosso Estado Democrático une tanto os direitos fundamentais do Estado de Direito, 
funcionando como obstáculo ao arbítrio do poder público, como também caracteriza-se 
como Estado social, impondo obrigações ao Estado quanto a prestações positivas no 
meio social, que forneçam à sociedade meios para seu desenvolvimento econômico e 
cultural. Como ensina Ferrajoli, “enquanto o Estado de Direito Liberal deve apenas não 
piorar as condições de vida dos cidadãos, o Estado de Direito Social deve também 
melhorá-las” (Ferrajoli, Luigi. Ob. Cit. p. 862). 
 
E exatamente por ter o Estado estes dois compromissos, garantir os direitos 
fundamentais (liberdades) e fomentar o desenvolvimento social, deduz-se que sua 
receita deva ser aplicada tendo como finalidade a realização dessas duas metas, 
principalmente a última, uma vez que a primeira refere-se mais à uma prestação 
negativa, em um abster-se do Estado em violar tais garantias. 
 
 
 
 
 
 
 
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Ocorre, todavia, que não é isso que se observa. Sabe-se que para a movimentação do 
sistema penal - leia-se legislativo, policial, judiciário e penitenciário -, arca-se com um 
custo muito elevado, dispendendo-se recursos que poderiam ser empregados em 
melhorias sociais. Esse fato demonstra, efetivamente, que “manter criminalizadas 
condutas absurdas no momento atual implica gastos desnecessários que elevam os 
custos do delito e convertem o sistema penal em um aparato sobrecarregado e 
irracional” (Cervini, Raul. Os processos de descriminalização. p. 76). 
 
Tal fenômeno apoia-se na falácia de se aplicar a intervenção penal para solucionar 
problemas sociais quando, em verdade, “a realização do Estado Social depende muito 
mais do aporte de recursos para a implementação de uma série de direitos, do que 
propriamente de repressão à liberdade individual” (COPETTI, André. Direito penal e 
Estado Democrático de Direito. p. 87). Quando se inverte a equação, como vem se 
tornando comum no Direito Penal moderno, acaba-se por edificar uma política criminal 
em conflito com os próprios objetivos fundamentais da República, expressos no art. 3º 
da Carta Maior, segundo o qual deve-se buscar a construção de uma sociedade livre e 
justa, garantir o desenvolvimento, erradicar a marginalização e promover o bem de 
todos, segundo o princípio da igualdade. 
 
 
 
 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e debata: “O uso de pulseiras eletrônicas para 
monitorar presos que recebem autorização para sair provisoriamente da cadeia, ofende o 
princípio da dignidade da pessoa humana?” 
 
ATIVIDADE PROPOSTA 
 
Em janeiro de 2007, um delegado titular de uma delegacia de polícia, no interior do 
Nordeste brasileiro, diante da superlotação de sua cadeia com presos cautelares que 
viviam de forma insalubre, com péssimas condições de higiene, contraindo doenças e 
 
 
 
 
 
 
 
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tendo que se revezar entre os sentados e os que ficavam em pé para poderem dormir e 
face a inércia do Estado em providenciar qualquer transferência, abriu as portas da 
cadeia e soltou todos os presos, tendo sido, obviamente, execrado pelos meios de 
comunicação epela opinião pública. 
 
Um ano depois, em uma delegacia no interior do Sul do país, outro delegado se 
encontrava em uma situação semelhante de superlotação. Todavia, como não havia mais 
espaço físico dentro da cadeia, começou a acorrentar os presos em uma pilastra, tal 
como animais, gerando vários ferimentos pelas correntes e grave sofrimento físico e 
mental, pois, pelo pequeno cumprimento, os presos não conseguiam ficar em pé. 
 
Diante destes casos, analisando os princípios constitucionais ministrados na aula, defina 
a situação jurídica que se encontram as autoridades policiais pelas medidas adotadas. 
 
 
Nesta aula, você viu a criação do Estado Democrático de Direito segundo uma concepção 
iluminista e pode perceber as principais características inerentes a todos os seus 
conceitos e como isto influencia diretamente na política de segurança que deva ser 
trabalhada. 
 
 
Acabamos de ver as linhas básicas que dão legitimidade constitucional a qualquer política 
pública. Na próxima aula, estudaremos a reflexão destes princípios no direito penal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 3: A Segurança Pública no Ordenamento Jurídico brasileiro 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Identificar as normas constitucionais, além dos princípios e regras relacionados 
aos direitos e às garantias fundamentais; 
2) Descrever a importância dos direitos humanos e da cidadania dentro do contexto 
atual, com ênfase nos movimentos sociais; 
3) Defender a necessidade da atuação estatal na efetivação do bem comum; 
4) Reconhecer as limitações constitucionais da atuação policial e as consequências 
dos desvios desses limites na extensão da responsabilidade. 
 
Estudo dirigido da aula: 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula A Segurança Pública no Ordenamento Jurídico 
brasileiro. 
 
Nesta aula, você estudará o enfoque do ordenamento constitucional ligado à segurança 
pública. É correto afirmar que estão contidos na Constituição de 1988 os fundamentos da 
República Federativa do Brasil, com ênfase para a dignidade da pessoa humana, bem 
como os direitos e as garantias fundamentais e demais dispositivos que enumeram e 
limitam os poderes dos órgãos encarregados da Segurança Pública, nas três instâncias de 
Poder (União, estados e municípios). 
Boa aula! 
 
A realidade vivenciada no Brasil nesse processo de conscientização de direitos e deveres, 
considerando a evolução social, econômica e cultural globalizada, exige uma mudança de 
paradigmas (modelos) na atuação do Estado, dos seus poderes e de seus órgãos, logo, 
os agentes públicos devem estar aptos a absorver esta realidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A Constituição Federal de 1988 constitui a Lei Fundamental que traça a 
estrutura organizacional básica dos poderes e o funcionamento do Estado 
brasileiro, com único objetivo de atender as necessidades da coletividade, do 
povo. Estão definidos também os direitos e as garantias fundamentais, individuais e 
coletivos, limitando o exercício dos poderes do Estado, objetivando evitar abusos e 
arbitrariedades. 
 
O povo, diretamente ou através de seus representantes (deputados e senadores), de 
forma soberana, ilimitada e incondicionada, elabora a Constituição, logo, o que emana do 
povo é o Poder Constituinte Originário (PCO), conforme prescreve o parágrafo único do 
artigo 1º da CF/88. 
 
O objetivo único é promover o bem comum, proporcionando a toda sociedade: saúde, 
emprego, moradia, educação, segurança, previdência, lazer etc. Como vimos em outras 
aulas, essa ideia não é nova, e o pensador Jean Jacques Rousseau, em 1762, teve a 
ousadia de escrever sobre este tema, chamando o mesmo de “contrato social”, e isso 
causou a ira dos reis, monarcas, absolutistas, os donos do Estado, que naquela época era 
único, sem divisão de poder. 
 
Rousseau escreveu que cada indivíduo cede uma parcela de sua liberdade em benefício 
do todo, conferindo ao ente público os poderes necessários para que ele regule as 
relações sociais, defendendo e protegendo cada pessoa e seu respectivo patrimônio, de 
eventuais agressões e ameaças. Para isso seriam pagos tributos (impostos, taxas, 
contribuições etc.) ao Estado. 
 
Na atividade policial, frequentemente, os excessos são alvos de severas críticas, que 
acabam por vincular o excesso à falta de preparo técnico-profissional, o que nos remete 
ao dilema “a polícia é uma presença que incomoda, mas, principalmente, uma ausência 
sentida”. É necessário o uso progressivo da força, a abordagem alicerçada na 
estabelecida suspeita ou em fundadas razões, a efetivação de uma prisão prevista em lei, 
o correto uso das algemas, contudo, sempre dentro dos verdadeiros parâmetros de 
limitação dos agentes públicos. 
 
O detentor do poder, invariavelmente, pode exorbitar suas finalidades, agindo com 
arbitrariedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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De forma geral, os direitos representam por si bens, isto é, algo que está inserido no 
patrimônio, ou têm como objeto imediato um bem específico da pessoa (vida, honra, 
liberdade, integridade física, propriedade etc.). As garantias representam um 
instrumento, uma ferramenta posta à disposição dos indivíduos para assegurar os 
direitos e limitar os poderes do Estado, conforme expressa literalmente o artigo 5º da 
Constituição Federal. 
 
A definição de Poder de Polícia iremos encontrá-la no Art. 78 (Código Tributário 
Nacional). 
 
“Considera-se poder de polícia atividade da Administração Pública que, limitando ou 
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, 
em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos 
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas 
dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranquilidade pública ou ao 
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”. (Redação dada pelo Ato 
Complementar nº 31 de 28.12.1966). 
 
Quando o agente público se desvia de suas atribuições e isso gera danos aos indivíduos, 
à população, à sociedade, o Estado deverá ser responsabilizado, desde que não sejam 
observados os direitos e garantias fundamentais. Ou seja, quando o juízo de ponderação 
de valores (adequação, necessidade e razoabilidade) não se cumprir, gerando danos 
morais e/ou materiais às pessoas, o Estado, por seu agente, pratica ato ilícito. 
 
O Código Civil Brasileiro esclarece: 
 
Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar 
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
Art. 187 – Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou 
pelos bons costumes. 
 
Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Parágrafo Único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos específicos em lei, ou quando a atividade desenvolvida pelo autor do dano implicar, 
por natureza, riscos para os direitos de outrem. 
 
Vale dizer que a responsabilidade civil do Estado é objetiva, ou seja, não se observa a 
existência de dolo (vontade) ou culpa (inobservância do dever de cuidado objetivo, nas 
modalidades imperícia, imprudência e negligência), logo, se o Estado, através de seus 
agentes, que são concebidos para atuar em benefício da sociedade, não o faz, será 
responsabilizado e o custo do prejuízo distribuído de forma equitativa, igualitária e 
indireta a cadamembro da sociedade. 
 
A Constituição da República do Brasil determina: 
 
Art. 37 – A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos 
estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 19, de 1998. 
HTTP://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc19.htm#art3. 
 
§ 6º - As pessoas jurídicas de Direito Público e as de Direito Privado prestadoras de 
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem 
a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou 
culpa. 
 
Tenhamos presente que todo profissional de Segurança Pública corresponde a um agente 
público, logo, pratica atos administrativos e é responsável pela suas consequências. 
 
Celso Antônio Bandeira de Mello (2007, p. 368) conceitua ato administrativo como sendo 
“Declaração do Estado (ou de quem lhe faça às vezes – como, por exemplo, um 
concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas públicas, manifestada 
mediante providências jurídicas complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, e 
sujeitas a controle de legitimidade por órgão jurisdicional”. 
 
Helly Lopes Meirelles (2001, p. 141): “Toda manifestação unilateral de vontade da 
Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, 
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigação aos 
administrados ou a si própria”. 
 
 
 
 
 
 
 
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José dos Santos Carvalho Filho (2007, p. 92): “A exteriorização da vontade da 
Administração Pública ou de seus delegatários que, sob regime de Direito Público, tenha 
por fim adquirir, resguardar, modificar, transferir, extinguir e declarar situações jurídicas, 
com o fim de atender ao interesse público”. 
 
Esse ato administrativo possui atributos, que nada mais são do que uma qualidade que o 
diferencia, que o distingue dos particulares. A saber: 
 
Presunção de Legitimidade – todo e qualquer ato administrativo deve estar em 
conformidade com a legislação em vigor, presumidamente. 
 
A Administração Pública não precisará provar que seu ato é legal, caberá àquele que se 
sentir prejudicado demonstrar sua ilegalidade. 
 
Imperatividade – Refere-se a algo imposto. O ato administrativo já nasce imperativo. 
Essa característica está diretamente relacionada com o seu cumprimento ou execução. 
Esse atributo permite que a administração pública imponha diretamente seus atos, 
independentemente da anuência ou concordância dos administrados atingidos, logo o ato 
é coercitivo e gera obrigações ao seu destinatário, que resta apenas cumprir o que for 
determinado sem a possibilidade de negociação, prestigiando, sobretudo, o interesse 
público em detrimento do particular. 
 
Autoexecutoriedade – Possibilita que o Poder Público faça cumprir as suas decisões 
sem a necessidade de autorização prévia do Poder Judiciário, ou seja, o ato basta por si 
só, não há necessidade de qualquer manifestação do Poder Judiciário para impor o seu 
cumprimento, entretanto, não está descartada a proteção daquele que se sentir 
prejudicado, através do Poder Judiciário. 
 
Existem requisitos indispensáveis para a existência do ato administrativo, são eles: 
 
Sujeito – quem produz o ato administrativo, aquele a quem a lei atribui competência 
para praticá-lo. No caso dos profissionais de segurança pública, tal atribuição está 
elencada nos parágrafos do artigo 144 da Constituição Federal. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1988. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Objeto – também conhecido como conteúdo, que é o resultado prático do ato, como, por 
exemplo, a imposição da penalidade administrativa de multa de trânsito pelo policial face 
ao descumprimento de um mandamento legal. O objeto deve ser lícito, ou seja, estar 
previsto em lei e determinado quanto ao destinatário, aos efeitos, ao tempo e ao lugar. 
 
Forma – modo pelo qual a administração pública expressa a sua vontade, podendo ser 
escrita (regulamento, decretos, leis), verbal (abordagem policial), gestual (os sinais do 
agente de trânsito) e sonora (o apito do agente de trânsito). 
 
Finalidade – são as razões de interesse público que visem o bem comum, o objetivo a 
ser atingido a bem da ordem pública. 
 
Motivo – é a causa, o porquê do ato, é o fato de origem que autoriza a administração 
pública a praticar o ato. O motivo antecede ao ato, enquanto a finalidade é o objetivo a 
ser alcançado. 
 
Poder-dever de polícia e poder-dever discricionário. 
 
Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2007, p. 37), “O poder administrativo 
representa uma prerrogativa especial de direito público outorgada aos agentes do 
Estado. Cada um desses terá a seu encargo a execução de certas funções. Ora, se tais 
funções foram por lei concedidas aos agentes, devem eles exercê-las, pois que seu 
exercício é voltado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo dentro dos limites que a lei 
traçou, pode-se dizer que usaram normalmente os seus poderes”. Podemos concluir que 
o uso do poder, portanto, é a utilização normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas 
que a lei lhes confere. 
 
Maria Sylvia Zanella Di Pietro, conclui que embora o vocábulo poder dê a impressão de 
que se trata de faculdade da administração, na realidade trata-se de um poder-dever, 
já que reconhecido ao Poder Público para que exerça em benefício da coletividade - os 
poderes são, pois, irrenunciáveis. 
 
O Poder-dever discricionário, termo extremamente usado na atividade policial, 
caracteriza um poder de escolha, que não é aleatória, tem alguns limites estabelecidos 
em lei, mas confere liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. 
Celso Antônio Bandeira de Melo (2007, p. 414): a discricionariedade é a liberdade dentro 
da lei, nos limites da norma legal, e pode ser definida como: “A margem de liberdade 
 
 
 
 
 
 
 
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conferida pela lei ao administrador a fim de que este cumpra o dever de integrar com sua 
vontade ou juízo a norma jurídica, diante do caso concreto, segundo critérios subjetivos 
próprios, a fim de dar satisfação aos objetivos consagrados no sistema legal”. Neste 
caso, somente o administrador possui condições de analisar se a prática do ato é 
conveniente e oportuna, pelo fato de estar em contato com a realidade de sua atividade. 
 
O poder discricionário não alcança todos os elementos do ato administrativo, ele está 
consolidado apenas no motivo e no objeto, pois os demais (o sujeito, a forma e a 
finalidade) são sempre vinculados à lei. A administração pública só poderá exercer a 
escolha nos casos em que a lei não vincular o objeto e o motivo. Como exemplo do 
exercício do poder-dever discricionário, temos a nomeação para cargo em comissão, em 
cujo caso o administrador público, através de um ato administrativo, possui liberdade de 
escolha para nomear aquele que for de sua total confiança. Assim como o profissional de 
segurança pública, que, durante a abordagem policial, terá liberdade de escolha dentro 
dos requisitos da fundada suspeita, quanto aos motivos para submeter um cidadão à 
abordagem policial. 
 
 
Discricionariedade X Arbitrariedade 
 
A discricionariedade é o exercício da escolha dentro dos limites da lei, enquanto a 
arbitrariedade corresponde ao abuso da discricionariedade, já que extrapola ou é 
contrária aos limites legais. 
 
Poder de Polícia 
 
Poder-dever de polícia corresponde ao poder que a administração tem de limitar o 
exercício de direitos individuais (os quais se revogam por suas implicações e por seu 
contexto) em benefício da coletividade, ou vice-versa (quando se limita a liberdade 
coletiva em benefício do respeito às minorias ou mesmo indivíduos), segundoas 
circunstâncias e em conformidade com os mandamentos Constitucionais. 
 
Na administração pública, seja federal, estadual ou municipal, há diversos órgãos não 
elencados no artigo 144, da Constituição Federal, que exercem o poder de polícia. Por 
exemplo, a Vigilância Sanitária. 
 
Atributos do poder de polícia: 
 
 
 
 
 
 
 
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Discricionariedade – liberdade de escolha dentro dos limites legais, da oportunidade e 
conveniência para exercer o poder de polícia, inclusive liberdade de empregar os meios 
que julgar mais condizentes para atingir sua finalidade sempre relacionada à proteção de 
algum interesse público. O ato de polícia é, em princípio, discricionário, mas passará a 
ser vinculado se a norma legal que o rege estabelecer o modo e a forma de sua 
realização. Neste caso, a autoridade só poderá praticá-lo validamente atendendo a todas 
as exigências da lei ou regulamento pertinente. 
 
Autoexecutoriedade - Possibilita que a Administração Pública faça cumprir as suas 
decisões sem a necessidade de autorização prévia do Poder Judiciário, legislativo. Ou 
seja, o ato basta por si só, não havendo necessidade de qualquer manifestação do Poder 
Judiciário para impor o seu cumprimento. Entretanto, não está descartada a proteção 
daquele que sentir-se prejudicado, através do Poder Judiciário. 
 
Coercibilidade – As medidas administrativas possuem caráter impositivo, sendo de 
observância obrigatória para o particular. A administração pode até usar da força, desde 
que pautada na proporcionalidade, necessidade e legalidade, para impor as suas ações e 
vencer qualquer resistência do administrado. 
 
Segundo Helly Lopes Meirelles (2001, p. 126): “Os limites do poder de polícia 
administrativa são sempre demarcados pelo interesse social em conciliação com os 
direitos fundamentais do indivíduo, assegurados na Constituição da República”. Essas 
limitações pautam-se na necessidade, proporcionalidade e eficácia. 
 
Necessidade – O poder de polícia só deve ser empregado quando for necessário para 
evitar possíveis ameaças de perturbações ao interesse público (o qual pode se constituir 
inclusive na preservação do Direito Individual). Se outro meio menos gravoso existir para 
a preservação da ordem, deverá ser utilizado com prioridade. 
 
Proporcionalidade – precisa existir uma relação de equilíbrio entre a limitação ao 
Direito Individual (ou Coletivo) e o prejuízo a ser evitado. 
 
Eficácia – O ato deve ser apropriado para impedir o dano ao interesse público, 
empregando meios legais e humanos, a fim de evitar medidas extremas. Mesmo que o 
intuito seja realizar o bem comum, não é permitido ao agente público utilizar meios 
ilícitos para atingir seu intento, pois os fins não justificam os meios. 
 
 
 
 
 
 
 
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Atribuições dos Organismos de Segurança Pública 
 
Dentro da execução do contrato social, citado no início de nossos estudos, onde cada 
indivíduo cede uma parcela de sua liberdade para que o Poder Público defenda e proteja 
de toda a força comum a pessoa e os seus bens, há a Segurança Pública. 
 
Nas palavras de Álvaro Lazzarini, a Segurança Pública constitui-se como um aspecto da 
ordem pública, ao lado da tranquilidade e salubridade públicas. Ela é causa da ordem 
pública, que se traduz em estado antidelitual, livre, portanto, da violação de bens 
jurídicos protegidos pela ordem jurídica (vida, saúde, integridade física, honra, 
patrimônio, liberdade etc.). Ou seja, há ordem pública, e, consequentemente, Segurança 
Pública, quando, por exemplo, no dia a dia o cidadão tem a possibilidade de transitar nas 
vias públicas, a qualquer hora, e não ser molestado por atos de roubo ou furto, ou 
mesmo quando, em viagem de férias, sua residência não é alvo de invasão ou 
depredação. A Segurança Pública se realiza em um conjunto de processos políticos e 
jurídicos, destinados a garantir a ordem pública, sendo esta objeto daquela. 
 
As atividades desenvolvidas por esses órgãos possuem atributos peculiares, ligados a 
instrumentos aptos a preservar a ordem pública, tais como os poderes-deveres 
discricionários de polícia e a autoexecutoriedade, dentre outros. Portanto, conclui-se que 
essas atividades exteriorizam-se como uma típica manifestação administrativa da 
Administração Pública, de forma que cada órgão possui sua atribuição bem definida. 
 
A atividade de polícia judiciária é exercida pelas polícias federal e civil e se conclui na 
apuração das infrações penais (crimes/delitos e contravenções) e no cumprimento das 
determinações das autoridades judiciárias. 
 
De outro lado, existe a denominada polícia administrativa, cujo objeto é a prevenção do 
ilícito penal e não penal (Ex.: polícia de trânsito de veículos terrestres, polícia das 
construções, polícia aduaneira etc.). Tais atividades são atribuídas às polícias federal, 
rodoviária federal, ferroviária federal e polícias militares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Ciclo de Polícia 
 
ATIVIDADE PROPOSTA 
 
1) De que modo os direitos e as garantias fundamentais exercem influência em uma 
atuação policial? 
2) Na atuação policial, como a dignidade da pessoa humana deve ser respeitada? 
 
 
 
Assista ao vídeo sobre a abordagem da PM de São Paulo, e com base no que foi discutido em 
aula, acesse o Fórum de Discussão e argumente sobre os erros e as consequências da ação 
policial. 
 
Nesta aula, você: 
- Compreendeu a concepção básica do que vem a ser uma Constituição, sua importância 
para a estrutura, organização e competências do Estado e os princípios que norteiam a 
atuação policial no exercício da preservação da ordem pública e da incolumidade 
(proteção) das pessoas e do patrimônio, como vetores da defesa do estado e das 
instituições democráticas. 
 
Após termos estudado as questões relacionadas à atividade policial no contexto 
democrático e com cidadania, na próxima aula abordaremos sobre o profissional de 
segurança pública e a juridicidade de sua atuação, onde perceberemos a importância 
dessa atividade no Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 4: O Profissional de Segurança Pública e a juridicidade de sua 
atuação 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Reconhecer as consequências jurídicas da realização da atividade policial alheia à 
legalidade, à proporcionalidade e à necessidade; 
2) Reconhecer o valor e a importância dos direitos e garantias fundamentais da 
pessoa humana, na atividade de Segurança Pública; 
3) Perceber que instrumentos legais estão previstos e não devem ser negligenciados 
na atividade de segurança pública. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula O Profissional de Segurança Pública e a juridicidade de 
sua atuação. 
 
Nesta aula, você estudará os órgãos de segurança pública e a atribuição legal de seus 
agentes e critérios de atuação dentro dos limites legais, autoridades policiais e seus 
agentes, procedimentos persecutórios, os poderes e os deveres do gestor público, o uso 
e o abuso do poder, o ato de prisão, tipos e previsão legal, o uso progressivo da força, o 
uso das algemas, a responsabilização do agente público e a legislação pertinente. 
 
Apesar da preservação da ordem pública e proteção das pessoas e do patrimônio ser 
responsabilidade de todos, antes de tudo, é dever do Estado. Dentro desse aspecto, tem-
se a perseguição penal promovida pela polícia judiciária, tão importante quanto é o 
trabalho desempenhado pela chamada polícia ostensiva na prevenção e repressão 
imediata do delito. 
 
Para o desempenho de suas atividades, as polícias fazem uso do dever-poder de polícia,que, em resumida análise, é a limitação do exercício de direitos individuais ou coletivos 
 
 
 
 
 
 
 
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em benefício do interesse público (quer se manifeste pela afirmação do direito de um 
indivíduo, quer se expresse pela afirmação do Direito de uma coletividade). Destaque-se 
que é do interesse público, por definição, a proteção dos direitos, sejam eles de 
indivíduos, de coletividades ou do conjunto da sociedade. 
 
Extrai-se como importante instrumento do dever-poder de polícia, a busca pessoal, ou 
seja, a abordagem como prática comum no cotidiano policial. Em outras palavras, o 
policial, ao cumprir sua atribuição no sentido de prevenir ou reprimir delitos, exerce 
atividades que interferem na rotina e nos direitos básicos das pessoas, seja para 
identificá-las, seja para encontrar e apreender armas de fogo ou substâncias 
entorpecentes, dentre outras finalidades. Mas vale ressaltar que existe uma limitação, 
mesmo que temporária, no gozo de alguns direitos individuais. Essas ações encontram 
amparo no ordenamento jurídico pátrio, pois visam proteção do interesse público, 
representado pela manutenção da ordem e da paz, e dos próprios indivíduos. 
 
O policial tem que estar bem preparado tecnicamente para aplicar seus conhecimentos 
em uma busca pessoal (abordagem), que abrange níveis que vão desde a emissão de 
comandos verbais até a efetivação da busca, com contato físico e imobilização, se for o 
caso. 
 
Esta dinâmica não pode ser levada a efeito de qualquer forma, sobre qualquer pessoa, 
em qualquer momento, a qualquer pretexto. O ordenamento jurídico traça os 
parâmetros, que, ao lado das técnicas de busca pessoal, de abordagem, devem orientar 
e limitar a conduta do agente. 
 
O elemento que vai alicerçar a busca pessoal é a “fundada suspeita”, termo este 
utilizado pelo legislador, pelos juristas e profissionais da segurança pública, sem que sua 
definição seja precisada. O uso das algemas não é arbitrário e deve ser excepcional. Elas 
devem ser empregadas nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar 
a fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado 
receio de que tanto venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios 
policiais, contra terceiros ou contra si mesmo. A adoção dessa medida tem como 
balizamento jurídico necessário os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade 
(Habeas Corpus – HC-91.952, Relator Ministro Marco Aurélio, julgamento em 07/08/08, 
informativo 514). A suspeita é a atitude do cidadão, é a forma como ele age que leva o 
policial a suspeitar de uma possível situação ilegal, merecedora de verificação. Jamais 
pode ser dito que a pessoa é suspeita. O cidadão por si só não carrega essa 
 
 
 
 
 
 
 
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característica. Sem dúvida, a adjetivação de suspeita deve recair sobre condutas não 
sobre pessoas. 
 
Uso do Poder 
 
O poder administrativo representa uma prerrogativa especial de Direito Público 
outorgada aos agentes do Estado. O exercício das funções por lei concedidas aos agentes 
objetivam beneficiar a coletividade, garantindo o respeito à ordem constitucional e à 
vigência do Estado Democrático de Direito. Ao fazê-lo dentro dos limites que a lei traçou, 
pode-se dizer que o poder foi utilizado normalmente. Logo, uso do poder é a utilização 
normal pelos agentes públicos das prerrogativas que a lei lhes confere. 
 
Poder-Dever de Agir 
 
Quando um poder jurídico é conferido a alguém, pode, tal poder, ser exercido ou não, 
por tratar-se de uma faculdade em regra geral, acarretando reflexos na esfera jurídica do 
próprio titular. Entretanto, na esfera do Direito Público, os poderes administrativos são 
outorgados aos agentes para serem utilizados no interesse da coletividade e, portanto, 
como consequência, são irrenunciáveis e devem ser obrigatoriamente exercidos pelos 
titulares, sendo, pois, a inércia vedada, sob risco da coletividade sofrer as consequências 
da negligência. Logo, é uma obrigação atuar. 
 
Abuso do Poder 
 
Quando o poder não é utilizado de forma adequada pelos administradores, ou seja, 
quando é exercido fora dos parâmetros que a lei expressamente ou implicitamente 
determina, a conduta em causa não pode merecer aceitação. Por isso, podemos dizer 
que o abuso do poder é a conduta ilegítima do administrador, quando atua fora dos 
objetivos expressos ou implicitamente traçados pela lei. 
 
Formas de Abuso: Excesso e Desvio de Poder 
 
Quando o agente atua fora dos limites de sua competência, diz-se que atuou com 
excesso de poder. Neste caso, o agente invade atribuições concedidas a outro agente, ou 
se arroga o exercício de atividade que a lei não o autorizou a cumprir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Quando, embora dentro de sua competência, afasta-se do interesse público, ou atua em 
descompasso com esse fim de forma ilegítima, diz-se que o agente praticou desvio de 
poder ou desvio de finalidade, muito comum nos atos discricionários. 
 
 
O Inquérito Policial 
 
O inquérito policial é um procedimento administrativo, previsto no Código de Processo 
Penal Brasileiro, anterior a ação penal (pré-processual), mantido sob a guarda do 
escrivão de polícia e presidido pelo delegado de polícia. Conforme Júlio Fabbrini Mirabete, 
trata-se de instrução provisória, preparatória, destinada a reunir os elementos 
necessários (provas) à apuração da prática de uma infração penal e de sua autoria. 
 
O inquérito policial é o instrumento formal de investigações, compreendendo o conjunto 
de diligências realizadas por agentes da autoridade policial e também por ela mesma 
(delegado de polícia) para apurar o fato criminoso e descobrir sua autoria. Em suma, é a 
documentação das diligências efetuadas pela Polícia Judiciária: conjunto ordenado 
cronologicamente e autuado das peças que registram as investigações. 
 
Algumas autoridades de polícia judiciária utilizavam um instrumento que antecedia o 
inquérito e confirmava ou não a informação que daria início a sua instauração, a 
chamada VPI (Verificação Preliminar da Informação ou Verificação Preliminar de 
Inquérito, ou Verificação da Procedência da Informação), a qual, por não se submeter a 
controle externo, principalmente pelo Ministério Público, caiu em desuso. 
 
Através dos elementos investigatórios que o integram, o inquérito policial tem por 
objetivo fornecer ao órgão da acusação os elementos necessários para formar a suspeita 
do crime, a justa causa que necessita aquele órgão para propor a ação penal - com os 
demais elementos probatórios - ele orientará a acusação na colheita de provas que se 
realizará durante a instrução processual. 
 
O inquérito policial tem natureza administrativa. São seus caracteres: ser escrito (art. 9º 
do CPP), sigiloso (art. 20 do CPP) e inquisitivo, já que nele não há o contraditório. É 
verdade que o inciso LV do art. 5º da CF dispõe que "aos litigantes, em processo judicial 
ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e a ampla 
defesa, com os meios e os recursos a ele inerentes". Nem por isso pode-se dizer seja o 
inquérito contraditório. Primeiro, porque no inquérito não há acusado; segundo, porque 
 
 
 
 
 
 
 
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não é processo. A expressão processo administrativo tem outro sentido, mesmo porque 
no inquérito não há litigante, e a Magna Carta fala dos "litigantes em processo judicial ou 
administrativo..." (Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 
São Paulo: Saraiva, 2001. p. 49) 
 
Outra finalidade do inquérito policial é fornecer elementos probatórios ao juiz, de 
maneira a permitir a decretação da prisão cautelar, seja ela temporária, no curso do 
inquérito policial, de acordo com a Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1989, seja ela 
prisão preventiva, no curso do inquérito ou da instrução criminal, de acordo com o artigo 
312 doCódigo de Processo Penal. 
 
Prisão 
 
Rigorosamente, no regime de liberdades individuais que preside o nosso Direito, a prisão 
só deveria ocorrer para o cumprimento de uma sentença penal condenatória transitada 
em julgado, ou seja, não cabendo mais recurso. Entretanto, ela pode ocorrer antes do 
julgamento ou mesmo na ausência do processo por razões de necessidade ou 
oportunidade, conforme previsão do artigo 5º, LXI da Constituição Federal. 
 
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e 
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão 
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. 
 
Há exceções durante o Estado de Defesa - artigo 136, § 3º, e do Estado de Sítio, artigo 
139, II, CF/88. Além disso, permite-se a recaptura sem mandado do evadido, artigo 684 
do Código de Processo Penal. 
 
São inconstitucionais e constituem crime de abuso de autoridade as chamadas “prisão 
correcional”, “prisão para averiguação” e “prisão cautelar”, o que não impede que uma 
pessoa seja detida por momentos, sem recolhimento ao cárcere, em casos especiais de 
suspeitas sérias diante do chamado poder de polícia. 
 
Espécies de Prisão 
 
A Prisão-Penal: Sua finalidade manifesta é repressiva. É a que ocorre após o trânsito 
em julgado da sentença condenatória em que se impôs pena privativa de liberdade 
(Artigo 393, I CPP). 
 
 
 
 
 
 
 
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A Prisão Processual ou Provisória: É a prisão cautelar, em sentido amplo, incluindo a 
prisão em flagrante (artigos 301 a 310 CPP). 
 
A Prisão Preventiva: Artigos 311 a 316 do CPP. 
 
A Prisão Resultante de Pronúncia: Artigos 282 e 408, § 1º do CPP. 
 
A Prisão Temporária: Lei nº 7.960, de 21/12/1989, criada para adequar a realidade à 
nova Constituição Federal e substituir os procedimentos anteriores, que se tornaram 
abusivos. 
 
A Prisão Civil: É a decretada em casos de devedor de alimentos e de depositário infiel, 
únicas permitidas pela Constituição (Art. 5º, LXVII). 
 
A Prisão Administrativa: Só pode ser decretada pela autoridade judiciária. 
 
A Prisão Disciplinar: Permitida na própria Constituição Federal para as transgressões 
disciplinares e crimes propriamente militares (Art. 5º, LXI e 142, § 2º, CF e artigo 18 da 
Lei nº 1.002/69). 
 
Mandado de Prisão: Acesse o endereço eletrônico: 
http://www.jusbrasil.com.br/noticias/578858/mandado-de-prisao-pode-ter-prazo-de-
validade. 
 
ATIVIDADE PROPOSTA 
 
A Lei 7.210, de 11 de julho de 1984, conhecida como a Lei de Execuções Penais – LEP 
– estabelece, em seu artigo 199, que: “O emprego de algemas será disciplinado por 
decreto federal”. Ocorre que até a presente data, o desejado decreto ainda não 
ingressou no mundo jurídico. A respeito o legislador deixou cristalino, na LEP, seu 
sentimento acerca da excepcionalidade do uso do sublinhado instrumento, pensamento 
oposto não reclamaria regulamentação. Como bem disse o Ministro Marco Aurélio, do 
STF, “Se, quando àquele que deve cumprir pena ante à culpa formada, o uso de 
algemas surge no campo da exceção, o que se dirá em relação a quem goza do 
benefício de não ter culpa presumida”. 
Diante da omissão legislativa, responda: 
 
 
 
 
 
 
 
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1) Existe no Brasil regramento para a utilização das algemas? 
2) Em razão da suposta ausência de regramento, pode o policial ou garda 
municipal empregá-las livremente em todas as situações? 
 
 
Assista ao filme Carandiru, de Hector Babenco, acesse o Fórum de Discussão e 
argumente sobre ele com base no artigo 5º da Constituição da República Federativa 
do Brasil. 
 
Nesta aula, você: 
 
 Compreendeu a concepção básica do que vem a ser uma Constituição, 
sua importância para a estrutura, organização e competências do 
Estado e os princípios que norteiam a atuação policial no exercício da 
preservação da ordem pública e da incolumidade (proteção) das 
pessoas e do patrimônio, como vetores da defesa do Estado e das 
instituições democráticas; 
 Percebeu que o poder, o abuso de poder, o abuso de autoridade, o uso 
de algemas, a tortura, o tratamento desumano, o constrangimento e 
outras ações estão balizados no ordenamento jurídico nacional; 
 Identificou os tipos de prisão, a legislação correlata, o estado de 
flagrância, o inquérito policial e a VPI. 
 
 
Após termos estudado as questões relacionadas à atividade policial no contexto 
democrático e com cidadania, na próxima aula abordaremos sobre o conceito e a função 
do Direito Penal, seus princípios, a criminalização das condutas, das drogas, das armas 
de fogo, da corrupção, a luta de classes, o direito penal do inimigo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 5: Resposta Penal à Criminalidade e sua Análise no Contexto 
da Segurança Pública 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Definir o conceito e a função do Direito Penal segundo um modelo garantista; 
2) Descrever os princípios do Direito Penal; 
3) Analisar a relação entre o Direito Penal do inimigo e a criminalização de 
condutas; 
4) Analisar criticamente as políticas criminais de drogas, de controle de armas e a 
corrupção. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula Resposta Penal à Criminalidade e sua Análise no 
Contexto da Segurança Pública 
Esta aula visa analisar o Direito Penal segundo um modelo garantista e constitucional 
contrastando com sua aplicabilidade prática no que se refere a um Direito Penal do 
inimigo, cuja aplicação vem contribuindo com lesões a liberdades individuais e exclusão 
social. 
Bom estudo! 
 
Na grande maioria dos manuais de Direito Penal é possível encontrar a sua definição 
como o jus puniendi do Estado, ou seja, o seu direito de punir quando verificado que o 
indivíduo desrespeitou alguma norma cuja sanção venha a ser uma pena. 
 
Ocorre, que com a atual concepção garantista do Direito Penal, a qual vincula sua 
legitimidade à presença de determinadas fundamentações, ele passou a ser um 
instrumento de garantia do indivíduo contra possíveis arbítrios do Estado, sendo um 
limite ao seu poder punitivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Esta definição tem como lastro a compreensão de que o ordenamento jurídico não possui 
apenas o Direito Penal como instrumento coercitivo de solução de conflitos, pelo 
contrário, existem inúmeras ferramentas jurídicas mais eficazes que a truculenta sanção 
penal, a qual deve ser aplicada apenas nos casos mais graves. 
 
Então, qual seria a função do Direito Penal? 
 
Também a maioria da doutrina afirma ser a proteção de bens jurídicos (link com 
definição de bem jurídico: Apesar de extremamente divergente, podemos defini-los como 
o conjunto de valores presentes em uma sociedade que são reconhecidos e tutelados 
pelo Estado). Porém, esta também seria a função de qualquer ramo do Direito. Com isto, 
modernamente, como o Direito Penal deve ser aplicado subsidiariamente, apenas os bens 
jurídicos mais relevantes devem ser tutelados pela norma penal, ou seja, os bens 
constitucionais, o que impossibilitaria, por exemplo, a criminalização de condutas 
meramente imorais. 
 
Porém, o garantismo dá um passo à frente e acrescenta, com base na referida teoria 
contratualista do Estado comentada na aula anterior, que o Direito Penal seria uma 
negação da vingança, pois sem ele as partes tomariam para si a solução dos conflitos, o 
que poderia gerar um grande caos na sociedade. Desta forma, o Direito Penal dá uma 
alternativa à vingança privada e limita o poder punitivo do Estado através do princípio da 
legalidade, garantindo a liberdade do indivíduo evitando que ela seja cerceada, salvo 
quando praticada alguma conduta tipificadana lei. 
 
Princípios 
 
Existem vários princípios do Direito Penal, porém vamos elencar aqui apenas aqueles que 
são mais relevantes no que tange a criminalização de condutas: 
 
 
1 – Princípio da Legalidade: Segundo o art. 5º, XXXIX da CF e art. 1º do CP, não há 
crime sem lei anterior que o defina e não há pena sem prévia cominação legal. Esta é 
apenas uma concepção formal, ou seja, será definido como crime aquilo que é descrito 
como tal em uma norma formalmente válida, que tenha passado por todos os requisitos 
de produção de uma lei. Porém, modernamente, vem se conferindo a este princípio 
também uma concepção material, o que exige uma análise não apenas de sua forma, 
mas também de seu conteúdo. 
 
 
 
 
 
 
 
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Com isto, para que uma norma incriminadora seja válida e em sintonia com um modelo 
democrático ela deve ser clara e deve estar coerente com outros princípios, que veremos 
a seguir. 
 
2 – Princípio da Lesividade ou da Ofensividade: Para que uma conduta seja definida 
como crime ela deve lesionar ou colocar em perigo um bem jurídico relevante. Isto 
deveria afastar do Direito Penal, tendo em vista a drasticidade de sua intervenção, 
condutas que não possuam potencialidades lesivas, tal como na atual “Lei Seca” que 
passou a criminalizar a condução de veículo automotor quando ingerido 6 decigramas de 
álcool por litro de sangue, ainda que não esteja sob efeito da substância. 
 
3 – Princípio da Subsidiariedade: Como já citado, o Direito Penal deve ser a ultima 
ratio, a última opção do legislador. Só é possível aplicar o Direito Penal quando 
observado que os demais ramos do Direito não possuem coercitividade suficiente para 
inibir uma determinada conduta face a sua gravidade. 
 
Com isto, uma vez verificada que a aplicação de um outro ramo do direito seria suficiente 
para sancionar, resolver o conflito, não se exige o Direito Penal, como nos casos de 
alguns crimes contra as relações de consumo (propaganda enganosa) ou contra a saúde 
pública (venda de produtos saneantes sem o devido registro no órgão competente). 
 
4 – Princípio da Adequação Social: Não são puníveis aquelas condutas que sejam 
socialmente aceitas, toleradas quando praticadas em um determinado contexto. Temos 
como exemplo lesões desportistas, intervenções cirúrgicas, as quais apesar de descritas 
em um tipo penal (art. 129 do CP) serão atípicas, pois são praticadas em um contexto 
em que a sociedade as tolera. 
 
5 – Princípio da Insignificância ou da Bagatela: Não serão relevantes para o Direito 
Penal aquelas lesões de pequena monta, pois, caso contrário, se feriria o princípio da 
proporcionalidade, já que a sanção penal poderia gerar consequências mais graves do 
que as produzidas pelo próprio delito. Temos como exemplos o furto de uma lata de leite 
em um grande supermercado, o descaminho de um pacote de meias e um par de tênis, o 
recebimento por um funcionário público de uma garrafa de vinho no valor de R$ 30,00 
reais como agradecimento por um bom serviço prestado, afastando o crime de 
corrupção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Direito penal do inimigo 
 
O que ora é observado é que o Direito Penal como direito de punir vem sendo utilizado 
desde sempre como um instrumento de controle social muito eficaz por parte da classe 
dominante. Seja pelos monarcas na idade média e suas penas de suplícios, seja pelo 
atual neoliberalismo que, com o fim da ameaça comunista, não mais precisa bancar um 
Estado caritativo, de bem-estar e incrementa o sistema penal para controlar os 
desajustados. 
 
O Direito Penal sempre teve como fim controlar estes estranhos, os inimigos, os 
estrangeiros, estes que sempre estiveram de fora da comunidade e geravam uma 
ameaça à segurança dos “homens de bem”. 
 
Este Direito Penal do inimigo vê o delinquente não como um cidadão que precisa ser 
ressocializado (até porque, como ressocializar quem nunca foi socializado?), mas agentes 
que não fazem jus às “nossas leis”, “nossas garantias”, pois estão de fora, 
principalmente quando tratamos de tráfico de drogas, onde o chamado traficante passa a 
ser um inimigo externo em uma política de segurança nacional, uma política de 
guerra em que o inimigo não só pode como deve ser eliminado. 
 
Em sintonia com um movimento de lei e ordem, este controle repercute na criação de 
leis que violam os princípios supracitados, pois passam a tratar com maior rigor condutas 
que não possuem ou possuem muito pouca potencialidade lesiva, como a permanência 
da criminalização do uso de entorpecente e do porte de arma, acessório e munição. 
 
Conclusão 
 
Dentro deste cenário e conforme já concluído pela criminologia crítica moderna cabe aos 
operadores do sistema penal, principalmente na esfera da segurança pública, 
compreender que o crime é um fato político, uma conduta definida como tal através de 
decisões políticas para atender os valores e interesses da classe dominante, sendo 
confirmado através da seletividade do sistema que incide não só sobre tais 
comportamentos como também, na maioria das vezes, apenas sobre as camadas menos 
favorecidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Compreender que a aplicação do sistema penal sobre um indivíduo não soluciona 
qualquer conflito, mas, pelo contrário, apenas o agrava e o auxilia, e muito, na sua 
exclusão social devendo, por tanto, ser aplicado apenas em casos extremos, é o primeiro 
passo para se alcançar um Direito Penal garantista e em conformidade com o Estado 
Democrático de Direito. 
 
ATIVIDADE PROPOSTA 
 
Em abril de 2007, entra em vigor uma lei passando a criminalizar a conduta de “comercializar o 
próprio corpo para satisfazer a libido de outrem”. Assim, a prostituição passa a ser definida como 
crime, iniciando-se uma série de operações policiais, devidamente acompanhadas por jornalistas 
atentos à repressão e às várias prisões efetuadas em flagrante. 
 
Analisando o conteúdo da aula ministrada, esta lei viola algum princípio geral do Direito Penal? 
Justifique. 
 
 
 
 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e opine: “Segundo o garantismo, ainda há fundamento 
para a criminalização do uso de entorpecente, bigamia e outros crimes que não lesionam 
bens jurídicos relevantes?” 
 
 
Leia o livro “Dos delitos e das penas”, de Cesare Beccaria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Nesta aula, você viu a definição de um Direito Penal segundo um Estado Democrático de 
Direito consciente de sua necessária limitação, tendo em vista sua função garantista que 
não visa punir, mas definir limites de atuação do poder punitivo do Estado. 
 
 
Na próxima aula, você estudará o enfoque do ordenamento jurídico relativo a 
desarmamento, modelos de prevenção secundária de segurança pública e políticas 
criminais antidrogas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 6: Políticas Criminais de Drogas e de Desarmamento 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Identificar as normas constitucionais, além dos princípios e regras relacionados 
ao estatuto do desarmamento; 
2) Descrever a importância da nova tendência mundial na reflexão do uso de 
substâncias entorpecentes e drogas afins; 
3) Defender a necessidade da atuação estatal na efetivação do bem comum; 
4) Reconhecer as estratégias de prevenção da violência e criminalidade. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Realize o trabalho final 
5. Leia a síntese da sua aula. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Olá! Seja bem-vindo à última aula da disciplina Legislação. 
 
Nesta aula, você estudará o enfoque do ordenamento jurídico relativo a desarmamento, 
modelos de prevenção secundária de segurança pública e políticas criminais antidrogas. 
Boa aula! 
 
No Brasil, armas de

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