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Exame do Paciente em Coma INTRODUÇÃO: A alteração do estado mental está diretamente relacionada a um prejuízo da consciência, a qual é composta por dois pilares: 1. Nível de Consciência: é uma função primitiva, mantida pelo sistema ativador reticular, que nos mantem no estado desperto. Está associado ao grau de alerta comportamental que se apresenta de acordo com a integridade ou não dos hemisférios cerebrais e tronco encefálico 2. Conteúdo de Consciência/Cognição: associado as funções cognitivas e afetivas como memoria, julgamento, atenção, linguagem, organização do pensamento, experiencias subjetivas, que possuem regiões anatômicas correspondentes no cérebro O sistema ativador reticular ascendente (SRAA) é uma parte importante do tronco encefálico, que esta diretamente evolvida no ciclo do sono, do despertar e filtra estímulos sensoriais relevantes ou não. O SAR atua ativado o córtex cerebral e é responsável por funções como reflexo respiratório, vasomotor, locomotor, SNA (sistema nervoso autônomo), além do eixo hipotálamo-hipófise. Ele se localiza entre a substância branca e a substância cinzenta, ocupa parte do tronco cerebral se estendendo para a medula e diencéfalo. É toda a zona do tronco cerebral onde não existem núcleos específicos. Com relação ao nível de consciência no paciente em coma, usa-se a escala de Glasgow sendo coma quando o score é < ou igual a 8. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: Existem 5 níveis de consciência, sendo eles do mais desperto (vígil) até o comatoso (coma total): 1. Vigil: paciente se mantem com olhos abertos espontaneamente, tem resposta motora e verbal normal; caracteriza-se geralmente em glasgow 15. 2. Sonolento/Letárgico: paciente se mantem com os olhos fechados e pode ser desperto com estímulo verbal (sonolência) ou táteis (letargia), mas volta a fechar os olhos momento depois da suspensão destes. 3. Obnubilado: paciente tem compreensão dificultada, acorda com estímulos táteis vigorosos, mas volta a fechar os olhos rapidamente após suspensão desses. Há coexistência de sonolência e confusão mental/agitação, com amplas flutuações no nível de consciência Habilidades Médicas V - Neurologia – Aula 4 4. Torporoso: paciente dorme e só acorda se for estimulado de maneira dolorosa, vigorosa e contínua e responde somente a retirada (aqui não se refere a retirada usando um membro, ex: braço; mas sim a tendência de se contorcer tentando retirar o estímulo que vem do examinador) 5. Coma: paciente não consegue acordar com nenhum tipo de estímulo, possui profundo acometimento da atividade voluntaria e permanece com os olhos fechados. Glasgow <8 No entanto, a escala de coma de Glasgow tem diversas limitações, podendo dois pacientes apresentarem diferentes quadros clínicos a depender da subclassificação em relação a motricidade, resposta verbal e abertura ocular. Escala de Glasgow: A lesão do paciente é considerada: • Leve: pontuação de 13-15 • Mediana: pontuação de 9-12 • Grave: pontuação entre 3-8. De 8 pontos para menos já é necessário que seja feita a intubação orotraqueal. Estado de Coma: se caracteriza em um quadro em que o paciente se encontra de olhos fechados e não pode ser despertado para responder adequadamente aos estímulos mesmo com estimulação vigorosa e deve ser diferenciado de outros quadros clínicos como os do quadro abaixo. O paciente pode realizar caretas em resposta aos estímulos dolorosos e os membros apresentarem movimentos de retirada, mas não de localização dolorosa. Conforme o coma se aprofunda o paciente tem capacidade de resposta diminuída ou até mesmo abolida. Como ocorre o coma: O coma ocorre por lesão bilateral dos hemisférios cerebrais ou da substância reticular ativadora ascendente (SRAA) que se situa na junção do mesencéfalo com o diencéfalo e recebe conexões ascendentes e descendentes do córtex cerebral. Essas lesões podem ser de etiologia mecânica/estrutural ou metabólica. → Estrutural/mecânica: ocorre destruição anatômica de áreas do tronco encefálico ou córtex cerebral → Metabólica: há uma lesão funcional que atinge difusamente o encéfalo, ocorrendo interrupção na entrega de glicose ou oxigênio (hipoglicemia, hipoxia) ou alteração na resposta da membrana neuronal (intoxicação por drogas ou álcool, metabolitos endógenos tóxicos, anestesia ou epilepsia). Lesões hemisféricas unilaterais geralmente não levam ao coma, apenas se situa o cruzamento da linha média ou associada a uma disfunção hemisférica contralateral. Ex: um AVE com acometimento apenas de hemisfério esquerdo causará apenas danos como hemiparesia no membro contralateral, enquanto um AVE que acomete ambos os hemisférios pode levar ao coma. ANAMNESE E EXAME FÍSICO DO PACIENTE EM COMA: Anamnese e Exame Físico Geral: É importante fazer essas avaliações para: Saber se a instalação do quadro foi de forma abrupta ou gradativa Perguntar ao acompanhante se houveram sinais neurológicos focais ocorridos ou não antes da perda de consciência Analisar se houve presença de febre, trauma, uso de medicações ou outras drogas Se o paciente já possuía alguma comorbidade (hepatopatia, nefropatia, desidratação, neoplasia) É importante também analisar: • Pressão arterial • Frequência padrão3a • Padrão e frequência r3espiratória • temperatura • sinais de TCE • pele: observar se há marcas de agulhas , cianose, icterícia, palidez, sangramentos, etc OBS: mas precisamos ter em mente que como o paciente comatoso está em CTI, geralmente esses dados já foram coletados, então, vamos logo ao que interessa, o exame neurológico: EXAME NEUROLÓGICO DO PACIENTE EM COMA: Componentes: O que é abordado no exame neurológico: • Classificar o nível de consciência • Reflexos de tronco encefálico (reflexo de tosse, vomito, reflexos pupilares, vestibuloculares, corneopalpebral) • Fundoscopia • Sinais meníngeos • Exame motor (quando possível) • Reflexos em geral REFLEXOS DO TRONCO ENCEFÁLICO: Avaliação Pupilar: As alterações pupilares são coordenadas pela região mesencefálica. Deve-se observar o diâmetro pupilar, se há assimetria (anicoricas) ou simetria (isocóricas) É avaliada por meio de iluminação sobre os olhos, esperando-se que ocorra uma miose (diminuição da pupila) do olho estimulado (reflexo fotomotor direto) e também a contração simultânea e de mesma amplitude da pupila do olho contralateral não estimulado → Miose: pupilas diminuídas; associada a hipotermia, lesões pontinhas, intoxicação por opiáceos; → Midríase: pupilas aumentadas; associado a botulismo, lesão mesencefalica, intoxicação por anticolinérgicos ou fármacos atropinicos. → Anisocoria: uma pupila aumentada e a outra diminuída; pensar sempre em lesão focal Encefalopatias metabólicas geralmente levam a preservação da reação pupilar. Reflexo óculocefálico: Chamado também de olhos de boneca, pode ser obtido realizando a apreensão da cabeça do paciente entre as mãos, mantendo os olhos do paciente abertos e usando os polegares para rodar o crânio passivamente para ambos os lados. Espera-se que ocorra um desvio dos olhos no sentido oposto a da orientação do movimento em igual direção e velocidade. Quando os olhos seguem na mesma direção da rotação da cabeça = sinal de reflexo oculocefálico alterado e o paciente está com lesão destrutiva do tronco ou intoxicação barbitúrica. Reflexo oculovestibular: Eficiente para obtenção dos movimentos oculares, além de ser inócuo; o método de escolha para motricidade ocular do paciente em coma é a estimulação calórica do labirinto. Para isso realiza- se primeiramente a otoscopia (excluir lesão timpânica) coloca-se o paciente com a cabeça inclinada a 30º (para que o canal semicircularestimulado seja aquele responsável pelos movimentos horizontais dos olhos), instila-se de 30-50ml de água ou soro fisiológico a 0 graus celsius em um dos ouvidos e aguarda por 1 minutos, alternando os lados após 5 min. Em geral, a resposta normal consiste no aparecimento de nistagmo, em que o batimento lento se dá em direção ao ouvido irrigado (resposta do tronco encefálico) e em sequência ocorre o movimento rápido corretivo em direção ao lado oposto (resposta do córtex frontal). O desvio tônico conjugado do olhar em direção ao lado estimulado indica integridade da ponte e do mesencéfalo, sugerindo lesão supratentorial como causa do coma. Uma resposta desconjugada indica lesão do fascículo longitudinal medial, no nervo oculomotor ou nervo abducente. Reflexo Corneopalpebral: É o piscamento ao tocar a borda da córnea com um algodão. A estimulação da córnea é transmitida pelo trigêmeo até o núcleo situado na ponta. A resposta é bilateral quando normal. Reflexos de Vômito: Avaliasse o nervo aferente (IX) e eferente (IX e X) Esse reflexo é testado por meio da realização de um leve estímulo nos pilares às tonsilas palatinas, bilateralmente, é observada a elevação do palato. Da paralisia do NC X, nervo vago, resulta a não elevação do palato mole e o desvio da úvula para o lado oposto. Reflexos de Tosse: Geralmente se induz um cateter pela sonda do paciente comatoso para estimular o reflexo de tosse. O reflexo de tosse se constitui em um mecanismo de defesa fisiológico das vias aéreas, ela ocorre por meio do arco reflexo iniciado que tem o início pelo estímulo irritativo em receptores distribuídos pelas vias aéreas e em localização extratorácica. As fibras aferentes desse reflexo são do nervo glossofaríngeo (IX) e duas fibras eferentes do nervo vago (X). AVALIAÇÃO DO PADRÃO MOTOR: Pode adotar dois padrões diferenciados: 1) Decorticação: postura de flexão dos membros superiores, como cotovelos e punhos e postura de extensão dos membros inferiores; causados por lesões extensas que acometem o tálamo e mesencéfalo. 2) Descerebração: extensão dos membros inferiores e superiores, com rotação e interna dos ombros, cotovelos e punhos, adução e extensão. É causada por lesões bilaterais inferiores; Essas posturas anormais podem ser observadas espontaneamente ou após estímulos dolorosos, e sua presença pode sugerir uma síndrome de herniação do tronco encefálico. A decorticação, em linhas gerais, tende a ter prognóstico mais favorável que a descerebração, pois costuma ocorrer por causa de lesões reversíveis. É difícil de saber evidenciar uma hemiplegia no paciente comatoso; sabe-se que na maioria das vezes em hemiplegias de início súbito, o lado hemiplégico se apresentaram com flacidez muscular e a boca está lateralizada para o lado acometido. Quando os dois braços são erguidos ou posicionados com os cotovelos apoiados sobre o leito ou antebraços perpendiculares aos braços o membro acometido irá cair mais rapidamente. AVALIAÇÃO DO PADRÃO RESPIRATÓRIO: Pode ser dos mais diferentes e ter poder localiza tório, além de acompanhar a evolução de possível deterioração rostrocaudal das funções encefálicas. Os padrões respiratórios são: AVALIAÇÃO DOS SINAIS MENÍNGEOS: Importante realizar o teste de kernig e brudzinski, além da flexão passiva do pescoço para detectar rigidez meníngea. Os sinais de Kernig e Brudzinski podem estar ausentes em casos de coma profundo, apesar de haver irritação meníngea. São necessárias algumas horas para o surgimento de sinais meníngeos da hemorragia subaracnóidea (HSA) e eles podem estar ausente por ocasião do coma. REFLEXOS EM GERAL: No mínimo, os principais reflexos tendinosos profundos (RTP) e as respostas plantares devem ser testados. Os sinais de liberação frontal (respostas de preensão forçada, palmomentual e sucção ou protrusão labial) e rigidez paratônica podem estar presentes na AEM de origem estrutural ou metabólica. A assimetria de respostas pode ter algum valor localizador. Do mesmo modo, as respostas plantares extensoras são possíveis tanto no coma estrutural como no metabólico MORTE ENCEFÁLICA: Para caracterizar a morte encefálica é necessário ter alto grau de certeza em relação a etiologia Causas comuns de morte encefálica: Anoxia cerebral Hemorragia cerebral e subaracnóidea aneurismática Traumatismo cranioencefálico (TCE) Para definir morte encefálica NÃO pode haver presença de reflexos de tronco cerebral nem evidencia de atividade cerebral, embora a atividade segmentar mediada pela medula espinal (reflexos medulares) possam estar presentes mesmo após a ocorrência da morte encefálica. Reflexo de Lázaro: é o nome do sinal dado em pacientes que foram diagnosticados com morte encefálica mas apresentar persistência do reflexo medular com automatismos complexos geralmente durante as primeiras 24h de morte encefálica. É possível até mesmo movimentos semelhantes aos respiratórios, com elevação e adução do ombro, arqueamento das costas e expansão intercostal, porém sem volume corrente considerável. RTP, reflexos superficiais e sinal de Babinski podem estar presentes e não estão em desacordo com diagnóstico de morte encefálica. Exceto pelos reflexos segmentares, não existem respostas motoras. As pupilas são fixas, e os reflexos oculocefálico e oculovestibular estão ausentes, mesmo quando se faz o teste calórico com grande volume de água gelada. Na ME o Glasgow geralmente é de score 3. Reflexos osteotendinosos, cutâneo-abdominal, cutâneo-plantar, cremastérico superficial e profundo, ereção peniana reflexa, arrepio, sudorese, rubor, reflexos flexores de retirada dos MMII ou MMSS, reflexo tonico-cervical e sinal de Lázaro não excluem diagnóstico de ME. CRITERIOS DE DIAGNÓSTICO PARA MORTE ENCEFÁLICA: II. Avaliação neurológica A. Coma. Os pacientes devem carecer de todas as evidências de reatividade. A diferenciação clínica das respostas medulares das motoras retidas associadas à atividade cerebral requer expertise B. Ausência de reflexos do tronco encefálico 1. Ausência de resposta pupilar 2. Ausência de movimentos oculares mediante testes oculocefálico e de reflexo oculovestibular 3. Ausência de reflexo corneano 4. Ausência de movimento dos músculos faciais a estímulo doloroso 5. Ausência dos reflexos faríngeos e traqueais C. Apneia. A ausência de impulso respiratório é testada com provocação de CO2 1. Pré-requisitos: normotensão, normotermia, euvolemia, eucapnia (PaCO2 35 a 45 mmHg), ausência de hipoxia e nenhuma evidência anterior de retenção de CO2 III. Testes auxiliares Os testes auxiliares não são necessários nem suficientes para a declaração de morte encefálica. Eles podem ser usados quando existe incerteza sobre a confiabilidade de partes do exame neurológico ou quando o teste de apneia não pode ser realizado. Na prática clínica, EEG, angiografia cerebral, varredura nuclear e Doppler transcraniano são usados atualmente como testes auxiliares em adultos. Eletroencefalograma: primeiro método a ser usado para corroborar diagnóstico de ME e até hoje é o mais usado no mundo. Deve ser realizado pelo menos 8 derivações com impedância entre 100 e 10.000 Ω com sensibilidade de 2uV e duração mínima de 30 minutos. O silencio isoelétrico evidencia morte encefálica (ME). Em caso de atividade elétrica é essencial aguardar 6h e repetir o EEG Arteriografia: é considerada padrão ouro quanto a qualidade técnica, mas e prudente aguardar 6h para realizar novo EEG. IV. Documentação O momento da morte encefálica é documentado nos prontuários médicos. A horário da morte é a hora em que a PCO2 arterial atingiu o valor-alvo. Em pacientes com um teste de apneia abortado,o momento da morte é quando o teste auxiliar foi oficialmente interpretado. As leis federais e estaduais exigem que o médico entre em contato com uma organização de aquisição de órgãos após a determinação de morte encefálica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: • CAMPBELL, William W.; BAROHN, Richard J. DeJong - O Exame Neurológico. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN 9788527738415. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/b ooks/9788527738415/. Acesso em: 28 mar. 2023. • JR., Carlos Roberto M.; JR., Marcondes C F.; MARTINEZ, Alberto R. M.; e outros Semiologia Neurológica. [Digite o Local da Editora]: Thieme Brasil, 2016. E-book. ISBN 9788567661605. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/b ooks/9788567661605/. Acesso em: 28 mar. 2023.
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