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Junho/ 2019 Professor: Me. Enio Caldeira Pinto Coordenadoria de Ensino a Distância: Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida Projeto Gráfico e Capa: Mauro S. R. Teixeira - D.D.I. - Departamento de Desenvolvimento Institucional Todos os direitos em língua portuguesa reservados por: Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR 86055-670 Tel.: (43) 3371.0200 3Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | SUMÁRIO Bíblia I - Introdução à Bíblia Unidade I - Geografi a Bíblica Área de Bíblia: Uma breve apresentação...............................................................04 1. O sentido da terra na Bíblia..............................................................................08 2. O crescente fértil.................................................................................................12 3. Os povos da Bíblia...............................................................................................17 4. Localizações geográfi cas...................................................................................24 Unidade II - Arqueologia Bíblica Introdução...............................................................................................................51 1. A arqueologia é a revelação de culturas antigas............................................52 2. A relevância da arqueologia para o mundo cristão.......................................60 3. Os sítios arqueológicos bíblicos......................................................................70 Unidade III - Tribalismo Introdução...............................................................................................................87 1. O nomadismo Hebreu.......................................................................................88 2. A estrutura e organização tribal em Israel..........................................................99 3. As doze tribos.....................................................................................................115 4. Os juízes..............................................................................................................121 Unidade IV - Monarquia Introdução.............................................................................................................126 A função do rei e o modo de produção tributário..........................................127 2. O reino de judá e o reino de Israel...................................................................135 3. O império Assírio e o Império Babilônico.......................................................143 4. O império Persa, o império Grego e o Império Romano..................................155 Para assistir os vídeos, ouvir os podcasts e fazer os exercícios, acesse o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) Atenção! Lembre-se que faz parte de suas obrigações: 1 - Participação na disciplina por meio da realização dos exercícios; 2 - Exercício integrativo - Resumo da disciplina, 1500 palavras; 3 - 2 Provas objetivas (5 questões cada); 4- Leitura de textos complementares (100 páginas); Consulte o “Programa de curso” e veja mais detalhes! | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA4 ÁREA DE BÍBLIA: UMA BREVE APRESENTAÇÃO Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) à Área de Bíblia! A Resolução n° 4 de 16 de setembro de 2016 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Teologia, em cujo artigo 7°, parágrafo 2 diz: § 2º O eixo de formação fundamental deverá contemplar conteúdos de formação básica que caracterizam o curso de graduação em Teologia, no qual deverão ser ministradas disciplinas relacionadas ao estudo: I - das narrativas e textos sagrados ou ofi ciais que podem ser tidos como fontes da Teologia, segundo a Tradição própria; II - das línguas das fontes da Teologia; III - das normas ou regras de interpretação das referidas fontes; IV - do desenvolvimento da Tradição; V - do método, dos temas e das correntes teológicas construídas ao longo da história e contemporaneamente; VI - da natureza da Tradição religiosa e de sua história, inclusive códigos legais ou assemelhados. Baseando nestas diretrizes, a FTSA estruturou o Curso de Graduação em Teologia à Distância em quatro grandes eixos, nos quais as disciplinas são agrupadas conforme os conteúdos. É no Eixo Fundamental que se encontra a Área de Bíblia, que se refere ao conjunto de oito disciplinas que irão desenvolver as temáticas das unidades e respectivas aulas. A Área de Bíblia compreende 640 horas/aula e é a responsável por apresentar os conteúdos que foram subdivididos em oito disciplinas. O quadro abaixo apresenta esta estrutura e a respectiva carga horária de cada uma das disciplinas. 5Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 1. Bíblia Bíblia I Introdução à Bíblia Estudo histórico, arqueológico, geográfi co e sociológico dos povos do Antigo Oriente que formam as principais culturas presentes na Bíblia. 80 Bíblia II Introdução ao Antigo Testamento Estudo do contexto histórico e geográfi co do antigo oriente, análise literária dos livros do Antigo Testamento. 80 Bíblia III - Introdução ao Novo Testamento Estudo do contexto histórico e geográfi co do mundo greco- romano, análise literária dos livros do Novo Testamento. 80 Bíblia IV - Línguas Bíblicas Estudo instrumental do Hebraico e Grego bíblicos. 80 Bíblia V - Hermenêutica Bíblica Estudo dos princípios e dos métodos de interpretação dos textos bíblicos. 80 Bíblia VI - Teologia Bíblica do Antigo Testamento Estudo das principais ênfases teológicas do Antigo Testamento e sua relevância para a fé cristã na atualidade. 80 Bíblia VII - Metodologia Exegética Estudo dos métodos exegéticos e sua aplicação ao Antigo e Novo Testamentos. 80 Bíblia VIII - Teologia Bíblica do Novo Testamento Estudo das principais ênfases teológicas do Novo Testamento e sua relevância para a fé cristã na atualidade. 80 CARGA HORÁRIA TOTAL DA ÁREA DE BÍBLIA 640 | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA6 Especifi camente, a Área de Bíblia, ao longo dos três anos de curso, irá colocar o estudante de Teologia em contato com o conhecimento bíblico, a fi m de que ele obtenha uma visão panorâmica de três ênfases: histórica, teológica e literária. Para isto, as competências a serem desenvolvidas são: conhecer e dominar o conteúdo da área de Bíblia quantos às variedades do tempo e do espaço, do desenvolvimento religioso e da produção literária enquanto textos sagrados. E as habilidades serão: situar e interpretar temporalmente os grandes processos e desenvolvimentos históricos do povo de Deus descritos na Bíblia (Antigo e Novo Testamentos) e ser capaz de transmiti-los em benefício do ensino e da aprendizagem das comunidades cristãs. Estas competências e habilidades são melhores descritas quando o(a) estudante tiver acesso às disciplinas. Por ora, vale dizer aqui que será preciso obter um conhecimento panorâmico sobre a Bíblia. Afi nal, este conhecimento irá fortalecer a vida cristã e, potencialmente, o ministério do graduando em Teologia. A história irá revelar os conteúdos dos povos dos tempos bíblicos: Antigo Oriente Próximo (Egito, Palestina e Babilônia) e Ásia, África e Europa (Impérios Assírio, Babilônico, Persa, Grego e Romano) e, com mais ênfase, a História de Israel. O estudo histórico permitirá ao estudante situar os acontecimentos desde o tribalismo (cerca de 1200 a.C.) até o Império Romano na época de Jesus Cristo (30 d. C., mas lembrando que a queda do Império Romano se deu em 476 d.C.). A literatura irá proporcionar o reconhecimento das tipologias textuais (gênero literário, estrutura literária e recursos estilísticos), a composição dos escritos (autoria, data e lugar), as línguas bíblicas (hebraico, aramaico e grego) e panoramicamente a evolução dos manuscritos (processo de formação do cânon), as regras de interpretação (Hermenêutica) e os métodos exegéticos (extração do sentido e signifi cado do texto). Aliada à história, a literatura tambémenfatizará as questões culturais dos povos que contribuíram signifi cativamente para a formação da Bíblia. E a teologia irá apresentar aos estudantes os grandes temas bíblicos do Antigo e Novo Testamentos, enfatizando os princípios da revelação 7Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | textual como paradigma do ensino divino ao seu povo. É neste momento que cada aluno irá concatenar os fundamentos da Palavra escrita, revelados em um contexto social cujo impacto proporcionou a mudança de comportamento do povo de Deus e serviu como hermenêutica em toda a história bíblica. Em termos mais comuns, o estudo da teologia bíblica refere-se à interpretação dos ensinos de Deus ao seu povo e sua relevância para os dias atuais. A teologia, acompanhada da história e da literatura, completará a tríade das competências e habilidades que o(a) estudante de Teologia precisará comprovar. Portanto, o conselho para cada estudante é que o processo da leitura seja atencioso e feito com ganho de conhecimento. É aconselhável a leitura bíblica como complemento das aulas, inclusive comparando as situações e momentos históricos. Gaste tempo em pesquisas com os assuntos bíblicos cujo interesse seja pessoal e também da comunidade cristã. Os docentes da FTSA enfatizam sempre o estudo das Escrituras. É uma das ações que mais transparece a identidade da instituição. Para os docentes, a Área de Bíblia tem como função ajudar o estudante de Teologia construir um panorama de conhecimentos históricos e geográfi cos, linguísticos e literários, sociológicos e teológicos, bem como proporcionar o domínio das competências e habilidades adequadas para interpretação das Escrituras e para o ensino e anúncio da Palavra de Deus com fi delidade e relevância para os dias atuais. Estes conhecimentos devem também infl uenciar no crescimento do estudante, para uma direção de uma espiritualidade cristocêntrica e solidária e da prática da missão integral da Igreja, a partir da motivação e capacitação inicial para o estudo sério das Escrituras, visando a uma teologia profundamente bíblica, evangélica e contextual. Veja a exposição sobre a área de Bíblia neste vídeo: Agora acesse o AVA e assista o vídeo! Vídeo de Apresentação à Área de Bíblia - Professor Ênio Caldeira | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA8 UNIDADE 1: GEOGRAFIA BÍBLICA Introdução Nesta unidade o conteúdo da geografi a bíblica será brevemente apresentado, a fi m de situar o estudante quanto à localização territorial (aspectos físicos), orografi a (relevos, principalmente montes e montanhas), hidrografi a (rios) e outros aspectos geográfi cos. É aconselhável sempre acompanhar a aula com o texto bíblico e com o uso de mapas da época bíblica. O objetivo geral desta unidade é conhecer as três grandes regiões do Antigo Oriente Próximo (Palestina, Babilônia e Egito) como pano-de- fundo para o conhecimento da história bíblica. E os objetivos específi cos podem ser defi nidos em três, a saber: (a) dominar a localização gráfi ca do Antigo Oriente Próximo, comumente chamada de Crescente Fértil, (b) situar o movimento de peregrinação do povo de Deus, desde o Egito até a Palestina; e (c) familiarizar-se com as narrativas bíblicas quanto à localização geográfi ca. Serão realizados três tipos de exercícios durante esta unidade, cuja intenção é reforçar o estudo durante a própria aula. Eles serão: (a) exercícios de fi xação, ou seja, de um reforço sobre conceitos, defi nições ou mesmo argumentos que precisam ser lembrados quanto à sua assimilação e aprendizagem; (b) exercícios de refl exão, a partir do qual você terá que ser capaz de emitir argumentos que se relacionam com o conteúdo, diante de uma questão dada; e (c) exercícios de aplicação, que se refere a um conceito, ou ideia, que você deverá tanto refl etir e/ou argumentar sobre a questão, salientando a sua aplicabilidade, ou seja, como o aprendizado de um item deve e pode ser aplicado tanto para a vida pessoal como comunitária. Esta unidade é importante porque introduzirá você a uma abordagem crítica sobre o conteúdo bíblico, mas também carregada com os olhos da fé. Ela será crítica, porque irá trabalhar chaves de leituras (hermenêuticas) 9Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | para o Antigo e Novo Testamentos. E também será com os olhos da fé porque o ensino proposto pela FTSA é aquele que dá continuidade ao desenvolvimento da espiritualidade cristã, isto é, contar a história do povo de Deus. 1. O SENTIDO DA TERRA NA BÍBLIA O mundo da Bíblia é estudado pela sua geografi a, literatura e movimentação histórica. A geografi a é o estudo do relevo, das dimensões territoriais e da hidrografi a de cada região. A Geografi a Bíblica corresponde à representação em mapas da Palestinologia, isto é, todas as possíveis localizações fornecidas pelos textos bíblicos. Através dos mapas, por exemplo, a distribuição das tribos de Israel é alinhada ao território, bem como a maquete do templo, a expansão do reino, a entrada dos invasores e as viagens missionárias. Enfi m, a geografi a está presente no estudo das Escrituras, e sua importância está na construção da localização espaço-temporal do mundo bíblico. Em todos os textos do Antigo Testamento, a terra possui uma importância teológica, tanto para os escritores como para os leitores. Para o povo de Deus, a terra é origem e fi nitude da vida humana, promessa, dom e bênção. É no texto de Gênesis, especifi camente os capítulos 1 e 2, que a narrativa sobre a criação do homem e da mulher tem uma explicação muito clara sobre a relevância da terra: a fi gura humana ‘Adam (homem, varão) foi tirado da ‘Adamar (terra). Em Gênesis 12:1-4, Deus faz uma grande promessa ao patriarca Abrão: “De ti farei uma grande nação”. E a Moisés, Deus disse que daria uma terra boa e larga (Ex 3:7-8), entre outros. Enfi m, a terra faz parte da promessa da aliança de Deus com o seu povo. Comparando estes textos, percebe-se que a terra é um presente de Deus a ser possuído (ou conquistado) e que o cuidado desta terra implicava em mantê-la segura, livre das abominações e prospera. Eis os textos com destaques sobre a terra: | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA10 Gênesis 1: Gênesis 13:14-16 Êxodo 3:7-8 O Senhor Deus modelou o homem com o pó apanhado do solo. Ele insufl ou nas suas narinas o hálito da vida, e o homem se tornou um ser vivo. TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA Então, depois que Ló foi embora, prometeu o SENHOR Deus a Abrão: “Ergue teus olhos e observa bem, do lugar em que estás, para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente. Toda a terra que vês, Eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Tornarei a tua posteridade como poeira da terra: quem tiver a capacidade de contar os grãos de poeira da terra poderá também contar o número dos teus descendentes! BÍBLIA ALMEIDA REVISTA E ATUALIZADA E disse o Senhor: Tenho visto atentamente a afl ição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do heteu, e do amorreu, e do ferezeu, e do heveu, e do jebuseu. BÍBLIA ALMEIDA REVISTA E CORRIGIDA Salmo 146:3-4 Não confi eis em príncipes, nem com os homens incapazes de salvar: seu sopro partirá, eles voltarão ao seu pó, e naquele dia, é a ruína dos seus planos. TRADUAÇÃO ECUMÊNICADA BÍBLIA É claro que Deus se preocupou em orientar o seu povo com respeito à terra que foi concedida. Tanto os profetas como os sacerdotes entenderam que a posse da terra não era a garantia da presença de Deus, mas enquanto o povo mantivesse os cuidados com esta terra, administrando-a com o direito (retidão, mishpat no hebraico) e a justiça (tsadiq e sedeq no hebraico), então Deus habitaria entre eles (1 Samuel 8). Por isto, há muitasrepresentações fi gurativas (metáforas) sobre a terra. São alusões poéticas feitas à presença do ser humano sobre a terra, comparando-o, inclusive, como uma árvore plantada junto à água (Salmo 1:3), que sempre fl oresceria. Da mesma forma, a chuva e o orvalho sobre a terra são como a bênção do Senhor (Jl 2:23 e 3:18), ou ainda, a unção (Sl 133). E até a atividade pastoril seria representada como riqueza dada pela terra, pois produzia leite e mel. 11Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Exercício de fi xação Leia o texto do Salmo 67, a seguir. BÍBLIA NOVA VERSÃO INTERNACIONAL Que Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre nós, Pausa para que sejam conhecidos na terra os teus caminhos, a tua salvação entre todas as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos os povos. Exultem e cantem de alegria as nações, pois governas os povos com justiça e guias as nações na terra. Pausa Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos os povos. Que a terra dê a sua colheita, e Deus, o nosso Deus, nos abençoe! Que Deus nos abençoe, e o temam todos os confi ns da terra. Com base na leitura deste Salmo e observando o sentido que ele produz a respeito da terra, qual das alternativas abaixo afi rmar esta proposição: a) ( ) O salmista entende que o temor a Deus é o princípio do exercício da justiça sobre a terra, cujas ações deveriam ser praticadas pelos líderes, e, assim, o louvor poderia se estender aos povos vizinhos. b) ( ) O salmista convida todos os povos ao conhecimento de Deus, pois a soberania dele se estende até os confi ns da terra. Por isto, seria necessário para Israel extrair da terra o sustento para as guarnições militares, com vistas ao domínio de territórios. c) ( ) O salmista diz que a terra de Israel é meio pelo qual todas as nações serão abençoadas. Por isto, todos os povos precisam vir à Jerusalém para louvar a Deus e receber a bênção. d) ( ) O salmista compara a bênção dada por Deus ao povo, mediante o conhecimento que cada um tem do Senhor e pela boa colheita realizada em cada safra. e) ( ) O salmista faz um convite ao louvor de todos os povos, através do qual Deus abençoará aqueles que o temem e cuja liderança tem guiado o povo com justiça e retidão, tornando seu nome conhecido. E, neste sentido, a terra é o espaço desta bênção! Acesse o AVA para fazer o exercício e ver a reação do professor! | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA12 2. O CRESCENTE FÉRTIL Um dos recursos literários que ajuda a compreender o porquê da Geografi a ser importante no estudo das Escrituras é indicado em Gênesis 2:4a, que diz: “Esta é a história das origens dos céus e da terra,...” (NVI). O termo para o substantivo “história” é toledot, ou seja, um vocábulo cuja tradução pressupõe vários sinônimos: relato, narrativa, lista, descrição, descendência, geração, fi lhos de, biografi as, etc., podendo ser traduzido tanto no singular como no plural. Na verdade, este termo pressupõe uma chave de leitura para todo o livro de Gênesis. São descritos dez toledots em todo o livro que se referem aos ciclos dos patriarcas. Ou seja, para cada patriarca é dedicado um conjunto de narrativas de sua vida e realizações. Saiba mais Há um excelente estudo sobre o livro de Gênesis disponível na internet que exemplifi ca a proposta de leitura a partir do signifi cado do toledot. Ao acessar, você perceberá que o autor foi produzindo uma aula sobre a vida do patriarca. Um guia de estudo do livro de Gênesis http://www.pibjo.org.br/pibjo/wp-estudos/Um%20Guia%20de%20 Estudo%20do%20Livro%20de%20G%C3%AAnesis.pdf Se atentar para a história de Abrão (dentro do sexto toledot), descrita em Gênesis 12, há a indicação de ele saiu de Ur, da região da Caldeia (Mesopotâmia) e foi para Padã-Arã, região bem distante de seu povo. Depois ele desceu até o Egito e, após um episódio com o faraó e sua 13Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | esposa, retornou para a Padã- Arã. É neste momento que a Geografi a começa a fazer sentido, porque o estudo da terra que foi percorrida pelo patriarca facilita a visualização de sua jornada. O mapa abaixo irá demonstrar três grandes regiões no formato de um chapéu nordestino, ou ainda, da fase lunar “crescente”, para referir- se à localização de regiões de terra e água que caracterizam a riqueza fértil em meio a grandes regiões áridas e de escassez de alimentos. Do ponto de vista bíblico, esta designação refere-se ao berço da civilização, quando menciona-se que o Jardim do Éden localizava-se entre os rios Tigres e Eufrates. Mas o “Crescente Fértil” é muito mais amplo que esses dois rios apenas. Os estudos paleontológicos, acompanhados da antropologia, datam cerca de 10.000 a.C. para afi rmar a respeito da origem da humanidade. Embora fala-se do Antigo Oriente Médio (ou Próximo), os achados confi rmam que a humanidade teve seus ancestrais originários da África. Seja como for, vale aqui o estudo desta “meia lua”. A primeira região a ser demonstrada é a Mesopotâmia (do grego meso, meio, metade; e de potamos, rio), que irrigada pelos rios Tigre e Eufrates, desenvolveu-se política e economicamente na região. E, no campo cultural, promoveu diferenças signifi cativas às civilizações vizinhas, através da escrita, literatura, arte e pintura. Muitas vezes, a região “mesopotâmica” também é sinônimo do Grande Império Assírio e do Grande Império Babilônico. Foi na Mesopotâmia que mencionou-se a existência e a localização do Jardim do Éden. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA14 Vídeo Assista ao vídeo a seguir, que trata a respeito da narrativa do Jardim do Éden, um breve documentário sobre o Código de Hamurabi e o Zigurat, dentre outros. Civilizações Perdidas – Mesopotâmia: Retorno ao Éden, disponível em: h� ps://youtu.be/ZTpEq1JqePU - Duração: 46:48 A segunda região é proveniente do norte da África, o Egito. Este país abrigava o grande Rio Nilo e o seu grande delta (bifurcações de vários pequenos afl uentes que se direcionam para o mesmo destino, ou seja, deságuam no Mar Mediterrâneo). Ele nasce no nordeste do continente africano, abaixo da linha do Equador e deságua ao norte no Mediterrâneo). É considerado o mais extenso (comprimento) do mundo, mas o Amazonas (no Brasil) é o maior em quantidade de água. Para o Egito, não haveria prosperidade sem a presença do Nilo. Heródoto, um historiador, diz que o Egito foi um grande presente dado pelo Nilo ao mundo. Pois, através dele, houve o desenvolvimento da agricultura e do comércio, tornando o país um império de cultura, civilização e armamento. Vídeo Assista aos vídeos abaixo e entenda o processo de irrigação do rio Nilo. “A agricultura no Egito Antigo”, disponível em: h� ps://youtu.be/0RaXqodVzAc - Duração: 3:54 “Uma dádiva do Nilo”, disponível em h� ps://youtu.be/doJGjkv1QsM Duração: 3:02 E, por fi m, a região da Palestina, que, na época bíblica, compreendia a planície do Rio Jordão com vilarejos agrícolas e atividade pastoril. Esta região era praticamente a responsável pela produção de alimentos para todo o povo. O período tribal proporcionou a passagem do povo 15Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | por esta região (Abraão, Moisés, etc) e, após a conquista por Josué, deu-se a fi xação do povo e a distribuição das terras. Canaã, como era designada na época, foi o ancestral de Cam, o fi lho amaldiçoado de Noé. Originariamente, Cam foi o ancestral do povo cananeu. A importância do Crescente Fértil se dá para explicar o fenômeno da mudança do “nomadismo” para a fi xação em terra, também denominado de “sedentarismo”. Uma vez que os constantes deslocamentos em busca de alimento e água, as regiões com água e terra fértil criaram condições de desenvolvimento da agricultura, produção de alimentos e, ao longo de um processo social, o desenvolvimento político, econômico e religioso. Tais aspectos foram dando condições de compreender a formação cultural das etnias do Antigo Oriente Médio. Portanto,com a residência fi xa da população, nas proximidades ao Nilo, ao Tigre e Eufrates e ao Jordão, surgiram as cidades, as relações de comércio, a produção artística e científi ca. Sobre a ciência, a história e a arqueologia afi rmam que os instrumentos utilizados por estas civilizações eram bem elaborados para condições de produção agrícola, pecuária, comercial e educação. Pelo olhar da sociologia, as funções sociais foram também resultados de especulação econômica e política. Cada região tornou-se um centro de desenvolvimento, a ponto de criar condições de sustentabilidade, provisão e proteção da população. A sedentarização deu origem aos aglomerados populacionais, pois as cheias dos rios condicionavam as terras com húmus fertilizante, tornando a associação “água e terra” como compreensão de que nestes espaços a vida humana estava garantida. Ainda sobre o Crescente Fértil vale a pena conhecer uma chave de leitura oferecida pela Sociologia. Trata-se da interpretação que se dá para uma sociedade primitiva, a partir da identifi cação do seu modo de produção. As sociedades antigas mantinham a sua organização política e social, sustentadas pela atividade que as mantinha enquanto grupo social. No período do nomadismo (o povo de Deus formado por tribos), a relação econômica era pelo sistema de trocas e relações familiares. No caso de Israel, o culto também contribuía para esta unidade patriarcal. Por isto, o modo de produção do período de Gênesis até Juízes é denominado | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA16 Tribalismo. E, após a instalação da monarquia, com o rei Saul, a fonte econômica determinada pela administração era da criação do exército permanente, sustentado pelos anciãos de Galaad. Neste sentido, os tributos pagos pelas tribos patrocinavam o empreendimento militar do rei. Logo, o período da monarquia será chamado de modo de produção Tributário. Vídeo Veja o vídeo que traz uma exposição bem detalhada sobre o Crescente Fértil, fazendo associação com os dois Modos de Produção, o Tribal e o Tributário: Inserir o vídeo sobre o Crescente Fértil, gravado pelo professor Ênio Após assistir o vídeo, o exercício a seguir irá proporcionar uma refl exão muito peculiar sobre alguns conceitos já estudados aqui e a sua opinião. Exercício de reflexão Veja a manchete, publicada no portal G1, do site globo.com, em cuja matéria divulga a migração dos paranaenses para o Estado de Mato Grosso. 17Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Diante da mensagem divulgada, quais são as possíveis causas que dão aos paranaenses a maior taxa de participação migrante ao Estado de Mato Grosso? (máximo de 100 palavras) 3. OS POVOS DA BÍBLIA Outro assunto ainda a ser tratado nesta primeira unidade é com respeito aos povos da Bíblia. Na verdade, não há como tratar todos os povos mencionados nesta unidade, mas há sim como situar o estudante de Teologia a respeito de uma hermenêutica, isto é, uma proposta de leitura sobre os povos. Do ponto de vista exegético, que corresponde à análise de um texto bíblico (perícope), cujo objetivo é extrair o sentido e signifi cado do contexto em que foi escrito, ressaltando-se o público alvo (grupo social) que recebeu a mensagem e o impacto produzido. Em outras, palavras, destina-se a relevância de um método exegético aplicado em um texto, a fi m de reproduzir os seus resultados para o mundo contemporâneo. Por isto, muitas perguntas surgem quando se fala sobre os povos da Bíblia. Seria como pesquisar a origem do brasileiro antes da conquista do Brasil pelos portugueses. Talvez, algum pesquisador iria dizer sobre | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA18 os tamoios, outros afi rmariam ser os jês-tapuias, outros ainda, os tupi- guaranis, e até os kaing-gangs. A verdade é que a menção dos povos é vista também como uma chave de leitura aos textos bíblicos. Do ponto de vista literário, ou seja, da própria fonte escriturística das Escrituras, os vários povos formaram-se a partir dos três fi lhos de Noé: Sem, Cam e Jafé. A fi gura abaixo ilustra a genealogia dos fi lhos de Noé. São ricas informações que ilustram o progresso que cada linhagem teve na descrição bíblica. Os fi lhos de Noé, com suas respectivas esposas, participaram do evento do dilúvio (Gênesis, capítulos 6 a 10). Eles participaram tanto do processo de construção, como também o de captura dos animais, recepção deles e acomodação nos compartimentos da arca. Ao total, foram oito pessoas que adentraram à arca, quando começou o dilúvio. É salutar dizer que, após a cessão das águas, percebeu-se que somente esses três fi lhos e respectivas esposas fi caram sobre a terra com a fi nalidade de povoá-la. Neste sentido, Sem, Cam e Jafé tiveram muitos fi lhos e os seus descendentes continuaram o processo de povoamento, ou seja, esses três fi lhos seriam os fundadores de vários outros povos. 19Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Há um episódio em Gênesis no qual é narrada a maldição que Noé faz a Cam, seu fi lho. Trata-se do relato no qual diz que Noé havia plantado uma vinha e, em comemoração à colheita, embebedou-se com o próprio vinho. Em meio às festividades, acabou fi cando nú em sua tenda. Cam vê seu pai nú e quis aproveitar-se do pai e vai ainda contar aos seus irmãos. Diante disto, os irmãos cobrem o pai e conta-lhe o que havia ocorrido. Então, Noé amaldiçoou a Cam e abençoou Sem e Jafé. Vale a pena observar esta narrativa, descrita em Gênesis 9:20-27. Para o escritor bíblico, os descendentes destes patriarcas deram origem a vários outros povos e se espalharam pela Terra. Os comentários bíblicos afi rmam que os descendentes de Jafé decidiram ir para o norte, distanciando-se de seus irmãos camitas (ou canaanitas). A literatura diz que este povo foi em direção à Europa e à Ásia. Já os descendentes de Cam, os que haviam sido amaldiçoados por Noé, se espalharam pelo sul da Palestina e norte da África. E, por fi m, os descendentes de Sem se estabeleceram na região do Oriente Médio, precisamente da região do deserto da Arábia até os limites dalém da Mesopotâmia. Como já dito, em perspectiva da leitura literária, tais povos foram os que povoaram o mundo após o dilúvio. E, neste sentido, o escritor bíblico procurou manter esta mesma linha de construção de signifi cado a respeito dos povos que foram se originando, após o dilúvio (Gn 10). A teoria sobre a formação das nações após o dilúvio é cheia de controvérsias, polêmicas e ainda debaixo de investigação arqueológica e histórica. Até aqui, adota-se esta teoria para exemplifi car o conteúdo bíblico com o surgimento das demais nações e suas localizações no mundo antigo. Portanto, são referências cuja cosmovisão refl ete a teoria bíblica sobre as nações do mundo. As fi guras seguintes mostram como o conteúdo bíblico pode ser vislumbrado sobre a extensão territorial dos povos que habitaram a terra. Cada autor vai aumentando seu campo de compreensão para explicar o alcance que cada povo teve. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA20 21Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Um comentário mais específi co precisa ser feito sobre a teoria dos povos, bem como o ensino teológico que os acompanha. Por exemplo, “sair por aí dizendo que os africanos são ‘negros’ porque é a maldição de Noé sobre Cam e, por isto, a África é amaldiçoada”. Este tipo de interpretação é um erro gravíssimo, tanto do ponto de vista teológico como exegético. Pois, na mesma linha de pensamento, os camitas (também chamados de canaanitas) habitavam Canaã, a região que mana leite e mel e que fora prometida por Deus. Então, como é uma terra próspera, boa e produtora de vida se fora bem antes amaldiçoada pelo próprio Deus? E se você tomar, por exemplo, a linha teológica que o povo de Deus veio dos fi lhos de “Sem”, os semitas, então terá problemas, pois Abrão saiu dentre os semitas e foi até o Egito, em cuja ocasião sua própria esposa havia dormido com o faraó. Logo, | Bíblia I - Introdução à Bíblia| FTSA22 o grande patriarca da fé teve mais mancha em sua trajetória genealógica do que o próprio Cam. Seja como for, esta é apenas uma tentativa de explicar a distribuição dos povos e a localização delas no mundo bíblico. Os povos na Bíblia, principalmente os descritos no Antigo Testamento, servem como indicadores da atuação de Deus através do seu povo escolhido. Esta eleição tinha o propósito missionário de trazer todos os demais povos à redenção divina. Neste sentido, os povos mencionados devem ser vistos como alvo da missão de Deus. UM BREVE RESUMO! As genealogias dos fi lhos de Noé estão em Gênesis 10 e Gênesis 11. Canaã, fi lho de Cam (fi lho de Noé) é, de acordo com a Bíblia, o ancestral dos cananeus. Apesar disso, os israelitas são cananeus teoricamente e segundo a arqueologia. Os fi lhos de Noé foram Sem, Cam (ou Cam/Cã) e Jafé, e os fi lhos de Cam foram Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã. Canaã teve dois fi lhos, Sidom e Hete, e foi o ancestral dos jebuseus, amoritas, girgaseus, heveus, arqueus, sineus, arvadeus, zemareus e hamateus. Canaã foi amaldiçoado por Noé porque Cam, seu pai, viu Noé nu, após Noé ter se embriagado e debochou de acordo com a maldição, Canaã seria servo de Sem e de Jafé. Exercício de aplicação O texto a seguir é de Gênesis 12:2-4, a partir do qual constata-se a promessa de Deus feita a Abrão sobre o projeto divino para todas as nações. Leia-o: “Eu farei de ti uma grande nação e te abençoarei. Tornarei grande o teu nome. Tu sejas uma bênção. Eu abençoarei os que te abençoarem, e quem te injuriar, eu o amaldiçoarei: em ti serão abençoadadas todas as famílias da terra”. BÍBLIA TEB, 1994, p. 39. 23Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Ao cruzar informações com os descendentes dos fi lhos de Noé, percebe-se que esta bênção foi se direcionando tradicionalmente por intermédio de uma única linhagem, a do povo semita. E, ao chegar em Abraão, seus descendendes foram perpetuando-se até à chegada do Filho de Deus, narrada pelo evangelista Mateus 1:1-17. Todavia, foi o apóstolo Paulo quem sentenciou a máxima da bênção à confi guração de um único povo, assinada por ele em Romanos 1:16,17, ao dizer: Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. BÍBLIA A. R. A. Diante disto, é possível concluir que o povo de Deus é formado por aqueles que aceitam pela fé Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Sendo assim, assinale abaixo a alternativa que explicaria a inclusão do povo brasileiro no processo de salvação de Deus? a. ( ) Devido aos dados do último censo de 2010, que confi rmou o crescente número dos “sem religião”, é possível dizer que esta lacuna abriu espaço para a salvação do povo brasileiro. b. ( ) O povo brasileiro não está incluído, pois seus descendentes não são da linhagem dos fi lhos de Noé. c. ( ) Somente os descendentes dos judeus e dos gregos, da época de Jesus Cristo, foram os últimos povos a serem incluídos. Nem mesmo os romanos foram incorporados no processo da salvação. d. ( ) A representatividade do povo brasileiro se confi gura a partir da aceitação da mensagem de que Cristo é Salvador. e. ( ) O povo brasileiro foi incluído porque Portugal localiza-se na Europa e, segundo a tradição dos Jefi tas, os portugueses foram incluídos. Acesse o AVA para fazer os exercícios e ver a reação! | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA24 4. LOCALIZAÇÕES GEOGRÁFICAS Doravante, serão oferecidas algumas passadas sobre relatos bíblicos cuja compreensão se dá também pela localização geográfi ca. São eles: o Jardim do Éden, a Viagem de Abraão, a Peregrinação no Deserto e o Monte Sinai. Em certo sentido, será uma panorâmica sobre os livros de Gênesis e Êxodo. 4.1. O Jardim do Éden Em Gênesis, 2:8-15 encontram-se as seguintes informações: 8 E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. 9 Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. 10 E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços. 11 O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro. 12 O ouro dessa terra é bom; também se encontram lá o bdélio e a pedra de ônix. 13 O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe. 14 O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates. 15 Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. Este jardim é uma referência ao sentido de um oásis, isto é, uma pequena região com água e plantações diversas, em meio aos terrenos áridos e desérticos. Há sim mananciais de água e plantas no deserto! São raros e surgem como confi guração da natureza para dar prosseguimento à sobrevivência de seres humanos e animais. Desde a presença de grama, árvores, fl ores, frutos (fl ora) como de insetos, répteis, mamíferos, ovíparos, herbívoros, etc (fauna). É a provisão divina sendo doada a toda 25Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | a criação, é Deus concedendo à sua criação os elementos necessários para a sobrevivência, cuidado e manutenção de todos os seres. As possíveis traduções para a palavra hebraica ´Eden são jardim, paraíso, oásis, prazer, planície, estepe, etc. Na língua hebraica, há possibilidades dos termos serem próximos entre si, pois depende-se da intenção da mensagem a ser pronunciada (anunciada). Neste sentido, em Gênesis 2:8 há a junção do termo jardim e ́ eden, isto é, gan ́ eden, que literalmente signifi ca o Jardim do Éden. Há muita especulação sobre a localização exata deste jardim. O que pode-se dizer é que, pelas informações do próprio texto bíblico, trata-se de uma ilhota no início da bifurcação dos rios Tigre, Eufrates, Pisom e Giom. No texto abaixo, há uma excelente explicação sobre a possível localização deste jardim. Do lado esquerdo, há três mapas que fornecem informações topográfi cas em três dimensões de distâncias que colaboram para entender o porquê do jardim ser uma especulação literária, histórica e teológica. E, no lado direito, encontram-se os argumentos sobre a localização do jardim. São fotos tiradas via satélite pelo GoogleEarth, nas quais concentram-se a demarcação provável do Jardim do Éden. Trata- se de uma pequena faixa de terra, ampliada, a fi m de ilustrar o espaço de terra habitado pela família de Adão. Saiba mais A PROVAVÉL LOCALIZAÇÃO DO JARDIM DO ÉDEN Disponível em: h� ps://sites.google.com/site/estudosbiblicosrevelados/home | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA26 Ora, plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, ao oriente, e pôs ali o homem que tinha formado ( Gênesis 2:8). Vemos neste versículo que Deus plantou um jardim em um lugar chamado Éden, ao oriente do Éden, e este jardim foi plantado geografi camente em um lugar identifi cado por um rio principal com quatro braços. E saía um rio do Éden para regar o Jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços (Gênesis 2: 10). Nota-se que saía um rio do Éden para regar este jardim que estava na parte oriental da região chamada de Éden naquele tempo. O jardim não chama Éden, a região onde o jardim estava plantado é que chamava Éden, na verdade o jardim não tinha um nome próprio. O jardim era regado só por um rio, quando passava o jardim se dividia em quatro braços indo para outras terras fora da região chamada de Éden. 27Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | O nome do primeiro (braço) é Pisom: este é o que rodeia toda terra Havilá, onde há ouro; o nome do segundo (braço) rio é Giom; este é o que rodeia toda terra de Cuche. O nome do terceiro (braço) rio é Tigre: Este é o que corre pelo oriente da Assíria. E quarto (braço)rio é o Eufrates (Gênesis 2:11, 13, 14). 1 - rio Pisom - terra de Havilá, / 2 - rio Giom - terra de Cuche, 3 - rio Tigre - região da Assíria, / 4 - rio Eufrates Estes quatro braços deste rio que saía do Éden não regava o jardim mas o rio que saia do Éden é o que regava o jardim que DEUS plantou, e dali do Jardim onde era regado pelo rio, é que se dividia e se tornava em quatro braços, nisto, notamos que estes braços já entravam em terras diferentes da região do Éden, como por exemplo dos versos acima escritos. Esta região neste mapa está localizada na Turquia no começo do braço do Rio Eufrates e também o braço do Rio Tigre e um rio principal onde se divide estes famosos rios onde provavelmente foi plantado o Jardim que Adão e Eva habitaram antes do pecado no Éden. Quero colocar um esclarecimento para leitor que o jardim do Éden foi plantado antes do Dilúvio, e tinha querubins e uma espada fl amejante para guardar o caminho da árvore da vida. Gênesis 3:24 Não sei ao certo, falar abertamente, mais há uma pergunta que nós os cristãos fazemos para nós mesmos: será que o jardim no Éden sobreviveu o Dilúvio e passou junto com Noé para época das gerações de seus três fi lhos e existem hoje guardados pelos querubins como antes? porque até a topografi a geográfi ca da terra em muitos lugares mudou por causa das águas do Dilúvio. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA28 Há ainda que considerar a interpretação do Jardim do Éden mais como uma referência mitológica, ou seja, uma narrativa que procura descrever o surgimento dos elementos presentes na natureza. Neste sentido, há vários textos (gêneros literários) que se tornam referências “universais” para o entendimento acerca destas narrativas. Por exemplo, as cosmogonias são os relatos de como surgiu o universo. As culturas primitivas são fontes cujos conteúdos indicam as linhas de interpretação da própria cultura. Por isto, cada cultura indica o seu mito a respeito da criação: os hindus, os mesopotâmicos, os hebreus, os aborígenes, etc. Já as teodiceias referem-se às várias tentativas de interpretar o surgimento do bem e do mal nas culturas primitivas. São os primeiros traços do sentido axiomático (valores éticos e morais) que o grupo social dita para o entendimento acerca da vida e da morte, do desenvolvimento e dos limites, da sabedoria e da ignorância, entre outros. O episódio descrito em Gênesis 3, denominado A Queda, exemplifi ca como o “erro” do comportamento de Adão e Eva foram essenciais para interpretar o pecado como “essência da soberba e da desobediência” que passou a toda a criação. E também em Gênesis encontra-se o relato da história entre dois irmãos, Caim e Abel. O propósito deste episódio é confi gurar a interpretação acerca do mal que afeta a relação das pessoas humanas: a inveja em contextos religiosos. E, em maior quantidade, há os mitos, isto é, os relatos que dão sentido aos elementos da natureza e das experiências dos grupos sociais. Os mitos sempre vêm recheados com símbolos, descritos em linguagem religiosa e, essencialmente, reforçadas por memórias afetivas, celebrativas e ritualísticas. Dentre os muitos mitos existentes nas religiões, o da criação é o mais concorrido no estudo literário, fi losófi co e teológico. Por questão de orientação, mito não signifi ca “aquilo que não é real, ou que não existe”. Ele é um termo usado literariamente para designar como são explicados os conceitos de temas abstratos (criação, pecado, morte, felicidade, etc). E, devido à sua peculiaridade literária, os mitos utilizam elementos simbólicos para fazer os argumentos. 29Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | E, associado com os mitos, há as epopeias, ou seja, conjunto de narrativas e/ou poemas que tratam de um herói que explica, participa ativamente de competições e guerras para ganhar territórios, sobreviver em catástrofes, salvar e/ou ser salvo milagrosamente de situações impossíveis e direcionar o seu povo à continuação da vida, entre outras notáveis realizações. Foi justamente o que aconteceu com Noé, no relato do dilúvio. E é comum, nos dias atuais, fazer a comparação dos relatos de dilúvio das grandes culturas primitivas. Saiba mais: O QUE É A EPOPEIA DE GILGAMESH? SILVA, Daniel Neves. “O que é a Epopeia de Gilgamesh?”, Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-epopeia- gilgamesh.htm>. Acesso em 25 de maio de 2019. Sobre “O que é a Epopeia de Gilgamesh?”, podemos dizer que essa obra a respeito das aventuras do rei de Uruk é um poema épico da literatura suméria de 2000 a.C. A Epopeia de Gilgamesh narra os feitos de Gilgamesh, rei de Uruk, em sua procura pela imortalidade. Ela é considerada a obra de literatura mais antiga da humanidade. Como parâmetro disso, basta lembrar que os famosos poemas homéricos surgiram cerca de 1500 anos depois dessa epopeia suméria. A Epopeia de Gilgamesh foi localizada por arqueólogos em doze tábuas de argila, cada qual contendo cerca | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA30 de 300 versos. No entanto, historiadores consideram apenas as 11 primeiras tábuas, uma vez que a 12ª possui uma versão sintética da história que contradiz as outras inscrições. Essas tábuas foram encontradas em uma escavação que ocorreu no século XIX, na região onde fi cava a antiga cidade assíria de Nínive. Essas escavações eram conduzidas pelo arqueólogo britânico Austen Harry Layard, que, em 1849, localizou uma série de itens pertencentes à Biblioteca de Nínive, dos quais as tábuas da Epopeia de Gilgamesh faziam parte. O trabalho de tradução da obra foi realizado por Henry Rawlinson e George Smith na segunda metade do século XIX. A tradução desse poema épico somente foi possível graças à Inscrição de Dario, que transcrevia caracteres cuneiformes para três idiomas: persa, babilônio e elamita. Esse trabalho foi ampliado quando novos trechos da história foram encontrados posteriormente. A obra encontrada nessa época foi escrita pelos sumérios e recebeu o nome de Sha-naqba-imru (Aquele que viu a profundeza) ou Shutur- eli-sham (Aquele que se eleva sobre todos os reis). Tempos depois, o original dela em sumério foi transcrito a mando do rei assírio Assurbanípal (668 a.C. - 627 a.C.) e foi armazenado na Biblioteca de Nínive. A Epopeia de Gilgamesh parece ter sido bastante conhecida na região, pois pesquisas localizaram diversas traduções e adaptações feitas a partir dela, em idiomas como o hitita e hurrita e em diferentes locais como Nippur, Uruk e na antiga capital hitita, que se chamava Hattusa|1|. Narrativa da Epopeia de Gilgamesh A narrativa da Epopeia de Gilgamesh conta os eventos de Gilgamesh, rei de Uruk. De acordo com a Lista Real Sumeriana (lista de todos 31Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | os reis sumérios), ele foi o quinto rei dessa cidade. Segundo ainda essa lista, o reinado de Gilgamesh sobre Uruk foi de 126 anos, e ele aparece no épico como fi lho da deusa Ninsuna. Esse rei sumério existiu, provavelmente, no período entre 2800 a.C. e 2500 a.C. Na história narrada pelo poema, Gilgamesh é apresentado como um rei despótico, arrogante e que oprimia o povo da cidade de Uruk. Os deuses, então, criaram Enkidu do barro e enviaram-lhe ao encontro de Gilgamesh com a missão de torná-lo mais humilde. Os dois tornaram- se amigos e iniciaram uma trajetória marcada por muitas aventuras, e, em uma dessas aventuras, ambos desrespeitaram a deusa Inana. Os deuses resolveram matar Enkidu como punição pelo desrespeito a essa deusa, e, Gilgamesh, entristecido, iniciou uma outra jornada em busca da imortalidade. Nessa jornada pela imortalidade, Gilgamesh foi ao encontro de Utnapishtim, um herói conhecido por ter alcançado a imortalidade após sobreviver a um grande dilúvio. Durante esse grande dilúvio, Utnapishtim teria construído uma grande arca a mando dos deuses e abrigado sua família e um grande número de animais nela. Esse herói prometeua imortalidade para Gilgamesh, desde que ele cumprisse algumas missões. Entretanto, o rei falhou nessas missões e retornou para Uruk. A menção ao dilúvio é uma parte da narrativa que chama a atenção por causa da semelhança com a narrativa bíblica sobre o dilúvio e a trajetória de Noé. Os historiadores acreditam que a história suméria tenha servido de infl uência para a formulação da narrativa hebraica sobre o dilúvio. Esses especialistas sugerem ainda que, além desse, existam outros aspectos da cultura hebraica que também foram herdados da cultura suméria. |1| CARREIRA, José Nunes. Gilgamesh em veste hitita, p. 37. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA32 Exercício de fi xação Leia atentamente abaixo as descrições bíblicas e depois faça o que se pede. I - Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele (Colossenses 1:15,16). II - Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Romanos 5:12). III - Como caíste do céu, ó estrela da manhã, fi lho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo (Isaías 14:12-14). A partir do conteúdo descrito em I, II e III é possível afi rmar que: Em I, o hino de Colossenses refere-se ao Deus Filho, Jesus Cristo, que, na elaboração da teologia cristã, ele também é criador. Em II, a ênfase hermenêutica de Paulo aos Romanos é sobre o efeito que o pecado de Adão causou a todos os integrantes da criação. Em III, a descrição é sobre Lúcifer para explicar que a origem de sua queda foi a de querer ser e estar acima de Deus. Portanto, assinale a alternativa correta. a. ( ) I e II são epopeias porque consideram Jesus Cristo o herói que vence o pecado. b. ( ) O relato da queda e a parênese de Paulo em II são argumentos acerca dos símbolos do mito do pecado. c. ( ) Satanás é um anjo caído, por isto não foi detalhado nos relatos de cosmogonias. d. ( ) O conteúdo de III é um relato sobre a criação dos seres angelicais. e. ( ) Paulo é apóstolo. Sendo assim, ele não é referência para os relatos de mito. 33Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 4.2. A viagem de Abraão É muito familiar para o estudante do Antigo Testamento a menção do patriarca Abraão como referência para a origem do povo de Deus. Do ponto de vista da Geografi a Bíblica, é relevante perceber que sua jornada (literalmente, seu deslocamento de uma região para outra) é interpretada a partir de uma linha teológica, isto é, a chamada dele feita por Deus (Gn 12). No entanto, esta jornada precisa ser compreendida também pela ilustração dos mapas, pois caracteriza um entendimento acerca do nomadismo. Em Gênesis 12:1-9 encontram-se as instruções dadas por Deus a Abrão. Diz o texto bíblico que o patriarca saiu de Ur dos Caldeus (ou Caldeia) e dirigiu-se para a região de Harã. A cidade de Ur tinha um porto com grande proeminência comercial para além das demais grandes cidades em direção à Palestina e Egito. Devido à sua localização, ou seja, | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA34 encontrava-se no meio da rota para leste e oeste, havia herdado as condições econômicas dos centros da Mesopotâmia, Nínive, Babilônia e outras cidades ao longo dos rios Tigre e Eufrates. No mapa ao lado, veja que Ur está localizada ao sul da Mesopotâmia, indicando a saída de Abraão até à região do Egito. Pode se dizer que a viagem do patriarca Abraão está dividida em quatro fases. A primeira é a saída dele e de sua família de Ur, que pertencia à região da Mesopotâmia, sob a liderança dos Caldeus (pois eram da Caldeia) e era um aglomerado de outros clãs (aldeias). Este relato está em Gênesis 11:31. Seguindo os rios Eufrates e Tigre, há uma outra região, Padã-Harã, quando inicia-se a segunda fase. Nesta época, esta região pertencia à grande potência Assíria, próxima à capital Nínive. Em Harã, houve o chamado específi co de Deus para Abraão (Gn 12:1-5). É possível que esta região tenha sido fortemente habitada pelos chefes de famílias (também patriarcas), mas debaixo de uma liderança maior, a de Abrão, pois em tempos futuros, Eleazar (o servo de Abrão) volta à esta região para buscar uma noiva para Isaque. Em Canaã, mais precisamente a região de Siquém e Jerusalém, Abrão faz acampamento com sua família e permanece bom tempo ali. Quando sai de Canaã para o Egito, ele passa por Betel e Ai. A terceira fase associa-se com informações históricas para exemplifi car a rota que Abrão e sua família tomam para dirigir-se até o Egito. Devido a uma situação de fome e escassez de alimentos, o patriarca teve que descer até o grande Império Egípcio e ali abrigar-se por um bom tempo como estrangeiro. Ocorre alí também o episódio do Faraó com Sara. É interessante observar as questões culturais neste relato. A jornada de Abraão para o Egito é descrita em Gênesis 12:10. Por fi m, a quarta fase é a volta de Abraão e família para a região do Negueb, descrita em Gênesis 13:1. 35Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Saiba mais: Breve explicação sobre o episódio de Sara e o Faraó Quando ele chegou perto do Egito, ele disse a Sarai, sua esposa: “Veja agora, eu sei que você é uma mulher bonita; e quando os egípcios virem você, dirão: ‘Esta é sua mulher’; e eles me matarão, mas te deixarão viver. “Por favor, diga que você é minha irmã para que ele possa ir bem comigo por sua causa e que eu viva por sua causa” (Gênesis 12:11 - 13). O plano de Abraão funciona, mas causa muitos problemas para os egípcios. Primeiro, não apenas sua vida é poupada, ele é bem tratado e recebe doações do faraó do Egito (Amenemhat II) quando o governante leva Sarah para sua casa. Deus, no entanto, traz pragas a Faraó e sua casa por causa de Sara. O governante enfurecido logo confronta Abraão sobre sua mentira. Então o rei (Faraó do Egito) mandou chamar Abrão e perguntou-lhe: ‘O que você fez comigo? Por que você não me disse que ela era sua esposa? Por que você disse que ela era sua irmã e me deixou tomá- la como minha esposa? . . . ‘(Gênesis 12:18-19) Em questões culturais, o egípcio podia tomar uma segunda esposa desde que ela não tivesse já sido prometida ou em compromisso com alguém. Neste caso, a mentira de Abraão havia colocado o Faraó em situação de vexame, uma vez que ele havia estado com uma mulher já casada. Veja, a seguir, um resumo das viagens de Abraão com cenas antigas e atuais dos episódios e com narração em português. Assista o vídeo: Livro 1 – Gênesis: Viagens de Abraão Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7ewOfYMJW1g | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA36 4.3 A peregrinação das tribos de Israel Na Unidade II será estudada a divisão das doze tribos, a partir de informações do Pentateuco. Neste momento aqui, será feita uma pequena exposição sobre o período de peregrinação do povo de Deus no deserto. Pode-se dizer que a peregrinação é também uma chave de leitura para o entendimento acerca do chamado do povo de Deus. O ponto de partida é um pouco antes da saída do povo de Deus do Egito, ou seja, do momento em que Moisés havia fugido do Egito e ido até à região de Midiã. Nesta terra, encontrou-se com um patriarca e sacerdote, Jetro (segundo a tradição linguística, é possível também ser chamado de Ragüel e de Jobab). Enamorou-se de Zípora, a fi lha mais velha de Jetro, e casou-se com ela. Por não possuir bens materiais, Moisés teve que ajudar na criação de ovinos (Ex 2:11-22; 3:1). É, pois, neste período que Jetro ouve acerca da opressão que oFaraó do Egito exercia sobre os fi lhos de Israel. E é também neste momento que Moisés teve seu chamado, junto à sarça ardente, tradicionalmente no Monte Sinai, no qual Deus o vocaciona para ser o Libertador do povo hebreu. Consciente do seu chamado, Moisés então vai até o Faraó e discursa sobre a exigência que Javé faz, a fi m de libertar o povo. É certo que a estrutura egípcia confronta os dizeres de Moisés e não admite libertar o povo. Após nove tentativas de conscientização, denominadas pragas, chega-se à última delas, conhecida como morte dos primogênitos. E, após este evento, o Faraó decidiu sair o povo. Todavia, logo em seguida, arrepende-se e vai atrás do povo, a fi m de exterminá-lo, uma vez que o povo encontrava-se diante do Mar Vermelho. O relato comenta sobre o fi m desta perseguição, quando milagrosamente Deus abre o Mar Vermelho e deixa o povo passar. Em seguida, os egípcios fazem perseguição, mas as águas voltam ao curso normal e muitos morrem afogados. 37Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | A partir de então, o povo passa a vaguear pelo deserto em busca de direção divina para prosseguir em busca de uma terra a ser mostrada por Deus. A peregrinação pelo deserto é compreendida como uma luta muito dura para o povo, pois signifi cava morrer à mingua do deserto. Para muitos, foi como se não tivesse caixões sufi cientes para todo o povo. Defi nitivamente, existem aqueles que preferem a escravidão do Egito. É claro que a residência fi xa dava ao povo a conotação de que “habitava” uma terra diferente – daí o nome o povo da terra, pois cuidava de animais da terra (no hebraico ‘apiru). E, no deserto, por não ter uma terra, o povo sentia-se peregrino. Como peregrinos, o povo enxerga nos acontecimentos a ação de Deus: durante o dia são guiados por uma nuvem, e durante à noite são guiados por uma coluna de fogo. Os hebreus do Egito e os sinaítas dão início a uma série de acampamentos durante o processo de peregrinação. Na verdade foram 42 sessões de parada e levantamentos de destacamentos para o povo de Deus. Levaria-se entre 11 a 30 dias de caminhada até Canaã, todavia a peregrinação perdurou por 40 anos. Durante a peregrinação no deserto, houve a construção da tenda e havia duas disposições sobre como o acampamento deveria ser formado. A primeira delas se referia à disposição dos participantes da tribo de Levi, que fi caram responsáveis pelo trabalho de preparação, celebração e demais serviços da liturgia e do culto perante o Tabernáculo. Como o Tabernáculo representava a “habitação de Deus entre o seu povo”, então os levitas foram dispostos em formação de contorno, compreendendo os quatro pontos cardeais do Tabernáculo. Na fi gura abaixo, há a indicação desta disposição, bem como os dados do censo realizado e descrito no Livro de Números. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA38 Nesta disposição, entende-se que a centralidade é o tabernáculo do acampamento. E a divisão foi feita segundo os fi lhos de Moisés e Arão. De certa maneira, os quatro lados da Tenda eram contemplados pela disposição dos levitas. Neste sentido, a divisão de trabalhos e participação contínua dava sentido de ‘serviço ao Senhor’, isto é, servir ao Senhor signifi cava cumprir com os trabalhos do tabernáculo. Já na segunda fi gura, estima-se a disposição de todos os demais participantes do povo, ou seja, as tribos. Cada conjunto de três tribos fi xaram-se ao redor do tabernáculo, logo após a disposição dos levitas. Neste esquema, as tribos guardavam os levitas, que, por sua vez, guardavam o tarbernáculo. Veja, a seguir, a descrição dada pelos editores do Manual Bíblico (páginas 201 e 202) sobre as possíveis rotas e acampamentos do povo de Deus no Deserto. As Rotas do Êxodo, do Manual Bíblico, 39Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA40 4.4 O estudo dos montes bíblicos Há dois termos técnicos que se preocupam com o estudo dos diferentes relevos do mundo da Bíblia. Um deles é a orografi a, que diz respeito ao estudo dos montes, montanhas, cordilheiras, elevações de terras, vales, planícies, depressões e alguns aspectos do território físico (dimensões territoriais). O outro é a toponomia, que diz respeito às regras, normas e convenções técnicas de confi gurações do estudo dos relevos. No caso da Bíblia, há vários montes mencionados e que se tornam também chaves de leitura para a compreensão das passagens bíblicas. Neste momento, você terá acesso a uma lista dos montes, com o nome descrito e a referência do acontecimento. Alguns deles ainda permanecem muito próximos da época bíblica, mas outros já foram urbanizados e transformados em cidades e povoamento. Esta é a lista dos montes mencionados na Bíblia: NOME EVENTOS Monte Ararate Gênesis 8:4 O Monte Ararate foi onde a arca de Noé repousou após as águas do dilúvio diminuírem o seu nível. O Monte Ararate fi ca na atual Turquia e possui dois cumes, cujo maior supera cinco mil metros de altitude. Monte Moriá G ê n e s i s 22:2 2 Crônicas 3:1 O Monte Moriá fi ca na região para o qual Abraão partiu com seu fi lho Isaque para oferecê-lo em sacrifício a Deus. Posteriormente o Templo de Salomão foi construído no Monte Moriá. Isso signifi ca que sua localização está na cidade de Jerusalém. 41Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Monte Seir Gênesis 36:8 O Monte Seir fi ca ao sul do Mar Morto. As montanhas de Seir fi caram conhecidas na Bíblia por ter sido o local para onde Esaú foi após a morte de seu pai, Isaque. Monte Sinai (Monte Horebe) Êxodo 19:2- 25 O Monte Sinai sem dúvida é um dos montes mais emblemáticos da Bíblia. Nem todos sabem, mas o Monte Sinai é o mesmo Monte Horebe citado em outras partes da Bíblia. No Monte Sinai a Lei foi dada a Moisés. Mais tarde o profeta Elias também esteve no Monte Sinai, mas na ocasião chamado de Horebe. Sua localização exata é debatida, mas acredita-se que fi ca próximo do Egito. Monte Ebal No Monte Ebal foi ordenado que os israelitas construíssem um altar após entrarem na Terra Prometida. O Monte Ebal fi cava próximo do Monte Gerizim. Monte Nebo (Monte Pisga) O Monte Nebo é mais outro monte que é mencionado na Bíblia por dois nomes diferentes. O Monte Nebo, ou Monte Pisga, foi o local de onde Moisés avistou a Terra Prometida. Monte Hermom Josué 11:3,17 O Monte Hermom é citado no livro de Josué como sendo uma cadeia de montanhas que fi cava no limite norte do território conquistado de Canaã. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA42 Monte Tabor Juízes 4:6 O Monte Tabor fi cou conhecido principalmente pela batalha em que Baraque atacou Sísera, o general do exército do rei cananeu Jabim. Monte Tabor, que fi ca a poucos quilômetros a leste de Nazaré (cerca de 10 quilômetros) também servia de fronteira natural entre os territórios de Issacar e Zebulom. Monte Gilboa 1 Crônicas 10:1,8 O Monte Gilboa foi o local onde muitos israelitas foram mortos, incluindo o rei Saul e seus fi lhos, após uma batalha desastrosa contra os fi listeus. Monte Sião Samuel 5:7 O Monte Sião é outro monte que possui um signifi cado bíblico muito grande. O monte em si originalmente refere- se à área sudoeste de Jerusalém. Mas posteriormente passou a ser usado para designar toda Jerusalém e de forma a incluir até mesmo o Monte Moriá onde o Templo foi edifi cado. Além disso, o Monte Sião também é citado várias vezes de forma simbólica. Monte Líbano 1Reis 5:14,18 A região montanhosa do Líbano aparece na Bíblia como sendo o local de onde veio o cedro e as pedras usadas pelo rei Salomão na construção do Templo em Jerusalém. 43Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Monte Carmelo 1 Reis 18:19 O Monte Carmelo sempre é lembrado na Bíblia por ter sido o local onde fogo desceu do céu e consumiu o holocausto. Foi ali que Elias desafi ou e derrotou os profetas de Baal. Monte Gerizim João 4:20 No Monte Gerizim ocorreu o encontroentre Jesus e a mulher samaritana junto a um poço. Nos tempos do Antigo Testamento foi ali que os samaritanos construíram um templo. Monte das Oliveiras Marcos 13:3,4 Sem dúvida o Monte das Oliveiras é um dos montes da Bíblia mais conhecidos. Várias ocasiões importantes do ministério ocorreram nesse monte ou nas proximidades dele. O sermão escatológico de Jesus, por exemplo, foi feito no Monte das Oliveiras. Gólgota Mateus 27:33,34 Além desses montes, há também o Calvário ou Gólgota, que por alguns também é chamado de Monte Caveira. Mitos não o consideram exatamente um monte, até pela discussão que há sobre a localização correta desse lugar. O que se sabe é que era um lugar que fi cava fora de Jerusalém e provavelmente era uma pequena colina. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA44 Há muitos outros montes citados na Bíblia. Uma lista completa, você poderá encontrar na seção da Leitura Complementar. Trata-se de um estudo feito pelo professor Francisco de Abreu Neto. Todavia, para ajudá- lo a estudar e conhecer os montes da Bíblia, faz-se uma sugestão de como tais montes devem ser estudados. Primeiro, anota-se o nome do monte mencionado na Bíblia e a respectiva referência. Segundo, realiza- se uma breve pesquisa a respeito das características do relevo (altura, dimensões, localização, etc). Terceiro, ao fi nalizar a pesquisa, sugere-se também, quando possível, adicionar a seleção de uma ou mais fotos, a fi m de ilustrar o monte. Esta pesquisa poderá ser feita através da internet e ou por meio de atlas bíblicos. Por exemplo: PESQUISA SOBRE O MONTE SINAI Do grego, o Monte Sinai (também conhecido em hebraico como Monte Horeb, ou em árabe como Jebel Musa, que signifi ca “Monte de Moisés”) está situado no sul da península do Sinai, no Egito. Esta região é considerada sagrada por três religiões: judaísmo, cristianismo e islamismo. É um pico de granito com uma altitude de 2285 metros onde, segundo a Bíblia e a tradição judaica, Moisés recebeu as Tábuas da Lei. Ao longo dos séculos foram sendo construídos sobre o monte e à sua volta vários locais de culto e acumulados tesouros da cultura religiosa. 45Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | No pico do monte encontra-se a pequena Capela da Santíssima Trindade, construída em 1934 sobre as ruínas de uma igreja do século XVI, onde se pensa que existiria a sarça ardente – no entanto, o Mosteiro de Santa Catarina, no sopé do monte, clama a mesma localização. Entre a base e o pico, existe uma escadaria escavada na rocha com cerca de 4000 degraus (leva 3 horas a subir), chamada “Sikket Saydna Musa”, que signifi ca, em árabe, “O Caminho de Moisés”. A 750 degraus abaixo do pico, existe uma plataforma onde Aarão e os 70 sábios esperaram, enquanto Moisés recebia as Tábuas da Lei (Êxodo 24:14) e uma caverna, chamada “Retiro de Elias”, local onde Deus falou com Elias após 40 dias de caminhada pelo deserto (1 Reis 19:8-9). A noroeste deste ponto, encontra-se o monte Safsaafa, onde viveram eremitas bizantinos, como São Gregório e, logo abaixo deste pico, encontra-se a planície de ar-Raaha, onde os israelitas acamparam enquanto Moisés subia à montanha e onde, depois ergueu o primeiro tabernáculo. Esta ligação do Monte Sinai com a Bíblia atraiu muitos peregrinos ao longo dos séculos e uma das mais famosas foi a Imperatriz Helena de Bizâncio, no século IV que fez ali construir uma igreja, a Capela da Sarça Ardente, no local onde ainda se encontra vivo um arbusto de Rubus sanctus, que os monges acreditam ser a sarça ardente original. Imediatamente se estabeleceu ali uma comunidade monástica e, para proteger a igreja e os monges dos ataques de beduínos, o imperador Justiniano I mandou construir uma muralha à volta da igreja, no ano 542 e os edifícios que são hoje o Mosteiro Ortodoxo de Santa Catarina. Retirado de: h� ps://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Sinai, acessado em 27/05/2019 e comparado com: DOWLEY, Tim. Pequeno atlas bíblico. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA46 Exercício de aplicação Na Bíblia, os montes foram importantes referências naturais para exemplifi car o relacionamento de Deus com o povo. Foi, pois, no Monte Sinai que Deus concedeu a Moisés a escrita das Dez Tábuas (o Decálogo). O monte, assim como os rios, as planícies, o clima, é sempre uma marcação física que dá orientação às pessoas e animais, bem como serve como ponto de localização para demarcação de outros referenciais. 47Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Além disto, há algumas localidades que também podem fi gurativamente receber um segundo nome, por causa das interpretações religiosas. Por exemplo, Jerusalém é uma cidade que, por sua vez, se encontra no Monte Sião. Todavia, em algumas situações os dois nomes são intercambiáveis, isto é, tanto se refere à cidade como ao Monte. Considerando as informações acima, leia a notícia ao lado (O GLOBO). Nela comenta-se a prática dos adoradores, provenientes de comunidades religiosas na cidade do Rio de Janeiro. A partir do entendimento acerca de elementos da natureza como indicadores (ou referências) dos acontecimentos de Deus com o seu povo, é correto afi rmar que: a. ( ) A topografi a dos montes evidencia a prática da oração, facilitando o acesso entre Deus e a humanidade. b. ( ) Uma excelente forma de atualizar a leitura dos textos bíblicos é encontrar os pontos naturalmente altos da cidade e torná-los espaços sagrados. c. ( ) A oração só pode ser feita no monte que foi pesquisado academicamente por um especialista em religião. d. ( ) Os montes atraem as pessoas religiosas porque são excelentes espaços de refl exão, caracterizando proximidade com Deus, com a natureza e com os demais religiosos. e. ( ) Os montes de uma região tornam-se espaços sagrados quando os religiosos sobem nele e fazem suas orações. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA48 Conclusão Nesta primeira unidade, você estudou sobre a relevância da Geografi a para o contexto do conteúdo bíblico. Esta ciência tem como primazia o estudo da terra e de suas características (físicas, topográfi cas, hidrográfi cas, climáticas e de ocupações humanas) que favorecem a presença dos seres da natureza. Diante disto, percebeu-se que o Crescente Fértil constituiu-se em uma faixa de terra, que ia desde a antiga Mesopotâmia, passando pela Palestina e chegando até o Egito, cujos rios garantiam a atividade agrícola e pastoril e promoviam a sobrevivência das culturas babilônicas, cananeias e egípcias. Além do sentido da terra para os povos do Antigo Oriente enquanto bênção, promessa e dom, destacou-se também o estudo da origem dos povos da Bíblia, a partir de uma informação literária, ou seja, os três fi lhos de Noé habitaram o mundo, após o dilúvio: Sem foi responsável para gerar descendentes que povoassem a Mesopotâmia; Cam iria situar-se ao sul de Canaã e chegar até o norte da África; e, por fi m, os fi lhos de Jafé que iriam habitar o norte de Canaã e as regiões da Europa e Ásia. Acentuando-se as localizações geográfi cas, primeiro foi pontuada a possível localização do Jardim do Éden, enquanto referência que ilustra o surgimento da humanidade. Segundo, apresentou-se as quatro fases das viagens do patriarca Abraão, demonstrando o processo de chamada, peregrinação e construção do sentido do pai da fé a habitar a terra que mana leite e mel. Terceiro, foi ilustrado os 40 anos de peregrinação do povo de Deus no deserto, logo após a saída do Egito e a aproximação à Cades Barneia. E, por fi m, exemplifi cou-se o como a orografi a (estudo dos montes) deve ser feito pelo(a) estudante de Teologia. 49Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Le itura Complementar CERESKO, Anthony R. Introdução ao Antigo Testamento numa perspectiva libertadora. São Paulo: Paulus, 1996, p. 33-46 Capítulo 3: O contexto histórico do Antigo Oriente Médio. O crescente Fértil e o Nascimento da Civilização. Para facilitaro aprendizado do(a) estudante, é oferecido um roteiro de leitura. É um formulário que ajudará no processo de assimilação da leitura. Não é uma atividade obrigatória, mas ela colabora para o aprendizado. Fique à vontade para adotá-lo para esta disciplina. E, para você compreender como funciona, veja o modelo abaixo, baseado na leitura de: SCHLAEPFER, Carlos; OROFINO, Francisco Rodrigues; MAZZAROLO, Isidoro. A Bíblia: introdução historiográfi ca e literária. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 11-25. Parágrafo introdutório O mundo da Bíblia é estudado pela sua geografi a, literatura e movimentação histórica. É o estudo do relevo, das dimensões territoriais e culturais de cada região. Objetivo do autor No primeiro capítulo, os autores introduzem o leitor ao conhecimento da Palestinologia, cuja preocupação é estudar os mapas que compõem o Crescente Fértil. No segundo capítulo, o objetivo é problematizar a respeito da legitimidade da terra de Canaã sob os domínios da tradição patriarcal. Estrutura (sumário) Os autores eboçam os dois capítulos da seguinte maneira: 1. Introdução à geografi a bíblica; 1.1. A meia lua ou crescente fértil; 1.2. As três grandes linhas da humanidade; 2. A Palestina; 2.1. De quem é esta terra? Metodologia Os autores baseiam-se na topografi a (lugares) e cartografi a (mapas) para indicar a situação e a localização histórica e literária de Israel. Conclusão A importância do estudo da geografi a se dá na construção da localização espaço-temporal do mundo bíblico. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA50 Fique à vontade para melhorar a estrutura de seu resumo. A anotação torna-se um hábito de registro de informação. Você é quem irá escrever mais ou menos em seu resumo. Referências ABREU NETO, Francisco de. Geografi a bíblica sistematizada. Uma abordagem histórico-geográfi ca da Terra Santa. Curitiba: AD Santos, 2015. ANDRADE, Claudionor de. Geografi a bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2013. BÍBLIA. Português. Bíblia de Referência Thompson. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição revista e corrigida. Compilado e redigido por Frank Charles Thompson. São Paulo: Vida, 1992. BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição revista e atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil, 1969. BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos NVI. São Paulo: Vida, 2016. HERÓDOTO (484-485 a.C.). História. Traduzido por Pierre Henri Larcher. Texto acessado em 15/05/2019 e disponível na internet em h� p://www. ebooksbrasil.org/adobeebook/historiaherodoto.pdf TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA. São Paulo: Loyola, 1994. 51Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | UNIDADE 2: ARQUEOLOGIA BÍBLICA Introdução Nesta unidade o conteúdo a ser estudado será o da Arqueologia Bíblica. Geralmente, nos cursos de Graduação em Teologia, esta matéria é sempre esquecida, ou deixada em segundo plano. No entanto, aqui na FTSA, ela tem sua importância no currículo: trata-se de uma visão panorâmica sobre os principais sítios arqueológicos dos achados bíblicos, cuja intenção principal é situar o(a) estudioso(a) dos textos bíblicos quanto à atualização dos dados, à comprovação de alguns fatos e à confi rmação de grupos sociais mencionados na Bíblia. Por um lado, a arqueologia bíblica tem sido hoje mais estudada com vistas aos achados de manuscritos, pois há muita especulação sobre as origens e os conteúdos dos textos bíblicos. Neste sentido, a arqueologia tem contribuído muito para o estudo do aparato crítico que se encontra tanto nas versões do Antigo como do Novo Testamentos. E, por outro lado, as recentes escavações ainda realizadas na Palestina vêm contribuir para ratifi car os vários textos sobre os fatos da História de Israel e os seus desdobramentos, tais como: as inúmeras invasões de grandes impérios, a infl uência grega na cultura judaica e, com mais ênfase ainda, o processo de misturas culturais com a língua, cultura e política romana. O objetivo geral desta unidade é fazer com que o(a) estudante tenha um contato com o estudo da arqueologia bíblica, com a fi nalidade de “conhecer sobre o passado da história bíblica” (RICHELLE, 2017, p. 15). Neste sentido, a arqueologia é um convite para uma viagem no tempo. Uma viagem e um trabalho: a retirada de grandes quantidades de areia, alguns fragmentos de pedra e até mesmo algumas edifi cações para descobrir o que se encontra “embaixo de entulhos”. Será uma unidade interessante porque os exercícios irão promover uma leitura de estudo de conteúdo bíblico com bases arqueológicas, cuja relevância é aprender a história e as várias outras ciências que ajudam | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA52 a construir o sentido dela, tais como: arqueologia, geografi a, linguística, antropologia, numismática, heráldica, paleontologia, etc. Afi nal, os estudos arqueológicos são propostas de leitura dos textos bíblicos que, com segurança, fornecem dados culturais que complementam o sentido e o signifi cado da mensagem bíblica. Nesta unidade, você irá perceber como a fé deixa de ser um conceito amplamente abstrato e passa a obter consistência em argumentação e persuasão. Na verdade, o(a) estudante começa a reformular seus argumentos diante de vários textos bíblicos, porque tem contato com conhecimento atualizado acerca de regiões, aspectos culturais e achados documentais. E, mesmo havendo controvérsias, a confi guração da fé vai sendo aperfeiçoada e “reformada” ao passo que se tornando clara, inteligível e pertencente à história cristã. 1. ARQUEOLOGIA É A REVELAÇÃO DE CULTURAS ANTIGAS Dentre as muitas ciências que se conectam com o estudo das culturas antigas, a Arqueologia é a que se destaca pelo excelente trabalho de evidenciar a existência de diferentes grupos sociais, através da utilização técnica de vários restos de materiais. O objetivo é procurar vestígios desses materiais em lugares que as pessoas costumavam viver. No mundo todo, a presença de arqueólogos é relevante porque recupera os traços da existência de culturas passadas, exemplifi cando os processos históricos da sociedade. Para a Arqueologia Bíblica, a referência de estudo é sempre sobre as regiões mencionadas na Bíblia e/ou espaços da presença direta e indireta de cristão próximas à época bíblica. Uma execlente defi nição encontra- se no Manual Bíblico, que diz: Arqueologia bíblíca é o estudo sistemático de restos materiais/físicos de pessoas da antiguidade nas terras em que a história bíblica transcorreu. Essas terras abrangem a Palestina (o Israel de hoje), a Transjordânia (a Jordânia 53Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | de hoje), Egito, Síria, Líbano, Turquia (a antiga Ásia Menor), Grécia e Itália. Um arqueólogo bíblico procura relacionar descobertas arqueológicas com narrativas bíblicas. (MANUAL BÍBLICO VIDA NOVA, 2001, p. 94). É interessante observar que as regiões mencionadas compreendem tanto a presença do Antigo como do Novo Testamento. No caso do Antigo Testamento, as descobertas realizadas no Iraque também contribuem ao estudo arquoeológico da Bíblia, caso tenham relação com o mundo dos impérios assírio, medopersa, babilônico, persa, e outros mais. Enfi m, qualquer região que esteja direta e/ou indiretamente relacionada com informações dos textos bíblicos torna-se investigação do campo da Arqueologia. Para a Arqueologia, todo e qualquer material encontrado é uma grande fonte de informação. O termo chave que dá sentido e signifi cado para o entendimento da arqueologia é “restos”. Sim, pequenos indícios de materiais que restaram da presença humana em um determinado lugar. As classifi cações dos restos podem se assim defi nidas: Restos de culturas antigas Montes (chamados de tells), cavernas, túmulos e sepulturas feitas pelos homens Restos de esqueletos Pessoas e animais, Restos de artefatos variados pedaços de cerâmica e outros artefatos de metal pedra e vidro Restos de Inscrições Pedras com texto,pergaminhos, papiro, barro cozido, Restos de moedas Moedas em variados materiais de cunhagem (ferro, prata, ouro, etc) Restos de construções Prédios, casas, colunas, altares, estatuetas, artigos religiosos e legais, objetos de culto, estruturas comerciais (estradas, pontes, etc) Restos de vestimentas Roupas, armaduras, coletes, etc | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA54 Portanto, desde o simples tecido como também um pedaço de cerâmica, além de esqueletos, armaduras, móveis, objetos metálicos, entre outros, serviam como material de análise dos padrões de comportamento (vida e trabalho) do ser humano. Considerando, então, os tipos de material arqueológico a serem encontrados, a própria Arqueologia indica os ‘lugares’ a serem escavados. E, quando há o ‘acidente’ de alguma descoberta vir à tona por si, ela irá ser convocada a fazer linha de frente para sitiar o espaço e torná-lo pesquisável. Dentre estes muitos materiais, os três mais signifi cativos são: Restos, esqueletos e fósseis de seres humanos e animais (domésticos), pois dizem muito a respeito do comportamento humano. Objetos variados como metais, cerâmicas, pedras com alguma informação (desenho e/ou escritas) e até mesmo manuscritos. Textos, manuscritos (papiro, couro e pedra), enfi m qualquer material que contenha informação ou sistema gráfi co. É bom ressaltar também que o estudo arqueológico se complementa a partir de outras metodologias, ou seja, de aspectos técnicos de pesquisa e investigação dadas pelas outras ciências. A que mais contribui para a arqueologia é a História. E, no caso aqui selecionado, a História da Igreja Cristã. Define-se como história cristã por causa da contribuição de estudiosos que tiveram seu ponto de partida e motivação a história bíblica. E também porque a Arqueologia foi historicamente se desenvolvendo ao longo do conteúdo de achados cristãos. Para uma compreensão histórica de como a Arqueologia veio contribuindo 55Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | para o estudo da Bíblia, há, pelo menos, seis grandes momentos: (1) a peregrinação e as constantes viagens às terras santas, cujo início deu-se para conhecer o túmulo que Jesus morreu; (2) as explorações realizadas na Transjordânia, quando descobriu-se a Cesareia de Filipe e outros sítios; (3) as escavações realizadas na Palestina no século XIX, iniciando-se assim a topografi a dos sítios arqueológicos bíblicos; (4) o estudo da cerâmica como parâmetro de datação dos períodos e fatos bíblicos; (5) os registros estratigráfi cos, ou seja, desenhar e identifi car as diferentes camadas de terra e outros detalhes de uma cultura; e (6) as tarefas multidisciplinares, isto é, a contribuição da arquitetua, fotografi a, geologia, geografi a, osteologia (ossos), linguística, entre outros. Neste sentido, há algumas organizações estreitamente interessadas sobre o estudo das escavações, sítios arqueológicos, pesquisas, cursos, palestras e qualquer fomento na área da Arqueologia Bíblica. Na foto ao lado, apresenta-se várias organizações que têm projetos e programas arqueológicos, tanto para a formação, pesquisa e trabalho em Arqueologia Bíblica como também para os interessados em estudos bíblicos. O endereço para contato na internet é: Disponível em: h� p://www.tandyins� tute.org/bible-archaeology/coming-soon/ | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA56 Todavia, a instituição mais proeminente é a Biblical Archaeology Society (Sociedade Arqueológica Bíblica), que costumeiramente publica os achados dos pesquisadores, tanto os artefatos e objetos como os artigos relacionados aos textos bíblicos (O endereço é h� ps://www. biblicalarchaeology.org/) UM LEMBRETE: O QUE É UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO Defi ne-se sítio arqueológico o local e suas extensões onde tem sido possível encontrar evidências da presença humana. Geralmente, nesses lugares há os registros da atividade de pessoas, tais como: as pinturas rústicas com imagens que retratam aparências das atividades naturais; as construções feitas por mãos humanas, desde moradias e até pequenas elevações antigas, além dos jazigos e outras formas de armazenagem de corpos e/ou objetos; os artefatos para o trabalho do dia a dia, que, além de servir como símbolos e representações, também eram a marca de algum tipo de tecnologia empregada. Exercício de fi xação Dentre as várias defi nições sobre a Arqueologia formuladas pelos profi ssionais da área, uma maneira mais direcionada de compreendê-la é pela ideia que se tem de “algo antigo e escondido”, ou seja, não revelado ainda. Por isto, a Arqueologia realiza uma importante tarefa para trazer à luz o que está escondido e é antigo. Sendo assim, dentre as defi nições apresentadas a seguir, assinale a alternativa que melhor defi ne o estudo das coisas antigas: a. ( ) ciência teológica que estuda a formação da terra, pois o ser humano foi formado do barro. Ao encontrar-se um esqueleto antigo, faz-se a análise da camada de terra que envolveu os ossos. b. ( ) ciência que, utilizando processos como coleta e escavação, 57Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | estuda os costumes e culturas dos povos antigos através do material (fósseis, artefatos, monumentos etc.) que restou da vida desses povos. c. ( ) ciência que procura encontrar esculturas antigas, principalmente as de pedra e metal, pois tais elementos perduram mais tempo na natureza e protegem as informações do período arqueológico. d. ( ) ciência que utiliza-se da Sociologia e da Antropologia para determinar os vestígios de grupos sociais descritos em culturas primitivas, tais como os citados na Bíblia. e. ( ) ciência que mensura a idade dos objetos encontrados (fósseis, árvores e metais), utilizando-se de técnicas científicas exclusivamente para os materiais orgânicos. Acesse o AVA para fazer o exercício! Para fi nalizar esta seção, considera-se ainda uma abordagem sobre a Arqueologia Geral. Trata-se de uma percepção como a comparação entre os artefatos são interdependentes para a interpretação convencional e a interpretação específi ca de uma cultura antiga. Eis o que diz uma das provas de seleção da Universidade Federal de Juiz de Fora, do Estado das Minas Gerais: Na arqueologia o que importa não é mais saber simplesmente como os homens lascavam seus artefatos, mas sim procurar construir os aspectos culturais e sociais que se encontram por trás desta atividade. Os vestígios arqueológicos permitem construir um sistema de oposições (fogueiras com restos alimentares em contraposição a fogueiras sem restos alimentares, cerâmica decorada em contraposição à cerâmica simples, por exemplo), que não têm, contudo, signifi cados sociais absolutos. Desta forma, a questão é como passar das propriedades perceptíveis dos objetos (ou restos) à identifi cação de suas características sociais. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA58 Isto quer dizer que, ainda que existam tais distinções entre os materiais, há ainda outros elementos não materiais (por exemplo, a linguagem) que também contêm informações sociais. O fato é que, no processo das explorações e escavações, todos os materiais encontrados (estrutura, objetos e vestígios) consitutuem-se como conjunto de informações com propriedades defi nidas que indicarão a interpretação da cultura antiga. E, neste caso, a função do arqueólogo será a de desempenhar o apapel de decifrar tais informações e torná-las legíveis de serem estudadas, interpretadas e contextualizadas. No vídeo, a seguir, você irá observar como é conceituado a arqueologia, literalmente do grego archaios, que signifi ca “antigo”. E, observando o efeito que a arqueologia dá à sua tarefa de encontrar os vestígios do passado, então o desterramento produz o sentido para esta ciência. Vídeo: Arqueologia Bíblica (favor, inserir o vídeo gravado pelo professor Ênio) Acesse o AVA para assistir a videoaula! Exercício de fi xação Após o vídeo, você irá fi xar o conceito e a defi niçãode Arqueologia. Para isto, leia o seguinte texto: O signifi cado da palavra arqueologia tem sua base nas duas palavras gregas que a formam: arkhaios (antigo) e logos (discurso). Arqueologia poderia portanto ser defi nida como a ciência da antiguidade. Ela tem como objetivo reconstruir civilizações antigas através da escavação e do estudo dos objetos provenientes dessas escavações. Arqueologia Bíblica é um setor particular dentro da ciência da arqueologia. Esse setor estuda os elementos da Palestina e dos países próximos, que têm alguma referência aos tempos e aos escritos da Bíblia. O interesse científi co recai sobre os restos de 59Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | construções, monumentos artísticos, inscrições e outros objetos que contribuem à compreensão da história, da vida e dos hábitos dos hebreus e dos povos que entraram em contato com eles e tiveram infl uência sobre eles. Os limites da arqueologia bíblica nascem do fato que a linha temporal que a Bíblia compreende é muito grande e do mesmo modo é vasto o território onde se desenvolveram as narrativas bíblicas. A conservação de restos também é muito precária. Raramente são encontrados objetos de madeira, de couro ou tecido. (Retirado de “Uma Janela para o Mundo Bíblico: Arqueologia Bíblica” Disponível em h� p://www.abiblia.org/ver.php?id=1185&id_ autor=2&id_utente=&caso=ar� gos e acessado em 28/05/2019.) Diante disto, é correto afi rmar que: a. ( ) A Arqueologia Bíblica é o estudo da origem da humanidade, no sentido de encontrar os artefatos que provam a existência de culturas antigas, tais como: a latina, a grega e a romana. b. ( ) A Arqueologia Bíblica, através de processos de exploração e escavação, associa-se a outras ciências e busca em diversos restos a evidências de culturas antigas em lugares que eles costumavam habitar. c. ( ) A Arqueologia Bíblica é aquela que fornece as localizações dos grupos sociais do período tribal e monárquico de Israel e de Judá. d. ( ) A Arqueologia Bíblica busca evidências físicas e reais de todos os pontos de referências citados na Bíblia, tais como: montes, cavernas, poços, plantas, estatutetas e pedaços de madeira. e. ( ) A Arqueologia Bíblica tem a fi nalidade de provar o relato bíblico diante das especulações científi cas. Acesse o AVA para fazer o exercício! | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA60 2. A RELEVÂNCIA DA ARQUEOLOGIA PARA O MUNDO CRISTÃO Para os estudiosos da Bíblia (e leitores também), as recentes descobertas arqueológicas têm dado excelente contribuição à interpretação (tanto Exegese como Hermenêutica) dos textos bíblicos. De fato, existe uma relação saudável entre os exegetas e os arqueólogos, pois juntos têm promovido a efetividade da produção de sentido e signifi cado para certas passagens bíblicas. A primeira importância que a Arqueologia teve (e continua tendo) para o mundo cristão diz respeito aos achados dos manuscritos, tanto do Antigo como do Novo Testamento. Em 1947, por exemplo, houve um grande achado próximo ao Mar Morto. Assim que foram encontrados os manuscritos, os arqueólogos tornaram a sua atividade mais acentuada: foram eles que determinaram a localização, origem e desenvolvimento do material encontrado. Até hoje, na atualização das versões da Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS), responsável pelo texto do Antigo Testamento), e o Novum Testamentum Graece (NTG) e o The Greek New Testament (GNT), indicadores das versões editadas por Nestlé Aland e Kurt Aland, respectivamente, do texto do Novo Testamento, há a contribuição do arqueólogo, devido ao achado dos manuscritos, rolos, couro papiros e até pergaminhos (palimpsesto). 61Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | A segunda relevância da Arqueologia Bíblica para o mundo cristão é que ela conecta-se com a Linguística. Há várias expressões que foram construídas para exemplifi car o episódio bíblico, como por exemplo o diálogo entre Deus e Jacó (Gênesis 32). Neste episódio Jacó luta com Deus e dá o nome ao lugar de Peniel (literalmente “vi o Senhor face a face”). A ação de dar nome sagrado às situações é muito comum no mundo religioso antigo, principalmente nas culturas semitas. E, segundo o relato bíblico, Jacó chegou a erigir um altar com pedras, um tipo de referência geográfi ca. Todavia, a localização deste nome não é exata, mas aproximada, pois as “pedras” mencionadas pelo texto não foram encontradas. Na foto ao lado, percebe-se os vários momentos em que a peregrinação de Jacó (ou Israel) se dá em vários outras localidades também. Isto não quer dizer que a localização de cada lugar foi motivada por construção das palavras. Contudo, cada uma delas, em sua língua original, contribui com o trabalho da Arqueologia. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA62 A terceira relevância tem contribuição tripla, pois ajuda na interpretação da Palavra de Deus. Esta ajuda se dá a partir de dados geográfi cos, cronológicos e culturais acerca de textos, lugares, povos e, principalmente, avanços nas lacunas culturais existentes em vários povos mencionados na Bíblia. No tópico seguinte, explica-se como a Arqueologia Bíblica também utiliza-se de metodologias científi cas adotadas em interpretação de textos bíblicos. A quarta e última relevância é bastante controversa. Sim, é controversa porque refere-se às comprovações de datações e situações menciondas nas Escrituras, mas que não se sustentatm diante dos achados arqueológicos. Trata-se da relação da Arqueologia com a História. A este respeito, o projeto “Uma Janela para o Mundo Bíblico” diz: Com relação à história bíblica a arqueologia é menos útil. As opiniões nesse campo são sempre circunstanciais e às vezes parecem negativas. As excavações revelaram, por exemplo, que certos lugares presentes nos relatos da conquista, na verdade, não eram habitados no fi m do segundo milênio a.C. De qualquer forma os resultados arqueológicos servem para questionar as convicções acerca da composição e natureza do texto bíblico. (Retirado de “Uma Janela para o Mundo Bíblico: Arqueologia Bíblica” Disponível em h� p://www. a b i b l i a . o r g / v e r. p h p ? i d = 1 1 8 5 & i d _ a u t o r = 2 & i d _ utente=&caso=ar� gos e acessado em 28/05/2019.) Seja como for o ambiente bíblico é campo fértil para investigações. Afi nal, a Bíblia não descreve com detalhes exatos os ambientes de seus personagens. Ela fornece indicativos de como a história da salvação estava se ‘processando’ aos olhos do escritor. E, neste caso, a Arqueologia, se encarrega de trazer mais informação para o entendimento acerca dos relatos, tais como: estilo de vida do personagem, seu comportamento, suas ideias, seus pertences, etc. A Arqueologia não é a prova da confi ança (ou fé) que o leitor tem no texto bíblico, ela é a evidência das pessoas que 63Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | viveram naquele espaço e tempo mencionado pelo texto bíblico – e estas informações são geradas por causa dos materiais encontrados. Isto se torna mais claro, nas seguintes palavras de Andrew S. Kulikovsky: Ao estudar a Bíblia, essa informação pode ser de grande valor. Cria um ambiente para os eventos descritos, permitindo ao estudante apreciar plenamente o signifi cado do que um personagem da Bíblia disse e fez. O aluno pode entender melhor o que o evento signifi cou para as pessoas daquele tempo e o impacto que ele teve sobre elas. A arqueologia também pode adicionar realidade ao evento. Por exemplo, Cristo foi até a piscina de Bethesda, onde um homem estava esperando ali para ser curado por 38 anos. Cristo disse a ele que se levantasse, pegasse sua esteira e andasse. O homem fez isso e andou (João 5: 1-9). A localização do Poço de Bethesda foi identifi cada e o Poço foi escavado. Ser capaz de ver este lugar, permite que o estudante da Bíblia construa uma imagem melhor e mais completa do evento (KULIKOVSKY, 1994) Concluindo este tópico, a relevância da Arqueologia se dá como testificadora do conteúdo bíblico já apresentado, pois confi rma o fundo histórico mencionado pelos textos. Ela associa-se, portanto, à Literatura e à História narradas na Bíblia, seja para confi rmar e/ou alterar os dados. O fato é que a grande contribuição da Arqueologia para a Bíblia é que ela colabora para o processo de construção do sentido e signifi cado do texto, inclusive salientando os hábitos, comportamentos e costumes dos povos antigos. As questões geográfi cas são as que mais elucidam casos de famílias, como por exemplo a divisão dos pastores de Abraão e Ló (Gn 13), da mesma forma que entre Jacó com os de Labão (Gênesis, capítulos 29 a 31). Nas questões cronológicas, a Arqueologia periodiza o estudo da Palestina Bíblica em vários períodos arqueológicos. No quadro abaixo, verifi ca-se a tabela construída pelo Manual Bíblico Vida Nova intitulada “Períodos Arqueológicos da Palestina” (2001, p. 66-68). | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA64 Saiba mais!!! Períodos Arqueológicos na Palestina Bíblica 65Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Norman K. Gottwald situa o início da história bíblica no período do Bronze Antigo (BA, por volta de 2600 a 2300 a.C.) com a referência ao Período dos Patriarcas e fi naliza-se no período Islamítico (por volta de 636 d.C.). Todos esses períodos são das regiões da Palestina Bíblica. E, sendo assim, a Arqueologia Bíblica vem sempre trazer contribuição para as demais disciplinas que trabalham com a interpretação (Hermenêutica e Exegese) dos textos bíblicos e, principalmente, as que ajudam no cumprimento da missão e ministério de ensino, formação de líderes e evangelização. Vale a pena ler um pouco mais sobre a Arqueologia da Palestina com os olhos do estudioso bíblico Gottwald. Este estudo realizado sobre a visão socioliterária à Bíblia Hebraica demorou cerca de dez anos. A seguir, compartilha-se um breve resumo: | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA66 67Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA68 69Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Exercício de aplicação No decorrer do tópico 2, foram indicados vários argumentos para demonstrar a relevância da Arqueologia para o mundo cristão. Em algum momento destacou-se a seguinte afi rmação: A Arqueologia não é a prova da confi ança (ou fé) que o leitor tem no texto bíblico, ela é a evidência das pessoas que viveram naquele espaço e tempo mencionado pelo texto bíblico – e estas informações são geradas por causa dos materiais encontrados. Entretanto, o próprio apóstolo Paulo afi rmou que a fé é construída pelo ouvir da Palavra de Deus (Rm 10:17). Diante disto, uma excelente pastoral para a comunidade cristã é aquela que ressalta tanto a importância do estudo arqueológico para a interpretação de textos bíblicos quanto para o desenvolvimento da fé (entenda-se condução à maturidade) do(a) indivíduo cristão. Sendo assim, qual das pastorais abaixo deve ser tomada como a que traz coerência à vida do(a) indivíduo e da comunidade: a. ( ) A fé é um dom (Ef 2:8-9) e, desta forma, não existe contribuição fora desta realidade. Portanto, a Arqueologia não dá sentido à fé e não contribui para o seu entendimento. Afi nal, qualquer ciência, ainda que tenha boas intenções mas que chega a contradizer alguma passagem bíblica, é anti-reino e não merece crédito de validade da verdade. b. ( ) A fé deve ser compreendida à luz da ação do Espírito Santo sobre a pessoa, direcionando-a para a construção da Verdade, que é tanto Jesus Cristo como a Palavra. Neste caso, as ciências devem ser avaliadas pelo critério da fé, ou seja, pela ação do Espírito Santo. c. ( ) Há uma dimensão da fé que exige a compreensão acerca dos mistérios de Deus. Foi exatamente o que Anselmo de Cantuária fez no século XII e outros reformadores recuperaram-na depois | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA70 (século XVI), ou seja, a fi des quaerens intellectum – a fé em busca de entendimento. Neste caso, os achados arqueológicos podem trazer signifi cado para certas passagens bíblicas envoltas em costumes culturais. d. ( ) A fé é sufi ciente para resolver as questões de interpretação bíblica. O(a) indivíduo, ao utilizar-se de argumentos extra-bíblicos e eclesiásticos, faz com que a fé deixa de ser a convicção em princípios divinos e passa a ser argumentos humanos. e. ( ) A fé é como um grão de mostarda, logo a ciência é como uma biblioteca. Nesta comparação, a Arqueologia é descartada porque não há como inserir no local da biblioteca todos os materiais de consulta arqueológica. Acesse o AVA para fazer o exercício! 3. OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS BÍBLICOS Há atualmente muitos sítios arqueológicos em constantes trabalhos de descobertas, escavações e catalogação referente às descrições, localizações e aglomerações da presença dos povos (cidades, vilas, montes, impérios, etc) mencionados na Bíblia. Todos estes sítios são fontes de investigação e de metodologias científi cas, cuja fi nalidade é dar provas da evidência do comportamento humano em convívios sociais antigos. Diz-se científi co porque a tarefa do arqueólogo é bem complexa durante o processo de certifi cação, tanto do sítio como dos procedimentos envolvidos na análise dos objetos encontrados. Para ajudá-lo(la) a compreender esta metodologia arqueológica, é conveniente ressaltar que qualquer área do conhecimento (disciplina e/ ou ciência) utilizada para certifi car a verdade bíblica é muito bem vinda. Todavia, o resultado desta investigação é sempre confrontada com a construção hermenêutica já feita ao longo da história do povo de Deus. Isto 71Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | não quer dizer que a interpretação de um texto bíblica possa diferenciar- se com as novas descobertas, mas sim de que ele será tecnicamente relido (ou atualizado). Por isto, recomenda-se ao(à) aluno(a) interessado em estudos bíblicos que considere os procedimentos e metodologias científi cas da Arqueologia como algo sério, cauteloso e altamente responsável. A Metodologia Arqueologia engloba dois procedimentos quanto ao sítio localizado: (a) Procedimentos Preliminares e os (b) Procedimentos no Sítio. Os Procedimentos Preliminares referem-se à identifi cação do espaço e/ou área que será escavada (trabalhada) pelos arqueólogos e assistentes. Trata-se da demarcação e defi nição da área (topográfi ca), podendo ser de áreas já defi nidas e que vão ter a continuidade das escavações, como também de novas áreas ainda não escavadas. Nestes procedimentos estão envolvidos o levantamento de fundos que irão apoiar e sustentar os empreendimentos de escavação, os recursos humanos e as possíveis instituições interessadas. Na Inglaterra, por exemplo, há instituições que fazem seleções de voluntários para o trabalho arqueológico em épocas de recesso e/ou viagens a sítios arqueológicos de referência bíblica, em sua maioria no atual Estado de Israel. Os estudantes são convidados a participarem do empreendimento como atividades de estágio supervisionado e/ou atividades específi cas de arqueologia. Este esquema de aprendizado é custeado pelos próprios alunos e demais instituições. Além deste serviço de escavação, há também a pesquisa de campo, que inclui a coleta de restos antigos, tais como: vidro, cerâmica e metal. Já os Procedimentos no Sítio são atividades estritamente técnicas, supervisionadas pelo profissional de Arqueologia. O espaço definido pelos procedimentos preliminares é agora subdividido em quadrículos de 5 x 5 metros cada. Neste momento, o arqueólogo utilizada uma picareta e uma colher de pedreiro para perfurar o chão e colher os fragmentos. O material é colocado em um balde e catalogado. Após este procedimento, envia-se todo o material para análise, em cujos momentos constatam-se | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA72 a identificação de colunas, argilas, cor, textura etc. Cada procedimento desta quadrícula é fotografada, filmada e, atualmente,escaneada digitalmente para posterior arquivamento. Os materiais encontrados e considerados evidência de presença humana são direcionados para a análise técnica e para os procedimentos analíticos especializados. Após estes dois procedimentos realizados, a equipe de coordenação dos estudos no sítio arqueológico precisa direcionar os avanços dos materiais coletados de acordo com seis tipos de análises que pertencem à assim chamada Análise Técnica da Metodologia Arqueológica. A seguir, serão apresentadas os tipos de análises e, quando possível, algumas atualizações de webpages para pesquisa e também de assuntos relacionados à análise em língua portuguesa e contexto brasileiro. De acordo com o Manual Bíblico Vida Nova (2001, p. 97) as análises são: 1. Análise Numismática A presença de moedas no lugar pode ajudar a datar as camadas em que são encontradas. A camada ou estrato não pode ser atribuída a datas mais antigas do que as das moedas ali encontradas. As moedas começaram a ser usadas na Ásia Menor pelos lídios por volta de 650 a.C. Didracma de Tiro de 332 a 275 a.C. Acesse este site para compreender acerca do uso de moedas na época bíblica - h� ps://collectgram.com/blog/moedas-dos-tempos-de-jesus/ 73Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 2. Análise Osteológica Todos os restos de esqueletos humanos encontrados nos túmulos do sítio ou em residências são escavados, conservados, identifi cados e analisados em termos de idade, sexo, alimentação e anormalidades patológicas. Esse é o trabalho de um antropólogo, de preferência com mestrado. Algumas escavações também contratam zoólogos para fazer a mesma análise dos restos de animais. O site abaixo te indicará um excelente estudo multidisciplinar (Arqueologia e Antropologia). https://www.riportico.com/Servicos/info.php?id=23 3. Análise Etnoarqueológica As pessoas que atualmente vivem em torno do lugar são estudadas, e se fazem comparações entre os resultados desse estudo e a informação cultural obtida das antigas camadas e/ou estratos do sítio. O link a seguir te direcionará ao exemplo de um estudo etnográfi co, realizado por um pesquisador da USP. É apenas para dar uma ideia sobre a relevância deste tipo de análise. Esta dissertação apresenta o estudo arqueológico e etnoarqueológico dos conjuntos cerâmicos provenientes de sítios arqueológicos históricos - Tacaimbó 1 e Tacaimbó 2 - e dos conjuntos cerâmicos etnográfi cos produzidos em comunidades locais, ambos do Agreste Central | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA74 Pernambucano. Adotando uma abordagem etnoarqueológica para a análise de sítios arqueológicos históricos, através de perspectivas descolonizadas e multivocais, discutimos o papel do arqueólogo na valorização dos conhecimentos tradicionais. Esta valorização é fundamental para a construção das identidades locais e para a elaboração de narrativas históricas alternativas que incluam estas populações historicamente marginalizadas. Concluindo, a partir da análise tecnológica dos conjuntos cerâmicos arqueológicos e etnográfi cos elaboramos uma matriz de correlatos para artefatos cerâmicos de produção local/regional, contribuindo para a caracterização dos mesmos e para as discussões arqueológicas sobre variabilidade artefatual. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-15012013- 171253/pt-br.php 4. Análise do Solo Amostras sistemáticas da terra de áreas onde se vivia e do cemitério do lugar são analisadas para ajudar a determinar a concentração de pessoas e animais no sítio e para identifi car o tipo de comida consumida por eles. A terra é peneirada para separar sementes carbonizadas e outras partículas, e às vezes tratada quimicamente para determinar o teor alcalino e ácido do solo, o que também fornece pistas sobre a concentração de pessoas e animais. O link abaixo te direciona para o Instituto de Arqueologia Brasileira cujos trabalhos são grandiosos sobre o estudo do solo brasileiro. http://www.arqueologia-iab.com.br/page/arqueologia 75Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 5. Análise da Cerâmica Depois que a cerâmica é deixada de molho, lavada e secada ao sol, ela é “lida” (isto é, fazem-se julgamentos críticos quanto ao período cronológico em que o vaso foi feito e esteve em uso). Todos os utensílios inteiros ou em bom estado são guardados,bem como aqueles cujos pedaços (“cacos”) têm bordas, bases, alãs, textura da argila, decoração de superfície ou pinturas características diferentes. Essas peças são registradas, desenhadas e fotografadas para estudos posteriores. O link abaixo é do Instituto Chico Mendes em cuja pesquisa comenta-se a respeito do valor arqueológico de jericoacoara http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/8926- pesquisa-realca-valor-arqueologico-de-jericoacoara Procedimentos Analíticos Especializados Relacionados com o estudo de objetos, ossos, carvão e pedras. São eles: Dendrocronologia: datação baseada no crescimento dos anéis na madeira das árvores. Radiocarbono (carbono 14): datação baseada no nível de resíduo de carbono 14 na peça, hoje conhecida como radiocronometria. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA76 Postássio-argônio: datação de um mineral baseado no nível de redução do potássio original. Termoluminescência: datação de cerâmica baseado na energia radioativa acumulada na cerâmica desde o dia em que foi queimada no forno. Busca de fi ssuras: datação com um microscópio de elétrons para registrar a concentração de fi ssuras fósseis no vidro natural e no vidro feito pelo homem e em outros materiais. A r q u e o m a g n e s t i s m o : d a t a ç ã o medindo a intensidade do campo magnético da terra contida nos objetos de argila na época em que esfriaram depois de queimadas ao forno. Flourine: datação relativa de ossos em que se mede o fl ourine absorvido da terra pelo osso, comparando-se esse nível com o encontrado em outros ossos na mesma área (não usado para datação absoluta). 77Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Teste radiométrico: datação relativa de ossos ou de outros objetos baseada na quantidade de urânio presente (não usado para datação absoluta). Conteúdo de colágeno: datação relativa de ossos pela quantidade de colágeno presente (isso envolve a mediação do conteúdo de nitrogênio do osso). Análise de pólen (palinologia): análise de grãos de pólen em relação ao solo e ao ambiente do qual foram extraídos (nível de acidez do solo, arizdez do clima, etc.). Dependendo do custo e da aplicabilidade, podem-se empregar outras técnicas como análise termal de nêutrons de metais, análise de ativação de nêutrons e espectroscopia de fl uorescência com raios-X. Atualmente, os grandes sítios arqueológicos continuam sendo locais de intensas pesquisas e, em alguns casos, de ampliações dos quadrantes do sítio. As recentes descobertas têm promovido a atualização dos atuais sítios e inserido as relações dos achados em arquivos arqueológicos que tratam exclusivamente de interesse e estudo da Bíblia. Há, pelo menos, 20 grandes sítios dentro do Estado de Israel, 4 no território da Transjordânia e 6 sítios de referências na antiga Ásia Menor e Grécia. Os sítios em Israel subdividem-se em vários outros menores, chegando ao número de acima de 200 lugares de escavações. Muitos deles, inclusive, localizados nas montanhas. Os sítios da Transjordânia são os mencionados na Bíblia da região de Decápolis (Mc 7:31), Gerasa (Galileia), Pela (lado oriental do rio Jordão) e Petra (sul da Transjordânia). E os sítios fora da Palestina e Transjordânia referem-se às cidades de Éfeso, Pérgamo, Sardes, Filipos, Atenas e Corinto. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA78 Assista ao vídeo: A Cidade Oculta de Petra Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=UVrcQi51SSQ Duração: 45m57s Este vídeo é narrado em língua portuguesa com o sotaque de Portugal. Excelente documentário. Exercício de aplicação Você assistiuao vídeo A cidade oculta de Petra e, uma vez considerado o documentário sobre esta descoberta, pode-se afi rmar categoricamente que a cidade de Petra é: a. ( ) um achado arqueológico de uma cidade com vários monumentos esculpidos em pedra. b. ( ) um amontoado de ruínas que, após a identifi cação das partes, os arqueólogos remontaram a cidade em sua formação original. c. ( ) uma construção feita em rocha e pintadas ao estilo egípcio d. ( ) um sítio arqueológico escavado pelos soldados romanos, por causa do imperador Adriano. e. ( ) uma cidade cristã construída como refúgio por causa do império grego. Acesse o AVA para fazer o exercício! Dentre os sítios de arqueologia bíblica mais conhecidos, destacam-se: Ebla, tell Mardic, no norte da Síria. “Em 1970, os escavadores encontraram entre quinze placas e fragmentos da seção dos arquivos reais da antiga Ebla (2600 a 2300 a.C.). Não é mencionada na Bíblia, mas teve importância internacional no terceiro milênio a.C.” (2001, p. 96). Tell/Daba, no leste do delta do Nilo. As escavações ali são importantes para relacionar a cronologia egípcia com a antiga cronologia israelita. Tal achado refere-se a Ramessés da Bíblia (Ex 1:11). 79Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Jericó, Ai, Hesbom. Os resultados das escavações têm relação com o problema da data da conquista de Canaã por Israel, e as respectivas cidades. Arade. Cidade localizada a oeste do Mar Morto, que na escavação entre 1960 e 1970 confi rmou-se uma das cidades conquistadas por Josué. (Jz 12:14; Nm 21:1,33,40). Berseba. Fica à margem norte do Neguebe. Ali foram encontrados objetos calcolíticos que confi rmaram práticas religiosas israelitas. Dã. Localizada no norte da Galileia, também chamada por Laís (Jz 18:29). Nela foi encontrada a pedra que menciona o culto ao “deus de Dã” (Am 8:14) Deir Alla, Sucote, vale do Jordão. Foi habitada por humanos, pois foram encontrados objetos fundidos de ferro e bronze. Gezer. Cidade que revela vestígios de habitação israelita até o período do Império Romano. Foram encontrados o ‘portão sul’, datado de 1600 a.C., uma grande torre, calendário agrícola com letras hebraicas antigas. Hazor. Neste sítio foram encontrados templos cananeus do período do Bronze Tardio, e um sistema de água subterrâneo. Laquis. Esta cidade foi fortifi cada por Roboão. Nas escavações, encontraram camadas que datam cerca de 8000 a.C., quando as pessoas moravam em cavernas. Já no período da História de Israel, foram encontrados selos hebraicos, pesos, alças de vasos, além de dezoito óstracas (cerâmicas com informações escritas em hebraico). Megido. Fica no sopé do Monte Carmelo, onde foi encontrada uma placa em escrita cuneiforme que continha o poema da Epopeia de Gilgamesh e vários outros objetos. Em Megido exisita o aqueduto (transporte natural de água). Muitas cerâmicas foram encontradas caracterizando Megido como uma cidade dominada pelos assírios. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA80 Sarepta. Cidade fenícia pertencente a Sidom. Sítio que ainda encontra-se em escavações mais profundas. Mencionada na Bíblia em 1 Reis 17:8-28 quando Elias encontrou-se com a viúva, e também em Obadias 20 e em Lucas 4:26. Jerusalém. Vários túneis e ruínas de terraços de pedra e casas foram escavadas, revelando vários períodos históricos. No Antigo Testamento, a fonte mais eloquente é o próprio monte em que a cidade foi construída, projetando-se mais a construção do Templo e do Palácio. E na época do Novo Testamento, o palácio de Herodes, as escadarias e as modernas escavações de Betesda, os mosaicos de Medeba, os túmulos do vale de Cedrom, as modernas igrejas (Santo Sepulcro, Nova, tanque de Siloé e Mãe de todas as Igrejas). Qumram. É um importante sítio arqueológico na margem noroeste do Mar Morto. Abrigava os essênios (veja mais informações sobre este grupo social, na seção Saiba Mais), que retornaram à região por volta do século 4 a.C. e fi caram até 68 d.C., quando esconderam seus escritos nas cavernas. Assista ao vídeo: Os Essênios e os Escritos do Mar Morto Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=uK-14Bx2Sss Duração: 4m47s Belém. Há um aqueduto nesta cidade, mas sua relevância arqueológica deu-se por causa das construções ordenadas pelo imperador romano Justiniano (século 6), inclusive a famosa Igreja da natividade, construída sobre a caverna em que Jesus nasceu, e próximo dali menciona-se o túmulo de Raquel. Bete-Seã/Citópolis. Sítio localizado na extremidade oriental do vale de Jezreel, perto do rio Jordão. As escavações revelaram ruínas do império grego e romano, tanto de estilos romanos como bizantinos. Também foram identifi cadas colunas de teatro, anfi teatro, casas de banho, calcadas com motivos bizantinos, fontes de água e sinagogas. Cesareia Marítima. Diferente da Cesareia de Filipe, localizada-se próxima 81Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | ao Mar Mediterrâneo, cerca de 20 quilômetros do Monte Carmelo. Com as escavações, revelaram-se um teatro romano, uma série de depósitos e restos do porto de Herodes, um aqueduto elevado e uma pedra que fazia referência a Pilatos. Cafarnaum. Nesta cidade encontrou-se as ruínas de uma sinagoga, feita de pedra calcária branca, galerias superiores, com três portas, além de salões e colunas. Genesaré. Referência ao grande lago no qual encontrou-se um restos de um pequeno barco com a popa arredondada, datando do século 1. Saiba mais!!! QUEM ERAM OS ESSÊNIOS Acesso em 25/05/2019 e disponível em: h� ps://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-eram-os-essenios/ Eram adeptos de uma seita judaica que existiu na Palestina, no Oriente Médio, entre os séculos 2 a.C. e 1 d.C. Os essênios viviam afastados da sociedade, no deserto, concentrados em estudar o Torá – escrituras sagradas para os judeus e que formam os primeiros cinco livros do Antigo Testamento -, jejuar, rezar e realizar rituais de purifi cação, numa espécie de comunismo primitivo, no qual todos os bens eram de propriedade coletiva. Em suas sociedades, que em geral excluíam mulheres, eles observavam rigorosamente os mandamentos de Moisés e obedeciam a uma estrita regra de disciplina, codifi cada em manuscritos, que regulava todos os detalhes da vida diária. O surgimento da seita ocorreu numa época em que a classe alta de Jerusalém, na Palestina, estava sob forte infl uência da cultura grega – racional e pagã. Uma das conseqüências da infl uência foi o afastamento entre o governo judeu local e alguns grupos religiosos, que pregavam a defesa de costumes mais tradicionais desse povo. “Após 142 a.C., cresceu a tendência de separação entre os judeus. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA82 Os essênios, então, retiraram-se para o deserto ou áreas onde pudessem observar rigidamente os mandamentos de Moisés”, diz o teólogo Rafael Rodrigues da Silva, da PUC-SP. As semelhanças entre certos rituais dos essênios e rituais dos primeiros cristãos, como batismo e comunhão, há muito tempo geram um grande debate entre os historiadores. Alguns acreditam que João Batista foi um essênio e há até quem suponha que Jesus Cristo teve contato com o grupo. Quem defende essas teorias lembra que as palavras essenoi, em grego, e esseni, em latim, são traduzidas como “aqueles que curam”, o que seria uma referência a atividades parecidas aos milagres atribuídos a Jesus. No fi nal da década de 1940, a descoberta de centenas de manuscritos atribuídos aos essênios, em cavernas na região do mar Morto, despertou a esperança de que o material pudesse confi rmar fi nalmente a ligação entre a seita e os primeiros cristãos. Após décadas de trabalho e controvérsias, a tradução integral dos manuscritos do mar Morto foi completada em 2002, mas não havia nenhuma referência direta a Jesus, João Batista ou aos primeiros cristãos. Os essênios provavelmente foram exterminados pelos romanos, ou obrigados a deixar suas comunidades e fugir para salvar suas vidas, por volta doano 68 d.C. Parque Nacional da Serra da Capivara — São Raimundo Nonato (Piauí) O Parque Nacional da Serra da Capivara é a área de maior concentração de sítios arqueológicos do continente americano, além de conter a maior quantidade de pinturas rupestres do mundo. Os artefatos encontrados no local apresentam vestígios de ter mais de 50 mil anos de idade. 83Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Parque Nacional do Catimbau — Buíque, Tupanatinga e Ibimirim (Pernambuco) O Parque Nacional do Catimbau abriga 30 sítios arqueológicos, sendo o segundo maior parque arqueológico do Brasil. Contém diversas pinturas rupestres, com diferentes técnicas e estilos de pintura. Parque Arqueológico do Solstício — Calçoene (Amapá) Além de pinturas rupestres, o Parque Arqueológico do Solstício abriga um curioso círculo megalítico constituído por 127 rochas dispostas em formato circular, no topo de uma colina. Estima-se que esse círculo tenha entre 500 e 2 mil anos. Sítio Arqueológico Pedra Pintada — Pacaraima (Roraima) Contém diversos itens da pré-história brasileira, como pinturas rupestres, pedaços de cerâmica, ferramentas e outros artefatos. Abriga, ainda, diversas cavernas funerárias. Nas paredes externas do monólito de granito, existem pinturas rupestres vermelhas que até hoje são consideradas um enigma para os cientistas. Sítio Arqueológico São João Batista — Entre-Ijuís (Rio Grande do Sul) Guarda ruínas remanescentes da época das missões jesuítas, abrigando restos da estrutura de um cemitério, igreja e colégio, além de estradas e barragens históricas. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA84 Sítio Arqueológico do Lajedo de Soledade — Apodi (Rio Grande do Norte) Quase todos os trabalhos realizados neste sítio arqueológico são direcionados para estudo de pinturas rupestres dos povos que viviam nesta região. Exercício de aplicação O texto a seguir refere-se aos principais sítios arqueológicos do Brasil. Há muitos outros, todavia os seis abaixo dão uma noção quão importante o estudo arqueológico revela sobre nossos antepassados. PRINCIPAIS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO BRASIL Acessado em 25/05/2019 e disponível em: https://www.adventureclub.com.br/blog/curiosidades/quais-sao-os- principais-si� os-arqueologicos-do-brasil/ Por muitos anos, em solo brasileiro, as igrejas cristãs protestantes faziam o lançamento da “pedra fundamental”, ou seja, realizavam um culto em cujo momento assentava-se um simples tijolo e/ ou fazia-se a concretagem dos alicerces de fundação. E, neste ambiente litúrgico e ritualístico, costumava-se enterrar junto com o concreto dos alicerces e/ou com o contrapiso uma pequena caixa de madeira com uma Bíblia e a Ata que continha a decisão em ‘construir a igreja’ com o nome dos presentes e respectivas assinaturas. Muitas igrejas entendiam este rito como sendo o símbolo de que a igreja era construída sob a Palavra de Deus e com o compromisso com a Igreja. Neste sentido, muitas construções de igrejas contêm informações de como os cristãos evidenciaram antecipadamente o entendimento acerca do comportamento humano de suas épocas. Há, inclusive, comentários em sites, blogues e redes sociais sobre esta prática cristã. 85Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Do ponto de vista arqueológico, pode-se presumir que, em caso de destruição do templo de uma dessas igrejas e imediata escavação, a Ata e a Bíblia encontradas revelariam: a. ( ) um grupo de pessoas preocupado com as celebrações e decisões políticas, sociais, econômicas e religiosas da comunidade. b. ( ) um grupo de pessoas formalmente graduadas em arquitetura, jornalismo, história e arqueologia. c. ( ) um grupo de pessoas esteticamente voltada às construções civis e paisagistas. d. ( ) um grupo de pessoas cujo comportamento é o de esconder as decisões e, ao mesmo tempo, proteger os segredos religiosos. e. ( ) um grupo de pessoas doutrinadas a interpretar as passagens bíblicas após quinhentos anos de existência. Acesse o AVA para fazer o exercício! Assista ao vídeo: Profi ssões: Arqueólogo Disponível: h� ps://www.youtube.com/watch?v=jZhdBygroBc Duração: 7m16s Exercício de reflexão A partir da exposição de Richelle, elabore uma pastoral cujo texto argumentativo conduza a comunidade para o desenvolvimento da fé, integrando as informações bíblicas com os achados arqueológicos? Matthieu Richelle, professor de Antigo Testamento, em seu livro A Bíblia e a Arqueologia (Vida Nova, 2017, p. 170) orienta-nos sobre a tomada de uma posição aberta, equilibrada e esclarecida sobre a relação entre Bíblia e Arqueologia: | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA86 De maneira geral, existem dois riscos para os crentes apegados à veracidade da Bíblia: por um lado, em um desastrado esforço apologético, buscar a todo preço provar o valor dela graças a descobertas (a Bíblia não precisa disso!); por outro lado, temer as descobertas e cair num obscurantismo que rejeita as difi culdades. Pode- se acolher com gratidão, mas prudência, os achados que parecem corroborar o discurso bíblico e tomar conhecimento com serenidade das tensões apresentadas por outros. De maneira geral, a confrontação entre a Bíblia e a Arqueologia resulta em grande parte positiva para a primeira. Acesse o AVA para fazer o exercício (elaborar sua pastoral)! Referências ABREU NETO, Francisco de. Geografi a bíblica sistematizada. Uma abordagem histórico-geográfi ca da Terra Santa. Curitiba: AD Santos, 2015. BÍBLIA. Português. Bíblia de Referência Thompson. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição revista e corrigida. Compilado e redigido por Frank Charles Thompson. São Paulo: Vida, 1992. DOCKERY, David S. (ed.). Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001. GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas, 1998. RICHELLE, Matthieu. A Bíblia e a Arqueologia. São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 44-57; 101-127. TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA. São Paulo: Loyola, 1994. 87Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | UNIDADE 3: TRIBALISMO Introdução A terceira unidade apresentará o primeiro estágio da história do povo de Deus. Refere-se amplamente ao período dos chefes de famílias, também denominado patriarcas. Trata-se das narrativas que vão desde o livro de Gênesis até o livro de Juízes, situados no Antigo Testamento. Esta unidade terá a preocupação de fornecer um guia de leitura sociológica aos estudantes, ou seja, perceber como este formato social (os patriarcas) serviu de liderança familiar, administrativa e religiosa. Acompanhando esta leitura sociológica, você também irá entender que o patriarca se torna um tipo de referência tribal, isto é, uma liderança cujo imaginário reúne debaixo de si vários patriarcas (ou simplesmente clãs). Assume-se aqui que o tribalismo é uma hermenêutica para o estudo dos livros do Pentateuco, Josué e Juízes, visto que os agrupamentos tribais descritos neles ganhavam a conotação de Confederação das Ligas Tribais (ou Unidade Patriarcal), cujo objetivo era manter viva a obediência à promessa abraâmica (Gn 12:1-4), ao ensino da identidade de povo de Deus (Ex 20:1-17), às prescrições de separação e do culto javista (Lv 16- 30); à observância à lei como instrução à plenitude de vida (Dt 1:5), à conquista da terra prometida (Js 1-12) e às lideranças do povo (Jz 2:16- 19). É relevante dizer que o hexateuco (livros do Pentateuco e de Josué) e o livro de Juízes não desistiram do estilo tribal de administração política, econômica e social, haja vista o sentido do sistema teocrático continuar sendo o imperativo para o povo de Deus. Nesta unidade, portanto a história a ser estudada será sobre as tribos de Israel. Por isto, recomenda-se que o(a) estudante leia os textos bíblicos que vão sendo recomendados durante as aulas. É uma maneira mais didática para obter uma visão panorâmica sobre o tribalismo. No entanto, o(a) estudante que não domina este conhecimento, não precisa se desesperar. Aos poucosesta lacuna será preenchida com as disciplinas de Bíblia II e Bíblia III, que irão comentar sobre a literatura do Antigo e Novo Testamentos. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA88 Por fi m, esta unidade irá reforçar o entendimento acerca da habitação de Deus no meio do povo. A princípio, o Tabernáculo será a morada de Deus que, através de seu Espírito, fará metaforicamente habitação através de uma coluna de fogo e uma nuvem. Neste sentido, vale afi rmar aqui que o Tribalismo ajudará o(a) estudante a compreender que o Deus revelado neste período se comunica muito através dos fenômenos naturais (as teofanias), bem como a relação entre a humanidade e Deus é uma manifestação dialógica (as epifanias). 1. O nomadismo Hebreu O ser humano é essencialmente sociável. Isto signifi ca dizer que ele precisa compreender-se dentro de um grupo de indivíduos semelhantes a si. A vida sociável é também um estilo de vida. Em tempos antigos, o convívio familiar e a relação entre os demais membros da família designavam as referências de comportamento, de hábito e de comunicação. As confi gurações desses itens indicavam os primeiros traços culturais dos povos antigos. No estudo bíblico, o Israel Antigo, isto é, o período tribal da formação étnica do povo de Deus, as relações dos grupos familiares deram-se pela fi gura do patriarca (do hebraico ‘abh [leia-se ‘av], que signifi ca pai). Neste sentido, os personagens Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, José, os Juízes são descritos como líderes familiares porque se tornaram chefes de aglomerados de outros líderes (clãs e tribos). Todos eles viveram uma vida em constante movimento geográfi co, permeada por viagens, busca de alimentos, água, pastagens e convivência com outros grupos sociais. Há, pelo menos, seis itens que caracterizaram o estilo de vida nômade do Israel Antigo. A primeira deles é o sentido da família para o próprio grupo. Gottwald (1986), em seu estudo sobre As Tribos de Iahweh pontuou ser necessário cerca de 25 a 50 pessoas para compor um grupo nômade, ou uma família). Abaixo de 25 pessoas, o grupo poderia ser aniquilado por outro grupo maior, ou até mesmo desaparecer naturalmente por causa das inserções em novos grupos. E um grupo acima de 50 pessoas 89Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | poderia ter difi culdades para alimentar e provisionar o cuidado de todos. E era por questões culturais que o mais velho do grupo se tornava o chefe (ou líder) da tribo. Veja na sessão SAIBA MAIS uma pequena defi nição do substantivo hebraico rosh’, que quer dizer cabeça, líder, chefe, primeiro, topo, entre outros. Saiba mais!!! O SENTIDO DE ROSH’ EM HEBRAICO Há apenas uma tradução dos principais signifi cados deste termo, sem os termos em hebraico. O texto na íntegra pode ser acessado em: h� ps://www.academia.edu/19538951/A_Word_Study_on_the_ Hebrew_word_ROSH_ Estes são alguns dos signifi cados ilustrados: 1. (a) cabeça do ser humano; do ídolo; (b) cabeça de animais – especialmente animais para sacrifício (fi gurativo de dignidade relativa, poder e infl uência; em Deuteronômio 28:13 “E o Senhor fará de ti a cabeça, e não a cauda” – Bíblia KJV) 2. (a) topo: de montanha; Colina; de pedras, penhascos; torre, fortaleza, escada, árvore, galho, mastro; de espigas de trigo, de pedra, cama, trono, tabernáculo ou seu muro; pilar; ponta ou fi m, de bastões, de cetro. (b) altura das estrelas; 3. (a) chefe (homem); b) chefe (cidade); (c) chefe (nação); (d) chefe (lugar, posição); (e) sacerdote principal; (f) chefe de família; 4. (a) frente, o lugar do líder; (b) do tempo, começo, da vigília noturna, desde o começo, primeiro de meses, em primeiro lugar; (c) das coisas, cabeças de rio. 5. chefe, melhor, melhor das especiarias; “ser o mais escolhido das alegrias”; 6. divisão do exército, empresa, banda. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA90 Obviamente os demais participantes da tribo, sob a liderança do patriarca, consistiam de membros também da própria família, desde tios, primos, netos, sobrinhos, fi lhos, esposas e concubinas. As designações de parentescos caracterizavam a unidade do clã (família). E, neste sentido, os chefes de clãs (famílias) tinham suas regras porque eram estritamente baseadas no convívio familiar. Cada unidade familiar era independente para a organização da própria convivência e subsistência da família, desde uma simples regra de alimentação e disciplina como também de tarefas braçais e de cuidado das criações e da terra. Basicamente, a diferença entre clã e tribo é simples. Uma família possui seu líder, o ‘abh (pai, patriarca). E, sendo uma única família, então há um clã (chefe de família), composto de aproximadamente 25 a 50 pessoas. Se, por razões culturais e lógicas, alguma família precisava se separar, tal como a família tornou-se tão grande que fi cou difícil de sustentar todos os membros, então fazia-se uma divisão. Quando dois irmãos (homens), por exemplo, decidiam-se casar com duas mulheres da mesma família, os dois poderiam unir-se para formar um novo clã. Todavia, o atual clã e o novo clã continuavam debaixo da liderança do primeiro clã. E, neste momento, então surgia o conceito de tribo. Ou seja, a tribo é o agrupamento de vários clãs formados sob a liderança de um patriarca. É interessante ainda dizer que, devido à riqueza semântica do estilo tribal do Israel Antigo, há várias palavras hebraicas que denotam a mudança da formação de grupos, tais como: a) Shēvet = pequena aldeia, com pouca força de austeridade. b) Maţţeh = tribo com ênfase na formação dos relacionamentos familiares c) Mishpahah = Tribo com formação gnômica (matriarcal) e concubinas d) ‘Eleph = Tribo com armamento para guerras e proteção e) Beth Abh = Tribo em que o patriarca-mor habita f) Bayith = Clã com famílias ampliadas 91Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | g) ‘Ammim = Tribos com membros de outros povos, miscigenadas h) Pellagoth = Subdivisão de uma grande tribo i) Shevatim = A confederação das ligas tribais Todavia, em todas elas, a ênfase na convivência familiar está presente. Neste sentido, um estudo acerca da estrutura familiar do Israel Antigo ajuda a compreender as questões sociais, econômicas, políticas e religiosas. Apenas para deleite, leia o Salmo 128, denominado uma família abençoada. Temor de Deus e felicidade no lar Cântico de romagem 1 Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! 2 Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem. 3 Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus fi lhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa. 4 Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor! 5 O Senhor te abençoe desde Sião, para que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, 6 vejas os fi lhos de teus fi lhos. Paz sobre Israel! | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA92 Exercício de fi xação Lendo o Salmo 128, conclui-se que o conteúdo é sobre a família do povo de Deus. A bênção sobre a unidade social é o modelo que resultará em prosperidade para toda a nação. Diante disto, das opções abaixo, a melhor que sintetiza a relevância da família no período tribal é: a. ( ) A família é o agrupamento social que caracterizou a estabilidade econômica e política do Israel Antigo. b. ( ) Os patriarcas abençoados que formaram o período tribal de Israel são: Abrão, Isaque e Jacó. c. ( ) Todo e qualquer cuidado dispensado à família prefi gura a prosperidade concedida a toda a nação. d. ( ) As famílias abençoadas são as que pertencem à família do Pai (beth abh), e não as que se subdividiram. e. ( ) A bênção é para a cidade de Jerusalém, onde estava o palácio do rei, e não se refere às casas do povo de Deus. Acesse o AVA para fazer o exercício! Veja agora um vídeo através do qual compreende-se a plantação de grãos como um dos elementos que explica a transição do nomadismo para a sedentarização. Assista ao vídeo: Do nomadismo à sedentarizaçãoDisponível em h� ps://www.youtube.com/watch?v=WrdS-JXToQI Duração: 3m35s. O segundo item que caracteriza o estilo de vida nômade do Israel Antigo refere-se às posses ou pertences. Os patriarcas tinham uma vida muito simples, sem muitas estruturas elaboradas. Não possuíam casas, mas 93Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | tendas; não tinham caminhões, mas burros; não congelavam carnes, mas salgavam-nas; enfi m, utilizavam-se dos produtos naturais, desde das frutas, raízes, grãos produzidos pela terra, como também dos animais, tanto para alimento como para vestimenta. Em épocas de deslocamentos (viagens) não podiam carregar equipamentos pesados. O material que mais tinha importância para o grupo nômade era a tenda, geralmente feita de pelos de cabra. Tinham ainda que carregar as traves de apoio, as estacas, as cordas e as cortinas. Ao fazer acampamento, a tenda era subdivida em alas menores com cortinas para agrupar o espaço dos homens e o das mulheres, além de dar um pouco de conforto, ou seja, a presença de um tapete de lã de carneiro, entre outros. Neste sentido, o material contido dentro da tenda, bem como a própria tenda, identifi cava a riqueza de um patriarca. Eis porque a tenda não podia ser escondida, pois ela já determinava a importância que o patriarca tinha sobre os demais clãs. Uma atividade que está bem ligada à permanência de pessoas no espaço da tenda é que ali se agrupavam todos os materiais e suprimentos de manutenção da vida do clã/tribo. Além do espaço de convivência familiar e de decisões, a tenda também era o depósito dos pertences valiosos, tais como: mantimentos, roupas, lãs, peles de animais, arco, fl echa, leite, óleo, fogo, vasilhas para reserva de outros alimentos, etc. E, no espaço do campo de pastoreio, homens e mulheres guardavam os rebanhos, pois o tamanho deste rebanho representava a provisão da tribo. Quanto maior o rebanho, maior a extensão da vigilância e proteção de animais. Além do leite, o rebanho fornecia carne, cornetas (chifres) ossos e lã, etc. A vida nômade baseava-se em trabalhos nos ambientes da tenda (cozinha e depósito), na terra (colheita de sementes, frutas, raízes, etc), no pasto (animais) e nos rios (pesca). Desta feita, em todos estes espaços, havia a produção e utilização de ferramentas apropriadas, tais como: colheres, facas, tigelas, moinhos, sacos, fl echas, lanças, armas, picaretas, bastões, pedras de corte, foices, enxadas, entre outros. Mais uma vez, a arqueologia bíblica é recheada com utensílios e artefatos deste período, indicando- nos as variações de instrumentos tribais. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA94 Assista ao vídeo a seguir. Nele, você perceberá que o proponente tenta potencialmente utilizar-se de materiais primitivos, desde o utensílio cortante de madeiras até o perfurador do chão. É um vídeo que demonstra todos os processos de um plantio, colheita e cozimento. Assista ao vídeo: Primitive Technoogy: Sweet potato patch (Tecnologia primitive: canteiro de batata doce) Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=TTcXhYHmOx8 Duração: 6m25s O terceiro item diz respeito às atividades sociais do povo de Deus no período tribal. Na convivência tribal, tais atividades são totalmente comunitárias. Em algumas delas, os papéis femininos e masculinos são muito bem defi nidos. Os homens, geralmente, costumavam reunir-se para discussões mais importantes, desde para fazer relações com os ensinamentos dos antepassados como também decidir sobre acampar e/ou levantar acampamento em regiões geográfi cas mais estratégicas. Em alguns casos, montavam-se as tendas em regiões próximas às fontes de água e/ou campo de pastoreio, encostas de montanhas e próximas às árvores. As mulheres fi cavam com a responsabilidade de preparar os alimentos para alimentação de toda a tribo, além também de confeccionar as vestimentas para os membros do clã, cuidar e manter organizada a tenda e os pertences e outros afazeres domésticos. Uma vez que elas eram as fontes de perpetuação da tribo, a função primordial da mulher era procriar: dar à luz aos fi lhos (fertilidade) era condição importante para pertencimento ao grupo tribal, à perenidade do clã e à manutenção da representatividade dentro do grupo. Neste sentido, além de procriadora, a mulher era responsável também pela educação dos fi lhos até próximo aos doze anos deles, em cuja ocasião os meninos costumavam acompanhar os mais velhos ao trabalho no campo ou na terra, enquanto as meninas fi cavam sob vigilância das mães e demais mulheres idosas do clã. 95Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Além disso, as tribos promoviam festas e convivências sociais com as demais tribos vizinhas. A hospitalidade era um critério de pacifi cação e política de diplomacia. Em alguns casos, a rivalidade entre as tribos tinha que ser contida, ou seja, um inimigo podia até ser preso por uma tribo, mas o nível de hospitalidade poderia por fi m à esta rivalidade, bem como resultar em relações duradouras de convívio pacífi co e harmonioso. Uma excelente passagem bíblica que registra esta situação é o retorno de Jacó para a planície do Jordão, em cuja ocasião ele deverá encontrar- se com seu irmão Esaú (Gênesis 32-33). Neste episódio é visível uma comitiva sendo organizada como estratégia de guerra e genocídio tribal. Veja o vídeo, a seguir. No vídeo, você verá um desenho animado que demonstra claramente o embate entre dois clãs (Esaú e Jacó, irmãos e fi lhos de Isaque). Observe o roteiro do reencontro. Assista ao vídeo: Jacó e Esaú Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=ixopza0oufw Duração: 4m21s O quarto item responsável pelo período tribal do Antigo Israel comenta sobre os estilos de alimentação e o uso de recursos medicinais para a saúde dos membros da tribo. Basicamente, a dieta dos nômades era por meio de pão (trigo e cevada), frutas silvestres, leite e derivados (queijo e coalhada), peixe e carne. A panifi cação era rústica, isto é, a partir da trituração do trigo, obtinha-se a farinha, que era misturada com água e cozida em fogo. Há comentários que tal preparado em consistência semilíquida despejada em rochas aquecidas, produziam bolachões (pães fi nos) que, por sua vez, ajudava no apanhado de outros preparos alimentícios. Já as frutas eram colhidas segundo as estações de amadurecimento. Em regiões mais férteis, encontravam-se uvas cujo teor de açúcar contribuía | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA96 para a fermentação de sucos e bebidas. Acompanhada às frutas, havia as romãs e as tâmaras. As romãs eram bem utilizadas em produção de chás, condimentos e recursos terapêuticos. Na época, certamente o povo não conhecia os benefícios científi cos (fruta riquíssima em vitamina C, K, proteínas, ácido fólico, potássio e fi bras, além de possuir ação antioxidante e anti-infl amatória), mas sob orientação divina, utilizou-se dela para o consumo e dieta. Veja seção SAIBA MAIS sobre o signifi cado e símbolo da romã em contextos do mundo bíblico. Saiba mais: Romã O texto na íntegra encontra-se disponível no link a seguir. Aqui, há somente o signifi cado para o judaísmo e cristianismo. Disponível em: h� ps://www.dicionariodesimbolos.com.br/roma/ Judaísmo Note que a romã possui 613 sementes, tal qual os 613 mandamentos ou provérbios judaicos chamados de “Mitzvots”, presentes no livro sagrado, a Torá. Dessa forma, na tradição judaica, no feriado chamado “Rosh Hashanah”, dia em que começa o ano judaico, é comum consumir romãs, símbolo de renovação, fertilidade e prosperidade. Cristianismo No Cristianismo, a romã simboliza a perfeição divina, o amor cristão e a virgindade de Maria, mãe de Jesus. Fruto divino, na Bíblia, as romãs surgem em algumas passagens e estavam esculpidas no Templo de Salomão, em Jerusalém. Na tradição católica, a romã é consumida no Dia de Reis, 6 de janeiro. As tâmaras eram comidas em natura e contribuía também para a dieta alimentar. Em secagem ao sol, eramisturada em farinha para produção 97Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | de bolos e pães doces. De certa maneira, o fruto da oliveira, a azeitona, era rico em produção de óleo (azeite) com propriedades fenólicas. O azeite era usado como unguento antisséptico para as feridas, e, em natura, podia ser bebido para alívio de problemas intestinais e estomacais. Um excelente exemplo para demonstrar o processo de extração do óleo de azeite é a passagem de Mateus 26 e Marcos 14 nas quais confi gura-se o Jardim das Oliveiras, também chamado de Getsemani (prensa de olivas), para exemplifi car o período em que Jesus sentiu o ‘peso’ do pecado de toda a humanidade. Além das olivas, outros alimentos também faziam parte da dieta do povo primitivo, como o leite das ovelhas e cabras. O ambiente do deserto pode ser considerado o quinto elemento que faz parte do estilo de vida nômade do Israel Primitivo (ou Antigo). No tribalismo, o povo de Deus habitava diferentes espaços (ou regiões). E um deles era o deserto, em muitas vezes, árido, seco e sem muitas opções de produção de vida. Por isto, em sentido bíblico, uma extensão desértica com a existência de água potável, terras férteis, irrigáveis, de pastagens e presença de animais signifi cou o éden (paraíso, oásis). Neste sentido, os patriarcas entenderam esta terra (árida e desértica) como um dos espaços geográfi cos que eles também teriam que passar. As viagens ocasionais em terras desérticas são exemplos do povo de Deus em movimento, pois indicam as experiências de obediência a Deus, de confl itos e confrontos humanos, de punição e castigo, de privação e sobrevivência e de promessa. Considerando a região do Crescente Fértil (Mesopotâmia, Palestina e Egito), as projeções para além do traçado, são desérticas. Entre a Mesopotâmia e a Palestina, há o deserto da Arábia; e entre a Palestina e o Egito, há o deserto do Sinai. Entretanto, elas são recompensadas pelos rios férteis e de planícies cultiváveis. O povo de Deus era nômade porque conhecia as estações do período de abundância e estiagem em ambiente desértico – por isto explica-se o movimento de peregrinações (nomadismo). Na literatura sobre a vida no deserto, encontra-se o sábio nômade que literalmente interpreta os elementos que compõem o deserto como | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA98 fonte de vida. A chuva é uma delas. Para o estilo de vida tribal em peregrinação no deserto, a chuva é bênção que cai do céu para a sua família, seu rebanho, demais membros do clã, pois é símbolo (ou sinal) de sobrevivência. As viagens e peregrinações no deserto sempre estavam debaixo do comando de um patriarca, profundamente conhecedor das épocas de bênção no deserto. Assista ao vídeo: Como conseguir água: Regiões desérticas – Alambique Solar Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=VZDJT5CbBsI Duração: 10m55s Por último, temos o item sobre a religião de um povo nômade. Para o povo de Israel Primitivo, a religião tribal é compreendida a partir do culto descrito nas passagens bíblicas. Em alguns momentos, o ajuntamento de algumas pedras e a construção de um pequeno altar exemplifi cava as práticas de sacrifício, culto e ofertas. No quadro, a seguir, há as representações de três tipos de culto (em pinturas clássicas e de animação) do período tribal de Israel. No primeiro quadro, Caim e Abel são representações de culto através de sacrifícios com elementos da natureza (animais e produtos agrícolas), contextualmente a oferta sendo oferecida como culto. Na segunda representação, o sacrifício de Isaque é em local sagrado, determinado por Deus: “em uma montanha nas terras de Moriá” (Gn 22:1), para exemplifi car que o culto a Deus não é feito com morte de humanos (já vimos isto na primeira unidade) . E, no último quadro, há a pintura do altar de sacrifícios na época do Tabernáculo, que representava a morada de Deus junto com o seu povo (um tipo de culto comunitário). 99Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Caim e Abel Abrão e o sacrifício de Isaque O altar de sacrífi cos no tabernáculo A princípio, a religião do Israel Tribal é permeada pela presença da natureza e a preservação da vida humana: alimentação, abrigo, trabalho, água, etc. Tais elementos encontrados na natureza produziam os imaginários da atuação de Deus sobre o povo: justiça, poder, amor, misericórdia, aliança, promessa, etc. Portanto, o povo tribal iniciou a compreensão acerca de um Deus Criador e Provedor, um ser que ama o seu povo e que caminha com ele em todas as direções e situações. 2. A ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO TRIBAL EM ISRAEL O vídeo a seguir é sobre o Modo de Produção Tribal que, na teoria sociológica, o modo de produção refere-se à identifi cação das fontes de produção de um grupo social. No caso da História Primitiva de Israel, que vai de Gênesis a Juízes, diz-se respeito ao período do nomadismo e dos agrupamentos familiares e consequente divisão em tribos. No vídeo, há os elementos da produção e extração da natureza, comercialização entre as tribos pelo sistema de trocas de produtos e alinhamento com as relações familiares (casamentos, punições, diplomacias, etc). | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA100 Vídeo: Modo de Produção Tribal Vídeo gravado pelo prof. Ênio Caldeira Exercício de fi xação Leia, a seguir, o texto de Gênesis 29:15-28 cujo conteúdo é sobre o casamento de Jacó com Raquel. Observe como é feita a tratativa em uma sociedade tribal. O Casamento de Jacó 15 Já fazia um mês que Jacó estava na casa de Labão, 15 quando este lhe disse: “Só por ser meu parente você vai trabalhar de graça? Diga-me qual deve ser o seu salário”. 16 Ora, Labão tinha duas fi lhas; o nome da mais velha era Lia, e o da mais nova, Raquel. 17 Lia tinha olhos meigos[c], mas Raquel era bonita e atraente. 18 Como Jacó gostava muito de Raquel, disse: “Trabalharei sete anos em troca de Raquel, sua fi lha mais nova”. 19 Labão respondeu: “Será melhor dá-la a você do que a algum outro homem. Fique aqui comigo”. 20 Então Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram poucos dias, pelo tanto que a amava. 21 Então disse Jacó a Labão: “Entregue-me a minha mulher. Cumpri o prazo previsto e quero deitar-me com ela”. 22 Então Labão reuniu todo o povo daquele lugar e deu uma festa. 23 Mas quando a noite chegou, deu sua fi lha Lia a Jacó, e Jacó deitou-se com ela. 24 Labão também entregou sua serva Zilpa à sua fi lha, para que fi casse a serviço dela. 25 Quando chegou a manhã, lá estava Lia. Então Jacó disse a Labão: “Que foi que você me fez? Eu não trabalhei por Raquel? Por que você me enganou?” 101Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 26 Labão respondeu: “Aqui não é costume entregar em casamento a fi lha mais nova antes da mais velha. 27 Deixe passar esta semana de núpcias e lhe daremos também a mais nova, em troca de mais sete anos de trabalho”. 28 Jacó concordou. Passou aquela semana de núpcias com Lia, e Labão lhe deu sua fi lha Raquel por mulher. 29 Labão deu a Raquel sua serva Bila, para que fi casse a serviço dela. 30 Jacó deitou-se também com Raquel, que era a sua preferida. E trabalhou para Labão outros sete anos. BÍBLIA NVI Basicamente, esta sociedade adota estrategicamente o casamento como um acordo entre as famílias, um tipo de alinhamento a partir do qual decorrem-se os provimentos, os deveres, os direitos, a responsabilidade social comunitária (clã, tribo) e, principalmente, a função marido e mulher como elementos de uma nova unidade social: a família. O modelo é, portanto, de um sistema tribal, no qual o casamento é: a. ( ) uma relação socioeconômica entre familiares, com obrigações de pagamento por meio do trabalho. b. ( ) uma condição social para a nova família, cujo consentimento para contrair núpcias é mediante o acordo feito entre o chefe do clã e o jovem noivo. c. ( ) a união entre um homem e uma mulher, desde que respeitada a ordem das mulheres solteiras da família danoiva. d. ( ) a relação entre o chefe do clã e o novo membro agregado, pois o sustento da nova família é responsabilidade do pai da noiva. e. ( ) um símbolo religioso de perfeição, pois a união entre homem e mulher por sete anos representa a vontade de Deus. Acesse o AVA para fazer o exercício! | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA102 Saiba mais!!! O Alambamento nos direitos africanos O texto a seguir contém alguns trechos que sinalizam a diferença entre alambamento e dote, uma prática evidente em sociedades tribais. Veja o texto na íntegra, clicando aqui: h� p://www.fd.ulisboa.pt/wp- content/uploads/2014/12/Moises-Mbambi-O-ALAMBAMENTO-NOS- DIREITOS-AFRICANOS.pdf Uma Portaria do então Governo-Geral da Colónia de Angola, de 22 de Dezembro de 1948, caracteriza o alambamento como a prova do casamento (2)... Note-se que os hebreus _ um povo prodigioso, cujas normas religiosas abalaram o mundo, e que manteve contactos notórios com o seu Deus, que é espiritual _ praticaram o alambamento desde tempos imemoriais (pois já era conhecido no tempo de Abraão), sob a designação de mahar que os hermeneutas europeus erradamente traduziram por dote, quando, na verdade, o dote signifi ca algo bem diverso do mahar... Qual é a diferença existente entre os dois institutos? O mahar, ou o alambamento é o dinheiro dado pelo pretendente de noiva aos pais desta. Entre os hebreus, cifrava-se em 50 siclos de prata; entre os angolanos é variável, conforme a região, mas o valor médio do alambamento cifra-se em 100 dólares norte-americanos. O dote dos ocidentais são os bens económicos que os pais da noiva lhe dão para a ajudar a ter alguma sufi ciência económica no seu novo lar. Por isso, os exegetas europeus, que traduziram a Bíblia Sagrada do hebraico para as línguas ocidentais, deverão retirar da sua Bíblia a palavra dote e substituí-la pela mesma palavra hebraica mahar, ou, então, imitar os angolanos, que chamam ao mahar alambamento... 103Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | No mahar dos hebreus, ou no alambamento dos africanos, não existe esta ideia da compra da mulher! A ideia que o mahar (alambamento) contém é de uma prenda, um reconhecimento e gratidão, ou, e bem melhor, um prémio à noiva e seus pais, pelo seu bom comportamento e virtudes familiares. Não há, pois, nenhuma ideia mercantilista da compra da noiva. Há outras características de uma sociedade tribal, tais como a divisão de tarefas, a organização do trabalho produtivo e o fl uxo da produção e consumo de alimentos. O texto a seguir traz excelente colaboração para o entendimento acerca do sistema tribal, pois levemente há comparações com o sistema moderno (ou contemporâneo) de organização social do trabalho. É interessante também reforçar aqui que o conceito sobre trabalho, enfaticamente no Pentateuco, é compreendido como bênção de Deus, ou seja, a sociedade tribal enxerga a natureza como a provisão de Deus para suprir a criação. O trabalho na sociedade tribal Para se analisar o trabalho dentro do âmbito da sociedade tribal é preciso que se deixe de lado todos os conceitos preestabelecidos em relação ao mesmo dentro da sociedade moderna, uma vez que essas duas sociedades não têm semelhanças em comum. Pois é perceptível que na sociedade tribal não existe uma hierarquia | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA104 ou separação do trabalho por classes sociais, mas apenas uma simples divisão de tarefas por sexo e idade, onde as mulheres fi cam responsáveis por cuidar dos fi lhos e da casa; as crianças pela colheita e plantio; e os homens pelo serviço mais “pesado” como a caça, pesca, guerra. É de total relevância saber que a ideia do trabalho como algo separado das outras atividades da tribo não têm nenhum fundamento nessa sociedade, uma vez que todas as atividades produtivas não funcionam de forma isolada, mas está sempre ligada aos ritos, mitos, ao sistema de parentesco, às festas, às artes, enfi m, a toda a vida social, econômica, política e religiosa da mesma, pois para essa sociedade o trabalho separado de toda a sua cultura não têm nenhum valor ou importância. Embora não haja uma divisão do trabalho isso não quer dizer que ela seja desorganizada ou que não tenha suas necessidades essenciais satisfeitas, muito pelo contrário, pois se dispõem não apenas de uma boa qualidade de vida (isto é, quando não se mantinha contato com o “mundo civilizado”), como uma pequena carga horária de trabalho que em média é 3 horas por dia, fazendo assim que ela seja caracterizada como “sociedades do lazer”, ou as primeiras “sociedades de abundância”. Mas a explicação para o fato de os membros dessa sociedade trabalharem menos, está ligado a forma com que eles se relacionam com a natureza, pois através da observação eles conseguem defi nir o tempo correto do plantio, da colheita, além de conhecerem os animais e a forma como se reproduzem, podendo assim ser chamada de uma sociedade sustentável, pois consomem os recursos da natureza respeitando a sua ordem, e seu tempo e proporcionalmente a sua necessidade. “Mas o que mais importa para essa sociedade é o sentido de unidade em todos os seus aspectos” Disponível em: h� p://sociologia-ifma.blogspot.com/2012/04/o- trabalho-na-sociedade-tribal.html 105Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Exercício de aplicação Relendo o texto anterior, da Sessão SAIBA MAIS “O trabalho na sociedade tribal”, extraiu-se o seguinte parágrafo: É de total relevância saber que a ideia do trabalho como algo separado das outras atividades da tribo não têm nenhum fundamento nessa sociedade, uma vez que todas as atividades produtivas não funcionam de forma isolada, mas está sempre ligada aos ritos, mitos, ao sistema de parentesco, às festas, às artes, enfi m, a toda a vida social, econômica, política e religiosa da mesma, pois para essa sociedade o trabalho separado de toda a sua cultura não têm nenhum valor ou importância. Seguindo esta diretriz sobre o trabalho comunitário, uma aplicação para o grupo social é melhor defi nida no seguinte texto bíblico: a. ( ) “Purifi ca-me com hissopo, e fi carei limpo; lava-me, e fi carei mais alvo do que a neve” (Sl 51:7, Bíblia ARA). b. ( ) “Depois Arão virá à tenda da congregação, e despirá as vestes de linho, que havia vestido quando entrara no santuário, e ali as deixará” (Lv 16:23, Bíblia ACF). c. ( ) “Se uma família for pequena demais para um animal inteiro, deve dividi-lo com seu vizinho mais próximo, conforme o número de pessoas e conforme o que cada um puder comer” (Ex 12:4, Bíblia NVI). d. ( ) “Edifi cou ali um altar, e chamou ao lugar El-Betel; porque ali Deus se lhe tinha manifestado quando fugia da face de seu irmão” (Gn 35:7,Bíblia ARA) e. ( ) “E a mulher de Ló olhou para trás e fi cou convertida numa estátua de sal” (Gn 19:26, Bíblia ARC). Acesse o AVA para fazer o exercício! O ano é provavelmente entre 1250 e 1200 a.C. e, seguindo as informações da literatura bíblica (Gn 12), Deus chama Abrão e lhe faz a promessa de daria uma terra abençoada. Como Abrão e demais membros da família | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA106 são nômades, tem-se a noção de que ele é um chefe de família, portanto um patriarca. A propósito, ‘Abh (leia-se ‘Av) signifi ca pai em hebraico; e ‘Am é povo. Logo, ‘Abraham” signifi ca “o pai de muitos povos, nações”. Seguindo esta informação, os estudiosos do Antigo Testamento costumam afi rmar que “o período tribal durou aproximadamente 200 anos, indo de 1250 a 1050 a.C.” Pela narrativa bíblica, que compreende os capítulos de Gênesis 12 a 50, o povo de Deus formado pelos fi lhos de Jacó desce para o Egito, a fi m de comprar alimentos. Devido às estratégias de dar uma lição aos seus irmãos, José, que havia sido vendido pelos próprios irmãos e se tornara também regente no Egito, revela-se para os seus irmãos e manda buscar seu pai e demais familiares da Palestina. No início da narrativa do livro Êxodo, reconhece-se que o povode Deus havia aumentado em número a ponto de se tornar uma ameaça para o governo egípcio. Mas, afi nal, qual é mesmo a origem do povo de Deus? Há, pelo menos, duas fontes bíblicas (textuais) que devem ser tratadas. A primeira é a da chamada de Abraão e sua esposa Sara (Gênesis 12), dos quais nasce o jovem Isaque (Gn 21:1-7). Após a puberdade, Isaque casa-se com Rebeca e dá a luz aos gêmeos Esaú e Jacó (Gn 25:19- 27). E, a partir de Jacó, suas duas esposas (Lia e Raquel) e suas duas concubinas (Bila e Zilpa) doze fi lhos e uma fi lha foram gerados. Esta fonte é considerada a história da origem patriarcal do povo de Deus e, exemplarmente, quando o próprio Deus muda o nome de Jacó para Israel (do hebraico ‘Ish, que signifi ca homem e/ou príncipe, e ‘El, que signifi ca Deus), descrita em Gênesis 35:9 “Seu nome é Jacó, mas você não se chamará mais Jacó: seu nome será Israel”. Acesse o AVA e assista ao vídeo gravado pelo professor Ênio sobre Cultura A segunda fonte, também literária (textual), se encontra a partir do Livro de Êxodo, especifi camente sobre três grupos sociais. A seguir, cada um desses grupos sociais é apresentado, inclusive com a localização dos mapas. 107Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | O primeiro grupo social refere-se aos pastores que habitavam a região de Gósen (ou Gessen). Há comentários que consideram esses habitantes como sendo o ‘povo da terra’ (os hapirus, que vieram mais tarde ser denominados hebreus), porque cuidavam de animais com pastos. Euclides M. Balancin diz que por volta de 1290-1224 a.C., o Faraó Ramsés II resolveu construir uma cidade e vários armazéns nesta região. E, para realizar tal obra, obrigou os hebreus a trabalhar com condições severas. É, pois, neste momento que a narrativa de Êxodo insere a história de Moisés para explicar a como o clamor do povo hebreu chegou até os ouvidos do Deus Eu Sou. Moisés, sendo um hebreu de nascimento, foi salvo das águas do Nilo como determinado pelo decreto do Faraó para exterminar os hebreus do sexo masculino recém-nascidos. Sendo criado nos costumes egípcios, percorreu um tempo de formação e educação cultural e militar, através da qual tornou-o célebre, sábio e com autoridade sobre os demais egípcios. Ao ser descoberto como hebreu e acusado de ter assassinado um egípcio, fugiu para o deserto. Em terras estrangeiras, refaz a vida trabalhando e servindo a casa de Jetro, que mais tarde virá a ser o seu sogro. É em serviço de pastoreio que, atento à visão de uma sarça no cume de um monte, tem a experiência de encontrar-se com Deus e ser comissionado acerca do sofrimento do povo no Egito. Consciente desta missão, não suportou a opressão causada aos seus patriotas, então obteve a adesão de seu irmão e irmã (Arão e Miriã) | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA108 e outros líderes do povo hebreu e foram até à presença do Faraó para convencê-lo da libertação do povo. O argumento de Moisés era para que o Faraó deixasse o povo prestar culto a Deus. Sabe-se que o Egito tinha seus deuses e objetos de adoração, mas o Deus dos hebreus (Ex 3:16-20) era sem forma e sem imagem, que motivava o povo ao ideal da liberdade prometida aos patriarcas Abrão, Isaque e Jacó. As experiências deste povo com o processo de audiências de Moisés com o Faraó vieram a ser conhecidas como as Dez Pragas. Em cada uma delas, o coração do Faraó endurecia ainda mais! Até que uma última, resultou na libertação dos hebreus. Exercício de aplicação Leia o excerto abaixo: Hebreus Os hebreus são conhecidos como israelitas ou judeus. Antepassados do povo judeu, os hebreus têm uma história marcada por migrações e pelo monoteísmo. Muitas informações sobre a história dos hebreus baseiam-se na interpretação de textos do Antigo Testamento, a primeira parte da Bíblia. O Antigo testamento foi escrito com base na tradição oral dos hebreus. Consta dele, por exemplo, a interpretação feita por esse povo da origem do mundo e de muitas das normas éticas e morais de sua sociedade. Convém ressaltar, entretanto, que esses textos são repletos de símbolos e sua interpretação é bastante difícil. Vestígios da sociedade hebraica continuam sendo encontrados. Eles contribuem para lançar novas luzes sobre a história dos hebreus. Segundo a tradição, Abraão, o patriarca fundador da nação hebraica, recebeu de Deus a missão de migrar para Canaã, terra 109Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | dos cananeus, depois chamada de Palestina, onde se localiza hoje o Estado de Israel. Após passarem um período na terra dos cananeus, os hebreus foram para o Egito, onde viveram cerca de 300 a 400 anos, e acabaram transformados em escravos. Sua história começa a ganhar destaque a partir do momento em que resolvem sair do Egito e, sob a liderança de Moisés, voltar a Canaã. Na história judaica, esse retorno é chamado de êxodo e aconteceu entre 1300 e 1250 a.C. Disponível em: h� ps://www.sohistoria.com.br/ef2/hebreus/ Considerando as informações dadas acima, é correto afi rmar que a organização do povo hebreu se deu: a. ( ) Pela Proclamação do Estado de Israel, ocorrida em 1250 a.C. b. ( ) Pela revelação de que Deus é o Criador de todas as coisas, por isso ele elegeu o povo hebreu. c. ( ) Pela missão de ir ao Egito, fazer-se escravo e rebelar-se contra o Faraó, a fi m de que os povos futuros reconhecessem o Deus Libertador. d. ( ) Pela educação do povo sobre o culto, a circuncisão e a peregrinação no deserto. e. ( ) Pela compreensão que Abraão teve sobre a promessa de uma terra dada por Deus e a imediata obediência dele e dos demais membros de sua família. Acesse o AVA para fazer o exercício! | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA110 O segundo grupo que irá formar o povo de Israel refere-se a um ajuntamento de pessoas que habitavam a Península do Sinai, ou simplesmente, os sinaítas, ou ainda, o povo do deserto. A caminhada dos hebreus pelo deserto (peregrinação) é uma representação de vida dura, castigo e nomadismo. E mesmo caminhando com o ideal da liberdade, havia alguns participantes que gostavam do estilo de escravidão e idolatria do Egito. Mas na Península do Sinai, o povo compreendeu que o Deus dos hebreus era o Deus Todo Poderoso! Neste aspecto, o encontro destes dois grupos fortaleceu o sentido da liberdade porque integrou os temas da provisão de Deus (maná, codornizes) e os constantes momentos de celebração, liturgias e educação aos fi lhos (Dt 26:4-10). Em consonância ao culto a Deus, os livros de Êxodo, Levíticos e Deuteronômio descrevem os procedimentos de sacrifício, sacerdócio, expurgação e convivência social para o povo. A construção do Tabernáculo (Tenda) é apresentada como sendo o Deus que habita em meio ao seu povo. E, mesmo o Deus do Sinai, agora também se desloca junto com o povo. Subindo para as terras de Canaã, o povo de Gósen e o povo do deserto encontram-se agora com o povo da montanha. São o terceiro grupo que vão 111Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | dar origem à formação do povo de Deus, também chamados de canaanitas. O povo de Canaã era, em sua maioria, agricultores inconformados com o sistema que as cidades-Estado impunham sobre eles (veja, à frente), a explicações sobre cidade-Estado e Tribo). Balancin (1989, p. 21) diz que os agricultores eram “obrigados a trabalhar no campo para sustentar gente da cidade, necessitavam ceder quase toda a produção para poder pagar os pesados impostos exigidos pelo rei e pelo Faraó. O grupo de Canaã vai juntar-se com os demais e promover um levante contra o sistema vigente na região da Palestina. Mais uma vez, Balancin comenta: “Muitos camponeses se refugiam na região montanhosa, onde as cidades não têm controle, pois a maioria delas fi cava nas planícies. Habitando nas montanhas, esses camponeses conseguem se livrar da vigilância e perseguição, principalmente dos carros de guerra. Aí começam a derrubar matas, fazer o plantio para sobreviver e também se organizamsocialmente” (1989, p. 22). A partir da leitura do Êxodo, consegue perceber que a existência destes três grupos é predominante para criar uma “nova” sociedade. Afi nal, a promessa dada aos patriarcas, que o povo de Deus habitaria uma terra que mana leite e mel, juntamente com a revelação de Deus em três momentos subsequentes, quais sejam: o livramento do Egito, a entrega das doze tábuas e a condução do povo à entrada em Canaã, deram condições favoráveis à possibilidade de cultuar livremente Deus. Sendo assim, deu-se a unidade desses grupos com a fusão da ideia de tribo iniciada com os fi lhos de Jacó. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA112 Saiba mais: O que era uma cidade-estado e o que é tribo? 113Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA114 Exercício de reflexão Apresenta-se a seguir um breve trecho da exposição feita por Tiago Rosas no site Gospel Prime: Tabernáculo – um lugar da habitação de Deus “Ora, Moisés costumava pegar a tenda e armá-la para si, fora, bem longe do arraial. Ele a chamava de ‘tenda do encontro’. Todo aquele que buscava o SENHOR saía à tenda do encontro, que estava fora do arraial” (Êx 33.7, NAA) A tenda do encontro de Moisés fi cava fora e bem longe do arraial. Certamente Moisés tomara a iniciativa de construir essa tenda incipiente porque precisava estar em comunhão com Deus num espaço reservado, onde pudesse receber dEle suas orientações para comunica-las ao povo; e construí-la fora e distante do arraial certamente foi uma decisão motivada pela profunda reverência para com a santidade de Deus. Onde Deus se manifesta, “é terra santa” (Êx 3. 5). Entretanto, Deus parecia não estar satisfeito revelando-se a Moisés fora e bem longe do arraial, então lhe diz: “Diga aos fi lhos de Israel que me tragam uma oferta. De todo homem cujo coração o mover para isso… E farão para mim um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Êx 25.8) Disponível em: h� ps://www.gospelprime.com.br/tabernaculo-um- lugar-da-habitacao-de-deus/ Após a leitura, além dos argumentos apresentados sobre a habitação de Deus, ou seja, da tenda do encontro e do tabernáculo, apresente outros dois argumentos de como Deus faz habitação hoje no meio do seu povo. Acesse o AVA para fazer o exercício! 115Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 3. AS DOZE TRIBOS No tema anterior, discorreu-se sobre a estrutura e a organização do sistema tribal em uma sociedade do Antigo Oriente, mais especifi camente sobre o conteúdo encontrado no Pentateuco, Josué e Juízes com vistas à formulação da teoria literária para a origem do povo de Deus. Neste atual tópico, a atenção será para a formação das doze tribos de Israel, desde a organização até o seu desenvolvimento durante a peregrinação e a conquista de Canaã. O mapa abaixo indica as três campanhas militares da Conquista de Canaã. Com o objetivo de dar posse da terra ao povo, Deus escolheu Josué para que fosse um tipo de general e que comandasse o povo. Em Êxodo 17:8-13, Josué já havia demonstrado brilhantismo de comando ao derrotar os amalequitas. Basicamente, seu planejamento estratégico era estabelecer um ponto de comando no meio de Canaã e depois seguir com o povo para invadir e expulsar os canaanitas, tanto os do sul como os do norte. Mapa “A Conquista de Canaã” – Manual Bíblico Vida Nova, p. 232 | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA116 Ao ler o trecho de Josué, do capítulo 5:13 ao capítulo 10:28, entende- se perfeitamente o estratagema de Josué: invadir e conquistar a parte central de Canaã. Diz o texto bíblico que foi Deus quem entregou a terra de Jericó nas mãos de Josué. Na época, Jericó era uma importante cidade e indicou a porta de entrada para a Terra Prometida. A segunda cidade conquistada foi Ai; e na sequência a região de Gibeão e Maquedá. Os empreendimentos militares para o sul estão descritos a partir de Josué 10:29-43. O primeiro alvo foi Libna. E, devido ao sucesso, desceram até Laquis (10:31-32), conquistando-a também. Uma vez fortalecidos e confi antes, o povo de Deus atacou Eglom e Hebrom e, por último, a cidade de Debir. E para o norte, a invasão dos israelitas aconteceu na região das águas de Merom (Js 11:1-15), com o resultado de vitória sobre a cidade de Hazor. Depois de várias tentativas, os israelitas acabaram conquistando mais 31 cidades, sendo os reis dessas terras expulsos e derrotados (Js 12:7-24). Pela tradição bíblica (Manual Bíblico Vida Nova), sabe-se que os fi lhos de Jacó originaram as doze tribos de Israel. Na verdade, são os dez fi lhos de Jacó e mais dois de José. De acordo com o texto de Josué, dos capítulos 6 a 24, é traçada a teoria da conquista da terra de Canaã pela fé. A seguir, consta um resumo dos episódios que antecederam a distribuição das terras para as respectivas tribos: 1. Josué 6:1-27 “Jericó é derrubada por gritos e trombetas” 2. Josué 7:1-26 “Desobediência e derrota em Ai” 3. Josué 8:1-35 “Obediência e vitória em Ai” 4. Josué 9:1-27 “A fraude dos gibeonitas” 5. Josué 10:1-43 “Deus luta por Israel” 6. Josué 11:1-15 “A destruição de Hazor” 7. Josué 11:16-12:24 “A contagem dos reis” 8. Josué 13:1-7 “As terras não distribuídas” 9. Josué 13:8-33 “As terras na Transjordânia” 117Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Nas palavras de Balancin (1989, p. 22-23), o povo que havia saído das terras em Gósen (Egito) e se encontrado com o povo do deserto (Sinai), ambos têm agora o povo da montanha (Canaã) como aliados para unirem- se e fazer a “força tribal” como potência a criar uma nova sociedade. Todos esses três agrupamentos tinham a experiência de convivência tribal e de tratamento com a terra. Neste momento, decidiram unir-se e fi rmar-se na confi ança de que a conquista da terra é um dom de Deus. E é Yahweh quem concede esta terra ao povo, pela obediência e fi delidade do povo. O texto de Deuterônomio é enfático sobre esta direção, uma espécie de estatuto que justifi ca: 15 Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal; 16 se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o SENHOR, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o SENHOR, teu Deus, te abençoará na terra à qual passas para possuí-la. 17 Porém, se o teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido, e te inclinares a outros deuses, e os servires, 18 então, hoje, te declaro que, certamente, perecerás; não permanecerás longo tempo na terra à qual vais, passando o Jordão, para a possuíres. 19 Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, 20 amando o SENHOR, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade; para que habites na terra que o SENHOR, sob juramento, prometeu dar a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Dando continuidade às informações literárias sobre a divisão da terra para os fi lhos de Jacó e José, do capítulo 14 a 21 de Deuteronômio, fi caram assim divididas as porções de terra: | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA118 1) Josué: 14:1-5 “A terra a oeste do Jordão” As demais tribos, com exceção de Levi (cf 21:142), receberam de Josué a posse do lado ocidental do Jordão. Cada território foi determinado pelo lançamento de sortes (cf. Nm 26:55). 2) Josué 14:6-15 “A coragem de Calebe” Calebe foi o primeiro de Judá a reivindicar sua terra. Ele lembrou como, quarenta e cinco anos antes, levara um relato favorável em Cades-Barneia, quando instou Israel a tomar posse de Canaã. O testemunho de Calebe ampliou a fi delidade de Deus. Mesmo em idade avançada, Calebe tinha coragem e vigor para seguir o Senhor. 3) Josué 15:1-63 “O território de Judá” Judá foi a primeira tribo a receber sua herança. Ela era a maior tribo e a mais prestigiada (cf. Gn 49:8-12).A parte de Calebe fi cava em Judá. Ele tomou posse de Hebrom expulsando os anaquins. Otniel capturou Debir em nome de Calebe, cuja fi lha, Acsa, recebeu em casamento. Acsa, a exemplo do pai, era zelosa pelas promessas de Deus (Js 15:13-19). Jerusalém fi cava no território de Judá, mas os israelitas não conseguiram expulsar os jebuseus (15:63). Mapa “As Doze Tribos” – Manual Bíblico Vida Nova, p. 238 4) Josué 16:1-17:18 “Os territórios de Efraim e Manassés As terras pertencentes aos dois fi lhos de José, Efraim e Manassés, estavam na região montanhosa central. Efraim recebeu sua parte antes de Manassés porque possuía bêncão maior de Jacó (Gn 48:17-20). Efraim não conseguiu expulsar os cananeus de Gezer, apesar de Josué ter matado o rei do local (Js 12:12). Efraim optou por usá-los no trabalho forçado (16:10). A cidade tornou-se possessão real sob Salomão (1Rs 9:16). Josué distribuiu a terra às famílias de Manassés ao oeste do Jordão. Ele honrou todas as promessas de Deus (Js 17:3-4), conforme mostra o fato de ter dado terra às fi lhas de Zelofeade (Nm 27:1-7). A exemplo de Efraim, Manassés também optou por coexistir com cidades cananeias (17:11- 119Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 12). Mais tarde, essas regiões foram subjugadas por Israel (17:13, cf. 1Rs 9:15- 22). Quando Efraim reclamou que sua porção era pequena demais, Josué o desafi ou a aumentar o território, expulsando os cananeus (Js 17:14-18). 5) Josué 18:1-10 “A distribuição da terra de Siló” O povo erigiu o tabernáculo em Siló, mostrando que Israel havia obtido o controle da terra. Entretanto, sete tribos não haviam tomado posse, e Josué as censurou pela relutância em fazê-lo. 6) Josué 18:18-19:48 “As últimas tribos” A terra foi distribuída a Benjamin, Simeão, Zebulom, Issacar, Aser, Naftali e Dã. A herança de Benjamin era pequena, mas estratégica (18:11-28); era uma região neutra entre os estados (tribos) poderosos de Judá e Efraim. Suas cidades de Betel e Jerusalém eram as mais infl uentes no culto de Israel. O rei Saul e o apóstolo Paulo eram de Benjamin. A herança de Simeão (19:1-9) foi absorvida pela tribo de Judá de acordo com a bênção de Jacó (Gn 49:7). Simeão pode ter perdido a bênção porque ele e Levi mataram Siquém (Gn 34:25). A última parte coube aos danitas (Js 19:40-48). Seu território era bem pequeno, e os amorreus, em número excessivo para eles (cf Js 1:34). Assim mesmo, eles conseguiram obter um território, tomando posse de Lesém, a quem deram o nome de Dã (cf. Jz 18). 7) Josué 19:49-51 “Josué, o construtor” O corajoso líder Josué foi o último a receber terras. O povo lhe deu triunfantemente uma área em Efraim. Josué não foi apenas defensor da terra, mas também construtor. 8) Josué 20:1-9 “As cidades de refúgio” As cidades de refúgio ilustram a graça contínua de Deus para com Israel enquanto o povo vivia na terra. De acordo com a instrução de Moisés, seis cidades foram separadas como lugares para homicidas que tivessem matado involuntariamente (20:3; cf Nm 35:9-34; Dt 4:41-43; 19:1-14). | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA120 Quando o homicida apelava pedindo refúgio em uma das cidades designadas, os anciãos o protegiam do parente do falecido, que seria seu vingador. Se os anciãos o considerassem inocente, ele permanecia na cidade até a morte do sumo sacerdote (Js 20:6; cf Nm 35:25-28). Entretanto, se o homicida fosse considerado culpado, o povo da cidade o executava (cf Ex 21:12-14; Nm 35:29-34). 9) Josué 20:1-42 “A parte dos levitas” Em vez de receber um pedaço de terra, o serviço do Senhor era a parte especial dos levitas (Dt 10:8-9). Eles receberam quarenta e oito cidades espalhadas por todo o Israel (Js 21:41-42) de acordo com a promessa de Deus (Nm 35:1-5). Essa distribuição geográfi ca lhes permitia infl uenciar todas as tribos mediante o ensino dos preceitos de Deus (Dt 33:10). Algumas palavras fi nais sobre o sistema tribal precisam ser ditas. As Doze Tribos eram unidas em si por causa do culto a Yahweh. Neste sentido, os Dez Mandamentos serviam como base do monoteísmo – afi nal, na história da salvação o tema da idolatria sempre foi um grande desafi o a ser vencido. Este estatuto se tornou-se, na verdade, uma Constituição (lei magna do javismo), ou ainda, uma Confi ssão de Fé. É um tipo de lei que defendia o respeito à vida (“Não matarás”) e aberta para os relacionamentos sociais. Neste sentido, o povo hebreu aprendeu ao longo da sua jornada com Deus sobre os demais códigos e/ou constituições, tais como o Código da Aliança e o Código da Lei. O Código da Aliança (Ex 20:1-26) é o decorrente do evento do Sinai, e refere-se aos Dez Mandamentos, em cujo momento Deus pede que o altar seja feito em terra – uma possível referência aos cultos sem luxo, suntuosos e de reis pagãos. Já o Código da Lei (Dt 5:1-22) é uma atualização do Código da Aliança, descrevendo os pormenores e os procedimentos acerca de cada um dos mandamentos. Quando o povo dominou a cidade de Siquém, decidiu-se que dali se tomariam as decisões sobre as questões políticas, econômicas e sociais, seguidas sempre com base na direção à fi delidade a Deus, os princípios do direito (retidão) e justiça. Afi nal, o povo de Deus era o povo da justiça. 121Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 4. OS JUÍZES Após a conquista de Canaã e a respectiva divisão da terra, Israel entra em um novo período de liderança e governabilidade. Refere-se à época em que líderes dotados pelo Espírito, escolhidos por Deus para tarefas específi cas (Jz 3:9-10; 6:11,29; 13:25). São os juízes, e recebem este nome porque possuíam habilidades e competências civis e militares para livrar Israel dos inimigos. É interessante, pois, observar que o livro de Juízes apresenta Deus como sendo o Senhor da História. O ensino deste livro é demonstrar que Deus aplica um teste em seu povo para provar sobre a lealdade. O povo então é ensinado a combater a idolatria (o pecado e o sofrimento), cujo resultado é a salvação. Neste sentido, o livro de Juízes apresenta 13 juízes (ou líderes militares), sendo que o último, Samuel, é ao mesmo tempo compreendido como juiz e profeta. A seguir observa-se a lista dos juízes com respectiva referência bíblica e a durabilidade do mandato. Os juízes atendiam ao chamado de Deus para salvar o povo. A salvação é o alvo para a qual os juízes entendiam Deus como sendo o Senhor da História. “Os juízes do Antigo Testamento” – Manual Bíblico Vida Nova, p. 248 | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA122 Saiba mais!!! O valor ético e teológico do Livro de Juízes Como Senhor da história, Deus era livre para escolher qualquer pessoa e atuar como libertador. Do ponto de vista humano, as escolhas divinas são surpreendentes: um assassino (Eúde), uma mulher (Débora), um covarde proveniente de família insignifi cante (Gideão), o temerário fi lho de uma prostitua (Jefté) e um mulherengo (Sansão). Muitos desses libertadores escolhidos possuíam defi ciências morais nítidas. Ainda assim, Deus os usou para salvar seu povo. É verdade que os cristãos são chamados a fazer o máximo para serem santos (Hb 12:14). Mas Deus é soberano e livre para usar qualquer pessoa que escolha para cumprir seus propósitos salvadores. O pecado humano precisa de governos que imponham a moralidade. Nos dias dos juízes, quando não havia rei, “cada um fazia o que achava mais reto” (21:25). Os governos recebem de Deus a responsabilidade de punir o erro (cf Rm 13:3-5). A história posterior de Israel revela, porém, que o simples fato de ter um rei não era a solução para o fracasso moral de Israel. Aliás, os reis de Israel e Judá levaram muitas vezes o povo de Deus a atos de desobediência ainda maiores. O mais necessário não era a aliança de Deus imposta de fora, mas escrita no coração de seu povo (cf Jr 31:31-34). Em uma sociedade tribal, os princípios de participação, fraternidade, justiça, liberdade, e compartilhar são fortemente identifi cados nas relações sociais. Destafeita, o modo de produção tribal representada o ideal e a realidade do povo de Deus. O povo havia entendido que a idolatria era o principal fator de enfraquecimento das tribos. Por isso, aceitavam Javé como Deus único e libertador. 123Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Conclusão Chega-se ao fi m desta unidade, cujo conteúdo versou sobre o Nomadismo Hebreu caracterizando um período de formação do povo (hebreu, sinaita e canaanita) e peregrinação no deserto. Neste sentido, as características da formação tribal foram: a família, os pertences, a alimentação e o uso de recursos medicinais, as atividades sociais, o ambiente do deserto e a religião. E a construção do tabernáculo representou a presença de Deus no meio do povo, dando sentido ao culto de adoração, de sacrifícios e de louvor. Por cerca de 40 anos, o povo entendeu a dinâmica da fi delidade a Deus e o monoteísmo como fundamento da fé javista. Para o estudioso do Antigo Testamento, a tribo e suas variantes (família, clã, contingente militar, depósito, etc) exemplifi cam as modalidades de convívio comunitário, celebrativo e cúltico do Israel Primitivo. Neste sentido, três grupos nômades deram origem ao povo de Deus: (1) o povo da terra, também chamados de ‘apirus, hebreus e pastores da Terra de Gósen; (2) o povo do deserto, que habitavam a Península do Sinai e que cultuavam ‘El (Deus semita, cuja terminação era a mesma do povo hebreu); e o povo da montanha, os canaanitas, que estavam decepcionados com o sistema das cidades-Estado, modelo caldeu de economia com pagamento de altos impostos. Esses grupos se uniram e se tornaram ‘IshRaEl, literalmente o povo de Deus. E, após a acirrada organização da guarnição militar, Josué lidera o povo de Deus contra a terra de Canaã, estabelecendo a execução do planejamento em três estratégias. A primeira, de forma central, contra a cidade de Jericó, dominando-a; e o mesmo aconteceu com Ai, Gibeão e Maquedá. Em seguida, o levante para o sul, alcançando as cidades de Libna, Láquis, Eglom, Hebrom e Debir. E, ao norte, estabeleceu a guerra nas águas de Merom, obtendo vitória sobre as cidades de Hazor e mais 31 cidades. Em sequência a Josué, o Livro de Juízes refere-se ao período em que Deus escolhe treze governantes para o seu povo. São líderes com capacidade e habilidade civil e militar, a fi m de estabelecer a fi delidade a Deus, manter os territórios conquistados e avançar sobre os inimigos. Registrou-se o entendimento teológico acerca do livro de Juízes, caracterizando Deus como o Senhor da História, que traz salvação e libertação ao seu povo. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA124 Parágrafo introdutório A história da origem de Israel é um assunto que demanda muita leitura, afi nal não se sabe se a descrição de Josué 1-12, Juízes 1-21 e Rute são verossímeis ou apenas retratam como um “povo preserva a história do seu jeito” (Balancin, 1996, p. 7). Enfi m, Israel é formado pela doze tribos ou é decorrente de uma invasão ou de uma conquista? Objetivo do autor Ceresko tem o objetivo de esclarecer sobre os possíveis caminhos que explicam o processo de formação de Israel. Estrutura (sumário) Com a fi nalidade de demonstrar o processo de conquista de Canaã, Ceresko articula o capítulo 9 em três momentos, quais sejam: na Introdução é apresentada a problematização sobre duas possíveis origens de Israel: a de Abraão e Sara e a do Êxodo do Egito; logo em seguida são apresentadas a Conquista ou Instalação Gradual, tratando de duas teorias: a de Martin Noth, que acredita numa invasão pelas tribos do Êxodo do Egito e a permanência no deserto; e, por fi m, há a teoria de um Terceiro caminho: uma revolução social ou retribalização, pautada e apresentada por George Mendenhall e Norman K. Gottwald; de forma didática, o autor ainda apresenta nove perguntas para revisão. Metodologia Ceresko baseia-se nos resultados das pesquisas feitas por Martin Noth (3/8/1902 a 30/5/10968), cuja abordagem aos estudos bíblicos é de tradição histórica; por William f. Albright (24/5/1891 a 19 ou 20/09/1971) que se assemelha mais à abordagem arqueológica; e por Noram K. Gottwald que optou pelo método sociológico e antropológico. Conclusão Das três teorias apresentadas, Ceresko transparece sua simpatia pela exposição de Gottwald devido à forte função e importância do confl ito social na História de Israel. Pois, “a ‘verdade’ nessa parte da Bíblia que vai do Gênesis até Juízes não deve ser buscada mediante alguma tentativa de reconstruir ‘o que realmente aconteceu’ (p. 99). 125Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Fique à vontade para melhorar a estrutura de seu resumo. A anotação torna- se um hábito de registro de informação. Você é quem irá escrever mais ou menos em seu resumo. Faça o mesmo com a próxima indicação de leitura. GOTTWALD, Norman K. As tribos de Iahweh. Uma sociologia da religião de Israel liberto 1250-1050 a.C. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 366- 383. Cap. 32: Explanação alternativa do “sistema das doze tribos” | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA126 UNIDADE 4: MONARQUIA Introdução Chegamos à ultima unidade, e ela será encarregada de situar o(a) estudante acerca do período de instalação da monarquia, a divisão dos reinos e as consequências ocorridas através dos impérios estrangeiros. Esta unidade fornecerá uma panorâmica sobre a história de Israel vista no Antigo Testamento (da instalação da monarquia, cerca de 900 a.C) e no NT (até o século I, do Império Romano). Como o conteúdo é muito amplo, esta unidade irá agrupar os principais acontecimentos dos dois reinos: Israel, também chamado Reino do Norte, cuja capital é Samaria e tem o “boi” (touro) como animal que representa o governo; e Judá, denominado Reino do Sul, cuja capital é Jerusalém e o “leão” é o animal representativo da administração política. Em cada um deles, os reis e estratégias de atuação política e administrativa serão fornecidas, a fi m de a leitura sobre o período monárquico seja assimilada. Fica evidente que a monarquia é um modelo de administração que, a princípio, colocou a nação de Israel entre as principais da época. Foi o rei Salomão, fi lho de Davi, quem estruturou o sistema tributário em sua administração. No entanto, a médio prazo, este modelo demonstrou que, devido à exploração da produção agrícola à revelia, ocasionou o empobrecimento do campesinato, a ponto deste sistema tornar-se altamente prejudicial. É neste momento que os profetas surgem como a classe social que irá estabelecer o sentido da justiça e do direito (retidão). Os exercícios para esta unidade servirão como subsídios de leituras sobre o conteúdo a ser assimilado, ao mesmo tempo que irá estabelecer diretrizes para a avaliação fi nal. Em cada um deles, será destacado o conteúdo que abrange um período da monarquia. Leia com atenção o enunciado, a fi m de que você adentre ao problema da questão. Lembre-se de que a monarquia é um modelo que foi copiado de outras nações, mas com a distinção dada pelo próprio Deus, ou seja, ao rei “cabia administrar 127Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | o direito e a justiça”. Neste sentido, a história de Israel vista a partir desta perspectiva irá direcionar para o entendimento acerca da ideia do Messias, isto é, o Ungido de Deus que trará salvação a todo o Israel. 1. A função do rei e o Modo de Produção Tributário Como dito na Unidade 3, Samuel foi o último juiz que governou o povo de Israel. Além de juiz, ele também é considerado profeta e sacerdote. Como profeta, entendeu a fi delidade a YHWH como o ingrediente que promovia a ascensão da nação – uma vez que o próprio Senhor mantinha-se fi el à Aliança com seu povo. E, como sacerdote, ele cumpriu a função de orientar e ensinar o povo sobre os preceitos de Deus, bem como ungiu os dois primeiros reis de Israel: Saul e Davi. Há uma certa difi culdade em estabelecer uma cronologia para o período dos Juízes de Israel, entre os estudiososdo Antigo Testamento. Os autores são imprecisos sobre determinar o período que aconteceu a conquista de Canaã sob o comando de Josué, bem como os desdobramentos da invasão pela parte central, pelo norte e pelo sul. O que pode se afi rmar é que alguns juízes governaram concomitante a outros, talvez por regiões e/ou sob períodos não determinados – por isto não se soma todos os anos de governo dos juízes para precisar a duração, mas têm-se uma ideia que trata-se de governança para a libertação de Israel. Todavia, os autores (GOTTWALD, 1988, p. 67) arriscam estimar o tempo dos juízes entre os anos de 1300 a 1100 a.C., com poucas variações. No vídeo a seguir, em formato de desenho animado, há um breve resumo sobre o Ciclo dos Juízes, iniciado logo após a morte de Josué. Assista ao vídeo: O Livro dos Juízes Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=-qjum3zVBp8 Duração: 22m34s Com base nas informações do próprio Livro dos Juízes, por volta de 1298 a.C., o juiz Eúde promoveu a libertação do povo, que estava sob domínio | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA128 dos moabitas por dezoito anos (Jz 3:14-15). Foram Débora (juíza) e Baraque (comandante) que lideraram um exército e obtiveram vitória sobre as tropas de Sísera, libertando o povo que estivera por 20 anos sob os domínios do rei Jabim. Diz o texto que Débora e Baraque governaram por mais 40 anos na região norte de Israel. Em seguida, aparece Gideão (provavelmente por volta de 1211 a.C., conforme Juízes 6:1-9), que lidera um empreendimento militar sobre os midianitas, libertando o povo e governando por cerca de 40 anos. Vale ressaltar que Gideão foi um excelente juiz, mas seu fi lho, Abimeleque, iniciou uma liderança fora dos caminhos da Aliança (Jz 9:22). Tola e Jair foram os dois próximos juízes, após Gideão. Ambos governaram cerca de 23 e 22 respectivamente (Jz 10:1-3). Após a cessação de suas lideranças, Israel sofreu opressão e infl uência dos amonitas por cerca de 18 anos. Vale também ressaltar que a opressão não era somente territorial, mas a infl uência com práticas religiosas que ocasionavam a idolatria em meio ao povo. Mas foi Jefté quem promoveu a libertação do povo (Jz 10:8-11,33). Ibsa, Elom e Abdom foram os juízes que governaram com menor tempo (Jz 12:7-14). Ibsa liderou por 7 anos; Elom por 10 anos e Abdom por 8 anos. Foi um período que todos procuraram reforçar os princípios da Lei da Aliança para o povo. Por fi m, Aparece Sansão, cuja narrativa diz que ele governou por 20 anos (Jz 13-16), matou cerca de 1000 fi listeus com uma queixada de jumento; foi enganado por Dalila e ainda destruiu um templo fi listeu – ocasionando sua morte. Especifi camente falando sobre os fi listeus, chama-se a atenção deste povo como sendo o principal inimigo de Israel na época dos juízes. Na seção SAIBA MAIS, descreve-se sobre os fi listeus, cuja ressalva é sobre o sistema de organização política que eles tinham. Vale a pena ler o texto na íntegra, clicando no link. 129Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Saiba mais!!! “QUEM ERAM OS FILISTEUS?” Tiago Abdalla T. Neto ORIGEM Os fi listeus são, provavelmente, parte de uma confederação de grupos de povos, originária da região do Mar Egeu e de Creta (Caftor - Am 9.7; Jr 47.4).1 Chegaram na Palestina e se estabeleceram ali por volta dos séculos XIII e XII a.C., depois de trabalharem como mercenários para governantes hititas, cananeus e egípcios,2 e serem derrotados pelos últimos. Os “Povos do Mar”, como eram conhecidos, já vinham atacando o Egito desde a época de Ramsés II, quando este os derrotou e os obrigou a guerrearem na batalha de Cades contra os heteus (1275 a.C.).3 Todavia, Merneptá e Ramsés III são os que descrevem mais detalhadamente suas lutas contra eles, em que os Povos do Mar se aproximam tanto pelo mar (via ilha de Creta), como por terra (via costa da Síria e Canaã). Após a derrota, um grupo desta confederação, conhecido como peleset,4 ou fi listeus,5 instala-se na costa de Canaã. Portanto, a referência do livro de Gênesis quanto à origem dos fi listeus relacionada a Mizraim (Egito), deve ser entendida como geográfi ca/política, não étnica (Gn 10.13-14).6 Leia o texto na íntegra, clicando aqui: h� p://www.monergismo.com/textos/historia/quem-fi listeus_� ago-abdalla.pdf Israel observou que as grandes milícias estrangeiras (muitas dessas eram inimigos declarados) possuíam exército fortifi cado e hegemonia estatal. Ao comparar os modelos de governo, “o povo” concluiu que os estrangeiros tinham um sistema baseado na liderança totalitária de um governante, o rei. Diante da pressão e da ameaça iminente dos fi listeus, das demais nações vizinhas, dos sistemas mais elaborados tais como o egípcio e babilônico (faraônico e cidade-Estado) e das crises teológicas que o próprio povo de Deus sofria (os constantes atos de corrupção e | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA130 de práticas de idolatria), os chefes das tribos sentiram-se incomodados. Decidiram ir até o líder Samuel (juiz, sacerdote e profeta), a fi m de compartilhar sobre a necessidade de fosse proclamado um rei sobre eles! (1 Sm 8:1-9). Em outras palavras, queriam adotar o sistema monárquico como modelo de administração, liderança e governo. No vídeo, a seguir, você irá assistir uma explanação sobre a função do rei. Observe como é dada a ênfase sobre os temas Assista ao vídeo: “A função do rei” gravado pelo prof. Ênio Na Seção SAIBA MAIS, apresenta-se uma defi nição sobre O que é Monarquia?, compartilhada por Euclides Martins Balancin. Neste trecho, vale ressaltar a estrutura que compõe a monarquia: rei, palácio, corte, dinastia. Saiba mais!!! O QUE É MONARQUIA? A palavra monarquia quer dizer “governo de uma só pessoa”, isto é, do rei. Ele possui toda a autoridade em suas mãos. É ele quem faz as leis que devem ser observadas e, ao mesmo tempo, é o juiz que decide e dá a sentença. O rei é chamado de “pai da nação” e, é considerado como o representante de Deus na terra. As suas decisões são as decisões do próprio Deus. Quando um rei morre, ele é substituído no poder por um de seus fi lhos. Essa sucessão de pai para fi lho no trono chama-se dinastia. Assim, uma só família se perpetua no governo do país, a não ser que haja revolta; e então começa a governar outra família ou dinastia. A dinastia de Davi foi a que mais durou em Israel. A cidade na qual o rei mora se torna a capital do país. Aí fi ca o palácio real, a corte, isto é, a família real e os administradores, ministros, ofi ciais. É também nessa cidade que é construído o templo principal ou único, para indicar que Deus está sempre perto do rei, que é seu representante. BALANCIN, Euclides Martins. História do povo de Deus. São Paulo: Paulinas, 1989, p. 31 131Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Portanto, o sistema monárquico que impunha a governança a partir de um rei não signifi cou apenas direitos, mas sim deveres em relação ao cuidado com o povo. Segundo o livro de 1 Samuel, Deus estabelece um tipo de contrato com o povo, ou seja, a escolha de um rei signifi cava que “este governante” teria a obrigação de defender a nação dos opressores, dos inimigos e dos malfeitores, além de “administrar o direito e a justiça”. Obviamente, este tipo de administração precisaria ser “sustentado” pelo povo, pois havia palácio, exército e templo. Em outras palavras, o modelo do Modo de Produção Tribal (Unidade 3) não seria adequado para a implantação da monarquia. Exercício de fi xação O rei é aquele que governa sobre o povo: estabelece seu plano de governo, elabora as leis que irão proteger a nação contra as invasões inimigas, manter a ordem entre as questões tribais e cuidar do bem- estar de toda o povo. Para isto, admitiu-se tanto no vídeo “A função do rei” como na leitura de 1 Samuel 8, que o próprio Deus orientou o profeta Samuel sobre o dever do rei. Das alternativas a seguir, qual delas sintetiza a obrigação do rei para com o povo: a. ( ) Pela adoçãoda monarquia, o rei era o monarca absoluto sobre todos. O limite de sua liderança e administração era a submissão aos profetas, ao exército e aos sacerdotes. b. ( ) Primordialmente, a função do rei era administrar o direito e a justiça – princípios estes que foram postulados proféticos sobre os oráculos de condenação e de salvação. c. ( ) Como acordo fi rmado, as tribos tinham o dever de sustentar o aparelho burocrático administrativo da monarquia e, neste caso, o rei era isento de culpa se caso as tribos não pagassem o tributo adequadamente. d. ( ) Os administradores, os ofi ciais do culto e do exército e a família real deveriam ser sustentados pelo povo; neste caso, a função do rei é administrar os tributos pagos para o sustento deste modelo de reinado/governança. e. ( ) Os camponeses, os artesãos e os demais trabalhadores são a fonte produtiva da nação e, neste sentido, o dever do rei é dar-lhes proteção pelo pagamento realizado. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA132 Sendo assim, um novo modo é instalado: o Modo de Produção Tributário. Este modelo basicamente signifi cou a implantação de cobrança de tributos (impostos, taxas, valores e serviços). Neste sistema, a sociedade divide-se em dois grupos: os que economicamente produzem – e por isto são os que também pagam os tributos; e os que economicamente não produzem e vivem às custas do que produzem – e por isto são os que gastam. Este modelo, uma vez mantendo o equilíbrio no cumprimento dos deveres, consegue defender os interesses do povo e manter a hegemonia estatal. É notória esta discussão em 1 Samuel 8:10-22, pois admite-se que a adoção da monarquia implicava na mudança e adoção do modo de produção tributário e que, na visão de muitos profetas, signifi caria o empobrecimento da nação. Para esclarecer este conceito, o vídeo a seguir demonstra o Modo de Produção Tributário. Orienta-se para atentar sobre o modelo construído pela monarquia israelita. Assista ao vídeo: “O Modo de Produção Tributário” gravado pelo prof. Ênio (Acesse o AVA para assistir) Mais uma palavra precisa ser dita sobre este “novo” episódio que estava iniciando com o povo de Deus. Trata-se da interpretação que se tem sobre a adoção do modelo e/ou sistema de administração e liderança. Na leitura da Bíblia, especifi camente sobre o trecho que dizem respeito a monarquia (Josué, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas), é preciso compreender que a intenção de Deus é sempre revelar seus desígnios para o povo, afi nal YHWH é o Deus que concede vida, protege e caminha com o seu povo. Neste sentido, quando Deus é o centro da governabilidade, então qualquer sistema é coerente. Por isto, Deus não impõe e nem determina o método e o sistema econômico que irão servir ao povo. Em 1 Samuel 8:22 é o próprio Deus quem orienta Samuel a comunicar ao povo: “Se é isso que querem, estabeleça um rei para eles” (Bíblia Edição Pastoral). 133Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | O intento de Deus é sempre conduzir o seu povo em justiça (retidão), liberdade e amor. Ele admite e deixa o povo escolher a liderança, todavia tal escolha é segundo os padrões de sua Aliança – foi isto que ele estabeleceu para Israel. Talvez, a responsabilidade dos líderes deva ser a de ‘converter’ o sistema econômico ao desejo de Deus. O sistema das doze tribos conduziu o povo durante a peregrinação no deserto e também fortifi cou-se a ponto de conquistar Canaã. No período tribal, a participação, confraternização e celebração cúltica, foram as que mais evidenciaram o entendimento acerca do sistema de liderança e administração. Todavia, ao cobiçar o modelo monárquico de outros povos, contraíram lacunas para o desenvolvimento da corrupção e da idolatria. Entretanto, houve sim alguns reis que entenderam o plano de Deus para o seu povo através da monarquia. Exercício de fi xação Ciro Flamarion Cardoso, estudioso das sociedades antigas do Oriente, defi niu assim o verbete tributo: No antigo Oriente Próximo, até a conquista persa, os tributos foram cobrados em produtos. Juntamente com a corvéia, confi guravam a forma usual da exploração social imposta pelo Estado às comunidades aldeãs e em geral à imensa maioria das pessoas, salvo uns poucos privilegiados. CARDOSO, Ciro Flamarion. Sociedades do Antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 1995, p. 85. E, comparando os trechos bíblicos de 1 Reis 4:7; 21-26 (ou 5:1-5), encontra-se a seguinte informação: Tinha Salomão doze intendentes sobre todo o Israel, que forneciam mantimento ao rei e à sua casa; cada um tinha de fornecer durante um mês do ano... Dominava Salomão sobre todos os reinos desde o Eufrates até à terra dos fi listeus e até à fronteira do Egito; os quais pagavam tributo e serviram a Salomão todos os dias da sua vida. Era, pois, o provimento diário de Salomão trinta coros de fl or de farinha e | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA134 sessenta coros de farinha; dez bois cevados, vinte bois de pasto e cem carneiros, afora os veados, as gazelas, os corços e aves cevadas. Porque dominava sobre toda a região e sobre todos os reis aquém do Eufrates, desde Tifsa até Gaza, e tinha paz por todo o derredor. Judá e Israel habitavam confi ados, cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua fi gueira, desde Dã até Berseba, todos os dias de Salomão. (BÍBLIA ALMEIDA REVISTA E ATUALIZADA) Diante de ambos os textos, das alternativas abaixo assinale a síntese que melhor analisa o modo de produção tributário no reinado de Salomão: a. ( ) O texto refl ete sobre a monarquia salomônica com ênfase em sua sabedoria, pois ele havia sido educado pelos sacerdotes do palácio real, em cuja ocasião escreveu Cantares e Provérbios. b. ( ) O texto enfatiza a fama do rei Salomão como administrador, pois ele era escolhido de Deus por pertencer à dinastia davídica. Sua estratégia diplomática em abrir o Estado para as nações vizinhas deu-lhe prestígio de ser grande e promover Israel economicamente. c. ( ) O texto trata de uma previsão orçamentária sobre a construção do Templo, a fi m de que a nação de Israel, sob a liderança de Salomão, pudesse adorar YHWH e, devido à grande peregrinação em Jerusalém, o custo diário precisava ser suprido. d. ( ) O texto dá um a ideia do peso que a máquina do Estado representa para o povo. Os tributos, em geral, eram pagos em víveres, e se destinavam a sustentar não só a família real e frequentadores da corte, mas também os ofi ciais, funcionários e exército. Resta uma pergunta é o rei que está a serviço do povo, ou é o povo que serve ao rei. e. ( ) O texto é uma conclusão sobre YHWH como provedor de todas as necessidades do reino de Salomão, isto é, Deus provando mais uma vez sua fi delidade à dinastia davídica. Acesse o AVA para fazer o exercício! 135Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 2. O reino de Judá e o reino de Israel Antes propriamente de falar sobre a instalação da monarquia em Israel, é preciso esclarecer o uso do termo Israel e dos termos Povo de Israel e Nação de Israel. Ou seja, até o início da monarquia com o rei Saul e até o reinado de Salomão, tanto a região central, como a do Norte e a do Sul constituíam-se em uma única nação: o povo de Israel. Todo o território conquistado era um só país. O capítulo 9 de 1 Samuel descreve as situações nas quais Deus revela o rei de Israel para o profeta Samuel. O jovem Saul, da tribo de Benjamim, juntamente com um servo, procurava as jumentas que haviam se perdido. Diz o texto que este servo foi até o profeta Samuel para consultar sobre onde procurar as jumentas perdidas do pai de Saul (Quis, 1 Sm 9:1-14). Em referência paralela a Deuteronômio 17:15, diz-se que Deus é quem escolheria o primeiro rei de Israel (Veja informações extras sobre a escolha do rei). Saul fi cou um dia com Samuel para participar de uma festa. Na ocasião, revela-se que Deus escolhera Saul para ser rei sobre Israel. Saiba mais!!! “Saul é rei: três histórias” Três histórias daBíblia contam como Saul, da tribo de Benjamin, foi escolhido para ser o seu chefe. 1. A primeira, bastante pitoresca (leia 1Sm 9:1-10:8), fala de escolha por unção: “Então Samuel pegou uma vasilha de óleo, e o derramou sobre a cabeça de Saul. Depois o beijou e disse: ‘Javé ungiu você para ser chefe sobre Israel, o povo dele. Você governará o povo e o libertará dos inimigos vizinhos’” (1Sm 10:1). Essa atribuição sagrada à autoridade é ambígua, ou seja, pode levar a caminhos diferentes: ou a autoridade se compromete e é fi el ao projeto de sociedade justa e fraterna, ou ela atribui para si poderes divinos e aproveita disso para oprimir o povo em vista de seus interesses. Essa ambiguidade está bem expressa na Bíblia, quando Javé não | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA136 se compromete com a escolha: “Se é isso que querem, estabeleça um rei para eles” (1Sm 8:22). 2. A segunda história (leia 1Sm 10:9-27) narra a escolha de Saul por sorteio: “Samuel convocou todas as tribos de Israel, e foi sorteada a tribo de Benjamin... E Saul, fi lho de Quis, foi apontado no sorteio... E todo o povo começou a aclamar, gritando: ‘Viva o rei!’” (1Sm 10:20- 24). Para nós, é estranha essa forma de escolher o governante no par ou ímpar. Entretanto, a sorte tirada através de um ritual sagrado era para eles a expressão da vontade de Deus a respeito de um assunto que não podia ser resolvido por decisões humanas. Essa história tende a aceitar a realeza como vontade de Deus. Talvez tenha sido escrita por aqueles que queriam um rei. 3. A terceira história (leia 1Sm 11:1-15) é considerada a mais antiga e, com muita probabilidade, a mais real. Aí a escolha é feita por aclamação: “Todo o povo se reuniu em Guilgal, e aí mesmo, diante de Javé, proclamaram Saul como rei...” (1Sm 11:15). Essa decisão espontânea e unânime de escolher Saul como chefe é explicada pela capacidade guerreira que ele demonstrou pouco antes na vitória contra os amonitas. É difícil dizer qual o povo que o aclamou chefe. Certamente não todas as tribos, mas o pessoal da tribo de Benjamin e outros adeptos da realeza. BALANCIN, Euclides Martins. História do povo de Deus. São Paulo: Paulinas, 1989, p. 34-36 Na verdade, Saul foi proeminente a ser rei devido à sua formação guerreira. Seu primeiro ato foi o de organizar um exército permanente, através do qual realizou várias conquistas. Também porque escolheu Abner como seu comandante. Gottwald (1988) considera as habilidades militares e algumas atividades cúlticas como as de maior repercussão do rei Saul. Ele rechaçou os fi listeus da região central das montanhas, venceu os amonitas, os edomitas, os moabitas, os amalequita e os arameus (1Sm 14:47-48). Seu reinado foi o vale médio do rio Jordão, abarcando Galad, a montanha de Efraim e a tribo de Benjamin, centrada na região de Babaá, 137Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | de onde expulsa os fi listeus (1Sm 10:5) e aí estabelece sua capital (BALANCIN, 1987, p. 14-17). No mapa a seguir, encontra-se em destaque o reino de Saul. Segundo a tradição da história deuteronomista (Dt 17:15), Samuel o ungiu rei a mando de Deus. Após a posse de Saul, Samuel sentiu-se que havia fi nalizado seu ministério como juiz de Israel. Em seu sermão (12:1-25), faz algumas exortações ao povo para que nada temesse se todos permanecessem fi éis ao Senhor, mas se desobedecessem, então o rei e o povo seriam rejeitados. Saul, provavelmente, foi ungido rei em aproximadamente 1030 a.C., cujo reinado durou apenas vinte anos. Mapa “O Reino de Saul” (Manual Bíblico Vida Nova, p. 262.) | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA138 Foi em Guilgal (ou Gilgal) que Saul cometeu insensatez. Saul esperou Samuel chegar até Gilgal, a fi m de abençoá-lo para a guerra. O seu fi lho, Jônatas, já havia saído em peleja contra os fi listeus (1 Sm 13:1- 4). Por sete dias, esperou Saul por Samuel. Não tendo respostas, ele mesmo realizou holocaustos. Com a chegada de Samuel, sofreu duras sanções e recebeu a profecia de que perderia o reinado. Este confl ito ocasionou a rejeição por parte do profeta em apoiar o rei, e o crescimento do orgulho e independência do rei Saul. Foi a partir deste orgulho que ele perdeu prestígio do seu próprio exército (1Sm 14:24-34). E, mesmo sendo desobediente, Deus ainda abençoou Saul, dando-lhe vitórias sobre os inimigos de Israel. Houve um confl ito da tribo de Judá com Saul, pretendendo a todo custo obter o controle sobre a liderança de Saul, a fi m de mudança no sistema econômico e político vigente. De certa maneira, este confl ito desviou a atenção do rei sobre um jovem que estava despontando sobre o povo: Davi. Sua fama começa a aparecer e, após a morte de Saul, abriu-se caminha para subir ao poder. Davi é o segundo rei escolhido e ungido por Samuel, a mando de Deus. Todavia, antes de morrer, o rei Saul perseguiu Davi. Este teve que buscar certa proteção de um rei fi listeu de Gate (1Sm 21:11-16), em Aquis. Então, Davi reuniu todos os opositores a Saul (1Sm 22:1-2) e formou uma milícia pequena, porém bem fortifi cada. Com esta guarnição militar, Davi acabou ganhando prestigio de algumas cidades devido à proteção oferecida. E o objetivo primeiro havia sido cumprido: conseguiu apoio da tribo de Judá. Em Hebrom, os judaítas foram avisados sobre a morte do rei Saul. E, sendo assim, o aclamam rei. (2 Sm 2:1-4). A estratégia de Davi foi preservar as tradições tribais, conquistou poucas cidades, e fortaleceu a sua simpatia com as tribos do Norte. De acordo com 2 Samuel 5:6-10, Davi resolveu estabelecer a capital em Jerusalém que, na época, era um território jebuseu. O modelo de sistema econômico e político do reino davídico foi totalmente inspirado no modelo egípcio, isto é, nomeou Josafá como chefe do reino, Aquitofel como seu conselheiro particular, Ozias como 139Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | seu secretário, Joabe como chefe do exército e Banaías como chefe da guarda pessoal do rei. Continuou com o sistema de tributos, pois as tribos entenderam que suas estratégias eram benéfi cas para o povo. Sua fama espalhou-se como sendo o rei justo (segundo o coração de Deus), protetor, administrador do povo e que tinha vida de culto prestado a Deus. Davi reinou por cerca de 39-40 anos em todo o Israel (norte e sul, cerca de 1010 a 971 a.C.), quando foi substituído pelo seu fi lho, Salomão. Assista ao vídeo: O rei Davi Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=6heziMb_2Y4 Duração: 25m20s Em meio ao crescimento do império construído por Davi é que o jovem Salomão vai acompanhando o crescimento do pai. A princípio, na própria família do rei Davi houve concorrência pela sucessão, cujos confl itos geraram morte, desavenças e exortações proféticas. Foi em meio a essas competições e intrigas familiares que Salomão chegou ao poder em 971 a.C. Ele herdou do pai um país já consolidado pelas conquistas e estrutura básica muito bem elaborada. Sendo assim, dedicou-se à administração, criando um conselho mais burocrático, bem estruturado, com a intenção de manter a unidade da nação. Seu grande empreendimento foi a construção do Templo, que causou já indignação de alguns por causa dos altos tributos. Além do templo, construiu o palácio real e, depois, mais palácios ainda para suas mulheres. Esses casamentos diplomáticos foram estratégicos para abrir a relação comercial entre as demais nações. Devido às grandes inovações de administração, Salomão determinou o seu modelo de reinado: tornar Israel grande. Para isto, tornou cada tribo do reino (chamada de distritos) participante do processo tributário com provisões diárias durante um mês. De certa maneira, a estruturação econômica implicou em produção agrícola e produtos artesanais como fontes de renda para o reino. E, por conseguinte, elaborou a formação de homens experientes para as relações comerciais exteriores, através | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA140 do investimento na Escola Sapiencial –uma espécie de universidade de estudo e produção cultural de Israel. Foi graças a essa produção literária que a fama tornou-se célebre em muitas partes do mundo. A provável e mais aceita teoria dos estudiosos do Antigo Testamento sobre o declínio e fi m do reinado salomônico foi que, a curto prazo, a estrutura de sustentação econômica de altos tributos causou o empobrecimento do camponês, isto é, um tipo de estrutura insustentável. Na linguagem dos profetas, a nação de Israel tornou-se a “casa da escravidão”. E, após morte, o reino divide-se. Um complemento à esta teoria, encontram-se eruditos que consideram o projeto de Salomão um tipo de “paganização”, ou seja, divulgar a nação entre as demais nações e, para isto, ele teve que contrair acordos com outras culturas, outras religiões. Salomão reinou igualmente a seu pai, Davi, por quarenta anos, de 971 a 931 a.C. Assistir ao vídeo: O reinado de Salomão Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=AaVME05DFZE Duração: 23m35s Assim que Salomão descansou, começaram as intrigas familiares e o descontentamento das tribos, principalmente na região norte. Jeroboão era um funcionário de Salomão que havia fugido para o Egito (1Rs 12), e que depois retornou para o norte e liderou dez tribos para que se separassem da governança da liderança do norte. E, no sul, reinava Roboão, fi lho de Salomão, com duas tribos, Judá e parte de Benjamim. Ambos, agora enfraquecidos, tornam-se vulneráveis e cobiçados por outras nações mais fortes. Foi o caso de Judá que tornou-se vassalo do império egípcio, cuja liderança do faraó Sheshonq I (também conhecido por Sisac) havia matado muitos homens do povo de Deus, tanto do norte como do sul. Inserir aqui o Mapa: “O reino de Davi e Salomão”, do Manual Bíblico Vida Nova, p. 270. 141Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Sendo assim, começa aqui o estudo dos reinos: do Sul, cuja capital foi Jerusalém, chamado Reino de Judá; e do Norte, com a capital em Samaria, chamado Reino de Israel. Ambos reinos vão de ter seus reis por cerca de 90 anos, com administrações próprias e tentando manter-se economicamente viável e sustentável. Todavia, sempre vivendo com o perigo iminente de invasão de nações inimigas. Para se livrar do sul, Jeroboão adotou medidas provisórias: Siquém foi a primeira capital, depois mudou-se para Tersa, cancelou os pagamentos de tributos a Jerusalém, instalou um novo calendário para evitar que as datas das festas caíssem no mesmo período que a ida ao Templo, em Jerusalém. E, para consumar os inúmeros sacrifícios e ofertas designou Betel e Dã como santuários sagrados. E, em Judá, Roboão preferiu dar continuidade à dinastia davídica (iniciada com Davi). Ele não conseguiu resolver os confl itos com as tribos do norte (1Rs 12:1-25), mas manteve o sistema tributário. Sendo assim, as tabelas abaixo, vão demonstrar a cronologia os reis do Reino do Sul (Judá) e do Reino do Norte (Israel), a partir de 931. REIS DE ISRAEL (NORTE) 931-910 a.C. Jeroboão I (1Rs 13:1-20) 910-909 a.C. Nadab (1Rs 15:25-31) 909-886 a.C. Baasa (1Rs 15:33-16:7) 886-885 a.C. Ela (1Rs 16:8-14) 885 a.C. (reinou somente sete dias) Zambri (1Rs 16:15-20) 885-874 a.C. Amri (1Rs 16:21-28) 880 a.C. Amri funda Samaria e a torna capital (1Rs 16:29-22:40) 874-853 a.C. Acab (1Rs 16:29-22:40)Atividade do profeta Elias (1Rs 17:1-2; 2 Rs 2:12) 853-852 a.C. Ocozias (1Rs 22:52-54) 852-841 a.C. Jorão (2Rs 3:1-26)Atividade do profeta Eliseu (2Rs 2:1-8,15) | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA142 Assista ao vídeo: “A Divisão do Reino” Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=DOInEKruRs0 Duração: 12m02s REIS DO SUL (JUDÁ) 931-914 a.C. Roboão (1Rs 14:21-31 914-912 a.C. Abiam (1Rs 15:1-8) 912-871 a.C. Asa (1Rs 15:9-24) 873-872 a.C. Josafá co-regente com Asa, seu pai. 871-848 a.C. Josafá (1Rs 22:41-51) 848-841 a.C. Jorão (2Rs 8:16-24) Exercício de aplicação O reino de Saul foi identifi cado mais parecido com o modelo mesopotâmico, enquanto o reino de Davi foi peculiarmente distinto, mantendo-se mais ligado ao modelo egípcio. Esta distinção é marcadamente perceptível porque: a. ( ) Saul expulsou os fi listeus porque tinha habilidades militares, enquanto Davi precisou ser treinado por Samuel em Jerusalém. b. ( ) Saul organizou e estruturou um exército permanente, com um chefe militar, enquanto Davi ampliou o aparato estatal com chefe de guarda pessoal, comandante do exército, conselheiro, secretário pessoal e secretário de estado. c. ( ) Saul é proveniente da tribo de Benjamin, por isto foi eleito rei. Davi é da tribo de Judá e foi ungido rei em Siquém. d. ( ) A monarquia foi instalada por Saul na região central da Palestina, enquanto Davi ampliou o território para o Sul até Jerusalém. e. ( ) Saul era militar e não construtor; Davi preferiu construir uma cidade ao modelo do tempo de escravidão no Egito. Acesse o AVA para fazer o exercício! 143Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 3. O Império Assírio e o Império Babilônico Neste tópico, dois grandes impérios serão mencionados: o Império Assírio e o Império Babilônico. Ambos são da região do Oriente Médio, cujos territórios são próximos entre si, mas distantes temporalmente. Baseando-se em Samuel J. Schultz (1995), as informações aqui colocadas serão sobre os impérios decorrentes dos domínios sobre os reinos de Judá e de Israel. O primeiro deles será sobre o Império Assírio, cuja localização primária é assim descrita: No canto noroeste do Crescente Fértil, estendendo- se por uns 563 km ao longo do rio Tigre, e com uma largura aproximada de 322 km, se encontrava o país da Assíria. O nome provavelmente se deve ao deus nacional, Assur, e uma de suas cidades foi assim chamada. A importância da Assíria durante o período do reino dividido fi ca imediatamente aparente pelo fato de que no topo de seu poderio absorveu os reinos da Síria, Israel e Judá, e inclusive o Egito, até Tebas. Por aproximadamente dois séculos e médio exerceu uma tremenda influência sobre os acontecimentos da terra de Canaã, e daqui que com tanta frequência apareça nos registros bíblicos. Embora alguns eruditos traçam os começos da Assíria a princípio do terceiro milênio, se conhece pouco da época anterior ao século XIX, quando os agressivos estabelecimentos comerciais desta zona estenderam seus interesses comerciais na Ásia Menor (SCHULTZ, 1995, p. 160). A história da Assíria tem seus começos aproximadamente no ano 1100 a.C., com o reinado de Tiglate-Pileser I (1114-1076 a.C.). De acordo com os anais próprios, estendeu o poder de sua nação para o oeste no mar Mediterrâneo, dominando as nações menores e fracas existentes naquela zona. Não obstante, durante os seguintes dois séculos o poderio | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA144 assírio retrocede, enquanto que Israel, sob Davi e Salomão, surge como um poder dominante no Crescente Fértil. Começando com o século IX, Assíria emerge como um poder crescente. As listas eponímicas assírias (relatos heroicos) desde aproximadamente o 892 a.C. ao 648 a.C. fazem possível correlação e integração com a história da Assíria com o desenvolvimento de Israel, como se registra no relato bíblico. No mapa, a seguir, mostra-se a expansão do império assírio sob vários comandos e lideranças. No vídeo, a seguir, há um resumo sobre este império. Atente para os comentários sobre as estratégias de invasão deste império. Assista ao vídeo: O Império Assírio Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=2AcoAjs9NwY Duração: 5m30s No vídeo acima mencionado, o prof. André mencionou sobre o surgimento dos samaritanos. Sobre este episódio, Euclides Balancin informa o seguinte: 145Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Saiba mais!!! SAMARITANOS No Novo Testamento, os samaritanos constitutem, um grupo que vivia na região da Samaria, e quer a desprezada pelos judeus (cf. Jo 4:9). A origem dos samaritanos remonta à época em que o Reino de Israel foi conquistado pelos assírios. Estes,quando invadiram o país e o transformaram em colônia, instalaram aí estrangeiros de muitas outras regiões. Com o tempo, eles foram se misturando com os israelitas que aí permaneceram, formando uma raça considerada impura pelos judeus. Os samaritanos, porém, sempre observaram escrupulosamente as prescrições da Lei ou Pentateuco. Não aceitavam os outros escritos do Antigo Testamento e não frequentavam o Templo de Jerusalém. O único lugar de culto deles era o monte Garizim, que fi cava no Norte. Acreditavam na vinda do Messias, que chamavam de Taeb (= Aquele que volta). Este messias, porém, não seria descendente de Davi, como pensavam os judeus, mas sim um novo Moisés. Dois textos dos Evangelhos falam especifi camente dos samaritanos: o capítulo 4 do Evangelho de São João e a parábola do Bom Samaritano, que está em Lucas (10:25,37). Ainda hoje existe um grupo de samaritanos, que conserva seus costumes e crenças. (BALANCIN, 1989, p. 85). O Reino do Norte (Israel), de 841 a 722 a.C. sofreu muito com a invasão assíria. Há quatro momentos da história de Israel que sintetizam o domínio. A tabela abaixo, exemplifi ca isto: | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA146 O REINO DO NORTE (ISRAEL) SOB O DOMÍNIO ASSÍRIO SITUAÇÕES E PERSONAGENS AÇÕES Jeú assume o poder apoiado pelo profeta Eliseu. A insatisfação popular com a dinastia de Amri cresceu cada vez mais. Aproveitando disso, Jeú, que era o general, extermina a família real, pondo fi m à dinastia de Amri. Segue- se uma reviravolta política e religiosa do culto javista. Neste período, Salmanasar III exige que Jeú lhe pague tributos. Para manter-se no poder, Jeú usa de extrema violência e rompe os acordos com Tiro e Judá, ocasionando mais problemas religiosos e econômicos. Jeroboão II faz Israel obter uma breve prosperidade No tempo do rei Joacaz, o reinado foi muito difícil. Embora tentasse manter boas relações comerciais com o rei de Damasco, decidiu promover uma guerra contra Judá e saquear Jerusalém. Foi graças a essa invasão em Judá que Israel estabilizou as economias. Coalização siro-efraimita Após a morte de Jeroboão II, Israel teve três reis, de curta duração: Zacarias (6 meses) foi assassinado por Selum, que depois foi também morto por Manaém. Foi Manaém quem retomou o pagamento de tributos para a Assíria para não ser invadido. Seu fi lho Faceias é morto por um dos seus ofi ciais (Faceia). Decidiu romper o pagamento de tributos para a Assíria. Então tentou coalização com alguns territórios de Judá e Damasco. Mas como não conseguiu apoio, tentou invadir Judá. Neste momento, Judá pede apoio à Assíria, que, por sua vez, invadiu e tomou Israel. Oseias veio após Faceia e se submeteu ao jugo da Assíria. A Queda de Samaria Oseias decidiu não pagar mais tributos à Assíria e pediu auxílio ao Egito. Não obteve ajuda egípcia, então os assírios chegaram e tomou a capital. Foi nesta época, no comando de Salmanasar V (722 a.C.) que a capital Samaria foi tomada. No mesmo ano, Sargon II deportou milhares de cidadãos israelitas e instalou estrangeiros no antigo território de Israel. Estes se misturaram com a população nativa que aí fi cou, e os seus descendentes serão os samaritanos. O reino de Israel deixa de existir e passa a ser território assírio. 147Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | A seguir, veja um vídeo curto (apenas uma cena separada do fi lme) no qual demonstra-se a passagem de 2 Crônicas 32 Assista ao vídeo: Deus destrói Senaqueribe Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=NQ3plvctNxI Duração: 10m23s E, igualmente ao Reino do Norte, o Reino do Sul (Judá) também apresenta quatro situações através das quais exemplifi cam-se o domínio assírio. Este período vai de 841 a 612 a.C., visto através das seguintes sínteses: O REINO DO SUL (JUDÁ) SOB O DOMÍNIO ASSÍRIO SITUAÇÕES E PERSONAGENS AÇÕES Uma lenta desintegração do reinado Jorão fi cou doente e impossibilitado de reinar. Ao falecer, seu fi lho Ocozias subiu ao trono e deu continuidade à dinastia de Amri. Mas foi assassinato pela revolta de Jeú, do Reino do Norte. Atalia, fi lha de Amri e mulher de Jorão, assumiu o poder do Sul por cinco anos. Por não pertencer à dinastia de Davi, ela massacrou todos os descendentes de Davi, menos Joás, que havia sido salvo pela ti e escondido no Templo. Ao completar sete anos, o sacerdote Joiada o coroou rei e Atalia foi executada. Devido à fraqueza de seu reinado, também foi assassinado. Seu Filho Amasias também teve o mesmo destino. Depois, Judá passou por mais dois reis: Ozias e Acaz. Acaz fez com que Judá tornasse vassalo da Assíria, isto é, teve que pagar altos tributos. Luta pela independência Ezequias, fi lho de Acaz, buscou apoio nos modelos dos reinados de Davi e de Salomão. Fez várias reformas religiosas e econômicas, mas não obteve muito êxito, devido ao crescimento dos assírios, deixou Judá tornar-se vassalo da Assíria mais uma vez. Total dependência Os dois próximos reis Manassés e Amon fi caram totalmente dependentes da liderança da Assíria. Esta, por sua vez, sempre exigia mais tributos, e o reinado de Judá exigia mais ainda do povo. Foi um período de muita corrupção interna, fragmentando ainda mais o reinado. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA148 Novas esperanças A Assíria começa a cair, devido às guerras internas, pressão dos babilônicos e tribos dizimadas. Josias sobe ao trono e decidi retomar as reformas de Ezequias. Sua tentativa foi reunir os habitantes do norte com os do sul, numa restauração do Templo. É nesta época que eles encontram o livro do Deuteronômio. E, sob esta nova esperança, decide levar o reino a completar a reforma. No entanto, morre em uma batalha com o Faraó Necao, em Meguido, em 609 a.C. Veja abaixo a relação completa dos governantes assírios: Página 320 do Manual Bíblico Vida Nova. 149Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | E, como previsto, a Babilônia começa sua ascensão sob os domínios dos assírios. De 626 a 539 a. C. comenta-se muito sobre a hegemonia babilônica. Desde os seus primórdios sob a dominação assíria, Babilônia tinha sido uma província muito importante. Embora se fi zeram repetidos intentos por parte dos governantes babilônicos para declarar sua independência, não o conseguiram até a morte de Assurbanipal, por volta de 633 a.C. Samasumukim chegou a ser o governador da Babilônia de acordo com um tratado feito por Esar-Hadom. Após um governo de dezesseis anos, Samasumukim se rebelou contra seu irmão Assurbanipal e pereceu no assédio e incêndio da Babilônia (648 a.C.). O sucessor nomeado por Assurbanipal foi Kandalanu, cujo governo terminou muito provavelmente numa fracassada rebelião (627 a.C.). A rebelião continuou na Babilônia sob a incerteza do governo assírio após a morte de Assurbanipal. Nabopolassar surgiu como o líder político que continuou como campeão da causa da independência da Babilônia. Como já visto, ao voltar da incursão contra a Assíria, o Faraó Necao depõe o rei Joacaz e coloca em seu lugar Eliaquim, mudando-lhe o nome para Joaquim. Neste sentido, o reino de Judá agora se torna vassalo do Egito, ao mesmo tempo que teria para si, o reino de Judá como um aliado contra os invasores. Mas em 605 a.C., Nabucodonosor derrotou o exército egípcio e exigiu que o rei Joaquim pagasse tributo a ele. Todavia, Judá preferiu manter-se aliado aos egípcios e, mais uma vez, os babilônicos derrotaram os egípcios e, desta vez, mataram o rei de Judá, Joaquim. Então, foi colocado no trono por três meses, seu fi lho Jeoaquim (ou Joaquin). Todavia, os babilônicos destronam Jeoaquim e em seu lugar colocam Matanias (que depois veio chamar-se Sedecias). Foi nesta época que ocorre a primeira deportação de Judá. Foi em 587 a. C. que Nabucodonosor faz um cerco em Jerusalém por um ano, ocasionando uma fome desesperadora. Em 586 a.C., Jerusalém é invadida e prendeu Sedecias, torturando-o e depois enviando-o para a Babilônia. Tanto a cidade de Jerusalémcomo o templo são totalmente incendiados. E agora uma segunda deportação ocorre com a população. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA150 Na Jerusalém devastada e destruída fi cam somente os camponeses que precisavam fornecer os produtos agrícolas aos babilônicos. O vídeo, a seguir, é um documentário sobre a Antiga Babilônia, realizado pela Discovery Civilization. É um vídeo longo, mas vale a pena assisti-lo na íntegra. Assista ao vídeo: Nabucodonosor: o Mistério Babilônico Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=TX-rGSfrXOU Duração: 41m42 A queda da Babilônia pode ser deduzida a partir da liderança do rei Nabônides. Ele quis substituir o principal deus dos babilônicos Marduque por um outro deus, a Lua. Devido ao descontentamento do povo babilônico, foi viver na Arábia, deixando seu fi lho no poder, Baltazar. Por essa época, 535 a.C., um novo reino começa a surgir no Golfo Pérsico. Ciro consegue unir os reinos da Pérsia e da Média e começa a avançar para o ocidente. É, pois, em Isaías 40-55 que o profeta transparece a alegria de ver possível a libertação dos israelitas exilados. Em 539 a. C. Ciro entra na Babilônia e é aclamado rei da Babilônia e rei dos países, em cuja ocasião entendeu-se que o domínio babilônico chegara ao fi m. Veja abaixo a lista dos governantes babilônicos durante todo o domínio do império. Manual Bílbico Vida Nova, p. 321. 151Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Durante o período do Império Babilônico, os reis de Judá foram os seguintes: O REINO DO SUL (JUDÁ) SOB O DOMÍNIO BABILÔNICO ANO/PERÍODO AÇÕES 609 a.C. Joacaz (2 Rs 23,31-35) O faraó Necao depõe Joacaz, levando-o prisioneiro para o Egito. No lugar de Joacaz, Necao coloca Eliaquim, mudando-lhe o nome para Joaquim. 609-598/7 a.C. Joaquim (2Rs 23:36 – 24:7) Joaquim paga tributo ao Egito. Em 605 a.C., Nabucodonosor vence o Egito em Carquemis. Em 604 a.C., conquista Ascalon e o rei Joaquim se submete à Babilônia. Em 600 a.C. Joaquim tenta se livrar do jugo da Babilônia. 598 a.C. Jeoaquim (também escrito como Jeconias ou Conias), fi lho de Joaquimm (2Rs 24:8-17) Em 597 a. C., Nabucodonosor prende Jeoaquim e o envia à Babilônia. Em seu lugar, fi cou Matanias (Sedecias) 597-586 a.C. Sedecias (2Rs 24:18 – 25:7) Em 593 a.C. começa o cerco de Jerusalém, sendo conquistada em 586. Sedecias é preso e levado para a Babilônia. Em 547 a.C., Ciro, rei da Pérsia, conquista a lídia. E em 539 a.C., conquista a Babilônia. É o fi m do Império Babilônico. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA152 Para fi nalizar este tópico, há mais um vídeo cujo produção é de desenho animado. Nele, é demonstrado como Ciro, rei persa, chega à Babilônia e torna-se rei dela. Assista ao vídeo: Derrota da Babilônia Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=KhT_gTFmE6c Duração: 22m35s Saiba mais!!! O EXÍLIO Página 303 do livro Manual Bíblico Vida Nova 153Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Exercício de aplicação Na página da internet da Livraria Paulus, Nilo Luza traz um excelente resumo sobre o exílio na Babilônia. Abaixo, há a reprodução deste texto: 7. O exílio na Babilônia Como vimos no artigo anterior, o reino do norte (Israel) terminou em 722 com a tomada da Samaria pelos assírios e em 587, quando Jerusalém foi saqueada e o templo destruído pelos babilônios, grande parte da população foi deportada para a Babilônia, terminando, praticamente, também o reino do sul (Judá). Com isso, chega ao fi m a monarquia em Israel. Boa parte do povo se encontra no exílio, onde, sem templo, sem rei e sem terra, tenta se adaptar a novas formas de vida e de compromisso com seu Deus. No exílio babilônico, fl oresce uma literatura que retrata certa desolação, mostra a saudade pela terra que fi cou distante, mas também tira, dessa experiência, certas lições de vida e incentiva o povo a não desanimar. Refaz a compreensão de Deus e reconstrói sua imagem a partir dessa experiência de vida. Há grande refl exão em torno desses fatos trágicos e o porquê disso. Desde a destruição de Jerusalém em 587 AC, por Nabucodonosor, até 70 DC, quando acontece nova destruição, agora pelos romanos, esse período é chamado de “período do segundo templo”. São seis séculos de incertezas e decisivos para o “futuro da religião e da sociedade judaica”. “O exílio representou o trágico fi m da independência nacional com a queda da dinastia davídica no reino de Judá. O exílio não só abriu um novo capítulo na história da formação da Bíblia, como também na história do povo judeu após a volta do exílio” (Scardelai). Os deportados começaram a reorganizar sua vida comunitária e particular da forma que acharam melhor. Tentaram reviver da melhor forma a vida e as tradições da sua terra. Dedicaram-se à agricultura e ao comércio de onde tiravam a sobrevivência. Mesmo longe do templo, tentaram manter viva a fé em Javé, apesar de estar ameaçada pelo sincretismo religioso. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA154 Na realidade do exílio, surge uma instituição de grande valia: o sacerdócio. Os sacerdotes não tendo mais preocupações com o templo dedicam- se à escrita, ampliando o material que já existia e reinterpretam a história, segundo a visão sacerdotal. Recolhem material já existente e acrescentam outros escritos, assim surge nova tradição organizada, que é a literatura sacerdotal (representada pela letra P). Essa literatura foi preparada por exilados e para exilados. Os sacerdotes, portanto, exercem um papel importante, apesar de suas limitações, e, longe do templo, procuram unir o povo em torno da palavra de Deus. Com isso, surge a “importância do livro”, nova mentalidade que mudará os rumos de Israel. A partir da leitura, das alternativas abaixo a melhor que explica o exílio do povo de Deus é: a. ( ) O exílio é a forma cruel de expatriação, um tipo de cativeiro, que aconteceu com o povo de Deus. E, como peregrinos em terra estranha, a educação dos exilados foi a estratégia de sobrevivência, produzindo literatura e mecanismos de culto e liturgia. b. ( ) O exílio é a forma pela qual Deus YHWH puniu o seu povo: aos israelitas (do Reino do Norte) pela invasão à Judá, e aos judaítas (do Reino do Sul) pelo acordo com os egípcios. Ambos não confi aram em Deus, mas nos deuses dos pagãos inimigos. c. ( ) O exílio é o período pelo qual é explicado a adoração do povo de Deus fora do Templo de Jerusalém, pois nesta época os habitantes do Norte não tinham mais sacrifícios e somente os do Sul praticavam sacrifícios. d. ( ) O exílio é uma representação da purifi cação do povo de Deus. Pois, em terras estrangeiras, o culto correto foi o dos samaritanos que acreditavam na vinda do Messias. Já o culto dos judaítas era rejeitado porque não conseguiram manter a dinastia de Davi. e. ( ) O exílio signifi cou a expulsão do povo de Deus, quando os babilônicos fez o povo sair de seu próprio país. É uma espécie de Êxodo, fazendo menção de quando foram libertos do Egito. Acesse o AVA para fazer o exercício! 155Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | 4. O Império Persa, o Império Grego e o Império Romano Nesta unidade, serão demonstrados os três últimos impérios que percorreram o conteúdo bíblico, a saber: o persa, o grego e o romano. Cada um deles teve sua importância e infl uência na história do povo de Deus (Antigo e Novo Testamento). Aproximadamente em 550 a.C., Ciro tornou-se o líder supremo do império medo-persa. Ele estendeu seu território desde a fronteira com a Índia (Oriente) até a Grécia (Ocidente). Ao tomar a capital do Império Babilônico, Babilônia, em 539 a.C., Ciro deparou-se com os judeus exilados. E, nas palavras do profeta Isaias (40-55), o tema do retorno ganhou projeção de esperança e libertação. Ao mesmo tempo que uma leitura teológica é feita, a leitura política também está presente. Diferente dos assírios e dos babilônicos, os persas não obrigam os dominados a praticarem a mesma religião que a deles. De acordo com Esdras 1:2-11e 6:3-5, um édito persa dava permissão aos judeus (ou judaítas, ou ainda, israelitas) a retornarem para a região da Judeia (antigo reino de Judá). No entanto, nesta época, a Judeia estava sendo governada pela região da Samaria. Tabela dos reis persas da página 328 do Manual Bíblico Vida Nova. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA156 Sobre o império persa, comenta-se que os tributos não eram pagos somente com produtos agrícolas, mas sobretudo com a preta (para os persas, um metal muito valioso). Desta maneira, muitos povos dominados tinham que primeiro trocar os seus produtos por prata e, depois, pagar o tributo aos persas com a prata obtida. Este tipo de “transformação do tributo” permitia aos dominados exercer relações comerciais, religiosas e cúlticas, mas jamais políticas. Em 537 a. C., acontece a primeira campanha de retorno à terra do povo de Deus. Liderados por Sassabassar, os exilados chegam à Jerusalém e logo decidem reconstruir o Templo (Esdras capítulos 2 e 3) em Jerusalém. Mas o governo de Samaria contrapõe-se a este empreendimento por entender que Judá estava se organizando politicamente. Mas foi em 520 a.C., que defi nitivamente Dario I concede a continuidade da reconstrução. E em 428, o sacerdote Esdras retorna à Jerusalém com mais exilados. Nesta volta, um grande grupo de levitas o assessora para dirimir sobre a prática e vida da nova comunidade judaica. Nascia, então, o judaísmo – uma designação de movimento do povo que retorna à Jerusalém. Neste sentido, aumentou-se ainda mais a rivalidade étnica e religiosa entre os samaritanos e os judeus. Os samaritanos, sentindo-se excluídos, resolveram então também construir o seu templo no Monte Garizim (provavelmente entre os anos 420 e 400 a.C.). 157Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Expansão do Império Persa: Página 342 do Manual Bíblico Vida Nova. Nesta época, os persas fi caram preocupados com a ascensão do Egito e algumas revoltas em todo o império. E eis que um novo inimigo se aproximava do Ocidente, os gregos. Em 332 a.C., Alexandre Magno conquista a Palestina e o Egito. E, no ano seguinte, chega à Arbela e derrota os persas completamente. Abaixo, um breve resumo das datas mais importantes: ANO HISTÓRIA DO POVO DE DEUS SOB O IMPÉRIO PERSA 538 a.C. Edito de Ciro. Fim do exílio na Babilônia (Esdras 1:1-11) 537 a.C. Primeira leva de judeus que retornaram à Judeia (Esdras 1:1-11) 520 a.C. Início da reconstrução do Templo (Esdras 4:24 – 6:18 515 a.C. Consagração do novo Templo (Esdras 6:19-22) 448 a.C. Nova leva de judeus que retornam à Judeia (Esdras 7:1- 8,36) 445 a.C. Neemias vai para Jerusalém em 433 a.C. (Neemias 3-6). Em 332, Alexandre Magno conquista a Palestina. 331 a.C. Alexandre Magno vence os persas. Fim do Império persa. O vídeo a seguir é sobre o Império Persa. Trata-se de um documentário produzido pela History Channel. No início faz menção de quando o impé- rio grego chegou à capital, mas no decorrer do vídeo, reconta-se o grande império antigo. Assista vídeo: O Império Persa Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=cb6QPIGe2S0 Duração: 43m58s O segundo império, já mencionado, refere-se ao Império Grego. Este império vai de 331 a.C. 64 a. C., cujas informações são obtidas através da comparação de outras literaturas (1 e 2 Macabeus, por exemplo). Para muitos eruditos, a literatura bíblica é um período de silêncio, chamado de Período Interbíblico, cerca de 400 anos. Contudo, houve sim produção literária, mas não alinhada no processo de canonização. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA158 Assista o vídeo: O período interbíblico (Império Grego) Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=c9lmDgWHfds Duração: 47m57s Depois da guerra com os persas na região de Arbela, Alexandre Magno consagrou-se vitorioso e manteve sua campanha até chegar à Índia, pois seu empreendimento era comercial. Após conquistar praticamente todo o Oriente Médio ainda não sentiu-se “realizado”. Contudo, ainda na Babilônia, adoeceu por ter contraído malária. Acabou falecendo aos trinta e três anos. E, devido à sua morte, todo o império foi dividido entre os diádocos (sucessores). São eles: Ptolomeu fi cou com o Egito, Selêuco com a Babilônia e as demais regiões orientais, Antígono fi cou com a Prígia Maior, Lísimaco foi o governador da Trácia, Cassandro fi cou com a Macedônia. Para a história do povo de Deus, Ptolomeu e Seleuco são os que vão ser estudados aqui. Mapa da página 544 do Manual Bíblico Vida Nova, O Império de Alexandre Magno. 159Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Há três períodos históricos que precisam ser destacados na história do povo de Deus sob a infl uência do império grego. Nesta época, a Palestina estava dividida em regiões (veja o mapa). Especifi camente sobre a Judeia, três grandes domínios precisam ser destacados: os Lágidas, os Selêucidas e os Asmoneus. O pai de Ptolomeu foi Lagos, daí vem a palavra seguidores de Lagos, os Lágidas. Logo, os descendentes de Ptlomeu iriam dominar a região do Egito, mas ele percebeu que a Palestina precisava também fazer parte de seu reino, pois inimigos poderiam descer até o Egito. Os comentários dizem que tal região foi muito disputada pelos gregos (Ptolomeu, Selêucida e Antígono). Em 301, Ptolomeu conquista a Palestina e percebe que ali já havia uma organização religiosa e política de anciãos judeus (mais tarde, os romanos deram o nome de Sinédrio). A Judeia permaneceu sob a liderança dos Lágidas de 301 a 197 a.C. Balancin resume a infl uência política dos Lágidas na Judeia: Os Lágidas não impuseram a cultura helenística, mas propiciaram que ela fosse, pouco a pouco, mudando a mentalidade e os costumes dos judeus. Dentro do sistema, o sumo sacerdote judeu gozava de pleno poder, bem como algumas famílias, entre as quais a dos Tobíadas. Formam-se, nesse tempo, grandes contrastes sociais: de um lado, a alta sociedade, a cúpula dirigente e os altos funcionários, que se enriqueciam graças aos trâmites do sistema tributário e à agiotagem; de outro lado, os agricultores e pequenos comerciantes, que se tornavam cada vez mais pobres. (BALANCIN, 1987, p. 24). O segundo grupo de domínio na Judeia é o dos Selêucidas, que vai de 197 a 142 a.C. Foi Antíoco I que conseguiu tomar dos Lágidas a Palestina e a Fenícia, fazendo com o que os judeus doravante fi cassem sob seu domínio. Ele não impôs aos judeus a adesão à cultura e práticas gregas, contudo, em 175 a. C., Antíoco IV Epífanes fez tal imposição e ordenando | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA160 que todos os judeus aderissem às práticas, cultura, costumes e política gregas. Então o povo de Deus fi cou dividido: os que concordavam com a infl uência grega e os que se opuseram a ela. Neste sentido, surge a família do sacerdote Matatias (Macabeus). O terceiro grupo de domínio na Judeia é formado pelos Asmoneus (veja a tabela desta dinastia). A origem Asmoneu vem do pai de Matatias, Ashmon. Refere-se aos descendentes dos Macabeus (ou matatianos). Esta família dizia-se descendentes verdadeiros (e reais) dos sacerdotes. Eles governaram a Palestina de 142 a 63 a.C., em acordo com o governo dos selêucidas. Os macabeus começaram a ter intrigas familiares e perdem o poder, por causa de invasões romanas e acordos que os próprios descendentes deles fi zeram com o apoio do novo império. Tabela da Dinastia dos Asmoneus da página 547 do Manual Bíblico Vida Nova. Agora chegou-se ao grande Império Romano. Desde há muito, os romanos tinham em mente ocupar todo os territórios conquistados pelos gregos. Em 63 a.C., eles chegam à Palestina e a torna um território romano. E, segundo os critérios da Pax Romana, os judeus devem ser 161Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | fi éis e submissos às ordens de Roma. É, pois, nesta perspectiva, que os romanos decidem em 37 a.C. nomear um estrangeiro para governar os judeus: Herodes. Este era um idumeu (região Idumeia). Quando Jesus nasceu, a Palestina toda erauma província romana. Herodes regia desde a Judeia até a Galileia. Em 4 a.C., Herodes o Grande morreu e, por ordem romana, os seus fi lhos fi caram com os territórios da Palestina na seguinte ordem: Arquelau fi cou com a Idumeia, Judeia e Samaria; Herodes Antipas com a Galileia e a Pereia; e Filipe com a Traconítide. Esta divisão fi cou conhecida como Tetarca. Veja o mapa das regiões da Palestina na época de Jesus. Nele, as regiões estão identifi cadas conforme a divisão. No entanto, os próprios romanos não gostaram da governança de Arquelau e o destituíram. Para esta região, os romanos indicaram um procurador romano. Apenas para justifi car, não é dada muita ênfase nesta disciplina sobre o Império Romano, pois o conteúdo do mesmo será revisado em História do Cristianismo e na Introdução ao Novo Testamento. E, do ponto de vista literário, compartilha-se duas listas a seguir, apenas para comentar sobre | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA162 a produção de textos que não estão presentes na Bíblia (Protestante), mas que são academicamente estudados. Na primeira lista, há os livros apócrifos e, na segunda, os livros apócrifos do Novo Testamento. Tabela dos Livros Apócrifos, da página 564 do Manual Bíblico Vida Nova. 163Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | Tabela dos Livros Apócrifos do Novo Testamento, da página 576, do Manual Bíblico Vida Nova. | Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA164 Exercício de reflexão Em muitos textos bíblicos, em sua maioria no Antigo Testamento, destaca-se a presença dos profetas que proclamam oráculos acerca do perigo iminente do inimigo chegar, invadir e destruir. Estes são os oráculos de condenação (juízo, julgamento), que geralmente trazem acusações sobre o pecado dos líderes e do povo. Vejamos, por exemplo, o oráculo de condenação feito por Miqueias 3:1-4, quando diz: Disse eu: Ouvi, agora, vós, cabeças de Jacó, e vós, chefes da casa de Israel: Não é a vós outros que pertence saber o juízo? Os que aborreceis o bem e amais o mal; e deles arrancais a pele e a carne de cima dos seus ossos; que comeis a carne do meu povo, e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis como para a panela e como carne no meio do caldeirão? Então, chamarão ao SENHOR, mas não os ouvirá; antes, esconderá deles a sua face, naquele tempo, visto que eles fi zeram mal nas suas obras. BÍBLIA ARA E em outras situações, há os oráculos de salvação (absolvição, perdão), que apontam soluções e oportunidades de mudança social. É o caso de Miqueias 7:14-20, que diz: Apascenta o teu povo com o teu bordão, o rebanho da tua herança, que mora a sós no bosque, no meio da terra fértil; apascentem- se em Basã e Gileade, como nos dias de outrora. Eu lhe mostrarei maravilhas, como nos dias da tua saída da terra do Egito. As nações verão isso e se envergonharão de todo o seu poder; porão a mão sobre a boca, e os seus ouvidos fi carão surdos. Lamberão o pó como serpentes; como répteis da terra, tremendo, sairão dos seus esconderijos e, tremendo, virão ao SENHOR, nosso Deus; e terão medo de ti. Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas 165Bíblia I - Introdução à Bíblia | FTSA | profundezas do mar. Mostrarás a Jacó a fi delidade e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste a nossos pais, desde os dias antigos. BÍBLIA ARA Em destaque, apontou-se duas ações que estão relacionadas à tarefa pastoral, quais sejam, a liderança e o cuidado de pessoas. Sabendo que tais ações são relevantes para a transformação do atual contexto brasileiro, cite dois motivos que têm levado a sociedade brasileira ao pecado e que pertencem à liderança cristã; e, da mesma forma, em um breve texto, cite dois motivos que demostrem a conversão do povo cristão como consequência do cuidado de pessoas. Acesse o AVA para fazer o exercício! Referências BALANCIN, Euclides Martins. Guia de leitura aos mapas da Bíblia. São Paulo: Paulus, 1987, p. 14-16). BALANCIN, Euclides Martins. História do povo de Deus. São Paulo: Paulinas, 1989. BÍBLIA EDIÇÃO PASTORAL. São Paulo: Paulus, 1995. GOTTWALD, Norman K. As tribos de Iahweh: uma Sociologia da Religião de israel liberto 1250-1050 a.C. São Paulo: Paulinas, 1986. GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulus, 1988. MANUAL BÍBLICO VIDA NOVA. São Paulo: Vida Nova, 2001. SCHULTZ, Samuel. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1995. Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR 86055-670 Tel.: (43) 3371.0200