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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
FilosoFia e sociologia da ciência
Elaboração
Rogério de Moraes Silva
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção .................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 5
introdução ..................................................................................................................................... 7
unidAdE i
FilosoFia da ciência ........................................................................................................................ 9
CAPítulo 1 
origem do pensamento FilosóFico .................................................................................. 9
CAPítulo 2
relação homem-mundo .................................................................................................. 20
CAPítulo 3
o senso comum, a ciência e a FilosoFia ........................................................................ 27
CAPítulo 4
estudo FilosóFico ............................................................................................................ 40
unidAdE ii
sociologia da ciência ................................................................................................................. 46
CAPítulo 1
surgimento da sociologia.............................................................................................. 46
CAPítulo 2 
principais correntes ......................................................................................................... 48
PArA (não) finAlizAr ...................................................................................................................... 55
rEfErênCiAS .................................................................................................................................... 56
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem 
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela 
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade 
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos 
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma 
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para 
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar 
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a 
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de 
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões 
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao 
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos 
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
introdução
Ao tratarmos de temas relacionados à Filosofia da Ciência, vamos apresentar a origem do pensamento 
filosófico, a relação do homem com o mundo, o senso comum, a ciência e o estudo filosófico.
Em seguida, abordaremos os temas relacionados à Sociologia da Ciência, tais como o surgimento da 
sociologia e suas principais correntes.
Este caderno, portanto, tem o objetivo de proporcionar informações acerca da Filosofia e Sociologia 
da Ciência, com o compromisso de orientar os profissionais da área de Filosofia, para que possam 
desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia.
objetivos
 » Conhecer aspectos relevantes sobre a origem do pensamento filosófico.
 » Identificar a relação homem-mundo.
 » Identificar aspectos relevantes do senso comum, da ciência e da filosofia.
 » Levantar informações sobre o estudo filosófico.
 » Identificar aspectos relevantes do surgimento da sociologia.
 » Identificar as principais correntes da sociologia da ciência.
9
unidAdE ifiloSofiA dA 
CiênCiA
CAPítulo 1 
origem do pensamento filosófico
do mito ao logos
 Filosofia vem do grego e, em sua origem etimológica, aborda o significado sintético: philos ou philia 
que quer dizer amor ou amizade; e sophia, que significa sabedoria; ou seja, literalmente significa 
amor ou amizade pela sabedoria. Partindo desta concepção, a palavra surgiu com Tales de Mileto 
(aproximadamente em 595 a.C) e ganhou especial sentido com Pitágoras (aproximadamente em 
463 a.C).
Assim, a filosofia pode ser conceituada como o estudo das inquietações e dos problemas da existência 
humana, dos valores morais e estéticos, do conhecimento em suas diversas manifestações, visando 
à verdade.
Diferencia-se a filosofia de outras vertentes de conhecimento, como a mitologia e a religião, visto que 
tenta, por meio do pensamento racional, explicar os fenômenos e questões humanas. Mas também 
não pode ser igualada em termo de métodos às ciências que têm a pesquisa empírica e experimentos 
práticos como fundamentos.
10
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
A Filosofia teve sua origem como ciência, no século VI a.C, na Grécia antiga, que é chamada de “o 
berço da Filosofia ocidental”. Os primeiros pensadores filósofos foram Tales, Pitágoras, Heráclito e 
Xenófanes que, na época, concentravam seus esforços em tentar desvendar as questões da realidade 
humana. Quando tudo praticamente era explicado por meio da mitologia, esses pensadores 
buscavam, em pensamentos lógicos e racionais,esclarecer qual a fundamentação e a utilidade dos 
valores morais na sociedade da época. 
Dedicavam suas atividades a coisas extremamente abstratas, como o “Ser enquanto ser”, passando 
por questões exatas como as reações químicas, queda de corpos e fenômenos naturais. Esses 
pensadores discutiam vários assuntos e temas que ainda hoje são focos de debate e pesquisa da 
Filosofia contemporânea. Na idade antiga e medieval, a Filosofia teve o seu ápice, além de indagar 
e buscar esclarecer questões pertinentes da época. Assim, a filosofia foi se “lapidando” e chegou à 
era moderna fundamentada em questões abstratas e gerais, como se nota os questionamentos mais 
frequentes da humanidade.
Como se observa na maioria das ciências, as questões gerais e abstratas do ser humano não poderiam 
ser confiável nem convenientemente tratadas de maneira empírica e experimental, portanto, esse 
tipo de discussão passa a ter um caráter filosófico e importante para entender o que viria a seguir, 
no tocante a essa ciência.Como foi abordado, a Filosofia é uma ciência que estuda as inquietações 
humanas que surgiu na Grécia antiga, no século VI a.C, época em que basicamente tudo era explicado 
e tinha suas origens na mitologia. Fenômenos como um raio, por exemplo, eram tidos como uma 
manifestação da ira de Zeus, o comandante de todos os outros deuses. Essa explanação “divino-
mitológica” para a realidade se chamou, então, cosmogonia.De tal modo, origina-se a diferença 
entre mito e lógica. O que antes era unido (mitologia ou lógica do mito) passa a ser separado, para 
se entender e se abordar a lógica do fato ou fenômeno, o que a filosofia caracteriza como o período 
de transição do mito ao logos, ou seja, da explicação por meio de histórias oralmente repassadas 
(mitos) para a explicação racional e lógica da coisas (logos).
Os fundadores da Filosofia foram os pré-socráticos, pessoas que buscavam a origem natural do 
universo e das coisas por meio de explicações lógicas e fundamentadas na observação e no estudo 
da realidade e acreditavam que o universo tinha sido gerado por um fenômeno. Esses filósofos eram 
naturalistas e buscavam a essência, o princípio das coisas, o que chamavam de arché. Desta maneira, 
observa-se, a seguir, os principais deles e suas linhas gerais de pensamento.
tales de Mileto (624-548 a.C) 
Tales tem uma vasta colaboração para o pensamento filosófico ocidental: era matemático e entre 
suas várias viagens, uma delas ao Egito, elaborou uma teoria de como se davam as cheias do rio 
Nilo. Também observou as pirâmides, por meio de um cálculo elaborado a partir da proporção entre 
cumprimento da sombra projetada pela pirâmide e sua altura, o que ainda hoje é um importante 
método geométrico para se medir áreas, o teorema de Tales. 
11
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C) 
Acreditava que todas as coisas derivavam do vapor ou o próprio ar em si. Contestando a teoria da 
água de Tales, Anaxímenes buscou a origem da água e chegou ao vapor e, por meio dessa linha de 
raciocínio identificou no ar a origem do universo. 
Anaximandro de Mileto (611-547 a.C)
Discípulo e sucessor de Tales, Anaximandro era matemático, filósofo, político e também monista. 
Ele cria que a origem de todas as coisas estaria no áperion (ou infinito), ou seja, uma substância 
indeterminada e infindável que gerava todos os outros elementos e coisas do universo.
Heráclito de Éfeso 
Reconhecido por ser um pensador genial, porém, arrogante, que desprezava a plebe. Não se têm 
dados exatos sobre nascimento e morte, mas sabe-se que o florescimento de seu pensamento se 
deu em 504-500 a.C. Heráclito cria que a origem das coisas não estava num único elemento, mas 
sim, em uma cadeia de fenômenos que gerava a mutabilidade constante das formas naturais e dos 
elementos.
Pitágoras de Samos
Um dos maiores matemáticos da história, por suas teorias de cálculo, como por exemplo o teorema 
de Pitágoras, era também um filósofo exímio que buscava a origem de todas as coisas, como bom 
matemático, no número, ou melhor dizendo, nas relações matemáticas. 
zenão de Eléia 
A característica principal de Zenão foi a dialética, método que consistia em se questionar pessoas 
até se chegar a uma resposta satisfatória, porém, não definitiva.
Diferentemente de Heráclito, Zenão via na política e no envolvimento do povo nessas questões 
uma importante chave para o avanço de uma sociedade e do conhecimento. Escrevia suas obras em 
prosa, mesmo quando elas se tratavam de assuntos extremamente acadêmicos. Seguia uma linha 
diferente da dos pitagóricos. 
12
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
Sócrates, Platão e Aristóteles
disponível em: http://origem-da-filosofia.info/mos/view/s%c3%B3crates,_plat%c3%a3o_e_arist%c3%B3teles/
Esses filósofos inauguraram a filosofia ocidental tal como a conhecemos ainda hoje. 
As obras deles serviram de base para a Filosofia:
 » na Idade Média. 
 » Renascentista. 
 » Idade Moderna. 
 » Contemporânea.
A fase em que Sócrates, Platão e Aristóteles despontaram é considerada como o período áureo da 
Filosofia, dada a imensa contribuição deles para o avanço do pensamento filosófico.
Antes de se falar de Sócrates, Platão e Aristóteles, é imprescindível mencionar os sofistas, pensadores 
contemporâneos que, juntamente com Sócrates, foram os primeiros a falar sobre as questões morais 
dentro do âmbito filosófico. 
Também há vários filósofos, de várias épocas, que têm suas bases nesses três pais da filosofia 
ocidental. Homens como Gregório, Tertuliano Santo Agostinho, São Tomaz de Aquino, no período 
entre a Filosofia Medieval e início da Renascença. Outros como os iluministas Rousseau, Didderot, 
Voltaire e Descartes e alguns mais recentes como Auguste Comte, Emannuel Kant, David Hume, 
Friedrich Nietzsche, Michel Foucault etc.
os pré-socráticos
Os filósofos pré-socráticos tinham como objetivo descobrir a substância única, a causa, o princípio 
do mundo natural. Sabe-se que o início da filosofia deu-se no momento em que o homem passou a 
buscar explicações de forma racional para os fenômenos da natureza e não mais na mitologia.
Os primeiros gregos que passaram a buscar respostas por meio da racionalidade foram os 
pré-socráticos da Escola Jônica. O período pré-socrático pode ser considerado somente como um 
padrão filosófico, já que nada tem de cronológico ou qualitativo. Sócrates, em verdade, teve como 
13
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
contemporâneos vários filósofos qualificados como pré-socráticos. Essa denominação deve-se ao 
fato de que a partir dele o interesse pela natureza é integrado ao interesse pelo espírito. 
Os primeiros filósofos se ocuparam principalmente de indagações a respeito do mundo ao seu redor, 
bem como a percepção do lugar do homem nele. Essa busca trouxe à luz uma divergência entre a 
ciência e o senso comum. A filosofia, ao nascer, teve definida a sua busca: uma explicação racional 
sobre a origem e ordem do mundo, o kósmos (cosmos). 
Nos poemas homéricos, eles buscaram alimento espiritual e extraíram modelos de vida, matéria 
de reflexão, estímulo à fantasia e, portanto, todos os elementos essenciais à própria educação e 
formação espiritual. Para Reale (1993), antes do nascimento da filosofia os educadores dos gregos 
foram os poetas, principalmente Homero. 
Surge então uma nova mentalidade, que passa a substituir as antigas construções mitológicas pela 
forma intelectual, expressa por meio de especulação livre sobre a natureza do mundo e as finalidades 
da vida, pois o homem tinha como herança cultural a crença de que tudo, desde as quatro estações 
até a morte, era relacionado a um deus ou um mito. 
Neste contexto de história, houve o desenvolvimento da matemática, da ciência e da filosofia. O 
primeiro a levantar essas questões foi Tales de Mileto, como já dito anteriormente.
A grandeza/inteligência desses primeiros filósofos está no fato e não de com eles terem começado 
a filosofia, mas porterem formulado questões, problemas e condições da ciência e da filosofia, que 
permanecem significativas até hoje.
O modo de explicar a realidade natural a partir dela mesma, sem nenhuma referência ao sobrenatural 
ou misterioso, forma uma fundamental característica da Escola Jônica. Para Tales, esse princípio 
seria a água, afinal, a terra repousa sobre ela, e tudo o que morre se resseca. Anaximandro propõe 
como princípio universal uma substância indefinida, chamada apeíron (ilimitado). Por fim, para 
Anaxímenes, o princípio é infinito em grandeza e quantidade, mas não é indeterminado, ele é o ar. 
A importância da noção de arché está exatamente na tentativa por parte desses 
filósofos de apresentar uma explicação da realidade em um sentido mais 
profundo, estabelecendo um princípio básico que permeie toda a realidade, 
que de certa forma a unifique e ao mesmo tempo seja um elemento natural. 
(MARCONDES, 2004).
Portanto, Tales, Anaximandro e Anaxímenes compunham a Escola Jônica, primeiro período da 
filosofia, e tinham como objetivo descobrir a substância única, a causa e o princípio do mundo 
natural. Foram eles os primeiros a buscar explicações racionais para os fenômenos naturais. 
Buscando entender sobre a passagem do mito à filosofia e a participação que a astronomia tem neste 
processo, os primeiros filósofos eram voltados à natureza ou a physis, como visto anteriormente. 
Alguns mitos, por exemplo o da criação do mundo, permanecem nos dias de hoje. 
14
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
O mito é uma narrativa, pertencente à tradição cultural de um povo, que explica por meio do apelo 
ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do universo. O pensamento filosófico é visto 
como uma ruptura com o pensamento mítico, já que a realidade passa a ser explicada a partir da 
consideração da natureza pela própria, a qual pode ser conhecida racionalmente pelo homem, 
podendo essa explicação ser objeto de crítica e reformulação; daí a oposição tradicional entre mito 
e logos.
No mito, o discurso pressupõe a adesão e a aceitação dos indivíduos que não o questionam, assim 
ele pode ser dado sem fundamentação, não se presta à crítica nem à correção. Ao contrário, para os 
pensamentos filosófico-científicos, precisa-se de uma lógica, uma coerência. É facultada à observação 
empírica, pode-se criticar e corrigir eventuais desacertos. Os mitos de criação, por exemplo, são 
inúmeros. Vários povos do passado tinham os seus particulares, muitos eram conflitantes, outros 
com algumas afinidades entre si. Conforme exemplifica Vieira (2002): 
O povo Sumério em seu universo fora criado pela união de Anu (deus do Céu) 
e Ki (Terra) e dessa união surgiram o Sol, a Lua, os planetas e todas as formas 
de vida. Encontramos a mesma mitologia na Grécia (união de Urano, deus do 
Céu, e Gaia, a Terra), no Egito (união de Nut, deusa do Céu, com Keb, Terra). 
Grande parte deles, se não a maioria, tinha certa conexão cronológica, uma sequência bem definida, 
uma causalidade, embora mítica. Mas seria natural que esses povos, sem muitos ferramentais 
intelectuais disponíveis, buscassem na imaginação o seu apoio. 
De todos os relatos da criação, a mais conhecida no ocidente é sem dúvida a do Gênesis da Bíblia 
Judaico-Cristã como comenta Cherman (2000): 
O mecanismo criador é o próprio Deus onipotente, que está além do Universo 
e o contém. “No princípio era o Nada e Deus disse ‘faça-se a luz!’ e fez-se a 
luz.” Esta ideia tem sua primeira semente no zoroastrismo (talvez a primeira 
religião a adorar um deus único) e sua figura de Aúra-Mazda, o sábio senhor.
As antigas tradições míticas de nossos ancestrais nos foram transmitidas e muitas ainda fazem parte 
de nossa cultura. Outras deram nomes a corpos celestes como: estrelas, constelações, planetas, 
nebulosas, galáxias, faixa luminosa no céu etc. Estas situações, cenas que representavam suas 
lendas, deuses e heróis, batalhas, entre outras, ajudaram nossos ascendentes a memorizar suas 
estórias e histórias. 
Alguns nomes dados a estes corpos celestes merecem aqui referência, a título de ilustração, como 
por exemplo a Via-Láctea. De acordo com Vieira (2002), entende-se que: 
Uma larga faixa luminosa que se vê a olho nu nas noites de céu estrelado, 
segundo a mitologia grega, originou-se do leite jorrado dos seios de Juno, 
quando esta amamentou Hércules. 
Outro exemplo interessante, de nomes dados a estes “corpos celestes” seria uma constelação, que 
de alguma forma faz referência ao nosso trabalho, pois cita o amor pela astronomia. Como estamos 
15
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
falando da passagem do mito à filosofia não poderíamos deixar de falar de Órion. Segundo Vieira 
(2002): 
O Orion é uma constelação muito antiga, na Suméria representava o herói 
Gilgamesh. Na mitologia grega tomou o nome do filho de Hirieu. Tornou-se 
célebre por seu amor à Astronomia e pelo seu gosto à caça. Diana, a quem 
ele ousara desafiar, enviou à Terra um escorpião, cuja picada matou Órion. 
Escorpião e Órion foram, então, transformados em constelações. 
Outros mitos fazem alusão ao Sol, à Terra, à Lua e aos diversos planetas conhecidos de então, os 
chamados “corpos errantes” ou planetas, pois não seguiam os mesmos caminhos das estrelas: eram 
“errantes”. 
Podiam ser vistos a “olho nu” – sem a necessidade de telescópios – estes também poderiam ser 
citados aqui, mas nosso principal objetivo é demonstrar a passagem do mito à filosofia e portanto só 
mencionamos aqueles anteriores, como dissemos, para ilustrar um pouco a importância, relevância 
e a conexão com a natureza que esses povos tinham já há muitíssimo tempo. 
Para Cherman, os gregos foram os que mais contribuíram para as teorias cosmogônicas: nenhuma 
cultura contribuiu mais para as teorias cosmogônicas do que a da península do Peloponeso. Os 
gregos, ainda que afeitos às suas divindades, inauguraram um novo jeito de pensar o Universo. 
A filosofia
Segundo afirma Aristóteles, no livro I da metafísica, Tales de Mileto é um dos nomes mais 
importantes para o surgimento do pensamento filosófico-científico e, no Séc. VI a.C., é considerado 
o iniciador do pensamento filosófico-científico. Marcondes (2004) continua: podemos considerar 
que este pensamento nasce basicamente de uma insatisfação com o tipo de explicação do real que 
encontramos no pensamento mítico. 
Alguns fatores foram importantes para o surgimento da filosofia. Ela nasce em condições históricas 
que a favorecem, no final do século VII a.C e início do século VI a.C. São elas, como menciona Chaui 
(2005, p.37.), as viagens marítimas; a invenção do calendário; a invenção da moeda; o surgimento 
da vida urbana; a invenção da escrita alfabética e a invenção da política. As viagens marítimas 
demonstraram aos gregos que os locais que os mitos diziam habitados por deuses e os mares 
habitados por monstros não possuíam monstros nem deuses onde eles achavam. O nascimento da 
vida urbana e a valorização de uma nova classe de comerciantes ricos que procurava o prestígio pelo 
patrocínio e estímulo às artes favoreciam um ambiente filosófico. A invenção da escrita alfabética 
propiciando da mesma forma que o calendário e a moeda o crescimento da capacidade de abstração 
e de generalização. 
A invenção da política dá origem a três aspectos novos para o nascimento da filosofia: 
a. a ideia da lei como vontade de um povo que decide por si mesmo o que é melhor 
para si; 
16
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
b. o surgimento de um espaço público para discutir por meio de um novo tipo de 
palavra ou de discurso, diferente daquele mítico;
c. o pensamento que todos podem compreender e discutir. Todos podem comunicar 
e transmitir. 
Praticamente todos os filósofos tiveram como características do pensamento noções que tentam 
explicar a realidade da natureza, então a filosofia e a ciência têm seu inicio.
A physis
Para os primeiros filósofos, ou teóricos da natureza (physis), o objeto de investigação destes 
filósofos-cientistasera o mundo natural, ou seja, investigavam a própria natureza. 
A causalidade
Procuravam explicar, relacionando um efeito a uma causa que antecedia outra. Tomavam um 
fenômeno como efeito de uma causa. A explicação causal pode ir ao infinito em caráter regressivo, 
desta forma chegaríamos a um momento inexplicável, a um mistério. Assim acabaríamos novamente 
no mito.
A Arqué (elemento primordial) 
Cabe ressaltar que Tales de Mileto foi o primeiro a postular essa noção e diz ser a água o elemento 
primordial; como o elemento presente em todas as coisas. Outros sucessores de Tales, Anaxímenes e 
Anaximandro, adotaram o ar e o apeiron (algo ilimitado, indefinido, subjacente à própria natureza). 
Heráclito dizia ser o fogo. Demócrito o átomo e assim outros como Empédocles que dizia ser: terra, 
água, ar e fogo. A química hoje supõe que o hidrogênio esteja presente em todo o universo. 
o cosmo
O cosmo é assim o mundo natural, o espaço celeste enquanto realidade ordenada de acordo com 
princípios racionais. O cosmo entendido assim como ordem se opõe ao caos, que seria a falta de 
ordem, o estado da matéria antes de sua organização. 
o logos 
Um dos pressupostos básicos é a correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real. 
O termo logos significa literalmente discurso, mas de forma diferente do discurso do mythos. O 
logos é uma explicação em que razões são dadas. Por isto que os discursos dos primeiros filósofos 
explicando o real por causas naturais é um logos. 
17
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
o caráter crítico
Uma das características mais interessantes destas escolas de pensamento era que elas eram passíveis 
de questionamento, não eram dogmas, nem eram apresentadas como verdades absolutas. Não eram 
verdades reveladas, de caráter divino ou sobrenatural, por isso estavam abertas às discussões, aos 
reparos, às críticas. 
Cosmologia e a astronomia
Entre as características do pensamento filosófico-científico estão a Physis, a causalidade, a arqué 
(elemento primordial), o cosmo, o logos e o caráter crítico. 
Eudoxo, século IV a.C, deixa um legado que será relembrado nos textos de Aristóteles (c. 350 
a.C) e Simplício (c. 500 d.C). Ele se preocupava com a Cosmologia do presente, queria explicar o 
movimento planetário. Para isso criou esferas dentro de esferas que giravam em relação umas às 
outras, preconizando o que seriam os epiciclos pré-copernicanos. 
Aristóteles vem e coloca a terra no centro deste sistema – é o geocentrismo – que seria desqualificado, 
bem mais tarde, cerca de vinte séculos depois, por Copérnico (1473-1543), com a teoria do 
heliocentrismo (o sol no centro do universo).
Aristarco (c.310-230 a.C) , astrônomo grego, formula a hipótese de que o sol se encontrava no centro 
do nosso universo. Ele era uma exceção ao pensamento geocêntrico de então.
Os filósofos explicavam a terra estando em movimento, ainda assim as estrelas pareciam fixas no 
céu quando eles as observavam. Aristarco postula que a distância entre a terra e as estrelas era 
muito maior que a distância da terra ao sol, assim o raio da órbita da Terra poderia ser considerado 
nulo em comparação à enorme distância que nos separa das estrelas. 
Pitágoras afirmava que a criação do Universo se dava por meio dos números, esboçando a importância 
que a Matemática viria a ter nas modernas teorias cosmológicas.
Pitágoras não poderia imaginar aonde a astronomia poderia chegar por meio da utilização da 
matemática como ferramental. Ele deixou heranças não só pela própria matemática, mas também, 
como menciona Marcondes (2005) pela “doutrina segundo a qual o número é o elemento básico 
explicativo da realidade, podendo-se constatar uma proporção em todo o cosmo, o que explicaria a 
harmonia do real garantindo o seu equilíbrio”.
Pitágoras mencionava também a harmonia da música, com relação ao cosmos e uma proporção ideal 
em todo o universo. E para confirmar isto se utilizou da matemática e das observações e anotações 
das posições planetárias feitas por Tycho Brahe. 
No século XVII, Galileu Galilei deu impulso à física ao estudar o movimento dos graves ou a 
estabelecer as leis da queda dos corpos e, para isso, a demonstrar as leis naturais do movimento 
uniforme e do movimento uniformemente variado. Isaac Newton, no final daquele mesmo século, 
18
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
estabelece as leis matemáticas da física, a demonstrar as três leis do movimento e a chamada “lei da 
gravitação universal”, que, como o nome indica, é válida para todos os corpos naturais. 
Diante destes ensinamentos, nota-se que os pré-socráticos foram de vital importância para o 
pensamento filosófico em geral e não deixam dúvidas da autoridade que eles tiveram e da relevância 
na passagem do mito à filosofia e quem sabe, mais especificamente ainda, não seriam na verdade 
um bom exemplo de qualificação e bom senso entre a valorização da ciência moderna racionalista e 
uma adequação ao mito.
religião, mito e logos
Para saber a diferença entre mito e logos, é necessário analisar a maneira dessas duas formas de 
narrar e a distinção do mito para com a religião. O mito, na era arcaica grega, se distingue da narrativa 
religiosa nos seguintes aspectos: enquanto a religião propunha aos helenos um ordenamento do 
cosmos e a hierarquização da cidade, a mitologia não se reduzia à descrição da vida dos deuses e 
fundadores de cidades, servindo, por vezes, como registro histórico dos fatos mais importantes na 
vida dos helenos. Isso fica evidente na Ilíada de Homero. Outra característica diferencial do mito, 
em relação à religião, é a sua dinâmica, mais sensível às mudanças sociais, fato que explica a sua 
fácil assimilação da escrita e da alteração dos sentimentos coletivos. 
O mito também tinha a função de fundamento de morais, como no caso do poema Trabalho e os 
Dias, nos quais a decadência humana é metaforizada pelo mito das cinco raças – de ouro, prata, 
bronze, de heróis e do ferro – e a influência das mulheres nos negócios dos homens, condenado no 
exemplo de Pandora. 
Outra característica fundamental é o fato de nem Homero nem Hesíodo serem propriamente 
sacerdotes, ou encarregados dos serviços religiosos. Homero, que por si só constitui uma figura 
lendária, costuma ser representado como um cego, isto é, um contador de histórias em verso que 
passava de cidade em cidade narrando suas histórias. Hesíodo, por seu turno, era agricultor ou 
pastor de ovelhas que habitava a região estéril e inóspita ao pé do monte Hélicon, o qual tinha de 
trabalhar de sol a sol para se manter.
Nesse sentido, a clássica diferença entre mito e logos, entendida como uma oposição entre discursos 
falsos e verdadeiros, também não está livre de distorção, uma vez que, nem mesmo Platão, um dos 
maiores opositores da poesia de Homero, no tocante ao comportamento dos deuses, dispensava o 
uso de ficção em seus diálogos. Aliás, sua obra está cheia de mitos criados por ele mesmo. 
No tocante ao logos, é preciso que se diga, entre seus diversos significados, que também pode ser 
traduzido como discurso ou relato, além de razão, definição e proporção. 
Por sua vez, a religião, apesar de ameaçada pela desconfiança causada por sucessivos reveses sociais, 
preocupava-se em manter a tradição, radicalizando no combate às heresias. 
Mesmo sendo o logos um oponente direto da narrativa mítica, é possível encontrar quem apontasse 
as suas limitações para assuntos religiosos, pois esses não podem ser definidos como verdadeiros ou 
19
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
falsos, por conta de sua obscuridade. Por exemplo, vale a pena citar o sofista Protágoras, da cidade 
de Abdera, que em seu fragmento de Sobre os Deuses afirmava:
sobre os deuses, sou incapaz de experimentar sua existência ou não, nem 
qual seja a sua essência ou forma externa: muitos empecilhos o impede, 
a obscuridade do assunto e a brevidade da vida humana (In. EUSÉBIO, 
Preparação Evangélica, XIV 3, 7).
Esse mesmo autor pagou caro por sua ousadia. Seu agnosticismofoi considerado um crime de 
impiedade e, por conta disso, condenado ao degredo. O sofista acabou por morrer afogado, após o 
naufrágio do barco que o transportava para fora de Atenas. 
Na época o mito caía em desgraça, como falsificação, mas a religião permanecia como uma terceira 
via discursiva fora da oposição mito-logos. De modo algum o logos, entendido como história 
“verdadeira”, se opunha ao discurso religioso, mas sim às histórias “falsas” que os mitos relatavam. 
Portanto, pode-se falar de uma oposição entre mito e logos, enquanto uma tensão entre histórias 
“falsas” e “verdadeiras”, o mesmo já não pode ser afirmado da relação religião-logos. 
o lugar do mito e do logos
Os fatores externos propiciavam o descrédito da maneira mítica de contar uma história e, ao mesmo 
tempo, fomentavam a investigação mais precisa de tratar dos assuntos humanos. O logos e a filosofia 
assumem a tarefa de buscar a verdade, no instante em que o mito já não mais satisfaz os anseios 
humanos, em sua relação com o mundo.
Saber identificar as características desse modo de pensar, tão diferente em todas as culturas, não é tão 
fácil quanto se imagina. Em todas as sociedades humanas, as narrativas ficcionais estão presentes. 
Entretanto, nem todas culturas alimentaram a pretensão de construir um sistema de pensamento 
que fosse capaz de atingir a verdade. Esse é um fenômeno típico das civilizações ocidentais. 
A manifestação do cientificismo é um fator importante para a identificação de culturas marcadas 
pela influência grega, desde o advento da filosofia. Nessas sociedades, a oposição manifesta entre o 
mito e o logos pode ser resgatada na problematização do discurso literário e científico. 
20
CAPítulo 2
relação homem-mundo
relação homem-mundo como tema 
fundamental do conhecimento
Sobre o questionamento da relação conhecimento x homens, perceberam que as respostas 
tradicionalmente dadas, amiúde, enfrentavam dificuldades de comprovação, diante das limitações 
da condição humana e do desenrolar dos acontecimentos. Para localizar a origem histórica da 
filosofia ocidental, a resposta unânime aponta para uma região do mapa da Europa, enquanto se 
afirma que num determinado período da antiguidade, nesse território específico, alguns habitantes 
de então passaram a levantar questões sobre tudo que os cercava. 
A capacidade de raciocínio, destacada dos outros animais, começava a se impor e a elaborar 
argumentos que exigissem uma investigação mais atenta do mundo por parte dos pensadores. A 
nova postura adotada pelos pensadores helênicos propunha o esforço de apresentação. Um mundo 
que sobre muitos aspectos lhe era estranho e desafiador. As questões que surgiam, desde aquela 
época originária, demandavam um conhecimento mais preciso sobre aquilo que é a existência dos 
seres, sua relação com os outros entes e consigo mesmo. 
Segundo o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), surgia, assim, o que se chama filosofia, 
ou metafísica, propriamente dita. Por metafísica, entende-se o estudo do ser enquanto ser e as 
implicações acarretadas por uma progressiva abstração dos conceitos em relação à matéria de um 
mundo físico.
Metafísica
Metafísica é o nome que foi dado a uma das mais famosas obras do filósofo macedônio, Aristóteles 
(384-322 a. C.). Nela, procura-se compreender o “ser”, as maneiras pelas quais esta palavra pode 
ser entendida e as causas primeiras de tudo que existe ou acontece. Sempre ficava a dúvida se aquele 
conhecimento obtido pelo pesquisador poderia ser válido objetivamente, isto é, independente do 
próprio observador, ou se todo conhecimento seria limitado à condição finita da razão humana. 
O próprio inquiridor teria de ser alvo de exame, pois a visão mais apurada e precisa dependia da 
capacidade dele distinguir suas afecções das informações apresentadas pelos entes. 
Na metafísica, existiria um primeiro princípio – associado ao motor imóvel ou a Deus – e as quatro 
causas das coisas: material; formal; motor; final.
21
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
A “Causa” (material) significa (1) aquilo que, como material imanente, provém o ser de uma coisa; 
p.ex., o bronze é a causa da estátua e a prata, da taça, e do mesmo modo todas as classes que incluem 
estas. (ARISTÓTELES, Metafísica, V, 2, 1013a, 24-33).
(2) A forma ou modelo, isto é, a definição da essência, e as classes que incluem esta (...); bem como 
as partes incluídas na definição. (ARISTÓTELES, Metafísica, V, 2, 1013a, 24-33).
(3) Aquilo de que origina a mutação ou a quietação; p. ex.:, o conselheiro é causa da ação e o pai 
causa do filho; e, de modo geral, o autor é causa da coisa realizada e o agente modificador, causa da 
alteração. (ARISTÓTELES, Metafísica, V, 2, 1013a, 24-33).
(4) O fim, isto é, aquilo que a existência de uma coisa tem em mira; p. ex.:, a saúde é causa do passeio 
(ARISTÓTELES, Metafísica, V, 2, 1013a, 24-33).
Princípios e causas estão relacionados com as três substâncias: duas físicas (matéria e forma) e 
uma imóvel. Enquanto a matéria e a forma estão sujeitas à mudança e ao movimento, a substância 
imóvel existiria independente das outras, mas que seria capaz de movê-las sem se mover.
A Metafísica, se referia àqueles estudos que vinham depois da Física aristotélica – em grego, a 
expressão meta ta phisika quer dizer “depois da física”. Essa história é interessante, porque de um 
acontecimento casual, o emprego da palavra metafísica terminou por gerar um tipo de investigação 
que, em geral, visava o afastamento dos temas da natureza material. 
A tentativa de alcançar o princípio de tudo, partindo do conhecimento particular, para o mais geral, 
é uma característica do pensamento helênico, desde Tales de Mileto (c. 625-558 a. C.). Platão, em 
diálogos como Teeteto, Crátilo e Sofista, tentou encontrar argumentos que fundamentasse um 
conhecimento sólido sobre o mundo, contra a concepção relativista dos sofistas. Mas é com Heráclito 
de Éfeso (c. 540-470 a. C.), considerado um pensador obscuro, que o tema do conhecimento humano 
atinge o ponto mais profundo. 
Em seus fragmentos, pode-se perceber a tentativa de aproximar a capacidade humana de 
compreensão ao conhecimento que está em tudo. Diante da busca das verdadeiras causas dos 
seres e do mundo, da essência de tudo, a metafísica passou a ser considerada como a forma de 
conhecimento mais digno de chamar-se sabedoria. 
Uma das linhas de ação traçada, a partir do que foi dito sobre Heráclito e Aristóteles, sugeria a 
compreensão do princípio ordenador que há no mundo, desde a profundidade do conhecimento no 
próprio homem, entendido como aquele que, fazendo parte do mundo, também é atravessado pelo 
princípio ordenador – logos, na concepção de Heráclito.Aristóteles, na sua Metafísica, ao buscar o 
conhecimento particular, compreendia uma abstração gradativa até chegar a um princípio motor 
imóvel, fora do ser humano. Tal princípio motor foi interpretado pelos filósofos cristãos, por exemplo, 
São Tomás de Aquino (1227-1274), como Deus. Ou seja, duas tendências metafísicas podem ser 
distinguidas, aqui. Uma, a vertente heraclítica, na qual o homem pode encontrar em si mesmo a 
essência do ser, e outra, a aristotélica, que permite fundar uma teologia, como o conhecimento mais 
alto dos princípios que regem tudo, a partir da reflexão filosófica.
22
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
repercussões modernas e contemporâneas
René Descartes, em suas Meditações, tenta provar a existência de Deus como fonte mantenedora 
e garantidora da verdade de todo conhecimento humano. Immanuel Kant, ao invés de valer-se da 
hipótese divina, procura mostrar que o próprio homem, como participante dos mundos inteligível 
e sensível, poderia perceber, por intermédio da razão pura, os limites de seu conhecimento e, 
consequentemente, a incapacidade de conhecer a coisa em si, mas apenas os fenômenos sensíveis. 
No início do século XX, as influências da metafísica helênica são mais marcantes, sobretudo, na 
obra de Heidegger. Contra acorrente aristotélica que busca um princípio para o ser fora do próprio 
ser, Heidegger estabelece uma ideia de metafísica tão radical quanto a de Heráclito. Nesse sentido, 
propõe em Introdução à Metafísica, uma recuperação do sentido originário do ser, esquecido ao 
longo da história ocidental. Assim, visa encontrar, nos moldes dos pensadores helênicos, as causas 
pelas quais o sentido do ser fora originalmente ocultado.
A inspiração para essa concepção peculiar de ser decorre da interpretação dada, por Heidegger, à 
palavra grega physis. Para ele, physis – comumente traduzida por natureza –deveria ser entendida, 
como sair e brotar, aquilo que pode ser experimentado em toda parte. 
No contexto acima, o significado de ser não surge de uma casualidade, mas de uma presença 
constante. A aparente confusão que a investigação ontológica emerge por causa do esquecimento 
do ser e de uma postura niilista perante essa complexidade acaba gerando uma essência no nada.
Para a metafísica poder responder à questão de porque há simplesmente o ente e não antes o Nada? 
Heidegger vai expor e fundar o Ser na origem grega, que diferenciava o ente do pensar. A perspectiva 
originária dessa discussão revelaria a consequente separação entre Ser e Pensar e Percepção e Ser 
que passou a acompanhar a história da filosofia, desde então. O retorno à visão originária, para 
Heidegger, revelaria a própria determinação do ser do homem.
A determinação da especialização do homem, que aqui carece, não é, entretanto, tarefa de uma 
antropologia flutuante no ar, que, no fundo, se representa o homem, como Zoologia se representa 
o animal. 
A interessante abordagem apontava para o século XIX, como o período no qual a reflexão tentou 
fundar a possibilidade de saber filosófico positivo, isto é, a formação de um sistema teórico, no 
qual determinados critérios moldavam o campo específico de conhecimento. Nesse momento, o 
homem surge como objeto e sujeito de saber. Nesse contexto, a antropologia, como possibilidade de 
saber empírico sobre o homem, é refutada em favor de uma ontologia purificada ou um pensamento 
radical do ser: livre de preconceitos antropológicos e capaz de questionar os limites do pensamento, 
renovando o projeto de uma crítica geral da razão que se indaga se o verdadeiro ser humano existe, 
afinal.
Pode-se dizer que a metafísica surja toda vez que o ser humano passe a refletir, a despeito de um 
retorno às origens, de modo crítico, sobre sua condição perante um mundo que o espanta, ameaça 
e desafia a lançar novas respostas. 
23
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
Sobre as objeções de Heidegger quanto à consideração do agir humano como uma consumação 
do ser, a falta de um fundamento metafísico seguro não impediu que diversos autores, ao longo 
da história da filosofia, tratassem de encontrar a maneira mais adequada de se comportar entre os 
seres humanos e perante os objetos da natureza. 
O liame gerado pelo abandono de uma explicação originária, em relação ao ser, levou todos que 
estudaram o comportamento humano a se enquadrarem na tradição filosófica ocidental que, na 
perspectiva heideggeriana, separava o ser do pensar e do agir. Filósofos – como Aristóteles, Kant e 
mesmo aqueles que trabalham sob a ótica de uma tradição religiosa ou histórica –, frequentemente, 
recorrem a princípios de ação ideal, fora do domínio material e natural dos agentes humanos, a fim 
de estabelecerem uma base firme para a criação de normas.
A maneira prática humana correta e válida seria aquela que estivesse de acordo com uma concepção 
de vida, de um mundo superior ou uma tradição histórica já formada. Sendo assim, os diversos 
pensadores que abordaram esse assunto, quase sempre, recorriam a uma situação ideal imaginada 
que serviria para se averiguar se uma determinada ação ou regra de ação é válida ou não, correta ou 
ilegítima etc. 
Para saber se o ser humano age corretamente, bastaria confrontar sua ação com uma norma 
considerada válida ou compará-la com outra ação semelhante desenvolvida num contexto ideal. 
Isto é, verifica-se se a ação é adequada a uma lei ou se ela poderia ser aceita por um modelo padrão 
que universalizasse sua aplicação, inscrevendo a ação num princípio geral válido para todos.
As doutrinas que apelam para essas construções idealizantes pretendem avaliar a prática conforme 
parâmetros de universalização, ou seja, segundo uma prática que todos pudessem exercer toda vez 
que as condições necessárias se reproduzissem. 
Nessa tendência, todo um processo de deliberação deveria ser examinado de acordo com as 
circunstâncias que envolvem a ação, pois, nem sempre os casos apresentados ao juízo se acomodam 
numa norma ou padrão ideais pré-estabelecidos. Casos de legítima defesa, aborto ou eutanásia são 
exemplos de como uma norma do tipo “não matar” pode ser problematizada e se abrir às exceções. 
Por conta disso, existem correntes filosóficas que admitem uma concepção de ética que não esteja 
vinculada a conceitos ideais absolutos como critério de verificação das ações, pretendendo que cada 
ação seja avaliada isoladamente pelos interesses dos envolvidos, pelas consequentes utilidades ou 
geração de prazer ou sofrimento. 
As diversas éticas
A ética tem origem na palavra grega éthos, geralmente traduzida por habitação, morada ou costume. 
Moralis é a tradução dada pelos romanos a éthos que originou a palavra moral. Na origem, então, 
moral e ética querem dizer a mesma coisa. Isso, no entanto, não proibiu que diversas interpretações 
fossem prestadas ao conceito de conduta humana. Entre as várias correntes existentes, podem ser 
citadas as principais:
 » A teleológica, que afirma haver um fim (télos) pelo qual a ação moral é orientada. 
 » A universalista, que defende a existência de um princípio geral, válido para todos.
24
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
 » A contratualista, que propõe que os princípios de ação sejam validados por um 
contrato entre as partes interessadas.
 » A utilitarista, que funda numa utilidade geral e nos sentimentos morais a boa 
conduta humana.
 » O pragmatismo, que avalia as ações segundo o processo de deliberação e um modo 
de vida circunstanciado. 
As principais correntes possuem variações e subdivisões que geram novas teorias morais, como a 
comunitariana, derivada da teleológica; a ética do discurso, baseada na universalista; a ética da 
compaixão, fundada no utilitarismo; entre outras doutrinas mistas, como a teologia da libertação, 
justiça como equidade, o direito positivo etc.
Monismo e dualismo 
Aristóteles foi o primeiro a escrever uma obra exclusivamente dedicada a questões éticas. São 
atribuídos a ele quatro tratados sobre o assunto: Ética a Eudemo, Ética a Nicômaco, Magna 
Moralia e o duvidoso Tratado de Virtudes e Vícios. De todos esses textos, o mais completo é a Ética 
a Nicômaco. 
O conhecimento desse bem seria manifesto pela ação política. A investigação ética, segundo 
Aristóteles, tenta mostrar o bem relativo à ciência política, a saber: a felicidade (eudaimonia).
Aristóteles supôs ser esta a razão pela qual os homens vivem em sociedade. Depois de uma extensa 
análise das virtudes. Supondo ainda que a vida contemplativa de um filósofo seria a mais prazerosa 
de todas – por permitir a contemplação da verdade – a ética aristotélica propõe que a conduta 
humana, numa comunidade, seja conduzida por leis que promovam a realização desse bem supremo 
que é a felicidade de poder contemplar a verdade e possuir a sabedoria.
Embora a Ética a Nicômaco aponte para um tipo de vida considerado ideal, para nenhum expediente 
que desse a entender um dualismo que separasse as ações humanas, em sua prática cotidiana, da 
concepção de vida sugerida. 
Para a vida contemplativa realizar-se, era preciso a sua execução numa organização política 
exercida por homens de carne e osso, neste mundo. Sob esse aspecto, pode-se dizer que a teoria 
ética aristotélica se mantinha dentro de uma perspectiva monista, concebida e aplicada a uma única 
noção de mundo.Em ética, o dualismo é uma característica que só vem a ser nitidamente traçada por Immanuel Kant, 
a partir de sua obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Antes dele, também é possível 
atribuir um dualismo ético a Platão, mas este não deixou nenhum diálogo do qual se pudesse extrair 
um sistema formal de ética. 
25
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
Desta forma, Kant criticou o conceito de felicidade, entendido como um bem que fosse o fim da 
filosofia moral. A felicidade, como ele entendia, era a soma de todas as inclinações humanas. Cada 
um teria a sua noção de felicidade e ninguém estaria de acordo sobre qual seria o bem supremo. 
Para Kant, o conteúdo da ação moral estaria na prática por dever e não por inclinação. Isso porque 
o dever conteria a boa vontade, um tipo de querer com valor absoluto, independente de qualquer 
outra influência. O dever caracteriza, na ética kantiana, a necessidade de uma ação por respeito à lei 
moral, uma lei universal das ações que manda agir de acordo com a máxima que a vontade quer que 
se torne uma lei válida para todos. 
Por causa dessas características, meramente formais, o imperativo categórico poderia propor leis a 
priori, ou seja, independente da experiência cotidiana e particular. A ideia do imperativo categórico 
surge em função dessa concepção de lei moral. O imperativo categórico, diferente de outros 
imperativos, não dependeria da matéria da ação, nem de seu objetivo (fim). Esse imperativo visa 
encontrar a lei que valha necessariamente, sem qualquer condição e de um modo objetivo e geral. 
A razão prática teria, nesse imperativo, o instrumento para obtenção de um princípio universal de 
validação da lei moral. A formulação definitiva dada por Kant a esse imperativo é:
Age de tal maneira que a humanidade em qualquer pessoa seja usada como fim 
e nunca como meio (KANT,1980).
Por conseguinte, como ser racional, o homem tomaria parte de um “reino dos fins”, onde cada 
um teria valor por si mesmo, graças à faculdade da razão que possui. Logo, todas as regras de um 
ser racional valeriam para outro ser racional e por extensão a todos os que pertencessem a esse 
reino. A humanidade surge aqui como aquela comunidade que seria formada por seres racionais, 
participantes de um mundo inteligível. O homem seria o único ser capaz de participar desse mundo 
inteligível e também de um mundo sensível. 
Kant termina sua fundamentação dizendo que, ao tomar parte desse mundo inteligível, a vontade 
humana estaria em liberdade, isto é, livre de todas as influências do mundo sensível. A existência de 
um mundo inteligível e de uma razão prática é que garantiria a formulação de leis morais válidas para 
todos seres racionais. Ora, caso questione-se a capacidade do ser humano de propor regras livres 
de qualquer inclinação sensível, os kantianos não têm como demonstrar que a suposta liberdade da 
vontade seja possível de ser implementada. 
Sobre a ética kantiana, é evidente que há um mundo inteligível e outro sensível aos quais o homem 
seria membro. Do primeiro, por ser racional; do segundo, por ser um animal sujeito às influências 
materiais, numa palavra: inclinações. Além disso, não há como assegurar que as ações pertinentes 
ao mundo sensível – o único real, de fato – possam ser regidas de fora, por normas alheias às 
particularidades e circunstâncias de cada pessoa, seja ela racional ou não. A resposta para uma ação 
no mundo inteligível, imaginário, Kant tem. Porém, as ações no mundo sensível escapam aos seres 
racionais por não corresponderem às ações num “reino dos fins”. 
26
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
As ações do mundo real sofrem influências das inclinações, sentimentos, crenças, desejos e dos 
recursos materiais disponíveis para sua execução. Uma lei moral, que não leve em conta esses 
fatores decisivos, tende a se tornar inaplicável e estéril.
Aplicação da ética
A solução dualista kantiana, portanto, embora seja admirável, não resolve os problemas concretos 
da ação humana. Por outro lado, o monismo aristotélico, que propõe um tipo de vida com o qual 
nem todos seriam capazes de realizar, também não ajuda muito. Para encontrar a melhor forma 
de agir, num mundo cheio de complexidades, a ética tem que se voltar efetivamente para a prática 
humana cotidiana, tal como faz o filósofo australiano Peter Singer, autor de Ética Prática (1993).
A adoção do ponto de vista ético depende, segundo Singer, de uma compreensão de que conflitos 
de interesses serão solucionados de uma maneira ou de outra. Por ética prática, Singer entende a 
aplicação da teoria ética no tratamento de questões da ordem do dia a dia, como a discriminação 
racial, sexual, os direitos dos animais, a preservação da natureza, aborto, eutanásia e a redistribuição 
de renda. 
 O papel do filósofo, então, será o de colocar as diferentes posições às claras, a fim de que se possa 
tomar uma decisão refletida sobre o conflito moral.
A ética prática proposta por ele assume uma tendência utilitarista que procura maximizar a utilidade 
geral de uma ação em função de um todo. Útil será tudo aquilo que minimize a dor e aumente o 
prazer. Sem recorrer a uma construção de mundo ou vida ideais, Singer constrói uma teoria ética 
a partir de casos particulares, nos quais problemas éticos surgem da falta de um padrão que possa 
prever todas variáveis: escassez de recursos, a constituição física da pessoa moral e a preocupação 
com o impacto ambiental do comércio internacional, além do cuidado para com as gerações futuras 
e o uso dos animais como cobaias e fonte de alimentos.
27
CAPítulo 3
o Senso Comum, a Ciência e a 
filosofia
o senso comum, a ciência e a filosofia como 
saber reflexivo e crítico
Por senso comum, entendem-se aquelas explicações aceitas por um determinado grupo de pessoas, 
sem que elas passem por um exame detalhado que as problematizem ou questionem. As questões 
de conteúdo filosófico não são exclusividades apenas de uma forma de conhecimento chamado 
filosofia.
Seja por meio de mitos ou de teorias ingênuas, cada um desenvolve sua própria explicação sobre 
o mundo, os temas propostos pela metafísica e pela ética também são abordados por um tipo de 
interpretação caracterizada como senso comum. 
Fatores como crenças, desejos, apego à tradição histórica ou influências sociais fazem com que, 
mesmo depois do advento da filosofia, ainda persista na maior parte dos seres humanos uma 
aceitação das coisas tais como elas são, quando não se cai em superstições. Longe de ser uma posição 
comodista, o apego ao senso comum decorre da falta de motivos fortes para a fomentação de dúvidas 
sobre as noções dominantes que a maioria das pessoas têm como certas. Neste instante, é que se 
tenta encontrar outras explicações que acomodem aquilo que está fora da ordem ao conjunto de 
crenças e desejos partilhados pelo grupo social.
Isto é uma forma de conhecimento bruto sobre as coisas que precisava ser ajudada e aperfeiçoada 
pelo rigor e exatidão do pensamento filosófico, a fim de evitar a indução de falsas conclusões, a 
partir de observações precipitadas, que poderiam engendrar iniciativas desastrosas.
O fator surpresa exigiria um esforço, por parte das pessoas, de integrar toda informação inesperada 
ao modelo constituído em suas mentes. Graças a esse esforço generalizado na espécie de interpretar 
os fenômenos à luz de uma teoria doméstica própria de cada um, é que ao longo da história poucos 
foram aqueles que se atreveram a se afastar dessa forma ingênua de encarar o mundo.
Eis porque são poucos os filósofos e muitos aqueles que se detém numa forma de saber pré-filosófico: 
o senso comum. Entretanto, por menor que fosse o número daqueles preocupados em ir além do 
entendimento vulgar, nada os impediu de considerar o senso comum como uma espécie de “primo-
pobre” da filosofia. 
28
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
A Crítica ao senso comum
Não são raros os casos em que as crenças do senso comum produziram 
comportamentospreconceituosos, com base numa postura dogmática diante da 
compreensão dos fenômenos. Durante muito tempo, acreditou-se que o Sol girava 
em torno da Terra, que uma determinada raça fosse superior a outra, na influência 
dos astros nas vidas das pessoas etc.
O senso comum constrói suas teses a partir de um método indutivo, pelo qual a 
regularidade da ocorrência de certos fenômenos da natureza geram um hábito de 
se acreditar que se determinadas condições estão presentes, logo se seguirá um 
evento a elas relacionado. Por exemplo, se o céu fica coberto de nuvens cinzentas é 
sinal que vai chover; onde há fumaça, há fogo etc. 
O senso comum não se preocupa em apresentar provas diretas que validem suas 
hipóteses, segundo um método de verificação empírica, tais como a falsificação da 
experiência, exigida pelas teorias científicas contemporâneas. 
 Esse hábito faz parte da constituição de cada um, assim como os sentidos pelos quais 
as informações do meio ambiente chegam ao sistema nervoso central. Por conta 
disso, às vezes, as informações que entram na mente humana são tão complexas 
que provocam um conflito de interpretações por parte do indivíduo. 
A simples observação de uma torre ao longe não permite dizer com certeza se ela 
é de base quadrada, triangular ou circular. Apenas uma experiência mais apurada 
possibilitaria a confirmação da forma correta da edificação. O senso comum não 
pretende que seu conhecimento seja exaustivo e, nessa condição primária, aceita 
sem mais esforços as primeiras explicações que lhe ocorrem, segundo um modelo 
interno pré-estabelecido. 
Cabe à filosofia fazer a crítica dos modelos padrões do senso comum, permitindo que 
uma investigação mais apropriada proporcione um conhecimento mais fidedigno e 
que permita fazer previsões mais precisas. 
As experiências exaustivas e as contra provas são práticas que fornecem elementos 
para constatação da verdade ou falsidade de uma proposição, ainda que provisória. 
Quanto ao conhecimento da melhor forma de ação, a filosofia exige do senso 
comum a sustentação da validade de suas normas, de acordo com parâmetros de 
universalização de aplicação da norma. 
Nesse sentido, o conhecimento deve avançar da simples aceitação de práticas 
estabelecidas pela tradição, até a formulação de regras de conduta que possam 
ser avaliadas a partir de um ponto de vista moral, do qual os interesses de todos 
concernidos sejam levados em conta.
29
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
Além do senso comum
Vários pensadores procuraram solucionar os impasses impostos ao senso comum de maneiras 
diferentes. O descontentamento com relação à orientação adotada, tendo por base inclinações, 
crenças desejos e hábitos, é, então, um dos principais motivos para o desenvolvimento de uma 
crítica racional com características filosóficas. 
Os platônicos acreditavam que o conhecimento só se daria depois do verdadeiro resgate das ideias 
pré-existentes às coisas. Enquanto os aristotélicos procuravam extrair do entendimento das causas 
e dos vários significados de ser, aquele princípio primeiro de tudo.
Modernamente, René Descartes inaugurou um método científico a partir de uma dúvida generalizada 
de todo conhecimento aceito pelo senso comum e adquirido por meio dos sentidos, em Discurso 
do Método (1637). O fato dela não ser bem aplicada é que, a seu ver, permitiria que surgissem as 
divergências e os vícios aos quais o ser humano está sujeito. 
Por causa disso, ele propõe um método de investigação que, na sua obra seguinte, parte de uma 
dúvida metódica que questiona toda forma de conhecimento adquirida a partir de informações 
intermediadas pelos sentidos e percepções. Com isso, ele tenta encontrar, exclusivamente na própria 
razão, o único conhecimento livre das distorções impostas pela experiência, sobre o qual todos os 
conhecimentos verdadeiros serão fundados.
Ao contrário de toda tradição anterior, Descartes voltou-se para aquela capacidade natural que 
cada um possui e procurou descobrir, fazendo uso apenas da razão, o fundamento da verdade, 
independente do senso comum. Assim, todas aquelas verdades assumidas pelo senso comum, que 
fossem contraditas pela observação apurada da natureza e pelo entendimento, deveriam ser postas 
de lado, em função de uma verdade que pudesse ser revelada sem a influência dos sentidos ou de 
qualquer crença e desejo. 
David Hume (1711-1776) na sua Investigação Sobre o Entendimento Humano (1748) fez uma crítica 
da ligação necessária que a razão humana costuma produzir entre os eventos na natureza sob um 
suposto princípio de causalidade. Para ele, o hábito e não o raciocínio era o princípio que fazia com 
que se esperasse a renovação de um ato, tendo em mente a repetição anterior do mesmo ato. 
Toda crença numa questão de fato ou de existência real deriva de algum objeto presente à memória 
ou aos sentidos e de uma conjunção habitual entre esse objeto e algum outro. Haveria tão somente 
um hábito não racional de relacionar uma coisa com a outra, sem qualquer explicação plausível, 
senão o fato de constituir a natureza humana.
Kant logo percebeu que nem o senso comum nem a metafísica mais apurada de sua época poderiam 
satisfazer o verdadeiro conhecimento da coisa em si. Isso porque a razão teria limites insuperáveis 
para atingir esse grau de conhecimento, uma vez que a percepção das coisas se daria por intermédio 
da sensibilidade, formada pelos sentidos do tempo e espaço. 
30
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
Por fim, todo ataque da filosofia ao senso comum concentra-se em três fatores representados por 
esses filósofos. O primeiro é a distorção dos dados de entrada fornecidos pelo meio ambiente e que 
passam pelos sentidos. O segundo diz respeito à constituição do ser humano que relaciona de modo 
necessário um evento a uma causa. E o terceiro aponta as limitações da razão em formular juízos 
empíricos que revelem a coisa em si, na forma dogmática.
É certo que sempre que o senso comum esbarra com fenômenos contraditórios, segundo um modelo 
padrão pré-estabelecido, cada um procura encontrar uma explicação com o intuito de acomodar as 
ocorrências extraordinárias sob a sua perspectiva. Quando isso não acontece, há uma forte tendência 
à criação de superstições ou explicações míticas sobre o mundo. Por outro lado, uma postura que 
tente investigar e propor uma nova teoria com base em testes, argumentos e contra-argumentos 
só pode ser exercida fora do domínio do senso comum. O âmbito adequado para essa investigação 
seria próprio da filosofia e das ciências empíricas.
A defesa do senso comum
Segundo Antonio Rogério da Silva:
A crítica cética também não pode servir de alternativa a um modo de vida. 
Ninguém conseguiria viver duvidando constantemente de tudo. Por conta 
disso, todos procuram, bem ou mal, seguir a maioria de suas crenças comuns 
sobre o mundo, por falta de um motivo mais forte para descartá-las, ainda que 
elas possam ser completamente falsas.
No final do século XX e do segundo milênio, apesar de todas tentativas, a filosofia e as ciências não 
encontraram um fundamento seguro que permitisse o abandono da maior parte das interpretações 
do senso comum. 
Todos jornais sustentam colunas de horóscopos; enquanto, no dia a dia, costuma-se dizer que o sol 
nascerá a leste e morrerá a oeste, como se a astronomia e a física não tivessem provado que a Terra 
gira em torno do Sol e a distante e fraca influência dos astros na tomada de decisão de uma pessoa. 
Essa deficiência explicativa para sugerir um argumento definitivo e último, que provasse as coisas 
no mundo, gerou uma nova forma de abordagem dos temas filosóficos, menos dogmática e mais 
afeita ao falibilismo. 
Desta maneira, a incapacidade da filosofia fornecer respostas definitivas que fechassem qualquer 
uma de suas questões, volta-se a discutir, hoje, os problemas cognitivos a partir de um ponto de 
vista mais aproximado das características intuitivas, intencionaise explicativas do senso comum. 
O individualismo metodológico, então, passa a ser a principal marca das investigações feitas pelas 
ciências humanas, sem que para isso tenha de se perder uma atitude crítica e inquiridora. 
 As ações desastrosas cometidas em nome do desenvolvimento científico e da soberania da razão, ao 
longo deste século, foram suficientes para abalar essas pretensões.
31
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
A filosofia do senso comum
O senso comum já encontrava um defensor contundente entre um daqueles filósofos que seguem a 
tradição analítica de abordar um tema filosófico, isto é, tendo como ponto de partida a compreensão 
precisa do significado das expressões da linguagem. O filósofo George Edward Moore, em Uma 
Defesa do Senso Comum (1925), sustenta que certos truísmos derivados do senso comum podem 
ser tidos como verdadeiros. Por exemplo, saber que um corpo humano presente e vivo é meu ou não; 
que em tempos diferentes, muitas diversas coisas aconteceram e que eu nasci num determinado 
tempo no passado etc. 
A confusão criada pelos filósofos em torno desse tipo de conhecimento dar-se-ia pelo fato deles 
tomarem essas questões do ponto de vista de uma terceira pessoa, fora daquele que afirma saber o 
que diz. 
Os seres humanos poderiam ter outros corpos sem que o sujeito soubesse que eram corpos 
humanos, já que da posição subjetiva não há como saber o que aconteceu no passado com outros 
seres humanos, além do próprio sujeito. O que Moore (1989) quer garantir é esse conhecimento 
mínimo de que cada um sabe que sabe a verdade das proposições do senso comum.
[...] Falar com desprezo daquelas “crenças do senso comum” que mencionei 
é certamente o máximo dos absurdos. E há, obviamente, grande número de 
outras características na “visão do mundo do Senso Comum” que, se aquelas 
[crenças] são verdades, são certamente verdade também: por exemplo, que 
viveram sobre a superfície da terra não apenas seres humanos, mas também 
muitas espécies diferentes de plantas e de animais etc. (MOORE, 1989).
O senso comum não precisa de mais nada para provar a sua verdade a não ser do conhecimento 
interno de alguém que sustenta uma dada afirmação como verdadeira. Além disso, uma vez posto 
esse conhecimento básico, a verdade do mundo exterior também poderia ser sustentada, do mesmo 
modo que as sentenças triviais, a partir da certeza de quem sabe.
Para se conhecer as verdadeiras causas do ato de um agente, precisaria apelar, então, ao uso de 
termos como crenças e desejos que interagiriam na mente produzindo uma determinada conduta. 
Os defensores da psicologia popular afirmam que a complexidade dos mecanismos de decisão para 
uma ação não permite que se abandone as crenças e desejos do senso comum, em favor de uma 
simples explicação fisiológica, sem levar em consideração as características intencionais de um 
evento mental. 
A informação na mente e o processo de deliberação feitos pelos indivíduos precisam ainda da esfera 
da psicologia popular, típica do senso comum, para que uma explicação do fenômeno mental seja 
bem-sucedida. Embora nenhum evento na natureza possa ocorrer sem o suporte material, isso não 
quer dizer que a melhor interpretação desse evento deva se dar no âmbito das ciências naturais. 
Sobretudo quando se trata da ação humana, palavras como livre arbítrio, desejos, crenças e hábitos 
são indispensáveis para o entendimento adequado das causas que estão “por detrás” do ato. 
32
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
Apesar de não conseguir, ainda, propor leis sobre esse comportamento, a psicologia popular 
não pode ser dispensada e o senso comum tem aqui um papel a desempenhar. Nesse sentido, a 
intencionalidade está além da descrição neurofisiológica do comportamento humano. 
o falibilismo e o bom senso
Outros fatores como a falta de informações suficientes, desejos, influências diversas e observações 
distorcidas podem ter uma participação efetiva nas tomadas de decisão. 
As ciências humanas têm como acréscimo a dificuldade de explicar as circunstâncias em que a 
razão falha, sem que isso seja causado por um distúrbio mecânico funcional do organismo. Se acaso 
alguém resolve seguir seus instintos, a despeito de todas as razões contrárias, o máximo que se pode 
dizer é que essa pessoa age de modo irracional. Mas não há uma lei natural que possa descrever com 
precisão quando a razão falhará ou não. 
Dada a imponderabilidade dos fatores envolvidos num fenômeno qualquer, a razão deve apoiar-se 
em última instância no bom senso do senso comum, no qual as chances de algo vir a ocorrer como o 
previsto se baseiam num hábito consolidado por sucessivas observações empíricas registradas pela 
tradição.
O senso comum deixa de ser, portanto, o “primo-pobre” para se transformar numa fonte rica de 
informações brutas a serem trabalhadas por uma pesquisa criteriosa, todavia não conclusiva. O 
reconhecimento das limitações da razão e uma postura crítica diante de normas dogmáticas podem 
ser a saída mais recomendável nos dias de hoje.
A filosofia do senso comum deve, então, estar atenta a esses dois guias que só o amadurecimento da 
investigação empírica pode gerar. Já não cabem mais apelos a doutrinas idealizantes que tenham 
respostas para tudo, como também não se aceita mais o recurso a superstições e lendas fantasiosas. 
O desdobramento dos eventos dos últimos cem anos serviu para reabilitar o conhecimento pré-
filosófico da tradição, ao mesmo tempo em que refreou os impulsos fundamentalistas dos filósofos 
e cientistas reducionistas. Em nenhum campo do conhecimento humano, a filosofia conseguiu 
sozinha melhores resultados do que o senso comum.
 Não há uma conclusão sobre a melhor forma de agir ou validar uma ação. Assim como não se sabe com 
certeza como os eventos do mundo físico irão se comportar no futuro, graças à imponderabilidade 
gerada pelas complexas interações entre todos elementos na natureza.
Nesse caso, a melhor alternativa perante as circunstâncias é que deve ser considerada apropriada 
a uma ocasião, o que constitui um conhecimento provisório, mas plausível, tendo em vista todos 
elementos envolvidos. A indeterminação na natureza, reconhecida pelas ciências naturais no início 
desse século, foi outro fator a tornar o conhecimento cada vez mais relativo ao ponto de vista do 
observador. Estendida à filosofia, o indeterminismo alimenta o relativismo e outras tendências 
falibilistas, tais como o pragmatismo que se apoiam numa investigação do mundo desde a ótica 
assumida de um modo de vida estabelecido. 
33
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
A filosofia e o senso comum seguem lado a lado, permitindo a abertura de novas linhas de pesquisa 
como a recente abordagem sobre o conhecimento humano sugerida pela “teoria da mente”, que 
discute o processo mental, a partir da perspectiva da psicologia popular e do desenvolvimento da 
ciência computacional, e pela “teoria da justiça como imparcialidade”, que tem em John Rawls seu 
principal defensor e pretende estabelecer princípios de política justos sem apelar para concepções 
metafísicas, utopias irrealizáveis e fundamentos últimos, supondo um equilíbrio reflexivo de uma 
sociedade já formada.
Oportuno dizer que a filosofia pode trabalhar com os dados do senso comum, a fim de encontrar 
os esclarecimentos críticos necessários que proporcionem ao homem contemporâneo tomadas de 
decisões adequadas e uma melhor compreensão da complexidade dos fatos do mundo. 
Junto ao senso comum, a filosofia contemporânea põe os pés no chão e começa a caminhar, tendo 
como objetivo atender as exigências explicativas de seres humanos de carne e osso, portadores de 
crenças, desejos, sofrimentos e histórias particulares.
física e conhecimento humano
Desde o início, ciência e filosofia caminharam juntas. O que hoje consideramos ciências era antes 
chamado, de um modo geral, de “filosofia da natureza”. Esses estudos procuravam fornecer uma 
explicação sobre o mundo que permitisse apontar as leis determinantes de todoseventos naturais, 
incluindo o movimento dos corpos celestes, as reações dos elementos químicos e a origem dos seres 
vivos.
À medida que essas teorias obtinham êxito na descrição dos fenômenos da natureza, crescia a ilusão 
de se construir uma teoria pura e completa, capaz de prever com exatidão todos os acontecimentos, 
muito antes que eles viessem a ocorrer. 
A concepção do “demônio de Laplace” – uma entidade que, ao observar, ao mesmo tempo, a 
velocidade e posição de cada elemento na natureza, seria, a partir disso, capaz de deduzir toda 
evolução do Universo, tanto no passado como no futuro – representa o tipo de mentalidade confiante 
que foi constituída graças ao sucesso das leis propostas por filósofos, como Isaac Newton e Antoine 
L. Lavoisier, tanto na física como na química. 
Essa entidade imaginária – sugerida pelo astrônomo e matemático Pierre Simon Laplace (1749-
1827) – revela o quanto a perspectiva determinista da natureza estava arraigada na pretensão das 
ciências clássicas. 
Encontrar uma teoria que descrevesse o comportamento da natureza e pudesse prescrever seus 
desdobramentos seria suficiente às ciências, enquanto caberia à filosofia a justificativa racional do 
por que disso ser assim e não de outro modo. 
Como consequência dessa divisão de tarefas, o positivismo, desenvolvido por Auguste Comte (1798-
1857), na sua forma mais radical, vem propor a redução da filosofia especulativa – sobretudo a 
metafísica – aos resultados da ciência, cujo método deveria ser aplicado a todas as outras formas de 
34
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
conhecimento. Surgem, então, as ciências sociais – a antropologia e a sociologia – como disciplinas 
voltadas exclusivamente para o exame dos mecanismos e relações que geram os fatos sociais e a 
interação humana, de uma perspectiva neutra, deixando de lado as motivações e interesses que 
estão na origem do conhecimento científico.
determinismo e indeterminação
Enquanto a vertente cientificista ia tomando corpo, outras pesquisas, que produziam resultados 
divergentes dos paradigmas dominantes, começaram a abalar as certezas em torno das leis clássicas 
da física. As ciências clássicas, destacadas da filosofia, assumem, portanto, essas características 
deterministas e de pretensão de neutralidade que permitiram o desenvolvimento de uma tecnologia 
como produto de um conhecimento positivo da natureza. 
Ao longo do tempo, seria impossível que o calor dissipado por um corpo fosse reconstituído depois 
de ele ter esfriado. Isso não permitiria a reversibilidade do tempo, como queria Newton, dificultando 
a localização de um ponto no passado, desde os dados do presente, uma vez que a energia fora 
dissipada por um objeto em movimento, não poderia ser totalmente resgatada. 
O matemático francês Jules-Henri Poincaré, em 1905, observava que mesmo a lei da gravitação – 
por ele considerada a “menos imperfeita de todas as leis conhecidas” – quando prevê o movimento 
entre dois corpos no espaço, deve negligenciar a interferência de outros objetos envolvidos nessa 
relação, a fim de poder calcular com “precisão” as suas trajetórias. 
A órbita da Lua em torno da Terra, por exemplo, teria de omitir a influência do Sol e outros astros do 
sistema solar. O deslocamento da Lua só poderia se dar com uma quase certeza, aquém da pretensão 
suposta pela física clássica: embora essa probabilidade seja praticamente equivalente à certeza, não 
é mais que uma probabilidade, disse Poincaré em O Valor da Ciência.
Para Poincaré, existia uma complexidade existente na interação gravitacional de um sistema com 
mais de dois corpos e que a física clássica não poderia encontrar uma solução geral, para esse tipo 
de problema, na trilogia Les Méthodes Nouvelles de la Mécanique Céleste (Os Novos Métodos da 
Mecânica Celeste,1892-1899). Mas é com o surgimento da física quântica que o determinismo das 
leis naturais se torna problemático nas experiências que tentam fazer uma medição das partículas 
subatômicas. 
A dificuldade de medição decorre do fato de que o próprio ato de observação de uma partícula 
altera a posição e a velocidade do objeto examinado. Os eventos da física atômica apresentam a 
impossibilidade de se prever a trajetória de um elétron, por exemplo, no intervalo entre os momentos 
inicial e final da experiência, por mais preciso que seja o instrumento. 
Dessa forma, ele procurava descrever os novos fenômenos por meio de uma linguagem complementar 
que utilizasse os termos consagrados pela tradição, ao lado de um rigoroso cálculo matemático que 
fosse além da perspectiva determinista ou reducionista das imagens clássicas. 
35
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
Os dados obtidos em diferentes condições experimentais não podem ser compreendidos dentro de 
um quadro único, mas devem ser considerados complementares, no sentido de que só a totalidade 
dos fenômenos esgota as informações possíveis sobre os objetos. Assim, nas situações em que a 
descrição da física clássica falhasse, uma nova interpretação do fenômeno, sob a ótica da matemática 
formal da mecânica quântica, ampliaria o quadro explicativo, proporcionando maior precisão na 
explicação do evento físico.
Conhecimento e interesse
A impossibilidade de se reduzi o comportamento humano a uma explicação meramente mecânica 
mantém como válida as descrições que levam em conta o livre arbítrio, as crenças e os desejos. Pois, 
as ciências da natureza não poderiam se valer de conceitos como liberdade e vontade, tradicionais 
na atribuição de intenções aos agentes humanos, já que da perspectiva externa dos observadores 
das ciências da natureza, a explicação só poderia se dá utilizando termos como posição dos corpos, 
aceleração, massa, força, entre outros, sem apelar para fatores intencionais de cada indivíduo 
envolvido.
A impossibilidade de uma construção teórica objetivista e reducionista, por parte das ciências 
empíricas, atinge também a pretensão de neutralidade, que outrora se imaginava quanto aos 
interesses subjetivos dos próprios cientistas. 
Uma vez que, tanto na física como na sociologia, a posição do pesquisador-observador interfere 
decisivamente nos resultados da experiência, sua postura neutral fica comprometida. Neste instante, 
os interesses de cada um devem ser considerados. 
Cabe à epistemologia questionar os métodos da ciência em sua pretensão de formular uma ciência 
pura da natureza, sem levar em conta os interesses de quem observa e é observado, ao se fazer uma 
escolha por um determinado encaminhamento da investigação.
A crítica epistemológica, do conhecimento científico, pode agora chamar atenção para o fato de que 
o suposto objetivismo das ciências esconde uma tentativa de fornecer instruções dogmáticas para a 
ação, sem qualquer reflexão quanto aos interesses incorporados na busca de conhecimento. 
A aplicação do método das ciências empíricas às ciências humanas não pode mais aspirar ao 
reducionismo ou eliminação de uma explicação que considere os interesses específicos de cada 
disciplina. 
A crítica filosófica das ciências pode afirmar, tendo em vista os desdobramentos das revoluções 
científicas, que tal neutralidade não impede os cientistas de intervirem na prática social, segundo os 
interesses sugeridos nas leis deterministas ou não de suas teorias. 
Um paradigma cientificista imparcial e reducionista revela o tipo de interesse e a estrutura 
comunitária de um grupo de cientista que opta por uma concepção determinista da natureza e que 
pensa ter a ciência o poder de predizer os fenômenos, permitindo maior controle sobre eles. 
36
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
A sua orientação é feita tendo em mente os interesses e a tradição de um certo grupo de cientista 
que elaboram suas teorias e executam suas experiências, de acordo com os pressupostos aceitos pela 
comunidade a qual cada um esteja vinculado. 
As experiências que fogem dos padrões adotados, como aquelas que demonstraram as características 
aleatórias, não deterministas,na natureza, serviram para apontar as limitações das pretensões 
reducionistas e deterministas do conhecimento científico que predominou nas ciências clássicas. 
A implementação desse novo paradigma indeterminista da física contemporânea contribuiu para 
que a epistemologia criticasse a neutralidade dos cientistas quanto aos interesses sociais e sua 
incorporação numa tradição histórica, que nem sempre é assumida pelos próprios pesquisadores, 
seja nas ciências da natureza, nas exatas ou humanas. 
A reforma da natureza
Cabe ressaltar que a Terra levou cerca de três bilhões de anos para criar as condições necessárias 
para que a vida em sua superfície pudesse se desenvolver, a ponto de gerar a enorme diversidade 
que habita o planeta atualmente.
 Assim, pode-se diagnosticar a pretensão, segundo Antonio Rogério da Silva: 
que a ciência e a tecnologia tenham o pleno controle da natureza, sendo 
capaz de moldá-la, segundo os conhecimentos adquiridos nas pesquisas 
sobre os mecanismos naturais mais secretos. Ao lado disso, a biologia vem 
desenvolvendo um projeto que tem por finalidade mapear todo código genético 
humano. 
A partir das descobertas, advindas do Projeto Genoma, poder-se-á arrecadar cerca de 60 bilhões de 
dólares na venda de medicamentos. Enquanto se espera os inúmeros benefícios que o conhecimento 
genético pode fornecer, surgem questões éticas inevitáveis quanto à possibilidade de manipulação 
dos genes humanos, a fim de selecionar artificialmente as características mais desejáveis para as 
próximas gerações, um retorno mal disfarçado da famigerada eugenia grega. 
Também, aparecem problemas em torno do aborto seletivo, que evitaria o nascimento das crianças 
com genes considerados prejudiciais; da provável discriminação de pessoas cujo exame do genoma 
acusasse algum defeito congênito; a criação de “super-homens”, entre outras polêmicas que já 
trazem preocupações aos cientistas e políticos envolvidos na liberação de verbas destinadas a tais 
pesquisas.
Tudo que a humanidade precisasse seria produzido em laboratório, a partir de elementos químicos: 
seja medicamentos ou alimentos. As cidades urbanizariam todos os ambientes, climatizando-os ao 
gosto temperado da espécie, como se o planeta pudesse se tornar um imenso centro-comercial, com 
condicionador de ar central.
A destruição provocada na natureza pelos seres humanos poderia ser compensada por esse 
conhecimento biológico. O que permitiria a sobrevivência da humanidade num mundo totalmente 
transformado, de acordo com as características mais adequadas à civilização. 
37
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
O meio ambiente selvagem tem posto em risco não apenas a diversidade da vida, mas também a 
própria existência do homem na face da terra, seja física ou espiritualmente, dado o grande número 
de doenças psíquicas desenvolvidas pelo progresso da urbanização. 
A tendência de se encarar a própria espécie humana como algo que não fizesse parte da natureza 
ou que não tivesse evoluído junto com essa diversidade é que tem gerado essa ação degradadora de 
todos ecossistemas que sofreram a intervenção humana. 
O conhecimento do genoma humano servirá para facilitar a prevenção de doenças congênitas, mas 
as influências externas do meio ambiente sobre o gene permanecerão imponderáveis, diante das 
consequências inesperadas que a diminuição da biodiversidade poderá acarretar.
A função do gene não é suficiente para sustentar uma descrição completa da natureza e do homem, 
apenas de posições tão simplistas quanto a reducionista e determinista das ciências em geral. Os 
genes estão em constante interação com um meio ambiente também mutável.
Qualquer forma de discriminação entre os genes, do tipo “bom” ou “mau”, não passará de um 
preconceito que não condiz como o real motivo da existência daquele gene específico. Dos três 
bilhões de pares de base que compõem o genoma humano, 90% não apresentam nenhuma função 
conhecida, o restante contém instruções para fabricação de proteínas.
As perturbações do meio ambiente parecem exercer um papel de extrema importância na formação 
das espécies, ainda que impeça um delineamento exato de seu desenvolvimento. Logo, uma 
interpretação determinista, também nesse campo, está afastada.
A proposta feita por Charles Darwin (1809-1882), ainda que seja o agente principal das modificações, 
nada garante que a “persistência do mais apto” represente o avanço de todas as qualidades corporais 
e intelectuais do indivíduo em direção à perfeição.
Pouco mais de um centésimo separa geneticamente a espécie humana dos símios. Isso revela o 
quanto é insuficiente o conhecimento das características genéticas para definição precisa da essência 
humana. 
o alcance da sociobiologia
O comportamento animal pode ser bem explicado desde a perspectiva evolucionista. Todavia, no 
que diz respeito às ações humanas, ainda há muita lacuna explicativa a ser preenchida.
Embora Edward O. Wilson seja um dos biólogos que mais defendem uma ética ambientalista, que 
procura argumentar em favor da biodiversidade, ele é também um dos mais polêmicos criadores 
da disciplina sociobiologia, que visa reduzir a economia, sociologia e psicologia à interpretação 
proposta pela biologia evolucionária. E mesmo na concepção da estrutura genética que está por 
detrás dessas marcas fundamentais, a teoria da seleção natural teve êxito na descrição de como as 
características fisiológicas dos homens e animais surgiram. 
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UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
A interação das instruções genéticas com o meio ambiente modifica o comportamento que, por 
ventura, estivesse pré-estabelecido no genoma humano, por mais que os genes possam ser 
identificados a certas atitudes – agressividade, altruísmo, egoísmo ou timidez –, podem ocorrer 
mutações no contato com outros elementos da natureza, ou pela duplicação errada do ADN. 
Sobre esse aspecto, a sociobiologia vem desprezando a capacidade humana de enfrentar as 
adversidades e a sua inventividade. As intenções relacionadas com qualquer agente racional não 
podem ser assunto de uma biologia social pois não tem como encontrar, na base do genoma, as 
motivações intencionais dos indivíduos, oriundas de fonte externa. Motivações essas que são fruto 
de vários fatores causais do meio ambiente no qual os seres humanos estão envolvidos.
Os genes, em meio a tudo isso, tendem a adaptar-se da melhor maneira. Somente quando essas 
alterações são lentas é que se torna possível uma previsão mais aproximada do que ocorreu ou está 
por ocorrer. 
Mas, em sociedades muito complexas, essa explicação só pode ser feita apoiada em estatísticas e 
probabilidades de ocorrência. Para fornecer uma explicação completa do comportamento dos 
homens, a teoria evolucionária tem de tratar de um ecossistema em constante transformação e da 
reação dos organismos a essas mudanças. 
A escolha racional é com frequência indeterminada e não garante 
comportamento ótimo, mesmo supondo que as pessoas se livraram de sua 
tendência a comportar-se irracionalmente. Os processos de seleção são muito 
lentos na produção de comportamento que esteja otimamente adaptado a um 
ambiente em rápida mudança (ELSTER, 1994).
As mudanças genéticas não dependem de uma atitude afirmativa e racional do agente, quando a 
própria evolução cuida da adaptação da espécie, e a genética chega a impasses contraditórios. 
A anemia falciforme decorre de uma alteração na hemoglobina – uma proteína encontrada nos 
glóbulos vermelhos responsável pelo transporte do oxigênio e gás carbônico no organismo –que 
é prematuramente destruída, provocando anemia, num primeiro estágio, e interrompendo, em 
seguida, o suprimento de sangue dos vasos capilares, devido à pouca flexibilidade das células 
sanguíneas deformadas. 
Os casos das anemias congênitas são exemplos dessa imponderabilidade da adequação dos genes ao 
meio. Entre as populações que habitam regiões onde há incidência de malária, foram desenvolvidos 
três tipos de defesas cujos efeitos colaterais sãoa anemia falciforme, a talassemia e a deficiência da 
proteína G6PD (glicose 6 fosfato desidrogenase).
As doenças ameaçam cerca de 342 milhões de pessoas em todo mundo, das quais 100 milhões têm 
deficiência de G6PD e o restante portam uma cópia do gene da talessemia ou da anemia falciforme. 
As doenças surgiram como uma maneira do organismo criar barreiras à procriação do parasita da 
malária (protozoários do gênero plasmodium) no interior de glóbulos vermelhos que tenham tanto 
a hemoglobina normal, quanto a modificada.
39
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
As crianças só são atingidas pela anemia falciforme quando recebem uma 
cópia do gene para a hemoglobina anormal tanto do pai quanto da mãe. Nos 
portadores de uma única cópia do gene, os glóbulos vermelhos fabricam 
ambos os tipos da hemoglobina, só um número muito pequeno de células 
se deteriora e a doença não se manifesta. Quando essa mutação apareceu na 
história evolutiva humana, praticamente todo gene defeituoso tendia a ter 
como parceiro uma cópia do gene intacto, e assim ela conferia proteção contra 
a malária e deixava os portadores com boa saúde (WILKIE, 1994)
Na atual conjuntura, a proliferação do gene alterado ocorrendo na mesma proporção em que subia 
a taxa de natalidade e sobrevivência das pessoas afetadas, as chances de uma criança receber duas 
cópias desse gene dos pais são de 25%. Isso mostra o quanto a evolução biológica pode levar a 
resultados paradoxais em relação à adaptação de um indivíduo ao seu meio. 
A capacidade de um organismo reagir às agressões externas pode salvá-lo ou destruí-lo, pois as 
possibilidades de morte por malária das pessoas sem a proteção genética é a mesma de quem herdou 
a mutação de seus pais.
Por fim,uma simples teoria biológica da evolução não é capaz de superar esses problemas, seja 
na explicação do desenvolvimento social ou das mutações provocadas pela interação com o meio. 
Há espaço para o surgimento de uma ética ambientalista que vise a formulação de normas para 
restrição da destruição da biodiversidade, da discriminação genética e do incremento da eugenia. 
40
CAPítulo 4
Estudo filosófico
As principais partes do estudo filosófico
Segundo Antonio Rogério da silva:
Conta a história que, numa noite estrelada, Tales de Mileto (624-546 a.C.) 
caminhava atento, observando os astros, quando, de repente, antes que 
pudesse perceber, cai em um buraco. Uma mulher que presenciara o tombo 
do primeiro filósofo, impiedosamente, teria dito: “como sabes o que se passa 
nos céus se não tens a capacidade de ver o que está debaixo de seus pés”. 
Humilhado por essa situação constrangedora, nos dias que se seguiram, Tales 
com o conhecimento adquirido por suas observações astronômicas, alugara 
todos os bosques de oliveiras disponíveis, antes que a boa safra de azeitona, 
que ele previra, ocorresse. 
A busca pelo conhecimento, característico da filosofia, tem trazido consequências inevitáveis para o 
modo como as pessoas agem no seu dia a dia. Pois, é com base no que sabe que as pessoas sensatas 
procuram agir, na expectativa de obterem os melhores resultados possíveis para suas ações. 
Os sofistas achavam que poderiam ensinar, pela retórica, a técnica de produzir discursos contra e a 
favor de qualquer tema, com o objetivo de convencer o ouvinte. Platão sofreu na pele a experiência 
desastrosa que teve com o tirano de Siracusa, uma cidade na Magna Grécia (localizada na Sicília), 
enquanto tentava aplicar sua teoria do rei-filósofo. 
Desta forma, o valor absoluto dado à ciência e à tecnologia constituiu o cerne da corrente filosófica 
positivista. Na era moderna, matemática e filosofia estiveram juntas na formulação do sistema 
newtoniano, principal representante da física clássica. A Revolução Russa de 1927 seguiu as 
diretrizes de Karl Marx e foi implementada por intelectuais como Lênin. A lógica e a psicologia 
cognitiva estão influindo no avanço da computação. 
filosofia na comunidade
De acordo com o grau de refinamento da interpretação de sua situação no mundo, cada indivíduo 
estabelece uma postura que irá interagir com outras, sob a moldura de uma teoria social. 
O fato é que o ser humano tem uma necessidade de refletir sobre sua própria condição e, refletindo, 
modificar ou justificar sua conduta. Tal teoria pode vir a esclarecer o fenômeno social e filosófico, 
observando o modo pelo qual a humanidade gera suas próprias leis e concebe as leis naturais.
41
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
Os seres humanos tendem a criar histórias e explicações sobre si mesmo e o meio que o cerca, os 
resultados dessa produção intelectual vão desde os modelos explicativos, típicos do senso comum, 
passando pelas narrativas míticas, indo em direção a uma aspiração religiosa, até chegar a uma 
teoria completa de cunho filosófico ou científico, capaz de oferecer razões satisfatórias, ao menos 
momentaneamente, às inquietações da mente humana. 
As teorias subjetivas, criadas por cada indivíduo, pretendem atingir um conhecimento objetivo, que 
seja reconhecido como válido por todos os semelhantes. Para tanto, é necessária a sua divulgação 
perante os outros e, nesse sentido, surge um novo contexto, no qual as explicações do sujeito têm de 
atender exigências gerais, formuladas por terceiros. 
 O intercâmbio dos argumentos e contra-argumentos, pró ou contra uma determinada interpretação, 
faz com que cada um reflita sobre suas proposições de um ponto de vista que vai além do meramente 
subjetivo, indo ao encontro de uma justificação que considere a perspectiva do outro. 
Cabe ressaltar que tais teorias são fomentadas por uma sociedade, por meio de perspectivas 
particulares. Como a filosofia encontra na comunidade o elemento fundamental para sua interação 
social, o teor filosófico de cada teoria, metafísica, ética, ciências, política ou estética, em algum 
momento terá de sair do âmbito do indivíduo, autor de seus enunciados no caso o próprio filósofo, 
no intuito de encontrar a expressão adequada para uma formulação mais ampla, que somente o 
debate intersubjetivo pode proporcionar com suas demandas explicativas. 
Uma vez que o indivíduo só pode pretender formular com clareza as teorias iniciadas pela reflexão 
particular de cada sujeito pensante, depois de ter passado por um longo processo de socialização 
qualquer, fica difícil delimitar exatamente a fronteira que separa o ponto de vista singular do autor, 
das influências da comunidade. 
Duas vertentes podem ser confrontadas: a primeira, a comunitariana, que diz ser toda teoria 
produzida numa comunidade e restrita a seu contexto histórico; outra, universalista, que sustenta a 
possibilidade do discurso teórico se afastar do ambiente no qual foi criado, assumindo uma condição 
geral, capaz de ser válida para toda e qualquer sociedade. 
O universalista seria possível imaginar que o indivíduo teria a habilidade para se afastar das 
influências do grupo em que se insere e encontrar o conhecimento absoluto tanto científico como o 
moral, válido para todos, independente do meio em que vivem, mesmo se ressalvando o falibilismo 
da razão.
Já que a racionalidade e a própria noção de justiça estariam irremediavelmente atreladas a uma 
perspectiva da comunidade, a tendência é de se implantar o relativismo tanto em relação ao 
conhecimento, como também nas leis da política, por meio de uma postura comunitariana radical.
Mesmo que essa explicação possa cair num círculo vicioso, é preciso estar atento para o fato de 
que, caso haja uma solução, esta depende da maneira pela qual se compreende o ser humano. Não 
será possível, por enquanto, esgotar essa compreensão, porém, vale a pena esboçar uma trajetória 
passível de ser seguida por quem queira se afastar dos dois extremos apontados.
42
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
Para superar o impasse provocado pelo confronto dessas duas posições divergentes – as posturas 
comunitariana e universalista, aqui caracterizadas de modo extremado, até mesmo superficial, a 
fim de ressaltarsuas diferenças – torna-se necessário examinar como é possível ao ser humano 
estabelecer suas teorias e narrativas de uma maneira filosófica. 
É na ação comunicativa que as pretensões de validade dessas teorias são satisfeitas, pela concordância 
de todos, que concebe uma teoria discursiva que solucione a disputa entre comunitarianos e 
universalistas. Assim, por maior que seja a influência que a comunidade pode exercer sobre os 
indivíduos que a compõem, estes terão a possibilidade de elaborarem interpretações divergentes 
umas das outras, e, por vezes, opostas aos conceitos geralmente aceitos pela comunidade. 
As proposições de que os indivíduos estão aptos, nas condições de normalidade fisiológica, a 
produzirem teorias sobre a sociedade e a natureza, que vão além do ambiente em que vivem e, 
por causa disso, para atenderem as exigências de objetividade, precisam do contexto comunicativo, 
inerente à própria sociedade a fim de validarem suas pretensões. 
Isto posto, observa-se que a filosofia e comunidade se complementam de forma produtiva, 
proporcionando ao filósofo um papel social relevante toda vez em que suas teorias são expostas 
à comunidade, seja ela acadêmica ou não. Sempre que houver um debate em torno das ideias 
propostas, alguma interferência ocorrerá. Entrementes, a publicidade, entendida como o domínio 
público para divulgação de ideias, e a comunicação são fatores fundamentais para que a filosofia e a 
sociedade influenciem uma a outra.
Uma alternativa às posições comunitarianas e universalistas se apoia no conhecimento neurológico 
do funcionamento da mente humana. Contudo, se a diversidade de postura de cada indivíduo for 
também gerada pelo ambiente social, é provável que a argumentação alternativa venha responder 
a esse afastamento da sociedade por fatores da própria sociedade, o que exigirá uma petição de 
princípio, sobre qual fator seria capaz de proporcionar ao ser humano o distanciamento indispensável 
para garantir sua liberdade de expressão. 
Se a diversidade de opiniões for uma condição natural alheia aos fatores sociais, sendo parte da 
estrutura inata de cada um, a circularidade estará quebrada e o argumento poderá prosseguir 
para uma melhor formulação, mais apurada. Por enquanto, basta indicar a plausibilidade de uma 
posição que não caia no relativismo social, nem num idealismo da liberdade individual, como se 
pode detectar nas vertentes comunitárias e universalistas.
o papel do filósofo
Os filósofos procuram marcar suas posições diante de toda atividade humana que envolva a reflexão, 
pois em todos os ramos do conhecimento a presença do filósofo pode ser notada, seja defendendo ou 
criticando, sempre na esperança de poder encontrar algum critério ou princípio que justifique uma 
tomada de decisão ou uma argumentação qualquer.
Ao refletir sobre a melhor utilização de uma determinada atividade, cada um estará exercendo 
uma investigação tipicamente filosófica de busca por um conhecimento geral para um fenômeno 
particular.
43
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
A falta de uma função específica para a filosofia, devido ao fato dela procurar discutir todos os 
temas relativos ao entendimento humano, tornou-a uma disciplina de difícil aceitação quanto a sua 
participação social. 
Desta maneira, dadas as exigências de justificação de todos os princípios, a solução filosófica para 
definir a melhor concepção de filosofia está paradoxalmente enredada numa explicação circular que 
os próprios filósofos rejeitam. 
Segundo Antonio Rogério da Silva, o pensamento filosófico está cercado por diversas dificuldades e 
não possui uma resposta definitiva, mas, ainda assim cabe discutir as consequências que posturas 
diferentes podem acarretar. Assim, podem ser destacadas três tendências.
A primeira diz que a filosofia faz parte de uma tradição de pesquisa historicamente arraigada numa 
comunidade. A segunda propõe que, por causa dos equívocos de uma conduta influenciada por 
valores tradicionais, preconceitos, fanatismo e passividade, a melhor atitude para o filósofo seria 
encontrar uma posição fora do contexto histórico, a fim de julgar com moderação as justificativas e 
práticas de cada um. 
Por fim, existem aqueles que não acreditam na capacidade da filosofia fornecer qualquer juízo 
válido para ação humana, em geral, seja reflexiva ou prática e, por causa disso, todo suposto “saber” 
filosófico teria uma condição nula quanto ao aspecto social e serviria somente para a constituição de 
cada um, isoladamente, como uma necessidade poética de autorrealização inerente ao homem, mas 
sem resultados políticos ou epistêmicos imediatos.
o papel de cada filosofia
Evidente que as três perspectivas, aqui destacadas, são simples aproximações com as quais alguns 
traços podem ser detectados em correntes filosóficas como as comunitariana, liberal e entre os 
nietzschianos de várias espécies. Essas simplificações permitem que se abra uma discussão capaz 
de revelar as variantes passíveis de serem adotadas por cada um, segundo suas próprias convicções 
e história.
A posição comunitariana, apesar de aparentar certa plausibilidade, pode cair em equívocos de 
sobrevalorização do papel da tradição. Nem por isso, essa independência do indivíduo, em relação 
à história, deve ser considerado como característica exclusiva de uma tradição liberal, uma vez que 
reações do sujeito podem emergir do ambiente social sem que essa postura esteja de acordo com as 
propostas universalistas do liberalismo.
Uma alternativa individualista que não é tipicamente liberal pode ser apontada naqueles pensadores 
que, depois de Friedrich Nietzsche (1844-1900), procuraram mostrar que a construção do sujeito 
pode ir além da comunidade a qual este sujeito está inserido, graças a uma afirmação da vontade de 
cada um em se superar constantemente. 
Buscando ir além das condições locais nas quais o homem vive, a neutralização do indivíduo perante 
os outros e o afastamento de seus interesses, para os adeptos de uma vontade de poder se superar, 
44
UNIDADE I │ FIlosoFIA DA cIêNcIA
em favor de um interesse geral universalizável, é algo também a ser refutado, a fim de que a vontade 
de cada um prevaleça sobre qualquer generalização. 
Aqueles que abraçam as ideias nietzschianas adotam uma posição de defesa do indivíduo que não 
é necessariamente liberal, já que a difusão universal do liberalismo tenderia a subjugar o sujeito 
numa forma de pensamento único. 
Por sua vez, os liberais formam outra concepção de sujeito, diferente da nietzschiana, que não está 
ligada meramente a uma tradição, no sentido de estar preso a certas práticas compartilhadas por 
uma comunidade específica. Os comunitarianos, entretanto, têm razão em apontar um plano de 
ação próprio do liberalismo que sugere um tipo de vida típico de uma tradição. Todavia, não se 
pode dizer que haja um fim último ao qual as práticas liberais estejam comprometidas, posto que 
cabe a cada um determinar o fim que deseja buscar para realização de seu projeto de vida. A falta 
de um objetivo específico torna a tradição liberal contrária a qualquer imposição da comunidade na 
definição de uma boa vida válida para todos os indivíduos. 
De fato, os liberais estão preocupados com os procedimentos formais adotados para realização de 
um projeto qualquer e não na determinação do fim que deva ser buscado em detrimento de outro.
Por estar preocupado tão somente com os procedimentos que venham a garantir a liberdade do 
indivíduo poder decidir qual a melhor maneira de agir para obter o fim desejado, é que o liberalismo 
não pode ser simplesmente considerado uma tradição entre outras. Pois, o filósofo liberal volta-
se apenas para o exame do modo pelo qual a razão encontra a maneira mais adequada de agir ou 
reconhecer a verdade de um enunciado, sem se preocupar, a princípio, com o resultado que tal 
conhecimento poderá gerar. 
Para evitar a produção de consequências indesejáveis, quando a escolha do fim possa contradizer o 
próprio liberalismo, serápreciso que a norma a ser adotada pelos indivíduos na deliberação tenha o 
reconhecimento universal, isto é, que seja válida para todos os demais, sem contradições.
O filósofo, então, deveria ser aquele que permitisse a abertura de um espaço de discussão das 
diversas concepções e, por meio da razão, garantir que procedimentos neutros proporcionem a 
troca de argumentos e contra-argumentos, a fim de que a correção da proposta em questão fosse 
aceita por todos os participantes do debate, sem uso da força.
O papel do filósofo, nestas circunstâncias, seria o de guardar a posição de um determinado tipo 
de prática refletida, na qual cada um poderia defender uma proposição que pudesse atender as 
exigências de todos os seres racionais, saindo do plano individual e particular para um plano geral 
e universal. 
Perante a sociedade, a posição de alguns filósofos mudam de acordo com o tipo de relação adotada 
pelas diversas correntes filosóficas. Enquanto, os comunitarianos carregam para a filosofia a 
responsabilidade de afirmar uma determinada tradição e de manter práticas respectivas a cada 
uma delas, os nietzschianos procuram, ao contrário, centrar no sujeito toda vontade de sua própria 
realização, devendo o filósofo encontrar as estratégias que permitam a cada um se constituir, 
segundo sua característica sobre-humana.
45
FilosoFia da ciência │ UnidadE i
Já os filósofos liberais sugerem a instituição de um fórum propício para o esclarecimento dos juízos 
e, em consequência disso, a formulação de princípios universais que todos poderiam assumir, a 
partir da perspectiva neutra do debate filosófico, livre das influências, por vezes coercitivas do meio 
social.
A tendência é que cada tradição procure se preservar diante das inovações do contato com outras 
tradições, naquilo que cada uma considere necessário manter para sua sobrevivência.
Nenhuma dessas atribuições está livre de dificuldades quanto ao desempenho de um papel social 
por parte do filósofo. Por ser membro de uma comunidade ou tradição, os problemas de tradução 
entre posições diferentes podem gerar distorções e má compreensão entre os integrantes de grupos 
rivais, quando práticas divergentes entram em conflito. 
A constituição de um indivíduo totalmente oposto a práticas normativas de uma sociedade, voltado 
exclusivamente para sua autorrealização, concebe um sujeito em tensão permanente com o meio 
social. Isso pode levar a um isolamento que contradiz a tendência natural dos seres humanos 
buscarem a cooperação no intuito de executar um projeto qualquer. 
O filósofo, como um indivíduo que também buscará seu próprio fim, em nada terá a dizer sobre 
como os outros deverão se comportar para tanto. Mesmo para sua própria constituição, uma pessoa 
depende de outra. Caso contrário, o esforço de cada um em realizar seus objetivos poderá levar a 
disputas que acabam por tornar cada vez mais difícil o seu alcance. 
Diante do exposto, o filósofo, em nome da imparcialidade, não poderia intervir, impondo uma 
diretriz a todos, ele poderia, no máximo, orientar o debate, a fim de impedir que a coerção pudesse 
ser mobilizada para a validação da proposta problematizada.
Por fim, nem um espaço público neutro, direcionado apenas para solução de disputas em torno de 
normas ou proposições, pode superar a dificuldade da razão em encontrar princípios gerais, com os 
quais todos os participantes e interessados na discussão pudessem dar seu assentimento. 
Assim, o filósofo estaria isento de esbarrar nos problemas esboçados, considerando o envolvimento 
efetivo com uma filosofia em particular, não problematizada e, na sua aplicação, sem qualquer 
obstáculo, no seio de uma sociedade. 
46
unidAdE iiSoCiologiA dA 
CiênCiA
CAPítulo 1
Surgimento da Sociologia
o surgimento da sociologia como ciência
A sociologia teve sua origem com a manifestação do pensamento moderno, quando o mundo social, 
que até então não havia sido incorporado a ciência, passa, por meio da evolução do pensamento 
científico, a ser o enfoque e o objeto de estudo da sociologia. O esfacelamento das bases da sociedade 
feudal e o estabelecimento de uma nova ordem social, ou seja, a consolidação da sociedade capitalista, 
o século XVIII foi referencia para a história do pensamento social e para o surgimento da sociologia.
As revoluções constituiram dois lados de um mesmo processo e possibilitaram o surgimento 
da sociologia, embora, essa palavra só venha ser usada um século depois, em 1930. A revolução 
industrial representa uma vitória da indústria capitalista que converteu grandes massas humanas 
em simples trabalhadores desprovidos de quaisquer privilégios.
Foram inseridas novas formas de organizar as atividades sociais, gerando um trauma sobre 
milhões de seres humanos que tiveram suas formas habituais de vida alterados. Como exemplos 
das mudanças ocorridas, podem ser citados a desaparição de pequenos proprietários rurais, dos 
artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho etc.
O surgimento do proletariado foi sem dúvida um dos fatos de maior importância, principalmente 
pelo papel histórico que ele desempenha na sociedade capitalista.
Os pensadores ingleses que testemunharam estas mudanças não eram especificamente sociólogos; 
eram, antes de tudo, homens liberais conservadores e socialistas. Os precursores da sociologia 
foram recrutados entre militantes políticos, entre indivíduos que participavam e se envolviam 
profundamente com os problemas da sociedade. 
A sociologia é a formação de uma estrutura social muito específica na qual a sociedade capitalista 
impulsiona uma reflexão sobre a sociedade, sobre suas transformações, suas crises, seus 
antagonismos de classe.
47
SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA │ UNIDADE II
O objetivo da revolução francesa, de 1789, não era simplesmente o de mudar a estrutura do Estado, 
mas abolir radicalmente as convenções e instituições tradicionais. Promoveu profundas inovações 
na política, na economia, na cultura e rompeu com costumes e hábitos arraigados na sociedade. 
Durkheim afirmou certa vez que, a partir do momento em que a tempestade revolucionária passou, 
constituiu-se, como que por encanto, a noção de ciência social. A Sociologia tinha como tarefa 
intelectual, discutir o problema de ordem social, enfatizando a importância de instituições como 
a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da 
sociedade.
Abstendo-se de qualquer discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar, a questão da 
igualdade, da justiça, da liberdade, alguns estudiosos da sociologia deveriam orientar-se no sentido 
de conhecer e estabelecer aquilo que denominavam de leis imutáveis da vida social. 
Isolando-as do estudo da sociedade e sendo separada a filosofia e a economia política, aquela 
sociologia procura criar um objeto autônomo, “o social”, postulando uma independência dos 
fenômenos sociais em face dos econômicos. Todavia a sociologia de inspiração positivista, procurará 
construir uma teoria social separada não apenas da filosofia negativa, mas também da economia 
política como base para o conhecimento da realidade social. 
A sociedade positivista não colocará em questão os fundamentos da sociedade capitalista e nem será 
nela que o proletariado encontrará a sua expressão teórica e a orientação para suas lutas práticas.
A partir desse momento a sociologia vincula-se ao socialismo e a nova teoria crítica da sociedade 
passa a estar ao lado dos interesses da classe trabalhadora. É no pensamento socialista que mais 
tarde o proletariado buscará embasamento e respaldo para por em prática suas lutas na sociedade 
de classes. 
Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um desejo de interferir no rumo desta 
civilização, tanto para manter, como para alterar os fundamentos da sociedade que a impulsionaram 
e a tornaram possível. 
Na atualidade poucas pessoas colocam em dúvida os resultados alcançados pela sociologia, no 
entanto no final do século passadoo matemático francês Henri Poicaré referiu-se à sociologia como 
sendo uma ciência de muitos métodos e poucos resultados. 
A existência de interesses opostos na sociedade capitalista penetrou e invadiu a formação da 
sociologia. A divisão causada pelos antagonismos de classe provocam o desentendimento, comum 
por parte dos sociólogos quanto a sua ciência. 
48
CAPítulo 2 
Principais Correntes
As principais correntes sociológicas
Devemos conhecer as principais correntes da sociologia, de acordo com as classificações geralmente 
aceitas: o Positivismo, o Weberianismo e o Marxismo.
Desta forma, a Sociologia pode ser compreendida como uma das ciências humanas que estuda as 
unidades que formam a sociedade, ou seja, estuda o comportamento humano em função do meio e 
os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. 
Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela psicologia, a Sociologia tem uma base 
teórico-metodológica que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando explicá-los, analisando 
os homens em suas relações de interdependência. 
Atualmente, o Estado é o principal financiador da pesquisa desta disciplina científica, o maior 
interessado na produção e sistematização do conhecimento sociológico. 
Cobrindo todas as áreas do convívio humano, desde as relações na família até a organização das 
grandes empresas, o papel da política na sociedade ou o comportamento religioso, a Sociologia pode 
vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a diversas outras áreas do saber. 
Entende-se com isso que a Sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de pesquisa. 
Ainda isso não seja objetivamente alcançável, é tarefa da Sociologia transformar as malhas da rede 
com a qual a ela capta a realidade social cada vez mais estreitas. 
Por meio do conhecimento sociológico, pode-se constituir para as pessoas um excelente instrumento 
de compreensão das situações com que se defrontam na vida cotidiana, das suas múltiplas relações 
sociais e, consequentemente, de si mesmas como seres inevitavelmente sociais.
A Sociologia ocupa-se, nas relações sociais, para então formular generalizações teóricas. Também 
se interessa por eventos únicos sujeitos à inferência sociológica, procurando explicá-los no seu 
significado e importância singulares.
Positivismo
Fonte da imagem: h<ttp://clicksociologico.blogspot.com.br/2012/02/contexto-historico-do-aparecimento-da_22.html>
49
SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA │ UNIDADE II
Foi a primeira construção teórica que surgiu na sociologia e nasceu da síntese que August Comte fez 
do positivismo, sua tradição intelectual contraditória. Adota como ponto de partida a ciência natural 
e tenta aplicar seus métodos no exame dos fenômenos sociais, fundamentando a interpretação do 
mundo exclusivamente na experiência.Desta forma, os primeiros conceitos desta disciplina foram 
elaborados de acordo com analogias orgânicas, três das quais são fundamentais para a compreensão 
sociológica:
a. o conceito teleológico da natureza;
b. a ideia segundo a qual a natureza, a sociedade e todos os demais conjuntos existentes 
perdem vida ao serem analisados e por isso não se deve intervir em tais conjuntos; 
c. a crença de que a relação existente entre as diversas partes que compõem a sociedade 
é semelhante à relação que guardam entre si os órgãos de um organismo vivo.
Weberianismo
Max Weber, o maior sistematizador da sociologia, na Alemanha, elaborou a corrente de pensamento 
denominada Weberianismo, que difere-se do Positivismo quanto à forma de encarar a história.
A história particular de cada sociedade perde importância, sendo valorizada apenas a lei da 
evolução, da generalização e da comparação entre as formações sociais. Sob a análise do pensamento 
positivista, a história é o processo universal de evolução da humanidade.
Weber opunha-se a essa forma de visão positivista. Para ele, a pesquisa histórica é essencial para a 
compreensão das sociedades e permitir o entendimento das diferenças sociais.
O conhecimento histórico, entendido como a busca de evidências, torna-se um poderoso instrumento 
para o cientista social. Segundo a perspectiva de Weber, a caráter particular e específico de cada 
formação social e histórica contemporânea deve ser respeitado. 
Weber consegue combinar duas perspectivas: a histórica, que respeita as particularidades de cada 
sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais gerais de cada faze do processo histórico. 
Assim, o homem passou a ter, enquanto indivíduo, na teoria Weberiana, significado e especificidade. 
É ele que dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação 
propriamente dita e seus efeitos. 
Para Weber (2005), não existe oposição entre indivíduo e sociedade: 
as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada 
indivíduo sob a forma de motivação. O motivo que transparece na ação social 
permite desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo 
age levando em conta a resposta ou reação de outros indivíduos. 
50
UNIDADE II │ SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA
Marxismo
Karl Marx, no entanto, fez diferente. Ele foi o propulsor do materialismo histórico (ou marxismo), 
a corrente mais revolucionária do pensamento social, tanto no aspecto teórico quanto na prática 
que propõe. Com o objetivo de entender o capitalismo, Marx produziu obras de filosofia, economia 
e sociologia. Sua intenção não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas 
propor uma ampla transformação política, econômica e social. Desenvolveu, ainda, o conceito de 
alienação mostrando que a industrialização da propriedade privada e o assalariamento separavam 
o trabalhador dos meios de produção que se tornaram propriedade privada do capitalista. 
Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes o estado representa apenas a classe 
dominante e age conforme o seu interesse. As ideias liberais consideravam os homens, por natureza, 
iguais política e juridicamente. Liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão. 
As desigualdades sociais que dividem os homens em proprietários e não proprietários dos meios de 
produção, Marx proclamava a inexistência de tal igualdade natural e observa que o liberalismo vê 
os homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes desigualdades estabelecidas pela 
sociedade. 
A Revolução Industrial acelerou o processo de alienação do trabalhador dos meios e dos produtos 
de seu trabalho, transformando-o em mercadoria. Marx conseguiu, pela profundidade de suas 
análises, extrair conclusões de caráter geral e aplicáveis a formas sociais diferentes.
Por fim e diante de tamanha inteligência entre tais pensadores, é possível perceber a presença ainda 
marcante, nos dias atuais, das características referentes a cada corrente teórica da sociologia: o 
Positivismo, Weberianismo e o Marxismo. 
Sociologia como ciência
Atualmente, a Sociologia estuda as atividades sociais dos seres humanos, instituições sociais e suas 
interações sociais, aplicando mormente o método comparativo. Esta disciplina tem se concentrado 
particularmente em organizações complexas de sociedades industriais, assim como nas redes 
transnacionais e globalizadas que unificam ou associam fenômenos para além das fronteiras 
nacionais.
Em análise, a sociologia como ciência deve obedecer aos mesmos princípios gerais válidos para 
todos os ramos de conhecimento científico, apesar das peculiaridades não só dos fenômenos 
sociais quando comparados com os fenômenos de natureza, mas também, consequentemente, da 
abordagem científica da sociedade. 
As peculiaridades, no entanto, foram e continuam sendo o foco de muitas discussões, ora tentando 
aproximar as ciências, ora as afastando e, até mesmo, negando às humanas.
51
SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA │ UNIDADE II
Comparação com outras ciências sociais
No começo século XX, sociólogos e antropólogos que conduziam estudos sobre 
sociedadesnão industrializadas ofereceram contribuições à antropologia. Deve 
ser notado, entretanto, que mesmo a antropologia faz pesquisa em sociedades 
industrializadas; a diferença entre Sociologia e Antropologia tem mais a ver 
com os problemas teóricos colocados e os métodos de pesquisa do que com os 
objetos de estudo. 
No que diz respeito à psicologia social, além de se interessar mais pelos 
comportamentos do que pelas estruturas sociais, ela se preocupa também com 
as motivações exteriores que levam o indivíduo a agir de uma forma ou de 
outra. (CRUZ, 2010).
Karl Marx, entre outros, identifica que a pesquisa em economia é frequentemente influenciada por 
teorias sociológicas. A economia diferencia-se da sociologia por estudar apenas um aspecto das 
relações sociais, aquele que se refere à produção e troca de mercadorias. 
Marx pode ser melhor caracterizado como sociólogo por ter compreendido o capital como uma 
relação social entre detentores dos meios de produção e aqueles que vendem sua força de trabalho, 
portanto indo além de uma explicação de cunho econômico.
A partir da década de 1960, também ganham importância às críticas feministas à teoria social 
canônica, as quais progressivamente ganham reconhecimento. Já na década de 1980, o feminismo 
foi incorporado em muitas teorias e pesquisas sociológicas, ainda que as principais reflexões nesta 
área pertençam a pesquisadoras com origem na filosofia como Judith Butler. 
No presente, questões de gênero e sexualidade têm se tornado cada vez mais presentes e não apenas 
como uma área de pesquisa, antes como uma necessária parte de qualquer investigação sociológica. 
Desde o início, a sociologia vem se preocupando com a sociedade no seu interior, isto diz respeito, 
por exemplo, aos conflitos entre as classes sociais. No Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, a sociologia 
estava num estudo sobre a formação da sociedade brasileira e analisando temas como abolição da 
escravatura, êxodos e estudos sobre índios e negros.
A sociologia se preocupou com o processo de industrialização do país, nas questões de reforma 
agrária e movimentos sociais na cidade e no campo e, a partir de 1964, o trabalho dos sociólogos se 
voltou para os problemas sociopolíticos e econômicos originados pela tensão de se viver em um país 
cuja forma de poder é o regime militar.
Além da preocupação com a economia política e mudanças sociais apropriadas com a instalação 
da nova república, volta-se também em relação ao estudo da mulher, do trabalhador rural e outros 
assuntos. Na década de 1980, a sociologia finalmente volta a ser disciplina no ensino médio e 
também ocorreu a profissionalização da sociologia. 
52
UNIDADE II │ SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA
Na atual conjuntura da realidade estatal, fala-se em decomposição dos modelos sociológicos 
clássicos tais como família, sociedade, capitalismo, divisão de trabalho social, consciência coletiva, 
classe social, consciência de classe, nação e revolução. 
Discute-se que o objeto da sociologia deveria ser o indivíduo, o ator social, a ação social, o movimento 
social, a identidade, a diferença, o cotidiano, a escolha racional. Segundo Marshall, (1967):
Os sociólogos não deviam despender todas as suas energias na procura de 
generalizações amplas, leis universais e uma compreensão total da sociedade 
como tal. Talvez cheguem lá mais tarde se souberem esperar. Nem recomendo 
o caminho arenoso das profundezas do turbilhão dos fatos, que enchem os 
olhos e ouvidos até que nada possa ser visto ou ouvido claramente. 
Os críticos contemporâneos da sociologia tradicional costumam comentar que “Na realidade, o que 
esta sociologia denomina sociedade não é senão a confusão de uma atividade social, definível em 
termos gerais – como a produção industrial ou o mercado – e de um Estado nacional” (TOURAINE, 
1984).
Observa-se que a vida social, acompanhada da formação de um novo modelo a partir do qual se pode 
desenvolver uma orientação sociológica mais específica e mais coerente, discutem-se problemas 
relacionados tanto ao método como ao objetivo da sociologia. A controvérsia entre os clássicos 
e os contemporâneos, em certos casos, envolve a tese de que a sociologia é uma ciência pouco 
amadurecida. Todo sociólogo precisa demonstrar um conhecimento de primeira mão daqueles que 
deixaram a sua marca na sociologia.
A pesquisa, experimentação, descrição e explicação, abertas pela ciência da natureza, pouco servem 
para o estudo da realidade social. Os conceitos, tendências, efeitos e outros só se constituem à 
medida que se colhem as configurações e os movimentos da realidade social. O primeiro argumento 
baseia-se na ideia de que a sociologia deveria pautar-se pelo modelo paradigmático das ciências 
naturais. 
O segundo argumento diz respeito a seres dotados de vontade, querer, ideais, ilusões, consciência, 
inconsciência, racionalidade, irracionalidade. Os fatos e acontecimentos sociais são sempre materiais 
e espirituais, implicando indivíduos, família, grupos, classes, movimentos, comportamentos, 
fantasias, valores, realidades, utopia, ideologia, sofrimento, resignação etc.
O terceiro analisa a sociedade burguesa, industrial, capitalista, moderna e informatizada, que se 
modifica ao longo do tempo. O dilema indivíduo-sociedade continua essencial na necessidade de 
entendimento das relações sociais, espaços, liberdade e condições de opressão. 
Cada cientista social tende a descrever e estudar o seu universo social, de acordo com os fatos e 
os valores da sua época. No entanto, nem a ciência nem a técnica alteram a natureza essencial das 
relações, processos, apropriação, distribuição, dominação ou poder. 
53
SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA │ UNIDADE II
três épocas do pensamento sociológico
São três as épocas de principal interesse para o estudo sociológico, razoavelmente nítidas em termos 
de teorias, modelos, paradigmas, ciência normal, revoluções científicas, caráter cumulativo do 
conhecimento científico e rupturas epistemológicas. 
A primeira fase foi em uma época fundamental da história da teoria sociológica. Teve como 
pensadores os nomes Tocqueville, Comte, Spencer, Marx e Durkheim, além de Saint-Simon, Lorenz 
Von Stein e outros. Estes são autores que fundam a sociologia, delimitando o seu objeto e formulando 
o seu método. Os seus principais temas foram: ordem e progresso, evolução e diferenciação, normal 
e patológico, racional e irracional, racionalização e burocratização, sagrado e profano, povo e 
cidadania, classe e luta de classes, movimento social e partido político, revolução, contra revolução, 
dentre outros. 
A segunda fase, que se deu em fins do século XIX e início do século XX, oriunda de uma crise 
mais fecunda de efervescência intelectual, buscou alternativas para o evolucionismo, o positivismo, 
o empirismo, o historicismo e o marxismo, em função das novas dimensões da realidade que o 
pensamento clássico parecia não contemplar. Foi então que Dilthey, Weber, Tonnies, Pareto, Alfred 
Marshall, Pierce, Freud, Husserl, Saussure e outros produziram as suas contribuições. Essa foi, sem 
dúvida, a revolução mais importante na história da sociologia, depois de sua fundação em meados 
do século XIX. 
A terceira fase, a sociologia contemporânea, coloca-se mais na esteira dos revolucionários. Dentre 
seus principais nomes podemos citar Parsons, Merton, Lazarsfeld, Goffman, Lévi-Strauss, Torraine, 
Bourdieu, Boudon, Giddens e Elster, entre outros. Eles propõem recriar a sociologia, libertando-a 
mais ou menos dos clássicos, sem deixar de buscar contribuições ocasionais, isoladas, fragmentadas 
daqueles. São inspirados nas sugestões de filósofos, historiadores das ciências, cientistas, dos quais 
destacam-se Heidegger, Sartre, Merleau-Pontu, Bachelard, Foucault, Wittgensteine Jakobson, entre 
outros. Baseiam-se em reflexões compreendidas nos debates sobre paradigmas, ciência normal, 
revoluções científicas, caráter cumulativo do conhecimento científico, epistemologias globais ou 
integrais, epistemologiasregionais, rupturas epistemológicas, epistemes. 
Na sociologia dizem respeito à historicidade do social, que possuem os requisitos lógicos 
fundamentais da interpretação. A controvérsia sobre paradigmas clássicos e contemporâneos passa 
pelo problema da historicidade da realidade social. Trata-se de aperfeiçoar, de desenvolver a teoria 
sociológica, sem perder a dimensão histórica da realidade social. 
O declínio da perspectiva histórica é algo relativamente generalizado na sociologia e no pensamento 
social contemporâneos. A influência dos paradigmas emprestados das ciências físicas e naturais tem 
levado certos sociólogos a uma espécie de pasteurização da realidade social, o que evidentemente 
se expressa no conceito, na interpretação. Aos poucos, as tecnologias da pesquisa, matemáticas, 
informáticas invadem o objeto e o método da sociologia. 
As teorias sociológicas do passado e do presente organizam-se, em última instância, com base em 
princípios explicativos fundamentais, que constituem os fundamentos dos paradigmas conhecidos 
na sociologia. 
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UNIDADE II │ SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA
Importante ressaltar que, na linguagem da sociologia, um paradigma compreende a articulação dos 
momentos lógicos essenciais da reflexão, aparência, essência, parte e todo etc. – que se traduzem 
interpretativamente. 
Podemos dizer que as teorias sociológicas contemporâneas lidam com alguns princípios explicativos 
fundamentais, comuns e multiplicam-se. Vista assim, em certos aspectos, a controvérsia sobre 
paradigmas, bem como teorias e paradigmas, ajuda a explicar determinadas singularidades da 
sociologia, como ciência social. Vejamos alguns:
O primeiro diz que a sociologia pode ser considerada uma ciência que se pensa criticamente, todo o 
tempo. Ao segundo, cabe reconhecer que o objeto da sociologia é a realidade social em movimento, 
formação e transformação. O terceiro afirma que a sociologia é uma forma de autoconsciência 
científica da realidade social, que tem raízes nos impasses, nos problemas, nas lutas e nas ilusões. O 
quarto diz respeito à relação entre ciência e arte, teoria e prática, conhecimento e poder, ou teoria e 
prática. O pensamento sociológico clássico sempre tem algo a ver com a prática. No quinto, o sujeito 
do conhecimento é individual e coletivo. O sociólogo dispõe de todas as condições de estabelecer 
o seu objeto de estudo e evidencia o estilo pessoal do autor no escrito e na interpretação, e ora 
expressa o conhecimento como individual ora como do conhecimento geral, alternando os sujeitos 
eu e nós.
Por fim e diante do contexto descrito, o conceito de paradigma é sobre um estudo que deixa de lado 
a acepção que privilegia o conjunto de hábitos comuns aos que se dedicam ao ensino e pesquisa, às 
codificações estabelecidas em manuais, aos laços institucionais e ao jargão próprio de cada grupo de 
sociólogos reunidos em centros, instituições, departamentos e outros lugares.
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Para (não) finalizar
Analise o texto abaixo de Sirinelli:
Mais que à direção da paisagem ideológica, é a uma observação da 
localização dos intelectuais — e eventualmente de seu deslocamento — no 
interior dessa paisagem que o historiador deve particularmente se dedicar. 
Como salientava com razão Jacques Julliard, “é tempo de lembrar, contra 
os excessos de um comparatismo intelectual hoje muito em moda, que as 
ideias não passeiam nuas pela rua; que elas são levadas por homens que 
pertencem eles próprios a conjuntos sociais”. Na verdade, na fronteira 
entre a história das ideias políticas, e a história dos intelectuais, um vasto 
campo de pesquisa, o da aculturação dessas ideias no meio dos intelectuais, 
se abre ao pesquisador. E a exploração desse campo se fará pela reinserção 
dessas ideias no seu ambiente social e cultural, e por sua recolocação em 
situação num contexto histórico.SIRINELLI, Jean–François. (1996) Os 
intelectuais. In: Rémond, René. (org.) Por uma história política. Rio 
de Janeiro, Editora UFRJ, p. 257–258.
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referências
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