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Algodao do Plantio a Colheita - Aluizio Borem UFV

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Prévia do material em texto

Aluízio Borém 
Eleusio Curvelo Freire 
Editores 
r,J 
ALGODAO 
do Plantio à Colheita 
EdiTORA 
UFV 
Universidade Federal <le Viçosa 
2014 
Prefácio 
É motivo de orgulho para a Universidade Federal de Viçosa 
(UFV) o lançamento deste livro, de interesse para técnicos, 
agricultores e estudantes de Agronomia. Há muito tempo a UFV vem 
sobressaindo-se como um dos maiores polos de formação de 
agrônomos do País e de desenvolvimento tecnológico. 
Os produtores brasileiros contaram com a pesquisa e o 
desenvolvimento tecnológico, aplicados à cotonicultura, empreendidos 
pela Embrapa, Esalq, Unesp, IMA-MT e UFV, entre outras instituições, 
para alcançar o salto de qualidade na produção de algodão que o Brasil 
experimentou nesses últimos dez anos. Na safra 2011/ 12, o País alcançou 
a terceira colocação mundial em exportação - com o recorde de 1,04 
milhão de toneladas enviadas ao exterior - e, a cada ano, vê ampliada 
sua importância como ator na cadeia de valor em termos de 
quantidade e qualidade de plmna produzida. Fechamos a safra 
2011/12 com produção de 1,9 milhão de toneladas. 
O foco deste livro são as informações técnicas necessárias à 
cotonicultora e, portanto, de interesse do técnico em contínua 
formação e atualização. Escrito por especialistas nos diversos temas 
abordados, esta obra é essencial à fmmação e atualização dos técnicos 
interessados na cultura do algodão, por conter informações técnicas 
atualizadas e intensamente aplicadas à realidade brasileira. 
Trata-se, pois, de uma obra, sem dúvida, extremamente útil à 
cotonicul tura brasileira. 
Boa leitura! 
Os editores. 
Sumário 
1. Aspectos econômicos, 9 
2. Organização dos produtores, 3 1 
3. Botânica, 49 
4. Exigências edafoclimáticas, 67 
5. Preparo do solo e plantio, 90 
6. Melhoramento no Brasil, 113 
7. Variedades transgênicas e seu manejo, 133 
8. Nutrição, calagem e adubação, 156 
9. Reguladores de crescimento, 1 77 
1 O. Manejo de plantas daninhas, 199 
11 . Manejo de pragas, 217 
12. Manejo de doenças, 250 
13. Manejo da irrigação, 271 
14. Colheita, 295 
ASPECTOS ECONÔMICOS 1 
Lucilio Rogerio Aparecido Alves1 
Fábio Francisco de Lima2 
Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho3 
Histórico e Evolução da 
Cotonicultura Brasileira 
O Brasil é um dos principais exportadores mundiais de 
algodão, possuindo atualmente a segunda melhor média mundial de 
produtividade. Tendo passado por transformações importantes nos 
últimos 20 anos, a cotonicultura brasileira se configura hoje como um 
dos setores mais modernos da agricultura nacional. 
A cotonicultura brasileira moderna tem o ano de 1996 como 
marco histórico. Antes desse ano, o algodoeiro era cultivado 
principalmente em pequenas propriedades, concentradas no 
Sul/Sudeste do País, com nível tecnológico que podeiia ser 
considerado baixo para os padrões atuais. Posteriormente, formou-se 
uma cotonicultura empresarial, de grandes propriedades e expandindo 
pelo Centro-Oeste e oeste baiano. 
1 Professor Doutor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Quctroz" (ESALQ). Universidade 
de São Paulo (USP). E-mail: lralves@usp.br. 
2 Engenheiro Mestrando. Pesquisador da ESALQ/USP. E-mail: ffagro@gmai l.com 
J Professor Titular da ESALQ/USP. Pesquisador da ESALQ/USP. E-mail: jbsferrc@usp.br 
10 All'es, lima e Ferreira Filho 
O cultivo do algodoeiro no Brasil se expandiu a partir de 1930 
com incentivos governamentais, devido à crise do café (MAPA, 
2007); já em meados da década de 1970, a cotonicultura tomava força 
e se concentrava no Paraná e São Paulo, s ituação que prevaleceu até 
meados da década de 1990 (Figura 1. 1 ). 
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Figura 1.1 - Microrregiões produtoras de algodão no Brasil - 1990. 
Fonte: IBGE, 2013. 
... ... . .. 
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No entanto, em meados da década de 1980, uma série de 
fatores levou à desorganização completa da cotonicultura nacional. 
Entre eles pode-se destacar o aparecimento do bicudo (praga), os altos 
custos de produção, a redução dos preços internacionais e o fato de a 
cultura ser então característica de pequenos produtores e arrendatários, 
o que dificultou a adaptação do sistema à nova realidade do mercado. 
A crise perdurou até meados da década de 1990, quando se 
iniciou uma nova fase para a cotonicultura no Brasil, com novo 
delineamento do mapa produtivo. Nessa etapa, o cultivo do algodoeiro 
migrou principalmente para o cerrado (Figura l .2) e, diferentemente 
do modelo anterior, passou a realizar-se em grandes propriedades, 
com processo de cultivo tecnificado, com surgimento de fundações e 
associações de produtores e implantação de programas estatais. 
Aspectos econômicos 1 I 
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Figura 1.2 - Microrregiões produtores de algodão no Brasil - 2011. 
Fonte: IBGE, 2013. 
O deslocamento da cotonicultura para o Centro-Oeste, 
promovida por produtores de soja, estabeleceu um novo padrão 
produtivo, embasado no aumento do rendimento da terra e de mão de 
obra e também na n1elhoria da qualidade da fibra. A partir da metade 
da década 1990, esse deslocamento foi ainda fortalecido por ser uma 
forma de diversificação de risco, uma vez que o cultivo da soja 
oferecia grande risco nessa região. Além disso, a consolidação da 
cotonicultura no Centro-Oeste criou um grande estreitamento entre 
produtores e fornecedores e, tendo gerado ainda inovações 
institucionais, como o modelo inédito das fundações de pesquisa 
vinculadas ao setor, permitiu otimizar os aspectos produtivos através 
da articulação vertical do segmento agrícola e o fornecimento de 
tecnologia genética. 
A mudança para novas fronteiras agrícolas do cultivo do 
algodoeiro no Brasil resultou, nas últimas décadas, em drástica 
redução na participação da região Sul na produção brasileira 
(Figura 1.3). Neste cenário, constata-se a saída dos produtores menos 
eficientes da atividade, com a -consequente elevação da produção e 
produtividade. Em contrapartida, o Cenh·o-Oeste entrou na nova fase 
da cotonicultura, finnando-se como principal produtor nacional. 
12 
2 100,0 
1.950,0 
1,600.0 
1.650.0 
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i 1.350,0 
0 
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g 1.050 ,0 
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900.0 
750.0 
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450,0 
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150.0 
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Alves, lima e Ferreira Filho 
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Figura 1.3 - Evolução da participação por região na produção 
brasileira de algodão. 
Fonte: CONAB, 2013 . 
O Norte/Nordeste também acompanhou este processo de 
intensificação da produção, tendo-se tornado, a partir do ano 2000, a 
segunda maior região produtora do País devido à substituição do 
cultivo de algodão arbóreo pelo herbáceo no oeste baiano. 
Atualmente, a expansão de área cultivada na região compreendida 
pelo Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) vem aumentando 
sua participação na oferta inten1a de algodão. 
Os dados apresentados na Figura 1.4 mostram de forma 
precisa a época da mudança da cotonicultura do Sul do país para o 
cerrado. Nos anos 1980, Paraná e São Paulo dominavam a produção 
de algodão brasileira, que começou a decair de 1990 até 1996 e então 
se estabilizar. A partir de 1996, o Mato Grosso disparou na escala de 
produção e se firmou como principal produtor de algodão no Brasil já 
na safra 1997/98, registrando crescimento de 2.585% no período de 
1996 até 2011. No mesmo período, Goiáscomeçou a tomar espaço, 
ressaltando-se que até 2001 se caracterizava como o segundo maior 
produtor. Essa posição, contudo, foi ocupada a partir de 2002 pela 
Aspectos ec:011ô111ico., 13 
Bahia, que apresentou crescimento de 456% na produção de 1996 até 
a safra 2010/11. 
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1 000.0 - - - ---------- ------------,. 
900.0 - - - --- · 
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400,0 ~------ ------ - - ---t-- 11;.,,._- -,.-~--
Figura 1.4 - Evolução da produção de pluma de algodão nos principais 
Estados produtores brasileiros. 
Fonte: CONAB, 2013. 
É importante ressaltar que a nova cotonicultura brasileira não 
obedeceu a mn padrão tradicional evolutivo, pois ela j á "nasceu" 
moderna. No final da década de 1990, quando ocorreu a forte 
recuperação do setor, investimentos em tecnologias, uso de variedades 
adaptadas, substituição do algodão arbóreo pelo herbáceo e o modelo 
empresarial da soja permitiram elevação na produção, a despeito da 
diminuição de área, o que se fez com fo11es elevações na 
produtividade. A introdução do modelo empresarial da cultura da soj a 
na nova cotonicultura brasileira teve ainda outras consequências, 
tendo a primeira delas sido a modificação no tamanho da propriedade 
padrão, já mencionado. Até 1996/97, a característica predominante da 
cotonicultura no País era de propriedades com até 100 ha. Por outro 
lado, com a mudança para o Centro-Oeste, esse modelo padrão passou 
para propriedades com área superior a 2.500 ha (FERREIRA FILHO 
et ai., 2010). 
14 Alves. Lima e Ferreira Filho 
Não menos importante para o avanço da produção de algodão, 
foi a modificação do processo de colheita, que atualmente é 
mecanizado quase integralmente no Brasil. A topografia plana do 
cerrado permitiu o melhor aproveitamento de máquinas em escala, 
como j á acontecia no caso da soja . Aliado ao clima do cerrado, o uso 
de colheita mecânica permitiu ganhos significativos na qualidade da 
fibra . 
O ponto mais recente da evolução tecnológica da 
cotonicultura é a tardia inserção do algodão geneticamente modificado 
(OGM) no País. Atualmente (2013), 12 eventos transgênicos de 
algodão estão aprovados pela Comissão Técnica Nacional de 
Biossegurança (CTNBio ), sendo a primeira liberação em 2005 
(ALVES et al., 2012). Entre os eventos liberados estão o algodão 
resistente a insetos (RI), tolerante a herbicidas (TH) e os resistentes a 
insetos e tolerantes a herbicidas (RI/TH), cujas quantidades de área 
plantada estão descritas na Figura 1.5. Segundo Céleres (2012), no 
total, o Brasil plantou na safra 20 12/13 o estimado a 550 mil hectares 
de algodão transgênico, equivalente a 50, 1 % da área total cultivada -
1,09 milhão de hectares. Esta rápida adoção de OGM nos últimos anos 
vem auxiliar o crescimento da produção nacional de algodão. 
1800 
1650 
1500 
1350 
1200 ~ 
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600 
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150 
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2004/ 05 
60"1. 
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50% 
- 40¼ 
30% 
25% 
- - 20¼ 
2005/ 04 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/ 11 2011/12 2012/13 
Figura 1.5 - Evolução na área plantada de algodão e representatividade 
do a lgodão beneticamente modificado no Brasil - safra 
2004/05 a 20 12/ 13. 
Fonte: CÉLERES, 20 12. 
Aspectos económicos 15 
Da safra 1996/97 até a 201 O/ 11, a produção aumentou 494%, 
acompanhando o salto de produti vidade de 167%, enquanto a área 
plantada nesse mesmo período cresceu 1 13%. Porém, nota-se que 
desde a crise da década 1980 a área plantada segue uma linha de 
tendência decrescente (Figura 1.6). 
5500 .....--------------- ----------y 4 180 
5250 3m 
5 000 3.800 
◄ 750 3.610 
4,500 ~~ 
◄ 250 3 2.'.lO 
4 000 3~ 
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3.500 2.660 
2 3 250 2,470 
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2.500 1.900 
2.250 1.710 
2.000 1 5~ 
1™ 1~ 
1.500 1.140 
1.250 950 
1.000 760 
750 570 
500 .W,,..~-~=-- ---- --------------+~ 
250+--- - ------- ----- --- ---- --------t 190 
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- Atea - Produç-30 - Produtividade N 
Figura 1.6 ~ Evolução da área, produção e produtividade do algodão 
no Brasil. 
Fonte: CONAB, 201 3. 
O crescimento na produção é retomado em 1997/98, havendo 
grandes oscilações a cada safra devido às peculiaridades no mercado. 
No período entre os anos-safra de 1976/77 e 1995/96, a taxa de 
crescimento médio de produtividade foi de 6,9% a.a.; e de 8,0% a.a., 
entre 1995/96 e 2011 / 12. Esse impulso na década de 1990 foi 
estimulado pela desvalorização da moeda brasileira e pelas políticas 
tarifárias, que deram início a um período de restrição das importações, 
forçando o mercado doméstico a se abastecer com algodão brasi leiro. 
No período da crise da cotonicultura nas décadas de 1980 e 
1990, o Brasil começou a ser mais dependente de algodão externo, 
pois, enquanto a sua produção caía, o consumo se mantinha 
praticamente estável. De acordo com a Figura 1. 7, no período que 
compreende as safras de 1992/93 a 1999/2000, o Brasil teve a menor 
16 Alves, lima e Ferreira Filho 
produção anual das últimas décadas e importou altos volumes de 
algodão. Nessa época da crise, o País importava, em média, 45,8% do 
seu consumo total desse produto. 
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1 000 t J.000 t 1.000 t 1.000 t 
Figura 1. 7 - Comparativo da evolução as importações, exportações, 
consumo doméstico e produção de algodão no Brasil, 
em mil toneladas. 
Fonte: USDA, 2013. 
No entanto, a nova cotonicultura brasileira tomou o Brasil 
autossuficiente, o qual, neste cenário, passou a exportar volumes de 
fibra de qualidade, diminuindo cada vez mais a necessidade de 
importação. No período de 2004/05 a 2012/13, o País exportou em 
média 39,8% de sua produção. Cabe ressaltar que a produção nacional 
é baseada, em sua maior parte, em algodão de sequeiro, enquanto que 
outros países praticam a cultura irrigada, o que atrelado aos 
significativos avanços no campo da genética demonstra a eficiência 
das novas regiões produtoras. 
A crescente exportação do algodão brasileiro direcionou-se 
aos países asiáticos, sendo a China, Indonésia, Paquistão e Coréia do 
Sul os principais consumidores. A grande representatividade desses 
países como destino das exportações brasileiras se deve ao grande 
Aspectos econômicos 17 
parque de indústrias têxteis naquelas regiões, bem como ao expressivo 
aquecimento de suas economias, principalmente da China. 
Segundo dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex), 
desde 2008 a China vem aumentando sua demanda pelo algodão do 
Brasil, atingindo seu pico em 2012, ano em que houve quebra de 
produção nos Estados Unidos decorrente de desastres climáticos, 
aumento de oferta brasileira e procura de pluma pela China para fazer 
estoque. 
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2010 
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2011 2012 
Figura 1.8 - Principais destinos das exportações de algodão do Brasil. 
Fonte: SECEX, 2013. 
O Paquistão, que em 2008 era o segundo maior importador de 
algodão brasileiro, vem diminuindo o volume de suas importações do 
Brasil, por possível substituição do produto brasileiro pelo australiano, 
que nos últimos anos se consolidou como forte exportador dessa 
matéria-prima. 
18 AIFes. Lima e Ferrd ra Filho 
O Sistema de Comercialização do 
Algodão no Brasil 
A cadeia do algodão no Brasil pode ser dividida em 
fon1ecedores de insumos (T l ), produtores de algodão (T2), 
beneficiadoras (T3), agente de mercado (T4), indústria têxtil e 
confecção (T5 e T6) e atacado/varejo, organizados conforme 
demonstrado na Figura 1.9. 
Indústria de 
defensivos/fertilizantes Gcnética/sc1ncn1cs 
ln<lús1ria de máquinas e 
equipamentos 
___ ---i.. _________ _.... ____ __,.. ____ ___ _ 
Produlorcs 
"empresarias" 
Produtores 
"tradicionais" _________ _._ _________ __. ____ ...,..... __ _ 
Beneficiador 
intennediário 
Exportação 
Fiação 
Beneficiamento 
próprio 
Comerciantes 
Tecelagem 
Decomçüo 
Beneficiador 
"parceiro" 
Malharia 
Cooperativas 
Indústria 
Beneficiamento 
Técnicos 
Figura 1.9 - Estrutura da cadeia produtiva do algodão. 
Fonte: ALVES, 2006. 
T1 
T2 
T1 
T~ 
Ts 
Th 
As características dos setores são diferentes quanto à forma de 
regulação do mercado. Enquanto na cotonicultura as instituições 
públicas controlam as regras que condicionam o mercado e os fluxos 
de produção, o setor de vestuário é regido pelas empresas do varejo. 
As fiações são governadas diferentemente pelas tecelagens: as 
primeiras realizain a produção em larga escala e são politicamente 
Aspectos econômicos 19 
organizadas; as tecelagens são mais atomizadas, não dispondo de 
representatividade de instituições. 
De modo geral, os setores da cadeia do algodão não 
funcionam com intensa verticalização, embora as modificações 
observadas na produção nos últimos anos também tenham trazido 
algumas alterações neste aspecto. Em particular, com o advento da 
"nova cotonicultura" no Brasil, o produtor, que antes comercializava 
algodão em caroço, eliminou a algodoeira como intermediário e 
integrou ao seu processo o beneficiamento. O produtor agora 
comercializa algodão em pluma, produto de maior valor agregado. 
Além disso, a produção em larga escala e a forma de organização das 
associações dessa nova fase da cotonicultura permitiram ao produtor 
ter maior poder de negociações perante os fornecedores de insumos, 
aumentando sua competitividade no mercado do algodão. 
Mecanismos de formação de preços do 
algodão no Brasil 
A fonnação de preços do algodão em pluma no Brasil 
depende das diferentes cotações das bolsas de mercadorias, variação 
no prêmio, taxa de câmbio, perspectivas de produção mundiais e 
classificação da pluma. 
A classificação da pluma é o primeiro passo para se entender a 
formação de preços do· algodão. Atualmente, o algodão pode ser 
classificado pelo sistema visual ou, principalmente, por intermédio de 
equipamentos automáticos denominados High Volume Instruments 
(HVI), que têm como parâmetros de classificação padrões universais 
adotados pelos principais países produtores e consumidores de 
algodão no mundo. Nesse sistema, o algodão é classificado conforme: 
comprimento, uniformidade, micronaire (resistência) e cor. O algodão 
é ainda classificado por tipo, em escala que no Brasil tem por base o 
tipo 41-4. Um algodão do tipo 31-4 é um produto de melhor qualidade 
do que o do tipo 41-4, enquanto mn do tipo 5 1-5 é um algodão pior. 
Com base nesses parâmetros, são determinados os valores de ágios e 
deságios dos preços nos mercados. 
20 Alves. Lima e Ferreira Filho 
Essa classificação é realizada pela BM&FBovespa, pelas 
associações de produtores, e por empresas privadas prestadoras desses 
serviços. A classificação por esse método não é obrigatória em tennos 
legais, mas os agentes procuram esse procedimento por considerar que 
facilita a comercialização da pluma e para efeito de comparação. A 
classificação por HVI já é feita nos Estados Unidos desde o início da 
década de 1980 (FERREIRA FILHO et al., 201 O). 
O parâmetro de base para a formação do preço internacional é o 
preço do produto na bolsa de Nova York (ICE Futures US), onde há 
cotações diátias em mercado futuro de algodão em pluma. Nas vendas 
antecipadas e futuras, boa parte dos negócios internacionais usam 
contratos realizados nessa bolsa, que acabam sendo referência para 
balizar os preços no mercado interno brasileiro. As cotações de bolsas 
são divulgadas em cents de dólar por libra-peso ( cents de US$/lp) e 
podem ser convertidas em centavos de reais por libra-peso ( cents de 
R$/lp). Uma libra-peso equivale a 0,453597 kg. Para transformar uma 
quantia de libra-peso em arroba (@), multiplica-se por 33,069, para 
transformar uma quantia de libra-peso em kg, multiplica-se por 2,2046. 
Outra referência importante como formador de preços 
internacionais é o Cotton Outlook de Liverpool, que publica o índice 
Cotlook A. Este índice tem como base o algodão classificado como 
Middling, com fibra 1-3/32" e visa apresentar a média das cinco 
cotações mais baratas de uma seleção das principais regiões ofertantes 
de algodão no mundo (COTLOOK, 2012). A base é o produto posto 
no Extremo Oriente. 
Para o mercado interno, as negociações são baseadas no 
indicador Cepea/Esalq do algodão em pluma. Este índice surgiu da 
parceria entre a Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F) e o Centro de 
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), diante da 
necessidade de um índice diário que expressasse o preço do mercado 
fisico para liquidação de contratos futuros. O índice elaborado pelo 
Cepea representa uma média aritmética dos valores praticados no 
mercado físico pelo algodão do tipo 41-4, fibra 30/32", sem 
característica e sem ICMS. 
Na comercialização da pluma de algodão, os principais 
tributos incidentes são o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e 
Serviços (ICMS), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade 
Aspecros econômicos 21 
Social (Cofins) e o Programa de Integração Social (PIS), no caso de 
pessoas jurídicas; e a Contribuição Especial para a Seguridade Social 
Rural (CESSR - antigo Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, 
Funrural), no caso de pessoa ílsica. O ICMS incide sobre cada 
operação ainda que diferido para operação seguinte dentro de cada 
estado e entre estados (FERREIRA FILHO et ai. , 201 O). 
O mecanismo de tributação é tido como causador de 
problemas para a competitividade da cadeia algodoeira no Brasil. 
Atualmente, diversas unidades da federação possuem alíquotas e 
fonuas de arrecadação diferenciadas no sistema agroindustrial do 
algodão, além de possuírem programas paralelos de fomento e 
restituição de tributos, dentre outros (Tabela 1.1 ). 
Os estados que são, simultaneamente, produtores e grandes 
consumidores de algodão adotam um sistema de diferimento do 
ICMS, o que acaba por determinar, inclusive, alterações nos valores 
de comercialização da pluma. Este fato pode ser constatado com o 
acompanhamento dos preços no Estado de São Paulo, por exemplo, no 
qual os produtores acabam recebendo preços mais elevados que nas 
demais regiões. 
Tabela 1.1 - Alíquota de Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e 
Serviços (ICMS) e programas de incentivo nos principais 
estados produtores/comercializadores de algodão em 
pluma no Brasil 
Estado Alíquota de ICMS 
Programa de 
lncentivo/ Ano 
Incentivo 
Ala!!ons 0% com diferimento 12% Não h:m Não tem 
Bahia 0% com diferimento 125 
Proalba ( 10% do 
50%/2001 
ICMS+ 1.2%) 
Ceará 0% com dife rimento 12% Não tem Não tem 
17%, com n:dução de 
Proalgo - F'ialgo 
Goiás 70,59 na base de 12% 
(15% dos 75% 
75%/1999 
cúh:ulo 
que não são 
recolhidos) 
17%, com redução de 
Proalmat - Facual 
Mato 70.59 na base de 12% 
(15% dos 75% 
75%/1997 
Grosso cálculo 
que nilo sào 
recolhidos)Maio Pdagro ( 15% dos 
Grosso do 0% com difrrimento 12% 75% que n:Jo são 753/.J 199'> 
Sul recolhidos) 
C0n1inua .. 
22 Alves, lima e Ferreira Filho 
Tabela l I - Cont 
E.~tado Aliquo1n de ICMS 
Programa de lnccnlivo/Ano 
Incentivo 
Minas 
0% com diferimento 
12% Proolminas ESALQ + 
Gerais 7% pnrn NE (0.826% do valor) 9%12002 
Poraiba 0% com <lifcrimcnlo 12% Não 1cm Não tem 
Isenção de 80% 
12% de ICMS Pamn:i 18% 
7% pam Nordeste 
Nilolcm destacado dentro 
do estado 
12% para Sul e 
São Paulo 0% com diferimento Sudeste N11olem Não tem 
7% para o Norte 
Distrito 
17% 17% 
Pode reduzir n base de Pode reduzir 11 Não tem Nilo tem 
Federal 
cálculo base de cálculo 
12% com redução 
Maranhão 0% com diferimento de 60% na base Nilo tem Não tem 
de cálculo 
Isenção de IO0¾ 
Tocantins do ICMS 
destacado 
Isenção de 100% 
do ICMS 
destacado nos 
7% para Sul e primeiros anos. 
Piaui 18% 12% restante do Não tem 70% nos três anos 
Pais seguintes para 
regimes especiais 
liberados pelo 
governo 
Fonte: FERREIRA FILHO et ai., 20 l O. 
Outras políticas públicas podem ainda influenciar a formação 
do preço do algodão no Brasil. O Prêmio Equalizador Pago ao 
Produtor (Pepro ), por exemplo, é "uma subvenção econômica ( em 
prêmio) concedida ao produtor rural e, ou, sua cooperativa que se 
disponha a vender seu produto pela diferença entre o Valor de 
Referência estabelecido pelo governo federal e o valor do Prêmio 
Equalizador arrematado em leilão, obedecida a legislação do ICMS 
vigente em cada Estado da Federação" (CONAB, 2012). 
A expansão territorial da cotonicultura brasileira resultou em 
uma ampliação do período de colheita em nível nacional, com reflexos 
na sazonalidade de preços. Esse fenômeno teve reflexos profundos na 
comercialização, geralmente pouco notados. Até o início da década de 
1990, a entressafra do algodão se iniciava con1 o final da colheita da 
região Sudeste, no mês de julho, prolongando-se até o início do mês 
de março do ano seguinte. Atualmente, a colheita do algodão no Brasil 
vai de março a setembro de cada ano. 
Aspectos eco11ó111icos 23 
Os dados mostrados na Figura 1.1 O ilustram a dificuldade de 
se realizarem previsões de preços no mercado do algodão, dada a 
diferença de comportamento entre os valores dos limites superiores e 
inferiores em diversos meses ( como janeiro, agosto, setembro e 
novembro). No entanto, note-se que a amplitude da dispersão dos 
preços se reduz nos meses compreendidos entre maio e agosto, 
período de maior volume da safra nacional. A evolução histórica dos 
preços do algodão, em valores nominais e deflacionados pelo IGP-DI 
podem ser observados na Figura 1.1 1. 
130,00 -----
125,00 
120,00 1 
115.00 ' 
110,00 -., 
~ 
.E 
105,00 
100,00 
' 
95,00 ·-
90.00 --
85,00 . 
80,00 
e 
~ 
> 
.!? 1õ E 
õi 
E 
e 
..2, 
o 
O) 
a, 
êã 
"' 
:5 
o 
- lndicesazonal - Umlle superior - llmtle inferior 
> g 
Figura l.10 - Variação estacionai (sazonalidade) do preço do algodão 
em pluma em São Paulo, no período 2001 a 2010. 
Fonte: CEPEA, 2013. 
Os preços regionais ta1nbén1 são influenciados pelo frete, 
tanto marítimo quanto o rodoviário para se levar o produto até o porto. 
Cabe ressaltar o fato de as principais regiões produtoras de algodão se 
situarem no Centro-Oeste, região localizada distante dos pontos de 
escoamento de produção e apresentar deficiência na infraestrutura do 
transporte. 
O frete faz parte do cálculo para se avaliar a paridade de 
exportação e importação do produto, que ainda leva em conta o preço 
dos indicadores externos, os prêmios e os custos portuários. Efeitos 
políticos, como tributos, subsídios e taxas sobre a mercadoria, são 
igualmente incluídos nestes ajustes, e, caso se objetive exprimir o 
24 Al11es, Lima e Ferreira Filho 
preço de paridade em moeda local, uma conversão deve ser efetuada 
usando taxas de câmbio. 
C1S.Ct ,--- ----------------- --- ----, 
U1,0 ------- -- - --------·---~---, 
.zzJ..Ol-------
«.10,0 
us.u ~---JlUI 
~.r'< - ----3. 
4273.U L__-~\.-. . 
~ r;u.u ...__- ----"'----'--------Ã-""'· 
i Z2UI ➔---------_, ...,, __ 
1 - 1--------V-- - -l'-li-\-ll-c---f~_,-/J--------- r/JL__-11., 
f m.B +------------1--"'I j..- 1~.,--,~ 
DQ,ll +-----------1 --~~>------~ ~-/!--l=----...1C..:=-1 
i=,-o t----------1-- ------\~- , _Joa:!JI 
1'1Q,(9 +-- --f\-::~,-,,,c--_.,_ ___ __;:~--- -------l 
~~ ~---=~ ~ :.__ _ ___:._-=~ - ----------------1 
'-Ul ~--------- - - - ------ - - ------1 
= +--- -------- - --------------~ 11,111 -1----,--~~ - ~ - ~ - - ~-~--~--~ -~- -~------' t •ssaiaaaasõ- - aªe~õõõssg~~ass•ata~~=-=~~~ 
~Jt; l ~lllilJ~i l 1lll lllil~tt~l il2l~il~lt ; l 
Figura 1.11 - Evolução histórica dos preços do algodão em pluma, 
representados pelo Indicador Cepea/Esalq, nominais e 
deflacionados pelo IGP-DI, base maio/13 = 1,00. 
Fonte: CEPEA, 2013. 
Esse cálculo faz parte da tomada de decisão no mercado, 
demonstrando a concorrência do produto interno versus o externo. 
Assim, por exemplo, como se pode ver da Figura 1.12, em 2001 o 
mercado interno remunerava 1nelhor que a venda do produto para 
exportação. Nesse caso, para o fornecedor era melhor vender no 
mercado doméstico, valendo o raciocínio inverso para o comprador. 
Aspectos econômicos 
◄,IJl5 --------------------------. 
:1Jfl ·---"- - -··- - - -·· - -···- ····•-· -· - - .... - ·--···-•···----·-- --- ·- · ··-· .... -
3,ifi 
3,111 
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3,:11 ··- ·- -· - - - ·--·····-··"· · •·•- - ..... - . ----· - -·-··-·· -•·-•··- --·· .. ·• --· --- -
3,15 .. --- ··-····- · - -··-· ---------·---······--··--- 1111 
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2,115 -- ··- - - --·· ··--·-••"""' ___ ,.... ---- ·-·-····- -···•- ··-·-
2,JO .. - -·--- .. -- ·-·-- ---····-·-·--- - - ·-· - ···- ····--·---··---- . -·. -·· ··-· ··- -
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2.~ --·---·--·------·------.. --····-·- ·-·--·-·-·· -· 
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s 2,10 
~ 1.as 
1,111 ·-·-· ... 
1,15 
1,50 
1~ 
1,31 
1.115 ---=- -- -
0,111 
O,i6 
0,111 
O,L5 
0,30 
0,15 O.Ili ~-r-,,.............--,-,-.,.........-,--y--,-,~-.--T---r-..----.--r-T"""T"""T--.--,--,---,----r---r-ir"""'T"""T"-' 
__ NNN~~~-~~~~~~mg~~~~g~~~~nnn---nNN~ !l~!!gll~!lg 2 ! 8 l~ 8 ilª~~s1;õi§iji§õ§§õ Qr.~Qr.iQr.~Qr.ii~iQ~l~~!Qr.lR~IQr-~Qr.iR~i ------------------------------------aooooooaaooocooooaooooccoooooooooooo 
,,_P■aiUA 
RMI 
25 
Figura 1.12 - Paridade de exportação do algodão (ValorParanagua), 
Free Along Side (F AS) no porto de Paranaguá e relação 
com o Indicador Cepea/Esalq (Ind8diasBRA). 
Fonte: CEPEA, 2013. 
Diferenças regionais na estrutura de produção 
e comercialização do algodão 
Conforme analisado anteriormente, a cotonicultura brasileira 
migrou do Sul/Sudeste para o Centro-Oeste e Bahia, com reflexos na 
estrutura produtiva das propriedades agrícolas. Este tópico tem como 
objetivo apresentar alguns diferenciais aspectos importantes entre as 
principais regiões produtoras de algodão do Brasil. 
Anteriormente à migração da cotonicultura para o cerrado 
( especificamente em 1996), as propriedades modais de algodão se 
encaixavam em módulos de extensão menores que 100 hectares, 
podendo ser caracterizadas como pequenas propriedades para os 
padrões atuais, quando comparadas às situadas nas regiões Centro-
Oeste e Norte. 
26 Alves. Lima e Ferreira Filho 
Novas alternativas para os problemas do cultivo de algodão no 
Brasil, como a elevação dos custos de produção, foram desenvolvidos no 
tempo. De acordo com Fc1Teira Filho, Alves e Gottardo (201 O), o 
primeiro deles foi a introdução do algodão de segunda safra que, em 
vários anos, teve melhor resultado econômico que o cultivo convencional. 
Nesse sistema, produtores cu ltivam a soja mais cedo (mês de setembro) e 
com variedades precoces, para, em seguida, efetuar o plantio de algodão 
(em geral, no mês de janeiro do ano seguinte). 
Já na safra 2008/09, visando à redução do risco e diluição de 
custos fixos, os produtores brasileiros iniciaram a utilização em largaescala do cultivo do algodoeiro no sistema adensado, também 
chamado de cultivo em sulcos estreitos, ou narrow row (NR). Como 
tal tecnologia já era utilizada em outros países, como na Argentina, 
Paraguai e Estados Unidos, e com bons resultados, os produtores 
brasileiros foram ainda mais estimulados a testar o novo sistema. 
A Tabela 1.2 apresenta as áreas da propriedade representativa das 
principais regiões produtoras de algodão, ou seja, o módulo de produção 
típico com maior representatividade em cada localidade. Além disso, são 
detalhadas as áreas algodão safra, algodão 2ª safra 0,76 m e algodão 2ª 
safra adensado dentro de cada uma dessas propriedades representativas. O 
levantamento das infonnações foi realizado pelo CEPEA através de 
reuniões entre pesquisadores, técnicos e produtores em cada região de 
referência, em metodologia deno1ninada painel. 
A área da propriedade representativa é composta por área 
agrícola própria e arrendada, área de preservação permanente, reserva 
legal e área agrícola sem exploração (pousio). De modo geral, nota-se 
que a cotonicultura do cerrado possui padrões de propriedades 
maiores das do Sul/Sudeste do País, conforme mencionado 
anterio1mente. Em nenhuma das regiões analisadas pelo CEPEA 
encontram-se áreas inferiores a l.500 ha (Tabela 1.2), ressaltando-se 
que Bahia e Mato Grosso possuem as maiores áreas. Em Luís Eduardo 
Magalhães (LEM), a propriedade típica é de 6.269,2 ha e, em 
Rondonópolis (RND), de 9.37.5,0 ha.4 
4 
Os dados c~lctados pcl? ~epea foram obtidos pela técnica de painel, que consiste cm reuniões 
entr~ pcsqu1sad~r~s, lecn1cos e produtores em c~da região de referência. No painel, em 
conJ~nto os parllc1p,~ntcs procuram desenhar um sistema típico de produção de dctcnninnda 
localidudc. Todos os itens do custo são dctalh..idos. 
Aspectos eco11ómicos 27 
Tabela 1.2 - Propriedade representativa e área semeada com algodão 
safra, algodão 2fl safra 0,76 m e algodão 2ª safra 
adensado nas principais regiões produtoras do Brasil -
safra 2010/ l l 
Safra 2010/11 
Algodão 2ª 
Algodão 2ª Propriedade 
Estado Local Algodão Safra Safra 0,76 Representativa 
Safra (ha) m(ha) 
Adensado (ha) 
(ha) 
MS CHS 700,0 2.400,0 
SRS 1.500,0 750,0 750,0 6.250,0 
CNP l .000,0 400,0 100,0 5.714,3 
MT 
l. 764,7 CVD 500,0 200,0 
PRM 4.500,0 9.375,0 
GO RVD 
BA LEM 1.500,0 6.269,2 
Obs.: SRS = Sorriso/MT; CNP = Campo Novo do Parec1s/MT; CVD = Campo Vcrde/NlT; 
PRM = Primaverado Leste/MT; RVD = Rio Verde/GO: CHS = Chapadão do Sul/MS: 
LEM = Luís Eduardo Magalhães/BA. 
Fonte: CEPEA, 2013. 
Dessas regiões, com exceção de Primavera do Leste (PRM), o 
plantio do algodoeiro não predomina em área cultivada no verão, 
perdendo em área para o cultivo da soja. Na média dessas regiões, o 
plantio do algodoeiro ocupa 25% da área total, enquanto em PRM 
chega a quase 50% da área. Para o algodão 2ª safra O, 76 m, as áreas 
começam a ganhar espaços nos últimos anos; na safra 2010/11 ocupou 
na média 10% da área total. 
Junto às diferenças na dimensão da propriedade representativa 
está o tamanho do parque de máquinas. Na antiga cotonicultura do Sul 
e Sudeste, onde as propriedades eram menores, os tratores eram de 
baixa potência e a colheita ainda não era mecânica. No entanto, no 
Centro-Oeste ( com a predominância das propriedades de grande 
dimensão) não só é necessário que os tratores sejam de maiores 
potências, bem como a quantidade aumenta conforme o tamanho da 
28 Alves. Lima e Ferreim Filho 
propriedade; os implementos também são maiores em áreas maiores. 
Esse modelo de porte e quantidade elevada de máquinas e 
implementos é indispensável para que o produtor de grandes áreas 
consiga realizar operações de cultivo dentro da janela ideal de tempo. 
Outro ponto importante a se destacar na caracterização das 
regiões é a fonna de captação de recursos para financiar o cultivo do 
algodoeiro ( despesas com insumos, tratos culturais, colheita etc.) que 
estão apresentados na Tabela 1.3. A fonna que apresenta maior 
participação para custear o plantio do algodoeiro, quando comparada 
às demais, é por intermédio de n1ultinacionais, tradings, cooperativas 
e revendas, ressaltando-se que em Campo Novo do Pareeis (CNP) 
60% da lavoura é financiada dessa forma. 
Tabela 1.3 - Formas de financiamento das propriedades representativas 
das principais regiões produtoras de algodão - safra 
2010/11 
Fontes 
Multinacionais, Bancos 
Estado Local Tradings, Públicos 
Próprio Cooperativas e Recursos Outros 
Revendas Controlados 
MS CHS 20,00% 30,00% 20,00% 30,00% 
SRS 35,00% 25,00% 40,00% 
CNP 30,00% 60,00% 10,00% 
MT 
CVD 30,00% 50,00% 20,00% 
PRM 30,00% 50,00% 20,00% 
GO RVD 23,00% 57,00% 20,00% 
BA LEM 37,00% 30,00% 33,00% 
Obs.: SRS = Som so/MT; CNP = Campo Novo do Parec1s/MT; CVD = Campo Yerde/MT; 
PRM = Primavera do Leste/MT; RVD = Rio Vcrde/GO; CI-IS = Chapadão do Sul/MS: 
LEM = Luís Eduardo Magalhiies/BA. 
Fonte: CEPEA, 2013. 
Aspectos eco11à111icos 29 
A captação de recursos para custeio em bancos à taxa de juros 
controlada apresenta a menor taxa de juros ao ano em relação às 
demais fontes. Em contrapartida, é restrita a um limite de valor por 
pessoa física e jurídica, o qual, devido aos altos custos das lavouras de 
algodão, representa um valor relativamente baixo para movimentar as 
atividades agrícolas (de 10% a 40% do custeio total). 
A nova cotonicultura apresenta altos custos por hectare com 
defensivos, o que vem crescendo a cada ano e que, somado às grandes 
áreas cultivadas, resulta em um montante demasiadamente elevado para 
ser coberto com recursos provenientes de bancos ou mesmo do próprio 
cotonicultor. Dessa fonna, a parcela de recursos captados pelos 
produtores junto a tradings e cooperativas tem aumentado nos últimos 
anos. Apesar disso, a parcela de recursos próprios do produtor de algodão 
tem representado em média 30% das suas necessidades de custeio. 
Considerações finais 
Verifica-se, portanto, que a reestruturação da cotonicultura 
brasileira a partir de meados da década dos anos 1990 teve impactos 
importantes no mercado de algodão do Brasil. A nova cotonicultura 
brasileira posiciona-se como uma das mais eficientes do mundo, em 
todos os seus aspectos principais, da produção à comercialização; no 
entanto, há desafios à evolução da atividade no Brasil. A 
intensificação da produção em grandes áreas tem ensejado o 
surgimento de novas e importantes pragas e doenças, o que pode ser 
atestado pela elevação da parcela de insumos químicos no custo de 
produção, cuja solução requer um investimento contínuo em ciência e 
tecnologia. 
Além disso, os desafios logísticos para o escoamento das safras a 
partir de regiões distantes dos portos, um problema antigo, persistem. A 
grande vantagem competitiva da cotonicultura nacional "dentro da 
p011eira" é rapidamente perdida quando se acrescentam os custos 
logísticos e de con1ercialização em geral. Essa perda de eficiência 
causada pelos elevados custos de transporte e de comercialização 
certamente compromete em muito a competitividade da produção 
nacional no mercado externo, fundamental para o incremento contínuo da 
produção brasileira de algodão. 
30 Alves. lima e Ferreira Filho 
Referências 
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institucionais e tecnológicos. 2006. 121 f. Tese (Doutorado cm Economia Aplicada) -
Escola Superior da Agricultura "Luiz de Queiroz'', Universidade de São Paulo. Piracicaba, 
2006. 
ALVES, L. R. A.: LIMA. F. F.; FERREIRA FILHO, J. B. S.; OSAKI, M.; RIBEIRO, R. 
G. Liberações de tecnologias geneticamente modificadas de algodão no Brasi l e no mundo. 
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ADMlNISTRAÇÀO E SOCIOLOGIA RURAL, 50., 20 12. Vitória. Anais ... Vitória: 
Sober, 2012. 
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USDA - UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Forcign Agricult1.tral 
Service (FAS). Disponível em: < http://www.fas.usda.gov/>. Acesso em: jun.2012. 
ORGANIZAÇÃO DOS 
PRODUTORES 2 
Eleusio Curve/o Freire' 
João Luiz Ribas Pessa2 
A organização dos produtores de algodão, nas regiões 
tradicionais de cultivo (Nordeste, Sudeste e Sul), sempre foi 
incipiente, quando muito eles estavam associados em cooperativas de 
produção, que se encarregavam do recebimento do algodão em caroço, 
seu beneficiamento e a comercialização da pluma, do óleo e da torta 
de algodão, com repasse dos lucros aos associados. Porém, até a 
década de 1980, os produtores de algodão do Brasil não tinham a 
pretenção de se organizarem em associações, apesar de esse modelo já 
predominar há décadas nos Estados Unidos e em alguns países da 
África. 
Como resultado dessa organização deficiente, os produtores 
de algodão não conseguiam fazer seus interesses serem respeitados 
nem influenciavam nas políticas para a cadeia do algodão no Brasil. 
Muito pelo contrário, a maioria das decisões tomadas pelo governo em 
benefício dessa cadeia, na realidade, levava em conta sempre as 
demandas da indústria têxtil ou decisões técnicas oriundas da 
tecnocracia do próprio governo. 
Por outro lado, os produtores de soja, constituídos em sua 
maioria por imigrantes europeus, instalados nos Estados do Sul, 
1 Engenheiro-Agrônomo. M. Se. D.S; e Consultor da Cotton Consultoria - Campina Grandc-PB. 
E-mai 1: cottonco nsu horia@gma i 1. com 
1 Engenheiro. Consclhdro da ABRAPA, Diretor da GFN Agrícola SA. 
E-mail: pcssa@abmpa.com.br 
32 Freire e Pessu 
cresceram organizados em cooperativas e, quando sentiram a 
necessidade de se expandir, o que não conseguiam nesses Estados, 
saíram em busca de novas áreas na fronteira da região Centro-Oeste. 
Assim, em meados de 1970, teve início uma leva de migração interna, 
inic iando pelo Mato Grosso do Sul , na região de Dourados, e depois 
para o Mato Grosso, na década de 1980. Esses migrantes adentraram 
regiões onde somente havia pasto e cerrados ralos, com ausência total 
de infraestn1tura ou organização administrativa. Sem ter a quem 
reclamar ou reivindicar, restou aos pioneiros se organ izarem e 
trabalharem, para viabilizar a fronteira do Centro-Oeste. 
Os Primeiros Movimentos de Organização no 
Cerrado 
Nasceram daí as primeiras organizações dos produtores 
buscando viabilizar e criar as condições mínimas necessárias para 
abrir a nova fronteira. Como vinham do Sul, trouxeram a experiência 
e o capital provenientes do lucro das lavouras conduzidas nos Estados 
de origem, ou mesmo investiram o resultado da venda de propriedades 
menores e altamente valo1izadas. Ajudou também a tradição dos 
produtores, que facilitou o crédito junto à rede bancária, permitindo os 
financiamentos das novas lavouras (PESSA, 2011). 
Os pioneiros foram para o cerrado com algum capital 
financeiro e tecnológico e, mais do que tudo, com conceitos de 
organização e trabalho em conjunto. Não havendo a facilidade de 
aglutinação de produtores em cooperativas, primeiro pela existência 
do pequeno número em cada região e segundo pelas distâncias, a 
solução foi criar parcerias entre vizinhos para viabilizar atividades de 
infraestrutura, como estradas, energia. 
A procura por tecnologias de produção levou à criação de 
fundações de pesquisa, corno a Fundação Mato Grosso, Fundação 
Cerrados, ~undaç~o Chapadão, Fundação Goiás e Fundação Bahia, 
q~e, _ associadas a ~mbrapa, toram as grandes responsáveis pela 
d1fusao da tecnologia de plantt0 no cerrado. Os proprietários rurais 
inte~alizaram o capita l necessário para as ins tituições de pesquisa 
fu.n~10narem e gerarem as tecnologias para viabilização das suas 
at1v1dades (PESSA, 2011 ). O algodão só veio para O cerrado após as 
Organi::açâo dos produtores 33 
crises que inviabilizaram seu plantio no Nordeste, Sul e Sudeste. O 
bicudo e políticas públicas erradas acabaram com os plantios no 
Nordeste do Brasil e nos Estados sulistas. 
A Embrapa iniciou o desenvolvimento de tecnologias próprias 
para o ceITado, trabalhando com o Grupo Itamaraty, em Campo Novos 
dos Parecis-MT; depois em associação com a Fundação Mato Grosso 
em Rondonópolis-MT; e, logo em seguida, com as demais fundações 
de Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia, onde foram efetuados os 
trabalhos de adaptação dos cultivares de algodão às condições do 
cerrado. Com o lançamento do cultivar CNP A IT A 90, em 1992, no 
Mato Grosso, os produtores sentiram-se seguros para utilizar o 
algodão como alternativa econômica para a soja. 
Com o algodão mostrando sua viabilidade, começou o 
verdadeiro movimento de organização do produtor. A ideia genial que 
acabou sendo a semente para que os produtores se organizassem foi a 
criação do Programa de Incentivo à Cultura do Algodão do Mato 
Grosso (Proalmat). Essa ideia nasceu nas fileiras dos produtores que 
vinham-se organizando, não só na Fundação MT, mas em diversas 
entidades, como uma fonna de criar um incentivo ao plantio do 
algodão tecnificado no cerrado. Assessores da Fundação MT captaram 
a ideia e elaboraram uma lei propondo a renúncia fiscal de ICMS do 
governo do Estado de Mato Grosso, que estabelecia as condições para 
permitir aos produtores a retenção de 75% do ICMS. Dos 75% do 
ICMS renunciados pelo Estado, o produtor recolheria 15% para o 
Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual), ad1ninistrado por 
representantes de cinco entidades públicas e privadas, qüe 
direcionavam esses recursos para diferentes áreas, como pesquisa, 
transferência de tecnologia, marketing, comercialização, meio 
ambiente, serviço social e educação. O Facual passou a ser gerido 
atendendo às demandas dos produtores encaminhadas pela Associação 
Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), que, juntamente 
com as entidades e pessoas que administravam o fundo, gerenciavam 
os recursos do Facual, através da liberação de recursos para projetos 
analisados e acompanhados pelo Facual. 
A lei que criou o Facual foi posterionnente adotada pelos 
Estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia, com as 
denominações de Pluma, Proalminas. Proalgo. e Fundeagro. 
respectivamente. 
34 
A história da criação da Abrapa e suas 
associadasFreire e Pessa 
É consensual que os produtores de algodão do Brasi l 
conseguiram criar uma das melhores organizações de produtores, 
reconhecida pelo setor público e privado como legítima representante 
de todos os cotonicultores brasileiros. 
O segredo desse sucesso e da credibilidade da associação 
brasileira dos produtores de algodão (Abrapa) e de suas correspondentes 
associadas estaduais - Ampa (Mato Grosso); Ampasul (Mato Grosso do 
Sul); APPA (São Paulo); Amipa (Minas Gerais); Acopar (Paraná); Agopa 
(Goiás); Abapa (Bahia); Amapa (Maranhão) e a Apipa (Piauí) é que estão 
calcadas em princípios éticos que se encontram acima dos interesses 
individuais ou das suas corporativistas. 
Quando da criação da Abrapa em 1999, os produtores 
escolheram eleger uma diretoria provisória com a missão de criar, em 
seis meses, associações estaduais nos principais estados produtores de 
algodão, seguindo os moldes do Estado de Mato Grosso, que contava 
com a Ampa, criada em 1997. O modelo adotado foi de uma 
organização nacional, que representa as associações estaduais, que por 
sua vez representam os produtores de cada região. Dessa forma, a 
Abrapa foi elevada à condição de entidade federativa, com a missão 
de representar as organizações estaduais perante o governo federal e 
entidades privadas da cadeia têxtil no contexto nacional. 
A legitimidade da Abrapa como representante nacional se 
estabeleceu no momento em que todos os Estados discutiram e votaram a 
melhor fonna estatutária de gestão e também ao contar em sua diretoria, 
obrigatoriamente, com representantes de todas as unidades federativas. O 
presidente de cada associação estadual faz parte automaticamente do 
Conselho Diretor, assim como os seus ex-presidentes. 
Os princípios que regem as organizações dos 
produtores 
A Abrapa, desde sua fundação, teve o entendimento de que a 
cotonicultura faz parte de um contexto em que a cadeia têxtil como 
Organização dos produtores 35 
um todo e o governo são partes de uma equação importante para a 
sustentabilidade da cultura. 
Uma cadeia produtiva tem que lembrar que a concorrência 
hoj e não está mais restrita a um país ou nação. Um produto que não 
tenha custo competitivo internacionalmente vai sair do mercado, 
passando a ser produzido em outro país em maior escala, exportando 
empregos e afetando negativamente a balança comercial. A 
sustentabilidade de uma atividade é responsabilidade de todos -
empregados, empregadores, empresas fornecedoras, produtores, 
consumidores e o próprio governo. 
Desde sua fundação, a Abrapa praticou a política de fazer o 
melhor para a classe, sem esquecer o contexto em que está inserida. 
Ao participar em conjunto co1n a indústria têxtil, junto ao governo, da 
discussão dos mecanismos de apoio à comercialização, levam-se em 
consideração os impactos que as decisões conjuntas podem ter para os 
produtores e também para seus parceiros. Essa estratégia de trabalho 
possibilitou que a Abrapa conseguisse do governo a desobrigação da 
classificação oficial e a mudança da padronização de classificação de 
nosso algodão com visível ganho para todo o setor. 
A conquista dos mercados interno e externo 
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), também 
teve papel importante para incentivar os produtores do cerrado. 
Através de empresas capitaneadas pela Santista, que teve a visão de 
que a indústria têxtil para ser competitiva, precisa contar com matéria-
prima produzida no próprio país e de que, não dependendo de 
importação, os estoques possam ser menores. 
Inicialmente a Santista atuou no Mato Grosso, incentivando 
os produtores a plantarem e garantindo que sua empresa compraria 
tudo o que fosse produzido. O aumento de produção foi de tal 
dimensão que logo extrapolou as expectativas, obrigando a Santista a 
sensibilizar mais empresas a assumirem o compron1isso de absorver o 
que se produzia. Nessa época foi feita a primeira exportação de 
algodão do cerrado, con1 os produtores se cotizando e colocando, 
através da Santista, 20 cargas de algodão, mesmo com prejuízo, pois o 
preço interno era melhor e o mercado externo não pagou o que valia 
36 Freire e Pessa 
nosso algodão, então considerado um produto desconhecido pelo 
mercado. Foi assim lançada a semente da busca de novos mercados 
exte111os através de um traba lho coletivo de marketing. 
Quando a produção passou a ser mais significativa, a busca de 
suprir totalmente o mercado interno e evitar a concorrência com o 
produto importado se tomou imperi osa. Visitas foram programadas 
por produtores, suas cooperativas e suas associações estaduais aos 
centros industriais têxteis do mercado brasileiro. Os Estados do 
Nordeste, Sul e Sudeste tiveram seus parques têxteis visitados no 
intuito de mostrar o novo algodão que o cerrado produzia. Seminários, 
congressos e reuniões serviram como ponto de encontro para 
transmitir os avanços tecnológicos em todas as áreas e, também, para 
promover o produto. Nas visitas às indústrias foram efetuados 
convites para que seus diretores visitassem as fazendas e algodoeiras 
do cerrado, para conhecerem a qualidade da produção e da pluma. 
Na década de 1990, paulatinamente o mercado interno foi 
substituindo a fibra importada pelo produto nacional, inclusive porque 
o preço, a qualidade e a logística tomavam o processo cada vez mais 
rápido. A eficiência em incrementar a produção através do aumento 
constante de área e os ganhos em produtividade possibilitaram que a 
partir de 2001 fosse produzido no Brasil todo o algodão necessário 
para nosso consumo industiial. Nos anos seguintes os produtores 
viram os preços caírem e chegaram à conclusão de que a continuidade 
do crescimento da cotonicultura passaria a depender da conquista do 
mercado externo. 
O processo de avanço no mercado externo seguiu passos 
semelhantes aos dados por ocasião da conquista do mercado interno. 
Eventos internacionais, como Icac, ITMF, Bolsa de Bremen, 
congressos na Austrália e jantar anual em Liverpool (ICA), passaram 
a fazer parte do calendário obrigatório de visita dos produtores, 
buscando melhor conhecimento do mercado internacional e 
promovendo nosso algodão. Em contrapartida, os produtores 
brasileiros em visitas ao exterior trouxeram, através de convites, os 
comerciantes internacionais e industriais têxteis de todo o mundo para 
conhecerem a nossa realidade. 
Relevantes também foram as visitas comerciais fe itas 
diretamente às indústrias têxteis nos diversos países e que continuam a 
Organização dos produtores 37 
~erem realizadas até hoje. Países corno o Japão, Itália, Turquia, China, 
India, Paquistão, Bangladesh, Inglaterra, Coreia, Tailândia, Taiwan, 
Argentina e muitos outros receberam visitas e também tiveram 
industriais têxteis visitando nosso país. Os resultados aí estão, o 
mercado interno está tota lmente conquistado e ocupamos hoje entre a 
quarta e a quinta posição corno maiores exportadores de algodão do 
mundo. 
A comercialização do algodão do Brasil já se faz de maneira 
eficiente e igual à realizada pelos países que mais exportam. Contratos 
futuros para exportação em dólar são feitos com antecedência de 
vários anos. Isto permite ao produtor programar suas compras e 
plantios tendo a garantia de que o produto será colocado a um preço 
acima dos seus custos. 
O papel do governo no apoio ao algodão 
brasileiro 
Já foi comentada a importância da contribuição dos governos 
estaduais, que estabeleceram os programas de apoio à cultura do 
algodão. Os recursos advindos desses programas estão sendo 
administrados por Fundos para financiar a pesquisa, marketing, 
programas sociais e culturais. O apoio do governo federal se fez 
através do Ministério da Agricultura, da Secretaria de Política 
Agrícola e da Conab, orgãos de grande importância para a 
sustentabilidade do algodão. 
A Secretaria de Política Agrícola tem apoiado os produtores 
através de mecanismos que corrigem distorções de mercado, com 
beneficios para a cadeia têxtil. Muito importantefoi a criação do 
Fórum de Competitividade da Cadeia Têxtil, promovido pelo MDIC, 
que ajudou bastante no passado, desobstruindo alguns gargalos que 
atrapalhavam a cadeia, como a lei de classificação nas exportações. 
A criação da Câmara Técnica do Algodão é um importante 
mecanismo, que veio a dar forma oficial e organizar os entendimentos 
entre os diversos elos da cadeia têxtil. Esta câmara tem trazido visíveis 
ganhos para o setor que conta agora com uma organização que traduz, 
filtra e consolida o necessário entendimento entTe o setor privado e o 
setor público. 
38 Freire e ?essa 
É visível a evolução que tivemos nos mecanismos de apoio à 
comercialização. O governo sempre contou com dados bastante 
confiáveis sobre área plantada e produção, levantados pela Conab, 
para orientar nas políticas a serem adotadas a cada safra. Para lançar 
mão de mecanismos eficientes de apoio à comercialização, faltava ter 
acesso aos dados de quanto algodão já estava vendido para os 
mercados interno e externo através de contratos, e isso se tornou 
possível através dos levantamentos feitos pela organização dos 
produtores. Os primeiros programas disponíveis, há alguns anos, 
limitavam-se ao AGF, EGF e PEP, Contratos de opção e Prop. 
Da evolução desses programas, surgiu o Pepro, que corrige a 
maioria das distorções dos programas anteriores. De todos os 
mecanismos, este é o mais justo e eficiente e que só foi adotado 
porque a classe produtora está muito organizada e o governo 
convencido de que existe um c01nprometimento com o uso correto 
desse mecanismo. 
O Pepro conseguiu tornar realidade a forma mais justa e 
confiável para que os recursos do orçamento do Ministério da 
Agricultura cheguem diretamente à mão dos produtores. Esse 
mecanismo já mostrou sua eficiência no passado e será ferramenta 
fundamental no futuro, para dar sustentabilidade aos contratos futuros. 
A agricultura familiar e o algodão 
Um dos maiores enganos que se comete no Brasil atualmente 
é achar que a agricultura familiar e a empresarial não são atividades 
compatíveis, já que ambas se utilizam da terra e tratam do mesmo 
negócio, só que em escala diferente. 
A orgaruzação dos pequenos produtores em cooperativas e 
associações tem de forçosamente valer-se de gestores, para poder buscar 
novas tecnologias, equipamentos e mercado, e estar atenta ao que 
acontece da porteira para fora das prop1iedades. Observa-se que as 
condições mírumas para que a agricultura familiar se desenvolva incluem: 
1 - organizar os produtores em cooperativas e associações; 2 - dar acesso 
à terra; 3 - ensiná-los a plantar e a manejar as culturas; 4 - fornecer adubo, 
sementes e defensivos; 5 - fornecer equipamentos; 6 - colocar seus 
produtos no mercado; e 7 - garantir sua viabilidade econômica. 
Organização dos produtores 39 
No caso específico do alg0.dão, a agricultura familiar so e 
viável com o desenvolvimento de variedades que agreguem valor ao 
produto, a exemplo do algodão colorido e do algodão orgânico, que, 
com alto valor no mercado, remuneram e viabi lizam a produção em 
pequena escala. Mesmo esses programas têm de estar vinculados a 
cadeias integradas de produção, descaroçamento, fiação, tecelagem e 
comercialização para garantir sua s ustentabilidade e permanência no 
mercado, como nos exemplos de sucesso já comprovados do a lgodão 
colorido da Paraíba e dos agricultores familiares de Catuti-MG. 
As organizações cooperativas no cerrado 
É bastante conhecida a importância que as cooperativas 
tiveram na organização e consolidação da agricultura de alta 
tecnologia e financeiramente sustentada nos Estados do Sul e Sudeste 
nas décadas de 1970 e 1980. Os Estados do Sul viram crescer 
cooperativas fortes, que fizeram investimentos importantíssimos em 
armazéns, secadores, algodoeiras, indústrias de á lcool, indústrias de 
esmagamento de soja, fiações e assim por diante. 
Essas cooperativas tiveram que prover os produtores de 
estruturas que eles não tinham nem podiam construir, seja pelas 
condições financeiras, seja mesmo pela pequena economia de escala, 
afinal pequenas e médias propiiedades não justificam grandes 
unidades armazenadoras ou fabris. 
No Centro-Oeste, as cooperativas foram formadas por produtores 
que já haviam feito grandes investimentos em imobilizados. 
Primeiramente porque não havia produtores disttibuídos por todas as 
regiões que pudessem se aglutinar e criar cooperativas, depois porque 
regiões muito extensas não permitiram centralizar unidades em áreas 
estratégicas. 
Partindo da necessidade de ter laboratórios de classificação de 
algodão em conjunto, as prüneiras cooperativas começaram a ser 
formadas . Como os produtores já estavam estruturados em termos de 
algodoeiras e a1mazéns, essas cooperativas nasceram com a 
característica de grandes prestadoras de serviço com baixo capital 
investido (na cooperativa), embora contando com estrutura c01nplexa 
através de seus cooperados. 
40 Freire e Pessa 
Da classifi cação já se evoluiu para outros serviços, como no 
caso da Unicotton, que promoveu programa para obter a certificação 
das algodoeiras de seus associados com a ISO 9000, tendo também 
seu laboratório certificado. As compras de defensivos, fertilizantes e 
materi ais para enfardamento passaram a ser fe itas em conjunto. Na 
área de vendas, passaram a vender em pool para atingir mercados com 
lotes de melhor qualidade. 
Os mecanismos de apoio à comercialização lançados pela 
Secretaria de Política Agrícola e a nova regra de recolhimento do 
PIS/Cofins deram o impulso final para que a maioria dos produtores 
de algodão dos cerrados procurasse se organizar em cooperativas. No 
primeiro caso, as cooperativas participam disputando nos leilões e 
permitindo maior transparência; no caso dos impostos, a venda através 
de cooperativas para as indústrias têxteis é a única maneira de não 
perderem o crédito do PIS/Cofins. 
O processo cooperativis ta no cerrado continua evoluindo. 
Além das diversas cooperativas süngulares regionais, um novo tipo de 
cooperativismo está sendo criado: são as cooperativas formadas para 
prestação de serviços em áreas que demandam grande escala de 
operação para serem viáveis. Este é o caso da Cooperativa 
Agroindustrial do Centro-Oeste do Brasil (Coabra), cooperativa que 
agrega associados de vários Estados e que é responsável pela 
importação de mais de 500 mil toneladas de fertilizantes anualmente. 
Temos o caso do Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro 
(CCAB), que, embora sendo uma S.A., tem como acionistas mais de 
I 5 cooperativas e se dedica à produção e importação de defensivos 
químicos. Também na área do biocombustível, os produtores estão 
investindo em unidades industriais de grande produção, através do 
cooperativismo, como é o caso da Allcoton em Goiás e da Cooperbio, 
formada pelos associados da Ampa em Cuiabá. 
O cooperativismo tem sido a fom1a de os produtores do 
cerrado se manterem na atividade. Tendo altos custos de logística, a 
única forma de continuarem no mercado é através do aumento da 
produtividade e diminuição dos custos; para isso se faz necessária a 
aglutinação em conglomerados que pem1itam economia de escala. 
Organização dos produtores 41 
Evolução mais recente das organizações dos 
produtores 
Coabra - Cooperativa Agroindustrial do Centro-
Oeste do Brasil 
A Coabra nasceu da experiência de alguns produtores na 
importação direta de fertilizantes, como Cloreto de Potássio, Super 
Simples etc., para posterior formulação - em unidades misturadoras 
de empresas prestadoras de serviço ou diretamente nas fazendas pelos 
produtores. Com a pressão das grandes empresas misturadoras sobre 
as importadoras-fornecedoras dos produtos in natura, os produtores se 
viram excluídos do mercado de itnportação por não terem mais seus 
pedidos atendidos. 
A solução foi a criação de uma cooperativa para agregar os 
que individualmente já importavam fertilizantes e aumentar o 
potencial de compra buscando a adesão de mais produtores. Comesse 
intuito, em março de 2000, reuniram-se 38 produtores, sendo 18 do 
Mato Grosso do Sul e 20 do Mato Grosso, para fundarem a Coabra. 
Essa cooperativa tem hoje 358 associados e é a maior acionista da 
CCAB - Participações S.A. e é também acionista da Libero 
Commodities, empresas dos produtores também citadas neste capítulo. 
Desde sua fundação até o ano de 2010, importou 2.750 milhões 
de toneladas de fertilizantes, movitnentando mais de 1,3 bilhão de 
dólares. Conta com filiais em Campo Grande-MS, Rondonópolis-MT, 
Chapadão do Céu-GO, Paranaguá-PR e Patrocínio-MG. Os principais 
países fornecedores de potássio para a Coabra têm sido Canadá, Rússia, 
China, Israel e Holanda; e de fósforo e nitrogenados, a Rússia. 
Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro 
O desenvolvimento do modelo de negócio do CCAB iniciou 
quando, em junho de 2004, executivos oriundos de grandes empresas 
multinacionais e um grnpo restrito de produtores começaram a discutir 
a ideia de procurarem um modelo de negócio ligado à área de 
produção, com o objetivo principal de explorar as oportunidades 
existentes no suprimento da cadeia do agronegócio. 
42 Freire e Pessa 
O foco principal foi criar, crescer e agregar valor à cadeia de 
suprimento do agroncgócio; dessa forma , a criação do CCAB Agro, 
uma empresa focada cm defensivos para lavoura, foi uma 
consequência lógica e natural, considerando que, assim como os 
fertilizantes, os defensivos são os que mais impactam no custo de 
produção. 
A CCAB Agro Ltda. iniciou sua operação em outubro de 
2007, planejando o registro de princípios ativos - condição necessária 
para a importação, fabricação e comercialização de produtos 
químicos. Logo em seguida foi criada a CCAB Projetos e Soluções 
Financeiras Ltda.; iniciando suas operações em novembro de 2007. 
Esta empresa, encarregada da assessoria financeira e de procurar 
através de serviços complementar o atendimento aos acionistas, é o 
braço do CCAB, que busca no mercado parcerias e profissionais 
competentes para operações acessórias, como contratação de seguros, 
logística, alavancagem financeira etc. 
Hoje o CCAB é encabeçado por uma Holding - CCAB S.A., 
formada por 15 cooperativas que detêm o controle acionário, tendo 
como braços a CCAB Agro Ltda. e a CCAB Projetos Ltda., bem corno 
compreende uma divisão que trata dos "Negócios Adicionais", não 
cobertos pelas empresas anteriores. 
Os seus associados respondem por 69% da área plantada de 
algodão do Brasil, 18% da área de soja, 11 % da de n1ilho e 14% da de 
café. O faturamento dessas atividades dos associados é da ordem de 
US$ 7,5 bilhões no período de uma safra, o que corresponde ao 
potencial de consumo de 20% dos defensivos que se comercializam no 
Brasil. 
Sua atuação cobre o atendimento aos acionistas e cooperados 
no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Santa Catarina e Minas 
Gerais e continua aumentando, assim como investindo na busca de 
ofertar maior variedade de defensivos. 
O CCAB procura ser a mais completa organização de 
produtores de todo o Brasil na cadeia de suprimento agrícola, 
considerando que conta também entre seus acionistas con1 a Coabra, 
especializada em suprir fertilizantes aos produtores. 
Os associados da CCAB Participações S.A. são formados por 
importantes cooperativas de produtores do Brasil, comprometidas com 
Organização dos produtores 43 
a viabilidade de seus cooperados, oferecendo produtos de alta 
qualidade, com preços competitivos, repassando as vantagens para os 
seus acionistas, ou seja, para os produtores, através de suas 
cooperativas. 
Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) 
No decorrer dos últimos anos, certamente o caso de maior 
repercussão foi - e ainda é - o "Acordo-Quadro para uma Solução 
Mutuamente Acordada para o Contencioso do Algodão na 
Organização Mundial do Comércio (WT/DS267)", celebrado entre os 
governos do Brasil e dos Estados Unidos da América (EUA), que 
suspendeu o processo de retaliação comercial que o Brasil imporia aos 
EUA, após autorização legal e definitiva concedida pela OMC. Em 31 de 
agosto de 2009, a OMC autorizou o governo brasileiro a retaliar os EUA. 
O valor mínin10, resultado dos subsídios ilegais concedidos 
( calculados de acordo com os números relativos ao ano-base (2006), 
foi de pouco menos de US$ 300 milhões. Porém, considerando que 
nos últimos anos os subsídios norte-americanos cresceram muito, 
estimou-se que o valor calculado sobre o ano-base 2009 alcançaria 
US$ 830 milhões. 
À época não faltaram setores interessados em se beneficiarem 
dos ganhos que um eventual acordo poderia proporcionar. Mas a 
diretoria da Abrapa sempre foi fume no sentido de que a própria 
Abrapa é legítima interessada tanto na retaliação quanto no caso de 
um eventual acordo e de que o setor cotonicultor brasileiro deveria ser 
o principal favorecido. 
A proposta foi a criação, pela Abrapa, de um instituto p1ivado, 
o IBA, com a finalidade de gerir e aplicar os recursos recebidos pelo 
governo dos EUA como parte de um eventual acordo para suspensão 
temporária da retaliação autorizada pela OMC no contencioso do 
algodão. Os valores que seriam recebidos teriam a natureza de 
recursos privados, pois dec01Teria de compensação temporária pelos 
prejuízos causados pelo não cumprimento das decisões da OMC. 
No acordo celebrado entre os goven1os, os EUA se 
comprometeram a fazer uma transferência inicial de US$ 30 milhões, 
uma segunda no valor de US$ 4,3 n1ilhões e transferências mensais, a 
partir de julho de 20 l O, da ordem de US$ 12,275 milhões. 
44 Freire e Pessa 
Uma das exigências das autoridades negociadoras dos EU A 
era que os recursos não fossem utilizados em pesquisa, mas pode1;am 
ser destinados: ao controle, mitigação e erradicação de pragas e 
doenças; à tecnologia pós-colheita; à compra e uso de bens de capital; 
à pron1oção do uso do algodão; à adoção de cultivares; à observância 
das leis trabalhistas; ao treinamento; a serviços de informação de 
1nercado; à gestão e conservação de recursos naturais; à melhoria da 
qualidade do algodão e dos serviços de classificação; a serviços de 
extensão; à cooperação internacional; e ao custeio de despesas 
administrativas. 
A Abrapa e suas afiliadas estaduais propõem projetos que são 
discutidos em assembleias, e, uma vez aprovados, autoriza-se o Conselho 
Gestor do IMA a contratar sua implementação e acompanhamento. 
Cooperativa de Biocombustível (Cooperbio) 
Em 2006, a Ampa, ouvindo a preocupação de seus 
associados com o alto custo de produção das lavouras, constatou a 
alta significativa nos con1bustíveis, um dos principais insumos na 
composição dos custos. Insumo este que representava no passado 
4% e atingia na época o patainar dos dois dígitos, ficando acima 
dos 12%. 
Com o advento do biodiesel, a A1npa encomendou um 
estudo de viabilidade técnica e econômica para a construção de 
uma indústria de biodiesel, através do IMA. O estudo de 
viabilidade indicou a construção de uma indústria de biodiesel com 
escala de produção acima de 120 mil litros/dia. Consultados os 
assessores jurídicos, estes aconselharam a A1npa a constituir uma 
empresa, considerando que, como associação, não poderia ter 
interesses econômicos. Dessa forma, criou-se a Cooperbio - com 
direito de filiação dos associados da Ampa e dos associados da 
Aprosoja. 
A Cooperbio se diferencia das cooperativas usuahnente 
formadas, pela sua característica de ser un1a indústria de produção 
de biodiesel que tem o número de cotas de participação atreladas à 
capacidade de produção. A forma de admitir os cooperados e 
estabelecer a cota de cada um foi associar a produção da fábrica à 
capacidade de produção e consumo de cada um de seus cooperados. 
Organização dos produtores 45 
Instituto Algodão Social (IAS) 
Além de seus objetivos econômicos, os produtores adotaram a 
sustentabilidade como fundamento dos seus empreendimentos n1rais e 
priorizaram o seu comprometimento com a ética, a cidadania e prática 
da responsabilidade social; criandoem 06/09/2005, em Assembleia 
Geral da Ampa, o Instituto Algodão Social. 
O IAS foi criado com a missão de conscientizar o produtor de 
algodão sobre a importância do cumprimento das normas legais 
trabalhistas, de segurança do trabalho e ambientais como instrumento 
de sua permanência e competitividade no mercado. 
As ações foram iniciadas já na safra 2005/06, com a 
realização do Diagnóstico Inicial que foi disponibilizado para as 
fazendas dos associados da Ampa. Os critérios de avaliação atendem 
às normas internacionais da prática de Responsabilidade Social, bem 
como a legislação relativas à CLT e à Lei do Trabalho Rural e ao 
cumprimento das normas de segurança do trabalho que integram a 
norma regulamentadora NR 31. 
Consolidando o processo de melhoria contínua de construção 
da boa imagem do algodão de Mato Grosso, celebrou-se em 2007 uma 
parceria com a certificadora ABNT, para a execução do processo de 
certificação, que já resultou na venda e exportação de mais de dez 
milhões de fardos com o Selo de Conformidade Social. Este selo tem 
a finalidade de informar ao mercado que o algodão foi produzido de 
acordo com os princípios universais que caracterizam o chamado 
trabalho decente. 
Better Cotton lniciative (BCII) 
Esta entidade internacional foi criada em 2006 com o intuito 
de, sob a bandeira de BETTER COTTON, criar condições e regras a 
serem adotadas pelos produtores, visando trazer beneficios tanto para 
quem ~roduz quanto para o meio ambiente e a comunidade que o 
cerca. E uma organização sem fins lucrativos, voluntária e inclus iva. 
A entidade busca atingir metas, con10: reduzir o impacto do uso da 
água e de pesticidas em beneficio da saúde humana e preservar o meio 
ambiente; melhorar as condições dos solos e promover a 
biodiversidade; proporcionar melhores condições de trabalho para as 
46 Freire e Pessa 
comunidades e aos trabalhadores na cultura do algodão; e aumentar a 
rastreabilidade em toda a cadeia de suprimento de algodão. 
Programa Socioambiental de Produção de Algodão 
(Psoal) 
O sucesso do programa do IAS no Mato Grosso levou a 
Abrapa a adotar seus procedimentos e normas também nacionalmente, 
criando o programa chamado Psoal, que foi implementado em todo o 
Brasil nas fazendas de algodão, visando a um plantio socialmente 
correto. Lançado em maio de 2009, foram promovidas palestras de 
mobilização dos produtores nos Estados, além de reuniões de 
instrução para os técnicos em Brasília. Foi estabelecido que, para ter 
direito à certificação, as fazendas que participaram do projeto tinham 
que atingir um míniJno de 80% das metas estabelecidas. 
Se1n dúvida, um programa ambicioso e necessário, estando 
disponível no site da Abrapa (www.abrapa.com.br) um check list que 
permite a autoavaliação; para aderir ao programa, basta que o produtor 
entre em contato com sua Associação Estadual. Em 2013, este 
programa passou a receber a denominação de Algodão Brasileiro 
Responsável (ABR), em que se procura implantar nas fazendas de 
algodão do Brasil as normas do Psoal e da BCI. A BCI, assim como o 
Psoal, e o ABR se complementaram, conferindo maior credibilidade 
interna e externa ao algodão brasileiro. 
Libero 
A Libero é uma empresa nascida no Brasil, com sede na 
Holanda e filiais no Brasil e em Genebra, e que objetiva o marketing e 
a comercialização dos produtos agrícolas produzidos no País. Tendo 
como principais sócios os produtores, promove parcerias com 
operadores de mercado, fon1ecedores de insumos, empresas 
operadoras de logística e as mais importantes fontes de recursos 
financeiros. 
A imprensa conta em seu quadro de associados com os 
1naiores produtores do Centro-Oeste, que representan1 70% da 
produção do algodão, 15% da produção da soja e l 0% da produção do 
Organi=arao dos produtores 47 
mi lho brasileiro. Sua área plantada passa de quatro milhões de 
hectares, o que lhe garante a tranquil idade de se lançar no mercado, 
sabendo que conta com fornecimento garantido de grande quantidade 
e variedade de produtos. A libero tem como propósito melhorar as 
condições no mercado e buscar oportunidades em basicamente quatro 
atividades: originação; marketing e comercialização; captação de 
recursos financeiros; e financiamentos internacionais. 
A organização dessas atividades resultaram na constituição da 
Libero Commodities Holding Bv, com duas subsidiárias brasileiras: a 
Libero Commodities do Brasil S.A., que comercializa os produtos no 
mercado interno brasileiro, e a Libero Commodities S.A., com sede na 
Suíça, que se encarrega da comercialização dos produtos 
internacionalmente. Além dessas, a Libero Serviços do Brasil atuará 
como provedora de serviços na originação e nas operações de apoio às 
outras duas empresas que comercializam. 
Esse modelo de empresa, em que 50% das ações estão com os 
produtores e os outros 50%, com acionistas que completam a cadeia 
da produção, comercialização, logística, financiamento e 
administração de riscos, é sem dúvida ímpar no mercado e que 
prenuncia que a Libero tem grande potencial de crescimento e sucesso 
num mercado altamente competitivo, volátil e que funciona em ritmo 
acelerado. 
Câmara técnica setorial da cadeia produtiva do 
algodão e seus derivados 
Embora a organização das câmaras setoriais seja uma 
iniciativa do governo através do Mapa, tem sido muito importante o 
envolvimento da Abrapa, que a preside. 
Para destacar a importância desta câmara, ressaltamos que em 
2009 ela viabilizou a comercialização de 792 mil toneladas de 
algodão, graças ao apoio do governo, aportando R$ 550 milhões e 
delegando à Abrapa o compromisso de fazer com que esses recursos, 
de forma transparente e justa, chegassem realmente aos produtores. 
Estabeleceu, juntamente com o Mapa e a Embrapa, o 
Programa Nacional de Combate ao Bicudo. Regulamentou a prática de 
aimazcnamento de algodão a céu aberto. Promoveu o programa de 
48 Freire e Pessa 
uni fonnização dos cri térios de classificação visual através da parceria 
Abrapa/Mapa, na instrução e reciclagem dos profiss ionais 
classificadores de pluma. Apoiou a importação de 250 mil toneladas 
de pluma pela indústria têx til bras ileira na nossa entressafra, através 
da liberação pelo governo do imposto de importação. 
A câmara criou a Agenda Estratégica 2010/2015, que, a lém 
das questões conjunturais, permite programar o futu ro resolvendo as 
chamadas questões estrutura is. 
Referências 
PESSA, J. L. R. A organização dos produtores de a lgodão. ln: FREIRE, E. C. (Ed.) 
Algodão no cerrado. 2. ed. Brasil ia: Abrapa, 2011. 
BOTÂNICA 3 
Tricia Costa Lima' 
~ 2 
Leonardo Ângelo de Aquino 
Paulo Geraldo Berger3 
Introdução 
O cultivo do algodão no Brasil, com o uso de espécies nativas 
e importadas, teve início nos primeiros anos da colonização. Dois 
famosos religiosos - padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta -
defenderam a instalação de uma indústiia têxtil em nosso país. Em 
carta a Simão Rodrigues, superior dos jesuítas em Lisboa, Nóbrega 
pediu o envio de tecelões para fiar e tecer o algodão. Anchieta 
defendia a mesma opinião e a justificava: "Para vestir há muito 
algodão". Quanto aos indígenas brasileiros, Pero Vaz de Caminha na 
sua célebre Carta relata que usavam o algodão para fazer redes, faixas 
e também flechas incendiárias, cmn a ponta envolvida em chumaços, 
aos quais punham fogo. No México e no Pe1u também se encontraram 
objetos feito de algodão. É certo, portanto, que o algodão arbóreo 
existia em váiias partes das Américas, quando os europeus iniciaram 
as conquistas (COSTA, BUENO, 2004). 
1 Engenheira-A&,rrônoma, D. Se. e Professora du Universidade Estadual do Goiús. 
E-mail: tclima7@gmail.com. 
1 Engenhe iro-Agrônomo, D. Se. e Professor du Uniw rs icladc Fedaal de Viçosa - C' RP . 
E-mail : leonardo.uquino@ufv.br 
3 Engenheiro-Agrônomo, D. Se. e Professor do Dep. ele Fitok"Cniu da Univcrsidudc Flxkml Jc Viçosa. 
E-mail: pgberger@ufv.br 
50 lima. Aquino e Berger 
Classificação botânica 
O algodoeiro é uma planta

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