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Aluízio Borém Eleusio Curvelo Freire Editores r,J ALGODAO do Plantio à Colheita EdiTORA UFV Universidade Federal <le Viçosa 2014 Prefácio É motivo de orgulho para a Universidade Federal de Viçosa (UFV) o lançamento deste livro, de interesse para técnicos, agricultores e estudantes de Agronomia. Há muito tempo a UFV vem sobressaindo-se como um dos maiores polos de formação de agrônomos do País e de desenvolvimento tecnológico. Os produtores brasileiros contaram com a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, aplicados à cotonicultura, empreendidos pela Embrapa, Esalq, Unesp, IMA-MT e UFV, entre outras instituições, para alcançar o salto de qualidade na produção de algodão que o Brasil experimentou nesses últimos dez anos. Na safra 2011/ 12, o País alcançou a terceira colocação mundial em exportação - com o recorde de 1,04 milhão de toneladas enviadas ao exterior - e, a cada ano, vê ampliada sua importância como ator na cadeia de valor em termos de quantidade e qualidade de plmna produzida. Fechamos a safra 2011/12 com produção de 1,9 milhão de toneladas. O foco deste livro são as informações técnicas necessárias à cotonicultora e, portanto, de interesse do técnico em contínua formação e atualização. Escrito por especialistas nos diversos temas abordados, esta obra é essencial à fmmação e atualização dos técnicos interessados na cultura do algodão, por conter informações técnicas atualizadas e intensamente aplicadas à realidade brasileira. Trata-se, pois, de uma obra, sem dúvida, extremamente útil à cotonicul tura brasileira. Boa leitura! Os editores. Sumário 1. Aspectos econômicos, 9 2. Organização dos produtores, 3 1 3. Botânica, 49 4. Exigências edafoclimáticas, 67 5. Preparo do solo e plantio, 90 6. Melhoramento no Brasil, 113 7. Variedades transgênicas e seu manejo, 133 8. Nutrição, calagem e adubação, 156 9. Reguladores de crescimento, 1 77 1 O. Manejo de plantas daninhas, 199 11 . Manejo de pragas, 217 12. Manejo de doenças, 250 13. Manejo da irrigação, 271 14. Colheita, 295 ASPECTOS ECONÔMICOS 1 Lucilio Rogerio Aparecido Alves1 Fábio Francisco de Lima2 Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho3 Histórico e Evolução da Cotonicultura Brasileira O Brasil é um dos principais exportadores mundiais de algodão, possuindo atualmente a segunda melhor média mundial de produtividade. Tendo passado por transformações importantes nos últimos 20 anos, a cotonicultura brasileira se configura hoje como um dos setores mais modernos da agricultura nacional. A cotonicultura brasileira moderna tem o ano de 1996 como marco histórico. Antes desse ano, o algodoeiro era cultivado principalmente em pequenas propriedades, concentradas no Sul/Sudeste do País, com nível tecnológico que podeiia ser considerado baixo para os padrões atuais. Posteriormente, formou-se uma cotonicultura empresarial, de grandes propriedades e expandindo pelo Centro-Oeste e oeste baiano. 1 Professor Doutor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Quctroz" (ESALQ). Universidade de São Paulo (USP). E-mail: lralves@usp.br. 2 Engenheiro Mestrando. Pesquisador da ESALQ/USP. E-mail: ffagro@gmai l.com J Professor Titular da ESALQ/USP. Pesquisador da ESALQ/USP. E-mail: jbsferrc@usp.br 10 All'es, lima e Ferreira Filho O cultivo do algodoeiro no Brasil se expandiu a partir de 1930 com incentivos governamentais, devido à crise do café (MAPA, 2007); já em meados da década de 1970, a cotonicultura tomava força e se concentrava no Paraná e São Paulo, s ituação que prevaleceu até meados da década de 1990 (Figura 1. 1 ). ...,.,.... .~........_..., ........ , ,.:-.~ .... _!_.~~;.,_.__,;; .._ ...... _ ,.....!_.,,-...~ ....,__..~. '-- .. -·-. .. o .. ... .. ... ... .. ~-= ª' úl• h = ...,. un " - ..... l'-..l» " - ....... ,_,,. " .......... -. (•►- ·-- ... 1!11~ Figura 1.1 - Microrregiões produtoras de algodão no Brasil - 1990. Fonte: IBGE, 2013. ... ... . .. u u .... .... ... .... No entanto, em meados da década de 1980, uma série de fatores levou à desorganização completa da cotonicultura nacional. Entre eles pode-se destacar o aparecimento do bicudo (praga), os altos custos de produção, a redução dos preços internacionais e o fato de a cultura ser então característica de pequenos produtores e arrendatários, o que dificultou a adaptação do sistema à nova realidade do mercado. A crise perdurou até meados da década de 1990, quando se iniciou uma nova fase para a cotonicultura no Brasil, com novo delineamento do mapa produtivo. Nessa etapa, o cultivo do algodoeiro migrou principalmente para o cerrado (Figura l .2) e, diferentemente do modelo anterior, passou a realizar-se em grandes propriedades, com processo de cultivo tecnificado, com surgimento de fundações e associações de produtores e implantação de programas estatais. Aspectos econômicos 1 I .......... ~......_..(,_._._I .._ ....... ..._ . ...,....,.. ....... _ ,_~-;._ .... . )811 - ;...,,.......,..... .. -~C-,,-a11t.a-- e- .. -·- -1 .. " ... .. ... " .. . .,. - ,. u r=s ... ... .. u - ...,. ..,.. .. ,., - ..... B.,4 JJI , . u - .... .,, ........... .. ,.. --·-( •} -,,,., - .,, ,.., Figura 1.2 - Microrregiões produtores de algodão no Brasil - 2011. Fonte: IBGE, 2013. O deslocamento da cotonicultura para o Centro-Oeste, promovida por produtores de soja, estabeleceu um novo padrão produtivo, embasado no aumento do rendimento da terra e de mão de obra e também na n1elhoria da qualidade da fibra. A partir da metade da década 1990, esse deslocamento foi ainda fortalecido por ser uma forma de diversificação de risco, uma vez que o cultivo da soja oferecia grande risco nessa região. Além disso, a consolidação da cotonicultura no Centro-Oeste criou um grande estreitamento entre produtores e fornecedores e, tendo gerado ainda inovações institucionais, como o modelo inédito das fundações de pesquisa vinculadas ao setor, permitiu otimizar os aspectos produtivos através da articulação vertical do segmento agrícola e o fornecimento de tecnologia genética. A mudança para novas fronteiras agrícolas do cultivo do algodoeiro no Brasil resultou, nas últimas décadas, em drástica redução na participação da região Sul na produção brasileira (Figura 1.3). Neste cenário, constata-se a saída dos produtores menos eficientes da atividade, com a -consequente elevação da produção e produtividade. Em contrapartida, o Cenh·o-Oeste entrou na nova fase da cotonicultura, finnando-se como principal produtor nacional. 12 2 100,0 1.950,0 1,600.0 1.650.0 \ .SOO.O i 1.350,0 0 ~ 1.200.0 g g 1.050 ,0 o 900.0 750.0 600,0 450,0 300,0 150.0 o.o ------- - -- - - - - --· - "§~• -.. li- ,.. i:: = . h° · ~rr·s l, ~ ' ' l"i i"! ~ ~ ·i;: .. Alves, lima e Ferreira Filho ~ 1- - - - ' >---- ti F:i - ~ .. ,., 1, ~' i1 · "" i: ,. ~ ~ ·~» ► .. "' ,, 11 1 i,, t l i 1 .1 il iii ~ .. i - Figura 1.3 - Evolução da participação por região na produção brasileira de algodão. Fonte: CONAB, 2013 . O Norte/Nordeste também acompanhou este processo de intensificação da produção, tendo-se tornado, a partir do ano 2000, a segunda maior região produtora do País devido à substituição do cultivo de algodão arbóreo pelo herbáceo no oeste baiano. Atualmente, a expansão de área cultivada na região compreendida pelo Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) vem aumentando sua participação na oferta inten1a de algodão. Os dados apresentados na Figura 1.4 mostram de forma precisa a época da mudança da cotonicultura do Sul do país para o cerrado. Nos anos 1980, Paraná e São Paulo dominavam a produção de algodão brasileira, que começou a decair de 1990 até 1996 e então se estabilizar. A partir de 1996, o Mato Grosso disparou na escala de produção e se firmou como principal produtor de algodão no Brasil já na safra 1997/98, registrando crescimento de 2.585% no período de 1996 até 2011. No mesmo período, Goiáscomeçou a tomar espaço, ressaltando-se que até 2001 se caracterizava como o segundo maior produtor. Essa posição, contudo, foi ocupada a partir de 2002 pela Aspectos ec:011ô111ico., 13 Bahia, que apresentou crescimento de 456% na produção de 1996 até a safra 2010/11. 1100.0 ..------------ ------------ - -------, 1 000.0 - - - ---------- ------------,. 900.0 - - - --- · 800,0 - - - ------ "' 700.0 · --- - "' '0 i 600.0 - -- - - - - ~ g soo.o +----- C! 400,0 ~------ ------ - - ---t-- 11;.,,._- -,.-~-- Figura 1.4 - Evolução da produção de pluma de algodão nos principais Estados produtores brasileiros. Fonte: CONAB, 2013. É importante ressaltar que a nova cotonicultura brasileira não obedeceu a mn padrão tradicional evolutivo, pois ela j á "nasceu" moderna. No final da década de 1990, quando ocorreu a forte recuperação do setor, investimentos em tecnologias, uso de variedades adaptadas, substituição do algodão arbóreo pelo herbáceo e o modelo empresarial da soja permitiram elevação na produção, a despeito da diminuição de área, o que se fez com fo11es elevações na produtividade. A introdução do modelo empresarial da cultura da soj a na nova cotonicultura brasileira teve ainda outras consequências, tendo a primeira delas sido a modificação no tamanho da propriedade padrão, já mencionado. Até 1996/97, a característica predominante da cotonicultura no País era de propriedades com até 100 ha. Por outro lado, com a mudança para o Centro-Oeste, esse modelo padrão passou para propriedades com área superior a 2.500 ha (FERREIRA FILHO et ai., 2010). 14 Alves. Lima e Ferreira Filho Não menos importante para o avanço da produção de algodão, foi a modificação do processo de colheita, que atualmente é mecanizado quase integralmente no Brasil. A topografia plana do cerrado permitiu o melhor aproveitamento de máquinas em escala, como j á acontecia no caso da soja . Aliado ao clima do cerrado, o uso de colheita mecânica permitiu ganhos significativos na qualidade da fibra . O ponto mais recente da evolução tecnológica da cotonicultura é a tardia inserção do algodão geneticamente modificado (OGM) no País. Atualmente (2013), 12 eventos transgênicos de algodão estão aprovados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio ), sendo a primeira liberação em 2005 (ALVES et al., 2012). Entre os eventos liberados estão o algodão resistente a insetos (RI), tolerante a herbicidas (TH) e os resistentes a insetos e tolerantes a herbicidas (RI/TH), cujas quantidades de área plantada estão descritas na Figura 1.5. Segundo Céleres (2012), no total, o Brasil plantou na safra 20 12/13 o estimado a 550 mil hectares de algodão transgênico, equivalente a 50, 1 % da área total cultivada - 1,09 milhão de hectares. Esta rápida adoção de OGM nos últimos anos vem auxiliar o crescimento da produção nacional de algodão. 1800 1650 1500 1350 1200 ~ "" .. ... 1050 "' .:; 900 .. .e E 750 600 ~50 JO O 150 o 2004/ 05 60"1. ss•;. 50% - 40¼ 30% 25% - - 20¼ 2005/ 04 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/ 11 2011/12 2012/13 Figura 1.5 - Evolução na área plantada de algodão e representatividade do a lgodão beneticamente modificado no Brasil - safra 2004/05 a 20 12/ 13. Fonte: CÉLERES, 20 12. Aspectos económicos 15 Da safra 1996/97 até a 201 O/ 11, a produção aumentou 494%, acompanhando o salto de produti vidade de 167%, enquanto a área plantada nesse mesmo período cresceu 1 13%. Porém, nota-se que desde a crise da década 1980 a área plantada segue uma linha de tendência decrescente (Figura 1.6). 5500 .....--------------- ----------y 4 180 5250 3m 5 000 3.800 ◄ 750 3.610 4,500 ~~ ◄ 250 3 2.'.lO 4 000 3~ ª™ 2 ~ 3.500 2.660 2 3 250 2,470 :f! 3.000 2 280 i E 2.1so 2 090 .,. 2.500 1.900 2.250 1.710 2.000 1 5~ 1™ 1~ 1.500 1.140 1.250 950 1.000 760 750 570 500 .W,,..~-~=-- ---- --------------+~ 250+--- - ------- ----- --- ---- --------t 190 o ~.....-,............-,.---.-~"""T"""",,...........,........~.,.......-.-.--.-------.......... ---..-.........-.-.-+ o liiltlllll liliillilllllj!lllilllllifi - ~ ~ - Atea - Produç-30 - Produtividade N Figura 1.6 ~ Evolução da área, produção e produtividade do algodão no Brasil. Fonte: CONAB, 201 3. O crescimento na produção é retomado em 1997/98, havendo grandes oscilações a cada safra devido às peculiaridades no mercado. No período entre os anos-safra de 1976/77 e 1995/96, a taxa de crescimento médio de produtividade foi de 6,9% a.a.; e de 8,0% a.a., entre 1995/96 e 2011 / 12. Esse impulso na década de 1990 foi estimulado pela desvalorização da moeda brasileira e pelas políticas tarifárias, que deram início a um período de restrição das importações, forçando o mercado doméstico a se abastecer com algodão brasi leiro. No período da crise da cotonicultura nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil começou a ser mais dependente de algodão externo, pois, enquanto a sua produção caía, o consumo se mantinha praticamente estável. De acordo com a Figura 1. 7, no período que compreende as safras de 1992/93 a 1999/2000, o Brasil teve a menor 16 Alves, lima e Ferreira Filho produção anual das últimas décadas e importou altos volumes de algodão. Nessa época da crise, o País importava, em média, 45,8% do seu consumo total desse produto. l 200,00 .i 2.000,00 Ul00,00 [ 1 600,00 ! 1 400.00 1200,00 · - - ~ 1 000.00 1 - t (0).00 •- - e o - E<Xl,00 § -00,00 200,00 .lOJ.()() ..I00,00 -6():).00 1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1 1 l •600,00 _LI----------- ------------- ~~~iil~i~t~~ª~~~ê ~ ª ª~ª~~~ m!~ª ~ ~i~~~~~,m~~iji~~~i~~~~ªª~ ti1~1i1i111;~~1~i~i1iiiiliiilli~i;i1ii~J~i~iii!iiili~i D Produçlo ■lmportaçJo 1:1u,adomóstico ,> f.tportaçJo 1 000 t J.000 t 1.000 t 1.000 t Figura 1. 7 - Comparativo da evolução as importações, exportações, consumo doméstico e produção de algodão no Brasil, em mil toneladas. Fonte: USDA, 2013. No entanto, a nova cotonicultura brasileira tomou o Brasil autossuficiente, o qual, neste cenário, passou a exportar volumes de fibra de qualidade, diminuindo cada vez mais a necessidade de importação. No período de 2004/05 a 2012/13, o País exportou em média 39,8% de sua produção. Cabe ressaltar que a produção nacional é baseada, em sua maior parte, em algodão de sequeiro, enquanto que outros países praticam a cultura irrigada, o que atrelado aos significativos avanços no campo da genética demonstra a eficiência das novas regiões produtoras. A crescente exportação do algodão brasileiro direcionou-se aos países asiáticos, sendo a China, Indonésia, Paquistão e Coréia do Sul os principais consumidores. A grande representatividade desses países como destino das exportações brasileiras se deve ao grande Aspectos econômicos 17 parque de indústrias têxteis naquelas regiões, bem como ao expressivo aquecimento de suas economias, principalmente da China. Segundo dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex), desde 2008 a China vem aumentando sua demanda pelo algodão do Brasil, atingindo seu pico em 2012, ano em que houve quebra de produção nos Estados Unidos decorrente de desastres climáticos, aumento de oferta brasileira e procura de pluma pela China para fazer estoque. 1.150J)00,00 -----------------------------1 1.lOOJl00,00 -1----------------- -----------l 1.osuoo.00 t==========================================--r.:--=====·cl 1000Jl00,00 t.,....======================t~~~;1 ,so.000.00 f- ,ooJloo,oo 1--------------------- •so.ooo.oo +-------------------- aoo.000,00 +-------------------- 1so.ooo,oo +----------------- --..=~::..;:;; 700Jl00.00 i; óSOJlOD,00 'li ,00.000.00 l SSQ.D00.00 ;! S00.000.00 450.DOG.OO 400.000.00 3SO.OOD,00 300.DOD,00 lSD.DOD,00 l00.0O0,00 ' r~ 150.000,00 100.D00,00 S0.000,00 0.00 lOOI ■ <HJIA ■ TIJ~QU" 11,.-QUr.T.IIO ., Outro, 200, ■CO~EI.A (OOSUIJ •MALÁSIA :-T .uw.1111 (FQ~,.,os;; 2010 ■INDONitSIA11VIETNà ,.TAII.ÃNDIA 2011 2012 Figura 1.8 - Principais destinos das exportações de algodão do Brasil. Fonte: SECEX, 2013. O Paquistão, que em 2008 era o segundo maior importador de algodão brasileiro, vem diminuindo o volume de suas importações do Brasil, por possível substituição do produto brasileiro pelo australiano, que nos últimos anos se consolidou como forte exportador dessa matéria-prima. 18 AIFes. Lima e Ferrd ra Filho O Sistema de Comercialização do Algodão no Brasil A cadeia do algodão no Brasil pode ser dividida em fon1ecedores de insumos (T l ), produtores de algodão (T2), beneficiadoras (T3), agente de mercado (T4), indústria têxtil e confecção (T5 e T6) e atacado/varejo, organizados conforme demonstrado na Figura 1.9. Indústria de defensivos/fertilizantes Gcnética/sc1ncn1cs ln<lús1ria de máquinas e equipamentos ___ ---i.. _________ _.... ____ __,.. ____ ___ _ Produlorcs "empresarias" Produtores "tradicionais" _________ _._ _________ __. ____ ...,..... __ _ Beneficiador intennediário Exportação Fiação Beneficiamento próprio Comerciantes Tecelagem Decomçüo Beneficiador "parceiro" Malharia Cooperativas Indústria Beneficiamento Técnicos Figura 1.9 - Estrutura da cadeia produtiva do algodão. Fonte: ALVES, 2006. T1 T2 T1 T~ Ts Th As características dos setores são diferentes quanto à forma de regulação do mercado. Enquanto na cotonicultura as instituições públicas controlam as regras que condicionam o mercado e os fluxos de produção, o setor de vestuário é regido pelas empresas do varejo. As fiações são governadas diferentemente pelas tecelagens: as primeiras realizain a produção em larga escala e são politicamente Aspectos econômicos 19 organizadas; as tecelagens são mais atomizadas, não dispondo de representatividade de instituições. De modo geral, os setores da cadeia do algodão não funcionam com intensa verticalização, embora as modificações observadas na produção nos últimos anos também tenham trazido algumas alterações neste aspecto. Em particular, com o advento da "nova cotonicultura" no Brasil, o produtor, que antes comercializava algodão em caroço, eliminou a algodoeira como intermediário e integrou ao seu processo o beneficiamento. O produtor agora comercializa algodão em pluma, produto de maior valor agregado. Além disso, a produção em larga escala e a forma de organização das associações dessa nova fase da cotonicultura permitiram ao produtor ter maior poder de negociações perante os fornecedores de insumos, aumentando sua competitividade no mercado do algodão. Mecanismos de formação de preços do algodão no Brasil A fonnação de preços do algodão em pluma no Brasil depende das diferentes cotações das bolsas de mercadorias, variação no prêmio, taxa de câmbio, perspectivas de produção mundiais e classificação da pluma. A classificação da pluma é o primeiro passo para se entender a formação de preços do· algodão. Atualmente, o algodão pode ser classificado pelo sistema visual ou, principalmente, por intermédio de equipamentos automáticos denominados High Volume Instruments (HVI), que têm como parâmetros de classificação padrões universais adotados pelos principais países produtores e consumidores de algodão no mundo. Nesse sistema, o algodão é classificado conforme: comprimento, uniformidade, micronaire (resistência) e cor. O algodão é ainda classificado por tipo, em escala que no Brasil tem por base o tipo 41-4. Um algodão do tipo 31-4 é um produto de melhor qualidade do que o do tipo 41-4, enquanto mn do tipo 5 1-5 é um algodão pior. Com base nesses parâmetros, são determinados os valores de ágios e deságios dos preços nos mercados. 20 Alves. Lima e Ferreira Filho Essa classificação é realizada pela BM&FBovespa, pelas associações de produtores, e por empresas privadas prestadoras desses serviços. A classificação por esse método não é obrigatória em tennos legais, mas os agentes procuram esse procedimento por considerar que facilita a comercialização da pluma e para efeito de comparação. A classificação por HVI já é feita nos Estados Unidos desde o início da década de 1980 (FERREIRA FILHO et al., 201 O). O parâmetro de base para a formação do preço internacional é o preço do produto na bolsa de Nova York (ICE Futures US), onde há cotações diátias em mercado futuro de algodão em pluma. Nas vendas antecipadas e futuras, boa parte dos negócios internacionais usam contratos realizados nessa bolsa, que acabam sendo referência para balizar os preços no mercado interno brasileiro. As cotações de bolsas são divulgadas em cents de dólar por libra-peso ( cents de US$/lp) e podem ser convertidas em centavos de reais por libra-peso ( cents de R$/lp). Uma libra-peso equivale a 0,453597 kg. Para transformar uma quantia de libra-peso em arroba (@), multiplica-se por 33,069, para transformar uma quantia de libra-peso em kg, multiplica-se por 2,2046. Outra referência importante como formador de preços internacionais é o Cotton Outlook de Liverpool, que publica o índice Cotlook A. Este índice tem como base o algodão classificado como Middling, com fibra 1-3/32" e visa apresentar a média das cinco cotações mais baratas de uma seleção das principais regiões ofertantes de algodão no mundo (COTLOOK, 2012). A base é o produto posto no Extremo Oriente. Para o mercado interno, as negociações são baseadas no indicador Cepea/Esalq do algodão em pluma. Este índice surgiu da parceria entre a Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), diante da necessidade de um índice diário que expressasse o preço do mercado fisico para liquidação de contratos futuros. O índice elaborado pelo Cepea representa uma média aritmética dos valores praticados no mercado físico pelo algodão do tipo 41-4, fibra 30/32", sem característica e sem ICMS. Na comercialização da pluma de algodão, os principais tributos incidentes são o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Aspecros econômicos 21 Social (Cofins) e o Programa de Integração Social (PIS), no caso de pessoas jurídicas; e a Contribuição Especial para a Seguridade Social Rural (CESSR - antigo Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, Funrural), no caso de pessoa ílsica. O ICMS incide sobre cada operação ainda que diferido para operação seguinte dentro de cada estado e entre estados (FERREIRA FILHO et ai. , 201 O). O mecanismo de tributação é tido como causador de problemas para a competitividade da cadeia algodoeira no Brasil. Atualmente, diversas unidades da federação possuem alíquotas e fonuas de arrecadação diferenciadas no sistema agroindustrial do algodão, além de possuírem programas paralelos de fomento e restituição de tributos, dentre outros (Tabela 1.1 ). Os estados que são, simultaneamente, produtores e grandes consumidores de algodão adotam um sistema de diferimento do ICMS, o que acaba por determinar, inclusive, alterações nos valores de comercialização da pluma. Este fato pode ser constatado com o acompanhamento dos preços no Estado de São Paulo, por exemplo, no qual os produtores acabam recebendo preços mais elevados que nas demais regiões. Tabela 1.1 - Alíquota de Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e programas de incentivo nos principais estados produtores/comercializadores de algodão em pluma no Brasil Estado Alíquota de ICMS Programa de lncentivo/ Ano Incentivo Ala!!ons 0% com diferimento 12% Não h:m Não tem Bahia 0% com diferimento 125 Proalba ( 10% do 50%/2001 ICMS+ 1.2%) Ceará 0% com dife rimento 12% Não tem Não tem 17%, com n:dução de Proalgo - F'ialgo Goiás 70,59 na base de 12% (15% dos 75% 75%/1999 cúh:ulo que não são recolhidos) 17%, com redução de Proalmat - Facual Mato 70.59 na base de 12% (15% dos 75% 75%/1997 Grosso cálculo que nilo sào recolhidos)Maio Pdagro ( 15% dos Grosso do 0% com difrrimento 12% 75% que n:Jo são 753/.J 199'> Sul recolhidos) C0n1inua .. 22 Alves, lima e Ferreira Filho Tabela l I - Cont E.~tado Aliquo1n de ICMS Programa de lnccnlivo/Ano Incentivo Minas 0% com diferimento 12% Proolminas ESALQ + Gerais 7% pnrn NE (0.826% do valor) 9%12002 Poraiba 0% com <lifcrimcnlo 12% Não 1cm Não tem Isenção de 80% 12% de ICMS Pamn:i 18% 7% pam Nordeste Nilolcm destacado dentro do estado 12% para Sul e São Paulo 0% com diferimento Sudeste N11olem Não tem 7% para o Norte Distrito 17% 17% Pode reduzir n base de Pode reduzir 11 Não tem Nilo tem Federal cálculo base de cálculo 12% com redução Maranhão 0% com diferimento de 60% na base Nilo tem Não tem de cálculo Isenção de IO0¾ Tocantins do ICMS destacado Isenção de 100% do ICMS destacado nos 7% para Sul e primeiros anos. Piaui 18% 12% restante do Não tem 70% nos três anos Pais seguintes para regimes especiais liberados pelo governo Fonte: FERREIRA FILHO et ai., 20 l O. Outras políticas públicas podem ainda influenciar a formação do preço do algodão no Brasil. O Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro ), por exemplo, é "uma subvenção econômica ( em prêmio) concedida ao produtor rural e, ou, sua cooperativa que se disponha a vender seu produto pela diferença entre o Valor de Referência estabelecido pelo governo federal e o valor do Prêmio Equalizador arrematado em leilão, obedecida a legislação do ICMS vigente em cada Estado da Federação" (CONAB, 2012). A expansão territorial da cotonicultura brasileira resultou em uma ampliação do período de colheita em nível nacional, com reflexos na sazonalidade de preços. Esse fenômeno teve reflexos profundos na comercialização, geralmente pouco notados. Até o início da década de 1990, a entressafra do algodão se iniciava con1 o final da colheita da região Sudeste, no mês de julho, prolongando-se até o início do mês de março do ano seguinte. Atualmente, a colheita do algodão no Brasil vai de março a setembro de cada ano. Aspectos eco11ó111icos 23 Os dados mostrados na Figura 1.1 O ilustram a dificuldade de se realizarem previsões de preços no mercado do algodão, dada a diferença de comportamento entre os valores dos limites superiores e inferiores em diversos meses ( como janeiro, agosto, setembro e novembro). No entanto, note-se que a amplitude da dispersão dos preços se reduz nos meses compreendidos entre maio e agosto, período de maior volume da safra nacional. A evolução histórica dos preços do algodão, em valores nominais e deflacionados pelo IGP-DI podem ser observados na Figura 1.1 1. 130,00 ----- 125,00 120,00 1 115.00 ' 110,00 -., ~ .E 105,00 100,00 ' 95,00 ·- 90.00 -- 85,00 . 80,00 e ~ > .!? 1õ E õi E e ..2, o O) a, êã "' :5 o - lndicesazonal - Umlle superior - llmtle inferior > g Figura l.10 - Variação estacionai (sazonalidade) do preço do algodão em pluma em São Paulo, no período 2001 a 2010. Fonte: CEPEA, 2013. Os preços regionais ta1nbén1 são influenciados pelo frete, tanto marítimo quanto o rodoviário para se levar o produto até o porto. Cabe ressaltar o fato de as principais regiões produtoras de algodão se situarem no Centro-Oeste, região localizada distante dos pontos de escoamento de produção e apresentar deficiência na infraestrutura do transporte. O frete faz parte do cálculo para se avaliar a paridade de exportação e importação do produto, que ainda leva em conta o preço dos indicadores externos, os prêmios e os custos portuários. Efeitos políticos, como tributos, subsídios e taxas sobre a mercadoria, são igualmente incluídos nestes ajustes, e, caso se objetive exprimir o 24 Al11es, Lima e Ferreira Filho preço de paridade em moeda local, uma conversão deve ser efetuada usando taxas de câmbio. C1S.Ct ,--- ----------------- --- ----, U1,0 ------- -- - --------·---~---, .zzJ..Ol------- «.10,0 us.u ~---JlUI ~.r'< - ----3. 4273.U L__-~\.-. . ~ r;u.u ...__- ----"'----'--------Ã-""'· i Z2UI ➔---------_, ...,, __ 1 - 1--------V-- - -l'-li-\-ll-c---f~_,-/J--------- r/JL__-11., f m.B +------------1--"'I j..- 1~.,--,~ DQ,ll +-----------1 --~~>------~ ~-/!--l=----...1C..:=-1 i=,-o t----------1-- ------\~- , _Joa:!JI 1'1Q,(9 +-- --f\-::~,-,,,c--_.,_ ___ __;:~--- -------l ~~ ~---=~ ~ :.__ _ ___:._-=~ - ----------------1 '-Ul ~--------- - - - ------ - - ------1 = +--- -------- - --------------~ 11,111 -1----,--~~ - ~ - ~ - - ~-~--~--~ -~- -~------' t •ssaiaaaasõ- - aªe~õõõssg~~ass•ata~~=-=~~~ ~Jt; l ~lllilJ~i l 1lll lllil~tt~l il2l~il~lt ; l Figura 1.11 - Evolução histórica dos preços do algodão em pluma, representados pelo Indicador Cepea/Esalq, nominais e deflacionados pelo IGP-DI, base maio/13 = 1,00. Fonte: CEPEA, 2013. Esse cálculo faz parte da tomada de decisão no mercado, demonstrando a concorrência do produto interno versus o externo. Assim, por exemplo, como se pode ver da Figura 1.12, em 2001 o mercado interno remunerava 1nelhor que a venda do produto para exportação. Nesse caso, para o fornecedor era melhor vender no mercado doméstico, valendo o raciocínio inverso para o comprador. Aspectos econômicos ◄,IJl5 --------------------------. :1Jfl ·---"- - -··- - - -·· - -···- ····•-· -· - - .... - ·--···-•···----·-- --- ·- · ··-· .... - 3,ifi 3,111 :1.~ 3,:11 ··- ·- -· - - - ·--·····-··"· · •·•- - ..... - . ----· - -·-··-·· -•·-•··- --·· .. ·• --· --- - 3,15 .. --- ··-····- · - -··-· ---------·---······--··--- 1111 :1Jll - ·-- ·--··- . --·- -- ·---.. - ·- -------.... - .... -. 2,115 -- ··- - - --·· ··--·-••"""' ___ ,.... ---- ·-·-····- -···•- ··-·- 2,JO .. - -·--- .. -- ·-·-- ---····-·-·--- - - ·-· - ···- ····--·---··---- . -·. -·· ··-· ··- - 2.55 ··- -- 2.~ --·---·--·------·------.. --····-·- ·-·--·-·-·· -· Q. ~ ··--· .. - ·- - •. ------ ·---- - -·-·----· · - - ----- s 2,10 ~ 1.as 1,111 ·-·-· ... 1,15 1,50 1~ 1,31 1.115 ---=- -- - 0,111 O,i6 0,111 O,L5 0,30 0,15 O.Ili ~-r-,,.............--,-,-.,.........-,--y--,-,~-.--T---r-..----.--r-T"""T"""T--.--,--,---,----r---r-ir"""'T"""T"-' __ NNN~~~-~~~~~~mg~~~~g~~~~nnn---nNN~ !l~!!gll~!lg 2 ! 8 l~ 8 ilª~~s1;õi§iji§õ§§õ Qr.~Qr.iQr.~Qr.ii~iQ~l~~!Qr.lR~IQr-~Qr.iR~i ------------------------------------aooooooaaooocooooaooooccoooooooooooo ,,_P■aiUA RMI 25 Figura 1.12 - Paridade de exportação do algodão (ValorParanagua), Free Along Side (F AS) no porto de Paranaguá e relação com o Indicador Cepea/Esalq (Ind8diasBRA). Fonte: CEPEA, 2013. Diferenças regionais na estrutura de produção e comercialização do algodão Conforme analisado anteriormente, a cotonicultura brasileira migrou do Sul/Sudeste para o Centro-Oeste e Bahia, com reflexos na estrutura produtiva das propriedades agrícolas. Este tópico tem como objetivo apresentar alguns diferenciais aspectos importantes entre as principais regiões produtoras de algodão do Brasil. Anteriormente à migração da cotonicultura para o cerrado ( especificamente em 1996), as propriedades modais de algodão se encaixavam em módulos de extensão menores que 100 hectares, podendo ser caracterizadas como pequenas propriedades para os padrões atuais, quando comparadas às situadas nas regiões Centro- Oeste e Norte. 26 Alves. Lima e Ferreira Filho Novas alternativas para os problemas do cultivo de algodão no Brasil, como a elevação dos custos de produção, foram desenvolvidos no tempo. De acordo com Fc1Teira Filho, Alves e Gottardo (201 O), o primeiro deles foi a introdução do algodão de segunda safra que, em vários anos, teve melhor resultado econômico que o cultivo convencional. Nesse sistema, produtores cu ltivam a soja mais cedo (mês de setembro) e com variedades precoces, para, em seguida, efetuar o plantio de algodão (em geral, no mês de janeiro do ano seguinte). Já na safra 2008/09, visando à redução do risco e diluição de custos fixos, os produtores brasileiros iniciaram a utilização em largaescala do cultivo do algodoeiro no sistema adensado, também chamado de cultivo em sulcos estreitos, ou narrow row (NR). Como tal tecnologia já era utilizada em outros países, como na Argentina, Paraguai e Estados Unidos, e com bons resultados, os produtores brasileiros foram ainda mais estimulados a testar o novo sistema. A Tabela 1.2 apresenta as áreas da propriedade representativa das principais regiões produtoras de algodão, ou seja, o módulo de produção típico com maior representatividade em cada localidade. Além disso, são detalhadas as áreas algodão safra, algodão 2ª safra 0,76 m e algodão 2ª safra adensado dentro de cada uma dessas propriedades representativas. O levantamento das infonnações foi realizado pelo CEPEA através de reuniões entre pesquisadores, técnicos e produtores em cada região de referência, em metodologia deno1ninada painel. A área da propriedade representativa é composta por área agrícola própria e arrendada, área de preservação permanente, reserva legal e área agrícola sem exploração (pousio). De modo geral, nota-se que a cotonicultura do cerrado possui padrões de propriedades maiores das do Sul/Sudeste do País, conforme mencionado anterio1mente. Em nenhuma das regiões analisadas pelo CEPEA encontram-se áreas inferiores a l.500 ha (Tabela 1.2), ressaltando-se que Bahia e Mato Grosso possuem as maiores áreas. Em Luís Eduardo Magalhães (LEM), a propriedade típica é de 6.269,2 ha e, em Rondonópolis (RND), de 9.37.5,0 ha.4 4 Os dados c~lctados pcl? ~epea foram obtidos pela técnica de painel, que consiste cm reuniões entr~ pcsqu1sad~r~s, lecn1cos e produtores em c~da região de referência. No painel, em conJ~nto os parllc1p,~ntcs procuram desenhar um sistema típico de produção de dctcnninnda localidudc. Todos os itens do custo são dctalh..idos. Aspectos eco11ómicos 27 Tabela 1.2 - Propriedade representativa e área semeada com algodão safra, algodão 2fl safra 0,76 m e algodão 2ª safra adensado nas principais regiões produtoras do Brasil - safra 2010/ l l Safra 2010/11 Algodão 2ª Algodão 2ª Propriedade Estado Local Algodão Safra Safra 0,76 Representativa Safra (ha) m(ha) Adensado (ha) (ha) MS CHS 700,0 2.400,0 SRS 1.500,0 750,0 750,0 6.250,0 CNP l .000,0 400,0 100,0 5.714,3 MT l. 764,7 CVD 500,0 200,0 PRM 4.500,0 9.375,0 GO RVD BA LEM 1.500,0 6.269,2 Obs.: SRS = Sorriso/MT; CNP = Campo Novo do Parec1s/MT; CVD = Campo Vcrde/NlT; PRM = Primaverado Leste/MT; RVD = Rio Verde/GO: CHS = Chapadão do Sul/MS: LEM = Luís Eduardo Magalhães/BA. Fonte: CEPEA, 2013. Dessas regiões, com exceção de Primavera do Leste (PRM), o plantio do algodoeiro não predomina em área cultivada no verão, perdendo em área para o cultivo da soja. Na média dessas regiões, o plantio do algodoeiro ocupa 25% da área total, enquanto em PRM chega a quase 50% da área. Para o algodão 2ª safra O, 76 m, as áreas começam a ganhar espaços nos últimos anos; na safra 2010/11 ocupou na média 10% da área total. Junto às diferenças na dimensão da propriedade representativa está o tamanho do parque de máquinas. Na antiga cotonicultura do Sul e Sudeste, onde as propriedades eram menores, os tratores eram de baixa potência e a colheita ainda não era mecânica. No entanto, no Centro-Oeste ( com a predominância das propriedades de grande dimensão) não só é necessário que os tratores sejam de maiores potências, bem como a quantidade aumenta conforme o tamanho da 28 Alves. Lima e Ferreim Filho propriedade; os implementos também são maiores em áreas maiores. Esse modelo de porte e quantidade elevada de máquinas e implementos é indispensável para que o produtor de grandes áreas consiga realizar operações de cultivo dentro da janela ideal de tempo. Outro ponto importante a se destacar na caracterização das regiões é a fonna de captação de recursos para financiar o cultivo do algodoeiro ( despesas com insumos, tratos culturais, colheita etc.) que estão apresentados na Tabela 1.3. A fonna que apresenta maior participação para custear o plantio do algodoeiro, quando comparada às demais, é por intermédio de n1ultinacionais, tradings, cooperativas e revendas, ressaltando-se que em Campo Novo do Pareeis (CNP) 60% da lavoura é financiada dessa forma. Tabela 1.3 - Formas de financiamento das propriedades representativas das principais regiões produtoras de algodão - safra 2010/11 Fontes Multinacionais, Bancos Estado Local Tradings, Públicos Próprio Cooperativas e Recursos Outros Revendas Controlados MS CHS 20,00% 30,00% 20,00% 30,00% SRS 35,00% 25,00% 40,00% CNP 30,00% 60,00% 10,00% MT CVD 30,00% 50,00% 20,00% PRM 30,00% 50,00% 20,00% GO RVD 23,00% 57,00% 20,00% BA LEM 37,00% 30,00% 33,00% Obs.: SRS = Som so/MT; CNP = Campo Novo do Parec1s/MT; CVD = Campo Yerde/MT; PRM = Primavera do Leste/MT; RVD = Rio Vcrde/GO; CI-IS = Chapadão do Sul/MS: LEM = Luís Eduardo Magalhiies/BA. Fonte: CEPEA, 2013. Aspectos eco11à111icos 29 A captação de recursos para custeio em bancos à taxa de juros controlada apresenta a menor taxa de juros ao ano em relação às demais fontes. Em contrapartida, é restrita a um limite de valor por pessoa física e jurídica, o qual, devido aos altos custos das lavouras de algodão, representa um valor relativamente baixo para movimentar as atividades agrícolas (de 10% a 40% do custeio total). A nova cotonicultura apresenta altos custos por hectare com defensivos, o que vem crescendo a cada ano e que, somado às grandes áreas cultivadas, resulta em um montante demasiadamente elevado para ser coberto com recursos provenientes de bancos ou mesmo do próprio cotonicultor. Dessa fonna, a parcela de recursos captados pelos produtores junto a tradings e cooperativas tem aumentado nos últimos anos. Apesar disso, a parcela de recursos próprios do produtor de algodão tem representado em média 30% das suas necessidades de custeio. Considerações finais Verifica-se, portanto, que a reestruturação da cotonicultura brasileira a partir de meados da década dos anos 1990 teve impactos importantes no mercado de algodão do Brasil. A nova cotonicultura brasileira posiciona-se como uma das mais eficientes do mundo, em todos os seus aspectos principais, da produção à comercialização; no entanto, há desafios à evolução da atividade no Brasil. A intensificação da produção em grandes áreas tem ensejado o surgimento de novas e importantes pragas e doenças, o que pode ser atestado pela elevação da parcela de insumos químicos no custo de produção, cuja solução requer um investimento contínuo em ciência e tecnologia. Além disso, os desafios logísticos para o escoamento das safras a partir de regiões distantes dos portos, um problema antigo, persistem. A grande vantagem competitiva da cotonicultura nacional "dentro da p011eira" é rapidamente perdida quando se acrescentam os custos logísticos e de con1ercialização em geral. Essa perda de eficiência causada pelos elevados custos de transporte e de comercialização certamente compromete em muito a competitividade da produção nacional no mercado externo, fundamental para o incremento contínuo da produção brasileira de algodão. 30 Alves. lima e Ferreira Filho Referências ALVES, L. R. A. A reestruturação da cotonicultura no Brasil: fatores econômicos, institucionais e tecnológicos. 2006. 121 f. Tese (Doutorado cm Economia Aplicada) - Escola Superior da Agricultura "Luiz de Queiroz'', Universidade de São Paulo. Piracicaba, 2006. ALVES, L. R. A.: LIMA. F. F.; FERREIRA FILHO, J. B. S.; OSAKI, M.; RIBEIRO, R. G. Liberações de tecnologias geneticamente modificadas de algodão no Brasi l e no mundo. ln: CONGRESSO DA SOBER - SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMlNISTRAÇÀO E SOCIOLOGIA RURAL, 50., 20 12. Vitória. Anais ... Vitória: Sober, 2012. CÉLERES - Acompanhamento de adoção da biotecnologia agrícola. Disponível em: <http://www.celeres.com.br/imprensa.php>. Acesso em: jun. 2013. CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada.Disponível em: <http://www.cepea.esalq.usp.br/>. Acesso em: jun. 2013. COTLOOK - COITON OUTLOOK. Disponível em: http://www.cotlook.com/index.php. Acesso em: jun. 2012. CONAB Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/ l l _ 04_20 _ l l _ 04 _ 40 _yepro _ 2011 .. pdf>. Acesso em: jw1. 2012. CONAB - Companhia Nacional do Abastecimento. Safras - Série Histórica de Área Plantada, Produtividade e produção de algodão no Brasil. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a= 1252&t=2>. Acesso em: jun. 2013. CIB - Conselho de lnfonnações sobre Biotecnologia. CTNbio. Disponível em: <http://www.ctnbio.gov.br/index.php/contentJview/ l 4783.html>. Acesso em: jun. 2013. FERREIRA FlLHO, J. B. S.; ALVES, L. R. A; GOITARDO, L. C. B. Aspectos econômicos" do algodão no cerrado: ajustes estruturais e consolidação. ln: FREIRE, E. e. (Org.). Algodão no cerrado do Brasil. 2. ed. Aparecida de Goiânia: Mundial Gráfica, 2011, p. 61-100. LBGE - Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Tabela 16 l 2 - Área plantada, área colhida, quantidade produzida e valor da produção da lavoura temporária. Disponível em: <http://\\'W\v.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl3.asp?c= l 6 l 2&n=0&u=0&z=t&o= 11 &i= P>. Acesso em:jun. 2013. IBGE Instituto Brasileiro ele Geografia Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estalisticaeconomia/agropecuaria/censoagro/default.shtm>. Acesso em:jun. 201 2. MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia produtiva do algodão. Brasília : IICA : MAPNSPA, 2007. 108 p. SECEX - Secretaria de Comércio Exterior. Disponivel em: <http://www.desenvolvimento . . gov.br/sitio/>. Acesso em: jun.2013. USDA - UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Forcign Agricult1.tral Service (FAS). Disponível em: < http://www.fas.usda.gov/>. Acesso em: jun.2012. ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES 2 Eleusio Curve/o Freire' João Luiz Ribas Pessa2 A organização dos produtores de algodão, nas regiões tradicionais de cultivo (Nordeste, Sudeste e Sul), sempre foi incipiente, quando muito eles estavam associados em cooperativas de produção, que se encarregavam do recebimento do algodão em caroço, seu beneficiamento e a comercialização da pluma, do óleo e da torta de algodão, com repasse dos lucros aos associados. Porém, até a década de 1980, os produtores de algodão do Brasil não tinham a pretenção de se organizarem em associações, apesar de esse modelo já predominar há décadas nos Estados Unidos e em alguns países da África. Como resultado dessa organização deficiente, os produtores de algodão não conseguiam fazer seus interesses serem respeitados nem influenciavam nas políticas para a cadeia do algodão no Brasil. Muito pelo contrário, a maioria das decisões tomadas pelo governo em benefício dessa cadeia, na realidade, levava em conta sempre as demandas da indústria têxtil ou decisões técnicas oriundas da tecnocracia do próprio governo. Por outro lado, os produtores de soja, constituídos em sua maioria por imigrantes europeus, instalados nos Estados do Sul, 1 Engenheiro-Agrônomo. M. Se. D.S; e Consultor da Cotton Consultoria - Campina Grandc-PB. E-mai 1: cottonco nsu horia@gma i 1. com 1 Engenheiro. Consclhdro da ABRAPA, Diretor da GFN Agrícola SA. E-mail: pcssa@abmpa.com.br 32 Freire e Pessu cresceram organizados em cooperativas e, quando sentiram a necessidade de se expandir, o que não conseguiam nesses Estados, saíram em busca de novas áreas na fronteira da região Centro-Oeste. Assim, em meados de 1970, teve início uma leva de migração interna, inic iando pelo Mato Grosso do Sul , na região de Dourados, e depois para o Mato Grosso, na década de 1980. Esses migrantes adentraram regiões onde somente havia pasto e cerrados ralos, com ausência total de infraestn1tura ou organização administrativa. Sem ter a quem reclamar ou reivindicar, restou aos pioneiros se organ izarem e trabalharem, para viabilizar a fronteira do Centro-Oeste. Os Primeiros Movimentos de Organização no Cerrado Nasceram daí as primeiras organizações dos produtores buscando viabilizar e criar as condições mínimas necessárias para abrir a nova fronteira. Como vinham do Sul, trouxeram a experiência e o capital provenientes do lucro das lavouras conduzidas nos Estados de origem, ou mesmo investiram o resultado da venda de propriedades menores e altamente valo1izadas. Ajudou também a tradição dos produtores, que facilitou o crédito junto à rede bancária, permitindo os financiamentos das novas lavouras (PESSA, 2011). Os pioneiros foram para o cerrado com algum capital financeiro e tecnológico e, mais do que tudo, com conceitos de organização e trabalho em conjunto. Não havendo a facilidade de aglutinação de produtores em cooperativas, primeiro pela existência do pequeno número em cada região e segundo pelas distâncias, a solução foi criar parcerias entre vizinhos para viabilizar atividades de infraestrutura, como estradas, energia. A procura por tecnologias de produção levou à criação de fundações de pesquisa, corno a Fundação Mato Grosso, Fundação Cerrados, ~undaç~o Chapadão, Fundação Goiás e Fundação Bahia, q~e, _ associadas a ~mbrapa, toram as grandes responsáveis pela d1fusao da tecnologia de plantt0 no cerrado. Os proprietários rurais inte~alizaram o capita l necessário para as ins tituições de pesquisa fu.n~10narem e gerarem as tecnologias para viabilização das suas at1v1dades (PESSA, 2011 ). O algodão só veio para O cerrado após as Organi::açâo dos produtores 33 crises que inviabilizaram seu plantio no Nordeste, Sul e Sudeste. O bicudo e políticas públicas erradas acabaram com os plantios no Nordeste do Brasil e nos Estados sulistas. A Embrapa iniciou o desenvolvimento de tecnologias próprias para o ceITado, trabalhando com o Grupo Itamaraty, em Campo Novos dos Parecis-MT; depois em associação com a Fundação Mato Grosso em Rondonópolis-MT; e, logo em seguida, com as demais fundações de Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia, onde foram efetuados os trabalhos de adaptação dos cultivares de algodão às condições do cerrado. Com o lançamento do cultivar CNP A IT A 90, em 1992, no Mato Grosso, os produtores sentiram-se seguros para utilizar o algodão como alternativa econômica para a soja. Com o algodão mostrando sua viabilidade, começou o verdadeiro movimento de organização do produtor. A ideia genial que acabou sendo a semente para que os produtores se organizassem foi a criação do Programa de Incentivo à Cultura do Algodão do Mato Grosso (Proalmat). Essa ideia nasceu nas fileiras dos produtores que vinham-se organizando, não só na Fundação MT, mas em diversas entidades, como uma fonna de criar um incentivo ao plantio do algodão tecnificado no cerrado. Assessores da Fundação MT captaram a ideia e elaboraram uma lei propondo a renúncia fiscal de ICMS do governo do Estado de Mato Grosso, que estabelecia as condições para permitir aos produtores a retenção de 75% do ICMS. Dos 75% do ICMS renunciados pelo Estado, o produtor recolheria 15% para o Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual), ad1ninistrado por representantes de cinco entidades públicas e privadas, qüe direcionavam esses recursos para diferentes áreas, como pesquisa, transferência de tecnologia, marketing, comercialização, meio ambiente, serviço social e educação. O Facual passou a ser gerido atendendo às demandas dos produtores encaminhadas pela Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), que, juntamente com as entidades e pessoas que administravam o fundo, gerenciavam os recursos do Facual, através da liberação de recursos para projetos analisados e acompanhados pelo Facual. A lei que criou o Facual foi posterionnente adotada pelos Estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia, com as denominações de Pluma, Proalminas. Proalgo. e Fundeagro. respectivamente. 34 A história da criação da Abrapa e suas associadasFreire e Pessa É consensual que os produtores de algodão do Brasi l conseguiram criar uma das melhores organizações de produtores, reconhecida pelo setor público e privado como legítima representante de todos os cotonicultores brasileiros. O segredo desse sucesso e da credibilidade da associação brasileira dos produtores de algodão (Abrapa) e de suas correspondentes associadas estaduais - Ampa (Mato Grosso); Ampasul (Mato Grosso do Sul); APPA (São Paulo); Amipa (Minas Gerais); Acopar (Paraná); Agopa (Goiás); Abapa (Bahia); Amapa (Maranhão) e a Apipa (Piauí) é que estão calcadas em princípios éticos que se encontram acima dos interesses individuais ou das suas corporativistas. Quando da criação da Abrapa em 1999, os produtores escolheram eleger uma diretoria provisória com a missão de criar, em seis meses, associações estaduais nos principais estados produtores de algodão, seguindo os moldes do Estado de Mato Grosso, que contava com a Ampa, criada em 1997. O modelo adotado foi de uma organização nacional, que representa as associações estaduais, que por sua vez representam os produtores de cada região. Dessa forma, a Abrapa foi elevada à condição de entidade federativa, com a missão de representar as organizações estaduais perante o governo federal e entidades privadas da cadeia têxtil no contexto nacional. A legitimidade da Abrapa como representante nacional se estabeleceu no momento em que todos os Estados discutiram e votaram a melhor fonna estatutária de gestão e também ao contar em sua diretoria, obrigatoriamente, com representantes de todas as unidades federativas. O presidente de cada associação estadual faz parte automaticamente do Conselho Diretor, assim como os seus ex-presidentes. Os princípios que regem as organizações dos produtores A Abrapa, desde sua fundação, teve o entendimento de que a cotonicultura faz parte de um contexto em que a cadeia têxtil como Organização dos produtores 35 um todo e o governo são partes de uma equação importante para a sustentabilidade da cultura. Uma cadeia produtiva tem que lembrar que a concorrência hoj e não está mais restrita a um país ou nação. Um produto que não tenha custo competitivo internacionalmente vai sair do mercado, passando a ser produzido em outro país em maior escala, exportando empregos e afetando negativamente a balança comercial. A sustentabilidade de uma atividade é responsabilidade de todos - empregados, empregadores, empresas fornecedoras, produtores, consumidores e o próprio governo. Desde sua fundação, a Abrapa praticou a política de fazer o melhor para a classe, sem esquecer o contexto em que está inserida. Ao participar em conjunto co1n a indústria têxtil, junto ao governo, da discussão dos mecanismos de apoio à comercialização, levam-se em consideração os impactos que as decisões conjuntas podem ter para os produtores e também para seus parceiros. Essa estratégia de trabalho possibilitou que a Abrapa conseguisse do governo a desobrigação da classificação oficial e a mudança da padronização de classificação de nosso algodão com visível ganho para todo o setor. A conquista dos mercados interno e externo A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), também teve papel importante para incentivar os produtores do cerrado. Através de empresas capitaneadas pela Santista, que teve a visão de que a indústria têxtil para ser competitiva, precisa contar com matéria- prima produzida no próprio país e de que, não dependendo de importação, os estoques possam ser menores. Inicialmente a Santista atuou no Mato Grosso, incentivando os produtores a plantarem e garantindo que sua empresa compraria tudo o que fosse produzido. O aumento de produção foi de tal dimensão que logo extrapolou as expectativas, obrigando a Santista a sensibilizar mais empresas a assumirem o compron1isso de absorver o que se produzia. Nessa época foi feita a primeira exportação de algodão do cerrado, con1 os produtores se cotizando e colocando, através da Santista, 20 cargas de algodão, mesmo com prejuízo, pois o preço interno era melhor e o mercado externo não pagou o que valia 36 Freire e Pessa nosso algodão, então considerado um produto desconhecido pelo mercado. Foi assim lançada a semente da busca de novos mercados exte111os através de um traba lho coletivo de marketing. Quando a produção passou a ser mais significativa, a busca de suprir totalmente o mercado interno e evitar a concorrência com o produto importado se tomou imperi osa. Visitas foram programadas por produtores, suas cooperativas e suas associações estaduais aos centros industriais têxteis do mercado brasileiro. Os Estados do Nordeste, Sul e Sudeste tiveram seus parques têxteis visitados no intuito de mostrar o novo algodão que o cerrado produzia. Seminários, congressos e reuniões serviram como ponto de encontro para transmitir os avanços tecnológicos em todas as áreas e, também, para promover o produto. Nas visitas às indústrias foram efetuados convites para que seus diretores visitassem as fazendas e algodoeiras do cerrado, para conhecerem a qualidade da produção e da pluma. Na década de 1990, paulatinamente o mercado interno foi substituindo a fibra importada pelo produto nacional, inclusive porque o preço, a qualidade e a logística tomavam o processo cada vez mais rápido. A eficiência em incrementar a produção através do aumento constante de área e os ganhos em produtividade possibilitaram que a partir de 2001 fosse produzido no Brasil todo o algodão necessário para nosso consumo industiial. Nos anos seguintes os produtores viram os preços caírem e chegaram à conclusão de que a continuidade do crescimento da cotonicultura passaria a depender da conquista do mercado externo. O processo de avanço no mercado externo seguiu passos semelhantes aos dados por ocasião da conquista do mercado interno. Eventos internacionais, como Icac, ITMF, Bolsa de Bremen, congressos na Austrália e jantar anual em Liverpool (ICA), passaram a fazer parte do calendário obrigatório de visita dos produtores, buscando melhor conhecimento do mercado internacional e promovendo nosso algodão. Em contrapartida, os produtores brasileiros em visitas ao exterior trouxeram, através de convites, os comerciantes internacionais e industriais têxteis de todo o mundo para conhecerem a nossa realidade. Relevantes também foram as visitas comerciais fe itas diretamente às indústrias têxteis nos diversos países e que continuam a Organização dos produtores 37 ~erem realizadas até hoje. Países corno o Japão, Itália, Turquia, China, India, Paquistão, Bangladesh, Inglaterra, Coreia, Tailândia, Taiwan, Argentina e muitos outros receberam visitas e também tiveram industriais têxteis visitando nosso país. Os resultados aí estão, o mercado interno está tota lmente conquistado e ocupamos hoje entre a quarta e a quinta posição corno maiores exportadores de algodão do mundo. A comercialização do algodão do Brasil já se faz de maneira eficiente e igual à realizada pelos países que mais exportam. Contratos futuros para exportação em dólar são feitos com antecedência de vários anos. Isto permite ao produtor programar suas compras e plantios tendo a garantia de que o produto será colocado a um preço acima dos seus custos. O papel do governo no apoio ao algodão brasileiro Já foi comentada a importância da contribuição dos governos estaduais, que estabeleceram os programas de apoio à cultura do algodão. Os recursos advindos desses programas estão sendo administrados por Fundos para financiar a pesquisa, marketing, programas sociais e culturais. O apoio do governo federal se fez através do Ministério da Agricultura, da Secretaria de Política Agrícola e da Conab, orgãos de grande importância para a sustentabilidade do algodão. A Secretaria de Política Agrícola tem apoiado os produtores através de mecanismos que corrigem distorções de mercado, com beneficios para a cadeia têxtil. Muito importantefoi a criação do Fórum de Competitividade da Cadeia Têxtil, promovido pelo MDIC, que ajudou bastante no passado, desobstruindo alguns gargalos que atrapalhavam a cadeia, como a lei de classificação nas exportações. A criação da Câmara Técnica do Algodão é um importante mecanismo, que veio a dar forma oficial e organizar os entendimentos entre os diversos elos da cadeia têxtil. Esta câmara tem trazido visíveis ganhos para o setor que conta agora com uma organização que traduz, filtra e consolida o necessário entendimento entTe o setor privado e o setor público. 38 Freire e ?essa É visível a evolução que tivemos nos mecanismos de apoio à comercialização. O governo sempre contou com dados bastante confiáveis sobre área plantada e produção, levantados pela Conab, para orientar nas políticas a serem adotadas a cada safra. Para lançar mão de mecanismos eficientes de apoio à comercialização, faltava ter acesso aos dados de quanto algodão já estava vendido para os mercados interno e externo através de contratos, e isso se tornou possível através dos levantamentos feitos pela organização dos produtores. Os primeiros programas disponíveis, há alguns anos, limitavam-se ao AGF, EGF e PEP, Contratos de opção e Prop. Da evolução desses programas, surgiu o Pepro, que corrige a maioria das distorções dos programas anteriores. De todos os mecanismos, este é o mais justo e eficiente e que só foi adotado porque a classe produtora está muito organizada e o governo convencido de que existe um c01nprometimento com o uso correto desse mecanismo. O Pepro conseguiu tornar realidade a forma mais justa e confiável para que os recursos do orçamento do Ministério da Agricultura cheguem diretamente à mão dos produtores. Esse mecanismo já mostrou sua eficiência no passado e será ferramenta fundamental no futuro, para dar sustentabilidade aos contratos futuros. A agricultura familiar e o algodão Um dos maiores enganos que se comete no Brasil atualmente é achar que a agricultura familiar e a empresarial não são atividades compatíveis, já que ambas se utilizam da terra e tratam do mesmo negócio, só que em escala diferente. A orgaruzação dos pequenos produtores em cooperativas e associações tem de forçosamente valer-se de gestores, para poder buscar novas tecnologias, equipamentos e mercado, e estar atenta ao que acontece da porteira para fora das prop1iedades. Observa-se que as condições mírumas para que a agricultura familiar se desenvolva incluem: 1 - organizar os produtores em cooperativas e associações; 2 - dar acesso à terra; 3 - ensiná-los a plantar e a manejar as culturas; 4 - fornecer adubo, sementes e defensivos; 5 - fornecer equipamentos; 6 - colocar seus produtos no mercado; e 7 - garantir sua viabilidade econômica. Organização dos produtores 39 No caso específico do alg0.dão, a agricultura familiar so e viável com o desenvolvimento de variedades que agreguem valor ao produto, a exemplo do algodão colorido e do algodão orgânico, que, com alto valor no mercado, remuneram e viabi lizam a produção em pequena escala. Mesmo esses programas têm de estar vinculados a cadeias integradas de produção, descaroçamento, fiação, tecelagem e comercialização para garantir sua s ustentabilidade e permanência no mercado, como nos exemplos de sucesso já comprovados do a lgodão colorido da Paraíba e dos agricultores familiares de Catuti-MG. As organizações cooperativas no cerrado É bastante conhecida a importância que as cooperativas tiveram na organização e consolidação da agricultura de alta tecnologia e financeiramente sustentada nos Estados do Sul e Sudeste nas décadas de 1970 e 1980. Os Estados do Sul viram crescer cooperativas fortes, que fizeram investimentos importantíssimos em armazéns, secadores, algodoeiras, indústrias de á lcool, indústrias de esmagamento de soja, fiações e assim por diante. Essas cooperativas tiveram que prover os produtores de estruturas que eles não tinham nem podiam construir, seja pelas condições financeiras, seja mesmo pela pequena economia de escala, afinal pequenas e médias propiiedades não justificam grandes unidades armazenadoras ou fabris. No Centro-Oeste, as cooperativas foram formadas por produtores que já haviam feito grandes investimentos em imobilizados. Primeiramente porque não havia produtores disttibuídos por todas as regiões que pudessem se aglutinar e criar cooperativas, depois porque regiões muito extensas não permitiram centralizar unidades em áreas estratégicas. Partindo da necessidade de ter laboratórios de classificação de algodão em conjunto, as prüneiras cooperativas começaram a ser formadas . Como os produtores já estavam estruturados em termos de algodoeiras e a1mazéns, essas cooperativas nasceram com a característica de grandes prestadoras de serviço com baixo capital investido (na cooperativa), embora contando com estrutura c01nplexa através de seus cooperados. 40 Freire e Pessa Da classifi cação já se evoluiu para outros serviços, como no caso da Unicotton, que promoveu programa para obter a certificação das algodoeiras de seus associados com a ISO 9000, tendo também seu laboratório certificado. As compras de defensivos, fertilizantes e materi ais para enfardamento passaram a ser fe itas em conjunto. Na área de vendas, passaram a vender em pool para atingir mercados com lotes de melhor qualidade. Os mecanismos de apoio à comercialização lançados pela Secretaria de Política Agrícola e a nova regra de recolhimento do PIS/Cofins deram o impulso final para que a maioria dos produtores de algodão dos cerrados procurasse se organizar em cooperativas. No primeiro caso, as cooperativas participam disputando nos leilões e permitindo maior transparência; no caso dos impostos, a venda através de cooperativas para as indústrias têxteis é a única maneira de não perderem o crédito do PIS/Cofins. O processo cooperativis ta no cerrado continua evoluindo. Além das diversas cooperativas süngulares regionais, um novo tipo de cooperativismo está sendo criado: são as cooperativas formadas para prestação de serviços em áreas que demandam grande escala de operação para serem viáveis. Este é o caso da Cooperativa Agroindustrial do Centro-Oeste do Brasil (Coabra), cooperativa que agrega associados de vários Estados e que é responsável pela importação de mais de 500 mil toneladas de fertilizantes anualmente. Temos o caso do Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro (CCAB), que, embora sendo uma S.A., tem como acionistas mais de I 5 cooperativas e se dedica à produção e importação de defensivos químicos. Também na área do biocombustível, os produtores estão investindo em unidades industriais de grande produção, através do cooperativismo, como é o caso da Allcoton em Goiás e da Cooperbio, formada pelos associados da Ampa em Cuiabá. O cooperativismo tem sido a fom1a de os produtores do cerrado se manterem na atividade. Tendo altos custos de logística, a única forma de continuarem no mercado é através do aumento da produtividade e diminuição dos custos; para isso se faz necessária a aglutinação em conglomerados que pem1itam economia de escala. Organização dos produtores 41 Evolução mais recente das organizações dos produtores Coabra - Cooperativa Agroindustrial do Centro- Oeste do Brasil A Coabra nasceu da experiência de alguns produtores na importação direta de fertilizantes, como Cloreto de Potássio, Super Simples etc., para posterior formulação - em unidades misturadoras de empresas prestadoras de serviço ou diretamente nas fazendas pelos produtores. Com a pressão das grandes empresas misturadoras sobre as importadoras-fornecedoras dos produtos in natura, os produtores se viram excluídos do mercado de itnportação por não terem mais seus pedidos atendidos. A solução foi a criação de uma cooperativa para agregar os que individualmente já importavam fertilizantes e aumentar o potencial de compra buscando a adesão de mais produtores. Comesse intuito, em março de 2000, reuniram-se 38 produtores, sendo 18 do Mato Grosso do Sul e 20 do Mato Grosso, para fundarem a Coabra. Essa cooperativa tem hoje 358 associados e é a maior acionista da CCAB - Participações S.A. e é também acionista da Libero Commodities, empresas dos produtores também citadas neste capítulo. Desde sua fundação até o ano de 2010, importou 2.750 milhões de toneladas de fertilizantes, movitnentando mais de 1,3 bilhão de dólares. Conta com filiais em Campo Grande-MS, Rondonópolis-MT, Chapadão do Céu-GO, Paranaguá-PR e Patrocínio-MG. Os principais países fornecedores de potássio para a Coabra têm sido Canadá, Rússia, China, Israel e Holanda; e de fósforo e nitrogenados, a Rússia. Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro O desenvolvimento do modelo de negócio do CCAB iniciou quando, em junho de 2004, executivos oriundos de grandes empresas multinacionais e um grnpo restrito de produtores começaram a discutir a ideia de procurarem um modelo de negócio ligado à área de produção, com o objetivo principal de explorar as oportunidades existentes no suprimento da cadeia do agronegócio. 42 Freire e Pessa O foco principal foi criar, crescer e agregar valor à cadeia de suprimento do agroncgócio; dessa forma , a criação do CCAB Agro, uma empresa focada cm defensivos para lavoura, foi uma consequência lógica e natural, considerando que, assim como os fertilizantes, os defensivos são os que mais impactam no custo de produção. A CCAB Agro Ltda. iniciou sua operação em outubro de 2007, planejando o registro de princípios ativos - condição necessária para a importação, fabricação e comercialização de produtos químicos. Logo em seguida foi criada a CCAB Projetos e Soluções Financeiras Ltda.; iniciando suas operações em novembro de 2007. Esta empresa, encarregada da assessoria financeira e de procurar através de serviços complementar o atendimento aos acionistas, é o braço do CCAB, que busca no mercado parcerias e profissionais competentes para operações acessórias, como contratação de seguros, logística, alavancagem financeira etc. Hoje o CCAB é encabeçado por uma Holding - CCAB S.A., formada por 15 cooperativas que detêm o controle acionário, tendo como braços a CCAB Agro Ltda. e a CCAB Projetos Ltda., bem corno compreende uma divisão que trata dos "Negócios Adicionais", não cobertos pelas empresas anteriores. Os seus associados respondem por 69% da área plantada de algodão do Brasil, 18% da área de soja, 11 % da de n1ilho e 14% da de café. O faturamento dessas atividades dos associados é da ordem de US$ 7,5 bilhões no período de uma safra, o que corresponde ao potencial de consumo de 20% dos defensivos que se comercializam no Brasil. Sua atuação cobre o atendimento aos acionistas e cooperados no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Santa Catarina e Minas Gerais e continua aumentando, assim como investindo na busca de ofertar maior variedade de defensivos. O CCAB procura ser a mais completa organização de produtores de todo o Brasil na cadeia de suprimento agrícola, considerando que conta também entre seus acionistas con1 a Coabra, especializada em suprir fertilizantes aos produtores. Os associados da CCAB Participações S.A. são formados por importantes cooperativas de produtores do Brasil, comprometidas com Organização dos produtores 43 a viabilidade de seus cooperados, oferecendo produtos de alta qualidade, com preços competitivos, repassando as vantagens para os seus acionistas, ou seja, para os produtores, através de suas cooperativas. Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) No decorrer dos últimos anos, certamente o caso de maior repercussão foi - e ainda é - o "Acordo-Quadro para uma Solução Mutuamente Acordada para o Contencioso do Algodão na Organização Mundial do Comércio (WT/DS267)", celebrado entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos da América (EUA), que suspendeu o processo de retaliação comercial que o Brasil imporia aos EUA, após autorização legal e definitiva concedida pela OMC. Em 31 de agosto de 2009, a OMC autorizou o governo brasileiro a retaliar os EUA. O valor mínin10, resultado dos subsídios ilegais concedidos ( calculados de acordo com os números relativos ao ano-base (2006), foi de pouco menos de US$ 300 milhões. Porém, considerando que nos últimos anos os subsídios norte-americanos cresceram muito, estimou-se que o valor calculado sobre o ano-base 2009 alcançaria US$ 830 milhões. À época não faltaram setores interessados em se beneficiarem dos ganhos que um eventual acordo poderia proporcionar. Mas a diretoria da Abrapa sempre foi fume no sentido de que a própria Abrapa é legítima interessada tanto na retaliação quanto no caso de um eventual acordo e de que o setor cotonicultor brasileiro deveria ser o principal favorecido. A proposta foi a criação, pela Abrapa, de um instituto p1ivado, o IBA, com a finalidade de gerir e aplicar os recursos recebidos pelo governo dos EUA como parte de um eventual acordo para suspensão temporária da retaliação autorizada pela OMC no contencioso do algodão. Os valores que seriam recebidos teriam a natureza de recursos privados, pois dec01Teria de compensação temporária pelos prejuízos causados pelo não cumprimento das decisões da OMC. No acordo celebrado entre os goven1os, os EUA se comprometeram a fazer uma transferência inicial de US$ 30 milhões, uma segunda no valor de US$ 4,3 n1ilhões e transferências mensais, a partir de julho de 20 l O, da ordem de US$ 12,275 milhões. 44 Freire e Pessa Uma das exigências das autoridades negociadoras dos EU A era que os recursos não fossem utilizados em pesquisa, mas pode1;am ser destinados: ao controle, mitigação e erradicação de pragas e doenças; à tecnologia pós-colheita; à compra e uso de bens de capital; à pron1oção do uso do algodão; à adoção de cultivares; à observância das leis trabalhistas; ao treinamento; a serviços de informação de 1nercado; à gestão e conservação de recursos naturais; à melhoria da qualidade do algodão e dos serviços de classificação; a serviços de extensão; à cooperação internacional; e ao custeio de despesas administrativas. A Abrapa e suas afiliadas estaduais propõem projetos que são discutidos em assembleias, e, uma vez aprovados, autoriza-se o Conselho Gestor do IMA a contratar sua implementação e acompanhamento. Cooperativa de Biocombustível (Cooperbio) Em 2006, a Ampa, ouvindo a preocupação de seus associados com o alto custo de produção das lavouras, constatou a alta significativa nos con1bustíveis, um dos principais insumos na composição dos custos. Insumo este que representava no passado 4% e atingia na época o patainar dos dois dígitos, ficando acima dos 12%. Com o advento do biodiesel, a A1npa encomendou um estudo de viabilidade técnica e econômica para a construção de uma indústria de biodiesel, através do IMA. O estudo de viabilidade indicou a construção de uma indústria de biodiesel com escala de produção acima de 120 mil litros/dia. Consultados os assessores jurídicos, estes aconselharam a A1npa a constituir uma empresa, considerando que, como associação, não poderia ter interesses econômicos. Dessa forma, criou-se a Cooperbio - com direito de filiação dos associados da Ampa e dos associados da Aprosoja. A Cooperbio se diferencia das cooperativas usuahnente formadas, pela sua característica de ser un1a indústria de produção de biodiesel que tem o número de cotas de participação atreladas à capacidade de produção. A forma de admitir os cooperados e estabelecer a cota de cada um foi associar a produção da fábrica à capacidade de produção e consumo de cada um de seus cooperados. Organização dos produtores 45 Instituto Algodão Social (IAS) Além de seus objetivos econômicos, os produtores adotaram a sustentabilidade como fundamento dos seus empreendimentos n1rais e priorizaram o seu comprometimento com a ética, a cidadania e prática da responsabilidade social; criandoem 06/09/2005, em Assembleia Geral da Ampa, o Instituto Algodão Social. O IAS foi criado com a missão de conscientizar o produtor de algodão sobre a importância do cumprimento das normas legais trabalhistas, de segurança do trabalho e ambientais como instrumento de sua permanência e competitividade no mercado. As ações foram iniciadas já na safra 2005/06, com a realização do Diagnóstico Inicial que foi disponibilizado para as fazendas dos associados da Ampa. Os critérios de avaliação atendem às normas internacionais da prática de Responsabilidade Social, bem como a legislação relativas à CLT e à Lei do Trabalho Rural e ao cumprimento das normas de segurança do trabalho que integram a norma regulamentadora NR 31. Consolidando o processo de melhoria contínua de construção da boa imagem do algodão de Mato Grosso, celebrou-se em 2007 uma parceria com a certificadora ABNT, para a execução do processo de certificação, que já resultou na venda e exportação de mais de dez milhões de fardos com o Selo de Conformidade Social. Este selo tem a finalidade de informar ao mercado que o algodão foi produzido de acordo com os princípios universais que caracterizam o chamado trabalho decente. Better Cotton lniciative (BCII) Esta entidade internacional foi criada em 2006 com o intuito de, sob a bandeira de BETTER COTTON, criar condições e regras a serem adotadas pelos produtores, visando trazer beneficios tanto para quem ~roduz quanto para o meio ambiente e a comunidade que o cerca. E uma organização sem fins lucrativos, voluntária e inclus iva. A entidade busca atingir metas, con10: reduzir o impacto do uso da água e de pesticidas em beneficio da saúde humana e preservar o meio ambiente; melhorar as condições dos solos e promover a biodiversidade; proporcionar melhores condições de trabalho para as 46 Freire e Pessa comunidades e aos trabalhadores na cultura do algodão; e aumentar a rastreabilidade em toda a cadeia de suprimento de algodão. Programa Socioambiental de Produção de Algodão (Psoal) O sucesso do programa do IAS no Mato Grosso levou a Abrapa a adotar seus procedimentos e normas também nacionalmente, criando o programa chamado Psoal, que foi implementado em todo o Brasil nas fazendas de algodão, visando a um plantio socialmente correto. Lançado em maio de 2009, foram promovidas palestras de mobilização dos produtores nos Estados, além de reuniões de instrução para os técnicos em Brasília. Foi estabelecido que, para ter direito à certificação, as fazendas que participaram do projeto tinham que atingir um míniJno de 80% das metas estabelecidas. Se1n dúvida, um programa ambicioso e necessário, estando disponível no site da Abrapa (www.abrapa.com.br) um check list que permite a autoavaliação; para aderir ao programa, basta que o produtor entre em contato com sua Associação Estadual. Em 2013, este programa passou a receber a denominação de Algodão Brasileiro Responsável (ABR), em que se procura implantar nas fazendas de algodão do Brasil as normas do Psoal e da BCI. A BCI, assim como o Psoal, e o ABR se complementaram, conferindo maior credibilidade interna e externa ao algodão brasileiro. Libero A Libero é uma empresa nascida no Brasil, com sede na Holanda e filiais no Brasil e em Genebra, e que objetiva o marketing e a comercialização dos produtos agrícolas produzidos no País. Tendo como principais sócios os produtores, promove parcerias com operadores de mercado, fon1ecedores de insumos, empresas operadoras de logística e as mais importantes fontes de recursos financeiros. A imprensa conta em seu quadro de associados com os 1naiores produtores do Centro-Oeste, que representan1 70% da produção do algodão, 15% da produção da soja e l 0% da produção do Organi=arao dos produtores 47 mi lho brasileiro. Sua área plantada passa de quatro milhões de hectares, o que lhe garante a tranquil idade de se lançar no mercado, sabendo que conta com fornecimento garantido de grande quantidade e variedade de produtos. A libero tem como propósito melhorar as condições no mercado e buscar oportunidades em basicamente quatro atividades: originação; marketing e comercialização; captação de recursos financeiros; e financiamentos internacionais. A organização dessas atividades resultaram na constituição da Libero Commodities Holding Bv, com duas subsidiárias brasileiras: a Libero Commodities do Brasil S.A., que comercializa os produtos no mercado interno brasileiro, e a Libero Commodities S.A., com sede na Suíça, que se encarrega da comercialização dos produtos internacionalmente. Além dessas, a Libero Serviços do Brasil atuará como provedora de serviços na originação e nas operações de apoio às outras duas empresas que comercializam. Esse modelo de empresa, em que 50% das ações estão com os produtores e os outros 50%, com acionistas que completam a cadeia da produção, comercialização, logística, financiamento e administração de riscos, é sem dúvida ímpar no mercado e que prenuncia que a Libero tem grande potencial de crescimento e sucesso num mercado altamente competitivo, volátil e que funciona em ritmo acelerado. Câmara técnica setorial da cadeia produtiva do algodão e seus derivados Embora a organização das câmaras setoriais seja uma iniciativa do governo através do Mapa, tem sido muito importante o envolvimento da Abrapa, que a preside. Para destacar a importância desta câmara, ressaltamos que em 2009 ela viabilizou a comercialização de 792 mil toneladas de algodão, graças ao apoio do governo, aportando R$ 550 milhões e delegando à Abrapa o compromisso de fazer com que esses recursos, de forma transparente e justa, chegassem realmente aos produtores. Estabeleceu, juntamente com o Mapa e a Embrapa, o Programa Nacional de Combate ao Bicudo. Regulamentou a prática de aimazcnamento de algodão a céu aberto. Promoveu o programa de 48 Freire e Pessa uni fonnização dos cri térios de classificação visual através da parceria Abrapa/Mapa, na instrução e reciclagem dos profiss ionais classificadores de pluma. Apoiou a importação de 250 mil toneladas de pluma pela indústria têx til bras ileira na nossa entressafra, através da liberação pelo governo do imposto de importação. A câmara criou a Agenda Estratégica 2010/2015, que, a lém das questões conjunturais, permite programar o futu ro resolvendo as chamadas questões estrutura is. Referências PESSA, J. L. R. A organização dos produtores de a lgodão. ln: FREIRE, E. C. (Ed.) Algodão no cerrado. 2. ed. Brasil ia: Abrapa, 2011. BOTÂNICA 3 Tricia Costa Lima' ~ 2 Leonardo Ângelo de Aquino Paulo Geraldo Berger3 Introdução O cultivo do algodão no Brasil, com o uso de espécies nativas e importadas, teve início nos primeiros anos da colonização. Dois famosos religiosos - padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta - defenderam a instalação de uma indústiia têxtil em nosso país. Em carta a Simão Rodrigues, superior dos jesuítas em Lisboa, Nóbrega pediu o envio de tecelões para fiar e tecer o algodão. Anchieta defendia a mesma opinião e a justificava: "Para vestir há muito algodão". Quanto aos indígenas brasileiros, Pero Vaz de Caminha na sua célebre Carta relata que usavam o algodão para fazer redes, faixas e também flechas incendiárias, cmn a ponta envolvida em chumaços, aos quais punham fogo. No México e no Pe1u também se encontraram objetos feito de algodão. É certo, portanto, que o algodão arbóreo existia em váiias partes das Américas, quando os europeus iniciaram as conquistas (COSTA, BUENO, 2004). 1 Engenheira-A&,rrônoma, D. Se. e Professora du Universidade Estadual do Goiús. E-mail: tclima7@gmail.com. 1 Engenhe iro-Agrônomo, D. Se. e Professor du Uniw rs icladc Fedaal de Viçosa - C' RP . E-mail : leonardo.uquino@ufv.br 3 Engenheiro-Agrônomo, D. Se. e Professor do Dep. ele Fitok"Cniu da Univcrsidudc Flxkml Jc Viçosa. E-mail: pgberger@ufv.br 50 lima. Aquino e Berger Classificação botânica O algodoeiro é uma planta
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