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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Psicologia Forense
Elaboração
Luiz Henrique Horta Hargreaves
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção .................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 5
introdução ..................................................................................................................................... 7
unidAdE úniCA
InvestIgação CrImInal .................................................................................................................... 9
CAPítulo 1
aspeCtos étICo-legaIs ......................................................................................................... 9
CAPítulo 2
psICologIa forense – aspeCtos ClínICos ....................................................................... 21
PArA (não) FinAlizAr ...................................................................................................................... 44
rEFErênCiAS .................................................................................................................................... 46
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem 
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela 
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade 
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos 
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma 
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para 
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar 
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a 
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de 
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões 
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao 
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos 
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
introdução
A Psicologia Forense também conhecida por psicologia criminal, psicologia policial, entre outras 
denominações, visa estudar e analisar o comportamento criminoso sob o ponto de vista psicológico. 
No Capítulo 1, estudaremos os aspectos gerais que envolvem a Psicologia Forense, como os conceitos 
e aplicabilidade na investigação policial, o chamado comportamento delinquente e as teorias de 
criminalidade que buscam o entendimento do por que do cometimento de crimes, bem como os 
aspectos legais, o que inclui a discussão sobre a responsabilidade criminal. 
O Capítulo 2 está voltado para o estudo dos aspectos clínicos, o que inclui a psicopatologia aplicada, 
a vitimologia, a avaliação psicológica e psiquiátrica de criminosos, a questão do uso de drogas 
e a criminalidade, bem como alguns aspectos relacionados às vítimas de crimes, o que inclui as 
síndromes de Estocolmo, do cativeiro e o estresse pós-traumático que também pode afligir o policial. 
Desejamos a todos um bom estudo!
objetivos
 » Conceituar Psicologia Forense, dimensionando sua importância e seu papel na 
investigação criminal e na criminologia;
 » Apresentar os aspectos relevantes da Psicologia Forense na Segurança Pública e 
Privada;
 » Discutir casos de problemas críticos ocorridos na área de Psicologia Forense;
 » Contextualizar a Psicologia Forense na Segurança Pública e Privada.
8
9
unidAdE úniCAinvEStigAção 
CriminAl
CAPítulo 1
Aspectos ético-legais
“A crença numa fonte sobrenatural do mal não é necessária. Homens sozinhos 
são capazes de toda e qualquer maldade.”
Joseph Conrad
Psicologia forense e investigação criminal
O que é Psicologia Forense? De acordo com o American Board of Forensic Psychology (ABFP), 
trata-se da “aplicação da ciência e da profissão de psicólogo em questões e problemas relacionados 
ao direito e aos assuntos legais”. 
Ainda de acordo com a ABFP, a Psicologia Forense possui as seguintes áreas de atuação:
 » Avaliação psicológica e depoimento como especialista em questões relativas a 
problemas criminais, como capacidade para alguém ser julgado, responsabilidade 
criminal, violência doméstica, violência contra as mulheres, dependência de drogas, 
distúrbios sexuais (NT: no texto em inglês são acrescentados aspectos legais na 
questão da pena de morte, não adotada no Brasil em Tempo de Paz e faz referência 
ao chamado “Miranda rigths” que seria o direito de permanecer calado para não 
criar provas contra si mesmo); 
 » Testemunhar e avaliar questões referentes a problemas não relacionadas à área 
criminal, como indenizações por acidentes, custódia de crianças, discriminação no 
emprego, incapacidade mental, imperícia profissional, tutela; 
 » Avaliação, consultoria e tratamento relacionados a indivíduos com alto grau de 
risco para comportamento agressivo em uma comunidade, no local de trabalho, 
ambulatorialmente ou em prisões;
 » Pesquisas, testemunhos e consultoria em questões psicológicas que provocam 
impacto em temas relacionados a processos legais, incluindo o depoimento de 
10
UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
testemunhas, seleção de jurados, depoimento de crianças, memórias represadas e 
publicidade pré-julgamento;» Tratamento especializado para indivíduos envolvidos no sistema legal; 
 » Consultoria para parlamentares sobre políticas públicas com implicações 
psicológicas;
 » Consultoria e treinamento de policiais, de tribunais criminais e sistemas penais; 
 » Consultoria e treinamento para sistemas de saúde mental e profissionais da área 
forense;
 » Mediação e resolução de conflitos; 
 » Desenvolvimento de programas e políticas na área de psicologia forense;
 » Docência, treinamento e supervisão de estudantes de pós-graduação, psicólogos, 
internos/residents em psiquiatria e estudantes de Direito. 
 » Outras atribuições mais afeitas ao sistema legal americano. 
A Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica (outra denominação para a Psicologia Forense) elenca 
as seguintes áreas de atuação desta no Brasil:
 » Assistência Técnica da Parte;
 » Avaliação Psicológica: Laudos e Perícias;
 » Avaliação de Toxidependentes;
 » Direito Administrativo: avaliações psicológicas em concursos, perfil psicográfico;
 » Direito Civil: reparação por dano moral e psicológico, anulação de atos por 
incapacidade do agente, interdição;
 » Direito Criminal: avaliação da personalidade do acusado, incidente de insanidade 
mental, inimputabilidade, abuso sexual infantil;
 » Direito da Criança e do Adolescente: ato infracional, medidas de proteção, medidas 
socioeducativas, depoimento sem dano;
 » Direito da Mulher;
 » Direito de Família: adoção, guarda de filhos, guarda compartilhada, separação e 
divórcio, regulamentação de visitas, avaliação psicológica dos envolvidos;
 » ireito de Trânsito: avaliações em recursos administrativos, acidentes e infortunística;
 » Direito do Consumidor;
11
InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
 » Direito do Idoso;
 » Direito do Trabalho: redução de demandas e reclamatórias trabalhistas, seleção de 
funcionários, acompanhamento e desligamento;
 » Direito Penal: o crime e suas motivações; homicídio, parricídio, matricídio, 
parenticídio, uxoricídio, filicídio;
 » Justiça Terapêutica;
 » Mediação de Conflitos;
 » Psicologia Investigativa;
 » Psicologia das Decisões Judiciais;
 » Psicologia do Testemunho;
 » Psicologia dos Jurados;
 » Psicologia dos Usuários de Drogas;
 » Psicologia Penitenciária;
 » Síndrome de Alienação Parental;
 » Síndrome de Estocolmo;
 » Síndrome de Estresse Pós-Traumático decorrente de violência física, sexual ou 
moral;
 » Síndrome do Imperador;
 » Síndrome de Munchausen;
 » Síndrome das Falsas Memórias;
 » Tarefa policial e investigação criminal;
 » Vitimologia.
Temos, então, diversas áreas de atuação em que o psicólogo forense pode ajudar. Em se tratando 
de investigação criminal, as seguintes áreas possuem uma interface muito grande a ser explorada:
 » Negociação de reféns; 
 » Entrevista de vítimas, testemunhas e suspeitos; 
 » Interrogatórios; 
12
UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
 » Elaboração de perfis criminais; 
 » Estudo da vitimologia; 
 » Assistência a vítimas de violência. 
Quem pode atuar como psicólogo forense? No Brasil, apenas psicólogos podem exercer a profissão 
e a especialização é um complemento para que possam atuar, de forma mais efetiva, nesta área. 
Outros profissionais podem se especializar em psicologia forense, mas não podem exercê-la, se não 
forem formados em Psicologia. Contudo, os conhecimentos adquiridos em uma especialização neste 
campo de atuação podem ser extremamente importantes para quem atua na área de investigação 
criminal, como também no campo jurídico. Psicólogos não são médicos e, por esta razão, não podem 
prescrever medicamentos. Quando há necessidade de tratamento medicamentoso ou um enfoque 
médico, o que inclui o diagnóstico nosológico, há necessidade do psiquiatra que também pode atuar 
como psiquiatra forense. Qual a diferença? Os psiquiatras forenses, por serem médicos, atuam, 
sobretudo, na avaliação da capacidade funcional do indivíduo com relação ao diagnóstico de doença 
mental presente ou se um determinado distúrbio faz parte, na verdade, de um quadro orgânico. 
Pessoas com comportamento agressivo, por exemplo, ou mesmo bizarro, podem ter um tumor em 
lobo frontal ou serem portadores de outros tipos de doença, o que inclui a demência fronto-temporal. 
São psiquiatras que elaboram laudos de capacidade laboral ou necessidade de afastamento para 
tratamento de saúde, bem como capacidade civil para serem responsabilizados por atos cometidos. 
Os psiquiatras e psicólogos podem e devem trabalhar em equipe; quando integrados, os pacientes 
são muito beneficiados. A psiquiatria forense é, portanto, uma subespecialidade ou área de atuação 
da psiquiatria.
Na investigação criminal, o maior inimigo existente chama-se individualismo. Normalmente, o 
individualismo faz-se acompanhar da presunção, da prepotência, da arrogância e tem um ditado 
antigo que diz que “só morre afogado quem sabe nadar”. Isso significa que os anos de experiência 
são importantíssimos, mas não substituem um olhar cuidadoso sobre os fatos, nem o fato de saber 
trabalhar em equipe. Imagine cada um na investigação, como sendo portador de uma peça de 
quebra-cabeças. Apenas com a união de todas as peças é possível alcançarmos o resultado final.
O que muitas vezes ocorre na prática é que as organizações e os investigadores guardam informações. 
Sem compartilhá-las, fica muito difícil não apenas chegar à autoria de um crime, mas também evitá-lo.
Em filmes, com frequência, vemos a figura do “psicólogo forense” aparecer apenas por ocasião de 
interrogatórios ou para traçar perfis, mas a realidade é bem outra, no que diz respeito a investigações.
Por ocasião do cometimento de um crime, diversas questões relacionadas às emoções e à saúde 
mental se fazem presentes. Por parte da vítima, temos a liberação de adrenalina e suas reações 
corporais, que incluem a taquicardia, mas também o despertar de diferentes reações. Para alguns irá 
predominar o medo; em outros, a raiva, como também a angústia e a desesperança. A recuperação 
emocional dessas pessoas pode levar dias, meses, anos ou nunca ocorrer, desencadeando fobias 
e síndromes importantes, o que inclui a síndrome de pânico, a do estresse pós-traumático, a do 
transtorno de ansiedade generalizada, a síndrome de Estocolmo, entre outras. O mesmo pode ocorrer 
13
InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
com relação a testemunhas e também aos agressores. Essa análise é extremamente importante e faz 
parte tanto do estudo da vitimologia, como também do perfil do criminoso.
Pode-se dizer que a investigação criminal e a atuação da psicologia forense passam por diferentes 
etapas:
1. Consumação do crime; 
2. Avaliação da cena do crime; 
3. Entrevistas com vítimas, testemunhas, familiares e, eventualmente, suspeitos;
4. Investigações preliminares; 
5. Análise de evidências e requisição de novas análises, solicitação de buscas, 
diligências e o que mais for necessário para o entendimento da dinâmica do crime; 
6. Elaboração de hipóteses e indicação de suspeitos; 
7. Interrogatório; 
8. Conclusão com indiciamento ou não de suspeitos. 
Outras fases podem, eventualmente, surgir ou algumas serem eliminadas, dependendo do caso. 
Como já vimos, durante a realização de um crime, há diversas questões envolvidas, que podem 
afetar parcial ou definitivamente a saúde mental de vítimas, testemunhas, familiares e agressores. 
Naturalmente, o psicólogo forense não tem como estar presente na cena do crime, a menos que 
seja vítima, testemunha ou agressor, mas a busca pelo entendimento do que se passou é muito 
importante.
Não é comum a presença de psicólogos forenses durante o levantamento pericial, como também, 
no Brasil, não é comum que o médico legista lá esteja. No entanto, é fundamental que o psicólogo 
forense, ao estudar qualquer caso que seja, analise com cuidado os vestígios, indícios, sketches, 
fotografias e todo o material disponível sobre a dinâmica dos fatos.
As primeiras entrevistas são geralmente realizadas pelos investigadores e policiais que sedirigiram 
ao local do crime. Se o psicólogo não é policial ou membro de uma unidade investigativa, não tomará 
parte desse processo, mas em fase posterior poderá ler e analisar as entrevistas realizadas e sugerir 
que outras sejam feitas e, dependendo do caso, também tomar parte como observador ou como 
entrevistador.
Ao contrário do que vimos em filmes, não é comum a presença de psicólogos em investigações, 
a menos que seja parte de uma unidade especializada como a de análise comportamental (BAU) 
do FBI, retratada no seriado americano Criminal Minds, destinada à elaboração de perfis 
criminais.
14
UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
Criminal Minds (Mentes Criminosas) é uma série de 
televisão dramática e policial sobre a Unidade de 
Análise Comportamental, uma esquadra de elite 
do FBI, com sede em Quântico, Virginia. A equipe 
analisa as mentes criminosas do país e antecipa 
seus próximos movimentos antes de golpearem 
outra vez. Neste quesito, a série difere-se de outros dramas policias por focar mais o 
comportamento criminal do suspeito do que o crime em si.
De acordo com a proposta do professor britânico Lionel Haward, considerado um dos pais da 
psicologia forense no Reino Unido, o psicólogo forense deve estar preparado para atuar em uma das 
seguintes grandes áreas:
1. Clínica – Neste campo, o psicólogo, juntamente com o psiquiatra, é requerido para 
avaliar as condições mentais de suspeitos, mas eventualmente também da vítima. É 
avaliada a capacidade mental do suspeito em entender o crime do qual está sendo 
acusado, bem como outras condições associadas, como a presença de doença mental 
ou uso de drogas ou medicações. Também é importante a avaliação da vítima com 
relação à possibilidade de ocorrência de síndromes que estudaremos mais à frente, 
bem como o risco de suicídio, tanto da vítima como do suspeito.
2. Experimental – Esta área está voltada para o estudo de testes e recursos técnicos 
a serem utilizados por psicólogos que atuem como assistentes técnicos, tanto da 
defesa como da acusação. Visa provar ou descartar uma tese levantada e geralmente 
é aplicada a suspeitos, mas também pode ser utilizada na análise das vítimas. Um 
exemplo é a avaliação psicodiagnóstica de crianças submetidas a abusos.
Vejam o que diz o trabalho realizado por Palusci (2006):
O abuso sexual infantil acontece em um contexto sociocultural, e decisões 
diagnósticas são fortemente influenciadas pelos custos estimados de um 
diagnóstico falso, com o risco de se classificar erroneamente crianças que 
estão sendo abusadas sexualmente e sujeitá-las a mais trauma, assim como 
crianças que não estão sendo abusadas e sujeitá-las, as crianças e as suas 
famílias, desnecessariamente ao estresse da intervenção. Crianças abusadas 
sexualmente vivem em circunstâncias significativamente mais negativas e 
estressantes do que crianças não abusadas, com famílias mais pobres, pais 
menos educados, e vivenciam outras situações estressantes além do abuso 
sexual, o que confunde ainda mais qualquer avaliação. Se, por um lado, sintomas 
comportamentais e revelações são importantes no tratamento médico e nas 
investigações dos serviços de proteção, por outro, achados físicos positivos, 
embora incomuns, são altamente associados com veredictos de culpa. Uma 
revisão de vários instrumentos de avaliação e triagem existentes para trauma 
15
InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
em crianças e adolescentes concluiu que nenhuma medida comporta, sozinha, 
todas as situações, e que novos instrumentos são necessários para preencher 
lacunas nos procedimentos de avaliação atualmente disponíveis. 
Em outro estudo, Machado (2006) aborda “a revelação do abuso sexual e seu impacto sobre o 
contexto familiar: estudo com crianças atendidas em um serviço público para vítimas de violência 
sexual”, chegando às seguintes conclusões:
Os resultados mostraram o abuso sexual como um fenômeno amplamente 
diversificado, que envolve agressores das mais diversas idades e com tipos 
variados de relação com a criança. Na amostra em seu conjunto, as classes 
sociais e modalidades de família também são as mais diversas, embora haja 
uma certa concentração em famílias de baixa renda, matrifocais. O estudo dos 
casos permitiu identificar um conjunto mais amplo de fatores que dificultam 
a revelação do abuso em comparação com aqueles que facilitam. Foi também 
observado que, independente da forma como foi descoberto o abuso, o impacto 
sobre a família foi bastante significativo, desencadeando alianças, conflitos 
e rupturas nas relações parentais e nas redes familiares e sociais. Essas 
mudanças caracterizaram-se como transições não normativas que afetaram 
enormemente a ecologia desenvolvimental da criança. 
Os trechos supracitados demonstram o quanto ainda há de ser explorado na área Experimental da 
Psicologia Forense.
3. Atuarial – Este é um campo voltado para estudos estatísticos, atuariais. Um exemplo 
é o do psicólogo que apresenta análise quanto á possibilidade de determinado preso 
voltar a delinquir, com base em estudos estatísticos de casos semelhantes.
4. Aconselhamento – Este é o caso propriamente dito de psicólogos que atuam em 
investigações em colaboração com a polícia, sobretudo no campo da elaboração de 
perfis criminais, como também em entrevistas e interrogatórios.
Comportamento delinquente e criminal
Ao estudarmos o comportamento delinquente e criminal, é importante que façamos uma reflexão 
sobre o crime em si. Se analisarmos a história, veremos que comportamentos que hoje julgamos 
absurdos e criminosos eram aceitos normalmente pela sociedade em outros tempos. A chamada Lei 
do Talião, que pode ser entendida como “olho por olho e dente por dente”, permitia que os ofendidos 
pudessem praticar a mesma ofensa nos agressores. Assim, quem tinha um parente assassinado 
podia assassinar o parente do agressor. Essa lei foi encontrada no chamado Código de Hamurabi, 
por volta de 1.700 a.C. Entretanto, ainda nos dias atuais, em alguns países, ainda encontramos a 
possibilidade de aplicação deste tipo de lei. Em novembro de 2012, a imprensa noticiou que uma 
iraniana, de 34 anos, que ficou desfigurada após ser atingida por ácido, por não querer se casar com 
um rapaz, ganhou na justiça o direito de aplicar a lei do Talião e poder cegar o seu agressor. No 
último momento, contudo, ela desistiu de aplicar a punição.
16
UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
<http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1188545-iraniana-deformada-ganha-na-
justica-direito-de-cegar-agressor.shtml>. 
O mundo também assistiu, horrorizado, mas demorou a reagir, aos estupros em massa realizados 
pelo exército sérvio contra as mulheres mulçumanas da Bósnia-Herzegovina, em 1992. Muitas foram 
degoladas e outras submetidas à escravidão sexual <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/8/20/
mais!/4.html>. 
O nosso Código Penal é de 1940 e, não por acaso, o código é frequentemente “emendado”, uma vez 
que há necessidade de adequação aos novos tempos. Aquela época, o adultério era considerado um 
comportamento criminoso e assim permaneceu até ser abolido pela Lei no 11.106, de 28 de março 
de 2005. Por outro lado, temos, hoje, crimes que sequer podiam ser imaginados na década de 1940, 
como os virtuais, que são cometidos pela Internet. 
Há também crimes existentes em alguns países, mas que em outros, não são assim considerados. A 
prostituição, por exemplo, é crime nos Estados Unidos; no entanto, não é no Brasil.
Outra questão relevante é com relação à maioridade penal. Há países, em que crianças podem ser 
julgadas como adultas, já, no Brasil, apenas maiores de 18 anos podem ser presos e condenados. 
Há discussões intensas sobre essa questão, uma vez que há no mínimo uma contradição em nossa 
lei. O menor de 16 anos pode votar, mas não pode ser preso por crime eleitoral. Menores de 18 anos 
podem ficar presos, no máximo, por 3 (três) anos, mesmo se reincidentes e em casos graves, como 
sequestro, estupro e homicídio.
Aquestão da responsabilidade penal, segundo Palomba (2003):
“para que alguém seja responsável penalmente por determinado delito, são 
necessárias três condições básicas:
1. ter praticado o delito;
2. ter tido, à época, entendimento do caráter criminoso da ação;
3. ter sido livre para escolher entre praticar e não praticar a ação”. 
A responsabilidade penal pode ser:
1. Total, quando o agente era capaz de entender o caráter criminoso do seu ato 
e de determinar-se totalmente de acordo com esse entendimento. Nesse caso, o 
delito que praticou lhe é imputável, podendo o agente ser julgado responsável 
penalmente.
2. Parcial, se, à época do delito, o agente era parcialmente capaz de entender 
o caráter criminoso do ato e parcialmente capaz de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. Nesse caso, o delito lhe é semi-imputável, e o agente 
poderá ser julgado parcialmente responsável pelo que fez, o que na prática 
17
InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
implicará redução da pena de um a dois terços ou substituição da pena por 
medida de segurança.
3. Nula, quando o agente era, à época do delito, totalmente incapaz de entender 
o caráter criminoso do fato ou totalmente incapaz de determinar-se de acordo 
com este entendimento. Nesse caso, o delito praticado lhe é inimputável e o 
agente será julgado irresponsável penalmente pelo que fez.
Fonte: PALOMBA, G. A. Tratado de Psiquiatria Forense. 
São Paulo: Atheneu, 2003.
Ou seja, o fato de alguém ser portador de uma doença psiquiátrica, mesmo que grave, não 
necessariamente significa que ele seja inimputável, ou seja, incapaz sob o ponto de vista criminal. 
Peter Wilham Sutcliffe, conhecido como o “estripador de Yorkshire”, foi responsável pelo assassinato 
em série de 13 mulheres e de outras sete tentativas de homicídio, entre 1975 e 1980, no Reino Unido. 
O modus operandi de Peter era também sua “assinatura” e consistia em golpear a cabeça das 
vítimas com martelo e em seguida executá-las com dezenas de golpes de chave de fenda, no tórax e 
abdômen. Os alvos de Sutcliffe eram as prostitutas. O criminoso foi preso em 1981 e a defesa alegou 
por ocasião que ele era inimputável, por sofrer de esquizofrenia paranoide. A argumentação não foi 
aceita pelo júri que o condenou a 20 penas de prisão perpétua e em 2010, aos 63 anos, após passar 
30 anos preso em uma unidade psiquiátrica, a alta corte britânica decidiu que ele permanecerá preso 
para o resto da vida. O serial killer alegou que ouvia uma voz divina ordenando que ele cometesse 
os crimes. Os jurados aceitaram o diagnóstico da doença, mas também entenderam que ele não 
poderia ser considerado inocente (inimputável), uma vez que ele entendia que o que estava fazendo 
era um crime.
Nós acabamos de falar de modus operandi e de assinatura. Quando estudamos a disciplina “Avaliação 
de Cena do Crime”, já fizemos essa distinção, mas não custa relembrar. O modus operandi é a forma 
com que o crime é cometido e pode variar se o criminoso encontra formas melhores para ele, mais 
fáceis ou por outras razões. Um criminoso pode usar, habitualmente, para cometer seus crimes, uma 
faca. No entanto, por qualquer razão, em um dado momento, ele prefere utilizar o revólver. O modus 
operandi foi então modificado. Ocorre também esta mudança quando o criminoso percebe que uma 
vítima, que ele julgava imobilizada, consegue escapar. Na tentativa de alcançá-la, ele pode utilizar-
se de qualquer objeto para tentar atingi-la. Assim, se o modus operandi usual dele era utilizar uma 
faca, pode, diante da circunstância, matar por sufocamento, por exemplo. A assinatura, por sua 
vez, é uma forma do criminoso deixar claro que ele foi o autor e é mais comum de encontrarmos 
assinaturas em crimes seriais ou em atentados terroristas, embora não seja uma condição encontrada 
em todos os crimes. No caso de Sutcliffe que acabamos de estudar, tanto o modus operandi como 
a assinatura eram os mesmos, ou seja, ele nunca modificou sua forma de matar, de tal forma que a 
polícia, ao se deparar com os corpos de novas vítimas, facilmente identificava terem sido praticados 
pelo mesmo criminoso. Eventualmente, pode haver situações chamadas de copycat, que significam 
que um criminoso está cometendo crimes inspirados ou copiados de outros, sobretudo, dos mais 
famosos. Um exemplo de copycat foi mostrado no filme que recebeu o mesmo nome. 
18
UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
Copycat – A Vida Imita a Morte – 1995
“Em São Francisco vive Helen Hudson (Sigourney 
Weaver), uma psiquiatra criminal que é especialista 
no comportamento de grandes serial killers, mas 
sofre de agorafobia desde que foi atacada por um 
deles. Juntamente com M.J. Monahan (Holly Hunter), 
uma inspetora de polícia, ela luta contra o tempo para 
deter um serial killer que é discípulo do seu agressor 
e copia em seus crimes o modus operandi de famosos 
serial killers do passado.”
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-14214/>. 
Entre 1978 e 1991, Jeffrey Lionel Dahmer assassinou 17 rapazes e cometeu canibalismo com 
seus corpos. Os crimes envolviam estupro, canibalismo e necrofilia. No tribunal, a defesa alegou 
insanidade, que não foi aceita pelo júri e Dahmer foi condenado a 957 anos de prisão, tendo sido 
morto enquanto cumpria pena por outro detento, em 1994. Mais à frente, estudaremos melhor 
alguns distúrbios psicopatológicos.
teorias de comportamento criminoso
O que leva alguém a cometer um crime? Algumas pessoas em ataques de fúria podem ser agressivas e 
até mesmo matar. Outras, podem fazê-lo por vingança. Mas o que podemos dizer do comportamento 
criminoso? Seriam os homens naturalmente animais assassinos por natureza e apenas as condições 
morais impostas pela sociedade serviriam como freio nessa predisposição ou seria o contrário: 
todos os homens nascem bons e é o ambiente que provoca o comportamento criminoso? Haveria 
um meio-termo? Haveria uma condição genética ou doenças que favorecem o crime? São muitas 
perguntas e, na verdade, poucas respostas. O debate é grande e, por essa razão, não existe uma 
resposta única, mas várias teorias.
O psicólogo americano Robert Plomin ,em 2001, propôs que o estudo genético seria uma das 
principais ciências envolvidas no futuro, na área da criminologia, não no sentido negativo do 
determinismo genético, mas na avaliação de problemas comportamentais que poderiam ser 
resultados de distúrbios relacionados a influências genéticas.
Andrew; Bonta (1998) propuseram quatro definições relacionadas ao comportamento criminoso, 
conforme a ação realizada e o contexto:
1. Comportamento criminoso sob o ponto de vista legal. São os casos de crime 
definidos e punidos em lei e proibidos, portanto, de serem praticados naquele local 
(lembrando que condutas tipificadas como crime em uma região podem não ser em 
outra). 
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2. Comportamento criminoso sob o ponto de vista moral. São aquelas ações que 
violam dogmas religiosos ou morais e podem ser punidas por ação divina. São os 
pecados na Igreja Católica, por exemplo, em que não é permitida a relação sexual 
antes do casamento. Esta é uma questão a ser seguida puramente pelos devotos 
dessa religião, mas cuja transgressão não resulta em crime. Outro exemplo é o 
do não reconhecimento do casamento de pessoas divorciadas, que podem até ser 
excomungadas. Também não é crime, mas a Igreja não aceita tal comportamento.
3. Comportamento criminoso na esfera social. Refere-se a ações que não são aceitas 
pelos costumes e tradições locais e podem resultar em punições impostas pela 
comunidade.
4. Comportamento criminoso psicológico. Nesse caso, temos ações que podem de 
alguma forma serem agradáveis ou trazer recompensa ou prazer para determinada 
pessoa, mas causar dor ou perda para outros, no que é chamado de comportamento 
antissocial.
Christy Sechrist (2010), com base nas definições anteriores, faz um questionamento: o fato de alguém 
ter cometido um crime, ter praticado um pecado (ou atémesmo não ter religião), ter realizado uma 
ação que fere os costumes locais e ter agido de forma egoísta ou mesquinha ou mesmo ter rompido 
um relacionamento trazendo dor para a outra parte faz dele um criminoso? E se for, significa que é 
uma má pessoa? Ela conclui o seu artigo dizendo: “I act ‘criminally’ sometimes, but I would not be 
called a bad person, necessarily. I am seen as a law-abiding citizen, but I, too, am a criminal.”, ou 
seja, que eventualmente ela age de forma “criminal” (segundo a classificação acima proposta) mas 
que ela não gostaria de ser necessariamente vista como sendo uma pessoa ruim. Ela se vê como uma 
cumpridora da lei, mas também como uma criminosa. Percebam como a discussão é interessante e, 
ao mesmo tempo, nos leva a vários questionamentos.
De uma forma geral, as teorias buscam explicações sobre o porquê de crimes serem cometidos, 
na tentativa de buscar informações genéticas, clínicas ou outras que possam, de alguma forma, 
separar as pessoas que cometeram crimes do resto da população. A questão é que esta seria 
uma discussão inglória e sem chances de ter bons resultados, pois é inerente ao ser humano 
cometer erros que em alguns lugares podem ser entendidos como crimes e em outros, podem, até 
mesmo, ser comemorados pela população. Muitos terroristas, que matam milhares de pessoas, 
são cumprimentados como mártires pelo grupo a que pertencem, como também pela comunidade 
do local em que residem.
Não vamos discutir teorias já ultrapassadas, como as que pretendiam relacionar características 
físicas dos indivíduos a uma maior propensão a se tornarem criminosos. Vamos analisar melhor as 
teorias mais modernas.
Em um estudo realizado por Brownfield and Thompson (1991), os autores concluíram que 
rapazes que haviam praticado atos delinquentes possuíam uma probabilidade maior de ter 
amigos delinquentes e essa relação era ainda maior quando o amigo era considerado como 
“melhor amigo”. 
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O chamado modelo Patterson foi desenvolvido por Patterson, De Baryshe and Ramsey (1989) e 
propõe que experiências negativas na primeira infância, como as relacionadas a um controle 
disciplinar ruim, ambiente familiar problemático, relacionamento pai-filho coercitivo, instabilidade 
familiar e problemas de conduta na infância, seriam fatores de risco para a delinquência. As crianças 
ao iniciarem a idade escolar esperam ser guiadas e orientadas por pais e professores. Em um 
relacionamento saudável, há limites a serem respeitados, mas a criança também se sente protegida 
e amada. Quando os castigos são frequentes, há violência em casa e esta proteção não fica clara 
para a criança, ela passa a enxergar nos colegas e professores também uma ameaça, ainda que isso 
ocorra em um plano subconsciente. Por sua vez, o risco aumentado no meio da infância, estaria 
relacionado à rejeição aos colegas normais ou convencionais e desempenho acadêmico ruim ou 
insucesso. Os riscos relacionados à última fase da infância e início da adolescência estariam ligados 
à participação em grupos de delinquentes e gangues.
Ainda segundo Brownfield and Thompson (1991), a chamada “hipótese do ciclo de violências” propõe 
que crianças que foram abusadas e/ou negligenciadas tornar-se-ão pessoas que cometerão abusos 
no futuro. De acordo ainda com essa teoria, crianças abusadas e negligenciadas são mais propensas 
a exibir características delinquentes assim como comportamento violento quando adultas.
Muitos fatores e teorias, no entanto, são levantados, sem que haja um único componente que possa 
ser identificado como sendo o causador do que leva um indivíduo a se tornar violento e incluem 
desde a impulsividade ao transtorno psicossocial, mas também possíveis influências bioquímicas, 
genéticas e estimuladas pelo uso de droga, sem falar em fatores ambientais. O tema é ainda 
controverso e sem uma linha que possa ser adotada como livre de discussões.
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CAPítulo 2
Psicologia forense – aspectos clínicos
“Aquele que luta com monstros deve tomar cuidado para que ele mesmo não 
se torne um. E se olhar muito tempo para um abismo, o abismo te encara 
de volta”.
Friedrich Nietzsche
Psicopatologia aplicada
Não iremos discutir, neste capítulo, as patologias que comprometem a saúde mental, mas, sim, 
os estados psicopatológicos envolvidos em situações críticas e relacionados ao cometimento de 
violência.
A indústria de filmes utiliza muito a figura de serial killers, de pessoas com transtornos de 
personalidade conhecidas por psicopatas e a polícia realizando buscas com base em perfis 
psicológicos. Como já discutimos anteriormente, nesta e em outras disciplinas, o perfil do criminoso 
é buscado quando não há qualquer “luz” que indique um caminho seguro a ser seguido. Em grande 
parte dos crimes, há autoria clara ou fortes indícios de quem é o suspeito. Há, no entanto, alguns 
casos em que a polícia está às escuras e necessita de algum tipo de ajuda e orientação. É aí que o 
perfil do criminoso pode ajudar. Não é, contudo, uma metodologia voltada para identificação de 
suspeitos, mas para ajudar a polícia a realizar melhor a sua busca. Seria como em jogo de varetas ou 
de palitos, em que todos parecem iguais, pintar alguns de amarelo para que se destaquem e a polícia 
possa então ter um universo menor a procurar. Nem sempre dá certo. Há criminosos que deixam 
pistas, sobretudo os chamados desorganizados e há aqueles que não deixam pista alguma. 
Ao falarmos de psicopatologia aplicada, novamente temos de reforçar o conceito de inimputável. 
O fato de alguém ser portador de um transtorno mental não faz dele um criminoso em potencial, 
tampouco o fato de ter cometido um crime o transforma em inimputável, apenas por ser portador 
de determinada doença.
Há diversos testes psicológicos e parametrizados que são utilizados na avaliação de criminosos. Não 
necessariamente criados para esta finalidade, mas que auxiliam muito o profissional na avaliação 
do suspeito. O mais conhecido deles é o chamado Quociente de Inteligência, ou simplesmente QI. 
Esse é um termo que remonta a 1912 e foi inicialmente proposto por Wilhelm Stemer, ao avaliar, 
de forma comparativa, a inteligência de crianças, dividindo a idade mental pela cronológica, 
termos estes também criados por ele. Para obter a idade mental, era utilizado um teste com várias 
perguntas. Baseado no resultado, de posse de uma tabela, ele propunha o grau de inteligência da 
criança avaliada. Posteriormente, o teste foi adaptado por Lewis Madison Terman, de tal forma a 
permitir a avaliação também de adultos e muitos recrutas na I Guerra Mundial foram submetidos 
ao teste.
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No entanto, apenas no final da década de 1930, mais precisamente em 1939, coincidindo com o 
início da II Guerra Mundial, é que foi adaptado de fato o teste para poder ser utilizado em adultos, 
o que foi feito por David Wechler, também autor dos testes mais comumente utilizados nos dias 
atuais, o de WAIS e o de WISC. Vocês podem então perguntar o porquê de se saber o QI de um 
criminoso.
Um crime cometido em 1996 resultou em um caso que ficou famoso pelo seu desfecho. No dia 16 
de agosto daquele ano, por volta da meia-noite, Daryl Atkins e um comparsa, que haviam passado 
o dia ingerindo bebida alcoólica e maconha, resolveram praticar um assalto na cidade de Langley, 
no estado da Virginia. Sequestraram um aviador que servia na Base Aérea e o assaltaram. Como 
dispunha de pouco dinheiro, a vitima foi levada a um caixa eletrônico para realizar novo saque, 
sendo então conduzido a um local afastado onde foi assassinado com oito tiros pela dupla.
Os criminosos foram facilmente identificados e presos. Durante a investigação, Atkins foi acusado 
pelo parceiro de ser o autor dos tiros e foi condenado à morte. No entanto, a defesa alegou que 
Atkins possuía um QI de 59, correspondendo ao que foi chamado de retardo mental leve (“mildly 
mentally retarded”) e a sentençacomutada para prisão perpétua, com o entendimento de que seria 
cruel a adoção da pena de morte para quem não tinha plena compreensão do que havia feito e da 
punição a ser recebida.
Há, atualmente, duas fontes utilizadas para o diagnóstico de desordens mentais. A primeira delas é 
o Manual de Estatística e Diagnóstico de Desordens Mentais, conhecido por DSM-5 (maio de 2013), 
escrito pela Associação Americana de Psiquiatria e estando em sua quarta versão revisada. Para 
consultar esta versão, acesse: <http://www.dsm5.org/>.
A segunda fonte muito utilizada é a que ficou conhecido como CID-10 e refere-se à Classificação 
Internacional de Estatística de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, material publicado 
pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Nele, há um capítulo específico para Saúde Mental e 
pode ser acessado por meio do seguinte endereço eletrônico: <http://www.datasus.gov.br/cid10/
V2008/cid10.htm>.
Tanto o DSM-5 como o CID-10 oferecem, de forma esquemática e parametrizada, importantes 
subsídios para profissionais bem treinados e legalmente habilitados a realizar diagnósticos. Não são 
de forma alguma «receitas de bolo» para serem seguidos em busca de um diagnóstico e tampouco 
podem ser utilizados por profissionais que não tenham a devida habilitação legal para este fim.
Quando um crime bárbaro é cometido e o suspeito é preso, imediatamente imaginamos que aquela 
pessoa sofre de um distúrbio mental. Contudo, nem sempre isso é verdade. A defesa com frequência 
tenta utilizar-se deste artifício, muitas vezes, com o objetivo de diminuir a pena ou mesmo de tentar 
fazer valer a argumentação de que o cliente é inimputável.
Mas qual a diferença entre transtorno de personalidade e quadros psicóticos?
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De forma bastante didática, o Dr Rafael Bernardon assim define personalidade:
Personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de 
comportamento de um indivíduo (caráter + temperamento). Pode-se dizer 
que é o “jeitão” de ser da pessoa, o modo de sentir as emoções ou o “jeitão” 
de agir. Em outras palavras, é o modo habitual, estável ao longo dos anos, 
de receber e processar os estímulos vindos do mundo e de devolver uma 
resposta (comportamento) ao meio externo. É A FORMA DE SER, NUNCA 
UM ESTADO.
Fonte: <http://www.sospsiquiatria.com/sos2/jupgrade/index.php/personalidade-
mainmenu-27>.
O transtorno de personalidade é assim definido pela OMS, por meio do CID-10:
Este agrupamento compreende diversos estados e tipos de comportamento 
clinicamente significativos que tendem a persistir e são a expressão 
característica da maneira de viver do indivíduo e de seu modo de estabelecer 
relações consigo próprio e com os outros. Alguns destes estados e tipos 
de comportamento aparecem precocemente durante o desenvolvimento 
individual sob a influência conjunta de fatores constitucionais e sociais, 
enquanto outros são adquiridos mais tardiamente durante a vida. Os 
transtornos específicos da personalidade (F60.-), os transtornos mistos e 
outros transtornos da personalidade (F61.-), e as modificações duradouras 
da personalidade (F62.-) representam modalidades de comportamento 
profundamente enraizadas e duradouras, que se manifestam sob a forma de 
reações inflexíveis a situações pessoais e sociais de natureza muito variada. 
Eles representam desvios extremos ou significativos das percepções, dos 
pensamentos, das sensações e particularmente das relações com os outros 
em relação àquelas de um indivíduo médio de uma dada cultura. Tais tipos 
de comportamento são geralmente estáveis e englobam múltiplos domínios 
do comportamento e do funcionamento psicológico. Frequentemente estão 
associados a sofrimento subjetivo e a comprometimento de intensidade 
variável do desempenho social.
Em outras palavras, são manifestações que se apresentam sob diferentes formas e que são 
características da personalidade do indivíduo. Muitos crimes são cometidos por pessoas com 
transtornos de personalidade e não por desordens mentais. Transtornos de personalidade, sobretudo 
os chamados borderline, com frequência são confundidos como portadores de doenças diversas, 
mas, na verdade, são características de sua personalidade e, por essa razão, à luz do conhecimento 
atual, não podemos falar em tratamento clínico para essas pessoas. 
O CID-10 assim classifica os transtornos específicos de personalidade:
Trata-se de distúrbios graves da constituição caracterológica e das tendências 
comportamentais do indivíduo, não diretamente imputáveis a uma doença, 
lesão ou outra afecção cerebral ou a um outro transtorno psiquiátrico. Estes 
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distúrbios compreendem habitualmente vários elementos da personalidade, 
acompanham-se em geral de angústia pessoal e desorganização social; 
aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescência e persistem de 
modo duradouro na idade adulta. 
São assim classificados:
Personalidade paranoica — Transtorno da personalidade caracterizado por 
uma sensibilidade excessiva face às contrariedades, recusa de perdoar os 
insultos, caráter desconfiado, tendência a distorcer os fatos interpretando 
as ações imparciais ou amigáveis dos outros como hostis ou de desprezo; 
suspeitas recidivantes, injustificadas, a respeito da fidelidade sexual do esposo 
ou do parceiro sexual; e um sentimento combativo e obstinado de seus próprios 
direitos. Pode existir uma superavaliação de sua autoimportância, havendo 
frequentemente autorreferência excessiva.
Personalidade esquizoide – Transtorno da personalidade caracterizado por um 
retraimento dos contatos sociais, afetivos ou outros, preferência pela fantasia, 
atividades solitárias e a reserva introspectiva, e uma incapacidade de expressar 
seus sentimentos e a experimentar prazer.
Personalidade dissocial — Transtorno de personalidade caracterizado por um 
desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um 
desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. 
O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, 
inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um 
baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma 
tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para 
explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a 
sociedade.
Transtorno de personalidade com instabilidade emocional — Transtorno 
de personalidade caracterizado por tendência nítida a agir de modo 
imprevisível sem consideração pelas consequências; humor imprevisível e 
caprichoso; tendência a acessos de cólera e uma incapacidade de controlar 
os comportamentos impulsivos; tendência a adotar um comportamento 
briguento e a entrar em conflito com os outros, particularmente quando os atos 
impulsivos são contrariados ou censurados. Dois tipos podem ser distintos: o 
tipo impulsivo, caracterizado principalmente por uma instabilidade emocional 
e falta de controle dos impulsos; e o tipo “borderline”, caracterizado além 
disto por perturbações da autoimagem, do estabelecimento de projetos 
e das preferências pessoais, por uma sensação crônica de vacuidade, por 
relações interpessoais intensas e instáveis e por uma tendência a adotar um 
comportamento autodestrutivo, compreendendo tentativas de suicídio e 
gestos suicidas.
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Personalidade histriônica — Transtorno da personalidade caracterizado por 
uma afetividade superficial e lábil, dramatização, teatralidade, expressão 
exagerada das emoções, sugestibilidade, egocentrismo, autocomplacência, 
falta de consideração para com o outro, desejo permanente de ser apreciado e 
de constituir-se no objeto de atenção e tendência a se sentir facilmente ferido.
Personalidade anancástica — Transtorno da personalidade caracterizado por 
um sentimento de dúvida, perfeccionismo,escrupulosidade, verificações, e 
preocupação com pormenores, obstinação, prudência e rigidez excessivas. O 
transtorno pode se acompanhar de pensamentos ou de impulsos repetitivos e 
intrusivos não atingindo a gravidade de um transtorno obsessivo-compulsivo.
Personalidade ansiosa (esquiva) — Transtorno da personalidade caracterizado 
por sentimento de tensão e de apreensão, insegurança e inferioridade. Existe 
um desejo permanente de ser amado e aceito, hipersensibilidade à crítica e 
rejeição, reticência a se relacionar pessoalmente, e tendência a evitar certas 
atividades que saem da rotina com um exagero dos perigos ou dos riscos 
potenciais em situações banais.
Personalidade dependente — Transtorno da personalidade caracterizado por: 
tendência sistemática a deixar a outrem a tomada de decisões, importantes ou 
menores; medo de ser abandonado; percepção de si como fraco e incompetente; 
submissão passiva à vontade do outro (por exemplo, de pessoas mais idosas) e 
uma dificuldade de fazer face às exigências da vida cotidiana; falta de energia 
que se traduz por alteração das funções intelectuais ou perturbação das 
emoções; tendência frequente a transferir a responsabilidade para outros.
Fonte: <http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm>.
Como vocês podem perceber o transtorno de personalidade dissocial, também conhecido por 
psicopatia, é frequentemente encontrado em crimes graves. O que fazer com esses indivíduos? Esta 
é uma grande e importante questão. Não há como falarmos em tratamento para quem não está 
doente e, atualmente, tanto a OMS como a Associação Americana de Psiquiatria não classificam tais 
transtornos como desordens ou doenças mentais e, portanto, não há tratamentos propostos. Existe, 
no entanto, diante de alguns casos mais sérios, a necessidade de se manter o suspeito afastado da 
sociedade, uma vez que há grande probabilidade de que volte a praticar crimes novamente. Esse 
pode ser um problema importante em nossa legislação, uma vez que ninguém pode permanecer 
encarcerado por mais de 30 anos. Vejamos alguns exemplos:
Bandido da Luz Vermelha — Este é o nome pelo qual ficou conhecido João Acácio Pereira da 
Costa, nascido em Santa Catarina em 1942. Ficou órfão de pai ainda criança e foi criado pelo tio, já que 
sua mãe teria desaparecido. Antes de completar 18 anos, ele já havia praticado mais de 30 furtos. Aos 
18 anos, foi preso por roubo e fugiu da cadeia em Santa Catarina, indo para São Paulo. A Internet traz 
diversas biografias e algumas são contraditórias, mas todas convergem em alguns pontos. Ele teria 
fixado residência em Santos, vivendo normalmente enquanto praticava assaltos e furtos a residências 
em São Paulo na década de 1960. A ele foram imputados centenas de estupros, mas não recebeu 
nenhuma acusação formal deste crime. Com o passar do tempo, foi se tornando mais violento e teria 
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também cometido homicídios. O apelido surgiu por passar a realizar seus crimes utilizando uma 
lanterna com luz vermelha. Foi condenado até o ano de 2319, mas, como no Brasil ninguém pode 
permanecer mais do que 30 anos preso, foi solto em 1997. A exceção seria se a avaliação psiquiátrica 
do preso fosse no sentido contrário à sua libertação, haja visto o risco que representa à sociedade. 
Não foi o caso, contudo. Apesar de ter passado um tempo preso no manicômio judicial, permaneceu 
a maior parte do tempo preso em uma penitenciária comum, não tendo recebido diagnóstico de 
desordem mental, mas seria portador de transtorno de personalidade. Foi morto 5 meses após ter 
sido solto, no que foi alegado como legítima defesa. A vida dele inspirou filmes e livros.
Imagem obtida por ocasião de sua prisão em 1967.
Outro caso que merece destaque é o de Charles Milles Manson, nascido em 1934, que entrou para 
a história dos crimes bárbaros com o assassinato da jovem e bonita atriz Sharon Tate, grávida do 
então marido, Roman Polanski, diretor de filmes mundialmente conhecido. Charles Manson foi o 
mentor intelectual e líder do grupo de fanáticos assassinos que cometeu este e outros crimes. 
Charles manson, ao ser preso.
fonte: san Quentin Correctional Center. 
A infância de Manson foi marcada por repetidos anos em um reformatório, tendo ficado preso dos 
9 aos 32 anos de idade em diferentes instituições, alegando ter sido vítima de agressões e violência 
sexual. A relação dele com a mãe não foi fácil. Acredita-se que ela tenha sido alcoolista severa, além 
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de ter tido uma vida promíscua. Ao ser libertado, como havia passado mais da metade de sua vida 
preso, pediu para permanecer na cadeia, o que foi rejeitado. 
Com sua liberação, ele criou um grupo de seguidores, em que exercia o papel de guru, em Spahn 
Ranch, no sul da Califórnia. Ele não tinha uma religião propriamente definida, seguindo elementos 
de diferentes seitas. Ele formou com seus seguidores o que passou a ser conhecido como Família 
Manson. A maior parte dos seguidores de Manson, que era muito inteligente, era formada por 
jovens de classe média e alta, com problemas familiares e que resolveram deixar suas famílias para 
seguir Manson. Um desses exemplos foi o de Lynette Alice “Squeaky” Fromme que mais tarde viria 
a tentar assassinar o ex-presidente americano Gerald Ford, tendo sido condenada a prisão perpétua 
por este crime. 
O crime que viria a ser motivo de espanto em todo o mundo ficou conhecido como Caso Tate-
Labianca. A casa alugada por Roman Polanski, em 1969, foi invadida por um grupo de Manson, 
que assassinou Sharon Tate e mais quatro amigos do casal, com requintes de barbárie, tendo 
as vítimas sido espancadas, esfaqueadas e baleadas. Mensagens escritas com o sangue das 
vítimas foram encontradas nas paredes e na porta da casa, onde podia ser lido “Pig” (porco, 
em Português).
fotos das vítimas: De cima para baixo, da esquerda para a direita: sharon tate, abigail folger, Wojciech frykowski, 
Jay sebring e steven parent.
fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:tatelaBianca.jpg>.
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Casa onde estavam as vítimas, inscrição “pIg” na porta.
fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:pIgDoortate.jpg>.
Outro crime violento seria cometido pelo mesmo grupo na noite seguinte. Dessa vez, as vítimas foram 
Rosemary e Leno LaBianca. A cena do local do crime mostrava a violência com que os assassinatos 
foram cometidos. As vítimas foram seguidamente esfaqueadas, inclusive com uma baioneta, sem 
qualquer chance de defesa. Manson teria ordenado também estes crimes. Aparentemente, as vítimas 
foram escolhidas ao acaso. Da mesma forma que o crime anterior, o sangue das vítimas foi utilizado 
para escrever “Rise” (crescer), “Death to Pigs” (morte aos porcos) e “Helter Skeller” (referência a uma 
das canções do último álbum dos Beatles e que quer dizer confusão). É interessante aprofundarmos, 
individual e posteriormente, nesse caso, pois houve muita demora da polícia em estabelecer vínculo 
entre as mortes.
Manson que foi condenado à prisão perpétua tem hoje 76 anos, continua preso, podendo fazer nova 
apelação para liberdade condicional apenas quando estiver com 92 anos. Ele jamais foi considerado 
insano ou inimputável, mas portador de transtorno grave de personalidade. Observem também 
que Manson não é um serial killer e muito provavelmente o crime cometido no dia seguinte ao de 
Sharon Tate seria uma continuação do primeiro crime.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Tate-LaBianca>.
<http://en.wikipedia.org/wiki/Charles_Manson>.
<http://en.wikipedia.org/wiki/Helter_Skelter_(Manson_scenario)>.
<http://oserialkiller.com.br/charles-manson/>
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Há muitos crimes, por sua vez, que foram cometidos por pacientes em pleno surto psicótico. Nesses 
casos, é comum que a cena do crime esteja desorganizada, uma vez que o paciente em surto não age 
comumente de forma premeditada e preocupado em apagarvestígios. Há também muitos casos em 
que há dissimulação ou tentativa de se fazer passar por alguém em surto, de tal forma a impedir 
um julgamento. Tem sido comum na indústria de filmes a utilização de múltiplas personalidades 
como um evento patológico que pudesse explicar o cometimento de crimes. No entanto, não é 
pacífico dentro da psiquiatria, nem da psicologia que exista, de fato, a possibilidade de alguém 
possuir múltiplas personalidades e, mais ainda, de cometer crimes estando em uma delas. O termo 
utilizado pela Associação Americana de Psiquiatria é o de Transtorno Dissociativo de Identidade, já 
o CID-10 utiliza o de Transtorno de Múltiplas Personalidades (F44.8). Há poucos casos relatados 
no mundo, é um diagnóstico extremamente difícil de ser realizado e muito se questiona a respeito 
da autenticidade dos sintomas. 
<http://www.psiquiatriaforense.com.br/site2/admin/links/downloads/39/l_transt_
dissociativo_e_facticio_2013.pdf>. 
<http://www.psiquiatriaforense.com.br>. 
Nós poderíamos listar e explicar cada um dos transtornos e distúrbios psiquiátricos, mas 
transformaríamos esta apostila em um compêndio ou um tratado de psiquiatria, o que não é nossa 
proposta. Não é fácil mesmo para profissionais experientes saber diagnosticar de forma correta se 
há uma doença presente, se é um transtorno de personalidade, se há simulação de sinais e sintomas, 
como também avaliar se o criminoso é ou não inimputável. Os filmes elencados a seguir podem 
ser interessantes sob o ponto de vista da abordagem do tema, levando-se em consideração que 
são fundamentados em legislação americana e que não são documentários; portanto, sujeito a 
imperfeições e críticas.
Os links a seguir conduzem a interessantes estudos de caso e valem a pena ser 
estudados.
<http://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/casos_clinicos/o_caso_
mussalem.pdf>.
<http://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/casos_clinicos/o_caso_
ellen_west.pdf>.
<http://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/casos_clinicos/o_caso_
jurg_zund.pdf>.
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Filmes sugeridos:
Monster (2004)
“Vítima de abusos durante a infância, Aileen Wuornos 
(Charlize Theron) tornou-se prostituta ainda na 
adolescência. Ela está prestes a acabar com a própria 
vida quando conhece Selby (Christina Ricci), uma 
jovem lésbica com quem acaba se envolvendo. Certa 
noite, depois de ser agredida por um cliente, Aileen 
acaba matando o sujeito. O incidente desencadeia 
uma série de outros assassinatos, que faz com que 
ela fique conhecida como sendo a primeira serial 
killer dos Estados Unidos”. Baseado em fatos reais.
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-48372/>.
As Duas Faces de Um Crime (1996)
“Em Chicago, um arcebispo (Stanley Anderson) 
é assassinado com 78 facadas. O crime choca 
a opinião pública e tudo indica que o assassino 
é um jovem de 19 anos (Edward Norton), que 
foi preso com as roupas cobertas de sangue da 
vítima. No entanto, um ex-promotor (Richard 
Gere) que se tornou um advogado bem-sucedido 
se propõe a defendê-lo, sem cobrar honorários, 
tendo um motivo para isto: adora ser coberto 
pela mídia, além de ter uma incrível necessidade 
de vencer.”
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-14712/>.
Zodíaco (2007)
“1o de agosto de 1969. Três cartas diferentes chegam 
aos jornais San Francisco Chronicle, San Francisco 
Examiner e Vallejo Times-Herald, enviadas pelo 
mesmo remetente. A carta enviada ao Chronicle 
trazia a confissão de um assassino, dando detalhes 
da morte de 3 pessoas e da tentativa de homicídio 
de outra, com informações que apenas a polícia e o 
assassino poderiam saber. As três cartas formavam 
um código que supostamente revelaria sua 
identidade ao ser decifrado. O assassino exigia que 
as cartas fossem publicadas, caso contrário mais 
pessoas morreriam. Os assassinatos e as cartas se 
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InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
sucedem, provocando pânico na população de San Francisco. Mas o Zodíaco, como 
o assassino era chamado, estava sempre um passo a frente”. Baseado em fatos reais.
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-59320/>.
Silêncio dos Inocentes (1991)
“Agente do FBI (Jodie Foster) é destacada para 
encontrar assassino que arranca a pele de suas 
vítimas. Para entender como ele pensa, ela procura 
um periogoso psicopata (Anthony Hopkins), 
encarcerado sob a acusação de canibalismo.” 
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-6641/>.
Seven — Crimes Capitais (1995)
“Dois policiais, um jovem e impetuoso (Brad Pitt) e 
o outro maduro e prestes a se aposentar (Morgan 
Freeman), são encarregados de uma perigosa 
investigação: encontrar um serial killer que mata 
as pessoas seguindo a ordem dos sete pecados 
capitais.” 
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/
filme-13892/>.
Dragão Vermelho (2002)
“Will Graham (Edward Norton) é um agente do FBI 
que por pouco não foi morto por Hannibal Lecter 
(Anthony Hopkins) quando tentava capturá-lo. Com 
Lecter já preso, Graham é obrigado a usar o psicopata 
como consultor para obter maiores (sic) informações 
sobre Francis Dolarhyde (Ralph Fiennes), um serial 
killer que tem deixado a cidade em pânico. Mas o 
que Graham não sabe é que ao mesmo tempo em 
que Lecter o auxilia em sua investigação também 
repassa ao próprio Dolarhyde informações sobre a 
família do policial que o persegue.”
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-39178/>.
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UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
Bundy (2002)
“A história de Ted Bundy, o mais terrível serial killer 
e criminoso sexual da América, que admitiu ter 
matado mais de 35 mulheres em um período de 4 
anos. Este filme de Matthew Bright (Freeway 2) traz 
as contradições do mundo distorcido e perturbado 
do mais perverso serial killer já visto. Interpretado 
por Michael Reilly Burke, Bundy era um homem 
inegavelmente bonito, charmoso e cheio de carisma, 
guiado e atormentado por seu outro lado cheio de 
fantasias estranhas e doentias”. Baseado em fatos 
reais.
Fonte: <http://www.interfilmes.com/filme_23518_ted.bundy.html>.
À Procura de Um Assassino (1992)
“História de John Wayne Gacy — um bom amigo 
e um vizinho generoso, excelente companhia para 
as crianças, homem de negócios respeitável, um 
violento assassino em série que violou e matou 
cerca de 30 jovens rapazes”. Baseado em fatos 
verídicos sobre o serial killer conhecido como 
“Palhaço Assassino”.
Fonte: <http://www.cinedica.com.br/Filme-A-Procura-Do-
Assassino-20914.php>.
Karla — Paixão Assassina (2010)
“Esta é a dança mortal e devassa de Paul Bernardo 
e Karla Homolka, um espantoso casal canadense, 
que resultou numa série de vítimas adolescentes, 
com intensas interpretações de Laura Prepon 
e Misha Collins. Bastante fiel à história real, as 
cenas de Karla foram baseadas em depoimentos, 
relatórios policiais, nas sessões de Karla com seu 
psiquiatra, e nas fitas filmadas pelos próprios 
assassinos. Com perplexidade, o público vê os fatos 
acontecerem, sem nenhum remorso de Paul e com 
a falsa normalidade de Karla, atormentada por sua 
consciência, mas incapaz de escapar.”
Fonte: <http://www.interfilmes.com/filme_16360_karla.paixao.assassina.html>.
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InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
Criminal Minds (Mentes Perigosas) (2005)
Seriado baseado na Unidade de Análise 
Comportamental do FBI e em cada episódio é 
abordado um crime complexo em que são estudados 
aspectos comportamentais que permitam a 
elaboração de perfil do criminoso, bem como estudo 
da vitimologia. Já indicamos este seriado em outras 
disciplinas e vale a pena ser visto. Na vida real, não 
é comum que elaboradores de perfis participem da 
prisão de suspeitos, como visto no filme, bem como 
nem todo caso é de simples resolução.
Aspectos psicológicos e síndromes 
relacionadas às vítimas
Há algumas síndromes que são frutos da violência e devem ser conhecidas por investigadores 
criminaiscomo também por psicólogos forenses. Trataremos nesse aqui do Estresse Pós-Traumático 
e da Síndrome de Estocolmo.
O CID-10, elaborada pela OMS, assim dispõe sobre o Estado de Estresse Pós-Traumático:
Este transtorno constitui uma resposta retardada ou protraída a uma 
situação ou evento estressante (de curta ou longa duração), de natureza 
excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, e que provocaria sintomas 
evidentes de perturbação na maioria dos indivíduos. Fatores predisponentes, 
tais como certos traços de personalidade (por exemplo compulsiva, astênica) 
ou antecedentes do tipo neurótico, podem diminuir o limiar para a ocorrência 
da síndrome ou agravar sua evolução; tais fatores, contudo, não são 
necessários ou suficientes para explicar a ocorrência da síndrome. Os sintomas 
típicos incluem a revivescência repetida do evento traumático sob a forma de 
lembranças invasivas (“flashbacks”), de sonhos ou de pesadelos; ocorrem num 
contexto durável de “anestesia psíquica” e de embotamento emocional, de 
retraimento com relação aos outros, insensibilidade ao ambiente, anedonia, 
e de evitação de atividades ou de situações que possam despertar a lembrança 
do traumatismo. Os sintomas precedentes se acompanham habitualmente de 
uma hiperatividade neurovegetativa, com hipervigilância, estado de alerta e 
insônia, associadas frequentemente a uma ansiedade, depressão ou ideação 
suicida. O período que separa a ocorrência do traumatismo do transtorno 
pode variar de algumas semanas a alguns meses. A evolução é flutuante, mas 
se faz para a cura na maioria dos casos. Em uma pequena proporção de casos, 
o transtorno pode apresentar uma evolução crônica durante numerosos anos e 
levar a uma alteração duradoura da personalidade.
34
UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
Observem a gravidade deste quadro sob o ponto de vista do sofrimento psíquico, uma vez que 
pode levar à alteração de personalidade. Tem sido descrito cada vez mais como consequência da 
violência urbana, em vítimas de assaltos, roubos, sequestros, mas também de pessoas que vivem 
em constante alerta por residirem em locais onde são continuamente sobressaltadas pela ocorrência 
de homicídios, troca de tiros entre policiais e criminosos ou mesmo entre facções criminosas. É 
também encontrado nas vítimas sobreviventes de desastres. Fato que não pode ser esquecido é o 
da ocorrência da síndrome entre os membros das equipes de resgate, como também entre policiais 
após o atendimento a ocorrências graves.
Em artigo adaptado a partir da monografia Estresse Pós-Traumático em Policiais-Militares, 
apresentada como requisito parcial à conclusão do Curso de Pós-Graduação em Segurança Pública, 
para obtenção do título de Especialista em Segurança Pública e Estudos da Criminalidade pela 
Universidade Federal do Estado de Minas Gerais, a capitão psicóloga da Polícia Militar de MG, 
Waldanne Ribeiro Bartholo, assim discorre sobre o tema:
Vivenciar situações extremas nas quais há risco de vida, real ou imaginário, 
tende a causar transtornos psicológicos e de comportamentos. Sob essa premissa 
e considerando o contexto de violência dos tempos atuais, torna-se inegável 
a importância do conhecimento de transtornos decorrentes de encontros 
traumáticos. Ballone assinala uma perigosa omissão da mídia a respeito: ao 
noticiar os prejuízos advindos de agressões interpessoais ocorridos na vida 
urbana, foca principalmente os prejuízos materiais, o número de mortos e não 
informa os possíveis prejuízos emocionais das pessoas envolvidas na situação. 
O estresse pós-traumático constitui assim um transtorno frequente, porém 
pouco divulgado no Brasil. 
Em tese, estresse é uma resposta fisiológica e/ou psicológica de uma pessoa 
que busca adaptar-se às solicitações internas e/ou externas. A ausência total 
de estresse equivaleria à morte, sendo, assim, necessário e saudável um nível 
adequado de estresse ao desempenho frente aos novos estímulos aos quais 
estamos expostos, a todo o momento. Nessa condição, esse conjunto de reações 
indispensáveis à sobrevivência denomina-se estresse positivo, ou “eustress.” 
Cada indivíduo tem um limiar diferente ao estresse, não havendo, portanto, 
um quantum ideal recomendável. Não obstante, o excesso de reações aos 
estímulos estressores torna-se prejudicial à saúde e à desenvoltura pessoal, 
podendo transformar-se em caráter patológico, com sérias consequências 
nocivas. São as reações no funcionamento na faixa negativa do estresse, ou 
“distress.” Nessa faixa, localizam-se os transtornos relacionados à síndrome 
do estresse pós-traumático. 
A médica Ana Clélia de Freitas, em artigo com o título Transtorno de Estresse Pós-Traumático, 
também aborda o tema da seguinte forma:
A despeito da elevada prevalência do TEPT, com base nos novos critérios 
diagnósticos do DSM-IV, ainda há muito a ser estudado sobre essa síndrome. 
Atualmente, a taxa de prevalência do TEPT é estimada em 1-3%, em média, 
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InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
chegando, em alguns estudos, à cifra de 5-15%. Em países do Terceiro Mundo, 
como o Brasil, é de extrema importância o reconhecimento desse quadro, 
pela elevada exposição dos indivíduos a eventos estressores potencialmente 
traumáticos (como a violência urbana, os acidentes automobilísticos etc.) e o 
acesso limitado da maioria da população aos recursos de tratamento e apoio à 
saúde mental. No Brasil, houve recentemente relatos de ocorrência de casos de 
TEPT após a ida de tropas do Exército ao Haiti, em missão de paz coordenada 
pela ONU, devido à violência urbana, a miséria extrema e o clima generalizado 
de guerra civil enfrentado pelos militares brasileiros naquele país. 
E continua:
Um trabalho realizado com os policiais de Arlington County que primeiro 
responderam à situação de emergência no Pentágono no dia 11 de setembro 
de 2001, auxiliando no resgate às vítimas do ataque nos Estados Unidos, 
demonstrou que mais de 1/3 deles (36%) apresentaram Transtorno de Estresse 
Pós-Traumático, correlacionando a quantidade de tempo passada em trabalho 
no Pentágono com a severidade da apresentação do TEPT.
Em situações rotineiras, 1/3 dos policiais apresentam TEPT em alguma fase 
de sua vida, devido às condições de trabalho e a exposição frequente a eventos 
potencialmente estressores no dia a dia. O TEPT em policiais apresenta como 
característica peculiar a dificuldade do paciente em buscar ajuda e tratamento 
para o transtorno, devido ao fato de os policiais serem treinados para ajudar e 
não para pedir ajuda. Esse condicionamento os sobrecarrega com a noção do 
autocontrole e autossuficiência. Buscar ajuda para o tratamento do stress não 
é bem visto no meio policial. Aqueles que buscam aconselhamento psicológico 
costumam ser estigmatizados pelos colegas como fracos e não confiáveis como 
parceiro de trabalho.
No estudo referido, comprovou-se a associação entre TEPT e distúrbios do sono 
entre policiais. Num outro estudo realizado entre 1.000 policiais da Força de 
Polícia da Nova Zelândia, comprovou-se a importância do bom relacionamento 
social como fonte de apoio emocional. Um achado importante foi a evidência 
de que aqueles com maior rede de amparo social e aqueles que costumavam 
expressar melhor suas emoções apresentavam menor ocorrência de TEPT após 
exposição a eventos traumáticos.
No caso dos policiais que auxiliaram no resgate no Pentágono, um dado 
significante diz respeito ao nível educacional dos mesmos. Os resultados 
mostraram que quanto menor o nível de instrução do policial, mais sintomas 
de TEPT ele apresentava. Os policiais com nível superior apresentaram menos 
sintomas característicos do TEPT.
O resultado final do estudo foi que, isoladamente, o fator mais importante no 
desenvolvimento do TEPT nos policiais que auxiliaram após o ataque de 11 
de setembro foi o número de horas que cada policial passou no Pentágono. 
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UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
Muitospermaneceram em trabalho ali por várias semanas. Quanto maior o 
tempo gasto naquele local, maior a quantidade de sintomas característicos do 
TEPT apresentados. O motivo relatado pelos policiais para o longo tempo de 
permanência no complexo militar foram o senso de dever e a necessidade de 
oferecerem uma contribuição significativa à restauração do Pentágono.
Trata-se, portanto, de um quadro com graves repercussões que deve ser avaliado o mais precocemente 
possível, de preferência por psicólogos especialmente treinados para este fim. A proposta é que, em 
todo evento crítico, o profissional de saúde, de resgate ou policial seja submetido a um processo 
denominado como debriefing, a ser realizado imediatamente após o encerramento das atividades.
Em artigo realizado por Liliana Andolpho Magalhães Guimarães, Patrícia Magalhães Guimarães, 
Sérgio Nolasco Hora das Neves e João Marcos Del Cistia, com o título A técnica de debriefing 
psicológico em acidentes e desastres e publicado em Mudanças – Psicologia da Saúde, os 
autores discutem a questão do debriefing da seguinte forma:
Esta técnica, conhecida como CISD (Critical Incident Stress Debriefing), 
foi idealizada por Jeffrey Mitchell em 1983, como parte de sua teoria geral 
sobre intervenção em crise e desastres naturais, no principio instituída como 
um programa destinado a reduzir o estresse de trabalhadores dos serviços 
de emergência. (Mitchell; Everly, 1995). Para desenvolvê-la, seus autores se 
basearam no modelo de intervenção da Psiquiatria Militar, que utilizava um 
método similar para a reabilitação psicológica dos soldados no front, desde a 
Segunda Guerra Mundial.
Resumidamente, a técnica CISD consiste em facilitar a expressão dos 
sentimentos e emoções em grupo, relacionadas à experiência traumática vivida, 
com o propósito de reordená-la cognitivamente, de forma mais adaptativa. Em 
sua forma original consta de sete fases: 1) introdução, 2) fatos, 3) pensamentos, 
4) reações emocionais, 5) sintomas, 6) informação e 7) re-entrada (Everly; 
Mitchell, 2000).
Os autores continuam:
Tal qual é entendida por seu criador, a técnica CISD deve ser necessariamente 
aplicada por Profissionais da área da Saúde Mental, especificamente treinados, 
a grupos de pessoas que tenham vivenciado um evento traumático, nas 
primeiras 24 a 72 horas (na maioria dos casos se intervém no local dos fatos), 
em uma sessão de aproximadamente 2 horas de duração. 
E concluem:
O acompanhamento de pessoas em crise após a ocorrência de acidentes ou 
desastres com repercussões traumáticas requer o provimento de algum tipo 
precoce de intervenção e apoio.
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InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
Os componentes essenciais de intervenções bem-sucedidas incluem 
planejamento, informação, treinamento e apoio aos acometidos. As intervenções 
devem maximizar a probabilidade de um resultado de Saúde Mental positivo 
no qual a própria pessoa utilize seus mecanismos de enfrentamento, adaptação 
e estruturas de apoio.
Assista:
Refém do Silêncio (2001)
O filme trata do sequestro da filha de um 
psiquiatra e os captores exigem que ele obtenha 
um segredo guardado por uma paciente vítima 
de estresse pós-traumático.
 
Gran Torino (2009)
“Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um inflexível 
veterano da Guerra da Coreia, que está 
agora aposentado. Para passar o tempo ele 
faz consertos em casa, bebe cerveja e vai 
mensalmente ao barbeiro (John Carroll Lynch). 
Sua vida é alterada quando passa a ter como 
vizinhos imigrantes hmong, vindos do Laos, os 
quais Walt despreza. Ressentido e desconfiando 
de todos, Walt apenas deseja passar o tempo que 
lhe resta de vida. Até que Thao (Bee Vang), seu 
tímido vizinho adolescente, é obrigado por uma 
gangue a roubar o carro de Walt, um Gran Torino 
retirado da linha de montagem pelo próprio. Walt consegue impedir o roubo, o que 
faz com que se torne uma espécie de herói local.”
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-135063/>.
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UNIDADE úNIcA │ INvEstIgAção crImINAl
Síndrome de estocolmo
Em 28 de agosto de 1973, em Estocolmo, capital da Suécia, um banco (Kreditbanken) foi assaltado. 
Houve reféns e o processo de negociação se arrastou por 6 dias. Eram dois os assaltantes e quatro 
os reféns. Durante as tentativas de resgate, para surpresa dos policiais, os reféns passaram a agir 
de tal forma a proteger fisicamente os seus captores, chegando mesmo a se posicionarem como 
“escudos humanos”. O que houve durante esse período foi o estabelecimento de uma relação 
psicológica complexa, em que os reféns estavam em uma situação crítica, privados de sua liberdade, 
sob ameaça de morte; em uma relação de poder em questão subjugados e passaram a perceber, de 
forma equivocada, pequenos gestos do opressor como uma consideração especial. Assim, é comum 
em sequestros, mas também em relações de escravagismo ou mesmo em prisioneiros de guerra, o 
surgimento dessa síndrome.
Julia Layton, em seu artigo HowStuffWorks — O que causa a síndrome de Estocolmo?, 
assim se manifestou:
Aos 10 anos, Natascha Kampusch desapareceu a caminho da escola, na Áustria, 
em 1998. Em 2006, aos 18 anos, ela reapareceu em um jardim de Viena depois 
de escapar da casa de seu raptor aproveitando um momento de distração. Em 
uma declaração à mídia, lida pelo psiquiatra que a está tratando, Kampusch 
afirmou o seguinte sobre os oito anos que passou trancafiada em uma cela 
abaixo do porão do homem que a sequestrou; “Minha juventude foi bastante 
diferente. Mas também evitei diversas coisas — não comecei a fumar ou beber, 
ou a andar em más companhias”. De acordo com a opinião da maioria dos 
especialistas, Kampusch está traumatizada e parece estar sofrendo de síndrome 
de Estocolmo.
As pessoas que sofrem de síndrome de Estocolmo terminam por se identificar 
e até mesmo por gostar daqueles que os sequestram, em um gesto desesperado 
e em geral inconsciente de preservação pessoal. O problema costuma surgir na 
maioria das situações psicologicamente traumáticas, como casos que envolvem 
sequestro ou tomada de reféns, e em geral esses efeitos não se encerram com o 
final da crise. Na maioria dos casos clássicos, as vítimas continuam a defender 
e a gostar de seus raptores mesmo depois de escapar do cativeiro. Sintomas da 
síndrome de Estocolmo também foram identificados no relacionamento entre 
senhor e escravo, em casos de cônjuges agredidos e em membros de cultos 
destrutivos. 
A autora continua em sua explicação:
A fim de que a síndrome de Estocolmo possa ocorrer em qualquer situação, pelo menos três traços 
devem estar presentes:
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InvestIgação CrImInal │ UnIDaDe únICa
 » uma relação de severo desequilíbrio de poder na qual o raptor dita aquilo que o 
prisioneiro pode e não pode fazer;
 » a ameaça de morte ou danos físicos ao prisioneiro por parte do raptor;
 » um instinto de autopreservação de parte do prisioneiro.
Da maneira mais básica e generalizada, o processo, tal qual visto em uma situação de sequestro ou 
reféns, transcorre mais ou menos assim:
1. em um evento traumático e extraordinariamente estressante, uma pessoa se vê 
prisioneira de um homem que a ameaça de morte caso desobedeça. A pessoa 
pode sofrer abusos — físicos, sexuais e/ou verbais — e enfrentar dificuldade para 
pensar direito. De acordo com o raptor, escapar é impossível. A pessoa terminará 
morta. Sua família também pode morrer. A única chance de sobreviver é a 
obediência;
2. com o passar do tempo, a obediência, por si, pode se tornar algo menos seguro 
— já que o raptor também sofre estresse, e uma mudança em seu humor poderia 
representar consequências desagradáveis para o prisioneiro. Compreender o que 
poderia deflagrar atos de violência de parte do raptor, para evitar esse tipo de 
atitude, se torna uma segunda estratégia de sobrevivência. Com isso, a pessoa 
aprende a conhecer quem a capturou; 
3. um simples gesto de gentileza de parte do raptor, que pode se limitar simplesmente 
ao fato de ainda

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