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Dedicamos este trabalho às nossas queridas mães Ughetta (in memoriam), Lucinda (in memoriam) e Deise e às nossas amadas esposas Maria Cristina (in memoriam), Adriana e Carlisa. Sem elas, nada teria sido possível. A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira. Leon Tolstoi SUMÁRIO 1. Capa 2. Folha de Rosto 3. Créditos 4. 1. INTRODUÇÃO 5. 2. BREVE HISTÓRICO DOS PERFIS CRIMINAIS 6. 3. CONCEITO DE PERFILAMENTO CRIMINAL 7. 4. PERFILAMENTO CRIMINAL E INVESTIGAÇÃO POLICIAL 8. 5. O PERFILADOR 1. 5.1 OBSERVAÇÃO VISUAL 2. 5.2 RACIOCÍNIO LÓGICO 3. 5.3 INTUIÇÃO 4. 5.4 BOA MEMÓRIA file:///tmp/calibre_5.12.0_tmp_tz8lndvp/Text/capa.xhtml 5. 5.5 COMPREENSÃO SIMBÓLICA 6. 5.6 EMPATIA 7. 5.7 PLENO CONHECIMENTO DE SUA ÁREA 9. 6. MÉTODO NA ELABORAÇÃO DO PERFIL CRIMINAL 1. 6.1 CRIAÇÃO DE UM PERFIL CARTESIANO: 2. 6.2 PERSONALIDADE E COMPORTAMENTO 1. 6.2.1 Transtornos psiquiátricos ou mentais 2. 6.2.2 Tipos de transtornos importantes ao profilamento 3. 6.2.3 Transtorno afetivo bipolar 4. 6.2.4 Transtorno Dissociativo de Identidade 5. 6.2.5 Transtorno antissocial 6. 6.2.6 Transtorno Borderline 3. 6.3 ENTENDENDO TIPOS PSICOLÓGICOS E MORFOLÓGICOS DE CRIMINOSOS 1. 6.3.1 Tipos de personalidades criminosas 2. 6.3.2 Tipos morfológicos de criminosos 10. 7. CRIANDO PERFIS 1. 7.1 ANÁLISE DA EVIDÊNCIA COMPORTAMENTAL 2. 7.2 BIOMECÂNICA 3. 7.3 O LOCAL DE CRIME E A PERSONALIDADE DO OFENSOR 4. 7.4 ESCOLAS DE PENSAMENTO CONTEMPORÂNEAS DE PERFILAMENTO CRIMINAL 1. Primeira Escola de Pensamento 2. Segunda Escola de Pensamento 3. Terceira Escola de Pensamento 4. Quarta Escola de Pensamento 5. Resumindo historicamente as Escolas 5. 7.5 RACIOCÍNIO DO PERFILADOR NA ELABORAÇÃO DO PERFIL CRIMINAL 6. 7.6 A VITIMOLOGIA E O PERFILAMENTO CRIMINAL 7. 7.7 ANALISANDO SIMBOLOGIA 8. 7.8 ASSASSINOS EM SÉRIE OU SERIAL KILLER 11. 8. PERFILAMENTO GEOGRÁFICO OU GEOPROFILLING 1. 8.1 HIPÓTESE DO CÍRCULO DE CANTER OU CANTER CIRCLE 12. 9. RESTRIÇÕES E QUESTIONAMENTOS SOBRE O PERFILAMENTO CRIMINAL 13. 10. CONCLUSÃO 14. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Landmarks 1. Capa 2. Folha de Rosto 3. Página de Créditos 4. Sumário 5. Bibliografia file:///tmp/calibre_5.12.0_tmp_tz8lndvp/Text/capa.xhtml 1. INTRODUÇÃO A presente análise tem como tema privilegiado a utilização do perfil criminal como estratégia na investigação da Polícia Judiciária, baseado nas metodologias científica, exegética, historiográfica-crítica e comparativa. Essa técnica de pesquisa tem a finalidade de discutir o aspecto científico dos levantamentos de perfis criminais e, principalmente, demonstrar a importância de tal levantamento na investigação policial. O termo perfilamento encontra-se mais divulgado no Brasil como profiling, originado e desenvolvido pelas Criminologia e Psicologia Forense em vários países. Este termo passa a ter várias outras denominações em outros ramos do conhecimento. Assim, por vezes, o termo pode ser intercambiado com seu correlato em Inglês, sem que isso cause qualquer tipo de estranhamento. Em uma análise semântica, em Inglês ou Português, a terminologia acaba convergindo para o chamado perfil criminal, amplamente utilizado nas áreas de Criminologia, Criminalística, Medicina Legal, Direito e nas especializações de Psicologia Forense ou Jurídica, ou seja, em todos segmentos envolvidos na especialidade da atividade forense. (Kocsis, 2006 e Soeiro, 2009). Este trabalho pretende utilizar e discutir conceitos básicos do descrito perfil criminal como técnica forense, evidenciando a função de suporte que esta técnica pode oferecer à investigação policial. O livro conta com uma breve perspectiva histórica, cuja meta é, mais do que esgotá-la, oferecer uma introdução ao tema. A ideia de mesclar experiências profissionais de policiais operacionais com outras áreas de conhecimento (Psicologia, Psiquiatria, Ciências Forenses) traz benefícios para a prevenção e a resolução de crimes e, principalmente, para a possível identificação e captura de criminosos. 2. BREVE HISTÓRICO DOS PERFIS CRIMINAIS Pode-se dizer que entre as primeiras tentativas registradas de se traçar o perfil das pessoas com a intenção de se avaliar seu potencial de criminalidade nos remonta à Grécia Antiga, quando Sócrates teria sido interpelado por um estrangeiro que afirmava ser o filósofo “cheio de vícios”, com base em sua aparência: por Sócrates ser “feio”. Esse era um prenúncio da teoria monstrum in fronte, monstrum in anima, tão presente no período entre meados do século XIX e início do século XX. Esse raciocínio baseado nas características físicas dos seres humanos com a intenção de se tentar delinear perfis criminais foi aprofundado, sendo nos primórdios amplamente difundido pelo médico psiquiatra italiano Cesare Lombroso (1835-1909), até hoje considerado, inclusive, entre os fundadores do que se vinha a conhecer futuramente como Criminologia. Focando a investigação criminal, seus estudos já tratavam-se de uma união interdisciplinar entre a Medicina, o Direito e a então emergente Psicologia. Outra visão histórica importante nos é dada por Robert D. Hare (1934), professor emérito de Psicologia da Universidade de British Columbia, Canadá, que cita o doutor Phillippe Pinel (1745-1826) como um dos primeiros médicos a escrever sobre psicopatas, perfil muito importante nos estudos de Perfilamento Criminal. Dr. Pinel foi um psiquiatra Francês do século XIX, que forjou a terminologia “mania sem delírio” para descrever um comportamento marcado por absoluta falta de remorso e completa ausência de contenção. Saliente-se que as questões ligadas à aparência do indivíduo começam, com Pinel, a ceder espaço para uma análise mais comportamental ou de “personalidade”. Um documento histórico de interesse na formação do conceito de Perfilamento Criminal é o depoimento do cirurgião Dr. Rees Ralph Llewellyn (1850-1921), residente da Whitechapel Rood, em Londres, próximo ao local onde foi encontrado o corpo de Mary Ann Austin, uma das vítimas de Jack, o estripador. Este crime específico ocorreu em 31/08/1887 e ele foi chamado para ver o cadáver, em via pública, e descreveu em seu depoimento as lesões observadas em minuciosos detalhes. Nos jornais ingleses da época encontram-se as primeiras indicações de que a polícia passou a considerar os crimes de Whitechapel como realizados por um assassino em série ou serial killer. No inquérito sobre a morte de Annie Chapman, vítima do mesmo assassino, perguntas feitas pelo investigador de polícia ao médico divisional da polícia inglesa, Dr. George Bagstir Phillips (1835-1897) demonstram sua clara intenção de levantar o perfil do criminoso. Na mesma investigação, constata-se no depoimento de Dr. Thomas Bond (1841 – 1901), também cirurgião com papel de legista em mais de uma das vítimas do assassino de Whitechapel, constata-se sua busca de suporte técnico, por parte da polícia, nos exames das lesões mortais deixadas nos corpos das prostitutas. Esses registros também mostram a intenção de se compreender o tipo de “personalidade” do referido assassino. Entra as décadas de 1930-1940, a Biotipologia, tal como desenvolvida pela Medicina, passa a ser matéria auxiliar em diagnósticos e prognósticos. É aplicada em seguida na identificação de tipos comuns com potencial criminoso (Berardinelli, 1942). Na década de 1950, avançando até o final de 1960, ganha força uma Escola desenvolvida pelo FBI para exame e levantamento de local de crime (Verde e Nurra, 2006), em que o perfil criminal é construído a partir dos vestígios relacionados às características da ação dos criminosos. Dr. Murray Miron (1932-1995), da Universidade de Syracurse, foi um psicólogo importante na descrição de perfis criminais, que auxiliou o FBI na criação de uma análise psicolinguística no caso do famoso assassino norte- americano David Berkowitz (1953-), apelidado o “Filho de Sam”, que atacava casais no interior de veículos. À época, o perfil elaborado nesse caso acrescentou grande precisão às investigações policiais. Na revisãoda literatura, encontra-se que foi aproximadamente em 1972 que o FBI iniciou a construção de perfis criminais (Egger, 1991; Soeiro, 2009; Shanon, 2004). Por essa época, os perfis começaram a ser conhecidos em função dos crimes em série – vale dizer principalmente em homicídios em série. Na disciplina de Criminologia, instrutores da Academia do FBI começam, então, os primeiros ensinamentos sobre crimes não resolvidos. O profiling (ou perfilamento, em Português) – levantamento e estudo de um padrão de comportamento ligado a um crime ou crimes – teve seu nascedouro nessa Escola do FBI. É somente em 1978 que realmente se inicia o Programa de Perfilamento Psicológico (Psychological Profiling Program) na polícia norte-americana, com base na análise comportamental. Foi então elaborado um extenso arquivo, registrando-se entrevistas com assassinos e delineando seus padrões de comportamento. Caminhando na história, o Dr. David Canter (1944-), psicólogo inglês que se aprofundou em Criminalística, não pode deixar de ser mencionado por ter basicamente criado uma linha de estudos denominada Psicologia Investigativa. O tipo de perfilamento criado por ele, especificamente o do violador homicida, foi muito prático e de grande uso para a captura desse tipo de criminosos. Por volta de 1994, Dr. Canter estruturou uma academia graduada de Psicologia Investigativa, denominada Centre for Investigative Psychology (CIP), na Universidade de Liverpool (Egger, 1999) e até os dias de hoje ativa. Atualmente, nos trabalhos científicos na maior parte dos países da Europa, nos Estados Unidos da América e no Canadá, são aplicadas técnicas de constituição de perfil criminal. O Perfilamento Criminal, enquanto técnica aliada às investigações criminais, chega no Brasil de maneira informal nos idos dos anos 1980, passando a ser, mais recentemente, matéria obrigatória na Academia de Polícia. 3. CONCEITO DE PERFILAMENTO CRIMINAL Perfilamento Criminal é a técnica de constituição do perfil criminal de um indivíduo procurado por um crime, seja o indivíduo identificado ou não. Também é usada como ferramenta prática privilegiada na investigação de determinado crime. (Cook e Hinman, 1999). Em termos técnicos, o perfil criminal tem seu nascedouro já na análise da cena de crime, com a observação sistemática do padrão de comportamento isolado ou em série da atitude violenta do agressor envolvido. Assim, desde a organização da cena do crime visa-se a identificação, pela observação de vestígios e indícios, as características de um padrão de comportamento criminoso. Trata-se de um levantamento de dados com análise correspondente. A grande preocupação inicial, em casos de crimes sem identificação imediata, é a identificação de aspectos biográficos do criminoso como idade, sexo, estado civil, profissão, condições socioeconômicas. Essa identificação oferece à investigação policial, de maneira direta, informações e materiais concretos acerca do suspeito. Com isso, o trabalho fica mais exato e direcionado. Obviamente, esta ferramenta técnica não fornece à investigação, em um primeiro momento, a identificação específica de um criminoso. Porém, pode começar a indicar o tipo de pessoa que poderia ter cometido o delito. A importância do trabalho realizado pela Escola do FBI é que, na construção do perfil criminal há um ganho técnico-científico histórico, isto é, antes dela fazia-se tão somente levantamentos clínicos, no que se referia à saúde mental do agressor, após sua captura. Na construção do perfil, um dos tópicos mais importantes refere-se ao padrão motivacional que surge à medida que este perfil é elaborado. O comportamento, sem dúvida, reflete o que comumente se entende por “personalidade” do indivíduo (Correia, Lucas e Lamia, 2007). Quando a técnica de levantar os perfis criminais começou a ser conhecida pelo grande público, o FBI divulgava características de um criminoso desconhecido por meio de uma lista básica, exposta em forma de itens. A lista compreendia parâmetros, expostos à medida que os investigadores policiais iam se aproximando do tipo de personalidade que o criminoso poderia apresentar. Baseando-se na premissa de que padrões de comportamentos podem demonstrar a personalidade dos indivíduos, uma análise de um perfil ofensor pode ser construído, com o intuito de responder a questões básicas, encontradas em todos os casos. Trata-se basicamente de um raciocínio cartesiano: • O que se passou na cena do crime? • Por que razão esses acontecimentos ocorreram? • Que tipo de indivíduo pode estar implicado? Essas perguntas não podem ser respondidas por um só profissional. A cena de um crime sempre deve ser analisada por uma equipe multidisciplinar. Não é possível que uma só pessoa conheça todas as áreas de Criminologia, Psiquiatria, Psicologia, Criminalística, Odontologia Legal, Medicina Legal, Sociologia, Antropologia e/ou qualquer outra Ciência Humana básica na investigação policial (Correia, Lucas e Lamia, 2007). Este é o estudo sugerido pelo FBI – denominado de “A Cena de Crime” - é uma técnica desenvolvida pela Universidade de Ciência Comportamental (BSU Behavioral Science Unit), posteriormente modificada pela PBAU (Profiling Behavioral Assessment Unit). Fazer Perfilamento Criminal, portanto, exige conhecimentos multidisciplinares. Diferentes profissionais podem ser perfiladores, desde que se preparem também de maneira multidisciplinar. Psicólogos, psiquiatras, advogados forenses, criminólogos, peritos criminais, médicos legistas, antropólogos e outros profissionais podem e têm todos contribuído para o desenvolvimento dessa técnica. 4. PERFILAMENTO CRIMINAL E INVESTIGAÇÃO POLICIAL Elucidar um crime envolve a técnica de investigar, utilizando-se um planejamento racional de hipóteses. Policiais experientes afirmam que a intuição também faz parte de um direcionamento investigativo, porém não se pode basear apenas na intuição. Mas claramente ela pode indicar caminhos para se buscar evidências. O termo investigar refere-se a pesquisar, incluindo indagação cuidadosa. Isso significa busca constante para se descobrir alguma coisa, utilizando-se, para isso, de vestígios e observação de detalhes e minúcias. A investigação policial preocupa-se com a pesquisa sobre pessoas e aspectos encontrados na cena do crime. A investigação avança como quem está em uma estrada com várias direções (suposições), que parte do conhecido, com o objetivo de se chegar ao próximo ponto de certeza, obedecendo ao método cartesiano de pensamento. Convém salientar a diferença existente entre investigação e inquérito policial. Esse último é um procedimento administrativo de caráter inquisitivo que tem a finalidade de instruir a denúncia do MP – Ministério Público. Segundo Luiz Carlos Rocha (1998), o inquérito é a formalização da investigação policial que prepara a ação penal. Vamos utilizar o exemplo de um homicídio: a primeira preocupação do policial responsável é identificar a vítima e conhecê-la por meio de minuciosos levantamentos e coleta de seus dados. Nesse exato ponto inicia- se a criação do perfil vitimológico, um trabalho que pode durar semanas, meses ou anos. Por um viés biológico, também é necessário descobrir o que a vítima oferecia ao seu predador (criminoso) para ter sido assassinada. Trata-se de uma inversão da forma de analisar o crime. Partindo do perfil vitimológico, é possível hipotetizar tipos possíveis de personalidade do criminoso que agiu. Em síntese, para serem estudos detalhados e aprofundados de vestígios da cena do crime, os procedimentos atuais da investigação policial devem envolver vários tipos de pesquisas científicas. 5. O PERFILADOR Geradores de perfis criminais ou perfiladores são especialistas que analisam uma cena de crime ou o M.O. (modus operandi ou método de operação) de um criminoso, na esperança de obter seu perfil. Para tanto, o perfilador deveria ter as seguintes características: • boa observação visual; • raciocínio lógico; • intuição; • boa memória; • empatia; • compreensão simbólica;e • pleno conhecimento de sua área. 5.1 OBSERVAÇÃO VISUAL As pessoas se comunicam com o mundo exterior de três maneiras: visual, auditiva e cinestésica. Evidentemente, as três maneiras estão presentes no ser humano, desde que não haja deficiências orgânicas. Porém, as pessoas utilizam-se mais de uma ou de outra modalidade como ponto de apoio para se organizarem. Diz-se que uma pessoa é de perfil “Visual” se ela fizer contato com o mundo exterior predominantemente através da visão. “Auditivo” seria aquele indivíduo que faz contato mais fortemente por meio dos sons, das palavras, do discurso. “Cinestésico” é aquele que faz contato com o mundo principalmente através do tato, do contato físico. O perfilador deve primordialmente ser um “Visual”. Considerando que o perfilamento tem início na cena do crime, é necessário que o perfilador possua excelente capacidade de observação visual, pois cada detalhe, cada indício deve ser bem observado. 5.2 RACIOCÍNIO LÓGICO É necessário que o perfilador tenha bom raciocínio lógico, que saiba estabelecer com precisão relações de causa e efeito, sendo que, por vezes, senão na maioria delas, partirá do efeito para atingir a causa. Não é exagero dizer que o perfilador deverá colher os dados com base na sua observação visual, portanto empírica, e, de posse dos dados e indícios que colher, deverá aplicar um raciocínio absolutamente lógico e científico, com base no método cartesiano, que é base do próprio pensamento científico. 5.3 INTUIÇÃO Em contraponto à capacidade racional, o perfilador também deve possuir uma boa intuição. Há quem afirme que o perfilador deva manter uma postura fundamentada na fenomenologia proposta pelo matemático e filósofo Edmund Husserl (1859-1938), que apresentou o conceito de intencionalidade, presente na mente humana. A noção de intencionalidade, tal como proposta por Husserl, é de que “toda consciência, é consciência de alguma coisa” (Husserl, 2008). Mas, se de um lado essa noção fenomenológica rompe com a corrente racionalista, e, de outro lado, rompe com a corrente empirista, para qual a consciência é passiva, moldando-se a partir de elementos vindos do exterior, nem por isso a razão deixa de estar presente na análise dos dados colhidos no local do crime, efetivamente empírica. No entanto, a importância dos estudos psicológicos efetuados em fins do século XIX e início do século XX por Husserl se revela ao abordar a atividade da consciência, fazendo oposição entre intuição e representação. A intuição deve ser entendida como aquela certeza de origem inicialmente não explicada de forma racional. Isto é, a intuição é uma certeza que só será confirmada como verdadeira posteriormente a constatações e observações empíricas. Mas, nem por isso, deve ser deixada de lado, embora deva ser colocada à prova de maneira cartesiana. 5.4 BOA MEMÓRIA Ao perfilador seria interessante possuir necessária excelente memória, se possível fotográfica. Caso o perfilador não possua tal memória, deverá compensá-la com fotos e anotações como métodos alternativos. Ressalta-se que, principalmente nos dias de hoje com a enorme facilidade da presença de câmeras potentes em telefones celulares, como método alternativo e mais uma técnica de coleta de evidências, a fotografia é muito importante, sempre possível e viável. 5.5 COMPREENSÃO SIMBÓLICA Quando um delegado de polícia comparece a uma cena de crime juntamente com seus investigadores, médicos legistas e peritos, e os profissionais se deparam com um cadáver com 30 perfurações a faca, por exemplo, deduz-se desse o indício que tal crime foi muito provavelmente cometido com raiva, sugerindo passionalidade. Assim, a partir de um fato observado, a mente atribui um sentido, remetendo-se a conteúdos não claramente expressos na cena do crime. Dessa forma, o perfilador também deve dominar o conhecimento não verbalizado, aquele exposto na forma de indícios e sinais. Eles são elementos essenciais no processo de comunicação, encontrando-se difundidos no nosso cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. A cena de um crime sempre é composta por elementos que devem ser olhados como sinais, indícios de fatos ali ocorridos. 5.6 EMPATIA Também é necessário que o perfilador tenha empatia, isto é, sensibilidade. Empatia é a capacidade de reconhecer ou compreender o estado de espírito ou a emoção do outro. Muitas vezes é caracterizada como capacidade de se colocar no lugar do outro, ou, de algum modo, tentar compreender a experiência na perspectiva ou segundo as emoções do outro. A palavra empatia é derivada do grego pathos, que significa afeição, paixão, sofrimento e emoção. O termo foi adaptado pelo filósofo e psicólogo alemão Teodoro Lipps (1851 – 1914) para criar a palavra Einfuhlingem (o equivalente a feeling em inglês). O médico norte-americano Paul Mac Lean (1913 – 2007) sugeriu que o sistema límbico, uma das partes mais antigas do nosso cérebro, e suas conexões com o córtex pré-frontal estariam envolvidos na empatia. Eles proporcionariam aos homens a capacidade de se colocar no lugar dos outros. Dessa forma, uma empatia primitiva estaria presente desde cedo na evolução humana e, com a aquisição de novas estruturas cerebrais e circuitos neurais, adicionou-se a essa empatia primitiva uma forma de cognição, de tal forma que esta passou a ser experimentada em conjunto com uma consciência social mais desenvolvida. Então, conceitualmente, o estado de empatia, ou de entendimento empático, consiste em perceber corretamente o marco de referência interno do outro, com significados e componentes emocionais eliciados no outro. Em outras palavras, significa colocar-se no lugar do outro, porém sem perder a condição de “como se”. A empatia implica, por exemplo, em sentir a dor ou a alegria do outro, como o outro o sente e perceber suas causas, como ele a percebe, porém sem nunca perder a perspectiva de se trata dele e não do observador. 5.7 PLENO CONHECIMENTO DE SUA ÁREA Conforme já exposto, o Perfilamento Criminal é técnica afeita a diversas áreas do conhecimento. Cada área possui o seu enfoque e, não raro, o trabalho só pode ser levado a cabo e a contento em decorrência dessa pluralidade de visões, dessa pluri ou multidisciplinaridade. Ora, se é da soma de conhecimentos que um Perfilamento Criminal é levado a cabo, então o pleno domínio de sua área de conhecimento, por parte do perfilador, se favorece de saberes em diferentes assuntos, que auxiliarão o perfilador em sua análise. É justamente através da sinergia entre os conhecimentos que o Perfilamento Criminal atinge a sua meta. 6. MÉTODO NA ELABORAÇÃO DO PERFIL CRIMINAL 6.1 CRIAÇÃO DE UM PERFIL CARTESIANO: Para o entendimento ideal da formação do perfil criminal por parte daquele que faz a análise de um crime, ou seja, do perfilador, devem ser levadas em consideração algumas questões fundamentais. O perfilador, antes de tudo, é um observador que colhe dados em busca de certezas, de modo organizado, concreto, em direção à verdade dos fatos. Em outras palavras, o perfilador é um cartesiano que se usa de métodos cartesianos. O “Método Cartesiano”, criado pelo filósofo francês racionalista René Descartes (1596-1659), consiste no que ele chamou de “Ceticismo Metodológico” na busca de verdades irrefutáveis - duvida-se de cada e toda ideia até que ela possa ser comprovada ou, em suas palavras, “algo só existe se puder ser provado”. Dessa forma, Descartes forjou o que se chama de “Dúvida Cartesiana” e um método, o “Método Cartesiano”, para resolvê-la, pontos nos quais, até hoje, baseia-se todo pensamento científico e, portanto, também o Perfilamento Criminal. Segundo o Método Cartesiano, o primeiro passo do perfilador, é chegar à cena do crime destituído de qualquer tipo de “pré-conceito” ou “pré-juízo”. O segundo passo é passar a observar a cena, colher dados e observar indícios até que chegue a uma primeira certeza irrefutável. O terceiro passo consiste em, da primeira certeza atingida, passar à próxima, e à próxima, até atingir as certezasmaiores. O quarto e último passo consiste em registrar, rever e remontar o processo por inteiro, quantas vezes ele julgar necessário. Todos esses passos devem levar à comprovação de hipóteses e teses, bem como à consecução do perfil criminal. Esta uma das partes mais importante deste todo, a tentativa de se antecipar um tipo de padrão de comportamento, um perfil da personalidade mais provável de um agressor criminal com base em respostas a dúvidas e perguntas feitas durante o processo. 6.2 PERSONALIDADE E COMPORTAMENTO Dentro da multidisciplinaridade necessária à execução de profilamentos criminais, a compreensão de certos padrões de personalidade e comportamento é valiosíssima, sendo parte crucial da criação de um perfil criminal. Mais especificamente, é importante o estudo de padrões de comportamentos desviantes, conhecimento bastante útil e importante no Perfilamento Criminal. Considera-se comportamento desviante aquele que destoa dos comportamentos aceitos e funcionais dentro de um sistema social (família, grupo de amigos, trabalho, a sociedade). Cometer crimes, atos de violência, são comportamentos desviantes gravíssimos e entende-se que sejam fatores biopsicossociais que determinam que uma pessoa escolha roubar uma bolsa, um banco ou matar com uma arma de fogo ou com uma faca. É tarefa complexa entender como surgem esses comportamentos e como prevê-los e, através dos tempos, a Medicina, a Psicologia, a Filosofia, juntamente com vários outros campos das Ciências Humanas, dedicam-se a esses estudo. No frigir dos ovos, podemos concluir que um comportamento surge com base na personalidade de uma pessoa, personalidade essa formada através de um conjunto de fatores biopsicossociais, ou seja, que une instâncias fisiológicas ou médicas, psicológicas e sociais. De modo geral, considera-se como a personalidade de um indivíduo um conjunto de características biopsicossociais que sejam consistentes, que se repitam, que determinam e permitem entender a individualidade dos seres humanos, ou seja, um conjunto único e específico de características que ocorrem com alguma estabilidade ao longo do tempo. Através dos tempos, a Medicina, e desde os primórdios da criação da Ciência Psicológica, procura-se estudar, descrever, analisar e agrupar personalidades e comportamentos que sejam prevalentes, com o intuito de inicialmente se compreender a experiência humana e suas singularidades, e segundamente diagnosticar, tratar ou encaminhar pessoas que sofrem ou que fazem mal a si mesmos ou a outros. Nesse caminho de tempo, em vários ramos científicos foram desenvolvidas diferentes teorias e descrições de personalidades e comportamentos humanos e, numa perspectiva social, um dos grandes objetivos destas é tentar dar conta do que comumente chamamos de comportamentos desviantes, onde se enquadram os criminosos. É importante deixarmos claro aqui que o conceito de “personalidade” é muito complexo, com significações variadas em diferentes campos do saber, e bastante subjetivo e não material. Por outro lado, “comportamentos” são observáveis, e mais fáceis de serem registrados e estudados. Embora possamos mencionar o termo personalidade neste livro, por esse ser frequente tanto socialmente quanto nos estudos de perfis criminais, o que é de fato o que compõe os perfilamentos são os comportamentos desviantes, criminosos ou violentos. No que tange ao Perfilamento Criminal, com o intuito de investigar um crime, portanto, faz-se importante entender os padrões de desvios de comportamento e a descrição de alguns transtornos psiquiátricos descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-5, da Associação Americana de Psiquiatria usado mundialmente) podem ajudar muito e servir de base para se ter uma ideia geral. Deixamos claro aqui porém, que as descrições dos transtornos psiquiátricos neste livro não são aprofundadas e o diagnóstico dos transtornos só pode ser feito por profissionais de saúde, devendo ser considerados como uma das ferramentas no profilamento e jamais de modo estigmatizante ou persecutório. Deixaremos isso mais claro adiante. 6.2.1 Transtornos psiquiátricos ou mentais Certos transtornos ou padrões de comportamento e funcionamento incômodos afetam várias áreas do comportamento de um indivíduo. Isto é, transtornos de ordem psiquiátrica podem influenciar diretamente a maneira de ser e os comportamentos das pessoas: o modo como elas veem o mundo, a maneira como expressam suas emoções e seu comportamento social. Caracterizando a forma de ser da pessoa, certos transtornos podem culminar em indivíduos, por exemplo, socialmente mal adaptados, inflexíveis e prejudiciais a si e aos outros. Comportamentos mais rígidos e menos flexíveis, mais explosivos e menos equilibrados estão, de modo geral, presentes nos comportamentos criminosos, funcionando e gerando diferentes resultados em diferentes contextos sociais e culturais. 6.2.2 Tipos de transtornos importantes ao profilamento Durante os registros de patologias psiquiátricas, houve através do tempo uma série de variação nas denominações e descrições de transtornos psiquiátricos. A Sociedade Mundial de Psiquiatria criou o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-5) exatamente por essa razão, para padronizar pelo mundo a que patologia se refere e quais os sinais e sintomas deve-se esperar para que se possa diagnosticar um indivíduo. Portanto, baseados no DSM-5, a título de informação, elencamos alguns dos transtornos mais comumente presentes nos comportamentos criminosos. Na literatura, há evidências da presença de comportamentos presentes seguintes transtornos psiquiátricos: • transtorno afetivo bipolar; • transtorno dissociativo de identidade; • transtorno antissocial, sociopático ou psicopático; • transtorno borderline; e • personalidade criminosa. Seguem breves comentários sobre cada um desses tipos. 6.2.3 Transtorno afetivo bipolar O transtorno afetivo bipolar, antigamente conhecido como transtorno maníaco-depressivo, é um transtorno mental em que o humor varia significativamente, com crises de depressão e de mania (agitação exacerbada). Esses dois tipos de crises podem ocorrer numa mesma pessoa com maior ou menor intensidade. As alterações podem ser graves, moderadas ou leves. As mudanças de humor têm uma importante repercussão nas sensações, emoções, pensamentos e comportamentos do indivíduo, podendo, em momentos e sem o tratamento adequado, haver perda significativa de sua autonomia. Vários fatores predispõem um indivíduo à doença. Fatores genéticos e biológicos estão na base causal, mas o transtorno também é influenciado por ocorrências externas tais como traumas, incidentes ou acontecimentos fortes como mudança, troca de emprego, fim de casamento ou morte de um ente querido. Comportamentos desviantes ou criminosos podem ocorrer mais provavelmente nas fases maníacas, com ocorrência de variados níveis de violência contra si ou outros. 6.2.4 Transtorno Dissociativo de Identidade Este transtorno está classificado entre os transtornos dissociativos ou de desagregação dos conteúdos de pensamento, ações e emoções, que parecem ser reagregados em diferentes e múltiplos padrões, todos coexistindo em um mesmo indivíduo. Por essa razão, esse é o transtorno antigamente chamado de “Distúrbio de Múltipla Personalidade”, uma vez que parecem existir mais de uma “personalidade” dentro de uma só pessoa, sendo elas não necessariamente patológicas. Em outras palavras, passam a conviver na mente de um mesmo sujeito várias identidades, cada uma delas apresentando comportamento, ideias e sentimentos próprios. O Transtorno Dissociativo de Identidade pode ocorrer quando a pessoa sofre algum tipo de trauma grave, na maioria das vezes quando criança. Abuso sexual, negligência, abandono e violência na infância estão entre as causas mais frequentes. Ao não conseguir lidar com a situação traumática, o indivíduo tende a se proteger por meio da criação de outras “pessoas” dentro de si, e estas o ajudam a sustentar a cargaemocional que, sozinho, não conseguiria carregar. Frequentemente, a pessoa portadora deste transtorno não tem consciência dos fatos que a perturbaram no passado e cujo impacto mental a levaram a desenvolver esse sistema de defesa psíquica. De modo geral, são indivíduos bastante vulneráveis, apresentando traços de instabilidade de humor. A intolerância à frustração também pode set um comportamento frequente e, nesse caso, quanto mais frustrações ou decepções o indivíduo sofre, mais identidades fictícias e distintas poderá ir inconscientemente criando. De modo geral, a pessoa que sofre por esse transtorno não tem controle sobre as outras identidades, que, muitas vezes, podem não aceitar o estilo de vida umas das outros. Por exemplo, uma dessas personalidades pode ser puritana e outra ser promíscua; um pode ser um religioso empático e generoso e outro um valentão intolerante com tendências assassinas. Cada uma destas identidades pode apresentar comportamentos, expressões faciais e até mesmo linguagens diferentes. Durante os períodos em que uma personalidade assume o controle, as outras ficam em amnésia parcial. Pode haver conhecimento entre personalidades, mas, geralmente, a personalidade dominante em determinado momento não tem consciência das outras. A transição entre as identidades pode ser súbita ou passar por uma espécie de período transitório, mais suave e confuso. Atualmente não há medicação eficaz para tratar ou controlar esse distúrbio, sendo a psicoterapia a única forma de abordagem dos casos. Há registro de violência criminal ligada a indivíduos com transtornos dissociativos na literatura especializada, incluindo o Transtorno Dissociativo de Identidade, porém não em alto volume, ainda se carecendo de estudos que possam explorar tanto os números quanto sua ligação com a criminalidade. 6.2.5 Transtorno antissocial O Transtorno Antissocial é a maneira atual do que antigamente se chamava de psicopatia ou “doença psicológica”. A palavra vem do grego psiché (mente) mais pathos (doença) e foi introduzida no século XIX para todas as doenças de foro mental. Os indivíduos com este tipo de transtorno normalmente têm um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros ou de normas e regras sociais. Pode se desencadear na infância do indivíduo ou no princípio da adolescência e continua na idade adulta. Esses indivíduos frequentemente apresentam os seguintes traços: • agressão a pessoas ou animais, destruição de propriedade, fraude ou furto; • ausência de submissão às normas sociais; e • desrespeito pelos desejos, direitos ou sentimentos alheios. Indivíduos com esse transtorno frequentemente enganam ou manipulam os outros, a fim de obterem vantagens pessoais ou o mero prazer. Podem mentir repetidamente, usar nomes falsos, ludibriar e fingir. De modo geral, as decisões são tomadas de momento, impensadamente, sem consideração das consequências para si ou para os outros, o que pode levar a mudanças súbitas de emprego, de residência ou de relacionamentos. Tendem a ser irritáveis ou agressivos e podem entrar em luta ou cometer atos de agressão física - frequentemente cometem violência doméstica. Tendem a ser extremamente irresponsáveis, podendo demonstrar pouco ou nenhum remorso quanto às consequências dos seus atos, não procurando compensar ou emendar sua conduta. Frequentemente, mostram-se indiferentes ou fazem racionalizações superficiais por terem ferido, maltratado ou roubado alguém. De modo geral, não julgam dever respeito a regras, nem ninguém, sendo as pessoas joguetes a serem manipulados ou dominados. Para estes, suas vítimas são meramente tolas, impotentes ou seres que merecem a agressão lhes infligida. Este é claramente o perfil mais identificado entre as pessoas que apresentam comportamentos criminais. 6.2.6 Transtorno Borderline A palavra “borderline” vem do inglês e significa, literalmente, a linha da borda, a linha da fronteira, o limite. Segue-se que indivíduos afetados pelo Transtorno Borderline são aqueles que vivem na fronteira entre o equilíbrio e o desequilíbrio. Este transtorno é classificado dentro do grupo de indivíduos que apresentam alta instabilidade emocional. Normalmente apresentam exagerada variação de humor, passando, ao longo de um único dia, por estados maníacos e depressivos, mais de uma vez. Podem haver ideias pouco claras sobre como se sentem, experiências de dissociação e até mesmo episódios transitórios e circunscritos de ilusão e alucinações. Há inúmeros registros de borderliners que abusam de drogas, apresentam desordens alimentares, dirigem com imprudência, entre outros comportamentos antissociais. O indivíduo com comportamentos borderline idealizam excessivamente o outro, frequentemente em suas relações amorosas. Basta um pequeno gesto do outro para toda a idealização construída desabar. Tendem a terminar relacionamentos pelo medo de serem rejeitados e podem procurar antigas relações ou padrões, para encontrar conforto e acomodação. Podem ser simpáticos e agradáveis socialmente, mas com certa frequência se comportam de maneiras totalmente diferente com as pessoas em sua intimidade. Resumindo, indivíduos com este tipo de transtorno com frequência demonstram os seguintes comportamentos: • estabelecimento de relações interpessoais intensas e instáveis, alternando entre a idealização e a desvalorização; • impulsividade; • instabilidade afetiva; • cólera inapropriada; • falta de controle; • condutas suicidas e automutilação; • sentimentos crônicos de vazio ou aborrecimento; • medo de abandono com tentativas de compensação; e • cognição alterada, pois em muitos casos observa-se uma redução no volume de amígdala e hipocampo. Esta doença tem uma base genética e pode ser despertada por traumas na infância (como abuso sexual e negligência parental). Não tem cura, mas pode ser controlada com medicação e psicoterapia. Os melhores resultados têm sido verificados com psicoterapia. Esses indivíduos podem reconhecer e compreender a gravidade dos seus atos, mas são incapazes de se controlar, podendo apresentar comportamentos perigosos, contra si e contra os outros, reconhecidamente comportamentos criminais. Há registros de associação deste tipo de transtorno ligado à criminalidade, nomeadamente crimes passionais. 6.3 ENTENDENDO TIPOS PSICOLÓGICOS E MORFOLÓGICOS DE CRIMINOSOS 6.3.1 Tipos de personalidades criminosas: O primeiro a discorrer de forma científica sobre uma personalidade criminosa foi o estudioso italiano Cesare Lombroso (1835-1909), já citado anteriormente. À época, Lombroso distinguiu cinco tipos de personalidade criminosa: • Criminoso nato – portador de um patrimônio genético causador da criminalidade. É tipicamente o homem selvagem, uma espécie de subtipo humano, um ser degenerado. • Criminoso louco ou alienado – portador de uma perturbação mental associada ao comportamento desviante, considerado como um louco moral. • Criminoso profissional – não possui bases biológicas inatas, mas se torna um criminoso por forças e pressões do meio. Começa com um crime simples e ocasional e pode reincidir. • Criminoso primário – comete um ou outro crime por força de um conjunto de fatores circunstanciais do meio, mas não tende à reincidência. • Criminoso por paixão – vítima de um humor exaltado, de uma sensibilidade exagerada, nervoso, explosivo, inconsequente, a quem a contrariedade dos sentimentos leva a cometer atos impulsivos e violentos, como busca de solução para suas crises emocionais. O psicólogo alemão Hans Jürgen Eysenck (1916-1997), nos anos 1960 também defendia haver um personalidade criminosa predeterminada. Segundo ele, o comportamento criminoso era resultado de fatores ambientais e características hereditárias. Uma das teorias grandemente aceitas ainda hoje, é a do criminologista francês Étienne De Greeff (1898-1961), que defendia ser o criminoso uma pessoa igual às outras, por natureza ou qualidade. De Greef levavava em consideração, portanto, a pessoa e sua biografia, seus processospsicológicos, afetivos, morais e sociais. É apenas uma pessoa comum com “certo número de características, as quais facilitam nele a execução do ato criminoso”, segundo as palavras de De Greeff. Neste ponto percebe-se, então, que deixa-se um pouco de lado aspectos constitucionais e “degenerados” segundo Lombroso e passa-se a considerar o conjunto de processos psicológicos, afetivos, morais e sociais (a história pessoal do sujeito), que possam, eventualmente, contribuir para um ato criminoso. De Greeff deu ênfase à periculosidade, que teria três determinantes: uma “personalidade criminosa”, uma situação perigosa e a importância sociocultural do ato. A “personalidade criminosa” seria portanto dinâmica devido ao traços constitutivos e à adaptabilidade social. Para ele, a personalidade seria a matriz de produção da ação e definiria as condições e as modalidades do agir, enquanto o ato criminoso seria o processo de materialização dos comportamentos produzidos por essa personalidade. Mesmo assim, atualmente é difícil se aceitar a existência de uma “personalidade” tipicamente criminosa, pois cientificamente e em vários campos defende-se a existência de diferentes formas de organização da personalidade, diferentes maneiras de se integrar os estímulos do meio e os processos psíquicos e diferentes maneiras de relacionamentos com o mundo exterior. Obviamente e como explicamos anteriormente, o conceito de “personalidade criminosa” gera alguns desencontros ideológicos entre psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos, criminalistas, entre outros. As variadas partes, no entanto, parecem identificar que haja determinados padrões nos seres humanos que se inclinem ao crime. A possível existência de uma “personalidade em estado perigoso” faz com que a sociedade não se preocupe tanto com a gravidade do ato criminoso. Nesse caso, a noção de periculosidade nasce da existência de alguma patologia incrustada na mente do criminoso, atenuando, assim, a responsabilidade plena dos atos cometidos. A solução nesse caso é privar a sociedade da presença incômoda de certos indivíduos “inadaptados” e potencialmente perigosos, fechando-os em instituição adequada às suas necessidades. Grosso modo, acredita-se atualmente que o criminoso estabeleça uma representação da realidade e desenvolva uma ordem de valores e significados acerca dessa realidade, situação na qual uma transgressão adquire um determinado sentido e toma forma, em dado momento da sua história de vida. 6.3.2 Tipos morfológicos de criminosos: Além de componentes internos, psicoemocionais, a biofisiologia também foi estudada no sentido de identificar e prever comportamentos criminosos. O Dr. Nestor Sampaio Penteado Filho , em seu livro Manual Esquemático de Criminologia (2013), comenta os seguintes tipos morfológicos ainda hoje considerados na análise criminal: • Pícnico – baixo, gordo, abdome volumoso, sem pescoço, tendência a calvície, propensão a doenças cardiovasculares e diabetes. Suas características psíquicas são oscilações entre euforia e depressão, elevada capacidade de sintonia com as pessoas, desenvolvimento da inteligência concreta, realista e prático, presunçoso e atuante, correlação com psicose maníaco-depressiva. Figura 1 – Pícnico • Leptossômico – alto, magro, pouco musculoso, rosto afilado, encanece precocemente (perde cabelos), propensão à esquizofrenia. Suas características psíquicas são oscilação entre anestesia e hipersensibilidade, baixa capacidade de sintonia com as pessoas, idealista e sonhador, tímido, introvertido e retraído, facilidade para inteligência abstrata e conceitual. Figura 2 – Leptossômico • Atlético – aspecto trapezoidal, ombros largos e relevos musculares evidentes, tendência a epilepsia. Características psíquicas: perseverante, combativo, sem grande relevo intelectual, alta tolerância a dor, agressivo, interesse por esportes. Figura 3 – Atlético Esses tipos foram classificados pelo psiquiatra alemão Ernst Kretschmer (1888-1964) no início de século XX, sendo utilizada como uma das partes do quebra-cabeças da realização do Perfilamento Criminal, de modo não estigmatizante ou reducionista. Conforme ainda o professor Dr. A. Almeida Júnior (1892-1971), os pícnicos, quando acometidos por uma doença mental, desenvolveriam um transtorno obsessivo-compulsivo. Os atléticos, por seu turno, desenvolveriam neuroses e, finalmente, os leptossômicos desenvolveriam esquizofrenia. Seguindo na linha biofisioneurológica, o neurocientista português António Damásio (1944-), também sugere que o comportamento dos indivíduos também assenta-se em uma base genética, formulando sobre que a própria “mente surge da atividade nos circuitos neurais” (1996). Segundo Damásio, em sua hipótese de marcadores somáticos, os indivíduos possuem mecanismos automatizados que dão suporte às nossas decisões a partir de experiências emocionais anteriores (resultantes da ligação entre as situações vividas e os respectivos estados somáticos, ou seja, estados do corpo). Essas experiências anteriores ficam gravadas nas áreas pré-frontais, responsáveis por funções como a memória, entre outras consideradas de nível superior devido à sua complexidade. Perante a necessidade de tomar decisões, o córtex cerebral apoia-se nas emoções para decidir. De acordo com António Damásio, sem emoção, ficaríamos impossibilitados de fazer as escolhas mais simples. Os marcadores somáticos informam o córtex sobre as decisões a tomar. O nosso pensamento tem necessidade das emoções para ser eficaz. De forma simplista, pode dizer-se que, de acordo com Damásio, nisto consiste o “Erro de Descartes”, ou seja, a mente (razão) não existe separadamente do corpo (emoção). Compartilhamos a opinião do Dr. Damásio: há uma base genética e, durante a formação do caráter, traumas da infância, abusos físicos, emocionais, abuso sexual, além do uso de drogas e transtornos psiquiátricos podem ser são mecanismos de disparo de uma predisposição genética. Obviamente e como explicamos anteriormente, o conceito de “personalidade criminosa” gera alguns desencontros ideológicos entre psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos, criminalistas, entre outros. Na mesma categoria, a classificação biofisiológica acima, também sofre questionamentos. As variadas partes, no entanto, parecem identificar que haja determinados padrões nos seres humanos que se inclinam ao crime. A possível existência de uma “personalidade em estado perigoso” faz com que a sociedade não se preocupe tanto com a gravidade do ato criminoso. Nesse caso, a noção de periculosidade nasceria da existência de alguma tendência na mente do criminoso, atenuando, assim, a responsabilidade plena dos atos cometidos. A solução mais simples e frequente, nesse caso é privar a sociedade da presença incômoda de certos indivíduos não adaptáveis e potencialmente perigosos, alocando-os em instituições adequada às suas necessidades. 7. CRIANDO PERFIS Antes de um suspeito poder ser perfilado, a cena do crime e as especificidades do fato devem ser analisadas de perto para se identificar padrões, atitudes e possíveis pistas, como evidências físicas. Isso envolve o trabalho de vários peritos diferentes, de fotógrafos de provas para peritos balísticos, para técnicos de ciência forense, que recolhem e classificam os elementos de prova a serem usados pelo perfilador. Esse perfil destina-se ao uso de Oficiais da Justiça, para restringirem a sua pesquisa a suspeitos que se enquadrem em uma base de características como idade, gênero, possíveis profissões e detalhes às vezes mais específicos ainda, tais como plano de fundo social, educação e características físicas. Um “Boletim dos Pontos” é feito logo em seguida à constatação do crime. Trata-se da descrição de determinado suspeito de um crime, normalmente com base em depoimentos de testemunhas. Por exemplo, depois de um assalto a banco, a polícia pode interrogar suspeitos, rever câmeras de segurança e depois emitir o seguinte Boletim dos Pontos: • O suspeito foi visto pela última vez emuma pick-up Ford, cor azul escuro. Estava vestindo uma camiseta vermelha e jeans escuro. O suspeito é descrito como um homem branco, 1,65 m de altura, magro, loiro e meio calvo. Ele tem uma cobra tatuada no antebraço esquerdo. É comum a inclusão da cor da pele do suspeito nas descrições e normalmente não há controvérsias quanto a isso. No Perfilamento Criminal, a cor da pele é simplesmente uma descrição física baseada em uma prova visual coletada na cena do crime, não devendo haver prejulgamentos acerca dessa característica. O próximo passo na criação do perfil é o “perfil psicológico” ou, mais completamente, o “perfil biopsicossocial”. Investigadores criam esse perfil na ausência de provas físicas e descrições de testemunhas. Também o criam quando as há e se querem incrementar tais descrições. Eles lançam mão do que sabem a respeito de um suspeito desconhecido e suas ações e tentam gerar informações adicionais gerais. Por exemplo, se um assassino em série tem matado mulheres que trabalham em um escritório de advocacia, os perfiladores criminais podem considerar provável que o assassino seja um homem que trabalhou ou foi cliente de um escritório de advocacia. Outras evidências, como anotações deixadas pelo assassino, o local do assassinato ou o estado da cena do crime podem permitir que eles desenvolvam conjecturas. Essas hipóteses podem incluir informações como nível de educação do suspeito, traumas psicológicos que ele possa ter sofrido ou local de moradia. As informações agremiadas não precisam ser 100% exatas e algumas vezes podem ser bem vagas. No entanto, caso a polícia não tenha ideia de quem possa ser o suspeito, pelo menos já sabe por onde começar. No exemplo dado, interrogar antigos funcionários do escritório de advocacia pode gerar pistas mais concretas que levem a provas diretas ou não acerca da identidade do assassino. 7.1 ANÁLISE DA EVIDÊNCIA COMPORTAMENTAL A análise de evidência comportamental examina provas que podem mostrar como e quando uma ação ocorreu. Isso pode ser verificado na forma de evidência física, como pegadas ou manchas de sangue em uma cena de crime. Essa evidência não só mostra o comportamento do ofensor em uma cena de crime como também pode transformar-se em provas através de elementos como filmagens ou depoimentos. Provas de cena de crime também são usadas para ajudar a estabelecer padrões de comportamento e traços de caráter de um criminoso, o que ajuda os investigadores na construção de seu perfil criminal. As técnicas de criação de perfil mais usadas são as técnicas de prospecção de dados que detectam a relevância de padrões e, dessa forma, criam um perfil com base nos dados retirados na cena do crime. Seguem as quatro fases de criação de perfil segundo Gregg O McCrary (1945-), agente do FBI , consultor especialista, autor e professor adjunto de Psicologia Forense: • Antecedente – plano do assassino, fantasia e elaboração antes de cometer um crime; • Método e forma – tipo de vítima selecionada e método utilizado para se cometer o crime; • Eliminação do corpo – estudos sobre se o assassino eliminou o corpo em uma ou várias cenas; • Divulgação do comportamento infrator – se o assassino tenta se divulgar pela mídia ou utilizando os investigadores; 7.2 BIOMECÂNICA O Perfilamento Criminal define toda a sua elaboração diante das provas testemunhais, levantamento do local do crime, mesa de necropsia do médico legista e biomecânica. A biomecânica forense tem auxiliado enormemente na elucidação de crimes na medida em que fornece dados importantes para se descobrir como ocorreu determinado crime. Nesse sentido, favorece o perfilamento do criminoso. A biomecânica traz esclarecimentos sobre o funcionamento dos ossos e a biomecânica forense estuda o estado dos ossos, no estudo cadavérico, trazendo elementos esclarecedores sobre as condições do crime. Os ossos apresentam uma capacidade grande de resgatar a dinâmica lesiva em uma violência criminal. As lesões traumáticas ósseas em certas partes do organismo, originadas por ação contundente de instrumentos são geralmente determinantes na identificação da causa da morte. Quando uma força é aplicada sobre uma estrutura óssea, forma-se uma fratura com determinado formato. Isso demonstra diretamente como a energia dessa força aplicada se propagou pela matriz óssea. Essa conclusão é possível pois, uma vez deformado, o osso não volta mais à posição original. A velocidade é um fator importante na leitura da dinâmica lesiva óssea. No ataque feito a baixa velocidade, o osso tem tempo de reagir e dobrar. Em ataques feitos em velocidade alta, ao contrário, o osso pode ser destruído quando recebe o impacto (Berryman & Symes, 1998). Como é sabido, essa interpretação será importante no perfilamento de um ofensor, pois relaciona-se diretamente com o comportamento agressivo dele em relação à vítima. As fraturas criminais geralmente são acompanhadas de danos intracranianos relevantes. As mais comuns são as fraturas lineares, aquelas causadas por depressão quando o osso interioriza, em diástase. Normalmente, há uma ou mais fraturas que se abrem na sequência de uma força de grande magnitude, com ou sem fragmentos. Qualquer que seja o caso, é possível se compreender a dinâmica lesiva através da identificação do instrumento utilizado somado ao nível de violência do agressor. O antropólogo forense D.H Uberlaker (1846-,1991) e Smith & Col. (2003), na dinâmica lesiva óssea, chamam a atenção não só para a forma da lesão, mas também para área, massa, velocidade, direção do instrumento, força intrínseca, anatomia da região e espessura do tecido ósseo. Smith e Col. (2003) sistematizam o princípio da biomecânica forense óssea na interpretação de três tipos de fraturas ósseas: • Bisselamento ósseo – fala da direção e da posição do ofensor em relação à vítima; • Fratura radiada – demonstra quanta energia foi transferida pelo instrumento; e • Fraturas que irradiam de um orifício de entrada – fragmentos ósseos atirados com maior velocidade que o projétil. Para compreendermos a real intenção do criminoso diante de um disparo de arma de fogo direcionado à estrutura óssea, é necessário interpretarmos na lesão: calibre, munição, distância e posição da arma. A dinâmica criminosa pode estar relacionada com o sujeito no que se refere à premeditação e às intenções de letalidade. Interpretar uma dinâmica lesiva exige método, demanda análise anatômica por seguimento, estudo das articulações corporais e suas limitações. Com isso, permite o levantamento de informações sobre a movimentação da vítima no local do crime. A utilização de uma arma branca, faca, punhal ou de um machado podem denotar temperamento, intenção e todas as suas referências de origem biopsicossociais. As lesões, por exemplo, por forças cortantes que penetram o osso, dependendo do instrumento produtor da lesão, podem envolver inúmeras lesões diferentes (Quatrehomme & Alunni-Perret, 2006) todas elas relacionadas ao modus operandi do criminoso. 7.3 O LOCAL DE CRIME E A PERSONALIDADE DO OFENSOR O jornalista e pesquisador Sergio Pereira Couto, em sua obra “Os segredos das investigações criminais” (2005) afirma que “a resolução de um crime começa no exato lugar onde a vítima ou o ato criminoso são encontrados”. Sob uma observação cuidadosa o local fornecerá elementos para se caracterizar parte da personalidade do ofensor/vítima. O autor Russel Vorpagel (1927-2004), ex-oficial do FBI especialista em profilamento criminal de assassinos seriais, em sua obra “Profiles In Murder”, descreve que o protocolo do FBI exibe quinze pontos indicadores ou pistas fundamentais para se traçar o perfil de um criminoso, relacionando tipos de personalidade e delitos. O método com que isso é feito tem sido considerado extremamente confiável como pode-se perceber por um comentário do próprio Russel a respeito: “Se dois desses pontos forem comprovados inexatos, o FBI considerará como um erro raro do método”. Russel denomina a técnica de “Autópsia Psicológica”. Em outras palavras, portanto,o perfilamento é um método baseado em princípios comprováveis executado por um criador de perfis que examina uma cena de crime, tentando se colocar na mente do agressor, utilizando vários campos das Ciências como Medicina, Psicologia, Psiquiatria, entre outras, como ferramentas explicativas. Não se cria perfil a partir de apenas uma evidência, um elemento psíquico ou um elemento biológico ou um elemento social. John Edward Douglas (1947-), escritor e agente federal americano aposentado que por muitos anos chefiou uma unidade do FBI, descreve em seu livro “Mindhunter” (1995) que é necessário adentrar a mente de um molestador de crianças ou assassino em série para se delinear estratégias que permitam rastrear estes criminosos, porém isso envolve método. A Unidade de Comportamento Criminoso do FBI, criadora do próprio conceito de Perfilamento Criminal, trilhou vários caminhos até chegarem em seu método mais atual. Pela complexidade desse caminho e pela importância dele, vale descrevermos brevemente, a trajetória do desenvolvimento de metodologias de perfilamento criminal. 7.4 ESCOLAS DE PENSAMENTO CONTEMPORÂNEAS DE PERFILAMENTO CRIMINAL: Primeira Escola de Pensamento: A técnica de Perfilamento Criminal foi desenvolvida pela Unidade de Ciências Comportamentais (BSU- Behavioral Science Unit) do FBI, em sua Academia em Quântico, Virgínia, em 1974, hoje denominada de Unidade de Investigação e Instrução do Comportamento (BRIU- Behavioral Research and Instruction Unit). Lá criou-se o profilamento criminal, o famoso criminal profiling, sendo pioneiros no desenvolvimento de diversas técnicas e procedimentos, a fim de recolher dados para determinar a personalidade e as características comportamentais dos criminosos, bem como avaliar em que medida aquele perfil divergia da população em geral. Nesse momento, a investigação do FBI consistia de quatro fases: 1. Assimilação de dados (coleta do máxima de dados); 2. Classificação do crime (com base em elementos convergentes acumulados); 3. Reconstituição do crime (quais foram os comportamentos cronológicos do autor e da vítima quanto aos fatos); e 4. Elaboração do perfil criminal (a análise mais provável da personaldade, de aspectos físico, hábitos de vida etc.) Segunda Escola de Pensamento: O Centro de Psicologia Investigativa (CIP, siga do nome em inglês) foi fundado em 1994 pelo psicólogo britânico David Canter (1944-), com base em teoria própria designada de Psicologia Investigativa (IP, sigla do nome em inglês). Crítico dos trabalhos do FBI em Quântico, ele desenvolveu a sua própria corrente de perfilamento designada, por vezes, de statistical profiling ou perfilamento estatístico, estabelecendo métodos científicos de investigação e encontrando inspiração na Psicologia Ambiental, cujo primeiro expoente foi Roger Barker (1900-1990) em 1947. Segundo a escola de Canter, qualquer investigação deveria compreender 3 fases: 1. Coleta e análise das informações; 2. Tomada de decisões, ações que dão lugar a detenção e condenação; e 3. Desenvolvimento de sistemas de interpretação do comportamento criminal. Modelos comportamentais acerca do criminoso no local de crime, associados ao tipo de agressor. Terceira Escola de Pensamento: Definida pelo método do perfilador psicólogo e criminalista Richard Kocsis (sd, vivo), a escola é nomeada de “Perfil de Ação Criminal” (CAP - Crime Action Profiling). Kocsis desenvolveu a sua própria metodologia que, em seu nível mais fundamental, partilha de uma perspectiva muito próxima da do FBI, porém aprofundando a última com o envolvimento da tipificação dos crimes em si e baseando-se nos conceitos científicos elaborados à época pelas Psicologia e Psiquiatria Forenses. Quarta Escola de Pensamento: O mais recente dos métodos de perfilamento trata-se da metodologia de Análise das Evidências Comportamentais (Behavioral Evidence Analysis - BEA), forjada por Brent Turvey (sd, vivo), em 1999. Psicólogo doutorado em Criminologia norte-americana, Turvey é um cientista forense, onde baseou toda a sua metodologia fortemente calcada em coleta e interpretação de evidências físicas, para só então, e por consequência, aproximar-se do significado destes acerca de um determinado criminoso. É o que ele define como Análise de Vestígios Comportamentais (AVC): “Um método ideográfico que examina todos os vestígios comportamentais que possam ser comprovados a partir de fatos empíricos.” Resumindo historicamente as Escolas: • O trabalho desenvolvido pelo FBI define o conceito de Perfilamento Criminal como técnica de investigação criminal, integrada num campo amplo de conhecimentos, dentro do contexto policial; • A Psicologia Investigativa de Canter teoriza o profilamento aprofundando seus conceitos com bases estatísticas e inseridas no meio ambiente; • A abordagem de Kocsis fundamenta todo o seu trabalho nos conhecimentos teóricos da Psicologia Forense, agregando mais peso à análise desse corpo científico, acrescentando a tipificação dos crimes; e • A metodologia dedutiva de Turvey argumenta apenas sobre vestígios comportamentais empiricamente comprováveis, desenvolvendo a técnica de Análise dos Vestígios Comportamentais. Como afirma Marina J.R. RODRIGUES em sua dissertação de mestrado: “Não há regras ou orientações [claras ou fechadas] sobre muitas questões [em relação ao Perfilamento Criminal], [nem sobre] como quem deve construir um perfil e como eles são habilitados para o fazer; muitos materiais são fundamentais para se construir um perfil ” Segundo o Prof. Luiz Carlos Rocha em seus ensinamentos no livro “Investigação Policial: “Local de crime é toda área onde tenha ocorrido um evento que necessite providências da Polícia, devendo ser preservado, pelo policial que a atender, até sua liberação pela autoridade competente. No local devem ser colhidos todos os vestígios que posteriormente se transformarão em provas de autoria e materialidade do fato criminoso. Pode se entender que o local é nascedouro das evidências que serão utilizadas no Perfilamento Criminal”. Existem várias evidências que irão auxiliar o traçado da personalidade de um criminoso que reflete seu estado mental e o nível de ameaça que representa. Analisemos algumas evidências que podem ser levantadas: 1. Presença de fantasia e/ou desejo; 2. Presença de sadismo e/ou tortura; 3. Escolha da arma; 4. Ferocidade do ataque; 5. Mutilação “post-mortem” e disposição do corpo; 6. Relações entre criminoso e vítima; 7. De que maneira o corpo foi abandonado; 8. Escolha de um catalisador por um incendiário; 9. Tom utilizado em mensagem por chantagista; 10. Análise de grafia de mensagem; e 11. Lista de exigências de um sequestrador em posse de um refém. Cabe aqui uma reflexão, as finalidades principais do levantamento de local de um crime é documentar o espaço físico possivelmente preservado e fornecer subsídios técnicos científicos para caracterizar o evento criminoso e o perfilamento correlaciona vestígios do local com certas características comportamentais subordinadas à personalidade do criminoso. Podemos entender que o levantamento da cena do crime e o perfilamento convergem para um mesmo ponto. Para uma visão mais ampla, não brasileira, necessário se faz analisar a construção de um perfil criminal segundo Hicks & Sales (2006), o trabalho tem que ser desenvolvido em três fases: • Primeira fase equivale a um momento de recolha de informação a partir da cena do crime e integra material fotográfico, informação sobre a vítima, relatórios policiais e relatórios de autópsia. • Segunda fase já integra uma ação direta do estudo do comportamento que irá realizar o Perfilador Criminal, com base na informação adquirida da cena do crime. Este perfil deve conter informações que levantam características sociodemográficas, de comportamento e de provável personalidade relativas ao presumível ofensor. • Terceira fase corresponde à elaboração de um relatório posteriormente enviado à polícia, paralelo a investigação policial, com dados que permitem a este grupode profissionais prever o tipo de pessoa que possa ter cometido o crime e a evolução do comportamento criminal do ofensor. 7.5 RACIOCÍNIO DO PERFILADOR NA ELABORAÇÃO DO PERFIL CRIMINAL: Como observamos através dos muitos estudiosos de Perfilamento Criminal mencionados até aqui o grande foco do raciocínio de um perfilador busca, no fundo, responder sem dúvidas a três perguntas básicas: “O quê?”, “Por quê?” e “Quem?”. Turvey define isso muito bem com sua metodologia apoiada nas evidências do padrão de comportamento do criminoso, com exame meticuloso do local do crime e dos vestígios coletados por técnicos da Ciência Forense e com acompanhamento de médicos psiquiatras e psicólogos. Vale destacar seu método de levantamento de vestígios. Turvey examina todos os vestígios comportamentais que possam ser comprovados a partir de fatos empíricos. Esses vestígios são levantados a partir de uma análise meticulosa de todas as evidências físicas, testemunhos e documentos relacionados ao crime. Importante salientar que a análise dos vestígios comportamentais encontrados é utilizada para determinar padrões comportamentais a fim de indicar características de quem cometeu o crime. Essa análise utiliza três fontes de informações: exame forense, vitimologia e análise do crime e vale relembrar esses três passos para chegarmos ao Geoprofiling: • Exame Forense: Verifica e interpreta as evidências físicas que apresentam relação com a dinâmica do crime. O perfilador neste instante inicia o trabalho vital para determinar quais são os vestígios comportamentais. • Vitimologia: A vítima é examinada no aspecto de risco e exposição para se entender a ação do criminoso no momento do cometimento do crime. • Análise do crime: Neste momento há uma aproximação direta com o processo de investigação policial, gerando o envolvimento com os outros dois itens anteriores. O tipo de crime cometido passa a ser o ponto principal, seus métodos e características do local do crime, assim como a análise da vitimologia e dos exames forenses que se juntam ao final para a construção do perfil. Este método é dinâmico, apresenta continuidade, estudando o comportamento do ofensor de maneira contínua. Seguidamente ao exame da cena do crime, segundo Turvey deve-se elaborar um estudo vitimológico, seguido de uma análise do crime em si, nunca deixando-se de levar em conta os seguinte princípios muito bem descritos em artigo publicado em 2019, em Português, no Canal Ciências Criminais: • Princípio da Singularidade – Embora um criminoso possa apresentar características e comportamentos padronizáveis, somos todos seres humanos singulares; • Princípio da Separação – Carregamos visões de mundo diferentes, portanto deve-se tentar entender criminoso através da ótica dele e não do perfilador; • Princípio da Dinâmica Comportamental - Os comportamentos são dinâmicos e mudam com o tempo, em todos, portanto, um criminoso nem sempre repete as mesmas características em diferentes crimes que ele comete; • Princípio da Motivação Criminal – Motivações são influenciadas por diversos fatores (e aqui a abordagem biopsicossocial assume seu maior papel); • Princípio da Múltipla Determinação – As atitudes de um criminoso podem carregar variadas funções, o que em termos práticos incrementa e aprofunda as análises de motivação criminal; • Princípio das Dinâmicas Motivacionais da Variação Comportamental – Além de motivações múltiplas, objetivos podem se alterar durante um ato criminoso; • Princípio das Consequências Indesejadas – Fatores externos podem alterar as cenas de crimes, por essa razão o perfilador não deve presumir intencionalidade; • Princípio da Deterioração da Memória – Vários fatores influenciam a memória, portanto relatos de vítimas ou testemunhas não podem ser piamente críveis e precisam da corroboração de evidências, fatos ou informações; e • Princípio da Fiabilidade - Os resultados precisam ser objetivos, científicos e imparciais, jamais devendo o perfil basear-se em presunções de comportamentos ou interpretações superficiais ou cobertas de julgamento. Só a análise criteriosa e com método resulta em boas pistas de comportamento. 7.6 A VITIMOLOGIA E O PERFILAMENTO CRIMINAL: Na complexa tarefa do Perfilamento Criminal multidisciplinar levando em conta os fatores biopsicossociais, vale um breve olhar ao estudo de vitimologia. Já em 1945 a vitimologia surge como uma disciplina nos estudos criminológicos, segundo Lelio Calhau, Promotor de Justiça do MP/MG (2020). É por isso que a área de conhecimento influenciou o Perfilamento Criminal. Ainda mais anteriormente, o professor e advogado alemão Hans Von Hentig (1887-1971) aprofunda o tema em seu livro “The Criminal and His Victim” (1948) , finalmente deixando de lado o estudo lombrosiano que analisava tão somente os criminosos. Mais jovem, mas contemporâneo a Von Hentig, o advogado israelense Benjamin Mendelson (1900-1998) montou uma classificação de vítimas em cinco categorias que tornou-se muito famosa e também influenciou os estudos de perfilamento. Rotina, hobbies, locais que frequenta, pessoas com quem convive, estilo de vida, amizades com pessoas que apresentam algum tipo de vício, utilização de redes sociais, condição financeira. Existe uma enorme quantidade de detalhes da vida de uma vítima que pode ser determinante para a ocorrência de um determinado crime, porém o mais importante a se retirar do estudo vitimológico é o quê e quanto ele pode contribuir para a investigação e a possível identificação de seu ofensor. Vale registrar a classificação bastante prática de Mendelson, pois ela mostra, com exemplos, dados que a vítima pode prover em relação a seu ofensor: • Vítima completamente inocente ou ideal: vítima completamente estranha à ação do criminoso, não provocando nem colaborando de forma alguma para a realização do crime. Como exemplo, uma senhora que tem sua bolsa arrancada pelo bandido na rua. • Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância: quando há um impulso não necessariamente voluntário ao delito, mas que de certa forma carrega um grau de culpa que leva essa pessoa à vitimização. Como exemplo, temos um casal de namorados que mantém relação sexual na varanda do vizinho e lá são atacados por ele, por não aceitar essa falta de pudor. • Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator: ambos podem ser o criminoso ou a vítima. Como exemplo, temos uma Roleta Russa (um só projétil no tambor do revólver e os contendores giram o tambor até um se matar). • Vítima mais culpada que o infrator: Enquadram-se nessa hipótese as vítimas provocadoras, que incitam o autor do crime, as vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se controlarem, ainda que haja uma parcela de culpa do autor. • Vítima unicamente culpada: vítima infratora. Como exemplo, uma pessoa comete um delito e no fim torna-se vítima, como ocorre no caso do homicídio por legítima defesa. Nota-se que o comportamento e a participação da vítima estão relacionados com o seu perfil. Hoje, a investigação policial de fato considera a vítima um objeto de estudo e frequentemente o perfilamento permite entender os motivos, quando existentes, da razão da escolha daquela vítima específica. A análise do perfil da vítima é,, portanto, bastante complexa devendo também ser submetida a uma pesquisa que leve em conta fatores biopsicossociais, como precedentes pessoais, familiares e sociais sob vários aspectos demonstrando aspectos da exposição ao perigo do ataque do criminoso. Também devem ser inseridos neste perfil descrição física, patologias, estado civil, residência, profissão, reputação na família e no grupo de amigos, condição financeira, histórico familiar hábitos pessoais/sociais, uso de drogas, hobbies, inimigos, estilo de vida, grau de maturidade sexual entre outros. 7.7 ANALISANDO SIMBOLOGIA: O ato criminoso pode tentar transmitir um certo significado, mensagens são elaboradas na assinatura, por exemplo, vingança, ódio, poder, sadismo, ganância, terror, sexualidade, ideologia político-religiosa. Operfilador necessita conhecer a simbologia antropomórfica uma vez que os criminosos deixam sua imaginação na cena de crime, entendendo-se por imaginação a capacidade de criar imagens a partir de objetos percebidos pelos sentidos. Essa palavra deriva do grego, anthropos, ou seja, humano, e morphe, que é forma. Logo, antropomorfismo é, em geral, a atribuição de formas humanas a seres, objetos e fenômenos que não são humanos. É bastante comum que o antropomorfismo apresente significados em religiões. Embora considerada monoteísta, a religião cristã está repleta de elementos antropomórficos. Tendo a Bíblia como fonte, criminosos, por exemplo, podem criar imagens na cena de crime. Esta questão nos convida a refletir cuidadosamente sobre um ponto positivo na atividade do FBI em relação ao seu estudo de perfil. O FBI armazena informações de diversos crimes resolvidos e realiza uma comparação estatística com os crimes ainda em investigação, inserindo ainda estudos de prováveis comportamentos criminosos semelhantes identificados por especialistas para criar padrões de perfis de suspeitos. Este modelo de estudo propõe um protocolo constituído por seis passos: 1. Entrada de dados: reúne informações sobre o crime, inclui evidências do local, fotos da cena do crime, relatórios da necrópsia, exames complementares do médico legista, relatórios policiais e provas testemunhais; 2. Modelo de processo de decisão: organiza informações e levanta hipóteses; 3. Avaliação do crime: reconstitui a sequência dinâmica do crime ( o antes, o durante e o depois ), examina as características dos suspeitos; 4. Perfil Criminal: análise dos estágios anteriores incluindo as características físicas, psicológicas e comportamentais do criminoso; 5. Investigação: a polícia local reúne relatórios com o perfil criminal e solicita ou não a colaboração do FBI; e 6. Apreensão: efetiva captura e prisão do criminoso. Outra questão em temos simbólicos é a assinatura de um criminoso em seus crimes. Paul Roland não nos deixa confundir “assinatura” com modus operandi. Em seu livro “Por Dentro das Mentes Assassinas” (Inside Criminal Minds, 2009) o autor considera o seguinte: “Modus operandi é simplesmente o modo como se opera o procedimento de execução do crime (...) Pode incluir a escolha, o alvo, locais preferenciais, ferramentas, meios para subjugar as vítimas ou até o meio para se adentrar em uma propriedade”. Segundo Roland, o criminoso pode modificar seu modus operandi buscando segurança ou alteração do tipo de crime praticado, mas, a assinatura, de maneira geral, é uma constante, somente podendo se desenvolver. O autor define: “Assinatura, por outro lado, é a marca do criminoso, seu cartão de visita, algo que ele precisa fazer para preencher uma necessidade, não importando a natureza do crime (...) Pode incluir ritual de exposição do cadáver, tortura, mutilação, inserção de objetos estranhos, canibalismo, necrofilia ou o que é conhecido como overkill (exagero no crime ), ou seja, infligir ferimentos além do necessário para causar a morte. O perfilador deve conhecer muito bem estes dois conceitos, pois eles auxiliam na investigação, principalmente quando os crimes são praticados por assassinos em série ou serial killers. Isto posto, vejamos como essas classificações se aplicam no caso específico dos assassinos em série. Para eles, é dedicada uma reflexão à parte. 7.8 ASSASSINOS EM SÉRIE OU SERIAL KILLER: A autora Janire Rámila, em sua obra “Predadores Humanos: o Obscuro Universo dos Assassinos em Série” (2012) analisa que “os assassinos em série sempre existiram em todas as épocas e em todas as culturas”. Na verdade o que varia são suas mentes e fantasias. Um assassino em série ou serial killer é o tipo de assassino que comete dois ou mais assassinatos em série, com certo intervalo de tempo que separa cada um dos eventos criminosos, podendo este ser meses ou anos, até que seja preso ou morto. Há registros de que as mentes desses assassinos emitem sinais desde a fase da infância: enquanto crianças, podem destruir brinquedos, maltratar animais, provocar incêndios, praticar maldades que geram lesões graves. Muitos estudos neurológicos surgiram na tentativa de explicar o funcionamento mental de um serial killer. Os cientistas basearam seus estudos no comportamento neuronal. Algumas conclusões neurológicas divulgadas deram conta de que existe a maior probabilidade de um assassino em série matar de novo rapidamente após um primeiro assassinato, do que passado muito tempo sem cometer esse tipo de crime. Outras pesquisas que estudam padrões de comportamento também são baseadas na lei de potência, comparado com aquelas que analisam a distribuição de ataques de epilepsia. Foi criado um modelo matemático explicativo para simular os “disparos” dos neurônios e verificar qual o tempo necessário para que o limite de excitação ultrapassado gere a necessidade de matar. Estes criminosos têm uma classificação própria, formando um grupo diferenciado, podendo escolher suas vítimas de maneira aleatória, apresentando padrões seletivos de complexa compreensão. O significado que a vítima representa a ele esbarra nos mais diferentes transtornos e o crime parece ter efeito sedativo para o assassino. De maneira intuitiva, não é possível realizar uma análise antecipada sobre sua ação seletiva de vítima. 8. PERFILAMENTO GEOGRÁFICO OU GEOPROFILLING Antes de iniciarmos as discussões sobre o Profiling Geográfico, se faz necessário localizá-lo frente e a outras escolas de construção do perfil. O entendimento hoje define este estudo como uma somatória: as quatro escolas de Perfilamento Criminal ou Criminal Profiling. O Perfilamento Geográfico é mais um avanço técnico. Novamente destacando, as quatro escolas já descritas anteriormente neste livro são: a Análise da Investigação Criminal (FBI), a Psicologia Investigativa (David Canter), a Abordagem Forense (Richard N. Kocsis) e a Análise dos Vestígios Comportamentais (Brent E. Turvey). Historicamente, o Perfilamento Geográfico tem como origem os conceitos na pesquisa ambiental realizada pelo inglês David Canter que tratou sua análise com um conceito biológico darwiniano ambiente/ser humano. O criminoso se adapta a certas áreas (sendo predador, seria seu local de caça), sentindo-se mais seguro e confortável. Os locais de crime não são regiões aleatórias; ruas, avenidas, becos, vielas podem dar um certo conforto, segurança ao ofensor, pois, em muitas vezes sendo seu habitat, ele acredita que conhece a região e será protegido por ela. O criminoso que realiza atividades do dia a dia utilizando lojas, bares, casas de amigos, esquinas de encontro, sentindo-se seguro e à vontade, podem encontrar um estímulo para escolher suas vítimas e ali, na região, cometer crimes. Este conceito de alcance criminal recebe uma denominação: Alcance Criminal do Marauder (palavra em inglês que justamente significa criminoso que comete crimes ao ar livre em suas regiões de conforto). Segundo estudiosos, os crimes geralmente ocorrem mais ou menos três quilômetros de suas residências. Outro tipo de alcance criminal dentro da teoria de Perfilamento Geográfico é o chamado Alcance Criminal do Commuter (palavra em inglês que significa pessoas em transporte entre casa e trabalho) Os criminosos commuters ultrapassam suas áreas de conforto, distanciando-se de suas moradias. Algumas explicações para este fato são: a escassez de alvos (vítimas), proximidade das vítimas e alvos mais estimulantes para o tipo de crime. Há também uma questão que pesa nesse caso: o criminoso marauder, ao praticar seus crimes, “suja” a região depois de um tempo, e uma hipótese observada foi que, a partir daí, ele procura tornar-se um commuter, acreditando que o risco de ser preso somado à distância passa a ser menor. Portanto, a técnica do Perfilamento Geográfico procura permitir a compreensão dos padrões geográficos dos criminosos, fornecendo um meio para determinar a área mais provável do habitat do ofensor e esta localização provável auxilia na investigação,
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