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Dedicamos este trabalho
às nossas queridas mães
Ughetta (in memoriam), Lucinda (in
memoriam) e Deise
e às nossas amadas esposas Maria
Cristina (in memoriam), Adriana e
Carlisa.
Sem elas,
nada teria sido possível.
A alegria de fazer o bem é
a única felicidade
verdadeira.
Leon Tolstoi
SUMÁRIO
 
1. Capa
2. Folha de Rosto
3. Créditos
4. 1. INTRODUÇÃO
5. 2. BREVE HISTÓRICO DOS PERFIS CRIMINAIS
6. 3. CONCEITO DE PERFILAMENTO CRIMINAL
7. 4. PERFILAMENTO CRIMINAL E INVESTIGAÇÃO
POLICIAL
8. 5. O PERFILADOR
1. 5.1 OBSERVAÇÃO VISUAL
2. 5.2 RACIOCÍNIO LÓGICO
3. 5.3 INTUIÇÃO
4. 5.4 BOA MEMÓRIA
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5. 5.5 COMPREENSÃO SIMBÓLICA
6. 5.6 EMPATIA
7. 5.7 PLENO CONHECIMENTO DE SUA ÁREA
9. 6. MÉTODO NA ELABORAÇÃO DO PERFIL CRIMINAL
1. 6.1 CRIAÇÃO DE UM PERFIL CARTESIANO:
2. 6.2 PERSONALIDADE E COMPORTAMENTO
1. 6.2.1 Transtornos psiquiátricos ou mentais
2. 6.2.2 Tipos de transtornos importantes ao profilamento
3. 6.2.3 Transtorno afetivo bipolar
4. 6.2.4 Transtorno Dissociativo de Identidade
5. 6.2.5 Transtorno antissocial
6. 6.2.6 Transtorno Borderline
3. 6.3 ENTENDENDO TIPOS PSICOLÓGICOS E
MORFOLÓGICOS DE CRIMINOSOS
1. 6.3.1 Tipos de personalidades criminosas
2. 6.3.2 Tipos morfológicos de criminosos
10. 7. CRIANDO PERFIS
1. 7.1 ANÁLISE DA EVIDÊNCIA COMPORTAMENTAL
2. 7.2 BIOMECÂNICA
3. 7.3 O LOCAL DE CRIME E A PERSONALIDADE DO
OFENSOR
4. 7.4 ESCOLAS DE PENSAMENTO
CONTEMPORÂNEAS DE PERFILAMENTO
CRIMINAL
1. Primeira Escola de Pensamento
2. Segunda Escola de Pensamento
3. Terceira Escola de Pensamento
4. Quarta Escola de Pensamento
5. Resumindo historicamente as Escolas
5. 7.5 RACIOCÍNIO DO PERFILADOR NA
ELABORAÇÃO DO PERFIL CRIMINAL
6. 7.6 A VITIMOLOGIA E O PERFILAMENTO
CRIMINAL
7. 7.7 ANALISANDO SIMBOLOGIA
8. 7.8 ASSASSINOS EM SÉRIE OU SERIAL KILLER
11. 8. PERFILAMENTO GEOGRÁFICO OU GEOPROFILLING
1. 8.1 HIPÓTESE DO CÍRCULO DE CANTER OU
CANTER CIRCLE
12. 9. RESTRIÇÕES E QUESTIONAMENTOS SOBRE O
PERFILAMENTO CRIMINAL
13. 10. CONCLUSÃO
14. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Landmarks
 
1. Capa
2. Folha de Rosto
3. Página de Créditos
4. Sumário
5. Bibliografia
file:///tmp/calibre_5.12.0_tmp_tz8lndvp/Text/capa.xhtml
1. INTRODUÇÃO
A presente análise tem como tema privilegiado a utilização do perfil
criminal como estratégia na investigação da Polícia Judiciária, baseado nas
metodologias científica, exegética, historiográfica-crítica e comparativa.
Essa técnica de pesquisa tem a finalidade de discutir o aspecto
científico dos levantamentos de perfis criminais e, principalmente,
demonstrar a importância de tal levantamento na investigação policial.
O termo perfilamento encontra-se mais divulgado no Brasil como
profiling, originado e desenvolvido pelas Criminologia e Psicologia Forense
em vários países. Este termo passa a ter várias outras denominações em
outros ramos do conhecimento.
Assim, por vezes, o termo pode ser intercambiado com seu correlato em
Inglês, sem que isso cause qualquer tipo de estranhamento. Em uma análise
semântica, em Inglês ou Português, a terminologia acaba convergindo para o
chamado perfil criminal, amplamente utilizado nas áreas de Criminologia,
Criminalística, Medicina Legal, Direito e nas especializações de Psicologia
Forense ou Jurídica, ou seja, em todos segmentos envolvidos na
especialidade da atividade forense. (Kocsis, 2006 e Soeiro, 2009).
Este trabalho pretende utilizar e discutir conceitos básicos do descrito
perfil criminal como técnica forense, evidenciando a função de suporte que
esta técnica pode oferecer à investigação policial.
O livro conta com uma breve perspectiva histórica, cuja meta é, mais do
que esgotá-la, oferecer uma introdução ao tema.
A ideia de mesclar experiências profissionais de policiais operacionais
com outras áreas de conhecimento (Psicologia, Psiquiatria, Ciências
Forenses) traz benefícios para a prevenção e a resolução de crimes e,
principalmente, para a possível identificação e captura de criminosos.
2. BREVE HISTÓRICO DOS PERFIS
CRIMINAIS
Pode-se dizer que entre as primeiras tentativas registradas de se traçar o
perfil das pessoas com a intenção de se avaliar seu potencial de
criminalidade nos remonta à Grécia Antiga, quando Sócrates teria sido
interpelado por um estrangeiro que afirmava ser o filósofo “cheio de vícios”,
com base em sua aparência: por Sócrates ser “feio”. Esse era um prenúncio
da teoria monstrum in fronte, monstrum in anima, tão presente no período
entre meados do século XIX e início do século XX.
Esse raciocínio baseado nas características físicas dos seres humanos
com a intenção de se tentar delinear perfis criminais foi aprofundado, sendo
nos primórdios amplamente difundido pelo médico psiquiatra italiano Cesare
Lombroso (1835-1909), até hoje considerado, inclusive, entre os fundadores
do que se vinha a conhecer futuramente como Criminologia. Focando a
investigação criminal, seus estudos já tratavam-se de uma união
interdisciplinar entre a Medicina, o Direito e a então emergente Psicologia.
Outra visão histórica importante nos é dada por Robert D. Hare (1934),
professor emérito de Psicologia da Universidade de British Columbia,
Canadá, que cita o doutor Phillippe Pinel (1745-1826) como um dos
primeiros médicos a escrever sobre psicopatas, perfil muito importante nos
estudos de Perfilamento Criminal. Dr. Pinel foi um psiquiatra Francês do
século XIX, que forjou a terminologia “mania sem delírio” para descrever
um comportamento marcado por absoluta falta de remorso e completa
ausência de contenção. Saliente-se que as questões ligadas à aparência do
indivíduo começam, com Pinel, a ceder espaço para uma análise mais
comportamental ou de “personalidade”.
Um documento histórico de interesse na formação do conceito de
Perfilamento Criminal é o depoimento do cirurgião Dr. Rees Ralph
Llewellyn (1850-1921), residente da Whitechapel Rood, em Londres,
próximo ao local onde foi encontrado o corpo de Mary Ann Austin, uma das
vítimas de Jack, o estripador. Este crime específico ocorreu em 31/08/1887 e
ele foi chamado para ver o cadáver, em via pública, e descreveu em seu
depoimento as lesões observadas em minuciosos detalhes.
Nos jornais ingleses da época encontram-se as primeiras indicações de
que a polícia passou a considerar os crimes de Whitechapel como realizados
por um assassino em série ou serial killer. No inquérito sobre a morte de
Annie Chapman, vítima do mesmo assassino, perguntas feitas pelo
investigador de polícia ao médico divisional da polícia inglesa, Dr. George
Bagstir Phillips (1835-1897) demonstram sua clara intenção de levantar o
perfil do criminoso.
Na mesma investigação, constata-se no depoimento de Dr. Thomas
Bond (1841 – 1901), também cirurgião com papel de legista em mais de uma
das vítimas do assassino de Whitechapel, constata-se sua busca de suporte
técnico, por parte da polícia, nos exames das lesões mortais deixadas nos
corpos das prostitutas. Esses registros também mostram a intenção de se
compreender o tipo de “personalidade” do referido assassino.
Entra as décadas de 1930-1940, a Biotipologia, tal como desenvolvida
pela Medicina, passa a ser matéria auxiliar em diagnósticos e prognósticos.
É aplicada em seguida na identificação de tipos comuns com potencial
criminoso (Berardinelli, 1942).
Na década de 1950, avançando até o final de 1960, ganha força uma
Escola desenvolvida pelo FBI para exame e levantamento de local de crime
(Verde e Nurra, 2006), em que o perfil criminal é construído a partir dos
vestígios relacionados às características da ação dos criminosos.
Dr. Murray Miron (1932-1995), da Universidade de Syracurse, foi um
psicólogo importante na descrição de perfis criminais, que auxiliou o FBI na
criação de uma análise psicolinguística no caso do famoso assassino norte-
americano David Berkowitz (1953-), apelidado o “Filho de Sam”, que
atacava casais no interior de veículos. À época, o perfil elaborado nesse caso
acrescentou grande precisão às investigações policiais.
Na revisãoda literatura, encontra-se que foi aproximadamente em 1972
que o FBI iniciou a construção de perfis criminais (Egger, 1991; Soeiro,
2009; Shanon, 2004). Por essa época, os perfis começaram a ser conhecidos
em função dos crimes em série – vale dizer principalmente em homicídios
em série. Na disciplina de Criminologia, instrutores da Academia do FBI
começam, então, os primeiros ensinamentos sobre crimes não resolvidos.
O profiling (ou perfilamento, em Português) – levantamento e estudo de
um padrão de comportamento ligado a um crime ou crimes – teve seu
nascedouro nessa Escola do FBI.
É somente em 1978 que realmente se inicia o Programa de
Perfilamento Psicológico (Psychological Profiling Program) na polícia
norte-americana, com base na análise comportamental.
Foi então elaborado um extenso arquivo, registrando-se entrevistas com
assassinos e delineando seus padrões de comportamento.
Caminhando na história, o Dr. David Canter (1944-), psicólogo inglês
que se aprofundou em Criminalística, não pode deixar de ser mencionado
por ter basicamente criado uma linha de estudos denominada Psicologia
Investigativa. O tipo de perfilamento criado por ele, especificamente o do
violador homicida, foi muito prático e de grande uso para a captura desse
tipo de criminosos. Por volta de 1994, Dr. Canter estruturou uma academia
graduada de Psicologia Investigativa, denominada Centre for Investigative
Psychology (CIP), na Universidade de Liverpool (Egger, 1999) e até os dias
de hoje ativa.
Atualmente, nos trabalhos científicos na maior parte dos países da
Europa, nos Estados Unidos da América e no Canadá, são aplicadas técnicas
de constituição de perfil criminal.
O Perfilamento Criminal, enquanto técnica aliada às investigações
criminais, chega no Brasil de maneira informal nos idos dos anos 1980,
passando a ser, mais recentemente, matéria obrigatória na Academia de
Polícia.
3. CONCEITO DE PERFILAMENTO
CRIMINAL
Perfilamento Criminal é a técnica de constituição do perfil criminal de
um indivíduo procurado por um crime, seja o indivíduo identificado ou não.
Também é usada como ferramenta prática privilegiada na investigação de
determinado crime. (Cook e Hinman, 1999).
Em termos técnicos, o perfil criminal tem seu nascedouro já na análise
da cena de crime, com a observação sistemática do padrão de
comportamento isolado ou em série da atitude violenta do agressor
envolvido.
Assim, desde a organização da cena do crime visa-se a identificação,
pela observação de vestígios e indícios, as características de um padrão de
comportamento criminoso. Trata-se de um levantamento de dados com
análise correspondente.
A grande preocupação inicial, em casos de crimes sem identificação
imediata, é a identificação de aspectos biográficos do criminoso como idade,
sexo, estado civil, profissão, condições socioeconômicas. Essa identificação
oferece à investigação policial, de maneira direta, informações e materiais
concretos acerca do suspeito. Com isso, o trabalho fica mais exato e
direcionado.
Obviamente, esta ferramenta técnica não fornece à investigação, em um
primeiro momento, a identificação específica de um criminoso. Porém, pode
começar a indicar o tipo de pessoa que poderia ter cometido o delito.
A importância do trabalho realizado pela Escola do FBI é que, na
construção do perfil criminal há um ganho técnico-científico histórico, isto é,
antes dela fazia-se tão somente levantamentos clínicos, no que se referia à
saúde mental do agressor, após sua captura.
Na construção do perfil, um dos tópicos mais importantes refere-se ao
padrão motivacional que surge à medida que este perfil é elaborado. O
comportamento, sem dúvida, reflete o que comumente se entende por
“personalidade” do indivíduo (Correia, Lucas e Lamia, 2007).
Quando a técnica de levantar os perfis criminais começou a ser
conhecida pelo grande público, o FBI divulgava características de um
criminoso desconhecido por meio de uma lista básica, exposta em forma de
itens. A lista compreendia parâmetros, expostos à medida que os
investigadores policiais iam se aproximando do tipo de personalidade que o
criminoso poderia apresentar.
Baseando-se na premissa de que padrões de comportamentos podem
demonstrar a personalidade dos indivíduos, uma análise de um perfil ofensor
pode ser construído, com o intuito de responder a questões básicas,
encontradas em todos os casos. Trata-se basicamente de um raciocínio
cartesiano:
• O que se passou na cena do crime?
• Por que razão esses acontecimentos ocorreram?
• Que tipo de indivíduo pode estar implicado?
Essas perguntas não podem ser respondidas por um só profissional. A
cena de um crime sempre deve ser analisada por uma equipe
multidisciplinar. Não é possível que uma só pessoa conheça todas as áreas de
Criminologia, Psiquiatria, Psicologia, Criminalística, Odontologia Legal,
Medicina Legal, Sociologia, Antropologia e/ou qualquer outra Ciência
Humana básica na investigação policial (Correia, Lucas e Lamia, 2007). Este
é o estudo sugerido pelo FBI – denominado de “A Cena de Crime” - é uma
técnica desenvolvida pela Universidade de Ciência Comportamental (BSU
Behavioral Science Unit), posteriormente modificada pela PBAU (Profiling
Behavioral Assessment Unit).
Fazer Perfilamento Criminal, portanto, exige conhecimentos
multidisciplinares. Diferentes profissionais podem ser perfiladores, desde
que se preparem também de maneira multidisciplinar. Psicólogos,
psiquiatras, advogados forenses, criminólogos, peritos criminais, médicos
legistas, antropólogos e outros profissionais podem e têm todos contribuído
para o desenvolvimento dessa técnica.
4. PERFILAMENTO CRIMINAL E
INVESTIGAÇÃO POLICIAL
Elucidar um crime envolve a técnica de investigar, utilizando-se um
planejamento racional de hipóteses. Policiais experientes afirmam que a
intuição também faz parte de um direcionamento investigativo, porém não se
pode basear apenas na intuição. Mas claramente ela pode indicar caminhos
para se buscar evidências.
O termo investigar refere-se a pesquisar, incluindo indagação
cuidadosa. Isso significa busca constante para se descobrir alguma coisa,
utilizando-se, para isso, de vestígios e observação de detalhes e minúcias.
A investigação policial preocupa-se com a pesquisa sobre pessoas e
aspectos encontrados na cena do crime. A investigação avança como quem
está em uma estrada com várias direções (suposições), que parte do
conhecido, com o objetivo de se chegar ao próximo ponto de certeza,
obedecendo ao método cartesiano de pensamento.
Convém salientar a diferença existente entre investigação e inquérito
policial. Esse último é um procedimento administrativo de caráter inquisitivo
que tem a finalidade de instruir a denúncia do MP – Ministério Público.
Segundo Luiz Carlos Rocha (1998), o inquérito é a formalização da
investigação policial que prepara a ação penal.
Vamos utilizar o exemplo de um homicídio: a primeira preocupação do
policial responsável é identificar a vítima e conhecê-la por meio de
minuciosos levantamentos e coleta de seus dados. Nesse exato ponto inicia-
se a criação do perfil vitimológico, um trabalho que pode durar semanas,
meses ou anos. Por um viés biológico, também é necessário descobrir o que
a vítima oferecia ao seu predador (criminoso) para ter sido assassinada.
Trata-se de uma inversão da forma de analisar o crime.
Partindo do perfil vitimológico, é possível hipotetizar tipos possíveis de
personalidade do criminoso que agiu.
Em síntese, para serem estudos detalhados e aprofundados de vestígios
da cena do crime, os procedimentos atuais da investigação policial devem
envolver vários tipos de pesquisas científicas.
5. O PERFILADOR
Geradores de perfis criminais ou perfiladores são especialistas que
analisam uma cena de crime ou o M.O. (modus operandi ou método de
operação) de um criminoso, na esperança de obter seu perfil. Para tanto, o
perfilador deveria ter as seguintes características:
• boa observação visual;
• raciocínio lógico;
• intuição;
• boa memória;
• empatia;
• compreensão simbólica;e
• pleno conhecimento de sua área.
5.1 OBSERVAÇÃO VISUAL
As pessoas se comunicam com o mundo exterior de três maneiras:
visual, auditiva e cinestésica. Evidentemente, as três maneiras estão
presentes no ser humano, desde que não haja deficiências orgânicas. Porém,
as pessoas utilizam-se mais de uma ou de outra modalidade como ponto de
apoio para se organizarem.
Diz-se que uma pessoa é de perfil “Visual” se ela fizer contato com o
mundo exterior predominantemente através da visão. “Auditivo” seria
aquele indivíduo que faz contato mais fortemente por meio dos sons, das
palavras, do discurso. “Cinestésico” é aquele que faz contato com o mundo
principalmente através do tato, do contato físico.
O perfilador deve primordialmente ser um “Visual”. Considerando que
o perfilamento tem início na cena do crime, é necessário que o perfilador
possua excelente capacidade de observação visual, pois cada detalhe, cada
indício deve ser bem observado.
5.2 RACIOCÍNIO LÓGICO
É necessário que o perfilador tenha bom raciocínio lógico, que saiba
estabelecer com precisão relações de causa e efeito, sendo que, por vezes,
senão na maioria delas, partirá do efeito para atingir a causa.
Não é exagero dizer que o perfilador deverá colher os dados com base
na sua observação visual, portanto empírica, e, de posse dos dados e indícios
que colher, deverá aplicar um raciocínio absolutamente lógico e científico,
com base no método cartesiano, que é base do próprio pensamento
científico.
5.3 INTUIÇÃO
Em contraponto à capacidade racional, o perfilador também deve
possuir uma boa intuição.
Há quem afirme que o perfilador deva manter uma postura
fundamentada na fenomenologia proposta pelo matemático e filósofo
Edmund Husserl (1859-1938), que apresentou o conceito de
intencionalidade, presente na mente humana. A noção de intencionalidade,
tal como proposta por Husserl, é de que “toda consciência, é consciência de
alguma coisa” (Husserl, 2008).
Mas, se de um lado essa noção fenomenológica rompe com a corrente
racionalista, e, de outro lado, rompe com a corrente empirista, para qual a
consciência é passiva, moldando-se a partir de elementos vindos do exterior,
nem por isso a razão deixa de estar presente na análise dos dados colhidos no
local do crime, efetivamente empírica.
No entanto, a importância dos estudos psicológicos efetuados em fins
do século XIX e início do século XX por Husserl se revela ao abordar a
atividade da consciência, fazendo oposição entre intuição e representação.
A intuição deve ser entendida como aquela certeza de origem
inicialmente não explicada de forma racional. Isto é, a intuição é uma certeza
que só será confirmada como verdadeira posteriormente a constatações e
observações empíricas. Mas, nem por isso, deve ser deixada de lado, embora
deva ser colocada à prova de maneira cartesiana.
5.4 BOA MEMÓRIA
Ao perfilador seria interessante possuir necessária excelente memória,
se possível fotográfica. Caso o perfilador não possua tal memória, deverá
compensá-la com fotos e anotações como métodos alternativos. Ressalta-se
que, principalmente nos dias de hoje com a enorme facilidade da presença de
câmeras potentes em telefones celulares, como método alternativo e mais
uma técnica de coleta de evidências, a fotografia é muito importante, sempre
possível e viável.
5.5 COMPREENSÃO SIMBÓLICA
Quando um delegado de polícia comparece a uma cena de crime
juntamente com seus investigadores, médicos legistas e peritos, e os
profissionais se deparam com um cadáver com 30 perfurações a faca, por
exemplo, deduz-se desse o indício que tal crime foi muito provavelmente
cometido com raiva, sugerindo passionalidade. Assim, a partir de um fato
observado, a mente atribui um sentido, remetendo-se a conteúdos não
claramente expressos na cena do crime.
Dessa forma, o perfilador também deve dominar o conhecimento não
verbalizado, aquele exposto na forma de indícios e sinais. Eles são
elementos essenciais no processo de comunicação, encontrando-se
difundidos no nosso cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber
humano.
A cena de um crime sempre é composta por elementos que devem ser
olhados como sinais, indícios de fatos ali ocorridos.
5.6 EMPATIA
Também é necessário que o perfilador tenha empatia, isto é,
sensibilidade.
Empatia é a capacidade de reconhecer ou compreender o estado de
espírito ou a emoção do outro. Muitas vezes é caracterizada como
capacidade de se colocar no lugar do outro, ou, de algum modo, tentar
compreender a experiência na perspectiva ou segundo as emoções do outro.
A palavra empatia é derivada do grego pathos, que significa afeição,
paixão, sofrimento e emoção. O termo foi adaptado pelo filósofo e psicólogo
alemão Teodoro Lipps (1851 – 1914) para criar a palavra Einfuhlingem (o
equivalente a feeling em inglês).
O médico norte-americano Paul Mac Lean (1913 – 2007) sugeriu que o
sistema límbico, uma das partes mais antigas do nosso cérebro, e suas
conexões com o córtex pré-frontal estariam envolvidos na empatia. Eles
proporcionariam aos homens a capacidade de se colocar no lugar dos outros.
Dessa forma, uma empatia primitiva estaria presente desde cedo na evolução
humana e, com a aquisição de novas estruturas cerebrais e circuitos neurais,
adicionou-se a essa empatia primitiva uma forma de cognição, de tal forma
que esta passou a ser experimentada em conjunto com uma consciência
social mais desenvolvida.
Então, conceitualmente, o estado de empatia, ou de entendimento
empático, consiste em perceber corretamente o marco de referência interno
do outro, com significados e componentes emocionais eliciados no outro.
Em outras palavras, significa colocar-se no lugar do outro, porém sem perder
a condição de “como se”. A empatia implica, por exemplo, em sentir a dor
ou a alegria do outro, como o outro o sente e perceber suas causas, como ele
a percebe, porém sem nunca perder a perspectiva de se trata dele e não do
observador.
5.7 PLENO CONHECIMENTO DE SUA ÁREA
Conforme já exposto, o Perfilamento Criminal é técnica afeita a
diversas áreas do conhecimento. Cada área possui o seu enfoque e, não raro,
o trabalho só pode ser levado a cabo e a contento em decorrência dessa
pluralidade de visões, dessa pluri ou multidisciplinaridade. Ora, se é da soma
de conhecimentos que um Perfilamento Criminal é levado a cabo, então o
pleno domínio de sua área de conhecimento, por parte do perfilador, se
favorece de saberes em diferentes assuntos, que auxiliarão o perfilador em
sua análise.
É justamente através da sinergia entre os conhecimentos que o
Perfilamento Criminal atinge a sua meta.
6. MÉTODO NA ELABORAÇÃO DO
PERFIL CRIMINAL
6.1 CRIAÇÃO DE UM PERFIL CARTESIANO:
Para o entendimento ideal da formação do perfil criminal por parte
daquele que faz a análise de um crime, ou seja, do perfilador, devem ser
levadas em consideração algumas questões fundamentais.
O perfilador, antes de tudo, é um observador que colhe dados em busca
de certezas, de modo organizado, concreto, em direção à verdade dos fatos.
Em outras palavras, o perfilador é um cartesiano que se usa de métodos
cartesianos.
O “Método Cartesiano”, criado pelo filósofo francês racionalista René
Descartes (1596-1659), consiste no que ele chamou de “Ceticismo
Metodológico” na busca de verdades irrefutáveis - duvida-se de cada e toda
ideia até que ela possa ser comprovada ou, em suas palavras, “algo só existe
se puder ser provado”.
Dessa forma, Descartes forjou o que se chama de “Dúvida Cartesiana”
e um método, o “Método Cartesiano”, para resolvê-la, pontos nos quais, até
hoje, baseia-se todo pensamento científico e, portanto, também o
Perfilamento Criminal.
Segundo o Método Cartesiano, o primeiro passo do perfilador, é chegar
à cena do crime destituído de qualquer tipo de “pré-conceito” ou “pré-juízo”.
O segundo passo é passar a observar a cena, colher dados e observar
indícios até que chegue a uma primeira certeza irrefutável.
O terceiro passo consiste em, da primeira certeza atingida, passar à
próxima, e à próxima, até atingir as certezasmaiores.
O quarto e último passo consiste em registrar, rever e remontar o
processo por inteiro, quantas vezes ele julgar necessário.
Todos esses passos devem levar à comprovação de hipóteses e teses,
bem como à consecução do perfil criminal. Esta uma das partes mais
importante deste todo, a tentativa de se antecipar um tipo de padrão de
comportamento, um perfil da personalidade mais provável de um agressor
criminal com base em respostas a dúvidas e perguntas feitas durante o
processo.
6.2 PERSONALIDADE E COMPORTAMENTO
Dentro da multidisciplinaridade necessária à execução de profilamentos
criminais, a compreensão de certos padrões de personalidade e
comportamento é valiosíssima, sendo parte crucial da criação de um perfil
criminal. Mais especificamente, é importante o estudo de padrões de
comportamentos desviantes, conhecimento bastante útil e importante no
Perfilamento Criminal.
Considera-se comportamento desviante aquele que destoa dos
comportamentos aceitos e funcionais dentro de um sistema social (família,
grupo de amigos, trabalho, a sociedade). Cometer crimes, atos de violência,
são comportamentos desviantes gravíssimos e entende-se que sejam fatores
biopsicossociais que determinam que uma pessoa escolha roubar uma bolsa,
um banco ou matar com uma arma de fogo ou com uma faca.
É tarefa complexa entender como surgem esses comportamentos e
como prevê-los e, através dos tempos, a Medicina, a Psicologia, a Filosofia,
juntamente com vários outros campos das Ciências Humanas, dedicam-se a
esses estudo. No frigir dos ovos, podemos concluir que um comportamento
surge com base na personalidade de uma pessoa, personalidade essa formada
através de um conjunto de fatores biopsicossociais, ou seja, que une
instâncias fisiológicas ou médicas, psicológicas e sociais.
De modo geral, considera-se como a personalidade de um indivíduo um
conjunto de características biopsicossociais que sejam consistentes, que se
repitam, que determinam e permitem entender a individualidade dos seres
humanos, ou seja, um conjunto único e específico de características que
ocorrem com alguma estabilidade ao longo do tempo.
Através dos tempos, a Medicina, e desde os primórdios da criação da
Ciência Psicológica, procura-se estudar, descrever, analisar e agrupar
personalidades e comportamentos que sejam prevalentes, com o intuito de
inicialmente se compreender a experiência humana e suas singularidades, e
segundamente diagnosticar, tratar ou encaminhar pessoas que sofrem ou que
fazem mal a si mesmos ou a outros. Nesse caminho de tempo, em vários
ramos científicos foram desenvolvidas diferentes teorias e descrições de
personalidades e comportamentos humanos e, numa perspectiva social, um
dos grandes objetivos destas é tentar dar conta do que comumente
chamamos de comportamentos desviantes, onde se enquadram os
criminosos.
É importante deixarmos claro aqui que o conceito de “personalidade” é
muito complexo, com significações variadas em diferentes campos do saber,
e bastante subjetivo e não material. Por outro lado, “comportamentos” são
observáveis, e mais fáceis de serem registrados e estudados. Embora
possamos mencionar o termo personalidade neste livro, por esse ser
frequente tanto socialmente quanto nos estudos de perfis criminais, o que é
de fato o que compõe os perfilamentos são os comportamentos desviantes,
criminosos ou violentos.
No que tange ao Perfilamento Criminal, com o intuito de investigar um
crime, portanto, faz-se importante entender os padrões de desvios de
comportamento e a descrição de alguns transtornos psiquiátricos descritos no
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-5, da
Associação Americana de Psiquiatria usado mundialmente) podem ajudar
muito e servir de base para se ter uma ideia geral.
Deixamos claro aqui porém, que as descrições dos transtornos
psiquiátricos neste livro não são aprofundadas e o diagnóstico dos
transtornos só pode ser feito por profissionais de saúde, devendo ser
considerados como uma das ferramentas no profilamento e jamais de modo
estigmatizante ou persecutório. Deixaremos isso mais claro adiante.
6.2.1 Transtornos psiquiátricos ou mentais
Certos transtornos ou padrões de comportamento e funcionamento
incômodos afetam várias áreas do comportamento de um indivíduo. Isto é,
transtornos de ordem psiquiátrica podem influenciar diretamente a maneira
de ser e os comportamentos das pessoas: o modo como elas veem o mundo,
a maneira como expressam suas emoções e seu comportamento social.
Caracterizando a forma de ser da pessoa, certos transtornos podem
culminar em indivíduos, por exemplo, socialmente mal adaptados,
inflexíveis e prejudiciais a si e aos outros. Comportamentos mais rígidos e
menos flexíveis, mais explosivos e menos equilibrados estão, de modo geral,
presentes nos comportamentos criminosos, funcionando e gerando diferentes
resultados em diferentes contextos sociais e culturais.
6.2.2 Tipos de transtornos importantes ao profilamento
Durante os registros de patologias psiquiátricas, houve através do
tempo uma série de variação nas denominações e descrições de transtornos
psiquiátricos. A Sociedade Mundial de Psiquiatria criou o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-5) exatamente por
essa razão, para padronizar pelo mundo a que patologia se refere e quais os
sinais e sintomas deve-se esperar para que se possa diagnosticar um
indivíduo. Portanto, baseados no DSM-5, a título de informação, elencamos
alguns dos transtornos mais comumente presentes nos comportamentos
criminosos. Na literatura, há evidências da presença de comportamentos
presentes seguintes transtornos psiquiátricos:
• transtorno afetivo bipolar;
• transtorno dissociativo de identidade;
• transtorno antissocial, sociopático ou psicopático;
• transtorno borderline; e
• personalidade criminosa.
Seguem breves comentários sobre cada um desses tipos.
6.2.3 Transtorno afetivo bipolar
O transtorno afetivo bipolar, antigamente conhecido como transtorno
maníaco-depressivo, é um transtorno mental em que o humor varia
significativamente, com crises de depressão e de mania (agitação
exacerbada). Esses dois tipos de crises podem ocorrer numa mesma pessoa
com maior ou menor intensidade. As alterações podem ser graves,
moderadas ou leves.
As mudanças de humor têm uma importante repercussão nas sensações,
emoções, pensamentos e comportamentos do indivíduo, podendo, em
momentos e sem o tratamento adequado, haver perda significativa de sua
autonomia.
Vários fatores predispõem um indivíduo à doença. Fatores genéticos e
biológicos estão na base causal, mas o transtorno também é influenciado por
ocorrências externas tais como traumas, incidentes ou acontecimentos fortes
como mudança, troca de emprego, fim de casamento ou morte de um ente
querido. Comportamentos desviantes ou criminosos podem ocorrer mais
provavelmente nas fases maníacas, com ocorrência de variados níveis de
violência contra si ou outros.
6.2.4 Transtorno Dissociativo de Identidade
Este transtorno está classificado entre os transtornos dissociativos ou de
desagregação dos conteúdos de pensamento, ações e emoções, que parecem
ser reagregados em diferentes e múltiplos padrões, todos coexistindo em um
mesmo indivíduo. Por essa razão, esse é o transtorno antigamente chamado
de “Distúrbio de Múltipla Personalidade”, uma vez que parecem existir mais
de uma “personalidade” dentro de uma só pessoa, sendo elas não
necessariamente patológicas. Em outras palavras, passam a conviver na
mente de um mesmo sujeito várias identidades, cada uma delas apresentando
comportamento, ideias e sentimentos próprios.
O Transtorno Dissociativo de Identidade pode ocorrer quando a pessoa
sofre algum tipo de trauma grave, na maioria das vezes quando criança.
Abuso sexual, negligência, abandono e violência na infância estão entre as
causas mais frequentes. Ao não conseguir lidar com a situação traumática, o
indivíduo tende a se proteger por meio da criação de outras “pessoas” dentro
de si, e estas o ajudam a sustentar a cargaemocional que, sozinho, não
conseguiria carregar. Frequentemente, a pessoa portadora deste transtorno
não tem consciência dos fatos que a perturbaram no passado e cujo impacto
mental a levaram a desenvolver esse sistema de defesa psíquica.
De modo geral, são indivíduos bastante vulneráveis, apresentando
traços de instabilidade de humor. A intolerância à frustração também pode
set um comportamento frequente e, nesse caso, quanto mais frustrações ou
decepções o indivíduo sofre, mais identidades fictícias e distintas poderá ir
inconscientemente criando.
De modo geral, a pessoa que sofre por esse transtorno não tem controle
sobre as outras identidades, que, muitas vezes, podem não aceitar o estilo de
vida umas das outros. Por exemplo, uma dessas personalidades pode ser
puritana e outra ser promíscua; um pode ser um religioso empático e
generoso e outro um valentão intolerante com tendências assassinas. Cada
uma destas identidades pode apresentar comportamentos, expressões faciais
e até mesmo linguagens diferentes.
Durante os períodos em que uma personalidade assume o controle, as
outras ficam em amnésia parcial. Pode haver conhecimento entre
personalidades, mas, geralmente, a personalidade dominante em
determinado momento não tem consciência das outras.
A transição entre as identidades pode ser súbita ou passar por uma
espécie de período transitório, mais suave e confuso.
Atualmente não há medicação eficaz para tratar ou controlar esse
distúrbio, sendo a psicoterapia a única forma de abordagem dos casos.
Há registro de violência criminal ligada a indivíduos com transtornos
dissociativos na literatura especializada, incluindo o Transtorno Dissociativo
de Identidade, porém não em alto volume, ainda se carecendo de estudos que
possam explorar tanto os números quanto sua ligação com a criminalidade.
6.2.5 Transtorno antissocial
O Transtorno Antissocial é a maneira atual do que antigamente se
chamava de psicopatia ou “doença psicológica”. A palavra vem do grego
psiché (mente) mais pathos (doença) e foi introduzida no século XIX para
todas as doenças de foro mental.
Os indivíduos com este tipo de transtorno normalmente têm um padrão
invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros ou de normas e
regras sociais. Pode se desencadear na infância do indivíduo ou no princípio
da adolescência e continua na idade adulta.
Esses indivíduos frequentemente apresentam os seguintes traços:
• agressão a pessoas ou animais, destruição de propriedade, fraude
ou furto;
• ausência de submissão às normas sociais; e
• desrespeito pelos desejos, direitos ou sentimentos alheios.
Indivíduos com esse transtorno frequentemente enganam ou manipulam
os outros, a fim de obterem vantagens pessoais ou o mero prazer. Podem
mentir repetidamente, usar nomes falsos, ludibriar e fingir.
De modo geral, as decisões são tomadas de momento, impensadamente,
sem consideração das consequências para si ou para os outros, o que pode
levar a mudanças súbitas de emprego, de residência ou de relacionamentos.
Tendem a ser irritáveis ou agressivos e podem entrar em luta ou
cometer atos de agressão física - frequentemente cometem violência
doméstica.
Tendem a ser extremamente irresponsáveis, podendo demonstrar pouco
ou nenhum remorso quanto às consequências dos seus atos, não procurando
compensar ou emendar sua conduta.
Frequentemente, mostram-se indiferentes ou fazem racionalizações
superficiais por terem ferido, maltratado ou roubado alguém.
De modo geral, não julgam dever respeito a regras, nem ninguém,
sendo as pessoas joguetes a serem manipulados ou dominados. Para estes,
suas vítimas são meramente tolas, impotentes ou seres que merecem a
agressão lhes infligida.
Este é claramente o perfil mais identificado entre as pessoas que
apresentam comportamentos criminais.
6.2.6 Transtorno Borderline
A palavra “borderline” vem do inglês e significa, literalmente, a linha
da borda, a linha da fronteira, o limite. Segue-se que indivíduos afetados
pelo Transtorno Borderline são aqueles que vivem na fronteira entre o
equilíbrio e o desequilíbrio.
Este transtorno é classificado dentro do grupo de indivíduos que
apresentam alta instabilidade emocional.
Normalmente apresentam exagerada variação de humor, passando, ao
longo de um único dia, por estados maníacos e depressivos, mais de uma
vez. Podem haver ideias pouco claras sobre como se sentem, experiências de
dissociação e até mesmo episódios transitórios e circunscritos de ilusão e
alucinações.
Há inúmeros registros de borderliners que abusam de drogas,
apresentam desordens alimentares, dirigem com imprudência, entre outros
comportamentos antissociais.
O indivíduo com comportamentos borderline idealizam excessivamente
o outro, frequentemente em suas relações amorosas. Basta um pequeno gesto
do outro para toda a idealização construída desabar. Tendem a terminar
relacionamentos pelo medo de serem rejeitados e podem procurar antigas
relações ou padrões, para encontrar conforto e acomodação.
Podem ser simpáticos e agradáveis socialmente, mas com certa
frequência se comportam de maneiras totalmente diferente com as pessoas
em sua intimidade.
Resumindo, indivíduos com este tipo de transtorno com frequência
demonstram os seguintes comportamentos:
• estabelecimento de relações interpessoais intensas e instáveis,
alternando entre a idealização e a desvalorização;
• impulsividade;
• instabilidade afetiva;
• cólera inapropriada;
• falta de controle;
• condutas suicidas e automutilação;
• sentimentos crônicos de vazio ou aborrecimento;
• medo de abandono com tentativas de compensação; e
• cognição alterada, pois em muitos casos observa-se uma redução
no volume de amígdala e hipocampo.
Esta doença tem uma base genética e pode ser despertada por traumas
na infância (como abuso sexual e negligência parental). Não tem cura, mas
pode ser controlada com medicação e psicoterapia. Os melhores resultados
têm sido verificados com psicoterapia.
Esses indivíduos podem reconhecer e compreender a gravidade dos
seus atos, mas são incapazes de se controlar, podendo apresentar
comportamentos perigosos, contra si e contra os outros, reconhecidamente
comportamentos criminais.
Há registros de associação deste tipo de transtorno ligado à
criminalidade, nomeadamente crimes passionais.
6.3 ENTENDENDO TIPOS PSICOLÓGICOS E
MORFOLÓGICOS DE CRIMINOSOS
6.3.1 Tipos de personalidades criminosas:
O primeiro a discorrer de forma científica sobre uma personalidade
criminosa foi o estudioso italiano Cesare Lombroso (1835-1909), já citado
anteriormente.
À época, Lombroso distinguiu cinco tipos de personalidade criminosa:
• Criminoso nato – portador de um patrimônio genético causador
da criminalidade. É tipicamente o homem selvagem, uma espécie
de subtipo humano, um ser degenerado.
• Criminoso louco ou alienado – portador de uma perturbação
mental associada ao comportamento desviante, considerado como
um louco moral.
• Criminoso profissional – não possui bases biológicas inatas, mas
se torna um criminoso por forças e pressões do meio. Começa com
um crime simples e ocasional e pode reincidir.
• Criminoso primário – comete um ou outro crime por força de um
conjunto de fatores circunstanciais do meio, mas não tende à
reincidência.
• Criminoso por paixão – vítima de um humor exaltado, de uma
sensibilidade exagerada, nervoso, explosivo, inconsequente, a
quem a contrariedade dos sentimentos leva a cometer atos
impulsivos e violentos, como busca de solução para suas crises
emocionais.
O psicólogo alemão Hans Jürgen Eysenck (1916-1997), nos anos 1960
também defendia haver um personalidade criminosa predeterminada.
Segundo ele, o comportamento criminoso era resultado de fatores ambientais
e características hereditárias.
Uma das teorias grandemente aceitas ainda hoje, é a do criminologista
francês Étienne De Greeff (1898-1961), que defendia ser o criminoso uma
pessoa igual às outras, por natureza ou qualidade. De Greef levavava em
consideração, portanto, a pessoa e sua biografia, seus processospsicológicos, afetivos, morais e sociais. É apenas uma pessoa comum com
“certo número de características, as quais facilitam nele a execução do ato
criminoso”, segundo as palavras de De Greeff.
Neste ponto percebe-se, então, que deixa-se um pouco de lado aspectos
constitucionais e “degenerados” segundo Lombroso e passa-se a considerar
o conjunto de processos psicológicos, afetivos, morais e sociais (a história
pessoal do sujeito), que possam, eventualmente, contribuir para um ato
criminoso.
De Greeff deu ênfase à periculosidade, que teria três determinantes:
uma “personalidade criminosa”, uma situação perigosa e a importância
sociocultural do ato.
A “personalidade criminosa” seria portanto dinâmica devido ao traços
constitutivos e à adaptabilidade social. Para ele, a personalidade seria a
matriz de produção da ação e definiria as condições e as modalidades do
agir, enquanto o ato criminoso seria o processo de materialização dos
comportamentos produzidos por essa personalidade.
Mesmo assim, atualmente é difícil se aceitar a existência de uma
“personalidade” tipicamente criminosa, pois cientificamente e em vários
campos defende-se a existência de diferentes formas de organização da
personalidade, diferentes maneiras de se integrar os estímulos do meio e os
processos psíquicos e diferentes maneiras de relacionamentos com o mundo
exterior.
Obviamente e como explicamos anteriormente, o conceito de
“personalidade criminosa” gera alguns desencontros ideológicos entre
psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos, criminalistas, entre outros.
As variadas partes, no entanto, parecem identificar que haja
determinados padrões nos seres humanos que se inclinem ao crime.
A possível existência de uma “personalidade em estado perigoso” faz
com que a sociedade não se preocupe tanto com a gravidade do ato
criminoso. Nesse caso, a noção de periculosidade nasce da existência de
alguma patologia incrustada na mente do criminoso, atenuando, assim, a
responsabilidade plena dos atos cometidos. A solução nesse caso é privar a
sociedade da presença incômoda de certos indivíduos “inadaptados” e
potencialmente perigosos, fechando-os em instituição adequada às suas
necessidades.
Grosso modo, acredita-se atualmente que o criminoso estabeleça uma
representação da realidade e desenvolva uma ordem de valores e
significados acerca dessa realidade, situação na qual uma transgressão
adquire um determinado sentido e toma forma, em dado momento da sua
história de vida.
6.3.2 Tipos morfológicos de criminosos:
Além de componentes internos, psicoemocionais, a biofisiologia
também foi estudada no sentido de identificar e prever comportamentos
criminosos.
O Dr. Nestor Sampaio Penteado Filho , em seu livro Manual
Esquemático de Criminologia (2013), comenta os seguintes tipos
morfológicos ainda hoje considerados na análise criminal:
• Pícnico – baixo, gordo, abdome volumoso, sem pescoço,
tendência a calvície, propensão a doenças cardiovasculares e
diabetes. Suas características psíquicas são oscilações entre euforia
e depressão, elevada capacidade de sintonia com as pessoas,
desenvolvimento da inteligência concreta, realista e prático,
presunçoso e atuante, correlação com psicose maníaco-depressiva.
Figura 1 – Pícnico
• Leptossômico – alto, magro, pouco musculoso, rosto afilado,
encanece precocemente (perde cabelos), propensão à
esquizofrenia. Suas características psíquicas são oscilação entre
anestesia e hipersensibilidade, baixa capacidade de sintonia com as
pessoas, idealista e sonhador, tímido, introvertido e retraído,
facilidade para inteligência abstrata e conceitual.
Figura 2 – Leptossômico
• Atlético – aspecto trapezoidal, ombros largos e relevos
musculares evidentes, tendência a epilepsia. Características
psíquicas: perseverante, combativo, sem grande relevo intelectual,
alta tolerância a dor, agressivo, interesse por esportes.
Figura 3 – Atlético
Esses tipos foram classificados pelo psiquiatra alemão Ernst
Kretschmer (1888-1964) no início de século XX, sendo utilizada como uma
das partes do quebra-cabeças da realização do Perfilamento Criminal, de
modo não estigmatizante ou reducionista.
Conforme ainda o professor Dr. A. Almeida Júnior (1892-1971), os
pícnicos, quando acometidos por uma doença mental, desenvolveriam um
transtorno obsessivo-compulsivo. Os atléticos, por seu turno,
desenvolveriam neuroses e, finalmente, os leptossômicos desenvolveriam
esquizofrenia.
Seguindo na linha biofisioneurológica, o neurocientista português
António Damásio (1944-), também sugere que o comportamento dos
indivíduos também assenta-se em uma base genética, formulando sobre que
a própria “mente surge da atividade nos circuitos neurais” (1996).
Segundo Damásio, em sua hipótese de marcadores somáticos, os
indivíduos possuem mecanismos automatizados que dão suporte às nossas
decisões a partir de experiências emocionais anteriores (resultantes da
ligação entre as situações vividas e os respectivos estados somáticos, ou seja,
estados do corpo). Essas experiências anteriores ficam gravadas nas áreas
pré-frontais, responsáveis por funções como a memória, entre outras
consideradas de nível superior devido à sua complexidade. Perante a
necessidade de tomar decisões, o córtex cerebral apoia-se nas emoções para
decidir. De acordo com António Damásio, sem emoção, ficaríamos
impossibilitados de fazer as escolhas mais simples. Os marcadores somáticos
informam o córtex sobre as decisões a tomar. O nosso pensamento tem
necessidade das emoções para ser eficaz. De forma simplista, pode dizer-se
que, de acordo com Damásio, nisto consiste o “Erro de Descartes”, ou seja, a
mente (razão) não existe separadamente do corpo (emoção).
Compartilhamos a opinião do Dr. Damásio: há uma base genética e,
durante a formação do caráter, traumas da infância, abusos físicos,
emocionais, abuso sexual, além do uso de drogas e transtornos psiquiátricos
podem ser são mecanismos de disparo de uma predisposição genética.
Obviamente e como explicamos anteriormente, o conceito de
“personalidade criminosa” gera alguns desencontros ideológicos entre
psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos, criminalistas, entre outros.
Na mesma categoria, a classificação biofisiológica acima, também sofre
questionamentos.
As variadas partes, no entanto, parecem identificar que haja
determinados padrões nos seres humanos que se inclinam ao crime.
A possível existência de uma “personalidade em estado perigoso” faz
com que a sociedade não se preocupe tanto com a gravidade do ato
criminoso. Nesse caso, a noção de periculosidade nasceria da existência de
alguma tendência na mente do criminoso, atenuando, assim, a
responsabilidade plena dos atos cometidos. A solução mais simples e
frequente, nesse caso é privar a sociedade da presença incômoda de certos
indivíduos não adaptáveis e potencialmente perigosos, alocando-os em
instituições adequada às suas necessidades.
7. CRIANDO PERFIS
Antes de um suspeito poder ser perfilado, a cena do crime e as
especificidades do fato devem ser analisadas de perto para se identificar
padrões, atitudes e possíveis pistas, como evidências físicas. Isso envolve o
trabalho de vários peritos diferentes, de fotógrafos de provas para peritos
balísticos, para técnicos de ciência forense, que recolhem e classificam os
elementos de prova a serem usados pelo perfilador.
Esse perfil destina-se ao uso de Oficiais da Justiça, para restringirem a
sua pesquisa a suspeitos que se enquadrem em uma base de características
como idade, gênero, possíveis profissões e detalhes às vezes mais
específicos ainda, tais como plano de fundo social, educação e características
físicas.
Um “Boletim dos Pontos” é feito logo em seguida à constatação do
crime. Trata-se da descrição de determinado suspeito de um crime,
normalmente com base em depoimentos de testemunhas. Por exemplo,
depois de um assalto a banco, a polícia pode interrogar suspeitos, rever
câmeras de segurança e depois emitir o seguinte Boletim dos Pontos:
• O suspeito foi visto pela última vez emuma pick-up Ford, cor
azul escuro. Estava vestindo uma camiseta vermelha e jeans
escuro. O suspeito é descrito como um homem branco, 1,65 m de
altura, magro, loiro e meio calvo. Ele tem uma cobra tatuada no
antebraço esquerdo.
É comum a inclusão da cor da pele do suspeito nas descrições e
normalmente não há controvérsias quanto a isso. No Perfilamento Criminal,
a cor da pele é simplesmente uma descrição física baseada em uma prova
visual coletada na cena do crime, não devendo haver prejulgamentos acerca
dessa característica.
O próximo passo na criação do perfil é o “perfil psicológico” ou, mais
completamente, o “perfil biopsicossocial”. Investigadores criam esse perfil
na ausência de provas físicas e descrições de testemunhas. Também o criam
quando as há e se querem incrementar tais descrições. Eles lançam mão do
que sabem a respeito de um suspeito desconhecido e suas ações e tentam
gerar informações adicionais gerais. Por exemplo, se um assassino em série
tem matado mulheres que trabalham em um escritório de advocacia, os
perfiladores criminais podem considerar provável que o assassino seja um
homem que trabalhou ou foi cliente de um escritório de advocacia.
Outras evidências, como anotações deixadas pelo assassino, o local do
assassinato ou o estado da cena do crime podem permitir que eles
desenvolvam conjecturas. Essas hipóteses podem incluir informações como
nível de educação do suspeito, traumas psicológicos que ele possa ter sofrido
ou local de moradia. As informações agremiadas não precisam ser 100%
exatas e algumas vezes podem ser bem vagas. No entanto, caso a polícia não
tenha ideia de quem possa ser o suspeito, pelo menos já sabe por onde
começar. No exemplo dado, interrogar antigos funcionários do escritório de
advocacia pode gerar pistas mais concretas que levem a provas diretas ou
não acerca da identidade do assassino.
7.1 ANÁLISE DA EVIDÊNCIA
COMPORTAMENTAL
A análise de evidência comportamental examina provas que podem
mostrar como e quando uma ação ocorreu. Isso pode ser verificado na forma
de evidência física, como pegadas ou manchas de sangue em uma cena de
crime. Essa evidência não só mostra o comportamento do ofensor em uma
cena de crime como também pode transformar-se em provas através de
elementos como filmagens ou depoimentos. Provas de cena de crime
também são usadas para ajudar a estabelecer padrões de comportamento e
traços de caráter de um criminoso, o que ajuda os investigadores na
construção de seu perfil criminal.
As técnicas de criação de perfil mais usadas são as técnicas de
prospecção de dados que detectam a relevância de padrões e, dessa forma,
criam um perfil com base nos dados retirados na cena do crime.
Seguem as quatro fases de criação de perfil segundo Gregg O McCrary
(1945-), agente do FBI , consultor especialista, autor e professor adjunto de
Psicologia Forense:
• Antecedente – plano do assassino, fantasia e elaboração antes de
cometer um crime;
• Método e forma – tipo de vítima selecionada e método utilizado
para se cometer o crime;
• Eliminação do corpo – estudos sobre se o assassino eliminou o
corpo em uma ou várias cenas;
• Divulgação do comportamento infrator – se o assassino tenta se
divulgar pela mídia ou utilizando os investigadores;
7.2 BIOMECÂNICA
O Perfilamento Criminal define toda a sua elaboração diante das provas
testemunhais, levantamento do local do crime, mesa de necropsia do médico
legista e biomecânica.
A biomecânica forense tem auxiliado enormemente na elucidação de
crimes na medida em que fornece dados importantes para se descobrir como
ocorreu determinado crime. Nesse sentido, favorece o perfilamento do
criminoso.
A biomecânica traz esclarecimentos sobre o funcionamento dos ossos e
a biomecânica forense estuda o estado dos ossos, no estudo cadavérico,
trazendo elementos esclarecedores sobre as condições do crime. Os ossos
apresentam uma capacidade grande de resgatar a dinâmica lesiva em uma
violência criminal. As lesões traumáticas ósseas em certas partes do
organismo, originadas por ação contundente de instrumentos são geralmente
determinantes na identificação da causa da morte.
Quando uma força é aplicada sobre uma estrutura óssea, forma-se uma
fratura com determinado formato. Isso demonstra diretamente como a
energia dessa força aplicada se propagou pela matriz óssea. Essa conclusão é
possível pois, uma vez deformado, o osso não volta mais à posição original.
A velocidade é um fator importante na leitura da dinâmica lesiva óssea. No
ataque feito a baixa velocidade, o osso tem tempo de reagir e dobrar. Em
ataques feitos em velocidade alta, ao contrário, o osso pode ser destruído
quando recebe o impacto (Berryman & Symes, 1998).
Como é sabido, essa interpretação será importante no perfilamento de
um ofensor, pois relaciona-se diretamente com o comportamento agressivo
dele em relação à vítima.
As fraturas criminais geralmente são acompanhadas de danos
intracranianos relevantes. As mais comuns são as fraturas lineares, aquelas
causadas por depressão quando o osso interioriza, em diástase.
Normalmente, há uma ou mais fraturas que se abrem na sequência de uma
força de grande magnitude, com ou sem fragmentos. Qualquer que seja o
caso, é possível se compreender a dinâmica lesiva através da identificação
do instrumento utilizado somado ao nível de violência do agressor.
O antropólogo forense D.H Uberlaker (1846-,1991) e Smith & Col.
(2003), na dinâmica lesiva óssea, chamam a atenção não só para a forma da
lesão, mas também para área, massa, velocidade, direção do instrumento,
força intrínseca, anatomia da região e espessura do tecido ósseo.
Smith e Col. (2003) sistematizam o princípio da biomecânica forense
óssea na interpretação de três tipos de fraturas ósseas:
• Bisselamento ósseo – fala da direção e da posição do ofensor em
relação à vítima;
• Fratura radiada – demonstra quanta energia foi transferida pelo
instrumento; e
• Fraturas que irradiam de um orifício de entrada – fragmentos ósseos
atirados com maior velocidade que o projétil.
Para compreendermos a real intenção do criminoso diante de um
disparo de arma de fogo direcionado à estrutura óssea, é necessário
interpretarmos na lesão: calibre, munição, distância e posição da arma. A
dinâmica criminosa pode estar relacionada com o sujeito no que se refere à
premeditação e às intenções de letalidade.
Interpretar uma dinâmica lesiva exige método, demanda análise
anatômica por seguimento, estudo das articulações corporais e suas
limitações. Com isso, permite o levantamento de informações sobre a
movimentação da vítima no local do crime.
A utilização de uma arma branca, faca, punhal ou de um machado
podem denotar temperamento, intenção e todas as suas referências de origem
biopsicossociais. As lesões, por exemplo, por forças cortantes que penetram
o osso, dependendo do instrumento produtor da lesão, podem envolver
inúmeras lesões diferentes (Quatrehomme & Alunni-Perret, 2006) todas elas
relacionadas ao modus operandi do criminoso.
7.3 O LOCAL DE CRIME E A
PERSONALIDADE DO OFENSOR
O jornalista e pesquisador Sergio Pereira Couto, em sua obra “Os
segredos das investigações criminais” (2005) afirma que “a resolução de um
crime começa no exato lugar onde a vítima ou o ato criminoso são
encontrados”. Sob uma observação cuidadosa o local fornecerá elementos
para se caracterizar parte da personalidade do ofensor/vítima.
O autor Russel Vorpagel (1927-2004), ex-oficial do FBI especialista em
profilamento criminal de assassinos seriais, em sua obra “Profiles In
Murder”, descreve que o protocolo do FBI exibe quinze pontos indicadores
ou pistas fundamentais para se traçar o perfil de um criminoso, relacionando
tipos de personalidade e delitos. O método com que isso é feito tem sido
considerado extremamente confiável como pode-se perceber por um
comentário do próprio Russel a respeito: “Se dois desses pontos forem
comprovados inexatos, o FBI considerará como um erro raro do método”.
Russel denomina a técnica de “Autópsia Psicológica”.
Em outras palavras, portanto,o perfilamento é um método baseado em
princípios comprováveis executado por um criador de perfis que examina
uma cena de crime, tentando se colocar na mente do agressor, utilizando
vários campos das Ciências como Medicina, Psicologia, Psiquiatria, entre
outras, como ferramentas explicativas. Não se cria perfil a partir de apenas
uma evidência, um elemento psíquico ou um elemento biológico ou um
elemento social.
John Edward Douglas (1947-), escritor e agente federal americano
aposentado que por muitos anos chefiou uma unidade do FBI, descreve em
seu livro “Mindhunter” (1995) que é necessário adentrar a mente de um
molestador de crianças ou assassino em série para se delinear estratégias que
permitam rastrear estes criminosos, porém isso envolve método. A Unidade
de Comportamento Criminoso do FBI, criadora do próprio conceito de
Perfilamento Criminal, trilhou vários caminhos até chegarem em seu método
mais atual. Pela complexidade desse caminho e pela importância dele, vale
descrevermos brevemente, a trajetória do desenvolvimento de metodologias
de perfilamento criminal.
7.4 ESCOLAS DE PENSAMENTO
CONTEMPORÂNEAS DE PERFILAMENTO
CRIMINAL:
Primeira Escola de Pensamento:
A técnica de Perfilamento Criminal foi desenvolvida pela Unidade de
Ciências Comportamentais (BSU- Behavioral Science Unit) do FBI, em sua
Academia em Quântico, Virgínia, em 1974, hoje denominada de Unidade de
Investigação e Instrução do Comportamento (BRIU- Behavioral Research
and Instruction Unit). Lá criou-se o profilamento criminal, o famoso
criminal profiling, sendo pioneiros no desenvolvimento de diversas técnicas
e procedimentos, a fim de recolher dados para determinar a personalidade e
as características comportamentais dos criminosos, bem como avaliar em
que medida aquele perfil divergia da população em geral.
Nesse momento, a investigação do FBI consistia de quatro fases:
1. Assimilação de dados (coleta do máxima de dados);
2. Classificação do crime (com base em elementos convergentes
acumulados);
3. Reconstituição do crime (quais foram os comportamentos
cronológicos do autor e da vítima quanto aos fatos); e
4. Elaboração do perfil criminal (a análise mais provável da
personaldade, de aspectos físico, hábitos de vida etc.)
Segunda Escola de Pensamento:
O Centro de Psicologia Investigativa (CIP, siga do nome em inglês) foi
fundado em 1994 pelo psicólogo britânico David Canter (1944-), com base
em teoria própria designada de Psicologia Investigativa (IP, sigla do nome
em inglês). Crítico dos trabalhos do FBI em Quântico, ele desenvolveu a sua
própria corrente de perfilamento designada, por vezes, de statistical profiling
ou perfilamento estatístico, estabelecendo métodos científicos de
investigação e encontrando inspiração na Psicologia Ambiental, cujo
primeiro expoente foi Roger Barker (1900-1990) em 1947.
Segundo a escola de Canter, qualquer investigação deveria
compreender 3 fases:
1. Coleta e análise das informações;
2. Tomada de decisões, ações que dão lugar a detenção e
condenação; e
3. Desenvolvimento de sistemas de interpretação do
comportamento criminal. Modelos comportamentais acerca do
criminoso no local de crime, associados ao tipo de agressor.
Terceira Escola de Pensamento:
Definida pelo método do perfilador psicólogo e criminalista Richard
Kocsis (sd, vivo), a escola é nomeada de “Perfil de Ação Criminal” (CAP -
Crime Action Profiling).
Kocsis desenvolveu a sua própria metodologia que, em seu nível mais
fundamental, partilha de uma perspectiva muito próxima da do FBI, porém
aprofundando a última com o envolvimento da tipificação dos crimes em si e
baseando-se nos conceitos científicos elaborados à época pelas Psicologia e
Psiquiatria Forenses.
Quarta Escola de Pensamento:
O mais recente dos métodos de perfilamento trata-se da metodologia de
Análise das Evidências Comportamentais (Behavioral Evidence Analysis -
BEA), forjada por Brent Turvey (sd, vivo), em 1999.
Psicólogo doutorado em Criminologia norte-americana, Turvey é um
cientista forense, onde baseou toda a sua metodologia fortemente calcada em
coleta e interpretação de evidências físicas, para só então, e por
consequência, aproximar-se do significado destes acerca de um determinado
criminoso.
É o que ele define como Análise de Vestígios Comportamentais (AVC):
“Um método ideográfico que examina todos os vestígios comportamentais
que possam ser comprovados a partir de fatos empíricos.”
Resumindo historicamente as Escolas:
• O trabalho desenvolvido pelo FBI define o conceito de
Perfilamento Criminal como técnica de investigação criminal,
integrada num campo amplo de conhecimentos, dentro do contexto
policial;
• A Psicologia Investigativa de Canter teoriza o profilamento
aprofundando seus conceitos com bases estatísticas e inseridas no
meio ambiente;
• A abordagem de Kocsis fundamenta todo o seu trabalho nos
conhecimentos teóricos da Psicologia Forense, agregando mais
peso à análise desse corpo científico, acrescentando a tipificação
dos crimes; e
• A metodologia dedutiva de Turvey argumenta apenas sobre
vestígios comportamentais empiricamente comprováveis,
desenvolvendo a técnica de Análise dos Vestígios
Comportamentais.
Como afirma Marina J.R. RODRIGUES em sua dissertação de
mestrado: “Não há regras ou orientações [claras ou fechadas] sobre muitas
questões [em relação ao Perfilamento Criminal], [nem sobre] como quem
deve construir um perfil e como eles são habilitados para o fazer; muitos
materiais são fundamentais para se construir um perfil ”
Segundo o Prof. Luiz Carlos Rocha em seus ensinamentos no livro
“Investigação Policial: “Local de crime é toda área onde tenha ocorrido um
evento que necessite providências da Polícia, devendo ser preservado, pelo
policial que a atender, até sua liberação pela autoridade competente. No local
devem ser colhidos todos os vestígios que posteriormente se transformarão
em provas de autoria e materialidade do fato criminoso. Pode se entender
que o local é nascedouro das evidências que serão utilizadas no Perfilamento
Criminal”.
Existem várias evidências que irão auxiliar o traçado da personalidade
de um criminoso que reflete seu estado mental e o nível de ameaça que
representa.
Analisemos algumas evidências que podem ser levantadas:
1. Presença de fantasia e/ou desejo;
2. Presença de sadismo e/ou tortura;
3. Escolha da arma;
4. Ferocidade do ataque;
5. Mutilação “post-mortem” e disposição do corpo;
6. Relações entre criminoso e vítima;
7. De que maneira o corpo foi abandonado;
8. Escolha de um catalisador por um incendiário;
9. Tom utilizado em mensagem por chantagista;
10. Análise de grafia de mensagem; e
11. Lista de exigências de um sequestrador em posse de um refém.
Cabe aqui uma reflexão, as finalidades principais do levantamento de
local de um crime é documentar o espaço físico possivelmente preservado e
fornecer subsídios técnicos científicos para caracterizar o evento criminoso e
o perfilamento correlaciona vestígios do local com certas características
comportamentais subordinadas à personalidade do criminoso. Podemos
entender que o levantamento da cena do crime e o perfilamento convergem
para um mesmo ponto.
Para uma visão mais ampla, não brasileira, necessário se faz analisar a
construção de um perfil criminal segundo Hicks & Sales (2006), o trabalho
tem que ser desenvolvido em três fases:
• Primeira fase equivale a um momento de recolha de informação a
partir da cena do crime e integra material fotográfico, informação
sobre a vítima, relatórios policiais e relatórios de autópsia.
• Segunda fase já integra uma ação direta do estudo do
comportamento que irá realizar o Perfilador Criminal, com base na
informação adquirida da cena do crime. Este perfil deve conter
informações que levantam características sociodemográficas, de
comportamento e de provável personalidade relativas ao
presumível ofensor.
• Terceira fase corresponde à elaboração de um relatório
posteriormente enviado à polícia, paralelo a investigação policial,
com dados que permitem a este grupode profissionais prever o
tipo de pessoa que possa ter cometido o crime e a evolução do
comportamento criminal do ofensor.
7.5 RACIOCÍNIO DO PERFILADOR NA
ELABORAÇÃO DO PERFIL CRIMINAL:
Como observamos através dos muitos estudiosos de Perfilamento
Criminal mencionados até aqui o grande foco do raciocínio de um perfilador
busca, no fundo, responder sem dúvidas a três perguntas básicas: “O quê?”,
“Por quê?” e “Quem?”.
Turvey define isso muito bem com sua metodologia apoiada nas
evidências do padrão de comportamento do criminoso, com exame
meticuloso do local do crime e dos vestígios coletados por técnicos da
Ciência Forense e com acompanhamento de médicos psiquiatras e
psicólogos. Vale destacar seu método de levantamento de vestígios.
Turvey examina todos os vestígios comportamentais que possam ser
comprovados a partir de fatos empíricos. Esses vestígios são levantados a
partir de uma análise meticulosa de todas as evidências físicas, testemunhos
e documentos relacionados ao crime. Importante salientar que a análise dos
vestígios comportamentais encontrados é utilizada para determinar padrões
comportamentais a fim de indicar características de quem cometeu o crime.
Essa análise utiliza três fontes de informações: exame forense, vitimologia e
análise do crime e vale relembrar esses três passos para chegarmos ao
Geoprofiling:
• Exame Forense: Verifica e interpreta as evidências físicas que
apresentam relação com a dinâmica do crime. O perfilador neste
instante inicia o trabalho vital para determinar quais são os
vestígios comportamentais.
• Vitimologia: A vítima é examinada no aspecto de risco e
exposição para se entender a ação do criminoso no momento do
cometimento do crime.
• Análise do crime: Neste momento há uma aproximação direta
com o processo de investigação policial, gerando o envolvimento
com os outros dois itens anteriores. O tipo de crime cometido
passa a ser o ponto principal, seus métodos e características do
local do crime, assim como a análise da vitimologia e dos exames
forenses que se juntam ao final para a construção do perfil. Este
método é dinâmico, apresenta continuidade, estudando o
comportamento do ofensor de maneira contínua.
Seguidamente ao exame da cena do crime, segundo Turvey deve-se
elaborar um estudo vitimológico, seguido de uma análise do crime em si,
nunca deixando-se de levar em conta os seguinte princípios muito bem
descritos em artigo publicado em 2019, em Português, no Canal Ciências
Criminais:
• Princípio da Singularidade – Embora um criminoso possa
apresentar características e comportamentos padronizáveis, somos
todos seres humanos singulares;
• Princípio da Separação – Carregamos visões de mundo
diferentes, portanto deve-se tentar entender criminoso através da
ótica dele e não do perfilador;
• Princípio da Dinâmica Comportamental - Os comportamentos
são dinâmicos e mudam com o tempo, em todos, portanto, um
criminoso nem sempre repete as mesmas características em
diferentes crimes que ele comete;
• Princípio da Motivação Criminal – Motivações são influenciadas
por diversos fatores (e aqui a abordagem biopsicossocial assume
seu maior papel);
• Princípio da Múltipla Determinação – As atitudes de um
criminoso podem carregar variadas funções, o que em termos
práticos incrementa e aprofunda as análises de motivação criminal;
• Princípio das Dinâmicas Motivacionais da Variação
Comportamental – Além de motivações múltiplas, objetivos
podem se alterar durante um ato criminoso;
• Princípio das Consequências Indesejadas – Fatores externos
podem alterar as cenas de crimes, por essa razão o perfilador não
deve presumir intencionalidade;
• Princípio da Deterioração da Memória – Vários fatores
influenciam a memória, portanto relatos de vítimas ou testemunhas
não podem ser piamente críveis e precisam da corroboração de
evidências, fatos ou informações; e
• Princípio da Fiabilidade - Os resultados precisam ser objetivos,
científicos e imparciais, jamais devendo o perfil basear-se em
presunções de comportamentos ou interpretações superficiais ou
cobertas de julgamento. Só a análise criteriosa e com método
resulta em boas pistas de comportamento.
7.6 A VITIMOLOGIA E O PERFILAMENTO
CRIMINAL:
Na complexa tarefa do Perfilamento Criminal multidisciplinar levando
em conta os fatores biopsicossociais, vale um breve olhar ao estudo de
vitimologia.
Já em 1945 a vitimologia surge como uma disciplina nos estudos
criminológicos, segundo Lelio Calhau, Promotor de Justiça do MP/MG
(2020). É por isso que a área de conhecimento influenciou o Perfilamento
Criminal. Ainda mais anteriormente, o professor e advogado alemão Hans
Von Hentig (1887-1971) aprofunda o tema em seu livro “The Criminal and
His Victim” (1948) , finalmente deixando de lado o estudo lombrosiano que
analisava tão somente os criminosos. Mais jovem, mas contemporâneo a Von
Hentig, o advogado israelense Benjamin Mendelson (1900-1998) montou
uma classificação de vítimas em cinco categorias que tornou-se muito
famosa e também influenciou os estudos de perfilamento.
Rotina, hobbies, locais que frequenta, pessoas com quem convive,
estilo de vida, amizades com pessoas que apresentam algum tipo de vício,
utilização de redes sociais, condição financeira. Existe uma enorme
quantidade de detalhes da vida de uma vítima que pode ser determinante
para a ocorrência de um determinado crime, porém o mais importante a se
retirar do estudo vitimológico é o quê e quanto ele pode contribuir para a
investigação e a possível identificação de seu ofensor.
Vale registrar a classificação bastante prática de Mendelson, pois ela
mostra, com exemplos, dados que a vítima pode prover em relação a seu
ofensor:
• Vítima completamente inocente ou ideal: vítima completamente
estranha à ação do criminoso, não provocando nem colaborando de
forma alguma para a realização do crime. Como exemplo, uma
senhora que tem sua bolsa arrancada pelo bandido na rua.
• Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância: quando há um
impulso não necessariamente voluntário ao delito, mas que de
certa forma carrega um grau de culpa que leva essa pessoa à
vitimização. Como exemplo, temos um casal de namorados que
mantém relação sexual na varanda do vizinho e lá são atacados por
ele, por não aceitar essa falta de pudor.
• Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator: ambos podem
ser o criminoso ou a vítima. Como exemplo, temos uma Roleta
Russa (um só projétil no tambor do revólver e os contendores
giram o tambor até um se matar).
• Vítima mais culpada que o infrator: Enquadram-se nessa hipótese
as vítimas provocadoras, que incitam o autor do crime, as vítimas
por imprudência, que ocasionam o acidente por não se
controlarem, ainda que haja uma parcela de culpa do autor.
• Vítima unicamente culpada: vítima infratora. Como exemplo,
uma pessoa comete um delito e no fim torna-se vítima, como
ocorre no caso do homicídio por legítima defesa.
Nota-se que o comportamento e a participação da vítima estão
relacionados com o seu perfil. Hoje, a investigação policial de fato considera
a vítima um objeto de estudo e frequentemente o perfilamento permite
entender os motivos, quando existentes, da razão da escolha daquela vítima
específica.
A análise do perfil da vítima é,, portanto, bastante complexa devendo
também ser submetida a uma pesquisa que leve em conta fatores
biopsicossociais, como precedentes pessoais, familiares e sociais sob vários
aspectos demonstrando aspectos da exposição ao perigo do ataque do
criminoso. Também devem ser inseridos neste perfil descrição física,
patologias, estado civil, residência, profissão, reputação na família e no
grupo de amigos, condição financeira, histórico familiar hábitos
pessoais/sociais, uso de drogas, hobbies, inimigos, estilo de vida, grau de
maturidade sexual entre outros.
7.7 ANALISANDO SIMBOLOGIA:
O ato criminoso pode tentar transmitir um certo significado, mensagens
são elaboradas na assinatura, por exemplo, vingança, ódio, poder, sadismo,
ganância, terror, sexualidade, ideologia político-religiosa.
Operfilador necessita conhecer a simbologia antropomórfica uma vez
que os criminosos deixam sua imaginação na cena de crime, entendendo-se
por imaginação a capacidade de criar imagens a partir de objetos percebidos
pelos sentidos. Essa palavra deriva do grego, anthropos, ou seja, humano, e
morphe, que é forma. Logo, antropomorfismo é, em geral, a atribuição de
formas humanas a seres, objetos e fenômenos que não são humanos. É
bastante comum que o antropomorfismo apresente significados em religiões.
Embora considerada monoteísta, a religião cristã está repleta de elementos
antropomórficos. Tendo a Bíblia como fonte, criminosos, por exemplo,
podem criar imagens na cena de crime.
Esta questão nos convida a refletir cuidadosamente sobre um ponto
positivo na atividade do FBI em relação ao seu estudo de perfil. O FBI
armazena informações de diversos crimes resolvidos e realiza uma
comparação estatística com os crimes ainda em investigação, inserindo ainda
estudos de prováveis comportamentos criminosos semelhantes identificados
por especialistas para criar padrões de perfis de suspeitos.
Este modelo de estudo propõe um protocolo constituído por seis passos:
1. Entrada de dados: reúne informações sobre o crime, inclui
evidências do local, fotos da cena do crime, relatórios da
necrópsia, exames complementares do médico legista, relatórios
policiais e provas testemunhais;
2. Modelo de processo de decisão: organiza informações e levanta
hipóteses;
3. Avaliação do crime: reconstitui a sequência dinâmica do crime (
o antes, o durante e o depois ), examina as características dos
suspeitos;
4. Perfil Criminal: análise dos estágios anteriores incluindo as
características físicas, psicológicas e comportamentais do
criminoso;
5. Investigação: a polícia local reúne relatórios com o perfil
criminal e solicita ou não a colaboração do FBI; e
6. Apreensão: efetiva captura e prisão do criminoso.
Outra questão em temos simbólicos é a assinatura de um criminoso em
seus crimes. Paul Roland não nos deixa confundir “assinatura” com modus
operandi. Em seu livro “Por Dentro das Mentes Assassinas” (Inside
Criminal Minds, 2009) o autor considera o seguinte: “Modus operandi é
simplesmente o modo como se opera o procedimento de execução do crime
(...) Pode incluir a escolha, o alvo, locais preferenciais, ferramentas, meios
para subjugar as vítimas ou até o meio para se adentrar em uma
propriedade”. Segundo Roland, o criminoso pode modificar seu modus
operandi buscando segurança ou alteração do tipo de crime praticado, mas, a
assinatura, de maneira geral, é uma constante, somente podendo se
desenvolver.
O autor define: “Assinatura, por outro lado, é a marca do criminoso, seu
cartão de visita, algo que ele precisa fazer para preencher uma necessidade,
não importando a natureza do crime (...) Pode incluir ritual de exposição do
cadáver, tortura, mutilação, inserção de objetos estranhos, canibalismo,
necrofilia ou o que é conhecido como overkill (exagero no crime ), ou seja,
infligir ferimentos além do necessário para causar a morte.
O perfilador deve conhecer muito bem estes dois conceitos, pois eles
auxiliam na investigação, principalmente quando os crimes são praticados
por assassinos em série ou serial killers.
Isto posto, vejamos como essas classificações se aplicam no caso
específico dos assassinos em série. Para eles, é dedicada uma reflexão à
parte.
7.8 ASSASSINOS EM SÉRIE OU SERIAL
KILLER:
A autora Janire Rámila, em sua obra “Predadores Humanos: o Obscuro
Universo dos Assassinos em Série” (2012) analisa que “os assassinos em
série sempre existiram em todas as épocas e em todas as culturas”. Na
verdade o que varia são suas mentes e fantasias. Um assassino em série ou
serial killer é o tipo de assassino que comete dois ou mais assassinatos em
série, com certo intervalo de tempo que separa cada um dos eventos
criminosos, podendo este ser meses ou anos, até que seja preso ou morto.
Há registros de que as mentes desses assassinos emitem sinais desde a
fase da infância: enquanto crianças, podem destruir brinquedos, maltratar
animais, provocar incêndios, praticar maldades que geram lesões graves.
Muitos estudos neurológicos surgiram na tentativa de explicar o
funcionamento mental de um serial killer. Os cientistas basearam seus
estudos no comportamento neuronal. Algumas conclusões neurológicas
divulgadas deram conta de que existe a maior probabilidade de um assassino
em série matar de novo rapidamente após um primeiro assassinato, do que
passado muito tempo sem cometer esse tipo de crime.
Outras pesquisas que estudam padrões de comportamento também são
baseadas na lei de potência, comparado com aquelas que analisam a
distribuição de ataques de epilepsia. Foi criado um modelo matemático
explicativo para simular os “disparos” dos neurônios e verificar qual o
tempo necessário para que o limite de excitação ultrapassado gere a
necessidade de matar.
Estes criminosos têm uma classificação própria, formando um grupo
diferenciado, podendo escolher suas vítimas de maneira aleatória,
apresentando padrões seletivos de complexa compreensão. O significado que
a vítima representa a ele esbarra nos mais diferentes transtornos e o crime
parece ter efeito sedativo para o assassino. De maneira intuitiva, não é
possível realizar uma análise antecipada sobre sua ação seletiva de vítima.
8. PERFILAMENTO GEOGRÁFICO
OU GEOPROFILLING
Antes de iniciarmos as discussões sobre o Profiling Geográfico, se faz
necessário localizá-lo frente e a outras escolas de construção do perfil. O
entendimento hoje define este estudo como uma somatória: as quatro escolas
de Perfilamento Criminal ou Criminal Profiling. O Perfilamento Geográfico
é mais um avanço técnico. Novamente destacando, as quatro escolas já
descritas anteriormente neste livro são: a Análise da Investigação Criminal
(FBI), a Psicologia Investigativa (David Canter), a Abordagem Forense
(Richard N. Kocsis) e a Análise dos Vestígios Comportamentais (Brent E.
Turvey).
Historicamente, o Perfilamento Geográfico tem como origem os
conceitos na pesquisa ambiental realizada pelo inglês David Canter que
tratou sua análise com um conceito biológico darwiniano ambiente/ser
humano. O criminoso se adapta a certas áreas (sendo predador, seria seu
local de caça), sentindo-se mais seguro e confortável. Os locais de crime não
são regiões aleatórias; ruas, avenidas, becos, vielas podem dar um certo
conforto, segurança ao ofensor, pois, em muitas vezes sendo seu habitat, ele
acredita que conhece a região e será protegido por ela. O criminoso que
realiza atividades do dia a dia utilizando lojas, bares, casas de amigos,
esquinas de encontro, sentindo-se seguro e à vontade, podem encontrar um
estímulo para escolher suas vítimas e ali, na região, cometer crimes. Este
conceito de alcance criminal recebe uma denominação: Alcance Criminal do
Marauder (palavra em inglês que justamente significa criminoso que comete
crimes ao ar livre em suas regiões de conforto). Segundo estudiosos, os
crimes geralmente ocorrem mais ou menos três quilômetros de suas
residências.
Outro tipo de alcance criminal dentro da teoria de Perfilamento
Geográfico é o chamado Alcance Criminal do Commuter (palavra em inglês
que significa pessoas em transporte entre casa e trabalho) Os criminosos
commuters ultrapassam suas áreas de conforto, distanciando-se de suas
moradias. Algumas explicações para este fato são: a escassez de alvos
(vítimas), proximidade das vítimas e alvos mais estimulantes para o tipo de
crime. Há também uma questão que pesa nesse caso: o criminoso marauder,
ao praticar seus crimes, “suja” a região depois de um tempo, e uma hipótese
observada foi que, a partir daí, ele procura tornar-se um commuter,
acreditando que o risco de ser preso somado à distância passa a ser menor.
Portanto, a técnica do Perfilamento Geográfico procura permitir a
compreensão dos padrões geográficos dos criminosos, fornecendo um meio
para determinar a área mais provável do habitat do ofensor e esta localização
provável auxilia na investigação,

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