Prévia do material em texto
ÉTICA E PSICOLOGIA Unidade 1 Unidade 1 – Bases filosóficas e antropológicas da ética Nesta unidade você verá: // bases filosóficas e antropológicas da ética // ética: campo e conceituação // problemas éticos e morais Apresentação Objetivos Bases filosóficas e antropológicas da ética Ética: campo e conceituação Problemas éticos e morais 1/5 Apresentação Olá, aluno. Com satisfação, iniciamos um ciclo elementar de estudos para sua formação profissional. Por meio de um arcabouço teórico, abordaremos conteúdos fundamentais, os quais possibilitarão a construção de conhecimentos essenciais para uma reflexão crítica sobre o tema. Inicialmente, contextualizaremos a ética em seus fundamentos históricos e filosóficos, considerando as diferentes abordagens teóricas. Posteriormente, refletiremos sobre a ética e embasaremos nosso conhecimento acerca dos fundamentos da Psicologia, o que possibilitará uma articulação entre os conteúdos. Por conseguinte, compreenderemos a função das normas e códigos de ética profissionais, bem como suas implicações no campo da psicologia. Concluindo nosso estudo, explanaremos sobre a delimitação do campo de atuação do psicólogo, as especificidades do código de ética e os regulamentos da profissão. Tendo em vista que as atribuições do psicólogo envolvem competências intrínsecas à responsabilidade social, a relevância do conteúdo abordado construirá bases para uma reflexão crítica com embasamento teórico e que tem por característica principal a promoção da credibilidade do profissional. Vamos juntos na construção dessa jornada! AUTORA A professora Mariana de Arruda Soares é especialista em nível de residência em interiorização da atenção à saúde com ênfase em saúde da família pela Universidade Federal de Pernambuco (2021) e em saúde mental, saúde pública e dependência química pela Faculdade de Ciências Humanas – ESUDA (2018). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário da Vitória – UNIVISA (2016). Em sua trajetória profissional, atuou como preceptora voluntária do Projeto PET-Saúde interprofissionalidade CAV/UFPE (2019 a 2021). Discente voluntária no projeto de extensão “Superação: espaço terapêutico para mães de recém-nascidos hospitalizados e de apoio ao aleitamento materno exclusivo (ANO VI e VII)” (2019 a 2020). Dedico esse trabalho aos alunos em processo de formação profissional, mestres que contribuíram no desenvolvimento de meus conhecimentos, amigos que são fonte e compartilhamento de vivências e, principalmente, a Deus, que me sustenta com seu amor e me concede força e esperança. Mariana de Arruda Soares 2/5 Objetivos UNIDADE 1. Bases filosóficas e antropológicas da ética Mariana de Arruda Soares OBJETIVOS DA UNIDADE Apresentar os fundamentos históricos da ética; Refletir sobre conceitos e campo de abrangência da ética; Abordar as problemáticas no campo da ética e da moral. TÓPICOS DE ESTUDO Bases filosóficas e antropológicas da ética // Bases antropológicas // Abordagens filosóficas Ética: campo e conceituação // Ética: campo e conceituação Problemas éticos e morais 3/5 Bases filosóficas e antropológicas da ética De acordo com Oliveira (2015), as bases fundamentais da ética se pautam nos princípios antropológicos e filosóficos, os quais possibilitam reflexões sobre normas e valores relacionados aos pensamentos e comportamentos, sejam eles individuais ou grupais, dos campos pessoais, sociais, culturais ou profissionais. A ética é um conceito amplo e abrangente, que envolve relações humanas e está presente em todas as sociedades. Portanto, vale a pena compreender as reflexões históricas dos grandes teóricos e filósofos acerca do tema. BASES ANTROPOLÓGICAS Moore (1975) aponta que a palavra ética tem origem grega: vem de ethos, que significa “propriedade do caráter, valores, princípios e costumes que orientam o comportamento humano”. Para o autor, essas significações deram origem à tradução do termo para o latim mos, ou, no plural, mores, que se refere à moral e se relaciona com o comportamento em si, isto é, com o modo de ação, baseado nas regras e costumes estabelecidos por cada sociedade. Sócrates (470 – 399 a.C.), filósofo ateniense, viveu durante o período clássico na Grécia Antiga. Precursor da filosofia ocidental, incentivava as pessoas a formarem seus próprios conceitos de pensamento sobre a ética por meio de seu método dialético. O filósofo trabalhava em locais públicos, como praças, ruas e ginásios, disseminando seus ensinamentos através do diálogo com a população. Para ele, sabedoria e conhecimento eram virtudes essenciais do ser humano. Além disso, acreditava que o indivíduo só alcança o conhecimento pleno se seguisse um método consistente de dois momentos: Ironia –Ao debater sobre esse tema, vale a pena considerar o exemplo de dois indivíduos, A e B, dialogando. A faz uma pergunta, simulando não saber a resposta, e B expõe sua opinião. A, então, contrapõe os argumentos, o que faz com que B perceba a ilusão da sabedoria que julga ter. Assim, B reflete sobre seu próprio conhecimento; Maiêutica –Zen e Segarbi (2018) consideram-na um estímulo investigativo dos saberes, o qual conduz o interlocutor a realizar novos questionamentos para alcançar o conhecimento através de suas próprias reflexões. Ao considerar a ética como um modo de entendimento de princípios carregados de valores positivos, Sócrates acreditava que o homem age de maneira correta quando conhece e pratica o bem. A ação ou comportamento que resulta de seus princípios éticos fazem com que o homem se sinta dono de si e, por conseguinte, alcance a felicidade. Para o filósofo, o conhecimento, a bondade e a felicidade estão relacionados estreitamente (VÁZQUEZ, 1968, p. 231). Para o filósofo, o conhecimento do homem sobre si mesmo é uma virtude. Diante desse pensamento, seu discípulo, Platão (2008), postulou suas clássicas frases: Conhece-te a ti mesmo e Sei que nada sei. Inspirado pelas ideias de Sócrates, o filósofo e matemático, que viveu entre 427 e 347 a.C., também considerava a dialética em seus ensinamentos e entendia a ética como um objetivo último da busca pela felicidade. Constituiu toda uma teoria do conhecimento, sob a qual referia que dois momentos eram necessários para que o homem alcançasse o conhecimento total da realidade: • Doxa: refere-se ao conhecimento sensível. Platão (2008) reflete criticamente sobre os sentidos humanos (tato, olfato, paladar, visão e audição) e afirma que são imperfeitos. O ser humano, portanto, não pode basear seu conhecimento nesses sentidos nem confiar completamente nas percepções deles advindas, pois não são fontes seguras, são limitados e produzem conhecimento superficial da realidade concreta; • Episteme: Zen e Secarbi (2018) afirmam que, para o filósofo, esse momento diz respeito ao conhecimento inteligível, isto é, fundamentado na razão. Na sua visão, é possível alcançá-lo diretamente pelo pensamento. Assim, o ser humano só alcançaria o verdadeiro conhecimento se saísse do campo dos sentidos e adentrasse no campo das ideias, lugar onde reside a verdadeira essência de todas as coisas. É possível ver o cristianismo como uma base histórica da ética, visto que a religião firmou a noção de livre arbítrio durante a Idade Média. Sob sua ótica, o divino (Deus) é o caminho do bem, enquanto que a existência do mal é condição das escolhas de cada pessoa. A ética cristã, então, busca a espiritualidade entendida como ações baseadas no amor e na fraternidade. Santo Agostinho, filósofo ocidental que viveu entre 354 e 430, é um dos principais pensadores do cristianismo. Sua teoria permeava o “problema do Mal” envolvido nas “confissões”. Apesar de o mundo ser uma criação de um ser de bondade, isto é, Deus, a existência do mal é inegável. Ele desenvolveu o conceito de mal moral, que resulta do livre arbítrio, ou seja, das ações e comportamentos humanos.Em outras palavras, nós criamos o mal, não Deus. Para Agostinho, o ser humano escolhe o mal por conta de um desvio de conduta, por desobedecer a Deus e, consequentemente, privar-se das leis divinas. Sob essa visão, a ética é uma ação voltada para o bem e embasada nos propósitos divinos. Já na visão sobre ética e agir humano de São Tomás de Aquino, filósofo e teólogo do cristianismo que viveu entre 1225 e 1274, a filosofia moral política é muito importante, pois é a política que regula as ações da polis, ou seja, da sociedade. Para ele, o homem, quando em comunidade, faz parte de um grupo e nele se apoia para construir o seu sustento e viver bem. Apesar de a sociedade evidenciar as desigualdades entre os seres humanos, o filósofo teorizava que, perante ao criador ou à lei divina, todos são iguais; tudo ocorre de acordo com a vontade de Deus e todo indivíduo é um fim em si mesmo. Por entender que o Criador fez o homem à sua imagem, São Tomás de Aquino chegou a conclusões peculiares para a época, como a ideia de que ninguém é instrumento de outro e de que não há diferença de natureza intelectual entre os gêneros. A partir dessa noção de igualdade, ele introduz o Código de Direitos Humanos, ancorado na lei natural de sua teoria. Divide esses direitos em três classes: Autopreservação –Comungada entre todos os seres vivos, refere-se ao direito à vida; Preservação da espécie –Ideia ligada ao matrimônio e à constituição de família; e Inclinação ao bem –Remete ao conceito de racionalidade, isto é, ao conhecimento da verdade relacionada a Deus e ao meio social. De acordo com Boni (2018), São Tomás de Aquino afirma que a relação entre o homem e Deus é mútua e recíproca. Existem, portanto, duas leis: a humana, entendida como a boa relação entre os homens, e a divina, que se refere à relação de amizade e proximidade do homem com Deus. Os aspectos éticos fundamentais postulados pelo filósofo se relacionam ao amor ao próximo. Tal sentimento, em sua visão, é genuíno, envolto de verdade, entrega e ação conduzida ao bem. ABORDAGENS FILOSÓFICAS As correntes filosóficas que abordam a ética possuem diferentes origens, mas se complementam no sentido amplo. Aristóteles, discípulo de Platão que viveu entre 384 e 322 a.C., foi o primeiro a estruturar o termo. Entretanto, diverge das ideias de seu mestre. Ele não desconsidera a percepção pelos sentidos, mas acredita que o mundo sensível reflete o real. Em outras palavras, a essência das coisas reside nelas próprias. Tudo que existe no mundo possui uma multiplicidade de significados, que se encontram no ousía, isto é, na substância das coisas. De acordo com Zen e Segarbi (2018), Aristóteles postulou a teoria do ato e potência, que determina que todos os seres existem em ato, ou seja, o estado atual do ser, e potência, que representa o estado futuro, o que o ser poderá se tornar. Cabe ressaltar que os dois estados coexistem ao mesmo tempo. Desse modo, o ser humano não “é”, mas “está”, e, além disso, possui potencial de se tornar outra coisa. EXPLICANDO Tomemos um estudante de Psicologia como exemplo: esse estado de “estudante” é o seu ato, sua condição atual como pessoa. No entanto, ele possui pleno potencial para se formar em Psicologia. Portanto, sua potência consiste em “ser um psicólogo”, uma condição diferente de estudante. Para Aristóteles (1984), a felicidade é o objetivo da base ética da vida humana. Para alcançá-la, o indivíduo deve sempre buscar a justa medida, a mediana. O filósofo cunhou esse termo para representar o estado ideal da vida, o qual entendia ser a busca pelo meio- termo. Em sua visão, os extremos não passam de vícios e o ser humano deve viver na busca pelo equilíbrio, a verdadeira virtude da vida. Portanto, agir eticamente significa orientar-se em ações morais virtuosas, promotoras de felicidade. Já no utilitarismo, a ética prioriza o bem coletivo. Nessa visão, a ação ética é aquela cuja consequência é a utilidade. Nessa corrente, Stuart Mill (2020) considera que, antes de realizar alguma coisa, é preciso analisá-la e verificar que seu objetivo moral é produzir o maior benefício ao maior número de pessoas possível. CURIOSIDADE De acordo com Koerich, Machado e Costa (2005), essa corrente filosófica embasou um dos princípios da bioética, a beneficência, que diz respeito a uma ação que minimiza o dano e beneficia o maior número de pessoas possível. Na corrente humanista, destaca-se o filósofo judeu, Emanuel Lévinas, que viveu durante o período da Segunda Guerra Mundial e criticou o pensamento ocidental enfatizando que este se opõe à ética, transmite uma postura de poder e dominação e, ainda, reflete ações desumanas. Conforme Nascimento (2015), o filósofo acreditava que a ética deve ser um princípio anterior a todas as ações humanas. É importante que ela traduza uma relação de encontro com o outro, pautando-se na responsabilidade e no humanismo ético. A este princípio, Lévinas deu o nome de ética da alteridade. Na corrente existencialista, Kierkegaard (2003) baseia seus escritos em suas vivências e entende a ética como um modo de existência humana. Considera que a filosofia e o “existir concreto” são inseparáveis: só é possível compreender a vida real a partir de uma reflexão interior subjetiva de cada pessoa. Michael Foucault, filósofo e psicólogo, interpreta a ética como um “modo de ser” entendido como a relação do “ser consigo mesmo” em uma busca constante da constituição de si. De acordo com Rajchman (1993), Foucault denominou essa relação ethos, que significa a constituição de si enquanto sujeito. O indivíduo, então, se inquieta e reflete criticamente sobre seus próprios valores e comportamentos com o objetivo de tomar consciência e problematizá-los em uma elaboração ética de si mesmo. Immanuel Kant (2013) elaborou a corrente deontológica. O filósofo alemão entende que, para que uma ação humana seja ética, deve seguir um dever pautado na verdade e em normas morais. Conforme Finkler, Caetano e Ramos (2013), estudiosos sobre o tema, a deontologia trata dos deveres. Ela determina o que devemos fazer e orienta que é preciso realizar ações conforme o permitido e por meio de posturas que estejam de acordo com códigos e normas estabelecidos. Ética: campo e conceituação O entendimento dos pressupostos filosóficos e históricos favorece a compreensão dos conceitos relacionados à ética nos diversos campos que envolvem o tema. // Reflexões sobre os conceitos relacionados à ética As teorias éticas enfatizam o caráter, ou o “jeito de ser”, como um modo autônomo de pensamento de cada pessoa diante do mundo. Para Singer (1994), a ética é um conjunto de valores, princípios e modos de pensar que antecedem e orientam as ações sociais dos indivíduos. Em outras palavras, a ética é o conjunto de constructos que o indivíduo considera como correto. O autor entende que essa coleção de crenças, aprendida socialmente e internalizada pelos indivíduos, serve como uma base que orienta a conduta e o comportamento; a ela, chamou de moral. Uma maneira simples de entendê-la envolve enxergá-la como o modo de agir das pessoas; diz respeito ao caráter ou ao “jeito de ser” do indivíduo. Koerich, Machado e Costa (2005) afirmam que um indivíduo é ético quando suas atitudes se baseiam nos princípios de respeito, justiça, direito comum e responsabilidade. Este último, por sinal, deve estar presente em todos os âmbitos e se relacionar aos aspectos da ética da responsabilidade individual, isto é, o comportamento singular de cada pessoa. Esses aspectos são: responsabilidade pública, que se refere ao papel e deveres do Estado para com os cidadãos; e responsabilidade planetária, que fala do compromisso das pessoas frente à preservação do planeta. Donzelli (2016) entende a moral como um conceito geral, que avalia todas as situações e circunstâncias por meio de códigos e condutas inflexíveis, ou seja, que independemda situação. Já a ética, em sua visão, avalia as situações de modo singular; o indivíduo considera cada contexto ao refletir sobre a maneira adequada de agir. Acha e Piva (2013) ressaltam que a moral não é um conceito estático; cada cultura e sociedade a entende de diferentes modos. O que parece correto ao americano pode sofrer repressão do asiático, por exemplo. Também é possível ver a moral como um constructo variável subjetivamente, pois diferentes indivíduos, mesmo que pertencentes à mesma sociedade ou cultura, entendem-na do seu próprio jeito. ASSISTA Para uma reflexão mais aprofundada sobre os conceitos de ética e moral, vale a pena conferir uma discussão sobre o tema através dos pensamentos do professor Clóvis de Barros e do filósofo Mário Cortella. ÉTICA E CAMPOS DE ABRANGÊNCIA Camargo (1999) diz que a ética, no campo pessoal, corresponde aos princípios e valores de cada pessoa, dado que eles são singulares e se constroem ao longo da vida. Estes preceitos são a base das ações e do comportamento, pois guiam suas atitudes em todas as circunstâncias e relações interpessoais. Já Filho e Trisotto (2003) dizem que não se pode ver a conduta ética de uma maneira simplista, reduzida apenas à vontade do indivíduo. Afinal, os padrões socialmente estabelecidos influenciam o modo como as pessoas conduzem suas ações. Portanto, é necessário reconhecer que a amplitude do campo social influencia as questões éticas quase que intrinsecamente. No âmbito social, embora a ética abranja as relações e condutas em sociedade, também é possível entendê-la de maneiras diversas conforme cada cultura, tempo e local. Valls (2000) aponta que a ética é uma condição situacional, que diz respeito aos hábitos e comportamentos socialmente aceitos em determinado espaço e tempo. Nesse sentido, a ética é uma construção variável, que apresenta mudanças. Já Passos (2004) diz que a ética profissional corresponde às normas morais que orientam a prática e postura de um profissional em todas as esferas de atuação. A filosofia deontológica se relaciona com a atuação ética no campo profissional, como afirmam Finkler, Caetano e Ramos (2013). Entretanto, é importante ressaltar que essa vertente da ética deve se pautar em valores, padrões e normas éticas correspondentes aos direitos humanos e disposições estabelecidas nos códigos de ética profissional, elaborados pelos conselhos profissionais de classe. Estes contribuem na orientação da adequada relação de cada profissional tanto com seus pares quanto a sociedade. 5/5 Problemas éticos e morais No cotidiano, a ética e a moral se complementam, pois são as bases que norteiam as posturas e atitudes humanas, revelando, assim, caráter e virtudes perante as relações e situações. Desse modo, surgem algumas problemáticas envolvidas nesses conceitos. Partindo desse princípio, é possível dividir o tema em dois campos específicos: profissional e social. // Campo profissional Peduzzi (2003), aponta que esse campo envolve ações técnicas e éticas que se complementam. A dimensão técnica envolve a realização de procedimentos e condutas correspondentes às atribuições de cada profissão. Já a dimensão ética envolve posturas que se refletem no relacionamento com os demais membros da equipe, bem como com os usuários e pacientes do serviço ou instituição. Além disso, ela considera responsabilidades que vão além do saber técnico. Arroyo (2008) considera como ética a postura do profissional que respeita a dignidade humana, dado que cada pessoa pertence a um contexto territorial, familiar, educacional, econômico e, em sentido mais amplo, social e cultural. Tudo isso envolve a condição de existência de cada pessoa e impacta sua condição pessoal, bem como sua saúde física e psicológica. Durante o processo de promoção de cuidado, os profissionais devem considerar tais determinantes. Em conjunto com seus colaboradores, Montenegro (2016) aponta que o processo de trabalho, quando pautado na ética, possibilita a evolução harmoniosa e promotora de cuidado. Quando os profissionais são capazes de enfrentar os conflitos de maneira equilibrada, por meio de competências e habilidades promotoras de relações respeitosas, dinâmicas e que preservam a autonomia, é possível considerar as funções e hierarquias existentes nos serviços como espaços promotores de relações profissionais pautadas no rigor ético. No entanto, apontam os autores, problemas podem surgir nesse campo e se relacionarem a questões de postura profissional no campo de atuação. Destacam-se as situações que envolvem o processo de tomada de decisão diante de casos específicos. Tais divergências entre as categorias profissionais se relacionam a uma postura de hierarquia de saberes. Em outras palavras, diante de demandas que envolvam decisões de todos os envolvidos no caso, alguns profissionais julgam ter mais conhecimento que os demais. É importante ressaltar, porém, que essa situação pode culminar em problemas éticos. Arroyo (2008) também colabora na discussão das atitudes dos profissionais. Para ele, os que agem sobre bases éticas devem considerar que, em alguns casos, seus saberes e habilidades técnicas não são suficientes para efetivar um cuidado resolutivo e eficaz. Desse modo, é preciso levar em consideração os conhecimentos de outras categorias de profissionais. Jamais se deve considerar tal colaboração como evidência de uma insuficiência de saberes. Em outras palavras, um profissional não deve julgar a si mesmo incapaz por solicitar ajuda de outro independentemente da demanda. Nesse sentido, Ford e seus colaboradores (2008) destacam o trabalho em equipe baseado no modelo de cuidado interdisciplinar. Pautado em uma abordagem sistêmica, ele considera o indivíduo em sua condição ampliada de “sujeito inserido em contextos que perpassam sua capacidade individual”. O modelo também envolve a reflexão entre os profissionais sobre a importância e eficiência de uma atuação compartilhada e com olhares de diferentes perspectivas. O contexto vai além de uma complementação técnica; envolve um compartilhamento de valores morais e éticos concernentes aos profissionais. Dada a importância de uma visão ampliada do indivíduo e de uma prática pautada no compartilhamento de saberes, é importante estimular a discussão sobre a importância da interdisciplinaridade desde a formação acadêmica. Conflitos de ordem ética surgem em todos os contextos profissionais. De acordo com Kemp e seus colaboradores (2008), eles normalmente se relacionam com posturas profissionais que não consideram certos princípios, como: • Pautar-se na verdade e respeitar as necessidades e autonomia dos pacientes, entendendo que eles são sujeitos de direitos; • Evitar danos, isto é, comprometer-se com o cuidado seguro, pautado na prevenção de riscos e danos; • Avaliar os limites de sua categoria profissional, realizando procedimentos e atuando conforme as competências concernentes à sua profissão e evitando uma atuação que extrapole suas atribuições; • Identificar e alertar posturas impróprias de outros profissionais, tendo em vista a responsabilidade ética. Nesse sentido, Bettinelli, Waskievicz e Erdmann (2003) consideram como não humanizados as práticas ou ambientes onde o profissional não reconhece a autonomia e corresponsabilidade do usuário/paciente no seu cuidado. Nessa visão, ele se torna passivo às prescrições profissionais, que podem se distanciar de suas reais necessidades. ASSISTA No vídeo O SUS e a humanização da saúde, Júlia Rocha, médica de família e comunidade, expõe um relato de sua experiência e aborda a importância de práticas humanizadas em saúde como promotoras da autonomia e efetivação ética do cuidado garantidor da integralidade da assistência. Conforme a política nacional de humanização de 2013, práticas humanizadas de cuidado no campo profissional refletem posturas éticas e responsáveis quanto aos pacientes. Elasenglobam estratégias de acolhimento e o uso de tecnologias em saúde; mais precisamente, a tecnologia leve que compreende a promoção de vínculo e possibilita um melhor entendimento das demandas. Por sua característica transversal, o acolhimento pode ocorrer em todos os âmbitos de promoção de cuidados; não apenas no setor de saúde. // Campo socal A sociedade antecede o indivíduo. Conforme Constantino e Malentachi (2014), a realidade social já existe quando nascemos. Portanto, somos inseridos em uma cultura preexistente. Os autores afirmam que o meio social envolve o cotidiano e as relações interpessoais estabelecendo uma relação simbiótica entre ambos. O processo de globalização, porém, transforma a sociedade atual. De acordo com Constantino e Malentachi (2014), as pessoas experimentam novos modos de vida, os quais apontam para uma valorização de aspectos materiais e individuais em detrimento de relações pessoais humanos e solidárias. Os autores ainda destacam a cultura da hiperabundância, o hipercapitalismo, a individualidade, a ausência de significações e o excesso do “ter” e o vazio do “ser”. Em meio a essa lógica, os indivíduos se veem em meio a uma abundância de objetos e infinidade de serviços que possibilitam o ilimitado. Nesse contexto, a fragilidade ética se torna marcante. Afinal, quando os indivíduos facilitam o consumo sem limites, a abundância de objetos e a infinidade de serviços, a ideia de “se tornar ético” fica em segundo plano. As pessoas experimentam novos modos de vida, os quais apontam para uma valorização de aspectos materiais e individuais em detrimento de relações pessoais humanas e solidárias. Outro ponto que perpassa a ética diz respeito ao preconceito contra indivíduos, grupos ou culturas. Para compreender o preconceito, é necessário entender o conceito de “atitude”, baseado na psicologia social. “Atitude” corresponde a um sistema relativamente estável que compreende experiências e comportamentos relacionados a um objeto ou evento específico. Para cada atitude existe um componente cognitivo, afetivo e comportamental, ou seja, de crenças, ideias e sentimentos, valores e afetos associados que levam a tendências comportamentais, a predisposições. O preconceito se forma pela atitude negativa do sujeito em relação a um determinado grupo, cultura, raça ou religião. Trata-se de um fenômeno histórico, observado em todas as sociedades e relacionado à ética e à moral. O exemplo mais evidente é o racismo: os racistas acreditam que os membros de determinados grupos são inferiores do ponto de vista cognitivo, social e biológico, portanto, merecedores de hostilidade. Situações que envolvem racismo seguem para além de uma questão ética e moral; envolvem o entendimento irracional e a criminalidade. Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO Os fundamentos históricos da ética advêm etimologicamente da sociedade grega e perpassam por bases filosóficas introduzidas por diferentes correntes e teóricos. A ética possibilita a compreensão dos princípios e valores que antecedem e determinam o comportamento de indivíduos diante da sociedade e das relações interpessoais em todos os campos do cotidiano. Sócrates introduziu o conceito de ética na filosofia. Por meio de seu método de diálogo, ele incentivava as pessoas a construírem seu pensamento ético. Seu discípulo, Platão, considerava o método dialético e entendia que a finalidade de toda conduta ética é a felicidade. Considerando os vários pensadores sobre o tema, surgiram diversas correntes e abordagens filosóficas que tratam sobre a ética. As principais abordagens são: teleologia, que entende o tema como uma conduta virtuosa que busca a felicidade como a finalidade; utilitarismo, que prioriza o bem coletivo e a utilidade como princípios éticos; humanismo, onde a ética só pode ser construída na relação com o outro, ou seja, nas relações interpessoais; existencialismo, que compreende a ética como um modo de existência humana; e deontologia, que diz que toda ação ética deve considerar a verdade e as normas morais estabelecidas socialmente. No campo pessoal, a ética se constrói ao longo do tempo e traduz os valores e princípios singulares de cada pessoa. Já o campo social reflete os hábitos e comportamentos aceitos como corretos e virtuosos, mas reconhece que eles mudam de acordo com o tempo e local. No campo profissional, além dos valores dispostos no campo individual e social, a ética também deve prezar pelas normas estabelecidas nos códigos de ética profissional de classe. Vale salientar que problemas éticos podem surgir nesse campo, os quais se relacionam ao processo de trabalho e às relações entre equipe e usuário/paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHA, J.; PIVA, S. Antropologia filosófica. v. 2. Batatais: Claretiano, 2013. ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. Coleção os pensadores. trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhein. São Paulo: Abril Cultural, 1984. ARROYO, F. Reflexiones eticas en la practica de la cirugia. Revista Chilena de Cirugía, Santiago, v. 60, n. 4, p. 352-356, 2008. Disponível em: <https://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718- 40262008000400017>. Acesso em: 20 set. 2021. BRASIL. Política nacional de humanização. Brasília, 2013. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf>. Acesso: 20 set. 2021. BETTINELLI, L.; WASKIEVICZ, J.; ERDMANN, A. Humanização do cuidado no ambiente hospitalar. Mundo da saúde, [s.l.], v. 27, n. 2, p. 206-218, 2003. Disponível: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/is_digital/is_0403/pdf/IS23(4)111.pdf>. Acesso em: 20 set. 2021. BONI, L. Estudos sobre Tomás de Aquino [recurso eletrônico]. Pelotas: NEPFIL Online, 2018. Disponível em: <http://guaiaca.ufpel.edu.br:8080/bitstream/prefix/6594/1/ESTUDOS_SOBRE_TOMAS_DE_AQUINO.pdf>. Acesso em: 20 set. 2021. CAMARGO, M. Fundamentos de ética geral e profissional. Petrópolis: Vozes, 1999. CARNEIRO, A. Emmanuel Lévinas: introdução à filosofia da alteridade. Netmundi.org, [s.l.]. 21, ago. 2014. Disponível em: <https://www.netmundi.org/filosofia/2014/Lévinas-filosofia-da-alteridade/>. Acesso em: 19 set. 2021. DESLANDES, S. Humanização dos cuidados em saúde: conceitos, dilemas e práticas. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2006. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/42086/2/deslandes-9788575413296.pdf>. Acesso em: 20 set. 2021. DONZELLI, T. Ética II. Batatais: Claretiano, 2016. FERRARI, M. Santo Agostinho, o idealizador da revelação divina. Nova escola, [s.l.], 1º out. 2008. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1683/santo-agostinho-o-idealizador-da-revelacao-divina>. Acesso em: 17 set. 2021. FILHO, P.; TRISOTTO, S. Psicologia, ética e formação de postura profissional. Psicologia argumento, [s.l.], v. 21, n. 34, p. 57-61, 2003. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/>. Acesso em: 20 set. 2021. FINKLER, M.; CAETANO, J.; RAMOS, F. Ética e valores na formação profissional em saúde: um estudo de caso. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 18, n. 10, p. 3033-3042, 2013. Disponível em: <https://scielosp.org/pdf/csc/2013.v18n10/3033-3042/pt>. Acesso em: 20 set. 2021. FONSECA, M. O domínio do politizável. Grupo cult, [s.l.]. 14 mar. 2010. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/o-dominio-do-politizavel/>. Acesso em: 19 set. 2021. FORD, P. et al. A partnership approach to leadership development for directors of nursing in older people’s services in Ireland: articulating the impact. Journal of Nursing Management, Nova York, v. 16, n. 2, p. 159-66, 2008. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18269546/>. Acesso em: 20 set. 2021. GIDDENS, A. A constituição da sociedade. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. KANT, I. Metafísica dos costumes. Coleção Pensamento Humano. trad. [primeira parte] CléliaAparecida Martins, [segunda parte] Bruno Nadai, Diego Kosbiau e Monique Hulshof. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013. https://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-40262008000400017 https://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-40262008000400017 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/is_digital/is_0403/pdf/IS23(4)111.pdf http://guaiaca.ufpel.edu.br:8080/bitstream/prefix/6594/1/ESTUDOS_SOBRE_TOMAS_DE_AQUINO.pdf https://www.netmundi.org/filosofia/2014/L%C3%A9vinas-filosofia-da-alteridade/ https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/42086/2/deslandes-9788575413296.pdf https://novaescola.org.br/conteudo/1683/santo-agostinho-o-idealizador-da-revelacao-divina http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/ https://scielosp.org/pdf/csc/2013.v18n10/3033-3042/pt https://revistacult.uol.com.br/home/o-dominio-do-politizavel/ https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18269546/ KEMP, K. et al. Ethics training for military medical trainees: the Brooke Army Medical Center experience. Military Medicine, Bethseda, v. 173, n. 10, p. 968-74, 2008. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19160614/>. Acesso em: 20 set. 2021. KIERKEGAARD, S. É preciso duvidar de tudo. São Paulo: Martins Fontes, 2003. KOERICH, M.; MACHADO, R.; COSTA, E. Ética e bioética: para dar início à reflexão. Texto Contexto Enferm, [s.l.], v. 14, n. 1, p. 106-110, 2005. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/tce/a/NrCmm4mctRnGGNpf5dMfbCz/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 20 set. 2021. LÉVINAS, E. Ética e infinito. Lisboa: Edições 70, 1982. MILL, J. O utilitarismo. 2. ed. trad. Alexandre Braga Massella. São Paulo: Iluminuras, 2020. CONSTANTINO, C.; MALENTACHI, D. Formação sociocultura e ética. São Paulo: Unicesumar, 2014. MONTENEGRO, L. et al. Problemas éticos na prática de profissionais de saúde em um hospital escola. Av Enferm, [s.l.], v. 34, n. 3, p. 226-235, 2016. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/ses/resource/pt/biblio- 950664>. Acesso em: 20 set. 2021. MOORE, G. Princípios éticos. São Paulo: Abril Cultural, 1975. MORAL Ética e Diversidade Cultural - Mário Cortella e Clóvis de Barros. Postado por Instituto Crescer (41 min. 54 s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BM9x8HdElGs>. Acesso em: 19 set. 2021. NASCIMENTO, A. Ética da alteridade e judaísmo em Emmanuel Lévinas e implicações para a religião e para os direitos humanos. Revista Eletrônica Espaço Teológico, [s.l.], v. 9, n. 16, p. 60-74, 2015. Disponível em: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:S4J7WUS8aHcJ:https://revistas.pucsp.br/index.php /reveleteo/article/download/26078/18717+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 20 set. 2021. O SUS e a humanização da saúde | Júlia Rocha | TEDxLaçador. Postado por TEDx Talks (14 min. 42 s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GE2v0GmESdg>. Acesso em: 19 set. 2021. OLIVEIRA, P. Tradução & ética. In: AMORIM, L.; RODRIGUES, C.; STUPIELLO, E. Tradução & ética: perspectivas teóricas e práticas. São Paulo: Editora UNESP, 2015. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/6vkk8/pdf/amorim-9788568334614-05.pdf>. Acesso em: 20 set. 2021. PASSOS, E. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2004. PLATÃO. A república. Coleção: a obra prima de cada autor. 2. ed. 5. reimp. trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2008. PEDUZZI, M. Mudanças tecnológicas e seu impacto no processo de trabalho em saúde. Trab. Educ. Saúde, [s.l.], v. 1, n. 1, p. 75-91, 2003. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/tes/v1n1/07.pdf>. Acesso em: 20 set. 2021. RAJCHMAN, J. Eros e verdade: Lacan, Foucault e a questão da ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. SINGER, P. Ethics. Oxford: OUP, 1994. SKOBLE, A. Quem foi John Stuart Mill: um liberal clássico. Ideias radicais, [s.l.], 10 ago. 2020. Disponível em: <https://ideiasradicais.com.br/john-stuart-mill/>. Acesso em: 19 set. 2021. VALLS, A. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. VÁZQUEZ, A. Filosofia da práxis. 4. ed. trad. Luiz Fernando Cardoso. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. ZEN, E.; SEGARBI, A. O método dialético na história do pensamento filosófico ocidental. Kínesis, [s.l.], v. 10, n. 22, p. 79-96, 2018. Disponível em: <https://revistas.marilia.unesp.br › article › view>. Acesso em: 20 set. 2021. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19160614/ https://www.scielo.br/j/tce/a/NrCmm4mctRnGGNpf5dMfbCz/?format=pdf&lang=pt https://pesquisa.bvsalud.org/ses/resource/pt/biblio-950664 https://pesquisa.bvsalud.org/ses/resource/pt/biblio-950664 https://www.youtube.com/watch?v=BM9x8HdElGs https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:S4J7WUS8aHcJ:https://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/download/26078/18717+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:S4J7WUS8aHcJ:https://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/download/26078/18717+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br https://www.youtube.com/watch?v=GE2v0GmESdg http://books.scielo.org/id/6vkk8/pdf/amorim-9788568334614-05.pdf https://ideiasradicais.com.br/john-stuart-mill/