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USF_EAD_Ética_e_Cidadania_Completo

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Prévia do material em texto

PAULO NICCOLI RAMIREZ
RENAN REIS FONSECA
SUSANA MESQUITA BARBOSA
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
ÉTICA E CIDADANIA
ÉTICA E CIDADANIA
2022
Heloísa Maria dos Santos Toledo
Paulo Niccoli Ramirez
Renan Reis Fonseca
Susana Mesquita Barbosa
PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Renato Adriano Pezenti
GESTOR DO CENTRO DE SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CSE
Franklin Portela Correia
REVISÃO TÉCNICA
Osmair Severino Botelho
PROJETO GRÁFICO
Impulsa Comunicação
DIAGRAMADORES
Daniel Landucci
CAPA
Daniel Landucci
© 2022 Universidade São Francisco
Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA 
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – 
ORDEM DOS FRADES MENORES
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 
(2010) e Especialista em Educação pela PUC-RS. Tem experiência nas áreas de So-
ciologia e Ciências Sociais e Humanas, atuando principalmente nos seguintes temas: 
educação, tecnologia e mediação tecnológica, Sociologia Geral e pensamento clássico, 
Arte, Cultura e Indústria Cultural. Professora no Ensino Superior e autora de materiais 
didáticos. Professora orientadora no curso de pós-graduação Especialização na Inova-
ção da Educação Mediada por Tecnologias, na Universidade Federal do ABC, financia-
do pela UAB/Capes.
PAULO NICCOLI RAMIREZ
Professor de Filosofia, Sociologia, Antropologia e Ciência Política. Leciona na ESPM, 
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Casa do Saber e 
Colégio São Luís. Possui doutorado (2014) e mestrado (2007) em Ciências Sociais pela 
PUC-SP (respectivamente nas áreas de concentração Antropologia e Sociologia) e tam-
bém bacharelado em Ciências Sociais (PUC-SP - 2004) e Filosofia (USP - 2007). Autor 
do livro Sérgio Buarque de Holanda e a dialética da cordialidade (2011).
RENAN REIS FONSECA
Graduado em História (2006 - 2010) nas modalidades bacharelado e licenciatura pela 
Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ. Mestre (2010 - 2013) pela mesma 
instituição de ensino no Programa de Mestrado em Letras, Teoria Literária e Crítica da 
Cultura - PROMEL. Doutor (2014 - 2019) em História Social pela Universidade de São 
Paulo - USP. É autor dos livros: O transnacional e o local nas revistas Readers Digest 
e Seleções: relações de gênero nos Estados Unidos e Brasil (1939 - 1971) e Amor e 
Gênero em Revista: os quadrinhos em sua (sub)versão romântica, ambos publicados 
em 2020 pela Editora ApeKu. Possui experiência na área de conservação, organização, 
descrição e indexação em banco de dados de documentos históricos. Possui, também, 
experiência na área docente, como professor de História, Funcionamento do Estado e 
Criação Literária para o Ensino Médio e superior. Atualmente desenvolve pesquisa nos 
O AUTOR
seguintes temas: Histórias em quadrinhos, Estudos culturais, História da Imprensa e do mer-
cado editorial, História Cultural, Relações Brasil – Estados Unidos, Imigração.
SUSANA MESQUITA BARBOSA
Bacharel e licenciada em Filosofia (UNICAMP). Bacharel em Direito pela Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de 
Campinas (UNICAMP). Doutora em Direito Político e Econômico (MACKENZIE). Especialista 
em “Educação e Tecnologia: Docência no Ensino Superior” na UFSCAR. 
Coordenadora dos Cursos de História e Filosofia da Universidade São Francisco (USF). Pro-
fessora e Assessora pedagógica na Faculdade Paulista de Ciências da Saúde (SPDM Edu-
cação). Membro da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e Parecerista de 
diferentes periódicos. Autora do livro “História do Direito” e de “Introdução à História do Direi-
to”, organizadora das obras “Direitos Humanos: perspectivas e reflexões para o Século XXI” 
e “Transparência Eleitoral”. Autora de capítulos de livros e artigos resultados das pesquisas 
nas áreas de Ética, Filosofia, Direitos Humano, Cidadania e Políticas Públicas e Políticas de 
Desenvolvimento.
O REVISOR TÉCNICO
OSMAIR SEVERINO BOTELHO
Possui graduação em Filosofia pelo Centro de Estudo da Arquidiocese de Ribeirão Preto 
(1987), graduação em História - Centro Universitário Barão de Mauá (1991), graduação em 
Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná , Faculdade de Filosofia Ciências 
e Letras, Campus de Toledo, Paraná (1994), especialização em Filosofia pela Universidade 
Federal de Uberlândia (1996) e mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo (2005). Trabalhou em diversas instituições de ensino de Ribeirão Preto e região, tais 
como: Colégio Vita et Pax, Centro Universitário UNISEBCOC, Centro Universitário Claretiano. 
Atualmente é professor no no Instituto de Filosofia Dom Felício, em Brodósqui - SP, e no Centro 
Universitário Barão de Mauá, na cidade de Ribeirão Preto. Tem experiência na área de História, 
Filosofia e Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Filosofia Grega, Filosofia 
Moderna e Contemporânea, Ética, Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Filosofia da Reli-
gião, Filosofia da Educação, História Geral e da Educação e Metodologia da Pesquisa.
SUMÁRIO
UNIDADE 01: ÉTICA – SUA ESSÊNCIA E O COTIDIANO ...................................8
1. Ética moral ..........................................................................................................14
2. Aprendendo a decidir com ética ..........................................................................22
3. Sendo ético no dia a dia ......................................................................................31
UNIDADE 02: ATUAÇÃO PROFISSIONAL ÉTICA NA SOCIEDADE 
CONTEMPORÂNEA .................................................................................................42
1. O que significa ser profissional ...........................................................................43
2. A necessidade de regras morais .........................................................................53
3. Sociedade tecnológica e digital ...........................................................................63
UNIDADE 03: VIVÊNCIA PROFISSIONAL E CONSTRUÇÃO DA 
CIDADANIA ...............................................................................................................72
1. Cidadania ontem e hoje ......................................................................................73
2. O espaço da cidadania .......................................................................................80
3. É preciso cuidar! ..................................................................................................88
UNIDADE 04: O DIVERSO E O DESIGUAL – QUESTÕES 
CONTEMPORÂNEAS E O ÂMBITO DO TRABALHO ...........................................98
1. Ser diferente é ser desigual? ..............................................................................98
2. A profissão não tem gênero ................................................................................107
3. Enfim, uma sociedade possível ...........................................................................116
4. Rememorando as temáticas estudadas ao longo das unidades .........................124
5. Reflexões éticas, práticas de cidadania: construções do futuro .........................126
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Ética – sua essência e o cotidiano
UNIDADE 1
ÉTICA – SUA ESSÊNCIA E O COTIDIANO
INTRODUÇÃO
Caro(a) estudante, paz e bem!
Ética e Cidadania é um dos componentes que constituem o Núcleo de Formação Ge-
ral – juntamente com Estudo do Ser Humano Contemporâneo, Iniciação à Pesquisa 
Científica, Direitos Humanos e EmpreendedorismoSocial. Estes componentes serão 
trabalhados de forma interdisciplinar: os conteúdos de cada um servirão para construir 
um entendimento de mundo e uma maneira de problematizar a realidade. Eles, conjun-
tamente, oferecerão novas chaves para que você possa reinterpretar a realidade.
Os elementos que apresentamos nesta introdução são importantes para que você bem 
entenda de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Formação Geral estão 
estruturados a fim de oferecer uma experiência significativa de aprendizagem, contri-
buindo, assim, para sua formação profissional.
Vamos lá!
CONECTAR
Ética e Cidadania e a interdisciplinaridade
Ao pensarmos os conteúdos e problematizações deste componente, é importante en-
tender que ele não pode ser restrito a apenas um âmbito de vivência humana, pois 
tudo o que o ser humano faz tem reflexo (direto ou não) na vivência plural. Enquanto 
a ética busca pensar a ação do indivíduo, pautada por valores, a cidadania amplia a 
visão de mundo e tenta enxergar de que modo o individual se transforma em coletivo: a 
cidadania se refere à maneira como uma comunidade possibilita a participação de seus 
membros na construção de uma vivência coletiva que permita a realização humana.
Deste modo, as temáticas relacionadas às vivências ética e cidadã são, em si mesmas 
interdisciplinares – principalmente quando pensamos a formação profissional. Pense no 
âmbito da sua escolha profissional e nos outros componentes do Núcleo de Formação 
Geral. Vejamos:
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Ética e Cidadania
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 ` Em todas as suas escolhas – acadêmicas ou profissionais – você traz valores aprendidos 
ao longo de sua vida. Onde tais valores encontram fundamento? Você traz como princí-
pios de vida algo que sua vivência familiar e social ensinou. Pode ser por meio dos livros 
aos quais teve acesso; pode ser por meio de uma vivência religiosa; ou, simplesmente, 
por meio da convivência nos diferentes ambientes. Estes âmbitos – ou dimensões huma-
nas – são problematizados em Estudo do Ser Humano Contemporâneo.
 ` Você pretende fazer uma pesquisa? Sabe quais caminhos seguir e de que modo pode 
evitar problemas com seu conteúdo? Uma pesquisa alcançará mais sucesso, quanto mais 
responder aos anseios da sociedade. E é importante entender que, para algumas pesqui-
sas, é necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética da instituição. Ainda mais: um 
trabalho autoral, sabendo como se utilizar de fontes de pesquisa, evita graves problemas, 
como o plágio. Estas questões são tratadas em Iniciação à Pesquisa Científica. 
 ` Na vida profissional, possivelmente, você vai lidar com pessoas – mesmo que seja indire-
tamente. Uma reflexão sobre o espaço de vivência para todos na sociedade e no ambien-
te de trabalho é questão de oportunidades e não de capacidades. Não falamos mais de 
‘gosto’, ou ‘preferência’; a igualdade e a não discriminação são pilares de uma concepção 
de cidadania. Temas como estes são problematizados em Direitos Humanos.
 ` Como profissional, é claro que você objetivará alcançar satisfação e sucesso. Mas, será 
que todo caminho é válido? Cada pessoa deve tentar por si mesma um caminho? Vale 
pensar “sucesso a qualquer preço”? Ser profissional é entender que há uma necessidade 
social que precisa ser respondida – lembre-se de que você escolheu uma profissão que 
existe por ser importante neste contexto no qual você vive. Estes temas com viés ético 
estão presentes no componente Empreendedorismo Social.
Enfim, no Núcleo de Formação Geral, o componente Ética e Cidadania partilha de gran-
des temas que perpassam os demais componentes. As competências objetivadas pelo 
Núcleo buscam auxiliar em sua formação de modo amplo, para ser um bom profissional, 
com conteúdos que vão além do âmbito técnico da área específica do seu curso.
DESENVOLVER
O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você 
sabe o que é a competência, ou quando alguém pode se entender competente?
A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na vida 
cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta das exigên-
cias que as diferentes situações impõem.
Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai nos 
apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.
SAIBA MAIS
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Ética – sua essência e o cotidiano
Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se objetiva 
é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita não é “Eu 
aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir deste caso, e que 
vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”
Figura 01. O desenvolvimento de competências
 Fonte: Elaborado pelo autor / Imagens: Pixabay.
Desenvolver competências é desenvolver a habilidade de resgatar esquemas mentais que 
possam ser encaixados em diferentes situações. O célebre autor que tratou da temática das 
competências é Philippe Perrenoud (1944-).
Para conhecer mais, assista ao vídeo Pensadores na Educação: Perrenoud e o desenvolvi-
mento de competências:https://www.youtube.com/watch?v=lYvoCDRCfOw
Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o 
componente Ética e Cidadania incitará:
01. Definir o que são ética e moral, estabelecendo diálogo crítico com teorias e autores.
02. Examinar os fundamentos da ação profissional ética, identificando o conceito de ‘boa 
ação’ como necessidade para a vida humana em sociedade.
03. Interpretar a realidade a partir dos impasses éticos e de cidadania, compreendendo a 
construção social dos valores e a histórica luta por direitos sociais.
04. Avaliar a postura individual, considerando-se a prática ética e cidadã, reconhecendo a 
importância da postura de influência positiva na prática cotidiana.
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Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de forma ale-
atória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF acredita, formando 
você como profissional. São competências possíveis, mas que apenas podem ser desenvolvi-
das se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.
IMPORTANTE
PRATICAR
a. DIFERENTES OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA DIFERENTES 
FORMAS DE APRENDER
O desenvolvimento de competências pode se dar de diferentes modos, de acordo com 
o objetivo que se tem. Cada componente curricular, em cada unidade, tem objetivos es-
pecíficos pensados a partir das competências estabelecidas para o profissional que está 
sendo formado – você! –, não importando a área de conhecimento. Mas, antes dos ob-
jetivos de cada componente, temos de pensar as competências necessárias para bem 
cursar um componente oferecido a distância.
E você, sabe como você aprende?
Possivelmente, você já ouviu dizer que uma pessoa aprende mais ouvindo, enquanto outra o 
faz escrevendo, e ainda outra, lendo e anotando.
Leia ao artigo:
Os quatro estilos de aprendizagem − ou por que alguns leem os manuais e outros não
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html
SAIBA MAIS
b. O CONHECIMENTO – TEORIA E PRÁTICA
A competência pode ser entendida como um conjunto de elementos que, no todo, tra-
tam de um saber prático; trata-se de três elementos: conhecimento, habilidade e ati-
tude. Dificilmente conseguimos dizer que um profissional é competente sem ter estes 
elementos como base sólida. A partir deste entendimento é que este componente cur-
ricular é entendido e proposto com significativa importância para sua formação pro-
fissional. A USF entende que ser profissional deve ser mais que, simplesmente, um 
reprodutor da técnica.
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Ética – sua essência e o cotidiano
Avalie suas competências, verificando:
 ` Conhecimento – você tem os conhecimentos necessários, que possibilitarãouma vivência 
profissional humana e responsável consigo, com o outro e com a sociedade?
 ` Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática que seja 
eficiente, fazendo bem feito aquilo que se espera de um(a) bom(a) profissional?
 ` Atitude – a partir do conteúdo assimilado e da boa prática desenvolvida, você se motiva 
a agir de modo eficaz, buscando a melhor em cada situação?
Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, 
pesquisando em:
https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-Agenda2030-comple-
to-pt-br-2016.pdf
IMPORTANTE
SAIBA MAIS
Ao longo das unidades, as temáticas apresentadas têm sempre o objetivo de possibili-
tar uma prática profissional, carregada de sentido e que possa responder aos anseios 
da sociedade, sem deixar de lado a realização pessoal. Neste sentido, pense sobre as 
competências deste componente – indicadas acima –, e procure verificar se você já as 
tem desenvolvidas. Inicie o curso deste componente, já tendo em mente suas compe-
tências e entendendo que elas devem ser metas a se alcançar. Ao terminar os estudos 
de Ética e Cidadania, você terá oportunidade de se avaliar, verificando quanto aprendeu 
e desenvolveu, e o que ainda restará como necessidade.
c. OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL
No ano de 2015, pensando a necessidade de ações que pudessem melhorar a vida 
no planeta como um todo, líderes mundiais se reuniram na ONU e estabeleceram a 
chamada Agenda 2030 – trata-se de um plano para erradicar a pobreza e promover o 
desenvolvimento da vida humana e do planeta.
Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir 
dos quais são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17 ODS:
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Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta como 
um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral, entende-
mos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas e situações 
diversas que você, como profissional, vai enfrentar. Neste sentido, os ODS devem ser trazi-
dos nas problematizações dos componentes curriculares.
Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, 
pesquisando em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
SAIBA MAIS
Aproveite as oportunidades que forem ofertadas para o desenvolvimento deste compo-
nente: textos, fóruns, vídeos etc. Tudo é desenvolvido para seu melhor aproveitamento 
e sucesso na formação profissional!
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Ética – sua essência e o cotidiano
PRIMEIROS CONCEITOS
Nesta unidade, a primeira problematização a ser feita se refere ao que é, propriamente, 
a ética – o que, por sua vez, nos leva a pensar sua relação com a moral. Ambos os con-
ceitos se relacionam à vida prática dos indivíduos, entendendo que a vida em sociedade 
seja a tentativa de organizar a realidade de modo tal que permita a realização de todos.
Quase a totalidade das ações que podemos tomar tem reflexos na vida coletiva – por 
isso, há uma clara necessidade de se refletir sobre as motivações e as possíveis conse-
quências das ações. Não é simples; porém, a ética, enquanto reflexão que vem sendo 
desenvolvida desde séculos, apresenta ideias que podem ser aplicadas para se pen-
sar a prática. Significa que diversos pensadores contribuíram para a reflexão ética e 
deixaram suas contribuições. 
Investigaremos diferentes posturas éticas elaboradas por filósofos ao longo da histó-
ria da cultura ocidental, entre eles, Aristóteles (384-322 a.C.) e os chamados estoicos 
(séculos III a I a.C.). Além disso, outras concepções modernas também serão inves-
tigadas, tais como o pensamento de Kant (1724-1804) e o seu dever ético; Bentham 
(1748-1832) e o utilitarismo, que se refere à ética consequencialista; contratualismo, 
hedonismo, relativismo e, no período contemporâneo, as possibilidades do diálogo e do 
consenso ético de Habermas (1929 -).
Quando estudamos ética, precisamos considerar que existem múltiplas formas de 
compreender nossas escolhas, decisões e os caminhos a serem tomados. Faz -se 
necessário, também, levarmos em conta que as ações podem ser múltiplas e não é 
possível saber como os demais indivíduos irão reagir, segundo seus valores e pre-
ferências. A ética é uma ciência que estuda os valores morais e os comportamentos 
humanos. Porém, ao contrário das ciências exatas, trabalha com a multiplicidade de 
escolhas e caminhos a serem seguidos, suas consequências e modos distintos de per-
ceber a realidade e a vida com os demais indivíduos. Longe de procurar um resultado 
e respostas únicas e universais, a ética está preocupada em desenvolver formas de 
vida que produzam o bem-estar e o bem comum.
Ainda estudaremos a relação da ética com liberdade, escolhas, decisões e responsa-
bilidade. A respeito desses elementos, investigaremos o pensamento existencialista de 
Sartre (1905-1980), pensador francês que refletiu sobre a relação entre ética, ações 
individuais e seus reflexos sobre a coletividade. A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-
1975) trouxe também importantes contribuições a respeito do assunto, sobretudo nas 
ruas reflexões sobre a relação entre regras sociais e os valores dos indivíduos.
1. ÉTICA MORAL
1.1 O QUE É ÉTICA?
A palavra ética, do grego ethos, foi elaborada pela primeira vez por Aristóteles (384–
322 a.C.), pensador que viveu na Grécia Antiga. Ética significa conduta ou modo de agir, 
sendo também compreendida como reflexão sobre os fundamentos da conduta ou do 
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modo de agir. A ética, portanto, é entendida como uma reflexão ou ciência que estuda o 
comportamento dos indivíduos em comunidade.
Segundo Aristóteles (1992, p. 22), a finalidade da ética deve ser o de promover a fe-
licidade coletiva, o bem comum ou a excelência humana. Na obra Ética a Nicômaco, 
Aristóteles apresenta a concepção dessa expressão empregando os seguintes termos
[...] parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este 
bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa 
de algo mais; mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras 
formas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas [...], escolhe-
mo-las por causa da felicidade, pensando que através delas seremos felizes. 
Ao contrário, ninguém escolhe a felicidade por causa das várias formas de 
excelência, nem, de um modo geral, por qualquer outra coisa além dela mes-
ma (ARISTÓTELES,1992, p. 23).
A ética se relaciona ao uso da racionalidade e do senso-crítico, conduz ao bom senso 
ou moderação. Isso significa afirmar que exige a reflexão; ou seja: é preciso medir os 
prós e os contras, os elementos positivos e negativos de cada ação antes mesmo que 
qualquer decisão seja tomada. Nessa direção, a ética tem como finalidade estabelecer 
a melhor atitude ou ação mais equilibrada para o convívio coletivo.
Leandro Karnal, no vídeo a seguir referenciado, comenta sobre a obra Ética a Nicômaco, 
de Aristóteles, veja mais em: KARNAL, Leandro. Ética segundo Aristóteles, 2020. Vídeo (4 
min. 09 seg.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8fi7yzeogD0. Acesso em: 
07 jun. 2022.
SAIBA MAIS
A ética busca estabelecer as melhores formas de conduta perante outros indivíduos. 
Para isso, é relevante refletir sobre os procedimentos e as virtudes que são fundamen-
tais para a realização do bem coletivo. O exercício da ética exige a busca do que os 
gregos denominavam como areté, compreendida como melhor ação – portanto, um 
comportamento virtuoso ou atitudes que buscam a excelência humana.
1.2 O QUE É MORAL?
É comum que confundamos as palavras “ética” e “moral”. Contudo, ambas pos-
suem diferenças, por isso, é necessário esclarecermos o que exatamente as distin-
gue. A moral tem origem no latim, moris, e significa costume, tradiçãoou hábitos. 
A sua diferença com a palavra “ética” está no fato de que a moral não exige refle-
xão mais profunda ou senso-crítico, não sendo reflexo de um exame detalhado de 
uma conduta ou ação. Isso ocorre porque a moral é constituída por regras, nor-
mas ou costumes que não são analisados ou questionados de forma detalhada, são, 
na verdade, transmitidos de geração a geração como se fossem normais, naturais, 
de modo que devem ser seguidas e obedecidas.
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Ética – sua essência e o cotidiano
No que diz respeito à moral, os sujeitos são introduzidos em um conjunto de costumes 
como se eles fossem normais ou como se existissem desde sempre, sem que isso 
implique análises e problematizações profundas sobre a existência de padrões de com-
portamento, formas de ver o mundo e valores.
O que vem a ser a moral? Um conjunto de valores e de regras de compor-
tamento, um código de conduta que coletividades adotam, quer sejam uma 
nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organiza-
ção. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, 
a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes 
sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e 
quais não. (SROUR, 2000, p. 29).
Em linhas gerais, podemos afirmar que a ética é ex-
pressa por condutas que têm alcance universal, ge-
ral ou coletivo, pois sua principal intenção é tentar 
promover a felicidade coletiva por meio da reflexão 
e da razão. A ética mede os elementos favoráveis 
e desfavoráveis de cada ação ou conduta, além de 
procurar condições que contribuam para a convi-
vência entre diversos grupos e diferentes indivídu-
os, dotados de morais distintas.
A ética estuda e investiga a moral (os hábitos e 
costumes humanos) para produzir a melhor ação 
possível, sem desconsiderar a existência de grupos 
e moralidades que são heterogêneas, mas que de-
vem coexistir numa mesma sociedade.
A moral é considerada relativa, pois suas regras e nor-
mas de comportamento podem valer para um grupo ou sociedade, mas não necessariamente 
para outros. A moral se transforma, ao longo do tempo, e é expressa pelos chamados valores 
(ou juízos morais), que norteiam as noções do que é justo ou injusto, bem ou mal, o que é 
virtuoso ou que promove vícios.
1.3 O PROBLEMA DO VALOR E O JULGAMENTO ÉTICO
A vida humana é marcada por reflexões e ações morais e éticas. Desde governos, 
empresas, relações familiares, passando por jogos, esportes e as demais práticas hu-
manas, todas elas são constituídas de valores morais e condutas éticas. Avaliamos que 
a moral é relativa, porque costumes, hábitos e visões de mundo variam de sociedade 
para sociedade conforme o período histórico.
Diante da variabilidade de valores morais presentes em qualquer sociedade e na rela-
ção entre diferentes povos e culturas, a ética opera não apenas como estudo ou ciência 
que investiga a moral, mas também fornece bases para a prática de julgamentos éticos, 
que visam produzir convivência entre diferentes valores morais presentes nos indivídu-
os. Cada ação ética pressupõe a análise de quais são os impactos causados sobre dife-
rentes grupos e comunidades humanas constituídos por valores morais heterogêneos. 
Figura 02. Moral e ética
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A ética parte do pressuposto de que os indivíduos, certas vezes, possuem um forte 
sentimento, vontade ou impulso que surgem como um primeiro impacto quando nos en-
contramos em situações em que temos que agir de maneira imediata. Com indignação, 
às vezes, engrossamos o tom de voz se uma pergunta ou circunstância chocante está 
diante de nossa visão. Outras vezes, realizamos juízos sobre as ações que presencia-
mos, sendo que julgamos, demonstramos valores ou comentamos o acontecimento 
que atraiu a nossa percepção. Esses comportamentos são chamados de senso moral.
Quando vemos um indivíduo em condição vulnerável passar fome ou vivendo de maneira mi-
serável e decidimos oferecer alguma ajuda; ou quando vemos um idoso que tenta atravessar 
a rua e de forma imediata e impulsiva, nós o auxiliamos; se somos favoráveis ou contrários ao 
aborto ou legalização do uso de entorpecentes, nessas situações, agimos com gritos, gestos 
bruscos de reprovação ou aceitação, visões e expressões mais singelas ou ríspidas. Todos 
esses valores e comportamentos revelam o que é designado como senso moral.
Para saber mais a respeito da ética e o senso moral, recomendamos que você assista à 
aula do professor Washington Soares, referenciada na sequência: SOARES, Washington. 
Ética - Senso Moral e Consciência moral, 2020. Vídeo (6min. 13s.). Publicado na página do 
Prof. Washington Soares, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FE5CZ-
1DA92s&t=8s. Acesso em: 07 jun. 2022.
EXEMPLO
SAIBA MAIS
Com o senso moral não há a necessidade de justificativa imediata, pois o conceito está 
relacionado à formação e aos valores morais de um indivíduo, fundamentados em tra-
dições e costumes que originam e caracterizam comportamentos imediatos, portanto, 
fundamentam o próprio senso moral. Situações que não entendemos de maneira com-
pleta ou posicionamentos tomados sem uma análise detalhada da realidade influenciam 
a prática do senso moral.
Em uma de suas obras capitais para a introdução ao pensamento filosófico, 
intitulada “Convite à filosofia”, Chaui (2000) escreve que esse sentimento 
prova que nós somos seres morais, dotados de um senso de moralidade. 
O sentimento despertado em nós prova a existência de um universo moral 
e nos leva a pensar sobre o que é certo ou errado, justo ou injusto, bom ou 
mau diante de situações de sofrimento e dor, principalmente quando envol-
vem crianças, seres inocentes que nos comovem por conta de sua fragilida-
de (BRAGA JUNIOR; MONTEIRO, 2016, p. 42).
Os nossos atos e posicionamentos, sejam contrários ou favoráveis diante de certas 
situações, exigem de nós uma justificativa perante os demais ou à sociedade. Essa 
forma de justificativa é chamada de consciência moral e representa explicações que 
são fornecidas para explicar o senso moral.
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Ética – sua essência e o cotidiano
Quando somos questionados sobre a legalização do aborto e caso haja um posicionamento 
contra a partir de uma perspectiva de uma moral religiosa, será preciso justificar este mesmo 
posicionamento para os indivíduos que nos cercam.
EXEMPLO
A consciência moral é compreendida, as-
sim, como a justificativa fundamentada a 
partir da moral e fornece sentido às nos-
sas atitudes e percepções de mundo.
Se procurarmos ajudar a criança com 
fome ou o idoso que busca atravessar a 
rua, exercemos o chamado senso moral. 
Quando procuramos justificar aos demais 
e a nós mesmos quais são os motivos que 
permitiram a ação imediata, exercemos a 
consciência moral. Esta, por sua vez, 
permite que os sujeitos se tornem res-
ponsáveis pelas formas como nos com-
portamos. Senso e consciência moral estão presentes no dia a dia, nos sentimentos, 
nas intenções e decisões, no que é ou não correto a ser feito. Posto de outra maneira,
[...] diante de um senso moral, temos emoções e sentimentos que são susci-
tados pelos acontecimentos com base em nossa crença nos padrões morais 
que adotamos e que nos orientam. Mas é a nossa consciência moral que 
nos leva a agir e a assumir a responsabilidade por nossos atos (BRAGA 
JUNIOR; MONTEIRO, 2016, p. 44).
Os julgamentos éticos são o resultado do estudo e da análise do senso e da consciência 
moral. Ao realizar a capacidade de julgar, a ética leva em consideração os diferentes 
pontos de vista e tem como objetivo produzir equilíbrio e condições de coexistência entre 
posicionamentos heterogêneos, desde que eles promovam o bem comum ou coletivo.
1.4 QUESTÕES ÉTICAS E QUESTÕES MORAIS
Há questões e problemas que dividem opiniões, pois demonstram os dilemas éticos e mo-
rais. À vista disso, James e Stuart Rachels, na obra Os elementos da Filosofia Moral (2013),refletem como, no passado, havia justificativas que procuravam legitimar a escravidão de 
seres, erroneamente, considerados inferiores. Os autores argumentam que, por vezes, es-
sas justificativas eram carregadas de argumentos religiosos. Sabemos que tais ideias não 
são mais condizentes com os direitos humanos e igualdade jurídica. Isso porque
[n]ossos sentimentos podem ser irracionais: eles podem ser nada mais do 
que produtos do prejuízo, egoísmo ou condicionamento cultural. Em um 
momento, por exemplo, os sentimentos das pessoas lhes disseram que os 
membros de outras raças eram inferiores e que a escravidão era o plano de 
Deus. Ademais, os sentimentos das pessoas podem ser muito diferentes 
(RACHELS; RACHELS, 2013, p. 23).
Figura 03. A ética visa o equilíbrio e coexistência 
entre comportamentos morais heterogêneos
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Debates como o assunto de aborto e de legalização das drogas nos permitem, primeiro, 
identificar diferentes juízos de valor. Via de regra, de um lado, sob uma fundamentação 
moral religiosa, argumenta-se que a vida é um valor sagrado, de modo que abortos não 
deveriam ser legalizados. Por outro lado, movimentos feministas têm como valor as defe-
sas da liberdade de decisão das mulheres e o direito de escolha sobre seus próprios cor-
pos. Além disso, o uso de drogas sob perspectivas morais religiosas é julgado de modo 
negativo, sendo relacionado a uma vida marginal, de degradação e distante de virtudes.
Nas últimas décadas, no entanto, países como Holanda, Bélgica, Espanha, Uruguai, en-
tre outros, têm concedido liberdade de uso de algumas drogas, como a maconha. Tais 
posturas têm recebido adeptos mundo afora, segundo os valores da liberdade individual 
e teses que amenizam os efeitos de certos entorpecentes. A partir dessa oposição de 
valores morais surgem questões éticas, ou seja, reflexões, estudos e condutas em que 
devemos observar, sendo possível promover o bem comum levando em consideração 
a oposição entre diferentes valores morais.
No intuito de verificar valores morais e propiciar uma reflexão acerca de decisões éticas pos-
síveis para cada situação, observe, a seguir, outros problemas contemporâneos, de ordem 
ética, que certamente produzem visões morais diferentes quando são discutidos:
 ` A ciência pode desenvolver, de forma autônoma, pesquisas genéticas com embriões humanos?
 ` É possível concordar com a manipulação genética irrestrita?
 ` Podem os governos e as empresas privadas de tecnologias (redes sociais, aplicativos, 
provedores etc.) terem o controle sobre a privacidade dos seus usuários?
 ` Devemos preservar o direito à vida ou à liberdade econômica, quando nos defrontamos 
com uma grave pandemia?
 ` Devemos concordar ou podemos discordar da decisão da justiça em permitir o casamento 
entre indivíduos do mesmo sexo ou pertencentes aos que se identificam como membros 
da comunidade LGBTQIA+? 
 ` Proteger o meio ambiente é mais importante do que defender o desenvolvimento econô-
mico por meio de práticas predatórias?
 ` É correto substituir trabalhadores por máquinas nas fábricas?
PARA REFLETIR
1.5 A ÉTICA COMO PROJETO DE VIDA
Os indivíduos passaram a viver em sociedade, quando surgiram as comunidades e, pos-
teriormente, as cidades criaram regras de convivência social, cujo objetivo é até hoje o de 
produzir o bem e a felicidade a todos. Dessa forma, a ética permite a relação entre proje-
tos de vida coletivos e individuais. Com esses projetos, por exemplo, surgiram normas e 
punições com o propósito de garantir a qualidade de vida individual e social.
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A ética, sob esse aspecto, afasta-nos de uma vida guiada por impulsos, caprichos e de-
sejos individuais que prejudicam o interesse coletivo. Por meio da elaboração racional 
de princípios, condutas, normas, regras e leis que permitam a civilidade, a ética se torna 
um elemento essencial para a construção do sentido de projetos de vida.
Devemos, neste ponto, destacar a distinção entre normas jurídicas e morais, pois am-
bas permeiam a vida cotidiana e em sociedade. As normas jurídicas são aquelas que 
relacionam o indivíduo com o meio externo, ou seja, a sociedade como um todo e são 
reguladas por meio de princípios e obrigações legais (constituição, leis, decretos, entre 
outras normas estabelecidas coletivamente).
As normas morais pertencem ao campo mais restrito e íntimo dos indivíduos, sendo arti-
culadas com as motivações pessoais. Elas são reguladas pelas relações que concernem 
aos laços familiares, comunitários, religiosos ou mesmo grupos cujas tradições e visões 
de mundo representam amplo convívio, proximidade e compartilhamento de valores.
Com isso, percebemos que, desde o nascimento, fomos submetidos a interações 
sociais que permitiram a vida em sociedade. A partir desses padrões éticos recebi-
dos, durante a existência, é que será possível desenvolver projetos que entrelacem 
a vida individual e a coletiva.
Quando, hoje, discutimos a preservação do meio ambiente, por exemplo, estamos ela-
borando um projeto de existência para as gerações futuras a partir de atitudes éticas 
que são urgentes no presente. A forma como falamos, nossos gestos, propósitos pro-
fissionais, relações de trabalho e modos de agir considerados corretos estão presentes 
no universo de formação das crianças e dos adultos. Todas essas ações podem ser 
tidas como projetos de vida éticos, pois procuram organizar relações sociais em nome 
da vida em sociedade.
Figura 04. Mapa Conceitual 
Ciência Reflexão Senso Crítico
ÉTICA
Bem 
Comum
Felicidade 
coletiva
Interesse 
coletivo
Estudo das diferentes moralidades
Problematizar
Universalidade Heterogeneidade
MORAL
Hábito Costume Tradição Valores
Reativismo Particularidade
Variabilidade
Hábito Costume Tradição Valores
Senso 
Moral
Consciência 
Moral
Fonte: elaborada pelo autor. 
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 ` Filme 
 � O filme Advogado do Diabo (1998) trata da vida profissional de Kevin Lomax, um jovem e 
prodigioso advogado norte-americano. Ele se destaca por defender clientes inescrupulo-
sos e assassinos por meio de brechas que encontra nas leis. Ele é contratado pelo maior 
escritório de advocacia de Nova York e passa a trabalhar na defesa de casos moralmente 
condenáveis. A obra apresenta uma série de dilemas éticos e morais a respeito do traba-
lho e vida pessoal do personagem. Após assistir ao filme, tente identificar três aspectos 
morais presentes no filme e qual a decisão ética foi tomada pelo personagem principal.
 ` Texto Complementar
 � Indicação do livro A Política, de Aristóteles.
 ` Somos animais Políticos
 � Em A política, Aristóteles define a humanidade como um “animal político por natureza”. 
Deve-se frisar a etimologia em grego de animal político (Zoon Politikon). Politikon não 
significa apenas a atividade política como a ocupação ou exercício de cargos públicos, 
mas, na realidade, tem um sentido mais amplo para o mundo grego na Antiguidade, pois 
é a política que diferencia humanidade dos demais animais.
A política representa o agir, a reflexão e o aprimoramento da vida em sociedade; está 
associada à capacidade humana de discernir, estabelecer, criar, construir, refazer e 
viver (em sociedade) o que se entende como justo e injusto, o bem e o mal, de modo 
que normas e regras são incorporadas coletivamente. A política é produzida por meio do 
uso da razão e das palavras. Sem o uso da razão e da linguagem seríamos incapazes 
de comunicar e muito menos de expor valores, criar costumes e leis.
O que Aristóteles define como Zoon Politikon (animal político) está relacionado à noção 
de que a política é um elemento natural e vivido de forma intensa e social na cidade 
(Pólis em grego). Portanto, a política é o fundamento para a existência da vida moral e 
ética dos sujeitos, pois a existência é dada em sociedade e será por meiodela que juízos, 
costumes, tradições, regras e leis que constituem o convívio comum serão fundados.
Um exemplo para você analisar como a moral esteve arraigada na vida dos indivíduos pode 
ser verificado, a partir do fato histórico no qual, até aproximadamente a década 1960, a 
maioria das sociedades possuía a visão de que as funções sociais das mulheres deveriam 
se resumir aos cuidados domésticos. Ainda hoje é possível ver alguns grupos sociais defen-
dendo tal postura. No entanto, com o desenvolvimento do mercado de trabalho, a ascensão 
de movimentos feministas e maior conscientização da sociedade, as mulheres passaram a 
ocupar lugares importantes no meio social, como no mercado de trabalho, política e meios de 
comunicação. Diferentemente de anos atrás, nos dias atuais é impossível imaginar empre-
sas, universidades e emissoras de rádio e TV sem elas, ainda que visões machistas predo-
minem em muitos setores da sociedade.
Caso de aplicação 1
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2. APRENDENDO A DECIDIR COM ÉTICA
2.1 A ÉTICA DA MEDIANIA (ARISTÓTELES)
Aristóteles, pensador grego da Anti-
guidade, foi o primeiro a definir a pa-
lavra “ética” (do grego ethos, significa 
conduta em relação aos outros), esta-
belecendo-a, ao mesmo tempo, como 
uma ciência que investiga os compor-
tamentos humanos e como a busca 
de uma conduta que é capaz de gerar 
equilíbrio. Em outras palavras, o autor 
defende a ética como conduta media-
na ou caminho do meio que permite 
aos indivíduos viverem em sociedade, 
visando ao bem comum e à Eudaimo-
nia, palavra que em grego clássico se 
relaciona à felicidade e promoção da excelência humana realizada de modo coletivo.
O ethos é a morada do animal e passa a ser a «casa» (oikos) do ser huma-
no, não já a casa material que lhe proporciona fisicamente abrigo e proteção, 
mas a casa simbólica que o acolhe espiritualmente e da qual irradia para a 
própria casa material uma significação propriamente humana, entretecidas 
por relações afetivas, éticas e mesmo estéticas que ultrapassam suas fina-
lidades puramente utilitárias e a integram plenamente no plano humano da 
cultura. [...] Tal é a historicidade própria do ethos, que nele se exprime como 
necessidade instituída que Aristóteles comparou à e necessidade dada da 
Natureza. (VAZ, 1988, p. 39-40).
Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles partia do pressuposto de que toda cidade e 
sociedade são caracterizadas por apresentar indivíduos heterogêneos, ou seja, com 
valores, formas de pensar, condições econômicas e políticas bem distintas. Diante 
disso, considera que o papel da ética, assim como das leis, deve ser o de produzir 
equilíbrio, isto é, condições de coexistência entre grupos diferentes com o objetivo de 
realizar o bem comum.
Aristóteles, portanto, atribui à ética a busca do equilíbrio, considerando que desse equi-
líbrio será possível produzir a felicidade, a excelência humana, a justiça e a virtude entre 
os membros que constituem uma sociedade. Logo,
Com isso, vemos que a moral está sempre em transformação, de forma que é modificada ou 
varia de acordo com o período histórico, ou conforme cada sociedade ou geração.
Com base no exposto, elabore um breve texto relatando outros exemplos de transformações de 
visões morais na sociedade. Explique como é possível observar a moral nessas transformações. 
Selecione uma matéria de jornal e revista para fundamentar a sua pesquisa. Pense em questões 
em torno do mercado de trabalho, política, meios de comunicação ou mesmo educação.
Figura 05. Ética 
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[t]oda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, visam 
a um bem qualquer, e por isso foi dito, não sem razão, que o bem é aquilo a 
que as coisas tendem. Mas entre os fins observa-se uma certa diversidade: 
alguns são atividades, outros são produtos distintos das atividades das quais 
resultam; e onde há fins distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais 
excelentes do que as últimas (ARISTÓTELES, 1979, p. 49).
2.2 O HEDONISMO
Do grego hedonê (prazer), o hedonismo expressa um modelo de ética que tem como 
principal objetivo para a vida (ou como suprema norma moral) a busca da felicidade e a 
exaltação do prazer. Essa modalidade de ética foi pensada pela primeira vez pelo filósofo 
grego Epicuro (341–270 a.C.) e influenciou pensadores romanos da Antiguidade conhe-
cidos como estoicos, entre eles Cícero (106 -43 a.C.), Lucrécio (94-50 a.C.), Horácio (65 
a.C-8 d.C.), Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) e o imperador-filósofo Marco Aurélio (121-180 d.C.).
Epicuro partia da ideia de que a verdadeira virtude estava na realização dos prazeres. 
Não devemos tomar o epicurismo ou o hedonismo de forma vulgar, pois não se reduzem 
a uma satisfação cega e sem reflexão sobre os prazeres. O prazer deve trazer o bem-es-
tar. Epicuro fundou um grande jardim na periferia de Atenas, lugar que ficou conhecido 
como “O Jardim de Epicuro”. O local foi resultado de uma mudança de postura, em que 
o filósofo viu a necessidade de se distanciar dos problemas da cidade da pretensão de 
promover a virtude no espaço público. A política é fonte de avareza e corrupção.
O jardim reunia discípulos (escravos e cidadãos livres) que procuravam a virtude no equilíbrio 
entre os diferentes prazeres – nas bebidas, amizades, sexo, banquetes e afins. Não se deve 
concentrar o prazer em apenas uma única atividade (caso contrário, produzirá o vício), mas 
equilibrar os diferentes prazeres fornecidos pelo corpo.
O Arcadismo foi um movimento literário desenvolvido na Europa, durante o século XVIII. Ca-
racterizou-se por valorizar a vida humana em meio à natureza, ou seja, a existência bucólica 
exercida com simplicidade. No Brasil, o movimento se deu em Minas Gerais também, no sé-
culo XVIII, e se envolveu com o movimento da Inconfidência Mineira. Seus principais autores 
foram Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Basílio da Gama.
GLOSSÁRIO
GLOSSÁRIO
Epicuro buscava a chamada ataraxia, conceito que representa o equilíbrio entre os pra-
zeres em seu jardim em meio à natureza e distante dos problemas da cidade. O filósofo 
e poeta romano Horácio (65 a.C. – 8 d.C.), inspirado no epicurismo, concebe o “Carpe 
diem quam minimum credula póstero” (ao qual traduzimos ao português como Aprovei-
ta o dia e confia o mínimo possível no amanhã), concepção incorporada pelo Arcadismo 
(movimento literário do século XVIII).
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2.3. O CONTRATUALISMO
A partir dos séculos XVI e XVII, com a ascensão da Modernidade, surgiram novas mo-
dalidades de ética com objetivo de atender a novas demandas que surgiam com a 
nova sociedade e formas de pensamento. Entre as transformações que constituem a 
Modernidade estão o surgimento de uma sociedade capitalista e o fortalecimento da 
burguesia, industrial e de defesa da liberdade econômica e política.
O contratualismo se refere à percepção éti-
ca surgida entre os séculos XVII e XVIII, que 
estabelece a obrigação de se comportar de 
acordo com as leis ou a burocracia. Trata-
-se da noção de que as relações humanas 
apenas se tornam possíveis, estáveis, du-
ráveis e seguras, por meio da criação de 
obrigações e exigências legais, sem as 
quais existiriam desconfiança e instabilida-
de social. Entre os pensadores contratualis-
tas, destacamos Hobbes (1588-1679), Lo-
cke (1632-1704) e Rousseau (1712-1778).
Temos como exemplos de contratos: leis, pactos sociais, documentos e impostos. Por 
meio da existência do contratualismo, é possível notar como a sociedade moderna ga-
rante a sobrevivência de trocas comerciais, acordos políticos ou relações sociais de 
qualquer espécie. O contratualismo é, à vista disso, uma forma moderna de ética que 
visa consolidar relações sociais racionais, seguras e legitimadas por meio de pactos, 
contratos ou acordos considerados legais.
2.4 A ÉTICA DO DEVER DE KANT
Entre os séculos XVIII e XIX, com o advento da ciência moderna,do contratualismo, do 
liberalismo e do Iluminismo (depois da consolidação do pensamento burguês) surgiram 
novas análises éticas sobre princípios morais que regulamentam o comportamento do 
bom cidadão e das boas práticas de administração pública.
Kant (1724-1804) foi um pensador alemão, contemporâneo à Revolução Francesa, que se 
demonstrou otimista diante das conquistas burguesas. Considerava que superstições e for-
mas de interpretações medievais da realidade haviam sido substituídas pela racionalidade 
da ciência moderna, da indústria e direitos individuais. Ele percebia que o poder dos reis 
estava prestes a desaparecer definitivamente, com as sociedades deixando de ser guiadas 
segundo humores dos tiranos, mas de acordo com a racionalidade e a legalidade.
Na obra Fundamentação metafísica dos costumes (1785), Kant valoriza a razão moder-
na aplicada ao direito e à ética, responsável por se opor à tradição maquiavélica fun-
damentada na teleologia (nos fins). Kant estabelece a deontologia (do grego deon, que 
significa obrigação ou dever moral) (conferir texto complementar e mapa mental) como 
ciência do dever. Isto é, obrigação racional que deve ser realizada, necessariamente, a 
todo custo, independentemente das consequências, pois considera que tudo que tem 
origem na razão seria benéfico ou positivo à humanidade.
Figura 06. Contratualismo 
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Kant foi o mais importante pensador alemão a se declarar Iluminista, de modo que ali-
mentava grande crença nos benefícios da razão humana. Dessa forma, importam os 
meios racionais ou mesmo os meios se confundem com os fins, pois confia que a razão 
conduziria a humanidade ao bem e à verdade, não podendo ela ser questionada.
Com a deontologia, Kant (2009, p. 245) estabeleceu o imperativo categórico, defendendo o 
seguinte lema: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua von-
tade, uma lei universal”.
A expressão afirma o caráter inquestionável da aplicação e obediência à ação racional, 
sendo válida em toda parte e temporalidade, o que demonstra a visão otimista de Kant 
diante da razão. Portanto, o imperativo categórico é uma lei moral e racional que valo-
riza a autonomia do indivíduo e sua racionalidade, com o objetivo de universalizá-la na 
forma de leis e consenso coletivos.
2.5. A ÉTICA DA UTILIDADE (J. BENTHAM E J.S. MILL): A ÉTICA 
CONSEQUENCIALISTA
O modelo ético utilitarista foi criado entre os séculos XVIII e XIX pelos filósofos ingle-
ses Bentham (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873). Tem como sinônimo a concepção 
de maximização, isto é, produzir o maior prazer, ganhos, lucros ou um bem ao maior 
número possível de pessoas, evitando-se ao máximo prejuízos, dores ou perdas. O 
maior bem produzido não significa necessariamente que este abrangerá a maioria das 
pessoas. Segundo Moreira (1999, p. 22):
[a] ideia de maior bem para a sociedade, não leva em conta o número de 
pessoas beneficiadas, mas sim o tamanho do bem. Em outras palavras, 
em uma circunstância na qual o maior bem beneficie poucos, em contra-
posição ao bem menor que possa ser feito a muitos, a primeira atitude 
deverá ser a escolhida.
A maximização é um termo rotineiro no universo administrativo e econômico. Por isso 
esse modelo ético também é designado como consequencialista, ou seja, justifica a va-
lidação de uma determinada ação ou conduta a partir da observação e da identificação 
dos possíveis resultados. Trata-se, portanto, de verificar em qual medida a ação é mo-
ralmente útil a ponto de produzir o prazer ou o bem-estar coletivo, procurando reduzir 
os prejuízos da ação. Além disso, é entendido como o processo que pode reduzir gas-
tos em nome do aumento da produtividade ou apenas manter o ritmo de produção ou 
a margem de lucro, ainda que para tanto seja necessário demitir alguns funcionários.
Maximizar pode também implicar, por exemplo, na manutenção do tempo de trabalho, 
ao passo que a quantidade de trabalho ou capital gerado é aumentado. As democracias 
modernas, quando apresentam o “segundo turno”, são um processo de maximização, 
o qual visa produzir o maior bem ao maior número possível de pessoas, evitando-se ao 
máximo prejuízos. Isso justifica por que é declarado vencedor de uma eleição aquele 
que conseguir 50% dos votos mais 1.
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2.6. A ÉTICA DO DISCURSO (J. HABERMAS)
Durante o século XX, novos dilemas éticos permitiram o surgimento de novas pers-
pectivas conceituais ou, ao menos, a verificação de questões pertinentes ao diá-
logo consensual e racional, consumo e relação com outras culturas, considerando 
a expansão da globalização.
O alemão Habermas (1929 -) abordou, do ponto de vista ético, o que definiu como te-
oria da ação comunicativa. Segundo o filósofo, o agir comunicativo está relacionado 
ao mundo da vida cotidiana, de modo que está fundamentado em regras de sociabili-
dade e no diálogo, considerando, ainda, que os indivíduos se comunicam por meio de 
diferentes moralidades. Contudo, é possível alcançar consenso e entendimento mútuo 
caso abandonemos relações hierárquicas de dominação e deslegitimação do discurso 
do outro (é o caso de preconceitos, coerção ou mesmo desmerecimento da fala e dos 
valores de indivíduos pertencentes a outros grupos e seus respectivos valores).
Habermas defende que o diálogo, a capacidade de escutar, entender, falar e negociar 
com grupos diferentes alcança a dimensão ética capaz de produzir interações con-
sensuais, ainda que haja a diversidade de sentimentos, expectativas e concepções 
de mundo. A teoria da ação comunicativa tem como finalidade produzir concordâncias 
após a solução e a superação de discordâncias entre os sujeitos. Para tanto, é neces-
sário considerarmos o diálogo racional que tornaria possível a sociabilidade desde os 
níveis familiares, da comunidade, do campo científico, artístico e político.
Há um interessante dilema a respeito da situação hipotética de um trem desgovernado: O 
trem corre em alta velocidade pelos trilhos e está fora de controle. Caso não seja parado ou 
desviado, o trem colidirá com cinco pessoas que estão amarradas aos trilhos. Nessa situa-
ção, a única possibilidade de salvar as pessoas é mover uma alavanca que desviaria o trem 
para outro trilho. Porém, caso seja desviado e não atropele as cinco pessoas presas nos 
trilhos, o trem irá, fatalmente, em direção a um outro único indivíduo parado na outra pista. 
O que fazer?
Considerando os elementos que constituem a ética utilitarista ou consequencialista, reflita 
qual seria a melhor solução a ser seguida. Elabore sua resposta a partir dos princípios que 
norteiam a ética elabora por Bentham e Mill.
Caso de aplicação 2
Observarmos, assim, que uma sociedade é constituída por uma pluralidade de vozes, de 
modo que uma ação racional é consolidada de maneira coletiva e não individual, desde que 
haja sensibilização e afeto em relação à condição e às percepções daqueles que se apre-
sentam a nós como diferentes.
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Devemos, portanto, colocar-nos na condição de nosso interlocutor, compreen-
der seus dilemas e buscar entendimento, o que evitaria a posição relativista, 
que veremos no tópico a seguir.
2.7 RELATIVISMO
O relativismo é um princípio que passa a ser promovido, principalmente entre o final do 
século XIX e durante o século XX. Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, é conside-
rado um dos principais teóricos dessa perspectiva. Na Antropologia norte-americana 
do século XX, os pensadores denominados como culturalistas (Franz Boas e Clifford 
Geertz) desenvolveram o chamado relativismo cultural.
Em linhas gerais, o relativismo resume-se na expressão “cada um é cada um”, ou seja, 
normatiza a condição alheia, ainda que a condição do outro seja degradante. O relativis-
mo anula os valores morais, por isso as noções de verdade, como o bem e mal ou o jus-
to e o injusto.Elas são suspensas, pois há a noção de que nenhum juízo de valor possa 
ser universal ou verdadeiro, de sorte que toda e qualquer ação passa a ser aceita.
O relativismo elimina a possibilidade de engajamento ou uma ação responsável diante 
de outras pessoas ou sociedades. Empresas e governos que atuam de modo relativista, 
por exemplo, não se preocupam com as condições sociais e de saúde de seus con-
sumidores ou cidadãos. Um sujeito se torna relativista quando não emite juízos sobre 
uma situação, qualquer que seja, pois considera que nenhum valor é válido. Se não nos 
importamos com a condição de fome e miséria de um semelhante e julgamos que cada 
um ocupa o lugar que deseja estar, acabamos por enveredar em uma relativista. Dessa 
maneira, o relativismo é uma afirmação absoluta da diferença e da impossibilidade de 
um consenso a respeito dos valores e juízos morais.
Para saber mais a respeito do relativismo, confira a fala do filósofo brasileiro Má-
rio Sérgio Cortella. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VumyyS3THSY. 
Acesso em: 07 jun. 2022.
SAIBA MAIS
O relativismo não se restringe ao mercado. Podemos percebê-lo quando não da-
mos importância a um acontecimento distante. É o mesmo sentimento de muitas 
pessoas que tendem a observar a pobreza, o desemprego ou as desigualdades so-
ciais como naturais ou normais, sem procurar refletir ou fazer absolutamente nada 
para modificar tal situação.
2.8. FUNDAMENTALISMO
O fundamentalismo ocorre para quem os conceitos, profissões de fé, doutrinas políti-
cas ou deveres morais devem ser extraídos de uma fonte tida como superior e externa 
(Estado, religião, líder, imposições do mercado) ao ser humano. Isso significa afirmar 
que o indivíduo se submete a uma ordem superior à sua própria vontade, pois a julga 
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Ética – sua essência e o cotidiano
racionalmente correta e inquestionável. Muitas vezes, o fundamentalismo é visto como 
obediência cega diante da autoridade de um terceiro. Do ponto de vista da religião, co-
nhecemos os chamados fundamentalistas religiosos.
Na esfera política, o exemplo mais evidente é a obediência a um líder político, assim 
como ocorreu na Alemanha nazista de Hitler, quando os seus seguidores obedeciam e 
concordavam com todas as ações de seu líder cegamente. Em relação ao mercado ou 
o capitalismo, podemos observar tal ética dentro dos padrões de moda ou mercadorias 
impostas sobre o comportamento e os objetivos de vida de consumidores.
Devemos destacar que a ética fundamentalista é, geralmente, criticada pelos filósofos e 
estudiosos, sendo que dificilmente encontraremos reflexões que apontem suas caracte-
rísticas sem problematizá-las. A respeito disso, Boff (2009) situa que o fundamentalismo
[...] não é uma doutrina, mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. 
É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de 
sua inserção no processo sempre cambiante da história, postura que exige 
contínuas interpretações e atualizações, exatamente para manter sua ver-
dade originária. Fundamentalismo representa a atitude daquele que confere 
caráter absoluto ao seu ponto de vista (BOFF, 2009, p. 49).
Nos últimos anos, tem crescido o movimento de consumidores sobre a necessidade de as 
empresas produtoras de alimentos (principalmente os processados) informar sobre a compo-
sição química de seus produtos. Há indícios de uso de agrotóxicos, entre outros elementos 
químicos nocivos à saúde pública. Esse movimento de consumidores exige que as empresas 
fabricantes desses alimentos informem e alertem nas embalagens os seus consumidores.
Investigue duas reportagens ou matérias em jornais e revistas recentes que ilustrem esta si-
tuação. Em seguida, faça uma análise desses materiais levando em consideração conceitos 
éticos em torno do utilitarismo e relativismo. Aponte quais as soluções éticas poderiam ser 
tomadas a respeito disso.
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Deontologia
DEVER MORAL 
RACIONAL
MEIOS MAIS 
IMPORTANTES QUE 
OS FINS
CERTEZA NAS 
CONSEQUÊNCIAS 
BENÉFICAS
CONFIANÇA NA 
RAZÃO
Do grego deon, que significa dever, obrigação
KANT
Figura 07. Mapa conceitual 
MAQUIAVEL
Teleologia
Do grego télos, que significa propósito ou fim.
CALCULISMO E JOGO 
DE FORÇAS
O BEM E O MAL, A RAZÃO E O 
IRRACIONAL SÃO MEIOS DA 
AÇÃO ÉTICA
OS FINS JUSTIFICAM 
OS MEIOS
IMPORTAM OS FINS
Fonte: elaborada pelo autor. 
 ` Filme 
Um mercado Relativista
O filme The Corporation (2003) mostra três exemplos impactantes do relativismo 
aplicado ao cenário empresarial. Podemos destacar, primeiramente, a Monsanto 
(uma das maiores empresas produtoras de sementes e derivados de leite do mundo 
e que tem atuação no Brasil). Para aumentar a produtividade de vacas leiteiras nos 
EUA e, consequentemente, os seus lucros, a Monsanto é acusada de ter aplicado 
nesses animais hormônios que significativamente elevaram o nível de produção. 
No entanto, sem se importar com os impactos causados sobre as vacas e os con-
sumidores, descobriu-se que os hormônios, na verdade, facilitam a proliferação de 
bactérias que levam os animais à morte. O produto contaminado é ingerido pelos 
clientes, sem que a Monsanto preocupe-se com as suas condições.
O segundo exemplo refere-se a IBM, famosa grife de computadores e sistemas 
empresariais de gestão. Antes e durante a Segunda Guerra Mundial, a IBM foi res-
ponsável por criar um sistema, ainda não informatizado, de geração de códigos 
entre outras burocracias que contribuíram muito para catalogar judeus, ciganos, 
homossexuais e opositores do ditador alemão, Hitler. Uma entre as tantas funções 
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Ética – sua essência e o cotidiano
dos sistemas criados pela IBM na Alemanha ajudaram a tatuar códigos nos braços 
desses prisioneiros, que eram levados, em sua grande maioria, aos campos de 
concentração. A IBM nega até hoje qualquer envolvimento com o nazismo. Ao se 
eximir de sua responsabilidade, a empresa adota também uma ética relativista, sim-
plesmente quando se considera que eram apenas “negócios”.
O terceiro caso mostrado pelo documentário refere-se à espantosa história da Co-
ca-Cola na mesma Alemanha Nazista. Após a entrada dos EUA no conflito armado 
em 1942, o governo desse país exigiu que as empresas americanas, sobretudo as 
de maior destaque, encerrassem suas atividades na Alemanha. Em nome da manu-
tenção de seus lucros, a Coca-Cola não exprimiu qualquer oposição ao nazismo; o 
refrigerante foi substituído, saiu de cena e, em vez de fechar a fábrica, a empresa 
substituiu o antigo pela sua mais nova invenção: Fanta. Naquela época tornou-se 
o refrigerante mais vendido na Alemanha. As empresas, por não informarem am-
plamente e publicamente aos seus clientes e consumidores os riscos em relação 
ao uso de suas mercadorias adotam o relativismo, cujo princípio elementar é dizer 
“cada um é cada um!”.
 ` Texto Complementar
Maquiavel (1469-1527), na obra O Príncipe (publicada de forma póstuma em 1532), 
passa a observar o ser humano como, naturalmente, dotado de egoísmo, individua-
lismo e nenhuma preocupação com o bem comum, a não ser de forma dissimulada, 
sendo que, na primeira oportunidade, poderia trair seus semelhantes. O filósofo parte 
de um ponto de vista negativo sobre a natureza humana. Seus questionamentos gira-
vam em torno de como o príncipe (expressão que se refere a qualquer governo) tem 
condições de manter o poder e o domínio sobre os súditos. Além disso, o pensador 
investiga como é possível persuadir os subordinados à autoridade de um governo 
e de que forma um príncipe deve agir para conter permanentes conflitos internos e 
externos, com outros governos.
Maquiavel nunca escreveu a expressão “os fins justificam os meios”, porém, sua 
obra permite relacioná-la com essa ideia, pois julga que, para consolidar o poder, 
o governante tudo pode e deve, como: matar, mentir, agir com hipocrisia, demitir, 
distorcer informações, ser amado pelo povo e ser temido pelosinimigos, tornar ini-
mizades em novos amigos ou oposto, promover e buscar ora a guerra, ora a paz. 
Tudo isso segundo a situação, interesse e conveniência.
É necessário desmitificar o termo maquiavélico, geralmente associado a fazer ou 
realizar o mal. Na verdade, ser maquiavélico expressa a capacidade de ser cal-
culista ou entender e saber medir racionalmente os prós e contras de uma ação. 
Trata-se da noção de que a ética maquiavélica está direcionada aos fins (manter o 
poder e garantir o apoio popular, pois sem ele ninguém se mantém no poder), seja lá 
quais forem os meios empregados.
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3. SENDO ÉTICO NO DIA A DIA
3.1. LIBERDADE, ESCOLHA E DECISÃO
Nas obras O Ser e o nada (1943) e O existencialismo é um humanismo (1946), Sartre-
afirma que “a existência precede a essência”. A expressão afirma a ideia de que não há 
nada de inato, pronto ou acabado no ser humano, não há uma essência ou natureza hu-
mana predeterminada. Tais elementos explorados por Sartre indicam que ninguém nasce 
definido ou direcionado naturalmente a ser e agir de alguma forma, ou, muito menos, é 
determinado por alguma força externa que o obrigue a ocupar uma posição social.
Na realidade, o ser humano, na visão de Sartre, nasce “condenado a ser livre”, de maneira 
que suas escolhas o tornam livre para a todo instante modificar o seu ser (SARTRE, 1984, 
p. 9). Isso significa que o indivíduo é construído e se constrói por meio do seu vínculo com a 
realidade, com o mundo à sua volta.
Com a ética de Maquiavel considera-se que ela visa fins, o que é designado com 
a palavra teleologia (do grego telos, que significa fim, finalidade, objetivo; e logos: 
discurso, razão ou racionalidade). Sendo assim, a teleologia representa o estudo dos 
fins ou das finalidades, sendo um modelo ético em que fins, resultados ou consequên-
cias são calculados pelo indivíduo, podendo ser utilizado em qualquer meio possível.
Sartre afirma, nessa direção, a liberdade como sinônimo de fazer escolhas e tomar 
decisões. Nossas escolhas e decisões modelam quem somos, são atitudes livres, cuja 
origem é particular a cada indivíduo. O resultado dessa liberdade (nossas escolhas e 
decisões) é a constituição de tudo aquilo que somos e que podemos vir a ser.
Com a afirmação de que o ser humano se caracteriza pela liberdade, Sartre se opôs 
à noção de natureza humana, entendida como elemento determinista ou fatalista, 
cuja defesa limita a liberdade humana e condena os indivíduos a pensarem que não 
são o resultado de suas próprias escolhas. O autor também se contrapôs à tradi-
ção filosófica grega e medieval. Os pensadores gregos na Antiguidade, como Platão 
(428-348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), concebiam que o comportamento e as 
posições sociais eram determinados pela natureza. Na Idade Média, teólogos como 
Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.), afirmavam ser Deus o responsável por determinar 
quem são os senhores e os servos.
A concepção de natureza humana é criticada por Sartre porque, além de renunciar 
à liberdade humana, leva os indivíduos a justificarem passividade diante da realida-
de em que estão inseridos, desconsiderando que a vida é uma construção em mo-
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Ética – sua essência e o cotidiano
vimento que dialogam com nossas escolhas e decisões. Já a condição humana é 
caracterizada por ser plástica, flexível e está em permanente transformação. Sendo 
assim, o conceito é sinônimo de liberdade, decisão e escolha. Ela revela que tudo o que 
o sujeito é ou possa vir a ser acaba sendo o resultado da liberdade e de suas escolhas 
diante do mundo em que vive.
Sartre considera que a humanidade vive condenada à liberdade. Posto de outro modo, ser 
livre expressa que a todo instante estamos fazendo escolhas ou projetamos nossa subjetivi-
dade no mundo a partir de nossas decisões.
Na perspectiva do existencialismo, a liberdade é uma decisão ética constante que im-
põe a cada indivíduo escolhas e decisões que constituem quem somos e o que repre-
sentamos para a sociedade. Porém, conforme indica na obra O ser e o nada (1997), a 
liberdade provoca o que Sartre designa como náusea ou angústia. Sendo que são dois 
fatores que provocam esse sentimento, a saber:
 ` Cada escolha (liberdade) obriga o abandono ou a anulação de todas as outras pos-
sibilidades de ação. Se, por exemplo, um indivíduo gosta das áreas médicas e das 
ciências humanas ao mesmo tempo, na juventude, ele é obrigado a escolher um único 
caminho profissional e decide escolher estudos na faculdade de medicina, ele viverá an-
gustiado por ter aberto mão de outra possibilidade de estudos e de vida. Quando decidi-
mos um rumo, abandonamos algumas opções e deixamos outras possibilidades de lado. 
Nossas escolhas profissionais, amorosas, projetos de vida e decisões econômicas que 
estabelecemos ao longo da vida estão sujeitos à angústia e náusea.
 ` Cada escolha (ou projeto que façamos) não se realizará no futuro tal como o pla-
nejamos originalmente no presente. Isso porque nossas escolhas e liberdades se en-
contram em uma relação de tensão com o mundo a nossa volta, pois há nele incontáveis 
subjetividades dos outros que estão também promovendo escolhas, ações livres e toma-
das de decisões que se chocam com nossos próprios projetos. Por isso, o filósofo afirma 
em diferentes obras que “o inferno são os outros”.
Na perspectiva ética existencialista, a angústia e a náusea têm origem no fenômeno 
que Sartre define como nadificação. Este conceito implica na noção de que o que 
somos é resultado das decisões que conduziram a resultados diferentes ao espera-
do, além de elementos que limitaram nossas escolhas e nos conduziram ao fracas-
so. Cada decisão, cada escolha exercida por um sujeito está em relação de tensão 
com as liberdades dos outros indivíduos. As liberdades e as escolhas presentes e 
exercidas por todas as demais subjetividades entram em contradição ou oposição 
com as nossas preferências.
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Em outras palavras, a nadificação diz respeito a tudo aquilo que barra ou limita a liberdade, 
são ações diferentes daquelas que planejamos ou mesmo desvios que a liberdade opera 
sobre a realidade na qual estamos inseridos, transformando-a.
Embora até aqui o pensamento ético de Sartre pareça ser pessimista, visto que a nadifi-
cação produz resultados diferentes aos projetados por nossa liberdade e fazer escolhas 
ocasiona em náusea e angústia, porque decidir significa abandonar outras possibilida-
des de vida, o filósofo afirma ser o existencialismo uma posição ética humanista e 
otimista (SARTRE, 1984, p. 3-32). De acordo com o existencialismo, a liberdade é ta-
manha que, apesar da tensão com as escolhas dos outros e os permanentes riscos de 
nadificação, somos suficientemente livres para contornar e superar fracassos, desvios 
e a concorrência que travamos com as decisões dos outros.
Na visão de Sartre, por sermos livres e por tomarmos decisões a todo instante, temos 
condições de superar as limitações com as quais nossa liberdade se depara. É nesse 
sentido que o existencialismo é considerado um humanismo, posto que apresenta oti-
mismo com a capacidade que possuímos de projetar a liberdade de modo a nos tornar 
seres em constante adaptação e transformação à medida que estamos no mundo e em 
contato com os outros.
3.2 ÉTICA, LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
Sartre (1984, p. 8-11) aponta que cada es-
colha, decisão ou ato, isto é, cada passo 
nosso no mundo possui reflexos amplos, 
com alcance universal. O filósofo defende, 
assim, que “fazer escolhas” e “responsa-
bilidade” são termos próximos, configuram 
a dimensão ética da liberdade, pois, ao 
tomar decisões, somos responsáveis pe-
los outros. Sartre demonstra que nossas 
decisões estão interligadas com o univer-
sal, com a subjetividade de todos os outros 
indivíduos, tal como quando escolhemos 
estudar e nossa profissão auxilia a vida de 
outros sujeitos, passamos a nosdar conta 
de como nossas decisões influenciam e são influenciadas pelas escolhas dos outros.
Max Weber (1864-1920), no início do século XX, foi outro pensador importante a tecer 
relações entre ética e responsabilidade. Nos seus dois ensaios publicados em 1919, 
Ciência como Vocação e Política como Vocação, o autor diferencia os conceitos que 
definiu como ética da convicção e ética da responsabilidade. Para ele,
[...] toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas 
totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela 
ética da responsabilidade ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer 
Figura 08. Monumento de Jean-Paul Sartre, 
em Nida, Lituânia
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a ética da responsabilidade à ausência de convicção. Não se trata eviden-
temente disso. Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem 
age segundo as máximas da ética da convicção - em linguagem religiosa, 
diremos: “O cristão faz seu dever e no que diz respeito ao resultado da ação 
remete-se a Deus” - e a atitude de quem age segundo a ética da responsa-
bilidade que diz: Devemos responder pelas consequências previsíveis de 
nossos atos (SROUR, 2000, p. 50)
A ética da convicção diz respeito a um dever moral que por ser considerado racional 
deve ser realizado independentemente das consequências. Weber remete à deontolo-
gia criada por Kant (1724-1808 d.C.), no final do século XVIII (ver mapa mental), para 
conceber a ética da convicção.
que a ética da convicção seja idêntica à ausência de responsabilidade e 
Imagine um médico que cria como valor moral jamais mentir por considerar que dizer a verda-
de é sempre a atitude mais racional e razoável. No entanto, suponha um paciente em estado 
terminal que pergunta qual é a sua condição após a análise de um exame. Certamente, o 
paciente receberá as palavras mais pessimistas e desagradáveis anunciadas pelo médico 
que prometeu jamais mentir. Dirá as verdades que podem ser desconcertantes, levando o 
paciente ao desespero e lágrimas. Weber afirma que a ética da convicção possui aspectos 
negativos, porque os meios se confundem com os fins, ou seja, o dever se torna mais rele-
vante do que as consequências, ao passo que elas podem ser desastrosas.
EXEMPLO
A ética da responsabilidade, por seu turno, procura medir as consequências; há cálculo 
e reflexão sobre os prós e contras de todos os atos. Portanto, visa os fins e não os 
meios, relacionando-se ao padrão de ética denominada como teleologia (ver o mapa 
conceitual ao final deste tópico).
Voltando-nos, novamente, ao exemplo do médico que possui como compromisso ético 
jamais mentir, podemos investigar o quanto foi irresponsável ao seguir a ética da con-
vicção fornecendo o diagnóstico ao seu paciente. No entanto, seria possível pensar em 
um médico que passasse agora a seguir a ética da responsabilidade. Ele poderia ser 
considerado responsável caso tivesse mentido e dissesse ao seu paciente o quanto ele 
é forte, resistente, um grande exemplo e corajoso, surpreendido a todos no hospital.
Sabendo que são palavras mentirosas, porém confortáveis ao paciente, elas poderiam 
motivar seu paciente a não desistir e a aceitar a gravidade de sua doença. Na ética da 
responsabilidade, os fins são mais relevantes que os meios.
Para ampliar o conhecimento acerca da ética, confira as reflexões do sociólogo Fernando 
Henrique Cardoso, a partir de seus estudos sobre Max Weber, sobre a ética dentro da política 
para o programa Café Filosófico, referenciadas a seguir:
SAIBA MAIS
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3.3 A ÉTICA E O CAPITALISMO
Os desenvolvimentos do capitalismo e da sociedade burguesa entre os séculos XVIII e 
XIX produziram modificações a respeito do que vem a ser a ética e o próprio trabalho. 
Adam Smith (1723-1790) é considerado o precursor da ética voltada ao trabalho e à 
economia. A palavra “economia”, até antes do surgimento do capitalismo, estava restrita 
à administração privada do lar (família, alimentos e escravos ou servos). Foi a partir da 
teoria econômica de que a noção desse conceito foi posta de ponta-cabeça, tornando-
-se um assunto público e, portanto, uma ética.
No século XVIII, Adam Smith conseguiu demonstrar, na sua A riqueza das nações, que 
o lucro não é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuição de renda e de pro-
moção do bem-estar social. Com isso, logrou expor pela primeira vez a compatibilidade 
entre ética e atividade lucrativa (MOREIRA, 1999, p. 28).
Para Smith (1996), o mercado deveria funcionar segundo preceitos éticos individualis-
tas, o que designou como “mão invisível”, a partir da qual o
[...] indivíduo procura, na medida do possível, empregar seu capital em fo-
mentar a atividade nacional e dirigir de tal maneira essa atividade que seu 
produto tenha o máximo valor possível [...]. Geralmente, na realidade, ele 
não tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está 
promovendo. Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países 
ele tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade 
de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a 
seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como 
que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas 
intenções (SMITH, 1996, p. 438).
O autor supracitado cria a percepção de que a eco-
nomia é uma esfera ética à medida que o merca-
do, aparentemente caótico, é, na realidade, organi-
zado e produz as espécies e quantidades de bens 
que são mais desejados pela população. Quanto 
mais egoísta e competitivo for um indivíduo e quan-
to mais obtiver riquezas por meio de seu trabalho, 
indiretamente ele contribuirá com o progresso de 
outros indivíduos competitivos, por meio da com-
pra de outros serviços ou mercadorias, de modo 
que ocorre o progresso coletivo.
Surge uma modalidade de ética que tem, como fim 
último, o progresso social a partir do individualismo 
exacerbado. Na obra A Riqueza das Noções (1996), 
UM POLÍTICO não pode fugir das responsabilidades dos seus atos, 2019. Vídeo (2min 37s). 
Publicado pelo canal Café Filosófico CPFL. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?-
v=_8K1NxxgsfE. Acesso em: 07 jun. 2022.
Figura 09. Monumento de Adam Smith 
na Royal Mile de Edimburgo 
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Ética – sua essência e o cotidiano
Adam Smith concebe que a melhor forma de uma sociedade prosperar se dá por meio 
das livres iniciativa e concorrência, competitividade, do individualismo; ou seja, cada 
sujeito deve concentrar-se em seus interesses econômicos privados.
No ano de 2021, a ONU publicou o Relatório do Clima. O documento é um importante diag-
nóstico a respeito dos resultados da ação humana sobre o meio ambiente diante de uma so-
ciedade industrializada que procurou se apropriar dos recursos naturais de forma predatória.
Os desequilíbrios sobre o clima causados pela ação humana foram estimulados pelos lucros 
das grandes multinacionais.
Investigue em jornais e revistas informações sobre o relatório do clima publicado em 2021 
pela ONU. Em seguida, faça uma análise e reflexão desses materiais levando em conside-
ração duas questões:
a. problematize se o interesse privado pode estar acima do coletivo quando pensamos em 
questões envolvendo o meio ambiente;
b. avalie formas de equilibrar o interesse privado das empresas e as questões ambientais.
Sugestões de leitura:
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento. Novo relatório climático do IPCC apresenta avaliação do clima no mundo. Portal 
Inmet, 13 ago. 2021.
Disponível em: https://portal.inmet.gov.br/noticias/ipcc-alerta-para-necessidade-de-a%-
C3%A7%C3%B5es-para-mitiga%C3%A7%C3%A3o-de-riscos-clim%C3%A1ticos
Caso de aplicação 4
 ` Devemos sempre obedecer às leis de forma incondicional?
 ` É ético obedecer a leis quando elas podem produzir algum

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