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USF_EAD_Ética_e_Cidadania_Completo

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Rodrigo Paula

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Prévia do material em texto

PAULO NICCOLI RAMIREZ
RENAN REIS FONSECA
SUSANA MESQUITA BARBOSA
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
ÉTICA E CIDADANIA
ÉTICA E CIDADANIA
2022
Heloísa Maria dos Santos Toledo
Paulo Niccoli Ramirez
Renan Reis Fonseca
Susana Mesquita Barbosa
PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Renato Adriano Pezenti
GESTOR DO CENTRO DE SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CSE
Franklin Portela Correia
REVISÃO TÉCNICA
Osmair Severino Botelho
PROJETO GRÁFICO
Impulsa Comunicação
DIAGRAMADORES
Daniel Landucci
CAPA
Daniel Landucci
© 2022 Universidade São Francisco
Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA 
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – 
ORDEM DOS FRADES MENORES
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 
(2010) e Especialista em Educação pela PUC-RS. Tem experiência nas áreas de So-
ciologia e Ciências Sociais e Humanas, atuando principalmente nos seguintes temas: 
educação, tecnologia e mediação tecnológica, Sociologia Geral e pensamento clássico, 
Arte, Cultura e Indústria Cultural. Professora no Ensino Superior e autora de materiais 
didáticos. Professora orientadora no curso de pós-graduação Especialização na Inova-
ção da Educação Mediada por Tecnologias, na Universidade Federal do ABC, financia-
do pela UAB/Capes.
PAULO NICCOLI RAMIREZ
Professor de Filosofia, Sociologia, Antropologia e Ciência Política. Leciona na ESPM, 
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Casa do Saber e 
Colégio São Luís. Possui doutorado (2014) e mestrado (2007) em Ciências Sociais pela 
PUC-SP (respectivamente nas áreas de concentração Antropologia e Sociologia) e tam-
bém bacharelado em Ciências Sociais (PUC-SP - 2004) e Filosofia (USP - 2007). Autor 
do livro Sérgio Buarque de Holanda e a dialética da cordialidade (2011).
RENAN REIS FONSECA
Graduado em História (2006 - 2010) nas modalidades bacharelado e licenciatura pela 
Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ. Mestre (2010 - 2013) pela mesma 
instituição de ensino no Programa de Mestrado em Letras, Teoria Literária e Crítica da 
Cultura - PROMEL. Doutor (2014 - 2019) em História Social pela Universidade de São 
Paulo - USP. É autor dos livros: O transnacional e o local nas revistas Readers Digest 
e Seleções: relações de gênero nos Estados Unidos e Brasil (1939 - 1971) e Amor e 
Gênero em Revista: os quadrinhos em sua (sub)versão romântica, ambos publicados 
em 2020 pela Editora ApeKu. Possui experiência na área de conservação, organização, 
descrição e indexação em banco de dados de documentos históricos. Possui, também, 
experiência na área docente, como professor de História, Funcionamento do Estado e 
Criação Literária para o Ensino Médio e superior. Atualmente desenvolve pesquisa nos 
O AUTOR
seguintes temas: Histórias em quadrinhos, Estudos culturais, História da Imprensa e do mer-
cado editorial, História Cultural, Relações Brasil – Estados Unidos, Imigração.
SUSANA MESQUITA BARBOSA
Bacharel e licenciada em Filosofia (UNICAMP). Bacharel em Direito pela Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de 
Campinas (UNICAMP). Doutora em Direito Político e Econômico (MACKENZIE). Especialista 
em “Educação e Tecnologia: Docência no Ensino Superior” na UFSCAR. 
Coordenadora dos Cursos de História e Filosofia da Universidade São Francisco (USF). Pro-
fessora e Assessora pedagógica na Faculdade Paulista de Ciências da Saúde (SPDM Edu-
cação). Membro da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e Parecerista de 
diferentes periódicos. Autora do livro “História do Direito” e de “Introdução à História do Direi-
to”, organizadora das obras “Direitos Humanos: perspectivas e reflexões para o Século XXI” 
e “Transparência Eleitoral”. Autora de capítulos de livros e artigos resultados das pesquisas 
nas áreas de Ética, Filosofia, Direitos Humano, Cidadania e Políticas Públicas e Políticas de 
Desenvolvimento.
O REVISOR TÉCNICO
OSMAIR SEVERINO BOTELHO
Possui graduação em Filosofia pelo Centro de Estudo da Arquidiocese de Ribeirão Preto 
(1987), graduação em História - Centro Universitário Barão de Mauá (1991), graduação em 
Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná , Faculdade de Filosofia Ciências 
e Letras, Campus de Toledo, Paraná (1994), especialização em Filosofia pela Universidade 
Federal de Uberlândia (1996) e mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo (2005). Trabalhou em diversas instituições de ensino de Ribeirão Preto e região, tais 
como: Colégio Vita et Pax, Centro Universitário UNISEBCOC, Centro Universitário Claretiano. 
Atualmente é professor no no Instituto de Filosofia Dom Felício, em Brodósqui - SP, e no Centro 
Universitário Barão de Mauá, na cidade de Ribeirão Preto. Tem experiência na área de História, 
Filosofia e Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Filosofia Grega, Filosofia 
Moderna e Contemporânea, Ética, Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Filosofia da Reli-
gião, Filosofia da Educação, História Geral e da Educação e Metodologia da Pesquisa.
SUMÁRIO
UNIDADE 01: ÉTICA – SUA ESSÊNCIA E O COTIDIANO ...................................8
1. Ética moral ..........................................................................................................14
2. Aprendendo a decidir com ética ..........................................................................22
3. Sendo ético no dia a dia ......................................................................................31
UNIDADE 02: ATUAÇÃO PROFISSIONAL ÉTICA NA SOCIEDADE 
CONTEMPORÂNEA .................................................................................................42
1. O que significa ser profissional ...........................................................................43
2. A necessidade de regras morais .........................................................................53
3. Sociedade tecnológica e digital ...........................................................................63
UNIDADE 03: VIVÊNCIA PROFISSIONAL E CONSTRUÇÃO DA 
CIDADANIA ...............................................................................................................72
1. Cidadania ontem e hoje ......................................................................................73
2. O espaço da cidadania .......................................................................................80
3. É preciso cuidar! ..................................................................................................88
UNIDADE 04: O DIVERSO E O DESIGUAL – QUESTÕES 
CONTEMPORÂNEAS E O ÂMBITO DO TRABALHO ...........................................98
1. Ser diferente é ser desigual? ..............................................................................98
2. A profissão não tem gênero ................................................................................107
3. Enfim, uma sociedade possível ...........................................................................116
4. Rememorando as temáticas estudadas ao longo das unidades .........................124
5. Reflexões éticas, práticas de cidadania: construções do futuro .........................126
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Ética – sua essência e o cotidiano
UNIDADE 1
ÉTICA – SUA ESSÊNCIA E O COTIDIANO
INTRODUÇÃO
Caro(a) estudante, paz e bem!
Ética e Cidadania é um dos componentes que constituem o Núcleo de Formação Ge-
ral – juntamente com Estudo do Ser Humano Contemporâneo, Iniciação à Pesquisa 
Científica, Direitos Humanos e EmpreendedorismoSocial. Estes componentes serão 
trabalhados de forma interdisciplinar: os conteúdos de cada um servirão para construir 
um entendimento de mundo e uma maneira de problematizar a realidade. Eles, conjun-
tamente, oferecerão novas chaves para que você possa reinterpretar a realidade.
Os elementos que apresentamos nesta introdução são importantes para que você bem 
entenda de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Formação Geral estão 
estruturados a fim de oferecer uma experiência significativa de aprendizagem, contri-
buindo, assim, para sua formação profissional.
Vamos lá!
CONECTAR
Ética e Cidadania e a interdisciplinaridade
Ao pensarmos os conteúdos e problematizações deste componente, é importante en-
tender que ele não pode ser restrito a apenas um âmbito de vivência humana, pois 
tudo o que o ser humano faz tem reflexo (direto ou não) na vivência plural. Enquanto 
a ética busca pensar a ação do indivíduo, pautada por valores, a cidadania amplia a 
visão de mundo e tenta enxergar de que modo o individual se transforma em coletivo: a 
cidadania se refere à maneira como uma comunidade possibilita a participação de seus 
membros na construção de uma vivência coletiva que permita a realização humana.
Deste modo, as temáticas relacionadas às vivências ética e cidadã são, em si mesmas 
interdisciplinares – principalmente quando pensamos a formação profissional. Pense no 
âmbito da sua escolha profissional e nos outros componentes do Núcleo de Formação 
Geral. Vejamos:
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Ética e Cidadania
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 ` Em todas as suas escolhas – acadêmicas ou profissionais – você traz valores aprendidos 
ao longo de sua vida. Onde tais valores encontram fundamento? Você traz como princí-
pios de vida algo que sua vivência familiar e social ensinou. Pode ser por meio dos livros 
aos quais teve acesso; pode ser por meio de uma vivência religiosa; ou, simplesmente, 
por meio da convivência nos diferentes ambientes. Estes âmbitos – ou dimensões huma-
nas – são problematizados em Estudo do Ser Humano Contemporâneo.
 ` Você pretende fazer uma pesquisa? Sabe quais caminhos seguir e de que modo pode 
evitar problemas com seu conteúdo? Uma pesquisa alcançará mais sucesso, quanto mais 
responder aos anseios da sociedade. E é importante entender que, para algumas pesqui-
sas, é necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética da instituição. Ainda mais: um 
trabalho autoral, sabendo como se utilizar de fontes de pesquisa, evita graves problemas, 
como o plágio. Estas questões são tratadas em Iniciação à Pesquisa Científica. 
 ` Na vida profissional, possivelmente, você vai lidar com pessoas – mesmo que seja indire-
tamente. Uma reflexão sobre o espaço de vivência para todos na sociedade e no ambien-
te de trabalho é questão de oportunidades e não de capacidades. Não falamos mais de 
‘gosto’, ou ‘preferência’; a igualdade e a não discriminação são pilares de uma concepção 
de cidadania. Temas como estes são problematizados em Direitos Humanos.
 ` Como profissional, é claro que você objetivará alcançar satisfação e sucesso. Mas, será 
que todo caminho é válido? Cada pessoa deve tentar por si mesma um caminho? Vale 
pensar “sucesso a qualquer preço”? Ser profissional é entender que há uma necessidade 
social que precisa ser respondida – lembre-se de que você escolheu uma profissão que 
existe por ser importante neste contexto no qual você vive. Estes temas com viés ético 
estão presentes no componente Empreendedorismo Social.
Enfim, no Núcleo de Formação Geral, o componente Ética e Cidadania partilha de gran-
des temas que perpassam os demais componentes. As competências objetivadas pelo 
Núcleo buscam auxiliar em sua formação de modo amplo, para ser um bom profissional, 
com conteúdos que vão além do âmbito técnico da área específica do seu curso.
DESENVOLVER
O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você 
sabe o que é a competência, ou quando alguém pode se entender competente?
A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na vida 
cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta das exigên-
cias que as diferentes situações impõem.
Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai nos 
apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.
SAIBA MAIS
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Ética – sua essência e o cotidiano
Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se objetiva 
é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita não é “Eu 
aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir deste caso, e que 
vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”
Figura 01. O desenvolvimento de competências
 Fonte: Elaborado pelo autor / Imagens: Pixabay.
Desenvolver competências é desenvolver a habilidade de resgatar esquemas mentais que 
possam ser encaixados em diferentes situações. O célebre autor que tratou da temática das 
competências é Philippe Perrenoud (1944-).
Para conhecer mais, assista ao vídeo Pensadores na Educação: Perrenoud e o desenvolvi-
mento de competências:https://www.youtube.com/watch?v=lYvoCDRCfOw
Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o 
componente Ética e Cidadania incitará:
01. Definir o que são ética e moral, estabelecendo diálogo crítico com teorias e autores.
02. Examinar os fundamentos da ação profissional ética, identificando o conceito de ‘boa 
ação’ como necessidade para a vida humana em sociedade.
03. Interpretar a realidade a partir dos impasses éticos e de cidadania, compreendendo a 
construção social dos valores e a histórica luta por direitos sociais.
04. Avaliar a postura individual, considerando-se a prática ética e cidadã, reconhecendo a 
importância da postura de influência positiva na prática cotidiana.
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Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de forma ale-
atória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF acredita, formando 
você como profissional. São competências possíveis, mas que apenas podem ser desenvolvi-
das se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.
IMPORTANTE
PRATICAR
a. DIFERENTES OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA DIFERENTES 
FORMAS DE APRENDER
O desenvolvimento de competências pode se dar de diferentes modos, de acordo com 
o objetivo que se tem. Cada componente curricular, em cada unidade, tem objetivos es-
pecíficos pensados a partir das competências estabelecidas para o profissional que está 
sendo formado – você! –, não importando a área de conhecimento. Mas, antes dos ob-
jetivos de cada componente, temos de pensar as competências necessárias para bem 
cursar um componente oferecido a distância.
E você, sabe como você aprende?
Possivelmente, você já ouviu dizer que uma pessoa aprende mais ouvindo, enquanto outra o 
faz escrevendo, e ainda outra, lendo e anotando.
Leia ao artigo:
Os quatro estilos de aprendizagem − ou por que alguns leem os manuais e outros não
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html
SAIBA MAIS
b. O CONHECIMENTO – TEORIA E PRÁTICA
A competência pode ser entendida como um conjunto de elementos que, no todo, tra-
tam de um saber prático; trata-se de três elementos: conhecimento, habilidade e ati-
tude. Dificilmente conseguimos dizer que um profissional é competente sem ter estes 
elementos como base sólida. A partir deste entendimento é que este componente cur-
ricular é entendido e proposto com significativa importância para sua formação pro-
fissional. A USF entende que ser profissional deve ser mais que, simplesmente, um 
reprodutor da técnica.
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Ética – sua essência e o cotidiano
Avalie suas competências, verificando:
 ` Conhecimento – você tem os conhecimentos necessários, que possibilitarãouma vivência 
profissional humana e responsável consigo, com o outro e com a sociedade?
 ` Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática que seja 
eficiente, fazendo bem feito aquilo que se espera de um(a) bom(a) profissional?
 ` Atitude – a partir do conteúdo assimilado e da boa prática desenvolvida, você se motiva 
a agir de modo eficaz, buscando a melhor em cada situação?
Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, 
pesquisando em:
https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-Agenda2030-comple-
to-pt-br-2016.pdf
IMPORTANTE
SAIBA MAIS
Ao longo das unidades, as temáticas apresentadas têm sempre o objetivo de possibili-
tar uma prática profissional, carregada de sentido e que possa responder aos anseios 
da sociedade, sem deixar de lado a realização pessoal. Neste sentido, pense sobre as 
competências deste componente – indicadas acima –, e procure verificar se você já as 
tem desenvolvidas. Inicie o curso deste componente, já tendo em mente suas compe-
tências e entendendo que elas devem ser metas a se alcançar. Ao terminar os estudos 
de Ética e Cidadania, você terá oportunidade de se avaliar, verificando quanto aprendeu 
e desenvolveu, e o que ainda restará como necessidade.
c. OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL
No ano de 2015, pensando a necessidade de ações que pudessem melhorar a vida 
no planeta como um todo, líderes mundiais se reuniram na ONU e estabeleceram a 
chamada Agenda 2030 – trata-se de um plano para erradicar a pobreza e promover o 
desenvolvimento da vida humana e do planeta.
Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir 
dos quais são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17 ODS:
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Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta como 
um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral, entende-
mos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas e situações 
diversas que você, como profissional, vai enfrentar. Neste sentido, os ODS devem ser trazi-
dos nas problematizações dos componentes curriculares.
Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, 
pesquisando em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
SAIBA MAIS
Aproveite as oportunidades que forem ofertadas para o desenvolvimento deste compo-
nente: textos, fóruns, vídeos etc. Tudo é desenvolvido para seu melhor aproveitamento 
e sucesso na formação profissional!
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Ética – sua essência e o cotidiano
PRIMEIROS CONCEITOS
Nesta unidade, a primeira problematização a ser feita se refere ao que é, propriamente, 
a ética – o que, por sua vez, nos leva a pensar sua relação com a moral. Ambos os con-
ceitos se relacionam à vida prática dos indivíduos, entendendo que a vida em sociedade 
seja a tentativa de organizar a realidade de modo tal que permita a realização de todos.
Quase a totalidade das ações que podemos tomar tem reflexos na vida coletiva – por 
isso, há uma clara necessidade de se refletir sobre as motivações e as possíveis conse-
quências das ações. Não é simples; porém, a ética, enquanto reflexão que vem sendo 
desenvolvida desde séculos, apresenta ideias que podem ser aplicadas para se pen-
sar a prática. Significa que diversos pensadores contribuíram para a reflexão ética e 
deixaram suas contribuições. 
Investigaremos diferentes posturas éticas elaboradas por filósofos ao longo da histó-
ria da cultura ocidental, entre eles, Aristóteles (384-322 a.C.) e os chamados estoicos 
(séculos III a I a.C.). Além disso, outras concepções modernas também serão inves-
tigadas, tais como o pensamento de Kant (1724-1804) e o seu dever ético; Bentham 
(1748-1832) e o utilitarismo, que se refere à ética consequencialista; contratualismo, 
hedonismo, relativismo e, no período contemporâneo, as possibilidades do diálogo e do 
consenso ético de Habermas (1929 -).
Quando estudamos ética, precisamos considerar que existem múltiplas formas de 
compreender nossas escolhas, decisões e os caminhos a serem tomados. Faz -se 
necessário, também, levarmos em conta que as ações podem ser múltiplas e não é 
possível saber como os demais indivíduos irão reagir, segundo seus valores e pre-
ferências. A ética é uma ciência que estuda os valores morais e os comportamentos 
humanos. Porém, ao contrário das ciências exatas, trabalha com a multiplicidade de 
escolhas e caminhos a serem seguidos, suas consequências e modos distintos de per-
ceber a realidade e a vida com os demais indivíduos. Longe de procurar um resultado 
e respostas únicas e universais, a ética está preocupada em desenvolver formas de 
vida que produzam o bem-estar e o bem comum.
Ainda estudaremos a relação da ética com liberdade, escolhas, decisões e responsa-
bilidade. A respeito desses elementos, investigaremos o pensamento existencialista de 
Sartre (1905-1980), pensador francês que refletiu sobre a relação entre ética, ações 
individuais e seus reflexos sobre a coletividade. A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-
1975) trouxe também importantes contribuições a respeito do assunto, sobretudo nas 
ruas reflexões sobre a relação entre regras sociais e os valores dos indivíduos.
1. ÉTICA MORAL
1.1 O QUE É ÉTICA?
A palavra ética, do grego ethos, foi elaborada pela primeira vez por Aristóteles (384–
322 a.C.), pensador que viveu na Grécia Antiga. Ética significa conduta ou modo de agir, 
sendo também compreendida como reflexão sobre os fundamentos da conduta ou do 
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modo de agir. A ética, portanto, é entendida como uma reflexão ou ciência que estuda o 
comportamento dos indivíduos em comunidade.
Segundo Aristóteles (1992, p. 22), a finalidade da ética deve ser o de promover a fe-
licidade coletiva, o bem comum ou a excelência humana. Na obra Ética a Nicômaco, 
Aristóteles apresenta a concepção dessa expressão empregando os seguintes termos
[...] parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este 
bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa 
de algo mais; mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras 
formas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas [...], escolhe-
mo-las por causa da felicidade, pensando que através delas seremos felizes. 
Ao contrário, ninguém escolhe a felicidade por causa das várias formas de 
excelência, nem, de um modo geral, por qualquer outra coisa além dela mes-
ma (ARISTÓTELES,1992, p. 23).
A ética se relaciona ao uso da racionalidade e do senso-crítico, conduz ao bom senso 
ou moderação. Isso significa afirmar que exige a reflexão; ou seja: é preciso medir os 
prós e os contras, os elementos positivos e negativos de cada ação antes mesmo que 
qualquer decisão seja tomada. Nessa direção, a ética tem como finalidade estabelecer 
a melhor atitude ou ação mais equilibrada para o convívio coletivo.
Leandro Karnal, no vídeo a seguir referenciado, comenta sobre a obra Ética a Nicômaco, 
de Aristóteles, veja mais em: KARNAL, Leandro. Ética segundo Aristóteles, 2020. Vídeo (4 
min. 09 seg.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8fi7yzeogD0. Acesso em: 
07 jun. 2022.
SAIBA MAIS
A ética busca estabelecer as melhores formas de conduta perante outros indivíduos. 
Para isso, é relevante refletir sobre os procedimentos e as virtudes que são fundamen-
tais para a realização do bem coletivo. O exercício da ética exige a busca do que os 
gregos denominavam como areté, compreendida como melhor ação – portanto, um 
comportamento virtuoso ou atitudes que buscam a excelência humana.
1.2 O QUE É MORAL?
É comum que confundamos as palavras “ética” e “moral”. Contudo, ambas pos-
suem diferenças, por isso, é necessário esclarecermos o que exatamente as distin-
gue. A moral tem origem no latim, moris, e significa costume, tradiçãoou hábitos. 
A sua diferença com a palavra “ética” está no fato de que a moral não exige refle-
xão mais profunda ou senso-crítico, não sendo reflexo de um exame detalhado de 
uma conduta ou ação. Isso ocorre porque a moral é constituída por regras, nor-
mas ou costumes que não são analisados ou questionados de forma detalhada, são, 
na verdade, transmitidos de geração a geração como se fossem normais, naturais, 
de modo que devem ser seguidas e obedecidas.
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Ética – sua essência e o cotidiano
No que diz respeito à moral, os sujeitos são introduzidos em um conjunto de costumes 
como se eles fossem normais ou como se existissem desde sempre, sem que isso 
implique análises e problematizações profundas sobre a existência de padrões de com-
portamento, formas de ver o mundo e valores.
O que vem a ser a moral? Um conjunto de valores e de regras de compor-
tamento, um código de conduta que coletividades adotam, quer sejam uma 
nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organiza-
ção. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, 
a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes 
sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e 
quais não. (SROUR, 2000, p. 29).
Em linhas gerais, podemos afirmar que a ética é ex-
pressa por condutas que têm alcance universal, ge-
ral ou coletivo, pois sua principal intenção é tentar 
promover a felicidade coletiva por meio da reflexão 
e da razão. A ética mede os elementos favoráveis 
e desfavoráveis de cada ação ou conduta, além de 
procurar condições que contribuam para a convi-
vência entre diversos grupos e diferentes indivídu-
os, dotados de morais distintas.
A ética estuda e investiga a moral (os hábitos e 
costumes humanos) para produzir a melhor ação 
possível, sem desconsiderar a existência de grupos 
e moralidades que são heterogêneas, mas que de-
vem coexistir numa mesma sociedade.
A moral é considerada relativa, pois suas regras e nor-
mas de comportamento podem valer para um grupo ou sociedade, mas não necessariamente 
para outros. A moral se transforma, ao longo do tempo, e é expressa pelos chamados valores 
(ou juízos morais), que norteiam as noções do que é justo ou injusto, bem ou mal, o que é 
virtuoso ou que promove vícios.
1.3 O PROBLEMA DO VALOR E O JULGAMENTO ÉTICO
A vida humana é marcada por reflexões e ações morais e éticas. Desde governos, 
empresas, relações familiares, passando por jogos, esportes e as demais práticas hu-
manas, todas elas são constituídas de valores morais e condutas éticas. Avaliamos que 
a moral é relativa, porque costumes, hábitos e visões de mundo variam de sociedade 
para sociedade conforme o período histórico.
Diante da variabilidade de valores morais presentes em qualquer sociedade e na rela-
ção entre diferentes povos e culturas, a ética opera não apenas como estudo ou ciência 
que investiga a moral, mas também fornece bases para a prática de julgamentos éticos, 
que visam produzir convivência entre diferentes valores morais presentes nos indivídu-
os. Cada ação ética pressupõe a análise de quais são os impactos causados sobre dife-
rentes grupos e comunidades humanas constituídos por valores morais heterogêneos. 
Figura 02. Moral e ética
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A ética parte do pressuposto de que os indivíduos, certas vezes, possuem um forte 
sentimento, vontade ou impulso que surgem como um primeiro impacto quando nos en-
contramos em situações em que temos que agir de maneira imediata. Com indignação, 
às vezes, engrossamos o tom de voz se uma pergunta ou circunstância chocante está 
diante de nossa visão. Outras vezes, realizamos juízos sobre as ações que presencia-
mos, sendo que julgamos, demonstramos valores ou comentamos o acontecimento 
que atraiu a nossa percepção. Esses comportamentos são chamados de senso moral.
Quando vemos um indivíduo em condição vulnerável passar fome ou vivendo de maneira mi-
serável e decidimos oferecer alguma ajuda; ou quando vemos um idoso que tenta atravessar 
a rua e de forma imediata e impulsiva, nós o auxiliamos; se somos favoráveis ou contrários ao 
aborto ou legalização do uso de entorpecentes, nessas situações, agimos com gritos, gestos 
bruscos de reprovação ou aceitação, visões e expressões mais singelas ou ríspidas. Todos 
esses valores e comportamentos revelam o que é designado como senso moral.
Para saber mais a respeito da ética e o senso moral, recomendamos que você assista à 
aula do professor Washington Soares, referenciada na sequência: SOARES, Washington. 
Ética - Senso Moral e Consciência moral, 2020. Vídeo (6min. 13s.). Publicado na página do 
Prof. Washington Soares, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FE5CZ-
1DA92s&t=8s. Acesso em: 07 jun. 2022.
EXEMPLO
SAIBA MAIS
Com o senso moral não há a necessidade de justificativa imediata, pois o conceito está 
relacionado à formação e aos valores morais de um indivíduo, fundamentados em tra-
dições e costumes que originam e caracterizam comportamentos imediatos, portanto, 
fundamentam o próprio senso moral. Situações que não entendemos de maneira com-
pleta ou posicionamentos tomados sem uma análise detalhada da realidade influenciam 
a prática do senso moral.
Em uma de suas obras capitais para a introdução ao pensamento filosófico, 
intitulada “Convite à filosofia”, Chaui (2000) escreve que esse sentimento 
prova que nós somos seres morais, dotados de um senso de moralidade. 
O sentimento despertado em nós prova a existência de um universo moral 
e nos leva a pensar sobre o que é certo ou errado, justo ou injusto, bom ou 
mau diante de situações de sofrimento e dor, principalmente quando envol-
vem crianças, seres inocentes que nos comovem por conta de sua fragilida-
de (BRAGA JUNIOR; MONTEIRO, 2016, p. 42).
Os nossos atos e posicionamentos, sejam contrários ou favoráveis diante de certas 
situações, exigem de nós uma justificativa perante os demais ou à sociedade. Essa 
forma de justificativa é chamada de consciência moral e representa explicações que 
são fornecidas para explicar o senso moral.
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Ética – sua essência e o cotidiano
Quando somos questionados sobre a legalização do aborto e caso haja um posicionamento 
contra a partir de uma perspectiva de uma moral religiosa, será preciso justificar este mesmo 
posicionamento para os indivíduos que nos cercam.
EXEMPLO
A consciência moral é compreendida, as-
sim, como a justificativa fundamentada a 
partir da moral e fornece sentido às nos-
sas atitudes e percepções de mundo.
Se procurarmos ajudar a criança com 
fome ou o idoso que busca atravessar a 
rua, exercemos o chamado senso moral. 
Quando procuramos justificar aos demais 
e a nós mesmos quais são os motivos que 
permitiram a ação imediata, exercemos a 
consciência moral. Esta, por sua vez, 
permite que os sujeitos se tornem res-
ponsáveis pelas formas como nos com-
portamos. Senso e consciência moral estão presentes no dia a dia, nos sentimentos, 
nas intenções e decisões, no que é ou não correto a ser feito. Posto de outra maneira,
[...] diante de um senso moral, temos emoções e sentimentos que são susci-
tados pelos acontecimentos com base em nossa crença nos padrões morais 
que adotamos e que nos orientam. Mas é a nossa consciência moral que 
nos leva a agir e a assumir a responsabilidade por nossos atos (BRAGA 
JUNIOR; MONTEIRO, 2016, p. 44).
Os julgamentos éticos são o resultado do estudo e da análise do senso e da consciência 
moral. Ao realizar a capacidade de julgar, a ética leva em consideração os diferentes 
pontos de vista e tem como objetivo produzir equilíbrio e condições de coexistência entre 
posicionamentos heterogêneos, desde que eles promovam o bem comum ou coletivo.
1.4 QUESTÕES ÉTICAS E QUESTÕES MORAIS
Há questões e problemas que dividem opiniões, pois demonstram os dilemas éticos e mo-
rais. À vista disso, James e Stuart Rachels, na obra Os elementos da Filosofia Moral (2013),refletem como, no passado, havia justificativas que procuravam legitimar a escravidão de 
seres, erroneamente, considerados inferiores. Os autores argumentam que, por vezes, es-
sas justificativas eram carregadas de argumentos religiosos. Sabemos que tais ideias não 
são mais condizentes com os direitos humanos e igualdade jurídica. Isso porque
[n]ossos sentimentos podem ser irracionais: eles podem ser nada mais do 
que produtos do prejuízo, egoísmo ou condicionamento cultural. Em um 
momento, por exemplo, os sentimentos das pessoas lhes disseram que os 
membros de outras raças eram inferiores e que a escravidão era o plano de 
Deus. Ademais, os sentimentos das pessoas podem ser muito diferentes 
(RACHELS; RACHELS, 2013, p. 23).
Figura 03. A ética visa o equilíbrio e coexistência 
entre comportamentos morais heterogêneos
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Debates como o assunto de aborto e de legalização das drogas nos permitem, primeiro, 
identificar diferentes juízos de valor. Via de regra, de um lado, sob uma fundamentação 
moral religiosa, argumenta-se que a vida é um valor sagrado, de modo que abortos não 
deveriam ser legalizados. Por outro lado, movimentos feministas têm como valor as defe-
sas da liberdade de decisão das mulheres e o direito de escolha sobre seus próprios cor-
pos. Além disso, o uso de drogas sob perspectivas morais religiosas é julgado de modo 
negativo, sendo relacionado a uma vida marginal, de degradação e distante de virtudes.
Nas últimas décadas, no entanto, países como Holanda, Bélgica, Espanha, Uruguai, en-
tre outros, têm concedido liberdade de uso de algumas drogas, como a maconha. Tais 
posturas têm recebido adeptos mundo afora, segundo os valores da liberdade individual 
e teses que amenizam os efeitos de certos entorpecentes. A partir dessa oposição de 
valores morais surgem questões éticas, ou seja, reflexões, estudos e condutas em que 
devemos observar, sendo possível promover o bem comum levando em consideração 
a oposição entre diferentes valores morais.
No intuito de verificar valores morais e propiciar uma reflexão acerca de decisões éticas pos-
síveis para cada situação, observe, a seguir, outros problemas contemporâneos, de ordem 
ética, que certamente produzem visões morais diferentes quando são discutidos:
 ` A ciência pode desenvolver, de forma autônoma, pesquisas genéticas com embriões humanos?
 ` É possível concordar com a manipulação genética irrestrita?
 ` Podem os governos e as empresas privadas de tecnologias (redes sociais, aplicativos, 
provedores etc.) terem o controle sobre a privacidade dos seus usuários?
 ` Devemos preservar o direito à vida ou à liberdade econômica, quando nos defrontamos 
com uma grave pandemia?
 ` Devemos concordar ou podemos discordar da decisão da justiça em permitir o casamento 
entre indivíduos do mesmo sexo ou pertencentes aos que se identificam como membros 
da comunidade LGBTQIA+? 
 ` Proteger o meio ambiente é mais importante do que defender o desenvolvimento econô-
mico por meio de práticas predatórias?
 ` É correto substituir trabalhadores por máquinas nas fábricas?
PARA REFLETIR
1.5 A ÉTICA COMO PROJETO DE VIDA
Os indivíduos passaram a viver em sociedade, quando surgiram as comunidades e, pos-
teriormente, as cidades criaram regras de convivência social, cujo objetivo é até hoje o de 
produzir o bem e a felicidade a todos. Dessa forma, a ética permite a relação entre proje-
tos de vida coletivos e individuais. Com esses projetos, por exemplo, surgiram normas e 
punições com o propósito de garantir a qualidade de vida individual e social.
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Ética – sua essência e o cotidiano
A ética, sob esse aspecto, afasta-nos de uma vida guiada por impulsos, caprichos e de-
sejos individuais que prejudicam o interesse coletivo. Por meio da elaboração racional 
de princípios, condutas, normas, regras e leis que permitam a civilidade, a ética se torna 
um elemento essencial para a construção do sentido de projetos de vida.
Devemos, neste ponto, destacar a distinção entre normas jurídicas e morais, pois am-
bas permeiam a vida cotidiana e em sociedade. As normas jurídicas são aquelas que 
relacionam o indivíduo com o meio externo, ou seja, a sociedade como um todo e são 
reguladas por meio de princípios e obrigações legais (constituição, leis, decretos, entre 
outras normas estabelecidas coletivamente).
As normas morais pertencem ao campo mais restrito e íntimo dos indivíduos, sendo arti-
culadas com as motivações pessoais. Elas são reguladas pelas relações que concernem 
aos laços familiares, comunitários, religiosos ou mesmo grupos cujas tradições e visões 
de mundo representam amplo convívio, proximidade e compartilhamento de valores.
Com isso, percebemos que, desde o nascimento, fomos submetidos a interações 
sociais que permitiram a vida em sociedade. A partir desses padrões éticos recebi-
dos, durante a existência, é que será possível desenvolver projetos que entrelacem 
a vida individual e a coletiva.
Quando, hoje, discutimos a preservação do meio ambiente, por exemplo, estamos ela-
borando um projeto de existência para as gerações futuras a partir de atitudes éticas 
que são urgentes no presente. A forma como falamos, nossos gestos, propósitos pro-
fissionais, relações de trabalho e modos de agir considerados corretos estão presentes 
no universo de formação das crianças e dos adultos. Todas essas ações podem ser 
tidas como projetos de vida éticos, pois procuram organizar relações sociais em nome 
da vida em sociedade.
Figura 04. Mapa Conceitual 
Ciência Reflexão Senso Crítico
ÉTICA
Bem 
Comum
Felicidade 
coletiva
Interesse 
coletivo
Estudo das diferentes moralidades
Problematizar
Universalidade Heterogeneidade
MORAL
Hábito Costume Tradição Valores
Reativismo Particularidade
Variabilidade
Hábito Costume Tradição Valores
Senso 
Moral
Consciência 
Moral
Fonte: elaborada pelo autor. 
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 ` Filme 
 � O filme Advogado do Diabo (1998) trata da vida profissional de Kevin Lomax, um jovem e 
prodigioso advogado norte-americano. Ele se destaca por defender clientes inescrupulo-
sos e assassinos por meio de brechas que encontra nas leis. Ele é contratado pelo maior 
escritório de advocacia de Nova York e passa a trabalhar na defesa de casos moralmente 
condenáveis. A obra apresenta uma série de dilemas éticos e morais a respeito do traba-
lho e vida pessoal do personagem. Após assistir ao filme, tente identificar três aspectos 
morais presentes no filme e qual a decisão ética foi tomada pelo personagem principal.
 ` Texto Complementar
 � Indicação do livro A Política, de Aristóteles.
 ` Somos animais Políticos
 � Em A política, Aristóteles define a humanidade como um “animal político por natureza”. 
Deve-se frisar a etimologia em grego de animal político (Zoon Politikon). Politikon não 
significa apenas a atividade política como a ocupação ou exercício de cargos públicos, 
mas, na realidade, tem um sentido mais amplo para o mundo grego na Antiguidade, pois 
é a política que diferencia humanidade dos demais animais.
A política representa o agir, a reflexão e o aprimoramento da vida em sociedade; está 
associada à capacidade humana de discernir, estabelecer, criar, construir, refazer e 
viver (em sociedade) o que se entende como justo e injusto, o bem e o mal, de modo 
que normas e regras são incorporadas coletivamente. A política é produzida por meio do 
uso da razão e das palavras. Sem o uso da razão e da linguagem seríamos incapazes 
de comunicar e muito menos de expor valores, criar costumes e leis.
O que Aristóteles define como Zoon Politikon (animal político) está relacionado à noção 
de que a política é um elemento natural e vivido de forma intensa e social na cidade 
(Pólis em grego). Portanto, a política é o fundamento para a existência da vida moral e 
ética dos sujeitos, pois a existência é dada em sociedade e será por meiodela que juízos, 
costumes, tradições, regras e leis que constituem o convívio comum serão fundados.
Um exemplo para você analisar como a moral esteve arraigada na vida dos indivíduos pode 
ser verificado, a partir do fato histórico no qual, até aproximadamente a década 1960, a 
maioria das sociedades possuía a visão de que as funções sociais das mulheres deveriam 
se resumir aos cuidados domésticos. Ainda hoje é possível ver alguns grupos sociais defen-
dendo tal postura. No entanto, com o desenvolvimento do mercado de trabalho, a ascensão 
de movimentos feministas e maior conscientização da sociedade, as mulheres passaram a 
ocupar lugares importantes no meio social, como no mercado de trabalho, política e meios de 
comunicação. Diferentemente de anos atrás, nos dias atuais é impossível imaginar empre-
sas, universidades e emissoras de rádio e TV sem elas, ainda que visões machistas predo-
minem em muitos setores da sociedade.
Caso de aplicação 1
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Ética – sua essência e o cotidiano
2. APRENDENDO A DECIDIR COM ÉTICA
2.1 A ÉTICA DA MEDIANIA (ARISTÓTELES)
Aristóteles, pensador grego da Anti-
guidade, foi o primeiro a definir a pa-
lavra “ética” (do grego ethos, significa 
conduta em relação aos outros), esta-
belecendo-a, ao mesmo tempo, como 
uma ciência que investiga os compor-
tamentos humanos e como a busca 
de uma conduta que é capaz de gerar 
equilíbrio. Em outras palavras, o autor 
defende a ética como conduta media-
na ou caminho do meio que permite 
aos indivíduos viverem em sociedade, 
visando ao bem comum e à Eudaimo-
nia, palavra que em grego clássico se 
relaciona à felicidade e promoção da excelência humana realizada de modo coletivo.
O ethos é a morada do animal e passa a ser a «casa» (oikos) do ser huma-
no, não já a casa material que lhe proporciona fisicamente abrigo e proteção, 
mas a casa simbólica que o acolhe espiritualmente e da qual irradia para a 
própria casa material uma significação propriamente humana, entretecidas 
por relações afetivas, éticas e mesmo estéticas que ultrapassam suas fina-
lidades puramente utilitárias e a integram plenamente no plano humano da 
cultura. [...] Tal é a historicidade própria do ethos, que nele se exprime como 
necessidade instituída que Aristóteles comparou à e necessidade dada da 
Natureza. (VAZ, 1988, p. 39-40).
Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles partia do pressuposto de que toda cidade e 
sociedade são caracterizadas por apresentar indivíduos heterogêneos, ou seja, com 
valores, formas de pensar, condições econômicas e políticas bem distintas. Diante 
disso, considera que o papel da ética, assim como das leis, deve ser o de produzir 
equilíbrio, isto é, condições de coexistência entre grupos diferentes com o objetivo de 
realizar o bem comum.
Aristóteles, portanto, atribui à ética a busca do equilíbrio, considerando que desse equi-
líbrio será possível produzir a felicidade, a excelência humana, a justiça e a virtude entre 
os membros que constituem uma sociedade. Logo,
Com isso, vemos que a moral está sempre em transformação, de forma que é modificada ou 
varia de acordo com o período histórico, ou conforme cada sociedade ou geração.
Com base no exposto, elabore um breve texto relatando outros exemplos de transformações de 
visões morais na sociedade. Explique como é possível observar a moral nessas transformações. 
Selecione uma matéria de jornal e revista para fundamentar a sua pesquisa. Pense em questões 
em torno do mercado de trabalho, política, meios de comunicação ou mesmo educação.
Figura 05. Ética 
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[t]oda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, visam 
a um bem qualquer, e por isso foi dito, não sem razão, que o bem é aquilo a 
que as coisas tendem. Mas entre os fins observa-se uma certa diversidade: 
alguns são atividades, outros são produtos distintos das atividades das quais 
resultam; e onde há fins distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais 
excelentes do que as últimas (ARISTÓTELES, 1979, p. 49).
2.2 O HEDONISMO
Do grego hedonê (prazer), o hedonismo expressa um modelo de ética que tem como 
principal objetivo para a vida (ou como suprema norma moral) a busca da felicidade e a 
exaltação do prazer. Essa modalidade de ética foi pensada pela primeira vez pelo filósofo 
grego Epicuro (341–270 a.C.) e influenciou pensadores romanos da Antiguidade conhe-
cidos como estoicos, entre eles Cícero (106 -43 a.C.), Lucrécio (94-50 a.C.), Horácio (65 
a.C-8 d.C.), Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) e o imperador-filósofo Marco Aurélio (121-180 d.C.).
Epicuro partia da ideia de que a verdadeira virtude estava na realização dos prazeres. 
Não devemos tomar o epicurismo ou o hedonismo de forma vulgar, pois não se reduzem 
a uma satisfação cega e sem reflexão sobre os prazeres. O prazer deve trazer o bem-es-
tar. Epicuro fundou um grande jardim na periferia de Atenas, lugar que ficou conhecido 
como “O Jardim de Epicuro”. O local foi resultado de uma mudança de postura, em que 
o filósofo viu a necessidade de se distanciar dos problemas da cidade da pretensão de 
promover a virtude no espaço público. A política é fonte de avareza e corrupção.
O jardim reunia discípulos (escravos e cidadãos livres) que procuravam a virtude no equilíbrio 
entre os diferentes prazeres – nas bebidas, amizades, sexo, banquetes e afins. Não se deve 
concentrar o prazer em apenas uma única atividade (caso contrário, produzirá o vício), mas 
equilibrar os diferentes prazeres fornecidos pelo corpo.
O Arcadismo foi um movimento literário desenvolvido na Europa, durante o século XVIII. Ca-
racterizou-se por valorizar a vida humana em meio à natureza, ou seja, a existência bucólica 
exercida com simplicidade. No Brasil, o movimento se deu em Minas Gerais também, no sé-
culo XVIII, e se envolveu com o movimento da Inconfidência Mineira. Seus principais autores 
foram Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Basílio da Gama.
GLOSSÁRIO
GLOSSÁRIO
Epicuro buscava a chamada ataraxia, conceito que representa o equilíbrio entre os pra-
zeres em seu jardim em meio à natureza e distante dos problemas da cidade. O filósofo 
e poeta romano Horácio (65 a.C. – 8 d.C.), inspirado no epicurismo, concebe o “Carpe 
diem quam minimum credula póstero” (ao qual traduzimos ao português como Aprovei-
ta o dia e confia o mínimo possível no amanhã), concepção incorporada pelo Arcadismo 
(movimento literário do século XVIII).
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2.3. O CONTRATUALISMO
A partir dos séculos XVI e XVII, com a ascensão da Modernidade, surgiram novas mo-
dalidades de ética com objetivo de atender a novas demandas que surgiam com a 
nova sociedade e formas de pensamento. Entre as transformações que constituem a 
Modernidade estão o surgimento de uma sociedade capitalista e o fortalecimento da 
burguesia, industrial e de defesa da liberdade econômica e política.
O contratualismo se refere à percepção éti-
ca surgida entre os séculos XVII e XVIII, que 
estabelece a obrigação de se comportar de 
acordo com as leis ou a burocracia. Trata-
-se da noção de que as relações humanas 
apenas se tornam possíveis, estáveis, du-
ráveis e seguras, por meio da criação de 
obrigações e exigências legais, sem as 
quais existiriam desconfiança e instabilida-
de social. Entre os pensadores contratualis-
tas, destacamos Hobbes (1588-1679), Lo-
cke (1632-1704) e Rousseau (1712-1778).
Temos como exemplos de contratos: leis, pactos sociais, documentos e impostos. Por 
meio da existência do contratualismo, é possível notar como a sociedade moderna ga-
rante a sobrevivência de trocas comerciais, acordos políticos ou relações sociais de 
qualquer espécie. O contratualismo é, à vista disso, uma forma moderna de ética que 
visa consolidar relações sociais racionais, seguras e legitimadas por meio de pactos, 
contratos ou acordos considerados legais.
2.4 A ÉTICA DO DEVER DE KANT
Entre os séculos XVIII e XIX, com o advento da ciência moderna,do contratualismo, do 
liberalismo e do Iluminismo (depois da consolidação do pensamento burguês) surgiram 
novas análises éticas sobre princípios morais que regulamentam o comportamento do 
bom cidadão e das boas práticas de administração pública.
Kant (1724-1804) foi um pensador alemão, contemporâneo à Revolução Francesa, que se 
demonstrou otimista diante das conquistas burguesas. Considerava que superstições e for-
mas de interpretações medievais da realidade haviam sido substituídas pela racionalidade 
da ciência moderna, da indústria e direitos individuais. Ele percebia que o poder dos reis 
estava prestes a desaparecer definitivamente, com as sociedades deixando de ser guiadas 
segundo humores dos tiranos, mas de acordo com a racionalidade e a legalidade.
Na obra Fundamentação metafísica dos costumes (1785), Kant valoriza a razão moder-
na aplicada ao direito e à ética, responsável por se opor à tradição maquiavélica fun-
damentada na teleologia (nos fins). Kant estabelece a deontologia (do grego deon, que 
significa obrigação ou dever moral) (conferir texto complementar e mapa mental) como 
ciência do dever. Isto é, obrigação racional que deve ser realizada, necessariamente, a 
todo custo, independentemente das consequências, pois considera que tudo que tem 
origem na razão seria benéfico ou positivo à humanidade.
Figura 06. Contratualismo 
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Kant foi o mais importante pensador alemão a se declarar Iluminista, de modo que ali-
mentava grande crença nos benefícios da razão humana. Dessa forma, importam os 
meios racionais ou mesmo os meios se confundem com os fins, pois confia que a razão 
conduziria a humanidade ao bem e à verdade, não podendo ela ser questionada.
Com a deontologia, Kant (2009, p. 245) estabeleceu o imperativo categórico, defendendo o 
seguinte lema: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua von-
tade, uma lei universal”.
A expressão afirma o caráter inquestionável da aplicação e obediência à ação racional, 
sendo válida em toda parte e temporalidade, o que demonstra a visão otimista de Kant 
diante da razão. Portanto, o imperativo categórico é uma lei moral e racional que valo-
riza a autonomia do indivíduo e sua racionalidade, com o objetivo de universalizá-la na 
forma de leis e consenso coletivos.
2.5. A ÉTICA DA UTILIDADE (J. BENTHAM E J.S. MILL): A ÉTICA 
CONSEQUENCIALISTA
O modelo ético utilitarista foi criado entre os séculos XVIII e XIX pelos filósofos ingle-
ses Bentham (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873). Tem como sinônimo a concepção 
de maximização, isto é, produzir o maior prazer, ganhos, lucros ou um bem ao maior 
número possível de pessoas, evitando-se ao máximo prejuízos, dores ou perdas. O 
maior bem produzido não significa necessariamente que este abrangerá a maioria das 
pessoas. Segundo Moreira (1999, p. 22):
[a] ideia de maior bem para a sociedade, não leva em conta o número de 
pessoas beneficiadas, mas sim o tamanho do bem. Em outras palavras, 
em uma circunstância na qual o maior bem beneficie poucos, em contra-
posição ao bem menor que possa ser feito a muitos, a primeira atitude 
deverá ser a escolhida.
A maximização é um termo rotineiro no universo administrativo e econômico. Por isso 
esse modelo ético também é designado como consequencialista, ou seja, justifica a va-
lidação de uma determinada ação ou conduta a partir da observação e da identificação 
dos possíveis resultados. Trata-se, portanto, de verificar em qual medida a ação é mo-
ralmente útil a ponto de produzir o prazer ou o bem-estar coletivo, procurando reduzir 
os prejuízos da ação. Além disso, é entendido como o processo que pode reduzir gas-
tos em nome do aumento da produtividade ou apenas manter o ritmo de produção ou 
a margem de lucro, ainda que para tanto seja necessário demitir alguns funcionários.
Maximizar pode também implicar, por exemplo, na manutenção do tempo de trabalho, 
ao passo que a quantidade de trabalho ou capital gerado é aumentado. As democracias 
modernas, quando apresentam o “segundo turno”, são um processo de maximização, 
o qual visa produzir o maior bem ao maior número possível de pessoas, evitando-se ao 
máximo prejuízos. Isso justifica por que é declarado vencedor de uma eleição aquele 
que conseguir 50% dos votos mais 1.
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2.6. A ÉTICA DO DISCURSO (J. HABERMAS)
Durante o século XX, novos dilemas éticos permitiram o surgimento de novas pers-
pectivas conceituais ou, ao menos, a verificação de questões pertinentes ao diá-
logo consensual e racional, consumo e relação com outras culturas, considerando 
a expansão da globalização.
O alemão Habermas (1929 -) abordou, do ponto de vista ético, o que definiu como te-
oria da ação comunicativa. Segundo o filósofo, o agir comunicativo está relacionado 
ao mundo da vida cotidiana, de modo que está fundamentado em regras de sociabili-
dade e no diálogo, considerando, ainda, que os indivíduos se comunicam por meio de 
diferentes moralidades. Contudo, é possível alcançar consenso e entendimento mútuo 
caso abandonemos relações hierárquicas de dominação e deslegitimação do discurso 
do outro (é o caso de preconceitos, coerção ou mesmo desmerecimento da fala e dos 
valores de indivíduos pertencentes a outros grupos e seus respectivos valores).
Habermas defende que o diálogo, a capacidade de escutar, entender, falar e negociar 
com grupos diferentes alcança a dimensão ética capaz de produzir interações con-
sensuais, ainda que haja a diversidade de sentimentos, expectativas e concepções 
de mundo. A teoria da ação comunicativa tem como finalidade produzir concordâncias 
após a solução e a superação de discordâncias entre os sujeitos. Para tanto, é neces-
sário considerarmos o diálogo racional que tornaria possível a sociabilidade desde os 
níveis familiares, da comunidade, do campo científico, artístico e político.
Há um interessante dilema a respeito da situação hipotética de um trem desgovernado: O 
trem corre em alta velocidade pelos trilhos e está fora de controle. Caso não seja parado ou 
desviado, o trem colidirá com cinco pessoas que estão amarradas aos trilhos. Nessa situa-
ção, a única possibilidade de salvar as pessoas é mover uma alavanca que desviaria o trem 
para outro trilho. Porém, caso seja desviado e não atropele as cinco pessoas presas nos 
trilhos, o trem irá, fatalmente, em direção a um outro único indivíduo parado na outra pista. 
O que fazer?
Considerando os elementos que constituem a ética utilitarista ou consequencialista, reflita 
qual seria a melhor solução a ser seguida. Elabore sua resposta a partir dos princípios que 
norteiam a ética elabora por Bentham e Mill.
Caso de aplicação 2
Observarmos, assim, que uma sociedade é constituída por uma pluralidade de vozes, de 
modo que uma ação racional é consolidada de maneira coletiva e não individual, desde que 
haja sensibilização e afeto em relação à condição e às percepções daqueles que se apre-
sentam a nós como diferentes.
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Devemos, portanto, colocar-nos na condição de nosso interlocutor, compreen-
der seus dilemas e buscar entendimento, o que evitaria a posição relativista, 
que veremos no tópico a seguir.
2.7 RELATIVISMO
O relativismo é um princípio que passa a ser promovido, principalmente entre o final do 
século XIX e durante o século XX. Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, é conside-
rado um dos principais teóricos dessa perspectiva. Na Antropologia norte-americana 
do século XX, os pensadores denominados como culturalistas (Franz Boas e Clifford 
Geertz) desenvolveram o chamado relativismo cultural.
Em linhas gerais, o relativismo resume-se na expressão “cada um é cada um”, ou seja, 
normatiza a condição alheia, ainda que a condição do outro seja degradante. O relativis-
mo anula os valores morais, por isso as noções de verdade, como o bem e mal ou o jus-
to e o injusto.Elas são suspensas, pois há a noção de que nenhum juízo de valor possa 
ser universal ou verdadeiro, de sorte que toda e qualquer ação passa a ser aceita.
O relativismo elimina a possibilidade de engajamento ou uma ação responsável diante 
de outras pessoas ou sociedades. Empresas e governos que atuam de modo relativista, 
por exemplo, não se preocupam com as condições sociais e de saúde de seus con-
sumidores ou cidadãos. Um sujeito se torna relativista quando não emite juízos sobre 
uma situação, qualquer que seja, pois considera que nenhum valor é válido. Se não nos 
importamos com a condição de fome e miséria de um semelhante e julgamos que cada 
um ocupa o lugar que deseja estar, acabamos por enveredar em uma relativista. Dessa 
maneira, o relativismo é uma afirmação absoluta da diferença e da impossibilidade de 
um consenso a respeito dos valores e juízos morais.
Para saber mais a respeito do relativismo, confira a fala do filósofo brasileiro Má-
rio Sérgio Cortella. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VumyyS3THSY. 
Acesso em: 07 jun. 2022.
SAIBA MAIS
O relativismo não se restringe ao mercado. Podemos percebê-lo quando não da-
mos importância a um acontecimento distante. É o mesmo sentimento de muitas 
pessoas que tendem a observar a pobreza, o desemprego ou as desigualdades so-
ciais como naturais ou normais, sem procurar refletir ou fazer absolutamente nada 
para modificar tal situação.
2.8. FUNDAMENTALISMO
O fundamentalismo ocorre para quem os conceitos, profissões de fé, doutrinas políti-
cas ou deveres morais devem ser extraídos de uma fonte tida como superior e externa 
(Estado, religião, líder, imposições do mercado) ao ser humano. Isso significa afirmar 
que o indivíduo se submete a uma ordem superior à sua própria vontade, pois a julga 
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Ética – sua essência e o cotidiano
racionalmente correta e inquestionável. Muitas vezes, o fundamentalismo é visto como 
obediência cega diante da autoridade de um terceiro. Do ponto de vista da religião, co-
nhecemos os chamados fundamentalistas religiosos.
Na esfera política, o exemplo mais evidente é a obediência a um líder político, assim 
como ocorreu na Alemanha nazista de Hitler, quando os seus seguidores obedeciam e 
concordavam com todas as ações de seu líder cegamente. Em relação ao mercado ou 
o capitalismo, podemos observar tal ética dentro dos padrões de moda ou mercadorias 
impostas sobre o comportamento e os objetivos de vida de consumidores.
Devemos destacar que a ética fundamentalista é, geralmente, criticada pelos filósofos e 
estudiosos, sendo que dificilmente encontraremos reflexões que apontem suas caracte-
rísticas sem problematizá-las. A respeito disso, Boff (2009) situa que o fundamentalismo
[...] não é uma doutrina, mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. 
É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de 
sua inserção no processo sempre cambiante da história, postura que exige 
contínuas interpretações e atualizações, exatamente para manter sua ver-
dade originária. Fundamentalismo representa a atitude daquele que confere 
caráter absoluto ao seu ponto de vista (BOFF, 2009, p. 49).
Nos últimos anos, tem crescido o movimento de consumidores sobre a necessidade de as 
empresas produtoras de alimentos (principalmente os processados) informar sobre a compo-
sição química de seus produtos. Há indícios de uso de agrotóxicos, entre outros elementos 
químicos nocivos à saúde pública. Esse movimento de consumidores exige que as empresas 
fabricantes desses alimentos informem e alertem nas embalagens os seus consumidores.
Investigue duas reportagens ou matérias em jornais e revistas recentes que ilustrem esta si-
tuação. Em seguida, faça uma análise desses materiais levando em consideração conceitos 
éticos em torno do utilitarismo e relativismo. Aponte quais as soluções éticas poderiam ser 
tomadas a respeito disso.
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MEIOS MAIS 
IMPORTANTES QUE 
OS FINS
CERTEZA NAS 
CONSEQUÊNCIAS 
BENÉFICAS
CONFIANÇA NA 
RAZÃO
Do grego deon, que significa dever, obrigação
KANT
Figura 07. Mapa conceitual 
MAQUIAVEL
Teleologia
Do grego télos, que significa propósito ou fim.
CALCULISMO E JOGO 
DE FORÇAS
O BEM E O MAL, A RAZÃO E O 
IRRACIONAL SÃO MEIOS DA 
AÇÃO ÉTICA
OS FINS JUSTIFICAM 
OS MEIOS
IMPORTAM OS FINS
Fonte: elaborada pelo autor. 
 ` Filme 
Um mercado Relativista
O filme The Corporation (2003) mostra três exemplos impactantes do relativismo 
aplicado ao cenário empresarial. Podemos destacar, primeiramente, a Monsanto 
(uma das maiores empresas produtoras de sementes e derivados de leite do mundo 
e que tem atuação no Brasil). Para aumentar a produtividade de vacas leiteiras nos 
EUA e, consequentemente, os seus lucros, a Monsanto é acusada de ter aplicado 
nesses animais hormônios que significativamente elevaram o nível de produção. 
No entanto, sem se importar com os impactos causados sobre as vacas e os con-
sumidores, descobriu-se que os hormônios, na verdade, facilitam a proliferação de 
bactérias que levam os animais à morte. O produto contaminado é ingerido pelos 
clientes, sem que a Monsanto preocupe-se com as suas condições.
O segundo exemplo refere-se a IBM, famosa grife de computadores e sistemas 
empresariais de gestão. Antes e durante a Segunda Guerra Mundial, a IBM foi res-
ponsável por criar um sistema, ainda não informatizado, de geração de códigos 
entre outras burocracias que contribuíram muito para catalogar judeus, ciganos, 
homossexuais e opositores do ditador alemão, Hitler. Uma entre as tantas funções 
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Ética – sua essência e o cotidiano
dos sistemas criados pela IBM na Alemanha ajudaram a tatuar códigos nos braços 
desses prisioneiros, que eram levados, em sua grande maioria, aos campos de 
concentração. A IBM nega até hoje qualquer envolvimento com o nazismo. Ao se 
eximir de sua responsabilidade, a empresa adota também uma ética relativista, sim-
plesmente quando se considera que eram apenas “negócios”.
O terceiro caso mostrado pelo documentário refere-se à espantosa história da Co-
ca-Cola na mesma Alemanha Nazista. Após a entrada dos EUA no conflito armado 
em 1942, o governo desse país exigiu que as empresas americanas, sobretudo as 
de maior destaque, encerrassem suas atividades na Alemanha. Em nome da manu-
tenção de seus lucros, a Coca-Cola não exprimiu qualquer oposição ao nazismo; o 
refrigerante foi substituído, saiu de cena e, em vez de fechar a fábrica, a empresa 
substituiu o antigo pela sua mais nova invenção: Fanta. Naquela época tornou-se 
o refrigerante mais vendido na Alemanha. As empresas, por não informarem am-
plamente e publicamente aos seus clientes e consumidores os riscos em relação 
ao uso de suas mercadorias adotam o relativismo, cujo princípio elementar é dizer 
“cada um é cada um!”.
 ` Texto Complementar
Maquiavel (1469-1527), na obra O Príncipe (publicada de forma póstuma em 1532), 
passa a observar o ser humano como, naturalmente, dotado de egoísmo, individua-
lismo e nenhuma preocupação com o bem comum, a não ser de forma dissimulada, 
sendo que, na primeira oportunidade, poderia trair seus semelhantes. O filósofo parte 
de um ponto de vista negativo sobre a natureza humana. Seus questionamentos gira-
vam em torno de como o príncipe (expressão que se refere a qualquer governo) tem 
condições de manter o poder e o domínio sobre os súditos. Além disso, o pensador 
investiga como é possível persuadir os subordinados à autoridade de um governo 
e de que forma um príncipe deve agir para conter permanentes conflitos internos e 
externos, com outros governos.
Maquiavel nunca escreveu a expressão “os fins justificam os meios”, porém, sua 
obra permite relacioná-la com essa ideia, pois julga que, para consolidar o poder, 
o governante tudo pode e deve, como: matar, mentir, agir com hipocrisia, demitir, 
distorcer informações, ser amado pelo povo e ser temido pelosinimigos, tornar ini-
mizades em novos amigos ou oposto, promover e buscar ora a guerra, ora a paz. 
Tudo isso segundo a situação, interesse e conveniência.
É necessário desmitificar o termo maquiavélico, geralmente associado a fazer ou 
realizar o mal. Na verdade, ser maquiavélico expressa a capacidade de ser cal-
culista ou entender e saber medir racionalmente os prós e contras de uma ação. 
Trata-se da noção de que a ética maquiavélica está direcionada aos fins (manter o 
poder e garantir o apoio popular, pois sem ele ninguém se mantém no poder), seja lá 
quais forem os meios empregados.
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3. SENDO ÉTICO NO DIA A DIA
3.1. LIBERDADE, ESCOLHA E DECISÃO
Nas obras O Ser e o nada (1943) e O existencialismo é um humanismo (1946), Sartre-
afirma que “a existência precede a essência”. A expressão afirma a ideia de que não há 
nada de inato, pronto ou acabado no ser humano, não há uma essência ou natureza hu-
mana predeterminada. Tais elementos explorados por Sartre indicam que ninguém nasce 
definido ou direcionado naturalmente a ser e agir de alguma forma, ou, muito menos, é 
determinado por alguma força externa que o obrigue a ocupar uma posição social.
Na realidade, o ser humano, na visão de Sartre, nasce “condenado a ser livre”, de maneira 
que suas escolhas o tornam livre para a todo instante modificar o seu ser (SARTRE, 1984, 
p. 9). Isso significa que o indivíduo é construído e se constrói por meio do seu vínculo com a 
realidade, com o mundo à sua volta.
Com a ética de Maquiavel considera-se que ela visa fins, o que é designado com 
a palavra teleologia (do grego telos, que significa fim, finalidade, objetivo; e logos: 
discurso, razão ou racionalidade). Sendo assim, a teleologia representa o estudo dos 
fins ou das finalidades, sendo um modelo ético em que fins, resultados ou consequên-
cias são calculados pelo indivíduo, podendo ser utilizado em qualquer meio possível.
Sartre afirma, nessa direção, a liberdade como sinônimo de fazer escolhas e tomar 
decisões. Nossas escolhas e decisões modelam quem somos, são atitudes livres, cuja 
origem é particular a cada indivíduo. O resultado dessa liberdade (nossas escolhas e 
decisões) é a constituição de tudo aquilo que somos e que podemos vir a ser.
Com a afirmação de que o ser humano se caracteriza pela liberdade, Sartre se opôs 
à noção de natureza humana, entendida como elemento determinista ou fatalista, 
cuja defesa limita a liberdade humana e condena os indivíduos a pensarem que não 
são o resultado de suas próprias escolhas. O autor também se contrapôs à tradi-
ção filosófica grega e medieval. Os pensadores gregos na Antiguidade, como Platão 
(428-348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), concebiam que o comportamento e as 
posições sociais eram determinados pela natureza. Na Idade Média, teólogos como 
Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.), afirmavam ser Deus o responsável por determinar 
quem são os senhores e os servos.
A concepção de natureza humana é criticada por Sartre porque, além de renunciar 
à liberdade humana, leva os indivíduos a justificarem passividade diante da realida-
de em que estão inseridos, desconsiderando que a vida é uma construção em mo-
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Ética – sua essência e o cotidiano
vimento que dialogam com nossas escolhas e decisões. Já a condição humana é 
caracterizada por ser plástica, flexível e está em permanente transformação. Sendo 
assim, o conceito é sinônimo de liberdade, decisão e escolha. Ela revela que tudo o que 
o sujeito é ou possa vir a ser acaba sendo o resultado da liberdade e de suas escolhas 
diante do mundo em que vive.
Sartre considera que a humanidade vive condenada à liberdade. Posto de outro modo, ser 
livre expressa que a todo instante estamos fazendo escolhas ou projetamos nossa subjetivi-
dade no mundo a partir de nossas decisões.
Na perspectiva do existencialismo, a liberdade é uma decisão ética constante que im-
põe a cada indivíduo escolhas e decisões que constituem quem somos e o que repre-
sentamos para a sociedade. Porém, conforme indica na obra O ser e o nada (1997), a 
liberdade provoca o que Sartre designa como náusea ou angústia. Sendo que são dois 
fatores que provocam esse sentimento, a saber:
 ` Cada escolha (liberdade) obriga o abandono ou a anulação de todas as outras pos-
sibilidades de ação. Se, por exemplo, um indivíduo gosta das áreas médicas e das 
ciências humanas ao mesmo tempo, na juventude, ele é obrigado a escolher um único 
caminho profissional e decide escolher estudos na faculdade de medicina, ele viverá an-
gustiado por ter aberto mão de outra possibilidade de estudos e de vida. Quando decidi-
mos um rumo, abandonamos algumas opções e deixamos outras possibilidades de lado. 
Nossas escolhas profissionais, amorosas, projetos de vida e decisões econômicas que 
estabelecemos ao longo da vida estão sujeitos à angústia e náusea.
 ` Cada escolha (ou projeto que façamos) não se realizará no futuro tal como o pla-
nejamos originalmente no presente. Isso porque nossas escolhas e liberdades se en-
contram em uma relação de tensão com o mundo a nossa volta, pois há nele incontáveis 
subjetividades dos outros que estão também promovendo escolhas, ações livres e toma-
das de decisões que se chocam com nossos próprios projetos. Por isso, o filósofo afirma 
em diferentes obras que “o inferno são os outros”.
Na perspectiva ética existencialista, a angústia e a náusea têm origem no fenômeno 
que Sartre define como nadificação. Este conceito implica na noção de que o que 
somos é resultado das decisões que conduziram a resultados diferentes ao espera-
do, além de elementos que limitaram nossas escolhas e nos conduziram ao fracas-
so. Cada decisão, cada escolha exercida por um sujeito está em relação de tensão 
com as liberdades dos outros indivíduos. As liberdades e as escolhas presentes e 
exercidas por todas as demais subjetividades entram em contradição ou oposição 
com as nossas preferências.
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Em outras palavras, a nadificação diz respeito a tudo aquilo que barra ou limita a liberdade, 
são ações diferentes daquelas que planejamos ou mesmo desvios que a liberdade opera 
sobre a realidade na qual estamos inseridos, transformando-a.
Embora até aqui o pensamento ético de Sartre pareça ser pessimista, visto que a nadifi-
cação produz resultados diferentes aos projetados por nossa liberdade e fazer escolhas 
ocasiona em náusea e angústia, porque decidir significa abandonar outras possibilida-
des de vida, o filósofo afirma ser o existencialismo uma posição ética humanista e 
otimista (SARTRE, 1984, p. 3-32). De acordo com o existencialismo, a liberdade é ta-
manha que, apesar da tensão com as escolhas dos outros e os permanentes riscos de 
nadificação, somos suficientemente livres para contornar e superar fracassos, desvios 
e a concorrência que travamos com as decisões dos outros.
Na visão de Sartre, por sermos livres e por tomarmos decisões a todo instante, temos 
condições de superar as limitações com as quais nossa liberdade se depara. É nesse 
sentido que o existencialismo é considerado um humanismo, posto que apresenta oti-
mismo com a capacidade que possuímos de projetar a liberdade de modo a nos tornar 
seres em constante adaptação e transformação à medida que estamos no mundo e em 
contato com os outros.
3.2 ÉTICA, LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
Sartre (1984, p. 8-11) aponta que cada es-
colha, decisão ou ato, isto é, cada passo 
nosso no mundo possui reflexos amplos, 
com alcance universal. O filósofo defende, 
assim, que “fazer escolhas” e “responsa-
bilidade” são termos próximos, configuram 
a dimensão ética da liberdade, pois, ao 
tomar decisões, somos responsáveis pe-
los outros. Sartre demonstra que nossas 
decisões estão interligadas com o univer-
sal, com a subjetividade de todos os outros 
indivíduos, tal como quando escolhemos 
estudar e nossa profissão auxilia a vida de 
outros sujeitos, passamos a nosdar conta 
de como nossas decisões influenciam e são influenciadas pelas escolhas dos outros.
Max Weber (1864-1920), no início do século XX, foi outro pensador importante a tecer 
relações entre ética e responsabilidade. Nos seus dois ensaios publicados em 1919, 
Ciência como Vocação e Política como Vocação, o autor diferencia os conceitos que 
definiu como ética da convicção e ética da responsabilidade. Para ele,
[...] toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas 
totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela 
ética da responsabilidade ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer 
Figura 08. Monumento de Jean-Paul Sartre, 
em Nida, Lituânia
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a ética da responsabilidade à ausência de convicção. Não se trata eviden-
temente disso. Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem 
age segundo as máximas da ética da convicção - em linguagem religiosa, 
diremos: “O cristão faz seu dever e no que diz respeito ao resultado da ação 
remete-se a Deus” - e a atitude de quem age segundo a ética da responsa-
bilidade que diz: Devemos responder pelas consequências previsíveis de 
nossos atos (SROUR, 2000, p. 50)
A ética da convicção diz respeito a um dever moral que por ser considerado racional 
deve ser realizado independentemente das consequências. Weber remete à deontolo-
gia criada por Kant (1724-1808 d.C.), no final do século XVIII (ver mapa mental), para 
conceber a ética da convicção.
que a ética da convicção seja idêntica à ausência de responsabilidade e 
Imagine um médico que cria como valor moral jamais mentir por considerar que dizer a verda-
de é sempre a atitude mais racional e razoável. No entanto, suponha um paciente em estado 
terminal que pergunta qual é a sua condição após a análise de um exame. Certamente, o 
paciente receberá as palavras mais pessimistas e desagradáveis anunciadas pelo médico 
que prometeu jamais mentir. Dirá as verdades que podem ser desconcertantes, levando o 
paciente ao desespero e lágrimas. Weber afirma que a ética da convicção possui aspectos 
negativos, porque os meios se confundem com os fins, ou seja, o dever se torna mais rele-
vante do que as consequências, ao passo que elas podem ser desastrosas.
EXEMPLO
A ética da responsabilidade, por seu turno, procura medir as consequências; há cálculo 
e reflexão sobre os prós e contras de todos os atos. Portanto, visa os fins e não os 
meios, relacionando-se ao padrão de ética denominada como teleologia (ver o mapa 
conceitual ao final deste tópico).
Voltando-nos, novamente, ao exemplo do médico que possui como compromisso ético 
jamais mentir, podemos investigar o quanto foi irresponsável ao seguir a ética da con-
vicção fornecendo o diagnóstico ao seu paciente. No entanto, seria possível pensar em 
um médico que passasse agora a seguir a ética da responsabilidade. Ele poderia ser 
considerado responsável caso tivesse mentido e dissesse ao seu paciente o quanto ele 
é forte, resistente, um grande exemplo e corajoso, surpreendido a todos no hospital.
Sabendo que são palavras mentirosas, porém confortáveis ao paciente, elas poderiam 
motivar seu paciente a não desistir e a aceitar a gravidade de sua doença. Na ética da 
responsabilidade, os fins são mais relevantes que os meios.
Para ampliar o conhecimento acerca da ética, confira as reflexões do sociólogo Fernando 
Henrique Cardoso, a partir de seus estudos sobre Max Weber, sobre a ética dentro da política 
para o programa Café Filosófico, referenciadas a seguir:
SAIBA MAIS
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3.3 A ÉTICA E O CAPITALISMO
Os desenvolvimentos do capitalismo e da sociedade burguesa entre os séculos XVIII e 
XIX produziram modificações a respeito do que vem a ser a ética e o próprio trabalho. 
Adam Smith (1723-1790) é considerado o precursor da ética voltada ao trabalho e à 
economia. A palavra “economia”, até antes do surgimento do capitalismo, estava restrita 
à administração privada do lar (família, alimentos e escravos ou servos). Foi a partir da 
teoria econômica de que a noção desse conceito foi posta de ponta-cabeça, tornando-
-se um assunto público e, portanto, uma ética.
No século XVIII, Adam Smith conseguiu demonstrar, na sua A riqueza das nações, que 
o lucro não é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuição de renda e de pro-
moção do bem-estar social. Com isso, logrou expor pela primeira vez a compatibilidade 
entre ética e atividade lucrativa (MOREIRA, 1999, p. 28).
Para Smith (1996), o mercado deveria funcionar segundo preceitos éticos individualis-
tas, o que designou como “mão invisível”, a partir da qual o
[...] indivíduo procura, na medida do possível, empregar seu capital em fo-
mentar a atividade nacional e dirigir de tal maneira essa atividade que seu 
produto tenha o máximo valor possível [...]. Geralmente, na realidade, ele 
não tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está 
promovendo. Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países 
ele tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade 
de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a 
seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como 
que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas 
intenções (SMITH, 1996, p. 438).
O autor supracitado cria a percepção de que a eco-
nomia é uma esfera ética à medida que o merca-
do, aparentemente caótico, é, na realidade, organi-
zado e produz as espécies e quantidades de bens 
que são mais desejados pela população. Quanto 
mais egoísta e competitivo for um indivíduo e quan-
to mais obtiver riquezas por meio de seu trabalho, 
indiretamente ele contribuirá com o progresso de 
outros indivíduos competitivos, por meio da com-
pra de outros serviços ou mercadorias, de modo 
que ocorre o progresso coletivo.
Surge uma modalidade de ética que tem, como fim 
último, o progresso social a partir do individualismo 
exacerbado. Na obra A Riqueza das Noções (1996), 
UM POLÍTICO não pode fugir das responsabilidades dos seus atos, 2019. Vídeo (2min 37s). 
Publicado pelo canal Café Filosófico CPFL. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?-
v=_8K1NxxgsfE. Acesso em: 07 jun. 2022.
Figura 09. Monumento de Adam Smith 
na Royal Mile de Edimburgo 
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Adam Smith concebe que a melhor forma de uma sociedade prosperar se dá por meio 
das livres iniciativa e concorrência, competitividade, do individualismo; ou seja, cada 
sujeito deve concentrar-se em seus interesses econômicos privados.
No ano de 2021, a ONU publicou o Relatório do Clima. O documento é um importante diag-
nóstico a respeito dos resultados da ação humana sobre o meio ambiente diante de uma so-
ciedade industrializada que procurou se apropriar dos recursos naturais de forma predatória.
Os desequilíbrios sobre o clima causados pela ação humana foram estimulados pelos lucros 
das grandes multinacionais.
Investigue em jornais e revistas informações sobre o relatório do clima publicado em 2021 
pela ONU. Em seguida, faça uma análise e reflexão desses materiais levando em conside-
ração duas questões:
a. problematize se o interesse privado pode estar acima do coletivo quando pensamos em 
questões envolvendo o meio ambiente;
b. avalie formas de equilibrar o interesse privado das empresas e as questões ambientais.
Sugestões de leitura:
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento. Novo relatório climático do IPCC apresenta avaliação do clima no mundo. Portal 
Inmet, 13 ago. 2021.
Disponível em: https://portal.inmet.gov.br/noticias/ipcc-alerta-para-necessidade-de-a%-
C3%A7%C3%B5es-para-mitiga%C3%A7%C3%A3o-de-riscos-clim%C3%A1ticos
Caso de aplicação 4
 ` Devemos sempre obedecer às leis de forma incondicional?
 ` É ético obedecer a leis quando elas podem produzir algummalefício a outros humanos?
3.4 A REGRA SOCIAL E OS VALORES DO INDIVÍDUO
Hannah Arendt (1906-1975), filósofa alemã, concebeu o conceito de banalidade do mal, 
descrito na obra Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal (1963). 
O livro apresenta uma importante reflexão sobre limites e tensões da relação entre regras 
coletivas e valores individuais, que pode ser traduzida nas seguintes questões:
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Hannah Arendt foi convidada pela revista The New Yorker para acompanhar o processo 
e julgamento, em Israel, de Adolf Eichmann, um oficial nazista responsabilizado por 
operações de extermínio de milhões de civis prisioneiros durante a Segunda Guerra 
Mundial, que foi capturado na Argentina, em 1961, e julgado em Jerusalém.
A filósofa alemã se surpreendeu ao observar e descrever o julgamento do oficial, pois 
Eichmann não parecia ser um monstro, muito menos um indivíduo com um espírito 
maligno e que aparentasse um comportamento antissemita. Ele era, na verdade, um 
burocrata que se considerava bom funcionário e obediente às leis de seu país e que de-
veriam ser seguidas. O oficial dizia que seguia ordens superiores e leis por considerar 
a obediência nelas seu dever racional.
Hannah Arendt descreve o oficial como um sujeito medíocre, pois ele renunciou pensar 
ou refletir nas consequências dos seus atos. Eichmann, obediente às regras impos-
tas coletivamente, mas sem pensar criticamente sobre elas, conduziu ao extermínio 
milhares de pessoas. Em virtude dessa observação, Hannah Arendt (1999, p. 144-5) 
pondera que, na banalidade do mal, verifica-se a renúncia da humanidade, a ausência 
de reflexão sobre os próprios atos, promovendo a falta de responsabilidade, isto é, não 
se medem as consequências das ações.
A banalidade do mal ilustra que, muitas vezes, a obediência mais fiel às leis poderia 
criar reflexos contra a própria humanidade, porque distancia o indivíduo da responsa-
bilidade com os outros semelhantes, tornando-o adepto de atitudes desumanas. Não 
esqueçamos que os campos de concentração, de forma sistemática e organizada, pro-
moviam o trabalho escravo e o extermínio de humanos.
A banalização do mal surge quando outros indivíduos são tratados de forma irresponsável, 
quando avaliados como meros números, ou são desumanizados por uma ordem legal que 
pode ser considerada cega.
Devemos, então, avaliar como os valores de um indivíduo podem contestar regras 
sociais. Caso essas regras estejam em desacordo com princípios éticos de defesa à 
humanidade, como as leis nazistas, o sujeito que procura assumir uma atitude ética 
precisa refletir a ponto de negar e desobedecer a essas leis e regras sociais. Valores 
individuais norteados por princípios éticos e racionais têm que orientar a vida do sujeito, 
ainda que as regras coletivas estejam em desacordo com estes mesmos valores.
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Figura 10. Mapa conceitual
 Fonte: elaborada pelo autor. 
Filme 
Banalidade do mal no filme o Tribunal de Nuremberg
Após a Segunda Guerra (1939-1945), muitos oficiais nazistas foram levados à corte 
e julgados na cidade de Nuremberg, na Alemanha. Eram acusados de crime contra 
a humanidade, responsáveis pelo holocausto – o extermínio de milhares de seres 
humanos em campos de concentração nazistas.
Com lançamento no ano de 2000, a versão do filme O Julgamento de Nuremberg 
apresenta as versões dos oficiais nazistas que procuravam se defender dos cri-
mes cometidos. O filme permite que relacionemos o conceito de banalidade do mal 
elaborado pela filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) e os argumentos em-
pregados pelos oficiais nazistas. Diziam apenas estar obedecendo ordens ou leis, 
sendo que seria uma traição à pátria desobedecê-las. Apresentavam-se como bons 
cidadãos, responsáveis, chefes de família e religiosos, tudo isso para mascarar a 
barbárie realizada nos campos de concentração contra seres humanos.
Deontologia
DEVER MORAL 
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MEIOS MAIS 
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QUE OS FINS
CERTEZA NAS 
CONSEQUÊNCIAS 
BENÉFICAS
CONFIANÇA 
NA RAZÃO
ÉTICA DA CONVICÇÃO ÉTICA DA RESPONSABILIDADE
Teleologia
REFLEXÃO E CÁLCULO 
SOBRE RESULTADOS
É RESPONSÁVEL PORQUE 
MEDE PRÓS E CONTRAS MEDE AS CONSEQUÊNCIAS
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Texto Complementar
Sobre o livro A ética protestante e o espírito do Capitalismo, de Max Weber.
Uma importante interpretação sobre a ética presente nas relações mercantis mo-
dernas está na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, escrita entre 
1904 e 1905, mas publicada apenas no ano de 1921. Max Weber procura compre-
ender qual é a origem da racionalidade e da burocracia presentes no capitalismo.
A Reforma Protestante, segundo Weber, deu origem à ascese, entendida como a busca 
constante do domínio e controle do próprio corpo, disciplina rígida diante das paixões, 
visando finalmente ao controle sobre a natureza por meio da ação metódica e calculada. 
Diferentemente do catolicismo (que na Idade Média negava o trabalho como fonte de 
riquezas), a conduta de vida protestante, sobretudo a calvinista, desenvolveu uma ética 
que prevê a racionalização da atividade mundana e, portanto, que se realiza por meio 
do trabalho rígido e do negócio (negação do ócio), enquanto formas de demonstração 
a si mesmo de que se é um escolhido por Deus, ou seja, um predestinado à salvação. 
A riqueza, o trabalho metódico e a prosperidade seriam sinais de Deus diante dos 
eleitos, os predestinados. Na visão de Weber, representa um paradoxo, pois trata-se 
de uma forma de religiosidade eminentemente moderna, uma vez que a fé não ape-
nas se reduz à contemplação de Deus, mas também prevê uma ação e dominação 
do mundo por meio do trabalho.
O que está em jogo é a relação entre a prosperidade econômica e a ética protestante 
com a origem da racionalidade presente no capitalismo. Weber designa esse estilo de 
vida como ética do trabalho, o que possivelmente teria criado certas crenças de que 
o “trabalho dignifica o homem” ou o “enobrece”. A principal característica da ética do 
trabalho é o controle e a racionalização sobre todos os processos da vida e do trabalho. 
O lucro e a cobrança dos juros, atividades vistas historicamente como degradantes e 
realizadas por espíritos gananciosos, passaram a ser tidas como benéficas e dignas, 
de acordo com a análise de Weber a respeito do protestantismo e do surgimento da 
modernidade. Noções antes apenas presentes no vocabulário do catolicismo, como 
missão, visão e vocação, foram transferidas à esfera do trabalho racional e gradativa-
mente incorporadas ao vocabulário do universo gerencial da administração.
O ponto central da análise que Weber realiza sobre a ética do trabalho é a de que 
indiretamente, ou seja, sem o saber, os protestantes inventaram as práticas racio-
nalizadoras que foram incorporadas pelo capitalismo. Certamente, indivíduos de 
outras religiões e até mesmo ateus teriam percebido o rápido progresso econômico 
dos fiéis puritanos e começaram a imitar a ética do trabalho, mas agora sem a sua 
religiosidade original. Pode-se dizer que as práticas econômicas adotaram a ética 
do trabalho, mas o vínculo entre a religiosidade e a racionalidade evaporou-se.
É interessante notarmos que a ética do trabalho e o individualismo proposto por 
Adam Smith contribuíram para consolidar a ética no cenário econômico capitalista.
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1
Ética – sua essência e o cotidiano
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um retrato sobre a banalidade do mal. São Paulo, Companhia 
das Letras, 1999.
ARISTÓTELES. A política: 2. ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro I. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Coleção Pensadores).
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Brasília: Ed. UNB, 1992.
BOFF, Leonardo. Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz. Petrópolis: Vozes, 2009.
BRAGA JUNIOR, Antonio Djalma;MONTEIRO, Ivan Luiz. Fundamentos da ética. Curitiba: InterSaberes, 2016.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Barcarolla e Discurso Editorial, 2009.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
MOREIRA, Joaquim Manhães. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira Cengage, 1999.
RACHELS, James; RACHELS, Stuart. Os elementos da filosofia moral. Porto Alegre: AMGH, 2013.
SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril, 1984. (Col. Os Pensadores).
SARTRE, Jean Paul. O Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Editora Vozes, 1997.
SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.
SROUR, Robert Henry. Ética empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
VAZ, Henrique Claudio de Lima. Escritos de filosofia II: ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1988.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1999.
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Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
UNIDADE 2
ATUAÇÃO PROFISSIONAL ÉTICA NA 
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
INTRODUÇÃO
Na Unidade 1, tratamos de apresentar algumas ideias iniciais e fundamentais para a 
problematização que vamos fazer a partir de agora. Isto, pois não é possível problema-
tizar a realidade sem um fundamento teórico – a não ser que o objetivo fosse continuar 
no senso comum. Assim, já entendemos de que modo a ética e a moral se fazem pre-
sentes na realidade cotidiana e de que modo as ideias de diferentes autores podem ser 
auxílio para uma vivência ética e cidadã na sociedade. Não é possível pensar um bom 
profissional (entendendo-se uma completude), se não houver uma opção de decisão 
racional pela boa ação – a ação ética.
Nesta unidade, lançaremos olhar sobre aquilo que é a inserção de um(a) profissional 
no meio social – lembrando que, apenas em sociedade, a vivência profissional alcança 
sentido, quando os indivíduos respondem às necessidades da comunidade humana. 
E que sociedade é esta? Em primeiro lugar, temos de considerar a velocidade das 
mudanças. Ser profissional é assumir a necessidade de atualização constante, enten-
dendo que sua formação deve ser um processo que começa com a formação universi-
tária, mas que não tem fim determinado. São necessidades em contextos de diferentes 
oportunidades também. Porém, sem a ética, corre-se o risco de fazer da profissão um 
tipo de subemprego (pensemos as controvérsias do fenômeno da uberização).
Os dilemas aparecerão em todos os contextos e a ética não oferece as respostas e 
soluções, mas oportunidade de reflexão mais aprofundada sobre as situações. E 
são estas reflexões que permitem a construção de caminhos mais específicos para 
cada âmbito profissional, o que aparece de forma concisa nos códigos de ética pro-
fissional. Será importante pensar sobre quanto as regras de uma carreira profis-
sional podem entrar em conflito com os valores dos indivíduos. O que fazer, então? 
Decidir e assumir responsabilidades.
Ainda nesta unidade, refletiremos sobre a sociedade enquanto marcada pelas tecnolo-
gias – digitais, principalmente. O que muda nas relações pessoais e profissionais quan-
do mediadas pela tecnologia? E a ética pode sofrer influências? De que tipo e até que 
ponto? Vamos refletir sobre estas importantes temáticas para a formação profissional!
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1. O QUE SIGNIFICA SER PROFISSIONAL?
1.1. DIALOGAR COM A REALIDADE
O ANO é 2019 d.C. no calendário Ocidental. A sociedade está há quase 100 anos se desen-
volvendo na mesma toada. Depois da longínqua Revolução Industrial, que criou as primeiras 
máquinas a vapor, o ritmo de produção se mantém praticamente intacto: rotinas produtivas e 
administrativas pré-estabelecidas; relações diretas de subordinação e hierarquia; jornadas pre-
senciais de trabalho bem identificadas; tecnologias de trabalho restritas e acessíveis somente 
em um determinado local. Todos sabem quem são, a quem se submetem, qual sua remunera-
ção e qual o descritivo de sua função e a natureza dessa profissão. No final do ano, sem muito 
holofote, alguns cientistas do mundo dizem que ‘há nas redondezas’ um novo ser, pequeno e 
mortal, circulando no ar. Ele tem uma capacidade única de entrar em seu corpo, alterar sua 
forma de respirar, sua composição muscular, suas sinapses neurais. Não há tratamento. Não 
há dimensão de como será sua transmissão. Não há vacina. Só há uma recomendação: iso-
lamento total e imediato. Alguns meses depois, a Organização Mundial de Saúde (autoridade 
máxima internacional) declara: Pandemia. Em menos de 72 horas, todas as sociedades deve-
riam fechar seus comércios, indústrias e serviços. Não há vida nem movimento nos espaços 
públicos. Pessoas devem se afastar de outras pessoas, inclusive familiares, e se colocarem 
em reclusão e com proteção facial. Trabalhadores devem trabalhar isolados. Trabalhar? Sim. O 
mundo das relações afetivas e cotidianas deve parar. O mundo do trabalho não. Em outras 72 
horas, os trabalhos são realizados a distância. Tecnologias coletivas instaladas em ambientes 
privados; ambientes privados transformados em espaços públicos; trabalho sem superviso-
res hierárquicos; profissões sem ocupação ou sem perspectiva. Cobranças por produtividade 
mantidas acompanhadas de desestruturações internas (departamentos e setores fechados e 
fundidos; novas funções assumidas por novos profissionais; expertises secundárias ganhando 
valor dentre outras). Por quanto tempo deve durar esse momento? - indagam-se todos. Eles 
respondem: Até que exista a cura! E se não houver ou não descobrirem? Até que exista a va-
cina! E até lá? Reinvente-se. Reeduque-se. Transforme-se. Aceite. E assim aconteceu. Para 
alguns historiadores, mais uma das grandes transformações da humanidade. Para sociólogos, 
a dinâmica esperada nas sociedades. Para ambientalistas, a consequência do nosso modo de 
viver e a resposta da natureza. Para os educadores, o momento de demonstrar que os funda-
mentos de formação e comportamentais dão base para a resolução de qualquer adversidade. 
Afinal, o que significa ser profissional?
A descrição sucinta apresentada acima sobre as consequências e mudanças na vida 
da humanidade em virtude da Pandemia do SARs-COV 19 poderia referir-se a um mo-
mento único na história. Mas não é.
A Pandemia do SARS-COV19 foi declarada pelo Sr. Tedros Adhanom, diretor geral da Or-
ganização Mundial de Saúde (OMS), no dia 11 de março de 2020. A organização elevou o 
estado de contaminação à pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus 
(Sars-Cov-2), não em virtude, à época, da gravidade da doença, e sim à disseminação 
SAIBA MAIS
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Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
geográfica rápida que o Covid-19 estava apresentado. Para mais informações consultar 
Bio-Manguinhos – Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz 
(FIOCRUZ). Disponível em: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1763-o-que-e-u-
ma-pandemia. Acesso em: out. 2021.
Movimentos de valorização, modificação e extinção das profissões acompanham de 
perto as grandes mudanças sociais e políticas da humanidade decorrentes de desas-
tres naturais, guerras ou transformações tecnológicas.
As primeiras décadas do século XXI foram marcadas por mais uma leva de mudanças. 
Os processos contínuos de independência e inovação econômicas e tecnológicas con-
tribuíram para novos rompimentos de barreiras nacionais e culturais – como observa-
mos sempre nos grandes processos de globalização –, mas, também e sobretudo, para 
alteração nas diretrizes da excelência do trabalho profissional, cada vez mais exigidas 
pela sociedade e desejadas pelos mercados vez que aumentam a produtividade.
Toda nova realidade provoca mudanças sistêmicas – forma de relação entre as par-
tes – e, por vezes, estruturais – as bases e fundamentos das relações. Todasas ve-
zes que averiguamos as consequências e causas de alguma grande Revolução 
na História – tais como a Industrial, a Francesa, as Revoluções de Independência, 
as Tecnológicas, as Culturais e, mais recentemente, as Nanotecnológicas –, veri-
ficamos efetivas alterações estruturais, que afetam desde os processos aos valores 
fundamentais dentro de uma sociedade.
Esses momentos nos levam a alterar nossa relação e nossos padrões de consumo – 
como o nosso vestuário e nossa alimentação –, de formas de aprender – aumentando 
a procura por cursos rápidos de formação técnica, língua estrangeira etc. –, de práticas 
de autocuidado – bem-estar e de saúde mental –, de prática de atividades de lazer e 
diversão e de momentos de interação social.
A realidade transforma as relações sociais, dentre as quais se situa a relação de traba-
lho, alterando sua forma de realização, sua forma de produção, seu local de desenvol-
vimento – por exemplo, sair do presencial e ir para o home office – e, sobretudo, seus 
referenciais valorativos que são base para a realização e para identidade profissional.
Sabemos que muitas das necessidades são inexoráveis, aconteceriam com o próprio 
desenvolvimento social e tecnológico. Outras, não. Por isso mesmo, ser um bom profis-
sional significa saber ler a realidade e estar preparado para se antecipar às mudanças, 
de forma comprometida com a realidade na qual está inserido, agindo em diálogo com 
o desenvolvimento e melhora de seu contexto social.
1.2. A NECESSÁRIA E OPORTUNA ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL
As literaturas de recursos humanos, gestão de pessoas, psicologia organizacional, direito 
do trabalho, de pedagogia e sociologia da educação, dentre outras, nos trazem uma série 
de referenciais para respondermos à pergunta “O que significa ser um bom profissional?”.
https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1763-o-que-e-uma-pandemia
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Em grande medida, mesmo com cada um destacando alguma característica que mais 
chame atenção ao seu olhar específico, esses diferentes profissionais concordam 
que para ser um bom profissional é preciso, de maneira contínua, estar atualizado 
na área científica e nas competências pertinentes à sua função, buscando sempre o 
maior nível de excelência técnica.
Instituições internacionais, como a EdTech Global Limited, acreditam que tal atitude é 
das mais importantes, tanto é que a elencam dentre as categorias de competências 
(skills) a serem desenvolvidas para se ser um profissional de sucesso e do futuro.
Identificada e denominada na literatura de gestão de pessoas por recapacitação 
(reskilling) (traduzida livremente para “retreinamento”), essa competência refere-se à 
capacidade que o profissional deve ter de “reconstruir a si mesmo” ou, ainda, de cons-
truir novas habilidades a partir de sua base. Para, efetivamente, comprometer-se com 
esse processo de atualização técnica em nível de excelência, algumas outras compe-
tências devem ser estimuladas, a partir da necessidade de:
 ` uma postura de não-conformação (ou seja, de não acomodação frente aos desafios e às 
soluções já testadas);
 ` aceitação de novas ideias (buscando-as por si mesmo ou reconhecendo-as em membros 
da equipe de trabalho);
 ` desprendimento em relação às certezas consideradas absolutas e irrefutáveis que não 
permitem espaço para o novo.
A busca constante pela excelência, mais do que uma competência individual, é uma 
exigência concreta do mundo no qual estamos inseridos e que se mostra inundado 
por mudanças rápidas, profundas e simultâneas em campos tecnológicos, políticos, 
econômicos e valorativos.
O desenvolvimento da excelência profissional exige, além do conhecimento da realida-
de, o aprofundamento constante sobre as necessidades sociais de cada área. Por isso 
mesmo, tal compromisso além de ético é, também, manifestação de cidadania. Vincu-
la-se a um projeto emancipatório em que passamos a ter um papel ativo nas decisões 
profissionais e de promoção de autonomia.
A busca por excelência, seja no âmbito global – quando pensamos no desenvolvimento 
de um país – ou no âmbito individual – quando pensamos em crescimento profissional 
–, exige de nós o estabelecimento de rotinas, processos e diretrizes adequadas. Por 
meio dessas exigências, eliminamos, constantemente, os diferentes desequilíbrios de 
origem – como a formação educacional de base –, de ordem socioeconômicas e de 
pré-concepções e preconceitos.
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1. 3. COMPROMISSO COM A INOVAÇÃO
O novo status das profissões, suas dinâmicas inter-relacionais, em trabalhos que exi-
gem formações múltiplas, suas novas formas de realização –internacionalizada, flexível 
e “uberizada”, dentre outras –, além do “[...] tsunami tecnológico que tem decretado a 
falência de vários modelos de negócio e diminuído o prazo de validade – não apenas 
de produtos e serviços, mas de empresas inteiras” (SOUZA, 2021, [n.p.]), colocam-nos 
questões profundas sobre as habilidades e competências que devem permear a forma-
ção acadêmica tecnológica e profissional.
Em seu parecer, Souza (2021, [n. p.]) ainda afirma que “[...] há mais de dois anos ‘negó-
cios tradicionais estão sendo destruídos da noite para o dia por soluções disruptivas’”. 
As chamadas soluções disruptivas – aquelas que rompem com o esperado, com o cur-
so normal de um processo – têm se apresentado como uma manifestação de inovação. 
Há muito tempo a inovação não concerne somente às ações de criação de produtos ou 
sistemas novos, gerados a ‘partir do nada’ ou de uma ‘ideia genial’.
É evidente, principalmente para aqueles que se dedicam de forma profissional às pes-
quisas, que ainda se mantém no horizonte e no projeto de sociedade o objetivo de reali-
zar alguma grande descoberta, em decorrência de nossa prática e estudos. Entretanto, 
para os profissionais inseridos no mercado dinâmico do trabalho cotidiano – conside-
rando-se a natureza das relações no sistema capitalista –, os elementos inovadores 
podem ser também aqueles oriundos da inserção de práticas alternativas que estabele-
cem novas lógicas, novos processos e articulações e que apresentam novas soluções.
Mas, comumente, quando observamos o mercado de trabalho, costumávamos apontar 
que momentos inovadores e ações inovadoras estavam presentes somente em gran-
des reestruturações produtivas. Entretanto, a diversidade do mercado, das profissões 
e das empresas, a especialização e a flexibilização de processos, fez com que essas 
práticas se deslocassem do âmbito das grandes estratégias para o âmbito da formação 
individualizada, ética, de cada profissional.
O termo usual para definir um conjunto de transformações com grande impacto no mundo do 
trabalho é a Reestruturação Produtiva – alguns denominam como Reengenharia Produtiva. 
Esse termo se refere a um processo com efetivas alterações estruturais, nas bases lógicas e 
racionais de determinada forma de realização produtiva e profissional.
A inserção de lógicas, tais como o Taylorismo, o Fordismo, o Toyotismo, a automação dos 
anos 1970 são clássicos exemplos de reestruturação. A efetividade da alteração diz respeito 
às novidades introduzidas nos sistemas produtivos, que impactam os processos de trabalho, 
geram mudanças no modo de elaborar os produtos e organização dos processos de traba-
lho, ocasionando processo de flexibilização, desregulamentação e reformas gerenciais. Com 
a especificação das profissões e dos ambientes de trabalho – saúde, serviços ou indústria, 
nacionais ou transnacionais –, essas transformações vêm sendo percebidas de maneira e 
em tempos diferentes em cada setor.
SAIBA MAIS
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Ser profissional significa, dessa forma, ser comprometido com uma prática inovadora 
e empreendedora individualizada, absorvida como diretriz interna de gestãoda própria 
carreira. Ser comprometido eticamente com a inovação nos leva a dimensionar um pro-
fissional orientado para o respeito às regras e a consciência do impacto de suas ações 
para o desenvolvimento da sociedade.
1.4. COMPROMISSO COM A ÉTICA PROFISSIONAL
Dentre as perguntas fundamentais que circulam em torno da pergunta “o que significa 
ser profissional?”, a todo instante, encontramos a preocupação ética. Certo é que, ao 
pensarmos em formação ética, podemos verificar a complexidade e interdisciplinarida-
de, o que nos propicia indagar: como a dimensão ética do ensino, da aprendizagem e 
da vivência acadêmica e profissional pode estar compromissada com o desenvolvimen-
to e a realização de valores humanizadores, de maneira a proporcionar uma diferencia-
da e contemporânea identidade profissional?
Ser profissional significa, então, conhecer e reconhecer a importância da cultura huma-
na em nossos valores individuais e coletivos, a partir da identificação de sua construção 
social, os problemas com que dialogam. Implica um processo de conscientização do 
conjunto de elementos que constituem a teia social e o entendimento de que as rela-
ções são problematizadas em níveis internos e externos.
Para compreender melhor o conceito, indicamos a leitura do artigo do sociólogo Octavio 
Ianni, referenciado abaixo.
IANNI, Octavio. O mundo do trabalho. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, vol. 
8, n. 1, p. 2-12, 1994. Disponível em: http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v08n01/
v08n01_01.pdf. Acesso em 09 jun. 2022.
A necessidade financeira aliada a uma ausência de formação profissional específica ou difi-
culdade de inserção nos mercados de trabalho pode nos encaminhar para um trabalho sem 
garantias, com uma autonomia relativa, como são aqueles intermediados por plataformas di-
gitais – entregadores, motoristas de aplicativos etc. Entretanto, tanto em nossa prática quanto 
em nosso olhar social sobre este trabalho, não podemos deixar de problematizar as questões 
relativas ao respeito humano, ao direito fundamental ao trabalho digno e sem precarização.
EXEMPLO
O compromisso ético de todos os profissionais está ligado ao exercício profissional para 
realização e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, dentro de parâmetros claros 
de cidadania e de valores. Nesse sentido, Vazquez (2003, p. 23) define ética como “[...] a 
teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência 
de uma forma específica de comportamento humano”. Ser um profissional significa assumir 
um determinado comportamento humano, portanto o ato em si mesmo já é um ato ético.
http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v08n01/v08n01_01.pdf
http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v08n01/v08n01_01.pdf
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A questão basilar que nos orienta nesta unidade é a da compreensão de “O que significa 
ser profissional?”. Para além de uma resposta apressada que nos conduziria a algo do tipo 
“é ser formado em tal área” ou “desempenhar determinada função”, buscamos construir um 
caminho reflexivo que nos levasse a entender a multiplicidade da questão.
Ser profissional é ser um sujeito de consciência ética, comprometido com sua sociedade e 
com os problemas do concreto, comprometido com seu desenvolvimento pessoal em nível de 
excelência técnica e pré-disposto a se envolver em uma jornada empreendedora e inovadora.
Longe de ser tarefa fácil, ser profissional significa inserir-se em uma posição de respeito 
frente à formação e crítica em relação ao que as circunstâncias exigem no dia a dia da 
prática. Não se nasce um bom profissional, torna-se em cada atitude e em cada escolha.
Figura 01. Mapa: Trabalho e Realidade
Dialogar com a realidade
Sociologia do trabalho
Mudanças sistêmicas: 
alteram a forma de 
realizar as atividades.
Mudanças estruturais: 
alteram as bases da 
relação produtiva
O trabalho como 
elemento da 
condição humana
A humanidade sempre está em 
busca de algo novo, que dê novos 
significados à vida e dialogue com 
novas formas de organização, novos 
valores e uma nova dimensão 
de ser humano.
O papel social do profissional: impli-
ca em assumir uma postura crítica e 
ética, colocando-se como participan-
te das transformações do mundo.
1
Fonte: elaborado pela autora.
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Figura 02. Compromisso com Inovação
Assumir um compromisso 
com a inovação
Reestruturações 
(reengenharias) produtivas
Ações disruptivas
Nova lógica
Novas soluções
Novos produtos
Novas metodologias
Novas técnicas
Novas competências 
(skills)
Empreendedorismo 
(novas atitudes)
Fonte: elaborado pela autora.
Figura 03. Atualização Profissional
3
2
Permanecer atualizado em 
sua profissão
Atualizar em novos 
conhecimentos profissionais
Desenvolver olhar multidi-
mensional sobre a profissão, 
acompanhando as mudanças 
na teoria, na metodologia e 
nos procedimentos de 
sua área específica
Buscar conhecimentos inter-
disciplinares em áreas que são 
consideradas bases para o apri-
morar o desenvolvimento pro-
fissional (Ex: aperfeiçoamento 
na língua portuguesa, domínio 
da língua estrangeira, domínio 
de novas tecnologias de base 
[textos, planilhas mecanismos 
de busca, etc.]
Excelência técnica
Fonte: elaborado pela autora.
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Figura 04. Compromisso com a Ética
4 Assumir compromisso 
com uma postura ética
Valores da profissão em diálogo 
com os valores da Sociedade
Autonomia das 
vontades individuais = 
liberdade de agir
Heteronomia em 
relação às vontades 
coletivas = 
responsabilidade
Desenvolvimento 
de valores sólidos e 
compromisso com 
a sociedade
Desenvolvimento de 
práticas e políticas 
de responsabilidade 
social e gestão de 
diversidade
A ação humana: 
liberdades e responsabilidade
Fonte: elaborado pela autora.
1.5. PANORAMA DO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL
Para compreender um pouco a realidade do Mercado de Trabalho no Brasil, verifique os 
links abaixo com materiais complementares ao tema.
1. Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho – CESIT
Vinculado ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, o CESIT se 
dedica ao estudo das relações trabalhistas no Brasil, analisando principalmente os im-
pactos das alterações sociais na economia e nos modelos produtivos. As pesquisas são 
pautadas em dados obtidos nos relatórios econômicos, nas atuais teorias de economia 
e sociologia do trabalho e em planos nacionais de desenvolvimento.
Recomendamos a leitura das Cartas que abordam sempre os temas mais recentes do Merca-
do de Trabalho. Disponível em: https://www.cesit.net.br/. Acesso em: 09 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://www.cesit.net.br/
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2. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos 
– DIEESE
Atuando desde 1955, entidade criada pelas associações sindicais (Sindicatos, fede-
rações, confederações de trabalhadores e centrais sindicais) de todas as categorias 
profissionais, tem o objetivo de desenvolver pesquisas que subsidiem as demandas dos 
trabalhadores. Um dos trabalhos mais sólidos e consistentes diz respeito à análise de 
empregabilidade de cada categoria profissional (divulgada mensamente em boletins es-
tatísticos) e um estudo pormenorizado do valor real do Salário-Mínimo frente aos custos 
e à inflação registrada mês a mês (desde o início do Plano Real em 1994). 
Disponível em: https://www.dieese.org.br/. Acesso em: 09 jun. 2022.
Os programas são disponibilizados em duas plataformas: Youtube (https://www.youtube.com/
channel/UCvg3GT5Xb9EII7BY9UXOSKQ) e nas Plataformas de Podcast.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
3. Conversas Sobre o Mundo Contemporâneo. Instituto de Economia/ UFRJ
Canal Audiovisual de debates e atualizações sobre o mundo contemporâneo, com especial 
atenção às questões econômicas e sociais vinculadas aoTrabalho. Idealizada e realizada 
pelos professores do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Filme e Documentários
 ` Filme
 � O homem que mudou o jogo Moneyball (Original). Direção: Bennett Miller. Produção 
de Brad Pitt, Michael De Luca e Rachael Horovitz. Estados Unidos da América. Colum-
bia Pictures, 2011, 133 minutos.
Síntese comentada: Billy Beane (Brad Pitt) gerencia o time de beisebol Oakland A’s e o 
responsável pela montagem da equipe. Os maus resultados fazem com que ele seja for-
çado a reinventar e reorganizar sua equipe, entretanto terá à disposição um orçamento 
apertado, inferior aos de seus concorrentes.
A prática de contratação dos times (o gerenciamento de talentos e equipes) leva em 
consideração dados estatísticos e análises subjetivas dos famosos ‘olheiros’. Diante da 
crise, um assistente propõe uma ideia nova: utilizar análises geradas por computador 
para contratar novos jogadores. O gerente geral apoia a nova ideia e coloca em prática 
https://www.dieese.org.br/
https://www.youtube.com/channel/UCvg3GT5Xb9EII7BY9UXOSKQ
https://www.youtube.com/channel/UCvg3GT5Xb9EII7BY9UXOSKQ
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seu plano, enfrentando desconfianças de toda a equipe. O filme vale ser visto pelos no-
vos profissionais pois trabalha a característica de estarmos sempre prontos para inovar, 
para aceitar novas ideias e desafios e, sobretudo, a rompermos com culturas no ambien-
te de trabalho que não geram resultados positivos.
Documentário
GIG – A Uberização do Trabalho. (Gig Society - The Uberization of Work). Dirigido por Car-
los Juliano Barros, Caue Angeli & Maurício Monteiro Filho. Produzido por Carlos Juliano 
Barros. Brasil, 2019, 60’. Site Oficial: https://reporterbrasil.org.br/gig/
Sinopse Oficial: “O crescimento da economia alternativa, chamada de “GIG Economy”, tem chama-
do cada vez mais a atenção da sociedade. Isso acontece devido às plataformas digitais em todo o 
mundo. No Brasil, esse processo também é conhecido como ‘Uberização’, que consiste na prática 
do trabalho autônomo, porém, com condições precárias ao trabalhador. Os debates a respeito vêm 
crescendo a cada dia. Esse documentário nos fornece uma real dimensão das necessidades e da 
situação atual do trabalho em grandes centros, agravada durante a Pandemia do SARS-COV19. 
Para além de uma reflexão sobre as novas formas de trabalho, o documentário aborda, a partir de 
relatos pessoais, temas como a tecnologia no mundo do trabalho, precarização e dignidade huma-
na”. Esta problemática será retomada adiante.”
SAIBA MAIS
 ` Texto Complementar
Empreendedorismo social corporativo: uma agenda para a promoção sustentável de práticas 
sociais, ambientais e económicas.
Resumo: “A presente comunicação integra uma investigação mais ampla que está a ser desen-
volvida no quadro do projeto europeu EMBRACE – European Corporate Social Entrepreneur-
ship Curriculum. Pretende apresentar os resultados da segunda fase do projeto centrada no 
levantamento de boas práticas de empreendedorismo social corporativo (ESC), implementadas 
em organizações de diferentes tipologias, pertencentes aos 9 países europeus parceiros (Ale-
manha, Espanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Lituânia, Países Baixos, Portugal e Roménia) [...]”.
Leia o texto completo em: https://parc.ipp.pt/index.php/iirh/article/view/4291. 
Acesso em: 09 jun. 2022.
SAIBA MAIS
 � Uberização, A Nova Classe De Trabalhadores
Resumo: “Neste artigo, analisaremos o que significa a uberização, será observado o 
contexto histórico do trabalho e suas evoluções, assim como a análise social, jurídica 
sobre a regulamentação dessa nova classe de trabalhadores, enfatizando os impactos 
e resultados diretos que a uberização tem na vida dos indivíduos”.
https://reporterbrasil.org.br/gig/
https://parc.ipp.pt/index.php/iirh/article/view/4291
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2. A NECESSIDADE DE REGRAS MORAIS
2.1. OS DILEMAS ÉTICOS CONTEMPORÂNEOS
Imagine a seguinte situação: um sequestrador seleciona duas barcas na baía de uma 
cidade grande e instala nelas duas bombas. Uma das barcas está transportando traba-
lhadores e cidadãos comuns que voltam para suas residências, após um dia de traba-
lho. A outra está transportando prisioneiros condenados por crimes graves contra a so-
ciedade. O sequestrador informa aos passageiros das duas barcas que eles possuem, 
cada um, o detonador da bomba da outra barca. O primeiro que detonar a outra barca 
garantirá a sobrevivência de todos em sua barca. Imediatamente o dilema se instaura.
Quais vidas são mais importantes? Quais são os limites para a defesa da própria so-
brevivência? Os cidadãos comuns ao escolherem aqueles que já foram condenados 
e criminosos devem morrer, eles se igualam a eles? E os condenados ao escolherem 
sobreviver serão mais criminosos ainda confirmando o que a sociedade argumenta que, 
entre eles, não existem valores éticos?
Esse episódio conhecido por muitos como uma das cenas mais impactantes do filme 
de Hollywood, Batman: o cavaleiro das trevas, baseia-se em um clássico dilema da 
teoria dos jogos determinado o “Dilema dos Prisioneiros” (TUCKER; LUCE, 1959, p. 13) 
e utilizado desde a década de 1950 para pensarmos em estratégias decisórias frente a 
situações inusitadas e de difícil discernimento.
Esse também é o exemplo escolhido para ilustrar a discussão desta unidade. Se todos 
temos, em nossa composição como sujeitos e cidadãos, valores sociais e morais que 
nos conduzem a uma prática responsável e direcionada ao bem-comum, por que temos 
a necessidade de construir novas regras morais e atitudinais para profissionais distintos 
e situações distintas?
Todos nós já ouvimos a expressão “a escolha de Sofia”. Quando em 1979, o escritor in-
glês William Styron publicou seu romance com esse título que resumia o enredo de sua 
personagem principal, ele nem sequer imaginou que dali em diante o mundo ocidental 
utilizaria essa expressão sempre que quisesse se referir a um dilema que se estabelece 
entre escolhas muito difíceis.
Leia o texto completo em: https://www.periodicorease.pro.br/rease/article/view/312. 
Acesso em: 4 nov. 2021.
SAIBA MAIS
https://www.periodicorease.pro.br/rease/article/view/312
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Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
Na vida pessoal, os grandes dilemas nos colocam em situações em que devemos esco-
lher entre sonhos, projetos e, de maneira mais delicada, em ocasiões que enfrentamos 
a vida versus a morte. Isso se dá, normalmente, porque os dilemas nos colocam em 
confronto com nossos valores.
Se analisarmos o contexto das sociedades contemporâneas, notaremos que enfrenta-
mos um período no qual os paradigmas, isto é, os grandes postulados e princípios que 
determinavam a estrutura social e moral de um tempo, vêm sendo colocados à prova, 
gerando novos desafios e redimensionando conceitos e valores.
Em outros tempos da história da humanidade, como no Renascimento do século XV, 
após as Revoluções Industrial e Francesa no século XVIII, ou mais recentemente, logo 
após a Segunda Guerra Mundial no século XX, a sociedade foi fortemente impactada 
por essas mesmas dúvidas e reflexões.
Alguns teóricos defendem que essa crise ética se dá pela inexistência, nesses períodos 
de mudança, das chamadas “teorias universais da moralidade”, que geram um momento 
de “suspensão de juízos”, no qual não se sabe exatamente quem se é, o que se tem ou o 
que se deve fazer, mas se tem certeza do que aquilo que acreditávamos ter e saber não 
se mostra mais suficiente para explicar e/ou referenciar o mundo atual em que vivemos.
O nome ‘dilema’ é o termo escolhido para identificar situações nas quais as escolhas 
são aparentemente impossíveis ou, como identificamos nas teorias éticas, nas quais as 
opções representam bens irreconciliáveis ou males inescapáveis.
SAIBA MAIS
Compreende-se como “Teoria Universal da Moralidade” ou “Universalismo Moral” as 
propostas de sistema ético paraas quais todos os indivíduos possuem ou estão em uma 
situação semelhante – e por vezes até idêntica –, considerando-se, sobretudo, sua natu-
reza humana. Entende-se que a ação moral é única e as decisões são tomadas indepen-
dente de características como raça, cultura, sexo, religião, nacionalidade, sexualidade ou 
qualquer outro distinto. Um dos períodos filosóficos que possui variados sistemas éticos 
universais é o da Filosofia Antiga e, depois, os estabelecidos no Iluminismo, como o perí-
odo analisado pelo professor Paulo Sérgio Rouanet, no artigo referenciado a seguir:
ROUANET, Paulo Sérgio. Grandeza e decadência da Ética da Ilustração. Hypnos, São Pau-
lo, ano 8, n. 10, p. 1-10, 2003. Disponível em https://hypnos.org.br/index.php/hypnos/article/
view/142. Acesso em: 03 dez. 2021.
SAIBA MAIS
Como herdeiros de uma modernidade estimulada a acreditar no futuro, na ciência, na 
técnica e no progresso individual, considerando o conhecimento válido como o resulta-
do do avanço dos esforços do homem na apropriação e compreensão do seu mundo, 
estamos acostumados às revoluções tecnológicas e sociais.
https://hypnos.org.br/index.php/hypnos/article/view/142
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Sabemos que, na sociedade contemporânea, cada dilema estabelecido é potencial-
mente gerador de uma nova organização da comunidade, das formas de acumulação e 
distribuição da riqueza, do desenvolvimento das artes, dos saberes, de um reposiciona-
mento do homem frente ao seu mundo e ao seu tempo.
Gilles Lipovetsky (2007, p. 23) aponta que, “de repente”, a instantaneidade se trans-
forma em uma das marcas de nosso tempo – que ele classifica como hipermoderno. 
Nesse tempo, somos convidados a vislumbrar a possibilidade de se viver sem sentido, 
ou seja, agimos sem crer na existência de um único e categórico sentido, mas apostar 
na construção permanente de sentidos múltiplos, individuais, grupais e até fictícios (es-
tratégias hipotéticas como a do dilema dos prisioneiros).
Frente à possibilidade de “viver sem sentido”, de não se crer mais em um único e cate-
górico sentido, em uma verdade absoluta, mas de apostar na construção de sentidos 
múltiplos, Lipovetsky (2007, p. 61) nos alerta que abrimos espaço para a inserção da 
ética em uma cultura de massa. Essa cultura propicia uma uniformização de atitudes, 
uma ampliação da alienação em relação para a nossa sociedade e para as nossas 
profissões e, em consequência, uma perda de autonomia e emancipação. Com esse 
quadro, o dilema deixa de ser situacional e se torna um dilema interno no qual, frequen-
temente, nós nos vemos imersos em um mundo de contradições entre “aquilo que eu 
posso ser” e “aquilo e que eu consigo ser” e “aquilo que eu deveria ser”.
Essa nova dinâmica da sociedade nos insere em um processo decisório insustentável, 
uma vez que, de maneira prática e objetiva, não temos como gerenciar estratégias co-
letivas para resolução de problemas. Um dos caminhos, então, é o de recorrermos aos 
acordos coletivos que estabelecem novas regras sociais e profissionais, tentando frear 
essa característica contemporânea de autodeterminação das próprias regras.
2.2. CONFRONTO INICIAL: ÉTICA DO INDIVÍDUO VERSUS ÉTICA 
DA PROFISSÃO
Os dilemas éticos contemporâneos parecem nos inserir em um processo de reivindica-
ção, de busca, pelo direito de sermos absolutamente nós mesmos, vivenciando nossas 
vidas a partir de valores culturais e em busca de bens e benefícios individuais.
O período que se iniciou após as guerras mundiais do século XX é caracterizado como 
pós-modernidade, período que abrigaria o sujeito pós-moderno. Vale lembrarmos que, 
para a história tradicional, a última demarcação de período histórico é o da Idade Con-
temporânea, iniciada com a Revolução Francesa.
O termo “pós-modernidade” surgiu com a obra do sociólogo francês Jean-François Lyo-
tard denominada A condição pós-moderna, em que o autor apresenta que, depois das 
grandes guerras, as metanarrativas (a história contada de uma única forma, a caracteri-
zação do bem e do mal absoluto) deixaram de existir. As explicações agora precisam de 
contextos específicos para que sejam validadas.
SAIBA MAIS
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Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
Essas transformações na ética individual criam novos desafios para as éticas sociais 
e profissionais. O indivíduo encontra um complexo de incertezas valorativas que re-
sultam em sua dificuldade em identificar sua própria identidade, diluídas nos múltiplos 
interesses sociais (interesses afetivos distintos de interesses de consumo de interesses 
profissionais de interesses familiares dentre outros), e sua identidade ética e moral em 
meio a um “[...] mundo pleno de contradições e incertezas” (GOERGEN, 2005, p. 59).
Essa perda de identidade ética individual ocorre, pois o ser humano pós-moderno não 
assume determinados comportamentos por força de princípios éticos ou de um dever 
ser – como se acreditava na deontologia tradicional –, mas sim porque é seduzido pelas 
promessas hedonistas do sistema (o prazer imediato, a felicidade e a tranquilidade).
Com outros desdobramentos, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (conhecido pelas 
obras Modernidade Líquida e Amor Líquido) defende que a pós-modernidade existe 
como uma “modernidade líquida”, ou seja, somos conscientes de que nossa realida-
de atual é ambígua, multiforme, possível de apresentar respostas diferentes para os 
mesmos problemas, mas não tem força suficiente ainda para romper com os valores 
gerais da modernidade.
O uso do termo “pós-moderno”, aqui, nesta unidade refere-se a esse tempo que abriga 
homens inseridos em um mundo em transformação, em busca de respostas verdadeiras, 
padrões éticos válidos e universais.
Como já viso na Unidade 1, deontologia é termo filosófico é termo filosófico derivado do 
conceito grego deontos (dever ser) e logos (lógica ou tratado). O termo é utilizado para 
se referir a uma teoria da filosofia moral que expõe a ciência dos deveres, determinan-
do suas regras e princípios. Absorvida pela ética profissional, essa ciência dos deveres 
torna-se a base para a construção de regras éticas (normas de conduta) gerais para cada 
categoria profissional. Em decorrência dessa abordagem, constantemente, vemos os ter-
mos “deontologia jurídica”, “deontologia médica”, dentre outras, como sinônimo de direitos 
e deveres vinculados a alguma prática profissional (ABBAGNANO, 1998, p. 240).
GLOSSÁRIO
Goergen (2005, p. 61) ainda afirma que a “[a] sedução é uma forma refinada, sutil e 
suave da destruição social [...]”, uma vez que ela acaba por destituir todas as caracte-
rísticas públicas da ação ética, dentre elas, a diferenciação entre os espaços (mundos) 
públicos e privado.
Essa proposta hedonista contemporânea (a promessa da felicidade individual a qual-
quer custo) encontra-se exatamente na afirmação de que é possível a construção de 
uma ética e uma moral à la carte, na qual o homem se desvincula de princípios dura-
douros e universais, e se pauta somente por aquilo que é momentâneo e particular 
(LIPOVETSKY, 2007, p. 16).
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Essa promessa é atraente, porque ela parece para nós como exercício de liberdade, em 
que todas as ações só precisam dialogar com os nossos valores, com a nossa opinião 
individual. O mundo é todo remodelado em acordo com os interesses individuais, os pro-
cessos de coação uniforme (sermões, as grandes lições de moral, os grandes manuais 
ou códigos de conduta) devem ser substituídos pelas regras da livre escolha responsável.
Do ponto de vista da vida privada, essa escalada de uma ética individual à la carte, com 
regras válidas de indivíduo para indivíduo, vem gerando inúmeros questionamentos e 
necessidades de regras mais claras. Isso, porque, com certa frequência, confunde-se 
liberdade com autorização para violações de direitos humanos (como nos casosde pro-
pagação de fake news, de crimes de ódio e crimes de injúrias e difamação nas redes so-
ciais). Do ponto de vista profissional, desde os anos 1960, a ética do “vazio” de universais 
(termo de lipovetskiano) vem gerando questionamentos e movimentos contrários.
Como podemos garantir um ambiente de igualdade de condições econômicas, estrutu-
rais, gerenciais e de concorrência sem o estabelecimento de regras claras de conduta? 
As regras morais, mais do que uma necessidade ética, tornam-se uma necessidade de 
sobrevivência profissional.
2.3. O INTERMEDIADOR ESCOLHIDO: OS CÓDIGOS DE ÉTICA 
PROFISSIONAL
Muitos são os caminhos escolhidos para estabilizar o confronto contemporâneo de va-
lores entre indivíduos e profissões (mercado), relatados e postulados em teorias filosó-
ficas, da psicologia comportamental, da teoria de gestão de pessoas dentre outras. Mas 
para a deontologia profissional, a escolha decisiva passou a se delinear em meados 
dos anos 1970 quando, para atender às necessidades das teorias da Responsabilidade 
Social e da Governança Corporativa, foram formulados e postulados Códigos de Ética 
e Conduta específicos para cada categoria profissional.
Os Códigos de Ética são normas administrativas que estabelecem comportamentos e práti-
cas gerais aceitas, adequadas e justas para determinada categoria profissional.
Em linhas gerais, tais normas detalham atitudes e princípios que devem reger as rela-
ções dos profissionais entre si, destes com a cadeia produtiva (fornecedores e clientes) 
e, em algumas situações, com a própria sociedade (quando estabelecem, por exemplo, 
regras pontuais em termos de sigilo profissional).
Considerado, na literatura técnica, como um dos possíveis primeiros passos na constru-
ção de uma estrutura ética empresarial, os Códigos de Ética se delineiam como meca-
nismos ou ferramentas de implementação e de introjeção de uma cultura organizacio-
nal saudável, valorizando práticas e condutas aceitas pela sociedade, pelos órgãos de 
classe e, sobretudo, pelas diferentes instituições.
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Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
Meira (2002, p.131-132.), comentando as teorias de Sorell e Hendry, salienta que Códi-
gos de Ética são instrumentos relevantes na construção da ética empresarial. Contudo, 
em sua grande maioria, essas ferramentas são normativas orientadoras e só serão efe-
tivamente cumpridas se não forem trabalhadas de forma dependente da filosofia organi-
zacional, pois ficariam limitadas a uma prática desvinculada da real cultura da empresa.
Acompanhados da inserção dos Códigos de Ética, dessa maneira, foram estabelecidos 
os Comitês de Ética (em algumas profissões denominados de Tribunais de Ética) res-
ponsáveis pela avaliação da prática profissional com vistas a determinar se aquele indi-
víduo demonstrou ou não capacidade para assimilar as regras da coletividade. Nesses 
comitês, as ações concretas são avaliadas e o indivíduo pode, inclusive, a depender 
do que foi feito e após o devido processo legal, receber como sanção a proibição do 
exercício de sua profissão.
Os Códigos de Ética são um intermediador necessário e útil para as instituições, mas 
somente sua existência não basta para que se altere o comportamento interno. Eles 
exigem uma remodelagem das culturas ambientais (regras de toda a categoria profis-
sional) e organizacionais (regras internas). Afinal, como os autores da ética empresarial 
sempre ressaltam, sabe-se há muito que uma política ética não necessariamente se 
traduz em comportamento ético.
Conhecer o Código de Ética e Conduta de sua categoria é elemento obrigatório para todo 
profissional contemporâneo comprometido.
2.4. O CONFRONTO FINAL: ÉTICA PROFISSIONAL E ÉTICA 
INSTITUCIONAL
Sabemos que um dos elementos ensejadores da discussão ética contemporânea foi a 
teoria da Governança Corporativa que, com seus princípios de boas práticas proporcio-
nadoras de eficácia e eficiência, exigia regras claras de comportamento e de avaliação 
para ambientes organizacionais. Tais teorias se vinculam às discussões que tomam for-
ma no final do século XIX, quando a sociologia lança seu olhar sobre elas promovendo 
a discussão sobre a ética empresarial.
Desde aquele momento, um dos postulados que passou a ser considerado nas discus-
sões foi o da função social da empresa. A empresa – que aqui é trabalhada como sinôni-
mo de toda e qualquer instituição ou organização profissional – é elemento estruturador 
de uma sociedade. Nela, desenvolvemos nossos valores, realizamos e concretizamos 
nossa dignidade social, produzimos e realizamos as trocas valorativas essenciais da 
economia (trabalho por remuneração).
Essas instituições se inserem nas sociedades alterando formas e costumes, modifican-
do os territórios (pense em situações como nos casos em que uma empresa constrói 
bairros para seus trabalhadores – conhecidos no Brasil como as Vilas Industriais), al-
terando os parâmetros e ofertas da educação profissional. Ou seja, essas instituições 
são, na cultura, extremamente relevantes para a realização ética.
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Assim como os indivíduos que possuem éticas “próprias”, as empresas também estão 
inseridas em situações que as tornam únicas, detentoras de princípios que respondem 
aos anseios e desejos internos.
Para que tenhamos um espaço com uma orientação ética adequada, as empresas de-
vem externalizar seu compromisso ético. E muitas o fazem a partir da determinação, 
construção e publicização de sua “Missão, Visão e Valores”, por meio de políticas de 
Transparência, Anticorrupção e Compliance, itens que devem ser compreendidos e vi-
venciados por todos os profissionais inseridos neste ambiente.
A partir da compreensão do porquê temos “a necessidade de regras morais”, busca-
mos pontuar que a essência de nossa sociedade é o dilema. Os dilemas se apresen-
tam, cotidianamente, em nossa vida individual e profissional e exigem de nós respostas 
adequadas. Assim como na prática pessoal, nas práticas profissionais e institucionais 
resolveremos com mais agilidade, competência e justiça os dilemas na medida em que 
estivermos melhor orientados para agir.
Em um mundo no qual parece natural que todos os comportamentos éticos sejam consi-
derados como válidos, valores tradicionais como a humildade, o respeito, a urbanidade, 
o diálogo, a hierarquia, a independência responsável dentre outros encontram formas 
de se fazerem presentes como regra geral do mundo profissional.
É nesse contexto de temores e esperanças, de dúvidas e anseios, que surge a 
necessidade ética de se pensar nas repercussões dos “novos saberes”, dos “novos 
comportamentos”, de modo que as regras sejam estabelecidas não para que se perca 
a liberdade, mas para que tenhamos a oportunidade de vermos nossas profissões e 
instituições sobreviverem e a oportunidade de construirmos ambientes saudáveis.
Figura 05. A necessidade de regras morais
As decisões em nossas vidas pessoais e profissionais são guiadas por valores e padrões 
éticos. Em algumas situações, necessitamos de regras para agirmos corretamente.
Ética do indivíduo x 
ética da profissão 
Código de 
ética profissional
Ética do indivíduo e 
ética da instituição
Dilemas éticos
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Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
A vida profissional 
propicia situações no 
mundo público em 
que, muitas vezes, os 
valores pessoais de-
senvolvidos na esfera 
privada não são sufi-
cientes para orientar 
o profissional a tomar 
uma decisão.
Os códigos éticos 
profissionais surgem 
como instrumentos 
de auxílio e mode-
ração. Neles estão 
contidos os parâme-
tros de ação, compor-
tamento e juízos que 
devem ser seguidos 
por todos aqueles 
que estão envolvidos 
na profissão.
Situações limítrofes 
que geram reflexões 
sobre a natureza hu-
mana e os limites e 
valores válidos, acei-
táveis e legítimos, 
dentro de uma orga-
nização e, também, 
na profissão.
Além de situações vi-
venciadas em virtude 
da profissão,muitos 
dilemas advêm da 
natureza da empresa 
/institução organiza-
ção na qual se está 
inserido. Nessas situ-
ações, é preciso um 
exercício reflexivo 
constante sobre as 
normas de conduta, 
compliance e éticas 
que são orientadas.
Necessidade de compreensão e exercícios reflexivos preparativos para a tomada de 
decisões difíceis em ambientes profissionais
Compreender o con-
ceito de ética indivídal 
à luz dos princípios 
de formação cultural 
e social.
Participar constante-
mente de treinamento 
para o desenvolvi-
mento de compe-
tências atitudinais e 
fortalecimento dos 
processos decisórios.
Conhecer o Código 
de Ética (Código de 
Conduta) da institui-
ção em que atua e 
agir de acordo com a 
sua missão, valores e 
princípios.
Conhecer o Código 
de Ética da profissão 
as orientações 
Tribunais e ética e 
dos Conselhos 
Profissionais.
Fonte: elaborado pela autora.
1.5. A QUESTÃO ÉTICA E AS REGRAS MORAIS
Para você compreender um pouco a realidade da questão ética e das regras morais em 
ambientes profissionais, indicamos os seguintes links:
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1. Instituto Ethos
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma Organização da Socie-
dade Civil de Interesse Público (OSCIP), “cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as 
empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parcei-
ras na construção de uma sociedade justa e sustentável.” (ETHOS. Sobre o instituto. Dis-
ponível em: https://www.ethos.org.br/conteudo/sobre-o-instituto/, Acesso em 10 jun. 2022.)
Reunindo um histórico de mais de 20 anos de ações éticas e de responsabilidade social 
em empresas de diferentes segmentos no Brasil, o Instituto é uma importante fonte de 
pesquisa para os estudantes.
Consulte: https://www.ethos.org.br/. Acesso em: 10 jun. 2022.
Consulte: Disponível em: https://www.ibgc.org.br/. 10 jun. 2022.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
2. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
“O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é uma organização sem fins 
lucrativos, fundada em 1995 com sede na cidade de São Paulo. Com o desenvolvimen-
to e o aprofundamento das práticas de Responsabilidade Social, tornou-se referência 
nacional e internacional em governança corporativa tendo uma contribuição grande no 
país para o desenvolvimento de relatórios, orientações e formações destinadas à me-
lhoria do desempenho sustentável das organizações por meio da geração e dissemina-
ção de conhecimento das melhores práticas, visando uma sociedade melhor.
Possui uma biblioteca de textos e práticas consideradas adequadas para instituições e 
empresas de diferentes segmentos e portes, sendo um bom mecanismo de pesquisa”.
Filme ou Documentários
 ` Filme
 � Um homem entre gigantes (Concussion). Direção de Peter Landesman Austrália, Es-
tados Unidos, Reino Unido. Columbia Pictures, 2015. 123 min. 
https://www.ethos.org.br/conteudo/sobre-o-instituto/
https://www.ethos.org.br/
https://www.ibgc.org.br/
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Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
 � Sinopse: “Um Homem Entre Gigantes” é uma obra que se contextualiza nos Estados 
Unidos, no Estado da Pensilvânia, no Condado de Pittsburgh, e foi realizada a partir da 
biografia do médico nigeriano Bennet Omalu. No início dos anos 2000, Omalu, patologis-
ta forense e neuropatologista, trabalha no Instituto Médico Legal quando recebe a tarefa 
de investigar alguns casos que são incomuns. Em suas pesquisas, ele diagnostica um 
severo trauma cerebral em um jogador de futebol americano e, investigando o assun-
to, descobre que em virtude da ausência de equipamentos de segurança este vem se 
tornando um mal comum entre os profissionais do esporte. Imediatamente, a agência 
responsável pelo esporte, preocupada com a propaganda negativa, age para esconder 
os dados e questionar a tese do médico que, determinado, entra em uma batalha sem 
precedentes discutindo os aspectos éticos envolvidos na prática profissional.
 ` Filme
 � Fome de Poder (The Founder). Direção: John Lee Hancock. Roteiro Robert D. Siegel. 
Elenco: Michael Keaton, Nick Offerman, John Carroll Lynch. EUA: The Combine, Film-
Nation Entertainment. 1h 55min. 2016.
 � Sinopse: “A história da ascensão da rede de fast food McDonald ‘s. Após receber 
uma demanda sem precedentes e notar uma movimentação de consumidores fora 
do normal, o vendedor de Illinois Ray Kroc (Michael Keaton) adquire uma participa-
ção nos negócios da lanchonete dos irmãos Richard e Maurice “Mac” McDonald no 
sul da Califórnia. Implementando novas formas de gerenciamento e práticas de ex-
pansão comercial, o novo sócio inicia um processo no qual, pouco a pouco, ele re-
tira os irmãos criadores da rede, transformando a marca em um gigantesco império 
alimentício.” (Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-234023/) 
 
Muitas questões éticas são trabalhadas durante o filme, dentre elas a questão do res-
peito à criação e invenção e as práticas comerciais inseridas no contexto de uma con-
corrência sem limites.
 ` Texto Complementar:
A importância da ética profissional nas organizações: uma pesquisa sobre a ética 
profissional no mercado de trabalho
Resumo: “Este artigo apresenta a importância da ética profissional nas organizações, 
pois esta contribui para geração de boas relações de trabalho, uma melhor produtivida-
de, um bom clima organizacional que aumenta a motivação dos colaboradores e agrega 
valor para a organização. Embora a postura ética seja muito exigida profissionalmente, 
tanto das empresas quanto dos colaboradores, observou-se uma certa dificuldade de 
ambos para colocá-la em prática, sendo este o motivo desse estudo. Para tanto, reali-
zou-se uma pesquisa bibliográfica e de campo por meio de um questionário com trinta 
profissionais, na busca por informações sobre o comportamento ético dentro das orga-
nizações. Os resultados da pesquisa de forma geral foram positivos, mas evidenciaram 
a necessidade de falar mais sobre esse tema nas empresas, porque ainda existem 
comportamentos que não são adequados para o ambiente de trabalho de ambos os la-
dos. Concluiu-se, por meio das respostas dos participantes, a importância de se adotar 
um conjunto de medidas para tornar o ambiente de trabalho mais agradável que inclui 
trabalhar o tema da ética profissional dentro da organização com maior frequência, ter 
https://www.adorocinema.com/filmes/filme-234023/
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3. SOCIEDADE TECNOLÓGICA E DIGITAL
3.1. O MUNDO TECNOLÓGICO E A ERA DIGITAL
As transformações tecnológicas ocorridas durante o século XX alteraram substancial-
mente tanto as estruturas econômicas como as estruturas políticas e sociais. A partir 
disso, resulta a necessidade de repensar novos princípios éticos para fundamentar as 
relações nessa nova realidade. Novas formas de se organizar, compreender e interagir 
com o mundo se desenvolveram e se popularizaram. 
Ainda que tais mudanças tenham acarretado grandes transformações, talvez a mais 
intensa de todas tenha sido a forma como a percepção do tempo se alterou, desde 
o advento da revolução industrial no século XVIII, com um crescente sentimento de 
uma política ética mais eficiente com ações voltadas para a realidade da empresa, um 
melhor diálogo e comunicação sobre o tema, adotar medidas corretivas para que as 
pessoas reflitam sobre seus atos e busquem uma mudança de comportamento. Além 
disso, é importante que os profissionais reflitam sobre a relevância do tema observando 
as consequências de seus atos para toda a equipe e organização, buscando orientar e 
mudar seus comportamentos por meio das normas de conduta, a fim de gerar um bom 
convívio no ambiente profissional” (SOUZA et al., 2020, p. 10).
Leia o texto completo em:
https://revistaunibf.emnuvens.com.br/monumenta/article/view/3. Acesso em: 10 jun. 2022.
SAIBA MAIS
A ética profissional como parâmetro e valor na sociedade democráticaResumo: “Dialogando com a teoria filosófica e política de formação da sociedade e 
dos parâmetros éticos, o autor percorre a constituição do conceito de ética profissional 
revelando os valores fundantes de uma perspectiva interdisciplinar que sustente os pa-
râmetros democráticos em uma sociedade. Um texto escrito em 1998, mas que per-
manece vivo nas reflexões sobre os desejos e anseios dos profissionais da sociedade 
contemporânea” (SOUZA FILHO, 2016, p. 173).
Leia o texto completo em:
http://revistathemis.tjce.jus.br/index.php/THEMIS/article/download/399/386. 
Acesso em: 10 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://revistaunibf.emnuvens.com.br/monumenta/article/view/3
http://revistathemis.tjce.jus.br/index.php/THEMIS/article/download/399/386
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aceleração. A forma de se perceber e conceber a temporalidade afetou as relações 
sociais e trabalhistas, concedendo uma nova perspectiva sobre a individualidade e a 
interatividade.
Ao longo do século XX e do XXI, diversos autores abordaram a forma como a moderni-
dade (e, para alguns teóricos, a pós-modernidade) afetou a maneira de se perceber o 
mundo no âmbito privado e público. Para o sociólogo Zygmunt Bauman, em sua reco-
nhecida e recomendada obra Modernidade líquida (2001), a modernidade transformou 
as relações em algo efêmero, líquido e, por vezes, fugidio. Partindo dessa perspectiva, 
vamos nos aprofundar um pouco mais nos limites, ou na ausência deles, da tecnologia 
e da era digital na sociedade contemporânea.
A REVOLUÇÃO DIGITAL
No Brasil, desde os anos 1970, diversos 
autores têm se debruçado sobre as for-
mas como as novas tecnologias têm im-
pactado nossas vidas. Um dos primeiros 
autores a dedicar ao tema foi o geógrafo 
Milton Santos, em especial em sua obra 
Técnica, espaço, tempo: globalização 
e meio técnico-científico-informacional 
(1998). A partir de uma série de conside-
rações, Santos propôs a concepção de 
meio técnico-científico-informacional 
para caracterizar as relações entre o de-
senvolvimento do capitalismo no espaço 
geográfico, mas também a relação mais intrínseca entre técnica e ciência, principal-
mente com a intensificação do processo de globalização.
O cenário da quarta fase da Revolução Industrial, também denominada de Indústria 
4.0, é marcado pelas tecnologias da automação e da troca de dados, da informatização 
dos processos. Nessa fase de industrialização, as novas possibilidades apresentadas, 
como os amplos sistemas de dados e o armazenamento em nuvem, dinamizaram os 
processos produtivos e apresentaram novas interfaces de trabalho e interatividade.
Podemos observar que, nas últimas décadas, com o advento da internet e de novos 
recursos da tecnologia, além do protagonismo das redes sociais, o papel do indivíduo 
ganhou destaque e, ao mesmo tempo, diluiu-se em um grande número de conexões 
possíveis dentro do espaço virtual. A relação entre individualidade e coletividade é in-
trínseca e os novos meios de comunicação têm dominado as formas de interação, não 
só com as máquinas e inteligências artificiais, mas também com as pessoas.
Com base nesses aspectos, podemos vislumbrar, desde relações entre pessoas reais, 
por meio de trocas de mensagens, lives, curtidas, ambiente educacional virtual, até na 
interação entre pessoas e atendentes virtuais, por exemplo, os call centers que cada 
Figura 06. Era digital
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vez mais contam com atendentes de inteligência virtual. Em relação ao último tópico, 
podemos apontar uma questão sobre os limites sociais que ganham contorno com as 
novas tecnologias.
Recentemente, diversas empresas têm realizado campanhas abordando o assédio e a 
violência contra a mulher, uma vez que, até mesmo atendentes virtuais, quando carac-
terizadas como pertencentes ao gênero feminino (seja pelo nome, ilustração, forma de 
articular o gênero gramatical), sofrem com falas que remetem a situações de preconcei-
to e violência. Nesse sentido, a intersecção entre o mundo real e o virtual tem nos colo-
cado, enquanto sociedade, importantes questionamentos sobre os limites necessários 
nas novas e antigas formas de se viver e representar no mundo.
Com o intuito de refletir sobre a questão das novas tecnologias e o impacto que elas têm nas re-
lações sociais e de gênero, ressaltando antigas formas de violência, leia a reportagem a seguir.
Robôs precisaram aprender a responder ao assédio feito por homens
“As agressões sofridas pela Bia não são ‘pessoais’ contra ela e nem isoladas. O chamado 
‘assédio cibernético’ acontece contra todo tipo de assistente digital dotada ou não de inteli-
gência artificial. Recentemente, a Lu, o chatbot do Magazine Luiza, gravou um vídeo reba-
tendo pedidos de namoro que recebe, lado mais ‘gentil’ desse tipo de interação: nas redes 
sociais, a robô recebe pedidos de ‘nudes’ e insultos.”
Fonte: TOUEG, Gabriel. Robôs precisaram aprender a responder ao assédio feito por 
homens. UOL, 08 abr. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/reda-
cao/2021/04/08/bia-chatbot-do-bradesco-vairesponder-a-altura-quem-vier-com-assedio.htm 
Acesso em: 11 jun. 2022.
PARA REFLETIR
3.2. AS REDES SOCIAIS E OS NOVOS APLICATIVOS
Com a expansão das possibilidades tecnológicas, desenvolveu-se também novas pro-
blemáticas que vão de crimes cibernéticos até os denominados cancelamentos virtuais. 
Nesse sentido, uma das grandes dificuldades que existe hoje, visto que ainda há pouca 
regulamentação jurídica sobre o tema, reside justamente em compreender os limites 
legais dentro da esfera virtual.
Cabe destacarmos, neste ponto, o Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/2014, que 
regulamenta, grosso modo, o uso da rede de internet em nosso país. Nesse quesito, 
podemos acrescentar as diferentes políticas de utilização que cada meio virtual cria 
para proteger a si mesmo e seus usuários. Constantemente, aceitamos termos de 
uso sem ao menos ler todos os pontos ali apresentados, ou seja, nós nos permitimos 
entrar em esferas sem conhecer legalmente as políticas de conduta e utilização às 
quais nos submetemos.
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/04/08/bia-chatbot-do-bradesco-vairesponder-a-altura-quem-vier-com-assedio.htm
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/04/08/bia-chatbot-do-bradesco-vairesponder-a-altura-quem-vier-com-assedio.htm
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A CULTURA DO CANCELAMENTO – O OSTRACISMO DO SÉCULO XXI
Acerca da cultura do cancelamento, po-
deríamos estabelecer um paralelo com o 
mundo antigo grego. Se na Grécia Antiga 
os indivíduos poderiam ser condenados 
ao escrutínio e ao isolamento social, por 
meio da prática do ostracismo, no mundo 
contemporâneo as pessoas estão sujei-
tas ao denominado cancelamento virtual. 
Resumidamente, esse ato consiste em 
denunciar (anonimamente ou não) e boi-
cotar pessoas e/ou empresas que, por al-
guma razão, teriam realizado uma atitude 
condenável, como um ato de racismo, xenofobia, homofobia, misoginia, dentre outros.
Um exemplo de quem sofreu com essas práticas é o caso do filósofo grego Sócrates, 
que foi acusado e condenado por (entre outras coisas) desvirtuar os jovens de Atenas. 
Ele poderia ter optado pelo ostracismo político e social, no entanto, diante do que isso 
significaria, optou pela morte por envenenamento com cicuta. Atualmente, inúmeros 
artistas e políticos sofreram o cancelamento virtual. Um dos casos emblemáticos é o 
da influenciadora digital Gabriela Pugliesi que, durante a quarentena imposta pela Co-
vid-19, postou em uma rede social um vídeo em que aparecia em uma confraternização, 
sendo duramente criticada pelo público, o que a fez deletar temporariamente sua conta 
e, posteriormente, acarretou a perda de inúmeros patrocínios.
Figura 07. Cultura do cancelamento 
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Para uma leitura complementar sobre a cultura do cancelamento, visando aprofundar a dis-cussão, leia o artigo de Miguel Lago à Folha de São Paulo, intitulado: “Derrubem as estátu-
as. Quem reclama da ‘cultura do cancelamento’ está cego para a cultura do outro”. Disponível 
em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/derrubem-as-estatuas/. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Ainda nesse cenário do ciberespaço, é necessário sublinharmos as possibilidades do 
anonimato, o que potencializa tais atitudes e, como apontado, devido à incipiente regu-
lamentação existente, torna as chances de contenção e punição limitadas. Isso se dá 
pelo fato de o anonimato empoderar indivíduos que nutrem discursos de ódio e violên-
cia (conhecidos no mundo como hate speech), que se sentem aptos a pronunciarem, 
de forma ampla, seus preconceitos e visões de mundo.
Tendo isso em mente, é necessário frisarmos que esse mesmo anonimato também abre 
espaço para que indivíduos silenciados e/ou vitimados pelos mais distintos processos 
de violência possam projetar suas vozes e demandas de forma segura e, assim, encon-
trar respaldo coletivo para a superação de suas dores e traumas.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/derrubem-as-estatuas/
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Diante da temática do cancelamento, um ponto de relevância sobre o tema se encontra 
na compreensão de tal ato: seria a prática de cancelar alguém, ou uma organização, 
um elemento estruturante da sociedade ou um elemento estruturado? Ou seja, poderí-
amos conceber o cancelamento como o resultado de um modo social de compreender 
o mundo ou uma consequência desse universo? Trata-se de uma questão que suscita 
respostas ainda em disputas e que leva diretamente até outros questionamentos: qual 
o papel e os limites do ativismo social e/ou cibernético? Pode-se se falar de um “efeito 
manada” ou as pessoas estão ficando mais conscientes de seus valores e atitudes 
diante do mundo e de outros?
O ciberespaço, para Pierre Lévy (1999, p. 17), pode ser definido como “[...]o novo meio de comu-
nicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a 
infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações 
que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”.
O autor também avança e define cibercultura como “[...] o conjunto de técnicas (materiais e 
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e valores que se desenvol-
vem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 1999, p. 17).
GLOSSÁRIO
OS LIMITES DO MUNDO DIGITAL NO MUNDO DO TRABALHO – 
A UBERIZAÇÃO
Concomitantemente às problemáticas já 
apresentadas, outras se desenvolveram no 
campo das relações sociais e, principalmen-
te, trabalhistas. Além das possibilidades de 
trabalho em home office, a utilização de pla-
taformas digitais também cresceu, de forma 
intensa, em pouco tempo e suscitou a inter-
venção de novos limites e parâmetros legais 
para as demandas advindas de tais usos.
Uma temática bastante debatida se refere 
ao fenômeno da é a Uberização, termo 
que, devido ao crescente uso de aplicati-
vos que mediassem o contato entre cliente 
e o prestador de serviço, acabou por adentrar o sistema jurídico brasileiro. O assunto está 
longe de ser esgotado e, constantemente, ganha novos contornos, sendo que muitos 
deles têm abordado, diretamente, a limitação ou não de tais relações.
Dentro dos dilemas advindos, as principais questões sobre tal temática se referem à po-
sição do trabalhador nessa relação. Por um lado, seria uma possibilidade de que ele 
gerisse seus próprios horários e autonomia. Por outro, implicaria a não existência de 
Figura 08. Uberização e o mercado de 
trabalho contemporâneo
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vínculo empregatício e legal entre a plataforma, o prestador e o usuário. A discussão tem 
se aprofundado e crescido, como apontam obras publicadas sobre o assunto, como, por 
exemplo, Ube rização, trabalho digital e Indústria 4.0, organizada por Ricardo Antunes.
Além do constante surgimento de novas plataformas, têm-se atualizado exponencial-
mente (elemento intensificado) os aplicativos já existentes, principalmente, após a pan-
demia de Covid-19, que demandou formas distintas de os indivíduos buscarem solu-
ções para suas necessidades, especialmente recorrendo ao meio digital.
REPRESENTAÇÃO E CRÍTICA SOCIAL – ALGORITMO E REDES SOCIAIS
Diante dos algoritmos utilizados pelos aplicativos, que controlam grande parte da-
quilo que os indivíduos têm acesso e o que visualizam, a forma de se apresentar e 
se representar na era digital encontra limitações e dita, em grande medida, desejos 
e consumos na contemporaneidade. Além das produções científico-acadêmicas, 
diversas criações no âmbito cultural têm procurado refletir sobre as formas como 
as novas tecnologias, em sua presença ou ausência, influenciam os indivíduos e 
suas relações no mundo contemporâneo.
Ilustrações
O cineasta britânico Kenneth Loach aborda questões referentes ao capitalismo, à imigração, 
ao envelhecimento, às interfaces da tecnologia e à uberização em seus filmes Eu, Daniel 
Blake (2017) e Você não estava aqui (2020).
O Dilema das Redes Sociais (2020), dirigido por Jeff Orlowski, por exemplo, por meio da 
narrativa documental, estabelece apontamentos basilares para a relação entre as mídias 
sociais, a democracia e o futuro das organizações sociais. Partindo dos comentários de im-
portantes nomes de dentro da indústria da tecnologia, que apresentam suas preocupações e 
receios diante de suas próprias criações, o documentário aponta para os riscos e os limites 
que as redes na contemporaneidade têm trazido à tona.
Na mesma perspectiva, mas por meio da narrativa ficcional, no episódio Queda Livre, da 
terceira temporada da série Black Mirror, os limites da tecnologia, dos likes e compartilha-
mentos são levados ao extremo. A obsessão pelos likes e notas dadas é trabalhada como 
um adendo da vida social. Para obter um empréstimo para comprar uma casa, a jovem pro-
tagonista precisa ter uma nota alta nas redes sociais. Em busca de atingir o número neces-
sário, ela entra em uma jornada de trocas de pontuações, que, no entanto, vão se tornando 
cada vez mais complicadas devido a circunstâncias da vida cotidiana. Com uma narrativa 
distópica (em oposição ao termo utopia, que descreveria uma sociedade ideal), o episódio 
nos leva aos limites da percepção de si e dos outros no mundo contemporâneo, relações 
agora mediadas em grande escala por notas dadas e recebidas em plataformas digitais e 
aplicativos, ou seja, apresenta uma sociedade imperfeita, opressiva e disfuncional.
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Ainda que a era digital tenha aberto as portas para todo um conhecimento e aces-
so inimagináveis em outras épocas, as restrições geradas pelos algoritmos acabam 
mantendo os indivíduos dentro de uma esfera de trocas e visualizações, por vezes, 
muito homogêneas.
Em um mundo cada vez mais diversificado e heterogêneo, um dos grandes dilemas da 
atualidade é construir conexões reais que ultrapassem as fronteiras das denominadas 
“bolhas sociais” ou “bolhas digitais”. Isto é, amplie esses espaços fechados nos quais os 
indivíduos se refugiam e fortalecem posturas pré-concebidas, em que o diálogo pouco 
encontra o contraditório, o que constrói possibilidades para posturas extremistas. Nesse 
sentido, buscar os limites do mundo tecnológico perpassa diretamente não só o acesso 
a tal mundo, mas também as formas de se conceber e utilizar esse universo.
Para ampliar o aporte teórica sobre a sociedade tecnológica e digital, indicamos 
duas leituras, a saber:
 ` Livro: Uma obra lançada em 2020 de extrema relevância sobre a era digital e a sociedade 
conectada é: Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0, organizada por Ricardo Antunes, 
que conta com capítulos escritos por Arnaldo Mazzei Nogueira, Cílson César Fagiani,Clarissa Ribeiro Schinestskck, entre outros.
 ` Artigo: SERRAZINA, Filomena, Esfera pública, tecnologia e reconfiguração da identidade 
individual. Observatorio (OBS*) Journal, Lisboa, v. 6, n. 3, p. 177-191, 2012. Disponível 
em: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/574. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Uma das questões diretamente relacionadas à era digital é a forma como as redes sociais 
impactaram o mundo do trabalho. Assim, compreender como as relações entre vida privada 
e pública se interconectam e se impactam mutuamente é fundamental para a construção de 
espaços harmoniosos. Estabelecer os limites entre o público e o privado nas redes é uma das 
questões mais importantes atualmente. Para entender melhor como tecnologias da internet e 
das redes sociais, por exemplo, precisam ser cuidadosamente analisadas e compreendidas, 
leia a matéria referenciada a seguir:
SILVA, Juliana Américo Lourenço da. Redes sociais: veja como se comportar na internet na 
hora de concorrer a um emprego. USF, 2 set. 2014. Disponível em: https://www.usf.edu.br/
diferenciais/carreira-dicas-exibir/91909726/redes+sociais+veja+como+se+comportar+na+in-
ternet+na+hora+de+concorrer+a+um+emprego.htm#.YQLk3Y5KjIU. Acesso em: 11 jun. 2022.
Caso de aplicação 1
http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/574
https://www.usf.edu.br/diferenciais/carreira-dicas-exibir/91909726/redes+sociais+veja+como+se+comportar+na+internet+na+hora+de+concorrer+a+um+emprego.htm#.YQLk3Y5KjIU
https://www.usf.edu.br/diferenciais/carreira-dicas-exibir/91909726/redes+sociais+veja+como+se+comportar+na+internet+na+hora+de+concorrer+a+um+emprego.htm#.YQLk3Y5KjIU
https://www.usf.edu.br/diferenciais/carreira-dicas-exibir/91909726/redes+sociais+veja+como+se+comportar+na+internet+na+hora+de+concorrer+a+um+emprego.htm#.YQLk3Y5KjIU
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manos, [S. l.], n. 10, p. 1-3, 2021.
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GOERGEN, Pedro. Educação e Valores no mundo contemporâneo. Educação & Sociedade, Campinas, 
vol. 26, n. 92, p. 938-1011, out. 2005. Disponível em: https://scholar.google.com.br/scholar?oi=bibs&clus-
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LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Trans, 1999.
LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Tradução de Juremir 
Machado da Silva. São Paulo: Editora Manole, 2007.
MEIRA, Fabio Bittencourt. Ética empresarial e gerencialismo – um estudo sobre a ética da ética empresarial. 
2002. Dissertação (Mestrado em Administração) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo da 
Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2002.
Sobre o impacto das redes sociais, confira os vídeos a seguir:
KARNAL, Leandro; IOSCHPE, Gustavo. Tecnologia e privacidade: inteligência artificial no 
cotidiano Vídeo (44min 09s). Postado pelo canal Prazer, Karnal – Canal Oficial de Leandro 
Karnal. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sBMROEaLKZY. Acesso em: 11 
jun. 2022.
SANTOS, Milton. Milton Santos – o mais importante geógrafo do Brasil (TV Brasil 2011). Ví-
deo (25min 38s). Postado pelo canal Geografia e Ensino de Geografia. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=Y51aSaBC614. Acesso em: 11 jun. 2022.
TURK, Gary. Look up – Kleber Carriello – Legenda Português BR. Vídeo (4min 58s). Postado 
pelo canal de Kleber Carriello. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EPoUK-
DuGMLg&t=3s. Acesso em: 12 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://scholar.google.com.br/scholar?oi=bibs&cluster=7675107301423375992&btnI=1&hl=en
https://scholar.google.com.br/scholar?oi=bibs&cluster=7675107301423375992&btnI=1&hl=en
https://www.youtube.com/watch?v=sBMROEaLKZY
https://www.youtube.com/watch?v=Y51aSaBC614
https://www.youtube.com/watch?v=Y51aSaBC614
https://www.youtube.com/watch?v=EPoUKDuGMLg&t=3s
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Ética e Cidadania
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1-10, 2003. Disponível em https://hypnos.org.br/index.php/hypnos/article/view/142. Acesso em: 03 dez. 2021.
SERRAZINA, Filomena, Esfera pública, tecnologia e reconfiguração da identidade individual. Observatorio 
(OBS*) Journal, Lisboa, v. 6, n. 3, p. 177-191, 2012. Disponível em: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/
article/view/574. Acesso em: 7 set. 2021.
SILVA, Juliana Américo Lourenço da. Redes sociais: veja como se comportar na internet na hora de concor-
rer a um emprego. USF, 2 set. 2014. Disponível em: https://www.usf.edu.br/diferenciais/carreira-dicas-exi-
bir/91909726/redes+sociais+veja+como+se+comportar+na+internet+na+hora+de+concorrer+a+um+empre-
go.htm#.YQLk3Y5KjIU. Acesso em: 7 set. 2021.
SOUSA FILHO, Oscar D.’Alva e. A ética profissional como parâmetro e valor na sociedade democrática. THE-
MIS: Revista da ESMEC, Fortaleza, v. 1, n. 2, p. 173-185, 2016.
SOUZA, Ana Paula Maximiano de et al. A importância da ética profissional nas organizações: uma pesquisa 
sobre a ética profissional no mercado de trabalho. Monumenta – Revista Científica Multidisciplinar, [S. l.], v. 1, 
n. 1, p. 10-21, 2020. Disponível em: https://revistaunibf.emnuvens.com.br/monumenta/article/view/3. Acesso 
em: 17 nov. 2021.
SOUZA, C. Trabalho no Século 21: desafios do Líder na Nova Ordem Exponencial. IstoÉ Dinheiro, 08 mar. 
2021. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/trabalho-no-seculo-21-desafios-do-lider-na-nova-or-
dem-exponencial/. Acesso em: set. 2021.
TOUEG, Gabriel. Robôs precisaram aprender a responder ao assédio feito por homens. UOL, 08 abr. 2021. 
Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/04/08/bia-chatbot-do-bradesco-vairespon-
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Vivência profissional e construção da cidadania
UNIDADE 3
VIVÊNCIA PROFISSIONAL E 
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
INTRODUÇÃO
A partir do que entendemos sobre a ação boa do indivíduo, a ação ética, podemos 
partir para o que ela deve constituir em seu todo: enquanto sociedade, ela dá origem 
à vivência cidadã. Na contemporaneidade, ser considerado cidadão está diretamente 
relacionado à possibilidade de uma pessoa ter acesso aos denominados direitos civis, 
políticos e sociais. É importante destacarmos que gozar de direitos significa que o indi-
víduo também arca com deveres perante a sociedade. 
Nos dias atuais, a concepção de cidadania, no contexto brasileiro, deve ser aplica-
da a todos (homens, mulheres, crianças, idosos), independentementede cor, gênero, 
orientação sexual etc. No entanto, nem sempre foi assim: por muito tempo, os direitos, 
políticos e/ou sociais, foram proibidos às mulheres, os analfabetos, à população negra 
e indígena, entre outros grupos excluídos historicamente.
Nesta unidade, temos o intuito de compreender a relação entre Ética e Cidadania, como 
se estabelecem em nossa sociedade e em nosso cotidiano profissional, impulsionando 
mudanças em processos gerenciais, práticas e políticas institucionais e, sobretudo, em 
nossos próprios comportamentos.
Se há algo que vai se consolidando entre nós é que tanto o conceito de ética quan-
to o de cidadania não têm definições estanques e acabadas, definitivas. São con-
ceitos que são históricos, vinculados a circunstâncias específicas dependen-
tes e variáveis no tempo e no território, cronologicamente considerados e nos 
espaços culturalmente estabelecidos.
Nosso estudo e nossa análise, à vista disso, devem sempre ser encaminhados e diri-
gidos pelo olhar da complexidade, a partir de múltiplas relações e interlocuções. E isso 
pode se dar por meio dos estudos interdisciplinares, uma vez que temos que lembrar 
que são conceitos e estes são originários no seio de teorias referenciadas em realida-
des, neste caso, plurais e multifacetadas.
Vale aqui, então, recordarmos como nota histórica sobre a cidadania: sua conceitua-
ção contemporânea encontra raízes nas revoluções sociais, políticas e econômicas, 
iniciadas no século XVIII, que culminaram na conquista de direitos políticos e civis, 
decorrentes da reestruturação de estados monárquicos e absolutistas em repúblicas e 
parlamentos, da construção de instituições democráticas (executivas, judiciárias e legis-
lativas), das inúmeras transformações sociais, culturais, de ordem religiosa e científica, 
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além da consolidação do sistema econômico capitalista. Essa origem é fundamental 
para nos revelar uma das grandes facetas do conceito, que diz respeito à compreensão 
de seus espaços de consolidação e pertencimento, colocando-nos perguntas profundas 
que tentamos desenvolver.
Ainda nesta unidade, traremos a ideia de que uma postura cidadã exige dos indivíduos 
um cuidado que vai além do mundo humano, alcançando o mundo natural, chamado 
também de natureza mais que humana. As questões ambientais têm ganhado destaque 
dentre as grandes preocupações contemporâneas e devem ser assumidas com respon-
sabilidade por todos que atuam no mundo profissional. Vamos começar!
1. CIDADANIA ONTEM E HOJE
1.1 A CIDADANIA NA ANTIGUIDADE
A concepção de cidadania – e cidadão – está diretamente atrelada à democracia. Com-
preender a história e a evolução desses termos remonta diretamente ao mundo antigo 
grego. Com a evolução do modelo político grego, transitando da monarquia, passando 
pela oligarquia e chegando à democracia, houve a necessidade de se determinar quais 
pessoas teriam direito à participação política e ao usufruto dos direitos determinados pelo 
corpo político na pólis. Emerge, nesse sentido, a concepção de cidadão, ou seja, dos 
indivíduos que seriam diretamente representantes de uma determinada cidade-estado.
Democracia direta e democracia representativa
Na Grécia Antiga, a democracia funcionava por meio da representação direta, ou seja, os indiví-
duos considerados cidadãos participavam ativamente e votavam nas propostas apresentadas 
pela assembleia. Na atualidade, incluindo o Brasil, vigora, de modo geral, a democracia repre-
sentativa, na qual os cidadãos elegem indivíduos (vereadores, deputados, senadores etc.) que 
os representarão no processo democrático do funcionamento do Estado e de sua organização.
SAIBA MAIS
No mundo grego, primeiramente nasceu a cidade-estado, a pólis, e, posteriormente, o 
cidadão – condição que, no caso da cidade de Atenas, por exemplo, era restrita aos ho-
mens livres, filhos de pai e mãe atenienses, maiores de 18 anos e que fossem nascidos 
na cidade. Em Roma, o conceito era um pouco mais aberto, estendendo-se às distintas 
cidades que compunham a Península Itálica e, posteriormente, às províncias do Impé-
rio, incluindo também os escravos que fossem libertados por seus senhores. No caso 
das mulheres, elas eram consideradas membros da sociedade, mas, não gozavam da 
condição da cidadania plena, nem participavam da política.
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Vivência profissional e construção da cidadania
1.2. A CIDADANIA A PARTIR DA IDADE MODERNA
Da cidadania no mundo greco-romano, passando pelo mundo medieval, ocorreram 
modificações intensas, principalmente com a introdução do cristianismo. No entan-
to, as modificações mais significativas para o mundo ocidental atual se concentram 
na Idade Moderna com as denominadas Revoluções Burguesas. É nesse período 
que acontecem importantes transições, tais como a mudança de súdito para cida-
dão e a implementação dos denominados direitos naturais e inalienáveis do homem, 
pontos que serão tratados a seguir.
“No sentido moderno, cidadania é um conceito derivado da Revolução Francesa (1789) para 
designar o conjunto de membros da sociedade que têm direitos e decidem o destino do Esta-
do. Essa cidadania moderna liga-se de múltiplas maneiras aos antigos romanos, tanto pelos 
termos utilizados como pela própria noção de cidadão. Em latim, a palavra cinis gerou ciuitas, 
‘cidadania’, ‘cidade’, ‘Estado’. Cidadania é uma abstração derivada da junção de cidadãos e, 
para os romanos, cidadania, cidade e Estado constituem um único conceito – e só pode haver 
esse coletivo se houver, antes cidadãos. Ciuis é o ser humano livre e, por isso, ciuitas carrega 
a noção de liberdade em seu centro. Cícero, pensador final da República romana, afirmava no 
século I a.C. que ‘recebemos de nossos pais a vida, o patrimônio, a liberdade, a cidadania’. A 
descrição daquilo que os pais nos deixam, segundo o estadista romano, é cronológica, mas 
também acumulativa. Recebemos a vida ao nascer; em seguida, a herança, na forma de nossa 
educação quando crianças, o que nos permite alcançar a liberdade individual e coletiva na vida 
adulta. Se para os gregos havia primeiro a cidade, polis, e só depois o cidadão, polites, para 
os romanos era o conjunto de cidadãos que formava a coletividade. Se para os gregos havia 
cidade e Estado, politeia, para os romanos a cidadania, cinitas, englobava cidade e Estado.” 
(FUNARI, 2005, p. 49)
SAIBA MAIS
a. DE SÚDITO A CIDADÃO
O avanço definitivo da concepção moder-
na de cidadania deriva das denominadas 
Revoluções Burguesas. Desde a Revolu-
ção Inglesa (1640-1688), a projeção da 
cidadania começou a mudar drasticamen-
te. Porém, foi com a Revolução America-
na (1775-1783) e a Francesa (1789-1799) 
que a ordem definitivamente se alterou, 
modificando a estrutura das sociedades 
organizadas por súditos (indivíduos sub-
metidos ao rei soberano) para cidadãos 
de direitos (submetidos às cartas consti-
tucionais). Ocorreu, assim, o abandono 
da concepção de súdito e seus deveres: quando o indivíduo era submetido diretamente 
Figura 01. Direitos
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a um rei e às suas vontades, por uma população cidadã que, agora, gozava de direitos 
e podia, com inúmeras restrições, participar da política de forma mais ampla.
Ainda que tais revoluções tenham favorecido, predominantemente, a classe burguesa, 
elas contaram também com participações de grupos mais populares, como os nivela-
dores e cavadores na Revolução Inglesa e os sans culotes na Revolução Francesa. 
Contudo, ainda levaria um bom tempo e muitos outros processos reivindicatórios para 
que os grupos mais populares pudessem ter acesso pleno aos seus direitos, fato que 
ocorreu, de modo geral, no mundo ocidental apenas no século XX.
Nessa evolução, alguns documentos escritos nos contextos inglês, norte-americano e 
francês, principalmente, tornaram-se importantes marcos históricos para a evolução da 
cidadania como a conhecemos atualmente.Podemos destacar entre eles:
 ` Bill of Rights (Declaração de Direitos, 1689), no caso da Inglaterra;
 ` Carta dos Direitos dos Estados Unidos (1787), no caso dos Estados Unidos;
 ` Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), no caso da França.
Nesses documentos, a concepção de cidadão e cidadania ganhou seus primeiros con-
tornos e serviu de modelo para grande parte das constituições das sociedades contem-
porâneas ocidentais.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789
“Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, considerando que a 
ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos 
males públicos e da corrupção dos governos, resolveram expor, em uma declaração solene, 
os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que essa declaração, cons-
tantemente presente junto a todos os membros do corpo social, lembre-lhes permanente-
mente seus direitos e deveres; a fim de que os atos do poder legislativo e do poder executivo, 
podendo ser, a todo instante, comparados ao objetivo de qualquer instituição política, sejam 
por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante funda-
das em princípios simples e incontestáveis, estejam sempre voltadas para a preservação da 
Constituição e para a felicidade geral.”
Fonte: https://br.ambafrance.org/A-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cidadao. 
Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Essa nova concepção de cidadania surgida na modernidade, que se pautou em grande 
parte nos pressupostos do Iluminismo e do Liberalismo Político, pressupunha, como 
https://br.ambafrance.org/A-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cidadao
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ponto de partida, os denominados direitos naturais e inalienáveis, tais como o direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, além da ampliação do direito de participação política 
diante do Estado-nação.
É importante ressaltarmos que, durante grande parte do século XIX e XX, esses direitos 
estavam restritos aos indivíduos adultos (homens) e, grosso modo, levavam em conta 
critérios censitários (que poderiam ser por idade, riqueza etc.), de alfabetização, ra-
ciais e de gênero. Nesse sentido, frisamos que as mulheres foram, por muito tempo, 
relegadas a uma condição marginalizada de cidadania, sendo, inclusive, proibidas tanto 
de participar da política quanto de exercer o direito ao voto.
“Cidadania é noção construída coletivamente e ganha sentido nas experiências tanto so-
ciais quanto individuais, e por isso é uma identidade social. Claro que pensamos aqui em 
identidade como uma construção social relativa, contrastiva e situacional. Ou seja, ela é 
uma resposta política a determinadas demandas e circunstâncias igualmente políticas, e 
é volátil como são diversas as situações de conflito ou de agregamento social. Porque é 
política, também sua força ou fragilidade depende das inúmeras mobilizações, confrontos e 
negociações cotidianas, práticas e simbólicas. Confrontos e negociações que, por sua vez, 
variam enormemente à medida que avançam os processos de construção do Estado-nação, 
da expansão capitalista, da urbanização e da coerção — e pensamos aqui especialmente na 
guerra. ‘Identidade social politizada’ significa, portanto, que a extensão dos direitos da cida-
dania democrática deve ser pensada como resultados possíveis das contendas concretas de 
grupos sociais, e que essas contendas são, por sua vez, fontes poderosas de identificação 
intersubjetiva e reconhecimento entre as pessoas. Nesse sentido, identidade e cidadania 
não são conceitos essenciais, fixos por natureza. Eles variam conforme a agência que fazem 
deles os homens que os mobilizam. Na verdade, e diferente do que se pensa, a comuni-
dade se une como grupo, e depois dele é que se criam sentidos e políticas identitárias.” 
(SCHWARCZ; BOTELHO, 2012, p. 12-13).
PARA REFLETIR
Após esse primeiro momento que comportava uma concepção ainda muito excludente 
de cidadania, principalmente ao longo dos dois últimos séculos, ocorreram intensas mo-
bilizações de grupos que foram excluídos dessa possibilidade de participação, que se 
organizavam e lutavam com o intuito de ampliar seus direitos civis e políticos, ou seja, 
que lutavam para serem considerados cidadãos de fato.
Durante o século XIX, movimentos que vão desde os agrupamentos de trabalhadores, 
como o movimento ludista e o cartista na Inglaterra, até o movimento em prol do sufrá-
gio feminino e dos movimentos abolicionistas ganharam cenário na história. Além das 
organizações citadas, podemos destacar ainda mobilizações no contexto brasileiro ao 
longo do século XIX, principalmente as revoltas regenciais (Sabinada, Balaiada, Caba-
nagem, Revolta dos Malês, Revolução Farroupilha) e o movimento de Canudos.
O século XX iniciou-se arrebatado pelas lutas dos mais distintos grupos, principalmente 
os movimentos organizados sindicais, que estavam em busca da possibilidade de usu-
fruírem, plenamente, de seus direitos e de exercerem livremente sua cidadania. Além 
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das lutas trabalhistas, no caso brasileiro, houve também distintas mobilizações popula-
res, como a Revolta da Chibata, a Revolta da Vacina e a Guerra do Contestado.
A partir da segunda metade do século, essas lutas se intensificaram, e muitas delas per-
sistem até os dias atuais. Nesse sentido, podemos sublinhar as recentes mobilizações 
pela luta dos direitos à educação, como as ocupações de escolas ocorridas nos últimos 
anos no Brasil, mas também movimentos de cunho racial, como o Black Lives Matter 
“vidas negras importam”.
1.3. A CIDADANIA NA CONTEMPORANEIDADE
Após o término da Segunda Guerra Mun-
dial, em 1945, e com a reorganização de 
uma nova ordem mundial, os pressupos-
tos cidadãos existentes até aquele mo-
mento se somaram aos denominados Di-
reitos Humanos. Em 1948, a Organização 
das Nações Unidas (ONU), recém-criada, 
publicou a emblemática Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos. Tal docu-
mento, ainda que não verse sobre a cida-
dania, visto que esta é definida por cada 
Estado nacional, serve de parâmetro para 
a ampliação dos direitos cidadãos nos 
mais distintos países do mundo, incluindo o Brasil.
No Brasil, a condição cidadã e o direito à cidadania são garantidos pela Constituição 
Federal promulgada em 1988. Entretanto, ainda que este seja um pressuposto cons-
titucional, diversos indivíduos ainda não usufruem plenamente de tais condições, seja 
por ausência da presença efetiva de um Estado que possa garantir tal usufruto, seja 
por condições históricas e econômicas de desigualdade social, entre outros elementos.
Diante dessas exclusões, diversos movimentos sociais têm, nas últimas décadas, 
lutado para garantir que a condição cidadã e o acesso pleno aos direitos, incluin-
do o de igualdade, sejam acessíveis a todos. Dentre eles, ressaltamos as lutas pe-
los direitos indígenas, das mulheres, da população negra (incluindo os quilombolas), 
da comunidade LGBTQIA+ etc.
A cidadania, nesse sentido, é um conceito em transformação contínua e é através de 
tensões e mobilizações que ela vai tanto se reconfigurando como se ampliando. Vale 
destacarmos que, ao se tratar de uma prerrogativa constitucional, ela deveria, de fato, 
ser acessível a todos os brasileiros.
Figura 02. Black lives matter 
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Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948
“Agora, portanto, a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos 
Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o 
objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Decla-
ração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos 
e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, porassegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os 
povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.”
Fonte: FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA – Unicef. Declaração Universal 
dos Direitos Humanos – 1948. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-uni-
versal-dos-direitos-humanos.Acesso em: 11 jun. 2022.
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para 
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e in-
dividuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça 
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada 
na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica 
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana [...]”
Fonte: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil – 1988. Disponível em:http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
A história da cidadania, como apontado, não segue uma linha de evolução clara. Desse 
modo, é importante considerarmos a cidadania no mundo antigo, levando em conta as 
peculiaridades daquele contexto, ou seja, a forma como a pólis antecedia o cidadão. No 
mundo moderno, o ponto de transição entre a condição de súdito para cidadão demarca 
um fator importante de ruptura e de inauguração de toda uma tradição que se poster-
garia até os dias atuais.
Na contemporaneidade, diferentemente do mundo antigo, é o corpo de cidadãos que 
inaugura os Estados nacionais e que, portanto, torna-se a entidade soberana de suas 
diretrizes, principalmente, por meio das inúmeras cartas constitucionais que regem os 
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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países na atualidade. São os denominados cidadãos que, a partir das vontades coleti-
vas, direcionam os andamentos de uma sociedade democrática.
Pertencer ao corpo de cidadãos, usufruindo dos direitos, mas também respondendo aos 
deveres, é uma parte fundamental para a constituição de uma sociedade não apenas 
mais justa, mas que seja, especialmente, capaz de garantir a igualdade entre os indi-
víduos que a compõem, abarcando, inclusive, suas diferenças, e sendo, portanto, uma 
sociedade que garante a cidadania de forma plural.
Figura 03. Mapa Conceitual - Cidadania
MAPA CONCEITUAL
Somente homensBill of rights 
- 1680
Carta dos Direitos dos Estados Unidos 
- 1780
Estado-nação
Cidadão
Direitos
SúditoPessoa
Modernidade
Antiguidade Greco-Romana
Democracia Cidadão
Somente homensPolítica
Pólis
Cidadania
Rei Declaração de Direitos do Homem e do 
Cidadão - 1789
Contemporaneidade
Cidadão
Direitos e deveres
Plural
Civis
Políticos
DireitosMovimentos sociais
Declaração Universal dos 
Direitos Humanos - 1948
Constituição da República Federativa do Brasil - 1988
Sociais
Igualdade
Justiça Social
Fonte: elaborada pelo autor
Para a reflexão, indicamos assistir aos vídeos a seguir e buscar considerar como eles repre-
sentam a sociedade atual, quais os problemas sociais que abordam e quais suas contribui-
ções para a discussão desta unidade.
 ` MANIFESTAÇÃO: Fernanda Montenegro e Chico Buarque em clipe pelos Direitos Huma-
nos. Vídeo (8min 33s). Postado pelo canal #ProgramaDiferente. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=hISHrW79sQQ. Acesso em: 11 jun. 2022.
 ` MARTINHO, Marcos. O dever da educação como formação do cidadão. Vídeo (11min 
53s). Postado pelo canal Casa do Saber. Disponível em: https://www.youtube.com/wat-
ch?v=NhQq76oBHJE. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=hISHrW79sQQ
https://www.youtube.com/watch?v=hISHrW79sQQ
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Vivência profissional e construção da cidadania
2. O ESPAÇO DA CIDADANIA
2.1. IGUALDADE E DESIGUALDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Desde os primeiros registros acerca das sociedades, temos como marca importante o 
diagnóstico – de pensadores aos primeiros cientistas – da existência de desigualdades. 
Em Platão e Sócrates – filósofos gregos e referência para o mundo ocidental –, apren-
demos que a “civilização de ouro”, a Grécia Antiga, organizava sua sociedade a partir 
de distinções de:
 ` RODRIGUES, Gilberto. Quais são os direitos das minorias? Vídeo (4min 22s). Postado 
pelo canal Casa do Saber. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y5hoP-
S-mQsc&t=21s. Acesso em: 12 jun. 2022.
 ` PINSKY, Jaime. Prof. Jaime Pinsky fala sobre o livro “História da Cidadania”. Vídeo (7min 
49s). Postado pelo canal Editora Contexto. Disponível em: https://www.youtube.com/wat-
ch?v=L_NpX6XQyEI&t=17s. Acesso em: 12 jun. 2022.
O tema da cidadania, atualmente, está presente nas mais diversas esferas da sociedade e, 
mais recentemente, tem feito parte, inclusive, do universo do trabalho. Cada vez mais tanto 
as empresas como os profissionais têm se dedicado a pensar acerca da responsabilidade 
social e de suas contribuições enquanto participantes diretos da organização econômica e 
social dos mais diversos países. Nesse sentido, pensar atitudes diárias e construir espaços 
abertos e praticantes da cidadania se tornaram elementos cada vez mais comuns no mundo 
profissional. Além de tais participações dentro das empresas, muitas delas têm valorizado 
atividades voluntárias praticadas por seus funcionários e candidatos a vagas de emprego.
Leia a matéria abaixo e veja como as empresas têm colocado a cidadania como um conceito 
cada vez mais importante tanto na contratação de seus funcionários como no cotidiano do 
exercício do trabalho.
“Não é de hoje que diversas empresas descobriram a responsabilidade social e a impor-
tância de uma preocupação maior com a realidade que as cerca. A cidadania também faz 
parte desse conceito. Atitudes que podem ser consideradas cidadãs - como envolvimento em 
projeto sociais, atividades comunitárias e voluntárias - podem até contar pontos no currículo 
de quem procura um emprego, uma vaga em programas de trainee ou mesmo na carreira de 
quem já trabalha.”
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2010/cidadania-e-valorizada-
-pelas-empresas-34v3t48z5dvryk6lscxmtg8cu/ Acesso em: 11 jun. 2022.
Caso de aplicação 1
https://www.youtube.com/watch?v=Y5hoPS-mQsc&t=21s
https://www.youtube.com/watch?v=Y5hoPS-mQsc&t=21s
https://www.youtube.com/watch?v=L_NpX6XQyEI&t=17s
https://www.youtube.com/watch?v=L_NpX6XQyEI&t=17s
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2010/cidadania-e-valorizada-pelas-empresas-34v3t48z5dvryk6lscxmtg8cu/
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2010/cidadania-e-valorizada-pelas-empresas-34v3t48z5dvryk6lscxmtg8cu/
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Ética e Cidadania
Na filosofia romana, entendemos que essas distinções e discriminações eram dife-
rentes, incorporando distinções entre funções dentro das cidades – senadores, cléri-
gos, administradores públicos, trabalhadores –, de distinção social – nobres, religio-
sos, plebeus –, distinção por exercício de profissão – magistrados, generais – e de 
nacionalidade – cidadãos e estrangeiros.
Contemporaneamente, a partir da segunda metade do século XX, só alcançamosum conceito genérico de cidadania ao olharmos para os pactos sociais internacio-
nais, ou seja, aqueles nos quais cada Estado, respeitando sua soberania, concor-
dou em aceitar como critério objetivo para diálogo e proposição de ações um único 
conceito. E conceitos genéricos podem, muitas vezes, ser potencializadores ou não 
de diferenças naturais.
A filósofa Hannah Arendt (1906-1975) dedicou-se a refletir sobre as questões do per-
tencimento dos cidadãos aos seus territórios, inclusive quando estão na condição de 
estrangeiros – situação que ela compreendia com profundidade, pois, como judia, con-
seguiu fugir da Alemanha nazista e se refugiar nos EUA. Em diferentes obras da autora, 
a filósofa assevera que a igualdade não é natural entre os homens, no sentido do que 
quis exprimir a Declaração dos Direitos do Homem de 1948.
homens livres e escravos.
homens e mulheres com direitos e atribuições distintas;
crianças, jovens, adultos e idosos;Faixa etária
Econômica
Gênero
Na Grécia antiga, a palavra “cidadania” se referia àquele que vivia na cidade, que participava 
de suas decisões. Cidade, em grego, tem o nome de polis. Como nos lembra a professora de 
filosofia Marilena Chauí (2002, p. 509), a pólis era a “[...] reunião dos cidadãos em seu territó-
rio e sob suas leis. Dela se deriva a palavra política (politikós: o cidadão, o que concerne ao 
cidadão, os negócios públicos, a administração pública)”.
Quando traduzido para o latim, o termo continuou a se referir ao espaço público em referência 
imediata a civitas, isto é, à cidade. O cidadão é aquele que está e participa da vida das cidades.
SAIBA MAIS
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Vivência profissional e construção da cidadania
Resgatando em seu argumento as teses antigas, Arendt (1989, p. 46) postula que a na-
tureza produz homens desiguais em cultura, gênero, condições físicas e psicológicas, 
estatura, cores e tons de pele. A regra do mundo é a desigualdade. A igualdade é, 
para a autora, um conceito resultado de uma construção coletiva da comunidade polí-
tica, que estabeleceu um critério para garantir a todos da mesma condição o exercício 
autônomo dos direitos políticos pelo homem.
Desde Aristóteles (384-322 a.C), perpetuado em sua obra Ética a Nicômaco, apren-
demos sobre igualdade e desigualdade como fundamento da Justiça. Para o filósofo, 
apenas formalmente somos iguais.
Hannah Arendt (1906-1975), filósofa alemã, dedicou-se à reflexão sobre as questões políticas 
e filosóficas de seu tempo, sobretudo, vinculada à formação dos Estados Modernos e seus 
processos de legitimidade. Arendt é autora de obras como: Origens do Totalitarismo (1951), A 
condição humana (1958), Sobre a revolução (1963), Eichmann em Jerusalém (1963).
SAIBA MAIS
Somos todos iguais perante uma lei que estabelece “Todos devem” ou “Todos podem” ou “To-
dos são”; somos iguais perante uma regra que aponta que “todos terão os mesmos direitos 
de autodefesa”, ou seja, mandamentos formais uma vez que esses direitos, efetivamente, só 
alcançavam os homens livres (cidadãos) e não mulheres, crianças e escravos. Por isso, para 
ele, a igualdade está presente somente na realização e concretização da justiça artificial, ou 
seja, naquela criada por convenções e regras (promoção da igualdade).
EXEMPLO
No cotidiano, a regra da sociedade é a desigualdade. Essa é a condição da natureza. 
E, em um mundo de desigualdade, o único critério possível de justiça é a Equidade – 
redução das desigualdades. A equidade é o critério formal para minorar diferenças e 
estabelecer oportunidades concretas a todos, independentemente de suas diferenças 
que, para o filósofo, eram naturais.
Nos últimos anos, vemos circular na internet e redes sociais ima-
gens como esta, para descrever o que seria a verdadeira justiça. 
Quando a igualdade é colocada como parâmetro de justiça ela, 
ao invés de promover o bem para todos, amplifica as diferenças. 
Em uma situação em que o degrau tem a mesma altura para 
todos, somente aqueles que já têm naturalmente uma vantagem 
terão acesso ao benefício. Entretanto, quando percebemos as 
diferenças naturais, somos capazes de projetar uma rampa com 
alturas desiguais que permita que todos alcancem seu prêmio. 
Exemplo contemporâneo de uma forma de promoção de equi-
dade são as políticas públicas de inclusão social – de deficien-
tes, de gênero e raça, étnicas dentre outras.
SAIBA MAIS
Figura 04. Diferença entre 
igualdade e equidade 
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Contemporaneamente, as estatísticas nos revelam que a realidade das sociedades é 
de profunda desigualdade, não somente em relação às naturais e culturais, mas sobre-
tudo em virtude das diferenças de acesso aos bens e patrimônios coletivos como traba-
lho, educação, saúde e moradia. Isso nos coloca em reflexão contínua sobre o processo 
de consolidação da cidadania.
2.2. O CIDADÃO COMO DETENTOR DE DIREITOS INDIVIDUAIS E 
COLETIVOS
Quando Thomas Humphrey Marshall, sociólogo britânico, expôs sua teoria sobre ci-
dadania, ele observou esta nova condição do membro da comunidade e postulou que
[c]idadania é um status concedido àqueles que são membros plenos da co-
munidade. Todos os que possuem o status são iguais no que diz respeito 
aos direitos e deveres com os quais o status é conferido. Não existe um 
princípio universal que determine quais devem ser esses direitos e deveres, 
mas sociedades nas quais a cidadania é uma instituição em desenvolvimen-
to criam uma imagem de uma cidadania ideal contra a qual as realizações 
podem ser medidas e para a qual as aspirações podem ser dirigidas. (MAR-
SHALL, 1963, p. 87, tradução livre)
Ao construir tal definição, o sociólogo estabeleceu o conceito de cidadania a partir de 
duas estruturas fundamentais: primeiro, a de que a cidadania é um status (sociologi-
camente considerado) e, segundo, que os cidadãos devem ser titulares de deveres e 
direitos decorrentes dessa posição.
Sobre a segunda dimensão, a sociedade contemporânea a caracteriza sob a expressão 
da cidadania democrática, construída por meio do modelo desenhado pela Declaração 
Universal dos Direitos Humanos que pressupõe, ao menos, o exercício de três formas 
de cidadania (PINSKY; PINSKY, 2008, p. 9):
I. A civil: que se refere às liberdades pessoais e aos direitos individuais;
II. A política: que se trata da participação política e à representação democrática;
III. A social: vinculada à intervenção do Estado na redução das desigualdades econômicas e 
promoção da justiça social – sobretudo por intermédio de políticas públicas e ações afirmativas.
No Brasil, com o restabelecimento da república e do estado democrático após o período 
da ditadura militar, a marca simbólica e factual do estabelecimento desse status jurídico 
é a Constituição da República Federativa de 1988.
No início da Constituição Federal, foi estabelecido um conjunto de princípios e diretri-
zes, tais como princípios da soberania, da cidadania, da dignidade da pessoa humana 
e dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, além do pluralismo político. Esse 
conjunto é considerado como essencial para a manutenção do Estado e do poder do 
povo. Percebemos que, na lei constitucional, o aspecto social e o campo econômico dos 
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Vivência profissional e construção da cidadania
princípios são pontos de destaque, motivo pelo qual a Constituição Federal recebe o 
apelido de “Constituição Cidadã”. Mais adiante, a Constituição inova em sua concepção 
de cidadania e incluiu, sobretudo, um rol de valores socioeconômicos expressos como 
Direitos Sociais – artigos 6° ao 11º –, colocando diretrizes concretas para efetivação no 
espaço público da cidadania.
Fato é que a consolidação da cidadania exige a proteção estatal, mas só se concretiza 
se for acompanhada de um movimento de apropriação de valores e reconhecimento da 
importância da participação de todo e cada indivíduo em sua comunidade, a partir de 
ações da vida cotidiana.
2.3. A ATUAÇÃO PROFISSIONAL E A VIVÊNCIACIDADÃ: A 
RETOMADA DO PROTAGONISMO SOCIAL
No caso do Brasil, o processo de consolidação jurídica democrática vem deixando claro 
que a percepção da cidadania é consequência, muitas vezes, de ação exclusiva do 
Estado, afastando, em um primeiro momento, a compreensão de que ela só se cria e 
concretiza na ação individualizada de cada ser humano, como membro de sua comuni-
dade e ator nos espaços individuais e coletivos.
Pensar dessa forma – que só sou cidadão se houver uma determinação externa do 
Estado, das leis – trouxe consequências muito sérias para a sociedade. A primeira foi 
o surgimento do que se denominou na literatura nacional de “cidadania de papel”, ou 
seja, um Estado que formalmente prevê todos os direitos que compõem o conjunto da 
cidadania, mas que, efetivamente, não os implementa (DIMENSTEIN, 2012, p. 58). Tal 
fato vem gerando um total desinteresse dos cidadãos por seus direitos e esse proces-
so de consolidação, fazendo surgir o fenômeno da cidadania passiva, “[...] outorgada 
pelo Estado, se diferencia da cidadania ativa, na qual o cidadão, portador de direitos e 
deveres, é essencialmente criador de direitos para abrir novos espaços de participação 
política”. (VIEIRA, 2002, p. 40).
“Cidadania de papel” é um termo derivado da interpretação do livro O cidadão de papel, do 
jornalista Gilberto Dimenstein (1956-2020). Nessa obra, escrita no início dos anos 1990, somos 
apresentados ao Brasil real dos contrastes. Analisando notícias divulgadas cotidianamente nos 
jornais da cidade, faz-nos refletir sobre como o país que tem uma das maiores economias do 
planeta se torna ao mesmo tempo um dos lugares mais socialmente injustos para se viver e 
indaga o porquê dos cidadãos não se revoltarem com tal situação, aceitando a condição da 
desigualdade como algo natural da sociedade. Uma de suas respostas é que vivenciamos uma 
cidadania passiva, existente só no papel.
SAIBA MAIS
A segunda forma de pensar seria o desvirtuamento da percepção dos homens como mem-
bros de suas comunidades, deixando o papel de construtores de direitos para se tornarem 
consumidores de direitos (ROCHE, 1992, p. 31-32), visto que o Estado deixou de lado sua di-
mensão de representatividade para ser provedor de direito, limitando-os aos seus interesses.
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Com o intuito de retomar o protagonismo desse movimento de consolidação, no campo 
profissional, muitas ações vêm sendo implementadas para que os indivíduos (re)apren-
dam a participar e se envolver em temas e decisões que são geradoras de bens coleti-
vos e, muitas vezes, de benefícios individuais. Esse é um movimento que dá base para 
a chamada cidadania empresarial e são exemplos de ações: participação em fóruns de 
planejamento estratégico, em comissões de empresas – representantes, segurança do 
trabalho, compliance, dentre outras.
Compreender o movimento histórico faz com que percebamos que a cidadania não é 
uma estrutura meramente formal, mas sim um desdobramento da continua busca pela 
realização do desejo homem de estar presente. Os juristas Wolkmer e Leite (2003, p. 
23) comentam que,
[p]or serem inesgotáveis e ilimitadas no tempo e no espaço, as necessida-
des humanas estão em permanente redefinição e criação. Por consequên-
cia, as situações de necessidade e carência constituem a razão motivadora 
e a condição de possibilidade do aparecimento de “novos” direitos. (WOLK-
MER; LEITE, 2003, p. 23).
Nessa perspectiva, então, não podemos afirmar que esse seja um rol fechado de ações 
de cidadania, pois, a cada dia, temos novas necessidades (por exemplo: na década 
de 1990, a Internet era uma tecnologia não popularizada; a partir dos anos 2000, ela 
passa a ser considerada como direito de acessibilidade e ganha um novo status, pois 
sabemos o quanto precisamos dela em nosso dia a dia).
A cidadania ativa, assim, exige o que podem ser chamados mergulhos na realidade. 
Essa cidadania se manifesta em ações de responsabilidade social, trabalhos voluntá-
rios junto a comunidades vulneráveis, discussões internas em organizações e institui-
ções sobre diversidade e gestão da inovação, a revisão dos códigos de ética e conduta, 
com o estabelecimento claro de punições aos desvios e às práticas de discriminação 
e propagação de crimes de ódio e a mudança e a transformação dos ambientes pro-
fissionais de modo a propiciar inclusão verdadeira são caminhos obrigatórios para o 
entendimento da cidadania no tempo presente.
Dessa forma, a retomada do protagonismo implica em um compromisso com uma pos-
tura participativa e não meramente consumista. A cidadania se realizará plenamente 
quando este for o direcionamento concreto da sociedade.
A Cidadania do consumismo é um termo referenciado na literatura, usado para definir a pos-
tura de cidadãos que escolhem não se envolver em decisões. Manziini-Crove (2007, p. 72-73) 
explica que “A proposta da cidadania da etapa atual permite abrir espaço para a retomada 
daquele exercício de cidadania [...], com a vantagem de que, agora, a sociedade tecnológica 
criou bens e condições de realmente atender a todos os homens do planeta. Isso depende de 
uma condição sine qua non – a de que os sujeitos precisam construir o possível nesse espaço 
aberto, lutando por todos os direitos do cidadão. E lembrando sempre: o que se reivindica tem 
relação íntima com o modo usado para reivindicar.
SAIBA MAIS
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Vivência profissional e construção da cidadania
A polarização e a exteriorização das diferenças entre os povos, típicas da economia e 
política mundial contemporânea, colocou em questão, no final do século XX, o direito 
a sua autodeterminação (soberania). Isso significa apontar que o espaço da cidadania 
esteve em perigo, uma vez que se tornou um espaço de formalidade.
A cidadania ativa implica que todo e qualquer cidadão saiba e reconheça que a garantia 
de direitos e o estabelecimento de deveres, depende de sua participação efetiva nos 
processos de melhoria e desenvolvimento de sua sociedade, de suas regras jurídicas e 
de sua profissão. A necessidade de incorporação de novas práticas, novas competên-
cias e novos valores promotores de justiça social e bem comum tornam-se garantia da 
própria sobrevivência de determinados grupos sociais e culturais.
O exercício dos direitos e a mensuração dos deveres é parâmetro objetivo para o de-
senvolvimento de políticas de pertencimento profissional e, consequentemente, de re-
conhecimento social. O status de cidadão hoje passa, necessariamente, pela análise de 
como nós atuamos e nos comportamos na execução de nosso trabalho – com princípios 
éticos, de transparência e sem corrupção – e em nossos espaços privados e públicos – 
com o respeito a toda e qualquer diferença.
Figura 05. Mapa Conceitual - O espaço da cidadania 
A bandeira da luta da cidadania é transformar o cotidiano do trabalhador em algo bom, satisfa-
tório, sob condições que respeitem a própria vida, dando chance também à questão do desejo 
– a identidade do indivíduo com as atividades que realiza [...]”.
MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania? São Paulo: Brasiliense, 2007. 
[Primeiros Passos]
Fonte: elaborada pela autora
Pertencimento a uma nação/sociedade
Ações em espaços privados como residência, 
comunidade, família
Realização individual de direitos e garantias 
fundamentais (vida, liberdade, autonomia privada, 
desenvolvimento individual)
Participante do projeto social estabelecido na 
Constituição Federal
Ações em espaços públicos coletivos, comunidades 
religiosas e profissionais
Realização coletiva de direitos e garantias sociais 
(educação, transporte, lazer, segurança)
Defesa das propriedades coletivas (direitos urbanos, 
cultura, esporte, limpeza, meio ambiente)
Inclusão social: construção de ambientes coletivos 
inclusivos e acessíveis
Cidadania econômica coletiva: combate à 
corrupção, elogia da transparência e respeito às 
regras de concorrência
Gestão da diversidade: criação de projetos deintegra-
ção e punição de crimes de ódio, de discriminação, de 
racismo e outros ambientes coletivos
Cidania econômica individual: exercício dos direitos do 
consumidor (escolhas pessoais) e proteção 
contra abusos
Cidadania política individual: participação nas 
decisões que impactam o seu cotidiano
Respeito à individualidade e direito a ser quem 
se é (diversidade)
Valorização da tolerância, da cultura de paz e do 
respeito ao outro em sua integridade
Redução de desigualdades
O ESPAÇO DA 
CIDADANIA
Preservação de igualdade
INDIVIDUAL COLETIVO
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Ética e Cidadania
SOCIAL WATCH (Observatório da cidadania/social). Disponível em: https://www.socialwatch.
org/es. Acesso em: 11 jun. 2022. Dados em inglês, espanhol e francês.
Resumo: “Site da rede internacional de organizações de cidadãos na luta para erradicar a po-
breza e suas causas, propondo ações e fornecendo dados necessários para acabar com todas 
as formas de discriminação e racismo, para garantir uma distribuição equitativa da riqueza e a 
realização dos direitos humanos. Analisa dados de responsabilidade dos governos, do sistema 
das Nações Unidas e das organizações internacionais no cumprimento dos compromissos na-
cionais, regionais e internacionais de erradicação da pobreza”.
SAIBA MAIS
Filme ou Documentários
 ` VIDAS Descartáveis, de Alexandre Valenti e Alberto Graça
 � Sinopse: O documentário lança olhar para a precariedade do trabalho no Brasil, a partir 
de situações reais. A temática da escravidão aparece, também, no modo como ela se 
dá na atualidade, ao ser considerado um conjunto de situações de trabalho degradante, 
seus processos de produção e consequente exclusão da cidadania – seja na cidade ou 
no campo, sempre considerando a busca dos trabalhadores por melhoria de vida. Tam-
bém é analisada a responsabilidade das empresas e dos profissionais.
 ` O MENINO que descobriu o vento (The Boy Who Harnessed the Wind), 
de Chiwetel Ejiofor
 � Sinopse: “O filme, disponível em plataformas de streaming, é baseado em uma 
história real retratada no livro “O menino que descobriu o vento”. Trata-se da histó-
ria real de Willian Kamkwamba, morador do Malawi, país litorâneo do sudeste da 
África, que sofre com as inconstâncias do tempo indo da extrema seca até a inten-
sidade das chuvas. O aluno, em um período de grande problema econômico, é obri-
gado a abandonar a escola. Entretanto, curioso e autodidata, ele continua estudan-
do e descobre uma forma de construir um sistema de irrigação em seu povoado”. 
 
O MENINO que descobriu o vento (The Boy Who Harnessed the Wind). Drama. Direção 
e Roteiro: Chiwetel Ejiofor. EUA, Malawi, França, Reino Unido, Netflix Filmes. 1h 53min. 
Textos Complementares
 ` Educação para a cidadania democrática: Desafios, impasses e perspectivas, de Luís 
Fernando Santos Corrêa da Silva e Egidiane Michelotto Muzzato
 � Resumo: “O presente artigo tem como objetivo discutir as intersecções contemporâneas 
entre a cidadania e a democracia, sobretudo no que concerne ao papel da educação para a 
consolidação de ambas. Resgata-se o debate teórico e conceitual sobre os desafios e os 
impasses da cidadania e da democracia na contemporaneidade, bem como enfatiza-se as 
https://www.socialwatch.org/es
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Vivência profissional e construção da cidadania
características de um modelo específico de cidadania, mais ativa e substantiva, que é a ci-
dadania democrática. Tal modelo fundamenta-se em três pilares que devem integrar o currí-
culo escolar: a) o pensamento crítico, b) a cidadania universal, c) a capacidade imaginativa. 
 
Entende-se que a construção da cidadania democrática depende de uma formação hu-
mana plural, de modo a superar o utilitarismo técnico e econômico. Surge daí a impor-
tância da presença das ciências humanas, da filosofia e das artes no currículo escolar, 
dado o caráter crítico e desnaturalizador dessas áreas do conhecimento”.
MUZZATTO, Egidiane Michelotto; SILVA, Luís Fernando Santos Corrêa da. Educação 
para a cidadania democrática: desafios, impasses e perspectivas. Educação. Porto Ale-
gre, Porto Alegre, v. 44, n. 1, e32656, enero 2021 . Disponível em <http://educa.fcc.org.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-25822021000100004&lng=es&nrm=iso>. 
Acesso em: 11 jun. 2022.
 ` Ética, cidadania e cidadania organizacional: conceito, trajetória e alguns direitos e 
deveres relacionados, de Nelson Lambert de Andrade
 � Resumo: “Este artigo aborda os conceitos e bases históricas a respeito da cidadania, 
seus diversos direitos e deveres relacionados e a cidadania organizacional dentro do 
mundo empresarial. O objetivo deste trabalho foi demonstrar que a cidadania atual-
mente está ligada aos direitos humanos, deveres impostos pelas constituições de cada 
país, e no mesmo sentido a cidadania aplicada dentro das organizações, que são uma 
extensão da sociedade, onde os colaboradores têm direitos e deveres que precisam ser 
gerenciados com ética para um convívio harmônico no ambiente de trabalho”.
DE ANDRADE, N. (2020). ÉTICA, CIDADANIA E CIDADANIA ORGANIZACIONAL: 
CONCEITO, TRAJETÓRIA E ALGUNS DIREITOS E DEVERES RELACIONADOS. Re-
vista Científica E-Locução, 1(18), 13. Recuperado de https://periodicos.faex.edu.br/in-
dex.php/e-Locucao/article/view/278
3. É PRECISO CUIDAR!
3.1. O HOMEM E O MEIO AMBIENTE
Nas últimas décadas, a preocupação com a questão ambiental ganhou espaço nas 
discussões internacionais e suscitou discussões intensas tanto em nível global como lo-
cal. Identificar responsabilidades em relação ao meio ambiente, acerca de temas como 
exploração e preservação da natureza e sustentabilidade, passou a fazer parte do coti-
diano das pessoas, das empresas e das nações.
Nesse sentido, entendemos, na atualidade, que se portar como um cidadão conscien-
te inclui assumir uma postura ética diante de questões relacionadas não apenas às 
relações humanas, mas também em relação a todo o meio que nos cerca, incluindo a 
natureza e os animais.
http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-25822021000100004&lng=es&nrm=iso
http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-25822021000100004&lng=es&nrm=iso
https://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locucao/article/view/278
https://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locucao/article/view/278
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 ` POR UMA CIDADANIA AMBIENTAL
Quando começamos a nos preocupar 
com a natureza e o meio ambiente que 
nos cerca? A resposta, se colocada in-
dividualmente, percorreria toda a histó-
ria, em maior ou menor medida. Sem-
pre houve indivíduos que refletiram e se 
preocuparam com o meio, a natureza e 
os animais. No entanto, ao colocarmos 
o mesmo questionamento para o cole-
tivo de cidadãos, encurtaríamos esse 
intervalo de tempo para um período que 
se iniciaria em finais do século XIX e 
que percorreria todo o século XX, che-
gando aos dias atuais. Partindo desse recorte é que poderíamos apontar a projeção 
de uma cidadania ambiental.
Figura 06. Consciência ecológica 
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Pode-se apontar que “[...] a noção de cidadania ambiental pressupõe o estabelecimento 
de uma relação mais harmoniosa com a natureza. Essa postura deve estar presente em 
toda a extensão da vida cotidiana, com cada cidadão exercitando sua responsabilidade 
ambiental em toda a ocasião que estiver manipulando bens e materiais, buscando a fina-
lidade mais ecológica possível em cada atitude adotada no seu dia a dia e com consci-
ência do impacto que os mais simples procedimentos podem provocar no meio natural”. 
(WALDMAN apud PINSKY; PINSKY, 2005, p. 557, grifo nosso)
GLOSSÁRIO
Tal questionamento tem relação direta com o advento da Revolução Industrial no século 
XVIII. As modificações produzidas sobre o meio natural se tornaram muito mais intensas 
e criaram formas de exploração que, ao longo dos séculos, deixaram fortes impactos 
na natureza. Florestasforam derrubadas, rios e mares foram poluídos, espécies foram 
extintas, solos foram contaminados e grande parte desses recursos naturais ainda se 
encontra degradada. Acrescenta-se, ainda, em decorrência da rápida industrialização, 
a queima intensiva de combustíveis fósseis, a destruição da camada de ozônio e o efei-
to estufa que vem alterando as condições climáticas nos últimos séculos.
Nas últimas décadas, têm ocorrido inúmeras mobilizações internacionais voltadas 
para a discussão de uma ética ambiental. Um dos pontos de referência sobre o 
tema ocorreu no Brasil, em 1992, no Rio de Janeiro: a Conferência das Nações 
Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Eco 
92. O evento teve um impacto importante nas discussões e resultou na proposta da 
Agenda XXI, que tinha como prerrogativa apresentar medidas para se estabelecer 
uma melhor forma de interação com o meio ambiente, além de projetar meios de se 
realizar um consumo mais sustentável.
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Vivência profissional e construção da cidadania
A partir desse evento, a sustentabilidade se converteu em um conceito extremamente 
importante e cotidiano. Governos passaram a projetar políticas públicas que visassem 
atingir tais medidas, além de inúmeras empresas começaram a se preocupar com o ali-
nhamento de seus processos produtivos a medidas eco sustentáveis, adotando assim 
posturas éticas em relação ao meio ambiente.
A constituição brasileira de 1988, em seu capítulo VI, artigo 225, estipula alguns pontos 
em relação ao meio ambiente, no entanto, uma legislação mais específica encontra-se 
dividida em áreas distintas (biossegurança, agrotóxicos, crimes ambientais etc.), sendo 
um dos mais importantes o denominado “código florestal”, Lei 12.651, de 2012.
O acordo de Paris – 2015
Mais recentemente, em 2015, aconteceu a COP21, a 21ª Conferência das Nações Unidas 
sobre mudanças climáticas, em Paris. Nesse encontro foi firmado o Acordo de Paris, no qual 
os governos dos países participantes estabeleceram metas de redução de gases que provo-
cam o efeito estufa a partir de 2020. O acordo foi discutido por 195 países e entrou em vigor 
em novembro de 2016, sendo o Brasil um de seus signatários.
Sobre a relação entre capitalismo e meio ambiente “Uma das principais fontes de tensão con-
temporânea ao desenvolvimento do capitalismo está justamente na dificuldade em relacionar 
tempos diferentes. A racionalidade produtivista de sociedade de consumo é incompatível com 
as diversas temporalidades que integram os sistemas naturais. Enquanto máquinas deman-
dam energia e matéria-prima sem parar, os ambientes naturais possuem um ritmo mais lento 
para absorver os dejetos da produção e para repor a base material da existência”. (RIBEIRO 
apud PINSKY; PINSKY, 2005, p. 413).
CURIOSIDADE
PARA REFLETIR
É importante destacarmos que, em um mundo capitalista que passa por um exponencial 
crescimento demográfico e urbano, equilibrar produção, consumo e meio ambiente não 
é uma tarefa fácil. Nesse sentido, a proposição de uma formação consciente e ética de 
uma cidadania em relação ao meio ambiente se apresenta como uma demanda urgente.
Hoje, além da preocupante questão da escassez de água, que já é uma realidade em 
diversas partes do mundo, tema que tem trazido à tona a necessidade do uso cons-
ciente da água, outra preocupação é em relação à adoção de uma ética sustentável no 
consumo de energia, mais especificamente, em referência a quais fontes de energia 
utilizamos: renováveis ou não renováveis.
Fontes não renováveis como o petróleo e o carvão mineral, extremamente poluentes, 
vêm sendo substituídas por outras fontes de energia renováveis e limpas, como a energia 
eólica, a solar e a hídrica. O Brasil obtém grande parte de sua energia por meio das hi-
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Ética e Cidadania
drelétricas. Porém, durante o período das secas, que têm sido impactos recorrentes das 
mudanças climáticas dos últimos anos, a utilização das termelétricas em tem crescido.
Assumir posturas éticas em relação ao meio ambiente, muitas vezes, implica custos 
mais elevados. Assim, construir uma cidadania ambiental ética deve pressupor um es-
forço generalizado que envolva as pessoas, o Estado e as empresas privadas. Todos 
precisam estar alinhados na projeção de uma produção em consonância não somente 
com o meio ambiente, mas também com a realidade econômica dos indivíduos de uma 
em determinada região ou país. Promover tal condição é abarcar, de forma mais ampla, 
uma sustentabilidade que seja tanto ambiental como socioeconômica. 
Dentro das preocupações ambientais, dois termos são ressaltados com relação ao que 
concerne à interação entre o homem e a natureza: preservacionismo e conservacio-
nismo. Os termos, muitas vezes, são utilizados de forma incorreta e não são sinônimos.
Enquanto o preservacionismo se preocupa em salvar ecossistemas, espécies, biomas 
etc., sem levar em consideração interesses econômicos que eles podem vir a render, o 
conservacionismo pressupõe a proteção e a conservação, mas permitindo a integração do 
homem com a natureza.
Nessa leitura, o preservacionismo compreende que o homem é uma ameaça à nature-
za e propõe que ela seja isolada, por exemplo, em áreas de preservação permanente 
(manguezais, nascentes de rios e córregos, mata ciliar etc.). Já o conservacionismo de-
fende uma integração e um desenvolvimento sustentável entre o homem e a natureza, 
por meio de parques ecológicos e áreas de conservação (Parque Nacional do Iguaçu, 
Parque Nacional da Chapada dos Guimarães etc.).
A temática da interação entre homem e natureza atingiu também, nos últimos anos, 
todo o mercado de trabalho e apontou a necessidade de se pensar não apenas sobre 
as posturas das empresas, mas também exigiu posicionamentos éticos de seus funcio-
nários. Dessa forma, a temática de uma cidadania ambiental vem se desdobrando para 
além da vida privada dos indivíduos e, com o seu desenvolvimento, fez surgir nomen-
claturas para essas relações; agora podemos acompanhar o avanço de funcionários e 
empresas sustentáveis.
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Vivência profissional e construção da cidadania
3.2. POR UMA ÉTICA ANIMAL: O ANIMAL HUMANO E OS ANIMAIS 
NÃO HUMANOS
A preocupação com o meio ambiente e 
uma prática de vida mais sustentável se 
estendeu à forma como lidamos com os 
animais. Ao longo do século XX, e princi-
palmente no século XXI, a questão animal 
foi ganhando contornos amplos, desde 
perspectivas filosóficas até questões re-
lacionadas ao mundo do direito, como a 
Lei 9.605/1998, que no Capítulo V, Seção 
I, dos crimes contra a fauna, artigo 32, 
estipula punições para crimes cometidos 
contra animais silvestres, domésticos ou 
domesticados. Três nomes são realçados 
nessa discussão: o filósofo australiano Peter Singer, o filósofo americano Tom Regan e 
o ativista, também americano, Henri Spira.
Figura 07. Relação humano e não-humano 
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 ` LIBERTAÇÃO HUMANA, LIBERTAÇÃO ANIMAL
Um dos marcos das mudanças acerca da preocupação com a questão animal está as-
sociado à publicação do importante livro de Peter Singer, Libertação Animal, de 1975. 
Na obra, Singer estabelece uma leitura importante sobre a ética animal. Partindo da 
concepção de especismo, o autor aponta que a diferenciação e a discriminação entre 
os seres vivos acontecem apenas porque eles pertencem a outras espécies. Ele ainda 
pontua que as formas de sentir e sofrer, de escravizar e matar deveriam ser colocadas 
como proibidas de forma igualitária para todos os seres. Peter Singer, dessa forma, 
afirma que escravizar animais para a alimentação é injustificável e fere uma ética animal 
que precisa ser levada em consideração, visto que fere e mata um outro ser vivo, uma 
outra espécie. Singer avançou em suas proposições em outras obras, sempre pensan-
do a relação entre as espécies animais (incluindo os humanos), a ética e a moral.
Outro texto basilar para a temática é The Case for Animal Rights (1983), de Tom Regan,lançado em 1983. A proposta de Regan, difere da proposta de Peter Singer (este, que 
segue uma vertente de defesa dos animais não humanos de acordo com a filosofia 
utilitarista): Regan propõe uma leitura de que a ética deve se assentar na análise das 
ações que compreende como boas quando elas causam a felicidade e más, caso tenha 
como consequência o sofrimento. Essa concepção ética pode ser denominada de “con-
sequencialismo”, visto que propõe uma abordagem diretamente associada ao direito.
Singer avalia que a possibilidade de se utilizar animais em alguns experimentos cien-
tíficos é válida, o que Tom Regan rejeita, já que aborda uma perspectiva em que os 
direitos deveriam se equivaler. Apesar de ambos abordarem uma perspectiva da ética 
animal, Regan advoga, por meio de uma visão de direitos ampla, a total abolição dos 
animais em relação a qualquer tipo de exploração humana, enquanto Singer concede 
algumas permissões que ele entende como éticas.
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Ética e Cidadania
Outra questão bastante em voga na atualidade, mas que ganhou repercussão a partir 
da década de 1980, refere-se à vivissecção (que consiste em realizar uma cirurgia – 
dissecação – em um ser ainda vivo com a finalidade de analisar o funcionamento do 
seu organismo interno) e os testes farmacêuticos e industriais realizados em animais.
Neste ponto, o nome de maior evidência é o do ativista Henri Spira que, desde a déca-
da de 1950, se tornou um importante ativista dos direitos civis e, posteriormente, dos 
direitos animais. Realizando uma série de manifestações públicas nos Estados Unidos, 
Spira criticava fortemente a utilização de animais em testes científicos.
Na busca por ampliar a discussão, na década de 1970, o autor supracitado trouxe ao co-
nhecimento público o modo como muitos desses testes ocorriam, o que gerou uma am-
pla comoção popular e fez com que diversas empresas nos Estados Unidos passassem 
a rever seus métodos. Spira é o fundador da organização Animal Rights International, 
criada com o objetivo direto de expor e pressionar as empresas que utilizavam animais 
em testes. Essas proposições, aliadas a uma série de questões ambientais e de saúde, 
contribuíram para um crescimento exponencial do vegetarianismo e do veganismo nas 
últimas décadas. Simplificadamente, o vegetarianismo propõe uma alimentação isenta 
de produtos animais, já o veganismo (compreendido por muitos como uma filosofia de 
vida) pressupõe uma alimentação e um estilo de vida sem qualquer tipo de produto ou 
alimento de origem animal ou que cause algum dano a esses seres.
Ambas as práticas possuem inúmeras ramificações. No entanto, o ponto que frisamos é 
que a preocupação com os animais e com o meio ambiente como um todo tem acarre-
tado uma série de transformações na forma de se viver e entender nossa relação com 
o mundo que nos cerca.
Para se aprofundar um pouco mais na proposição de Tom Regan e sua relação com a ética, 
leia o trecho abaixo retirado do recomendado artigo de Gabriela Dias de Oliveira, A teoria dos 
direitos animais humanos e não-humanos, de Tom Regan. “O que impele o trabalho de Tom 
Regan é a intuição de que algo vai mal com a moralidade humana. Não se trata de uma alar-
mista ‘crise de valores’, mas de algo um tanto mais alarmante: uma profunda incoerência de 
princípios de valoração no seio do sujeito moral humano. Velha fórmula de injustiça: dois pesos, 
duas medidas. Na trapaça quem perde são os animais, mas não perdem menos os humanos 
a eles assemelhados.
Ao apresentar-se como advogado da causa dos animais, Regan tem em mira os preconceitos 
que envolvem o próprio estatuto moral da vida humana; é por isso que, no trabalho intelectual 
por ele empreendido, não está em jogo apenas a inclusão dos animais no âmbito da moralidade 
humana, através do redimensionamento das relações entre animais humanos e não-humanos, 
mas a própria fundamentação dos direitos humanos”. (OLIVEIRA, 2004, p. 283)
Fonte: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/14917/13584. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/14917/13584
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Vivência profissional e construção da cidadania
Posto isso, podemos sublinhar que nos concentramos, aqui, em apontar alguns di-
recionamentos para que aprofundamentos possam ser feitos, posteriormente. As 
questões que trouxemos, brevemente, nesta unidade, estão na pauta do dia das 
discussões contemporâneas.
Ao pensar sobre meio ambiente, sustentabilidade, direitos animais etc., somos levados 
diretamente a refletir sobre a forma como nos portamos e interagimos com o mundo que 
nos cerca. Nesse sentido, ser um cidadão hoje inclui ser um agente de direitos e deve-
res, mas também um indivíduo em constante transformação diante das mais diferentes 
demandas que vão surgindo.
Ser um cidadão de direitos e ser alguém que se preocupa em garantir direitos aos outros 
e, como vimos, a outros que podem ser inclusive de espécies diferentes da humana. 
A preocupação em adotar posicionamentos éticos é, cada vez mais, uma demanda na 
atualidade e envolve não apenas outros seres humanos, mas também o meio ambiente 
e as outras espécies que habitam o mundo.
Para uma maior definição sobre os termos vegetarianismo e veganismo, veja como a Socie-
dade Vegetariana Brasileira apresenta as diferenças:
“Vegetarianismo é o regime alimentar que exclui os produtos de origem animal. A SVB re-
conhece variações de interpretação do termo por causa do dinamismo da linguagem. Os 
principais tipos de vegetarianismo são:
a. Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.
b. Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.
c. Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.
d. Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.
O veganismo, segundo definição da Vegan Society, é um modo de viver (ou poderíamos 
chamar apenas de “escolha”) que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as 
formas de exploração e crueldade contra os animais - seja na alimentação, no vestuário ou 
em outras esferas do consumo”.
Fonte: https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/o-que-e. Acesso em: 11 jun. 2022.
GLOSSÁRIO
https://www.svb.org.br/vegetarianismo1/o-que-e
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Ética e Cidadania
Figura 08. Mapa Conceitual - Ética, cidadania e meio ambiente 
Fonte: elaborada pelo autor
Sustentabilidade
Ética e Cidadania
Teses de laboratório
Vivisecção
Ética animal
Cidadania Ambiental
Posturas Diárias
Empresas e funcionários sustentáveis
Vegetarianismo
Veganismo Filosofia
Ato político
Ações no presente e para o futuro
Fontes de energia renováveis
Capitalismo
ECO-92
Poluição
Agenda XXI
Políticas Públicas
Estado
Conservadorismo e Preservacionismo
Industrialização
Fontes de energia não-renováveis
No intuito de propiciar outros materiais que acrescente ao seu repertório de discussões sobre 
a cidadania ambiental e a ético ecológica, indicamos 3 vídeos recomendados para ouvir outros 
especialistas e suas articulações com o tema, sugestões de reflexões e posicionamentos éticos.
 ` SINGER, Peter. O status moral do sofrimento. Vídeo (3min 29s). Postado pelo canal 
Fonteiras do Pensamento. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lw74Q2w-
7NHE&t=1s. Acesso em: 13 jun. 2022.
 ` SINGER, Peter. Mudança climática é uma questão ética. Vídeo (2min 48s). Postado pelo 
canal Fonteiras do Pensamento. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2Ea-
GQfbKtOE. Acesso em: 13 jun. 2022.
 ` O AMANHÃ é hoje Link. Vídeo (23min 10s). Postado pelo canal O amanhã é hoje. Dis-
ponível em: https://www.youtube.com/watch?v=azrnx55oawQ. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Filme
 ` Okja, de Bong Joon-ho
 � Sinopse: O filme Okja é uma narrativa que parte de um olhar da infância para abordar 
temas concernentes aos impactos de uma sociedade capitalista de consumo desenfreado 
e, portanto,pouco consciente dos impactos sobre o meio ambiente. Partindo da relação 
entre uma menina (Mihka) e um animal fictício, Okja, (um superporco) com quem ela man-
tém uma relação de amizade, o filme nos apresenta o conflito entre a indústria da carne 
https://www.youtube.com/watch?v=lw74Q2w7NHE&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=lw74Q2w7NHE&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=2EaGQfbKtOE
https://www.youtube.com/watch?v=2EaGQfbKtOE
https://www.youtube.com/watch?v=azrnx55oawQ
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Vivência profissional e construção da cidadania
e as preocupações por uma ética animal. Quando o animal é sequestrado pela líder de 
uma dessas indústrias, inicia-se uma trajetória de resgate por parte da jovem Mihka. A jor-
nada apresentada de forma fabular problematiza não apenas o consumo exagerado, mas 
também a falta de uma perspectiva ambiental diante desse consumo. Também mostra as 
falsas narrativas de uma preocupação ambiental, que são apresentadas pela empresa 
que sequestra Okja, ou seja, aborda a necessidade de exigir medidas sustentáveis e a 
importância de se analisar criticamente o objetivo por trás de tais medidas.
A preocupação com o meio ambiente e a adoção de medidas mais sustentáveis, como apon-
tado ao longo da unidade, se tornou uma pauta recorrente na atualidade. No entanto, não 
somente as empresas têm pensado na adoção de políticas ambientais como parte de seus 
valores, mas também o próprio mercado profissional tem começado a apontar nesse sentido. 
Diante disso, ser um funcionário que preza por medidas sustentáveis e que as pratique vem 
se tornando uma demanda crescente no mercado de trabalho. Leia o excerto abaixo e veja 
como as empresas têm destacado tais elementos como pressupostos cada vez mais impor-
tantes na contratação de seus funcionários e no cotidiano do exercício do trabalho.
“Agora, as organizações começam a perceber que não existem empresas sustentáveis sem 
pessoas sustentáveis. Neste novo cenário, os departamentos de Recursos Humanos con-
quistam ainda mais espaço e enfrentam o desafio de se atualizar constantemente diante da 
necessidade de incorporar os valores da sustentabilidade na rotina da empresa e dos funcio-
nários. Esta necessidade criou o conceito de funcionário sustentável, que é comprometido 
com a cultura de responsabilidade ambiental da empresa e da sociedade. Muito valorizado 
atualmente, este profissional é adepto do chamado ‘gerenciamento verde’, ou seja, adota ati-
tudes simples para preservar o meio ambiente e evitar desperdícios, dentro e fora do trabalho”.
Fonte: https://msarh.com.br/blog/o-funcionario-sustentavel/. Acesso em: 11 jun. 2022.
Caso de aplicação 2
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Ética e Cidadania
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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reitos e deveres relacionados. Revista Científica E-Locução, [S. l.], v. 1, n. 18, p. 13-23, dez. 2020. Disponível 
em: https://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locucao/article/view/278. Acesso em: 7 jan. 2021.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo – Antissemitismo, Imperialismo, Totalitarismo. Trad. Roberto Ra-
poso. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. Vol 1. 2ª ed. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2002.
DIMENSTEIN, G. O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil. 24.ed. São 
Paulo: Ática, 2012.
FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). 
História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2005.
MANZINI COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania? São Paulo: Brasiliense, 2002.
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OLIVEIRA, Gabriela Dias de. A teoria dos direitos animais humanos e não-humanos, de Tom Regan. ethic@-
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Acesso em: 7 jan. 2021.
Okja. Direção: Bong Joon-ho. Produção: Dede Gardner, Jeremy Kleiner, Lewis Taewan Kim, Dooho Choi, Seo 
Woo-sik, Bong Joon-ho, Ted Sarandos. Coreia do Sul / EUA, Plan B Entertainment. 2017.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2005.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da Cidadania. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
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ROCHE, Maurice. Rethinking Citizenship. Oxford: Polity Press, 1992.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; BOTELHO, André (Orgs.). Cidadania, um projeto em construção: minorias, justiça 
e direitos. São Paulo: Editora Claro Enigma, 2012. E-book.
SILVA, Luís Fernando Santos Corrêa da; MUZZATO, Egidiane Michelotto. Educação para a cidadania demo-
crática: Desafios, impasses e perspectivas. Educação, [S. l.], v. 44, n. 1, p. 1-15, jan./abr. 2021. Disponível 
em: https://doi.org/10.15448/1981-2582.2021.1.32656. Acesso em: 7 jan. 2021.
SINGER, Peter. Libertação Animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
VIEIRA, Liszt. Cidadania e Globalização. São Paulo: Editora Record, 2002.
WOLKMER, Antonio Carlos.; LEITE, José Rubens Morato. Os “novos” direitos no Brasil – Natureza e perspec-
tivas: uma visão básica das novas conflituosidades jurídicas. São Paulo: Editora Saraiva, 2003.
https://doi.org/10.5007/%25x
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
UNIDADE 4
O DIVERSO E O DESIGUAL – QUESTÕES 
CONTEMPORÂNEAS E O ÂMBITO DO TRABALHO
INTRODUÇÃO
Diferentemente do que acontecia há décadas, quando a sociedade tinha estabelecido 
certos valores e ideais como inquestionáveis, a respeito dos lugares sociais a serem 
ocupados a partir de diferenças, como o gênero, no século XXI vivemos um ambiente 
social que, após questionamentos e lutas, parte de uma outra consideração, a saber, a 
de que todos temos os mesmos direitos em sociedade, ainda que sejamos diversos. A 
sociedade exige que o âmbito profissional assuma posicionamentos adequados a esta 
contemporaneidade. Significa que, não importa qual área de formação seja escolhida, 
é imperativo fazer valerem os direitos sociais.
Nesta unidade, o objetivo é problematizar os temas da igualdade e da diferença, pen-
sando a partir do ideal de uma formação profissional adequada ao tempo presente. 
Raça e gênero são categorias centrais, a partir das quais se torna possível pensar em 
situações de exclusão social. É importante lembrar que a diferença não pode justificar a 
desigualdade. As questões que se originam a partir de tais temáticas tocam, diretamen-
te, o âmbito profissional. Empresas, hospitais, escolas, hotéis... em todos os lugares da 
profissão surgem problemas de desigualdade; mesmo na rua, enquanto cidadãos, os 
profissionais devem agir de forma ética, para a construção de um mundo melhor, que 
seja menos excludente. E isto é possível! Necessária é a disposição.
1. SER DIFERENTE É SER DESIGUAL?
1.1. AS DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL
Sabemos que a formação do povo brasileiro é constituída pela diversidade de culturas 
e grupos étnico-raciais. Antes mesmo da colonização, habitavam por aqui, em média, 8 
milhões de indígenas divididos em quase mil nações distintas entre si (CUNHA, 2012, p. 
16-17). A chegada dos europeus e o processo de colonização portuguesa, fundado na 
escravidão e na inferiorização de povos negros originários de países africanos, instituiu 
novos elementos à formação brasileira, constituindo as bases da sociedade que, desde 
então, têm se construído.
O estabelecimento dessa sociedade e da identidade da população brasileira nascem, 
assim, de um amálgama de culturas, etnias, crenças e costumes diversos, os quais nos 
caracterizam como um dos povos mais miscigenados do mundo. Essa formação não se 
deu de forma pacífica, mas, sim, violenta, conflituosa e marcada pela discriminação sis-
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temática de grupos sociais inteiros, levando, inclusive, ao extermínio de povos e etnias 
ao longo dos últimos séculos e até nos dias atuais.
Se por um lado, então, a diversidade e a diferença estão nas raízes da nossa for-
mação, por outro, é certo que a história e a realidade brasileira são marcadas pela 
desigualdade e discriminação, em particular contra grupos étnico-raciais, isto é, de 
origens indígenas e negras.
Com isso, percebemos que as diferenças entre as pessoas e os grupos, a partir da 
perspectiva racial, constituíram-se em desigualdade de oportunidades e acesso à cida-
dania plena, revelando a profunda exclusão racial, o racismo e a falta de diversidade 
étnico-racial em diferentes espaços da sociedade, entre eles, no mercado de trabalho e 
no acesso desigual aos bens, serviços e direitos sociais e econômicos.
Uma das definições para “amálgama”, segundo o Dicionário Michaelis, refere-se à mistura 
ou ajuntamento de coisas ou pessoas diferentes que formam um todo, uma mescla. Nesse 
sentido, a cultura brasileira resultaria da fusão entre outras culturas de povos e grupos étni-
co-raciais distintos, constituindo-se como uma cultura miscigenada e única.
Essa tese produziu ao menos dois grandes debates nas ciências humanas: de um lado, a 
ideia de que na sociedade brasileira se estabeleceu efetivamente a integração racial, diferen-
temente de países como Estados Unidos e África do Sul, que são marcados pela segrega-
ção, ou seja, pela separação entre os grupos étnico-raciais.
Essa é a perspectiva central da obra de Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala, uma das 
referências nas Ciências Sociais e que teve grande impacto entre intelectuais e políticos na 
própria cultura brasileira, principalmente na primeira metade do século XX.
Por outro lado, a ideia de a cultura brasileira ser uma mistura de outras culturas acabou por 
camuflar o reconhecimento das profundas desigualdades e das práticas discriminatórias e ra-
cistas que marcaram a realidade, servindo para a criação do mito e, posteriormente, da ideolo-
gia de que a sociedade brasileira, por ser miscigenada, seria, de fato, uma democracia racial.
Essa última abordagem tem sido desenvolvida, ao longo da segunda metade do século XX 
até os dias atuais, graças à força e às demandas dos movimentos negros, mas também de 
intelectuais, como Florestan Fernandes. Na obra Significado do Protesto Negro, publicada 
pela primeira vez em 1989, Fernandes afirma que o racismo é um dos males da formação 
brasileira e está entranhado nas instituições sociais, de forma que não é possível pensarmos 
em uma efetiva democracia brasileira enquanto não houver plena igualdade racial.
IMPORTANTE
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
a. A DIFERENÇA COMO UM DADO DE CLASSIFICAÇÃO
Há distintas teorias sobre a origem eti-
mológica da palavra raça, mas, de modo 
geral, um ponto de concordância é que 
o termo surge primeiro como forma de 
classificação das plantas e animais para, 
posteriormente, também classificar e hie-
rarquizar os seres humanos. Essa noção 
de raça como um elemento que distingue 
as diferentes categorias de seres, a par-
tir das suas diferenças físicas, é relativa-
mente nova na história da humanidade, 
remontando ao século XVI (ALMEIDA, 2019, [n. p.]).
Em um primeiro momento, esse recurso servia para categorizar e classificar a diversi-
dade humana, afinal, esta é incontestável. Há diferenças visíveis entre um oriental e 
um senegalês ou entre um indígena sul-americano e um norueguês ou, ainda, entre um 
aborígene australiano e um pigmeu africano. A diversidade humana é visível, entretan-
to, não compõe elementos suficientes para a distinção biológica em raças.
Figura 01. Diversidade humana 
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Enquanto a noção de raça funciona como a categorização das pessoas a partir das característi-
cas físicas/biológicas, a noção de etnia, por sua vez, fundamenta-se no compartilhamento de uma 
mesma cultura, língua, religião e ancestralidade por um povo que o diferencia dos demais grupos.
O uso de referenciais étnicos como forma de classificação de indivíduos e grupos assume 
maior importância após a Segunda Guerra Mundial, como oposição à noção de raça e aos hor-
rores dos ideais de limpeza racial produzidos pelo holocausto. Buscava-se definir as diferenças 
entre os povos não mais pela raça, mas pela cultura. O professor e filósofo Kabengele Munan-
ga (2004, [n. p.]) afirma que tal mudança, entretanto, não significou o fim do racismo, uma vez 
que também funciona como uma forma de hierarquização e classificação.
IMPORTANTE
Categorizar as pessoas e os grupos servia ao pensamento como forma para facili-
tar a compreensão da enorme diversidade humana. O reconhecimento das diferen-
ças entre os seres humanos, entretanto, desembocou na hierarquização dos diver-
sos grupos com base na raça à qual pertenciam, dando origem às teorias racistas, 
à discriminação e servindo como justificativa para a exploração de um grupo sobre 
outro. Tais teorias buscavam atribuir causas naturais às desigualdades que são 
social e historicamente produzidas.
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Ética e Cidadania
Com o desenvolvimento da genética e da antropologia, essa noção biológica da raça 
perde sua validade. Geneticamente, tem-se as diferenças entre cor de pele, tamanho 
do nariz, dos lábios ou do crânio, tipo de cabelo, estatura etc. – elementos esses que 
serviam como base para a classificação das pessoas em brancas, negras e amarelas. 
Porém, essas características são muito pequenas para que possamos considerar a 
distinção dos grupos humanos em raças específicas. A ciência hoje comprova que pode 
haver uma maior variedade genética no interior de um mesmo grupo, ao passo que as 
diferenças entre um congolês e um alemão podem ser mínimas.
Prática e teoria são dois aspectos que convergem para a construção da realidade, inclusive 
quando falamos de discriminação ou racismo. Qual o impacto das teorias raciais na constru-
ção de práticas racistas?
A antropóloga Lilia Schwarcz explica, neste breve vídeo indicado a seguir, a origem e os impactos 
concretos da entrada das teorias raciais na sociedade brasileira.
SCHWARCZ, Lilia. A entrada das teorias raciais no Brasil. Vídeo (6min 11s). Postado no 
Canal Lili Schwarcz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=93f7nkbD7tY. Acesso 
em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Você sabia que entre um grupo de mil chimpanzés, em um parque da Nigéria, há mais variabilidade 
genética do que entre os 7 bilhões de humanos? O biólogo e pesquisador Átila Iamarino trata des-
sa questão e de outros temas importantes que demonstram como o desenvolvimento das teorias 
sobre a raça humana utilizaram-se da ciência para justificar formas de exploração e desigualdade 
que não eram naturais, mas, sim, sociais.
Verifique o vídeo do estudioso, explicando sobre essa temática, referenciado abaixo:
IAMARINO, Átila. Qual a raça do brasileiro? Vídeo (16min 36). Postado no canal Atila Iamarino, 2021. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DBC29cUHxYg&-t=272s. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
b. A CATEGORIA RAÇA EM QUESTÃO
Tão visível aos olhos de todos, a diversidade humana não corresponde às diferenças 
genéticas profundas que justifiquem a divisão das pessoas em grupos menores ou em 
raças. Há mais similaridades biológicas/genéticas entre os seres do que diferenças.
Podemos, portanto, concluir que o conceito de raça na atualidade perdeu sua validade? 
Sim e não. Do ponto de vista da ciência biológica, a partir dos conhecimentos que hoje 
possuímos, não faz sentido dividir a humanidade em outras subdivisões como raças, 
pois as diferenças internas na espécie humana são muito pequenas. Ou seja, usada 
https://www.youtube.com/watch?v=93f7nkbD7tY
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
durante séculos como um conceito para explicar a diversidade humana, a noção de 
raça não se sustentacomo realidade biológica e, portanto, não possui validade biologi-
camente científica.
Por outro lado, se a categoria raça não existe enquanto realidade biológica, ela existe 
como construção social, como elemento de distinção, classificação e hierarquia nas 
diferentes sociedades. Além disso, a identificação do indivíduo a uma das raças, ou 
mesmo às etnias, é um importante elemento de constituição da sua identidade social e 
do sentimento de pertencimento.
Raça não é um termo fixo e estático. Seu sentido está inevitavelmente atre-
lado às circunstâncias históricas em que é utilizado. Por trás da raça sempre 
há contingência, conflito, poder e decisão, de tal sorte que se trata de um 
conceito relacional e histórico. Assim, a história da raça ou das raças é a his-
tória da constituição política e econômica das sociedades contemporâneas 
(ALMEIDA, 2019, [n. p.], grifos do autor).
Desse modo, apesar das diferenças entre os indivíduos não serem significativas do 
ponto de vista biológico, elas se configuram como traços distintivos no meio social e fun-
cionam como justificativas para determinados comportamentos e ações que promovem 
a exclusão, a exploração, a desigualdade, o racismo e o preconceito. Logo, fragilidade 
da noção biológica de raça não significa a inexistência de relações e estruturas sociais 
pautadas pela questão racial.
Posto de outro modo, no campo das ciências humanas e nos debates sobre o racismo, a 
concepção de raça não é pensada como um elemento biológico ou genético, mas, sim, como 
fator essencialmente político e que ainda nas sociedades contemporâneas é utilizado para 
naturalizar e legitimar desigualdades sociais e formas de exclusão de grupos específicos 
(ALMEIDA, 2019, [n. p.]).
1.2. AFINAL, O QUE É RACISMO?
Para compreendermos a noção de racismo, é importante, antes, diferenciá-lo dos ter-
mos discriminação e preconceito que costumam aparecer juntos para designar fenôme-
nos parecidos. Na verdade, são conceitos que possuem diferenças, ainda que possam 
se referir às mesmas realidades. Compreender cada um deles é basilar para que pos-
samos identificá-los no conjunto das relações sociais.
O jornal Nexo elaborou um glossário com os principais conceitos e termos relacionados à questão 
racial, oferecendo algumas perspectivas históricas para suas construções e sentidos, inclusive para 
termos mais recentes, como colorismo e branquitude.
SAIBA MAIS
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Ética e Cidadania
a. PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Afirmamos que há preconceito quando estereótipos são usados para definir e caracteri-
zar os indivíduos pertencentes a um grupo específico. Tais estereótipos são fundamen-
tados em juízos de valor, em generalizações ou opiniões que atribuem determinadas 
características às pessoas a partir da sua identificação a um grupo. São ideias como 
“indígenas são selvagens”; “negros são violentos”; “judeus são avarentos” etc.
A matéria completa pode ser acessada via:
RIOS, Flávia; MILANEZI, Jaciane; ARRUTI, José Maurício; MACHADO, Marta. Questão racial. 
Nexo Jornal, jun. 2020. Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/glossario/Quest%C3%A3o-ra-
cial. Acesso em: 11 jun. 2022.
Estereótipos são ideias, rótulos ou opiniões generalizadas sobre uma pessoa, uma etnia, 
um povo ou uma cultura que nascem do senso comum, ao longo das vivências e da história, 
funcionando como forma de pré-julgamento. Por exemplo, quando se comenta que “baianos 
são preguiçosos”, “indígenas são selvagens”, “judeus são avarentos” etc., recorre-se aos es-
tereótipos. Eles podem ser vistos como “inocentes” (exemplo: “o Brasil é o país do futebol”), 
mas também podem configurar-se como fontes de preconceito, discriminação e violência.
GLOSSÁRIO
O preconceito racial, em particular, faz-se tomando o pertencimento a um grupo ra-
cial como referência e pode ou não resultar em atitudes discriminatórias, como nas 
abordagens policiais que costumam ser mais frequentes e agressivas contra negros 
do que contra brancos.
Já a discriminação se refere a um processo de marginalização e diferenciação social, 
econômica e cultural da pessoa pertencente a um determinado grupo. No caso da dis-
criminação étnica e/ou racial, o critério de diferenciação se fundamenta na identificação 
do pertencimento da pessoa aos grupos racial ou etnicamente identificados como tal.
Reconhecemos um fenômeno de discriminação racial, quando negros são proibidos ou 
constrangidos ao entrar em determinados lugares, como shoppings, lojas e bancos ou de 
usar o mesmo elevador que outros grupos (prática comum até poucas décadas atrás) – 
proibições que são feitas apenas com base na cor da pele. Essa é uma forma mais direta 
e intencional de discriminação.
EXEMPLO
https://pp.nexojornal.com.br/glossario/Quest%C3%A3o-racial
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
As discriminações, assim, podem se dar de diferentes formas. Mas, de modo geral, 
todas envolvem algum mecanismo de poder, pois atribuem vantagens e permissões, 
desvantagens e proibições distintas a pessoas e grupos.
A discriminação racial, no entanto, pode se revelar ainda de modo mais indireto, quando são 
construídas práticas e teorias que não reconhecem a existência de diferenças e desigualdades 
sociais significativas pautadas pela questão racial. Por exemplo, a existência de normas ou 
regras que se pretendem neutras, mas que, na prática, discriminam grupos mais vulneráveis, 
como os processos e testes para preenchimento de vagas que, apesar do discurso da igual-
dade, acabam selecionando sempre certos tipos de pessoas, enquanto estigmatizam outras.
Há outra perspectiva sobre a discriminação, analisada também sob o aspecto positivo. Nesse caso, 
são atribuídos tratamentos ou vantagens diferenciadas para grupos que foram histórica e social-
mente prejudicados por sua condição. A discriminação aqui funciona como um meio para compen-
sar tais desigualdades (MOREIRA, 2017, p. 37-41). Ações afirmativas, políticas públicas, como as 
cotas para ingresso no ensino superior, são exemplos da discriminação positiva. Nessa perspectiva, 
a finalidade é compensatória e não excludente.
IMPORTANTE
b. RACISMO
O racismo, via de regra, compreende formas e práticas sistemáticas de discriminação 
racial conscientes ou não, que acabam por conceder acessos, direitos e privilégios 
desiguais aos diferentes grupos que formam a sociedade. Nessa perspectiva, a raça 
aparece como uma construção para justificar as desigualdades sociais dando a elas um 
caráter de naturalidade.
Essa é uma definição do racismo como algo estrutural, isto é, que está nas bases e nas 
estruturas da sociedade, e que orienta todo o conjunto de relações sociais, econômi-
cas, políticas e jurídicas, expressando-se concretamente como desigualdade. Assim, o 
racismo não se explica apenas pelos comportamentos individuais ou institucionais e, 
tampouco, se restringe às formas de discriminação e preconceito, mas é estrutural. O 
conjunto de práticas e relações sociais são racistas porque a sociedade, quer dizer, sua 
estrutura, é racista.
O filósofo e jurista Silvio de Almeida é um dos mais importantes pensadores sobre a noção de racis-
mo estrutural na atualidade. Em uma entrevista à antropóloga e professora Lilia Schwarcz, Almeida 
explica a concepção do racismo como estruturante das relações sociais e reflete sobre o impacto 
dessa concepção nas formações universitárias, na economia, nas subjetividades e nas relações 
sociais e políticas. Assista à entrevista disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2P-
JLprM. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2PJLprM
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O racismo condiciona o conjunto de relações e das desigualdades sociais que se mani-
festam de diferentes formas nas sociedades, algumas mais conscientee outras, menos.
Filme
O filme M8 – Quando a morte socorre a vida, do diretor Jeferson De, é uma alegoria do racis-
mo estrutural na sociedade brasileira. Na trama, um jovem negro, Maurício, ingressa no curso 
de Medicina em uma instituição federal por meio das políticas de cotas. A narrativa recons-
trói o cotidiano desse jovem e das diversas práticas de discriminação racial que ele sofre, 
como o estranhamento causado pela presença de um negro em um curso de Medicina, até 
a perseguição de um colega que acredita que ali não é lugar dele. Um dos momentos mais 
emblemáticos da trama está nas aulas de anatomia, quando todos os corpos são negros, 
identificados apenas por códigos.
1.3. RACISMO E DESIGUALDADE
Em sociedades racistas, ser diferente é ser desigual, uma vez que pertencimento ou não 
às determinadas categorias étnico-raciais produzem condições desiguais de existência. 
É sabido que, no Brasil, as características raciais das pessoas e grupos implicam níveis 
distintos, mas profundos, de desigualdades.
Há um consenso e um reconhecimento na atualidade – e já há algumas décadas – de 
que o racismo e a conjuntura racial existentes no Brasil condicionam e estruturam a 
sociedade. Desse modo, evidenciamos, no mapa mental a seguir, termos, discrimina-
ções raciais e o próprio racismo, tendo como origem os processos de colonização que 
inferiorizaram negros e indígenas.
Figura 02. Mapa conceitual – raízes do Brasil
Fonte: elaborada pela autora.
Raízes do Brasil
Formas de dominação
Escravidão Tráfico negreiro
Submissão e extermínio de povos indígenas
Se revela nas diferentes relações
Sistematização da discriminaçãoRacismo estrutural
ExploraçãoViolência física e sexual
Diversidade e diferença Miscigenação Colonização portuguesa
Lei Áurea
Desigualdade
Desigualdade e exclusão
Discriminação 
étnico-racial
Preconceito racial Fim da escravidão? Econômicas
Políticas
Jurídicas
Sociais
Culturais
Falta de diversidade
Teorias raciais
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
Na Figura acima, o eixo central, Raízes do Brasil, faz referência ao livro de mesmo título 
do historiador Sérgio Buarque de Holanda, escrito em 1936. Nele, o autor defende que 
o legado da colonização portuguesa deixou marcas na estrutura social brasileira que 
deveriam ser superadas para que o país pudesse estabelecer uma democracia plena 
(HOLANDA, 2016, p. 12-19). Por isso, a escolha do termo raiz, como algo que está 
enraizado nas bases e nas estruturas da sociedade.
Nas últimas décadas, essa perspectiva tem sido retomada por diferentes estudos que 
buscam compreender as relações étnico-raciais contemporâneas. Sob esse olhar, o 
racismo é compreendido como um dos principais elementos estruturantes da sociedade 
brasileira, isto é, que está em nossas raízes, e um dos caminhos pelos quais é possível 
compreender as desigualdades sociais, políticas e econômicas.
a. O RACISMO E O MERCADO DE TRABALHO
Mesmo na atualidade, após mais de um século do fim da escravidão, as desigualdades so-
ciais e o acesso à cidadania plena permanecem fortemente marcados pela questão racial e, 
também, étnica. Esse certamente não é um problema apenas brasileiro. A Declaração sobre 
os Princípios e Direitos Fundamentais, promulgada em 1998 pela Organização Internacional 
do Trabalho – OIT –, por exemplo, traz como um dos quatro princípios fundamentais a elimi-
nação da discriminação em relação ao emprego e à cobrança de atores sociais e governos 
para a criação de políticas e práticas de combate às formas de discriminação no mercado de 
trabalho, sejam elas motivadas por preconceito de raça, étnicas, gênero ou outras.
No Brasil, a questão da discriminação étnico-racial é percebida no mercado de trabalho 
tanto da iniciativa privada como do serviço público. Negros são minoria em cargos de 
chefias e também em determinadas profissões, sobretudo de maiores rendas ou posi-
ções de poder, apesar de comporem a maioria da população brasileira. Consequen-
temente, as funções, profissões e cargos informais, de menor renda e precarizados, 
tendem a ser ocupados pelas populações negras, em especial, mulheres.
Esses são fatos que mostram como opera o racismo estrutural sendo elemento de-
finidor de lugares sociais, principalmente como um processo que cria as condi-
ções sociais e políticas para que grupos identificados a partir de suas raças sejam, 
sistematicamente, discriminados.
Busque as reportagens abaixo, em que a primeira é da Revista Exame, que apresenta os dados 
referentes à ocupação de negros e pardos em cargos de chefia nas empresas. Já a segunda trata 
dos impactos da pandemia no acesso ao mercado e ao emprego formal pelos indígenas.
 ` GRANATO, Luísa. Pesquisas mostram abismos no mercado de trabalho para profissionais ne-
gros. Revista Exame, 17 set. 2020. Disponível em: https://exame.com/carreira/pesquisas-mos-
tram-abismo-no-mercado-de-trabalho-para-profissionais-negros/. Acesso em: 23 jul. 2021.
 ` MARCHESAN, Ricardo. Indígenas tiveram maior queda no emprego e renda na pandemia, diz 
FGV. Economia. UOL, 14 out. 2020. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/reda-
cao/2020/10/14/pandemia-indigenas-mercado-trabalho.htm. Acesso em: 13 jun. 2022.
Caso de aplicação
https://exame.com/carreira/pesquisas-mostram-abismo-no-mercado-de-trabalho-para-profissionais-negros/
https://exame.com/carreira/pesquisas-mostram-abismo-no-mercado-de-trabalho-para-profissionais-negros/
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/10/14/pandemia-indigenas-mercado-trabalho.htm
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Como um conceito tão ultrapassado tal como raça continua servindo de marcador so-
cial? Essa é uma questão que nos leva necessariamente a pensar na construção so-
cial e histórica da raça e do racismo, nas teorias e dinâmicas que se construíram so-
bre as diferenças raciais para justificar e normalizar discriminações e desigualdades 
socialmente construídas.
A consciência dessa perspectiva é que nos possibilita compreender o racismo como 
algo estrutural e que opera no conjunto das relações que todos estabelecemos no 
cotidiano. Provavelmente, um dos grandes desafios na atualidade é desestabilizar e 
transformar essas estruturas, dando lugar às ações afirmativas da identidade negra e 
indígena e à construção de práticas antirracistas, nas quais as diferenças raciais não se 
constituam desigualdades.
Texto Complementar
Busque e leia o texto Persistentes desigualdades raciais e resistências negras no Brasil 
contemporâneo, das pesquisadoras Zelma Madeira e Daiane de Oliveira Gomes, trata 
do racismo como um dos eixos centrais das estruturas sociais brasileiras e traça um 
panorama da pós-abolição até a atualidade para demonstrar como as desigualdades 
resultantes do racismo estrutural impactam as diferentes formas de sociabilidade e in-
serção dos negros. As autoras apresentam, especialmente, a questão das mulheres 
negras, grupo que está entre os mais vulneráveis na realidade brasileira.
Madeira, Zelma e Gomes, Daiane Daine de OliveiraPersistentes desigualdades ra-
ciais e resistências negras no Brasil contemporâneo. Serviço Social & Sociedade [on-
line]. 2018, n. 133 [Acessado 11 Junho 2022] , pp. 463-479. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/0101-6628.154. ISSN 2317-6318.
2. A PROFISSÃO NÃO TEM GÊNERO
2.1. O QUE SÃO QUESTÕES DE GÊNERO E POR QUE TRATAR DO TEMA
Em uma das passagens mais clás-
sicas da sua produção intelectu-
al, a escritora e filósofa francesa 
Simone de Beauvoir (2009, p. 9) 
afirma que “ninguém nasce mu-
lher: torna-se mulher”. Essa frase 
e as ideias contidas nela têm sido, 
já há algumas décadas, uma das 
principais referências das teorias 
feministas e dos estudos sobre o 
gênero e suas construções nas 
sociedades e nas relações sociais. 
Nessa perspectiva, o “tornar-se 
mulher” acontece por meio de uma 
série deprocessos e relações sociais que são mais fundamentais nessa construção do 
que a própria condição biológica do indivíduo.
Figura 03. Gênero socialmente construído 
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
Há várias dimensões e aspectos teóricos sobre a construção social do gênero que, 
inclusive, nem sempre convergem entre si. Mas, de modo geral, os estudos sobre o 
gênero abarcam ao menos três grandes dimensões:
I. A perspectiva simbólica, isto é, dada pela cultura;
II. A estrutural, em especial relacionada à divisão sexual do trabalho;
III. As dimensões sobre as identidades de gênero que procuram compreender as formas 
de ação e comportamento dos indivíduos a partir de suas identificações com um ou mais 
determinados gêneros.
Entre essas diversas possibilidades de análise há alguns pontos comuns, como o fato 
de que todas elas consideram as noções de gênero, de sexualidade e orientação sexual 
como conceitos sociais e historicamente construídos. Nesse sentido, os papéis sociais 
que homens e mulheres desempenham nas sociedades, os comportamentos admitidos 
ou reprovados, as expectativas em torno dos indivíduos e do que cada um deles pode 
se tornar são frutos de contextos sociais e culturais particulares.
Como toda construção social, esses contextos são também constituídos a partir de 
relações de poder. É dessa perspectiva que, a partir dos anos 1970, os estudos sobre 
o gênero voltaram-se, particularmente, para a compreensão de como tais contextos 
produziram desigualdades entre homens e mulheres que nasceram e culminaram de 
diferentes formas pelo conjunto do meio social, desde a violência física e simbólica, ao 
acesso desigual ao mercado de trabalho, às profissões e remunerações, a baixa repre-
sentatividade de mulheres nos espaços de poder e decisão, entre outros.
É fundamental compreendermos aqui que os modos e intensidades de discriminação, preconceito 
e violência, a partir do referencial de gênero são complexos. Posto de outro modo, tais práticas 
impactam tanto as mulheres cisgênero – isto é, pessoas que se identificam com o gênero que lhes 
foi atribuído no nascimento –, como as pessoas que se identificam com outras diferentes formas de 
sexualidade e identidade de gênero que constituem a diversidade da existência e espécie humana, 
como as pessoas transexuais e travestis. Para este grupo, grande parte das políticas públicas se 
voltaram muito mais para a prevenção de doenças e exploração sexual do que para sua inserção 
nos sistemas educacionais e, sobretudo, no mercado de trabalho (ANDRADE, 2012, p. 226).
Para ampliar seu repertório, o artigo indicado a seguir. Nele, os autores abordam algumas 
das formas de exclusão, discriminação e violência sofridas pelas pessoas trans, em particu-
lar, no acesso ao mercado e que se revelam a partir de dois vetores opostos: como exclusão 
ou como sublimação da diferença.
MARTINELLI, Fernanda et al. Entre os cisplay e a passabilidade: transfobia e regulação dos cor-
pos trans no mercado de trabalho. Revista Latino Americana de Geografia e Gênero, Ponta 
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a. GÊNERO: NATUREZA E CULTURA
Gênero, de modo geral, pode ser compreendido como os comportamentos e os papéis 
que os indivíduos assumem nos diferentes contextos sociais, com base em sua identifi-
cação como homem, mulher e, mais contemporaneamente, como neutro. São padrões 
que foram definidos ao longo do tempo e das diferentes relações sociais e culturais, 
estabelecendo as funções, os papéis e as identidades do indivíduo por meio de sua 
identificação com um dos gêneros.
Grossa, v. 9, n. 2, p. 348-364, 2018. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/rlagg/article/
view/12855/pdf_19. Acesso em: 13 jun. 2022.
Há, em alguns espaços sociais, a confusão entre identidade de gênero e ideologia de gê-
nero, sendo que os conceitos são distintos. Identidade de gênero diz respeito às formas 
como os indivíduos se expressam, se reconhecem e atuam socialmente a partir da sua 
identificação com um determinado gênero que pode não corresponder necessariamente ao 
seu sexo biológico.
Por sua vez, a ideologia de gênero pode ser compreendida como a recusa em consi-
derar ou questionar as tensões e desigualdades que estruturam as relações sociais 
com base nos gêneros. Por exemplo, as definições de que os homens são provedores 
(racionais, fortes, aptos às ciências exatas e pouco sentimentais), ao passo que as mulhe-
res estão mais aptas aos cuidados do lar e dos filhos (são frágeis, sentimentais e pouco 
racionais), são construções ideológicas, pois replicam tais ideias e comportamentos sem 
questioná-los, como se fossem naturais.
SAIBA MAIS
Durante muito tempo, a explicação para as diferenças e desigualdades entre homens 
e mulheres se estruturavam em bases biologicamente deterministas. Ou seja, acre-
ditava-se que haveria uma natureza biológica prévia e definitiva que se impõe sobre 
o indivíduo e determina seu pertencimento ou não a um gênero específico. Assim, as 
pessoas que possuem órgãos sexuais e reprodutivos femininos são mulheres, ao passo 
que aquelas que nascem com órgãos sexuais e reprodutivos masculinos são homens.
As teorias sobre o gênero e sua construção, entretanto, romperam com essa associa-
ção entre o sexo e a identidade ao afirmarem que gênero é mais complexo que o sexo, 
pois corresponde às expectativas que o meio social tem sobre as ideias, os comporta-
mentos e os pensamentos dos indivíduos.
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Fundamentada nessas teorias, nasce a diferenciação entre sexo e gênero, em que o 
primeiro é entendido enquanto fator biológico, ao passo que o segundo é uma constru-
ção social e histórica, portanto, não natural, apreendida pelos processos de socializa-
ção dos diferentes contextos. Dessa forma, o tornar-se homem ou mulher depende de 
uma série de outros dispositivos sociais e culturais que não se resumem ou são desig-
nados pelos órgãos sexuais.
Como são construções históricas e sociais, as expectativas em torno dos gêneros se 
transformam, assumindo novos recortes em cada meio social. Na contemporaneidade, 
por exemplo, mesmo a distinção entre dois gêneros (homem e mulher) já não é mais 
universalmente válida, contemplando outras possibilidades ou mesmo tentando romper 
com o papel tão determinista do gênero no conjunto das relações sociais.
Observe o mapa mental proposto a seguir. Nele, apresentamos as principais definições 
e distinções dos conceitos relacionados ao gênero e às sociedades mais atuais.
A filósofa americana Judith Butler (2017, p. 17-30), uma das principais pesquisadoras e te-
óricas contemporâneas sobre o feminismo e as teorias do gênero, argumenta que nas defi-
nições das identidades baseadas no sexo e no gênero uma série de práticas e discursos de 
poder se impõem. Essa forma de poder não é necessariamente repressiva, mas determina a 
identidade, as formas e relações com o corpo e todo o conjunto de relações sociais que o in-
divíduo exerce na vida coletiva. Por isso, a autora explica que, ao nascermos, já há uma série 
de significados culturais sobre o corpo, o sexo e o gênero que são impostos discursivamente. 
Assim, em um exame de ultrassom, quando se diz “é menino” ou “é menina”, um conjunto de 
expectativas é criado e imposto para aquele ser, tais como: cores de roupas, comportamento, 
brinquedos e brincadeiras, desejos, profissões etc., e que irá moldar a forma como indivíduo 
compreende a si e ao outro. A construção dessa identidade, de acordo com Butler, não é 
natural, mas resulta de uma produção discursiva.
SAIBA MAIS
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GêneroA maneira como o 
indivíduo se enxerga ` Homens; Mulheres / Masculino; Feminino
 ` Transgênero; Cisgênero
 ` Binário; Não-binário
 ` Teoria Queer
 ` Independente do sexo biológico;
 ` Todas as pessoas performam, a partir de 
uma identidade de gênero
 ` Fluida
 ` Vai além do feminino e do masculino
 ` Expressão de gênero com a qual o 
indivíduo se identifica
Figura 04. Mapa mental: gênero e sociedade
 ` Poder
 ` Processo
 ` Ordenamento da realidade
 ` Heteronormatividade
 ` Atração afetiva e/ou sexual
 ` Múltipla e fluída
 ` Sexualidade
 ` Exemplos: heterossexual; homossexual; 
bissexual; assexual etc.
 ` Características biológicas
 ` Não define o gênero
 ` Exemplos: macho; fêmea; hemafrodita
Sexo 
Biológico
Relações 
de Gênero
Orientação 
Sexual
Identidade 
de Gênero
Gênero e 
Sociedade
Fonte: elaborado pela autora.
“O problema do gênero é que ele descreve como devemos ser em vez de reconhecer quem 
somos”. Essa é uma frase da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, uma das vozes 
contemporâneas mais importantes acerca do feminismo, dos direitos das mulheres e das 
possibilidades de criação de uma sociedade mais igualitária para os diferentes gêneros.
SAIBA MAIS
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
B. DESIGUALDADE E IGUALDADE DE GÊNERO
Dentre as perspectivas fundamentais propostas pelas teorias feministas está a relação 
entre o gênero e o poder. A premissa básica dessa perspectiva é a de que a diferencia-
ção entre homens e mulheres, ao longo da história, constituiu formas de poderes e de 
acessos desiguais entre os indivíduos.
Nesse processo, as mulheres, em particular, foram subjugadas, consideradas inferiores 
em relação aos homens ou, ainda, pouco aptas para assumir funções e papéis que 
não estavam vinculados aos ambientes domésticos e/ou de cuidados. Este é um dos 
elementos que caracteriza o que as ciências humanas denominam como sociedades 
patriarcais – ou o patriarcado –, sistemas sociais que são estruturados nas relações 
desiguais entre homens e mulheres.
Busque assistir ao TED da autora: Todos devemos ser feministas, no qual ela debate o feminismo 
como possibilidade de justiça e igualdade. Observe os principais pontos sócio estruturais que a 
pensadora elege, ao longo de sua fala e busque associá-los ao seu contexto sociocultural.
Disponível em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_
feminists?language=pt-br. Acesso em 13 jun. 2022.
Patriarcado é um conceito das ciências humanas que se refere aos sistemas sociais fun-
dados na relação desigual entre gêneros. Nesses modelos, a desigualdade entre homens e 
mulheres está inserida nas instituições e estruturas sociais presentes em diferentes aspectos 
da vida social e coletiva. Trata-se de um modelo de organização social em que prevalecem 
relações de poder e domínio dos homens, especialmente brancos e heterossexuais, sobre os 
demais sujeitos. Na reportagem da OSC Politize, há um descritivo histórico e a apresentação 
das características das sociedades patriarcais. Para ler na íntegra o texto de Regiane Folter, 
confira a referência abaixo:
FOLTER, Regiane. O que é Patriarcado? Politize! 29 jun. 2021. Disponível em:
https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjw9uKI-
BhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkNNAHIkMQ6MklVRo-
CwXMQAvD_BwE. Acesso em: 13 jun. 2022.
GLOSSÁRIO
Existem diferentes dimensões nas quais a desigualdade de gênero se manifesta e 
que podem se revelar tanto nos espaços públicos como privados da vida social. Al-
guns exemplos de como padrões e comportamentos que produzem e reproduzem a 
desigualdade entre os gêneros estão entranhados nas estruturas sociais são: ocu-
pação dos mesmos cargos e com formação educacional ou superior; fosso salarial 
entre homens e mulheres.
https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_feminists?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_feminists?language=pt-br
https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjw9uKIBhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkNNAHIkMQ6MklVRoCwXMQAvD_BwE
https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjw9uKIBhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkNNAHIkMQ6MklVRoCwXMQAvD_BwE
https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjw9uKIBhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkNNAHIkMQ6MklVRoCwXMQAvD_BwE
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No espaço doméstico, a responsabilidade 
dos cuidados com o lar e com os filhos tende 
a ser maior para mulheres do que para ho-
mens. Em posições estratégicas e de poder 
político, homens ocupam maiores espaços 
do que as mulheres. A violência doméstica e 
sexual contra mulheres é um dado tanto nas 
esferas públicas como privadas.
É do reconhecimento de tais estruturas 
e acessos desiguais entre homens e mu-
lheres, ou seja, a desigualdade com base 
no gênero, que movimentos sociais e políticas públicas pautam seu oposto. Há um 
ponto fundamental nessa questão de que a desigualdade não significa a anulação das 
diferenças entre homens e mulheres, pelo contrário, pressupõe que as diferenças são 
a base da diversidade. O ponto central aqui é que essas diferenças não se configuram 
como desigualdades de acesso, oportunidade e reconhecimento.
2.2. AS MULHERES E O MERCADO DE TRABALHO
O pertencimento ao gênero corresponde às formas específicas de desigualdade social. 
O campo do trabalho entendido de forma completa, ou seja, o acesso ao mercado de 
trabalho e à permanência nele, a remuneração, os trabalhos, funções e ocupações dis-
poníveis entre outros fatores, compõe uma esfera significativa dos debates teóricos e 
das reivindicações dos movimentos sociais pautados pela igualdade de gênero.
O trabalho é uma das dimensões mais essenciais da vida coletiva, em todas as épocas 
humanas, e que assume traços específicos em cada organização social, ao longo da 
história. Na atualidade, o trabalho, além de fonte de subsistência de cada indivíduo, é 
um importante indicativo do desenvolvimento social e econômico das sociedades e uma 
das esferas da construção e exercício da igualdade e da cidadania.
No Brasil, em particular, a entrada das mulheres no mercado de trabalho ocorreu com 
maior intensidade na segunda metade do século XX, a começar por 1970, mais especi-
ficamente. Visto que há múltiplos aspectos nesse cenário e que se relacionam com as 
relações de gênero, a seguir, destacamos alguns dos eixos principais que permitem a 
compreensão mais geral da relação entre trabalho e gênero.
a. DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO
Imagine a seguinte situação: em uma entrevista para uma vaga em uma determinada 
empresa, uma candidata é questionada sobre se tem filhos ou não e, em caso positivo, 
quem cuidaria dos filhos na ocasião de ela ser a contratada ou mesmo o que ela faria 
quando a criança ficasse doente e precisasse de cuidados médicos.
Essa é uma questão bastante recorrente em entrevistas de emprego e reflete uma 
das consequências da divisão sexual do trabalho. Esta repartição identifica as for-
mas como as sociedades estruturam as atividades produtivas e econômicas, 
de modo que associam os homens à produção e as mulheres à reprodução ou, 
Figura 05. Desigualdade salarial entre 
homens e mulheres 
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posto de outra forma, os homens relacionados às atividades remuneradas e as mu-
lheres às atividades domésticas e de cuidados com filhos, exercendo um trabalho não 
remunerado (BIROLI, 2018, p. 24-25).
A divisão sexual do trabalho é entendida como um elemento estrutural das relações de 
gênero que impactam o acesso, a permanência das mulheres no mercado de trabalho e 
as funções e ocupações exercidas. No cotidiano, esses fatores serevelam em:
Dupla jornada:
A entrada expressiva das mulheres no mercado de trabalho, na segunda metade do 
século XX, não foi acompanhada pela redistribuição das tarefas e responsabilidades 
domésticas e de cuidado com os filhos. Apesar dos avanços vivenciados nas últimas 
décadas, essas atividades ainda permanecem como responsabilidade primordial das 
mulheres, podendo gerar consequências para a saúde física e emocional.
Na atualidade, algumas políticas públicas e iniciativas estão sendo criadas para diminuírem os 
impactos na percepção da produtividade das mulheres, tomando os cuidados com a casa e os 
filhos, como fatores que devem ser considerados. No Brasil, por exemplo, desde abril de 2021, 
as mulheres podem indicar no Currículo Lattes a licença maternidade como justificativa para a 
pausa nas pesquisas e como uma forma para que não sejam prejudicadas na disputa por bolsas.
Já na Argentina, uma lei aprovada também em 2021, contará a maternidade e os cuidados 
iniciais com os filhos como tempo de serviço quando as mulheres solicitarem a aposentadoria. 
Assim, o Estado reconhece a dedicação da mulher que se torna mãe e que, por vezes, precisa 
abdicar temporariamente da carreira, como tempo de trabalho hábil para fins previdenciários.
CURIOSIDADE
Falta de políticas públicas e institucionais voltadas para a possibilidade de 
maior conciliação entre as responsabilidades domésticas e do trabalho
Em virtude dessa ausência de respaldo político público e institucionais, movimentos 
lutam em prol direito à creche e escolas infantis, proteção à maternidade, entre outros 
elementos que auxiliam a permanência da mulher no mercado de trabalho.
Superação da ideia da mulher como uma “força de trabalho secundária”.
Esse é um ponto de destaque nos estudos sobre a divisão sexual do trabalho e parte 
da relação entre produção/reprodução, bem como esfera pública/privada. Nessa cons-
trução, permanece no imaginário a visão do homem como chefe/provedor e da mu-
lher como responsável pela esfera privada, isto é, familiar e doméstica e, no máximo, 
“provedora secundária” (ABRAMO, 2020, p. 22-24).
A mulher, então, ocuparia posições no mercado de trabalho sempre que o homem es-
tivesse ausente (doença, incapacidade, desemprego ou mesmo pela separação ou 
morte). Entre as consequências, as trajetórias das mulheres são mais inconstantes e 
interrompidas, uma vez que regularizada a ocupação masculina, a mulher voltaria para 
as responsabilidades domésticas.
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Ética e Cidadania
2.3. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Atualmente, a ocupação de uma vaga ou de uma função está fundada na ideia da ca-
pacidade cognitiva e técnica, nos conhecimentos e habilidades de quem disputa tais 
lugares, independentemente do seu gênero. Salvo poucos espaços que ainda perma-
necem masculinos, a presença de mulheres é realidade nas mais diferentes profissões 
e espaços de produção e saber.
Permanecem, entretanto, alguns desafios para que as mulheres possam efetivamente 
desfrutar de condições igualitárias de acesso e permanência no mercado de trabalho. 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), como agência da Organização das Na-
ções Unidas (ONU), pontua o fim da desigualdade de gênero como uma das metas que 
devem ser adotadas, em especial pelos países mais ricos do mundo, a fim de que o 
acesso das mulheres ao mercado de trabalho seja mais efetivo e duradouro.
A pauta aparece como resposta às consequências da pandemia da COVID-19 que afetou 
de formas diferentes homens e mulheres, indicando a maior situação de vulnerabilidade 
das mulheres diante da crise sanitária e econômica. Para os representantes dessas organi-
zações, esse fato aparece em situações variadas, como: a precarização ou informalização 
do trabalho, desemprego, violência doméstica, baixo nível de proteção social, entre outros 
pontos, revelando a necessidade da reorganização estrutural e econômica da vida coletiva.
Mesmo com algum avanço, a ideia e a realidade das mulheres como responsáveis pela esfera 
doméstica permanecem como um importante elemento da desigualdade de gênero no mercado 
de trabalho. Veja na reportagem abaixo dados recentes que corroboram com esta perspectiva.
RODRIGUES, Léo. Estudo revela o tamanho da desigualdade de gênero no mercado de 
trabalho. Agência Brasil. Rio de Janeiro, 4 mar. 2021.
Disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/estudo-revela-ta-
manho-da-desigualdade-de-genero-no-mercado-de-trabalho. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Atualidade do tema
A ONU e OIT apresentam uma série de medidas que deveriam ser adotadas para que as estru-
turas sociais dos diferentes países se tornem mais inclusivas à participação das mulheres na 
produção econômica, bem como na garantia da sua autonomia, da identidade e da cidadania.
Leia o documento abaixo que traz as principais recomendações e iniciativas propostas: ORGANIZA-
ÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT - COVID-19: Países do G7 devem tornar a igualdade 
de gênero eficaz para que o futuro das mulheres no trabalho seja melhor. Notícias OIT, 14 maio 2020.
Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_745194/lang--pt/index.htm. Acesso 
em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/estudo-revela-tamanho-da-desigualdade-de-genero-no-mercado-de-trabalho
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/estudo-revela-tamanho-da-desigualdade-de-genero-no-mercado-de-trabalho
https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_745194/lang--pt/index.htm
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
É certo que profissão não tem gênero. As mudanças ocorridas nas últimas décadas, 
capitaneadas pelos movimentos sociais e pelos estudos sobre as identidades e desi-
gualdades de gênero, promoveram mudanças significativas nas mais diferentes realida-
des. Isso se deu por meio de políticas públicas, institucionais e legislações que pautam 
a necessidade da reorganização das estruturas sociais voltadas para a maior inclusão 
e diversidade dos diferentes gêneros.
Mas é certo também que esse é um caminho longo, cotidiano que requer a transfor-
mação de práticas, comportamentos, concepções e estruturas concretas e simbólicas 
que promovam a reformulação das relações de gênero nas sociedades para o fim da 
discriminação e das formas de violência nos mais diferentes níveis nos espaços públi-
cos e privados, constituindo formas mais igualitárias de convivência e possibilidades de 
existências entre homens e mulheres.
Filme
Uma alegoria interessante e complementar da temática trabalhada nesta unidade é o 
filme Estrelas Além do Tempo, de Theodore Melf (2017), o qual é baseado em fatos re-
ais e retrata a história de três jovens mulheres cientistas que colaboraram com a NASA 
na década de 1960, para a chegada do homem à lua. Em um ambiente que as mulheres 
ainda não eram aceitas, especialmente em profissões como as engenharias ou outras 
das ciências exatas, a narrativa retrata as condições de desvantagens e desvalorização 
do trabalho que as personagens enfrentam pelo fato de serem mulheres negras. É uma 
oportunidade para a reflexão sobre quais mudanças ocorreram nessas últimas décadas 
e se elas permitem percebermos hoje a presença de mulheres em profissões que foram 
usualmente designadas como espaços exclusivos dos homens.
3. ENFIM, UMA SOCIEDADE POSSÍVEL
3.1. SOCIEDADE BRASILEIRA
Há menos de 200 anos, o Brasil ainda vi-
via sob a escravidão de homens, mulhe-
res e crianças negras. Havia, além de leis 
que garantiam essa estrutura, discursos, 
teorias e um sistema moral que defen-
diam a legalidade da escravidão e justi-
ficavam os diversos modos de violência 
e exploração, ou seja, naturalizavam as 
formas de desigualdade e interiorização 
dos povos negros. Ainda nesse período, 
mesmo que sob outras condições, povos 
indígenas e culturas inteiras foram dizi-
madas ao longo do processo de colonização. É igualmente perceptívela existência de 
todo um sistema legal e moral que justificavam tais práticas.
O direito ao voto feminino é relativamente recente em nossa sociedade, (foi legitimado em 
1932) e, nesse início, era um direito garantido apenas às mulheres casadas, desde que 
Figura 06. Gravura de Henry Chamberlian, A rede (1821) 
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tivessem autorização dos maridos, e às viúvas que tivessem renda própria. Por sua vez, o 
acesso de mulheres casadas ao mercado de trabalho também dependia da autorização do 
marido, assim como a abertura de contas em bancos, viagens ao exterior ou ter um comér-
cio, leis que foram alteradas apenas a partir de 1962.
Nossa sociedade atual é herdeira dos fatos acima e, certamente, de outras diversas for-
mas de desigualdade e exploração. Durante séculos, prevaleceu a ideia de que alguns 
grupos de pessoas, como negros, mulheres, indígenas e outros minoritários eram infe-
riores, portanto, para esses grupos o acesso aos direitos e aos bens sociais era restrito, 
desigual ou sequer existia.
Minorias ou grupos minoritários não são definidos quantitativamente, mas, sim, qualitativa-
mente. De modo geral, para as ciências humanas e sociais, o conceito de minoria se refere 
aos grupos que se encontram em situação de desvantagem ou vulnerabilidade em relação a 
outros em uma dada estrutura social.
Na sociedade brasileira, por exemplo, mulheres, negros e pardos representam a maioria 
numérica da população. Entretanto, são considerados grupos minoritários, pois possuem 
menos acessos aos bens e direitos sociais assim como aos espaços de poder e decisão. 
As minorias podem ser definidas a partir de diferentes critérios: gênero, raça, etnia, religião, 
cultura, sexualidade etc., e variam de uma ordem social para outra. Nas democracias, há o 
pressuposto de que as políticas públicas devem compensar e proteger as minorias, diminuin-
do ou eliminando as formas de desigualdade e desvantagens.
IMPORTANTE
Esta é uma noção que ainda prevalece 
em nossa sociedade e pelo mundo de 
modo geral. O acesso desigual aos direi-
tos e aos bens sociais, mesmo aos mais 
básicos, ainda é uma realidade. Assim, 
em pleno século XXI nos deparamos dia-
riamente com diferentes formas e níveis 
de pobreza e exclusão, desigualdade e 
discriminação que vão desde o precon-
ceito e a marginalização até a eliminação 
física e genocídio de grupos inteiros por 
motivos étnicos, culturais, religiosos, sexuais, geopolíticos etc.
Mesmo diante da constatação dessa realidade, é possível, entretanto, vislumbrarmos 
avanços significativos. Entre eles, a consolidação, em nossa época, de valores, leis e 
mesmo de um sistema moral que reconhece como princípio fundamental a dignidade 
intrínseca de todo ser humano, isto é, a dignidade de toda pessoa como um valor su-
premo e inquestionável.
Figura 07. Campo de refugiados
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
Esse é um dos pressupostos básicos para o exercício da cidadania e da constituição de 
direitos e deveres dos indivíduos, uma vez que o reconhecimento da dignidade humana 
implica garantia e acesso aos bens e direitos sociais.
a. A RESPONSABILIDADE DO SER SOCIAL
Poucas ideias são tão universais nas ciências humanas e sociais quanto a afirmação de 
que o ser humano é um ser social por natureza, que vive em coletividade e que constrói 
em grupo sua realidade social. Os elementos que constituem essa realidade – como as 
regras, as normas, as religiões, as leis, os direitos e deveres, entre outros –, não são 
produtos espontâneos da natureza, mas, sim, construções históricas e sociais empre-
endidas pelos homens vivendo social e coletivamente.
Essa afirmação pode parecer, à primeira vista, bastante óbvia, entretanto, ela abrange 
uma complexidade. O elemento social da vida humana não se reduz apenas ao viver 
em grupo. Se assim fosse, não nos diferenciaríamos de outras espécies que vivem 
grupalmente ou em bando, como os chimpanzés e gorilas, por exemplo. Além disso, a 
essência humana é social, o viver humano se realiza apenas em sociedade.
O filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) – pensador contemporâneo – reflete 
sobre essa característica da vida coletiva humana, entendendo a interdependência dos 
indivíduos entre si e com seu meio social, mas, também, com as responsabilidades que 
cada um possui com o outro, mesmo que não conscientes ou assumidas. Esse traço da 
responsabilidade é a base da sociabilidade humana e surge a partir da nossa relação 
com o outro e com nosso meio social, além de ser portadora de um sentido moral.
Um relacionamento humano é moral quando um sentimento de responsabi-
lidade brota em nós, voltado para o bem-estar e a felicidade do “outro”. [...] 
Somos responsáveis por outras pessoas simplesmente porque são pesso-
as, e assim ordena nossa responsabilidade. É igualmente moral quando a 
vemos como só nossa, não sendo, consequentemente, negociável, além de 
não poder ser transferida para quem quer que seja. A responsabilidade por 
outros seres humanos surge simplesmente porque eles são seres humanos, 
e o impulso moral para ajudar daí oriundo não exige nenhum argumento, 
legitimação ou prova além dessa noção (BAUMAN, 2010, p. 71).
Para o autor supracitado, a responsabilidade com o outro é um traço da essência hu-
mana que explica como sua existência apenas é possível em sociedade. As diferentes 
interações e responsabilidades que temos uns com os outros constituem a base do 
comportamento humano. Esse comportamento, por sua vez, não se realiza no vazio, 
pelo contrário, concretiza-se em um contexto social específico, em acordo com um meio 
social particular constituído por normas, regras, direitos, entre outros elementos que 
orientam e estruturam as relações sociais. Daí a importância da vida social.
Assista a um pequeno trecho de uma entrevista feita com o filósofo Zygmunt Bauman. 
Nela, ele explica como na atualidade vivemos interligados e estabelecemos vínculos e laços 
sociais em níveis mundiais e não mais localmente. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=1miAVUQhdwM. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=1miAVUQhdwM
https://www.youtube.com/watch?v=1miAVUQhdwM
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b. A FUNÇÃO DA VIDA SOCIAL
A vida e as formas de existência humana se realizam, portanto, em sociedade, em uma 
dada organização social que possui sentido concreto e histórico. Ou seja, cada orga-
nização social, da mais primitiva e simples até a mais contemporânea e complexa que 
existe ou que já existiu, tem um conjunto de normas e códigos que orientam o existir 
coletivo num determinado tempo e espaço.
Os sentidos e significados desse complexo conjunto mudam de uma organização social 
para outra, de um tempo histórico para outro. Valores, condutas, regras e leis que já 
foram aceitas por uma organização social se transformam conforme as próprias condi-
ções histórico-sociais assim como as necessidades das pessoas e daquele meio social.
Para além disso, o fato é que para existir coletivamente é preciso um espaço comum 
de convivência entre todos, algo que congregue as pessoas e suas individualidades 
em torno de uma mesma organização social e coletiva. A vida comum e coletiva são os 
espaços, por excelência, do exercício da cidadania.
O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) afirma que essa é uma das funções 
da vida social, qual seja, a constituição de um conjunto de normas, regras e modos de 
agir que orientam e estruturam a vida dos indivíduos naquela coletividade e que fun-
cionam como mediadores das relações das pessoas entre si e com o seu meio social.
Todos nós, enquanto parte da sociedade brasileira, por exemplo, estamos sob um mesmo con-
junto de normas, direitos e deveres que orientam nosso modo de viver e que estabelecem um 
modocomum de vida, apesar da individualidade de cada um. São pontos fundamentais para 
que se constitua o que sociólogo chama de “coesão social” ou “laços sociais”, estruturas, ideias 
e práticas pelas quais se criam os vínculos de solidariedade e de cooperação entre aqueles que 
habitam uma mesma organização social. Quanto mais a vida social tiver sentido e significado 
para o indivíduo, mais coesa, solidária e cooperativa é uma organização social.
PARA REFLETIR
3.2. O DIREITO À PARTICIPAÇÃO NOS BENS SOCIAIS
É na vida social que também se constrói as bases para a organização, segurança e 
desenvolvimento de cada um e da coletividade, bem como para a constituição da ci-
dadania. Sabemos que todo esse conjunto não é estático e definitivo, pelo contrário, 
é dinâmico e está em constante construção, responde às necessidades e anseios da 
coletividade e também de indivíduos. As próprias noções de moral, direitos e deveres da 
cidadania se transformaram ao longo da história, contemplando em cada organização 
social acessos, direitos e deveres específicos.
Na modernidade, em particular, até os dias atuais, consolidou-se um pressuposto básico, 
resultado de uma longa evolução histórica: a de que cada ser humano, por ser social, é 
dotado de um conjunto de direitos e deveres. Entre esses, alguns são relativos aos bens 
sociais fundamentais, como saúde, segurança, educação, moradia, habitação e trabalho.
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
A Constituição Federal Brasileira define, no artigo 6º, como direitos sociais o acesso à educa-
ção, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, 
proteção maternidade e à infância e assistência aos desamparados.
Para conferir o texto na íntegra, visite:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Logo na introdução desta unidade, propusemos pensar sobre o reconhecimento moder-
no da dignidade intrínseca do ser humano. É desse pressuposto que nascem teorias e 
práticas que estruturam a vida coletiva, como o reconhecimento de que toda pessoa, 
independentemente da cor, gênero, classe social, idade, lugar, posição política, religio-
sidade etc., tem (ou deveria ter) direitos básicos assegurados, que visam justamente 
garantir a reconhecida dignidade humana citada.
O acesso e a participação aos bens sociais como um direito de cada pessoa respondem 
diretamente a esse pressuposto, uma vez que o atendimento às necessidades funda-
mentais e básicas é inseparável das possibilidades de existências e vivências dignas. 
Além disso, é pelo acesso pleno aos bens sociais que outros direitos basilares para a 
dignidade humana são efetivamente contemplados, como a liberdade e a igualdade. 
Posto de outra forma, as liberdades e direitos individuais são inseparáveis da garantia 
dos direitos sociais. Como conceber, por exemplo, a liberdade e o direito individual que 
todos têm ao voto, se persiste na sociedade a pobreza extrema, falta de saneamento 
básico e condições de trabalho precárias?
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos parâmetros nas sociedades atuais que 
mede o desenvolvimento social de um país, levando em consideração o acesso das pessoas 
aos bens sociais básicos, como educação, saúde e renda. Ele é coordenado pela Organização 
das Nações Unidas (ONU) e é um importante parâmetro na definição de políticas públicas.
Há outros institutos e pesquisas que também possibilitam compreender as demais esferas e 
conjunto de direitos, por exemplo, o The Economist Intelligence Unit (The EIU), que faz parte 
do Economist Group e mede diferentes âmbitos da vida social, como a paridade de gênero e o 
nível de democracia dos países.
Para saber mais, você pode conhecer de forma interativa os indicadores usados pelo institu-
to e seus níveis em cada um dos países pesquisados, basta visitar: https://www.v-dem.net/
data_analysis/VariableGraph/. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
https://www.v-dem.net/data_analysis/VariableGraph/
https://www.v-dem.net/data_analysis/VariableGraph/
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3.3. O RECONHECIMENTO DA DIFERENÇA: BASE PARA A IGUALDADE
Diretamente relacionada aos direitos e bens sociais nas sociedades, a igualdade é um 
dos valores fundamentais na constituição das democracias e como um dos princípios 
que estruturam, de modo geral, o conjunto de direitos e deveres e o exercício da cida-
dania nas sociedades. Todos são iguais perante a lei, sem distinção, é um dos pilares 
de constituições democráticas modernas, assim como da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos.
Como tornar efetivo o princípio da igualdade nas sociedades atuais, globais e diversas, 
formadas pelas diferentes culturas, individualidades e identidades? Todos são iguais, 
afinal? Esse é um ponto central, pois igualdade, como um direito, não significa homoge-
neidade. Contudo, o respeito à dignidade da condição humana pressupõe o direito e o 
reconhecimento da diferença.
Os contrapontos não são entre igualdade e diferença, mas entre igualdade e desigual-
dade. A desigualdade pressupõe hierarquias que estabelecem condições distintas às 
pessoas, acessos diferentes aos direitos e deveres, bem como aos postos de poder 
e de decisão. Assim, a desigualdade estratifica, divide os indivíduos e os grupos em 
superiores e inferiores, com mais ou menos direitos e deveres, com maior ou menor dig-
nidade e serve como justificativa às formas de discriminação, exploração e até mesmo 
de morte ou extermínio.
A diferença, por sua vez, fundamenta-se no reconhecimento das particularidades de 
cada um, de cada grupo social e da diversidade que compõe a natureza humana – é 
uma relação horizontal. Desse modo, é possível reconhecermos as diferenças entre 
homens e mulheres, brancos e negros, portadores e não portadores de deficiências, 
cristãos, muçulmanos ou ateus, indígenas e não indígenas, norte-americanos, indianos 
e brasileiros, jovens e idosos etc. Em todos esses grupos há diferenças. Entretanto, 
quando se instalam valores ou relações de superioridade ou inferioridade, as diferenças 
se convertem em desigualdades.
O direito à diferença, portanto, é um corolário da igualdade na dignidade. O 
direito à diferença nos protege quando as características de nossa identida-
de são ignoradas ou contestadas; o direito à igualdade nos protege quando 
essas características são destacadas para justificar práticas e atitudes de 
exclusão, discriminação e perseguição (BENEVIDES, 2007, p. 340).
O direito à diferença é também a luta pelo direito ao reconhecimento e da diferenciação como consti-
tutiva da diversidade e da dignidade humana. Partindo dessa perspectiva, recomendamos que você 
assista ao documentário Crip Camp: revolução pela inclusão (2020), dirigido por Jim LeBrechet.
O documentário conta a história sobre o acampamento de verão Jened, nos EUA, voltado para 
pessoas portadoras de deficiências físicas, motoras e até intelectuais, com variados graus e 
níveis de lesão. O acampamento foi fundado em 1951 e fechado em 1977, e transformou não 
apenas a vida dos jovens e adolescentes que frequentavam aquele espaço, mas pautou diver-
sos movimentos por direitos sociais e civis na sociedade americana.
SAIBA MAIS
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
a. A LUTA POR DIREITOS NO SÉCULO XXI
A luta por direitos é sempre uma luta histórica, pois reflete as formas de organização so-
cial, as experiências e anseios de indivíduos e grupos em suas realidades. São reflexos 
das necessidades e demandas que as pessoas vivenciam em cada contexto histórico-
-social e, ainda, dos recursos que estão disponíveis para isso. Em uma realidade global 
como a quevivenciamos, as lutas por direitos, nas suas mais diferentes esferas, tendem 
a refletir tanto as pautas e necessidades locais como outras mundializadas ou globais.
É certo, desse modo, que diante das persistentes desigualdades sociais, parte das lutas 
por direitos contemporâneos está voltada para essas esferas, tais como: moradia, aces-
so à saúde e educação de qualidade, condições e garantias trabalhistas, participação 
nas esferas públicas e políticas, segurança etc.
Ao mesmo tempo, a defesa e o reconhecimento das diferenças entre as pessoas 
como um dos parâmetros para a constituição da justiça social e da igualdade, como 
vimos há pouco, revelaram novas disputas e lutas por direitos em diferentes âmbitos 
da sociedade. Da mesma forma, outros modos de opressão que não passam pela 
luta de classes têm pautado, ao longo das últimas décadas, diferentes movimentos 
sociais e lutas por direitos.
Há, assim, um espaço de lutas por direitos nas sociedades atuais voltado para questões 
éticas e de valores humanos que não diz respeito necessariamente a uma classe social 
específica, mas, sim, ao conjunto da sociedade de um modo geral, inclusive, em termos 
globais (SANTOS, 2003, p. 258).
Atualidade do tema
Em momento anterior, já falamos sobre o movimento Black Liver Matter. Na reportagem a seguir, 
“Como três mulheres criaram o movimento global Black Lives Matter a partir de uma hashtag”, 
temos um relato de como essa luta antirracista começa bem pequena, com os esforços de três 
mulheres, mas rapidamente se torna uma causa global. Entre as características, está presente o 
uso das redes de comunicação e mídias digitais, como o Facebook, Twitter e Instagram.
Para ler, na íntegra, visite: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/12/20/como-tres-mu-
lheres-criaram-o-movimento-global-black-lives-matter-a-partir-de-uma-hashtag.ghtml. 
Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
O documentário está disponível nos streamings e é uma oportunidade para percebermos como 
o direito à igualdade passa pelo direito à diferença.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/12/20/como-tres-mulheres-criaram-o-movimento-global-black-lives-matter-a-partir-de-uma-hashtag.ghtml
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/12/20/como-tres-mulheres-criaram-o-movimento-global-black-lives-matter-a-partir-de-uma-hashtag.ghtml
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Ética e Cidadania
Lutas como as do movimento negro e o combate ao racismo às formas de discrimi-
nação e constituição de relações antirracistas; movimento feminista e as pautas pela 
igualdade de gênero e fim do patriarcado; lutas dos movimentos LGBTQIA+ e a busca 
pela igualdade social e de direitos; pautas que se voltam às questões ecológicas e de 
sustentabilidade; intensas migrações humanas, genocídio de culturas e etnias e diversi-
dade cultural, expandem as noções que se têm dos direitos e deveres de cada um nas 
sociedades contemporâneas globalizadas.
Em uma importante passagem de sua obra, a filósofa Hannah Arendt (1989, p. 332) 
afirma que “[...] a cidadania é a consciência que o indivíduo tem do direito a ter direitos”. 
A era moderna e contemporânea consolidou os direitos fundamentais às pessoas, atri-
buídos a todas elas por sua condição de ser.
Constituiu-se, assim, um pressuposto fundado na igualdade em dignidade dos seres 
humanos. É um valor indispensável para a nossa época, pois nele se abrigam outros, 
como o reconhecimento à diferença e à pluralidade da vida humana. Essa é uma das 
perspectivas que orientam práticas e ideais para os dias atuais, e que servem de mote 
para a criação de relações e realidades mais igualitárias, plurais e justas.
Figura 08. A luta pelos direitos no século XXI
Diversidade de agendas
Novas estratégias
Movimentos globais e 
antiglobalização
Pautas globais e locais
Pautas culturais, 
identitárias e ecológicas
LUTAS PELOS DIREITOS
SÉCULO XXI
As agendas dos movimentosso-
ciais tornaram-se mais diversas e 
plurais e já não se restringem ao 
mundo do trabalho e da economia;
Uso dos meios de comnicação e 
das redes digitais como plataforma 
para as pautas ultrapassarem fron-
teiras geográficas e promoverem 
novas formas de articulação 
e estruturação
A luta por direitos atua tanto local, 
para atender as demandas da 
comunidade, como globalmente, 
questionando práticas e formas de 
vida mundiais.
Lutas que não se vinculam, ex-
clusivamente, às classes sociais, 
mas se transferem para a cultura e 
para as mudanças culturais. 
Diferença e diversidade.
Crítica aos danos e efeitos da 
exploração capitalista global e 
às formas contemporâneas de 
exclusão e marginalidade. 
Fonte: elaborada pela autora.
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
Filme
Como pensamos a dignidade de todo ser humano diante das profundas desigualdades so-
ciais que, ainda hoje, estão fortemente presentes em diferentes sociedades? O filme sul-core-
ano Parasita, de Bong Joon-ho, ganhador do Oscar em 2020, tem como eixo central o olhar 
sobre a desigualdade a partir das diferenças entre classes sociais. Na história, acompanha-
mos o cotidiano da família Kim, família pobre que mora em um porão apertado e enfrenta as 
dificuldades típicas de uma família de baixa renda. Em um movimento do acaso, um dos filhos 
dos Kim passa a trabalhar como professor/tutor na casa de uma família rica. Logo em segui-
da, utilizando uma série de artimanhas e mentiras, o jovem faz com que o chefe empregue 
o restante da sua família. O filme transcorre mostrando as diferentes interações entre esses 
dois universos e de como são afetados de forma distinta pelo mundo externo.
Texto complementar
Reconhecer que a diferença e a diversidade humana são constitutivas das nossas so-
ciedades é um caminho importante para que se reconheça, enfim, a dignidade humana. 
À vista disso, recomendamos a leitura do artigo “Reconhecimento e direito à diferença: 
teoria crítica, diversidade e a cultura dos Direitos Humanos”, de Eduardo Bittar, para 
ampliar a discussão do tema trabalhado nesta unidade.
4. REMEMORANDO AS TEMÁTICAS ESTUDADAS AO LONGO 
DAS UNIDADES
Chegamos ao final de nosso curso após passarmos por distintas reflexões e análises que ti-
veram como temáticas norteadoras a ética e a cidadania em suas mais distintas perspectivas. 
Com projeções de estabelecer uma reflexão final, retomaremos alguns dos tópicos aborda-
dos e, após construir uma breve linha do tempo e do pensamento sobre o assunto, abordare-
mos questões práticas sobre a ética e práticas de cidadania na contemporaneidade. 
Ao longo de nossa trajetória, foram apresentadas algumas perspectivas relacionadas 
a processos interdisciplinares com outras abordagens (Estudo do Ser Humano Con-
temporâneo, Iniciação à Pesquisa Científica, Direitos Humanos e Empreendedorismo) 
e o desenvolvimento de competências e habilidades fundamentais para os processos 
de construção cidadã e profissional. Portanto, conectar experiências pessoas com tais 
abordagens e, partindo dessas conexões, projetar o desenvolvimento de novas compe-
tências educacionais que serão colocadas em práticas se apresentaram como propos-
tas norteadoras tanto para o processo de ensino aprendizado quanto de vivências éti-
cas de cidadania. Neste sentido, essas perspectivas se relacionam diretamente com os 
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, apresentados pela Agenda 2030 
em conexão com as diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU).
Importantes colocações acerca da ética e da moral foram colocadas ao longo de nos-
so aprendizado. Partindo das proposições apontadas, pudemos perceber que, grosso 
modo, enquanto a ética compreende uma proposição de condutas de amplo alcance e 
uma reflexão aprofundada que envolve a coletividade e suas ações, a moral, por sua 
vez, se norteia por regras e tradições transmitidas, por valores que orientam determina-
das pessoas e grupos sociais sem necessariamente passarem por reflexões e análises.
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Uma das temáticas que transpareceu foi a tentativa de se problematizar a relação en-
tre escolhas e ética. Partindo de uma ampla construção teórica, o diálogo recaiu nas 
proposições de pensamento acerca das escolhas éticas ao longo de nossa existência. 
Distintas formas de se apreender e perceber o mundo, desde a antiguidade até a 
contemporaneidade foram discutidas e, dessa forma, proposições práticas foram sus-
citadas. Diante de tais construções, a temática ganhou desdobramentos apontando 
uma articulação importante entre ética e liberdade, mas também sobre os processos 
decisórios e as escolhas responsáveis. Relações como ética, indivíduo e coletividade 
ganharam corpo, principalmente nas colocações de Jean Paul Sartre e, para além de 
tais apontamentos, a relação entre a ética e o capitalismo, sistema econômico vigente 
na atualidade, foi colocada em questão. Por fim, um importante conceito foi destaca-
do, o de banalidade do mal, elaborado pela filósofa alemã Hanna Arendt e, partindo 
dele, a relação estabelecida entre seguir a lei e o bem coletivo e dos indivíduos, em 
muitas situações, suscita leituras e posicionamentos éticos, ainda que discordantes 
dos pressupostos legais impostos.
Com a compreensão bem delineada dos conceitos éticos para a filosofia ao longo da 
história, a temática que engloba ética e cidadania foi articulada à uma importante esfera 
de nossas vidas sociais: o mundo do trabalho. Ser um profissional ético é um importante 
elemento em nossas trajetórias profissionais e, tal proposição, demanda uma forma-
ção ética aprofundada, que se apresenta como uma das proposições de nosso curso. 
Cabe destacar que todo o sistema educacional brasileiro tem como proposições formar 
nossos jovens para a cidadania e o mundo do trabalho e um dos parâmetros para se 
atingir tal objetivo perpassa as discussões sobre ética, moral e a sociedade com suas 
diretrizes individuais e coletivas. Diante desses pontos, um prosseguimento interessan-
te é dado ao se abordar a questão da necessidade de regras morais. Articulando regras 
individuais, sociais e profissionais, a unidade visa estabelecer uma leitura crítica e de 
constante reflexão e análise sobre tais relações, sempre colocando em destaque a for-
ma como todos nós nos apresentamos e nos portamos em sociedade.
No entanto, na atualidade, não basta abordarmos apenas a sociedade em suas con-
cepções físicas, é preciso trazer para a discussão os espaços virtuais que as novas 
tecnologias têm nos permitido vivenciar. Neste sentido, buscamos refletir sobre os 
avanços da sociedade tecnológica digital pontuando questões éticas, morais e pro-
fissionais ao questionar se há limites naquele universo virtual. Tais questionamentos 
demandaram uma melhor compreensão de direitos e deveres assegurados, ou seja, 
de uma leitura mais cuidadosa sobre nossa condição cidadã na atualidade. Ao esta-
belecer um breve histórico das distintas formas de se conceber a cidadania ao longo 
dos tempos, nossos estudos procuraram avançar até os dias atuais e, dessa forma, 
levantar importantes reflexões sobre o acesso aos direitos dos cidadãos, ou seja, da 
possibilidade de se exercer uma cidadania plena, que como destacamos acima, com-
preende uma das diretrizes do sistema educacional brasileiro, formar nossos jovens 
para se tornarem cidadãos plenos de direito.
Nossas temáticas nos conduziram com problematizações e análises profundas e um 
outro ponto foi posto em reflexão: o espaço da cidadania, tendo como parâmetro nor-
teador, mais uma vez, as relações entre ética, cidadania e mundo do trabalho. Correla-
cionando o espaço da cidadania a uma perspectiva individual e coletiva, a abordagem 
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
trouxe importantes reflexões sobre práticas cidadãs e exercício de direitos por parte dos 
indivíduos que compõem uma sociedade. Esta concepção é expandida para preocupa-
ções com uma prática cidadã e ética que abarque, também, a questão ambiental, foram 
apresentadas. O tema, desde a apresentação inicial vinha perpassando as discussões 
anteriores, desde a apresentação dos objetivos para o desenvolvimento sustentável 
na unidade um. Ao longo do curso tais temáticas foram aprofundadas, trazendo à tona 
problemáticas atuais, como as questões ambiental e animal. Ao se pensar direitos e 
deveres, ética, moral, etc., nós estamos falando apenas da espécie humana? Qual seria 
o parâmetro adotado para se excluir os demais seres vivos de tais questões? Apenas 
o aspecto cognitivo? Abrir-se para tais reflexões, como destacado, é estabelecer uma 
leitura ética diante do mundo que nos cerca e com o qual interagimos e dependemos.
Outro ponto fundamental quando se põe em pauta ética e cidadania é a questão das 
desigualdades raciais no Brasil. Neste sentido, foi necessário trazer para a discussão o 
conceito de raça e aprofundar a problemática do racismo em nossa sociedade. Partin-
do de tais pressupostos, nosso curso visou refletir sobre a cidadania em um país com 
uma profunda desigualdade racial, aspecto que impacta as relações sociais, incluindo 
as relações do mundo do trabalho. Ainda, procurou-se problematizar o racismo estru-
tural no Brasil, em suas mais diversas frentes. No mesmo seguimento, as discussões 
apontadas levaram à necessidade primordial de se abordar e estabelecer alguns apon-
tamentos sobre questões de gênero, principalmente em sua relação com o mundo do 
trabalho. Ao introduzir o conceito e apresentar suas definições e diferenciações, proje-
tando as diferenças biológicas e socioculturais, nosso curso teve como intuito refletir 
sobre um dos aspectos que demarcam profundas desigualdades em nossa sociedade. 
Importante destacar que, a interseccionalidade entre gênero, raça e classe, abarcam 
as mais profundas desigualdades no Brasil na atualidade e, por tais motivos, suscitam 
importantes reflexões e ações que promovam posturas de respeito, pautadas por prin-
cípios éticos e cidadãos. 
Outro ponto de destaque foi a importância das lutas por igualdade e cidadania que ain-
da persistem na atualidade. Tendo como parâmetros o reconhecimento das diferenças 
e da representatividade de grupos minoritários, visou-se refletir sobre as projeções fu-
turas para a constituição de uma sociedade mais justa e igualitária, com espaço para o 
exercício de uma cidadania plena e, também, para a possibilidade de interações éticas, 
tanto no mundo social quanto no universo profissional.
Ao chegarmos à esta última unidade, com tantos referenciais em mente e com a pos-
sibilidade de colocá-los em prática, nós realizaremos agora uma elaboração pessoal e 
profissional importante: missão, visão e valores.
5. REFLEXÕES ÉTICAS, PRÁTICAS DE CIDADANIA: 
CONSTRUÇÕES DO FUTURO
As práticas de cidadania, na atualidade, vão muito além do exercício do voto. Participar 
ativamente dos eventos e dilemas que se apresentam são fundamentais para cons-
truirmos uma sociedade que compreenda interesses coletivos e individuais, mas que 
também seja capaz de manter posturas éticas em relação ao mundo que nos cerca, 
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levando em consideração, por exemplo, os direitos humanos e práticas de desenvolvi-
mento sustentável. Neste sentido, por exemplo, “hoje pode-se afirmar que a realização 
plena e não apenas parcial dos direitos da cidadania envolve o exercício efetivo e am-
plo dos direitos humanos, nacional e internacionalmente assegurados.” (PIOVESAN, 
Flávia. Cidadania Global é possível? IN: PINSKY, Jaime (org.). Práticas de cidadania. 
São Paulo: Contexto, 2004, p. 266.)
Um dos elementos norteadores para a adoção de práticas éticas, de cidadania e de cons-
trução sustentável de futuro podem ser apresentadas por meio da elaboração de um pa-
râmetro que compreenda: missão, visão e valores. Trata-se de termos importantes dentro 
do universo empresarial e profissional e, muitas vezes, encontram-se destacados nossites das empresas, mas que também podem servir como referenciais pessoais.
É partindo dos apontamentos das unidades e dos elementos destacados até agora que 
vocês irão definir, portanto, as diretrizes pessoais e profissionais de vocês, tendo como 
referencial posturas éticas e práticas cidadãs, nossos temas norteadores. É importante 
ainda, ao longo do processo de elaboração, levar em consideração que 
“uma pergunta fundamental deve ser feita: que mudanças implicam a ado-
ção da sustentabilidade socioambiental como qualidade intrínseca de um 
novo ciclo de desenvolvimento? E se queremos – e acreditamos ser possí-
vel – outro tipo de desenvolvimento, é imperioso reconhecer que, mais do 
que características técnicas, seu diferencial será a ética pública, os limites 
e as condições por ela colocados.” (SILVA, Marina. Ecologia, Cidadania e 
Ética. IN: PINSKY, Jaime (org.). Práticas de cidadania. São Paulo: Con-
texto, 2004, p. 274.)
Complementando os questionamentos apontados acima, devemos retomar o quadro 
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável apresentados na unidade 1.
Figura 09. Mapa mental – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Fonte: elaborado pelo autor.
Ética e CidadaniaMundo Virtual
Escolhas
Liberdade
Leis
Questão Racial
Desigualdade Racismo
Moral
Regras
Valores
Tradições
Estrutural
Desigualdade
Indivíduo
Profissional
Missão
Visão
Valores
Gênero
Construção sociocultural
Espaços de Cidadania
Direitos Humanos
Meio Ambiente Humanidade
Ética Animal
Diferenças
Sexo Biológico
Desigualdade
Mundo do Trabalho
Capitalismo e Desenvolvimento SustentávelLutas sociais
Respeito às Diferenças
Interseccionalidade
Individuais Coletiva
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
Para relembrar os 17 ODS, leia: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs 
A Universidade São Francisco, aponta os seus direcionamentos institucionais da seguinte forma: 
 ` “Missão: Educar para a paz e o bem, com excelência acadêmica, pluralismo, inovação 
e sustentabilidade. 
 ` Visão: Ser reconhecida nacionalmente pela excelência acadêmica, pela promoção da 
inovação sustentável, do desenvolvimento regional, da justiça e da paz. 
 ` Valores: Educação Integral Transformadora, Humanismo Solidário, Respeito à Diversida-
de e Inovação Sustentável.”
SAIBA MAIS
PARA REFLETIR
A título de exemplo e para o conhecimento de vocês sobre a nossa instituição, destaca-
mos o quadro de missão, visão e valores da Universidade São Francisco.
Agora, em vias de conclusão, chegamos ao momento de reflexão e prática. 
O primeiro passo que vamos seguir é definir a missão individual de vocês, aquela motiva-
ção que lhes é intrínseca, que os move. Por missão, devemos partir de alguns questiona-
mentos: é importante refletir sobre qual seria a sua missão, ou seja, qual o sentido de todas 
as atividades que vocês fazem no dia a dia. Reflita e responda: quais são os seus objetivos 
mais profundos diante dessa missão. Após refletirem, é o momento de condensar as ideias 
em uma única frase. 
O segundo apontamento deve ser a visão. Ela estabelece onde vocês gostariam de es-
tar no futuro, realizando quais projetos e em que condições, como vocês gostariam de se 
ver. Aponte destacadamente que tipo de cidadão e profissional vocês gostariam de se tor-
nar. Neste ponto, após apontarem de forma solta tais respostas, vocês precisam juntar as 
informações em uma sentença.
Por fim, mas extremamente importante, chegamos aos valores. Que valores éticos e morais 
vocês valorizam em vocês e nas pessoas? Quais valores são importantes para vocês em 
suas vidas pessoais e profissionais, mas também, em relação às práticas cidadãs e susten-
táveis? Os valores adotados serão norteadores das ações que vocês praticarão para efetivar 
a missão e a visão elaboradas acima. Reflita sobre as palavras apontadas, releia a missão 
e a visão desenvolvidas e, partindo delas, estabeleça de forma clara os valores que são im-
prescindíveis para vocês em suas trajetórias pessoais e profissionais. 
Vamos Praticar!
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
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Para ficar mais fácil de visualizar, complete o quadro abaixo, relacionado ao desenvolvimento 
das competências de vivência ética e cidadã.
Minha missão
Minha visão
Meus valores
Dessa forma, chegamos à conclusão de nossa elaboração. No entanto, é importante des-
tacar que, nenhum desses itens, missão, visão e valores, são imutáveis. Eles podem ser 
repensados e modificados ao longo de suas trajetórias. Muitos saberes e trocas ainda com-
porão a vida de vocês e eles podem vir a fazer parte de elaborações futuras. Lembrem-se, 
nós caminhamos em direção aos nossos sonhos e projetos e todo o caminhar é composto 
de aprendizado, por isso, muitas vezes os horizontes e caminhos escolhidos podem se mo-
dificar. Como pontuou o poeta espanhol Antonio Machado, “caminhante não há caminho, se 
faz caminho ao andar...”. 
A todos vocês, muito sucesso, e que suas caminhadas pessoais e profissionais sejam ba-
seadas em proposições éticas e cidadãs, repletas de empatia e alteridade, além de muito 
respeito às diferenças.
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/estudo-revela-tamanho-da-desigualdade-de-genero-no-mercado-de-trabalho
	Ética – sua essência e o cotidiano
	1. ÉTICA MORAL
	2. APRENDENDO A DECIDIR COM ÉTICA
	3. SENDO ÉTICO NO DIA A DIA
	Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
	1. O QUE SIGNIFICA SER PROFISSIONAL?
	2. A NECESSIDADE DE REGRAS MORAIS
	3. SOCIEDADE TECNOLÓGICA E DIGITAL
	Vivência profissional e 
construção da cidadania
	1. CIDADANIA ONTEM E HOJE
	2. O ESPAÇO DA CIDADANIA
	3. É PRECISO CUIDAR!
	O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
	1. SER DIFERENTE É SER DESIGUAL?
	2. A PROFISSÃO NÃO TEM GÊNERO
	3. ENFIM, UMA SOCIEDADE POSSÍVEL
	4. REMEMORANDO AS TEMÁTICAS ESTUDADAS AO LONGO DAS UNIDADES
	5. REFLEXÕES ÉTICAS, PRÁTICAS DE CIDADANIA: CONSTRUÇÕES DO FUTURO
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	_Hlk102991740
	_Hlk102997152
	_Hlk101270290
	_Hlk103000377
	_Hlk102990077
	_Hlk102990442
	CAPA_EeC.pdf
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	1. ÉTICA MORAL
	2. APRENDENDO A DECIDIR COM ÉTICA
	3. SENDO ÉTICO NO DIA A DIA
	Atuação Profissional Ética na Sociedade Contemporânea
	1. O QUE SIGNIFICA SER PROFISSIONAL?
	2. A NECESSIDADE DE REGRAS MORAIS
	3. SOCIEDADE TECNOLÓGICA E DIGITAL
	Vivência profissional e 
construção da cidadania
	1. CIDADANIA ONTEM E HOJE
	2. O ESPAÇO DA CIDADANIA
	3. É PRECISO CUIDAR!
	O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
	1. SER DIFERENTE É SER DESIGUAL?
	2. A PROFISSÃO NÃO TEM GÊNERO
	3. ENFIM, UMA SOCIEDADE POSSÍVEL
	4. REMEMORANDO AS TEMÁTICAS ESTUDADAS AO LONGO DAS UNIDADES
	5. REFLEXÕES ÉTICAS, PRÁTICAS DE CIDADANIA: CONSTRUÇÕES DO FUTURO

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