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COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E PESQUISA DE MERCADO Profa. Dra. LILIAN CARVALHO Reitor Márcio Mesquita Serva Vice-reitora Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Pró-Reitor Acadêmico Prof. José Roberto Marques de Castro Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitor Administrativo Marco Antonio Teixeira Direção do Núcleo de Educação a Distância Paulo Pardo Coordenadora Pedagógica do Curso Inserir nome da coordenadora responsável Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico B42 Design *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Universidade de Marília Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 CEP 17.525–902- Marília-SP Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia 005 Aula 01: 013 Aula 02: 021 Aula 03: 028 Aula 04: 035 Aula 05: 041 Aula 06: 049 Aula 07: 058 Aula 08: 062 Aula 09: 068 Aula 10: 076 Aula 11: 083 Aula 12: 091 Aula 13: 096 Aula 14: 102 Aula 15: 110 Aula 16: Introdução à Pesquisa de Mercado e ao Comportamento do Consumidor Definição do Problema de Pesquisa Concepções de Pesquisa: Métodos Quantitativos, Qualitativos e Mistos Pesquisa Exploratória Pesquisa Descritiva Pesquisa Causal Elaboração de Questionários e Formulários Psicologia do Consumo Percepção Aprendizagem Motivação Personalidade Atitudes e Persuasão Tomada de Decisão Individual Culturas e Subculturas: Renda, Classe Social, Idade, Étnicas, Raciais e Religiosas Aplicação da Pesquisa de Mercado no Entendimento das Tendências de Consumo Introdução Olá, alunos! Esta disciplina trata de como conhecer o comportamento do consumidor por meio da pesquisa de mercado, e é importante conhecer o comportamento do consumidor porque as empresas precisam criar produtos e serviços que atendam às necessidades de seus consumidores. Então, como conhecer as necessidades dos consumidores? A pesquisa de mercado dará essas informações. A pesquisa de mercado pode ser realizada com dados coletados diretamente do consumidor ou por meio das “pistas” que ele deixa na Internet. Além disso, a pesquisa serve para explorar novas ideias, descrever o que acontece ou verificar relações de causa e efeito. Como os consumidores tomam decisões? O que os afeta? O estudo do comportamento do consumidor nos mostra que a cultura, a personalidade, os cinco sentidos, tudo afeta como os consumidores constroem suas preferências. Espero que você aproveite essa jornada comigo! 4 01 Introdução à Pesquisa de Mercado e ao Comportamento do Consumidor 5 Olá, alunos! A partir de agora, você vai entender como a pesquisa de mercado auxilia os profissionais de marketing a mapearem e preverem o comportamento dos consumidores, de forma a customizar suas ofertas para alcançar melhores resultados. Vamos lá? Por que Estudar Comportamento do Consumidor? Se você tem mais de 30 anos, deve se lembrar de uma época em que a internet não existia no nível mundial. Imagine que você estivesse estudando, por exemplo, a queda do Império Romano para um trabalho de escola. Como você obteria fontes sobre esse assunto? Era preciso buscar informações em fontes confiáveis. Normalmente, na época pré-internet, alunos buscariam essas informações em uma enciclopédia. 6 Imagem 1 - Enciclopédia Fonte: Disponível aqui Com a universalização da internet, as empresas (editoras) que produziam as enciclopédias precisaram se reinventar. As que não fizeram o “trabalho de casa” faliram. É importante, para as empresas, como foi para as editoras que produziam enciclopédias, manterem-se a par das tendências e preferências do comportamento dos seus consumidores. Sem o mapeamento dessas preferências e dessas tendências, a empresa se torna muito vulnerável às ameaças de novos concorrentes e corre o risco de se tornar obsoleta. Além disso, estudar o comportamento do consumidor é o melhor jeito de criar novos produtos e serviços para aumentar o faturamento e o resultado do seu negócio. Sem essa análise, a empresa não consegue conquistar uma vantagem competitiva sustentável. 7 Acesse o link: Disponível aqui Como a Wikipédia destruiu a Enciclopédia Britânica Em 2012, a Enciclopédia Britânica anunciou que iria parar de imprimir os livros físicos da enciclopédia e passar a entregar o conteúdo de forma totalmente digital. Quem foi responsável por essa mudança? Primeiramente, a internet deixou os conteúdos acessíveis de forma fácil e gratuita. Além disso, as ferramentas de busca, como o Google, tornaram a busca de informações muito mais fácil e rápida. Imagine quanto custava, em tempo e custos de deslocamento, buscar informações em uma enciclopédia que só estaria disponível em uma grande biblioteca de universidade. Mas o último prego no caixão das enciclopédias foi a criação da Wikipédia, em 2003. A Wikipédia é uma plataforma colaborativa de conteúdo, e apesar de estar sempre sujeita ao ataque de pessoas mal-intencionadas, o conteúdo dela é 98% correto, cientificamente, se comparado com o conteúdo de livros-textos. Ou seja, a Wikipédia consegue, de forma gratuita, oferecer conteúdo profundo, de qualidade, e correto de uma forma que a Enciclopédia Britânica nunca conseguiu. O que é o Comportamento do Consumidor Segundo Solomon (2016), comportamento do consumidor é “o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos e grupos selecionam, compram, usam ou descartam produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer às necessidades e desejos”. 8 Fonte: Adaptado de Kotler e Keller (2016). Essas definições, necessidades, desejos e demandas são importantes para entendermos as diferentes características do comportamento dos consumidores. Veja no diagrama abaixo: Essas definições são importantes, pois muitos jornalistas e leigos dizem que “profissionais de marketing criam necessidades desnecessárias”. Na verdade, os profissionais de marketing trabalham com as necessidades dos clientes, como comunicação, por exemplo, e criam marcas que são desejadas, como o iPhone, para que consumidores com renda disponível possam demandá-los. As pessoas têm necessidade de se comunicar com seus amigos e familiares, o iPhone é uma marca desejada por muitos pelo seu design e qualidade, de forma que muitos consumidores demandam o produto, mesmo com o alto preço, para satisfazer a seus desejos e necessidades. Dessa forma, considere que o estudo do comportamento do consumidor visa descobrir como os consumidores se comportam em relação às suas necessidades, desejos e capacidade de pagamento. Da perspectiva do profissional de marketing, é importante segmentar os consumidores para poder ofertar produtos e serviços a grupos que possam consumir. Segundo Kotler e Keller (2016), existem quatro tipos principais de segmentação: Quando utilizamos a segmentação geográfica dividimos nosso público em territórios. Por exemplo, uma empresa que atenda somente a região Nordeste do Brasil está operacionalizando a segmentação geográfica. 9 A segmentação demográfica divide o mercado da empresa em variáveis como: gênero, idade, renda, grau de escolaridade, raça, nacionalidade, classe social, religião, ocupação, tamanho da família e ciclo de vida da família. O ciclo de vida da família refere-se às diferentes necessidades por que uma pessoa passa dependendo da fase em que sua família está. Por exemplo, pessoas solteiras e que moram sozinhas têm necessidades e desejos em comum com idosos morando sozinhos, como refeições menores. Na segmentação psicográfica os profissionais de marketing utilizam escalas psicométricas, pertencentes à área da psicologia que classifica diversos grupos de pessoas com base em características de valores ou de personalidade.A segmentação comportamental divide os consumidores em grupos, de acordo com o conhecimento, uso ou atitude em relação ao produto. Um consumidor que compra um produto com muita frequência pode ser chamado de fiel e, assim, possui grande simpatia pelo produto, e a empresa deve fazer de tudo para não o perder. Na aula 15, voltaremos ao assunto de segmentação e dos comportamentos associados aos diferentes grupos. Mas, antes disso, no tópico seguinte, vamos aprender como acessar informações sobre o comportamento do consumidor: por meio da pesquisa de mercado. Pesquisa de Mercado Trata-se de uma ferramenta para entender o comportamento do consumidor. Muitos alunos acreditam que pesquisa de mercado significa elaborar um questionário e perguntar diretamente aos clientes como eles gostariam de ser atendidos e o que acham dos produtos da empresa. Pesquisa de mercado pode ser isso, mas há muitos outros elementos que nos conduzem a informações melhores e que podem se tornar verdadeiras pérolas na estratégia de uma empresa. A pesquisa de marketing é, segundo Kotler e Armstrong (2016, p. 87), “a elaboração, coleta, análise e registros sistemáticos de dados relevantes sobre uma situação específica de marketing com a qual uma organização se depara”. 10 Para elaborar uma boa pesquisa de mercado, que ajude realmente a empresa a tomar decisões acertadas, é preciso primeiro, diferenciar dados primários de dados secundários: Dados primários: são informações coletadas especialmente para aquela pesquisa; Dados secundários: são informações que existem atualmente em algum lugar que podem auxiliar a empresa a conhecer melhor seu ambiente ou cliente. Dependendo do que a empresa quer conhecer, não será possível obter as informações por meio dos dados secundários. Mas, ainda assim, muitos dados secundários estão disponíveis nos bancos de dados internos à empresa e são muito valiosos para que se conheça o cliente ou a performance da empresa no mercado. São eles: Resultados de vendas; Atividades de Marketing; Informações de custo; Relatórios de distribuidores; Feedback dos consumidores (por meio do SAC – serviço de atendimento ao cliente, ou vendedores das lojas). 11 Caso os profissionais de marketing decidam que o planejamento da pesquisa exija a coleta de dados primários é preciso seguir o planejamento de coleta de dados primários proposto por Kotler e Keller (2016): Tabela 1 – Planejamento da coleta de dados primários Fonte: Kotler e Keller (2016). Abordagem da pesquisa Métodos de contato Plano de amostragem Instrumentos de pesquisa Observação Correio Unidade de amostragem Questionário Levantamento Telefone Tamanho da amostra Instrumentos mecânicos Pesquisa experimental Entrevista pessoal Procedimento de amostragem Internet Quando o profissional de marketing desenvolve uma pesquisa, seja com dados primários ou secundários é importante que se leve em consideração procedimentos de ética em pesquisa. Não é possível que o profissional planeje a pesquisa de modo que ele garanta o resultado desejado. É preciso que o profissional planeje as questões do questionário ou a coleta de dados secundários de forma que os resultados reflitam a realidade. Dessa forma, a empresa garantirá um curso de ação eficaz que realmente leve a uma melhor competitividade face aos concorrentes. Na próxima aula, começaremos nosso estudo sobre a pesquisa de mercado. Nas unidades 2 a 7, nos aprofundaremos no tema para que você consiga, de forma prática, aplicar as ferramentas de pesquisa de mercado na sua realidade profissional. 12 02 Definição do Problema de Pesquisa Figura 1 - Diagrama do processo de pesquisa de marketing Fonte: A autora. Olá a todos! A partir daqui, vamos focar no processo e na prática de pesquisa de mercado. Na aula anterior, vimos os tipos de dados (primários x secundários) e por que usar a pesquisa para conhecer melhor o comportamento do consumidor. Definição do Problema de Pesquisa O processo de pesquisa segue o fluxo representado na figura 1. A primeira etapa, que trataremos com mais profundidade nesta aula, é a definição do problema de pesquisa. Segundo Malhotra (2001), “a definição do problema envolve o enunciado do problema geral de pesquisa de marketing e a identificação de seus componentes específicos”. 14 Sem a definição clara e objetiva do problema de pesquisa, os profissionais de marketing podem buscar objetivos que não são alcançáveis, ou ainda, não perceber as reais causas de seus resultados de marketing. A definição do problema de pesquisa é a principal fase da pesquisa de marketing, sem ela, todas as fases seguintes podem ser prejudicadas por um problema mal delineado. Para melhor definir o problema de pesquisa é preciso que os profissionais de marketing sigam alguns passos. A primeira tarefa é conversar com os tomadores de decisão. É importante conversar com os gerentes de marca, sócios de empresa, vendedores, para conhecer como as decisões são tomadas para que os pesquisadores conheçam as origens dos problemas (MALHOTRA, 2001). Outra tarefa que pode auxiliar a definição do problema de pesquisa é conversar com especialistas de mercado. Por exemplo, um supermercado que tem dificuldades de vender itens de maior valor no seu setor de bebidas, como whisky, vodka premium, etc., pode conversar com especialistas em bebidas para entender o que faz os consumidores comprarem (ou não) esses produtos de preço premium. Outra análise que pode ajudar a delinear o problema de pesquisa é a análise de dados secundários (MALHOTRA, 2001). Dados secundários, como vimos na aula anterior, são dados que existem atualmente, para outro fim, que podem auxiliar a empresa a conhecer melhor seu negócio. Por exemplo, se uma empresa diz que uma marca não está performando bem, é possível verificar, pelos dados de vendas da 15 própria empresa, segmentados por tipo de cliente, ou por região geográfica, se a marca consegue performar bem em algumas regiões, mas não em outras, e tentar identificar as causas dessa preferência com a pesquisa de dados primários. Limeira (2008) identifica algumas fontes de dados secundários que podem ser importantes para os profissionais de marketing: 16 Tabela 2 - Exemplos de fontes de dados secundários Fonte Site Dados para marketing IBOPE http://www.ibope.com.br/ Pesquisas de audiência, opinião pública, consumo, mercado, etc. IBGE https://www.ibge.gov.br/ Informações sobre a população, a economia brasileira, e até dados sobre a geociência do país Associações Setoriais https://portal.febraban.org.br/ http://www.abinee.org.br/ https://acsp.com.br/ https://abihpec.org.br/ Febraban - dados sobre setor bancário Abinee - dados sobre o segmento elétrico e eletrônico Acsp - Associação comercial de São Paulo, d d 17 indicadores do comércio Abihpec - dados sobre a indústria de beleza e cosméticos Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) https://www.seade.gov.br/ Indicadores econômicos e sociais do estado de São Paulo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) https://www.bndes.gov.br/ Estudos e publicações técnicas sobre a economia brasileira Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) https://www.ipea.gov.br/portal/ Dados sociais e econômicos Órgãos do Governo https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae http://www.inep.gov.br/ Dados específicos de setores de atividades em que a fonte é restrita aos órgãos do governo Universidades e https://www5.usp.br/ Dados, 18 Fonte: Adaptado de Limeira (2008). fundações www.fgvsp.br indicadores de pesquisas sobre economia, sociedade, mercados, avanços tecnológicos, entre outros Por último, para melhor delinear o problema de pesquisa, uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória pode auxiliar os profissionais de marketing a melhor entender as razões de como, e por que, um determinado comportamento está ocorrendo. O shampoo Seda sempre foi uma marca reconhecida pelos consumidores brasileiros. Mas, em 2009, os executivos da Unilever (a empresa que produz amarca Seda) estavam perdendo espaço no mercado. Dessa forma, o problema de pesquisa “Por que a marca Seda está perdendo participação de mercado?” foi estabelecido e os executivos foram a campo. Por exemplo, em um teste cego, i.e. ao utilizar o produto sem saber da marca, os consumidores avaliavam bem o produto. Mas, quando a marca era revelada, os consumidores a avaliavam como de “segunda linha” ou “muito popular”. Os consumidores de Seda sempre foram da classe C e, em 2009, durante o boom econômico brasileiro, possuíam renda disponível e queriam utilizar produtos “premium”, de preferência de marcas internacionais. Esses dados de pesquisas quantitativas e qualitativas foram utilizados para reformular a embalagem e a marca, dando origem à linha “Seda Cocriações”, que contava com a assinatura de cabeleireiros internacionais. 19 Outras Etapas do Processo de Pesquisa Tendo analisado em profundidade como definir o problema de pesquisa de forma eficaz e assertiva, podemos passar para as próximas etapas, que servirão para qualquer concepção de pesquisa (MALHOTRA, 2001): o desenvolvimento da abordagem de pesquisa, ou seja, se serão utilizados métodos quantitativos, qualitativos ou mistos; na formulação da concepção da pesquisa, é preciso criar uma estrutura de pesquisa. Por exemplo, será feita uma fase exploratória qualitativa e depois uma fase quantitativa por meio de questionários? E os questionários serão administrados por telefone, correio, on-line? Essa é a estrutura de pesquisa que deve ser decidida pelos profissionais de marketing; o trabalho de campo é a execução da concepção de pesquisa. Seguir os planos de amostragem, de seleção, treinamento e supervisão dos entrevistadores no campo também faz parte do trabalho de campo; preparação e análise dos dados envolve, no caso de pesquisas qualitativas, a análise do conteúdo e criação de categorias relevantes. Nas pesquisas quantitativas, pode envolver a análise descritiva dos dados e teste de hipóteses, dependendo do plano delineado na concepção da pesquisa; ao final, a apresentação dos relatórios e dos resultados de forma que a gerência ou os tomadores de decisão possam seguir os passos necessários para a resolução do problema gerencial. 20 03 Concepções de Pesquisa: Métodos Quantitativos, Qualitativos e Mistos Na aula anterior, vimos que antes de coletar os dados e após a concepção da pesquisa, precisamos definir o método (ou métodos) de pesquisa. Eles podem ser quantitativos, qualitativos ou uma mistura dos dois. Vejamos, primeiramente, os métodos qualitativos. Métodos Qualitativos de Pesquisa Os métodos qualitativos, segundo Limeira (2008), podem ser utilizados na pesquisa exploratória e na pesquisa descritiva, a depender do problema de pesquisa, e envolve a coleta de dados qualitativos, ou seja, o discurso, as falas, os termos, as percepções dos consumidores para um entendimento mais profundo sobre o que está sendo investigado. Nos métodos qualitativos, não se faz uma amostragem dos entrevistados, mas sim, um plano de quem e como abordar, para que tenhamos uma cobertura e entendimento do panorama de pesquisa. Aqui, como exemplo, vamos falar das abordagens possíveis no método qualitativo (LIMEIRA, 2008): Entrevistas em profundidade: consistem em entrevistas individuais, que podem ser estruturadas ou não, por meio de um roteiro, para investigar as motivações, atitudes, crenças dos consumidores; Grupos de foco: quando não é possível contactar com os consumidores um a um, o grupo de foco pode ser mais indicado - com pequenos grupos, e um pesquisador no papel de moderador, promovendo uma conversa sobre um ou mais temas relevantes ao problema de pesquisa; Observação: a observação qualitativa pode ser direta participante, ou seja, com um pesquisador observando e participando do dia a dia de um consumidor ou consumidores, de forma a entender seu comportamento, ou ainda, pode ser uma observação indireta e não participante, por exemplo, filmando (com consentimento) o comportamento dos participantes, para entender suas ações; 22 Etnografia: a etnografia é uma imersão na cultura do consumidor e, segundo Limeira (2008), pode ser um rico instrumento para o mapeamento do universo simbólico e práticas de consumo. Possibilita o entendimento dos valores dos consumidores e da sua (sub)cultura como um todo. Acesse o link: Disponível aqui Gostaria de conhecer um estudo etnográfico em marketing? Esse artigo investiga a prática dos “rolezinhos” em shoppings como uma expressão do consumo de uma parte da população. Para Serapioni (2000), as características dos métodos de pesquisa qualitativos são: São métodos holísticos, que consideram uma realidade dinâmica; São subjetivos e pressupõem a imersão do pesquisador no seu objeto de pesquisa; Analisam o comportamento humano com profundidade, de forma não controlada. Os métodos qualitativos, dessa forma, são melhores aplicados quando o objeto de estudo não é bem conhecido, ou em áreas em que não se tem um grande aprofundamento teórico, ou ainda, o pesquisador não sabe, com certeza, o que está buscando (SERAPIONI, 2000). 23 Métodos Quantitativos de Pesquisa Os métodos quantitativos, segundo Serapioni (2000), buscam a magnitude e a causa de fenômenos sociais, e utilizam procedimentos controlados. Os métodos quantitativos podem utilizar dados primários ou dados secundários. Neste capítulo, vamos focar nos métodos que coletam dados primários. Esses dois métodos serão explorados em profundidade na aula 5 (pesquisa descritiva) e no capítulo 6 (pesquisa causal). O método de levantamento (em inglês, survey), segundo Limeira (2008), propõe-se a obter medidas quantificáveis de “características, comportamentos, atitudes e opiniões de consumidores ou dos concorrentes, formadores de opinião, outras pessoas e eventos de relevância para os objetivos de pesquisa”. A coleta é feita por meio de questionários estruturados, com questões fechadas e, normalmente, com uso de escalas (veremos mais sobre o assunto na aula 7). 24 Imagem 2 - Exemplo de questionário Fonte: Disponível aqui 25 Questões abertas são utilizadas em métodos qualitativos de pesquisa e visam estimular o respondente a elaborar a subjetividade e a aprofundar o entendimento sobre um assunto. Exemplos de questões abertas: “Por que você consome marca X”?, “Quais seus sentimentos em relação à loja Y?” Questões fechadas são utilizadas em questionários e visam à padronização das respostas, de forma a obter dados quantificáveis. Exemplos de questões fechadas: Qual seu sexo? ( ) Masculino ( ) Feminino Qual a sua faixa etária? ( ) Até 21 anos ( ) De 22 a 35 anos ( ) De 36 a 50 anos ( ) Maior que 51 anos Os experimentos são pesquisas quantitativas que visam estabelecer uma relação de causa e efeito entre as variáveis. Segundo Vieira (2002), na pesquisa experimental manipula-se um aspecto da realidade e a causalidade pode ser concluída quando, entre as variáveis de causa e efeito, observa-se a variação concomitante. Por exemplo, no artigo de Miranda e Araújo (2012), os autores fazem um experimento no qual manipulam a fragrância de um quarto de hotel e a percepção dos consumidores sobre a qualidade do ambiente, e foi verificado que o estímulo (fragrância) aumenta a percepção de qualidade do hotel. 26 Quando o problema de pesquisa é complexo ou não é conhecido em sua totalidade, é necessário utilizar métodos mistos, ou seja, qualitativos e quantitativos. Por exemplo, quando uma empresa percebe que suas vendas estão caindo, mas não tem nenhuma indicação das razões, pode começar a coleta de dados por meio de observações de consumidores no ponto de venda, entrevistando os vendedores e alguns consumidores para tentar entender as razões da queda das vendas. Se os dados apontarem que os produtos são difíceis de se encontrar na loja, é possível seguir a coleta qualitativa por um experimento, manipulando diferentes localizações dos produtos na loja e verificando o efeito nas vendas. Se a manipulação for bem-sucedida, pode-se implementar umanova estratégia de promoção no ponto de vendas com um layout mais assertivo, de forma a aumentar as vendas. 27 04 Pesquisa Exploratória Olá a todos! Começamos nossa jornada pelos tipos de pesquisa, primeiramente pela pesquisa exploratória qualitativa. Segundo Malhotra (2001), a pesquisa qualitativa é uma “metodologia de pesquisa não estruturada e exploratória baseada em pequenas amostras que proporcionam percepções e compreensão do contexto do problema”. A pesquisa qualitativa exploratória permite ao pesquisador utilizar um método não estruturado para obter uma melhor compreensão sobre um fenômeno, por exemplo, problema de pesquisa que não está totalmente delineado. Em Porpino, Carvalho e Abdalla (2013), os autores fazem uma pesquisa qualitativa exploratória sobre os significados da utilização das marcas Abercrombie e Hollister por jovens universitários brasileiros. As marcas Abercrombie e Hollister não são vendidas no Brasil por suas empresas produtoras, ao invés disso, os consumidores devem adquiri-las em viagens internacionais ou contar com o trabalho de “sacoleiros”, ou ainda, comprar produtos “pirateados” em locais de comércio popular. Os pesquisadores não sabiam por onde começar a pesquisa, nem os significados que as marcas poderiam ter na mente dos consumidores. A pesquisa concluiu que as marcas têm significados diferentes para os consumidores de alta e baixa renda. Para a alta renda, as marcas representam conexão com os países visitados e a chance de sinalizar, para seu grupo social, a viagem realizada por seus detentores. Já para a classe social mais baixa, as marcas representam o pertencimento aos locais comumente associados às classes altas. Por exemplo, os entrevistados reportaram que utilizam as marcas Abercrombie e Hollister para frequentarem os shoppings de classe alta, como Morumbi, SP Market, etc. 29 Figura 2 - Procedimentos de Pesquisa Qualitativa Fonte: Adaptado de Malhotra (2001). Segundo Malhotra (2001), os procedimentos possíveis de pesquisa qualitativa estão definidos na figura 2. Comecemos nossa explicação pelos métodos diretos de pesquisa qualitativa. Métodos Diretos de Pesquisa Qualitativa Um grupo de foco é uma discussão em grupo, moderada por um pesquisador experiente, de uma forma não estruturada e natural. O objetivo do grupo de foco é obter entendimento mais profundo e detalhado sobre o problema de pesquisa definido pelos pesquisadores. Na tabela 3, você pode ver as principais características do grupo de foco. 30 Tabela 3 - Características dos grupos de foco Fonte: Adaptado de Malhotra (2001). Tamanho do grupo 8 a 12 Composição do grupo Homogênea. Respondentes passam por triagem prévia. Ambiente físico Atmosfera descontraída e informal. Duração 1 a 3 horas. Registro Uso de gravação e videotapes. Moderador Habilidades interpessoais, de observação e de comunicação. Uma coisa importante sobre grupos de foco é que é possível realizá-los no ambiente on-line. Você pode utilizar ferramentas como o Google Meet, ou as próprias redes sociais, numa discussão em um post ou grupo do Facebook, por exemplo, para fazer grupos de foco on-line. 31 Fonte: Disponível aqui É possível utilizar o Facebook, ou WhatsApp, ou qualquer outra ferramenta de contato social on-line para realizar pesquisas por grupos de foco virtualmente. O site Survey Gizmo dá algumas dicas de como realizar um grupo de foco virtual bem-sucedido: Estabeleça objetivos claros: o que o pesquisador espera obter neste grupo? Conhecer os hábitos dos consumidores? Ou suas expectativas? Deixei os objetivos bem claros antes de começar?; Defina o perfil dos participantes antes de convidá-los para o grupo e faça perguntas filtro para checar a aderência ao perfil estipulado; Defina os procedimentos de pesquisa: os pesquisadores utilizarão como obter as informações necessárias dos participantes. Além disso, é preciso pensar na compensação monetária para os participantes; Crie uma atmosfera informal e positiva no grupo on-line; As questões do roteiro do grupo de foco devem ser bem pensadas e estimular a conversa entre os participantes. Quanto melhor o ambiente de conversa, mais informações serão obtidas; Integre funções multimedia, por exemplo, utilizando o https://app.mural.co/. O segundo método utilizado nos métodos diretos são as entrevistas em profundidade. Elas são uma forma não estruturada e direta de obter informações. As entrevistas são realizadas individualmente, e podem durar em torno de 30 minutos. O entrevistador, muitas vezes, segue um roteiro pré-determinado, mas quando a 32 pesquisa exploratória pressupõe total desconhecimento do objeto de pesquisa, pode não haver estrutura nenhuma na entrevista, e a conversa pode começar com “Qual sua opinião sobre X?” (MALHOTRA, 2001). Segundo Malhotra (2001), as aplicações da entrevista em profundidade são: Sondagem detalhada do entrevistado (por exemplo, razões para a compra de um carro zero-quilômetro); Discussão de tópicos confidenciais, delicados; Situações em que o grupo pode influenciar a resposta do entrevistado; Compreensão detalhada de um comportamento complicado (por exemplo, decisão da família por um destino de férias); Entrevistas com profissionais; Entrevistas com concorrentes, que provavelmente não revelarão dados empresariais em um contexto de grupo; Situações em que a experiência de consumo é sensorial (por exemplo, compra de perfumes) e afeta estado de espírito e emoções. Métodos Indiretos de Pesquisa Qualitativa Para Malhotra (2001), a técnica projetiva “é uma forma não estruturada e indireta de fazer perguntas que incentiva os entrevistados a projetar suas motivações, crenças, atitudes ou sentimentos subjacentes aos problemas do estudo”. As técnicas projetivas podem ser utilizadas tanto nos grupos de foco e nas entrevistas em profundidade. Por exemplo, em Porpino, Carvalho e Abdalla (2013), o artigo descrito na Abordagem Prática, os pesquisadores começaram as entrevistas em profundidade, com questões diretas, como “por que você compra a marca Abercrombie?” As respostas eram sempre sobre a “qualidade” do produto. Para tentar entender melhor os significados da marca nas entrevistas e nos grupos de foco, os pesquisadores incluíram questões projetivas. Nesse caso, a técnica de terceira pessoa “Por que você acredita que as pessoas usam Abercrombie?” A partir dessa questão, os entrevistados e participantes do grupo de foco deram aos pesquisadores insights novos sobre as marcas. Por exemplo, um dos entrevistados disse que reparou que os frequentadores de uma danceteria de alta renda em São Paulo - Capital, quando utilizavam as marcas Abercrombie e Hollister eram admitidos na área VIP da danceteria. Essa informação era algo que os 33 entrevistados relutaram em expor quando perguntados sobre seus próprios comportamentos, mas que admitiram facilmente quando perguntados sobre o comportamento de outras pessoas. Veja que, ao utilizar técnicas projetivas, os entrevistados são solicitados a interpretar o comportamento de outras pessoas em vez de descrever seus próprios comportamentos. Assim, eles, indiretamente, projetam suas situações e suas próprias motivações, crenças e reações (MALHOTRA, 2001). 34 05 Pesquisa Descritiva Olá, alunos! Nesta aula, vamos falar sobre o método de levantamento (ou survey, em inglês). Segundo Malhotra (2001), o levantamento envolve a utilização de um questionário estruturado que os entrevistados devem responder. As perguntas podem ser feitas verbalmente, por um entrevistador que passa as respostas para um formulário ou diretamente, por um formulário distribuído na internet. Nesta coleta de dados estruturada, os pesquisadores elaboram um questionário estruturado e as perguntas são feitas em uma ordem específica que deve ser seguida todas as vezes. A maioria das questões é de alternativa fixa, ou seja, exige que o entrevistado faça sua escolha entre as alternativas pré-determinadas (MALHOTRA, 2001). Nós veremos mais sobre questionários na aula 7. Agora, vamos nos aprofundarnos métodos de aplicação dos questionários para o levantamento. Métodos de Aplicação de Levantamentos Os questionários podem ser aplicados de várias formas. Uma das mais tradicionais é por telefone. Pode ser de forma tradicional, ou seja, um entrevistador ligando para um respondente e preenchendo o formulário. Ou ainda, pode ser uma entrevista assistida por computador, quando o computador faz as ligações, por meio de uma CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing) e o entrevistador faz as questões, ou ainda, o computador pode fazer todas as questões e as respostas serem gravadas automaticamente (MALHOTRA, 2001). Há também os métodos pessoais, quando um pesquisador aplica os questionários pessoalmente aos respondentes. 36 Por exemplo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aplica o questionário do censo decenal pessoalmente em 7.1 milhões de domicílios, por meio de 180 mil recenseadores, selecionados por concursos (IBGE, 2020). Não mais muito utilizada, a pesquisa por correio ainda pode ocorrer. Antes da internet, era comum enviar questionários para respondentes pré- selecionados, por exemplo, para compradores de carros zero-quilômetro para entender a satisfação com o produto adquirido. O mais comum, atualmente, é realizar levantamentos por internet. O questionário é colocado em um site, ou enviado diretamente aos e-mails dos consumidores, ou ainda, enviados para os perfis de redes sociais dos consumidores selecionados. De qualquer forma, há várias ferramentas de formulários on-line que qualquer profissional (e até você, estudante) pode utilizar. 37 Ferramenta de Formulário On-line Características Google Formulários Ferramenta gratuita do Google para distribuição de questionários on-line. Não permite a utilização de lógicas de questionário e randomização de questões, a não ser que você saiba programar. Survey Monkey Ferramenta freemium (disponibiliza um serviço e/ou produto gratuito, mas que passa a ser pago para algumas funcionalidades extras) de questionários on-line. Permite a randomização de questões e utilização de lógica de questões. Typeform É uma ferramenta paga de formulários on-line similar ao Survey Monkey, com algumas vantagens na experiência do usuário, mais agradável visualmente. Para garantir a representatividade dos respondentes de um levantamento, é preciso seguir um procedimento de amostragem que garanta a generalização dos resultados. Nesse caso, é sempre recomendado fazer uma amostragem probabilística. Quando isso não é possível, os profissionais de marketing podem fazer uma amostragem não probabilística, mas devem estar cientes de que a amostra pode não representar a população investigada e que os resultados podem estar enviesados. Segundo Kotler e Keller (2012), os tipos de amostragem são: 38 Tabela 4 - Tipos de amostragem Fonte: Adaptado de Kotler e Keller (2012). Amostragem probabilística Aleatória simples Todo membro da população tem a mesma chance de ser escolhido. Normalmente é feito um sorteio sobre quem serão os respondentes da pesquisa. Aleatória Estratificada A população é dividida em grupos mutuamente excludentes (ex.: masculino e feminino) e amostras aleatórias são extraídas de cada grupo. Por agrupamento de áreas A população é dividida em áreas mutuamente excludentes (ex.: quarteirões) e amostras aleatórias são extraídas de cada área. Amostragem não probabilística Conveniência O entrevistador escolhe os membros mais acessíveis a ele da população (ex. consumidores de carros zeros na concessionária X no período de 1 a 10 de julho de 2019). Julgamento O pesquisador seleciona os membros da população que sejam bons fornecedores de informações especiais (ex. empresa de tratores seleciona agricultores para entrevistar). Quotas O pesquisador identifica e entrevista um número pré-determinado de pessoas em cada uma das diversas categorias. Nem sempre é possível fazer uma amostra aleatória simples da população em questão, os respondentes podem não estar disponíveis ou não ter informações de contato facilmente encontradas. Por exemplo, encontrar todos os consumidores de 39 um determinado sabão em pó não é fácil, pois normalmente não deixamos informações de contato ao fazer compras de supermercado. Por outro lado, é mais fácil encontrar consumidores de carros zero-quilômetro, afinal, os carros precisam ser registrados e temos o nome e endereço das pessoas que os fizeram nas bases de dados dos DETRANs estaduais. Então, quando é difícil ou impossível encontrar a população de interesse para realizar uma amostragem aleatória, os profissionais de marketing podem fazer amostragem por conveniência, mas devem ter em mente que essas amostras podem conter vieses de autosseleção, ou seja, os respondentes podem ter características diferentes da população, simplesmente por estarem mais dispostos a responderem ao levantamento. 40 06 Pesquisa Causal Olá novamente! A pesquisa causal também é conhecida como experimental. Segundo Kotler e Keller (2012), o propósito da pesquisa experimental é provar relações de causa e efeito. Esse tipo de pesquisa exige a criação de grupos que são submetidos a diferentes condições (tratamentos), e também controlando variáveis externas, para que, na comparação dos grupos, se tivermos diferentes respostas, poderemos comprovar, estatisticamente, o efeito. Antes de falarmos da prática da pesquisa experimental, precisamos definir alguns conceitos. Primeiramente, a pesquisa experimental lida com variáveis dependentes e independentes. A variável independente - são aquelas que são manipuladas, ou seja, aquelas que são modificadas pelo pesquisador e cujos efeitos podem e são medidos e comparados (MALHOTRA, 2001). Por exemplo, quando um varejista manipula uma propaganda, por exemplo, com cores diferentes, essa manipulação pode ser medida pela preferência dos consumidores por uma ou outra manipulação. Já a variável dependente é aquela de medição. Por exemplo, se manipularmos as cores de uma propaganda e medirmos a preferência dos consumidores por uma ou outra propaganda, as cores são a variável independente e a preferência a variável dependente, conforme a figura abaixo: 42 Figura 3 - Estrutura do Experimento Fonte: A autora. Algo importante na pesquisa experimental é o controle das variáveis estranhas. Para Malhotra (2001), as variáveis estranhas são todas as variáveis diferentes da variável independente que podem confundir o efeito na variável dependente. Vamos imaginar que, no experimento da figura 3, as propagandas são mostradas de forma impressa, em um papel, e os respondentes entram em uma sala e respondem a um questionário sobre qual propaganda preferem. Nessa sala, há uma lâmpada para iluminação. Se a lâmpada quebra, ou está apagada em algum momento do experimento, a preferência do consumidor pode ser alterada, não pelo efeito das cores (variável independente), mas pelo nível de iluminação da sala (variável estranha). É preciso, então, que durante todo o experimento a iluminação da sala seja mantida constante. Outro fator importante para mitigar o efeito de variáveis estranhas é a randomização dos grupos experimentais. A randomização significa a distribuição aleatória, entre os participantes, dos tratamentos (variáveis independentes) (MALHOTRA, 2001). Por exemplo, no caso das duas cores de propaganda da figura 3, a randomização significa que cada participante terá a mesma probabilidade de visualizar a propaganda com a 43 cor vermelha ou com a cor azul. Isso pode ser obtido sorteando, a cada participante, qual a cor que será mostrada, ou ainda, a utilização de um software de pesquisa como o Survey Monkey, que randomiza os estímulos de forma automática. Acesse o link: Disponível aqui Quer entender a pesquisa causal em profundidade? Leia o artigo “Pesquisa experimental em marketing”. Outra variação dos experimentos são os de campo e os de laboratório. Os experimentos de laboratório são feitos em ambientes, com estímulos e condições específicas. Por exemplo, ao pedir paraos consumidores acessarem um site e darem sua opinião sobre a satisfação em relação às propagandas (vermelha ou azul) descritas na figura 3, esse é um ambiente artificial, portanto, um experimento de laboratório. Já o experimento de campo pressupõe um ambiente real, por exemplo, colocar a propaganda em um local de grande circulação (por exemplo, no metrô, em duas estações diferentes) e selecionar aleatoriamente uma amostra de consumidores expostos aos anúncios, perguntando sobre sua satisfação. Os experimentos de campo possuem maior validade interna, ou seja, se realmente os tratamentos foram a causa dos efeitos observados nas variáveis dependentes. Já os experimentos de campo possuem maior validade externa, ou seja, é mais fácil a generalização dos resultados para a vida real (MALHOTRA, 2001). Na tabela 5, você vê uma comparação dos experimentos de laboratório e de campo. 44 Tabela 5 - Experimentos de laboratório vs. experimentos de campo Fonte: Adaptado de Malhotra (2001). Fator Laboratório Campo Ambiente Artificial Realista Controle Alto Baixa Validade Interna Alta Baixa Validade Externa Baixa Alta Tempo Curto Longo Facilidade de Implementação Alta Baixa Custo Baixo Alta Vamos analisar agora um experimento realizado na área de marketing? Em Cupello, Isabella e Carvalho (2015), os pesquisadores, queriam verificar se uma marca fraca (i.e. uma marca que não tem reconhecimento nacional) pode se beneficiar do uso de slogan, como as marcas fortes (i.e. as marcas com reconhecimento nacional). Foram testadas duas marcas de varejistas de eletrodomésticos: Forte = Casas Bahia e Fraca = Ricardo Eletro, conforme o quadro abaixo, e seu efeito na intenção de compra. 45 Quadro 1 - Desenho Experimental em Cupello, Isabella e Carvalho (2015) Fonte: Cupello, Isabella e Carvalho (2015). Variáveis Independentes Marca Forte Marca Fraca Com Slogan Marca Forte*Com Slogan Marca Fraca*Com Slogan Sem Slogan Marca Forte*Sem Slogan Marca Fraca*Sem Slogan Os estímulos visuais mostrados aos respondentes estão na figura 4. 46 Figura 4 - Estímulos utilizados em Cupello, Isabella e Carvalho (2015) Fonte: Cupello, Isabella e Carvalho (2015). 47 O experimento foi do tipo de laboratório e foi utilizado um software de pesquisa para a randomização dos estímulos. A intenção de compra foi maior para a marca fraca sem o uso do slogan e, para a marca forte, com o uso do slogan. Para os autores: A associação da marca forte com seu slogan é muito bem estabelecida, e mesmo com slogans parecidos as marcas fracas não conseguem emular o posicionamento das marcas fortes. As marcas fortes devem utilizar os slogans em sua estratégia de comunicação, tanto como forma de reforçar sua imagem corporativa como também uma estratégia de memorização e familiarização do mesmo, para que haja cada vez mais associação de marca e slogan da marca forte, de forma que dificulte a imitação por parte das marcas fracas. (CUPELLO et. al., 2015, p. 71). 48 07 Elaboração de Questionários e Formulários Olá, acadêmicos! Na coleta de dados primários de um projeto quantitativo, utilizamos um instrumento de coleta, ou formulários, que chamamos de questionários. Ele pode ser: Estruturado: possui uma sequência lógica de perguntas que não pode ser modificado nem conter inserções pelo entrevistador. Não estruturado: a ordem e a formulação das perguntas podem ser alteradas pelo pesquisador, conforme o andamento da entrevista ou de acordo com interesses dos tópicos a serem pesquisados. Aqui vai uma lista de questões que podem ser úteis no seu questionário, a depender do problema de pesquisa delineado: Perguntas diretas Questões explícitas. Nem sempre esse tipo de questão é eficaz, sobretudo, quando se pretende obter informações que podem causar algum constrangimento ao entrevistado. Exemplos: Qual a sua escolaridade? Qual a sua faixa de renda? 50 Perguntas indiretas Podem-se usar escalas ou perguntas projetivas. Lembre-se: questões indiretas visam encontrar significados ocultos ou mascarar uma questão que pode ser constrangedora para o respondente. Exemplos: Por que a Sr.ª acha que as pessoas compram o absorvente da marca X? Por que o Sr.(a) acha que as pessoas votam no candidato Y? Perguntas fechadas São dadas alternativas pelo entrevistador. Podem ser dicotômicas ou admitir várias alternativas. As alternativas devem atender aos seguintes requisitos: serem exaustivas (incluir todas as alternativas possíveis) e mutuamente exclusivas. Exemplos: Você conhece a marca de cigarro X? ( ) Sim ( ) Não Qual nota você daria aos nossos serviços? ( ) Ótimo ( ) Muito Bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 51 Perguntas semiabertas São dadas várias alternativas e o entrevistado pode justificar ou completar as suas respostas. Essas questões são difíceis de interpretar e codificar, então, no seu projeto, use-as com parcimônia. Qual nota você daria aos nossos serviços? ( ) Ótimo ( ) Muito Bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim Justifique________________________ Perguntas com respostas múltiplas Podem-se aceitar várias respostas para a mesma pergunta. Às vezes, pode- se pedir para os respondentes ordenarem as respostas. Exemplo: Quais destas marcas de sabão em pó você conhece? ( ) Omo ( ) Ace ( ) Surf ( ) Ariel 52 Perguntas filtros São perguntas que selecionam o entrevistado de acordo com o objetivo do estudo. Por exemplo, se você quiser respostas somente de indivíduos do sexo feminino: Qual seu sexo? ( ) Masculino ( ) Feminino (se a resposta for “masculino”, agradeça e encerre o questionário) Perguntas encadeadas ou baterias São aquelas em que as respostas às perguntas posteriores dependem das respostas às perguntas anteriores. Exemplo: Você mora em casa própria? ( ) Sim ( ) Não Se afirmativo: Qual a entidade financiadora? ( ) Banco público (CEF, Banco do Brasil, Nossa Caixa, etc.) ( ) Banco privado (Itaú, Bradesco, etc.) ( ) Construtora. Qual? _____________________ 53 Acesse o link: Disponível aqui Quer entender mais sobre elaboração de questionários? Leia o artigo “O questionário na pesquisa científica”. Uso de Escalas Outra coisa muito importante na elaboração de questionários é a utilização de escalas. O uso de escala deixa a codificação das respostas mais fácil e permite que os pesquisadores façam não só análises descritivas como inferências estatísticas (se esse for o objetivo do estudo). As escalas podem ser classificadas em quatro tipos: Escala Nominal Segundo Malhotra (2001), a escala nominal é um esquema figurativo de rotulagem em que os números servem apenas como rótulos para identificação das categorias. Por exemplo, quando perguntamos qual seu sexo, as alternativas são “Masculino” e “Feminino”. Essas categorias são puramente nominais, ou seja, não é possível ordená- las ou fazer qualquer outro tipo de análise. Somente contamos qual o número e as porcentagens de respondentes de cada sexo e se eles correspondem às proporções encontradas na população investigada, para não haver vieses na amostragem. 54 Escala Ordinal A escala ordinal, segundo Malhotra (2001), coloca em “ordem” os elementos de uma escala. Por exemplo, na questão: qual a sua ordem de preferência das marcas A, B e C? O respondente pode colocar 1º C, 2º A, 3º B. Mas a escala ordinal não oferece uma magnitude dessas diferenças, ou seja, não é possível saber se marca C é 10%, 20% ou 100% superior à marca A. Tudo que sabemos é que ela é a preferida. Escala Intervalar Uma escala intervalar permite que distâncias numericamente iguais, mas não tem um ponto zero definido. Na escala intervalar, a diferença entre dois valores quaisquer da escala é idêntica (MALHOTRA, 2001). Por exemplo, veja a tabela 6 com um exemplo de escala intervalar (de 1 a 5, a diferença entre 2 e 1 é igual a de 3 e 2, 4 e 3 e 5 e 4): 55 Tabela 6 - Exemplo de escala intervalar Em relação a estas frases, dê a sua opinião em relação a sua concordância Frases 1 Concordo Totalmente2. Concordo em parte 3. Não concordo nem discordo 4. Discordo em parte 5. Discordo totalmente Os produtos da marca X me ajudam no meu dia a dia. Os produtos da marca X possuem bom custo- benefício. Escala Razão A escala razão tem todas as propriedades das escalas nominal, ordinal e razão. Nesse tipo de escala podemos identificar, classificar objetos, ordená-los e comparar intervalos, a partir de um ponto com zero absoluto (MALHOTRA, 2001). Por exemplo, se compararmos renda de cidadãos no Brasil, em REAIS, teremos uma escala razão: 0 reais significa ausência de renda, você poderia classificar grupos de consumidores por faixa/classe social (A/B/C/D/E). 56 Acesse o link: Disponível aqui A plataforma Survey Monkey tem um artigo sobre como elaborar um bom questionário de pesquisa. As principais dicas do artigo são: deixá-lo claro para o respondente, e que seja o mais breve possível. Além disso, deixe a formatação agradável ao usuário, que seja fácil de preencher, e não exija muito esforço do respondente. 57 08 Psicologia do Consumo Olá! Até agora, estudamos uma ferramenta científica: a pesquisa demarketing, que coleta dados para entender o comportamento dos consumidores. Apartir desta aula, vamos nos debruçar e aprofundar no estudo das teorias depsicologia do consumo. Aqui, vamos falar de biologia (percepção), psicologia(aprendizagem, motivação, personalidade, atitudes e tomada de decisão) esociologia (culturas e subculturas). Todas estas disciplinas ajudam osprofissionais de marketing a entender e prever melhor o comportamento de seusconsumidores, de forma que as estratégias de marketing sejam mais bemdelineadas para assegurar o melhor desempenho empresarial. Então, o que é o estudo do comportamento do consumidor? Comovimos no capítulo 1, para Solomon (2016), “é o estudo dos processos envolvidosquando indivíduos ou grupo selecionam, compram, usam ou descartam produtos,serviços, ideias ou experiências para satisfazer às necessidades e desejos”. Uma das afirmações mais importantes desta disciplina, o estudodo comportamento do consumidor, é a de que “as pessoas frequentemente compramprodutos não pelo que eles fazem, e sim, pelo que eles significam” (SOLOMON,2016, p. 34). Uma perspectiva interessante vem da “teoria dos papéis”. Essateoria entende os consumidores representando “papéis” no palco da sua vida. 59 Figura 5 - Papéis desempenhados por uma mulher Fonte: Disponível aqui Sabemos que uma mulher pode representar vários papéis durante o dia: mãe, dona de casa, estudante, profissional. Em cada um desses papéis, ela pode escolher vários produtos que significam a representação de um papel. Vamos para o mais simples, o vestuário: as roupas que se usa, e as marcas, podem ser diferentes ao longo do dia. Veja a figura 6, que representa um exemplo de vestuário apropriado ao papel profissional e a figura 7 que representa uma roupa mais adequada para momentos caseiros. É quase como se ela representasse sua própria figurinista: para cada papel na sua vida, ela decide as marcas adequadas e o formato das roupas para cada situação. Figura 6 - Roupa Formal Fonte: Disponível aqui Figura 7 - Roupa Casual Fonte: Fonte aqui Disponível aqui 60 Figura 8 - Processo de Consumo da Perspectiva do consumidor x dos Profissionais de Marketing Fonte: Adaptado de Solomon (2016). Temos também que separar o que é a perspectiva do consumidor e a perspectiva dos profissionais em relação às trocas feitas no mercado. Veja a figura 8 para entender como isso acontece. É preciso entender que a relação dos consumidores com o marketing é simbiótica: as preferências dos consumidores modelam umas às outras. Os profissionais de marketing têm como objetivo persuadir os consumidores a comprarem suas ofertas. E os consumidores, por sua parte, estão inseridos em uma cultura de consumo que, para o bem ou para o mal, é afetada pelos produtos e marcas que consomem. Segundo Solomon (2016), no mundo atual, as pessoas vivem cercadas por estímulos de marketing na forma de propagandas, lojas, etc. que competem pela sua atenção e pelo seu dinheiro. Além disso, a cultura popular atual envolve os produtos e o estilo de vida das pessoas, e esses são expressos por – adivinhe!, produtos que são consumidos e expostos aos nossos círculos de amizades, familiares e também digitais, como por meio das redes sociais. Ou seja, entender o comportamento dos consumidores é entender a nossa própria cultura. 61 09 Percepção Figura 9 - Visão do processo perceptivo Fonte: Solomon (2016). Olá, acadêmicos! O tema desta aula é o processo de percepção por meio do qual o consumidor absorve sensações e as utiliza para interpretar o mundo. Segundo Solomon (2016), percepção é o processo pelo qual as pessoas selecionam, organizam e interpretam essas sensações. Sensação está relacionada com a reação imediata de nossos receptores (olhos, boca, nariz, ouvido, pele) a estímulos como luz, cor, som, odores, texturas e sabores. O estudo da percepção concentra-se no que acrescentamos a essas sensações e como lhes damos significado. Na figura abaixo, você poderá ver que os cinco sentidos são a forma com a qual os profissionais de marketing usam os estímulos para entrar em contato com o consumidor, que são expostos a eles, prestando atenção e interpretando as mensagens. Visão Os profissionais de marketing apostam muito nos elementos visuais em publicidade e o design de lojas e embalagens. 63 Figura 10 - Comparação dos Perfumes Cazo e Lady Gaga As cores e seu significado: podem ter relação com ambiente cultural. Preto é a cor do luto nos países ocidentais, mas no Japão a cor que representa o luto é o branco. Como você percebe o posicionamento das marcas acima – perfume Cazo e perfume Fame, da Lady Gaga? O perfume Cazo tem uma embalagem genérica, sem grandes atrativos. Já o perfume Fame, da Lady Gaga, tem um design elaborado, a tampa parece uma garra (a cantora costuma se referir aos seus fãs como “monstrinhos”). Além disso, o líquido do perfume é negro, e ao entrar em contato com o ar torna-se transparente. Olfato Os odores são processados pelo sistema límbico, a parte mais primitiva do cérebro e o lugar onde as emoções imediatas são vivenciadas. A fabricante da Cadillac acrescenta um aroma chamado Nuance aos seus assentos de couro (SOLOMON, 2016). O marketing de aromas, segundo Solomon (2016), está em crescimento, e os profissionais de marketing estão cada vez mais interessados em colocar aromas em suas ofertas, para potencializar os estímulos. 64 Fonte: Disponível aqui Fonte: Disponível aqui Você sabia que muitas lojas usam o marketing sensorial para aumentar suas vendas? Por exemplo, a marca Melissa, que produz sandálias de plástico e, em 2009, criou um perfume com o cheiro das sandálias! Segundo uma reportagem do Estadão, Nike, Vila Romana, Le Lis Blanc, Osklen e Animale possuem fragrâncias de criação própria que utilizam em suas lojas. Como Solomon (2016) aponta, o aroma aciona o sistema mais primitivo do nosso cérebro, o límbico, e pode trazer lembranças felizes e uma conexão emocional do consumidor com a marca. O sucesso das fragrâncias é tamanho que as lojas estão vendendo os aromas diretamente aos consumidores. Marcas como Any Any, M Martan já vendem seus aromas para que os consumidores possuam as mesmas fragrâncias em suas casas. E se você pensa que adicionar aromas serve somente para o segmento de vestuário, está enganado! Existem aromas voltados para o setor alimentício para potencializar o aroma de restaurantes, padarias, docerias. Por exemplo, você pode colocar na sua loja um nebulizador e adicionar o aroma de café, baunilha, e qualquer outro que aumente a intenção de compra do consumidor! 65 Audição Para Solomon (2016), o som pode modificar e afetar o comportamento dos consumidores. Um dos tipos mais comuns de estímulos sonoros são os jingles, estímulos sonoros que criam espíritos desejados e mantêm as consciências das marcas. Acesse os links: Pipoca com Guaraná Duchas CoronaOuça esses jingles famosos e veja como as músicas e letras deixam os consumidores mais propensos a consumir as marcas. Tato O estudo das percepções sobre o tato ainda é pouco na literatura. Mas já se chegou à conclusão de que o tato pode afetar positivamente a experiência de compra. Frequentadores de restaurantes que eram tocados pelos garçons davam gorjetas maiores (SOLOMON, 2016). Tocar os produtos também pode ser um fator importante para pessoas que apresentam altos índices de sinestesia. Ou seja, o consumidor só se sentirá motivado a comprar se lhe for permitido tocar o produto. A engenharia Kansei é uma filosofia japonesa que traduz os sentimentos dos clientes com elementos de design. Por exemplo, quando o carro possui um H-point (localização do quadril do motorista quando ele está sentado) os consumidores podem se sentir mais poderosos do que os outros carros mais baixos na estrada (SOLOMON, 2016). 66 Paladar O paladar é um sentido importante não só quando se trata de comidas e bebidas. Por exemplo, o creme dental da P&G Rejuvenating Effect foi produzido para dar uma sensação de formigamento na boca de quem o usa, o que dá uma percepção de saúde nas gengivas e hálito fresco (SOLOMON, 2016). Exposição A exposição ocorre quando um estímulo penetra na gama de receptores sensoriais de uma pessoa. Os consumidores concentram-se em alguns estímulos, não notam outros e chegam a desviar-se do seu caminho para ignorar certas mensagens (SOLOMON, 2016). Os profissionais de marketing têm que trabalhar muito mais hoje em dia, pois o consumidor é exposto, em média, a mais de 10 mil mensagens por dia, de acordo com a American Marketing Association. Acesse o link: Disponível aqui Leia o artigo “A INFLUÊNCIA DA PERCEPÇÃO NO COMPORTAMENTO DE COMPRA”. 67 10 Aprendizagem Olá a todos! A aprendizagem é uma mudança relativamente permanente no comportamento causada pela experiência. O aprendiz não precisa ter a experiência diretamente, também podemos aprender por meio da observação de outras pessoas (SOLOMON, 2016). A aprendizagem é um processo contínuo. Os psicólogos que estudam a aprendizagem propuseram várias teorias para o seu processo. Essas teorias vão das que se concentram nas conexões simples entre estímulo e resposta (teorias behavioristas) às perspectivas que consideram os consumidores como solucionadores de problemas complexos, que aprendem regras e conceitos abstratos observando outros indivíduos (teorias cognitivas). Assim, nesta aula, vamos analisar as teorias behavioristas de aprendizagem. Teorias Beha�oristas de Aprendizagem As teorias behavioristas supõem que o aprendizado ocorre como resultado de respostas a eventos externos. Os psicólogos que acreditam nesta perspectiva não se concentram nos processos internos do pensamento. Em vez disso, consideram a mente uma “caixa preta” e destacam os aspectos observáveis do comportamento. Essa perspectiva compreende duas abordagens: o condicionamento clássico e o condicionamento instrumental (SOLOMON, 2016). 69 Figura 11 - Condicionamento Clássico Fonte: A autora. Condicionamento Clássico O condicionamento clássico ocorre quando um estímulo que acarreta uma resposta é igualada a outro estímulo que inicialmente não provoca uma resposta própria. O condicionamento clássico foi descrito pelo cientista russo Ivan Pavlov. O foco de estudo era, no início, uma pesquisa sobre digestão em animais, mas ele acidentalmente descobriu as premissas do condicionamento (aprendizagem). Veja a figura 11 como um modelo do condicionamento clássico. Pavlov passava pó de carne seca nos lábios dos cachorros e acontecia uma resposta natural, a salivação. Para condicionar os cachorros, Pavlov adicionou um sino ao ato de passar pó de carne seca nos lábios dos cachorros. Com o passar o tempo, os cães associaram o pó de carne seca ao sino, de forma que quando o condicionamento era bem-sucedido, somente o sino era necessário (sem o pó de carne seca presente) para que a salivação acontecesse. 70 Pavlov (de barbas brancas), seus alunos na Academia Médica Militar Russa e o cachorro usado na experiência do condicionamento clássico em 1913. Fonte: Disponível aqui Em marketing, uma marca como McDonald’s pode estimular um reflexo condicionado, como ao ver o logotipo da marca, a pessoa imediatamente começa a salivar e sentir fome. É normal sentir fome ao sentir o cheiro do sanduíche, mas depois de muitas exposições, somente a visão do logo do McDonald’s já faz com que o consumidor sinta fome e peça o lanche, por aplicativos ou indo direto ao restaurante! 71 O McDonald’s mais antigo em atividade no mundo – desde 1953 – fica em Downey, Califórnia, e já vendeu mais de 100 bilhões de lanches. Fonte: Disponível aqui Repetição É mais provável que os efeitos do condicionamento ocorram após os estímulos condicionados e não condicionados terem sido combinados diversas vezes. O condicionamento NÃO ocorrerá ou não durará se o estímulo condicionado for só ocasionalmente combinado com um estímulo não condicionado. Um efeito dessa falta de associação é a extinção do condicionamento (SOLOMON, 2016). Generalização de estímulo refere-se à tendência de estímulos semelhantes a um estímulo condicionado que gerem respostas condicionadas semelhantes. As pessoas também reagem a estímulos semelhantes de uma maneira muito parecida com a resposta ao estímulo original, essa generalização é chamada de efeito halo. Em vista deste princípio, muitas empresas usam a estratégia de “imitação” ou de “mascaramento” (SOLOMON, 2016). 72 Figura 12 - Produtos da Marca Nescau Fonte: Disponível aqui Figura 13 - Produtos da Marca Ninho Fonte: Disponível aqui As extensões de marca são usadas por profissionais de marketing para que os consumidores transfiram sua confiança de uma marca primária, para outras ofertas do mesmo segmento. Por exemplo, extensões de marca são generalizações de estímulos comuns em marketing, veja alguns exemplos: Condicionamento Instrumental Também conhecido como condicionamento operante, ocorre quando o indivíduo aprende a ter comportamentos que produzem resultados positivos e a evitar os que acarretam consequências negativas (SOLOMON, 2016). Está intimamente ligado aos estudos do psicólogo B. F. Skinner, que demonstrou o efeito do condicionamento instrumental ensinando pombos e outros animais a dançar, jogar pingue-pongue e outras atividades, sistematicamente recompensando- os por comportamentos desejados (SOLOMON, 2016). 73 O psicólogo behaviorista B. F. Skinner Fonte: Disponível aqui No condicionamento clássico, as respostas são involuntárias e mais simples. No condicionamento instrumental as respostas podem ser mais complexas, pois operam com reforços, positivos ou negativos, de modo a articular comportamentos desejados. O processo de aprendizagem pode acontecer por meio de reforço positivo, ou seja, quando o aprendiz tem o comportamento desejado, recebe uma recompensa. Programas de milhagem de companhias aéreas funcionam por meio de reforço positivo, ou seja, você ganha milhagem quando voa na companhia escolhida. O processo também pode ocorrer por meio de reforço negativo, ou seja, punição. O aprendiz é punido quando não tem o comportamento desejado. 74 Acesse os links: Vídeo 1 Vídeo 2 Uma das propagandas mais famosas de todos os tempos é um exemplo de reforço negativo: o slogan “Não é assim uma Brastemp” mostra todas as consequências negativas que podem ocorrer a um consumidor quando ele não compra a marca Brastemp. Assista aos dois vídeos originais de 1991. Acesse os links: Vídeo 1 Vídeo 2 Vinte e seis anos depois, em 2017, a campanha ganhou uma nova versão de várias peças publicitárias, com a mesma dupla de atores, para homenagear a geração Brastemp da era digital. Vale muito a pena assistir! 75 11 Motivação Olá, alunos. Vamos falar de motivação? Motivação refere-se aos processos que fazem com que as pessoas se comportem do jeito que se comportam. Ela ocorre quando uma necessidade é despertada e o consumidor deseja satisfazê-la(SOLOMON, 2016). Assim que uma necessidade é ativada, um estado de tensão impulsiona o consumidor a tentar reduzir ou eliminar essa necessidade. Veja que o conceito motivação tem um significado diferente em comportamento do consumidor do que o sentido mais comum da palavra. Motivação normalmente se refere à vontade de realizar uma tarefa. Por exemplo, você sabe que deve fazer exercícios e ir à academia, mas não se sente motivado, ou seja, não tem vontade de ir à academia. Em comportamento do consumidor, porém, a motivação não representa a vontade e, sim, descobrir o que faz consumidores diferentes irem à academia, por exemplo. Por meio da pesquisa de mercado, os profissionais de marketing podem perceber que, para mulheres é mais importante possuir aulas de aeróbica e para homens é mais importante ter uma área de musculação com diferentes máquinas. É preciso saber diferenciar o significado comum do conceito de marketing de motivação. 77 Quando uma necessidade é despertada e se transforma em demanda, aí entra a motivação. A necessidade (no comportamento do consumidor) pode ser utilitária ou hedônica. Necessidade utilitária – desejo de obter algum benefício funcional ou prático, como quando uma pessoa come legumes por razões nutricionais. Necessidade hedônica – é aquela que envolve respostas ou fantasias emocionais, como quando uma pessoa pensa em comer um belo sundae de chocolate com cobertura de chantilly (SOLOMON, 2016). Seja qual for a necessidade, existe uma discrepância entre o estado presente do consumidor e algum estado ideal. Essa discrepância gera um estado de tensão. A magnitude da tensão determina a urgência que o consumidor sente para reduzi-la. Esse grau de tensão é chamado de impulso. Os fatores pessoais e culturais se combinam para formar um desejo, que é a manifestação de uma necessidade, e a força motivacional reflete o grau de disposição de uma pessoa despender energia a fim de alcançar um objetivo (SOLOMON, 2016). Teoria do Impulso De acordo com Solomon (2016), essa teoria se concentra nas necessidades biológicas que produzem estados desagradáveis de agitação. Somos motivados a reduzir a tensão por causa desta agitação. Em um contexto de marketing, a tensão refere-se ao estado desagradável que existe se as necessidades de uma pessoa não são satisfeitas. Uma pessoa pode estar em um estado biológico desagradável porque está com fome, e, de acordo com a aprendizagem (que vimos na aula anterior), ela associa fome a uma marca específica por repetição e frequenta essa marca toda a vez que quer satisfazer sua fome. 78 Figura 14 - Expectativa em relação à sobremesa Fonte: Disponível aqui Teoria da Expectativa Sugere que o comportamento é amplamente impulsionado por expectativas de atingir resultados desejáveis – incentivos positivos – em vez de ter uma origem interna (SOLOMON, 2016). Por exemplo, ao consumir uma sobremesa, o consumidor busca o prazer ao consumi-la, ou seja, o resultado positivo que a sobremesa vai trazer ao seu bem-estar. Quando um homem de meia idade compra um carro esportivo, a sua expectativa é que o carro lhe traga de volta a sensação de juventude. Direção Motivacional Os motivos têm direção e força; a maioria das metas pode ser alcançada por uma série de caminhos, e o objetivo dos profissionais de marketing é convencer os consumidores de que a alternativa que eles lhes fornecem é a melhor oportunidade para alcançarem suas metas (SOLOMON, 2016). 79 Figura 15 - Tipos de Conflitos Motivacionais Fonte: A autora, baseada em Solomon (2016). Conflitos Motivacionais Uma meta tem valência, o que significa que pode ser positiva ou negativa. Uma meta com valência positiva é aquela para a qual os consumidores dirigem seu comportamento; eles estão motivados a alcançar a meta e procurarão produtos que sejam instrumentos para atingi-la. Quando uma meta tem valência negativa, os consumidores desejam evitar um resultado negativo. Eles estruturarão suas atividades de consumo para reduzirem as chances de chegarem a tal resultado (SOLOMON, 2016). 80 Conflito aproximação-aproximação A pessoa deve escolher entre duas alternativas desejáveis. Uma pessoa pode ter que escolher entre passar férias na praia ou no campo. A teoria da dissonância cognitiva fundamenta-se na premissa de que as pessoas têm uma necessidade de ordem e coerência em suas vidas e de que um estado de tensão se cria quando crenças e comportamentos estão em conflito. O conflito que surge durante a escolha entre duas alternativas pode ser resolvido mediante um processo de redução de dissonância cognitiva, em que as pessoas se sentem motivadas a reduzir esta incoerência de modo a eliminar uma tensão desagradável (SOLOMON, 2016). Conflito aproximação-e�tação Muitos dos produtos e serviços que desejamos têm consequências negativas também. Podemos nos sentir culpados ao consumir aquele delicioso Sundae de chocolate. Quando desejamos uma meta, mas queremos evitá-la ao mesmo tempo, há um conflito aproximação-evitação (SOLOMON, 2016). Conflito e�tação-e�tação Às vezes, os consumidores encontram-se entre a cruz e a espada. Podem encarar uma escolha entre duas opções indesejáveis, como gastar mais dinheiro para mais uma vez consertar seu carro velho ou comprar um carro novo e se comprometer com o pagamento de 60 prestações (SOLOMON, 2016). 81 Acesse o link: Disponível aqui Um exemplo interessante do conflito evitação-evitação são os seguros. As pessoas não gostam de gastar dinheiro com situações que podem não acontecer, por exemplo, não fazem seguro residencial, porque pensam que estão protegidas de desastres e podem utilizar o dinheiro para outros fins. O pior é o seguro de vida, pois as pessoas não gostam de pensar na sua própria morte e, neste caso, nem estarão aqui para usufruir do seguro em caso de morte. Assista à propaganda do Bradesco Seguros ao tentar superar esse conflito com o slogan “Vai que…”. 82 12 Personalidade Olá, alunos! Embora pareça natural pensar que cada consumidor possua um eu, a ideia de que cada vida humana é única, em vez de ser parte de um grupo, só foi desenvolvida no final da Idade Média. Além disso, a ênfase na natureza única do eu é muito maior nas sociedades ocidentais. Muitas culturas orientais salientam a importância de um eu coletivo, em que uma pessoa tem sua identidade derivada de um grupo social. Mas tanto a cultura ocidental quanto a oriental veem o eu dividido entre interno e externo (SOLOMON, 2016). Autoconceito O autoconceito refere-se às crenças de uma pessoa sobre seus próprios atributos e ao modo como ela avalia essas qualidades. O autoconceito é uma estrutura muito complexa. É constituído de muitos atributos, e enfatizamos alguns em detrimento de outros quando avaliamos o eu como um todo (SOLOMON, 2016). Autoestima Tem a ver com a positividade do autoconceito de uma pessoa. Pessoas com baixa autoestima acreditam que não terão um bom desempenho e tentam evitar o constrangimento, o fracasso ou a rejeição. Por outro lado, pessoas com alta autoestima esperam o sucesso, correm mais risco e têm mais vontade de ser o centro das atenções. A aceitação pelos outros durante a história de vida do indivíduo, pode influenciar na sua autoestima (SOLOMON, 2016). 84 Eus reais e ideais O eu ideal é uma concepção da pessoa do modo como gostaria de ser. O eu real refere-se à apreciação mais realista das qualidades que temos ou não. Você pensa que está assim: Fonte: Disponível aqui Mas sai de casa assim: Fonte: Disponível aqui 85 O Eu Estendido Os objetos externos que consideramos como parte de nós compreendem o eu estendido. Muitos dos acessórios e ambientes que os consumidores usam para definir seus papéis sociais tornam-se parte de seu eu. Por exemplo, muitos consumidores utilizam certos tipos de produtos, e marcas, para representar suas afiliações culturais ou grupais. Fonte: Disponível aqui Muitos consumidores têm necessidade de expressar suas personalidades e suas crenças por suas escolhas de consumo. Um exemplo prático de como issoacontece é a moda evangélica. Segundo o IBGE, mais de 42 milhões de brasileiros estão nesta categoria. Muitas dessas pessoas gostariam de comprar roupas que fossem modernas, mas não “sensuais” demais, de forma a expressar, pelas roupas, sua crença em modéstia. Por isso, o casal Simone Carvalho e Renan Santos abriu a franquia Saia Bella. Essa rede de lojas tenta suprir uma necessidade percebida pelos fundadores, ou seja, a dificuldade de achar roupas que se adequassem às suas preferências, como eles mesmos apontam: “Nós temos que seguir uma série de regras religiosas, e algumas são referentes às roupas que as mulheres devem usar. A moda evangélica inclui vestidos, saias e conjuntos na altura dos joelhos. Calças e bermudas não são permitidas, e as vestimentas devem sempre ter mangas, que cubram os ombros”. A rede de lojas está presente na internet e nos estados de Alagoas, Mato Grosso, São Paulo e Acre. 86 Acesse o link: Disponível aqui Um estudante universitário chamado John Freyer vendeu todos seus itens no Ebay para ver se as “coisas” que possuímos realmente definem quem somos. Segundo Solomon (2016), podem-se descrever quatro níveis de eu estendido: Nível individual: os consumidores incluem muitos de seus bens pessoais na autodefinição. Esses produtos podem incluir joias, carros, roupas, etc. O ditado “você é o que você usa” reflete a crença de que as coisas que uma pessoa possui são parte da sua identidade. Nível familiar: esta parte do eu estendido inclui a residência do consumidor e seus móveis. A casa pode ser vista como um corpo simbólico para a família e, muitas vezes, é um aspecto central da sua identidade. Nível comunitário: é comum os consumidores se descreverem em termos de região ou da cidade de onde provêm. Para famílias rurais ou outros moradores com estreitas ligações com a comunidade, esse sentido de associação é especialmente importante. Nível de grupo: nossas ligações com certos grupos sociais também podem ser consideradas como parte do eu. Um consumidor pode pensar que os símbolos, monumentos ou equipes esportivas fazem parte do eu estendido. Personalidade é a formação psicológica única de uma pessoa e o modo como ela sistematicamente influencia a maneira de a pessoa reagir ao seu meio ambiente (SOLOMON, 2016). 87 Sigmund Freud Fonte: Disponível aqui Teoria Freudiana Sigmund Freud desenvolveu a ideia de que grande parte da personalidade adulta deriva de um conflito fundamental entre o desejo de gratificar suas necessidades físicas e a necessidade de funcionar como um membro da sociedade. Essa luta é realizada na mente entre os três sistemas, o que não se refere necessariamente a partes físicas do cérebro (SOLOMON, 2016). Para Freud, existe uma divisão nas mentes das pessoas: o id, o ego e o superego. O id é inteiramente voltado para a gratificação imediata, é o animal da mente. Ele opera de acordo com o princípio do prazer: o comportamento é guiado pelo desejo primário de maximizar o prazer e minimizar a dor. O id é egoísta e ilógico. O ego é o sistema intermediário entre o id e o superego. De certa forma, trata-se de um árbitro na luta entre a tentação e a virtude. O ego tenta equilibrar essas forças opostas de acordo com o princípio da realidade, por meio do qual encontra maneiras de gratificar o id de forma que sejam aceitáveis ao mundo externo. 88 O superego é a contrapartida do id. Esse sistema é, essencialmente, a consciência da pessoa. Internaliza as regras da sociedade (especialmente como os pais ensinam pra nós) e trabalha para impedir que o id procure gratificação egoísta. A importância de Freud para o comportamento humano como um todo e para o comportamento do consumidor, em especial, foi desvendar que processos inconscientes subjazem o comportamento humano (SOLOMON, 2016). Carl Jung Fonte: Disponível aqui Teoria Junguiana Carl Jung foi discípulo de Freud, mas não aceitava a ênfase dada pelo pai da psicanálise aos aspectos sexuais da personalidade e prosseguiu com um trabalho separado de seu mestre, que ficou conhecido como psicologia analítica (SOLOMON, 2016). 89 Jung acreditava que as pessoas eram moldadas pelas experiências cumulativas das gerações passadas. Uma parte importante dessa perspectiva era a ênfase no que chamamos de inconsciente coletivo, um depósito de recordações herdadas de nosso passado ancestral. As recordações compartilhadas criam arquétipos, ou ideias e padrões de comportamento universalmente compartilhados. Os arquétipos envolvem temas como o nascimento, a morte ou o demônio, os quais aparecem com frequência em mitos, histórias e sonhos. Por exemplo, alguns dos arquétipos identificados por Jung incluem “o velho sábio” e “mãe-terra”. Tais imagens aparecem frequentemente em mensagens de marketing que empregam personagens como magos, professores respeitados ou mesmo a mãe-natureza para convencer as pessoas dos méritos de um produto (SOLOMON, 2016). Personalidade de Marca A personalidade de marca, de acordo com Solomon (2016), é o conjunto de traços que as pessoas atribuem a um produto como se ele fosse uma pessoa. Nossas impressões da personalidade de marca são parte importante do valor de marca, ou quanto o consumidor faz associações fortes, favoráveis e únicas com uma marca na memória – e até que ponto está disposto a pagar mais pela versão de marca de um produto do que sua versão genérica. 90 13 Atitudes e Persuasão Olá novamente! Atitudes relativas ao comportamento do consumidor têm, como o termo motivação, um significado diferente do senso comum. Em comportamento do consumidor, uma atitude representa uma “avaliação duradoura e geral das pessoas, objetos, propagandas ou questões” (SOLOMON, 2016). Acesse o link: Disponível aqui Não é novidade que, no Brasil, as pessoas costumam tomar pelo menos um banho por dia. Essa é a atitude geral em relação à frequência de banho. Quando veio morar no Brasil, a francesa Céline Chevallier descobriu que as pessoas aqui tomam banho com maior frequência que na França. Daí veio a ideia de criar um canal no YouTube chamado “Os franceses tomam banho”. Uma atitude é duradoura porque tende a persistir ao longo do tempo. É geral porque se aplica a mais do que um evento momentâneo, como ouvir um ruído alto, embora se possa, com o tempo, desenvolver uma atitude negativa a ruídos altos. Os consumidores têm atitudes em relação a uma ampla gama de objetos de atitude, desde comportamentos muito específicos de produto (por exemplo, usar creme dental Sorriso ao invés de Oral B), até comportamentos mais gerais, relativos ao consumo (por exemplo, a frequência com que se deve escovar os dentes). As atitudes ajudam a determinar com quem a pessoa escolhe sair, que música ela ouve, se vai reciclar latas de alumínio, etc. (SOLOMON, 2016). 92 As Funções das Atitudes Segundo Solomon (2016), o psicólogo Daniel Katz desenvolveu a teoria funcional das atitudes. As funções identificadas por ele são: Função utilitária: relaciona-se com os princípios básicos de recompensa e punição. Desenvolvemos algumas atitudes em relação a produtos simplesmente com base na possibilidade de tais produtos oferecerem prazer ou dor. Se uma pessoa aprecia o gosto de um hambúrguer, ela desenvolve uma atitude positiva em relação aos hambúrgueres. Função expressiva de valor: as atitudes que desempenham uma função expressiva de valor exprimem os valores centrais do consumidor ou seu autoconceito. Uma pessoa forma uma atitude em relação a um produto não por causa de seus benefícios objetivos, mas devido ao que o produto diz sobre ela como pessoa (por exemplo, que tipo de pessoa compra uma bolsa Channel?). As atitudes expressivas de valor são especialmente importantes para análises sobre os estilos de vida. Função defensiva do ego: as atitudes que formamos para nos protegermos de ameaças externas ou de sentimentos internos desempenham uma função defensiva do ego. Os produtos que ajudam os homens a expressar uma identidade de “machão”, como os cigarros Marlboro. Função de conhecimento: formamos algumas atitudes
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