Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico Apresentação O uso de sistemas de condicionamento de ar nos edifícios é responsável, em algumas regiões do Brasil, por quase metade do consumo energético das residências, tornando as melhorias na eficiência desses sistemas importantes aliadas na diminuição do impacto econômico e ambiental das construções. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá sistemas de condicionamento passivo que diminuem a necessidade de uso de ar condicionado, além de conhecer produtos que contribuem para a melhoria energética e ambiental dos edifícios como coletores solares de energia e calor e revestimentos acústicos produzidos de maneira sustentável. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar sistemas de condicionamento térmico passivo e de baixo consumo. • Justificar o uso de coletores solares para aquecimento. • Discutir o impacto ambiental dos materiais acústicos.• Desafio À medida que as cidades e a sua população crescem, aumenta também a demanda por recursos hídricos e energéticos, que, como se sabe, estão cada vez mais escassos. Faz parte de um bom projeto de arquitetura propor estratégias de uso dos recursos naturais disponíveis que não agridam o meio ambiente, que tenham um bom desempenho e que sejam economicamente viáveis. Acompanhe o seguinte cenário: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Diante das estratégias para geração de energia, aquecimento de água ou habitabilidade dos ambientes: a) Cite pelo menos duas que são indicadas para os projetos do novo loteamento. b) Além disso, cite uma que você considera inadequada para estes projetos e justifique sua resposta. Infográfico Há diversas formas de gerar energia por meio de fontes renováveis, isto é, de fontes limpas. Uma das energias limpas que está em plena expansão no Brasil é a biomassa, que é a produção de combustíveis a partir de diferentes tipos de resíduos. Entenda, no Infográfico a seguir, como se dá essa geração de energia e seus principais produtos, que podem ser utilizados como fontes de calor para alimentar equipamentos de qualquer edifício. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/685ad934-12f3-4812-8546-f6d6f5785abb/9510d8db-17a1-4ee3-a39d-a3c345d718da.png Conteúdo do livro Toda vez que o ar condicionado é ligado em casas e escritórios, vem aquele pensamento de que se está gastando muita energia, certo? Essa intuição é verdadeira, visto que o aquecimento e o resfriamento dos ambientes internos correspondem a quase 20% de toda a energia consumida no Brasil. No entanto, existem maneiras de otimizar esse consumo. No capítulo O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico, da obra Conforto ambiental: ventilação e acústica, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, conheça as melhores estratégias para tornar as edificações mais econômicas no que diz respeito ao condicionamento do ar. Saiba, também, quais produtos colaboram com a diminuição da pegada ecológica do edifício, como revestimentos produzidos de maneira responsável e coletores solares, que podem ser utilizados para geração de energia ou para aquecimento de água. Boa leitura. CONFORTO AMBIENTAL: VENTILAÇÃO E ACÚSTICA Anna Carolina Manfroi Galinatti O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar sistemas de condicionamento térmico passivo e de baixo consumo. Justificar o uso de coletores solares para aquecimento. Discutir o impacto ambiental dos materiais acústicos. Introdução O condicionamento do ar nas edificações é responsável por quase metade do consumo energético de casas e escritórios. Assim, mudanças nesse método de obtenção de conforto térmico têm impacto significativo no gasto energético e nas emissões de poluentes. Para garantir que as edificações possam ser certificadas, é preciso que os mais diversos aspectos da obra sejam considerados, desde o consumo de energia até a procedência dos materiais. Neste capítulo, você conhecerá estratégias e sistemas de condiciona- mento passivo dos ambientes internos de edificações, como a ventilação, e verá como a energia do sol pode ser aproveitada para a produção de eletricidade e para aquecer os ambientes e a água consumida nos edifí- cios. Finalmente, conhecerá a importância da especificação de materiais não poluentes nos projetos. 1 Sistemas de condicionamento térmico passivo e de baixo consumo Os edifícios são responsáveis por quase metade da energia elétrica consumida no Brasil. Desse total, o condicionamento térmico, utilizado para resfriar nas regiões mais quentes do País e para aquecer na região Sul, conhecida por seus invernos rigorosos, corresponde a uma faixa que varia de 11%, no Sudeste, onde o clima é ameno, até 40%, na região Norte, onde o calor e a umidade constantes levam ao uso incessante desse tipo de tecnologia (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014). Como você deve saber, a produção de energia elétrica é um dos fatores que contribuem para a produção de gases do efeito estufa, pela queima de combustíveis fósseis em usinas termoelétricas. Mesmo no caso de sistemas que não contribuem para a produção de dióxido de carbono (CO2), como as hidrelétricas, que hoje correspondem a 63,8% da geração de energia no País (BRASIL, [201-?]), a cons- trução de represas para produção de energia demanda o alagamento de grandes áreas, o deslocamento de comunidades afetadas e a consequente destruição da biodiversidade. Na Figura 1, você pode ver a represa de Itaipu, uma das maiores da América Latina, localizada entre o Brasil e o Paraguai. Figura 1. Represa de Itaipu. Fonte: Drone Photos Videos/Shutterstock.com. A produção e distribuição de energia elétrica, que, para os moradores dos centros urbanos, pode parecer uma tecnologia simples, facilmente dis- ponível ao apertar um interruptor e ligar uma lâmpada, ocasionam efeitos O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico2 prejudiciais ao meio ambiente e à natureza de maneira geral. Por isso, é essencial que exista uma preocupação constante em evitar o desperdício desse recurso, ao mesmo tempo tão importante e tão custoso social e ambien- talmente. Felizmente, os arquitetos têm a seu dispor técnicas e estratégias que podem ajudar a diminuir o impacto ambiental dos edifícios, reduzindo o consumo geral da edificação ao modificar a contribuição dos sistemas de condicionamento de ar. Embora a maioria dos profissionais concorda que seja necessário reduzir a pegada ambiental dos edifícios, não podemos abandonar uma das funções da arquitetura, que é justamente garantir o conforto dos usuários da construção, seja por meio de conforto térmico, acústico ou lumínico. O conforto térmico não é baseado apenas na temperatura, mas, como apre- senta a Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado (ASHRAE, na sigla em inglês), é um “[...] estado de espírito que reflete a satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa” (AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-CONDITIONING ENGINEERS, 2005, p., tradução nossa). Portanto, fatores como a ventilação, a umidade e a incidência solar contribuem para a sensação de calor, não neces- sariamente influenciando diretamente a temperatura do ambiente. Roberto Lamberts, Dutra e Pereira (2014) divide os fatores que influenciam o conforto térmico de um ambiente em variáveis comportamentais, como as roupas e o nível de atividade física dos usuários, e variáveis ambientais, considerando, nesse caso, a temperatura do ar, a temperatura radiante (aquela emitida pelas paredes do edifício, por exemplo), a velocidade do vento e a umidade relativa do ar, conforme você pode ver na Figura 2. Figura 2.Variáveis do conforto térmico. Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (2014, p. 46). 3O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico A arquitetura dispõe de técnicas para otimizar todas as variáveis ambien- tais de conforto, potencializando o bem-estar dos usuários do edifício sem a necessidade de gasto excessivo de energia. A seguir, veremos soluções para cada uma das categorias. Temperatura do ar Grande parte do aquecimento excessivo do ar no interior de um edifício é causada pela incidência solar direta, cujos raios infravermelhos aquecem os espaços. É possível, no entanto, projetar elementos de proteção solar que per- mitam a entrada desses raios nos meses mais frios, para justamente aumentar a temperatura interna, e os bloqueiem no verão, reduzindo o impacto térmico. Na Figura 3, você pode ver um exemplo de elemento de proteção solar. Figura 3. Proteção solar na fachada. Fonte: Brown (2007, p. 279). O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico4 Temperatura radiante Essa variável está relacionada à inércia térmica dos materiais construtivos, que são aquecidos lentamente durante o dia pela radiação solar e liberam esse calor durante os períodos mais frios, aquecendo o interior do edifício. Na Figura 4, você pode ver uma ilustração de como o calor irradia para o interior. Nesses casos, a melhor maneira de proteger o edifício é evitando a incidência solar direta em elementos que aqueçam em demasia. Figura 4. Calor radiante. Fonte: Brown (2007, p. 202). Velocidade do vento Talvez essa seja a mais conhecida técnica de condicionamento passivo. A ven- tilação dos ambientes renova o ar no interior e contribui para a evaporação do suor na pele dos usuários, ocasionando sensação de frescor. Na Figura 5, você pode ver uma construção que utiliza várias técnicas de resfriamento passivo; entre elas, a ventilação cruzada. 5O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico Figura 5. Ventilação cruzada. Fonte: Roaf (2009, p. 16). Umidade relativa do ar A manipulação da concentração de água evaporada no ar pode ser feita pela sua redução, realizada pela insolação e ventilação ou pelo aumento deliberado, com o uso de corpos d’água, como espelhos d’água, piscinas ou vasos. Na Figura 6, você pode ver como esse efeito foi utilizado em Brasília, cidade notoriamente seca. O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico6 Figura 6. Palácio do Itamaraty, projeto de Oscar Niemeyer. Fonte: vitormarigo/Shutterstock.com. Agora que você conhece as principais estratégias de controle passivo da sensa- ção térmica de um edifício, poderá explorar soluções para a geração local de energia elétrica e térmica, reduzindo o impacto de seus edifícios na matriz energética. 2 Uso de coletores solares para aquecimento Você já sabe que os raios infravermelhos presentes na luz solar têm a capa- cidade de aquecer os ambientes internos de uma edifi cação. No Brasil, esse geralmente é um problema, devido às altas temperaturas médias existentes em 7O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico nosso País. No entanto, quando bem projetada, uma edifi cação pode aproveitar a luz solar tanto para aquecer seu interior quanto para gerar energia elétrica ou aquecer água para uso. A seguir, então, vamos tratar destas três estratégias: como fazer o sol entrar no edifício para aquecer o ambiente diretamente; como coletar a luz solar e gerar energia elétrica, que posteriormente pode ser utilizada na iluminação e, até mesmo, no aquecimento do edifício; como utilizar a energia solar para aquecer água para banhos e calefação. Aquecimento passivo Para entender como a luz solar pode ser manipulada para trabalhar em favor do conforto térmico dos usuários, é preciso compreender o movimento apa- rente do Sol. Na Figura 7, você pode ver como a rotação do planeta Terra em torno do Sol faz um Hemisfério estar sempre em uma linha direta com o astro celeste, enquanto o hemisfério oposto está mais afastado. Essa diferença de posição é o que causa as estações do ano. Quando é verão no Hemisfério Sul, este está mais próximo do Sol, enquanto o Hemisfério Norte, mais afastado, passa pelo inverno. Seis meses depois, a situação se inverte: faz frio no Sul e calor no Norte. Figura 7. Rotação da terra. Fonte: Roaf (2009, p. 141). O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico8 Por esse motivo, o ângulo de incidência solar é diferente no verão e no inverno, permitindo que os arquitetos manipulem a incidência solar direta em seus projetos. Na Figura 8, você pode ver como o movimento aparente do Sol se modifica ao longo do ano, ficando mais baixo durante os meses de inverno e mais alto no verão. Figura 8. Movimento aparente do Sol. Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (2014, p. 122). 9O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico Para evitar que o Sol entre diretamente nos espaços nos meses mais quentes, pode ser utilizado um elemento chamado de brise-soleil, uma superfície que evita a incidência solar direta de acordo com o ângulo do Sol nos períodos quentes do ano. Na Figura 9, você pode ver um exemplo. Como você sabe, no inverno, a luz solar fica com um ângulo mais baixo e, logo, entrará no espaço. Figura 9. Brise-soleil. Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (2014, p. 132). Placas fotovoltaicas Essa tecnologia transforma os raios solares em energia elétrica, possibilitando que os usuários do edifício que você projetou utilizem a eletricidade da maneira que acharem mais conveniente. Diminui, portanto, a necessidade de cuidados especiais com a economia de energia, uma vez que se trata de uma energia limpa, renovável e inesgotável. O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico10 A unidade fotovoltaica básica é a “célula solar”, que forma os “módulos fo- tovoltaicos”, elementos de fácil manuseio que, conectados entre si, compõem o gerador elétrico de uma instalação fotovoltaica. Os módulos fotovoltaicos transformam diretamente a luz solar em energia elétrica e podem ser incluí- dos de muitas maneiras nos sistemas de vedação externa de uma edificação (CHIVELET; SOLLA, 2010, p. 33). As placas fotovoltaicas são formadas por conjuntos de células. Segundo Chivelet e Solla (2010, p. 34), as células são fabricadas por lâminas de silício cristalino com “[...] cerca de 100 centímetros quadrados de superfície e décimos de milímetros de espessura”, próximo às dimensões de uma folha de papel. Esses elementos são revestidos de uma película antirreflexiva cujo objetivo é o aumento da eficiência energética. Finalmente, uma malha metálica “[...] constitui o contato ôhmico da face voltada para o Sol” (CHIVELET; SOLLA, 2010, p. 34). Esses elementos são agrupados em módulos, que são constituí- dos de conjuntos de células e de uma estrutura de proteção e transmissão de energia, conforme você pode ver na Figura 10. Figura 10. Módulo fotovoltaico. Fonte: Chivelet e Solla (2010, p 39). 11O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico A chave para a eficiência das placas fotovoltaicas é seu posicionamento em relação ao Sol. Geralmente, são instaladas nas coberturas, onde o sombreamento é praticamente inexistente. É importante que elas estejam voltadas levemente para o lado onde existe a maior incidência solar (Norte, no Hemisfério Sul). Atualmente, existem alguns módulos que podem ser instalados em fachadas verticais, com menos eficiência que os horizontais, mas garantindo maior área de cobrimento. Aquecimento de água solar Além da energia elétrica, o calor do Sol pode ser captado diretamente em placas de aquecimento de água, elementos que fi cam expostos à luz solar, mas protegidos dos demais infl uenciadores térmicos, como temperatura ex- terna e ventos. Nesse caso, os raios infravermelhos aquecem o líquido que é posteriormente armazenado em tanques térmicos: A água circula em serpentinas por estas placas, num plano com a cor preta para maximizar a absorção solar.Um pano de vidro protege o sistema das intempéries e também provoca o 'efeito estufa' dentro do coletor, bloqueando a passagem do calor nas placas aquecidas (radiação de onda longa) de volta ao exterior (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014, p. 232). Esse sistema é bastante utilizado no Brasil, sendo uma alternativa relativa- mente barata e de fácil manutenção, que aproveita um recurso natural abundante em nosso País. Na Figura 11, você pode ver uma placa de aquecimento solar do tipo tubo de vácuo. O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico12 Figura 11. Placa de aquecimento de água. Fonte: Beautiful landscape/Shutterstock.com. Agora que você sabe como o condicionamento térmico dos edifícios pode ser feito de modo a economizar energia elétrica e como os próprios edifícios podem gerar sua energia, vamos ver outro aspecto do conforto ambiental, a acústica, e como os materiais utilizados para melhorá-la impactam a natureza. 3 O impacto ambiental dos materiais acústicos A performance acústica dos espaços é o resultado da interação entre os ruídos gerados interna e externamente ao recinto e os materiais que revestem os elementos arquitetônicos. Muitas vezes, um ambiente residencial acaba sendo desconfortável porque está localizado em uma região muito barulhenta da cidade; outras vezes, escritórios se tornam pouco efi cientes porque o barulho gerado pelos trabalhadores é amplifi cado por todo o ambiente. Para solucionar esses problemas, existe uma série de materiais projetados em específico para isolar acusticamente o interior dos edifícios, para mitigar os problemas causados pelos sons externos ou para diminuir a reverberação dentro dos ambientes, no caso do ruído causado pelo uso dos espaços. Porém, como sabemos, o processo da construção civil é responsável por uma parcela 13O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico considerável da poluição ambiental e emissão de gases do efeito estufa. Para diminuir o impacto dos nossos edifícios no meio ambiente, é preciso que os arquitetos conheçam materiais e técnicas cujo impacto seja o menor possível. Atualmente, as preocupações com o meio ambiente e as certificações ambientais como o LEED (do inglês Leadership in Energy and Environmental Design, ou Liderança em Energia e Design Ambiental) e o PBE Edifica (Pro- grama Brasileiro de Etiquetagem em Edificações) levaram as fabricantes de materiais de construção a repensarem os processos e materiais utilizados em seus produtos para dirimir o impacto das construções na degradação do meio ambiente. A seguir, veremos alguns materiais com características acústicas que são alternativas para melhorar a performance ambiental dos edifícios. O LEED é um reconhecido sistema internacional de certificação e orientação am- biental para edificações utilizado em mais de 160 países. Seu objetivo é incentivar a transformação dos projetos, das obras e das operações das edificações, provendo a comprovação de que uma edificação foi projetada e construída utilizando estratégias focadas em otimizar a performance de todas as métricas sustentáveis mais importantes: eficiência energética e hídrica, redução da emissão de CO2 e qualidade ambiental interna otimizada. Fonte: Adaptado de Boston University’s Sustainability Program ([201-?]). OSB O OSB (do inglês oriented strand board) foi desenvolvido para ser uma alternativa barata aos painéis de compensado. As chapas são fabricadas por um processo em que “[...] lascas de madeira são prensadas em camadas per- pendiculares e unidas com resina aplicada sob alta pressão e temperatura” (PEREIRA, 2020, documento on-line). O resultado são chapas com elevado nível de resistência mecânica e bom isolamento térmico. Quanto à acústica, sua alta densidade o torna um bom isolante, podendo ser utilizado para isolar um ambiente do outro. Além disso, a rugosidade característica do OSB o torna um ótimo redutor de reverberação, atenuando o eco no interior dos ambientes. Na Figura 12, você pode ver o interior de uma escola de música cujas paredes são revestidas com placas de OSB para melhorar a acústica interna. O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico14 Figura 12. Eclética centro de música, projeto do escri- tório 0E1 Arquitetos. O OSB pode ser fabricado a partir de rejeitos da indústria da marcenaria, uma vez que as lascas não precisam ter dimensões padronizadas. Desse modo, trata-se de um material que utiliza parte de um material que seria descartado. Além disso, as placas podem ser reutilizadas e recicladas, formando outros componentes como matéria-prima. Painéis acústicos industrializados Atualmente, existem diversos elementos industrializados que permitem uma grande previsibilidade quanto ao comportamento acústico. Módulos de forro, revestimentos de paredes e pisos podem ser combinados para garantir a melhor performance acústica possível. No entanto, é preciso conhecer os processos de fabricação para não utilizar materiais danosos ao meio ambiente. 15O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico Os painéis acústicos Soundscape Shapes, da empresa Armstrong Ceilings, por exemplo, garantem absorção sonora 66% maior do que forros de gesso tradicionais, uma vez que são produzidos com fibra de vidro coberto por uma membrana que absorve as ondas sonoras. Na Figura 13, você pode ver esse material aplicado em módulos hexagonais em um escritório. Figura 13. Forro Soundscape Shapes. Fonte: Armstrong Ceiling Solutions/ArchDaily.com. Uma das características que tornam esse material um diferencial em projetos que almejam obter certificações ambientais é que ele é fabricado utilizando um mínimo de 50% de material reciclado obtido de fontes pós-consumo. Ainda no campo dos materiais industrializados, existem opções fabricadas utilizando matéria-prima reaproveitada da indústria moveleira. É o caso dos revestimentos Natura Acústico, da fabricante Hunter Douglas. Esses elementos são fabricados com uma diversidade grande de chapas naturais que podem se adaptar aos mais diversos projetos. As características acústicas da madeira natural são aproveitadas nesse revestimento para melhorar a performance ao reduzir a reverberação no interior dos espaços. Por se tratar de um produto industrializado e padronizado, é O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico16 possível obter informações precisas sobre os coeficientes de absorção sonora do material, como você pode ver na Figura 14, que mostra o comportamento das chapas em diferentes frequências. Figura 14. Absorção sonora em relação à frequência dos sons. Fonte: Hunter Douglas Brasil/ArchDaily.com. Telhas termoacústicas Além dos revestimentos de paredes e forros, existem alguns materiais cons- trutivos e, até mesmo, estruturais que podem ser utilizados para melhorar a performance acústica e diminuir o impacto ambiental dos edifícios. Um dos exemplos mais típicos desse tipo de material são as telhas termoa- cústicas, geralmente fabricadas como um sanduíche, com duas folhas de telhas metálicas que protegem uma camada de material isolante termoacústico, como o poliuretano. Na Figura 15, você pode ver uma dessas telhas. 17O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico Figura 15. Telha metálica com poliuretano. Fonte: DedMityay/Shutterstock.com. Esse tipo de material de construção permite que o som do exterior não penetre o interior da edificação, ao mesmo tempo que forma uma camada de isolamento térmico, causado pela grande inércia térmica do material isolante. Neste capítulo, você viu como o conforto térmico no interior de um edifício é alcançado pela combinação de diferentes fatores, tanto ambien- tais quanto comportamentais. Também entendeu que existem maneiras de gerar a energia elétrica que será consumida localmente, reduzindo o impacto da edificação na rede elétrica pública, e viu que os materiais de construção podem ter um grande impacto na pegada ecológica dos projetosde arquitetura, podendo garantir ou impedir o recebimento de certificações ambientais. Dispondo desse conhecimento, é hora de aplicá-lo em seus projetos. Nunca esqueça que suas obras devem ter um impacto positivo no meio ambiente, evitando que os edifícios poluam mais do que o necessário ao desperdiçar energia. O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico18 AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-CONDITIONING ENGINEERS. Handbook: fundamentals. New York: The Society, 2005. BOSTON UNIVERSITY’S SUSTAINABILITY PROGRAM. What is LEED. [201-?]. Disponível em: https://www.bu.edu/sustainability/what-were-doing/green-buildings/leed/. Acesso em: 11 ago. 2020. BRASIL. Fontes de energia renováveis representam 83% da matriz elétrica brasileira. [201- ?]. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/energia-minerais-e-combusti- veis/2020/01/fontes-de-energia-renovaveis-representam-83-da-matriz-eletrica-bra- sileira. Acesso em: 11 ago. 2020. BROWN, G. Z. Sol, vento e luz: estratégias para o projeto de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. (E-book). CHIVELET, N. M.; SOLLA, I. F. Técnicas de vedação fotovoltaica na arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2010. LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. Rio de Janeiro: Eletrobras/PROCEL, 2014. (E-book). PEREIRA, M. A versatilidade do s painéis OSB em 12 projetos. ArchDaily, 2020. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/938707/a-versatilidade-dos-paineis-osb-em-12- -projetos. Acesso em: 11 ago. 2020. ROAF, S. A adaptação de edificações e cidades às mudanças climáticas. Porto Alegre: Bookman, 2009. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 19O uso de energias limpas para o conforto térmico e acústico Dica do professor Há algumas fontes de energia renováveis que podem ser implementadas no cotidiano das residências. Muitas pessoas podem achar que é um investimento alto para o uso em apenas uma unidade habitacional, mas você sabia que a energia solar pode ser útil para diversas finalidades em uma residência? Na Dica do Professor, conheça um pouco mais sobre essa energia limpa e saiba como é feita a sua implementação em residências e edifícios por meio das placas fotovoltaicas. Além disso, veja um sistema muito simples para aquecimento solar de água. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/0db8aff941161903752bd7ccaaf921c8 Exercícios 1) A principal fonte de produção de energia elétrica do Brasil, atualmente, são as usinas hidrelétricas. Qual é a maior desvantagem desse tipo de energia sob o ponto de vista da sustentabilidade? A) Libera muito gás carbônico na atmosfera, contribuindo para a poluição e para o efeito estufa. B) Preserva os ecossistemas locais, o que já não é lucrativo no modo de produção das sociedades contemporâneas. C) Alaga grandes áreas, prejudicando os ecossistemas locais e demandando deslocamento de comunidades. D) Demanda muita energia elétrica e mão de obra para a sua construção, o que faz com que não seja lucrativa. E) O Brasil não possui recursos naturais, como cursos de rios, suficientes para tal tipo de geração energética. 2) O conforto das edificações se dá por diversos fatores. Entre os mais importantes, está o conforto térmico. Analise as assertivas sobre o conforto térmico: I - É baseado na temperatura dos ambientes, exclusivamente. II - Entre os quesitos de conforto térmico, estão as roupas e a atividade física dos usuários. III - Apesar de multifatorial, o conforto térmico não é influenciado pela umidade relativa do ar. Está(ão) correta(s): A) as assertivas I e II. B) a assertiva III. C) as assertivas I, II e III. D) a assertiva II. E) as assertivas II e III. 3) Diversos são os fatores que interferem na temperatura interna de um ambiente; um deles é a temperatura radiante. A esse respeito, analise as afirmativas a seguir e selecione a alternativa correta em relação a elas: I - Em regiões muito frias, indica-se a especificação de materiais com grande inércia térmica. II - Este tipo de material absorve o calor da radiação solar e o armazena, liberando-o dentro do ambiente nos períodos sem insolação direta e colaborando para o aquecimento do ambiente interno. A) A afirmativa I é falsa e a II é verdadeira. B) As duas afirmativas são verdadeiras, mas a afirmativa II não é justificativa da I. C) As duas afirmativas são falsas. D) A afirmativa I é verdadeira e a II é falsa. E) As duas afirmativas são verdadeiras e a afirmativa II é justificativa da I. 4) A construção civil é responsável por quase metade do consumo energético no mundo e por 30% da emissão de gases do efeito estufa. A escolha dos materiais utilizados em um projeto impacta de forma significativa no desempenho sustentável da edificação. Assinale como verdadeira (V) ou falsa (F) as seguintes afirmações: ( ) O OSB é um material com excelente desempenho acústico e, por ser reciclável, é de baixo impacto ambiental, embora sua resistência mecânica seja baixa. ( ) Uma das vantagens do uso de painéis acústicos industrializados é a previsibilidade do desempenho acústico. ( ) As telhas termoacústicas são, geralmente, fabricadas com uma estrutura tipo sanduíche, com uma camada de material isolante entre as telhas metálicas. Selecione a alternativa que apresenta a sequência correta. A) V - V - V. B) F - F - F. C) F - V - V. D) V - F - F. E) V - V - F. 5) A incidência solar sobre as edificações pode representar um problema em regiões de clima quente, mas, se bem projetada, uma edificação pode tirar proveito dessa situação utilizando a luz solar tanto para aquecer os ambientes internos, quanto para gerar energia elétrica. Considere as seguintes afirmativas: I - Para projetar elementos de proteção solar efetivos, é necessário entender a incidência solar nas diferentes estações do ano. No inverno, o sol é mais alto, por isso elementos de proteção horizontais são dispensáveis. II - No hemisfério sul, placas fotovoltaicas devem estar orientadas para o sul. III - As placas de aquecimento de água são protegidas por um pano de vidro, que bloqueia a passagem das intempéries e também gera uma espécie de efeito estufa no coletor. Está(ão) correta(s) apenas: A) a afirmativa I. B) a afirmativa II. C) a afirmativa III. D) as afirmativas I e II. E) as afirmativas II e III. Na prática Os materiais termoacústicos podem ser responsáveis por mais do que o desempenho na habitabilidade das edificações. Materiais como as telhas sanduíche também podem ser responsáveis pela plasticidade dos projetos arquitetônicos. Neste Na Prática, observe como todo o potencial desse material foi explorado em duas casas da arquiteta carioca Carla Juaçaba. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/e4f6fe19-937d-4b17-96a2-7e57e51b7a87/fffefa0a-59bf-45c2-860e-f4feec45ad67.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Estratégias bioclimáticas Conheça, de forma dinâmica e ilustrada, as principais estratégias bioclimáticas voltadas ao conforto ambiental. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/
Compartilhar