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AULA 1 FONTES DE FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO Prof. Edson Miguel Zedebski 2 TEMA 1 – OPÇÕES POR FONTES PARA FINANCIAMENTOS EMPRESARIAIS As complexidades e as condições impostas para obter financiamentos de longo prazo para o setor privado no Brasil fazem parte de um cenário amplamente conhecido nos meios empresariais e representam um significativo obstáculo à obtenção de um volume de investimentos necessários para a geração de maior produtividade e competitividade. A ampliação da oferta de recursos financeiros para o setor produtivo a um custo de capital e com condições de financiamento no longo prazo que se mostrem compatíveis com as disponíveis para concorrentes globais é de fundamental importância para a retomada do crescimento da economia brasileira. No Brasil, o crédito corporativo de longo prazo foi historicamente suprido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com a utilização de recursos públicos que financiou grande parte dos investimentos feitos pelas empresas de infraestrutura como forma de buscar expansão e modernização. Um bom planejamento estratégico quanto às finanças empresariais deve contemplar as metas a atingir em curto, médio e longo prazos e estar alicerçado em ações eficientes e eficazes para o estabelecimento de soluções que considerem as variáveis adequadas a cada propósito, inclusive para a implantação de projetos que visem o crescimento e a expansão dos negócios. Um planejamento financeiro recomendável é aquele que permite o gerenciamento equilibrado de fontes de curto e de longo prazos oferecendo uma combinação otimizada entre os capitais próprios e os capitais de terceiros, ou seja, uma ideal estrutura de capital. O Financiamento de Longo Prazo é, em geral, realizado por meio do mercado de capitais, com emissão de títulos junto aos investidores institucionais. Os bancos refletem os baixos níveis de renda e poupança e são os principais agentes, tanto da intermediação financeira como da oferta de crédito para as empresas que buscam financiamento em um país no qual a estrutura em que os intermediários privados atuam quase essencialmente no curto prazo e em que a poupança doméstica é relativamente pequena. 3 1.1 Considerações gerais sobre financiamento de longo prazo no Brasil Os Financiamentos de Longo Prazo usualmente são captados para investimentos em ativos imobilizados que geram custos financeiros, os quais não são necessariamente apenas quantias em dinheiro. Uma das fontes de capital de terceiros que merece destaque diz respeito aos fornecedores de bens e serviços que, juntamente com as Despesas a Pagar, são conceituados como fontes espontâneas de Financiamento de Curto Prazo, para os quais não é oferecido nenhum tipo de garantia. Os bancos comerciais são importantes na captação de recursos como fonte não espontânea, pois, quando as empresas solicitam créditos de acordo com suas necessidades, se estes forem negados, podem levar à perda de oportunidades de crescimento ou competitividade. Na sua grande maioria, as empresas brasileiras consideradas de grande porte são as estatais e as multinacionais, e, ato contínuo, as grandes empresas nacionais são, também na sua grande maioria, de origem familiar e demonstram grande capacidade de autofinanciamento, característica que denota o predomínio das ações preferenciais na estrutura de capital priorizando a participação nos lucros. As fontes de financiamento de longo prazo disponíveis no Brasil apresentam peculiaridades quando comparadas com as do mercado internacional. Assaf Neto e Lima (2014) destacam três: altos encargos financeiros, escassez de oferta interna de crédito de longo prazo e restrições à oferta de novas ações e debêntures, devido à baixa maturidade do mercado de capitais nacional. Para obter financiamentos no mercado financeiro, as empresas necessitam apresentar um relacionamento estreito com instituições financeiras, investidores e potenciais investidores, bem como com agências governamentais. Para obter sucesso em seus intentos de obtenção de recursos para o financiamento de suas atividades, os gestores da empresa devem ter conhecimentos e habilidades para evidenciar a situação econômica, financeira e patrimonial para seja possível efetuar análises e avaliações quanto a sua capacidade de pagamento e riscos. Para quem está do outro lado, considerando a possibilidade de fornecer capital, trata-se de uma transação de investimento que corresponde a uma relação risco-retorno e que pode vislumbrar retornos em 4 outras aplicações de capital, pois tratam-se de bancos, agências de fomento e acionistas que vão observar suas exigências legais e remuneratórias. Os empréstimos por parte do BNDES, diretos ou por meio de agentes financeiros, respondem pela maior parte dos financiamentos corporativos de prazo mais longo. Entretanto, o crédito do mercado de capitais, assim como o dos bancos, sempre teve um papel menor e opera de forma complementar ao banco de desenvolvimento. Os financiamentos do BNDES, em sua grande maioria, destinam-se a investimentos em Ativos Imobilizados e fontes advindas de empréstimos de longo prazo e debêntures e por sua vez são usados, quase que exclusivamente, no alongamento de dívidas e no reforço do Capital de Giro. Haja vista os títulos da dívida pública atrelados à taxa básica de juros da economia, a Selic, a grande maioria dos agentes financeiros demonstra uma tendência de curto prazo em suas decisões, priorizando aplicações com remuneração referenciada à taxa de juros do mercado interbancário, iniciativa que dificulta o surgimento de um mercado de financiamento de longo prazo. Tanto o mercado privado de crédito bancário como o mercado de capitais são fontes muito tímidas para financiamento de projetos de longa vida econômica. Por um lado, por não haver captação doméstica de longo prazo, os bancos só concedem financiamento de longo prazo como repassadores do BNDES. Por outro lado, como o mercado doméstico de títulos privados é pouco desenvolvido e sem liquidez, os bancos e as empresas enfrentam dificuldades para captar recursos mediante emissão de títulos de dívida com prazos de vencimento mais longos, com nível de remuneração compatível ao retorno dos seus negócios. Existem também as fontes de financiamento via Patrimônio Líquido, ou seja, recursos dos próprios sócios da empresa e que não implicam pagamentos fixos e, portanto, apresentam maior risco para os credores. Em contrapartida, espera-se que haja um retorno maior e, diante disso, apresentam elevado custo, sendo suas origens mais comuns o aporte direto de recursos do proprietário e a emissão de ações, que é, em última análise, uma busca pelo mercado de capitais. TEMA 2 – ESTRUTURA DE CAPITAL Uma situação entendida como ideal é aquela em que os valores investidos nos itens circulantes (curto prazo), representados por Contas a Receber e Estoques, entre outros, venham a ser suportados por financiamentos circulantes 5 (curto prazo). Ao gerir o patrimônio empresarial, é fortemente recomendável buscar não financiar operações de longo prazo com capital de curto prazo. O desenvolvimento de políticas criteriosas quanto a prazos a serem praticados tanto para pagamentos como para recebimentos de valores contribui sobremaneira para o estabelecimento de ciclos operacionais e financeiros equilibrados. Em que Ativos a empresa deve investir? Essa questão é pertinente ao lado esquerdo do Balanço Patrimonial. Quadro 1 – Balanço Patrimonial Balanço Patrimonial Ativos Passivos Bens da empresa Como estão financiados O fator determinante é a natureza da atividade da empresa. As empresas dispõem de fontes internas e fontes externas de recursos financeiros para o financiamento de suas atividades, e, conforme a evolução dos seus negócios, pode haver lucros retidosno decorrer dos períodos. De que modo a empresa levanta dinheiro para custear os dispêndios de capital necessários? O financiamento pode ser obtido de duas fontes: Passivo Não Circulante e Patrimônio Líquido. Essa é uma questão que diz respeito ao lado direito do Balanço Patrimonial e envolve a estrutura de capital da empresa, que indica a proporção de capital próprio e capital de terceiros de curto e longo prazos. Estrutura de capital diz respeito à proporção na qual as empresas recorrem aos capitais próprios e capitais de terceiros para financiar os investimentos necessários para atingir os objetivos e os retornos almejados. Os capitais de terceiros são fontes externas que oferecem recursos a serem pagos em até um ano (curto prazo) ou em prazos superiores (longo prazo) representados pelos financiamentos obtidos por meio de dívidas contraídas junto às fontes de financiamento: obtenção de recursos de fornecedores, empréstimos bancários, debêntures, commercial papers e outros (fundos especiais de instituições públicas, recursos captados no exterior etc.), os quais apresentam um custo para as empresas. No Passivo Não Circulante, os recursos de terceiros mais importantes são debêntures e empréstimos bancários. Os empréstimos bancários são adquiridos 6 no mercado de crédito, enquanto as debêntures são títulos emitidos no mercado de valores e títulos mobiliários. O custo do financiamento a longo prazo é, geralmente, maior do que o custo do financiamento a curto prazo. Os capitais próprios são representados pelos recursos investidos pelos sócios, proprietários ou acionistas destacados no Patrimônio Líquido (Capital Social e seus resultados) e que igualmente apresentam um custo para as empresas. Como devem ser geridos os recursos de curto e longo prazo? Quadro 2 – Recursos de curto e de longo prazo BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO DI Ativo Circulante Ativo Não Circulante Passivo Circulante Passivo Não Circulante (Dívidas de Longo Prazo) DF Patrimônio Líquido: Sócios Total ATIVO Total PASSIVO + PAT LIQ. Por convenção ou padrão técnico, figuram ao lado esquerdo os investimentos (Decisões de Investimento = DI), e, ao lado direito, como foram financiados (Decisões de Financiamento = DF) esses investimentos. As fontes externas propriamente ditas compreendem recursos próprios e recursos de terceiros. A título de noções introdutórias e com vistas a melhorar a compreensão de como são observados, de um ponto de vista contábil, os investimentos e os financiamentos das atividades operacionais básicas de uma empresa, é apresentado a seguir, de forma simplificada, um exemplo do demonstrativo chamado Balanço Patrimonial de uma empresa qualquer. Quadro 3 – Balanço Patrimonial BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO Circulante Circulante 7 Caixa e Bancos 10.000 Fornecedores 20.000 Clientes 20.000 Empréstimos Curto Prazo 10.000 Estoques 30.000 Não Circulante 30.000 Não Circulante Empréstimos Longo Prazo Imobilizado 40.000 Patrimônio Líquido 40.000 Total 100.000 Total 100.000 Buscando uma breve interpretação do Balanço Patrimonial ora apresentado como modelo, é possível constatar que a empresa do exemplo possui 60% de seus investimentos em ativos denominados circulantes ou de curto prazo (Caixa e Bancos R$ 10.000 + Clientes R$ 20.000 + Estoques R$ 30.000 = R$ 60.000 ou 60% do ativo total). Os 40% restantes estão investidos em ativos denominados não circulantes (Imobilizado R$ 40.000 ou 40% do ativo total). Também é possível constatar que a empresa financia 30% das operações com recursos provenientes de passivos chamados circulantes ou de curto prazo (Fornecedores R$ 20.000 + Empréstimos Curto Prazo R$ 10.000) e os 70% restantes com vencimentos de longo prazo (Empréstimos Longo Prazo R$ 30.000 + R$ 40.000 de capital próprio ou patrimônio líquido). Entendendo que uma vez que os Estoques são adquiridos dos Fornecedores e que ambos estão representados no balanço por seus valores de “custo”, é possível perceber que dos R$ 30.000 em estoque, apenas R$ 20.000 estão financiados pelos Fornecedores na data do balanço e os outros R$ 10.000 precisam ser financiados por Capital de Giro da empresa. Complementando as observações, à medida que os estoques são vendidos aos clientes, e estes efetuam o pagamento, os recursos (dinheiro) ingressam no Caixa e são utilizados (aplicados), entre outras destinações, para pagamento dos fornecedores. Como recursos próprios que poderão ser carreados para o empreendimento, destacam-se ampliação do capital social do negócio mediante aporte de capital ou negociação de novas ações no mercado primário de capitais, conforme se verá um pouco mais à frente. Uma das características muito relevantes a destacar quanto à gestão das fontes de financiamento está diretamente associada ao binômio risco/retorno, pois em linhas gerais os investidores tendem a realizar investimentos que proporcionem maiores retornos e apresentem grau de risco baixo ou moderado. O risco elevado dos projetos de investimento de longo prazo afasta os investidores 8 e bancos privados, que encontram melhor opção nos títulos públicos, ativos com rentabilidade e liquidez elevadas. TEMA 3 – RECURSOS DE TERCEIROS PARA FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO 3.1 Fundos especiais de instituições públicas Para se obter recursos com perfil de longo prazo, há modalidades de financiamento ofertadas pelos bancos de desenvolvimento, tais como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, bancos regionais e estaduais e ainda alguns bancos comerciais que contam com linhas de crédito para compra de ativos fixos e, eventualmente, para capital de giro. Para o acesso a linhas de crédito existentes, é habitual a intermediação de alguma instituição financeira que a empresa tomadora utiliza regularmente para sua movimentação de disponibilidades, à qual se atribuem os procedimentos de análise de crédito e disponibilização de garantias, entre outros detalhes. As taxas de juros e os demais custos dessas linhas de crédito costumam ser significativamente baixas em relação ao que se pratica no mercado, e a prioridade é para aquisição de máquinas e equipamentos novos e também para ampliação da capacidade produtiva da empresa tomadora, que pode pertencer a qualquer setor, desde que legalmente estabelecida no país. Há também a possibilidade de captação de recursos no exterior na forma de empréstimos em moeda e financiamento de importações. 3.2 Debêntures As debêntures representam títulos de crédito de médio e longo prazos emitidos privativamente por sociedades anônimas e prioritariamente de capital aberto, que são negociadas em mercado primário e secundário, geralmente envolvendo valores elevados para captar recursos para financiar projetos de investimentos ou saldar dívidas do emitente. No caso de operações efetuadas por companhias de capital fechado, caracterizam-se como operações de balcão, ou, em outras palavras, um mercado 9 em que as negociações são realizadas transacionando ações de empresas não listadas em bolsas de valores e que resultam em taxas de juros mais elevadas. Levando em conta suas características operacionais, as debêntures podem ser lançadas no mercado com descontos (abaixo do valor nominal) ou com prêmio (acima do valor nominal). Os investidores que as adquirem recebem uma remuneração de juros periódicos, prêmio e outros rendimentos fixos ou variáveis sobre o valor emprestado, além de dividendos e reembolso específico do principal – o valor nominal da debênture – na data do seu vencimento, com todas as características da operaçãoestabelecidas em escritura. Elas podem ser oferecidas de forma direta ou por oferta pública. Uma colocação de debênture em um mercado de forma direta é feita diretamente a um comprador ou grupo de compradores, formado geralmente por instituições financeiras ou fundos de pensão. Tipos de debêntures quanto às garantias: com garantia real (penhor, hipoteca ou anticrese), com garantia flutuante (o ativo total da sociedade), sem garantia e subordinadas. Tipos de debêntures quanto aos direitos: podem ser simples e conversíveis em ações, em épocas e condições predeterminadas, possibilitando ao seu titular uma participação direta no capital da empresa lançadora da debênture. 3.3 Commercial papers Trata-se de nota promissória emitida no mercado externo, ou seja, em um mercado distinto da sede do investimento para captar recursos, o que configura uma dívida de curto prazo para atender necessidades financeiras específicas de uma empresa, tais como expansão, aquisição de novas máquinas e/ou equipamentos, modernização do parque fabril, entre outros. Os títulos permanecem sob a custódia do banco emissor e em nome de seus titulares com prazo de emissão entre 30 e 180 dias, em se tratando de companhias fechadas, e entre 30 e 360 dias, no caso de companhias abertas. 3.4 Leasing ou arrendamento mercantil Modalidade amplamente empregada para utilização de veículos, maquinários e equipamentos de informática. A parte que tem a necessidade de um bem e que o escolheu livremente no mercado é chamada de arrendatária. Por 10 sua vez, as arrendadoras são sociedades de arrendamento mercantil e carteiras de arrendamento mercantil de bancos múltiplos, devidamente autorizadas a operar e sob fiscalização direta do Banco Central do Brasil. A função da arrendadora é adquirir o bem, livremente escolhido pela arrendatária, junto ao fornecedor indicado por ela. Uma vez entregue o bem, a arrendatária deve cumprir com todas as obrigações relativas ao pagamento das parcelas correspondentes às contraprestações e também os valores contratados para pagamento de valor residual garantido, impostos e demais obrigações relativas ao bem objeto do contrato. Ao final do período, a arrendatária pode, se assim desejar, comprar o bem pelo valor e pelas formas estabelecidos no contrato. Os bens arrendados são normalmente cobertos por seguro com apólice específica contra incêndio, roubo, acidentes ou outras ocorrências previstas. 3.4.1 Leasing operacional ou locação Uma vez que não representa operação sujeita à regulamentação do Banco Central, é possível ser realizada por qualquer empresa que tenha adquirido um bem e queira cedê-lo a uma terceira por parte do período estabelecido em um contrato de locação. A manutenção do bem geralmente é de total responsabilidade da empresa locadora, e ao final do contrato, ou a qualquer tempo, observadas as cláusulas contratuais específicas, o bem deverá ser devolvido à locadora. O contrato pode estipular cláusula de opção de compra a ser oferecida ao locatário, com determinadas características contratuais. 3.4.2 Lease back Trata-se de operação de venda, para uma sociedade de arrendamento mercantil, de um determinado ativo fixo já pertencente a uma empresa. A empresa de arrendamento mercantil compra o bem e o arrenda ao próprio vendedor do ativo. O ativo permanece no mesmo local em que se encontra e continua sendo normalmente utilizado pela empresa que o vendeu, a qual poderá, ao final do contrato de arrendamento, exercer a opção pela compra do bem com base no valor residual garantido. 11 TEMA 4 – RECURSOS PRÓPRIOS PARA FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO 4.1 Mercado de capitais 4.1.1 Ações Quando acontece a abertura do capital pelo lançamento de ações ao público (I.P.O. – initial public offering), com autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e sua negociação em bolsas de valores, a empresa passa a ter uma forma permanente de obtenção de recursos, e quem adquire as ações passa a ser um dos donos da empresa. As ações representam a menor fração do capital de uma empresa e um investimento de prazo indeterminado de renda variável, sendo um título de propriedade, lastreado por um certificado de propriedade emitido por uma sociedade anônima, que garante a quem as possui o direito de receber dividendos periodicamente e também o direito de fiscalizar os negócios e participar das deliberações da sociedade por meio de voto proporcional ao seu quinhão de capital. Operações no mercado de capitais podem ocorrer no mercado primário e no mercado secundário. Quando um título é vendido pela primeira vez, ou seja, quando é posto em circulação no mercado financeiro, entende-se que tal operação ocorreu no mercado primário, no qual as empresas visam complementar os recursos de que necessitam e o financiamento de seus projetos. Quando o primeiro comprador revende um título a uma terceira pessoa, e esta revende para outra pessoa, esta operação se concretiza no mercado secundário, e o valor transacionado neste mercado não é direcionado para a empresa ou para o banco que emitiu o título, mas sim para um investidor que comprou o papel de um outro investidor. A função do mercado secundário é dar liquidez aos papéis que são negociados no mercado primário, revestindo-se, portanto, de um mercado importante para o funcionamento do mercado primário, pois os títulos não encontrariam colocação se não contassem com um mercado secundário bem organizado e em condições de dar liquidez a eles. As ações podem ser ordinárias ou preferenciais. As ordinárias proporcionam ao seu detentor o poder de voto nas assembleias deliberativas da empresa. As preferenciais não dão direito a voto ou o restringem, porém 12 concedem a quem as possui a prioridade para receber dividendos, bem como a restituição do valor investido no caso de extinção da empresa. Pelo fato de ocorrer a distribuição dos rendimentos aos acionistas na forma de dividendos e bonificações, às ações é conferida a característica de títulos de renda variável, até porque seu próprio valor não permanece previamente determinado. Para determinar a rentabilidade das ações em determinados períodos, são considerados a variação do preço mais os respectivos rendimentos ou proventos. O preço de compra e venda, ou seja, a fixação do valor de uma ação é determinada pelo mercado, e sua variabilidade ocorre de forma diretamente proporcional ao desempenho financeiro e de gestão da empresa emitente, observando a conjuntura econômica local e global. Já a distribuição de dividendos diz respeito a uma parcela dos lucros distribuídos aos acionistas, e seu valor é proporcional à quantidade de ações que cada um detém ao final de cada período social, sendo que deverá ocorrer distribuição de, pelo menos, vinte e cinco por cento do lucro líquido já contabilmente ajustado – no caso de a empresa apresentar prejuízos, esta não é obrigada a distribuir dividendos. A política de dividendos de uma empresa determina o valor dos dividendos pagos aos acionistas e a frequência com que os dividendos são pagos. A empresa poderá optar pela bonificação, característica que se refere a ações distribuídas aos acionistas gratuitamente, que geralmente ocorre além de um dividendo em dinheiro, não em vez dele. Saiba mais Para ampliar a compreensão do conteúdo deste tópico, sugerimos que assista aos vídeos: WEBINARS PPGE 2021 #10 - Norberto Montani Martins - Crédito Corporativo de Longo Prazo no Brasil. Canal IE, 30 jul. 2021. Disponível em: <https://youtu.be/Z7gu3B2xHhc>. Acesso em: 8 nov. 2021. O Papel do BNDES no financiamento de longo prazo. ANBIMA, 22 fev. 2021. Disponível em: <https://youtu.be/Cao1hR9fOzI>. Acesso em: 8 nov. 2021. Resultados do BNDES em 2020. BNDES. Disponível em: <https://youtu.be/J2D2y_icr4Q>. Acesso em: 8 nov. 2021. 13 TEMA5 – ESTUDO DE CASO Com o objetivo de melhor estruturar o raciocínio necessário ao bom andamento dos conteúdos disponibilizados, nesta e também nas próximas aulas, vamos identificar e apontar com base nas demonstrações a seguir apresentadas a composição das fontes de financiamentos com capitais de terceiros no curto e longo prazo (nomenclaturas e respectivos valores) e das fontes de financiamentos com capitais próprios (nomenclaturas e respectivos valores) em cada um dos anos. Quadro 4 – Demonstrações contábeis DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS BALANÇO ENCERRADO EM 31/12/ANO 1 31/12/ANO 2 31/12/ANO 3 A T I V O R$ R$ R$ CIRCULANTE 1.239.553 1.481.082 1.842.230 Financeiro 384.154 373.255 191.022 Caixa e Bancos 38.215 47.421 51.076 Aplicações Financeiras 345.939 325.834 139.946 Operacional 855.399 1.107.827 1.651.208 Duplicatas a Receber 309.764 425.504 658.298 Impostos a Recuperar 20.932 7.195 7.750 Estoques 418.382 603.988 851.620 Outros Valores a Receber 106.321 71.140 133.540 NÃO CIRCULANTE 270.534 300.115 323.244 Valores a Receber 270.534 300.115 323.244 PERMANENTE (NÃO CIRC) 937.503 948.735 954.167 Investimentos 211.540 163.850 76.478 Imobilizado 701.957 764.817 823.762 Intangível 24.006 20.068 53.927 TOTAL DO ATIVO 2.447.590 2.729.932 3.119.641 BALANÇO ENCERRADO EM 31/12/ANO 1 31/12/ANO 2 31/12/ANO 3 P A S S I V O R$ R$ R$ CIRCULANTE 566.055 889.423 1.192.903 Financeiro 229.068 444.553 598.279 Empréstimos e Financiamentos 137.454 225.875 317.606 Duplicatas Descontadas 91.614 218.678 280.673 Operacional 336.987 444.870 594.624 Fornecedores 201.402 244.150 332.338 Salários e Encargos a Pagar 72.539 89.286 106.018 Obrigações Fiscais 46.966 100.344 147.802 Outras Contas a Pagar 16.080 11.090 8.466 NÃO CIRCULANTE 561.129 431.948 389.280 Financiamentos Bancários 561.129 431.948 389.280 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.320.406 1.408.561 1.537.458 Capital Social 1.201.017 1.196.017 1.156.017 Reservas para Contingências 168.372 173.372 213.372 Lucros (Prejuízos)"Acumulados" -48.983 39.172 168.069 TOTAL DO PASSIVO 2.447.590 2.729.932 3.119.641 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO EXERCÍCIO FINDO EM 31/12/ANO 1 31/12/ANO 2 31/12/ANO 3 R$ R$ R$ RECEITA BRUTA DE VENDAS 1.819.717 2.313.729 2.845.866 14 (-)Devoluções e Abatimentos -27.364 -30.948 -53.995 (-)Impostos s/Vendas -445.400 -540.565 -658.232 RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 1.346.953 1.742.216 2.133.639 (-)Custo Mercadorias Vendidas -854.906 -1.046.315 -1.387.141 LUCRO BRUTO 492.047 695.901 746.498 (-)Despesas Operacionais: -528.784 -594.585 -578.791 Com Vendas -180.436 -201.719 -194.334 Gerais e Administrativas -329.394 -358.569 -335.809 Financeiras -18.954 -34.297 -48.648 LUCRO OPERACIONAL -36.737 101.316 167.707 Resultado não operacional -3.567 4.653 6.822 LUCRO ANTES DO IR e CS -40.304 105.969 174.529 Provisão para IR e CS 0 -26.493 -45.632 LUCRO LÍQUIDO EXERCÍCIO -40.304 79.476 128.897 15 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.; LIMA, F.G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
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