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GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE AULA 3 Prof.ª Aline Maria Biagi CONVERSA INICIAL Além das metas internacionais, as legislações e os procedimentos legais são instrumentos importantes na busca pela sustentabilidade. Na junção entre os crimes ambientais, que encadearam a discussão de temas ambientais, e a reflexão sobre o paradigma do desenvolvimento, inúmeros países passam a alterar suas legislações e criam novas com o intuito de promover a proteção do meio ambiente. No Brasil, em meio a políticas de desenvolvimento e à instalação de indústrias altamente poluidoras, ocorre a criação de órgãos de regulação e controle, além de legislações que regulamentaram oficialmente alguns pontos, como: a Política Nacional do Meio Ambiente – Lei n. 6.938/1981 e a Política Nacional de Crimes Ambientais – Lei n. 9.605/1998, entre outras. A criação de políticas nacionais, além de aprimorar a preservação e o controle ambiental, buscam também estimular ações que induzam a sustentabilidade. Dessa forma, vamos abordar essas políticas nacionais e sua ligação com a economia e as organizações. CONTEXTUALIZANDO Além de acordos e metas em escala global, algumas medidas se fazem necessárias para o controle ambiental local. Dessa forma, cada Estado gera instrumentos de instrução e controle na relação entre homem e ambiente natural. Vamos abordar alguns instrumentos de nível nacional e algumas abordagens de outros países. TEMA 1 – A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (PNMA) A Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída pela Lei Federal n. 6.938/1981 e é considerada a primeira grande de lei ambiental brasileira. Ela tem grande importância na criação do direito ambiental brasileiro, para o qual trouxe princípios e conceitos legais fundamentais do direito ambiental, apresentando também responsabilidades civil específica ao poluidor, o sistema nacional do meio ambiente e a legitimidade ativa do Ministério Público a ações de responsabilidade por danos ambientais. Ela tem como sua fundamentação o art. 225 da constituição federal, que cita: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações [...]. (Brasil, 1988) Os principais objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente são: preservação, recuperação e também um melhoramento da qualidade ambiental. Um ponto a ser observado dentre os objetivos da PNMA é a atribuição do termo qualidade ambiental ao seu conteúdo, “que determina que sejam estabelecidos padrões predeterminados para alcançar tal fim” (Barsano; Barbosa; Ibrahin, p. 52), considerando que não é possível um meio ambiente saudável respeitando e protegendo a biodiversidade e os demais recursos naturais se em contrapartida as empresas continuarem expelindo toneladas de gases tóxicos na atmosfera, e outros fatores impactantes não forem sanados (poluição visual, sonora, trânsito intenso etc.), se não houver reparo nas áreas degradadas, compensações às atividades sustentáveis, punição aos infratores, se não houver um controle e uma fiscalização para minimizar todos os impactos ambientais que possam de alguma maneira afetar a saúde pública em todas as suas vertentes, já que o homem é parte integrante desse processo. (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 52) A Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, traz em seu texto o conceito dos objetivos no art. 2: Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...]. (Brasil, 1981) As principais metas que a PNMA cita em seu art. 4 são a compatibilização do tripé sustentável, definição de áreas prioritárias, estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais, desenvolvimento de pesquisas e tecnologias, dados e informações relacionadas ao meio ambiente, preservação e restauração ambiental e imposição ao poluidor de recuperar ou indenizar os danos por ele dado causa (Brasil, 1981). E para que os objetivos e metas da política sejam alcançados, são necessários instrumentos jurídicos que regulem as atividades poluidoras e deem suporte à PNMA. Alguns desses instrumentos são descritos na lei, em seu art. 9: O zoneamento ambiental. A avaliação de impactos ambientais em atividades de degradação ambiental. O licenciamento e a revisão de atividades poluidoras. O incentivo à produção e instalação de equipamentos e a criação de tecnologias voltadas a qualidade ambiental. A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelos poderes públicos. A criação do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente. A criação do cadastro técnico federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental. Sobre o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), não é um órgão criado pela lei, mas sim um mecanismo legal, podendo ser de articulação, de funcionamento ou até mesmo de coordenação entre todos os órgãos que participam da proteção ambiental nas diferentes esferas (federal, estadual e municipal). Como reforça o art. 6 da Lei 6.938/1981: Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. Muitos desses instrumentos citados anteriormente foram incorporados nas políticas ambientais a nível estadual e municipal, ou mesmo “integrados às legislações específicas, como o Código Florestal, nas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) ou outras leis e normas afins, sempre tendo como direcionamento as diretrizes de PNMA” (Barsano, Barbosa, Ibrahin, 2016, p. 52). O Conama é de grande importância na instauração da PNMA, como função, realiza atos que podem ser moções que são realizados por manifestações públicas, proposições, recomendações e o mais comum que são as resoluções, que são atos infra legais sobre normas, padrões ou critérios. As Competências do Conama estão elencadas no art. 8 da Lei da PNMA: I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional. [...] V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos. (Brasil, 1981) Portanto, a PNMA instaura as várias atividades e regulamentações para o meio ambiente, objetivando a preservação e a recuperação, como também a melhoria da qualidade ambiental. Instrumentos de políticas ambientais inserem-se no contextomundial, e alguns exemplos da aplicação da Política Ambiental Internacional serão apresentados adiante. TEMA 2 – A POLÍTICA AMBIENTAL INTERNACIONAL Neste tópico, abordaremos a importância da proteção ao meio ambiente no âmbito internacional, uma vez que a proteção dos recursos naturais interessa a todos os países, considerando que um problema ambiental causado por um determinado país pode gerar desdobramentos e consequências a outros ou mesmo produzir impactos em escala global. Os gases do efeito estufa são um exemplo disso ou mesmo o fato de não existir fronteira “para uma corrente de ar que carrega fumaça tóxica ou para uma ave ou peixe que atravessa de um país a outro em seu percurso migratório” (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 34). Cada país determina as suas leis e normas visando a preservação ambiental, mas, para atingir o âmbito internacional, faz-se necessário cumprir os parâmetros ambientais mínimos acordados entre diferentes países (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016), conforme vimos em conteúdo anterior. Dias (2015), Barsano, Barbosa e Ibrahin (2016) citam as mudanças e os impactos causados pelo modelo de desenvolvimento adotado desde a Revolução Industrial no século XX. Tais mudanças colocaram a vida humana e o meio ambiente como objeto de preocupação ambiental entre países. Essa preocupação ambiental ocasionou a necessidade da existência de convenções, declarações e tratados internacionais, criando direitos e deveres de natureza ambiental. Mas o que seria um tratado internacional? Tratado internacional é um acordo por escrito, feito entre estados (no sentido de país soberano) ou Organizações Internacionais, entes capazes de assumir direitos e obrigações, sob a regência do Direito Internacional. (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 34) “O Direito Internacional regula, por meio de tratados e acordos internacionais, o comportamento dos países, das organizações e do indivíduo” (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 34). De acordo com Barsano, Barbosa e Ibrahin (2016, p. 34), a Organização das Nações Unidas “foi criada em 1945, com sede em Nova Iorque (EUA), é um organismo de caráter universal, aberto à participação de todos os Estados do mundo e ao tratamento de qualquer tema, incluindo o meio ambiente, merecendo destaque a sua intensa atuação em importantes tratados”, como a Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano em 1972; Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992; Agenda 21; Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, entre outras. É possível observar alguns exemplos que colocaram a sustentabilidade como questão central na gestão pública, como a visão mais preservacionista presente na década de 1920 nos Estados Unidos, que incentivou o aumento do número de parques nacionais e áreas de preservação de florestas, e as questões de poluição e remediação da água, legadas então à área de saúde pública, serem centrais na criação de bases para a Política Nacional de Meio Ambiente (US National Environmental Policy Act) em 1969 e a Agência de Proteção Ambiental Americana (US Environmental Protection Agency – Usepa), em 1970; no Canadá, a criação do Environment Canadá (1972), um órgão formulador e executor de políticas relacionadas a questões ambientais e posteriormente a constituição do “Código de Proteção Ambiental Canadense (Canadian Environmental Protection Act – Cepa), que foi reformulado e ampliado em 1999” (Philippi Jr. et al., 2014, p. 22). Além desses, na Europa, a Alemanha já possuía, na constituição de 1949, aspectos relacionados à questão ambiental, que ganharam maior ênfase na Constituição de 1994, com a criação da Agência de Proteção Ambiental, a qual levou à criação de outros órgãos de proteção ambiental no país. Já a Suécia criou a primeira Agência de Controle Ambiental do mundo, a Swedish Environmental Protection Agency, em 1967, a qual possibilitou vários avanços na área ambiental, a considerar que as “questões induzidas pela agência nacional sueca foram levadas, em conjunto com a Agência de Proteção Ambiental americana, à Conferência de Estocolmo em 1972” (Philippi Jr. et al., 2014, p. 22), além da criação do Ministério do Meio Ambiente em 1986 e da promulgação de seu código ambiental, em 1999, que integrava 15 legislações que tratavam questões centrais. A França desenvolveu em 1964 a estratégia da gestão ambiental por bacias hidrográficas como unidade territorial e criou a agência financeiras de bacia, que objetivava promover a gestão integrada do uso dos recursos hídricos e demais recursos ambientais de uma bacia hidrográfica. O sistema francês teve grande influência na Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos no Brasil e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, constituído, entre outros, pela Agência Nacional de Águas (ANA); além de estruturas públicas específicas em grande parte dos estados brasileiros. Este sistema se baseia no financiamento pelo princípio usuário versus pagador e prevê a implantação dos conselhos nacional e estaduais de recursos hídricos, composto por representantes do estado, dos usuários e das organizações civis. (Philippi Jr. et al., 2014, p. 22-23) Na Ásia, destaca-se a atuação do Japão, impulsionado, sobretudo, pela pesada industrialização ocorrida no período pós-guerra. As preocupações com questões ambientais surgem na década de 1960, tendo sido estabelecidas a Lei Nacional de Controle da Poluição Ambiental, em 1967, e a Lei de Conservação da Natureza, em 1972. Essas leis foram precursoras da atual Lei Nacional de Meio Ambiente, instituída em 1993. Cabe destacar que a Agência de Proteção Ambiental Japonesa foi criada em 1971. Além disso, em 1993, as várias legislações que tratavam de questões ambientais foram incorporadas à legislação japonesa, tendo ainda sido criado, em 1994, um plano de desenvolvimento sustentável, denominado Environment Plan. Em 2001, o Ministério do Meio Ambiente japonês teve suas atividades revisadas e ampliadas, colocando fortes proposições e, principalmente, apoios e incentivos ao desenvolvimento da Agenda 21 local (Philippi Jr. et al., 2014). Como vimos, a política ambiental está inserida globalmente e também de forma individual, com base nas leis e instituições de cada país, e tais leis e tratados se fazem necessários para conter os impactos e crimes ambientais cometidos. A seguir, vamos abordar sobre essa legislação em específico. TEMA 3 – A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS E SUA RELAÇÃO COM A ECONOMIA Quando observada a gestão pública brasileira, alguns entraves são notados, como: “dificuldades de estrutura, indefinição de competências, regulamentações e processos excessivamente burocráticos comprometem a efetividade da ação do Estado e dificultam o processo de apropriação das políticas nos setores empresariais e sociais” (Phillipi Jr. et al., 2014, p. 19). Barsano, Barbosa e Ibrahin (2016, p. 54) definem dano ambiental como toda e qualquer modificação no ambiente que gere consequências negativas, ou seja, qualquer lesão ao meio ambiente, seja ele natural, artificial ou cultural. O dano ao meio ambiente alcança o interesse tanto individual quanto coletivo, e nós podemos citar como exemplo de danos socioambientais a contaminação de rios, lagos e mares por despejo de dejetos industriais ou vazamento de óleo, entre outros. Outro conceito muito usado quando se abordam crimes ambientais são os impactos ambientais, aqui conceituados como “alterações provocadas pelas atividades desenvolvidas pelo homem, em um ambiente considerado. Eles estão associados a aspectos ambientais, que são elementos que podem interagir com o ambiente” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 78). No direto ambiental, o meio ambiente é de uso comum do povo, e o indivíduo tem o direito de usufruir e também o dever de preservar para a presente e as futuras gerações. A legislação ambientalutiliza as expressões poluidor, degradação ambiental e poluição para citar o dano. Desse modo, o poluidor, responsável por qualquer degradação ambiental, como a que prejudica a saúde e o bem-estar da população ou afeta as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, ou ainda que lança matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais, causando um dano ambiental, terá a obrigação de reparar (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016). É o que veremos em seguida. A lei responsável por tipificar crimes ambientais é a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, baseada no art. 225 da constituição federal, determinando ao legislador que tipifique penalmente condutas lesivas ao meio ambiente. Esse dispositivo legal, além de tipificar condutas, traz disposições legais sobre o meio ambiente em seu capítulo 2. Já o capítulo 3 trata da apreensão do produto e também do instrumento da ação administrativa do crime. Trata-se, no capítulo 4, a ação do devido processo legal, seguido pelos crimes contra o meio ambiente especificamente. O capítulo 6 trata das infrações administrativas relacionadas ao meio ambiente; o 7, das cooperações internacionais e suas contribuições para a conservação do meio ambiente. Já o capítulo 8 finaliza com as disposições finais aplicáveis em toda a lei. Estão descritos na lei os crimes contra flora, fauna, os de poluição e outros crimes ambientais, os crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural e os crimes contra a administração ambiental, além de penas, que deverão ser aplicadas em cada sessão de crime cometido. Para a “imposição e gradação” da penalidade, a autoridade competente deverá observar três pontos: a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; a situação econômica do infrator, no caso de multa (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016). Quando abordamos as questões econômicas envolvidas, a implementação de empreendimentos, por exemplo, pode ocorrer uma série de impactos a saúde pública, trazendo danos à vida da população, danos sociais e econômicos aos municípios e às regiões, que em muitos casos dependem do recurso natural e paisagístico do ecossistema preservado e de qualidade, como nas situações em que se agrega valor comercial a esses espaços, como o turismo, a pesca, os rios navegáveis, as áreas de plantio, as reservas ecológicas, entre outros (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016). Dessa forma, “a avaliação de impacto ambiental é um procedimento importante para a implantação de atividades que possam trazer riscos ao meio ambiente, incluindo não somente a fauna, flora e meio físico, como também o meio antrópico” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 78). Vamos abordar mais detalhadamente a importância dos estudos ambientais e o seu Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) no próximo tópico. TEMA 4 – RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL – RIMA A influência das conferências internacionais e de incidentes e acidentes de caráter ambiental, “levou o governo brasileiro, por intermédio do Ministério do Interior, a propor a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), como instituição governamental que atendesse às demandas ambientais nacionais” (Philippi Jr. et al., 2014, p. 25). A Sema foi criada no ano de 1973, mesmo ano em que surgiram os primeiros movimentos nos estados brasileiros voltados a criação de órgãos ambientais (Philippi Jr. et al., 2014). O foco do Sistema Nacional de Meio Ambiente nesse momento era o licenciamento de atividades poluidoras, porém, nesse mesmo período, os principais problemas ambientais brasileiros observados eram os “relacionados à gestão dos recursos naturais, tais como a expansão da fronteira agrícola sobre as áreas florestadas, o crescimento urbano desordenado, a exploração mineral e a implantação da infraestrutura pública de transporte e energia” (Philippi Jr. et al., 2014, p. 25). A avaliação de impacto ambiental, no Brasil, é realizada pela ferramenta do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e se baseia na Resolução Conama n. 001/1986. Nessa resolução, “são estabelecidas definições, responsabilidades, diretrizes e critérios para a elaboração e implementação de avaliação de impacto ambiental” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 73). O objetivo do EIA está diretamente ligado à sua função de fornecer aos decisores indicações das possíveis e prováveis consequências ambientais de suas ações (Jendiroba; Oliveira, 2019). A Avaliação dos Impactos Ambientais é um instrumento jurídico citado na Constituição de 1988 que, por meio de análises e pareceres técnicos de equipes multidisciplinares, treinadas em aplicação de técnicas como Sistemas de Informações Geográficas (SIG), métodos quantitativos e projetos gráficos que elaboraram documentos comprobatórios e conclusivos para a aprovação ou não dos empreendimentos de grande porte, esses documentos são conhecidos como EIA (Estudos de Impacto Ambiental) e Rima (Relatório de Impacto Ambiental) (Jendiroba; Oliveira, 2019; Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016). A Resolução n. 001/1986 do Conama considera impacto ambiental: qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: (1) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (2) as atividades sociais e econômicas; (3) a biota; (4) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; (5) a qualidade dos recursos ambientais. (Brasil, 1986) E sobre essas alterações, são incluídos diversos aspectos que potencialmente degradam o meio ambiente, os quais abrangem as três dimensões do desenvolvimento sustentável: ambiental, social e econômico (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016). Dessa forma, Empreendimento com alto potencial poluidor e de modificação de áreas ambientais (nativas ou não) dependem de avaliações técnicas e grupos de discussão sobre os impactos ambientais. As obras públicas e privadas (ferrovias, aeroportos, rodovias, barragens, projetos agropecuários, zonas industriais ou portos) devem ser cuidadosamente avaliadas em todas as suas etapas, incluindo a localização, a construção, a instalação, a ampliação, a modificação e a operação de empreendimentos e as atividades que utilizam recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 53) O EIA engloba todas as fases do empreendimento (planejamento, implantação, operação e desativação), além da obrigação de propor medidas mitigadoras e compensatória para a área impactada. O material final do EIA deve conter todas as informações levantadas e analisadas, o que representa um material bastante completo “como textos, mapas, fotografias, gráficos e demais ilustrações, suficiente para elencar as informações mais relevantes sobre todas as fases de um empreendimento” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 74). Já o relatório de Impacto Ambiental (Rima) é um documento que condensa as informações e conclusões do EIA em uma linguagem menos técnica e mais objetiva e acessível. Em seu conteúdo, deve abranger as ilustrações de forma concisa para facilitar a identificação das consequências ambientais e possíveis alternativas, além de comparar vantagens e desvantagens. Quando realizadas audiências públicas, é usual que o Rima seja disponibilizado aos seus participantes que avaliarão o empreendimento, uma vez que possui uma linguagem mais usual que o EIA (Jendiroba; Oliveira, 2019). Dentre o conjunto de leis, normas técnicas e administrativas que embasam o licenciamento ambiental, a Resolução Conama n. 237/1997 [...] dispõe sobre a revisão e a complementação dos procedimentos e dos critérios utilizados para o licenciamento ambiental, que devem seguir as seguintes etapas: (1) Licença Prévia (LP) – a fasepreliminar do projeto, autoriza a localização e demais requisitos adicionais para o requerimento das próximas licenças nas etapas futuras. (2) Licença de Instalação (LI) – corresponde a concessão da autorização, “desde que atenda o mínimo dos requisitos constantes nos planos, programas e projetos, incluindo as medidas de prevenção ambiental estabelecidos na fase anterior. (3) Licença de Operação (LO) – corresponde a autorização de pleno funcionamento e operação do empreendimento, “após a constatação do cumprimento dos requisitos acondicionados e acordados nas licenças anteriores. (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 54) Essa obrigação legal de concessão das licenças é “compartilhada pelos órgãos estaduais de meio ambiente e pelo Ibama, como partes integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama)” (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 54). Desse modo, o EIA é uma ferramenta internacionalmente reconhecida na gestão ambiental e possibilita uma “maior consciência ambiental dentro de um padrão de desenvolvimento sustentável” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 74). Além de que o EIA e o Rima buscam a “prevenção ou a minimização dos impactos ambientais na fase de projeto dos empreendimentos, devendo haver garantias técnicas de que as obras não degradarão o meio ambiente nem trarão riscos ao homem e à economia”, há o fato de que “sem o parecer positivo do relatório de impactos ambientais, os empreendedores (públicos, privados ou mistos) ficam impossibilitados de serem assistidos por verbas orçamentárias, financiamentos bancários e de conseguirem licenciamento ambiental para iniciar as atividades” (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 54). Vamos abordar a importância desses estudos para as organizações. TEMA 5 – A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS AMBIENTAIS PARA AS ORGANIZAÇÕES Promover o desenvolvimento sustentável é um dos principais desafios da sociedade, e, para alcançar esse objetivo, é crescente a importância de inserir as formas de organização social, política, econômica e empresarial nesse desafio, visando uma abordagem ampla e integradora dos diferentes setores da sociedade na solução do problema (Morais; Penedo, 2019). Nesse sentido, os estudos ambientais e a viabilidade socioambiental contrastam com a preocupação histórica de toda empresa que até então se concentrava no seu crescimento e na manutenção do lucro e da viabilidade econômica, mas, além disso, as atividades de uma empresa também proporcionam a geração de emprego e renda, o que impacta diretamente o desenvolvimento local. Por força da lei, exigência do mercado ou mesmo conscientização de gestores, “as empresas e negócios passaram a incorporar gradualmente em suas missões e visões postura e atuação mais responsáveis do ponto de vista social e ambiental” (Morais; Penedo, 2019, p. 94-95). Assim, as questões ambientais e a necessidade de estudos que garantissem a sustentabilidade adentraram empresas e empreendimentos mostrando a capacidade de criar valor para clientes, acionistas e demais partes interessadas com base na incorporação da dimensão socioambiental na gestão (boa parte por influência da globalização) (Vilela Jr.; Demajorovic, 2020). Consumidores passam a exigir produtos e serviços de empresas socialmente responsáveis, governos estabelecem políticas e regulamentações mais restritivas, investidores estimam riscos ambientais e sociais em seus investimentos, e toda essa mudança de pensamento amplia e difunde a preocupação pública e governamental sobre questões como mudança climática, poluição industrial, segurança alimentar, degradação dos recursos naturais, direitos humanos, entre várias outras (Vilela Jr.; Demajorovic, 2020). Essa maior preocupação faz com que as empresas e organizações sociais sejam inseridas diretamente na questão do desenvolvimento como atores sociais e protagonistas ao lidar com novos desafios. Se antes a geração de renda e riqueza era objetivo das empresas e a atuação social era puramente uma ação individual e até mesmo altruísta, nesse novo contexto essas questões se misturam e se colocam de forma que [...] a geração de negócios e organizações sociais que sejam economicamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas. Esse novo paradigma exige outro perfil de ator para empreender, de forma sustentável, esses negócios e organizações sociais, o que torna premente o entendimento da intersecção entre o empreendedorismo e a sustentabilidade. (Morais; Penedo, 2019, p. 91) Essa nova abordagem insere a “mobilização e a participação dos diversos atores sociais, como o poder público, as empresas, os trabalhadores e as organizações sociais, em torno de ações sustentáveis, no intuito de aumentar o chamado capital social e o desenvolvimento local das comunidades que compõem essa sociedade” (Morais; Penedo, 2019, p. 87). Dessa forma, o capital humano e social ganha cada vez mais espaço nas discussões de sustentabilidade. Em conteúdo posterior, abordaremos a participação social. TROCANDO IDEIAS Que tal pegar um Rima de algum empreendimento na sua cidade e estado para anotar os pontos principais? No site do Instituto Água e Terra (IAT), disponível em <https://www.iat.pr.gov.br/b usca?termo=RIMA>, você encontra alguns Rimas protocolados no estado do Paraná. Você pode trocar essa experiência sobre potenciais e fragilidades do Rima que você estudou. NA PRÁTICA A tragédia ambiental envolvendo o rompimento das barragens da Vale pode ser considerada um dos maiores desastres ambientais de mineração do mundo. O rompimento das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) trouxe impactos gigantescos para a região. Leia as matérias sobre esse triste acontecimento disponíveis em <https://agencia.fiocruz.br/desastre-da-vale> e <https://epocan egocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/01/tres-anos-depois-vale-se-envolve-novamente-em-tragedia -ambiental.html>. Acesso em: 25 out. 2022. Aqui, podemos fazer uma comparação com base em uma leitura crítica dos impactos ambientais e sociais gerados com as medidas de promoção da sustentabilidade promovidas pela empresa. https://www.iat.pr.gov.br/busca?termo=RIMA https://agencia.fiocruz.br/desastre-da-vale https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/01/tres-anos-depois-vale-se-envolve-novamente-em-tragedia-ambiental.html Algumas medidas são apresentadas no site da Vale, disponível em: <http://www.vale.com/brasil/PT/s ustainability/Paginas/default.aspx#close-modal>. Acesso em: 25 out. 2022. FINALIZANDO Quando abordarmos o desenvolvimento, sempre ocorrerá algum tipo de dano ou impacto ambiental. Esses danos podem ser mais graves e afetar diretamente a população, como podem ser mais dispersos e a afetar indiretamente. Voltadas a estabelecer critérios de preservação e critérios de uso comum, as leis são importantes instrumentos que auxiliam a preservação e a conservação ambiental. A Política Nacional do Meio Ambiente é um instrumento fundamental que apresenta a responsabilidade do poluidor e as potenciais medidas disciplinares visando a manutenção da qualidade ambiental. A Política Nacional acompanha diversas legislações de diversos países que também buscam a manutenção dos seus recursos naturais. A Lei de Crimes Ambientais traz uma abordagem voltada a responsabilizar por esse dano ambiental e tipificar os danos ambientais praticados. E justamente para minimizar ao máximo esses danos ao meio ambiente é que se estabeleceu o Avaliação de Impacto Ambiental, que, com base no EIA e no Rima, possibilita a compensação e a mitigação de potenciais danos. Esses estudos são de grande importância para as organizações, de forma a induzir a organização política, econômica, empresarial e da sociedade a discutir esses impactos. REFERÊNCIAS BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P.; IBRAHIN, F. I. D. Legislação ambiental. São Paulo: Saraiva, 2014. BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. ______. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,DF, 2 set. 1981. http://www.vale.com/brasil/PT/sustainability/Paginas/default.aspx#close-modal ______. Lei Federal n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 13 fev. 1998. DIAS, R. Sustentabilidade: origem e fundamentos; educação e governança global; modelo de desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2015. JENDIROBA, E.; OLIVEIRA, S. V. W. B. Gestão do meio ambiente. In: OLIVEIRA, S. V. W. B.; LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. Sustentabilidade: princípios e estratégias. Barueri. Manole, 2019. MORAIS, P. R. B.; PENEDO, A. S. T. Sustentabilidade e empreendedorismo. In: OLIVEIRA, S. V. W. B.; LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. Sustentabilidade: princípios e estratégias. Barueri. Manole, 2019. PHILIPPI JR, A. et al. Histórico e evolução do sistema de gestão ambiental no Brasil. In: PHILIPPI JR, A., ROMÉRIO, M., BRUNA, G. (eds.) Curso de gestão ambiental. 2. ed. Barueri: Manole, 2014. VILELA JR., A.; DEMAJOROVIC, J. Modelos e ferramentas de gestão ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: Senac, 2020.
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