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GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE AULA 5 Prof.ª Aline Maria Biagi CONVERSA INICIAL A governança corporativa é um assusto vastamente abordado e, entre os temas que aborda, estão os dilemas e os desafios da integridade empresarial. Alguns temas como a compliance (“conformidade”) estão entre os mais citados nas agendas das empresas brasileiras (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017). Nesse modelo de gestão com um foco na identidade, integridade e conformidade das organizações, alguns pontos são importantes; a responsabilização administrativa da pessoa jurídica e do modelo de negócios para a inovação são algumas delas, bem como pontos a serem abordados mais detalhadamente adiante. As questões éticas aplicadas à gestão, como já vimos, é de extrema importância. Nesta etapa, vamos abordar as formas como essa ética é trabalhada dentro das organizações. Para isso, os conceitos de gestão corporativa e compliance são de extrema importância para que as empresas estejam em conformidade com essas questões. CONTEXTUALIZANDO A abordagem da governança corporativa é de extrema importância na gestão, em que a adoção de boas práticas de governança pode garantir uma boa adequação a fatores de identidade, integridade e conformidade da empresa. Para tal, as questões envolvendo o compliance da empresa são importantes na construção da relação empresa-consumidor. Vamos abordar todas essas questões nesta etapa. TEMA 1 – GOVERNANÇA CORPORATIVA A governança corporativa é um elemento central na gestão do valor das organizações, sendo considerada, talvez, o “principal fórum para lidar com o que afeta sua criação ou destruição” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 89). [A] relação de acionistas e investidores nesse campo é repleta de lacunas. Boa parte delas está em conselhos disfuncionais ou na ausência completa de sistemas de governança. Mas, mesmo em organizações com boas práticas, faltam mecanismos específicos para uma abordagem ampla de externalidades. Instrumentos têm avançado, sustentados por uma sequência de ações voltadas para identificação, qualificação, avaliação do grau de materialidade, quantificação e, sempre que possível, monetização dos impactos (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 89) Em termos gerais, governança refere-se às relações de poder dentro de uma organização, o modo como diferentes agentes resolvem conflitos relativos à sua direção. A palavra “governança” foi empregada pelo Banco Mundial em relação aos governos dos países e sua capacidade de promover ajustes macroeconômicos que dependiam de reformas dos Estados. A governança, seria, dessa forma, a capacidade do governo de exercer a sua autoridade para a consecução dos objetivos de política econômica (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 168). A governança é, ainda, um importante tema da responsabilidade social, e se aplica a organizações de todo porte e todo o tipo. Uma definição simplificada seria: “sistema pelo qual uma organização toma decisões e as implementa na busca de seus objetivos. Ou seja, é algo essencial a qualquer organização independentemente de tamanho, natureza jurídica e setor de atividade” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 168). Quando aplicada ao ambiente de negócios, a governança se aplica de modo específico às sociedades anônimas, com o objetivo de ampliar a segurança aos investidores, além de facilitar o acesso ao capital e reduzir os custos dessa captação. Fundamenta-se principalmente na teoria do acionista e na teoria da agência (Cajazeira; Barbieri, 2016). O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) aponta que “a boa governança deve tornar a gestão essencialmente livre de abusos, de corrupção e decisões temerárias por parte dos dirigentes dessas sociedades, com o objetivo de assegurar os interesses de todos os acionistas”. Dessa forma, a boa governança se alicerça nos seguintes princípios: transparência – obrigação de informar às partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos; equidade – tratamento justo a todos os sócios e demais partes interessadas. Práticas e políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis; prestação de contas – os agentes de governança, isto é, sócios, conselheiros de administração, executivos/gestores, conselheiros fiscais e auditores, devem prestar contas de sua atuação, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões; responsabilidade corporativa – os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade da organização, visando à longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição de negócios e operações (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 168-169). A governança corporativa se baseia na legislação societária. Essa legislação varia de país para país, porém, é pressionada para se harmonizar entre si em decorrência da globalização dos mercados de capital. No contexto brasileiro, “essa legislação encontra-se no Código Civil e mais especificamente na Lei n. 6.404, de 1976, que estabelece a estrutura administrativa das companhias ou sociedades anônimas, ou seja, empresas cujo capital é dividido em ações” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 169). Segundo as instruções do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBCG, toda organização deve ter um código de conduta, que é elaborado pela diretoria seguindo os princípios e políticas definidos pelo conselho de administração. Esse código de conduta se aplica para funcionários, diretores, sócios, conselheiros, fornecedores e demais partes interessadas na empresa e cobre, entre outros, os seguintes assuntos: cumprimento das leis e pagamentos de tributos; operações com partes relacionadas; uso de recursos da organização; conflito de interesses; informações privilegiadas (insider information); política de negociação das ações da empresa; processos judiciais e arbitragem; denunciantes (whistle blowers), prevenção e tratamento de fraudes; pagamentos ou recebimentos questionáveis; contribuições e doações voluntárias, inclusive políticas; recebimento de presentes e favorecimentos; direito à privacidade; nepotismo; meio ambiente e segurança do trabalho; discriminação no trabalho e exploração do trabalho adulto ou infantil; assédio moral e sexual; relações com a comunidade. O mercado de capitais aponta que é “vantajoso atuar com responsabilidade social alinhada ao desenvolvimento sustentável”. [A considerar a] crescente demanda por parte da sociedade de boas práticas empresariais, e que não raro se transformam em novas leis, tem levado muitos investidores a dar preferência para empresas que se mostram responsáveis em termos econômicos, sociais e ambientais, uma vez que, em tese, acumulariam menos passivos ao longo do tempo que poderiam ser exigidos algum dia (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 172) Assim, buscam a identidade, a integridade e a conformidade da organização. TEMA 2 – IDENTIDADE, INTEGRIDADE E CONFORMIDADE DA ORGANIZAÇÃO A falta de uma verdadeira cultura ética por parte de muitas organizações, tanto empresariais quanto da sociedade civil, como instituições do Poder Público, e na relação entre elas, é até hoje fonte de um problema da responsabilidade social corporativa (RSC). Por intermédio de uma abordagem conceitual e prática, com o objetivo de entender e tratar dessa temática por meio dos praticantes da boa governança corporativa, tratamos a seguir das noções de identidade, conformidade (compliance) e integridade (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 26). A identidade de cada organização tem peso fundamental, e ela consiste na “combinação entre sua razão de ser (propósito), o que é importante para ela (valores), a forma como são tomadas as decisões (princípios), o que faz (missão) e aonde que chegar (visão)”. Não pensamos nesse conceito como uma identidade “certa” ou “errada”, mas sim a identidade própria e consciente da empresa (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017,p. 26). O termo “integridade” tem alguns significados, mas nesse contexto ele está associado ao combate à corrupção, ligando-se à questão de caráter, à qualidade de pessoa honesta, confiável e justa. “A busca pela integridade é uma jornada sem fim, desde a concepção, passando pela implementação e envolvendo toda a vida da empresa e de seus projetos” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 28). Em Brandão, Fontes Filho e Muritiba (2017, p. 28), [a] proposta para integridade está associada à coerência entre o pensar, o falar e o agir, com reflexos na cultura e na reputação da organização. A boa reputação contribui para a redução dos custos, tanto de transação quanto de capital, favorecendo a preservação e a criação de valor econômico pela organização (desempenho) (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 28) Em uma ligação com os três termos, “uma vez definida e articulada, a identidade da organização torna-se a referência para a busca da sua integridade, com o auxílio do sistema de conformidade” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 28-29). A conformidade, ou compliance, não se resume a uma atividade, um departamento ou algo novo no mundo corporativo, mas vai além e é considerada a atitude (comportamento, conduta, uma forma de ser) de manter a conformidade das decisões e operações com suas políticas e procedimentos e com as leis e regulamentos, um processo apoiado em um sistema de controle interno corporativo. Não tem a ver só com a estrutura organizacional, apesar de depender dela para sua operacionalização (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 29). A temática da compliance é crescente no noticiário e nas agendas das empresas brasileiras, o que é visto como positivo, porém, atentamos para o risco de limitar que “apenas o uso de ferramentas e sistemas de conformidade será suficiente para prevenir problemas ligados a fraudes, corrupção e outras condutas indesejáveis por parte das organizações, seus sócios, administradores, colaboradores e parceiros” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 25). No Quadro 1 a seguir, dispomos um resumo de toda essa abordagem. Quadro 1 – Resumo da abordagem conceitual em identidade, integridade e conformidade Conceito Definição Envolve Identidade Critérios para julgar, decidir (deliberação ética) Cultura organizacional e atitude individual Propósito; valores; princípios; missão; visão Integridade Honrar a palavra (condição necessária, mas não suficiente, para o desempenho Falar e fazer, e/ou informar Conformidade Cumprir normas e regras (internas e externas) Prevenção; detecção; remediação Fonte: elaborado com base em Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 31. O IBCG, focando na deliberação ética, aponta a hierarquia dos conceitos da seguinte forma: A reflexão sobre a identidade da organização [suportada na prática constante da deliberação ética] é fundamental para se desenhar o sistema de governança da organização, incluindo a elaboração [e divulgação/disseminação] de um código de conduta sobre o qual se desenvolve o sistema de conformidade (compliance) (IBCG, 2015, p. 17, citado por Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 27) O sistema de conformidade é um instrumento e seus princípios básicos de boa governança corporativa – por exemplo, transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa – são as atitudes que permeiam a deliberação ética (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 27). Vamos, a seguir, abordar o conceito de compliance mais detalhadamente. TEMA 3 – COMPLIANCE O termo “compliance” é uma palavra inglesa que se origina do verbo to comply (“cumprir”, “obedecer”) e traz consigo o “cumprimento ou atendimento às obrigações legais, promessas e expectativas, ou ainda, obediência às normas legais, bem como as políticas, diretrizes e exigências adotadas voluntariamente”. A tradução do termo para a língua portuguesa é “conformidade” (conformity, em inglês), porém esse termo indica “aderência a qualquer tipo de especificação em qualquer campo de atividade, enquanto compliance é usada no ambiente de negócios para indicar conformidade com as normas legais e regulamentos, incluindo códigos de conduta, princípios diretivos e outros requisitos subscritos”. Assim, compliance deixou ser um termo traduzido “inclusive em normas legais como documentos normativos do Banco Central do Brasil e da CVM” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 174). O sistema de compliance “mantém inalterados princípios de administração, como a segregação de funções e a delegação de autoridade com contrapartida da responsabilidade”, e em uma hierarquia de conceitos, os princípios de administração estão um nível superior ao de compliance (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 29). São identificados três tipos de papéis nos processos que envolvem o compliance e que suportam as atividades das empresas: “(i) quem executa é o responsável, ou gestor, (ii) quem apoia o gestor, quando necessário, é o facilitador; e (iii) quem fiscaliza a execução do processo é o auditor” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 29). As principais fontes de obrigações de compliance são: leis e regulamentos; licenças; alvarás e outras formas de autorizações legais; ordens, regras e diretrizes de órgãos reguladores; julgados em cortes administrativas e judiciais; tratados, convenções e protocolos; acordos com grupos comunitários; princípios e códigos voluntários; obrigações contratuais com outras organizações; padrões sociais. (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 176) Esse sistema se desenvolve com base em uma análise de risco da empresa, considerando aspectos como porte e especificidades da empresa, setores do mercado em que atuam no Brasil e no exterior, estrutura organizacional, número de funcionários e demais colaboradores, nível de interação com a administração pública e participação societárias que envolvem a pessoa jurídica na condição de controladora, coligada ou consorciada. (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 30) Além disso, considerando os riscos identificados e contando com o gestor (peça central), se desenvolvem as políticas, regras e procedimentos para o trato com ocorrências dos atos indesejados com base em três eixos fundamentais: Prevenir – responsabilidade do gestor com apoio do facilitador: a prevenção é o eixo principal do sistema de compliance, no qual o gestor deve assegurar-se de que há um completo mapeamento legal e regulatório que obriga a empresa e de que o exemplo de seu cumprimento, bem como das políticas internas, venha do topo, incluindo os administradores (conselho de administração e diretoria). […] Detectar – responsabilidade do gestor, do facilitador ou do auditor: sistema de compliance deve ser monitorado pelo gestor (e pelo facilitador, quando necessário contemplando tudo o que obriga a empresa (interna e externamente) com atenção para os controles internos e a gestão de riscos. Complementarmente, mas não menos importante, é o programa de auditoria (interna e externa), que deve ser aprovado pelo conselho de administração e cobrir os pontos críticos de controle. É recomendável a adoção de um canal de denúncias, com escopo, parâmetros e responsabilidades bem definidos e também aprovado pelo conselho de administração […] Remediar – responsabilidade do gestor, com apoio do facilitador: tratar os casos identificados de não conformidade e controlar a implementação das melhorias definidas até a conclusão. Envolve a promoção de medidas corretivas praticando uma política de consequências, definida e aprovada pelo conselho de administração. Deve-se buscar aprender com problemas identificados e adotar medidas preventivas para que não mais ocorram, fortalecendo os controles internos, ajustando as políticas existentes e/ou desenvolvendo novas. É importante dispor de um sistema de comunicação dos resultados para os administradores (conselho de administração e diretoria), bem como dos casos ocorridos, para que sirvam de referência a todos na empresa e ajudem a reforçar a cultura empresarial.(Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 31) A crescente regulamentação das atividades empresariais e a constante demanda da sociedade por comportamentos éticos reforçam a importância do compliance e compara a sua importância a outros setores consolidados das funções organizacionais como finanças, marketing, controladoria, entre outros. Dessa forma, “faz sentido falar em função compliance, não necessariamente uma área, composta por processos, atividades e procedimentos realizados por pessoas com suporte de recursos de informática” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 111). Assim, graças à combinação de diversos fatores, entre eles, maturidade, setor de atuação, nível de regulação, intensidade da concorrência, poder de barganha de fornecedores e clientes, existência de tecnologias disruptivas, estratégia corporativa e objetivos de negócios, cultura organizacional, qualidade dos colaboradores, entre outros, “pode haver tipos de riscos que mereçam mais dedicação do que aqueles ligados à não conformidade e à integridade. Cada organização possui perfil de riscos único, com suas próprias características e particularidades” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 112). TEMA 4 – RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA PESSOA JURÍDICA A Lei n. 12. 846/2013 dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras providências. O Decreto n. 8.420/2015 regulamenta tal lei. Ainda, em seu art. 42, afirma o seguinte: Art. 42. […] o programa de integridade será avaliado, quanto à sua existência e aplicação, de acordo com os seguintes parâmetros: I – comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluídos os conselhos, evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ao programa; II – padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos de integridade, aplicáveis a todos os empregados e administradores, independentemente de cargo ou função exercidos; III – padrões de conduta, código de ética e políticas de integridade estendidas, quando necessário, a terceiros, tais como fornecedores, prestadores de serviço, agentes intermediários e associados; IV – treinamentos periódicos sobre o programa de integridade; V – análise periódica de riscos para realizar adaptações necessárias ao programa de integridade; VI – registros contábeis que reflitam de forma completa e precisa as transações da pessoa jurídica; VII – controles internos que assegurem a pronta elaboração e confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiros da pessoa jurídica; VIII – procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito de processos licitatórios, na execução de contratos administrativos ou em qualquer interação com o setor público, ainda que intermediada por terceiros, tal como pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou obtenção de autorizações, licenças, permissões e certidões; IX – independência, estrutura e autoridade da instância interna responsável pela aplicação do programa de integridade e fiscalização de seu cumprimento; X – canais de denúncia de irregularidades, abertos e amplamente divulgados a funcionários e terceiros, e de mecanismos destinados à proteção de denunciantes de boa-fé; XI – medidas disciplinares em caso de violação do programa de integridade; XII – procedimentos que assegurem a pronta interrupção de irregularidades ou infrações detectadas e a tempestiva remediação dos danos gerados; XIII – diligências apropriadas para contratação e, conforme o caso, supervisão, de terceiros, tais como fornecedores, prestadores de serviço, agentes intermediários e associados; XIV – verificação, durante os processos de fusões, aquisições e reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades ou ilícitos ou da existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas envolvidas; XV – monitoramento contínuo do programa de integridade visando seu aperfeiçoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência dos atos lesivos previstos no art. 5.º da Lei n. 12.846, de 2013 ; e XVI – transparência da pessoa jurídica quanto a doações para candidatos e partidos políticos. § 1.º Na avaliação dos parâmetros de que trata este artigo, serão considerados o porte e especificidades da pessoa jurídica, tais como: I – a quantidade de funcionários, empregados e colaboradores; II – a complexidade da hierarquia interna e a quantidade de departamentos, diretorias ou setores; III – a utilização de agentes intermediários como consultores ou representantes comerciais; IV – o setor do mercado em que atua; V – os países em que atua, direta ou indiretamente; VI – o grau de interação com o setor público e a importância de autorizações, licenças e permissões governamentais em suas operações; VII – a quantidade e a localização das pessoas jurídicas que integram o grupo econômico; e VIII – o fato de ser qualificada como microempresa ou empresa de pequeno porte. § 2.º A efetividade do programa de integridade em relação ao ato lesivo objeto de apuração será considerada para fins da avaliação de que trata o caput. § 3.º Na avaliação de microempresas e empresas de pequeno porte, serão reduzidas as formalidades dos parâmetros previstos neste artigo, não se exigindo, especificamente, os incisos III, V, IX, X, XIII, XIV e XV do caput. § 4.º Caberá ao Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral da União expedir orientações, normas e procedimentos complementares referentes à avaliação do programa de integridade de que trata este Capítulo. § 5.º A redução dos parâmetros de avaliação para as microempresas e empresas de pequeno porte de que trata o § 3.º poderá ser objeto de regulamentação por ato conjunto do Ministro de Estado Chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa e do Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral da União. Porém, no ano de 2022 esse decreto foi revogado, entrando no lugar o Decreto 11.129/2022, que versa sobre: Regulamentação, Lei federal, responsabilidade civil, responsabilidade administrativa, pessoa jurídica, corrupção, lesão, patrimônio público, administração pública, União Federal, território nacional, exterior, país estrangeiro, processo administrativo, investigação, corregedoria, instauração, criação, comissão, pedido, reconsideração, competência, Controladoria-Geral da União (GRU), avocamento, sanção, pena disciplinar, multa, cobrança, publicação, decisão administrativa, encaminhamento, judiciário, acordo de leniência, programa, integridade, auditoria, Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (Ceis), Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP), Ministério da Justiça e Segurança Pública, Advocacia-Geral da União (AGU). Nessa mudança, o art. 57 contempla o programa de integridade e nele se inclui a responsabilização civil, em adição à administrativa, das pessoas jurídicas, […]; delimita, de forma expressa, quem está sujeito à Lei 12.846/2013: (i) empresas brasileiras que pratiquem atos lesivos contra administração pública brasileira ou estrangeira, ainda que o ato seja cometido fora do território nacional; (ii) Empresas brasileiras ou estrangeiras que pratiquem o ato lesivo, ou parte dele, no território nacional, ou cujos efeitos sejam ou possam ser produzidos no país, e (iii) Empresas estrangeiras que tenham filial ou representação no Brasil. A lição que fica para as empresas é que a implementação de um plano de integridade (compliance) efetivo e consistente, que conte com profissionais treinados, habilitados e de confiança, apresenta entre as suas vantagens a redução da incidência de fraudes e desconformidades, desvios de recursos, e assim se evita os riscos de sanções legais, perdas financeiras e principalmente o abalo na reputação empresarial, além de aumentar a qualidade e a efetividade nas decisões da organização (Fórum, 2020). TEMA 5 – MODELO DE NEGÓCIOS E INOVAÇÃO Nos tempos atuais, muitas mudanças são observadas, sejam elas de caráter social, cultural, político ou tecnológico.Assim, esses cenários tecnológicos dinâmicos demandam aprendizado e adaptação constante. O Manual de Oslo (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, 2005, p. 55) define inovação como “a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um novo processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações internas”. Porém, o termo é bastante amplo e apresenta muitas outras abordagens. Batista e Costa (2022) caracterizam a inovação (com base na figura do empreendedor) como uma adaptação às mudanças por meio da dinâmica do mercado, sendo de extrema importância no contexto de novos modelos de negócios inovadores. Batista e Costa (2022) usam, em seu trabalho, a seguinte definição de modelo de negócios defendida por Osterwalder (2004, p. 15): [Modelo de Negócios é] uma ferramenta conceitual que contém um conjunto de elementos e seus relacionamentos e permite expressar a lógica de ganhar dinheiro de uma empresa. É uma descrição do calor que uma empresa oferece a um ou vários segmentos de clientes e a arquitetura da empresa e sua rede de parceiros para criação, comercialização e entrega deste valor e capital de relacionamento, a fim de gerar fontes de receitas lucrativas e sustentáveis (Osterwalder, 2004, p. 15, citado por Batista; Costa, 2022) Algumas ferramentas são de grande utilidade na identificação do modelo de negócios adequado para cada empreendimento; uma delas é o Canvas. Esse modelo foi desenvolvido por Alexander Osterwalder e é composto por nove componentes básicos que buscam mostrar a lógica de como uma organização pode gerar valor. Esses componentes cobrem as quatro áreas principais de um negócio (clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira) (Batista; Costa, 2022), são eles: 1. segmentos de clientes – define organizações ou pessoas que uma empresa pretende alcançar; 2. proposta de valor – caracteriza quais produtos e serviços criam determinado valor para o segmento de clientes; 3. canais – entendidos como a forma que uma empresa se comunica para atingir o segmento de clientes com a entrega da proposta de valor; 4. relacionamento com clientes – relação que uma empresa cria com segmentos de clientes específicos; 5. fontes de receitas – essencial para a empresa, pois representa os ganhos que uma empresa gera por meio de cada segmento de clientes; �. recursos principais – recursos mais importantes para um modelo de negócios obter êxito e funcionar; 7. atividades-chave – descrevem quais atos as empresas devem realizar, são as principais ações de uma empresa de sucesso e tem a mesma função dos recursos principais; �. parcerias principais – é imprescindível identificar as parcerias principais, identificando os parceiros e redes de fornecedores. Basicamente, são alianças formadas; 9. estrutura de custos – os custos que compõem um modelo de negócios, custos estes que são estabelecidos conforme todos os outros componentes apresentados anteriormente, os quais influenciam a estrutura de custos (Batista; Costa, 2022, p. 57). Saiba mais O site Strategyzer disponibiliza um esquema de modelo de negócios Canvas que pode ser usado como modelo. Disponível em: <https://www.strategyzer.com/canvas> . Acesso em: 24 nov. 2022. https://www.strategyzer.com/canvas No site do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae há um esquema didático para o preenchimento do Canva. Disponível em: <https://www.sebraepr.com.b r/canvas-como-estruturar-seu-modelo-de-negocios/> . Acesso em: 24 nov. 2022. Vale a pena conhecer esses dois portais e se aprofundar mais sobre esse tema. Na Figura 1 a seguir, está disposto o esquema de modelo de negócios Canvas. Figura 1 – O modelo de negócios Canvas Fonte: Strategyzer, [S.d.]. Batista e Costa (2022) ainda listam o mapeamento de alguns modelos de negócios inovadores, sendo eles: all-inclusive – traduzido para o português como “tudo incluso, é um modelo muito utilizado no setor turístico e oferece ao consumidor pacotes de serviços com vários benefícios em conjunto; pode ser descrito como uma aplicação dinâmica entre diferentes conceitos de marketing e políticas de preços; assinaturas – nesse sistema, o usuário paga para ter acesso a determinado serviço e pode atingir tanto segmentos de produtos quanto de serviços e os modelos; a Netflix e a HBOMax são exemplos; https://www.sebraepr.com.br/canvas-como-estruturar-seu-modelo-de-negocios/ B2B Business to Business – traduzido como “empresa para empresa”, esse modelo vende serviços ou produtos diretamente para outras empresas, que vão desde softwares até a matérias-primas ou mesmo terceirização de áreas dentro da empresa; a Ebanx e a Ambev são exemplos; cauda longa – acontece quando se vende uma grande variedade de produtos de nicho, que quando considerado individualmente vende pouco, mas que de forma conjunta consegue alcançar altos valores em vendas, por exemplo, iTunes e My Space. Existem muitos outros modelos de mercado que podemos explorar individualmente. Além destes, podemos buscar e criar modelos de negócios e adoção de gestão mais sustentáveis. Por fim, “as empresas vêm percebendo a importância da adoção de uma gestão estratégica da inovação sustentável a fim de atender aos condicionantes do mundo globalizado e obter um desempenho empresarial superior”. Além disso, a própria legislação da sociedade passou a exigir das organizações que “a inovação em produtos, serviços, processos e modelos de negócios seja acompanhada pela responsabilidade com o desenvolvimento sustentável para minimizar possíveis impactos negativos dos processos industriais” (Kneipp et al., 2018, p. 132). TROCANDO IDEIAS Muitas questões são importantes na governança corporativa das empresas. Que tal fazermos uma busca sobre como algumas empresas lidam com essas questões de governança corporativa e compliance? Sugerimos apresentar um exemplo no fórum para que possamos discutir essas medidas. NA PRÁTICA Propomos conhecer o sistema de compliance realizado na Toyota, bem como alguns procedimentos aplicados pela empresa sobre como proceder nessa questão. Que tal, a partir disso, pensarmos em três iniciativas para que a “nossa empresa” se enquadre na questão do compliance? Saiba mais TOYOTA. Compliance. Disponível em: <https://www.toyota.com.br/compliance/>. Acesso em: 24 nov. 2022. FINALIZANDO Os sistemas de governança são imprescindíveis para que se realize uma gestão ética e satisfatória de qualquer empresa. É necessário, ainda, uma gestão transparente que reforce as características de identidade, integridade e conformidade com regras, leis e os padrões éticos já estabelecidos pela sociedade. Assim, questões que envolvem compliance em sua fiscalização e avaliação de comportamentos e ações empresariais dão uma garantia moral às organizações e estabelecem relações de confiança com os atores que contemplam desde os acionistas até os clientes finais. Essa conformidade e confiança se torna terreno fértil em que empreendedores podem inovar e investir em novos modelos de negócios, mais inclusivos e sustentáveis. REFERÊNCIAS BATISTA, L. S.; COSTA, R. A. T. Modelos de Negócios Inovadores: a inovação tecnológica e o papel do empreendedor inovador na gestão e desenvolvimento empresarial. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Micro e Pequenas Empresas, v. 7, n. 2, p. 47-76, maio/ago. 2022. BRANDÃO, C. E. L.; FONTES FILHO, J. R.; MURITIBA, S. N. (Org.).Governança corporativa e integridade empresarial : dilemas e desafios. São Paulo : Saint Paul, 2017. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/ 9788580041347/>. Acesso em: 24 nov. 2022. BRASIL. Decreto n. 11.129, 11 de julho de 2022. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 jul. 2022. Disponível em: <https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/d11129.htm>. Acesso em: 24 nov. 2022._____. Decreto n. 8.420, de 18 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 19 mar. 2015. Disponível em: <https://repositorio. https://www.toyota.com.br/compliance/ cgu.gov.br/handle/1/33358>. Acesso em: 24 nov. 2022. CAJAZEIRA, J. E. R.; BARBIERI, J. C.Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável . 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Disponível em: <https:// integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547208325/>. Acesso em: 24 nov. 2022. ENTENDA o que é compliance e descubra os principais benefícios para as empresas. Fórum, 11 dez. 2020. Disponível em: <https://www.editoraforum. com.br/noticias/entenda-o-que-e-compliance-e-descubra-os-principais-beneficios -para-as-empresas/>. Acesso em: 24 nov. 2022. KNEIPP, J. M. et al. Gestão estratégica da inovação sustentável: um estudo de caso em empresas industriais brasileiras.Revista Organizações em Contexto, v. 14, n. 27, p. 131-185, 2018. ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECNONÔMICO (OCDE). Manual de Oslo: diretrizes para a coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3. ed. Paris, 2005.
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