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Indaial – 2020
Análise do discurso
Prof.a Scheila Patrícia de Borba Curry
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Scheila Patrícia de Borba Curry
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C976a
Curry, Scheila Patrícia de Borba
Análise do discurso. / Scheila Patrícia de Borba Curry. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
187 p.; il.
ISBN 978-65-5663-013-7
1. Análise do discurso. - Brasil. 2. Linguística. – Brasil. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 410
III
ApresentAção
Prezado acadêmico!
Estamos dando início aos nossos estudos de uma disciplina 
relativamente nova nos programas e ementas de ensino. Trataremos da 
Análise de Discurso (de linha francesa), um importante referencial teórico 
que certamente mudará seu olhar e sua forma de se relacionar principalmente 
dentro de suas práticas de trabalho. Junto dela, vêm alguns tópicos da 
Pragmática – outra linha teórica que também mobilizará você a perceber 
certos “detalhes” no processo de comunicação que fará a diferença nos 
resultados que se buscam alcançar.
 
Nosso estudo focará princípios básicos, observando origens da 
teoria, autores mais importantes, conceitos fundadores e sobretudo análises 
que descreverão para você os caminhos para trabalhar com tais referenciais. 
Assim, compreenderemos a noção de discurso, de sujeito, de posição 
ideológica, de condições de produção de um discurso e de formações 
discursivas. Tudo isso é tão importante que é capaz de prever o resultado de 
comportamentos e encaminhamentos que temos dentro de nossas relações 
sociais. Nós, como sujeitos, afetados ideologicamente por uma memória, por 
uma história, que se (re)inscrevem no tempo e no espaço, nunca proferimos 
uma fala desintencionados. Deslocando essa análise para nossas relações 
sociais, quando conversamos com um colega, com um cliente e fazemos um 
pedido ou uma solicitação, já podemos trabalhar esse discurso de maneira 
que aquele que está do outro lado, o meu interlocutor, sinta-se mais ou 
menos encorajado a responder a nossa demanda. Tudo depende de como 
podemos formular nosso discurso. 
A partir disso, observe como estão divididas as unidades na sequência. 
Na Unidade 1, você encontrará noções sobre a Teoria da Enunciação, um 
referencial que constitui subsídios para compreender melhor a Análise de 
Discurso em função da formulação sobre sujeito. Também, nessa primeira 
unidade, abordaremos as bases da análise de discurso, apresentando conceitos 
específicos da teoria. Na Unidade 2, aprofundaremos mais o conhecimento 
de outros dispositivos de análise como o da posição-sujeito e das formações 
discursivas e imaginárias. Na terceira e última unidade, vamos trabalhar as 
noções da Pragmática, uma linha teórica presente na superfície da linguagem. 
Abordaremos então os atos de fala e os operadores entre outros conceitos 
norteadores. Assim, a partir do breve exposto, daremos início a esse mundo 
de conhecimento no qual você entra a partir de agora! Organize-se para nosso 
estudo. Tenha sempre um caderno onde possa anotar, sublinhar ideias e 
conceitos que você perceba importantes para o conhecimento. Bons estudos!
Prof.a Scheila Patrícia de Borba Curry
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA 
ÉMILE BENVENISTE ....................................................................................................1
TÓPICO 1 – DA NATUREZA DOS PRONOMES ...............................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 A CONSTITUIÇÃO DO “EU” E DO “TU”: O ESPAÇO DA SUBJETIVIDADE .......................4
3 O DISCURSO NA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO ............................................................................9
4 NOÇÕES SOBRE LÍNGUA E DISCURSO: O QUE É A LÍNGUA EM BENVENISTE .............9
4.1 CONECTANDO SUJEITO E DISCURSO .....................................................................................16
5 SUBJETIVIDADE NA/PELA LINGUAGEM: QUE PROCESSO É ESTE? ...............................17
5.1 DEFININDO O OBJETO DE ANÁLISE: REPRESENTAÇÕES DESSAS CATEGORIAS 
NOS DISCURSOS INFORMATIVOS, CASUAIS, FORMAIS, INFORMAIS DO 
COTIDIANO SOCIAL OU DE TRABALHO ...............................................................................19
5.2 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA ENUNCIATIVA PARA O MERCADO DE TRABALHO ....24
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................26
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................27
TÓPICO 2 – ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO 
AS BASES ...........................................................................................................................31
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31
2 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA ANÁLISE DE DISCURSO: HISTÓRICO 
E AUTORES ...........................................................................................................................................33
3 ESPAÇO DEINSURGÊNCIA DA AD NAS DINÂMICAS RELAÇÕES DO SÉCULO XXI .34
4 COMPREENSÕES TEÓRICAS: NOÇÃO DE TEXTO E DISCURSO ........................................36
 4.1 LÍNGUA: A MATERIALIDADE LINGUÍSTICA QUE TRACEJA O SENTIDO ....................39
4.2 NOÇÃO DE SUJEITO: A POSIÇÃO DO “EU” E DO “TU” .....................................................40
4.2.1 A posição sujeito professor ...................................................................................................42
4.3 DEFININDO O CORPUS/OBJETO: QUE LUGAR DEVEMOS ASSUMIR NESSE 
OBSERVATÓRIO DA LINGUAGEM? ........................................................................................44
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................49
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................54
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................55
UNIDADE 2 – ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA 
DE ANÁLISE .................................................................................................................59
TÓPICO 1 – AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO DISCURSO ................................................61
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61
2 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE UM DISCURSO: O QUE SÃO E 
COMO FUNCIONAM .........................................................................................................................62
2.1 AINDA NAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO: A INTERFERÊNCIA DE NOVAS 
REDES SE SENTIDO .......................................................................................................................65
3 SUJEITO DO DISCURSO ...................................................................................................................66
3.1 A CONSTITUIÇÃO DA POSIÇÃO-SUJEITO .............................................................................67
sumário
VIII
4 SOBRE O SILÊNCIO NAS TOMADAS DE POSIÇÃO ................................................................73
5 O PAPEL DAS FORMAÇÕES DISCURSIVAS NO ASSUJEITAMENTO ................................75
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................80
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................82
TÓPICO 2 – O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO ......................................................85
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................85
2 OS SENTIDOS DE BASE ACERCA DO INTERDISCURSO ......................................................86
2.1 A RELAÇÃO DO SUJEITO COM A MEMÓRIA, COM A IDEOLOGIA ................................88
3 OUTRAS INTERFACES PARA O DISCURSO: ANTECIPAÇÕES .............................................93
4 ESQUECIMENTOS ..............................................................................................................................97
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................104
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105
TÓPICO 3 – RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS DISPOSITIVOS ..........................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS .......................................................................................................110
3 SOBRE AS FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS (FIs) .........................................................................110
4 O PAPEL DA PARÁFRASE E DA POLISSEMIA: O CONFRONTO ENTRE O 
SIMBÓLICO E O REAL ....................................................................................................................112
4.1 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DE DISCURSO PARA O MERCADO DE TRABALHO ......113
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................115
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................119
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................120
UNIDADE 3 – PRAGMÁTICA ...........................................................................................................123
TÓPICO 1 – NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA ..............................................................................125
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125
2 CONCEITOS INICIAIS .....................................................................................................................126
3 BREVE HISTÓRICO: CONCEITOS E NOMES EXPONENCIAIS DA TEORIA ..................128
4 ATOS DE FALA ...................................................................................................................................134
5 O MODELO DE GRICE ....................................................................................................................138
6 AS IMPLICATURAS ..........................................................................................................................139
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................144
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................145
TÓPICO 2 – ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA ..................................................................147
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147
2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .............................................................................................148
3 FATORES PRAGMÁTICOS .............................................................................................................149
4 TIPOS DE ARGUMENTOS: UM OLHAR SOBRE O QUE A PRAGMÁTICA ALCANÇA...155
5 OPERADORES ARGUMENTATIVOS: DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES .......................157
6 OPERADORES QUE ALTERAM A SIGNIFICAÇÃO .................................................................163
6.1 COMO OPERCIONALIZÁ-LOS NA PRODUÇÃO DE UM TEXTO .....................................165
6.1.1 Fragmento de uma introdução de um artigo acadêmico ................................................165
7 BREVE EXPOSIÇÃO SOBRE A DIFERENÇA ENTRE ANÁLISE DE 
DISCURSO E PRAGMÁTICA .........................................................................................................166
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................170
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................173
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................176
1
UNIDADE 1
NOÇÕES DA TEORIA DA 
ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA 
ÉMILE BENVENISTE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMPLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer a Teoria da Enunciação e o respectivo autor que a 
representa;
• compreender a noção de discurso por essa teoria;
• compreender a representação de sujeito pelo referido aporte 
teórico; 
• conhecer as noções preliminares sobre a Análise de Discurso;
• reconhecer os fundamentos sobre discurso e sujeito na Análise de 
Discurso;
• iniciar alguns movimentos analíticos dentro da teoria da Análise 
de Discurso. 
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado. 
TÓPICO 1 – DA NATUREZA DOS PRONOMES
TÓPICO 2 – ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: 
COMPREENDENDO AS BASES
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
DA NATUREZA DOS PRONOMES
1 INTRODUÇÃO
Nesta Unidade 1, vamos começar nossos estudos conhecendo a tão 
importante Teoria da Enunciação a qual vai trabalhar com as propostas situadas 
neste primeiro tópico. Inicialmente vamos pensar: o que é uma teoria? Teoria é 
um conjunto de pressupostos e princípios que avaliados e testados formam um 
saber sobre determinadas questões. O Dicionário Houaiss (2001) aponta algo 
como sendo um conjunto de regras ou leis aplicadas a uma área específica. Então, 
podemos dizer que “teoria” é a formulação de um conhecimento, certo?!
FIGURA 1 - SOBRE A ENUNCIAÇÃO
FONTE: <https://amigosmultiplos.org.br/wp-content/uploads/2017/12/250716220143-esclerose2.jpg>. 
Acesso em: 17 out. 2019.
Agora, pensemos sobre enunciação. O que é “enunciar”? Vamos seguir 
o mesmo caminho. Segundo o Dicionário Houaiss (2001), enunciar é declarar 
algo. Nesse caso, posso acrescentar que essa declaração pode ser afirmativa, 
negativa, interrogativa, exclamativa, injuntiva etc. tudo depende da situação 
em que se está proferindo algo. Assim, vamos começar a conhecer o conceito: 
Teoria da Enunciação trata sobre um conhecimento acerca do “enunciar”. E 
neste aspecto reside toda a questão da teoria: o enunciar, que nós tratamos aqui 
como “declarar”, pois, para se poder “declarar” algo ou sobre algo, é preciso 
que exista o quê? É preciso que haja um sujeito, alguém que enuncie, que afirme, 
que negue, que pergunte, que exclame etc., porém, isso não é tão simples assim. 
Vamos entender mais adiante o que faz “alguém” ser um sujeito, ou nos termos 
da teoria, a classificação de “pessoa” à categoria de sujeito.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
4
2 A CONSTITUIÇÃO DO “EU” E DO “TU”: O ESPAÇO DA 
SUBJETIVIDADE
Acreditamos que até aqui você está compreendendo, então, vamos abrir 
um parêntese para conhecer um dos grandes nomes dessa teoria: Émile Benveniste, 
que nasceu na Síria e foi naturalizado francês; nasceu em 1902 e faleceu em 1976. 
Publicou a célebre obra Problèmes de linguistique générale (em português, Problemas 
de Linguística Geral), em 1966, momento em que o sujeito do discurso estava sendo 
relativizado nos estudos da linguagem. 
A partir de suas publicações, o universo da linguagem se voltou 
para o referido autor, incluindo nessa plateia filósofos e psicanalistas como 
o inquestionável Jacques Lacan, o qual, em 1956, formou uma parceria com 
Benveniste para uma produção das concepções de sujeito. Sua trajetória final 
em publicações se estabeleceu em 1974 com o segundo volume de Problèmes de 
linguistique générale II. Benveniste assume tamanha importância porque, com 
ele, temas como a questão da subjetividade na linguagem, a categoria de pessoa 
x sujeito, a instituição do discurso assumiu relevantes proporções. A partir de 
Benveniste, ousou-se estabelecer “um terreno limítrofe que lhe permite falar, 
em uma interdisciplinaridade, de filosofia, antropologia, sociologia, psicanálise, 
cultura” (FLORES et al., 2009).
FIGURA 2 - METAFORICAMENTE, REPRESENTA OS DESLOCAMENTOS EU-TU
FONTE: <https://pbs.twimg.com/profile_images/1260744705/C_pia_de_bl_w_400x400.jpg>. 
Acesso em: 17 out. 2019
Considerando esses aspectos trabalhados, pensemos: o que significa esse 
título do tópico “Da natureza dos pronomes”. Se tudo o que estudamos até agora 
foi uma síntese sobre o que é a Teoria da Enunciação, sobre a possibilidade de 
se colocar como sujeito em um discurso e sobre a importância de Benveniste nos 
estudos da linguagem, o que “natureza dos pronomes” tem a ver com isso?
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
5
FIGURA 3 – ÈMILE BENVENISTE
FONTE: <https://www.goodreads.com/author/show/2452313._mile_Benveniste>. Acesso em: 
19 de out.2019.
Tudo começa com o fato de que Benveniste, em seus estudos sobre a noção 
de sujeito, percebeu que a categoria do pronome — sim, este mesmo que você está 
pensando, o pronome das classes gramaticais — elimina a noção de pessoa enquanto 
um sujeito com identidade, quando está fora de um ato enunciativo. Os elementos 
“eu/tu/ele” abolem a noção de pessoa porque — fora da enunciação do discurso — 
não se constituem como uma classe unitária: ora estão na sintaxe, dissolvidos na 
estrutura frasal, ora estão em instâncias do discurso. Então, para o autor, isso não 
estabiliza a noção de sujeito. A categoria do “eu” só possui valor na própria instância 
do discurso em que se apresenta. Fora dele, o “eu” perde sua identidade. 
Nessa perspectiva, instância do discurso passa a existir no exato momento 
em que um indivíduo faz uso da linguagem, a qual possui uma série de sentidos 
internos. Esses sentidos são acessados por um “eu” (locutor/autor/enunciador), o 
qual se movimenta à categoria de sujeito na exata medida que enuncia para um 
“tu” (interlocutor/leitor). Com isso, percebemos que a constituição do sujeito se dá 
“na e pela linguagem” (BENVENISTE, 1995), momento em que o “eu” toma a voz e 
enuncia sobre si ou sobre algo de sua exterioridade. Tal processo ocorre sempre na 
presença de um “tu”, aquele para quem ou com quem se fala. É oportuno afirmar 
que, quando esse “tu” toma a voz e passa a enunciar no discurso, a categoria de 
sujeito é deslocada para esse “outro” do ato discursivo.
 
E quanto ao “ele”? Quem é a pessoa do “ele” na Teoria da Enunciação? 
Benveniste chama-o de “não pessoa”. Isso significa que “ele” é “sobre o que falamos”. 
É o assunto, é o indivíduo sobre quem conversamos, comentamos, escrevemos. 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
6
IMPORTANT
E
• "A polaridade das pessoas é na linguagem a condição fundamental"(BENVENISTE, 1995, p. 
286).
• O “eu” sempre se sobrepõe sobre o “tu” (BENVENISTE, 1995, p. 286).
• "Nenhum dos dois termos se concebe sem o outro" (BENVENISTE, 1995, p. 286).
Nesse momento, você pode pensar: mas o que isso tem a ver com meus 
estudos, minha atuação profissional, social etc.? Reconhecer esse movimento, 
saber dar voz ou concentrar a voz é o que fortalece ou dissocia muitas relações, 
sendo as exatas que você, eu... todos nós temos. Expressar ou deslocar a voz 
do discurso é um gesto que movimenta o sentido frente àquilo que é dito ou 
silenciado. Agora, pense em quantas vozes, socialmente considerando, não são 
ouvidas? Quantos amigos, colegas etc. não se constituem na condição de sujeito 
de um discurso porque não são recebidos por um interlocutor, não são ouvidos? 
Então, nosso trabalho como analistas do discurso é sempre reconhecer as vozes 
porque isso sempre elevará a qualidade de nosso trabalho. 
FIGURA 4 – SOBRE AS MÚLTIPLAS FACES DO “EU”
FONTE: <https://evilynalmeida2012.wixsite.com/cabinepoetica/galeria?lightbox=image_1m9x>. 
Acesso em: 19 out. 2019.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
7
Seguindo essa linha de raciocínio sobre a constituição do sujeito na e pela 
linguagem, convidamos você a raciocinar sobre as seguintes questões:
• Você já tinha refletido a noção de sujeito?
• Nas suas práticas cotidianas, você já percebeu, entre os pares comquem conversa, 
trabalha, socializa-se que existem aqueles que “se colocam mais” frente ao que querem 
expressar?
• Já observou que também há alguns que parecem apresentar maior dificuldade de 
expressar o que pensam? Certamente a timidez é um fator relevante, mas não é só isso 
que limita.
 Diante dessas questões, sugerimos que anote a seguir o entendimento de 
sujeito que você passa a ter com nosso estudo. Descreva também alguma situação 
(preferencialmente de trabalho) em que você percebeu a constituição e a destituição do 
sujeito no discurso.
ATENCAO
Trabalhamos, na introdução, o funcionamento das categorias do “eu” e 
do “tu” no discurso, segundo a teoria de Émile Benveniste. Retomando aqui: o 
“eu” tem a força discursiva de transcender o “tu”, o que acontece sempre que se 
toma a palavra. Sendo assim, quando uma pessoa “fala”, ela está assumindo a sua 
condição de sujeito no discurso, emergindo com uma rede de saberes, valores, 
conceitos que profere na presença de um “tu”. 
Nas palavras de Benveniste (1995, p. 286): “[...] ego [eu] tem sempre uma 
posição de transcendência em relação ao tu, apesar disso, nenhum dos dois termos se 
concebessem o outro, são complementares e, ao mesmo tempo, reversíveis”. 
IMPORTANT
E
A partir disso, Benveniste recolocou nos estudos da linguagem, a noção 
de subjetividade. Vamos parar um pouquinho aqui: você possivelmente já ouviu 
professores ou colegas falando que determinado tema é mais ou menos subjetivo, 
não é? Vamos então redefinir esse entendimento. O simples uso da primeira 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
8
pessoa do discurso (eu) não torna um tema subjetivo. A subjetividade é mais 
do que isso; ela está na “capacidade de o locutor se propor como sujeito em seu 
discurso” (BENVENISTE, 1995). E isso ocorre na materialidade linguística que é 
a língua, a nossa língua portuguesa. 
Esse posicionamento do indivíduo como sujeito do discurso instala a 
subjetividade na linguagem PORQUE, junto do ato de enunciar, o sujeito assume 
escolhas linguísticas, exala um discurso carregado de valores, condutas, crenças, 
opiniões que lhes são tão próprios, tão singulares, tão únicos que não há como 
ter uma repetição disso em outra prática discursiva de outro sujeito. Assim, a 
subjetividade tem a ver com a singularidade percebida naquilo que é enunciado. 
A partir disso, compreende-se que o “eu” que fala faz referência a si 
mesmo com as marcas da primeira pessoa, como é o caso do “eu”, constituindo 
sempre um novo gesto de significação “de si mesmo” no discurso. Assim, o “eu” 
na comunicação oscila de estado: os polos eu/tu assumem posições alternadas, 
colocando-se na linguagem e assim produzindo efeitos de sentido no discurso. 
Segundo Benveniste (1989, p. 69): 
A língua provê os falantes de um mesmo sistema de referências 
pessoais de que cada um se apropria pelo ato de linguagem e que, 
em cada instância de seu emprego, assim que é assumido por seu 
enunciador, se torna único e sem igual, não podendo realizar-se duas 
vezes da mesma maneira. 
Essas sobreposições das pessoas do discurso (re)criam uma consciência 
sobre si, em processos de (inter)subjetividades que precisam ser entendidas 
como presença do sujeito na linguagem em constante alternâncias das posições 
eu-tu. Em face disso, a constituição do eu-tu, para Benveniste não é mais que “a 
capacidade do locutor para se propor como ‘sujeito’” (BENVENISTE, 1995, p. 
286), estabelecendo “trocas” que podem ressignificar os sentidos propostos no 
discurso a cada ato de enunciação.
 
Vamos então pensar isso de forma mais prática? Vamos criar aqui 
uma formação imaginária (conceito este do qual vamos tratar mais adiante). 
Imagine o seguinte:
 São 8h45min da manhã. A reunião que havia sido marcada ontem com 
sua equipe de trabalho vai começar em 15 minutos. Todos foram avisados sobre 
horário e pautas, entre as quais está a definição da estratégia de organização do 
evento de apresentação da empresa em uma feira nacional. 
Você está lá, vendo todos chegarem; todos estão abrindo suas agendas, seus 
smathphones para discutirem o assunto. A pessoa responsável pela organização 
da reunião começa os trabalhos, ela solicita a apresentação de ideias. Nesse 
momento, um dos presentes diz algo, todos analisam, pensam. A própria pessoa 
que deu a ideia “volta atrás”, reformula sua própria fala. Outro colega refuta, 
reorganiza o que foi colocado inicialmente, e assim se desenvolve a reunião.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
9
Esse processo para a maioria das pessoas é só uma reunião com troca 
de ideias, mas para você, como analista de discurso, é importante observar os 
movimentos das tomadas de posição entre o “eu” que fala e o “tu” (os vários “tu” 
que ouvem). Observe a força discursiva, as seleções vocabulares, pausas maiores 
ou menores na fala, a convocação de outros saberes e fontes para fazer valer o que 
se está propondo. Essa “valsa”, que, às vezes, pode assumir um gênero musical 
mais denso, dependendo do “ânimo” das pessoas, representa a emergência do 
sujeito na e pela linguagem. 
Seguindo essa linha de raciocínio sobre O MOVIMENTO DAS PESSAOS NO 
DISCURSO, convido você a escolher um momento de sua vida cotidiana de trabalho ou 
estudo, circunstância em que pessoas estão colocando algum ponto de vista acerca de 
algum assunto de interesse coletivo, para observar a seguinte situação:
• Quem apresenta inicialmente seu ponto de vista? (Lembre-se de que quem assume a 
fala, está na posição-sujeito no discurso).
• As demais pessoas (o tu) ouvem caladas ou tentam tomar a posição do “eu”?
• A colocação inicial é aceita ou rejeitada?
• O movimento de tomadas de posição do sujeito “eu” é reconhecido pelos demais ou há, 
no decorrer do processo, tentativas de silenciamento de alguma voz?
 Diante dessas questões, sugerimos que anote também: quantos indivíduos 
assumiram a posição “eu-sujeito” no discurso. Houve uma posição dominante? Que tipo 
de força de linguagem ela usou para prevalecer?
IMPORTANT
E
3 O DISCURSO NA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO
O indivíduo, na condição de se manifestar na e pela linguagem, passa a 
existir no agora, articulando saberes que constituem o seu discurso. Esse discurso 
é, portanto, para Benveniste, a manifestação do ato de enunciar. Você se lembra do 
conceito de enunciar colocado lá no início? Enunciar, de forma simples e direta, é 
declarar algo ou declarar sobre algo). A partir dessa colocação inicial, estudamos 
então a emergência do sujeito, a existência deste na linguagem e o consequente 
uso da língua para se fazer presente e constituir os sentidos. Assim, é relevante 
agora reforçar que “a enunciação coloca em movimento a Língua por um ato 
individual de utilização” (BENVENISTE, 1989, p. 85). Sendo assim, o processo de 
declarações, ou seja, de enunciações constitui um discurso.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
10
FIGURA 5 - REPRESENTAÇÃO DO ATO DE ENUNCIAR QUE DEFLAGRA O DISCURSO
FONTE: <https://cdn.slidesharecdn.com/ss_thumbnails/comunicacion-170429005229-
thumbnail-4.jpg?cb=1493427220>. Acesso em: 7 nov. 2019.
É válido salientar que uma declaração ou um conjunto de declarações 
precisam — obrigatoriamente — apresentar sentido, precisam fazer sentido 
frente ao interlocutor (tu), pois o movimento das tomadas de posições eu-tu 
és perpétuo. Benveniste (1989, p. 82) acrescenta ainda que o discurso “é o ato 
de produzir um enunciado, e não o texto do enunciado”. Essa afirmação toma 
sentido lógico quando nos damos conta de que, em um texto escrito ou falado, 
podem emergir inúmeras vozes, inúmeros sujeitos que exalam efeitos de sentido 
muito distintos entre si. Cada um destes sujeitos assume um ato de enunciar, 
com seu fazer próprio, carregado de fundamentos que lhes são próprios. Diante 
disso, entendemos que, dentro de um texto, pode haver vários discursos. Você 
compreende isso?
Agora, vamos observar algumas situações: 
• 1ª Situação: a seguir há um textoque tematiza a questão política. O que queremos 
com esse texto é mostrar que, apesar de ele ter um título, ser publicado em 
determinado lugar e aparentar a ideia de unicidade, ou seja, a ideia de parecer que 
possui uma ideia única, na verdade, esse texto é multifacetado, em função de que 
apresenta, no mínimo, dois discursos. 
Em certa ocasião, dois candidatos a pleito da política brasileira debateram 
sobre a questão da segurança pública. Após o debate, uma equipe transcreveu, 
na forma escrita, toda a discussão para disponibilizar aos internautas que 
quisessem analisar melhor a fala dos concorrentes.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
11
FIGURA 6 - IDENTIFICANDO OS DISCURSOS NA ENUNCIAÇÃO
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSSUmayfziD8Jlevvk4o9Pf__
bhXpAm_lygxifAZc8lcbnjUUsY0A&s>. Acesso em: 12 out. 2019.
DEBATE
[...] “A questão da segurança não é de responsabilidade direta da 
prefeitura. Mas a prefeitura pode ajudar muito, e é isso que eu vou fazer 
como prefeito. Até porque eu conheço os dois lados. Já fui prefeito, e já fui 
governador, já tive a responsabilidade também sobre a segurança. A situação 
de segurança em nossa cidade deixa a desejar, é insatisfatória, mas é preciso 
considerar que melhorou muito comparativamente ao resto do Brasil. [...]
[Nossa cidade] registrou a maior queda de homicídios no Brasil 
proporcionalmente em termos absolutos nos últimos 12, 13 anos. Agora, a 
prefeitura pode fazer coisas importantes nessa direção. Uma delas é reforçar 
a Operação X, que o PM na hora de folga é contratado para a prefeitura. [...]
Mais ainda, aumentar a integração entre prefeitura e governo do 
Estado, entre guarda civil metropolitana e polícia militar, polícia civil. Eu 
introduzi como prefeito câmeras de vigilância do município, e introduzi como 
governador câmeras de vigilância também do Estado. [...] 
[...] os dados recentes sobre violência dão conta de que o problema é 
muito mais grave e mais recente do que você imagina. Estou falando de agora, 
do presente e do futuro, o que você às vezes reluta em discutir. O homicídio 
doloso aumentou 15% do ano passado para cá, dados oficiais da secretaria 
de segurança. Número de vítimas aumentou 17%. Tentativa de homicídio, 
35%. Estupro, 26%. E latrocínio, 6%. Você faz referência à Operação X, mas a 
Operação X não contrata os policiais no dia de folga para cuidar da segurança, 
na verdade ela enfrenta o comércio irregular, o comércio Y”. 
FONTE: Adaptado de <https://folha-online.jusbrasil.com.br/noticias/100143091/leia-a-
transcricao-completa-do-debate-sbt-uol-entre-haddad-e-serra>. Acesso em: 30 jun. 2019. 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
12
Você consegue perceber que o texto inicia com a enunciação de um 
sujeito que afirma sobre suas pretensões a determinado cargo político, MAS você 
percebe onde e quando uma segunda voz entra e assume a posição como sujeito? 
Lembra que falamos que o a pessoa/indivíduo se constitui como sujeito na e pela 
linguagem, certo? Isso tem a ver com os sentidos que transbordam no seu ato 
enunciativo. Você percebeu que o texto inicia com uma sequência de afirmações 
bastante promissoras em relação à segurança pública e que de repente entra um 
discurso mais ofensivo que destoa da perspectiva anterior? Em que momento 
isso acontece? Se não percebeu, volte lá e leia mais uma vez... Então, como pode 
ter analisado, o segundo discurso, o segundo sujeito vem à tona em “Os dados 
recentes sobre violência dão conta de que o problema é muito mais grave e mais 
recente do que você imagina”. A partir desse momento, enunciação na contra-
argumentação. O segundo sujeito entra para descontruir a rede de sentidos que 
o primeiro colocou.
Assim, perceba que um texto pode carregar sempre dois ou mais 
interlocutores como consagram seus discursos através da enunciação e nós, como 
analistas do discurso, precisamos mapear isso, pois este é o princípio para, mais 
adiante, conseguirmos trabalhar também com outras categorias de análise.
• 2ª Situação: a seguir, há uma segunda situação que trata sobre o celular em 
sala de aula. O que queremos com esse caso? Gostaríamos que você observasse 
as vozes que circulam nele. Para leitores em geral, esse texto trata de uma 
simples opinião sobre o uso do celular na condição já mencionada, PORÉM, 
nós, analistas do discurso, não podemos nos limitar a isso. Então, vamos lá:
CELULAR EM SALA DE AULA: UMA QUESTÃO QUE DIVIDE OPINIÕES
Professores e profissionais da educação pensam diferente sobre o assunto
Presente de maneira extremamente significativa na vida de 
crianças, adolescentes e jovens, o celular já se tornou um item inseparável e 
companheiro em praticamente todas as atividades diárias, até na hora dos 
estudos. O tema não é novo e o debate sobre o uso dos celulares no ambiente 
escolar tem gerado posicionamentos bastante divergentes.
Existem leis aprovadas em âmbito estadual e municipal proibindo 
o uso de celulares em sala de aula e, atualmente, um projeto de lei está em 
análise na Câmara dos Deputados PL 105/15 que prevê a proibição do uso 
de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares e tablets nas salas de aula 
da Educação Básica e Superior de todo o país, com o objetivo de preservar a 
essência do espaço pedagógico.
Mas as discussões sobre o tema seguem caminhos diferentes. 
Enquanto alguns professores acreditam que os celulares podem tumultuar o 
comportamento em sala de aula, outros profissionais olham para questão de 
forma mais sensata e abrangente.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
13
A jornalista espanhola Susana Pérez de Pablos é especializada em 
educação e acredita que no mundo atual, plenamente digitalizado, a entrada 
da tecnologia na educação não tem retorno. “Liguem os telefones celulares”. 
Essa é a frase que inicia o texto de sua coluna para o jornal El País, que trata de 
sete motivos para usar o celular em sala de aula.
Para a coordenadora do setor de Educação da Unesco no Brasil, Maria 
Rebeca Otero Gomes, ignorar o celular é algo impossível, pois ele se encontra 
presente em todos os lugares. Ela se declarou contramedidas que proíbem o uso 
do aparelho, principalmente porque a regra acaba sendo burlada. E defende a 
integração de tais inovações tecnológicas como ferramentas educativas.
Neste sentido, é essencial refletir sobre o papel do professor como 
intermediário do conhecimento e como ele pode ser treinado para incorporar 
os celulares e outros dispositivos de maneira inteligente e voltada para ampliar 
a aprendizagem. Além disso, é preciso analisar a percepção desses mesmos 
alunos quanto à eficácia de tais instrumentos no processo educacional.
Uma pesquisa sobre educação e desenvolvimento, realizada pelo Cetic.
br, departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (Nic.
br), que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet do 
Brasil (Cgi.br), mostrou qual é a proporção de alunos por percepção sobre 
possíveis impactos das tecnologias de informação e comunicação.
É cedo para afirmar que o giz e a lousa definitivamente ficaram 
para trás, porém, não podemos negar que todos os dias as pessoas se 
tornam digitais, incorporando diferentes formas de interação, pesquisa e 
busca por informação.
FONTE: <https://dialogando.com.br/educacao/geracao-conectada/celular-em-sala-de-aula-
uma-questao-que-divide-opinioes>. Acesso em: 27 jul. 2019.
O que observamos nessa materialidade linguística denominada 
texto? Vemos, no mínimo, dois discursos sobre a questão do celular. O texto 
menciona diferentes visões sobre o tema. Analisando então percebemos que 
um dos discursos se sobrepõe ao outro: o sujeito que assume a voz faz um 
arranjo de afirmações que fortalecem o uso do celular. Elenca a tecnologia 
como fundamental e cita especialista no assunto. Nesse entremeio, menciona 
o problema do celular. Dessa forma, qual é na verdade o discurso dominante 
nesse texto? Vou colocar apenas dois pontos e você vai perceber queo texto 
defende o celular. Primeiramente, utiliza-se de uma ferramenta argumentativa 
de coação: a lei que quer proibir (e não flexibilizar). Essa lei vai “proibir 
geral”. Não dará chance para nenhuma alternativa. Então, a forma como isso é 
apresentado já prepara o leitor para o fato de que a proibição pode ser abusiva, 
uma tolhedora de liberdade. Em segundo lugar, em um movimento “meio 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
14
que desesperado”, cita uma especialista em educação, a qual nem professora/
educadora é para de fato reconhecer o impacto do celular na formação dos 
jovens. Apenas com isso, já fica evidente o quão o discurso — disfarçado de 
opinião — carrega uma ideologia indutora de comportamentos, decisões, ações 
que ditam — inconscientemente — o modo de o leitor pensar. Isso não se trata 
de verificações óbvias ou evidentes. Não, precisamos, e muito, observar, com 
atenção, as escolhas discursivas do autor para que possamos realmente perceber 
o que ele está dizendo. Assim, segue o texto para que você leia, observe se o que 
analisamos anteriormente procede ou não e então procure também encontrar 
algum aspecto nele para que seja possível fortalecer a nossa análise ou refutá-la. 
Agora, convidamos você a observar pontos que conflituam no discurso a seguir:
 “Falar sobre futebol é uma delícia. Talvez seja tão ou mais gostoso do que jogar 
ou assistir a uma partida do esporte mais popular do planeta. O futebol é este sucesso 
todo porque sempre foi o mais simples, democrático e acessível dos esportes coletivos. 
Nenhuma tese sobre futebol pode ser descartada. Seja ela proferida pelo Zidane, pelo Pelé 
ou pelo Zezinho da Vila Catacumba”.
 Pense: tudo o que foi afirmado no segmento acima pode ser tido como verdadeiro?
• Esse sucesso todo do futebol tem mesmo a ver com a “simplicidade” que ele aparenta ter?
• Afinal, o que está “por trás” de tal afirmação? O que possivelmente motiva o sujeito-autor 
a professar o futebol dessa forma?
FONTE: Adaptado de <https://globoesporte.globo.com/sp/futebol/noticia/opiniao-verdade-
absoluta-e-a-maior-mentira-do-futebol.ghtml>. Acesso em: 2 set. 2019.
IMPORTANT
E
4 NOÇÕES SOBRE LÍNGUA E DISCURSO: O QUE É A 
LÍNGUA EM BENVENISTE
A Teoria da Enunciação, como estamos vendo, desperta atenção para a 
língua em funcionamento ou, mais especificamente, para o desempenho da língua 
dentro de determinadas situações, em vista de que é por ela (a língua) que o sujeito 
se coloca para assumir uma posição discursiva. Benveniste vê a enunciação como 
o gesto de pôr em funcionamento a língua por um ato individual de utilização. 
O autor salienta, no entendimento de língua, que a enunciação representa o 
ato de produzir um enunciado e não como o texto propriamente dito. Assim, 
a língua representa um sistema com elementos que são necessariamente, e não 
arbitrariamente, portadores de sentido.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
15
O referido ato de enunciar (e não o texto já finalizado) constitui seu objeto 
de estudo. Com base em manifestações individuais que colocam o indivíduo como 
sujeito na e pela linguagem, o autor investiga no interior da língua os recursos formais 
da enunciação. Nessa esfera, o ato individual de apropriação da língua introduz 
aquele que fala em sua fala. E isso ocorre à medida que, ao enunciar, o sujeito que 
assume a voz (locutor/autor/falante), “implanta o outro diante de si, qualquer que 
seja o grau de presença que ele atribua a este outro” (BENVENISTE, 1989, p. 3). 
Disso infere-se que o “eu” está na materialidade linguística que é a língua. 
Frequentemente encontramos marcas que o reconhecem, porém o “tu” pode estar 
oculto na língua. Ele pode estar pressuposto. Tal fato se estabelece quando, em 
um discurso, não se encontra marca linguística alguma que ateste a presença 
desse “outro”, o “tu”, no texto.
A enunciação gira em torno da órbita do “eu”, sempre aquele que assume 
a posição, podendo este ser “notado” na linguagem como, por exemplo, os índices 
de pessoa no discurso (a relação eu-tu) e os de demarcação de tempo e espaço (este, 
aqui, agora e outros). Desse modo, tais categorias linguísticas que, fora do discurso são 
vazias, já que não comportam um sujeito — no processo enunciativo — são ajustadas.
 
Os pronomes pessoais (eu-tu) e os dêiticos (pronomes, como: “este, 
esse, aquele” e advérbios, como: “aqui, lá, ali”, marcadores de espaço tempo em 
relação ao sujeito que fala, materializam relações que se criam no ato de enunciar 
que vai figurar na expressividade da língua como um discurso. Ainda na língua, 
encontramos, além dos pronomes e dêiticos, a temporalidade verbal, a qual, na 
condição de tempo presente, atesta a existência daquele que enuncia. Posto que o 
presente é uma marca do agora, decorrendo disso o reconhecimento de coexistência 
com algo ou com alguém, esse tempo verbal demarca, no discurso, o efeito de 
“origem” do tempo, isto é, o sujeito consegue então estabelecer outros traços ou 
recortes de temporalidade. “Por fim, na enunciação, a língua se acha empregada 
para a expressão de uma certa relação com o mundo” (BENVENISTE, 1989, p. 89).
Martins (1990) pontua ainda sobre o funcionamento da língua que a 
dissociação “eu-tu” de um lado e “ele” de outro (lembrando que este último (o 
“ele) está no universo da objetividade, não representando a categoria de sujeito 
no discurso) tem como um dos efeitos a não separação entre enunciação (gesto do 
sujeito em assumir sua posição, afirmar sobre algo ou sobre alguém) e enunciado 
(a materialidade linguística — língua — onde encontramos o discurso). Assim, 
para a autora, o que ocorre é um olhar do analista de discurso sobre o enunciado, 
procurando compreender como se processuou a enunciação, não apresentando 
interferência de um terceiro, que no caso é o “ele”. Retomando mais uma vez, o “ele” 
é uma marca que não confere estatuto de pessoa a ninguém. O “ele” representa um 
elemento externo, podendo, por exemplo, ser o tema sobre o qual de enuncia.
 
A autora acrescenta ainda que, na relação “eu e tu”, em conformidade com 
o que enunciam, ou seja, em conformidade com o assunto/tema da enunciação 
(universo da não pessoa), encontra-se o conteúdo dessa relação. Em outras 
palavras, dependendo do “tipo” de tema sobre o qual se trata, vai se estabelecer 
o aprofundamento do sujeito na língua.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
16
Com isso, vamos agora considerar a seguinte situação: em um dado grupo 
de amigos ou colegas de estudo/trabalho, inicia-se uma conversa sobre, por exemplo, 
“relações interpessoais”. Você como analista observará que a categoria de terceira pessoa 
(ele/a) está no assunto sobre o qual se vai discutir. Agora, a imersão do sujeito na língua, 
o alcance de suas discussões e colocações estarão no conteúdo da enunciação. O sujeito 
que está na posição do enunciar “se expõe” mais ou “se expõe menos”? O grau de aceitação/
contestação está na possibilidade de expressar o que se pensa sobre o assunto.
 Diante disso, eu peço que você, de agora em diante, preste a atenção nesses 
momentos, frequentemente informais, em que as pessoas, na categoria de sujeitos no ato 
de enunciar, são mais ponderadas ao emitir suas ideias, são mais expansivas no sentido de 
exporem veementemente o que pensam ou são mais reclusas. Dependendo do perfil que 
ela assumir, podemos analisar quanto ela se apropria da língua para expressar os sentidos 
de sua enunciação como sujeito na língua. E certamente para qualquer das condições 
assumidas, ocorrem os efeitos de sentido que são materializados nos rótulos, nos (pré)
conceitos e nas subsequentes relações sociais.
ATENCAO
4.1 CONECTANDO SUJEITO E DISCURSO
FIGURA 6 - O SUJEITO COM DIFERENTES FORMAS DE INTERPRETAR
FONTE: <https://i2.wp.com/rasja.nl/wp-content/uploads/2015/12/rasja.nl-conflicthantering-wie-
bepaalt.gif>. Acesso em: 2 set. 2019.
Estamos observando que o estudo em questão envolve muitos aspectos 
dalinguagem e que precisamos estar sempre atentos para a categoria do sujeito, 
já que esse apresenta caráter único, singular no discurso em função que sua 
manifestação é sempre única. Não encontramos repetição na sua forma de se 
colocar frente ao que se enuncia. Verifica-se, assim, que esse processo possui 
significância única no enunciado, apresentando sucessivos sentidos a cada ato 
enunciativo ou a cada gesto de leitura sobre o discurso enunciado.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
17
De acordo com Flores et al. (2005), a interpretação [substancial] de um 
enunciado depende de quem o “lê”. No gesto de leitura/interpretação, temos, nos 
polos da enunciação, de um lado, um discurso enunciado pelo “eu” e temos, de 
outro lado, um “tu” que pode se materializar na pessoa do leitor. Diante disso, “a 
relação intersubjetiva [entre sujeitos] que se produz na leitura é sempre inédita. O 
sentido, longe de ser imanente, se apresenta como o resultado de um processo de 
apropriação do texto pelo leitor, que imprime a sua singularidade na experiência 
de leitura” (FLORES et al., 2005, p. 8). 
Nessa perspectiva, a conexão entre sujeito e discurso, na teoria da enunciação, 
se estabelece inicialmente pela conversão que o sujeito dá na língua para que ela 
recepcione o discurso (BENVENISTE, 1989). Paralelo a isso, a relação entre sujeito 
e discurso depende também do quanto o sujeito do ato enunciativo reconhece o 
“outro” (tu) como polo que vai interpretar determinados saberes enunciados. 
Dessa forma, estamos então estudando, neste momento, noções sobre 
discurso, cujos conceitos estão em fase preliminar dos estudos da linguagem. Tais 
noções, como veremos mais adiante, serão acrescidas de novas visões com novos 
autores que incrementarão a teoria com outros e novos elementos para se analisar.
5 SUBJETIVIDADE NA/PELA LINGUAGEM: QUE PROCESSO É ESTE? 
De acordo com o que vimos até aqui, acredito que já seja possível 
começarmos com os primeiros passos para trabalharmos com as análises, já que 
este é o ponto central de nossa disciplina, denominada Análise de Discurso. 
Lembremos que estamos em noções preliminares que tendem a nos embasar 
teoricamente para discutirmos mais adiante outras noções importantíssimas 
na teoria do Discurso. Para tanto, neste momento, vamos retomar a noção de 
subjetividade na e pela linguagem para então descrever como se dá esse processo. 
A subjetividade está relacionada com o movimento do indivíduo em se 
colocar como sujeito. Isso ocorre na exata proporção em que uma pessoa enuncia 
(afirma sobre algo) e nesse momento ela está interagindo com a linguagem e 
assumindo a posição de sujeito de (seu) discurso. Essa capacidade de se articular 
na e pela linguagem, utilizando-se claramente da língua (portuguesa), é um gesto 
único/singular a cada ato enunciativo.
 
Você pode se perguntar: único em quê? A singularidade desse ato está na 
forma/modo como o sujeito enuncia, nas articulações gestuais, vocabulares, de 
entoação de voz, de pausas, de fragmentações, de tudo que um ato de enunciar 
consegue comportar. Para você observar isso na prática, peça a um colega seu 
para que ele lhe explique duas vezes determinado processo de trabalho: cada vez 
que ele executar a explicação, ou seja, que ele assumir a categoria de sujeito na 
e pela linguagem, vai manifestar seu próprio discurso de uma forma. Nunca é 
igual. Tudo é sempre singular.
 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
18
Nesse ponto, a noção de subjetividade está relacionada com aquilo que 
está “sub”, escondido, abaixo, que não está explicitamente revelado, mas que pode 
vir à tona no ato discursivo. Às vezes, nos surpreendemos com nossas próprias 
falas, leituras, formas de ver fatos da vida prática. Reagimos discursivamente 
com gestos de leituras ou de posicionamentos na categoria de sujeito (eu) de 
que nem sabíamos que éramos capazes. Sem dúvidas, tal apropriação acontece 
certamente por nossas experiências, vivências, mas sobretudo porque assumimos 
uma posição. Emergimos no lugar, no tempo e no espaço. Deixamos nosso “eu” 
interno (às vezes, mais; outras vezes, menos racional) assumir os ônus e bônus 
frente ao que precisamos reagir. 
Assim, a subjetividade acontece na e pela linguagem, passando sempre 
pela noção de ocupação de lugar/de posição no discurso, movimentando-nos 
à funcionalidade de sujeito e nos abrindo espaço para que possamos expressar 
opiniões, valores, condutas, visões de mundo de uma forma muito nossa. 
Certamente, precisamos estar atentos em quais condições de produção de um 
discurso podemos nos expressar. Nem sempre a emergência da subjetividade 
pode assumir um caráter pessoal. Frequentemente, em textos acadêmicos, a 
nossa subjetividade vai ser observada na seleção vocabular que fazemos para 
qualificarmos nossas análises de resultados de uma pesquisa, por exemplo. 
Nessa condição, a subjetividade (singularidade do sujeito do discurso) 
não tem a ver com “opinião pessoal”. Precisamos, na verdade, ter muito cuidado 
com essa questão: muitos alunos, quando se deparam com certas temáticas de 
discussão para trabalho ou estudo, já “rotulam” certos temas como subjetivos 
e entendem que podem “dar uma opinião pessoal”. Cuidado com isso! Essa 
opinião pessoal pode se desenvolver bem, talvez, em uma conversa com amigos/
colegas. Em uma produção acadêmica ou em um relatório/conversa de trabalho, 
em contexto/ambiente profissional, o que podemos dar é uma avaliação que 
pode até partir de uma visão própria, mas que precisa sempre estar muito bem 
fundamentada por um referencial que sirva como sustentação argumentativa. 
E mesmo estando nessa condição de lucidez das ideias, conseguimos manter a 
subjetividade, visto que nos propomos como sujeito de um dizer.
É relevante e oportuno considerar um aspecto fundamental: eu tenho 
trazido, no decorrer de nosso estudo, a noção de que o “eu” se coloca no discurso 
ao enunciar, mas eu quero chamar a atenção para um ponto que talvez você já 
tenha se colocado: e se, em um dado discurso, não houver marca da pessoa do 
eu? Por exemplo, observe o seguinte enunciado: “Todos os relatórios devem ser 
submetidos necessariamente até às 18 horas desta quarta-feira”. 
Nesse caso, como não há marca do “eu” então, não há sujeito? E assim, 
não há discurso? O simples fato de uma pessoa estar em uma dada condição de 
enunciação (o que confere sentido) e afirmar sobre algo tendo um “tu” que está no 
processo comunicativo já é a condição necessária para que exista um sujeito, que 
está proferindo essa afirmativa, utilizando-se da língua para isso, perfazendo-se 
na e pela linguagem e assim instituindo o caráter de singularidade ao que foi dito, 
o que configura a subjetividade.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
19
Você conseguiu observar esse excesso de gerúndios (verbos terminados 
em –ndo) que nós usamos no parágrafo anterior? Considerando que estamos 
enunciando essa rede de ideias para você que está lendo o nosso texto (tu), a nossa 
escolha para demarcar um efeito de continuidade, para demonstrar a perpetuação 
do acontecimento anterior foi o uso do gerúndio. Alguns leitores gramaticistas, 
talvez não profícuos na estilística do discurso, diriam que está errado. Mas isso, 
como eu expliquei anteriormente, depende de quem é esse leitor. Depende de 
qual a expectativa e gesto de leitura que ele vai assumir na interpretação do texto. 
Certo? Você está compreendendo? Nisso então está o caráter da subjetividade.
5.1 DEFININDO O OBJETO DE ANÁLISE: REPRESENTAÇÕES 
DESSAS CATEGORIAS NOS DISCURSOS INFORMATIVOS, 
CASUAIS, FORMAIS, INFORMAIS DO COTIDIANO SOCIAL 
OU DE TRABALHO
O objeto de análise será, na Teoria da Enunciação, um enunciado ou uma 
rede de enunciados que componham um discurso. Dessa maneira pensemos: quais 
são os objetos de análise que existem em nosso cotidiano de estudo e de trabalho? 
Considerando nossas práticas sociais e profissionais, é importante que elejamos 
como objeto de análise sempre aquilosobre o qual temos mais necessidade e/ou 
dificuldade de entender. Essa escolha se faz necessária porque é fundamental nos 
habilitarmos constantemente na prática da análise discursiva de discursos que 
tendam a tornar as relações humanas mais estáveis.
A partir disso, vamos ilustrar alguns objetos de análise, obtidos de casos 
aleatórios, nos quais observaremos as categorias de análise as quais estudamos 
até agora: locutor (sujeito), interlocutor (aquele com quem ou para quem se fala), 
língua, discurso.
A) Objeto de análise 1: discurso com viés opinativo/informativo.
Em 2018, mais de 4,2 mil jovens de 10 a 19 anos engravidaram no DF
 No Brasil, o levantamento mais recente do Ministério da Saúde é de 2017 
%u2014 a taxa de mães nessa faixa etária corresponde a 16,4% dos 2,9 
milhões de nascidos vivos no ano passado
Duas da manhã. Até o ano passado, essa era a hora que Aline (nome 
fictício), 16 anos, costumava voltar para casa após uma noite de festa com 
os amigos no fim de semana. Em julho, no entanto, essa realidade mudou. 
Agora, por volta do mesmo horário, ela continua em claro, mas na tentativa 
de descobrir o motivo do choro da filha de 6 meses. O cotidiano da jovem 
ganhou novo ritmo. Um bebê de verdade tomou o lugar das bonecas da 
infância recém-deixada e as noites de diversão em diferentes partes da cidade 
se transformaram em madrugadas despertas no quarto com a neném.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
20
Aline e o atual namorado, pai da criança, têm a mesma idade. 
Durante as relações sexuais, os dois recorriam ao preservativo. Entretanto, 
em uma ocasião, a camisinha estava com um furo e o casal não percebeu. 
O incidente resultou em uma gestação. “Quando engravidei, tínhamos 
um ano e meio de relacionamento. Não usávamos nenhum outro método. 
Meus pais conversavam comigo e sempre tivemos uma relação aberta 
para falar sobre o assunto. Acabei engravidando por um descuido”, diz. 
Para se dedicar aos cuidados com a filha, a adolescente interrompeu os 
estudos. O companheiro, no entanto, continua na escola. Fora as dificuldades 
da maternidade, Aline precisou encarar o preconceito dos amigos. “Muitas 
pessoas não ficaram do meu lado, viraram as costas. Foi um choque. Fiquei 
muito triste, pois não imaginava isso, mas tudo é um aprendizado.” Com 
a ajuda da própria família e dos parentes do namorado, Aline conseguiu 
arcar com as despesas da criança e, agora, vê a rotina de outro modo. 
“Praticamente tudo ficou diferente, mas o que mais mudou foi o cotidiano e 
a responsabilidade. Comecei a enxergar o mundo com outros olhos”, avalia. 
A história de Aline é semelhante à de outras adolescentes que tiveram 
filhos em 2018 no Distrito Federal. De acordo com dados da Secretaria de Saúde, 
das 35.647 crianças nascidas de janeiro a novembro, 4,2 mil (11,78%) são filhas 
de mães de 10 a 19 anos, ou seja, a cada dia, o DF registrou o nascimento de 12 
bebês de crianças e adolescentes. No Brasil, o levantamento mais recente do 
Ministério da Saúde é de 2017 – a taxa de mães nessa faixa etária corresponde 
a 16,4% dos 2,9 milhões de nascidos vivos no ano passado.
Para Denise Ocampos, especialista em saúde de adolescentes (hebiatria), 
a importância da comunicação com os mais jovens é crucial. A médica afirma 
que os pais devem se colocar à disposição dos filhos para tratar de temas como 
a sexualidade. “Na internet, há informações corretas, mas muitas erradas 
também. Eles (adolescentes) podem achar que o que encontram lá é natural ou 
comum, e não é”, destaca.
FONTE: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/01/06/interna_
cidadesdf,729182/em-2018-mais-de-4-2-mil-jovens-de-10-a-19-anos-engravidaram-no-df.shtml>.
Acesso em: 20 jun. 2019.
B) Objeto de análise 2: discurso casual (com recorrência de viés do 
senso comum).
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
21
Segundo Cláudia Madureira, psicóloga e Coach pelo Instituto Brasileiro 
de Coaching – IBC, a maioria dos pacientes a que ela atendeu com depressão 
relataram que familiares ou amigos falaram frases que os deixaram piores. Ela 
selecionou as mais comuns:
• “Depressão é frescura”.
• “Você está com falta do que fazer”.
• “Eu não tenho tempo para deprimir”.
• “Sua vida é ótima, você não tem motivos para estar deprimido”.
• “Tem muita gente com problemas piores do que o seu”.
• “Depressão é moda, não é nada”.
• “Esses remédios vão te deixar pior”.
• “Isso é apenas tristeza, vai passar”.
• “Isso é falta de religião”.
Fonte: Adaptado de: <https://claudiamadu.com.br/depressao-e-frescura/>. Acesso em: 20 jun. 2019.
C) Objeto de análise 3: discurso informal (com recorrência em momentos 
em que o sujeito se desprende das regras formais da língua).
FIGURA 7 - SITUAÇÃO DE USO FORMAL
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/506162445612348469/?autologin=true>. 
Acesso em: 20 de junho de 2019.
D) Objeto de análise 4: discurso formal (com recorrência em momentos 
em que o sujeito se prende às regras formais da língua).
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
22
FIGURA 9 - MOMENTO DE DESPRENDIMENTO DAS REGRAS DA LÍNGUA
FONTE: <http://joanaguga.blogspot.com/2015/03/variedade-padrao-x-variedade-nao-padrao.html>. 
Acesso em: 20 jun. 2019.
Como você está verificando, selecionamos situações de uso da língua bem 
aleatórias, em diferentes condições de produção da linguagem. Todavia, como 
salientei anteriormente, você, quando em suas práticas de estudo e trabalho, precisa 
focar no que necessita compreender melhor, certo? Agora, vamos compreender: 
como analisar isso? Por onde começar? A regra é sempre a mesma: comece 
verificando como o indivíduo/pessoa entra na linguagem (começa a falar) para se 
colocar como linguagem. Em cada um dos quatro textos, há sujeitos diferentes, 
sendo que, em alguns deles, há mais de um sujeito que toma posição no discurso. 
Diante disso, toma-se o seguinte procedimento:
• Primeiramente, descreve-se o sujeito (personagem, autor, enfim..., aquele que 
fala). Sugerimos algo assim: No texto xxxx, intitulado xxxx, observamos o 
posicionamento de um sujeito que xxxx (aqui você descreve aquilo que vê: é 
um sujeito que busca alertar/informar/opinar sobre uma dada situação? É um 
sujeito que está exclamando acerca de algum fato da vida? É um sujeito usa a 
linguagem para representar certo grau de formalidade em uma entrevista de 
trabalho, por exemplo?).
• Posteriormente, em nova frase ou parágrafo, use um conector para demonstrar 
que está dando sequência às ideias, como por exemplo: “a partir disso, nesse 
sentido, com base nessa situação”, e comece a explicar como esse sujeito entra 
na língua. ele faz uso de alguma marca de pessoa que represente sua presença. 
Há algum advérbio ou verbo que o identifique materialmente na língua? Depois 
disso, procure identificar se o que esse sujeito diz apresenta algum aspecto de 
singularidade. Ou seja, o discurso em andamento possui algum ponto que lhe 
chama mais a atenção? Lembre-se da singularidade: cada ato de elaboração 
do texto pelo sujeito que você analisa e cada leitura/interpretação são únicos, 
singulares. O sentido está no olhar de quem escreve ou interpreta. 
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
23
Veja o exemplo. Usaremos o objeto de análise 3.
FIGURA 10- SUJEITO QUE ASSUME SEMPRE POSIÇÃO CRÍTICA.
FONTE: <https://www.asomadetodosafetos.com/2016/05/melhores-tirinhas-da-mafalda.html>. Acesso 
em: 7 nov. 2019.
No objeto de análise 3, cujo tema está na explicitude do discurso formal, 
observamos a personagem Mafalda, caracterizada por sua perspectiva crítica e 
reflexiva acerca dos elementos sociais, evocando o sol para que ele lhe “contagie” 
da mesma forma que fez com “nomes” célebres da história. A PARTIR DISSO, 
observamos que a personagem assume a posição de sujeito do discurso com o 
uso formal da linguagem, presente no pronome de primeira pessoa “me”. Tal 
uso explicita um posicionamento no discurso que traz a ideia de domínio da 
língua (regra),o que, no ideário da personagem, pode representar um status de 
pertencimento a um grupo bastante seleto de nomes que mudaram a história das 
artes e das ciências no mundo.
Se você quiser, pode selecionar, para fins de exercitar a análise, uma fala 
pedagógica de uma pessoa na sua área para fazer essas observâncias. Sempre, 
cada discurso é único. Cada olhar e análise também o são. Possivelmente, se em 
outro momento eu analisar aquele mesmo discurso da Mafalda, possivelmente, 
observarei outros aspectos: talvez, eu analise o grau de autoestima “superelevada” 
que ela tem, ao ponto de se comparar com tais nomes tão representativos; ou 
talvez, eu analise a disposição da imagem: observe que ela está na praia e lá 
filosofando sobre esse “contagie”, o qual possui múltiplos significados. Você está 
compreendendo?! Tudo depende de qual olhar é lançado sobre o discurso? O que 
você quer perceber? Qual é a sua área de formação? 
Neste momento, convidamos você a fazer alguns apontamentos, tendenciando 
a uma análise, como indicado nos dois pontos do procedimento anterior: “primeiramente, 
descreve-se o sujeito, [...]” e “posteriormente, em ...”. Você pode apenas enumerar alguns 
tópicos de interpretação sobre quem é o sujeito que enuncia, o que ele diz, como diz, e 
pode também analisar o que a fala dele pode significar, o que ele “intenciona” expressar 
quando enuncia ideias no texto? Ou seja, qual é o seu real discurso?
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
24
 Objeto de análise 1:
 Objeto de análise 2:
FONTE: <https://hagaroorrivel.wordpress.com/tiras001/>. Acesso em: 1 set. 2019.
FONTE: <http://www.universodosleitores.com/2018/10/mafalda-em-10-tirinhas-
realistas-e.html>. Acesso em: 1 set. 2019.
5.2 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA ENUNCIATIVA PARA O 
MERCADO DE TRABALHO
A Teoria da Enunciação foi um marco no que tange à retomada das 
discussões sobre o sujeito na linguagem. E por que essa questão do sujeito é tão 
importante? A resposta está no fato de que, mesmo que estejamos trabalhando 
com referenciais teóricos, o tratamento e reconhecimento da pessoa humana ou 
discursiva é fundamental para toda e qualquer relação social. Não é aceitável o 
indicativo que de que as “coisas” possam valer mais do que as pessoas. É preciso, 
de forma imperiosa, olharmos para quem faz “as coisas acontecerem”. 
Isso toma proporções gigantescas quando estamos convivendo com 
múltiplas diferenças em ambientes como o de trabalho. Deparamo-nos, muitas 
vezes, com discursos que parecem “não ter ‘é’ e nem ‘por quê’?”. Nesse sentido, 
precisamos nos colocar como analistas, mesmo que de forma sucinta, para 
compreendermos o que nos rodeia. Certamente estamos apenas começando com 
a Teoria, mas com o que já vimos, já é possível termos certa amplitude sobre 
esse tratamento mais analítico ao discurso, o qual sempre está carregado por um 
olhar, que é o do sujeito que o compõe.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
25
Com a pressa dos inúmeros cumprimentos de tarefas e prazos, nem todos 
os dias podemos parar e pensar sobre o que fazer, como reagir, como interpretar, 
como dizer sobre a algo a alguém, porém, quando a situação exige uma certa 
relevância acima do que é o comum das práticas diárias, precisamos então 
convocar esses saberes trabalhados aqui, precisamos olhar para esse discurso que 
necessitam fazer a análise e sermos racionais o suficiente para pensar: o impasse 
da questão está no “eu” ou no “tu” do processo discursivo?
Não se pode levar as análises para o campo de julgamentos, rótulos ou 
pré(conceitos), mas sim pensá-las como recursos que nos permitem compreender 
a nós mesmos, quando necessário, ou compreendermos o outro, o “tu” com o qual 
estamos em constante funcionamento. Quando digo compreender, isso significa 
que, posteriormente, precisamos também, através do discurso, pensar sobre como 
podemos contribuir com aquilo que já está em andamento e assumindo formas 
bastante promissoras à empresa; como podemos interagir com colegas e superiores 
para propor uma redefinição de situações que tendem a ser benéficas a todos; ou 
simplesmente como podemos só ouvir o que se tem a dizer. 
Ao final da unidade, há uma leitura complementar. Peço que a leia com 
bastante atenção, pois ela realmente vai complementar o que foi sistematizado 
aqui. Posteriormente vêm as autoatividades que qualificarão a sua formação, certo?
26
Neste tópico, você aprendeu que: 
• Teoria da enunciação: é a teoria que estuda a recolocação do sujeito no discurso, 
assumindo o percurso da linguagem.
• Enunciar: é o ato de declarar algo de forma afirmativa, exclamativa, 
interrogativa, injuntiva. O enunciar necessita da categoria sujeito que execute 
tal propósito.
• Enunciado: é o lugar onde o sujeito faz as suas declarações. O enunciado pode 
ser uma frase, ou um conjunto de frases que articulem sentido entre si.
• Sujeito da enunciação: é identificado quando uma voz na e pela linguagem 
enuncia sobre algo, assumindo uma posição “eu” no discurso proferido, mas 
há casos em que isso não fica explícito e, mesmo assim, devemos saber que há 
uma voz que “diz”, que enuncia. Frequentemente podemos identificar marcas 
dessa primeira pessoa no discurso proferido.
• Tu: é a interface do sujeito. O “tu” é uma categoria que funciona como uma 
escuta para o “eu”. O “tu” é para quem ou com quem “se fala”. Assim como o 
sujeito, o “tu” nem sempre está explícito, porém esse “público-alvo” existe.
• Discurso: é a categoria que nasce com a enunciação proferida por um sujeito 
que na e pela linguagem (re)cria sua condição de existência de maneira 
sempre singular.
• Subjetividade: ocorre pela inserção do sujeito na língua, assumindo posição 
no discurso e trazendo consigo um existir único e singular que só acontece 
naquele discurso. Em outra situação, a articulação desse sujeito seria diferente. 
Essa condição de se demarcar na linguagem, assumindo escolhas de sentido 
próprias, está enraizado na própria condição de existir do sujeito que subjetiva 
todo e qualquer discurso no qual ele possa aparecer.
RESUMO DO TÓPICO 1
27
Com base no texto a seguir, marque a alternativa correta nas questões de 1 a 4 
que seguem:
AUTOATIVIDADE
Liberdade de opinião e intolerância nas redes sociais
Se antes os ringues eram os locais apropriados para pancadaria, as 
redes sociais, virtualmente, assumem com êxito este papel na atualidade. 
Mascarada por um pretenso direito de opinião, a intolerância (racial, 
política, de gênero, para citar algumas) é uma marca visível em muitos 
posts, imagens e vídeos espalhados pela internet.
As redes sociais são, provavelmente, o elemento mais poderoso 
da era atual em termos de comunicação. Em menos de duas décadas, a 
massificação da internet uniu pessoas em diferentes cidades, diferentes 
estados, em longínquos países. A distância foi abreviada a poucos cliques 
no computador ou a um deslizar de dedos no smartphone.
Com isso, apps de relacionamento e sites como Facebook e Twitter 
criaram imensas comunidades virtuais – em que o tema, inevitavelmente, vem 
do mundo real –, nas quais a informação percorre telas na velocidade da luz.
Esta mudança de paradigma acelerou o processo de sociabilização 
das pessoas na última década. Conhecemos mais indivíduos, tornamo-nos 
parte de um coletivo, mas permanecemos obedientes ao individualismo.
É precisamente no apego à opinião individual que o ser humano 
incorre no paradoxo atual da sociabilidade contemporânea: as redes sociais 
têm o propósito de agregar diferentes correntes de pensamento, que 
teoricamente encontram no ambiente digital um espaço para discussão. 
Todavia, esse debate nem sempre é saudável: linhas e mais linhas de 
comentários carregados de preconceitos aparecem sorrateiros nas timelines.
Não gosta da cantora Anitta? Muita gente concorda, assim como 
não curte música sertaneja ou samba. É um direito individual, ninguém 
questiona. Agora, por que atacar a imagem do artista, com xingamentos, 
apenaspor ele representar um movimento ou estilo musical diferente? O 
mesmo ocorre com outros fenômenos pop contemporâneos, como Pabllo 
Vittar. Rotular de lixo humano um artista apenas por não concordar com 
seu estilo musical é rasteiro e preconceituoso.
28
Em outro exemplo, os escândalos diários envolvendo esquemas 
de corrupção monopolizam o debate político neste início de 2018. Nunca 
o Congresso Nacional foi tão criticado pela condescendência com seus 
parlamentares corruptos, ou o sistema judiciário esteve tão em evidência em 
posts diários no Facebook. O debate seria saudável se a razão não perdesse 
espaço para a ignorância.
Cabe, aqui, uma divagação sobre solidariedade social, conceito muito 
estudado pelo sociólogo francês Émile Durkheim. Para ele, os laços que 
unem os indivíduos em sociedade derivam, necessariamente, da aceitação 
da consciência coletiva de todos. Essa consciência, conforme Durkheim, é 
responsável por valores morais e sentimentos comuns, mais ainda: define 
aquilo que temos como certo ou errado.
Todavia, o discurso amplificado das redes sociais distorce essa 
dualidade entre sim e não. O negativo, mais do que nunca, surge como algo 
ruim, péssimo, capaz de destruir reputações. Obviamente que algumas 
calúnias terminam em processos na justiça, mas muita coisa continua impune.
A internet, com a diversidade de vetores sociais que contém, é o 
ambiente ideal para a pluralidade de conceitos, ideias e valores. O problema 
reside na incapacidade que temos de conter as emoções e manter a razão. 
Afinal, a perfeição é um conceito inatingível para o ser humano.
FONTE: <https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2018/02/opiniao/609922-
liberdade-de-opiniao-e-intolerancia-nas-redes-sociais.html)>. Acesso em: 21 jun. 2019.
1 Com foco na análise do sujeito e do discurso proferido acima, marque a 
alternativa correta:
Com base nas noções sobre sujeito, é possível observar que a rede de enunciados 
que compõem esse texto nega a existência de um sujeito que articula a ideia, em 
função de que não há marcas que o identifiquem no discurso.
a) ( ) Todo texto é naturalmente um discurso, já que há uma unidade de sentido 
que chega ao leitor de forma inteligível.
b) ( ) Embora não esteja muito evidente, esse texto apresenta um discurso proferido 
por um sujeito que se demarca no dêitico de lugar “aqui” e na marca de 
interação na linguagem por meio do pronome “nós” que representa a junção 
do autor mais todos aqueles que vivenciam tal situação.
c) ( ) É possível afirmar que o discurso presente no primeiro parágrafo destoa do 
penúltimo parágrafo, o que nos leva a compreender que há uma segunda 
voz (sujeito) que assume posição nesse discurso.
29
d) ( ) Observando o último parágrafo do texto, verificamos que há uma 
comparação de nossa incapacidade com as falhas que a internet apresenta. 
Com isso, o sujeito que organiza as ideias do texto assume um discurso 
que confronta com o título do texto. 
2 Considerando os dois últimos parágrafos do texto, responda: marque a 
alternativa que melhor explique por que o sujeito que propõe essa discussão 
acerca do uso, muitas vezes, equivocado na internet ou das redes sociais, 
aborda a questão observando as falhas existentes como se fosse algo que 
alguém comete, mas, no último parágrafo, o sujeito se torna partícipe do 
problema na pessoa do “nós”, que é a união do “eu” (sujeito-autor) + “tu” 
(todos aqueles que leem o texto ou que praticam os absurdos comentados)?
a) ( ) O sujeito pretende realizar uma avaliação do contexto de ocorrência 
dos fatos de violência, a fim de verificar a gravidade da situação para 
toda a população.
b) ( ) A forma de apresentação do sujeito na linguagem indica que ele está 
extremamente preocupado com os fatos de agressividade que ocorrem 
via internet.
c) ( ) É possível observar que o sujeito do discurso em análise consegue fazer 
uma análise sobre as atitudes de agressividade que acontecem por meio da 
internet, no intuito de chamar a atenção sobre os erros por eles cometidos.
d) ( ) O sujeito do discurso em análise faz uma crítica ao comportamento alheio 
agressivo nas redes e realiza, no último parágrafo, uma entrada explícita no 
discurso para demonstrar que o problema é de todos, inclusive dele (sujeito-
autor do texto) que reconhece a necessidade de assumir novas posturas sociais.
e) ( ) A descrição do problema existente sobre a pretensa liberdade de expressão 
é realizada com a intenção de evidenciar o problema na sociedade, com 
vistas a demonstrar que inclusive o leitor está partícipe da situação, 
necessitando assumir novas posturas sociais. 
3 Sobre a concepção de texto e discurso, considerando o segmento entre aspas, 
marque a alternativa correta:
“É precisamente no apego à opinião individual que o ser humano incorre no 
paradoxo atual da sociabilidade contemporânea: as redes sociais têm o propósito 
de agregar diferentes correntes de pensamento, que teoricamente encontram no 
ambiente digital um espaço para discussão. Todavia, esse debate nem sempre 
é saudável: linhas e mais linhas de comentários carregados de preconceitos 
aparecem sorrateiros nas timelines”.
a) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta uma 
homogeneidade discursiva.
b) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta dois 
discursos opositores entre si e pertencentes ao mesmo sujeito da enunciação.
30
c) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta dois 
sujeitos com discursos diferentes sobre a mesma temática da liberdade 
de expressão na internet.
d) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um enunciado de um único 
ato enunciativo que apresenta um sujeito indeciso nas suas definições 
sobre o problema.
e) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta uma 
linguagem evasiva sem um ato enunciativo que permita ao indivíduo sua 
proposição (=colocação) como sujeito no discurso. 
4 Ao enunciar “Agora, por que atacar a imagem do artista, com xingamentos, 
apenas por ele representar um movimento ou estilo musical diferente?”, o 
sujeito do discurso em análise pretende:
a) ( ) Movimentar o leitor a responder essa pergunta que foi feita a ele.
b) ( ) Ignorar a opinião do leitor, já que este não poderá lhe responder de forma 
imediata.
c) ( ) Prever um “tu” do discurso que poderá então lhe responder tal 
questionamento.
d) ( ) Instigar a opinião do leitor, que, mesmo não respondendo de imediato, 
irá refletir sobre o assunto.
e) ( ) Instigar a opinião do leitor para que este, na forma discursiva do “tu”, 
possa tomar alguma atitude frente ao caso mencionado.
31
TÓPICO 2
ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: 
COMPREENDENDO AS BASES
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Estamos iniciando o tópico da Análise do Discurso, designação que nomeia 
a disciplina. Em alguns momentos vamos usar Análise do Discurso com letras 
iniciais maiúsculas para me referir à disciplina; vamos usar também com todas as 
letras minúsculas para nos referirmos ao ato de analisar o discurso e, em outras 
vezes, vamos usar só AD com vistas a uma linguagem mais concisa.
A partir disso, é importante salientar que iniciamos anteriormente com a 
apresentação da Teoria da Enunciação (TE), a qual situa o sujeito no centro das 
discussões. A AD vai seguir o mesmo caminho, porém aprofundando esta noção 
e lançando novos dispositivos de análise, que não apenas as concepções eu-tu, 
língua, subjetividade e subjetividade. Agora entrarão novas categorias de análise, 
mas antes vamos nos situar. Iniciamos a TE com Benveniste. Elegemos este autor 
porque é o nome mais representativo na questão de estudo do sujeito na fase 
preliminar das discussões. 
Obviamente deixamos de fora outros nomes como o de Bakhtin (Leia o 
UNI NOTA que vem a seguir, caso queira conhecer mais sobre a obra do autor. 
 Utilizamos uma fonte não acadêmica para que você leia em uma linguagem mais 
acessível de se compreender:
 Mikhail Mikhailovich Bakhtin (russo: 1895-1975,Moscou) foi um filósofo e 
pensador russo, teórico da cultura europeia e das artes. Bakhtin foi um verdadeiro pesquisador 
da linguagem humana, seus escritos, em uma variedade de assuntos, inspiraram trabalhos de 
estudiosos em um número de diferentes tradições (o marxismo, a semiótica, estruturalismo, 
a crítica religiosa) e em disciplinas tão diversas como a crítica literária, história, filosofia, 
NOTA
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
32
antropologia e psicologia. Embora Bakhtin fosse ativo nos debates sobre estética e literatura 
que tiveram lugar na União Soviética na década de 1920, sua posição de destaque não 
se tornou bem conhecida até que ele foi redescoberto por estudiosos russos na década 
de 1960. É criador de uma nova teoria sobre o romance europeu, incluindo o conceito 
de polifonia em uma obra literária. Bakhtin desenvolveu também a teoria de uma cultura 
universal de humor popular. Ele é dono de conceitos literários como polifonia e cultura 
cômica, entre outros [...]. Bakhtin é autor de diversas obras sobre questões teóricas gerais, 
o estilo e a teoria de gêneros do discurso. Ele é o líder intelectual de estudos científicos e 
filosóficos desenvolvidos por um grupo de estudiosos russos, que ficou conhecido como o 
"Círculo de Bakhtin".
 Principais obras:
• Freudismo. São Paulo: Perspectiva, 2004.
• Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2009. (Esta é uma das mais 
importantes).
• Cultura popular na idade média: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 
2010.
• Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2010. (Esta é uma das mais importantes).
• Problemas da poética de Dostoiévski. São Paulo: Forense, 2010.
• Questões de literatura e de estética. São Paulo: Hucitec, 2010.
• Para uma filosofia do ato responsável. São Paulo: Pedro & João Editores, 2012.
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Mikhail_Bakhtin>. Acesso em: 1° set. 2019.
O referido autor também pertence ao grupo de teóricos que trabalham com 
a concepção de discurso, mas discute a questão dialógica da linguagem a qual já 
não é mais discussão preliminar. O dialogismo bakhtiniano já é um estudo mais 
avançado e não nos serviria lá acima para introduzir a questão. Deixei de forma 
também Roman Jakobson, cujo estudo era sobre o código da comunicação. Em 
alguns trabalhos biográficos, afirma-se que Jakobson, por ter sido contemporâneo 
de Benveniste, leu o tratado deste autor para formular a teoria do código da 
comunicação. Silenciei Saussure, que trabalhou com um conceito de língua enquanto 
código de comunicação. Benveniste embasou-se nos trabalhos de Saussure, porém 
ultrapassou a definição sistemática que aquele deu à língua. 
Assim, você deve estar pensando: por que não foi falado sobre isso antes? 
A resposta é porque essas definições principalmente destes dois últimos autores 
saem do campo do discurso. Jakobson e Saussure pertencem ao Estruturalismo, 
linha de pensamento que trabalha com a estrutura, destituída do sujeito e todas as 
implicações do discurso. 
Nesse sentido, importa agora permanecermos no discurso, com a AD que, 
que vem desse viés de Benveniste e que, segundo Orlandi (2001), tem origem 
francesa, com tradição intelectual europeia. Para tanto, a AD dá “um passo à frente 
de Benveniste” porque objetiva compreender a reconstrução histórica do sujeito. 
Ela representa um dos métodos mais procurados para analisar o discurso de toda 
ordem: político, pedagógico, científico, literário etc. A AD não objetiva esgotar 
todo o entendimento que um discurso pode proporcionar, todavia investiga nele 
os prováveis sentidos que transitam na matéria linguística, convocando sempre a 
história, a ideologia e as condições de produção de determinado objeto discursivo 
no qual este sujeito está inserido.
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
33
Assim, a AD passa a ser corpus/objeto de estudo de estudiosos de variadas 
áreas, como historiadores, psicólogos e psicanalistas como Jacques Lacan. Por 
isso, a Análise de Discurso se fundamenta em pilares que a compunham, que são: 
a linguística (pelo pressuposto do trabalho com a linguagem), o marxismo (pelo 
viés político e ideológico observado nas relações interdiscursivas) e a psicanálise 
(pela questão do inconsciente). A partir disso, vamos então conhecer um breve 
histórico com mais detalhamento das bases que fundam a AD, bem como conhecer 
os principais autores que a norteiam. 
2 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA ANÁLISE DE DISCURSO: 
HISTÓRICO E AUTORES
A Análise de Discurso, então, se estrutura na França, no ano de 1969, 
tendo como marco de iniciação teórica a publicação de Análise Automática do 
Discurso, de Michael Pêcheux (1938-1983), nome este exponencial nos estudos 
analíticos do discurso. Pêcheux trata o texto como material de análise, observando 
que a construção da Linguística (enquanto ciência) executou um "esquecimento 
voluntário". Isso significa que a linguística intencionalmente — enquanto 
disciplina isolada, fora do campo da AD — deixou de lado o sujeito e a situação 
relacionados ao texto.
 
A partir disso, Pêcheux trabalha para analisar o discurso compreendendo 
não apenas a sua função, mas sobretudo o seu funcionamento enquanto objeto 
simbólico. O autor considera pertinente ao leitor a possibilidade de inferir 
reflexões, trazendo como suporte de análise considerações com uma teoria da 
ideologia e do inconsciente. Pêcheux postula sobre a construção de uma teoria 
que não se contente apenas com uma visão subjetiva do sujeito. Aponta também 
para a consideração de uma relação constitutiva entre o texto e as condições de 
produção nas quais ele se materializa.
Nessa perspectiva, a Análise de Discurso, como observamos anteriormente, 
constitui-se como uma disciplina de entremeio com três grandes áreas de 
conhecimento: a Linguística, o Marxismo e a Psicanálise. Vamos detalhar um 
pouco mais essa questão.
• Linguística: o pilar da Linguística faz parte da AD em função de é uma ciência 
da linguagem, ou seja, tem como objeto a língua/linguagem. Isso é importante 
para a AD por causa do rigor científico, já que vai se buscar no discurso não 
apenas termo a termo, mas sim os efeitos de sentido do discurso.
• Marxismo: esse pilar se constitui com Althusser (1985), com os Aparelhos 
Ideológicos do Estado, trabalho este que analisa as redes do poder político dentro 
das instituições, ampliando o conceito de ideologia de Marx e Engels (2007). 
• Psicanálise: com a descoberta do inconsciente (em Freud), esta área do conhecimento 
é fundamental à medida que busca compreender a percepção do sujeito sobre si e 
sobre a sua própria exterioridade. Lacan, o nome mais representativo da psicanálise 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
34
nas vias do discurso, pontua que o inconsciente se estrutura a partir de uma cadeia 
de significante, no sentido de haver um já-dito, um discurso atravessado por outro 
discurso, isto é, o discurso silenciado no inconsciente.
Entre os nomes exponenciais na Análise de Discurso, estão: Michel 
Pêcheux, Eni Orlandi, Louis Althusser, Freda Indursky, Helena Brandão, entre 
outros nomes extremamente enriquecedores na teoria. Para os que estão se 
iniciando nos caminhos da análise de discurso, sugiro como leitura de fonte, as 
obras da Brandão, autora mencionada acima. 
3 ESPAÇO DE INSURGÊNCIA DA AD NAS DINÂMICAS 
RELAÇÕES DO SÉCULO XXI
Historicamente, dentro dos estudos linguísticos, inúmeras linhas teóricas 
buscam explicar os sentidos que a língua carrega. Em especial, no campo do 
discurso, essa compreensão é buscada via sujeito e discurso. Dessa forma, a 
AD, ocupa um espaço de insurgência nas dinâmicas, inicialmente do século XX 
e agora do século XXI, considerando prioritariamente a noção de que há um 
inconsciente que “corta” o sujeito e que o constitui por uma multiplicidade (ou 
heterogeneidade) presente em sua enunciação.
Para a AD é fato queexiste um atravessamento do inconsciente, carregado 
por sentidos ideológicos que interpelam o sujeito em sua condição de existência. 
Em outras palavras: entendemos pelo viés da AD que não existem decisões 
neutras, não existem discursos desprovidos de intenção. Tudo, absolutamente 
tudo o que chega até nós – como sujeitos que nós manifestamos na e pela 
linguagem – vem carregado de sentidos oriundos de outros pontos de vista, de 
outras historicidades vividas por outros sujeitos. Essa exterioridade chega até nós 
e nos modifica, nos influencia, nos faz ver o mundo de outras formas.
FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO METAFÓRICA DA MULTIPLICIDADE DE 
INTERVENÇÕES SOBRE O SUJEITO
FONTE: <https://previews.123rf.com/images/drekhann/drekhann1504/
drekhann150400268/39341140-vector-seamless-pattern-des-mains-des-femmes-gracieuses-
li%C3%A9s-aux-couleurs-jaune-et-bleu.jpg>. Acesso em: 7 nov. 2019.
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
35
Por exemplo, é o que está acontecendo agora. Você que está lendo esse 
texto nunca mais verá o mundo da mesma forma: os conceitos trabalhados aqui 
estão despertando um olhar mais analítico sobre tudo o que você experiencia. 
Essa é a interpelação da qual falamos anteriormente. Certamente essa interpelação 
(modificação/influência) chega com uma ideologia, que precisa ser entendida como 
relação de saberes que assumem um ângulo, assumem um lugar, uma postura 
frente àquilo sobre o que trata.
Para ilustrar (exemplificar) isso, pensemos o seguinte: dissemos que o estudo 
do discurso está lhe interpelando como sujeito. Então, onde está o aspecto ideológico 
nisso? Está no fato de que é possível pensar a linguagem considerando o fato de 
que ela carrega sentidos não explícitos, nunca neutros aos quais denominamos, por 
enquanto, como inconsciente ou sentidos ideológicos que passam a ser conhecidos 
para fins de observação acerca da pertinência (ou não) deles.
Nessa perspectiva, o sujeito se perfaz com a relação ideológica que o 
interpela constantemente. Disso decorre o fato de que precisamos considerar que 
praticamente tudo o que dizemos já existe, faz parte de um pré-construído, em 
outras condições de produção, em outro momento. Compactuamos com Orlandi 
(2003, p. 32) quando afirma que “O dizer não é propriedade particular. As palavras 
não são só nossas. Elas significam pela história e pela língua. O que é dito em outro 
lugar também significa nas ‘nossas’ palavras”. 
Pense agora sobre a seguinte situação: “O Brasil é o país do futuro”. Reflita 
sobre esse discurso. Quem apresenta esse discurso? O que se intenta ao afirmar 
isso? Em que lugar do tempo e do espaço está alocado esse sentido? Não estou 
procurando o autor que afirmou pela primeira vez essa ideia. Queremos dizer que, 
quando empregamos determinadas afirmações, fazemos isso — inconscientemente 
— e trazemos inúmeras representações simbólicas que manifestam nosso 
posicionamento sobre a questão. Nesse caso, a análise automática possível de ser 
feita é que o Brasil não chegou ainda a um lugar de reconhecimento, o que denota 
que o sujeito que emprega essa colocação não possui um sentimento ufanista acerca 
do país. Isso que rapidamente acabei de colocar aqui é uma análise, entre tantas 
outras possibilidades, que nós analistas podemos pensar.
Assim, todo o dizer, toda a manifestação do sujeito na e pela linguagem está 
necessariamente engendrada em uma exterioridade. E nisso consta a diferença entre 
o sujeito pêcheuxtiano em relação ao sujeito benvenistiano. Você está entendendo? 
O sujeito em Benveniste era a simples manifestação na e pela linguagem. Agora, 
aqui, na AD, o sujeito mergulha na linguagem tomado por um inconsciente que 
ele absorve de tudo o que experiencia.
Fortalecendo essa condição de existência do sujeito, surgem outros 
elementos que movimentam essa categoria sujeito do discurso para uma posição-
sujeito. Essa terminologia: posição-sujeito é o que se tem de mais importante no 
estudo do sujeito da AD. Por enquanto, posso apenas adiantar que ela (a posição-
sujeito) se estrutura a partir da formação discursiva. Isso significa que o sujeito “é”, 
“faz”, “existe” na exata relação com algum discurso (sempre ideológico) que o afeta. 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
36
A formação discursiva (que vou usar FD por economia de linguagem) é 
um saber que vem de uma exterioridade carregada por uma memória e por um 
histórico de experiências. Essa exterioridade nada mais é do que toda e qualquer 
relação social na qual estamos inseridos no trabalho, nos estudos, na família, no 
círculo de amigos etc., sendo isso determinante para o modo de olhar e de existir na 
língua. Por causa disso, interessa-nos olhar para o discurso procurando sobretudo 
o modo como o dizer significa. 
É fato que quando formulamos, acreditamos, ilusoriamente estabelecer 
sentidos únicos. Somos levados por uma ilusão de início do sentido, o que gera 
o sentimento de “origem” do que é dito (PÊCHEUX, 1995). Todavia, na teoria do 
discurso, a questão central é como “os fatos” significam e não como se dá a ideia 
de origem dos sentidos. Assim, é por esse viés que precisamos pensar a questão 
do sujeito da AD no século XXI. Para tanto, é imperioso que reflitamos sobre a 
base linguística, selecionando textualidades confrontadas com a exterioridade, 
com materialidades linguísticas, que contempladas no contato com a história 
nos permitam extrair compreensões que “a olhos rápidos da superficialidade 
linguística” não nos “diriam” tanto. 
4 COMPREENSÕES TEÓRICAS: NOÇÃO DE TEXTO E 
DISCURSO
Iniciamos o estudo sobre texto e discurso retomando uma noção da Teoria 
da Enunciação a qual percebe o TEXTO sempre dentro de um contexto situacional 
em que cada texto é produzido, considerando locutor (eu), interlocutor (tu) e o 
contexto da enunciação do aqui e agora. Já na AD esse contexto situacional é 
insuficiente para sustentar um texto. Na AD emergem as condições de produção 
que insurgem carregadas de sentido sociocultural.
Indursky (2006) pontua que o TEXTO é um espaço carregado de saberes 
da exterioridade onde o discurso acontece. Segundo a autora, para o texto são 
importantes não apenas as relações com a língua e com a cultura, mas sobretudo 
porque a língua não é um amontoado de palavras e frases, mas sim em um discurso 
contínuo, não fechado em si mesmo. Assim, o texto na AD estabelece relação não 
apenas com o contexto situacional, mas também com outros textos e com outros 
discursos. Assim, para a autora, o sentido do texto pode ser observado a partir da 
relação entre os sujeitos sócio-históricos que, de alguma forma, transitam nele (o 
texto). Nas palavras de Orlandi (1983, p. 122), “É o texto que significa. Quando uma 
palavra significa é porque ela tem textualidade, ou seja, porque a sua interpretação 
deriva de um discurso que a sustenta, que a provê de realidade significativa”.
A partir disso, vamos agora entrar nas concepções de DISCURSO na AD. 
Segundo Pêcheux (1997b), discurso é efeito de sentido entre locutores. Simples 
assim. O discurso se torna ou é um efeito na exata medida em que o que é dito/
escrito/falado pode apresentar múltiplos sentidos, pois a exterioridade a ambos os 
sujeitos interlocutores adentra os sentidos desse discurso, carregando consigo uma 
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
37
interpretação sempre outra... sempre além do que o texto materialmente mostra. 
Agora o sujeito tem posição, tem nome, que neste caso é autor e leitor), retomando 
então... pois a exterioridade a ambos os sujeitos. 
Disso decorre que um discurso nunca é individual, nunca ele se constitui 
com ideias próprias e somente do autor. No momento em que se formula sobre algo, 
intervêm nessa hora a voz de um “outro”, que pode ser o seu autor mais lido, o seu pai/
mãe, seu professor(a), ou seja, nunca “falamos” sozinhos. Sempre há um pré-construído 
que adentra a nossa forma de “discursar”. E assimpensando, vamos dar uma pincelada 
em um nome que comentamos anteriormente: Lacan. Qual é a importância de Lacan 
para a AD? Como dissemos, Lacan trabalhou com Benveniste no retratamento do 
sujeito na linguagem. Porém, Lacan foi contemporâneo também a Pêcheux. 
Nessa condição, interveio na teoria da AD, instituindo a ideia de um sujeito 
clivado, atravessado por múltiplos saberes (FDs = Formações Discursivas) que não 
são pertencentes ao sujeito que projeta seu discurso. Essas formações são sempre de 
um “outro” que vai repassando e repassando e repassando e repassando, acabando 
com a ideia de origem daquele saber. Nesse processo, Lacan postulou sobre a Teoria 
do Espelho: “eu sou porque o ‘outro’ é”. Diante disso, nossas condutas e valores 
advêm desse outro, que, como foi mencionado anteriormente, pode ser algum de 
nossos pares que dividem experiências conosco ou que simplesmente chegam até 
nós por mero acaso.
Nessa perspectiva, essa (re)formulação do sujeito, sustentada pelas forças 
que interagem via discurso, formam a relações interdiscursivas. Tais relações 
têm o propósito de aproximar o texto (em formulação) de outros discursos, 
acareando-o constantemente a redes de formulações discursivas, que NÃO são 
apenas intertextos, e sim redes de saberes sobre os quais não se consegue distinguir 
o que foi produzido no texto e o que é proveniente de outros discursos.
Para ilustrar essas relações, vamos tomar como exemplo um importante 
tema social: “o papel da mulher na sociedade do século XXI”. Qualquer pessoa 
que vá emitir opinião acerca dessa questão, vai — INCONSCIENTEMENTE — 
convocar noções que fazem parte da história e da memória desse papel. Então, se 
alguém afirmar, por exemplo, que “a mulher está se consolidando no mercado de 
trabalho”, o que temos a analisar de forma imediata nessa declaração é que o sujeito 
deste discurso está assumindo a noção de que o mercado de trabalho ainda não vê o 
sujeito-mulher como um elemento partícipe de seu processo. A mulher ainda precisa 
provar constantemente que é suficientemente capaz nas suas práticas profissionais. 
Você pode estar pensando que isso é uma pressuposição ou um 
subentendido a respeito do tema. Mas analisar dessa forma é assumir uma postura 
superficialista na análise do discurso. Tal declaração esteriotipada sobre a mulher 
advém um discurso pré-construído sobre a incapacidade de a mulher assumir 
definitivamente sua posição no mercado. O sujeito que assume esse enunciado 
como uma verdade para si traz consigo uma memória — INCONSCIENTE — da 
fragilidade do papel da mulher.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
38
Isso que eu descrevi analiticamente é uma leitura, é uma interpretação que, 
como analista, posso fazer. Tais colocações estão calcadas em uma discursivização 
(MARIANI, 1993) (ação executada por um discurso social, histórico e cultural 
para significar ou reformular sobre uma ideia — no tempo e no espaço). A 
discursivização pode ser um processo bastante perigoso porque, muitas vezes, 
ela se potencializa com o senso comum, fortalecendo-se com dizeres dotados de 
pré(conceito), valoração pouco fundamentada e sobretudo de um teor ideológico 
de sobreposição de um opressor sobre um oprimido. 
• Você está conseguindo compreender essas novas colocações? Vamos treinar 
um pouquinho? 
Convidamos você a pensar sobre os enunciados colocados a seguir:
“No meio do caminho, tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho” (Carlos 
Drummond de Andrade).
“A mão que afaga é a mesma que apedreja” (Augusto dos Anjos).
“E agora José?
A festa acabou, 
a luz apagou, 
o povo sumiu, 
a noite esfriou, 
e agora, José?” (Carlos Drummond de Andrade)
 Sobre eles, reflita o seguinte:
• Quem são os sujeitos quem enunciam cada um desses discursos? Há marcas que 
os identificam? 
• Em que períodos históricos, eles foram proferidos? Qual é a situação política, econômica 
e social da época?
• Interprete, dentro de cada um deles, o que pode ser compreendido com cada enunciado 
posto. Por exemplo, no primeiro exemplo, há dois enunciados: “No meio do caminho, 
tinha uma pedra” e “Tinha uma pedra no meio do caminho”. O que você compreende, 
dadas as condições das letras “a” e “b”, anteriores, sobre esses dois enunciados? O que 
“caminho” pode significar? O que “pedra” quer dizer? 
• Agora desloque a interpretação que você fez, em relação ao período em que foram publicados, 
para os dias atuais. “Caminho e pedra” permanecem com as mesmas compreensões? Se 
esses enunciados fossem proferidos no ambiente de trabalho, considerando os sujeitos que 
lá circulam, manteriam os sentidos se fossem proferidos dentro de uma mobilização social, 
em um ato discussão sobre pautas de interesse da população?
IMPORTANT
E
• Então, observe que o discurso na AD respira a intervenção da história e da memória 
dos acontecimentos. O sujeito que ali circula só tem significado a partir das relações 
com a exterioridade. É isso então que gostaríamos que você percebesse. 
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
39
 4.1 LÍNGUA: A MATERIALIDADE LINGUÍSTICA QUE 
TRACEJA O SENTIDO 
É consenso entre os teóricos da linguagem que a linguagem pode ou não 
comunicar. Apesar de haver toda uma abordagem estruturalista, que pontua a 
noção de língua como instrumento da comunicação, com características de um 
sistema abstrato, situado em oposição à fala, a AD ressignifica o conceito língua: 
ela (a língua) é a materialização do discurso e se constitui com um aspecto 
material com espessura e opacidade. Essa opacidade da língua está relacionada 
à pouca visibilidade imediata dos sentidos nela propostos. Com marcas de 
heterogeneidade, de dispersão dos sentidos ou descentramento dos sujeitos, a 
língua vivencia a incompletude: tudo apesar de dito, nem sempre é manifestado.
 
A partir disso, observa-se que a língua atrita com a história, trazendo à 
tona a noção de equívoco. A língua, por ser instável, heterogênea e contraditória, 
facilita a insurgência do equívoco. Mas o que é “equívoco”? Equívoco na língua 
são os chamados “deslizes” que cometemos na linguagem (ORLANDI, 1996). 
Não estamos falando de deslizes no sentido de trocar, sem querer, as palavras. 
Estou tratando de um equívoco, de uma falha que ocorre quando se pronuncia um 
discurso, porém os sentidos que ecoam dele são bem diferentes do que o sujeito-
autor pretendia “dizer”. Um caso que ilustra isso ocorre quando, por exemplo, 
duas pessoas (amigos ou colegas), que não se viam há algum tempo, conversam 
sobre o que estão no momento fazendo profissionalmente. Assim, um deles 
pergunta para o outro: “você está só estudando ainda ou trabalha?”. Observe 
a carga de sentido que essa estrutura linguística trouxe! Com isso, enxergamos 
que o equívoco da língua evidencia “verdades” sobre o sujeito à medida que este 
comete “falhas” as quais não conseguem ser contidas. 
Com isso, instituem-se sentidos não previstos que são capazes de desnudar 
a posição ideológica que o sujeito ocupa na linguagem. O equívoco denuncia 
o discurso ideológico que mais afeta o sujeito. A partir disso, a língua exerce a 
função de “falar” sobre o sujeito que enuncia. Segundo Cavallari (2010, p. 669), 
“não é o sujeito que fala a língua, mas, sim, a língua que fala a verdade do sujeito, 
uma vez que aponta para as suas formações ideológicas e para os vários discursos 
que legitimam seu dizer”.
Ainda no intuito de sustentar melhor a noção de equívoco na língua, 
observemos: Lacan (1986, p. 302) pontua que “nossas palavras que tropeçam são 
as palavras que confessam. Elas revelam uma verdade de trás”. Nesse sentido, 
o inconsciente é quem manifesta na língua um pré-construído para representar 
aquilo que não pretendemos dizer, mas estamos constantemente “falando” sem, 
muitas vezes, percebermos. Para tanto, tais deslizes são justamente as escutas a 
que precisamos ter atenção, já que nos permitem compreender o processo dos 
acontecimentos a nossa volta.UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
40
Para tanto, é inútil tentarmos transcrever e analisar materialmente os 
recursos da língua, em vista de que sua opacidade só consegue ser desnudada 
via análise do discurso. A AD só consegue trabalhar com um pouco mais de 
inteligibilidade da língua porque a relaciona com o discurso, reconhecendo os 
equívocos, a ideologia e sobretudo o sujeito que circula na materialidade. A língua 
“sozinha”, destituída de tudo o que o discurso oportuniza para ser analisado, 
limita-se, a letras, fonemas e, com um pouco mais de tratamento teórico, chega ao 
significante (imagem mental do que se diz) e significado (conceito acerca do que 
se diz). Entretanto, felizmente, a Análise de Discurso vai além e nos oportunizar 
um olhar menos óbvio e menos “ingênuo” sobre os sentidos que transitam na 
materialidade linguística, que é a língua.
4.2 NOÇÃO DE SUJEITO: A POSIÇÃO DO “EU” E DO “TU” 
Chegamos a um ponto do estudo no qual precisamos ter especial atenção: 
o sujeito em sua posição ou, mais comumente tratando, a posição-sujeito. Como 
já pincelei anteriormente, sujeito funciona como aquele que assume determinada 
posição no dizer para poder constituir-se. Ou seja, esse sujeito (do discurso) 
aloca-se em determinada posição, articulando, com isso, um imaginário sobre si e 
um imaginário para seu interlocutor, o que lhe permite tentar prever os sentidos 
produzidos no discurso. Dessa maneira, podemos entender que “na relação 
discursiva, são as imagens que constituem as diferentes posições” (ORLANDI, 
2003, p. 40), no sentido de que, a partir dos saberes mobilizados pela história, os 
sujeitos passam a identificar-se com discursos específicos, regionalizando assim 
as posições que assumem.
Um exemplo bem simples disso ocorre quando, em ambiente de estudo 
ou trabalho, comentamos com colegas aos quais não conhecemos muito bem, que 
determinada tarefa, relacionada a determinada pessoa, será demorada. Observe: 
estamos criando uma imagem de nós mesmos para o outro que “nos assiste” e 
estamos constituindo uma imagem de uma pessoa “demorada” de quem não 
conhecemos as razões para o ocorrido. 
Logicamente estou usando um exemplo do cotidiano, mas se deslocarmos 
isso para uma situação mais coletiva, pensemos em discurso de causas com 
abrangência nacional, por exemplo, um determinado sujeito (cidadão brasileiro, 
trabalhador, assalariado) afirma que a violência urbana pode ser contida se as leis 
forem alteradas. Atente para a seriedade dessa afirmação: está-se então criando uma 
imagem simplista sobre o discurso das leis, as quais, sendo altamente punitivas, 
quase tudo estará resolvido. 
Em qualquer uma das situações: tanto do sujeito que reclama da demora, 
quanto do sujeito que delega às leis a solução para a situação de violência urbana, 
há uma posição-sujeito destituída de conhecimento acadêmico. Há posicionamento 
ideológico radical, pretencioso, o que advém, possivelmente, de algum histórico de 
intolerância com algum fato sofrido pelo sujeito do dizer. Então, há uma posição-
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
41
sujeito que representa uma tendência deflagradora da ordem, sendo alguém que, 
por razões históricas e ideológicas, carrega uma memória de necessidade de corrigir 
o que está errado a partir de comportamentos ou ações pouco articuladas. 
Pêcheux (1995) pontua que há uma relação do sujeito com os sentidos, ou 
seja, a partir de múltiplos atravessamentos de dizeres ideologicamente constituídos, 
o sujeito se identifica com um dizer específico e estabelece uma identificação com 
determinada formação discursiva, que o coloca em uma posição de existência 
“imposta pelas “relações sociais jurídico-ideológicas”. Apesar de existirem 
múltiplas possibilidades, o sujeito se “liga” a uma e, então, toma posição para 
produzir seu discurso. Nessa situação, é a ideologia que regula o que pode ou deve 
ser dito; é por ela que se exige a tomada de posição do sujeito em relação a uma 
dominância ideológica e é por ela também, ao revés, que o Estado individualiza o 
sujeito e o responsabiliza pelo seu dizer (ORLANDI, 2003, p. 51). 
Pêcheux (1995, p. 160) declara que “é a ideologia que fornece as evidências 
pelas quais “todo mundo sabe”; essa afirmação nos faz refletir sobre o fato de que 
a ideologia, por interpelar o sujeito, constitui-o através de determinados saberes, 
os quais o identificam às posições por ele assumidas, sendo elas lugares sociais 
assumidos no discurso. 
Um outro exemplo, agora na ordem da formulação de um conhecimento, 
neste caso, vamos pensar no sujeito (você pode pensar no “autor”) que “faz” uma 
gramática. Este sujeito que ocupa a posição de gramático, por vezes, assume um 
discurso pedagógico, certo? Ele quer lhe ensinar! Ao fazer isso, ele está em uma 
posição-sujeito de professor, mesmo muitas vezes, não o sendo.
 
Nesse caso, você pode estar pensando: como assim? Ele é um gramático, 
mas quer ser professor? A resposta é “não”. Ele é um gramático, mas se comporta 
COMO SE FOSSE um professor. Isso nós, analistas do discurso, percebemos ao 
ler uma gramática ou algum fragmento dela. Lá há um discurso que nos “ensina”. 
E essa questão de uma pessoa “ser” algo e apresentar um comportamento que a 
caracteriza em outra ordem chama-se POSIÇÃO-SUJEITO. 
Agora, pense quantas pessoas você conhece que são conhecidas por 
determinado comportamento ou função, mas, de repente, você as percebe “sendo” 
algo diferente. Esse deslocamento, que ocorre inconscientemente, pode acontecer em 
milhares de situações, muito frequentemente, saudáveis e que tendem a contribuir 
com o bem-estar social. Agora, a seguir, observe um aprofundamento do exemplo 
de análise sobre a posição-sujeito, relacionada ao caso anterior: o sujeito gramático. 
Selecionamos alguns fragmentos de “falas” do sujeito gramático para verificar seu 
deslocamento de posição ao ponto de parecer o “professor”, assumindo a posição-
sujeito professor de Língua Portuguesa.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
42
O exemplo que segue faz parte de uma produção acadêmica em nível de 
mestrado em Análise de Discurso — CURRY. S. P. O discurso de apresentação da gramática 
de Rocha Lima: a emergência do sujeito contraditório. 2009, 95f. Dissertação (Mestrado 
em Letras) – Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2009. Observe a sequência 
de colocações: primeiro o foco no sujeito do discurso (o professor). Depois, a analise dos 
possíveis sentidos das afirmações que ele (o sujeito) faz, sempre relacionando com a 
exterioridade na qual o discurso está.
INTERESSA
NTE
4.2.1 A posição-sujeito professor
Para iniciar a análise sobre a posição-sujeito “professor”, precisamos antes 
refletir sobre este elemento linguístico “professor”. No latim,
[...] professor, ōris, “o que faz profissão de, o que se dedica a, o que 
cultiva; professor de, mestre", do radical de professum, supino de 
profitēri, declarar perante um magistrado, fazer uma declaração, 
manifestar-se; declarar alto e bom som, afirmar, assegurar, prometer, 
protestar, obrigar-se, confessar, mostrar, dar a conhecer, ensinar, ser 
professor” (Dicionário Virtual de etimologia: ciberduvidas.com).
Através da etimologia desse termo, percebemos que a esse sujeito 
é conferida a função de ensinar uma ciência, ou um conhecimento, 
de maneira que facilite o aprendizado daquele que busca aprender. 
O sujeito professor, então, é aquele que assume uma posição de 
condicionar e reger o conhecimento do e no interlocutor, no sentido de 
instrumentalizar a língua e “pedagogizar” esse ensino. Isso nos leva a 
perceber que a posição-sujeito professor da Língua Portuguesa produz 
um imaginário sobre si e sobre seu interlocutor de professar uma 
doutrina, que é o conhecimento gramatical da língua, já regimentado 
pela normatividade que se oficializava com a NGB, ou seja, pela 
presença diluída desta posição dentro do “ser e fazer”do professor na 
sala de aula (CURRY, 2009, p. 75).
Em um texto de 1972 — No Liminar —, Rocha Lima (o sujeito gramático) 
demonstra uma presença pulsante do sujeito que se assume no discurso como 
professor, diz Curry (2009). Nas SDs (Sequências Discursivas), a seguir, verificamos 
que ele assume um saber inscrito numa formação discursiva pedagógica:
SD3 – A PARTIR de certa altura de sua jornada, teve este livro o 
texto estereotipado, e, pois, irrefundível. Em razão disso, não pôde o 
Autor, muito a seu malgrado, carrear para a obra novas ideias, novas 
doutrinas, novos métodos – enfim, a visão nova que passou a ter, 
no curso dos últimos anos, dos problemas de teoria gramática e seu 
ensino. (No liminar, l. 3-6)
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
43
Considerando a data da primeira publicação desse discurso, que é 
de 1972, momento em que mais de dez anos havia sido publicada a 
NGB (Norma Gramatical Brasileira) (1957) e a Gramática Normativa 
da Língua Portuguesa (1959), de Rocha Lima, observamos que a 
posição-sujeito, ao fazer referência ao “Autor”, está articulando uma 
percepção sobre si, de um modo que pareça, ao interlocutor (leitor), 
que está falando sobre uma terceira pessoa, buscando, com isso, um 
efeito, imaginário, de objetividade e comprometimento com o ensino 
da língua. Ao discursivizar sobre si, em terceira pessoa, produz um 
imaginário de seguridade sobre os saberes postos no instrumento 
linguístico. Isso nos leva a crer que existe, neste discurso, uma outra 
tomada de posição que é dominante. Quando a voz do professor 
emerge, ela se relaciona com uma outra que é forte e determinante, 
que é a do gramático, daquele que produz a obra, como um lugar de 
socialização da língua. 
Na sequência desse discurso, porém, percebemos uma evidência, 
mais subjetiva no elemento linguístico “malgrado”, o qual nos leva a 
considerar que essa palavra, por ter uma expressão concessiva, entendida 
como “apesar de”, “com muito mau gosto”, ou seja, com contrariedade 
a sua vontade, traz à tona um propósito, não concretizado, da posição-
sujeito professor: “carrear”, ou trazer para dentro da gramática alguns 
saberes, que, para ele, sujeito professor, eram necessários para a 
evolução de conhecimento do interlocutor. Ao pontuar que “não pode 
[...] carrear para a obra [...] uma visão nova que passou a ter [...] dos 
problemas de teoria gramatical”, nos faz refletir sobre o fato de que 
pode estar fazendo referência à NGB (Norma Gramatical Brasileira). No 
decorrer de toda a Apresentação, não somente nos recortes que fizemos, 
não encontramos nenhuma referência explícita ao fato de ele também 
ter sido um dos elaboradores da NGB (Norma Gramatical Brasileira). 
Diante disso, podemos observar que, talvez, essa posição-sujeito 
professor esteja negando a posição-sujeito produtor da NGB (Norma 
Gramatical Brasileira), no sentido de que essa formação imaginária 
da “visão nova” já não mais se identifica plenamente com a formação 
discursiva, marcada pelas condições de produção do período de 1957 a 
1959 (CURRY, 2009, p.75-76).
Assim, podemos observar os múltiplos tracejos de sentido que existem na 
língua portuguesa, o que não mais nos permite ter leituras superficiais ou desatentas 
de discursos tão importantes para a nossa formação. Que tenhamos bom ânimo 
para observar o discurso em sua substância e não mais em sua aparência!
Posto isso, então, é fundamental e oportuno definirmos os pontos de 
aproximação e dissonância entre o sujeito benvenestiano e o sujeito pêcheuxtiano. 
Atente ao quadro:
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
44
QUADRO 1 - UM PARALELO ENTRE OS SUJEITOS DE BENVENISTE E DE PÊCHEUX
Sujeito de Benveniste Sujeito de Pêcheux
• Representa o marco da volta do 
sujeito para os estudos da linguagem.
• Entra na língua pela posição do 
“eu” que pode ou não ser detectada 
aparentemente no texto.
• Necessita obrigatoriamente da 
presença de um “tu” para manifestar 
as trocas de posição no discurso.
• Ocorre sempre na e pela linguagem.
• É caracterizado pela subjetividade.
• Aproveitou a “onda” de Benveniste 
que já tinha retomado a discussão 
teoricamente e permaneceu sendo 
abordado nos estudos da linguagem.
• É uma categoria de análise do discurso 
por ser constituído por uma ideologia 
que está sempre em seu discurso.
• Produz um discurso carregado de 
sentido advindo de sua história e 
memória.
• Age por um inconsciente dotado de 
ideologia.
• É manifestado na e pela linguagem, 
podendo usar a língua com os 
equívocos que desnudam sua 
verdadeira ideologia no discurso.
FONTE: A autora
4.3 DEFININDO O CORPUS/OBJETO: QUE LUGAR 
DEVEMOS ASSUMIR NESSE OBSERVATÓRIO 
DA LINGUAGEM? 
Para conseguirmos construir uma análise forte de um discurso, precisamos 
nos colocar, ou seja, nos posicionar. Para isso, devemos eleger categorias de análise. 
Como estamos iniciando nossos estudos em análise do discurso, eu pretendo aqui 
que você apenas conheça, por enquanto, as categorias e arrisque breves análises. 
Sendo de forma mais simples ou mais aprofundada como ocorrerá mais para a frente, 
o importante agora é saber como começar. Então, observe:
1- Selecione um discurso que você quer analisar.
2- Conhecendo as categorias até então trabalhadas (nas próximas unidades, 
falarei de outras), escolha uma ou duas, por exemplo, para analisar o discurso 
da gramática, nós escolhemos: o sujeito e a posição sujeito. 
3- De posse do discurso analisado, descreva-o denotativamente, por exemplo, 
como fizemos com o sujeito “professor”. Conceituamos e descrevemos a 
função.
4- Inicie a análise fazendo afirmações hipotéticas sobre o que aquele sujeito que 
está se comportando como se fosse o professor INTENTA com seu discurso. A 
análise é como se fosse uma denúncia das “reais intenções” do sujeito ao realizar 
determinadas afirmações. Você está entendendo? Então, quando dizemos “Ao 
discursivizar sobre si, em terceira pessoa, produz um imaginário de seguridade 
sobre os saberes postos no instrumento linguístico”, eu estou revelando que o 
sujeito gramático que “se acha dono da língua portuguesa”, está afirmando 
algo sobre alguém, que, na verdade, é ele mesmo. E por que ele faz isso? Ele 
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
45
faz isso para criar uma sensação (= um imaginário) de confiabilidade, pois, se 
ele ficar se enaltecendo no discurso dele, não terá muita credibilidade. Essas 
são estratégias discursivas que percebemos naquele fragmento anterior — o 
discurso que escolhemos para a análise.
Sobre a análise de discurso:
O CARÁTER SINGULAR DA LÍNGUA NA ANÁLISE DO DISCURSO
Maria Cristina Leandro Ferreira 
INTRODUÇÃO: Pretendo nesta comunicação fazer um passeio pelo campo discursivo, 
parando aqui e ali para destacar algum cenário que seja mais sugestivo e desperte de 
modo especial nossa curiosidade e interesse. De antemão, aviso que o terreno é dado 
a armadilhas, obstáculos e pode levar algum incauto a não achar o caminho. Por isso, é 
recomendável que a trilha seja seguida com cuidado e persistência, dando-se bastante 
atenção às Maria Cristina Leandro Ferreira é professora da Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul. formulações e referências fornecidas. As ferramentas indispensáveis para 
essa caminhada encontram-se na caixa dos conceitos1, que devem estar muito limpos, 
afiados e compatíveis com o que pretende o eventual interessado. Convido, pois, a todos, a 
serem parceiros nessa inquietante aventura teórica: a aventura do discurso.
A CAIXA DOS CONCEITOS
 
 A Análise do Discurso de tradição francesa (AD) apresenta, como é sabido, um 
quadro teórico-conceitual constituído de categorias que circulam livremente em outros 
aparatos teóricos. Isto se deve às particularidades da formação de seu campo epistemológico 
que abrange a linguística, a teoria do discurso propriamente e o materialismo histórico, cada 
uma dessas regiões com seus termos-chaves correspondentes(PÊCHEUX e FUCHS, 1975, p. 
8). Daí decorrem, por exemplo, num primeiro momento, os conceitos de língua (crucial na 
linguística), discurso (objeto da teoria do discurso) e história (relacionado ao materialismo 
histórico). Se considerarmos ainda que, segundo os autores, as três regiões estão articuladas/
atravessadas por uma teoria da subjetividade de natureza psicanalítica, iremos agregar 
o conceito de sujeito. Ficam faltando, a rigor, dois conceitos a serem incorporados, o de 
ideologia, inseparável de uma teoria materialista, e o de sentido, já que estamos tratando de 
uma teoria do discurso, ou ainda, de uma teoria materialista dos sentidos. 
 Ocorre que tais conceitos, ainda que vinculados a uma região de origem específica, 
ao migrarem para a análise do discurso, vão ser incorporados à teoria que os acolheu e 
encontrarão aí um território próprio, com escopo definido e limites diferenciados. Daí o 
cuidado que o analista de discurso deve ter ao empregar noções já cunhadas, como as de 
língua, ideologia e história, por exemplo, definindo-as de modo compatível ao novo quadro 
teórico em questão. 
 Qualquer uma das noções teóricas arroladas apresenta especificidades e 
singularidades que mereceriam uma análise detalhada e aprofundada. Neste trabalho 
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
46
faremos apenas um breve registro ao conjunto desses termos, já que o nosso foco é a 
língua. 1) A expressão ‘caixa de ferramentas’ é encontrada em G. Deleuze, em entrevista 
com M. Foucault, como metáfora de como deve funcionar uma teoria. (1974, p. 141) 2) 
Fazemos aqui uma referência explícita ao belo livro de D. Maldidier (1990) “L’inquiétude du 
discours”, reunindo textos escolhidos de M. Pêcheux. 
a) A história:
 
 Começando pela noção de história, diremos, em primeiro lugar, que na Análise do 
Discurso história nada tem a ver com contexto, com algo que fica de fora, determinando, 
eventualmente, o que acontece no interior de um processo. Na teoria do discurso da 
corrente francesa, o conceito de história faz parte da ordem do discurso e isso já impõe uma 
diferença. Costuma-se, em certas análises de discurso, elidir a história, o que as aproxima 
muito da pragmática; ou então, denegá-la, como acontece com a tendência formalista-
logicista, o que encobre as condições em que se realiza a prática linguística do sujeito 
falante e reforça o imaginário do sujeito com pleno controle sobre sua língua. É interessante 
lembrar que o próprio Pêcheux, já se mostrava preocupado com o risco de certos analistas 
ficarem cegos em relação à história e surdos em relação à língua (PÊCHEUX, 1981, p. 8). 
 Paul Henry (1994), por sua vez, afirma que a história não é evolução, nem cronologia, 
mas sim, sentido. Ele refuta, portanto, o caráter de descrição empírica normalmente atribuído 
à história, como se fosse mero relato de acontecimentos. A história necessita do discurso para 
existir, assim como a língua necessita dela para significar. Pêcheux resume a questão ao afirmar 
que “a história está na língua”, já que os fatos históricos existem sob efeito de interpretação. 
 A noção derivada de história e que está mais próxima da Análise do Discurso é a 
de historicidade que tem a ver precisamente com a inscrição da história na língua. Nessa 
perspectiva, a exterioridade não tem a objetividade empírica daquilo que está “fora da 
linguagem”, pois constitui-se no próprio trabalho dos sentidos atuando em determinados 
textos, enquanto discursos. 
b) a ideologia: 
 Quanto ao conceito de ideologia trabalhado no materialismo histórico e dialético, 
sobretudo com a formulação atribuída a Althusser, apresenta-se na perspectiva teórica 
por nós eleita com uma tonalidade distinta, conferida pelo viés discursivo. Assim sendo, 
a ideologia não é um conjunto de representações nem a ocultação da realidade, nem 
tampouco um “defeito” dos que não têm consciência. Discursivamente, a ideologia, como 
prática significante, aparece como efeito da relação necessária da língua com a história, no 
processo de constituição dos sujeitos e dos sentidos. Por um mecanismo ideológico, aquilo 
que é constitutivo aparece como já-lá, como já-dito; o efeito é, então, o da evidência do 
sentido e a impressão do sujeito como origem do que diz. Este é um trabalho da ideologia 
por essa ótica discursiva. 
 A ideologia vai ainda apontar para uma interpretação de sentido em certa direção, 
determinada pela relação da língua com a história. Entre o mundo e a linguagem está presente 
uma contradição, e a ideologia vai constituir-se precisamente no trabalho desta contradição. 
c) O sujeito: 
 Um outro conceito intimamente ligado ao anterior é o de sujeito. Ainda que se 
tenha afirmado, no início do artigo, que a Análise do Discurso opera com uma teoria da 
subjetividade de natureza psicanalítica, é preciso ter presente que o sujeito do discurso 
não é o sujeito da psicanálise. Esta trabalha com o sujeito do desejo, do inconsciente; na 
teoria do discurso, inconsciente e ideologia estão materialmente ligados pela linguagem. 
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
47
Na Análise do Discurso, mais do que o sujeito, interessam as posições-sujeito, uma vez que 
o sujeito é pensado discursivamente como uma posição entre outras. Não há, portanto, 
uma forma de subjetividade, mas um lugar que o sujeito ocupa para ser sujeito do que diz. 
 Na Análise do Discurso, os processos discursivos vão se desenvolver pelo sujeito, 
mas não têm nele sua origem. Isto se deve ao descentramento da noção no âmbito 
discursivo, o que a faz distanciar-se do sujeito consciente, senhor de seus atos e com 
controle sobre a língua. O sujeito do discurso, em sua relação com a língua, estabelece 
um processo de constituição mútua, constituindo-se e constituindo-a no seio de 
acontecimentos histórico-sociais. Assim, ele não é totalmente livre, dado o modo de sua 
constituição, nem totalmente determinado por mecanismos externos. 
 Precisamente no espaço de tensão entre essas duas forças é que a AD vai 
trabalhar, enfrentando a contradição entre a vontade de hipertrofia do sujeito e a submissão 
ao assujeitamento. Essa tendência oscilante tão própria do discurso faz com que o sujeito 
mantenha uma relação ativa no interior de uma dada formação discursiva: assim como é 
determinado, também a determina, por força de sua prática discursiva. 
 Além disso, a interpelação do indivíduo em sujeito pela ideologia traz 
necessariamente alguns apagamentos, produzindo as já mencionadas evidências, que, no 
fundo, vão trazer à tona a ilusão da transparência da linguagem. 
d) Sentido: 
 A noção de sentido, tão frequentemente referida no âmbito da teoria discursiva, 
apresenta-se na relação determinada do sujeito com a 193 história, imprimindo a marca da 
subjetivação nos contatos da língua com a exterioridade. Cabe ao gesto de interpretação, 
realizar essa relação do sujeito com a língua na produção dos sentidos. 
 O sentido tem seu processo de constituição como algo fundamentalmente histórico, 
vinculado a um trabalho da rede de memória; assim, como ocorre com o sujeito, o sentido 
nunca é individual, nem tampouco apresenta-se como já produzido. A Análise do Discurso 
vai deter-se precisamente no processo de produção dos sentidos, através de procedimentos 
que desvendem a historicidade contida na linguagem em seus mecanismos imaginários. 
Esta determinação histórica tanto do sentido, quanto do sujeito faz com que eles não sejam 
entendidos como naturais, transparentes, mas sejam pensados em sua contradição e espessura. 
 A teoria do discurso é também uma teoria da materialidade do sentido, que 
procura dar conta da ilusão necessária do sujeito – senhor da língua e fonte de seu dizer. 
e) O discurso: 
 Resta agora uma breve apreciação sobre o discurso, afinal, o conceito mais 
importante e decisivo, em se tratando de uma teoria que o elege como objeto preferencial. 
Apoiada no discurso, a Análise doDiscurso entra em ação, tentando pôr à luz o confronto 
do simbólico com o político. Os deslocamentos teóricos propostos pela Análise do 
Discurso, tendo em conta as outras disciplinas e seu conjunto estabelecido de princípios, 
valores e conceitos, passam necessariamente pela noção de discurso, entendido como 
processo social, cuja materialidade é linguística. Aqui surge um traço distintivo essencial da 
relação da Análise do Discurso com a Linguística: seu objeto não é a língua, mas o discurso, 
um objeto histórico-social, onde os elementos linguísticos intervêm como pressupostos. 
Como costuma dizer Orlandi (1986), a AD os considera, mas vai além. 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
48
 O discurso é o objeto que nos permite observar as relações entre ideologia e 
língua, bem como os efeitos do jogo da língua na história e os efeitos desta na língua. É 
através do discurso que se vai compreender como um material simbólico produz sentidos 
e como o sujeito se constitui. Ao situar-se como lugar privilegiado de observação entre a 
língua, a ideologia e o sujeito, o discurso propicia, como bom observatório, a visualização 
das propriedades do complexo dispositivo teórico-analítico. 
 Interessante observar certas particularidades dessa noção, cuja definição nunca 
está acabada, sendo ressignificada a cada análise. Denise Maldidier (1990) referiu-se a isso, 
ao revelar, com sensibilidade e argúcia, que o discurso era o objeto da busca incessante de 
Pêcheux, que sem cessar lhe escapava. Tal obstinação devia-se à consideração do discurso, 
justamente, como verdadeiro nó onde as questões fundamentais sobre as relações entre 
língua, história e sujeito se intrincavam. 
 O discurso apresenta-se como objeto teórico; portanto, longe do compromisso com 
a evidência empírica. Com ele há sempre indício de uma ruptura que será desvendada pelo 
trabalho do analista, buscando compreender como o gesto de interpretação funciona em sua 
materialidade, no exato momento em que o sentido faz sentido em um determinado discurso. 
 Vimos, assim, em rápidas passadas, por que o discurso tem essa carga de 
significância que o torna tão denso e o faz devolver à linguagem sua espessura material e ao 
sujeito sua contradição. Ele é lugar de encontro, de imbricação, de mediação e observação. 
E é também de certa forma uma metáfora que requer a cada construção um transporte de 
um campo para outro. 
 Para ler o texto na íntegra acesse o link a seguir.
FONTE: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/173278/000411847.pdf?sequence=1>. 
Acesso em: 30 out. 2019.
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
49
LEITURA COMPLEMENTAR
OS ESTUDOS DA ENUNCIAÇÃO E A FORMAÇÃO DO 
PROFESSOR DE LÍNGUAS
Kelly C. Granzotto Werner
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Investigar... encontrar... refletir...buscar alternativas para ajudar na melhor 
formação do professor de língua estrangeira foi o que moveu este estudo. Como 
docente num curso de formação de professores, inquietações são constantes a 
esse respeito. Sabemos que a formação do professor vai além da aprendizagem 
durante o período do curso de licenciatura, uma vez que não podemos pensar 
que o aluno está pronto, soube o que deveria saber para desempenhar a profissão. 
Na verdade, neste tempo, os professores estão legalmente e institucionalmente 
habilitados para lecionar. Mas, sempre há a falta em relação ao conhecimento, há 
a necessidade de aperfeiçoamento, do estudo e da pesquisa constante, e isso não é 
apenas delegado pela ordem social. Muitos discursos confirmam que a sociedade 
“exige”, está “desse jeito” e, por isso é que o professor (e não só ele) precisa estar 
sempre se atualizando, continuando a sua formação. No entanto, é necessário 
reconhecer que o ser humano é incompleto, é um ser sempre ávido de desejos. 
Então, as vontades do próprio indivíduo e do meio onde se encontra determinam 
a natureza da formação.
Partindo disso é que surge a questão que vai nortear este trabalho: em 
que os estudos da enunciação feitos por Benveniste poderiam contribuir para a 
formação do profissional de Letras, principalmente, na área do ensino de línguas 
(estrangeiras)? Trabalhando com discurso e enunciação, essa inquietude é 
constante. Sendo assim, pretendo explicitar conceitos e concepções dos estudos da 
enunciação de Benveniste que venham a contribuir positivamente para o professor 
de línguas em formação e refletir sobre a implicância disso na prática docente 
desses futuros professores. Acredito que os estudos da enunciação de Benveniste 
contribuíram e contribuem significativamente não só para a linguística moderna, 
mas também para a formação do professor de línguas com conceitos fundamentais 
como o de subjetividade (que antes fora marginalizado) e com a revisão da noção 
de língua/linguagem e sentido. Desse modo, conhecer essas noções que deram uma 
reviravolta nos estudos linguísticos, mudando o modo de pensar dos linguistas, é 
importante para o professor de línguas, uma vez que podem ajudá-lo a definir uma 
concepção de língua/linguagem, de sujeito, de sentido e de ensino e aprendizagem 
para a sua prática pedagógica.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
50
A TEORIA DA ENUNCIAÇÃO DE BENVENISTE E SUAS 
CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
Os estudos sobre a enunciação, em geral, principalmente, a teoria enunciativa 
proposta por Benveniste, trazem para o cenário das preocupações linguísticas, sem 
desconsiderar as proposições estruturalistas anteriores, o sujeito, personagem 
tido como secundário pela linguística saussuriana. Com a noção de subjetividade, 
outras também emergiram — as noções de sentido e contexto (referente) — que 
juntas possibilitaram uma nova forma de pensar a língua/linguagem.
A noção de língua/linguagem
A perspectiva de entendimento de língua de Benveniste se diferencia da 
de Saussure, uma vez que a vê como essencialmente social, concebida no consenso 
coletivo. Para o teórico da enunciação (1989, p. 63), “[...] somente a língua torna 
possível a sociedade. A língua constitui o que mantém juntos os homens, o 
fundamento de todas as relações que por seu turno fundamentam a sociedade”. O 
fundador da linguística moderna pensava na língua como um código fechado em 
si mesmo, estruturado por signos. A forma como Benveniste pensa a língua advém 
do seu entendimento de signo. Considerando sua forma de significação, propõe 
dois planos de sentido: o semiótico e o semântico. No primeiro, que confere com 
o pensamento de Saussure, está o signo significando no sistema e, no segundo, há 
a expressão do sentido resultante da relação do signo com o contexto, ou seja, o 
modo de significar do enunciado (discurso). Para o autor, essa forma de significar 
é a língua como trabalho social. Assim, Benveniste vê a língua no seio da sociedade 
e da cultura porque, para ele, o social é da natureza do homem e da língua.
O entendimento de língua, mostrado por Benveniste, também vai refletir 
na concepção de linguagem que defende. Esta não é entendida como aquela que 
serve de instrumento de comunicação ao homem. Em seu estudo Da subjetividade 
na linguagem, Benveniste (1991, p. 85) questiona e critica essa noção de linguagem 
dizendo que “Falar de instrumento, é pôr em oposição o homem e a natureza”, 
mostrando que não se pode mais conceber a linguagem e o indivíduo dessa forma 
porque “não atingimos nunca o homem separado da linguagem e não o vemos 
nunca inventando-a”. Na verdade, essa concepção deixa o indivíduo à margem da 
linguagem. O que propõe então é uma ideia de linguagem que dê ao indivíduo o 
status de sujeito e assim deve ser porque “é um homem falando que encontramos 
no mundo, um homem falando com outro homem, e a linguagem ensina a própria 
definição do homem”.
Dessa forma, a linguagem será o lugar onde o indivíduo se constitui 
como falante e como sujeito. Essa noção está desenvolvida na teoria da 
enunciação postulada porBenveniste, a qual direciona os estudos sobre a 
linguagem para uma nova situação.
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
51
A noção de subjetividade
Benveniste, em seus estudos sobre a enunciação, não pretendia fazer uma 
teoria do sujeito, como já é sabido, mas sim se preocupava com a significação. 
Apesar disso, sua maior contribuição para a linguística moderna é a questão da 
subjetividade. Ela veio à tona porque é inevitável sua presença quando se estuda a 
linguagem e o sentido. Sendo assim, o sujeito é o cerne da sua teoria da enunciação.
Segundo Benveniste (1991, p. 288), a subjetividade é entendida como “a 
capacidade do locutor para se propor como “sujeito”. Essa proposição como sujeito 
tem como condição a linguagem. “É na linguagem e pela linguagem que o homem 
se constitui como sujeito; porque só a linguagem fundamenta na realidade, na sua 
realidade que é a do ser, o conceito de ego”. Assim sendo, essa propriedade da 
subjetividade é determinada pela pessoa e o seu status linguístico. Além disso, 
para o referido autor, a subjetividade é percebida materialmente num enunciado 
através de algumas formas (dêixis, verbo) que a língua empresta ao indivíduo que 
quer enunciar; e quando o faz transforma-se em sujeito. Classifica essas marcas 
linguísticas, que têm o poder de expressar a subjetividade, os pronomes e o verbo, 
integrando essas duas classes de palavras na categoria de pessoa, proposta em 1946.
Nesse texto de 1946, Benveniste, ao instaurar a categoria de pessoa, define as 
pessoas do discurso. Considera eu/tu como as autênticas pessoas em oposição a ele 
– a não pessoa. As pessoas eu/tu se caracterizam como categorias de discurso que só 
ganham plenitude quando assumidas por um falante, na instância discursiva. Essa 
tomada é sempre única, móvel e reversível, representando a (inter)subjetividade 
na linguagem. A terceira pessoa (a não-pessoa, ele), ao contrário, é um signo pleno, 
uma categoria da língua, que tem referência objetiva e seu valor independe da 
enunciação, declarando, portanto, a objetividade. A oposição entre os participantes 
do diálogo e os não participantes resulta em duas correlações: personalidade e 
subjetividade. A correlação de personalidade opõe a pessoalidade, presente em eu/
tu, e a não pessoalidade, presente em ele; já a correlação de subjetividade descreve 
a oposição existente entre o eu (pessoa subjetiva) e o não eu (pessoa não subjetiva). 
Tais correlações se estendem aos pronomes no plural que, nessa teoria, significam 
mais que pluralização. Então, Benveniste inova ao dizer que os pronomes pessoais 
no plural não expressam somente plural. É o caso de nós e vós. Somente “eles” – 
por não ter marca de pessoa – indica verdadeiro plural. Ainda, define o nós como 
inclusivo (união de um eu, pessoa subjetiva, a um tu/vós, pessoa não subjetiva) 
e como exclusivo (eu, pessoa + ele(s), não pessoa). Não podem significar plural 
porque não demonstram a repetição da mesma pessoa. No caso do nós, não há 
soma de diferentes pessoas e não há repetição de “eus”; no caso do vós, no sentido 
coletivo ou de cortesia, não há soma de vários “tus”. Então, o fato a que chama 
atenção Benveniste é que os pronomes não devem ser mais considerados, e o são 
habitualmente, como uma “classe unitária” quando se refere à forma e à função, 
diferenciando o aspecto formal dos pronomes, pertencente à parte sintática da 
língua, do funcional, considerado característico da instância do discurso, ou seja, 
da enunciação. Quer dizer, os pronomes se configuram numa classe da língua que 
opera no formal, sintático, e no funcional, pragmático. Sendo assim, os pronomes 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
52
devem ser entendidos também como fatos de linguagem, pertencentes à mensagem 
(fala), às categorias do discurso e não apenas como pertencentes ao código (língua), 
às categorias da língua, como considerava Saussure. Essa visão dos pronomes, 
também como categoria de linguagem, é dada pela posição que nela ocupam.
Desse modo, acredita-se que, para encontrar e tentar entender o sujeito e 
suas representações na teoria enunciativa de Benveniste, é necessário partir da 
categoria de pessoa. De acordo com Gomes (2004), “A subjetividade é vista como 
uma propriedade da língua realizável pela categoria de pessoa”. Da mesma forma, 
Santos (2002, p. 25), afirma que
O fundamento da subjetividade repousa sobre a categoria de pessoa 
presente no sistema da língua; todavia essa subjetividade depende da 
inversibilidade do par eu-tu, a qual assegura um fator fundamental 
na atribuição de sentido à categoria de pessoa — a intersubjetividade.
Segundo Benveniste (1989, p. 87), “o que caracteriza a enunciação é a 
acentuação da relação discursiva com o parceiro, seja este real ou imaginário, 
individual ou coletivo”. Isso determina a estrutura do quadro figurativo 
da enunciação, o do diálogo, que tem obrigatoriamente um eu e um tu. Os 
dois participantes alternam as funções, caracterizando-se como parceiros e 
protagonistas na situação de enunciação. Isso, na verdade, vai criar uma relação 
intersubjetiva entre as pessoas do enunciado.
POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA ENUNCIATIVA DE 
BENVENISTE PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA
Freire (1982, p. 42) afirma que “Toda prática educativa implica numa 
concepção dos seres humanos e do mundo”. Dessa forma, o professor de língua 
(estrangeira) também deve ter concepções claras sobre língua/linguagem, sujeito 
e o próprio processo de ensino-aprendizagem, uma vez que o modo como são 
entendidos tais aspectos refletirá na sua prática pedagógica e na educação.
Retomando o pensamento de Benveniste sobre a concepção de língua e 
linguagem, percebemos que é entendida como o lugar e o fundamento da subjetividade, 
e esta, por sua vez, é percebida e tem valor numa relação dialógica, intersubjetiva. Os 
sujeitos, via língua, constroem sentidos interativamente no discurso.
Assim sendo, considerar tais ideias da teoria enunciativa benvenistiana 
contribui, com certeza, para a formação do professor de língua e para o momento 
de ensino-aprendizagem porque este processo também será entendido como 
social, interativo, intersubjetivo e construído entre um eu (professor) e vários tus 
(alunos). Quer dizer, o ensinar e o aprender só acontecem quando são construídos 
socialmente. Não há como separar os dois polos e pensar que alguém ensina e outros 
aprendem. Conforme Freire (1982, p. 28), “Ninguém educa ninguém” porque cada 
indivíduo é sujeito de sua educação e isso se caracteriza por um a relação dialógica 
e interdependente. A partir disso, é necessário considerar o saber do aluno, muitas 
vezes, empírico com o saber científico que traz o professor, amalgamando-os, a fim 
de que o processo educativo seja construído pela relação social estabelecida na sala 
TÓPICO 2 | ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO AS BASES
53
de aula. Isso será possível se o professor valorizar as subjetividades, o diálogo; se 
tiver um entendimento de que essas subjetividades têm como condição necessária 
de existência a intersubjetividade, expressada via língua, e que, nessa situação, 
constroem o sentido de educação mútua.
Portanto, acreditamos que a teoria da enunciação, caracterizada uma teoria 
da subjetividade na linguagem, pode contribuir significativamente na formação 
do professor de língua (estrangeira), pois pode ajudar na sua concepção de língua, 
linguagem, de sujeito, de sentido. Lastimavelmente, a teoria da enunciação, 
especificamente a teoria subjetiva de Benveniste, não é leitura frequente nos cursos 
de graduação em Letras.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou apontar noções relevantes dos estudos sobre a 
enunciação, especificamente de Benveniste, para a formação do professor de língua 
(estrangeira). Julgamos que o entendimento de língua e linguagem, de sujeito e de 
sentido apresentados só podem contribuir positivamente para o professor epara a 
sua prática pedagógica. Queremos concluir estas reflexões, com o pensamento do 
início deste trabalho: buscar o conhecimento, continuar a formação, refletir sobre 
a profissão. Isso deve ser a constante preocupação do homem, independentemente 
de sua área de atuação. Refletir sobre a teoria da enunciação benvenistiana na 
formação do professor e no ensino de língua foi o objetivo deste trabalho.
FONTE: <http://coral.ufsm.br/lec/02_04/Kelly.htm> Acesso em: 7 nov. 2019.
54
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que: 
• A Análise do Discurso surgiu na década de 1960 na França.
• Essa linha teórica possui o discurso como objeto de estudo. Orlandi (2007, 
p. 15), excepcional nome na Análise do Discurso, afirma que o “discurso é a 
palavra em movimento, em prática de linguagem com o estudo do discurso 
observa-se o homem falando”. 
• A AD observa a língua não a simplificando a mero código da comunicação, e 
sim em um propósito de abarcar o discurso, considerando todos os aspectos 
possíveis da exterioridade, sendo esta os sentidos ideológicos, históricos, 
memoriais que acompanham o sujeito que fala.
• Michel Pêcheux é um dos precursores da AD na França. Orlandi é no Brasil. Aquele 
autor foi quem desenvolveu a base teórico-metodológica da teoria. Assim, Pêcheux 
coloca que o discurso é carregado de ideologias, que podem ser definidas em sua 
materialidade específica do discurso que é a língua. O autor ainda declara que não 
há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia: o indivíduo é interpelado 
em sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido. 
• A AD possui uma estrutura em três linhas: Linguística, Marxismo e a Psicanálise, 
as quais dão suporte às análises. É indiscutível a necessidade de sempre se 
considerar as condições de produção de um discurso, pois elas influenciam o 
caráter ideológico-comportamental do sujeito. 
• A AD trabalha com o discurso, categoria esta que “fala” antes em outro lugar, 
ou seja, quando proferimos uma ideia, ela é o nosso discurso sobre aquilo 
afirmamos. E tudo o que nos colocamos a afirmar pertence a uma memória 
discursiva, uma forma do pré-construído, um já dito que constitui nossa fala e 
desnuda nossas intenções
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
55
1 “O sujeito, em sua teoria, não é uma pessoa, mas uma posição que alguém 
assume diante de um certo discurso.” Esta citação pode ser atribuída 
corretamente a quem?
a) ( ) A Althusser que sustenta que a constituição e a unificação da língua.
b) ( ) A Benveniste, pois explica o sujeito se reconhecendo na sua origem. 
c) ( ) A Pêcheux, no sentido de que o discurso é ideológico e revela nossa real 
forma de pensar.
d) ( ) A Foucault, pois explica os esquecimentos constitutivos do sujeito. 
e) ( ) Brandão, pois explica como um sujeito se relaciona vê a sim mesmo.
2 O discurso é, portanto, o lugar de confronto entre língua e ideologia. Para 
Pêcheux (1997b), discurso é efeito de sentido entre interlocutores. Quais são 
os aspectos que a análise do discurso de linha francesa leva em consideração 
em sua análise? 
a) ( ) Ligados as frases e orações que compõem a sintaxe do português brasileiro. 
b) ( ) Os aspectos formais da formação linguagem e discurso. 
c) ( ) Os aspectos formais da fonética e fonologia. 
d) ( ) Ideologia – sujeito – condições de produção. 
e) ( ) Arraigadas aos termos de formação da palavra, isto é, radical, prefixação 
e sufixação.
3 Na AD, dizemos que não há discurso neutro, todo discurso produz sentidos 
que expressam as posições sociais, culturais, ideológicas dos sujeitos da 
linguagem. Nesta perspectiva, as representações e sentidos que formulamos 
sobre o “outro” ou sobre um discurso estão relacionados com a exterioridade 
onde eles (os sentidos) acontecem ou da qual (da exteriodidade) eles advêm. 
Com base nisso, assinale a alternativa que melhor explica o processo de 
formulações de sentido que fazemos sobre o que lemos ou vemos, segundo 
as concepções da AD.
a) ( ) As formulações de sentido estão relacionadas com um conjunto de muitos 
discursos com os quais. 
b) ( ) Vários discursos entram em aliança, ou seja, uma intertextualidade discursiva. 
c) ( ) Essas formulações estão relacionadas a projeções que os sujeitos fazem 
de si, do outro e de sua exterioridade, considerando que tudo representa 
uma análise e não necessariamente fatos evidenciados. 
d) ( ) Fazem parte só do processo discursivo no qual o sujeito enunciador 
está inserido. 
e) ( ) Fazem parte da relação de correspondências diretas de sentidos entre o 
que se diz e o que se entende. 
AUTOATIVIDADE
56
a) ( ) No discurso da Mafalda (sujeito enunciador deste discurso), observamos 
uma tentativa empática de a personagem descrever o mundo.
b) ( ) Verificamos que a personagem, ao reconhecer o mundo como um lugar 
“ruim”, utiliza-se de uma sequência linguística que tendencia a uma 
descrição mais radical, o que conflitua com sua imagem que parece estar 
triste com o fato.
c) ( ) A relação eu-mundo, para Mafalda, representa uma situação impossível 
de ser conciliada.
d) ( ) A noção de “bonito” para Mafalda está na ideia de tamanho. 
e) ( ) Para a personagem, a constatação de “desastre” é um fato que depende 
da forma como se vê esse “mundo”.
5 Leia o texto que segue para marcar a questão subsequente
FONTE: <https://programaculturaviva.wordpress.com/2013/04/10/dica-da-semana-mafalda/>. 
Acesso em: 3 set. 2019.
4 Considerando a noção de equívoco (representação outra do sentido) 
trabalhada anteriormente, marque a alternativa correta que tem como base 
o seguinte objeto discursivo de análise: 
57
O uso de metilfenidato no tratamento de crianças e adolescentes com 
dislexia e TDAH
Clay Brites 
Neuropediatra 
Doutorando em Ciências Médicas (UNICAMP) 
Integrante do DISAPRE-UNICAMP 
Speaker e cofundador da Neurosaber
 
O metilfenidato (Ritalina, Ritalina LA e Concerta) é uma 
medicação psicoestimulante que age aumentando os níveis de dopamina e 
noradrenalina em suas respectivas vias neuronais e tem o efeito de aumentar 
a atenção seletiva e sustentada e a memorização de pacientes com TDAH. 
Não é um calmante, nem tranquilizante, nem serve para acalmar quem o 
usa, mas sim para elevar o nível de alerta e foco em atividades que exigem 
mais esforço mental, nos quais estas crianças e adolescentes apresentam 
significativa dificuldade.
Os guidelines e os protocolos internacionais recomendam o uso desta 
medicação como estratégia de primeira linha no tratamento farmacológico 
do TDAH1. As pesquisas e acúmulo de evidências mostrando sua eficácia 
e segurança a médio e longo prazos além da experiência de especialistas da 
área que o recomendam pelos mesmos motivos de segurança observados 
na prática clínica.
A associação entre Dislexia e TDAH é comum e pode ocorrer em 60% 
dos disléxicos. Entre os portadores de TDAH, 15-20% apresentam Dislexia 
e até 40% destes pacientes tem significativas dificuldades de compreensão 
de leitura, pobreza na produção textual e inabilidade de planejar e 
organizar atividades que envolvem leitura, escrita e matemática. Apesar 
da ciência e as evidências mostrarem que o metilfenidato não apresenta 
efeito significativo na Dislexia, muitos pesquisadores vêm indicando seu 
benefício significativo naqueles disléxicos que apresentam também TDAH 
do tipo desatento ou combinado.
Em artigo publicado recentemente no Journal of Learning 
Disabilities por grupo de pesquisa de referência em TDAH com Transtornos 
de Aprendizagem liderada por Rosemary Tannock, esta autora e seus 
colaboradores mostraram neste estudo com 65 crianças de 7 a 11 anos, 
portadoras de TDAH e Dislexia, que a associação de intervenções de 
programas de remedição fonológica com o metilfenidato comparado ao uso 
de placebo com estas intervenções mostrou-se mais eficaze com resultados 
mais amplos na recuperação das dificuldades de leitura e na evolução do 
tratamento interventivo. A pesquisa concluiu que o uso do metilfenidato é 
promissor neste grupo de pacientes e pode ser uma estratégia mais indicada 
e significativa para auxiliar na condução interdisciplinar.
58
Este resultado corrobora com as evidências que vem sendo 
publicadas desde os anos 90 mostrando que a medicação vem ajudando 
(e muito) a melhorar a evolução escolar em crianças com TDAH não-
disléxicos, mas que tem problemas fonológicos, de compreensão de 
leitura, de memorização de segmentos textuais e naqueles que não 
conseguem analisar e sintetizar informações nas atividades escritas 
reduzindo riscos de repetência, evasão e abandono escolar.
FONTE: <https://neurosaber.com.br/o-uso-de-metilfenidato-no-tratamento-de-criancas-
e-adolescentes-com-dislexia-e-tdah/>. Acesso em: 1 set. 2019.
Com base no texto, marque a alternativa CORRETA:
a) ( ) O texto enfoca o uso de medicação para crianças. O sujeito deste discurso 
objetiva convencer o leitor sobre os ganhos da medicação, o que se pode 
perceber pelo elenco de informações que dimensionam a importância 
da medicação.
b) ( ) O sujeito-autor objetiva elucidar sobre os riscos que se tem em certas 
medicações que podem alterar o estado comportamental de jovens e 
crianças em nível escolar.
c) ( ) Apesar de haver, contemporaneamente, movimentos que pontuam 
sobre o cuidado que se ter ao dar certos medicamentos que estimulam 
a concentração a crianças, esse texto ignora todos eles, o que se percebe 
com a singular seleção vocabular do sujeito-autor do texto. 
d) ( ) Para o sujeito-autor, a medicação estudada pode ser aplicada sempre 
que a criança ou jovem apresentar algum quadro clínico que indique 
alterações de aprendizado. 
e) ( ) No último parágrafo, é possível perceber que o sujeito-autor deixa claro 
que esse é um estudo atual e que o fato de ter iniciado recentemente dá 
mais credibilidade a ele. 
59
UNIDADE 2
ANÁLISE DE DISCURSO: DOS 
FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE 
ANÁLISE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender como as condições de produção intervêm nas relações 
de sentido;
• observar os múltiplos deslocamentos do sujeito no discurso;
• mapear o funcionamento das condições de produção;
• compreender os múltiplos instrumentos de intervenção para os 
efeitos de sentido no discurso.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado. 
TÓPICO 1 – AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO
TÓPICO 2 – O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
TÓPICO 3 – RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS DISPOSITIVOS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
60
61
TÓPICO 1
AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
DISCURSO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 1 fizemos um percurso para o conhecimento acerca das 
bases conceituais que orientam a análise de discurso. Nesse sentido, buscamos os 
conceitos iniciais de Benveniste e Pêcheux, autores que contribuem ao RETOMAR 
a noção de que há sujeito no discurso. A partir de agora, vamos adentrar outros 
repertórios de constituição de saberes sobre o discurso. 
Conforme observado, há muito caminhos para estabelecermos a análise de 
um discurso. Com os inúmeros exemplos de textos verbais e não verbais, verificamos 
que não há uma regra sobre quem ou o que pode ser analisado como um discurso. 
O que importa no texto verbal escrito ou falado, bem como no texto na forma de 
imagem é que haja um “efeito de sentido entre locutores”. Essa é a “regra”. A partir 
dessa condição conseguimos procurar então quais são esses possíveis efeitos.
Paralelamente a isso, também, estamos constantemente conhecendo 
aqui em nossos estudos novos caminhos para adentrarmos na análise discursiva 
através de outros e novos dispositivos de análise como este que se inicia agora: as 
condições de produção no discurso. Eu já havia mencionado essa nomenclatura 
anteriormente, mas só agora vamos compreendê-la na teoria e na análise que ela 
proporciona do discurso.
Assim, é importante estarmos cientes de que todo discurso emerge a partir 
de dadas condições, dados acontecimentos que ocorrem ou ocorreram em referido 
tempo. Diante disso, as condições de produção funcionam como se fossem fatos, 
acontecimentos, momentos, os quais, estando empregados de diferentes outros 
sentidos ocorrentes nas relações do sujeito que enuncia, tendem a explicar o porquê 
de um discurso apresentar determinados efeitos de sentidos e não outros. A partir 
disso, vamos conhecer melhor esse novo caminho para a análise de discursos? 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
62
As condições de produção (CPs) possuem a capacidade de afetar a maneira 
como o sujeito significa, ou seja, afeta o modo como ele conduz suas ideias e suas 
convicções. Nesse viés, as CPS criam relações entre diferentes discursos. Isso 
pode ser observado quando um dizer retoma o outro, mesmo que em situações 
diferenciadas. Com isso, conseguimos verificar que os sentidos vão se encadeando 
e assim formando novos imaginários sobre os acontecimentos nos quais nós, como 
sujeitos em um discurso, estamos imersos.
As CPs são o “instrumento” que ajuda a explicar a constituição de enunciados 
formadores de redes significantes, as quais são (re)editadas por diferentes formas 
de “falar” sobre dado acontecimento. Assim, tais redes de sentido, no curso do 
tempo, vão arrolando em diferentes condições de tratamento de dado discurso, 
sendo discursivizadas, ou seja, sendo (re)significadas por diferentes formas de 
dizer sobre dados acontecimentos. Diante disso, as CPs, ao relacionarem redes de 
sentidos entre diferentes discursos, realizam processos de antecipação ao sujeito. 
Sobre isso, Pêcheux (1997c, p. 77) coloca que:
O discurso se conjuga sempre sobre um discurso prévio, ao qual ele 
atribui o papel de matéria-prima, e o orador sabe que, quando evoca 
tal acontecimento, que já foi objeto de discurso, ressuscita no espírito 
dos ouvintes o discurso no qual este acontecimento era alegado, como 
as “deformações” que a situação presente introduz e da qual pode 
tirar partido.
Isso significa que, quando o sujeito “diz” sobre algo, ele está sempre 
afirmando, questionado, negando etc. sobre uma ideia que já existe em outras 
condições de existência. Há sempre um pré-construído que ampara, que serve de 
escopo para que se possa dizer sobre algo. Em outras palavras, não realizamos 
um discurso fundador de sentido. As condições ou relações nas quais estamos 
inseridos estão sempre carregadas de outros saberes que chegam até nós através 
do espaço social que ocupamos. Esses saberes vêm por redes de sentidos, ou redes 
de memórias coletivas, as quais “de repente” insurgem em nossa fala. 
Na grande maioria das vezes, nem nos damos conta, nem questionamos 
de onde vêm determinadas concepções ou visões de mundo que aparecem em 
nosso dizer, como se sempre tivessem sido parte do acreditamos. Entretanto, 
estamos sempre formulando algo com base em um discurso ou um saber que 
podemos nominar, seguindo os pressupostos de Pêcheux (1997c), como discurso 
“matéria-prima”, algo já predito, pré-construído. Com base nisso, ao acionarmos, 
INCONSCIENTEMENTE, essas redes de sentido, realizamos uma antecipação 
rotulatória e estereotipada sobre quem é o sujeito que afirma sobre algo.
2 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE UM DISCURSO: O QUE 
SÃO E COMO FUNCIONAM
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
63
Dependendo, então, das condições de produção de um discurso, 
acionaremos (repetimos: INCONSCIENTEMENTE) determinados valores, 
condutas e saberes. Vamos ver como isso funciona nas nossas relações sociais? 
Assim, imagine a seguinte situação:
Vamos adentrar espaço discursivo chamado esporte.A partir disso, vamos 
relatar aqui um fato ocorrido com uma apresentadora esportiva: no ano passado, 
uma emissora de televisão estava realizando a cobertura de um campeonato de 
futebol regional. Em todos os anos anteriores, havia um jornalista-comentarista 
que ia até os estádios e fazia esse trabalho. Todavia, no ano passado, esse jornalista-
comentarista rompeu o contrato com a emissora e quem assumiu, temporariamente, 
essa função foi a jornalista-comentarista, que vamos chamar aqui de “Ana”. Ela 
então foi até os locais nos quais estavam torcedores, atletas e equipes de apoio. 
Ou seja, ela cumpriu todas as funções que lhe foram propostas com empenho, 
dedicação, inteligência, dinamismo e carisma. Contudo, durante e após encerradas 
as atividades da cobertura, os comentários, nas redes sociais, que se sobressaíram, 
foram os de que “jornalismo esportivo não é coisa de mulher”. 
Observe bem esse enunciado: “jornalismo esportivo não é coisa de mulher”. 
Que discurso se encontra aí? Para começarmos a análise, vamos observar quais 
são as condições de produção dessa afirmação:
• Isso foi enunciado em um ambiente virtual, durante um jogo de futebol que 
representa um clássico do esporte na região em que ele aconteceu. 
• O esporte é entendido pelo universo coletivo como um esporte com tendências 
ao perfil masculino. 
• Agregado a tudo isso, há ainda um “conceito” da função feminina nos 
ambientes profissionais. 
Tomada essa percepção das condições de produção da referida frase, já é 
possível iniciar a análise do discurso. Isso pode ser feito, analisando-se:
• O que faz com que o esporte de modalidade futebol assuma tendências ao 
perfil masculino?
• O que condiciona o ambiente coletivo a assumir isso como uma verdade?
• O que se entende por funções masculinas e femininas?
• Por que se “estranha” tanto o fato de uma mulher assumir uma função que se 
entende como masculina?
• Qual é o “desconforto” que isso provoca? Por que essa alteração de posição 
ou função profissional representa uma afronta a quem profere esse tipo de 
discurso, ao ponto de se ir às redes sociais registrar tal “pensamento”?
A partir das condições de produção do discurso, foi possível abrir todas 
essas perguntas que nortearão a análise. 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
64
AUTOATIVIDADE
Agora, lançamos uma situação e pedimos que você verifique as condições 
de produção do referido discurso a seguir. Projete POSSIBILIDADES, como as 
que fizemos anteriores às perguntas. Nessas possibilidades, você pode afirmar 
em que condições sociais, econômicas, políticas, humanas essa frase é proferida.
“Somente quando for cortada a última árvore, poluído o último rio, 
pescado o último peixe, é que o homem vai perceber que não pode comer 
dinheiro!” (Greenpeace)
Esse funcionamento de sentidos, que explicam os múltiplos espaços 
físicos ou abstratos que amparam os dizeres, explicita que todo discurso se 
apoia sobre o discurso que veio antes. Também demonstra que todo discurso 
está sujeito à (re)formulação, produzindo efeitos de sentidos diversos quando é 
proferido. Retomando o exemplo que demos anteriormente, podemos observar 
que o enunciado “jornalismo esportivo não é coisa de mulher” está claramente 
associado a uma memória que define espaços e comportamentos femininos. Ou 
seja, há um discurso de ordem ou de “organização” de lugares nos quais a mulher 
pode ou não circular, assumindo-se assim como (patri)arcal, o que no grego patér 
significa “pai”, mais arkhé, que significa “poder”.
Tal leitura evoca uma memória que vem de determinadas condições de 
produção ancoradas em um momento político, social e econômico em que havia 
“coisas que eram ou que não eram” para mulher. Deslocando essa compreensão 
para a enunciação do referido discurso (enunciado) na internet, observamos uma 
(re)formulação da mesma ideia que explicamos no parágrafo anterior, porém, 
agora imersa no ambiente do cyberespaço da internet, o qual encoraja alguns 
discursos desprovidos de respeito, não pelo fato de que o sujeito que produz tal 
incoerência assume responsabilidades sobre o que enuncia, mas sobretudo porque 
as condições de produção dele esfacelam sua identidade, dando-lhe anonimato 
em um universo da internet difícil de mapear e desprovido de regramentos 
específicos que coíbam práticas de desinteligência. 
Assim, o enunciado em análise, ao contrário de ser uma simples afirmação 
apenas desprovida de senso de criticidade, se observado com atenção, nos 
mostra um dizer capaz de produzir sentidos muito além daqueles “esperados” 
pelo sujeito que enuncia. Constantemente existe a possibilidade de o discurso 
produzir um efeito inesperado em função da intervenção de um imaginário e de 
uma exterioridade que se apresentam no discurso. Para tanto, as Condições de 
Produção funcionam como um mecanismo de interferência sobre o modo como 
os sentidos chegam e afetam o sujeito do discurso.
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
65
A exterioridade sempre “chega carregada” pelos saberes variados e, 
com isso, (re)atualiza sentidos “já-ditos”, intervindo nas CPs que atravessam o 
sujeito. Sofrendo, então, tal interferência, o sujeito, enquanto voz do discurso, 
loca-se e (des)loca-se de determinados lugares discursivos, assumindo posições 
ideológicas que são constantemente reafirmadas a cada nova enunciação sobre 
o mesmo tema ou que podem sofrer a tentativa de serem reformuladas, com a 
ilusão de que novas redes de significados podem ser instauradas, em tentativas 
vãs de não se proliferar um imagem de preconceito ou intolerância.
2.1 AINDA NAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO: A 
INTERFERÊNCIA DE NOVAS REDES SE SENTIDO
É constitutivo do sujeito a inconsciente tentativa de atribuir sentido a 
tudo com o que se relaciona de forma direta ou não. Todavia, essa “tentativa” 
frequentemente é trabalhada em um caráter de se atribuir exatidão a determinados 
discursos. Tal movimento não pode ser rotulado pejorativamente, mas também 
não pode assumir uma noção de gesto interpretativo que vai emergir os sentidos 
transitados no discurso. Isso se deve ao fato de que as análises imediatistas que 
fazemos não possuem a sustentação analítica suficiente, já que precisamos dos 
dispositivos (recursos) que aqui estamos trabalhando, certo?
Posto isso, sabemos que ocorrem algumas análises “rápidas”, imediatistas 
como mencionei anteriormente. Esse movimento traz consigo entendimentos, 
às vezes, superficiais ou qualificados como falhos, em função de que o sentido 
pode ser sempre outro. A isso, a análise de discurso qualifica como opacidade da 
linguagem. Isto é, o sentido “que acaba sendo outro”, e não aquele o esperado 
pelo sujeito que enuncia. A lógica interpretativa acometida pela opacidade 
da linguagem apresenta o deslize, a falha, o equívoco que acontecem sem a 
previsibilidade de quem enuncia e produz outros sentidos no discurso, alterando 
o sentido esperado. Nesse campo de análise, então, você pode questionar: se 
emerge tudo isso, por que então tantas pessoas proferem enunciados que, 
inutilmente, tendenciam a interpretações que falham? Apesar de ser um ato, muitas 
vezes, INCONSCIENTE, quem se posiciona com essa visão está, na verdade, 
imaginariamente, com o mecanismo de antecipação em pleno funcionamento. 
Esse mecanismo faz com que o locutor tente prever as relações de sentido 
possíveis a partir de sua enunciação. Orlandi (2003, p. 39), sobre isso, refere que 
“o mecanismo da antecipação proporciona ao sujeito a capacidade de colocar-
se no lugar em que seu interlocutor ‘ouve’ suas palavras. Ele antecipa a seu 
interlocutor quanto ao sentido que suas palavras produzem” Esse mecanismo, 
por tentar prever os efeitos de sentido do dizer, cria uma expectativa sobre como 
isso vai ser “recepcionado”. Dessa maneira, ele gera para si uma certeza (ilusória) 
de estar controlando os sentidos, já que é uma opinião histórica de que “existem 
lugares sociais que a mulher pode ou não assumir” (ORLANDI, 2003, p. 39).UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
66
Em face disso, não há como se considerar um modelo de sujeito unitário 
e transparente, e sim pistas que nos encaminham à compreensão de como ele 
funciona. Para “lermos” o sujeito de um dizer, é preciso que reconstituamos as 
condições de elaboração ou produção de determinados discursos. Esse é um 
gesto sempre em andamento e que funciona na e pela linguagem.
Portanto, urge termos atenção ao modo de apresentação do sujeito no 
discurso. Precisamos acionar nossas escutas que são: a análise das condições de 
produção em que ele “diz”; a maneira como ele articula a língua por meio de 
determinadas seleções vocabulares; bem como a forma como afirma sobre algo, 
prevendo determinados efeitos de sentido. Seguindo essa orientação, veremos uma 
retomada das noções de sujeito e a abordagem das posições assumidas no discurso.
3 SUJEITO DO DISCURSO
Já discorremos, na unidade anterior, sobre a insurgência e funcionamento 
do sujeito no discurso. Apenas vamos retomar algumas concepções para, 
logo a seguir, entrarmos nas noções de posição-sujeito. A inserção do sujeito, 
atravessado por saberes e representações de sentido, dentro da análise do 
discurso, foi aprofundada por Pêcheux. Nesse viés, precisamos pensar o sujeito 
do discurso como um elemento afetado por diferentes saberes, movimentando-se 
no sentido de ocupar posições ideológicas e sociais, que o envolvem diferentes 
outros discursos.
Faz-se oportuno, neste momento, no qual você já está mais ambientado com 
o que é e como funciona a categoria de “sujeito” no discurso, assinalar outros nomes que 
teoricamente abordam a concepção de sujeito. Entre eles, temos: 
• Foucault aborda o sujeito assumindo posições no discurso através de escolhas que 
beiram a noção de gesto consciente (o que contrapõe Pêcheux, que postula sobre as 
tomadas de posição por um ato do inconsciente). Deixamos aqui uma leitura que pode 
ajudar a compreender melhor essa questão. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/
sepech/sepech08/arqtxt/resumos-anais/TiarajuDPPez.pdf.
• Bakhtin reconhece o sujeito no ato dialógico da linguagem. Muito próximo das 
concepções de Benveniste, Bakhtin afirma que o sujeito existe na relação com o tu que 
é seu ponto de coexistência. Deixamos também aqui uma leitura que pode esclarecer 
essa questão do sujeito Bakhtiniano. Disponível em: http://publicacoes.unigranrio.edu.
br/index.php/reihm/article/viewFile/9/16.
DICAS
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
67
Amplificando essa forma de significar do sujeito na Análise de Discurso 
de vertente Pecheuxtiana, insurge a influência da psicanálise lacaniana. Nesse 
viés, o sujeito é explicado com concepções que ultrapassam a noção de ele 
ocupar posição no discurso. Com a intervenção da psicanálise, o sujeito passa a 
ser compreendido em seu funcionamento a partir da ação do inconsciente, que 
convoca sentidos e saberes, os quais podem ser analisados no discurso, e nunca 
explicitados nele. 
Vamos entrar um pouquinho nesse entendimento sobre o sujeito, com 
as concepções de Lacan. Para Lacan (1998, p. 68), “um significante é o que 
representa um sujeito para outro significante”, ou seja, um significante pode ser 
pensado como um saber ou um elemento simbólico (algo que detém sentido). A 
partir dessa constatação, tal saber ou objeto detentor de sentido passa a afetar as 
concepções de um determinado sujeito. Assim, esse processo de interpelação do 
sentido sobre um sujeito é o que faz com que esse sujeito assuma determinadas 
concepções e não outras. 
Vamos pensar como exemplo uma situação da vida prática: o horário de 
verão. Por que essa alteração era boa para algumas pessoas e ruim para outras? 
O significado que um novo horário traz para o verão é absorvido ou rejeitado 
por determinados sujeitos. Esse processo de aceitação ou não deste elemento de 
alteração do horário convence (=interpela) ou não o sujeito. Sendo, pelo sim ou 
pelo não, o fato é que o sujeito assume determinada posição a partir da intervenção 
do outro. E isso é muito importante de se considerar a partir de agora. Lembra 
aquele INCONSCIENTE do qual falamos anteriormente? Esse “inconsciente”, 
na verdade, são as múltiplas vozes, os múltiplos sujeitos, múltiplas concepções 
que nos rodeiam. Somos o que somos pela exata relação que estabelecemos com 
nossos pares. Não somos seres vazios ou seres que constroem as próprias ideias. 
Não! Isso não existe. Somos um entrelaçamento de sentidos com os quais nos 
identificamos ou não.
 
É importante compreender que quando um sujeito fala, a sua fala é 
assujeitada (absorvida ou rejeitada) ao domínio do outro. Talvez você esteja 
percebendo que esse outro é o tu do qual Benveniste (1995) tratava. Na evolução 
dos estudos da linguagem, agora sobre o domínio total da análise de discurso 
francesa, não tratamos mais do tu, e sim do outro que emerge no discurso e passa 
a estabelecer trocas com o sujeito que enuncia (fala). Nessa lógica, o sujeito da 
Análise de Discurso é heterogêneo; é formado por múltiplos saberes.
3.1 A CONSTITUIÇÃO DA POSIÇÃO-SUJEITO 
Foucault (1997), outro nome importantíssimo no discurso, já mencionado 
no UNI anteriormente, também compreende o sujeito em sua descentralização, 
dispersão, imerso no processo histórico dos sentidos e, agora, constituído também 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
68
pelas relações de poder. O autor pontua que o sujeito se encontra disperso nos 
“diversos status, nos diversos lugares, nas diversas posições que o sujeito pode 
ocupar ou receber quando exerce um discurso, na descontinuidade dos planos de 
onde fala” (FOUCAULT, 1987, p. 61).
 
Dessa forma, a noção de posição-sujeito pode ser compreendida com base 
nas posições sociais que ele ocupa e/ou pode ocupar, bem como nas relações de 
poder que circulam nessas posições. Faz-se oportuno pontuar que a noção de 
“posição” não é alusiva a algo fixo. A noção de posição, de tomada de posição 
tem a ver com a noção de movimento. O sujeito está em constante relação com 
saberes que o interpelam e assim o fazem assumir determinadas e diferenciadas 
posições no discurso. 
Pêcheux (1995) — por sua vez — conceitua posição-sujeito como a relação 
de identificação entre o sujeito enunciador e o sujeito do saber (discurso constituído 
dos sentidos). Fortalecendo essa concepção, Foucault (1987, p. 59) afirma que 
“as posições de sujeito se definem igualmente pela situação que lhe é possível 
ocupar em relação aos diversos domínios ou grupos de objetos”. A posição que 
o sujeito passa a ocupar não é algo que existe, previamente pronto, mas algo que 
se formalizada a partir de múltiplas identificações e/ou desidentificações com 
saberes diversos.
Grigoletto (2005, p. 4) postula que “o lugar que o sujeito ocupa na sociedade 
é determinante do/no seu dizer. No entanto, ao se identificar com determinados 
saberes, o sujeito se inscreve em uma formação discursiva e passa a ocupar, não 
mais o lugar de sujeito empírico, mas sim o de sujeito do discurso”. Assim, o 
sujeito enuncia de lugares sociais, sendo afetado por diferentes relações de poder, 
sendo isso demarcado em seu discurso. 
Para compreendermos essas noções, vamos buscar a compreensão 
do discurso que segue a fim de observarmos a construção do sujeito e suas 
subsequentes tomadas de posição:
Como o consumo desenfreado prejudica o meio ambiente
Redação Pensamento Verde
Em um mundo globalizado, dominado pelo capitalismo, o consumo 
está diretamente interligado ao desenvolvimento da sociedade. Quanto mais 
se consome, maior o desenvolvimento e a estabilidade econômica de cada 
estado e região.
Para os pesquisadores, o consumo desenfreado é reflexo das diversas 
crises econômicas que o mundo já enfrentou e vem enfrentando. Estudos 
apontam que a sociedade atual reconhece que o consumo é sinônimo de 
felicidade e bem-estar, e até mesmo de prestígio e de status.
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
69
O problemaé que há uma relação estreita e forte entre o consumismo 
e o meio ambiente. Isso porque para atender a demanda da produção e 
do consumo é necessário retirar matérias primas da natureza, fabricar e 
transportar materiais, fazer grande uso de energia elétrica e de água, entre 
outros. Tudo isso, gera emissão de gases poluentes, degradação e devastação 
ambiental, poluição geral e, consequentemente, a destruição de ecossistemas.
Essa relação entre consumo e sustentabilidade, no entanto, vai além da 
etapa de produção. Com a grande quantidade de opções e a alta tecnologia, 
cada vez mais os produtos têm menor tempo de vida útil e maior dificuldade 
de conserto, o que gera um enorme número de resíduo eletrônico.
Atualmente, o desenvolvimento sustentável é a principal solução contra 
a crise ambiental que o planeta enfrenta, já que é considerado o equilíbrio 
entre, sociedade, natureza e economia.
Nesse sentido, com o aumento dos problemas ambientais, governo, 
empresas e organizações se unem para procurar maneiras de fazer com que o 
país se desenvolva de forma sustentável, a fim de garantir seu progresso sem 
comprometer o futuro.
Para isso, algumas estratégias e políticas foram instituídas para possibilitar 
mudanças nos padrões de consumo. Entre as ações está a instituição de produtos 
recicláveis e biodegradáveis, como as sacolas implantadas em supermercados.
Além disso, a educação ambiental é um importante passo para o 
desenvolvimento sustentável. Isso porque, é preciso conscientizar todos os 
setores da sociedade para que haja um movimento completo e eficiente em 
prol do meio ambiente. Por isso, grandes fabricantes colocam no seu dia a dia 
ações que visam a sustentabilidade e a redução de gastos e emissões.
FONTE: <https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/como-o-consumo-
desenfreado-prejudica-o-meio-ambiente/>. Acesso em: 21 set. 2019.
Comecemos, sempre que possível, com perguntas que vão nos permitindo 
a construção da análise: que voz é essa que enuncia tal discurso? Considerando 
(simplificadamente) as condições de produção deste discurso, as quais são “século 
XXI, sendo um momento de (des)comprometimento social e governamental com o 
meio ambiente, caracterizado por inúmeros desastres ambientais”, compreendemos 
o sujeito deste discurso como alguém preocupado com a situação, podendo então 
ser um ambientalista ou somente um estudioso da causa. 
 
Somente com essa colocação, já poderíamos desenvolver uma análise 
bastante significativa, a fim de ver as relações de identificação e desidentificação do 
sujeito com determinados sentidos. Porém, vamos um pouco além: vamos observar 
quais são as posições que esse sujeito ocupa para definir toda essa construção 
discursiva. Para tanto, vamos fazer recortes discursivos, conforme segue:
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
70
1. “Como o consumo desenfreado prejudica o meio ambiente”.
2. “O consumo está diretamente interligado ao desenvolvimento da sociedade”.
2. “Estudos apontam que a sociedade atual reconhece que o consumo é sinônimo 
de felicidade e bem-estar”.
4. “O problema é que há uma relação estreita e forte entre o consumismo e o meio 
ambiente”.
5. “O desenvolvimento sustentável é a principal solução contra a crise ambiental 
que o planeta enfrenta, já que é considerado o equilíbrio entre, sociedade, 
natureza e economia”.
6. “A educação ambiental é um importante passo para o desenvolvimento 
sustentável”.
7. “Por isso, grandes fabricantes colocam no seu dia a dia ações que visam a 
sustentabilidade e a redução de gastos e emissões”.
Iniciando:
• Sobre o recorte de número 1 “Como o consumo desenfreado prejudica o 
meio ambiente”, observamos posição-sujeito ambientalista, acusadora do 
capitalismo, o qual, nas considerações da posição-sujeito que enuncia, não 
consegue ser contido e provoca danos sérios ao meio ambiente.
• Sobre o recorte de número 2 “o consumo está diretamente interligado ao 
desenvolvimento da sociedade”, observamos uma posição-sujeito capitalista 
com uma consideração amenizadora ou justificadora do impacto ambiental. 
Tal consideração parece tentar explicar a necessidade da exploração ambiental. 
Em todo o parágrafo, onde aparece essa sequência discursiva, não há nenhum 
elemento de discordância que refute tal pensamento. 
• Sobre o recorte de número 3 “Estudos apontam que a sociedade atual 
reconhece que o consumo é sinônimo de felicidade e bem-estar”, observamos 
uma posição-sujeito consumista e afetado pelas pressões sociais ao ponto de 
considerar o consumismo como elemento de bem-estar. Essa consideração é 
bem próxima da lógica da sequência anterior, porém alocada em condições de 
produção que estão no eixo da psicologia.
• Sobre o recorte de número 4 “O problema é que há uma relação estreita e forte 
entre o consumismo e o meio ambiente”, observamos a retomada da posição-
sujeito capitalista que mais uma vez enuncia com uma lógica discursiva que 
tende a uma justificativa para os ataques ao meio ambiente. Sobre os recortes 
de número 5, 6 e 7 “o desenvolvimento sustentável é a principal solução contra 
a crise ambiental que o planeta enfrenta, já que é considerado o equilíbrio entre, 
sociedade, natureza e economia”; “a educação ambiental é um importante passo 
para o desenvolvimento sustentável”; “Por isso, grandes fabricantes colocam 
no seu dia a dia ações que visam à sustentabilidade e à redução de gastos e 
emissões”, observamos uma retomada da posição-sujeito pró-ambiental que se 
apresentou no título e só foi retomada da metade para o final do texto. 
Você está entendendo? Eu identifiquei uma posição-sujeito dominante, 
que é a ambientalista, porém esta posição foi silenciada por um certo espaço 
no discurso, para dar lugar a uma outra posição que é a do sujeito capitalista, 
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
71
“instituído” de direitos em prol do desenvolvimento econômico e social. Diante 
disso, você pode estar questionando: por que o sujeito desse discurso intitula 
o texto com um discurso em favor do meio ambiente, mas, até a metade dele 
(do texto), faz um levantamento de considerações que justificam a exploração da 
natureza? Então, como explicar isso? 
A explicação PODE estar relacionada com o fato de que o sujeito que 
produziu esse texto para publicação, no referido site, parece ser — AINDA — 
bastante atravessado pelas concepções ou justificativas da ação capitalista, pois 
ele não refuta os “argumentos” da exploração. Ele apenas, a partir da metade, faz 
considerações em torno da educação ambiental, sem fornecer indícios que freiem 
o que está até então acontecendo. 
Agora é sua vez: vamos colocar um texto a seguir e queremos que você 
procure detectar uma ou mais posição-sujeito. Vamos lá?! 
AUTOATIVIDADE
Por que os jovens bebem? Por que não deveriam beber?
Centro de Informação sobre Saúde e Álcool — CISA
 O álcool é a substância psicoativa mais consumida entre os 
adolescentes — isto vem acontecendo cada vez mais cedo, com maior 
frequência e quantidade. Você já se perguntou por que isso acontece e quais 
são as consequências?
Primeiramente, vamos aos números:
• Aproximadamente 50% dos jovens com idade entre 12 e 17 anos já fizeram 
uso de álcool na vida.
• A idade de experimentação e de início do uso regular do álcool ocorre aos 
14 e 15 anos, respectivamente.
• Entre estudantes de 13 a 15 anos de idade, 54,3% já experimentaram alguma 
bebida alcoólica e 21% já tiveram algum episódio de embriaguez na vida.
• De 2006 para 2012, houve crescimento expressivo de meninas que consomem 
5 ou mais doses (de 11% para 20%) e diminuição na proporção de meninos 
que bebem neste padrão (de 31% para 24%), também conhecido como beber 
pesado episódico (BPE).
Mas... por que os jovens bebem?
• Os adolescentes vivenciam intensas mudanças físicas, psicológicas e sociais, 
passando por uma fase que se associa não apenas à experimentação de álcool, 
mas ao beber “perigosamente”. Dentre os diversos fatores, podemos citar:UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
72
• Comportamento de assumir riscos e testar limites: a tendência de procurar 
situações novas e potencialmente perigosas, em geral de forma impulsiva, 
típica dos adolescentes, pode incluir experiências com álcool.
• Expectativas: a forma como veem o álcool e seus efeitos influencia o 
comportamento de beber. Adolescentes que bebem para ter uma experiência 
positiva/agradável (por exemplo, ficar mais comunicativo, ter mais sucesso 
na busca de parceiros, divertir-se mais) são mais propensos ao consumo.
• Traços da personalidade ou transtornos psiquiátricos: algumas 
características podem torná-los mais propensos a começar a beber, como 
agressividade, rebeldia, dificuldade em seguir regras, problemas de 
conduta, hiperatividade, ansiedade ou depressão.
• Fatores hereditários: o risco de desenvolver problemas com o álcool é 
diretamente influenciado pela genética.
• Aceitação por amigos e pelo grupo: fazem parte dos fatores ambientais que 
podem influenciar no desenvolvimento do hábito de beber, assim como a 
referência de pais e familiares.
E por que os jovens não deveriam beber?
 
 Independentemente do motivo que tenha levado o jovem a começar 
a beber, é importante que saibam que estão sujeitos a uma série de riscos 
potenciais. O consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes compromete 
o sistema nervoso central (SNC) que ainda se encontra em desenvolvimento. 
Desta maneira, suas vias neuronais podem se tornar mais suscetíveis aos danos 
causados pelo álcool, podendo levar ao comprometimento de várias funções. 
Ainda, quanto mais precoce o início do beber, mais cedo a pessoa poderá ter 
problemas com o álcool: estudos mostram que indivíduos que começaram a 
beber antes dos 15 anos têm 4 vezes mais chance de desenvolver problemas 
relacionados ao uso de álcool do que aqueles que começam a beber após os 21 
anos. Além disso, para a vida adulta, o uso de álcool na adolescência é associado 
a maior consumo e abuso de outras drogas e mais comportamentos impulsivos.
 
Sob os efeitos do álcool, os jovens ficam mais propensos a 
comportamentos de risco – incluindo brigas, sexo desprotegido ou não 
consensual, acidentes automobilísticos, entre outros. Em casos graves, os 
jovens podem apresentar outras consequências negativas decorrentes do 
uso de álcool, como não cumprir obrigações importantes e até ter problemas 
legais, sociais ou interpessoais.
O que podemos fazer?
 
 As crianças pensam sobre as coisas muito mais cedo do que imaginamos; 
portanto, nunca é cedo demais para tratar deste tema. Vale lembrar que o que 
os adultos fazem é tão importante quanto o que falam: crianças e adolescentes 
ouvem o que você diz, mas também observam o que você faz:
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
73
• Comece a falar sobre o álcool naturalmente, do modo mais simples possível.
• Não use tom autoritário e evite sermões.
• Seja claro e conciso, explique os fatos associados ao uso de álcool e suas 
consequências;
• Mostre apoio e seja amável, deixe o caminho aberto para o diálogo.
• Estabeleça limites.
• Tenha atitudes condizentes com o que você fala, pois seu comportamento 
servirá de exemplo para os mais jovens: faça escolhas saudáveis.
 
Como medida importante de avanço na prevenção do uso precoce do álcool 
no Brasil, em março de 2015 foi sancionada a Lei nº 13.106/2015 que criminaliza a 
oferta — este termo abrange vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, mesmo 
que gratuitamente — de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos.
FONTE: <https://cisa.org.br/index.php/pesquisa/artigos-cientificos/artigo/item/195-por-que-
os-jovens-bebem-por-que-nao-deveriam-beber>. Acesso em: 22 set. 2019.
Enumere o que você encontrar de diferentes posições-sujeito no texto 
anterior.
A partir desse esforço em encontrar e compreender as posições-sujeito 
acima, você está então desenvolvendo suas habilidades analíticas para observar 
melhor os discursos sociais. A seguir, vamos estudar um novo instituto do 
discurso, que é o silenciamento no discurso. Tal dispositivo de análise se constrói 
através de saberes que, apesar de não materializados em um enunciado, abrem 
condições para que o analista do discurso os perceba produzindo sentido.
4 SOBRE O SILÊNCIO NAS TOMADAS DE POSIÇÃO
Inicialmente, objetivamos ressaltar que a história possui um papel 
fundamental na formulação do discurso, pois ela instaura redes de memória, as 
quais permitem à posição-sujeito acionar ferramentas e saberes que explicitam sua 
insistência no entrelaçamento discursivo. Michel Pêcheux (1999, p. 50) afirma que 
“memória deve ser entendida como sentidos entrecruzados da memória mítica, 
da memória social escrita em práticas, e da memória construída do historiador”.
 
Um exemplo, rápido, para entendermos isso, é lembrarmos de um discurso 
que circulou durante o período militar e atualmente passou a ser retomado: 
“Brasil: ame-o ou deixe-o”. Basta que tenhamos estudado um pouquinho de 
História, durante a fase escolar, para que lembremos de toda a representação que 
ele teve na história do país. Assim, todas as vezes que lemos ou ouvimos essa 
frase, emerge para nós sentidos que vêm por redes de memórias, associadas a 
muitas e diferentes situações que vivenciamos nas esferas política e econômica. 
Veja o exemplo:
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
74
FIGURA 1 – IMAGEM PARA ANÁLISE DO DISCURSO
FONTE: <https://midianinja.org/files/2018/11/nova-campanha-do-sbt-diz-brasil-ame-o-ou-
deixe-o-1541530179447_v2_1600x886-768x425.jpg>. Acesso em: 22 set. 2019.
Analiticamente, na prática, o objetivo é compreender esse discurso, 
demonstrando que determinadas “falas”, na contemporaneidade, vêm carregadas 
de sentidos históricos que não perderam suas intenções. Da mesma forma, 
Orlandi (2003, p. 30) pontua que a memória “tem suas características, quando 
pensada em relação ao interdiscurso”, sendo este “definido como aquilo que fala 
antes, em outro lugar, independentemente, ou seja, é a memória discursiva. [...] 
O interdiscurso disponibiliza dizeres que afetam o modo como o sujeito significa 
em uma situação discursiva dada” (ORLANDI, p. 31). 
Assim, o interdiscurso funciona como uma rede de memória, trabalha 
através do silenciamento. Ou seja, há uma memória, um interdiscurso funcionando, 
pelo dito e pelo silenciado. A ordem (no exemplo anterior) é enunciada e aquilo 
que é projetado para a tomada de decisão, amar ou deixar, serve para silenciar 
aqueles que contestam.
A posição-sujeito dominante assumida nesse discurso, sendo aquela que 
enuncia o que pode ou deve ser feito, silencia a posição contraditória para quem 
é dada a ordem, que é aquela que está silenciada, aquela para quem há as duas 
opções (“amar” ou “deixar”). Para esta posição silenciada, podemos nominá-la 
como a posição-sujeito da contestação. Esta posição é “abafada” e não encontra 
espaço no discurso para representar seu descontentamento. O uso do presente do 
subjuntivo, articulado na ideia de determinação/desejo de que algo aconteça, na 
flexão dos dois verbos (“ame/deixe”), acompanhado da conjunção alternativa “ou”, 
representa uma orientação que não permite uma terceira possibilidade. O sujeito 
que está sendo levado por essas duas opções: se “ficar”, deve acatar e, se “deixar” 
o país, definitivamente, não terá como se colocar em um discurso de contestação.
 
Assim, é preciso entender, no discurso em análise, que o silenciamento da 
voz a qual destoa do “regime” de ordem, mesmo que não apareça no enunciado, 
mesmo assim, essa voz — em silêncio — produz sentido. Para Orlandi (1999, p. 
31), pensar o silêncio não significa pensar ausência de sentido; ao contrário disso, o 
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
75
silêncio é presença de significado, ou seja, “é a matéria significante por excelência”. 
A partir disso, podemos considerar que o silêncio significa em função dos efeitos 
que o não dizer produz, pois ele (osilêncio) atravessa a materialidade linguística e 
passa a ter sentido em função das condições de produção e dos sujeitos.
 
O silêncio não é ausência de linguagem, de significado e de sentido; 
também não é “complemento de linguagem”. Ele tem significância própria; o 
silêncio não está apenas “entre” as palavras. Ele atravessa a materialidade 
linguística, produzindo efeitos no imaginário dos sujeitos e consequentemente 
se produz uma ilusão de sentido entre locutores. Dessa forma, compreendemos 
que o silenciamento da posição-sujeito — que é desautorizada na condição de 
reclamante — emerge quando tal posição é condicionada a desistir ou a acatar.
 
A condição silenciada dessa posição deixa vestígios de um modo de 
significar, o qual é percebido quando observamos um discurso autoritário, que 
cria uma relação entre sujeitos: um superior e um subordinado, lembrando que 
este segundo é ausente, ou seja, silenciado em sua legitimidade. Dessas concepções 
sobre o silêncio, “como condição de significação, resulta que há uma incompletude 
constitutiva da linguagem” (ORLANDI, 1999, p. 71), a qual, é compreendida 
como uma forma de o sujeito da voz mandante intervir e fortalecer sua relação 
de força sobre o “outro”. O sujeito “desajustado” ao sistema é silenciado e, junto 
com ele, são “amortecidas” também todas as suas possíveis reivindicações.
Assim, o silêncio percebido, em nossa discussão, é uma estratégia de 
apagamento de sentidos, já que as condições de produção do enunciado em análise 
são denunciantes das desestruturas políticas ocorridas. Isso nos leva a considerar 
que a voz que constitui o discurso em análise é apenas uma voz que reproduz uma 
ideologia vigente e enraizada historicamente na construção do país.
 Portanto, o silenciamento de uma voz, de um sujeito é uma pista 
muito forte que “grita”, mesmo que vozes dominantes tentem ocultá-la. Como 
analistas, devemos sempre olhar para o que não é dito, mas é significado dentro 
de condições de produção que cercam determinados discursos. Na sequência, 
vamos entrar em formações discursivas, como sendo aqueles saberes que podem 
ou devem ser ditos a partir do teor ideológico de determinadas situações. 
5 O PAPEL DAS FORMAÇÕES DISCURSIVAS NO 
ASSUJEITAMENTO
Formação discursiva, como o próprio nome sugere, é um “discurso 
formado que passa também a formar”. Apesar da redundância, a Formação 
Discursiva (FD) tem esse propósito: carregar um discurso, constituído de saberes 
que vão interpelar (influenciar) o sujeito que com ele se identifica. 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
76
Para Orlandi (1988, p. 21), “a formação discursiva é, enfim, o lugar da 
constituição do sentido e da identificação do sujeito. É nela que todo sujeito se 
reconhece (em sua relação consigo mesmo e com outros sujeitos)”. 
Nesse sentido, a formação discursiva reúne, sob sua égide, saberes 
advindos de discursos vários, que se organizam e instauram-se como um 
sentido possível pelo sujeito do dizer. Através disso, é possível compreender 
que cada discurso ou cada dizer está filiado a uma posição que funciona 
como dominante, a um modo de o sujeito ver e tratar a realidade em um dado 
momento sob certas circunstâncias. Ou seja, a formação discursiva na qual o 
sujeito se inscreve é entendida como heterogênea, já que diversos saberes se 
filiam e o interpelam, através do processo de identificação ideológica. Diante 
disso, faz-se importante ressaltar que a heterogeneidade constitutiva das 
formações discursivas promove diferentes relações de identificação do sujeito.
Serrani (2001, p. 117) pontua que a “Formação Discursiva, concebida 
como constitutivamente composta por elementos que provêm de fora — isto 
é, de outras FDs — fornece-lhes suas evidências discursivas fundamentais”. 
A partir de tal colocação, entendemos que os “elementos de fora” são saberes 
diferentes que interferem nos modos de posicionamento no social; são ideologias 
referendadoras do dizer que interpelam o sujeito, levando-o a identificar-se com 
determinadas saberes e não “outros”, visto que toda e qualquer FD deve ser 
tomada como heterogênea, constituída por inúmeros discursos. 
Tal identificação acontece porque é necessário que o sujeito se filie a 
sentidos e esteja sob a “luz” destes. Orlandi (2002, p. 65) coloca que “o sujeito 
é posição entre outras, subjetivando-se à medida que se projeta de sua posição 
(lugar) no mundo para sua posição no discurso. Essa projeção transforma a 
situação social (empírica) em posição-sujeito (discursiva)”. 
Nessa perspectiva, compreendemos então que há sempre uma relação 
sujeito-mundo. Isso se estabelece, muito embora esta relação não seja direta, 
nem perfeita ou ideal, pois há necessidade de formulação de sentido, “não 
existe em si, mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no 
processo-histórico em que as palavras são produzidas” (ORLANDI, 2003, p. 42). 
O sentido “acontece” em função do “teor” ideológico que as Formações 
Discursivas carregam, as quais “movem” o sujeito posicionar-se, levando-o a 
ocupar uma posição-sujeito no discurso. A autora (2003, p. 43) refere, ainda, 
conforme já citado anteriormente, que a “formação discursiva se define como 
aquilo que numa formação ideológica dada determina o que pode e deve 
ser dito”. Isso nos coloca que o sujeito, em função da formação discursiva, à 
qual ele “pertence” não está livre para enunciar o que deseja; ele está sempre 
“regulado” por essa formação, condicionando inconscientemente o seu dizer.
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
77
Com isso, percebemos que as FDs estão em constante organização e 
(re)formulação, pois os sentidos se movimentam e mudam a partir do modo 
como o social se “apresenta”; e os sujeitos, por sua vez, se colocam ao ou de 
encontro a tais formulações, produzindo efeitos de sentido em seus discursos 
resultantes e constitutivos de formações discursivas.
[...]
Orlandi (2003, p. 39) coloca que “um discurso aponta para outros 
que o sustentam, assim como para dizeres futuros”. Isso quer dizer que há 
no ato enunciativo uma “combinação” de dizeres, os quais se configuram 
numa ordem discursiva, marcada ideologicamente. Essa “ordem” é o que já 
tratamos anteriormente como formações discursivas. Sendo assim, as FDs se 
formam num espaço de produção do dizer, o qual é, por sua vez, constituído 
pela história discursivizada, transposta em memória coletiva ou social e pela 
ideologia, a qual se “encarrega” de produzir os efeitos de sentido no discurso.
FONTE: CURRY. S. P. O discurso de apresentação da gramática: a emergência do 
sujeito contraditório. 2009, 95f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade 
Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2009. Disponível em: https://repositorio.
ufsm.br/bitstream/handle/1/9802/CURRY%2c%20SCHEILA%20P%20DE%20BORBA.
pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 7 nov. 2019.
A partir disso, então, vamos observar a emergência de algumas formações 
discursivas no discurso que segue:
Selecionamos um texto, no qual identificamos algumas formações discursivas 
as quais dão sustentação ao posicionamento ideológico do sujeito. Fizemos a identificação 
dentro do texto, após os parágrafos, em negrito e entre colchetes. Leia o texto para você 
entender e observe as especificações que fizemos. 
A NECESSIDADE DE SER BELO
Jô Alvim
DICAS
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
78
 A busca pelo corpo perfeito por aquele que se encaixa (ou não) nos padrões de 
beleza impostos pela sociedade pode ser vista diariamente em clínicas, academias ou em 
rodas de bate-papo sobre aquele último regime “milagroso”.
 [Aqui, neste primeiro parágrafo, há duas FDs: o discurso crítico contra tais 
padrões e o discurso religioso que põe nos procedimentos estéticos a fé pela mudança].
 Esta obsessão pela imagem leva as pessoas a estabelecerem metas, muitas vezes 
irreais e descompassadas, sem medirem sacrifícios nem consequências. Assim, sentir-se 
bem com o própriocorpo fica difícil em meio a uma ditadura da estética, que incentiva 
o uso de drogas, incompatíveis exercícios físicos ou cirurgias plásticas. Neste vale-tudo, 
preservar a saúde física e emocional fica para depois.
 [Aqui, neste segundo parágrafo, há duas FDs: o discurso da autoconsciência 
pela aceitação do próprio padrão, no sentido de fazer as pessoas gostarem de si mesmas 
e o discurso político de denúncia que desnuda os reais procedimentos para se obter uma 
estética perfeita].
 É inegável a importância de exercícios físicos e de uma boa alimentação, em 
qualquer faixa etária, para o próprio bem-estar físico e mental. Porém, o que se observa hoje, 
é que este bem-estar está associado apenas a um padrão de beleza igual ao da(o) modelo da 
capa de revista, uma vez que este corpo ideal, na fantasia do indivíduo, irá lhe trazer sucesso.
 [Aqui, neste terceiro parágrafo, há duas FDs: o discurso da saúde que alerta para 
os caminhos do bem-estar físico e mental e o discurso ideário jovem ou adolescente 
que vê na estética o caminho para obter o “sucesso” entre seus pares sociais].
 É também através da imagem corporal que se cria a identidade pessoal. A imagem 
que a pessoa tem de si é formada por três pilares: a imagem idealizada ou aquela que se 
deseja ter; a imagem que o outro tem sobre ela; e, por fim, a imagem objetiva, aquela em 
que a pessoa vê e sente o próprio corpo. Só que a visão real e equilibrada de si, não é aquela 
que sempre ocorre, daí a cobrança interna para mudar o corpo.
 [Aqui, neste quarto parágrafo, há uma FD: o discurso da psicologia que explica 
as razões por que as pessoas agem de forma insensata para buscar a estética ideal].
 Associar barriga negativa, ou muitos quilos a menos à felicidade gera frustração e 
problemas psicológicos como, a bulimia, para citar um deles, um transtorno alimentar que 
leva a pessoa a provocar vômitos ou usar laxantes continuamente para não ganhar peso e 
ter um corpo esbelto, de preferência em curto prazo.
 [Aqui, neste quinto parágrafo, há uma FD: o discurso da área da saúde, 
provavelmente, relacionada à nutrição, o qual elenca os danos de uma noção de 
estética vinculada a extremismos da alimentação].
 Esta busca pela beleza, de acordo com a imagem idealizada, torna algumas 
pessoas com ideias fixas e até mesmo doentias, levando-as ao exagero de submeter-se a 
uma cirurgia plástica para corrigir uma imperfeição que só ela vê e que, segunda ela, seria 
a responsável pela sua infelicidade ou insucesso em algo. Mas a questão é outra e é isso 
que cada um deve refletir. A mudança não está na reconstrução da imagem física, e sim na 
forma como a pessoa se vê, se percebe. Isto está atrelado a sua autoestima, o que repercute 
em seu comportamento e nas suas relações sociais. É importante saber diferenciar isso 
tudo para não projetar seus insucessos afetivos, sociais ou profissionais nos aspectos físicos.
 [Aqui, neste sexto parágrafo, há uma FD: aqui retorna a formação discursiva da 
área da psicologia].
TÓPICO 1 | AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO 
79
 Compreender como se processa esta dinâmica interna nos transforma em sujeitos 
que respeitam a própria individualidade e as diferenças, possibilitando encantar-se com a 
forma de ser de cada um. O belo, sem dúvida, é algo que nos atrai, mas apenas inicialmente. 
O que nos mantém fascinados é a admiração que temos pelo outro, fruto da maneira como 
expressa a sua determinação, a sua atitude e seus valores.
 [Aqui, neste sétimo parágrafo, há uma FD: o discurso da libertação, da 
autoaceitação, do autorrespeito, sendo esta uma corrente de pensamento que se instala 
em meio a um caos comportamental. O teor dessa formação discursiva representa 
uma ressignificação do ser humano, provavelmente, ancorada em princípios maiores 
que podem estar alocados na relação com algo supremo, o qual valida a existência 
humana com algo muito maior do que a limitação da estética]. 
FONTE: <http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/blog/psicoblog/post/
necessidade-de-ser-belo.html>. Acesso em: 21 set. 2019.
AUTOATIVIDADE
Então, vamos ver como isso funciona? Selecionamos um texto a seguir 
para você identificar algumas formações discursivas que dão sustentação ao 
posicionamento ideológico do sujeito.
FONTE: <https://wordsofleisure.files.wordpress.com/2013/03/mafalda-vestidos.jpg?w=358>. 
Acesso em: 21 set. 2019.
A partir do que trabalhamos anteriormente, conseguimos observar 
dois elementos: o sujeito assume posição ideológica e isso está instalado 
dentro de um discurso organizado, que denominamos formação discursiva. 
Na sequência, vamos compreender, um pouco mais, sobre como esse discurso 
“chega” à realidade concreta do sujeito. Esse acontecimento ocorre por aquilo 
que podemos chamar de interdiscurso, a ser trabalhado em seguida. 
80
RESUMO DO TÓPICO 1
 Neste tópico, você aprendeu que:
• As condições de produção de um discurso estão relacionadas com a memória 
de acontecimentos que se (re)avivam a cada vez que um discurso é proferido.
• As condições de produção de um discurso podem ser analisadas considerando 
os sentidos históricos, bastante remotos no tempo ou podem ser analisadas 
com base nos sentidos mais imediatos ao ato discursivo.
• As condições de produção (CPs) criam relações entre diferentes discursos. 
• Com as condições de produção os sentidos vão se encadeando e assim formando 
novos imaginários sobre os acontecimentos.
• As CPs são o “instrumento” que ajuda a explicar a constituição de enunciados 
formadores de redes significantes, as quais, no curso do tempo, vão arrolando 
em diferentes condições de tratamento de dado discurso.
• As CPs, ao relacionarem redes de sentidos entre diferentes discursos, realizam 
processos de antecipação ao sujeito. 
• Dependendo, então, das condições de produção de um discurso, acionaremos 
determinados valores, condutas e saberes. 
• O mecanismo faz com que o locutor tente prever as relações de sentido possíveis 
a partir de sua enunciação. Ele antecipa a seu interlocutor quanto ao sentido 
que suas palavras produzem.
• O sujeito do discurso precisa ser pensado como um elemento afetado por 
diferentes saberes, movimentando-se no sentido de ocupar posições ideológicas 
e sociais, que o envolvem diferentes outros discursos.
• A noção de posição-sujeito pode ser compreendida com base nas posições 
sociais que ele ocupa e/ou pode ocupar, bem como nas relações de poder que 
circulam nessas posições. 
• O sujeito enuncia de lugares sociais, sendo afetado por diferentes relações de 
poder, sendo isso demarcado em seu discurso. 
• O silêncio não é ausência de linguagem, de significado e de sentido; também 
não é “complemento de linguagem. 
81
• O silêncio tem significância própria; o silêncio não está apenas “entre” as 
palavras. Ele atravessa a materialidade linguística, produzindo efeitos no 
imaginário dos sujeitos e consequentemente se produz uma ilusão de sentido 
entre locutores. 
• A formação discursiva (FD) reúne, sob sua égide, saberes advindos de 
discursos vários, que se organizam e instauram-se como um sentido possível 
pelo sujeito do dizer. 
• A formação discursiva é entendida como heterogênea, já que diversos saberes 
se filiam e interpelam o sujeito, através do processo de identificação ideológica. 
• É possível observarmos que o sujeito sempre se filia a um “tipo” de discurso.
• O sentido “acontece” em função do “teor” ideológico que as Formações 
Discursivas carregam, as quais “movem” o sujeito posicionar-se, levando-o a 
ocupar uma posição-sujeito no discurso. 
• As FDs estão em constante organização e (re)formulação, pois os sentidos se 
movimentam e mudam a partir do modo como o social se “apresenta”.
• Há no ato enunciativo uma “combinação” de dizeres, os quais se configuram 
numa ordem discursiva, marcada ideologicamente. Essa “ordem” é o que já 
tratamos anteriormente como formações discursivas. 
• As FDs se formam num espaço de produção do dizer, o qual é, por sua vez, 
constituído pela história, transpostaem memória coletiva ou social e pela 
ideologia, a qual se “encarrega” de produzir os efeitos de sentido no discurso.
82
AUTOATIVIDADE
 Para adentrarmos agora nas autoatividades, peço que você considere 
o texto As torres de dentro da autora cronista Martha Medeiros, considerando 
as questões 1, 2 e 3.
 
As torres de dentro
Martha Medeiros
 Não tenho como escapar: um ano após os atentados, vou falar sobre 
o quê? Sobre o Red Hot Chili Peppers? A imprensa às vezes vira refém de 
certas datas. Tal qual a gente. Comemoramos secretamente o aniversário 
do primeiro beijo, da primeira transa, de todas as primeiras coisas bacanas 
que nos aconteceram. E das ruins também, das vezes em que as torres que 
construímos dentro de nós foram derrubadas. 
 Cada sonho nosso foi construído andar por andar, e teve vezes em 
que ultrapassamos as nuvens, erguemos nossos prédios do milênio, mais 
altos que qualquer prédio de Cingapura, Shangai, Nova York. A psicanálise 
fala em castelos. É mais ou menos isso: sonhos aparentemente concretos. 
Já tive torres internas que foram ao chão. Torres altas demais para mim, torres 
que nem chegaram a ficar concluídas (as de dentro nunca se concluem), torres 
que me exigiram esforço e que me deram prazer, até que alguém, com uma 
frase, ou com um gesto, as fez virem abaixo. Tinha gente dentro, tinha eu. 
 Torres são visíveis, monumentais: viram alvo. Um projeto empolgante 
demais, uma paixão incontrolável demais, um desejo ardente demais, ideias 
ameaçadoras demais: tudo isso sai da linha plana da existência, coloca-nos em 
evidência, a gente acha que os outros não percebem, mas percebem, e que ninguém 
se assusta, mas se assustam. Quem nos derruba? A nossa vulnerabilidade.
 Tem gente que perde um grande amor. Perde mais de um, até. E perde 
filhos, pais e irmãos. Tem gente que perde a chance de mudar de vida. E há os 
que perdem tempo. Os anos passam cada vez mais corridos, os aniversários 
se repetem. Tem gente que viu sua empresa desmoronar, sua saúde ruir, seu 
casamento ser atingido em cheio por um petardo altamente explosivo. Tem 
gente que achava que iria ter a chance de estudar mais tarde e não estudou. E 
tem os que acharam que iriam ganhar uma medalha por bom comportamento 
e não receberam nem um tapinha nas costas.
 E, no entanto, ainda estamos de pé, porque não ficamos apenas contando 
os meses e os anos em que tudo se passou. Construímos outras torres no lugar. 
Não ficamos velando eternamente os atentados contra nossa pureza original. 
As novas torres que erguemos dentro serão sempre homenagens póstumas às 
nossas pequenas mortes e uma prova de confiança em nossas futuras glórias. 
83
1 Com base nas concepções que analisamos sobre condições de produção, 
as quais emergem sentidos construídos de forma imediata ou de forma 
histórica (trazendo a memória) de determinados saberes, marque a 
alternativa CORRETA:
a) ( ) Posto que esse texto tematiza o atentado de 11 de setembro de 2001, 
a autora articula um discurso considerando as condições históricas 
do acontecimento.
b) ( ) As torres das quais a autora trata durante o texto se embasa na memória 
constante da tragédia ocorrida.
c) ( ) O sentido estabelecido para “torres” está calcado na concepção 
de sonhos e/ou projetos de vida que vão criando consistência em 
condições imediatas ao sujeito.
d) ( ) As condições de produção acerca do sentido de “torres” estão calcadas 
nas vivências históricas de cada sujeito.
e) ( ) Na sequência discursiva “Já tive torres internas que foram ao chão”, 
podemos observar um efeito de sentido que descreve um momento 
imediato na vida da autora.
2 Considerando que o sujeito de um discurso é aquele que assume a voz 
no discurso, adentrando, a partir disso, em processos inconscientes de 
articulação de determinados sentidos, marque a alternativa quem melhor 
explica a noção de posição-sujeito.
a) ( ) Na leitura desse texto, conseguimos perceber que há um sujeito que 
rege seu discurso toma uma posição que milita contra o terrorismo.
b) ( ) A posição-sujeito deste texto atesta um processo de resiliência, à 
medida que demonstra uma filiação discursiva (FD) a qual evidencia a 
superação.
c) ( ) A formação discursiva que com mais ênfase interpela o sujeito a tomar 
a posição que atesta nesse discurso é a FD antiterrorismo.
d) ( ) A partir dessa sequência discursiva “Tem gente que perde a chance de 
mudar de vida. E há os que perdem tempo. Os anos passam cada vez 
mais corridos, os aniversários se repetem.”, conseguimos observar uma 
posição-sujeito pessimista construída no discurso em análise.
e) ( ) A formação discursiva que deflagra a construção de um sujeito resiliente 
e capaz de superar dores estrutura-se (re)construção das torres de 
dentro as quais devem (re)lembrar as dores imputadas.
3 O silenciamento no discurso emerge como mais um ponto de análise do 
discurso, à medida que silenciar ou causar o silêncio é um movimento que 
“grita” as redes de sentido com isso construídas. A partir do fato de que o 
silencia também “fala”, marque a alternativa CORRETA.
84
a) ( ) A construção “Não tenho como escapar: um ano após os atentados, vou 
falar sobre o quê? Sobre o Red Hot Chili Peppers?” nos oportuniza a 
análise de que silenciar um fato/acontecimento representa uma decisão 
coerente com determinada situação.
b) ( ) É possível observar que a autora, ao não silenciar a data de um ano 
após os atentados do 11 de setembro, está assim colocando em pauta a 
discussão sobre a tragédia.
c) ( ) Na sequência “Já tive torres internas que foram ao chão. Torres altas 
demais para mim”, conseguimos observar um sujeito silenciando e 
negando as dores que o acometeram durante sua história/sua vida.
d) ( ) O movimento discursivo de oposição marcado pela marca linguística 
“no entanto” objetiva mostrar que todas as perdas descritas precisam 
ser esquecidas.
e) ( ) O último período do texto evidencia um discurso que silencia uma 
carga de sentido que poderia ser representada por elementos como os 
de “dor, sofrimento, superação”.
85
TÓPICO 2
O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Para iniciarmos este tópico sobre o atravessamento do interdiscurso, vamos 
utilizar uma metodologia que já observamos antes: vamos compreender o sentido de 
base de algumas palavras que constituem o nome dos dispositivos que vamos estudar. 
Inicialmente, vamos compreender a estrutura do termo “interdiscurso”:
Inter significa “entre”. Então, a concepção inicial é a de que vamos agora 
trabalhar com “algo” que está entre discursos. Buscamos a compreensão de mais este 
recurso de análise do discurso em Pêcheux (1997c). O autor pontua que o interdiscurso 
é aquilo que fala sempre antes, em outro lugar, sendo um já dito, que podemos nominar 
de memória discursiva (PÊCHEUX, 1997 apud ORLANDI, 2003), que reatualiza saberes e 
sentidos já expressos em tempos passados. Assim, tais ideias já vividas e significadas em 
outros tempos voltam através do interdiscurso, o qual se entrelaça com outro discurso 
proferido, no momento presente.
ATENCAO
Com essa breve noção, já podemos começar a compreender o que é 
o “interdiscurso”’ para podermos partir para o entendimento acerca de seu 
funcionamento. Esse processo de contato entre discursos: o que advém da história 
e o que está sendo enunciado em momento presente (na relação com aquele, o 
passado), realiza uma ressignificação, uma reconfiguração dos sentidos em ato 
enunciativo. A partir dessas colocações, vamos agora compreender a maneira 
como esse interdiscurso emerge e nos permite compreender os processos de 
sentido circulantes.
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
86
2 OS SENTIDOS DE BASE ACERCA DO INTERDISCURSO
Posto que os sentidos são sempre reatualizados a cada vez que enunciamos 
determinados saberes, é consequente o fato de que aquilo que afirmamos traz 
consigo uma memória que contribui para explicar determinadas falas, bem como 
para permitir ao sujeitoredefinir, apagar, esquecer saberes que fazem parte de 
uma formação discursiva. Assim, para a Orlandi (2003), o interdiscurso tem 
íntima ligação com a memória. 
É possível explicar o interdiscurso como sendo a formação de 
um discurso em relação a outro já existente. Isto é, trata-se de um conjunto de 
ideias, organizadas por meio do texto, que se apropria, implícita ou explicitamente, 
de outras ideias configuradas anteriormente.
Assim, é importante considerar que o interdiscurso depende do que a 
formação discursiva tem. Ou seja, o interdiscurso — que é o sentido presente 
CARREGADO por uma memória de acontecimentos já vivenciados vai afetar 
a formação discursiva apresentada em um discurso. Para entendermos melhor, 
consideremos a seguinte situação da vida social e privada:
Um jovem e uma jovem, estando cada um deles, respectivamente, com 
16 e 18 anos, vão a uma festa com o automóvel da família e voltam por volta 
das 4 horas da manhã, após terem ingerido muito álcool. Os pais, ouvindo-os 
chegar em casa, levantam-se da cama para ver como eles estão. Nesse sentido, 
deparam-se com os filhos em estado de embriaguez, o que os move a um discurso 
de contestação sobre o fato ocorrido, como o que segue: 
“Vocês dois são dois irresponsáveis, que não amam a vida que têm.”
A partir desta colocação, como é possível verificar o interdiscurso? 
Primeiramente, vamos pensar nas condições de produção, que podem ser 
resumidas à família e um ambiente de festa (com consumo de álcool). A partir 
disso, pensemos em cada um dos sujeitos e nas posições sociais que ocupam no ato 
da conversa e, no caso dos jovens, fora dali: então, os jovens ocupam as posições-
sujeito “filhos, jovens, amigos” e os pais ocupam as posições-sujeito de “pais” 
(propriamente ditos) e de adultos educadores/responsáveis. Com base nessas 
breves colocações, pensemos nas formações discursivas presentes: formação 
discursiva pró-vida ou de valorização da vida, FD da educação familiar, FD do 
combate às irresponsabilidades no trânsito, entre outras.
Agora, comece a pensar quais são as possibilidades de acontecimentos 
que trazem para o presente uma memória para que os pais se dirijam aos filhos 
assim, às quatro horas da madrugada? Que interdiscurso pode ser observado neste 
acontecimento? O fato de pais levantarem-se ao referido horário e entoarem um 
discurso sobre responsabilidade e vida demonstra uma preocupação que vai muito 
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
87
além de uma atitude de cuidado familiar: aí há uma memória de perda (morte) 
familiar por acontecimento relacionado a consumo de álcool e trânsito. O que 
está entre um fato passado (possivelmente de morte) e a situação presente é um 
interdiscurso de medo de perder tragicamente, de novo, alguém a quem amam.
Desse modo, esse sentido pré-construído de que álcool e trânsito podem 
ceifar vidas se instaura como uma verdade, aparentemente, iminente, que pode 
ser a fonte de muitos distúrbios emocionais, familiares e de saúde. O sentido pré-
construído "corresponde ao ‘sempre-já-aí’ que traz interpelação (apropriação/
intervenção) ideológica que fornece-impõe uma ‘realidade’ e seu ‘sentido’ sob a 
forma de universalidade” (PÊCHEUX, 1997b, p. 164). 
Para tanto, cabe a nós analisarmos qual é a posição segundo a qual os 
sujeitos falam a partir desse “já dito”, procurando compreender comportamentos 
decisões às quais, quase sempre, estamos relacionados. 
Agora, vamos deixar um texto para que você observe qual é o interdiscurso 
(memória reatualizada) que perpassa a história:
DICAS
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/
images?q=tbn%3AANd9GcTvrbGts3Bc07r6vbnNLm80L3IstbO3FLN4ELf_wewe9Gp_wJqi>. 
Acesso em: 21 set. 2019.
DICA: tem a ver com a busca do ser humano por algo.
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
88
Nesta perspectiva, conseguimos perceber que o interdiscurso, sendo 
a memória sobre acontecimentos passados, funciona como um acionador de 
posicionamentos ideológicos que influenciam o sujeito a se posicionar sobre 
inúmeros acontecimentos. A seguir, vamos entender como os três elementos, 
sujeito, memória e ideologia, influenciam-se mutuamente. 
2.1 A RELAÇÃO DO SUJEITO COM A MEMÓRIA, COM A 
IDEOLOGIA
Partindo dos fundamentos e explicações sobre o sujeito do discurso, vamos 
relacioná-lo de forma mais clara à memória e sobretudo à ideologia. Para tanto, 
é fundamental que você considere o item no qual trabalhamos sujeito e posição-
sujeito, pois é através desta categoria do discurso (a do sujeito) que podemos pensar 
a circulação de sentido. Colaborando com isso, evocamos as noções de condições 
de produção, formações discursivas e interdiscurso, este sendo entendido como 
uma memória que vem à tona, articulada com um sentido pré-construído sobre 
inúmeras situações com as quais trabalhamos e vivenciamos todos os dias.
Assim, é também necessário e oportuno que você considere esse sujeito 
como sendo sempre afetado por uma memória que o faz pensar, agir, responder a 
acontecimentos de formas que, muitas vezes, parecem difíceis de se compreender. 
Porém, nós, como analistas, precisamos desenvolver esse olhar que tende a 
explicar e compreender o que se passa no espaço do social. Amarrar as noções de 
sujeito e memória é o passo que devemos dar para entender como a ideologia se 
apodera dos pensamentos e comportamentos humanos. 
Antes de começar, queremos abrir uma ressalva: nós sabemos que, no 
discurso político, a palavra ideologia pode ter sido afetada por representações que 
distorceram seu sentido de base. Porém, nós, como analistas, não podemos nos 
deixar levar por tentativas de ressignificações circunstanciais. A ideologia é um 
preceito que fortalece nossas posições como sujeitos de nossos discursos.
 
Voltando à ideia para a qual nos propomos, vamos procurar compreender 
como o sujeito, carregado pelos sentidos das CPs, das FDs, do interdiscurso, 
é atravessado pela ideologia. Assim, pensar em um conceito representativo 
para ideologia nos faz deslocar nossas considerações para Althusser. Portanto, 
segundo Althusser (1985, p. 77), “ideologia é o modo através do qual os homens 
vivem suas relações em relação às suas condições de existência”. 
Nessa perspectiva, podemos compreender que o sujeito — em seu uso da 
linguagem — empenha-se em construir ou tentar atribuir sentido para o que se 
apresenta na língua (a nossa língua portuguesa) com sua exterioridade através 
e sobretudo de sua posição ideológica. Esse processo de ressignificar aquilo 
que vemos ou com o qual trabalhamos é uma ação do inconsciente (É sempre 
importante lembrar isso”). Nas palavras de Orlandi (2003, p. 15), a “ideologia 
não é ocultação, mas função da relação necessária entre linguagem e mundo; 
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
89
linguagem e mundo se refletem no sentido da refração, do efeito imaginário de um 
sobre o outro”. Essa relação da linguagem (permeada pela ideologia) com o mundo 
se estabelece através das relações que o sujeito estabelece com a exterioridade.
Vamos pensar um caso prático?
Em dadas situações da vida social, há casos nos quais encontramos grupos 
de jovens/adolescentes. Nesses grupos, há redes de sentidos, com conceitos, 
definições, aceitações, negações que em volta deles circulam. Sendo assim, esses 
sujeitos estão afetados por uma linguagem ideológica de grupo. Todavia, é 
sempre o SUJEITO que vai estabelecer ou não relação ideológica de aceitação 
ou de negação com determinadas situações. Se a formação discursiva que vem 
da família for mais “forte” ou se os princípios que elegem a vida como um bem 
maior forem superiores, ele não irá assumir certas posturas que poderiam colocar 
a sua vida em risco.
A partir disso, é importantíssimo considerar que todo homem é um 
ser sócio-histórico, cultural e ideológico. Ninguém é destituído de cultura, de 
relação com a história, com a política e — por tudo isso — com a ideologia. O 
sujeito ocupa lugares sociais para “FALAR”. Quandose coloca em determinadas 
posições, por exemplo, como estudantes, como professores, como funcionários, 
como colaboradores de uma empresa, enfim, como em qualquer outra posição 
que as condições de produção ensejem, esse sujeito estará sempre enunciando a 
partir de uma posição ideológica, ou seja, de um conceito, de uma verdade, de 
uma percepção que lhe parece mais coerente. Quando defendemos certas posições 
ou acontecimentos sociais ou pessoais, estamos sim nos filiando a determinadas 
formações discursivas e assim falando por meio de determinadas ideologias.
Isso demonstra que o sujeito é permeado por uma ideologia que se possui 
como base determinadas formações discursivas, advindas de condições de 
produção sócio-históricas, tendo a língua como materialização do discurso. Nesse 
sentido, a base de formação da ideologia são suas formações discursivas, que filiam 
o sujeito, em sua heterogeneidade de identificações, a determinados conceitos e 
representações. Segundo Orlandi (2007), a linguagem representa a materialidade 
do discurso; o discurso, por sua vez, representa a materialização da ideologia. 
A partir das redes de saberes que interpelam o sujeito, materializam-se 
as formações ideológicas que agem na construção do sentido, que se agregam 
em função da posição que ocupam os sujeitos do discurso. Para Orlandi (2003, 
p. 30) “de acordo com a Análise de Discurso, o sentido não existe em si, mas 
é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-
histórico em que as palavras são produzidas”. Assim, a formação ideológica 
pode ser claramente observada a partir de um posicionamento do sujeito em uma 
dada conjuntura social e histórica, que remete a valores, ideias, condição política, 
cultural e ideológico. 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
90
Portanto, o sentido das palavras e das coisas depende das posições que 
ocupam os sujeitos. Paralelo a isso, as formações ideológicas dão sentido às coisas 
como são ditas pelos sujeitos em que nelas estão escritos. Enfim, a formação 
discursiva se define como aquilo que, em uma formação ideológica dada, a 
partir de uma conjuntura sócio-histórica dada — determina o que pode e deve 
ser dito. Assim, as formações discursivas representam no discurso as formações 
ideológicas e os sentidos que sempre são determinados ideologicamente, com a 
intervenção da história e da memória dos fatos.
 
Assim, vamos observar o ponto ideológico do discurso que segue? Para 
isso, leia com muita atenção para você entender do que se trata e poder analisar 
com mais propriedade esse discurso.
Homeschooling: o que não te disseram sobre ensino domiciliar
Nat Almeida
Antes de tudo, você sabe o que é homeschooling? 
Esse é o termo em inglês, em português seria ensino doméstico. Essa 
modalidade de ensino consiste em oferecer em casa a educação que a criança 
teria na escola seguindo rotinas e metodologias específicas para ela. A ideia 
vem se tornando cada vez mais popular no mundo e o Brasil não ficou de fora, 
mas ainda é algo tão polêmico para nossa sociedade que divide a opinião de 
especialistas sobre o assunto. A ideia de educar o filho em casa é quase tabu, 
então está na hora de falar sobre alguns pré-conceitos que perseguem essa 
categoria de ensino.
“A criança não vai se socializar.”
Opa, papai, como assim?
Acredita-se que para a criança aprender a socializar com outras pessoas 
e desenvolver suas habilidades afetivas ela deve ir à escola. Não é errado pensar 
dessa maneira (já que somos educados há séculos de para acreditar que esta é 
a “correta”) tampouco é certo pensar assim. Essa frase é usada normalmente 
pelos que são contra essa ideia, tanto especialistas quanto pais e educadores. 
Acontece que a escola não é o único lugar onde a criança pode conhecer 
outras da sua idade e fazer amigos, em todas as cidades podemos encontrar 
parques, praças e áreas de recreação (como as dos shoppings) onde as crianças 
podem ser levadas para se divertirem e conhecer novos amiguinhos. A prática 
de ter grupos com pais e responsáveis trocando ideias frequentemente sobre a 
criação dos pequenos é muito saudável na hora de marcar encontros, além de 
promover amizades e aprendizados para pais e filhos.
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
91
A frase usada como título desse tópico só se torna uma sentença 
verdadeira se os pais ou responsáveis não levarem a sério a educação que 
proporcionam aos filhos e os impedirem de desbravar o mundo e se socializar. 
Ou seja, a culpa não é da maneira que é ensinada, mas sim dos seus educadores. 
As escolas matam a aprendizagem?
“A única forma eficiente de ensino é a da escola.”
Poucas coisas podem ser afirmadas com certeza quando se fala sobre 
educação de crianças, até mesmo neste texto nada é verdade absoluta, e isso 
vale para a crença de que somente a escola pode ensinar também. É mais 
cômodo delegar para a escola a responsabilidade de fornecer conhecimento 
para os pequenos do que ir atrás de novas formas para fazer isso em casa, 
afinal estamos acostumados com a ideia de terceirizar o ensino.
Claro que têm excelentes instituições de ensino que prestam apoio aos 
pequenos sem censurar suas ideias ou criam novas formas de ensinar para ajudá-
los, mas nem todas são assim. Existem muitas formas de aprendizado e vão muito 
além do quadro negro das escolas ou na aplicação de provas, essas formas são 
através da experimentação, podendo ser ensinadas na escola ou em casa.
Experimentação nada mais é do ensinar através do experimento, levar 
os conceitos das matérias de humanas, exatas e biológicas para o mundo da 
criança. Por que acha que todo professor de matemática ao ensinar frações dá o 
exemplo da pizza? Simples, isso é algo que faz parte do mundo de conhecimento 
de todos e facilita na hora de fixar o conhecimento na mente do aluno.
O ensino domiciliar oferece a possibilidade de individualizar os exemplos 
para aquilo que a criança já experimenta no seu dia a dia. A criança gosta de super-
heróis? Pense em como ela ia se divertir aprendendo com exemplos dos personagens.
Então, qual é o correto?
Não há resposta correta para essa pergunta, como dito antes muito vem 
sendo debatido sobre e separa ideias até de especialistas. A educação infantil 
é algo tão complexo, que me faz crer que não teremos a resposta absoluta para 
essa questão por bom tempo. É necessário explorar possibilidades antes disso 
e atualizar o software mental de muita gente por aí.
No Brasil, por exemplo, o ensino domiciliar não é visto com bons olhos. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição tornam obrigatória a 
matrícula na rede regular de ensino, penalizando os pais e responsáveis como 
negligentes pelo não cumprimento dessa cláusula. Mesmo assim o crescimento 
dessa modalidade de ensino vem surpreendendo e não dá sinais de parar tão cedo.
 [...]
FONTE: <https://blog.keeplearning.school/conteudos/homeschooling-o-que-nao-te-
disseram-sobre-ensino-domiciliar>. Acesso em: 21 set. 2019.
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
92
Vamos lá...
O que denotativamente lemos neste texto? A ideia principal é a de que está 
em andamento uma nova forma de oportunizar a formação escolar às crianças, 
que é através do homeschooling, conforme você compreendeu no texto citado 
anteriormente. Agrega-se a isso o fato de que o sujeito que formulou esse texto 
enfatiza que existem muitas escolas boas, que suprem as necessidades de ensino. 
Você percebeu isso? 
Então, qual é a necessidade de arriscar algo que, para a contemporaneidade, 
é tão inovador e ainda sem parâmetros sólidos de funcionamento? Assim, o 
discurso que está dentro deste texto é o fator IDEOLÓGICO de que a escola 
não é mais suficiente ou necessária. Apesar de se dizer que “sim”, todos os 
arranjos argumentativos, que tentam solidificar a nova forma de ensino como 
uma possibilidade, são abstratos e até “tolos”, como esta: “a possibilidade de 
individualizar os exemplospara aquilo que a criança já experimenta no seu dia a 
dia. A criança gosta de super-heróis? Pense em como ela ia se divertir aprendendo 
com exemplos dos personagens”. 
 
Nessa lógica, existe um fio ideológico (uma crença, um conceito) de que é 
necessário “descobrir” que a escola está ultrapassada. No título Homeschooling: o 
que não te disseram sobre ensino domiciliar, está o discurso da negação “não”, da 
negligência do conhecimento, do ocultamento das identidades de deveriam trazer 
à tona o conhecimento a todos, observando isto na forma do sujeito indeterminado 
em “disseram”’. Existe nesse texto, portanto, um discurso de desconstrução, 
deslegitimação da instituição escolar como espaço da construção do saber. 
Você pode se questionar: isso é muito ruim? A resposta é: depende 
das condições de produção que fazem parte da escola, depende dos sujeitos no 
processo de construção do saber. Então, não é possível rotular essa ideologia de 
desconstrução da escola como um gesto negativo. Tudo precisa ser avaliado a 
partir de cada sujeito, dentro dos processos de construção de suas posições sociais.
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
93
Agora vamos propor um texto para você procurar a ideologia que “explica” o 
discurso do sujeito (personagem) instituído:
DICAS
FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-H-zDaTvqR74/UapWRnPA5oI/AAAAAAAAADc/
e8H5Fl6bFB4/s1600/e.png>. Acesso em: 21 set. 2019.
No item anterior, observamos como ocorre a intervenção da ideologia. 
Para facilitar o entendimento desse dispositivo de análise, sempre se lembre 
das seguintes ideias: com o que o sujeito se identifica mais OU com o que o 
sujeito se identifica menos em determinadas condições de produção? Aquilo que 
mais ou que menos apoiamos determina a nossa ideologia frente aos inúmeros 
acontecimentos de ordem pessoal ou social. Na sequência, vamos observar outros 
dispositivos para analisarmos o discurso.
3 OUTRAS INTERFACES PARA O DISCURSO: ANTECIPAÇÕES
Em condição anterior, eu já pontuei rapidamente sobre a noção de antecipação 
no discurso. Talvez, você tenha passado meio rápido e não tenha percebido, mas o 
fato é que agora vamos dedicar um momento para tratar sobre isso. Então vamos 
compreender como o mecanismo da antecipação dos sentidos no discurso funciona 
como mais um instrumento de análise e funcionamento do discurso. Para tanto, vamos 
observar um pouco mais sobre como o efeito do simbólico se instaura na linguagem.
 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
94
Com base no que já trabalhamos, é fato que a análise do discurso não 
estanca as possibilidades de interpretação, pois os procedimentos analíticos 
são inúmeros — como temos visto até o momento. Entretanto, manifestação do 
simbólico pode ser controlada, à medida que a exposição de um discurso pode 
ser selecionada, organizada e redistribuída a partir de alguns procedimentos 
que podem colocar em funcionamento algumas estratégias para dominar o 
acontecimento discursivo.
Com isso, posto que o discurso é entendido como efeitos de sentidos 
entre interlocutores, estando NECESSARIAMENTE relacionado a condições 
de produção, o que implica a retomada e a atualização dos deslocamentos de 
sentidos, veremos que o mecanismo da antecipação vai agir em meio a todos esses 
referenciais de análise, ajustando a abertura, o controle e o fechamento dos sentidos 
que tocam o simbólico na linguagem. Assim, comecemos relembrando que o sujeito 
significa em condições determinadas (ORLANDI, 2003), o que leva a considerar 
que essas “condições determinadas” pertencem a um contexto imediato ou um 
contexto sócio-histórico, permitindo assim que um processo histórico e ideológico 
(ORLANDI, 2003) haja, para (inter)agir com e sobre os sentidos
As condições imediatas podem ser pensadas como processos discursivos que 
englobam acontecimentos vinculados nitidamente a uma dada situação próxima, ampla, 
sempre trazendo algum ponto de singularidade no discurso, pois, caso contrário, seria uma 
enunciação reproduzida/repetida de algum evento passado.
ATENCAO
Para tanto, é na relação entre contexto imediato e contexto mais amplo que o 
mecanismo da antecipação pode contribuir nos processos de análise, considerando 
que só podemos enunciar (formular) se nos colocamos na perspectiva do dizível 
(interdiscurso, memória). “Todo discurso aloca-se na confluência dos dois eixos: o 
da memória (constituição) e o da atualidade (formulação)” (ORLANDI, 2003, p. 33). 
Assim, o mecanismo de antecipação, aplicado à análise do discurso, fará com que o 
sujeito traga à tona alguma parte do interdiscurso (memória discursiva), tentando 
prever, logo, antecipar determinados efeitos de sentido.
Diante disso, Pêcheux (1997c) situa que o discurso não possui 
necessariamente um início, pois ele se ancora sempre sobre outros dizeres 
prévios, como um suporte de um já-dito, o qual oportuniza ao sujeito do dizer 
a possibilidade experimentar antecipadamente o lugar do ouvinte, imaginando 
que efeito seus dizeres terão no ouvinte. Pêcheux (1997c, p. 77) reforça que “Essa 
antecipação do que o outro vai pensar é constitutiva de qualquer discurso”. 
Orlandi (2003, p. 39) aponta que:
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
95
Todo sujeito tem a capacidade de experimentar, ou melhor, de colocar-se 
no lugar em que o seu interlocutor “ouve” suas palavras. Ele antecipa-se 
assim a seu interlocutor quanto ao sentido que suas palavras produzem. 
Esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá 
de um modo, ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em 
seu ouvinte. Este espectro varia amplamente desde a previsão de um 
interlocutor que é seu cúmplice até aquele que, no outro extremo, ele 
prevê como adversário absoluto. Dessa maneira, esse mecanismo dirige 
o processo de argumentação visando seus efeitos sobre o interlocutor. 
Diante disso, o sujeito, ao antecipar a seu interlocutor o sentido que 
suas palavras produzem, faz a regulação, com abertura ou fechamento de 
determinados sentidos no discurso. A partir disso, vamos agora observar um 
exemplo de tentativa de controle no discurso, à medida que um dos interlocutores 
tenta “entoar” sua fala, projetando idealizações, constatações e representações 
que não se articulam com a veracidade dos fatos. 
Nesse caso, você pode pensar: mas se um dos interlocutores está 
subvertendo a verdade, logo, estará desacreditado, não é? A resposta é: não. 
Tudo depende de quem é o sujeito “ouvinte” ou “leitor”. De que condições 
de produção ele parte? QUE FORMAÇÃO DISCURSIVA domina seu ideário? 
Que IDEOLOGIA lhe interpela? Nisso tudo consiste o poder da linguagem e do 
discurso, principalmente, o que atinge as massas. Segue o exemplo:
Lino de Macedo: "disciplina é um conteúdo como qualquer outro"
Márcio Ferrari
Para o psicólogo especializado em Piaget, o comportamento dos alunos 
em sala de aula é algo que precisa ser ensinado e varia de acordo com a atividade
Ao longo da carreira, Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia 
da Universidade de São Paulo, se especializou no construtivismo do suíço Jean 
Piaget (1896-1980), na psicologia aplicada à educação e nos jogos infantis ele 
coordena um laboratório de pesquisas e elaboração de atividades relacionadas 
às brincadeiras e voltadas para a escola. Um assunto que ocupa particularmente 
sua atenção são os estágios de desenvolvimento da criança e a importância de o 
professor conhecer o que acontece em cada fase do crescimento.
Com essa vivência, ele encara um dos temas que mais preocupam 
os educadores: a disciplina. Segundo o psicólogo, disciplina na escola não 
é questão de boa conduta nem de formação trazida de casa. "Disciplina se 
aprende e é do interesse de todo mundo, porque facilita a relação da gente com 
as coisas." O que o professor pode fazer para que a turma se comporte como 
deve? O exemplo é um dos caminhos. "Fala-se muito que as crianças de hoje 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICADE ANÁLISE
96
não têm limites. Mas nós, adultos, também não temos." Macedo acaba de lançar 
uma nova coletânea de textos, Ensaios Pedagógicos, que tem como subtítulo 
a pergunta Como Construir uma Escola para Todos? Um dos capítulos trata 
especificamente de disciplina, tema discutido na entrevista a seguir, concedida 
a ESCOLA, em São Paulo.
[...]
 Qual o principal erro da escola em relação à disciplina?
Lino de Macedo: é pensar que existe um único tipo de disciplina 
e que ela só pode ser imposta. Minha ideia é que disciplina é um trabalho 
de todos em sala de aula. Constrói-se a melhor forma de acordo com a 
necessidade. Numa aula tradicional, expositiva, enquanto o professor fala 
ou escreve no quadro-negro, os alunos devem ficar quietos, prestar atenção e 
copiar. Acontece que hoje temos muitas propostas pedagógicas. Cada cultura 
escolar e cada atividade em sala de aula têm uma disciplina adequada a seu 
desenvolvimento. Dependendo da situação, a melhor pode ser o silêncio, as 
crianças perguntando ou conversando entre si.
[...]
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/863/lino-de-macedo-disciplina-e-um-
conteudo-como-qualquer-outro>. Acesso em: 21 set. 2019.
Conforme você leu anteriormente, o texto trata da questão da disciplina 
de alunos em sala de aula da educação escolar. Considerando as condições de 
produção e de publicação, o que o entrevistado está fazendo? Ele está emitindo 
respostas que se articulam ao atual processo de indisciplina recorrente em grande 
parte das escolas brasileiras. Ele está repassando ao professor a responsabilidade 
de disciplinar o aluno, fato este que não está apresentando os efeitos desejados. E 
por que está se posicionando assim? A resposta está no fato de que ele está usando 
o mecanismo da antecipação que considera, nessas condições de produção, 
sobretudo, o seguinte fator: 
• O público-alvo, que, neste caso, engloba, em grande parte, profissionais de 
setores pedagógicos, os quais, nem sempre estão em sala de aula, acompanhando 
diariamente os alunos. Estes profissionais acompanham de forma menos direta 
e precisam estabelecer um diálogo também com os pais, de maneira a assumir 
uma postura mais democrática no ensino, sem responsabilizá-los totalmente 
pela educação disciplinar de seus filhos. Assim, o especialista, “antecipa” o 
efeito de suas afirmações em uma revista de tal alcance como a que ele está 
dando a entrevista. Nesse sentido, organiza respostas que tendam a provocar 
um efeito de trabalho em parceria entre escola e família, de maneira que os 
papéis que ambas as instituições deveriam exercer fique “mais dividido”. 
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
97
Agora, é sua vez: pedimos que você leia o texto a seguir e procure compreender 
qual é o tipo de antecipação que o sujeito do discurso produz:
Celular em sala, pode? Professores, pais e alunos comentam prós e contras
Jéssica Eufrásio
 [...]
 Uso dirigido do aparelho
 Para Sandro Pauletti, diretor-pedagógico do Claretiano — Centro Educacional 
Stella Maris —, a adoção de políticas relacionadas ao uso de celular nas escolas exige um 
pensamento em várias vertentes. Ele comenta que o uso deve ser dirigido e que dispositivos 
como smartphones não podem ser desconsiderados no contexto atual.
 “Ele pode contribuir muito com o aprendizado, mas deve ser manipulado com 
maturidade. Em geral, nossos alunos são conscientes das obrigações deles. Às vezes, o 
professor orienta para que eles prestem atenção ao trabalho a ser desenvolvido e deixe o 
celular para a hora do intervalo ou da troca de aulas”, detalha. 
 [...]
FONTE:<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/
escolhaaescola/2018/2018/09/27/noticias-escolhaaescola2018,708754/pros-e-contras-do-
uso-do-celular-em-sala-de-aula.shtml>. Acesso em: 21 set. 2019.
DICAS
4 ESQUECIMENTOS
 Compreendemos até aqui que o sujeito não é a fonte dos sentidos, ele não é 
a origem do que diz, em função de que ele se constitui por falas de outros sujeitos. 
Para tanto, o sujeito se articula a partir das várias vozes, imersas na relação com os 
acontecimentos socioideológicos. A partir disso, o sujeito adentra um novo espaço 
de construção de sua figura. 
 
Pêcheux (1995, p. 171) situa “o funcionamento da ilusão do sujeito no 
espaço da reformulação”. A partir disso, emergem nos processos de construção do 
discurso dois acontecimentos: o esquecimento de nº 1 e o de nº 2. O autor (ibidem) 
afirma que o esquecimento de nº 2 é aquele em que “todo sujeito-falante ‘seleciona’ 
no interior da FD que o domina um enunciado e não outro, que está no campo 
daquilo que poderia reformulá-lo na FD considerada”; já o esquecimento de nº 1 
refere que “o sujeito-falante não pode, por definição, se encontrar no exterior da 
FD que o domina” (PÊCHEUX, 1995, p. 173).
 
Há, dessa forma, um recalque inconsciente, a esse exterior. O sujeito, a 
partir do trabalho do esquecimento de nº 1, é atravessado por uma forma de 
“apagamento” de sentidos, os quais passam para a rede de memória, e só emergem 
em outras condições de produção. Os saberes “esquecidos” ficam no inconsciente, 
lugar do apagamento ou do silenciamento, voltando a significar em outra situação. 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
98
 Esse processo, característico do esquecimento em questão, faz com 
que o sujeito, ao entrar em contato novamente com tais saberes, acredite estar 
formulando-os, visto que não percebe o resgate feito no inconsciente ou na rede 
de memória. Para Pêcheux (1995, p. 173), o pré-consciente “caracteriza retomada 
de uma representação verbal consciente pelo inconsciente”. 
 
Pêcheux (1995, p. 175) continua explicando o processo de interpelação pela 
ideologia ao retomar que o esquecimento de nº 2: 
[...] cobre exatamente o funcionamento do sujeito do discurso na FD 
que o domina, e que é aí, precisamente, que se apoia sua liberdade de 
sujeito-falante”. Quanto ao esquecimento de nº 2, o autor afirma ainda 
que “o efeito é, pois, sobretudo, o de mascarar o objeto daquilo que 
chamamos o esquecimento de nº 1, pelo viés do funcionamento do 
esquecimento de nº 2. 
Assim, segundo Pêcheux (1995), o esquecimento “número 1” faz com que 
o sujeito pense ser a origem do que diz, ou seja, uma espécie de fonte de onde 
emerge seu dizer. Aquilo que é dito, isto é, o discurso é marcado pela constituição 
do inconsciente e da ideologia, sendo no discurso também o lugar da articulação 
da linguagem junto à ideologia; por causa disso, o sentido figura como um lugar 
inacessível ao sujeito e constitutivo da subjetividade. 
Por todas essas relações que marcam o discurso, o sujeito acaba apagando 
inconscientemente os elementos que remetam ao exterior da sua formação 
discursiva, na qual se inscreve prioritariamente, numa tentativa de controle dos 
sentidos sobre o discurso que produz. Isso quer dizer que o sujeito, por estar 
imerso numa ilusão de efeitos de sentidos, produzidos por seu imaginário, não tem 
controle sobre o funcionamento de seu discurso, possibilitando a este, nas práticas 
de linguagem, emergir sentidos que determinam a relação do dizer com o social 
de uma maneira determinante sobre a posição ideológica que ocupa. 
Essas relações precisam ser pensadas na representação do sujeito na língua. 
Compreendendo as formas de esquecimento do sujeito, conseguimos observar a 
relação do sujeito com os sentidos, bem como as possibilidades de interpelação 
ideológica. O sujeito, então, ao se inscrever em determinados sentidos, constituídos 
por determinada FD, está, também, tomando uma posição no discurso, a qual o 
significa como sujeito que se relaciona, para então pensarmos essa questão, vamos 
projetar o seguinte acontecimento discursivo:
 Durante uma reunião de alinhamento de ações de um determinado setor 
da empresa, os sujeitos partícipes desse processo encontram-se em dado horário, 
nas dependências da entidade, para revisar o processo de apresentação de um 
novo produto que será lançado. Como a categoria dos esquecimentosde número 
1 e de número 2 podem ser observados nessa situação?
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
99
 Eles emergem à medida que, por exemplo, um coordenador tenta trazer, 
a partir de uma memória já vivida e semelhante ao acontecimento em processo, 
experiências de orientação acerca do que deu muito certo ou muito errado em momento 
anterior. Assim, na formação discursiva do mercado de trabalho, em específico na 
execução de determinado serviço, ele INCONSCIENTEMENTE seleciona o que pode 
ou deve ser dito no momento oportuno. Assim, aciona o esquecimento de nº 2, pois 
“apaga”, “esquece” certos acontecimentos e traz à tona outros de forma veemente. 
Concomitantemente a isso, o coordenador (apresentado como exemplo aqui) vai 
projetando o que viveu e acreditando ser a origem de tais acontecimentos. Porém, 
sabemos que tudo o que ele diz, orienta, explica parte de outras condições de produção, 
de outras posições-sujeito, muito antes de ele ter vivenciado/experienciado tal situação. 
AUTOATIVIDADE
Agora pedimos que você tente observar quais são os esquecimentos 
em processo de acontecimentos no discurso do texto a seguir:
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/f9/8b/81/f98b816a13672cfa0235b568f691f322.jpg>. 
Acesso em: novembro de 2019.
Formação discursiva e interdiscurso – Michel Pêcheux
Vinicius Siqueira
A formação discursiva entra como resolução dos problemas que 
as condições de produção do discurso haviam dado a Pêcheux no início do 
desenvolvimento da Análise do Discurso Francesa (AD). Mais à frente, 
ela se relaciona com o conceito de formação ideológica e interdiscurso: a 
Retomando as noções de esquecimentos de nº 1 e de nº 2, o que 
VOCÊ observa na imagem?
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
100
formação discursiva é aquilo que afirma o que se pode dizer dentro de uma 
formação ideológica dada e é definida através dos interdiscursos que lhe dão 
possibilidade de existência. Por fim, o conceito implode na terceira fase da AD.
Da série “Michel Pêcheux: Conceitos Fundamentais“.
As abordagens não-subjetivas do discurso, como as de Foucault e Pêcheux, 
necessitam de uma explicação que dê luz à produção dos enunciados, já que nem 
eles, nem o sentido que assumem na prática social, são definidos pelo sujeito.
O conceito de discurso, assim, depende de um conceito descritivo 
anterior: o de formação discursiva (FD). Primeiramente formulado por Michel 
Foucault, a formação discursiva pode ser definida quando
Se puder descrever, entre um certo número de enunciados, 
semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, 
os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se 
puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições 
e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que 
se trata de uma formação discursiva.
Pêcheux, por sua vez, absorveu a noção foucaultiana de formação 
discursiva e desenvolveu a sua própria alinhada ao materialismo dialético, 
como é possível ver no primeiro artigo em que cita o conceito.
Para o autor, as formações discursivas são elementos relacionados 
diretamente com as formações ideológicas. Vejamos primeiro os fundamentos 
do conceito de formação ideológica: em uma formação social dada, é possível 
identificar um modo de produção específico que a domina e um estado 
de relações de classe que a compõe. As práticas sociais vigentes através 
dos aparelhos estatais são a forma concreta que essas relações de classe se 
expressam. Tais relações dão espaço a posições de classe específicas, que não 
constituem indivíduos, mas configuram formações que mantêm, entre si, 
relações de antagonismo, aliança ou dominação.
A formação ideológica é o “conjunto complexo de atitudes e de 
representações que não são nem ‘individuais’ e nem ‘universais’, mas que se 
relacionam mais ou menos diretamente a posições de classes em conflito umas 
em relação às outras”, que se localiza exatamente na conjuntura ideológica de 
uma formação social dada em um momento dado.
Cada formação ideológica comporta, para Pêcheux (e diferentemente 
de Foucault, que não desenvolveu um conceito similar ao de formação 
ideológica), uma ou várias formações discursivas interligadas. As formações 
discursivas determinam
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
101
O que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de 
uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma 
exposição, de um programa, etc.) a partir de uma 
posição dada numa conjuntura dada: o ponto essencial 
aqui é que não se trata apenas da natureza das palavras 
empregadas, mas também (e sobretudo) de construções 
nas quais essas palavras se combinam […] as palavras 
“mudam de sentido” ao passar de uma formação 
discursiva a outra.
Neste primeiro momento, no artigo de 1971, o conceito de formação 
discursiva se fecha na citação acima, entretanto, já em 1975, em Semântica e 
Discurso, Pêcheux relaciona a formação discursiva com o interdiscurso, o 
que lhe dá gás teórico e analítico para explicar a dissimulação da formação 
discursiva. Esta se coloca como verdadeira na medida em que ela própria 
constitui os indivíduos em sujeitos e, assim, também faz ser verdadeira a 
condição da forma-sujeito.
Ou seja, a primeira mudança no conceito de formação discursiva 
desloca gradativamente o foco da unidade da formação para seus interstícios, 
a interdiscursividade, já que é
Próprio de toda formação discursiva dissimular, na transparência 
do sentido que nela se forma, a objetividade material contraditória 
do interdiscurso, que determina essa formação discursiva como 
tal, objetividade material essa que reside no fato de que “algo fala” 
(ça parle) sempre “antes, em outro lugar e independentemente”, 
isto é, sob a dominação do complexo das formações ideológicas.
O interdiscurso é o “todo complexo com dominante” das formações 
discursivas, portanto, é aquilo que está na diferença entre elas, que se situa em seus 
pontos de troca, de relação. A configuração do todo complexo com dominante é o 
interdiscurso e as regras do interdiscurso determinam as formações discursivas.
Ao mesmo tempo, é através do interdiscurso que o funcionamento 
da Ideologia em geral, interpelando indivíduos em sujeitos, se realiza. O 
interdiscurso constitui aquilo que determina o discurso do sujeito e, no 
processo discursivo, é reinscrito no próprio sujeito.
A respeito da primeira reelaboração proposta por Pêcheux em Semântica 
e Discurso, Gregolin vai apontar as duas modificações drásticas na noção de 
formação discursiva de 1975:
1. A relação entre as formações discursivas e o interdiscurso, que promove 
a noção de que os sentidos que uma FD pode prover são dependentes 
do interdiscurso, já que é neste lugar que se constituem os objetos que os 
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
102
sujeitos falantes se apropriam na construção de seus enunciados, assim 
como as articulações entre eles. É assim que o enunciador dá coerência ao 
que pretende praticar dentro de uma dada FD.
2. A relação entre intradiscurso e interdiscurso, ou seja, a relação entre o 
sistema da língua e a discursividade. Gregolin entende que Pêcheux se deu 
conta da impossibilidade de olhar o discurso como uma máquina lógica 
(como era feito na primeira fase da análise do discurso). As fronteiras entre o 
intradiscursivo e o interdiscursivo não são estanques e fixas, pelo contrário, 
são móveis e colocam o Outro em foco, dividindo lugar com o mesmo.
Desta forma, até agora entendemos que as formações discursivas, que 
determinam o que pode e deve ser dito, são delimitadas pelo interdiscurso. É 
no interdiscurso que os objetos apropriados pelo sujeito do discurso surgem 
e se articulam, portanto, é ali que a coerência constitutiva de uma formação 
discursiva é completa.
O interdiscurso é todo complexo com dominante das 
formações discursivas, sendo assim, se situa num local tenso, em fronteiras 
voláteis, como o outro do discurso. “Uma FD é atravessadapor várias FDs […] 
toda FD é definida a partir de seu interdiscurso”.
Fim da formação discursiva?
A formação discursiva ancora na noção de condições de produção do 
discurso aquilo com o que Pêcheux já havia se confrontado: a necessidade 
de uma teoria do discurso materialista. O conceito abria margem para 
interpretações psicologistas, considerando o jogo de imagens entre os sujeitos 
e a “situação” como componentes das condições de produção. A noção de 
formação discursiva insere a história e a ideologia perfeitamente, esclarecendo 
que as ditas “circunstâncias” das condições de produção do discurso e a troca 
de impressões imaginárias, feitas pelos sujeitos se dão dentro de um conjunto 
de regras específico que, não só delimita o que se pode dizer, como ordena o 
que se deve dizer.
O papel do Outro ganha cada vez mais destaque nos textos de Pêcheux 
e é inevitável que ele próprio proponha uma implosão do conceito de formação 
discursiva. Com a heterogeneidade sendo constitutiva do discurso (pois ele é 
um lugar de dispersão mais que de uniformidade), a alteridade passa a ter 
mais espaço nas reflexões do filósofo, que termina questionando a validade da 
noção de identidade no discurso.
Essa identidade não é nunca fechada, já que o interdiscurso revela 
sempre a flexibilidade de seus limites, portanto, mostra a primazia do Outro 
sobre o mesmo. A radicalização da dispersão dos sentidos em Discurso, estrutura 
ou acontecimento, de 1983, vai levar o autor a concluir que, se a noção de discurso 
TÓPICO 2 | O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO
103
como maquinaria estrutural não se sustenta, talvez a noção de formação 
discursiva não tenha mais utilidade para a análise do discurso. No último texto 
de Pêcheux, o discurso assume a característica de instabilidade radical.
Desenvolvimentos de Courtine
Jean-Jacques Courtine desenvolve os conceitos de FD e interdiscurso de 
Pêcheux: segundo o pesquisador, Pêcheux não explorou a exterioridade constitutiva 
dos enunciados, ou seja, as condições que produzem um dado sentido no interior da 
FD. Isso causaria o estabelecimento do discurso como algo homogêneo, problema 
enfrentado por Pêcheux na terceira fase da Análise do Discurso.
Uma formação discursiva tem fronteiras instáveis, porosas, que se 
reconfiguram constantemente através da intervenção de saberes imediatamente 
alheios a ela, mas que passam a fazer parte de uma transformação. Isso ocorre 
em falhas no ritual de identificação do sujeito com a FD que o interpela.
Considerações finais
A noção de formação discursiva, então, tem um trajeto específico como 
ferramenta de análise, já que serviu para Pêcheux como delimitação das práticas 
e fortalecimento da noção de condições de produção do discurso; em seguida, 
foi peça-chave para entender o efeito do Outro sobre o discurso, através da 
noção de interdiscurso; por último, a noção entra em crise e seu estatuto é 
questionado: assumindo a impossibilidade de limitar o discurso como uma 
estrutura fechada, assim, expulsando o conceito de identidade para fora de 
sua teoria e análise, já não seria impossível realizar a análise do discurso com 
o suporte do conceito de formação discursiva? 
FONTE: <https://colunastortas.com.br/formacao-discursiva-e-interdiscurso-michel-
pecheux/>. Acesso em: 9 out. 2019.
104
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• O sujeito não possui domínio sobre os efeitos de sentido de seu discurso. 
Movimenta-se através de redes de sentido que o interpelam, levando-o a 
múltiplos deslocamentos nas posições-sujeito que pode ocupar.
• Por trás da evidência de uma afirmação, inevitavelmente, há a opacidade da 
língua e a resistência do sujeito. 
• A opacidade está relacionada àquilo que o sujeito não diz, mas, em função da 
análise discursiva, é compreendido.
• A memória do discurso é o espaço onde os sentidos adormecem e despertam 
para serem (re)editados e outras e novas condições de produção.
• As condições de produção representam um dispositivo de análise que fornece 
pistas que nos permitem entender melhor o funcionamento de um discurso.
• A ideologia caminha junto à memória, articulando sentidos de afetam o 
sujeito de forma que ele assume posições no discurso capazes de explicar suas 
condutas de maneira muito mais evidente do que aquilo que suas palavras 
literalmente dizem.
• A riqueza do discurso está na infinidade de possibilidades de sentidos a serem 
analisados.
• Tudo precisa ser pensado considerando de onde fala o sujeito, de onde fala o 
analista, de onde falam as vozes que vêm pelo inconsciente.
• Os sentidos se articulam em redes que produzem um simbólico relacionado 
a outros discursos já produzidos, em outras esferas, em outras condições de 
produção. 
• As formações discursivas representam os sentidos que podem OU devem ser 
ditos dentro de uma formação de sentidos carregados por crenças, valores, 
condutas que afetam o sujeito.
105
AUTOATIVIDADE
1 Posto que discurso, segundo Pêcheux (1995), é efeito de sentido entre 
locutores e que o sujeito se constrói na e pela linguagem, marque a alternativa 
que melhor analisa o discurso disposto na sequência:
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQqjpZBSBiR17JI7i4o5t
0tZQPOP0GYlLpqAwoQXT1G-eEDEk0L>. Acesso em: 28 set. 2019.
a) ( ) O sujeito desse discurso acima está se negando a se comunicar com o 
mundo externo.
b) ( ) Nesse discurso, há um pré-construído de que o ser humano precisa 
saber a hora de falar, saber o que pode ou deve ouvir e saber o que lhe é 
oportuno de acompanhar ou ver.
c) ( ) A imagem apresenta uma sugestão que está associada à conduta da 
personagem, construindo um discurso que nasce, no momento da 
ação proferida.
d) ( ) A personagem possui imaginário sobre si que tende a criticar a sua 
própria conduta.
e) ( ) Esse discurso não é um texto.
2 Acerca da (re)formulação dos sentidos no tempo (com os efeitos da memória: 
esquecimento nº 1 que deflagra a ilusão de origem dos sentidos e esquecimento 
nº 2 que induz o sujeito a selecionar — inconscientemente — os sentidos que 
mais “colaboram” em seu discurso) bem como no espaço (com as condições 
de produção, que, por sua vez, estão naturalmente vinculadas à noção de 
memória), marque a alternativa CORRETA:
106
FONTE: <https://heroinasedivas.files.wordpress.com/2016/09/mafaldasopa.
jpg?w=262&h=386>. Acesso em: 28 set. 2019.
a) ( ) Há nesse discurso uma memória de tristeza sobre a infância.
b) ( ) A personagem está convocando seu interlocutor a aderir à causa.
c) ( ) Há uma apresentação do esquecimento de número 2 o qual seleciona, na 
formação discursiva da infância, apenas a noção de que sopa não é um 
bom alimento.
d) ( ) A contestação traz à tona uma memória na qual a infância é sempre vítima.
e) ( ) A percepção da personagem sobre seu interlocutor é o de que este adere 
a sua causa.
3 Com base no discurso a seguir, elenque e explique os seguintes dispositivos 
de análise:
FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-TCRdt-XGmtw/XBAvmbZv0qI/AAAAAAACRaI/Qj-ryEWA
9VswgcUXTqbyErbYzaFd5k6WACLcBGAs/s1600/Assim%2Bvai%2Bo%2Bmundo%2B2014.jpg>. 
Acesso em: 12 fev. 2020.
a) Posição-sujeito.
b) Formas de esquecimento.
c) Memória presente.
d) Norteamento ideológico.
107
4 Sobre o segmento seguinte, marque a alternativa CORRETA: 
As CPs são o “instrumento” que ajuda a explicar a constituição de 
enunciados formadores de redes significantes, as quais são (re)editadas por 
diferentes formas de “falar” sobre dado acontecimento. Sendo assim, tais 
redes de sentido, no curso do tempo, vão arrolando em diferentes condições 
de tratamento de dado discurso, sendo discursivizadas, ou seja, sendo (re)
significadas por diferentes formas de dizer sobre dados acontecimentos. Diante 
disso, as CPs, ao relacionarem redes de sentidos entre diferentes discursos, 
realizam processos de antecipação do sujeito.
a) ( ) Durante as conversas que as pessoas têm, durante o dia, pode-se 
verificar, a partir do que dizem, que as condiçõesde produção de seu 
discurso podem ser “isoladas” de forma a não afetar o que dizem.
b) ( ) As condições de produção são o instrumento que justifica o 
posicionamento ideológico das pessoas.
c) ( ) A pessoa (humana), ao assumir a categoria de sujeito, a partir de seu 
potencial discursivo, consegue anular a intervenção que as condições de 
produção executam.
d) ( ) As formações discursivas trazem consigo redes de sentido que 
interferem no discurso atualizado, mobilizando efeitos que nem sempre 
são previsíveis pelo sujeito.
e) ( ) Os sujeitos, através das redes de sentido, conseguem inserir-se em 
determinadas formações discursivas. 
5 Sobre a posição sujeito, considere o segmento conceitual a seguir e marque a 
alternativa correta com base na imagem que acompanha a questão.
Dessa forma, a noção de posição-sujeito pode ser compreendida com 
base nas posições sociais que ele ocupa e/ou pode ocupar, bem como nas 
relações de poder que circulam nessas posições. Faz-se oportuno pontuar que 
a noção de “posição” não é alusiva a algo fixo. A noção de posição, de tomada 
de posição tem a ver com a noção de movimento. O sujeito está em constante 
relação com saberes que o interpelam e assim o fazem assumir determinadas 
e diferenciadas posições no discurso. Pêcheux (1995), por sua vez, conceitua 
posição-sujeito como a relação de identificação entre o sujeito enunciador e o 
sujeito do saber (discurso constituído de sentidos).
108
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-ihBGMReFqeg/ULZuQL6A7SI/AAAAAAAAAXo/
AwJrCuLOzps/s640/562062_437687936279249_1275092645_n.jpg>. Acesso em: 28 set. 2019.
a) ( ) Pode-se afirmar que o Manolito está em uma posição-sujeito leitor, em 
função do conhecimento que ele procura sobre diferentes saberes.
b) ( ) Mafalda encontra-se em uma posição-sujeito capitalista, já que possui 
um discurso sobre valores.
c) ( ) Uma das posições-sujeito que Manolito ocupa é a do sujeito capitalista 
preocupado apenas com valores que envolvem aspectos econômico-
financeiros.
d) ( ) Mafalda assume uma posição-sujeito de defensora dos valores 
espirituais, artísticos e humanos.
e) ( ) Manolito assume uma posição-sujeito do conservadorismo social. 
109
TÓPICO 3
RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS 
DISPOSITIVOS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Até o momento, objetivamos pontuar que o funcionamento das 
formas de esquecimento possui papel fundamental na formulação do 
discurso, pois elas puxam redes de memória, as quais permitem à posição-
sujeito acionar ferramentas e saberes que explicitam sua insistência na 
norma. Michel Pêcheux (1999, p. 50) afirma que “memória deve ser entendida 
como sentidos entrecruzados da memória mítica, da memória social escrita 
em práticas, e da memória construída do historiador”. 
Da mesma forma, Orlandi (2003, p. 30) pontua que a memória “tem suas 
características, quando pensada em relação ao interdiscurso”, sendo este “definido como 
aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente, ou seja, é a memória discursiva. 
[...] O interdiscurso disponibiliza dizeres que afetam o modo como o sujeito significa em 
uma situação discursiva dada” (ORLANDI, 2003, p. 31).
IMPORTANT
E
Disso resulta que há uma “incompletude constitutiva da linguagem” 
(ORLANDI, 1996, p. 71), a qual precisa ser compreendida como uma forma de 
o sujeito intervir e manter sua relação de força sobre a língua. Segundo a autora 
(Ibidem), “a busca da completude da linguagem — o que implicaria ausência de 
silêncio — leva à [pode levar] falta de sentido”, ou seja, procurando apropriar-se 
da língua, a partir da ilusão de completude sobre o sentido. Nessa perspectiva, 
vão se organizando imaginários, concepções acerca dos possíveis efeitos de 
sentido que o sujeito movimenta no discurso.
Com isso, na sequência compreenderemos o que são e como funcionam 
as formações imaginárias, as quais são um dos últimos dispositivos de análise da 
AD. Assim, acompanhe seu funcionamento.
110
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
2 FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS
O “modo” como o sujeito significa, no discurso, passa pela relação que 
estabelece com seu interlocutor, regida pelas formações imaginárias. Cada sujeito 
constrói para si uma noção de si próprio e de seu interlocutor. Ao dizer, o sujeito 
formula seu discurso, trabalhando sobre a antecipação, enquanto previsibilidade 
ilusória que seria capaz de controlar os efeitos de sentido que se produzirão a 
partir do que é dito. 
A isso Pêcheux (1997c, p. 82) denomina Formações Imaginárias, “as 
quais dependem essencialmente das condições de produção do discurso”. O 
sujeito formulará (e reformulará o tempo todo) um imaginário de seu dizer a 
partir do modo como a exterioridade, ou as condições de produção interpelam-
no via ideologia. O exterior, entendido como fatos históricos, políticos, sociais, 
econômicos etc. intervirão na hora de o sujeito produzir “esse” e não “aquele” 
sentido acerca do discurso.
3 SOBRE AS FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS (FIs)
O processo discursivo se organiza pela apresentação e funcionamento 
de categorias do discurso, tais como sujeito, formação discursiva, ideologia, 
formações imaginárias, entre outras, que contribuem para a instauração do 
sentido. Como já pontuei, essas categorias movimentam o sujeito para a tomada 
de posição-sujeito. 
É pela interpelação ideológica que o sujeito estabelece certas relações 
de identificação com a exterioridade discursiva, através das quais formula 
determinados sentidos, que nos servem de observatório para que possamos 
depreender os processos de produção das ideias. A partir disso, percebemos 
que para ler os sentidos constituídos na língua, ou seja, para que o sujeito-leitor 
estabeleça a compreensão sobre aquilo que vê, precisa olhar o discurso amparado 
por um “dispositivo de interpretação” (ORLANDI, 2003, p. 25), o qual possibilite 
compreender “como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido 
de significância para e por sujeitos” (ORLANDI, 2003, p. 26).
Em concordância com Pêcheux, Orlandi (1983, p. 9) explicita que “a noção 
de sujeito [...] deriva da concepção que vê na linguagem um trabalho, uma forma 
de interação entre homem e realidade natural e social”. Com essa afirmação, ela 
nos referenda uma possibilidade de vermos a intervenção do sujeito, que também 
ocupa posições ideológicas outras no discurso, através do modo como apresenta a 
língua, movimentando-a e vendo-a como um meio de representação (imaginária). 
Com isso percebemos que a língua é um espaço para instauração de 
diferentes sítios de significância, que juntamente ao sujeito, desloca sentidos em 
meio ao lugar social em que se constituem. Dessa forma, buscando compreender 
TÓPICO 3 | RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS 
111
como as FIs funcionam, recorremos a Pêcheux (1997c), uma vez que o autor 
nos mostra que as condições de produção do discurso intervêm no modo de 
representar (de formar o imaginário) de si e do outro.
Pêcheux (1997c, p. 82) aponta que “todo processo discursivo supõe a 
existência das formações imaginárias” as quais são entendidas da seguinte maneira: 
• A imagem do lugar de A para o sujeito colocado em A.
• A imagem do lugar de B para o sujeito colocado em A.
• A imagem do lugar de B para o sujeito colocado em B.
• A imagem do lugar de A para o sujeito colocado em B. 
Com isso, conseguimos projetar, por exemplo, a percepção do que o 
locutor A pensa de si e do que seu interlocutor “pode pensar” dele. O imaginário 
produzido por esse sujeito estabelecido na posição A se forma em função de como 
as condições de produção intervêm nesse sujeito e nas relações de sentido que ele 
estabelece com a exterioridade, com a história, a sociedade, a língua. 
Ao instaurar-se dessa forma, a posição assumida pelo sujeito reúne 
possibilidades de sentidos que constituirão sua identidade, enquanto sujeito que 
se filia a “essas” formações ideológicas, de modo prioritário e não a “outras” 
posições. Diante disso, é pertinente pensar: como se dá o processodiscursivo no 
qual o sujeito entra em contato com “X” sentidos e não outros? 
Para refletir sobre essa questão, precisamos compreender que o sujeito 
se relaciona com a ordem social da qual faz parte, assumindo posições no 
dizer, ou seja, defendendo diferentes pontos de vista, através de um processo 
de identificação com outros discursos advindos do interdiscurso (memória). De 
forma prática, basta considerarmos, por exemplo, processos seletivos os quais 
organizamos ou dos quais já fizemos parte. 
Considere a múltiplas e intermináveis formações imaginárias que construímos 
sobre tudo o que envolve o processo. O que percebemos é que quase sempre são 
apenas imaginários fortalecidos por um discurso de consolidação, que é o nosso.
AUTOATIVIDADE
Assim, pense em uma situação bem formal na qual você construiu 
múltiplas FIs sobre si e sobre os que participavam de tal situação. Após isso, reflita 
sobre: 
Qual discurso você solidificou para sustentar a sua “percepção”?
112
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
4 O PAPEL DA PARÁFRASE E DA POLISSEMIA: O 
CONFRONTO ENTRE O SIMBÓLICO E O REAL
O funcionamento da linguagem e a produção de sentido se estruturam 
na relação entre os processos parafrásticos e os polissêmicos. A polissemia pode 
ser entendida como um deslocamento, uma ruptura na continuidade construída 
pela paráfrase. Enquanto a paráfrase cria a noção de continuidade no processo de 
significação, de progressão das ideias, a polissemia CHEGA e ressignifica tudo.
Tais forças que atuam de forma permanente no discurso, evidenciando a 
tensão entre o entre o mesmo (paráfrase) e o inesperado (polissemia). Sabemos 
que não há uma origem do dizer. Os discursos são construídos à medida que 
parafraseamos o que já foi vivenciado, ressignificando processos e acontecimentos, 
todavia, em algumas condições de produção ocorre a ruptura e experimenta-se 
um sentido novo.
Nesse atrito entre o que escrito e o que é ressignificado, os sujeitos e os 
sentidos se movimentam, (se) significam. Nesse acontecimento, a língua é sujeita 
ao equívoco e à ideologia, o que nos leva a retomar mais uma vez que nem os 
sujeitos, nem os sentidos estão prontos, completos.
Dessa forma, tem que os sentidos podem SEMPRE ser outros. Vale a 
ressalva de que tal ruptura nem sempre acontece, pois tudo depende da relação 
como os sujeitos se relacionam com a língua, ou seja, como se organiza determinado 
discurso. A tensão existente entre os processos parafrásticos e polissêmicos abre 
espaço para a continuidade e a ruptura enquanto acontecimentos interconectados 
na discursividade.
Assim, tanto a repetição quanto a transformação articulam-se à enunciação. 
Segundo Orlandi (2003), em todo dizer há algo que se mantém e, ao mesmo 
tempo, se direciona para novos sentidos antes não pensados ou visualizados. 
Dessa maneira, conseguimos perceber que há discursos que tentam estabelecer 
um controle dos sentidos e parecem mais lineares, como é o caso de um discurso 
religioso por exemplo. Por outro lado, há discursos que transbordam a polissemia, 
trazendo à tona múltiplas possibilidades de leitura. 
Observe a seguir:
TÓPICO 3 | RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS 
113
FONTE: <https://heroinasedivas.files.wordpress.com/2016/09/mafalda-1.jpg?w=467&h=263>. 
Acesso em: 10 out. 2019.
FIGURA 2 – IMAGEM PARA ANÁLISE
O que nós percebemos nesse discurso? Há uma paráfrase que (re)edita o 
discurso da mudança de comportamento. A personagem sugere que é importante 
para as pessoas que elas tenham uma nova postura em relação aos fatos da vida. 
A partir disso, qual é a polissemia recorrente? Isso pode ser observado na imagem 
inédita e de possibilidade quase inexistente de que o mundo a personificação do 
“ano” já espera a mudança das pessoas há muito tempo. 
Essa construção, que parece uma brincadeira, de que o ano espera… é o 
aspecto multiplicador do sentido, a polissemia. O atrito de tais interfaces (pessoas 
esperando e ano esperando) provoca o inesperado, criando uma leitura irônica, 
crítica e diferenciada a esse discurso.
4.1 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DE DISCURSO PARA O 
MERCADO DE TRABALHO
A partir das análises realizadas, conseguimos chegar ao ponto de reconhecer 
que a análise de discurso é um gesto que está automaticamente presente em nossas 
relações sociais e de trabalho. Dessa forma, a AD circula nos múltiplos espaços do 
mercado de trabalho, evidenciando-nos que os discursos são sempre articulados 
por sujeitos que se (re)significam constantemente no ato discursivo.
Dessa forma, precisamos apenas selecionar com qual dispositivo de análise 
queremos trabalhar. Eu sempre procuro entrar a análise observando o sujeito 
que enuncia. Há quem prefira primeiro compreender as condições de produção 
ou as formações imaginárias. Tudo depende de como estamos interagindo com 
determinado discurso. 
114
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
Independentemente de como escolhemos entrar no discurso, a questão 
que fica é sempre a mesma: como o nosso discurso e o discurso de nossos pares 
funcionam? Precisamos buscar essa compreensão para que possamos estar sempre 
esclarecidos acerca das relações ocorrentes em nossos ambientes profissionais.
TÓPICO 3 | RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS 
115
LEITURA COMPLEMENTAR
O DESAFIO DA ANÁLISE DE DISCURSO: OS DISPOSITIVOS 
ANALÍTICOS NA CONSTRUÇÃO DE ESTUDOS QUALITATIVOS
Antônio Marcos Tosoli Gomes
[...]
 INTERDISCURSO 
À medida que a paráfrase se apresenta como matriz de sentido, especialmente 
em sua tensão com a polissemia, a ele também se liga outro processo discursivo que 
se constitui como a memória do dizer, o interdiscurso. Em função disso, deve-se 
ressair que a memória, por sua vez, tem suas características, quando pensada em 
relação ao discurso. E, nessa perspectiva, ela é tratada como interdiscurso. Este é 
definido como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. Ou seja, 
é o que chamamos memória discursiva: o saber discursivo que torna possível todo 
dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito que está na base do 
dizível, sustentando cada tomada da palavra. 
O interdiscurso disponibiliza dizeres que afetam o modo como o sujeito 
significa em uma situação discursiva dada. O interdiscurso, dessa maneira, 
“sustenta o dizer em uma estratificação de formulações já feitas, mas esquecidas, e 
que vão construindo uma história de sentidos”, caracterizando-o como a memória 
discursiva. É através dessa memória que os sentidos se constroem, dando a 
impressão de que a pessoa sabe do que está falando e de que esse dizer possui 
origem exclusiva em seu pensar. 
O que particulariza o interdiscurso é o esquecimento e a posterior 
disponibilização desses já ditos esquecidos que não possuem origem definida, mas 
se mantêm presente nas relações estabelecidas no âmbito social. O diálogo, dessa 
maneira, perpetua a necessidade de dizer aquilo que, apesar de ser continuamente 
repetido, faz-se sempre novo e pertinente, demonstrado de forma poética na 
composição musical de Nascimento e Veloso (qual a palavra que nunca foi dita?) e no 
poema de Pessoa (escrevi, a meu tempo, cartas de amor, como as outras, ridículas...). 
As ideias, e a sua constante repetição discursiva, de que a combinação de 
leite e manga é fatal, da necessidade de jejum ou de alimentação antes ou depois 
do uso de algum fármaco, de que política e religião não se misturam ou de que 
não se discute futebol são exemplos dos já ditos que não têm origem nos sujeitos, 
mas os colocam, aparentemente, na fonte do dizível. Nesse sentido, o pesquisador 
deve estar atento para não confundir a interdiscursividade com a repetição do dito, 
que se configura como paráfrase, uma vez que o ato de parafrasear não implica o 
esquecimento necessário, fato esse essencial para que o interdiscurso se apresente 
como acontecimento discursivo. 
116
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
 METÁFORA 
Uma outra noção queimporta à AD é a de metáfora. Para Orlandi, Pêcheux 
e Pêcheux e Fuchs, o efeito metafórico é imprescindível nesse tipo de análise, pois 
é constitutivo do processo de produção de sentido e da constituição dos sujeitos. 
Dessa forma, a metáfora supera o modo como a retórica a concebe, ou seja, figura de 
linguagem, passando a se caracterizar pela tomada de uma palavra pela outra, através 
de um mecanismo de transferência que estabelece o modo como as palavras significam. 
Pêcheux ainda assevera que não há sentido sem metáfora, pois essa se 
constitui na relação estabelecida no deslizamento de sentidos entre palavras e 
expressões. Já para Orlandi, metáfora é um dos lugares privilegiados em que a 
ideologia e a historicidade se manifestam, pois, pelos equívocos gerados por essas 
variáveis no inconsciente do enunciante, permite que os sentidos atribuídos pelos 
próprios sujeitos se mostrem. Orlandi demonstra esse fenômeno em um estudo 
desenvolvido na área da psiquiatria, no qual pode-se observar que dor de cabeça, 
doença na cabeça e caboclo se substituem ao longo da discursividade em que o 
paciente expõe a sua doença mental e a sua religiosidade, simultaneamente. Gomes, 
por sua vez, demonstra como HIV/AIDS e problema se substituem na discursividade 
de cuidadores de crianças soropositivas, indicando o sentido atribuído ao vírus e à 
doença no cotidiano desses sujeitos. O desafio da análise de discurso.
Ressalta-se que a metáfora e a paráfrase se apresentam como dispositivos 
que perpassam todas as etapas necessárias à realização do percurso metodológico da 
AD, e os quais o analista não pode ignorar. Por isso, torna-se importante reforçar que 
eles não podem ser confundidos com figuras de linguagem, como ainda se observa 
em alguns estudos que adotaram a AD como referencial teórico-metodológico.
 FORMAÇÃO IMAGINÁRIA
 Na constituição dos discursos, é imprescindível compreender, ainda, 
a formação imaginária1,4. Essa formação imaginária apresenta-se como base 
constituinte das condições de produção do discurso, em função da organização 
mental que estimula o dito, ao mesmo tempo em que permite a construção do que 
não pode ou não deve ser dito, ou seja, o não dito. 
As relações de sentido se constituem nas referências e nas inter-relações 
que os discursos estabelecem entre si. Explicitando melhor esse fenômeno, torna-
se necessário ressair que um discurso não tem origem em si mesmo, mas é uma 
resposta a algum discurso anterior, remetendo o curso das enunciações para 
formações discursivas posteriores. 
Para Orlandi, um discurso aponta para outros que o sustenta, sendo parte 
de um processo discursivo mais amplo e sistematicamente contínuo. Desse modo, 
não há começo absoluto e nem ponto final, tendo todo dizer relação com outros 
TÓPICO 3 | RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS 
117
dizeres realizados, imaginados ou possíveis. Pêcheux esclarece esse dispositivo ao 
salientar que um discurso é construído em decorrência das relações estabelecidas 
pelo seu autor às coisas que já foram ditas, à posição em que ocupa e à posição da 
pessoa a quem o discurso é dirigido e assim sucessivamente. 
O mecanismo de antecipação implica que o enunciador experimente, 
mesmo que parcialmente, o lugar de ouvinte, a partir do seu próprio lugar de 
enunciador. Pêcheux observa que essa habilidade é a capacidade de imaginar o 
modo como o próprio discurso produz efeito no outro, precedendo o ouvinte e 
prevendo onde este o espera. A argumentação baseia-se, em grande parte, nesse 
mecanismo visando seus efeitos no interlocutor. 
Quando se trabalha com a noção de relações de força, considera-se que o 
lugar a partir do qual o sujeito fala é constitutivo do que ele diz. Essas relações 
ganham especial importância em decorrência da hierarquização presente na 
sociedade, o que faz com que elas se enraízem no poder social desses diferentes 
lugares, determinando o que pode ser dito, como pode ser dito e a quem pode ser 
dito determinada coisa. 
Todos esses três mecanismos de funcionamento do discurso, como já 
comentado, possuem suas bases nas formações imaginárias. Nesse funcionamento 
discursivo, não são os sujeitos físicos ou os seus lugares empíricos (basicamente 
sociológicos) que constroem o discurso, mas as imagens que resultam de projeções. 
São essas projeções, segundo esses mesmos autores, que permitem passar das 
situações empíricas — os lugares realmente ocupados — para as posições dos 
sujeitos nos discursos. 
Assim, ao se considerar esses três elementos, somando-se às condições 
de produção do discurso e ao interdiscurso, conclui-se que são as imagens que 
constituem as diferentes posições. Vale exemplificar que não é só a posição de pai, 
de mãe, de professor ou de enfermeiro que produz uma discursividade típica, 
mas essa posição em face da formação imaginária acerca do outro, da instituição 
e da sociedade. Aqui se observa o principal papel da análise de discurso, buscar 
atravessar o imaginário que condiciona o sujeito em sua discursividade, explicitar 
o modo como os sentidos estão sendo produzidos para, finalmente, compreender o 
que está sendo dito, pois “os sentidos não estão nas palavras nelas mesmas. Estão 
aquém e além delas”.
 
Dessa maneira, quando se assume uma discursividade a partir de uma 
formação imaginária, diz algo para que outra questão não seja explicitada. Deve-se 
destacar que sempre que se diz X, deixa-se de dizer Y, para que, então, o X faça sentido. 
Essa é a relação do dito com o não-dito e do falado com o silenciado em um discurso. 
Desse modo, a formação imaginária produz seus efeitos na discursividade 
dos sujeitos, ajudando a delimitar a formação discursiva e sendo o lugar em que 
a representação de si, do outro e a representação de como o outro representa 
esses sujeitos, determinam o que dizer e o que não dizer. Nesse sentido, quando 
118
UNIDADE 2 | ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA DE ANÁLISE
se afirma que se gosta de algo, obrigatoriamente está sendo dito (mesmo ao não-
dizer) que não se gosta de outras coisas que a própria discursividade do sujeito 
exclui, especialmente quando se conjugam imagens e projeções que reforçam o 
dito, como o aluno que ouve o professor, os fiéis ao líder religioso e o filho aos pais.
[...]
 
FONTE: <http://www.facenf.uerj.br/v14n4/v14n4a20.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2019.
119
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• As formações imaginárias são processos de previsibilidade que o sujeito faz 
sobre si e sobre o outro.
• Como o próprio nome diz, elas são “imaginárias”, o que nos leva a entender 
que nem tudo o que elas pontuam é efetivo.
• A paráfrase é um processo discursivo que “repete” o previsível.
• A paráfrase está na ordem do pré-construído e articula os sentidos de forma 
mais evidente.
• A polissemia funciona como o inesperado.
• A poli (vários) semia (sentidos) traz consigo uma riqueza mais da interpretação.
• Todos os processos do discurso estão relacionados. Basta selecionarmos aquele 
ou aqueles que mais contribuem com nossa análise.
• Todos os dispositivos de análise da AD precisam ser considerados ainda mais 
quando se trata de aplicabilidade no mercado de trabalho, pois eles podem 
representar um norte na avaliação de determinadas decisões ou ações. 
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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
120
1 Considerando os dispositivos de análise: paráfrase, polissemia e formações 
imaginárias, marque a alternativa CORRETA:
AUTOATIVIDADE
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/--bb_VOt9Jbs/T2eW1WnOgdI/AAAAAAAAABg/
tj7LZ1pxEJ4/s320/Mafalda_TV.jpg>. Acesso em: 20 nov. 2019.
a) ( ) No primeiro quadrinho da imagem, há um processo de polissemia.
b) ( ) O diálogo do segundo quadrinho não trabalha com o inesperado, por 
isso trabalha com a paráfrase. um
c) ( ) Pode-se afirmar que no 3º quadrinho, a polissemia surge como 
contestaçãoà previsão do discurso inicial.
d) ( ) A expressão da Mafalda juntamente à fala do 4º quadrinho representa 
um imaginário coletivo sobre a tv.
e) ( ) Os dois personagens, desde o início, nutriram o mesmo imaginário até 
o final do texto.
2 Ainda sobre as noções acerca de paráfrase, polissemia e formações 
imaginárias, elementos constituintes do discurso de todo e qualquer sujeito, 
marque a alternativa CORRETA:
121
FONTE: <https://metropolitanafm.com.br/wp-content/uploads/2015/09/mafalda-08.jpg>. 
Acesso em: 20 nov. 2019.
a) ( ) O imaginário de Mafalda sobre o mundo é que ele é um lugar bom para 
se viver, por isso deve ser cuidado.
b) ( ) A polissemia se apresenta no 2º quadrinho já que o primeiro faz um 
apontamento que não leva à interpretação do 2º.
c) ( ) A relação do mundo com as doenças descritas cria uma paráfrase inesperada.
d) ( ) O imaginário do mundo sobre Mafalda é que ela está triste.
e) ( ) O imaginário dominante no 3º quadrinho é o de que o mundo agoniza 
para a morte. 
3 Usando a imagem anterior, descreva quais imaginário não presentes ali 
fundamentam o diagnóstico dado:
4 Com base na definição a seguir, marque a alternativa correta, considerando 
a imagem que acompanha a questão.
 O autor (PÊCHEUX, 1997c, p. 82) aponta que “todo processo discursivo 
supõe a existência das formações imaginárias” as quais são entendidas da 
seguinte maneira: 
• A imagem do lugar de A para o sujeito colocado em A.
• A imagem do lugar de B para o sujeito colocado em A.
• A imagem do lugar de B para o sujeito colocado em B.
• A imagem do lugar de A para o sujeito colocado em B.
122
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/41/69/70/4169704a8c1f13bec982934c78960cef.jpg>. 
Acesso em: 28 de setembro de 2019.
a) ( ) Considerando a leitura da personagem Felipe, pode-se afirmar que ele 
concentra sobre Mafalda um imaginário de resposta à sua crise existencial.
b) ( ) Considerando Mafalda, pode-se afirmar que ela assume um imaginário 
sobre si de detentora do saber.
c) ( ) Observa-se que Mafalda tem um imaginário sobre Felipe que o infantiliza.
d) ( ) Compreende-se que o imaginário de Mafalda sobre si mesma 
demonstra que ela está destituída de percepção sobre a realidade.
e) ( ) O imaginário de Felipe sobre si mesmo relaciona-se ao fato de que ele se vê 
em uma situação de comodidade em relação ao que ocorre ao seu redor. 
123
UNIDADE 3
PRAGMÁTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer os conceitos que norteiam a pragmática;
• compreender como os atos de fala interferem nas relações sociais; 
• desenvolver habilidades de usos dos operadores argumentativos;
• reconhecer e desenvolver a habilidade de uso dos tipos de 
argumentos. 
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer de cada 
unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o 
conteúdo apresentado. 
TÓPICO 1 – NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
TÓPICO 2 – ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
124
125
TÓPICO 1
NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Nas unidades anteriores, trabalhamos com noções que envolveram as 
bases de entendimento do funcionamento do discurso entendido como efeito de 
sentido entre locutores (ORLANDI, 2003). Nessa óptica é importante observarmos 
que estudar o discurso é um gesto que nos move à compreensão acerca do que 
está constituindo os sentidos não ditos, mas interpretados. Assim, a Análise de 
Discurso, enquanto disciplina que norteia a leitura daquilo que está na opacidade da 
linguagem, permite-nos lançarmos hipóteses, com base nos dispositivos de análise, 
como o da compreensão de sujeito, de imaginário, de memória, entre outros.
A Pragmática, por sua vez, também é uma disciplina que orienta para o 
estudo da linguagem, porém, agora, olhando o contexto de enunciação de uma fala 
e não mais as condições de produção. A diferença está no fato de que o contexto 
está vinculado ao que é mais imediato no processo de comunicação e as condições 
de produção mergulham na representação histórica do que é dito e ressignificado 
em dado ato enunciativo. Nesse viés, a Pragmática busca compreender o que está 
na tessitura do que está no concreto/visível da linguagem.
Busca-se, com as noções pragmáticas, conhecer os sentidos que estão 
em contextos extralinguísticos. Assim, a pragmática estuda os objetivos da 
comunicação, na perspectiva de práticas sociais entre o locutor, entendido como 
aquele que fala, que escreve ou que enuncia – com aquele que ouve, que lê, ou 
que apenas se posiciona no polo do “tu” da linguagem. É válido observar que esta 
noção última do “tu” encontra as bases conceituais em Benveniste, na Unidade 1 
do Livro Didático desta disciplina. 
Como você pode observar, o estudo da linguagem permite que olhemos 
para um texto e possamos captar as ideias nele contidas a partir de ângulos de 
análise que melhor se adaptem àquilo que projetamos como melhor estrutura 
teórica para interpretá-lo. Agora, com a Pragmática, vamos pontuar conceitos 
e funcionamentos que permitirão uma forma diferente de entender o discurso 
contido nos textos que objetivamos analisar. Vamos atentar para situações 
concretas de interação a partir de conceitos que serão pontualmente descritos no 
decorrer dos tópicos que seguem nesta unidade. Então, vamos lá? Vamos conhecer 
esta perspectiva outra de entendimento dos sentidos circulantes na linguagem?
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
126
2 CONCEITOS INICIAIS
Inicialmente, com a finalidade de melhor situar você no conteúdo, vamos 
fazer um mapeamento temporal acerca de algumas datas ou períodos que vão 
demonstrar melhor em que espaço/tempo a Pragmática se situa. Então, vamos 
contar como se fosse uma história, certo? 
Alguns anos antes de se teorizar a público a Análise de Discurso, que 
trabalhamos nas Unidades 1 e 2, mais precisamente em 1916, do século XX, foi 
publicada uma obra que hoje representa um marco nos estudos da linguagem. Essa 
obra é denominada Curso de Linguística Geral, de autoria de Ferdinand de Saussure, 
nome exponencial no que tange ao tratamento de que noções teóricas, como as de 
signo linguístico, língua e fala, as quais, embora não as tratemos exatamente de 
acordo com o que Saussure postulou, tais concepções nortearam outros e novos 
entendimentos para as mais diversas linhas de pensamento sobre a linguagem.
QUEM FOI FERDINAD SAUSSURE?
 Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi um importante linguista suíço, estudioso das 
línguas indo-europeias, foi considerado o fundador da linguística como ciência moderna.
 
Descendência e Formação
 Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra, Suíça, no dia 26 de novembro de 
1857. Recebeu orientação do amigo da família e filólogo Adolphe Pictet para estudar 
linguística. Enquanto estudava Física e Química na Universidade de Leipzig, na Alemanha, 
paralelamente estudava linguística fazendo curso de gramática grega e latina. Em 1874, 
iniciou sozinho o estudo de sânscrito, usando a gramática de Franz Bopp. Para se aprofundar 
nos estudos de linguística, ingressou na Sociedade Linguística de Paris. Em 1876, iniciou os 
estudos em línguas indo-europeias na Universidade de Leipzig.
 Ainda estudante, Ferdinand Saussure publicou seu único livro, um estudo em 
linguística comparativa, intitulado “Mémoire sur le Système Primitif des Voyelles dans les 
Langues Indo-européennes” (Memórias Sobre o Sistema Primitivo da Vogais nas Línguas 
Indo-Europeias). Em seguida, Saussure se dedicou ao estudo de sânscrito, celta e indiano, 
em Berlim. Em 1880, Saussure doutorou-se na Universidade de Leipzig com a tese “De 
L’emploi du Génitif Absolu em Sanscrit” (Sobre o Emprego do Genitivo Absoluto em 
Sânscrito).
Curso de Linguística Geral
 Em 1891, Ferdinand de Saussure regressou para Genebra onde lecionou 
Linguística Indo-europeia,Sânscrito e posteriormente o célebre curso de Linguística Geral, 
na Universidade de Genebra. Seu reconhecimento veio com a publicação da obra póstuma 
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
127
“Cours de Linguistique Générale” (Curso de Linguística Geral), publicado em 1916, três 
anos após sua morte. A obra foi compilada a partir dos apontamentos de classe de seus 
discípulos e alunos suíços Charles Bally e Albert Séchehaye, que reuniram os textos dos 
cursos ministrados por Saussure durante seus últimos anos na Universidade.
Estruturas Linguísticas de Saussure
 O livro “Curso de Linguística Geral” teve uma importância ímpar para linguística, 
pois além de estudar a língua como elemento fundamental da comunicação humana, 
estabeleceu as bases de todos os estudos que se desenvolveram posteriormente, sendo 
considerada decisiva para o estabelecimento da linguística moderna.
 O estruturalismo, conforme exposto na obra de Saussure, baseia-se na convicção 
de que a linguística é um sistema abstrato de relações diferenciais entre todas as suas 
partes.
 Ferdinand Saussure estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a 
natureza da linguagem para fundamentar suas afirmações:
1- a diferenciação entre língua, sistema de signos presentes na consciência de todos os 
membros de uma determinada comunidade linguística, e discurso, realização concreta 
e individual da língua em determinado momento e lugar por cada um dos membros da 
comunidade.
2- a consideração do signo linguístico, elemento essencial na comunidade humana, como 
a combinação de uma expressão e um conteúdo, cuja relação arbitrária se define em 
termos sintagmáticos (entre os elementos que se combinam na sequência do discurso), 
ou paradigmáticos (entre os elementos capazes de aparecer no mesmo contexto).
3- a distinção entre o estudo sincrônico da língua, ou seja, a discrição do estado estrutural 
da língua em um dado momento, e o estudo diacrônico, descrição da evolução 
histórica da língua, que leva em conta os diferentes estágios sincrônicos. É considerado 
prioritário o estudo sincrônico, que permite revelar a estrutura essencial da linguagem: 
“A língua é um sistema em que todas as partes podem e devem ser consideradas em sua 
solidariedade sincrônica”.
 Ferdinand de Saussure faleceu em Vuffens-le-Château, Genebra, Suíça, no dia 22 
de fevereiro de 1913.
FONTE: <https://www.ebiografia.com/ferdinand_de_saussure/>. Acesso em: 10 mar. 2020.
Essa demarcação temporal, ancorada em Saussure, é importante de 
ser lembrada porque, a partir dela, surgiram inúmeras pesquisas em torno da 
linguagem, dividindo, em linhas gerais, os estudos linguísticos em dois polos: 
o polo formalista, o qual tratou a língua como um sistema, sendo ela (a língua) 
um objeto autônomo. Isto é, tal corrente trouxe a ideia de que não é a intenção 
ou a vontade das pessoas que cria o sentido sobre aquilo que está nominando, 
e sim o uso da língua. Paralelo a esse entendimento, havia um segundo polo: o 
funcionalista. Nesse caso, o tratamento dado à língua se dá nas situações de uso, 
de acordo com as relações contextos em funcionamento.
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
128
A Pragmática, então, nasce nesse segundo polo, à medida que alguns 
linguistas manifestam interesse no que tange às questões de uso da linguagem. 
Assim, a pragmática busca compreender os usos que falantes exercem na língua, 
observando as específicas escolhas linguísticas elaboradas na interação social 
com seus respectivos efeitos sobre outras pessoas. E isso é muito importante aqui: 
a pragmática vai se ocupar muito sobre o efeito que os dizeres provocam sobre 
o “outro”. A partir disso, a referida linha de pensamento vai estudar as regras 
sociais que nos autorizam (ou não) a dizer sobre o que experienciamos.
3 BREVE HISTÓRICO: CONCEITOS E NOMES 
EXPONENCIAIS DA TEORIA
A pragmática, situada nas condições de produção as quais mencionamos 
anteriormente, tem suas raízes dentro da filosofia da linguagem (PAVEAU; 
SARFATI, 2006), em função de um contexto de necessidade de se refletir sobre 
o funcionamento da linguagem — no final do século XIX — (já alcançando os 
acontecimentos linguísticos do século XX). 
Etimologicamente, a palavra “pragmática” vem do grego pragma = 
coisa, objeto, representando a ideia de “algo que é feito ou produzido”. Nessa 
esfera, a pragmática se caracteriza pelo estudo da linguagem em uso. Fiorin 
(2003, p. 161) afirma que pragmática “É a ciência do uso linguístico, estuda as 
condições que governam a utilização da linguagem, a prática linguística”. Entre 
os nomes que mais representam a pragmática, constam: Charles Sanders Peirce 
(1839-1914), William James (1842-1910) e posteriormente John Dewey (1859-
1952). Contemporaneamente Richard Rorty é um dos nomes que mais toma 
proporção ao trabalhar uma linha de estudo, dentro da pragmática, denominada 
neopragmatismo. 
Há também outros nomes representativos da Pragmática. Françoise 
Armengaud (2006) tratou da emergência da Pragmática, pontuando que o 
estudo dos signos (concepção saussureana: conceito e imagem acústica dos 
objetos/elementos/acontecimentos...) e da linguagem ocorreu, inicialmente, 
por meio de duas abordagens: abordagem semântica e a abordagem sintática. 
A abordagem semântica (mais aproximativa do funcionamento da pragmática) 
busca compreender as relações existentes entre os signos, realizando um estudo 
conjunto do sentido. Já a abordagem sintática se ocupa de observar as relações, no 
sentido de formular regras que expliquem a clara formação das expressões, bem 
como as transformações de determinados léxicos em outras expressões. Posto 
que as duas abordagens, sozinhas, não são suficientes para esclarecer as noções 
sobre o sentido, emerge uma terceira abordagem que é a da Pragmática.
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
129
Consta, neste cenário, também, Wittgenstein, filósofo alemão, que 
discorda das concepções tradicionais de que língua apresenta a funcionalidade 
de designar seres. O autor situa que a língua vai criando os objetos, estando o 
significado da palavra associado ao uso/contexto que se faz da língua. Nesse 
período, a filosofia focava a linguagem construída a partir de enunciados 
descritivos de acontecimentos do mundo. Frege, Russell, teóricos do Círculo 
de Viena, estudaram exaustivamente a linguagem com a referida abordagem. 
Essa tendência perdurou até um segundo trabalho de Wittgenstein, que levou à 
compreensão que a linguagem não se limita a seu caráter descritivo próprio de um 
código linguístico. Muito mais que isso, a linguagem está articulada a convenções 
sociais de várias ordens. Com este trabalho, Wittgenstein trouxe a concepção de 
“jogos de linguagem”, os quais representam as configurações necessárias para 
que um enunciado seja interpretado da maneira que seu enunciador pretende 
que ele seja compreendido. 
Para finalizar a composição do quadro teórico com os principais nomes 
da pragmática, há ainda: John L. Austin (criador dos atos de fala), John Searle e 
H. P Grice. Faz-se oportuno ressaltar que mais adiante trataremos sobre Grice e 
Austin, os quais instituem importantes dispositivos de análise na pragmática. 
Nessa perspectiva, a pragmática se embasa no estudo funcional da 
linguagem, observando-se os princípios do uso da linguagem, que podem ser 
compreendidos a partir da noção de contexto. Com base nisso, vamos pontuar 
algumas definições sobre Pragmática de acordo com Levinson (2007):
• Pragmática é o estudo da capacidade dos usuários da língua de emparelhar 
sentenças com os contextos em que elas seriam adequadas.
• Pragmática é o estudo de todo os aspectos do significado não capturados em 
uma teoria semântica.
• Pragmática é o estudo das relações entre língua e contexto que são 
gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de uma língua.
• A Pragmática é o estudo da dêixis (em parte), da implicatura, da pressuposição, 
dos atos de fala e dos aspectos da estrutura discursiva.
• A Pragmática é o estudo das relações entrea língua e o contexto que são básicas 
para uma descrição da compreensão da linguagem. 
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
130
Charles Morris (1938) definiu que pragmática é “a ciência que trata da relação 
entre os signos e seus intérpretes”.
 Rudolf Carnap (1938), filósofo da ciência, de origem alemã, com quem Morris 
trabalhou em Chicago, pontuou pragmática como “o estudo da linguagem em relação aos 
seus falantes, ou usuários”, salientando que “a pragmática está na base de toda a linguística”. 
FONTE: <http://linguagemnaciencia.weebly.com/uploads/3/0/9/3/30933555/pragmatica.pdf>. 
Acesso em: 12 mar. 2020. (slide 5).
NOTA
Levinson (2007) ressalva, ainda, que a Pragmática possui limites que 
são a Semântica, a Sociolinguística e a Psicolinguística, os quais podem ser 
“extrapolados” quando se ultrapassa o estudo da funcionalidade da linguagem, 
buscando alcançar o entendimento dos fatores que constroem os sentidos de um 
termo ou dos fatores que explicam usos sócio ou psicolinguísticos da linguagem.
Outro nome expoente na definição de Pragmática é Yule (1996), o qual 
pontua que Pragmática pode ser definida como “o estudo do significado falante”, 
ou seja, a Pragmática observa o significado que o usuário da língua objetiva dar 
à ideia que está construindo. Paralelo a isso, a Pragmática também observa a 
construção do sentido que o polo do ouvinte estabelece sobre aquilo que chega 
a ele mesmo e assim precisa interpretar. Para tanto, a Pragmática tem como foco 
as ideias que as pessoas querem produzir, seja falando/escrevendo, seja ouvindo/
lendo em detrimento dos “reais” significados que as ideias têm. 
Assim, a Pragmática busca o entendimento daquilo que se “quis dizer” e 
não necessariamente do que foi dito, de forma que o contexto imediato e histórico 
entra como critério de análise das ideias. Entram nessa análise as possíveis 
interferências que os ouvintes fazem durante os atos de fala, o que provoca outras 
interpretações que se pautam sobre intenções, suposições, propósitos, os quais 
fortalecem os sentidos em andamento.
A Pragmática se estrutura a partir de um conjunto de teorias norteadas 
com base na integração dos conceitos e perspectivas de trabalho da filosofia da 
linguagem. Entre os conceitos mais importantes, vejamos a seguir alguns dos 
mais importantes, estando entre eles algumas noções as quais retomaremos e 
aprofundaremos posteriormente:
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
131
• CONTEXTO – representa um momento circunstancial onde se estruturam 
inúmeros acontecimentos. Essa situação traz informações de ordem política, 
econômica, familiar, de saúde, de trânsito, e outros, as quais se entrelaçam a 
partir das intenções de quem diz sobre algo. Um caso prático disso pode ser 
observado quando se contam piadas. Dependendo da pessoa para quem se 
conta, ela pode, muitas vezes, nem compreender que está se contando uma 
anedota e achar que a “história” é verdadeira. Assim, o contexto, refere-se à 
situação em que atos de fala são emitidos. Na noção de contexto, incluem-se as 
percepções de lugar, de tempo, de identidade dos falantes. Há quatro níveis de 
observância ao contexto: o nível de contexto circunstancial; este acontece a partir 
do ambiente físico imediato dos protagonistas (espaço, tempo, natureza, texto 
e comunicação). Há também o nível do contexto situacional; este relaciona-se ao 
ambiente cultural do discurso, pontuando os critérios de validade, por exemplo, 
avaliando os tipos de expressão consideradas aceitas ou normais em uma dada 
cultura. Em terceiro lugar há o contexto interacional; este caracteriza as formas 
do discurso e os sistemas de signos que as acompanha, por exemplo, os turnos 
de fala, gestos, os olhares. Por fim, há o contexto epistêmico (ou pressuposicional); 
este tem a ver com o conjunto das crenças e valores comuns aos locutores em 
âmbito dos sentidos pré-construídos ou pós-construídos.
• ATO – corresponde à noção de que a linguagem funciona no sentido de evidenciar 
as representações do mundo e sobretudo explicar/realizar as ações que nele 
acontecem. Nessa óptica, tem-se que o falar é uma forma de tomar ação, já que 
se está interferindo sobre os sentidos e representações do outro. Trabalhando o 
“ato” dentro, este termo assume maiores proporções porque se transmuta em “ato 
de fala”. A teoria dos atos de fala iniciou com os trabalhos do filósofo inglês John 
Langshaw Austin (1911-1960), sendo melhor desenvolvida, posteriormente, 
por John Roger Searle (1932-) e por Jacques Derrida (1930-2004). Austin participou 
da escola de filosofia analítica de Oxford. O aspecto que caracteriza os filósofos desta 
escola é a análise minuciosa da linguagem com um viés na interpretação literal, 
ao contrário da formação teórica que estava se projetando, a da Pragmática, que 
emergiu com a função de observar os efeitos de sentido no uso que a linguagem tem, 
sempre observando o contexto e não a forma (da visão estruturalista saussureana). 
Com base nessa dimensão contextual, Austin trabalhou nesta perspectiva e suas 
teses se encontram, principalmente, nos textos Other Minds (1946), Word and 
Deads e How to do Things with Words (publicados postumamente em 1962). As 
referidas teses, as quais abordaremos posteriormente, tratam sobre a interpretação 
de questões, exclamações, comandos, observando enunciados que não sejam 
unicamente descritivos.
• DESEMPENHO – diz respeito ao processo da realização do ato de fala em 
contexto, seja atualizando a competência dos falantes, seja integrando o exercício 
linguístico a uma noção mais compreensiva, como a da competência comunicativa. 
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
132
Frequentemente, lemos ou ouvimos as pessoas avaliarem umas às outras 
como sendo mais ou menos pragmáticas. Ouvimos afirmações como “Eu sou uma pessoa 
muito pragmática”, “Fulano é uma pessoa mais pragmática”, “Precisamos nos cercar de 
pessoas pragmáticas”. De acordo com os conceitos já vistos até aqui e com a relação 
contextual que as palavras assumem quando são articuladas, o “pragmatismo” colocado em 
uso significa a ideia de que somente pessoas assim “pragmáticas” são capazes de colocar 
em ação seu potencial, movido pela própria energia e inteligência, a fim de alcançarem 
propósitos, através da linguagem. Viver uma concepção pragmática significa assumir a 
condição de se viver em função da lógica das ideias. Posto que toda linguagem colocada 
em ação possui um efeito, as pessoas pragmáticas, sabendo disso, usam deste possível 
efeito para alcançarem, de maneira ágil, melhores resultados.
NOTA
Com essa imagem a seguir, vamos colocar em prática a concepção 
principal da Pragmática, que é a ideia de percepção sobre os efeitos de sentido. 
Então, observe a figura e siga a leitura da compreensão.
FIGURA 3 – ANÁLISE NA ÓPTICA DA PRAGMÁTICA
FONTE: <http://www.cads-informatica.com.br/sa2/index.php?option=com_content&view=article&i
d=75%3Aazul-linhas-aereas&catid=39%3Acaptify-content&Itemid=1>. Acesso em: 10 nov. 2019.
Começando a compreensão: como em qualquer análise, sempre 
começamos com a descrição em nível denotativo. Então, enxergamos, na peça 
publicitária, três figuras humanas, que parecem usufruir do serviço de transporte 
de uma linha aérea.
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
133
Análise pela pragmática: considerando que a Pragmática observa os efeitos 
de sentidos que os fatos expressam, percebemos que, na publicidade, a colocação 
das personagens nas posições em que estão e nas concepções que representam 
EXPRESSAM uma ideia de família classe média, que consegue, financeiramente, 
oportunizar tipos de vantagens ou formas de conforto que incluem um ângulo 
da estrutura familiar, que é a sogra, entendida, culturalmente, como uma 
representação humana, muitas vezes, não participativa de viagens de casais em 
férias ou em viagens de simples passeios. Fortalecendo essa concepção de inclusão 
da figura em análise, o texto verbal afirma “Temos o conforto que sua sogra 
merece”. Nessa afirmação, TENTA-SE consolidar a representaçãode bem-estar, 
conforto, qualidade de serviço, comodidade, entre tantas outras possibilidades 
similares, as quais concretizam a ideia INTENTADA pela publicidade.
Todavia, a Pragmática entra e desconstrói isso, começando pelo pré-
construído sobre a concepção de “sogra”. Considerando o imaginário coletivo 
sobre “sogra”, podemos sintetizar da seguinte forma: "mãe de um dos cônjuges”, 
que nem sempre apresenta relação amigável com eixo familiar em formação. 
Assim, quando a publicidade afirma “o conforto que sua SOGRA MERECE”, o 
imaginário coletivo responde, inconscientemente, de forma negativa, em função 
do imaginário sobre a referida figura.
Certa e incontestavelmente, muitas pessoas possuem excelentes relações 
com suas sogras, contudo, o imaginário coletivo continua perpetuante sobre a figura 
mencionada. Nesta óptica, estamos analisando não o que foi dito e SIM o efeito do 
que foi dito. Então, essa é a pragmática, o início dela, sendo uma linha de análise da 
linguagem que procura os reveses que a linguagem nos oportuniza observar. 
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
134
AUTOATIVIDADE
Agora é a sua vez. Analise o texto a seguir e faça exatamente como nós 
procedemos anteriormente: primeiro, descreva o que você observa, fazendo 
as devidas definições. Depois, explique se o sentido pretendido se consolida 
ou não. Se há ou não algum efeito de sentido, não expresso, tentando emergir.
FONTE: <http://conscienciaeconsumo.com.br/consumismo-infantil/comida-carinho-e-
publicidade-o-que-alimenta-o-consumismo-e-a-obesidade-infantil/>. Acesso em: 10 nov. 2019.
Observação: nem sempre o efeito de sentido a ser analisado é algo que conflitua 
ou que age para descontruir as intenções do texto. No exemplo a seguir, os 
efeitos que você observará contribuem para fortalecer as intenções do texto.
a) Como em qualquer análise, sempre começamos com a descrição em nível 
denotativo. 
b) Análise pela Pragmática:
Posto isso, elencamos anteriormente os conceitos que melhor definem a 
pragmática, bem como algumas noções que norteiam a teoria. A seguir, vamos 
adentrar um pouco mais nas definições que vão construindo gradualmente o 
conhecimento desta disciplina, agora com os atos de fala, que é um aprofundamento 
do que foi introduzido. 
4 ATOS DE FALA
A teoria dos atos de fala representa o ponto de partida da teoria clássica, 
no sentido de que vê a comunicação como uma realização que se materializa 
através de tipos de ato (ARMENGGAUD, 2006). Denomina-se ato de fala toda 
ação linguística para a produção de um enunciado, que seja linguisticamente 
funcional e que ocorra dentro de um determinado contexto de comunicação. 
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
135
Austin (1970), já mencionado como precursor dessa teoria, pontua que 
as línguas se organizam a partir de dois tipos de enunciados: os constativos, os 
quais descrevem o estado das coisas e performativos, os quais permitem realizar 
certo tipo de ação. Sobre ambos, veremos a seguir:
• Os enunciados constativos: estes traduzem ideias reconhecidas como 
verdadeiras ou falsas.
• Os enunciados performativos: estes traduzem ideias de caráter cuja ideia pode 
ter um teor “feliz” ou “infeliz. 
Austin (1970) define que, ao se dizer algo, está se executando três 
atos simultâneos:
• Ato locutório/locucionário (a fala): este é centrado no nível fonético, sintático e 
de referência. Este ato focaliza a produção de um enunciado de acordo com as 
regras gramaticais da língua. É a primeira condição para que um enunciado seja 
reconhecido como ato de fala: com frases compreensíveis entre os interlocutores 
(AUSTIN, 1970; SEARLE, 1981).
• Ato ilocutório/ilocucionário (a ação): é associado à maneira como se diz 
sobre algo e à maneira como se recepcionam os sentidos sobre algo. Neste ato, 
interessam muito as intenções e as condições em que algo é proferido. Os atos 
ilocucionários relacionam-se com ações como: pedir, cumprimentar, prometer, 
exigir, desculpar-se, censurar e outros.
• Ato perlocutório: diz respeito à indicação dos efeitos causados sobre o outro, no 
sentido de buscar influenciar ou persuadir o outro. O ato perlocutório focaliza 
a consequência, o resultado ou o efeito provocado no interlocutor por um 
ato ilocutório, por exemplo: assustar, alarmar, esclarecer, inspirar, criar 
expectativas.
Certamente, tais atos estão sujeitos às regras do contexto: linguístico, com 
estruturas empregadas para a execução de outras; sociológico, o que considera 
se os locutores possuem competência ou autoridade para uma dada situação; 
e psicológico, que observa a disposição dos locutores para o compromisso 
que assumem. Austin nomeou essas regras como “teoria dos jogos” (PAVEAU; 
SARFATI, 2006). A teoria dos atos de fala de Austin permite a reflexão acerca do 
papel e das práticas sociais na construção dos atos ilocucionário. 
Sequencialmente a Austin, outros estudos emergem realizados, ampliando 
e reformulando a teoria dos atos. É dentro dessa perspectiva que se insere John 
Searle, o qual retoma pontos relacionados à filosofia da linguagem, a fim de 
desenvolver novas concepções para a teoria dos atos de fala. Searle (1981) afirma 
que falar uma língua é fazer uma adaptação de um comportamento regido por 
regras. Assim, o autor classifica os atos ilocutórios, propondo a seguinte divisão: 
• Ato de pedir: relaciona-se a uma ação a ser cometida futuramente pelo ouvinte, 
tendo como pré-requisito o princípio da sinceridade do pedido. Outro pré-
requisito é que o falante acredite que ele pode sim realizar a ação. 
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
136
• Ato de perguntar: neste ato, há dois tipos de perguntas: as reais e as de exame. 
No primeiro caso, o das perguntas reais, o falante precisa descobrir a resposta. 
Nas perguntas de exame, o falante precisa saber se o ouvinte sabe. Assim, para 
que o ato de perguntar atinja seus objetivos, é necessário (na pergunta real) que 
o falante fale a verdade e que dê uma resposta correta. 
• Ato de aconselhar: neste ato, cria-se um aconselhamento que se relaciona a 
um ato futuro do ouvinte. É importante que o falante possua uma razão para 
acreditar no fato de que o ato será benéfico ao ouvinte. O referido ato, para que 
tenha constância, precisa que o próprio falante tenha convicção de que o que o 
aconselhamento, ou seja, o que dito para o bem de outra pessoa, seja realmente 
importante para o ouvinte.
• Ato de agradecer: este ato diz respeito a um acontecimento passado do ouvinte. 
A condição necessária para o sucesso deste ato é a sinceridade do falante.
• Ato de avisar: este ato remete a um acontecimento futuro. A condição é que 
o falante seja sincero e que o ouvinte acredite no que está sendo comunicado. 
Avisar é preparar a pessoa para as consequências que virão.
Todos esses atos só acontecerão dentro de situações/contextos linguísticos 
relacionados aos extralinguísticos apropriados, o que sustentou o surgimento das 
chamadas condições de felicidade (ou sucesso) ou infelicidade (fracasso) dos atos 
de fala. Isso nos permite compreender que o sentido de um enunciado depende 
de quem diz e para quem se diz.
Vamos observar uma situação em que esses atos todos acontecem? 
Observe na sequência:
FIGURA 4 – ANÁLISE NA ÓPTICA DOS ATOS DA PRAGMÁTICA
FONTE: <https://pryscila-freeakomics.blogspot.com/2014/09/destino.html>. Acesso em: 18 out. 2019.
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
137
Comecemos então. Vamos detectar os atos, iniciando com o:
• Locutório. Há ato locutório? Certamente, sim, não é? Isso pode ser observado 
nas construções frasais inteligíveis.
• Ilocutório. Há este ato? Observemos que sim, pois há um modo como algo está 
sendo proferido e um consequente resultado como algo está sendo ouvido/
recepcionado. Neste caso, o tipo de ilocutório é o da pergunta de exame. 
Observemos que a personagem-criança questiona, quase na certeza de que a 
personagem-mãe sabe a resposta, porém essa expectativa é quebrada, dando 
esse ato de fala como não completo. 
• Perlocutório. Em função de o ilocutório ser inconsistente,o perlocutório é o 
que mais é beneficiado com isso, pois há um resultado — uma resposta não 
coerente com a pergunta — que provoca um efeito de sentido que aponta para 
o desconhecimento — da mãe — acerca dos referenciais a que a criança, filha, 
está tendo acesso. 
De forma simples, analisamos os atos de fala na imagem colocada 
anteriormente. 
AUTOATIVIDADE
Agora, pedimos que você proceda da mesma forma após análise da 
imagem a seguir! 
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/516014069775238816/?lp=true>. Acesso em: 18 out. 2019.
Após termos compreendido os Atos de fala de Austin, vamos nos 
movimentar dentro da teoria e vamos estudar outro importante nome da 
pragmática: Grice. Então, vamos conhecer o autor que lançou um olhar 
bastante rico com seus dispositivos de análise sobre a Pragmática. 
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
138
5 O MODELO DE GRICE 
Nós sabemos, e os teóricos também são cientes disso, que nenhuma teoria 
ou análise consegue esgotar a compreensão de um acontecimento de linguagem. 
Isso não é diferente com os atos de fala. Para se compreender um ato de fala 
da melhor forma possível, é necessário observar o enfoque adotado. Durante 
uma análise, pode haver atos de fala indiretos, porque não podem ter sua força 
ilocucionária explicitada sob a pena de terem seu sentido não atendido. A ironia, 
o sarcasmo e/ou a insinuação representam exemplos disso. 
Nesse âmbito, emerge outro nome substancial à Pragmática, Grice (1982), 
que vai discorrer sobre a Teoria das implicaturas conversacionais. Tal referencial 
fornece condições de leitura para analisar os pressupostos compartilhados por 
falante e ouvinte, o que é um dos ganhos muito relevante já que, em Austin (1970) 
e Searle (1981), o foco maior é no falante. Assim, a teoria de Grice (1982) norteia 
para um método de análise que reconstrua implícitos na realização dos atos de fala, 
sobretudo dos atos indiretos. As máximas conversacionais de Grice (1982) levam a 
uma análise das expectativas do falante e do ouvinte em sua conversação, mostrando 
como o entendimento compartilhado pode ser substancialmente interpretado.
De acordo com o referido modelo, a comunicação se constrói por meio 
da codificação e da descodificação de mensagens. Grice (1982) mostra como 
a comunicação é marcada por um exercício de razão e de imaginação. Para o 
autor, as elocuções (falar e ouvir) são marcas e/ou pedaços de evidências que 
apontam para o significado que o falante pretende (ou não) estabelecer para 
um ouvinte que pode (ou não) analisar o que está sendo falado. Assim, em seu 
modelo inferencial, o falante precisa motivar o ouvinte a reconhecer sua intenção 
ao transmitir determinada ideia.
 Em Grice (1982), há intenções na linguagem que não são rapidamente 
codificadas, mas inferidas, sendo isso possível a partir de alguma evidência deixada 
por aquele que comunica. Nesse processo, o receptor percebe essa intenção a partir 
da evidência fornecida. A essa compreensão inferencial, Grice (1982) atribuiu um 
fundamento denominado como Princípio Cooperativo, seguido pelas máximas 
de Qualidade, Quantidade, da Relevância e de Modo/Maneira. 
Caso uma máxima seja aparentemente violada, o ouvinte pode apelar 
para além do significado linguisticamente codificado para preservar a suposição 
de que o Princípio Cooperativo e as máximas foram obedecidos. 
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
139
• Categoria da quantidade – está relacionada com a quantidade 
de informação a ser fornecida e a ela correspondem as seguintes 
máximas: 
◦ Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto 
requerido (para o propósito corrente da conversação).
◦ Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido”. 
[...]
• Categoria da qualidade – nesta consta: “Trate de fazer sua 
contribuição que seja verdadeira” com duas máximas:
◦ “Não diga o que você acredita ser falso.
◦ Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência 
adequada”. [...]
• Categoria da relação – a máxima proposta é: “Seja relevante”. [...]
• Categoria do modo – diz respeito “a como o que é dito deve ser 
dito”. A supermáxima é: “Seja claro”, com várias máximas:
◦ “Evite obscuridade de expressão.
◦ Evite ambiguidades. 
◦ Seja breve (evite prolixidade desnecessária).
◦ Seja ordenado (GRICE, 1982, p. 86-88).
As referidas categorias, com suas supermáximas, máximas e submáximas, 
juntamente com o princípio da cooperação, orientam uma conversação de sucesso. 
Para tanto, o conhecimento de tais categorias oportuniza uma interação de qualidade 
entre locutores. No entanto, há casos em os sentidos parecem “presos”, sendo 
necessário mais do que o Princípio Cooperativo e as referidas máximas. Há situações 
comunicativas em que o locutor consegue dizer ao interlocutor mais ou além do que 
está dito; paralelo a isso, o interlocutor consegue também ler mais do que está dito na 
estrutura linguístico-discursiva. Nesse sentido, vamos estudar as implicaturas.
6 AS IMPLICATURAS
Grice (1982) foi quem introduz o conceito de implicatura, que nada mais 
é do que as informações implicitadas propositalmente pelo locutor (falante/
escritor), a fim de transmitir algo a mais ao interlocutor (ouvinte/leitor). As 
implicaturas são acionadas quando o Princípio da Cooperação e suas máximas 
não conseguem extrair os sentidos esperados. Assim há dois tipos de implicaturas: 
a convencional e a não convencional, sendo também nominada como implicatura 
conversacional. Observemos seus funcionamentos:
• Implicatura convencional – é uma inferência que resulta de um significado 
convencional das palavras. Ex.: ela é formada em Letras; ela, portanto, sabe gramática. 
No exemplo, observamos que a inferência de que ela sabe gramática é 
um resultado de ser formada em Letras, o que se norteia pelo uso do marcador, 
“portanto”. Nesse caso, não é o contexto que determina tal conclusão, e sim o 
termo com um significado convencional que permite a conclusão ou consequência. 
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
140
• Implicatura não convencional ou implicatura conversacional – “inicialmente 
ao menos, os implicitados conversacionais não são parte do significado 
das expressões cujo uso os produz” (GRICE, 1982, p. 103). O que seria uma 
implicatura conversacional, com base no exemplo anterior, então? Podemos 
pensar que uma implicatura nesse viés é que nem toda pessoa formada em 
Letras sabe necessariamente gramática. Será que toda pessoa com formação na 
área domina gramática? Certamente, não, porém este enunciado nos carregou 
para essa referida análise. 
É oportuno demarcar que embora haja dois tipos de implicaturas, Grice 
(1982) debruçou-se com mais ênfase sobre as implicaturas conversacionais, em função 
da ruptura intencional de uma das máximas propostas por ele. Salienta−se que, nas 
condições estabelecidas por Grice, a quebra de uma das máximas acontece em um 
contexto em que o princípio da cooperação esteja sendo observado pelos participantes. 
A partir disso, Levinson (2007) aponta que Grice definiu algumas 
propriedades essenciais das implicaturas conversacionais: 
• Canceláveis (ou anuláveis) – “uma inferência é anulável se for possível 
cancelá-la acrescentando algumas premissas adicionais às premissas 
originais” (LEVINSON, 2007, p. 142). Nessa óptica, Levinson afirma que as tais 
implicaturas se assemelham aos argumentos indutivos. 
• Não destacáveis – “Grice quer dizer que a implicatura está ligada ao conteúdo 
semântico do que é dito, não à forma linguística, e, portanto, as implicaturas 
não podem ser retiradas de um enunciado simplesmente trocando as palavras 
do enunciado por sinônimos [...] com exceção das que surgem através da 
máxima de modo” (LEVINSON, 2007, p. 144-145). 
• Calculáveis – “[...] deve ser possível construir um argumento, demonstrando 
que, a partir do significado literal ou do sentido da enunciação, por um 
lado, e do princípio cooperativo e das máximas, por outro, segue−se que 
um destinatário faria a inferência em questão para preservar a cooperação 
presumida”. (LEVINSON,2007, p. 145). 
• Não convencionais – “Não fazem parte do significado convencional das 
expressões linguísticas” (LEVINSON, 2007, p. 145).
Vamos observar essas máximas e as implicaturas em um exemplo?
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
141
FIGURA 5 – ANÁLISE NA ÓPTICA DAS MÁXIMAS DE GRICE 
FONTE: <http://twixar.me/JtHT>. Acesso em: 20 out. 2019. Acesso em: 20 out. 2019.
No primeiro quadrinho da Figura 3, há a quebra da Máxima do Modo. 
Quando a personagem (Armandinho) afirma “Não tenho muito tempo de vida”, 
está provocando um duplo sentido que dificulta a rápida interpretação, sendo assim 
ambíguo. A segunda personagem, o pai, por sua vez, reage com uma implicatura 
convencional, em função da forma de expressão do menino, já que “Não tenho 
muito tempo de vida” é uma expressão para quem está prestes a morrer. 
Entretanto, Armandinho anula a implicatura ao refazer a lógica de 
entendimento, transformando-a em uma implicatura conversacional. Dessa 
forma, em função do cancelamento da implicatura do pai, dá-se o humor nesta 
tira. Paralelamente a isso, o humor advém também pela forma de avaliar o próprio 
estado de vida, deslocando o sentido de uma expressão, que normalmente é 
empregada em circunstâncias mais trágicas, para um contexto em que se está 
medindo o tempo já vivido, com vistas a enfatizar que se tem muito ainda a viver.
AUTOATIVIDADE
Agora é sua vez. Observe a figura a seguir e verifique se nela há alguma 
máxima ou alguma implicatura que você possa destacar:
FONTE: <http://blogdoxandro.blogspot.com/2011/10/tiras-n2081-garfield-jim-davis.html>. 
Acesso em: 20 out. 2019.
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
142
PRAGMÁTICA
Rodolfo Ilari
Instituição: Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP / Instituto de Estudos da 
Linguagem-IEL
 Entre as disciplinas que tratam da interpretação, a Pragmática é relativamente 
recente. Surgiu a partir dos trabalhos do filósofo americano Peter Grice, como reação à 
crença de que tudo fica explicado, na comunicação entre falantes, quando se dá uma boa 
interpretação do sentido das sentenças. Nos anos 1960, Grice perguntou-se por que uma 
frase como (1) “Ele tem boa caligrafia e nunca foi preso”, numa carta de recomendação para 
um professor universitário, significa (2) “ele não serve”, embora não diga nada de ruim a 
respeito do candidato. 
 Para explicar esse fato, Grice mostrou que, no caminho entre (1) e (2), ocorre um 
raciocínio em que o receptor avalia o conteúdo de (1) como irrelevante na situação e, 
julgando que esse conteúdo é o melhor que se podia dizer do candidato, conclui que este 
é ruim. Articulando sua explicação, Grice esclareceu que a comunicação obedece a regras 
conversacionais que os interlocutores seguem mesmo quando têm opiniões diferentes 
sobre o assunto de que falam. Segundo essas regras, sempre se espera que os interlocutores 
deem informações completas, verdadeiras, relevantes e tanto quanto possível claras. 
Quando isso não acontece, o interlocutor avaliará o que foi dito e tentará ainda “salvar” a 
comunicação extraindo daquilo que foi dito um sentido relevante para a situação.
 Essa explicação de Grice pôs em evidência um modo de construir sentidos até 
então pouco estudado e uma propriedade de enunciados que não tinha sido assunto dos 
estudiosos da significação até então – a de relevância. Mais amplamente, mostrou que, no 
intercâmbio linguístico, os falantes constroem interpretações até certo ponto imprevisíveis 
para as frases, num processo que envolve sempre os dois interlocutores.
 
 Essa última ideia permitiu recuperar uma concepção de pragmática mais antiga, 
devida a Charles Morris, um estudioso dos sistemas de significação. No início do século XX, 
Morris distinguiu três perspectivas possíveis para o estudo dos sistemas comunicativos: uma 
perspectiva sintática, na qual se pergunta como combinamos signos chegando a expressões 
bem formadas (em português, as palavras amarela, casa, esta e pintaram formam “pintaram 
esta casa amarela”, mas não “amarela esta pintaram casa”); uma perspectiva semântica, na 
qual se estuda, além disso, a relação entre os signos linguísticos e o mundo (a frase “o gato é 
um felino” tem por assunto uma certa classe de animais, aos quais se atribuem propriedades 
que os distinguem dos outros animais); e uma perspectiva pragmática, em que, além dos 
fenômenos sintáticos e semânticos, também se estuda como os interlocutores interagem 
entre si ao usar a linguagem.
 Numa perspectiva pragmática, torna-se evidente que as mensagens linguísticas 
são construídas e interpretadas como parte de estratégias interacionais complexas, em 
que têm peso as representações que os falantes fazem uns dos outros, e da comunicação 
em curso. O modo como representamos o interlocutor nos leva, por exemplo, a escolher, 
entre várias formas de começar um novo assunto, e nos permite gerenciar de maneira mais 
eficaz a carga informativa e emotiva das nossas mensagens, encontrar palavras que não 
geram problemas de interpretação, entre outras possibilidades. 
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA
143
 Essa mesma representação orienta-nos no sentido de decidir se aquilo 
que nos foi dito era uma brincadeira, uma ironia, ou, simplesmente um disparate. A 
perspectiva pragmática ajuda-nos também a perceber que, além de comunicar e informar, 
a linguagem é o instrumento de inúmeras outras ações, por exemplo, a de persuadir ou a 
de levar nossos interlocutores a certos tipos de ação.
 Em resumo, a perspectiva pragmática leva a entender as mensagens não só 
como a expressão de um conteúdo supostamente estável que independe da situação de 
comunicação, mas como um processo em que a situação é relevante e a criação de novos 
sentidos é sempre possível, a partir de um jogo de imagens em que os interlocutores se 
envolvem. Isso equivale a dizer que, no mundo real, as sentenças da língua têm sempre 
uma natureza dialógica.
 Ao apontar para a natureza dialógica que as sentenças da língua têm no mundo 
real, a pragmática cobra uma pedagogia que valoriza a relação dos textos com o contexto e 
na qual se procura explicar o que os interlocutores fazem, mais do que formular com outras 
palavras o que dizem. Entender a origem de um mal-entendido, explicitar o duplo sentido 
de uma frase, entre outros exemplos, são problemas pragmáticos típicos, e são também 
exercícios em que a pedagogia pode, ou melhor, dev e investir, desde os primeiros anos do 
Ensino Fundamental.
REFERÊNCIAS 
GRICE, P. Lógica e conversação. In: Marcelo Dascal. Fundamentos metodológicos da 
linguística, Campinas, SP: Edição do Autor, 1982, p. 81-103. vol. IV (Pragmática). 
LEVINSON, S. Pragmática. São Paulo: Livraria Editora WMF Martins Fontes, 2007. 
ILARI, R. Semântica e pragmática: duas formas de descrever e explicar os fenômenos da 
significação. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 9, n. 1, p. 109-161, 2000.
FONTE: <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/pragmatica>. 
Acesso em: 12 mar. 2020.
144
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que: 
• A Pragmática estuda o contexto de seu uso na comunicação. 
• A capacidade de compreender a intenção do locutor é chamada de competência 
pragmática. 
• A Pragmática estuda essencialmente os objetivos da comunicação. 
• A teoria dos atos de fala iniciou com os trabalhos do filósofo inglês John Langshaw 
Austin (1911-1960) e foi levada adiante por John Roger Searle (1932-).
• Austin trabalhou em suas teses sobre os usos da linguagem, principalmente 
sobre a interpretação de questões, exclamações, comandos e enunciados que 
não são unicamente descritivos.
• Divisão dos atos de fala: ato locutório, diz respeito ao ato de pronunciar um 
enunciado; ato ilocutório, diz respeito ao ato que o locutor realiza quando 
pronuncia um enunciado em certas condições comunicativas e com certas 
intenções; ato perlocutório: corresponde aos efeitos que um dado ato ilocutório 
produz no alocutário.
• Máximas conversacionais são princípios que descrevem comportamentoslinguísticos dos falantes e definem normas de conduta.
• As máximas são: máxima da qualidade, da quantidade, da relevância e do 
modo.
◦ A máxima de qualidade expressa: faça com que a sua contribuição 
conversacional seja sempre verdadeira;
◦ A máxima de quantidade: a sua contribuição conversacional precisa ser 
muito informativa e necessária;
◦ A máxima de relevância: a fala precisa ser pertinente em relação 
ao objetivo da conversa para que se estabeleça uma relação de 
pertinência entre os enunciados;
◦ A máxima de modo: a contribuição conversacional deve ser clara e breve.
145
1 Observamos, no decorrer de nosso estudo, que o estudo da Pragmática 
implica que consideremos a linguagem em ação, com sujeito falante em 
pleno uso da língua frente a um ouvinte que configura o traço dialógico da 
comunicação. Sendo assim, sobre a Pragmática, marque a incorreta:
a) ( ) A Pragmática se interessa pela linguagem em uso.
b) ( ) A Pragmática se estrutura no uso individual da língua.
c) ( ) A Pragmática considera o sujeito falante e o contexto em que se está 
inserido.
d) ( ) A Pragmática observa a maneira como o falante e o ouvinte estabelecem 
a comunicação.
e) ( ) A Pragmática faz uso do contexto social para compreender a linguagem.
2 De modo geral, o campo da Pragmática se situa na compreensão linguística, 
definindo sua abordagem e seus objetivos de análise como a Ciência que:
a) ( ) Investiga o uso concreto da língua, com foco em seus usuários(as) nas 
práticas de ação da linguagem.
b) ( ) Investiga a aquisição da linguagem, com base nos aspectos cognitivos.
c) ( ) Observa a capacidade de interação pela fala, focalizando a estrutura da 
organização de frases em textos de estrutura verbal. 
d) ( ) Verifica o inatismo da linguagem, observando a estruturação da língua.
e) ( ) Mapeia os aspectos composicionais da estrutura do texto, observando a 
recepção por parte do interlocutor. 
3 Na fala, objetiva-se a troca de ideias entre falantes de forma que ambos 
interajam. A partir disso, a que máxima da conversação formalizada por 
Grice (1982) pertence a seguinte definição “que sua contribuição contenha o 
tanto de informação exigida”. 
a) ( ) Máxima da quantidade.
b) ( ) Máxima da qualidade.
c) ( ) Máxima da relação.
d) ( ) Máxima da pertinência.
e) ( ) Máxima de maneira.
AUTOATIVIDADE
146
147
TÓPICO 2
ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
A partir deste Tópico 2, nosso objetivo é estudar as estratégias de 
argumentação na Pragmática. Assim, vamos conhecer dois elementos de leitura 
pragmaticista: os pressupostos e os subentendidos, pois eles são marcas de que 
existem implícitos os quais são utilizados sempre com a intenção de levar o leitor 
ou ouvinte a uma determinada conclusão. Isto é, no processo da linguagem, há 
sempre a possibilidade de o falante buscar convencer o ouvinte sobre algo e nós, 
estudiosos da linguagem, podemos constatar as tentativas, verificando o tipo de 
argumentação usada, porém, para isso, precisamos aprofundar o conhecimento 
relacionado à existência de pressuposições e subentendidos nas falas ou escritas 
que circulam nos mais diferentes meios. 
Até o momento, estudamos que os implícitos representam sentidos não 
evidenciados, que teoricamente chamamos de implicaturas, pois implicam uma 
ideia que não está bem exposta. Assim, os implícitos funcionam como implicaturas 
conversacionais que se articulam em atos de linguagem indiretos (= não explícitos). 
Os implícitos até então destacados são implicaturas conversacionais e atos de 
linguagem indiretos. Na sequência, vamos compreender um pouco mais sobre 
essa questão para podermos saber até que ponto é oportuno investir na análise 
da argumentação de determinados enunciados.
Os sentidos que as atividades linguísticas apresentam mobilizam-
nos a buscar a compreensão sobre as noções de pressuposto e subtendido. Os 
subentendidos desenvolvem-se já considerando a necessidade de interpretação. 
Os subentendidos estão no eixo dos implícitos. Os pressupostos materializam-
se na língua; não podemos compreender algo que não seja o sentido que eles 
determinam. Ducrot (1987a) – fortemente influenciado por Austin e Grice – 
também considera os polos da comunicação (autor-leitor ou falante-ouvinte) e 
pontua que “pressupor não é dizer o que o ouvinte sabe ou o que se pensa que 
ele sabe ou deveria saber, mas situar o diálogo na hipótese de que ele já soubesse” 
(DUCROT, 1987a, p. 77). 
Portanto, é fundamental que tenhamos essas noções a fim de adentrarmos 
nas estruturas de articulação do texto, oportunizadas pela Pragmática. Vamos mais 
adiante abordar os fatores pragmáticos, porém, antes, vamos entrar rapidamente 
nos elementos da comunicação, os quais delineiam a estruturação da linguagem. 
148
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
A comunicação representa o ato que une ou desune todo e qualquer eixo 
social. Em função deste alcance e da capacidade de ação que a comunicação 
carrega, esta é o objeto que assume maior excelência na Pragmática. Certamente 
que falante e ouvinte são pontos cruciais para a análise, porém, diferentemente 
da Análise de Discurso, que buscava o sentido via (re)construção do sujeito, a 
Pragmática vai direto na linguagem e trabalha com os sentidos ali postos. 
A partir disso, observemos os elementos que estruturam um texto para — 
posteriormente — verificarmos os fatores pragmáticos que otimizam a linguagem. 
É necessário enfatizar que os elementos da comunicação, os quais “desenham” o 
texto, foram desenvolvidos por Jakobson (1896-1982), linguista estruturalista, na 
primeira metade do século XIX. Seguem os elementos:
• EMISSOR: é também nominado como falante ou locutor. O emissor é aquele 
que transmite a mensagem, repassa um conhecimento, uma ideia etc. Ou 
seja, é o sujeito que se utiliza da linguagem por meio do código. Em função 
disso, entende-se que o emissor é o primeiro elemento da comunicação que 
inicia o processo comunicativo. Cabe ao emissor também escolher o código de 
linguagem, que precisa ser o mesmo que o ouvinte se utiliza.
• CÓDIGO: o código é o conjunto de sinais escolhidos pelo emissor para o 
processo comunicativo. O código utilizado no processo comunicativo pode ser 
de várias formas: verbal ou não verbal. Esse código pode ser por sinais, gestos, 
sons, textos, desenhos etc. Salientamos aqui que o código que estamos usando 
é o verbal, pois estamos fazendo uso das palavras escritas. Alguns outros tipos 
de códigos são libras e os sinais de trânsito. 
• MENSAGEM: a mensagem é o objeto da comunicação. É o assunto sobre o 
qual é tratado na comunicação. É o tema da conversa ou do texto escrito.
• CANAL: o canal é o meio em que a mensagem é transmitida, podendo 
ser físico ou virtual. É através canal que a mensagem chega até seu destino. 
• RECEPTOR: este também é nominado como interlocutor, ouvinte, leitor, 
destinatário. É para ele que a mensagem é levada.
• REFERENTE: este corresponde ao contexto de onde e onde a comunicação 
acontece. O referente traz a carga informacional para a mensagem.
Em face dessa divisão, verifica-se que a comunicação pode ser observada 
pelas partes que a compõem. Para a Pragmática essa estruturação é muito relevante, 
pois permite que se consiga mapear partes do texto, da fala, da ideia etc., a fim de 
observar e compreender o funcionamento linguístico. Agora, a seguir, sabendo 
que um texto possui todas estas partes, vamos verificar os fatores pragmáticos 
que assumem condição de existência nas estruturas da linguagem. Colocamos a 
seguir uma imagem que consolida os seis elementos da comunicação:
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
149
FIGURA 6 – CÓDIGO DA COMUNICAÇÃO DE JAKOBSON (1968)
FONTE: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/teoria-da-comunicacao-emissor-
mensagem-e-receptor.htm>. Acesso em: 28 out. 2019.
3 FATORES PRAGMÁTICOS
Retomando as concepções iniciais da Pragmática, vimos que ela trabalha 
com a linguagem em ação, mobilizandopara isso falante e ouvinte. Para verificar 
isso, estudamos os atos de fala de Austin com os atos locutórios, perlocutórios e 
ilocutórios, tendo estes mais importância por abrirem caminho para o Princípio 
da Cooperação, as Máximas e as Implicaturas. O que nós vamos fazer com isso? 
Vamos observar os fatores pragmáticos envolverem o texto e oportunizarem uma 
interpretação mais enriquecedora. Seguem os fatores:
• Situacionalidade: esse fator diz respeito àquilo que é muito privilegiado na 
Pragmática: contexto da a situação comunicativa. A situacionalidade ampla, 
quando se consideram fatores externos à comunicação, ou a restrita, quando se 
analisa o contexto imediato é o suporte para se deflagrar muito entendimentos 
nessa teoria da comunicação. A situacionalidade é um fator relacionado à 
dinâmica entre o texto e o contexto, permitindo que o ouvinte ou leitor construa 
os sentidos circulantes. 
• Intencionalidade: essa categoria está ao alcance do autor ou falante. Ela revela 
(ou não) as intenções comunicativas de quem o produz a mensagem. E pela 
intencionalidade que muitas implicaturas podem ser analisadas.
• Aceitabilidade: esta envolve o esforço do ouvinte ou leitor para compreender 
a mensagem produzida pelo locutor. Da mesma forma que comentamos 
anteriormente, a aceitabilidade também gera muitas análises pelas implicaturas.
• Informatividade: corresponde ao nível informativo de um texto. Quanto mais 
ideias ele carrega, mais chances temos de analisar os atos de fala, as máximas 
de Grice, as implicaturas.
• Intertextualidade: este é o único fator que não estabelece uma relação mais 
direta com a Pragmática. Ele revela a relação de um texto com outros textos. 
Isso pode (ou não) oportunizar a aplicação dos conhecimentos até então 
trabalhados. 
150
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
Posto que a Pragmática condensa em si a ideia de uma linguagem carregada 
de ação, de um fazer dos sentidos construídos através da língua, os fatores, acima 
elencados, representam um ponto da teoria que mais possui aplicabilidade práticas 
na comunicação escrita ou não do dia a dia. Tudo o que dizemos ou ouvimos está 
relacionado, na teoria pragmática, com a situacionalidade, a intencionalidade, a 
aceitabilidade, a informatividade e/ou a intertextualidade. Observemos a seguir 
exemplos que materializam esses fatores pragmáticos:
• A situacionalidade:
FIGURA 7 – ANALISANDO A SITUACIONALIDADE
FONTE: <https://static.wixstatic.com/media/2b9fb6_dc8901fe234a48b39f66183f9b07fbda~mv2.
jpg/v1/fill/w_617,h_176,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01/2b9fb6_
dc8901fe234a48b39f66183f9b07fbda~mv2.webp>. Acesso em: 30 out. 2019.
Como você pode observar, a situacionalidade tem relação com uma ideia 
que já trabalhamos, que diz respeito às condições de produção, nomenclatura 
usada somente na Análise de Discurso. Aqui precisamos pensar pelo viés do 
contexto em que as personagens estão ou pela situação de uso da linguagem: a 
situacionalidade. Assim, pensemos: qual é a situacionalidade que rege essa ação 
comunicativa acima? É um acontecimento situacional que se constrói ali no ato da 
fala? Ou é um acontecimento situacional amplo, que advém de outros conceitos 
e relações sociais? Observe que a questão latente que define a temática do texto 
é a concepção de “amor”. A definição é dada a partir de um dicionário que, ao 
mesmo tempo que limita, restringe, superficializa esse nobre sentimento, também 
demarca uma (des)construção histórica do conceito, o que pode ser verificado ao 
se considerar a linguagem em ação com os antônimos de cada elemento definidor 
do amor. Ou seja: o “amor” é: simples: isso remete à noção de que ele (o amor) 
é algo complexo, não tão fácil de entender. Também é afirmado que o “amor” 
é masculino. Isso nos permite pensar que ele opostamente advém de uma base 
feminina, culturalmente, mais alimentadora do referido sentimento. Por fim, é 
afirmado que ele é abstrato. Essa última afirmação nos mostra que é dado ao 
“amor” a ideia de complicação, desentendimento da causa. Todas essas noções 
advêm de um contexto situacional mais amplo que se formou POSSIVELMENTE 
a partir dessas colocações descritas aqui. 
• A intencionalidade:
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
151
FIGURA 8 – ANALISANDO A INTENCIONALIDADE
FONTE: <https://static.wixstatic.com/media/2b9fb6_
a1389c92aa0049158711401669c34820~mv2.jpg/v1/fill/w_568,h_300,al_c,q_80,usm_0.66_1.00
_0.01/2b9fb6_a1389c92aa0049158711401669c34820~mv2.webp>. Acesso em: 30 out. 2019.
Considerando as concepções que trabalhamos sobre intencionalidade, 
observamos nesse exemplo uma expectativa de resposta da primeira personagem, 
o que é “quebrado” com resposta da segunda personagem. Esse tipo de 
comunicação, em que se fala algo que para o interlocutor gera um tipo de resposta 
desconexa, ocorre bastante durante reuniões de trabalho ou até mesmo via redes 
sociais como a do WhatsApp. Essa quebra da lógica esperada da resposta não 
chega a ser um ato falho da comunicação. A situação possui uma ação interacional 
de pergunta-resposta que cria uma expectativa, uma intencionalidade por parte 
do falante, que, neste caso, seria de a segunda personagem construir uma resposta 
com base na ideia de carnaval e não de elementos de justiça social. 
• A aceitabilidade: 
FIGURA 9 – ANALISANDO A ACEITABILIDADE
FONTE: <https://static.wixstatic.com/media/2b9fb6_358e289f12754fa0837c1b313ff77443~mv2.
jpg/v1/fill/w_585,h_197,al_c,q_80/2b9fb6_358e289f12754fa0837c1b313ff77443~mv2.webp>. 
Acesso em: 30 out. 2019.
152
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
Em se tratando da aceitabilidade, tem-se que esse fator pragmático da 
comunicação em movimento necessita que o leitor ENTENDA o que é dito. 
A noção de a ideia ser “aceita”, seguindo a aceitabilidade, está vinculada à 
necessidade de se compreender o que está sendo dito. 
No exemplo anterior, fica claro que a primeira personagem não entendeu 
por que a casa do Cebolinha era aquela apontada pelo Cascão (a segunda 
personagem). O elemento de referência, a antena, deveria ter sido entendida 
como sendo a imagem do cabelo de Cebolinha, que lembra o talo de uma cebola 
já com a parte externa crescida. Entretanto, a primeira personagem não entendeu 
a analogia, não sendo, portanto, possível construir a aceitabilidade na situação 
comunicativa, neste caso. 
• A informatividade:
FIGURA 10 – ANALISANDO A INFORMATIVIDADE
FONTE: <http://www.jornalcorreiocacerense.com.br/fotos_
noticias/72766d0eeccc9fb20b7e1c07aea6c2f0.jpg>. Acesso em: 30 out. 2019.
Esse fator se sustenta no teor do conteúdo informacional da fala ou do texto. 
A informatividade traz justamente o conhecimento que precisa ser partilhado 
entre autor e leitor ou entre falante ou ouvinte. Dependendo de quem está falando 
e de quem está ouvindo, a informação não pode ser inferior à expectativa de quem 
faz parte desse processo, nem pode extrapolar as possibilidades de entendimento 
do que é falado. Assim, a informatividade precisa ser de fundamento partilhado 
entre as partes. 
No exemplo anterior (Figura 8), a criança pergunta, subitamente ao pai, o 
que é “Mas se ergues [erguem] da justiça a clava forte” (verso do Hino Nacional). 
Observando a reação do pai, vê-se que ele parece assombrado com a pergunta 
por não saber a resposta. O entendimento necessário seria: a palavra “clava” 
significa “arma”. Então, compreende-se que se alguém levantar a arma da justiça, 
“verás que um filho teu não foge à luta”, isto é, será visto que os brasileiros 
lutariam por uma país mais justo. No entanto, o pai não possui tal entendimento 
que sarcasticamente pode ser construído a partir da notícia de capa do jornal, 
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
153
a qual sugere a necessidade do levantamento de uma “clava” em um país tão 
destituído de princípios. Observe que todo esse percurso de explicação, desde 
o entendimento do verso no Hino Nacional até a relação com a capa de jornal, 
faz parte da informatividade. No texto do exemplo aqui trabalhado, tal fator não 
conseguiu ser acionado.• A intertextualidade:
FIGURA 11 – ANALISANDO A INTERTEXTUALIDADE
FONTE: <https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/descomplica-blog/wp-content/
uploads/2014/10/01104610/exemplos-de-intertextualidade-407x400.jpg>. Acesso em: 30 out. 2019.
Esse fator, observado pela relação que alguns textos estabelecem entre si, 
demarca uma expressividade bastante criativa da linguagem. Para intertextualizar 
textos, é preciso ter bastante conhecimento de mundo e conhecimento prévio 
partilhado entre os pares da comunicação. Observe que no exemplo anterior, há, 
no mínimo, dois textos (dois temas) relacionados: o canto ufanista de Gonçalves 
Dias que cantou a terra brasileira como um lugar de maravilhas naturais e o canto 
insólito em relação ao canto primeiro, utilizando a figura de um pássaro que 
representa a devastação da natureza brasileira decadente. 
Essa intersecção entre os textos é um importante instrumento estilístico 
que singulariza as relações de sentido da comunicação. A intertextualidade coloca-
se como um importante recurso demarcador de sentidos que são acionados em 
determinados contextos, deflagrando o aspecto ativo da comunicação pragmática.
154
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
AUTOATIVIDADE
 Com base nesses exemplos, pedimos que você agora analise os textos 
que colocamos a seguir. Verifique qual ou quais são os fatores pragmáticos 
presentes neles:
Texto 1: 
SOBRE A CAPACIDADE DE ENTENDER
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-5izv87YHPSQ/Vfinix-DtmI/AAAAAAAAAAM/
MEGVi5D7Pfw/s400/hagar-2.jpg>. Acesso em: 3 nov. 2019.
Texto 2:
SOBRE O CONHECIMENTO ADQUIRIDO
FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-IM5PyHY94sg/T6pXvNLuV2I/AAAAAAAAAHc/
H8CBUhZMkek/s1600/imagesCAY0I2IR.jpg>. Acesso em: 3 nov. 2019.
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
155
4 TIPOS DE ARGUMENTOS: UM OLHAR SOBRE O 
QUE A PRAGMÁTICA ALCANÇA
Além de todo o aspecto conceitual da Pragmática, ainda há outras 
“ferramentas” que também atestam o caráter dinâmico da teoria. Nesse campo 
constam os tipos de argumentos, que também insurgem com a possibilidade 
de construir a relação comunicativa entre falantes e ouvintes ou entre autores 
e leitores. Com base nisso, vamos então conhecer os tipos de argumentos, com 
vistas a focalizar em um deles que é o argumento próprio da Pragmática.
Todavia, antes de entrar na identificação/caracterização dos argumentos, 
vamos compreender em que campo eles se situam. Os princípios da argumentação 
são estudados teoricamente desde Aristóteles, passando por Perelman e, na 
atualidade, trabalhado com mais ênfase em autores da Filosofia. Nosso objetivo 
aqui não é fazer um traçado conceitual da gênese deste estudo. Queremos aqui 
conhecer um tipo de argumento a fim de observarmos como ele se associa às 
noções pragmáticas.
Para tanto, vamos primeiro ter a seguinte questão como premissa para um 
argumento: o argumento é um tipo de organização de raciocínio que contribui 
para sustentar/fundamentar uma tese ou uma opinião. A argumentação pertence 
ao texto dissertativo-argumentativo. O argumento não prova um tema. Isso não 
existe! O argumento sustenta uma tese. Uma tese — em regra geral — é uma 
afirmação categórica ou hipotética que se faz sobre um tema. 
Vamos usar como exemplo, o seguinte tema: o atual cenário de depredação 
da natureza. Isso é um tema, ok? Para ele, é possível criar uma tese (uma afirmação) 
que avalie esse cenário de forma positiva ou negativa, que delimite a causa, a 
consequência... ou seja, que construa uma ideia que predique (que afirme) sobre 
o tema. Então, com essa lógica, temos um tema “o cenário de depredação da 
natureza” e podemos definir uma tese, por exemplo, podemos afirmar que existe 
um descaso dos setores governamentais responsáveis. 
Onde está a argumentação? A argumentação será aquilo que podemos 
formular para fundamentar essa tese: “o descaso dos setores governamentais 
responsáveis”. Assim, essa argumentação pode ser construída: com um argumento 
por autoridade, com um argumento com dados estatísticos, com argumentos por 
analogia, enfim, há inúmeros “tipos” de argumentos, MAS o tipo que nos traz 
aqui é o argumento pragmático: a sua definição precisa ser compreendida em 
torno da relação daquilo que entendemos como o acontecimento (a causa) e os 
respectivos efeitos (as consequências).
Assim, o argumento pragmático permite que o falante pontue todos os 
ganhos ou todas as perdas que determinada situação suscita. Nesse caso, você 
pode estar pensando assim: então a argumentação pragmática se embasa nos prós 
e contras? A resposta é: “não”. O raciocínio com prós e contras é trabalhado no texto 
156
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
dissertativo-expositivo. O argumento que estamos tratando aqui pertence ao texto 
dissertativo-argumentativo, ou seja, é aquele que possui uma tese ou uma opinião 
que precisa ser linearmente fundamentada, sem oscilações de prós e contras. 
Voltando à nossa linha de raciocínio, como poderíamos construir um 
argumento para aquela tese dada de exemplo anteriormente, lembra? O tema era: 
“o cenário de depredação da natureza”, com uma tese que gira em torno da ideia 
de “descaso”. Nessa perspectiva, como poderemos fundamentar isso? Pensemos 
pelo argumento pragmático: o que prova esse “descaso”? Um possível argumento 
pode se alicerçar na causa, isto é, naquilo que gera o descaso, como por exemplo, 
o não cumprimento das leis ambientais. Ou a falta de incentivo financeiro 
para proteger áreas ambientais. Tudo isso se estrutura como causa do descaso, 
provando assim que há este problema em torno do meio ambiente. Obviamente, 
não estamos trazendo aqui a metodologia da progressão argumentativa. Estamos 
somente exemplificando a emergência de UM argumento. 
Também é possível organizar o argumento por consequência. Podemos 
elencar as consequências do descaso: por exemplo, queimadas, desmatamento, 
alteração do ciclo das chuvas por falta de mata nativa. Com base nisso, você 
já deve estar conseguindo entender a ligação da Pragmática aqui nesse perfil 
argumentativo. Se a Pragmática se sustenta na noção de uma dinâmica na 
linguagem, o que pode ser mais articulado do que essa forma de raciocínio? 
(Observação: essa é uma pergunta retórica, ou seja, é uma pergunta que não 
necessita de resposta imediata).
AUTOATIVIDADE
Construa argumentos pragmáticos, por causa e/ou consequência, 
baseados no tema e tese sugeridos.
• Tema: A medicalização de crianças e adolescentes em fase escolar.
• Tese: é um grave problema da sociedade contemporânea
• AGORA construa a argumentação. Quais as causas desse grave problema? 
O que leva pais, professores, médicos... apoiarem demasiadamente a 
medicação de crianças? Quais as consequências? Tudo o que você pontuar 
vai sustentar a noção de problema já definido na tese. Então, segue um 
espaço para sua atividade:
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
157
5 OPERADORES ARGUMENTATIVOS: DEFINIÇÕES E 
CLASSIFICAÇÕES
Esse tópico representa uma abordagem progressiva acerca do que 
trabalhamos anteriormente. Assim, vamos construir uma conceituação básica 
antes de abordar a teoria dos Operadores argumentativos. Então, iniciemos com 
a compreensão do que é “operar”. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua 
Portuguesa (2001), “operar” é exercer uma ação. Dessa forma, podemos deslocar 
essa noção para “operadores” e entendermos que estes são termos que “exercem 
uma função no texto”.
Acreditamos que até aqui você esteja conseguindo compreender. Assim, 
esses “operadores” são do tipo “argumentativos”, ou seja, são palavras que 
exercem função no texto, tendo como função – portanto – auxiliar na apresentação 
ideias que atendam às expectativas do falante ou autor no uso da linguagem no 
campo pragmático: no uso da linguagem em ação. Para tanto, os operadores 
argumentativos têm a função de acionar o senso do entendimento do ouvinte no 
que tange às intenções do falante.
Vamos imaginar que você trabalha em uma empresa e faz parte de uma 
equipe que está organizando uma atividade interna da entidade, como, por 
exemplo, um cursode formação. Imaginemos que as atividades foram distribuídas 
para cada integrante da equipe e você ficou responsável por entrar em contato 
com uma lista de palestrantes a fim de verificar disponibilidades e valores de 
custo para trazê-los para palestrar. Imaginemos que nessa lista constem oito 
pessoas. Assim, você entrou em contato, verificou as disponibilidades e valores, 
precisando agora apresentar ao coordenador dessa equipe e a todos os integrantes 
dela os resultados obtidos.
Como você organiza essa fala? Ou se criasse um texto, como seria 
a sequenciação de apresentação ORGANIZADA (leia-se: não confusa ou 
desarticulada) acerca do que você obteve até o momento. Algumas pessoas 
pensariam assim: “tenho habilidade de falar em público, então, eu iria falando”. 
Posso lhe dizer que nem todo mundo que possui facilidade de falar em público 
tem uma fala organizada que convença um pequeno ou grande grupo sobre a 
qualidade de seus trabalhos. Executar uma tarefa e obter respostas esperadas 
para ela é um primeiro momento. Após isso, é preciso “vender” essa ideia, 
explanando-a de forma que todos reconheçam as suas capacidades. 
É então nesse momento que os operadores argumentativos podem ser 
utilizados de forma estratégica e intencional a fim de que a linguagem cumpra 
sua pragmaticidade e seja clara o suficiente para informar o que foi feito e 
evidenciar suas plenas habilidades de organização e oratória (caso a exposição seja 
somente falada). Oswald Ducrot, linguista francês do século XX, já mencionado 
anteriormente, pontua que a linguagem é fundamentalmente argumentativa. 
Para ele, as interações comunicativas estão carregadas de intenções, no sentido 
de que sempre usamos marcadores linguísticos que assinalam o que queremos 
dizer em dadas situações. 
158
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
Tudo ocorre com base na intenção do falante. É ele quem escolhe os 
elementos (entenda aqui “elementos” como palavras ou expressões) que vão 
demarcar sua linha de raciocínio à medida que mantém a dinâmica da linguagem. 
Suas escolhas vão mapear sua opinião acerca de todo e qualquer assunto, abrindo 
caminho para sua argumentação, compreendendo-se, neste momento, como 
necessária em dada situação comunicativa. 
A linguista brasileira Ingedore Koch (2008), referência em linguística 
textual e estudiosa da teoria da argumentação de Ducrot, pautada na formulação 
pragmática da comunicação, classificou os operadores argumentativos em 
paralelo com Guimarães (2007) e Vogt (2009) da forma que segue:
• Operadores que estabelecem a hierarquia dos elementos em uma 
escala, assinalando o argumento mais forte para uma conclusão: 
mesmo, até, até mesmo, inclusive, nem. Ou então o mais fraco: 
ao menos, pelo menos, no mínimo, deixando subentendido que 
existem outros mais fortes.
• Operadores que encadeiam duas ou mais escalas orientadas no 
mesmo sentido: e, também, nem, tanto ... como, não só ... mas 
também, além de, além disso etc. 
• Operador que pode servir como marcador de excesso temporal, 
não-temporal, como ainda; ou como introdutor de mais um 
argumento a favor de determinada conclusão.
• Operador que pode ser empregado como indicador de mudança 
de estado, como o já.
• Operadores que servem para introduzir um argumento decisivo, 
apresentado como um acréscimo: além do mais, além de tudo, 
além disso, ademais.
• Operadores que servem para introduzir uma relação de oposição: 
no entanto, embora, ainda que, mesmo que, apesar de que, mas, 
porém, contudo, todavia, entretanto.
• Operadores que introduzem uma retificação, um esclarecimento: 
isto é, ou seja, quer dizer.
• Operadores que têm escalas orientadas no sentido da afirmação 
plena (universal afirmativa: tudo, todos, muitos) ou da negação 
plena (universal negativa: nada, nenhum, poucos).
• Operadores que introduzem uma conclusão relativa a argumentos 
apresentados em enunciados anteriores: portanto, logo, pois, por 
conseguinte, em decorrência, consequentemente etc.
• Operadores que servem para indicar conclusões alternativas: ou, 
quer ... quer, seja ... seja, ou então etc.
• Operadores que servem para estabelecer relações de comparação 
entre elementos tendo em vista uma conclusão: mais que, menos 
que, como etc.
• Operadores que servem para introduzir uma explicação relativa 
ao dito em outro enunciado: porque, que, já que etc. (KOCH, 2008; 
GUIMARÃES, 2007; VOGT, 2009 apud ASSIS, 2012, p. 66).
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
159
Observe que a maioria dos operadores mencionados são compostos de 
palavras que pertencem à classe gramatical das conjunções. Isso pode ajudar 
bastante a você em função de que, durante seu período escolar, provavelmente, já 
ouviu falar sobre elas ou já leu algum material de Língua Portuguesa que continha 
as conjunções. Dessa forma, vamos colocar um resumo sobre as conjunções para 
que você perceba o sentido mais objetivo que esses operadores podem assumir:
QUADRO 1 – OPERADORES ARGUMENTATIVOS
Função (orientação argumentativa) Forma (“estrutura”)
Introduzem argumentos que se 
somam a outros
e, nem (= e não), não só/apenas/somente ... mas/
como/senão (também, ainda), tanto ... quanto/
como, além de, além disso, também, ainda, demais, 
ademais, outrossim.
Introduzem argumentos que 
se opõem a outros (contraste, 
oposição, restrição, ressalva)
mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no 
entanto, não obstante... (conjunções adversativas); 
embora, ainda que, mesmo (que), apesar de (que), a 
despeito de, conquanto, se bem que, por mais que, 
sem que... (conjunções concessivas); salvo, exceto 
(preposições); já, quando, agora, antes, ao contrário... 
(advérbios).
Introduzem uma conclusão/
desfecho/sintetizam uma ideia 
anterior ou consequência
logo, portanto, por isso, por conseguinte, então, 
afinal, assim, em vista disso, sendo assim, 
consequentemente, pois (depois do verbo), de modo/
forma/maneira/sorte que... Em suma, em síntese, 
enfim, em resumo, dessa forma, dessa maneira, desse 
modo, pois, assim sendo, nesse sentido.
Introduzem argumentos com ideia 
de explicação ou causa
porque, que, porquanto, senão, pois (antes do verbo), 
visto que/como, uma vez que, já que, dado que, 
posto que, em virtude de, devido a, por motivo/
causa/razão de, graças a, em decorrência de, como...
Introduzem argumentos com 
ideia de comparação, analogia, 
semelhança
(do) que (após mais, menos, maior, menor, melhor, 
pior), qual/ como (após tal), como/ quanto (após 
tanto, tão), como (= igual a), assim como, como se, 
feito... igualmente, da mesma forma, assim também, 
do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, 
analogamente, por analogia, de maneira idêntica.
Introduzem argumentos com ideia 
de condição, hipótese
se, caso, contanto que, exceto se, desde que (verbo no 
subjuntivo), a menos que, a não ser que, exceto se...
Introduzem argumentos indicando 
conformidade
conforme, consoante, segundo, de acordo com, como 
(= conforme).
Introduzem argumentos indicando 
tempo, frequência, duração, ordem 
ou sucessão
então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, 
logo após, a princípio, no momento em que, pouco 
antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, 
em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, 
atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, 
às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, 
sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, 
simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, 
nesse hiato, enquanto, quando, antes que, depois 
que, logo que, sempre que, assim que, desde que, 
todas as vezes que, cada vez que, apenas, já, mal, 
nem bem.
160
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
Introduzem argumentos indicando 
finalidade, propósito e intenção
com o fim de, a fim de, como propósito de, com a 
finalidade de, com o intuito/objetivo de, para que, a 
fim de que, para, ao propósito.
Introduzem ideias de 
proporcionalidade ou 
concomitância
à proporção que, à medida que, ao passo que, quanto 
mais/menos/menor/maior/melhor/pior...
Introduzem argumentos com 
ideia de prioridade, relevância,visando também à ordem, ênfase, à 
focalização
primeiramente, precipuamente, em primeiro 
lugar, primeiro, antes de mais nada, acima de 
tudo, sobretudo, por último, após isso, depois, 
posteriormente...
Introduzem argumentos que 
esclarecem, exemplificam ou 
retificam
ou seja, isto é, vale dizer ainda, a saber, melhor 
dizendo, quer dizer, ou melhor, ou antes, na 
realidade, aliás, por exemplo...
Introduzem argumentos que 
indicam certeza e buscam enfatizar 
o pensamento
por certo, certamente, indubitavelmente, 
inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, 
com certeza.
Indicam dúvida talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não certo, se é que
FONTE: Pereira (2019, p. 251-252)
Neste momento, então, nós queremos voltar no uso e função de tais 
elementos. Então, retomemos: lembra que anteriormente fizemos uma suposição 
sobre você ter ficado responsável por determinada ação e precisar apresentar os 
resultados ao grande grupo a fim de se definir pelas melhores escolhas para a 
palestra, na situação simulada que criamos?
Em face de tal situação (hipotética), como usar os operadores? Tudo 
depende da dinâmica de apresentação que se pretende dar. Se queremos apresentar 
uma ideia que seja clara/organizada, devemos ORDENÁ-LA, usando operadores 
de: ORDEM, ADIÇÃO e CONCLUSÃO. Então, os resultados precisam começar 
com, por exemplo, um “Primeiramente”. Quando se quer passar ao próximo, 
pode-se usar um “Após isso”... e assim sucessivamente.
O que queremos dizer é que você precisa fazer uso desses operadores não 
de forma somente espontânea, pois isso pode causar desorganização na fala. É 
necessário saber, ter conhecimento sobre esses elementos para que possam ser 
absorvidos na fala de apresentação. À medida que se vai adicionando/somando 
ordenadamente cada resultado, tem-se o momento da conclusão e isso precisa 
ficar bem marcado, com, por exemplo, um “Por fim”. 
Isso pode parecer, talvez, um pouco óbvio ou simples demais, porém para 
quem está na escuta, os operadores vão sinalizando suas intenções e organização. 
Vamos então colocar um exemplo para você perceber a importância deles:
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
161
FIGURA 12 – OPERADORES NA PRÁTICA
FONTE: <http://s2.glbimg.com/-8egibr4l6JrzS79bg4Ex_6evvg=/0x0:404x231/400x229/s.
glbimg.com/po/ek/f/original/2013/11/07/enem-2013-3.png>. Acesso em: 7 nov. 2019.
Observe a força de definição de um operador argumentativo de oposição 
quando usado estrategicamente. Na brincadeira do texto anterior, a personagem 
descreve a “preguiça” como um problema, um vício, o que representa um 
estado no qual ninguém gostaria de estar. No entanto, a personagem muda essa 
concepção e passa a aceitá-la quando usa o opositor “mas” para evocar a noção de 
respeito que “mãe” possui. Assim, ele ressignifica o conceito de mãe na segunda 
oração, anulando a ideia negativa anterior.
Deslocando agora essa comunicação em ação, que a Pragmática nos oportuniza 
estudar, para o seu contexto em situação profissional, quantas vezes você poderia 
ou poderá se expressar de uma forma mais objetiva ao ter ciência do que realmente 
quer acionar em sua fala. É uma soma de uma nova ideia? Use o “além disso”, o “em 
segundo lugar” ... É uma explicação ou esclarecimento de um ponto que você vê que 
não ficou claro? Use o “isto é”, o “ou seja”, o “visto que”, o “no sentido de que”. É 
uma oposição a uma ideia que um colega pontuou? Faça considerações positivas ou 
negativas acerca do que se disse e use o “porém, o “mas”. 
Acione a linguagem de forma mais consciente. É óbvio que não podemos 
fazer isso o tempo todo, mas quando precisamos nos expressar em um momento 
mais importante, é fundamental trabalharmos com os operadores. 
162
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
AUTOATIVIDADE
A seguir vamos deixar um texto para você reconhecer os operadores, 
classificá-los conforme o quadro e tentar explicar as intenções de quem os 
proferiu. 
“Agora eu sei exatamente o que fazer 
Bom recomeçar, poder contar com você 
Pois eu me lembro de tudo, irmão 
Eu estava lá também 
Um homem quando está em paz 
Não quer guerra com ninguém
Eu segurei minhas lágrimas 
Pois não queria demonstrar a emoção 
Já que estava ali só pra observar 
E aprender um pouco mais sobre a percepção 
Eles dizem que é impossível encontrar o amor 
Sem perder a razão 
Mas pra quem tem pensamento forte 
O impossível é só questão de opinião”
[...]
(Só Os Loucos Sabem - Charlie Brown Jr.)
Elenque os operadores Classifique-os conforme o
quadro anterior
Explique a 
intencionalidade
do autor
A seguir vamos observar algumas alterações no uso desses operadores. É 
preciso ficar atento porque, às vezes, quando estamos na posição de ouvintes ou 
leitores, o operador que estamos vendo não apresenta o sentido que encontramos 
na tabela.
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
163
6 OPERADORES QUE ALTERAM A SIGNIFICAÇÃO
Como verificamos anteriormente, os operadores são palavras que 
expressam diversificados sentidos. Eles são muito úteis para assinalar na fala ou no 
texto as intenções do falante ou do autor. Isso permite que as ideias apresentadas 
tenham muita clareza e organização, o que é extremamente importante ao 
público a que tais ideias são dirigidas. A partir de agora, vamos observar 
que alguns operadores, dependendo da forma como são utilizados, acabam 
assumindo outros valores ou sentidos. Dessa forma, é importante observarmos 
essas alterações para que possamos mapear as intenções de nosso interlocutor, 
que pode ser representado como aquele que diz algo ou aquele para quem se 
diz algo. Não são todos os operadores que sofrem essas alterações. Diante disso, 
vamos observar a seguir quais são os que apresentam as modificações.
• Vamos começar como o operador “e”. Verificamos anteriormente que ele 
representa uma soma, certo? Então, podemos dizer algo como: “Solicitei o 
orçamento e encaminhei o prazo de resposta”. Aqui há a soma de duas ideias: 
solicitar e encaminhar. Todavia, a partícula “e” pode assumir um outro valor/
sentido. A partícula “e” pode ter valor de oposição, podendo ser substituídas 
por “mas”. Isso é percebido na leitura ou audição da escrita/fala de alguém. 
Para constatar isso, basta trocar o “e” por “mas”. Se fizer sentido, o “e” é um 
operador de contraposição e não de soma. Observe o exemplo (o mesmo que 
mencionei antes, porém agora na construção da contraposição): “Solicitei 
o orçamento e não encaminhei o prazo de resposta”. Observe que o “e” ali 
colocado é equivalente a “mas”. Deve, por isso, receber, uma vírgula antes: 
“Solicitei o orçamento, e não encaminhei o prazo de resposta”. Acredito que 
não seja preciso explicar sobre a importância dessa constatação. Em percepções 
como essas, podemos verificar um grau de intencionalidade de quem diz. 
• Agora vamos entender a alteração do “pois”. Constatamos antes que o “pois” 
se classifica como explicativo, por exemplo: “Ela lia muito, pois objetivava um 
excelente desempenho na disciplina”. A frase anterior é explicativa porque ela 
está justificando a necessidade ler muito. Contudo, vamos passar esse “pois” 
para conclusivo. Este “pois” é aquele que a regra chama de “‘pois’ após o 
verbo’’. Lembre-se de que é após o segundo verbo ao qual o “pois” se refere. 
Então, usando o mesmo exemplo: “Ela lia muito; objetivava, pois, um excelente 
desempenho na disciplina”. Observe a posição que ele assumiu. Ele está após 
o segundo verbo da frase. Nessa posição, ele é conclusivo, equivalendo ao 
“portanto”. Seria o mesmo que fizer: “Ela lia muito; objetivava, portanto, um 
excelente desempenho na disciplina”. 
• Sobre o uso do “mas”. Verificamos que o “mas” marca uma oposição, certo? 
Um exemplo rápido disso seria “Fizeram a listagem, mas não marcaram a data 
das assinaturas”. Você consegue verificar a noção de oposição, certo? Há uma 
ação de fazer uma listagem, porém sem definir a data de ocorrência. Agora 
vamos dar a esse “mas” o valor de soma. SIM! O “mas” pode se transformar 
em um somatório quando assumiro paralelismo com o “não só” e o também. 
Observe o exemplo com a mesma frase anterior, porém agora somando: Eles 
não só fizeram a listagem, mas também já marcaram a data das assinaturas”.
164
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
Certamente, há outros operadores que também alteram o sentido, como 
o “logo” que pode ser tempo ou conclusão, por exemplo: “chegaram logo após 
a palestra” E “chegaram, logo (= portanto) assistirão à palestra”. Há também 
o “desde que” que pode ser condição ou conclusão, por exemplo: “Faremos a 
alteração desde que (= caso) o candidato solicite com antecedência” e “A chuva 
não para desde que chegamos”. Entretanto, operadores como estes são mais 
fáceis de serem percebidos e interpretados na frase ou no texto. Sendo assim, 
os operadores aos quais devemos ficar atentos são os que estão destacados 
anteriormente nos itens com as flechinhas. Estes operadores destacados aparecem 
com mais frequências em comunicações do cotidiano de demonstram bastante o 
encaminhamento de uma informação ou decisão. 
AUTOATIVIDADE
(Enem – 2011) Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante 
para diminuir o risco de infarto, mas também de problemas como morte 
súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar 
atividade física regularmente já reduz, por si só, as chances de desenvolver 
vários problemas. Além disso, é importante para o controle da pressão arterial, 
dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o 
estresse e aumentar a capacidade física, fatores que, somados, reduzem as 
chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com acompanhamento médico e 
moderação, é altamente recomendável.
FONTE: ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009.
As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que atuam 
na construção do sentido. A esse respeito, identifica-se, no fragmento, que:
FONTE: <https://www.tecconcursos.com.br/questoes/958986>. Acesso em: 13 mar. 2020.
a) ( ) A expressão “Além disso” marca uma sequenciação de ideias.
b) ( ) O conectivo “mas também” inicia oração que exprime ideia de contraste.
c) ( ) O termo “como”, em “como morte súbita e derrame”, introduz uma 
generalização.
d) ( ) O termo “Também” exprime uma justificativa.
e) ( ) O termo “fatores” retoma “níveis de colesterol e de glicose no sangue”.
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
165
6.1 COMO OPERCIONALIZÁ-LOS NA 
PRODUÇÃO DE UM TEXTO
Na produção textual, em especial, na produção de textos acadêmicos 
e de textos relacionados ao ambiente de trabalho, como e-mails e relatórios de 
atividades executadas, o uso de operadores se faz imprescindível. Em face disso, 
esse item de estudo tem como objetivo fazer uma apresentação mais prática do 
que teórica, demonstrando o uso dos operadores no fragmento de texto que se 
coloca na sequência.
6.1.1 Fragmento de uma introdução de
 um artigo acadêmico
“’[...] Algumas orientações, entre tantas outras, fazem parte do rol de 
instruções que inúmeros professores repassam a seus alunos durante o momento 
em que estão ensinando o funcionamento da escrita de um texto. A partir de 
uma dada pergunta respondida o aluno inicia ou um processo de tentativa de 
compreensão sobre o que lhe é expresso [...] Entretanto, tal processo provoca 
inúmeras perdas [...] A partir disso, o presente estudo apresenta como tema o 
ensino no Brasil [...] Assim, considerando as condições de produção que envolvem 
o tema deste trabalho, apresentam-se as seguintes perguntas de pesquisa [...]”.
• Observe os elementos sublinhados. Nesse fragmento, tirado da introdução 
de um artigo acadêmico nosso, é possível observar que tais palavras 
destacadas conseguem estabelecer a dinâmica da comunicação, estabelecida 
pela Pragmática. Observe que o uso de “a partir de”, “entretanto” e “assim” 
permitem uma sequenciação que dá organização e rapidez para a leitura. 
Diante disso, sempre que estamos produzindo um texto acadêmico, a noção 
que deve estar sempre presente é: em que parte do texto eu estou? No exemplo 
que dei, o segmento faz parte do início da introdução. Essa seção do texto 
acadêmico possui partes bem específicas. Entre elas, está a parte relacionada à 
contextualização, ao tema, à pergunta de pesquisa, aos objetivos, à justificativa 
e à metodologia. Então como entrar nisso? Considerando a contextualização 
do tema, parte esta omitida, constando apenas as reticências, o próximo passo 
era entrar na pergunta de pesquisa. E como fazer isso? Tal intenção é projetada 
com a fluidez da ideia, o que se faz com o uso do operador de conclusão. 
Este, ao ser usado no meio do texto, contribui com a progressão das ideias 
sem “definir” a conclusão propriamente dita. Nessa perspectiva, o “a partir 
disso”, permitiu-me entrar em uma problematização sobre o tema de pesquisa, 
a qual eu precisava introduzir. Na sequência, eu precisava deixar claro que a 
ideia da frase, na qual o “a partir disso” estava introduzindo, não atingiu o seu 
propósito. Então, isso foi marcado com uma contraposição do “entretanto”. 
Mais ao final do exemplo, foram introduzidas as perguntas de pesquisa, as 
166
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
quais eram o ponto central do trabalho. Isso precisava ser feito de maneira 
que a ideia da frase iniciada pelo “entretanto” fosse base de sentido para tais 
perguntas. Então, o “assim”, que é um sequencializador que dá progressão ao 
que já vem sendo dito, foi utilizado. 
Você está compreendendo o que estamos querendo dizer? A cada propósito 
ESPECIAL que temos ao dizer ou escrever algo, podemos marcar isso com um 
operador para que o leitor ou ouvinte consiga também perceber nossas intenções. 
AUTOATIVIDADE
Complete com o operador argumentativo que melhor se ajuste à ideia que 
você vai ler:
“Em nosso trabalho, essa voz é eixo estruturante para conhecermos, 
mais adiante, como funcionam as formações imaginárias sobre a escrita. 
________________, essa voz discursiva emerge de um lugar pré-determinado 
ideologicamente denominado tomada de posição-sujeito [...]. Faz-se necessário 
_________ refletirmos teoricamente para entendermos como o sujeito se 
relaciona com a exterioridade [...]. Essa interface constitui o gesto executor de 
um imaginário sobre o que é ou não relevante [...]. _______________, as escolhas 
do fazer docente moldam o discurso, intencionando uma previsibilidade – 
ilusória – que seria capaz de controlar os efeitos de sentido que se produzem 
a partir do que é dito.
7 BREVE EXPOSIÇÃO SOBRE A DIFERENÇA ENTRE ANÁLISE DE 
DISCURSO E PRAGMÁTICA
Chegamos então a uma parte de nosso estudo que podemos considerar 
como um movimento de amarra teórica, ou seja, aqui vamos fazer algumas 
colocações que vão tentar demonstrar os pontos de diferenças entre as duas partes 
deste estudo, considerando as três unidades. Vamos, a seguir, pontuar nessas 
duas teorias do discurso – a Análise de Discurso e a Pragmática – os conceitos que 
as caracterizam. Para pontuarmos a diferença, vamos reforçar aqui as concepções 
da Pragmática.
 
A Pragmática é um referencial teórico trabalhado no viés do discurso 
e não simplesmente na verificação de palavras ou frases isoladas. Assim, a 
Pragmática sempre vai considerar o aspecto comunicacional em movimento 
entre falantes da língua. Para essa linha de pensamento, o que importa são as 
intenções de linguagem entre falante e ouvinte. Nesse movimento de linguagem, 
podem ocorrer inúmeras alterações que serão analisadas pelos atos de fala, pelas 
implicaturas e, em uma Pragmática mais moderna, entrará nesse processo os 
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
167
componentes que demarcam a força argumentativa da comunicação, estando 
isso tudo sustentado pela noção-mater da Pragmática que é a linguagem em uso. 
Deslocando-se dessas concepções e retroagindo teoricamente para as unidades 
de estudo anteriores, temos a Análise de Discurso que é uma teoria calcada na 
concepção de sujeito e discurso. Para a AD, só há sentido se houver um sujeito 
constituído em todaa sua historicidade, carregando uma memória discursiva, 
mergulhada em uma ideologia, estando todas essas categorias materializadas 
em um discurso. 
Para tanto, a diferença fulcral entre as duas teorias é o alcance da análise. 
Embora a Pragmática trabalhe com a concepção de contexto, esta teoria é mais 
“imediatista” na análise. Ela olhará a situação comunicativa entre os falantes da 
língua, observando todas aquelas possibilidades de verificação da linguagem: os 
tipos de atos de fala, as possíveis implicaturas, os implícitos, as intencionalidades 
do falante ou autor “ali” naquele momento de comunicação. A Pragmática se 
fortalecerá com a verificação das intenções ao estudar os fatores pragmáticos, o 
funcionamento do argumento pragmática e a força argumentativa e indutiva dos 
operadores argumentativos.
A Análise de Discurso, por sua vez, fará um mergulho na constituição 
do sujeito, compreendendo as condições de produção históricas do seu dizer, 
bem como as forças que o interpelam ideologicamente através das formações 
discursivas. Assim, embora as duas teorias trabalhem com o discurso, cada uma 
o fará ao seu modo, conforme se articularão seus dispositivos teóricos de análise. 
Assim, vamos mostrar comparativamente o trabalho das duas teorias a partir de 
um único recorte discursivo: 
FIGURA 11 – RELACIONANDO AS TEORIAS
FONTE: <https://br.pinterest.com/leilaeme/hq-charges/>. Acesso em:
7 nov. 2019.
168
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
QUADRO 2 - PARALELO ENTRE AS TEORIAS
Pela Análise da Pragmática Pela Análise do Discurso de linha francesa
• Utilizando-se as categorias dos atos 
de fala de Austin, temos um Ato 
ilocutório/ilocucionário (a ação): 
este é associado à maneira como 
se diz sobre algo e à maneira como 
se recepciona os sentidos sobre 
algo. Neste ato, interessam muito 
as intenções e as condições em que 
algo é proferido.
• Com as categorias de Grice, temos 
que a Categoria do modo que 
diz respeito “a como o que é dito 
deve ser dito” com a supermáxima 
é: “Seja claro”, com várias 
máximas: “Evite obscuridade de 
expressão. Evite ambiguidades 
FOI QUEBRADA. Isso nos leva a 
analisar as implicaturas que são 
discorridas nessa unidade.
• Trazendo a análise já para a 
construção do argumento, 
temos Ducrot tratando sobre os 
operadores argumentativos, que 
dão força às intenções do falante. 
Vale ressaltar que no discurso do 
texto em análise não há operadores 
para essa função.
• Utilizando-se as categorias da Análise 
de discurso, faríamos a descrição sobre 
que é a personagem. Assim, estaríamos 
observando o sujeito do discurso. 
• Em seguida, olharíamos as condições 
de produção deste discurso, o que 
historicamente está perto dele.
• E observe que eu nem cheguei ainda na 
frase que constitui o texto. A partir dos 
elementos anteriores, iríamos para a 
análise do recorte linguístico, entrando no 
entendimento de vendo (verbo vender) 
e vendo (verbo ver). O que as duas 
concepções implicam naquele discurso.
• O que tais concepções provocam como 
efeito de sentido.
• O que aquela breve interlocução “aproveite 
para ver também” significa.
• Qual é o imaginário que se tem sobre os 
dois tipos de “vendo”.
• Qual é a formação discursiva que interpela 
o menino.
• Qual é a memória trabalhados que se tem 
com os dois sentidos naquele discurso. 
FONTE: A autora
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
169
AUTOATIVIDADE
 Agora, vamos deixar um texto para que você também tente fazer sua 
análise. Enumeramos várias categorias de análise para cada teoria. Sugerimos 
que você escolha duas de cada para explicar em cada uma das linhas teóricas 
a respeito da mesma materialidade linguística. 
SELECIONANDO CATEGORIAS DE ANÁLISE
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/72972456436214753/>. Acesso em: Acesso em: 7 nov. 2019.
Pela Análise da Pragmática Pela Análise do Discurso de linha francesa
170
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
LEITURA COMPLEMENTAR
OS FATORES PRAGMÁTICOS DA TEXTUALIDADE
Lavina Rodrigues James
 
Questionar o nível de textualidade de um determinado texto, requer o 
entendimento, a priori, das concepções, que se tenha de língua e de sujeito. Segundo 
Koch, (2000), na concepção de língua como representação do pensamento e de 
sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como um 
produto lógico do pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo 
ao leitor/ouvinte senão “captar” essa representação mental, juntamente com as 
intenções (psicológicas) do produtor, exercendo, pois, um papel essencialmente 
passivo. 
Na concepção de língua como código – portanto, como mero instrumento 
de comunicação – e de sujeito como (pré) determinado pelo sistema, o texto é 
visto como simples produto da codificação, é totalmente explícito. Também nesta 
concepção o papel do “decodificador” é essencialmente passivo. 
Já na concepção interacional (dialógica) da língua, na qual os sujeitos são 
vistos como atores construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio 
lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que – dialogicamente 
– nele se constroem e são construídos. Desta forma há lugar, no texto, para toda 
gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, 
como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. 
O sentido de um texto é, portanto, construído na interação texto-sujeitos (ou 
texto-coenunciadores) e não algo que preexista a essa interação. Também a coerência 
deixa de ser vista como mera propriedade ou qualidade do texto, passando a dizer 
respeito ao modo como os elementos do contexto sociocognitivo mobilizados na 
interlocução, vêm a constituir, em virtude de uma edificação dos interlocutores, uma 
configuração veiculadora de sentidos. 
 O que é texto?
Pode-se definir texto ou discurso como ocorrência linguística falada ou 
escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e 
formal. São elementos desse processo as peculiaridades de cada ato comunicativo, 
tais como: as intenções do produtor; o jogo de imagens mentais que cada um dos 
interlocutores faz de si, do outro e do outro com relação a si mesmo e ao tema do 
discurso; e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum, na comunicação 
face a face. Desse modo, o que é pertinente numa situação pode não ser na outra. 
O contexto sociocultural em que se insere o discurso também constitui elemento 
condicionante de seu sentido, na produção e na recepção, na medida em que 
TÓPICO 2 | ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA
171
delimita os conhecimentos partilhados pelos interlocutores, inclusive quanto às 
regras sociais da interação comunicativa (Uma certa “etiqueta” sociocomunicativa, 
que determina a variação de registros, de tom de voz, de postura, etc.).
 
A segunda propriedade básica do texto é o fato de ele constituir uma 
unidade semântica; e, finalmente, o texto se caracteriza por sua unidade formal, 
material. 
 O que é textualidade? 
Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis pela 
textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se relacionam 
com o material conceitual e linguístico do texto, a intencionalidade, a aceitabilidade, 
a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade, que têm a ver com 
fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo. 
 Os fatores pragmáticos da textualidade 
Entre os cinco fatores pragmáticos por Beaugrande e Dressler (1983), os dois 
primeiros se referem aos protagonistas do ato de comunicação: a intencionalidade 
e a aceitabilidade.
 A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um 
discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa 
determinada situação comunicativa. A meta pode ser informar, ou impressionar, 
ou alarmar, ou convencer, ou persuadir, ou defender, etc., e é ela que vai orientar 
a confecção do texto. O outro lado da moeda é a aceitabilidade, que concerne à 
expectativa do recebedor deque o conjunto de ocorrências com que se defronta seja 
um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos 
ou a cooperar com objetivos do produtor. 
 
O terceiro fator de textualidade, segundo Beaugrande e Dressler (1983), é 
a situacionalidade, que diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência 
e relevância do texto quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto à 
situação sociocomunicativa. A conjunção dos três fatores já mencionados resulta 
numa série de consequências para a prática comunicativa. Em primeiro lugar, é 
importante para o produtor saber com que conhecimentos do recebedor ele pode 
contar e que, portanto, não precisa explicitar no seu discurso. Esses conhecimentos 
podem advir do contexto imediato ou podem preexistir ao ato comunicativo. 
O interesse do recebedor pelo texto vai depender do grau de informatividade 
de que o último é portador. Esse é mais um fator de textualidade apontado por 
Beaugrande e Dressler (1983) e diz respeito à medida, na qual as ocorrências de um 
texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano conceitual e no formal. 
Beaugrande e Dressler (1983) falam ainda de um outro componente de textualidade: 
a intertextualidade, que concerne aos fatores que fazem a utilização de um texto 
dependente do conhecimento de outro(s) texto(s). 
172
UNIDADE 3 | PRAGMÁTICA
Inúmeros textos só fazem sentido quando entendidos em relação a outros 
textos, que funcionam como seu contexto. Relacionando os conceitos de textos e 
textualidade, poder-se-ia dizer, em princípio, que a unidade textual se constrói, 
no aspecto sociocomunicativo, através de fatores pragmáticos (intencionalidade, 
aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade); no aspecto 
semântico, através da coerência; e, no aspecto formal, através da coesão. 
É possível, no entanto, repensar esse arranjo, se se considerar que a 
informatividade e a intertextualidade dizem respeito, também, à matéria 
conceitual do discurso, na medida em que lidam com conhecimentos partilhados 
pelos interlocutores. Assim, ao mesmo tempo que contribuem para a eficiência 
pragmática do texto, conferindo-lhe interesse e relevância, esses dois fatores 
também se colocam como constitutivos da unidade lógico-semântico-cognitivo 
do discurso, ao lado da decorrência. Logo, poder-se-ia situá-los a cavaleiro, parte 
no plano sociocomunicativo, parte no plano semântico-conceitual. 
FONTE: <http://www.ufjf.br/virtu/files/2010/04/artigo-2a34.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2020.
173
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que: 
• Ducrot afirma que pressupostos representam as inferências ativadas por 
marcas linguísticas explícitas e constituem uma base para a interpretação do 
enunciado. 
• Ducrot pontua que subentendidos são inferências que não são ativadas por 
uma marca linguística explícita. O subentendido advém do conhecimento de 
mundo entre os falantes da língua, com base no contexto e na prática social.
 
• Ducrot situa que implícitos são inferências derivadas de determinadas 
construções que revelam algumas intenções do autor. 
• O aspecto pragmático da linguagem tem a ver com a sua funcionalidade e 
dinamicidade.
• Para a Pragmática, o uso da língua está sempre relacionado a um fazer e a um 
representar. O falante e o ouvinte são sujeitos intencionais. 
• As noções de escolha e estratégia de linguagem são centrais para a teoria. 
• O termo “operadores argumentativos” foi definido pelo linguista francês 
Oswald Ducrot para demarcar a força argumentativa dos enunciados. 
• Os operadores argumentativos podem ser entendidos como 
os conectivos (notadamente as conjunções). Há também advérbios 
que exercem alguma função/força na expressividade da 
linguagem: até, inclusive, também, afinal, então, é que, aliás etc.
• Há tipos de operadores argumentativos que podem ser usados conforme 
a intencionalidade na dinâmica comunicativa. Entre os operadores mais 
importantes, pode-se salientar: os de soma, de explicação, de conclusão, de 
causa, de conformidade, de oposição e de concessão.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando 
em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja 
as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
174
AUTOATIVIDADE
1 (UEPB, 2007) Analise as proposições a seguir.
Em relação ao termo “Segundo” (L8), pode-se afirmar que:
I- Demarca a voz do autor citado, introduzindo procedimentos de 
reprodução discursiva, de forma indireta.
II- Funciona como marcador temporal, sequenciando uma ideia e 
apresentando compatibilidade entre os enunciados do texto.
III- Ordena a sucessão de vários fatos, colaborando com a continuidade do 
texto e estabelecendo a coerência narrativa.
IV- Introduz uma frase verbal, podendo ser substituído por “conforme”.
Está(ão) CORRETA(S):
FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-vestibular/questoes/3885bb8a-70>. 
Acesso em: 12 mar. 2020.
a) ( ) III e IV.
b) ( ) II.
c) ( ) I e IV.
d) ( ) I e II.
e) ( ) II e III.
2 Leia a tirinha de Hagar a seguir:
FONTE: <http://professorjeanrodrigues.blogspot.com/2018/09/atividade-sobre-os-
operadoresarticulado.html>. Acesso em: 7 nov. 2019.
Sobre os valores semânticos dos operadores argumentativos presentes nessa 
tirinha, analise as afirmações a seguir:
I- O elemento “se” empregado no primeiro balão indica uma condição para 
a oração principal.
II- A conjunção aditiva “e” no segundo balão tem valor semântico alternativo, 
colocando o vendedor em situação de escolha.
III- Na fala do vendedor no terceiro balão, a conjunção “mas” estabelece 
oposição recriminando a proposta feita pelo cliente (Hagar).
175
 Está(ão) CORRETA(S):
a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) Apenas I.
e) ( ) Apenas III.
3 (UEPB, 2007) Leia o texto a seguir?
Antes apontada como o 'pulmão do mundo', sabe-se hoje que a
importância da floresta amazônica é muito maior. De celeiro da
biodiversidade a elemento controlador do clima do planeta, a
região ainda guarda muitos mistérios sob as copas das
árvores, [...]
Entre o solo rico em agentes decompositores e a copa das árvores,
a 40 metros há um hiato envolto pela penumbra, [...]
Em “[...] a região AINDA guarda muitos mistérios [...]” (l. 3-4), o termo em 
destaque funciona como:
FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-vestibular/questoes/3334c886-70>. 
Acesso em: 12 mar. 2020.
a) ( ) Operador discursivo responsável pela organização das ideias que 
revelam a importância da floresta amazônica como controladora do 
clima do planeta.
b) ( ) Introdutor de um argumento a mais, que estabelece uma relação 
sequencial, indicando a Amazônia, também, como guardiã de mistérios.
c) ( ) Conector que estabelece, ao mesmo tempo, uma relação de contradição 
e de concessão, tendo em vista a Amazônia ser o “pulmão do mundo” 
e guardar muitos mistérios.
d) ( ) Elo coesivo que marca uma relação conclusiva, pois a relevância da 
floresta amazônica é maior do que se pensava.
e) ( ) Organizador textual que remete a um discurso anterior, mostrando a 
Amazônia como uma floresta sem fim, muito mais do que “pulmão do 
mundo”. 
176
REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de estado: nota sobre os aparelhos 
ideológicos de estado. 3. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
ARMENGAUD, F. A pragmática. Tradução de Marco Marcionilo. 2. ed. São Paulo: 
Parábola Editorial, 2006.
AUGUSTINI, Carmem Lúcia Hernandes. A estilística no discurso da gramática. 
Campinas: FAPESP, 2004.
AUSTIN, J. L. How to things with words. Owford: Clarendon Press, 1962.
AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 
1990 [1992]. 
BENVENISTE, E. A natureza dos pronomes. In: BENVENISTE, E. Problemas 
de linguística geral I. 4. ed. Campinas: Pontes: 1995. p. 277-283. Disponível 
em: http://paginapessoal.utfpr.edu.br/gustavonishida/disciplinas/lingua-
e-comunicacao/A%20Natureza%20dos%20Pronomes%20-%20Emile%20

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