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Análise do Discurso

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Indaial – 2020
Análise do discurso
Prof.a Scheila Patrícia de Borba Curry
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Scheila Patrícia de Borba Curry
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C976a
Curry, Scheila Patrícia de Borba
Análise do discurso. / Scheila Patrícia de Borba Curry. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
187 p.; il.
ISBN 978-65-5663-013-7
1. Análise do discurso. - Brasil. 2. Linguística. – Brasil. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 410
III
ApresentAção
Prezado acadêmico!
Estamos dando início aos nossos estudos de uma disciplina 
relativamente nova nos programas e ementas de ensino. Trataremos da 
Análise de Discurso (de linha francesa), um importante referencial teórico 
que certamente mudará seu olhar e sua forma de se relacionar principalmente 
dentro de suas práticas de trabalho. Junto dela, vêm alguns tópicos da 
Pragmática – outra linha teórica que também mobilizará você a perceber 
certos “detalhes” no processo de comunicação que fará a diferença nos 
resultados que se buscam alcançar.
 
Nosso estudo focará princípios básicos, observando origens da 
teoria, autores mais importantes, conceitos fundadores e sobretudo análises 
que descreverão para você os caminhos para trabalhar com tais referenciais. 
Assim, compreenderemos a noção de discurso, de sujeito, de posição 
ideológica, de condições de produção de um discurso e de formações 
discursivas. Tudo isso é tão importante que é capaz de prever o resultado de 
comportamentos e encaminhamentos que temos dentro de nossas relações 
sociais. Nós, como sujeitos, afetados ideologicamente por uma memória, por 
uma história, que se (re)inscrevem no tempo e no espaço, nunca proferimos 
uma fala desintencionados. Deslocando essa análise para nossas relações 
sociais, quando conversamos com um colega, com um cliente e fazemos um 
pedido ou uma solicitação, já podemos trabalhar esse discurso de maneira 
que aquele que está do outro lado, o meu interlocutor, sinta-se mais ou 
menos encorajado a responder a nossa demanda. Tudo depende de como 
podemos formular nosso discurso. 
A partir disso, observe como estão divididas as unidades na sequência. 
Na Unidade 1, você encontrará noções sobre a Teoria da Enunciação, um 
referencial que constitui subsídios para compreender melhor a Análise de 
Discurso em função da formulação sobre sujeito. Também, nessa primeira 
unidade, abordaremos as bases da análise de discurso, apresentando conceitos 
específicos da teoria. Na Unidade 2, aprofundaremos mais o conhecimento 
de outros dispositivos de análise como o da posição-sujeito e das formações 
discursivas e imaginárias. Na terceira e última unidade, vamos trabalhar as 
noções da Pragmática, uma linha teórica presente na superfície da linguagem. 
Abordaremos então os atos de fala e os operadores entre outros conceitos 
norteadores. Assim, a partir do breve exposto, daremos início a esse mundo 
de conhecimento no qual você entra a partir de agora! Organize-se para nosso 
estudo. Tenha sempre um caderno onde possa anotar, sublinhar ideias e 
conceitos que você perceba importantes para o conhecimento. Bons estudos!
Prof.a Scheila Patrícia de Borba Curry
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA 
ÉMILE BENVENISTE ....................................................................................................1
TÓPICO 1 – DA NATUREZA DOS PRONOMES ...............................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 A CONSTITUIÇÃO DO “EU” E DO “TU”: O ESPAÇO DA SUBJETIVIDADE .......................4
3 O DISCURSO NA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO ............................................................................9
4 NOÇÕES SOBRE LÍNGUA E DISCURSO: O QUE É A LÍNGUA EM BENVENISTE .............9
4.1 CONECTANDO SUJEITO E DISCURSO .....................................................................................16
5 SUBJETIVIDADE NA/PELA LINGUAGEM: QUE PROCESSO É ESTE? ...............................17
5.1 DEFININDO O OBJETO DE ANÁLISE: REPRESENTAÇÕES DESSAS CATEGORIAS 
NOS DISCURSOS INFORMATIVOS, CASUAIS, FORMAIS, INFORMAIS DO 
COTIDIANO SOCIAL OU DE TRABALHO ...............................................................................19
5.2 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA ENUNCIATIVA PARA O MERCADO DE TRABALHO ....24
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................26
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................27
TÓPICO 2 – ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: COMPREENDENDO 
AS BASES ...........................................................................................................................31
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31
2 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA ANÁLISE DE DISCURSO: HISTÓRICO 
E AUTORES ...........................................................................................................................................33
3 ESPAÇO DEINSURGÊNCIA DA AD NAS DINÂMICAS RELAÇÕES DO SÉCULO XXI .34
4 COMPREENSÕES TEÓRICAS: NOÇÃO DE TEXTO E DISCURSO ........................................36
 4.1 LÍNGUA: A MATERIALIDADE LINGUÍSTICA QUE TRACEJA O SENTIDO ....................39
4.2 NOÇÃO DE SUJEITO: A POSIÇÃO DO “EU” E DO “TU” .....................................................40
4.2.1 A posição sujeito professor ...................................................................................................42
4.3 DEFININDO O CORPUS/OBJETO: QUE LUGAR DEVEMOS ASSUMIR NESSE 
OBSERVATÓRIO DA LINGUAGEM? ........................................................................................44
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................49
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................54
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................55
UNIDADE 2 – ANÁLISE DE DISCURSO: DOS FUNDAMENTOS À PRÁTICA 
DE ANÁLISE .................................................................................................................59
TÓPICO 1 – AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO NO DISCURSO ................................................61
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61
2 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE UM DISCURSO: O QUE SÃO E 
COMO FUNCIONAM .........................................................................................................................62
2.1 AINDA NAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO: A INTERFERÊNCIA DE NOVAS 
REDES SE SENTIDO .......................................................................................................................65
3 SUJEITO DO DISCURSO ...................................................................................................................66
3.1 A CONSTITUIÇÃO DA POSIÇÃO-SUJEITO .............................................................................67
sumário
VIII
4 SOBRE O SILÊNCIO NAS TOMADAS DE POSIÇÃO ................................................................73
5 O PAPEL DAS FORMAÇÕES DISCURSIVAS NO ASSUJEITAMENTO ................................75
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................80
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................82
TÓPICO 2 – O ATRAVESSAMENTO DO INTERDISCURSO ......................................................85
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................85
2 OS SENTIDOS DE BASE ACERCA DO INTERDISCURSO ......................................................86
2.1 A RELAÇÃO DO SUJEITO COM A MEMÓRIA, COM A IDEOLOGIA ................................88
3 OUTRAS INTERFACES PARA O DISCURSO: ANTECIPAÇÕES .............................................93
4 ESQUECIMENTOS ..............................................................................................................................97
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................104
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105
TÓPICO 3 – RECRIANDO ANÁLISES: OUTROS DISPOSITIVOS ..........................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS .......................................................................................................110
3 SOBRE AS FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS (FIs) .........................................................................110
4 O PAPEL DA PARÁFRASE E DA POLISSEMIA: O CONFRONTO ENTRE O 
SIMBÓLICO E O REAL ....................................................................................................................112
4.1 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DE DISCURSO PARA O MERCADO DE TRABALHO ......113
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................115
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................119
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................120
UNIDADE 3 – PRAGMÁTICA ...........................................................................................................123
TÓPICO 1 – NOÇÕES SOBRE PRAGMÁTICA ..............................................................................125
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125
2 CONCEITOS INICIAIS .....................................................................................................................126
3 BREVE HISTÓRICO: CONCEITOS E NOMES EXPONENCIAIS DA TEORIA ..................128
4 ATOS DE FALA ...................................................................................................................................134
5 O MODELO DE GRICE ....................................................................................................................138
6 AS IMPLICATURAS ..........................................................................................................................139
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................144
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................145
TÓPICO 2 – ARGUMENTAÇÃO NA PRAGMÁTICA ..................................................................147
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147
2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .............................................................................................148
3 FATORES PRAGMÁTICOS .............................................................................................................149
4 TIPOS DE ARGUMENTOS: UM OLHAR SOBRE O QUE A PRAGMÁTICA ALCANÇA...155
5 OPERADORES ARGUMENTATIVOS: DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES .......................157
6 OPERADORES QUE ALTERAM A SIGNIFICAÇÃO .................................................................163
6.1 COMO OPERCIONALIZÁ-LOS NA PRODUÇÃO DE UM TEXTO .....................................165
6.1.1 Fragmento de uma introdução de um artigo acadêmico ................................................165
7 BREVE EXPOSIÇÃO SOBRE A DIFERENÇA ENTRE ANÁLISE DE 
DISCURSO E PRAGMÁTICA .........................................................................................................166
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................170
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................173
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................176
1
UNIDADE 1
NOÇÕES DA TEORIA DA 
ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA 
ÉMILE BENVENISTE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMPLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer a Teoria da Enunciação e o respectivo autor que a 
representa;
• compreender a noção de discurso por essa teoria;
• compreender a representação de sujeito pelo referido aporte 
teórico; 
• conhecer as noções preliminares sobre a Análise de Discurso;
• reconhecer os fundamentos sobre discurso e sujeito na Análise de 
Discurso;
• iniciar alguns movimentos analíticos dentro da teoria da Análise 
de Discurso. 
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado. 
TÓPICO 1 – DA NATUREZA DOS PRONOMES
TÓPICO 2 – ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: 
COMPREENDENDO AS BASES
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
DA NATUREZA DOS PRONOMES
1 INTRODUÇÃO
Nesta Unidade 1, vamos começar nossos estudos conhecendo a tão 
importante Teoria da Enunciação a qual vai trabalhar com as propostas situadas 
neste primeiro tópico. Inicialmente vamos pensar: o que é uma teoria? Teoria é 
um conjunto de pressupostos e princípios que avaliados e testados formam um 
saber sobre determinadas questões. O Dicionário Houaiss (2001) aponta algo 
como sendo um conjunto de regras ou leis aplicadas a uma área específica. Então, 
podemos dizer que “teoria” é a formulação de um conhecimento, certo?!
FIGURA 1 - SOBRE A ENUNCIAÇÃO
FONTE: <https://amigosmultiplos.org.br/wp-content/uploads/2017/12/250716220143-esclerose2.jpg>. 
Acesso em: 17 out. 2019.
Agora, pensemos sobre enunciação. O que é “enunciar”? Vamos seguir 
o mesmo caminho. Segundo o Dicionário Houaiss (2001), enunciar é declarar 
algo. Nesse caso, posso acrescentar que essa declaração pode ser afirmativa, 
negativa, interrogativa, exclamativa, injuntiva etc. tudo depende da situação 
em que se está proferindo algo. Assim, vamos começar a conhecer o conceito: 
Teoria da Enunciação trata sobre um conhecimento acerca do “enunciar”. E 
neste aspecto reside toda a questão da teoria: o enunciar, que nós tratamos aqui 
como “declarar”, pois, para se poder “declarar” algo ou sobre algo, é preciso 
que exista o quê? É preciso que haja um sujeito, alguém que enuncie, que afirme, 
que negue, que pergunte, que exclame etc., porém, isso não é tão simples assim. 
Vamos entender mais adiante o que faz “alguém” ser um sujeito, ou nos termos 
da teoria, a classificação de “pessoa” à categoria de sujeito.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
4
2 A CONSTITUIÇÃO DO “EU” E DO “TU”: O ESPAÇO DA 
SUBJETIVIDADE
Acreditamos que até aqui você está compreendendo, então, vamos abrir 
um parêntese para conhecer um dos grandes nomes dessa teoria: Émile Benveniste, 
que nasceu na Síria e foi naturalizado francês; nasceu em 1902 e faleceu em 1976. 
Publicou a célebre obra Problèmes de linguistique générale (em português, Problemas 
de Linguística Geral), em 1966, momento em que o sujeito do discurso estava sendo 
relativizado nos estudos da linguagem. 
A partir de suas publicações, o universo da linguagem se voltou 
para o referido autor, incluindo nessa plateia filósofos e psicanalistas como 
o inquestionável Jacques Lacan, o qual, em 1956, formou uma parceria com 
Benveniste para uma produção das concepções de sujeito. Sua trajetória final 
em publicações se estabeleceu em 1974 com o segundo volume de Problèmes de 
linguistique générale II. Benveniste assume tamanha importância porque, com 
ele, temas como a questão da subjetividade na linguagem, a categoria de pessoa 
x sujeito, a instituição do discurso assumiu relevantes proporções. A partir de 
Benveniste, ousou-se estabelecer “um terreno limítrofe que lhe permite falar, 
em uma interdisciplinaridade, de filosofia, antropologia, sociologia, psicanálise, 
cultura” (FLORES et al., 2009).
FIGURA 2 - METAFORICAMENTE, REPRESENTA OS DESLOCAMENTOS EU-TU
FONTE: <https://pbs.twimg.com/profile_images/1260744705/C_pia_de_bl_w_400x400.jpg>. 
Acesso em: 17 out. 2019
Considerando esses aspectos trabalhados, pensemos: o que significa esse 
título do tópico “Da natureza dos pronomes”. Se tudo o que estudamos até agora 
foi uma síntese sobre o que é a Teoria da Enunciação, sobre a possibilidade de 
se colocar como sujeito em um discurso e sobre a importância de Benveniste nos 
estudos da linguagem, o que “natureza dos pronomes” tem a ver com isso?
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
5
FIGURA 3 – ÈMILE BENVENISTE
FONTE: <https://www.goodreads.com/author/show/2452313._mile_Benveniste>. Acesso em: 
19 de out.2019.
Tudo começa com o fato de que Benveniste, em seus estudos sobre a noção 
de sujeito, percebeu que a categoria do pronome — sim, este mesmo que você está 
pensando, o pronome das classes gramaticais — elimina a noção de pessoa enquanto 
um sujeito com identidade, quando está fora de um ato enunciativo. Os elementos 
“eu/tu/ele” abolem a noção de pessoa porque — fora da enunciação do discurso — 
não se constituem como uma classe unitária: ora estão na sintaxe, dissolvidos na 
estrutura frasal, ora estão em instâncias do discurso. Então, para o autor, isso não 
estabiliza a noção de sujeito. A categoria do “eu” só possui valor na própria instância 
do discurso em que se apresenta. Fora dele, o “eu” perde sua identidade. 
Nessa perspectiva, instância do discurso passa a existir no exato momento 
em que um indivíduo faz uso da linguagem, a qual possui uma série de sentidos 
internos. Esses sentidos são acessados por um “eu” (locutor/autor/enunciador), o 
qual se movimenta à categoria de sujeito na exata medida que enuncia para um 
“tu” (interlocutor/leitor). Com isso, percebemos que a constituição do sujeito se dá 
“na e pela linguagem” (BENVENISTE, 1995), momento em que o “eu” toma a voz e 
enuncia sobre si ou sobre algo de sua exterioridade. Tal processo ocorre sempre na 
presença de um “tu”, aquele para quem ou com quem se fala. É oportuno afirmar 
que, quando esse “tu” toma a voz e passa a enunciar no discurso, a categoria de 
sujeito é deslocada para esse “outro” do ato discursivo.
 
E quanto ao “ele”? Quem é a pessoa do “ele” na Teoria da Enunciação? 
Benveniste chama-o de “não pessoa”. Isso significa que “ele” é “sobre o que falamos”. 
É o assunto, é o indivíduo sobre quem conversamos, comentamos, escrevemos. 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
6
IMPORTANT
E
• "A polaridade das pessoas é na linguagem a condição fundamental"(BENVENISTE, 1995, p. 
286).
• O “eu” sempre se sobrepõe sobre o “tu” (BENVENISTE, 1995, p. 286).
• "Nenhum dos dois termos se concebe sem o outro" (BENVENISTE, 1995, p. 286).
Nesse momento, você pode pensar: mas o que isso tem a ver com meus 
estudos, minha atuação profissional, social etc.? Reconhecer esse movimento, 
saber dar voz ou concentrar a voz é o que fortalece ou dissocia muitas relações, 
sendo as exatas que você, eu... todos nós temos. Expressar ou deslocar a voz 
do discurso é um gesto que movimenta o sentido frente àquilo que é dito ou 
silenciado. Agora, pense em quantas vozes, socialmente considerando, não são 
ouvidas? Quantos amigos, colegas etc. não se constituem na condição de sujeito 
de um discurso porque não são recebidos por um interlocutor, não são ouvidos? 
Então, nosso trabalho como analistas do discurso é sempre reconhecer as vozes 
porque isso sempre elevará a qualidade de nosso trabalho. 
FIGURA 4 – SOBRE AS MÚLTIPLAS FACES DO “EU”
FONTE: <https://evilynalmeida2012.wixsite.com/cabinepoetica/galeria?lightbox=image_1m9x>. 
Acesso em: 19 out. 2019.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
7
Seguindo essa linha de raciocínio sobre a constituição do sujeito na e pela 
linguagem, convidamos você a raciocinar sobre as seguintes questões:
• Você já tinha refletido a noção de sujeito?
• Nas suas práticas cotidianas, você já percebeu, entre os pares comquem conversa, 
trabalha, socializa-se que existem aqueles que “se colocam mais” frente ao que querem 
expressar?
• Já observou que também há alguns que parecem apresentar maior dificuldade de 
expressar o que pensam? Certamente a timidez é um fator relevante, mas não é só isso 
que limita.
 Diante dessas questões, sugerimos que anote a seguir o entendimento de 
sujeito que você passa a ter com nosso estudo. Descreva também alguma situação 
(preferencialmente de trabalho) em que você percebeu a constituição e a destituição do 
sujeito no discurso.
ATENCAO
Trabalhamos, na introdução, o funcionamento das categorias do “eu” e 
do “tu” no discurso, segundo a teoria de Émile Benveniste. Retomando aqui: o 
“eu” tem a força discursiva de transcender o “tu”, o que acontece sempre que se 
toma a palavra. Sendo assim, quando uma pessoa “fala”, ela está assumindo a sua 
condição de sujeito no discurso, emergindo com uma rede de saberes, valores, 
conceitos que profere na presença de um “tu”. 
Nas palavras de Benveniste (1995, p. 286): “[...] ego [eu] tem sempre uma 
posição de transcendência em relação ao tu, apesar disso, nenhum dos dois termos se 
concebessem o outro, são complementares e, ao mesmo tempo, reversíveis”. 
IMPORTANT
E
A partir disso, Benveniste recolocou nos estudos da linguagem, a noção 
de subjetividade. Vamos parar um pouquinho aqui: você possivelmente já ouviu 
professores ou colegas falando que determinado tema é mais ou menos subjetivo, 
não é? Vamos então redefinir esse entendimento. O simples uso da primeira 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
8
pessoa do discurso (eu) não torna um tema subjetivo. A subjetividade é mais 
do que isso; ela está na “capacidade de o locutor se propor como sujeito em seu 
discurso” (BENVENISTE, 1995). E isso ocorre na materialidade linguística que é 
a língua, a nossa língua portuguesa. 
Esse posicionamento do indivíduo como sujeito do discurso instala a 
subjetividade na linguagem PORQUE, junto do ato de enunciar, o sujeito assume 
escolhas linguísticas, exala um discurso carregado de valores, condutas, crenças, 
opiniões que lhes são tão próprios, tão singulares, tão únicos que não há como 
ter uma repetição disso em outra prática discursiva de outro sujeito. Assim, a 
subjetividade tem a ver com a singularidade percebida naquilo que é enunciado. 
A partir disso, compreende-se que o “eu” que fala faz referência a si 
mesmo com as marcas da primeira pessoa, como é o caso do “eu”, constituindo 
sempre um novo gesto de significação “de si mesmo” no discurso. Assim, o “eu” 
na comunicação oscila de estado: os polos eu/tu assumem posições alternadas, 
colocando-se na linguagem e assim produzindo efeitos de sentido no discurso. 
Segundo Benveniste (1989, p. 69): 
A língua provê os falantes de um mesmo sistema de referências 
pessoais de que cada um se apropria pelo ato de linguagem e que, 
em cada instância de seu emprego, assim que é assumido por seu 
enunciador, se torna único e sem igual, não podendo realizar-se duas 
vezes da mesma maneira. 
Essas sobreposições das pessoas do discurso (re)criam uma consciência 
sobre si, em processos de (inter)subjetividades que precisam ser entendidas 
como presença do sujeito na linguagem em constante alternâncias das posições 
eu-tu. Em face disso, a constituição do eu-tu, para Benveniste não é mais que “a 
capacidade do locutor para se propor como ‘sujeito’” (BENVENISTE, 1995, p. 
286), estabelecendo “trocas” que podem ressignificar os sentidos propostos no 
discurso a cada ato de enunciação.
 
Vamos então pensar isso de forma mais prática? Vamos criar aqui 
uma formação imaginária (conceito este do qual vamos tratar mais adiante). 
Imagine o seguinte:
 São 8h45min da manhã. A reunião que havia sido marcada ontem com 
sua equipe de trabalho vai começar em 15 minutos. Todos foram avisados sobre 
horário e pautas, entre as quais está a definição da estratégia de organização do 
evento de apresentação da empresa em uma feira nacional. 
Você está lá, vendo todos chegarem; todos estão abrindo suas agendas, seus 
smathphones para discutirem o assunto. A pessoa responsável pela organização 
da reunião começa os trabalhos, ela solicita a apresentação de ideias. Nesse 
momento, um dos presentes diz algo, todos analisam, pensam. A própria pessoa 
que deu a ideia “volta atrás”, reformula sua própria fala. Outro colega refuta, 
reorganiza o que foi colocado inicialmente, e assim se desenvolve a reunião.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
9
Esse processo para a maioria das pessoas é só uma reunião com troca 
de ideias, mas para você, como analista de discurso, é importante observar os 
movimentos das tomadas de posição entre o “eu” que fala e o “tu” (os vários “tu” 
que ouvem). Observe a força discursiva, as seleções vocabulares, pausas maiores 
ou menores na fala, a convocação de outros saberes e fontes para fazer valer o que 
se está propondo. Essa “valsa”, que, às vezes, pode assumir um gênero musical 
mais denso, dependendo do “ânimo” das pessoas, representa a emergência do 
sujeito na e pela linguagem. 
Seguindo essa linha de raciocínio sobre O MOVIMENTO DAS PESSAOS NO 
DISCURSO, convido você a escolher um momento de sua vida cotidiana de trabalho ou 
estudo, circunstância em que pessoas estão colocando algum ponto de vista acerca de 
algum assunto de interesse coletivo, para observar a seguinte situação:
• Quem apresenta inicialmente seu ponto de vista? (Lembre-se de que quem assume a 
fala, está na posição-sujeito no discurso).
• As demais pessoas (o tu) ouvem caladas ou tentam tomar a posição do “eu”?
• A colocação inicial é aceita ou rejeitada?
• O movimento de tomadas de posição do sujeito “eu” é reconhecido pelos demais ou há, 
no decorrer do processo, tentativas de silenciamento de alguma voz?
 Diante dessas questões, sugerimos que anote também: quantos indivíduos 
assumiram a posição “eu-sujeito” no discurso. Houve uma posição dominante? Que tipo 
de força de linguagem ela usou para prevalecer?
IMPORTANT
E
3 O DISCURSO NA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO
O indivíduo, na condição de se manifestar na e pela linguagem, passa a 
existir no agora, articulando saberes que constituem o seu discurso. Esse discurso 
é, portanto, para Benveniste, a manifestação do ato de enunciar. Você se lembra do 
conceito de enunciar colocado lá no início? Enunciar, de forma simples e direta, é 
declarar algo ou declarar sobre algo). A partir dessa colocação inicial, estudamos 
então a emergência do sujeito, a existência deste na linguagem e o consequente 
uso da língua para se fazer presente e constituir os sentidos. Assim, é relevante 
agora reforçar que “a enunciação coloca em movimento a Língua por um ato 
individual de utilização” (BENVENISTE, 1989, p. 85). Sendo assim, o processo de 
declarações, ou seja, de enunciações constitui um discurso.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
10
FIGURA 5 - REPRESENTAÇÃO DO ATO DE ENUNCIAR QUE DEFLAGRA O DISCURSO
FONTE: <https://cdn.slidesharecdn.com/ss_thumbnails/comunicacion-170429005229-
thumbnail-4.jpg?cb=1493427220>. Acesso em: 7 nov. 2019.
É válido salientar que uma declaração ou um conjunto de declarações 
precisam — obrigatoriamente — apresentar sentido, precisam fazer sentido 
frente ao interlocutor (tu), pois o movimento das tomadas de posições eu-tu 
és perpétuo. Benveniste (1989, p. 82) acrescenta ainda que o discurso “é o ato 
de produzir um enunciado, e não o texto do enunciado”. Essa afirmação toma 
sentido lógico quando nos damos conta de que, em um texto escrito ou falado, 
podem emergir inúmeras vozes, inúmeros sujeitos que exalam efeitos de sentido 
muito distintos entre si. Cada um destes sujeitos assume um ato de enunciar, 
com seu fazer próprio, carregado de fundamentos que lhes são próprios. Diante 
disso, entendemos que, dentro de um texto, pode haver vários discursos. Você 
compreende isso?
Agora, vamos observar algumas situações: 
• 1ª Situação: a seguir há um textoque tematiza a questão política. O que queremos 
com esse texto é mostrar que, apesar de ele ter um título, ser publicado em 
determinado lugar e aparentar a ideia de unicidade, ou seja, a ideia de parecer que 
possui uma ideia única, na verdade, esse texto é multifacetado, em função de que 
apresenta, no mínimo, dois discursos. 
Em certa ocasião, dois candidatos a pleito da política brasileira debateram 
sobre a questão da segurança pública. Após o debate, uma equipe transcreveu, 
na forma escrita, toda a discussão para disponibilizar aos internautas que 
quisessem analisar melhor a fala dos concorrentes.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
11
FIGURA 6 - IDENTIFICANDO OS DISCURSOS NA ENUNCIAÇÃO
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSSUmayfziD8Jlevvk4o9Pf__
bhXpAm_lygxifAZc8lcbnjUUsY0A&s>. Acesso em: 12 out. 2019.
DEBATE
[...] “A questão da segurança não é de responsabilidade direta da 
prefeitura. Mas a prefeitura pode ajudar muito, e é isso que eu vou fazer 
como prefeito. Até porque eu conheço os dois lados. Já fui prefeito, e já fui 
governador, já tive a responsabilidade também sobre a segurança. A situação 
de segurança em nossa cidade deixa a desejar, é insatisfatória, mas é preciso 
considerar que melhorou muito comparativamente ao resto do Brasil. [...]
[Nossa cidade] registrou a maior queda de homicídios no Brasil 
proporcionalmente em termos absolutos nos últimos 12, 13 anos. Agora, a 
prefeitura pode fazer coisas importantes nessa direção. Uma delas é reforçar 
a Operação X, que o PM na hora de folga é contratado para a prefeitura. [...]
Mais ainda, aumentar a integração entre prefeitura e governo do 
Estado, entre guarda civil metropolitana e polícia militar, polícia civil. Eu 
introduzi como prefeito câmeras de vigilância do município, e introduzi como 
governador câmeras de vigilância também do Estado. [...] 
[...] os dados recentes sobre violência dão conta de que o problema é 
muito mais grave e mais recente do que você imagina. Estou falando de agora, 
do presente e do futuro, o que você às vezes reluta em discutir. O homicídio 
doloso aumentou 15% do ano passado para cá, dados oficiais da secretaria 
de segurança. Número de vítimas aumentou 17%. Tentativa de homicídio, 
35%. Estupro, 26%. E latrocínio, 6%. Você faz referência à Operação X, mas a 
Operação X não contrata os policiais no dia de folga para cuidar da segurança, 
na verdade ela enfrenta o comércio irregular, o comércio Y”. 
FONTE: Adaptado de <https://folha-online.jusbrasil.com.br/noticias/100143091/leia-a-
transcricao-completa-do-debate-sbt-uol-entre-haddad-e-serra>. Acesso em: 30 jun. 2019. 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
12
Você consegue perceber que o texto inicia com a enunciação de um 
sujeito que afirma sobre suas pretensões a determinado cargo político, MAS você 
percebe onde e quando uma segunda voz entra e assume a posição como sujeito? 
Lembra que falamos que o a pessoa/indivíduo se constitui como sujeito na e pela 
linguagem, certo? Isso tem a ver com os sentidos que transbordam no seu ato 
enunciativo. Você percebeu que o texto inicia com uma sequência de afirmações 
bastante promissoras em relação à segurança pública e que de repente entra um 
discurso mais ofensivo que destoa da perspectiva anterior? Em que momento 
isso acontece? Se não percebeu, volte lá e leia mais uma vez... Então, como pode 
ter analisado, o segundo discurso, o segundo sujeito vem à tona em “Os dados 
recentes sobre violência dão conta de que o problema é muito mais grave e mais 
recente do que você imagina”. A partir desse momento, enunciação na contra-
argumentação. O segundo sujeito entra para descontruir a rede de sentidos que 
o primeiro colocou.
Assim, perceba que um texto pode carregar sempre dois ou mais 
interlocutores como consagram seus discursos através da enunciação e nós, como 
analistas do discurso, precisamos mapear isso, pois este é o princípio para, mais 
adiante, conseguirmos trabalhar também com outras categorias de análise.
• 2ª Situação: a seguir, há uma segunda situação que trata sobre o celular em 
sala de aula. O que queremos com esse caso? Gostaríamos que você observasse 
as vozes que circulam nele. Para leitores em geral, esse texto trata de uma 
simples opinião sobre o uso do celular na condição já mencionada, PORÉM, 
nós, analistas do discurso, não podemos nos limitar a isso. Então, vamos lá:
CELULAR EM SALA DE AULA: UMA QUESTÃO QUE DIVIDE OPINIÕES
Professores e profissionais da educação pensam diferente sobre o assunto
Presente de maneira extremamente significativa na vida de 
crianças, adolescentes e jovens, o celular já se tornou um item inseparável e 
companheiro em praticamente todas as atividades diárias, até na hora dos 
estudos. O tema não é novo e o debate sobre o uso dos celulares no ambiente 
escolar tem gerado posicionamentos bastante divergentes.
Existem leis aprovadas em âmbito estadual e municipal proibindo 
o uso de celulares em sala de aula e, atualmente, um projeto de lei está em 
análise na Câmara dos Deputados PL 105/15 que prevê a proibição do uso 
de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares e tablets nas salas de aula 
da Educação Básica e Superior de todo o país, com o objetivo de preservar a 
essência do espaço pedagógico.
Mas as discussões sobre o tema seguem caminhos diferentes. 
Enquanto alguns professores acreditam que os celulares podem tumultuar o 
comportamento em sala de aula, outros profissionais olham para questão de 
forma mais sensata e abrangente.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
13
A jornalista espanhola Susana Pérez de Pablos é especializada em 
educação e acredita que no mundo atual, plenamente digitalizado, a entrada 
da tecnologia na educação não tem retorno. “Liguem os telefones celulares”. 
Essa é a frase que inicia o texto de sua coluna para o jornal El País, que trata de 
sete motivos para usar o celular em sala de aula.
Para a coordenadora do setor de Educação da Unesco no Brasil, Maria 
Rebeca Otero Gomes, ignorar o celular é algo impossível, pois ele se encontra 
presente em todos os lugares. Ela se declarou contramedidas que proíbem o uso 
do aparelho, principalmente porque a regra acaba sendo burlada. E defende a 
integração de tais inovações tecnológicas como ferramentas educativas.
Neste sentido, é essencial refletir sobre o papel do professor como 
intermediário do conhecimento e como ele pode ser treinado para incorporar 
os celulares e outros dispositivos de maneira inteligente e voltada para ampliar 
a aprendizagem. Além disso, é preciso analisar a percepção desses mesmos 
alunos quanto à eficácia de tais instrumentos no processo educacional.
Uma pesquisa sobre educação e desenvolvimento, realizada pelo Cetic.
br, departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (Nic.
br), que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet do 
Brasil (Cgi.br), mostrou qual é a proporção de alunos por percepção sobre 
possíveis impactos das tecnologias de informação e comunicação.
É cedo para afirmar que o giz e a lousa definitivamente ficaram 
para trás, porém, não podemos negar que todos os dias as pessoas se 
tornam digitais, incorporando diferentes formas de interação, pesquisa e 
busca por informação.
FONTE: <https://dialogando.com.br/educacao/geracao-conectada/celular-em-sala-de-aula-
uma-questao-que-divide-opinioes>. Acesso em: 27 jul. 2019.
O que observamos nessa materialidade linguística denominada 
texto? Vemos, no mínimo, dois discursos sobre a questão do celular. O texto 
menciona diferentes visões sobre o tema. Analisando então percebemos que 
um dos discursos se sobrepõe ao outro: o sujeito que assume a voz faz um 
arranjo de afirmações que fortalecem o uso do celular. Elenca a tecnologia 
como fundamental e cita especialista no assunto. Nesse entremeio, menciona 
o problema do celular. Dessa forma, qual é na verdade o discurso dominante 
nesse texto? Vou colocar apenas dois pontos e você vai perceber queo texto 
defende o celular. Primeiramente, utiliza-se de uma ferramenta argumentativa 
de coação: a lei que quer proibir (e não flexibilizar). Essa lei vai “proibir 
geral”. Não dará chance para nenhuma alternativa. Então, a forma como isso é 
apresentado já prepara o leitor para o fato de que a proibição pode ser abusiva, 
uma tolhedora de liberdade. Em segundo lugar, em um movimento “meio 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
14
que desesperado”, cita uma especialista em educação, a qual nem professora/
educadora é para de fato reconhecer o impacto do celular na formação dos 
jovens. Apenas com isso, já fica evidente o quão o discurso — disfarçado de 
opinião — carrega uma ideologia indutora de comportamentos, decisões, ações 
que ditam — inconscientemente — o modo de o leitor pensar. Isso não se trata 
de verificações óbvias ou evidentes. Não, precisamos, e muito, observar, com 
atenção, as escolhas discursivas do autor para que possamos realmente perceber 
o que ele está dizendo. Assim, segue o texto para que você leia, observe se o que 
analisamos anteriormente procede ou não e então procure também encontrar 
algum aspecto nele para que seja possível fortalecer a nossa análise ou refutá-la. 
Agora, convidamos você a observar pontos que conflituam no discurso a seguir:
 “Falar sobre futebol é uma delícia. Talvez seja tão ou mais gostoso do que jogar 
ou assistir a uma partida do esporte mais popular do planeta. O futebol é este sucesso 
todo porque sempre foi o mais simples, democrático e acessível dos esportes coletivos. 
Nenhuma tese sobre futebol pode ser descartada. Seja ela proferida pelo Zidane, pelo Pelé 
ou pelo Zezinho da Vila Catacumba”.
 Pense: tudo o que foi afirmado no segmento acima pode ser tido como verdadeiro?
• Esse sucesso todo do futebol tem mesmo a ver com a “simplicidade” que ele aparenta ter?
• Afinal, o que está “por trás” de tal afirmação? O que possivelmente motiva o sujeito-autor 
a professar o futebol dessa forma?
FONTE: Adaptado de <https://globoesporte.globo.com/sp/futebol/noticia/opiniao-verdade-
absoluta-e-a-maior-mentira-do-futebol.ghtml>. Acesso em: 2 set. 2019.
IMPORTANT
E
4 NOÇÕES SOBRE LÍNGUA E DISCURSO: O QUE É A 
LÍNGUA EM BENVENISTE
A Teoria da Enunciação, como estamos vendo, desperta atenção para a 
língua em funcionamento ou, mais especificamente, para o desempenho da língua 
dentro de determinadas situações, em vista de que é por ela (a língua) que o sujeito 
se coloca para assumir uma posição discursiva. Benveniste vê a enunciação como 
o gesto de pôr em funcionamento a língua por um ato individual de utilização. 
O autor salienta, no entendimento de língua, que a enunciação representa o 
ato de produzir um enunciado e não como o texto propriamente dito. Assim, 
a língua representa um sistema com elementos que são necessariamente, e não 
arbitrariamente, portadores de sentido.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
15
O referido ato de enunciar (e não o texto já finalizado) constitui seu objeto 
de estudo. Com base em manifestações individuais que colocam o indivíduo como 
sujeito na e pela linguagem, o autor investiga no interior da língua os recursos formais 
da enunciação. Nessa esfera, o ato individual de apropriação da língua introduz 
aquele que fala em sua fala. E isso ocorre à medida que, ao enunciar, o sujeito que 
assume a voz (locutor/autor/falante), “implanta o outro diante de si, qualquer que 
seja o grau de presença que ele atribua a este outro” (BENVENISTE, 1989, p. 3). 
Disso infere-se que o “eu” está na materialidade linguística que é a língua. 
Frequentemente encontramos marcas que o reconhecem, porém o “tu” pode estar 
oculto na língua. Ele pode estar pressuposto. Tal fato se estabelece quando, em 
um discurso, não se encontra marca linguística alguma que ateste a presença 
desse “outro”, o “tu”, no texto.
A enunciação gira em torno da órbita do “eu”, sempre aquele que assume 
a posição, podendo este ser “notado” na linguagem como, por exemplo, os índices 
de pessoa no discurso (a relação eu-tu) e os de demarcação de tempo e espaço (este, 
aqui, agora e outros). Desse modo, tais categorias linguísticas que, fora do discurso são 
vazias, já que não comportam um sujeito — no processo enunciativo — são ajustadas.
 
Os pronomes pessoais (eu-tu) e os dêiticos (pronomes, como: “este, 
esse, aquele” e advérbios, como: “aqui, lá, ali”, marcadores de espaço tempo em 
relação ao sujeito que fala, materializam relações que se criam no ato de enunciar 
que vai figurar na expressividade da língua como um discurso. Ainda na língua, 
encontramos, além dos pronomes e dêiticos, a temporalidade verbal, a qual, na 
condição de tempo presente, atesta a existência daquele que enuncia. Posto que o 
presente é uma marca do agora, decorrendo disso o reconhecimento de coexistência 
com algo ou com alguém, esse tempo verbal demarca, no discurso, o efeito de 
“origem” do tempo, isto é, o sujeito consegue então estabelecer outros traços ou 
recortes de temporalidade. “Por fim, na enunciação, a língua se acha empregada 
para a expressão de uma certa relação com o mundo” (BENVENISTE, 1989, p. 89).
Martins (1990) pontua ainda sobre o funcionamento da língua que a 
dissociação “eu-tu” de um lado e “ele” de outro (lembrando que este último (o 
“ele) está no universo da objetividade, não representando a categoria de sujeito 
no discurso) tem como um dos efeitos a não separação entre enunciação (gesto do 
sujeito em assumir sua posição, afirmar sobre algo ou sobre alguém) e enunciado 
(a materialidade linguística — língua — onde encontramos o discurso). Assim, 
para a autora, o que ocorre é um olhar do analista de discurso sobre o enunciado, 
procurando compreender como se processuou a enunciação, não apresentando 
interferência de um terceiro, que no caso é o “ele”. Retomando mais uma vez, o “ele” 
é uma marca que não confere estatuto de pessoa a ninguém. O “ele” representa um 
elemento externo, podendo, por exemplo, ser o tema sobre o qual de enuncia.
 
A autora acrescenta ainda que, na relação “eu e tu”, em conformidade com 
o que enunciam, ou seja, em conformidade com o assunto/tema da enunciação 
(universo da não pessoa), encontra-se o conteúdo dessa relação. Em outras 
palavras, dependendo do “tipo” de tema sobre o qual se trata, vai se estabelecer 
o aprofundamento do sujeito na língua.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
16
Com isso, vamos agora considerar a seguinte situação: em um dado grupo 
de amigos ou colegas de estudo/trabalho, inicia-se uma conversa sobre, por exemplo, 
“relações interpessoais”. Você como analista observará que a categoria de terceira pessoa 
(ele/a) está no assunto sobre o qual se vai discutir. Agora, a imersão do sujeito na língua, 
o alcance de suas discussões e colocações estarão no conteúdo da enunciação. O sujeito 
que está na posição do enunciar “se expõe” mais ou “se expõe menos”? O grau de aceitação/
contestação está na possibilidade de expressar o que se pensa sobre o assunto.
 Diante disso, eu peço que você, de agora em diante, preste a atenção nesses 
momentos, frequentemente informais, em que as pessoas, na categoria de sujeitos no ato 
de enunciar, são mais ponderadas ao emitir suas ideias, são mais expansivas no sentido de 
exporem veementemente o que pensam ou são mais reclusas. Dependendo do perfil que 
ela assumir, podemos analisar quanto ela se apropria da língua para expressar os sentidos 
de sua enunciação como sujeito na língua. E certamente para qualquer das condições 
assumidas, ocorrem os efeitos de sentido que são materializados nos rótulos, nos (pré)
conceitos e nas subsequentes relações sociais.
ATENCAO
4.1 CONECTANDO SUJEITO E DISCURSO
FIGURA 6 - O SUJEITO COM DIFERENTES FORMAS DE INTERPRETAR
FONTE: <https://i2.wp.com/rasja.nl/wp-content/uploads/2015/12/rasja.nl-conflicthantering-wie-
bepaalt.gif>. Acesso em: 2 set. 2019.
Estamos observando que o estudo em questão envolve muitos aspectos 
dalinguagem e que precisamos estar sempre atentos para a categoria do sujeito, 
já que esse apresenta caráter único, singular no discurso em função que sua 
manifestação é sempre única. Não encontramos repetição na sua forma de se 
colocar frente ao que se enuncia. Verifica-se, assim, que esse processo possui 
significância única no enunciado, apresentando sucessivos sentidos a cada ato 
enunciativo ou a cada gesto de leitura sobre o discurso enunciado.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
17
De acordo com Flores et al. (2005), a interpretação [substancial] de um 
enunciado depende de quem o “lê”. No gesto de leitura/interpretação, temos, nos 
polos da enunciação, de um lado, um discurso enunciado pelo “eu” e temos, de 
outro lado, um “tu” que pode se materializar na pessoa do leitor. Diante disso, “a 
relação intersubjetiva [entre sujeitos] que se produz na leitura é sempre inédita. O 
sentido, longe de ser imanente, se apresenta como o resultado de um processo de 
apropriação do texto pelo leitor, que imprime a sua singularidade na experiência 
de leitura” (FLORES et al., 2005, p. 8). 
Nessa perspectiva, a conexão entre sujeito e discurso, na teoria da enunciação, 
se estabelece inicialmente pela conversão que o sujeito dá na língua para que ela 
recepcione o discurso (BENVENISTE, 1989). Paralelo a isso, a relação entre sujeito 
e discurso depende também do quanto o sujeito do ato enunciativo reconhece o 
“outro” (tu) como polo que vai interpretar determinados saberes enunciados. 
Dessa forma, estamos então estudando, neste momento, noções sobre 
discurso, cujos conceitos estão em fase preliminar dos estudos da linguagem. Tais 
noções, como veremos mais adiante, serão acrescidas de novas visões com novos 
autores que incrementarão a teoria com outros e novos elementos para se analisar.
5 SUBJETIVIDADE NA/PELA LINGUAGEM: QUE PROCESSO É ESTE? 
De acordo com o que vimos até aqui, acredito que já seja possível 
começarmos com os primeiros passos para trabalharmos com as análises, já que 
este é o ponto central de nossa disciplina, denominada Análise de Discurso. 
Lembremos que estamos em noções preliminares que tendem a nos embasar 
teoricamente para discutirmos mais adiante outras noções importantíssimas 
na teoria do Discurso. Para tanto, neste momento, vamos retomar a noção de 
subjetividade na e pela linguagem para então descrever como se dá esse processo. 
A subjetividade está relacionada com o movimento do indivíduo em se 
colocar como sujeito. Isso ocorre na exata proporção em que uma pessoa enuncia 
(afirma sobre algo) e nesse momento ela está interagindo com a linguagem e 
assumindo a posição de sujeito de (seu) discurso. Essa capacidade de se articular 
na e pela linguagem, utilizando-se claramente da língua (portuguesa), é um gesto 
único/singular a cada ato enunciativo.
 
Você pode se perguntar: único em quê? A singularidade desse ato está na 
forma/modo como o sujeito enuncia, nas articulações gestuais, vocabulares, de 
entoação de voz, de pausas, de fragmentações, de tudo que um ato de enunciar 
consegue comportar. Para você observar isso na prática, peça a um colega seu 
para que ele lhe explique duas vezes determinado processo de trabalho: cada vez 
que ele executar a explicação, ou seja, que ele assumir a categoria de sujeito na 
e pela linguagem, vai manifestar seu próprio discurso de uma forma. Nunca é 
igual. Tudo é sempre singular.
 
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
18
Nesse ponto, a noção de subjetividade está relacionada com aquilo que 
está “sub”, escondido, abaixo, que não está explicitamente revelado, mas que pode 
vir à tona no ato discursivo. Às vezes, nos surpreendemos com nossas próprias 
falas, leituras, formas de ver fatos da vida prática. Reagimos discursivamente 
com gestos de leituras ou de posicionamentos na categoria de sujeito (eu) de 
que nem sabíamos que éramos capazes. Sem dúvidas, tal apropriação acontece 
certamente por nossas experiências, vivências, mas sobretudo porque assumimos 
uma posição. Emergimos no lugar, no tempo e no espaço. Deixamos nosso “eu” 
interno (às vezes, mais; outras vezes, menos racional) assumir os ônus e bônus 
frente ao que precisamos reagir. 
Assim, a subjetividade acontece na e pela linguagem, passando sempre 
pela noção de ocupação de lugar/de posição no discurso, movimentando-nos 
à funcionalidade de sujeito e nos abrindo espaço para que possamos expressar 
opiniões, valores, condutas, visões de mundo de uma forma muito nossa. 
Certamente, precisamos estar atentos em quais condições de produção de um 
discurso podemos nos expressar. Nem sempre a emergência da subjetividade 
pode assumir um caráter pessoal. Frequentemente, em textos acadêmicos, a 
nossa subjetividade vai ser observada na seleção vocabular que fazemos para 
qualificarmos nossas análises de resultados de uma pesquisa, por exemplo. 
Nessa condição, a subjetividade (singularidade do sujeito do discurso) 
não tem a ver com “opinião pessoal”. Precisamos, na verdade, ter muito cuidado 
com essa questão: muitos alunos, quando se deparam com certas temáticas de 
discussão para trabalho ou estudo, já “rotulam” certos temas como subjetivos 
e entendem que podem “dar uma opinião pessoal”. Cuidado com isso! Essa 
opinião pessoal pode se desenvolver bem, talvez, em uma conversa com amigos/
colegas. Em uma produção acadêmica ou em um relatório/conversa de trabalho, 
em contexto/ambiente profissional, o que podemos dar é uma avaliação que 
pode até partir de uma visão própria, mas que precisa sempre estar muito bem 
fundamentada por um referencial que sirva como sustentação argumentativa. 
E mesmo estando nessa condição de lucidez das ideias, conseguimos manter a 
subjetividade, visto que nos propomos como sujeito de um dizer.
É relevante e oportuno considerar um aspecto fundamental: eu tenho 
trazido, no decorrer de nosso estudo, a noção de que o “eu” se coloca no discurso 
ao enunciar, mas eu quero chamar a atenção para um ponto que talvez você já 
tenha se colocado: e se, em um dado discurso, não houver marca da pessoa do 
eu? Por exemplo, observe o seguinte enunciado: “Todos os relatórios devem ser 
submetidos necessariamente até às 18 horas desta quarta-feira”. 
Nesse caso, como não há marca do “eu” então, não há sujeito? E assim, 
não há discurso? O simples fato de uma pessoa estar em uma dada condição de 
enunciação (o que confere sentido) e afirmar sobre algo tendo um “tu” que está no 
processo comunicativo já é a condição necessária para que exista um sujeito, que 
está proferindo essa afirmativa, utilizando-se da língua para isso, perfazendo-se 
na e pela linguagem e assim instituindo o caráter de singularidade ao que foi dito, 
o que configura a subjetividade.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
19
Você conseguiu observar esse excesso de gerúndios (verbos terminados 
em –ndo) que nós usamos no parágrafo anterior? Considerando que estamos 
enunciando essa rede de ideias para você que está lendo o nosso texto (tu), a nossa 
escolha para demarcar um efeito de continuidade, para demonstrar a perpetuação 
do acontecimento anterior foi o uso do gerúndio. Alguns leitores gramaticistas, 
talvez não profícuos na estilística do discurso, diriam que está errado. Mas isso, 
como eu expliquei anteriormente, depende de quem é esse leitor. Depende de 
qual a expectativa e gesto de leitura que ele vai assumir na interpretação do texto. 
Certo? Você está compreendendo? Nisso então está o caráter da subjetividade.
5.1 DEFININDO O OBJETO DE ANÁLISE: REPRESENTAÇÕES 
DESSAS CATEGORIAS NOS DISCURSOS INFORMATIVOS, 
CASUAIS, FORMAIS, INFORMAIS DO COTIDIANO SOCIAL 
OU DE TRABALHO
O objeto de análise será, na Teoria da Enunciação, um enunciado ou uma 
rede de enunciados que componham um discurso. Dessa maneira pensemos: quais 
são os objetos de análise que existem em nosso cotidiano de estudo e de trabalho? 
Considerando nossas práticas sociais e profissionais, é importante que elejamos 
como objeto de análise sempre aquilosobre o qual temos mais necessidade e/ou 
dificuldade de entender. Essa escolha se faz necessária porque é fundamental nos 
habilitarmos constantemente na prática da análise discursiva de discursos que 
tendam a tornar as relações humanas mais estáveis.
A partir disso, vamos ilustrar alguns objetos de análise, obtidos de casos 
aleatórios, nos quais observaremos as categorias de análise as quais estudamos 
até agora: locutor (sujeito), interlocutor (aquele com quem ou para quem se fala), 
língua, discurso.
A) Objeto de análise 1: discurso com viés opinativo/informativo.
Em 2018, mais de 4,2 mil jovens de 10 a 19 anos engravidaram no DF
 No Brasil, o levantamento mais recente do Ministério da Saúde é de 2017 
%u2014 a taxa de mães nessa faixa etária corresponde a 16,4% dos 2,9 
milhões de nascidos vivos no ano passado
Duas da manhã. Até o ano passado, essa era a hora que Aline (nome 
fictício), 16 anos, costumava voltar para casa após uma noite de festa com 
os amigos no fim de semana. Em julho, no entanto, essa realidade mudou. 
Agora, por volta do mesmo horário, ela continua em claro, mas na tentativa 
de descobrir o motivo do choro da filha de 6 meses. O cotidiano da jovem 
ganhou novo ritmo. Um bebê de verdade tomou o lugar das bonecas da 
infância recém-deixada e as noites de diversão em diferentes partes da cidade 
se transformaram em madrugadas despertas no quarto com a neném.
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
20
Aline e o atual namorado, pai da criança, têm a mesma idade. 
Durante as relações sexuais, os dois recorriam ao preservativo. Entretanto, 
em uma ocasião, a camisinha estava com um furo e o casal não percebeu. 
O incidente resultou em uma gestação. “Quando engravidei, tínhamos 
um ano e meio de relacionamento. Não usávamos nenhum outro método. 
Meus pais conversavam comigo e sempre tivemos uma relação aberta 
para falar sobre o assunto. Acabei engravidando por um descuido”, diz. 
Para se dedicar aos cuidados com a filha, a adolescente interrompeu os 
estudos. O companheiro, no entanto, continua na escola. Fora as dificuldades 
da maternidade, Aline precisou encarar o preconceito dos amigos. “Muitas 
pessoas não ficaram do meu lado, viraram as costas. Foi um choque. Fiquei 
muito triste, pois não imaginava isso, mas tudo é um aprendizado.” Com 
a ajuda da própria família e dos parentes do namorado, Aline conseguiu 
arcar com as despesas da criança e, agora, vê a rotina de outro modo. 
“Praticamente tudo ficou diferente, mas o que mais mudou foi o cotidiano e 
a responsabilidade. Comecei a enxergar o mundo com outros olhos”, avalia. 
A história de Aline é semelhante à de outras adolescentes que tiveram 
filhos em 2018 no Distrito Federal. De acordo com dados da Secretaria de Saúde, 
das 35.647 crianças nascidas de janeiro a novembro, 4,2 mil (11,78%) são filhas 
de mães de 10 a 19 anos, ou seja, a cada dia, o DF registrou o nascimento de 12 
bebês de crianças e adolescentes. No Brasil, o levantamento mais recente do 
Ministério da Saúde é de 2017 – a taxa de mães nessa faixa etária corresponde 
a 16,4% dos 2,9 milhões de nascidos vivos no ano passado.
Para Denise Ocampos, especialista em saúde de adolescentes (hebiatria), 
a importância da comunicação com os mais jovens é crucial. A médica afirma 
que os pais devem se colocar à disposição dos filhos para tratar de temas como 
a sexualidade. “Na internet, há informações corretas, mas muitas erradas 
também. Eles (adolescentes) podem achar que o que encontram lá é natural ou 
comum, e não é”, destaca.
FONTE: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/01/06/interna_
cidadesdf,729182/em-2018-mais-de-4-2-mil-jovens-de-10-a-19-anos-engravidaram-no-df.shtml>.
Acesso em: 20 jun. 2019.
B) Objeto de análise 2: discurso casual (com recorrência de viés do 
senso comum).
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
21
Segundo Cláudia Madureira, psicóloga e Coach pelo Instituto Brasileiro 
de Coaching – IBC, a maioria dos pacientes a que ela atendeu com depressão 
relataram que familiares ou amigos falaram frases que os deixaram piores. Ela 
selecionou as mais comuns:
• “Depressão é frescura”.
• “Você está com falta do que fazer”.
• “Eu não tenho tempo para deprimir”.
• “Sua vida é ótima, você não tem motivos para estar deprimido”.
• “Tem muita gente com problemas piores do que o seu”.
• “Depressão é moda, não é nada”.
• “Esses remédios vão te deixar pior”.
• “Isso é apenas tristeza, vai passar”.
• “Isso é falta de religião”.
Fonte: Adaptado de: <https://claudiamadu.com.br/depressao-e-frescura/>. Acesso em: 20 jun. 2019.
C) Objeto de análise 3: discurso informal (com recorrência em momentos 
em que o sujeito se desprende das regras formais da língua).
FIGURA 7 - SITUAÇÃO DE USO FORMAL
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/506162445612348469/?autologin=true>. 
Acesso em: 20 de junho de 2019.
D) Objeto de análise 4: discurso formal (com recorrência em momentos 
em que o sujeito se prende às regras formais da língua).
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
22
FIGURA 9 - MOMENTO DE DESPRENDIMENTO DAS REGRAS DA LÍNGUA
FONTE: <http://joanaguga.blogspot.com/2015/03/variedade-padrao-x-variedade-nao-padrao.html>. 
Acesso em: 20 jun. 2019.
Como você está verificando, selecionamos situações de uso da língua bem 
aleatórias, em diferentes condições de produção da linguagem. Todavia, como 
salientei anteriormente, você, quando em suas práticas de estudo e trabalho, precisa 
focar no que necessita compreender melhor, certo? Agora, vamos compreender: 
como analisar isso? Por onde começar? A regra é sempre a mesma: comece 
verificando como o indivíduo/pessoa entra na linguagem (começa a falar) para se 
colocar como linguagem. Em cada um dos quatro textos, há sujeitos diferentes, 
sendo que, em alguns deles, há mais de um sujeito que toma posição no discurso. 
Diante disso, toma-se o seguinte procedimento:
• Primeiramente, descreve-se o sujeito (personagem, autor, enfim..., aquele que 
fala). Sugerimos algo assim: No texto xxxx, intitulado xxxx, observamos o 
posicionamento de um sujeito que xxxx (aqui você descreve aquilo que vê: é 
um sujeito que busca alertar/informar/opinar sobre uma dada situação? É um 
sujeito que está exclamando acerca de algum fato da vida? É um sujeito usa a 
linguagem para representar certo grau de formalidade em uma entrevista de 
trabalho, por exemplo?).
• Posteriormente, em nova frase ou parágrafo, use um conector para demonstrar 
que está dando sequência às ideias, como por exemplo: “a partir disso, nesse 
sentido, com base nessa situação”, e comece a explicar como esse sujeito entra 
na língua. ele faz uso de alguma marca de pessoa que represente sua presença. 
Há algum advérbio ou verbo que o identifique materialmente na língua? Depois 
disso, procure identificar se o que esse sujeito diz apresenta algum aspecto de 
singularidade. Ou seja, o discurso em andamento possui algum ponto que lhe 
chama mais a atenção? Lembre-se da singularidade: cada ato de elaboração 
do texto pelo sujeito que você analisa e cada leitura/interpretação são únicos, 
singulares. O sentido está no olhar de quem escreve ou interpreta. 
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
23
Veja o exemplo. Usaremos o objeto de análise 3.
FIGURA 10- SUJEITO QUE ASSUME SEMPRE POSIÇÃO CRÍTICA.
FONTE: <https://www.asomadetodosafetos.com/2016/05/melhores-tirinhas-da-mafalda.html>. Acesso 
em: 7 nov. 2019.
No objeto de análise 3, cujo tema está na explicitude do discurso formal, 
observamos a personagem Mafalda, caracterizada por sua perspectiva crítica e 
reflexiva acerca dos elementos sociais, evocando o sol para que ele lhe “contagie” 
da mesma forma que fez com “nomes” célebres da história. A PARTIR DISSO, 
observamos que a personagem assume a posição de sujeito do discurso com o 
uso formal da linguagem, presente no pronome de primeira pessoa “me”. Tal 
uso explicita um posicionamento no discurso que traz a ideia de domínio da 
língua (regra),o que, no ideário da personagem, pode representar um status de 
pertencimento a um grupo bastante seleto de nomes que mudaram a história das 
artes e das ciências no mundo.
Se você quiser, pode selecionar, para fins de exercitar a análise, uma fala 
pedagógica de uma pessoa na sua área para fazer essas observâncias. Sempre, 
cada discurso é único. Cada olhar e análise também o são. Possivelmente, se em 
outro momento eu analisar aquele mesmo discurso da Mafalda, possivelmente, 
observarei outros aspectos: talvez, eu analise o grau de autoestima “superelevada” 
que ela tem, ao ponto de se comparar com tais nomes tão representativos; ou 
talvez, eu analise a disposição da imagem: observe que ela está na praia e lá 
filosofando sobre esse “contagie”, o qual possui múltiplos significados. Você está 
compreendendo?! Tudo depende de qual olhar é lançado sobre o discurso? O que 
você quer perceber? Qual é a sua área de formação? 
Neste momento, convidamos você a fazer alguns apontamentos, tendenciando 
a uma análise, como indicado nos dois pontos do procedimento anterior: “primeiramente, 
descreve-se o sujeito, [...]” e “posteriormente, em ...”. Você pode apenas enumerar alguns 
tópicos de interpretação sobre quem é o sujeito que enuncia, o que ele diz, como diz, e 
pode também analisar o que a fala dele pode significar, o que ele “intenciona” expressar 
quando enuncia ideias no texto? Ou seja, qual é o seu real discurso?
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 | NOÇÕES DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO – UM OLHAR PARA ÉMILE BENVENISTE
24
 Objeto de análise 1:
 Objeto de análise 2:
FONTE: <https://hagaroorrivel.wordpress.com/tiras001/>. Acesso em: 1 set. 2019.
FONTE: <http://www.universodosleitores.com/2018/10/mafalda-em-10-tirinhas-
realistas-e.html>. Acesso em: 1 set. 2019.
5.2 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA ENUNCIATIVA PARA O 
MERCADO DE TRABALHO
A Teoria da Enunciação foi um marco no que tange à retomada das 
discussões sobre o sujeito na linguagem. E por que essa questão do sujeito é tão 
importante? A resposta está no fato de que, mesmo que estejamos trabalhando 
com referenciais teóricos, o tratamento e reconhecimento da pessoa humana ou 
discursiva é fundamental para toda e qualquer relação social. Não é aceitável o 
indicativo que de que as “coisas” possam valer mais do que as pessoas. É preciso, 
de forma imperiosa, olharmos para quem faz “as coisas acontecerem”. 
Isso toma proporções gigantescas quando estamos convivendo com 
múltiplas diferenças em ambientes como o de trabalho. Deparamo-nos, muitas 
vezes, com discursos que parecem “não ter ‘é’ e nem ‘por quê’?”. Nesse sentido, 
precisamos nos colocar como analistas, mesmo que de forma sucinta, para 
compreendermos o que nos rodeia. Certamente estamos apenas começando com 
a Teoria, mas com o que já vimos, já é possível termos certa amplitude sobre 
esse tratamento mais analítico ao discurso, o qual sempre está carregado por um 
olhar, que é o do sujeito que o compõe.
TÓPICO 1 | DA NATUREZA DOS PRONOMES
25
Com a pressa dos inúmeros cumprimentos de tarefas e prazos, nem todos 
os dias podemos parar e pensar sobre o que fazer, como reagir, como interpretar, 
como dizer sobre a algo a alguém, porém, quando a situação exige uma certa 
relevância acima do que é o comum das práticas diárias, precisamos então 
convocar esses saberes trabalhados aqui, precisamos olhar para esse discurso que 
necessitam fazer a análise e sermos racionais o suficiente para pensar: o impasse 
da questão está no “eu” ou no “tu” do processo discursivo?
Não se pode levar as análises para o campo de julgamentos, rótulos ou 
pré(conceitos), mas sim pensá-las como recursos que nos permitem compreender 
a nós mesmos, quando necessário, ou compreendermos o outro, o “tu” com o qual 
estamos em constante funcionamento. Quando digo compreender, isso significa 
que, posteriormente, precisamos também, através do discurso, pensar sobre como 
podemos contribuir com aquilo que já está em andamento e assumindo formas 
bastante promissoras à empresa; como podemos interagir com colegas e superiores 
para propor uma redefinição de situações que tendem a ser benéficas a todos; ou 
simplesmente como podemos só ouvir o que se tem a dizer. 
Ao final da unidade, há uma leitura complementar. Peço que a leia com 
bastante atenção, pois ela realmente vai complementar o que foi sistematizado 
aqui. Posteriormente vêm as autoatividades que qualificarão a sua formação, certo?
26
Neste tópico, você aprendeu que: 
• Teoria da enunciação: é a teoria que estuda a recolocação do sujeito no discurso, 
assumindo o percurso da linguagem.
• Enunciar: é o ato de declarar algo de forma afirmativa, exclamativa, 
interrogativa, injuntiva. O enunciar necessita da categoria sujeito que execute 
tal propósito.
• Enunciado: é o lugar onde o sujeito faz as suas declarações. O enunciado pode 
ser uma frase, ou um conjunto de frases que articulem sentido entre si.
• Sujeito da enunciação: é identificado quando uma voz na e pela linguagem 
enuncia sobre algo, assumindo uma posição “eu” no discurso proferido, mas 
há casos em que isso não fica explícito e, mesmo assim, devemos saber que há 
uma voz que “diz”, que enuncia. Frequentemente podemos identificar marcas 
dessa primeira pessoa no discurso proferido.
• Tu: é a interface do sujeito. O “tu” é uma categoria que funciona como uma 
escuta para o “eu”. O “tu” é para quem ou com quem “se fala”. Assim como o 
sujeito, o “tu” nem sempre está explícito, porém esse “público-alvo” existe.
• Discurso: é a categoria que nasce com a enunciação proferida por um sujeito 
que na e pela linguagem (re)cria sua condição de existência de maneira 
sempre singular.
• Subjetividade: ocorre pela inserção do sujeito na língua, assumindo posição 
no discurso e trazendo consigo um existir único e singular que só acontece 
naquele discurso. Em outra situação, a articulação desse sujeito seria diferente. 
Essa condição de se demarcar na linguagem, assumindo escolhas de sentido 
próprias, está enraizado na própria condição de existir do sujeito que subjetiva 
todo e qualquer discurso no qual ele possa aparecer.
RESUMO DO TÓPICO 1
27
Com base no texto a seguir, marque a alternativa correta nas questões de 1 a 4 
que seguem:
AUTOATIVIDADE
Liberdade de opinião e intolerância nas redes sociais
Se antes os ringues eram os locais apropriados para pancadaria, as 
redes sociais, virtualmente, assumem com êxito este papel na atualidade. 
Mascarada por um pretenso direito de opinião, a intolerância (racial, 
política, de gênero, para citar algumas) é uma marca visível em muitos 
posts, imagens e vídeos espalhados pela internet.
As redes sociais são, provavelmente, o elemento mais poderoso 
da era atual em termos de comunicação. Em menos de duas décadas, a 
massificação da internet uniu pessoas em diferentes cidades, diferentes 
estados, em longínquos países. A distância foi abreviada a poucos cliques 
no computador ou a um deslizar de dedos no smartphone.
Com isso, apps de relacionamento e sites como Facebook e Twitter 
criaram imensas comunidades virtuais – em que o tema, inevitavelmente, vem 
do mundo real –, nas quais a informação percorre telas na velocidade da luz.
Esta mudança de paradigma acelerou o processo de sociabilização 
das pessoas na última década. Conhecemos mais indivíduos, tornamo-nos 
parte de um coletivo, mas permanecemos obedientes ao individualismo.
É precisamente no apego à opinião individual que o ser humano 
incorre no paradoxo atual da sociabilidade contemporânea: as redes sociais 
têm o propósito de agregar diferentes correntes de pensamento, que 
teoricamente encontram no ambiente digital um espaço para discussão. 
Todavia, esse debate nem sempre é saudável: linhas e mais linhas de 
comentários carregados de preconceitos aparecem sorrateiros nas timelines.
Não gosta da cantora Anitta? Muita gente concorda, assim como 
não curte música sertaneja ou samba. É um direito individual, ninguém 
questiona. Agora, por que atacar a imagem do artista, com xingamentos, 
apenaspor ele representar um movimento ou estilo musical diferente? O 
mesmo ocorre com outros fenômenos pop contemporâneos, como Pabllo 
Vittar. Rotular de lixo humano um artista apenas por não concordar com 
seu estilo musical é rasteiro e preconceituoso.
28
Em outro exemplo, os escândalos diários envolvendo esquemas 
de corrupção monopolizam o debate político neste início de 2018. Nunca 
o Congresso Nacional foi tão criticado pela condescendência com seus 
parlamentares corruptos, ou o sistema judiciário esteve tão em evidência em 
posts diários no Facebook. O debate seria saudável se a razão não perdesse 
espaço para a ignorância.
Cabe, aqui, uma divagação sobre solidariedade social, conceito muito 
estudado pelo sociólogo francês Émile Durkheim. Para ele, os laços que 
unem os indivíduos em sociedade derivam, necessariamente, da aceitação 
da consciência coletiva de todos. Essa consciência, conforme Durkheim, é 
responsável por valores morais e sentimentos comuns, mais ainda: define 
aquilo que temos como certo ou errado.
Todavia, o discurso amplificado das redes sociais distorce essa 
dualidade entre sim e não. O negativo, mais do que nunca, surge como algo 
ruim, péssimo, capaz de destruir reputações. Obviamente que algumas 
calúnias terminam em processos na justiça, mas muita coisa continua impune.
A internet, com a diversidade de vetores sociais que contém, é o 
ambiente ideal para a pluralidade de conceitos, ideias e valores. O problema 
reside na incapacidade que temos de conter as emoções e manter a razão. 
Afinal, a perfeição é um conceito inatingível para o ser humano.
FONTE: <https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2018/02/opiniao/609922-
liberdade-de-opiniao-e-intolerancia-nas-redes-sociais.html)>. Acesso em: 21 jun. 2019.
1 Com foco na análise do sujeito e do discurso proferido acima, marque a 
alternativa correta:
Com base nas noções sobre sujeito, é possível observar que a rede de enunciados 
que compõem esse texto nega a existência de um sujeito que articula a ideia, em 
função de que não há marcas que o identifiquem no discurso.
a) ( ) Todo texto é naturalmente um discurso, já que há uma unidade de sentido 
que chega ao leitor de forma inteligível.
b) ( ) Embora não esteja muito evidente, esse texto apresenta um discurso proferido 
por um sujeito que se demarca no dêitico de lugar “aqui” e na marca de 
interação na linguagem por meio do pronome “nós” que representa a junção 
do autor mais todos aqueles que vivenciam tal situação.
c) ( ) É possível afirmar que o discurso presente no primeiro parágrafo destoa do 
penúltimo parágrafo, o que nos leva a compreender que há uma segunda 
voz (sujeito) que assume posição nesse discurso.
29
d) ( ) Observando o último parágrafo do texto, verificamos que há uma 
comparação de nossa incapacidade com as falhas que a internet apresenta. 
Com isso, o sujeito que organiza as ideias do texto assume um discurso 
que confronta com o título do texto. 
2 Considerando os dois últimos parágrafos do texto, responda: marque a 
alternativa que melhor explique por que o sujeito que propõe essa discussão 
acerca do uso, muitas vezes, equivocado na internet ou das redes sociais, 
aborda a questão observando as falhas existentes como se fosse algo que 
alguém comete, mas, no último parágrafo, o sujeito se torna partícipe do 
problema na pessoa do “nós”, que é a união do “eu” (sujeito-autor) + “tu” 
(todos aqueles que leem o texto ou que praticam os absurdos comentados)?
a) ( ) O sujeito pretende realizar uma avaliação do contexto de ocorrência 
dos fatos de violência, a fim de verificar a gravidade da situação para 
toda a população.
b) ( ) A forma de apresentação do sujeito na linguagem indica que ele está 
extremamente preocupado com os fatos de agressividade que ocorrem 
via internet.
c) ( ) É possível observar que o sujeito do discurso em análise consegue fazer 
uma análise sobre as atitudes de agressividade que acontecem por meio da 
internet, no intuito de chamar a atenção sobre os erros por eles cometidos.
d) ( ) O sujeito do discurso em análise faz uma crítica ao comportamento alheio 
agressivo nas redes e realiza, no último parágrafo, uma entrada explícita no 
discurso para demonstrar que o problema é de todos, inclusive dele (sujeito-
autor do texto) que reconhece a necessidade de assumir novas posturas sociais.
e) ( ) A descrição do problema existente sobre a pretensa liberdade de expressão 
é realizada com a intenção de evidenciar o problema na sociedade, com 
vistas a demonstrar que inclusive o leitor está partícipe da situação, 
necessitando assumir novas posturas sociais. 
3 Sobre a concepção de texto e discurso, considerando o segmento entre aspas, 
marque a alternativa correta:
“É precisamente no apego à opinião individual que o ser humano incorre no 
paradoxo atual da sociabilidade contemporânea: as redes sociais têm o propósito 
de agregar diferentes correntes de pensamento, que teoricamente encontram no 
ambiente digital um espaço para discussão. Todavia, esse debate nem sempre 
é saudável: linhas e mais linhas de comentários carregados de preconceitos 
aparecem sorrateiros nas timelines”.
a) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta uma 
homogeneidade discursiva.
b) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta dois 
discursos opositores entre si e pertencentes ao mesmo sujeito da enunciação.
30
c) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta dois 
sujeitos com discursos diferentes sobre a mesma temática da liberdade 
de expressão na internet.
d) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um enunciado de um único 
ato enunciativo que apresenta um sujeito indeciso nas suas definições 
sobre o problema.
e) ( ) Esse segmento pode ser entendido como um texto que apresenta uma 
linguagem evasiva sem um ato enunciativo que permita ao indivíduo sua 
proposição (=colocação) como sujeito no discurso. 
4 Ao enunciar “Agora, por que atacar a imagem do artista, com xingamentos, 
apenas por ele representar um movimento ou estilo musical diferente?”, o 
sujeito do discurso em análise pretende:
a) ( ) Movimentar o leitor a responder essa pergunta que foi feita a ele.
b) ( ) Ignorar a opinião do leitor, já que este não poderá lhe responder de forma 
imediata.
c) ( ) Prever um “tu” do discurso que poderá então lhe responder tal 
questionamento.
d) ( ) Instigar a opinião do leitor, que, mesmo não respondendo de imediato, 
irá refletir sobre o assunto.
e) ( ) Instigar a opinião do leitor para que este, na forma discursiva do “tu”, 
possa tomar alguma atitude frente ao caso mencionado.
31
TÓPICO 2
ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA: 
COMPREENDENDO AS BASES
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Estamos iniciando o tópico da Análise do Discurso, designação que nomeia 
a disciplina. Em alguns momentos vamos usar Análise do Discurso com letras 
iniciais maiúsculas para me referir à disciplina; vamos usar também com todas as 
letras minúsculas para nos referirmos ao ato de analisar o discurso e, em outras 
vezes, vamos usar só AD com vistas a uma linguagem mais concisa.
A partir disso, é importante salientar que iniciamos anteriormente com a 
apresentação da Teoria da Enunciação (TE), a qual situa o sujeito no centro das 
discussões. A AD vai seguir o mesmo caminho, porém aprofundando esta noção 
e lançando novos dispositivos de análise, que não apenas as concepções eu-tu, 
língua, subjetividade e subjetividade. Agora entrarão novas categorias de análise, 
mas antes vamos nos situar. Iniciamos a TE com Benveniste. Elegemos este autor 
porque é o nome mais representativo na questão de estudo do sujeito na fase 
preliminar das discussões. 
Obviamente deixamos de fora outros nomes como o de Bakhtin (Leia o 
UNI NOTA que vem a seguir, caso queira conhecer mais sobre a obra do autor. 
 Utilizamos uma fonte não acadêmica para que você leia em uma linguagem mais 
acessível de se compreender:
 Mikhail Mikhailovich Bakhtin (russo: 1895-1975,

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