Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/285842908 Microrganismos e processos microbiológicos como indicadores da qualidade dos solos Article · January 2002 CITATIONS 152 READS 8,958 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Purification, chemical and biological characterization of biosurfactants produced by bacterial isolates fro Trindade Island - Brazil View project Diversidade microbiana e biodegradação de hidrocarbonetos de petróleo em solos da Ilha da Trindade submetidos à bioestimulação View project Marcos Totola Universidade Federal de Viçosa (UFV) 96 PUBLICATIONS 3,197 CITATIONS SEE PROFILE Guilherme M Chaer Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) 54 PUBLICATIONS 1,528 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Guilherme M Chaer on 19 November 2018. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/285842908_Microrganismos_e_processos_microbiologicos_como_indicadores_da_qualidade_dos_solos?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/285842908_Microrganismos_e_processos_microbiologicos_como_indicadores_da_qualidade_dos_solos?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Purification-chemical-and-biological-characterization-of-biosurfactants-produced-by-bacterial-isolates-fro-Trindade-Island-Brazil?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Diversidade-microbiana-e-biodegradacao-de-hidrocarbonetos-de-petroleo-em-solos-da-Ilha-da-Trindade-submetidos-a-bioestimulacao?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marcos-Totola?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marcos-Totola?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-de-Vicosa-UFV?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marcos-Totola?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Guilherme-Chaer?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Guilherme-Chaer?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Brazilian-Agricultural-Research-Corporation-EMBRAPA?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Guilherme-Chaer?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Guilherme-Chaer?enrichId=rgreq-e8b70e7d095407f596e509d26b47f3fc-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NTg0MjkwODtBUzo2OTQ3NDQwNjU3ODE3NjhAMTU0MjY1MTMwMTc3NA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ ��� ������� ��� ���� !���" #$� %% (1) Professor do Departamento de Microbiologia, Universidade Federal de Viçosa – UFV. CEP 36571-000. E-mail: totola@mail.ufv.br (2) MS Microbiologia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa – UFV. CEP 36571-000. E-mail:gchaer@mail.ufv.br ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ��������� �� ��� ����������� ��� ��������� �� �� Introdução ................................................................................................................................ 196 Indicadores microbiológicos .................................................................................................. 199 Biomassa microbiana e quociente microbiano (qMIC) ............................................................ 202 Taxa de respiração basal do solo e quociente metabólico (qCO2) ....................................... 206 Mineralização de nitrogênio ...................................................................................................... 209 Nitrificação .................................................................................................................................. 210 Enzimas do solo ......................................................................................................................... 213 Diversidade Microbiana e Qualidade do Solo ...................................................................... 215 Taxa de reassociação do DNA .................................................................................................. 223 Análise do conteúdo de guanina mais citosina ....................................................................... 223 Técnicas baseadas na análise do rDNA .................................................................................. 226 DGGE - eletroforese em gel com gradiente desnaturante e TGGE - eletroforese em gel com gradiente térmico ...................................................................................................................... 226 RFLP - polimorfismo do comprimento de fragmentos de restrição e ARDRA - análise de res- trição do rDNA amplificado ....................................................................................................... 229 T-RFLP - polimorfismo do comprimento de fragmentos de restrição terminal ..................... 229 Análise do perfil de lipídios ....................................................................................................... 231 Diversidade catabólica ............................................................................................................... 237 Avaliação e Interpretação dos Indicadores de Qualidade .................................................. 248 Índices de qualidade do solo ..................................................................................................... 249 Ferramentas multivariadas ........................................................................................................ 259 Considerações Finais ............................................................................................................. 263 Agradecimentos ...................................................................................................................... 264 Literatura Citada...................................................................................................................... 264 TOP-632-02 ��$ ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% �������� � O interesse pelo tema Qualidade dos Solos tem sido estimulado pela recente conscientização de que o solo é um recurso vital tanto para a produção de alimentos e fibras quanto para o funcionamento global dos ecossistemas (Doran et al., 1996), bem como pela constatação de que processos de degradação têm afetado uma porção considerável dos solos atualmente em uso. Inventários sobre a capacidade produtiva dos solos indicam a degradação induzida pelo homem de quase 40 % de todas as terras cultivadas do mundo (Oldeman, 1994). O processo de degradação do solo causada por atividades antrópicas não é recente. Bunney (1990), em seu artigo “Prehistoric Farming Caused Devastating Soil Erosion”, mostra evidências da degradação do solo já no início da história da humanidade. Olson (1981) relata, com base em investigações arqueológicas, que civilizações ancestrais pereceram em razão da degradação ambiental e ecológica derivadas da exploração abusiva do solo. Só recentemente, no entanto, os processos de degradação têm chamado a atenção do homem em níveis globais, dada a escala com que vêm ocorrendo, sendo considerado uma das quatro maiores preocupações ecológicas, rivalizando somente com a mudança global do clima, com a depleção da camada de ozônio e com declínios na biodiversidade (Doran, 1997). O manejo adequado dos solos, que contribua para aumentar ou conservar a sua qualidade, não somente irá aumentar a produtividade das culturas, como também contribuirá para manter a boa qualidade ambiental. Qualidade do solo tem sido definida como “a capacidade de um tipo específico de solo funcionar, dentro dos limites do ecossistema manejado ou natural, como sustento para a produtividade de plantas e de animais, de manter ou de aumentar a qualidade da água e do ar e de promover a saúde humana” (Doran & Parkin, 1994). Entender e conhecer a qualidade do solo possibilita manejá-lo de maneira que ele funcione de forma ótima no presente e que não seja degradado para uso futuro. Pelo monitoramento das mudanças na qualidade do solo, pode-se determinar se um conjunto de práticas é sustentável. A avaliação acurada e consistente da qualidade do solo requer um método sistemático para se medir e interpretar as propriedades que sirvam adequadamente como indicadores (Granatstein & Bezdicek, 1992). Apesar de esses métodos existirem para monitorar e avaliar a qualidade do ar e da água, nenhum método isoladamente foi aceito de forma ampla para se avaliar a qualidade do solo (Glover et al., 2000). O solo é um ambiente ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ ��# ������� ��� ���� !���" #$� %% complexo, onde interagem inúmeros processos químicos, físicos e biológicos, os quais estão constantemente em fluxo e são de natureza heterogênea e, freqüentemente, de difícil medição. Combinando esses fatores de complexidade do ambiente solo com a definição de qualidade do solo, que reconhece as suas múltiplas funções, pode-se compreender que a mensuração da qualidade desse sistema é extremamente difícil (Kelting et al., 1999). Uma forma que tem sido proposta para superar essa dificuldade é a de se definir explicitamente as funções do solo e identificar os atributos do solo associados a cada função. Finalmente, deve-se selecionar um conjunto mínimo de indicadores de qualidade para medição de cada atributo (Doran & Parkin, 1994; Karlen & Stott, 1994; Larson & Pierce, 1994). O solo tem como função o suporte aos processos da vida, ou seja, prover o suporte físico e os nutrientes para as plantas, promover a retenção e o movimento da água, suportar as cadeias alimentares e as funções reguladoras do ambiente, incluindo a ciclagem de nutrientes, a diversidade de macro e microrganismos, a remediação de poluentes e a imobilização de metais pesados (Bezdicek, 1996). A figura 1 mostra o relacionamento das funções do solo, com respeito à produção vegetal (Larson & Pierce, 1994), com os atributos do solo, que podem ser resumidos nas suas qualidades físicas, químicas e biológicas. De certa forma, a capacidade do solo de desenvolver todas as funções listadas está direta ou indiretamente ligada, e em graus de importância diferenciados, à qualidade apresentada por todos os atributos. Por exemplo, a função do solo de armazenar, suprir e ciclar nutrientes está diretamente relacionada a atributos biológicos, como a ciclagem de nutrientes, a atributos químicos, como a capacidade de troca catiônica, e a atributos físicos, como a proporção de areia, de silte e de argila. Os atributos do solo não podem ser medidos diretamente. Assim, devem ser selecionados os indicadores (Figura 1), os quais são substitutos mensuráveis dos atributos do solo. Um indicador pode ser simplesmente uma variável mensurável, a exemplo da temperatura do solo; um processo, como a taxa de mineralização de N (kg ha-1 ano-1); ou uma construção complexa de variáveis múltiplas, como um índice, o qual inclui inúmeras medidas do solo (densidade, uniformidade de agregados, matéria orgânica e outros) (Burger & Kelting, 1999). Segundo Stenberg (1999), nenhum indicador individualmente irá descrever e quantificar todos os aspectos da qualidade do solo. Nem mesmo uma única função do solo poderia ser avaliada, visto que todos os atributos do solo têm que ser colocados em relação um com o outro. Os critérios ��( ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% para a seleção de indicadores de qualidade do solo relacionam-se principalmente com a sua utilidade em definir os processos do ecossistema, integrando propriedades físicas, químicas e biológicas, além da sua sensibilidade ao manejo e às variações climáticas (Doran et al., 1996). Stenberg (1999) sintetizou em cinco os critérios para a seleção de indicadores para monitorar a qualidade do solo: (i) Devem integrar propriedades e processos químicos, físicos e biológicos e representar as propriedades ou funções do solo que são mais difíceis de se medir diretamente (sobreposição de indicadores pode ser necessária para assegurar uma interpretação mais robusta). (ii) A relevância ecológica e a variação natural dos indicadores devem ser bem conhecidas. (iii) Devem ser sensíveis a variações em longo prazo no manejo e no clima, mas resistentes a flutuações em curto prazo devidas a mudanças climáticas ou ao desenvolvimento da cultura. (iv) Devem possibilitar sua medição acurada e precisa por meio de ampla variação de tipos e condições de solo. (v) Devem ser de determinação simples e de baixo custo, para permitir que grande número de análises possa ser realizado. Figura 1. Funções do solo, atributos a elas relacionados e indicadores de qualidade do solo para a produção vegetal. Receber, armazenar e suprir água Armazenar, suprir e ciclar nutrientes Promover as trocas gasosas Promover a atividade biológica Funções do Solo Atributos da Qualidade do Solo Indicadores de Qualidade do Solo Qualidade química • Biodiversidade • Ativ. enzimas do solo • C e N da biomassa • Quociente metabólico • Tx. mineralização de N Promover o crescimento das raízes Qualidade física Qualidade biológica • Teor de P, N • MOS • P-orgânico • CTC • pH • Temperatura • Densidade • Porosidade • Agregação • Retenção H2O ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ ��� ������� ��� ���� !���" #$� %% Um dos obstáculos que devem ser transpostos para avaliar a qualidade do solo é a interpretação dos indicadores de qualidade, ou seja, saber quando é que os valores obtidos indicam um bom solo. Atualmente, existe na literatura grande quantidade de informação acerca dos indicadores de caráter químico e físico, o que permite, com certo grau de confiabilidade, definir faixas de valores adequados para essas características em diversos tipos de solos e culturas.O mesmo não ocorre com relação aos indicadores microbiológicos, cuja base de informações ainda é pouco consistente para permitir uma interpretação adequada e para definir valores ótimos em diferentes situações, apesar de o crescente número de trabalhos indicar que a fração microbiana do solo possui muitas das características desejáveis em um indicador de qualidade do solo. A escassez de informações e a dificuldade de utilizar indicadores microbiológicos como critério para se definir a qualidade dos solos se devem, principalmente, ao fato de os testes microbiológicos não serem incluídos em análises de solo de rotina e à falta de padronização de métodos desde a amostragem, a estocagem e o pré-tratamento das amostras até os procedimentos analíticos e a apresentação dos resultados (Stenberg, 1999). A qualidade “ideal” para um solo também não é conhecida, e o ideal irá diferir entre os vários tipos de solo e para cada cultura que está ou será estabelecida. Logo, é necessária a determinação de referenciais que possam servir de base para a interpretação e comparação. O critério de referência pode ser um sítio específico, que represente uma área com tipo de solo e condições climáticas similares, ou pode ser temporal, quando o valor referencial é obtido na amostragem inicial. A qualidade do solo é então monitorada por sucessivas amostragens feitas no mesmo local. Tem sido sugerido adotar como critério de referência as condições prevalecentes em solos que suportam uma vegetação nativa e que tenham sofrido mínimos distúrbios antropogênicos (Dick, 1994; Doran et al., 1994; Trasar-Cepeda et al., 1998; Wick et al.,1998; Islam & Weil, 2000; Leirós et al., 2000; Pascual et al., 2000). Nesse caso, há uma larga aplicabilidade como medida de qualidade do solo com respeito à sustentabilidade, pois as propriedades físicas, químicas e biológicas de solos que suportam uma vegetação nativa evoluíram para um estado de equilíbrio que assegura uma viabilidade de longo prazo do ecossistema circunvizinho (Doran et al., 1994). ���� ����� ��� ��������� � A avaliação das características biológicas do solo se adequa à maioria dos critérios para a seleção de um indicador de qualidade do solo (Doran & %% ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% Zeiss, 2000), apesar de este componente ter sido ignorado, em inúmeros estudos, como um importante aspecto da funcionalidade do ecossistema (Kennedy & Smith, 1995). Entretanto, características microbianas do solo estão sendo cada vez mais avaliadas como indicadores sensíveis da sua qualidade (Staben et al., 1997; Trasar-Cepeda et al., 1998; Wick et al., 1998; Stamatiadis et al., 1999a,b; Debosz et al., 1999; Glover et al., 2000; Murage et al., 2000; Islan & Weil, 2000; Leirós et al., 2000), dado o relacionamento entre atividade e diversidade microbianas, qualidade do solo e da vegetação e sustentabilidade do ecossistema (Doran et al., 1994). Dentre as várias justificativas para o uso de microrganismos e processos microbiológicos como indicadores de qualidade do solo, destacam-se a sua capacidade de responder rapidamente a mudanças no ambiente do solo derivadas de alterações no manejo e o fato de que a atividade microbiana do solo reflete a influência conjunta de todos os fatores que regulam a degradação da matéria orgânica e a transformação dos nutrientes (Kennedy & Papendick, 1995; Stenberg, 1999). Os microrganismos constituem ainda grande e dinâmica fonte e depósito de nutrientes em todos os ecossistemas e participam ativamente em processos benéficos como a estruturação do solo, a fixação biológica de N, a solubilização de nutrientes para as plantas, a redução de patógenos e pragas de plantas, a degradação de compostos persistentes aplicados ao solo, em associações micorrízicas e em outras propriedades do solo que afetam o crescimento vegetal (Quadro 1) (Kennedy & Papendick, 1995; Kennedy & Smith, 1995). Dessa forma, um solo de alta qualidade possui atividade biológica intensa e contém populações microbianas balanceadas, sendo vários os indicadores microbiológicos que podem fornecer uma estimativa da qualidade do solo. Para que os microrganismos do solo possam ser incorporados aos estudos que visam determinar a qualidade dos solos, é preciso que se considere quais as informações mais relevantes e quais as metodologias disponíveis para obter as informações desejadas, bem como o nível de resolução com que se deseja ou é possível trabalhar. Segundo Stenberg (1999), os estudos dos microrganismos do solo podem ser feitos em pelo menos cinco níveis diferentes. O primeiro nível é a observação dos organismos em nível individual. Isso pode ser feito com microscopia ou microeletrodos para a caracterização da atividade microbiana em nível individual ou de uma microcolônia. Os problemas são obviamente metodológicos e a microescala apresenta-se muito pequena para ser prática para avaliação da qualidade do solo. O segundo nível considera as populações em nível de espécie, em que a dinâmica de espécies definidas ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ %� ������� ��� ���� !���" #$� %% pode ser estudada por meio de sondas genéticas ou de técnicas usando anticorpos. O terceiro nível também considera as populações, mas em nível funcional, e pode incluir grupos específicos de microrganismos. Estudos neste nível podem ser feitos com a mesmas técnicas utilizadas no nível 2, mas com o uso de sondas e anticorpos, de forma a terem como alvos uma gama maior de espécies dentro do grupo funcional. Outra forma é medir as taxas potenciais da atividade de populações microbianas específicas. O quarto nível se preocupa com a comunidade microbiana Quadro 1. Processos benéficos derivados da atividade de microrganismos no solo Processo Agente/Causa Conseqüências Decomposição de resíduos de plantas e material orgânico Produção de enzimas intra e extracelulares Síntese de húmus Mineralização de N, P e S Aumento na disponibilidade de P, Mn, Fe, Zn e Cu para as plantas Fungos micorrízicos Populações de microrganismos decompositores Produção de agentes quelantes orgânicos Reações de oxidação e redução Solubilização de fosfatos Maior produtividade primária Aumento dos fluxos de matéria e de energia no ecossistema Fixação biológica de N Bactérias fixadoras de vida livre e cianobactérias Microrganismos associativos Microrganismos simbióticos com leguminosas e não- leguminosas Aumento da disponibilidade de N para as plantas Promoção do crescimento de plantas Bactérias PGPR e fungos micorrízicos Produção de hormônios de crescimento de plantas Proteção contra patógenos de raiz Aumento na eficiência de absorção e no uso de nutrientes Maior produtividade primária Aumento dos fluxos de matéria e de energia no ecossistema Controle biológico de doenças de plantas, nematóides, insetos e plantas invasoras Predação e parasitismo de nematóides e insetos por fungos e bactérias Competição direta e indireta por nutrientes na rizosfera Produção de antibióticos Equilíbrio entre populações de macro e microrganismos em um dado ecossistema Biodegradação de pesticidas sintéticos e outros contaminantes Cometabolismo, destoxificação, consórcios microbianos Redução da persistência de compostos tóxicos no ambiente Aumento na tolerância de plantas ao défice hídrico Associações micorrízicas Manutenção da cobertura vegetal sob condições hídricas adversas Agregação do solo Produção de mucigel por bactérias e hifas de fungos e actinomicetos que atuam na ligação das partículas de solo Redução da erosão Melhor infiltração de água no solo Melhor aeração do solo Fonte: Modificado de Kennedy & Papendick (1995). % ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% como um todo, estudando a diversidade genética e fisiológica. A biomassa microbiana total ou a atividade de enzimas que participam dos principais processos microbianos do solo poderiam também ser incluídas aqui como medidas quantitativas da comunidade total. O quinto estáno nível do ecossistema. Ele pode ser descrito por meio de dados obtidos em todos os outros níveis. Assim, estudos neste nível requerem avaliação integrada dos dados, incluindo os fatores químicos e físicos do solo. Em geral, nos estudos que focam a qualidade do solo são avaliadas características microbiológicas que podem ser enquadradas do nível 3 ao 5. Há ênfase na relação entre os microrganismos e a ciclagem de nutrientes, sendo comum a avaliação da atividade microbiana, a quantificação da biomassa de microrganismos e a medição de várias enzimas do solo envolvidas na ciclagem de nutrientes-chaves (C, N, P e S). Também é comum a avaliação da atividade de populações específicas ou grupos funcionais de microrganismos envolvidos na ciclagem e nas transformações do N. Estudos que avaliam a relação entre a qualidade do solo e a diversidade de microrganismos são cada vez mais freqüentes, conseqüência do grande avanço das ferramentas e dos métodos de avaliação. No entanto, apesar do grande potencial para a utilização da análise da diversidade microbiana como indicadora de mudanças na qualidade do solo, o seu uso ainda é limitado, principalmente pelo fato de que as técnicas ainda são trabalhosas e de custo relativamente elevado para serem utilizadas em análises de rotina. A seguir, são descritas algumas propriedades biológicas do solo, enfatizando as de natureza microbiológica, que têm sido propostas por diversos autores como mais sensíveis a mudanças quando os solos são submetidos a diferentes tipos de manejo e, portanto, seriam mais adequadas como indicadores de qualidade. Algumas metodologias de avaliação desse conjunto de indicadores serão também comentadas, incluindo uma abordagem das técnicas mais recentes direcionadas ao estudo da diversidade genética e funcional das comunidades microbianas dos solos. Biomassa microbiana e quociente microbiano (qMIC) A biomassa microbiana (BM) é considerada a parte viva da matéria orgânica do solo e inclui bactérias, actinomicetos, fungos, protozoários, algas e microfauna. Constitui parte da fração da matéria orgânica ativa do solo, contendo, em média, de 2 a 5 % do C orgânico (CO) (Jenkinson & Ladd, 1981) e de 1 a 5 % do N total do solo (Smith & Paul, 1990). ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ %) ������� ��� ���� !���" #$� %% A BM é um dos componentes que controlam funções-chaves no solo, como a decomposição e o acúmulo de matéria orgânica, ou transformações envolvendo os nutrientes minerais. Representa ainda uma reserva considerável de nutrientes, os quais são continuamente desviados para os ciclos de crescimento dos diferentes organismos que compõem o ecossistema. Conseqüentemente, solos que mantêm alto conteúdo de BM são capazes não somente de estocar mais nutrientes, mas também de ciclar mais nutrientes através do sistema (Stenberg, 1999). Ademais, o fato de muitos microrganismos utilizarem a fração disponível da matéria orgânica os faz sensíveis a mudanças na sua qualidade. A BM tem sido, assim, proposta como um indicador do estado e das mudanças da matéria orgânica total do solo. A manutenção da matéria orgânica do solo é desejável para a sustentabilidade do uso da terra, em razão dos múltiplos benefícios sobre o status de nutrientes, sobre a capacidade de retenção de água e sobre a estrutura do solo. Entretanto, mudanças graduais e pequenas na matéria orgânica do solo podem ser difíceis de monitorar e detectar no curto prazo (Sparling, 1992). A BM, a qual possui, comparativamente, uma taxa de giro (formação e decomposição) rápida (1 a 2 anos) (Jenkinson & Ladd, 1981), tem sido sugerida como uma medida mais sensível de aumento ou decréscimo na quantidade total da matéria orgânica do solo. Powlson et al. (1987), avaliando o efeito da queima ou da incorporação da palhada de cevada ao solo durante 18 anos sobre o CO e sobre a BM, constataram que a incorporação anual de palhada aumentou, em média, o CO do solo em somente 5 % e o N total em 10 %, ao passo que o mesmo tratamento provocou aumento de 40 e 47 % no C e no N da BM, respectivamente (Quadro 2), demonstrando a maior sensibilidade da BM a alterações no solo decorrentes do manejo. Assim, mudanças significativas na BM podem ser detectadas muito antes que alterações na matéria orgânica possam ser percebidas, possibilitando a adoção de medidas de correção antes que a perda da qualidade do solo seja mais severa. A relação entre o C microbiano (CM) e o CO ((CM/CO) 100), também denominada quociente microbiano (qMIC), fornece uma medida da qualidade da matéria orgânica. Segundo Wardle (1994), em circunstâncias em que a biomassa encontra-se sob algum fator de estresse (deficiência de um nutriente, acidez, etc.), a capacidade de utilização do C é diminuída. Nesse caso, a relação CM:CO diminui (< qMIC). Ao contrário, com a adição de matéria orgânica de boa qualidade ou com a mudança do fator limitante para uma condição favorável, a BM pode aumentar rapidamente (> qMIC), %* ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% Quadro 2. Efeito da incorporação de palhada de cevada sobre o carbono orgânico total, nitrogênio total, carbono da biomassa microbiana e nitrogênio da biomassa microbiana mesmo se os teores de CO permanecerem inalterados (Powlson et al., 1987). Durante o desenvolvimento do solo, essa relação, inicialmente, é submetida a mudanças rápidas e, com o passar do tempo, converge para um valor de “equilíbrio” (Insam & Domsch, 1988, citados por Wardle, 1994). Se este valor for conhecido, a determinação dessa relação pode fornecer uma indicação sobre o quanto um solo está distante de seu “estado de equilíbrio”. As mudanças no qMIC podem refletir também os acréscimos de matéria orgânica ao solo, a eficiência de conversão do CO do solo para CM, as perdas de C do solo e a estabilização do CO pelas frações minerais do solo (Sparling, 1992). Anderson & Domsch (1989) estudaram o relacionamento entre C da biomassa (CM) e C orgânico do solo (CO), ou qMIC, de comunidades microbianas de solos submetidos a monoculturas ou rotação de culturas por períodos superiores a 10 anos, em regiões temperadas da Europa Central. Os solos sob monocultura permanente apresentaram valores médios de qMIC de 2,3 %, os quais diferiram significativamente dos solos sob rotação de culturas, que apresentaram valores médios de 2,9 %. A mudança quantitativa da BM de solos submetidos a diferentes regimes de manejo foi atribuída à maior quantidade e diversidade de resíduos deixados nas áreas sob rotação. Esses autores *Indica diferença significativa (5 %) entre os tratamentos com queima e incorporação den- tro da mesma área. Fonte: Adaptado de Powlson et al. (1987). Área Tratamento C orgânicototal N total CBM NBM dag kg-1 t ha-1 dag kg-1 kg ha-1 mg kg-1 kg ha-1 mg kg-1 kg ha-1 Queima 2,46 59,3 0,115 2772 55 132 10,5 25 Studsgaard Incorporação 2,57 61,9 0,127 3061 80 192 15,8 40 % de aumento 5 10 45* 50* Queima 1,16 28,7 0,119 2945 110 273 18,8 46 Rφnhave Incorporação 1,22 30,2 0,129 3193 151 374 27,3 68 % de aumento 5 8 37* 46* ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ %� ������� ��� ���� !���" #$� %% hipotetizaram que, se a disponibilidade de C for uma das variáveis que direcionam a relação CM:CO, a maior diversidade química da matéria orgânica produzida nas áreas com rotação de culturas poderia favorecer ao longo do tempo os organismos que são dotados de um metabolismo mais econômico. Assim, menos C de um substrato orgânico é canalizado para o metabolismo energético e mais C é fixado nas células microbianas, afetando, desse modo, a relação CM:CO. A BM pode ser medida por diferentes métodos, como a observação e contagem direta de células microbianas em microscópio, e análises químicas do teor de substâncias que apresentam correlação com determinadas populações, como ácido murâmico (Miller & Casida, 1970) para bactérias e quitina (Frankland et al., 1978) ou ergosterol (Newell, 1988) parafungos. Análises de processos bioquímicos e de outros componentes das células microbianas também têm sido propostas para a determinação da biomassa, como a amonificação de arginina (Alef et al., 1988) e a quantificação de ATP (Jenkinson & Ladd, 1981). Entretanto, os métodos mais comumente utilizados na determinação da BM do solo são o da fumigação e incubação (FI) (Jenkinson & Powlson, 1976), o da respiração induzida pelo substrato (RIS) (Anderson & Domsch, 1978) e o da fumigação e extração (FE) (Vance et al., 1987). O método da FI emprega a fumigação do solo com clorofórmio para matar as células microbianas, seguindo-se a incubação para medição do CO2 liberado, o qual se originou da decomposição da biomassa morta. O método da RIS é baseado na medição de CO2 emitido após a adição de glicose ao solo, durante um período de uma a três horas. A biomassa é, então, estimada por curvas de calibração entre as medidas de CO2 e a biomassa total, pelo método FI. Com base nesse método, Van de Werf & Verstraete (1986) propuseram a avaliação da BM ativa por relacionamentos biocinéticos e estequiométricos. No método da fumigação e extração, o C da BM é determinado pela diferença do teor de C extraído com solução de K2SO4 0,5 mol L-1 de amostras fumigadas e não-fumigadas com clorofórmio. O C extraído é quantificado pela oxidação da matéria orgânica com dicromato de potássio. Recentemente, Islam & Weil (1998) modificaram o método de Vance et al. (1987), substituindo a fumigação com clorofórmio pelo tratamento das amostras de solo com radiação de microondas (Figura 2). Apesar da menor eficiência deste tratamento quanto à extração do C da BM, o método apresentou alta correlação com os resultados obtidos pelo da fumigação com clorofórmio. O tratamento das amostras com radiação de microondas apresenta a vantagem de ser mais prático e rápido, além de não haver a necessidade da utilização do clorofórmio, que se constitui em uma substância potencialmente perigosa. %$ ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% Taxa de respiração basal do solo e quociente metabólico (qCO2) A taxa de respiração basal do solo consiste na medida da produção de CO2 resultante da atividade metabólica no solo de microrganismos, de raízes vivas e de macrorganismos como minhocas, nematóides e insetos (Parkin et al., 1996). A atividade dos organismos no solo é considerada um atributo positivo para a qualidade do solo, sendo a respiração do solo um indicador sensível da decomposição de resíduos, do giro metabólico do carbono orgânico do solo (COS) e de distúrbios no ecossistema (Paul et al., 1999), mas a interpretação de seus valores deve ser realizada com cautela. Uma alta taxa de respiração, indicativo de alta atividade biológica, pode ser uma característica desejável se se considera que ela é um sinal de rápida decomposição de resíduos orgânicos em nutrientes disponíveis para as plantas. Entretanto, a decomposição da matéria orgânica estável, ou seja, da fração húmica do solo, é desfavorável para muitos processos químicos e físicos, como a agregação, a capacidade de troca de cátions e a capacidade de retenção de água. Uma alta atividade respiratória pode Figura 2. Esquema da determinação do carbono da biomassa microbiana pelo método da irradiação e extração utilizando microondas (Vance et al., 1987, modificado por Islam & Weil, 1998). CMR – Capacidade máxima de retenção de água do solo. Leitura da abs (590 nm) A m o s tr a i r ra d i a d a (I) Solo + H2O 70% CMR F i l t r a g e m A m o s tr a n ã o - i r r a d ia d a Solo + H2O 70% CMR Irradiação com microondas Extrator de C-org K2SO4 0,5 mol L -1 I N Irradiação com microondas I N Extrato + H2SO4 + K2CrO4 I N Cálculo (Abs I – Abs NI) CO Abs ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ %# ������� ��� ���� !���" #$� %% resultar tanto de um grande “pool” de substratos de C lábeis, onde a decomposição da matéria orgânica é intensa (uma floresta tropical, por exemplo), como da rápida oxidação de um pequeno “pool” decorrente, por exemplo, da quebra de agregados do solo promovida pela aração, a qual expõe material orgânico que outrora se encontrava protegido da ação de várias populações microbianas com atividade aeróbica, ou como resultado da incorporação momentânea de resíduos culturais pela aração. Desse modo, altas taxas de respiração podem indicar tanto um distúrbio ecológico (como a incorporação de resíduos) como um alto nível de produtividade do ecossistema (Islam & Weil, 2000). Uma variável de interpretação aparentemente mais adequada é a taxa de respiração por unidade de BM, ou quociente metabólico (qCO2). Essa variável ecofisiológica da atividade específica foi proposta por Anderson & Domsch (1985) como uma adaptação da teoria do “desenvolvimento bioenergético dos ecossistemas” (Odum, 1969) e prediz que, à medida que determinada BM se torna mais eficiente na utilização dos recursos do ecossistema, menos C é perdido como CO2 pela respiração e maior proporção de C é incorporada aos tecidos microbianos. Assim, uma BM “eficiente” (< qCO2) tem menor taxa de respiração em relação a uma mesma BM “ineficiente” (> qCO2). Dessa forma, tanto fatores de “estresse” (aqueles envolvendo “estado de equilíbrio” ou condições desfavoráveis, como metais pesados, limitações de nutrientes, baixo pH) como fatores de perturbação (aqueles envolvendo fluxo rápido de condições ambientais, ou seja, cultivo, queimada, etc.) induzem à redução da eficiência microbiana (Wardle, 1994). Em geral, um baixo quociente metabólico indica economia na utilização de energia e supostamente reflete um ambiente mais estável ou mais próximo do seu estado de equilíbrio; ao contrário, valores elevados são indicativos de ecossistemas submetidos a alguma condição de estresse ou de distúrbio. Freqüentemente, solos com alto quociente metabólico são dominados por organismos colonizadores de crescimento rápido (Sakamoto & Obo, 1994). Islam & Weil (2000) estudaram os efeitos do uso do solo sobre vários indicadores de qualidade em ecossistemas de florestas tropicais em Bangladesh. Foram analisadas amostras de solos retiradas de áreas de floresta natural, reflorestada com Acacia auriculiformis (idade de 7 anos), pastagem de 20 anos e de uma área cultivada durante 20 anos com diversas culturas. Dentre as características analisadas, os valores encontrados para o C da BM, a respiração basal e o qCO2 mostraram uma relação que ilustra o problema de se considerar somente os dados de respiração em estudos de determinação da qualidade do solo (Quadro 3). Quando se avaliou %( ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% somente a taxa de respiração basal do solo, não foram detectadas diferenças entre a floresta natural e a área cultivada, o que indicaria atividade microbiana semelhante nos dois solos. No entanto, quando se considerou a taxa de respiração por unidade de biomassa, ou qCO2, o valor obtido para o solo de floresta natural foi sensivelmente menor, o que demonstra um solo mais estável e equilibrado, de acordo com a teoria de Odum (1969). A respiração pode ser avaliada pela medição da liberação de CO2 ou pelo consumo de O2. É comum o uso de técnicas simples, como a incubação do solo em frascos hermeticamente fechados durante um período de até uma semana, em que o CO2 liberado é capturado em solução de NaOH, a qual é posteriormente titulada com HCl (Isermeyer, 1952). Atualmente, tem havido grande avanço no desenvolvimento de respirômetros que fazem a leitura contínua da produção de CO2 por meio de detetores de infravermelho e permitem a análise de um grande número de amostras, com maior facilidade e rapidez (Heinemeyer et al., 1989) (http://www.sluholding.se/ NordgrenInnovation/index.htm; http://www.sablesys.com). Outros instrumentos medem a atividade respiratória pela redução da pressão interna em frascos de incubação hermeticamente fechados, cuja leitura é feita por sensores manométricos que transmitem os dadospor meio de ondas de infravermelho (http://www.aqualytic.de; http://www.wtw.com). É de grande importância que, em qualquer método utilizado, as medidas sejam feitas sob condições padronizadas quanto à umidade do solo e à temperatura de incubação, a fim de permitir a reprodutibilidade e comparação dos resultados. Quadro 3. Efeito do uso do solo sobre suas propriedades biológicas em ecossistemas de Bangladesh Fonte: Islam & Weil (2000). Uso do solo CBM Respiração basal qCO2 mg kg-1 de C mg kg-1 d-1 de C-CO2 mg mg -1 d-1 de C-CO2 do CBM Floresta natural 259 6,2 0,024 Área reflorestada 338 8,5 0,025 Pastagem 394 8,8 0,023 Cultivo 156 6,2 0,039 LSD (p< 0,05) 85 ns 0,012 ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ %� ������� ��� ���� !���" #$� %% Mineralização de nitrogênio O conhecimento dos fatores que controlam as taxas de ciclagem de N no solo é importante, em razão dos efeitos desses processos na estrutura e função do ecossistema, como também na qualidade ambiental. A maior parte do N assimilado pelas plantas é derivada dos reservatórios de N- inorgânico, NH4 + e NO3 -, que resultam dos processos de mineralização e nitrificação (Hart et al., 1994). Como o N é freqüentemente o nutriente mais limitante para as plantas, juntamente com o P, qualquer diferença nas taxas de mineralização, de imobilização e de nitrificação pode ter profundo efeito sobre a produtividade primária e sobre a qualidade do solo. A mineralização de N, ou simplesmente amonificação, consiste na liberação de amônio a partir da degradação de materiais orgânicos. Pode ser efetuada por várias enzimas extracelulares e inespecíficas produzidas por grande diversidade de organismos aeróbios e anaeróbios. Esse processo é geralmente avaliado por meio da incubação do solo sob condições aeróbias ou anaeróbias. Como ocorrem simultaneamente mineralização e imobilização, determina-se a mineralização líquida de N, a qual reflete o potencial de mineralização do N no solo. A técnica de incubação aeróbia (Hart et al., 1994) consiste na medida do N inorgânico produzido durante a incubação do solo sob condições ótimas de umidade, temperatura e aeração por 28 dias. As concentrações de nitrato e de amônio são determinadas em subamostras de solo antes e após a incubação. A taxa líquida de mineralização é calculada pela subtração da concentração inicial de N inorgânico da concentração final. A taxa de nitrificação também pode ser determinada por este método, por meio da subtração da concentração inicial de NO3 - da concentração final. Na técnica de incubação anaeróbia (Bundy & Meisinger, 1994), a mineralização do N é estimada a partir do NH4 + produzido durante a incubação do solo saturado com água, durante sete dias. Esta técnica apresenta diversas vantagens comparada com o método aeróbio, o que a torna mais adequada para testar a qualidade do solo. Entre essas vantagens incluem-se a sua simplicidade e facilidade de adaptação a rotinas de laboratório, a necessidade de um pequeno período de incubação (sete dias), a pouca ou nenhuma influência do pré-tratamento das amostras sobre os resultados do teste, a eliminação de preocupações relacionadas à manutenção do conteúdo ótimo de água durante a incubação e a necessidade mínima de materiais e equipamentos (Bundy & Meisinger, 1994). Além disso, como a nitrificação é inibida pela anaerobiose, somente �% ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% é necessária a determinação do NH4 +, e as perdas de gases que poderiam ocorrer pela desnitrificação também são evitadas (Stenberg, 1999). Nitrificação A nitrificação é um processo realizado por bactérias quimiolitotróficas aeróbias estritas, durante o qual o amônio é transformado em nitrato em duas etapas: a oxidação do amônio a nitrito e a oxidação deste a nitrato. Somente algumas espécies de bactér ias per tencentes à família Nitrobacteriaceae têm a capacidade de realizar a nitrificação, o que torna esse processo sensível a perturbações. Assim, esta avaliação apresenta o potencial de servir como bom indicador de distúrbios inibitórios, já que a redundância com outros grupos fisiológicos é mínima e, também, por não ser diretamente dependente da matéria orgânica, fato que permite enfatizar outros aspectos da qualidade do solo (Stenberg, 1999). A intensidade de nitrificação em solos é variável, mas o processo parece ser pouco expressivo em solos com valores de pH menores que 4,0 (Alexander, 1977; Persson & Wirén, 1995). Apesar de o crescimento de culturas puras de bactér ias nitr if icantes em meio líquido ocorrer predominantemente em pH variando de neutro a alcalino, a nitrificação tem sido constatada em solos ácidos em pesquisas desde 1962 (Prosser, 1989), chegando a ser detectada em solos florestais com pH 3,2 (Federer, 1983). O processo de nitr if icação tende a ser menos expressivo em comunidades microbianas mais evoluídas e equilibradas. Ao contrário, o processo tende a ser intensificado em condições de desequilíbrio, desde que se disponha de fonte de N-NH4 +. Rice & Pancholy (1972) observaram aumento dos teores de N-NH4 + e decréscimo do teor de NO3 - ao longo dos estádios sucessionais em áreas com diferentes tipos de vegetação. As populações de microrganismos nitr i f icantes também diminuíram significativamente com o avanço da sucessão. Os autores formularam a hipótese de que a atividade de nitrificantes parece ser de algum modo influenciada negativamente por substância(s) exsudada(s) pela vegetação presente em comunidades clímax, principalmente taninos (Rice & Pancholy, 1973), ou outras substâncias potencialmente inibidoras de Nitrosomonas, como os compostos fenólicos e flavonóides (Rice & Pancholy, 1974) e os monoterpenos (Paavolainen et al., 1998). Outra hipótese seria a de que interações negativas com outras populações microbianas existentes na rizosfera, favorecidas pelo ambiente estável ou pela maior disponibilidade de nutrientes, possam promover redução das populações de nitrificantes (Robertson, 1982). ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ �� ������� ��� ���� !���" #$� %% A inibição da nitrificação traz implicações importantes na assimilação do N nos ecossistemas. Dois passos bioquímicos que requerem energia considerável - a redução do nitrato a nitrito e de nitrito a amônio - são eliminados. A inibição da nitrificação resulta, assim, em conservação de energia. Quando são consideradas a conservação do N, a conservação de energia e a habilidade de muitas espécies vegetais em usar o amônio mais eficientemente que o nitrato, não é surpreendente que a sucessão caminhe no sentido de inibir a nitrificação (Rice & Pancholy, 1972). Lazari (2001) estudou a nitrificação e outros processos bioquímicos e microbiológicos em solos de Minas Gerais com eucalipto de diferentes idades. A autora observou que as taxas de amonificação e de nitrificação líquidas aumentaram com o avanço da idade da vegetação, sendo os maiores valores detectados na área com vegetação nativa e numa área sob eucalipto aos três anos de idade, que recebeu cultivo mínimo (Quadro 4). O teor de nitrato, por sua vez, apresentou relação inversa com a idade das árvores. A taxa de nitrificação potencial também foi mais elevada em áreas de plantios de eucalipto mais jovens, com idade até três anos, diminuindo nas áreas mais velhas. A taxa de nitrificação líquida igualou-se à de amonificação em três das áreas estudadas, a saber: a área contendo eucalipto aos três anos, a área contendo um pomar de matrizes e uma área com vegetação nativa, indicando que a nitrificação estava sendo limitada pela disponibilidade de substrato. Na área com eucalipto aos três anos, em que se adotou o cultivo mínimo para implantação do povoamento, a taxa de nitrificação potencial, que é tida como uma estimativa do tamanho da população de nitrificantes, foi consideravelmente maior que a taxa de nitrificação líquida. Taxas de nitrificação potencial semelhantes ou maioresque esta foram encontradas nas áreas com plantio de eucalipto com idade até 12 meses. No entanto, nessas áreas, verificaram-se baixas taxas de amonificação e menores taxas de nitrificação líquida, em contraste com a alta nitrificação potencial. Aparentemente, as populações de nitrificantes estavam sendo inibidas por outro fator que não a disponibilidade de substrato, a exemplo do pH, que, nessas áreas, se encontrava em torno de 4,5, os menores valores dentre as áreas estudadas. A nitrificação potencial diminuiu com o avanço da idade do plantio, indicando redução nas populações de microrganismos nitrificantes. As áreas com plantios de eucalipto com idade de cinco e sete anos apresentaram acidez menos acentuada do que aquela encontrada nas áreas mais jovens e, aparentemente, a redução da nitrificação não foi causada pela escassez de substrato, já que a taxa de amonificação líquida foi superior à taxa de � ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% nitrificação líquida. Nessas áreas, portanto, a limitação imposta à nitrificação pode ser de natureza aleloquímica (Silva et al., 1994). Os plantios de eucalipto apresentam queda de serapilheira em torno de 5,5 t ha-1 ano-1, após os cinco anos de idade, a qual se mantém constante até a idade de nove anos (Neves, 2000). A hipótese de que um inibidor secretado pela vegetação atue sobre os microrganismos nitrificantes em áreas onde a queda de serapilheira é representativa não deve ser descartada. O eucalipto é reconhecidamente rico em tanino, que se distribui nas folhas, nos frutos, nas sementes e, em maior concentração, no cerne e na casca (Mori, 2000), e o tanino é um inibidor potencial do processo de nitrificação (Rice & Pancholy, 1973). Dentre os diversos métodos de determinação da nitrificação, a incubação aeróbia do solo em laboratório (descrita anteriormente) é a mais comumente utilizada. Segundo Hart et al. (1994), a principal desvantagem desta técnica é a de que as taxas de nitrificação líquida são muito sensíveis a mudanças no teor de água e de concentração de NH4 +. A nitrificação potencial determinada pelo método da agitação de uma pasta de solo (Belser, 1979) pode ser considerada a de mais fácil interpretação e reprodutibilidade (Hart et al., 1994). Este método consiste na incubação de uma amostra do solo com uma solução diluída de fosfato de amônio sob agitação constante e na medição do NO3 - acumulado durante um período relativamente curto Quadro 4. Taxas de amonificação e de nitrificação líquidas e de nitrificação potencial em amostras de solo de povoamentos de eucalipto com diferentes idades e de uma área com vegetação nativa adjacente (1) n.d. = não determinado. Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5 %). Fonte: Lazari (2001). Área Idade Nitrificação líquida Amonificação Nitrificação potencial ano mg kg-1 d-1 de N-NO3 - no solo mg kg-1 d-1 de N-NH4 + no solo mg kg-1 d-1 de N-NO3 - no solo 1 0,25 0,001 d 0,185 e 1,789 2 0,5 0,018 d 0,177 e 0,894 3 1 0,097 cd 0,236 de 0,999 4 3 0,462 b 0,462 bc 1,022 5 5 0,414 b 0,504 b 0,629 6 7 0,303 bc 0,763 a 0,668 7 15 0,346 b 0,346 cd n.d.(1) 8 nativa 0,680 a 0,680 a n.d. ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ �) ������� ��� ���� !���" #$� %% (usualmente ≤ 24 h). A imobilização de nitrato pelos microrganismos é inibida pelas altas concentrações de NH4 +, e a desnitrificação é inibida pela agitação, que mantém a mistura aerada. Como o processo de consumo de NO3 - é eliminado, as taxas líquidas se equivalem às taxas brutas de nitrificação (Hart et al., 1994). As informações obtidas por este método são aplicáveis às condições de campo, uma vez que, dado o curto período de incubação, são pouco prováveis mudanças nas populações de nitrificantes. Também, limitações de umidade e de substrato são eliminadas e, assim, a medida da taxa de nitrificação se aproxima daquela da taxa de nitrificação máxima (Vmax) possível a determinada temperatura de incubação (Hart et al., 1994). Enzimas do solo As enzimas do solo têm sido sugeridas como potenciais indicadores biológicos da qualidade do solo, tendo em vista o seu relacionamento com a atividade biológica (Tabatabai, 1994), a facilidade de determinação e a resposta rápida às mudanças no manejo do solo (Dick, 1994). Enzimas catalisam todas as reações bioquímicas e são partes integrais da ciclagem de nutrientes no solo. Todos os organismos vivos no solo, como microrganismos, raízes de plantas e fauna, contribuem com grande variedade de enzimas. Elas estão usualmente associadas com a proliferação de células viáveis, mas podem ser excretadas de uma célula viva ou liberadas na solução do solo a partir de células mortas (Tabatabai, 1994). As enzimas livres formam complexos com colóides húmicos e podem ser estabilizadas na superfície de partículas de argila ou de matéria orgânica (Boyd & Mortland, 1990), mantendo-se aí ativas por tempos variáveis. A escolha das enzimas a serem analisadas baseia-se na sua sensibilidade ao manejo do solo, na sua importância na ciclagem de nutrientes e na decomposição da matéria orgânica e na simplicidade da análise. As enzimas mais comumente analisadas são aquelas ligadas aos ciclos da matéria orgânica e dos macronutrientes C, N, S e P, a saber: β-glicosidase, invertase e galactosidases, as quais desempenham papel fundamental na liberação de açúcares de baixa massa molecular, que são importantes fontes de energia para os microrganismos; as celulases, responsáveis pela hidrólise da celulose, molécula orgânica mais abundante na natureza; as ureases, amidases e proteases, as quais participam do ciclo do N, contribuindo para a liberação de N-inorgânico; a arilsulfatase, a qual libera SO4 - para as plantas; e as fosfatases ácidas e alcalinas, responsáveis pela hidrólise de ligações P-éster da matéria orgânica, com subseqüente liberação de P inorgânico. Visser & Parkinson (1992) sugeriram �* ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% a análise da atividade das desidrogenases como indicadora do estado metabólico da BM, dado o seu relacionamento direto com a atividade de oxidação da matéria orgânica. Os procedimentos para a determinação dessas enzimas são relativamente simples quando comparados com os procedimentos analíticos realizados para a quantificação de nutrientes em uma análise de solo de rotina. Em geral, prescrevem o emprego de uma solução tamponada contendo o substrato da enzima para ser misturada ao solo, sendo a mistura incubada sob condições padronizadas para a enzima por um determinado período e o produto formado e quantificado por método colorimétrico (Quadro 5). Quadro 5. Principais enzimas envolvidas na ciclagem do carbono, do nitrogênio, do enxofre e do fósforo no solo e algumas características dos métodos utilizados em suas determinações Enzimas Substrato usado na determinação Incubação Detecção Referência β-Glicosidases p-nitrofenil-β- D-glicosídeo 1 h/37°C Determinação do p-nitrofenol liberado por colorimetria (mmol kg-1 h-1 p-nitrofenol) Eivazi & Tabatabai (1988) Invertase Sacarose 3 h/50°C Quantificação dos açúcares redutores liberados por colorimetria (mg kg-1 h-1) Schinner & Von Mersi (1990) Celulases Sal sódico de carboximetil celulose 24 h/50°C Idem invertase Schinner & Von Mersi (1990) Ureases Uréia 2 h/37°C Quantificação do amônio liberado por colorimetria (mmol kg-1 h-1 NH4 +) (Kempers & Zweers, 1986) Kandeler & Gerber (1988) Amidases Formamida 2 h/37°C Quantificação do amônio liberado por destilação a vapor (mmol kg-1 h-1 NH4 +) Frankenberger & Tabatabai (1980) Proteases Caseinato de sódio 2 h/50°C Quantificação dos aminoácidos liberados (mg kg-1 h-1 tirosina) Ladd & Butler (1972) Arilsulfatases p-nitrofenil sulfato 1 h/37°C Idem β-Glicosidases Tabatabai & Bremner (1970) Fosfatases p-nitrofenil fosfato 1 h/37°C Idem β-Glicosidases Eivazi & Tabatabai (1977) Desidrogenase Cloreto de 2,3,5- trifeniltetrazólio(TTC) 24 h/37°C Determinação colorimétrica do 2,3,5-trifenil formazan (TFP) produzido pela redução do TTC (µmol kg-1 h-1 TFP) Visser & Parkinson (1992) ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ �� ������� ��� ���� !���" #$� %% ����� �������� ������� ��������������� ��� O uso intensivo de muitos ecossistemas tem contribuído para a redução da diversidade de espécies, que corresponde aos diversos níveis de organização biológica. Processos relacionados com a degradação ambiental incluem derrubada de vegetação nativa, agricultura e pecuária intensivas, mineração, entre outros. Apesar de haver preocupação geral da sociedade com relação ao tema biodiversidade, o foco das atenções tem se voltado predominantemente para os recursos animais e vegetais. Pouca preocupação tem sido dispensada à porção menos evidente, porém não menos importante, da biodiversidade: os microrganismos (OTA, 1987; Wilson, 1988; Kennedy & Smith, 1995). Associadas a isso, dificuldades nos procedimentos necessários ao estudo das populações microbianas contribuem para a escassez de informações acerca da dinâmica de populações e da diversidade microbiana, a tal ponto que apenas cerca de 13 % das espécies microbianas possivelmente existentes são conhecidas. As comunidades microbianas que ocorrem nos solos são constituídas por várias espécies, que ocupam os diferentes nichos disponíveis. Essas comunidades são geralmente constituídas por poucas espécies contendo muitos indivíduos e por muitas espécies com poucos indivíduos. Embora as populações dominantes sejam as maiores responsáveis pelos fluxos de matéria e de energia na comunidade, as espécies menos abundantes são as que mais contribuem para a diversidade biológica (Atlas & Bartha, 1997). Uma elevada diversidade de espécies contribui para o uso mais eficiente dos recursos disponíveis. Interações interpopulacionais equilibradas também contribuem para maior eficiência no uso desses recursos, especialmente quando envolve relações sintróficas, ou seja, quando uma população contribui para suprir a demanda nutricional de outra população e vice-versa(3). Desse modo, comunidades microbianas caracterizadas por alta diversidade necessitam de pouca energia para sustentar a biomassa ali presente, o que se reflete na baixa produtividade primária por unidade de biomassa. Alta diversidade está geralmente associada à elevada estabilidade da comunidade, onde cada população desempenha papel (3) O conceito de Sintrofia é mais complexo do que o aqui apresentado, podendo envolver, por exemplo, a contribuição mútua de duas ou mais populações para aumentar a disponibilidade de um recurso escasso ou para reduzir um fator inibitório por meio de uma ação conjunta. Para maior detalhamento, sugerimos consultar literatura mais específica sobre interações entre populações microbianas (e.g. Atlas & Bartha, 1997). �$ ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% funcional que determina a manutenção normal dos fluxos de matéria e de energia em cada nível trófico de um ecossistema particular. Em ambientes sujeitos a flutuações, como o solo, o estabelecimento de uma condição ambiental desfavorável poderia resultar na inibição de algumas populações que desempenham papéis vitais dentro da comunidade. Nesse caso, a existência de populações que desempenham um mesmo papel funcional, mas que possuem diferentes exigências em relação aos fatores físicos, químicos e biológicos, ou seja, a redundância funcional, assegura que essas funções vitais sejam desempenhadas independentemente de variações no ambiente. Conceitualmente, diversidade é a variedade de espécies em um ecossistema, assim como a variabilidade genética dentro de uma mesma espécie. A diversidade biológica, ou biodiversidade, pode ser também definida como a riqueza da porção viva do ecossistema que se reflete na variedade de espécies e nas intrincadas inter-relações dos processos biológicos que ocorrem nos vários biomas. A real dimensão da diversidade microbiana dos solos é ainda hoje desconhecida. Entretanto, o emprego de técnicas moleculares tem revelado que o número de espécies microbianas presentes no solo é muito superior ao que se conhece dos estudos baseados em técnicas de cultivo (Holben & Tiedje, 1988; Torsvik et al., 1990). Estima-se que o número total de espécies de todas as formas de vida na Terra seja algo entre 10 e 25 milhões, das quais apenas cerca de 1,4 milhão foram identificadas (Hawksworth, 1991a,b; Wilson, 1988). O número total de espécies microbianas é estimado em torno de 1,7 milhão, tendo sido identificadas até o momento 117 mil espécies (Hawksworth, 1991b). Um número significativo de espécies permanece desconhecido, o que representa um vasto potencial de atributos e de informações genéticas valiosos ainda por serem descobertos. A biodiversidade do solo refere-se a uma variedade de grupos taxonômicos, incluindo bactérias, fungos, protozoários, nematóides, minhocas e artrópodes (van Bruggen & Semenov, 2000). A diversidade microbiana do solo é normalmente analisada em nível de espécie ou diversidade genética mais do que em nível de diversidade estrutural e funcional (Holben & Harris, 1995; van Bruggen & Semenov, 2000). Entretanto, estas duas últimas medidas podem ser mais relevantes para a qualidade do solo (Visser & Parkinson, 1992). Essa afirmação é baseada na pressuposição de que existe redundância funcional em um solo saudável (Beare et al., 1995), de forma que o ecossistema do solo irá se recuperar de um fator de estresse mesmo que parte da comunidade microbiana seja ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ �# ������� ��� ���� !���" #$� %% eliminada (van Bruggen & Semenov, 2000). Além do “pool” microbiano ativo, existe um “pool” de reserva de microrganismos quiescentes, mais diverso que o “pool” ativo, o qual pode responder a um distúrbio, como a adição de substâncias estranhas ao solo (Zvyagintsev et al., 1984). Esse “pool” microbiano diversificado é que mantém a homeostase do solo. Quanto maiores a redundância funcional e a diversidade, mais rápido o ecossistema pode retornar às condições iniciais após ter sido exposto a estresse ou distúrbio, ou seja, maior a sua resiliência (van Bruggen & Semenov, 2000; Degens et al., 2001). Essa resposta a um distúrbio no solo desencadeia uma sucessão de bactérias, de fungos e da cadeia alimentar associada, processo que geralmente leva a decréscimo inicial e posteriormente a aumento na biodiversidade. A extensão e duração de mudanças sucessionais irão depender da intensidade e da duração do distúrbio. Em resposta a uma perturbação de duração e de intensidade pequenas na comunidade microbiana de um solo saudável, ela rapidamente retornará às condições iniciais. Estresses crônicos e de longa duração resultarão em sucessão longa, levando a um novo equilíbrio dinâmico entre os componentes do ecossistema (van Bruggen & Semenov, 2000). Dessa forma, a habilidade de um ecossistema de suportar distúrbios extremos pode depender em parte da diversidade. Assim, é importante monitorar a diversidade como um indicador de mudança em resposta aos usos do solo (Kennedy & Smith, 1995). As diferentes práticas agrícolas afetam fortemente o ambiente do solo, causando distúrbios na sua comunidade microbiana, que podem, por sua vez, influenciar os processos do solo. Como exemplo, os distúrbios físicos causados no solo pela aração e pelo manejo de resíduos são fatores cruciais determinantes da atividade da biota do solo e da diversidade de espécies no agroecossistema. A aração usualmente causa distúrbio de pelo menos 15-25 cm na superfície do solo e transforma os horizontes superficiais estrat i f icados deste em uma zona homogênea com respeito às características físicas e à distribuição de resíduos. A perda de um habitat de solo estratificado causa decréscimo na densidade de espécies (Altieri, 1999). Os efeitos do uso do solo sobre a diversidade microbiana têm sido demonstradossistematicamente para alguns grupos de microrganismos, a exemplo dos fungos micorrízicos. Em solos de regiões tropicais, a remoção da vegetação nativa para introdução de florestas plantadas, para o cultivo de subsistência ou para o cultivo comercial altera a composição de espécies vegetais, a matéria orgânica, os nutrientes, a estrutura e a comunidade �( ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% microbiana do solo, incluindo as espécies de fungos micorrízicos (Adejuwon et al., 1987; Entry et al., 2002). A comunidade vegetal, geralmente constituída de grande número de espécies em diferentes estádios de desenvolvimento, é substituída por uma única espécie, e todos os indivíduos apresentam o mesmo grau de desenvolvimento. Isso representa uma alteração drástica, que afeta a abundância e a composição de espécies de fungos micorrízicos no local. Outros fatores ligados à atividade antropogênica que levam a alterações na comunidade de fungos micorrízicos são a fertilização, a introdução de metais pesados e de xenobióticos e a compactação do solo (revisto por Entry et al., 2002), a irrigação (Ortega-Larrocea et al., 2001), o aumento da concentração de CO2 na atmosfera (revisto por Staddon & Alastair, 1998), a aração (McGonigle & Miller, 1993), entre outros. Essas reduções na biodiversidade do solo são negativas, pois a ciclagem de nutrientes e o próprio balanço entre matéria orgânica, organismos do solo e diversidade de plantas são componentes necessários de um solo ecologicamente balanceado (Hendrix et al., 1990). O monitoramento da diversidade biológica em um ecossistema pode servir como critério para detectar alterações ambientais. Essa informação pode também contribuir para o estabelecimento de uma relação mais confiável entre diversidade e sustentabilidade, na medida em que se possa definir qual o mínimo de diversidade capaz de ainda permitir o funcionamento dos ciclos dentro do ecossistema. O uso de índices de diversidade contribui para melhor compreensão do funcionamento de uma comunidade complexa. É preciso que se considere, porém, que a diversidade é função de dois componentes igualmente importantes, o número de espécies que compõem a comunidade e o número de indivíduos em cada população (Margalef, 1958). Os índices de diversidade de espécies, quando aplicados ao estudo de comunidades microbianas, requerem a avaliação de grande número de microrganismos (Atlas, 1984). Em trabalhos dessa natureza, a determinação das espécies microbianas, ou unidades taxonômicas, é geralmente baseada na taxonomia numérica (Kaneko et al., 1977; Holder-Franklin et al., 1981; Bascomb & Colwell, 1993). Nesse caso, um grande número de características, geralmente fenotípicas, é determinado. Análises de agrupamento são então efetuadas de modo a permitir o estabelecimento de similaridades entre os organismos isolados. A riqueza de espécies, um dos componentes dos índices de diversidade, representa o número total de espécies (S) constituintes da comunidade. As equações de Margalef (1958) e de Menhinick (1964) assumem uma ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ �� ������� ��� ���� !���" #$� %% relação entre o número de espécies (S) e o número total de indivíduos (n) (Quadro 1). Uma maneira de se assegurar que essa relação seja mantida é se trabalhar com amostras de tamanho igual, ou se trabalhar com o procedimento de rarefação, pelo qual se compara o número de espécies observadas com aquele calculado por um modelo computacional (Hurlbert, 1971). Esse procedimento tem sido utilizado no estudo de comunidades microbianas (Mills & Wassel, 1980). O outro componente dos índices de diversidade de espécies, a eqüitabilidade de espécies, corresponde à distribuição de indivíduos dentro do que são consideradas populações (ni) (Quadro 6). Quadro 6. Riqueza, eqüitabilidade e índices de diversidade de espécies S = número total de espécies na comunidade; ni = número de indivíduos na i-ésima popu- lação; n = número total de indivíduos na comunidade. Riqueza RMargalef RMenhinick Eqüitabilidade IHillmod Diversidade )ln(/1 nS −= nS /= SHI Pielou ln/'= SeI HSheldon / '= S e I H Heip 1' −= ' /1 HHill e I λ= 1 1/1 ' − −= He λ ∑ − − == )1( )1( nn nn SD iiSimpson λ ∑ == n n n n SHD iiShannon ln' − − == ∑− )1( )1( 1 /11 nn nn D ii Hill λ ' 2 H Hill eD =− % ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% O índice de eqüitabilidade mais amplamente utilizado é a razão do índice de Shannon (Shannon & Weaver, 1949). O valor máximo de H’ é alcançado quando somente um indivíduo ocupa o que se considera como espécie ou população (Pielou, 1977). Outras equações para determinação da eqüitabilidade têm sido propostas (Heip, 1974; Sheldon, 1969), mas possuem a desvantagem de serem fortemente influenciadas pela riqueza da amostra (Kennedy & Smith, 1995). A equação de Hill para cálculo da eqüitabilidade (Hill, 1973) representa a razão entre os dois índices de diversidade de Hill. O valor se aproxima da unidade em situações em que uma espécie é dominante. A equação modificada de Hill (Hillmod) difere da anterior na medida em que, quando pequeno número de espécies domina a comunidade, o valor aproxima-se de zero. As duas equações propostas por Hill são as que menos influência sofrem da riqueza de espécies componentes da comunidade. Os índices de diversidade, por representarem um valor numérico único resultante de dois componentes, riqueza e eqüitabilidade de espécies, devem ser analisados com cautela ao serem usados para comparar duas ou mais comunidades. Assim, duas comunidades com igual índice de diversidade podem ser bastante diferentes quanto aos dois componentes da diversidade, podendo uma delas apresentar alta riqueza e baixa eqüitabilidade e a outra baixa riqueza e alta eqüitabilidade. É fundamental que em trabalhos dessa natureza sejam consideradas essas três informações: riqueza, eqüitabilidade e diversidade. O índice de diversidade de Simpson (1949) foi o primeiro a ser utilizado em trabalhos de ecologia. Esse índice considera a probabilidade de dois indivíduos pertencerem à mesma espécie; no caso dessa probabilidade ser alta, a diversidade é baixa. O índice de Shannon-Weaver (1949) baseia- se na incerteza de se predizer a qual espécie um indivíduo deverá pertencer. É o índice de diversidade mais amplamente utilizado. Contudo, é sensível ao tamanho das amostras, especialmente quando se trabalha com amostras pequenas, e não considera espécies mais raras na comunidade (DeJong, 1975). Hill (1973) desenvolveu algumas equações de índices de diversidade que também são pouco sensíveis a espécies pouco abundantes, ou raras (Quadro 6). A primeira delas (Hill-1) utiliza o logaritmo natural do índice de Shannon-Weaver e reflete o número de espécies abundantes. A segunda equação de Hill (Hill-2) é o inverso da equação de Simpson, a qual considera as espécies mais dominantes. Uma das principais dificuldades de aplicar os índices de diversidade ao estudo de comunidades microbianas refere-se à necessidade de recuperar ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ � ������� ��� ���� !���" #$� %% os indivíduos das diferentes populações em meios de cultura, a fim de que as características fenotípicas possam ser potencializadas pelo aumento do número de células, permitindo a identificação. No entanto, os microrganismos são muito diversos e procedimentos favoráveis à recuperação de algumas populações são inapropriados para outras (Atlas & Bartha, 1997). Por exemplo, a incubação de amostras na presença de oxigênio impossibilita a detecção de anaeróbios estritos. A presença de compostos orgânicos no meio de isolamento favorece o crescimento de microrganismos heterotróficos mais competitivos, mas dificulta a observação dos autotróficos ou dos heterotróficos de crescimento mais lento, ou fastidiosos. É importanteque se considere a grande diversidade de micro- habitats presentes em solos. As combinações de fatores que influenciam a composição de espécies microbianas são incomensuráveis e jamais será possível reproduzi-las integralmente nos estudos que visam ao estudo da diversidade microbiana nesse tipo de ambiente. Estudos que se propõem a inventariar a diversidade microbiana utilizam princípios muito diversos, os quais dependem do sistema a ser estudado e do tipo de informação que se deseja obter. O estudo da diversidade microbiana, especialmente do solo, apresenta problemas específicos, relacionados à dimensão microbiana e à variabilidade da matriz que constitui seu habitat. Determinantes fundamentais da diversidade biológica têm sido extensivamente pesquisados em ecossistemas aquáticos e na porção terrestre acima da superfície (Giller et al., 1997; Trevors, 1998), mas são fundamentalmente desconhecidos para as comunidades microbianas do solo. Ao contrário dos estudos com comunidades de plantas e de animais, não se tem conseguido efetuar um inventário da diversidade microbiana sem os erros e vícios associados aos métodos bioquímicos, moleculares e os dependentes do isolamento e cultivo de populações individuais (Zak et al., 1994; Trevors, 1998). Além disso, a compreensão da diversidade funcional das comunidades microbianas a partir das informações acerca de sua estrutura não tem sido possível (Giller et al., 1997; Degens, 1999), ao contrário do que ocorre com organismos superiores (Körner, 1993; Gitay & Noble, 1997). Essa limitação decorre principalmente do fato de que muitas populações microbianas podem estar presentes no solo sem estarem necessariamente num estado metabolicamente ativo (Meikle et al., 1995; Trevors, 1998). Recentemente, avanços impor tantes têm sido obt idos no desenvolvimento de métodos direcionados ao estudo de comunidades microbianas do solo. Os principais trabalhos avaliam a diversidade ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% microbiana por meio do estudo dos perfis de ácidos graxos (Vestal & White, 1989; Tunlid & White, 1992; Frostegård et al., 1996) ou da heterogeneidade do DNA (Torsvik et al., 1990; Ritz & Griffiths, 1994; Tiedje et al., 1999) extraído de amostras de solo. Os principais processos microbianos ligados ao funcionamento dos ecossistemas terrestres resultam de crescimento e morte microbianos, ou da atividade de enzimas presentes na matriz do solo. Uma vez determinada a magnitude desses processos-chave, os métodos de estudos da composição da comunidade podem ser empregados ao longo do tempo e espaço para se compreender a ligação das populações com os processos fundamentais (Tiedje et al., 1999). Dada a fragilidade dos métodos baseados no cultivo de microrganismos para fins de estudo da diversidade microbiana dos solos, o desenvolvimento de técnicas moleculares tem sido de fundamental importância para se resolver a estrutura das comunidades microbianas do solo. Muitos desses novos métodos têm possibilitado estudar não só características funcionais, mas também a própria diversidade genética. A diversidade genética de uma comunidade microbiana pode ser avaliada pela determinação da heterogeneidade do DNA extraído do ambiente. O DNA, obtido das populações presentes, representa o conjunto de informações genéticas daquela comunidade. A forma mais usual de obter amostras de DNA da comunidade é proceder à lise direta das células, ou após a separação das células da matriz que compõe o habitat das populações (Ogram et al., 1988; Fuhrman et al., 1988; Krsek & Wellington, 1999; Tiedje et al., 1999; Pennanen et al., 2001). O DNA extraído passa por vár ias etapas de puri f icação, que envolvem o uso de polivinilpolipirrolidona para remoção do material húmico, precipitação, cromatografia em coluna ou ultracentrifugação em gradiente de cloreto de césio. Recentemente, algumas firmas têm comercializado kits para purificação de DNA do solo de alta qualidade (pronto para reação da polimerase em cadeia (PCR)) em menos de 30 min, permitindo a obtenção de DNA genômico de bactérias, fungos, plantas e animais do solo. Uma outra vantagem desse sistema de extração é que não se trabalha com solventes tóxicos, como fenol ou clorofórmio. O DNA resultante varia entre 6 e 25 kb, podendo-se obter, para uma só amostra de solo, entre 1 e 50 µg de DNA, dependendo do material e do número de microrganismos na amostra. Após a extração e purificação, as amostras de DNA podem ser analisadas por diversos processos, visando determinar o perfil genético das comunidades microbianas. Alguns dos principais métodos empregados ���������� �� � ����� � ����� �������� ���� ���������� �� ������������ ) ������� ��� ���� !���" #$� %% no estudo da diversidade genética das comunidades microbianas do solo são descritos a seguir. Adicionalmente, métodos atualmente utilizados no estudo da diversidade funcional ou metabólica das comunidades microbianas do solo são também brevemente abordados. Taxa de reassociação do DNA Um dos métodos de estudo da diversidade de comunidades microbianas emprega o aumento da temperatura, que leva à separação das cadeias de DNA, seguido do resfriamento e do acompanhamento da taxa de reassociação da amostra a 260 nm. A taxa de reassociação do DNA é uma medida de sua heterogeneidade (Wetmur & Davidson, 1968; Britten et al., 1974). Quanto maior a similaridade do DNA da amostra, menor é a diversidade e mais rápida é a reassociação. A concentração inicial de DNA na alíquota submetida ao aquecimento, multiplicada pelo tempo necessário para que metade das moléculas volte a se reassociar, constitui um índice denominado Cot½, o qual é usado para se determinar a heterogeneidade do DNA de uma comunidade. Com base nesse valor determinado para uma comunidade desconhecida e em um valor médio de Cot½ determinado para bactérias conhecidas, pode-se estimar o número de genomas diferentes na amostra. Torswik et al. (1990) empregaram esse método para estudar a diversidade do DNA extraído diretamente de amostras de solo. O valor de Cot½ do DNA representativo da comunidade bacteriana total foi de aproximadamente 4.600, o que equivale a cerca de 4.000 genomas diferentes (Figura 3). Esse número foi cerca de 200 vezes superior ao obtido pelo processo de cultivo, indicando que a maioria das populações presentes no solo, ou seja, cerca de 99 %, não se mostrou capaz de crescer nas condições de cultivo utilizadas, sendo justamente essas as que mais contribuem com a diversidade. Esse foi um dos trabalhos pioneiros a enfatizar a fragilidade das técnicas dependentes do cultivo de microrganismos para estudos de diversidade microbiana no solo. Análise do conteúdo de guanina mais citosina A análise de distribuição do conteúdo de Guanina mais Citosina (G + C) é empregada quando se deseja apenas uma análise mais grosseira do perfil da comunidade microbiana. A técnica se baseia no fato de que o conteúdo de G + C do DNA de procariotos varia entre 24 e 76 % e que grupos taxonômicos específicos abrangem microrganismos cujo conteúdo * ���� ������ & ���� �'��� ������� ��� ���� !���" #$� %% Figura 3. Reassociação do DNA de uma comunidade bacteriana do solo (gráfico Cot). A reassociação do DNA de Escherichia coli foi incluída para comparação. A abscissa fornece o log da concentração inicial de DNA fita única (mol L-1 de nucleotídeos) multiplicada pelo tempo em segundos. A ordenada fornece a porcentagem de reassociação do DNA. de G + C varia menos que 3-5 % (Goodfellow & O’Donnell, 1993; Vandamme et al., 1996). Geralmente, as técnicas empregadas em microbiologia possuem uma resolução de média a fina, no sentido de que geralmente trabalham em nível de gênero e de espécie ou isolado. Segundo Tiedje et al. (1999), uma técnica que possibilite um nível de resolução mais grosseiro é de grande utilidade prática, especialmente para análises de comunidades. Outras vantagens do método são que ele se presta a todo o DNA extraído do solo, não sofre as
Compartilhar