Prévia do material em texto
Fernanda Aparecida Oliveira Rodrigues Silva Elementos para construção das especificidades na formação do educador da EJA Tese de Doutoramento apresentada à Banca Examinadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Educação. Orientador: Prof. Dr. Leôncio José Gomes Soares Belo Horizonte 2013 Fernanda Aparecida Oliveira Rodrigues Silva Elementos para a construção das especificidades na formação do educador da EJA Tese de Doutoramento apresentada à Banca Examinadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Educação. Belo Horizonte, 2013. Prof. Dr. Leôncio José Gomes Soares (Orientador) – UFMG Prof. Dra. Célia Maria Fernandes Nunes – UFOP Prof. Dr. Geraldo Magela Pereira Leão – UFMG Prof. Dr. Jorge Jeria – Northern Illinois University (NIU) Prof. Dra. Lúcia Helena Alvarez Leite – UFMG Prof. Dr. Timothy Denis Ireland – UFPB Prof. Dra. Maria da Conceição Ferreira dos Reis Fonseca – UFMG (Suplente) Prof. Dra. Rosa Cristina Porcaro – UFV (Suplente) À minha mãe Mary, em memória. Ao meu pai Fernando Ao Manoel Murilo, às meninas e aos meninos A todos os educadores que se dedicam à Educação de Jovens e Adultos Aos estudantes da EJA, princípio deste estudo. iv AGRADECIMENTOS. “Umuntu Ngumuntu Ngabantu” “I am because you are, and you are because we are” Um trabalho de quatros anos resulta em muitos a agradecer: aos daqui e de além mar que nos ajudaram. A Krsna pelo controle de tudo a cada amanhecer. A S. S. Dhanvantari Swami pelos oportunos ensinamentos. Ao Prof. Dr. Leôncio José Gomes Soares – Léo, pela orientação criteriosa e presente, pelo incentivo acadêmico e profissional constantes e, sobretudo, pela amizade. À Prof. Dra. Célia Maria Fernandes Nunes e ao Prof. Dr. Geraldo Magela Leão pelas sugestões preciosas e críticas pertinentes que em muito ajudaram na reorientação da pesquisa por ocasião da banca do Exame de Qualificação. À Edna Magalhães e à Maria da Conceição F. R. Fonseca (PROEF-‐2), ao Geraldo Leão (UFMG), à Ana Paula Pedroso (UFMG), ao Fabrício Valentim da Silva (UFAM), à Leila Maria da Silva (Projeto Paranoá) pelo debate sobre os Projetos durante o Seminário de Intercâmbio entre Propostas de EJA. À Equipe de Pesquisa: Ana Rosa Venâncio, Clarice Wilken, Ariane Sampaio, Nayara Heidenreich, Márcia Silva, Aline Costa, Priscila e Rafaela Soares, pela qualidade do material produzido nas duas pesquisas que analisamos. À Rafaela pela disponibilidade constante. À Rose, à Daniela e ao Ernane pelo trabalho nos bastidores do Programa de Pós-‐Graduação da FAE/UFMG. Aos colegas da disciplina Estudos e Pesquisas em EJA pelo aprofundamento nos estudos e pesquisas em EJA que resultou em livro. À Sandra Meira e Rosa Porcaro pela construção coletiva do tema formação e pela amizade sincera. Ao coletivo do Fórum Mineiro pelos debates esclarecedores em torno da EJA. Aos educadores de jovens e adultos do Cacuaco pela acolhida e disposição ao debate sobre educação. Aos jovens educadores do Dom Bosco de Sambizanga, pela disposição às oficinas de elaboração de material educativo. À Justina Maria João, ao Domingos Vicente e Alfredo Bomba por me ajudarem a trilhar os caminhos na EJA luandense. Ao plantão-‐tese: à Iza Silva pelo cuidado, pelo critério e pela sensibilidade na leitura, à Jasmim Silva e Manu Silva pelo “tudo” da organização da tese e à Jasoda Silva pela visão estética e harmoniosa do trabalho. À Rita Diniz pela atenção aos gráficos. À Anna Carolina e ao Anderson pela ajuda com as línguas estrangeiras. Ao Mané Murilo, Josué, Jan, Diego e Hari pela oferta de cuidado, carinho e companheirismo constantes. À Leide, Fernanda, Jasmim, Jasoda e Manoela pela força amorosa e confiante. À Maria Clara, Elisheva, Estter e Thomás por me fazerem renovar o gosto de viver. Aos irmãos e às irmãs pela torcida!!! A todas e todos que direta ou indiretamente nos ajudaram a chegar ao final, nosso muito obrigada! v RESUMO. Elementos para a construção das especificidades na formação do educador da EJA O estudo visou atingir a discussão sobre as especificidades da formação do educador da educação de jovens e adultos. Foram estudados quatro Projetos de educação de jovens e adultos – Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos da UFMG (PROEF II/CP/FAE/UFMG), Projeto Paranoá (UnB/DF), Centro Municipal de Educação do Trabalhador Paulo Freire (Prefeitura Municipal de Porto Alegre/RS) e Projeto Escola Zé Peão (UFPB/SINTRICOM). A investigação, de abordagem qualitativa, utilizou e ampliou um banco de dados produzido em duas pesquisas anteriores sobre a temática e fez uma revisão bibliográfica sobre as práticas de formação do educador incluindo os movimentos de educação e cultura popular. A leitura analítica do material e a interpretação do relato dos entrevistados permitem afirmar que, durante vinte anosde atividades, cada Projeto procurou e procura adotar um repertório de procedimentos formativos que atenda às suas necessidades particulares, sendo que algumas ações que se firmaram ao longo do desempenho do Projeto, ganharam certa estabilidade e se constituíram em linhas de ação sob dupla intencionalidade. Uma direcionada à construção de um conceito de educação de jovens e adultos e outra envolvendo à manutenção desse conceito. A estas linhas de ação denominou-‐se de ideias-‐força. Destacaram-‐se as seguintes ideias-‐força instituidoras: Centralidade do processo no educando; Orientação permanente do educador por grupo multidisciplinar; Contextualização histórica da EJA e do próprio Projeto; Realidade do educando como princípio pedagógico. E mantenedoras: Elaboração de instrumentos didáticos próprios; Sistematização regular do trabalho e acompanhamento constante do trabalho em sala de aula. Tendo-‐se ressaltado essas ideias-‐força, buscou-‐se fundamentá-‐las com o apoio da literatura da área da formação em geral e da educação de jovens e adultos. Dos argumentos construídos, concluiu-‐se que as ideias-‐força são elementos potenciais à construção de um conjunto de especificidades da formação do educador de EJA. Ideias-‐chave: Educação de Jovens e Adultos; Formação de Educadores; Especificidades. vi RESUMEN. Especificidades en la formación del educador de la EJA: elementos para construcción El objetivo de esto estudio es llegar a la discussión de la formación del educador de jóvenes y adultos. Fueram estudiados cuatro Proyectos de educación de jóvenes y adultos: Programa de Ensino Fundamental-‐2 (PROEF-‐2/FAE/UFMG), Proyecto Paranoá (UnB/DF), CMET Paulo Freire (POA/RS) y Proyecto Escuela Zé Peão (UFPB/SINTRICOM). La investigación, de abordagen qualitativa, usou y agrandou un conjunto de datos de dos investigaciones anteriores sobre la tematica y hizo una revisión bibliográfica sobre las prácticas de formación incluyendo los movimientos de educación y cultura popular. La lectura analítica y la interpretación del relato de los entrevistados permiten afirmar que, durante estos veinte años de actividades, cada Proyecto ha buscado y sigue buscando adoptar uno repertorio de procedimientos formativos que atendan las necesidades particulares, siendo que algunas acciones se firmaran ao largo del desarrollo del Proyecto ganaran cierta estabilidad y constituieran en líneas de acción con doble intencionalidad. Una direccionada a la construción de uno concepto de educación de jóvenes y adultos y la otra envolviendo la manutención del mismo concepto. A estas líneas de acción se usou nombrarlas de ideas-‐ fuerza. Se resaltaran las siguientes ideas-‐fuerza instituidoras: Centralidad del proceso en el educando; Orientación permanente del educador por grupo multidisciplinar; Contextualización del Proyecto y de la EJA en temporalidades históricas y Realidad del educando como principio pedagógico. Y las ideas-‐fuerza mantenedoras: Elaboración de instrumentos didácticos propios; Sistematización regular del trabajo; Acompañamiento constante del trabajo en clase. Habiendo localizado estas ideas-‐fuerza, se recogieron los fundamentos, interactuando con la literatura del área de formación y de la EJA. De los argumentos construídos concluise que las ideas-‐fuerza son elementos potenciales a la construción de las especificidades de la formación del educador de la Educación de Jóvenes y Adultos. Palavras-‐clave: Educación de Jóvenes y Adultos, formación de educadores, especificidades. vii ABSTRACT. Elements for the construction of the specificities of the training of adult educators The aim of this study is to contribute to the discussion on the specificities of the training of the educator for youth and adult education (YAE) work. Four projects of youth and adult education were studied – the Basic Education Project for Young People and Adults (PROEF II/CP) developed by the Faculty of Education of the Federal University of Minas Gerais (FAE/UFMG), the Paranoá Project run by the University of Brasília (UnB/DF), the Paulo Freire Municipal Centre for Worker Education (the Municipal government of Porto Alegre/RS) and the Zé Peão School Project developed jointly by the Federal University of Paraiba (UFPB) and the Building Workers’ Trade Union (SINTRICOM). The investigation which adopted a qualitative approach makes use of and consolidates a data bank resulting from two previous research projects on the same theme and carried out a literature review on practices of teacher training including movements of popular education and culture. Our analytical reading of the material and interpretation of the interviews allow us to affirm that during twenty years of activities each project sought and seeks to adopt a repertoire of training procedures which meets their specific needs, some of which have taken root during the Project’s trajectory and have achieved certain stability and constitute lines of action with a double intentionality. One is directed at the construction of a concept of youth and adult education and the other involved the maintenance of this same concept. These lines of action are what we call key-‐ideas.We highlight the following founding key-‐ideas: process centralized on the student; permanent orientation of the educator by a multidisciplinary group; historical contextualization of YAE and the project itself; and reality of the student as a pedagogical principle. And maintaining principles: elaboration of their own didactical tools; regular systematization and constant accompaniment of the work in the classroom. Having emphasized these key-‐ideas, we sought to substantiate them with the support of the literature from the general field of training and that of youth and adult education. From the arguments elaborated we conclude that the key-‐ideas are potential elements for the construction of a set of specificities for the training of the educator for YAE. Key ideas: Youth and Adult Education; teacher training; specificities. viii SIGLAS. ALFASOL -‐ Programa Alfabetização Solidária ANPEd -‐ Associação Nacional de Pesquisa em Educação APL -‐ Alfabetização na Primeira Laje CAFOD -‐ Catholic Fund for Overseas Development CCEN -‐ Centro de Ciências Exatas e da Natureza CCHLA -‐ Centro de Ciências Humanas Letras e Artes CCS -‐ Centro de Ciências da Saúde CCSA -‐ Centro de Ciências Sociais Aplicadas CE -‐ Centro de Educação CE/UFPB -‐ Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba CEA -‐ Cursos Elementares para Adultos CEAA -‐ Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos Analfabetos CEB -‐ Câmera de Educação Básica CEDAC -‐ Centro de Ação Comunitária/RJ CEDEP -‐ Centro de Desenvolvimento do Paranoá CEDU-‐NEPEAL – Centro de educação -‐ Núcleo de Estudos, Experiências e Pesquisas Educacionais de Alagoas CEFET -‐ Centro Federal de Educação Tecnológica CIEP -‐ Centro Integrado de Educação Popular CMEJA -‐ Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos CMET -‐ Centro Municipal de Educação do Trabalhador CNBB -‐ Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNE -‐ Conselho Nacional de Educação CNPq -‐ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CONFAPEA -‐ Confederação de Federações e Associações de Participantes em Educação e Cultura Democrática de Pessoas Adultas CP/UFMG -‐ Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais CPI -‐ Comissão Parlamentar de Inquérito CTA -‐ Cursos Técnicos para Adultos CUT-‐ Central Unica dos Trabalhadores DCI -‐ Departamento de Ciência da Informação DECOM -‐ Departamento de Comunicação DEEDU/UFOP -‐ Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto DM -‐ Departamento de Matemática DME -‐ Departamento de Metodologia da Educação DN -‐ Departamento de Nutrição EAD -‐ Educação à distância EJA -‐ Educação de Jovens e Adultos EMA – Construtora HEMA ENEJA -‐ Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos FACED/UFRGS -‐ Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul FACI -‐ Federação das Associações Comunitárias de Ibirité FECILCAM -‐ Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão ix FAE -‐ Faculdade de Educação FAPEMIG -‐ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAT -‐ Fundo de Amparo ao Trabalhador FEDF -‐ Fundação Educacional do Distrito Federal FEMUPOP -‐ Festival de Música do Paranoá FNDE -‐ Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FURG -‐ Fundação Universidade Federal do Rio Grande GAJA -‐ Grupo de Alfabetização de Jovens e Adultos GENPEX/UnB -‐ Grupo de Ensino-‐Pesquisa -‐ Extensão em Educação Popular e Estudos Filosóficos e Históricos – Culturais da Universidade Federal de Brasília GEPESI -‐ Grupo de Estudo e Pesquisa nas Séries Iniciais INCRA/GO -‐ Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária de Goiás IES -‐ Institutos de Educação Superior INEP -‐ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INIVALI -‐ Universidade do Vale do Itajaí INSS -‐ Instituto Nacional do Seguro Social LDB -‐ Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LELIC/UFRGS -‐ Laboratório de Estudos em Linguagem, Interação e Cognição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul LIBRAS -‐ Língua Brasileira de Sinais MEC -‐ Ministério da Educação MEB -‐ Movimento de Educação de Base MOBRAL -‐ Movimento Brasileiro de Alfabetização MPO -‐ Movimento Popular Organizado MST -‐ Trabalhadores Sem Terra NEJA -‐ Núcleo de Educação de Jovens e Adultos da UFMG NEP Paulo Freire -‐ Núcleo de Educação Popular Paulo Freire NEPE -‐ Núcleo de Estudos, Experiências e Pesquisas Educacionais NEPEJA -‐ Núcleo de Estudos e Pesquisas em EJA NOVACAP -‐ Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil ONG-‐ Organização não governamental ONGD -‐ Organización No Gubernamental para el Desarrollo OP -‐ Orçamento Participativo OXFAM -‐ Oxford Committee for Famine Relief PAS -‐ Programa Alfabetização Solidária PBA -‐ Programa Brasil Alfabetizado PEMJA -‐ Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos PEZP – Projeto Escola Zé Peão PMPA -‐ Prefeitura Municipal de Porto Alegre POA – Porto Alegre PRAC/UFPB -‐ Pró-‐Reitoria de Assuntos Comunitários da Universidade Federal da Paraíba PRAJAC -‐ Projeto de Aprendizagem para Jovens e Adultos PROEF -‐ Projeto Supletivo do Centro Pedagógico PROEF-‐1 -‐ Projeto de Ensino Fundamental-‐1 PROEF-‐2 -‐ Projeto de Ensino Fundamental-‐2 PROEJA – Programa de Integração da EducaçãoProfissional à Educação Básica na Modalidade de EJA x PROEJAPI -‐ Projeto de Educação de Jovens e Adultos nos Assentamentos de Reforma Agrária do Piauí PROEX -‐ Pró-‐Reitora de Extensão (UFMG) PROEXT -‐ Secretaria de Ensino Superior PRONERA -‐ Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária PT -‐ Partido dos Trabalhadores PUCRS -‐ Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul RCPE -‐ Reflexões Coletivas da Prática Educativa RH – Recursos Humanos RME -‐ Rede Municipal de Ensino SAPE -‐ Serviço de Apoio à Pesquisa Educacional SEA -‐ Serviço de Educação de Adultos SECAD -‐ Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SEE -‐ Secretaria Estadual de Educação SEEC -‐ Secretaria de Estado de Educação e Cultura SEJA -‐ Serviço de Educação de Jovens e Adultos SME -‐ Secretaria Municipal de Educação SINE -‐ Sistema Nacional de Emprego SINTRICOM -‐ Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário SIR -‐ Sala de Integração de Recursos SIR Visual -‐ Sala de Integração e Recurso Visual SIRENA -‐ Sistema Radioeducativo Nacional SETRAS/PB -‐ Secretaria de Trabalho e Ação Social da Paraíba SMED/POA -‐ Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre SOP -‐ Serviço de Orientação Pedagógica TOPA -‐ Programa “Todos Pela Alfabetização” Ts -‐ Totalidades TST -‐ Tijolo Sobre Tijolo UCG -‐ Universidade Católica de Goiás UDESC -‐ Universidade do Estado de Santa Catarina UEA -‐ Universidade do Estado do Amazonas UEFS -‐ Universidade Estadual de Feira de Santana UEL -‐ Universidade Estadual de Londrina UEM -‐ Universidade Estadual de Maringá UEMG -‐ Universidade Estadual de Minas Gerais UEPA -‐ Universidade do Estado do Pará UEPG -‐ Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPI -‐ Universidade Estadual do Piauí UERJ -‐ Universidade Estadual do Rio de Janeiro UESC -‐ Universidade Estadual de Santa Cruz UFAL -‐ Universidade Federal de Alagoas UFAM -‐ Universidade Federal do Amazonas UFBA -‐ Universidade Federal da Bahia UFC -‐ Universidade Federal do Ceará UFCG -‐ Universidade Federal de Campina Grande UFES -‐ Universidade Federal do Espírito Santo UFF -‐ Universidade Federal Fluminense xi UFG -‐ Universidade Federal de Goiás UFJF -‐ Universidade Federal de Juiz de Fora UFMA -‐ Universidade Federal do Maranhão UFMG -‐ Universidade Federal de Minas Gerais UFOP -‐ Universidade Federal de Ouro Preto UFPA -‐ Universidade Federal do Pará UFPB -‐ Universidade Federal da Paraíba UFPE -‐ Universidade Federal de Pernambuco UFPI -‐ Universidade Federal do Piauí UFPR -‐ Universidade Federal do Paraná UFRB -‐ Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRGS -‐ Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ -‐ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRN -‐ Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRPE -‐ Universidade Federal Rural do Pernambuco UFSCAR -‐ Universidade Federal de São Carlos UFSJ -‐ Universidade Federal de São João del-‐Rei UFSM -‐ Universidade Federal de Santa Maria UFTPR -‐ Universidade Tecnológica Federal do Paraná UFU -‐ Universidade Federal de Uberlândia UFV -‐ Universidade Federal de Viçosa UnB -‐ Universidade de Brasília UNEAL -‐ Universidade Estadual do Alagoas UNEB -‐ Universidade Estadual da Bahia UNEMAT -‐ Universidade Estadual do Mato Grosso UNESCO -‐ Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNESP -‐ Universidade Estadual Paulista UNI-‐BH – Centro Universitário de Belo Horizonte UNIFESP -‐ Universidade Federal de São Paulo UNIJUI -‐ Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIMONTES -‐ Universidade Estadual de Montes Claros UNIOESTE -‐ Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia UNIRIO -‐ Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNITINS -‐ Fundação Universidade de Tocantins USP -‐ Universidade de São Paulo UTPR -‐ Universidade Tecnológica do Paraná UVA -‐ Universidade Estadual Vale do Acaraú VV -‐ Varanda Vídeo xii ILUSTRAÇÕES. FIGURA 1: FEIRA DE CULTURA E FORMAÇÃO DE EDUCADORES ........................................................... 62 FIGURA 2: PROJETO PARANOÁ – SALA DE AULA NO CEDEP ................................................................. 81 FIGURA 3: CMET PAULO FREIRE – SALA DE AULA E FACHADA DO PRÉDIO ATUAL ............................... 96 FIGURA 4: LIVRO PALAVRA DE TRABALHADOR 5 ................................................................................ 118 FIGURA 5: SALA DE AULA DO PROJETO ESCOLA ZÉ PEÃO ................................................................... 125 FIGURA 6: BENEDITO: UM HOMEM DA CONSTRUÇÃO (A) ................................................................. 143 FIGURA 6: BENEDITO: UM HOMEM DA CONSTRUÇÃO (B) ................................................................. 144 FIGURA 7: LIVRO DE LEITURA PARA ADULTOS -‐ MCP ......................................................................... 232 FIGURA 8: CAMPANHA DE PÉ NO CHÃO – LIVRO DE LEITURA “DE PÉ NO CHÃO” .............................. 233 FIGURA 9: CPC/GOIÁS ......................................................................................................................... 233 FIGURA 10: CPC/BH – UMA FAMÍLIA OPERÁRIA ................................................................................. 234 FIGURA 11: MEB – VIVER É LUTAR ...................................................................................................... 234 FIGURA 12: LIÇÃO 1 DO GUIA DE LEITURA .........................................................................................347 FIGURA 13: LIÇÃO DA PALAVRA CHAVE NAVIO .................................................................................. 349 FIGURA 14: HISTORIETA ...................................................................................................................... 349 FIGURA 15: GUIA DE LEITURA ............................................................................................................. 350 FIGURA 16: LISTA DE DESPESAS .......................................................................................................... 352 FIGURA 17: RADIOCARTILHA .............................................................................................................. 353 FIGURA 18: SEDE DO CENTRO DE TREINAMENTO PARA PROFESSORES RURAIS DE LEOPOLDINA.....362 FIGURA 19: PROFESSORES RURAIS, EM JÚLIO DE CASTILHOS, FREQUENTAM CURSOS DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA ....................................................................................................................................... 362 GRÁFICO 1: DEMONSTRATIVO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS ........................................................... 41 GRÁFICO 2: ESCOLARIDADE DE EDUCADOR E COORDENADOR POR PROJETOS ................................... 42 GRÁFICO 3: ESCOLARIDADE GERAL DE EDUCADOR E COORDENADOR ................................................ 42 GRÁFICO 4: COMPARATIVO GERAL DE GÊNERO ................................................................................... 42 QUADRO 1: INSTITUIÇÕES IES QUE DESENVOLVEM PROJETOS DE EJA ................................................ 24 QUADRO 2: ORGANIZAÇÃO DO CURSO -‐ ELDORADO DOS CARAJÁS – PARÁ ....................................... 28 QUADRO 3: DADOS GERAIS DO PROEF-‐ 2 ............................................................................................. 33 QUADRO 4: DADOS GERAIS DO UNB/PARANOÁ .................................................................................. 33 QUADRO 5: DADOS GERAIS DO CMET PAULO FREIRE .......................................................................... 34 QUADRO 6: DADOS GERAIS DO UFPB/ZÉ PEÃO .................................................................................... 35 QUADRO 7: ENTREVISTAS REALIZADAS NO PROEF-‐2 ........................................................................... 37 QUADRO 8: ENTREVISTAS REALIZADAS NO PROJETO PARANOÁ ......................................................... 38 QUADRO 9: ENTREVISTAS REALIZADAS NO CMET PAULO FREIRE ........................................................ 39 QUADRO 10: ENTREVISTADOS DO PROJETO ESCOLA ZÉ PEÃO ............................................................ 40 QUADRO 11: PROGRAMAÇÃO DE VISITA AO CMET PAULO FREIRE ..................................................... 46 QUADRO 12: DEMONSTRATIVO DE CATEGORIZAÇÃO DAS FONTES ..................................................... 48 QUADRO 13: TURMAS DE EXTENSÃO ................................................................................................... 99 QUADRO 14: EQUIPE PEDAGÓGICA E CULTURAL CMET ..................................................................... 101 QUADRO 15: DISTRIBUIÇÃO DAS TURMAS POR TOTALIDADE E TURNO ............................................ 105 QUADRO 16: FONTES DE FINANCIAMENTO DO PROJETO DA ESCOLA ZÉ PIÃO .................................. 128 QUADRO 17: ESTRUTURA DO TREINAMENTO NO MEB ..................................................................... 206 QUADRO 18: OFERTA DE CURSOS DO CENTRO DE TREINAMENTO DE PROFESSORES – 1962 ........... 208 QUADRO 19: PROPOSTA DE SELEÇÃO/FORMAÇÃO -‐ PEZP ................................................................. 211 QUADRO 20: PROPOSTA ORIENTAÇÃO INICIAL -‐ PROJETO PARANOÁ ............................................... 213 QUADRO 21: PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO NOS ANOS 60 ..................................................... 231 xiii SUMÁRIO. AGRADECIMENTOS. ....................................................................................................................... IV RESUMO. ........................................................................................................................................ V RESUMEN. ..................................................................................................................................... VI ABSTRACT. .................................................................................................................................... VII SIGLAS. ........................................................................................................................................ VIII LUSTRAÇÕES. ................................................................................................................................ XII INTRODUÇÃO. ............................................................................................................................... 15 COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI. .................................................................................................................................. 15 AVANÇAMOS, POR QUÊ? ........................................................................................................................................ 19 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS OU CAMINHOS PARA CHEGARMOS ATÉ LÁ. ................................................................. 21 i. O contexto da pesquisa ............................................................................................................................ 23 ii. Critério de escolha dos Projetos ............................................................................................................... 32 iii. Os sujeitos ............................................................................................................................................... 37 iv. Instrumentos de coleta de dados ............................................................................................................ 43 v. Procedimentos de coleta ......................................................................................................................... 46 vi. Análise documental ................................................................................................................................ 47 vii. Procedimentos de análise dos dados ..................................................................................................... 49 viii Resultados .............................................................................................................................................. 51 CAPÍTULO I.APRESENTAÇÃO DOS PROJETOS ..................................................................................53 1.1 CONTEXTO BRASILEIRO DOS ANOS 80: PANO DE FUNDO DOS PROJETOS .................................................................. 53 1.2 PRIMEIRO ESTUDO: PROJETO DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL-‐2 (PROEF-‐2 /UFMG) ............................................... 61 a)Constituição do Projeto: histórias. ........................................................................................................... 61 b) Organização: proposta pedagógica. ....................................................................................................... 66 c) Atendimento: educando e currículo. ....................................................................................................... 68 d) Educadores: trajetórias. .......................................................................................................................... 71 e) Metodologia e Recursos Educativos. ....................................................................................................... 73 f) Política Suplementar. ............................................................................................................................... 74 g) Impacto do Projeto: pontos de vista. ...................................................................................................... 75 1.3 SEGUNDO ESTUDO: PROJETO PARANOÁ (UNB) / GRUPO DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – GAJA (CEDEP) ..... 77 a) Constituição do Projeto: histórias. .......................................................................................................... 77 b) Organização: proposta pedagógica. ....................................................................................................... 80 c) Atendimento: educando e currículo. ....................................................................................................... 82 d) Educadores: trajetórias. .......................................................................................................................... 87 e) Metodologia e Recursos Educativos. ....................................................................................................... 90 f) Política Suplementar. ............................................................................................................................... 92 g) Impacto do Projeto: pontos de vista. ...................................................................................................... 92 1.4 TERCEIRO ESTUDO: CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DOS TRABALHADORES PAULO FREIRE – CMET PAULO FREIRE ....... 93 a) Constituição do Projeto: histórias. .......................................................................................................... 93 b) Organização: proposta pedagógica. ..................................................................................................... 100 c) Atendimento: educando e currículo. ..................................................................................................... 107 d) Educadores: trajetórias. ........................................................................................................................ 113 e) Metodologia e recursos educativos. ...................................................................................................... 115 f) Política Suplementar. ............................................................................................................................. 118 g) Impacto do Projeto: pontos de vista. .................................................................................................... 119 1.5 QUARTO ESTUDO: PROJETO ESCOLA ZÉ PEÃO ..................................................................................................... 120 a) Constituição do Projeto: histórias. ........................................................................................................ 120 xiv b) Organização: Proposta Pedagógica. ..................................................................................................... 130 c)Atendimento: educando e currículo. ...................................................................................................... 134 d) Educadores: trajetórias. ........................................................................................................................ 137 e) Metodologia: Recursos Educativos. ....................................................................................................... 141 f) Política Suplementar. ............................................................................................................................. 145 g) Impacto do Projeto: pontos de vista. .................................................................................................... 146 CAPÍTULO II.EDUCADOR PARA A EJA ............................................................................................ 148 2. 1 POR ONDE ANDA O DEBATE ............................................................................................................................ 148 2.2 COMO SE DÁ A PREPARAÇÃO PARA ALGUÉM ATUAR COM JOVENS E ADULTOS NOS PROJETOS? ...................................... 156 2.3 ORIENTAÇÃO CONTINUADA ............................................................................................................................. 171 2.4 OLHAR DE EDUCADOR SOBRE O PROCESSO FORMATIVO ......................................................................................... 183 2.5 HORIZONTES PARA A FORMAÇÃO ...................................................................................................................... 184 CAPÍTULO III.ELEMENTOS DA FORMAÇÃO DO EDUCADOR DA EJA ............................................... 187 3.1. IDEIAS-‐FORÇA DE FORMAÇÃO NOS PROJETOS ..................................................................................................... 187 3.1.1 MOVIMENTOS DE EDUCAÇÃO E CULTURA POPULAR DOS ANOS 60 EM DOIS CONCEITOS. ........................................... 189 3.1.2 CENTRALIDADE DO PROCESSO NO EDUCANDO. ................................................................................................. 192 3.1.3 EDUCANDO E A ESCOLARIZAÇÃO. ................................................................................................................... 197 3.2 ORIENTAÇÃO PERMANENTE DO EDUCADOR POR GRUPO MULTIDISCIPLINAR. .............................................................. 202 3. 3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROJETO E DA EJA EM TEMPORALIDADES HISTÓRICAS. ........................................................ 215 3.3.1 CONTEXTO RECENTE DA EJA. ........................................................................................................................ 220 3.4 REALIDADE DO EDUCANDO COMO PRINCÍPIO PEDAGÓGICO. ...................................................................................225 3.5 ELABORAÇÃO DE INSTRUMENTOS DIDÁTICOS PRÓPRIOS. ........................................................................................ 229 3.6 SISTEMATIZAÇÃO REGULAR DO TRABALHO. ......................................................................................................... 237 3.7 ACOMPANHAMENTO CONSTANTE DO TRABALHO EM SALA DE AULA. ........................................................................ 246 CONCLUSÃO.ESPECIFICIDADES NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR DA EJA: ELEMENTOS PARA CONSTRUÇÃO .............................................................................................................................. 250 DOCUMENTOS CITADOS. ............................................................................................................. 257 AUTORES CITADOS. ..................................................................................................................... 258 ANEXO. (RE)CONSTRUÇÃO DO PROCESSO EDUCATIVO DE JOVENS E ADULTOS UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................... 273 1.1. JOVENS E ADULTOS EM PROCESSOS EDUCATIVOS DE TEMPOS COLONIAIS .......................................................... 279 1.2. JOVENS E ADULTOS EM PROCESSOS EDUCATIVOS DE TEMPOS IMPERIAIS ........................................................... 285 1.3. ADULTOS EM PROCESSOS EDUCATIVOS DE TEMPOS REPUBLICANOS (1889 – 1960) ........................................... 319 DOCUMENTOS CITADOS. ............................................................................................................. 364 AUTORES CITADOS. ..................................................................................................................... 365 15 INTRODUÇÃO. I Como chegamos até aqui. Responder como chegamos até aqui significa uma oportunidade de pensarmos nossa inserção na área de Educação de Jovens e Adultos (EJA)1. Sem dúvida se deu por um caminho com três vias: a pessoal, a acadêmica e a profissional que se mesclaram e foram constituindo nossas referências, nossas marcas identitárias. A Pedagogia traçou o primeiro caminho em direção a EJA das redes de ensino2. Nesta experiência convivemos com educadoras e educandos jovens3 da periferia de uma cidade fluminense. A primeira constatação foi a origem popular dos educandos e, a segunda, a trajetória truncada de escolarização após várias reprovações na antiga 1a série do Ensino Fundamental, correspondente a alfabetização. Apesar das reprovações eles retornavam no ano seguinte. Uma das justificativas pelo retorno aponta que a “escola é, um dos poucos caminhos ainda vislumbrados pelos jovens pobres como possibilidade, ainda que remota, de realizar seus projetos de vida”.4 A base alfabética parecia ser o ‘ritual de passagem’ a projetos maiores, mas eles não a tinham construído. Precisamos reinventar a alfabetização na perspectiva do letramento e no acompanhamento constante dos educadores. Leite5 participou de experiência semelhante tendo como princípio realizar um trabalho para “além da alfabetização de alunos com dificuldades”. As conclusões do trabalho de Leite coincidem com as nossas no que tange a escolha das atividades de letramento como cultura e não apenas como técnica. “É preciso criar uma conexão real entre escrita, leitura e práticas culturais” dos educando, confirma a autora, principalmente no caso dos jovens, do J 1 Apesar do assunto neste ponto ser minha vida, peço licença de tratá-‐la na primeira pessoa do plural pelo conforto de reconhecer que uma vida é sempre coletiva. 2 Durante a graduação em Pedagogia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé (Rio de Janeiro), ingressei no curso de extensão Alfabetização pelo Método Psicolinguístico oferecido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa nas Séries Iniciais (GEPESI) da Faculdade e, logo após o término passei a compor a equipe de formadores durante os anos de 1994 e 1995. Uma das atividades desenvolvidas pelo GEPESI era acompanhar o trabalho dos professores em sala de aula do Centro Integrado de Educação Popular (CIEP) e buscar com eles alternativas para a aquisição da leitura e escrita de alunos que acumulavam três, quatro e até mesmo cinco reprovações na 1ª série do Ensino Fundamental. O Grupo de Estudos entendia que, para compreender as questões que permeavam os percalços desses alunos, era necessário um trabalho maior que envolvesse, além de outros fatores, rever a formação continuada do educador. 3Usaremos a terminologia educadores pensando em abarcar educadoras e educadores, e cientes do debate em torno da questão de gênero que tem envolvido as terminologias genéricas. O mesmo será referendado para educandas e educandos. 4 Geraldo Magela Pereira Leão. Políticas de juventude e educação de jovens e adultos, 2005, p.74. 5 Lúcia Helena Alvarez Leite. Escola, cultura juvenil e alfabetização, 2005, p.207. 16 da EJA. Para Dayrell6 não se trata simplesmente de “alunos” e sim de sujeitos que estão em um “determinado tempo da vida” de uma “juventude precarizada”, completa Leão7 ou, como chama a atenção Gomes8, a “periodização da vida implica um investimento simbólico específico em um processo biológico universal”. Na época de nossa experiência os jovens e os adultos já tinham seus direitos à escolarização resguardados pela Constituição de 1988. Diferente do momento citado por Soares. Muito comum naqueles tempos de ditadura militar era a expressão ‘ocupar brechas’: uma vez que as estruturas e o funcionamento das escolas públicas se encontravam amarrados sob as orientações impostas pela Lei 5691/71de centralização e padronização, restava aos pesquisadores e educadores ‘engajados’ ocupar os espaços ‘alternativos’ possíveis de realizar experiências alternativas.9 Com a preconização do direito, pudemos dar acento a questões como as expectativas dos educandos, as propostas e a organização de projetos diferenciados na escola. O tempo da experiência não nos permitiu generalizações e, sim, a constatação de que “mudar é difícil mas é possível”10 e continuá-‐las em outro contexto11. Contexto que nos preparou para novo conjunto de desafios profissionais, um segundo caminho. Agora chegavam os adultos e os idosos12. Este caminho, é decorrente da coordenação assumida no Programa Alfabetização Solidária (PAS)13 quando professora do Departamento de Educação da Universidade Federal 6 Juarez Dayrell. A juventude, produção cultural Educação de Jovens e Adultos, 2005, p.54. 7 Geraldo Magela Pereira Leão. Políticas de juventude e educação de jovens e adultos: tecendo diálogos a partir dos sujeitos, 2005, p.70. 8 Nilma Lino Gomes. Educação de jovens e adultos e questão racial: algumas reflexões iniciais, 2005, p.88. 9 Leôncio Soares. Do direito à educação à formação do educador de jovens e adultos, 2005, p.276. 10 Paulo Freire. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, 2004, p.80. 11 Morando no Nordeste (1996-‐98) tive a oportunidade de acompanhar a formação de educadores da escola rural do Movimento Hare Krsna em Caruaru, Pernambuco. Passados dois anos em Salvador mudei-‐me para Santa Cruz de La Sierra. Lá pude vivenciar a pluralidade dessa experiência cultural e reafirmar meu interesse pela área da formação de educadores. 12 Regresso ao Brasil em 2003 e, voluntariamente, participo de atividades formativas na escola pública em Mariana, MG. Aí deparo-‐me com algumas inquietações sobre que políticas públicas, que espaços de formação, que práticas formativas e materiais pedagógicos darão conta das especificidades dos alunos jovens e adultos que estão nas salas de aula. 13 Programa Alfabetização Solidária (PAS) “foi idealizado no Programa Comunidade Solidária, que centralizava a coordenação das políticas sociais na gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1994/2002). O Programa Comunidade Solidária definia-‐se como ‘um novo modelo social baseado no princípio da parceria’. A parceria era uma forma operacional de desenvolvimento das políticas sociais do Governo Federal Fernando Henrique Cardoso regidas por duas noções centrais: a solidariedade e a descentralização. Na acepção da Comunidade Solidária, a ênfase nessas duas noções ocorreu por avaliar que ‘todos, trabalhando juntos, constituindo uma rede de parceiros, possam contribuir para construir uma comunidade mais unida e solidária que, paulatinamente, elimine a fome e a pobreza do país’ (Cf. Clarice Salete Traversini. Programa Alfabetização Solidária:o governamento de todos e de cada um, 2003, p.21). O PAS foi desenvolvido na UFOP (1997-‐2009) em parceria com a ONG de mesmo nome e com o poder público municipal de Catas Altas, Mariana, Ouro Preto e Santa Bárbara (2003-‐2009), direcionado à alfabetização de jovens e adultos”. 17 de Ouro Preto (DEEDU/UFOP)14 no período de 2005 a 2009. Reconhecendo os limites e os desafios de um Programa tutelado pelo governo e agenciado pela iniciativa privada, passamos a dedicar especial atenção à questão da formação dos educadores. Isso implicou discutir o processo formativo em larga medida com o grupo de formadores da UFOP para que mudanças imprescindíveis na configuração original do Programa acontecessem em “andaimes” progressivos até chegarmos a cursos de formação – inicial e continuada15 – centrados nos educandos. Nesta mesma instituição organizamos, via Pró-‐reitoria de Extensão, uma formação continuada junto aos educadores das Redes Municipal e Estadual de Educação de Ouro Preto (MG) durante o ano de 2008. O desafio desta formação foi construir com os educadores a entrada da EJA nos sistemas. Já se falava muito das “especificidades” da EJA, porém, sem clareza de que conjunto de qualidades se tratava. Uma dúvida era patente: haveria lugar na escola para jovens e adultos? Nos encontros mensais, era comum encontrar dificuldades de ordem teórico-‐metodológicas enfrentadas pelos educadores pouco experimentados na EJA. Percebemos nessa experiência o quanto é fundamental ampliar o debate acerca da formação do educador tanto do ponto de vista da teoria quanto da prática. Paralelamente, o cargo de coordenação da EJA/UFOP nos colocou em contato com o Fórum Mineiro de EJA, o qual também nos direcionou à temática da formação. “Os Fóruns têm desempenhado um papel político-‐pedagógico e de formação de extrema importância.”16 Consideramos esta experiência de grande relevância em nossa formação cultural-‐político-‐ pedagógica, tanto que, participamos da criação do Fórum dos Inconfidentes/UFOP de 2005 a 2009, e, recentemente, estamos no grupo de formadores populares do Fórum de EJA do Cacuaco na cidade de Luanda, Angola17. Da participação nos Fóruns resultou nosso estudo sobre os processos formativos nos Regionais Mineiros de EJA18 e, da coordenação, 14 Sobre a atuação da UFOP no Programa Alfabetização Solidária conferir Célia Nunes e Hebe Rola (2001), Fernanda A. O. Rodrigues Silva (2005 b), Célia Nunese Fernanda A. O. Rodrigues Silva (2007). 15 Estudos dedicados à formação do educador têm caracterizado a “formação inicial” como o tempo de preparação formal em uma instituição específica antecedendo à prática e, a “formação continuada” ou “em serviço” a formação após inserção no contexto de trabalho. Cf. Sofia Lerche Vieira (2002), Liana Borges (2006), Júlio Emílio Diniz-‐Pereira (2006), Fernanda A. O. Rodrigues Silva; Rosa Porcaro; Sandra Meira (2011), para citar alguns. 16 Leôncio Soares. Do direito à educação à formação do educador de jovens e adultos, 2005 17 Desde 2010 mantenho contato com este país por questões familiares. A realidade peculiar de Angola tem instigado minha participação em projetos de educação de jovens e adultos e na formação de educadores populares no Distrito de Cacuaco. (Por Distrito entenda-‐se bairro). 18 Fernanda A. O. Rodrigues Silva. Tópicas em história recente da EJA: a formação pela vivência e convivência nos Fóruns Regionais Mineiros de EJA. Dissertação de Mestrado, 2008. O estudo buscou perceber o impacto dos Fóruns na região onde acontecem; nas instituições que coordenam e nos educadores envolvidos com a organização a partir de dois Fóruns 18 vivenciamos com os formadores da EJA/UFOP a tensão entre a escolha do conhecimento mais adequados – geral e/ou específico – aos cursos de formação em nossa realidade local. Sobre esse aspecto, preocupações pela natureza dos cursos de formação do educador têm instigado estudos e pesquisas no sentido amplo da temática19. Reconhecemos nestes momentos que foram “do encontro com os sujeitos da EJA”. Desse encontro tiramos uma primeira hipótese: “O lugar que o sujeito ocupa nas propostas educativas associa-‐se com a construção das especificidades da EJA”. Se existem iniciativas que orientam suas propostas educativas pelas especificidades dos estudantes, estas estão por ser mais bem compreendidas. Possivelmente, quando a proposta de EJA atende ao “aluno incomum”20 acaba elaborando ação diferenciada. O terceiro caminho em direção a EJA aconteceu quando participamos da equipe de organização21 do I Seminário sobre Formação de Educadores de EJA22, em Belo Horizonte (2006). A base do Seminário constou de diálogos com professores23 envolvidos em atividades de EJA nos âmbitos do ensino, da extensão e da pesquisa a partir da seguinte pauta: como tem acontecido a preparação dos educadores para atuarem na EJA, quais os momentos e os espaços dessa formação, que exigências, expectativas e interesse estão colocados para esse processo de formação e quais instituições têm assumido a formação de educadores. O debate confirmou que “a educação de jovens e adultos compreende um leque amplo e heterogêneo de experiências educativas de formatos e modalidades diversos, que não correspondem necessariamente a ações de escolarização”24, ou seja, parte significativa da EJA pode estar em projetos desvinculados das redes de ensino. Aqui trabalhamos com uma segunda hipótese: “Os projetos desenvolvem modelos formativos próprios como forma de atender sua organicidade e, com isso, constroem um repertório de conteúdos específicos”. Regionais: Leste e Sudeste. O resultado apontou que os educadores consideram os Fóruns como locais de formação continuada e a Pesquisa “Fórum Mineiro de Educação de Jovens e Adultos” (2007-‐2009), coordenada por Leôncio José Gomes Soares. Participaram: Ana Rosa Venâncio, Fernanda Aparecida Rodrigues Silva, Luiz Olavo Fonseca Ferreira, Eliete dos Santos Campos. Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais. 19 Leôncio Soares (1999, 2003, 2006a;b, 2007, 2010, 2011); Tânia Maria de Melo Moura (1999, 2001, 2010); Maria Margarida Machado (2000); Abdízia Maria Barros (2003), Inês Barbosa de Oliveira (2010), Rosa Cristina Porcaro (2011), entre outros. 20 Luciene Guiraud. Concepções e saberes da educação de jovens e adultos na visão de professores dessa modalidade de ensino (1996-‐2006): histórias de docência, 2010. 21 O I Seminário contou com representantes da Faculdade de Educação das seguintes Universidades: UEMG, UFJF, UFMG, UFOP, UFSJ e UFV. 22 Em 2012 aconteceu em dezembro a 4a edição do Seminário Nacional em Brasília. 23 Usamos aqui o termo professor para distinguir do educador da EJA mencionado em todo o trabalho. 24 Leôncio Soares. As políticas de EJA e as necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos, 2001, p.201. 19 As duas hipóteses de trabalho têm nos guiado no entendimento da formação do educador da EJA. Ampliar a compreensão sobre que processos formativos os projetos oferecem e aprofundar a temática se evidenciarmos algum(ns) traço(s) ou matriz(es) que possam vir a ser entendido(s) como características da formação é o objetivo do estudo. Inferimos que, a partir da articulação entre a concepção de EJA do Projeto e o programa formativo, poderemos acrescentar ao campo, em alguma medida, dados sobre a construção de um perfil do educador da EJA e de sua formação. Observamos que o desconhecimento dessa área de atuação pode oportunizar práticas de amadores (Arroyo25) ou o uso dos saberes sociais (Tardif26) amalgamados ao cotidiano em sala de aula com outros públicos,o que tem anulado as possibilidades de a EJA receber um tratamento consoante a seu estudante. Apesar de não serem observações incomuns entre pesquisadores, elas têm sido pouco tratadas. Entre as contribuições do I Seminário sobre a natureza da EJA consta que “é preciso identificar as especificidades que delineariam o perfil do educador de jovens e adultos, a partir das quais possam ser definidas as diretrizes de sua formação, ainda em construção”. Daí o interesse em conduzir um desafio maior, qual seja, o intento de buscar aquilo que possa ser considerado como as especificidades da formação em EJA. II Avançamos, por quê? Entendemos que, para enfrentar a conjuntura, conseguir apoio institucional ou compromissos nacionais e supranacionais na formação do educador da EJA a proteção jurídica acrescenta apoio à área. Um conjunto de garantias educacionais pós 1988 se instituiu a fim de dar conta desse campo de direito, ainda que seja complexo exigi-‐lo e monitorá-‐lo. A formação do educador dentro da letra da lei está prevista no Parecer 11/200027. Com maior razão, pode-‐se dizer que o preparo de um docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de 25 Miguel Gonzalez Arroyo. Educação de jovens-‐adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública, 2005, p.19. 26 Maurice Tardif. Saberes docentes e formação profissional, 2002, p. 31. 27 Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer 11/2000, p.56. 20 ensino. [...] um docente que se nutra do geral e das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer. Leão28 deixa claro que as políticas educacionais estão longe de contemplar particularidades, pelo contrário, tendem a ser universalistas. A literatura e a legislação educacional oferecem alguns pontos de partida para se entender as especificidades, por exemplo, localizamos estudo de Soares29 que coincide com os textos legais, e, acrescenta; As especificidades do público da EJA perpassam diversos aspectos como: a diversidade de sujeitos educandos com características peculiares; a preocupação com a existência de uma infraestrutura que acolha a realidade deste público; a elaboração de propostas curriculares que vá ao encontro das necessidades, das exigências e dos interesses desses sujeitos, incluindo a flexibilidade dos tempos e espaços; a disponibilidade de recursos didáticos que atendam e desenvolvam as potencialidades desses sujeitos; as iniciativas de formação inicial e continuada de educadores; políticas compensatórias de alimentação e transporte que favoreçam a permanência dos educandos. Os aspectos citados parecem constituir o cânone especificidade, o qual tem sido usado como categoria óbvia que por si só produz sentido e entendimento diretos. É o que se percebe nos ordenamentos legais e na produção da área. O pouco aprofundamento sobre a especificidade pode estar associado ao fato de a EJA sofrer os reflexos de concepções estreitas de educação, por exemplo, da dicotomia entre educação geral e educação para o mundo do trabalho. “Em lugar de reduzir o processo educativo à mera preparação para o trabalho, podemos avançar a uma concepção mais ampla que considere as demais dimensões da educação”.30 Daí a importância de ampliarmos o cânone especificidade. Pensamos que um conjunto de categorias vem se constituindo ao longo dos tempos e que algumas se mantêm. Identificá-‐lo poderá acrescentar aos cursos de formação docente alguns subsídios. Partindo desse pressuposto intentamos mergulhar nesta questão, entendendo a importância da contribuição para que a noção [especificidade] não caia no lugar comum ou tenha seu uso esvaziado de sentido. 28 Geraldo Magela Pereira Leão. A gestão da escola noturna: ainda um desafio político, 1998 30 Leôncio Soares. As políticas de EJA e as necessidades de aprendizagem de jovens e adultos (2001, p. 205). 21 III Procedimentos Metodológicos ou Caminhos para chegarmos até lá. Neste trabalho prosseguimos o estudo que verifica se, em projetos de EJA, algumas marcas ou alguns traços sobressaem como próprios da formação de educadores desta modalidade de educação. Para tanto, proponho a envidar esforços em aprofundar na questão de como Projetos longevos vêm construindo a formação do seu educador e, se possível responder: Que contribuições trazem ao campo da EJA? O que há em comum entre eles que leve a construir e a repensar os cursos de formação de educadores em EJA? Aprofundo o debate iniciado em duas pesquisas: As especificidades na formação do educador de jovens e adultos (2008-‐2010) e O reconhecimento das especificidades da Educação de Jovens e Adultos: constituição e organização de Projetos de EJA (2011-‐2012)31. A razão de partir de um material já coletado e apresentado – em relatório de pesquisa e congressos – moveu-‐se a contemplar dois pontos. O primeiro responde ao fato de, ao estar envolvida com a pesquisa, coincido com o Grupo de Pesquisa que o corpus ainda possibilitaria boas descobertas dada a abrangência dos Projetos escolhidos. Todos sãoProjetos ativos e com experiência no campo da formação de educadores. Segundo, acataria o conselho de Fisher32 aos pesquisadores: [...] que se inspirem a produzir conhecimento científico mais lentamente, menos apressadamente. Então, isto é tudo imaginário, simbólico pra dizer que estão todos convidados a se manifestarem a respeito de uma produção mais reflexiva. Uma produção mais reflexiva, em profundidade, é a tentativa deste trabalho. Vale mencionar que não participei do trabalho de campo. Nesse sentido, parte da produção dos dados foi subtraída. Dito de outra forma: os aspectos do ambiente físico, a interação do pesquisado com o pesquisador, o caderno de campo, a observação, a possibilidade de acrescentar novas indagações ao protocolo de entrevista, a descoberta das relações que os participantes estabelecem com o projeto ganharam outra conotação. Aqui reside minha 31 Pesquisas realizadas com financiamento da FAPEMIG e do CNPq coordenadas por Leôncio Soares. Da primeira foram bolsistas de iniciação científica Ana Rosa Venâncio (FAPEMIG), Ariane Sampaio Ferreira e Clarice Wilken de Pinho (CPNq). Da segunda pesquisa fizeram parte Ana Rosa Venâncio, Aline Rodrigues da Costa, Fernanda Rodrigues Silva e Rafaela Carla Silva Soares. Daqui para frente denominamos este coletivo que participou das duas pesquisas de Equipe de Pesquisa. 32 Nilton Bueno Fisher. Por uma pedagogia dos tempos, 2008, p.1. 22 primeira perda e meu primeiro cuidado. Perda quando não participo da coleta de dados in loco e, por isso mesmo, cuidado na análise do material. Se há algum ganho, este será o benefício do distanciamento, do estranhamento esperado em pesquisas qualitativas. Uma maneira de minimizar as perdas foi participar das reuniões do Grupo de Pesquisa, com maior frequência nos encontros da segunda33. Os encontros aconteciam a cada retorno de visita a um Projeto e foram realizados durante as duas pesquisas. Ali entravam em jogo o olhar, a percepção, o entendimento, as tensões, ou seja, o entrosamento das pesquisadoras com o ambiente do Projeto visitado. À reunião ampliada da Equipe de Pesquisa em 16 de agosto de 2012 compareceu uma bolsista envolvida nas duas pesquisas. Essa reunião, diferentemente das demais, possibilitou alguma comparação dos dados novos com os anteriores nos quesitos sustentabilidade, rotatividade dos educadores, espaço físico e tempos de formação, sobretudo. Minhas questões apareciam nestes momentos. Dois outros eventos contribuíram na percepção dos Projetos: o Seminário de Alfabetização de Trabalhadores da Construção Civil: 20 anos do Projeto Escola Zé Peão ocorrido nos dias 6 e 7 de dezembro de 2011 na Universidade Federal da Paraíba e, o Seminário de Intercâmbio entre Propostas de EJA realizado nos dias 17 e 18 de maio de 2012 na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Do primeiro resultou avaliação do trabalho do Projeto Escola Zé Peão sob o olhar dos pesquisadores em EJA Professores Doutores Osmar Fávero e Leôncio Soares34, dos parceiros no projeto (UFPB e Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário – SINTRICOM), dos coordenadores, dos docentes e dos discentes atuais e anteriores. O segundo, evento ímpar na área da pesquisa, convidou um representante de cada projeto estudado – CMET Paulo Freire (RS), Projeto Paranoá (UNB/DF), Projeto Escola Zé Peão (UFPB/SINTRICOM), Programa de Ensino Fundamental II (PROEF-‐2/FaE/UFMG) – dois mediadores do debate (Professores Doutores Osmar Fávero (UFF) e Geraldo Leão (FaE /UFMG))35, bolsistas envolvidas nas pesquisas e um professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) orientando do Prof. Osmar Fávero. Foram dois dias de debate sobre o desenvolvimento de projetos de EJA, as relações que estabelecem com a Universidade, a 33 As reuniões foram gravadas e constam da base de dados. 34 A participação no evento foi comentada no Grupo de Pesquisa. O texto faz parte do corpus desta pesquisa. 35 Os representantes do CMET, da Escola Zé Peão e da UFF não puderam comparecer. A apresentação desses Projetos ficou a cargo da Equipe de Pesquisa. 23 comunidade local e com os educadores e as estratégias para enfrentarem os desafios e tensões próprios de serem projetos, principalmente quanto ao financiamento e a continuidade. i. O contexto da pesquisa Estudo anterior revelou ser unânime na fala dos alunos participantes e egressos de cursos de Pedagogia, a importância da habilitação em EJA para sua formação e sua atuação profissional36. Esta investigação evidenciou a heterogeneidade e as particularidades das habilitações em EJA em cada uma das Instituições visitadas37 e, também, falas recorrentes sobre uma especificidade que a formação dos futuros educadores deveria atender. A análise desses relatos remeteu-‐nos à pergunta de fundo desta pesquisa: Afinal, que especificidades são essas tão citadas? Como caracterizá-‐las? Como defini-‐las? Onde buscá-‐las? Entendemos ser necessário conhecer como tem ocorrido a formação dos educadores de EJA para além da formação inicial, ou seja, englobar as atividades de extensão universitária, formaçãocontinuada e de especialização para que caminhássemos na identificação de suas particularidades e peculiaridades. Na primeira pesquisa, a Equipe de Pesquisa buscou conhecer as Instituições envolvidas com a EJA pelo acesso ao banco de dados do MEC/INEP via programa de financiamento dos projetos de extensão – PROEXT – dos anos de 2003 a 2007, resultando em uma lista de Pró-‐Reitorias de Extensão contempladas com financiamento federal. Esta lista contabilizou 100 instituições entre universidades federais, estaduais e CEFET’s, das quais foram selecionadas 98 relacionadas à área de educação. Outros caminhos foram utilizadaos por elas foram: o levantamento dos grupos de pesquisa realizado junto ao GT 18 da ANPEd, os dados dos I e II Seminários de Formação do Educador de Jovens e Adultos, dos ENEJA’s de 2005, 2006, 2007 e 2008 e, do Portal dos Fóruns de EJA. Esta busca acrescentou 9 instituições a serem contatadas totalizando 107. De posse da lista estabeleceram os contatos por e-‐mail e por telefone junto aos coordenadores dos projetos, dos colegiados de 36 Projeto de Pesquisa “As especificidades na formação do educador de jovens e adultos” (2008, p.2.) referente a pesquisa iniciada em 2005. 37 O levantamento de 2005 apontou que 15 IES ofertavam curso de Pedagogia com habilitação em EJA. Foram selecionados três cursos: da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para o estudo de caso. 24 graduação ou pós-‐graduação, às secretarias dos Institutos de Educação Superior (IES), aos núcleos ou grupos de pesquisa na tentativa de conseguir um contato de um(a) professor(a) que estivesse envolvido com algum projeto/programa de formação de educadores de EJA quer no campo da extensão universitária, da formação continuada ou da especialização. O interesse daquela pesquisa seria ter acesso a documentos tais como projetos, relatórios ou ementas das atividades desenvolvidas. Segundo avaliação da Equipe de Pesquisa, o processo se fez mais lento do que o esperado em função, ora da resposta ora da necessidade de atualização de alguns contatos da lista inicial que haviam sofrido alteração e, consequentemente, a necessidade de se fazer o mesmo pedido várias vezes. Algumas respostas vieram parciais e, com isso, sabe-‐se que a IES desenvolve alguma atividade, mas não foi possível precisá-‐la. Do total de 107, a pesquisa identificou em 63 IES algum tipo de projeto de EJA. Segue abaixo a relação dessas Instituições organizadas por região do país. Quadro 1: Instituições IES que desenvolvem projetos de EJA Nº Instituição de Ensino Cidade Estado Região Norte 01 Universidade do Estado do Amazonas – UEA Manaus AM 02 Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR Porto Velho RO 03 Fundação Universidade de Tocantins – UNITINS (Estadual) Palmas TO 04 Universidade do Estado do Pará -‐ UEPA Belém PA 05 Universidade Federal do Amazonas -‐ UFAM Manaus AM Região Nordeste 06 Universidade Federal de Alagoas – UFAL Maceió/Arapiraca AL 07 Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Natal RN 08 Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Recife PE 09 Universidade Federal Rural do Pernambuco – UFRPE Recife PE 10 Universidade Federal da Bahia – UFBA Salvador BA 11 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB Cruz das Almas BA 12 Universidade Federal da Paraíba – UFPB João Pessoa PB 13 Universidade Federal de Campina Grande – UFCG Campina Grande PB 14 Universidade Federal do Ceará – UFC Fortaleza CE 15 Universidade Federal do Piauí -‐ UFPI Teresina PI 16 Universidade Federal do Maranhão – UFMA São Luiz MA 25 17 Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC Ilhéus BA 18 Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS Feira de Santana BA 19 Universidade do Estado da Bahia – UNEB Salvador BA 20 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA Sobral CE 21 Universidade Estadual do Alagoas – UNEAL Arapiraca AL 22 Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-‐BA Salvador BA 23 Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba – CEFET-‐PB João Pessoa PB Região Centro-‐Oeste 24 Universidade de Brasília – UnB Brasília DF 25 Universidade Federal de Goiás – UFG Goiânia GO 26 Universidade Estadual do Mato Grosso – UNEMAT Cáceres MT Região Sudeste 27 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Rio de Janeiro RJ 28 Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Rio de Janeiro RJ 29 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Rio de Janeiro RJ 30 Universidade Federal Fluminense – UFF Niterói RJ 31 Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP São Paulo SP 32 Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR São Carlos SP 33 Universidade Federal de Viçosa – UFV Viçosa MG 34 Universidade Federal de São João Del Rei – UFSJ São João Del Rei MG 35 Universidade Federal de Uberlândia – UFU Uberlândia MG 36 Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP Ouro Preto MG 37 Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF Juiz de Fora MG 38 Universidade Federalde Minas Gerais – UFMG Belo Horizonte MG 39 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Rio de Janeiro RJ 40 Universidade Estadual Paulista – UNESP São Paulo SP 41 Universidade de São Paulo – USP São Paulo SP 42 Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Montes Claros MG 43 Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG Belo Horizonte MG 44 Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-‐RJ Rio de Janeiro RJ 45 Centro Federal de Educação Tecnológica Campos – CEFET-‐ Campos Campos dos Goytacazes RJ 46 Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-‐MG Belo Horizonte MG 26 47 Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-‐SP São Paulo SP 48 Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-‐ES Vitória ES 49 Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-‐OP Ouro Preto MG Região Sul 50 Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Porto Alegre RS 51 Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Santa Maria RS 52 Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG Rio Grande RS 53 Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG Ponta Grossa PR 54 Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE Cascavel PR 55 Universidade Estadual de Londrina – UEL Londrina PR 56 Universidade Estadual de Maringá – UEM Maringá PR 57 Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS Porto Alegre RS 58 Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão -‐ FECILCAM Campo Mourão PR 59 Universidade do Estado de Santa Catarina – UESC Florianópolis SC 60 Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUI Ijuí RS 61 Universidade do Vale do Itajaí – INIVALI Itajaí SC 62 Centro Federal de Educação Tecnológica de BG – CEFET-‐Bento Gonçalves Bento Gonçalves RS 63 Universidade Tecnológica do Paraná – UTPR Curitiba PR Fonte: Adaptação do Relatório Técnico Científico Final de Pesquisa, 2010. Paralelamente ao contato com as Instituições a Equipe de Pesquisa procurou por publicações que apresentassem registros de atuação e/ou da formação de educadores de jovens e adultos das Instituições acima. Constataram que ainda é pequeno o número de publicações de pesquisas ou de relatórios de atividades específicas sobre a formação dos educadores para a EJA. Estudos de Diniz38 apontam que “as pesquisas sobre formação de educadores de jovens e adultos parecem ser bastante recentes no país. Parece evidente também a necessidade de mais estudos sistematizados sobre essa temática”. Pouco se conhece, em profundidade, os processos formativos desses educadores. Após análise do material recebido na forma de relatórios, projetos de extensão e descrição de atividades e 38 Júlio Emílio Diniz Pereira. 2006, p.198-‐9. 27 oferta de disciplinas, a Equipe selecionou 19 Instituições com potencial a objeto de estudo, as quais seguem listadas abaixo: 1. CEFET-‐BA -‐ Centro Federal de Educação Tecnológica: oferece Curso de Especialização em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos com objetivo de formar profissionais para atuar no PROEJA -‐ Programa de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de EJA. Desde 2006 estava sendo realizado em três unidades do CEFET-‐BA: Salvador, Barreiras e Eunápolis. 2. UNEAL -‐ Universidade Estadual de Alagoas: oferta disciplinas de EJA na formação inicial e formação continuada em parceria com o Programa Alfabetização Solidária (ALFASOL), desenvolvendo formação para alfabetizadores e acompanhamento do programa em vários municípios alagoanos. 3. UEFS -‐ Universidade Estadual de Feira de Santana: presença de disciplinas de Educação de Jovens e Adultos e Práticas Pedagógicas em Educação de Jovens e Adultos no currículo do curso de licenciatura em Pedagogia. A sua participação nos programas governamentais inclui Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), Programa Brasil Alfabetizado (PBA) e Programa “Todos Pela Alfabetização” (TOPA) do governo estadual. Oferta de formação continuada, realização da semana de EJA em 2008 que gerou a publicação do “Caderno de resumo da Semana de Educação de Jovens e Adultos: políticas públicas e realidade do Programa Brasil Alfabetizado na Bahia” e a previsão de sua realização para 2009. Desenvolvimento de Cursos de Extensão: “Curso de Extensão Estudo da Vida e Obra de Paulo Freire: implicações para a práxis pedagógica” e do Projeto de Integração Ensino e Extensão de Educação de Jovens e Adultos. Intenção de criar o Fórum EJA do Portal do Sertão. 4. UEPA -‐ Universidade do Estado do Pará: o curso de Pedagogia, no Departamento de Filosofia e Ciências Sociais, para o ano de 2007, oferece a disciplina obrigatória ao 6º Período “Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos” com carga horária de 80 horas/aula valendo 03 créditos e a disciplina eletiva “Metodologia do Trabalho Pedagógico com Adultos 28 e Idosos” de 60 horas/aula39. O Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP Paulo Freire) desenvolveu no período de 2006 a 2008 o curso de formação continuada aos educadores de EJA do município de Eldorado dos Carajás em parceriacom o Programa Alfabetização Solidária. Com carga horária prevista de 160h/aula distribuída em formações de 20h/aula durante três semestres apresenta o seguinte currículo: Quadro 2: Organização do curso -‐ Eldorado dos Carajás – Pará Período Eixos Temáticos H/A Dez. 2006 Formação inicial: a função social da EJA; Organização do trabalho pedagógico 20 Fev. 2007 A função social da EJA; Organização do trabalho pedagógico; Saberes interdisciplinares e Avaliação 20 Jun. 2007 A função social da EJA; Organização do trabalho pedagógico; Saberes interdisciplinares e Avaliação 20 Set. 2007 Organização do trabalho pedagógico; Saberes interdisciplinares e Avaliação 20 Nov. 2007 Organização do trabalho pedagógico; Saberes interdisciplinares e Avaliação 20 Fev. 2008 Organização do trabalho pedagógico; Saberes interdisciplinares e Avaliação 20 Jun. 2008 Saberes interdisciplinares 20 Set. 2008 Saberes interdisciplinares 20 Fonte: NEP Paulo Freire. Projeto Político Pedagógico: formação continuada com professores de EJA do município de Eldorado dos Carajás, 2006 5. UNITINS -‐ Fundação Universidade do Tocantins: Projeto Saberes da Terra iniciado em 1998 que já capacitou mais de 725 alfabetizadores e no ano de 2008 estava ligado ao ALFASOL. Atende professores do Tocantins: Sampaio e Paranã. Maranhão: Açailândia, Nina Rodrigues e Vargem Grande. Piauí: Anísio de Abreu, Capitão Gervásio de Oliveira, Campo Alegre do Fidalgo, Canto do Buriti, Conceição do Canindé, São José do Peixe E São João do Piauí. Pará: Água Azul do Norte, Bom Jesus do Tocantins, Curionópolis, Jacundá, Marabá, Rio Maria e Santa Maria das Barreiras. 39 Respectivas ementas: “A disciplina visa analisar os pressupostos teóricos-‐metodológicos da pesquisa na educação de pessoas jovens e adultas, realizando estudos sobre abordagens epistemológicas e experiências nesta área de conhecimento” e “A Disciplina visa refletir sobre as políticas públicas, teorias e práticas com pessoas jovens, adultas e idosas, focando o estudo para os sujeitos desta modalidade de educação, dinâmicas pedagógicas, leituras e produções de textos”. (Fonte: Departamento de Filosofia e Ciências Humanas, UFPA, 2007) 29 6. UnB -‐ Universidade de Brasília: Projeto curricular e de Extensão da UnB “Projeto Paranoá: Alfabetização e Formação de Alfabetizadores” de crianças, jovens e adultos de camadas populares que oferece enquanto curso de extensão. No início do ano como formação preliminar em educação popular de jovens e adultos e no decorrer do ano, a formação em processo ou continuada com o apoio do GENPEX (Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Popular) em parceria com o CEDEP (Centro de Cultura e Desenvolvimento Popular do Paranoá) desde 1986. 7. UFAM – Universidade Federal do Amazonas: existe há 18 anos o Núcleo de Estudos, Experiências e Pesquisas Educacionais – NEPE que também desenvolveu pesquisas e projetos de extensão na área de EJA. De 2001 a 2007 o projeto “Educação de Jovens e Adultos em áreas de Assentamento no Estado do Amazonas” junto ao PRONERA. Em 2006 realizaram o I Seminário Estadual Movimentos Sociais, Educação de Pessoas Jovens e Adultas e Emancipação. 8. UFPR – Universidade Federal do Paraná: atuação nos Fóruns, participação no programa do Estado “Paraná Alfabetizado” que surge em 2004 em parceria com o Ministério da Educação. 9. UDESC -‐ Universidade do Estado de Santa Catarina: oferece disciplina obrigatória no curso de Pedagogia com 72h/a e disciplina optativa nas Licenciaturas em História e Geografia. Um projeto de pesquisa interdepartamental com a temática “Relações de Gênero e Educação de Jovens e Adultos” e um “Projeto de Extensão de formação continuada de educadores para EJA” por meio dos programas Entrelaços do Saber compoem o campo de atuação da UDESC. A Universidade é parceira no Fórum Estadual de Educação de Jovens e Adultos. 10. UEA -‐ Universidade do Estado do Amazonas: atua no Projeto EDUCAMPO em parceria com o PRONERA além do Programa de Formação Docente – PROFORMAR que ofereceu o Curso Normal Superior em todos os municípios e o Curso de Ciência Política com ênfase em Gestão Pública, destinado aos municípios de Boca do Acre, Carauari, Coari, Eirunepé, Humaitá, Itacoatiara, Manacapuru, Manicoré, Maués e São Gabriel da Cachoeira, ambos na modalidade presencial-‐mediado. Programa de Letramento “Reescrevendo o Futuro” em parceria com o Brasil Alfabetizado através da Pró-‐Reitoria de Extensão e Assuntos 30 Comunitários atendeu jovens e adultos com Ação de Alfabetização em 3 anos. A UEA atende 62 municípios do Estado. 11. UEPI -‐ Universidade Estadual do Piauí: possui um Núcleo de Estudos e Pesquisas em EJA (NEPEJA) que promove formação continuada de professores do Sistema Estadual e Municipal de Ensino. Uma disciplina obrigatória na formação inicial _ Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos. Projeto de Extensão junto ao ALFASOL além de desenvolver projetos e programas junto ao Centro de Ciências da Educação: – Projeto Ler Para Viver finalizado em 2003 junto com o Brasil Alfabetizado tendo sido desenvolvido em parceria com Prefeitura de Teresina, e em Parceria com os movimentos sociais PROEJAPI/PRONERA – Alfabetizaçãoe escolarização de assentados da reforma agrária no período de 1999 a 2004. 12. UFAL – Universidade Federal de Alagoas: a Universidade vem trabalhando desde 1993 com a formação continuada dos educadores de vários programas e das redes municipais de educação de Alagoas, Flexeiras e Porto Calvo. Nos anos de 2008-‐2009 assinou um convênio com a UFAL/CEDU-‐NEPEAL e o Projovem Urbano em Alagoas para a formação inicial e continuada dos professores que atuarão no Programa a partir de fevereiro de 2009. 13. UFBA – Universidade Federal da Bahia: uma das atividades relacionadas à formação de educadores de EJA em que a UFBA esteve envolvida foi decorrente da parceria com a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Alagoinhas no “Projeto de Aprendizagem para Jovens e Adultos em Ciclos” (PRAJAC) executada em 2005 com acompanhamento em 2006. 14. UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia: em relação aos projetos e programas na área da Educação de Jovens e Adultos, a UFRB é parceira do governo estadual e coordena a formação pedagógica dos alfabetizadores do programa “Todos pela Alfabetização” (TOPA) que está vinculado ao Brasil Alfabetizado. 15. UFPE – Universidade Federal de Pernambuco: a UFPE desenvolveu o Programa Alfabetização Solidária (parceria com o Conselho da Comunidade Solidária) em dez municípios do Agreste e do Sertão de Pernambuco. Em 2003 a Universidade aderiu ao Programa Brasil Alfabetizado, iniciativa do Governo Federal, juntamente com a Secretaria de Educação do Recife e outras duas instituições de ensino superior (Universidade Federal Rural 31 do Recife e a Universidade de Pernambuco). 16. UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte: a Universidade participa da organização e estrutura do Programa Geração Cidadã – Reduzindo o Analfabetismo, vinculado ao Programa Brasil Alfabetizado. A proposta de formação de alfabetizadores para o encaminhamento do trabalho no Programa vem sendo direcionada para o desenvolvimento de um processo formativo no qual esse alfabetizador possa compreender o trabalho na alfabetização de Jovens e Adultos fundamentado na aquisição das representações de linguagem na dimensão histórico – cultural. 17. UFG – Universidade Federal de Goiás: a Faculdade de Educação da UFG – professores e alunos estagiários do curso de Pedagogia – desenvolve ações em EJA desde 1991 a partir do Projeto Intenção de Estudos. Em 1993 passa a ser “Experiência Pedagógica de 1a a 4a séries do Ensino Fundamental para Adolescentes, Jovens e Adultos – Projeto AJA” em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia. Em 2001 o Projeto AJA, em conjunto com os movimentos sociais, se reestrutura no Projeto AJA-‐Expansão. A Resolução 7/1996, Cap. I, Art. 2º do Conselho Universitário da UFG, estabelece no Programa de Capacitação e Aperfeiçoamento dos Servidores Técnico-‐Administrativo o objetivo de combater o analfabetismo entre a classe e incentivar a educação básica. 18. UFPB – Universidade Federal da Paraíba: a UFPB se envolve em vários projetos, quase todos atendendo a solicitações advindas do MEC. Nestes convênios ela cuida da administração local desses projetos que envolvem a formação de professores para a EJA. A exemplo, o PROEJA. Há também, atendendo a solicitações da prefeitura, cursos para alfabetizadores do Brasil Alfabetizado e cursos de formação para professores do 1º e do 2º segmentos. Além dos acordos oficiais, a Universidade mantém parceria com o Sindicato nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário de João Pessoa, Paraíba, desde 1990, para o desenvolvimento do Projeto Escola Zé Peão. O projeto cuida da alfabetização e da continuidade dos estudos de trabalhadores da construção civil de empresas que dialogam com o Sindicato. Os educadores do Projeto são alunos da UFPB. A formação é de responsabilidade da Universidade com ajuda do Sindicato. 19. UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais: ofereceu habilitação em EJA até a 32 reforma curricular do curso de Pedagogia quando passa a oferecer formação complementar em EJA; Políticas públicas, movimentos sociais e cidadania e Fundamentos teórico-‐ metodológicos da educação popular. A partir de 2009 apresenta no currículo da Pedagogia as disciplinas de 60h/a: Organização de Educação de Jovens e Adultos; Metodologia da Alfabetização de Jovens e Adultos e Prática em Educação de Jovens e Adultos. Mantém, desde 1987, o Programa de Educação Básica, nos níveis Fundamental e Médio, para funcionários da UFMG e da comunidade em geral coordenado pelo Núcleo de Educação de Jovens e Adultos da UFMG (NEJA). Os educadores são alunos da UFMG dos cursos de Licenciatura. O NEJA presume que o Programa avalia no processo e certifica a conclusão da Educação Básica a cerca de 500 alunos por ano. ii. Critério de escolha dos Projetos De posse da resposta das dezenove IES a Equipe de Pesquisa verificou que duas delas desenvolvem projetos de EJA com regularidade antes mesmo de marcos legislativos garantidores da EJA – Constituição de 1988 e LDB 9.934/1996. Esta revelação, por si só, já daria bons questionamentos: Sob quais pressupostos são criados esses Projetos de EJA? Que desafios enfrentam? Como organizama formação dos educadores? E, o fato de o Projeto anteceder às normativas seria um critério válido. Um Projeto viria em 1990 como demanda de movimento social. Os Projetos acontecem em três regiões diferentes: Sudeste, Centro-‐Oeste e Nordeste. Outro ponto de interesse: ampliar o debate com experiências regionais a fim de evitar centralidade no olhar. Faltaria contemplar outras duas regiões brasileiras. Os dados vindos das regiões Norte e Sul não revelaram projetos de EJA constantes e longevos nas IES. Daí, buscamos ações fora da ambiência universitária. O resultado apontou uma experiência gaúcha longeva, constante e política de estado. Esta ação se desenvolve em Porto Alegre e tem recebido estudos e pesquisas pelas suas características ímpares de atendimento ao jovem e ao adulto da EJA enquanto política pública. É o caso do Centro Municipal de Educação do Trabalhador Paulo Freire. Vale ressaltar que todos os Projetos organizam e asseguram dentro do próprio Projeto formação aos educadores. Fator decisivo na escolha dos estudos de caso da pesquisa anterior. 33 Escolhidas as experiências, esforços foram evidados pelo Grupo de Pesquisa em reunir todo material disponível sobre elas, acadêmico ou não. Nesta fase de aprofundamento da pesquisa recolhi e completei os dados disponíveis no Relatório de Pesquisa. A partir daí, elaborei o quadro demonstrativo abaixo. Quadro 3: Dados gerais do PROEF-‐ 2 UFMG/PROEF-‐2 (Criado em 1986) Referência Centro Pedagógico da UFMG. Av. Presidente Antônio Carlos, 6627 -‐ Pampulha, Belo Horizonte. (31) 3409-‐5187 Tempo de aula Aulas de 2a a 5a nos horários das 17h50 às 21 horas ou das 18h50 às 22horas. As 6as-‐feiras acontecem as reuniões gerais, por área e por turma (6 horas semanais de formação). Educando Funcionários do CAMPUS da UFMG e comunidade em geral. Educador Aluno das Licenciaturas da UFMG. Formação Inicial Continuada: geral, por turma e por área. Política compensatória Políticas de alimentação: possui janta. Bolsa/Salário Educadores recebem mensalmente uma bolsa de extensão de R$ 360,00. Recurso didático Recursos didáticos: vídeos, músicas, slides. Livros Não possuem livro didático fixo. Elaboração de acordo com as demandas dos alunos. Espaços Acesso a outros espaços além da sala de aula: biblioteca, sala de informática, auditório, pátio. Relação família/escola Excursões e festas com participação da família. Produção Monografia Dissertação Tese Artigos Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. Quadro 4: Dados gerais do UnB/Paranoá UnB/Paranoá (Criado em 198640) Referência Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá (CEDEP): e-‐mail: cedep@pop.com.br Quadra 19, Conjunto D, Área Especial n° 01, Paranoá, Brasília-‐DF, CEP: 71570-‐090 Telefone: (61) 39017562/ 39017566/ 39017561 40 Cf. Renato Hilário dos Reis (2000, p.3). “É o segundo semestre de 1986. Começam as primeiras turmas”. 34 Grupo de Ensino, Pesquisa, Extensão em Educação Popular e Estudos Filosóficos e Histórico-‐Culturais (GENPEX): Sala 11, Faculdade de Educação, Universidade de Brasília Campus Universitário Darcy Ribeiro Asa Norte, Brasília-‐DF CEP: 70910-‐900. e-‐mail: genpex@fe.unb.br Tempo de aula Aula de 2a à 5a-‐feira, com duas horas de duração e às 6as-‐feiras ficam, destinadas para os Fóruns, reuniões de planejamento e estudos só para alfabetizadores. Educando Moradores da Vila Paranoá. Educador Agentes sociais moradores do Paranoá, educadores das redes públicas de ensino Formação Inicial e continuada. Fóruns com educandos às 6as feiras para elaboração dos planos de aula semanais. Política compensatória Políticas de alimentação: não possui. Bolsa/Salário Educadores são voluntários e não recebem nenhuma ajuda de custo ou bolsa. Recurso didático Recursos didáticos: não muito além de xerox de atividades. Livros Não possuem livro didático fixo. Elaboram de acordo com as demandas dos alunos. Espaços Acesso a outros espaços além da sala de aula: não vivenciamos todos os espaços. Não sabemos dizer. Relação família/escola Excursões e festas com participação da família. Produção Monografia Dissertação, Tese, Artigos Vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=L3DL9awclsQ) Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. Quadro 5: Dados gerais do CMET Paulo Freire CMET Paulo Freire (Criado em 1989) Referência Rua Jerônimo Coelho, 254 -‐ Centro, Porto Alegre / RS (51) 3227-‐4365 Tempo de aula Manhã: 08:00 às 11:45. Tarde: 13:45 às 18:00, Noite: 18:45 às 22:00. Educando Incluem-‐se jovens e adultos com necessidades educativas especiais desde 2000. Educador Educadores da rede municipal de educação Formação Continuada, em serviço, algumas junto aos educadores da rede municipal e outra semanal com a coordenação do CMET. Política Políticas de alimentação: possui lanche. 35 compensatória Bolsa/Salário Remuneração de acordo com o piso municipal Recurso didático Recursos didáticos: vídeos, músicas, slides. Livros Não possuem livro didático fixo. Estão sempre produzindo de acordo com as demandas dos alunos, inclusive em Braille. Produziram Palavra de Trabalhador Espaços Acesso a outros espaços além da sala de aula: biblioteca, sala de informática, auditório. Relação família/escolaExcursões e festas com participação da família. Produção Monografia, Dissertação, Tese, Artigos Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. Quadro 6: Dados gerais do UFPB/Zé Peão UFPB/Zé Peão (Criado em 1990) Referência João Pessoa/ UFPB Jardim Luna, Manaíra, Bairro São José, Cabo Branco, Bessa e Geisel em João Pessoa, Intermares e Cabedelo (bairros onde há salas do Projeto Escola Zé Peão) em 2010. SINTRICOM/ CUT (83) 3221-‐1807 Projeto Escola Zé Peão (83) 3216-‐ 7687 Tempo de aula 2a a 5a, no horário das 19h00 às 21h00 horas. Sexta-‐feira é para reuniões de coordenação e formação. Educando Trabalhador da construção civil de João Pessoa. Educador Licenciando da UFPB, (preferência do Curso de Pedagogia) Formação Inicial: como parte do processo seletivo do educador. Continuada Política compensatória Políticas de alimentação: não possui no momento. Os operários jantam na obra mesmo. Bolsa/Salário Educadores recebem mensalmente uma bolsa de R$ 250,00, paga pelo SINTRICON e quando da parceria com o Projeto Brasil Alfabetizado. Recurso didático Recursos didáticos: variados (xerox de atividades, livros, vídeos, ábaco, calculadora, etc.). Livros Não possuem livro didático fixo. Estão sempre produzindo de acordo com as demandas dos alunos. Produziram: Benedito: um homem da construção (1995) e Aprendendo com o trabalho (1995). Espaços Acesso a outros espaços além da sala de aula: biblioteca, sala de informática, auditório. Relação família/escola Excursões e festas com participação da família. Produção Monografia Dissertação, Tese, Artigos Vídeo http://www.sintricomjp.com.br/index/escolazepeao Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. 36 O momento em que surgem os Projetos é significativo e ponto de convergência entre eles, pois, a reivindicação pela escolarização se repete no PROEF, Zé Peão e Paranoá. O CMET Paulo Freire, mesmo que não seja uma reivindicação do educando ou do movimento social, pode-‐se dizer que há uma reivindicação, quando educadores da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre se mobilizam em torno da EJA e iniciam o -‐ SEJA -‐ Serviço de Educação de Jovens e Adultos dentro da Secretaria Municipal. Soares41 lembra que; A origem de cada uma das propostas é marcada por algumas convergências: as quatro nasceram praticamente no mesmo período, final da década de 1980 e início da década de 90. O contexto daquele momento foi de resistência e de conquistas, em que a sociedade esteve mobilizada em prol da redemocratização, cujo auge foi a Constituição de 1988. A experiência de trabalho na região Metropolitana de Belo Horizonte no início dos anos de 1980 levou Soares42 a ter contato com o intenso movimento comunitário de Ibirité por intermédio da Federação das Associações Comunitárias de Ibirité (FACI) que agrupava 30 associações de bairros. Nas várias frentes de trabalho da Associação havia uma de educação de adultos, Projeto Supletivo, a qual o autor fez parte. De maneira semelhante, a atuação dos movimentos sociais se faz presente no Projeto Paranoá e na Escola Zé Peão e vai impulsionar a luta pelos direitos sociais. Em se tratando de resistências e conquistas, outro ponto em comum aos Projetos é a importância do saber ler e escrever para a efetivação da luta cotidiana, pessoal e/ou coletiva. Reis43 ajuda a entender a questão da seguinte maneira; Nesse movimento de construção da história, a alfabetização de jovens e adultos se colocava como necessária ao fortalecimento da luta coletiva. É quando esses grupos recorrem à Universidade de Brasília e buscam nessa instituição o apoio necessário aos seus objetivos: ler, escrever e calcular e, simultaneamente, buscar soluções para os problemas do Paranoá e, posteriormente, do Centro de Cultura e Desenvolvimento Popular do Paranoá -‐ CEDEP. As singularidades da luta de cada Projeto aparecem nas propostas das Universidades, do CMET Paulo Freire, da Escola Zé Peão e no PROEF-‐2 ora mais ora menos evidente. Ao 41 Leôncio Soares. As especificidades na formação do educador de jovens e adultos: um estudo sobre propostas de EJA, 2011, p.310. 42 Leôncio Soares. Do direito à educação à formação do educador de jovens e adultos, 2005, p.274. 43 Renato Hilário dos Reis. A constituição do sujeito político, epistemológico e amoroso na alfabetização de jovens e adultos, 2000. 37 longo da trajetória de conquistas e recuos, às vezes não está visível o processo de negociação das realidades dos Projetos. iii. Os sujeitos A população base entrevistada foi estabelecida pela Equipe de Pesquisa segundo alguns critérios objetivando uma coleta de dados para análise qualitativa que desse conta de verificar quem são os sujeitos envolvidos com o Projeto, qual a inserção deles no campo da EJA e, sobretudo como percebem o processo de formação. Os critérios, criados a priori, estabeleciam que os sujeitos da amostra seriam coordenadores, educadores e educandos – atuais e egressos – dos Projetos. Acrescento ao relatório final da segunda pesquisa que o grupo de educadores se apresenta em consonância com o Projeto: graduandos da Pedagogia e das Licenciaturas no Projeto Escola Zé Peão e no PROEF-‐2; agentes sociaisno Projeto Paranoá e professores concursados no CMET Paulo Freire e, que as IES (UFPB e UnB) fazem a coordenação do Projetos de forma colaborativa com outra instituição – sindicato e associação de moradores. Com isso, percebo nas entrevistas o interesse da Equipe de Pesquisa em abranger o maior número possível de envolvidos das várias instituições com os Projetos. Os quadros abaixo buscam retratar essa realidade. Quadro 7: Entrevistas realizadas no PROEF-‐2 Nome Formação/Atividade Entrevista Gustavo Educador. Licenciando em Teatro, 7º período. Primeiro contato com a EJA. 2011 Vinicius Educador. Licenciando em Teatro, 5º período. Está a 1 ano no projeto. 2011 Érica Educadora. Licencianda em Matemática – 8º período. Primeira experiência em EJA. 2011 Juliana Coordenadora. Licenciada em Matemática. Mestrado em Educação. Coordenadora de área (Matemática). Atua como professora do Centro Pedagógico da UFMG (CP) e como Coordenadora do 2º ciclo da manhã. Desde 2005 trabalha com a EJA. 2011 Edna Coordenadora. Licenciada em Letras. Mestre em Linguistica e Doutora em Educação. Coordenadora Geral do PROEF-‐2. Coordenadora da Área de Inglês. Coordenadora de equipe. 2011 Conceição Coordenadora. Professora da FaE /UFMG. Desde 1993 na EJA. Coordenadora do Programa de Educação de Jovens e Adultos da UFMG (PEJA) e Coordenadora de equipe. 2011 Ricardo Coordenador. Licenciado em Artes Cênicas. Professor UFMG. Coordenador da Área de Teatro. 2011 Júlio Emílio Ex-‐coordenador. Professor da FaE/UFMG. Licenciado em Ciências 2011 38 Biológicas. Trabalho no CP em 1990. Ex-‐coordenador do PROEF-‐2. Leonor Ex-‐coordenadora. Licencianda em Letras. Primeira Coordenadora do PROEF-‐2. 2011 Fátima Educanda. 50 anos. Casada e tem 2 filhos. Natural de Goiás. Tinha experiência escolar anterior. Formou-‐se no Ensino no PROEF-‐1/UFMG. 2011 Andréia Educanda. 39 anos. Natural de Belo Horizonte. Manicure. Parou de estudar na 7a série. Retornou após 20 anos. 2011 Bety Educanda. 70 anos. Viúva. 3 filhos. Natural de Santa Bárbara. Aposentou-‐se como auxiliar de enfermagem após 33 anos de trabalho no Ministério da Saúde. É voluntária da Cruz Vermelha. 2011 Mário César Educando. 48 anos. Natural de Brasília. Trabalhador autônomo – bombeiro eletricista e auxiliar administrativo em Cursinho Preparatório. Interrompeu os estudos na 8a série. 2011 Maura Ex-‐educanda. Solteira. 58 anos. Natural de Belo Horizonte. Trabalha na Escola de Belas Artes há 32 na sessão de pessoal. Formou-‐se no Ensino Fundamental PROEF-‐1 e 2 e depois no PEMJA/UFMG. 2011 Ivone Ex-‐educanda. 86 anos. Viúva com 6 filhos. Natural de Santa Bárbara. Aposentou-‐se pela Prefeitura de Santa Bárbara e mudou-‐se para Belo Horizonte. Formou-‐se no Ensino Fundamental PROEF-‐2 e no PEMJA/UFMG. 2011 Maria da Conceição Ex-‐educanda. 62 anos. Trabalha na UFMG há 32 anos. Formou-‐se no PROEF-‐1 e 2 e no PEMJA/ UFMG. Ganhou uma bolsa de estudos para o cursinho pré-‐vestibular da UFMG. Passou no vestibular do Centro UNI-‐ BH para História. 2011 Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. Quadro 8: Entrevistas realizadas no Projeto Paranoá Nome Formação/Atividade Entrevista Valmira Educadora. Ensino Médio Completo. Moradora do Paranoá. Trabalha há três anos com alfabetização. Há dois com alfabetização de criança na pré-‐escola do CEDEP e desde novembro de 2008 no Grupo de Alfabetização Popular do CEDEP/Paranoá. 2009 Lourdes Coordenadora Grupo Alfabetização Popular. Magistério. Pedagoga. Pós-‐graduação em Educação Especial (em curso). Curso de Formação de Educadores de EJA (à distância – em curso). Trabalha na Secretaria de Educação. Fundadora e moradora do Paranoá. Presidente do CEDEP. Estará como Presidente da Associação (CEDEP) por dois anos. 2009 2011 Rosélia Educadora. Magistério. Superior incompleto (História). Tem experiência com crianças e jovens. Conheceu a educação de adultos em Juazeiro, local de origem. 2009 Joselice Educadora. Magistério. Pedagogia. Pós-‐gradução em Educação (em curso). Alfabetizadora atualmente, mas iniciou as atividades no CEDEP desde 1989 quando terminou o Ensino Médio. Moradora do Paranoá. Trabalha durante o dia com jovens (15-‐24 anos) em situação de risco. 2009 Jaqueline Equipe da UnB. Estudante de Pedagogia (UnB). Iniciou como auxiliar em sala de aula do CEDEP e depois passou a alfabetizadora. Moradora do Paranoá. Faz parte da equipe de formação da UNB. 2009 Roger Equipe da UnB. Estudante Pedagogia (UnB) no 8º período. Monitor de turma do GAJA. 2011 Eva Educadora. Ensino Médio. Foi alfabetizanda em 1983. Foi secretária de 2001-‐2010 da Associação. Alfabetizadora desde 1997. 2011 Leila Tesoureira. Mestre em Educação. Moradora do Paranoá. Atual 2011 39 tesoureira da Associação. Educandos 1,2,3,4,5 Educandos. Alfabetizandos 2009 Antônio Educando. Natural do Piaui. Deixou 3 filhos lá. Chegou no Paranoá em 2002. Não havia estudado antes. Cursa Alfabetização. 2011 Maria Amélia Educanda. Natural de Fortaleza. Chegou no Paranoá em 1971. Casada. Mãe de seis filhos. Cursa Alfabetização. 2011 Ângelo Educando. Natural de Goiás. Chegou no Paranoá em 1989. Já havia passado pela escola e fez o ensino primário. Cursa Alfabetização. 2011 FranciscoEducando. Chegou em Brasília em 1978. Natural de Teresina. Morador do Paranoá. Estudou seis meses quando era criança. Saiu sabendo escrever o nome. 2011 Maria de Lourdes Educanda. Curso de Alfabetização. Natural do Pernambuco. Está há 40 anos no Paranoá. Trabalha como diarista. 2011 Jerry Ex-‐educando. Nasceu em Brasília, mudou-‐se para o Piauí com 3 anos e, depois, aos 15 regressou a Brasília, para o Paranoá. Primeira experiência escolar foi no Paranoá. Concluiu o Ensino Médio e quer chegar a Faculdade. 2011 Maria Zélia Ex-‐educanda. Natural do Piauí. Chegou no Paranoá em 1975. É Conselheira de Saúde no CEDEP. Está na 4a série na escola pública. Quer chegar a UnB. 2011 Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. Quadro 9: Entrevistas realizadas no CMET Paulo Freire Nome Formação/Atividade Entrevista Ceres Coordenadora. Pedagoga. Ingressou no SEJA em 1991. Professora das Totalidades Iniciais: Alfabetização. Coordenadora Cultural desde 2008. 2009 Rose Coordenadora. Pedagoga. Especialização em EJA. Entrou no SEJA em 1991. Atualmente está Coordenadora Pedagógica das Totalidades Iniciais. 2009 2011 Dione Coordenadora. Está na EJA desde 1989. Esteve como Coordenadora do SEJA em 1991. Especialização em EJA. Atualmente está Coordenação Pedagógica das Totalidades Iniciais. 2009 Marilena Educadora. Licenciada em Letras. Educadora – classe especial visual. Entrou no CMET em 2000 para atuar com educandos cegos. Fez concurso do Estado para dar aula de espanhol para crianças. 2009 Rosa Bibliotecária. Licenciada em Letras. Pós-‐graduação em Orientação Profissional. Aposentada do Estado. No CMET desde 1994. Trabalhou com Português para as Ts Iniciais e Português para surdos. Atualmente está na biblioteca. Coordena um grupo de letramento e outro de leitura e interpretação de textos. 2009 Walter Coordenador. Magistério Ensino Médio. Licenciado em Letras. Mestre em Educação. Foi educador de EJA em outra escola do município. Coordenador de turno no CMET. 2009 Cristina Educadora. Magistério. Pedagoga. Especialização EJA. Educadora – classe especial surdez desde 2006. Entrou no SEJA desde 1989. 2009 Elisa Educadora. Classe especial para surdos em LIBRAS. Simone SMED. Atua na EJA desde 2000 e na SMED desde 2005. Vice-‐ coordenadora da Divisão de Educação de Jovens e Adultos. 2009 Paulo SMED. Está na Secretaria Municipal de Educação desde 1989. Coordenador da Divisão de Educação de Jovens e Adultos. 2009 Paulo Educando. Morador de Gravataí. Casado. Cursa classe especial visual. Perdeu a visão com 33 anos. 2009 40 Erick Educando. Solteiro, 17 anos. Frequenta o turno da tarde. Natural de Porto Alegre. Cursa a T6. Participa do teatro. 2011 André Educando. Solteiro, 32 anos. Natural de Porto Alegre. Desde 1996 no CMET. Cursa a T5. 2011 Cibele Educanda. 17 anos. Solteira. Nascida em Porto Alegre. Está na T6. Foi encaminhada da escolar anterior para o CMET. 2011 Hilma Educanda. Casada, tem filhos e está com 81 anos. Cursa a T6. Está há 15 anos no CMET. Oferece uma oficina de pintura em tecido. Participa do teatro. 2001 Conceição Ex-‐educanda. Iniciou na T4 e terminou o Ensino Fundamental. Casada. Trabalha como diarista. 2011 Ney Ex-‐educando. Nascido em Santana do Livramento. Chegou em Porto Alegre há 66 anos. Serviu o exército. Foi locutor de rádio, candidato a vereador de Porto Alegre por 4 vezes, duas vezes a deputado federal antes de ter o ensino fundamental. No CMET concluiu o Ensino Fundamental. 2011 Antonio Ex-‐educando. Aposentado. Solteiro. Na infância completou a 4a série. Terminou o Ensino Fundamental. Participa das Tertúlias Literárias. 2011 Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. Quadro 10: Entrevistados do Projeto Escola Zé Peão Nome Formação/Atividade Entrevista Edvilma Educadora. Estudante de Comunicação. Coordenadora Pedagógica. Não havia tido contato com a EJA antes de ingressar no Projeto durante o 3º período do curso. De 2006 a 2008 esteve com a turma de alfabetização (Alfabetização na Primeira Lage-‐ APL). Coordenadora Pedagógica. 2009 2011 Raíza Educadora. Estudante de Pedagogia, 7º período. Alfabetizadora na APL. Não havia tido contato com a EJA e não conhecia o Zé Peão até ingressar no Projeto. Há 1 ano e meio como alfabetizadora. 2009 Patrícia Ex-‐alfabetizadora. Pedagoga. Ex-‐coordenadora pedagógica. A experiência com EJA começou no Projeto. Trabalhava durante o dia com crianças. 2009 Ruth Helena Educadora. Estudante de Pedagogia, 8º período. Educadora nas séries sequenciais (Tijolo Sobre Tijolo – TST). Coordenadora Pedagógica. 2009 2011 Rosiane Educadora. Estudante de Pedagogia, 7º período. Tem experiência na educação infantil e a com EJA começa com o Projeto. No Projeto desde 2007. Trabalha na área da saúde. 2009 Ozilma Educadora. Estudante de Psicologia. Teve experiência na educação infantil. Educadora de sala mista (sala com alunos da APL e TST) 2011 Marcos Educador. Estudante de Pedagogia. Educador de sala mista. Experiência em EJA começa com o Projeto. 2011 Socorro Professora da UFPB. Coordenadora do curso de Pedagogia no Pronera 2009 Evelim Professora da UFPB. Trabalha com a formação do educador da EJA 2009 José Coordenador.Professor UFPB. Coordenador do Projeto. Ajudou no Projeto com a sala Varanda Vídeo. 2009 Socorro Professora da UFPB. Coordenadora do curso de Pedagogia no PRONERA. 2009 Evelim Professora UFPB. Responsável pelo Projeto de Formação do Educador de Jovens e Adultos utilizando como recurso os filmes. 2009 Zezinha Coordenadora. Economista. Licenciada em História. Pedagoga. 2009/2011 41 Coordenadora Pedagógica do Projeto pelo Sindicato. Zezinha Ruth Lindemberg Coordenadora Pedagógica – Sindicato Coordenadora Pedagógica Coordenador Geral do Projeto -‐ UFPB 2011 Eneildo Educando atual. Natural de Alagoinha, casado e pai de três filhos. É guincheiro, trabalha com grua. Está na APL. 2011 Everaldo Educando atual. Natural de Alagoinha. Casado e pai de meninas. Está na TST/APL. 2011 Edmilson Ex-‐educando. Natural de João Pessoa, participou do Zé Peão, o primeiro ano foi em 1995. Concluiu a primeira fase e logo após fez o supletivo, concluiu o primeiro grau e chegou ao final do segundo grau. 2011 Antonio Ex-‐educando. É do interior da Paraíba, veio de lá trabalhar em 1995, casado, pai de 3 filhas. 2011 Fonte: Equipe de Pesquisa, 2012. A primeira pesquisa não realizou entrevistas no PROEF-‐2. A Equipe de Pesquisa revisitou os outros três Projetos e, com isso, pode indagar sobre a existência de mudanças ou não nos trabalhos, na organização e no processo formativo. Alguns pontos foram novamente abordados na segunda pesquisa: a troca de educadores no PROEF-‐2, a situação financeira dos Projetos Zé Peão e Paranoá, a questão do espaço físico no CMET Paulo Freire. A volta aos Projetos permitiu extrair informações dos coordenadores, dos educadores e dos educandos, ou seja, a Equipe de Pesquisa teve a possibilidade de rever ditos e não ditos. O grupo de entrevistados está composto por 13 coordenadores, 16 educadores e 12 educandos atuais, 10 ex-‐educandos, 01 ex-‐educadora, 01 tesoureira e 01 bibliotecária. A faixa etária dos entrevistados situa-‐se entre 20 e 90 anos. Gráfico 1: Demonstrativo das entrevistas realizadas 42 Gráfico 2: Escolaridade de Educador e Coordenador por Projetos Gráfico 3: Escolaridade Geral de Educador e Coordenador Gráfico 4: Comparativo geral de gênero 43 iv. Instrumentos de coleta de dados Dentre os instrumentos de coleta, as entrevistas guardam, nesta pesquisa, lugar fundamental, tendo em vista o interesse em mapear: a origem social dos sujeitos; as trajetórias escolares e acadêmicas e seus destinos profissionais; o olhar sobre articulação/desarticulação entre fundamentação teórica e prática pedagógica na inserção/atuação profissional; o enfrentamento da difícil combinação entre docência e processo de formação em projetos de EJA; como os profissionais da EJA, na medida em que atuam em uma realidade próxima à do aluno trabalhador, percebem a articulação/desarticulação entre a dimensão política e a dimensão pedagógica da EJA. Significa aproximar de valores, práticas, crenças, tensões ou símbolos, os quais “permitem descrever e compreender a lógica que preside as relações que se estabelecem no interior daquele grupo, o que, em geral, é mais difícil obter com outros instrumentos de coleta de dados.” (Duarte)44. As pesquisadoras da Equipe de Pesquisa que foram a campo utilizaram como instrumentos: a entrevista semiestruturada individual e coletiva, a observação das salas de aula e das reuniões de formação. Aproveitaram para reunir as fontes referentes aos Projetos. As entrevistas, realizadas em dois momentos: maio de 2009 (primeira pesquisa) e outubro de 2011 (segunda pesquisa), foram todas gravadas após explicação do procedimento, do conhecimento do termo de adesão e, posteriormente transcritas pela Equipe de Pesquisa. Foram utilizados os seguintes protocolos semiestruturados como guias para a coleta de 2009 e 2011, respectivamente: Com educadores (2009/2011) 1. Nome completo, formação, atuação profissional. 2. Como se deu seu envolvimento com a EJA e com o Projeto? 3. O seu curso de graduação te ajuda a se inserir no campo da EJA? 4. Você encontrou alguma dificuldade para atuar no Projeto? 5. Você teve alguma formação para atuar no projeto? Como foi? 6. Comente sua rotina no projeto. 7. Fale um pouco do impacto da formação do Projeto na sua prática. 8. O que você acrescentaria na formação dos educadores? 9. Você acredita ser importante o envolvimento político com a EJA, por quê? 10. Que benefícios os alunos do Projeto podem obter com a formação dos educadores? 11. Quais os fundamentos teóricos que foram importantes para sua prática pedagógica? 44 Rosália Duarte. Entrevistas em pesquisas qualitativas. 2004, p.216. 44 12. Em sua opinião o que um bom professor de EJA precisa saber? Com coordenadores (2009) 1. Nome completo, formação, atuação profissional. 2. Como se deu seu envolvimento com a EJA e com o Projeto? 3. Como se dá a seleção do educador? 4. Há uma formação para o educador? Você a considera específica? Como surge a necessidade de ter uma formação específica para os educadores? 5. Em que aspectos você avalia que o Projeto avançou nesse curso de formação? 6. Quando as professoraspossuem graduação, você avalia que o conhecimento teórico que a Faculdade proporciona tem ajudado como um todo? 7. Como o Projeto se mantém financeiramente? Com coordenadores dos Projetos visitados em 2009 (2011) 1. O que mudou no Projeto de 2009, data da última visita realizada por nós, para 2011? 2. Atualmente, qual a relação do Projeto com a Universidade? Ou Secretaria de Educação? 3. Os espaços utilizados pelo Projeto, atendem as necessidades do Projeto? 4. Para você o que tem aparecido como específico e o que é próprio da educação de jovens de adultos? Com educandos atuais (2009/2011) 1. Identificação do entrevistado: nome, idade, profissão, naturalidade e turma. 2. Já havia entrado na escola antes? Há quanto tempo está no projeto? 3. Percebe alguma diferença na forma da escola quando entrou pela primeira vez e agora? 4. Qual sua avaliação com relação aos colegas? Com relação ao tempo de aula? 5. Com relação ao material didático? Com relação ao educador? 6. O que mais gosta nas aulas? 7. Hoje, você utiliza o que aprendeu no seu trabalho ou no seu dia-‐a-‐dia? Em que situações você faz uso da leitura e da escrita? 8. Você enfrenta algum desafio, alguma dificuldade para estudar? E o fato das aulas serem à noite? 9. Imagine agora que você é o diretor do Projeto. O que você faria diferente? 10. Se não existisse o Projeto, iria lhe fazer falta? 45 Com educandos e ex-‐educandos (2011) 1. Identificação do entrevistado: nome, idade, profissão, naturalidade e turma. 2. Você trabalha? Conte-‐nos sua rotina diária, o que você faz no dia-‐a-‐dia e o que faz nos momentos de folga? 3. Você já tinha estudado antes ou o Projeto foi a primeira vez? Se já havia estudado antes, por que parou? Quanto tempo ficou sem estudar? O que te fez voltar a estudar?O Projeto foi diferente da sua primeira experiência na escola?Por quê? 4. Quando você retornou aos estudos quais eram suas expectativas, o que você queria aprender? Você conseguiu? 5. Quando saiu do Projeto você continuou com seus estudos em outro lugar? Se não, quanto tempo está sem estudar? Durante esse tempo que está parado, sentiu que esqueceu as coisas que aprendeu na escola? 6. Hoje, você utiliza o que aprendeu no seu trabalho ou no seu dia-‐a-‐dia? Em que situações você faz uso da leitura e da escrita? 7. Para você, qual foi à importância de ter estudado? 8. Que atividade você mais gostou de fazer no Projeto? 9. O que o animava a ir às aulas todos os dias? 10. O que a sua família pensava sobre você estudar? 11. Você enfrentou algum desafio, alguma dificuldade para estudar? E o fato das aulas terem sido à noite? 12. Você lembra se o Projeto levou a turma para alguma excursão, teatro, museu, cinema, viagens ou outro lugar fora do canteiro de obra? Você foi? O que achou? Se não, por que não foi? 13. Imagine agora que você é o diretor do Projeto. O que você faria diferente? 14. Se não existisse o Projeto, iria lhe fazer falta? O protocolo semiestruturado possibilitou à Equipe de Pesquisa maior flexibilidade até mesmo na ordem das questões, deixando que os sujeitos se expressassem com liberdade sobre os temas, conforme comentários em reuniões de equipe. Em Luna45 encontramos que nesse “momento a interação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados viabiliza que identifiquem e descrevam seus sentimentos, apreensões, desejos, valores e dificuldades”. Neste sentido, mesmo sem participar da produção das entrevistas foi possível perceber as emoções de alguns entrevistados ao relembrarem sua inserção no campo da EJA, ou seja, ao se deixarem levar por memórias significativas as quais se refletem nas atividades atuais. O conjunto total das entrevistas foi apropriado neste trabalho. Vale ressaltar que algumas entrevistas são mais recorrentes que outras, muito em função do objetivo do trabalho. As entrevistas que utilizei foram transcritas na íntegra pela Equipe de Pesquisa. De posse desse material, coloquei a linguagem em um padrão que melhor favorecesse as análises neste trabalho. 45 Sérgio V. de Luna. O falso conflito entre tendências metodológicas. 2004. 46 v. Procedimentos de coleta O cronograma de viagem para cada localidade organizou-‐se dependendo da disponibilidade dos sujeitos dos Projetos. Privilegiou-‐se como fonte direta dos dados os locais onde eles acontecem, ou seja, os canteiros de obras do Projeto Zé Peão, o Centro Comunitário do CEDEP, o Centro Pedagógico da UFMG e o Centro Municipal de Educação do Trabalhador Paulo Freire. As entrevistas, marcadas com antecedência, fizeram parte de um processo mais amplo dentro da visita. Cada uma das viagens foi discutida exaustivamente no Grupo de Pesquisa, uma vez que estava em jogo encontrar um número significativo de sujeitos, observar reuniões de coordenação e visitar salas de aula. A maneira encontrada de realizar todas as tarefas em um curto espaço de tempo foi contatar com o/a coordenador/a de cada Projeto e montar com ele/a determinada programação evitando, assim, possíveis desencontros. As visitas a João Pessoa, Brasília e Porto Alegre duraram em média três dias. A exemplo segue a programação da visita a Porto Alegre,em 2011, elaboração pelo Grupo de Pesquisa em acordo com a coordenadora pedagógica Roselaine Aquino da Silva. Quadro 11: Programação de visita ao CMET Paulo Freire 26/10 – Quarta-‐feira 27/10 – Quinta-‐feira 28/10 – Sexta-‐feira 16h. Encontro com a Rose para confirmar a programação. 17h. Participamos da oficina de Tertúlia didática. 18h. Realização das entrevistas com 3 alunos egressos: Antônio, Maria da Conceição e Ney Navarro. 21h. Entrevista com as coordenadoras culturais. 9h. Conhecer os espaços do CMET. 10h. Entrevista aluna atual: Hilma da Silva (81 anos). 11h. Entrevista com aluna atual: Cibele (17 anos). 16h. Entrevista com alunos atual: Erick (17 anos). Entrevista com educando atual: André (aluno com necessidades especiais visuais) 17:30h. Entrevista com coordenadora pedagógica Rose. 18:30h. Participamos do “atendimento especial” com a professora Simara. 8:30h. Reunião geral com a equipe de professores, coordenadores e estagiários do CMET. 14h. Entrevista com professor 15h. Entrevista com Simara – responsável pelo atendimento especial.46 Fonte: Grupo de Pesquisa, 2012. 46 Segundo relato da Equipe de Pesquisa “Não foi possível realizar entrevista com professor, pois a professora que já estava agendada desmarcou conosco em cima da hora. O outro professor que tivemos uma conversa informal muito produtiva se recusou a dar uma entrevista que fosse registrada. Percebemos um pouco de resistência por parte dos professores para dar entrevistas, e também em nos deixar participar do conselho de classe, que a princípio a Rose já havia sugerido para que participássemos”. (Reunião de Equipe de Pesquisa, 10 de outubro de 2011, mimeo.) 47 Além das visitas agendadas, aconteceu de a equipe de pesquisa encontrar-‐se com representantes dos Projetos em eventos de EJA e aproveitar para continuar alguma conversa ou esclarecer um ou outro ponto de dúvida. A visita ao contexto, ao ambiente de produção dos eventos, permitiu que o Grupo de Pesquisa reunisse materiais variados – documentos e imagens – e impressões ao percorrem a ambiência educativa de cada Projeto. A coleta resultou em uma massa de dados bastante densa que exigiu neste trabalho um tratamento cuidadoso. vi. Análise documental O termo análise documental comporta duas compreensões: a de análise e a de documento. Neste estudo a análise diz respeito ao tratamento e à recuperação da informação para uso. A análise foi realizada pela técnica de fragmentação dos componentes internos do conteúdo em estudo (com as entrevistas) ou pela compreensão do todo do objeto selecionado (no caso dos documentos). Para entender o conceito de documento, recorro ao dicionário: “Documento: 1. declaração escrita, oficialmente reconhecida, que serve de prova de um acontecimento, fato ou estado; 2. qualquer objeto que comprove, elucide, prove ou registre um fato, acontecimento; 3. arquivo de dados gerado por processadores de texto”47. Portanto, o termo documento aqui compreende tanto o material impresso e/ou escrito quanto o vídeo, a fotografia, a carta, o filme, o memorial, a ata, entre outros materiais que possam ser usados como fonte de informação. A análise documental, no primeiro momento, seguiu os passos sugeridos por Cellard:48 1) Percepção do contexto no qual foi escrito o texto. Neste caso no passado recente; 2) Verificação da posição do autor do texto: de onde fala e as situações em que escreve; 3) Avaliação da autenticidade do material: se quem escreve participou ou não do evento em questão; 4) Entendimento sobre a natureza do texto e, 5) Percepção da lógica interna do texto. No segundo momento reuni as fontes, categorizei de acordo com a forma e com o conteúdo. 47 Antonio Houaiss; Mauro de Salles Villar. Minidicionário Houaiss da língua portuguesa, 2004, p.257. 48 André Cellard. A análise documental, 2008. 48 Quadro 12: Demonstrativo de categorização das fontes Projeto Critérios de Análise Forma Conteúdo PROEF-‐2 Escritos Roteiro de entrevistas, entrevistas, publicações, informativos, monografias, dissertações, teses, agendamento e cronograma de visita ao Projeto, cronograma de reuniões por área, por turma e reunião geral, relatório de visita, página web Vídeo Formação de professores/monitores, Fotografia Reunião de formação, salas de aula, Centro Pedagógico, exposição de trabalho dos educandos Paranoá Escritos Roteiros de entrevistas, entrevistas, publicações, informativos da UnB, registros de reuniões do fórum, calendário de formação, temas da formação, monografias, dissertações, teses, mensagens de email recebidas pela Equipe de Pesquisa, agendamento e cronograma de visita ao Projeto, relatório de viagem, relato de encontro da Coordenação do CEDEP, relatos dos encontros do GENPEX, relatório de avaliação geral do CEDEP, página web Fotografia CEDEP, salas de aula, reuniões de formação, fóruns. CMET Escritos Roteiros de entrevistas, entrevistas, publicações, informativos, registros de reuniões do fórum, calendário de formação, temas da formação, monografias, dissertações, teses, mensagens de email recebidas pela Equipe de Pesquisa, agendamento e cronograma de visita ao Projeto, Projeto Político Pedagógico (antigo e atual), relatóriode viagem, folder Feira do Livro, projetos, quadro de planejamento das Ts Finais, Regimento, Base Curricular, Jornal, Cadernos Pedagógicos, Totalidades, livro didático, página web Power Point Apresentação do CMET, apresentação do Dossiê de Educação Especial Fotografia Sala de aula, do prédio do CMET, da biblioteca, do interior do prédio, exposição de trabalho dos educandos PEZP Escritos Roteiros de entrevistas, entrevistas, publicações, informativos do SINTRICOM, calendário de formação, reteiro da formação, monografias, dissertações, teses, mensagens de email recebidas pela Equipe de Pesquisa, agendamento e cronograma de visita ao Projeto, relatório de viagem, página web, texto Prêmio, material didático, Vídeo Construindo o mundo escrito Fotografia Canteiros de obras: salas de aula, reuniões do sindicato com os educandos, aula Nos documentos citados busquei elementos que informassem a ação (Sarmento)49 e as orientações dessas ações. Para tanto, procedi a análise do material produzido para 49 Sarmento, M. J.. O estudo de caso etnográfico em educação, 2003 49 registro dos/nos/para os Projetos distinguindo dois eixos: histórica e constituição e sujeitos, reservando o processo formativo. Isso porque, os documentos evidenciaram um conjunto articulado de intenções, ou seja, uma orientação formativa bastante próprias. O material que conta a história e a constituição dos Projetos se apresenta preservada em todos eles. A escrita sobre a constituição dos Projetos foi elaborada com auxílio da memória dos participantes desde o início do Projeto. Essa ampliação das fontes pelo viés da memória não as tornou independente do conjunto do qual fazem parte, do ambiente que as produziu (Le Goff)50, de modo que é possível captar os processos da ação organizacional de cada Projeto articulados às impressões dos envolvidos. Cada documento significou uma “porta de entrada” na vida dos sujeitos envolvidos, nos propósitos dos quatro empreendimentos em EJA e no contexto da formação. vii. Procedimentos de análise dos dados Pesquisas qualitativas permitem gerar uma quantidade de dados significativa. O material desta investigação é denso, uma massa de documentos que necessitou quase um tratamento artesanal de modo a não perder a singularidade dos achados. O primeiro passo foi elaborar a tabela – qualitativa e quantitativa – com os dados totais dos sujeitos entrevistados e está representado no item sujeitos e nos gráficos que o suscedem. Esse procedimento ajudou a perceber a paridade entre o número de entrevistados de cada Projeto (Gráfico 1). Sabe-‐se que os dados quantitativos oferecem inúmeras possibilidades de combinações. Por se tratar de um estudo sobre a formação do/a educador/a da EJA, entendo ser importante representar a escolaridade do/a educador/a e do coordenador/a por Projeto (Gráfico 2) e geral (Gráfico 3) como ponto de partida para pensar o processo formativo. Na tabela sobressaem os dados de gênero na categoria educador, o que nos permite usar a denominação educadora para este coletivo, por ser a maioria neste estudo (Gráfico 4). Os documentos, depois de categorizados, foram tratados pelo procedimento da Análise do Conteúdo. Segui com Franco51 neste percurso a fim de utilizar da autora dois pressupostos de seu estudo: o entendimento de que a mensagem verbal (oral ou escrita), 50 Le Goff, Jacques. História e Memória, 1994. 51 Maria Laura B. P. Franco. Análise do Conteúdo, 2008, p.12. 50 gestual, silenciosa, figurativa ou diretamente provocada é o ponto de partida da Análise do Conteúdo, ponto este que está necessariamente vinculado às condições do seu contexto de produção, e a Análise do Conteúdo em dois conceitos: Unidades de Registro (palavra, tema, personagem) e Unidades de Contexto, que avalio atenderem às questões de nossa pesquisa. Parte significativa das Unidades emergem das respostas ao próprio protocolo de pesquisa, acrescido das questões que surgiram no decorrer das entrevistas: inserção na EJA, atuação profissional, chegada ao Projeto, tipos de formação inicial e continuada, contribuições da formação para os educandos. As Unidades de Contexto (“pano de fundo” das Unidades de Análise) ajudaram a contextualizar a produção dos dados dos Projetos, por exemplo, a entender as fases pelas quais cada Projeto passou e passa atualmente entre conquistas e recuos. A Análise de Contexto está presente, sobretudo, na apresentação dos Projetos (Capítulo I). A Unidade de Registro que mais se adequa aqui é o tema. Elenco os seguintes temas extraídos dos documentos: Sistematização do trabalho, Educando no centro do processo educativo, Preparo do material para o tipo de educando, Trabalho interdisciplinar, Tema gerador, Foco na realidade do educando, Valorização da historicidade da EJA e do Projeto, Acompanhamento constante, Reuniões coletivas de planejamento, Conhecimento da área de trabalho, Trabalho e estudos em equipe, Formação com grupo multididciplinar, Aula simulada ou oficina e Sensibilização pela condição do educando. Tais temas vão sendo construídos desde o Capítulo I e ganham mais expressão no Capítulo II quando trato da formação nos Projetos.Depois de definidas as unidades de análise, os temas, busco definir as Categorias de Análise, as quais não foram estabelecidas a priori. Foram necessárias muitas idas e vindas aos documentos para agrupar os temas em categorias de forma mais completa e satisfatória. As nuanças convergentes observadas nos relatos e documentos, desde o Capítulo I, foram sendo interpretadas até chegarem às Categorias de Análise: Centralidade do processo no educando; Orientação permanente do educador por grupo multidisciplinar; Contextualização histórica da EJA e do próprio Projeto; Realidade do educando como princípio pedagógico; Elaboração de instrumentos didáticos próprios; Sistematização regular do trabalho e Acompanhamento constante do trabalho em sala de aula. 51 viii Resultados A presente tese constitui-‐se de seis estudos organizados da seguinte forma: Introdução. Buscamos responder como chego até aqui. Para tanto, partimos de alguns eventos das trajetórias pessoal, acadêmica e profissional por avaliar que oferecem os primeiros insights sobre a educação de jovens e adultos, o tema da pesquisa e, daqui até as hipóteses, não foi difícil chegar. O desenvolvimento nos levou à questão das especificidades da EJA, ao seu tratamento como cânone, ao interesse em alargar o conceito, e justifica o porquê de avançar nesse estudo. Em caminhos para chegar até lá descrevemos a metodologia. Nesse ponto, fazemos uma descrição dos passos da pesquisa e das opções nos marcos da pesquisa de abordagem qualitativa. Capítulo I. Começamos com uma contextualização dos anos 80 e 90 no intuito de abordar o cenário em que surgem os Projetos. Na sequência apresentamos os quatro Projetos de referência: PROEF-‐2, Projeto Paranoá, CMET – Paulo Freire e Projeto Escola Zé Peão. A descrição está dividida nos seguintes itens: Constituição do Projeto: histórias; Organização: proposta pedagógica; Atendimento: educando e currículo; Educadores: trajetórias; Metodologias e recursos educativos; Política Suplementar e Impactos do Projeto: ponto de vista. Capítulo II. Deixamos a formação inicial e continuada para este estudo. Organizamos um diálogo horizontal entre os Projetos. O objetivo foi extrair deles o máximo de informações sem muito apoio da literatura. Isso porque objetivamos mergulhar nas ações, nos sentidos e significados atribuídos aos processos de formação. O resultado foi o conjunto de Unidades de Análise que conduziram às ideias-‐força da formação. Capítulo III. A tentativa foi deixar aqui o summum bonum. Depois de agrupar as ideias-‐força, buscamos analisá-‐las verticalmente. Primeiro, por meio de um recuo no tempo para dialogar com os princípios da cultura e educação popular dos anos de 60. Levamos em conta que esses dois conceitos permeiam os Projetos. Encontramos sustentação para a escolha em Góes52 para quem o que fazer será o mesmo dos anos de 60, porque a educação ainda não é um direito de todos; na afirmação de Fávero53 de que, neste período, as ações de educação de jovens e adultos foram qualitativamente melhores que as iniciativas 52 Moacyr de Góes. De pé no chão também se aprende a ler, 1991. 53 Osmar Fávero. Uma pedagogia da participação popular, 2006. 52 anteriores e nos Projetos que afirmam trabalhar em sintonia com o pensamento de Paulo Freire. Se o ponto de partida foram as inicitivas dos a nos de 60, envidamos esforços para avançar ao referencial atual na tentativa de perceber os fundamentos das ideias-‐força em dois pilares de sustentação: dos movimentos de educação e cultura popular e da atualidade da área da educação de jovens e adultos. Conclusão. Fizemos uma retrospectiva da tessitura do trabalho com intuito de verificar a pertinência das duas hipóteses. A primeira é validada quando da constatação da centralidade do educando nas propostas educativas dos Projetos. A segunda, em consonância com a primeira, se confirma por meio do repertório formativo que cada Projeto articula e os transforma em linhas de ação. Com base nas análises avaliamos e afirmamos o potencial de as ideias-‐força serem consideradas como especificidades da formação em EJA. Anexo. Revisão bibliográfica. Notamos que a educação de jovens e adultos a formação para a educação de jovens e adultos está pouco retratada e dispersa na literatura. Fizemos um recorrido histórico buscando reunir as ações educativas em períodos históricos passados, enfocando principalmente a questão qualitativa dos processos. Esperamos que essa arqueologia possa contribuir com a EJA diminuindo as lacunas de sua historicidade. 53 CAPÍTULO I. Apresentação dos Projetos 1.1 Contexto brasileiro dos anos 80: pano de fundo dos Projetos O apagar das “luzes” dos movimentos de EJA dos anos 60 foi reaberto no alvorecer da década seguinte com dois programas governamentais: o Movimento Brasileiro de Alfabetização54 (MOBRAL) desenvolvido até meados dos anos 80 e o Ensino Supletivo55 apregoado pela Lei 5.692/71 que, entre ajustes e reajustes, segue presente nos dias atuais. O MOBRAL, resposta do governo à supressão dos movimentos de educação e cultura popular com o Golpe Militar de 6456, promoveu a educação de adultos analfabetos (população entre 15-‐30 anos57) em cursosde 9 meses desvinculados do Ministério da Educação e Cultura. Em relação ao material didático dispunha-‐se a organizar coleção própria. “O material é confeccionado por uma equipe central para ser usado em todo o território nacional” 58, em oposição às propostas dos movimentos do início dos anos 60. Estudos de Oliveira; Souza59 sobre o MOBRAL em Uberlândia (Minas Gerais) concluem que os educadores consideravam a cartilha fácil de ser aplicada, pois, o método 54 Criado a partir da Lei nº 5.379 de 15 de dezembro de 1967 que instituiu a Fundação MOBRAL. O Movimento se beneficiou de ação ampla do governo por meio de decretos (recursos (decr. nº 61.331), emissoras de TV nos programas de alfabetização (decr. nº 61.312), criação da Rede Nacional de Alfabetização Funcional e Educação Continuada de Adultos (decr. nº 61.313) educação cívica nas instituições sindicais e a campanha em prol da extinção do analfabetismo (decreto nº 61.314)) e da criação do Grupo Interministerial (GI) responsável pela gestão dos recursos. (Cf. Vanilda Paiva (2003, p.320). 55 O Ensino Supletivo foi instituído nos marcos da flexibilidade, significa dizer, nas modalidades ensino supletivo, centros de estudos, ensino à distância, e outras. “Nos cursos, frequentemente vigoram a seriação, a presença obrigatória e a avaliação no processo; sua característica diferencial é a aceleração, pois o tempo estipulado para a conclusão de um grau de ensino é, no mínimo, a metade do previsto para o sistema regular. Os centros de estudo oferecem aos alunos adultos material didático em módulos e sessões de estudos para as quais a frequência é livre. A avaliação é feita periodicamente, por disciplina e módulo. As iniciativas de educação a distância dominantes são as que se realizam por televisão, em regime de livre recepção ou (muito raramente) recepção organizada, em telepostos que combinam reprodução de programas em vídeo, uso de materiais didáticos impressos e acompanhamento de monitor. Além dessas modalidades, a Lei 5692 manteve os exames supletivos, como mecanismo de certificação, atualizando exames de madureza já existentes há longa data. Os candidatos, aqueles preparados por meio do ensino a distância ou cursos livres ou ainda aqueles sem preparação específica que desejam atestar seus conhecimentos, se submetem periodicamente – duas vezes ao ano como regra geral – a exames finais organizados pelos estados, por disciplina e sem nenhuma exigência de matrícula ou frequência à sala de aula”. (Cf. Maria Clara Di Pierro; Orlando Jóia; Vera Masagão Ribeiro, 2001, p.62-‐63). 56 Para aprofundar sobre o impacto do Golpe Militar nos movimentos de educação e cultura popular veja Araújo Freire (2006); Fávero (2006); Góes (1991); Jesus Cortez (2005); Lyra (1996); Porto; Lage (1995); Scocuglia (2001). 57 Cf. Vanilda Paiva. História da Educação Popular no Brasil, 2004, p.321. 58 Gilberta Martino Jannuzzi. Confronto pedagógico: Paulo Freire e Mobral, 1987, p.63. 59 Letícia Borges de Oliveira; Sauloéber Társio de Souza. A alfabetizaçãoo no Mobral, métodos e materiais didáticos (Uberlândia/MG 1970-‐1985), 2012, p.33. 54 sintético, não exigia muito trabalho mental dos alunos, eram somente palavras e sílabas e “não tinha nada que mexia com a consciência das pessoas”. A pesquisa revela também a transposição do material didático usado com crianças para adultos. No ensino dos adultos, as práticas do cotidiano com as crianças eram reproduzidas nas salas do Mobral que, por sua vez, era motivo de constrangimento para esses trabalhadores. […] Mesmo que essas professoras tivessem vasta experiência em sala de aula, o seu foco era a alfabetização de crianças. E, como não tiveram uma orientação adequada para alfabetizar aquele “novo público”, acabaram por introduzir práticas destinadas às crianças. Esse processo dificultava a alfabetização dos adultos, pois eles necessitavam de outros caminhos pedagógicos para aprender. 60 Pode-‐se inferir de a EJA ser vista como tributária da educação infantil em Uberlândia que não se trata de um fato isolado daquela unidade do MOBRAL. Uma representação da escola primária é “se constituir como lugar de passagem da infância”61. É possível coincidir com Freitas; Bicas por, pelo menos, dois pontos. Primeiro, corolária da instrução infantil, a educação de adolescentes, jovens e adultos receberia o mesmo tratamento dispensado a criança, ou seja, não haveria necessidade de modificação nos planos, nos materiais escritos, nem nas práticas e na formação dos educadores. Segundo, as iniciativas orientadas para EJA foram tão esparsas e fragmentárias que guardaram mais dados quantitativos, o que pode justificar registros de experiências lacunares e qualitativamente incipientes. Portanto, transpor práticas infantis a públicos jovens e adultos acabou sendo naturalizado. Um ou ambos os fatores seriam suficientes para indicar a inexistência de um conceito diferenciado de estudante adolescente, jovem ou adulto em experiências de EJA reflexas da educação infantil. Freitas; Biccas62 afirmam que os problemas educacionais de atendimento a EJA “têm quase a mesma idade da história da educação escolar brasileira”. Do muito que se tem proclamado em matéria de educação a públicos amplos,não constam considerações sobre a (in)eficiência de propostas educativas genéricas aplicadas aos jovens e adultos. A literatura persegue a infrequência dos adultos, porém, os dados apresentados não se sustentam de práticas infantis submetidas aos adolescentes, jovens e adultos. 60 Letícia Borges de Oliveira; Sauloéber Társio de Souza. A alfabetização no Mobral, métodos e materiais didáticos (Uberlândia/MG, 1970-‐1985), 2012, p.33. 61 Marcos César de Freitas; Maurilane de Sousa Biccas. História social da educação no Brasil (1926-‐1996), 2009, p. 209. 62 Marcos César de Freitas; Maurilane de Sousa Biccas. História social da educação no Brasil (1926-‐1996), 2009, p. 210. 55 Em que pesem avaliações da conotação ideológica dos serviços que o MOBRAL e o Supletivo, veiculam este/veicularam aquele, Haddad63 avalia que eles representam “um avanço no sentido de oferta de oportunidades educacionais a amplas parcelas da população”, todavia, a despeito da estrutura de atendimento, as taxas de analfabetismo64 resistiam ao abaixamento. O MOBRAL já vinha dando sinais de enfraquecimento e de dificuldade de contornar ácidas críticas ao seu desempenho quando o Censo de 1980 confirmou seu baixo resultado. Nesse período, a oferta pública de educação para jovens e adultos era pouco expressiva. Sobressaíam os trabalhos comunitários. Naquela época [1982], em Ibirité, havia um movimento comunitário intenso. A Federação das Associações Comunitárias de Ibirité (Faci) agrupava cerca de 30 associações de bairros e tinha, juntamente com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), um programa intitulado Projeto Interação Escola-‐ Comunidade. Esse projeto reunia várias frentes de trabalho junto aos bairros, e passei a fazer parte da frente de educação de adultos, denominada, naquela época, de Ensino Supletivo.65 Era necessário repensar a oferta e o aparato de ensino. Avizinhava-‐se o processo de redemocratização do país. No cenário democratizador tornou-‐se incompatível a continuidade de um órgão perfilado com o governo militar como o MOBRAL. A instalação da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI do MOBRAL66) acresceu dado valioso à intenção explícita do Programa do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) em extingui-‐ lo, o que acelerou seu desmonte em 1985 (Decreto nº 91.980 de 25 de Novembro de 1985). A extinção do MOBRAL se fez progressivamente, afinal, foram quinze anos de atendimento a jovens e adultos – e a públicos infanto-‐juvenis que lhe valeram uma CPI – com grande capilaridade pelo território brasileiro. Em substituição a este órgão foi criada a Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos – Educar67. 63 Sérgio Haddad. Ensino Supletivo no Brasil: estado da arte, 1987, p.18. (Este estudo analisa em profundidade o Ensino Supletivo). 64 “Chegamos no ano de 1980 com 31,9% da população, acima de 5 anos, analfabeta , atingindo um total de quase 33 milhões de pessoas. Praticamente 40 milhões de adolescentes e adultos não concluíram a escolaridade básica nesta mês ma época”. (Cf. Sérgio Haddad, ibidem). 65 Leôncio Soares. Do direito à educação à formação de educador de jovens e adultos, 2005, p.274. 66 Cf. Maria Clara Di Pierro. As políticas públicas de educação básica de jovens e adultos no Brasil do período 1985/1999, 2000, p.56. 67 Decreto nº 91.980 de 25 de novembro de 1985. A Educar esteve vinculada a Secretaria de Ensino de 1º e 2º Graus do Ministério de Educação e Cultural (SEPS/MEC) e foi batizada por Vanilda Paiva, Diretora do INEP (de 1985 a 6/1986) à época. Para maiores esclarecimentos conferir Vanilda Paiva (2004, p.404 e ss). Note-‐se que o nome da Fundação incorpora o termo “jovem” em contraposição aos textos de lei que usavam “adolescente”. 56 A Educar manteve uma estrutura nacional de pesquisa e produção de materiais didáticos, bem como coordenações estaduais, responsáveis pela gestão dos convênios e assistência técnica aos parceiros, que passaram a deter maior autonomia para definir seus projetos político-‐pedagógicos.68 Diferente do MOBRAL, a Educar se envolveu com o fomento e o apoio técnico a ações de EJA ao invés de assumir execuções diretas. O governo recupera, em regime de cooperação com as esferas estadual e municipal, o atendimento e a formação de educadores. Este modelo de gestão propiciou descentralização de atividades e o apoio técnico e financeiro a prefeituras municipais e a instituições da sociedade civil que desenvolviam iniciativas inovadoras em EJA69. Em meio às novas definições, iniciam-‐se também debates em prol da responsabilização dos sistemas educacionais pela inserção orgânica da EJA nas redes públicas. O debate se justifica porque “no primeiro ano do novo modelo de gestão, as organizações da sociedade civil já respondiam por 21% dos alunos atendidos e eram proponentes da quase totalidade dos projetos denominados ‘alternativos’”70. A título de exemplo, o Serviço de Educação de Jovens e Adultos de Porto Alegre (SEJA/POA)71 e o Programa de Educação Fundamental-‐2 (PROEF-‐2/UFMG) constam da lista dos beneficiados com recursos da Fundação. “Mas aí eu lembro que havia um projeto do Estado que favoreciaisso e que nós apresentamos esse Projeto. Inclusive quem analisou falou assim ‘Que era um dos melhores projetos que eu recebi’. [...] Foi da Fundação Educar.”72 A esteira de apoio da Fundação Educar possibilitou a diferentes experiências de educação de adultos se expandir e, com isso, ganhar visibilidade social. No plano da ação, elas assumiram o legado dos movimentos de educação e cultura popular. Osmar Fávero73 antecipava, de certa maneira em 1983, esta retomada dos preceitos dos movimentos dos anos 60 ao organizar obra sobre a memória dos anos 60 com intuito de “colocar nas mãos daqueles que novamente reinventam a cultura e a educação popular, nos anos 80, as ideias 68 Sérgio Haddad; Maria Clara Di Pierro. Educação de Jovens e Adultos. 2000, p.120. 69 Projeto de Educação Básica da Baixada Fluminense que, em agosto de 1988, receberia da UNESCO o Prêmio Nadja K. Kronpskaia (Andrade, 1993), Projeto Teimosia da Prefeitura Municipal do Recife (Rosas, 1996; Santos, 1992; Silva, 1992), seu congênere no Município do Cabo (PE), o Movimento de Educação da Zona Leste de São Paulo (Mendonça, 1988) ou a Escola Aberta do Calabar, em Salvador. (Maria Clara Di Pierro. As políticas públicas de educação básica de jovens e adultos no Brasil do período 1985/1999, p.58.) 70 Maria Clara Di Pierro. op.cit., p.59. 71 Maria Clara Di Pierro. A política municipal de educação de jovens e adultos de Porto Alegre (RS): um estudo de caso, 1997, p.193. 72 Entrevista com Leonor, ex-‐coordenadora do PROEF-‐2, em 10/11/2011. 73 Osmar Fávero (Org). Cultura popular. Educação Popular. Memórias dos anos 60,1983. 57 originais dos anos 60. [...] Seu objetivo [da obra] é buscar, naqueles anos, lições úteis à nova etapa da luta popular que marca o início dos anos 80”. A luta popular a qual se refere Fávero se estabelece na transição da conjuntura político-‐social de forte controle para a redemocratização. As lutas populares pela sobrevivência nas periferias dos grandes centros urbanos evidenciam-‐se como direitos. Considero que a nova cidadania trabalha com uma redefinição da ideia de direitos, cujo ponto de partida é a concepção de um direito a ter direitos. Essa concepção não se limita portanto a conquistas legais ou ao acesso a direitos previamente definidos, ou à implementação efetiva de direitos abstratos e formais, e inclui fortemente a invenção / criação de novos direitos, que emergem de lutas específicas e da sua prática concreta. A disputa histórica é aqui também pela fixação do significado de direito e pela afirmação de algo enquanto um direito. O direito à autonomia sobre o seu próprio corpo, o direito à proteção ambiental e o direito à moradia são exemplos -‐ propositadamente bastante diferentes -‐ dessa criação de novos direitos. Além disso, acho que é possível afirmar que essa redefinição contempla não só o direito à igualdade, mas também o direito à diferença.74 Dagnino acrescenta a dimensão da cultura a cidadania. Nesse patamar, Durham exemplifica alguns novos direitos. Nos movimentos sociais, de modo geral, a passagem do reconhecimento da carência para a formulação de reivindicação é mediada pela formulação de um direito. Os habitantes da periferia afirmam seu direito a água, luz, esgoto, assistência médica; as mulheres reiteram seus direitos à igualdade; os homossexuais, ao seu prazer; também as mães que trabalha têm direito às creches, assim como os índios às suas terras e todos têm o direito à proteção contra a violência.75 É nesse contexto que se inserem as lutas pela escola76. Durham traduz em poucas palavras a história da Vila Paranoá/DF e, de certo modo, do Projeto Escola Zé Peão também pelo viés sindical. Nesse eixo de análise, Santos77 considera que a década de oitenta tem motivos para ser lembrada. Entre muitos contrastes do período reabilitaram-‐se aí “a participação social e política dos cidadãos e dos grupos sociais, com o desenvolvimento 74 Evelina Dagnino. Anos 90 – política e sociedade no Brasil. 1994, p.106. 75 Eunice R. Durham (1984, p.29) citada por Maria Amélia de G. Castro Giovanetti; Maria da Conceição M. Gouveia L. da Costa. Movimentos sociais e educação. As lutas populares por educação em Belo Horizonte nos anos 70 e 80, 1997, p.58. (O artigo apresenta boa revisão dos estudos sobre lutas populares no período). 76 Para maiores informações sobre as reivindicações populares por escola ver Marília Spósito (1984); Maria da Glória Gohn (1985), Rogério Cunha Campos (1992), Regina Célia Dias (1995), entre outros. 77 Boaventura Souza Santos. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-‐modernidade, 2005, p.18. 58 comunitário e a ação coletiva, com os movimentos sociais”. No campo da educação, Paiva78 avalia que o início da década de 90 deixou marcas significativas a começar pela Conferência de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990). Esse mesmo ano foi declarado Ano Internacional da Alfabetização. Segundo a autora, Desde a Conferência do Meio Ambiente (ECO-‐92) no Rio de Janeiro, quando se iniciou o ciclo de conferências da ONU preparatórias para o terceiro milênio; passando pela de Mulheres em Beijingem 1994; de Assentamentos Humanos (HABITAT II) em Istambul em 1996; a de Educação de Adultos (V CONFINTEA) em Hamburgo, em 1997; de Populações, no Cairo, em 1998, entre outras, chegando à de Dacar, em abril de 2000, marcando dez anos de Jomtien, para o balanço da década, o lugar da educação esteve mantido para acordar com os países metas e pontos de chegada, em defesa de um novo século que se aproximava, mais humano, mais igual, menos apartador. Os movimentos se espraiam em defesa de ações mais humanitárias. No âmbito secular, os movimentos comunitários, em muito impulsionados pelas Pastorais da Igreja Católica e suas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), constituíram escolas comunitárias em resposta rápida e necessária à ausência do poder público nos bairros populares das grandes cidades brasileiras. Se algumas iniciam pensando atender crianças acabam logo estendendo os serviços aos jovens e adultos. Guardando as devidas proporções, a escola do CEDEP/Paranoá pode exemplificar a temática. É uma escola nascida do compromisso com a coletividade que pretende advogar pela participação na esfera pública ampliada e preservação da autonomia da organização em relação ao Estado. A cooperação técnica e financeira prestada pela Fundação Educar às instituições conveniadas chegaria a termo em 1990, como uma das primeiras medidas adotadas pelo governo do presidente Collor de Mello. Os órgãos públicos e as entidades civis também se surpreenderam de tamanha radicalidade, pois, presenciavam a passagem direta das responsabilidades pela educação de jovens e adultos da União aos municípios e estados. 78 Jane Paiva. Educação de Jovens e Adultos: movimentos pela consolidação de direitos, 2007. 59 Tanto o SEJA/POA quanto o PROEF-‐2/UFMG precisaram se reorganizar para assumirem os encargos com a EJA já que não haviam preparado dotação orçamentária prévia. De maneira similar, a União já havia executado processo de descentralização antes com o Ato Adicional de 1834. Claro que as consequências práticas nos programas, no planejamento, no método, no financiamento, na formação de professores, na avaliação ou no controle em tempos recentes são em proporções diferentes. Esse é um dos fatos contraditórios dos momentos históricos pelos quais passa a concretização da EJA como direito. Outros viriam logo após a Constituição de 1988 com a Emenda Constitucional nº 14/1996 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/1996) que impuseram limites à plena implantação da EJA sob o conceito das necessidades próprias no que tange à alimentação, transporte, material escolar, saúde, formação de educadores. Nesse limite imposto aos municípios desenvolve-‐se o CMET-‐Paulo Freire em Porto Alegre. Era de se supor que as legislações educacionais recentes representassem ganhos reais e que, para efeito, garantissem a implantação e o desenvolvimento das unidades escolares e das propostas educativas. Por vezes, os rumos da mobilização concreta esperada do Estado acabam cedendo lugar a pronunciamentos e ações com acento ideológico dos grupos hegemônicos79 na cena político econômica. Nesses momentos, determinados grupos se lançam no campo educacional esperando fortalecer suas posições80 e fazem da difusão da instrução popular uma bandeira de luta abstraindo dela os aspectos qualitativos do processo. A partir daí, percebe-‐se que uma análise em Projetos oriundos dos anos 80-‐90 traz experiências a campo reveladoras de organização sob restrições. Portanto, as condições e as maneiras como procedem o atendimento, enquanto produtos históricos, estão sujeitas ao fluxo e refluxo das disposições sociais, políticas, culturais, econômicas, nacionais e/ou supranacionais81 vigentes em cada momento da história da educação brasileira. Levando em conta Projetos que encontram formas de EJA contornar o descaso do poder público com esta população, passamos a indagar, compreender, analisar registros das práticas educativas, dos materiais didáticos, da formação dos educadores em algumas 79 Hegemonia será aqui entendida a partir das reflexões de Gramsci como um tipo particular de dominação. 80 Vanilda Paiva, História da Educação Popular no Brasil.., 2003, p.32. 81 Celso de Rui Beisiegel em Estado & Educação Popular, 2004, p. 42, usa o termo “transplantação cultural” para designar a difusão interna de ideias e modelos produzidos em outros contextos sociais. Consultar especialmente Nota 6, Cap. II. 2ª Edição. 60 iniciativas desvinculadas de públicos infantis, que partem do ‘delta zero’, ou seja, buscam vínculos e extensões na própria história da EJA. A Prof. Lourdes Barreto (escritora de livro para o Projeto Escola Zé Peão) diria, por ocasião do Seminário de Avaliação do Projeto em 2011, que “é difícil fazer uma escola que a gente não conhece”. Para a autora, a EJA no contexto da construção civil foi uma experiência com produção de algo novo, não se conhecia esse fazer. Duas questões emergem dessa afirmação. Uma diz respeito à difusão do legado da EJA e o que recriar dele nas ações atuais e, a outra se refere ao argumento de Mello82 de que a EJA não tem uma ‘forma escolar’. Se aEJA não tem um arranjo orgânico de características, cabe saber como se organizam os Projetos. Primeiro, o recurso ao dicionário nos ajuda a compreender a palavra: “Do latim projecto, particípio passado de projiceie, lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de edificação.” Pensar Projeto seria importante lembrar sua ambiguidade: lançar para adiante [algo] dentro dos limites de orçamento e tempo. Talvez, sua característica mais marcante. Característica essa, quando aplicada a educação de jovens e adultos, provoca repercussões. Primeira: a instabilidade da ação perante a mobilização dos recursos – humanos e materiais – e expectativas acionados. Iniciar uma experiência educativa na incerteza da continuidade é, no mínimo, frustrante. Um desserviço a autoestima do jovem e do adulto? O descrédito social gerado contra a ação, viria como segunda consequência. A credibilidade de uma iniciativa tende a crescer com o passar do tempo. Por exemplo, Matos83 conta que a Escola Projeto Zé Peão foi pouco a pouco sendo assumida pelos operários. Então, por que elaborar Projeto? Ainda assim, o Projeto guarda uma dimensão de esperança ao relacionar-‐se com o futuro e começar a realizá-‐lo. Portanto, esperança e futuro se relacionam na medida em que necessitam da prática. Freire84 ajuda a entender a esperança nessa dimensão. Enquanto necessidade ontológica a esperança precisa da prática para tornar-‐ se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã. 82 Paulo Eduardo Dias de Mello. Material didático para Educação de Jovens e Adultos: história, formas e conteúdos, 2010, p.28. (Por forma escolar entende-‐se um arranjo orgânico, sólido e continuado de características, como tempo, espaço, currículo, relação professor-‐aluno, materiais didáticos, forjado e consolidado na sociedade moderna como modelo escolar). 83 Francisco Thadeu Carvalho Matos. As representações sociais dos trabalhadores-‐alunos da construção civil sobre a Escola Zé Peão, 1999, p. 38. 84 Paulo Freire. Pedagogia da esperança, 2006, p.11. 61 Um Projeto nasce da esperança de que algo possa acontecer e este acontecer é a própria história da existência individual e coletiva. Os Projetos escolhidos parecem se inserir nesse pressuposto. E mais. Continuam se (re)elaborando e se incrementando na prática educativa. 1.2 Primeiro estudo: Projeto de Educação Fundamental-‐2 (PROEF-‐2 /UFMG) a) Constituição do Projeto: histórias. A Universidade Federal de Minas Gerais mantém desde 1998 o Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos85 entre suas atividades. O Programa integra três Projetos de educação de jovens e adultos ao campus: o Projeto de Ensino Fundamental-‐1 (PROEF-‐1); Projeto de Ensino Fundamental-‐2 (PROEF-‐2)86 e o Projeto de Ensino Médio (PEMJA)87. Estes oferecem a jovens e adultos funcionários da UFMG e da comunidade em geral o ensino básico com avaliação no processo e certificação. O atendimento a jovens e adultos com Ensino Fundamental incompleto funcionou com turmas de Alfabetização e de Ensino Supletivo em projetos dissociados até 1998 quando se constituiu o Programa de Educação Básica. O PROEF-‐2 88, interesse deste estudo, começou suas atividades em 1986. Nessa época a instituição o conhecia como “Projeto Supletivo do Centro Pedagógico da UFMG” (1986-‐1998)89. Desde sua criação, as atividades acontecem nos espaços físicos da escola de aplicação da UFMG, no Centro Pedagógico (CP). Como eu trabalhava aí no Centro Pedagógico eles viram que o CP tinha uma capacidade ociosa à noite e que podia preencher esta capacidade com esse momento e sendo também o lugar próprio que hoje é também um lugar de 85 Este Programa está vinculado à Pró-‐Reitoria de Extensão e ao Núcleo de Educação de Jovens e Adultos. (Cf. Giovanetti, 2000, p.202). 86 PROEF I e II dizem respeito ao primeiro e ao segundo segmentos do Ensino Fundamental. 87 O PEMJA é relativo ao Ensino Médio, portanto, está sendo desenvolvido no Colégio Técnico da UFMG (COLTEC). 88 A equipe de coordenação do PROEF é composta de nove professores-‐coordenadores, sendo seis dos cursos de Licenciatura da UFMG e três do Centro Pedagógico (CP/UFMG), os quais coordenam administrativa e pedagogicamente o trabalho realizado pelo corpo docente – professores-‐monitores – composto de 32 estudantes de diversos cursos de Licenciatura da Universidade: Belas Artes, Ciências Biológicas, Educação Física, Filosofia, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia, Teatro. O Projeto serve ainda como campo de estágio para centenas de alunos – estágios curriculares – dos diversos cursos de Licenciatura e de disciplinas de práticas de ensino da UFMG e de outras Universidades. (Cf. Diniz-‐Pereira; Fonseca; et.al., 2008, p.79). 89 O nome inicial fora substituído quando da criação do Projeto de Ensino Médio e de Alfabetização. Da integração desses projetos, cria-‐se o Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos. O abandono do termo “Supletivo” reflete também a explicitação de uma outra perspectiva que já existia há alguns anos e definia a proposta pedagógica do Projeto para alémde um esforço de “recuperar tempo perdido”. (Cf. Diniz-‐Pereira; Fonseca; et.al. 2008, p.82). 62 ensino fundamental. Não era o ensino de primeiro grau, mas, por que não aproveitar também, embora ali fosse um trabalho feito com crianças, que tipo de aproveitamento podia ser feito para se trabalhar com adultos que haviam sido “expulsos” da escola por diversas circunstâncias, não é? [...] Bom, eles usavam as salas para criança e adolescente, as carteiras. Agora, havia no CP os alunos maiores, já adolescentes e a outra parte de alunos menores da primeira série. Se bem que não era tão pequeno assim não. Os adultos não usavam esta carteirinha não, tinha uma outra parte que tinha alunos de onze, doze, quatorze, quinze até dezesseis anos, então, eram carteiras próprias para adultos. (Leonor. Entrevista em 10/11/2011). Figura 1: Feira de Cultura e Formação de Educadores Fonte: Equipe de Pesquisa Em meio às lembranças, a primeira coordenadora90 atribui a criação do PROEF-‐2 praticamente a dois fatores: reivindicação dos funcionários – “estavam na casa do saber e não tinham acesso a esse saber” – que é ao mesmo tempo por uma mudança social e, escuta compreensiva de um reitor; Que eu me lembre, primeiro foi uma reivindicação dos próprios funcionários da Universidade, havia já uma modificação no estatuto dos funcionários em que eles teriam um aumento de salário de acordo com as possibilidades que eles apresentassem de estudo, então, os próprios funcionários começaram a reivindicar, primeiro um grupo da Medicina exigindo um curso para eles, depois aqui no próprio Campus encontrando no reitor o Tomás Aroldo na época uma pessoa sensível às reivindicações dos funcionários, daqueles que não tiveram muita possibilidade de estudar. Eu me lembro que uma modificação no estatuto dos funcionários previa um aumento de salário de acordo com as possibilidades que eles apresentassem de estudo e a primeira reivindicação foi dos próprios funcionários da Universidade. (Leonor. Ex-‐ coordenadora). O início do Projeto foi marcado por dificuldades, lembra Diniz-‐Pereira. Ao ingressar 90 Entrevista com Leonor, primeira coordenadora do PROEF-‐2. 63 para dar aulas de Ciências, o Projeto estava com quatro anos de funcionamento e ainda muito incipiente e precário. Certos entraves acabaram resolvidos e outros emergiram com alterações no currículo. Exemplificando, a incorporação das aulas de teatro, dança e artes plásticas. [...] A secretaria do projeto era quase itinerante no CP, o campus da Universidade era um breu, não tinha iluminação porque praticamente não funcionava a noite, quase não tinha curso de graduação à noite, o curso de Pedagogia já tinha a noite, se eu não me engano. No Centro Pedagógico (CP) também era uma precariedade de funcionamento, terrível a noite. Nós tínhamos uma única salinha que também era meio itinerante no CP, por muitos anos nós funcionamos no banheiro desativado da escola. [...] Eu falo isso porque, assim, mostra o lugar que o projeto ocupava no CP naquela época. (Júlio. Ex-‐coordenador). [...] Eu não fui lá há 15 anos atrás não, mas imagino que não tenha mudado muito. Porque várias salas do CP têm carteiras para crianças e eu acho que nisso já foi um ganho porque as salas que a gente dá aula hoje são carteiras para adultos. Agora, essas salas ficam, justamente, no terceiro andar, então, um aluno da EJA que tem dificuldade de locomoção tem essa dificuldade para chegar lá. Aconteceu que nos Concluintes tem uma senhora que não consegue subir escada. Eles tiveram que adaptar, puxar as turmas dos Concluintes para o térreo e essas salas são usadas pelos alunos do CP e nisso ai já teve que ocorrer troca de carteiras com outras salas e já criou um transtorno entre CP e PROEF. Eu acho que a melhor infra-‐estrutura que o CP oferece para esses alunos da EJA são para corpo docente, as professoras que coordenam o projeto e nós, monitores, que somos formados pelo projeto., então essa estrutura humana do CP eu acho muito boa. Agora, a física deixa a desejar. A sala de teatro, na verdade, é uma sala de dança e nós temos que disputar entre os três professores que, por sinal, ainda dão aula nos mesmos horários. Uma semana um professor dá aula na sala de teatro e os outros dois dão aula nas salas convencionais e a gente vai alternando. (Vinícius. Professor-‐monitor de Teatro). Incluir o PROEF nas instalações do CP parece avançar quando se pensa no atendimento a jovens e adultos sendo realizado no espaço da escola fundamental. Com todas as implicações passíveis de desencadearem quando a apropriação do espaço se dá por “outro” público. Leonor lembra que nem tudo eram flores. Tudo o que surgia de errado com as próprias salas eles diziam que era o pessoal do Supletivo. Se aparecia um cartaz rasgado, uma urina fora do lugar certo falavam que foi o pessoal da noite que fez isso, podia ser também, mas a maior parte das vezes não era não. A própria escola pensava que a escola é nossa, para criança e adolescente. 64 Além da concepção de que escola sedestina à passagem da criança e do adolescente, há outro complicador: o desprestígio da própria EJA. Isso se reflete na opinião da monitora-‐ professora Érica91: “é um trabalho que o público é desprestigiado, os professores são desprestigiados. A gente sempre demora mais para conseguir as coisas e os alunos reivindicam também bastante, eles são ativos”. Soma-‐se à desvalorização da EJA as contradições do ensino noturno na UFMG. Edna92 expressa a opinião de que a Universidade tende a ser plena durante o dia e à noite funcionam apenas alguns setores imprescindíveis enquanto outros atendem precariamente. Por setores essenciais a coordenadora cita “o xerox, a sessão de ensino e às vezes uma direção”. No caso do PROEF-‐2, os serviços disponíveis são a biblioteca, a sessão de ensino e a merenda escolar. O audiovisual atende mediante agendamento prévio, a exceção da informática que Edna tem a chave. Mas só pode usá-‐la “somente se estiver lá o monitor da área de informática. Ele que pode fazer isso e nós temos. Então, informática faz parte do dia-‐ a-‐dia dessa escola”. Desprestígio e controle governamental: duas posições quase opostas se não fosse o receio de muitos estudantes desprestigiados ganharem a possibilidade de ascender a cursos superiores, daí o controle. No final dos anos de 80 em Minas Gerais havia restrições quanto à avaliação no processo de ensino. Somente algumas instituições estavam autorizadas. Em Soares93 vemos que; Apesar da orientação dada pelo MEC para que se procurassem meios para diminuir a procura dos exames, a legislação estadual procurou ser rígida no tocante à autorização para que esses cursos funcionassem com avaliação no processo. Na década de 70, apenas dois estabelecimentos particulares, Promove (Parecer nº 358/76) e Roma (Parecer nº 455/79), obtiveram autorização do Conselho Estadual da Educação com a supervisão da Secretaria da Educação, para atuarem com avaliação no processo, concedendo certificado de conclusão. Isso se modificaria com a Resolução 386, de 1991, que concedeu autorização de funcionamento para novos cursos regulares de suplência. Como contornar a questão em 1986? A profa. Leonor se lembra de ter sido feita uma consulta ao Conselho Estadual de Educação sobre a possibilidade do PROEF-‐2 emitir certificado de ensino fundamental, uma vez instituído em uma escola regulamentada da 91 Érica. Professora-‐monitora de Matemática. 92 Edna. Coordenadora Geral e de Equipe. 93 Leôncio Soares. Educação de jovens e adultos em Minas Gerais: continuidades e rupturas, 1995, p.171. 65 UFMG. A gente foi ao Conselho Estadual de Educação pedir para que pudesse fazer essa avaliação, só que o Conselho se julgou incapaz de julgar a Universidade. Porque era um curso dentro da Universidade. Era o CNE que regulamentava, que olhava tudo isso, era Estadual, e como a Universidade era Federal ela não tinha condições. Eu acho que eles ficaram com medo de dar opinião, não é? Isso abria um precedente também que eles não tinham. Não que eles não conhecessem, não gostassem e não achassem importante, de criar um precedente, é não estarem preparados para isso, o Estado não estava preparado para isso, então o Conselho se eximiu de dar o certificado e que a própria Universidade podia dar. (Leonor. Ex-‐coordenadora do Projeto). Em registro do trabalho realizado no segundo semestre de 199294, avaliava-‐se a importância dessa conquista. Por ser um trabalho novo tanto para os monitores-‐professores quanto aos professores das Licenciaturas, era importante ganhar autonomia à produção de conhecimentos sobre a EJA. Um passo importante para a consolidação do Projeto Supletivo foi a introdução da avaliação no processo, resultando na autonomia para concessão de certificados de conclusão. Esta autonomia para a avaliação significou assegurar a organização curricular e a pesquisa de conteúdos, de modo a propiciar a produção de conhecimentos adequados à realidade dos alunos. De fato, muitas instituições acabavam ofertando algum serviço sem o credenciamento para a certificação. Além da oferta pública de educação de jovens e adultos ser muito restrita, a legislação educacional em vigor estipulava o direito à educação à população dos 7 aos 14 anos. Iniciativas particulares ou comunitárias acabam atendendo àqueles acima dessa faixa etária sem regulamentação. Isso se modificaria com a Resolução 386/1991, que concedeu autorização de funcionamento para novos cursos regulares de suplência, registra Soares95. O amplo leque de modelos e intenções em EJA se reflete nos achados do estudo de Haddad96. Uma busca e mapeamento das instituições de ensino superior promovendo alfabetização e pós-‐alfabetização observou uma tendência nas Universidades de prestarem 94 Leôncio Soares; José Alfredo O. Debortoli et al.. A vida do aluno-‐trabalhador orientando a prática pedagógica em uma proposta de educação para a educação de jovens e adultos, 1992, p.1-‐2. 95 Leôncio Soares. Educação de jovens e adultos em Minas Gerais: continuidades e rupturas, 1995. 96 Sérgio Haddad. Promoção de programas de alfabetização, pós-‐alfabetização e educação de adultos com vinculação das instituições de ensino superior no Brasil,1989. 66 serviços a seus próprios funcionários. Ribeiro97 acerta quando afirma serem em maioria casos de ações sociais, sem vínculo com os Centros de Educação e, por vezes, também dissociadas do ensino, da pesquisa e da extensão, mas a autora não chegou a avançar na análise daquelas ações institucionalizadas ao longo do desenvolvimento. No caso do PROEF-‐ 2, além da certificação, foram tomadas providências em direção a institucionalização do trabalho dos monitores e coordenadores de área. As reuniões de formação dos monitores/professores avançaram da integralização dos créditos para disciplina no currículo; Este ano nós também tomamos uma providência, que eu acho que foi boa para nós e para os bolsistas. Nós registramos as reuniões como aula, como disciplina, então o acordo que eu fiz com o Colegiado era esse, que a gente matricula os bolsistas e a gente deixa algumas vagas para o Colegiado porque essa reunião de 17 horas é muito boa. Pode pegar aluno da tarde e da noite porque é de 17 às 19 horas e alguns da noite depois vão para a aula e para os nossos bolsistas também, porque é acolhida, é curricular pelos seus Colegiados a participação. Na integralização, variava muito de Colegiado para Colegiado e de coordenador de Colegiado para coordenador de Colegiado. Uns consideravam outros não consideravam e como disciplina não tem jeito, então para eles é legal. Agora, nós temos uma outra coisa, um certo monitoramento da disponibilidade deles nesse horário. (Conceição. Coordenadora do Programa e de Equipe). Uma vez tendo colocado a participação dos graduandos sido registrada como disciplina e a coordenação de equipe como uma disciplina de 2 horas na FaE, a busca volta-‐ se para a responsabilização pelo cargo de coordenador do Programa. A ideia da coordenadora atual é deixá-‐la na FaE e, envidar esforços para torná-‐la uma atribuição de um Departamento. Isso porque é; Muito, mais difícil lutar pela contabilização dos trabalhos dos coordenadores, e na verdade, o mais difícil mesmo é ter uma responsabilização institucional. É claro que quando eu escrevo, eu falo que eu sou coordenadora e isso é aprovado pelo meu Departamento, mas ao sair, eu estou nesse momento, o Departamento não se sente responsável por suprir esse lugar. Isso não é obrigação de Departamento nenhum, isso é uma coisa da professora, da Ção que faz isso. Então, eu quero que esse lugar dos coordenadores do projeto esteja institucionalizado para que o CP e a FaE sejam responsáveis por suprir as demandas do projeto neste sentido. (Conceição. Coordenadora do Programa e de Equipe). b) Organização: proposta pedagógica. A trajetória de conquista parece acompanhar 97 Vera Maria Masagão Ribeiro. A formação de educadores e a constituição da educação de jovens e adultos como campo pedagógico, 1999. 67 a própria história do Programa, história esta não linear e progressiva, mas marcada pelas tentativas de se (re) organizar a todo momento. Assim acontece com a proposta do curso. O Programa prevê três anos para a terminalidade do Ensino Fundamental em turmas denominadas de iniciante, continuidade e de concluinte98. No final, o tempo se refere à relação ensino versus bagagem do aluno. As coordenadoras assim expressam esta proposição quando perguntadas se há um tempo máximo a ser transposto pelo educando. [...] Máximo não. Porque a ideia é que em 3 anos a gente consiga. Então, a prova que a gente faz no início para entrar, a rigor ela avalia a nós mesmos. É assim: “essa pessoa com esse nível de leitura aqui, nós temos condições de oferecer em 3 anos um diploma de ensino fundamental?” É essa avaliação que a gente faz. (Conceição. Coordenadora do Programa e de Equipe). Nós decidimos fazer essa proposta de três anos pensando em dar aos nossos alunos uma vivência de um projeto de escola, de uma escola. Seria muito fácil a gente fazer um teste de seleção e classificar os alunos por conhecimento e falar você vai para uma turma de 1º ano, você vai para uma de 2º e você vai para uma de 3º. Nós optamos por fazer com que cada pessoa que entrasse nesse projeto passasse por aqui o mínimo de três anos. (Edna. Coordenadora Geral e de Equipe). A questão do tempo no Projeto foi sempre uma preocupação. Se atualmente o intuito é oferecer uma passagem de experiência escolar capaz de aproveitar, incrementar e sistematizar os conhecimentos dos alunos em determinado tempo, nem sempre foi assim. No início, as turmas eram reduzidas e permitiam aos educandos a participação em salas diferentes dependendo do nível pessoal de conhecimento em determinada matéria. Leonor conta que; Eles [os alunos] se apresentavam voluntariamente. Agora, como a gente fazia o curso era não seriado, então, era possível você trabalhar com um aluno que tinha pouco conhecimento de Português. Ele entraria para a quinta série, mas ele tinha um conhecimento maior, que era de matemática. Ele ficava vamos dizer assim no segundo da matemática e na quinta série em português. Agora, isso exigia uma habilidade muito grande para fazer o horário aí a gente pediaajuda para o pessoal da matemática. Porque realmente como encaixar isso aí para que um aluno tivesse um conhecimento maior? Porque, muitas vezes eles saíram das escolas por falta de interesse. Às vezes estavam repetindo coisas, igual repetir uma série, um menino de quatorze anos que ficava, repetia a série uma coisa ele sabia outra coisa ele não sabia. O que ele sabia ele repetia. Então o não seriado permitia que ele avançasse naquilo que ele sabia e ficava e aprendia aquilo que não sabia. 98 Erica Paula Frade; Carmem Lúcia Eiterer. Os processos de formação e de subjetivação docente na EJA em atuação na extensão universitária na UFMG, 2008. 68 (Leonor. Ex-‐coordenadora) O que se percebe é uma reafirmação das observações da Prof.ª Lourdes Barreto (PEZP) em relação ao quanto o fazer na EJA era novo, está/estava em construção. Em 1986 o que acontecia de propostas em EJA? E em estudos e pesquisas? Uma questão parece se destacar: havia/há preocupação com o aluno e ele ganhava/ganha centralidade no processo ensino/aprendiagem. Parece que estes dois fatores – a EJA e o aluno – mobilizam as constantes restruturações do Projeto. c) Atendimento: educando e currículo. A quem atende o PROEF-‐2? Estudo coordenado por Soares; Debortoli99 elaborou o seguinte perfil; Alunos com idade entre 18 e 30 anos, em maioria solteiros, sem filhos e do sexo masculino. Eles moram em casa própria, muitas vezes com os pais, e nos mais diferentes ponto da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Grande parte parou de estudar na 5a e 6a séries, ficando fora da escola em média 10 anos. O Programa chegou a receber alunos de 16 anos. “Chegou um ou outro, sim, até 14 anos podiam sim100. A legislação era a partir de 14 anos você já pode estudar à noite trabalhando, havia um controle nesse sentido”, Leonor esclarece. Em direção oposta, no ano de 2007 o grupo etário se alargara. Coura101 estudou a volta aos bancos escolares de sujeitos que só conseguiram concretizar este sonho acalentado durante a vida toda após seus 60 anos de idade: “Tem hora que eu fico pensando assim: gente, vai ser com 83 anos que eu vou me formar. Será que eu chego lá?” Passar dos 60 anos parece não impedir o início de uma aventura: a volta a escola. Conforme atesta Edna “nos últimos anos o Programa tem recebido sujeitos com 18 anos, 20 anos. A grande maioria do público são pessoas acima dos 40, 50 anos de idade, 80 e pouquinhos anos”. Esses dados são confirmados pela coordenadora do Programa; 99 Leôncio Soares; José Alfredo O. Debortoli et al.. A vida do aluno-‐trabalhador orientando a prática pedagógica em uma proposta de educação para a educação de jovens e adultos, 1992, p.1-‐2. 100 Um dos fatores a se ter educação de adultos a longo prazo seria a limitada capacidade do sistema regular de ensino para atender as crianças na faixa dos 7 aos 14 anos, propiciando um número cada vez maior de adultos sem escolarização básica. (Cf. Haddad, 1988, p.40). 101 Isamara Grazielle Martins Coura. A terceira idade na educação de jovens e adultos: expectativas e motivações, 2007, p.38. 69 Eu diria que não tem mudanças porque nós sempre atendemos mais adultos do que a gente vê em outras EJAs de Ensino Fundamental porque os adultos sentem uma atração por aqui que não veem nas escolas públicas. Então, para vários adultos a diferença é muito grande em relação ao que eles encontrariam nas EJAs do Estado e para eles a coisa dos três anos não é um grilo. Eles não vêm com aquela pressa de entrada no mercado de trabalho dos jovens. Há também uma mudança da atratividade na medida que nós criamos o PEMJA e a passagem direto para o PEMJA porque aqui é um jeito de eles garantirem que estarão lá. Agora, nós não aceitamos menor de 18, mas a gente tem poucos jovens com menos de 20 anos. (Conceição. Coordenadora do Programa e de Equipe. Professora da UFMG, 2011). O ingresso do aluno ao PROEF-‐2 se faz mediante avaliação das habilidades “de leitura, de escrita e de resolução de problemas envolvendo as quatro operações aritméticas”102. Trata-‐se de perceber quais habilidades/conhecimentos trazem os alunos frente ao currículo. Currículo este distribuído da seguinte maneira: duas aulas semanais de História, Matemática, Português, Geografia e de Ciências. Além dessas, há uma aula semanal de língua estrangeira (Espanhol ou Inglês) e uma de Expressão Corporal (um semestre de teatro e outro de educação física). Busca-‐se superar a divisão didática das disciplinas com propostas de trabalhos temáticos entre as áreas do conhecimento103. A preocupação com a dimensão interdisciplinar do trabalho já existia desde o início do Projeto. Quando eu entrei já existia essa preocupação, só que era uma ideia muito rudimentar de trabalho interdisciplinar, não se sabia bem o que era isso e muito menos como fazer. Eu lembro que nós tínhamos os chamados trabalhos de campo e que nós saíamos com os alunos para os mais variados lugares. Fomos para Ouro Preto, em grutas (não as turísticas), então, na época eraconsiderado o trabalho interdisciplinar. Ali é que se discutia mais interdisciplinarmente a proposta, mas também eu via muita coisa forçada, porque todas as áreas tinham que participar e forçava-‐se muito para determinada área entrar no projeto. Dependendo do lugar favorece mais uma área em detrimento de outras, mas como todo mundo tinha que participar ficava uma coisa meio forçada, mas já existia o discurso da interdisciplinaridade, a vontade, o desejo. (Júlio. Ex-‐coordenador. Professor da UFMG, 2011). O desejo, a vontade em afinar o discurso da interdisciplinaridade levaria à organização de reuniões de turma em 2007104. O objetivo desse encontro é reunir sob a coordenação de um professor da UFMG os educadores de uma mesma turma com vistas a troca de experiências e a programação de ações integradas, como atesta a coordenadora; 102 Júlio Emílio Diniz-‐Pereira; Maria da Conceição Ferreira dos Reis Fonseca et. al.. Aprender a ser educador de EJA: análise de memoriais de professores-‐monitores do PROEF/UFMG, 2008, p.80. 103 Emmeline Salume Mati. Trajetórias de educadores construídas na educação de jovens e adultos: experiências e significados. 2008, p.58. 104 Cf. Frade; Eiterer, 2008, p.8. 70 [...] Basicamente, [a reunião de equipe] é um espaço de discussão do projeto interdisciplinar. Mas, a minha equipe desse ano tinha uma professora veterana, os demais eram não só novos no projeto, como também nos seus cursos. Uma coisa que eu acho que é um grande entrave ao trabalho interdisciplinar é o nosso pouco conhecimento das outras disciplinas. Eu achei que esse ano funcionou, especialmente no primeiro semestre, uma coisa de cada um contar o que fez porque se não eles não conseguem nem vislumbrar possibilidades de trabalho interdisciplinar. Porque eles não entendem nada da outra disciplina. Então é muito bom. O professor de Ciências dava aula de Ciências para nós. e essa equipe minha tinha isso. Eles se interessavam e desse compartilhar surgiam ideias de trabalhos interdisciplinares e eles tinham essa disponibilidade. Nem sempre tem isso. (Conceição. Coordenadora do Programa e de Equipe. Professora da UFMG). Atividades extraclasses integram interdisciplinaridade ao currículo. Os professores-‐ monitores reconhecem os limites das excursões com os educandos. Vinícius105, da área de artes, deixa claro que; A atividade extraclasse, com deslocamento dos alunos, envolve negociação com as outras disciplinas sempre, então, é um procedimento complexo. Não é uma coisa que dá para fazer mensalmente não. Ainda assim, muitos lugares foram visitados a fim de complementarem os assuntos de sala de aula. Na opinião da professora-‐monitora Érica106 “as excursões são fantásticas!”. O PROEF-‐2 representou Minas no Congresso IBOPE/UNESCO: a pesquisa que ensina, em São Paulo, apresentando a pesquisa de opinião feita pelos educandos sobre o tema “Nunca é tarde para aprender”. A presença no Congresso marcou positivamente Ivone (Ex-‐ coordenadora). Nós fomos representando Minas e precisa ver nós representamos bem, fizemos um papel bonito, os outros apresentaram muita coisa. Mas exigiram de mim que falasse alguma coisa ou que fizesse um monólogo que eu sabia de cor: “Queixas de uma colegial preguiçosa”. Então eu fui lá na frente e recitei e me aplaudiram de pé, eu falei: “nessa idade!”, que coisa gostosa, né? Infere-‐se da posição dos educandos que as atividades extraclasses complementam a sala de aula e atuam como meio de socialização ampliada. O professor-‐monitor levou-‐os ao Museu de Morfologia da UFMG. Andréia achou superinteressante e ótimo conhecer o corpo, mas ficou enjoada. Maria da Conceição, hoje egressa do PROEF-‐2, visitou o Museu Abílio 105 Vinicius. Professor-‐monitor de Teatro. 106 Érica. Professora-‐monitora de Matemática. 71 Barreto. Para ela o contato com a turma, todos os colegas de sala de aula, “juventude acumulada”, era muito bom. As impressões de Mário César coincidem com Andréia e Maria da Conceição107 e acrescenta; O professor de Geografia também está programando uma excussão nessas áreas montanhosas pra gente começar a ver o aspecto da geografia, rochas que é um detalhe, uma parte que ele está nos mostrando agora. Então surgiu essa ideia da gente fazer uma excussão. Que lugar melhor do que Minas para você explorar essa área de rochas? Aqui tem demais. O foco de Bety108 é conhecer a UFMG, o campus. “Eu gostaria de conhecer esse mundão que é aqui dentro. Gostaria também de ter condição de andar isso aqui tudo, mas a gente já chega correndo”. Ainda assim, ela partilha da opinião dos colegas e acha as saídas “uma beleza!”. Além das excursões, os educandos podem participar de outras atividades oferecidas no CP. Exemplificando, o coral que acontece toda sexta-‐feira às 19h. Edna explica que os alunos escolhem os cursos que desejam fazer. Nós começamos um outro curso tem 1 mês e meio. O objetivo é trabalhar o Windows, a internet e as redes sociais. Pesquisam essas coisas todas. Terminou isso aí, forma-‐se um novo grupo. Porque a gente tem uma grande demanda, mas não tem um laboratóriopara atender todo mundo e, temos, apenas, 1 monitora. d) Educadores: trajetórias. Em média, cada turma conta com sete monitores-‐ professores da Universidade. A entrada desses alunos da graduação no PROEF-‐2, ainda que não se faça sem dúvidas quanto à opção pelo magistério, pode ser um começo do assumir a condição docente, constataram Diniz-‐Pereira; Fonseca109. No início do Projeto, os monitores-‐ professores se voluntariavam. Os professores convidavam o candidato a uma entrevista avaliativa com objetivo de perceber alguns requisitos considerados essenciais na prática educativa. Leonor explica assim; Eles se apresentavam e faziam uma entrevista para ver se a pessoa realmente queria, se tinha condição, se tinha algum conhecimento. Acredito 107 Mário César e Andréia; Maria da Conceição. Educandos e Ex-‐educanda, respectivamente. 108 Entrevista com Bety. Educanda. 109 Júlio Emílio Diniz-‐Pereira; Maria da Conceição Ferreira dos Reis Fonseca. Identidade docente e formação de educadores de jovens e adultos, 2001, p.58-‐9. 72 que eles usavam muito uma forma de ver, na própria entrevista, na conversa com a pessoa, a disponibilidade também de horário, o chegar, para que as pessoas não se sentissem... mais uma escola em que o aluno adulto é ainda o resto, usando uma palavra. É aquele que chega lá de noite e dá uma parte da aula e não tem problema de chegar atrasado? Não. Tinha que ser considerado como aluno realmente regular com toda atenção, com todo respeito, e que tinha que ser dado o melhor, justamente porque ele precisava recuperar a auto-‐estima. A situação de ter abandonado, que precisava recuperar e de não ter o tempo perdido de novo. (Leonor. Ex-‐coordenadora) Se o conhecimento é parte fundamental do processo, o respeito também o é. “O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico”. As palavras são de Freire110, mas retratam a colocação feita por Leonor. Atualmente, a seleção é por área de conhecimento. Por exemplo, para Português, Edna comenta que; Nós fazemos a seleção através de edital. Nós liberamos os editais dizendo quais são as vagas e o perfil é o aluno da Licenciatura. A partir do 2º período esse aluno já pode ser professor-‐monitor aqui. Eles fazem a inscrição, mandam o currículo, os documentos de identificação [...] após a inscrição nós marcamos a seleção que considera, entre outras coisas, o currículo, na área de Português. Em geral, além do currículo e da entrevista nós utilizamos um material escrito que é propor uma questão para que o aluno reflita sobre ela e escreva. Porque nós vamos trabalhar com língua portuguesa nós precisamos saber como escreve e como lê esse sujeito que vai ser o professor de Língua Portuguesa e, aí, cada área define quais são os seus quesitos. (Edna. Coordenadora Geral e de Equipe). A entrada como monitor-‐professor na EJA não prescinde de conhecimentos prévios sobre a área de atuação. Mesmo porque na maioria das Licenciaturas a EJA não é abordada, como informam os professores-‐monitores. “Não tenho matéria de EJA no curso. Meu curso, no caso, é para qualquer tipo de formação de professor. Não tem nada específico”. (Érica111. Licencianda em Matemática, 7º período). No teatro não tem. Tem na FaE como eletiva “Reflexões da prática docente em EJA”. Eu faço lá. (Vinícius112. Licenciando em Artes Cênicas, 6º período). 110 Paulo Freire. Pedagogia da autonomia, 1996, p.92. 111 Entrevista com Érica. Professora-‐monitora de Matemática. 112 Entrevista com Vinícius. Professor-‐monitor de Teatro. 73 Se o curso de origem não se remete à EJA, então, a questão da experiência no PROEF-‐2 poder tornar-‐se opção para a vida profissional desses graduandos (Diniz-‐Pereira; Fonseca113) estaria relacionada à formação do Programa? Que formação seria essa? e) Metodologia e Recursos Educativos. Nestes anos de trabalho ininterrupto o PROEF-‐2 optou pela produção e pela busca constante do material a ser utilizado em sala de aula. “Às vezes ele recorre a textos. Como o professor de História”, lembra Andréia114. A produção é incentivada pela coordenação por dois fatores, segundo Edna115. Primeiro, como parte da formação do professor-‐monitor. Porque aí ele tem que se defrontar com muito mais coisa porque ele não acha o material ideal para ser trabalhado em sala. Ele não pode trazer o que ele usa na graduação porque é um material destinado a um outro nível de ensino e a um outro objetivo de formação, que é a formação do professor. Segundo, porque parece ser próprio da EJA que os envolvidos pensem produções mais próximas do seu público. Essa produção do material é um dos elementos que se torna muito específico em relação ao trabalho de EJA e, principalmente, ao trabalho que nós fazemos aqui. [...] Ele não pode nunca chegar numa sala de aula com o material escrito com uma fonte pequena porque muitos alunos têm problema de vista, o espaçamento também deve ser maior, a complexidadeou não da linguagem estudada nos textos tem que ser cuidada, não podemos pegar um livro escrito para alunos de 11 a 15 anos e jogar na mão do aluno de educação de adultos porque eu não posso infantilizar o aluno da EJA. Essas atividades elaboradas chegam a sala em folhas xerografadas e algumas podem ser complementadas em aulas práticas, como é o caso de Ciências Naturais. O CP dispõe de dois laboratórios e um deles é usado para auxiliar a aula dispondo de bancadas, modelos didáticos, animais fixados, microscópios e materiais para microscopia, lupas, reagentes, vidrarias, além de cartazes explicativos fixados na parede. O fácil acesso a esses materiais maximiza o trabalho durante a elaboração das aulas práticas nesse ambiente, conforme Leite; Silva; Vaz116. As autoras realizaram uma sondagem sobre a avaliação dos educandos 113 Júlio Emílio Diniz-‐Pereira; Maria da Conceição Ferreira dos Reis Fonseca et. al.. Aprender a ser educador de EJA: análise de memoriais de professores-‐monitores do PROEF/UFMG, 2008. 114 Andréia. Educanda. 115 Edna. Coordenadora Geral e de Equipe. 116 Adriana Cristina Souza Leite; Pollyana Alves Borges Silva; Ana Cristina Ribeiro Vaz. A importância das aulas práticas para 74 acerca das aulas no laboratório e constataram que, de modo geral, o trabalho prático é bem recebido e apreciado. Inclusive, os educandos reconhecem a necessidade da prática para referendar a teoria. Os professores-‐monitores lançam mão dos recursos disponíveis no CP. Nas aulas de Matemática, Érica usava muito o retro projetor por razões estruturais (local da sala) e disponibilidade do aparelho. Ela conta que também usa material concreto, dobradura e a sala de informática, especialmente. Eu mexo muito e tento achar umas coisas interessantes para trabalhar. Quando a gente estava trabalhando com ângulo eu achei muito site interessante. Muita coisa que dava para eles verem bem, analisarem bem o que era ângulo e tal. Da equação também achei uma balança. Calculadora eu uso muito. Calculadora científica eu já usei com eles, enfim, são esses e os espaços que a gente usa também são recursos didáticos. (Érica. Professora-‐ monitora de Matemática). f) Política Suplementar. Entendemos nesta categoria a merenda, o transporte e o material didático. Desde o início do Projeto percebe-‐se a necessidade da merenda. Porque nós achamos que as pessoas do Supletivo, que trabalhavam o dia inteiro, para aguentar ficar lá mais umas três horas à noite precisavam comer. Então nós conseguimos no Setorial [restaurante universitário] que se fizesse uma sopa. Eles chegavam, tomavam primeiro a sopa e depois iam para sala de aula. (Ivone. Ex-‐coordenadora). Atualmente, “a escola oferece merenda escolar a partir das 17:30 e o jantar vai até às 19:20. Então o sujeito que chega na escola às 19 horas não sobe antes de jantar”. (Edna117). Todavia, o programa não tem sido constante. Bety118 fala com certa tristeza da falta da merenda. Esse 2° semestre só teve acho que uma semana de lanche. Agora não tem nada. Tem muita gente que vem direto do serviço. Eu não. Eu venho direto de casa, tenho condições de trazer alguma coisa e quem não tem? Eu não tenho condições de trazer para todo mundo, mas tem muita gente que às vezes não vem porque paga condução, lanche pesa! Diz que a verba da merenda acabou. alunos jovens e adultos: uma abordagem investigativa sobre a percepção dos alunos do PROEF-‐2, 2005. 117 Entrevista com Edna. Coordenadora Geral e de Equipe. 118 Entrevista com Bety. Educanda. 75 No caso dos Projetos, em geral, é raro terem verba destinada à merenda. Manter um programa de alimentação, por mais simples que seja, envolve grande esforço e colaboração. Edna relata que Há três anos que nós conseguimos a merenda para os alunos da EJA. Eles recebem a verba para isso, que nunca é suficiente. É em torno de 30 e poucos centavos para fazer a merenda. Se você vier aqui para comer da merenda que nossos alunos comem você fala assim: é impossível fazer essa merenda com menos de 50 centavos por aluno. Inclusive atendemos aos alunos do PROEF I. Os monitores aqui da escola que querem jantar jantam lá e a cozinha e nós temos três pessoas que ficam responsáveis por essa merenda. Não ficou claro nos depoimentos o porquê da interrupção do serviço de merenda. Para Érica119 funciona assim: “quando você tem que cortar alguma coisa no CP, você corta da EJA. [...] A primeira a sofrer sanções aqui na escola é a EJA, sem sombra de dúvidas”. A merenda pode ser fator decisivo à permanência no Projeto. Ivone120 se lembra dos colegas que pararam de estudar por causa da alimentação. Na mesma direção Mário César121 argumenta a favor da continuidade do serviço da cantina. A gente estava com um projeto muito bom da cantina e da alimentação. Aí o governo, eu não sei o que aconteceu. Cortou esse negócio. Pode voltar isso aí porque tem muita gente que saí do trabalho e vem direto para escola. Então alimentação ali estava sendo muito boa para esse tipode pessoas. A oferta da merenda escolar poderia ser uma tentativa de corrigir as desigualdades entre os cursos do CP. Érica desabafa em tom de indignação “Se não tem dinheiro para o lanche vamos cortar o lanche da EJA. É um direito deles porque eles cursam o Ensino Fundamental. Então eles têm direito a merenda”. Arroyo122 transforma a indignação de Érica na questão “Quando os coletivos feitos tão desiguais se afirmam como sujeitos de política”? g) Impacto do Projeto: pontos de vista. A volta aos bancos escolares vem sempre impregnada de imagens, desejos e de realizações. Por que voltar à escola? Ao voltar como é entendido o processo? Por processo entendemos os mecanismos de ingresso e de 119 Entrevista com Érica. Professora-‐monitora de Matemática. 120 Entrevista com Ivone. Ex-‐coordenadora. 121 Entrevista com Mário César. Educando. 122 Miguel Arroyo. Políticas educacionais e desigualdades: à procura de novos significados, 2010, p.138. 76 permanência. Santos123 denomina tais mecanismos de motivadores e facilitadores. Motivadores na medida em que a volta exige muita motivação e/ou determinação para se retomar a condição de estudante. Facilitadores porque justamente auxiliam esse processo de retomada da vida estudantil. Incluem-‐se entre os fatores a localização da escola, o transporte, a merenda, as salas de aula compatíveis, os educadores comprometidos, o apoio familiar, ou seja, um conjunto de fatores senão orquestrados, quase. Isso porque se faz necessário superar alguns percalços da vida, diria Coura124 e pegar o “gosto” pela escola. Gosto este saboreado com a permanência, conforme citam Bety e Ivone125. Você entende mais a vida. A gente quer uma conversa mais saudável e não aquele negócio de TV, novela, sabe? Você já toma conhecimento de outros escritores, você vai comparando a sua vida que você já viveu. Igual aquele, eu adorei, que nós fizemos um trabalho com ele, é Queiroz, você vê o que você viveu outras pessoas viveram e põe aquilo no papel. Eu tinha vontade de escrever a minha vida, mas eu não sei como. Mas aqui você tem a oportunidade. Tudo eu ponho dentro da minha experiência de vida. [...] Então você continua vivendo. Se eu ficar em casa eu vou continuar vivendo? Como? Aqui foi a continuação do meu lar, dos meus filhos. Porque eu fiz muitos amigos aqui e vou te contar, a pessoa que fica em casa quietinha e não quer estudar está perdendo muito! O local (CP/UFMG) exerce certa influência no imaginário dos educandos. A ponto de Edna comentar que acredita no fato da escolha pelo Projeto estar ligada à instituição. “Que tem muito essa coisa de pensar estar dentro da UFMG e não ser um espaço que é próximo ou longe da minha casa é estar dentro da UFMG”. Os depoimentos dos alunos corroboram a opinião de Edna. Para Mário César “só de você vim aqui e falar que é Universidade parece uma outra coisa, parece que é um outro mundo que você está envolvendo”. Já Bety sente a “glória”, porque Aqui é a nata de tudo! Não tem nada que compara a UFMG não! Daqui que sai tudo, pelo menos no meu modo de pensar. Não só pelo espaço, mas porque o pessoal eu acho que leva muito a sério. Desde o projeto que eles fizeram para a terceira idade eu vi como é que é, aí eu fiquei doida para vir para cá. [...] E eu sei que eu estou no lugar certo. Eu tenho certeza vou chegar lá [ENEM]. 123 Geovânia Lúcia dos Santos. Educação ainda que tardia: a exclusão da escola e a reinserção de adultos das camadas populares em um programa de EJA, 2003. 124 Isamara Grazielle Martins Coura. A terceira idade na educação de jovens e adultos: expectativas e motivações, 2007. 125 Entrevistas com Bety e Ivone. Educanda e Ex-‐educanda, respectivamente. 77 1.3 Segundo Estudo: Projeto Paranoá (UnB) / Grupo de Alfabetização de Jovens e Adultos – GAJA (CEDEP) a) Constituição do Projeto: histórias. Trata-‐se de um Projeto de ensino, pesquisa e extensão (FAE/GENPEX) da Universidade de Brasília (UnB)126 a partir de sua relação com a comunidade do Paranoá, Projeto Paranoá. Trata-‐se, também, de um desdobramento das ações do Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá (CEDEP) a partir de sua relação com o GENPEX/FAE/UnB/127, Grupo de Alfabetização de Jovens e Adultos. A colocação pode soar ambígua, mas expressa dois pontos de vista presentes no discurso dos dois interlocutores, em estudos e pesquisas, em documentos e em declarações de moradores do Paranoá128. Para este estudo interessa perceber, nesses dois locais de “poder”, o trabalho conjunto realizado e as implicações na prática educativa em um chão comum, o Projeto Paranoá. A história da Vila Paranoá rendeu e, ainda rende, versos e muita prosa. “Mas, foi difícil te entender, Hoje bates forte em meu coração, Ó Vila és sempre viva, és festança. Também és samba és criança Eternamente a esperança é nossa paixão”129 É uma história de muita luta, “foi difícil te entender”. Dor. Sacrifícios. E esperança. “Hoje bates forte em meu coração”. Originária da construção da Capital Federal, a antiga Vila 126No Projeto Paranoá há uma articulação de dois movimentos práxicos interrelacionados. Um diz respeito aos alfabetizadores, alfabetizandos, dirigentes das organizações populares e moradores (atores) da Vila Paranoá-‐Brasília-‐DF: desenvolvimento com/os/nos atores de uma competência de falar/pensar/sentir agindo/transformando as próprias condições de vida, tendo o apoio da universidade. O outro movimento se refere a professores e alunos (atores) da universidade: desenvolvimento de uma competência de ensinar/pesquisar, considerando, predominantemente , os interesses das camadas populares. (Cf. Reis, 2000, p.265). 127 GENPEX – Grupo Lattes de Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Popular e Estudos Filosóficos e Histórico – Cultural. É um grupo da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e do CEDEP. A parceria com a Faculdade de Educação data de 1986, e desde então não se rompe o círculo de ensino-‐pesquisa-‐extensão. Neste sentido o GENPEX é uma célula do Movimento Popular na UNB e desta no Movimento Popular. (Cf. Jesus, 2007, p.87). Atualmente o coordenador do Projeto na Faculdade de Educação é o Prof. Renato Hilário dos Reis. 128 A questão está bem viva em Renato Hilário dos Reis. A constituição do sujeito político, epistemológico e amoroso na alfabetização de jovens e adultos, 2000. 129 Tributo à Vila Paranoá -‐ música de composição Alan Wellington, segunda classificada no FEMUPOP (Festival de Música do Paranoá) em 1990. In: Leila Maria de Jesus. A repercussão da atuação de educadores/as populares no CEDEP/UnB na escola pública do Paranoá-‐DF, 2007, p.24. 78 Paranoá130 abrigou não só operários imigrantes como também trabalhadores rurais principalmente das regiões do norte e do nordeste brasileiro com famílias e parentes131. A princípio, o acampamento do Paranoá deveria ser desfeito no momento em que o canteiro de obras se transformou na Capital Federal. Como isso não ocorreu as vilas e os acampamentos passaram a ser considerados invasões a serem erradicadas132. A população “instalada” em condições extremamente precárias e sob pressão do governo do Distrito Federal prossegue na luta para se fixar na Vila133. Reis; Viana134 contam que; Os primeiros moradores organizaram o Movimento Popular Organizado (MPO), a fim de lutar por melhores condições de vida, pelos direitos fundamentais, como moradia, saneamento básico, saúde, educação, lazer. Dessa forma, em 1987 é criado o CEDEP, entidade organizada pelo MPO. Essa entidade tem como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento social da comunidade por meio de trabalhos de educação, cultura, saúde, etc. “Oração e Ação”. As primeiras tentativas de organização de um movimento popular nasceram da ação de um grupo de jovens da oração135. Primeiro, em prol da moradia, Grupo Pró-‐Moradia136. Depois, o Grupo ascendeu à coordenação da Associação de Moradores137 (1982-‐1987) e, por fim, após perder a coordenação da Associação, se voltou à criação do 130 De acordo com Viviane da Silva Oliveira (2006, p.2) “Em 18 de outubro de 1956, as obras de represamento do Rio Paranoá já haviam sido iniciadas. Para a construção dessa barragem, em 1957 foi montado um acampamento pela NOVACAP para abrigar os operários e engenheiros das empresas construtoras para agilização dos trabalhos”. 131 Ainda é muito comum a chegada de conhecidos e parentes. É assim que a Vila Paranoá cresce. Cada morador tem ao menos a história de um parente, amigo ou conhecido que trouxera para a Vila Paranoá. 132 “O Lago Paranoá contorna quase toda a cidade de Brasília. É decorrente do represamento de vários córregos e riachos. Contribui para a umidificação da cidade, particularmente, nos meses mais secos do ano (junho a setembro). Tem uma barragem reguladora/contentora das águas represadas, que foi construída por operários migrantes a que faço referência. Se localiza na intersecção dos dois setores de moradia mais “nobres” de Brasília: Lago Norte e Lago Sul”. (Cf. Reis, 2000). Este segundo estudo de caso se apoia amplamente no trabalho de Reis, principalmente no Cap. I. 133 A história da ocupação e implantação da Vila do Paranoá está detalhada em Renato Hilário dos Reis (2000), Leila Maria de Jesus (2007), Letícia de Lourdes Curado Teles (2003). 134 Renato Hilário dos Reis; Sttela Pimenta Viana. Projeto Paranoá: inserção participativa contributiva no cotidiano da educação de jovens e adultos no Cedep/Paranoá, a partir do diálogo entre sala de aula da UnB e sala de aula do Cedep, 2008 135 Lourdes lembra que na época estavam com idade entre 12 e 16 anos. (Entrevista em 29/08/2009). 136 O Movimento Pró-‐Melhorias, alguns chamam de Pró-‐Moradia (porque melhorias e moradia estão muito atreladas) é uma estratégia de mobilização e organização da comunidade em prol de conquistar melhorias para a Vila Paranoá. As melhorias dizem respeito à água tratada, energia elétrica, esgoto, transporte, saúde, educação e a conquista da regularização da ocupação por meio da fixação, que daria fim à instabilidade e ameaças do Governo para a remoção da Vila. (Cf. Leila Maria de Jesus, 2007, p.29). 137 A gestão reorganiza a Associação de Moradores, criando Comissões: Água, Educação, Cultura, Imprensa. Faz o primeiro jornal, de duas páginas, através do qual,informava à população de todas as discussões, acertos e desacertos com o governo. (Cf. Reis, 2000). 79 CEDEP com objetivo de levar adiante os trabalhos executados nas Comissões de Educação e Cultura. O atendimento aos jovens e adultos no Paranoá iniciou-‐se pelo MOBRAL já em fase de franco declínio (1985). A experiência durou poucos meses e, ao findar, a Comissão de Educação da Associação elaborou uma proposta de alfabetização mantendo no programa a conotação do esclarecimento político e o fortalecimento das discussões sobre as necessidades da comunidade. A Comissão apresentou a proposta à Fundação Educacional do Distrito Federal (FEDF). Enquanto as negociações caminhavam, uma turma de alfabetização foi aberta na Igreja para atender a demanda dos alunos egressos do MOBRAL que escreviam o nome e desejavam dar continuidade dos estudos. A Diretoria do Ensino Supletivo (órgão da FEDF) não apoiou a Comissão. A Associação estudava outros caminhos quando descobriu uma experiência comunitária realizada no Gama, cidade satélite de Brasília, coordenada pela Prof. Marialice Pitaguary, da Faculdade de Educação da UnB. Disposta a conhecer a proposta da Comissão, a professora ouviu: Óh, nós queremos que vocês nos ajudem a fazer algo diferente. Então, quando a gente foi buscar, a gente já disse – nós não sabemos o que fazer, e como fazer. Nós temos que aprender como fazer. Nós sabemos que temos que fazer. O que queremos. Tínhamos consciência de que tínhamos que fazer algo diferente, que não era aquela coisa do MOBRAL só de ficar lá, encher o quadro aquela coisa. (Lourdes. Coordenadora do GAJA, 2009). Em comum acordo, partem a Comissão de Educação e a Professora da UnB para o estudo e a viabilização do Projeto de Alfabetização no segundo semestre de 1986. Os espaços comunitários usados para o Projeto foram a Igreja São Geraldo, o barracão do Projeto Rondom e o salão do Projeto das Bandeirantes (Escoteiros). O Grupo que negociava com a FEDF acresceu seu potencial com a participação da UnB ao alvorecer de 1987. A parceria Comissão/UnB defendia/e um programa de alfabetização baseado tanto no ler e no escrever quanto no enfrentamento dos problemas da comunidade. A Comissão tinha clareza em dois pontos. De um lado, que o “povo” não tinha acesso à informação e isso dificultaria os trâmites da fixação no Paranoá e, de outro, que seria um grande diferencial ter pessoas da comunidade trabalhando com a UnB e ter um espaço de discussão já inserido na rede oficial de educação. Todavia, a conjunção dos fatores não aconteceu. Os educadores da rede 80 pública discordam da proposta de trabalho discutida entre a FEDF138 e a Associação/UnB. Consequentemente, a busca pelo espaço público se inviabilizou dando lugar ao trabalho comunitário. Trabalho este fortalecido pela realização do primeiro Censo do Paranoá. Uma iniciativa da Associação com suporte da UnB. A questão motivadora da pesquisa era conhecer o número de analfabetos entre a população à casa das 35 mil pessoas. A estratégia usada foi o diálogo com a comunidade e a abordagem de casa em casa. O Censo ganhou importância para a comunidade ao desvelar o contigente do Projeto de Alfabetização, bem como, ao deflagar a situação qualitativa da população em geral. O aprofundamento na própria realidade trouxe insumos à recrudescida luta pela fixação que culminou, em 1988, no decreto de fixação b) Organização: proposta pedagógica. Nesta altura, o desgaste da luta contra as investidas governamentais e seus agentes infiltrados levaram o grupo a perder a coordenação da Associação. Os novos dirigentes (gestão 1988-‐89) focariam em projetos distintos dos ligados à cultura e à educação, entendendo que a educação deveria ser da alçada da FEDF. Sabe-‐se que nestas condições, o trabalho de educação realizado com a UnB estaria sem amparo, quer da Associação quer da FEDF. O impasse levou o grupo à criação do Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá, CEDEP, uma instituição político-‐ jurídica139. O objetivo desta entidade seria garantir os trabalhos de cultura e educação que estavam em andamento. Desde então, o Projeto funciona em parceria estabelecida com a UnB. Para Reis; Viana140; O Projeto Paranoá: alfabetização e formação em processo de alfabetizadores de crianças, jovens e adultos de camadas populares é um projeto de extensão do Decanato de Extensão (Dex) da Universidade de Brasília. Esse projeto faz parte também da proposta curricular do curso de Pedagogia, na disciplina Projeto III, que tem como finalidade a prática do ensino-‐pesquisa-‐extensão, sendo um campo de desenvolvimento de práxis pedagógica: ação-‐reflexão-‐ ação. 138 Conforme Airan Almeida de Lima é importante registrar que a educação popular também contou com a colaboração da FEDF, que mesmo sem assumir institucionalmente o dever de alfabetizar Jovens e Adultos alguns diretores do Paranoá disponibilizaram salas de aulas das escolas para que o movimento popular alfabetizasse os jovens e adultos moradores da cidade. (1999, p.44). 139 O CEDEP é uma entidade sem fins lucrativos, devidamente registrada e reconhecida como entidade de assistência sociale agora de utilidade pública federal. (Cf. Jesus, 2007, p.84). 140 Renato Hilário dos Reis; Sttela Pimenta Viana. Projeto Paranoá: Inserção participativa contributiva no cotidiano da educação de jovens e adultos no Cedep/Paranoá/Itapoã. 2008, p.4. 81 Em 2011, o Projeto estendeu salas a duas localidades: Sobradinho dos Melos e Itapuã, áreas de ocupação junto ao Paranoá, ampliando a participação de educandos. Os locais de atendimento variam nessa caminhada. Da primeira sala na igreja até Sobradinho e Itapuã, muitas se abriram e outras tantas se fecharam. Houve certa itinerância no atendimento, resultado, em parte, das mudanças de governo do Distrito Federal e, em parte, da disponibilidade de espaço na comunidade. Sobre a falta de espaço na comunidade, conjecturamos a partir das leituras sobre o Paranoá, que houve crescimento de diferentes ramos de atividades nas instituições atuantes na comunidade, civis e religiosas, e incremento de atividades, sobretudo culturais. A exemplo, veem-‐se as igrejas evangélicas, pastorais católicas, congregações, o Centro Social São Geraldo, os Escoteiros e o Movimento Bandeirantes, o Decanato de Extensão da UnB, para citar alguns141. Daquelas, Jesus142 lembra o fechamento de salas em função dos resultados das eleições de 1998. A proposta eleita era contrária à utilização das salas de aula ociosas no período noturno pela educação popular. Essa postura levou ao fechamento de todas as salas de alfabetização das escolas públicas coordenadas pelo CEDEP. O atendimento volta ao CEDEP, porém, com 4 turmas. Em junho de 2007 havia 3 turmas no CEDEP, 01 na Igreja Anglicana na Quadra 18 do Paranoá e 02 no Itapuã. Em 2011 funcionavam 4 salas no CEDEP, 03 em Sobradinho dos Melos e 04 estavam programadas para o primeiro semestre no Itapuã, mas, por problemas da Regional não abriram. Figura 2: Projeto Paranoá – Sala de aula no CEDEP Foto: Equipe de Pesquisa 141 Cf. Leila Maria de Jesus, A repercussão da atuação de educadores/as populares no CEDEP/UnB na escola pública do Paranoá-‐DF, 2007, p.41. Sobre o Decanato de Extensão, a autora lamenta a saída em 1990, depois de 5 anos na comunidade. 142 Idem. Ibidem, p.54. 82 c) Atendimento: educando e currículo. Uma caracterização dos alunos do Projeto Paranoá tende a vê-‐los como mulheres e homens trabalhadores. O auxílio de Fidalgo; Machado143 ajuda a ampliar o termo trabalho para além de um “fenômeno articulado a legislação do trabalho; às formas alternativas de trabalho que correm por fora das relações assalariadas, o trabalho desregulamentado, o trabalho precário, à formação dos trabalhadores, enfim, o complexo mundo do trabalho”. Eu diria que são jovens e adultos trabalhadores que buscam uma nova chance, uma nova oportunidade e que ainda acreditam que pode ser diferente e que podem escrever uma história da vida deles. (Leila. Entrevista em 17/6/2011). Esses alunos que não tiveram condições de estudar a tempos atrás por causa do local de origem, por dificuldades, por não ter tempo porque trabalham. Então, eu descrevo como pessoas que querem uma chance para estudar e que eles fazem uma tentativa e muitas vezes não dá certo por causa dos problemas do dia-‐a-‐dia e depois eles têm o retorno, tentam novamente. Eu os descrevo como pessoas que buscam o sucesso e principalmente um sonho que é aprender a ler e escrever. (Eva. Educadora, 2011). Francisco, aluno atual, aos 72 anos se empolga quando responde se ainda trabalha. – “Trabalho. Trabalho do mesmo jeito de quando eu estava com 20 anos”. As várias formas que o trabalho assume são suficientes para encaixar Maria Amélia144, aluna atual, como trabalhadora ainda que “No momento eu não trabalho... assim...” ela diz. Trabalha, sim, em casa, cuidando da família. “Inclusive quando eu entrei aqui eu estava das oito às dez, e ele [o esposo] achou que eu estava chegando tarde para dar os remédios dele e perguntou se tinha outro horário, então, eu mudei de seis às oito”. Em se tratando de aluno e de aluna que trabalham o horário da noite acaba sendo favorável. Ângelo145, aluno atual, concorda que “É bom porque se fosse de dia eu não poderia, e acho que a maioria que está vindo aqui à noite é porque não pode vir de dia”. O GAJA oferece dois horários de aula pensando em melhor atender aos alunos. Para Francisco o horário das 20 horas “é bom. Minha esposa diz que é para eu começar a estudar 6 horas (18h), mas, só que seis horas há dias que eu não posso vir porque as vezes eu chego é oito, nove horas do meu serviço. Então, não dá para vir ao colégio”. 143 Lucíola Licínio de S. Machado; Fernando Fidalgo (Orgs.) Dicionário da Educação Profissional, 2000, p.219. 144 Entrevista com Maria Amélia. Educanda, 2011. 145 Entrevista com Ângelo. Educando, 2011. 83 Além das classes de alfabetização, o Centro oferece aulas de informática (Escola de Informática e Cidadania); atividades do Grupo de Economia Solidária, do Grupo de Cultura e o Grupo de Comunicação por meio do Jornal do Paranoá, editado pelo CEDEP; a Sala de Leitura em parceria com aUnB, o GENPEX146. Recentemente foi criado o Grupo de Formação Profissional: web design, fotografia, padaria e confeitaria, malharia e confecção, jardinagem e paisagismo. A localização e o espaço físico do CEDEP parecem atender às necessidades do Projeto e ao interesse dos estudantes. Aqui é bom, eu gosto de estudar aqui. Não tem muito barulho, não tem muita bagunça, eu não gosto de lugar que tem bagunça, aqui é mais tranquilo. Na escola tem jovem gritando, muita bagunça aí eu acho que é muito agitado para mim. Aqui há mais silêncio, mais calma, só gente que nem eu mesma, mais velhinho do que eu, às vezes tem outro da minha idade, só assim, todo mundo tem aquela calma. É bom demais! (Maria Amélia. Educanda, 2011). Eu acho bom, porque o Centro de Cultura e Desenvolvimento ele é uma referência. Principalmente porque antes de ter esses projetos de alfabetização de jovens e adultos, só a entidade CEDEP que alfabetizava, nem uma outra aqui alfabetizava. E a entidade faz isso é por persistência, porque nós temos um trato com a gente (como alfabetizadoras) e com a comunidade, com cada um que se propõe a aprender a ler e escrever. (Eva. Educadora, 2011). Maria Amélia se refere à idade dos colegas de turma: mais velhinhos ou iguais a ela. Há uma tendência no perfil do estudante ser mais adulto que jovem. Isso vai incidir no interesse pessoal pela alfabetização, na condução do tempo de conclusão de cada um, e possivelmente, no levantamento da situação-‐problema-‐desafio. As pessoas das diversas faixas etárias devem perceber de forma diferente as situações e os desafios, o que leva ao processo de votação da situação-‐problema-‐dasafio. Entendemos ser uma opção de trabalho da ordem do coletivo, do vivido pela comunidade. Esta afirmação permite uma inferência: este tipo de condução do currículo leva os estudantes a permanecerem mais tempo no Projeto uma vez que aí a vida vivida emerge e busca-‐se tratá-‐la de acordo com as demandas individuais/coletivas. A gente pode utilizar todos [métodos] de forma que vá capacitar aquele aluno para que ele aprenda, de forma que ele aprenda politicamente. Eu acho que aqui a gente tem muito forte a parte política. É assim, você está 146 Cf. Jesus, 2007, pp.86-‐87. 84 aprendendo a ler de que forma? Eu estou aprendendo a escrever “o buraco da minha rua precisa ser fechado e eu vou ligar para tal número para que isso aconteça”. O médico não compareceu no hospital tal dia, no dia que era para ele comparecer. Como é que eu vou fazer para que ele compareça? Como é que eu vou lutar pelos meus direitos. E aí a gente faz um paralelo também histórico. Como é que estava o Paranoá antes e como é que está hoje, e o que precisa melhorar. Isso escrito, isso falado, isso discutido, então isso é... eu diria um método político, eu diria mais ou menos por ai! Hoje está mais ou menos por ai. (Jaqueline. Licencianda de Pedagogia, UnB, 2009) Partindo desse pressuposto, o tempo de permanência dos educandos no Projeto é flexível. A terminalidade do curso de alfabetização está prevista em três semestres, a depender da sondagem inicial e de outros fatores subjetivos do aluno. Por exemplo, Antônio147 está há 7 anos no CEDEP e conta que “A professora falou para eu ir para o colégio, mas eu não vou não. Ir para quê? Não vou fazer concurso em nada, o pouco que eu aprender é aqui mesmo”. De forma semelhante Maria Amélia148 tem base para avançar, mas prefere ganhar mais confiança: “E eu estou aqui, entrei no ano passado, mas já no meio do ano, a professora Eva queria me mandar lá para o colégio. Mas eu falei que esse não dá para acompanhar. Lá ainda não, para deixar para o ano que vem”. A gente conta que esse processo começa daí, mas ele não está cronometrado em 06 meses. Nesse período de 01 semestre de trabalho a gente espera que ele esteja preparado para sair para a rede. Agora, há aqueles que demandam um tempo maior, há aqueles que ficam 01 ano conosco, há aqueles que ficam 03 semestres conosco. Porque não é só ele estar preparado na leitura, na escrita, nos processos matemáticos para ir, não é só isso. Ele precisa estar confiante, confiando nele e, sobretudo, ele precisa desejar muito ir para que essa dificuldade que ele vai encontrar na rede não seja motivo para ele desistir. [...] Às vezes a gente até coloca eles na turma concluinte, a gente estimula, dependendo da resistência da turma, a gente até leva para fazer um intercâmbio, para conhecer a escola, como é que é, a gente faz todo um trabalho, mas se o aluno diz: “eu quero continuar aqui com vocês porque eu estou me sentindo bem aqui, então, tudo bem. (Leila. Tesoureira, 2011). As terminologias das turmas de iniciante, intermediária e concluinte fazem alusão às fases da conquista da lecto-‐escrita descritas por Emília Ferreiro & Ana Teberosky, mas não só, adverte Reis149. Os três momentos ajudam a balizar a bagagem do aluno e, ao mesmo tempo, tentam responder à questão do tempo de permanênciana turma. 147 Entrevista com Antônio. Educando 148 Entrevista com Maria Amélia. Educanda. 149 Renato Hilário dos Reis. A constituição do sujeito político, epistemológico e amoroso na alfabetização de jovens e adultos, 2000, p.61. 85 Então, a gente não tem como falar “você vai ficar um ano nessa turma!” É claro que todo semestre a gente tenta colocá-‐los na rede. A professora vai lá com eles na escola e eles pegam a relação dos documentos para fazer a prova, que lá na rede tem uma prova para fazer uma sondagem. Eles pegam esses documentos, e quem quiser... os alunos também eles têm que querer ir para lá. É outra realidade diferente da realidade daqui. A gente pega a relação, convida eles para irem a escola, eles vão. Fazem um roteiro dentro da escola, conhecem a escola, para eles irem se ambientando, onde é que fica a escola, qual o horário. Se podem vir nesse horário, se não pode, continua no CEDEP até o momento que puder estar nesse horário da escola. Então a gente não dá expectativa de tempo para ninguém aqui, porque não tem como. Varia muito. (Jaqueline. Licencianda de Pedagogia, UnB, 2009). Uma realidade diferente pode ser percebida a partir da elaboração do currículo. O conteúdo no Projeto Paranoá não é um dado pronto, elaborado pelos educadores e pela coordenação. A organização dos temas passa pela reunião coletiva quinzenal ou mensal de busca pela “situação-‐problema-‐desafio”150 escolhida em Fórum. A situação é o fio condutor da temática, do planejamento e do processo pedagógico de alfabetização. O lugar do Fórum para Lourdes é o local onde “a gente trabalha muito essa questão do que fazer, do como fazer no dia-‐a-‐dia, discute a situação-‐problema-‐desafio, tira os problemas para serem discutidos durante a semana”. Quadro 12: Fluxo da construção das atividades educativas no CEDEP Dia/Hora Situação Grupo Tema 2a a 4a feira (20 às 22 h) 5a feira (20 às 21h) Aulas de desdobramento Alfabetizandos, alfabetizadores, professores e alunos da UnB (como participantes-‐ observadores). Discussão da situação/problema-‐desafio escolhida, interrelacionando língua portuguesa, linguagem matemática, estudos sociais, ciências e encaminhando concomitante e simultaneamente ações de iniciativa individual e coletiva, visando reversão superação da situação/problema-‐ desafio. 5a feira (21 às 22 horas) a) Reunião entre alfabetizadores, dirigentes da organização popular, professores e alunos da UnB b) Reunião de alfabetizandos e entre os alfabetizandos Alfabetizadores, dirigentes da organização popular, professores e alunos da UNB, convidados de outras organizações, instituições e universidades (quando for o caso) Alfabetizandos e seus representantes Avaliar e reencaminhar a prática alfabetizadora da semana e elaborar questões à discussão no Fórum. A valiar e reencaminhar a prática alfabetizadora; preparar a apresentação das discussões, encaminhamentos e resultados das ações individual e ou coletivas visando a reversão ou superação da situação/problema-‐ desafio ou apresentar propostas nesse sentido à discussão do “Fórum”. 150 “Escolhidas com discussão, defesa de posição, votação com maioria simples ou absoluta”. (Cf. Reis, 2000, p. 59). 86 De acordo com possibilidad e dos atores Reuniões com/ entre alfabetizados Alfabetizados, dirigentes da organização popular, alfabetizadores e alunos da UnB que (via concurso) ingressarem na rede pública de ensino. Discutir e encaminhar a continuidade dos estudos, bem como, a continuidade de inserção na luta coletiva dos moradores. 6a feira (20 às 22h) Encontro de Aprendizagem Múltipla e Coletiva – Fórum – Aula coletiva Alfabetizandos, em turmas ou representantes; alfabetizadores; dirigentes da organização popular; professores e alunos da Universidade de Brasília (UnB); convidados de outras universidades, instituições e organizações brasileiras e estrangeiras. Discussão e Escolha das Situações/Problemas-‐Desafio enfrentadas/vividas pelos moradores do Paranoá. Seu desdobramento metodológico-‐pedagógico; encaminhamento, revisão e reencaminhamento da prática semanal da alfabetização; apresentação dos resultados e encaminhamentos decorrentes da discussão da situação/problema-‐desafio Fonte: Renato Hilário dos Reis (2000, p.49) Os Fóruns acontecem, por vezes, em outros espaços além do CEDEP levando os educandos a se deslocarem. As plenárias deliberam sobre as questões educativas e, dentre elas, as atividades extraclasse. Apura-‐se dos depoimentos dois motes, pelo menos, para as saídas da escola. Um diz respeito às reuniões ampliadas do Fórum de EJA do Distrito Federal. A direção do CEDEP acompanha nacionalmente o movimento dos Fóruns. A afirmação é confirmada por Lourdes: “Nós estamos participando do Fórum de EJA do Distrito Federal. Agora mesmo nós estamos indo para o EREJA Centro Oeste151. Já participamos de vários Fóruns fora do Distrito Federal com alfabetizadores e alunos”. Outra se relaciona às próprias atividades de sala de aula. Jerry se lembra de ter ido a um “Fórum em Catalão e teve outro que eu não estou lembrado. Já fui para CPI no Senado com o apoio do CEDEP. Quando tem reunião do CEDEP em outro lugar eu vou”; portanto, viveu a experiência do GAJA nas duas vertentes.O resultado dessas atividades, para Zélia152 ampliou sua vida social. Sempre quando tinha reunião na Câmara Legislativa eu ia. O pessoal daqui do CEDEP, a Leila, me pegava de surpresa eu tinha que fazer discurso lá sem estar preparada e nem nada. Mas mesmo assim eu fazia e eu era bem aplaudida, sabe? Quando eu estava aqui no CEDEP eu achava que eu não ia conseguir, mas eu consegui. Eu já fui em lugares que eu nunca achava que eu ia passar por lá. Eu já fui na Bahia, no Ceará. Então, lá foi muito bom o 151 Encontro Regional dos Fóruns de EJA. 152 Entrevistas com Jerry e Zélia. Ex-‐educandos. 87 pessoal do EJA estava todo mundo junto, o pessoal daqui do CEDEP. [...] Como a gente fez a peça de teatro, eu era a principal do teatro oprimido e foi aqui que a gente fez a 1ª apresentação. Depois espalhou. A gente fez numa cidade satélite aqui perto de Brasília duas vezes. Depois a gente foi para a Câmara Legislativa, a gente apresentou duas vezes. O pessoal lá adorou e, depois a gente foi para a UnB. Lá foi a última apresentação, a gente fez três apresentações. [...] Além de você ser conhecida, também minhas fotos, o meu nome já está na internet! d) Educadores: trajetórias. Percebe-‐se a tentativa de envolvimento de todos os participantes do processo educativo no tripé ação-‐reflexão-‐ação. Este modelo de organização vai incidir no trabalho do educador. A prerrogativa para ser educador (a) popular no CEDEP é, preferencialmente, morar no Paranoá. Pode coincidir de o educador ser estudante na UnB e morar no Paranoá, como é o caso de Jaqueline153 que esteve em sala de aula substituindo uma educadora. O porquê de se optar por moradores/as da comunidade parece claro: há preocupação com a continuidade da discussão sobre as questões pertinentes à comunidade e com a participação no Fórum. Porque ela já tem que ter um compromisso na comunidade, porque não basta você ser só professora, ela tem que ser uma militante, ela tem que estar aqui na comunidade com essa vontade de transformar, de trabalhar mesmo com a comunidade, essa coisa de ser voluntária. (Lourdes. Presidente do CEDEP, 2011). Neste caso, a militância torna-‐se ingrediente do perfil do educador. Pergunto se o princípio da militância seria o que Rose154 chama de atitude. Questão da atitude da alfabetizadora. Eu sempre coloco isso. Porque é aquela coisa, assim, como é que eu vou chegar na sala de aula e vou falar, “a gente deve estar reivindicando nossos direitos, a gente deve fazer isso e aquilo” se eu mesma não faço isso por mim entendeu, se eu não tenho atitude. Talvez você fala “vamos fazer isso”, mas você fala só para as pessoas fazerem, mas você não faz, uma das primeiras coisas que tem que ter é dessas coisas mesmo de querer fazer. Em se tratando do engajamento social pode-‐se percebê-‐lo disseminado aos sujeitos pelas diferentes entidades atuantes no Paranoá, formando uma malha diversificada de ações interligadas entre si. Lourdes afirma “Quem indica para nós essas pessoas para fazer o curso, na maioria das vezes, são os grupos organizados que têm aqui na comunidade ou 153 Jaqueline é estudante de Pedagogia na UnB, moradora do Paranoá e ajuda o GAJA nas questões de sala de aula. 154 Entrevista com Rose. Educadora. 88 pessoas que já estão aqui no CEDEP, a igreja manda”. O/a condidato/a passa por uma pré-‐ seleção antes de chegar ao CEDEP. As instituições organizadas procuram saber a disponibilidade ao trabalho com a comunidade no período noturno, o interesse e a flexibilização para o voluntariado. (Reis155). Não necessariamente precisam ter o magistério para estar conosco, tem um chamado para um curso de orientação inicial [...] Então as pessoas vêm no encontro de orientação inicial, voluntariamente, ela passa por esse encontro, conhece o projeto. (Leila. Tesoureira, 2011). Hoje no CEDEP nós estamos com um grupo assim, muito interessante. Porque antes o nosso pessoal era o que tinha primeiro grau, quando muito segundo grau e que eram as educadoras. (Lourdes. Presidente do CEDEP, 2011). O interesse atua como o chamariz e como a base do processo. O que parece estar em jogo é a maneira de firmar um compromisso social individual e coletivo. Com Freire156 entendemos que “ensinar exige comprometimento”. O compromisso seria uma palavra oca, uma abstração, se não envolvesse a decisão lúdica e profunda de quem o assume. Se não se desse no plano do concreto. [...] Uma reflexão anterior se faz necessária. É a que se concentra em torno da pergunta: quem pode comprometer-‐se? [...] A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir. Quem pode comprometer-‐se? A decisão de engajar-‐se em trabalho comunitário é uma porta de entrada na comunidade para aqueles que chegam, que querem ocupar o tempo, aqueles desejosos de renovar a vida ou aqueles que tiveram sua experiência escolar no Paranoá. Isso está presente na fala de Rose157: “Quando eu cheguei aqui eu procurei um trabalhocomunitário, me falaram da alfabetização de jovens e adultos, aí procurei o CEDEP e aí fui e estou aqui tem mais de ano já”; de Joselice: “Fiquei sabendo através de uma colega que estava tendo esse trabalho de alfabetização. Como já tinha terminado o ensino médio, eu não tinha nada para fazer a noite. Fiquei desde 1989, quando eu comecei”; de Valmira: “Na época [2003] eu estava cheia de problemas e foi uma porta que uma amiga me abriu, me convidou para participar. Eu gostei”; e, de Eva158: 155 Renato Hilário dos Reis. A constituição do sujeito político, epistemológico e amoroso na alfabetização de jovens e adultos, 2000, p.62. 156 Paulo Freire. Educação e mudança, 2003, p.7. 157 Entrevistas com Rose, Joselice e Valmira. Educadoras em 2009. 158 Entrevista com Eva. Educadora em 2011. 89 Em 1986 eu fui alfabetizanda, não era o CEDEP ainda não. Então, eu entrei porque estudei até a 4a série e parei de estudar. Depois continuei estudando e terminei meu 2º grau. Conheci o CEDEP em 1997 e pensei em contribuir como educadora popular. Eu procurei a entidade CEDEP, fiquei auxiliar em uma turma e, com 15 dias, eu assumi a turma porque a alfabetizadora teve um problema. Eva esteve como auxiliar de turma. Jaqueline também passou por essa experiência. Lourdes159 explica que esse trabalho se aplica quando a pessoa interessada em ser educadora “começa a observar, começa a acompanhar” o trabalho em sala de aula. “Agora, quando não observa isso, quem nunca observou isso, quem não tem experiência, é difícil entender essa dinâmica que a gente tem”, completa a coordenadora do GAJA. O contato com o trabalho do CEDEP impulsiona os educadores aos estudos? Desde o ano de 1990 na coordenação do Projeto, Renato Hilário Reis (FAE/UnB) tem percebido em estudos e pesquisas que sim. Em sua conclusão há certa “intencionalidade” nesse processo entendida como estratégia de assegurar o trabalho de alfabetização de crianças, jovens e adultos desenvolvido no Paranoá. À semelhança dos alfabetizados, há uma lógica intencionada de garantia à continuidade de estudos dos alfabetizadores. Concluir o segundo grau, buscar a universidade. Cursar disciplinas isoladas. Enfrentar o vestibular. Além disso, há a orientação de se prestar concursos na rede pública de ensino, tendo como lotação prioritária o Paranoá. Isto, também, dentro de uma estratégia de assegurar e sustentar a continuidade do aprendizado e desenvolvimento de alfabetizados e alfabetizadores na rede pública de ensino, iniciado com a alfabetização160. Quem pode comprometer-‐se apenas pelo querer? A base do trabalho é voluntária. O Projeto é mantido com ajuda de várias fontes. Da Faculdade de Educação da UnB as doações são de material escolar. A Faculdade de Saúde doou a televisão. O Banco do Brasil os computadores. “Eles doaram um computador para o grupo de educação novinho, os outros todos ai são reciclados, ganhamos também um telão, um retroprojetor”, lembra Lourdes. Outros encargos exigem trabalho de grupo. Nós fazemos muita feijoada, galinhada, a comunidade compra os convites vem para cá e é com isso que a gente consegue pagar água, luz, telefone e comprar algumas coisas, mas a gente pede muito; agora, esse grupo de 159 Entrevista com Lourdes. Presidente do CEDEP, 2011. 160 Renato Hilário dos Reis. A constituição do sujeito político, epistemológico e amoroso na alfabetização de jovens e adultos, 2000, p. 62. 90 produção tem uma parceria com o governo, mas o grupo de educação é doação mesmo. (Lourdes. Presidente do CEDEP, 2011). As parcerias oficiais também são bemvindas com o GAJA. No caso do Brasil Alfabetizado, foram oito meses com bolsas de R$250,00 para cada educador. Incluem-‐se no pacote “material didático”. Na maior parte do processo, o educador trabalha sem perceber pró-‐labore. Quando a gente tem bolsa, a gente recebe, quando a gente não tem projeto nenhum, a gente está, aqui. Então não tem aquela coisa de intriga em relação ao fazer, porque a gente quer. É aquela coisa, se não tivesse uma escola a gente ia arrumar uma garagem que nem uma menina da escola fazia, então a gente não tá aqui pelo salário, a gente tá aqui porque a gente quer. (Rose. Educadora). Porque na entidade tanto faz ter bolsa como não ter. A gente faz esse trabalho por querer mesmo, e aqui eu acho bom ter alfabetização, embora tenha alfabetização nas escolas, porque em 1997 o CEDEP tinha 37 turmas, quase todas as escolas tinham turmas, e aqui no CEDEP sempre teve 02, 03 turmas. Então, é muito importante que tenha alfabetização aqui, mesmo que nas escolas tenham abertura para a alfabetização. (Eva. Educadora) e) Metodologia e Recursos Educativos. De acordo com a política pedagógica do GAJA, o educador fundamenta a aula na metodologia do texto coletivo. O texto é a base do trabalho interdisciplinar das aulas, mas não só. Jaqueline161 explica que faz parte da proposta “não usar só o texto coletivo, a gente pode utilizar jornal, revista, textos da internet. A gente busca, tirar xerox, corre atrás dessas coisas”. A participaçãono Brasil Alfabetizado inclui o recebimento de livro didático. Este material acaba sendo utilizado por dois motivos. Primeiro, segundo Lourdes, “os alunos quando recebiam ficavam contentes”. Segundo porque pode-‐se aproveitar textos, gravuras, exercícios. No Brasil Alfabetizado eles repassaram uns livros que a gente não usava tudo. Mas a gente aproveitou para tirar alguns textos, algumas coisas. Porque nós não trabalhamos com livro aqui nesse projeto. A gente explicava como é que nós íamos usar os livros: “nós não vamos usar os livros como cartilha”, mesmo porque não dá para a gente fazer isso. O livro vem com algumas realidades que não são as nossas, vem com textos que não são os do nosso cotidiano. (Lourdes. Presidente do CEDEP, 2011). Na verdade a gente tem um livro aqui, que é ... Viver e Aprender. A gente pode cortar, colar, rabiscar, rasgar, fazer tudo o que quiser. A gente só não 161 Entrevista com Jaqueline. Licencianda de Pedagogia UnB. 91 pode usar o livro do início ao fim. A gente pode utilizar atividades desse livro que vêm consoantes com o trabalho que está sendo feito. Não pode ser atividade solta também. O livro tem uns textos interessantes, tem modelo de cheque, por exemplo, modelo de identidade, e a gente pode usar essas atividades. Mas não pode ser um livro didático. Isso não entra dentro da metodologia da qual a gente utiliza aqui. A montagem da aula é feita, por eles, para eles e deles. Não existe um livro do qual a gente use do inicio ao fim. Um texto de outro lugar que a gente utilize do início ao fim, a não ser que seja para fazer leituras ou se a alfabetizadora tiver muito cansada e ela já tiver trabalho muito e não tiver planejado a aula. Aí já é uma situação esporádica, nesses casos sim, mas em outros casos não. Não faz parte do projeto. (Jaqueline. Licencianda de Pedagogia, UnB, 2009). O Grupo intenciona elaborar um material didático com os textos coletados entre a produção dos alunos e educadores. Para tanto necessitam de financiamento. Lourdes162 está ciente de que “nós temos textos aí que já estamos juntando que já dá um livro”. Como também sabe da importância da estruturação do material, “mas nós não temos como organizar, como fazer e precisamos inclusive, de uma pessoa para organizar o livro, então nós estamos juntando textos para fazer isso”. Produzir um livro com o material próprio dos educandos mostra uma opção de trabalho em escala que vai do micro para o macro, pois, “quando você tráz para sua realidade, discutir fica mais fácil”, opina Rose. A alfabetizadora tem sua justificativa. Quando você não leva assuntos interessantes para serem discutidos às vezes eles pedem muito: “Não a gente quer aprender conta”. Aí mas como a gente vai colocar essa conta? Vamos colocar essa conta, vamos trabalhar a cesta básica. Então, se você não procura muito essa coisa de você discutir o que realmente está no meio deles, passa a ser desinteressante, é o que a gente vê na maioria dos livros. O assunto de interesse é o que veicula no entorno? Um/a alfabetizando/a assim se expressa com relação à situação-‐problema-‐desafio. Que nem esse tema que eles estão dando pra gente, dessa gripe, é um tema muito importante. Ensina pra gente e pra gente poder incentivar as outras pessoas, passar pras outras pessoas como é importante a gente se defender sobre essa gripe. O que significa, que é uma gripe que mata mesmo e está muito violenta. Estou gostando desse tema. (Educando). Eu mexi no computador aí uns dias, aí o professor me mandou desenhar um trabalho que eu faço. Ele perguntou qual era a área que eu trabalhava e eu disse que trabalho de pedreiro. Então, ele me deu o computador para eu 162 Entrevista com Lourdes. Presidente do CEDEP, 2011. 92 desenhar uma casa. Lá em Teresina se faz a casa redonda assim e no meio tem uma piscina, isso para o pessoal que tem dinheiro. Eu fiz uma casa todinha, com janelas, portas e para acabar eu fiz a piscina no meio. Ele me deu um diploma, eu estou com ele lá em casa. (Francisco. Educando, 2011). O princípio de trabalho parece combinar com a lógica: se o/a educando/a elabora seus conhecimentos nas vivências do cotidiano há um certo tempo, em certo lugar sob determinadas circunstâncias e, se acatamos tais conhecimentos como saberes válidos, então, nada mais propício do que partir dessas vivências. Que implicações podem ter na formação do educador? f) Política Suplementar. O material analisado apresenta indícios de que o GAJA não ofereça merenda escolar regularmente. Em dois depoimentos apreendemos a oferta: na confraternização do Fórum, mas nem todos os eventos, e, quando o Projeto está associado ao governo, no caso do Brasil Alfabetizado. Valmira conta que os educandos participam do Fórum estimulados pelo lanche: Só vêm quando eu falo que tem lanche, eu falo “gente vem que tem lanche”. A parceria com o Brasil Alfabetizado ficou comprometida por causa da prestação de contas incorreta. Aí, parece que estava faltandorecibo, porque tinha um lanche também que eles mandavam, porque eles dão a bolsa de R$ 250,00 para os alfabetizadores e mandavam um lanche de biscoito e suco. Vinha também livro, caderno, lápis, borracha, material básico para a gente distribuir entre os alunos e parece que o lanche saiu muito caro e não prestaram conta disso direito.163 Os eventos realizados pelo CEDEP chegam a ser suficientes para cobrir despesas com água, luz, telefone e serviços gerais, mas não para a merenda. g) Impacto do Projeto: pontos de vista. Entrar no Projeto pode ser um “despertar” para a vida à volta. Este parece ser o caso de Ângelo164: “Antes eu olhava uma coisa e não estava nem aí, hoje eu já quero saber a finalidade daquela coisa. Agora tudo em minha volta eu quero saber”. A questão da socialização aparece em Antônio como fator de bem estar: 163 Entrevistas com Valmira (Educadora, 2009) e Lourdes (Presidente do CEDEP, 2011). 164 Entrevista com Ângelo. Educando, 2011. 93 “Eu tenho vontade de aprender alguma coisa, não sei se eu já vim muito atrasado, com certeza foi. E eu gosto muito de estar no meio de gente, porque você desenvolve mais!”. A aquisição da leitura e da escrita, dois processos desafiadores aos educadores de jovens e adultos, se transforma em realização aos olhos da educadora Joselice165: “Durante esse tempo tem gente que entrou aqui que não sabia fazer o nome. Hoje a gente vê o pessoal que já passou no concurso público. Ah, isso aí é pra mim a maior alegria”. A alfabetização espraia-‐se em alegria e auto-‐estima na colocação de Zélia quando se deu conta de que já lia. Eles [professores e alunos da UnB] vinham para dar aula para a gente e ficavam observando. E foi numa dessas aí que eu peguei uma revista, porque era assim: eu pegava as palavras e escrevia, recortava o jornal, aquelas palavras e formava uma frase. Eu estava lendo e aí quando ela chegou assim: “Zélia de Deus!”, eu falei: “O que foi professora?”, ela disse: “filha de Deus, você está lendo!”. Aquilo foi uma emoção para mim, porque eu achava que eu nunca ia conseguir ler e escrever. Na conquista da leitura e da escrita vieram o teatro e a valorização de si mesma, a Zélia166. Ai foi aqui que eu ingressei e aprendi a fazer teatro. Eu antes eu não era nada, sabe? Era assim, tipo uma pessoa que andava sempre de cabeça baixa. Eu não conseguia olhar para vocês igual eu tô olhando aqui. Eu só vivia de cabeça baixa. As pessoas jogavam na minha cara que eu era uma analfabeta, que eu não sabia ler e nem escrever. Eu falava pra eles que mesmo eu não sabendo ler e escrever nos lugares que eu ia eu era muito respeitada por ser analfabeta. Andar sempre de cabeça erguida, olhar para as pessoas, não ter medo, para as pessoas entenderem a gente. A gente aprende dentro da sala de aula. 1.4 Terceiro Estudo: Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores Paulo Freire – CMET Paulo Freire a) Constituição do Projeto: histórias. As iniciativas de alfabetização de adultos trabalhadores e de educação popular não são recentes em Porto Alegre (RS). Há registros de 165 Entrevista com Joselice. Educadora em 2009. 166 Entrevista com Zélia. Ex-‐educanda, 2011. 94 atividades promovidas pelo movimento anarco-‐sindicalista dos anos de 1910, de campanhas de alfabetização das décadas de 40 e 50 envolvendo a sociedade e a municipalidade, de movimentos de educação e cultura dos anos de 1960, do MOBRAL de 1970 seguido pela Fundação Educar, ambos os programas executados pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA). Acrescem os cursos preparatórios da Fundação Educacional Comunitária (órgão municipal de assistência social) para os exames dos Centros de Ensino Supletivo da rede estadual a esse rol que se configura parte do atendimento a educação básica de jovens e adultos na capital gaúcha. A primeira gestão popular da Prefeitura de Porto Alegre (1989-‐1992) não reconduziria o convênio entre a PMPA e a Fundação em virtude das críticas à concepção e à prática alfabetizadora promovidas pela Fundação. Em meio ao vazio que tal decisão significaria à Secretaria Municipal de Educação (SMED), foi gestado no interior da rede um programa denominado “Projeto de Pesquisa e Ação em Educação de Jovens e Adultos”. Esse fato está presente nas lembranças de Céris: “No início começou como um projeto e a gente começou ali nos Altos do Mercado Público que é um lugar, assim, importante da cidade”167, conta. Nessa época, estava à frente da SMED a Profa. Esther Pillar Grossi. A política de educação básica a jovens e adultos realizada pela Secretária priorizou uma metodologia capaz de conduzir a alfabetização de forma acelerada. A experiência do Projeto atraiu educadores com intencionalidades diferenciadas daquela assumida pela Secretária. Um pequeno grupo de coordenação associado a professores168 oriundos de outras experiências com alfabetização de adultos pressiona a política do governo a consolidar na Secretaria Municipal de Educação um Projeto qualitativamentediferente das iniciativas anteriores. Este é o caso de parte significativa dos professores do CMET, como por exemplo, Rose. Atualmente como coordenadora pedagógica ela acumula uma experiência em EJA oriunda dos Centros de Ensino Supletivo: “eu entrei em 91 na educação de jovens e adultos aqui, porque eu já era professora do Estado”169. Dione: Eu pensei: vou me aposentar daqui a dois anos. Como de fato me aposentei com 42 anos. Imagina. Eu tinha me aposentado no Estado. Pensei: o que eu 167 Entrevista com Céris. Coordenadora Cultural, 2009. 168 Liana da Silva Borges. Duas experiências em duas redes de formação: aprendizados e desafios, 2006, p.141. 169 Entrevista com Rose. Coordenadora Pedagógica, 2011. 95 vou fazer sem dar aula ou coisa assim? Porque eu adora... adoro até hoje! Então disse: não. Eu vou fazer concurso para a Prefeitura e vou começar uma nova vida de professora. E foi isso que eu fiz. Na verdade eu fiquei dois anos com Estado e Prefeitura. Depois eu aposentei e fiquei só com Prefeitura. Quando eu estava trabalhando naquela época no Estado eu já trabalhava com educação de adultos mas no ensino supletivo no Centro de Ensino Supletivo. (Dione. Coordenadora pedagógica, 2009). O somatório de experiências em diferentes concepções de alfabetização de adultos trariam lições a serem cotejadas na nova experiência com relação ao tempo, à metodologia, ao currículo, à formação contínua do educador e, principalmente, a ênfase no trabalho coletivo. Como resultado, a equipe de coordenação do Projeto acaba divergindo da ideia da Secretária de traduzir a alfabetização em uma ação de curto prazo. O fim da contenda favoreceu a equipe de coordenação, o que, para Di Pierro170 se deve ao respaldo do Prefeito. O Projeto abre uma unidade escolar central de alfabetização nos Altos do Mercado Público (1989-‐90), as extensões em locais de trabalho dos funcionários municipais171 com horários estipulados por Decreto Municipal172 e as salas em companhias conveniadas. Logo após o primeiro ano de atividades, o Mercado seria fechado para reformas. Essas turmas de EJA ficaram sem um local, iniciando assim uma luta pela conquista de um espaço físico para não arrefecer a experiência. Após muitas solicitações e reivindicações na Prefeitura, alunos e professores conseguiram espaços para aula de alguns locais públicos: na Câmara dos Vereadores (à noite, 1991), no prédio do INSS (manhã e tarde, 1991, 92 e 93), na Faculdade de Educação da UFRGS (FACED/UFRGS) (depois das 20 h, 1992 e 93), aluguel das salas comerciais da Rua General Vitorino (de set/1992 a set/2000) e o empréstimo de salas na Escola Porto Alegre (Totalidades Finais, 1995). Cristina, professora da educação especial, lembra que “na época era apenas o Serviço de Educação de Jovens e Adultos da Prefeitura. Não havia uma instituição escolar. Nós trabalhávamos em salas alugadas aqui no centro da cidade”173. Em 1992, a segunda administração do advogado Tarso Herz Genro levaria o Prof. 170 Maria Clara Di Pierro. A política municipal de educação de jovens e adultos de Porto Alegre (RS): um estudo de caso, 1997. 171 Turmas de funcionários da Prefeitura: Departamento Municipal de Limpeza, da Secretaria Municipal de Obras e Viação, do Departamento Municipal de Água e Esgotos e de convênios: Companhia Carris Portoalegrense, Centro Comunitário Parque Madepinho, Instituto Psiquiátrico Forense, Companhia de Seguros e Usina do Gasômetro. (Cf. Marlize Andrejew et al., 2004, p.101). 172 Liana da Silva Borges. op.cit., 2006, p.143. 173 Entrevista com Cristina. Educadora, 2009. 96 Nilton Bueno Fisher a titular da SMED. A passagem de Fisher pela Secretaria foi breve, mas, suficiente para elevar o Projeto de Pesquisa e Ação em Educação de Jovens e Adultos a Serviço de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), contratar professores, ampliar a oferta de EJA nas escolas municipais e concluir a reforma nas salas da Rua General Vitorino. Concluída a reforma, o local passou a ser denominado Centro Municipal de Educação de Educação de Jovens e Adultos174 (CMEJA). A situação mudaria no ano de 2000 com a aquisição da sede própria a partir da participação da comunidade escolar no Orçamento Participativo (OP) e o Centro passou a funcionar na Rua Jerônimo Coelho, 254175, local da visita de pesquisa. Três anos antes, em 1997, o Centro passou a ser reconhecido como unidade escolar e teve seu nome alterado para Centro Municipal dos Trabalhadores – CMET acrescentando, no mesmo ano, Paulo Freire em homenagem póstuma ao educador. Assim é conhecido: CMET Paulo Freire. Figura 3: CMET Paulo Freire – Sala de aula e fachada do prédio atual Fotos: Equipe de Pesquisa Depreende-‐se uma avaliação insatisfatória do prédio do CMET nos depoimentos colhidos. A busca pela acomodação das salas de aula resulta em escolhas de ambientes inadequados e as adaptações nem sempre contemplam a ambiência escolar como um todo. Na verdade não queremos permanecer aqui em função do espaço que é pequeno. A gente não tem uma escada adequada, não tem saída de incêndio, o elevador é pequeno, não tem refeitório para os alunos comerema merenda ou o lanche que é servido, a gente não tem uma estrutura boa de trabalho aqui, é tudo assim com muita dificuldades. (Céris. Coordenadora Cultural, 2009). 174 Encontramos duas versões para a sigla do Centro: CEMEJA (Di Pierro, 1997) e CMEJA (Andrejew et al., 2004 e Projeto Político Pedagógico do CMET). 175 Cf. Marlize Andrejew et.al..(2004). 97 Esse prédio hoje não atende as necessidades dos alunos porque é horizontal. Temos muitos alunos que precisam utilizar o elevador e professores. Quando não tem elevador, eles não sobem escada, são pessoas de idade. Ele não tem um refeitório, um pátio, então as nossas atividades todas têm que sair da escola. Educação física tem que ir para um parque ou ginásio. As salas são pequenas e algumas não tem ventilação. (Rose. Coordenadora pedagógica, 2011). Note-‐se a preocupação de Céris e de Rose com os espaços complementares. Céris sintetiza almejando um conjunto que daria “estrutura boa de trabalho”. A arquitetura regula o espaço físico e este, por sua vez, interfere na operacionalidade do trabalho educativo. Quando precisa fazer um trabalho em grupo, uma turma de 20 alunos aí vamos para o auditório. Nosso auditório não comporta todos os alunos do turno. Então, sempre, todas as atividades temos que fazer em 3 edições. Chamamos os alunos das Totalidade Iniciais depois eles sobem. Chamamos os alunos das Totalidades Finais depois eles sobem. Chamamos os alunos surdos e depois eles sobem. Por exemplo, daqui a três dias vamos fazer a feira do livro na escola e vamos fazer 3 aberturas porque não comporta [o auditório] o número de pessoas. (Rose. Coordenadora pedagógica, 2011). Com relação ao pátio, os educandos contam suas impressões: “Tem o intervalo que é das 9:40 às 10, que a gente fica na rua porque aqui não tem pátio”. (Cibele) “O pessoal aqui vai fazer educação física na Redenção. Em dia de chuva é problemático”. (Ney)176. Um estudo sobre os espaços escolares realizado por Dayrell177 revela-‐nos a função, os usos, as apropriações de cada local da escola na perspectiva das relações sociais. A forma das relações entre os sujeitos vai variar também, dependendo do momento em que ocorrem, seja fora ou dentro da escola, fora ou dentro da sala, numa clara relação entre tempo e espaço. O recreio é o momento de encontro por excelência, além de ser o da alimentação. Os alunos de diferentes turmas se misturam, formando grupos de interesse. Enquanto uns merendam, outros, quase sempre rapazes, sentam-‐se sobre as mesas no pátio. Alguns grupos de moças ficam andando por ali, num footing pelo pátio. Alguns ficam em sala ou pelos corredores, em pequenos grupos. É também comum haver grupos menores nas salas jogando truco. É o momento da fruição da afetividade, quando os alunos ficam mais soltos, conversam, discutem, paqueram. O prédio do CMET sofreu reformas para adaptá-‐lo às salas de aula, mas não conseguiu ganhar espaço adjacente de um pátio. O uso parcial da ambiência cultural da escola pode estar associada ao fato de as instâncias oficiais preferirem adquirir um imóvel a 176 Entrevistas com Cibele (Educanda) e Ney (Ex-‐educando), 2011. 177 Juarez Tarcísio Dayrell. A escola como espaço sócio-‐cultural. 1996. p.14. 98 construir uma escola. Converter espaços em geral em escolas tem sido prática recorrente na história da educação brasileira. Em 1931, Anísio Teixeira, ao assumir a Diretoria Geral de Instrução Pública do Distrito Federal, identificou que a maioria das escolas se constituía de residências particulares impróprias ou inadequadas ao funcionamento escolar178 e, que, além da área deficitária havia o problema da localização, da iluminação, da aeração e dos equipamentos. De modo semelhante, a administração municipal gaúcha tende a acatar mais as alterações no espaço do que a elaboração de um projeto consoante às demandas educativas do Centro. Tanto Céris quanto Ney lembram-‐se do terreno pertencente ao CMET para o qual havia a promessa de ser construído um prédio adequado às necessidades de trabalho e dos educandos. “Nós estamos lutando desde 2000 também para tentar ter um outro lugar. A gente conseguiu esse terreno que também é aqui perto, mas agora falta fazer a construção do prédio”, (Céris), e Ney completa “O CMET tem terreno, ele tem onde fazer uma sede própria, mas não tem dinheiro para começar, a Secretaria de Educação do município, alega que não tem condições”. Enquanto se luta pela construção do prédio “adequado”, continuam as adaptações. Ele pode não ter uma condição estrutural boa, mas a gente dotou ele de uma boa infraestrutura, por exemplo, todas as salas tem ar condicionado. Todas as salas tem acesso a internet, poucas escolas têm isso. Fizemos uma coisa aqui para ajudar: como nem todas as salas tinham luz e ventilação cortamos a parte de cima das divisórias e isso deu uma ventilação. (Rose. Coordenadora Pedagógica, 2011). No caso do CMET Paulo Freire, há que considerar o histórico. Houve momento de não se saber para onde iriam as salas. A conclusão de Rose é simples: “aindaé melhor [o prédio atual] do que não ter nada ou do que a gente tinha antes”. A opinião de educandos que participaram da conquista desse novo espaço coincide com a de Rose: “Lá era muito mais tumultuado. Tinha que subir uma rampa, entrava numa galeria, aí tinha a entradinha. Uma entradinha bem difícil. Tudo era mais pequeno. As salas, o corredor, o prédio mais velho. Volta e meia faltava luz”179. Críticas aos limites do espaço não impedem Rose de encontrar qualidades na instalações atuais. Um ponto positivo: ele agrega. Tudo acontece num espaço como esse. Em 178 Cf. Célia Rosângela Dantas Dórea. Anísio Teixeira e a arquitetura escolar: planejando escolas, construindo sonhos. 2000. 179 Entrevista com Antônio. Ex-‐educando, 2011. 99 dois toques mobilizamos todas as turmas. Porque são 5 andares, passamos nas salas e logo em seguida eles descem. Então tem coisas boas. Para o trabalho de sala de aula, por exemplo, sala de alfabetização, poucos alunos, uma sala pequena dá conta. Entre aquiescências e depreciações, a comunidade do CMET percebe o espaço físico como fator importante para a qualidade da prática educativa dessa escola. Tanto que Viero180 lembra da elaboração de um dossiê descrevendo as condições físicas do CMET. É interessante perceber que a estrutura atual do CMET Paulo Freire funciona de forma polarizada: agrega e desagrega; reúne e dispersa; junta e separa. Entretanto, há interesse da coordenação em atingir condições estruturais mais orgânicas. Levantam-‐se pelo menos dois pontos dessa afirmação anterior. Um perpasse pelo compromisso de aprimoramento constante da condição docente e do trabalho educativo presentes nos depoimentos colhidos com as coordenadoras. Outro está ligado à prática de acolhimento aos educandos. O uso do termo “acolhimento” aos educandos é bastante recorrente na EJA. E, por que não simplesmente “recepção” aos educandos? A questão traz à tona o debate sobre o quanto a escola está preparada para receber esses jovens e adultos como alunos com direito aos estudos que precisam perceber o ambiente adequado à sua necessidade. Complementado a filosofia “educação para todos”, o CMET instala turmas onde há demanda. Trata-‐se das chamadas “turmas de extensão”. Na qualidade de extensão, os educandos são registrados no CMET e os professores lotados na rede municipal. O quesito da contratação do educador é flexível às turmas conveniadas. Os educandos das turmas de extensão compõem o segmento “aluno” do CMET e podem participar das atividades, dos trabalhos, das oficinas e das decisões do Centro. Quadro 13: Turmas de Extensão Turma Espaços Educador Turno Compartilhar Secretarias, Departamentos, Empresas e Fundações da Prefeitura Municipal de Porto Alegre Rede Municipal Manhã e tarde (conforme demanda) Modalidade EJA/Ensino Médio Escolas da Rede Municipal de Ensino/ RME Rede Municipal (as reuniões pedagógicas acontecem nas escolas onde as turmas funcionam) Conforme demanda 180 Anézia Viero. As práticas educativas na educação de jovens e adultos da rede pública de Porto Alegre, 2008, p.400. 100 Cooperativa CrêSer Cooperativa (Totalidades Iniciais para trabalhadores desta Cooperativa) Professores da RME, lotados no CMET (formação específica na área de educação especial) Não informado Convênio Funcionam em conjunto com diferentes Instituições que procuram ou são procuradas pelo CMET Os professores são contratados ou não por estas Instituições Não informado Fonte: Projeto Político Pedagógico – CMET, 2011. No ano de 2009 a EJA foi regulamentada pela Lei 009 da RME. Com isso passou a ter o regimento dos níveis de educação Fundamental e Médio que significa cumprir 200 dias letivos e 800 horas/aula. A conquista da institucionalização incidiria diretamente nos tempos escolares de formação se não fosse a abertura no dispositivo para 20% de atividades não presenciais. A resolução aponta que seria possível 20% da carga horária não presencial, com atividades não presenciais, que não é ensino à distância. Mas seriam atividades que os professores planejariam e dariam aos alunos, depois avaliariam toda essa questão de atividades não presenciais de 20%. Elas corresponderiam a um dia por semana. Então esse dia seria com atividades não presenciais, ou então, a gente aponta aqui uma outra possibilidade que é a oferta de oficinas. (Paulo. Coordenador EJA/SMED, 2009). As oficinas são oferecidas por educadores ou agentes contratados especialmente para esse objetivo. As atividades acontecem às sextas-‐feiras e, com isso, garantem a frequência do educando, o tempo de reunião dos educadores e o calendário único para o Ensino Fundamental da RME. b) Organização: proposta pedagógica. Nos primeiros anos de funcionamento a filosofia do trabalho voltava-‐se ao atendimento do trabalhador. Toda organização buscou contemplar esse público e se (re)afirma(ou) pedagogicamente. Em 1998 iniciam-‐se as preparações para o atendimento a educandos surdos. Seguiram-‐se depois cegos e deficientes mentais. Desde então, o CMET busca oferecer um serviço especializado a essas parcelas da população, sob o compromisso da “educação para todos” comqualidade. A fim de garantir o princípio de autonomia moral e intelectual do Centro, o compromisso com o debate público e coletivo, envolvendo todos os 101 segmentos, precede as decisões e encaminhamentos da equipe. Assim, a equipe eleita direciona a participação nas ações cotidianas, supera a divisão social do trabalho entre quem pensa e quem faz, quem decide e quem obedece. O respeito à diversidade e à pluralidade como princípio está na forma como são encaminhadas as questões181. O CMET se estrutura a partir de tempos e espaços diferenciados e de uma equipe pedagógica e cultural constituída como se demonstra a seguir. Quadro 14: Equipe Pedagógica e Cultural CMET Instâncias Composição Atribuição Gestão dos Recursos Humanos do Centro Coletivo dos professores do Centro e gerência da SMED Organização do RH do Centro junto à SMED balizar os critérios de lotação das turmas do Centro revistos anualmente e registrados em ata Conselho do Centro A composição, a organização e o funcionamento do Conselho do Centro são definidos conforme Lei Complementar nº 292 /1993 da Prefeitura Municipal de Porto Alegre Condutor do Processo Político Pedagógico Cultural e Administrativo do CMET Equipe Diretiva Pedagógica e Cultural Diretor (a), Vice-‐Diretor(a), Coordenador Pedagógico(a), Coordenador(a) de Turno, Coordenador Cultural, Orientador Educacional e Assessorias Especializadas (professor(a) de educação especial, professor(a) com formação em psicopedagogia, professor(a) com capacitação na área da deficiência visual, professor(a) com formação em cultura surda e secretário(a). Coordena e articula, nos diferentes segmentos, juntamente com o Conselho, o Processo Político Pedagógico Cultural e Administrativo do Centro. Direção do Centro Diretor e 2 vice-‐diretores Responsabilidade pedagógica e administrativa Coordenação Cultural Educador eleito conforme projeto apresentado e aprovado pelo coletivo de professores Mediar e articular os eventos culturais do Centro com os eventos culturais da Rede Municipal de Ensino e da cidade em consonância com o Projeto Político Pedagógico Cultural e Administrativo. Coordenação de Turno Educador eleito conforme projeto apresentado e aprovado pelo Função diretamente vinculada à direção. Acolher, orientar, mediar, 181 Projeto Político Pedagógico CMET, 2011, p. 19. 102 coletivo de professores. O profissional deverá ter conhecimento ou assessoria em LIBRAS. encaminhar, registrar e restringir as ações da comunidade escolar para a boa organização do ambiente de trabalho. Coordenação Pedagógica Educador eleito conforme projeto apresentado e aprovado pelo coletivo de professores À Coordenação Pedagógica da Educação de Surdos, cabe ter formação específica na área e proficiência em LIBRAS. Mediar as ações pedagógicas entre professores, educandos e direção do CMET, das extensões e convênios. A coordenação pedagógica do Projeto Compartilhar também deverá articular e participar de reuniões com representantes das diversas secretarias municipais envolvidas no referido Projeto. Orientação Educacional Profissionais com formação específica, eleito conforme projeto apresentado e aprovado pelo coletivo de professores. O profissional que trabalhar com os educandos surdos deverá ter formação em Educação de Surdos e fluência em LIBRAS. Interrelações entre o Centro, a SMED, o educador, educando e com a família. Assessorias Especializadas/ Salas de Integração e Recursos (SIRs) Profissionais com formação específica: professor(a) de educação especial especialista na área mental, professor(a) com capacitação na área da deficiência visual, com atuação na SIR; professor(a), com formação em psicopedagogia; professor(a) com formação em Educação de Surdos e LIBRAS. Atendimento pedagógico específico, planejando e organizando das classes especiais Psicopedagogia Profissional com formação específica Pesquisar do processo (abordagem) do aprender do aluno com dificuldades de aprendizagem ou desinteresses, indicando caminhos e possibilidades para o desenvolvimento desse processo. Biblioteca Bibliotecário nomeado para a função, com um terço da carga horária disponível para o setor, e professores, com dois terços da carga horária do mesmo para o desenvolvimento das propostas pedagógicas específicas da biblioteca e do Centro. Os membros da biblioteca devem apresentar projeto de trabalho em consonância com o Plano político-‐ pedagógico-‐cultural-‐ administrativo. Fonte: Adaptação do Projeto Político Pedagógico e do Regimento do CMET, 2011. É possível inferir da organização que se trata de algo peculiar em se tratando da EJA 103 em uma rede municipal de educação. Nesse sentido, deixa de ser forçoso concluir que tal arranjo tende para a efetivação consequente da quantidade com qualidade na escola pública. À época da pesquisa, o CMET Paulo Freire era a única escola de EJA da rede municipal de Porto Alegre a oferecer ensino presencial nos três turnos. O turno da manhã é das 08:00 às 11:45h, da tarde vai das 13:45 às 18:00h e, da noite começa às 18:45 e termina às 22:00h. [..] Uma escola central que atende exclusivamente jovens e adultos durante todo o dia – é um bom exemplo de como é possível promover a aprendizagem na diversidade em um ambiente democrático e inclusivo. O acolhimento sem preconceitos dos mais variados grupos sociais é um dos