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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Medicina Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde Gicele Mendes Chagas Perfil Nutricional e Metabolismo de Repouso de Crianças e Adolescentes com Distrofia Muscular de Duchenne Belo Horizonte 2015 Gicele Mendes Chagas Perfil Nutricional e Metabolismo de Repouso de Crianças e Adolescentes com Distrofia Muscular de Duchenne Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Área de concentração: Saúde da Criança e do Adolescente Orientadora: Prof. Dra. Juliana Gurgel Giannetti Co-orientadora: Profa. Dra. Maria Goretti Moreira Guimarães Penido Belo Horizonte 2015 Ciências da Saúde - Área de Concentração Saúde da Criança e do Adolescente Reitor: Prof. Jaime Arturo Ramírez Vice-Reitora: Profa. Sandra Regina Goulart Almeida Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Rodrigo Antônio de Paiva Duarte Pró-Reitora de Pesquisa: Prof. Adelina Martha dos Reis Diretor da Faculdade de Medicina: Prof. Tarcizo Afonso Nunes Vice-Diretor da Faculdade de Medicina: Prof. Humberto José Alves Coordenador do Centro de Pós-Graduação: Profa. Sandhi Maria Barreto Subcoordenadora do Centro de Pós-Graduação: Profa. Ana Cristina Cortes Gama Chefe do Departamento de Pediatria: Profa. Cláudia Regina Lindgren Alves Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Saúde da Criança e do Adolescente: Prof. Eduardo Araújo Oliveira Subcoordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Saúde da Criança e do Adolescente: Prof. Jorge Andrade Pinto Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Saúde da Criança e do Adolescente: Profa. Ana Cristina Simões e Silva – Titular Prof. Leandro Fernandes Malloy Diniz - Suplente Prof. Eduardo Araújo de Oliveira - Titular Profa. Eleonora Moreira Lima – Suplente Prof. Alexandre Rodrigues Ferreira - Titular Prof. Cássio da Cunha Ibiapina – Suplente Prof. Jorge Andrade Pinto - Titular Profa. Helena Maria Gonçalves Becker – Suplente Profª. Juliana Gurgel - Titular Profa. Ivani Novato Silva - Suplente Profa. Maria Cândida Ferrarez Bouzada Viana - Titular Profª Luana Caroline dos Santos - Suplente Prof. Sérgio Veloso Brant Pinheiro - Titular Prof. Marcos José Burle de Aguiar – Suplente Profª Roberta Maia de Castro Romanelli Titular Profª. Débora Marques de Miranda - Suplente Suelen Rosa de Oliveira - Discente Titular Izabel Vasconcelos Barros Poggiali - Discente Suplente Dedico esta conquista à minha família, em especial: Ao meu querido filho Gustavo, minha motivação principal. Ao meu marido Cláudio, que acompanhou meu crescimento pessoal e profissional. A meus pais, Antônio e Joaquina, que sempre estimularam meus estudos. A meus irmãos, Érica, Leonardo e Juliana. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que direta ou indiretamenteme auxiliaram no desenvolvimento deste projeto de mestrado. A Deus, sempre presente em minha vida, desde a decisão de tentar o mestrado, até o último momento, me guiando pelos melhores caminhos e dando forças para seguir em frente. À Dra. Juliana Gurgel Giannetti, minha orientadora, pela oportunidade de crescimento profissional e pelos ensinamentos no Ambulatório de Doenças Neuromusculares. À Dra Maria Goretti Moreira Guimarães Penido, minha co-orientadora, pelas contribuições no mestrado. Às companheiras de ambulatório, Ana Júlia, Gabriela, Fabíola, Maria do Carmo, Letícia e Carol, por me ajudarem nos momentos de angústia e indecisão, pelo incentivo, pela troca de experiências e pelo convívio mais que especial. Aos pacientes e seus familiares, sem os quais o desenvolvimento deste trabalho não seria possível. Às colegas da Unidade Funcional Serviço de Nutrição e Dietética, pelo incentivo, troca de idéias e apoio em meu crescimento profissional. À Ana Lúcia e Viviane, pela leitura da dissertação e contribuições que em muito enriqueceram este trabalho. Ao meu filho Gustavo, penalizado com muitos momentos de ausência, ansiedade, nervosismo, mas que indiretamente me deu forças para seguir em frente. Ao meu marido Cláudio, pelo amor, compreensão e companheirismo durante todos estes anos. A meus pais, Antônio e Joaquina, pelo estímulo ao estudo, pela criação maravilhosa, por não medirem esforços para nos dar tudo do bom e do melhor, e pelo amor... vocês são responsáveis pela pessoa que me tornei. Amo vocês imensamente. Aos meus irmãos, Érica, Leonardo e Juliana, pelo amor, companheirismo, brigas... crescemos juntos, e assim permaneceremos, para sempre. Amo vocês. À Profa. Adaliene Versiani Matos Ferreira e ao Prof. Daniel Carvalho de Lima, do Departamento de Nutrição da UFMG, pela colaboração neste estudo, através do empréstimo do calorímetro, contribuindo para o enriquecimento dos resultados alcançados. "Nossa vida é uma constante viagem... A paisagem muda, as pessoas mudam, as necessidades se transformam, mas o trem segue adiante." Paulo Coelho RESUMO A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma doença progressiva, ligada ao cromossomo X, causada por mutações no gene da distrofina, que levam à ausência de expressão desta proteína nos músculos, culminando em fraqueza muscular progressiva. O tratamento com corticosteróides é aceito como padrão de cuidado em pacientes que deambulam, porém, efeitos colaterais como ganho ponderal necessitam de atenção contínua. Meninos com DMD têm risco de desenvolver distúrbios nutricionais que podem interferir com a progressão da doença. Este estudo foi realizado com o objetivo de traçar o perfil nutricional e avaliar o metabolismo de repouso de crianças e adolescentes com DMD em acompanhamento no ambulatório de doenças neuromusculares do HC/UFMG. Realizou-se um estudo transversal com 35 meninos com idade entre 5 e 17 anos. Analisou-se a estatura, classificou-se o estado nutricional segundo índice de massa corporal (IMC) pelas curvas da OMS e curvas específicas para DMD, além de curva de peso ideal (PI) para DMD. A composição corporal foi avaliada por pregas cutâneas e área muscular do braço. Aferiu-se a taxa de metabolismo de repouso (TMR) por calorimetria indireta e comparou-se com fórmulas de estimativa de gasto energético (GE). Avaliou-se também a ingestão calórica e investigou-se o perfil lipídico, glicemia e níveis séricos de 25-hidroxivitamina D (Vit. D). Pelas curvas da OMS, foram classificados como baixo peso (BP) 19,3% dos pacientes e 38,7% como excesso de peso (EP). Nas curvas específicas para DMD, a classificação do IMC foi diferente da OMS em 26,7% dos meninos. Pelas curvas de PI para a doença, 9,7% das crianças apresentavam BP e 71% EP. Observou-se baixa estatura em 20% dos indivíduos. Depleção de massa muscular foi identificada em 63,7% dos meninos e 72,7% apresentavam excesso de gordura corporal. A TMR média foi 982,65 ± 247,23 Kcal, significativamente inferior aos valores de GE estimados. A ingestão calórica média era de 1292,20 ± 245,76 Kcal, significativamente superior à TMR. A relação TMR/peso era inferior nos meninos que não deambulavam. Os pacientes apresentavam valores de glicemia, colesterol e LDL em níveis aceitáveis, triglicérides e HDL na faixa limítrofe e níveis séricos de Vit. D deficientes. Concluiu- se que os pacientes com DMD apresentam distúrbios nutricionais, sendo mais frequente o excesso de peso (sobrepeso e obesidade). Entre os fatores que podem estar relacionados a este achado, citam-se a baixa TMR, pouca atividade física e ingestão calórica superiorà TMR. A aferição da TMR nas diferentes fases da DMD permite melhor adequação da recomendação calórica, contribuindo para um controle nutricional individualizado, evitando distúrbios nutricionais. A utilização de curvas específicas para a doença também pode ser um fator relevante no acompanhamento destas crianças. Palavras-chave: Distrofia Muscular de Duchenne; Avaliação Nutricional; Metabolismo de Repouso; Calorimetria Indireta. ABSTRACT Duchenne muscular dystrophy (DMD) is a progressive disease, X-linked, caused by mutations in the dystrophin gene, which leads to lack of expression of this protein in the muscles, resulting in progressive muscle weakness. Corticosteroid treatment is accepted as standard of care in patients until loss of ambulation, however, side effects such as weight gain need continuous attention. DMD patients are at risk of developing nutritional disorders that can interfere with disease progression.This study was conducted with the objective of drawing the nutritional profile and assess the resting metabolic rate (RMR) of childrens and adolescents with DMD followed at HC / UFMG. We conducted a cross-sectional study with 35 boys aged 5 to 17 years. We analyzed stature, nutritional status according to body mass index (BMI) by the curves of WHO and specific curves for DMD, and ideal weight curve (IW) for DMD. Body composition was assessed by skinfold thickness, and arm muscle area. RMR was measured by indirect calorimetry and compared with energy expenditure (EE) estimated by formulas. We also evaluated caloric intake and investigated the lipid profile, glucose and serum 25-hydroxyvitamin D (Vit. D). By WHO curves, 19,3% of the patients were classified as underweight (UW) and 38.7% as overweight (OW). In the specific curves for DMD, the BMI classification was different from the WHO in 26.7% of boys. By IW curves for the disease, 9.7% of children had UW and 71% OW. Short stature was observed in 20% of subjects. Muscle depletion was identified in 63.7% of boys and 72.7% had excessive body fat mass. The RMR average was 982.65 ± 247.23 kcal, significantly lower than the estimated values of EE. The average caloric intake was 1292.20 ± 245.76 kcal, significantly higher than the RMR. The RMR/weight ratio was lower in children who did not walk. Patients had blood glucose and LDL cholesterol at acceptable levels, triglycerides and HDL in the borderline range and serum Vit. D deficient. We concluded that patients with DMD present nutritional disorders. Excessive weight (overweight and obesity) is more frequent. Among the factors that may be related to this finding, mentioning to low RMR, low physical activity and calorie intake higher than RMR. Meauring RMR at different stages of DMD allows better matching of caloric recommendation, contributing to an individualized nutritional control, avoiding nutritional disorders. The use of specific curves for the disease can also be an important factor in monitoring these children. Keywords: Duchenne Muscular Dystrophy; Nutritional Assessment; Resting Metabolism, Indirect Calorimetry. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMB Área Muscular do Braço BIA Bioimpedância Elétrica Ca Cálcio CB Circunferência do Braço CDC Centers for Disease Control and Prevention CI Calorimetria Indireta cm Centímetros CO2 Gás Carbônico CS Costicosteróides CT Colesterol Total DMD Distrofia Muscular de Duchenne DNM Doenças Neuromusculares DXA Dual-Energy X-Ray Absorptiometry - Densitometria Óssea E Estatura E/I Estatura por Idade FDA Food and Drug Administration HDL Lipoproteína de Alta Densidade IMC Índice de Massa Corporal IMC/I Índice de Massa Corporal por Idade Kcal Quilocalorias Kg Quilogramas LDL Lipoproteína de Baixa Densidade m Metros MG Massa Gordurosa MLG Massa Livre de Gordura MLPA Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification mm Milímetros MM Massa Magra NGS Sequenciamento de nova geração O2 Oxigênio OMS Organização Mundial de Saúde P Peso PC Pregas Cutâneas PCT Prega Cutânea Triciptal PCSE Prega Cutânea Subescapular P/I Peso por Idade PI DMD Peso Ideal para Distrofia Muscular de Duchenne PTC Post-Transcriptional Control RA Registro Alimentar TGD Triglicérides TMB Taxa Metabólica Basal TMR Taxa Metabólica de Repouso Vit D Vitamina D SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 Referências ............................................................................................................................... 12 2 ARTIGO 1 - ASPECTOS NUTRICIONAIS NO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES COM DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE (ARTIGO DE REVISÃO) .............................................................................................................................. 14 2.1 Distrofia Muscular de Duchenne .................................................................................... 15 2.1.1 Sinais e Sintomas ............................................................................................................ 15 2.1.2 Diagnóstico ...................................................................................................................... 16 2.1.3 Tratamento ...................................................................................................................... 17 2.2 Abordagem Nutricional na Distrofia Muscular de Duchenne ..................................... 19 2.2.1 Sobrepeso e Obesidade .................................................................................................... 20 2.2.2 Desnutrição ...................................................................................................................... 20 2.2.3 Comprometimento Gastrintestinal .................................................................................. 22 2.2.4 Avaliação Nutricional na Distrofia Muscular de Duchenne ........................................... 22 2.2.4.1 Peso .............................................................................................................................. 22 2.2.4.2 Estatura ......................................................................................................................... 23 2.2.4.3 Índice de Massa Corporal ............................................................................................. 24 2.2.4.4 Composição Corporal ................................................................................................... 24 2.2.4.5 Avaliação do Consumo Alimentar ............................................................................... 26 2.3 Gasto Energético na Distrofia Muscular de Duchenne................................................. 26 2.4 Recomendações Nutricionais na Distrofia Muscular de Duchenne ............................. 27 2.4.1 Energia ............................................................................................................................ 27 2.4.2 Cálcio e Vitamina D ........................................................................................................ 28 2.5 Conclusão .......................................................................................................................... 29 Referências ............................................................................................................................... 30 3 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 35 3.1 Objetivo Geral .................................................................................................................. 35 3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................35 4 METODOLOGIA ............................................................................................................... 36 4.1 Desenho do Estudo e Casuística ...................................................................................... 36 4.1.1 Critérios de Inclusão ........................................................................................................ 36 4.1.2 Critérios de Exclusão ...................................................................................................... 36 4.2 Procedimentos ................................................................................................................... 36 4.2.1 Avaliação do Estado Nutricional ..................................................................................... 36 4.2.2 Aferição da Taxa de Metabolismo de Repouso .............................................................. 39 4.2.3 Avaliação da Ingestão Alimentar .................................................................................... 41 4.2.4 Exames Bioquímicos ....................................................................................................... 41 4.3 Aspectos Éticos ................................................................................................................. 42 4.4 Análise Estatística ............................................................................................................ 42 Referências ............................................................................................................................... 43 5 ARTIGO 2 – PERFIL NUTRICIONAL E METABOLISMO DE REPOUSO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE (ARTIGO ORIGINAL) ......................................................................................................... 45 5.1 Introdução ......................................................................................................................... 46 5.2 Materiais e métodos ......................................................................................................... 47 5.2.1 Desenho do Estudo e Casuística ...................................................................................... 47 5.2.2 Procedimentos ................................................................................................................. 48 5.2.2.1 Avaliação Nutricional .................................................................................................. 48 5.2.2.2 Aferição da Taxa de Metabolismo de Repouso ........................................................... 49 5.2.2.3 Avaliação da Ingestão Alimentar ................................................................................. 50 5.2.2.4 Exames Bioquímicos .................................................................................................... 50 5.2.3 Análise Estatística ........................................................................................................... 51 5.3 Resultados ......................................................................................................................... 51 5.3.1 Dados Clínicos e Sociodemográficos .............................................................................. 51 5.3.2 Avaliação Nutricional ..................................................................................................... 52 5.3.3 Metabolismo de Repouso ................................................................................................ 56 5.3.4 Ingestão Alimentar .......................................................................................................... 57 5.3.5 Exames Bioquímicos ....................................................................................................... 58 5.4 Discussão ........................................................................................................................... 59 5.4.1 Avaliação Nutricional ..................................................................................................... 59 5.4.2 Metabolismo de Repouso ................................................................................................ 63 5.4.3 Ingestão Alimentar .......................................................................................................... 65 5.4.4 Exames Bioquímicos ....................................................................................................... 65 5.5 Conclusão .......................................................................................................................... 67 Referências ............................................................................................................................... 67 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 72 APÊNDICES E ANEXOS ..................................................................................................... 74 file:///C:/Documents%20and%20Settings/gesqualis_maria/Meus%20documentos/Downloads/D.docx%23_Toc427139320 10 1 INTRODUÇÃO Doenças Neuromusculares (DNM) são afecções decorrentes do acometimento primário da unidade motora, composta pelo motoneurônio medular, raiz nervosa, nervo periférico, junção mioneural e músculo. Nas crianças, a maior parte é geneticamente determinada, sendo as DNM adquiridas mais raras do que em adultos 1 . A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é a DNM mais comum e mais grave que ocorre na infância 2,3,4 . Trata-se de uma desordem recessiva ligada ao cromossomo X, de caráter progressivo, que acomete primordialmente a musculatura esquelética e cardíaca, e com uma incidência mundial aproximada de um para cada 3500 a 6000 nascidos vivos do sexo masculino 2,5,6 . Mutações no gene da distrofina levam à ausência de expressão desta proteína no tecido muscular, causando aumento da fragilidade da membrana do músculo e levando a fraqueza muscular progressiva 7 . Uma abordagem multidisciplinar coordenada é necessária para intervir em suas manifestações multissistêmicas e problemas secundários. O cuidado suportivo tem alterado o curso natural da doença, prolongando a longevidade dos pacientes 2 . Por isso, medidas que visem melhorar a qualidade de vida têm sido alvo de estudo nos centros de referência para DNM. Novas terapias que envolvem a correção do defeito genético vêm sendo desenvolvidas e começam a ser aplicadas em pacientes (uso de oligonucleotídeos anti-sense Post- Transcriptional Control - PTC 124), mas ainda em forma de pesquisa, porém com resultados promissores. Tais medicamentos são indicados para um grupo restrito de meninos com DMD, definido de acordo com o tipo de defeito genético. Atualmente, a terapia com corticosteroides (CS) é a única intervenção farmacológica recomendada sem restrições para todos os pacientes com DMD, por ter sido demonstrado efeito benéfico na força e função muscular em curto prazo 8 . Os CS oferecem benefícios que vão além da musculatura esquelética. Favorecem melhora da força muscular e escores de testes funcionais, prolongam a deambulação independente, melhoram testes de função pulmonar e retardam o início ou reduzem a incidência de miocardiopatia e escoliose 7 . No entanto, esta terapia apresenta vários efeitos colaterais indesejáveis, incluindo retardo no crescimento, ganho ponderal excessivo, mudanças na composição corporal, intolerância à 11 glicose, desmineralização óssea, retenção hídrica, entre outros. A prevenção, o monitoramento e o tratamento desses efeitos necessitam de atenção imediata e contínua 2, 3, 9 . Assim como em muitas doenças crônicas, o cuidado nutricional tem se tornado uma parte importante na abordagem a crianças com DMD 10 . São descritos distúrbios nutricionais que variam de desnutrição a obesidade, os quais frequentemente pioram a capacidade física de pacientescom distrofias musculares. A obesidade exacerba a perda muscular, agrava a carga sobre os músculos enfraquecidos, acentua deformidades esqueléticas e aumenta os riscos de intercorrências em cirurgias ortopédicas 11,12 . Pouco é conhecido sobre a gênese da obesidade na DMD. Acredita-se que pode estar relacionada a um desequilíbrio entre consumo e gasto de energia. Nestes pacientes, a massa magra está reduzida, devido à destruição progressiva do músculo esquelético, acompanhada por substituição e acúmulo intramuscular de tecido adiposo e fibroso. A fraqueza muscular, a perda da marcha e da mobilidade reduzem a parte do gasto energético relacionado à atividade física. Neste contexto, ingestão excessiva de energia pode levar facilmente ao ganho ponderal 3,12 . Assim, o cuidado nutricional deve ser focado em ofertar energia adequada para manter a massa muscular e tentar prevenir o início da obesidade, que por si só pode limitar a mobilidade 3 . A literatura ainda é inconclusiva sobre as recomendações calóricas destes pacientes. Entender como melhor predizer as necessidades energéticas na DMD é fundamental, para ofertar quantidades adequadas de energia, manter a massa muscular e, ao mesmo tempo, evitar o desenvolvimento da obesidade 3,13 . Dificuldades em realizar o controle ponderal de pacientes com DMD em acompanhamento nutricional no ambulatório interdisciplinar de DNM do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG) motivaram a realização deste estudo, que se propôs a avaliar o estado nutricional e estudar o metabolismo de repouso dos meninos com a doença, de forma a favorecer uma melhor abordagem nutricional e promover melhoria na qualidade de vida e nos cuidados diários destas crianças e adolescentes. Seguindo os critérios estabelecidos na Resolução 03/2010 do Colegiado do Programa de Pós- Graduação em Ciências da Saúde - Área de Concentração Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, esta dissertação será apresentada sob a forma de artigos. Foram elaborados dois artigos: o primeiro consiste em 12 uma revisão da literatura sobre a DMD e a avaliação, acompanhamento e intervenção nutricional nos pacientes com a doença. O segundo artigo foi elaborado empregando-se os resultados obtidos com a realização da avaliação nutricional e da aferição da taxa de metabolismo de repouso dos portadores de DMD acompanhados no ambulatório de DNM do HC/UFMG. Ressalta-se que, por se tratar de uma dissertação de mestrado, os artigos estão extensos e usou-se o mesmo padrão de referência bibliográfica para manter a homogeneidade do trabalho. Quando os artigos forem enviados às revistas científicas para publicação, serão feitas as adaptações necessárias e a tradução para o idioma de referência. Referências 1 Reed UC. Doenças Neuromusculares. J Pediatr. 2002; 78(Supl.1):S89-S103. 2 Goemans N, Buyse G. Current Treatment and Management of Dystrophinopathies. Curr Treat Options Neurol. 2014 May; 16(5):287-99. 3 Elliot SA, Davidson ZE, Davies PSW, et al. Predicting resting energy expenditure in boys with Duchenne muscular dystrophy. Eur J Paediatr Neurol. 2012 Nov; 16(6):631-5. 4 Zarife S, Mendell JR. The Muscular Dystrophies: Distint Pathogenic Mechanisms Invite Novel Therapeutic Approaches. Curr Rheumatol Rep. 2011 Jun; 13:199-207. 5 Guzmán ORC, García ALC, Rodríguez-Cruz M. Muscular Dystrophies at Different Ages: Metabolic and Endocrine Alterations. Int J Endocrinol. 2012; 2012:1-12. 6 Bushby K, Finkel R, Birnkrant DJ, et al. Diagnosis and management of Duchenne muscular dystrophy, part 1: diagnosis, and pharmacological and psychosocial management. Lancet Neurol. 2010; Jan; 9(1):77-93. 7 McMillan HJ, Campbell C, Mah JK. Duchenne Muscular Dystrophy: Canadian Paediatric Neuromuscular Physicians Survey. Can J Neurol Sci. 2010 Mar; 37(2):195-205. 8 Merlini L, Gennari M, Malaspina E, et al. Early Corticosteroid Treatment in 4 Duchenne Muscular Dystrophy Patients: 14 year follow-up. Muscle Nerve. 2012 Jun; 45(6):796- 802. 9 Davoodi J, Markert CD, Voelker KA, et al. Nutrition Strategies to Improve Physical Capabilities in Duchenne Muscular Dystrophy. Phys Med Reabil Clin N Am. 2012 Feb; 23(1):187-99. 10 Mok E, Béghin L, Gachon P, et al. Estimating body composition in clhildren with Duchenne muscular dystrophy: comparison of bioelectrical impedance analysis and skinfold-thickness measurement. Am J Clin Nutr. 2006 Jan; 83(1):65-9. 13 11 Martigne L, Salleron J, Mayer M, et al. Natural evolution of weight status in Duchenne muscular dystrophy: a retrospective audit. Brit J Nutr. 2011 May; 105(10):1486-91. 12 Zanardi MC, Tagliabue A, Orcesi S, et al. Body composition and energy expenditure in Duchenne muscular dystrophy. Eur J Clin Nutr. 2003 Feb; 57(2):273-8. 13 Davidson ZE, Truby H. A review of nutrition in Duchenne muscular dystrophy. J Hum Nutr Diet. 2009 Oct; 22(5):383-93. 14 2 ARTIGO 1 - ASPECTOS NUTRICIONAIS NO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES COM DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE (Artigo de Revisão) Resumo O presente estudo é uma revisão bibliográfica desenvolvida com o objetivo de rever a literatura referente à assistência nutricional e ao metabolismo de repouso na distrofia muscular de Duchenne (DMD). Foram utilizadas as base de dados PubMed/MEDLINE e LILACS, com as palavras-chave distrofia muscular de Duchenne, doenças neuromusculares (DNM), nutrição, avaliação nutricional, metabolismo, gasto energético e calorimetria. A DMD é a forma mais comum e mais grave de DNM na infância. É uma doença degenerativa, progressiva, ressessiva, ligada ao cromossomo X, causada por mutações no gene da distrofina, que levam à ausência de expressão desta proteína nos músculos, levando a fraqueza muscular progressiva. O tratamento com corticosteróides é aceito como padrão de cuidado em pacientes que deambulam, com benefícios que vão além da musculatura esquelética. No entanto, o uso crônico leva a efeitos colaterais como ganho ponderal que necessitam de atenção contínua. Meninos com DMD têm risco de desenvolver tanto desnutrição quanto excesso de peso, e ambos podem interferir na progressão da doença e piorar a capacidade física dos pacientes. O gasto energético nestes meninos provavelmente é menor, devido à perda significativa de massa muscular e redução da atividade física, especialmente após a perda da capacidade de deambulação. Recomendações nutricionais específicas para a doença ainda não estão disponíveis e a literatura é pouco conclusiva. Desta forma, recomendações nutricionais adequadas e monitoraramento do conteúdo energético da dieta são essenciais, pois ingestão calórica excessiva favorece ganho de peso e ingestão inadequada precede perda ponderal. Assim, orientação nutricional precoce e prevenção de distúrbios nutricionais devem ser metas desde o diagnóstico, de forma a proporcionar uma melhor qualidade de vida e redução de possíveis complicações para os pacientes. Palavras-chave: distrofia muscular de Duchenne, doenças neuromusculares, nutrição, avaliação nutricional, metabolismo, gasto energético, calorimetria. Abstract This study is a literature review, whose aim was to review the literature concerning nutritional care and resting metabolism in Duchenne muscular dystrophy (DMD). The database PubMed / MEDLINE and LILACS were used, with the keywords Duchenne muscular dystrophy, neuromuscular disease (NMD), nutrition, nutritional assessment, metabolism, energy expenditure and calorimetry. DMD is the most common and most severe childhood NMD. It is a progressive disease, X-linked, caused by mutations in the dystrophin gene, leading to lack of expression of dystrophin in the muscle tissue. Corticosteroid treatment is accepted as standard of care in patients until loss of ambulation, however, side effects such as weight gain need continuousattention. DMD patients are at risk for becoming malnourished or overweight, and both can interfere with disease progression. Energy expenditure is likely to be lower due to loss of muscle mass and reduced physical activity. Specific nutritional recommendations are not yet available. Monitoring dietary energy content is essential because excessive caloric intake lead to weight gain and inadequate intake precedes weight loss. Thus, nutritional counseling and prevention of nutritional disorders should be targets since diagnosis, providing better quality of life and reduce potential complications. Keywords: Duchenne muscular dystrophy, neuromuscular disease, nutrition, nutritional assessment, metabolism, energy expenditure, calorimetry. 15 2.1 Distrofia Muscular de Duchenne Distrofias musculares são afecções que acometem primariamente os músculos e exibem ampla heterogeneidade clínica, fenotípica e genética. Em crianças, a maior parte é geneticamente determinada, de início neonatal ou durante a infância 1, 2 . A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é a forma mais comum e mais grave de Doença Neuromuscular (DNM) na infância, com incidência mundial de 1 para cada 3500 a 6000 nascidos vivos do sexo masculino 3,4 e prevalência de 4,78 para cada 100.000 meninos 5 . Trata- se de uma doença muscular degenerativa, progressiva, hereditária, recessiva, ligada ao cromossomo X, causada por mutações no gene que codifica a distrofina, uma proteína subsarcolemal que desenvolve papel chave na estabilidade da membrana muscular, assim como na sinalização celular. A ausência de expressão da distrofina no tecido muscular leva à fraqueza muscular progressiva. 3,4,6,7 . Na DMD o defeito genético isolado localiza-se no braço curto do cromossomo X, locus Xp21. Este gene é responsável pela produção da proteína da membrana celular chamada distrofina. Cerca de 2/3 dos pacientes com a doença recebem o gene anormal da mãe, e na terça parte dos casos, ocorre uma mutação espontânea em suas células germinativas, representando novas mutações, afetando apenas a criança 8,9 . As mutações no gene da distrofina causam interrupção do quadro de leitura, resultando em redução severa ou ausência completa da proteína nos músculos esqueléticos e cardíaco. Diferentes isoformas de distrofina são expressas em outros tecidos, entre os quais destaca-se o cérebro, e sua deficiência neste tecido é responsável por graus variados de retardo mental, que ocorre em aproximadamente 1/3 dos pacientes com DMD 10 . As alterações genéticas que ocorrem são grandes deleções (65% dos casos), duplicações de um ou mais genes (5 a 10% dos casos) e mutações pontuais ou outros rearranjos genéticos pequenos (25 a 30% dos casos) 2,11, 12,13 . As expressões fenotípicas variáveis da doença estão relacionadas principalmente ao tipo de mutação e o seu efeito na produção de distrofina 14 . 2.1.1 Sinais e Sintomas A DMD tem seu início na primeira infância, e é caracterizada por um curso clínico previsível, afetando primordialmente a musculatura estriada e cardíaca. A primeira manifestação clínica de fraqueza muscular inclui atraso para aquisição da marcha, quedas frequentes, 16 pseudohipertrofia da panturrilha, dificuldade para subir escadas e levantar-se do chão, com o típico sinal de Gower’s (ou levantar miopático) e a marcha anserina, com báscula da bacia, por volta dos 3 a 4 anos de idade 3,7,11,14,15,16,17 . A fraqueza muscular é simétrica e acomete inicialmente os músculos extensores da coxa e da coluna. Com a progressão da doença, há comprometimento da musculatura dos membros superiores, inicialmente proximal e, depois, dos grupos distais 17 . Fraqueza progressiva da cintura pélvica e contraturas musculares comprometem a deambulação, cuja capacidade usualmente é perdida entre 9 e 12 anos, com perda subsequente das funções dos membros superiores. Após a perda da capacidade de deambulação, acentua-se a fraqueza axial, que leva ao desenvolvimento de escoliose e afeta negativamente a função respiratória. A diminuição da mobilidade global leva à instalação de contraturas das articulações nos membros inferiores e superiores 3,15,18 . Fraqueza progressiva dos músculos respiratórios resulta em uma síndrome ventilatória restritiva, que evolui para insuficiência respiratória durante a segunda ou terceira década de vida. Com o aumento da idade, os pacientes tipicamente desenvolvem uma miocardiopatia dilatada progressiva, eventualmente levando a falência cardíaca congestiva e a maior risco de arritmia cardíaca e morte súbita. Sem intervenção, o envolvimento cardíaco e as complicações respiratórias resultam em mortalidade precoce na segunda ou terceira década de vida 3,15,18 . Os pacientes com DMD também apresentam manifestações não musculares. A circunferência craniana costuma estar aumentada e a estatura é geralmente baixa; a inteligência pode estar comprometida e deficiência mental pode ser observada em 1/3 dos afetados, sem apresentar relação com o grau de comprometimento muscular. Pode também haver diminuição da força muscular intestinal, resultando em constipação intestinal 9,17 . 2.1.2 Diagnóstico A suspeita de DMD deve ser considerada independentemente da história familiar e normalmente é desencadeada nas seguintes situações: observação de função muscular anormal em crianças do sexo masculino; elevação nos níveis séricos de creatina quinase (CK) e/ou outras enzimas musculares tais como transaminases e aldolase 14 . O diagnóstico pode ser confirmado por análise molecular, na qual se identifica a presença de uma mutação no gene da distrofina, e, se necessário, por biópsia muscular com estudo da 17 distrofina em 1/3 dos pacientes, nos quais não se consegue identificar a mutação 9,11,17 . A biópsia muscular dos pacientes com DMD apresenta alterações características, que incluem degeneração e regeneração contínua de fibras musculares e infiltração gordurosa nos músculos 9 . Atualmente inicia-se o diagnóstico de um paciente com suspeita de DMD através de um teste genético, que utiliza técnica Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification (MLPA), capaz de identificar deleções e/ou duplicações no gene da distrofina. Se este teste for negativo pode-se proceder a um novo teste genético, que consiste no sequenciamento de todo o gene da distrofina (sequenciamento por SANGER ou sequenciamento de nova geração – NGS) a fim de identificar mutações de ponto que não podem ser detectadas pela técnica de MLPA. Em locais onde este segundo teste genético não se encontra disponível, pode ser feita uma biópsia muscular com estudo imunohistoquímico para distrofina. Se houver deficiência total desta proteína no tecido muscular, pode-se estabelecer o diagnóstico de DMD 14 . 2.1.3 Tratamento Avanços no tratamento das distrofinopatias têm aumentado a expectativa de vida, e os pacientes podem sobreviver até a terceira ou, em alguns casos, quarta década de vida 4,18 . Grandes evoluções no conhecimento da genética molecular e na patogênese da DMD têm trazido a expectativa de tratamentos curativos, como a terapia gênica. Recentemente, várias abordagens têm sido desenvolvidas para corrigir o defeito genético, restaurar a expressão funcional da distrofina, reduzir a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes 10,18 . Três grandes estratégias têm sido desenvolvidas e cada uma depende das especificidades das mutações genéticas. Supressão da mutação, ou parada de leitura prematura (stop codon) é uma forma de tratamento aplicável a meninos com DMD com códons de terminação prematura, o que ocorre em aproximadamente 13 a 15% da população 8 . O Exon Skipping representa uma segunda forma de tratamento molecular. Oligonucleotídeos anti-sentido (antisense) que visam sítios específicos nos éxons permitem a exclusão de um ou mais éxons, levando à correçãodo quadro de leitura, produzindo uma proteína distrofina truncada funcional 8 . Atualmente encontra-se em avaliação no Food and Drug Administration (FDA) para aprovação de seu uso na prática clínica. 18 Reposição do gene é outra estratégia. O tamanho do gene da distrofina é um obstáculo para a terapia genética, devido à reduzida capacidade de armazenamento do vírus adeno-associado. Felizmente, a distrofina pode reter a função significativa mesmo na ausência de grandes porções de sua sequência de codificação. O conceito de mini e micro distrofina foi adaptado de observações clínicas que demonstraram que grandes deleções em fase no domínio central da haste da distrofina estão associados com fenótipos de DMD mais suaves 8 . Os tratamentos específicos começam a ser aprovados por agências de regulamentação no exterior e podem chegar em breve à prática clínica. Por outro lado, enquanto tais tratamentos ainda não são rotineiramente utilizados, a história natural da doença pode ser alterada, através de intervenções nas manifestações e complicações conhecidas. Corticoterapia, intervenções respiratórias, cardíacas, ortopédicas e de reabilitação têm favorecido melhora funcional, na qualidade de vida, saúde e longevidade 14 . O tratamento com corticosteroides (CS) é aceito como padrão de cuidado em pacientes com DMD que deambulam. Tanto a administração diária quanto intermitente são comumente empregadas, com diferente eficácia e diferente perfil de efeitos colaterais. Não há diretrizes estabelecidas para a idade ou estágio de início ou duração do tratamento com CS. A prática mais comum é o início do uso da medicação antes da criança começar a declinar (entre 3 e 6 anos) e a manutenção do tratamento monitorado mesmo após a perda da capacidade de deambulação, com o objetivo de retardar as manifestações cardíacas e respiratórias e prevenir o desenvolvimento de escoliose 3,4 . A introdução da terapia com CS levou a uma alteração no curso natural da DMD, com benefícios que vão além da musculatura esquelética. O medicamento tem demostrado prolongar a capacidade de deambulação por 2 a 5 anos e ainda leva a uma melhora da função muscular. Na fase não deambulante, é benéfico em reduzir a incidência de escoliose e em retardar o declínio da função das extremidades superiores, função cardíaca e função pulmonar 19,20,21,22,23 . No entanto, efeitos colaterais como ganho ponderal e mudanças na composição corporal necessitam de atenção imediata e contínua 24 . Aspectos endocrinológicos têm ganhado atenção na DMD, como saúde óssea, crescimento e puberdade, metabolismo da glicose e de lipídeos, que, já comprometidos na DMD, serão mais afetados pelo uso de CS 18 . 19 O envolvimento multidisciplinar tem sido muito valorizado no tratamento da DMD, por antecipar mudanças em vários sistemas e para gerenciar o amplo espectro de complicações que podem ser previstas na doença. Sugere-se uma abordagem multidisciplinar incluindo neurologista, pneumologista, cardiologista, ortopedista/cirurgião, fisioterapeuta motor e respiratório, nutricionista, fonoaudiólogo, entre outras especialidades 4,14,25,26 . 2.2 Abordagem Nutricional na Distrofia Muscular de Duchenne A intervenção nutricional em pacientes com DMD, assim como em outras doenças crônicas, tem sido considerado uma parte importante do tratamento 27 . Os pacientes com DMD apresentam risco de desenvolver tanto desnutrição quanto sobrepeso/obesidade em diferentes idades e sob circunstâncias diversas, além de apresentar deficiências na ingestão de energia, proteínas, vitaminas, minerais e fluidos. Em estágios tardios, fraqueza faríngea leva a disfagia, acentuando ainda mais os problemas nutricionais. A perda gradual da força da musculatura respiratória, combinada com baixa ingestão oral, pode resultar em perda ponderal grave e à necessidade de se considerar terapia nutricional enteral. Constipação intestinal também pode ser observada, especialmente em pacientes mais velhos e após cirurgias. Com a maior sobrevida, outras complicações têm sido relatadas, incluindo dilatação gástrica relacionada a engolir ar pelo uso de ventilação mecânica, ou, mais raramente, a esvaziamento gástrico retardado e íleo paralítico 14,25 . Manter um bom estado nutricional é essencial na DMD. Alimentação inadequada pode ter um efeito potencialmente negativo em quase todos os sistemas orgânicos. Orientação nutricional precoce e prevenção de desnutrição, sobrepeso e obesidade deveriam ser metas desde o diagnóstico, durante toda a vida. A dieta precisa ser avaliada em termos de energia, proteína, fluidos, cálcio, vitamina D e outros nutrientes 14,25 . Como resultado do acompanhamento multidisciplinar, a expectativa de vida dos pacientes com DMD está aumentando. Eagle et al 28 afirmaram que a chance de sobrevida até os 25 anos aumentou de 0% em 1960, para até 53%, em 1990. Destaca-se que estes dados foram obtidos antes do tratamento com CS. Com uma população mais velha, problemas nutricionais podem surgir. Até a cura ser encontrada, intervenções terapêuticas e suportivas ajudam a prevenir ou retardar as complicações e a preservar a qualidade de vida 16 . 20 2.2.1 Sobrepeso e Obesidade A obesidade é uma característica clínica comum em pacientes com DMD 29 que ocorre precocemente no curso da doença, podendo ser identificada já aos 7 anos de idade. É mais comum quando os meninos perdem a capacidade de deambulação, atingindo maior prevalência por volta dos 13 anos 3,24,26 , em torno de 54% 18 . Sugere-se que a obesidade em crianças com DMD não está relacionada apenas à baixa taxa metabólica, mas a outras causas, como redução da atividade física e/ou ingestão calórica excessiva 30, 31 . Além disso, um aumento significativo do apetite associado ao uso de CS leva a rápido ganho de peso em muitos pacientes, com aumento de 10 a 20% do peso corporal em 12 meses 12 . O excesso de peso aumenta a carga sobre os músculos enfraquecidos, reduzindo a mobilidade e gerando um impacto negativo na função motora, podendo comprometer o benefício obtido com o CS. Além disso, aumenta o risco de desenvolvimento de escoliose, hipertensão arterial, intolerância à glicose e hiperlipidemia, favorece piora respiratória e cardíaca e pior desenvolvimento psicossocial, podendo limitar a habilidade dos cuidadores para levantar e transportar os meninos, afetando a qualidade de vida e a funcionalidade da família completa, tornando as atividades diárias mais difíceis 14,16,24,32,33 . 2.2.2 Desnutrição Em pacientes com distrofinopatias, a desnutrição é um problema que precisa ser considerado. Estima-se que 50% dos meninos com DMD estão desnutridos aos 18 anos. A perda de massa muscular significativa resulta em perda ponderal, problema normalmente acentuado por dificuldades alimentares, disfunção gastrintestinal e ganho de peso reduzido 16,18,33 . Dificuldades na mastigação e deglutição estão relacionadas com o aumento da fraqueza dos músculos mastigatórios, má oclusão e outras anormalidades do processo orofaríngeo. Distensão gástrica pode contribuir com retardo no esvaziamento gástrico, refluxo gastroesofágico e distúrbios nutricionais subsequentes na DMD. Outros fatores como inabilidade para se alimentar sozinho, maior tempo para as refeições e progressão da insuficiência respiratória comprometem ainda mais a ingestão alimentar, levando a perda ponderal gradativa. Neste contexto, a introdução de modificações dietéticas, como cortar os 21 alimentos em pedaços menores e alterar a consistência das refeições para alimentos mais macios auxiliaria na mastigação e na redução do tempo para as refeições 10,16,26,34 . A desnutrição favorece a progressão da doença no seu estágio avançado, quando o confinamento em cadeira de rodas compromete a ingestão oral e complicações como falência pulmonar, levam a maioresforço respiratório e ao aumento das necessidades energéticas, provavelmente por maior atividade física basal 18,27 . A hiperalimentação, neste momento, não é efetiva, pois, em pacientes gravemente afetados, aumenta o risco de hipercapnia devido à produção aumentada de dióxido de carbono, que não é acompanhada por aumento semelhante na ventilação alveolar 34 . O baixo peso pode levar ao desenvolvimento de úlceras por pressão e a um elevado risco de infecções pulmonares, causadas pela fraqueza da musculatura respiratória e função imune deteriorada 35,36 . Com a progressão da DMD, fraqueza orofaríngea e disfagia podem comprometer a ingestão oral, colocando em risco sua segurança e adequação. Sintomas como refeições prolongadas, acompanhadas por fadiga, derramamento excessivo de alimentos, alimentos parados na boca, ou outro indicador clínico de disfagia (tosse persistente, asfixia, engasgos ou qualidade de voz molhada durante a alimentação) necessitam de atenção redobrada. Se houver dificuldade na ingestão calórica, se a mesma se tornar perigosa, ou se desnutrição permanecer, ou houver perda ponderal superior a 10% do peso a despeito de suplementação calórica e mudança na consistência da dieta, nutrição enteral torna-se necessária, preferencialmente via gastrostomia, por ser mais bem tolerada e fácil de utilizar, para prevenir aspiração pulmonar, otimizar o estado nutricional e assegurar adequada hidratação 25,36,37 . Estudos relatam benefícios da alimentação via gastrostomia em pacientes com DMD, dentre eles aumento significativo do peso corporal com posterior estabilização 36 , e redução significativa do número de pacientes com desnutrição 38 . A alimentação via gastrostomia deveria ser considerada em estágios iniciais de disfagia, antes de problemas respiratórios ou perda ponderal progressiva 38 . Assim como em outras condições, múltiplas questões devem ser avaliadas antes da implantação da ostomia, como estágio da doença, presença de insuficiência respiratória grave, elevado risco de maiores complicações com a anestesia ou sedação para o procedimento, entre outras 16 . 22 2.2.3 Comprometimento Gastrintestinal Como a DMD progride implacavelmente, novos desafios têm surgido, como o cuidado com as dificuldades alimentares, de deglutição e o envolvimento da musculatura lisa, com disfunção de órgãos como o intestino 3 . A expressão da distrofina foi identificada nos músculos lisos viscerais e há evidências de comprometimento funcional destes músculos na DMD. Com o avançar da idade, os pacientes desenvolvem sintomas gastrintestinais como gastroparesia e distensão gástrica, levando a retardo no esvaziamento gástrico e paresia intestinal, com distúrbios nutricionais subsequentes, como o meteorismo. Constipação também é frequente, devido à combinação de mobilidade reduzida e ingestão dietética de fibras deficiente, podendo contribuir para a redução do apetite e da ingestão alimentar, necessitando de medidas preventivas e farmacológicas 26,33,37 . 2.2.4 Avaliação Nutricional na Distrofia Muscular de Duchenne 2.2.4.1 Peso O controle adequado do peso (P) pode retardar o momento de perda da capacidade de deambulação 21 . Sugere-se a aferição semestral da medida, com acompanhamento longitudinal 16 . Bushby et al 25 recomendam, para a aferição do P de meninos que não deambulam, a diferença do P do paciente na cadeira de rodas e da cadeira (quando disponível uma balança para cadeirantes), ou a diferença entre o P do acompanhante ou familiar carregando o paciente e o P do acompanhante ou familiar. Em meninos tratados com CS, o peso é desproporcionalmente distribuído durante os estágios da DMD 39 , necessitando acompanhamento longitudinal 16 . Curvas normais de crescimento e desenvolvimento não levam em consideração a perda de massa muscular que ocorre durante a progressão da DMD. A redução da massa muscular, juntamente com atividade física reduzida, implicam em acúmulo de tecido gorduroso, e o ganho de peso se aproxima das curvas normais de crescimento 40 . Griffiths e Edwards 40 desenvolveram uma curva que fornece diretrizes de peso ideal para o controle do P de meninos com DMD. A curva avalia a taxa de peso corporal por idade (P/I) e foi baseada em um modelo biológico, assumindo uma redução de massa muscular média de 4% ao ano, dos 6 aos 17 anos de idade. Os percentis de P nesta curva são menores do que na população em geral. Define-se, nesta curva, baixo peso como um P corporal inferior ao 23 percentil 10 (P/I ≤ 85%), obesidade como P acima do percentil 90 (P/I 120%) e eutrofia quando o P corporal está entre os percentis 10 e 90. A relação P/I é calculada como a razão do P aferido pelo valor mediano de P (percentil 50) para a idade. Recentemente West et al 41 desenvolveram curvas de crescimento específicas para crianças com DMD de 2 a 12 anos que deambulam e não usam CS. Os autores não observaram diferença significativa na média de P/I entre os meninos com DMD e as curvas do Centers for Disease Control and prevention (CDC) para meninos. No entanto, identificaram maior percentual de jovens nos extremos das curvas, tanto que o percentil 90 da curva para DMD foi significativamente maior, assim como o percentil 10 foi significativamente menor do que as curvas do CDC. Neste estudo, um aumento na velocidade de ganho de peso foi observada por volta de 7 a 10 anos. 2.2.4.2 Estatura Crianças e adolescentes com doenças neuromusculares podem apresentar padrão de crescimento estatural diferenciado se comparado ao de indivíduos saudáveis, seja pela própria doença de base ou pelas deformidades ou sequelas que comprometem a avaliação adequada da estatura 42 . Medidas lineares de estatura são incomuns ou imprecisas em crianças com DMD, devido à dificuldade de permanecerem em pé, ao desenvolvimento de escoliose e à retração das articulações, com contraturas e dificuldade de mobilização. É necessário padronizar o método de aferição da estatura em meninos com a doença, para se obter dados comparáveis 16,32,35 . Bushby et al 25 sugerem, para a estimativa da estatura na presença de escoliose, a utilização da envergadura do braço e Stewart et al 43 , além desta medida, o comprimento tibial ou altura do joelho. Recomenda-se o monitoramento da estatura pelo menos a cada 6 meses 22 . Baixa estatura é uma característica fenotípica bem descrita na história natural da DMD, com uma média de estatura cerca de 1 desvio padrão abaixo da média da população. O padrão de crescimento é característico, iniciando com estatura normal ao nascimento, seguido de redução na velocidade de crescimento nos primeiros 2 anos de idade e um desvio para baixo nas curvas durante a infância e a adolescência. A maioria dos meninos fica dentro do percentil 50 quando atingem a vida adulta, independente de algum tratamento com CS 44,45,46 . 24 O uso crônico de CS desempenha papel adicional no comprometimento do crescimento 3,44 , resultando em menor estatura, abaixo do percentil 30 em pacientes que utilizam o medicamento 3 . A velocidade de crescimento dos meninos que utilizam CS se reduz significativamente após 12 a 18 meses de início da terapia, e, por volta dos 13 a 15 anos, a estatura pode estar reduzida em 20 – 25cm abaixo do percentil 50 32 . West et al 41 estabeleceram uma curva de estatura por idade (E/I) para pacientes com DMD, deambulantes, sem CS, com idade entre 2 e 12 anos. Os percentis 10 e 90 de E/I eram significativamente menores que os do CDC e os pacientes em média 4,3cm menores do que crianças da mesma idade. Os autores observaram um modesto aumento na velocidade de crescimento por volta dos 10 anos de idade. 2.2.4.3 Índice de Massa Corporal A composição corporal em pacientes com DMD é diferente da população normal e provavelmente também ao estágio específico da doença. Portanto, utilizaro Índice de Massa Corporal (IMC) como um indicador de obesidade pode não ser preciso 47 , pois não faz discriminação entre massa gordurosa (MG) e massa magra (MM). Tem sido observado que indivíduos com IMC normal apresentam elevado percentual de gordura corporal, podendo ser considerados obesos 48 . Obesidade é uma questão importante em indivíduos com deficiências. Devido à reduzida massa muscular, seria necessário redefinir as categorias de IMC para indivíduos com DNM, uma vez que a prevalência de obesidade poderia ser subestimada 49 . West e colaboradores 41 desenvolveram curvas de IMC por Idade (IMC/I) para meninos com DMD com idade de 2 a 12 anos, que deambulavam e não utilizavam CS. Observaram que o IMC/I para estes pacientes é em média 1,0 Kg/m 2 maior do que as curvas do CDC e o percentil 90 é significativamente maior do que a referência para a população geral. 2.2.4.4 Composição Corporal Classificar meninos com DMD como sobrepeso ou obesidade usando peso, estatura e IMC, sem medidas de composição corporal precisas, é um problema 16 . Na prática clínica, o monitoramento da composição corporal é um componente crítico da avaliação nutricional e do controle ponderal de pacientes com a doença 30 . A composição corporal nas distrofias musculares é diferente de outras patologias 50 . Meninos com DMD apresentam uma reduzida MM corporal e gordura intramuscular aumentada. O 25 percentual total de água corporal está reduzido, o que pode estar relacionado à reduzida MM ou pela expansão da MG. A MM é alterada devido à destruição progressiva do músculo esquelético, seguida por sua substituição por tecido adiposo e fibroso. O aumento da MG na DMD deve-se principalmente a um maior acúmulo de gordura intramuscular, uma vez que a gordura subcutânea não é diferente de crianças normais. A infiltração gordurosa ocorre em todos os músculos 19,24,51 . Aos 6 anos, meninos com DMD apresentam apenas 60% da massa muscular esperada para a idade e aos 16 anos, apenas 20% 40 . Aos 10 anos, já perderam mais de 75% de sua massa muscular 52 . A estimativa de gordura corporal é maior em pacientes que não deambulam. Uma vez que a quantidade de gordura intramuscular é um preciso marcador de progressão da doença, o conhecimento do aumento da MG pode auxiliar no monitoramento da evolução do paciente. Assim, torna-se essencial encontrar uma técnica simples, fácil e acessível para precisamente identificar mudanças na composição corporal 51 . Diferentes métodos têm sido sugeridos para avaliar o acúmulo excessivo de gordura nos pacientes com DNM: avaliações antropométricas e físicas, como pregas cutâneas (PC) e circunferência muscular do braço, índice creatinina-altura, entre outros. No entanto, estas medidas podem falhar na estimativa de obesidade em pacientes distróficos, uma vez que não consideram a infiltração gordurosa perimuscular e intramuscular 33,47 , superestimando a massa livre de gordura e subestimando a MG 27 . Uma vez que a composição corporal é de interesse na prática clínica como um indicador de progressão da doença e/ou sucesso do tratamento, torna-se essencial uma técnica de análise da composição corporal validada para pacientes com DMD 48 . Estudos demonstram que a dual- energy X-ray absorptiometry (DXA) ou dupla emissão de raio X – densitometria, bioimpedância elétrica (BIA) e ressonância magnética são medidas acuradas e não invasivas que poderiam ser utilizadas para monitorar o estado nutricional na população pediátrica 16,18 . A BIA pode ser um método alternativo para avaliar mudanças no estado nutricional longitudinalmente e monitorar a progressão da doença em crianças com DMD, por ser de fácil realização, não causar desconforto, não ser invasiva, ter baixo custo, e ser acessível. Parece ser superior às medidas antropométricas para determinar mudanças na MM e percentual de MG nestes pacientes. Desta forma, pode ser usada para acompanhar mudanças no estado 26 nutricional de crianças com DMD que deambulam ou para avaliar a eficácia do tratamento 27,51 . DXA também tem sido utilizada para avaliar a composição corporal completa em indivíduos com DNM progressivas. Através desta técnica, é possível dividir a massa corporal em massa óssea corporal total e regional, tecido gorduroso e MM. A maior porção da MM é músculo esquelético 49 . 2.2.4.5 Avaliação do Consumo Alimentar A avaliação do consumo alimentar deve ser realizada para fornecer subsídios para o desenvolvimento e implantação de planos nutricionais, uma vez que a ingestão alimentar é um determinante no desenvolvimento, prevenção e manejo de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade. Precisa integrar um protocolo de atendimento para avaliação nutricional, cujo objetivo deve ser o de estimar se a ingestão de alimentos está adequada ou não, identificar hábitos inadequados e/ou ingestão excessiva de alimentos com pobre conteúdo nutricional 53,54 . Em doenças crônicas, como a DMD, na qual o monitoramento nutricional é crucial para o tratamento, os familiares tendem a ser mais conscientes da ingestão alimentar de suas crianças, uma vez que a progressão da doença leva a maior necessidade de assistência familiar para as atividades de vida diária 48 . 2.3 Gasto Energético na Distrofia Muscular de Duchenne A energia que o corpo humano necessita para manter suas funções vitais e orgânicas é obtida da oxidação dos macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos), presentes nos alimentos. O gasto energético pode ser considerado um processo de produção de energia através da combustão dos substratos energéticos, no qual há um determinado consumo de oxigênio (O2) e produção de gás carbônico (CO2) 55 . É determinado pela soma de três componentes: gasto energético basal, termogênese induzida pelos alimentos e atividade física 55, 56 . A determinação da taxa de metabolismo basal (TMB) ou de repouso (TMR) pode ser útil no manejo de alterações alimentares ou do balanço energético em pacientes com doenças crônicas ou obesidade. A calorimetria indireta (CI) é um método, através do qual estas taxas podem ser estimadas in vivo, através da medida da troca gasosa entre O2 e CO2 obtidos por análise do ar inspirado e expirado pelos pulmões 57,58 . Baseia-se no princípio de que não existe 27 reserva apreciável de O2 no organismo, que o gás consumido reflete a oxidação dos nutrientes e que toda a energia química no organismo é proveniente da oxidação de carboidratos, proteínas e lipídeos 59,60 . Na DMD, ainda não está claro quanto o gasto energético, seja pela redução da atividade voluntária ou por um defeito primário no metabolismo, contribui para o desenvolvimento da obesidade 16 . O gasto energético diário nesta doença provavelmente é menor, devido à dramática perda de massa muscular, que leva à perda de tecido metabolicamente ativo e pode reduzir a TMR. Além disso, a fraqueza muscular e a perda da capacidade de deambular reduzem a parte do gasto energético diário relacionado à atividade física 61 . Sabe-se que a composição corporal na DMD é alterada, caracterizada por redução da massa livre de gordura (MLG) e aumento da MG intramuscular. MG é metabolicamente inativa, de modo que, como a taxa de gordura corporal tende a aumentar, as necessidades energéticas totais podem ser previstas a reduzir, mas esta interação é influenciada por um nível de atividade física individual 24,31 . A MLG contém a maior parte dos tecidos metabolicamente ativos do corpo e isto pode explicar 70 a 80% da variabilidade na TMR. Similarmente, MG, apesar de menos metabolicamente ativa, também é um preditor independente da TMR. Em doenças em que a composição corporal pode ser alterada, como a DMD, equações baseadas em populações saudáveis podem estar sujeitas a erros. Neste contexto, sugere-se que uma queda dramática na MLG pode levar à reduçãoda TMR, alterando as necessidades energéticas dos pacientes 24 . 2.4 Recomendações Nutricionais na Distrofia Muscular de Duchenne 2.4.1 Energia Recomendações nutricionais para a DMD ainda não estão disponíveis. Monitorar o conteúdo energético da dieta é um dos fatores importantes a se considerar, uma vez que ingestão calórica excessiva pode levar à obesidade ou excesso de peso, enquanto ingestão calórica inadequada precede perda ponderal. O cuidado nutricional necessita ser focado em ofertar energia suficiente para manter a massa muscular magra e tentar prevenir o aparecimento da obesidade, que, por si só, pode limitar a mobilidade 3,6,27 . 28 Meninos com DMD necessitam de menos calorias, se comparados à média de crianças saudáveis (meninos que deambulam necessitam cerca de 80%, enquanto os que não deambulam precisam de cerca de 70%) 32,62 . É importante individualizar as recomendações, levando em consideração o baixo nível de atividade física e a baixa MM na DMD. Orientação nutricional deve ser oferecida desde o diagnóstico, com ênfase particular no controle do apetite ao iniciar a terapia com CS, na capacidade física e no status de deambulação dos pacientes 3,32,62 . O balanço energético negativo pode favorecer perda de MM. Por isso, a prevenção da obesidade através de aconselhamento dietético e adequação energética à composição corporal é preferível a restrições alimentares severas. O monitoramento longitudinal do peso pode dar uma indicação da precisão da prescrição energética 16 . Elliott e colaboradores 24 , ao avaliarem as necessidades energéticas de pacientes com DMD utilizando 5 diferentes equações, observaram que elas podem ser melhor estimadas utilizando a equação de peso de Schofield 63 , específica para idade e sexo, que superou as outras equações, por ser mais precisa e ter se aproximado mais da TMR, podendo ser utilizada na prática clínica. A equação padrão e amplamente utilizada, de Harris-Benedict, superestimou significativamente as necessidades energéticas desta população. Este fenômeno foi também visto por Gonzalez-Bermejo e colaboradores 34 , no qual a TMR foi 20% maior com esta equação. Estudos sugerem que talvez um valor definido de energia, expresso por Kg de peso corporal poderia ser uma alternativa adequada para estimar a necessidade energética de meninos com DMD 24 , mas, até o momento, este valor não está bem definido. 2.4.2 Cálcio e Vitamina D Mineralização óssea reduzida com hipocalciúria, baixa vitamina D (Vit D) e aumento de marcadores de turnover ósseo são características bem conhecidas da DMD. O metabolismo ósseo comprometido é influenciado negativamente pela terapia com CS, resultando em densidade mineral óssea reduzida e incidência aumentada de fraturas vertebrais e de ossos longos, causando morbidade significativa. A mobilidade reduzida leva a maior risco de fraturas, precipitando a perda da capacidade de deambulação, e a piora da saúde óssea 3,15 . 29 Adicionalmente, o reduzido suporte de peso relacionado ao comprometimento muscular durante o período crucial de crescimento pode acarretar osteopenia por desuso 32 . Por este motivo, a avaliação da densidade mineral óssea deve ser considerada parte da avaliação clínica normal nestes pacientes. A DXA é a técnica mais amplamente utilizada em crianças 32,62 , e deveria ser realizada em todos os pacientes com DMD em intervalo de 1 a 2 anos. Ressalta-se que estes pacientes apresentam puberdade e crescimento atrasados, assim como reduzida MM, fatores que podem contribuir para reduzir potencialmente os escores de densidade óssea para a idade 12 . Desta forma, assegurar a saúde óssea com adequada ingestão de Cálcio (Ca) e Vit D é essencial. Apesar destes nutrientes contribuírem para a saúde óssea, ainda não foi confirmado que a suplementação reduz o risco de fraturas de baixo impacto em meninos com DMD 12 . Experts, no entanto, recomendam checar os níveis séricos de 25-hidroxivitamina D anualmente, e suplementar quando os níveis estiverem abaixo de 20ng/mL. Em contraste, diretrizes europeias recomendam suplementação rotineira de Ca (800mg/dia, para meninos com 4 a 8 anos; 1300mg/dia, para meninos com 9 a 18 anos) e Vit D (400 UI/dia), se a ingestão alimentar for inadequada 12 . Biggar et al 23 recomendam a suplementação diária de Ca (750 mg) e Vit D (1000 UI) para os pacientes que utilizam CS. Bushby et al 13 e Moxley 3rd et al 22 recomendam o monitoramento anual da 25- hidroxivitamina D e suplementação se a concentração sérica for inferior a 32nmol/L. Para concentrações entre 20 e 31nmol/L, recomendam a suplementação com 1000 UI duas vezes ao dia, por via oral. Se a concentração for inferior a 20nmol/L, recomendam 2000 UI duas vezes ao dia. Os autores sugerem reavaliar a concentração sérica da 25-hidroxivitamina D após 3 meses de início da suplementação. 2.5 Conclusão A DMD é uma doença neuromuscular progressiva, cuja evolução clínica e tratamento levam a alterações importantes no estado nutricional. Estas, por sua vez, podem acelerar a evolução dos sinais e sintomas característicos, como a fraqueza muscular, desenvolvimento de escoliose, entre outras. Evidencia-se assim, a importância do acompanhamento nutricional para estes pacientes desde o diagnóstico, para que recebam orientações nutricionais individualizadas para a manutenção 30 de um estado nutricional mais adequado, tenham uma melhor qualidade de vida e possam reduziras as possíveis complicações associadas ao comprometimento nutricional. Referências 1 Mercuri E, Muntoni F. Muscular dystrophy: new challenges and review of the current clinical trials. Curr Opin Pediatr. 2013. Dec; 25(6):701-7. 2 Manzur AY, Muntoni F. Diagnosis and new treatments in muscular dystrophies. Postgrad Med J. 2009 Nov; 85(1009):622-30. 3 Goemans N, Buyse G. Current Treatment and Management of Dystrophinopathies. Curr Treat Options Neurol. 2014 May; 16(5):287-99. 4 Wicklund MP. The Muscular Dystrophies. 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