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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI Arquitetura e Urbanismo
 Patrimônio e Técnicas Retrospectivas – 5º Período 2022/2
 Docente: Carolina Pinto
 Aluno: Richard Willian Alves Santoriano
 RESENHA: ENTRE DIREITOS E CONFLITOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL 
 O campo do patrimônio no centro da política urbana 
 O artigo escrito pelo Arquiteto e urbanista Lucas Chiconi Balteiro, publicado pela página Vitruvius em fevereiro de 2022, expõe como é importante a preservação e valorização do patrimônio cultural . No decorrer dessa etapa inicial do texto conseguimos identificar eventos trágicos que evidenciam o descaso e a ausência de políticas e investimentos na sua preservação do patrimônio cultural, tais afirmativas influenciam em eventos trágicos como por exemplo: Os incêndios no Museu da Língua Portuguesa (2015), em São Paulo, e no Museu Nacional (2018), no Rio de Janeiro, estão entre alguns casos marcantes. Mais recentemente, um incêndio na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal – FAU UFRJ. Adiante das grandes instituições, outros patrimônios do cotidiano da população também expressam conflitos. Sendo eles: destruição da Vila Operária João Migliari, a construção sobre as nascentes da Chácara das Jaboticabeiras, o fechamento da Cinemateca Brasileira, a disputa pelo Complexo Esportivo do Ibirapuera, a reforma do Vale do Anhangabaú, as retiradas de famílias das quadras 37 e 38 nos Campos Elíseos, a liberação de empreendimentos na Grota do Bixiga e a distorção da fachada do Barnaldo Lucrécia. Todos em São Paulo. Em outras regiões do país: o Cais Estelita, no Recife, o Setor Sul, em Goiânia e as queimadas no Pantanal e na Amazônia que encobrem com fumaça cidades como Cuiabá, Porto Velho e Manaus.
Em contra partida, a reforma do Museu do Ipiranga, com previsão de reabertura em 2022 para o bicentenário da independência do Brasil, é oportuno para uma revisão dos nossos valores socioculturais. Com essas informações podemos analisar que memórias difíceis como a escravidão e a ditadura ainda não foram enfrentadas de maneira eficiente. Para uma sociedade tão plurifacetada e desigual como a brasileira, desconsiderar a questão do patrimônio histórico, ambiental e urbano é relegar o cidadão do seu próprio meio. Dessa forma o que deve ser combatido é a desigualdade e não a diversidade. 
 No governo bolsonaro foi feita a realização de algumas mudanças, entre elas foi possível citar: redução de funcionários; falta de realização de concursos públicos - cargos então passam a ser selecionados por indicações de prefeitos, governadores e do presidente, resultando em representantes inexperientes e com conhecimentos técnicos limitados na área do patrimônio cultural, atendendo apenas por interesses de grupos específicos ou interesses próprios, que ocasiona em uma deterioração com as políticas de preservação, Tais interferências políticas na estrutura dos conselhos e dos departamentos técnicos trazem uma problematização séria com a democracia. Além disso, também foram extintos: Ministério da Cultura e o Ministério das Cidades, além do Programa Minha Casa Minha Vida, substituído pelo novo programa habitacional denominado como Casa Verde e Amarela. No estado de São Paulo, sob a governança de João Dória, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat também sofreu alterações, com redução da participação das universidades. Órgãos de grande relevância para a política urbana, como a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano – Emplasa, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU e a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos – EMTU foram extintos . No município de São Paulo, Gestão Dória-Covas, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – Conpresp também sofreu interferências, substituindo os representantes dos órgãos que têm assento no conselho e invalidando a última eleição para a presidência. 
Em São Paulo, a organização de eventos por parte de órgãos da Arquitetura e do Urbanismo - CAU/SP e o Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB-SP demonstram a diversificação e abertura do debate, avultando as trocas entre capacitados do campo e ofertando a aproximação de outros grupos da sociedade. Em maio de 2021, o CAU/SP se manifestou através de uma nota sobre a intervenção nas fachadas do Barnaldo Lucrécia , teve também debate com representantes do CAU/SP, é necessário ressaltar que o imóvel não dispunha de nenhuma proteção de legislação referente a patrimônio cultural, tendo a intervenção executada por meio das diretrizes do novo Código de Obras e Edificações de São Paulo, o qual dispensa licenciamento para obras consideradas de “baixo impacto urbanístico”.
Em seguida, o IAB-SP organizou um debate para tratar da Grota do Bixiga, área tombada pela resolução 22 de 2002, como Bairro da Bela Vista. A resolução reúne um grande número de imóveis, conjuntos arquitetônicos, traçado urbano, escadarias e vegetações. O bairro é o lar da escola de samba do Carnaval de São Paulo, o Vai-Vai , o que confere um dos mais respeitados e orgulhosos patrimônios da comunidade negra da cidade. Um dos seus símbolos é a ave Saracura que deu nome ao riacho que corta o bairro e é objeto de luta e pesquisa do coletivo Salve Saracura. Além de representantes do coletivo que estiveram na organização do evento, a mesa foi composta por profissionais do IAB-SP, CAU/SP, DPH, Conpresp, Condephaat e USP.
Na legislação urbana paulistana há quatro tipos de Zonas Especiais de Preservação Cultural – Zepec, (Zepec-BIR), (Zepec-AUE), (Zepec-APPa) (Zepec-APC) . Mesmo com essa diversidade que ampara legalmente a diversidade dos patrimônios, não há uma diretriz urbanística para as áreas envoltórias dos espaços protegidos pelo instrumento do tombamento, situação em que há um desequilíbrio entre o planejamento e a preservação. O crescimento na utilização de instrumentos como a Transferência do Direito de Construir – TDC revela novos direcionamentos, mas ainda é necessário destacar que seu objetivo é a conservação e restauro e não a promoção de novos empreendimentos.
A arquiteta-urbanista Flávia Peretto fez uma pesquisa na qual demonstra pontos relevantes para a compreensão do instrumento, como a agilidade das negociações e os benefícios promovidos para o ganho de potencial construtivo em novos empreendimentos imobiliários, enquanto que a conservação dos bens tombados nem sempre possui a mesma agilidade. Também é citada a desigualdade na busca pelos bens tombados que irão ceder potencial, visto a diferença entre as escalas e valor da terra nas suas localizações, aspectos que influenciam diretamente nos valores envolvidos. O patrimônio ainda é visto como limitação econômica, devido às tensões que envolvem a noção de propriedade e seu valor público e social. 
As cinco casas remanescentes da Vila Operária João Migliari, no Tatuapé, em processo de análise de tombamento pelo DPH/Conpresp, 2021. Foram violadas pelo proprietário após a destruição que colocou outras 35 casas no chão na intenção de evitar o tombamento. Na medida em que a precariedade habitacional aumenta na cidade, em decorrência da falta de acesso à moradia, é economicamente oportuno fazer a manutenção do estoque construído a fim de contribuir com a crise habitacional por meio da preservação. As violentas remoções de famílias nos Campos Elíseos, Centro de São Paulo, explicitam isso com exatidão. Nos planos de requalificação da área central é recorrente o discurso de incluir a população periférica por meio da produção habitacional. 
 a verdade é que a maior parte dos paulistanos possuem outras referências de paisagens, como as visuais que se abrem a partir dos miolos dos bairros, a colina do Centro Histórico da Penha, o Largo da Matriz da Freguesia do Ó, a Serra da Cantareira, a Cratera de Colônia, o Pico do Jaraguá, o Morro do Cruzeiro, os parques e praças ou mesmo as Cohabs e as Terras Indígenas.
Conclusão:
Para a requalificação dos espaçospúblicos e a redução das desigualdades, É necessário um esforço político conjunto para pensar as cidades e o país, colocando a preservação do patrimônio como meta de governo municipal, estadual e federal com ampla participação social e articulação entre grupos distintos, tais grupos deverão ocupar determinados cargos por mérito e capacitação, através do ensino superior e consursos públicos, ou até mesmo a contratação, desde que seja comprovada a capacitação através de um currículo de qualidade, o patrimônio cultural é o pulso que nos faz almejar transformações na cidade e na sociedade. Se não há referência, não há memória. E sem memória, não há motivações para vivermos e pensarmos a cidade.

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