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Desenvolvimento como Liberdade

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Copyright 1999 by Amartya Sen. 
Traducao publicada mediante acordo corn Alfred A. Knopf, 
uma divisffo da Random House, Inc. 
Grafia atualizada squad° o Acordo Ortogra'fico da Lingua Portuguesa de 1990, 
que entrou em vigor no Brasil em 2009. 
Titulo original 
Development as freedom 
Capa 
Jeff Fisher 
Preparacio 
Diane de Abreu Maturano Santoro 
Revisit° 
Renato Potenza Rodrigues 
Adriana Moreno 
&dice onoma'stico 
Juliane Kaori 
indice remissivo 
Pedro Carvalho 
Ii,ii Ernma 
 
Dados Internacionais de Catalogagio na PubBenito (cm) 
(Camara Bmsileira do Livro, se, Brasil) 
 
 
Seas, Amartya 
Desenvolvimento coma liberdade I Amartya Sea; rmduclo 
Laura Teixeira Mona; feria° denim Ricardo Donin 
Mendes. — Sao Paulo : Companhia des Lamas, 2010. 
Tftulo original: Development as freedom. 
ISBN 978-85-359-1646-1 
1. Desenvolvimento economic° 2. Liberdade 
3. Livre illiCiatin 4. Raises em desenvolvimento — CondicOes 
econ6micas r. Mendes, Ricardo DonincUi. u. nal°. a. Mendes, 
Ricardo Doninelli. ci. Titulo. 
 
10-02358 COD - 338.9 
indica pars catalog° sistermitico: 
1. Desenvolv.imento economic° : Economia 338.9 
2019 
Todos os direitos desta edicao reservados a 
EDITORA SCHWARC7 Si.. 
Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32 
04532-002 —Sao Paulo — Sp 
Telefone: (11) 3707-3500 
w-vvwcompanhiadasletras.com.br 
www.blogdacompanhia.com.br 
sobretudo das mulheres, na reducao das taxas de fecundidade. 
Taxas de fecundidade elevadas podem ser consideradas, corn 
grande justica, prejudiciais a qualidade de vida, especialmente 
das mulheres jovens, pois gerar e criar filhos recorrentemente 
pode ser muito danoso para o bem-estar e a liberdade da jovem 
mae. Em verdade, é essa relacao que faz corn que o ganho de 
poder das mulheres (por meio de mais empregos fora de casa, 
mais educacao escolar etc.) seja tao eficaz para a reducao das 
taxas de fecundidade, pois as mulheres jovens tern uma forte 
razio para moderar as taxas de natalidade, e seu potencial para 
influenciar as decisoes familiares aumenta quando elas ganham 
mais poder. Retomarei essa ,questio nos capitulos 8 e 9. 
Os que se consideram adeptos do comedimento financeiro 
as vezes se mostram ceticos quanto ao desenvolvimento huma-
no. Entretanto, ha pouca base racional para essa inferencia. Os 
beneficios do desenvolvimento humano sio patentes, e podem 
ser mais completamente aquilatados corn uma visa° adequada 
e abrangente de sua influencia global. A consciencia dos custos 
pode ajudar a dirigir o desenvolvimento humano por canais que 
sejam mais produtivos — direta e indiretamente — para a quali7 
dade de vida, mas nao ameaca sua importancia imperativa.m 
0 que realmente deveria ser ameacado pelo comedimento 
financeiro e, corn efeito, o uso de recursos publicos para fina, 
 
lidades nas quais os beneficios sociais nao sao nada claros, ca 
mo, por exemplo, os v-ultosos gastos corn o poderio belie° em 
muitos paises pobres nos dias de hoje (gastos que corn &equal-
cia sit) muitas vezes maiores do que o dispendio calico ern 
educacao basica ou sairde).62 0 comedimento financeiro deve-
ria ser o pesadelo do militarista, e nao do professor primari° 
on da enfermeira do hospital. E um indicio do mundo desorde 
nado em que vivemos o fato de o professor primario e a enfer 
meira se sentirem mais ameacados pelo comedimento financei 
ro do que urn general do exercito. A retificacao dessa anomall 
requer nao a critica ao comedimento financeiro, e sim um ex 
me mais pragmatic° e receptivo de reivindicacoes concorren 
dos fundos sociais. 
6. A IMPORTANCIA DA DEMOCRACIA 
NA ORLA DO GOLFO DE BENGALA, no extremo sul de Ban-
gladesh e Bengala ocidental, na India, situa-se o Sunderban — 
que significa "bela floresta". E ali o habitat natural do celebre 
tigre real de Bengala, urn animal magnifico dotado de graca , 
velocidade, forca e uma certa ferocidade. Restam relativamente 
poucos deles atualmente, mas os tigres sobreviventes esti° pro-
tegidos por uma lei que proibe caga-los. A floresta de Sunderban 
tambem é famosa pelo mel au i produzido em grandes aglome-
rados naturais de colmeias. Os habitantes dessa regilo, deses-
peradamente pobres, penetram na floresta para coletar o mel, 
que nos mercados urbanos alcanca orimos precos — chegando 
talvez ao equivalente em riipias a cinquenta Mares por frasco. 
Porem, os coletores de mel rambem precisam escapar dos tigres. 
Em anos bons, uns cinquenta e tantos coletores de mel sio mor-
tos por tigres, mas o mimero pode ser muito major quando a 
situacao nao é tao boa. Enquanto os tigres sio protegidos, nada 
protege os miseraveis seres humanos que tentam ganhar a vida 
trabalhando naquela floresta densa, linda — e muito perigosa. 
Essa é apenas uma ilustracao da forca das necessidades eco-
mimicas em muitos paises do Terceiro Mundo. Nao é dificil 
perceber que essa forca fatalmente pesa mais do que outras pre-
ensiles, como a liberdade politica e os direitos civis. Se a pobre-
impele os seres humanos a correr riscos tao terriveis — e 
a I vez a mortes tao terriveis — por urn on dois &Mares de mel, 
poderia ser estranho enfocar apenas sua liberdade formal e liber-
dadcs politicas. 0 habeas-corpus pode nao parecer um conceit° 
omunicavel nesse contexto. Sem thivida deve-se dar prioridade, 
gumenta-se, a satisfacao de necessidades economicas, mesmo 
ititiO implicar urn comprometimento das liberdades politicas. 
192 193 
Nao é dificil pensar que concentrar-se na democracia e 14 111,4 4 
dade polftica é urn luxo que urn pals pobre "nao se pode dal 
NECESSIDADES ECONOMICAS E 
LIBERDADES POLITICAS 
ConcepcOes como essas sao apresentadas corn muita I, 
quencia em debates internacionais. Por que se preocupar coil, 
sutileza das liberdades politicas diante da esmagadora brut.' I 
dade das necessidades economicas intensas? Essa questa°, bci 
como outras afins que refletem chividas quanto a urgencia ,1 
liberdade politica e direitos civis, tomou vulto na conferen4 
de Viena sobre direitos humanos, realizada em meados de 19') 1 
e delegados de varios paises argumentaram contra a aprovac:414 
geral de direitos politicos e civis basicos em todo o planeta, pal 
ticularmente no Terceiro Mundo. Em vez disso, afirmou-se, o 
enfoque teria de ser sobre "direitos economicos" relacionados a 
importantes necessidades materiais. 
Essa é uma linha de analise bem estabelecida, e foi vee-
mentemente defendida em Viena pelas delegacOes oficiais de 
diversos paises em desenvolvimento, encabecados por China, 
Cingapura e outros paises do Leste Asiatic°, mas nab objetada 
pela India ou outros paises da Asia meridional e ocidental, nem 
pelos governos africanos. Existe nessa linha de analise a retorica 
frequentemente repetida: o que deve vir primeiro — eliminar a 
pobreza e a miseria ou garantir liberdade politica e direitos civis, 
os quais, afinal de contas, tern pouca serventia para os pobres? 
iftes? Afirmo que nao, que esse é urn modo totalmente 
de ver a forca das necessidades economicas ou de corn-
4 oiler a relevancia das liberdades polfticas. As verdadeiras 
4t4 ies que tern de ser abordadas residem em outra parte, e 
41 ,44em observar amplas inter-relacoes entre as liberdades 
pi 114 44;as e a compreensao e satisfacao de necessidades econo- 
,, As relacoes nao sao apenas instrumentais (as liberdades 
1 4, dit cas podem ter o papel fundamental de fornecer incentivos 
ollormacoes na solucao de necessidades economicas acentua- 
, I 1:4), mas tambem construtivas. Nossa conceituaeao de necessi- 
, I ides economicas depende crucialmente de discussoes e deba-
priblicos abertos, cuja garantia requer que se faca questa° da 
liberdade politica e de direitos civis basicos. 
Tentaremos demonstrar que a intensidade das necessidades 
cconomicas aumenta e nao diminui — a urgencia das liber- 
(lades politicas. Tres diferentes consideracoes conduzem-nos 
tl a direcao de uma preeminencia geral dos direitos politicos e 
civi basicos: 
1) sua importancia direta para a vida humana associada a 
capacidades basicas(como a capacidade de participacao 
politica e social); 
2) seu papel instrumental de aumentar o grau em que as 
pessoas sac, ouvidas quando expressam e defendem suas rei-
vindicacOes de atencao politica (como as reivindicacoes de 
necessidades economicas); 
3) seu papel construtivo na conceituacao de "necessidades" 
(como a compreensao das "necessidades economicas" em 
urn contexto social). 
A PREEMTNENCIA DAS LIBERDADES 
POLITICAS E DA DEMOCRAC1A 
Sera esse urn modo sensato de abordar os problemas das 
necessidades economicas e liberdades polfticas em funcao de 
uma dicotomia basica que parece solapar a relevancia das liber-
dades polfticas porque as necessidades economicas sao demasiado 
Essas diferentes consideracoes serao discutidas em breve, 
mas primeiro precisamos examinar os argumentos apresenta-
dos por aqueles que veem urn conflito real entre, de urn lado, a 
liberdade politica e os direitos democraticos e, de outro, a satis-
facao de necessidades economicas basicas. 
195 194 
ARGUMENTOS CONTRA AS LIBERDADES 
POLITICAS E OS MEMOS CIVIS 
A oposicao as democracias e liberdades civis e polft 
bisicas em 'raises desenvolvidos parte de tres direcoes dist 
tas. Primeiro, afirma-se que essas liberdades e direitos toIiw 
o crescimento e o desenvolvimento economic°. Essa creii 
denominada tese de Lee (o nome do ex-primeiro-ministro 
Cingapura, Lee Kuan Yew, que a formulou sucintamente), 
descrita brevemente no capitulo 1. 
Segundo, procurou-se demonstrar que, se aos pobres f° 
dado escolher entre ter liberdades politicas e satisfazer neces. 
sidades econOmicas, eles invariavelmente escolherao a segunL. 
alternativa. Assim, por esse raciocinio, existe uma contradicao 
entre a pratica da democracia e sua justificacao: a opiniao da 
maioria tenderia a rejeitar a democracia — dada essa escolha. 
Em uma variante diferente desse argumento, mas estreitamen-
te relacionada, afirma-se que a questa°, de fato, nao é tanto o 
que as pessoas realmente escolhem, mas o que elas tern razdo 
para escolher. Como as pessoas tern razao para querer eliminar, 
antes de mais nada, a privacao economica e a miseria, tern razao 
suficiente para nao fazer questa° das liberdades politicas, que 
estorvariam suas prioridades reais. A presumida existencia de 
um profundo conflito entre liberdades politicas e a satisfacao 
das necessidades economicas constitui uma premissa impor-
tante desse silogismo e, nesse sentido, essa variante do segtmdo 
argumento é dependente do primeiro (ou seja, da veracidade da 
tese de Lee). 
Terceiro, tern-se afirmado muitas vezes que a enfase sobre 
liberdade politica, liberdades formais e democracia é uma prio-
ridade especificamente "ocidentar que contraria particular-
mente os "valores asiaticos", os quais supostamente so mais 
voltados para a ordem e a disciplina do que para liberdades 
formais e liberdades substantivas. Argumenta-se, por exemplo, 
que a censura a imprensa pode ser mais aceitivel em uma socie-
dade asiatica (devido a sua enfase sobre disciplina e ordem) do 
bcidente. Na conferencia de Viena de 1993, o ministro 
lacOes E,xteriores de Cingapura alertou que "o reco-
ento universal do ideal dos direitos humanos pode ser 
dicial se o universalism° for usado para negar on masca-
realidade da diversidade". 0 porta-voz do Ministerio das 
oes Exteriores da China chegou a registrar formalmente a 
nte Koposicio, aparentemente aplicavel a China e a outras 
s da Asia: "Os individuos tern de p8r os direitos do Estado 
s dos seus prOprios direitos".2 
Este iltimo argumento requer urn exercicio de interpreta-
cultural, que reservarei para uma discussao posterior, no 
tub 10.' Tratarei a seguir dos outros dois argumentos. 
DEMOCRACIA E CRESCIMENTO ECONo.M1CO 
0 autoritarismo realmente funciona tao bem? Decerto 6 
verdade que alguns Estados relativamente autoritarios (como 
Coreia do Sul, a Cingapura do ex-primeiro ministro Lee e a 
China pos-reforma) apresentaram ritmos de crescimento eco-
nomico,mais rapidos do que muitos Estados menos autoritarios 
(como India, Costa Rica e Jamaica). Mos, na verdade, a tese 
de Lee baseia-se em informacoes muito seletivas e limitadas, 
e nao em uma analise estatistica dos dados abrangentes que 
estao disponiveis. Nao podemos realmente considerar o elevado 
crescimento economic° da China ou da Coreia do Sul na Asia 
uma prova defmitiva de que o autoritarismo e mais vantajoso 
para promover o crescimento economic° — tanto quanto nao 
podemos tirar a conclusio oposta corn base no foto de que o 
pals corn o crescimento mais rapid° da Africa (e urn dos mais 
rapidos do mundo), Botsuana, tern sido urn oasis de democracia 
naquele continente conturbado. Muito depende das circunstan- 
cias precisas. 
Na verdade, ha poucas evidencias gerais de que governo 
autoritario e supressio de direitos politicos e civis sejam real-
mente beneficos para incentivar o desenvolvimento economic°. 
196 197 
0 quadro estatistico é bem mais complexo. Estudos empir 
sistematicos no dao sustentagio efetiva a afirmacao de 
existe um conflito entre liberdades politicas e desempo 
economico.4 0 encadeamento direcional parece dependcr 
muitas outras circunstancias e, embora algumas investigaco 
estatisticas apontem uma fraca relacio negativa, outras most 
tram uma relacao fortemente positiva. Tudo sopesado, a hipu. 
tese de que nit) existe relacio entre os dois fatores em nenhuiiit 
das directies é dificil de rejeitar. Como a liberdade politica e 
liberdade substantiva tern importancia propria, o argument() 
em favor das mesmas permanece nao afetado. 
Nesse contexto, é ainda importante mencionar uma questao 
mais basica de metodologia de pesquisa. Nao devernos apenas 
investigar relacoes estatisticas, mas tambem analisar e exami-
nar atentamente os processos causais que estao envolvidos no 
crescimento e desenvolvimento econ8mico. As politicas e cir-
cunstancias economicas que conduziram ao exit° economic° 
paises do Leste Asiatic° sao hoje em dia razoavelmente bem 
compreendidas. Embora diferentes estudos empiricos tenham 
enfases diversas, existe agora urn razoivel consenso quanto a 
uma lista geral de "politicas ateis", incluindo abertura a con-
correncia, uso de mercados internacionais, alto nivel de alfa-
betizagio e educacio escolar, reformas agrarias bem-sucedidas 
e provisio pablica de incentivos ao investimento, exportacao 
e industrializacao. Nao existe absolutamente nada que indi-
que que qualquer uma dessas politicas seja inconsistente corn a 
democracia e precise realmente ser sustentada pelos elementos 
de autoritarismo que estavam presentes na Coreia do Sul, em 
Cingapura ou na China.' 
Ademais, ao julgar-se o desenvolvimento economic° nao d 
adequado considerar apenas o crescimento do PNB ou de alguns 
outros indicadores de expansio economica global. Precisamos 
tambem considerar o impacto da democracia e das liberdades 
politicas sobre a vida e as capacidades dos cidadios. E particu-
larmente importante, nesse context°, examinar a relagao entre, 
de urn lado, direitos politicos e civis e, de outro, a prevencio de 
desastres (como as fomes coletivas). Os direitos politi-
is dao as pessoas a oportunidade de chamar a atencio 
ente para necessidades gerais e exigir a acao pablica 
riada. A resposta do govern° ao sofrimento intenso do 
frequentemente depende da pressio exercida sobre esse 
no, e é nisso que o exercicio dos direitos politicos (votar, 
car, protestar etc.) potle realmente fazer diferenca. Essa é 
parte do papel "instrumental" da democracia e das liberda-
polidcas. Precisarei retomar essa questa° importante mais 
ante neste capitulo. 
OS POBRES IMPORTAM-SE COM DEMOCRACIA 
E DIREITOS POLITICOS? 
Tratarei agora da segunda questa°. Os cidadlos dos pai-
ses do Terceiro Mundo sao indiferentes aos direitos politicos 
e democraticos? Essa afirmacao, feita corn grande frequencia, 
mats uma vez baseia-se em pouquissimas comprovagoes empi- . 
'leas (como ocorre corn a tese de Lee). 0 anico modo de com-. 
prova-la seria submeter o assuntoa urn taste democratic° em 
eleicOes livres corn liberdade de °posh* e expressio — preci-
samente as coisas que os defensores do autoritarismo nao per-
rnitem que acontecam. Nao esti nada claro de que modo se 
poderia verificar a pertinencia dessa proposicao nos casos em 
que os cidadaos comuns tern pouca oportunidade politica para 
expressar snas opinioes sobre a questa° e muito menos para con-
testar as afirmacoes feitas pelos detentores do poder. A depre-
ciacao desses direitos e liberdades é sem chivida parte do sistema 
de valores dos lideres governamentais de muitos paises do Tercei-
ro Mundo, mas considera-la a opiniao do povo e afirmar algo 
que nao esti provado. 
Portanto, é interessante notar que, quando o governo india-
no, sob a lideranca de Indira Gandhi, tentou usar um argumen-
to semelhante na India para justificar a "emergencia" que ela 
erroneamente declarara em meados da decada de 1970, convo- 
199 
)°- 
cou-se urna deka° que dividiu os eleitores precisamen 
questa°. Nessa eleicao decisiva, disputada em boa medi 
base na aceitabilidade da "emergencia", a supressao de di 
politicos e civis basicos foi firmemente rejeitada, e o 
do indiano — um dos mais pobres do mundo — mom 
tao ardoroso para protestar contra a negacao de liberdado 
direitos basicos quanto para queixar-se de pobreza economli 
No moment° em que de certa forma houve um teste da prop'. 
ski° de que os pobres em geral nao se importam corn direitw, 
civis e politicos, as evidencias foram inteiramente contra rills 0 
essa afirmagao. Consideracoes semelhantes podem ser 
sentadas observando-se a luta por liberdades democraticas 11.1 
Coreia do Sul, Tailandia, Bangladesh, Paquistao, Myanm r 
(ou Birmania) e outras partes da Asia. De forma analoga, 
embora a liberdade politica seja amplamente negada na Africa, 
tern havido movimentos e protestos contra esse fato sempre 
que as circunstancias permitem, apesar de os ditadores milita-
res terem dado poucas oportunidades para isso. 
E quanto a outra variante desse argumento, a de que os 
pobres tern razio para abrir mao dos direitos politicos e demo-
craticos em favor de necessidades economicas? Esse argumento, 
como ja observado, depende da tese de Lee. Como esta tern 
pouca sustentacao empirica, o silogismo nao pode fundamentar 
o argumento. 
IMPORTANCIA INSTRUMENTAL DA 
LIBERDADE POLITICA 
Passarei agora das criticas negativas dos direitos politicos 
ao valor positivo desses direitos. A importancia da liberdade 
politica como parte das capacidades basicas já foi exposta nos 
capitulos anteriores. Coin razao valorizamos a liberdade formal 
e a liberdade substantiva de expressao e agao em nossa vida, 
nao sendo irracional que seres humanos — criaturas sociais 
que somos — valorizem a participagao irrestrita em atividades 
'Socials. Akin disso, a firmaciro bem informada e nao 
emente imposta de nossos valores requer comunica-
ogo abertos, e as liberdades politico e direitos civis 
er centrais para esse processo. Ademais, para expres- 
camente o que valorizamos e exigir que se de a devida 
o a isso, precisamos de liberdade de expressao e escolha 
ratica. 
passarmos da importancia direta da liberdade politica • 
seu papel instrumental, temos de considerar os incenti-
politicos que atuam sobre os governos e sobre as pessoas e 
rupos que detem o poder. Os dirigentes tern incentivo para 
4ouvir o que o povo deseja se tiverem de enfrentar a critica des-
povo e buscar seu apoio nas eleigoes. Como já mencionado, 
lienhuma fome coletiva substancial jamais ocorreu em nenhum 
is independente corn uma forma democratica de govern° e 
iirna imprensa relativamente livre.6 Houve fomes coletivas em 
reinos antigos e sociedades autoritarias contemporfineas, em co- 
-„munidades tribais primitivas e em modernas ditaduras tecno-
1
:.Craticas, em economias coloniais governadas por imperialistas 
do norte e em paises recem-independentes do sul, governados 
por lideres nacionais desp6ticos ou por intolerantes partidos 
6nicos. Mas nunca uma fome coletiva se materializou em urn 
f: pais que fosse independente, que tivesse eleicoes regularmen-
te partidos de oposicao para expressar criticas e que permitis-
se aos jornais noticiar livremente e questionar a sabedoria das 
politicas governamentais sem ampla censura.7 0 contraste das 
experiencias sera discutido no proximo capitulo, que trata espe-
cificamente das fomes coletivas e outras crises. 
0 PAPEL CONSTRUTIVO DA LIBERDADE POLITICA 
Os papeis instrumentais das liberdades politicas e dos direitos 
civis podem ser muito substanciais, mas a relacio entre necessida-
des econOmicas e liberdades politico pode ter tambem um aspec-
to constnitivo. 0 exercicio de direitos politicos basicos torna mais 
200 201 
provivel nao so que haja uma resposta politica a necessidades 
nomicas, como tambern que a propria conceituagao — inch! i n 
a compreensao — de "necessidades economicas" possa requcrer ' 
exercicio desses direitos. De fato, pode-se afirmar que uma co 
preensao adequada de quais sac, as necessidades econOmicas 
Net 
conterido e sua forgo — requer discussao e dialog°. Os direitoa 
politicos e civis, especialmente os relacionados a garantia de dis. 
cussab, debate, critica e dissensao abertos, sao centrais para as 
processos de geracio de escolhas bem fundamentadas e refletklas, 
Esses processos sao cruciais para a formacao de valores e priorida. 
des, e nao podemos, em geral, tomar as preferencias como dadas 
independentemente de discussao publica, on seja, sem levar em 
conta se sao on nao permitidos debates e dialogos. 
0 alcance e a eficacia do dialog° aberto frequentemente sao 
subestimados quando se avaliam problemas sociais e politicos. 
For exemplo, as discussoes publicas tern um papel importante 
a desempenhar na reducao das altas taxas de fecundidade que 
caracterizam muitos paises em desenvolvimento. Ha, corn efei-
to, muitas provas de que o drastic° declinio das taxas de fecun-
didade verificado nos Estados indianos corn maiores proporcoes 
de pessoas alfabetizadas foi muito influenciado pela discussio 
publica dos efeitos danosos das taxas de fecundidade altas, espe-
cialmente sobre a vida de mulheres jovens e tambem sobre toda 
a comunidade. Se, digamos, em Kerala ou Tamil Nadu, emer-
giu a concepcio de que uma familia feliz nos tempos atuais é 
uma famIlia pequena, é porque houve muita discussio e debate 
para que essas perspectivas se formassem. Kerala tern hoje uma 
taxa de fecundidade de 1,7 (semelhante as da Gra-Bretanha e 
Franca, e muito inferior a da China, que é de 1,9), e isso foi obti-
do sem coercio, mas principalmente por meio da emergencia 
de novos valores — urn processo no qual os dialogos politicos e 
sociais tiveram papel fundamental. 0 alto nivel de alfabetizacao 
da populacao de Kerala, sobretudo das mulheres, mais elevado 
do que o de qualquer provincia da China, muito contribuiu 
para possibilitar esses dialogos sociais e politicos (no capitulo 
seguinte discorrerei mais sobre esse tema). 
202 
arras e privagoes podem ser de varios tipos — alguns 
Osiveis de solugao social do que outros. A totalidade das 
odes humanas seria uma base bruta para identificar nos- 
. cesstdades". Por exemplo, ha muitas coisas que poderia- 
, r boas razoes para valorizar se elas fossem exequiveis — 
amos desejar ate mesmo a imortalidade, como Maitreyee. 
nao as vemos como "necessidades". Nossa concepcap de 
osidades relaciona-se as ideias que temos sobre a natureza 
:e1 de algumas privacoes e a compreensio do que pode ser 
sobre isso. Na formagio dessas compreensoes e crengas, as 
Ssoes piiblicas tern um papel crucial. Os direitos politicos, 
uindo a liberdade de expressio e discussao, sao nao apenas 
trais na inducao de respostas sociais a necessidades econo-
icas, mas tambena centrais para a conceituacao das proprias 
•cessrdades econOmicas. 
A ATUKAO DA DEMOCRACIA 
A relevancia intrinseca, o papel protetor e a importancia 
construtiva da democracia podem ser realmente muito abran-
,- gentes. Porem,ao apresentar esses argumentos sobre as vanta-
gens da democracia, corre-se o risco de enakecer excessiva-
mente sua eficacia. Como já mencionado, as liberdades politicas 
e as liberdades formais sao vantagens permissivas, cuja eficacia 
depende do modo como sao exercidas. A democracia tern sido 
especialmente bem-sucedida na prevencio de calamidades que 
sao faceis de entender e nas quais a solidariedade pode atuar de 
uma forma particularmente imediata. Muitos outros proble-
mas nao sao tio acessiveis assim. Por exempt:), o exito da India 
na erradicacao da fome coletiva nao teve um correspondente na 
eliminacio da subnutricao regular, na solucao do persistente 
analfabetismo on das desigualdades nas relagoes entre os sexos 
(como discutido no capitulo 4). Enquanto é facil dar urn miter 
politico ao flagelo das vitimas da fome coletiva, essas outras pri-
vacoes requerem uma analise mais profunda e um aproveita- 
203 
•:•;•.; 
memo mais eficaz da comunicacao e da participtvo 
—em suma, uma pratica mais integral da democracia, 
A inadequacao da pratica aplica-se tambem a a 
falhas em democracias mais maduras. Por exemplo, ,1•• • • 
dinarias privacoes nas areas de servicos de sande, (-di?, 
e meio social dos afro-americanos nos Estados Uri ido., 
tribuem para os indices excepcionalmente elevados tic 
talidade dessa populacao (como vimos nos capitulos I 6 
isso evidentemente nao é evitado pela atuacao da demo, • •, • 
americana. E preciso ver a democracia como criadora dc 11,,, 
conjunto de oportunidades, e o uso dessas oportunidad• 
requer uma analise diferente, que aborde a prdtica da demo 
cracia e direitos politicos. Nesse aspecto, a baixa porcentai t w • 
de yotantes nas eleicoes americanas, sobretudo de afro-a•1 
ricanos, bem como outros sinais de apatia e alienacao 
11:1( 
podem ser ignorados. A democracia .nao serve como urn reinc 
dio automatico para doencas do mesmo modo que o quinino 
atua na cura da malaria. A oportunidade que ela oferece tem 
de ser aproveitada positivamente para que se obtenha o efeito 
desejado. Essa é, evidentemente, uma caracteristica basica das 
liberdades em geral — muito depende do modo como elas sdo 
realmente exercidas. 
A PRATICA DA DEMOCRACIA E 0 PAPEL DA 0POSIcA0 
As realizacaes da democracia depend= ndo so das regras e 
procedimentos que sdo adotados e salvaguardados, como tam-
bem do modo como as oportunidades sao usadas pelos cidadaos. 
Fidel Valdez Ramos, o ex-presidente das Filipinas, explicou essa 
questa() corn grande dareza em um discurso que proferiu em 
novembro de 1988 na Australian National University: 
Sob um regime ditatorial, as pessoas nao precisam pen-
sar — nao precisam escolher — nao precisam tomar deci-
soes ou dar seu consentimento. Tudo o que precisam fazer 
204 
•1 er. Essa foi uma licao arnarga aprendida corn a 
• • it , • •• •• via politica filipina ndo muito tempo atras. Em 
• ••id roo, a democracia nao pode sobreviver sem virtude 
,t hi 0 desafio politico para os povos de todo o mundo 
• • t t ton te nao,e apenas substituir regimes autoritarios por 
t• • • •• t••1••iticos. E, alem disso, fazer a democracia funcionar 
• • t • • ,1,, pessoas comuns.8 
dwnocracia realmente cria essa oportunidade, que esta 
,,
1•• •• titada tanto a sua "importancia instrumental" como a seu 
p •• ••,1 construtivo". Mas a forca corn que as oportunidades sao 
•••• t‘ citadas depende de varios fatores, como o vigor da politi- 
• 
• • imitiparticlaria e o dinamismo dos argumentos morais e da 
lação de valores.9 Na India, por exemplo, prevenir as fomes 
• 
• •I• tivas e a fome cronica já era prioridade total na epoca da 
•••• vendencia (como fora tambem na Irlanda, corn sua pro-
w itt fome coletiva sob o dominio britanico). 0 ativismo dos 
rticipantes politicos foi muito eficaz na prevencdo das fomes 
coletivas e na condenacao drastica dos governos por permitir 
title ocorressem flagrantes fomes crOnicas, e a rapidez e a forca 
dose processo fizeram da prevencao dessas calamidades uma 
prioridade inescapavel de cada governo. Ainda assim, sucessi-
vos partidos de oposicao tern se mostrado muito doceis, ndo 
condenando o analfabetismo difuso ou a prevalencia de uma 
subnutricao nao extrema, mas grave (especialmente entre as 
crianeas), ou ainda a nao implementacao de programas de refor-
ma agraria anteriormente aprovados por lei. Essa docilidade 
da oposicao tern perrnitido a sucessivos governos negligenciar 
inescrupulosamente essas questOes vitais de politica pnblica e 
ficar impunes. 
Na verdade, o ativismo dos partidos de oposiedo é uma 
forca importante tanto nas sociedades ndo democraticas quanto 
nas democraticas. Por exemplo, pode-se mostrar que, a despeito 
da ausencia de garantias democraticas, o vigor e a persistencia 
da oposicao na Coreia do Sul pre-democratica e ate mesmo 
no Chile de Pinochet (coin imensas dificuldades) foram indi- 
205 
as is 
-6 
as 
,,;
„•*iyr 
retamente eficazes na condugdo desses paises mesino 
.I/If 
restauragdo da democracia. Muitos dos programas sn. I!, 
os beneficiaram se destinaram pelo menos em parte ,1 
a atratividade da oposigdo, que, desse modo, logrou s( 
mesmo antes de chegar ao poder.1" 
Outra area que tambem requer uma participagao v 
sa, envolvendo criticas e indicagOes sobre as reformas, 
1 persistencia da desigualdade entre os sexos. Quando essc.; 
blernas negligenciados se tornam objeto de debate e con) 
tos priblicos, as autoridades tern de dar alguma respost
-a. 
uma democracia, o povo tende a conseguir o que exige c, 
urn modo mais crucial, normalrnente nao consegue o que 
I ii 
exige. Duas das areas negligenciadas de oportunidade social :1 
India — a igualdade entre os sexos e a educagdo elemental-
agora estdo recebendo mais atengdo dos partidos de oposig:Io 
e, consequentemente, das autoridades legislativas e executiva:„ 
Embora os resultados finais venham a emergir apenas no futri-
ro, no podemos deixar de notar as varias iniciativas que ja estao 
ocorrendo (como a proposta de lei requerendo que pelo rnenos 
um tergo dos membros do parlamento indiano seja compost° 
por mulheres e urn programa de educagao escolar para estender 
o direito a 
educagdo elernentar a um grupo substancialmente 
major de criangas). 
,De fato, pode-se mostrar que a contribuigdo da democracia 
na India nao se limitou, de modo algum, a prevengdo de desas-
tres economicos como as fomes coletivas. Apesar dos limites 
de sua pratica, a democracia den a India uma certa estabilidade 
e seguranga sobre as quais numerosas pessoas se mostravam 
muito pessirnistas quando o pals se tornou independente em 
1947. A India possuia entao urn governo nao experimentado, 
passara por uma divisao ainda no assimilada e apresentava 
alinhamentos politicos confusos, combinados corn a violencia 
grupal e a desordem social bem disseminadas. Era dificil ter fe 
no futuro de uma India unida e democratica. Entretanto, meio 
seculo depois encontramos uma democracia que, considerando 
todos os altos e baixos, tern funcionado razoavelmente bem. As 
206 
politicas em grande medida tern sido disputadas den-
procedimentos constitucionais. Governos ascenderam 
ii ,,egundo regras eleitorais e parlamentares. A India, 
ulibinagdo desajeitada, inauspiciosa e deselegante de 
40,us. sobrevive e funciona notavelmente bem como uma 
t, I m polftica corn urn sistema democratic° — efetivamente 
it tdo coeso por sua democracia operante. 
(1 India tambem sobreviveu ao tremendo desafio de pos- 
,o (I iversas linguas importantes e urn espectro de religioes 
mii a heterogeneidade extraordinaria de crencas e culturas. 
11,v iarnente, diferengas religiosas e grupais sao vulneraveis a 
ploracao por politicos sectarios, e foram realmente usadas 
inaneira em varias ocasioes (inclusive em anos recentes), 
Ilisando grande consternagao no pals. Mas o fato de essa vio-
ri cia sectaria ter sido recebida corn tal consternagao e de todos 
setores substanciais da nagao terem condenado tais atos for-
nece, em iltirna analise, a principalgarantia democratica contra 
;I exploragao estritamente faccionaria do sectarismo. Isso é 
essencial para a sobrevivencia e a prosperidade de urn pals tao 
marcantemente variado como a India, que pode ter uma maioria 
hi nciu, mas tambem é o terceiro major pals mugulmano do 
mundo, no qual vivem milhOes de cristaos juntamente corn a 
maioria dos siques, parses e jainistas do globo. 
OBSERVAc-A0 FINAL 
Desenvolver e fortalecer urn sistema democratic° é um corn-
ponente essencial do processo de desenvolvimento. A importan-
cia da democracia reside, como procuramos mostrar, ern tres 
virtudes distintas: (1) sua importancia intrinseca,(2) suas contribui-
Oes instrumentais e (3) seu papel construtivo na criagao de valores 
e normas. Nenhuma avaliacao da forma de governo democratica 
pode ser completa sem considerar cada uma dessas virtudes. 
Apesar de suas limitac'Oes, as liberdades politicas e os direi-
tos civis sao usados eficazmente corn bastante frequencia. 
207 
.kraM1' • 
209 
— 
Mesrno nas Areas em que ate agora nao foram 11»,),), 
existe a oportunidade de fazer corn que venha in ;1 ))) 
permissor dos direitos politicos e civis (permitin( I, ) 
encorajando — discussoes e debates abertos, polii 1, .) , 
tiva e oposicao sem perseguicao) aplica-se a urn (I( ),111»») 
arnplo, embora tenha sido mais eficaz em algumas cc1 
ern outras. Sua comprovada utilidade na prevencao 
econOmicos 6, em si, importantissima. Quando a 
cc )c'. 
rem bem, a ausencia desse papel da democracia podc ccc 
fortemente sentida. Mas ele fala muito alto quando a 
piora, por uma razao ou por outra (por exemplo, a ree(nt, 
financeira no Leste e Sudeste Asiatic° que conturbou 
economias e deixou destituidas muitas pessoas). Os incunt 1, ), 
politicos fornecidos pelo governo democratic° adquireni 1,,i ), de valor pratico nesses momentos. 
Entretanto, embora devamos reconhecer a importancia 
instituicoes democraticas, elas nao podem ser vistas como dis 
positivos mecanicos para o desenvolvimento. Seu uso é condi 
cionado por nossos valores e prioridades e pelo uso que fazen uc 
das oportunidades de articulacao e participacdo disponiveis. 0 
papel de grupos oposicionistas organizados é particularmenty 
importante nesse contexto. 
Discussoes e debates ptiblicos, permitidos pelas liberda-
des politicas e os direitos civis, tambem podem desempenhar 
urn papel fundamental na formacao de valores. Na verdade, 
ate mesmo a identificacao de necessidades é inescapavelmente 
inflnenciada pela natureza da participacao e do dialog° ptibli-
cos. Nao so a forca da discussao publica é urn dos correlatos da 
democracia, corn urn grande alcance, como tambem seu cultivo 
pode fazer corn que a propria democracia funcione melhor. Por 
exemplo, a discussao ptiblica mais bem fundamentada e menos 
marginalizada sobre questOes ambientais pode ser nao apenas 
benefica ao meio ambiente, como tambem importante para a 
sande e o funcionamento do proprio sistema democratico." 
Assim como é importante salientar a necessidade da demo-
cracia, tambem é crucial salvaguardar as condicOes e circuns- 
1, .1111(.1t, a amplitude e o alcance do processo 
), ilia is valiosa que a democracia seja como uma 
(le oportunidade social (reconhecimento que 
cicii defesa vigorosa), existe ainda a necessidade 
cs caniinhos e os meios para faze-la funcionar 
lizar seus potenciais. A realizacao da justica social 
))))() so de formas institucionais (incluindo regras e 
»,» ))1,1(,;(ies democraticas), mas tambern da pratica 
))
efeti-
pcc ccIicI razoes para considerar-se a questa° da pratica 
)111c lica Interne importante nas contribuicoes que podemos 
)1, is direitos civis e das liberdades politicas. Esse 6 urn 
) 1),c lifrentado tanto por democracias bem estabelecidas 
1‘, 1),;stados Unidos (especialmente corn a participacao 
-1,t) ,•11) iiida de diversos grupos raciais) como por democracias 
)), cc) xentes. Existem problemas comuns e tambem problemas 
1 1)»es. 
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