Prévia do material em texto
e Gerenciamento Riscode Riscode Análise Rodrigo Almeida Freitas A n á l is e e G e r e n c ia m e n t o d e R is c o R o d r ig o A l m e id a F r e it a s Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6624-7 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 2 4 7 Código Logístico 59348 Todos os dias fazemos análises de risco. O simples ato de pegar ou não um casaco ou um guarda-chuva para sair de casa já é uma análise de risco. Na vida, mes- mo sabendo ou conhecendo um risco, por vezes, decidi- mos aceitá-lo, por uma ação deliberada ou desconheci- mento. Nesse sentido, este livro volta-se ao estudo do risco especificamente no ambiente de trabalho: como identificá-lo e evitá-lo, como ele afeta nossa vida, e como reduzir seu desgaste. Colaborar com a mitigação e o tratamento de riscos é responsabilidade de todos no ambiente de trabalho, mas identificar riscos e dimensionar proteções é atri- buição de profissionais habilitados e especializados. Desse modo, vale destacar que esta obra não se tra- duz em um certificado de habilitação profissional para análise e tratamento de risco, pois não se trata de uma formação específica. Contudo, certamente, este livro oportunizará que você tenha uma mentalidade pre- vencionista, beneficiando a cultura de segurança pes- soal e institucional. Análise e gerenciamento de risco Rodrigo Almeida Freitas IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Kapreski/ davooda/ Motorama/nanmulti/ Melamorry /Artco /Cube29 /nexusby/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F938a Freitas, Rodrigo Almeida Análise e gerenciamento de risco / Rodrigo Almeida Freitas. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 154 p. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6624-7 1. Avaliação de riscos. 2 Segurança do trabalho. 3. Empresas - Medi- das de segurança. I. Título. 20-64399 CDD: 363.11 CDU: 331.45 Rodrigo Almeida Freitas Doutorando em Segurança aos Incêndios na Universidade de Coimbra (Portugal). MBA em Foundations for Public Sector na Universidade Haia (Holanda). Especialista em Administração Corporativa pelo Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), em Educação Continuada a Distância pela Universidade de Brasília (UnB) e em Execução e Controle de Estruturas e Fundações pelo Instituto de Pós-graduação e Graduação (IPOG). Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Goiás (UFG). Bacharel em Letras pela UnB e em Engenharia de Incêndio pelo CBMDF . É major combatente do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Tem experiência na área de segurança contra incêndio e pânico, engenharia civil e gestão pública. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Risco das atividades laborais 9 1.1 O que é risco? 9 1.2 Risco e ambiente de trabalho 15 1.3 Falácias do risco no ambiente de trabalho 17 1.4 Soluções de segurança 23 1.5 Tipos de riscos 26 2 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 39 2.1 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho 39 2.2 Documentos da Segurança do Trabalho 49 2.3 Programas de Segurança do Trabalho 53 2.4 EPI 60 2.5 EPC 64 3 CIPA 68 3.1 O que é uma CIPA? 68 3.2 Aspectos legais da CIPA 70 3.3 Organização e funcionamento da CIPA 76 3.4 Atribuições da CIPA 78 3.5 Mapa de risco 81 4 Análise de risco 89 4.1 Análise de risco 89 4.2 Análise preliminar de risco 93 4.3 Análise What if 96 4.4 HAZOP 101 4.5 Análise de modos de falha e efeitos 107 5 Medidas de controle 117 5.1 Inspeções, vistorias e perícias de risco 117 5.2 Mitigação e intervenção no risco 123 5.3 Sinalização de segurança 131 5.4 Manutenção das medidas de controle de risco 135 5.5 Investigação de incidentes e acidentes 140 6 Gabarito 147 Todos os dias fazemos análises de risco. O simples ato de pegar ou não um casaco ou um guarda-chuva para sair de casa já é uma análise de risco. Na vida, mesmo sabendo ou conhecendo um risco, por vezes, decidimos aceitá-lo, por uma ação deliberada ou desconhecimento. Nesse sentido, este livro volta-se ao estudo do risco: como identificá-lo e evitá-lo, como ele afeta nossa vida, e como reduzir seu desgaste. Inicialmente, é necessário estabelecer um contexto para a análise de risco. Por isso, no primeiro capítulo, explicamos o que é o risco e optamos por estudá-lo no ambiente de trabalho. Apesar de esse ser o foco, sabemos que um acidente de trabalho não afeta somente o ambiente de trabalho em si, mas pode ter efeitos danosos em localidades diferentes ao longo do tempo. Inclusive, este é um paradigma a ser quebrado: entender que o risco afeta diversas pessoas e comunidades além do que se imagina inicialmente. Além disso, esse capítulo apresenta as falácias relacionadas ao ambiente de trabalho e as soluções para combatê-las, provendo uma cultura de segurança e pensando no conforto e na higiene desse ambiente. Cabe ressaltar que não são ações aleatórias que garantem a mitigação de risco. Então, é necessário conhecer e aplicar as legislações que abordam o risco no ambiente de trabalho, desde a Constituição Federal até as normas internas. Portanto, esse é o tema do segundo capítulo. Apresentamos, ainda nesse capítulo, os aspectos relacionados aos programas e documentos que influenciam diretamente a Segurança do Trabalho, bem como os equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC). No terceiro capítulo, damos uma atenção especial à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), pois, geralmente, suas funções e atribuições são confundidas com as dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Dessa forma, discutimos o conceito da CIPA, seus aspectos legais, organização, funcionamento e atribuições, para evitar dúvidas. Por fim, demonstramos como elaborar e colocar em funcionamento o mapa de risco, um dos produtos da CIPA. O quarto capítulo dedica-se ao estudo do risco propriamente dito. Analisamos como identificá-lo e tratá-lo, especialmente por meio das análises e avaliações de risco. Por haver diversas possibilidades de análise, focamos no estudo de quatro delas, com mais detalhes: análise preliminar de risco APRESENTAÇÃO (APR), What-if, HAZOP e FMEA (análise de modos de falhas e efeitos). Exemplos práticos de cada análise são providos para que você compreenda corretamente a extensão e as oportunidades de cada técnica. Por fim, o último capítulo aborda a prevenção do acidente. O termo chave desse capítulo é medidas de controle. Portanto, analisamos como prover essas medidas, dimensioná-las, fazer sua manutenção e estudar suas potenciais e reais vulnerabilidades. Não há como tratar de todas as medidas de controle possíveis, mas uma é especialmente descrita e abordada: a sinalização de risco. Além disso, esse capítulo finalvisa apresentar um ciclo para a eficácia das medidas de controle de riscos, composto pelas seguintes etapas: projeto, execução, inspeção, manutenção e revisão. Colaborar com a mitigação e o tratamento de riscos é responsabilidade de todos no ambiente de trabalho, mas identificar riscos e dimensionar proteções é atribuição de profissionais habilitados e especializados. Desse modo, vale destacar que esta obra não se traduz em um certificado de habilitação profissional para análise e tratamento de risco, pois não se trata de uma formação específica. Contudo, certamente, este livro oportunizará que você tenha uma mentalidade prevencionista, beneficiando a cultura de segurança pessoal e institucional. Bons estudos! 1 9 1 Risco das atividades laborais Todos nós fazemos análise de risco diariamente sem perceber. É nos pequenos atos do dia a dia que tomamos decisões, avaliando cenários de acordo com nossa experiência de vida e conhecimento das coisas. Por vezes, acredita-se que a análise de risco deve ser tida como um processo extraordinário e não tão simples de ser de- senvolvido. Porém, na verdade, ela é uma rotina na vida de todos os animais. Um exemplo prático disso é o simples uso de um casaco. Uma pessoa, ao sair para trabalhar, levanta a necessidade de levar consi- go um casaco. Usualmente, ela vai observar as condições climáticas do dia para avaliar a necessidade do uso. Se estiver em um local em que há grande variação climática ao longo do dia, certamente estará inclinada a levá-lo. Se for um local quente, a necessidade do casaco é quase zero. Se ela retornar para casa tarde da noite, o uso de um casaco já é levado em consideração. Isso é uma análise de risco. 1.1 O que é risco? Vídeo Todos nós temos uma definição própria de risco e cada um apli- ca sua experiência no entendimento desse conceito. Entretanto, é necessário ampliar o debate e abrir a mente para todos os aspectos envolvidos no risco, para que essa palavra não seja confundida com ou- tras, como perigo, impacto, vulnerabilidade, exposição, ameaça, dano etc. Não há uma teoria que consolida totalmente o conceito de risco e, por isso, aqui se expõem diversas definições e aspectos relacionados a ele. 10 Análise e gerenciamento de risco A OHSAS 18001 (apud CAMARGO, 2016, p. 38) cita como definição de risco a “combinação de fatos que possibilitam a ocorrência de um even- to perigoso ou a exposição(s) e severidade de danos ou doenças que podem ter sido causados por um evento ou exposição(s)”. Observe que esse conceito apresenta dois aspectos: evento perigoso e exposição e severidade de danos. A definição de risco na Norma Regulamentadora (NR) 01 também traz uma definição semelhante, mas, dessa vez, o risco é relacionado ao ambiente de trabalho, sendo também chamado de risco ocupacional: “combinação da probabilidade de ocorrência de eventos ou exposições perigosas a agentes nocivos relacionados aos trabalhos e da gravidade das lesões e problemas de saúde que podem ser causados pelo evento ou exposição” (BRASIL, 2019a, p. 8). Ainda, segundo o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP), o risco é uma medida ligada à probabilidade e à sua respectiva consequência, sendo a relação entre essas duas partes (SÃO PAULO, 2011). Ele se origina da frequência de um perigo incerto e da quantificação do dano desse perigo. Percebe-se, assim, que há um caráter mais quantitativo nessa visão. Pode-se ilustrar um exemplo dessa abordagem de risco com uma fictícia análise de risco de acidente envolvendo um ônibus de uma linha de viagens interestadual: Probabilidade de um perigo Constantes ocorrências adversas meteorológicas na rodovia O itinerário do ônibus não envolve trechos dessa rodovia 100% 0% 0% Sem registros de ocorrências meteorológicas adversas O itinerário do ônibus possui maior parte do trajeto nessa rodovia Algum registro de ocorrên- cia meteorológica adversa O itinerário do ônibus possui maior parte do trajeto nessa rodovia Consequência de um perigo Risco 0% 90% 25% 90% 0% 22,5% X X A sigla OHSAS significa Occupational Health and Safety Assessments Series (ou, em por- tuguês, Série de Avaliação de Se- gurança e Saúde Ocupacional). Trata-se de uma série de normas desenvolvidas pela Instituição de Normas do Reino Unido. A OHSAS 18001 apresenta as orientações e requisitos mínimos para um sistema de gestão e certificação da Segurança e Saúde do Trabalho. Saiba mais Risco das atividades laborais 11 Atente que esse conceito trabalha a dualidade da probabilidade, ou frequência, de o perigo ocorrer com a sua respectiva consequên- cia. A conclusão é que se não há probabilidade de um perigo acon- tecer ou não há consequência em sua ocorrência, o risco é zero ou, simplesmente, não há risco. Portanto, quanto maior for a possibilida- de da ocorrência de um perigo e quanto maior for o impacto causado por ele, maior será o risco. Essa abordagem apresenta algumas limitações em seu uso. Inicial- mente, por vezes, é difícil quantificar a possibilidade da ocorrência de um perigo (há 78% de chance de chover amanhã?), o impacto (há 55% de chance de o sistema de drenagem pluvial do bairro não funcionar?) e, por fim, o risco (há 42,9% de chance de haver inundação no bairro em caso de chuva?). Em alguns casos, essa abordagem pode ser aplica- da observando-se as limitações de cada caso. Utiliza-se frequentemen- te tal análise para justificar, por exemplo, que há mais riscos em viajar por meio rodoviário do que por meio aéreo. Apesar da queda eventual de um avião ser muito danosa (analisando-se um único acidente), o número de ocorrências (frequência) de acidentes em rodovias é muito maior, acarretando, por exemplo, um número muito maior de feridos em meio rodoviário do que em aéreo. Esse exame inicial é importante para demonstrar que o risco não é a análise de um único fator, pois ele traz mais de um aspecto envolvido; no caso, a possibilidade de ocorrência de um perigo e suas consequên- cias (danosas). Nesse caso, o risco envolve, então, um conceito duplo: a ocorrência de um perigo e seus danos. Conforme explicado, há vários conceitos de risco. Uma visão que permite a análise com menos limitações, de ordem qualitativa e de modo mais prático e direto, é a da ABNT NBR ISO/IEC 27001 1 , a qual associa a ocorrência de falha aos conceitos de ameaça e de vulnerabilidade: d) Identificar os riscos. [...] 2) Identificar as ameaças a esses ativos. 3) Identificar as vulnerabilidades que podem ser exploradas pelas ameaças. [...] e) Analisar e avaliar os riscos. [...] A norma técnica ABNT NBR ISO/ IEC 27001 trata dos requisitos para estabelecer, implementar, manter e melhorar um sistema de gestão de segurança em organizações, além de abordar a avaliação e o tratamento de riscos de segurança. 1 12 Análise e gerenciamento de risco 2) Avaliar a probabilidade real da ocorrência de falhas de segu- rança à luz de ameaças e vulnerabilidades prevalecentes, e impactos associados a estes ativos e os controles atualmente implementados. 3) Estimar os níveis de riscos. (ABNT, 2006, p. 5, grifos nossos) Então, novamente, há dois aspectos envolvidos no risco: ameaça e vulnerabilidade. A ameaça é de aspecto externo a um sistema e di- nâmico, um evento adverso e potencialmente desastroso. Por vezes, a ocorrência dela não depende do sistema (exemplo: chuva intensa ou meteoro). Já a vulnerabilidade é de aspecto interno, passivo, re- lacionado às capacidades do sistema de receber danos e intrínseco à capacidade de resposta do sistema. A seguir, é ilustrado um exemplo hipotético da relação entre ameaça, vulnerabilidade e risco: Ameaça Evento adverso, externo, ativo e danoso Altura Altura Altura Altura Exposição, interna, passiva diante da ameaça Trabalhador limpando janela dentro de um ambiente seguro Trabalhador limpando janela em pé no batente da janela, pelo lado de fora, sem segurança Trabalhador limpando janelaem cadeira suspensa, com uso de segurança Trabalhador limpando janela em pé, no piso térreo com uso de alavanca telescópica A análise do risco é função da ameaça e do risco, diretamente proporcional a ambas Risco desprezível Risco altíssimo Risco aceitável Risco desprezível Vulnerabilidade RiscoX X Observa-se que, com a descrição da ameaça e da vulnerabilidade, pode-se estabelecer um resultado sintético do grau do risco. Nesse sentido, o risco exacerbado possui consequências significativas e pode Risco das atividades laborais 13 ser classificado como alto, elevado, altíssimo, intolerável, inadmissível, grave etc. O risco aceitável seria aquele que possui alguma medida de proteção que o atenuou, podendo ser considerado tolerável. Já o risco desprezível é aquele que apresenta uma combinação de amea- ça e vulnerabilidade que não gera perdas (ou, eventualmente, perdas não relevantes). Essa análise de risco apresenta um determinado grau de subjetividade e aplicabilidade que pode trazer limitações a sua implantação. Além disso, o risco pode variar de desprezível até inadmissível, de- pendendo da amostra que é analisada. Por exemplo, em um teste de armas nucleares em local isolado de pessoas, usualmente, o Estado que o desenvolve argumenta que não há riscos à espécie humana. Sen- do assim, o risco aos humanos é desprezível. Contudo, tal teste terá profundo impacto no meio ambiente (animais e vegetais). Por isso, sempre que se realiza uma análise de risco, deve-se direcioná-la a to- das as partes envolvidas: às pessoas, ao meio ambiente (fauna e flora), ao patrimônio, à imagem (da instituição) etc. Foram estudadas, então, duas análises que trabalham com binô- mios (probabilidade x consequência e ameaça x vulnerabilidade). Per- cebe-se que, até aqui, apenas se pensou nos aspectos envolvidos no risco, mas não no processo de mitigação deste. Avançando para uma análise mais abrangente e moderna, pode-se incluir algo relacionado a esse aspecto. O modelo de Reason, ou modelo do queijo suíço, tem ori- gem no Departamento de Psicologia da Univer- sidade de Manchester e foi elaborado pelo professor James Reason (2000). É um modelo muito favorável para a análise de risco e funciona de acordo com barreiras de prote- ção (já existentes ou a serem implementadas). Elas seriam proteções naturais ou pro- jetadas de modo a impedir que uma ameaça continue caminhando pelo sistema, o que resultaria em um aciden- te e em possíveis perdas. mitigar: suavizar; tornar menos intenso. Glossário Perdas Figura 1 Modelo do queijo suíço ou modelo das múltiplas causas Fonte: Adaptada de Reason, Hollnagel e Paries, 2006, p. 10. Camadas sucessivas de defesa, barreiras e salvaguardas. Perigos Alguns furos devido a falhas ativas Ie sd e Br as il Outros furos devido a condições latentes 14 Análise e gerenciamento de risco Essa visão de análise de risco é favorável, como primeira vantagem, pois apresenta uma análise de mitigação de risco. Ou seja, insere-se na análise a existência, oportunidade e conveniência das barreiras ao perigo. Além disso, ilustra bem que um perigo (ameaça) é um aspecto dinâmico, e se ele alcançar uma vulnerabilidade, forma-se o dano e, consequentemente, o acidente. Desse modo, estar exposto a riscos é estar vulnerável a acidentes, e a melhor forma de evitar o encontro da ocorrência do perigo com a vulnerabilidade (e a consequente ocorrên- cia de danos) é por meio de barreiras. Um segundo aspecto positivo dessa análise é a representação visual do incidente. Uma possibilidade de ilustração de incidente seria quan- do o perigo avança parcialmente pelas barreiras de proteção, mas não atinge uma amostra vulnerável. Em outras palavras, há um quase aci- dente, pois alguma barreira funciona de maneira adequada para blo- quear a ocorrência do perigo. Uma marca do incidente é que ele é um evento não desejado, em que há a manifestação de uma ameaça sem o registro de perdas ou impactos negativos. Já o acidente é marcado por perdas, impactos e consequências negativas. Um terceiro destaque favorável sobre o modelo de Reason é a possibilidade de uma análise mais contemporânea, pois esse modelo afirma que o erro humano é impossível de ser evitado. Ele prevê que sempre haverá um perigo, uma possibilidade de perda (vulnerabilida- de) e que as barreiras sempre terão furos (inconformidade ou inade- quabilidade). Não há como impedir sua existência, mas sempre será possível acrescentar mais barreiras para impedir o avanço da ocorrên- cia do perigo. Defesas, barreiras e salvaguardas ocupam uma posição chave na abordagem do sistema. Sistemas de alta tecnologia tem múl- tiplas barreiras de defesa: algumas tecnológicas (alarmes, barrei- ras físicas, desligamentos automatizados etc.) e outras confiadas a pessoas [...]. Suas funções são de proteger vítimas e bens po- tenciais de riscos locais. A maioria realmente são muito efetivas, mas sempre haverá fraquezas nestas barreiras. (REASON, 2000, p. 2, tradução nossa) As barreiras possuem duas características: quantidade e adequabi- lidade. Pode-se aumentar o número de barreiras conforme a situação demandar. Além disso, elas podem conter mais ou menos furos (imper- feições). A análise de risco sempre envolverá adicionar mais barreiras Risco das atividades laborais 15 ou prover algumas menos imperfeitas. A cada barreira acrescentada ou a cada nível de exigência de conformidade dela, há um impacto eco- nômico. Portanto, o rigor na seleção de barreiras pode tornar o projeto processo ou negócio antieconômico. Em suma, esse modelo destaca que o estabelecimento de um risco nunca pode ser atribuído somente à ocorrência de um perigo e às per- das derivadas dele. O acidente nunca será decorrente de um fator ou aspecto, mas sim do encadeamento de uma série de fatores que contri- buíram para o acidente. Assim, de maneira ampla, foram apresentados diversos conceitos e formas de ilustrar o risco. Cabe ressaltar que há outras possibilidades e interpretações e que as noções apresentadas nesta seção sempre serão merecedoras de críticas e passíveis de aper- feiçoamento. Aqui, buscou-se trazer uma noção geral de risco. 1.2 Risco e ambiente de trabalho Vídeo É notório que as atividades de trabalho podem usualmente acarre- tar danos e morte ao trabalhador ou ao universo em que elas estão sendo desenvolvidas (empreendimento, pessoas, fauna e flora). Além de danos reais, existe o potencial dano, geralmente associado ao risco – quando se diz que algo ou alguém está em risco, associa-se isso a um perigo que potencialmente poderá causar danos. Em ambientes de lazer, eventualmente, algumas pessoas se expõem a riscos. Entre- tanto, ninguém quer se expor a riscos injus- tificáveis de maneira voluntária e consciente, ainda mais no ambiente de trabalho. Na verdade, o trabalho é uma das formas de as pessoas buscarem segurança (financeira) na vida. Assim, a estabilidade nesse local é uma das metas na vida de um indivíduo. O objetivo sempre será evitar estar sujei- to a qualquer tipo de acidente, e não estar sujeito a acidentes envolve também não es- tar sujeito a riscos. Entretanto, viver é estar constantemente sujeito a esses perigos. Dessa forma, busca-se minimi- zar os riscos inerentes à vida, ou seja, fazer com que eles alcancem um De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), há mais mortes por trabalho do que pela guerra. Aproximada- mente 5 mil pessoas morrem por dia devido a acidentes no trabalho e doenças profissionais – isso corresponde a uma vida a cada 17 segundos. Todo ano, há quase 270 milhões de acidentes pelo mundo, sendo 350 mil fatais (SOUZA; BARROS; FILGUEIRAS, 2017). Curiosidade 16 Análise e gerenciamento de risco padrão aceitável para nós, o qual pode ser muito subjetivo no cotidia- no, mas no local de trabalho não deve ser. O ambiente de trabalho não deve proporcionar apenas segurança, mas também conforto e condições de higiene. Por exemplo, um leveruído de um aparelho de ar condicionado que vibra em seu suporte metálico aparentemente não causa ferimentos de maneira direta a um trabalhador. Entretanto, pode deixar facilmente uma pessoa mal hu- morada ao longo do dia, não somente diminuindo sua produtividade (pelo desconforto), mas também deixando-a mais vulnerável a erros e mais propícia a diversos tipos de falha. Viu-se, na seção anterior, que há diversas formas de estudar e concei- tuar o risco. Além das possibilidades já vistas, é necessário também apre- sentar um conceito de risco que se relacione ao acidente de trabalho. De acordo com Souza, Barros e Filgueiras (2017, p. 35), “o conceito de risco em segurança e saúde do trabalhador [...] pode ser entendido como a chance ou possibilidade de consequências negativas para a saúde e a integridade física ou moral do trabalhador, relacionadas ao trabalho”. O artigo 19 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que trata dos Planos de Benefícios da Previdência Social e outras providências, apre- senta uma definição de acidente de trabalho que vai ao encontro dessa ideia: “é o que ocorre pelo exercício do trabalho [...], provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o tra- balho” (BRASIL, 1991, grifos nossos). Tal definição merece críticas, pois foca no impacto/consequência. Além disso, a análise aparenta ser direcionada apenas ao trabalhador. Conforme visto na primeira seção, riscos de acidente são uma compo- sição de fatores especialmente relacionados a uma ameaça ou perigo, e não somente a uma consequência; além disso, não são somente pes- soas que estão sujeitas a risco, mas também comunidades, bens, fauna e flora, que não estão diretamente ligados ao ambiente de trabalho. Vidal apresenta uma definição “científica”, que se julga mais conve- niente e mais adequada, indo ao encontro do modelo de James Reason. Ela coloca o acidente como “o resultado de todo um processo de deses- truturação na lógica do sistema de trabalho que, nessa ocasião, mostra suas insuficiências ao nível de projeto, de organização e de modus ope- randi” (VIDAL, 1989 apud MATTOS; MÁSCULO, 2019, p. 4). Assim, crê-se que o risco do ambiente de trabalho não está apenas relacionado ao ambiente de trabalho, mas a qualquer sistema que ele O livro Higiene e segurança do trabalho foi elaborado por vários especialistas, entre eles, engenheiros, médicos, enfermeiros, bombeiros militares e professores universitá- rios. Em seu prefácio, a obra apresenta o seguinte lema: “Com- bater o risco, respeitar quem trabalha, atender às vítimas”. O livro é um rico material para aqueles que desejam se aprofundar no tema Segurança do Trabalho. MATTOS, U. A. O.; MÁSCULO, F. S. (orgs.). 2. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. Livro modus operandi: expressão do latim que significa modo de operação. Glossário Risco das atividades laborais 17 possa afetar. É o exemplo do caso de Brumadinho, que afetou de inúmeras maneiras sistemas a quilô- metros de distância da origem do acidente. É também notória a importância do estudo dos riscos no ambiente de trabalho, pois a realização desse tipo de estudo conduz à prevenção de aciden- tes de trabalhos. Mas será que os acidentes se mos- tram realmente impactantes no Brasil? Qual deveria ser o nível de ocorrências de acidentes de trabalho no Brasil para que se possa dar (ou não) uma aten- ção especial à análise de risco? No anuário estatístico de acidentes do trabalho de 2017, registraram-se 2.096 óbitos e 549.405 aci- dentes de trabalho naquele ano no Brasil (BRASIL, 2017). Esse número certamente está subdimensio- nado, pois não inclui os números de acidentes de trabalho do emprego informal, aqueles não notifica- dos ou aqueles não englobados na definição legal de acidente de trabalho. Assim, acidentes operacionais aparentam ser uma preocupação deveras relevante. O estudo de risco no ambiente de trabalho não é apenas critério de preservação da vida, mas de con- forto e bem-estar necessários à dignidade humana. O desastre de Brumadinho ocorreu em 25 de janeiro de 2019. Não foi uma fatalidade; foi uma tragédia anunciada e repetida, pois, em 2015, um desastre similar ocorreu em Mariana. Am- bos, entre outros fatores diversos, derivaram do rompimento de barragens de rejeitos. Em Brumadinho, o acidente se originou do processo produtivo de mineração. A lama proveniente do rompimento afetou de maneira extensiva a fauna e flora de locais a quilômetros de distância, incluindo porções de águas oceânicas. Certamente, os impactos dessas duas grandes tragédias não cessarão durante os próximos anos, afetando especialmente as comunidades menores que possuem pouca ou nenhuma resiliência a um desastre dessa magnitude. Essa repercussão se dará principalmente na forma de problemas de saúde, poluição, desemprego e moradia. Saiba mais O anuário estatístico de acidentes do trabalho é uma ferra- menta interessante para se conhecer os acidentes operacionais no Brasil. Ele é elaborado pelo Governo Federal e pode ser facilmente encontrado na internet. Seguem alguns dados que estão presentes no anuário: número de acidentes do trabalho no Brasil e nas unidades da federação, número de acidentes por município, Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) e Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), número de óbitos, definições legais, entre outros. Curiosidade 1.3 Falácias do risco no ambiente de trabalho Vídeo Estudou-se até aqui o risco e como ele ocorre, e também se ponde- rou que ele pode levar ao acidente. Continuando, atestou-se que o aci- dente no ambiente de trabalho no Brasil é algo relevante e que demanda preocupações. Antes de entrar de modo direto no estudo do risco, é ne- cessário ainda continuar uma abordagem geral sobre a cultura do risco. Viu-se que o acidente no ambiente de trabalho deve ser tratado, e a melhor forma de fazer isso é mitigando riscos. Uma das etapas fundamentais para isso é não os ignorar. A palavra ignorância é usa- da atualmente em duas vertentes: uma tem como característica a falta de conhecimento, de estudo e/ou de habilidade; a outra leva a uma ideia de deixar de estar a par, desconsiderar fatos, deixar de se aten- tar, desprezar. O primeiro significado parece apresentar uma noção de passividade, algo involuntário, em que não se pode optar. Já o outro 18 Análise e gerenciamento de risco transparece uma noção de voluntariedade, de decisão própria e inten- cional, uma atitude deliberada, proposital e premeditada. Assim, é a opção de estar vulnerável a risco. Dessa forma, pode-se citar que há dois aspectos na exposição a risco: um se refere àqueles que se colocam (ou são colocados) sob risco por falta de conhecimento, e o outro, àqueles que se colocam (ou são colo- cados) por opção. Ambos os casos estão sob domínio do empregador. Ele é quem tem autonomia, controle e gestão sobre aqueles que estão vulneráveis ao risco, mesmo quando ele não tem ciência do risco ou não fez o suficiente e o adequado para ter ciência dele, ou quando opta por desprezá-lo (ignorá-lo). Portanto, todos os fatos ocorridos ao trabalha- dor no ambiente de trabalho são de responsabilidade do empregador. Esta seção busca apresentar situações e argumentações infelizes, denominadas falácias, que demonstram diversas formas de ignorância quanto ao risco no ambiente de trabalho. Expõem-se usos comuns (e não normais/legais) de tratamentos inadequados de risco. Além disso, explora-se o fato de que todas essas falácias ocorrem sob o domínio do empregador. O acidente foi fatalidade. Uma falácia muito comum, por exemplo, é o uso da palavra fa- talidade. Ao buscar o significado da palavra falácia no dicionário, são encontradas as seguintes ideias: consequência inevitável do desti- no; desastre; algo impossível de ser evitado. Muitos também tratam os acidentespor esse termo. Por que será? O uso da palavra fatalidade para justificar acidentes, em especial no ambiente de trabalho, é muito confortável. Ora, se acontece uma fa- talidade, dá-se a noção de que era algo inevitável; logo, não há como estar nos domínios do empregador. A responsabilidade é jogada para o destino. De certa forma, atualmente, até a queda de meteoros pode ser prevista ou estimada por agências de alguns países. Mas mesmo um evento considerado inevitável, como o raio, pode contar com me- canismos que, apesar de não o evitarem diretamente, minimizem seus efeitos; por exemplo: o para-raios ou SPDA. SPDA: sistema de proteção contra descargas atmosféricas. Glossário Risco das atividades laborais 19 Não se pôde/pode fazer nada. Neste ponto, pode-se inserir outra falácia frequente. Aqui, há novamente uma evasão de responsabilidade. Retornando ao caso do raio, por exemplo, dificilmente se consegue impedir a ocorrência da descarga atmosférica (ameaça ou evento danoso). O que se pode fazer, então, é mitigar os seus impactos negativos (danos) e dimi- nuir a vulnerabilidade de um sistema. Por exemplo, pode-se impe- dir a descarga de alcançar elementos internos de uma edificação e/ou conduzir a descarga para a terra de modo a haver o mínimo dano a instalações prediais. Sempre há alguma ação possível a ser tomada. Realmente, em uma análise superficial, o empregador pouco pode fazer diretamente para impedir a criminalidade ou a existência de um vetor (por exemplo, mos- quito) de uma doença parasitária/infectológica. Mas, conforme visto na primeira seção, pode-se tratar a vulnerabilidade e posicionar barreiras de proteção. No caso da criminalidade, cercamento e circuito fechado de TV diminuem a exposição; na presença de mosquito no ambiente de trabalho, a colocação de telas em janelas e medidas de combate são formas de mitigar riscos. Assim, julga-se que sempre é possível ao empregador fazer algo para diminuir riscos. Caso aconteça algo, temos seguro. Outra falácia é que riscos podem ser favorecidos ou cobertos de modo financeiro. Assim, busca-se legitimar correr riscos sobre a eventual, por exemplo, proteção de um seguro. É sabido que o seguro existe para cobrir eventos não desejados. Quando há uma expectati- va de desejo da ocorrência do evento para uma casual indenização, configura-se a aceitação do risco, ignorando as atitudes preventivas e barreiras de proteção. O seguro lida com a noção de um certa previsibilidade ou imprevisi- bilidade do evento danoso. Por exemplo, em caso de alagamento de via pública, o seguro certamente analisará se um veículo foi tomado pela inundação ou se avançou em área inundada de modo deliberado. O pri- meiro caso exemplificaria um caso fortuito; já o segundo, a aceitação dos riscos, o que não justifica indenizações. Observa-se ainda que a aná- O crime de fraude para recebimento de indenização ou de valor do seguro pode ser enquadrado no artigo 171, parágrafo 2º, capítulo V, do Código Penal, podendo também, por exemplo, configurar crime de incêndio. Como este livro não é direcionado ao estudo do Direito, os elementos do crime não serão aqui analisados. Entretanto, em uma análise simples, nesse tipo de crime, produz-se uma ação (ou omissão) no sentido de pro- duzir (ou deixar ocorrer) inten- cionalmente e deliberadamente o evento danoso e materializar o risco estimado na apólice. No caso do veículo que entra na enchente, o dono do carro não deseja o evento danoso ou pro- duzir o impacto negativo, mas, estando ciente do risco, aceita-o e abraça-o, esperando que não faça mal algum, em uma espécie de aposta macabra. Apesar de não se configurar crime, tal aceitação de risco certamente não está coberta pelo seguro. Importante caso fortuito: evento inevitável e imprevisível causado por ato humano que interfere na conduta e nas obrigações de indivíduos; por exemplo: guerra. Glossário 20 Análise e gerenciamento de risco lise da aceitação do acidente em ambiente de trabalho pode gerar ou- tros desdobramentos, como talvez a tentativa de fraude e outros crimes. Por fim, o seguro pode restabelecer situações físicas e compensar danos financeiros, mas nunca restituir a qualidade e o status de vida de alguém. Não faz mal. Uma falácia grosseira é o famoso “não faz mal”. Além de haver nela uma noção extremamente subjetiva de dano, que despreza o dano oculto (que não se pode ver ou sentir), analisa-se, nessa construção, apenas o momento atual. Não há avaliação de danos ao longo do tem- po e do espaço. Talvez um vazamento de combustível em lençol freá- tico não faça mal em noção de dias, mas certamente o fará em termos de semanas. Além disso, em alguns dias, não será possível visualizar os danos desse mesmo vazamento em relação ao espaço, mas, em ques- tão de semanas, pode haver danos em sistemas e comunidades distan- tes da origem do vazamento 2 . A produção não pode parar. Continuando o rol de falácias, há ainda esse bordão. Um dos aspec- tos mais ignorados nessa afirmação é que, se o risco se transformar em um acidente, haverá interrupção obrigatória da produção, além de prejuízos derivados do acidente. Ou seja, em uma análise sintética e superficial, melhor seria ter apenas o “prejuízo” da interrupção da pro- dução do que ambos. Além disso, a noção de que a interrupção da produção para mitigação de riscos gera prejuízo é um grande equívoco, pois, na verdade, tal atitude demonstra ser um grande investimento na estrutura do ambiente de trabalho. Foi apenas um incidente. Essa é uma velha frase conhecida no ambiente de trabalho e é usa- da para justificar a aceitação de riscos. Todo acidente ocorre de um ou mais incidentes, sendo que o incidente é o anúncio do acidente. A manifestação do incidente é um sinal de que o ambiente de trabalho demanda um tratamento dos riscos existentes. Lembre-se do caso de Brumadinho, citado anteriormente. 2 Risco das atividades laborais 21 O custo é muito alto. Essa frase também é frequente em processos decisórios na mitiga- ção de riscos. Nesse caso, usualmente, há uma noção pontualmente financeira dominando o debate, em detrimento de um foco de segu- rança, conforto e higiene do ambiente de trabalho e de sistemas e comunidades dependentes dele. Em uma análise superficial, por exem- plo, mesmo um grande montante de custo justificaria uma ação na bar- ragem que acarretou o incidente de Brumadinho. Quando ocorre um acidente, os danos não se compõem apenas dos prejuízos diretos, mas dos indiretos também, ou seja, daqueles que se prolongam no tempo e no espaço. Sempre que se lida com a noção de custo alto, pode-se refletir o quanto vale a vida de uma pessoa. Isso nunca aconteceu. Essa é outra falácia comum, também expressa como “em tantos anos de experiência profissional, isso nunca ocorreu”. Essas frases, em uma vertente mais formal e com tentativa de impregnar um caráter científico, também podem ser manifestadas como “não há registro es- tatístico que justifique”. O que se pretende (quase que criminalmente), nesse caso, é justificar a aceitação de risco com base em experiências limitadas e pessoais. Por exemplo, é possível que nunca se tenha ouvido dizer sobre incên- dios em boates com uso de artefatos de pirotecnia no Brasil. Mas não é porque não se conhece os registros que eles não existem. O incêndio da boate Kiss pode parecer inédito no Brasil, mas, em 2005 e em 2003, ocorreram incêndios extremamente semelhantes em, respectivamente, Buenos Aires (Argentina) e West Warwick (Estados Unidos). A dinâmica é idêntica nos três casos: ambiente com concentração de público, uso irregular de artefato de pirotecnia em ambiente interno, problemas de lotação, inadequação da edificação e número elevado de óbitos e feridos. Sempre foi assim. Ainda, há uma situação em que o risco é ignorado, a qual envolve o “sempre foi assim”. As análises de Mattos e Másculo (2019) ilustram bem 22 Análise e gerenciamento de risco a equivocada e inconscientemotivação de manter um risco adormecido e constante no ambiente de trabalho, sem ser mitigado. De acordo com os autores, o empregado (envolvido no trabalho) é quem conhece a si- tuação de risco, mas o empregador, que poderia corrigi-la, não entende o grau de necessidade. Assim, o risco é incorporado à rotina e continua ocorrendo. Além disso, mesmo que o empregador conheça a situação de risco, ele, por vezes, não sente que é responsável por sua correção. A fiscalização veio aqui e não falou nada. Inicialmente, cabe dizer que qualquer fiscalização atua sempre sob uma condição visível. Aquilo que está oculto ou que é modifica- do após a fiscalização não foi/é objeto de verificação de conformidade. Além disso, a responsabilidade das condições de segurança, conforto, bem-estar e higiene no ambiente de trabalho estão sob domínio e res- ponsabilidade do empregador, sendo a fiscalização externa (usualmen- te estatal) um parâmetro mínimo. A direção não aprova [o aspecto que no julgamento dela gerou o acidente] e sempre primou pela segurança. Aprofundando a questão da responsabilidade do empregador ou seu preposto na exposição a riscos, por vezes ainda há essa desastrosa declaração. Ora, ela é um tanto vazia, pois se não havia a aprovação de tal atitude, por que se permitiu? Por que não se coibiu? Por que não se vigiou? Por que não se tratou antecipadamente? Na verdade, tudo que ocorre no domínio do empregador é de responsabilidade dele. Ato inseguro. Por fim, dentro dessa perspectiva de que tudo que ocorre no am- biente de trabalho é de responsabilidade do empregador, refuta-se o ato inseguro do empregado. Por vezes, há a justificação de um aciden- te com base na argumentação de que um empregado cometeu um ato dessa natureza, levando à exposição do risco ou ao acidente. Nesse caso, direciona-se, de maneira tendenciosa, a responsabilização ao em- pregado, mas será que ele age por vontade própria, direcionando ele mesmo ou outros ao acidente? ato inseguro: ações e atitudes que conduzem a riscos atribuídas aos empregados, de modo a responsabilizá-los. Glossário Risco das atividades laborais 23 De acordo com Oliveira, o empregado faz aquilo que lhe foi demanda- do, e não apenas aquilo que quer, inclusive no que diz respeito a compare- cer ao ambiente de trabalho. Ele age conforme “a vontade do empregador (e seus prepostos), inclusive por desídia, falta de vigilância, negligência, au- sência de gerenciamento, descuido com a coisa privada, descaso com o lucro, periclitação com o patrimônio do patrão” (OLIVEIRA, 20--, p. 56). Em um paralelismo, seria algo próximo a dizer que uma máquina gerou o acidente, que ela optou por praticar uma operação insegura. Em ambos os casos, o empregador aparenta ser um espectador passivo, sendo o empregado (ou máquina) o único possuidor de vontade pró- pria. Parece, por vezes, que até mesmo o sistema ou a organização do ambiente de trabalho possui vontade própria em detrimento do em- pregador, como se este fosse impossibilitado ou estivesse prejudicado de fazer intervenções. Os acidentes ocorrem por erros sistêmicos organizacionais. A orga- nização e o gerenciamento providos pelo empregado permitem uma condição insegura que o abarca, especialmente por ignorância ou libe- ralidade do empregador. As condições organizacionais seguras são a base do conforto, da higiene e do bem-estar do empregado. Nesta seção, buscou-se demonstrar algumas concepções errôneas sobre a exposição ao risco, o qual decorre fundamentalmente de um ambiente de trabalho planejado, estruturado, avaliado, sistematizado, revisado, organizado, manutenido e aperfeiçoado de maneira insufi- ciente e inadequada. Qualquer argumentação que não busque enten- der o risco e o acidente fora da perspectiva da responsabilidade do empregador não é satisfatória ou justa. 1.4 Soluções de segurança Vídeo Levantar críticas é sempre mais confortável do que se engajar em soluções. Contudo, este capítulo visa não apenas levantar problemas, mas também apresentar algumas propostas de intervenções para im- plementar uma cultura de segurança, conforto, bem-estar e higiene no ambiente de trabalho. Conforme visto na seção anterior, as ações devem prioritariamente ser providas na organização e no sistema pelo empregador. 24 Análise e gerenciamento de risco Tratamento imediato Inicialmente, cabe destacar que o tratamento imediato de ameaças é fundamental para um ambiente de trabalho seguro. Por exemplo, se determinado equipamento ou instalação está dando choque, isso demonstra que há algo errado ali. Uma das atitudes erradas possíveis é haver apenas um alerta verbal entre colegas do setor. Deve-se ime- diatamente alertar sobre a ameaça descarga elétrica, não prevista, de modo oficial a todos os trabalhadores do setor. Essa ameaça também deve ser isolada e rapidamente tratada, seja pela manutenção ou pelos responsáveis pela segurança do trabalho local. Certa vez, em determinado ambiente de trabalho, ocorreu um aci- dente fatal envolvendo empregados e choque elétrico. Em investigação, diversas pessoas declaram que as instalações sempre davam choques. A cultura organizacional falhou em não prover tratamento imediato da ameaça, como instalar dispositivos de segurança contra fuga de cor- rente elétrica ou prover aterramento adequado. Nesse mesmo caso, citou-se que o risco não foi tratado porque a fonte da descarga não era conhecida. Caso houvesse uma cultura or- ganizacional de segurança bem estabelecida, os responsáveis teriam a consciência de que, não se podendo eliminar a ameaça, a vulnerabi- lidade de um grupo pode ser sempre mitigada. Um exemplo simples de atitude mínima de segurança poderia ser isolar a área e impedir a aproximação de pessoas à instalação que oferecia a ameaça. Assim, mesmo que houvesse uma ameaça, a eliminação do contato do grupo vulnerável impediria a concretização do risco. Eliminar a rotina do risco Tratar ameaças e reduzir a vulnerabilidade são ações generalistas básicas que devem sempre ser adotadas. Em outras palavras, deve-se eliminar a rotina do risco, o que envolve ter aversão firme ao risco co- nhecido e notório e não permitir, caso ele ocorra, a sua permanência ou repetição. Portanto, se eventualmente um risco aparecer, a cultu- ra organizacional deve empreender um combate imediato, público e enérgico ao risco. Como já foi mencionado, não se pode haver a fami- liarização com o risco. Risco das atividades laborais 25 Todo incidente é um anúncio de acidente Na verdade, entender que todo incidente é um anúncio de aci- dente é fundamental para quebrar a rotina do risco. A ocorrência do incidente demonstra, conforme explicado na primeira seção, que há manifestações de ameaças ativas passando por barreiras de proteção. Por exemplo, usualmente, antes de um incêndio, há princípios de in- cêndios; antes de uma máquina apresentar um defeito que a imobili- ze completamente, há manifestações de defeito em menor escala. Tal ideia é ilustrada na figura a seguir. Figura 2 Pirâmide de acidentes da Insurance Company of North America (ICNA) 1 10 30 600 Acidente com lesão incapacitante Acidentes com lesões não incapacitantes Acidentes com danos à propriedade Acidentes sem lesão ou danos visíveis (quase acidente) Fonte: Elaborada pelo autor com base em Mattos e Másculo, 2019, p. 4. Não há fatalidade no ambiente de trabalho, mas sim tragédias anun- ciadas. Como já foi explicado, quando se fala em fatalidades, adota-se uma postura de tratamento impossível, de inevitabilidade do risco; e isso de fato não ocorre. O que acontece é o mau planejamento e a má sistematização do ambiente de trabalho disponibilizado pelo emprega- dor, que não teve a capacidade de prever determinado risco. Falar em fatalidades é negar toda a teoria de Segurança do Traba- lho, é dizer que a teoria de análise de risco é insuficiente e não pode ser aplicada em um determinado ambiente de trabalho. Por vezes, uma análise de risco pode até ser insuficiente,por consequência da pouca atenção para executá-la. Por isso, toda e qualquer análise de 26 Análise e gerenciamento de risco risco sempre deve ser formal e executada por um profissional com- petente, o que impede a ocorrência de riscos equivocadamente cha- mados de ocultos. Segurança não é custo Lembra-se ainda que segurança não é custo, mas sim investimen- to, e deve ser um valor disponibilizado pelo empregador. Além disso, em um simples estudo de caso, pode-se verificar que o acidente sem- pre custará mais caro que o investimento em seguro. Ou seja, a ve- lha máxima “prevenir é melhor que remediar” permanece válida. Os custos envolvidos com acidente envolvem não apenas perdas diretas, mas também danos à imagem, dias parados de produção, ações ju- diciais etc. Verificações internas A fiscalização não deve ser somente externa (de caráter estatal). Ve- rificações internas de conformidade devem ser incentivadas e promo- vidas. Além disso, não se deve ter aversão ou receios de fiscalizações e auditorias; elas devem ser vistas como oportunidades de tratamento e aperfeiçoamento de mitigação de risco. Então, por fim, afirma-se novamente que o acidente provém da con- dição insegura proporcionada pela má sistematização do ambiente de trabalho disponibilizado. A segurança do ambiente de trabalho (bem como o acidente) tem cunho organizacional, e não individual. Tudo do ambiente de trabalho procede do empregador e da sistematização que ele prove, em especial a segurança, o bem-estar e a higiene das condi- ções do ambiente de trabalho. 1.5 Tipos de riscos Vídeo Estudar risco não é uma tarefa tão simples e fácil. Há diversos aspec- tos envolvidos e variadas formas de visualizar um risco. Dessa forma, apresenta-se uma proposta entre as inúmeras existentes. A classifica- ção feita nesta seção, em risco físico, químico e biológico, atende a uma necessidade legal de caracterizar a insalubridade, mas já se sabe que a análise de risco vai além de uma demanda legal. A NR 09 diz que: Risco das atividades laborais 27 9.1.5 Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. (BRASIL, 2019b, p. 1) Sempre haverá possibilidade de imperfeições diante de uma pro- posição de classificação do risco. É importante lembrar que essas clas- sificações são falíveis, pois aqui não se tem uma ciência puramente exata, mas sim uma necessidade de visão técnica, social e econômica. Segue a exposição de uma proposta clássica de classificação de risco, que vai um pouco além do proposto pelas Normas Regulamentadoras do Brasil (NRB). 1.5.1 Risco físico Ao imaginar o risco físico, pode-se pensar inicialmente e equivoca- damente em algo relacionado a um risco palpável, conectado ao atrito ou ao contato, mas não é bem assim. Em um aspecto geral, os riscos físicos estão relacionados ao conteúdo que se estuda em Física no en- sino médio. Veja a seguir os exemplos de riscos físicos previstos na NR 09, que os relaciona à exposição a diversos tipos de energia: 9.1.5.1 Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extre- mas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom. (BRASIL, 2019b, p. 2) Mattos e Másculo (2019) trazem uma definição também relevante, além de apresentarem algumas características e citarem exemplos. Eles creem que os riscos físicos proporcionam a alteração das caracte- rísticas físicas do ambiente de trabalho, causando agressões. Esse tipo de risco exige um meio de transmissão, age sobre pessoas sem a ne- cessidade de um contato direto e ocasiona lesões imediatas a crônicas. A seguir, são apresentadas as exposições a risco, seguidas de exem- plos de atividades laborais em que o risco pode ocorrer e os danos e doenças consequentes: 28 Análise e gerenciamento de risco RISCO Altas temperaturas Baixas temperaturas Vibrações Ruídos Pressões anormais Iluminância inadequada Radiações ionizantes Trabalhadores que lidam com alimentação de fornos, forjas, co- lheita de cana de açúcar, lavande- rias e tinturarias Interior de câmaras frigorificas. Operadores de máquinas e ferra- mentas pneumáticas, condutores de caminhão, rolo compactador, tratores e compressores. Operadores de máquinas e ferramentas, trabalhadores de aeroporto, construção civil. Atividades sob ar comprimido, tubulões, locais de trabalho de alta altitude e mergulhadores. Atividades em que podem ocorrer ofuscamento, estar exposto à luz intensa solar de modo contínuo, iluminação natural ou artificial em níveis muitos altos ou baixos. Técnicos de radiologia, mineração de urânio, usinas com reatores nucleares e fontes radiativas, fábrica de alimentos e bebidas, laboratórios. Desidratação, palidez, dor de ca- beça, confusão mental, câimbras, queda de pressão, enfraquecimen- to dos dentes, insolação, choque térmico, convulsões, óbito. Dormência, urticária, congela- mento da epiderme, ulcerações, frieiras, doenças nos pés (pé de imersão), predisposição para doenças respiratórias, hipóxia, fe- nômeno de Raynaud, hipotermia. Dores, transtornos circulatórios periféricos, redução da força, os- teoporose, fenômeno de Raynaud, doenças degenerativas, lesões localizadas ou de corpo inteiro. Fadiga nervosa, hipertensão, da- nos temporários ou permanentes no aparelho auditivo. Dores abdominais, irritação nos pulmões, barotrauma, tontura, rompimento de vasos, perda da consciência. Mal humor, estresse, dor de cabe- ça, perda da capacidade visual. Dermatites, queimaduras na pele, efeitos sobre sistema circulatório, catarata, conjuntivite, lesões na pele, câncer. EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS Si be ria n Ph ot og ra ph er /K ilr oy 79 / N az Ar t/ k or nn / L uc he nk o Ya na / V ec to r I co n Fl at /S hu tte rs to ck Saiba mais O fenômeno de Raynaud é uma condição decorrente, entre outros fatores, da excessiva exposição ao frio. As manifestações visíveis desse agravo são a palidez nas extremidades do corpo (nariz, orelhas, dedos, mãos e pés), acompanhada de dor, úlceras, lesões maiores e outras consequências. Risco das atividades laborais 29 Logicamente, não é qualquer ruído ou patamar de temperatura que causará prejuízos ao trabalhador; tudo dependerá da intensidade e do tempo de exposição. A NR 15 apresenta valores para fins de pagamen- to de adicional de insalubridade, lidando com parâmetros como nível do ruído e máxima exposição diária permissível. Ela usa parâmetros avaliativos como: se é um ruído contínuo ou de impacto, o tempo da jornada de trabalho, o nível de exposição, a dose diária de ruído e a quantidade de anos de permanente exposição ao ruído (BRASIL, 2019c). Desse modo, conforme definição prevista na NR 09, os riscos físicos são formas de transferência de energia do ambiente para o corpo de pessoas, implicando alguma alteração ou prejuízo fisiológico, podendo ser visível e imediata (ou não). Dessa forma, somente avaliações oficiais e profissionais são suficientes e adequadas para verificar a exposição a o risco físicos em ambiente de trabalho. 1.5.2 Risco químico Talvez seja mais simples conceituar e apontar exemplos de riscos químicos ao se lembrar, de modo semelhante ao risco físico, do que se estuda na Química do ensino médio. Basicamente, de maneira simpli- ficada, pode-se dizer que o risco químico envolve estar exposto a um agente químico. Segundo a NR 09: 9.1.5.2 Consideram-se agentes químicos as substâncias, com- postos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposi- ção, possam ter contatoou ser absorvidos pelo organismo atra- vés da pele ou por ingestão. (BRASIL, 2019b, p. 2) A seguir, são apresentados alguns meios de transporte de risco quí- mico, além de seus conceitos e alguns exemplos de casos em que eles podem ser encontrados: 30 Análise e gerenciamento de risco MEIO Poeira Fumo Névoa Neblina Gases Vapor Fumaça Partícula sólida dispersa no ar, proveniente de ruptura mecânica de um sólido. Partículas sólidas de diâmetro de até 50/100μm. *1 μm = 0,000001 metro Partícula sólida dispersa no ar, proveniente de condensação de vapores de substância. Partícu- las sólidas de diâmetro de até 0,5/1μm. Partícula líquida dispersa no ar, proveniente de ruptura mecânica de líquidos. Gotículas líquidas com diâmetro entre 0,1 e 100μm. Partícula líquida dispersa no ar, proveniente de condensação do vapor de uma substância. Gotícu- las líquidas com diâmetro entre 1 e 50μm. Substância naturalmente em esta- do gasoso nas condições normais (de temperatura e pressão). Substância naturalmente em estado diferente do gasoso nas condições normais, mas eventual- mente presente em fase gasosa no ambiente. Produtos da combustão (queima) incompleta de materiais orgânicos. Diâmetros inferiores a 1μm. Corte de pedras na marmoraria, cimento, britagem, terraplana- gem, demolição, peneiramento, fabricação de vidros; usualmente proveniente de processo de tritu- ração ou lixamento. Soldagem, fundição, volatização de metais, fumo de chumbo; proveniente de processo de aque- cimento. Pintura com pistola de tinta, spray (tinta, desodorante), aplicação de lubrificação e agrotóxicos. Neblina vista em estradas; usual- mente proveniente de processo de evaporação. Oxigênio, metano, hidrogênio, butano, monóxido de carbono. Vapor d’água, ácidos, vapor de gasolina, querosene, álcool, sol- ventes de tintas, éter, vapores de aplicação de manta asfáltica. Fumaça de incêndios, sejam em edificações ou em vegetações; contém diversos contaminantes. CONCEITO EXEMPLO ko rn n/ Cu be 29 /S hu tte rs to ck Risco das atividades laborais 31 A NR 09 foca no meio em que o agente químico pode se deslocar ou ser transportado: poeiras, névoas, fumos, gases etc. Via de regra, quanto menor a partícula, mais ela poderá afetar o corpo humano e mais potencialmente danosa será. Qualquer forma de contato, mesmo o direto, constitui uma preocupação e é um dos focos de estudo com relação aos agentes químicos. De maneira simples, agentes químicos podem ser classificados como: • irritantes, por exemplo, ácidos e cloro; • anestésicos, por exemplo, butano e propano (componentes do gás de cozinha); • asfixiantes simples, por exemplo, dióxido de carbono, que reduz a concentração do oxigênio local, reduzindo ou impedindo a ofer- ta à respiração animal/humana; • asfixiantes químicos (tóxicos), por exemplo, cianeto e monóxido de carbono, que impedem a utilização bioquímica do oxigênio, mesmo com oferta deste. Alguns agentes de risco são apresentados a seguir, bem como exem- plos para cada um e possíveis danos e doenças: RISCO Agentes corrosivos Agentes asfixiantes Agentes cancerígenos Agentes tóxicos Locais em que há armazenamento e manuseio de ácidos e álcalis. Tanques, porões de navios, silos, minas e locais que podem ter re- dução da concentração do oxigênio. Carvoarias, locais em que há ar- mazenamento e manuseio de pro- dutos químicos, como benzeno, amianto, benzidina (relacionado a corantes), entre outros. Locais em que há armazenamento e manuseio de solventes, chumbo, mercúrio, manganês, pó de carvão, amianto, sílica, entre outros. Irritação da pele, queimaduras, problemas de diversas ordens na pele, olhos e sistema digestório. De mal estar a óbito. De irritações a câncer em órgãos. De irritações a doenças em siste- mas completos. EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS M ig re n ar t/ s hm ai / / Sh ut te rs to ck 32 Análise e gerenciamento de risco No entanto, não existem apenas esses tipos de danos. Por exem- plo, as fibras podem causar doenças fisiológicas diversas. Em especial, cita-se a asbestose e os cânceres no pulmão e mesotélio, causados por aspiração de pó de asbesto/amianto. Tem-se ainda a lã de rocha, que pode causar irritação na pele, nos olhos e na garganta. Frisa-se que o risco químico usualmente é invisível aos olhos humanos e, por isso, demanda uma avaliação formal por um profissional habilitado para identificar, tratar e mitigar esse tipo de risco. 1.5.3 Risco biológico Entre todos os riscos, o biológico talvez seja um dos mais simples de se prever o conceito. Basicamente, esse risco se relaciona aos agentes biológicos que trazem impactos, prejuízos e doenças ao trabalhador. Esses agentes podem ser parasitas, bacilos, bactérias, vírus, fungos, protozoários etc. (BRASIL, 2019b). Segundo Mattos e Másculo (2019, p. 39), os riscos biológicos “são aqueles introduzidos nos processos de trabalho pela utilização de se- res vivos (em geral, micro-organismos) como parte integrante do pro- cesso produtivo, tais como vírus, bacilos, bactérias etc., potencialmente nocivos ao ser humano”. Apesar de a NR 09 não citar os riscos biológicos diretamente (tam- bém se aplicando aqui uma visão mais abrangente do risco e dos acidentes de trabalhos), apontam-se animais que possam ser eventual- mente danosos ao trabalhador, diretamente ou não; por exemplo: ra- tos, mosquitos, cobras, escorpiões, lacraias, peixes, entre outros. A seguir, são apresentados alguns riscos biológicos, seus exemplos e alguns danos e doenças consequentes deles: RISCO Vírus Bactéria Trabalhadores de hospitais e laboratórios em acidentes com agulhas. Trabalhadores de silos (bagaço de cana e cereais). Síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA). Doenças respiratórias diversas. EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS da vo od a/ g om ol ac / A rte m S te pa no v / Sh ut te rs to ck asbestose: doença causada pela aspiração de pó de amianto/asbesto. mesotélio: tecido que reveste as cavidades do corpo. Glossário (Continua) Risco das atividades laborais 33 RISCO Fungo Protozoários Aranhas Escorpião Carrapato Rato Cobras Trabalhadores de arquivos, mu- seus e bibliotecas. Trabalhadores de laboratórios, estação de tratamento de esgoto, estação de tratamento de água, plantações de arroz. Trabalhadores da silvicultura e agricultura. Trabalhadores da construção civil. Trabalhadores da silvicultura, pecuária e agricultura. Trabalhadores de limpeza predial. Trabalhadores de jardins botâni- cos ou zoológicos Doenças respiratórias diversas. Doenças diversas. Picadas e contato podem causar envenenamento. Picadas causam envenenamento. A atividade parasitaria do carra- pato pode causar febre maculosa e outras doenças, além de lesões na pele. Mordidas e contato com urina podem causar diversas enfermi- dades. Picadas causam envenenamento e mordidas podem causar infecções. EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS da vo od a/ g om ol ac / A rte m S te pa no v / Sh ut te rs to ck De modo similar aos demais riscos, é fundamental a identificação e avaliação do ambiente de trabalho para a prevenção de riscos biológicos. São diversos os fatores envolvidos em relação a esses riscos: localização geográfica do ambiente de trabalho, característica do trabalho desempe- nhado, formas e fontes de exposição, vias de transmissão, persistência do risco biológico, patogenicidade etc. Riscos biológicos podem causar desde simples lesões e infecções superficiais e sistêmicas até doenças diversas e óbitos. Por isso, novamente, avaliações profissionais devem ser execu- tadas antes e durante a atividade profissional, sendo que também devem sempre haver revisões para aperfeiçoamento das medidas protetivas. 34 Análise e gerenciamento de risco 1.5.4 Risco ergonômico Apesar de o risco ergonômico não estar incluso na NR 09, ele se con- figura como um importante fator a ser estudado, avaliado e mitigado. Cita-se que a palavra ergonomia éde origem grega e une dois significa- dos: ergon (trabalho, esforço, ocupação, ação) e nomos (ordenamento, leis, regras, normas). Em outras palavras, de modo simples, a ergono- mia pode ser entendida como a organização do trabalho. Atualmente, a ergonomia física costuma estar em debates no am- biente de trabalho, especialmente em temas sobre postura, manuseio e manipulação de cargas, repetição de movimentos, características de mobiliário, entre outros tópicos. Além da preocupação com ao aspecto físico do trabalhador, há também a ergonomia organizacional, que estuda a ordenação, as estruturas políticas e os processos organiza- cionais envolvidos no ambiente de trabalho. Há ainda a ergonomia cognitiva, que visa ao estudo da engenharia cognitiva envolvida no ambiente de trabalho, com foco nos processos mentais, por exemplo, tomada de decisões e desempenho de habilidades. Assim, podemos entender melhor os riscos ergonômicos. Há diversas situações possíveis que causam riscos ergonômicos. En- tre elas, encontram-se (MATTOS; MÁSCULO, 2019): • inadequações do espaço de trabalho, como mesa pequena, am- biente apertado, limitação de espaço; • altura inadequada da cadeira, da tela do computador, do teclado, do mouse etc.; • maquinário sem regulagem de altura; • execução de tarefa de trabalho permanentemente em pé ou sentada; • fluxo de trabalho inadequado, gerando repetição de tarefas já realizadas; • postura de trabalho viciosa devido ao uso de equipamentos que não consideram os dados antropométricos dos usuários; • dimensionamento inadequado da estação de trabalho, o que faz com que haja movimentação corpórea excessiva; • conteúdo mental do trabalho não adequado ao trabalhador, o que pode gerar sobrecarga (estresse) ou monotonia. Risco das atividades laborais 35 A figura a seguir ilustra um risco ergonômico comum: a postura ina- dequada. Essa conduta no ambiente de trabalho pode causar diversos danos à saúde do trabalhador, como dores de cabeça e nas costas. Figura 3 Ilustração de alguns riscos ergonômicos e eventuais consequências MÁ POSTURA AO SENTAR-SE SÍNDROME DO ESCRITÓRIO POSTURA INCORRETA DOR DE CABEÇA DOR NO OMBRO DOR NAS COSTAS DOR NO PESCOÇO Je hs om wa ng /S hu tte rs to ck Assim, observa-se que o risco ergonômico também é um fator pertinen- te a ser considerado no ambiente de trabalho. Sua avaliação e mitigação, igualmente ao que acontece com os demais riscos, não são voluntárias ou opcionais ao empregador. Existe a NR 17 (BRASIL, 2018, p. 1), que “visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de tra- balho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a pro- porcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente”. Alguns autores também citam outras classificações de riscos. Ini- cialmente, há os riscos mecânicos: aqueles que somente se manifes- tam com contato do trabalhador, por exemplo, materiais cortantes e aquecidos, buracos etc.; nesses riscos, também entrariam os riscos de incêndio. Também há os riscos sociais (ou psicossociais): aqueles que ocorrem pela inadequada organização do trabalho, por exemplo, escala de trabalho inconstante ou assédios, tendo efeitos negativos a nível psicológico para o trabalhador, especialmente o estresse, em suas diversas formas. Pode-se citar ainda a tipificação risco de acidentes, uti- lizada por alguns autores. O livro Pontos de verificação ergonômica: soluções práticas e de fácil aplicação para melhorar a segurança, a saúde e as condições de trabalho foi elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) com a Associação Internacional de Ergonomia (IEA). É uma obra muito rica em conteú- do e imagens que explora condições de ambientes de trabalho com enfoque no processo, levantando riscos de situações variadas. Destaca-se a sua relevância, pois normalmente a ergo- nomia é desprezada como elemento de segurança no processo produtivo. OIT - Organização Internacional do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Fundacentro, 2018. Livro 36 Análise e gerenciamento de risco É importante lembrar que o risco nem sempre é visível. Além dis- so, por vezes, o risco não causa sensibilização no corpo humano; por exemplo: radiação ou aspiração de poeira de fibras. Ele também pode ter efeito em outros locais do ambiente de trabalho, pois seus efeitos potenciais podem superar o tempo e espaço originais de um even- tual acidente. Ainda, o risco não leva somente a lesões visíveis, mas a doenças e outros agravos de caráter inicialmente oculto. A nomen- clatura e classificação facilita que alguns riscos sejam mais facilmente identificados, seja na fonte ou nos efeitos, facilitando um tratamento mais adequado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A identificação é fundamental para o tratamento, mas é apenas uma etapa da mitigação do risco. Tendo em vista a complexidade da identifi- cação e do tratamento do risco, estabeleceram-se diferentes formas de conceituá-lo e classificá-lo. Por vezes, o contato com o risco pode levar a interpretações e atitudes erradas, algumas manifestadas neste capítulo. O ideal é o estabelecimento de uma cultura da segurança no ambiente de trabalho, não apenas com atitudes responsivas, mas com muito planeja- mento e revisão contínua do ambiente de trabalho. Assim, destaca-se que se preocupar apenas com aspectos, prescrições e exigências legais não é suficientemente adequado, pois legislações por vezes são antigas, desa- tualizadas e incompletas, não sendo totalmente abrangentes. Entende-se que a origem de todo acidente é um incidente. Dessa for- ma, tratando-se devidamente os incidentes, há como se prevenir os aci- dentes e as perdas. O estudo de caso de acidentes de outros ambientes de trabalho também é fundamental, uma vez que, além de ser possível aprender com seus eventuais erros, há como aprender com os erros dos outros. Assim, todo incidente não avaliado e não tratado é um anúncio do acidente que há por vir. Por fim, é importante que você, leitor, tenha de modo consolidado, ao terminar de estudar este capítulo, que um acidente é decorrente da exposição a perigos e, por isso, é muito importante estudar os aspectos envolvidos no risco. Além disso, o risco e o acidente sempre existem pela ocorrência de diversos fatores, e nunca devido a uma única causa. Risco das atividades laborais 37 ATIVIDADES 1. Em um determinado acidente, justificou-se que a queda de um operário da frente de trabalho localizada no segundo pavimento da construção de uma obra vertical foi causada pela falta de uso de cinto de segurança. Por que tal afirmação é inadequada do ponto de vista de segurança? 2. O acidente de trabalho afeta apenas trabalhadores. Tal afirmação é adequada? Por quê? 3. Fenômenos da natureza são riscos inevitáveis e fatais. Tal afirmação é adequada? Por quê? REFERÊNCIAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO/IEC 27001: Tecnologia da informação – Técnicas de segurança – Sistemas de gestão da segurança da informação – Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2006. BRASIL. Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho: AEAT 2017. Brasília: Ministério da Fazenda, 2017. Disponível em: http://sa.previdencia.gov.br/site/2018/09/AEAT-2017.pdf. Acesso em: 19 mar. 2020. BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 jul. 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 19 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-01: Disposições Gerais. Brasília: MTE, 2019a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-01.pdf. Acesso em: 12 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-09: Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf. Acesso em: 12 mar. 2020. BRASIL. Ministériodo Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-15: Atividades e Operações Insalubres. Brasília: MTE, 2019c. Disponível em: https://enit.trabalho. gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-15-atualizada-2019.pdf. Acesso em: 12 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-17: Ergonomia. Brasília: MTE, 2018. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_ SST/SST_NR/NR-17.pdf. Acesso em: 12 mar. 2020. CAMARGO, W. Gestão da segurança do trabalho. Instituto Federal do Paraná. Curitiba: 2016. Disponível em: http://ead.ifap.edu.br/netsys/public/livros/LIVROS%20 SEGURAN%C3%87A%20DO%20TRABALHO/M%C3%B3dulo%20I/Livro%20Gestao%20 da%20Seguranca%20do%20Trabalho.pdf. Acesso em: 19 mar. 2020. MATTOS, U. A. O.; MÁSCULO, F. S. (orgs.). Higiene segurança do trabalho. 2. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. OLIVEIRA, P. R. A. Gerência de risco: caderno de estudos e pesquisa. Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 20--. REASON, J. Human error: models and management. BMJ: British Medical Journal, v. 320, n. 7237, p. 768-770, 2000. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ 38 Análise e gerenciamento de risco PMC1117770/. Acesso em: 19 mar. 2020. REASON, J.; HOLLNAGEL, E.; PARIES, J. Revisiting the Swiss cheese model of accidents. EUROCONTROL: Experimental Centre Journal of Clinical Engineering, Bruxelas, v. 27, 2006. Disponível em: https://www.eurocontrol.int/eec/gallery/content/public/document/eec/ report/2006/017_Swiss_Cheese_Model.pdf. Acesso em: 19 mar. 2020. SÃO PAULO. Instrução Técnica n. 03/2011: Terminologia de segurança contra incêndio. Diário Oficial do Estado, Poder Executivo, São Paulo, SP, 12 out. 2011. Disponível em: http:// www3.iq.usp.br/uploads/paginas/Seguranca/Legisla%C3%A7%C3%A3o/IT_03_2011.pdf. Acesso em: 19 mar. 2020. SOUZA, I. L.; BARROS, L. A.; FILGUEIRAS, V. A. (orgs.). Saúde e segurança do trabalho: curso prático. Brasília: ESMPU, 2017. Disponível em: http://escola.mpu.mp.br/publicacoes/ obras-avulsas/e-books/saude-e-seguranca-do-trabalho-curso-pratico-1. Acesso em: 12 mar. 2020. Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 39 2 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI Neste capítulo, busca-se expor a legislação e os documentos relativos à Segurança do Trabalho e ao risco. Certamente, ambos os objetos de estudo são extensos e complexos e, por isso, as ideias aqui argumentadas estão longe de esgotar o assunto. Além disso, também serão apresentados o equipamento de proteção individual (EPI) e o equipamento de proteção coletiva (EPC), bem como a forma de utilizá-los corretamente. 2.1 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho Vídeo A exposição da base legal de qualquer tema é fundamental para es- tabelecer o alicerce de seu estudo. A apresentação das técnicas, ferra- mentas e estratégias de algum assunto será mais bem compreendida se feita com a respectiva exposição das legislações que as justificam e motivam. Assim, esta seção visa expor as leis e normas da Segurança do Trabalho, especialmente no tocante ao risco. Antes de conhecer as leis e demais regulamentações, é necessário sempre se lembrar da hierarquia das leis. A maior lei do ordenamen- to jurídico brasileiro é a Constituição Federal (CF) e suas emendas; posteriormente, tem-se as leis complementares; e, logo após, leis or- dinárias, tratados internacionais, medidas provisórias, leis delegadas, decreto-lei, decreto legislativo, decreto, instrução normativa, resolu- ção, portaria, entre outros. Quanto à prevenção de acidentes e doenças no trabalho, pode-se utilizar a ilustração de Mattos e Másculo (2019, p. 98), a fim de tornar este estudo legal mais objetivo. Os autores apontam que são exigências 40 Análise e gerenciamento de risco legais para a preservação no ambiente de trabalho os preceitos ordiná- rios (Consolidação das Leis do Trabalho – CLT) e os preceitos específicos (Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho – SST), que têm como base a Constituição Federal de 1988 (Figura 1). Figura 1 Estrutura da legislação brasileira para prevenção de acidentes e doenças do trabalho Constituição Federal Brasileira Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) Fonte: Mattos e Másculo, 2019, p. 126. Como lei maior do Brasil, a CF de 1988 garante aos cidadãos brasi- leiros direitos sociais fundamentais e intrínsecos à Segurança do Traba- lho, como saúde, previdência social, trabalho e segurança. Além disso, ela também impõe, como direitos fundamentais, a redução de riscos do trabalho e seguro contra acidentes. Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; [...] XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. (BRASIL, 1988, grifos nossos) Com foco na palavra risco, a Constituição ainda aborda algumas pres- crições de aspecto geral para sua identificação, sua mitigação e seu trata- Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 41 mento. Aqui, destacamos dois artigos da CF: o primeiro cita diretamente os riscos de doenças e agravos. Em especial, o artigo 196 apresenta o dever do Estado em fomentar políticas públicas de proteção: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988, grifos nossos). Um segundo artigo em que a CF aborda o risco é o artigo 225, o qual envolve o dever de proteger o meio ambiente com o objetivo de preservar a qualidade de vida. Apesar de não ser algo específico ao pro- cesso de trabalho, tal preceito constitucional faz da prevenção de risco ao meio ambiente um dever do Estado, deixando clara a obrigação de fomento ao processo de análise e mitigação de riscos. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologi- camente equilibrado, bem de uso comum do povo e es- sencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preser- vá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] V - controlar a produção, a comercialização e o empre- go de técnicas, métodos e substâncias que compor- tem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; [...] VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecoló- gica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (BRASIL, 1988, grifos nossos) Assim, de maneira geral e conforme a CF, afirma-se novamente que a Segurança do Trabalho deve ser promovida pelo Estado, com preven- ção e mitigação de riscos às pessoas, aos bens e ao meio ambiente. Ain- da, a Constituição estima que os riscos podem eventualmente não ser contidos e prevê a condição de seguro contra acidentes de trabalho. Entre várias conclusões decorrentes da exposição legal apresentada, percebe-se que a análise e gerenciamento de risco é um assunto tão relevante à sociedade que os legisladores consolidaram o tema na CF. 42 Análise e gerenciamento de risco Além disso, também é importante pontuar que somente a União pode legislar sobre alguns temas relativos ao trabalho. Isso visa asse- gurar um padrão mínimo, universal, uniforme, harmonioso e igualitário de política pública do trabalho no vasto território do Brasil, prevenindo insuficiência ou excessos nas relações de trabalho. Essa condição é fun- damental para se entender a organização das normas de prevenção, mitigação e tratamento de riscos relativas ao trabalho. Art. 21. Competeà União: [...] XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; [...] Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; [...] XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; [...] XXIII - seguridade social. (BRASIL, 1988, grifos nossos) Vencidas algumas prescrições que a Constituição nos apresenta, passa-se a analisar algumas legislações que colaboram para a identi- ficação, a mitigação e o tratamento de riscos. Crê-se ser importante tratar da Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que apresenta “as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a orga- nização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências” (BRASIL, 1990). Essa lei traz algumas afirmações que pos- suem impacto direto na prevenção de riscos relacionados ao trabalho: Art. 2º. [...] § 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigi- lância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabi- litação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo: Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 43 I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de tra- balho ou portador de doença profissional e do trabalho; II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, ava- liação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armaze- namento, transporte, distribuição e manuseio de subs- tâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do tra- balho, bem como os resultados de fiscalizações, ava- liações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; VI - participação na normatização, fiscalização e con- trole dos serviços de saúde do trabalhador nas insti- tuições e empresas públicas e privadas; VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças ori- ginadas no processo de trabalho, tendo na sua elabora- ção a colaboração das entidades sindicais; e VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de reque- rer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quan- do houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores. (BRASIL, 1990, grifos nossos) Dessa forma, a Lei n. 8.080/1990 aborda com detalhes a saúde do trabalhador. Entre os vários pontos favoráveis que essa legislação traz à prevenção de riscos, destacam-se alguns: a redução de riscos é dever do Estado; o foco não se direciona somente à prevenção de riscos, e deve haver uma preocupação quanto à recuperação e reabilitação da- queles que já foram ou estão submetidos ao risco não mitigado; a par- ticipação englobante e inclusiva, na elaboração e na revisão de normas, deve ser oportunizada e promovida; e a ampla informação ao trabalha- dor deve ser fomentada. Nessa lei, também há um forte movimento 44 Análise e gerenciamento de risco afirmativo de que a prevenção de risco não é de idealização exclusiva do Estado ou do empregador, mas deve contar com todas as formas possíveis de participação do trabalhador e seus representantes. Ao abordar o trabalho no Brasil, é fundamental falar da Consolida- ção das Leis do Trabalho (CLT) – Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Essa legislação reúne prescrições sobre direitos relativos ao tra- balho de grande parte dos empregados brasileiros. Cabe ressaltar que o enfoque aqui promovido será a análise e gerenciamento de riscos. Especialmente com início no artigo 162, em que há uma primeira cita- ção direta à previsão de normas de Segurança do Trabalho, com foco às Normas Regulamentadoras (NR). Art. 162 - As empresas, de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, estarão obriga- das a manter serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho. Parágrafo único - As normas a que se refere este artigo estabelecerão: a. classificação das empresas segundo o número de empregados e a natureza do risco de suas ativida- des. (BRASIL, 1943, grifos nossos) A contar do artigo 182, a CLT cita diretamente diversos tópicos que devem ser tratados por meios de normas de segurança. Praticamente, cada artigo dá motivação para a elaboração de uma NR; por exemplo, o artigo 193 fundamenta a proposição da NR 15 (Atividades e operações insalubres). É importante a exposição desses artigos para demonstrar que as NR possuem um forte embasamento legal. Art.182 - O Ministério do Trabalho estabelecerá normas sobre: I - as precauções de segurança na movimentação de materiais nos locais de trabalho, os equipamentos a serem obrigatoriamente utilizados e as condições espe- ciais a que estão sujeitas a operação e a manutenção desses equipamentos, inclusive exigências de pessoal habilitado; [...] Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 45 Art.184 - As máquinas e os equipamentos deverão ser dotados de dispositivos de partida e parada e outros que se fizerem necessários para a prevenção de acidentes do trabalho, especialmente quanto ao risco de aciona- mento acidental. [...] Art.186 - O Ministério do Trabalho estabelecerá normas adicionais sobre proteção e medidas de segurança na operação de máquinas e equipamentos, especialmente quanto à proteção das partes móveis, distância entre estas, vias de acesso às máquinas e equipamentos de grandes dimensões, emprego de ferramentas, sua ade- quação e medidas de proteção exigidas quando motori- zadas ou elétricas. [...] Art. 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do tra- balhador a: I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; II - roubos ou outras espécies de violência física nas ativi- dades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. [...] Art. 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer dis- posições complementares às normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada ativi- dade ou setor de trabalho. (BRASIL, 1943, grifos nossos) Conforme observado, a CLT é uma legislação bem abrangente, vis- to que expõe prescrições de caráter geral, mas também legisla sobre pontos bem específicos, como dispositivos de segurança de máquinas e equipamentos. Algumas observações da CLT são: • atribui ao empregador o risco da atividade econômica; • estabelece que o empregador tem a responsabilidade de cum- prir, instruir e fazer os empregados cumprirem as regras de Se- gurança do Trabalho; • prevê uma gradação e classificação de risco na atividade econômica; • estima que alguns riscos não podem ser mitigados; 46 Análise e gerenciamento de risco • obriga o empregador a prover equipamento de proteção individual; • estabelece que o Ministério do Trabalho (ou outro que vier a substitui-lo) deve estabelecer regramentos técnicos específicos de proteção e medidas de segurança no ambiente de trabalho; • abre possibilidade ao trabalhador de ele estar exposto a um risco que traz agravos à saúde. Certamente, você deve ter visto ou ouvido falar de complexas dis- cussões avaliativas da CLT. Qualquer obranão conseguirá esgotar as possibilidades e os desdobramentos possíveis decorrentes dessa lei. Aqui, não se busca fazer um juízo crítico dela, mas expor o amplo es- pectro de prescrições que a CLT aborda, desde um caráter generalista de todo um sistema e organização do trabalho até questões pontuais de máquinas e equipamentos. Mesmo assim, não é possível executar a análise e gerenciamento de risco apenas com o escopo previsto na lei, demandando-se outras normas para continuar a formar a base legal de prevenção, mitigação e tratamento de riscos no ambiente de trabalho. Chega-se, então, às Normas Regulamentadoras do trabalho. A CLT, especialmente no Capítulo V (Da segurança e da medicina do trabalho), prevê o estabelecimento das NR, tal como explicitado nos artigos 155, 182, 184, 186 e 200. Essas normas possuem prescrições de caráter espe- cífico a um tema ou uma área, podendo haver quantas forem necessárias ou demandadas pela sociedade. São estabelecidas por meio de portarias e, assim, apresentam maior liberdade para revisão e atualização, quan- do comparadas a uma lei ou um decreto. Possuem caráter orientativo, regulamentar e de aplicação compulsória no ambiente de trabalho. As NR são elaboradas e revisadas por um comitê técnico multidis- ciplinar, sob gerenciamento indicado na lei do Ministério do Trabalho, e deve haver ampla participação de todos os envolvidos no processo de trabalho, especialmente de empregados. Recentemente, o governo federal optou por não ter um ministério exclusivo do trabalho, mas sim uma estrutura organizacional do trabalho no Ministério da Economia, que reúne as antigas estruturas do Ministério da Fazenda, do Planeja- mento, do Desenvolvimento e Gestão, da Indústria, do Comércio Exte- rior e dos Serviços. Atualmente, as 35 Normas Regulamen- tadoras (NR) em vigor podem ser consultadas no site da Escola Nacional da Inspeção do Trabalho (Enit). Observa-se que as NR rurais estão revogadas. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/index.php/ seguranca-e-saude-no-trabalho/ sst-menu/sst-normatizacao/ sst-nr-portugues?view=default. Acesso em: 19 mar. 2020. Saiba mais Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 47 Figura 2 Normas Regulamentadoras (NR) NR 01 – Disposições gerais NR 03 – Embargo ou Interdição NR 05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes NR 07 – Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional NR 09 – Programas de Prevenção de Riscos Ambientais NR 11 – Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais NR 13 – Caldeiras, Vasos de Pressão e Tabulações e Tanques Metálicos de Armazenamento NR 15 – Atividades e Operações Insalubres NR 17 – Ergonomia NR 19 – Explosivos NR 21 – Trabalhos a Céu Aberto NR 23 – Proteção Contra Incêndios NR 25 – Resíduos Industriais NR 28 – Fiscalização e Penalidades NR 30 – Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário NR 04 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho NR 06 – Equipamentos de Proteção Individual - EPI NR 08 – Edificações NR 10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade NR 12 – Máquinas e Equipamentos NR 14 – Fornos NR 16 – Atividades e Operações Perigosas NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção NR 20 – Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho NR 26 – Sinalização de Segurança NR 29 – Segurança e Saúde no Trabalho Portuário NR 31 – Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde NR 34 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, Reparação e Desmonte Naval NR 36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados NR 33 – Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados NR 35 – Trabalho em Altura NR 37 – Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo Fonte: Elaborado pelo autor com base nas Normas Regulamentadoras da Escola Nacional da Inspeção do Trabalho (Enit), 2020. 48 Análise e gerenciamento de risco É importante destacar que muitas dessas NR demandam uma re- visão global e pontual. Há anacronismos a serem corrigidos, é necessá- ria a implementação de proteções recentemente dimensionadas e, especialmente, adoção de parâmetros mais seguros e apropriados à saúde do trabalhador. Destaca-se ainda que as NR são um parâmetro legal e mínimo. Além disso, essas normas não abordam todos os ris- cos existentes nos diversos ambientes de trabalho. Nesse sentido, o empregador deve promover e implementar ações de reconhecimento, avaliação, mitigação e tratamento de riscos além dos previstos nas NR, para o bem da sua própria atividade econômica e de toda a sociedade, especialmente o trabalhador. Ainda, ao abranger outras normalizações, é possível verificar a apli- cação de algumas normas estrangeiras em organizações de trabalho no Brasil. Usualmente, pode-se observar empregadores adotando padrões da National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) ou mes- mo aplicando as normas BS 8800 e OHSAS 18001 para a Saúde e Segu- rança do Trabalho. Por vezes, referências externas apresentam padrões mais seguros e atualizados para o trabalhador; entretanto, é importante deixar claro que normas internacionais somente podem ser estabeleci- das como padrão normativo se houver prescrição legal expressa. Da mesma forma, funcionam as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As Normas Brasileiras (NBR) da ABNT somen- te podem ser exigidas como padrão de segurança caso haja prescri- ção legal determinada para sua adoção. Tal situação pode ocorrer para sistemas estruturais (pilares de concreto), instalações prediais (instala- ções elétricas) e equipamentos de segurança contra incêndio (chuvei- ros automáticos). Lembre-se de que a ABNT é uma entidade de direito privado; logo, não compõe a estrutura de fiscalização de Segurança do Trabalho do Estado. Contudo, seus padrões podem ser eventualmente adotados pelo Estado como referência para identificação, mitigação e tratamento de riscos. Nesta seção, foram referenciadas algumas legislações que funda- mentam a análise e gerenciamento de risco. Como sempre, o assunto não foi esgotado, pois ainda poderiam ser citadas diversas legislações A National Institute for Occu- pational Safety and Health (em português, Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional) é uma agência do governo esta- dunidense focada na segurança e na saúde do trabalhador, com o objetivo de desenvolver novos conhecimentos no campo da Saúde e Segurança Ocupacional. Suas normas são usualmente adotadas como padrão de seguran- ça em detrimento aos parâmetros previstos em normas brasileiras. As normas BS 8800 e a OHSAS 18001 são de origem britânica e abordam de maneira mais genérica e detalhada, respecti- vamente, sistemas de gestão da Saúde e Segurança do Trabalho. São usualmente adotadas como parâmetros de um sistema de Segurança do Trabalho. Saiba mais Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 49 que podem auxiliar na tarefa de controle de riscos, como convenções coletivas de trabalho, leis e pres- crições de conselhos profissionais (de arquitetos, engenheiros, médicos, enfermeiros etc.), prescrições do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), regulamentos das Superinten- dências Regionais do Trabalho, vigilâncias sanitárias, órgãos de proteção do meio ambiente, entre outros. O livro Segurança e saúde no trabalho: NRs 1 a 36 comentadas e descomplicadas é um dos melhores compêndios existentes que abordam as NR. Não é somente uma exposição do texto cru das normas, mas se trata, na verdade, de comentá- rios explicativos sobre cada prescrição, além de quadros, discussões, ilustrações equestões de provas e concursos. CAMISASSA, M. Q. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. Livro 2.2 Documentos da Segurança do Trabalho Vídeo Exposta a base legal, torna-se necessário pontuar alguns documen- tos decorrentes das prescrições legais e do know-how da análise e ge- renciamento de riscos. Alguns são bem formais, obrigatórios e rígidos, enquanto outros podem ser mais subjetivos, faculta- tivos e sem um formato legalmente instituído. Con- tudo, no fim, todos contribuem para identificação, mitigação e tratamento de riscos no ambiente de trabalho. Com o intuito de tornar o estudo mais pragmático, é apresentada, a seguir, uma lista de al- guns exemplos de documentos que podem contri- buir para a Saúde e Segurança do Trabalho. Documento Contrato social Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) O contrato social apresenta as regras e condições básicas de funcionamento de um estabelecimento comercial ou assemelhado. Além da qualificação dos sócios ou pessoas responsáveis pelo estabelecimento, ele sempre apresentará as atividades e serviços desenvolvidos no local, em especial a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE). Por meio da CNAE, pode-se dimen- sionar o grau de risco (GR) – classificação do risco de uma atividade comercial, produtiva ou econômica –, conforme a NR 04. O CNPJ também discrimina informações importantes de um estabelecimento, em especial, o código e a descrição das atividades econômicas principais e se- cundárias, além do endereço e outras informações relevantes. Tais atividades direcionam o dimensionamento do risco e devem estar semelhantes àquelas previstas no contrato social e na licença de funcionamento. Motivação e exemplos (Continua) know-how: quer dizer “saber fazer” e significa o conjunto de conhecimentos adquiridos por pessoas e corporações. Glossário 50 Análise e gerenciamento de risco Normas internas As normatizações existentes geralmente não contemplam todos os processos e procedimentos envolvidos na Segurança do Trabalho de um estabelecimen- to. Assim, devido a algumas particularidades e especificidades de um processo de trabalho, por exemplo, o empregador decide implementar prescrições em uma quantidade maior ou em uma qualidade melhor do que o previsto nas normas existentes. Dessa forma, normas internas desempenham um impor- tante papel na mitigação de riscos em um ambiente de trabalho. Documento Alvará ou licença de funcionamento Corpo de diretores ou sócios Organograma Responsabilidade técnica Programas De maneira semelhante aos documentos anteriores, a licença ou o alvará de funcionamento é o documento que demonstra que o município (Estado ou Dis- trito Federal) licenciou ou permitiu o funcionamento do estabelecimento. Nesse documento, também se pode encontrar as atividades principais e secundárias, além de ser possível consultar as atividades licenciadas e quais órgãos registra- ram a aprovação ou limitação da atividade. Por meio do contrato social ou de outro documento, o empregador ou seu prepos- to (representante oficialmente nomeado do empregador) é sempre identificado. Assim, pode-se saber quem é o responsável pela organização e sistematização do trabalho em determinado estabelecimento, sede ou filial. Crê-se que o risco não decorre de um único fator, mas da sistematização adequada ou não do trabalho. Apesar de não ser um documento oficial ou obrigatório, um organograma ou fluxograma de funcionamento pode favorecer o entendimento de como se opera a sistematização e organização do trabalho em determinado estabelecimento. Assim, pode-se verificar de maneira abran- gente, ou até mesmo detalhada, as estruturas e os processos previstos (ou não) para a segurança, o bem-estar e a higiene do trabalho. Crê-se que o risco no ambiente de trabalho está sempre nos domínios do empregador. Como este não detém todos os tipos de conhecimento, ele busca assessoria para a realização de tarefas de mitigação de todo tipo de risco. Por exemplo, ao engenheiro ou aos arquitetos, podem ser atribuídas as respon- sabilidades técnicas (RT) de Segurança do Trabalho; ao médico ou enfermeiro, podem ser atribuídas as RT de Saúde do Trabalho. Usualmente, há documen- tos formais em que as RT são registradas, como a Anotação de Responsabi- lidade Técnica (ART), para os engenheiros, e o Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), para os arquitetos. Há diversos programas para promover a segurança e a saúde no ambiente de trabalho. Pode-se citar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), o Progra- ma de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), o Programa de Conservação Auditiva (PCA), entre outros. Alguns deles serão estudados na próxima seção. Motivação e exemplos (Continua) Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 51 Documento Projetos Memoriais Laudos Ficha de Informações de Segurança de Pro- duto Químico (FISPQ) Procedimento Opera- cional Padrão (POP) Manuais Os projetos usualmente descrevem a montagem, composição e demais elementos e detalhes de um sistema ou equipamento. Por exemplo, em geral, há o projeto de equipamento de proteção coletiva (EPC) do tipo bandeja de proteção contra quedas (barreiras de proteção contra queda de objetos e pessoas, instaladas na fachada de obras verticais). Outro exemplo é o projeto de instalações contra incêndios, que demonstra a localização e as condições de instalação de extintores, saídas de emergência, chuveiros automáticos etc. Geralmente, os memoriais acompanham o projeto. O memorial de cálculo, memorial descritivo, memorial de dimensionamento ou, simplesmente, memo- rial é um documento que indica quais são as considerações, os cálculos e os detalhes ponderados em determinada estrutura ou em um projeto executivo. O memorial pode conter os detalhes não representados no projeto. Por exem- plo, no projeto, há a especificação do volume de determinada caixa d’água, enquanto, no memorial, há a especificação de como foi alcançado o valor do volume ou quantas pessoas e equipamentos foram levados em consideração para esse dimensionamento. O laudo é um documento que descreve uma situação ou ocorrência em que o autor geralmente posiciona-se emitindo uma opinião de caráter técnico (parecer). Há diversos tipos de laudos, bem como motivações e objetivos. Cita-se como exemplo o Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT), que pode apontar agentes nocivos, riscos e condições do ambiente de trabalho. Outro exemplo são os laudos para caracterização e classificação da insalubridade e da periculosidade, previstos no artigo 195 da CLT. A FISPQ disponibiliza diversas informações de determinado produto consi- derado perigoso. Ela identifica o produto, respectivos perigos, as medidas de controle para derramamento e vazamento, além de medidas de primeiros socorros. Um POP, como seu próprio nome indica, designa tarefas e procedimentos a serem executados em uma rotina. Ele é um instrumento de padronização importante, pois minimiza variações de comportamento em determinado pro- cesso que demanda rigor, precisão e segurança na sua execução. Um exemplo é o POP de como realizar abastecimento de uma central de gás de cozinha (Gás Liquefeito de Petróleo – GLP) por meio de um caminhão tanque. Em inglês, usa-se comumente a palavra handbook para designar um manual; em tradução literal, handbook seria um “livro de mão”. Os manuais possuem exatamente esse aspecto: um guia para ser consultado facilmente. Eles expõem as diretrizes de instalação, uso, manutenção e forma de reparo de um equipamento, um insumo ou uma estrutura. Por exemplo, manuais de utiliza- ção de varandas indicam a carga máxima de peso ou de pessoas que podem permanecer ali. Não cumprir a orientação do manual é estar exposto ao risco. Motivação e exemplos 52 Análise e gerenciamento de risco Essa lista contempla todas as possibilidadesde documentos favo- ráveis à identificação, à mitigação e ao tratamento de riscos. Há mais documentos que podem auxiliar nesses processos, como o contrato de trabalho ou o exame médico anterior à execução do trabalho. Por vezes, a simples descrição apresentada pode não deixar claro a utilidade de cada documento e, por isso, expõem-se algumas possibilidades a seguir. O contrato social, alvará/licença de funcionamento e CNPJ podem ajudar a identificar os riscos inerentes à determinada atividade comer- cial. Por exemplo, uma empresa que tenha uma CNAE de atividades de limpeza em prédios e domicílios, certamente deve se preparar para lidar com riscos de agentes nocivos à saúde, especialmente em banheiros ou depósitos. Um exemplo de atitude errada são empresas que lidam com serviços de alimentação em eventos e recepções e começam a também operar serviços de brigadistas, manobristas ou segurança privada, sem atualizar o CNAE em seus documentos e sem preparação adequada. Certamente, caso um desses profissionais execute uma tarefa de ma- neira inadequada, ocasionando riscos a si ou a outros, uma das diligên- cias possíveis da investigação será verificar se a empresa tinha em seu rol de documentos o CNAE de atividades de segurança privada. Portanto, caso uma empresa permita que determinada tarefa seja executada em seus domínios sem a previsão em seus documentos de habilitação, já há uma negligência de riscos. Outra situação quanto aos documentos: caso um aparelho, um equipamento ou uma instalação gere risco que ocasione acidente, uma diligência provável a ser tomada é estudar seu projeto ou manual. Logo, se verificado que sua instrução de uso não foi seguida, pode haver a responsabilização do empregador. Por isso, o projeto deve ser rigorosamente seguido e deve ser promovi- do um amplo treinamento com base em instruções de manuais. Por fim, argumenta-se que há diversos documentos que podem au- xiliar na identificação e no tratamento de riscos, desde os mais formais e obrigatórios até os de formato mais livre e de iniciativa do emprega- dor. Apesar de estar claro que eles podem ser utilizados para subsidiar uma investigação pós-acidente, o correto é pensar que esses documen- tos devem ser amplamente empregados para a promoção da Seguran- ça do Trabalho, de modo a prevenir acidentes (“pré-acidente”). diligência: zelo; cuidado apli- cado para executar uma tarefa. Glossário Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 53 2.3 Programas de Segurança do Trabalho Vídeo Conforme a NR 01, cabe ao empregador: cumprir as normas de Saú- de e Segurança do Trabalho; informar ao trabalhador os riscos ocupa- cionais, as medidas de controle adotadas e os resultados de exames médicos; implementar medidas de prevenção; adotar medidas de pro- teção individual; entre outras obrigações (BRASIL, 2019a). Nesse sentido, são necessários estudos formais para levantamento de riscos, avaliações da saúde dos trabalhadores e métodos de aplicação das diversas estra- tégias de segurança geral do ambiente de trabalho. Por isso, programas devem ser planejados e executados com o objetivo de promover a prote- ção à saúde do trabalhador e a redução de acidentes de trabalho. Apesar de haver outros programas, ou estratégias, envolvidos na Segurança do Trabalho, nesta seção, será atribuída atenção especial ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e ao Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT). Faz-se essa escolha porque esses são programas exigidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sendo os dois primeiros obriga- tórios para todos aqueles que empreguem trabalhadores CLT, e o último particular àqueles que estejam ligados à construção civil – e admitam trabalhadores em regime CLT (MATTOS; MÁSCULO, 2019). 2.3.1 PPRA Com início no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), esse documento foca basicamente a identificação, a mitigação e o tra- tamento dos riscos ambientais, incluindo aqueles ergonômicos e ou- tros não citados na NR 09. Por meio desse programa, um engenheiro de Segurança do Trabalho estuda a atividade da instituição e aponta riscos e formas de avaliá-los. Consequentemente, é necessário tornar esses riscos conhecidos a todos os trabalhadores e divulgar interna- mente como eles serão tratados. Por fim, deve haver uma avaliação contínua e o programa deve ser revisado e aperfeiçoado anualmente. 54 Análise e gerenciamento de risco ga ra ge st oc k/ R ed lin eV ec to r/ d av oo da / M ac ro ve ct or / v al er iya k oz or iz / S ur fs Up / M ax G rig / R as ha d As hu r/ A rt wo rk / N ik W B/ Sh ut te rs to ck Quadro 1 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) NR 09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Ter um ótimo padrão de higiene ocupacional ou antecipar, reconhecer, avaliar e controlar riscos ambientais (físico, químico, biológico etc.) para preservação da saúde e integridade do trabalhador. Riscos ambientais. Empregador. Se houver mais de um estabelecimento (sede ou filial), cada um deve ter um PPRA próprio e específico. Não se pode elaborar um geral para toda a empresa e seus estabelecimentos. Não tem validade, pois é de execução permanente (apesar de ter a obriga- ção da análise global anual). Especialista em Segurança do Trabalho; preferencialmente, engenheiro de Segurança do Trabalho. O trabalhador pode apresentar propostas de contribuição. Empregador e seus prepostos. O trabalhador também deve colaborar e participar da implantação e execução do PPRA. (Continua) Norma de referência Objetivo Objeto Custo Abrangência Validade Responsável pela elaboração Responsável pela implementação Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 55 Para todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados vinculados à CLT. • Antecipar e reconhecer os riscos. • Estabelecer prioridades e metas de avaliação e controle. • Avaliar os riscos e a exposição dos trabalhadores. • Implantar medidas de controle e avaliar sua eficácia. • Monitorar a exposição aos riscos. • Registrar e divulgar dados. • Planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades e cronograma. • Estratégia e metodologia de ação. • Forma do registro, da manutenção e da divulgação dos dados. • Periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA. Todos os documentos citados na seção 2.2. Revisão anual. Obrigatoriedade Etapas/fases/desenvolvimento Estrutura Documentos relacionados Periodicidade ! Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2019b. Pode ocorrer do PPRA acabar sendo um documento “para inglês ver”, isto é, que não é executado na prática. O correto é o PPRA ser um ciclo contínuo e permanente na instituição: o empregador designa alguém para avaliar a instituição, levantar riscos, aferir o grau do risco, levantar estratégias de redução dos riscos, projetar proteções aos ris- cos que não podem ser eliminados, promover a divulgação do PPRA, executar o PPRA de modo integral e revisar esse documento anualmen- te. Porém, por vezes, ele é apenas um documento escrito e arquivado, mas não implementado ou revisado periodicamente. Essa situação fa- vorece a exposição a riscos e a ocorrência de acidentes. 56 Análise e gerenciamento de risco 2.3.2 PCMSO Ao partir para o próximo programa, tem-se o Programa de Controle Médico de Saúde Operacional (PCMSO), que tem como base a medici- na ocupacional, especialmente com dois focos: prevenção e epidemio- logia. Ele também se volta à saúde do trabalhador. Como o PMCSO é desenvolvido tendo em vista o ambiente de trabalho, é necessário haver uma interação entre este e o PPRA. Uma das ferramentas para a avaliação da saúde do conjunto dos trabalhadores de um ambiente de trabalho são as avaliações clínicas e os exames médicos ocupacionais. NR 07 – Programa de Controle Médicode Saúde Ocupacional. Promover e preservar a saúde do conjunto dos trabalhadores. Saúde do conjunto dos trabalhadores. Empregador. Pode ser elaborado para toda a empresa, e não apenas para um único estabelecimento, desde que envolva todos os fatores de riscos e todas as funções existentes. Não tem validade, pois é de execução permanente (apesar de ter a obriga- ção da elaboração de um relatório anual). Norma de referência Objetivo Objeto Custo Abrangência Validade Quadro 2 Programa de Controle Médico de Saúde Operacional (PCMSO) (Continua) epidemiologia: estudo dos aspectos e fatores das doenças para a sua respectiva prevenção em uma comunidade. Glossário Te lm an B ag iro v / ga ra ge st oc k/ R ed lin eV ec to r/ d av oo da / M ac ro ve ct or / v al er iya k oz or iz / S ur fs Up / M ax G rig / R as ha d As hu r/ A rt wo rk / N ik W B/ Sh ut te rs to ck Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 57 Médico, preferencialmente com especialização em Medicina do Trabalho. Empregador e seus prepostos. Em caso de haver subcontratação, a empresa contratante de mão de obra prestadora de serviços permanece com o dever de auxiliar na elaboração e implementação do PCMSO. Por exemplo, em subcontratação de empresa que presta serviços de limpeza ou vigilância de instalações, a elaboração do PCMSO cabe à empresa contratada. Todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados. Realização obrigatória (mas não exaustiva) dos exames médicos: • admissional; • periódico; • de retorno ao trabalho; • de mudança de função; • demissional. Não há uma estrutura formal prevista na norma, mas, basicamente, deve haver no PCMSO um planejamento em que estejam previstas as ações de saúde a serem executadas durante o ano, devendo ser produzido um relatório anual com base no modelo de relatório da NR 07. Todos os documentos citados na seção 2.2. Para exame médico periódico: anual, bienal ou de acordo com a periodici- dade especificada no Anexo n. 6 da NR 15 para os trabalhadores expostos a condições hiperbáricas. Para monitorização da exposição ocupacional aos riscos: variada, pode ser de semestral a trienal. Responsável pela elaboração Responsável pela implementação Obrigatoriedade Etapas/fases/desenvolvimento Estrutura Documentos relacionados Periodicidade ! Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2018b. Os exames médicos que devem avaliar a saúde dos trabalhadores são decididos pelo médico coordenador do programa, após o levanta- mento de riscos e a avaliação das funções desempenhadas. Entretanto, o PCMSO não é apenas um programa de execução de exames, mas sim um planejamento de caráter amplo e prevencionista para apontamen- tos de ações de saúde. Os resultados devem ser compilados estatistica- mente em um relatório anual de modo a promover uma discussão na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e a fomentar ações 58 Análise e gerenciamento de risco para aperfeiçoamento de medidas de controle de riscos. Dessa forma, é muito importante que o PCMSO não seja um programa de abordagem individual, mas de saúde coletiva do conjunto de trabalhadores. 2.3.3 PGR ou PCMAT Por fim, temos o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), o qual é voltado à se- gurança, ao conforto, à higiene e ao bem-estar geral nos canteiros de obra. Gomes, Domingues Jr. e Dias (20--, p. 9) afirmam que “o PCMAT é abordado como o PPRA dos canteiros de obra, pois nele se insere a va- riabilidade e a temporalidade de sua existência, pois ele somente existe enquanto existir o canteiro de obras”. O PCMAT deve ser elaborado antes do início das obras, e todas as atividades com mais de vinte trabalhadores do grupo F – Construção do Quadro I da NR 04 devem possuir o PCMAT 1 . Em 2020, o PCMAT teve o seu nome alterado para Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Deve ser específico para cada obra. Abrangência Quadro 3 Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), ou antigo Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indús- tria da Construção (PCMAT). 2 NR 18 – Condições de Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção. Planejar e organizar a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio am- biente de trabalho na indústria da construção. Segurança, conforto, higiene e bem-estar geral no canteiro de obras. Norma de referência Objetivo Objeto (Continua) Empresa principal responsável pela obra, empregador ou condomínio. Custo O estudo do PCMAT aqui reali- zado deriva da NR 18, atualizada em 11 de fevereiro de 2020. 2 A NR 04 está disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/ portal/images/Arquivos_SST/ SST_NR/NR-04.pdf. Acesso em: 16 mar. 2020. 1 m us m el lo w /g ar ag es to ck / R ed lin eV ec to r/ d av oo da / M ac ro ve ct or / v al er iya k oz or iz / S ur fs Up / M ax G rig / R as ha d As hu r/ A rt wo rk / N ik W B/ Sh ut te rs to ck Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 59 Não tem validade, pois é de execução permanente, podendo sofrer modifi- cações conforme o desenvolvimento da obra. Validade Profissional legalmente habilitado na área de Segurança do Trabalho; preferencialmente, um engenheiro de Segurança do Trabalho. A organização da obra; as empresas subcontratadas ou terceirizadas não têm prioritariamente responsabilidade final na implementação, mas sim na tomada de conhecimento, colaboração na elaboração e no cumprimento do PCMAT conforme o caso. Indústria da construção constantes da seção F da CNAE e atividades e serviços de demolição, reparo, pintura, limpeza e manutenção de edifícios em geral e de manutenção de obras de urbanização. Não há um padrão formal estabelecido. Porém, Gomes, Domingues Jr. e Dias (20--) sugerem: • identificação e reconhecimento dos riscos (documento-base); • avaliação quantitativa de exposição; • medidas de controle propostas; • monitoramento da exposição aos riscos ambientais e avaliação da eficácia das medidas de controle implantadas. Além de atender às prescrições da NR 01, deve conter: • projeto da área de vivência do canteiro de obras e de eventual frente de trabalho; • projeto elétrico das instalações temporárias; • projetos dos sistemas de proteção coletiva elaborados por profissional legalmente habilitado; • projetos dos Sistemas de Proteção Individual contra Quedas (SPIQ) e relação dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Todos os documentos citados na seção 2.2, além daqueles de capacitação dos trabalhadores que exercem determinada função. Não há, varia conforme início e término das atividades da obra. Responsável pela elaboração Responsável pela implementação Obrigatoriedade Etapas/fases/desenvolvimento Estrutura Documentos relacionados Periodicidade ! Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2020; Gomes; Domingues Jr.; Dias, 20--. 60 Análise e gerenciamento de risco O PPRA, PCMSO e PCMAT foram os três programas analisados nesta seção. Apesar de não serem um programa propriamente dito, cabe citar ainda a existência dos Serviços Especializados em Engenharia de Segu- rança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Os SESMT são previstos na NR 04, possuem a finalidade de promover a saúde e proteger a integri- dade do trabalhador no local de trabalho e são formados por médicos do trabalho, engenheiros de Segurança do Trabalho, técnicos de Segu- rança do Trabalho, enfermeiros do trabalho e auxiliares ou técnicos em enfermagem do trabalho, conforme prescrições da NR 04 (BRASIL, 2016). 2.4 EPI Vídeo Ao se falar de riscos, naturalmente, aborda-se o assunto equipa- mento de proteção individual (EPI) 3 . A norma de referência do EPI é a NR 06 (Equipamento de Proteção Individual – EPI), inicialmente publicada em 1978 e, após várias revisões, com sua última atualização em 26 de outubro de 2018. EssaNR diz que o EPI é “todo dispositivo ou produ- to, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho” (BRASIL, 2018a, p. 1). É muito importante estabelecer que o EPI é uma medida de caráter ativo e individual. Em outras palavras, o uso desse equipamento de- pende do trabalhador, de sua ação e da sua voluntariedade em cum- prir a determinação de usá-lo. Além disso, o EPI possui a abrangência e cobertura de um único indivíduo e, por vezes, um único espectro do corpo humano (por exemplo, proteção apenas das mãos). A questão fundamental desse tipo de equipamento é quando ele deve ser usado. Na verdade, o EPI é uma medida de proteção precária, especialmente por não prover proteção de acidentes, mas sim preven- ção de lesões. Assim, o EPI não é uma barreira de proteção contra aci- dentes. Por exemplo, o capacete não protege o trabalhador da queda de objetos ou de impactos do corpo contra estruturas, apenas impede a lesão na cabeça derivada de um risco latente ou existente. A NR 06 prevê que o EPI deve ser empregado “a) sempre que as me- didas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implanta- das; e, c) para atender a situações de emergência” (BRASIL, 2018a, p. 1). Muitos são os tópicos relaciona- dos ao EPI, sendo um tema por vezes polêmico e com algumas incongruências de aplicação. Si- milarmente aos demais assuntos deste livro, não se planeja aqui esgotar as possibilidades desse assunto, mas sim fazer uma abordagem geral e especialmen- te desenvolver uma mentalidade prevencionista aplicada ao EPI. 3 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 61 O que muito ocorre é o planejamento e dimensionamento errado do EPI. Por exemplo, é necessário executar determinada tarefa que en- volve um risco; então, estuda-se o melhor EPI para a execução dessa tarefa. Conforme visto, o EPI é uma medida precária, que não trata o risco ou o acidente, mas apenas tenta prevenir uma eventual lesão ou agravo no trabalhador. Por isso, antes de utilizar esse equipamento em uma tarefa, deve-se seguir uma hierarquização de medidas de identifi- cação e mitigação de risco: Implementar proteção individual • Diante da impossibilidade plena de mitigar o risco, deve-se adotar pro- teção individual ativa. • Exemplo: disponibilizar filtros ou respiradores para os trabalhadores. Eliminação da ameaça • A preocupação imediata é eliminar a fonte de um risco. • Exemplo: impedir a formação de fumaça tóxica em processo produtivo. Isolamento da vulnerabilidade • Caso não seja possível evitar o perigo, deve-se afastá-lo da comunidade vulnerável ou evitar seu deslocamento até uma comunidade eventual- mente vulnerável. • Exemplo: isolar a fumaça tóxica de alcançar ambientes em que haja pessoas. Projeto das condições de trabalho • Caso não seja possível evitar o risco, deve-se projetar o ambiente de tra- balho para mitigar o risco, afastando o perigo para outro local que não afete comunidades. • Exemplo: prover aberturas para a exaustão natural da fumaça tóxica do ambiente de trabalho. Implementar proteção coletiva • Caso não seja possível mitigar o risco, deve-se adotar proteção passiva para todos. • Exemplo: instalar sistema de exaustão e/ou ventilação artificial. 62 Análise e gerenciamento de risco Assim, conforme explicado, não se trata apenas de “pagar” o EPI aos tra- balhadores, mas planejar de modo eficiente o ambiente de trabalho. Demanda-se limpar ou pintar determinadas janelas ou paredes a mais de dois metros de altura; logo, é uma atividade com risco de que- da. A ideia inicial é prover escada com um cinturão ou outro EPI do tipo trava-quedas ao trabalhador. Mas por que não utilizar, por exemplo, alavancas telescópicas ou extensores para os equipamentos de limpe- za ou pintura? Dessa forma, mesmo sem o EPI, o risco de queda do trabalhador é integralmente eliminado. Essa opção é a correta a ser dimensionada, e não simplesmente a implementação do EPI. Processo semelhante pode ser aplicado ao ruído ou à poeira. Deve- -se projetar e dimensionar um processo produtivo que não favoreça a produção desses riscos. A adoção de filtros, máscaras ou protetores auriculares deve ser a última opção, quando não há realmente como impedir o risco. Por exemplo, em aeroportos, deve haver o máximo de preparação para bloquear o ruído de aeronaves ou a aproximação do trabalhador ao avião. Ele deve usar o EPI somente quando for estrita- mente necessário, devido à impossibilidade de mitigar o risco. Conforme previsto pela NR 06, o EPI deve ser atrelado ao risco iden- tificado antes de o processo de trabalho se iniciar. Nesse sentido, para cada risco impossibilitado de ser mitigado, deve ser dimensionado um determinado EPI. Compete prioritariamente ao SESMT e, de modo cola- borativo, à CIPA e aos trabalhadores, a prescrição do EPI adequado ao risco de determinada atividade. Cabe obrigatoriamente ao empregador, conforme a NR 06, pro- porcionar gratuitamente aos trabalhadores o EPI adequado ao risco, o qual deve estar em perfeito estado de conservação e funcionamento. Além disso, o empregador deve seguir estas ações: a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade; b) exigir seu uso; c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacio- nal competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação; e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado; f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada; h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser ado- tados livros, fichas ou sistema eletrônico. (BRASIL, 2018a, p. 2) Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 63 Dessa forma, é importante que o empregador disponibilize, além da provisão do EPI, treinamento a respeito do seu uso. Um dos tópicos re- levantes do treinamento, por exemplo, é fazer com que o trabalhador saiba reconhecer o desgaste do EPI para solicitar a sua substituição. De acordo com a NR 06, cabe as seguintes responsabilidades ao em- pregado: “a) usar [o EPI], utilizando-o apenas para a finalidade a que se destina; b) responsabilizar-se pela guarda e conservação; c) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; e, d) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado” (BRASIL, 2018a, p. 2). O EPI também deve ser projetado, dimensionado e atestado na fun- ção para qual foi idealizado. Assim, a NR exige que o EPI seja testado, ensaiado e aprovado. Esses equipamentos devem possuir um Certifica- do de Aprovação (CA), o qual pode ser verificado por qualquer pessoa no Sistema Certificado de Aprovação de Equipamentos de Proteção In- dividual (Caepi). Ainda, segundo a NR 06, “todo EPI deverá apresentar em caracteres indeléveis e bem visíveis, o nome comercial da empresa fabricante, o lote de fabricação e o número do CA, ou, no caso de EPI importado, o nome do importador, o lote de fabricação e o número do CA” (BRASIL, 2018a, p. 3). O Anexo I da NR 04 ainda organiza os EPI em uma lista de acordo com a proteção prevista para o corpo: Equipamentos de proteção da cabeça; por exemplo, capacete e capuz. Equipamentos de proteção dos olhos e da face; por exemplo, óculos, protetor facial e máscara de solda. Equipamentos de proteção auditiva; por exemplo, concha ou plug. Equipamentos de proteção respiratória; por exemplo, respirador purificador de ar não motorizado, respirador purificador de ar motorizado etc. M el am or ry /S hu tte rs to ck Equipamentos de proteção de tronco; por exemplo, vestimentas de proteção, colete à prova de balas, de uso permitido para vigilantes. Equipamentos de proteção de membros superiores; porexemplo, luva, creme contra agentes químicos, manga, braçadeira e dedeira. (Continua) Equipamentos de proteção dos membros inferiores; por exemplo, calçado, meia, perneira e calça. Equipamentos de proteção do corpo inteiro; por exemplo, macacão e vestimenta de corpo inteiro. Equipamentos de proteção contra queda de diferença de nível; por exemplo, cinturão com dispositivo trava-queda e cinturão de segurança com talabarte. Como foi citado no início desta seção, não se esgota o assunto aqui e ainda há muitos pontos de estudo sobre o EPI. Uma das ideias primor- diais que deve ser entendida é a de que o EPI é uma medida precária de proteção que não previne acidentes, mas sim lesões. Além disso, ele é uma medida de proteção ativa, dependendo da ação e voluntariedade do usuário para que tenha os efeitos esperados. A sua não utilização ou má utilização compromete seriamente a proteção esperada; por isso, sempre será uma opção menos prioritária à implementação de proteção coletiva. 2.5 EPC Vídeo Os equipamentos de proteção coletiva (EPC) são formados por sis- temas, equipamentos, partes de equipamentos, dispositivos ou com- ponentes que visam mitigar riscos ou prevenir lesões em um conjunto de trabalhadores. Assim como o EPI, o EPC precisa ser projetado e di- mensionado de maneira formal, necessitando por vezes de um projeto. Além disso, ele precisa estar previsto no PPRA e/ou no PCMAT. Conforme visto na seção anterior, o EPC tem prioridade de instala- ção em detrimento do EPI. Os EPC possuem a característica de serem passivos, ou seja, não dependem da ação ou da vontade do trabalha- dor. Esse é um dos grandes benefícios dos EPC; por exemplo, as ban- dejas, ou bandejões, de proteção contra a queda de objetos protegem o trabalhador de maneira passiva, mesmo que este se coloque em local de risco de queda de objetos. Mais uma vantagem é que, mesmo diante da involuntariedade de alguns trabalhadores em aderir às medidas protetivas recomenda- das, a proteção é efetiva. Por exemplo, em ambientes com alguma partícula perigosa, mesmo que o trabalhador se coloque negli- Figura 3 Bandeja, ou bandejão, con- jugada à proteção de rede, para prevenção de queda de objetos. Ai sy aq ilu m ar an as /S hu tte rs to ck 64 Análise e gerenciamento de risco Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 65 gentemente em ambiente com risco de contaminação respiratória, um sistema de ventilação pode oferecer proteção a ele sem a aderência deste e sem ele estar plenamente ciente de que está sendo protegido. Além disso, outro ganho do EPC é que ele oferece uma proteção coletiva, visto que é planejado para oferecer proteção a um grupo de trabalhadores. Novamente, pode-se ilustrar tal condição com a ban- deja e o capacete: enquanto ela protege o corpo todo de um grupo de trabalhadores contra a queda de objetos, o capacete pode proteger somente a cabeça de um único trabalhador. Logo, demonstra-se a me- lhor eficácia e eficiência do EPC diante do EPI. Também não há uma norma específica de EPC. A NR 9 e a NR 18 apre- sentam algumas prescrições quanto a esse equipamento, especialmen- te no que diz respeito ao dimensionamento, ao projeto e à instalação. A implementação de EPC envolve três medidas, em hierarquia: eliminar ou reduzir a utilização ou a formação de agentes prejudiciais à saúde; prevenir a liberação ou disseminação desses agentes no ambiente de trabalho; e reduzir os níveis ou a concentração deles nesse ambiente. Ainda, a implementação de EPC deve ser precedida de treinamento aos empregados, de modo que o EPC sirva eficientemente ao propósito para o qual foi projetado. Por fim, esses equipamentos devem ser pro- jetados por um profissional legalmente habilitado, e os desenhos e pro- jetos devem estar sempre à disposição para a consulta (BRASIL, 2019b; BRASIL, 2020). Ilustram-se a seguir alguns exemplos de EPC. Fi sh Co ol is h/ M ot or am a/ M ilt a/ n an m ul ti/ Sh ut te rs to ck Umidificação artificial em ambientes com presença exacerbada de poeira. Sistema de detecção de incêndio ou de detecção de gases perigosos, como vazamento de gás cloro. Sinalização de perigos ou de saídas de emergência. Proteção de aberturas verticais ou horizontais, como rede e outros fechamentos. Proteção em máquinas que envolvem cortes ou eventuais esmagamentos. Bloqueio de disjuntores, para evitar ativamentos inadequados e acidentais durante a manutenção. (Continua) O livro EPI e EPC é um ma- terial de estudo bem com- pleto que trata da higiene e da segurança do trabalho. Ele foi elaborado com um texto direto, objetivo, bem organizado e que aborda de maneira abrangente o assunto EPI e EPC. Além disso, a obra está disposta em uma forma bem didáti- ca, com textos que motivam o leitor a revisar o conteúdo e verificar a aprendizagem, além de possuir diversos exemplos ilustrados de EPI e EPC. BELTRAMI, M.; STUMM, S. Curitiba: Instituto Federal Do Paraná – Educação a Distância, 2018. Disponível em: http://proedu. rnp.br/handle/123456789/1428. Acesso em: 19 mar. 2020. Livro 66 Análise e gerenciamento de risco Sistema de aterramentos em instalações elétricas. Ventilação ou exaustão contra temperaturas altas ou contaminantes em ambiente de trabalho. Uma situação rotineira e errada é a indicação imediata de EPI pelo empregador ou responsável pela tarefa de trabalho a ser realizada. Por vezes, o EPI é fundamental, mas cabe relembrar que seu emprego não é a medida de proteção primária. O objetivo de qualquer análise de risco é identificar, mitigar e tratar o risco, e o EPI somente é um meio de prevenir lesões ou agravos ao trabalhador. Por isso, o EPC se mostra como medida antecessora à aplicação do EPI. CONSIDERAÇÕES FINAIS No caminho do estudo dos riscos inerentes ao ambiente de trabalho, foram verificados a legislação brasileira, os principais documentos e os programas de Segurança do Trabalho. Ainda, pontuaram-se os principais programas para saúde do trabalhador e mitigação de riscos. Por fim, os EPI e EPC foram apresentados, lembrando sempre de que EPI não é a so- lução para tratamento de riscos, mas apenas uma forma de evitar lesões. Dessa forma, acredita-se que você será capaz, após estudar este capítulo, de pontuar os aspectos básicos da Segurança do Trabalho, especialmente formas de identificar, mitigar e tratar riscos. ATIVIDADES 1. Em determinado ambiente de trabalho, atestou-se um barulho exacerbado devido à proximidade a uma oficina de veículos. De modo a reduzir o estresse causado por esse ruído nos trabalhadores, optou-se por implementar protetor auditivo de inserção para proteção do sistema auditivo (plugs). A decisão foi correta? 2. Em determinado ambiente de trabalho, incomodado pela luz solar que passa pela janela e incide sobre seus olhos, e após crises constantes de dor de cabeça, um trabalhador decidiu comprar óculos escuros para usar durante o trabalho. Ele agiu assim por entender que os óculos não poderiam ser considerados equipamento de proteção Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 67 individual (EPI). Avalie essa situação e responda: os óculos podem ser vistos como um EPI? Foi o procedimento correto? 3. Uma empresa denominada Valix Serviços de Limpeza não possui, em seu rol de atividades previstas no CNPJ, a atividade de segurança privada, mas começou a prover esse serviço em eventos de recepção. Ocorreu de um vigilante se machucar seriamente após tentar conter um conflito em um evento, e o empregador alegou que não houve irregularidade nessa ocorrência. Avalie essa situação e responda: o empregador está correto? Por quê? REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF. 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em 13 mar. 2020. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Diário Oficial da União, PoderExecutivo, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ del5452.htm. Acesso em: 13 mar. 2020. BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 set. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080. htm. Acesso em: 13 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-01: disposições Gerais. Brasília: MTE, 2019a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-01.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-04: serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Brasília: MTE, 2016. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/ NR-04.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-06: equipamento de proteção individual – EPI. Brasília: MTE, 2018a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov. br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-06.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-07: programa de controle médico de saúde ocupacional. Brasília: MTE, 2018b. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-09: programa de prevenção de riscos ambientais. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit.trabalho. gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-18: condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção. Brasília: MTE, 2020. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-18- atualizada-2020.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020. GOMES, P. C. dos R.; DOMINGUES JR., L. R. P.; DIAS, G. R. Documentação para a engenharia de segurança do trabalho. Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 20--. MATTOS, U. A. de O.; MÁSCULO, F. S. (org.). Higiene segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. NORMAS regulamentadoras – português. Escola Nacional da Inspeção do Trabalho. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-menu/ sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default. Acesso em: 13 mar. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm 68 Análise e gerenciamento de risco 3 CIPA Em continuação ao estudo da mitigação de riscos inerentes ao ambiente de trabalho, apresentaremos um instrumento que é estruturado pela experiência do trabalhador: a CIPA. Por ser formada usualmente por operadores do processo produtivo, ela pode subsidiar oportunidades relevantes de segurança, conforto e bem-estar no ambiente de trabalho. Então, vamos verificar neste capítulo o funcionamento, a base legal e as atribuições da CIPA. 3.1 O que é uma CIPA? Vídeo A sigla CIPA significa Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e, por vezes, seus operadores são chamados de cipeiros. Basicamente, ela é um instrumento para a prevenção de acidentes e doenças, espe- cialmente por meio da identificação de riscos. Outra forma de enten- der melhor a CIPA é saber que essa é uma comissão formada por pessoas que estão atuando no ambiente de trabalho com o objetivo de melhorar a segurança deste. A CIPA tem sua origem relatada no ano de 1921, inicialmente idea- lizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo um dos frutos da Revolução Industrial. No Brasil, ela teve seu embrião no go- verno Getúlio Vargas, em 1944, pelo Decreto-Lei n. 7.036, de 10 de no- vembro de 1944. O objetivo era estimular o interesse do trabalhador em questões de segurança. Esse Decreto-Lei reformava a Lei de Aci- dentes do Trabalho e previa a descrição a seguir para a CIPA. Leitura Não há como falar de CIPA sem conhecer a principal normatização que há no Brasil sobre o assunto: a Norma Regu- lamentadora 05. É muito importante que você leia a norma ao menos uma vez para entender o processo geral de imple- mentação da CIPA. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-05.pdf. Acesso em: 31 mar. 2020. CIPA 69 Art. 82. Os empregadores, cujo número de empregados seja superior a 100, deverão providenciar a organiza- ção, em seus estabelecimentos, de comissões internas, com representantes dos empregados, para o fim de estimular o interesse pelas questões de prevenção de acidentes, apresentar sugestões quanto à orientação e fiscalização das medidas de proteção ao trabalho, reali- zar palestras instrutivas, propor a instituição de concur- sos e prêmios e tomar outras providências, tendentes a educar o empregado na prática de prevenir acidentes. (BRASIL, 1944) A norma de referência da CIPA é a Norma Regulamentadora (NR) 05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. O objetivo previsto nessa NR quanto à CIPA é prevenir acidentes e doenças relacionados ao tra- balho, conforme podemos ver a seguir. 5.1 A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA – tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preser- vação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. (BRASIL, 2019a, p. 1) 1 A composição da CIPA será detalhada logo mais, mas é importante desde já pontuar que ela é formada por empregados e não por es- pecialistas ou profissionais de Segurança e Medicina do Trabalho. Em outras palavras, por vezes, na CIPA, não haverá a visão do especialis- ta no processo de aperfeiçoamento da segurança, mas sim a percep- ção daqueles que executam parte do processo produtivo. Assim, essa comissão visa envolver e trazer a contribuição dos trabalhadores no processo de segurança do ambiente de trabalho, especialmente na identificação de riscos. A identificação do risco é parte fundamental nesse processo, pois é a base da prevenção de acidentes. Entretanto, a CIPA, certamente, pode contribuir também para melhores condições do ambiente de tra- balho, não somente em questão de risco, mas com outras melhorias, como maior conforto, bem-estar e impulso na produtividade, principal- mente pela experiência operária. A NR 05 foi inicialmente ela- borada em 6 de julho de 1978, passando por diversas revisões, sendo a última de 31 de julho de 2019. Atualmente, ela é revisada pelas portarias da Secretaria Es- pecial de Previdência e Trabalho (SEPRT) e sua fiscalização cabe à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) local. Saiba mais Observe que essa citação é do texto revisado de 2019. Sempre verifique no site do Governo Federal a última versão das NR. 1 70 Análise e gerenciamento de risco Estudo de caso Em um certo local de trabalho com gases, os empregados trocavam de roupa no trabalho e as deixavam sempre no armário do vestiário, evitando lavar em casa, para não ocorrer eventual contaminação e risco no ambiente doméstico. Assim, o vestiário poderia ficar insalubre e os funcionários poderiam estar sujeitos a riscos relacionados à falta de lavagem das roupas. Percebendo a situação, um dos cipeiros sugeriu que os armários fossem transferidos para um local arejado e fora do ambiente de repouso. Vendo ainda a importância do tema, o empregador também instalou uma máquina industrial (profissional) de lavar roupas no trabalho, promovendo tanto a segura doméstica quanto o uso permanente de roupas limpas no ambiente de trabalho. Tal situação foi promovida porque a percepção de quem executa o serviço foi ouvida. Nesse sentido, pode-se dizer que a CIPA oportuniza uma ampliação da voz do trabalhador na segurança do ambiente de trabalho. O que incomoda e o quanto incomoda o trabalhador é discutido dentro das políticas de segurançada empresa, mesmo que alguns aspectos suscitados, como demandas dos empregados, não estejam previstos em uma lei ou NR. É, portanto, um diagnóstico informal, mas muito válido. Apesar de ser informal, é importante lembrar que o estabeleci- mento da CIPA é uma determinação legal e não opcional. Além disso, a CIPA promove uma validação consensual. Ou seja, aquilo que é implementado por especialistas ou profissionais da SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho – pode ser ratificado ou encaminhado a aperfeiçoamento pela voz dos trabalhadores. 3.2 Aspectos legais da CIPA Vídeo Apresentada uma noção geral da CIPA, passa-se a apontar sua base legal. É muito importante que o leitor entenda que ela não é apenas uma sugestão de prática, mas sim uma determinação legal. A Consoli- dação das Leis do Trabalho (CLT) – Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943 – institui a obrigatoriedade da CIPA, compondo-a com duas representações: empregados e representantes do empregador. Além disso, prevê garantia (condicionada) do emprego e outras prescrições, como regramento de eleição da CIPA. Art. 163 - Será obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de confor- midade com instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas. CIPA 71 Parágrafo único - O Ministério do Trabalho regulamen- tará as atribuições, a composição e o funcionamento das CIPA (s). Art. 164 - Cada CIPA será composta de representantes da empresa e dos empregados, de acordo com os crité- rios que vierem a ser adotados na regulamentação de que trata o parágrafo único do artigo anterior. § 1º - Os representantes dos empregadores, titulares e suplentes, serão por eles designados. § 2º - Os representantes dos empregados, titulares e suplentes, serão eleitos em escrutínio secreto, do qual participem, independentemente de filiação sindical, ex- clusivamente os empregados interessados. § 3º - O mandato dos membros eleitos da CIPA terá a duração de 1 (um) ano, permitida uma reeleição. § 4º - O disposto no parágrafo anterior não se aplica- rá ao membro suplente que, durante o seu mandato, tenha participado de menos da metade do número de reuniões da CIPA. § 5º - O empregador designará, anualmente, dentre os seus representantes, o Presidente da CIPA e os empre- gados elegerão, dentre eles, o Vice-Presidente. Art. 165 - Os titulares da representação dos emprega- dos nas CIPA (s) não poderão sofrer despedida arbitrá- ria, entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro. Parágrafo único – Ocorrendo a despedida, caberá ao empregador, em caso de reclamação à Justiça do Tra- balho, comprovar a existência de qualquer dos motivos mencionados neste artigo, sob pena de ser condenado a reintegrar o empregado. (BRASIL, 1943) Conforme demonstrado, a CLT apresenta alguns dispositivos legais, mas encaminha detalhes do funcionamento da CIPA para instruções e regulamentações expedidas pelo Ministério do Trabalho, as quais for- mam a NR 05. Observa-se que a CIPA deve ser constituída para todos os estabele- cimentos, com ou sem fins lucrativos, que possuem empregados sob o regime da CLT. A NR 05 (BRASIL, 2019a) relata ainda que as seguintes organizações devem constituir a CIPA e mantê-la em regular funciona- mento: empresas privadas ou públicas, sociedades de economia mista, 72 Análise e gerenciamento de risco órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes, associações recreativas, cooperativas e outras instituições que admi- tam trabalhadores como empregados CLT. O dimensionamento (número de membros titulares e suplentes) da CIPA está previsto no Quadro I da NR 05, o qual usa como parâmetros de dimensionamento o agrupamento/grupo de setores econômicos pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e o nú- mero de empregados do estabelecimento. É importante frisar que a CIPA é dimensionada não pelo grupo de risco, mas sim pela atividade econômica desenvolvida no estabelecimento (BRASIL, 2019a). Essas informações são cruzadas, de acordo com o Quadro I, para se chegar ao número de membros da CIPA. Para atividades em que há um número pequeno de trabalhadores, usualmente menos que 20, não há especificação do número de mem- bros da CIPA. Nesses casos, a NR 05 (BRASIL,2019a, p. 1) prevê a indi- cação, pelo empregador, “de um responsável pelo cumprimento dos objetivos desta NR, podendo ser adotados mecanismos de participação dos empregados, através de negociação coletiva”. Destaca-se ainda o que Camisassa (2015, p. 147) afirma sobre esse caso: a participação dos empregados na indicação do designado pode- rá ser definida por negociação coletiva. Ressalto que o designado da CIPA deve ser empregado do estabelecimento, não podendo ser estagiário, nem o próprio empregador, uma vez que estes não possuem vínculo celetista com a empresa. Entendo que, por analogia, as determinações referentes à CIPA também se esten- dem ao designado, sempre que aplicáveis. É importante destacar alguns detalhes e interpretações da NR 05: a CIPA deve ser constituída por estabelecimento e não por razão so- cial, ou seja, se em uma cidade há três mercados de uma mesma rede em diferentes localizações, cada estabelecimento deve possuir uma CIPA. Em locais onde haja empregados celetistas e outros servidores públicos, em regime estatutário, a CIPA será dimensionada levando em consideração apenas a quantidade de funcionários celetistas; e caso haja trabalhadores de diferentes empregadores no mesmo estabeleci- mento, a CIPA ou o representante designado para fazer as funções dela devem agir e colaborar de maneira integrada. CIPA 73 5.3 As disposições contidas nesta NR aplicam-se, no que couber, aos trabalhadores avulsos e às entidades que lhes tomem serviços [...]. [...] 5.46 Quando se tratar de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviços, considera-se estabelecimento, para fins de aplicação desta NR, o local em que seus em- pregados estiverem exercendo suas atividades. 5.47 Sempre que duas ou mais empresas atuarem em um mesmo estabelecimento, a CIPA ou designado da empresa contratante deverá, em conjunto com as das contratadas ou com os designados, definir mecanismos de integração e de participação de todos os trabalhado- res em relação às decisões das CIPA existentes no esta- belecimento. (BRASIL, 2019a, p. 1 e 6) Em casos em que um estabelecimento contrata outra empresa, por exemplo, uma prestadora de serviços, cada um deverá constituir uma CIPA para seus empregados. Camisassa (2015, p. 148) também aborda esse assunto: no caso de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviços, considera-se estabelecimento, para fins de aplicação da NR5, o local em que seus empregados estiverem exercendo suas ati- vidades. Sendo assim, tais empresas devem constituir CIPA (ou indicar designado) nos estabelecimentos onde seus empregados prestarem serviço. A regra é esta: estabelecimentos em que haja empregados de di- ferentes empregadores (por exemplo, uma fábrica que terceiriza a mão de obra de manutenção dos equipamentos), deve haver uma CIPA para cada empregador: uma para os empregados que realizam a atividade-fim da fábrica e uma para os trabalhadores contratados da manutenção. Cabe ressaltar que as CIPAs devem ter coordenação e co- laboração entre si e não planejamentos isolados. Destaca-se ainda a previsão da NR 05 quanto ao responsável de- signado pela CIPA para um grupo de trabalhadores com um número menor que 20 empregados. Por vezes, as ações da CIPA em um grupo menor de trabalhadores, especialmente contratados dentro de uma atividade econômica maior, são executadas por um responsável desig- nado e não por uma CIPA com diversos membros. 74 Análise e gerenciamento de risco A NR 05 também disciplina, em diversos pontos, o processo de esco- lha dos membros da CIPA. O objetivo é que ela tenha uma composiçãoparitária, isto é, um equilíbrio entre empregados e membros indica- dos pelo empregador. Por vezes, considerando os membros titulares e reservas e o dimensionamento previsto no Quadro I da NR 05, tal composição não será exatamente igual em número, mas manterá um equilíbrio. O processo de escolha é por votação pelo lado dos emprega- dos, e por indicação pelo lado do empregador, conforme regras espe- cíficas da CLT e da NR 05. Há uma garantia de emprego prevista na CLT para os representantes dos empregados que participam do processo de eleição e são eleitos como membros da CIPA (BRASIL, 2019a). Contu- do, isso não ocorre de maneira absoluta, vide artigo 165 da CLT. A NR 05 também prevê a obrigatoriedade de um treinamento para os membros da CIPA. Nesse ponto, é importante fazer uma diferen- ciação entre a CIPA e o SESMT, pois eles não são serviços similares ou substitutos entre si. O SESMT é um serviço de promoção de saúde com especialistas, tais como médicos, engenheiros ou técnicos de Segu- rança do Trabalho, enfermeiros e auxiliares de enfermagem etc. Já os membros da CIPA não são profissionais com especialização ou habilita- ção em Segurança ou Medicina do Trabalho. A CIPA não se subordina ao SESMT, mas possui com este uma relação de colaboração na pro- moção de segurança, conforto e bem-estar no ambiente de trabalho, podendo propor medidas de proteção para ele. Além disso, a CIPA deve procurar assessoramento do SESMT sempre que possível e este deve assessorar a CIPA sempre que demandado. A NR 05 fixa as seguintes prescrições para o treinamento dos mem- bros da CIPA, aqui expostas de maneira resumida. Quadro 1 Treinamento dos membros da CIPA • Realização do treinamento antes da data da posse. • Em caso de CIPA de primeiro mandato, prazo máximo de 30 dias a con- tar da data da posse. • Titulares e suplentes devem participar do treinamento. • Caso seja inexistente uma CIPA, mas haja um designado, este deve pas- sar por treinamento anual. Tempo do treinamento Quem participa? Ni kW B/ M AK SI M A NK UD A/ S ur fs Up /S hu tte rs to ck (Continua) A garantia de emprego prevista na CLT vale somente para os can- didatos e membros da CIPA dos representantes dos empregados, e não para membros indicados pelo empregador. Atenção CIPA 75 • Estudo do ambiente e das condições de trabalho, bem como dos riscos originados do processo produtivo. • Metodologia de investigação e análise de acidentes e doenças do trabalho. • Noções sobre acidentes e doenças do trabalho decorrentes da exposi- ção aos riscos existentes na empresa. • Noções sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) e medi- das de prevenção. • Noções sobre as legislações trabalhista e previdenciária relativas à segu- rança e à saúde no trabalho. • Princípios gerais de higiene do trabalho e de medidas de controle dos riscos. • Organização da CIPA e outros assuntos necessários ao exercício das atribuições da Comissão. • Deve possuir carga horária mínima de 20 horas. • Não pode exceder 8 horas diárias. • Deve ser durante o horário de expediente • Cabe ao empregador escolher a entidade ou profissional que ministrará o treinamento, mas a CIPA deve ser ouvida formalmente. • O treinamento pode ser realizado pelo SESMT da empresa. Tópicos do treinamento Execução do treinamento Quem executa? Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2019a. Nem sempre a NR 05 será a base legal para o funcionamento da CIPA. Em algumas atividades produtivas, há diferen- tes especificações e até mesmo normas específicas para um plano de prevenção de acidentes e mitiga- ção de riscos. A auditora fiscal do trabalho Mara Camisassa (2015, p. 142) diz a respeito dessas ativi- dades produtivas específicas que “a NR 5 somente será aplicada a esses setores nos casos de omissão das respectivas normas setoriais. No caso de conflito entre o disposto na NR 5 e na norma setorial, preva- lece o comando desta última. Nesses setores a NR 5 deve ser utilizada de forma subsidiária”. É muito importante que a CIPA funcione confor- me sua previsão legal e normativa. Ela apresenta um padrão mínimo de segurança que deve ser cumpri- Saiba mais As seguintes atividades produtivas possuem normas setoriais de funcionamento da CIPA ou de um planejamento similar à CIPA: • Construção civil: NR 18 – Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção; • Mineração: NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração; • Trabalho portuário: NR 29 – Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário; • Trabalho aquaviário: NR 30 – Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário; • Trabalho rural: NR 31 – Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura. 76 Análise e gerenciamento de risco do, mas o empregador também pode adotar parâmetros mais desen- volvidos e aperfeiçoados. Desde a sua concepção até a nova eleição dos membros da CIPA, esta deve se basear na CLT e na NR 05, ou na NR específica da atividade produtiva desenvolvida. 3.3 Organização e funcionamento da CIPA Vídeo Compreendidos os princípios e a base legal da CIPA, passa-se a des- crever então sua organização e funcionamento. Como já foi estudado, essa comissão compõe-se de representantes do empregador e dos empregados, os quais são selecionados para determinados cargos na CIPA. Os cargos são: presidente, vice-presidente, secretário, membros efetivos e membros suplentes. As responsabilidades e tarefas de cada cargo estão especificadas na figura a seguir. Figura 1 Cargos, funções e tarefas da CIPA PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE SECRETÁRIO MEMBROS • Indicado pelo empregador; • Componente da CIPA; • Convoca membros para reunião; • Coordena as reuniões da CIPA; • Encaminha ao empregador e ao SESMT as decisões da CIPA; • Informa ao empregador os trabalhos da CIPA; • Coordena e supervisiona as atividades de secretaria; • Delega funções ao vice- presidente. • Eleito pelos empregados; • Componente da CIPA; • Executa tarefas delegadas; • Substitui o presidente. • Indicado pelos membros da CIPA; • Não precisa ser componente da CIPA, nesse caso, sua indicação precisa ser aprovada pelo empregador; • Acompanha reuniões; • Redige atas; • Prepara correspondências etc. • Comparecem às reuniões; • Executam tarefas delegadas. Co ol Ve ct or St oc k/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor com base em Brasil, 2019a. Observa-se que o presidente e o vice-presidente têm as seguintes atribuições conjuntas: cuidar para que a CIPA tenha condições ne- cessárias para o desenvolvimento de seus trabalhos e tenha os objeti- vos propostos alcançados; delegar tarefas; promover relacionamento da CIPA com o SESMT; divulgar ações e decisões da CIPA; constituir co- missão eleitoral; entre outros (BRASIL, 2019a). CIPA 77 Contudo, não são somente esses cargos que têm responsabilida- des na constituição da CIPA. Além do empregador, todos os empre- gados a constroem, mesmo os que não são membros. O empregador deve, conforme item 5.17 da NR 05 (BRASIL, 2019a, p. 3), “proporcionar aos membros da CIPA os meios necessários ao desempenho de suas atribuições, garantindo tempo suficiente para a realização das tarefas constantes do plano de trabalho”. Cabe aos trabalhadores participarem na eleição, além de colabo- rarem com a gestão da CIPA, indicando a ela, ao SESMT e ao empre- gador situações de risco, apresentando sugestões para melhoria das condições de trabalho e observando as recomendações de Segurança do Trabalho (BRASIL, 2019a). Estudo de caso Em um determinado escritório, com CIPA constituída, um estagiário exerce a tarefa de transportar processos e documentos em um carrinho. Observando a figura a seguir, podemos questionar se esse seria o caso de uma intervenção da CIPA. Figura 2 Estagiário transportando documentos em um carrinho Vi kt or iia A da m ch uk /S hu tte rs to ck Apesar de o estagiário não ser um empregado, a situação ilustrada demonstrarisco de queda e acidente em potencial. Logo, deve ser alvo de análise e intervenção direta não somente por parte da CIPA, mas de qualquer trabalhador que identificar o risco. O próprio estagiário deve ter acesso amplo e facilitado à CIPA e passar a demanda para tratamento do risco. Qualquer trabalhador, empregado ou não, pode demandar à CIPA a análise do caso e a adoção de atitudes, e qualquer membro dessa comissão pode introduzir o assunto em uma reunião ordinária. O presidente da CIPA pode demandar a seus membros a inspeção e vistoria dos postos e frentes de trabalho que lidam com transportes de cargas ou de situações em que os cadarços ofereçam riscos potenciais. Além disso, a CIPA pode indicar dicas de vestuário aos trabalhadores e sugerir a disponibilização de equi- pamento de proteção individual (EPI) do tipo calçados de proteção, com chapa de proteção e sem cadarços, a todos os trabalhadores para evitar que as rodas eventualmente machuquem o pé/dedos do estagiário ou prendam parte de vestuários e para que riscos de queda sejam prevenidos. O Governo Federal disponibiliza o Manual CIPA: a nova NR 5 no site da Escola Nacional da Inspeção do Trabalho (Enit). O texto, que data de junho de 2016, trata da organização da CIPA e explica as motivações e os novos textos da NR 05, além de fazer diversos comentários para cada item dela. Vale a pena a leitura. Disponível em: https://enit.trabalho. gov.br/portal/images/Arquivos_ SST/SST_Publicacao_e_Manual/ CGNOR---MANUAL-DA-CIPA.pdf. Acesso em: 31 mar. 2020. Leitura 78 Análise e gerenciamento de risco Por fim, destaca-se que a CIPA deve ter reuniões ordinárias mensal- mente, realizadas durante o expediente, de acordo com o calendário e plano de trabalho deliberado entre os membros. A NR 05 prevê três casos de reuniões extraordinárias: eventual denúncia de situação de risco grave e iminente que demande medidas corretivas emergenciais; quando ocorrer acidente de trabalho grave ou fatal; e quando houver solicitação expressa de uma das representações. Mesmo sendo composta por vários membros das duas representa- ções (dos empregadores e dos empregados), é importante destacar o que Camisassa (2015, p. 153) esclarece com relação às reuniões da CIPA: as decisões da CIPA serão tomadas preferencialmente por con- senso. Caso não haja consenso, e frustradas as tentativas de negociação direta ou com mediação, será instalado processo de votação, registrando-se a ocorrência na ata da reunião. Vejam então que, somente se não houver consenso na tomada de deci- sões, será realizada votação, de forma subsidiária. Logo, percebe-que o processo de funcionamento recomendado para a reunião dos membros da CIPA não é de divisões, divergência ou conflitos, mas sim de colaboração mútua, para a segurança global do ambiente de trabalho. 3.4 Atribuições da CIPA Vídeo Conforme explicado no início deste capítulo, a CIPA tem como obje- tivo prevenir acidentes e doenças decorrentes do ambiente de traba- lho. Para alcançá-lo, a NR 05 traça atribuições bem definidas no item 5.16. É muito importante que se entenda que a instituição da CIPA tem como foco a identificação de riscos, mas não é responsável por avaliar (quantitativamente) e implementar medidas de mitigação e tratamento de riscos. Tais tarefas competem a um serviço profissional: a SESMT. É importante ressaltar que a CIPA tem um relacionamento de colabora- ção com o SESMT, devendo ambos trabalhar juntos e em sincronia para a promoção da Segurança do Trabalho. CIPA 79 Fomentar ações preventivas. Participar da avaliação das prioridades de ações preventivas. Realizar avaliação do cumprimento das metas do plano de trabalho. Divulgar informações de segurança e saúde no trabalho. Requerer ao SESMT ou ao empregador a paralisação de máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente. Divulgar e promover o cumprimento das NRs. Participar de análise de causas das doenças e acidentes de trabalho. Requisitar ao empregador e analisar informações relativas à segurança e saúde dos trabalhadores. Identificar riscos do processo de trabalho. Elaborar o mapa de riscos. Atuar com base na participação dos trabalhadores. Atuar assessorada pelo SESMT. Elaborar plano de trabalho. Participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção. Realizar verificações no ambiente de trabalho. Discutir as situações de risco identificadas. Participar no planejamento de alterações no ambiente de trabalho. Colaborar na elaboração e implementação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e Programa de Proteção de Riscos Ambientais (PPRA). Divulgar e promover outras prescrições que visem à segurança, ao bem-estar e ao conforto no ambiente de trabalho. Propor medidas de proteção. Requisitar à empresa as cópias das comunicações de acidente de trabalho (CAT) emitidas. Promover em conjunto com o SESMT a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT). Participar de campanhas de prevenção da Aids Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2019a. Figura 3 Atribuições da CIPA previstas na NR 05 O plano de trabalho a ser desenvolvido pela CIPA envolve, entre outras prescrições, a elaboração de um cronograma de tarefas, in- cluindo metas que fomentem ações de caráter preventivo a acidentes e doenças decorrentes do ambiente de trabalho. Nesse sentido, o em- pregador é responsável por prover meios e condições para que a CIPA cumpra seu plano de trabalho (BRASIL, 2019a). 80 Análise e gerenciamento de risco Como visto na Figura 3, outra função da CIPA é participar da ela- boração e revisão de outros programas de promoção de segurança do trabalho, como o PPRA e o PCMSO, sempre em colaboração com o SESMT. A CIPA deve participar da discussão dos resultados do relató- rio analítico do desenvolvimento do PCMSO e do documento-base do PPRA, o qual deve ser apresentado formalmente à CIPA. Além disso, ela deve ser ouvida na recomendação de EPI, elaborada pelo SESMT. Há ainda várias referências à CIPA nas demais NR. Veja alguns exem- plos a seguir. NR 04 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho 4.12 Compete aos profissionais integrantes dos Servi- ços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho: [...] e) manter permanente relacionamento com a CIPA, va- lendo-se ao máximo de suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5; [...] 4.13 Os Serviços Especializados em Engenharia de Segu- rança e em Medicina do Trabalho deverão manter en- trosamento permanente com a CIPA, dela valendo-se como agente multiplicador, e deverão estudar suas observações e solicitações, propondo soluções cor- retivas e preventivas, conforme o disposto no subitem 5.14.1. da NR 5. (BRASIL, 2016, p. 4, grifos nossos) NR 06 – Equipamento de Proteção Individual – EPI 6.5 Compete ao Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT, ou- vida a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA e trabalhadores usuários, recomendar ao em- pregador o EPI adequado ao risco existente em deter- minada atividade. (BRASIL, 2018a, p. 1, grifos nossos) NR 07 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional 7.4.6.2 O relatório anual deverá ser apresentado e dis- cutido na CIPA, quando existente na empresa, de acor- do com a NR 5, sendo sua cópia anexada ao livro de atas daquela comissão. (BRASIL, 2018b, p. 4, grifos nossos) CIPA 81 NR 09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais 9.2.2.1 O documento-base e suas alterações e com- plementações deverão ser apresentados e discutidos na CIPA, quando existente na empresa, de acordo com a NR-5, sendo sua cópia anexada ao livro de atas desta Comissão. (BRASIL, 2019b, p. 2, grifos nossos) NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos 12.11.2.1 O registro das manutenções deve ficar dis- ponível aos trabalhadores envolvidos na operação, ma- nutenção e reparos, bemcomo à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, ao Serviço de Seguran- ça e Medicina do Trabalho – SESMT e à Auditoria Fiscal do Trabalho. (BRASIL, 2019c, p. 20, grifos nossos) NR 20 – Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis 20.14.2 O plano deve ser revisado: a) por recomendações das inspeções de segurança e/ou da análise de riscos, ouvida a CIPA. (BRASIL, 2019d, p. 11, grifos nossos) Conforme visto, a CIPA deve ter ampla participação na implantação e nos resultados de medidas protetivas e de conforto no ambiente de trabalho. O SESMT, como braço profissional da segurança e saúde do trabalho, deve ter suas ações fundamentadas com subsídios prove- nientes da CIPA. Além disso, o projeto e a implantação de EPI devem sempre ocorrer na presença da CIPA. Por fim, toda e qualquer avalia- ção de soluções de programas de segurança e saúde do trabalho deve ter a CIPA como abalizador. Essas são algumas atribuições previstas em normas da CIPA, especialmente na análise de resultados. 3.5 Mapa de risco Vídeo O mapa de risco é um dos instrumentos que auxilia na identificação de riscos e sua elaboração é de responsabilidade da CIPA. Ele é uma representação gráfica dos riscos existentes em um grupo homogêneo de trabalho, a qual é classificada e ilustrada por cada ambiente de tra- balho. A NR 09 deixa clara a necessidade de um mapa de risco. 82 Análise e gerenciamento de risco 9.6.2 O conhecimento e a percepção que os trabalhado- res têm do processo de trabalho e dos riscos ambientais presentes, incluindo os dados consignados no Mapa de Riscos, previsto na NR-5, deverão ser considerados para fins de planejamento e execução do PPRA em todas as suas fases. (BRASIL, 2019b) Seu objetivo é fazer com que os trabalhadores de um determinado setor estejam cientes dos potenciais riscos derivados da atividade produ- tiva ali existente. Os riscos são representados por círculos e classificados em cores e tamanhos, conforme a avaliação do ambiente de trabalho realizada pela CIPA. Assim, oportuniza-se, de forma permanente, a visua- lização e conscientização de riscos a todo trabalhador que ali permaneça ou passe. O mapa de risco proporciona uma conscientização e seguran- ça e pode favorecer a diminuição de acidentes de trabalho. Pode-se ob- servar como essa classificação é feita no quadro a seguir. Quadro 2 Representações do risco com uma lista exemplificativa, mas não exaustiva Físico Químico Biológico Ergonômico Acidente/mecânico Verde Vermelho Marrom Amarelo Azul Altas temperaturas, baixas tempe- raturas, vibrações, ruídos, pressões anormais, iluminância inadequada e radiações ionizantes. Poeira, fumo, névoa, neblina, gases, vapor e fumaça. Vírus, bactéria, fungo, protozoários, animais. Postura, execução de tarefas repe- titivas, transporte manual de carga, jornada de trabalho, sistematização do processo de trabalho e regula- gem de equipamento. Quedas, materiais perfurocortan- tes, arranjo físico, acondicionamen- to de carga, incêndio e impacto em membros do corpo. Grau de percepção do risco Classificação do risco Tipo Cor Exemplo de risco Pequeno Médio Grande Fonte: Elaborado pelo autor. CIPA 83 O mapa de risco depende de um diagnóstico feito pela CIPA. Portan- to, conhecer o ambiente e processo de trabalho é fundamental, já que não se pode representar o risco sem antes realizar uma identificação eficiente. Outra medida primordial no mapa é escutar os trabalhadores envolvidos. Conforme já esclarecido, a CIPA tem como fundamento a contribuição da experiência e vivência dos empregados. Desse modo, garantir a participação do maior número de trabalhadores é essencial na elaboração desse mapa, mesmo que ela seja informal e subjetiva. A avaliação do ambiente de trabalho basicamente tem três obje- tos: as pessoas, as tarefas e o ambiente de trabalho. A técnica básica para avaliar as pessoas é ouvi-las, saber o que as incomoda e o que proporciona insegurança. A avaliação das tarefas envolve saber o que as pessoas fazem e como fazem, com uma atenção especial aos equi- pamentos e máquinas envolvidos. Por fim, a avaliação do ambiente de trabalho envolve verificar o mobiliário, os espaços físicos e o processo de trabalho em si. Esses são apenas alguns exemplos ilustrativos, mas não exaustivos, do que pode ser avaliado em cada componente do am- biente de trabalho. Identificados os riscos, é necessário localizá-los en- tão no espaço de trabalho e, para isso, é necessária uma planta baixa deste. Não se usa necessariamente um projeto de arquitetura em si; podem ser usados croquis ou desenhos dos ambientes de trabalho. Apesar de a CIPA não ter a obrigação com a quantificação (medição e gradação) de agentes nocivos, após a classificação dos riscos ambien- tais, é necessário expressar o grau de percepção das ameaças. Isso é feito por meio do tamanho dos círculos que expressam o risco. Em se- guida, deve-se identificar e nominar os ambientes, indicar o número de pessoas expostas àquele determinado risco e podendo, também, especificar nominalmente o agente nocivo ou risco presente. Na figura a seguir, é apresentado um exemplo de mapa de risco. 84 Análise e gerenciamento de risco Figura 4 Exemplo de mapa de risco SALÃO DO RESTAURANTE CÂMARA FRIA ÁREA EXTERNA COZINHA VESTIÁRIO LEGENDA Risco Pequeno Risco físico Risco químico Risco biológico Risco ergonômico Acidentes Risco Médio Risco Grande 8 88 4 6 1 Fonte: Elaborada pelo autor. Ka ro lin em es qu ita /W ik im ed ia C om m on s Observe, na Figura 4, o processo de identificação de riscos. Trata-se de uma planta baixa simplificada, ou apenas um croqui, de um restau- rante fictício. Temos a representação de cinco ambientes: salão, cozinha, câmara fria, vestiário e área externa. Cada um tem um círculo represen- tando o risco. O tamanho do círculo identifica o grau de percepção do risco. Por exemplo, na câmara fria, a CIPA identifica um risco ergonômico maior (formas de conduzir e transportar a carga, por exemplo) para os oito funcionários existentes no estabelecimento. Já na cozinha, em um grau de percepção menor de risco, identificam-se quatro tipos de risco, e há apenas um único trabalhador sujeito àquele determinado risco. Ape- sar de ser executado pela CIPA, esse trabalho de mapeamento de risco deve contar com o assessoramento e a colaboração do SESMT, pois o mapa não é elaborado por especialistas em Segurança do Trabalho. CIPA 85 Após todo o processo, o mapa de risco deve ser fixado nos ambien- tes de trabalho, em um local onde todos possam ter acesso à sua vi- sualização. Com o decorrer do tempo, os trabalhadores estarão cientes dos riscos ali existentes e, em um processo natural de validação, ab- sorverão as noções de cuidado. Além disso, em pequenas discussões diárias, com trocas de informações informais, os trabalhadores podem questionar a adequabilidade do mapa de risco existente e, em consen- so, demandar atualizações e revisões. A implantação e a revisão são partes de um processo maior do mapa de risco e devem envolver diversas fases, como as ilustradas a seguir. É importante atentar que o mapa de risco é um processo contí- nuo e permanente. Figura 5 Exemplo de ciclo de elaboração e aperfeiçoamento do mapa de risco Levantamento dos ambientes de trabalho Levantamento do histórico de afastamentos e acidentes no ano Entrevista com os trabalhadores Identificação de riscos Análise de risco, com participação do SESMT e demais programas Elaboração do mapa Apresentação do trabalho Implementação e fixação do mapa Avaliação inicial Acompanhamento Avaliação após um ano Reunião de demandas Fonte: Elaborada pelo autor. Apesar de não haver uma orientação normativa da periodicidade de atualização do mapa de risco, sugere-se que seja revisto a cada mandato da CIPA, ou seja, anualmente. Tal procedimento deve ser realizado sem- 86 Análise e gerenciamento de riscopre, especialmente quando há alteração no ambiente de trabalho ou na atividade executada no local. Além disso, o próprio processo de feedback dos trabalhadores motiva o aperfeiçoamento do mapa de risco. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este capítulo demonstrou a importância da CIPA como uma oportuni- dade para que a voz e a percepção do trabalhador sejam valorizadas na Segurança do Trabalho. O empregador já conta com uma equipe formada por profissionais e especialistas para implementar medidas de segurança e saúde do trabalho: o SESMT. Cabe lembrar que a CIPA não é uma subor- dinada ao SESMT, nem possui a mesma função. Os membros da CIPA não necessitam ter qualificação em Segurança do Trabalho e são escolhidos por meio de indicação (representantes do empregador) e de votação (representantes dos empregados). Além disso, após formalização da escolha, eles precisam passar pelo treinamento pre- visto em norma. Uma das oportunidades favorecidas pela CIPA é trazer a percepção, participação e colaboração dos empregados na construção da segurança, conforto e bem-estar no ambiente de trabalho. O SESMT é um serviço profissional; já a CIPA é uma medida que visa fomentar medidas de proteção e conforto àquilo que é relatado como incômodo ao desenvolvimento das tarefas executadas pelo trabalhador. Seu efeito direto ocorre na segurança, mas, certamente, quando bem executada, a CIPA favorece também a produtividade e o rendimento tão almejados pelo empregador. ATIVIDADES 1. Considere um determinado estabelecimento, sem fins lucrativos, que funciona como clube de lazer, representa servidores públicos dos três órgãos do poder executivo federal e possui mais de 100 empregados celetistas. Alegou-se que, nesse local, não há obrigatoriedade de estabelecer uma CIPA, pelo clube ter sido feito como uma extensão do órgão público e por não se exercer uma atividade visando lucro. Tal alegação é válida? Por quê? 2. Considere um supermercado atacadista (CNAE 46.39-7/01), com 115 empregados. Consulte a NR 05 e dimensione a CIPA desse estabelecimento, especificando a quantidade total de membros efetivos e suplentes. CIPA 87 3. Considere o mesmo mercado atacadista da Atividade 2. O empregador decide abrir mais dois estabelecidos, em locais distintos. Como eles estão no início de suas atividades, terão um número menor de empregados: apenas 25 cada um. Consulte a NR 05 e dimensione a CIPA, especificando a quantidade de membros de cada um dos novos estabelecimentos. 4. Ainda considerando o exemplo da Atividade 2, o sócio do atacadista decidiu terceirizar os serviços de conservação e limpeza predial, contratando uma outra empresa prestadora de serviço que fornece cinco auxiliares de limpeza e um encarregado. O atacadista continuará com seu quadro de 115 empregados inalterado. Quais são as alterações e impactos na CIPA decorrentes dessa contratação? Como seria dimensionada a CIPA nesse novo caso? 5. Em determinada empresa de telemarketing, um grupo de trabalhadores assume um mandato na CIPA disposto a fazer a diferença. Considerando as atribuições da CIPA previstas na NR 05, aponte algumas ações que esses trabalhadores podem planejar e executar. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ del5452.htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Decreto-Lei n. 7.036, de 10 de novembro de 1944. Coleção das Leis do Império do Brasil, Poder Executivo, Rio de Janeiro, RJ, 31 dez. 1944. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del7036.htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-04: Serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Brasília: MTE, 2016. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/ NR-04.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-05: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Brasília: MTE, 2019a. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-05.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-06: Equipamento de Proteção Individual – EPI. Brasília: MTE, 2018a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov. br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-06.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-07: Programa de controle médico de saúde ocupacional. Brasília: MTE, 2018b. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-09: Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-12: Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos. Brasília: MTE, 2019c. Disponível em: https://enit. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm 88 Análise e gerenciamento de risco trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-20: Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis. Brasília: MTE, 2019d. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019. pdf. Acesso em: 19 maio 2020. CAMISASSA, M. Q. Segurança e saúde no trabalho: NRs 1 a 36 comentadas e descomplicadas. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. Análise de risco 89 4 Análise de risco Este capítulo visa apontar algumas das estratégias e técnicas para analisar o risco. Cada técnica possui um enfoque particular nos aspectos do risco, apresentando oportunidades e possibilida- des diferentes em cada processo. Cabe ressaltar que, por vezes, é oportuno utilizar mais de um método ou ferramenta para realizar essa avaliação. 4.1 Análise de risco Vídeo Inicialmente, antes de apresentar técnicas e métodos, é necessário expor alguns conceitos sobre a avaliação de risco em si. O primeiro a ser abordado para a compreensão deste capítulo é o processo de reco- nhecimento e avaliação de risco. Usualmente, esse processo envolve as seguintes expressões: ava- liação de risco e análise de risco. Muitas vezes, elas são usadas como termos similares, mas alguns autores as diferenciam. A palavra ava- liação envolve uma visão mais particular, um exame prático e especí- fico, sendo uma etapa da análise. Assim, a análise de risco seria algo mais abrangente. Muitos autores discorrem sobre a análise de risco e seus aspectos. São vários conceitos e ideias envolvidos. É necessário ter em mente que qualquer análise de risco deve ser conduzida por um profissio- nal ou equipe habilitada. Ter essa ideia em mente é mais importante que diferenciar termos. A seguir, são apresentados alguns conceitos e ideias sobre a análise de risco: 90 Análise e gerenciamento de risco As análises de risco são um conjunto de métodos e técni- cas que, aplicados a operações que envolvam processo ou processamento, identificam os cenários hipotéticos de ocorrên- cias indesejadas (acidentes), as possibilidades de danos, efei- tos e consequências. (CAMISASSA, 2015, p. 610) Análise de Risco: combinação da especificação dos limites da máquina, identificação de peri- gos e estimativa de riscos. (NBR 12.100). [...] Avaliação de Risco: julgamen- to com base na análise de risco, do quanto os objetivos de re- dução de risco foram atingidos. (NBR 12.100). (BRASIL, 2019b, p. 41-42, grifos do original) Para outros autores dos textos que vimos considerando, análi- sesseriam procedimentos que subsidiam avaliações. De ma- neira oposta, há autores para os quais as avaliações ofereceriam contribuições para a realização de análises. Finalmente, haveria aqueles para os quais avaliação e análise são nomes diferentes para coisas equivalentes. (FURTADO; GASPARINI, 2019, p. 2934) Chama-se a atenção para o fato: grande parte dos estudos que se propõe desenvolver a Análi- se de Riscos, na verdade, traba- lha com a Avaliação de Riscos, o que geralmente é verificado na discussão. Confirma-se que Avaliação de Riscos é etapa da Análise de Riscos. (OLIVEIRA, 20--, p. 161) Análise de risco é um método sistemático de exame e avalia- ção de todas as etapas e ele- mentos de um determinado trabalho para desenvolver e racionalizar toda a sequência de operações que o trabalhador executa; identificar os riscos potenciais de acidentes físicos e materiais; identificar e corri- gir problemas operacionais e implementar a maneira correta para execução de cada etapa do trabalho com segurança. É, portanto, uma ferramenta de exame crítico da atividade ou situação, com grande utilidade para a identificação e antecipa- ção dos eventos indesejáveis e acidentes possíveis de ocorrên- cia, possibilitando a adoção de medidas preventivas de segu- rança e de saúde do trabalha- dor, do usuário e de terceiros, do meio ambiente e até mesmo evitar danos aos equipamentos e interrupção dos processos produtivos. (PEREIRA; SOUSA, 2010, p. 14) Nesta seção, foca-se a apresentação e a ilustração de técnicas de análise de risco. Há técnicas que se voltam para a avaliação do perigo, enquanto outras focam o impacto e algumas abrangem o conjunto do ris- co. Por vezes, as análises envolvem uma abordagem quantitativa, geran- do números, probabilidades e taxas. Já outras são de cunho qualitativo, levantando situações, representações descritivas, categorias e modas. Basicamente, seja de maneira qualitativa ou quantitativa, a avaliação moda: valor ou aspecto que ocorre com maior frequência na amostra de um conjunto de da- dos, representando, usualmente, a categoria que mais se repete. Glossário Análise de risco 91 de risco visa eliminar ou diminuir o risco. Geralmente, os processos en- volvem: levantar informações, analisar o problema, levantar soluções e avaliá-las. Pode-se incluir, ainda, a implantação de salvaguardas, o aper- feiçoamento e a revisão de todo o processo avaliativo de risco. Há duas perspectivas nas técnicas de avaliação de risco. Pode-se utilizar uma base de fatos ocorridos, como um histórico de acidentes, de modo a evitar “mais do mesmo”. Nesse caso, depende-se de regis- tros corretamente colhidos e armazenados. Uma segunda forma de conduzir avaliações de risco é de maneira prospectiva, antecipando potenciais fatos e aspectos que conduzem a acidentes que ainda não aconteceram. A combinação de ambas as perspectivas é favorável para a segurança no ambiente de trabalho. Não é preciso esperar acontecer um acidente para fazer uma análi- se de risco, já que avaliação de acidente e avaliação de risco são pro- cessos distintos. O correto é que todo processo, procedimento e tarefa (ou conjunto de tarefas) tenham uma avaliação de risco realizada antes de sua execução. Logicamente, o processo não consiste apenas no “an- tes”, mas também no “durante” e no “depois”, pois sempre há possi- bilidade de atualizações e aperfeiçoamento. Assim, a análise de risco cabe em diversas fases de uma atividade produtiva, de um produto ou de um processo de trabalho, do início ao fim, como é possível ver na Figura 1. Figura 1 Exemplo de processo de análise de risco 08 01 03 05 07 02 04 06 08 Concepção Plano de implementação Implementação Execução Revisão Encerramento Projeto ou design Especificação Fonte: Adaptada de Oliveira, 20--, p. 111. 92 Análise e gerenciamento de risco Pontua-se que as avaliações de risco devem ser promovidas por equipes e a execução dessa tarefa por um único profissional não é adequada. O processo deve contar com a participação de uma equipe multidisciplinar de profissionais, de pessoas familiarizadas com o pro- cesso, incluindo executores e supervisores. Vale lembrar que a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) pode contribuir nesse momento, mas é o SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) que conduz avaliações de risco de maneira técnica e profissional. Ainda, destaca-se que a execução formal e oficial de avaliações de risco é competência de um profissional especializado e habilitado em Segurança do Trabalho. Não há forma ou modelo de técnicas de avaliação de risco rigoro- samente estabelecido. Cada equipe pode usar modelos de documen- tos mais completos ou mais aprimorados para sua atividade. De modo geral, as Normas Regulamentadoras (NR) não determinam a técnica a ser utilizada, sendo a escolha a cargo do empregador. Entretanto, está clara nas prescrições a obrigatoriedade da execução de análise de ris- co. Algumas NR contêm prescrições e previsões de obrigatoriedade de técnicas para certas atividades. A seguir, veja alguns exemplos de pres- crições sem e com especificação de técnica a ser usada. Quadro 1 Exemplos de prescrições sobre a análise de risco NR 10 NR 12 NR 18 NR 18 10.2.1 Em todas as intervenções em instalações elétricas devem ser ado- tadas medidas preventivas de controle do risco elétrico e de outros riscos adicionais, mediante técnicas de análise de risco, de forma a garantir a segurança e a saúde no trabalho. (BRASIL, 2019a, p. 1, grifo nosso) 12.4.2 A utilização de cesto suspenso nas hipóteses previstas no subitem acima, deve ser comprovada por meio de laudo técnico e precedida por análise de risco realizada por Profissional Legalmente Habilitado com respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica – ART. (BRASIL, 2019b, p. 159, grifo nosso) 18.4.6.2 As tarefas envolvendo soluções alternativas somente devem ser iniciadas com autorização especial, precedida de análise de risco e per- missão de trabalho. (BRASIL, 2020, p. 3, grifo nosso) 18.7.6.2 Deve ser elaborada análise de risco específica para trabalhos a quente. (BRASIL, 2020, p. 12, grifo nosso) (Continua) Análise de risco 93 NR 20 NR 20 NR 20 NR 35 20.5.3 Os projetos das instalações existentes devem ser atualizados com a utilização de metodologias de análise de riscos. (BRASIL, 2019c, p. 4, grifo nosso) 20.7.4 Nas instalações classes II e III, devem ser utilizadas metodologias de análise definidas pelo profissional habilitado, devendo a escolha levar em consideração os riscos, as características e complexidade da instalação. (BRASIL, 2019c, p. 5, grifo nosso) 20.7.3 Nas instalações classe I, deve ser elaborada Análise Preliminar de Perigos/Riscos (APP/APR). (BRASIL, 2019c, p. 5, grifo nosso) 35.4.5 Todo trabalho em altura deve ser precedido de Análise de Risco. (BRASIL, 2019d, p. 3, grifo nosso) As principais metodologias técnicas utilizadas no desenvolvimento de “análise de risco” são: Análise Preliminar de Risco – APR; análise de mo- dos de falha e efeitos – FMEA (AMFE); Hazard and Operability Studies – HAZOP; Análise Risco de Tarefa – ART, Análise Preliminar de Perigo – APP, dentre outras. (PEREIRA; SOUSA, 2010, p. 14, grifo nosso) Fonte: Elaborado com base em Brasil, 2019a; Brasil, 2019b; Brasil, 2019c; Brasil, 2019d; Brasil, 2020; Pereira e Sousa, 2010. Portanto, a falta de especificação normativa não justifica negligen- ciar a análise de risco no ambiente de trabalho, e as técnicas devem ser conduzidas conforme prescrição, sempre que necessário. Por fim, é importante destacar que análises de risco não possuem efeito apenas na segurança, mas, quando bem conduzidas, também são benéficas à atividade produtiva desenvolvida. Ao realizá-las, efeitos diretos podem ser vistos na produtividade das tarefas executadas. Dessa forma, essas análises são essenciais para fomentar o crescimento das atividades sob responsabilidade do empregador.4.2 Análise preliminar de risco Vídeo Após essa introdução, pode-se passar para o primeiro exemplo de uma técnica de análise de risco: a análise preliminar de risco (APR), também chamada de análise preliminar de perigos (APP). Esse nome provavelmente tem origem na língua inglesa, na técnica equivalente chamada preliminary hazard analysis (PHA). A palavra preliminar marca bem a caracterização dessa técnica, pois ela é especialmente designa- 94 Análise e gerenciamento de risco da para ser executada como primeira abordagem na prevenção de ris- cos, ainda na fase de concepção ou projeto da atividade ou processo. Visa-se, com a APR, levantar fontes de perigos na etapa de planeja- mento do sistema de trabalho. Estimam-se também as consequências da concretização do risco e se estipula medidas simples, designadas para bloquear a materialização do risco. É uma técnica essencialmen- te qualitativa, que geralmente não apresenta números ou taxas, mas classifica o risco em categorias. Conforme visto, algumas NR prescrevem a APR como técnica de análise de risco – como a NR 20 e a NR 35. Não há legislação que es- pecifique a forma e o conteúdo da APR, mas, usualmente, seu modelo básico contém os campos apresentados no quadro a seguir. Campo Exemplo Identificação do sistema Identificação do subsistema Impacto ou dano Perigo descriminado Categorização do risco Causa Medidas protetivas, corretivas e preventivas Conservação predial Limpeza de janelas altas Trauma Queda de altura maior que o próprio corpo IV – Catastrófica Posicionamento inadequado de escada Trabalhar somente em duplas, com um operador fixando os pés da escada Cr ea tiv e St al l/A rt st ud io G /R al f S ch m itz er G ra ph ic s/ da vo od a/ Ga zl as t/ Fa rik g al le ry /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborado pelo autor. Quadro 2 Campos de um modelo básico de APR A critério do empregador ou do condutor da avaliação, mais e me- lhores campos podem ser acrescentados nos formulários. O livro APR nas NR: um estudo sobre a imposição da Análise Preliminar de Riscos pelas Normas Regu- lamentadoras do Ministério do Trabalho, elaborado pelo auditor fiscal do trabalho Willian Freitas Miranda, possui uma temática especializada em APR. O livro discorre sobre a imposição da APR nas Normas Regula- mentadoras, além de apresentar um exemplo completo de APR. MIRANDA, W. F. Jaboatão dos Guararapes: Edição do Autor, 2017. Livro Análise de risco 95 A APR possui as seguintes vantagens: é uma técnica relativamente simples; baixo custo; é favorável ao ser aplicada na fase de concepção e projeto da atividade a ser executada; é aplicável a uma ampla amos- tra de atividades; apresenta como produto tabelas de fácil consulta, leitura e entendimento; e fomenta a elaboração de listas de verificação (checklists). Decorrentes dos mesmos motivos citados como vantagens, a APR também possui limitações de aplicação: não é adequada para o controle de riscos; não quantifica o risco; tem enfoque em riscos mais perceptí- veis, em detrimento dos menos perceptíveis; e não é adequada a ativida- des que demandam avaliações aprofundadas e detalhadas, devendo ser complementada ou substituída por outras técnicas, quando necessário. Por meio dos campos apresentados no Quadro 2, a seguir, pode-se ver um exemplo de aplicação da APR. Quadro 3 Exemplo de APR para sistema de corte de vergalhões de aço Causa CategoriaRisco Impacto/Dano Medidas preventivas e/ou corretivas Choque Ruído Fagulhas Contato com o ponto de operação Postura inadequada • Instalações precárias (desencapada) • Falta de aterramento • Excesso de umidade • Falha na operação • Falta de manutenção • Isolamento inade quado • Contato do disco com o vergalhão • Falta de proteção no ponto de operação • Altura inadequada da bancada • Manuseio inadequado • Esforço físico • Equipamento danifi- cado • Lesão ou morte • Surdez temporária ou definitiva • Queimaduras • Contato com os olhos • Corte/amputação • Dores musculares IV III III IV II • Fazer aterramento • Proteger as instalações e os cabos • Usar EPC • Manutenção dos equipa- mentos regular • Treinar operadores • Usar EPC • Manutenção dos equipa- mentos regular • Diminuir o tempo de expo- sição • Trocar por equipamento moderno • Usar EPC • Usar EPC • Treinar operadores • A dequar equipamentos • Treinar operadores Ra lf Sc hm itz er G ra ph ic s/ da vo od a/ Ga zl as t/ Fa rik g al le ry /K ap re sk i/k or nn /O le h M ar ko v/ M -v ec to r/ Cu be 29 /S hu tte rs to ck (Continua) 96 Análise e gerenciamento de risco I – Risco desprezível: não haverá degradação maior, sem danos funcionais ou lesões. II – Risco marginal ou limítrofe: degradação do sistema, sem danos maiores ou lesões, podendo ser compensada ou controlada adequadamente. III – Risco crítico: degradação do sistema, com lesões e danos substanciais, sendo um risco inaceitável e necessitando de ações corretivas imediatas. IV – Risco catastrófico: severa degradação do sistema, com perdas totais, lesões e morte. Fonte: Adaptado de Oliveira, 20--, p. 111. Ao discutir a análise de risco, é comum que se imagine o cenário de uma usina nuclear ou de uma atividade complexa como objeto do es- tudo. Entretanto, ao sair de casa e optar por levar ou não um guarda-chuva, você já está realizando uma análise de risco, feita de maneira ordinária. Essa análise de- veria ser a rotina de qualquer atividade produtiva, pois, além de promover a segurança, o conforto e o bem-estar, fomenta a produtividade. Assim, verifica-se que a APR é uma técnica bási- ca, que pode ser usada para diversas atividades pro- dutivas, especialmente para riscos convencionais. Essa técnica não apresenta a quantificação do risco, dado que apenas o descreve e categoriza, sendo uma abordagem essencialmente qualitativa. A APR também não permite uma análise profunda do ris- co, mas possui grande utilidade por ter uma ampla abrangência, além de auxiliar a apontar quais ativi- dades demandam uma técnica de avaliação de risco mais detalhada. Sua execução é obrigatória antes de algumas atividades, como determinados trabalhos com inflamáveis e combustíveis. 4.3 Análise What if Vídeo Uma outra possibilidade de técnica de análise de risco é a chamada What if 1 . Ela oferece uma análise geral e qualitativa, uma primeira ins- tância de análise de risco. Por ser de execução mais simples, é muito útil em diversos aspectos, especialmente por ter uma ampla oportuni- dade de uso. Essa técnica levanta riscos, especialmente omissões de projeto e desenvolvimento de atividades, processos, normas, instalações, pro- cedimentos e sistemas produtivos. Como o próprio nome demonstra, Saiba mais De modo a ilustrar um exemplo mais simples, mas igualmente benéfico, de uma análise de risco, pode-se imaginar uma pizzaria. Haveria riscos exacerbados nessa atividade produtiva? Reflita um pouco sobre as tarefas desenvolvidas em uma pizzaria e aponte alguns riscos potenciais. Para entender a importância da atividade de aná- lise de risco, especificamente pela APR, recomen- da-se o seguinte trabalho de conclusão de curso: Aplicação da análise preliminar de risco (APR) em uma pizzaria da região metropolitana de Curitiba, desen- volvido pela especialista Carolina de Mattos Pellin, na obtenção do título de especialista no curso de pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho. Além de exemplificar bem a condução de uma APR, ilustra-se o levantamento, a identificação e o possível tratamento dos riscos, demonstrando a praticidade e os resultados da APR em um esta- belecimento comercial. Disponível em: http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bits- tream/1/8930/1/CT_CEEST_XXXIII_2017_08.pdf. Acesso em: 8 maio 2020. Também pode ser usada as expressões Whatif ou simples- mente e se para denominá-la. 1 http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/8930/1/CT_CEEST_XXXIII_2017_08.pdfhttp://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/8930/1/CT_CEEST_XXXIII_2017_08.pdf Análise de risco 97 ela se baseia em levantar perguntas que se iniciam com “e se” e “o que aconteceria se”. Uma das opções de desenvolvimento da técnica pro- põe uma discussão entre duas equipes, em que uma é especialmente designada para estipular questionamentos. Nesse brainstorming, é necessário que os envolvidos tenham amplo conhecimento dos pro- cessos e tarefas em discussão. Segundo Oliveira (20--, p. 100), os questionamentos englobam procedimentos, instalações, pro- cesso da situação analisada e podem ser livres ou sistemáticos. No questionamento livre, as perguntas podem ser totalmente desassociadas. Já no sistemático, o objetivo das perguntas é fo- cado em pontos específicos como um martelo. A equipe ques- tionadora é a conhecedora e familiarizada com o sistema a ser analisado, devendo formular uma série de quesitos com antece- dência, com a finalidade de guia para a discussão. É fundamental conhecer também o sistema, ou seja, a estrutura do processo produtivo envolvido. Por exemplo, plantas, layouts, flu- xogramas, mapeamento de processos, especificações e diagramas devem estar disponíveis para consulta e para fomentar a elaboração dos questionamentos. Cada pergunta oportuniza, se o processo for de- senvolvido adequadamente, múltiplas respostas, permitindo, assim, a proposição de uma diversidade de soluções aos riscos estimados. O processo e a proposição de recomendações devem ser revisados por todos ao fim. A figura a seguir mostra algumas etapas para se desen- volver a técnica What if. Figura 2 Proposição de etapas para desenvolvimento da técnica What if Etapa I Mapeamento dos fluxos de macroprocessos Etapa II Detalhamento das atividades dos macroprocessos identificados Etapa III Aplicação do questionamento da ferramenta What If Etapa IV Análise dos riscos identificados Fonte: Adaptada de Diniz, 2019, p. 48. brainstorming: também chamada de tempestade de ideias, consiste em uma técnica de dinâmica em grupo, em que os participantes são livres para darem suas opiniões e ideias acerca de um tema, sem restrições ou julgamentos, para que cheguem a uma solução final construída pelos vários pontos apresentados. Glossário Kh vo st /S hu tte rs to ck 98 Análise e gerenciamento de risco Um quadro com informações básicas da técnica What if pode conter os dados apresentados a seguir. Campo Exemplo Cr ea tiv e St al l/A rt st ud io G /d av oo da /F ar ik g al le ry /h ow co lo ur /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborado pelo autor. Quadro 4 Campos de um modelo básico de What if ? Identificação do sistema Identificação do subsistema Impacto ou dano Perigo descriminado Recomendações Pergunta motivadora “e se...” Medidas protetivas, corretivas e preventivas Conservação predial Limpeza de janelas altas Uso de escada inadequada, adoção de procedimento inade- quado, entre outros Queda de altura maior que o próprio corpo Fornecer escada profissional, elaborar procedimento para uso de escada, entre outros E se a janela estiver a mais de dois metros de altura? Trabalhar somente em duplas, com um operador fixando os pés da escada O acréscimo de informações – por exemplo, categorização do risco, classificação entre medidas protetivas existentes e medidas a imple- mentar – sempre será favorável para a análise de risco. Tais aprimo- ramentos ficam a cargo de quem conduz a análise e do empregador. A técnica What if é de fácil aplicação e pode ser usada na fase de projeto e de operação. É muito favorável para fomentar informações para outras técnicas de análise de risco, sendo prontamente usada de maneira integrada com elas. Também é indicada para ser um primei- ro estágio de uma análise mais ampla a ser desenvolvida. Análise de risco 99 A técnica What if pode ser aplicada em diversas áreas. O engenheiro civil Marco Diniz, por exemplo, conduziu uma análise de risco com essa técnica em atividades ferroviárias, produzindo um estudo denominado Identificação de perigos e riscos em operação ferroviária com uso da técnica de análise What If, publicado na Revista Brasileira de Saúde e Segurança no Trabalho em 2019. Vale a pena a leitura do artigo, pois nele se encontra a descrição do processo de levantamento de risco com o uso dessa técnica, apresentando os modelos e resultados relevantes. Acesso em: 8 maio 2020. https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/rebrast/article/viewFile/2356/1051 Artigo Suas vantagens são: proporciona levantamento de omissões e reco- mendações em processos e tarefas; possui aplicação fácil e execução mais rápida, em comparação com outras técnicas; e tem um amplo es- pectro de aplicações. Em decorrência, apresenta as seguintes limita- ções: não apresenta resultados quantitativos; pode resultar em uma relação menor de efeitos e impactos estimados em processos mais complexos, em comparação com outras técnicas; e não deve ser usada de modo isolado, necessitando ser completada por outras técnicas de avaliação de risco. A seguir, encontra-se um exemplo de aplicação, por meio dos cam- pos apresentados no Quadro 4, da técnica What if. Cr ea tiv e St al l/R al f S ch m itz er G ra ph ic s/ da vo od a/ ho wc ol ou r/ B la n- k/ Sh ut te rs to ck Quadro 5 Exemplo de produto da técnica What if aplicada a uma lavanderia (Continua) O que aconteceria se ConsequênciasAtividade Causas Observações e reco- mendações Ativação das máquinas de lavar e de secar Adição de solventes ou fluidos aquosos (lavagem a seco) Não as ativasse de modo correto Não utilizasse os EPI Descuido ou falta de conhecimento Falta de treinamento e conhecimento Choques elétricos e lesões Acidentes químicos e alergias Treinamento sobre práticas de segurança e primeiros socorros e uso dos EPI fornecidos Treinamento sobre práticas de segurança e primeiros socorros e uso dos EPI fornecidos ? ON https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/rebrast/article/viewFile/2356/1051 100 Análise e gerenciamento de risco O que aconteceria se ConsequênciasAtividade Causas Observações e reco- mendações Adição de sabão Adição de água Geração de efluentes líquidos Utilização das máquinas Não utilizasse os EPI Fosse lavada pouca roupa em nível alto de água Não ocorresse o des- carte correto Não houvesse uma preocupação com a otimização do abasteci- mento de água Não houvesse uma preocupação com a otimização do sistema de energia Falta de treinamento e conhecimento Esquecimento ou distração Falta de informação Falta de informação Falta de informação Acidentes químicos, alergias e cortes Desperdício de água Poluição nos recur- sos hídricos Desperdício de água Consumo elevado de energia Treinamento sobre práticas de segurança e primeiros socorros e uso dos EPI Checagem dos registros por onde circulam água Estação de tratamento de efluentes Buscar otimizar o sistema e economizar mais água Buscar otimizar os sistemas elétricos para economizar energia ? Fonte: Adaptado de Lima, 2017, p. 41-42. Novamente, deve-se evitar a ideia de que técnicas de análise de ris- co devem ser voltadas somente a complexos siste- mas de trabalho. Como argumentado neste capítulo, essa análise deve ser uma atitude ordinária de qual- quer empreendedor. Como visto, a técnica What if é muito propícia para as fases iniciais de avaliação de risco. Trata-se de uma técnica especulativa, com levantamento de hipóteses por meio de questões norteadoras caraterizadas pela pergunta “e se...?”. A técnica proporciona a descoberta de potenciais falhas e omissões e deve ser desenvolvi- da por meio de dinâmica de grupo, com duas equipes debatendo ativamente. É importante lembrar que a Leitura O engenheiro sanitarista e ambiental Leonardo Lima conduziu uma relevante análise de risco em uma lavanderia por meio da técnica What if. O trabalho deconclusão de curso, denominado Aplicação do método “What If...”, como técnica de identificação de perigos e ope- rabilidade em uma lavanderia de Campina Grande – PB, é muito interessante de ser lido porque elabora uma adequada proposta de condução dessa técnica. Seu desenvolvimento demonstra consulta a plantas, croquis, fluxogramas de atividades, mapeamento de processos e resultados obtidos. Por fim, como produto da técnica, ainda apresenta um checklist com diagnós- tico e uma proposta de intervenção. É uma excelente referência de uso da técnica What if. Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/hand- le/123456789/15699. Acesso em: 8 maio 2020. Análise de risco 101 técnica deve ser utilizada em conjunto com outra(s), de modo a propor- cionar uma análise de risco mais completa e efetiva. 4.4 HAZOP Vídeo Entre as várias técnicas de avaliação de risco, existe a chamada HAZOP, que deriva de hazard and operability study, em língua inglesa. Essa técnica, como o nome já diz, trabalha com as ideias de hazard (em português, perigo) e operability (em português, operabilidade). Ou seja, avaliam-se os perigos potenciais em operações desenvolvidas, esti- mando os riscos. É também uma avaliação qualitativa, sem a produção de taxas ou números, que visa prevenir o desvio de variáveis existentes nas linhas de processo produtivo. Utiliza-se palavras guias para perguntas, que representam os desvios potenciais a serem prevenidos, como mais, menos, cedo, tarde, antes, depois etc. As variáveis são parâmetros, por exemplo, pressão, temperatura, fluxo, acionamento, nível, tempo, ven- tilação, entre outros. Os desvios podem ocorrer nos pontos – chamados de nós – de tomada de decisão ou de intervenção manual ou automatizada den- tro das operações ou dos processos. Em cada nó, analisam-se quais desvios poderiam ocorrer ali. Quanto maior o número de nós do processo, mais extenso será o desenvolvimento da técnica. Segundo Oliveira (20--), essa técnica avalia os perigos para que cenários de fa- lhas, os quais abrangem diversos eventos independentes, sejam identi- ficados. Ainda, de acordo com Aguiar (2008, p. 9), o principal objetivo de um Estudo de Perigos e Operabilidade (HAZOP) é investigar de forma minuciosa e metódica cada seg- mento de um processo (focalizando os pontos específicos do projeto – nós – um de cada vez), visando descobrir todos os possíveis desvios das condições normais de operação, identifi- cando as causas responsáveis por tais desvios e as respectivas consequências. A técnica HAZOP, inicialmente, volta-se à análise de operações, mas nada impede sua aplicação em processos na fase de projeto ou con- cepção de uma atividade produtiva. Além disso, ela também possui boa aplicação para se avaliar riscos em modificações e revisões de ope- 102 Análise e gerenciamento de risco rações e processos e nos potenciais desvios que levam a riscos. Um quadro básico, com exemplos não exaustivos, da técnica HAZOP pode conter os dados apresentados a seguir. Quadro 6 Campos de um modelo básico de HAZOP Campo Exemplo Cr ea tiv e St al l/l in ea r_ de si gn /G em bu ls /Z au r R ah im ov /R al f S ch m itz er G ra ph ic s/ da vo od a/ Fa rik g al le ry /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborado pelo autor. Identificação do sistema Identificação do subsistema Variável Especificação/localização do nó Desvio Palavra guia Causa Efeitos ou consequências Medidas protetivas, corretivas e preventivas Sistema de segurança contra incêndio Sistema de chuveiro automático Pressão hidráulica Pressurização da água de incêndio Baixa pressão hidráulica Menos Mal funcionamento da bomba de pressurização principal, válvula parcialmente fechada, entre outros Mal funcionamento do chuveiro automático, extinção inadequada de princípio de incêndio, entre outros Manutenção da bomba de pres- surização, trava de segurança para que a válvula permaneça na posição completamente aberta, entre outros A técnica HAZOP apresenta as seguintes vantagens: abrange um amplo espectro de processos operacionais, de diversas áreas produ- tivas, especialmente aqueles em que desvios mínimos têm impactos Análise de risco 103 relevantes; permite destacar as falhas de cobertura de processos, opor- tunizando o desenvolvimento de redundâncias de segurança, ou seja, barreiras de proteção (um backup ou reforço de segurança) que atuam na falha de uma primeira camada de proteção, exercendo a mesma função; e discrimina de maneira melhor os impactos e permite a eliminação de problemas operacionais. No quadro a seguir, pode-se observar um exemplo não exaustivo do uso de palavras guias, seus respectivos significados e uma forma de aplicação. Quadro 7 Exemplo não exaustivo de palavras guias e respectivos significados Fonte: Elaborado pelo autor. Campo ExemploPalavra guia NÃO/NENHUMNÃO/NENHUM MAIS MENOS PARTE DE/ PARCIALMENTE REVERSO OUTRO/AO INVÉS CEDO TARDE ANTES DEPOIS Inexistência da intervenção, ação ou conteúdo Inexistência da intervenção, ação ou conteúdo Excesso ou excedente de inter- venção, ação ou conteúdo Falta ou insuficiência de inter- venção, ação ou conteúdo Processo incompleto ou execu- tado de maneira parcial Fluxo inverso ou reverso Substituição ou alteração de conteúdo Intervenção ou ação precoce Intervenção ou ação tardia Intervenção ou ação fora da ordem, sequência ou fluxo Intervenção ou ação fora da ordem, sequência ou fluxo Sem água Sem água Muita água Pouca água Mistura feita parcialmente Água se deslocou da mistura para o tanque Componente errado adicionado Liberou água muito cedo Demorou para liberar água A mistura foi realizada antes da adição do componente O componente foi adicionado depois da mistura 104 Análise e gerenciamento de risco Na Figura 3, também é possível verificar alguns exemplos de parâ- metros abordados pela técnica HAZOP. Figura 3 Exemplos não exaustivos de parâmetros VARIÁVEL / PARÂMETRO FLUXO PRESSÃO Pressão alta Pressão baixa TEMPERATURA Alta temperatura Baixa temperatura NÍVEL Alto nível Nível insuficiente TEMPO Cedo Tarde AGITAÇÃO Muita agitação Agitação insuficiente REAÇÃO Maior grau de reação Reação inadequada EXEMPLO 1 EXEMPLO 2 Excesso de fluxo Fluxo insuficiente an ku di /J an oj /v ec to rli gh t/ Fl at .Ic on /N ik W B/ Bl an -k /D ol va lo l/A rtc o/ M ilt a/ Sh ut te rs to ck FLUXO (Continua) Análise de risco 105 VARIÁVEL / PARÂMETRO FLUXO DRENAGEM Drenagem tardia Drenagem antecipada VENTILAÇÃO Muita ventilação Ventilação insuficiente MANUTENÇÃO Manutenção em momento impróprio Manutenção insuficiente POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (PH)Alto PH Baixo PH EXEMPLO 1 EXEMPLO 2 Acionamento errado Desligamento errado ACIONAMENTO / DESLIGAMENTO ON Fonte: Elaborada pelo autor. A técnica possui a limitação de lidar com um número restrito de variáveis. Trata-se de uma abordagem qualitativa, que pode, em algu- mas combinações e alguns aperfeiçoamentos, oferecer algum aspecto quantitativo, especialmente se a quantificação de desvios puder ser discriminada. Além disso, os impactos são analisados do ponto de vis- ta de um único desvio, e os riscos resultantes de desvios combinados podem ser negligenciados. Demanda-se, ainda, a participação de um maior número de pessoas em seu desenvolvimento, sendo que elas devem ter ampla experiência e serem profundas conhecedoras do pro- cesso em questão. Tendo em vista que cada nó (decisão ou intervenção no processo/operação) deve ser analisado, ela demanda um número maior de documentos (projetos, plantas, mapeamento de processos etc.) e mais tempo em seu desenvolvimento, em comparação com ou- 106 Análise e gerenciamento de risco tras técnicas. A seguir, pode-se observar um exemplo de aplicação da técnica HAZOP, que usa alguns campos apresentados no Quadro 6. Quadro 8 Exemplo de aplicação da técnica HAZOP em um nó de operação em caminhão tanque Sistema: transferênciade produto corrosivo do caminhão para o tanque Equipe: Data: Parâmetros: vazão Palavra Guia Menos Desvio Menos Vazão Causas • Boca de visita do caminhão fechada • Válvulas (4) ou (3) parcialmente fecha- das • Rotor da bomba danificado • Válvulas (1) ou (2) abertas e linha de ar despressurizada • Mangote com vaza- mento • Ruptura da linha Detecção Visual Ruído Consequências • Aumento do tempo de descarregamento • Entrada de ácido na linha de ar • Vazamento de ácido • Geração de resí- duos químicos • Aumento de tempe- ratura dos mancais da bomba e possível incêndio Providências • Inspecionar a boca do caminhão, o estado da linha e das válvulas antes de iniciar o processo • Testar a estanqueida- de do sistema antes de iniciar o processo • Submeter a mangueira a testes hidrostáticos periódicos • Instalar extintor de pó químico junto ao local de descarregamento • Ajustar a seletivida- de da proteção do motor elétrico para sua atuação rápida sob condições anormais • Realizar manutenção preventiva do conjunto moto-bomba. Nó: 02 Página: 2/4 Fonte: Aguiar, 2008, p. 24. Saiba mais Imagine quais são os riscos que pode haver em um hemocentro, na coleta e distribuição de bolsas de sangue. Mônica Caldeira Quintella defendeu sua tese de doutorado, intitulada Adaptação e Aplicação da Técnica HAZOP na Identificação de Risco na Área de Serviço de Saúde: Estudo de Caso HEMOCENTRO/UNICAMP, aplicando a técnica HAZOP em um hemocentro na cidade de Campinas (São Paulo). Esse estudo demonstra quão complexa pode ser a aplicação da técnica HAZOP. Na tese, há o fluxo utilizado, roteiros, mapeamento de diversos processos relativos ao hemocentro e especificação dos nós e módulos, além dos resultados e discussões obtidos. Por fim, no apêndice, há um bem elaborado modelo de produto da técnica HAZOP. Disponível em: http://taurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/266864/1/Quintella_MonicaCaldeira_D.pdf. Acesso em: 8 maio 2020. Análise de risco 107 Constata-se que a técnica HAZOP é bem favorável à análise de risco em processos operacionais, especialmente para estimar desvios e avaliar impactos. Sua execução depende da existência e investigação de diversos documentos, especialmente fluxos, e as pessoas envolvidas devem possuir ampla intimidade com a operação a ser estudada. Finalmente, por analisar cada nó, a técnica demanda maior tempo para sua execução. 4.5 Análise de modos de falha e efeitos Vídeo A próxima técnica a ser estudada se chama análise de modos de fa- lha e efeitos (AMFE), também conhecida por sua sigla na língua inglesa FMEA, originada de failure modes and effect analysis. Como o nome an- tecipa, essa técnica trabalha uma relação entre o modo de falha e os seus efeitos. Ela pode se voltar à avaliação de risco para cada compo- nente, processo ou procedimento de maneira particular e individual, privilegiando a identificação de falhas potenciais e destacando impac- tos internos e externos. O levantamento de ações recomendadas de segurança é um dos produtos de destaque dessa técnica. O FMEA avalia a confiabilidade de sistemas, de modo rigoroso e direto, a qual é analisada por meio de um cálculo de probabilidade combinado de falhas e efeitos. Ou seja, é possível realizar uma análise crítica de riscos. Sendo assim, a técnica tem uma abordagem quantita- tiva, pois considera, em seu cálculo, valores que representam a cons- tituição de um determinado risco. Assim, após quantificar os fatores envolvidos na formação do risco, pode-se operar a combinação deles para apresentar uma hierarquização de riscos. Com essa técnica, há um impacto positivo direto no aumento da confiabilidade de processos e operações, pois ela permite traba- lhar cada um dos fatores quantificados na formação do risco para diminuí-lo. Ou seja, pode-se modificar unicamente aquele fator ou as- pecto que mais contribui para a formação do risco ou trabalhar em conjunto com todos os fatores de formação de um risco. Uma das possibilidades do FMEA é a elaboração de um quadro com- parativo entre os controles (proteções) existentes e as ações recomen- dadas (proteções a ser implementadas), mostrando qual é o impacto de cada ação mitigadora dos riscos. Por vezes, o FMEA mostra que a implementação de uma única ação, entre várias recomendadas, pode 108 Análise e gerenciamento de risco ser suficiente para reduzir o risco a uma condição aceitável, descartan- do-se outras propostas. Um quadro básico, com exemplos não exaus- tivos, da técnica FMEA pode conter os dados apresentados a seguir. Quadro 9 Campos de um modelo básico de análise FMEA Campo Exemplo Cr ea tiv e St al l/R om an By kh al et s/ ne xu sb y/ Ra lf Sc hm itz er G ra ph ic s/ da vo od a/ M ah es h Pa til /T el m an B ag iro v/ Ga zl as t/ Fa rik g al le ry /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborado pelo autor. Identificação do sistema Identificação do subsistema Causa da falha Especificação/localização do componente Medida de controle existente Modo de falha Efeitos ou consequências Taxa de ocorrência Taxa de severidade Índice de detecção Quantificação/coeficiente de risco Medidas protetivas, corretivas e preventivas Sistema de segurança contra incêndio Sistema de chuveiro automático Pressostato não funcionar Bomba principal de pressuri- zação Existência de uma bomba reserva Falha de execução, operação e acionamento Retardo na liberação de água devido à necessidade de aciona- mento da bomba reserva Baixa: 1 em uma escala de 3 Média/alta: 4 em uma escala de 5 Difícil: 3 em uma escala de 3 12 (1x3x4) em uma escala de 45 (3x3x5) Manutenção da bomba de pressurização, prover botão de acionamento/partida manual da bomba principal em locais estratégicos, entre outros Análise de risco 109 O FMEA pode ser aplicado para identificação e eliminação de pro- blemas potenciais antes da execução de uma operação. Além disso, sua utilização é favorável para estudar o comportamento de sistemas projetados, mas que ainda não estão em funcionamento, por exemplo, novos produtos ou processos a serem lançados. Contudo, não há im- pedimentos para que o FMEA seja utilizado em operações, processos e sistemas já em andamento, pois, em seu processo de desenvolvimento, pode-se analisar as proteções e os controles já existentes. A técnica também é propícia caso já se tenha uma outra técnica de análise de risco pronta, pois é possível, assim, utilizar as informações já existentes para compor a quantificação das variáveis que formam o risco. Ou seja, apesar de ser uma técnica quantitativa, é necessário ter ou fazer uma análise qualitativa para desenvolver o FMEA. Além disso, caso haja um registro efetivo de falhas que já ocorreram, ele pode compor um bom subsídio para a técnica. A seguir, apresenta-se uma proposta de fluxograma para utilização do FMEA. 110 Análise e gerenciamento de risco Figura 4 Proposta de fluxograma para utilização do FMEA, demonstrando certa complexidade. Inicializar o FMEA ou FMECA Selecionar um item/componente do sistema em análise Identificar os modos potenciais de falha do item selecionado Selecionar um modo de falha para analisar Identificar o efeito imediato e final do modo de falha analisado Determinar a gravidade do efeito final Identificar as causas potenciais do modo de falha Estimar a frequência ou a possibilidade de ocorrência do modo de falha durante um período de tempo pré-determinado Propor as ações corretivas de atenuação ou eliminação ou disposições de compensação Notas, recomendações e ações Conclusão do FMEA Definir data da próxima revisão A gravidade e/ou a probabilidade de aparecimento necessita de ação? Não Não Sim Sim Sim Existem mais modos de falha para analisar? Existem outros componentes para análise? Fonte: Silva, Fonseca e Brito, 2006, p. 4. O FMEA promove uma determinação de efeitos de falhas, gerando bons diagnósticos de sistemas,especialmente levando em consideração as interações de taxas de ocorrências de perigos com o alcance estima- do de impactos. Essa técnica atende àqueles que buscam um valor de probabilidade de riscos e uma abordagem imediata de falhas de efeito crítico. Como há quantificações, pode-se simular a redução do risco com Análise de risco 111 as diversas recomendações sugeridas, permitindo a seleção e o descarte de opções de design e de projeto de medidas de proteção. Além disso, é a técnica indicada para verificar as opções para reduzir um risco a um patamar aceitável, aumentando a confiabilidade de sistemas. As vantagens do FMEA são: há possibilidade de revisão sistemática de segurança e catalogação de falhas; possui uma análise bem deta- lhada como produto; aponta falhas críticas; pode resultar em uma hie- rarquização de falhas; e oportuniza melhorar o grau de confiabilidade de sistemas. Além disso, pode ser aplicado em sistemas simples e mais complexos e revela desde falhas singelas até críticas. Por fim, permite ao empreendedor uma escolha mais personalizada de proteção, isto é, mais exata e específica para cada fase, situação ou condição financeira do projeto ou operação. Os engenheiros civis Sónia Silva, Manuel Fonseca e Jorge de Brito descrevem, no artigo Metodologia FMEA e sua aplicação à construção de edifícios, publicado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil em 2006, uma forma de apli- car o FMEA na construção de edifícios. Mesmo focando em uma orientação teórica, suas recomendações podem ser adotadas como uma boa prescrição para a elaboração dessa técnica, especialmente por demonstrar etapas do processo de execução, modelos de parâmetros e tabelas/planilhas. Acesso em: 8 maio 2020. https://www.fep.up.pt/disciplinas/pgi914/ref_topico3/fmea_ss_mf_jb_qic2006.pdf Artigo O FMEA depende de uma análise qualitativa anterior bem feita para que a fase quantitativa seja adequada. Assim, possui, como limitação, a quantidade de informação existente para subsidiar a sua execução. Em outros termos, é necessário que estejam disponíveis dados, infor- mações, registros, descrições, projetos, diagramas, mapeamento de processos, especificações técnicas, detalhes de inter-relacionamentos de subsistemas, normas, contratos, manuais etc. Sendo assim, a qua- lidade da técnica depende diretamente das informações disponíveis. Decorrente disso, observa-se que o FMEA pode ser trabalhoso, deman- da maior tempo e dedicação das equipes e pode ter um custo mais alto. Além disso, a execução de outra técnica de avaliação de risco pode ser necessária para a sua execução. A Figura 5 apresenta um exemplo de fluxograma na prática, usando o FMEA. https://www.fep.up.pt/disciplinas/pgi914/ref_topico3/fmea_ss_mf_jb_qic2006.pdf 112 Análise e gerenciamento de risco Figura 5 Fluxograma utilizado na elaboração do FMEA para um processo de produção de carne, de- monstrando a demanda de informações nessa técnica. Recepção Currais Atordoamento Esfola Sangria Evisceração Carnes – meias carcaças Refrigeração Cortes, Desossa Cortes e Vísceras Esticagem/Expedição Corte de carcaça Intestino Tripas salgadas Condução e lavagem dos animais Animais em caminhões Água, Desinfetante Esterco, Urina Caminhões lavados Efluentes líquidos Esterco, Urina Efluentes líquidos Vômito, Urina, Efluentes líquidos Sangue Efluentes líquidos Couro, Cabeça, Chifres, Cascos Efluentes líquidos Vísceras comestíveis Vísceras não comestíveis Efluentes líquidos Gorduras, Aparos Efluentes líquidos Efluentes líquidos Ossos, Aparos, Gorduras, Efluentes líquidos. Gorduras, Mucosas, Conteúdo intestinal, Efluentes líquidos Água, Desinfetante Água, Produto de limpeza, Eletricidade Água, Produto de limpeza Água, Eletricidade, Produto de limpeza Água, Eletricidade, Produtos de limpeza Água, Eletricidade Água, Sal, Eletricidade, Produtos de limpeza Água, Eletricidade, Gases Refrigerantes, Produtos de limpeza Água, Eletricidade, Produtos de limpeza Eletricidade, Material de embalagem Fonte: Rabelo, Silva e Peres, 2014, p. 4. Saiba mais A produção de carne para alimentação pode oferecer diversos riscos, não apenas para quem está envolvido nas operações, mas também para a comunidade ao redor de aba- tedouros. Você já parou para pensar nisso? De maneira simplificada, tente estimar alguns riscos envolvidos nessa atividade produtiva. Pense também nas ameaças/perigos envolvi- dos, nas pessoas e comunidades vulneráveis a esse perigo, na forma de detectar falhas que levam a esse risco e no impacto gerado por ele. Há uma forma de quantificar cada variável? Um estudo dos engenheiros Mariane Helena Rabelo, Eric Silva e Alexandre Peres, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), aplica o FMEA exatamente nessa atividade. Os au- tores mostram os mapeamentos utilizados e apresentam resultados pertinentes dos riscos levantados. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/esa/v19n1/1413-4152-esa-19-01-00079.pdf. Acesso em: 8 maio 2020. O FMEA, como produto, expõe uma gradação do risco. O Quadro 10, por exemplo, mostra como as variáveis de cada formador do risco po- dem ser quantificadas. Análise de risco 113 Quadro 10 Exemplo de produto do FMEA De sc riç ão d as sa íd as – Fu nç õe s Tip o Ef ei to d o im pa ct o am bi en ta l Ca us a do im pa ct o am bi en ta l Co nt ro le s at ua is S O D A R Co nt ro le s a m bi en ta is – aç õe s re co m en da da s Co ns um o de á gu a R U til iz aç ão do s re cu rs os na tu ra is U til iz aç ão d e ág ua no p ro ce ss o – 2 3 2 2 24 Bu sc ar e st ra té gi as p ar a m in im iz ar o co ns um o ot im iz an do p ro ce ss os Tr at am en to d a ág ua p ar a re ut ili - za çã o Co ns um o e ar m az e- na m en to d e le nh a R U til iz aç ão do s re cu rs os na tu ra is A le nh a é ut ili za da pa ra a lim en ta r a ca ld ei ra Le nh a pr ov e- ni en te d e co ns tr uç õe s ci vi s 2 3 1 3 18 Co ns tr uç ão de um lo ca l pa ra ar m az en am en to ad eq ua do da le nh a (lo ca l a br ig ad o, n ão p er m i- tin do s er m ol ha da ) Ág ua p ro ve ni en te d a hi gi en iz aç ão de pi - so s, e qu ip am en to e ca rc aç as R Co nt am in aç ão da á gu a D es ca rt e em la go as pr óx im as a o lo ca l de p ro ce ss am en to La go as an ae ró bi ca s 3 3 2 2 36 D es tin ar às la go as an ae ró bi ca s Em s eg ui da , e nc am in ha r pa ra la - go as d e flo cu la çã o Ág ua pr ov en ie nt e da h ig ie ni za çã o de cu rr ai s, p oc ilg as , c or - re do re s, ca m in hõ es e an im ai s R Co nt am in aç ão da á gu a D es ca rt e em la go as pr óx im as a o lo ca l de p ro ce ss am en to La go as an ae ró bi ca s 3 3 2 2 36 D es tin ar às la go as an ae ró bi ca s Em s eg ui da , e nc am in ha r pa ra la - go as d e flo cu la çã o Fu m aç a de c al de ira R Co nt am in aç ão do a r D es ca rt e na a tm os - fe ra Fi ltr os n as ch am in és 2 3 2 2 24 M an ut en çã o pe rió di ca n os fi ltr os e ca ld ei ra s, tr oc a de e qu ip am en to qu an do n ec es sá rio G as es pr ov en ie nt es do s di ge st or es R Co nt am in aç ão do a r D es ca rt e na a tm os - fe ra – 2 3 2 2 24 In st al aç ão e m an ut en çã o de fi l- tr os Ci nz as R Co nt am in aç ão da á gu a Pr ov en ie nt e da qu ei m a na c al de ira – 2 3 2 2 24 Ap lic aç ão e m lo ca l a de qu ad o Su je ira do ch ão da fá br ic a R Co nt am in aç ão do s ol oe da ág ua Pa rt e da s uj ei ra é en ca m in ha da p ar a a gr ax ar ia e a o ut ra é ca rr eg ad a pe la ág ua d e la va ge ns do fr ig or ífi co – 3 2 2 2 24 Tr ia ge m c om m ai or c rit ér io d as su je ira s e fil tr os d e re te nç ão n a sa íd a de e flu en te s Em ba la ge ns d e m a- té ria s- pr im as , in su - m os , e m ba la ge ns d e pa pe l e p lá st ic o R Co nt am in aç ão do s ol o As e m ba la ge ns s ão en ca m in ha da s à em pr es a co le to ra de li xo – 2 3 1 3 18 Se pa ra çã o da s em ba la ge ns e e n- ca m in ha m en to p ar a re ci cl ag em (Continua) 114 Análise e gerenciamento de risco Tipo R: impacto que ocorre ordinariamente – Real; Tipo P: impacto que pode ocorrer – Potencial; S: grau de Severidade, variando de 1 a 3; O: taxa de Ocorrência, variando de 1 a 3; D: taxa de Detecção, variando de 1 a 3; A: grau de Abrangência do impacto, variando de 1 a 3; R: gradação do Risco, variando de 1 a 81. Fonte: Rabelo, Silva e Peres, 2014, p. 6 Assim, temos o impacto real “contaminação da água” como o risco crítico evidenciado na análise exemplificada, especialmente pela se- veridade apresentada. Já o impacto real “contaminação do solo”, por ter uma detecção visual (fator 1) e uma severidade moderada (fator 2), apresenta-se como um risco de menor grau, quando comparado com os outros. No exemplo citado, pode-se procurar reduzir todos os fato- res 3 para 2 como tentativa de mitigação de riscos, aperfeiçoando for- mas mais fáceis de detecção e modos de redução da severidade e/ou diminuindo a taxa de ocorrência. Logicamente, nem sempre é adequa- do ou possível atuar em um único fator. Observa-se que o FMEA permite uma ampla discussão dos resul- tados. São diversas variáveis e números que podem ser trabalhados de diferentes formas. Esse processo de selecionar variáveis e formas de mudar valores de variáveis providencia ao empreendedor mais possibi- lidades de lidar com o risco e sua mitigação. Por isso, o FMEA pode ser uma oportunidade para a revisão e o aprimoramento do tratamento de riscos em uma atividade produtiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS É muito importante que se entenda que este capítulo não esgota as possibilidades de análise de risco. Aqui, foram tratadas apenas quatro das técnicas existentes, mas existem muitas outras, como: análise de árvo- re de falhas; árvore de causas e efeito; análise de incidentes; técnica do incidente crítico; análise de árvore de eventos; análise de causa e efeito; análise de consequências. É necessário possuir habilitação, usualmente uma especialização em Segurança do Trabalho, para executar análises de risco de maneira formal e oficial, para atender às prescrições das NR. Entretanto, é recomenda- do que avaliações de riscos sejam conduzidas diariamente pelas diversas pessoas em suas rotinas ordinárias. Apesar de o conteúdo aqui disposto não ser uma capacitação plena para a execução de técnicas de análise de risco demandadas pelas NR, toda análise de risco é bem-vinda, ainda mais se realizada com o embasamento técnico existente neste capítulo. A engenheira química Laís Aguiar elaborou um estudo que expõe a técni- ca HAZOP, aplicando-a em um caso de descar- regamento de ácido sulfúrico. Ela também faz o mesmo processo com a técnica APR (ou APP). O documento demons- tra o processo de cada análise de risco, com es- quemas, roteiros e fluxos. Tabelas bem elaboradas ilustram os resultados e um quadro comparativo entre as duas técnicas é exposto. A leitura vale a pena porque demonstra que a combinação de técnicas é bem favorável para uma análise de risco mais segura, completa e efetiva. Disponível em: http:// files.visaosegura.webnode. com/200000056-584dc5947a/ APP_e_HAZOP.pdf. Acesso em: 8 maio 2020. Leitura http://files.visaosegura.webnode.com/200000056-584dc5947a/APP_e_HAZOP.pdf http://files.visaosegura.webnode.com/200000056-584dc5947a/APP_e_HAZOP.pdf http://files.visaosegura.webnode.com/200000056-584dc5947a/APP_e_HAZOP.pdf http://files.visaosegura.webnode.com/200000056-584dc5947a/APP_e_HAZOP.pdf Análise de risco 115 ATIVIDADES 1. Um determinado empregador realiza atividades de conservação predial. Entre seus serviços, ele realiza limpeza de fachada (ou seja, trabalho em altura). A execução da análise de risco foi repassada à CIPA. Explique se a situação relatada foi adequada ou não. 2. Considerando a Atividade 1, após a execução de uma análise de risco formal, registrou-se um acidente na desmontagem do aparato de trabalho em altura. Na investigação do acidente, observou-se que foi realizada uma APR para a montagem do aparato e um checklist para a execução da atividade. Entretanto, não havia especificações escritas e formais para o processo de desmontagem. Discorra sobre alguns fatores que podem estar envolvidos nesse acidente e medidas preventivas que poderiam favorecer a segurança da operação de desmontagem. 3. Na mesma empresa de limpeza e conservação predial das Atividades 1 e 2, o empregador, preocupado com as consequências do acidente, deseja uma análise de risco de todos os processos, atividades e operações desenvolvidos na empresa, mesmo aqueles que não são realizados em altura. Ele apresentou uma demanda específica para essa análise de risco: deseja categorizar os riscos em uma hierarquia, para conhecer aqueles que mais têm potencial danoso, de modo a priorizar a mitigação do risco mais grave até o tratamento do risco menos grave. Ele deseja, ainda, que sejam estudados aspectos como potencial de impacto, formas de detecção e probabilidade de ocorrência de cada risco. Qual seria a técnica indicada, entre as estudadas neste capítulo, para essa demanda? REFERÊNCIAS AGUIAR, L. A. Metodologias de análise de riscos APP & HAZOP. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: http://files.visaosegura.webnode.com/200000056-584dc5947a/APP_e_HAZOP.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-10: Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade. Brasília, DF: MTE, 2019a. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-10.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-12: Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos. Brasília, DF: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-12.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-18: Condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção. Brasília: MTE, 2020. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-18- atualizada-2020.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. http://files.visaosegura.webnode.com/200000056-584dc5947a/APP_e_HAZOP.pdf 116 Análise e gerenciamento de risco BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-20: Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis. Brasília, DF: MTE, 2019c. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019. pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-35: Trabalho em Altura. Brasília, DF: MTE, 2019d. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-35.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. CAMISASSA, M. Q. Segurança e saúde no trabalho: NRs 1 a 36 comentadas e descomplicadas. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. Disponível em: https://www.fep.up.pt/ disciplinas/pgi914/ref_topico3/fmea_ss_mf_jb_qic2006.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. DINIZ, M. A. B. Identificação de perigos e riscos na operação ferroviária com uso da técnica de análise What If. Revista Brasileira de Saúde e Segurança no Trabalho, Patos, v. 1, n. 2, p. 44-54, jan./jun. 2019. Disponível em: https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/rebrast/article/viewFile/2356/1051. Acesso em: 23 abr. 2020. FURTADO, J. P.; GASPARINI, M. F. V. Há diferenças entre avaliar e analisar? Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, n. 8, p. 2933-2938, ago. 2019. Disponível em: http://www. scielo.br/pdf/csc/v24n8/1413-8123-csc-24-08-2933.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. LIMA, L. de F. Aplicação do método “What If...”, como técnica de identificação de perigos e operabilidade em uma lavanderia de Campina Grande – PB. Campina Grande, 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental) – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Estadual da Paraíba. Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/123456789/15699. Acesso em: 23 abr. 2020. OLIVEIRA, P. R. A. de. Gerência de Risco. Caderno de Estudos e Pesquisa. Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 20--. PEREIRA, J. G.; SOUSA, J. J. B. de. Manual de Auxílio na Interpretação e Aplicação da NR 10 – NR 10 Comentada. São Paulo: Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Estado de São Paulo – SRTE/SP, 2010. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/ images/Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Manual/CGNOR---MANUAL-DE-AUXLIO-NA- INTERPRETAO-E-APLICAO-DA-NR-10.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. RABELO, M. H. S.; SILVA, E. K.; PERES, A. P. Análise de modos e efeitos de Falha na avaliação dos impactos ambientais provenientes do abate animal. Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 79-86, jan./mar. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ esa/v19n1/1413-4152-esa-19-01-00079.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020. SILVA, S. R. C.; FONSECA, M.; BRITO, J. de. Metodologia FMEA e sua aplicação à construção de edifícios. Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 2006. https://www.fep.up.pt/disciplinas/pgi914/ref_topico3/fmea_ss_mf_jb_qic2006.pdf https://www.fep.up.pt/disciplinas/pgi914/ref_topico3/fmea_ss_mf_jb_qic2006.pdf https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/rebrast/article/viewFile/2356/1051 https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/rebrast/article/viewFile/2356/1051 http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/123456789/15699 https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Manual/CGNOR---MANUAL-DE-AUXLIO-NA-INTERPRETAO-E-APLICAO-DA-NR-10.pdf https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Manual/CGNOR---MANUAL-DE-AUXLIO-NA-INTERPRETAO-E-APLICAO-DA-NR-10.pdf https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Manual/CGNOR---MANUAL-DE-AUXLIO-NA-INTERPRETAO-E-APLICAO-DA-NR-10.pdf Medidas de controle 117 5 Medidas de controle Não há como descrever tratamentos de risco em um único material. Seria como elaborar um documento para tratamento de todas as doenças existentes no mundo. Além disso, não há como tratar doenças sem um profissional de saúde capacitado. Por exemplo, um clínico geral não é adequado para lidar com uma doença genética; assim também é no tratamento e mitiga- ção de riscos. Sempre será necessário consultar um profissional habilitado, mas nem sempre isso será suficiente. Em alguns casos, demanda-se alguém especializado e com experiência em determi- nado risco. Não é possível esgotar o assunto em tão poucas páginas, con- siderando que cada risco demanda um tratamento e estudo es- pecífico. Por isso, este capítulo focará em técnicas de mitigação e tratamento de riscos, os quais são diversos e de diferentes natu- rezas, apresentando prescrições mais abrangentes e de caráter geral. A ideia, aqui, é apresentar o processo de tratamento de risco, ilustrando algumas possibilidades e possíveis soluções para alguns exemplos de risco. Importa reforçar que, para um tratamento de risco oficial, é necessária a atuação formal de um profissional habi- litado e especializado. 5.1 Inspeções, vistorias e perícias de risco Vídeo Para tratar corretamente o risco, é necessário saber seu tamanho real. Nesse sentido, inspeções, vistorias e perícias são procedimentos válidos para conhecer o tamanho dos riscos. Tudo isso contribui para o dimensionamento e tratamento do risco, e, por vezes, os termos con- fundem-se, mas diferenças entre eles podem ser apontadas. A inspeção é um procedimento mais pontual, é o ato de examinar algo com uma abordagem específica e bem delimitada. Há diversos 118 Análise e gerenciamento de risco conceitos e ideias envolvidos na inspeção, que pode ser de vários tipos e ter diferentes profundidades. Por exemplo, em uma simples consul- ta, podem-se encontrar 244 citações de inspeção somente nos nomes das Normas Brasileiras (NBR) da ABNT. O projeto da NBR 16747 (Inspe- ção predial – diretrizes, conceitos, terminologia, requisitos e procedimento) traz a seguinte definição de inspeção, voltada à inspeção predial: Processo de avaliação predominantemente sensorial das condi- ções técnicas, de uso, operação, manutenção e funcionalidade da edificação e de seus sistemas e subsistemas construtivos, em um dado momento de sua vida útil (na data da vistoria), conside- rados os requisitos dos usuários. (ABNT, 2018a, p. 5) As inspeções podem: ter caráter geral, sendo executadas por ope- radores de maneira ordinária em sua rotina de trabalho ou pela CIPA, por exemplo; ser inspeções de rotina, feitas por encarregados; ser inspeções oficiais, como as realizadas por equipes especializadas de manutenção; ser inspeções especiais, executadas por fiscalizações, companhias de seguro ou inspeções de processo de certificação. A se- guir, pode-se observar um exemplo de inspeção. 1 6 11 3 8 13 2 7 12 4 9 14 5 10 15 O sistema de ignição está em ordem? A direção está boa? Há vazamento de gás? O farol de segurança está funcionando? A embreagem e o câmbio estão em boas condições? O estofamento está em boas condições? O óleo do cárter e o do hidráulico estão no nível? A torre está operando normalmente? A bandeja está limpa? A água da bateria e do radiador estão no nível? Há vazamento no radiador? Os pneus estão calibrados? Os freios estão funcionando bem? Parou por falta de gás? (botijão cheio) A pintura está em ordem? Item Discriminação Sim Não Quadro 1 Exemplo de inspeção rotineira para operador de empilhadeiras Fonte: Campos; Tavares; Lima, 2006, p. 353. Medidas de controle 119 A inspeção envolve as palavras verificações, procedimentos, análise, checagem e exame. As pessoas podem possuir uma concepção de inspe- ção já bem formada e, por isso, talvez seja importante ir além e destacar o que ela pode proporcionar na Segurança do Trabalho. Por ser uma medida de cuidado, além de identificar riscos, a inspeção avalia a confor- midade de uma peça, um equipamento, um procedimento ou uma ope- ração, levantando fatores de riscos facilmente identificáveis e evitando que eles ocorram. A permissão de trabalho (PT), apesar de não ser somente uma ins- peção, apresenta procedimentos que ilustram a ideia de uma. Ela é um documento que autoriza ao seu portador a execução de uma tarefa ou de um procedimento durante determinado tempo. É elaborada em duas vias, uma para ser portada pelo executor e outra para ser arquivada. A PT aponta etapas e contém instruções e medidas para trabalhos que oferecem riscos. Embora não tenha um modelo normalizado, a exigência de PT para alguns tipos de trabalho está prevista em diversas Normas Regulamentadoras (NRs). Segundo Camisassa (2015, p. 614-615), a permissão de trabalho é um documento escrito que contém o conjunto de medidas de segurança e controle visando a exe- cução de trabalho seguro. Em geral, contém também medidas de emergência e resgate. [...] Também devem ser precedidas de permissão de trabalho as atividades envolvendo o uso de equi- pamentos que possam gerar chamas, calor ou centelhas, nas áreas sujeitas à existência de atmosferas inflamáveis. As NR preveem que alguns tipos de tarefa ou trabalho somente po- dem ser executados após autorização manifestada por meio da PT. Al- guns exemplos são citados a seguir. NR 18 – Condiçõesde segurança e saúde no trabalho na in- dústria da construção 18.4.6.2 As tarefas envolvendo soluções alternativas somente devem ser iniciadas com autorização especial, precedida de análise de risco e permissão de traba- lho, que contemple os treinamentos, os procedimentos operacionais, os materiais, as ferramentas e outros dis- positivos necessários à execução segura da tarefa. [...] 18.10.1.19 Deve ser elaborada análise de risco específi- ca para movimentação de cargas não rotineiras, com a respectiva permissão de trabalho. [...] É possível verificar um exemplo de permissão de trabalho (PT) no Anexo 4 do Procedimento de SMS (Saúde, Meio Ambiente e Segurança) da Compa- nhia Paranaense de Gás (COMPAGAS). Nele, há um checklist de verificação de segurança e informa- ções para processos de fiscalização. Disponível em: http://licitacoes. compagas.com.br/edital.php?i- d=7376&idev=945&show=lc. Acesso em: 18 maio 2020. Saiba mais http://licitacoes.compagas.com.br/edital.php?id=7376&idev=945&show=lc http://licitacoes.compagas.com.br/edital.php?id=7376&idev=945&show=lc http://licitacoes.compagas.com.br/edital.php?id=7376&idev=945&show=lc 120 Análise e gerenciamento de risco 18.10.1.34 [...] a) o trabalho sob condições de ventos com velocidade acima de 42 km/h (quarenta e dois quilômetros por hora) deve ser precedido de análise de risco específica e autorizado mediante permissão de trabalho. (BRASIL, 2020, p. 3, 23 e 26, grifos nossos) NR 35 – Trabalho em Altura 35.2.1 Cabe ao empregador: [...] b) assegurar a realização da Análise de Risco – AR e, quando aplicável, a emissão da Permissão de Traba- lho – PT; [...] 35.4.8 A Permissão de Trabalho deve ser emitida, aprovada pelo responsável pela autorização da permis- são, disponibilizada no local de execução da atividade e, ao final, encerrada e arquivada de forma a permitir sua rastreabilidade. 35.4.8.1 A Permissão de Trabalho deve conter: a) os requisitos mínimos a serem atendidos para a exe- cução dos trabalhos; b) as disposições e medidas estabelecidas na Análise de Risco; c) a relação de todos os envolvidos e suas autorizações. 35.4.8.2 A Permissão de Trabalho deve ter validade limitada à duração da atividade, restrita ao turno de trabalho, podendo ser revalidada pelo responsável pela aprovação nas situações em que não ocorram mudan- ças nas condições estabelecidas ou na equipe de traba- lho. (BRASIL, 2019d, p. 1 e 5, grifos nossos) Por meio de ações de inspeção, são produzidos checklists de confor- midade, fomentados planos de manutenção e providas informações para processos de auditoria e fiscalização. Por exemplo, em determi- nada avaliação de um acidente, pode-se verificar se a inspeção prévia para a execução da tarefa foi cumprida ou não. As inspeções são a primeira medida de controle de risco, pois per- mitem identificar a manifestação prévia de riscos mais visíveis, preve- nindo sua materialização. Outra diligência de controle é a vistoria. Ela vai além do estado aparente e visual, podendo demandar instrumentos de medição apurados. A vistoria é composta de exames externos e in- ternos, ensaios (como medições de parâmetros, verificação de aciona- Medidas de controle 121 mento/desligamento e simulações de falha) e testes (hidrostático, de pressurização ou de estanqueidade, por exemplo). A Resolução n. 345, de 27 de julho de 1990, apresenta uma impor- tante definição de vistoria, que mostra que ela também é um exame, porém mais cuidado e criterioso (em comparação com a inspeção), com a descrição de fatos e aspectos. Segundo essa resolução, a vistoria “é a constatação de um fato, mediante exame circunstanciado e descri- ção minunciosa (sic) dos elementos que o constituem, sem a indagação das causas que o motivaram” (CONFEA, 1990, p. 1). De maneira geral, as vistorias podem produzir relatórios ou parece- res técnicos. Entre eles, o relatório é o produto mais simples de uma vistoria, e seus termos contêm a descrição objetiva e direta do que se vistoriou – um simples relatório fotográfico, por exemplo. Elas também podem gerar um parecer técnico, sendo que, nesse caso, há mais da- dos do que em um relatório descritivo. Usualmente, no parecer, há a exposição de referências normativas para fundamentação técnica ou científica, emite-se uma opinião técnica e/ou propõe-se um resultado da vistoria. Pode-se afirmar, de modo geral, que a vistoria visa da si- tuação presente à futura, sem focar muito nos aspectos passados de determinado equipamento, instalação, produto ou procedimento. No mínimo, um relatório deve ser produzido como produto da vis- toria, diferentemente das inspeções, que nem sempre refletem a ela- boração de algum documento. Outra diferença é que a vistoria tem um caráter mais minucioso do que a inspeção. Além disso, ela geralmen- te tem um objetivo definido, como atestar parâmetros e condições de segurança. A seguir, são apresentados alguns exemplos de prescrições de vis- toria previstas na NR 29 (Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário). 29.3.5.10 Os equipamentos terrestres de guindar e os acessórios neles utilizados para içamento de cargas devem ser periodicamente vistoriados e testados por pessoa física ou jurídica devidamente registrada no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agro- nomia – CREA. 29.3.5.10.1 A vistoria deve ser efetuada pelo menos uma vez a cada doze meses. 122 Análise e gerenciamento de risco 29.3.5.11 A vistoria realizada por Sociedade Classifi- cadora, que atestar o bom estado de conservação e funcionamento dos equipamentos de guindar e acessórios do navio, deve ser comprovada através de certificado que será exibido pelo comandante da em- barcação. (BRASIL, 2014, p. 15-16, grifos nossos) Por fim, pode-se chegar a um procedimento mais aprimorado e for- mal que a inspeção e a vistoria: a perícia. Além de conter todos os aspectos das outras diligências, ela mede o desempenho, apura causas e avalia impactos e consequências. Por isso, a perícia também se volta a fatos passados e, além disso, não faz apenas uma verificação visual, mas também inclui ouvir pessoas e verificar documentos relacionados a determinado equipamento, instalação, produto ou procedimento pe- riciado. Relatórios anteriores e prontuários de equipamentos também podem subsidiar informações para perícias. A Resolução n. 345 (CONFEA, 1990, p. 1) também traz uma definição para perícia e laudo: Perícia é a atividade que envolve a apuração das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos. Laudo é a peça na qual o perito, profissional habilitado, relata o que observou e dá as suas conclusões ou avalia o valor de coisas ou direitos, fundamentadamente. G az la st /A rt wo rk /S hu tte rs to ck Portanto, o produto da perícia é o laudo. A perícia também pode envolver a indicação de recomendações e soluções, bem como apon- tar uma avaliação qualitativa (por exemplo, atestar uma condição míni- ma de segurança) ou quantitativa (como apontar um valor numérico). Assim, o laudo, diferentemente de um relatório ou parecer técnico, identifica causas (anomalias, falhas ou manifestações patológicas) e/ou atribui um valor ou grau de avaliação. As perícias podem, também, avaliar a hostilidade de um ambiente de trabalho, atribuindo-lhe o caráter de insalubridade a fim de, preferen- cialmente, eliminar o agente insalubre (perigo). Caso não seja possível, podem recomendar o uso de equipamento de proteção coletiva (EPC) ou individual (EPI) – em último caso e na impossibilidade do uso de EPC. É Medidas de controle 123 importante destacar que toda perícia – incluindo medição – de agentes perigosos (como ruídos, gases ou temperatura) deve ser executada por profissional habilitado e de maneira formal, em um procedimento próprio especificado em normas e com instrumentos de medição calibrados. Cabe ressaltar, ainda, que adotar EPI como medida primária de pro- teção significa atestar que o perigo não foi eliminado,nem a exposição de uma determinada população foi mitigada. Portanto, decide-se expor o trabalhador a um ambiente inseguro e obrigá-lo a se proteger indi- vidualmente. Além disso, o EPI protege o trabalhador apenas se este tomar a conduta de usá-lo corretamente. Assim, pode-se perceber que os procedimentos inspeção, vistoria ou perícia são formas diferentes de identificar riscos e proporcionar medi- das de controle, pois podem prevenir e barrar a sua manifestação. Por exemplo, se a inspeção detectar uma anomalia de menor dimensão em um equipamento, ele pode ser substituído para que o risco não ocorra; ou, caso uma vistoria aponte alguma irregularidade grave, uma instalação pode ser interditada pelo próprio empregador, impedindo a materialização do risco; ainda, as perícias podem isolar ambientes para que ali seja proibido o trânsito ou a permanência de pessoas. Cabe ressaltar que o objetivo da execução de cada procedimento deve ser observado de maneira correta. A NR 29 apresenta, ainda, a prescrição de uma avaliação anual visando à análise, para fins de segurança, de um equipa- mento ou instalação. 29.3.8.6 A moega ou funil utilizado no descarregamento de granéis sólidos deve ser vistoriado anualmente, devendo o responsável técnico emitir um laudo, acompanhado da respectiva Anotação de Responsabilidade Téc- nica no CREA, que comprove que a estrutura está em condições operacionais para suportar as tensões de sua capacidade máxima de carga de trabalho seguro, de acordo com seu projeto construtivo. (BRASIL, 2014, p. 20, grifos nossos) Saiba mais 5.2 Mitigação e intervenção no risco Vídeo Esta seção dedica-se a ilustrar equipamentos, produtos e instalações para mitigar e tratar riscos. Inicialmente, é importante observar que po- deria ser elaborado um livro diferente para cada risco ou cada medida de controle de risco. Escrever um livro que abordasse todos os riscos ou medidas seria como escrever um único livro para todas as doenças e seus respectivos tratamentos – o que não é viável. Além disso, cada risco demanda um tipo específico de avaliação e de medidas. Como não é possível falar de todos os riscos e suas respectivas mi- tigações, esta seção poderia abordar aqueles derivados dos acidentes que ocorrem com maior frequência, registrados no Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho (AEAT) de 2017. 124 Análise e gerenciamento de risco Tabela 1 Número de acidentes de trabalho por Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) CNAE Descriminação da atividade 2015 2016 2017 8610 Atividades de atendimento hospitalar 57.198 55.870 53.524 Ignorado Atividades não listadas 52.280 49.063 43.794 4711 Comércio varejista não especializado 21.261 21.614 21.332 8411 Administração do estado e da política econômica e social 17.134 16.629 16.917 5310 Atividades de correio 15.425 14.738 12.580 4120 Construção de edifícios 15.075 11.917 9.178 4930 Transporte rodoviário de carga 13.814 13.135 12.729 1012 Abate e fabricação de produtos de carne 10.419 9.797 10.492 Fonte: Elaborada com base em Brasil, 2017, p. 15-24. É necessário fazer algumas considerações para a correta interpre- tação desses dados. Por exemplo, o número de acidentes pode ser di- retamente proporcional às atividades econômicas que mais empregam (em quantidade de trabalhadores). Outra possível interpretação direta pode ser que atividades hospitalares representam um número mais re- levante em quantidade de acidentes de trabalho. A Tabela 1 demonstra a quantidade absoluta de acidentes de trabalho por atividade. Às vezes, o mesmo acidente, derivado de um mesmo risco e tendo um determi- nado impacto, repete-se em diferentes atividades. Pode-se, também, listar os impactos no corpo humano mais recor- rentes derivados de acidentes de trabalho (Tabela 2). CID 10 QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO Total Com CAT Registrada Sem CAT registradaTotal Motivo Típico Trajeto Doença do Trabalho Total 549.405 450.614 340.229 100.685 9.700 98.791 S61 - Ferim do punho e da mão 52.172 50.461 49.005 1.403 53 1.711 S62 - Frat ao nível do punho e da mão 34.526 27.589 22.428 5.093 68 6.937 S93 - Luxac entors distens artic lig niv tornoz pé 25.327 23.595 16.110 7.437 48 1.732 S60 - Traum superf do punho e da mão 24.143 23.567 20.594 2.933 40 576 M54 - Dorsalgia 20.599 9.820 7.676 1.553 591 10.779 (Continua) Tabela 2 Acidentes de trabalho de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), em 2017 Medidas de controle 125 CID 10 QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO Total Com CAT Registrada Sem CAT registradaTotal Motivo Típico Trajeto Doença do Trabalho S82 - Frat da perna incl tornozelo 19.648 13.852 5.985 7.832 35 5.796 S92 - Frat do pé 17.938 13.850 9.238 4.563 49 4.088 S80 - Traum superf da perna 15.633 15.025 9.068 5.932 25 608 S52 - Frat do antebraço 14.965 10.940 6.075 4.830 35 4.025 Z20 - Contato exposição a doenc transmissíveis 14.155 14.145 13.969 25 151 10 S90 - Traum superf do tornozelo e do pé 13.865 13.410 10.202 3.192 16 455 M75 - Lesões do ombro 12.834 3.453 1.246 338 1.869 9.381 S42 - Frat do ombro e do braço 10.295 7.550 2.576 4.956 18 2.745 S01 - Ferim da cabeça 9.846 9.755 8.810 928 17 91 T14 - Traum de região NE do corpo 9.715 9.585 6.710 2.858 17 130 F43 - Reações ao stress grave e transt adap- tação 9.767 7.266 6.393 382 491 2.501 Fonte: Adaptada de Brasil, 2017, p. 536. Percebe-se que ferimentos, fraturas e traumas no punho e na mão são os impactos mais frequentes. Em uma leitura rápida, nota-se que agra- vos nos membros superiores e inferiores também são recorrentes. Além disso, destacam-se os impactos do estresse como acidentes do trabalho. Uma terceira análise seria ainda mais interessante: qual é a causa mais comum dos acidentes de trabalho? Apesar de existirem gráficos, históricos e registros, há certa dificuldade em se hierarquizar as causas mais comuns. Por exemplo, na ocorrência de um trabalhador que cai da escada, a causa seria falta de EPI, de EPC, de análise de risco, de organização do sistema de trabalho ou de todas as opções? Conforme argumentado anteriormente, todo acidente tem diversas causas, então todos os aspectos podem ser considerados. Assim, não é uma tarefa tão simples classificar causas de acidente de trabalho. Nesse sentido, busca-se, aqui, demonstrar especialmente as possibilidades de eliminação da ameaça/perigo e o afastamento da vulnerabilidade (reduzir exposição e impacto do perigo), de acordo com hierarquia das medidas de controle de risco. Evita-se dar destaque ao EPI, tendo em vista que ele deve ser a última proposta de solução. Diante de tantas opções de medida de controle que podem ser estuda- das com mais detalhes, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Fundacentro, elaborou uma série de materiais educativos chamada Recomendação Técnica de Procedimento, para educação técnica e orientação na prevenção e tratamento de deter- minados riscos. Nesse material, são estudadas e ilustradas as medidas de controle de alguns riscos, como queda e instalações elétricas. Disponível em: http://www.funda- centro.gov.br/biblioteca/recomen- dacao-tecnica-de-procedimento. Acesso em: 18 maio 2020. Saiba mais http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento 126 Análise e gerenciamento de risco Figura 1 Hierarquia de medidas no controle de riscos Eliminar Sim Sim Não Não Proteger Prevenir Fonte: Rocha; Pampalon, 2018, p. 13. Algumas medidas de controle de risco são apresentadas a partir dessa hierarquia. Foca-se especialmente na eliminação do perigo, no afastamento da vulnerabilidade ou na diminuição do impacto negativo. Caso a eliminação não seja possível, parte-se para a prevenção e, en- tão, para a proteção. Queda O primeiro perigo a ser ilustradoé o trabalho em altura. A situação ideal para eliminar o risco seria não existir esse tipo de trabalho, no entanto nem sempre isso é possível. Então, há algumas medidas para impedir que o trabalhador se aproxime do perigo. Frequentemente, pensa-se que a segurança envolve grandes e dis- pendiosas medidas, mas isso nem sempre é verdade. Porém, ações sim- ples também podem não resolver todos os casos. Por exemplo, para impedir choques mecânicos contra escadas temporariamente instala- das, pode-se adotar sinalização, o que não impedirá esse tipo de aci- dente. Uma medida mais completa seria a colocação de barreiras, que, além de sinalizar, sofrerão o primeiro choque contra objetos e veículos, evitando melhor a colisão de objetos e veículos contra as escadas. Figura 2b A falta de barreiras pode ocasionar acidentes Da is y D ai sy /S hu tte rs to ck Figura 2a Instalação de barreiras para prevenir choques contra escadas instaladas Ih ar K re nt s/ Sh ut te rs to ck Medidas de controle 127 Outra situação de acidente muito comum envolvendo a escada diz respeito a modos de descolamento indesejado da sua base: ela pode cair devido ao peso de um operador, pode haver má instalação, excesso de angulação no posicionamento da escada, entre outros fato- res. Uma forma de impedir o deslocamento é fixar adequadamente a base, como na Figura 3a. Figura 3b Exemplo incorreto de fixação da base e da parte superior da escada D irk O tt/ Sh ut te rs to ck Figura 3a Exemplo correto de fixação da base da escada Ja cq ui M ar tin /S hu tte rs to ck A altura é um perigo e, às vezes, ela não pode ser eliminada. Con- tudo, o trabalhador pode estar sujeito à altura, mas não deve estar exposto à queda. Essa não é uma escolha do trabalhador. Por falta de atenção ou problema de saúde (até mesmo a má alimentação), o em- pregado pode se colocar em situação de queda sem querer. Por isso, é sempre necessário protegê-lo contra essa situação, tendo em mente que, às vezes, nem ele mesmo pode impedir sua desatenção. Nesse sentido, há diversas soluções. Um exemplo de medida que previne quedas involuntárias é o guarda-corpo 1 , uma barreira de proteção formada por um painel ou placas e que impede quedas. Ele deve ser corretamente dimensionado e executado em um canteiro de obra, con- forme prescrições das NR, em especial a NR 18. Figura 4a Exemplo de guarda-corpo metálico m uj ijo a7 9/ Sh ut te rs to ck Figura 4b Prescrições normativas do sistema guarda-corpo-rodapé (GCR) 1,50 m 0,20 m 0,70 m 1,20 m Rodapé 0,20 mDistância Máxima Montante Travessão intermediário Travessão superior IE SD E Usualmente, em obras, o guar- da-corpo é citado como sistema guarda-corpo-rodapé (GCR). 1 128 Análise e gerenciamento de risco A função essencial do GCR é impedir que o trabalhador se colo- que em zona de vulnerabilidade de queda. No modelo apresentado ( Figura 4b), o sistema possui uma travessa inferior que funciona como rodapé para impedir que o pé de apoio do trabalhador pise fora de plataformas, evitando desequilíbrios, torções e quedas, por exemplo. A situação de risco pode tornar-se pior caso um GCR seja instalado sem a proteção adequada, pois, nesse caso, o trabalhador pode acabar con- fiando e buscando proteção em uma barreira insegura. Além disso, o GCR deve possuir resistência mecânica suficiente e o número míni- mo de travessas ou um painel fechado. Figura 5b Ausência de guarda-corpo-rodapé de escada em obras (exemplo incorreto). M ar us oi /S hu tte rs to ck Figura 5a Exemplo correto de guarda-corpo- -rodapé de escada em obras Ra in er B ok el m an n/ Sh ut te rs to ck Pode-se discorrer sobre a proteção contra quedas por diversas pá- ginas. É importante sempre considerar os perigos envolvidos das ativi- dades produtivas. Além disso, deve-se pensar em quem está exposto a esse risco. Observa-se que o objetivo é eliminar o perigo. Não sendo possível fazê-lo, considera-se um modo de prevenir a exposição. A ideia aqui é expor essa forma de pensar na mitigação de risco: planeja-se al- guma medida de proteção cuja aplicação não dependa da escolha do trabalhador ou que não seja possível usar inadequadamente. A seguir, será apresentado outro risco muito comum: as descargas elétricas. Descarga elétrica O para-raios, ou SPDA, é um exemplo de proteção coletiva sobre a qual o trabalhador não tem opção de escolha de uso. Nesse caso, o perigo é uma descarga elétrica indesejada que não pode ser evitada, pois trata-se de um fenômeno da natureza. O foco, então, é impedir a exposição de pessoas e animais a esse perigo. A forma de fazer isso SPDA: sistemas de proteção contra descargas atmosféricas. Glossário Medidas de controle 129 é captá-la propositalmente e conduzi-la ao solo de maneira segura. A proteção, nesse caso, passa até despercebida pelas pessoas que even- tualmente estariam expostas ao perigo da corrente elétrica da descar- ga atmosférica. Correntes elétricas indesejadas são um perigo frequente. Nesse caso, o perigo ou a ameaça são bem identificados. Inicialmente, pode-se focar em eliminar a ameaça de correntes elétricas indesejadas não permitindo sua existência ou deslocando-as para um local seguro, longe de animais ou humanos. Um exemplo de medida de controle de simples execução, executada por profissional habilitado e que funciona da maneira citada, é o aterramento. Esse também pode ser conside- rado um EPC, pois não depende da escolha ou da utilização correta por um operador, ao contrário do EPI. O aterramento permite eliminar o perigo, isto é, a corrente elétrica, bem como previne a vulnerabilidade – por vezes, a corrente indesejada pode existir, mas o trabalhador não estará vulnerável a ela. As figuras a seguir ilustram partes de um siste- ma de aterramento. Figura 6b Fiação de aterramento Figura 6c Eletrodo de aterramento Figura 6a Conexão de eletrodo de aterramento Conexão do eletrodo de aterramento Fiação de aterramento Eletrodo de aterramento Ad ap ta da d e ru m ru ay /S hu tte rs to ck W ic hi en T ep su tti nu n/ Sh ut te rs to ck Ad ap ta da d e Da rk W ea po n/ Sh ut te rs to ck Nem sempre é possível impedir a existência da ameaça, então volta-se para impedir a vulnerabilidade. Separar pessoas de perigos é uma das estratégias primárias. Uma solução simples quando bem exe- cutada e que, por vezes, é ignorada ou negligenciada é o isolamento. Como o nome diz, o procedimento visa separar o perigo de pessoas. Quando correto, o isolamento elétrico possui uma emenda bem feita e devidamente isolada com fita isolante ou outra medida. Emendas ex- postas, não isoladas ou isoladas inadequadamente são fontes primá- rias de descargas elétricas (choques) e curtos-circuitos. 130 Análise e gerenciamento de risco Ca se yF ot os /S hu tte rs to ck Figura 7b Exemplo incorreto de emendas e isolamento elétrico Figura 7a Exemplo correto de emendas e isolamento elétrico Fl eg er e/ Sh ut te rs to ck Medidas de proteção bem pensadas e projetadas impedem a con- cretização do perigo, mesmo quando ele é concretizado de modo pro- posital e inadequado. O trabalhador, às vezes, deseja o resultado de uma ação, mas não conhece os riscos envolvidos na sua conduta. Por isso, a medida de proteção deve também pensar em protegê-lo de ações deliberadas e intencionais de operação que gerem riscos. Exem- plo disso são os dispositivos de bloqueio de disjuntores elétricos, que impedem o acionamento indesejado de circuitos elétricos em uma operação de manutenção. Figura 8a Travamento contra acionamento inadequado de circuito elétrico th eD ire ct or A la n Ja m es A ge r/ Sh ut te rs to ck Figura 8b Religação inadequada de circuito durante manutenção Fr an ce sc om ou fo to gr af o/ Su tiw at J ut ia m or nl oe s/ Sh ut te rs to ck Foi apresentado apenas um pequeno número de exemplos de dois riscos: quedas e descargas elétricas. Este livronão tem a intenção de esgotar quaisquer medidas de controle de risco, mas sim de demons- Medidas de controle 131 trar pensamentos, estratégias e opções de mitigação de risco, além do EPI. Quando se discute segurança e bem-estar no trabalho, não deve ser o trabalhador aquele a se adaptar ao ambiente de trabalho, mas sim este a se adaptar para oferecer segurança ao trabalhador. Por fim, é muito importante que qualquer medida de proteção a riscos seja formalmente dimensionada por meio de um projeto e executada con- forme instruções técnicas, sob responsabilidade de um profissional es- pecializado e habilitado. 5.3 Sinalização de segurança Vídeo Uma medida importante para a Segurança do Trabalho é a sinalização. A sinalização de segurança, seja em um produto, equipamento ou instala- ção, previne diversos riscos, buscando evitar que o trabalhador passe por uma exposição desnecessária ou insegura. Essa não é uma atividade alea- tória, portanto há regras para sua instalação e uso, que deve seguir as prescrições de normas. O Decreto n. 10.088 2 , de 5 de novembro de 2019, afirma que as “convenções anexas a este De- creto serão executadas e cumpridas integralmen- te em seus termos” (BRASIL, 2019a). Dessa forma, transforma em obrigação legal a sinalização de se- gurança. Destacam-se, a seguir, alguns pontos rele- vantes desse decreto. Artigo 7 ROTULAÇÃO E MARCAÇÃO 1. Todos os produtos químicos deverão portar uma marca que permita a sua identificação. [...] Artigo 8 FICHAS COM DADOS DE SEGURANÇA 1. Os empregadores que utilizem produtos químicos pe- rigosos deverão receber fichas com dados de seguran- ça que contenham informações essenciais detalhadas sobre a sua identificação, seu fornecedor, a sua classifi- cação, a sua periculosidade, as medidas de precaução e os procedimentos de emergência. [...] O Decreto n. 10.088 (BRASIL, 2019a) “consolida atos normativos editados pelo Poder Executivo Federal que dispõem sobre a promulgação de convenções e recomendações da Organização Internacional do Trabalho - OIT ratificadas pela República Federativa do Brasil”. 2 132 Análise e gerenciamento de risco PARTE IV RESPONSABILIDADE DOS EMPREGADORES Artigo 10 IDENTIFICAÇÃO 1. Os empregadores deverão assegurar-se de que todos os produtos químicos utilizados no trabalho estejam etiquetados ou marcados, de acordo com o previsto no Artigo 7, e de que as fichas com dados de segurança foram proporcionadas, segundo é previsto no Artigo 8, e colocadas à disposição dos trabalhadores e de seus representantes. (BRASIL, 2019a) A principal norma de sinalização de caráter técnico é a NR 26 (Sinalização de Segurança). É uma regulação bem curta, mas com indica- ções relevantes para uso de sinalização. A norma possui como escopo a adoção de cores de segurança para indicação e advertência de riscos, podendo ser aplicada também para indicar equipamentos, delimitar áreas e identificar dutos e instalações hidráulicas ou de gases. Apesar de prescrever determinas ações e providências, a NR 26 não aponta, na maioria dos casos, qual regramento utilizar, sendo necessário con- sultar e adotar outras normas relacionadas, como as NBRs da ABNT (BRASIL, 2015). No quadro a seguir, é possível ver quais são as cores de segurança indicadas e seus respectivos usos. O Senai desenvolveu e publicou o Guia de sinalização de segurança no trabalho industrial gráfico. O material é bem rico e mostra diversas aplicações e exemplos ilustrados. Recomenda-se a leitura para que você tenha uma noção abran- gente sobre a sinalização de segurança. AZEVEDO, M. A. do C. de.; MINEIRO, E. F.; CECÍLIA, L. F. C. S. Brasília: Senai/DN, 2010. Disponível em: https://nstnaweb.files.wordpress. com/2013/02/guia-de-sinalizac3a- 7c3a3o-industria-grc3a1fica.pdf. Acesso em: 18 maio 2020. Livro Quadro 2 Cores de segurança a serem aplicadas a equipamentos, mensagens, produtos, avisos e instalações. Cor Vermelho Laranja Amarelo Verde Proibição, parada obrigatória, botões de emergência, mangueira de acetileno em equipamentos de soldagem oxiacetilênica, equipamentos e instalações de seguran- ça contra incêndio, entre outros. Perigo, equipamentos de salvamento aquático, partes móveis de máquinas e equi- pamentos, tubulações de produtos químicos não gasosos (ácido), entre outros. Advertência, faixas e limitações de segurança, letreiros de advertência, cancelas, tubulações de gases não liquefeitos (GLP), entre outros. Condição segura, caixas de primeiros socorros, chuveiro de emergência e lava-olhos, delimitação de área segura, rota de fuga, mangueira de oxigênio em equipamentos de soldagem oxiacetilênica, tubulações de água (exceto de incêndio), entre outros. (Continua) Exemplo de aplicação https://nstnaweb.files.wordpress.com/2013/02/guia-de-sinalizac3a7c3a3o-industria-grc3a1fica.pdf https://nstnaweb.files.wordpress.com/2013/02/guia-de-sinalizac3a7c3a3o-industria-grc3a1fica.pdf https://nstnaweb.files.wordpress.com/2013/02/guia-de-sinalizac3a7c3a3o-industria-grc3a1fica.pdf Medidas de controle 133 Cor Azul Roxo Branco Sinais de ação obrigatória, mensagem de caráter mandatório, uso de EPI, tubulações de ar comprimido, entre outros. Perigo de radiações penetrantes, partículas nucleares, materiais radioativos ou radiações eletromagnéticas, entre outros. Marcação de espaços para passagem exclusiva de pessoas e marcação de área em torno de equipamentos de emergência ou primeiros socorros, tubulações com vapor, entre outros. Exemplo de aplicação Fonte: Elaborado pelo autor com base em ABNT, 2018b; ABNT, 2019. A NR 26 (BRASIL, 2015) também prescreve a rotulagem preventiva, que consiste em informações escritas, impressas ou ilustradas e fixa- das ou anexadas a um determinado produto químico. Para os produtos perigosos, deve haver os seguintes elementos: Identificação e composição do produto químico Frase(s) de perigo Pictograma(s) de perigo Frase(s) de precaução Palavra de advertência Informações suplementares A NR 26 não especifica a forma da rotulagem, mas indica como pa- drão o Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotula- gem de Produtos Químicos (GHS), da Organização das Nações Unidas. O GHS é um critério mundial de classificação, rotulagem harmonizada e ficha de segurança de produtos químicos. De acordo com Camisassa (2015, p. 670), o GHS apresenta as seguintes informações: classificação, rotulagem e ficha com dados de segurança. A Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) é um documento que deve ser elaborado para todos os produtos quí- micos (perigosos ou não) cujo manuseio ou armazenamento possa ge- rar riscos. A responsabilidade pela elaboração da FISPQ é do fabricante ou do fornecedor nacional do produto químico. Conforme explicado, às vezes é necessário consultar outras leis e normas para adotar cor- retamente um sistema de sinalização de segurança. Seguem alguns exemplos: • Resolução n. 5.232, de 14 de dezembro de 2016: Aprova as instruções complementares ao regulamento terrestre do trans- porte de produtos perigosos. • ABNT NBR ISO 3864-1 – Símbolos gráficos: Cores e sinais de segurança; Parte 1: Princípios de design para sinais e marcações de segurança. • ABNT NBR 13434: Sinalização de segurança contra incêndio e pânico. • ABNT NBR 14725 – Produtos químicos: Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente. Saiba mais 134 Análise e gerenciamento de risco Quadro 3 Exemplos de sinalização de segurança Forma geométrica Significado Cor de segurança Cor de contraste Cor do símbolo gráfico Exemplo de uso Círculo com barra diagonal Proibição Vermelho Branco Preto • Proibido fumar; • Proibido veículos não autorizados; • Proibido beber. Círculo Ação obrigatória Azul Branco Branco • Use proteção nos olhos; • Use EPI; • Desligue antes do início do trabalho. Triângulo equilátero Aviso Amarelo Preto Preto • Perigo: superfície quente; • Perigo: ácido; • Perigo: alta voltagem.Quadrado Retângulo • Condição segura; Meios de fuga; Equi- pamento de segurança Verde Branco Branco • Sala de primeiros socorros; • Saída de emergência; • Ponto de encontro. Quadrado Retângulo Segurança contra incêndio Vermelho Branco Branco • Alarme manual de incêndio; • Equipamento contra incêndio; • Extintor de incêndio. Quadrado Retângulo Informação complementar Branco ou a cor do sinal de segurança Preto ou a cor contrastante com o sinal de segurança Cor do símbo- lo do sinal de segurança • Conforme necessário para reforçar a men- sagem fornecida pelo símbolo gráfico. Fonte: Adaptado de ABNT, 2013, p. 4. A sinalização de segurança é uma medida de controle de risco, es- pecialmente por identificar e alertar sobre riscos no ambiente de tra- balho. Sua implementação correta informa sobre a existência de riscos e previne que o trabalhador ou usuário adote um procedimento inse- guro ou que gere riscos. Conforme outras medidas, a execução dela não é aleatória e depende de dimensionamento, projeto e correta ins- talação, além da atuação de um profissional habilitado e especializado. Medidas de controle 135 5.4 Manutenção das medidas de controle de risco Vídeo Pensando em todo o conteúdo visto até aqui, percebe-se que, em termos gerais, o planejamento é umas das etapas mais relevantes para mitigação de risco. Logo após, vem a execução das medidas de controle de risco. Por fim, são necessárias a manutenção e a revisão das medidas. Esta seção visa estudar especificamente o processo de manutenção e apresentar as concepções envolvidas, para que seja possível entender que essa é uma forma plena de prevenção e tratamento de riscos. Toda pessoa tem uma ideia de manutenção formada, que pode ser mais ou menos abrangente. Basicamente, ela está relacionada aos se- guintes verbos e expressões: tratar, reparar, conservar, fazer funcionar, recuperar, consertar, reparar, retornar à função original, providenciar segurança, manter função original, adaptar para funcionar, alterar par- tes que não funcionam para fazer funcionar um sistema, entre outras. Algumas vantagens da manutenção de peças, equipamentos, siste- mas e instalações são: • recupera o estado de uso ou de operação; • garante bom estado de operação; • faz estruturas e componentes retornarem a um ponto anterior à fragilidade ou à debilitação da sua durabilidade, conforto, apa- rência, funcionalidade, estética, desempenho ou funcionamento; • provê recomposição das partes que não estão funcionando adequadamente; • assegura capacidade plena; • preserva características e o desempenho original; • mantém a funcionalidade. O que deve ficar claro é que a manutenção tam- bém garante a segurança dos usuários, mantendo a condição segura de funcionamento de uma peça, um equipamento ou uma instalação. É necessário que todo equipamento, instalação ou medida de prote- ção passe por manutenção. Além disso, deve ser feito um planejamento da manutenção, que prevê atitu- des a serem tomadas ao longo do tempo, bem como peças a serem substituídas. O exemplo mais claro de manutenção é a cor- retiva ou reparativa. Esse tipo de manutenção é realizado após a ocorrência de falha, defeito ou de- Até que ponto a falta de manutenção pode influenciar acidentes? O que seria mais co- mum: incêndio em carros devido a colisões ou à falta de manutenção veicular? Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo, a falta de manutenção é a principal causa dos incêndios nos veículos (ANDRADE, 2019). Em um ambiente de trabalho, o processo é semelhante: na ausência de manutenção de equipamentos e instalações, as falhas pontuais de componentes levam a acidentes relevantes. Curiosidade 136 Análise e gerenciamento de risco sempenho insuficiente. Na maior parte das vezes, ele depende da troca de peça ou componente e demanda interrupção na atividade produti- va. Essa medida, apesar de necessária, nem sempre é a melhor opção devido aos seus altos custos e por ser reativa. Cabe ressaltar que a manutenção não é opção, mas sim uma obri- gação. Além disso, o empregador deve comprovar o histórico de manu- tenções realizadas. Com base na NR 12, Camisassa (2015, p. 340, grifos nossos) apresenta algumas prescrições normativas sobre manutenção preventiva e corretiva. Destaca-se a obrigatoriedade do registro de ma- nutenções e de alguns de seus dados. As máquinas e equipamentos devem ser submetidos a manuten- ções preventiva e corretiva. A forma dessas manutenções e sua periodicidade devem ser determinadas pelo fabricante, con- forme as normas técnicas oficiais nacionais vigentes e, na falta destas, as normas técnicas internacionais. As manutenções pre- ventivas que tenham potencial de causar acidentes do trabalho devem ser objeto de planejamento e gerenciamento efetuado por profissional legalmente habilitado. A atual redação da NR12 também exige o registro em livro próprio, ficha ou sistema infor- matizado, das manutenções preventivas e corretivas, deven- do esse registro conter os seguintes dados: a. cronograma; b. intervenções realizadas; c. data da realização de cada intervenção; d. serviço realizado; e. peças reparadas ou substituídas; f. condições de segurança do equipamento; g. indicação conclusiva quanto às condições de segurança da máquina; e h. nome do responsável pela execução das intervenções. A segunda possibilidade de manutenção, conforme afirmado por Camisassa, é a preventiva, também chamada de programada ou pla- nejada. Como o nome diz, ela cumpre um planejamento de conjunto de operações e ações executadas de maneira antecipada à falha ou ao defeito, dentro de um intervalo temporal. Esse tipo de manutenção ge- ralmente depende de alguma intervenção manual, e nela são inclusos ensaios, testes, ajustes, calibrações, limpeza, pintura, reconstituição e substituição de componentes e peças. Um exemplo simples de manutenção preventiva é a revisão de roti- na em veículos. Ela apresenta uma série de diligências que um técnico Medidas de controle 137 deve executar em um veículo, como alguma substituição de peça (troca de filtro), limpezas, verificações com instrumento (como alinhamento) e verificações visuais simples. A manutenção preventiva nem sempre visa a um reparo, às vezes, apenas evita que ele precise ser realizado. E nem sempre tem como objetivo o equipamento ou um subsistema em si, mas sim algum com- ponente acessório vulnerável. A seguir, é possível verificar um exemplo de manutenção preventiva predial. Quadro 4 Exemplo de etapa de planejamento da manutenção preventiva predial Telhado e cobertura Estrutura Condição da estrutura Limpeza ou rea-perto realizada? Algum serviço a fazer? Verificar infiltrações e umidade no teto interno Ambiente com problemas: Verificar rachaduras e telhas quebradas RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Limpar todas as calhas por completo RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar a existência de ralo tipo “abacaxi” RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar a necessidade de podas de árvores RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar limpeza e entupimento da queda vertical RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar caixas que recebem água do tubo coletor vertical RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar estado de rufos e platibandas RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar desnivelamento, destacamento e desen- caixes de calhas e de rufos RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar falhas e descontinuidades na impermea- bilização ou nas mantas RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar pontos de ferrugem nas estruturas metá- licas do telhado RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar falta ou mal aperto de parafusos de fixa- ção das telhas RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar crescimento de espécies vegetais no te- lhado, eliminando-as, se houver RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar limpeza de filtros e cisternas do sistema de reaproveitamento de água RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO (Continua) Planilha de manutenção predial Quartel Dia / / 2018 Horário : Fiscal de quartelque acom- panhou Fiscal de quartel que acompanhou 138 Análise e gerenciamento de risco Pátio, águas pluviais e área verde Estrutura Condição da estrutura Limpeza ou rea-perto realizada? Algum serviço a fazer? Especi- ficar Verificar limpeza e entupimento de todas as bocas-de-lobo RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Limpar todas as calhas de piso RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Verificar se há águas pluviais sendo direcionadas para a rede de esgoto RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO Fonte: Elaborado pelo autor. A manutenção preventiva visa manter as condições de operação originais de equipamentos e instalações, prevenindo falhas e defeitos (dentro do planejamento previamente estabelecido). Ela é muito im- portante e pode apresentar custos menores do que os da manutenção corretiva. Entretanto, mesmo cumprindo programações de substitui- ção de peças, pode haver verificações insuficientes, falhas antes do pra- zo previsto e substituições desnecessárias ou excessivas caso haja um planejamento inadequado. A manutenção preventiva também não é opção, e o empregador pode precisar comprovar o histórico de manutenções realizadas. Camisassa (2015, p. 340) faz comentários sobre essa manutenção com base na versão anterior da NR 18, mas que ainda são válidos: Programa de Manutenção Preventiva As empresas usuárias de equipamentos de movimentação e transporte de materiais e/ou pessoas deverão elaborar “Progra- ma de Manutenção Preventiva” com base nas recomendações fornecidas pelo locador, importador ou fabricante. Esse pro- grama deve prever, por exemplo, os itens a serem verificados diariamente pelo trabalhador responsável pela operação do equipamento, bem como procedimento de verificação, confor- me determina a redação o item 18.14.7. O Programa de Manu- tenção Preventiva deve ser mantido junto ao Livro de Inspeção do Equipamento. Por fim, pode-se citar mais uma classificação de manutenção: a preditiva. Ela demanda acompanhamento sistemático de peças, equi- pamentos e instalações. É uma manutenção prospectiva, que visa ao monitoramento por meios de sondagens contínuas, detalhadas, com instrumental específico e pessoal especializado. Medidas de controle 139 Figura 9 Exemplo de diligência em manutenção preventiva predial, com uso de câmera térmica para verificação de pontos de aquecimento em quadro de distribuição de força (QDF). Dm itr y K al in ov sk y/ Sh ut te rs to ck A manutenção preditiva compõe-se de verificações pontuais que vi- sam prognosticar potenciais distúrbios. Esses distúrbios representam despesas adicionais e incidentais de manutenções corretivas. Assim, a manutenção preditiva se propõe a detectar falhas ocultas e não per- ceptíveis antes que gerem reparos dispendiosos. Sua execução deman- da melhor planejamento e instrumental, mas também oferece maior confiabilidade e, usualmente, é a mais econômica (quando comparada às manutenções corretiva ou preventiva). Essa manutenção também tem previsão em algumas NR. Nos comen- tários à NR 13, Camisassa (2015, p. 364, grifos do original) discorre resu- midamente sobre a diferença entre manutenção preventiva e preditiva: A manutenção preventiva, também conhecida como Time Based Maintenance (TBM), é realizada a intervalos predefinidos de tempo. Essa manutenção tem por objetivo reduzir falhas ou que- das no desempenho dos equipamentos, mantendo o sistema em estado operacional ou disponível por meio da prevenção da ocorrência de falhas. A manutenção preditiva, também conhecida como Condition Based Maintenance (CBM), corresponde a um conjunto de atividades perió- dicas de acompanhamento das condições, variáveis e parâmetros dos equipamentos (por exemplo, temperatura, vibração, viscosida- de do óleo), que indicam sua performance ou desempenho, com o objetivo de definir a necessidade ou não de intervenção. 140 Análise e gerenciamento de risco É possível exemplificar situações que demonstram manutenção inadequada: pontos de aquecimento em instalações elétricas, peças móveis em contato quando não deveriam estar, ruídos não previstos, desgastes e falhas em tranças de cabos, entre outros. Todas essas si- tuações, quando mal monitoradas e sem intervenção de manutenção, conduzem a acidentes. O ideal é que o plano de manutenção seja infor- matizado por meios de aplicativos e sistemas de registros e controles, de modo a reduzir o impacto da sempre presente falha humana. Imagine determinada instalação que contém equipamentos que não podem sofrer uma variação relevante de valores de pressão e temperatura. Qual seria uma técnica de análise de risco apropriada para tal instalação? Prova- velmente a HAZOP, por trabalhar com desvios em parâmetros planejados. Sendo assim, qual tipo de manutenção poderia ser favorecida nessa instalação? Cabe observar que isso não significa dizer que as outras possibilidades de manutenção não devam ser executadas. Uma manutenção preditiva pode ser melhor associada a uma análise HAZOP, por exemplo. A análise HAZOP, como estudado, dedica-se à identificação de desvios de parâmetros, como temperaturas maiores, pressões menores e misturas insuficientes. A manutenção preditiva tem foco no acompanhamento constante de desempenho de equipamentos e instalações. Assim, harmoniza-se a manutenção com a técnica de análise de risco executada, favorecendo a segurança. Estudo de caso 5.5 Investigação de incidentes e acidentes Vídeo Foram apresentadas diversas medidas de controle, mas, ainda assim, um acidente pode ocorrer. É importante frisar que, mesmo que ele aconteça, é possível favorecer o conforto e o bem-estar no traba- lho, além da produtividade. Em outras palavras, podem ser extraídas valiosas lições dos erros cometidos. O ideal é não haja acidentes, mas sua ocorrência de maneira nenhuma pode ser menosprezada no aper- feiçoamento da segurança. Após a ocorrência de um acidente, é fundamental a execução de in- vestigação. A palavra investigação, usualmente, está relacionada à apu- ração criminal ou à responsabilização. Entretanto, é necessário destacar que ela vai além disso. A investigação, de maneira geral, é um estudo sério, formal e detalhado; é uma averiguação que, nesse caso, visa es- clarecer aspectos, fatos e acontecimentos relacionados a um acidente. O objeto da investigação de um acidente não é somente o acidente em si, mas também o incidente, já que este é o anúncio daquele – sen- do assim, o acúmulo de incidentes denuncia a proximidade de um aci- dente. Dessa forma, a investigação de incidentes previne a ocorrência Medidas de controle 141 de acidentes. Quando investigado o incidente, permite-se a identifica- ção da demanda de tratamento de ameaças de perigos. O incidente sempre demanda alguma intervenção imediata e, quando ela é negli- genciada, favorece-se o acidente. Apesar de não estar diretamente relacionado ao ambiente de trabalho, ilustra-se um exemplo de incidente ignorado que levou a uma tragédia. Em determinado condomínio residencial, havia uma quadra poliesportiva. Diversos moradores relatavam receber descargas elétricas de menor dimensão (choques elétricos leves) ao prati- car esportes nessa quadra, especialmente ao se encostar na cerca e nas partes metálicas. Apesar ser um incidente característico, não houve intervenção. Em determinado dia, após ocorrência de chuva, um jovem saudável e descalço, com o corpo suado após jogar futebol, recebeu uma forte descarga elétrica ao se encostar em uma parte metálica da quadra. Tragicamente, a descarga foi fatal e o jovem veio a falecer. Os relatos dos moradores eram similares: “sempre teve choque, mas nunca ninguém se machucou”. Perceba como a ausência de investigação e a falta de intervenção imediata, mesmo em incidentes, favorece a ocorrência de acidentes. Pare e pense: seria esse caso realmente um acidente ou uma tragédia anunciada? Estudo de caso Antes de falar em investigação, é necessário falar da obrigatorieda- de da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). A lei e algumas NR exigem a notificaçãode acidente de trabalho à Previdência Social e/ou ao Ministério do Trabalho. A Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, bem como algumas NR, como a NR 18, preveem a obrigatoriedade de comu- nicado formal de acidente. Art. 22. A empresa ou o empregador doméstico deve- rão comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade compe- tente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, sucessiva- mente aumentada nas reincidências, aplicada e cobra- da pela Previdência Social. (BRASIL, 1991, grifos nossos) NR 18 – Condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção 18.16.23 Em caso de ocorrência de acidente fatal, é obri- gatória a adoção das seguintes medidas: a) comunicar de imediato e por escrito ao órgão regio- nal competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, que repassará a informação ao sindicato da categoria profissional. (BRASIL, 2020, p. 44) 142 Análise e gerenciamento de risco É importante que o empregador, ao comunicar um acidente de trabalho, demonstre que, para aprimorar a segurança e prevenir uma nova ocorrên- cia do acidente, adotou medidas eficientes após uma investigação apro- priada. Entretanto, essa não pode ser a motivação principal para conduzir a investigação. Se executada adequadamente, a investigação de acidentes proporciona robustez à segurança de um sistema de trabalho. Além disso, destaca-se que algumas prescrições normativas indicam a obrigatoriedade de o empregador conduzir uma investigação de acidentes. NR 04 – Serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho 4.12 Compete aos profissionais integrantes dos Servi- ços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho: [...] h) analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes ocorridos na empresa ou estabele- cimento, com ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional, descrevendo a história e as características do acidente e/ou da doença ocupacional, os fatores am- bientais, as características do agente e as condições do(s) indivíduo(s) portador(es) de doença ocupacional ou aci- dentado(s). (BRASIL, 2016, p. 6, grifos nossos) NR 05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 5.16 A CIPA terá por atribuição: [...] l) participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador, da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas identificados. (BRASIL, 2019b, p. 3, grifos nossos) NR 13 – Caldeiras, vasos de pressão, tubulações e tanques metálicos de armazenamento 13.3.6.1 A comunicação deve ser encaminhada até o se- gundo dia útil após a ocorrência e deve conter: [...] d) procedimentos de investigação adotados; 13.3.6.2 Na ocorrência de acidentes previstos no su- bitem 13.3.6, o empregador deve comunicar a repre- sentação sindical dos trabalhadores predominante do estabelecimento para compor uma comissão de in- vestigação. (BRASIL, 2019c, p. 5, grifos nossos) Embora não haja um ro- teiro certo a ser seguido ou alguma padronização mínima na análise de acidentes, o Ministério do Trabalho e Emprego elaborou o Guia de Análise Acidentes de Trabalho. Apesar de ter sido criado para orientar auditores fiscais do trabalho (AFT), ele é muito útil a todos os profissionais que desejam aperfeiçoar o sistema de trabalho e produzir um ambiente mais seguro após um acidente. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria de Inspeção do Trabalho; Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, 2010. Disponível em: http://www. sinaees-sp.org.br/arq/mtegat.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. Leitura Medidas de controle 143 Em caso de agravo crítico e óbitos, investigações iniciais são condu- zidas por autoridade policial, auditores fiscais do trabalho ou outros órgãos governamentais. Por isso, são importantes e obrigatórios a co- municação e o isolamento imediato do local do acidente. O modo de conduzir uma investigação não é determinado em lei ou normas. Há prescrições gerais, mas não há a determinação de uma forma ou método específico, tal como nas análises de risco. Entretan- to, podemos apontar alguns princípios, diligências e aspectos a serem analisados na investigação: Aguardar investigações oficiais. Reunir evidências no local do acidente. Levantar e selecionar adequadamente hipóteses. Tentar elaborar uma análise de tempo sobre os aspectos envolvidos no acidente. Executar a investigação o mais rápido e breve possível para não perder informações e vestígios. Ouvir pessoas. Apontar: a ameaça que gerou o acidente; as pessoas e demais elementos vulneráveis à ameaça; a forma de surgimento da ameaça; a forma de propagação da ameaça ante a comunidade vulnerável identificada; barreiras e medidas de controle existentes, bem como aquelas previstas, mas não instaladas; eventuais falhas das barreiras e das medidas de controle; e, ao máximo possível, o impacto e os prejuízos do acidente. Adotar uma ou mais abordagens ou técnicas de investigação de acidentes. Levantar e reunir documentos, licenças, protocolos, prontuários, manuais, especificações, projetos, vistorias anteriores, análises de riscos, memoriais, registro de acidentes e banco de dados eventualmente existentes sobre o equipamento ou a instalação em que se deu o acidente. A investigação pode ser conduzida pelo SESMT, apoiada pela CIPA, ter participação de representantes de sindicatos e/ou ser con- duzida por profissional habilitado ou empresa especializada contra- tada pelo empregador. Não deve ser produzido, pela investigação de acidente, um docu- mento a ser arquivado sem ponderações. Ele deve ser, preferencial- mente, encaminhado ou comunicado em apresentação às partes envolvidas. Se possível, os achados devem ser divulgados. Além disso, dois tipos de respostas devem ser providenciados: aquelas que res- 144 Análise e gerenciamento de risco pondem às indagações envolvidas no acidente, e algumas diligências a serem implementadas para aperfeiçoar a segurança. As possibilidades de oportunidades e resultados favorecidas em uma investigação são infinitas, mas algumas são as seguintes: Conhecer o mais próximo possível a real dimensão dos impactos. Apontar oportunidades de campanhas educativas internas ou oficiais para redução de acidentes. Aperfeiçoamento geral de conforto, bem-estar, segurança e produtividade do ambiente de trabalho. Aprimoramento geral do processo de gestão da atividade produtiva. Saber onde aumentar a frequência de vistorias ou o rigor em inspeções. Propostas para melhorar protocolos, normas e leis. Oportunidade para melhorar projetos executivos e respectivas instalações. Elaboração e revisão de recomendações. Aumento da confiabilidade. É importante entender que investigar significa prevenir aci- dentes. A investigação de aciden- tes oportuniza diversas formas de medida de controle de risco, desde aplicações internas até re- visões de leis e NR. Cabe ressaltar que a investigação não deve ser conduzida, inicialmente, para apu- rar responsabilidades e indicar culpados, mas sim para permitir transparência no ambiente de tra- balho e favorecer a confiabilidade do sistema de trabalho. Saiba mais A cada investigação realizada, quem a conduz ou a proporciona des- cobre mais oportunidades. Seguem dois exemplos de investigação de acidentes disponibilizados pela página da Fundacentro. O primeiro – denominado Relatório de análise de acidente fatal em tan- ques de armazenagem de álcool etílico, por Fernando Vieira Sobrinho e José Possebon – é mais direto e trata-se de um incêndio em tanque de armazenamento de líquido inflamável. O documento ilustra a me- dição de parâmetros e o levantamento de hipóteses. Além disso, ao final, expõe-se uma série de recomendações demedidas de controle. O segundo – Relatório de análise de acidente fatal em tanques de ar- mazenagem de álcool etílico, por Albertinho de Carvalho, Mina Kato, Anaide Bomfim, Mariângela Santos e Marco Rego – é mais comple- xo e ilustra um “acidente contínuo”. Trata-se de uma avaliação de agentes carcinogênicos/mutagênicos em ambientes de trabalho, com foco na exposição de trabalhadores a agentes cancerígenos e irritantes em carvoarias não mecanizadas na Bahia. O documento apresenta relevante fundamentação técnica, metodologia aplicada, medição de parâmetros, relatório fotográfico, aspectos envolvidos no risco e impactos sociais derivados da falta de segurança. Também revela que alguns acidentes estão acontecendo sem a devida per- cepção dos impactos pelos próprios trabalhadores. É uma situação mais grave, que gera diversas outras decorrências. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2011/4/ relatorio-de-analise-de-acidente-fatal-em-tanques-de-armazenagem-de-alcool-etilico e http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2017/3/ exposicao-de-trabalhadores-a-agenetes-cancerigenos-e-irritantes-em-carvoarias-nao-mecani- zadas. Acesso em: 19 maio 2020. http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2011/4/relatorio-de-analise-de-acidente-fatal-em-tanques-de-armazenagem-de-alcool-etilico http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2011/4/relatorio-de-analise-de-acidente-fatal-em-tanques-de-armazenagem-de-alcool-etilico http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2017/3/exposicao-de-trabalhadores-a-agenetes-cancerigenos-e-irritantes-em-carvoarias-nao-mecanizadas http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2017/3/exposicao-de-trabalhadores-a-agenetes-cancerigenos-e-irritantes-em-carvoarias-nao-mecanizadas http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2017/3/exposicao-de-trabalhadores-a-agenetes-cancerigenos-e-irritantes-em-carvoarias-nao-mecanizadas Medidas de controle 145 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este capítulo destinou-se a estudar as medidas de controle de risco, em especial quanto às diversas formas de levantar e revisar proteções. Como já explicado, não há como propor um material que atinja todas as medidas existentes e, por isso, buscou-se abordar formas de fomen- to às medidas de controle de risco. Frisa-se que o estudo deste capítulo não habilita à prática formal da análise e tratamento de risco, mas visa à promoção da cultura prevencionista. Por fim, é necessário ter em mente que somente a implementação de medidas de segurança não é suficiente, pois elas sempre devem ser criticadas e revisadas ao longo do tempo. ATIVIDADES 1. Em uma reforma de hospital, decidiu-se ampliar um espaço destinado às atividades de diagnóstico por imagens (raio X). Sugeriu-se desenvolver a ampliação do espaço por meio da equipe própria de manutenção predial sem contar com um profissional ou uma empresa especializado no assunto. Estime eventuais ações para implementar medidas de controle adequadas nessa situação. 2. Sobre o caso da Atividade 1, qual diligência e qual documento são potencialmente demandados após o término da obra citada? 3. Explique por que a adoção de equipamento de proteção individual (EPI) como medida primária não é uma medida de controle essencialmente segura. REFERÊNCIAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. CB-002 002:140.002-001 referente à NBR 16.747: Inspeção predial – diretrizes, conceitos terminologia, requisitos e procedimentos. Rio de Janeiro: ABNT, 2018a. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6.493: Emprego de cores para identificação de tubulações industriais. Rio de Janeiro: ABNT, 2019. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.195: Cores de segurança. Rio de Janeiro: ABNT, 2018b. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 3864-1:2013. Símbolos gráficos: cores e sinais de segurança. Parte 1: Princípios de design para sinais e marcações de segurança. Rio de Janeiro: ABNT, 2013. AMARAL, A. E. P. do. et al. Recomendação Técnica de Procedimentos: escadas, rampas e passarelas. São Paulo: Fundacentro, 2005. Disponível em: http://www.fundacentro.gov. br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento/publicacao/detalhe/2012/9/rtp-04- escadas-rampas-e-passarelas. Acesso em: 19 maio 2020. ANDRADE, A. L. Falta de manutenção é a principal causa de incêndio nos veículos. ES HOJE, Vitória, 24 ago. 2019. Disponível em: http://eshoje.com.br/falta-de-manutencao-e-a- principal-causa-de-incendio-nos-veiculos/. Acesso em: 19 maio 2020. http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento/publicacao/detalhe/2012/9/rtp-04-escadas-rampas-e-passarelas http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento/publicacao/detalhe/2012/9/rtp-04-escadas-rampas-e-passarelas http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento/publicacao/detalhe/2012/9/rtp-04-escadas-rampas-e-passarelas http://eshoje.com.br/falta-de-manutencao-e-a-principal-causa-de-incendio-nos-veiculos/ http://eshoje.com.br/falta-de-manutencao-e-a-principal-causa-de-incendio-nos-veiculos/ 146 Análise e gerenciamento de risco BRASIL. Decreto n. 10.088, de 5 de novembro de 2019. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 6 nov. 2019a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2019-2022/2019/decreto/D10088.htm. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 jul. 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213compilado. htm. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério da Fazenda. Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho: AEAT 2017. v. 1. Brasília: Ministério da Fazenda; Instituto Nacional do Seguro Social; Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência, 2017. Disponível em: http://sa.previdencia.gov. br/site/2018/09/AEAT-2017.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-04: Serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Brasília: MTE, 2016. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/ NR-04.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-05: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit. trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-05.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-13: Caldeiras, vasos de pressão, tubulações e tanques metálicos de armazenamento. Brasília: MTE, 2019c. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/ NR-13.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-18: Condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção. Brasília: MTE, 2020. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-18- atualizada-2020.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-26: Sinalização de Segurança. Brasília: MTE, 2015. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-26.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-29: Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário. Brasília: MTE, 2014. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-29. pdf. Acesso em: 19 maio 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-35: Trabalho em Altura, 2019d. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/ SST_NR/NR-35.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. CAMISASSA,M. Q. Segurança e saúde no trabalho: NRs 1 a 36 comentadas e descomplicadas. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. CAMPOS, A.; TAVARES, J. da C.; LIMA, V. Prevenção e controle de risco em máquinas, equipamentos e instalações. 4. ed. São Paulo: Senac, 2006. CONFEA - Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Resolução n. 345, de 27 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2 ago. 1990. Disponível em: http://normativos. confea.org.br/downloads/0345-90.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. ROCHA, L. C. L.; PAMPALON, G. S. Cartilha Trabalho em Altura. Brasília: Ministério do Trabalho; Secretaria de Inspeção do Trabalho; Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, 2018. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Cartilhas/ Cartilha-trabalho-em-alturas-baixa.pdf. Acesso em: 19 maio 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10088.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10088.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213compilado.htm https://normativos.confea.org.br/downloads/0345-90.pdf https://normativos.confea.org.br/downloads/0345-90.pdf https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Cartilhas/Cartilha-trabalho-em-alturas-baixa.pdf https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Cartilhas/Cartilha-trabalho-em-alturas-baixa.pdf Gabarito 147 GABARITO 1 Risco das atividades laborais 1. Um acidente nunca decorre de um único fator. A ausência, a insuficiência ou a inadequação de barreiras também motivam acidentes. No exemplo citado, pode-se apontar, em uma análise simplificada, os seguintes aspectos de acidente: a ausência de equipamento de proteção individual (EPI), a ausência de guarda-corpo ou barreiras de proteção no pavimento, a omissão ou falta de atitude do responsável (técnico) pela segurança do trabalho, a eventual falta de treinamento ou conscientização do trabalhador em questão, a má organização do sistema de trabalho, que permitiu que um trabalhador permanecesse sem segurança em local de risco, entre outras situações. 2. Não, ela é inadequada. O acidente de trabalho pode afetar pessoas, comunidades e sistemas fora do ambiente de trabalho. Possíveis exemplos são: um vazamento de gás cloro que dispersa para um bairro próximo; um vazamento de gás liquefeito de petróleo (GLP) que dispersa para uma rede de esgoto, acarretando uma explosão; um ônibus estacionado que não teve o freio de mão acionado pelo condutor, afetando uma residência vizinha. Além da questão espacial, o acidente de trabalho pode afetar comunidades em um espaço temporal distante do momento do acidente de trabalho, como um vazamento de produto radioativo de uma oficina de aparelhos de raio X que gera efeitos e agravos à saúde de pessoas, fauna e flora ao longo de vários anos. 3. Não, ela é inadequada. O risco sempre pode ser tratado e mitigado. Por exemplo, em descargas atmosféricas, os efeitos podem ser suavizados por meio da instalação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, o chamado para-raios. Em locais com probabilidade de terremoto, pode-se dimensionar as estruturas (pilares, vigas e fundações) para minimizar os efeitos dos deslocamentos indesejados ou estabelecer áreas de segurança dentro da edificação. Assim, mesmo que seja um evento da natureza, é possível projetar barreiras de proteção. 2 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 1. O projeto do sistema e organização do trabalho deve ser feito de modo a mitigar riscos. Nesse contexto, a implantação de um equipamento de proteção individual (EPI) – no caso, o protetor auditivo – deve ser a última medida. Portanto, adotou-se a medida errada. Inicialmente, o empregador poderia optar por uma reforma ou adaptação do ambiente de trabalho para prevenir o ruído externo de alcançar os ambientes internos, como por tratamento acústico ou uso de revestimentos e material de acabamento específicos nas paredes. Isso eliminaria do ambiente interno de trabalho o agente danoso, ou seja, o ruído. Por fim, o uso de protetores auriculares, além de não eliminar o risco, ainda prejudica o sistema de trabalho, impedindo a comunicação ordinária entre os empregados. 148 Análise e gerenciamento de risco 2. Os óculos podem ser considerados um equipamento de proteção individual, com previsão na NR 04. Entretanto, tal medida é precária, pois atende apenas a um empregado. O certo seria, às custas do empregador, a instalação de um equipamento de proteção coletiva (EPC), como películas protetoras, persianas ou até mesmo toldos ou outras coberturas. Assim, seria garantida a proteção não apenas de um, mas de vários empregados, além de não depender da ação voluntária do empregado em usar o EPI. 3. O Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) apresenta as atividades produtivas ou comerciais que a empresa planejou exercer. Assim, ele é a base para o planejamento, a organização e a elaboração de programas de prevenção e mitigação de riscos. Logo, uma empresa que não apresenta em seu CNPJ a programação de uma atividade, certamente também não executou uma análise de risco eficiente. Mesmo que, na situação citada, o empregado possa ter agido com alguma imprudência ou imperícia, cabe à empresa a seleção e o treinamento dos trabalhadores. Entretanto, como o empregador poderia realizar uma seleção e capacitação de qualidade se tal atividade inicialmente nem era prevista como seu nicho comercial? Frisa-se que ele é responsável integralmente por todas as atividades ocorridas em seu domínio comercial, inclusive o caso apresentado. Por fim, se essa atividade não está prevista em seu contrato social ou CNPJ, o empregador não pode executá-la. 3 CIPA 1. Cabe responder a tal questionamento considerando a norma, e não um pensamento livre com base no que uma pessoa julga ser adequado ou não, visto que a norma é a base de qualquer análise de risco. A NR 05 relata que as seguintes organizações devem constituir a CIPA e mantê-la em funcionamento regular: empresas privadas ou públicas, sociedades de economia mista, órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes, associações recreativas, cooperativas e outras instituições que admitam trabalhadores como empregados. Sendo assim, a CIPA deve ser constituída para todo os estabelecimentos, com ou sem fins lucrativos, que possuem empregados sob o regime da CLT. Portanto, tal argumentação apresentada na atividade, da forma que foi feita, não é válida. 2. Para consultar o quadro da NR 05, que informa o número de membros, é necessário saber a atividade produtiva/econômica desenvolvida no local e o número de empregados. É importante lembrar dos postos que não estão na tabela: presidente, vice-presidente e secretário. Conforme informado na atividade, trata-se de um supermercado atacadista (CNAE 46.39-7/01). Observando o Quadro II da NR 05, relativo ao agrupamento de setores pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) para dimensionamento da CIPA, percebe-se que ela se enquadra na categoria C-20. A figura a seguir apresenta uma parte do Quadro I da NR 05 com destaque para a C-20 e a quantidade de funcionários entre 101 e 120. Gabarito 149 Tabela 1 Enquadramento do exemplo de 115 trabalhadores no Quadro I da NR 05 - Dimensionamento de CIPA C - 19 Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1 Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 1 C - 20 Efetivos 1 1 3 3 3 3 4 5 5 6 8 2 Suplentes 1 1 3 3 3 3 3 4 4 5 6 1 C - 21 Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1 Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 5 1 C - 22 Efetivos 1 1 2 2 3 3 4 4 6 8 10 12 2 Suplentes 1 1 2 2 3 3 3 3 5 6 8 9 2 N° de Empre- gados no estabele- cimento N° de membros da CIPA 0 a 19 20 a 29 30 a 50 51 a 80 81 a 100 101 a 120 121 a 140 141 a 300 301 a 500 501 a 1000 1001 a 2500 2501 a 5000 5001 a 10.000 Acima de 10.000 para cada grupo de 2.500 acres- centar Fonte: Adaptada de Brasil, 2019a, p. 8.Portanto, conforme dados do supermercado, o dimensionamento da CIPA fica: três membros efetivos e três suplentes para cada representação (dos empregados e do empregador). Assim, são seis membros da representação dos empregados e seis membros da representação do empregador, totalizando incialmente 12 pessoas. Um dos titulares indicado pelo empregador será o presidente, um dos efetivos eleito pelos empregados será o vice-presidente. Além disso, deve haver um secretário e um substituto do secretário, que podem ser membros ou não da CIPA. Caso o secretário e respectivo substituto sejam membros da CIPA, ela permanece com 12 membros. Caso esses não sejam membros, ela ficaria com 14, por contar com duas pessoas externas à CIPA na função de secretário. 150 Análise e gerenciamento de risco 3. A questão é igualmente resolvida por consulta aos quadros da NR 05, com uso dos dados sobre a atividade produtiva/econômica desenvolvida no local e o número de empregados. Como o estabelecimento se enquadra na categoria C-20, cruza-se essa informação com o número de funcionários (25), como mostra a figura a seguir. Tabela 2 Enquadramento do exemplo de 25 trabalhadores no Quadro I da NR 05 - Dimensionamento de CIPA C - 19 Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1 Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 1 C - 20 Efetivos 1 1 3 3 3 3 4 5 5 6 8 2 Suplentes 1 1 3 3 3 3 3 4 4 5 6 1 C - 21 Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1 Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 5 1 C - 22 Efetivos 1 1 2 2 3 3 4 4 6 8 10 12 2 Suplentes 1 1 2 2 3 3 3 3 5 6 8 9 2 N° de Empre- gados no estabele- cimento N° de membros da CIPA 0 a 19 20 a 29 30 a 50 51 a 80 81 a 100 101 a 120 121 a 140 141 a 300 301 a 500 501 a 1000 1001 a 2500 2501 a 5000 5001 a 10.000 Acima de 10.000 para cada grupo de 2.500 acres- centar Fonte: Adaptada de Brasil, 2019a, p. 8. Para essas duas novas filiais, o cruzamento de dados cai em um campo em branco, indicando que não há previsão normativa do número de efetivos e suplentes para os estabelecimentos em questão. Tal situação está prevista no item 5.6.4 da NR 05, como visto neste capítulo. Assim, a CIPA será desenvolvida por um responsável designado em cada estabelecimento. É importante frisar que cada estabelecimento deve ter um designado da CIPA, não podendo o responsável ser compartilhado por diferentes Gabarito 151 estabelecimentos ou estar locado em posto de trabalho fora do estabelecimento em questão. 4. Com a nova empresa contratada sendo adicionada no quadro de trabalhadores do supermercado atacadista, haverá a atuação de duas CIPAs nesse estabelecimento, uma para os empregados do atacadista e outra para os trabalhadores de conservação e limpeza. Já se tem o dimensionamento da CIPA do atacadista; passa-se então ao dimensionamento da CIPA da empresa prestadora de serviços. Esta possui seis trabalhadores, porém, o Quadro I da NR 05 somente prescreve uma quantidade de membros efetivos e suplentes de CIPA para estabelecimentos com mais de 20 empregados. Desse modo, a CIPA dessa empresa prestadora de serviço será desempenhada por um responsável designado, podendo ser, nesse caso, o próprio encarregado local, por exemplo. Segue uma ilustração para melhor entender a situação. Figura 1 Dimensionamento da CIPA em um estabelecimento com uma empresa contratada prestadora de serviços EMPREGADOR: Supermercado atacadista Ambas as CIPAs atuam no estabelecimento supermercado atacadista EMPREGADOR: Contratada da limpeza CIPA 1 12 MEMBROS CIPA 2 DESIGNADO Fonte: Adaptada de Camisassa, 2015, p. 148. 5. Inicialmente, os membros da CIPA podem elaborar um planejamento e um cronograma de ações envolvendo, por exemplo, vistorias, inspeções e análise de documentos. A vistoria e as inspeções serviriam para identificar riscos, como má postura de operadores, cadeiras quebradas, excesso ou insuficiência de iluminação, quantidade insuficiente de banheiros ou de bebedouros, equipamentos de informática inadequados, entre outros riscos. Assim, pode-se fazer um diagnóstico prévio de demandas de segurança e saúde desse ambiente de trabalho. Vencidas as vistorias, a CIPA pode demandar ao SESMT informações dos últimos acidentes registrados. Além disso, em um questionário informal, pode levantar junto aos operadores, com participação voluntária, as principais reclamações de saúde e percepções de desconforto, bem como verificar os motivos de saúde que os afastaram do trabalho. Com base nisso, a CIPA pode apontar as principais ameaças e recorrência de doenças no local. A partir desses levantamentos, ela pode demandar ao SESMT ações preventivas e de tratamento dos riscos. 152 Análise e gerenciamento de risco Por fim, é muito importante frisar que é obrigação, dever e responsabilidade do empregador identificar, mitigar e planejar tratamento dos riscos de um ambiente de trabalho. A CIPA é um programa que fomenta a participação do empregado para colaborar com a construção de um sistema seguro e saudável de trabalho, mas de maneira nenhuma deixa de ser responsabilidade do empregador a Segurança do Trabalho na ação ou omissão da CIPA. 4 Análise de risco 1. É muito importante lembrar que a CIPA é formada por trabalhadores ordinários da empresa empregadora. Ela é uma comissão não profissional de Segurança do Trabalho e, por isso, deve participar e colaborar em análises de risco, mas não as conduzir ou ser a responsável. O empregador pode optar que o SESMT conduza análises de riscos de maneira formal e oficial ou contratar um profissional ou empresa especializada na execução de análises de risco. 2. O empregador deve oportunizar que a análise de risco envolva desde a concepção da atividade até seu encerramento, ou desmontagem. Assim, como relatado, percebe-se que a análise englobou apenas o “antes” e o “durante”. Certamente, a falta de especificações e de avaliação de risco para o processo de desmontagem do aparato de limpeza de fachadas deixou de prevenir algum risco e teve alguma contribuição para a ocorrência do acidente. Por vezes, a simples execução de um checklist do processo de desmontagem pode prevenir acidentes graves. 3. A técnica indicada para categorizar riscos nesse caso é o FMEA. Essa técnica trabalha a severidade, a detecção e a taxa de ocorrência de riscos, com atribuição de valores para cada fator do risco. Assim, pode-se, por uma simples multiplicação, apontar quais são os riscos mais críticos para a atividade desenvolvida, permitindo uma hierarquização do tratamento dos riscos. 5 Medidas de controle 1. Atividades com raio X apresentam riscos para trabalhadores e ocupantes quando há exposição constante e sem proteção. Qualquer modificação em um espaço como esse necessita ser bem estudada, pois a exposição frequente à radiação pode trazer riscos para pessoas sem proteção. O ambiente em que se faz as imagens deve oferecer proteção a quem não usa ou não está ciente dos riscos da atividade. Para oferecer uma proteção radiológica adequada, deve-se buscar a legislação e normalização técnica específica sobre o assunto, bem como verificar se as condições previstas nas licenças de funcionamento (alvará) e sanitária permanecerão atendidas. A obra deve contar com um responsável técnico de engenharia ou arquitetura, com emissão de um documento de responsabilidade técnica, além de haver um projeto formal. Algumas diligências devem ser obrigatoriamente realizadas: atender às distâncias mínimas entre espaços previstas em normas; fazer levantamento radiométrico dos aparelhos; revisar a sinalização de segurança existente e a instalar; usar chumbo e argamassa baritada nas paredes para blindagem adequada (em espessura prevista no projeto formal); dimensionar e elaborar laudo de radioproteção assinado por físico especialista, entre outros. Gabarito 153 2. Após dimensionamento, projeto e execução da obra, nesse caso, torna-se fundamental o ateste das medidas de proteção existentes. Por isso, no mínimo umfísico deve realizar uma vistoria, com realizações de medições e emissão de parecer técnico que ateste a condição segura das instalações. 3. Adotar EPI como medida primária de proteção significa atestar que nem o perigo foi eliminado e nem a exposição de uma determinada população foi mitigada. É um atestado de que não foi possível tornar o ambiente de trabalho seguro e saudável. Dessa forma, decide-se expor o trabalhador a um ambiente inseguro e obrigá-lo a se proteger individualmente. Além disso, o EPI protege o trabalhador se, e somente se, ele assumir a conduta de usá-lo da maneira correta. Caso o trabalhador adote algum procedimento inadequado de uso de EPI ou o EPI seja ou esteja inadequado, ele estará em pleno risco por estar inserido em um ambiente inseguro. A adoção preferencial de segurança sempre será deixar o ambiente seguro ou impedir o trabalhador de estar em um ambiente inseguro. e Gerenciamento Riscode Riscode Análise Rodrigo Almeida Freitas A n á l is e e G e r e n c ia m e n t o d e R is c o R o d r ig o A l m e id a F r e it a s Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6624-7 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 2 4 7 Código Logístico 59348 Página em branco Página em branco