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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Enrique Carlos Natalino 
 
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (2020). Tem 
doutorado-sanduíche no German Institute of Global and Area Studies (Alemanha). Possui 
Mestrado em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro 
(2011). É graduado em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) 
(2006). Tem experiência docente como professor nos cursos de Direito, Administração, 
Economia e Relações Internacionais da Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais 
(PUC-MG) e da Faculdade de Direito Novos Horizontes. 
 
ÉTICA PROFISSIONAL 
 
 
ÉTICA E CIDADANIA
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Naiana Leme Camoleze 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Carla Jordânia G. de Souza 
 Rubens Henrique L. de Oliveira 
Design: Brayan Lazarino Santos 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 
 
 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
É proibida a reprodução total ou parcial deste livro em qualquer meio sem autorização 
escrita do editor. 
 
 
 
T314i 
 
 
Teodoro, Jorge Benedito de Freitas, 1986 - . 
Introdução à filosofia / Jorge Benedito de Freitas Teodoro. – 1. ed. Ipatinga, MG: 
Editora Única, 2020. 
113 p. il. 
 
Inclui referências. 
 
ISBN: 978-65-990786-0-6 
 
1. Filosofia. 2. Racionalidade. I. Teodoro, Jorge Benedito de Freitas. II. Título. 
 
CDD: 100 
CDU: 101 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação as Distancia FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
 
 
 
 
4 
 
 
www.faculdadeunica.com.br
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo do livro didático, traremos ícones ao lado dos textos. Eles são para 
chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma 
função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
São sugestões de links para vídeos, documentos 
científico (artigos, monografias, dissertações e teses), 
sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e 
Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo 
abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações 
importantes que você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
É para o esclarecimento do significado de 
determinados termos/palavras mostrados ao longo do 
livro. 
 
Este espaço é destinado à reflexão sobre questões 
citadas em cada unidade, para associação com suas 
ações, seja no ambiente profissional ou em seu 
cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
SUMÁRIO 
ÉTICA E MORAL: CONCEITOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ......................... 8 
1.1 O QUE É ÉTICA E MORAL? ...................................................................................... 8 
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS ............................................................ 9 
1.3 A RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL ..................................................................... 11 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 15 
ÉTICA E MORAL NAS RELAÇÕES SOCIAIS .............................................. 20 
2.1 ÉTICA, MORAL E DIREITO ...................................................................................... 20 
2.2 ÉTICA NA POLÍTICA .............................................................................................. 23 
2.3 ÉTICA DAS CONVICÇÕES E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE .............................. 25 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 29 
ÉTICA, MORAL E POLÍTICA: A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ............. 34 
3.1 O CONCEITO DE CIDADANIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................... 34 
3.2 CIDADANIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................ 39 
3.3 A CIDADANIA NO MUNDO GLOBALIZADO ........................................................ 41 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 48 
CIDADANIA NO BRASIL .......................................................................... 53 
4.1 A AFIRMAÇÃO DA IDEIA DE CIDADANIA NO BRASIL ........................................ 53 
4.2 A CIDADANIA NO IMPÉRIO ................................................................................. 56 
4.3 A CIDADANIA NA REPÚBLICA ............................................................................. 57 
4.4 A CIDADANIA NA REDEMOCRATIZAÇÃO .......................................................... 59 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 62 
DESAFIOS DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA NO BRASIL ......................... 69 
5.1 A CONSOLIDAÇÃO DA DEMOCRACIA APÓS 1988 ........................................... 69 
5.2 OS DESAFIOS PARA O EXERCÍCIO PLENO DA CIDADANIA ............................... 71 
5.3 A CIDADANIA E AS DESIGUALDADES SOCIAIS .................................................. 73 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 77 
ÉTICA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO: O CÓDIGO DE ÉTICA 
PROFISSIONAL ......................................................................................... 81 
6.1 ÉTICA, MERCADO E INSTITUIÇÕES ....................................................................... 81 
6.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES ....................................... 82 
6.3 ÉTICA NAS BUROCRACIAS PÚBLICAS E PRIVADAS............................................. 84 
6.4 O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL .................................................................. 86 
6.4.1 Os Conselhos Profissionais de Ética ............................................................ 87 
6.5 ÉTICA E CIDADANIA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO .......................................... 90 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 93 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................... 97 
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 98 
 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
A Unidade 1 aborda a definição dos conceitos de Moral e de Ética 
à luz do contexto histórico. Os conceitos de Moral e de Ética , como 
serão vistos, se referem a objetos distintos, mas, guardam relações 
estreitas entre si. 
A Unidade 2 trata da aplicação dos conceitos de Ética e de Moral 
nas relações sociais. Direito e Política, dois campos das relações 
sociais, dialogam diretamente com a Moral e com a Ética. Esta 
unidade aborda ainda a diferença entre Ética das Convicções e 
Ética da Responsabilidade, dois conceito essenciais para a 
compreensão da ética no contexto social. 
 
 
A Unidade 3 aborda a temática da Ética, da Moral e da Política na 
construção do sentimento de cidadania. Aborda ainda a relação 
entre cidadania e a afirmação histórica dos direitos fundamentais, 
base da democracia.A unidade finaliza com a análise do 
fenômeno da cidadania em contexto de globalização. 
A Unidade 4 analisa como se deu a construção do pensamento 
sobre cidadania no Brasil, da Colônia até a República, à luz das 
conquistas democráticas. Será visto de que modo a Constituição de 
1988 pavimentou o caminho para o exercício da democracia em 
um contexto de liberdades, de separação de Poderes e de maior 
autonomia para as instituições. 
 
 
A Unidade 5 trata do desenvolvimento da cidadania no Brasil após 
a promulgação da Constituição de 1988. Dessa forma, analisa 
como os cidadãos podem exercer seus direitos e quais os limites de 
atuação no Estado na salvaguarda dos direitos e garantias 
fundamentais. Por fim, aborda a problemática do patrimonialismo e 
como afeta o Estado de Direito. 
A Unidade 6 analisa as questões éticas à luz das relações de 
trabalho. Compreenderá uma discussão sobre a ética no mercado, 
nas instituições e na burocracia, a responsabilidade social das 
organizações e a ética nas burocracias. Por fim, analisa o fenômeno 
da normatização de comportamentos éticos, o Código de Ética 
Profissional e a importância da ética e da cidadania no mundo do 
trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
ÉTICA E MORAL: CONCEITOS E 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
 
 
 
 “A razão vos é dada para discernir o bem e o mal” 
Dante Alighieri, poeta italiano 
 
1.1 O QUE É ÉTICA E MORAL? 
Ética e moral são conceitos distintos, mas que guardam estreita relação entre 
si. A ética é a tradução etimológica do termo ethos (hábito, habitualidade, com-
portamento reiterado). O hábito revela a personalidade. A questão da ética é essen-
cialmente prática e envolve pensar sobre aquilo que o sujeito faz enquanto ser que 
faz escolhas e toma decisões (agente) ou que é impacto pelas escolhas ou pelas 
decisões de outras pessoas (reagente). Em outras palavras, a ética é a liberdade 
interior de cada indivíduo, isto é, aquilo que cada um considera ser bom ou ruim, 
vicioso ou virtuoso para si mesmo. O conceito de moral, por sua vez, diz respeito aos 
grandes paradigmas e valores de um determinado grupo social em um dado tempo. 
Trata-se de um consenso coletivo para o comportamento dos indivíduos e a 
condução da vida em comunidade. 
Há um convívio dialético entre ética (do indivíduo) e moral (do grupo). A 
decisão ética não é simples fruto da cultura, mas também da história pessoal do 
indivíduo. Sócrates, um dos maiores filósofos da Humanidade, questionava os valores 
da sociedade da Grécia Antiga. Acusado de corromper o juízo da sociedade 
atensiense, Sócrates perguntava, entre outras questões, o que era o bem e o que era 
o mal, algo sem resposta até os dias de hoje. O ato socrático de questionar a moral 
estabelecida em sua época era visto como algo subversivo e desestabilizador, pois 
colocava em dúvida as verdades estabelecias. 
A Antropologia, ao estudar o homem como produtor de cultura, tem grande 
contribuição a dar ao estudo da ética. A Psicologia, por seu turno, discute como o 
indivíduo toma suas decisões pessoais. Por que tomou essa decisão? Do mesmo 
modo, a História e a Sociologia são ciências que ajudam a iluminar o entendimento 
da moral e da ética. 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
A Ética, entretanto, não é uma ciência. Seu objetivo não é produzir respostas 
absolutas para os problemas humanos. O que a Ética busca é refletir acerca da ação 
humana e sobre os seus valores fundamentais. Os valores não são permanentes, 
imutáveis ou aplicáveis a todas as situações. Sempre temos que decidir e fazer 
escolhas. Os indivíduos podem decidir de acordo com a moral do grupo ou contra a 
essa moral. Será que tudo o que é lícito é moral? Será que tudo o que é legal é ético? 
Os valores são relativos e as decisões humanas são tomadas no calor das 
circunstâncias. A cada momento temos que decidir o que é bom ou ruim, o que fazer 
e o que não fazer, com base em nossa condição de indivíduo. 
 
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS 
O objeto da reflexão ética é o comportamento humano. É impossível sustentar 
uma comunidade imensa de pessoas vivendo sob uma única ética. Da mesma 
forma, é tarefa difícil estabelecer o limite entre o ético e o antiético. Isso se traduz em 
uma sensação de não se identificar com clareza a barreira entre o que se pode e o 
que não se pode fazer. 
A principal característica das sociedades contemporâneas é a insegurança. 
Isso se traduz em uma sensação permanente de desorientação social, confusão e 
incerteza. Existe um padrão de comportamento? E um valor universal? Qual é o valor 
absoluto? Não há respostas fixas para estas perguntas. Se por um lado a flexibilização 
dos valores universais traz uma sensação inédita de liberdade, por outro a ausência 
de paradigmas de comportamentos dificulta enormemente a decisão. A 
multiplicidade de escolhas e de oportunidades passa a ser um instrumento opressor 
da liberdade. As dúvidas e as inseguranças passam a ser frequentes. 
Como resposta a este cenário de incertezas, ocorre a chamada “tribalização” 
da sociedade: as pessoas não se comportam segundo valores universais aplicáveis a 
todos, mas dentro dos valores do seu grupo (MAFFESOLI, 1997). Essa instabilidade traz 
grandes impactos nos campos político, jurídico, social, cultural e religioso. Um 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
comportamento que os indivíduos buscam na tentativa de lidar com a insegurança 
é a busca do passado ou de padrões tradicionais assentados em valores religiosos e 
familiares. 
Os grandes paradigmas da vida moderna passam por uma revisão profunda. 
Isso produz uma série de transformações sociais. A crescente individualização das 
responsabilidades sociais leva à desagregação dos instrumentos sociais de decisão 
consensual, como a política. O Estado e o Direito também parecem não ser mais 
instrumentos eficazes para balizar os comportamentos humanos. 
Ademais, existe a mentalidade que supervaloriza o homem capitalista em face 
da dimensão do social, do coletivo ou do político. Diante da sensação de 
desgoverno das funções estatais, da incapacidade de atender às necessidades 
fundamentais e da sensação de insegurança generalizada, as categorias universais 
são substituídas por valores individuais. 
A falta de parâmetros morais leva à insegurança nas decisões. Cada um passa 
a valer pelo que produz e pelo que consome. É mais importante ter do que ser. O 
mercado determina o que é a essência. E quem está fora do mercado? E quem não 
tem poder de troca? Neste contexto, a dignidade da pessoa humana acaba 
perdendo sentido e as pessoas que estão fora da relação de consumo são 
desconsideradas enquanto sujeitos. Nessa linha, a pergunta fundamental da ética 
(como agir) encontra uma resposta retórica nas questões relativas à exclusão social. 
Os povos antigos não conheceram a diferença entre o mundo da ação 
política, o mundo do direito e o mundo do exercício do pensamento. Na 
Antiguidade, há uma certa integralidade dos pensamentos. Eles não tratavam as 
coisas de modo cartesiano, departamentalizando o saber humano. Os antigos 
lidavam com o mundo de modo muito integrado; não havia a separação entre 
direito e a moral. As sociedades medievais também não faziam essa distinção: havia 
um princípio geral que regia todas as áreas. O direito natural era a razão de tudo. 
A modernidade construiu a diferença entre direito e moral, principalmente, a 
partir do pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant. A filosofia de Kant 
diferenciou o universo da norma moral e o universo da norma jurídica. Kant 
influenciou o jurista austríaco Hans Kelsen na construção da sua teoria pura do direito. 
Kelsen separou direito e moral para distanciá-los; ele queria determinar a autonomia 
do Direito. Para Kelsen, direito é o conjunto de normas postas pelo Estado (KELSEN, 
1998). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
A tarefa do jurista não era avaliar a justiça do sistema,mas compreender os 
critérios de validade das normas de acordo com a hierarquia. Para Kelsen (1998), a 
questão da justiça não pertencia ao direito. Dessa forma, criou um abismo entre 
direito (decidir de acordo com o ordenamento) e moral (discutir os valores). 
 
1.3 A RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL 
O estudo da Ética busca entender todas as formas de mentalidade e estar a 
par de que um ethos dominante não existe sem que haja uma camada social 
dominante que o proclame. Toda vez que se definem normas de comportamento 
consideradas adequadas, passa a haver um aparato para proteger essas normas. 
Nesse sentido, ao estudarmos a ética devemos também nos preocupar em 
pensar a diversidade das alternativas de comportamento possíveis. Importante 
enfatizar, nesse sentido, a relação entre ética, arbítrio e pluralidade. A universalização 
de qualquer tipo de verdade ética nos leva à definição de patamares rígidos. Torna-
se a moral de uma classe dominante sobre a moral das classes dominadas. 
O que está em questão é a construção do compartilhamento dos valores. 
Dessa forma, todo sistema ético busca, em primeiro lugar, proteger os valores que 
consagra. Muitos grupos sociais constroem sistemas de dominação com base na 
política, na religião ou em outros sistemas que formam a consciência de um grupo. 
Dessa maneira, a ética busca eliminar as diferenças e estabelecer regras de 
padrões de comportamento. No entanto, os valores não são tão absolutos que não 
possam dialogar com valores opostos. Um sistema ético, apesar de defender as suas 
verdades, deve praticar a tolerância, pois a moral de uns não pode se impor à moral 
de outros. 
Valores morais são passíveis de ajuste e de confronte com outros. Os grupos 
culturais opostos podem construir instrumentos para a abertura recíproca de valores. 
Como é possível construir uma ética global em um contexto de diferenças entre os 
povos, nacionalismo exacerbado, contingentes humanos excluídos e oposição entre 
culturas? 
O filósofo alemão Juergen Habermas defende que só existe verdade en-
quanto experiência intersubjetiva. O autor se posiciona em confronto direto com a 
verdade fundada na reflexão individual. Para Habermas, a verdade se constrói a 
partir do diálogo entre sujeitos que pensam diferentes. Ou seja, a chave para a busca 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
da verdade é a aceitação da divergência como algo legítimo e natural. Somente 
por meio da comunicação se pode alcançar a colaboração, o entendimento e o 
consenso. 
A moral é algo que avalia o outro para julgá-lo como pertencente ou não 
pertencente a uma comunidade. O próprio direito vem associado a uma moral. A 
linguagem transpassa valores por meio de certos termos e de palavras que expressam 
visões de mundo. E elas se expressam por meio de cláusulas gerais: bom, ruim, justo, 
injusto etc. A linguagem recebe uma grande bagagem da moral. Ela também é 
transmissora desses valores. Todas as práticas discursivas são transmissivas de valores. 
O indivíduo que se vale da linguagem pratica juízos, requalificando-os o tempo todo. 
A ética, portanto, significa esfera da ação individual. Está contida dentro de 
um circuito de liberdade que lhe pertence. A moral é a grande instituição social que 
acaba sendo o arcabouço de sustentação de certas atitudes individuais 
respaldadas em conceitos preexistentes. A moral, por outro lado, procura moldar o 
indivíduo a modelos sociais convenientes, não necessariamente bons. Configura, 
dessa forma, uma instituição social que produz mecanismos de controle e 
determinam a execução de seus preceitos. 
Escolas e normas jurídicas são exemplos de instituições que contribuem para a 
homogeneização dos indivíduos. Instituições trazem estabilidade para o grupo e para 
a sociedade. A moral é um mecanismo de pasteurização dos comportamentos. Ela 
permite julgar o que é conforme e o que é desconforme. Ela promove a agregação 
ou a segregação do outro. 
Nas relações morais é preciso verificar a relação de poder para determinar 
quais são os comportamentos adequados. A moral pode ser o principal instrumento 
ideológico de exercício do poder. A moral disfarça, suaviza e amortece a prática de 
poder. Ou seja, é um instrumento de adequação das identidades individuais. A moral 
fornece abrigo para a estrutura de poder. Ela pratica uma espécie de controle 
conveniente em um certo contexto. Exemplificando, na Idade Média, era clara a 
associação entre poder e moral. A moral imposta era a da Igreja Católica, que 
detinha o poder. 
A relação entre moral e poder pertence à própria dinâmica das relações 
sociais. Nesse sentido, é preciso observar com cautela os valores morais. Um curso de 
ética não é um curso de moral. A filosofia ética é uma prática aberta de reflexão. É 
necessário dimensionar e ponderar os valores, para avaliar se o valor é realmente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
válido. A moral do meio é a prática do exercício de dominação? 
 
 
 
Nessa direção, a ética se vale da capacidade de resistência que o indivíduo 
tem em face das pressões externas do meio. É a sua capacidade de ponderar entre 
os conflitos internos e os valores das instituições sociais. Já a moral se baseia em um 
conjunto das sutis e não explícitas manifestações de poder sobre os indivíduos. A 
moral está inserida num contexto sócio-histórico. Não devemos incorporar a moral 
sem questioná-la, sob pena de nos transformarmos em meros reprodutores dos 
conceitos morais do nosso tempo. 
O comportamento ético pressupõe, dessa forma, o questionamento da moral 
antes de absorvê-la. A moral defende o passado, o que foi consagrado e nos 
convida a reproduzir esses valores. A ética flerta com o novo. O comportamento 
ético permite requalificar os valores. Isso dá abertura ao processo de alteração dos 
valores. 
Os indivíduos podem resistir aos valores morais por meio da capacidade de 
reflexão. Não existem leis morais eternas. Em outras palavras, a moral nos convida ao 
conforto e à segurança. A ética nos convida ao exercício responsável e refletido para 
nos tornarmos agentes e arquitetos de nossa própria existência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Enem 2010, 2ª aplicação) “A ética exige um governo que amplie a igualdade 
entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos não se sen-
tem “em casa”, experimentam-se como estrangeiros em seu próprio lugar de 
nascimento. “ 
SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLIVEIRA, E. R (Org.) Segurança & 
defesa nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo: Fundação Memorial da 
América Latina, 2007 (adaptado). 
 
Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e integração de 
indivíduos em uma sociedade. De acordo com o texto, a ética corresponde a: 
 
a) valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade. 
b) preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas. 
c) normas determinadas pelo governo, diferentes das leis estrangeiras. 
d) transferência dos valores praticados em casa para a esfera social. 
e) proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria. 
 
2. (ENEM 2011, adaptado) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos 
e morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa. Se 
o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria 
mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia 
de Lima Barreto). O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente 
o que é moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano, porque as normas 
morais são: 
 
a) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas. 
b) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação. 
c) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las 
integralmente.d) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter. 
e) mais vinculantes do que as normas jurídica. 
 
3. (UNICAMP 2016, adaptada) Por que a ética voltou a ser um dos temas mais 
trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo? Nos anos 1960, a política 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
ocupava esse lugar e muitos cometeram o exagero de afirmar que tudo era polí-
tico. 
José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em Adauto Novaes, Ética. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 239. 
 
A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico, é correto afirmar 
que: 
 
a) o tema foi relevante no passado e apenas recentemente voltou a ocupar um 
espaço central na produção filosófica. 
b) os impasses morais e éticos das sociedades contemporâneas reposicionaram o 
tema da ética como um dos campos mais relevantes para a filosofia. 
c) o pensamento filosófico abandonou sua postura política após o desencanto com 
os sistemas ideológicos que eram vigentes nos anos 1960. 
d) na atualidade, a ética é uma pauta conservadora, pois nas sociedades atuais, 
não há demandas éticas rígidas. 
e) a ética foi incorporada pelas outras ciências, deixando de ser estudada nas últimas 
décadas. 
 
4. (UNISC 2012) – Apresentados os enunciados abaixo, qual deles melhor caracteriza 
o tema da ética filosófica? 
 
a) A ética filosófica estuda a maneira como as pessoas agem dentro de uma 
determinada sociedade. 
b) A ética filosófica consiste em um conjunto de normas relativas à vida sexual das 
pessoas. 
c) A ética filosófica é o estudo das normas que regem o exercício de uma 
determinada profissão. 
d) A ética filosófica é um discurso racional e argumentativo cujo objetivo é 
fundamentar critérios para avaliar as ações humanas, seja para louvá-las ou para 
censurá-las. 
e) A ética filosófica consiste na explicação das normas de comportamento que se 
encontram na Bíblia. 
 
5. (Leopoldino Rocha) O sujeito ético-moral é somente aquele que preencher os 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
seguintes requisitos: 
 
a) ser consciente de si, mas não precisa reconhecer a existência dos outros como 
sujeitos éticos iguais a si. 
b) saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o significado de suas 
intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais. 
c) não precisa controlar interiormente seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, 
deixando-as fluir livremente. 
d) dizer o que as coisas são, como são e por que são. Enunciar, pois, juízos de fato. 
e) ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como autor da sua própria ação 
nem avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros. 
 
6. (Unesp 2019) – Então, todos os alemães dessa época são culpados? 
 
– Esta pergunta surgiu depois da guerra e permanece até hoje. Nenhum povo é 
coletivamente culpado. Os alemães contrários ao nazismo foram perseguidos, 
presos em campos de concentração, forçados ao exílio. A Alemanha estava, 
como muitos outros países da Europa, impregnada de antissemitismo, ainda que 
os antissemitas ativos, assassinos, fossem apenas uma minoria. Estima-se hoje que 
cerca de 100 000 alemães participaram de forma ativa do genocídio. Mas o que 
dizer dos outros, os que viram seus vizinhos judeus serem presos ou os que os 
levaram para os trens de deportação? 
(Annette Wieviorka. Auschwitz explicado à minha filha, 2000. Adaptado.) 
 
Ao tratar da atitude dos alemães frente à perseguição nazista aos judeus, o texto 
defende a ideia de que: 
a) os alemães comportaram-se de forma diversa perante o genocídio, mas muitos 
mostraram-se tolerantes diante do que acontecia no país. 
b) esse tema continua presente no debate político alemão, pois inexistem fontes 
documentais que comprovem a ocorrência do genocídio. 
c) esse tema foi bastante discutido no período do pós-guerra, mas é inadequado 
abordá-lo hoje, pois acentua as divergências políticas no país. 
d) os alemães foram coletivamente responsáveis pelo genocídio judaico, pois a 
maioria da população teve participação direta na ação. 
e) os alemães defendem hoje a participação de seus ancestrais no genocídio, pois 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
consideram que tal atitude foi uma estratégia de sobrevivência. 
 
7. (Unesp 2018). Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-se com a ideia que 
têm das coisas e não com as coisas em si. Seria grande passo, em alívio da nossa 
miserável condição, se se provasse que isso é uma verdade absoluta. Pois se o mal 
só tem acesso em nós porque julgamos que o seja, parece que estaria em nosso 
poder não o levarmos a sério ou o colocarmos a nosso serviço. Por que atribuir à 
doença, à indigência, ao desprezo um gosto ácido e mau se o podemos 
modificar? Pois o destino apenas suscita o incidente; a nós é que cabe determinar 
a qualidade de seus efeitos. 
(Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado.) 
 
De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal: 
 
a) representa uma oposição de natureza metafísica, que não está sujeita a 
relativismos existenciais. 
b) relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento é autorizado somente 
a sacerdotes religiosos. 
c) resulta da queda humana de um estado original de bem-aventurança e harmonia 
geral do Universo. 
d) depende do conhecimento do mundo como realidade em si mesma, 
independente dos julgamentos humanos. 
e) depende sobretudo da qualidade valorativa estabelecida por cada indivíduo 
diante de sua vida. 
 
8. (Enem PPL 2016) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
A figura do inquilino ao qual a personagem da tirinha se refere é o(a): 
 
a) constrangimento por olhares de reprovação. 
b) costume importo aos filhos por coação. 
c) consciência da obrigação moral. 
d) pessoa habitante da mesma casa. 
e) temor de possível castigo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
ÉTICA E MORAL NAS RELAÇÕES 
SOCIAIS 
 
 
 
 
“A astúcia do Direito consiste em valer-se do veneno da 
 força para evitar que ela triunfe“ 
Miguel Reale, jurista brasileiro 
2.1 ÉTICA, MORAL E DIREITO 
Conforme visto no capítulo anterior, a Ética diz respeito ao conjunto dos valores 
que norteiam a vida em sociedade e a convivência entre os indivíduos num 
determinado tempo. O Direito é uma ordem social estabelecida em torno de um 
sistema sancionatório para garantir a aplicação da Justiça. Essa ordem busca 
estabelecer regras para o funcionamento da sociedade e prevê meios para exigir o 
seu cumprimento, as sanções. Ele se vale da força para evitar que o mundo seja 
governado apenas por ela. Corresponde, na visão do jurista Jeremy Bentham, ao 
“mínimo ético” ou a um conjunto de normas morais consideradas relevantes por 
cada sociedade. A Moral, por sua vez, se caracteriza por ser um tipo de preceito 
acerca do comportamento desprovido de mecanismos de coação (MORRIS, 2002). 
O Direito prevê uma convivência social ordenada, na qual inexiste a 
possibilidade de desordem ou anarquia. É um mecanismo de dominação que se vale 
de normas, instituições e decisões para controlar o comportamento das sociedades. 
As regras jurídicas são obrigatórias e coercitivas, pois emanam de uma fonte jurídica 
válida e de uma autoridade competente. Seu fim último é a realização da justiça do 
bem comum. 
Nesse sentido, diferentemente da Moral, que lida com preceitos sobre o 
comportamento humano despidos de mecanismos de coerção, o Direito é uma 
ordenação ética com capacidade de impor comportamentos pelo uso legitimado 
da força. A Moral se baseia em mecanismos de sanção individual (ressentimento, 
remorso e culpa) ou coletiva (discriminação, repulsa, exclusão e indignação), ao 
passo que o Direito se assenta em sanções coercitivas que se valem da imposição da 
força. O Direito não se vale de qualquer violência indiscriminada, mas da força 
organizada eaplicada segundo regras institucionalizadas. 
O Direito lida com o problema ancestral da busca da verdade e da justiça no 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
exercício do poder. Seu fundamento filosófico variou ao longo da Histórica, sendo 
considerada pelos gregos como uma técnica e pelos romanos como uma arte (a 
busca do bem e da equidade). Assim como as instituições são regras que 
estabelecem padrões de comportamento e geram previsibilidade, o Direito é um 
elemento de fidelização e conexão entre o passado e o futuro. 
Nesse sentido, o Direito não é neutro, mas um conjunto de práticas que visa 
realizar determinados valores fundamentais. O mais importante desses valores é a 
justiça, ou seja, dar a cada um aquilo que lhe é direito. A justiça é parte da moral e 
se baseia no senso de equilíbrio na distribuição de bens entre os homens. Sem 
validade, eficácia e justiça, não há sistema jurídico legítimo. 
O jurista austríaco Hans Kelsen, em “Teoria Pura do Direito”, afirma que a Justiça 
é um valor decorrente da Moral. No entanto, diferentemente das normas sociais 
(Moral e Ética), o Direito é uma norma jurídica cuja legitimidade não se baseia 
apenas em valores, mas em critérios de validade. Ou seja, a norma jurídica é uma 
proposição hipotética dada por um poder institucionalizado (Estado) para 
estabelecer normas de conduta (KELSEN, 1998). 
 A Moral lida com as concepções de um indivíduo ou de um conjunto de 
indivíduos acerca do que é lícito e justo. As regras de conduta morais são tão plurais 
quanto a sociedade e balizam o convívio social. E buscam, essencialmente, o 
aperfeiçoamento de um indivíduo em relação à sua consciência ou a de seu grupo. 
Sua origem é a autoridade religiosa, a razão e a tradição. 
O Direito, por outro lado, é uma técnica de regulação do convívio social que 
se baseia em uma norma. E que prevê sanções ao descumprimento destas regras. A 
fonte do Direito é o Estado. Somente são válidas as normas jurídicas produzidas por 
quem tem competência para tal. As sanções jurídicas, por sua vez, são obrigatórias. 
Embora adote princípios morais como fundamento de sua aplicação, o Direito pode 
conter também normais normas amorais. 
A Moral, por seu turno, influencia diretamente o Direito. Os legisladores são 
guiados por valores e ideias difusos na sociedade para produzir normas jurídicas. As 
normas jurídicas, nesse sentido, expressam regras morais que devem ser 
obrigatoriamente cumpridas. As sociedades antigas, como visto, eram 
caracterizadas pela coincidência entre mandamentos jurídicos e morais. Já na Idade 
Média, as regras jurídicas constituíam um “mínimo ético”, ou seja, o núcleo duro das 
regras morais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
Com a positivação do Direito (prevalência de normas escritas em códigos e 
leis), nos séculos XVIII e XIX, as regras jurídicas tornaram-se autônomas em relação à 
moral. Dada a pluralidade de sistemas morais existentes (religião, família, trabalho 
etc), as autoridades competentes do Estado se limitaram a impor normas segundo 
critérios de validade. 
 
 
 
Os positivistas defendem que os indivíduos são livres para obedecer ou não às 
normas vigentes, de acordo com os seus valores morais e interesses. O custo do 
descumprimento dessas normas é a aplicação de sanções jurídicas. Os moralistas, 
por sua vez, sustentam que os operadores do Direito precisam buscar sempre a coe-
rência entre normais normas jurídicas e preceitos morais, sob pena de esvaziamento 
valorativo do Direito. Para eles, seria impossível estabelecer uma distinção entre 
Direito e Moral, pois ambos caminham lado a lado. 
Portanto, é importante distinguir norma moral e norma jurídica. A normal moral 
decorre da experiência histórica da sociedade. Já a norma jurídica pode ser imposta 
pela autoridade mesmo que não corresponda à experiência da sociedade. A norma 
moral fala a linguagem da interioridade e da intencionalidade. É preciso haver 
correspondência entre a vontade interior e a exteriorização. Na norma jurídica, isso é 
irrelevante em diversas situações. Na norma jurídica, são necessários atos exteriores; 
a intencionalidade é um aspecto secundário. A norma moral não possui sanção 
(punição); já a norma jurídica possui sanção. 
A norma moral possui, entretanto, um grau de coercibilidade (possibilidade de 
punição) que muitas vezes é muito mais forte que a sanção jurídica, como a 
vergonha, o constrangimento e o arrependimento. Direito e moral não podem se 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
separar. Como avaliar a legitimidade de um sistema jurídico? Essa avaliação não 
pode ser pautada unicamente sob o aspecto da moral. Após a Segunda Guerra 
Mundial, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, foram 
definidas as diretrizes estruturantes do comportamento universal, de modo que os 
direitos humanos constituem o mínimo ético de um sistema jurídico. 
 
2.2 ÉTICA NA POLÍTICA 
A relação entre ética, moral e política é tão ancestral quanto a Humanidade. 
Desde os filósofos da Antiguidade até os cientistas políticos, juristas e escritores 
contemporâneos, o tema já foi abordado de maneira múltipla. O assunto desperta 
as atenções do ser humano desde os primórdios da civilização. Tratados, ensaios, 
romances e peças teatrais já foram escritas sobre essa questão, sem uma solução 
definitiva ou uma resposta correta para a problemática da moralidade nas relações 
sociais. 
Sendo o homem um ser essencialmente político – isto é, que vive na polis 
(cidade) – sempre se pergunta sobre o que é agir moralmente. Da mesma forma 
que existe uma ética profissional, uma ética do trabalho, uma ética familiar e uma 
ética religiosa, a ética política trata da distinção entre o que é moralmente lícito e 
ilícito. 
A aceitação de que a moral política se distingue do senso comum é um dos 
fundamentos da modernidade. Maquiavel afirmou, em “O Príncipe”, que a moral dos 
governantes não é a mesma dos governados. Nesse sentido, para obter êxito em sua 
missão de dominar os povos e governar as nações, antes de serem amados, os 
príncipes deveriam buscar serem temidos (MAQUIAVEL, 2010). 
Enquanto em outras atividades humanas o que se busca, essencialmente, é 
adequar os comportamentos às regras de conduta moral consensuais e 
estabelecidas, na relação entre política e moral, o debate é mais complexo. Ao 
contrário da ética médica, da ética esportiva ou da ética do trabalho, não existe um 
consenso sobre quais seriam os preceitos éticos da política. O que existe, 
fundamentalmente, é a noção de que a moral política se reporta às ações de um 
indivíduo no que toca aos seus deveres para com os outros, e não consigo mesmo. 
Dessa forma, o foco do estudo da moral política não é a compreensão daquilo 
que é considerado lícito ou ilícito. Na perspectiva do filósofo e jurista italiano Norberto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
Bobbio, o que se busca compreender é “[...] se tem sentido colocar-se em termos 
morais o problema do admissível e do inadmissível no caso das ações políticas” 
(BOBBIO, 2003, p. 161). 
Dessa forma, utilizando-se uma categoria de Maquiavel, é possível, por 
exemplo, distinguir os políticos do tipo “leão” e os do tipo “raposa”. Os primeiros 
baseariam seu poder no uso da força; os segundos, no domínio da astúcia. Thomas 
Hobbes, em sua obra “O Leviatã”, assegurava que nenhuma moral estava acima da 
política. No estado de natureza, argumentava o filósofo inglês, a política não tinha 
nenhum conteúdo moral, baseando-se pura e simplesmente no exercício da força 
(MORRIS, 2002). 
A moral do mais forte sempre prevalecia e a sobrevivência era a única moral 
existente. No estado civil impera a moral do soberano, isto é, daquele indivíduo 
escolhido pelos demais como aquele que distingue o justo do injusto. Portanto, a 
vontade do rei deveria ser a única e exclusiva fonte moral a ser obedecida. A noção 
de razão de Estado,que floresceu com o Estado moderno, aceita que em 
circunstâncias específicas e determinadas, o soberano possa infringir os códigos 
morais prevalecentes para salvaguardar o seu poder. 
Assim, a ação política imporia ao seu praticante “[...] ações moralmente 
reprováveis, porém necessárias por causa da natureza e da finalidade da própria 
atividade” (BOBBIO, 2003, p. 168). Da mesma forma que o político teria uma moral 
própria, certas categorias profissionais, ao longo da História, também advogam a 
existência de um direito particular e de uma moral específica. Se existe uma ética 
inerente à política, existiria, do mesmo modo, uma ética aplicável a profissões 
determinadas, como a dos médicos, dos padres e dos advogados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
2.3 ÉTICA DAS CONVICÇÕES E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE 
Quando refletimos sobre a importância da moral e da ética na vida pública, 
é importante entender como os valores morais e éticos guiam os homens públicos em 
suas ações. Em seu clássico artigo “Política como Vocação”, o sociólogo alemão 
Max Weber (1864-1920) distingue três qualidades para a formação de um homem 
público (WEBER, 1965). Em primeiro lugar, a paixão à causa; e segundo lugar, o senso 
de responsabilidade; em terceiro lugar, o senso de proporção, isto é, a capacidade 
de manter distância dos fatos e dos homens, de modo a refletir com mais 
propriedade sobre os acontecimentos. Segundo Weber (1965), os homens precisam 
ainda superar a vaidade, pois o desejo de poder pode desvirtuar tanto a sua paixão, 
quanto o seu senso de proporção. Ou seja, a vaidade poder tornar-se um fim em si 
mesmo, uma busca exclusiva pela exaltação do próprio ego. 
Existe uma ética própria para o mundo político? Para Weber (1965), na política 
haveria dois pecados mortais. Primeiro, não defender nenhuma causa, o que conduz 
o político à paralisia e à busca do brilho efêmero. Segundo, não possuir nenhum senso 
de responsabilidade, o que o leva a abusar do poder como um fim em si mesmo, sem 
qualquer propósito maior. As causas que justificam o alcance do poder dependeriam 
das visões de mundo e convicções íntimas de cada político. Tais motivações podem 
ser humanistas, nacionalistas, sociais, religiosas e éticas. 
Nesse sentido, cabe indagar se existiria um “mínimo ético” na política que 
compatibilizasse as diversas causas que levam os políticos a almejar o poder. Seria a 
ética da política a mesma ética da religião? Segundo Weber (1965), a ética religiosa, 
contida nos Evangelhos, implica em comportamentos rígidos e que não admitem 
meio-termo: é o “tudo ou nada”. A ética dos Evangelhos persegue verdades 
absolutas e incontestáveis, baseadas na convicção e na consciência individual. 
De acordo com Weber (1965), as condutas podem ser orientadas segundo 
duas lógicas: a ética da ética da convicção e a ética da responsabilidade. Isto não 
significa que a ética da convicção esteja desconectada de qualquer 
responsabilidade. O ponto central da ética da responsabilidade é a noção das 
consequências do ato humano e o reconhecimento do papel da vontade, da ação 
ou da omissão na produção de resultados. Quando se observa apenas ética da 
convicção, atribui-se qualquer consequência dos atos humanos à vontade divina. 
Dessa forma, os homens isentam-se de qualquer compromisso, obrigação e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
prudência no dia a dia, pois seu destino estaria traçado. 
A questão mais sensível da ética da responsabilidade é o fato de que, para 
alcançar fins considerados nobres, os homens às vezes precisam recorrer a expedi-
entes considerados desagradáveis, desonestos ou perigosos. Assim, o ato de mentir, 
segundo a ética das convicções, é moralmente condenável. Já segundo a ética da 
responsabilidade, a mentira, muitas vezes, pode ser uma forma de se evitar um mal 
maior. Segundo Weber (1965), no entanto, nenhuma ética conseguiu até hoje definir 
o que seria uma finalidade considerada “eticamente boa” que justificasse o uso de 
métodos considerados moralmente perigosos, como o uso da força. 
 
 
 
Em que circunstâncias se justifica o uso da força para o alcance de fins 
considerados justos? No caso de uma guerra ou de uma revolução, por exemplo, 
seria legítimo o recurso à violência para alcançar fins considerados justos? Os 
partidários da ética da convicção são unânimes ao afirmar que matar um outro ser 
humano é considerado um pecado mortal, sem qualquer exceção. Já sob o ponto 
de vista da ética da responsabilidade, em casos excepcionais, como o de uma 
ameaça à sobrevivência do Estado ou da nação, seria moralmente justo o emprego 
da força e da violência armada para repelir uma invasão ao território nacional. 
Essa tensão entre meios e fins caracteriza a ética da responsabilidade. Nesse 
sentido, a violência poderia ser admitida como um meio do alcance de fins políticos 
considerados nobres ou justos, como a sobrevivência nacional. Da mesma forma, o 
debate entre a continuidade de uma revolução ou de uma guerra e a realização da 
paz depende, sobretudo, das condições em que os termos da paz são assinados. Se 
forem injustos, os partidários da ética da responsabilidade admitem a legitimidade 
As duas lógicas weberianas que conduzem a vida política: a Ética das Convicções e Ética 
da Responsabilidade: 
 Ética da responsabilidade é a noção das consequências do ato humano e o 
reconhecimento do papel da vontade, da ação ou da omissão na produção de 
resultados. 
 Ética da convicção é a atribuição de qualquer consequência dos atos humanos à 
vontade divina. Dessa forma, os homens isentam-se de qualquer compromisso, 
obrigação e prudência no dia a dia, pois seu destino estaria traçado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
da continuidade da revolução ou da guerra. 
 
 
 
Para Weber (1965), é impossível conciliar a ética da convicção e a ética da 
responsabilidade, pois a primeira não admite concessões à segunda. A ética da 
convicção defende que os meios são mais importantes que os fins. Isto é, o mal só 
pode trazer o mal. A ética da responsabilidade, por sua vez, admite que os fins 
justifiquem os meios. Ou seja, o mal, quando praticado com fins nobres, também 
pode produzir o bem. Todas as crenças religiosas enfrentam o problema da ética na 
política. A questão mais sensível são as circunstâncias em que se admite e se legitima 
o uso da violência. Os políticos ao praticarem a violência com a busca de um fim 
nobre devem não apenas justificar o recurso à força, mas buscar seguidores que 
compartilhem de seus objetivos. 
Em síntese, Max Weber afirma que a política não pode abrir mão das questões 
éticas. Os homens que se dedicam à política, na visão do autor, devem estar cientes 
das consequências e impactos de seus atos. A salvação das almas, de um indivíduo 
e de seu grupo não deve ser buscada por meio da política, mas da religião. O 
caminho da política, por sua vez, pressupõe o uso de algum tipo de violência para 
alcançar os objetivos pretendidos. Nesse sentido, é preciso esclarecer aos partidários 
da ética da convicção que quaisquer atos humanos geram consequências. A 
Os partidários da ética da convicção acreditam que quaisquer atos humanos geram 
consequências, inclusive na política. Já para os adeptos da ética da responsabilidade, a 
política, diferentemente da religião, exige que os homens tenham senso de proporção. 
Sendo assim, convidamos você a refletir sobre a seguinte situação: 
 Um determinado país sofre um ataque externo e precisa tomar atitudes de defesa e 
ataque. No entanto, sua população não tem total conhecimento sobre os 
desdobramentos dessa situação. Revelar tudo o que está acontecendo pode gerar 
pânico geral e piorar ainda mais o quadro, até mesmo dificultando as ações de defesa. 
Para a ética da convicção, a verdade deve estar acima de tudo. Contudo, preservar 
em sigilo determinadas informações ou até mesmo mentir sobre elas podepromover a 
segurança nacional. Para os adeptos da ética da responsabilidade é preciso lançar 
mão do senso de proporção. Em que medida um chefe de Estado deve pender para 
uma das duas lógicas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
política, diferentemente da religião, exige que os homens tenham senso de 
proporção. Sendo assim, a política seria a arte do possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Enem 2010, 2ª aplicação) No século XX, o transporte rodoviário e a aviação civil 
aceleraram o intercâmbio de pessoas e mercadorias, fazendo com que as dis-
tâncias e a percepção subjetiva das mesmas se reduzissem constantemente. É 
possível apontar uma tendência de universalização em vários campos, por 
exemplo, na globalização da economia, no armamentismo nuclear, na 
manipulação genética, entre outros. 
HABERMAS, J. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. São Paulo: Littera Mundi, 2001 
(adaptado). 
 
Os impactos e efeitos dessa universalização, conforme descrito no texto, podem 
ser analisados do ponto de vista moral, o que leva à defesa da criação de normas 
universais que estejam de acordo com: 
 
a) os valores culturais praticados pelos diferentes povos em suas tradições e costumes 
locais. 
b) os pactos assinados pelos grandes líderes políticos, os quais dispõem de condições 
para tomar decisões. 
c) os sentimentos de respeito e fé no cumprimento de valores religiosos relativos à 
justiça divina. 
d) os sistemas políticos e seus processos consensuais e democráticos de formação de 
normas gerais. 
e) os imperativos técnico-científicos, que determinam com exatidão o grau de justiça 
das normas. 
 
2. (Enem 2010) A ética precisa ser compreendida como um empreendimento 
coletivo a ser constantemente retomado e rediscutido, porque é produto da 
relação social se organize sentindo-se responsável por todos e que crie condições 
para o exercício de um pensar e agir autônomos. A relação entre ética e política 
é também uma questão de educação e luta pela soberania dos povos. É 
necessária uma ética renovada, que se construa a partir da natureza dos valores 
sociais para organizar também uma nova prática política. 
CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos problemas oriundos de 
diferentes crises sociais, conflitos ideológicos e contradições da realidade. Sob esse 
enfoque e a partir do texto, a ética pode ser: 
 
a) compreendida como instrumento de garantia da cidadania, porque através dela 
os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com valores coletivos. 
b) mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do homem ser 
ético e virtuoso. 
c) meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, pois a partir do 
entendimento do que é efetivamente a ética, a política internacional se realiza. 
d) parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interesses e ação 
privada dos cidadãos. 
e) aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca dimensionar 
sua vinculação à outras sociedades. 
 
3. (Enem 2010) Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substancial, 
soberano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é 
simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a 
ética adquire um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não 
pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética 
se entrelaça, necessariamente, com a política, entendida esta como a área de 
avaliação dos valores que atravessam as relações sociais e que interliga os 
indivíduos entre si. 
SEVERINO. A. J. Filosofia 
 
O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo deformação da ética na 
sociedade contemporânea, ressalta: 
 
a) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias. 
b) o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos. 
c) a sistematização de valores desassociados da cultura. 
d) o sentido coletivo e político das ações humanas individuais. 
e) o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
4. (Enem 2009) Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escreveu as seguintes 
linhas a respeito da moralidade nos EUA: “A opinião pública norte-americana é 
particularmente dura com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à 
busca do bem-estar e prejudica a harmonia doméstica, que é tão essencial ao 
sucesso dos negócios. Nesse sentido, pode-se dizer que ser casto é uma questão 
de honra”. 
 
TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia Britannica, Inc., Great Books 44, 
1990 (adaptado). 
 
Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norte-americanos do seu tempo: 
 
a) buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas. 
b) tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido. 
c) valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético. 
d) relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso econômico. 
e) e) acreditavam que o comportamento casto perturbava a harmonia doméstica. 
 
5. (Enem 2017) “Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro 
emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não 
lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. 
Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para 
perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta 
maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando 
julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, 
embora saiba que tal nunca sucederá”. 
 
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980. 
 
De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” 
representada no texto: 
 
a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa. 
b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na 
terra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma uni-
versal. 
d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar 
os meios. 
e) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas 
envolvidas. 
 
6. (Enem 2017) A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de agradar a 
Deus, muito menos de fidelidade a regras abstratas. A moralidade é a tentativa de 
criar a maior quantidade de felicidade possível neste mundo. Ao decidir o que 
fazer, deveríamos, portanto, perguntar qual curso de conduta promoveria a maior 
quantidade de felicidade para todos aqueles que serão afetados. 
 
RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral. Barueri-SP: Manole, 2006. 
 
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em conformidade com uma: 
 
a) fundamentação científica de viés positivista. 
b) convenção social de orientação normativa. 
c) transgressão comportamental religiosa. 
d) racionalidade de caráter pragmático. 
e) nclinação de natureza passional. 
 
7. (Enem 2017) “Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por 
ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim 
será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, 
grande influência sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, 
ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou 
faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à 
arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. 
Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as 
ciências que devem serestudadas num Estado, quais são as que cada cidadão 
deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior 
apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, 
como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger 
as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano. 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Pauto: Nova Cultural, 1991 (adaptado). 
 
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe 
que: 
 
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses. 
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade. 
c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade. 
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente. 
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum. 
 
 
8. (Enem/2013) “Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou 
temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas 
porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja 
de faltar uma das duas. Porque dos homens que se pode dizer, duma maneira 
geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e 
enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a 
vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele 
chega, revoltam-se.” 
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. 
 
A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais 
e políticas, Maquiavel define o homem como um ser: 
 
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. 
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. 
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. 
d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos 
naturais. 
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
ÉTICA, MORAL E POLÍTICA: A 
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 
 
 
 
 
“Que estranho desejo é ambicionar o poder e perder a liberdade” 
Francis Bacon, filósofo inglês 
 
3.1 O CONCEITO DE CIDADANIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
Cidadania é um laço que une um indivíduo a um determinado Estado-Nação. 
Esse vínculo de subordinação a uma ordem jurídica nacional torna o indivíduo sujeito 
a direitos e obrigações, tornando-o parte integrante de um povo. O povo é o 
elemento humano que habita o território do Estado e que se mantém unido graças 
aos valores e aos objetivos comuns que compartilham. A cidadania é o vínculo 
estabelecido entre o Estado e o povo. O vínculo de cidadania se prolonga por toda 
a vida e é definidor da identidade pessoal de um indivíduo. No entender de 
Bonavides (2006), a cidadania implica em deveres básicos em relação a uma 
coletividade, como a fidelidade à Nação e a observância das normas do Estado. 
Jorge Miranda afirma que os cidadãos são os membros do Estado, sujeitos de 
Direito e súditos da ordem política juridicamente organizada. Cidadania, portanto, 
define a qualidade do sujeito que se subordina a uma coletividade política. O autor 
distingue a cidadania da nacionalidade. A primeira é o vínculo direto de um indivíduo 
a um Estado, enquanto a segunda é a relação entre um indivíduo e uma Nação. A 
aquisição e a perda de cidadania é definida pelas regras internas do Estado que as 
concede. Há dois meios fundamentais de aquisição da cidadania: pela filiação (jus 
sanguinis) ou pelo local de nascimento (jus soli). A cidadania implica na participação 
da vida política de um Estado, como o direito de votar e de ser votado (MIRANDA, 
2002). 
O conceito de cidadania em sua versão moderna nutriu-se das ideias surgidas 
na Itália, Inglaterra, França e Estados Unidos a partir da Idade Moderna. De Nicolau 
Maquiavel a Thomas Hobbes e de Jean Jacques Rousseau aos Federalistas norte-
americanos, a base do pensamento político moderno compreendido como um 
conjunto de teorias e de ideias relacionadas à busca da institucionalização dos 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
conflitos forjou-se numa pluralidade de correntes e de tradições envoltas na 
formação da linguagem e da prática política europeia nos séculos XVI a XVIII. 
Da matriz italiana, o republicanismo absorveu as lições de Maquiavel acerca 
da formação do humanismo cívico num contexto de reposicionamento do homem 
no centro do pensamento. Responsável por uma ruptura no pensamento ocidental 
e fundador da Ciência Política, o autor resgata o pensamento greco-latino para 
embasar as suas reflexões acerca das temáticas políticas de seu tempo. 
O pensamento de Maquiavel se tornou clássico por duas razões centrais: a 
ampla difusão no Ocidente e abrangência de largas temporalidades. Maquiavel 
aborda as constantes disputas de poder entre as cidades-Estado da península itálica, 
mostrando como a instabilidade e a imprevisibilidade eram inerentes à realidade 
contemporânea. 
Para Maquiavel, política e história também deveriam ser analisadas em 
conjunto, já que o poder organizava historicamente as relações econômicas e sociais 
entre os indivíduos, via exercício da dominação e a busca do consenso. O autor 
desenvolve, nas duas obras, a ideia de que o corpo político se divide ante o desejo 
de dominação e de ser dominado, o que se nota, por exemplo, no relato dos conflitos 
entre as potências europeias da época e as cidades do norte italiano. Finalmente, 
demonstra que a política se desenrola na dicotomia essência versus aparência, 
mostrando como a política possui uma importante dimensão simbólica na 
construção de narrativas. 
A noção de cidadania desenvolvida por Maquiavel seria transformada na 
França, dois séculos depois. Jean Jacques Rousseau foi o mais notável dos filósofos 
do período Iluminista e o principal representante do republicanismo de matriz 
francesa. Em “O Espírito das Leis”, Rousseau ataca a Igreja e a instituição monárquica 
pelas desigualdades e pela miséria. Para conter a proliferação de uma sociedade 
profundamente desigual, prega um ideal democrático, rejeitando o estado histórico, 
construído desde tempos imemoriais, ao qual atribui a culpa pela desigualdade dos 
homens. 
Disseminador de ideais de coletividade e de cooperação, Rousseau propõe a 
composição de um novo Estado, não-tirano, opressor e fonte de desigualdades, mas 
de um organismo protetor, socialmente justo, sem privilégios e que tenha no povo a 
fonte de todo e qualquer poder. No fundo, a função deste novo Estado, pautado 
pela justiça e pelos direitos de todos os homens, era alcançar algo próximo da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
perfeição e da igualdade. 
Rousseau conecta, portanto, a formação da liberdade do cidadão à 
soberania popular. Há, portanto, uma possível aproximação entre o pensamento de 
Rousseau e o de Maquiavel, na medida em que ambos procuram afirmar a 
necessidade de legitimação do poder. Na visão de Rousseau, o homem não é um 
ser naturalmente sociável, mas socializável pelas circunstâncias e pela luta para 
sobreviver. 
Em “Discurso da origem da desigualdade entre os homens”, o autor 
argumenta que os direitos se formam a partir de um contrato de submissão dos 
homens a um poder. Nessa linha, ataca a noção de direitos naturais precedente, 
afirmando a necessidade de pactuação do corpo político para a afirmação das 
liberdades. Nesse sentido, sua obra trata da problemática do “contrato social”, 
associada à ideia de república e de igualdade entre os homens. Para Rousseau, a 
cidadania pressupõe a existência de simetria e de uma “vontade geral” entre os 
cidadãos, valorizando,dessa forma, o controle democrático e a prestação de 
contas. A noção contemporânea de cidadania, em um contexto democrático, se 
valeu do debate de ideias durante a formação histórica das instituições republicanas 
dos Estados Unidos da América. Texto clássico da Ciência Política, ‘O Federalista” 
(1788) consagrou-se como um conjunto de artigos escritos por Alexander Hamilton, 
James Madison e John Jay, três dos Pais Fundadores da recém independente nação 
norte-americana. 
Além de consagrados partícipes do processo de emancipação política do 
país, Hamilton, Madison e Jay tiveram atuação destacada no processo de 
elaboração do texto constitucional dos Estados Unidos, no bojo da conclusão da 
Guerra da Independência e dos arranjos para a estabilização política interna. O 
objetivo da publicação desses artigos foi explicitar e debater os temas centrais 
discutidos no processo constituinte, em especial a centralização, a coordenação e o 
controle do poder. 
James Madison, em “O Federalista”, aborda a temática do controle do poder 
político e da contenção das ambições humanas. Advoga, nessa direção, a 
necessidade de instituir mecanismos capazes de afastar as tiranias e assegurar a 
existência das liberdades dentro do Estado, tornando-se um dos principais teóricos 
da existência de “checks and balances” (freios e contrapesos) entre as diversas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
instâncias e poderes. A teoria liberal da cidadania nutriu-se das lições de Montes-
quieu e da seiva madisoniana para consolidar o entendimento que consagrou a 
moderna tripartição de poderes do Estado. 
Em breves palavras, somente o poder poderia ser contido por outro poder, 
numa sucessão de mecanismos capazes de refrear o ímpeto autoritário dos 
governantes. Madison dialoga com a teoria do “governo misto”, existente na 
Inglaterra liberal do século XVIII, em que as funções governativas eram 
compartilhadas pelos três principais grupos sociais, favorecendo a harmonia, a 
convivência civil e a liberdade. 
Fruto de uma rebelião de cidadãos armados contra uma monarquia, nos 
Estados Unidos estavam ausentes as condições para a existência desse modelo de 
organização social e política. Madison argumentava que o elemento inspirador da 
nova nação também não deveria ser a “virtude” das experiências republicanas da 
Antiguidade Clássica. Contrariamente ao “governo misto” e à “virtude” dos clássicos 
da Grécia, ancorava-se na teoria da “tripartição de poderes” de Montesquieu, que 
defendia uma divisão das atribuições do poder de maneira horizontal entre três 
braços independentes e autônomos de governo: o Legislativo, responsável pela 
edição de normas; o Executivo, responsável pela sua aplicação; e o Judiciário, 
responsável por dirimir conflitos. 
A separação de poderes garantiria a autonomia, o equilíbrio e a liberdade, 
dissolvendo o poder absoluto em várias mãos. Madison preconizava a necessidade 
de se conter o mal das facções através do seu controle, não da sua eliminação. 
Compreendendo a sua natureza e risco, o autor buscava alguma forma de lidar com 
as diferentes forças sociais e políticas nascidas da diversidade de ideias, crenças, 
opiniões e interesses, mas que poderiam ameaçar a estabilidade política dos 
governos e a existência dos regimes. 
Madison entendia que a eliminação das facções era algo incompatível com 
um sistema de liberdades, cuja missão principal do governo era salvaguardar. Um 
ponto central da visão madisoniana, nesse sentido, era a necessidade de equacionar 
a vontade da maioria com os direitos das facções minoritárias, evitando que a 
primeira esmagasse as segundas. A existência de mecanismos de proteção das 
minorias do abuso de poder era essencial para evitar a tirania. 
James Madison rompe com a tradição dos governos populares da 
Antiguidade ao defender o modelo de democracia representativa, em que as 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
facções estariam representadas por um corpo político de cidadãos preparados para 
governar. A ampliação da base territorial de governo também seria importante. Por 
outro lado, a existência de governos representativos não eliminaria o mal das 
facções, tendo em vista a existência do risco de degeneração do poder em 
armadilhas faccionárias capazes de levar à captura do governo por interesses 
contrários à vontade geral. 
Desta forma, o remédio proposto não é a eliminação das facções, mas a sua 
multiplicação, de modo a pulverizar o poder num grande número de forças facciosas 
de alcance local e limitado, cada uma delas incapaz de ameaçar a existência da 
liberdade. O objetivo é a neutralização das facções entre si, numa fórmula 
semelhante à teoria dos “checks and balances”. O interesse geral, resume Madison, 
se alcançaria através da coordenação dos interesses em conflito pelos poderes que 
interagem entre si, filtrando os excessos e compatibilizando a vontade da maioria 
com os direitos das minorias. A atualidade dos textos dos autores norte-americanos 
repousa em sua capacidade de pensar temas fundamentais da sociedade política 
moderna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
3.2 CIDADANIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS 
O conceito de cidadania não teve difusão uniforme no Ocidente. No ideário 
iluminista, ser cidadão significava ter a posse de direitos políticos uniformes e iguais. A 
ideia era a de que todos eram iguais perante a lei. Na concepção do universalismo 
moderno, existe a ideia de igualdade como um ponto de partida. O papel do Estado 
é reduzido; ele confere a cidadania e define os direitos em abstrato. A Revolução 
Francesa trouxe como conquista a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. 
Nessa concepção, o Estado não atrapalha as relações entre os particulares. 
O Estado reconhece os direitos individuais, mas adota um papel de definir o 
que é o espaço da liberdade. O Estado reconhece o direito e se abstém de interferir 
nisso. Atribui direitos ao indivíduo e isso tem impactos sobre a concepção de 
cidadania. No discurso liberal há uma igualdade formal. Por exemplo, o voto de cada 
cidadão tem o mesmo valor, independentemente de sua condição social ou 
financeira. 
Na concepção liberal de cidadania está presente a ideia da 
representatividade. O indivíduo pertence a uma ordem soberana e é esta ordem que 
o reconhece como cidadão. Essa concepção é orientada por critérios político-
jurídicos constitucionalizados. No Direito contemporâneo encontraremos 
concepções que afirmam essa ideia, que é moderna. 
Nesse sentido, cidadão é aquele que é capaz de votar ou que está habilitado 
para receber votos. Votar e ser votado é o que define a condição de cidadão. No 
entanto, será que essa concepção é suficiente para a realização do ideário 
democrático? Será que é suficiente para atender às demandas sociais? 
A concepção moderna de cidadania se baseia em valores do ideário 
iluminista. Em primeiro lugar, não considera as diferenças concretas entre as pessoas. 
Assim, seria suficiente o afastamento do Estado para que sejam realizados os valores 
sociais. Em segundo lugar, não considera as oposições existentes dentro da própria 
sociedade. Bastaria a igualdade de fato, sem considerações sobre as desigualdades 
de fato que existem nas ruas. 
Na concepção tradicional de cidadania, o Estado concentra em si o poder 
da violência legitimada. Os indivíduos, por sua vez, têm uma participação política 
periférica. Onde está presente o Estado, não haveria espaço para o indivíduo. A 
participação política, nessa concepção liberal, seria restrita a ocasiões determinadas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
nas quais o cidadão é chamado a votar. A realização da cidadania, portanto, 
dependeria de formalismos e burocracias e há um espaço muito pequeno para 
participação. Do mesmo modo, é o Estado quem definiria os direitos do cidadão, 
numa relação hierárquica entre quem dita as regras e quem obedece. 
Essa visão vem sendo solapadapor uma série de ineficácias e déficits de 
atuação do Estado de Direito. Em seu lugar, tem-se construído uma nova concepção 
de cidadania, com atuação proativa na construção dos espaços sociais. A 
cidadania, nessa concepção, pertenceria à sociedade civil e seria exercida como 
atividade realizadora de mecanismos que permitissem o acesso a direitos 
fundamentais. Há a ideia de efetividade de poucos bens ao invés da universalidade 
de muitos direitos. O que se valoriza é a experiência pragmática de justiça, provida 
não apenas pelo Estado, mas por organizações do Terceiro Setor. 
Diante da incapacidade do Estado de atendar às necessidades sociais, os 
atores sociais exerceriam papel auxiliar no provimento de bens públicos. A nova ideia 
social rompe o verticalismo do poder. Há um horizontalismo no qual a sociedade 
assume o papel do Estado nas políticas sociais. 
A noção de cidadania não se baseia mais em parâmetros formais da teoria 
tradicional. Cidadania, hoje, tem um sentido ético-filosófico de acesso à dignidade 
da pessoa humana. O Estado não é suficiente como agente produtor de justiça e 
como promotor do bem-estar social. Em um contexto de esvaziamento do papel 
agregador do estado, são necessários outros agentes na afirmação da cidadania e 
na garantia de acesso a condições dignas de vida. 
Apesar dos padrões cada vez mais individualistas de comportamento moral, 
responsável por certa apatia global diante das injustiças, da miséria e da guerra, há 
reações importantes em curso no sentido de ampliar o engajamento e a 
participação da sociedade na vida pública. 
A democracia é o espaço privilegiado de exercício da cidadania. Administra 
os interesses gerais da coletividade e aperfeiçoa a racionalidade pública. Essa 
problemática constitui fonte de preocupação para filósofos, antropólogos, cientistas 
políticos, sociólogos e estudantes de todas as áreas. 
O atual estágio de evolução humana consegue avançar, pela emergente 
engenharia genética, até mesmo na manipulação dos caracteres hereditários da 
constituição da espécie. Há enorme risco de que se introduzam na natureza humana, 
modificações que suprimam ou significativamente reduzam as suas características 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
transcendentes, criando condições para que se perpetue esse intransitivo 
consumismo tecnológico de um novo tipo humano, cuja descartabilidade passe a 
fazer parte de sua natureza. 
 
3.3 A CIDADANIA NO MUNDO GLOBALIZADO 
A ideia de cooperação norteia a nova sociedade global. A busca da 
resolução de problemas comuns da humanidade induz às nações a ampliar o 
compartilhamento de informações e a procurar caminhos para a superação de 
flagelos comuns como a fome, as guerras, a pobreza e a miséria. 
Essa interdependência entre Estados nacionais também trouxe novos desafios 
para a sociedade civil em âmbito internacional. Com a diluição da soberania e a 
interconexão entre as economias, os Estados perderam o monopólio do seu poder 
de balizar a vida política e econômica. Nesse sentido, amplia-se, cada vez mais, o 
espaço de ação dos cidadãos na esfera pública para expressar suas ideias e seus 
interesses, intercambiando informações e buscando alcançar objetivos comuns. 
O crescimento das Organizações Não Governamentais, em escala mundial, é 
uma expressão dessa abertura do espaço público para novos atores não estatais. 
Cada vez mais, eles desempenham papéis relevantes nas sociedades, interferindo 
na política e na economia de diversas formas. A globalização econômica e a 
revolução tecnológica fortaleceram o papel dessas instituições nas mais variadas 
searas da vida das nações. 
O contato cada vez mais estreito entre cidadãos de várias nacionalidades e 
a coincidência de interesses entre povos que vivem em espaços políticos distintos, 
pavimenta o caminho para o surgimento de uma verdadeira sociedade global e de 
uma autêntica cidadania mundial. Portanto, hoje já se pode falar no surgimento de 
um sentimento cidadão em escala planetária, alavancado pelas novas tecnologias, 
pelas ferramentas de comunicação, pelas redes sociais e pelo poder cada vez maior 
das organizações não governamentais. 
O surgimento de uma governança global também impacta na formação do 
sentimento de cidadania. Organizações não governamentais, mais do que os 
Estados e as empresas, conseguem mobilizar os cidadãos em defesa dos interesses 
de certas pautas políticas, econômicas e sociais: o meio ambiente, os direitos 
humanos, o desarmamento, o comércio justo, o respeito aos animais, a defesa de 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
minorias etc. 
Essas organizações influenciam não apenas as pautas políticas nacionais, mas 
também na agenda das organizações internacionais. Um exemplo dessa 
participação da sociedade civil tem sido observado nas conferências internacionais 
sobre ambiente e sustentabilidade, como a Rio-92, a Rio +20 e a Conferência de Paris, 
nas quais o envolvimento de grupos de ambientalistas, empresários, trabalhadores, 
acadêmicos e cientistas tem sido cada vez maior. Pautas como meio ambiente e 
direitos humanos atravessam as fronteiras e aproximam os cidadãos. São temas que 
possuem uma dimensão local, mas também global, gerando a mobilização da 
cidadania. 
Como lidar com os desafios da cidadania global sem instituições adequadas 
para balizá-los? A cidadania nasceu como um conceito inerente à ordem interna 
dos Estados, mas se torna cada vez mais atrelado a uma perspectiva global. A 
formação de uma opinião pública mundial interconectada com os desafios do 
presente traz grandes dilemas para a democracia e para a governabilidade 
contemporâneas. 
A fraqueza dos mecanismos decisórios e a ausência de espaços para a 
atuação da sociedade civil organizada é um problema. Inexiste, por exemplo, um 
parlamento mundial que vocalize as vozes dos cidadãos do mundo. Da mesma 
forma, não há um poder mundial capaz de implementar decisões coletivas de forma 
coesa e organizada no espaço terrestre. A diluição da soberania dos Estados e o 
enfraquecimento do poder das instituições nacionais, ao mesmo tempo em que abre 
espaço para a atuação da sociedade civil, não traz soluções para os novos 
paradigmas da sociedade internacional. 
Nesse sentido, surge a necessidade de institucionalização da cidadania e de 
buscar soluções políticas para lidar com os desafios da globalização econômica e 
da revolução tecnológica. O sistema de governança global se torna cada vez mais 
complexo: Estados nacionais, organizações governamentais, empresas 
transnacionais, organizações não governamentais, imprensa, indivíduos etc. Há uma 
pluralidade de instituições que interagem em escala planetária e que interferem na 
formação de uma cidadania mundial. 
Buscando superar os paradigmas tradicionais de funcionamento dos Estados 
nacionais, as organizações supranacionais desenvolveram mecanismos institucionais 
de governança regional, como parlamentos e tribunais, de modo a abrigar a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
vontade dos cidadãos numa escala territorial maior. 
O problema central da governabilidade em escala mundial é o da 
legitimidade das instituições. A ideia de legitimidade se relaciona com a noção de 
representação do poder, de defesa dos direitos fundamentais e de segurança 
jurídica. Em outras palavras, a justificação do poder se baseava na capacidade do 
Estado de assegurar segurança, justiça, ordem, paz e liberdade para que os 
cidadãos buscassem viver suas vidas. 
 
 
 
Em um mundo cada vez mais marcado pela produção de riqueza em escala 
gigantesca e de intensos fluxos financeiros, os Estados nacionais perderam a 
capacidade de assegurar desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades 
sociais e promover o bem-estar coletivo. A intensificação da globalização deu ênfase 
aos processos de integração econômica e política, mas não avançou 
adequadamente no que diz respeito à ampliação dos espaços

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