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1 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli Lei Processual Aplicação da lei processual no tempo Princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata: No conflito da lei processual no tempo, vige o princípio do tempus regit actum (os atos são regidos pela lei processual do seu tempo), com a consequência de que: → os atos processuais realizados sob a égide da lei anterior são válidos; → as normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar restante do processo. Art. 2º CPP. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. Irretroatividade: A lei processual penal brasileira não é retroativa, pois se aplica aos fatos processuais ocorridos durante a sua vigência. Irretroatividade da nova lei, ela só é aplicada a partir da sua data de vigência, ou seja, não é aplicada para atos anteriores a ela. Normas Normas processuais: Disciplina como se inicia um processo, como ele se desenvolverá, a função de cada um e como ele finalizará. Regulam o início, desenvolvimento e fim do processo; as que indicam as formas com que os sujeitos processuais podem valer-se das suas faculdades e direitos processuais etc. Art. 37 CPP. As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes. A representação vincula uma forma de iniciar um processo, está ligada ao direito de ação. O promotor não pode iniciar uma ação sem a autorização da vítima. Art. 396 CPP. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. Art. 399 CPP. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. Normas penais: Atribui ao Estado o direito de punir. Todas aquelas que atribuem virtualmente ao Estado o poder punitivo ou o poder de disposição do conteúdo material do processo. Quando a norma está ligada ao direito de punir, quer privando ou disponibilizando o Estado o direito de punir, é norma penal. Exemplo: Sursis, abdica o direito de punir por questão de regime criminal. Art. 121 CP. Matar alguém. Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Normas mistas: Processuais materiais ou híbridas, caráter penal e processual. Se um preceito processual for constituído também de caracteres de natureza penal, aplica-se a retroatividade benéfica. Art. 38 CPP. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31. A decadência é a perda do direito de ação por não manifestação e a perda do direito indireto de punir (pois ocorre em seguida). A prescrição é a perda direta do Estado de seu direito de punir e indireta do indivíduo (pois só o juiz pode exercer). A primeira parte do artigo disciplina uma maneira de iniciar uma ação/processo, pois sem a representação o processo não se inicia, sendo, portanto, uma norma processual. Já a segunda parte é uma norma penal, pois está ligada ao direito de punir ao 2 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli disciplinar a perda do direito de ação, e consequentemente a perda do direito de punir. No Direito Processual, diferente do Direito Penal, não faz o raciocínio de permanecer a lei mais favorável. Portanto, norma processual pura não retroage, tendo como exceção as normas materiais (pois estabelecem direitos/dão garantias, sendo do CP ou do CPP) e as normas mistas que retroagem. Heterotopia: Norma de natureza jurídica estranha a codificação a qual se encontra inserida. Situação em que, apesar do conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, encontra-se ela prevista em diploma de natureza distinta. Art. 100 CP. A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. Art. 186 CPP. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. Podem retroagir beneficamente quando se revestem de conteúdo material, como o direito ao silêncio, embora previsto no CPP. Sistemas processuais Sistema Acusatório: Implica o estabelecimento de uma verdadeira relação processual entre autor, réu e juiz, estando em pé de igualdade autor e réu e, acima deles, como órgão imparcial o juiz. Relação de triangulo, com o juiz no topo e com autor e réu na base em paridade, de forma igualitária. Sistema Inquisitivo: É a antítese do acusatório; não há contraditório, as funções de acusar, defender e julgar concentram-se na mesma pessoa que é o juiz. Tínhamos esse sistema em que era atribuído ao mesmo órgão o poder de investigar e julgar, o juiz era o grande inquisidor. Sistema Misto ou acusatório formal: É constituído de uma instrução inquisitiva (investigação preliminar e instrução probatória) e de um posterior juízo contraditório (de julgamento). É utilizado em vários países da Europa. Primeiro há a fase inquisitiva no qual o ministério público investiga e acusa, e depois há a fase acusatória realizada pelo órgão julgador (devido processo legal). A segunda fase é igual a do Brasil, só se distingue do nosso pois lá o ministério público que investiga, enquanto aqui é a polícia, tendo o ministério público atuação na segunda fase. Aplicação da lei processual penal no espaço As leis processuais são eminentemente territoriais; não ultrapassam os limites do território do Estado. Como uma autoridade ou uma jurisdição repressiva exprime por sua atividade um dos aspectos da soberania nacional, não pode ela ser exercida senão dentro nas fronteiras do respectivo Estado. A lei processual do Estado pode ser aplicada fora de seus limites territoriais nas hipóteses de: 1. Aplicação da lei processual penal de um Estado em território nulo (o qual ninguém exerce soberania); 2. Quando houver autorização do Estado onde deva ser praticado o ato processual; 3. Em caso de guerra, em território ocupado. Art. 1o CPP. O processo penal reger-se- á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100); III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); V - os processos por crimes de imprensa. Ressalvas do artigo 1º do CPP: Tratados, convenções e regras de direito internacional. Aos crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves estatais estrangeiras, em águas territoriais e espaço aéreo brasileiros, não se aplicam a lei penal nem a lei processual pátrias. Não se aplica também a nossa lei processual aos agentes diplomáticos aqui acreditados (imunidade formal); aos encarregados de certa missão especial; aos http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art86 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art86http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art89 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art89%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art122.17 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art122.17 3 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli que se acreditam para representar o Governo em conferências, congressos ou outros organismos internacionais; aos funcionários diplomáticos que vivam em companhia dos respectivos agentes gozam dessas prerrogativas. A imunidade alcança os familiares, bem como os funcionários das organizações internacionais, quando em serviço. Estão excluídos os funcionários particulares dos agentes. Os chefes de Estado e sua comitiva desfrutam dos mesmos privilégios quando em território nacional. As sedes de embaixadas ou legações são considerados territórios do país onde se acham situadas. Contudo, são consideradas invioláveis. Os cônsules não gozam das mesmas prerrogativas, salvo nos delitos funcionais. Os atos processuais nas cartas rogatórias obedecem à lei do Estado rogado. Imunidade parlamentar: Processual ou relativa. Refere-se à prisão, ao processo, prerrogativas de foro e para servir como testemunhas. Desde a expedição de diploma (diplomação é o reconhecimento de que o candidato está apto a assumir o cargo), o parlamentar não pode ser preso, salvo em flagrante de crime inafiançável. Em tal caso, os autos serão remetidos dentro de 24 horas para a Casa do parlamentar que deliberará, por maioria absoluta sobre a prisão. Art. 53 CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. A ação penal pode ser suspensa por decisão da respectiva Casa por crime cometido após a diplomação. A Casa deve deliberar no prazo de 45 dias, após provocação de partido político, pela maioria absoluta dos seus membros. O partido político do deputado pode protocolar a Mesa (diretora da Câmara) a sentença com requerimento provocando a suspensão dessa ação. Anteriormente, ele podia peticionar sobre a prisão, e nesse momento sobre a própria ação penal. O procurador geral denunciou o parlamentar, o Supremo recebeu a ação, esta já está tramitando, e o partido a que pertencer o deputado protocolará a suspensão dessa ação. A Mesa pauta os deputados e estes, por maioria absoluta, podem aprovar a suspensão da ação penal. Ação penal será parada. O prazo que a Câmara terá é de 45 dias para deliberar a suspensão da ação. Caso não faça isso dentro do prazo, não poderá mais deliberar sobre a ação (perempção). O prazo final que o partido tem para provocar a parte é a ação definitiva. Enquanto não houver decisão definitiva (acórdão transitado julgado), o partido pode provocar. Terminado o mandato, retoma a ação penal. Os deputados estaduais alcançam a mesma imunidade. Art. 27, § 1º CF. Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. Imunidade processual e concurso de agentes: Em caso de suspensão da ação, separa-se o processo. Exemplo: Assessor envolvido no caso. A Câmara deliberará sobre a suspensão da ação em relação ao deputado, não sobre o assessor. Suspende tão somente a ação em relação ao parlamentar, quer seja senador ou deputado. Suspensão da prescrição: Em caso de suspensão da ação, suspende-se também a prescrição. Art. 53, §5º. A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. Imunidade para depor: O senador e o deputado não são obrigados a testemunhar sobre informações recebidas no exercício do mandato e nem sobre as pessoas que lhe confiaram as informações. Não seria possível 4 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli exercer eficientemente a tarefa de fiscalização do Poder Executivo caso não houvesse a imunidade. Direito de preservar as fontes. Art.53 CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. Prerrogativa de foro: Os deputados e senadores são julgados pelo STF. Em face da importância do cargo, o indivíduo é processado em outro tribunal. Art. 53 CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. Art. 102 CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; Estado de sítio: Tais imunidades subsistirão durante o estado de sítio, podendo ser suspensas por voto de 2/3 da Casa no caso de ato praticado fora do recinto do Congresso e que sejam incompatíveis com a execução da medida. Art. 53 CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida. Presidente da República: Imunidade formal em relação ao processo. Juízo de Admissibilidade pela Câmara, 2/3 do voto de seus membros. Art. 86 CF. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. Prisão: Somente será preso nos crimes comuns após a prolação do Acórdão condenatório. Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. § 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. Caso o Presidente tenha cometido o crime de peculato (art. 312 CP), o Procurador Geral da República apresentará aos ministros do Supremo. Para o Supremo receber essa denúncia é preciso receber a permissão da Câmara (quórum de 2/3 dos deputados). Crime de responsabilidade. Prerrogativa de foro: Nos crimes comuns será julgado pelo STF e nos crimes de responsabilidade pelo Senado Federal. Art. 86 e 102, I CF. Vice-Presidente, Ministros de Estado e Forças Armadas, nos crimes de Responsabilidade conexos com o do Presidente serão julgados peloSenado Federal. Art.52. O STF julgará os crimes de responsabilidade praticados pelos Ministros de Estado e Forças Armadas, membros dos Tribunais Superiores, os do T.C.U. (Tribunal de Contas da União) e os chefes de missão diplomática de caráter permanente. O Senado Federal julgará os crimes de responsabilidade praticados pelos Ministros do STF, os membros do CNJ e do CNMP, o PGR e o ADGU. Art. 52, II CF. Compete privativamente ao Senado Federal: II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado- Geral da União nos crimes de responsabilidade; Militares: Crimes militares é de competência da Justiça Militar (CPPM). 5 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli Art. 1°, III CPP. O processo penal reger- se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: III - os processos da competência da Justiça Militar; Art. 124 CF. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Interpretação Interpretar a lei é penetrar-lhe o verdadeiro e exclusivo sentido. A lei é feita para uma finalidade objetiva, não havendo motivos para existência de mais de um significado. Espécies de interpretação: Quanto ao sujeito que a realiza a interpretação: 1. Autêntica: Procede da mesma origem que a lei e tem força obrigatória. Gera segurança. Quando é feita pelo próprio legislador e está dentro do texto da lei é chamada contextual. Exemplo: Art. 302 CPP. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Art. 303 CPP. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência. Art. 327 CF. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Parágrafo único. Equipara- se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal. Pode ser promovida por lei posterior, com o fim de dissipar incerteza ou obscuridades. O próprio legislador que especifica. 2. Doutrinária (doutrinal ou científica): Feita pelos escritores ou comentadores do Direito, não tem força obrigatória. Constituída da communis opinio doctorum (a comum opinião dos doutores, mestres). 3. Judiciária (jurisprudencial): Deriva dos órgãos judiciários (juízes e tribunais). Orientação que os juízos e tribunais vêm dando à norma. Não tem força obrigatória, salvo na súmula com efeito vinculante. A jurisprudência é o conjunto de manifestações judiciais sobre determinado assunto legal, exaradas num sentido razoavelmente constante. Súmula consiste no condensamento de um entendimento predominante (majoritário) de um tribunal a respeito da aplicação de uma norma ou determinado instituto. Exemplo: Art. 28-A CPP, uma turma entende que se não tiver sentença pode retroagir, e outra que retroage até durante a sentença. Ou seja, pode haver súmulas diferentes de acordo com cada turma. Para resolver essa controvérsia, há a súmula com efeito vinculante. Súmula com efeito vinculante é a decisão de 2/3 após reiteradas decisões sobre matéria constitucional. É editada no caso de existência de controvérsia que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. Tem força obrigatória. Art.103-A-CF. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. Também há efeito vinculante nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal. Art.102 CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Os precedentes judiciais são considerados fonte do Direito, ou seja, a 6 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli decisão judicial prolatada em um caso concreto produz norma jurídica de efeitos vinculantes para processos futuros Quanto ao modo ou aos meios empregados: 1. Literal, gramatical ou sintática: Leva-se em conta o texto da lei e a significação das palavras. Apenas com a sua leitura é possível compreender o seu alcance e significado. Autoexplicativas. 2. Sistemática: Leva-se em conta a norma colocada num todo, como integrante de um ordenamento jurídico. Insere a norma no contexto do ordenamento que regula a matéria, não pode ser vista isoladamente. Art. 311 CPP. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. Art. 312 CPP. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. Nestes dois artigos é dado amplo poder ao juiz, mas o art. 282 limita-o. Por esse motivo, não pode prender preventivamente usando como fundamento apenas os artigos 311 e 312, deve-se interpretar as leis observando como um todo. 3. Teleológica: Busca-se a finalidade da norma, mens legis (espírito da lei). Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar. Questiona-se o que é navio para o legislador, pois há tratados que disciplinam de forma diferente o seu significado. 4. Progressiva (adaptativa ou evolutiva): Aquela que objetiva ajustar a lei às transformações sociais, jurídicas, científicas e até mesmo morais que se sucedem no tempo e que interferem na efetividade que buscou o legislador com a sua edição. Art. 68 CPP. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (artigo 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (artigo 63) ou a ação civil (artigo 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público. Inconstitucionalidade progressiva da norma, a norma só se torna inconstitucional a medida que a Defensoria avança, onde tem defensor, o MP se retira. Apenas o MP realizava essa assistência, e a partir do momento que a defensoria se tornou obrigatória em todos os estados houve essa interpretação. 5. Histórica: Analisa-se o contexto da votação do diploma legislativo para entender a feitura da norma. Consulta os anais da lei que precedeu a sua aprovação. Quanto ao resultado: 1. Declarativa: Quando as palavras da lei encontram correspondência com a vontade normativa. Não há necessidade de se conferir um sentido mais amplo ou mais restrito à norma. Art. 248 CPP disciplina sobre a casa habitada, sendo ela a ocupada por uma ou mais pessoas. Não houve ampliação ou restrição do alcance normativo, entende- se por si só. 2. Restritiva: Quando se reduz o alcance da norma para que se possa encontrar a sua exata vontade. A norma é demasiadamentegenérica e disse mais do que a aparência demonstra. Lendo o art.271-CPP entende-se que ao assistente será permitido anular todos os meios de prova, mas a doutrina diz que este não pode anular as provas testemunhais, pois o momento de anular é na denúncia e o assistente vem posteriormente. O intérprete deve fazer uma interpretação restritiva nesse alcance. 3. Extensiva: Leva à aplicação da lei a casos não expressamente incluídos na sua fórmula, mas virtualmente compreendidos no seu espírito. É necessário ampliar o alcance da lei. Aplicar a lei em casos não previstos na fórmula. Exemplo: Art. 254 CPP, hipóteses em que o juiz pode comprometer a imparcialidade do julgamento, deseja o legislador que ele se afaste. Na lei não é citada a relação com mãe, por exemplo, mas é necessário 7 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli interpretar extensivamente a necessidade de afastar o juiz por bom senso. Interpretar por literalidade afetaria o processo. Se o juiz já julgou o réu anteriormente e julgará posteriormente novamente, não afetará a sua imparcialidade. 4. Analógica (espécie de interpretação extensiva): Ocorre quando fórmulas casuísticas inscritas em um dispositivo são seguidas de expressões genéricas abertas, entendendo-se que estas somente compreendem os casos análogos destacados por aquelas. A própria lei determina a interpretação. Exemplo: Art. 121, IV CP. à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. As normas casuísticas do artigo são consideradas recursos que dificultam a defesa do ofendido, e qualquer outro recurso semelhante que qualifica uma surpresa para a vítima se encaixa como qualificadora. Essa expressão genérica aberta qualifica apenas aos casos análogos, interpretação analógica, e não é aplicada, necessariamente, in bonam partem. Exemplo: Artigo 6º, CPP. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. Perguntar a opinião sobre determinado assunto (racismo estrutural e feminicídio, por exemplo) e observar o comportamento, que pode estar ligado, direta ou indiretamente ao fato. Essa expressão genérica aberta abrange elementos análogos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter e que estejam de acordo com o crime praticado, interpretação analógica. 5. Analogia (autointegração da lei): Princípio jurídico segundo o qual a lei estabelecida para um determinado fato se aplica a outro, embora por ela não regulado, dada a semelhança em relação ao primeiro. Exemplo: Art. 354 CPP. A precatória indicará: I - o juiz deprecado e o juiz deprecante; II - a sede da jurisdição de um e de outro; Ill - o fim para que é feita a citação, com todas as especificações; IV - o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer. Art. 783 CPP. As cartas rogatórias serão, pelo respectivo juiz, remetidas ao Ministro da Justiça, a fim de ser pedido o seu cumprimento, por via diplomática, às autoridades estrangeiras competentes. As solicitações de juízes para outros juízes são chamadas de cartas precatórias. Nelas são dados instrumentos para informar e auxiliar o outro no entendimento do processo. Já as solicitações de juízes nacionais para juízes de outro país são chamadas de cartas rogatórias. A diligência entre as duas cartas são as mesmas, por isso é aplicado a norma que regula o art. 354 para as cartas rogatórias desamparadas. Diferença entre interpretação analógica e analogia: Na primeira, a vontade da lei é abranger os casos análogos àqueles por ela regulados. Na segunda não há essa voluntas legis, não existe essa vontade, mas o intérprete preenche a lacuna para a completude jurídica. Juiz das garantias Essas normas estão com a eficácia suspensa. Art. 3º-A CPP. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. Esse artigo reafirma o sistema acusatório puro, a separação entre órgão julgador e acusador. Nele há a expressa vedação da iniciativa do juiz na fase investigativa. O juiz das garantias não pode substituir a atuação do órgão acusatório (papel do promotor), ou seja, não pode acusar e investigar. Relação triangular. Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, 8 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli adequação e proporcionalidade da medida; (Artigo revogado – revogação tácita). A vedação da iniciativa do juiz, na fase investigativa, atende aos reclamos da doutrina, uma vez que o artigo 156, I do Código de Processo Penal permitia ao juiz ampla liberdade probatória, com o poder, inclusive, de realizar diligências antes do mesmo oferecimento da denúncia. Verifica- se, assim, que o artigo 3º-A derrogou o artigo 156, extirpando o inciso I do mencionado artigo. A ampla liberdade probatória concedida ao juiz permitia que este, nas diligências determinadas, substituísse a função do Ministério Público. Daí a vedação expressa a tal substituição. Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: [...]. Para os Alemães o Estado não pode ser abusivo e nem brando, deve equilibrar as duas ideias seguindo as normas constitucionais. Essa função é dada aos juízes da garantia. A função do juiz das garantias é ter a responsabilidade pelo controle da legalidade da investigação criminal e da proteção dos direitos individuais sujeitos à tutela do Estado- Juiz. Reveste-se da competência funcional absoluta para atuar nos estágios críticos da investigação criminal, e zelar pela salvaguarda dos direitos fundamentais do investigado e pelo controle da legalidade da investigação criminal. Apenas ele tem o livre sistema de produção de provas, vedando-se as provas ilícitas, como cuidar da reserva de jurisdição, interceptação telefônica, sigilo fiscal, bancário etc., enquanto o juiz julgador só julgará o caso, não terá acesso a esse tipo de documentos. Sua nova figura repousa em reforçar o modelo acusatório e assegurar a imparcialidade do juiz, evitando que o juiz da sentença seja contaminado pelos elementos de informação colhidos na fase da investigação criminal. A figura do juiz das garantias atende a dois objetivos centrais. O primeiro se consubstancia em dar especialidade ao juiz que atua exclusivamente na fase de investigação, advindo daí a esperada expertise, eficiência e agilidade. O segundo objetivo consiste em assegurar que o juiz do processo tenha plena liberdade crítica, em relação aos trabalhos da fase investigativa. I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição Federal; II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no art. 310 deste Código; O juiz das garantias, além de ser o destinatário do auto de prisão em flagrante, deverá aferir a legalidade da referida prisão. Assim, caso a prisão e a lavratura do referido auto se concretizaram, nos termos dos artigos 301 a 308 do CPP e havendo a necessidade da permanência da segregação cautelar, será decretada a prisão preventiva do autuado. Em se tratando da hipótese de liberdade provisória,o juiz das garantias observará eventual aplicação cumulativa das medidas cautelares (ou contra cautelares) dispostas no artigo 319 do CPP. III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua presença, a qualquer tempo; Ao determinar que o juiz zele pela observância dos direitos dos presos deseja o legislador que o magistrado seja rigoroso na aferição da legalidade da prisão, como também na sua própria manutenção, de forma que a prisão cautelar somente poderá se concretizar quando não for possível a submissão do agente às medidas cautelares diversas da prisão (ultima ratio). Legitima o legislador a requisição do preso pelo juiz das garantias, consubstanciada na denominada audiência de custódia, até então disciplinada apenas pela Resolução nº 213/15 do Conselho Nacional de Justiça e replicada por normas internas dos tribunais de justiça. A audiência de custódia é a apresentação do preso ao juiz. Ela será desnecessária quando for o caso de relaxamento da prisão e da hipótese do artigo 310, III do CPP. IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal; 9 Direito Processual Penal I - Bianca Marinelli O Juiz das garantias tem a função jurisdicional de aferir a legalidade de toda investigação criminal, com o propósito de obstar eventual abuso de autoridade, nesta primeira fase da persecução penal. Assim, tanto autoridade policial, como Ministério Público deverão informar eventual instauração de procedimento investigatório, de natureza criminal. Como, de acordo com a nova redação do artigo 28 dada pela Lei 13.964/19, o arquivamento será efetivado no próprio Ministério Público, o referido arquivamento também deverá ser comunicado ao juiz criminal, notadamente para registro e eventual certidão de antecedentes criminais. V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, observado o disposto no § 1º deste artigo; Prisão provisória é uma expressão que está fora de uso, o correto é prisão cautelar para diferenciá-la da prisão penal. Quem decide sobre a prisão preventiva é o juiz das garantias, após do pedido da polícia. Ela é decidida como ultima ratio, tendo outras hipóteses para substitui-la e submeter ao réu. VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial pertinente; Como o juiz das garantias é o responsável pela aferição da legalidade da prisão e pela salvaguarda dos direitos individuais dos investigados evidentemente todo pedido de prisão cautelar (preventiva e temporária) ou prorrogação deverá ser por ele analisado, sob o manto da legalidade e oportunidade. Aliás a prisão cautelar, como medida odiosa, deve ser reservada aos casos excepcionais, com demonstração explícita da medida extrema. O juiz das garantias independentemente da manifestação das partes poderá revogar a prisão cautelar quando entender que não se encontram mais presentes os motivos ensejadores da prisão. O artigo 319 do CPP estabeleceu outras medidas cautelares, de natureza diversa da prisão. Além de decidir sobre a imposição de tais medidas, o juiz das garantias poderá substituí-la ou revoga-las. Quando o juiz prorrogar a prisão preventiva ou medida cautelar o legislador impõe a adoção do juízo do contraditório, inclusive, com a designação de audiência. VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral. A prova irrepetível é aquela que se caracteriza justamente pelo fato de que não poderá ser novamente realizada em virtude do desaparecimento, destruição ou perecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e em juízo, sendo que, em regra, não dependem de autorização judicial. Cite-se como exemplo, o exame de corpo de delito. A prova antecipada é aquela que deveria ser realizada no momento da instrução criminal, mas em virtude de urgência e relevância, será colhida em momento antecipado, com o devido contraditório, eu audiência pública e oral, na presença do Ministério Público e advogado, sendo realizada até mesmo na fase de inquérito policial. Diante da relevância e da urgência demonstradas, o juiz das garantias poderá então deferir a sua produção antecipada, como na hipótese do depoimento ad perpetuam rei memoriam, a que se refere o artigo 225 do Código de Processo Penal. O juiz das garantias não poderá realizar tais provas, de ofício. Anotações ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________
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