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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE Rachel Melo Fonseca IMPLANTAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA: contribuição dos enfermeiros gestores do processo para a segurança do paciente Belo Horizonte 2021 Rachel Melo Fonseca IMPLANTAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA: contribuição dos enfermeiros gestores do processo para a segurança do paciente Trabalho de Conclusão de Mestrado apresentado ao curso de Mestrado Profissional em Gestão de Serviços de Saúde da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Serviços de Saúde. Área de Concentração: Gestão de Serviços de Saúde. Linha de Pesquisa: Tecnologias Gerenciais em Saúde Orientadora: Profª. Drª. Selme Silqueira de Matos Belo Horizonte 2021 Dedico este trabalho aos meus pequenos pacientes. Com eles aprendo diariamente e por eles busco incansavelmente oferecer a melhor assistência. AGRADECIMENTOS Às minhas filhas, Júlia, Marina e Lara, que são a razão da minha vida. Por elas, o céu é o limite. Ao meu marido, Rafael, por entender minhas loucuras e estar sempre ao meu lado. À minha mãe, Nilde, exemplo de mulher forte e batalhadora. Ao meu pai, Wagner, que onde estiver está sempre torcendo por mim, morrendo de orgulho. Ao meu padrasto, Roberto, que sempre acredita que sou a melhor enfermeira do mundo. À minha Vó Nice, por todo carinho e amor. À minha orientadora, Selme, um doce de pessoa, com quem caminhei junto nessa jornada. Minha eterna gratidão e inspiração. Aos colegas de mestrado, pelos momentos deliciosos que vivemos juntos, mesmo que boa parte tenha sido a distância. Às enfermeiras diaristas da UTIN, com quem divido os meus dias e ajudam a torná-los mais leves. Aos enfermeiros da UTIN, que deram contribuições valiosíssimas a esse trabalho. “Um dia aprendi que sonhos existem para tornar-se realidade. E, desde aquele dia, já não durmo pra descansar. Simplesmente durmo pra sonhar.” WALT DISNEY RESUMO A segurança do paciente é uma das bases de uma organização hospitalar. É um tema de ampla discussão nas últimas décadas em todo o mundo. As crianças estão na linha de frente quando consideramos os fatores de risco para a ocorrência de incidentes. A infecção primária da corrente sanguínea associada a um cateter venoso central é a principal infecção em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, é muito frequente a utilização do cateter central de inserção periférica. Visando a redução da probabilidade de eventos adversos faz-se necessário identificar os erros e melhorar os processos, apontando aspectos do cuidado que podem ser melhorados tornando a assistência aos pacientes mais segura. Os protocolos são ferramentas que contribuem para a sistematização da assistência de enfermagem, favorecendo a melhoria dos processos na busca pela excelência do cuidado. Neste contexto, questiona-se: a implantação de um protocolo de inserção e manutenção do cateter central de inserção periférica pode contribuir para melhorar os processos de segurança do paciente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal de um hospital público em Belo Horizonte? O estudo teve como objetivo implantar o protocolo de inserção e manutenção de cateter central de inserção periférica na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal de um hospital municipal de grande porte em Belo Horizonte - Minas Gerais. Metodologia: Para atingir os objetivos propostos, o estudo foi desenvolvido com métodos mistos em três etapas. Na 1ª etapa, por se tratar de busca de significados, optou-se pela pesquisa qualitativa, de natureza descritiva, o método escolhido foi a pesquisa-ação, os participantes foram os enfermeiros da UTIN, como instrumento para a coleta de dados foi escolhida a entrevista semiestruturada e a análise dos dados foi realizada através da análise de conteúdo. Foram realizadas entrevistas com os participantes sobre o conhecimento e contribuições acerca do protocolo de inserção e manutenção de PICC e levantado os pontos críticos do protocolo para serem validados pelos especialistas. Na 2ª etapa, ocorreu a validação do protocolo por enfermeiros juízes especialistas em neonatologia e a 3ª etapa finalizou com a implantação do protocolo de PICC e a elaboração da cartilha com as informações dos participantes e referencial teórico sobre o tema. O produto técnico foi um protocolo revisado e validado por enfermeiros especialistas em neonatologia. Palavras-chave: Cateter Venoso Central. Neonatologia. Segurança do Paciente. Recém-nascido. Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Protocolo. ABSTRACT Patient safety is one of the foundations of a hospital organization. It is a topic of wide discussion in the last decades around the world. Children are at the forefront when we consider the risk factors for incidents to occur. Primary bloodstream infection associated with a central venous catheter is the main infection in the Neonatal Intensive Care Unit. In a Neonatal Intensive Care Unit, the use of a peripherally inserted central catheter is very common. Aiming at reducing the probability of adverse events, it is necessary to identify errors and improve processes, pointing out aspects of care that can be improved by making patient care safer. Protocols are tools that contribute to the systematization of nursing care, favoring the improvement of processes in the pursuit of care excellence. In this context, the question is: can the implementation of a protocol for insertion and maintenance of peripherally inserted central catheters contribute to improving patient safety processes in the Neonatal Intensive Care Unit of a public hospital in Belo Horizonte? The study aimed to implement the protocol for insertion and maintenance of peripherally inserted central catheters in the Neonatal Intensive Care Unit of a large municipal hospital in Belo Horizonte - Minas Gerais. Methodology: To achieve the proposed objectives, the study was developed with mixed methods in three stages. In the 1st stage, as it is a search for meanings, qualitative research was chosen, of a descriptive nature, the chosen method was action research, the participants were the NICU nurses, as an instrument for data collection, the semi-structured interview and data analysis was performed through content analysis. Interviews were carried out with the participants about their knowledge and contributions about the insertion and maintenance protocol of the PICC and the critical points of the protocol were raised to be validated by the experts. In the 2nd stage, the protocol was validated by nurse judges specializing in neonatology, and the 3rd stage ended with the implementation of the PICC protocol and the preparation of a booklet with information from the participants and theoretical framework on the subject. The technical product was a protocol revised and validated by specialist nurses in neonatology. Key Words: Central Venous Catheter; Neonatology; Patient Safety; Newborn; NeonatalIntensive Care Unit; Protocol LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACS – Colégio Americano de Cirurgiões COEP – Comitê de Ética em Pesquisa CVC – Cateter Venoso Central CTI – Centro de Terapia Intensiva CCIH – Comissão de Controle de Infeção Hospitalar EUA – Estados Unidos da América ICS – Infecção de Corrente Sanguínea ICSRC - Infecção de Corrente Sanguínea Relacionada à Cateter IOM – Instituto de Medicina dos Estados Unidos IPCS – Infecção Primária da Corrente Sanguínea IRAS – Infecção Relacionada à Assistência em Saúde NSP – Núcleo de Segurança do Paciente OMS – Organização Mundial de Saúde PICC – Cateter Central de Inserção Periférica PNSP – Programa Nacional de Segurança do Paciente PSP – Plano de Segurança do Paciente RDC – Resolução da Diretoria Colegiada RPA – Regime de Plantão Autônomo SIM – Sistema de Informação de Mortalidade TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UTIN – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal LISTA DE FIGURAS Figura 1- Densidades de incidência de infecção primária de corrente sanguínea laboratorial em pacientes em uso de cateter venoso central, internados em UTI neonatal. Brasil, 2011 a 2015. .................................................................................................................................................. 31 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Requisitos utilizados para a seleção de enfermeiros especialistas neste estudo. Belo Horizonte, 2021. ....................................................................................................................... 40 Quadro 2- Dados profissionais dos enfermeiros entrevistados ................................................ 46 Quadro 3 - Conhecimento / treinamento sobre o protocolo ..................................................... 47 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Cortar o cateter no comprimento mensurado na opção mais distal da punção. 52 Gráfico 2 – Deve ser limitado o número de punções por membro. .......................................... 53 Gráfico 3 – Número de tentativas de punções realizadas para a inserção do PICC ................. 53 Gráfico 4 – Deve ser limitado o tempo de procedimento. ........................................................ 55 Gráfico 5 – Se estiver de acordo com a limitação de tempo ele deve iniciar a partir? ............. 55 Gráfico 6 – Se não houver sucesso, outro profissional deverá ser acionado para nova tentativa posteriormente .......................................................................................................................... 56 Gráfico 7 – O enfermeiro deverá avaliar a rede venosa antes da realização do procedimento, e poderá acionar a cirurgia pediátrica se considerar apropriado, julgando o quadro clínico do paciente e as condições da rede venosa .................................................................................... 56 Gráfico 8 – Em caso de punção no membro superior cabeça do paciente deverá ser mantida direcionada ao membro que será puncionado durante a introdução do cateter. ....................... 58 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 22 1.1 Justificativa ...................................................................................................................... 24 1.2 Objetivos .......................................................................................................................... 24 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 26 2.1 Segurança do Paciente ...................................................................................................... 26 2.1.1 Segurança do Paciente ao longo dos anos ................................................................ 26 2.1.2 Segurança do Paciente no Brasil .............................................................................. 27 2.2 Unidade de Terapia Intensiva Neonatal ........................................................................... 28 2.3 Cateter Central de Inserção Periférica .............................................................................. 29 2.4 Infecções relacionadas à assistência em saúde ................................................................. 30 2.5 Segurança do paciente no uso de PICC em uma UTIN ................................................... 31 2.6 A importância dos Protocolos Assistenciais .................................................................... 32 3 MATERIAL E MÉTODO ................................................................................................... 34 3.1 1ª Etapa - Identificação dos fatores que impedem a correta execução e processos que precisam ser melhorados no protocolo de inserção e manutenção de PICC ............................ 34 3.1.1 Abordagem da pesquisa ............................................................................................ 34 3.1.2 Finalidade da pesquisa .............................................................................................. 35 3.1.3 Método da pesquisa .................................................................................................. 35 3.1.4 Participantes da pesquisa .......................................................................................... 36 3.1.5 Técnica de coleta de dados ....................................................................................... 36 3.1.6 Técnica de análise de dados ..................................................................................... 38 3.2 2ª etapa - Validação, por enfermeiros juízes especialistas em neonatologia .................. 40 3.2.1 Instrumento para coleta de dados ............................................................................. 41 3.2.3 Tratamento dos dados ............................................................................................... 41 3.3 3ª Etapa............................................................................................................................ 42 3.3.1 Riscos e benefícios da pesquisa ............................................................................... 42 3.3.2 Questões éticas ......................................................................................................... 43 4 CAMINHO PERCORRIDO PARA IMPLANTAÇÃO DO PROTOCOLO DE PICC ........ 44 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................... 46 5.1 Perfil profissional dos participantes ................................................................................. 46 5.2 Podemos conversar sobre o protocolo de inserção e manutenção de PICC da Unidade em que atua? ................................................................................................................................... 47 5.3 Um protocolo pode contribuir para a segurança do paciente? ......................................... 49 5.4 Perfil acadêmico e profissional dos enfermeiros juízes ................................................... 51 5.5 Validação do protocolo de inserção e manutenção de PICC ........................................... 52 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 60 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 62 APÊNDICES ............................................................................................................................ 68 APÊNDICE 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE ................................. 69 APÊNDICE 2 – Roteiro de entrevista ......................................................................................72 APÊNDICE 3 – Instrumento para Validação ........................................................................... 73 APENDICE 4 – Pontuação alcançada por cada juiz ................................................................ 79 APÊNDICE 5 – Protocolo de inserção de PICC ...................................................................... 81 APÊNDICE 6 – Protocolo de Manutenção de PICC ................................................................ 90 APÊNDICE 7 – Cartilha .......................................................................................................... 95 ANEXOS ................................................................................................................................ 113 ANEXO 1 – Comitê de Ética em Pesquisa............................................................................. 114 ANEXO 2 – Parecer Consubstanciado do CEP ..................................................................... 115 ANEXO 3 – Parecer Projeto de Pesquisa ............................................................................... 120 ANEXO 4 – Declaração de Revisão ...................................................................................... 123 IMERSÃO NA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA O meu primeiro contato com neonatos se deu em 2007, quando assumi o cargo de enfermeira na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal em um hospital público de Belo Horizonte, Minas Gerais. Nesta unidade, participo da assistência direta à esta clientela específica, onde percebi e me sensibilizei por suas necessidades, que transcendem à situação de recém-nascidas. Em fevereiro de 2013, fui convidada a assumir a Coordenação de Apoio da Gerência da Criança e do Adolescente. Após quatro meses, assumi a Responsabilidade Técnica da Enfermagem do hospital. Em setembro de 2013, fui nomeada assessora da Superintendência, onde atuei até fevereiro de 2017. Em março de 2017, retornei para a assistência na Gerência de Neonatologia onde atualmente desenvolvo minhas atividades. Atuei também, no período de 2008 à 2012, como enfermeira em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal privada de referência no município de Belo Horizonte. Objetivando aprimorar meus conhecimentos, realizei quatro especializações entre os anos de 2008 e 2016, a saber: Enfermagem Assistência Integral em Cardiologia (Faculdade de Ciências Médicas 2008 – 2009), Enfermagem do Trabalho (Universidade Católica Dom Bosco, 2012), Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente (FIOCRUZ, 2015) e Enfermagem em Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal (Centro Universitário UNA, 2016). Durante minha trajetória profissional, pude acompanhar avanços significativos na área da saúde, no entanto, a prevalência de nascimentos prematuros é algo preocupante em todo o mundo. A integração de novas tecnologias exige cada vez mais uma equipe multiprofissional capacitada. Os processos de trabalho precisam estar bem estabelecidos, afim de favorecer a assistência segura aos pacientes. A singularidade da experiência vivida com os neonatos em procedimentos de alta complexidade e de fundamental importância para suas vidas me levou a envolver-me ainda mais nesta área e a me capacitar no mestrado profissional para contribuir na instituição e na comunidade, Assim, desde o início, minha trajetória profissional está intimamente ligada a área pediátrica, em especial a neonatologia, seja através da assistência, do gerenciamento, do ensino ou da pesquisa. Participei da elaboração, revisão e implantação de protocolos, inclusive coordenando a capacitação da equipe de enfermagem para a assistência à essa clientela. Escrever e pesquisar sobre neonatologia é um desejo pessoal e uma necessidade profissional, pois ao longo da minha trajetória, percebi que pouco tem sido registrado e, apesar de fazermos muito, não paramos para avaliar o que estamos produzindo em termos de gerenciamento do cuidado prestado. O Mestrado Profissional em Gestão de Serviços de Saúde da UFMG foi a oportunidade que encontrei para aprimorar meus conhecimentos e, sobretudo, para discutir e avaliar o processo de inserção e manutenção de epicutâneo. Escrever sobre o assunto é devolver à instituição na qual atuo, resultados importantes para continuar as discussões e avanços no cuidado de enfermagem neonatal. 22 1 INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que os danos causados pelos serviços de saúde acometam milhões de pessoas todos os anos em diversos países do mundo. Dados do Instituto de Medicina dos Estados Unidos – IOM, indicaram que erros associados à assistência à saúde causam entre 44.000 e 98.000 disfunções a cada ano nos hospitais do país (KOHN et al., 2000), o que gerou o documento “Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro” (BRASIL, 2017a). Esse documento fomentou a preocupação por uma das dimensões da qualidade assistencial, qual seja: a segurança do paciente. Em seguida, várias iniciativas relacionadas à segurança do paciente foram desenvolvidas em todo o mundo, governos e organizações internacionais se mobilizaram, iniciando o apoio às estratégias para prevenção e mitigação de falhas dos cuidados da saúde. Somente em 2013 a segurança do paciente passou a ser foco de programas e políticas públicas no Brasil. O Ministério da Saúde instituiu, por meio da Portaria MS nº 529, de 1 de abril de 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) e a obrigatoriedade de toda instituição hospitalar implantar um Núcleo de Segurança do Paciente – (NSP) (BRASIL, 2014). Em consonância a essa portaria foi publicada a RDC nº 36/2013, em 26 de julho, que regulamentou as ações para a segurança do paciente em serviços de saúde, incluindo a necessidade de se elaborar um Plano Institucional de Segurança do Paciente (PSP). As crianças estão na linha de frente quando consideramos os fatores de risco para a ocorrência de incidentes (SOUZA; MENDES, 2014). Segundo Brasil, 2017b, a infecção primária da corrente sanguínea (IPCS) associada a um cateter venoso central (CVC) é a principal infecção em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Em uma UTIN, é muito frequente a utilização do cateter central de inserção periférica (PICC). Trata-se de um cateter, que pode ser de silicone ou poliuretano, que tem inserção vascular periférica com localização da ponta de forma central. É a primeira escolha para cateter central após o cateterismo umbilical em neonatos. Mesmo com a possibilidade de ocorrência de eventos adversos o PICC é muito utilizado em neonatologia pois, a sobrevivência de muitos recém-nascidos depende dele. Deve-se sempre pesar o risco benefício antes de cada inserção. Segundo Sirqueira e Souza (2017), a utilização do PICC é uma tecnologia inovadora em neonatologia e vem se tornando um procedimento comum na prática dos enfermeiros nas unidades de alto risco neonatais. Para reduzir as ocorrências que comprometem a permanência do cateter é requerida a capacitação e educação permanente dos profissionais no sentido de 23 desenvolver conhecimento, destreza e habilidade para o manuseio do PICC (RANGEL et al., 2019). Estudos relacionados à segurança do paciente e estratégias para a melhoria da qualidade e segurança da assistência são necessários e, ao mesmo tempo, recentes e inovadores, podendo ajudar os profissionais da área a conhecer causas e efeitos à saúde do paciente, além de possibilitar treinamentos adequados à prevenção de novas ocorrências e implementação da cultura da segurança nos serviços de saúde em geral (OLIVEIRA et al., 2014). Para Souza e Mendes (2014), a identificação dos fatores que contribuem ou potencializam a ocorrência de erros ou incidentes é fundamental para que se possa atuar no sentido da mitigação dessas ocorrências, constituindo uma parte fundamental do processo de avaliação e melhoria contínua da segurança do pacientee da qualidade em saúde. Ressalta-se o impacto da segurança do paciente na qualidade da assistência de enfermagem, já que a redução dos riscos e dos danos e a incorporação de boas práticas favorecem a efetividade dos cuidados e o seu gerenciamento de modo seguro (GAÍVA; RONDON; JESUS 2017). De acordo com Krauzer et al. (2018) protocolos assistenciais são tecnologias que fazem parte da organização do trabalho da enfermagem e se constituem em um importante instrumento de gerenciamento em saúde. Um estudo realizado por Araújo et al., (2017), “Adesão ao bundle de inserção de cateter venoso central em unidades neonatais e pediátricas” evidenciou a ruptura em alguma etapa no processo de inserção do CVC na maior parte dos procedimentos na UTIN e CTI pediátrico do hospital campo da pesquisa. Os pesquisadores optaram pela interrupção da coleta de dados em decorrência dos achados da pesquisa e da necessidade de intervenções educativas nas unidades em que a pesquisa foi conduzida. Enquanto servidora da instituição, inserida na UTIN, vivencio as fragilidades dos processos de inserção e manutenção de PICC. A ausência de um protocolo de inserção e manutenção de PICC implantado dificulta a elaboração de um plano de ação que consiga corrigir as falhas nos processos. Sendo assim, este projeto surgiu de uma inquietação da equipe multiprofissional em busca de melhoria nos processos envolvendo a segurança do paciente. Neste contexto, questiona-se: o que precisamos fazer em nossa unidade para realizar a implantação do protocolo de PICC, contribuindo assim, para melhoria dos processos de segurança do paciente na UTIN de um hospital público em Belo Horizonte? 24 1.1 Justificativa Este estudo justifica-se pela necessidade de padronização nos processos de inserção e manutenção do PICC. Atualmente a UTIN do hospital campo da pesquisa não possui um protocolo totalmente implantando, dificultando a correção das falhas nos processos. Um protocolo de inserção e manutenção de PICC foi elaborado em 2015, porém não foi incorporado à rotina dos enfermeiros. Atualmente cada enfermeiro realiza o procedimento conforme acredita estar certo e ser a melhor maneira de executá-lo. Quando ocorrem eventos adversos, há dificuldade em encontrar onde está a falha. A padronização de rotinas poderá oferecer subsídios para a tomada de decisões relativas à gestão da qualidade e segurança do paciente. Tal estratégia poderá proporcionar uma assistência mais segura, com menor índice de complicações e com a atuação de uma equipe com maior envolvimento. Acredita-se que realizar a implantação do protocolo, com a contribuição dos profissionais que o vivenciam no dia a dia, possa contribuir para melhorar a segurança do paciente nos processos de inserção e manutenção do PICC na UTIN de um hospital público no município de Belo Horizonte. Importante ressaltar que a incipiência de estudos nessa temática, principalmente em locais especializados como as UTIN’s, justifica a realização desta pesquisa. O desenvolvimento de estudos que abordem a cultura de segurança do paciente nas UTIN’s é necessário, uma vez que são ambientes responsáveis pelo cuidado integral a recém-nascidos criticamente enfermos, altamente vulneráveis e que necessitam de cuidados especiais e contínuos. O produto técnico resultante desta dissertação foi a implantação do Protocolo de inserção e manutenção de PICC institucional, além da confecção de uma cartilha para consulta das principais rotinas de cuidado com o PICC. Assim, com a implantação do protocolo, os processos de inserção e manutenção de PICC foram padronizados na unidade, possibilitando agilizar e reconhecer as situações de risco, proporcionando uma assistência mais segura aos neonatos. 1.2 Objetivos Objetivo Geral Implantar o protocolo de inserção e manutenção de PICC na UTIN em um hospital municipal de grande porte em Belo Horizonte – Minas Gerais. 25 Objetivos Específicos ● Identificar quais fatores impedem a correta execução do protocolo de inserção e manutenção do PICC; ● Identificar junto aos enfermeiros os processos que devem ser atualizados no protocolo de inserção e manutenção de PICC; ● Validar a atualização do protocolo junto aos enfermeiros juízes; ● Elaborar uma cartilha educativa a partir do protocolo validado; ● Realizar treinamento com a equipe de enfermagem do protocolo de inserção e manutenção de PICC; 26 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Segurança do Paciente A segurança do paciente é uma das bases da organização hospitalar e um tema de ampla discussão nas últimas décadas em todo o mundo. Receber uma assistência em saúde de qualidade é um direito do indivíduo e os serviços de saúde devem oferecer uma atenção que seja efetiva, eficiente, segura e que vise a satisfação do paciente durante todo o processo (BRASIL, 2017a). 2.1.1 Segurança do Paciente ao longo dos anos No século XIX, a enfermeira inglesa Florence Nightingale, além de revolucionar a enfermagem e seu ensino, incentivou mudanças nos cuidados, no sentido da melhoria da segurança do paciente, com a análise das condições dos hospitais ingleses (SOUZA; MENDES, 2014). Apesar de demonstrar estatisticamente que os problemas de saneamento, contaminação da água, superlotação dos espaços e ventilação incorreta eram responsáveis pelos maus resultados, suas recomendações não foram bem acolhidas pela classe médica (SOUZA; MENDES, 2014; LOPES, 2010). Ernest Amory Codman (1869-1940), cirurgião em Boston, realizou críticas aos cuidados médicos. Estudante e cirurgião brilhante, fundador do Colégio Americano de Cirurgiões (ACS), foi rejeitado por seus pares. No entanto, em 1917, o ACS publicou um grupo de padrões mínimos baseados nas categorias de Codman que vieram a ser o alicerce dos padrões para a acreditação (NEUHAUSER, 2002 apud SOUZA e MENDES, 2014). Desde os anos de 1960, foi instituída nos Estados Unidos da América (EUA) a prática de verificação do “5 certos”. Com o passar dos anos, esse checklist aumentou e, atualmente conta com 9 certos na checagem antes da administração medicamentosa ao paciente. Essas medidas tiveram como objetivo promover barreiras que atuassem nas diversas etapas do processo a ser protegido (PANCIERI et al., 2013). Avedis Donabedian (1919-2000) foi um dos primeiros pesquisadores de Avaliação em Serviços de Saúde. Médico e professor, estudou a qualidade em saúde, propôs a decomposição do conceito de qualidade que ele chamou de “sete pilares de qualidade”: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade (SOUZA; MENDES, 2014). Ao vincular a qualidade e a assistência à saúde, Donabedian, (1994), 27 definiu qualidade como a conquista de benefícios com menores riscos e ao menor custo possível, focando na tríade de gestão de estrutura, processo e resultado. Em 2000, dados do Instituto de Medicina dos Estados Unidos – IOM, indicaram que erros relacionados ao cuidado em saúde causam entre 44.000 e 98.000 disfunções a cada ano nos hospitais do país (KOHN et al., 2000). Esta estatística deu origem ao documento intitulado “Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”, To err is human: building a safer healh system, em 1999 (BRASIL, 2017a). Este documento fomentou a preocupação por uma dimensão de qualidade: a segurança do paciente. A partir dessa publicação surgiu a era da segurança, mobilizando muitos eventos e estudos acerca do tema (NASCIMENTO; DRAGANOV, 2015). Daí em diante várias iniciativas relacionadas à segurança do paciente foram desenvolvidas em todo o mundo e governos e organizações internacionais se mobilizaram, iniciando o apoio a estratégias para prevenção e mitigação de falhas dos cuidados em saúde. Em 2004, a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, marcou o início do programa internacionalde segurança do paciente. Os objetivos desse programa, (que passou a chamar-se Patient Safety Program) eram, entre outros, organizar os conceitos e as definições sobre segurança do paciente e propor medidas para reduzir os riscos e mitigar os eventos adversos. Assim, a segurança no âmbito dos serviços de saúde passa a ser abordada no campo da avaliação tecnológica, numa subdimensão da eficácia e um dos atributos da qualidade do cuidado propostos por Donabedian. 2.1.2 Segurança do Paciente no Brasil Desde o final dos anos 1980 quando a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) instituiu medidas para aperfeiçoar a assistência prestada ao paciente, o Brasil vem desenvolvendo inúmeras modificações cujo objetivo principal é a segurança dos cuidados assistenciais (BUENO; FASSARELLA, 2012). No Brasil os órgãos e serviços responsáveis pelas transfusões de sangue, controle e prevenção da infecção associada ao cuidado em saúde, e serviços de anestesia podem ser considerados pioneiros, pois há anos já adotam medidas para garantir a segurança dos processos de cuidado, com bons resultados, principalmente no que tange às medidas que promovem a segurança do paciente (BRASIL, 2017a). Em 2013, foi criado no Brasil o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), através da Portaria MS/GM nº 529, de 1 de abril de 2013, tendo como foco principal a 28 qualificação do cuidado em saúde em todas as instituições de saúde brasileiras, através da implantação do Núcleo Segurança do Paciente - NSP (BRASIL, 2017a). Em consonância à essa portaria foi publicada a RDC nº 36/2013, em 26 de julho de 2013, que regulamentou as ações para a segurança do paciente em serviços de saúde, incluindo a necessidade de se elaborar um Plano Institucional de Segurança do Paciente – PSP. A relevância do desenvolvimento desse plano institucional de segurança do paciente consiste em impactar na redução de ocorrência de Eventos Adversos resultantes do cuidado em saúde, sendo ferramenta fundamental para a melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias de saúde, do fortalecimento sistemático da cultura de segurança, da articulação e integração dos processos de gestão de risco e da garantia das boas práticas de funcionamento do serviço de saúde. O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), tem o objetivo de melhorar a qualidade do cuidado em saúde por meio da implantação da “Seis Metas Internacionais de Segurança do Paciente” a saber: identificar corretamente o paciente; melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde; melhorar a segurança na prescrição, no uso e na administração de medicamentos; assegurar a cirurgia em local de intervenção, procedimento e pacientes corretos; higienizar as mãos para evitar infecções; e reduzir o risco de quedas e lesão por pressão (BRASIL, 2017a). 2.2 Unidade de Terapia Intensiva Neonatal Apesar do significativo avanço na área da saúde, com a incorporação de novas tecnologias, a prevalência de nascimentos prematuros é algo preocupante em todo o mundo. A integração de novas tecnologias, a necessidade de intervenção de uma equipe multiprofissional, a presença dos pais e o cuidado de bebês cada vez mais prematuros já fazem parte de uma realidade que exige posturas diferentes dos profissionais da equipe multiprofissional da neonatologia (COSTA; PADILHA, 2011). A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) é um serviço de internação responsável pelo cuidado integral a recém-nascidos criticamente enfermos, altamente vulneráveis, que necessitam de cuidados especiais e contínuos, e exige da equipe multiprofissional grande conhecimento científico, habilidade técnica e capacidade de realizar avaliações particularmente criteriosas desses pacientes. A unidade deve ser dotada de estruturas assistenciais que possuam condições técnicas adequadas à prestação de assistência 29 especializada, incluindo instalações físicas, equipamentos e recursos humanos (BRASIL, 2012). A Portaria nº 930, de 10 de maio de 2012, do Ministério da Saúde define as diretrizes e objetivos para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido grave ou potencialmente grave. Ela exige que as UTIN’s cumpram com requisitos de humanização como controle de ruído; controle de iluminação; climatização; iluminação natural, para as novas unidades; garantia de livre acesso a mãe e ao pai, e permanência da mãe ou pai; garantia de visitas programadas dos familiares; e garantia de informações da evolução dos pacientes aos familiares, pela equipe médica, no mínimo, uma vez ao dia. Quanto aos recursos humanos, ela torna obrigatória a presença de um responsável técnico da equipe de enfermagem, médica e de fisioterapia com especialização em Terapia Intensiva Pediátrica ou Neonatal. As equipes devem ser formadas por pelo menos um médico, um enfermeiro e um fisioterapeuta a cada 10 leitos e um técnico de enfermagem a cada dois leitos. A equipe multiprofissional também deve estar inserida em um programa de educação continuada, que contemple as normas e rotinas técnicas desenvolvidas na unidade; incorporação de novas tecnologias; gerenciamento dos riscos inerentes às atividades desenvolvidas na unidade e segurança de pacientes e profissionais; e prevenção e controle de infecções relacionadas ao cuidado em saúde (BRASIL, 2012). 2.3 Cateter Central de Inserção Periférica O Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) é um cateter venoso central que tem sua inserção em uma veia periférica e progride até o terço distal da veia Cava superior ou o terço proximal da veia Cava inferior. Segundo Rangel et al., (2019), é um cateter de longa permanência, com indicação para terapias acima de seis dias, porém seu tempo máximo de permanência ainda não é claro. A inserção do PICC é indicada principalmente para bebês prematuros, com peso muito baixo ou em estado crítico, oferecendo uma via circulante, eficaz e segura para o resgate e tratamento bem-sucedidos de recém-nascidos (LI; CAO; XIONG, 2019). Di Santo et al., (2017), levantam como as principais vantagens do PICC, o fato de ser um cateter de longa permanência, propiciando uma via segura para administração de antibióticos e nutrição parenteral, preservação do sistema venoso, possibilidade de ser inserido à beira do leito pois pode se utilizar apenas anestesia local ou sedação. As principais desvantagens estão relacionadas à necessidade de uma rede vascular integra e calibrosa para o 30 implante, necessidade de treinamento especial para a inserção e manutenção, monitorização rigorosa do dispositivo e necessidade de radiografia. Para reduzir as ocorrências que comprometem a permanência do cateter é requerida a capacitação e educação permanente dos profissionais no sentido de desenvolver conhecimento, destreza e habilidade para o manuseio do PICC (RANGEL et al., 2019). De acordo com a Resolução COFEN nº 258/2001, é lícito ao enfermeiro a inserção de PICC desde que se submeta a qualificação e/ou capacitação profissional. O sucesso para a inserção do PICC aumenta mediante ao conhecimento sobre suas propriedades, bem como, com a capacitação do profissional responsável pela inserção e manutenção do dispositivo e da equipe que atua continuamente com o cateter (LUI et al., 2018). Segundo Menezes (2005), a padronização dos procedimentos de enfermagem, estratégias de discussão, treinamento e implementação de rotinas para utilização do PICC são fatores contribuintes para a redução de complicações relacionadas ao uso do cateter. Sua manutenção também demanda treinamento rigoroso da equipe de enfermagem a fim de minimizar complicações pela manipulação inadequada (DI SANTO et al., 2017). 2.4 Infecções relacionadas à assistência em saúde As Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde (IRAS) afetam mais de 30% dos neonatos, e quando comparadasà população pediátrica de maior idade seus índices podem ser até 5 vezes maiores (SRIVASTAVAA; SHETTY, 2007 apud Brasil, 2017b). Estima-se que no Brasil, 60% da mortalidade infantil ocorra no período neonatal, sendo a sepse neonatal, uma das principais causas, conforme dados nacionais disponibilizados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), acessados no endereço eletrônico http://tabnet.datasus.gov.br. As infecções da corrente sanguínea (ICS) relacionadas a cateteres centrais (ICSRC) estão associadas a importantes desfechos desfavoráveis em saúde (BRASIL, 2017b). Nas últimas décadas tem-se observado um declínio importante nas taxas de ICS nos países desenvolvidos, atribuída principalmente ao uso disseminado dos bundles de inserção de cateteres. Desde setembro de 2010 a Anvisa disponibilizou formulário eletrônico (Formsus) para captação de dados IPCS que utilizavam os Critérios Nacionais de Infecção em Neonatologia publicados em 2008 e revisados em 2017 para definição dos casos. Após estes seis anos de vigilância foi possível afirmar que as IPCS tiveram uma redução significante. Por exemplo, é possível verificar na figura 1 que em 2011 a categoria de peso inferior a 750grs http://tabnet.datasus.gov.br/ 31 apresentava densidade de incidência de IPCSL maior que as outras categorias, no entanto este número foi gradativamente sendo reduzido ao longo dos anos e em 2015 se igualou à categoria de 750 a 999 ficando mais próximo ao valor das outras categorias (BASIL, 2017b). Figura 1- Densidades de incidência de infecção primária de corrente sanguínea laboratorial em pacientes em uso de cateter venoso central, internados em UTI neonatal. Brasil, 2011 a 2015. Fonte: GVIMS/GGTES/ANVISA, 2016 (Boletim Informativo sobre Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 11, Ano VI: http://bit.ly/2pI9gNa). A identificação, a prevenção e o controle das IRAS representam fundamentos para a intervenção sobre o risco em serviços de saúde, antes que o dano alcance o paciente. 2.5 Segurança do paciente no uso de PICC em uma UTIN Para Franceschi e Cunha (2010), os eventos adversos relacionados ao uso de cateter venoso central podem ser divididos em eventos adversos infecciosos, eventos adversos mecânicos e trombose. Condutas de identificação de eventos adversos são o primeiro passo para a construção de um sistema de cuidados visando evitar os erros. Do ponto de vista gerencial, é importante por parte dos gestores das instituições de saúde compreender que os eventos adversos não estão somente relacionados com descuido ou incompetência dos profissionais, mas também estão relacionados às falhas no sistema. Assim, http://bit.ly/2pI9gNa 32 mais do que buscar culpados, é necessário identificar as fragilidades existentes no processo e adotar medidas preventivas (COLI; ANJOS; PEREIRA, 2010). Com a implantação das políticas sobre a segurança do paciente nota-se o início da construção de novas percepções culturais acerca do tema. Assim, os serviços de saúde devem oportunizar estratégias relacionadas à segurança do paciente. Uma destas estratégias é a implantação de protocolos. Estes, por sua vez, são instrumentos baseados em evidências científicas que podem contribuir para tornar o processo de cuidado mais seguro por meio da utilização dos fluxos, procedimentos e indicadores propostos para cada processo (BRASIL, 2017a). Garantir uma cultura de segurança do paciente em uma UTIN é garantir uma assistência segura aos neonatos. A cultura de segurança do paciente é algo que deve estar internalizada na equipe multiprofissional, como um processo contínuo. A padronização de rotinas de procedimentos favorece o controle de infecções, reduzindo o potencial de risco de contaminações, ajuda na realização de intervenções corretivas e melhorias nos processos que são necessários para garantir a qualidade da assistência prestada. Educar a equipe de saúde sobre as indicações para o uso de cateteres intravasculares, procedimentos adequados para a inserção e manutenção de cateteres intravasculares e medidas apropriadas de controle de infecções para prevenir infecções relacionadas a cateteres intravasculares é considerado categoria 1A para o controle de infeções pelo Centers for Disease Control and Prevention (2017). A utilização de cheklists, protocolos e escalas preditivas por parte da equipe de enfermagem são ferramentas importantes para reduzir a possibilidade de erros, favorecendo a melhoria dos processos na busca pela excelência do cuidado (CORREA, 2012; PANCIERI et al., 2013). Estudo realizado por Wang et al., (2015) evidenciou que o uso de checklists com práticas baseadas em evidências, cuidados padronizados, e bundles estiveram associados à uma redução da infecção de corrente sanguínea associada ao uso de cateteres venosos centrais em neonatos. Sendo assim, é importante que eles sejam amplamente utilizados pela equipe de saúde em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. A questão da segurança do paciente está muito presente na atualidade, em virtude do grande impacto econômico para a saúde (VILELA et al., 2018). 2.6 A importância dos Protocolos Assistenciais 33 Os protocolos são instrumentos que contêm recomendações estruturadas de forma sistemática, baseadas em evidências científicas, na avaliação tecnológica e econômica dos serviços de saúde e na garantia de qualidade destes (FIGUEIREDO et al., 2018). Um protocolo clínico visa garantir o melhor cuidado à saúde do paciente. Protocolos assistenciais são tecnologias que fazem parte da organização do trabalho da enfermagem e se constituem como um importante instrumento de gerenciamento em saúde (KRAUZER et al., 2018). Trazem a descrição de uma situação específica de assistência/cuidado, que contém detalhes operacionais e especificações sobre o que se faz, quem faz e como se faz, conduzindo os profissionais nas decisões de assistência para a prevenção, recuperação ou reabilitação da saúde, podendo prever ações de avaliação/diagnóstica ou de cuidado/tratamento, como o uso de intervenções educacionais, de tratamentos com meios físicos, de intervenções emocionais, sociais e farmacológicas, que a enfermagem desempenha de maneira independente ou compartilhadas com outros profissionais da equipe de saúde (PIMENTA et al., 2017). Eles organizam e facilitam a tomada de decisões tanto assistenciais quanto gerenciais, oferecendo maior segurança aos processos. Um gestor de serviços de saúde deve compreender a importância e a responsabilidade no planejamento de ações educativas junto a equipe de saúde da instituição se pautando em evidências científicas. O uso de protocolos tende a aprimorar a assistência, favorecer o uso de práticas cientificamente sustentadas, minimizar a variabilidade das informações e condutas entre os membros da equipe de saúde, e estabelecer limites de ação e cooperação entre os profissionais (PIMENTA et al., 2017). Os protocolos são instrumentos legais, construídos dentro dos princípios da prática baseada em evidências e oferecem as melhores opções disponíveis de cuidado. Segundo Salles et al. (2018) os resultados da utilização de um protocolo demonstram que se trata de uma ferramenta moderna que apoia a tomada de decisão do enfermeiro, possibilitando corrigir as não conformidades, permitindo que todos os trabalhadores prestem cuidado padronizado para o paciente de acordo com os princípios técnico-científicos e, ainda, contribui para dirimir as distorções adquiridas na prática, tendo também finalidade educativa. 34 3 MATERIAL E MÉTODO Para atingir os objetivos propostos, o estudo foi desenvolvido em três etapas: na 1ª etapa foram realizadas entrevistas com os participantes sobre o conhecimento e contribuições acerca do protocolo de inserção e manutenção de PICC; na 2ª etapa, ocorreu a validação do protocolopor enfermeiros juízes especialistas em neonatologia e a 3ª etapa finalizou com a implantação do protocolo de PICC e a elaboração da cartilha com as informações dos participantes e referencial teórico sobre o tema. Assim, para elaboração da metodologia, serviram como subsídios os pressupostos de Creswell (2014), para quem a pesquisa de métodos mistos engloba a associação entre procedimentos de coleta, análise e combinação de técnicas quantitativas e qualitativas que, mediante seu caráter interdisciplinar, são um passo adiante, pois a utilização dos pontos fortes de cada uma dessas abordagens encaminha-se recorrentemente para a elaboração de investigações de qualidade superior. As perspectivas desse autor também fundamentaram todo o percurso de análise dos textos selecionados, visto que foi com suporte em suas orientações - acerca das características que orientam a elaboração e validação de um estudo do tipo misto - que esta pesquisa foi realizada. 3.1 1ª Etapa - Identificação dos fatores que impedem a correta execução e processos que precisam ser melhorados no protocolo de inserção e manutenção de PICC. 3.1.1 Abordagem da pesquisa Por se tratar de busca de significados, optou-se pela pesquisa qualitativa. A abordagem qualitativa permite entender a situação vivenciada através do contato direto do pesquisador com a situação estudada procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes da situação em estudo. Alguns pontos são fundamentais para se ter uma "boa" pesquisa qualitativa, tais como: credibilidade, no sentido de validade interna, ou seja, apresentar resultados dignos de confiança; transferibilidade, não se tratando de generalização, mas no sentido de realizar uma descrição densa do fenômeno que permita ao leitor imaginar o estudo em outro contexto; confiança em relação ao processo desenvolvido pelo pesquisador; confirmabilidade (ou confiabilidade) dos resultados, que envolve avaliar se os resultados estão coerentes com os dados coletados; explicitação cuidadosa da metodologia, detalhando minuciosamente como a pesquisa foi realizada e, por fim, relevância das questões de pesquisa, em relação a estudos anteriores (GODOY, 1995). 35 Ao discutir as características da pesquisa qualitativa, Creswel (2014), chama atenção para o fato de que, na perspectiva qualitativa, o ambiente natural é a fonte direta de dados e o pesquisador, o principal instrumento, sendo que os dados coletados são predominantemente descritivos. Além disso, o autor destaca que a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto, ou seja, o interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar "como" ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas. Outro aspecto é que a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo – a pesquisa qualitativa é emergente em vez de estritamente pré-configurada. 3.1.2 Finalidade da pesquisa Este estudo foi de natureza descritiva, que segundo Triviños (1987), pretende descrever com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade exigindo do investigador uma precisa delimitação de técnicas, métodos, modelos e teorias que orientarão a coleta e interpretação de dados. Após contato com os gestores do processo e com o material escrito disponível, definiu- se realizar o processo de implantação do protocolo de inserção e manutenção do PICC com posterior revisão com as contribuições dadas pela equipe de enfermeiros visando a segurança do paciente na UTIN da instituição em questão. Todo o processo foi descrito para compreender as diversas dimensões percebidas pelos enfermeiros. 3.1.3 Método da pesquisa Para esta pesquisa, o método escolhido foi a pesquisa-ação. É um método de pesquisa concebida e realizada com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação e da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo (THIOLLENT, 2011). Segundo Donabedian (1994) a avaliação da qualidade do cuidado em saúde é feita com base em três componentes, a saber: estrutura, processo e resultado. Estrutura inclui a infraestrutura física, recursos humanos, equipamentos e suprimentos necessários. O processo refere-se ao cuidado ao paciente, baseado em protocolos e intervenções que são realizadas dentro do sistema. O resultado é o efeito do cuidado sobre o estado de saúde do paciente. Portanto, faz-se necessário estabelecer a relação entre estrutura, processo e resultado para a avaliação da qualidade do cuidado em saúde. Nesse contexto, considerando que a implantação 36 e a manutenção de um acesso venoso central perpassam todo esse cenário, os treinamentos do protocolo e as contribuições com melhorias e adequações de acordo com a realidade vivenciada no setor dadas pelos enfermeiros que executam o procedimento na prática, favoreceram a completa implantação do protocolo de inserção e manutenção de PICC na UTIN. 3.1.4 Participantes da pesquisa A população de uma pesquisa é o conjunto de elementos que possuem as características que serão objeto de estudo (VERGARA, 1997). A população alvo deste estudo foi construída pela equipe de enfermeiros lotados na UTIN de um hospital terciário em Belo Horizonte. Segundo Flick (2009), os pesquisadores qualitativos buscam pessoas que estão “realmente” envolvidas e têm experiência com a questão em estudo, devendo ser capazes de representar a relevância do fenômeno estudado. Para Rubin e Rubin (1995, apud Flick, 2009) a amostragem na pesquisa qualitativa deve ser reiterada e flexível adaptando às condições do campo às novas compreensões resultantes da coleta de dados, o que pode sugerir mudanças no plano de amostragem original. A técnica de encerramento da amostra foi a de amostragem por saturação. A identificação da saturação teórica é um critério determinante para interrupção da coleta de dados e definição do tamanho da amostra. Saturação é um termo criado por Glaser e Strauss para se referirem a um momento no trabalho de campo em que a coleta de novos dados não traria mais esclarecimentos para o objeto estudado (GLASER; STRAUSS, 1967 apud MINAYO, 2010). Os participantes do estudo foram selecionados utilizando os seguintes critérios de inclusão: enfermeiros lotados nos setores envolvidos diretamente nos processos de inserção e manutenção de PICC. Os critérios de exclusão foram: licença médica, férias, não possuir curso de capacitação e habilitação na inserção e manutenção do PICC e a recusa em participar da pesquisa. Para os enfermeiros que aceitaram participar da pesquisa, no período da coleta de dados, foi entregue o TCLE (apêndice 1), que foi lido, assinado e posteriormente arquivado. 3.1.5 Técnica de coleta de dados 37 Por se tratar de um estudo onde pretendeu-se aprofundar no tema, foi escolhido como instrumento para a coleta de dados a entrevista semiestruturada. Segundo Triviños (1987), a entrevista semiestruturada valoriza a presença do pesquisador oferecendo todas as perspectivas possíveis para que o entrevistado alcance a liberdade e espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação. O roteiro semiestruturado deve permitir flexibilidade nas conversas e absorção de novos temas e questões trazidas pelo interlocutor (MINAYO, 2010). Em decorrência da pandemia de Covid-19, que é uma doença infecciosa, com alta transmissibilidade e letalidade considerável, a coleta de dados da presente pesquisa foi realizada por meio não presencial em ambiente virtual. Um e-mail convite foi enviado a todos os enfermeiros da unidade onde a pesquisa foi realizada. Aqueles que optaram por participar da pesquisa agendaram um horário com a pesquisadora. Os protocolos de inserção e manutenção de PICC existentes na unidade foram enviados para os entrevistadospreviamente. Dois dias depois deste envio, as entrevistas começaram a ser realizadas. Todas as entrevistas foram agendadas conforme disponibilidade do entrevistado e entrevistador. Foram realizadas 15 entrevistas, que ocorreram em janeiro, fevereiro e março de 2021. Como a grande maioria das plataformas de reuniões remotas exige um cadastro prévio ou até mesmo a instalação de aplicativos, podendo estes serem dificultadores para realizar as entrevistas, não foi definido uma plataforma padrão. Sendo assim os encontros virtuais aconteceram na plataforma que o entrevistado tivesse disponível. A entrevista semiestruturada foi composta de questões norteadoras envolvendo o tema: “O que precisamos fazer em nossa unidade para realizar a implantação do protocolo de PICC da UTIN?”. Todas as reuniões foram gravadas e depois transcritas na íntegra. Cada enfermeiro participou somente de uma entrevista e nela pôde expressar suas opiniões, refletindo sobre as questões colocadas pela entrevistadora. O entrevistado teve total garantia do anonimato e sigilo das informações fornecidas. Além disso, pôde optar por não responder às perguntas feitas e encerrar a entrevista no momento em que desejasse. Foram realizadas perguntas abertas para que houvesse uma possibilidade discursiva sobre o assunto. O roteiro de perguntas foi construído com base nos objetivos deste trabalho e pode ser consultado no apêndice 2. Durante a construção e a estruturação do roteiro foram realizados dois pré-testes, em momentos distintos. Um deles foi feito em uma reunião em grupo através de uma plataforma de reunião digital com algumas enfermeiras que atuam na inserção e manutenção de PICC da 38 instituição. E um outro foi feito com uma enfermeira que fez residência na UTIN e tem grande conhecimento da unidade. A aplicação do pré-teste visou aperfeiçoar a coleta de dados do estudo, respeitando toda a configuração e relacionando questões essenciais para a pesquisa. Consistiu-se assim numa forma de colher as primeiras impressões. Por outro lado, utilizou-se do conhecimento adquirido para melhorias no roteiro de entrevistas e treinamento para a aplicação das entrevistas. Os áudios foram gravados em formato MP3 em um aparelho smartphone e um notebook. Os roteiros das entrevistas serviram como guia para a interpretação da realidade, dos sentimentos e do ponto de vista dos entrevistados. Durante a transcrição das entrevistas empregou-se códigos para identificar os participantes, a fim de preservar a identidade dos entrevistados. As entrevistas foram identificadas pela abreviatura “ENF” seguida de um número inteiro de acordo com a ordem de ocorrência dos encontros. Além disso, assumiu-se o compromisso de garantir que as informações coletadas seriam utilizadas apenas para fins de pesquisa científica e para melhoria no processo de inserção e manutenção de PICC da unidade. 3.1.6 Técnica de análise de dados Nesta fase pretendeu-se estabelecer a compreensão dos dados coletados, respondendo às questões formuladas, articulando ao contexto cultural e ampliando o conhecimento sobre o assunto pesquisado (MINAYO, 2017). Neste estudo, utilizou-se a técnica da análise de conteúdo temática para exame dos dados, a fim de interpretar os significados das respostas dos enfermeiros. Análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que, por meio do rigor de um instrumento, possibilita a análise das comunicações utilizando várias modalidades e podendo ser aplicado em diversos campos de pesquisa (BARDIN, 2016). Esta técnica permite, de maneira sistematizada, a interpretação das mensagens e das atitudes que constituem o contexto da enunciação e nas inferências possíveis sobre os dados coletados. Segundo Machado (2002), o material da entrevista é tratado segundo temas que surgem do próprio conteúdo obtido. O processo de análise dos dados foi construído seguindo as fases da análise de conteúdo propostas por Bardin: pré-análise, exploração do material e tratamento das respostas. 39 A fase um é denominada Pré Análise e “é realizada por meio de sucessivas leituras flutuantes de todo material coletado com a finalidade de proporcionar a aproximação e interação com o conteúdo a ser analisado” (BARDIN, 2016). Nesta fase as entrevistas foram transcritas em sua totalidade para compreender a percepção dos enfermeiros sobre o protocolo. Após a transcrição, foi realizada uma nova leitura do material, seguida da organização e da classificação das respostas. A fase dois é denominada Exploração do Material, “na qual se realiza a exploração e o tratamento, seguido da codificação e categorização inicial do conteúdo de análise. Posteriormente, a categorização inicial do material de análise forma um corpus, passível de ser submetido à próxima fase” (BARDIN, 2016). Inicialmente foram realizadas repetidas leituras das entrevistas e, posteriormente, extraiu-se os temas relevantes que se destacaram no discurso dos enfermeiros. A partir da leitura das entrevistas realizou-se a classificação dos dados, o que possibilitou a identificação das estruturas importantes do processo, bem como a seleção de ideias centrais. A fase três é a de Tratamento das Respostas em que “realiza-se um processo de classificação e reagrupamento de elementos que abarcam diferentes variáveis e a mesma significação e este processo resulta nas categorias finais que abarcam o discurso dos sujeitos da pesquisa, nas devidas dimensões” (BARDIN, 2016). Nesta fase foi realizada uma codificação das entrevistas diante de dois critérios principais – repetição e relevância – com o principal objetivo de construir a representação dos referidos dados. A fase de explanação dos resultados foi organizada por inferência e interpretação, realizando a descrição das características do conteúdo dos recortes das entrevistas. Posteriormente, procedeu-se ao apro das ideias, à interpretação dos dados e ao estabelecimento de relações, a partir de reflexões baseadas no material das entrevistas e na articulação com o referencial teórico. Para clarear a descrição do conteúdo foram apresentados trechos dos discursos dos enfermeiros com a seguinte organização: reticências entre colchetes, [...], indicam recortes no mesmo discurso; informações contidas entre parênteses, (informações), referem-se a informações contextuais ou observações importantes para compreensão das respostas dos enfermeiros e informações entre chaves, {informações} referem-se ao detalhamento de termos ou siglas usadas pelos enfermeiros. Os depoimentos foram codificados para resguardar a confidencialidade dos enfermeiros. 40 3.2 2ª etapa - Validação, por enfermeiros juízes especialistas em neonatologia Fehring (1987) propõe critérios para escolha de especialistas para Validação de Conteúdo de Diagnóstico (DCV). Esses critérios contemplam: • Doutor em enfermagem com dissertação na área de interesse; • Publicação de pesquisa versando sobre temas na área de interesse; • Publicação de artigos sobre área de interesse; • Prática clínica de no mínimo um ano na área de interesse; • Certificado de prática clínica na área de interesse. Para cada critério o autor estipula uma pontuação, devendo o especialista obter no mínimo um escore de 5 (cinco). O contexto atual da enfermagem brasileira revela um quantitativo ainda insuficiente de enfermeiros doutores e mestres em enfermagem. Essa constatação se acentua ainda mais no tocante à área de neonatologia. Em consequência do reduzido quadro de enfermeiros com titulação strictu sensu, constata-se também um déficit de publicações disponíveis na área específica. Sendo assim, foi elaborada, previamente uma lista de requisitos a serem considerados na escolha dos especialistas para a validação do protocolo de inserção e manutenção de PICC. Diante do exposto adaptamos os requisitos propostos por Fehring (1987) à realidadebrasileira, como discriminado no Quadro 1: Quadro 1- Requisitos utilizados para a seleção de enfermeiros especialistas neste estudo. Belo Horizonte, 2021. Requisitos Pontuação Doutor em enfermagem com tese com conteúdo em neonatologia 3 pontos Mestre em enfermagem com dissertação com conteúdo em neonatologia 2 pontos Pós-graduação em enfermagem em Terapia intensiva neonatal 1 pontos Habilitação para inserção e manutenção de PICC; 1 ponto Publicação de artigo na área de interesse 1 ponto Prática na inserção de PICC 1 ponto a cada 5 anos Fonte: Elaboração própria adaptada de Fehring (1987). Para que o especialista fosse convidado a participar do presente estudo, deveria obter, no mínimo, cinco pontos. Subsidiado por esses requisitos foram identificados quatro especialistas que foram convidados a participar da validação. 41 3.2.1 Instrumento para coleta de dados O instrumento consistiu de um questionário semiestruturado (Apêndice 4). Na primeira parte constou os dados de identificação dos juízes. Na segunda parte foram colocados os pontos mais críticos do protocolo levantados pelos enfermeiros nas entrevistas. Os juízes deviam assinalar se estavam de acordo ou não com aquela tarefa e por último um espaço para alguma observação feita por eles. Este procedimento foi uma estratégia utilizada para que os enfermeiros fizessem um raciocínio crítico/clínico, obtendo-se, então, os resultados que retratassem com maior exatidão as especificidades. O roteiro de perguntas pode ser consultado no Apêndice 4. Devido a pandemia de COVID-19 as entrevistas foram realizas por meio virtual através do Google Forms. Após a assinatura do TCLE, os enfermeiros juízes responderam as questões propostas. 3.2.3 Tratamento dos dados Para avaliar o índice de fidedignidade (IF) entre os especialistas, em relação às atualizações realizadas no protocolo, utilizou-se a fórmula de cálculo indicada por Batista (1977) que considera aceitável um índice de fidedignidade acima de 70,0%. Neste estudo foram considerados para análise somente os acordos do protocolo apresentados por, no mínimo, 75,0%. Para obtenção do índice sobre a categorização do protocolo, contou-se com quatro enfermeiros especialistas. Sendo assim, os dados que atingiram o valor de 75% foram colocados no protocolo. 42 3.3 3ª Etapa Essa pesquisa teve ainda os objetivos específicos: realizar treinamento com a equipe de enfermagem do protocolo de inserção de PICC; elaborar uma cartilha educativa a partir do protocolo validado para proporcionar uma assistência mais segura aos pacientes internados em uso de PICC. A inspiração metodológica para atingir esses objetivos veio dos diversos artigos estudados, bem como da minha experiência profissional como enfermeira e gestora, buscando subsídios que contribuíssem para o presente estudo. Assim, por meio dessas obras mencionadas nas referências da pesquisa, foi observado então que são diversos os desafios que a educação apresenta na contemporaneidade e na relação do saber com as práticas educativas de enfermagem. Assim, após validação por juízes do protocolo de inserção PICC foi planejado e executado o treinamento e a implantação do protocolo PICC, bem como elaborada a cartilha. Espera-se que os enfermeiros assistenciais e gestores usem e estimulem a equipe de enfermagem a construírem o conhecimento de maneira a potencializar as suas próprias experiências. A partir desse pressuposto, este material é o resultado da construção relacional e dialógica dos resultados obtidos durante a pesquisa de campo deste estudo. A seguir foi feita uma breve descrição da cartilha que poderá ser consultada em sua versão integral no Apêndice 7 da presente dissertação. Pensando no fortalecimento da equipe de enfermagem a cartilha foi elaborada tendo como objetivo manter a equipe atualizada sobre as práticas atuais de inserção e manutenção de PICC visando a qualificação da assistência de enfermagem. Nela a equipe encontrará a legislação atual, indicações e contraindicações, vantagens e desvantagens, cuidados com a inserção e manutenção do cateter, complicações, dentre outros. 3.3.1 Riscos e benefícios da pesquisa Os riscos dessa pesquisa foram mínimos, considerando que em caso de ansiedade poderia solicitar a interrupção da entrevista a qualquer momento. Conforme as exigências da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, os participantes foram orientados que receberiam uma cópia do TCLE assinado pelo pesquisador responsável. Os riscos de constrangimento foram minimizados através das entrevistas individuais em plataforma digital e esclarecimento das dúvidas sobre a pesquisa. 43 Os benefícios foram gratificantes considerando que os resultados desse estudo possibilitaram contribuir para o desenvolvimento do corpo de conhecimento específico da Enfermagem uma vez que a padronização de rotinas poderá oferecer subsídios para a tomada de decisões relativas à gestão da qualidade e segurança do paciente. Tal estratégia poderá proporcionar uma assistência mais segura ao paciente, com menor índice de complicações e com a atuação de uma equipe com maior nesse processo assistencial. 3.3.2 Questões éticas O presente projeto atendeu a Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece critérios éticos para pesquisa com seres humanos. O estudo foi realizado mediante a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital campo da pesquisa (CAEE 34658420.3.0000.5149). O anonimato dos entrevistados foi garantido em todas as fases do estudo. Para garantir o anonimato dos participantes, esses foram codificados com a sigla ‘ENF’, de enfermeiro, seguida do numeral arábico, conforme ordem que foram entrevistados. Foi aplicado o TCLE (Apêndice 1) a todos os profissionais que aceitaram participar da pesquisa. Segundo as Orientações para Procedimentos em Pesquisas com qualquer Etapa em Ambiente Virtual da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa de 24 de fevereiro de 2021 foi apresentado previamente o TCLE aos participantes e para aqueles que concordaram em participar foi considerado como anuência o de acordo em responder a pesquisa. Posteriormente foi também colhido a assinatura deles em meio físico em momento oportuno. 44 4 CAMINHO PERCORRIDO PARA IMPLANTAÇÃO DO PROTOCOLO DE PICC O protocolo de inserção e manutenção de PICC da instituição foi elaborado em maio de 2015. Desde então passou por uma revisão em 2019. Porém esse protocolo nunca foi totalmente implantado na Unidade Neonatal. A inserção e manutenção de PICC é um processo que demanda uma padronização e equipe treinada para realizá-lo com segurança. Trabalho realizado por Silva et al. (2017), sugere o desenvolvimento de documentos institucionais como normas, rotinas, protocolos e termos de consentimento informado, com o objetivo de padronizar condutas e sustentar legalmente a prática de inserção e manutenção de cateteres. Diante da necessidade de padronização nos processos de inserção e manutenção do PICC e correção das falhas, visando uma assistência mais segura ao paciente, com menor índice de complicações e com a atuação de uma equipe com maior envolvimento, deu-se início ao processo de implantação do protocolo na UTIN do hospital campo de pesquisa. Acredita-se que, para que os protocolos sejam implantados e consequentemente seguidos, é necessária uma sensibilização anterior dos profissionais, pois o sucesso ou o insucesso destes procedimentos é diretamente proporcional ao envolvimento de toda a equipe de saúde (PEREIRA et al., 2017). Para começar à implantação foi realizada uma reunião virtual com as enfermeiras diaristas. Essas profissionais foram escolhidas pois a maioria dos cateteressão inseridos por elas durante o plantão diurno. Nesta reunião, foram discutidos os aspectos que seriam importantes de serem debatidos com toda a equipe e ajudou muito na elaboração das questões norteadoras da entrevista. Com o roteiro pronto e o projeto aprovado pelos comitês de ética deu-se início às entrevistas. Diante da pandemia de COVID-19 as reuniões foram realizadas em ambiente virtual. Após a realização das entrevistas muitos pontos foram levantados para dar continuidade ao processo de implantação do protocolo na unidade. Em parceria com os enfermeiros gestores especialistas do processo foram discutidos e definidos processos a serem ajustados nos protocolos de manutenção e inserção de PICC. A seguir, foi elaborado o instrumento de validação contendo os pontos que geraram mais dúvidas entre os enfermeiros gestores do processo. Este instrumento foi encaminhado para a validação por 4 enfermeiros juízes especialistas em neonatologia. Diante de tudo o que foi identificado e discutido foi realizada a atualização e validação do protocolo conforme preconizado por Batista (1977). 45 Além do protocolo foi elaborado uma cartilha como forma de consulta rápida para a equipe multiprofissional. Foi dado início então aos treinamentos de toda a equipe de enfermeiros. 46 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Perfil profissional dos participantes A pesquisa contou com a participação de 15 enfermeiros, todos lotados na Gerência de Neonatologia. Destes, cinco enfermeiros são diaristas, ou seja, estão no setor diariamente de segunda a sexta-feira e os demais profissionais entrevistados são plantonistas que cobrem os finais de semana e plantões noturnos além de férias em regime de escala definida mensalmente, respeitando a carga horária e o vínculo empregatício de cada um. O setor possui profissionais com diferentes cargas horárias. Há enfermeiros de 24, 30, 36 e 40 horas semanais. Dentre os profissionais o vínculo empregatício variou entre estatutários, contratados e regime de plantão autônomo (RPA). Os estatutários foram admitidos após aprovação em concurso público. Os contratados cobrem vagas ou férias de efetivos e tiveram suas admissões após aprovação em processo seletivo. Já o RPA passa por entrevista com a coordenação para realizar os plantões emergenciais. Os dados profissionais dos participantes encontram-se expostos no quadro 2 apresentado a seguir. Quadro 2- Dados profissionais dos enfermeiros entrevistados Participante da pesquisa Tempo de experiência em neonatologia Tempo de experiência no setor de neonatologia da instituição Vínculo empregatício ENF 1 1 ano 5 meses 1 ano 5 meses RPA ENF 2 13 anos 13 anos Efetivo ENF 3 18 anos 6anos Efetivo ENF 4 7anos 7anos Contrato ENF 5 7anos 7anos Efetivo ENF 6 11 anos 11 anos Efetivo ENF 7 1 ano 2 meses 1 ano 2 meses Contrato ENF 8 11 anos 11 anos Efetivo ENF 9 5 anos 3 anos Efetivo ENF 10 12anos 12 anos Efetivo ENF 11 12 anos 12 anos Efetivo ENF 12 11 anos 11 anos Contrato ENF 13 15 anos 13 anos Efetivo ENF 14 9 meses 9 meses Contrato ENF 15 15 anos 15 anos Efetivo Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos das entrevistas. 47 Pelos dados expostos no quadro 2, 60% dos profissionais possuem mais de 10 anos de experiência em neonatologia. Foi evidenciado um perfil de enfermeiros com tempo médio de experiência em neonatologia de 11,9 anos (± 9,2) e de 8,3 anos (± 7,8) de serviço dentro da UTIN do hospital campo de pesquisa. 5.2 Podemos conversar sobre o protocolo de inserção e manutenção de PICC da Unidade em que atua? Para iniciar a pesquisa foi perguntado aos participantes: “Você conhece o protocolo de Inserção e Manutenção de PICC da Instituição?”. Em seguida foi perguntado qual dos entrevistados recebeu treinamento acerca do protocolo. Estas perguntas tiveram por objetivo identificar quais profissionais estão mais envolvidos com o serviço e conhecem o protocolo para conseguirem dar contribuições de melhorias ao mesmo. Esses dados foram reunidos no quadro 3. Quadro 3 - Conhecimento / treinamento sobre o protocolo Participante da pesquisa Conhecia o protocolo da Unidade Recebeu treinamento do protocolo ENF 1 SIM NÃO ENF 2 SIM SIM ENF 3 SIM SIM ENF 4 SIM NÃO ENF 5 SIM NÃO ENF 6 SIM NÃO ENF 7 NÃO NÃO ENF 8 NÃO NÃO ENF 9 SIM NÃO ENF 10 NÃO NÃO ENF 11 NÃO NÃO ENF 12 SIM NÃO ENF 13 SIM SIM ENF 14 NÃO NÃO ENF 15 NÃO NÃO Fonte: elaborado com dados extraídos das entrevistas. A partir dos dados acima pode-se concluir que 40% dos profissionais nem conheciam o protocolo. E apenas 20% dos profissionais da unidade relatam ter recebido treinamento sobre ele. Estes números são próximos de um estudo realizado por Bretas et al. (2013), onde mais da metade dos entrevistados (62,5%) disseram não ter recebido treinamento sobre a 48 inserção e/ou manutenção do PICC. Todos os profissionais fizeram o curso de inserção e manutenção de PICC garantindo que eles tenham pelo menos o conhecimento teórico para realizar o procedimento. Somente o conhecimento teórico e as vivências do dia a dia não são suficientes para assegurar uma assistência segura aos pacientes e profissionais. Uma revisão sistemática realizada por Russo et al. (2020), revelou que a maioria dos estudos analisados enfatizou a importância da existência e a utilização de protocolos que direcionem a prática da enfermagem, evitando usar experiência subjetiva e sujeita a erros, padronizando condutas para melhorar a prática assistencial. A competência técnica e legal para o Enfermeiro inserir o PICC encontra-se no artigo 1º da Resolução nº 258/2001, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). De acordo com o artigo 2º desta resolução para o enfermeiro desempenhar tal atividade, deve estar qualificado e/ou capacitado profissionalmente. Segundo o estudo realizado por Araújo et al. (2017), “Adesão ao bundle de inserção de cateter venoso central em unidades neonatais e pediátricas” que evidenciou a ruptura em alguma etapa no processo de inserção do CVC na maior parte dos procedimentos na UTIN e CTI pediátrico do hospital campo da pesquisa foi sugerido que medidas educativas fossem realizadas nas unidades nas quais a pesquisa foi conduzida. Porém a partir dos dados encontrados conclui-se que mesmo após 4 anos da pesquisa muitos enfermeiros ainda não conhecem o protocolo e a maior parte deles não foi treinada quanto aos processos de inserção e manutenção de PICC da unidade. Segundo Correa et al. (2020), a utilização do PICC em neonatologia consiste em uma prática especializada e de alta complexidade, e para que o enfermeiro esteja apto a desenvolver tal procedimento, é necessária uma capacitação especifica. Estudo realizado por Krauzer et al (2018), afirma que a educação permanente, apresentou-se como uma vertente potencializadora da formação profissional e reafirmação dos processos internos e condutas técnicas. A preocupação dos enfermeiros em prestar uma assistência de qualidade de acordo com os protocolos da instituição pode ser constatada nos discursos a seguir: [...] treinar de acordo com o protocolo certinho. A maioria das pessoas não são treinadas, simplesmente fazem assim automaticamente do jeito que já estão acostumadas a fazer [...]. Minha sugestão é de um treinamento intensivo mesmo [...]. (ENF 3) Assim o que eu sugiro são treinamentos periódicos (ENF 11). [...] tem que treinar (ENF 5). 49 Eh, deveria ter um treinamento especifico para os enfermeiros, um treinamento teórico, prático (ENF 9). Precisa de um treinamento e que seja uma educação continuada (ENF 10). Os relatos demonstram que estes profissionais estão preocupados em estar sempre atualizados acerca das boas práticas, garantindo a oferta de um cuidado seguro, livre de danos e respaldado nas
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