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E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Editora CRV Curitiba – Brasil 2022 Leticia Correa Celeste Amanda de Carvalho Pedra Alexandre Rezende (Organizadores) COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Copyright © da Editora CRV Ltda. Editor-chefe: Railson Moura Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV Fotógrafo: Edson Gonçalves da Silva Júnior Capa e Ilustrações: Renato Medeiros Revisão: Os Autores DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) CATALOGAÇÃO NA FONTE Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506 C741 Comunicar com equoterapia: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista / Leticia Correa Celeste, Amanda de Carvalho Pedra, Alexandre Rezende (organizadores) – Curitiba : CRV, 2022. 160 p. Bibliografia ISBN Digital 978-65-251-3784-1 ISBN Físico 978-65-251-3785-8 DOI 10.24824/978652513785.8 1. Medicina e saúde 2. Equitação – reabilitação – autismo 3. Terapia assistida – animais 4. Fonoaudiologia – linguagem I. Celeste, Leticia Correa. org. II. Pedra, Amanda de Carvalho. org. III. Rezende, Alexandre. org. IV. Título V. Série. 2022-28170 CDD 615.8 CDU 616-053.2:619 Índice para catálogo sistemático 1. Terapia assistida – animais – 615.8 2022 Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br Distribuição gratuita. A publicação do livro foi financiada pelo Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos, Secretária Nacional do Direitos da Pessoa com Deficiência, por meio do Termo de Fomento nº 905152/2020, proveniente das Emendas Parlamentares de autoria dos Deputados Federais: General Girão/RN; General Peternelli/ SP; Paula Belmonte/DF, Tereza Nelma/AL, Vicentinho Júnior/TO e Pedro Westphalen/RS. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc. Comitê Científico: Ana Rosete Camargo Rodrigues Maia (UFSC) Carlos Leonardo Figueiredo Cunha (UFRJ) Cristina Iwabe (UNICAMP) Evania Nascimento (UEMG) Fernando Antonio Basile Colugnati (UFJF) Francisco Jaime Bezerra Mendonca Junior (UEPB) Inez Montagner (UnB) Janesca Alban Roman (UTFPR) José Antonio Chehuen Neto (UFJF) Jose Odair Ferrari (UNIR) Juliana Balbinot Reis Girondi (UFSC) Karla de Araújo do Espirito Santo Pontes (FIOCRUZ) Lucas Henrique Lobato de Araujo (UFMG) Lúcia Nazareth Amante (UFSC) Lucieli Dias Pedreschi Chaves (EERP) Maria Jose Coelho (UFRJ) Milena Nunes Alves de Sousa (FIP) Narciso Vieira Soares (URI) Orenzio Soler (UFPA) Paulo Sérgio da Silva Santos (FOB-USP) Samira Valentim Gama Lira (UNIFOR) Thiago Mendonça de Aquino (UFAL) Vânia de Souza (UFMG) Wagner Luiz Ramos Barbosa (UFPA) Wiliam César Alves Machado (UNIRIO) Conselho Editorial: Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Carmen Tereza Velanga (UNIR) Celso Conti (UFSCar) Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Três de Febrero – Argentina) Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Élsio José Corá (UFFS) Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Gloria Fariñas León (Universidade de La Havana – Cuba) Guillermo Arias Beatón (Universidade de La Havana – Cuba) Jailson Alves dos Santos (UFRJ) João Adalberto Campato Junior (UNESP) Josania Portela (UFPI) Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Lourdes Helena da Silva (UFV) Luciano Rodrigues Costa (UFV) Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US) Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG) Renato Francisco dos Santos Paula (UFG) Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Simone Rodrigues Pinto (UNB) Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA) Sydione Santos (UEPG) Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA) Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão SUMÁRIO PREFÁCIO �������������������������������������������������������������������������������������������������������9 Andréa Gomes Moraes CAPÍTULO 1 O PROJETO COMUNICAR COM EQUOTERAPIA ������������������������������������ 13 Leticia Correa Celeste Alexandre Rezende CAPÍTULO 2 CONHECENDO O PRATICANTE: processo de avaliação ��������������������������� 35 Amanda de Carvalho Pedra Marcella Laís Simões Andressa Lopes Vieira Leticia Correa Celeste CAPÍTULO 3 O PROGRAMA PASSO A PASSO NA COMUNICAÇÃO ���������������������������� 51 Leticia Correa Celeste Amanda de Carvalho Pedra CAPÍTULO 4 O CAVALO E A EQUOTERAPIA �������������������������������������������������������������������73 Alexandre Ronald de Almeida Cardoso Jorge Dornelles Passamani CAPÍTULO 5 RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO PROJETO “COMUNICAR COM EQUOTERAPIA”: análise em cinco estados do Brasil ������������������������� 93 Ana Luiza Vieira Benito Gisele dos Santos de Torres Camila Santana Lima Amanda de Carvalho Pedra Eduardo Santos Andrade Alexandre Rezende Leticia Correa Celeste CAPÍTULO 6 MEDIAÇÕES PARA LIDAR COM AS DIFICULDADES DAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA PARA INICIAR A EQUOTERAPIA ���������������������������������������������� 117 Maíra de Souza Carvalho Franklin Júnior Dias Ferreira Amanda de Carvalho Pedra Leticia Correa Celeste Alexandre Rezende E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão CAPÍTULO 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O PROJETO COMUNICAR COM EQUOTERAPIA ��������������������������������������������������������� 147 Leticia Correa Celeste ÍNDICE REMISSIVO �����������������������������������������������������������������������������������155 SOBRE OS AUTORES ��������������������������������������������������������������������������������157 E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão PREFÁCIO Era uma vez... É assim que muitas histórias incríveis têm o seu início e, no caso desse livro, que conta uma história de magnitude e relevância, não poderia deixar de iniciar desse modo, que nos remete as mais belas histórias lidas em nossa infância. Portanto, era uma vez um menino lindo, que tinha em sua mente muitos sonhos e anseios, mas muita dificuldade em os expressar, assim como, um padrão mais restrito de comportamento e dificuldades de inte- ração social... Na verdade, eram duas, três, várias crianças com necessidades individuais e os profissionais que se dedicavam a transformar suas vidas por meio de um método chamado equoterapia. É assim que tudo inicia... Quando me convidaram para escrever esse prefácio, sabia do enorme desafio, mas, aceitei por saber da grandiosidade do trabalho para que esse livro se transformasse em uma realidade. Houve muita dedicação e compro- metimento dos profissionais, pelos quais tenho admiração e respeito. Espero conseguir contagiar você a fazer parte dessa história, reunindo-se a todos os que mergulharam de cabeça para compreender vários fenômenos, formular perguntas de pesquisa e investigar sem cessar até encontrar possíveis respostas. E o melhor, ao final, poder disponibilizartodo esse conhecimento para que seja de fato universal, alcançando os praticantes que buscam se beneficiar da equoterapia. Um dos pontos fortes desse livro é contribuir para aprendermos mais sobre o Transtorno do Espectro Autista, que atualmente é um dos diagnósticos mais frequentes nos Centros de Equoterapia. Essa demanda nos aproxima de famílias que estão enfrentando as incertezas na educação dos seus filhos, e de profissionais que se dedicam à busca de evidências para garantir um atendimento de excelência. A equoterapia é um dos recursos terapêuticos destinados a essa população, que ao ter acesso a ela, se beneficia de um ambiente acolhedor, extremamente rico em estímulos, marcado pela possi- bilidade inusitada da interação afetiva com um animal de grande porte, mas dócil, o cavalo – principal agente da equoterapia. Trata-se de um estudo inovador e multicêntrico, realizado em 4 estados: Tocantins, Rio Grande do Norte, São Paulo e Alagoas, além do Distrito Fede- ral. Apesar do avanço das pesquisas na produção de evidências científicas, que indicam os benefícios advindos da prática da equoterapia, ainda hoje, não temos uma quantidade suficiente de ensaios clínicos randomizados bra- sileiros sobre os efeitos da equoterapia para pessoas com TEA, ainda mais com enfoque na comunicação – a despeito de o Brasil figurar com destaque no cenário mundial das pesquisas em equoterapia. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 10 O livro chama atenção para importância de conhecer o(a) praticante e a sua dinâmica familiar, por meio do uso de processos avaliativos apropriados, que fornecem um diagnóstico imprescindível para a construção de um plane- jamento que reúna as melhores estratégias terapêuticas e, ao mesmo tempo, seja capaz de analisar o potencial de cada praticante, a fim de selecionar as atividades, participações e restrições específicas para cada caso. Essa relação entre uma avaliação detalhada para subsidiar uma intervenção direcionada foi denominada no livro de “intencionalidade equoterapêutica”. Uma contribuição essencial do livro para a replicação de estudos que articulem a equoterapia com a comunicação social é a descrição do pro- grama “Passo a Passo na Comunicação”, que teve como objetivo investir em experiências que contribuam para a formação de habilidades linguísticas e cognitivas, bem como para a funcionalidade comunicativa dos praticantes. O programa possui 8 módulos, com atividades distribuídas ao longo de 24 sessões, são elas: vivenciando a equoterapia; conhecendo o corpo; os ani- mais; alimentação; locomover-se; cuidando da higiene; pessoas ao meu redor, e; despedida. É claro que não poderia faltar um capítulo destinado ao nosso perso- nagem principal, que torna tudo isso possível, o cavalo. Foram abordados, com a devida profundidade, aspectos relacionados com: o horsemanship; a escolha e a preparação do cavalo e do ambiente; a recepção dos participantes e a aproximação com o cavalo, e; o treinamento adequado para o desempenho máximo na equoterapia. Cumpre destacar a atenção especial concedida aos cuidados necessários para garantir a segurança e o bem-estar do animal, dos praticantes e dos integrantes da equipe de equoterapia. Finalizando minhas palavras, convido você a reflexões: Será que uma intervenção abordando aspectos relacionados à linguagem e à atenção de forma articulada com a equoterapia é capaz de produzir resultados positivos para crianças e adolescentes com diagnóstico de TEA? Será que existem diferenças nos resultados em função da intensidade da intervenção, ou seja, os efeitos são diferentes quando realizamos as sessões de equoterapia uma ou duas vezes na semana? Você dispõe de um protocolo de atendimento na equoterapia que orienta a sua atuação na prática clínica e ao mesmo tempo contempla as demandas individuais dos praticantes? Os instrumentos de avaliação, validados ou não, que foram utilizados nesse projeto, podem ser aplicados no seu centro de equoterapia? Essas são algumas perguntas relevantes que vão acompanhar a sua leitura ao longo dos capítulos, que deve fornecer subsídios para que você identifique respostas admissíveis para cada uma delas. Então, se você pensa que essa história termina por aqui, está engana- do(a), saiba que ela está apenas começando. Você vai perceber isso quando E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 11 iniciar a leitura, pois ao colocar em prática esses conhecimentos e práticas em sua realidade, no intuito de auxiliar crianças com TEA a desenvolver maior autonomia e qualidade de vida, você vai dar continuidade a essa história, com novos personagens e, consequentemente, novas lições de vida, que podem alcançar uma abrangência inimaginável. Dra. Andréa Gomes Moraes Fisioterapeuta e pesquisadora em Equoterapia Vinculada à ANDE-BRASIL e ao Centro de Equoterapia da Polícia Militar do Distrito Federal E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Introdução “Quando ele começou aqui ele não falava um /a/. E ele teve um salto muito grade. Ele pede coisas, [...] ele linca uma coisa com a outra [...]. Ele sabe que ele é o João, ele sabe reconhecer as pessoas.” Fala de uma das mães na despedida do Projeto Comunicar com Equoterapia. O projeto Comunicar com Equoterapia foi realizado ao longo dos anos de 2020-2022, por meio de uma parceria entre a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL) e a Universidade de Brasília (UnB). O pro- jeto teve financiamento público de emendas parlamentares por intermédio do Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). A ideia central do projeto foi elaborar, implementar e avaliar um programa que permitisse verificar os efeitos da equoterapia na reabilitação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para isso foi utilizado o programa “Passo a Passo na Comunicação; nossa preocupação era a mesma contida no relato da mãe: a comunicação de crianças com TEA. Figura 1 – Criança com TEA, assistida pelo especialista em horsemanship, acariciando o cavalo; atividade realizada no módulo Vivenciando a Equoterapia do Projeto Comunicar com Equoterapia E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 16 Figura 2 – Criança com TEA, assistida por integrantes da equipe de equoterapia, dando banho no cavalo; atividade realizada no módulo Cuidando da Higiene do Projeto Comunicar com Equoterapia Figura 3 – Criança com TEA, acompanhada pela equipe de equoterapia, dentro do picadeiro, andando a cavalo e comunicando-se com uma das mediadoras sobre a posição correta do pé; atividade realizada no módulo conhecendo o corpo do Projeto Comunicar com Equoterapia E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 17 O Projeto Comunicar com Equoterapia, como o próprio nome indica, é uma intervenção que se propõe a fazer uma articulação entre as habilidades requeridas pela comunicação social e a equoterapia, uma proposta que integra o grupo das terapias com assistência animal, no caso, com o cavalo. A seleção das atividades foi realizada de forma a direcionar as vivências e experiências equoterapêuticas para a criação de um ambiente interativo que seja favorável para o desenvolvimento das habilidades linguísticas e cognitivas necessáriaspara potencialização da comunicação de crianças com TEA. “Ele melhorou em tudo mesmo, tanto na fala quanto na escola também. Ele já está escrevendo, já está, nossa. Não tenho nem palavras para agra- decer a vocês, a todos [...]. Outro dia ele pediu refrigerante. É uma palavra difícil e eles aprendem a falar rapidinho [...], mas ele assim, está falando de tudo. Eu achava que ele nunca nem ia falar.” Fala de uma das mães na despedida do Projeto Comunicar com equoterapia. Este capítulo tem por objetivo: descrever o contexto no qual o Projeto Comunicar com Equoterapia está inserido; explicitar nossa compreensão da intencionalidade equoterapêutica, termo de inspiração sociointeracionista que propomos como fio condutor para a intervenção; e, por fim, apresentar o percurso teórico-metodológico do projeto de pesquisa. Contextualização “Eu sempre falei para todos aqui que minha preocupação sempre foi a comunicação dele.” Fala de uma das mães na despedida do Projeto Comunicar com equoterapia. A palavra “autismo” foi utilizada pela primeira vez por Kanner (1943), sob a conceituação da teoria do apego. Atualmente, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é visto como uma desordem do neurodesenvolvimento, com origem genética e ambiental(1). São critérios diagnósticos do TEA segundo DSM-V(2): a) Déficits persistentes na comunicação social e na interação em múltiplos contextos; b) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades(2). O número de pessoas com diagnóstico de autismo tem tido um aumento importante nos últimos anos. Em um estudo realizado em 1966, Lotter(3) concluiu que na Inglaterra teriam 4,5 crianças diagnosticadas a cada 10.000. Desde esse estudo, o aumento da prevalência passou para 1 em cada 150(4) E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 18 e, após uma análise publicada em 2018 pelo Center for Disease Control dos Estudos Unidos há 1 caso a cada 59 crianças nos EUA(5). O aumento na prevalência de casos de TEA pode ser atribuído, em parte, ao aperfeiçoamento tecnológico dos recursos de avaliação neurológica, mas também, à ampliação de informações sobre o quadro clínico e à reformula- ção dos critérios diagnósticos que levaram à nova caracterização do TEA de maneira a englobar os seguintes quadros clínicos, anteriormente classificados de forma independente: autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno Jjlobal do desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger(2). Mas, por que fazer uma articulação entre aspectos fonoaudiológicos e equoterapia para crianças com TEA? Várias são as razões que levaram a tal escolha, dentre elas, destacamos: a motivação e o engajamento que as crian- ças com TEA tem perante um momento de interação com cavalo; a relação afetiva que existe entre o ser humano e o cavalo pode ser usada como gatilho para desencadear processos comunicativos entre as crianças e os integrantes da equipe de equoterapia; o direcionamento espontâneo da atenção conjunta, uma das principais dificuldades das crianças com TEA, para organização a postura corporal durante a montaria; a especificidade da relação entre a criança e o cavalo, uma díade que possibilita formas alternativas de comunicação, isentas da tensão normalmente presente nos momentos de interação social, quando é preciso corresponder às expectativas e à pressão de outras pessoas. Essa condição, também presente em outras terapias assistidas por animais, faz com que a prática da equoterapia seja considerada como especialmente benéfica para pessoas com diagnóstico de TEA(1,6–10), tanto na perspectiva social como na comunicativa. Entretanto, ainda existem diversas lacunas na literatura científica que precisam ser respondidas e atendidas. Primeiramente, não temos, no Brasil, uma pesquisa sobre equoterapia, comunicação e TEA, que tenha um delineamento definido como ensaio clí- nico randomizado. Nesse tipo de estudo, o cruzamento entre as variáveis gera um “alto grau de evidência científica”, pois os pesquisadores conse- guem comparar os resultados em diferentes condições experimentais, como também, exercer controle sobre variáveis confundidoras, o que permite a avaliação real dos efeitos de uma intervenção realizada em um determinado período. Portanto, ter um ensaio clínico elaborado e desenvolvido no país é de extrema importância para a ciência nacional, especialmente se tratando de temas atuais: equoterapia, comunicação e autismo. Outro ponto de destaque, é o fato de ser uma pesquisa realizada no Brasil, logo, que leva em consideração as particularidades do nosso país. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 19 Isso favorece: a divulgação dos resultados em língua portuguesa, acessível aos brasileiros; a adequação do protocolo de intervenção à cultura equestre brasileira, o que favorece a sua replicação; a compreensão dos resultados em função das expectativas sociais e dos significados compartilhados entre brasileiros; dentre outros aspectos considerados em nossa pesquisa. Em relação à abrangência regional, o projeto é inovador na medida em que avalia os resultados de um mesmo programa de intervenção realizado em diferentes localidades do país. A ANDE-BRASIL conseguiu mobilizar recursos e reunir Centros de Equoterapia com interesses de estudo afins, o que culminou na realização da pesquisa em cinco diferentes localidades: Distrito Federal, Tocantins, Rio Grande do Norte, São Paulo e Alagoas. Isso permitiu a realização do programa de Equoterapia e Comunicação em quatro diferentes regiões do país: nordeste, centro-oeste, sudeste e sul. O estudo também se propõe a contribuir para análise de uma questão metodológica ainda não esclarecida: qual deve ser, no atendimento às crianças com TEA, a frequência semanal das sessões de equoterapia, uma ou duas vezes por semana? Essa é uma discussão importante, pois tem um impacto no número de pessoas que podem ser atendidas com qualidade, ou seja, se não há uma diferença significativa nos resultados, é possível recomendar o atendimento com uma sessão por semana, o que permite alcançar o dobro de praticantes com a mesma estrutura. É por isso que esse tópico está presente em diversos estudos da literatura especializada em equoterapia(11,12). Ainda, a presente proposta se baseia no cerne das dificuldades dos autis- tas: a comunicação social. Trabalhar aspectos relacionados à linguagem e à atenção conjunta na equoterapia pode trazer resultados positivos para crianças e adolescentes com diagnóstico de TEA. Em relação a componentes específicos da questão fonoaudiológica, o estudo avalia uma proposta de intervenção que abrange dois pontos rele- vantes da reabilitação comunicativa: o uso de um programa padronizado e a individualização terapêutica. A princípio, tal composição pode parecer um paradoxo: como é possível aplicar um programa padronizado, com metas e estratégias pré-definidas, que, ao mesmo tempo, permita a adaptação das atividades para as características individuais de cada criança com TEA? Isso, no entanto, é possível porque o programa segue uma abordagem sociointe- racionista e cognitiva, com foco em objetivos específicos, que podem ser alcançados por meio de diversas atividades equoterapêuticas, planejadas em função de habilidades cognitivas e linguísticas que possuem funcionalidade comunicativa em comum. Sendo assim, a partir das informações obtidas pela avaliação das crianças, os pesquisadores puderam escolher, dentro do pro- grama, as melhores atividades e metas a serem alcançadas, de acordo com E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 20 as necessidadesespecíficas de cada uma das crianças, o que garantiu a uni- formidade das finalidades do programa de equoterapia, porém, com o uso de atividades diferenciadas para cada caso. Considerando a importância da avaliação, tanto a diagnóstica, realizada no início, como a avaliação continuada ao longo da execução do programa de equoterapia, que fornece subsídios para o planejamento e a sua revisão, queremos sugerir termo intencionalidade equoterapêutica para favorecer a compreensão de que cada projeto de pesquisa, assim como, cada centro de equoterapia, deve ter uma atenção especial para explicitar: como a elaboração do programa de equoterapia se aproxima das necessidades e interesses dos praticantes a serem atendidos? Intencionalidade equoterapêutica “Nós avaliamos todas as crianças com muito cuidado e planejamos tudo para que cada uma recebesse o melhor que nós tínhamos para dar.” Fala de uma das pesquisadoras em um evento de apresentação do Projeto. O termo intencionalidade equoterapêutica, fundamentado em teorias socio interacionistas(13–16), refere-se à postura do mediador principal do pro- grama de equoterapia quando tem que selecionar as atividades que julga serem as mais adequadas para alcançar os objetivos específicos previstos para aquela sessão. Esse processo de mediação garante que o programa de equoterapia não seja considerado como uma série de atividades técnicas a serem realizadas de forma repetitiva, mas como um conjunto de vivências que devem proporcionar aos praticantes experiências enriquecedoras de aprendizagem, durante todas as etapas do atendimento oferecido pelo centro de equoterapia. Nesse sentido, a intencionalidade equoterapêutica compreende a articu- lação de diversos aspectos metodológicos, que não devem ser vistos de forma dissociada: (a) conhecer o praticante e a sua família; (b) obter informações sobre o contexto sociocultural no qual estão inseridos; (c) planejar as ativida- des de acordo com as melhores práticas equoterapêuticas; (d) refletir sobre os avanços e retrocessos que ocorrem ao longo do desenvolvimento nas sessões; (e) aprender a readequar o planejamento todas as vezes que for necessário, e; (f) ampliar a sua compreensão sobre o nível de desenvolvimento dos pra- ticantes, de forma a estabelecer o momento da alta ou do encerramento do processo equoterapêutico. No projeto Comunicar com Equoterapia, a prática da equipe de equotera- pia foi pautada nesse conceito de intencionalidade equoterapêutica, que serviu de fio condutor para todas as atividades realizadas, o que está devidamente registrado neste livro, como uma sugestão para iniciativas semelhantes. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 21 A etapa inicial da intencionalidade equoterapêutica, dedicada a conhecer o praticante e sua família, pode ser dividida em dois aspectos chaves: o pri- meiro se dirige para a literatura científica, pois requer o estudo pormenorizado do quadro clínico que caracteriza os praticantes que seriam atendidos no centro de equoterapia, no caso do nosso projeto, Comunicar com Equoterapia, crian- ças com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sendo assim, toda a equipe envolvida no atendimento da equoterapia, mediadores, guias e demais integrantes, recebeu treinamento sobre informações relevantes acerca do TEA, que foram discutidas a fim de identificar as possíveis repercussões no relacionamento com as crianças e na interação delas com o cavalo. Depois da apropriação das informações teóricas, o segundo aspecto se dirige para conhecer, de fato, cada um dos praticantes e suas famílias, por meio de uma anamnese, que reúne os dados históricos que a família recorda sobre a criança, desde os sintomas iniciais até o momento atual, e diversos outros instrumentos de avaliação voltados para registrar e acompanhar as variáveis chaves do estudo. O processo de avaliação, portanto, abrange o primeiro encontro com as famílias, as conversas iniciais com as crianças, até as avaliações específicas, que foram realizadas com objetivo de entender: quais eram as habilidades linguísticas e cognitivas de cada criança? Como essas habilidades interferiam na sua funcionalidade social e comunicativa? No capítulo “Conhecendo o Praticante” mostramos detalhadamente o processo de avaliação realizado no projeto Comunicar com Equoterapia. Em seguida, a intencionalidade equoterapêutica se dirige para o plane- jamento. No projeto Comunicar com Equoterapia, a definição dos objetivos da intervenção, a seleção das atividades a serem realizadas e a opção pelas melhores práticas equoterapêuticas tiveram como base de sustentação teó- rico-prática: (a) a análise linguístico-funcional de Halliday(17); (b) as teorias sociointeracionistas(13–16), e; (c) a prática fonoaudiológica baseada em análise de competências linguísticas gramaticais(18). A conduta da equipe de equoterapia durante as sessões sempre conside- rou, além do planejamento, a necessidade de uma atenção especial para: (a) interação entre os envolvidos (praticante, cavalo, mediadores, guia e família); (b) a funcionalidade do praticante diante das exigências de cada atividade e das condições contextuais do momento, e; (c) a interação direta do praticante com o cavalo. No capítulo 3, discorremos sobre os detalhes metodológicos do Programa Passo a Passo na Comunicação, nossa proposta para articular fonoaudiologia com equoterapia. Uma parte importante do Programa Passo a Passo na Comunicação, sugerida pela ANDE-BRASIL, foi a inclusão de atividades iniciais de aproxi- mação e interação com o cavalo por meio do método horsemanship; ao invés E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 22 de direcionar a interação com o cavalo para a montaria, incluímos a apresen- tação do cavalo, sua alimentação e higiene, os encilhamentos, a sua intera- ção com o equitador, além de outras atividades que contribuem para que a criança construa um vínculo afetivo que mobilize a sua funcionalidade social e comunicativa. No capítulo 4, escrito pelos especialistas em horsemanship, apresentamos os critérios utilizados na seleção dos cavalos e as estratégias para promover a interação das crianças e suas famílias com o cavalo. O conceito de intencionalidade equoterapêutica contribui para escla- recer que o ponto principal da intervenção é a mediação entre o planeja- mento, construído a partir de uma expectativa, e as condições/interesses dos praticantes, que exigem uma adequação da expectativa para a realidade. A mediação, portanto, indica que a execução do programa requer o acompa- nhamento atento dos progressos e das dificuldades do praticante, a fim de definir o ritmo e a direção em que devem ocorrer as mudanças de ativida- des, ou seja, mais lento ou mais rápido, avançando ou retrocedendo. Essa avaliação continuada foi realizada de diferentes formas, tais como: reuniões para estudos de cada caso clínico, análise dos resultados das estratégias de avaliação e conversas com familiares ou acompanhantes (também identifi- cados como cuidadores). A fim de facilitar a compreensão do processo de mediação, optamos por realizar reuniões periódicas para fazer uma reflexão conjunta sobre os objeti- vos de cada sessão, de forma a avaliar, criteriosamente, se o praticante alcan- çou ou não o desempenho esperado. Quando foi identificado um progresso significativo do praticante, os objetivos foram revistos para que as atividades da próxima sessão possibilitassem a consolidação das habilidades aprendidas e, ao mesmo tempo, apresentassem novos desafios, com um nível de exigência maior, capaz de aprimorar o desenvolvimento da comunicação social. Em diversas oportunidades, as atividades planejadas para alcançar um determinado objetivo tiveram que ser ajustadas para que os estímulos fossemefetivos para cada caso. No capítulo 6 mostramos alguns exemplos práticos dessas readequações, realizadas ao longo da execução do programa, para que todos possam compreender que as variações não prejudicam a finalidade do programa, pois são realizadas em função do conceito de intencionalidade equoterapêutica, que lhes confere uma identidade. Sendo assim, para que haja intencionalidade equoterapêutica, não é pos- sível seguir um protocolo padrão, com as mesmas atividades, quando estamos diante de crianças diferentes; nossa intervenção está pautada no princípio de que atividades diferentes, selecionadas para atender a uma intencionalidade equoterapêutica comum, garante a identidade do Programa Passo a Passo na Comunicação. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 23 A etapa final da intencionalidade equoterapêutica compreende os cuida- dos a serem realizados no momento da alta ou do encerramento do processo terapêutico. No caso do projeto Comunicar com Equoterapia, a duração do programa tinha que atender a limites específicos, considerando que trabalha- mos com financiamento público, que tem um cronograma fixo de execução e prestação de contas. Sendo assim, a despeito das diferenças no progresso de cada participante, todos realizaram o mesmo número de sessões, o que marcou o encerramento do processo terapêutico. Todas as avaliações realizadas no início do projeto (baseline), foram novamente realizadas no final; os dados obtidos foram analisados de duas maneiras: individual, todas famílias receberam um relatório pessoal, mos- trando como o praticante estava no início e como ele saiu do projeto, e; coletiva, a ser divulgada para comunidade acadêmica e profissional em forma de trabalhos científicos, sendo um deles o presente livro. Acredita- mos que essas iniciativas atestam o nosso compromisso com os participan- tes da pesquisa e com a difusão dos conhecimentos produzidos para toda sociedade, da forma mais ampla possível. No capítulo 5 apresentamos, de forma quantitativa e qualitativa, os resultados gerados pela participação dos praticantes no Programa Passo a Passo na Comunicação. Projeto de pesquisa Como o livro aborda as questões relacionadas com uma proposta de intervenção na equoterapia que, ao mesmo tempo, é um projeto de pes- quisa, optamos por incluir nesse primeiro capítulo as informações chaves, de acordo com a formatação acadêmica, do projeto de pesquisa que faz parte da linha de estudo intitulada “Busca de evidências do efeito da equotera- pia na reabilitação de distúrbios da fala e linguagem”. Pretendemos, dessa maneira, contribuir para que todas as informações estejam disponíveis para outros pesquisadores ou profissionais que estejam em busca de subsídios sobre como elaborar uma proposta equivalente para atender as necessidades de sua realidade específica. Objetivos da pesquisa O projeto “Comunicar com Equoterapia” é uma pesquisa que visa avaliar os efeitos da utilização de técnicas específicas de equoterapia, articuladas com atividades de formação das habilidades linguísticas, para melhoria da comunicação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 24 O detalhamento das atividades realizadas consta do programa de equo- terapia intitulado de Passo a Passo na Comunicação. Materiais e métodos Como se trata de um extenso projeto de pesquisa, faremos uma apresentação resumida dos materiais e métodos, suficiente para com- preensão da proposta de estudo e das questões teórico-metodológicas a serem discutidas. Aspectos éticos A pesquisa tem aprovação do Comitê de Ética na Pesquisa da Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília com CAAE 14946819.8.0000.8093 e número de parecer 3.420.561. Todos os responsáveis assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os menores um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). De acordo com os dispositivos das Resoluções 196/1996, 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, as crianças e seus responsáveis legais foram informados sobre o objetivo da pesquisa, todos os procedimentos a serem realizados, bem como os riscos e benefícios da participação, a fim de garantir que seu consentimento é livre, sendo garantida a liberdade de se retirar do estudo a qualquer momento. A coleta de dados e as sessões de equoterapia foram realizadas após a assina- tura dos TCLE e dos TALE. Todas as informações e dados coletados foram mantidos anônimos e utilizados apenas para fins de estudo. As instituições co-participantes do projeto assinaram um Termo de Anuência para a reali- zação da pesquisa. Tipo de estudo Trata-se de um estudo experimental, com medidas repetidas e compara- ções inter e intragrupos. Os grupos experimentais 1 e 2 foram compostos por crianças com TEA. O delineamento do estudo consistiu nas seguintes etapas: recrutamento dos participantes; avaliação inicial; alocação dos praticantes nos grupos: G1 – início imediato da intervenção com uma sessão por semana e G2 – início da intervenção após 3 meses com duas sessões por semana; reali- zação do programa de intervenção por 12 sessões com G1; reavaliação de G1 e G2; realização do programa de intervenção por mais 12 semanas com G1 e G2; avaliação final de G1 e G2. A duração total da intervenção, calculada E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 25 em função do número de sessões, foi a mesma para G1 e G2, 24 sessões. A figura 4 ilustra o desenho do estudo. Figura 4 – Desenho do estudo Seleção dos participantes Avaliação e alocação dos participantes 3 meses de espera 3 meses de intervenção, 1 vez por semana 3 meses de intervenção, 1 vez por semana 3 meses de intervenção, 2 vezes por semana Terceira avaliação de todos os participantes Segunda avaliação de todos os participantes G1 G2 O Quadro 1 mostra o delineamento da pesquisa em meses para cada grupo, considerando entrada, avaliação inicial (Av. 1), intervenção (I) e rea- valiação (Av. 2, após 12 semanas, e Av. 3, após 24 semanas). É importante destacar que os participantes da pesquisa não iniciaram o processo no mesmo período, desta forma, o delineamento individual não reproduz exatamente o cronograma do projeto como um todo. Quadro 1 – Caracterização do delineamento da amostra Grupos Avaliação Intervenção (12 semanas) Avaliação Intervenção (12 semanas) Avaliação G.1 Av. 1G1 I. G1-1vez/semana Av. 2G1 I. G1-1vez/semana Av. 3G1 G.2 Av. 1G2 --- Av. 2G2 I. G2-2vezes/semana Av. 3G2 Participantes Iniciaram a pesquisa 120 crianças com TEA e finalizaram 97, com uma mortalidade experimental de 23 participantes, 19,2%. Em uma revisão siste- mática o uso da equoterapia no atendimento a crianças com TEA(7), os autores localizaram 16 artigos, com ampla diferença no número de participantes, que E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 26 variaram de um mínimo de 4 e até o máximo de 127. O Quadro 2, abaixo, mostra o número de participantes em cada localidade. Quadro 2 – Participantes e estados envolvidos na pesquisa Número de participantes Estado Frequência Semanal Feminino Masculino 31 DF 1 vez na semana 3 28 25 DF 2 vezes na semana 4 21 21 TO 1 vez na semana 5 16 10 MCZ 1 vez na semana 0 10 5 RN 2 vezes na semana 1 4 5 SP 2 vezes na semana 1 4 Durante a realização das sessões de equoterapia, todas as medidas de segurança foram adotadas, no intuito de evitar qualquer tipo de intercor- rência: o uso de capacete era obrigatório, assim como a vestimenta apro- priada; os cavalos foram devidamente treinadose estavam acostumados com as atividades previstas no protocolo de atendimento; os profissionais tinham ampla experiência em equoterapia e todos foram devidamente qua- lificados para realizar o procedimento de retirada de emergência. Além disso, seguimos o protocolo de segurança para diminuição da propagação do Covid, com o uso obrigatório de máscara de proteção, a higienização periódica das mãos e dos materiais utilizados, além de manter o distancia- mento, quando possível. A seleção dos participantes do estudo obedeceu aos seguintes critérios de inclusão: a) Ter diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista; b) Ter indicação para prática de equoterapia por meio de avaliação médica dos requisitos básicos, o que inclui a abdução de quadril de pelo menos 20 graus para se manter sentado no cavalo; c) Possuir idade de 2 a 7 anos completos até o início da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: a) Possuir baixa visão moderada não corrigida, ou seja, quando a visão no melhor olho, com a melhor correção é de 20/70 a 20/160 (é possível o uso de óculos); b) Apresentar alguma das seguintes complicações clínicas associadas: crises convulsivas sem controle medicamentoso, luxação de quadril, contratura excessiva de adutores e osteoporose grave ou qualquer E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 27 outra razão que impeça de montar a cavalo, como por exemplo, medo excessivo. Procedimentos Avaliação e reavaliação Foram utilizados os seguintes instrumentos para a avaliação das crianças em relação ao domínio de fala, linguagem, funções cognitivas, motricidade e comportamento: 1. Vineland; 2. ATEC; 3. Avaliação do Desenvolvimento de Linguagem (ADL); 4. Protocolo de observação comportamental (PROC). A duração do processo de avaliação, cerca de 60 min à 70 min, foi semelhante para as crianças e os pais. Vejam, a seguir, os detalhes sobre os instrumentos de avaliação. 1. Vineland(19,20): A escala consiste em uma entrevista semiestrutu- rada, em formato de questionário, que através de seus domínios e subdomínios, avalia o comportamento adaptativo da pessoa em observação (0 a 90 anos), isto é, mensura a capacidade da pessoa realizar de atividades da vida diária, considerando todos os aspectos de vida. Os domínios são divididos em comunicação, autonomia, socialização, motricidade e comportamento desajustado, avaliando, respectivamente, os seguintes subdomínios: receptiva, expressiva e escrita; pessoal, doméstica e de comunidade; relações interpessoais, jogos e lazer e regras sociais; e global e fina. Em cada domínio, a avaliação se dá por meio de pontuação de acordo com a frequência em que aquele aspecto acontece, o que segue: 2: para “sim, normal- mente”; 1: para “algumas vezes ou parcialmente”; 0: para “não ou nunca”; N: para “não teve oportunidade”; ou D: para “desconhe- cido”. Devido a abrangência dos domínios observados, a Vineland é comumente utilizada para avaliar o comportamento adaptativo de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), entre outros transtornos e/ou comorbidades. O tempo de aplicação depende da quantidade de formulários utilizados pelos avaliado- res, pois existem formulários específicos para: pais (Entrevista e Formulários de pais), cuidadores (Cuidadores do nascimento aos 90 anos) e professores (Formulário de professor de 3 a 21 anos). Nesta pesquisa, utilizamos o formulário de pais ou, quando a criança não vem para a equoterapia acompanhada pelos pais, o formulário dos cuidadores. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 28 2. ATEC: A escala Autism Treatment Evaluation Checklist (ATEC), avalia o aumento da ocorrência de especificadores e estereotipias, ou seja, mudanças na gravidade do autismo, monitorando compor- tamentos ao longo do tempo, o que, dessa forma, auxilia tanto na avaliação de outras escalas aplicadas em concomitância quanto no acompanhamento e comparação da eficácia de algum tratamento. A ATEC é subdividida em: (1) fala/linguagem/comunicação; (2) socia- bilidade; (3) percepção sensorial/cogninitiva; e (4) saúde/aspectos físicos/ comportamento. O escore varia de 0 a 180, sendo que o melhor resultado é inversamente proporcional à maior pontuação. As subescalas são aplicadas aos cuidadores, o que demonstra maior especificidade e veracidade nas questões observadas. 3. Avaliação do Desenvolvimento de Linguagem – ADL: Apesar de ser uma escala para aplicação em crianças com até 6 anos e 11 meses, acredita-se que sua utilização será importante na medida em que os aspectos de desenvolvimento básicos de semântica e morfossintaxe se encerram nesse ciclo do desenvolvimento. Com isso, nossa expectativa é que as crianças com TEA que participam do estudo alcancem a faixa mais alta do teste. O ADL é relevante especialmente por avaliar separadamente a linguagem receptiva e a linguagem expressiva, possibilitando o uso da parte receptiva com todos os participantes, independentemente do nível de alteração de linguagem verbal oral. 4. PROC – Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis(21): o PROC é um instru- mento que avalia habilidades comunicativas, compreensão verbal e aspectos cognitivos do desenvolvimento. Para coleta de dados, o mesmo exige um ambiente semiestruturado e a gravação da interação de um adulto com a criança. Utilizamos o PROC nesta pesquisa como instrumento de avaliação exploratória, analisando as respostas em cada um dos itens propostos pelos autores. Intervenção De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), a intervenção equoterapêutica é um método terapêutico que se utiliza do cavalo para estimular o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades específicas, dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação(22). No presente estudo, nosso foco se dirige para os programas de hipoterapia e educação/reeducação. Hipoterapia E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 29 (do inglês hippotherapy) é um termo amplamente utilizado na área como uma das especializações da equoterapia(7,23,24) e segundo a American Hippotherapy Association refere-se a como os profissionais da terapia ocupacional, da fisioterapia e da fonoau- diologia usam práticas baseadas em evidências e raciocínio clínico com o propósito de manipular os movimentos equinos para engajar os sistemas sensório, neuromotor e cognitivos para alcançar resultados funcionais(23). No Brasil, a ANDE-BRASIL defende que o programa de hipoterapia deve ser utilizado com praticantes que não tenham condições de se manterem sozinhos no cavalo, seja por necessitarem de auxílio físico ou de suporte psicológico; logo, nesses casos, há a necessidade de um auxiliar-guia para conduzir o cavalo(22). Já no programa de educação/reabilitação, o praticante tem mais autonomia, é capaz de exercer alguma atuação sobre o cavalo, logo, pode, após avaliação da equipe de equoterapia, conduzir o cavalo de forma autônoma. A intervenção fonoaudiológica para lidar com os distúrbios da comuni- cação humana deve sempre ser contextualizada e individualizada. Ser con- textualizada em respeito às condições de vida, o que abrange casa, escola e trabalho, e aos interesses de cada paciente; ser individualizada de forma a se adequar às características de cada paciente, sem se desconectar da inten- ção terapêutica presente no planejamento. Dessa maneira, cada praticante precisou de objetivos e estratégias diferentes, porém, o planejamento foi realizado dentro de um embasamento teórico, preferencialmente, já testadoanteriormente. Nesta pesquisa elaboramos o Programa Passo a Passo na Comunicação que segue os princípios do arcabouço teórico-prático da aná- lise linguístico-funcional de Halliday(17), as teorias sociointeracionistas(13–16) e a prática fonoaudiológica baseada em análise de competências linguísti- cas gramaticais(18). Além dos exercícios realizados no Centro de Equoterapia da ANDE- -BRASIL foram enviadas atividades específicas para serem realizadas em casa com o apoio e a supervisão dos pais. Essas atividades, além de enrique- cer os estímulos para a formação de habilidades comunicativas, contribuem para orientar os pais sobre as possibilidades para fornecerem estimulação parental ao longo da semana. As atividades foram propostas de acordo com o planejamento individual do praticante. Cada praticante recebeu e construiu o Caderno da Equoterapia. Por meio do Caderno da equoterapia, é possível E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 30 acompanhar os objetivos específicos dos módulos da intervenção. A figura a seguir ilustra algumas atividades do caderno. Figura 5 – Praticante mostrando o caderno da equoterapia para mediadoras Considerações sobre a obra Cada capítulo deste livro foi elaborado com o objetivo de compartilhar as diversas etapas necessárias para a elaboração e implementação dos projetos de intervenção e de pesquisa, denominados em conjunto de Comunicar com Equoterapia. Acreditamos que, de posse dessas informações, você pode ter a oportunidade de replicar ou de construir propostas equivalentes, de acordo com a especificidades do seu público-alvo, a composição de sua equipe de equoterapia e as condições do seu Centro de Equoterapia. A despeito da quantidade de trabalho requerido, o estudo possibilitou a análise de diversas questões teórico-práticas, que provocaram reflexões importantes e inovadoras sobre as possíveis articulações entre fonoaudiologia e equoterapia. Parte dos resultados está disponibilizada neste livro e outra parte será divulgada por meio de artigos científicos. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 31 REFERÊNCIAS 1. Grandgeorge PM, Hausberger M. Autisme, médiation équine et bien-être. Bull Acad Vét Fr. 2019;(1):1–7. 2. Association AP. Diagnostic and statistical manual of mental disorders – DSM-5. 5th ed. 2013. 3. Lotter V. Epidemiology of Autistic Conditions in Young Children. 1964;124–37. 4. Fombonne E. Epidemiology of Pervasive Developmental Disorders. 2009;65(6):591–8. 5. Report MW. 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Adaptive behavior in autism: Minimal clinically impor- tant differences on the Vineland-II. Autism Res. 2017;11(2):270–83. 21. Rocha S, Hage DV, Pereira TC, Zorzi JL, Infantil L. Behavioral Obser- vation Protocol : (1). 22. ANDE. AN de E-. Curso básico de equoterapia. Brasília: ANDE; 2010. 205 p. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 33 23. American Hippotherapy Association. What is Hippotherapy? [Internet]. 2019. Available from: https://americanhippotherapyassociation.org/ what-is-hippotherapy/ 24. Macauley BL, Gutierrez KM. The Effectiveness of Hippotherapy for Children With Language-Learning Disabilities. Commun Disord Q. 2004;25(4):205–17. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Introdução De acordo com o princípio de intencionalidade equoterapêutica, des- crito no Capítulo 1 (p. 20), as vivências e atividades previstas no Programa Passo a Passo na Comunicação para as crianças com TEA foram defini- das com base no processo avaliativo, que abrange os momentos iniciais de contato da equipe de equoterapia com os praticantes e seus familiares, até a aplicação dos instrumentos de avaliação previstos na pesquisa. Em outras palavras, o processo de avaliação precede a elaboração do planeja- mento equoterapêutico. O Programa Passo a Passo na Comunicação teve como objetivo principal fornecer estímulos significativos para a formação das habilidades linguísticas e cognitivas, de forma a ampliar a funcionalidade comunicativa e social das crianças com TEA. Para a identificação adequada dos estímulos não é possível se pautar exclusivamente em indicadores teóricos; é imprescindível entender as necessidades e os interesses de cada um dos praticantes e de sua família. Sendo assim, neste capítulo, vamos apresentar e discutir como foram reali- zadas todas as etapas da avaliação, como também, como utilizamos os dados obtidosna avaliação para a elaboração do planejamento equoterapêutico que articula fonoaudiologia com equoterapia. Contextualização: quais instrumentos utilizamos e os motivos A escolha dos instrumentos de avaliação levou em consideração as fina- lidades do projeto Comunicar com Equoterapia, que se propõe a promover a reabilitação das habilidades linguísticas e cognitivas de crianças de ambos os sexos, com idade entre 2 e 10 anos, que tenham diagnóstico médico confir- mado de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, segundo a avaliação de seu pai, sua mãe ou os responsáveis legais, dificuldades comunicativas evidentes. Além dos aspectos supracitados, a seleção dos instrumentos de avaliação levou em conta a possibilidade de atender a dois qualificadores chaves para compreensão da funcionalidade, a saber: capacidade e desempenho, conforme descrito abaixo: 1. capacidade, descreve a habilidade ou condição de um indivíduo para executar uma tarefa ou uma ação em um ambiente ideal. A capacidade descreve o nível mais elevado de funcionalidade que uma pessoa pode atingir no momento atual(1–3), e; 2. desempenho, descreve o que um indivíduo faz no seu ambiente real, ou seja, as atividades e o nível de participação social em função das E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 38 barreiras ou facilidades existentes na sua realidade de vida habitual, o que inclui o contexto social; também pode ser entendido como “envolvimento numa situação de vida”(4). Para avaliar de maneira minuciosa a capacidade das crianças com TEA inseridas no projeto Comunicar com Equoterapia foi preciso considerar os prejuízos que já eram esperados pelo diagnóstico de autismo. Sabe-se que os prejuízos pragmáticos estão bem descritos para esse público, prejuízos em iniciativa na comunicação, bem como em resposta ao outro, funções comunicativas com atrasos significativos, meios de comunicação com uso atípico e outras manifestações(5–7). Adicionado aos prejuízos pragmá- ticos também coexistem as dificuldades em morfossintaxe e semântica, como uso atípico de pronomes e repertório limitado de conhecimento de objetos(8). Diante disso, a fim de avaliar a capacidade em habilidades pragmáticas definiu-se como instrumento de avaliação o Protocolo de Observação Com- portamental(9) e para avaliação da capacidade em habilidades morfossintáti- cas e semânticas definiu-se como instrumento de avaliação a Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem 2(10). Para avaliar de forma detalhada o desempenho das crianças em seu coti- diano foi preciso considerar a percepção dos responsáveis que convivem com essas crianças na maior parte do dia, bem como realizar uma seleção de avaliações pertinentes às variáveis de comunicação analisadas na pesquisa. Para cumprir esse objetivo definiu-se pela Escala de Comportamento Adap- tativo Vineland(11,12) que comporta domínios de fala e linguagem, bem como a Avaliação de Tratamentos do Autismo (ATEC)(13) a fim de avaliar a eficácia do tratamento, bem como monitorar como o indivíduo progride ao longo do tempo nas habilidades de interesse. Neste capítulo trataremos de três dos quatro instrumentos citados acima: o Protocolo de Observação Comportamental (PROC)(9), a Avaliação do Desen- volvimento da Linguagem 2 (ADL 2)(10) e a Vineland(11). Sobre as avaliações: objetivos e dicas práticas Protocolo de Observação Comportamental: PROC O objetivo principal de utilização de tal protocolo consistiu em ava- liar o desenvolvimento comunicativo e cognitivo das crianças por meio do contexto lúdico. Ele avalia aspectos referentes às habilidades comunicativas E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 39 expressivas, de compreensão e esquemas simbólicos. Possui dados de refe- rência para crianças entre 2 e 3 anos(9). O PROC apresenta três componentes, sendo eles interligados entre si, apesar de serem avaliados separadamente, conforme fi gura abaixo: Figura 1 – Componentes do PROC Habilidades comunicativas Compreensão verbal Aspectos do desenvolvimento cognitivo Fonte: Elaborado pelos autores baseado no PROC(8)� Cada um desses componentes do PROC(9) é subdividido em alguns fato- res, a saber: 1. Habilidades Comunicativas: habilidades dialógicas, funções comu- nicativas, meios de comunicação e níveis de contextualização da linguagem; 2. Compreensão Verbal: compreensão de ordens e comandos; 3. Aspectos do Desenvolvimento Cognitivo: formas de manipulação dos objetos, nível de desenvolvimento do simbolismo e nível de organização do brinquedo. A pontuação de cada habilidade (habilidades comunicativas, compreensão verbal e desenvolvimento cognitivo) varia e está descrita no rodapé de cada tópico no formulário de avaliação. A pontuação máxima total é de 150 pontos. A aquisição do PROC é simples, visto que a folha de marcação do protocolo e as instruções básicas estão disponíveis gratuitamente. Ressalta-se, entretanto, que é necessário que o aplicador tenha o material (brinquedos) descrito no artigo(8). E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 40 A seguir, apresentamos algumas dicas práticas que podem favorecer a aplicação do PROC: • Observar o comportamento da criança o mais próximo possível do natural (semiestruturado – veja a foto abaixo). • Estimular a criança a brincar, utilizando uma postura com pouca ênfase em comandos do aplicador. • Conhecer o protocolo e planejar previamente os procedimentos necessários para testar cada habilidade. Nem sempre a criança obtém o escore zero por não saber, mas por falta de teste específico. Por exemplo: oferecer brinquedos específicos (móveis em miniatura) para observar agrupamentos dos cômodos da casa. • Não utilizar os blocos de encaixe no início, visto que crianças com interesses restritos demonstraram pouca interação com os demais brinquedos no decorrer da avaliação. Figura 2 – Praticante do Projeto Comunicar com Equoterapia em processo de avaliação em ambiente semiestuturado Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem 2 – ADL 2(10) O objetivo principal de utilização de tal protocolo consistiu em analisar o desenvolvimento da linguagem compreensiva e expressiva de crianças por E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 41 meio de atividades estruturadas. A escala avalia a aquisição da linguagem em relação ao conteúdo, por meio da semântica, e à estrutura, por meio da morfologia e sintaxe. Possui aplicação prevista para crianças entre 1 ano a 6 anos e 11 meses. A avaliação é dividida em duas sub-escalas, a saber: 1. Linguagem Compreensiva (52 itens); 2. Linguagem Expressiva (58 itens). O acesso ao ADL 2(10) é mais restrito, devido ao valor. O kit vendido contém: o manual do examinador, com os procedimentos para aplicação das tarefas do teste e os valores de referência; o manual de figuras das linguagem compreensiva e expressiva; o protocolo de aplicação e pontuação (este pode ser encontrado, online e gratuitamente, na maioria dos sites que vendem o kit); e o material concreto, composto por alguns brinquedos em miniatura(10). A análise dos dados do ADL 2 é feita de maneira complexa, posterior- mente à aplicação. O avaliador deve possuir domínio dos procedimentos, visando à minimização dos erros e uma correta análise dos resultados. A pon- tuação de cada tarefa pode ser: 0 ou NR (não respondeu), quando o avaliado errar ou não responder; 1, quando o avaliado acertar, preenchendo os requisitos descritos em nota no teste. A pontuação máxima é 298 pontos, somando-se linguagem expressiva e receptiva(9). O ADL 2(10) foi escolhido por ser a versão mais atualizadaaté o presente momento. Todas as informações aqui contidas a respeito do ADL 2, apli- cam-se também ao ADL, excetuando-se que o segundo tem menos tarefas que o primeiro, como também, que alguns brinquedos foram acrescentados na versão revisada. A maioria das tarefas permanece igual entre as versões, podendo ter sido modificado/acrescentado: figuras, habilidades específicas, forma de pontuação de algumas tarefas; além da versão revisada conter dois protocolos complementares (Observação da Aquisição Fonológica e História Clínica e de Desenvolvimento da Criança). A seguir apresentamos as dicas práticas que podem favorecer a aplicação da ADL 2, seguindo as orientações do próprio manual(9): • Conhecer as tarefas do protocolo, manuseando o livro de figuras e os materiais rapidamente, evitando-se a distração do avaliado. • Iniciar o teste 6 meses antes da idade cronológica. Voltar ao início da idade anterior (página anterior), caso erre qualquer uma das 3 primeiras questões, até encontrar a base. Continuar o teste até encontrar o teto. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 42 • Iniciar pela parte de linguagem compreensiva, no caso de a criança ser mais tímida. • Para analisar os dados: sinalizar a última questão correta, a base e o teto; preencher a capa com essas informações; pontuar o nível do distúrbio de linguagem. Vineland A Vineland é um instrumento utilizado mundialmente, com o objetivo de avaliar o comportamento adaptativo das pessoas desde o nascimento até a idade adulta e idosa (90 anos)(11). A escala avalia os domínios e as suas subdivisões, a saber: 1. Comunicação (67 questões) – receptiva, expressiva e escrita; 2. Habilidades Diárias (92 perguntas) – habilidades pessoais, domés- ticas e comunitárias; 3. Socialização (66 questões) – relações interpessoais, brincadeiras e lazer, habilidades de enfrentamento; 4. Habilidades Motoras (36 questões) – motricidade grossa e habili- dades motoras finas; 5. Comportamento Desajustado (36 questões) – projetado para avaliar comportamentos mal-adaptativos, como obstinação, impulsividade, teimosia, agressividade, ansiedade, introversão, negativismo, alte- ração de humor etc.(12). O instrumento consiste em uma entrevista semiestruturada em formato de questionário, esse questionário pode ser dirigido a diferentes pessoas que convivem com o indivíduo sobre o qual se quer obter informações. A impor- tância da avaliação está relacionada com a compreensão das necessidades individuais de cada pessoa, considerando os aspectos de toda vida(11). O acesso à Vineland é restrito aos que realizam a compra e o treinamento para aplicação da Escala. O kit contém: 1 manual de aplicação, 5 formulários de entrevista extensiva, 5 formulários de entrevista de domínios, 5 formulários de pais/cuidadores extensivo, 5 formulários de pais/cuidadores de domínios, 5 formulários de professores extensivo, 5 formulários de professores de domí- nios, bem como tabelas de dados normativos. A seguir apresentamos as dicas práticas que podem favorecer a aplicação da Vineland: E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 43 • Por ser uma avaliação longa, com tempo médio de aplicação entre 1 hora a 1 hora e meia, recomenda-se que seja realizada pessoalmente, em local adequado e sem interrupções. • Por se tratar de um questionário, indica-se que o avaliador se apro- prie do conteúdo das perguntas e realize adaptações no momento de fazê-las ao entrevistado. O conteúdo das perguntas não deve ser modificado, somente a compreensão deve ser facilitada. • Durante a aplicação muitos entrevistados realizam relatos extensos sobre o que a criança “faz” ou “não faz”, ultrapassando o limite do que lhe foi perguntado naquele momento. A fim de otimizar a aplicação, o avaliador deve estar atento para os momentos em que perguntas que seriam feitas posteriormente são respondidas espon- taneamente durante os relatos e realizar a marcação da pontuação referentes a elas. No Capítulo 1 (p. 27 e 28), que descreve a aplicação do Projeto “Comu- nicar com Equoterapia” nas cinco localidades em que o estudo foi realizado, apresentamos informações adicionais sobre o Protocolo Avaliação de Trata- mentos do Autismo – ATEC. Como usar da avaliação para o planejamento do praticante? As principais competências e habilidades para o desenvolvimento da funcionalidade linguística, que devem necessariamente constar no programa de intervenção, precisam fazer parte do processo de avaliação. O(a) mediador(a), para elaborar o planejamento e tomar decisões ao longo de sua execução, precisa conhecer as habilidades linguísticas específicas de cada praticante para definir qual deve ser o investimento prioritário, direcionado para dar ao praticante mais oportunidades de utilizar espontaneamente novas estrutu- ras gramaticais(14). Essa articulação entre os dados resultantes de uma avaliação detalhada e o planejamento consciente das atividades a serem realizadas na intervenção, foi caracterizada no primeiro capítulo como “intencionalidade equoterapêutica”. A partir dessa diretriz, podemos fazer uma relação direta entre os resultados da avaliação e os objetivos traçados para os praticantes. Duas dicas aprendidas ao longo da pesquisa: primeiro, a elaboração dos objetivos específicos de cada sessão deve ser revisada a partir da discussão, entre os integrantes da equipe de equoterapia, dos dados da avaliação para aquele praticante em particular; segundo, é importante esclarecer a diferença entre objetivo, definido a partir da intencionalidade equoterapêutica, logo, que E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 44 deve permanecer inalterado, e estratégias, que se refere a como as atividades foram realizadas, o que pode sofrer ajustes para se adequar às características do(a) praticante. Por exemplo, imagine um praticante que tem dificuldade na troca de turno, ou seja, não tem iniciativa para interagir com o outro ao exprimir um desejo e/ou aguardar uma resposta. O objetivo da intervenção, portanto, é “aumentar a frequência de iniciativas em trocas de turno”, mas as estratégias utilizadas para criar atividades que permitam desenvolver essa competência, podem ser diversificadas. Isto ajuda a esclarecer que, para um mesmo objetivo, podemos ter diferentes estratégias, que variam de acordo com as necessidades dos praticantes, e podem ser ajustadas para propor atividades mais fáceis ou mais difíceis, de acordo com cada caso. Caso clínico do S.S.C.: planejamento terapêutico Para exemplificar o papel da avaliação no planejamento da interven- ção, apresentamos o caso de S.S.C., um menino de seis anos e onze meses de idade, com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, residente do estado de Tocantins. Durante a realização da anamnese, S.S.C.: demonstrou ter um comporta- mento tímido; não cumprimentou os avaliadores; permaneceu perto de pessoas familiares; para sentar-se no chão com a terapeuta e os brinquedos, precisou do apoio afetivo do irmão, que sentou junto com ele; não realizou contatos oculares duradouros; não mostrou iniciativa em brincar; não direcionou sua atenção para a avaliadora, e; não apresentou saudações e despedida. Existem diferentes formas para se avaliar a pragmática. Vamos descre- ver a forma como testamos e usamos a avaliação na Associação Nacional de Equoterapia, após reuniões de discussão com a equipe de equoterapia, para o projeto Comunicar com Equoterapia. O ambiente foi preparado para aplicação do PROC(8) com os seguintes cuidados: o local utilizado foi uma sala bem iluminada, com presença de poucos estímulos visuais; o local era silencioso; a avaliação não foi interrom- pida; o foco da sala foi direcionado para caixa colocada no chão, emcima de tatames, no centro da sala. Na sala de avaliação posicionamos um assistente para realizar a filma- gem. O assistente não interagiu com a criança em nenhum momento; a filma- gem, realizada durante 15 minutos, foi dirigida para captar gestos, emissões verbais e vocais, expressões faciais e a interação como um todo. A criança entrou em sala acompanhada do aplicador do PROC(9), caso necessário, pode- ria contar com a presença de algum familiar. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 45 Após aplicação do PROC(9), foi feita a transcrição pragmática de toda a interação entre a criança e as pessoas e/ou objetos presentes na sala. Cada ato comunicativo foi transcrito e avaliado de acordo com às habilidades comunica- tivas de interesse: iniciativa/resposta; funções da comunicação que foram uti- lizadas, e; meios de comunicação pelos quais o ato comunicativo foi expresso. A partir dos resultados do PROC, foram identificados os seguintes pre- juízos pragmáticos: 1. Baixa iniciativa na comunicação e na interação; 2. Ausência das seguintes funções comunicativas: instrumental, nomeação, interativa, informativa, narrativa; 3. Pouco uso do meio verbal, uma vez que o meio comunicativo pre- dominante foi o gestual. A partir dos prejuízos pragmáticos coletados pelo PROC e da proposta do Programa Passo a Passo na Comunicação, destacamos os seguintes exemplos: Quadro 1 – Exemplos de objetivos e estratégias, a partir da avaliação do PROC e do programa Passo a Passo na Comunicação Programa Passo a Passo na Comunicação Objetivos e estratégias definidas a partir da avaliação do PROC Objetivos Aumentar a iniciativa na comunicação Estratégias No local onde sempre o cavalo entra para iniciar a terapia, o mediador deve dizer “o cavalo está esperando lá fora, alguém precisa ir buscar”. É importante aguardar a atitude da criança. Caso ela não demonstre, o mediador deve incitar novamente e aguardar. Se a criança não demonstra iniciativa, o mediador repete a ação com mais intensidade. Se a criança ainda não tem iniciativa, o mediador assume o papel, perguntando “vamos buscar seu cavalo?”. Objetivos Aumentar o uso da função interativa Estratégias O mediador deve recepcionar a criança, colocando-se ao nível dela e se aproximar. Ele deve dar a oportunidade para a criança vivenciar a função interativa. Por exemplo, o mediador diz “oi”, acenando e falando de forma expressiva e aguarda a resposta da criança. Se criança não responde, o mediador repete a saudação. Se a criança não demonstra iniciativa, o mediador direciona a criança “fala oi, X (nome da criança)”. Se a criança ainda não corresponde, o mediador promove suporte necessário/possível para imitação. Objetivos Aumentar o uso da função nomeação Estratégias O mediador e o praticante devem alimentar o cavalo juntos. Durante a atividade, conversar sobre a alimentação focando no nome dos alimentos, estimulando, assim, a nomeação. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 46 Como acompanhar a aprendizagem e o desenvolvimento dos praticantes? Para verificarmos se houve aprendizagem nos praticantes, é importante realizar a mesma avaliação antes e depois da execução do Programa Passo a Passo na Comunicação. Dessa forma, poderemos entender com clareza quais habilidades e competências linguísticas as crianças com TEA aprenderam ao longo da equoterapia. Vamos exemplificar a avaliação dos resultados por meio da descrição dos resultados obtidos com a aplicação de dois instrumentos utilizados no projeto Comunicar com Equoterapia: PROC e ADL 2. Caso clínico do S.S.C.: formação das habilidades após equoterapia A Figura 3, a seguir, mostra o gráfico comparativo entre os resultados do praticante S.S.C. nas avaliações realizadas no início (Pré-intervenção) e ao final do Programa Passo a Passo na Comunicação (Pós-intervenção), o que permite verificar os efeitos obtidos após as 24 sessões de intervenção equo- terapêutica direcionadas para comunicação. S.S.C. apresentou progresso em todas as áreas avaliadas no PROC: habilidades comunicativas, compreensão verbal e desenvolvimento cognitivo. Figura 3 – Protocolo de Observação Comportamental (PROC) do praticante S.S.C., antes e após participação no projeto Comunicar com Equoterapia PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO COMPORTAMENTAL HABILIDADES COMUNICATIVAS COMPREENSÃO VERBAL ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Pré intervenção Pós intervenção 11 30 47 5 10 18 50 40 30 20 10 45 35 25 15 5 0 Em relação às habilidades avaliadas na ADL 2, de acordo com o gráfico da Figura 4, a seguir, S.S.C. apresentou: melhora na linguagem expressiva e estabilidade na linguagem receptiva. Esses resultados podem ser considerados E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 47 positivos, especialmente se considerarmos as dificuldades de expressão da linguagem oral em pacientes com TEA(8,15). Figura 4 – Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem 2 (ADL 2) do praticante S.S.C., antes e após participação no projeto Comunicar com Equoterapia Pré intervenção Pós intervenção AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM LINGUAGEM RECEPTIVA LINGUAGEM EXPRESSIVA 106 105 104 103 102 101 100 99 98 97 105 105 100 Nota: A diferença entre as datas da avaliação inicial e da final foi de 6 meses. Considerações finais Neste capítulo refletimos sobre a relevância do processo de avaliação para subsidiar a elaboração do planejamento e favorecer o acompanhamento da exe- cução do programa de acordo com as diretrizes do conceito de intencionalidade equoterapêutica. O processo avaliativo é extremamente importante para que a equipe do centro de equoterapia conheça bem o praticante, sua família e o con- texto no qual estão inseridos, assim como, para que seja realizado o ajuste neces- sário das sessões de equoterapia em função do progresso de cada praticante. Nos limitamos a tratar dos aspectos relacionados à comunicação, por- que essa é a finalidade principal do projeto Comunicar com Equoterapia. Entretanto, cada praticante tem as suas particularidades e especificidades, que devem ser também compreendidas pela equipe de equoterapia. Aspectos psi- comotores, perceptivos, de força muscular e de equilíbrio são alguns exemplos de componentes chaves que devem fazer parte do cotidiano dos centros de equoterapia, para que tenhamos cada vez mais práticas com intencionalidade, visando o melhor desenvolvimento possível de cada praticante. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 48 REFERÊNCIAS 1. WHO – World Health Organization. Classificação Internacional da Fun- cionalidade Incapacidade e Saúde : Versão para Crianças e Jovens. 2003; 2. Medeiros AM De. Caracterização de aspectos fonoaudiológicos segundo as categorias da Classificação Internacional de Funcionalidade, Inca- pacidade e Saúde para Crianças e Jovens (CIF-CJ) Characterization of communication disorders. 2018;1782(4):4–11. 3. Morettin M, Regina M, Cardoso A, Delamura AM, Zabeu JS, Célia R, et al. 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Diagnostic and statistical manual of mental disorders – DSM-5. 5th ed. Porto ASlegre: Artmed; 2014. 8. Fernandes FDM, de la Higuera Amato CA, Perissinoto J, Lopes-Herrera SA, de Souza APR, Tamanaha AC, et al. The role of the phonoaudiologist and the focus on ASD intervention. Codas. 2022;34(5):5–7. 9. Hage SR de V, Pereira TC, Zorzi JL. Protocolo de Observação Compor- tamental – PROC: valores de referência para uma análise quantitativa. Rev CEFAC. 2012;14(4):677–90. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 49 10. Menezes MLN. Avaliação do desenvolvimento da linguagem 2. Rio de Janeiro: Desenvolvimento; 2019. 11. Sparrow SS, Balla DA, Ciccheti D V. Escala de comportamento adapta- tivo. 2018;(Anexo C):1–11. Available from: https://mundoautista.files. wordpress.com/2010/04/17-vineland-escala-de-comportamento-adap- tativo.pdf 12. Murtagh L, Tillmann JE, Loth E, del Valle Rubido M, Eule E, San Jose Caceres A, et al. Adaptive behavior in autism: Minimal clinically impor- tant differences on the Vineland-II. Autism Res. 2017;11(2):270–83. 13. Autism Research Institute. Autism is Treatable (US): Autism Treatment Evaluation Checklist (ATEC). 2007. 14. Smith-lock KM, Leitao S, Lambert L, Nickels L. Effective intervention for expressive grammar in children with specific language impairment. 2013;265–82. 15. Robin L. Gabriels, Zhaoxing Pan, Briar Dechant, John A. Agnew, Natalie Brim GM. Randomized Controlled Trial of Therapeutic Horseback Riding in Children and Adolescents With Autism Spectrum Disorder. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2015;54(7):541–9. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Apresentação do programa Passo a Passo na Comunicação “Foi mais fácil do que eu imaginava.” Fala de uma das mães na despedida do Projeto Comunicar com equoterapia. “Passo a Passo na Comunicação” é um programa de equoterapia cujo objetivo é proporcionar aos equoterapeutas uma proposta estruturada com objetivos específicos e estratégias voltados para desenvolvimento e aprimo- ramento da linguagem oral. A partir da intencionalidade equoterapêutica1, avaliações iniciais para conhecer as crianças e suas famílias forneceram a linha de base para elaboração do planejamento da intervenção terapêutica. As avaliações incluíram a análise do contexto da criança e das habilidades linguísticas, como relatado no Capítulo 3. Com os dados resultantes dessas avaliações em mãos, podemos classificar as crianças em cinco grupos, tendo a gramática funcional como base. Figura 1 – Classificação em níveis para embasamento do planejamento terapêutico Níveis Compreensão semântica Expressão semântica Compreensão morfossintaxe Recepção morfossintaxe Nível 0 Reconhece poucos objetos. Crianças não verbais ou que se expressam apenas de forma vocal (sons não articulados ou articulados) ou por meio de muitas poucas palavras isoladas. --- --- Nível 1 Reconhece objetos e suas características. Expressa conhecimento de objetos e suas características. Reconhece palavras lexicais em enunciados de outros. Faz uso de palavras lexicais na formulação de seus enunciados de maneira coerente. Nível 2 Reconhece relação entre objetos – semelhanças e diferenças, comparações de medidas. Expressa relação entre objetos – semelhanças e diferenças, comparações de medidas. Reconhece palavras funcionais. Faz uso de palavras funcionais. Nível 3 --- Expressa relações entre eventos – relacionar eventos dentro do contexto e fora do ambiente --- Faz uso de duas orações de forma adicional. Ex: “O cavalo correu muito e saltou na pista) e de contraposição”, “O cavalo correu muito, mas não conseguiu saltar”. 1 Para maiores detalhes sobre intencionalidade na equoterapia, consulte o primeiro capítulo do livro (p. 20). continua... E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 54 Níveis Compreensão semântica Expressão semântica Compreensão morfossintaxe Recepção morfossintaxe Nível 4 --- Expressa relações inferenciais e metáforas --- Apresenta coerência e coesão textual entre orações na fala. Expressa sequência lógica dos fatos. O arcabouço teórico do programa se sustenta nas teorias sociointera- cionistas(1–3), na gramática funcional de Halliday(4), na exposição a oportuni- dades comunicativas(5) e na relação única entre humanos e cavalos(6). Dessa forma, o objetivo desse programa de intervenção é proporcionar vivências e oportunidades para o desenvolvimento linguístico e comunicativo de crianças com dificuldades na comunicação, em especial em seus aspectos pragmáticos, semânticos e sintáticos, por meio da relação entre criança, mediador e cavalo. O programa possui 8 módulos e 24 sessões (Figura 2). Figura 2 – Módulos e sessões do programa Passo a Passo na Comunicação EQUOTERAPIA E FONOAUDIOLOGIA: PASSO A PASSO NA COMUNICAÇÃO MÓDULO 1 – VIVENCIANDO A EQUOTERAPIA MÓDULO 2 – DESCOBRINDO O CORPO MÓDULO 3 – ANIMAIS MÓDULO 4 – ALIMENTAÇÃO MÓDULO 5 – LOCOMOVER- SE MÓDULO 6 – CUIDANDO DA HIGIENE MÓDULO 7 – PESSOAS AO MEU REDOR MÓDULO 8 – ENCERRAMENTO 1ª Sessão: Horsemanship 2ª, 3ª e 4ª Sessões: Conhecendo a equoterapia 5ª, 6ª e 7ª Sessões: Conhecendo o corpo 8ª, 9ª e 10ª Sessões: 8ª, 9ª e 10ª Sessões: Conhecendo os animais do Conhecendo os animais 10ª, 11ª e 12ª Sessões: Os alimentos/ Alimentação 24ª Sessões: Despedida do Programa 21ª, 22ª e 23ª Sessões: Pro�ssionais 16ª, 17ª e 18ª Sessões: Cuidados pessoais e com13ª, 14ª e 15ª Sessões: Meios de transporte o cavalo 20ª sessão: Banho no cavalo centro de equoterapia A seguir, apresentaremos os objetivos de cada módulo, dando exem- plos de atividades para caracterizar a conduta a ser adotada pela equipe de equoterapia no desenvolvimento das sessões do Programa Passo a Passo na Comunicação. É importante ressaltar que os objetivos são definidos de acordo com o nível da criança e isso fica evidente na descrição de cada um dos módulos. continuação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 55 Módulo 1: Vivenciando a equoterapia O módulo 1 é subdivido em Horsemanship (1ª sessão) e Conhecendo a equoterapia (2ª, 3ª e 4ª sessões). Horsemanship A 1ª sessão, chamada horsemanship, tem duração especial de 1 hora e 30 minutos e pode ser realizada em grupos pequenos. Figura 3 – Mediadoras recebendo praticante para iniciar sessão de equoterapia E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 56 Figura 4 – Praticante e mediadoras com o caderno de equoterapia iniciado no primeiro módulo do Programa Passo a Passo na Comunicação Figura 5 – Equitador interagindo com o cavalo em um redondel na primeira sessão do Programa Passo a Passo na Comunicação. Mediadores, praticantes e familiares assistem a esse primeiro momento Temos como objetivos e exemplos de atividades dessa sessão inicial: E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ouc om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 57 Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 1 Vivenciando a equoterapia – Horsemanship Objetivo Contextualizar o centro de equoterapia para criança e sua família Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Receber a criança e sua família com local já preparado, utilizando sempre frases muito curtas e acompanhadas de imagens para explicação Objetivo Iniciar a construção do caderno pessoal Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Fornecer um caderno para que a criança, a família e o mediador utilizem ao longo do programa Objetivo Explorar o ambiente do centro que será utilizado na equoterapia Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Apresentar o centro de equoterapia para as famílias Objetivo Conhecer a equipe, outras crianças e famílias Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Deixar que cada família se apresente. Aqui já pode ser iniciado o processo de reconhecimento de si próprio Objetivo Realizar aproximação agradável entre criança e cavalo2 Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O equitador faz um trabalho de horsemanship com aproximação gradual da criança Objetivo Ampliar campo compreensão semântica Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Relacionar as regras com figuras que podem ser coladas no caderno. Por exemplo, para explicar a norma de utilizar sapatos fechados, dar uma figura de sapatos para criança colar no caderno Lembre-se: cada atividade deve ser adaptada de acordo com o nível da criança! A construção do caderno é muito importante nesse processo terapêu- tico. Ele será utilizado ao longo do programa para auxiliar na relação entre o ambiente da equoterapia com os demais contextos da criança. Na pró- xima página, algumas fotos do caderno utilizado no projeto Comunicar com Equoterapia. 2 O passo a passo para realizar essa aproximação está descrito no Capítulo 5. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 58 Conhecendo a equoterapia As próximas sessões do primeiro Módulo, “Conhecendo a equoterapia” (2ª, 3ª e 4ª sessões) tem duração aproximada de 30 minutos e devem ser realizadas individualmente. Temos como alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 0: Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 1 Vivenciando a equoterapia – Conhecendo a equoterapia Objetivo Vivenciar funções pragmáticas: interativa, instrumental e heurística Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O mediador deve recepcionar a criança colocando-se ao nível dela e se aproximar. Ele deve dar a oportunidade para a criança vivenciar a função interativa. Por exemplo, o mediador diz “oi”, acenando e falando de forma expressiva e aguarda a resposta da criança. Se criança não responde, o mediador repete a saudação. Se a criança não demonstra iniciativa, o mediador direciona a criança “fala oi, X (nome da criança)”. Se a criança ainda não corresponde, o mediador promove suporte necessário/possível para imitação Objetivo Possibilitar ao praticante experimentar toda psicomotricidade e emoções iniciais envolvidas na primeira montaria: contato físico e emocional com o cavalo, equilíbrio, exploração das emoções e sentidos Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Dar ao praticante a possibilidade de experimentar o momento de montar e os primeiros passos do cavalo. Momento de trabalho do equilíbrio físico, do contato emocional com o cavalo e experimentação de emoções relacionadas ao montar Objetivo Introduzir campo semântico relacionado à equoterapia e ampliar habilidade morfossintática Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Ao chegar no local da montaria com o praticante, o mediador deve chamar pelo cavalo no nível da criança. No nosso exemplo (nível 0), mostrar o cavalo e dizer “olha, cavalo”. Em seguida chamar “vem cavalo”. Dar oportunidade para a criança chamar o cavalo também São outros objetivos dessa parte do Módulo 1: • Promover organização e previsibilidade; • Seguir instruções verbais; • Ampliar habilidade dialógica; • Ampliar campo semântico relacionado à equoterapia. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 59 Figura 6 – No picadeiro, mediador e praticante do Projeto Comunicar com Equoterapia chamam pelo cavalo Módulo 2: Conhecendo o corpo O módulo 2 é composto pelas 5ª, 6ª e 7ª sessões, com aproximadamente 30 minutos de duração; no quadro a seguir estão descritos alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 0. Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Facilitar contato ocular Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Ao recepcionar e cumprimentar a criança, o mediador deve se colocar na altura dela antes de começar a falar Objetivo Proporcionar organização e previsibilidade e promover relação lógica da linguagem Exemplo de atividade para criança no Nível 0 É importante que o mediador construa com a criança a ordem das ações que vão acontecer: “primeiro vamos colocar o capacete e depois subir no cavalo”. Como nosso exemplo é para uma criança de nível “0”, o mediador deve apontar para o capacete e para o cavalo enquanto faz a nomeação Objetivo Ampliação de campo semântico (novas palavras) dentro do Módulo 2 Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Ao fazer o ajuste do estribo, o mediador deve apontar para o pé da criança e nomear “pé” e repetir dizendo “coloca o pé”. Do outro lado, ofereça o modelo “coloca o pé” e aguarde. Realize suporte para ajudar a criança caso necessário E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 60 Veja que aproveitamos de um momento corriqueiro da equoterapia para dar ênfase e praticar a parte do corpo “pé”. O nome estribo não é importante para a criança no nível “0” nesse momento, seria muita informação. Ao sim- plificar dizendo “coloca o pé”, aumentamos a chance da criança reconhecer, e depois produzir, a palavra “pé”. Outros objetivos desse módulo incluem: • Ampliar campo semântico relacionado às partes do corpo (tanto compreensão quanto expressão) de acordo com o nível do praticante; • Desenvolver e ampliar as habilidades morfossintáticas de acordo com o nível do praticante; • Trabalhar localização; • Proporcionar oportunidades para uso da habilidade dialógica (ini- ciar uma conversa e/ou responder). Figura 7 – Praticante montado e o mediador apresentando figura da mão, correlacionando com essa parte do corpo da criança, referente ao Módulo 2 do Programa Passo a Passo na Comunicação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 61 Módulo 3: Conhecendo os animais O módulo 3 é composto pelas 8ª, 9ª e 10ª sessões, com aproximada- mente 30 minutos de duração, no quadro a seguir estão descritos alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 1: Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Promover vivências para a experimentação a iniciativa na habilidade dialógica (iniciar um tópico da conversa) Exemplo de atividade para criança no Nível 0 No local onde sempre o cavalo entra para iniciar a terapia, o mediador deve dizer que o cavalo está esperando lá fora, alguém precisa ir buscar. É importante aguardar a atitude da criança. Caso ela não demonstre, o mediador deve incitar novamente e aguardar. Se a criança não demonstra iniciativa, o mediador repete a ação com mais intensidade. Se a criança ainda não tem iniciativa, o mediador assume o papel perguntando “vamos buscar seu cavalo? ” Objetivo Desenvolver habilidade morfossintática – verbo andar Exemplo de atividadepara criança no Nível 0 O mediador cria encenação e expectativa sobre a saída do cavalo. O terapeuta deve narrar a sua atitude de andar e aguardar a criança – “vou dar uma volta, olha todo mundo está andando”. Caso a criança não tenha iniciativa, o terapeuta repete o modelo e oferece suporte. Como é um exemplo de nível 1, o modelo é “anda, cavalo” Objetivo Ampliar campo semântico animais Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O mediador precisa preparar previamente a trilha dos animais (colocar imagens de animais espalhadas por onde vocês passarão durante a terapia). À medida que for passando pelos animais, o mediador deve inicialmente trabalhar a compreensão, nomeando os animais para a criança. Em seguida, cantar a música “Seu Lobato”, ainda na trilha de animais. Deixar que a criança complete a música com o nome do animal Outros objetivos desse módulo incluem: • Conhecer os habitats naturais dos animais; • Promover conhecimento de proporções: grande e pequeno, pesado e leve; • Facilitar habilidades pragmáticas; • Possibilitar narrativa (dependendo do nível linguístico da criança). É importante destacar que dentro de todos os módulos e para cada obje- tivo específico, é preciso considerar as alterações a serem realizadas depen- dendo de como a criança evolui ao longo do programa. Ela pode ter começado no nível 0, mas passar para o nível 1 depois de algumas sessões, por exemplo. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 62 Figura 8 – Praticante montado e o mediador apresentando figura de animais, referente ao Módulo 3 do Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 4: Alimentação O módulo 4 é composto pelas 11ª, 12ª e 13ª sessões, com aproxima- damente 30 minutos de duração, no quadro a seguir estão descritos alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 1: Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Promover vivências para reconhecimento de si mesmo e do outro Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Com a criança montado, o auxiliar guia deve parar o cavalo em frente a um espelho posicionado no picadeiro de modo que a criança veja a si mesma e a todos (cavalo, guia e mediador). O mediador dá o modelo: “Essa sou eu” “Eu sou a xxxx” “quem é esse”, incentivando a criança a seguir o modelo Objetivo Desenvolver habilidade morfossintática – verbos subir e descer Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Logo antes de ir com o cavalo em local de aclive, o mediador oferece o modelo “sobe, cavalo”, e em declive “desce, cavalo”. Em seguida, o mediador deve dar oportunidade para a criança falar “sobe” no aclive e “desce” no declive Objetivo Ampliar campo semântico relacionado à alimentação Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O mediador e o praticante devem alimentar juntos o cavalo. Durante a atividade, conversar sobre a alimentação focando no nome dos alimentos (já que é uma criança de nível 1) E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 63 Para trabalhar mais a alimentação, também é interessante fazer uma trilha de alimentos, seguindo os moldes do que foi realizado para os animais. Outros objetivos desse módulo incluem: • Promover conhecimentos acerca dos alimentos; • Reconhecer que animais e seres humanos têm fome e se alimentam; • Facilitar habilidades pragmáticas; • Retomar atividades anteriores do caderno. Figura 9 – Praticante e mediadoras alimentando o cavalo, como previsto no Módulo 4 do Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 5: Locomover-se O módulo 4 é composto pelas 14ª, 15ª e 16ª sessões, com aproxima- damente 30 minutos de duração, no quadro a seguir estão descritos alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 2: Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Promover oportunidades para a criança usar da função instrumental (pedido) Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O mediador deve levar a criança para o local de colocar o capacete, deixando-o fora do alcance da criança. A narrativa dos fatos é muito importante. “Agora eu vou colocar o meu capacete... e você o seu”. Neste momento, aguardar a criança solicitar auxílio para pegar o capacete continua... E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 64 Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Desenvolver habilidade morfossintática – verbo andar Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O mediador precisa criar encenação e expectativa sobre a saída do cavalo. Em seguida, ele vai narrar a sua atitude de andar e aguardar a criança – “vou dar uma volta, olha todo mundo está andando”. O mediador deve inserir palavras funcionais uma vez que esse exemplo é para uma criança do nível 2. Ex: “Anda, cavalo. Anda para perto da porta”. O mediador deverá dar suporte para ajudar a criança caso seja necessário Objetivo Ampliar campo semântico relacionado à locomoção Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O mediador dispõe algumas figuras de meios de transporte, nomeia para a criança e em seguida a criança faz a nomeação. Em seguida, conversar sobre algumas características dos meios de transporte Vejam a diferença entre as atividades para a criança do nível 1 para o nível 2: no módulo 4 (exemplo de criança do nível 1), focamos na nomea- ção. No módulo 5 (exemplo de criança do nível 2), expandimos a atividade semântica dando também as características dos objetos. Outros objetivos desse módulo incluem: • Promover conhecimentos sobre meios de transporte e suas características; • Seguir instruções verbais; • Facilitar habilidades pragmáticas e dialógicas; • Retomar atividades anteriores do caderno. Figura 10 – Praticante montado conversando sobre meios de transporte, como previsto no Módulo 5 do Programa Passo a Passo na Comunicação continuação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 65 Módulo 6: Cuidando da higiene O módulo 6 é subdivido em “cuidados pessoais e cuidados com o cavalo” (17ª, 18ª e 19ª sessões) e “banho no boneco e no cavalo” (20ª sessão). Cuidados pessoais e cuidados com o cavalo A primeira parte do Módulo 6 é composta pelas 17ª, 18ª e 19ª sessões, com aproximadamente 30 minutos de duração, no quadro a seguir estão descritos alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 3: Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Ampliar estruturas morfossintáticas – pronome / verbo Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Para dar destaque ao pronome e verbo, o mediador precisa enfatizar sua fala e a resposta da criança precisa ser direcionada para o uso de um pronome e verbo. O terapeuta deve fazer uso de gestos. Ex: O terapeuta pergunta “você quer ir buscar o cavalo ou você quer esperar?” Objetivo Promover conhecimento e expressão de vocabulário relacionado à higiene Exemplo de atividade para criança no Nível 0 O mediador deve preparar uma trilha da higiene: (17ª sessão: lavar as mãos em cima do cavalo / 18ª sessão: escovar os dentes em cima do cavalo / 19ª sessão lavar as mãos e escovar os dentes em cima do cavalo). Como estamos com uma criança no nível 3 como exemplo, além de nomear os objetos, o mediador deve propor diálogos sobre as características dos objetos e sua importância Objetivo Possibilitar a experimentação no momento de montar com andadura diferente. Momento de trabalho do equilíbrio físico e emocional, bem como experimentar as sensações do momento Exemplo de atividade para criança no Nível 0 Deixar o praticante experimentar as emoções do trote. No final, perguntar como se sentiu, deixando queo praticante responda com suas próprias palavras Outros objetivos desse módulo incluem: • Promover o conhecimento acerca dos objetos e rotinas envolvi- das nos processos de higiene pessoal: lavar as mãos e escovar os dentes; • Perceber as condições de higiene do corpo do animal, passando pelos dentes e patas; • Facilitar conceitos de limpo e sujo, seco e molhado, vazio e cheio; • Facilitar habilidades pragmáticas e dialógicas; E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 66 • Retomar atividades anteriores do caderno, relacionando a higiene pessoal discutida nas sessões com as realizadas em casa. Cuidados pessoais e cuidados com o cavalo A segunda parte do Módulo 6 é composta pela 20ª sessão, com apro- ximadamente 1 hora de duração. Essa sessão pode ser realizada em dupla e tem como passo a passo: 1. O mediador faz o recebimento a família estimulando cumprimen- tos e percepção do outro; 2. O mediador deve então apresentar o quadro de rotina do dia, mos- trando que será uma sessão diferente; 3. O praticante e o mediador dão banho no boneco juntos. Durante a atividade, as seguintes habilidades devem ser trabalhadas: nomea- ção, reconhecimento corporal, sequência lógica e narrativa; 4. O praticante e o mediador dão banho no cavalo juntos. Durante a atividade, as seguintes habilidades devem ser trabalhadas: nomea- ção, reconhecimento corporal, sequência lógica e narrativa. Figura 11 – Praticante e mediadoras dando banho no cavalo, como previsto no Módulo 5 do Programa Passo a Passo na Comunicação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 67 Módulo 7: Pessoas ao meu redor O módulo 7 é composto pelas 21ª, 22ª e 23ª sessões, com aproxima- damente 30 minutos de duração, no quadro a seguir estão descritos alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 4: Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Promover oportunidades para a criança usar da função instrumental Exemplo de atividade para criança no Nível 4 O mediador deve aguardar a iniciativa da criança em montar no cavalo. Para isso, ele deve indicar o local de montaria, estar próximo ao cavalo para que a criança tenha iniciativa em montar. Caso a criança não tenha iniciativa ou não peça ajuda, o terapeuta pergunta se a criança quer subir Objetivo Desenvolver habilidade morfossintática – verbo andar Exemplo de atividade para criança no Nível 4 Ao ajustar o encilhamento no início da sessão, o mediador deve dar oportunidades para a criança elaborar falas longas. O mediador pode perguntar, por exemplo, “Por que você precisa colocar o pé no estribo?”. Dar suporte para criança quando necessário Objetivo Ampliar campo semântico relacionado a profissões Exemplo de atividade para criança no Nível 4 O mediador deve dispor figuras de médico e médico veterinário nos locais onde for passar com a criança (no picadeiro, por exemplo). Como estamos em um exemplo de uma criança de nível 4, além da nomeação, de falar sobre as características das duas profissões e conversar sobre a importância dela, extrapolar o ambiente da equoterapia e falar de outros contextos importantes para atuarem Outros objetivos desse módulo incluem: • Estimular o conhecimento das profissões e suas características; • Expandir o uso de verbos a partir das ações dos profissionais; • Ampliar conceito semântico rápido e devagar • Fazer uso das habilidades pragmáticas. • Retomar atividades anteriores do caderno. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 68 Figura 12 – Praticante e mediadoras conversando sobre quem cuida da saúde do cavalo, médico veterinário, como previsto no Módulo 7 do Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 8: Despedida O módulo 8 é composto pela 24ª sessão, com aproximadamente 30 minutos de duração, no quadro a seguir estão descritos alguns objetivos e exemplos de atividades para crianças do nível 4: Programa Passo a Passo na Comunicação Módulo 2 Conhecendo o corpo Objetivo Retomar o conhecimento adquirido ao longo do programa. O mediador deve preparar a trilha da despedida antecipadamenteE di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 69 Exemplo de atividade para criança no Nível 4 O mediador vai buscar as imagens junto com a criança e conta uma história. Exemplo: Era uma vez um menino que foi para a equoterapia, lá ele conheceu um cavalo (imagem). Eles foram passear (imagem). No meio do caminho encontraram um porco e um cachorro (imagem). Os três estavam com muita fome (imagem). Eles foram procurar comida na floresta e encontraram uma horta (imagem). O cavalo comeu uma cenoura (imagem). O porco comeu uma banana (imagem). O cachorro comeu um milho (imagem) e o menino comeu um tomate (imagem). Eles estavam muito cansados (imagem) e decidiram voltar para casa de caminhão (imagem). Chegando em casa foram tomar banho (imagem). Depois se despediram (imagem) e foram dormir (imagem). O mediador deve nomear junto com o praticante todos os fatos expostos nas imagens das histórias. É importante que o mediador chame a atenção para as imagens e aguarde a iniciativa da criança em realizar comentários. Se ela não o fizer, o mediador pode auxiliar com perguntas e depois com modelo. Outra forma de dar apoio é comentando partes das imagens e instigar a criança a terminar a história Outros objetivos desse módulo incluem: • Retomar os conhecimentos adquiridos; • Promover o uso das habilidades pragmáticas; • Conversar com os pais sobre a importância de retomar todo o caderno. Figura 13 – Praticante e mediadoras conversando sobre o projeto Comunicar com Equoterapia, como previsto no Módulo 8 do Programa Passo a Passo na Comunicação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 70 Considerações finais Neste capítulo apresentamos o programa de intervenção em equoterapia Passo a Passo na Comunicação, que foi testado anteriormente no formato de estudo piloto(7,8) e teve a análise da aplicação completa descrita no Capítulo 5 deste livro. Todos os módulos foram apresentados com seus objetivos e exemplos de estratégias. Para cada módulo, sugerimos estratégias para dife- rentes níveis, de 0 a 4. É importante que o mediador conheça seu praticante para sempre adaptar a melhor estratégia para o objetivo traçado, lembrando de reavaliar constantemente a evolução da criança. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 71 REFERÊNCIAS 1. Vygotsky LS. Pensamento e linguagem. Fontes M, editor. São Paulo; 1989. 2. Vygotsky LS, Cole M. Mind in society: Development of higher psycho- logical processes. Harvard university press; 1978. 3. Lisnia M. Problemas y objetivos del estudio de la comunicación en los ninos. In: Antrología del desarrollo psiciológico del nino en edad prees- colar. Puebla: Editorial Trillas; 2010. p. 87–95. 4. Halliday MAK, Matthiessen MIM. Halliday’ s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. London and New York: Routledge Taylor and Francis Group; 2014. 808 p. 5. Smith-lock KM, Leitao S, Lambert L, Nickels L. Effective intervention for expressive grammar in children with specific language impairment. 2013;265–82. 6. Malcolm R, Ecks S, Pickersgill M. “It just opens up their world”: autism, empathy, and the therapeutic effects of equine interactions. Anthropol Med. 2017;0. 7. Ramos MEV, Benito AL., Pedra AC, Nobre FC, Rodrigues MM, Celeste LC. Análise dos atos comunicativos em crianças com transtornodo espec- tro autista após intervenção em equoterapia. In: Anais científicos do XXVII Congresso Brasileiro e V Congresso Íbero Americano de Fonoaudiologia [Internet]. Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia; 2020. Available from: https://www.sbfa.org.br/plataforma2020/trabalhos-consulta 8. Pedra AC, Nobre FC, Couto-Vale D, Rodrigues MM, Celeste LC. Equo- terapia e intervenção fonoaudiológica: análise da evolução linguística via pés rítmicos. In: Anais científicos do XXVII Congresso Brasileiro e V Congresso Íbero Americano de Fonoaudiologia [Internet]. Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia; 2020. Available from: https://www.sbfa. org.br/plataforma2020/trabalhos-consulta E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Introdução Neste capítulo, vamos compartilhar alguns conhecimentos chaves sobre um dos personagens principais do método equoterápico: o cavalo, este ser maravilhoso que interage com o ser humano há milênios, desempenhou um papel chave na história de diversas culturas e possibilitou a realização de uma ampla variedade de atividades, entre elas as práticas esportivas e terapêuticas, que são o nosso foco de atenção. No caso específico da equoterapia(1), compreendemos o cavalo como o mediador principal, pois é a partir da interação com ele que os praticantes, pes- soas com deficiência ou com alguma patologia, têm acesso aos benefícios cor- porais, psicoemocionais, sociais e, em especial para esse livro, comunicativos. Devido ao porte físico do cavalo e as características do seu comportamento na interação com as crianças, são estabelecidos vínculos afetivos importan- tes que empoderam os praticantes, que se sentem mais fortes e confiantes. A equitação, portanto, oferece um conjunto de experiências significativas que influenciam diretamente na definição da identidade que o praticante tem de si mesmo, como também, na maneira como é visto pelos outros, principalmente, outras crianças. Na equoterapia, recorremos a diversas estratégias com o propósito de fazer a conexão do praticante com o cavalo. Existem desde cuidados prévios de treinamento do cavalo até diversas atividades a serem realizadas no solo e sobre o cavalo, definidas de acordo com as características específicas de cada praticante e os sintomas do quadro clínico relacionado com a deficiência ou a patologia. Ao defender a centralidade do cavalo na proposta de intervenção, amplia- mos as atividades de forma a incluir, por exemplo: a) a possibilidade de dar algo que é recebido com prazer pelo outro, como é o caso da comida, do carinho, de um banho; b) a necessidade de conviver com o suor, a saliva e as fezes (algo que é rejeitado socialmente, mas que, na equoterapia, é visto como parte da natureza); c) a importância de observar e respeitar o outro, no caso o cavalo, como também os seus próprios limites corporais; d) os cuidados com o uso do equipamento adequado e com a segurança do praticante, do cavalo e da equipe multidisciplinar de atendimento; e) a oportunidade do contato com a natureza e da interação social com uma equipe sensível e acolhedora(2) (p. 16). A afirmação supracitada é um bom exemplo da proposta de atendimento prevista no protocolo da pesquisa sobre a influência da equoterapia nas E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 76 habilidades de comunicação das crianças com TEA, que dedica uma atenção especial à aproximação e à interação com o cavalo, paralelo às atividades de equitação. Para atingir esses objetivos, a ANDE-BRASIL recomenda o método horsemanship para orientar a escolha e o treinamento dos equinos, como também, para a seleção das estratégias mais indicadas para promover a aproximação dos praticantes ao cavalo. O termo horsemanship tem sido largamente utilizado no Brasil para designar um conjunto de técnicas para o adestramento de cavalos, utilizadas por treinadores e praticantes de equitação, que optam por criar um relacio- namento com o cavalo pautado na confiança, o que resulta em um comporta- mento dócil, que garante maior segurança e facilita a realização de diversas atividades equestres, seja no trabalho, no esporte ou na terapia. Essa abordagem, no entanto, é antiga, Xenofon, discípulo de Sócrates, escreveu o primeiro tratado sobre o assunto e mostra a importância de o treinador conhecer profundamente o comportamento e o temperamento de cada cavalo, a fim de construir um bom relacionamento com ele, de forma a educá-lo respeitando a sua natureza(3). A tradução literal de horsemanship é o relacionamento entre o cavalo e o homem. Em meados do século passado, domadores e treinadores de cavalos americanos começaram a difundir uma nova abordagem de apro- ximação e contato com os cavalos, considerando os princípios da etologia3, que descrevem seus instintos como típicos dos animais que são presas. Essa abordagem, viabiliza a domesticação, doma e treinamento do cavalo com respeito à sua natureza e sem nenhum tipo de agressão, primando por um relacionamento que se aproxima mais de uma parceria do que uma intera- ção centrada no domínio. Entre esses domadores e treinadores destaca-se Monty Roberts, e sua experiência está descrita no livro “O Homem que Ouve Cavalos”(4). Recentemente, Gregory Wathelet, vice-campeão europeu em 2015, ganhador do Rolex Grand Prix em Aachen em 2017 e consagrado campeão europeu em equipe em 2019, definiu em entrevista para a publicação World Of Jumping, em 2021, que: o bom horsemanship é ter um conhecimento real sobre cavalos. Diz res- peito a tudo sobre esses animais, desde o desenvolvimento, a equitação, o treinamento, como cuidar, como casquear e como alimentá-los. Na minha opinião, o cavaleiro que sabe o que é um bom horsemanship é um cavaleiro 3 Ramo da Biologia que se dedica ao estudo do comportamento social e individual dos animais em seu meio ambiente natural. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 77 que sabe cuidar dos cavalos e sabe exatamente das suas necessidades. Sabe o que fazer e porque faz(5). Ao entender e respeitar a natureza do cavalo, do ponto de vista dos comportamentos, dos hábitos e da comunicação, esses precursores do horse- manship foram capazes de revolucionar tudo o que até então se conhecia a respeito desses animais e da sua relação com o homem, indicando a adoção de um conjunto de práticas de não agressão, centradas na construção de uma confiança mútua, de maneira que os próprios cavalos encontrassem junto ao homem o seu parceiro, bem como, um ambiente caracterizado pelo conforto e pela segurança. O advento do horsemanship contribuiu para que as diversas pessoas que lidam com o cavalo fizessem uma reflexão sobre suas estratégias de doma e treinamento, passando a seguir esses princípios. Os resultados foram surpreen- dentes e reforçaram a urgência da correção de antigos hábitos, nocivos aos cavalos, o que está em total sintonia com as atuais preocupações pertinentes ao bem-estar animal. Na perspectiva recomendada pela ANDE-BRASIL, o termo chave do horsemanship é “relacionamento”, o que deixa evidente que não se trata, apenas, de um conjunto de técnicas, mas de uma mudança na maneira como se compreende o cavalo, que deve ser visto como um parceiro inigualável, que complementa o ser humano e amplia consideravelmente as suas possibi- lidades de ação, mas também, como alguém que está sob os nossos cuidados e merece uma atenção especial para as suas necessidades. A ANDE-BRASIL, em 2022,completa sete anos de experiências prá- ticas bem-sucedidas com a aplicação do horsemanship aos seus cavalos. Atualmente, no conteúdo programático dos cursos de formação de equita- dores em equoterapia existe uma disciplina que versa sobre os princípios teóricos e práticos do horsemanship. Essa iniciativa possibilita a dissemi- nação desses saberes para centenas de profissionais de todo o Brasil que buscam a ANDE-BRASIL para o aperfeiçoamento de seus conhecimentos sobre a equoterapia. No entanto, cumpre esclarecer que a recomendação que fazemos do hor- semanship no presente capítulo não pretende entrar em conflito e contradizer outras técnicas e abordagens também utilizadas com sucesso no Brasil. Nosso país é rico em culturas equestres e respeitamos todas elas. Nossa intenção é compartilhar uma experiência que vem obtendo resultados importantes no contexto da equoterapia para o convívio entre o cavalo e o ser humano. Sendo assim, o horsemanship oferece uma alternativa adicional para o treinamento E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 78 do cavalo, o que amplia o acervo de práticas a serem utilizadas por todas as pessoas que amam o cavalo e se relacionam com ele. Os conhecimentos preconizados pelo horsemanship têm sido aplicados nos projetos de pesquisa e de intervenção que a ANDE-BRASIL conduz, como é o caso do estudo intitulado “Comunicar com Equoterapia”, que une o cavalo a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essas crianças extraordinárias – cada uma com seu perfil, personalidade, histó- rico e temperamento – encontram na relação com o cavalo e com a equipe de equoterapia, uma oportunidade singular para vivenciar experiências de aprendizagem que mobilizam suas sensibilidades, expressões, movimentos, pensamentos e sentimentos. Todos nós – crianças com TEA, equoterapeuta e familiares – fomos, de diferentes maneiras, impactados por essas experiên- cias, que repercutiram em nossas vidas. Não temos dúvida de que a imagem e o contato com o cavalo agregaram aprendizados importantes para o dia a dia desses praticantes. Os cavalos utilizados no projeto “Comunicar com Equoterapia” foram treinados com a orientação da ANDE-BRASIL, usando os princípios do hor- semanship. Foram cavalos que se mantiveram calmos e pacientes diante da variedade de comportamentos e reações das crianças com TEA; para muitas delas, a equoterapia possibilitou o seu primeiro contato com um cavalo. A figura do treinador-equitador esteve sempre presente durante as sessões, e a sua mediação foi crucial para garantir o apoio e a segurança que tanto o cavalo como a criança necessitavam. Os praticantes, ao longo da intervenção equoterápica, foram colecionando experiências inesquecíveis, seja no picadeiro ou nas trilhas em contato direto com a natureza; a equipe de equoterapia teve a oportunidade de aprofundar seu envolvimento com os cavalos e, aos poucos, conhecer melhor cada uma das crianças com TEA, de forma a desenvolver estratégias cada vez mais eficientes para sua participação efetiva nas sessões. Os próprios cavalos, prin- cipais agentes de toda a magia da equoterapia e o ponto chave do protocolo experimental, foram devidamente recompensados com atenção e o carinho de todos os envolvidos. Isso é o que a equoterapia proporciona a todos os envolvidos no processo. Particularmente, no projeto “Comunicar com Equoterapia”, a preparação do cavalo para se relacionar com crianças autistas, que podem apresentar comportamentos diferenciados, mostrou-se extremamente útil e necessária. A plenitude da experiência proposta pela equoterapia pressupõe a existência de um cavalo apto a se relacionar com crianças que tenham personalida- des tão distintas, que podem ter atitudes inesperadas, que variam desde uma E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 79 curiosidade infantil associada a falta de uma noção do risco, até o receio do desconhecido e a relutância em fazer a aproximação, que pode estar acom- panhada de choro e gritos. A escolha do cavalo A escolha do cavalo para interagir com crianças autistas deve ser feita considerando, de um lado, as peculiaridades desse quadro clínico e, de outro, o temperamento do cavalo. Uma escolha inadequada pode gerar um estresse para o cavalo, uma dificuldade extra para a equipe de equoterapia e uma experiência desagradável para as crianças, que pode ser traumática e, por- tanto, difícil de ser superada. Além das dificuldades, a escolha inadequada também pode resultar em um risco para a integridade física e a segurança de todos os envolvidos. O cavalo a ser utilizado na equoterapia para crianças com TEA precisa ser especial: é preciso avaliar o seu comportamento diante de situações inusitadas, quando ocorrem gritos, choro, movimentos brus- cos e até empurrões, socos ou tapas; o cavalo deve reagir a tais situa- ções com passividade e sem se assustar, demonstrando total confiança no equitador. Como se tratava de uma pesquisa, onde os parâmetros da intervenção equoterápica deveriam seguir um padrão, que permitisse fazer a comparação das diferenças entre os grupos experimental e controle, foram feitas suges- tões aos equitadores dos polos que participaram da amostra do estudo, a fim de uniformizar algumas características dos cavalos, em relação aos aspectos comportamentais e físicos dos equinos. No tocante aos aspectos comportamentais, os cavalos deveriam ser dóceis, adestrados, calmos e sem vícios comportamentais. No caso dos aspec- tos físicos, os cavalos deveriam ter uma altura entre 1,40m e 1,52m (medida do chão, junto aos anteriores do cavalo, até o ponto mais alto do garrote ou cernelha), sem defeitos físicos, com garrote pouco saliente, dorso plano, idade superior aos 5 anos, macho, castrado e que realizassem as três andaduras: passo, trote e galope, consideradas como requisitos para atender ao protocolo de atendimento dos praticantes(6). Na equoterapia, a utilização de um cavalo adequadamente formado cria inúmeras opções de atividades para os diversos tipos de deficiências e patologias. No caso específico do projeto “Comunicar com Equoterapia”, que teve a participação de crianças com TEA, a escolha do cavalo adequado fez toda a diferença. Os cavalos que participaram do estudo proporciona- ram aos praticantes experiências diversificadas que mobilizaram todos os E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 80 sentidos do corpo, além do prazer de estar em contato com um animal tão forte e precioso. Preparação do cavalo e do ambiente de trabalho Na experiência do projeto Comunicar com Equoterapia verificamos que no processo de preparação do cavalo convém realizar, previamente, treinamentos com os animais que serão utilizados nas sessões de equote- rapia. É fundamental e educativo, que o equitador tenha a oportunidade de conhecer algumas crianças com TEA previamente para que avalie quais são as situações com as quais ele e o cavalo terão que aprender a lidar. Esse princípio vale também para o próprio cavalo, pois o equitador deve observar atentamente as suas reações para familiarizar-se com seu tem- peramento. Por último, essa experiência prévia contribui para definir e deixar claro para todos na equipe de equoterapia, qual é o papel a ser exercido pelo equitador a fim de promover e monitorar a aproximação dos praticantes com o cavalo. Aprendemos, por exemplo, que a preparação do cavalo e do local para a realização da equoterapia é algo que deve ser incluído no protocolo de atendimento, pois deve iniciar pelo menos uma hora antes do horário previsto para o atendimento. Para evitar que ocorram improvisações que aumentem o risco de situações indesejáveis, é importante, por exemplo, que o equitador verifique se o cavaloestá descansado, bem alimentado, sem nenhum descon- forto aparente ou comportamentos atípicos, como também, se as condições do local estão adequadas, ou se existe algo que, potencialmente, pode gerar estresse para o cavalo. Com relação ao cavalo, em primeiro lugar, verificamos as condições dos cascos, elemento que deve receber uma atenção especial e muitas vezes é negligenciado. Se o cavalo não usa ferraduras, sempre verificamos se o casco está corretamente casqueado, isso significa que as paredes devem estar sem pontas, bem como, a sola e as barras devem ficar sem excessos. O casco, se necessário, pode sofrer correções antes do atendimento, desde que o casqueamento seja leve e corretivo; é contraindicado realizar cas- queamento que deixe o casco sensível de forma a afetar o movimento do cavalo. Caso o cavalo use ferraduras, verificamos se essas estão bem fixas. Por fim, a limpeza da ranilha garante que o casco não tenha objetos como pedras ou pedaços de madeira que possam prejudicar a andadura natural do cavalo. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 81 Em seguida, asseguramos que o cavalo estivesse limpo e escovado. Pre- ferencialmente, optamos por não utilizar produtos de limpeza que pudessem ter odores fortes para não criar rejeição do praticante. Na avaliação do ambiente, um dos aspectos considerados foi a pre- sença de moscas em excesso, por ser algo que irrita o cavalo e afeta o seu temperamento. De acordo com a situação, recorremos ao uso de uma máscara protetora para a cabeça no cavalo, de maneira a poupá-lo do incômodo de espantar moscas o tempo todo. Esse foi um pequeno inves- timento que rendeu muitos benefícios, principalmente para o bem-estar do cavalo. Atentamos também para as condições do ambiente nas quais o cavalo aguarda para o início do atendimento. Procuramos um local tranquilo, livre de qualquer tipo de estresse, onde o cavalo pudesse pastar junto ao profissio- nal de equitação, ou ao guia, para reforçar o vínculo entre eles e transmitir para o cavalo a segurança de que vai estar junto com alguém que ele já conhece e confia. Por último, verificamos se as ferramentas básicas de trabalho estão dis- poníveis e de fácil acesso, tais como: chicote longo e chicote curto, que funcionam como extensão do braço do equitador; cabresto com guia longa e outros itens que se mostrem importantes na relação com o cavalo de forma a garantir a preparação do conjunto treinador-cavalo para o melhor atendimento possível às crianças com TEA Apresentação do cavalo às crianças e aos pais ou responsáveis Apresentar o cavalo aos pais e às crianças com TEA, e ao mesmo tempo, criar familiaridade do cavalo com as crianças, foi o primeiro passo para promover a aproximação entre eles. A nossa meta foi realizar algumas atividades em que estivessem separados, de modo a gerar curiosidade e, gradativamente, criar atividades nas quais tivessem que se aproximar um do outro. Essa fase contribuiu, ao mesmo tempo, para que o profissional de equitação conseguisse entender o tipo de comportamento do grupo de crianças com TEA e as variações que poderiam ocorrer. A apresentação foi realizada fora e dentro do redondel, circulando o cavalo ao passo com o equitador puxando-o pela guia do cabresto. Não foi necessário que o equi- tador fizesse qualquer comentário ao grupo, pois a cena em si é que iniciou o processo de atendimento. Terminada a apresentação, o cavalo foi colocado no centro do redondel e o equitador se dirigiu ao grupo de pais e crianças para explicar o tipo de E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 82 trabalho que seria realizado com o cavalo. Foi a oportunidade de expor, em breves palavras, os princípios do horsemanship, para demonstrar a existência de uma relação de respeito e de confiança entre o cavalo e o equitador, como também, que o equitador, com sua experiência, vai figurar, continuamente, como mediador entre o praticante e o cavalo. Esses procedimentos iniciais garantiram condições apropriadas para que as crianças pudessem se aproximar e interagir com o cavalo de forma livre, guiadas pela curiosidade, podendo explorar espontaneamente o corpo do cavalo; algumas crianças circularam próximas ao cavalo e, quando cha- madas, tocaram e “conversaram” com o cavalo. Os cavalos, por sua vez, mantiveram-se calmos e confiantes. Para os pais e responsáveis que estavam acompanhando as crianças, as atividades de aproximação demonstraram que: os cavalos recebem um treinamento especial; que os profissionais têm experiência e sabem lidar com o cavalo; que as crianças estão seguras e todos os cuidados são tomados para que não fiquem expostas a riscos para sua integridade física e psicológica. Apresentação de controle do movimento do cavalo Um dos principais objetivos do método horsemanship é que o controle dos movimentos do cavalo seja decorrente de uma integração do cavalo com o equitador, o que destaca a comunicação entre eles. Como o foco da intervenção é justamente o processo de comunicação, a demonstração de que o equitador orienta o cavalo sobre o que deve fazer e, em contrapartida, o cavalo entende e obedece aos comandos do equitador, além de ser um momento de rara beleza, pois os movimentos do cavalo são majestosos, são claramente uma demonstração de parceria, quando o cavalo, após rea- lizar alguns movimentos, caminha espontaneamente para o equitador ao seu chamado. As atividades de apresentação do cavalo para as crianças e os pais e foram breves, pois o objetivo principal era viabilizar o contato das crianças com o cavalo. Primeiro deixamos o cavalo em liberdade no redondel; em seguida, fizemos o cavalo caminhar ao passo em uma direção e, após uma ou duas voltas, mudar para a direção oposta; essa mudança de direção ao passo foi repetida duas vezes; repetimos o mesmo exercício ao trote e ao galope, de forma a explorar as três andaduras naturais do cavalo; o aumento progressivo da velocidade cria a expectativa de um clímax, que encanta a plateia. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 83 Após termos demonstrado a sintonia e a liderança na relação entre equitador e cavalo, diminuímos o ritmo dos movimentos e retiramos a pressão sobre o cavalo, tranquilizando-o. Esse foi o indicador para ini- ciar a aproximação entre o cavalo e as crianças com TEA. Vamos descre- ver a cena: • o equitador estende a mão na direção do focinho do cavalo, como se tivesse uma corda imaginária vinculando um ao outro; em seguida, faz um movimento como se estivesse puxando essa corda ao seu encontro; • normalmente, o cavalo diminui o ritmo até parar e olhar na direção do equitador; • o equitador, parado na frente do cavalo, larga o chicote de trabalho, abaixa a cabeça, olha para baixo e, lentamente, caminha em direção ao cavalo, que permanece parado; • ao chegar bem próximo, o equitador afaga a testa do cavalo, que se mantém receptivo; neste ponto, ligados pelo gesto de carinho, equitador e cavalo demonstram respeito mútuo; • o equitador se vira lentamente, ficando de costas para o cavalo, com os ombros na altura do focinho, e caminha afastando-se sem olhar para trás; • o cavalo, espontaneamente, acompanha o equitador caminhando atrás dele; • o equitador, após alguns passos, interrompe a caminhada e se vira novamente de frente para o cavalo, que também fica parado na sua frente; • por último, o treinador toca em diversas partes do corpo do cavalo, principalmente as partes nas quais as crianças estariam em contato, como: pescoço, dorso, garupa, flanco, pernas e cascos. Finalizadas essas atividades, tudo pronto para a próximafase. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 84 Figura 1 – Conexão do equitador com o cavalo pelo método Hosermanship Recepção das crianças A recepção das crianças com TEA, assim como as sessões de equoterapia, foram realizadas individualmente, logo, não deve ser feita com um grupo numeroso de crianças, para que não fiquem muito tempo esperando, o que pode prejudicar a aproximação com o cavalo. Nossa experiência nos ensinou que se deve evitar que os pais acompa- nhem as crianças ao picadeiro. O ideal é que o equitador assuma a responsa- bilidade de se aproximar da criança e de fazer a mediação dela com o cavalo, o que contribui para estimular autonomia e liberdade de ação das crianças, independente da companhia dos pais. Temos que lembrar que os pais não vão estar presentes nas sessões de equoterapia. Na verdade, quando recor- remos a estratégias de apoio para a participação das crianças, devemos estar conscientes de que é um processo em duas etapas: a primeira, alcançar um objetivo por meio do apoio (como por exemplo, a presença dos pais favo- recendo a aproximação com o cavalo), mas, uma vez alcançado o objetivo, inicia a segunda etapa, retirar o apoio para que o objetivo seja alcançado de forma autônoma. Sendo assim, o apoio apenas deve ser utilizado quando E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 85 não for possível realizar diretamente a atividade, caso contrário, damos início a um processo mais demorado, em duas etapas, que às vezes, nem era necessário. Em todos os atendimentos, o equitador recebeu as crianças no pica- deiro, acompanhadas de um dos membros da equipe de equoterapia. Verifi- camos que o primeiro passo foi estabelecer um vínculo entre a criança com TEA e o equitador, ao invés de levar a criança para um contato direto com o cavalo. Dessa maneira, o equitador, que a criança já viu se relacionando com o cavalo, transforma-se no elo entre ela e o cavalo. Na aproximação com a criança com TEA, nos agachamos para que o olhar estivesse no mesmo nível com o da criança, estendemos os braços e esperamos que a criança viesse até nós para um abraço. Sem perda de tempo, de acordo com o tamanho da criança, entramos no picadeiro com a criança no colo ou de mãos dadas, com o cuidado de permanecer em uma posição intermediária entre o cavalo e a criança. Utilizando uma linguagem carinhosa e afável, levamos a crianças até o cavalo. A Figura 2 mostra uma foto que registra um desses momentos. Figura 2 – aproximação da criança ao cavalo por meio Hosermanship E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 86 Exercício de contato com o cavalo A interação com o cavalo ocorreu de diversas maneiras, que variaram de acordo com a posição: no solo ou no colo, e com a iniciativa da criança com TEA: de forma independente ou com a mediação do equitador. Seja no solo ou no colo do equitador, as crianças foram orientadas a explorar e conhecer o corpo do cavalo, começando pela crina, o dorso, a garupa, a cauda, a cernelha e, por último, a cabeça. Algumas crianças movidas pela curiosidade foram independentes e fizeram essa exploração sem qualquer ajuda do equitador, que permaneceu ao lado fazendo apenas a supervisão. Outras precisaram do apoio do equitador que, primeiro tocava o cavalo e depois convidava a criança a fazer o mesmo; em algumas situações, as crianças pegaram no braço do equitador enquanto ele tocava o cavalo, como se a mão do equitador fosse uma extensão da sua mão. No caso das crianças que demonstraram maior autonomia, geralmente elas quiseram montar o cavalo de imediato e, como esse era nosso objetivo final, essa oportunidade não foi desperdiçada. A Figura 3 mostra uma foto que registra um desses momentos. Figura 3 – Contatos iniciais entre a criança com TEA e o cavalo durante as atividades de horsemanship E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 87 Figura 4 – Praticante, mediadora e equitador explorando o cavalo Em nossa experiência no projeto Comunicar com Equoterapia, pou- cos praticantes não se interessaram em montar o cavalo logo de início, logo, as estratégias sugeridas foram eficientes para motivar as crianças com TEA a conhecerem algo novo, o que revela o encantamento que o cavalo exerce sobre elas, pois a curiosidade foi maior que a resistência que costumam apresentar quando a sua rotina é modificada. As experiên- cias táteis de contato com o pelo do cavalo, olfativas com o cheiro do cavalo, auditivas com os sons que o cavalo emite, visuais com o tama- nho do cavalo e a mudança do seu ângulo de visão das coisas quando está montada, além do calor ao abraçar o pescoço ou se deitar sobre o dorso do cavalo, proporcionaram para as crianças a oportunidade de conhecer melhor o seu próprio corpo e de interagir com o “outro”, ques- tões que têm um forte impacto sobre o desenvolvimento das crianças com TEA. Na próxima etapa, com a criança montada, iniciamos o movimento de equitação a passo. Seguramos firmemente a criança pelo quadril e pernas, contado com o apoio de outro mediador posicionado do lado oposto. Esse ponto marca o início do protocolo de intervenção equoterápica, logo, dos estímulos que a pesquisa pretende avaliar, principalmente se contribuem para a melhoria das habilidades biopsicossociais da criança com TEA e, E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 88 em particular, a sua expressão oral e gestual. Nas primeiras sessões, foram realizadas algumas voltas no redondel e, ao final, estacionamos no centro do picadeiro. Sempre que possível, a transição entre as etapas foi realizada de forma ágil, sem avisos prévios, aproveitando o ensejo gerado pela curio- sidade das crianças. Parados no centro do redondel, procuramos diversificar a posições do corpo durante a montaria, familiarizando a criança com as variações que serão importantes ao longo da intervenção: viramos as crianças de costas para a cabeça do cavalo (de frente para a garupa) e de lado (posição que gera maior instabilidade, pois diminui o apoio. Novamente, deitamos a criança sobre a garupa e, uma vez aceita essa posição, colocamos o cavalo novamente em um movimento lento, para que a criança se acostumasse a essa nova possibilidade de balanceio. Ao final, exercitamos algumas possibilidades para desmontar e mon- tar. Com o apoio de pessoas posicionadas de ambos os lados, equitador e equoterapeuta, deslizamos a criança de costas e de frente para o dorso, subindo e descendo do cavalo. Quando a criança desmontou do cavalo, aproveitamos a oportunidade para direcionar a atenção para explorar as partes baixas do corpo do cavalo, como os cascos e a cauda. Toda a cautela foi utilizada nesse exercício, para não expor a criança a ris- cos desnecessários. Finalizamos, dessa maneira, a fase de aproximação das crianças com o cavalo inspirada no horsemanship. Para completar, convidamos os pais ou responsáveis para adentrarem o picadeiro incentivando que a própria criança com TEA apresentasse o cavalo a eles. Nos casos em que, por desinteresse, a criança não quis apresentar o cavalo aos pais ou responsáveis, o equitador incentivou os pais a tocarem as mesmas partes do cavalo de forma a criar uma experiência comum que facilitasse, posteriormente, o diálogo entre pais/ mães e filhos/filhas. Acreditamos, dessa forma, ter alcançado os principais objetivos do hor- semanship para construir uma aproximação adequada entre os praticantes e o cavalo de equoterapia, principalmente quando consideramos que, para a maioria, era o primeiro contatocom o cavalo. Desse momento em diante, o cavalo de equoterapia se tornou um efetivo agente do processo terapêutico, enquanto o praticante se tornou um efetivo beneficiário da equoterapia. As sessões de equoterapia, portanto, devem transcorrer em um ambiente seguro e saudável, comprometido com o bem-estar de todos (as), o que oferece aos profissionais de equoterapia, condições adequadas para o sucesso da inter- venção terapêutica. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 89 Figura 5 – Criança montada sem sela abraçando o cavalo com auxílio do equitador e auxiliar lateral Durante as 24 (vinte e quatro) sessões equoterápicas realizadas no projeto Comunicar com Equoterapia, por uma questão de segurança, tanto o media- dor quanto o equitador se mantiveram em uma posição intermediária, entre a criança com TEA e o cavalo. As atividades do protocolo de intervenção utilizaram duas andaduras: passo e trote. O passo, por ser a andadura básica da equitação e quando o cavalo está mais equilibrado, os movimentos ocorrem de forma contínua, sem tempo de suspensão, pois sempre existe um ou mais membros em contato com o solo. O passo é ritmado e cadenciado em quatro tempos, em outras palavras, produz sempre o mesmo ritmo e a mesma cadência. É um movi- mento simétrico, ou seja, o movimento que é produzido de um lado do equino, reproduz-se simetricamente do outro lado do animal(7). O passo é a andadura mais utilizada na equoterapia nos programas de hipoterapia, voltado para a prática da equitação adaptada à pessoas com deficiência, e de educação/reeducação, com foco na iniciação à prática da equitação das pessoas de uma maneira geral(7). É nesta andadura que encon- tramos a característica mais importante para a reabilitação: a realização de uma série de movimentos tridimensionais, sequenciados e simultâneos, que são produzidos pelo cavalo e transmitidos ao corpo do praticante(8). E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 90 Além do passo, também utilizamos no protocolo de atendimento do projeto Comunicar com Equoterapia o trote, que segundo, Licart(7) é um anda- dura simétrica, em dois tempos, saltada, isto é, existe um tempo de suspenção em seu movimento, que produz maior desequilíbrio no praticante, exigindo uma maior concentração, alinhamento corporal e força muscular. A transição do passo para o trote não fez parte das atividades de aproximação entre os praticantes e o cavalo, por ser uma mudança a ser implementada ao longo da intervenção, quando os praticantes já possuem alguma experiência. Alertamos, no entanto, que será necessário um novo treinamento, como também, que para evitar a mudança de cavalo, esse é um dos requisitos apontados na seleção e que não deve ser negligenciado Considerações finais Ao compartilhar a experiência da ANDE-BRASIL com o uso dos prin- cípios do horsemanship, pretendemos oferecer à comunidade do cavalo, de uma maneira geral, e da equoterapia, em particular, subsídios para que reflitam sobre os cuidados importantes na seleção e preparação dos cavalos para a qualidade de proposta de intervenção em equoterapia. O aspecto central a ser ressaltado no horsemanship é o respeito mútuo que deve pautar o relacionamento entre o equitador e o cavalo. Da parte do ser humano, destacamos a responsabilidade de empreender todos os esforços necessários a fim de criar um ambiente de bem-estar e segurança para o cavalo, assim como, de conhecer os comportamentos e o temperamento habitual do cavalo, de maneira a decidir como (?), se (?) e quando (?) deve ser utilizado na equoterapia. Da parte do cavalo, contamos com o seu potencial para res- ponder ao treinamento e colocar-se à disposição para servir aos nobres pro- pósitos da equoterapia. O compromisso com esses valores cria um ambiente propício ao desenvolvimento e à formação do cavalo para uma convivência saudável com o ser humano, independentemente do tipo de atividade que deverá desempenhar. (4) E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 91 REFERÊNCIAS 1. Brasil. LEI No 13.830, DE 13 DE MAIO DE 2019. Dispõe sobre a prática da equoterapia. Brasília; 2019. 2. Rezende A. Equoterapia baseada em evidência científica: parceria entre ANDE-BRASIL e a UnB. In: Equoterapia e ciência: passos que transfor- mam vidas. Curitiba: CRV; 2020. p. 12–32. 3. Morgan MH. The art of horsemanship. Courier Corporation; 2006. 4. Monty R. O homem que ouve cavalos. Brasil: Bertrand; 2009. 5. world of show jumping. Olympic course designer Santiago Varela “The horses are the stars of our sport and we have to protect them.” Available from: https://www.worldofshowjumping.com/WoSJ-Exclusive-interviews/ Olympic-course-designer-Santiago-Varela-The-horses-are-the-stars-of- -our-sport-and-we-have-to-protect-them.html# 6. Cirillo L de C, Wickert H, Marcon J. O cavalo tipo para equoterapia. In: Curso básico de equoterpaia da ANDE-BRASIL. Brasília: ANDE-BRA- SIL; 2010. p. 49–55. 7. Licart C. A arte da equitação: como aprender e ensinar a montar. Campi- nas: Parapirus; 1988. 8. Wickert H. O cavalo como instrumento cinesioterapêutico. Equoterapia. (3):3–7. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Introdução Neste capítulo apresentamos a análise dos resultados da aplicação do Projeto Comunicar com Equoterapia em cinco estados brasileiros; o principal objetivo do projeto foi expandir e estruturar linguisticamente a comunicação de crianças com Transtorno do Espectro Autista. No âmbito do projeto Comu- nicar com Equoterapia, que possui duas configurações, uma ligada à interven- ção terapêutica e outra ao estudo científico dessa intervenção, elaboramos o programa “Fonoaudiologia e Equoterapia: Passo a Passo na Comunicação”. A elaboração do programa é um dos resultados do projeto, tanto que mereceu um capítulo do livro para ser relatado e devidamente documentado; agora, vamos nos dedicar a analisar os seus resultados. Cumpre lembrar que esse projeto foi desenvolvido a partir de uma par- ceria entre a ANDE-BRASIL e a Universidade de Brasília, que contou com financiamento público4 para sua realização, além da participação dos centros de equoterapia que aceitaram o convite para executar o programa e realizar a pesquisa com os praticantes que correspondiam aos critérios de inclusão na amostra do estudo. A fim de reunir informações chaves para a compreensão abrangente dos resultados, a estrutura do capítulo está organizada com uma introdução, contendo aspectos relevantes sobre TEA e equoterapia, seguida pela descrição dos métodos da pesquisa, dos principais resultados, das discussões teóricas no diálogo com outros estudos relatados na literatura científica e, por fim, as conclusões do estudo. Transtorno do Espectro Autista O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, atualmente carac- terizado como Transtorno do Espectro Autista pela Associação Americana de Psicologia (APA) que em sua quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Distúrbios Mentais (DSM) coloca as dificuldades persistentes em comunicação social e padrões repetitivos e restritos de comportamento como principais critérios diagnósticos(1,2). Segundo Fernandes et al.(2), a Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição (ASHA), descreve as habilidades de comunicação social como[...] habilidade para variar o estilo de fala, considerar a perspectiva de outros, compreender e usar de forma apropriada as regras de comunicação 4 Emendas parlamentares executadas por meio do Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 96 verbal e não verbal e usar os aspectos estruturais da linguagem (por exem- plo, vocabulário, sintaxe e fonologia) para atingir esses objetivos. Além dessas dificuldades, pessoas diagnosticadas com TEA podem tam- bém apresentar déficits para controlar seus pensamentos e comportamento, manter diálogo, dar início ou responder interações sociais, estabelecer contato visual, utilizar gestos e expressões faciais, como também, apresentar ausência de interesse mútuo(1). Na tentativa de auxiliar as pessoas com TEA e suas famílias, diferen- tes propostas de tratamentos e intervenções são descritos no que se refere à comunicação(3–6). Alguns relatos sobre as vantagens da interação entre as crianças com TEA e os cavalos(7), que indicam benefícios decorrentes das intervenções na equoterapia para crianças com TEA(8–13), motivaram a reali- zação deste estudo. Equoterapia A equoterapia é um método de reabilitação que utiliza o cavalo como parte de uma abordagem interdisciplinar nas áreas da saúde, educação e equitação. Trata-se de uma proposta de intervenção que visa promover o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e / ou com neces- sidades específicas(14). A palavra EQUOTERAPIA® foi criada pela ANDE-BRASIL, no intuito de caracterizar todas as práticas que utilizem técnicas de equitação e atividades equestres para a reabilitação e a educação de pessoas com deficiência ou com necessidades específicas(15). A equoterapia envolve o praticante com a realização de atividades que exigem a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desen- volvimento da força, do tônus muscular, da flexibilidade, do relaxamento, da conscientização do próprio corpo, do aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio. As formas de socialização, a autoconfiança e a autoestima desenvol- vem-se como resultado da interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, o processo de montaria e o relacionamento com cavalo(15), mas tam- bém, pela interação com a equipe de equoterapia, com os demais praticantes e com seus familiares, que vivenciam uma experiência prática do potencial de aprendizagem da criança. A equoterapia é realizada por intermédio de programas individualizados, elaborados de acordo com as necessidades e potencialidades do praticante(16,17). Na equoterapia, o termo praticante é utilizado para designar a pessoa com E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 97 deficiência e/ou necessidades específicas que participa de forma ativa e cons- ciente da proposta terapêutica, logo, não se trata de um paciente que é subme- tido a um tratamento, mas de uma pessoa que tem a oportunidade de colocar em prática as suas habilidades para lidar com situações que desafiam a sua funcionalidade para responder aos estímulos de se andar a cavalo. A interação entre o praticante e o cavalo é desenvolvida desde o momento em que o praticante monta o cavalo até o manuseio final, o que proporciona diferentes oportunidades de socialização, que repercutem no aumento da auto- confiança e autoestima(16). A intensidade dos sentimentos e emoções desenca- deados pela interação com o cavalo faz com que o indivíduo tenha melhores relações com aqueles que lhe são próximos. A confiança conquistada também permite acelerar o desenvolvimento de múltiplas potencialidades que são responsáveis pelas interações sociais e pessoais daqueles que têm deficiências ou dificuldades com as pessoas que fazem parte do seu cotidiano. Além disso, diferentes percepções e sensações corporais criam um ambiente único para as trocas linguísticas entre o(a) mediador(a) e o praticante(18). Estudos recentes desenvolvidos sobre crianças com TEA mostram resul- tados positivos da equoterapia(11,19–22), porém os aspectos comunicativos ainda são pouco estudados. O Programa Passo a Passo na Comunicação foi desen- volvido com foco nas habilidades comunicativas sociais e foi implementado no projeto Comunicar com Equoterapia. A seguir, apresentamos os objetivos gerais e específicos da pesquisa considerando: o público-alvo (crianças com TEA); a equoterapia, e; as habilidades comunicativas que poderiam ser apri- moradas pelo programa. Objetivos Objetivo geral Avaliar os efeitos da equoterapia em crianças diagnosticadas com TEA em cinco estados do Brasil. Objetivos específicos • Analisar, separadamente, os resultados obtidos pelo grupo que realizou equoterapia uma vez por semana, e do grupo com duas sessões por semana, nas seguintes variáveis: fala, comunicação, linguagem, sociabilidade, percepção sensorial, aspectos cognitivos, físicos e comportamentais. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 98 • Comparar os resultados obtidos pelo grupo de crianças que prati- cou o programa uma vez por semana com o grupo de crianças que praticou duas vezes por semana. Métodos Aspectos éticos Trata-se de um projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília, por meio do Parecer N. 3473484 e CAAE N. 14946819.8.0000.8093. Todos os res- ponsáveis assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e as crianças assinaram (ou manifestaram interesse de forma gráfica) um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido. Participaram da pesquisa crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), com idade entre 2 e 7 anos, idade considerada no início do projeto. Tipo de estudo Trata-se de uma pesquisa longitudinal, com seis meses de duração, do tipo ensaio clínico. Possui um caráter descritivo com 3 momentos de ava- liação para os grupos G1 (uma sessão por semana, 6 meses de intervenção) e 4 momentos para o grupo G2 (duas sessões por semana, 3 meses de inter- venção) – o G2 foi realizado em Brasília. As medições foram realizadas com avaliadores cegos. No primeiro momento, os candidatos inscritos no projeto após divulgação realizada pela ANDE-BRASIL foram selecionados. A partir da seleção, demos início à primeira avaliação e alocação dos participantes nos dois grupos por meio de sorteio. As crianças destinadas ao grupo G1 iniciaram imediatamente as sessões, uma vez por semana, por 3 meses; as do grupo G2 ficaram esses três meses em espera; todas participaram juntas da segunda avaliação. Após a segunda avaliação, o grupo G1 deu continuidade às intervenções por mais três meses, uma vez na semana, e o grupo G2 iniciou suas intervenções, duas vezes na semana, por três meses. Passado os três meses finais os dois grupos voltaram para fazer a terceira avaliação (figura 1). Os dois grupos fizeram o mesmo número total, ou seja, 24 sessões. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 99 Figura 1 – Diagrama com as fases do delineamento da pesquisa sobre equoterapia e comunicação para crianças com TEA Seleção dos participantes Avaliação e alocação dos participantes 3 meses de espera 3 meses de intervenção, 1 vez por semana 3 meses de intervenção, 1 vez por semana 1 mês e meio, 2 vezes por semana 1 mês e meio, 2 vezes por semana Terceira avaliação participantes G2 Última avaliação de todos os participantes Segunda avaliação de todos os participantes G1 G2 E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 100 ParticipantesO estudo iniciou com 120 crianças selecionadas, porém, 23 não concluí- ram as atividades previstas. Os principais motivos foram: faltas que não foram repostas rapidamente; crianças com muita dificuldade de iniciar o programa por medo excessivo do cavalo; protocolos de avaliação preenchidos parcial- mente ou com qualquer suspeita de rasuras. Participaram até o final do estudo 97 crianças no total, a saber: 31 crian- ças no G1 de Brasília, 25 crianças no G2 de Brasília (DF), 21 crianças no G1 de Gurupi – Tocantins (TO), 10 crianças no G1 de Alagoas – Maceió (MCZ), cinco crianças no G2 de Jaguariúna – São Paulo (SP) e cinco crianças no G2 de Natal – Rio Grande do Norte (RN). Todas as crianças do estudo estavam na faixa etária de dois até 10 anos de idade antes e após a finalização das coletas, bem como possuíam o diagnóstico médico prévio à pesquisa de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em relação às 31 crianças que compuseram o G1 de Brasília (DF), 3 eram do gênero feminino e 28 do gênero masculino, e a média de idade do grupo foi de 4,4 ao início do estudo e 4,10 ao final do estudo. Enquanto isso, das 25 crianças que estavam alocadas no G2 de Brasília (DF), 4 eram do gênero feminino e 21 do gênero masculino, e a média de idade do grupo foi de 5,1 ao início do estudo e 5,7 ao final do estudo. As 21 crianças no G1 de Gurupi – Tocantins (TO) estiveram divididas em 16 meninos e cinco meninas, e a média de idade do grupo foi de 5,4 ao início do estudo e 5,10 ao final do estudo. As 10 crianças no G1 de Alagoas – Maceió (MCZ) estavam divididas em 10 meninos, e a média de idade do grupo foi de 3,1 ao início do estudo e 3,7 ao final do estudo. As cinco crianças no G2 de Jaguariúna – São Paulo (SP) estavam divi- didas em quatro meninos e uma menina, e a média de idade do grupo foi de 5,7 ao início do estudo e 6,1 ao final do estudo. As cinco crianças no G2 de Natal – Rio Grande do Norte (RN) estavam divididas em quatro meninos e 1 menina, e a média de idade do grupo foi de 3,1 ao início do estudo e 3,7 ao final do estudo. Local Amostra (N) Grupo Frequência Feminino Masculino Idade média DF 31 G1 1 vez na semana 3 28 4,4 anos DF 25 G2 2 vezes na semana 4 21 5,1 anos TO 21 G1 1 vez na semana 5 16 5,4 anos MCZ 10 G1 1 vez na semana 0 10 3,2 anos RN 5 G2 2 vezes na semana 1 4 3,1 anos continua... E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 101 Local Amostra (N) Grupo Frequência Feminino Masculino Idade média SP 5 G2 2 vezes na semana 1 4 5,7 anos Legenda: P – número de participantes� Local: DF – Brasília/Distrito Federal; TO – Gurupi/Tocantins; MCZ – Alagoas/Maceió; RN – Natal/Rio Grande do Norte; SP – Jaguariúna/São Paulo� Grupo: G1 – grupo 1; G2 – grupo 2� Frequência – frequência semanal de intervenção� Nas colunas de gênero: F – genêro feminino; M – gênero masculino� Na coluna de média de idade: a – anos; m – meses� Instrumentos A avaliação inicial e as reavaliações foram realizadas a partir da apli- cação do protocolo Autism Treatment Evaluation Checklist (ATEC)(23). A ATEC é dividida em quatro campos diferentes. O primeiro campo avalia a fala, linguagem e comunicação com um total de quatorze perguntas onde o entrevistado dirá se descreve a criança, não a descreve ou a descreve mais ou menos. O segundo campo avalia a sociabilidade com um total de vinte pergun- tas. O terceiro campo avalia percepção sensorial e cognitiva com dezenove perguntas. O quarto e último campo avalia a saúde, os aspectos físicos e o comportamento com vinte e cinco perguntas. A pontuação final varia de 0 a 180, sendo que quanto menor a pontuação, melhor o resultado(23). Procedimentos Os procedimentos para realização da pesquisa incluíram ao todo 13 eta- pas, conforme figura 2. Figura 2 – Etapas do processo de avaliação realizado ao longo da pesquisa sobre equoterapia e comunicação para crianças com TEA Triagem inicial Avaliações fonoaudiológicas Avaliações psicológicas e �sioterápicas Intervenção 1x por semana por 3 meses (12 sessões) Mais 12 sessões 1x por semana (24 sessões Intervenção 2x por semana por 3 meses (24 sessões no Em espera por 3 meses (12 sessões) Entrevista ATEC ATEC ATEC ATEC ATEC no total) total) continuação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 102 A primeira etapa, triagem inicial, foi realizada via telefone para saber se a criança estava dentro dos critérios de inclusão e, caso preenchesse os requi- sitos, a primeira entrevista com os pais era marcada de forma presencial. A entrevista inicial tinha por objetivo confirmar se a criança atendia aos critérios iniciais de elegibilidade. Em seguida foram realizadas as avaliações específicas da própria ANDE-BRASIL, feitas por um psicólogo e um fisioterapeuta com média de uma hora de duração. Após essas três primeiras etapas, os profissionais decidiam pela elegibi- lidade da criança e as avaliações fonoaudiológicas eram agendadas. A criança era submetida a duas avaliações com duração média de uma hora e 30 minutos, enquanto os responsáveis respondiam questões relativas à ATEC. Ao iniciar a avaliação da ATEC era pedido para que os pais sempre respondessem da forma mais sincera e objetiva para que não houvesse erro na mensuração do progresso de cada criança. As perguntas eram feitas como descritas em toda a avaliação e se não houvesse possibilidade de concluir nesse primeiro dia, o retorno era marcado para a semana seguinte. A ATEC foi reaplicada após 3 e 6 meses, como visto na figura 2. Análise dos dados A análise de dados iniciou-se com uma separação das ATEC pelos seus momentos, intituladas de pré-avaliação, intermediária 1, intermediária 2, pós avaliação. A codificação foi separada por negativo e positivo sendo o módulo 1 positivo, módulo 2 negativo, módulo 3 positivo, módulo 4 negativo. Nos módulos negativos a contagem foi de 0 (base) a 2 (teto) e nos módulos posi- tivos a contagem foi de 2 (base) a 0 (teto), lembrando que, quanto menor a pontuação, melhor o resultado. Foram realizadas medidas de estatística descritiva, teste t pareado para comparação das médias pré e pós-intervenção e não pareado para comparação entre grupos. Resultados e discussão Após análise estatística exploratória dos dados, 61 crianças apresenta- ram dados consistentes para uma análise inferencial das questões de estudo. Dessas, 39 são do G1, ou seja, participaram 1 vez por semana, e 22 no G2, ou seja, fizeram equoterapia 2 vezes por semana. Para apresentação dos resulta- dos e discussão, identificamos em três questões teóricas principais, a serem esclarecidas a partir das evidências obtidas. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 103 Pergunta 1: Houve indicativo de progresso para os participantes do G1? Os participantes do G1 mostraram progresso em todos os subitens da escala ATEC, com diferença estatisticamente significativa ao se comparar pré e pós-intervenção, como pode ser visualizado na Tabela 1. A única exceção foi o componente percepção sensorial e cognição. De acordo com a Tabela 1, dos 39 participantes que compõem o G1: três tiveram progresso em um dos quatro campos da ATEC, a saber: Fala/ Linguagem/Comunicação, Sociabilidade e Saúde/Aspectos Físicos/Com- portamento; Nove tiveram progresso em dois dos quatro campos da ATEC, sendo 8 em Sociabilidade, 5 em Saúde/Aspectos Físicos/Comportamento, 3 em Fala/Linguagem/Comunicação e 2 em Percepção sensorial e cognitiva; 17 tiveram progresso em três dos quatro campos da ATEC, sendo 15 nos campos de Fala/Linguagem/Comunicação e Sociabilidade, 12 em Saúde/Aspectos Físicos/Comportamento e nove em Percepção sensorial e cognitiva;por fim, 10 tiveram progressos nos quatros campos da ATEC. Tabela 1 – Escores parciais da Atec para G1 nos momentos pré e pós-intervenção e valor de p para cada componente da escala. Os resultados com inferior a 0,05 (marcados com “*” são considerados estatisticamente significativos. Situações em que houve progresso estão em verde e em amarelo as que não tiveram progresso Amostra Percep. sens. cog. Fala/Ling./Com. Saúde/Fís./Comp. Sociabilidade Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós 16 11 16 9 13 18 19 20 13 25 10 11 10 8 20 23 8 15 27 25 28 24 25 30 26 29 29 6 5 15 2 6 14 9 13 4 22 8 9 4 5 16 11 8 2 19 8 10 8 12 9 5 4 3 9 20 22 20 17 16 24 27 15 14 9 20 22 3 17 24 15 12 35 28 32 26 28 20 13 35 24 4 7 10 13 9 18 13 9 14 34 24 18 26 27 33 38 33 31 1 8 3 2 4 17 17 11 4 23 7 11 3 2 20 9 11 6 26 4 7 4 3 26 13 21 16 5 6 9 10 5 17 16 20 12 29 9 10 10 8 15 5 21 17 18 22 25 20 19 29 25 29 19 continua... E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 104 Amostra Percep. sens. cog. Fala/Ling./Com. Saúde/Fís./Comp. Sociabilidade Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós 3 15 17 23 22 29 28 18 14 32 24 29 25 24 14 0 33 29 37 7 7 16 4 16 9 14 5 30 9 6 6 7 33 25 16 9 2 14 13 6 6 33 16 19 13 38 11 9 13 6 14 16 10 8 7 10 7 16 0 18 20 14 7 39 30 23 19 14 39 58 33 25 13 10 8 20 2 19 21 24 12 36 11 9 20 17 11 11 19 9 24 5 4 7 5 20 13 10 15 12 17 12 22 14 23 13 16 18 15 7 2 3 1 14 8 11 2 10 12 4 5 4 25 22 16 8 17 7 3 8 3 12 7 5 1 33 20 16 18 14 42 25 24 22 21 15 7 21 13 24 8 26 17 31 22 22 21 16 55 35 28 23 20 24 13 21 17 29 20 25 20 11 23 9 23 4 22 18 21 2 28 23 14 23 18 13 7 20 15 8 20 8 25 21 31 5 22 7 Teste t 0,08 0,0001* 0,0002* 0,0000* p-valor continuação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 105 Gráfico 1 – Comparação entre os momentos Pré e Pós de cada um dos quatro componentes da ATEC para o Grupo 1 (uma vez por semana) Dados Pré e Pós dos fatores da ATEC: Percepção Sensorial e Cognitiva/ Fala, Linguagem, Comunicação/ Saúde, Aspectos Físicos, Comportamento/ Sociabilidade Grupo 1 – Uma sessão por semana P S C - Pré P S C - Pós F L C - Pré F L C - Pós S A S C - Pré S A S C - Pós Soc - Pré Soc - Pós 60 50 40 30 20 10 0 Para o escore final da ATEC, o valor dos quatro componentes são soma- dos e o Efeito final é calculado pela diferença entre o total nos momentos pré e pós intervenção; os dados podem ser visualizados no Gráfico 1, a seguir. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 106 Gráfico 2 – Escore final da ATEC para o G1 nos momentos pré e pós-intervenção Valor do Efeito (ATEC Pós - Pré) para cada um dos participantes do Grupo 1 (o destaque indica os participantes acima da média) Grupo 1 – Uma sessão por semana60,0 40,0 20,0 ,0 Ef ei to (P ós -P ré ) Participante Média Efeito = 15,7 2516192763943414324922381 5183523322936263017101215272833 133121 118 3720 O efeito médio, para o Grupo 1, de acordo com o Gráfico 2, foi de 15,7 pontos no escore total da ATEC. Apenas 5 de 39 crianças não apresentaram benefícios quando se comparam os valores da avaliação pré-equoterapia com os da pós-equoterapia. Para algumas crianças, como as identificadas com os números 8 e 11, o efeito chegou a uma diferença de quase 60 pontos na escala da ATEC. Ao compararmos estatisticamente os escores totais da ATEC para o Grupo 1, encontramos valor de p<0,000, que é uma diferença estatisticamente significativa. Esse resultado indica que a comparação, para cada criança, entre os valores antes da equoterapia e os valores ao final das 24 sessões, ao longo de seis meses, foram considerados como diferentes, logo, que as crianças com uma sessão por semana tiveram uma modificação relevante ao longo da pesquisa. Pergunta 2: Houve indicativo de evolução do G2? Os resultados do G2 tiveram resultados muito parecidos com G1: verifi- camos progresso em todos os subitens da escala ATEC, com diferença estatis- ticamente significativa ao se comparar pré e pós-intervenção (tabela 2), com exceção do componente Percepção sensorial e cognição. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 107 Tabela 2 – Escores parciais da Atec para G2 nos momentos pré e pós-intervenção e valor de p para cada componente da escala. Os resultados com inferior a 0,05 (marcados com “*” são considerados estatisticamente significativos. Situações em que houve progresso estão em verde e em amarelo as que não tiveram progresso Amostra Percep. sens. cog. Fala/Ling./Com. Saúde/Fís./Comp. Sociabilidade Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós 17 25 27 24 24 50 38 16 24 6 16 19 23 24 33 24 21 22 9 13 18 22 24 51 38 23 25 12 6 11 10 11 12 4 16 4 1 5 6 14 7 7 9 18 5 4 5 5 7 2 24 35 11 6 7 12 13 9 3 6 14 14 10 20 17 18 17 11 23 18 15 20 5 12 8 23 19 9 11 12 6 8 9 8 4 6 21 18 5 7 14 22 27 25 19 28 6 21 13 15 19 19 20 16 30 14 34 30 16 11 12 24 20 33 10 20 15 3 13 9 23 11 13 19 14 12 11 9 6 20 10 18 22 26 17 18 22 13 23 18 16 16 23 17 19 13 9 9 6 9 9 14 13 21 10 6 24 11 19 19 19 15 22 15 12 11 8 9 14 18 14 13 11 19 19 13 44 33 12 15 2 13 10 12 8 29 16 15 12 10 13 4 8 3 11 9 5 4 Teste t 0,300 0,000* 0,020* 0,006* p-valorE di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 108 Gráfico 3 – Comparação entre os momentos Pré e Pós de cada um dos quatro componentes da ATEC para o Grupo 2 (duas vezes por semana) Dados Pré e Pós dos fatores da ATEC: Percepção Sensorial e Cognitiva/ Fala, Linguagem, Comunicação/ Saúde, Aspectos Físicos, Comportamento/ Sociabilidade Grupo 2 – Duas sessões por semana P S C - Pré P S C - Pós F L C - Pré F L C - Pós S A F C - Pré S A F C - Pós Soc - Pré Soc - Pós 60 50 40 30 20 10 0 De acordo com a Tabela 2, dos 22 participantes que compõem o G2: três tiveram progresso em um dos quatro campos da ATEC, a saber: Saúde/ Aspectos Físicos/Comportamento; Sete tiveram progresso em dois dos quatro campos da ATEC, sendo cinco em Sociabilidade, quatro em Fala/Lingua- gem/Comunicação, três Saúde/Aspectos Físicos/Comportamento, e dois em Percepção sensorial e cognitiva; 10 tiveram progresso em três dos quatro campos da ATEC, sendo 10 no campo de Fala/Linguagem/Comunicação, nove em Sociabilidade, sete em Percepção sensorial e cognitiva e quatro em Saúde/Aspectos Físicos/Comportamento; por fim, dois tiveram progressos nos quatros campos da ATEC. Na análise do escore final da ATEC, o valor dos componentes são soma- dos e o Efeito final é a diferença entre os momentos pré e pós intervenção; os dados podem ser visualizados no Gráfico 3, acima. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 109 Gráfico 4 – Escore final da ATEC para o G2 nos momentos pré e pós-intervenção Valor do Efeito (ATEC Pós - Pré) para cada um dos participantes do Grupo 2 (o destaque indica os participantes acima da média) Grupo 2 – Duas sessões por semana60,0 40,0 20,0 ,0 Ef ei to (P ós -P ré ) Participante Média Efeito = 12,5 58 56 59 50 52 54 53 43 40 44 49 48 45 55 51 47 60 57 61 42 41 46 O efeito médio, para o Grupo 2, de acordo com o Gráfico 4, foi de 12,5 pontos no escore total da ATEC, um pouco menor do que os resultados do Grupo 1. Apenas 2 de 22 crianças não apresentaram benefícios quando se comparam os valores da avaliação pré-equoterapia com os da pós-equotera- pia. Para algumas crianças, como as identificadas com os números 58 e 56, o efeito chegou a uma diferença de mais de 30 pontosna escala da ATEC. Ao compararmos estatisticamente os escores totais da ATEC para o Grupo 2, encontramos valor de p<0,000, que, da mesma forma que no Grupo 1, é uma diferença estatisticamente significativa. Esse resultado indica que a compara- ção, para cada criança, entre os valores antes da equoterapia e os valores ao final das 24 sessões, ao longo de 3 meses, foram considerados como diferentes, logo, que as crianças com duas sessões por semana tiveram uma modificação relevante ao longo da pesquisa. Pergunta 3: Houve diferença de evolução entre G1 e G2? Para compararmos a evolução dos grupos, subtraímos o escore inicial do escore final da ATEC. Quanto maior o valor, maior foi a evolução medida pela escala. A tabela 3 mostra os resultados pré e pós-intervenção, bem como a evolução bruta (pré – pós) em ambos os grupos. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 110 Tabela 3 – Resultados do escore final da ATEC nos momentos pré e pós-intervenção e evolução bruta nos grupos G1 e G2 Amostra G1 Amostra G2 Pré Pós Escore bruto Pré Pós Escore bruto 8 98 41 57 14 96 65 31 11 89 33 56 16 88 57 31 21 86 45 41 15 103 79 24 13 73 43 30 2 69 46 23 31 126 96 30 21 72 51 21 20 99 70 29 18 84 64 20 37 53 25 28 11 73 55 18 33 104 77 27 1 44 27 17 28 79 54 25 10 37 20 17 2 72 48 24 12 44 30 14 7 58 34 24 3 63 51 12 15 35 13 22 5 56 44 12 12 78 57 21 19 45 37 8 10 58 38 20 13 86 80 6 17 32 14 18 20 72 67 5 30 64 47 17 22 53 48 5 26 55 39 16 6 93 89 4 29 55 40 15 9 109 105 4 36 61 46 15 17 115 113 2 32 96 82 14 7 41 40 1 23 41 28 13 8 39 39 0 18 100 88 12 4 47 48 -1 35 109 97 12 5 53 42 11 1 38 28 10 22 36 27 9 38 48 39 9 9 83 78 5 24 42 37 5 3 85 81 4 14 63 59 4 34 116 114 2 4 47 46 1 39 121 120 1 6 34 34 0 27 108 108 0 19 29 30 -1 16 58 61 -3 25 48 57 -9 E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 111 Na análise comparativa entre grupos, encontramos valor de p de 0,3. Esse resultado indica que não foram encontradas diferenças de evolução bruta entre os grupos. Gráfico 5 – Dados comparativos da ATEC nos momentos pré e pós-intervenção para os Grupos 1 (uma vez por semana) e 2 (duas vezes por semana) Escore Total da ATEC, Pré e Pós, para os Grupos 1 (1x/semana) e 2 (2x/semana) Grupos 125 100 75 50 25 0 1 (uma sessão por semana) 2 (duas sessões por semana) ATEC Pré ATEC Pós Ao final do projeto a quantidade de crianças participantes do G2 foi menor que do G1. No grupo G1, as crianças e suas famílias se deslocavam para a equoterapia apenas uma vez por semana. Já no grupo G2, esse des- locamento ocorria duas vezes por semana. Apesar da diferença entre uma e duas não parecer alta em um primeiro momento, os achados desta pesquisa mostraram que essa diferença é suficiente para diminuir significativamente o número de participantes que conseguiu estar presente sem faltas quando era exigida presença mais frequente, diminuindo de 39 (do G1) para 22 (do G2), representando quase metade. Possíveis motivos para essas faltas podem ser dificuldades de deslocamento, outros compromissos da família e questões socioeconômicas. Ressalta-se, entretanto, que todos os participantes iniciais de todos os estados foram atendidos até o final do programa, apenas não foram incluídos na análise. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 112 Considerações finais Ao final desta pesquisa foi possível observar a efetividade do programa de equoterapia ‘passo a passo na comunicação’ em crianças diagnosticadas com TEA em cinco estados do Brasil nos aspectos de fala, linguagem e comu- nicação, sociabilidade e na saúde, aspectos físicos e comportamentais. A análise separada de cada grupo mostrou que todas as variáveis estu- dadas apresentaram bons resultados na comparação da avaliação antes e após participação no Projeto Comunicar com Equoterapia. Ao se comprar os dois grupos, o grupo de uma e duas vezes por semana, vimos que ambos apresentaram progressos de forma semelhante. Entretanto, tivemos perda amostral mais acentuada no G2. Podemos inferir, então, que o deslocamento para intervenção duas vezes por semana teve custo, finan- ceiro ou não, muito alto para as famílias envolvidas. Sendo assim, não foram identificadas vantagens na oferta do atendimento com a frequência semanal de duas sessões. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 113 REFERÊNCIAS 1. Association AP. Diagnostic and statistical manual of mental disorders – DSM-5. 5th ed. Porto ASlegre: Artmed; 2014. 2. Fernandes FDM, de la Higuera Amato CA, Perissinoto J, Lopes-Herrera SA, de Souza APR, Tamanaha AC, et al. The role of the phonoaudiologist and the focus on ASD intervention. Codas. 2022;34(5):5–7. 3. Rogers SJ, Dawson G. Intervenção precoce em crianças com autismo: modelo Denver para a promoção da linguagem, da aprendizagem e da socialização. 1st ed. Lisboa: Lidel; 2014. 359 p. 4. Wallace KS, Rogers SJ. Intervening in infancy: Implications for autism spectrum disorders. J Child Psychol Psychiatry Allied Discip. 2010;51(12):1300–20. 5. 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Para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), esse desafio pode, inicialmente, transformar-se em uma barreira, o que exige o emprego de estratégias para uma familiarização progressiva com as experiências corporais decorrentes dessas atividades. Nas pesquisas sobre os benefícios da equoterapia, quando essas bar- reiras persistem além do curto período previsto para adaptação à atividade, normalmente, não mais do que duas ou três semanas, as crianças não são selecionadas para compor a amostra dos estudos, o que gera uma lacuna de conhecimentos sobre o seu potencial de aprendizagem e desenvolvimento. Como se trata de uma discrepância que não atende aos critérios de inclusão nos estudos, como também, que atinge um número relativamente pequeno de casos, as dificuldades de crianças, com ou sem TEA, para iniciar a prática de equoterapia ainda não tem despertado o interesse pelo seu estudo. Quando as crianças estão diante de situações novas de aprendizagem, diversas dificuldades podem ser reveladas, o que nos permite conhecer melhor as crianças, seus interesses e suas necessidades. Ao reunir as informações decorrentes dessa fase diagnóstica, por assim dizer, com os conhecimentos sobre o cavalo e a equitação, é possível dar início a um processo de flexibiliza- ção educacional, a fim de encontrar a melhor maneira de lidar com essas difi- culdades e, portanto, contribuir para a construção de contextos formativos que favoreçam a sua aprendizagem e, consequentemente, o seu desenvolvimento. Parte dessas dificuldades, como descrito acima, podem estar relacionadas com (a) o caráter inusitado das próprias atividades, ou seja, das sensações que provocam (vertigem, desequilíbrio, oscilação) e do impacto emocio- nal que podem gerar (insegurança, medo, ansiedade, estresse), mas também, podem estar relacionadas com (b) as experiências anteriores, que marcaram a história de vida das crianças (traumas, angústias, sofrimentos) ou com (c) suas preferências e a maneira como costumam lidar com situações novas. Podem também estar relacionadas com (d) as características do ambiente, o que abrange o espaço, os sons, os cheiros e as sensações táteis, ou, com (e) o impacto gerado pela interação com os outros, que nesse caso, podem ser as diversas pessoas que compõem a equipe multidisciplinar de equoterapia, mas também, e principalmente, o cavalo. Não temos a pretensão de descrever E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 120 todos os aspectos que podem provocar dificuldade, mas, deixar evidente que existem muitas questões a serem consideradas, o que indica a necessidade de uma observação atenta para identificar o que pode estar desempenhando um papel decisivo em cada situação a ser analisada. Independente da causa, as estratégias para contornar essas barreiras e dificuldades normalmente abrangem: (a) o envolvimento gradual da criança com a atividade, de forma a permitir uma familiarização progressiva; (b) o suporte afetivo que transmita segurança e apoio para que a criança supere ou consinta em participar da atividade; (c) o uso de recursos de dispersão (brincadeiras, músicas, fantasias, objetos), que retirem o foco de atenção da criança das situações adversas, de forma a viabilizar a realização paralela da atividade; (d) o apoio social dos pares, ou seja, a possibilidade de realizar a atividade em grupo, o que mobiliza sentimentos empáticos que favorecem a realização da atividade, pois, as crianças que têm facilidade assumem a lide- rança e fornecem apoio vicário para que as outras as acompanhem. Na nossa experiência com a realização do Programa Passo a Passo na Comunicação, atendemos, inicialmente, a 120 crianças com TEA, em cinco Estados, mas, nos deparamos com seis crianças com TEA que demonstraram dificuldades para iniciar a prática da equoterapia. Os motivos são diferentes e alguns podem estar sobrepostos, tais como: medo do cavalo, dificuldades familiares, medo de altura, rejeição do capacete, são alguns exemplos. A intenção desse capítulo é fazer uma descrição geral de cada caso, de forma a destacar: (a) a singularidade de cada criança; (b) as informações disponíveis sobre as suas famílias; (c) as estratégias intuitivas que utilizamos para lidar com a situações adversas; (d) os resultados obtidos, favoráveis ou não. Em seguida, vamos fazer uma discussão teórica, pautada na teoria da Aprendizagem Mediada, proposta por Feuerstein (1991), para verificar as possibilidades de uma mediação educativa capaz de promover adaptações nas situações de aprendizagem que contribuam para a participação efetiva das crianças com TEA na equoterapia. Vamos utilizar o conceito de recursos auxiliares de mediação que contri- bui para sugerir possibilidades para a construção de estratégias que culminem no sucesso da aprendizagem, a saber: (1) regulação do nível de dificuldade, (2) utilização de estratégias de motivação, (3) utilização de meios para mobilização da atenção do educando para o tipo de atividade a ser realizada (CUNHA et al., 2006). A regulação do nível de dificuldade pode se dar em dois sentidos antagô- nicos: (a) diminuir a dificuldade da atividade para que corresponda ao nível de competência da criança, e; (b) aumentar a dificuldade para desafiar a criança. Ambos pretendem viabilizar a participação ativa da criança na atividade de forma a favorecer a formação de novas habilidades. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er cial iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 121 A utilização de estratégias de motivação pode ser realizada de três maneiras diferentes, mas, complementares entre si: (a) elogiar a dedica- ção da criança, no intuito de ampliar a resiliência, ou seja, a vontade de aprender; (b) destacar pequenos avanços na aprendizagem, no intuito de ampliar a percepção subjetiva de competência, ao mostrar para criança ela está tendo sucesso, e; (c) envolvimento empático-afetivo, ou seja, demonstrar para a criança, por meio de expressões corporais, gestuais e verbais, o seu interesse na aprendizagem dela. Atenção, nenhuma dessas alternativas motivacionais está relacionada com o resultado da atividade; todas se referem ao processo de construção de uma experiência de apren- dizagem mediada. A mobilização da atenção envolve duas estratégias de caráter cognitivo: (a) a experiência partilhada, quando o (a) mediador (a) age de forma coope- rativa e auxilia na compreensão do tipo de atividade a ser realizada, e; (b) a transcendência, quando se recorre a conhecimentos prévios da criança, para fazer uma associação entre a atividade a ser realizada com outra que ela já aprendeu. Nesses dois recursos, o (a) mediador (a) deve fornecer orientações que mobilizem a atenção da criança para o problema a ser resolvido, pois a compreensão do problema é o primeiro passo para a descoberta autônoma de possíveis soluções. O quadro 1, a seguir, reúne os recursos auxiliares de mediação de acordo com seus princípios organizadores. Quadro 1 – Recursos auxiliares de mediação para flexibilização educacional Recursos auxiliares de mediação 1. Regulação do nível de dificuldade 1a. Regulação à competência 1b. Desafio 2. Utilização de estratégias de motivação 2a. Elogiar 2b. Mudança 2c. Envolvimento afetivo 3. Mobilização da atenção 3a. Experiência partilhada 3b. Transcendência Fonte: Autores� As sugestões para adequar a proposta educativa às características de cada criança também estão pautadas na pesquisa dos significados que as experiências corporais podem ter para a criança, a partir dos princípios da Psicomotricidade Relacional, voltados para a dimensão afetiva implícita à interação da criança com: o seu próprio corpo, o corpo do outro (criança, adulto e cavalo), os objetos, o espaço e o tempo. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 122 Os nomes reais das crianças foram substituídos por nomes fictícios para resguardar as identidades dos praticantes e suas famílias. Para uma compreensão abrangente da natureza das adaptações realizadas (intuitivamente) ou sugeridas (pela teoria), recomendamos a leitura prévia das atividades realizadas nas sessões de recepção e aproximação utilizando o horsemanship5, como também, nas sessões iniciais do Programa de Equo- terapia Passo a Passo na Comunicação. Caso Elaine A criança Elaine é uma criança de dois anos, do sexo feminino. O diagnóstico de autismo foi confirmado; apresenta um grau severo, segundo a Escala Cars. No Programa Passo a Passo na Comunicação foi classificada com grau de habilidades linguísticas no nível zero, o que significa que Elaine tem intenção comunicativa por meio de gestos, porém, não possui fala articulada, mas, comunica-se apontando e solicitando coisas. Às vezes, emite sons ininteligí- veis, que não estão associados a indícios de satisfação ou de contrariedade. A família O pai e a mãe de Elaine têm um relacionamento conjugal bem estrutu- rado, mantém bom entrosamento entre si e com a criança; demonstram estar organizados em relação a preservar a rotina e os hábitos que transmitem segurança para Elaine. Costumam acompanhá-la regularmente nas sessões de equoterapia; adotam uma postura diligente e são cooperativos, acatando as estratégias propostas pela equipe de equoterapia. Expressam de forma evidente o seu interesse pelo desenvolvimento de Elaine e uma expectativa favorável em relação aos resultados a serem obtidos com a equoterapia. Início Na primeira sessão de recepção, Elaine participou das atividades que consistiam em colar no quadro de rotina os alimentos do cavalo (ração e feno), o pelo, figuras das roupas necessárias para prática de equoterapia, uma foto sua, uma de seus familiares, figuras do cavalo encilhado e sem sela. Elaine 5 Para aprofundar conhecimentos sobre atividades de recepção e o método horsemanship, leia Capítulo 4. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 123 mostrou-se muito dispersa e inquieta, não realizou as atividades espontanea- mente, sendo necessário fornecer assistência. Ao interagir a primeira vez com o cavalo, foi até o redondel acompa- nhada pela fonoaudióloga, uma das profissionais que compõem a equipe de equoterapia, e iniciou a aproximação com a mediação do especialista em horsemanship. Neste momento não quis estabelecer contato físico com o cavalo. Foi necessário recorrer a estratégias lúdicas para diminuir o estresse e favorecer a aproximação, tais como: fingir que o cavalo está falando com ela; imitar o movimento do cavalo com ela no colo; fazer sons parecidos com os do cavalo. As brincadeiras foram adequadas e conseguiram deixá-la menos apreen- siva, com o corpo menos rígido; concordou em se aproximar aos poucos do cavalo, até que seu corpo encostou na anca do cavalo. Não demonstrou alegria; suas expressões faciais demonstravam desgosto, como se estivesse prestes a chorar. Antes que isso ocorresse, convidamos o pai e a mãe para entraram no redondel. Eles se aproximaram e repetiram as estratégias utilizadas pelo hor- semanship, tentando mediar a interação dela com o cavalo. Posicionaram-se entre ela e o cavalo, tocaram no cavalo e disseram para ela que estava tudo bem. Com a presença do pai e da mãe, Elaine passou a mão no cavalo, que se encontrava ao pelo (sem sela); esse é o indicador de que é possível seguir para a próxima etapa: montar. Porém, nas duas tentativas realizadas, Elaine demonstrou resistência, e reagiu com choro e irritação. Um quadro semelhante a esse se repetiu posteriormente, nas sessões de equoterapia. Como a participação do pai e da mãe apresentou resultados positi- vos, eles foram chamados novamente para dentro do redondel, para fornecerem apoio afetivo. Com Elaine no chão, demos a guia para ela segurar, mas ela se recusou. Decidimos finalizar a aproximação naquele momento, enquanto ela estava calma, para que a atividade não se transformasse em algo aversivo. Independente do cuidado da equipe para que a equoterapia não se tornasse um aborrecimento para Elaine, notamos que, no momento da chegada, ainda no estacionamento, os episódios de choro e irritação já começavam. Diante disso, utilizamos as seguintes estratégias para aproximação e engajamento da criança na equoterapia. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 124 Quadro 2 – Caso Elaine – Estratégias intuitivas de enfrentamento das dificuldades para iniciar a equoterapia Estratégia 1: Montaria solo Elaine foi acolhida na recepção e levada ao picadeiro. Mostramos para Elaine as gravuras que descrevem as etapas básicas da equoterapia e pedimos que colocasse no quadro com rotina, porém, ela não deu atenção à dinâmica. Em seguida, a levamos para a sala do capacete; Elaine aceitou colocar o capacete. Fomos para o redondel iniciamos a aproximação com o cavalo. Tentamos, sem sucesso, inúmeras formas a montaria, com suporte de músicas e interações para descontrair a criança. Resposta da criança A criança apresentou muita irritação, choro e enrijecimento corporal. Não aceitou se aproximar do cavalo nem o montar. Estratégia 2: Montaria dupla com a mãe (maternagem6) Iniciamos com as atividades propostaspelo programa Passo a Passo na Comunicação para a aproximação da criança com o cavalo. Diante da manifestação de reações emocionais adversas de Elaine, pedimos para que a mãe assumisse o lugar da equipe de equoterapia e realizasse as mesmas atividades, ou seja: aproximar-se do cavalo para interagir com ele, fazer carinho no cavalo para a criança observar e, na sequência, conduzir, de maneira branda, a mão da criança para que ela fizesse carinho no cavalo. Em seguida, pedimos que a mãe montasse no cavalo e tentamos colocar Elaine junto com ela, no intuito de realizarem uma montaria dupla, mas, não obtivemos êxito. Por fim, optamos por deixar a mãe no cavalo para dar algumas voltas no picadeiro e levamos Elaine para acompanhar, revezando, ora no colo da mediadora, ora no colo da lateral. Resposta da criança Elaine apresentou os mesmos sinais de estresse nas atividades de aproximação do cavalo realizadas pela equipe de equoterapia ou pela mãe. Quando a mãe montou no cavalo, Elaine reagiu com gestos que indicavam seu desejo de que a mãe descesse e se afastasse do cavalo. A estratégia de montaria dupla, portanto, não foi bem-sucedida. Elaine mantém o comportamento de se jogar do cavalo, continua a apresentar muita irritação, acompanhada de choro e do enrijecimento do corpo, principalmente, o tronco e os membros inferiores. Mesmo na companhia da mãe, não aceitou tocar no cavalo ou montá-lo. Estratégia 3: Montaria dupla com o pai (maternagem) Iniciamos a sessão pela colocação das imagens chaves no quadro que descreve a rotina das atividades a serem realizadas. Em seguida, repetimos os mesmos passos realizados na montaria dupla com a mãe, mas, substituindo a mãe pelo pai. O pai foi orientado a: aproximar-se do cavalo para interagir com ele; fazer carinho no cavalo para a criança observar; conduzir, de maneira branda, a mão da criança para também fazer carinho no cavalo. Em seguida, pedimos que o pai montasse no cavalo e colocamos Elaine junto com ele, para que realizassem uma montaria dupla. A despeito da relutância inicial, Elaine conseguiu realizar parte das atividades previstas para a sessão de equoterapia. Resposta da criança Elaine continuou a apresentar comportamentos de recusa, irritação, choro e não aceitou se aproximar do cavalo. No momento do quadro de rotina, ela concorda em colar algumas imagens, mas, usa a parede do quadro para se proteger e impedir que alguém a pegue para iniciar a aproximação com o cavalo. Aceita colocar o capacete, mas, apresenta as reações emocionais adversas assim que é levada para perto do cavalo. Quando tentamos montá-la na companhia do pai, Elaine apresentou o comportamento habitual de recusa, acompanhada de choro, porém, com a insistência da equipe de equoterapia, articulada com a cantiga de músicas infantis, ela se distrai e, aos poucos, acalma-se, aceitando prosseguir com a montaria dupla durante duas voltas dentro do picadeiro. Em seguida, pedimos ao pai que desmonte. Elaine tenta desmontar do cavalo, mas, equipe a segura e a conduz para fazer uma trilha fora do picadeiro, agora, pela primeira vez, na montaria solo. Ao longo do percurso, Elaine se mantém calma e passa a observar e interagir com o ambiente ao seu redor. Quando retornamos para o picadeiro e encontramos com os pais, Elaine volta a apresentar as reações adversas de rejeição do cavalo. 6 Trata-se de um recurso pontual, que utiliza o vínculo afetivo da criança com a mãe ou o pai, a fim de promover a aproximação inicial e a interação com o cavalo; tão logo seja possível, é preciso investir na montaria solo, pois, segundo recomendação da ANDE-BRASIL, é a opção mais indicada para garantir o bem-estar animal e favorecer a formação do vínculo entre a criança e a equipe de equoterapia. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 125 Discussão Diante de dificuldades como as vivenciadas no caso de Elaine, perce- bemos que as atividades de recepção e horsemanship deixam evidente que a equoterapia inicia, em alguns casos, antes de a criança montar no cavalo. É semelhante ao que ocorre, por analogia, na natação, que tem por obje- tivo ensinar as crianças a nadar, porém, em muitos casos, não há como iniciar as atividades da natação até que a criança aceite entrar na piscina e, depois, até que ela aprenda a mergulhar; após o alcance dessas metas é que o apren- dizado da natação se torna efetivo. No caso da equoterapia, a intervenção, propriamente dita, inicia quando a criança aceita montar, mas, às vezes, o atendimento requer atividades prévias para os casos nos quais há uma rejeição à aproximação com o cavalo; não tem sentido querer avançar com as sessões de equoterapia enquanto a criança não aceitar a montar e a permanecer na sela interagindo, consigo mesma, com o cavalo e com as outras pessoas ao redor. Sendo assim, quando a criança se recusa a interagir com o cavalo, deve ser criado um programa com atividades anteriores à equoterapia, dirigidas para a aproximação com o cavalo, a interação com o cavalo e, por fim, a montaria. A duração dessas atividades deve ser a mesma prevista para a sessão de equoterapia, pois isso contribui para que a criança se habitue ao tempo que deve passar no centro de equoterapia. A familiarização progressiva da criança com o ambiente da equoterapia exige que ela passe o maior tempo possível junto com o cavalo, mesmo quando o cavalo não estiver diretamente envol- vido na atividade a ser realizada. Se necessário, as atividades que motivam a criança devem ser repetidas ao longo de toda a sessão. Quando for possível trazer outras crianças para fazerem equitação, principalmente irmãos, ou até mesmo os pais, isso pode contribuir para o processo de familiarização, pois a criança, ao assistir, interage com um modelo favorável. A aproximação entre a criança e o cavalo deve ser entendida como uma relação mútua, fruto de um interesse parte a parte. Enquanto a criança não considerar o cavalo como um par, ou seja, como alguém com quem ela quer se relacionar, a aproximação não será efetiva. O objetivo, portanto, não é somente fazer com que a criança monte, e sim fazer com que compartilhe o mesmo espaço com o cavalo, olhe para o cavalo, converse com o cavalo, toque espontaneamente no cavalo, enfim, brinque com o cavalo. Se isso não ocorrer de maneira espontânea, ou como resultado da curio- sidade da criança, ou por meio da indução do adulto, é preciso que alguém da equipe de equoterapia atue na mediação para criar situações que promovam a aproximação entre a criança e o cavalo. A mediação, nesse caso, requer, E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 126 previamente, a construção de um vínculo afetivo entre a criança e o(a) media- dor(a), o que habilita o(a) mediador(a) para incluir o cavalo nessa relação. O(A) mediador(a) deve interagir ora com o cavalo, ora com a criança, ora com ambos. A meta é ampliar a interação da criança com o cavalo, de forma a abran- ger as seguintes situações: aproximar-se do cavalo (aspecto espacial); olhar mais vezes e por mais tempo para o cavalo (aspecto atencional); falar com o cavalo ou sobre ele (aspecto comunicacional); tocar em diversas partes do corpo, dar tapinhas leves, empurrar, puxar o cavalo (aspecto relacional). Porém, às vezes, para que isso ocorra, é necessário que essas brincadeiras sejam realizadas entre a criança e o(a) mediador(a), ou que a criança observe essas brincadeiras acontecendo entre o(a) mediador(a) e o cavalo, para que, por fim, elas ocorram com a participação dos três juntos, ou entre a criança e o cavalo – sem a interferência do(a) medidor(a). A reação emocional de Elaine sugere que há um componente relacionado com insegurança, aversão ou medo do cavalo. A estratégia intuitiva inicial utilizada pela equipe de equoterapia se assemelhaà regulação do nível de dificuldade, pois, diante da dificuldade para fazer a aproximação entre Elaine e o cavalo, a equipe passa a selecionar atividades mais simples, como colocar o capacete ou apenas permanecer no redondel junto com o cavalo, mesmo sem se aproximar dele. Como o próprio termo indica, a regulação do nível de dificuldade é um recurso de adaptação adequado para casos em que a barreira principal está relacionada com o nível de habilidade da criança; como, nesse caso, a barreira está relacionada com um aspecto emocional, as adaptações não estão com o foco de tornar a atividade mais simples, mas, em realizar atividades que exigem menos interação com o cavalo, de forma a construir uma aproxima- ção progressiva. A segunda estratégia intuitiva da equipe de equoterapia foi recorrer à música e à interação com Elaine, o que envolve diretamente o aspecto emo- cional. Essa adaptação envolve a utilização de estratégias de motivação para a participação na atividade. Porém, o uso da música para revestir a atividade de prazer ou para mudar o foco da atenção, não demonstrou ser suficiente para contrapor-se às reações emocionais adversas do contato com o cavalo. As interações da equipe de equoterapia com Elaine tem um potencial efetivo para auxiliar na aproximação dela com o cavalo, desde que estejam orientadas para favorecer o processo de aprendizagem. Isto requer uma reorga- nização das atividades de acordo com dois princípios chaves: primeiro, deve- mos partir da atividades espontâneas da criança, ou seja, ao invés de investir na proposição de uma série de atividades que não despertam o interesse dela E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 127 e que, por vezes, culminam em mensagens implícitas de insucesso, devemos optar por conceder a iniciativa das atividades para criança, ou seja, trazê-la para perto do cavalo e deixar que ela tome a iniciativa; e, segundo, deve- mos orientar as atividades para que assumam um formato lúdico, pois, o jogo cria as condições apropriadas para o envolvimento da criança como um todo: movimento-pensamento-sentimento. Sendo assim, a música a ser cantada, por exemplo, deve ser selecionada dentre as que já fazem parte do repertório da criança, logo, temos que pergun- tar aos pais que músicas ela gosta e prefere ouvir. Nas brincadeiras, por sua vez, a equipe de equoterapia deve se preparar para observar e ouvir a criança com atenção; é preciso aguardar que ela faça algo para, aos poucos, tentar participar dessa atividade e, dessa forma, dar início a um jogo. No caso da montaria dupla, o ponto central é fornecer um apoio afetivo que transmita a segurança necessária para que Elaine tenha disposição de enfrentar o desafio de se aproximar cavalo. Já argumentamos sobre a impor- tância, nesse caso, quando a criança tem uma rejeição completa à atividade, de uma mediação, ou seja, de uma terceira pessoa que auxilie a criança a vivenciar essa experiência. Sendo assim, a equipe recorreu a uma pessoa com a qual Elaine já tem um forte vínculo afetivo, a mãe. Atendido o critério chave, é preciso considerar se a mediadora (a mãe) não tem dificuldades para se aproximar do cavalo, pois, caso ela também tenha insegurança, o efeito será o contrário ao que se deseja, pois, a criança vai adicionar à sua insegurança, a mensagem de insegurança que a mãe vai transmitir para ela. A substituição da mãe pelo pai na montaria dupla pode parecer uma repetição da mesma estratégia realizada anteriormente, porém, essa é uma avaliação equivocada, pois, as possibilidades presentes na mediação são, em grande parte, dependentes do significado que o(a) mediador(a) tem para a criança. Sendo assim, quando há uma troca de mediadores, estamos diante de um novo e diferente processo de mediação. É claro que a dimensão afetiva continua no cerne da proposta de inter- venção, como também, o objetivo continua a ser o mesmo, fazer a aproxima- ção com o cavalo; o impacto sobre a criança, no entanto, é outro. Isso pode não ser suficiente para explicar a diferença no resultado, pois, não podemos esquecer que a experiência anterior com a mãe deixou a sua influência sobre Elaine, logo, parte do resultado obtido na montaria dupla com o pai deve ser entendido como uma consequência conjunta de todas as estratégias realiza- das anteriormente. É preciso também considerar que a personalidade, da mãe e do pai, com quem Elaine convive, exerce influências diversas sobre ela. Os pequenos avanços obtidos, ao conseguirmos manter Elaine montada no cavalo durante E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 128 parte da sessão de equoterapia, devem ser analisados de forma crítica, até mesmo porque o seu comportamento de rejeição não se modificou. Um alerta importante, é que o desenvolvimento infantil comporta alguns avanços e retrocessos, logo, não é suficiente que a criança apresente o comportamento favorável por um curto período de tempo, para que a equipe comece a exigir que ela mantenha o mesmo desempenho daquele momento em diante. É pre- ciso avaliar de forma contínua as reações da criança e ser flexível na definição dos objetivos a serem alcançados. As estratégias intuitivas realizadas em conjunto com as manobras sutis de contenção para que Elaine permaneça montada no cavalo apenas devem ser realizadas durante um curto período, na expectativa de que as sensações obtidas pelo andar a cavalo revelem para Elaine o prazer desconhecido da interação com o animal. É comum termos receio de pular, escorregar, mer- gulhar, rolar, mas, depois de realizar o movimento sem nenhum dano ou dor, querermos repetir. Essa deve ser a intenção quando se recorre à contenção, que nunca deve ser forçada, mas que exige uma dose de indução e, portanto, de contrariedade, para evitar que a criança desmonte. Se o resultado não for alcançado rapidamente, a contenção deve ser abandonada, caso contrário, a criança começa a se sentir ameaçada e a manifestar comportamentos de defesa, para se defender da negação da sua vontade, algo que já verificamos no início da sessão, quando Elaine usa a parede do quadro de rotina para se proteger. A experiência da montaria dupla com o pai, associada com as músicas e a sutil contenção por parte da equipe de equoterapia, fez com que Elaine desse as primeiras voltas no picadeiro sobre o cavalo. A montaria dupla se assemelha à experiência partilhada, quando o(a) mediador(a) age de forma cooperativa com a criança a fim de auxiliá-la na realização do desafio. Não se trata, portanto, da mera execução da atividade em si mesma, mas, da apren- dizagem que resulta da possibilidade de viver a experiência junto com o outro, o que mobiliza a atenção da criança para as características requeridas na execução da atividade. Nas primeiras vezes, a responsabilidade de conduzir é do(a) mediador(a), mas, ao longo do processo, que precisa ser repetido várias vezes, o nível de implicação deve diminuir para que a criança passe a assumir a responsabili- dade pela atividade. Logo, era importante que a montaria dupla, Elaine-pai, fosse realizada durante algumas sessões, até que não fosse mais necessária a contenção nem as músicas. Não há por que ter pressa para que o pai desmonte, como também, não há por que manter o pai presente quando ela já é capaz de realizar a atividade de forma autônoma. Os indicadores que demarcam a necessidade de fazer essas mudanças devem estar relacionados com o desa- parecimento das reações adversas de Elaine e o surgimento de expressões de satisfação e de prazer. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 129 Ao final da sessão, quando asreações de rejeição voltam a ocorrer, deve- mos considerar se parte da insegurança de Elaine não pode estar relacionada com o ambiente fechado do picadeiro, seus sons, os odores, a quantidade de pessoas ao redor. A trilha ao ar livre modifica consideravelmente essas ques- tões, além de acrescentar diversos outros estímulos. Caso Daniel A criança Daniel é uma criança de quatro anos, do sexo masculino. Teve diagnós- tico de autismo e tem grau severo, segundo a Escala Cars. No Programa Passo a Passo na Comunicação foi classificado com grau de habilidades linguísticas zero, o que significa que Daniel fala por meio de gestos e balbucia. A família A família de Daniel apresenta uma estrutura dupla, por assim dizer, pois, os pais são divorciados e a guarda da criança é compartilhada, logo, em determinada semana a criança está com o pai e em outra com a mãe. No centro de equoterapia, o pai e a mãe são prestativos e cooperativos, porém, nas semanas iniciais, em algumas situações, ocorreram desentendimentos entre eles. Durante as sessões, a participação do pai e da mãe, vínculos preferenciais da criança, dificulta a aproximação afetiva com os terapeutas, o que indica a necessidade fazer a separação, a fim de verificar se Daniel, sem a presença da família, apresenta um bom desempenho nas sessões. Início Na sessão de recepção e horsemanship o hiperfoco de Daniel, segu- rar objetos, interferiu em sua participação nas atividades, que foram realizadas de forma assistemática, mantendo-se sem iniciativa e demons- trando desinteresse. Ao interagir a primeira vez com o cavalo, Daniel reagiu com choro e irritação. O pai e a mãe se aproximaram para auxiliar na mediação, mas, sem sucesso. Recorremos às dinâmicas de aproximação intuitivas da equipe, a música ou brincadeiras, que, aos poucos, fizeram com que Daniel acei- tasse a tocar no cavalo, a montar na sela, criando, portanto, um vínculo com o cavalo. Em seguida, surgiram novas dificuldades, não mais relacionadas direta- mente com o cavalo, que, igualmente, comprometem a participação efetiva nas E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 130 sessões de equoterapia: Daniel apresentou hipersensibilidade na cabeça, que resultou na rejeição ao uso do capacete. A reunião desses diversos incômodos, a saber: ter que se afastar da família e do hiperfoco, ter que se aproximar do cavalo e ter que se acostumar com o uso do capacete, conduziram para um quadro marcado pelo choro, irritação e fuga. Quadro 3 – Caso Daniel – Estratégias intuitivas de enfrentamento das dificuldades para iniciar a equoterapia Estratégia 1: Montaria solo Recepcionamos Daniel e o conduzimos ao picadeiro, na companhia do pai e da mãe. Tentamos realizar a sequencia lógica do quadro de rotina, porém, Daniel não apresentou interesse e, várias vezes, fugia em direção aos pais. Não aceitou colocar o capacete e recusou a aproximação com o cavalo. Após alguma insistência da equipe de equoterapia, aproximou-se e tocou no cavalo, mas, recusou-se a montar. Iniciamos as atividades com música e algumas brincadeiras com o cavalo, até que Daniel montou, porém, tentava em alguns momentos se jogar do cavalo, inclinando o corpo de um lado para o outro. Observamos, em situações anteriores, que a criança ao conseguir montar e experimentar a sensação de ser conduzida pelo cavalo, vivencia um prazer que dispersa os incômodos. Diante dessa possibilidade, consideramos adequado recorrer a uma indução, mesmo que não espontânea, para que a criança monte e o cavalo inicie a marcha. Resposta da criança Criança apresentou irritação, choro e desinteresse em realizar as atividades iniciais do quadro de rotina; inicialmente, recusou-se a montar e, uma vez na montaria, apresentou fraqueza de tronco e retroversão pélvica, reações que indicam a vontade de desmontar. Daniel balbucia de forma repetitiva e não deixa de segurar objetos que são seu hiperfoco, atitudes que dispersam o foco das atividades propostas. Estratégia 2: Montaria solo, com os responsáveis na recepção Conversamos com os pais sobre a importância aguardarem na recepção, para estimular o desenvolvimento da autonomia de Daniel e, ao mesmo tempo, favorecer a construção de vínculos afetivos com os membros da equipe de equoterapia e com o cavalo. A ausência do pai e da mãe também transfere, na perspectiva do Daniel, a responsabilidade pela condução das atividades para os adultos que estão com ele, logo, para a equipe de equoterapia. Resposta da criança Daniel, no início, demonstrou irritação e choro, porém, com a realização das dinâmicas, a equipe de equoterapia conseguiu distraí-lo. Aproveitando um momento em que Daniel ficou entretido com as brincadeiras e deixou os objetos de hiperfoco no chão, a equipe de equoterapia guardou os objetos, o que contribuiu para que a atenção fosse dirigida para as atividades da equoterapia, que foram realizadas com sucesso. Estratégia 2: Montaria solo, sem os objetos de hiperfoco Ao observar que a retirada dos objetos de hiperfoco e a separação do pai e da mãe contribuíram para participação de Daniel nas atividades da equoterapia, pedimos à mãe que, de uma forma adequada, para não o deixar irritado, retirasse os objetos antes do início da equoterapia. Dessa maneira, a equipe de equoterapia não precisa se preocupar, nem perder tempo, para realizar estratégias que o afastem do hiperfoco, como também, eliminam uma das fontes de dispersão sem o risco de gerar um custo afetivo adicional que amplie os incômodos, pois, se Daniel percebe que querem retirar os objetos, pode adotar uma postura defensiva. A diretriz de realizar as sessões de equoterapia de maneira independente, sem a presença do pai ou da mãe, que ficam aguardando na recepção, foi mantida. Resposta da criança As reações emocionais iniciais de Daniel continuaram a ser de irritação e choro, mas, ao longo do processo, com a persistência da equipe de equoterapia e as estratégias de distração, Daniel começa a participar de todas as atividades, desde o quadro de rotina até a sessão de equoterapia. Colocar o capacete de proteção continua a ser um momento de desconforto, mas, como não é possível realizar a sessão sem os equipamentos de segurança, direcionamos a atenção para a aproximação com o cavalo, ou seja, transferimos a colocação do capacete para um pouco antes da montaria, o que permite iniciar a sessão imediatamente após a colocação do capacete, para que Daniel esqueça do capacete e dirija a atenção para a equitação. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 131 Discussão O caso Daniel deixou diversas lições, que não devem ser consideradas como “receitas”, pois, as estratégias que deram certo para ele podem não ser efetivas para outras crianças. As lições gerais que podem ser aplicadas a outros casos são: (a) a importância de uma observação atenta da criança e da família, a fim de identificar possibilidades de ação; (b) a necessidade da adaptação das estratégias inicialmente previstas, quando os resultados não são favoráveis; (c) a persistência na realização das atividades, de forma a experimentar, na prática, estratégias que modifiquem o significado emocional de atividades novas, para que sejam incorporadas no repertório de vivências da criança. Dentre as estratégias específicas utilizadas, destacamos: para reverter as reações aversivas de Daniel à aproximação com o cavalo e a sua recusa em montar, foi importante retirar os aspectos que ele utilizava para se esquivar da atividade: os objetos de hiperfoco e a presença do pai e da mãe. Uma vez que as estratégias permitiram uma participação efetiva de Daniel nas sessões de equoterapia, incorporamos essa, por assim dizer, rotina de pro- cedimentos em todas as semanas subsequentes, o que denota a necessidade de ajustes que individualizemo protocolo de atendimento, sem, no entanto, alterar as características chaves do programa Passo a Passo na Comunicação. Um dos pontos de destaque no comportamento de Daniel durante as sessões de equoterapia é o olhar atento para detalhes do percurso. Esse deslumbramento com um novo ângulo de visão das coisas, pode ser, ao mesmo tempo, o que pode ter provocado medo e insegurança, porém, uma vez superadas as reações emocio- nais negativas, o que desperta o interesse e a curiosidade das crianças. Estar sob o cavalo, faz com que a criança seja a pessoa que está na posição mais alta, que vê tudo de cima, o que, de forma inconsciente, transmite uma sensação de poder. Uma questão que merece atenção da equipe de equoterapia, é a ansiedade no alcance dos resultados, algo que afeta tanto a família como os profissionais que atuam na equoterapia. A mediação pressupõe a construção de um diálogo, ou seja, é preciso sugerir uma atividade e aguardar a resposta da criança, ou, às vezes, é preciso começar escutando a criança, para agir como uma resposta às suas demandas; essas duas possibilidades deixam claro que a interação deve transcorrer de forma a respeitar o ritmo da criança. A mediação não pode se res- tringir ao comando das atividades, como se os benefícios da equoterapia fossem decorrentes apenas dos movimentos realizados em si mesmos, nesse caso, os simuladores de equitação poderiam substituir o cavalo; não acreditamos nisso, logo, temos que adotar práticas que favoreçam a interação entre a criança e o cavalo, como também, temos que respeitar a criança. Um dos pontos chaves da equoterapia é corresponder à disposição e às condições de cada praticante. Em relação à associação entre equoterapia e o desenvolvimento da fala, Daniel, enquanto está montado, costuma balbuciar sem parar, o que marca a sua presença e chama atenção dos outros para si, o que demonstra o seu prazer E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 132 em montar e permite supor que essas experiências têm um impacto sobre a sua identidade. Caso Guilherme A criança Guilherme é uma criança de seis anos, do sexo masculino. Teve diagnóstico de autismo confirmado e tem grau severo, segundo a Escala Cars. No Programa Passo a Passo na Comunicação foi classificado com grau de habilidades linguís- ticas zero, o que significa que Guilherme realiza somente balbucios. A família A família de Guilherme é comprometida e muito colaborativa. Geralmente vem para equoterapia acompanhado do pai, da mãe e da babá. Durante as sessões, os acompanhantes procuram auxiliar nos atendimentos, ficam atentos às atividades e, em alguns momentos, contribuem com dicas que favorecem a comunicação com Guilherme e o seu envolvimento com as atividades sugeridas. Início Nas sessões de recepção e horsemanship, Guilherme participou das ati- vidades iniciais do quadro de rotina que não envolviam o cavalo de forma sistemática. Ao interagir a primeira vez com o cavalo, Guilherme aceitou entrar no redondel, aproximar-se e tocar no cavalo e, em seguida, montar no cavalo, sem demonstrar receios ou qualquer outro tipo de reação emocional negativa. Entretanto, nas sessões do primeiro módulo do programa de equoterapia, Guilherme teve dificuldade para iniciar em função da hipersensibilidade na cabeça, ou seja, não aceitou colocar o capacete de forma espontânea. Ao ser con- trariado com a colocação a revelia do capacete, Guilherme reagiu com irritação e, às vezes, atitudes agressivas em resposta à desconsideração da sua vontade. Quadro 4 – Caso Guilherme – Estratégias intuitivas de enfrentamento das dificuldades para iniciar a equoterapia Estratégia 1: Montaria com colete ponderado Com intuito de atrair a atenção de Guilherme, recorremos ao “Colete Ponderado7”. Realizamos o Quadro de Rotina, com ênfase no uso de imagens chaves, incluindo a colocação do capacete. Em seguida, vestimos o colete para depois, enquanto Guilherme explorava as sensações do colete, colocar o capacete e iniciar, imediatamente, a montaria. 7 Recurso sensorial utilizado com a finalidade de reduzir hiperatividade e direcionar a atenção para as atividades a serem realizadas; o colete exerce uma pressão tátil constante sobre o tronco que auxilia a continua... E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 133 Resposta da criança: Guilherme participou de forma ativa das atividades previstas na sessão de equoterapia, sem apresentar reações contrárias ao uso do capacete. Obedeceu a maior parte dos comandos e, em poucos momentos, teve uma reação de fuga, que não era incisiva, logo, não interferiu no andamento da sessão, desde que os terapeutas se mantivessem atentos para exercer controle sobre essas reações inadequadas. Notamos, no entanto, que o tamanho e o peso do colete ponderado dificultam a movimentação de Guilherme e o manejo da equipe de equoterapia. Sendo assim, apesar de ser uma estratégia bem-sucedida para favorecer o uso do capacete, não era recomendado manter o uso ao longo de todo o programa de intervenção. Estratégia 2: Montaria sem o colete ponderado Após a realização de algumas sessões com atenção especial para o quadro de rotina e o colete ponderado, experimentamos iniciar a equoterapia sem essas atividades prévias, para avaliar as reações de Guilherme a essas modificações. A única estratégia era envolver a criança com os cumprimentos e com a aproximação ao cavalo, para que a colocação do capacete figurasse como uma etapa rápida, um pouco antes do início da montaria, de forma a dirigir a atenção dele para o cavalo e as demais atividades a serem realizadas. Resposta da criança: Guilherme demonstrou aceitar o uso do capacete como parte da equoterapia, pois deixou de apresentar reações contrárias e passou a participou ativamente das sessões, desse momento até o final do programa. Discussão Apesar do uso do equipamento de segurança ser algo imprescindível, que não pode ser flexibilizado, em hipótese alguma, temos que ter consciên- cia de que se trata de uma parte importante da ambientação, logo, que exige um protocolo específico. O que para as pessoas de uma maneira geral pode ser explicado como uma regra, que deve ser aceita independente da vontade pessoal, para uma pessoa com TEA, deve ser feito um ajuste progressivo para que ela aceite, ou seja, para que a regra seja internalizada e gere a sua concor- dância em obedecê-la. Sendo assim, se experiências novas exigem um tempo de adaptação e fami- liarização, comum para todas as pessoas, mas, particularmente relevante para quem tem TEA, devemos identificar outras experiências que podem antecipar e preparar a criança para aceitar o uso do capacete, como, por exemplo: do uso de gorro quando estiver frio; do uso de boné quando estiver exposto ao sol; do uso de capacete para andar de bicicleta. Devemos consultar a família para saber se a criança já teve essas experiências e pensar em associar as situações, ou seja, se a criança aceita usar um boné, pode ser orientada a vir para a equoterapia de boné, para que a colocação do capacete seja apenas a substituição de algo que já está na cabeça. Uma opção que não utilizamos, mas, que pode ser importante em situações equivalentes, é apresentar para a criança um modelo social prévio, ou seja, pedir para que todos ao redor usem boné ou capacete, inclusive o pai e a mãe, o que transmite a mensagem de que é algo a ser feito por todos, inclusive ele. criança a lidar com as informações proprioceptivas que subsidiam a consciência da posição do corpo no espaço. continuação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 134 A criança pode ser a última a colocar o capacete. É possível, inclusive, que o cavalo participe dessa estratégia, colocando, por exemplo, a máscaraprotetora contra moscas. A reação negativa das crianças ao uso do capacete, na verdade, é um relato comum de muitas pessoas obrigadas a usar equipamentos de segurança; para evitar o descumprimento da norma, é preciso recorrer a campanhas educativas, articuladas com fiscalização e punição pela desobediência. Para as crianças com TEA, as alternativas serão semelhantes, porém, com ênfase na dimensão edu- cativa e no convencimento, pois, a fiscalização e a punição não nos interessam. Um ponto importante de ser discutido nesse caso, é o conceito de agres- sividade. Temos que considerar que a despeito de a agressividade ser uma expressão utilizada para descrever a atitude de uma pessoa que provoca dano à outra, a atitude de Guilherme com a equipe de equoterapia não é algo gra- tuito ou intencional, mas uma resposta para uma atitude agressiva anterior, o desrespeito à sua vontade e ao seu corpo. A agressividade, nesse contexto, pode ser entendida como uma atitude positiva de afirmação da vontade, para exigir respeito. Isso não significa que deve ser incentivada ou aceita, mas, que possui um significado. Vamos fazer um paralelo. Algo importante de ser ensinado no contexto da equoterapia, é que se você tem alguma atitude que machuca o cavalo, isso com certeza vai provocar nele uma reação de proteção; ao se esquivar da atitude agressiva, o cavalo pode agir de forma a machucar quem está próximo dele, par- ticularmente, quem o está machucando. Com as devidas proporções, o princípio é o mesmo para Guilherme. É evidente que a equipe de equoterapia não tem uma atitude para machucá-lo. O ponto de referência, no entanto, não é a inten- ção da equipe e sim a compreensão que Guilherme tem da atitude deles. Se ele está se sentindo agredido, ele pode reagir também com uma resposta agressiva. As estratégias utilizadas no caso de Guilherme foram voltadas para reti- rar a atenção do desconforto gerado pelo capacete, direcionando a atenção para atividades que gerem prazer ou mobilizem a sua curiosidade. Durante a trilha fora do picadeiro, ele realizou balbucios e sorrisos, como também, teve a iniciativa de tocar na crina do cavalo, o que indica a compreensão de que o cavalo é alguém com quem ele se relaciona e que lhe proporciona a experiência de ser carregado. Ao final, podemos afirmar que essas experiências auxiliaram Guilherme no desenvolvimento de diversas competências: a capacidade de internalizar regras; a ambientação ao uso de vestuários diversos; a tolerância de situações negativas para ter a oportunidade de experimentar situações prazerosas. Para evitar os episódios de fuga, mesmo que esporádicos, as terapeutas adotaram uma postura mais firme no comando das atividades, o que gerou uma resposta positiva na realização do programa e na supressão do comportamento inadequado. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 135 Caso Maurício A criança Maurício é uma criança de três anos e sete meses, do sexo masculino. Tem diagnóstico de autismo confirmado, em grau severo segundo a Escala Cars. No Programa Passo a Passo na Comunicação foi classificado com grau de habilidades linguísticas zero, o que significa que Maurício apresenta intenção comunicativa por meio de gestos, porém não apresenta fala e sim linguagem gestual, por exemplo, apontando. A família O pai e a mãe de Maurício têm um bom relacionamento conjugal, como também, dedicam atenção e carinho para ele, o que fica evidente no respeito à rotina e aos hábitos importantes para a segurança emocional da criança. Nas atividades do centro de equoterapia, estão sempre presentes e participam de forma cooperativa, auxiliando a equipe na escolha das estratégias mais ade- quadas ou incentivando Maurício a executar de forma ativa e persistente as atividades propostas. Início Na sessão de recepção e horsemanship, Maurício participou ativamente das primeiras atividades que não envolviam o cavalo de forma sistemática, como preencher o caderno e andar pela trilha, o que foi positivo. Ao interagir a primeira vez com o cavalo, Maurício apresentou resistência para se apro- ximar e, ao entrar no redondel, não tocou e não montou no cavalo de forma espontânea, nem a partir do convite da equipe de equoterapia. Nas primeiras tentativas de montá-lo de forma induzida, a fim de avaliar a reação que teria após estar montado, houve resistência, choro e irritação. Ainda durante a fase de recepção, o pai e a mãe foram chamados para dentro do redondel para realizarem uma nova aproximação com o cavalo, agora, com Maurício no colo do pai. Com o apoio afetivo do pai, Maurício aceitou permanecer ao lado do cavalo. Os próximos passos eram: concordar em tocar no cavalo e montar. O pai tocou no cavalo e tentou levar a mão de Maurício para também tocar no dorso do cavalo. Maurício aceitou, mas, com hesitação e, sempre que podia, retirava a mão para se esquivar da situação, demonstrando que continuava incomodado e com medo. Diante dessa dificul- dade, não tentamos a montaria. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 136 Quadro 5 – Caso Maurício – Estratégias intuitivas de enfrentamento das dificuldades para iniciar a equoterapia Estratégia 1: Montaria com a presença do pai e da irmã ao lado Após as tentativas frustradas de montaria solo, precedidas pelo quadro de rotina, que resultaram em reações emocionais de choro e irritação, acompanhadas de atitudes de esquiva e até mesmo de comportamentos agressivos de contrariedade, convidamos o pai e a irmã de Maurício para participarem das sessões, posicionando-se ao lado do cavalo, enquanto ele estava montado. Resposta da criança Na primeira sessão, a companhia do pai e da irmã contribuiu para diminuir a intensidade das atitudes de esquiva e dos comportamentos agressivos, apesar de Maurício manter as mesmas reações emocionais, pois, chorou durante toda a sessão. Ao longo da sessão, dirigia a atenção exclusivamente para o pai e a irmã, evitando o contato com a equipe de equoterapia e o cavalo. Independente disso, a equipe de equoterapia realizou todas as atividades previstas para o percurso. Na sessão seguinte, repetimos a estratégia, e notamos que as reações de choro foram menos intensas, como também, que a colocação do capacete, mesmo não sendo espontânea, foi mais fácil. Esses dois indicadores mostraram que uma medida simples, como o apoio afetivo da família, associada com a familiarização da criança com as experiências psicomotoras da equitação e, provavelmente, com o prazer ou a curiosidade que despertam, podem reverter um quadro complicado de total rejeição da equoterapia. Discussão Nas sessões do primeiro módulo, Maurício deixou evidente que as expe- riências vivenciadas na fase de recepção não foram suficientes para promover a ambientação e retirar o medo da aproximação e interação com o cavalo. Nas tentativas de aproximação com o cavalo Maurício demonstrou irritação e começou a chorar; não aceitou tocar nem montar no cavalo. Recorremos às estratégias de distração, por meio das músicas e brincadeiras, a fim de favo- recer a aproximação de maneira fortuita, sem gerar desconforto. Infelizmente, não deu certo e a insistência fez com que Maurício percebesse o ambiente da equoterapia com algo aversivo, tanto que, ao chegar no estacio- namento, já iniciava episódios de choro e irritação; não concordava em afixar as figuras no quadro de rotina; não aceitava nem olhar para o capacete; permanecia no colo da terapeuta durante toda a sessão, chorando muito e não querendo olhar para o cavalo. Essas reações configuraram um quadro de total rejeição. Em situações como essa, às vezes é preciso recorrer a estratégias prévias, que podem ser realizadas pelo pai e pela mãe em casa, de maneira a favorecer a ambientação com as atividades da equoterapia.Por exemplo: é possível brincar com a criança pequena de “cavalinho” para que tenha uma experiência análoga, mesmo que figurada, do montar; o mesmo pode ser feito para que a criança faça um afago no “cavalo”, que pode até ser simulado pelos pais com uma “fantasia” improvisada do cavalo, colocando orelhas, rabo ou uma crina. A brincadeira pode ser com o adulto em posição quadrúpede ou em pé, com a criança enganchada nas costas. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 137 Para familiarização com a altura do olhar, uma atividade similar à monta- ria é colocar a criança sentada sobre os ombros, pois, ela fica em uma posição mais alta do que todos os que estão ao seu redor; passear um pouco com ela nessa posição proporciona sensações similares às vivenciadas na equitação. Por fim, o adulto, sentado em uma cadeira, pode colocar a criança sentada (montada) sobre as suas pernas, como se estivesse em uma montaria dupla. Em seguida, de forma lenta e gradual, pode ficar na ponta dos pés para elevar alternadamente as pernas, de maneira a reproduzir o movimento lateral da equitação. A criança, com essa experiência, vai sentir um pequeno desequilí- brio do quadril de um lado para o outro, o que deve gerar uma compensação do tronco para retificar a posição da cabeça. Não chegamos a realizar essas atividades, mas, são sugestões que indicam estratégias para a familiarização da criança com as experiências psicomotoras vivenciadas na equoterapia. Voltando à discussão das possibilidades de mediação da equipe de equote- rapia, como se trata barreiras provocadas pelas reações emocionais de contato com o cavalo, ou com situações desconhecidas, um dos expedientes é fornecer apoio afetivo. Se não for possível recorrer a alguém da família, a opção é indicar alguém da equipe para desempenhar o papel de mediador(a). A escolha pode levar em consideração se a criança tem uma proximidade afetiva maior com a mãe ou com o pai, para escolher uma mediadora ou um mediador. É possível que a identificação com a mãe ou o pai contribua na aproximação com a criança, no entanto, é preciso que se destine um tempo para a construção de um vínculo afetivo entre a criança e o(a) mediador(a), aspecto fundamental para habilitar o(a) mediador(a) a representar esse papel para criança. No primeiro momento o foco é verificar se a criança aceita a participação do(a) mediador(a) em sua atividade (seu mundo); essa aproximação inicial é facilitada quando não há o olhar, quando o adulto está em uma posição inferior à da criança. Às vezes é preciso se aproximar de costas, pois, essa postura tem um significado passivo, logo, sem traços de dominação, o que pode despertar a curiosidade da criança. Essas atividades devem ser realizadas no cenário sociocultural da equo- terapia e com a presença do cavalo para que, assim que seja possível, ele seja incluído nas atividades. As atividades podem começar pela iniciativa da criança, mas, devem, pela intervenção do(a) mediador(a), estar vincula- das à equoterapia. O(A) mediador(a) pode ora representar o cavalo, o que implica na criança “montar” no(a) mediador(a), ora envolver o cavalo na atividade, mas, com o seu apoio afetivo, de forma a parecer para a criança que ela está mais interagindo com o(a) mediador(a) do que com o cavalo. É lógico que esse é um ponto de transição, pois, nosso objetivo final é que a criança se relacione diretamente com o cavalo; a partir desse momento, E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 138 o(a) mediador(a) passa a se dedicar aos objetivos de outras etapas do pro- grama de equoterapia. Para Maurício, investimos nas estratégias de aproximação com o apoio afetivo da presença e do engajamento ativo de membros da família acompa- nhando as sessões de equoterapia, conforme descrito a seguir. Após algumas sessões, experimentamos, com sucesso, retirar a presença do pai e da irmã, pois, Maurício concordou em participar da equoterapia de forma independente. Caso Rafael A criança Rafael é uma criança de cinco anos, do sexo masculino. Tem diagnóstico de autismo confirmado, em grau severo segundo a Escala Cars. No Programa Passo a Passo na Comunicação foi classificado com grau de habilidades lin- guísticas nível 1, o que significa que Rafael utiliza palavras lexicais e demons- tra ter conhecimento dos objetos e de suas características. A família A família de Rafael é colaborativa. A criança vem sempre com a mãe e a irmã adolescente. A irmã gosta de cavalos, mas, às vezes interferiu, sem intenção de atrapalhar, na sessão de equoterapia, sendo necessário pedirmos para ela aguardar na recepção, para que fique longe do alcance de visão do Rafael. Quando a mãe e a irmã estavam por perto, Rafael se comportou como se pedisse ajuda: agitou-se, chorou e se jogou no chão para sair da montaria, tendo que ser contido pela equipe. Sendo assim, durante o atendimento, elas o esperam em um banco atrás do picadeiro. Rafael tem um bom relacionamento com a mãe e a irmã; quando está agitado, a mãe conversa e interage com ele, o que costuma retirar o foco do que o está deixando irritado, como por exemplo, as moscas; a irmã tem outra estratégia que geralmente é bem-sucedida, fazer uma fotografia com o celular; Rafael faz uma postura para foto que contribui para sua organização corporal e, consequentemente, emocional. Início Na sessão de recepção e horsemanship Rafael participou das primeiras atividades que não envolviam o cavalo de forma inquieta, o que indicou um estranhamento do ambiente e das pessoas. Não participou da interação com E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 139 o cavalo, permaneceu sentado na areia com dois profissionais da equipe; começou a repetir, de forma contínua, a palavra “vermelho”, a irmã relatou que ele gosta da cor vermelho. Às vezes, fugiu correndo da atividade, logo, era preciso correr atrás dele para pegá-lo e trazê-lo de volta no colo. Ao interagir a primeira vez com o cavalo, Rafael montou no cavalo, mas, ficou agitado e não permaneceu muito tempo na posição. O fato de ter montado, no entanto, indicou que a familiarização estava sendo positiva e que era possível iniciar o programa de equoterapia. Entretanto, nas primeiras sessões, Rafael não aceitou montar esponta- neamente no cavalo, logo, foi necessário colocá-lo rapidamente, de forma induzida, e sair imediatamente do picadeiro a fim de promover a separação dele com a mãe e a irmã. Rafael ficou agitado durante toda a sessão. Várias vezes tentou desmontar, jogando as pernas para fora da sela, ou, jogando o tronco para lateral em direção aos mediadores, que precisavam conter seus movimentos e voltá-lo para a posição correta. Rafael apresentou um comportamento de ecolalia e repetiu seguidas vezes as palavras: “aranha” e “vermelho”. Notamos que fora do picadeiro, em contato com a natureza, Rafael ficou menos agitado. A seguir, relatamos as estratégias utilizadas para diminuir as reações emocionais de incômodo e tentar fazer com que Rafael permanecesse montado. Quadro 6 – Caso Rafael – Estratégias intuitivas de enfrentamento das dificuldades para iniciar a equoterapia Estratégia 1: Cantar músicas infantis Nos contatos iniciais, a equipe de equoterapia notou que Rafael gostava de música e costumava cantar algumas. Sendo assim, a primeira estratégia para diminuir o estresse foi cantar “Dona Aranha” e “Pintinho amarelinho”, por exemplo. O interesse dele pela música ficou evidente ao vermos que, mesmo quando estava chorando, Rafael chorava e, ao mesmo tempo, cantava junto. Em alguns momentos, a música foi suficiente para que Rafael ficasse calmoe participasse das atividades. Resposta da criança A música exerceu uma influência positiva sobre Rafael, por ser uma atividade familiar que transmite segurança, como também, por demonstrar que as pessoas ao seu redor estão disponíveis para corresponder aos seus interesses. Ele cantou junto com a equipe e foi, aos poucos, ficando mais calmo. Da metade da sessão em diante, parou de chorar e gritar. Estratégia 2: Colocar músicas infantis no celular Diante a experiência positiva com a música, experimentamos tocar músicas gravadas, no intuito de ampliar o repertório e acrescentar o fundo musical dos instrumentos, como também, conseguir regular o volume adequado de acordo com o ambiente. Resposta da criança Rafael, com as músicas gravadas, acalmou-se instantaneamente, tornando possível fazer as atividades do protocolo de equoterapia. Mesmo assim, foi preciso manter a separação dele com a mãe e a irmã, pois a presença delas representa um elemento de dispersão. O comportamento de esquiva indica a necessidade de a equipe ter uma postura mais afirmativa, a fim de auxiliar Rafael a organizar-se em um ambiente mais dirigido. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 140 Discussão A experiência bem-sucedida, no caso de Rafael, com o uso das músicas infantis, destaca o papel das estratégias de motivação. A música, inicialmente descrita como um recurso de distração, que direciona a atenção da criança para algo prazeroso e já conhecido, pode também ser compreendida como uma experiência que contribui para a formação de um vínculo afetivo. Ao perceber os benefícios da música, a equipe de equoterapia deve estar atenta para destacar o mérito das pequenas mudanças, como também, para ensinar à família a ver e compreender os avanços obtidos. Normalmente, as mudanças que não correspondem às expectativas usuais das pessoas, cos- tumam ser negligenciados. O critério utilizado para avaliar a aprendizagem é apenas o resultado final esperado, nesse caso, montar no cavalo. Porém, antes de a criança montar no cavalo, uma série de progressos em relação à aproximação com o cavalo podem ocorrer. Paralelamente, é crucial exaltar a dedicação da criança nas atividades, a fim de ampliar a sua resiliência, ou seja, a disposição dela participar da atividade e o empenho em aprender, o que, novamente, deve ser realizado ao longo do processo de aprendizagem, e não apenas quando a aprendizagem termina, como costuma ser feito na avaliação escolar. No caso da regulação do nível de dificuldade, a mediação deve considerar as características da criança e o caráter dialético do contraste fácil-difícil. Se a criança recusa a atividade proposta, após algumas insistências, o(a) media- dor(a) deve adaptar a atividade ou propor uma substitutiva. A mediação deve ser capaz de adequar a atividade ao potencial e ao interesse da criança naquele momento. Via de regra, a adaptação torna a atividade mais fácil, porém, deve- mos ter em mente que o conceito de dificuldade é relativo às condições de cada criança, logo, o que é fácil para algumas pode ser difícil para outras. O caráter dialético, por sua vez, chama atenção para o fato de que o(a) media- dor(a), tão logo tenha conseguido construir uma experiência de aprendizagem que a criança seja capaz de realizar, após transcorrido o tempo apropriado de consolidação, deve fazer o contrário, tornar a atividade mais difícil, a fim de suscitar a aprendizagem e, consequentemente, o desenvolvimento da criança. Para fazer esses ajustes, o(a) mediador(a) deve ter uma capacidade de observação e compreensão da criança, como também, um conhecimento sobre a equoterapia e suas características, além de uma competência didática para lidar com as circunstâncias do ambiente. O domínio desse conjunto de saberes é obtido pelos(as) mediadores(as) ao longo de sua formação e da experiência profissional, logo, algo que a família ou um(a) medidor(a) sem a capacitação adequada podem não estar aptos a fazer. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 141 Por último, algo que está relacionado com a música, a capacidade infantil de fantasiar pode ser um recurso importante de mediação. As músicas podem ser encenadas por meio de gestos e movimentos, como também, a letra pode ser alterada para dar ensejo a paródias que incluam o cavalo e as situações típicas da equoterapia. Essas estratégias recorrem ao significado afetivo pre- sente nas diversas experiências corporais da criança, próximas da proposta de intervenção da Psicomotricidade Relacional. Caso Lucas A criança Lucas é uma criança de quatro anos e seis meses, do sexo masculino. Teve diagnóstico de autismo e tem o grau mais leve segundo a Escala Cars, classificado como “sem-autismo”. No Programa Passo a Passo na Comunica- ção foi classificado com grau de habilidades linguísticas dois de semântica e sintaxe, o que significa que Lucas apresenta palavras funcionais, como artigos e pronomes e faz relação entre objetos, identificando semelhanças, diferen- ças, e comparando de propriedades, como por exemplo, tamanho (pequeno/ grande) e peso (leve/pesado). A família Lucas é adotado e o pai e a mãe são separados, mas, eles mantêm um bom relacionamento entre si e com a criança. Demonstram conhecer e respeitar suas rotinas e hábitos preferenciais. Lucas tem dificuldade em respeitar limites, apresenta um comportamento opositor e gosta de se comunicar em inglês. Quem o acompanha nas atividades da equoterapia é a mãe, que apresenta uma postura participativa e cooperativa, auxiliando a equipe a testar as estratégias que facilitem a comunicação com Lucas, como também, incentivando-o a participar ativamente das atividades propostas. Início Na sessão de recepção e horsemanship Lucas participou das primeiras atividades que não envolviam o cavalo de forma sistemática, sendo colabora- tivo. Ao interagir a primeira vez com o cavalo aceitou se aproximar, mas, ao entrar no redondel não tocou e não montou no cavalo, afirmando verbalmente que não montaria. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 142 Após algumas tentativas da equipe de equoterapia, sem sucesso, a mãe foi chamada para dentro do redondel, a fim de tentarmos nova apro- ximação, com o apoio afetivo da sua presença. Lucas, com o incentivo da mãe, aceitou acariciar o cavalo, mas, reafirmou que não montaria. Na interpretação da mãe, Lucas não gosta de perder o controle, logo, estar em cima do cavalo e ser conduzido, significa “ser levado”, portanto, assu- mir um polo passivo na relação. Se concordarmos com a mãe de Lucas, a intervenção da equipe nos dois lados do cavalo para garantir a sua segu- rança, em vez de ter o significado de proteção, pode ser associado, para ele, como um controle e, consequentemente, uma restrição a qual deve se opor. Na primeira sessão de equoterapia, Lucas não apresentou medo do cavalo, mas, não colaborou com a equipe na realização das atividades; recusou-se a fazer o quadro de rotina e a participar ativamente da sessão. O comportamento opositor era acompanhado pela verbalização do “não”, em todas as situações nas quais recebia algum tipo de comando. A mãe, quando conversamos sobre as dificuldades, instruiu-nos a ignorar suas reações contrárias e insistir na atividade. O caso de Lucas é diferente dos demais, pois, as dificuldades estão menos rela- cionadas com características do TEA e mais próximas do comportamento opo- sitor, logo, recorremos a estratégias diferentes para adaptar o programa às suas características individuais. Quadro 7 – Caso Lucas – Estratégias intuitivas de enfrentamento das dificuldades para iniciar a equoterapia Estratégia 1: Dar comandos invertidos – dizer para “não fazer” o que queremos que ele faça Ao perceberque as dificuldades de participação eram geradas pelo comportamento opositor e não pela natureza ou circunstâncias da atividade, experimentamos, inicialmente como uma brincadeira, dar comandos invertidos para observar qual seria a reação. Sendo assim, durante o quadro de rotina, a equipe disse: “Vou montar o quadro e você deve ficar apenas observando, não quero que participe da montagem do quadro de rotina”; ou “vamos entrar no redondel e você deve ficar sempre atrás de mim, não chegue perto do cavalo”. Como Lucas é muito perspicaz, a expectativa era utilizar comandos em formato de regras, para que ele, em função do comportamento opositor, reagisse com o padrão de recusa em obedecer. Resposta da criança A estratégia gerou o efeito esperado. Lucas entendeu a regra como uma limitação e, como parte do comportamento opositor, agiu de forma a não cumprir regra, participando da construção do quadro de rotina e aproximando-se para interagir com o cavalo. Porém, não quis colocar o capacete nem montar no cavalo. Talvez a restrição dele a essas atividades tenha motivação em outros elementos, além do comportamento opositor, ou, por serem as atividades centrais, Lucas pode ter percebido que se tratava de um estratagema, e não aceitou. continua... E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 143 Estratégia 2: Acordos e surpresas O comportamento opositor pode ser considerado como uma estratégia de segurança e afirmação, pois, Lucas se dispõe a fazer apenas as atividades nas quais têm interesse e que avalia ser capaz de executar, como também, que ele deseja manter o controle e exercer liderança. Sendo assim, a negociação de acordos interfere nesse mecanismo básico, sem entrar em confronto com essas necessidades, pois, dependem da aceitação, por parte dele, do acordo proposto. O mecanismo da surpresa, por sua vez, quer acrescentar uma nova motivação, ao despertar a curiosidade de Lucas para algo desconhecido. Por exemplo, alguns brinquedos foram guardados em uma bolsa carregada pela equipe, Lucas somente poderia pegar o brinquedo após colocar o capacete e montar no cavalo. Não se trata de uma “chantagem” e sim da negociação da ordem temporal das etapas. Resposta da criança Lucas aceitou o acordo e concordou em montar no cavalo, mas, como expressão do comportamento opositor, recusou-se a colocar o pé no estribo e a lateralizar a posição do corpo na sela do cavalo, também, não aceitou colocar o capacete. Nas demais sessões, utilizamos as mesmas estratégias (comandos invertidos, acordos e surpresas), até que uma delas fosse bem-sucedida; Lucas montou, aceitou o capacete e colocou o pé no estribo, participando ativamente da sessão. Discussão A impressão é que o comportamento opositor faz parte de um processo de afirmação, que permite a Lucas verificar o quanto o ambiente e, principal- mente, as pessoas, estão disponíveis para aceitá-lo, nos seus termos; uma vez que se sinta aceito e não desafiado de forma direta pelos outros, Lucas passa a colaborar e usufruir do prazer das atividades. A sugestão da mãe para que seu comportamento opositor seja ignorado, demonstra que essa atitude revela um padrão, que é contrariado pela família, que mantém o comando da atividade a ser realizada, independente da vontade dele. A equipe de equoterapia pode fazer o mesmo, porém, as estratégias de comandos invertidos e de surpresas têm a vantagem de obter o engajamento consciente e espontâneo de Lucas na atividade, o que favorece as dimensões cognitiva e volitiva. As próprias atividades também possuem um sentido ambivalente, ou seja, se no primeiro momento, montar no cavalo pode significar ser levado para onde o cavalo quer ir, em seguida, estar montado sobre o cavalo, podendo olhar para todos de cima, em uma posição superior, reafirma o seu controle e domínio sobre a situação, o que parece lhe transmitir segurança. Considerações finais A reflexão sobre as crianças que apresentaram dificuldades para iniciar a equoterapia indicou a necessidade de incluir, no programa de intervenção, não continuação E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 144 apenas atividades de recepção e horsemanship, mas, a partir da identificação de reações contrárias à aproximação com o cavalo ou ao uso dos equipamentos de segurança, uma etapa específica com atividades diferenciadas que culmi- nem com o(a) praticante montado(a) e disposto(a) a interagir com o cavalo. A experiência adquirida com os seis casos relatados permite destacar algumas estratégias. Primeiro, o apoio afetivo de familiares que dão segurança para que as crianças lidem com as situações desconhecidas; segundo, o pra- zer das crianças na realização do percurso externo ao picadeiro, em contato direto com a natureza; terceiro, a atitude afirmativa da equipe de equoterapia de realizar uma contenção comedida das crianças para que tenham a oportu- nidade de experimentar o prazer da equitação; quarto, separar a criança dos familiares e do hiperfoco para favorecer a interação com o cavalo; quinto, utilizar brincadeiras e músicas que fortaleçam o vínculo da criança com a equipe de equoterapia até que a objeção ao cavalo seja superada. Em relação ao uso dos recursos auxiliares de mediação, diversas possi- bilidades de adaptação das atividades foram sugeridas. É preciso esclarecer que não são soluções, mas sugestões a serem experimentadas na prática e, quando não se mostrarem efetivas, devem deixar uma lição, pois permitem observar as reações da criança. Praticamente todas foram comentadas, com exceção: (a) do desafio (Quadro 1, item 1b), pois eram situações iniciais mar- cadas pelo insucesso, logo, não tem sentido aumentar a dificuldade, porém, ao longo da intervenção, certamente devem surgir diversos momentos nos quais o desafio será recurso crucial de mediação; (b) da transcendência (Quadro 1, item 3b), pois exige maior familiaridade do(a) mediador(a) com a criança a fim de poder recorrer a experiências anteriores como exemplos para mobilizar a atenção da criança. Um primeiro passo foi dado para chamar a atenção para a relevância desse tema, mas ainda há muito a ser pesquisado. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 145 REFERÊNCIAS 1. CUNHA, A. C. B., ENUMO, S. R. F, CANAL, C. P. P. Operacionalização de escala para análise de padrão de mediação materna: um estudo com díades mãe-criança com deficiência visual. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, Set-Dez. 2006, p. 393-412. 2. FEUERSTEIN, R.; KLEIN, P. S.; TANNEMBAUM, A. J. (Eds.). Media- ted Learning Experience (MLE): Theorical, psychosocial and learning implications. London: Freund Publishing, 1991. p. 3-51. 3. GOMES, C.M.A. Feuerstein e a construção mediada do conhecimento. Porto Alegre:Artmed, 2002, 298pp. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Introdução O projeto Comunicar com Equoterapia teve um alcance e uma dimen- são sem precedentes na equoterapia nacional. Em um único projeto estiveram envolvidos aproximadamente 100 crianças, 180 familiares, 23 profissionais equoterapeutas, 2 equitadores, 17 auxiliares guias, 4 auxiliares administrativos e marketing, 45 estudantes de graduação e pós-graduação stricto sensu e 4 mem- bros de diretoria da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL). Se esse número causa espantoem um primeiro momento, também carrega o peso do impacto de um projeto que envolveu tantas famílias do nosso país. A realização do projeto proporcionou: atendimento para as crianças, emprego para equipe de trabalho e divulgação do conhecimento sobre equoterapia. Parte do sucesso deve ser atribuída à rede construída para fomentar a busca de evidências científicas, que contou com a participação da ANDE-BRASIL, da Universidade de Brasília (UnB), da Secretaria Nacional do Direitos de Pessoas com Deficiências, do Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), por meio da qual recebemos financiamento público oriundo de emendas parlamentares. Ao refletirmos sobre as crianças que tiveram a oportunidade de participar do projeto, o progresso das habilidades comunicativas era a principal meta deste projeto, alcançada por meio da elaboração e execução do Programa Passo a Passo na Comunicação, cujos resultados foram descritos no Capítulo 5. A formação de habilidades comunicativas foi evidente e deve ser minucio- samente estudada, a fim de gerar novos produtos que contribuam para que seus resultados sejam publicados também em revistas e apresentados em congressos científicos. Entretanto, a oportunidade de conviver próximo das crianças com Trans- torno do Espectro Autista (TEA) permitiu a observação atenta de outros benefícios decorrentes da equoterapia que merecem uma atenção especial. Destacamos as emoções das crianças ao verem o cavalo, um animal de grande porte, e o prazer de poder se aproximar dele e interagir com ele. Os primeiros toques, o medo, a curiosidade e a alegria são exemplos de sensações e emoções experimentadas desde a primeira sessão do projeto. A montaria traz novas emoções, diferentes dessas iniciais. Para alguns, a curiosidade cede espaço para a insegurança e o medo de cair. Para outros, a alegria de montar supera qualquer dúvida ou reações negativas. Cada criança tem uma sensação diferente, em função de sua personalidade, logo, reagem de forma única à experiência de montar. Destaca-se que a maior parte das E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 150 crianças não apresentou dificuldades ou medo excessivo de montar, mesmo se sentindo inseguras nas primeiras vezes. A biomecânica do movimento tridimensional do cavalo, movendo-se ao passo, permite uma integração sensório-motora única, que com o passar das sessões fica cada vez mais harmônica, possibilitando que criança e cavalo se movimentem realmente juntos. Essa integração, no entanto, não elimina os momentos de desequilíbrio durante a montaria, que são frequentes e ofe- recem um estímulo importante para a reorganização da postura corporal. O contraste constante entre equilíbrio e desequilíbrio tem uma ação direta no sistema nervoso central do praticante, que precisa readaptar-se constantemente para não cair do cavalo. Essas e outras experiências tornam a equoterapia um espaço privilegiado de estimulação do desenvolvimento biopsicossocial dos(as) praticantes. Figura 1 – Praticante do projeto Comunicar com Equoterapia Este livro contribui com algumas respostas em relação ao impacto que projetos de equoterapia podem proporcionar às crianças com deficiên- cia, entretanto, ainda restam diversas perguntas e questões a serem densa- mente investigadas. Se as crianças adquirem esses diversos benefícios, o que podemos dizer sobre as famílias? O projeto envolveu muitas mães, pais, irmãs, irmãos, avós e avôs, além de cuidadores que normalmente se incorporam à dinâmica familiar. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 151 Todos contribuíram com dicas sobre a aproximação afetiva com as crianças e suas preferências, todos acompanharam e se alegraram com os progressos, todos se esforçaram para que a criança recebesse o melhor. Observamos que quando uma criança com TEA passa a se comunicar melhor, toda a família percebe e experimenta o impacto dessa mudança no cotidiano. Logo, é pos- sível afirmar que essas famílias foram afetadas por esse projeto. Figura 2 – Integração da família no Projeto Comunicar com Equoterapia O atendimento a um contingente tão grande de crianças com TEA e de suas famílias, somente foi possível pela liderança da ANDE-BRASIL que entrou em contato com os Centros de Equoterapia afiliados e conseguiu a adesão de profissionais dos estados de Tocantins (APAE de Tocantins), Rio Grande do Norte (Centro de Equoterapia Potiguar – Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Instituto Santos Dumont – ISD), Alagoas (Pestalozzi), São Paulo (Centro de Equoterapia de Jaguariúna) e o Distrito Federal (sede da ANDE-BRASIL). Sendo assim, alcançamos 4 das 5 regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Ao abranger comunidades de estados diferentes, com características culturais próprias, enfrentamos alguns desafios, como diferenças na estrutura física de cada localidade, divergências na formação de mediadores e auxiliares, dentre outros. A equipe do projeto Comunicar com Equoterapia fez uma visita a cada uma das instituições coparticipantes para que as características mínimas do lugar e a formação básica da equipe E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 152 local estivesse de acordo com a organização e planejamento inicial do projeto. Por outro lado, o envolvimento de pessoas de diferentes regiões, formações e influências históricas e socioculturais específicas, trouxe diversidade para o projeto, ampliando as fronteiras do próprio Programa de intervenção. O envolvimento de estudantes de graduação e pós-graduação stricto sensu da Universidade de Brasília também foi um ponto positivo a ser destacado. Os projetos de pesquisa desenvolvidos e em desenvolvimento a partir dessa parceria permitiram que os estudantes ampliassem seus conhecimentos para além dos muros da universidade, colocando em prática o que aprendem na teoria e desafiando o estado da arte por meio de perguntas científicas e pro- duções inéditas na área de comunicação humana. Figura 3 – Defesa de mestrado da discente do Programa de Pós- Graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade de Brasília Amanda de Carvalho Pedra8, realizada de forma híbrida (presencial na ANDE-BRASIL e transmitida via YouTube9) Mesmo ciente de que existem questões que ainda estão em aberto, logo, que demandam novos estudos, os resultados iniciais desse projeto foram apre- sentados em congressos internacionais e divulgados por meio da publicação deste livro, com distribuição gratuita, que dissemina os resultados da pesquisa em uma escala difícil de mensurar. Destacamos em especial os resultados 8 Orientação da Profa. Dra. Leticia Correa Celeste, coorientação do Prof. Dr. Daniel Couto Vale. Membras da banca examinadora Profa. Dra. Ana Cristina de Albuquerque Montenegro, Profa. Dra. Andrea Gomes Moraes e Profa. Dra. Laura Davison Mangilli Toni. 9 Link da defesa no YouTube: https://drive.google.com/file/d/1FvyTBB6MWEEtI-0AfMbcVzkJTqb2Zr8v/view E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 153 apresentados no Capítulo 5, decorrentes da realização do projeto Comunicar com Equoterapia. Ressalta-se, entretanto, que, como qualquer pesquisa, tivemos limita- ções; algumas delas apontadas ao longo do livro, mas a título de conclu- são, destacamos: • As dificuldades impostas pela proposta inicial de comparar uma e duas vezes por semana, pois a frequência duas vezes por semana se mostrou onerosa para muitas famílias, resultando em fal- tas consecutivas; • O atraso no início da implementação do Programa Passo a Passo na Comunicação por dificuldadesde adaptação das crianças, pois algumas apresentaram resistências para se aproximar do cavalo, para usar os equipamentos de segurança, ou para se ajustar ao ambiente, o que provocou uma diminuição da amostra estudada. • Apesar de termos um número alto de participantes, os resultados não podem ser generalizados para a população, pois novos estudos devem ser realizados para confirmar os resultados. • O processo de avaliação e análise das habilidades linguísticas pode ser realizado de forma mais detalhada, o que deve ser alvo da aten- ção em estudos futuros. • Apesar de admitirmos que os aspectos qualitativos são relevantes e trazem aspectos importantes para pesquisa, esses ainda precisam ser explorados. A despeito dessas limitações, o presente estudo trouxe respostas impor- tantes, em especial sobre a relevância da equoterapia para auxiliar nas habi- lidades comunicativas de crianças com TEA. Além disso, a parceria entre a ANDE-BRASIL e a UnB possibilitou ampliação de ensino, pesquisa e exten- são em âmbito nacional e se mostrou forte e robusta para condução de estudos de grande porte. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão ÍNDICE REMISSIVO A Aproximação com o cavalo 10, 84, 124, 125, 127, 130, 131, 135, 136, 140, 144 Avaliação 5, 10, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 49, 81, 98, 100, 101, 102, 112, 127, 140, 153 C Cavalo 9, 10, 15, 16, 17, 18, 21, 22, 26, 28, 29, 45, 53, 54, 56, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 96, 97, 100, 119, 120, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 149, 150, 153, 157 Comunicação 9, 10, 15, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 24, 27, 28, 29, 37, 38, 39, 42, 45, 46, 47, 53, 54, 56, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 65, 67, 68, 70, 76, 77, 82, 95, 96, 97, 100, 101, 102, 103, 108, 112, 120, 122, 124, 129, 131, 132, 135, 138, 141, 149, 152, 153, 157, 159 Criança 15, 16, 18, 19, 21, 22, 27, 28, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 53, 54, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 67, 69, 71, 78, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 96, 101, 102, 120, 121, 122, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 150, 151 E Equipe de equoterapia 10, 16, 18, 20, 21, 29, 30, 37, 43, 44, 47, 54, 78, 79, 80, 85, 96, 122, 123, 124, 126, 127, 128, 130, 131, 133, 134, 135, 136, 137, 139, 140, 142, 143, 144 Equoterapeuta 78, 88, 158, 159 Equoterapia 3, 4, 9, 10, 11, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 37, 38, 40, 43, 44, 46, 47, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 67, 69, 70, 71, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 84, 85, 87, 88, 89, 90, 91, 95, 96, 97, 100, 102, 111, 112, 114, 115, 119, 120, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 149, 150, 151, 152, 153, 157, 158, 159 Exemplos de atividades 54, 56, 58, 59, 61, 62, 64, 65, 67, 69 F Fonoaudiologia 4, 21, 29, 30, 31, 37, 71, 95, 114, 115, 157, 158, 159 E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 156 H Habilidades linguísticas 10, 17, 21, 23, 37, 43, 53, 122, 129, 132, 135, 138, 141, 153 I Intencionalidade equoterapêutica 10, 17, 20, 21, 22, 23, 37, 43, 47, 53 Intervenção 10, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 28, 29, 30, 32, 43, 44, 46, 53, 54, 70, 71, 75, 78, 79, 82, 87, 88, 89, 90, 95, 96, 98, 101, 102, 103, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 125, 127, 133, 137, 141, 142, 144, 152, 158 L Linguagem 4, 10, 19, 23, 27, 28, 32, 38, 39, 40, 41, 42, 46, 47, 48, 49, 53, 59, 71, 85, 95, 96, 97, 101, 103, 108, 112, 113, 135, 157, 158, 159 M Mediador 20, 43, 45, 54, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 75, 82, 87, 89, 97, 121, 126, 127, 128, 137, 138, 140, 144 P Passo a passo na comunicação 10, 15, 21, 22, 23, 24, 29, 37, 45, 46, 53, 54, 56, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 65, 67, 68, 70, 95, 97, 112, 120, 122, 124, 129, 131, 132, 135, 138, 141, 149, 153 Projeto Comunicar com Equoterapia 15, 16, 17, 20, 21, 23, 38, 40, 46, 47, 53, 59, 69, 89, 95, 97, 112, 149, 151, 152 R Resposta da criança 45, 58, 65, 124, 130, 131, 133, 136, 139, 142, 143 T TEA 9, 10, 11, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 23, 24, 25, 27, 28, 31, 37, 38, 46, 47, 76, 78, 79, 80, 81, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 95, 96, 97, 98, 100, 102, 112, 114, 119, 120, 133, 134, 142, 149, 151 Transtorno do Espectro Autista 3, 4, 9, 26, 27, 31, 44, 71, 78, 95, 98, 114, 119, 158, 159 E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão SOBRE OS AUTORES Alexandre Rezende (Organizador) Licenciado de Educação Física (UnB), Mestre em Educação (UnB) e Dou- tor em Ciências da Saúde (UnB). É professor da Faculdade de Educação Física (UnB) e se dedica ao ensino da natação para pessoas com deficiência. Na pesquisa, estuda a mediação docente para construção de experiências de aprendizagem que contribuam para a educação inclusiva, o que abrange a participação do educador na equoterapia. Alexandre Ronald de Almeida Cardoso Graduado em Ciências Contábeis (UnB) e Mestre em Controladoria e Conta- bilidade (USP). É Conselheiro Fiscal da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE -BRASIL) e instrutor de equitação. Na pesquisa, dedica-se ao estudo do comportamento e do relacionamento saudável do cavalo com o homem. Amanda de Carvalho Pedra (Organizadora) Bacharela em Fonoaudiologia (UnB), Especialista em Linguística Aplicada à Educação (FAVENI), Mestre em Ciências da Reabilitação (UnB). É fonoau- dióloga ambulatorial na rede particular de saúde do Distrito Federal e se dedica ao público infantil, com ênfase na reabilitação da comunicação nos casos de autismo e transtornos motores da fala. Na pesquisa, estuda a reabi- litação dos distúrbios de fala e linguagem de crianças com autismo por meio da equoterapia. Ana Luiza Vieira Benito Estudante de Fonoaudiologia (UnB). Participa do Programa de Iniciação Científica da UnB e é membro do Centro Acadêmico de Fonoaudiologia (UnB). Na pesquisa, dedica-se ao estudo da equoterapia, do autismo e da motricidade orofacial. Andressa Lopes Vieira Bacharela em Fonoaudiologia (Uniplan), Pós-graduanda em Transtornos Neurocognitivos (FAVENI). É fonoaudióloga da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL) e atua na reabilitação infantil das habilidades de linguagem, fala e aprendizado. Na pesquisa, tem interesse no estudo de neurociências e do desenvolvimento infantil. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 158 Camila Santana Lima Bacharela em Fonoaudiologia (UnB), Pós-Graduanda em Linguagem (CEFAC). É estagiária do Hospital Universitário de Brasília e atua nas áreas de linguagem, fala e motricidade orofacial em todas as faixas etárias. Na pesquisa, estuda a linguagem infantil, distúrbios de aprendizagem e disfagia de adultos e idosos. Eduardo Santos Andrade Graduado em Psicologia (UNIRG) e Pós-graduado em Terapia Analítica do Comportamento Infantil (IPEMIG). É docente da Faculdade de Pedagogia, Fisioterapia e Educação Física (UNIPLAN) nas disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento e Psicomotricidade. Na pesquisa, estuda a mediação do equoterapeuta nos atendimentos da Equoterapia com foco em aspec- tos psicológicos. Franklin Júnior Dias Ferreira Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas (UnB) e Bacharel em Fonoau- diologia (UnB). É professor de ciências na SEEDF. Na pesquisa se dedica a estudos sobre a voz, disfagia e linguagem, com ênfase em Equoterapia e Equitação. Gisele dos Santos de Torres Bacharela em Fonoaudiologia (UnB), Equoterapeuta formada pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL) e Pós-graduanda emIntervenção ABA aplicada ao Transtorno do Espectro Autista (CBI). Na pesquisa, tem interesse no estudo sobre cuidados fonoaudiológicos para paciente com câncer de cabeça e pescoço. Jorge Dornelles Passamani Bacharel em Administração e Tecnólogo em Finanças (Universidade Anhan- guera/UNIDERP), Instrutor de Equitação (EsEqEx/Exército Brasileiro), Curso de Mestre em Equitação (Carabineiros/Chile) e Cursos Básico e Avançado de Equoterapia (ANDE-BRASIL/ANIRE). Curso Superior de Polícia (UFPA) e Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (PMPB). É Presidente da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL). Leticia Correa Celeste (Organizadora) Bacharela em Fonoaudiologia (UFMG), Especialista em Psicopedagogia (FEAD), Mestre (UFMG) e Doutora Estudos Linguísticos (UFMG e Uni- versité Aix-en-Provence). É professora do curso de Fonoaudiologia e da E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 159 Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação (UnB). Na pesquisa, estuda os dis- túrbios da comunicação, na linguagem oral e escrita, inclusive na equoterapia. Maíra de Souza Carvalho Graduada em Psicologia (UniCeub), Especialista em Terapia Cognitiva Com- portamental (CTC Veda) e Pós-graduanda em Psicologia e Transtorno do Espectro Autista (UniBf Faculdade). Atua como equoterapeuta no Centro de Equoterapia Cavaleiros Solidários e na ANDE-BRASIL; atua como psicóloga clínica na Cefon Multiespecialidades. Na pesquisa, tem interesse pelo estudo dos aspectos psicológicos relacionados com a equoterapia e o atendimento a pessoas com deficiência. Marcella Laís Simões Bacharela em Fonoaudiologia (UnB) e em Educação Física (UDF), Espe- cialista em Neuropsicopedagogia (UniAmérica) e Pós-graduanda em Voz (USCS). É fonoaudióloga da Policlínica de Sobradinho (SES-DF) e atua na reabilitação infantil das habilidades de linguagem, fala e aprendizado. Na pesquisa, dedica-se ao estudo em performance comunicativa, neurociências, voz e linguagem. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão SOBRE O LIVRO Tiragem: 3000 Formato: 16 x 23 cm Mancha: 12,3 x 19,3 cm Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18 Arial 8/8,5 Papel: Pólen 80 g (miolo) Royal Supremo 250 g (capa) E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão