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E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Editora CRV Curitiba – Brasil 2022 Leticia Correa Celeste Amanda de Carvalho Pedra Alexandre Rezende (Organizadores) COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Copyright © da Editora CRV Ltda. Editor-chefe: Railson Moura Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV Fotógrafo: Edson Gonçalves da Silva Júnior Capa e Ilustrações: Renato Medeiros Revisão: Os Autores DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) CATALOGAÇÃO NA FONTE Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506 C741 Comunicar com equoterapia: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista / Leticia Correa Celeste, Amanda de Carvalho Pedra, Alexandre Rezende (organizadores) – Curitiba : CRV, 2022. 160 p. Bibliografia ISBN Digital 978-65-251-3784-1 ISBN Físico 978-65-251-3785-8 DOI 10.24824/978652513785.8 1. Medicina e saúde 2. Equitação – reabilitação – autismo 3. Terapia assistida – animais 4. Fonoaudiologia – linguagem I. Celeste, Leticia Correa. org. II. Pedra, Amanda de Carvalho. org. III. Rezende, Alexandre. org. IV. Título V. Série. 2022-28170 CDD 615.8 CDU 616-053.2:619 Índice para catálogo sistemático 1. Terapia assistida – animais – 615.8 2022 Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br Distribuição gratuita. A publicação do livro foi financiada pelo Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos, Secretária Nacional do Direitos da Pessoa com Deficiência, por meio do Termo de Fomento nº 905152/2020, proveniente das Emendas Parlamentares de autoria dos Deputados Federais: General Girão/RN; General Peternelli/ SP; Paula Belmonte/DF, Tereza Nelma/AL, Vicentinho Júnior/TO e Pedro Westphalen/RS. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc. Comitê Científico: Ana Rosete Camargo Rodrigues Maia (UFSC) Carlos Leonardo Figueiredo Cunha (UFRJ) Cristina Iwabe (UNICAMP) Evania Nascimento (UEMG) Fernando Antonio Basile Colugnati (UFJF) Francisco Jaime Bezerra Mendonca Junior (UEPB) Inez Montagner (UnB) Janesca Alban Roman (UTFPR) José Antonio Chehuen Neto (UFJF) Jose Odair Ferrari (UNIR) Juliana Balbinot Reis Girondi (UFSC) Karla de Araújo do Espirito Santo Pontes (FIOCRUZ) Lucas Henrique Lobato de Araujo (UFMG) Lúcia Nazareth Amante (UFSC) Lucieli Dias Pedreschi Chaves (EERP) Maria Jose Coelho (UFRJ) Milena Nunes Alves de Sousa (FIP) Narciso Vieira Soares (URI) Orenzio Soler (UFPA) Paulo Sérgio da Silva Santos (FOB-USP) Samira Valentim Gama Lira (UNIFOR) Thiago Mendonça de Aquino (UFAL) Vânia de Souza (UFMG) Wagner Luiz Ramos Barbosa (UFPA) Wiliam César Alves Machado (UNIRIO) Conselho Editorial: Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Carmen Tereza Velanga (UNIR) Celso Conti (UFSCar) Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Três de Febrero – Argentina) Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Élsio José Corá (UFFS) Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Gloria Fariñas León (Universidade de La Havana – Cuba) Guillermo Arias Beatón (Universidade de La Havana – Cuba) Jailson Alves dos Santos (UFRJ) João Adalberto Campato Junior (UNESP) Josania Portela (UFPI) Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Lourdes Helena da Silva (UFV) Luciano Rodrigues Costa (UFV) Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US) Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG) Renato Francisco dos Santos Paula (UFG) Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Simone Rodrigues Pinto (UNB) Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA) Sydione Santos (UEPG) Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA) Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão SUMÁRIO PREFÁCIO �������������������������������������������������������������������������������������������������������9 Andréa Gomes Moraes CAPÍTULO 1 O PROJETO COMUNICAR COM EQUOTERAPIA ������������������������������������ 13 Leticia Correa Celeste Alexandre Rezende CAPÍTULO 2 CONHECENDO O PRATICANTE: processo de avaliação ��������������������������� 35 Amanda de Carvalho Pedra Marcella Laís Simões Andressa Lopes Vieira Leticia Correa Celeste CAPÍTULO 3 O PROGRAMA PASSO A PASSO NA COMUNICAÇÃO ���������������������������� 51 Leticia Correa Celeste Amanda de Carvalho Pedra CAPÍTULO 4 O CAVALO E A EQUOTERAPIA �������������������������������������������������������������������73 Alexandre Ronald de Almeida Cardoso Jorge Dornelles Passamani CAPÍTULO 5 RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO PROJETO “COMUNICAR COM EQUOTERAPIA”: análise em cinco estados do Brasil ������������������������� 93 Ana Luiza Vieira Benito Gisele dos Santos de Torres Camila Santana Lima Amanda de Carvalho Pedra Eduardo Santos Andrade Alexandre Rezende Leticia Correa Celeste CAPÍTULO 6 MEDIAÇÕES PARA LIDAR COM AS DIFICULDADES DAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA PARA INICIAR A EQUOTERAPIA ���������������������������������������������� 117 Maíra de Souza Carvalho Franklin Júnior Dias Ferreira Amanda de Carvalho Pedra Leticia Correa Celeste Alexandre Rezende E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão CAPÍTULO 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O PROJETO COMUNICAR COM EQUOTERAPIA ��������������������������������������������������������� 147 Leticia Correa Celeste ÍNDICE REMISSIVO �����������������������������������������������������������������������������������155 SOBRE OS AUTORES ��������������������������������������������������������������������������������157 E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão PREFÁCIO Era uma vez... É assim que muitas histórias incríveis têm o seu início e, no caso desse livro, que conta uma história de magnitude e relevância, não poderia deixar de iniciar desse modo, que nos remete as mais belas histórias lidas em nossa infância. Portanto, era uma vez um menino lindo, que tinha em sua mente muitos sonhos e anseios, mas muita dificuldade em os expressar, assim como, um padrão mais restrito de comportamento e dificuldades de inte- ração social... Na verdade, eram duas, três, várias crianças com necessidades individuais e os profissionais que se dedicavam a transformar suas vidas por meio de um método chamado equoterapia. É assim que tudo inicia... Quando me convidaram para escrever esse prefácio, sabia do enorme desafio, mas, aceitei por saber da grandiosidade do trabalho para que esse livro se transformasse em uma realidade. Houve muita dedicação e compro- metimento dos profissionais, pelos quais tenho admiração e respeito. Espero conseguir contagiar você a fazer parte dessa história, reunindo-se a todos os que mergulharam de cabeça para compreender vários fenômenos, formular perguntas de pesquisa e investigar sem cessar até encontrar possíveis respostas. E o melhor, ao final, poder disponibilizartodo esse conhecimento para que seja de fato universal, alcançando os praticantes que buscam se beneficiar da equoterapia. Um dos pontos fortes desse livro é contribuir para aprendermos mais sobre o Transtorno do Espectro Autista, que atualmente é um dos diagnósticos mais frequentes nos Centros de Equoterapia. Essa demanda nos aproxima de famílias que estão enfrentando as incertezas na educação dos seus filhos, e de profissionais que se dedicam à busca de evidências para garantir um atendimento de excelência. A equoterapia é um dos recursos terapêuticos destinados a essa população, que ao ter acesso a ela, se beneficia de um ambiente acolhedor, extremamente rico em estímulos, marcado pela possi- bilidade inusitada da interação afetiva com um animal de grande porte, mas dócil, o cavalo – principal agente da equoterapia. Trata-se de um estudo inovador e multicêntrico, realizado em 4 estados: Tocantins, Rio Grande do Norte, São Paulo e Alagoas, além do Distrito Fede- ral. Apesar do avanço das pesquisas na produção de evidências científicas, que indicam os benefícios advindos da prática da equoterapia, ainda hoje, não temos uma quantidade suficiente de ensaios clínicos randomizados bra- sileiros sobre os efeitos da equoterapia para pessoas com TEA, ainda mais com enfoque na comunicação – a despeito de o Brasil figurar com destaque no cenário mundial das pesquisas em equoterapia. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 10 O livro chama atenção para importância de conhecer o(a) praticante e a sua dinâmica familiar, por meio do uso de processos avaliativos apropriados, que fornecem um diagnóstico imprescindível para a construção de um plane- jamento que reúna as melhores estratégias terapêuticas e, ao mesmo tempo, seja capaz de analisar o potencial de cada praticante, a fim de selecionar as atividades, participações e restrições específicas para cada caso. Essa relação entre uma avaliação detalhada para subsidiar uma intervenção direcionada foi denominada no livro de “intencionalidade equoterapêutica”. Uma contribuição essencial do livro para a replicação de estudos que articulem a equoterapia com a comunicação social é a descrição do pro- grama “Passo a Passo na Comunicação”, que teve como objetivo investir em experiências que contribuam para a formação de habilidades linguísticas e cognitivas, bem como para a funcionalidade comunicativa dos praticantes. O programa possui 8 módulos, com atividades distribuídas ao longo de 24 sessões, são elas: vivenciando a equoterapia; conhecendo o corpo; os ani- mais; alimentação; locomover-se; cuidando da higiene; pessoas ao meu redor, e; despedida. É claro que não poderia faltar um capítulo destinado ao nosso perso- nagem principal, que torna tudo isso possível, o cavalo. Foram abordados, com a devida profundidade, aspectos relacionados com: o horsemanship; a escolha e a preparação do cavalo e do ambiente; a recepção dos participantes e a aproximação com o cavalo, e; o treinamento adequado para o desempenho máximo na equoterapia. Cumpre destacar a atenção especial concedida aos cuidados necessários para garantir a segurança e o bem-estar do animal, dos praticantes e dos integrantes da equipe de equoterapia. Finalizando minhas palavras, convido você a reflexões: Será que uma intervenção abordando aspectos relacionados à linguagem e à atenção de forma articulada com a equoterapia é capaz de produzir resultados positivos para crianças e adolescentes com diagnóstico de TEA? Será que existem diferenças nos resultados em função da intensidade da intervenção, ou seja, os efeitos são diferentes quando realizamos as sessões de equoterapia uma ou duas vezes na semana? Você dispõe de um protocolo de atendimento na equoterapia que orienta a sua atuação na prática clínica e ao mesmo tempo contempla as demandas individuais dos praticantes? Os instrumentos de avaliação, validados ou não, que foram utilizados nesse projeto, podem ser aplicados no seu centro de equoterapia? Essas são algumas perguntas relevantes que vão acompanhar a sua leitura ao longo dos capítulos, que deve fornecer subsídios para que você identifique respostas admissíveis para cada uma delas. Então, se você pensa que essa história termina por aqui, está engana- do(a), saiba que ela está apenas começando. Você vai perceber isso quando E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 11 iniciar a leitura, pois ao colocar em prática esses conhecimentos e práticas em sua realidade, no intuito de auxiliar crianças com TEA a desenvolver maior autonomia e qualidade de vida, você vai dar continuidade a essa história, com novos personagens e, consequentemente, novas lições de vida, que podem alcançar uma abrangência inimaginável. Dra. Andréa Gomes Moraes Fisioterapeuta e pesquisadora em Equoterapia Vinculada à ANDE-BRASIL e ao Centro de Equoterapia da Polícia Militar do Distrito Federal E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Introdução “Quando ele começou aqui ele não falava um /a/. E ele teve um salto muito grade. Ele pede coisas, [...] ele linca uma coisa com a outra [...]. Ele sabe que ele é o João, ele sabe reconhecer as pessoas.” Fala de uma das mães na despedida do Projeto Comunicar com Equoterapia. O projeto Comunicar com Equoterapia foi realizado ao longo dos anos de 2020-2022, por meio de uma parceria entre a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL) e a Universidade de Brasília (UnB). O pro- jeto teve financiamento público de emendas parlamentares por intermédio do Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). A ideia central do projeto foi elaborar, implementar e avaliar um programa que permitisse verificar os efeitos da equoterapia na reabilitação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para isso foi utilizado o programa “Passo a Passo na Comunicação; nossa preocupação era a mesma contida no relato da mãe: a comunicação de crianças com TEA. Figura 1 – Criança com TEA, assistida pelo especialista em horsemanship, acariciando o cavalo; atividade realizada no módulo Vivenciando a Equoterapia do Projeto Comunicar com Equoterapia E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 16 Figura 2 – Criança com TEA, assistida por integrantes da equipe de equoterapia, dando banho no cavalo; atividade realizada no módulo Cuidando da Higiene do Projeto Comunicar com Equoterapia Figura 3 – Criança com TEA, acompanhada pela equipe de equoterapia, dentro do picadeiro, andando a cavalo e comunicando-se com uma das mediadoras sobre a posição correta do pé; atividade realizada no módulo conhecendo o corpo do Projeto Comunicar com Equoterapia E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 17 O Projeto Comunicar com Equoterapia, como o próprio nome indica, é uma intervenção que se propõe a fazer uma articulação entre as habilidades requeridas pela comunicação social e a equoterapia, uma proposta que integra o grupo das terapias com assistência animal, no caso, com o cavalo. A seleção das atividades foi realizada de forma a direcionar as vivências e experiências equoterapêuticas para a criação de um ambiente interativo que seja favorável para o desenvolvimento das habilidades linguísticas e cognitivas necessáriaspara potencialização da comunicação de crianças com TEA. “Ele melhorou em tudo mesmo, tanto na fala quanto na escola também. Ele já está escrevendo, já está, nossa. Não tenho nem palavras para agra- decer a vocês, a todos [...]. Outro dia ele pediu refrigerante. É uma palavra difícil e eles aprendem a falar rapidinho [...], mas ele assim, está falando de tudo. Eu achava que ele nunca nem ia falar.” Fala de uma das mães na despedida do Projeto Comunicar com equoterapia. Este capítulo tem por objetivo: descrever o contexto no qual o Projeto Comunicar com Equoterapia está inserido; explicitar nossa compreensão da intencionalidade equoterapêutica, termo de inspiração sociointeracionista que propomos como fio condutor para a intervenção; e, por fim, apresentar o percurso teórico-metodológico do projeto de pesquisa. Contextualização “Eu sempre falei para todos aqui que minha preocupação sempre foi a comunicação dele.” Fala de uma das mães na despedida do Projeto Comunicar com equoterapia. A palavra “autismo” foi utilizada pela primeira vez por Kanner (1943), sob a conceituação da teoria do apego. Atualmente, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é visto como uma desordem do neurodesenvolvimento, com origem genética e ambiental(1). São critérios diagnósticos do TEA segundo DSM-V(2): a) Déficits persistentes na comunicação social e na interação em múltiplos contextos; b) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades(2). O número de pessoas com diagnóstico de autismo tem tido um aumento importante nos últimos anos. Em um estudo realizado em 1966, Lotter(3) concluiu que na Inglaterra teriam 4,5 crianças diagnosticadas a cada 10.000. Desde esse estudo, o aumento da prevalência passou para 1 em cada 150(4) E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 18 e, após uma análise publicada em 2018 pelo Center for Disease Control dos Estudos Unidos há 1 caso a cada 59 crianças nos EUA(5). O aumento na prevalência de casos de TEA pode ser atribuído, em parte, ao aperfeiçoamento tecnológico dos recursos de avaliação neurológica, mas também, à ampliação de informações sobre o quadro clínico e à reformula- ção dos critérios diagnósticos que levaram à nova caracterização do TEA de maneira a englobar os seguintes quadros clínicos, anteriormente classificados de forma independente: autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno Jjlobal do desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger(2). Mas, por que fazer uma articulação entre aspectos fonoaudiológicos e equoterapia para crianças com TEA? Várias são as razões que levaram a tal escolha, dentre elas, destacamos: a motivação e o engajamento que as crian- ças com TEA tem perante um momento de interação com cavalo; a relação afetiva que existe entre o ser humano e o cavalo pode ser usada como gatilho para desencadear processos comunicativos entre as crianças e os integrantes da equipe de equoterapia; o direcionamento espontâneo da atenção conjunta, uma das principais dificuldades das crianças com TEA, para organização a postura corporal durante a montaria; a especificidade da relação entre a criança e o cavalo, uma díade que possibilita formas alternativas de comunicação, isentas da tensão normalmente presente nos momentos de interação social, quando é preciso corresponder às expectativas e à pressão de outras pessoas. Essa condição, também presente em outras terapias assistidas por animais, faz com que a prática da equoterapia seja considerada como especialmente benéfica para pessoas com diagnóstico de TEA(1,6–10), tanto na perspectiva social como na comunicativa. Entretanto, ainda existem diversas lacunas na literatura científica que precisam ser respondidas e atendidas. Primeiramente, não temos, no Brasil, uma pesquisa sobre equoterapia, comunicação e TEA, que tenha um delineamento definido como ensaio clí- nico randomizado. Nesse tipo de estudo, o cruzamento entre as variáveis gera um “alto grau de evidência científica”, pois os pesquisadores conse- guem comparar os resultados em diferentes condições experimentais, como também, exercer controle sobre variáveis confundidoras, o que permite a avaliação real dos efeitos de uma intervenção realizada em um determinado período. Portanto, ter um ensaio clínico elaborado e desenvolvido no país é de extrema importância para a ciência nacional, especialmente se tratando de temas atuais: equoterapia, comunicação e autismo. Outro ponto de destaque, é o fato de ser uma pesquisa realizada no Brasil, logo, que leva em consideração as particularidades do nosso país. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 19 Isso favorece: a divulgação dos resultados em língua portuguesa, acessível aos brasileiros; a adequação do protocolo de intervenção à cultura equestre brasileira, o que favorece a sua replicação; a compreensão dos resultados em função das expectativas sociais e dos significados compartilhados entre brasileiros; dentre outros aspectos considerados em nossa pesquisa. Em relação à abrangência regional, o projeto é inovador na medida em que avalia os resultados de um mesmo programa de intervenção realizado em diferentes localidades do país. A ANDE-BRASIL conseguiu mobilizar recursos e reunir Centros de Equoterapia com interesses de estudo afins, o que culminou na realização da pesquisa em cinco diferentes localidades: Distrito Federal, Tocantins, Rio Grande do Norte, São Paulo e Alagoas. Isso permitiu a realização do programa de Equoterapia e Comunicação em quatro diferentes regiões do país: nordeste, centro-oeste, sudeste e sul. O estudo também se propõe a contribuir para análise de uma questão metodológica ainda não esclarecida: qual deve ser, no atendimento às crianças com TEA, a frequência semanal das sessões de equoterapia, uma ou duas vezes por semana? Essa é uma discussão importante, pois tem um impacto no número de pessoas que podem ser atendidas com qualidade, ou seja, se não há uma diferença significativa nos resultados, é possível recomendar o atendimento com uma sessão por semana, o que permite alcançar o dobro de praticantes com a mesma estrutura. É por isso que esse tópico está presente em diversos estudos da literatura especializada em equoterapia(11,12). Ainda, a presente proposta se baseia no cerne das dificuldades dos autis- tas: a comunicação social. Trabalhar aspectos relacionados à linguagem e à atenção conjunta na equoterapia pode trazer resultados positivos para crianças e adolescentes com diagnóstico de TEA. Em relação a componentes específicos da questão fonoaudiológica, o estudo avalia uma proposta de intervenção que abrange dois pontos rele- vantes da reabilitação comunicativa: o uso de um programa padronizado e a individualização terapêutica. A princípio, tal composição pode parecer um paradoxo: como é possível aplicar um programa padronizado, com metas e estratégias pré-definidas, que, ao mesmo tempo, permita a adaptação das atividades para as características individuais de cada criança com TEA? Isso, no entanto, é possível porque o programa segue uma abordagem sociointe- racionista e cognitiva, com foco em objetivos específicos, que podem ser alcançados por meio de diversas atividades equoterapêuticas, planejadas em função de habilidades cognitivas e linguísticas que possuem funcionalidade comunicativa em comum. Sendo assim, a partir das informações obtidas pela avaliação das crianças, os pesquisadores puderam escolher, dentro do pro- grama, as melhores atividades e metas a serem alcançadas, de acordo com E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 20 as necessidadesespecíficas de cada uma das crianças, o que garantiu a uni- formidade das finalidades do programa de equoterapia, porém, com o uso de atividades diferenciadas para cada caso. Considerando a importância da avaliação, tanto a diagnóstica, realizada no início, como a avaliação continuada ao longo da execução do programa de equoterapia, que fornece subsídios para o planejamento e a sua revisão, queremos sugerir termo intencionalidade equoterapêutica para favorecer a compreensão de que cada projeto de pesquisa, assim como, cada centro de equoterapia, deve ter uma atenção especial para explicitar: como a elaboração do programa de equoterapia se aproxima das necessidades e interesses dos praticantes a serem atendidos? Intencionalidade equoterapêutica “Nós avaliamos todas as crianças com muito cuidado e planejamos tudo para que cada uma recebesse o melhor que nós tínhamos para dar.” Fala de uma das pesquisadoras em um evento de apresentação do Projeto. O termo intencionalidade equoterapêutica, fundamentado em teorias socio interacionistas(13–16), refere-se à postura do mediador principal do pro- grama de equoterapia quando tem que selecionar as atividades que julga serem as mais adequadas para alcançar os objetivos específicos previstos para aquela sessão. Esse processo de mediação garante que o programa de equoterapia não seja considerado como uma série de atividades técnicas a serem realizadas de forma repetitiva, mas como um conjunto de vivências que devem proporcionar aos praticantes experiências enriquecedoras de aprendizagem, durante todas as etapas do atendimento oferecido pelo centro de equoterapia. Nesse sentido, a intencionalidade equoterapêutica compreende a articu- lação de diversos aspectos metodológicos, que não devem ser vistos de forma dissociada: (a) conhecer o praticante e a sua família; (b) obter informações sobre o contexto sociocultural no qual estão inseridos; (c) planejar as ativida- des de acordo com as melhores práticas equoterapêuticas; (d) refletir sobre os avanços e retrocessos que ocorrem ao longo do desenvolvimento nas sessões; (e) aprender a readequar o planejamento todas as vezes que for necessário, e; (f) ampliar a sua compreensão sobre o nível de desenvolvimento dos pra- ticantes, de forma a estabelecer o momento da alta ou do encerramento do processo equoterapêutico. No projeto Comunicar com Equoterapia, a prática da equipe de equotera- pia foi pautada nesse conceito de intencionalidade equoterapêutica, que serviu de fio condutor para todas as atividades realizadas, o que está devidamente registrado neste livro, como uma sugestão para iniciativas semelhantes. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 21 A etapa inicial da intencionalidade equoterapêutica, dedicada a conhecer o praticante e sua família, pode ser dividida em dois aspectos chaves: o pri- meiro se dirige para a literatura científica, pois requer o estudo pormenorizado do quadro clínico que caracteriza os praticantes que seriam atendidos no centro de equoterapia, no caso do nosso projeto, Comunicar com Equoterapia, crian- ças com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sendo assim, toda a equipe envolvida no atendimento da equoterapia, mediadores, guias e demais integrantes, recebeu treinamento sobre informações relevantes acerca do TEA, que foram discutidas a fim de identificar as possíveis repercussões no relacionamento com as crianças e na interação delas com o cavalo. Depois da apropriação das informações teóricas, o segundo aspecto se dirige para conhecer, de fato, cada um dos praticantes e suas famílias, por meio de uma anamnese, que reúne os dados históricos que a família recorda sobre a criança, desde os sintomas iniciais até o momento atual, e diversos outros instrumentos de avaliação voltados para registrar e acompanhar as variáveis chaves do estudo. O processo de avaliação, portanto, abrange o primeiro encontro com as famílias, as conversas iniciais com as crianças, até as avaliações específicas, que foram realizadas com objetivo de entender: quais eram as habilidades linguísticas e cognitivas de cada criança? Como essas habilidades interferiam na sua funcionalidade social e comunicativa? No capítulo “Conhecendo o Praticante” mostramos detalhadamente o processo de avaliação realizado no projeto Comunicar com Equoterapia. Em seguida, a intencionalidade equoterapêutica se dirige para o plane- jamento. No projeto Comunicar com Equoterapia, a definição dos objetivos da intervenção, a seleção das atividades a serem realizadas e a opção pelas melhores práticas equoterapêuticas tiveram como base de sustentação teó- rico-prática: (a) a análise linguístico-funcional de Halliday(17); (b) as teorias sociointeracionistas(13–16), e; (c) a prática fonoaudiológica baseada em análise de competências linguísticas gramaticais(18). A conduta da equipe de equoterapia durante as sessões sempre conside- rou, além do planejamento, a necessidade de uma atenção especial para: (a) interação entre os envolvidos (praticante, cavalo, mediadores, guia e família); (b) a funcionalidade do praticante diante das exigências de cada atividade e das condições contextuais do momento, e; (c) a interação direta do praticante com o cavalo. No capítulo 3, discorremos sobre os detalhes metodológicos do Programa Passo a Passo na Comunicação, nossa proposta para articular fonoaudiologia com equoterapia. Uma parte importante do Programa Passo a Passo na Comunicação, sugerida pela ANDE-BRASIL, foi a inclusão de atividades iniciais de aproxi- mação e interação com o cavalo por meio do método horsemanship; ao invés E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 22 de direcionar a interação com o cavalo para a montaria, incluímos a apresen- tação do cavalo, sua alimentação e higiene, os encilhamentos, a sua intera- ção com o equitador, além de outras atividades que contribuem para que a criança construa um vínculo afetivo que mobilize a sua funcionalidade social e comunicativa. No capítulo 4, escrito pelos especialistas em horsemanship, apresentamos os critérios utilizados na seleção dos cavalos e as estratégias para promover a interação das crianças e suas famílias com o cavalo. O conceito de intencionalidade equoterapêutica contribui para escla- recer que o ponto principal da intervenção é a mediação entre o planeja- mento, construído a partir de uma expectativa, e as condições/interesses dos praticantes, que exigem uma adequação da expectativa para a realidade. A mediação, portanto, indica que a execução do programa requer o acompa- nhamento atento dos progressos e das dificuldades do praticante, a fim de definir o ritmo e a direção em que devem ocorrer as mudanças de ativida- des, ou seja, mais lento ou mais rápido, avançando ou retrocedendo. Essa avaliação continuada foi realizada de diferentes formas, tais como: reuniões para estudos de cada caso clínico, análise dos resultados das estratégias de avaliação e conversas com familiares ou acompanhantes (também identifi- cados como cuidadores). A fim de facilitar a compreensão do processo de mediação, optamos por realizar reuniões periódicas para fazer uma reflexão conjunta sobre os objeti- vos de cada sessão, de forma a avaliar, criteriosamente, se o praticante alcan- çou ou não o desempenho esperado. Quando foi identificado um progresso significativo do praticante, os objetivos foram revistos para que as atividades da próxima sessão possibilitassem a consolidação das habilidades aprendidas e, ao mesmo tempo, apresentassem novos desafios, com um nível de exigência maior, capaz de aprimorar o desenvolvimento da comunicação social. Em diversas oportunidades, as atividades planejadas para alcançar um determinado objetivo tiveram que ser ajustadas para que os estímulos fossemefetivos para cada caso. No capítulo 6 mostramos alguns exemplos práticos dessas readequações, realizadas ao longo da execução do programa, para que todos possam compreender que as variações não prejudicam a finalidade do programa, pois são realizadas em função do conceito de intencionalidade equoterapêutica, que lhes confere uma identidade. Sendo assim, para que haja intencionalidade equoterapêutica, não é pos- sível seguir um protocolo padrão, com as mesmas atividades, quando estamos diante de crianças diferentes; nossa intervenção está pautada no princípio de que atividades diferentes, selecionadas para atender a uma intencionalidade equoterapêutica comum, garante a identidade do Programa Passo a Passo na Comunicação. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 23 A etapa final da intencionalidade equoterapêutica compreende os cuida- dos a serem realizados no momento da alta ou do encerramento do processo terapêutico. No caso do projeto Comunicar com Equoterapia, a duração do programa tinha que atender a limites específicos, considerando que trabalha- mos com financiamento público, que tem um cronograma fixo de execução e prestação de contas. Sendo assim, a despeito das diferenças no progresso de cada participante, todos realizaram o mesmo número de sessões, o que marcou o encerramento do processo terapêutico. Todas as avaliações realizadas no início do projeto (baseline), foram novamente realizadas no final; os dados obtidos foram analisados de duas maneiras: individual, todas famílias receberam um relatório pessoal, mos- trando como o praticante estava no início e como ele saiu do projeto, e; coletiva, a ser divulgada para comunidade acadêmica e profissional em forma de trabalhos científicos, sendo um deles o presente livro. Acredita- mos que essas iniciativas atestam o nosso compromisso com os participan- tes da pesquisa e com a difusão dos conhecimentos produzidos para toda sociedade, da forma mais ampla possível. No capítulo 5 apresentamos, de forma quantitativa e qualitativa, os resultados gerados pela participação dos praticantes no Programa Passo a Passo na Comunicação. Projeto de pesquisa Como o livro aborda as questões relacionadas com uma proposta de intervenção na equoterapia que, ao mesmo tempo, é um projeto de pes- quisa, optamos por incluir nesse primeiro capítulo as informações chaves, de acordo com a formatação acadêmica, do projeto de pesquisa que faz parte da linha de estudo intitulada “Busca de evidências do efeito da equotera- pia na reabilitação de distúrbios da fala e linguagem”. Pretendemos, dessa maneira, contribuir para que todas as informações estejam disponíveis para outros pesquisadores ou profissionais que estejam em busca de subsídios sobre como elaborar uma proposta equivalente para atender as necessidades de sua realidade específica. Objetivos da pesquisa O projeto “Comunicar com Equoterapia” é uma pesquisa que visa avaliar os efeitos da utilização de técnicas específicas de equoterapia, articuladas com atividades de formação das habilidades linguísticas, para melhoria da comunicação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 24 O detalhamento das atividades realizadas consta do programa de equo- terapia intitulado de Passo a Passo na Comunicação. Materiais e métodos Como se trata de um extenso projeto de pesquisa, faremos uma apresentação resumida dos materiais e métodos, suficiente para com- preensão da proposta de estudo e das questões teórico-metodológicas a serem discutidas. Aspectos éticos A pesquisa tem aprovação do Comitê de Ética na Pesquisa da Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília com CAAE 14946819.8.0000.8093 e número de parecer 3.420.561. Todos os responsáveis assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os menores um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). De acordo com os dispositivos das Resoluções 196/1996, 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, as crianças e seus responsáveis legais foram informados sobre o objetivo da pesquisa, todos os procedimentos a serem realizados, bem como os riscos e benefícios da participação, a fim de garantir que seu consentimento é livre, sendo garantida a liberdade de se retirar do estudo a qualquer momento. A coleta de dados e as sessões de equoterapia foram realizadas após a assina- tura dos TCLE e dos TALE. Todas as informações e dados coletados foram mantidos anônimos e utilizados apenas para fins de estudo. As instituições co-participantes do projeto assinaram um Termo de Anuência para a reali- zação da pesquisa. Tipo de estudo Trata-se de um estudo experimental, com medidas repetidas e compara- ções inter e intragrupos. Os grupos experimentais 1 e 2 foram compostos por crianças com TEA. O delineamento do estudo consistiu nas seguintes etapas: recrutamento dos participantes; avaliação inicial; alocação dos praticantes nos grupos: G1 – início imediato da intervenção com uma sessão por semana e G2 – início da intervenção após 3 meses com duas sessões por semana; reali- zação do programa de intervenção por 12 sessões com G1; reavaliação de G1 e G2; realização do programa de intervenção por mais 12 semanas com G1 e G2; avaliação final de G1 e G2. A duração total da intervenção, calculada E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 25 em função do número de sessões, foi a mesma para G1 e G2, 24 sessões. A figura 4 ilustra o desenho do estudo. Figura 4 – Desenho do estudo Seleção dos participantes Avaliação e alocação dos participantes 3 meses de espera 3 meses de intervenção, 1 vez por semana 3 meses de intervenção, 1 vez por semana 3 meses de intervenção, 2 vezes por semana Terceira avaliação de todos os participantes Segunda avaliação de todos os participantes G1 G2 O Quadro 1 mostra o delineamento da pesquisa em meses para cada grupo, considerando entrada, avaliação inicial (Av. 1), intervenção (I) e rea- valiação (Av. 2, após 12 semanas, e Av. 3, após 24 semanas). É importante destacar que os participantes da pesquisa não iniciaram o processo no mesmo período, desta forma, o delineamento individual não reproduz exatamente o cronograma do projeto como um todo. Quadro 1 – Caracterização do delineamento da amostra Grupos Avaliação Intervenção (12 semanas) Avaliação Intervenção (12 semanas) Avaliação G.1 Av. 1G1 I. G1-1vez/semana Av. 2G1 I. G1-1vez/semana Av. 3G1 G.2 Av. 1G2 --- Av. 2G2 I. G2-2vezes/semana Av. 3G2 Participantes Iniciaram a pesquisa 120 crianças com TEA e finalizaram 97, com uma mortalidade experimental de 23 participantes, 19,2%. Em uma revisão siste- mática o uso da equoterapia no atendimento a crianças com TEA(7), os autores localizaram 16 artigos, com ampla diferença no número de participantes, que E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 26 variaram de um mínimo de 4 e até o máximo de 127. O Quadro 2, abaixo, mostra o número de participantes em cada localidade. Quadro 2 – Participantes e estados envolvidos na pesquisa Número de participantes Estado Frequência Semanal Feminino Masculino 31 DF 1 vez na semana 3 28 25 DF 2 vezes na semana 4 21 21 TO 1 vez na semana 5 16 10 MCZ 1 vez na semana 0 10 5 RN 2 vezes na semana 1 4 5 SP 2 vezes na semana 1 4 Durante a realização das sessões de equoterapia, todas as medidas de segurança foram adotadas, no intuito de evitar qualquer tipo de intercor- rência: o uso de capacete era obrigatório, assim como a vestimenta apro- priada; os cavalos foram devidamente treinadose estavam acostumados com as atividades previstas no protocolo de atendimento; os profissionais tinham ampla experiência em equoterapia e todos foram devidamente qua- lificados para realizar o procedimento de retirada de emergência. Além disso, seguimos o protocolo de segurança para diminuição da propagação do Covid, com o uso obrigatório de máscara de proteção, a higienização periódica das mãos e dos materiais utilizados, além de manter o distancia- mento, quando possível. A seleção dos participantes do estudo obedeceu aos seguintes critérios de inclusão: a) Ter diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista; b) Ter indicação para prática de equoterapia por meio de avaliação médica dos requisitos básicos, o que inclui a abdução de quadril de pelo menos 20 graus para se manter sentado no cavalo; c) Possuir idade de 2 a 7 anos completos até o início da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: a) Possuir baixa visão moderada não corrigida, ou seja, quando a visão no melhor olho, com a melhor correção é de 20/70 a 20/160 (é possível o uso de óculos); b) Apresentar alguma das seguintes complicações clínicas associadas: crises convulsivas sem controle medicamentoso, luxação de quadril, contratura excessiva de adutores e osteoporose grave ou qualquer E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 27 outra razão que impeça de montar a cavalo, como por exemplo, medo excessivo. Procedimentos Avaliação e reavaliação Foram utilizados os seguintes instrumentos para a avaliação das crianças em relação ao domínio de fala, linguagem, funções cognitivas, motricidade e comportamento: 1. Vineland; 2. ATEC; 3. Avaliação do Desenvolvimento de Linguagem (ADL); 4. Protocolo de observação comportamental (PROC). A duração do processo de avaliação, cerca de 60 min à 70 min, foi semelhante para as crianças e os pais. Vejam, a seguir, os detalhes sobre os instrumentos de avaliação. 1. Vineland(19,20): A escala consiste em uma entrevista semiestrutu- rada, em formato de questionário, que através de seus domínios e subdomínios, avalia o comportamento adaptativo da pessoa em observação (0 a 90 anos), isto é, mensura a capacidade da pessoa realizar de atividades da vida diária, considerando todos os aspectos de vida. Os domínios são divididos em comunicação, autonomia, socialização, motricidade e comportamento desajustado, avaliando, respectivamente, os seguintes subdomínios: receptiva, expressiva e escrita; pessoal, doméstica e de comunidade; relações interpessoais, jogos e lazer e regras sociais; e global e fina. Em cada domínio, a avaliação se dá por meio de pontuação de acordo com a frequência em que aquele aspecto acontece, o que segue: 2: para “sim, normal- mente”; 1: para “algumas vezes ou parcialmente”; 0: para “não ou nunca”; N: para “não teve oportunidade”; ou D: para “desconhe- cido”. Devido a abrangência dos domínios observados, a Vineland é comumente utilizada para avaliar o comportamento adaptativo de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), entre outros transtornos e/ou comorbidades. O tempo de aplicação depende da quantidade de formulários utilizados pelos avaliado- res, pois existem formulários específicos para: pais (Entrevista e Formulários de pais), cuidadores (Cuidadores do nascimento aos 90 anos) e professores (Formulário de professor de 3 a 21 anos). Nesta pesquisa, utilizamos o formulário de pais ou, quando a criança não vem para a equoterapia acompanhada pelos pais, o formulário dos cuidadores. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 28 2. ATEC: A escala Autism Treatment Evaluation Checklist (ATEC), avalia o aumento da ocorrência de especificadores e estereotipias, ou seja, mudanças na gravidade do autismo, monitorando compor- tamentos ao longo do tempo, o que, dessa forma, auxilia tanto na avaliação de outras escalas aplicadas em concomitância quanto no acompanhamento e comparação da eficácia de algum tratamento. A ATEC é subdividida em: (1) fala/linguagem/comunicação; (2) socia- bilidade; (3) percepção sensorial/cogninitiva; e (4) saúde/aspectos físicos/ comportamento. O escore varia de 0 a 180, sendo que o melhor resultado é inversamente proporcional à maior pontuação. As subescalas são aplicadas aos cuidadores, o que demonstra maior especificidade e veracidade nas questões observadas. 3. Avaliação do Desenvolvimento de Linguagem – ADL: Apesar de ser uma escala para aplicação em crianças com até 6 anos e 11 meses, acredita-se que sua utilização será importante na medida em que os aspectos de desenvolvimento básicos de semântica e morfossintaxe se encerram nesse ciclo do desenvolvimento. Com isso, nossa expectativa é que as crianças com TEA que participam do estudo alcancem a faixa mais alta do teste. O ADL é relevante especialmente por avaliar separadamente a linguagem receptiva e a linguagem expressiva, possibilitando o uso da parte receptiva com todos os participantes, independentemente do nível de alteração de linguagem verbal oral. 4. PROC – Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis(21): o PROC é um instru- mento que avalia habilidades comunicativas, compreensão verbal e aspectos cognitivos do desenvolvimento. Para coleta de dados, o mesmo exige um ambiente semiestruturado e a gravação da interação de um adulto com a criança. Utilizamos o PROC nesta pesquisa como instrumento de avaliação exploratória, analisando as respostas em cada um dos itens propostos pelos autores. Intervenção De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), a intervenção equoterapêutica é um método terapêutico que se utiliza do cavalo para estimular o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades específicas, dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação(22). No presente estudo, nosso foco se dirige para os programas de hipoterapia e educação/reeducação. Hipoterapia E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 29 (do inglês hippotherapy) é um termo amplamente utilizado na área como uma das especializações da equoterapia(7,23,24) e segundo a American Hippotherapy Association refere-se a como os profissionais da terapia ocupacional, da fisioterapia e da fonoau- diologia usam práticas baseadas em evidências e raciocínio clínico com o propósito de manipular os movimentos equinos para engajar os sistemas sensório, neuromotor e cognitivos para alcançar resultados funcionais(23). No Brasil, a ANDE-BRASIL defende que o programa de hipoterapia deve ser utilizado com praticantes que não tenham condições de se manterem sozinhos no cavalo, seja por necessitarem de auxílio físico ou de suporte psicológico; logo, nesses casos, há a necessidade de um auxiliar-guia para conduzir o cavalo(22). Já no programa de educação/reabilitação, o praticante tem mais autonomia, é capaz de exercer alguma atuação sobre o cavalo, logo, pode, após avaliação da equipe de equoterapia, conduzir o cavalo de forma autônoma. A intervenção fonoaudiológica para lidar com os distúrbios da comuni- cação humana deve sempre ser contextualizada e individualizada. Ser con- textualizada em respeito às condições de vida, o que abrange casa, escola e trabalho, e aos interesses de cada paciente; ser individualizada de forma a se adequar às características de cada paciente, sem se desconectar da inten- ção terapêutica presente no planejamento. Dessa maneira, cada praticante precisou de objetivos e estratégias diferentes, porém, o planejamento foi realizado dentro de um embasamento teórico, preferencialmente, já testadoanteriormente. Nesta pesquisa elaboramos o Programa Passo a Passo na Comunicação que segue os princípios do arcabouço teórico-prático da aná- lise linguístico-funcional de Halliday(17), as teorias sociointeracionistas(13–16) e a prática fonoaudiológica baseada em análise de competências linguísti- cas gramaticais(18). Além dos exercícios realizados no Centro de Equoterapia da ANDE- -BRASIL foram enviadas atividades específicas para serem realizadas em casa com o apoio e a supervisão dos pais. Essas atividades, além de enrique- cer os estímulos para a formação de habilidades comunicativas, contribuem para orientar os pais sobre as possibilidades para fornecerem estimulação parental ao longo da semana. As atividades foram propostas de acordo com o planejamento individual do praticante. Cada praticante recebeu e construiu o Caderno da Equoterapia. Por meio do Caderno da equoterapia, é possível E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 30 acompanhar os objetivos específicos dos módulos da intervenção. A figura a seguir ilustra algumas atividades do caderno. Figura 5 – Praticante mostrando o caderno da equoterapia para mediadoras Considerações sobre a obra Cada capítulo deste livro foi elaborado com o objetivo de compartilhar as diversas etapas necessárias para a elaboração e implementação dos projetos de intervenção e de pesquisa, denominados em conjunto de Comunicar com Equoterapia. Acreditamos que, de posse dessas informações, você pode ter a oportunidade de replicar ou de construir propostas equivalentes, de acordo com a especificidades do seu público-alvo, a composição de sua equipe de equoterapia e as condições do seu Centro de Equoterapia. A despeito da quantidade de trabalho requerido, o estudo possibilitou a análise de diversas questões teórico-práticas, que provocaram reflexões importantes e inovadoras sobre as possíveis articulações entre fonoaudiologia e equoterapia. Parte dos resultados está disponibilizada neste livro e outra parte será divulgada por meio de artigos científicos. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 31 REFERÊNCIAS 1. Grandgeorge PM, Hausberger M. Autisme, médiation équine et bien-être. Bull Acad Vét Fr. 2019;(1):1–7. 2. Association AP. Diagnostic and statistical manual of mental disorders – DSM-5. 5th ed. 2013. 3. Lotter V. Epidemiology of Autistic Conditions in Young Children. 1964;124–37. 4. Fombonne E. Epidemiology of Pervasive Developmental Disorders. 2009;65(6):591–8. 5. Report MW. 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Adaptive behavior in autism: Minimal clinically impor- tant differences on the Vineland-II. Autism Res. 2017;11(2):270–83. 21. Rocha S, Hage DV, Pereira TC, Zorzi JL, Infantil L. Behavioral Obser- vation Protocol : (1). 22. ANDE. AN de E-. Curso básico de equoterapia. Brasília: ANDE; 2010. 205 p. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 33 23. American Hippotherapy Association. What is Hippotherapy? [Internet]. 2019. Available from: https://americanhippotherapyassociation.org/ what-is-hippotherapy/ 24. Macauley BL, Gutierrez KM. The Effectiveness of Hippotherapy for Children With Language-Learning Disabilities. Commun Disord Q. 2004;25(4):205–17. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Introdução De acordo com o princípio de intencionalidade equoterapêutica, des- crito no Capítulo 1 (p. 20), as vivências e atividades previstas no Programa Passo a Passo na Comunicação para as crianças com TEA foram defini- das com base no processo avaliativo, que abrange os momentos iniciais de contato da equipe de equoterapia com os praticantes e seus familiares, até a aplicação dos instrumentos de avaliação previstos na pesquisa. Em outras palavras, o processo de avaliação precede a elaboração do planeja- mento equoterapêutico. O Programa Passo a Passo na Comunicação teve como objetivo principal fornecer estímulos significativos para a formação das habilidades linguísticas e cognitivas, de forma a ampliar a funcionalidade comunicativa e social das crianças com TEA. Para a identificação adequada dos estímulos não é possível se pautar exclusivamente em indicadores teóricos; é imprescindível entender as necessidades e os interesses de cada um dos praticantes e de sua família. Sendo assim, neste capítulo, vamos apresentar e discutir como foram reali- zadas todas as etapas da avaliação, como também, como utilizamos os dados obtidosna avaliação para a elaboração do planejamento equoterapêutico que articula fonoaudiologia com equoterapia. Contextualização: quais instrumentos utilizamos e os motivos A escolha dos instrumentos de avaliação levou em consideração as fina- lidades do projeto Comunicar com Equoterapia, que se propõe a promover a reabilitação das habilidades linguísticas e cognitivas de crianças de ambos os sexos, com idade entre 2 e 10 anos, que tenham diagnóstico médico confir- mado de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, segundo a avaliação de seu pai, sua mãe ou os responsáveis legais, dificuldades comunicativas evidentes. Além dos aspectos supracitados, a seleção dos instrumentos de avaliação levou em conta a possibilidade de atender a dois qualificadores chaves para compreensão da funcionalidade, a saber: capacidade e desempenho, conforme descrito abaixo: 1. capacidade, descreve a habilidade ou condição de um indivíduo para executar uma tarefa ou uma ação em um ambiente ideal. A capacidade descreve o nível mais elevado de funcionalidade que uma pessoa pode atingir no momento atual(1–3), e; 2. desempenho, descreve o que um indivíduo faz no seu ambiente real, ou seja, as atividades e o nível de participação social em função das E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 38 barreiras ou facilidades existentes na sua realidade de vida habitual, o que inclui o contexto social; também pode ser entendido como “envolvimento numa situação de vida”(4). Para avaliar de maneira minuciosa a capacidade das crianças com TEA inseridas no projeto Comunicar com Equoterapia foi preciso considerar os prejuízos que já eram esperados pelo diagnóstico de autismo. Sabe-se que os prejuízos pragmáticos estão bem descritos para esse público, prejuízos em iniciativa na comunicação, bem como em resposta ao outro, funções comunicativas com atrasos significativos, meios de comunicação com uso atípico e outras manifestações(5–7). Adicionado aos prejuízos pragmá- ticos também coexistem as dificuldades em morfossintaxe e semântica, como uso atípico de pronomes e repertório limitado de conhecimento de objetos(8). Diante disso, a fim de avaliar a capacidade em habilidades pragmáticas definiu-se como instrumento de avaliação o Protocolo de Observação Com- portamental(9) e para avaliação da capacidade em habilidades morfossintáti- cas e semânticas definiu-se como instrumento de avaliação a Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem 2(10). Para avaliar de forma detalhada o desempenho das crianças em seu coti- diano foi preciso considerar a percepção dos responsáveis que convivem com essas crianças na maior parte do dia, bem como realizar uma seleção de avaliações pertinentes às variáveis de comunicação analisadas na pesquisa. Para cumprir esse objetivo definiu-se pela Escala de Comportamento Adap- tativo Vineland(11,12) que comporta domínios de fala e linguagem, bem como a Avaliação de Tratamentos do Autismo (ATEC)(13) a fim de avaliar a eficácia do tratamento, bem como monitorar como o indivíduo progride ao longo do tempo nas habilidades de interesse. Neste capítulo trataremos de três dos quatro instrumentos citados acima: o Protocolo de Observação Comportamental (PROC)(9), a Avaliação do Desen- volvimento da Linguagem 2 (ADL 2)(10) e a Vineland(11). Sobre as avaliações: objetivos e dicas práticas Protocolo de Observação Comportamental: PROC O objetivo principal de utilização de tal protocolo consistiu em ava- liar o desenvolvimento comunicativo e cognitivo das crianças por meio do contexto lúdico. Ele avalia aspectos referentes às habilidades comunicativas E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 39 expressivas, de compreensão e esquemas simbólicos. Possui dados de refe- rência para crianças entre 2 e 3 anos(9). O PROC apresenta três componentes, sendo eles interligados entre si, apesar de serem avaliados separadamente, conforme fi gura abaixo: Figura 1 – Componentes do PROC Habilidades comunicativas Compreensão verbal Aspectos do desenvolvimento cognitivo Fonte: Elaborado pelos autores baseado no PROC(8)� Cada um desses componentes do PROC(9) é subdividido em alguns fato- res, a saber: 1. Habilidades Comunicativas: habilidades dialógicas, funções comu- nicativas, meios de comunicação e níveis de contextualização da linguagem; 2. Compreensão Verbal: compreensão de ordens e comandos; 3. Aspectos do Desenvolvimento Cognitivo: formas de manipulação dos objetos, nível de desenvolvimento do simbolismo e nível de organização do brinquedo. A pontuação de cada habilidade (habilidades comunicativas, compreensão verbal e desenvolvimento cognitivo) varia e está descrita no rodapé de cada tópico no formulário de avaliação. A pontuação máxima total é de 150 pontos. A aquisição do PROC é simples, visto que a folha de marcação do protocolo e as instruções básicas estão disponíveis gratuitamente. Ressalta-se, entretanto, que é necessário que o aplicador tenha o material (brinquedos) descrito no artigo(8). E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 40 A seguir, apresentamos algumas dicas práticas que podem favorecer a aplicação do PROC: • Observar o comportamento da criança o mais próximo possível do natural (semiestruturado – veja a foto abaixo). • Estimular a criança a brincar, utilizando uma postura com pouca ênfase em comandos do aplicador. • Conhecer o protocolo e planejar previamente os procedimentos necessários para testar cada habilidade. Nem sempre a criança obtém o escore zero por não saber, mas por falta de teste específico. Por exemplo: oferecer brinquedos específicos (móveis em miniatura) para observar agrupamentos dos cômodos da casa. • Não utilizar os blocos de encaixe no início, visto que crianças com interesses restritos demonstraram pouca interação com os demais brinquedos no decorrer da avaliação. Figura 2 – Praticante do Projeto Comunicar com Equoterapia em processo de avaliação em ambiente semiestuturado Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem 2 – ADL 2(10) O objetivo principal de utilização de tal protocolo consistiu em analisar o desenvolvimento da linguagem compreensiva e expressiva de crianças por E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 41 meio de atividades estruturadas. A escala avalia a aquisição da linguagem em relação ao conteúdo, por meio da semântica, e à estrutura, por meio da morfologia e sintaxe. Possui aplicação prevista para crianças entre 1 ano a 6 anos e 11 meses. A avaliação é dividida em duas sub-escalas, a saber: 1. Linguagem Compreensiva (52 itens); 2. Linguagem Expressiva (58 itens). O acesso ao ADL 2(10) é mais restrito, devido ao valor. O kit vendido contém: o manual do examinador, com os procedimentos para aplicação das tarefas do teste e os valores de referência; o manual de figuras das linguagem compreensiva e expressiva; o protocolo de aplicação e pontuação (este pode ser encontrado, online e gratuitamente, na maioria dos sites que vendem o kit); e o material concreto, composto por alguns brinquedos em miniatura(10). A análise dos dados do ADL 2 é feita de maneira complexa, posterior- mente à aplicação. O avaliador deve possuir domínio dos procedimentos, visando à minimização dos erros e uma correta análise dos resultados. A pon- tuação de cada tarefa pode ser: 0 ou NR (não respondeu), quando o avaliado errar ou não responder; 1, quando o avaliado acertar, preenchendo os requisitos descritos em nota no teste. A pontuação máxima é 298 pontos, somando-se linguagem expressiva e receptiva(9). O ADL 2(10) foi escolhido por ser a versão mais atualizadaaté o presente momento. Todas as informações aqui contidas a respeito do ADL 2, apli- cam-se também ao ADL, excetuando-se que o segundo tem menos tarefas que o primeiro, como também, que alguns brinquedos foram acrescentados na versão revisada. A maioria das tarefas permanece igual entre as versões, podendo ter sido modificado/acrescentado: figuras, habilidades específicas, forma de pontuação de algumas tarefas; além da versão revisada conter dois protocolos complementares (Observação da Aquisição Fonológica e História Clínica e de Desenvolvimento da Criança). A seguir apresentamos as dicas práticas que podem favorecer a aplicação da ADL 2, seguindo as orientações do próprio manual(9): • Conhecer as tarefas do protocolo, manuseando o livro de figuras e os materiais rapidamente, evitando-se a distração do avaliado. • Iniciar o teste 6 meses antes da idade cronológica. Voltar ao início da idade anterior (página anterior), caso erre qualquer uma das 3 primeiras questões, até encontrar a base. Continuar o teste até encontrar o teto. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 42 • Iniciar pela parte de linguagem compreensiva, no caso de a criança ser mais tímida. • Para analisar os dados: sinalizar a última questão correta, a base e o teto; preencher a capa com essas informações; pontuar o nível do distúrbio de linguagem. Vineland A Vineland é um instrumento utilizado mundialmente, com o objetivo de avaliar o comportamento adaptativo das pessoas desde o nascimento até a idade adulta e idosa (90 anos)(11). A escala avalia os domínios e as suas subdivisões, a saber: 1. Comunicação (67 questões) – receptiva, expressiva e escrita; 2. Habilidades Diárias (92 perguntas) – habilidades pessoais, domés- ticas e comunitárias; 3. Socialização (66 questões) – relações interpessoais, brincadeiras e lazer, habilidades de enfrentamento; 4. Habilidades Motoras (36 questões) – motricidade grossa e habili- dades motoras finas; 5. Comportamento Desajustado (36 questões) – projetado para avaliar comportamentos mal-adaptativos, como obstinação, impulsividade, teimosia, agressividade, ansiedade, introversão, negativismo, alte- ração de humor etc.(12). O instrumento consiste em uma entrevista semiestruturada em formato de questionário, esse questionário pode ser dirigido a diferentes pessoas que convivem com o indivíduo sobre o qual se quer obter informações. A impor- tância da avaliação está relacionada com a compreensão das necessidades individuais de cada pessoa, considerando os aspectos de toda vida(11). O acesso à Vineland é restrito aos que realizam a compra e o treinamento para aplicação da Escala. O kit contém: 1 manual de aplicação, 5 formulários de entrevista extensiva, 5 formulários de entrevista de domínios, 5 formulários de pais/cuidadores extensivo, 5 formulários de pais/cuidadores de domínios, 5 formulários de professores extensivo, 5 formulários de professores de domí- nios, bem como tabelas de dados normativos. A seguir apresentamos as dicas práticas que podem favorecer a aplicação da Vineland: E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 43 • Por ser uma avaliação longa, com tempo médio de aplicação entre 1 hora a 1 hora e meia, recomenda-se que seja realizada pessoalmente, em local adequado e sem interrupções. • Por se tratar de um questionário, indica-se que o avaliador se apro- prie do conteúdo das perguntas e realize adaptações no momento de fazê-las ao entrevistado. O conteúdo das perguntas não deve ser modificado, somente a compreensão deve ser facilitada. • Durante a aplicação muitos entrevistados realizam relatos extensos sobre o que a criança “faz” ou “não faz”, ultrapassando o limite do que lhe foi perguntado naquele momento. A fim de otimizar a aplicação, o avaliador deve estar atento para os momentos em que perguntas que seriam feitas posteriormente são respondidas espon- taneamente durante os relatos e realizar a marcação da pontuação referentes a elas. No Capítulo 1 (p. 27 e 28), que descreve a aplicação do Projeto “Comu- nicar com Equoterapia” nas cinco localidades em que o estudo foi realizado, apresentamos informações adicionais sobre o Protocolo Avaliação de Trata- mentos do Autismo – ATEC. Como usar da avaliação para o planejamento do praticante? As principais competências e habilidades para o desenvolvimento da funcionalidade linguística, que devem necessariamente constar no programa de intervenção, precisam fazer parte do processo de avaliação. O(a) mediador(a), para elaborar o planejamento e tomar decisões ao longo de sua execução, precisa conhecer as habilidades linguísticas específicas de cada praticante para definir qual deve ser o investimento prioritário, direcionado para dar ao praticante mais oportunidades de utilizar espontaneamente novas estrutu- ras gramaticais(14). Essa articulação entre os dados resultantes de uma avaliação detalhada e o planejamento consciente das atividades a serem realizadas na intervenção, foi caracterizada no primeiro capítulo como “intencionalidade equoterapêutica”. A partir dessa diretriz, podemos fazer uma relação direta entre os resultados da avaliação e os objetivos traçados para os praticantes. Duas dicas aprendidas ao longo da pesquisa: primeiro, a elaboração dos objetivos específicos de cada sessão deve ser revisada a partir da discussão, entre os integrantes da equipe de equoterapia, dos dados da avaliação para aquele praticante em particular; segundo, é importante esclarecer a diferença entre objetivo, definido a partir da intencionalidade equoterapêutica, logo, que E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 44 deve permanecer inalterado, e estratégias, que se refere a como as atividades foram realizadas, o que pode sofrer ajustes para se adequar às características do(a) praticante. Por exemplo, imagine um praticante que tem dificuldade na troca de turno, ou seja, não tem iniciativa para interagir com o outro ao exprimir um desejo e/ou aguardar uma resposta. O objetivo da intervenção, portanto, é “aumentar a frequência de iniciativas em trocas de turno”, mas as estratégias utilizadas para criar atividades que permitam desenvolver essa competência, podem ser diversificadas. Isto ajuda a esclarecer que, para um mesmo objetivo, podemos ter diferentes estratégias, que variam de acordo com as necessidades dos praticantes, e podem ser ajustadas para propor atividades mais fáceis ou mais difíceis, de acordo com cada caso. Caso clínico do S.S.C.: planejamento terapêutico Para exemplificar o papel da avaliação no planejamento da interven- ção, apresentamos o caso de S.S.C., um menino de seis anos e onze meses de idade, com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, residente do estado de Tocantins. Durante a realização da anamnese, S.S.C.: demonstrou ter um comporta- mento tímido; não cumprimentou os avaliadores; permaneceu perto de pessoas familiares; para sentar-se no chão com a terapeuta e os brinquedos, precisou do apoio afetivo do irmão, que sentou junto com ele; não realizou contatos oculares duradouros; não mostrou iniciativa em brincar; não direcionou sua atenção para a avaliadora, e; não apresentou saudações e despedida. Existem diferentes formas para se avaliar a pragmática. Vamos descre- ver a forma como testamos e usamos a avaliação na Associação Nacional de Equoterapia, após reuniões de discussão com a equipe de equoterapia, para o projeto Comunicar com Equoterapia. O ambiente foi preparado para aplicação do PROC(8) com os seguintes cuidados: o local utilizado foi uma sala bem iluminada, com presença de poucos estímulos visuais; o local era silencioso; a avaliação não foi interrom- pida; o foco da sala foi direcionado para caixa colocada no chão, emcima de tatames, no centro da sala. Na sala de avaliação posicionamos um assistente para realizar a filma- gem. O assistente não interagiu com a criança em nenhum momento; a filma- gem, realizada durante 15 minutos, foi dirigida para captar gestos, emissões verbais e vocais, expressões faciais e a interação como um todo. A criança entrou em sala acompanhada do aplicador do PROC(9), caso necessário, pode- ria contar com a presença de algum familiar. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 45 Após aplicação do PROC(9), foi feita a transcrição pragmática de toda a interação entre a criança e as pessoas e/ou objetos presentes na sala. Cada ato comunicativo foi transcrito e avaliado de acordo com às habilidades comunica- tivas de interesse: iniciativa/resposta; funções da comunicação que foram uti- lizadas, e; meios de comunicação pelos quais o ato comunicativo foi expresso. A partir dos resultados do PROC, foram identificados os seguintes pre- juízos pragmáticos: 1. Baixa iniciativa na comunicação e na interação; 2. Ausência das seguintes funções comunicativas: instrumental, nomeação, interativa, informativa, narrativa; 3. Pouco uso do meio verbal, uma vez que o meio comunicativo pre- dominante foi o gestual. A partir dos prejuízos pragmáticos coletados pelo PROC e da proposta do Programa Passo a Passo na Comunicação, destacamos os seguintes exemplos: Quadro 1 – Exemplos de objetivos e estratégias, a partir da avaliação do PROC e do programa Passo a Passo na Comunicação Programa Passo a Passo na Comunicação Objetivos e estratégias definidas a partir da avaliação do PROC Objetivos Aumentar a iniciativa na comunicação Estratégias No local onde sempre o cavalo entra para iniciar a terapia, o mediador deve dizer “o cavalo está esperando lá fora, alguém precisa ir buscar”. É importante aguardar a atitude da criança. Caso ela não demonstre, o mediador deve incitar novamente e aguardar. Se a criança não demonstra iniciativa, o mediador repete a ação com mais intensidade. Se a criança ainda não tem iniciativa, o mediador assume o papel, perguntando “vamos buscar seu cavalo?”. Objetivos Aumentar o uso da função interativa Estratégias O mediador deve recepcionar a criança, colocando-se ao nível dela e se aproximar. Ele deve dar a oportunidade para a criança vivenciar a função interativa. Por exemplo, o mediador diz “oi”, acenando e falando de forma expressiva e aguarda a resposta da criança. Se criança não responde, o mediador repete a saudação. Se a criança não demonstra iniciativa, o mediador direciona a criança “fala oi, X (nome da criança)”. Se a criança ainda não corresponde, o mediador promove suporte necessário/possível para imitação. Objetivos Aumentar o uso da função nomeação Estratégias O mediador e o praticante devem alimentar o cavalo juntos. Durante a atividade, conversar sobre a alimentação focando no nome dos alimentos, estimulando, assim, a nomeação. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 46 Como acompanhar a aprendizagem e o desenvolvimento dos praticantes? Para verificarmos se houve aprendizagem nos praticantes, é importante realizar a mesma avaliação antes e depois da execução do Programa Passo a Passo na Comunicação. Dessa forma, poderemos entender com clareza quais habilidades e competências linguísticas as crianças com TEA aprenderam ao longo da equoterapia. Vamos exemplificar a avaliação dos resultados por meio da descrição dos resultados obtidos com a aplicação de dois instrumentos utilizados no projeto Comunicar com Equoterapia: PROC e ADL 2. Caso clínico do S.S.C.: formação das habilidades após equoterapia A Figura 3, a seguir, mostra o gráfico comparativo entre os resultados do praticante S.S.C. nas avaliações realizadas no início (Pré-intervenção) e ao final do Programa Passo a Passo na Comunicação (Pós-intervenção), o que permite verificar os efeitos obtidos após as 24 sessões de intervenção equo- terapêutica direcionadas para comunicação. S.S.C. apresentou progresso em todas as áreas avaliadas no PROC: habilidades comunicativas, compreensão verbal e desenvolvimento cognitivo. Figura 3 – Protocolo de Observação Comportamental (PROC) do praticante S.S.C., antes e após participação no projeto Comunicar com Equoterapia PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO COMPORTAMENTAL HABILIDADES COMUNICATIVAS COMPREENSÃO VERBAL ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Pré intervenção Pós intervenção 11 30 47 5 10 18 50 40 30 20 10 45 35 25 15 5 0 Em relação às habilidades avaliadas na ADL 2, de acordo com o gráfico da Figura 4, a seguir, S.S.C. apresentou: melhora na linguagem expressiva e estabilidade na linguagem receptiva. Esses resultados podem ser considerados E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão COMUNICAR COM EQUOTERAPIA: efeito da equoterapia na reabilitação de pessoas com transtorno do espectro autista 47 positivos, especialmente se considerarmos as dificuldades de expressão da linguagem oral em pacientes com TEA(8,15). Figura 4 – Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem 2 (ADL 2) do praticante S.S.C., antes e após participação no projeto Comunicar com Equoterapia Pré intervenção Pós intervenção AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM LINGUAGEM RECEPTIVA LINGUAGEM EXPRESSIVA 106 105 104 103 102 101 100 99 98 97 105 105 100 Nota: A diferença entre as datas da avaliação inicial e da final foi de 6 meses. Considerações finais Neste capítulo refletimos sobre a relevância do processo de avaliação para subsidiar a elaboração do planejamento e favorecer o acompanhamento da exe- cução do programa de acordo com as diretrizes do conceito de intencionalidade equoterapêutica. O processo avaliativo é extremamente importante para que a equipe do centro de equoterapia conheça bem o praticante, sua família e o con- texto no qual estão inseridos, assim como, para que seja realizado o ajuste neces- sário das sessões de equoterapia em função do progresso de cada praticante. Nos limitamos a tratar dos aspectos relacionados à comunicação, por- que essa é a finalidade principal do projeto Comunicar com Equoterapia. Entretanto, cada praticante tem as suas particularidades e especificidades, que devem ser também compreendidas pela equipe de equoterapia. Aspectos psi- comotores, perceptivos, de força muscular e de equilíbrio são alguns exemplos de componentes chaves que devem fazer parte do cotidiano dos centros de equoterapia, para que tenhamos cada vez mais práticas com intencionalidade, visando o melhor desenvolvimento possível de cada praticante. E di to ra C R V – P ro ib id a a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 48 REFERÊNCIAS 1. WHO – World Health Organization. Classificação Internacional da Fun- cionalidade Incapacidade e Saúde : Versão para Crianças e Jovens. 2003; 2. Medeiros AM De. Caracterização de aspectos fonoaudiológicos segundo as categorias da Classificação Internacional de Funcionalidade, Inca- pacidade e Saúde para Crianças e Jovens (CIF-CJ) Characterization of communication disorders. 2018;1782(4):4–11. 3. Morettin M, Regina M, Cardoso A, Delamura AM, Zabeu JS, Célia R, et al. O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapaci- dade e Saúde para acompanhamento de pacientes usuários de Implante Coclear Use of the International Classification of Functioning, Disability. 2013;3(4):216–23. 4. WHO – World Health Organization. Classificação Interna- cional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde [Internet]. 2001. Available from: https://www.who.int/classifications/ international-classification-of-functioning-disability-and-health 5. Queiroz AM de. Estudo da linguagem e o comportamento adaptativo de estudantes com autismo (Dissertação de Mestrado) [Internet].
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