Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
hans kelsen Visão de Ciência 1) Construção: a ciência seleciona certos aspectos do objeto de estudo e os com- bina com vista a certos propósitos; - Construção metodológica do objeto (cons- trução de um objeto artificial - papel da teoria); 2) Objetividade: a ciência se concentra nas características de seu objeto, e não nas opiniões do investigador; 3) Neutralidade: a ciência abstém-se de qualquer juízo de valor sobre o objeto de estudo; 4) Propósito: o propósito da ciência do Direi- to é dar soluções jurídicas objetivas para problemas práticos. Discursivamente: Kelsen, ao postular sua visão sobre ciência, desmembra-a em ramos, que se iniciam com uma construção, em que há seleção de aspectos do objeto e os combi- nação destes, de forma que sirvam aos pro- pósitos da pesquisa. Em seguida, a análise dos aspectos selecionados se dá por critérios de objetividade, em que os posicionamentos do investigador são renegados, uma vez que o foco científico está inteiramente direciona- do à concretude do objeto, e neutralidade, já que o estudo científico não há de realizar juí- zo de valor (de que se ocupam a Política e a Filosofia -fontes de divergências- por exem- plo). Os procedimentos, então, respeitam o propósito de fornecer soluções jurídicas obje- tivas para problemas práticos. Pretensões da Teoria Pura do Direito 1) Generalidade: a TPD ocupa-se do estudo de características comuns a todas as or- dens jurídicas, de maneira que fornece uma teoria da interpretação da atividade jurídica em geral (sem que se entregue a particularidades); 2) Descritividade: objetivo unicamente cen- trado em descrever, explicar e compreen- der o seu próprio objeto de estudo, sem que emita prescrições e avaliações a res- peito deste; 3) Pureza: limita-se ao estudos das normas jurídicas e suas relações, levantando ques- tões que sejam respondidas à luz das pró- prias normas, sem influência extrajurídico; - Questionamentos que só possam ser res- pondidos pela Ciência do Direito. 4) Autonomia disciplinar: dependendo da pureza metofológica e propondo eman- cipação da Ciência do Direito, contra sin- cretismos com outras áreas. - Crítica à maneira como se fazia Ciência do Direito à época: foco na conduta (a des- peito da norma), confusão com a sociolo- gia e com a psicologia. Enfoque na avalia- ção e na prescrição, mescla com as cor- rentes éticas e teorias políticas. Discursivamente: As pretensões da Teoria Pura do Direito positivo, proposta por Kelsen, res- peitam o critério de Generalidade, isto é, o enfoque no estudo de características comuns a todos os ordenamento jurídicos, fornecendo uma teoria geral da interpretação, sem que se dê primazia à análise de particularidades de sistemas jurídicos pontuais e específicos. A segunda pretensão estipulada por Kelsen é a Descritividade quanto ao objeto, ou seja, o estudo focado em explicação, compreensão e descrição do objeto, deixando de lado prescrições e avaliações a respeito deste. Além disso, propõe-se a Pureza da teoria, através do enfoque total nas normas jurídicas e suas relações, de forma que as questões levantadas sejam respondidas a partir das próprias normas, sem interferências extrajurí- dicas. Ultimamente, postula-se a Autonomia da Ciência da Jurídica que, por meio da pu- reza, seria emancipada do sincretismo e da mescla com outros campos do conhecimen- to. Questões - Teoria Pura do Direito Aplicação - TPD Existindo uma norma antidemocrática com validez e vigência, qual aplicação por um juiz estaria de acordo com a posição de Kelsen? 1) Aplicar a Lei, acreditando que essa é sua conclusão científica e dever político; O Direito NÃO é puro, mas a Ciência do Direi- to deve ser. Ao propor a metodologia da Ciência do Direi- to e postular como esta deve ser, a TPD ganha uma abordagem PRESCRITIVA. No entanto, quanto ao estudo do objeto, discorrendo so- bre este tal qual ele é, caracteriza-se como DESCRITIVA. 2) Aplicar a Lei, sendo essa sua conclusão científica, mas não seu dever político; 3) Não aplicar a Lei, sendo essa sua conclu- são científica e seu dever político. • O dever político, em Kelsen, deveria ser completamente desconsiderado. Fato Jurídico Fatos jurídicos dissociam-se em dois elementos: • Fato Natural (ato): realiza-se no espaço e no tempo, sensorialmente perceptível, manifes- tação externa da conduta humana, obser- vável no mundo natural; - Externo e neutro (na esfera do Direito, de- pendendo do sentido jurídico para alcan- çar alguma relevância jurídica); • Sentido jurídico: governado pela norma, a significação que o ato possui do ponto de vista do Direito; - Sentido jurídico subjetivo: sentido atribuído pelos sujeitos interpretantes di até, em que impetra o domínio da crença; - Sentido jurídico objetivo: sentido concreto atribuído pelas normas. Exemplos de Kelsen Exemplo 1 a) Em uma sala, encontram-se reunidos vári- os indivíduos em discussão: uns levantam as mãos, outros não = evento exterior; b) Foi votada uma lei = sentido jurídico obje- tivo. Exemplo 2 a) Um indivíduo, de hábito talar e sob um es- trado, profere determinadas palavras em face de outro indivíduo que se encontra de pé à sua frente = evento exterior; b) Foi ditada uma sentença judicial = sentido jurídico objetivo. Exemplo 3 a) Um comerciante escreve a outro uma car- ta, à qual este responde com outra carta = evento exterior; b) Foi celebrado um contrato = sentido jurídi- co objetivo. Exemplo 4 a) Certo indivíduo provoca a morte de outro; b) Ocorreu um homicídio = sentido jurídico objetivo. Exemplos de Kelsen Exemplo 1 1) Certo homem dispõe por escrito a distri- buição de seu patrimônio após sua morte, atribuindo a este fato um sentido jurídico subjetivo de testamento. No entanto, não seguindo os procedimentos devidos do Direito, não tem sentido jurídico objetivo de testamento; 2) Se uma organização secreta, com o intui- to de libertar a pátria de indivíduos noci- vos, condena-os à morte, mandando-o ser executado e considerando o ato a exe- cução de uma sentença de morte. No en- tanto, ganha sentido jurídico objetivo de homicídio, a despeito da crença da orga- nização. 3) Uma pessoa acredita estar redigindo um testamento e, de fato, está, caracterizan- do uma coincidência de sentidos jurídicos. Norma como esquema de Interpretação da Conduta Na Teoria Pura do Direito, a norma empresta à realidade um sentido, isto é, o fato natural ganha relevância por intermédio de uma norma, que lhe empresta significação jurídi- ca. Dessa maneira, observa-se que: Kelsen formula que, se ‘A’, condição de fato natural do mundo concreto, é, então B, con- sequência jurídica, deve ser. Dessa forma, conclui-se que apenas condutas são regulá- veis pelas normas. Faz-se necessária a observação de que, nem sempre, há concordância ou discor- dância entre os sentidos subjetivo e obje- tivo, isto é, podem ou não coincidir. Condição de Fato Consequência Jurídica Norma Se ‘a’ é, então ‘b’ deve ser.” Exemplos de kelsen As esferas do “ser e dever ser” • Ser: esfera em que se localizam os fatos, pertencentes ao mundo, sensorialmente concebíveis, que existem ou que ocorrem; • Dever ser: domínio do Direito e das Normas, que têm validade; - As normas prescrevem o que deve ser, pos- suindo, portanto, âmbitos de sua validade, que se dividem em: 1) Validade espacial: território; 2) Validade temporal: vigência; 3) Validade subjetiva: destinatários (indivídu- os que têm sua conduta regulada pela norma)l 4) Validade objetiva: conduta regulada pela norma (sobre o que a norma trata).Direito como ordem normativa, social, coercitiva de conduta 1) Ordem: conjunto inter-relacionado de normas; 2) Normativa: que engloba proposições hipo- téticas do dever ser; 3) Social: regula condutas que afetam outros sujeitos; 4) Coercitiva: usando sanções para que haja obrigatoriedade e eficácia. Sanção 1) Uma sanção corresponde a um mal pre- visto em uma norma e aplicado a uma pessoa como consequência ou castigo pela desobediência à determinada nor- ma; - Pode haver restrição de direitos, como a perda da liberdade (em caso de encarce- ramento), subtração de propriedade (mul- ta) ou, em casos severos, da vida (pena de morte); 2) Benefício previsto em uma norma e apli- cado a uma pessoa como prêmio pela obe- diência a uma norma; - IPTU com desconto até certo prazo de pa- gamento; - Redução de pena por bom comportamen- to. Binômios das sanções 1) Positiva (premiação) x negativa (castigo) - ambas as condições aplicadas no Direito positivo; 2) Transcendente (aplicada por entidade so- brenatural e/ou em outro mundo) x ima- nente (aplicada por autoridades deste mundo e neste mundo) - distinção entre religião e Direito; 3) Interior (estado subjetivo, auto-aplicação) x exterior (aplicada por um agente exteri- or, sem que garanta sofrimento) - distinção entre moral e Direito; 4) Difusa (aplicada por sujeitos comuns, sem que haja previsão normativa) x institucio- nalizada (prevista pelas normas e execu- tada por autoridades oficiais) - distinção entre costumes e Direito. Funções das sanções 1) Função Primária: assinalar obrigatoriedade e proibição; - Sempre cumprida, independente de eficá- cia e oportunidades educativas; 2) Função Secundária: incentivar obediência, fator de eficácia; O que faz diferir um homicídio de uma pena ca- pital é o fato da primeira estar sob confronto com o código penal e com o código de processo pe- nal. O que faz diferir com que uma troca de cartas juridicamente signifique a conclusão de um con- trato é a obediência aos preceitos de um código civil. Dizer que uma norma tem validade é diferente de afirmar que esta possui eficácia. Por exemplo, uma norma que prescreve o estelionato como crime e o delito é, de fato, pouco recorrente em determinado ordenamento jurídico. Diz-se que a norma é válida (cumpre todos os princípios de validade) e eficaz, já que é aplicada de forma bem-sucedida. Outra norma, no entanto, que proíbe que se estacione em determinado espaço é, recorrentemente, desobedecida. Diz-se que a Lei é válida, embora não se prove eficaz na reali- dade. EFICÁCIA = OBEDIÊNCIA O componente “coercitividade” do Direito, re- laciona-se diretamente com a aplicação de sanções. Entende-se, então, que antes a exis- tência destas, as condutas possuem tom de neutralidade (não há padrões de certo/errado estabelecidos previamente), de forma que, nas sanções, o Direito assinala obrigatoriedade ou proibição. - Não necessariamente o Direito a cumpre. Dinâmica Jurídica Kelsen desenha dois tipos de sistemas jurídi- cos: 1) Sistema Estático: as normas estão ligadas entre si por um nexo de conteúdo, em que somente uma norma que reafirme o mes- mo conteúdo pode ser integrada a qual- quer momento; 2) Sistema Dinâmico: as normas estão liga- das por um nexo de autorização, de for- ma que uma nova norma só pode ser in- tegrada se produzida por um órgão ou in- divíduo autorizado por uma norma anteri- or e superior. Pirâmide Escalonada do Direito Em um sistema jurídico dinâmico, em que as normas se relacionam por um nexo de autori- zação. Dessa forma, as normas se organizam em escalões, anteriores e superiores mais acima, posteriores e inferiores mais abaixo. Os escalões superiores, formados por um nú- mero menor de normais mais gerais e abstra- tas, serão seguidos por escalões inferiores, formados por um número maior de normas mais particulares e concretas (o que resulta em uma pirâmide). Impasse de Validade Se as normas não possuem validade em si mesmas, recebendo autorização de normas anteriores e superiores, incide um questiona- mento a respeito da Constituição Material, quem a autorizaria? Premissas 1. Em um sistema dinâmico, uma norma só obtém validade a partir de uma norma superior e inferior a ela; 2. Na pirâmide escalonada do Direito, a Constituição Material não possui norma anterior e superior a ela; 3. Se a Constituição Material não for válida, o sistema inteiro torna-se inválido. Primeira Hipótese de Solução A Constituição Material poderia ser validada por um fato: pela sua aceitação, obediência, pelo apreço democrático ou pelo fato de ter sido criado por uma autoridade política. - Problema 1 - Guilhotina de Hume: não se pode concluir um ser do dever-ser, nem do dever-ser um ser, já que as duas esferas movimentam-se em campos lógicos distin- tos. - Problema 2: se a validade jurídica da Constituição depender de um fato político, rompe-se a pureza da TPD. Solução Kelseniana - Norma Fundamental Kelsen concebe, como solução para o impas- se de validade, a criação de uma Norma Fundamental, hipotética e pressuposta, cria- da pela Ciência do Direito e válida em si mesma, capaz de passar sua validade para a Constituição Material e, dela, para toda a or- dem jurídica. Constituição Material Legislação/Costumes Decretos e Regulamentos Atos administrativos e decisões judiciais O Direito é predominantemente dinâmico (não exclusivamente), pois, mesmo quando exige concordância ou compatibilidade de conteúdo (como critério de validade), jamais torna uma norma jurídica válida pelo critério de conteúdo. Conteúdo é um critério insuficiente e adicional. Normas + gerais Eixo da Fundamenta- ção Normas + particulares Eixo da Aplicação - Constituição Material: conjunto de normas que organizam o Estado, separam os poderes e dão autorizações básicas para a criação de outras normas no sistema dinâmico; - Constituição Formal: documento normativo chamado “constituição”, que pode conter a CM, mais outras várias matérias. É impossível que um fato seja fundamen- to de uma norma, já que, se suas premis- sas são factuais, suas conclusões não podem ser valorativas ou de dever-ser.
Compartilhar