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TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 
 
Entrevistado: Elmano de Freitas - candidato do Partido dos Trabalhadores à Prefeitura 
de Fortaleza em 2012 
Dia: 26 de fevereiro de 2015 
Local: Gabinete na Assembleia Legislativa do Ceará 
 
Aline Carneiro: O objetivo da entrevista é coletar dados para trabalhos acadêmicos que 
estão sendo elaborados por mim, Aline Mendonça Conde Carneiro, estudante do 
Mestrado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Outros 
objetivos são analisar a imagem do ex-presidente Lula na campanha do candidato Elmano 
de Freitas (PT) à Prefeitura de Fortaleza; e verificar a relação entre comunicação e política 
no período eleitoral. 
 
Você passou por diversas experiências ao longo de sua carreira política, ocupando 
cargos importantes e sempre mantendo contato tanto com a “base” eleitoral, quanto 
com o núcleo político no âmbito do estado. Em vista disso, e considerando que você 
cresceu nas intenções de voto após o início do Horário Gratuito de Propaganda 
Eleitoral, que importância você atribui à Comunicação no processo eleitoral? 
 
Elmano de Freitas: Eu considero a comunicação no período eleitoral em duas fases. 
Você tem o primeiro momento de comunicação, que é antes do programa de rádio e de 
televisão, que se dar fundamentalmente com material gráfico, presença do candidato em 
atividades muitas vezes de vereadores ou atividades daquelas regiões da cidade ou com 
caminhadas ou com pequenos comícios, em terminais de ônibus. Então, é uma fase da 
campanha em que a comunicação é muito direta e, numa cidade grande com Fortaleza, 
ela, portanto, tem um impacto reduzido, limitado e, pela minha experiência, um candidato 
que era pouco conhecido, ela tinha grande dificuldade, inclusive, do eleitorado reconhecer 
o candidato e ter alguma ideia de qual era a referência política ou de proposta da nossa 
candidatura. Portanto, era um processo ainda muito lento e que você tinha uma 
comunicação, basicamente, com o público que você, de maneira, já conhecia para puder 
você ter condições reais de fazer uma discussão com maior fôlego, digamos assim. Eu 
acho que essa foi a primeira fase da campanha no ponto de vista da comunicação. Eu acho 
que tem uma segunda fase quando você tem rádio e televisão, que aí você, ao mesmo 
tempo, dialoga ou comunica – talvez seja melhor o termo - comunica com muita gente da 
cidade. Não vou dizer que todos porque nem todas as pessoas assistem ao programa 
eleitoral. Mas como também tem inserções e elas se colocam no meio da programação, 
no mínimo, passa-se ter um conhecimento da pessoa do candidato. E as pessoas ao te 
encontrarem, já começam a ter uma referência de que você é aquele candidato do PT. 
Como Fortaleza tinha e ainda tem uma preferência eleitoral pelo partido, o fato de ser 
candidato pelo PT já diz a população um determinado perfil dessa candidatura. Então, 
para mim, foi muito evidente a mudança de recepção da população antes do programa de 
rádio e depois do programa de rádio. E, evidentemente, isso se alterou mais ainda quando, 
além de ser um candidato do PT, era um candidato da prefeita Luizianne Lins e era um 
candidato do presidente Lula. Evidentemente, isso quando foi feito de maneira, em rádio 
e TV, a campanha virou outra proporção e, na relação com o eleitorado nas mesmas 
atividades que eu fazia antes, sem o programa de televisão, a relação já era muito 
diferenciada. 
 
Sempre se fala no papel do “marqueteiro” e na influência que ele exerce. Como se 
deu a relação do candidato com os assessores de comunicação no que se refere à 
definição das estratégias da campanha? 
 
Elmano de Freitas: Deu de maneira dialogada. Eu diria que a gente tem sempre nas 
campanhas que eu participei com a companheira Luizianne um grupo de companheiros 
que cuidam da comunicação e tem, evidentemente, uma coordenação política das 
campanhas. Fizemos antes um debate de programa, que foi realizado no partido, foi 
realizado na aliança e com pessoas de várias áreas e setores da cidade e, esse conjunto de 
propostas era apresentado a equipe de comunicação. Então, a meu ver, e eu acho que isso 
funcionou bem, o desafio da comunicação é “Qual a melhor forma, qual a melhor 
linguagem para que a população compreenda essas propostas?”. Porque, às vezes, você 
tem uma proposta, mas a forma como você apresenta talvez mais confunda do que 
esclarece. Então, eu acho que é muito importante na campanha que o marketing respeite 
as decisões políticas da coordenação política. Porque muitas vezes há um debate se aquela 
proposta era uma proposta simpática ou não naquele momento político eleitoral e a 
coordenação política entende que aquela proposta é uma proposta que deve ser 
apresentada e, ao mesmo tempo, a coordenação política tem que respeitar que a forma em 
que a parte de comunicação da campanha quer apresentar. Também tem ser dada a devida 
autonomia para esses companheiros e companheiras que cuidam. Evidentemente, que tem 
determinados momentos que essas coisas tem uma interseção muito forte. Então, a forma 
de apresentar, no caso o PT, a gente quer que tenha respeito a política de gênero, a gente 
quer que tenha respeito a política de combate ao racismo, que tenha uma preocupação 
expressa também na forma de apresentar com as pessoas com deficiência. Então, isso é 
algo que se faz de maneira dialogada e assim foi feito, com muito diálogo. Eu não lembro 
de nenhum grande debate na campanha de divergência de forma de comunicação. Tinham 
diferenças, é claro, como numa campanha normal. Qual o tom? Qual a prioridade da 
proposta A e proposta B? Qual é aquela que a gente considera que é mais importante para 
aquele momento ser apresentada? Mas jamais desfazer uma proposta, jamais fazer uma 
proposta que você discorda porque você acha que vai ter mais votos. Aí a posição minha 
sempre foi de trabalhar só política e isso a gente não pode ceder, porque, quem faz política 
como nós fazemos no PT, [sabe que] a eleição é um momento da nossa vida política e da 
nossa construção histórica. Então, eu prefiro que o povo vote em mim ou vote nas nossas 
candidaturas sabendo o que nós defendemos, do que votar numa coisa que não é o que a 
gente está pensando. Aí nesse papel eu não me colocaria. 
 
Quando entrevistei a Ana Javes e o Demétrio, eles comentaram que, eventualmente, 
existiram divergências entre a equipe de marketing e o núcleo político da campanha. 
Você pode detalhar quais os principais embates na época? 
 
Elmano de Freitas: Eu lembro que tinha um debate muito forte... Como é que nós 
tratávamos continuidade do governo do PT e as mudanças. Nós tínhamos que encontrar 
um equilíbrio, porque evidente que o governo da prefeita Luizianne havia realizado 
muitas obras e ampliados muitos serviços da cidade. E, portanto, o governo da Luizianne 
tinha melhorado muito a cidade diante do que ela recebeu, mas diante do que é o sonho 
que as pessoas têm na sua vida, ainda estava muito longe. Porque é evidente que um 
governo tem limitação... Vou dar um exemplo. A prefeita Luizianne fez um programa de 
moradia que nenhum outro governo fez na história de Fortaleza, absolutamente nenhum 
outro governo, mas continuava a ter 90 mil pessoas ainda sem casas. Então, ainda que ela 
tinha entregue 10 mil casas para 10 mil famílias, evidentemente que eu ainda tenho 90 
mil que não receberam casas. Então, no meio do eleitorado e da população, aqueles que 
receberam as 10 mil [casas] perceberam a mudança que foi o governo da prefeita 
Luizianne, mas os 90 mil que não receberam tinham uma chateação porque eles não 
tinham sido contemplados e eles continuaram, portanto, sem casas como antes do governo 
dela. Então, isso gera um debate na campanha: Até que ponto você faz a campanha, não 
só de comunicação, de linha política... Como é que você conjuga continuar um governo 
que está mudando a vida das pessoas? Quando são pesquisadas, elas dizem: “Você quer 
que continue ou que mude?”. Ela pode estar respondendo que ela quer que mude a vida 
dela, não necessariamenteo governo. Esta zona cinzenta, que se expressa em pesquisa, 
tem que ser lido com muita cautela e, evidentemente, que nessa hora nós tínhamos 
impressões diferentes até dos dados das pesquisas. Quando você tinha uma pesquisa: 
“Quer continuidade ou você quer mudança?”. Havia pessoas que liam: “não, se a mudança 
está 60% é porque o nosso governo não está bem” e outros “não, eles querem mudança 
porque querem mudanças na vida deles e o nosso governo ainda não chegou na vida 
concreta deles”. Este foi um tema bastante permanente na campanha de como é que nós 
conjugaríamos esse dilema complementar de continuar um governo que nós apostávamos 
que era um governo tinha um rumo correto para a cidade e esclarecerem quais eram as 
mudanças que nós queríamos fazer, porque também tinham questões... Com o acúmulo 
de tempo que nós estávamos no governo, nós acumulamos uma experiência que 
justamente íamos pensar outros saltos, portanto, também fazer mudanças no próprio 
governo. Eu acho que foi o tema mais forte do ponto de vista interno da campanha, como 
fazer esse equilíbrio. 
 
Teve outro embate que você lembra? 
 
Elmano de Freitas: Tinha um embate, mas não chega a ser um embate. Tinham os pontos 
de como, por exemplo, a gente, nos debates, se portar em relação a vários candidatos que 
faziam muito ataque ao governo e como a gente deveria se comportar no debate e havia 
uma linha do tipo responde todo mundo e ataca todo mundo e havia uma linha de dizer o 
que nós gostaríamos de fazer e deixasse o povo julgar. Eles iam continuar falando o que 
faltava fazer na cidade e algumas coisas realmente faltavam, faltam e vão demorar um 
bom tempo, vão continuar faltando porque são demandas sociais para uma geração, não 
para um governo e nós apostamos que o caminho mais adequado era “Vamos apresentar 
o que nós fizemos e vamos apresentar o que que nós queremos fazer”. Essa foi a linha 
dominante da campanha. Portanto, não ficar muito preocupado em responder e atacar e 
ficar mais preocupado em dizer o que que fizemos e o que queremos fazer. 
 
Quando entrevistei Luizianne, a ex-prefeita disse que se incomodou com o rumo de 
algumas estratégias da comunicação da campanha. Como vocês lidavam com isso? 
 
Elmano de Freitas: Isso era feito a cada momento, na discussão de cada, praticamente 
de vários programas de debate que aconteciam e ele estava vinculado aquela discussão de 
continuidade e mudança. Porque quando a Luizianne tinha uma presença extremamente 
forte, havia companheiros que achavam que ficava muito a marca só de continuidade e, 
quando ela estava muito ausente, dava uma ideia de que a gente estava desconsiderando 
tudo que tinha sido feito. Então, a presença da Luizianne estava ligada a qual o tamanho 
que a gente queria dar à continuidade e à mudança. E isso não tem fórmula, não tem jeito. 
Então, nós tivemos esse debate em vários momentos da campanha no primeiro turno e no 
segundo turno. Mas a Luizianne participou do primeiro programa de campanha ela estava. 
Eu nunca fiz esse estudo, nunca olhei... Mas eu imagino que ela deve ter participado da 
maioria dos programas. Então, uma coisa é certa, nunca teve nenhuma linha de posição 
de dizer que eu não era o candidato da prefeita ou que eu não era o candidato do governo. 
Ao contrário, era o candidato do governo que estava defendendo o governo que 
acreditava, como eu continuo achando que foi um grande governo da prefeita Luizianne 
e que queria avançar ainda mais, fazer coisas melhores porque nós tínhamos mais 
experiências do que nós tínhamos há 8 anos atrás. Mas, evidentemente, tem momentos 
tensos de achar que estava aparecendo mais ou menos e não era uma questão da Luizianne 
do ponto de vista pessoal. A Luizianne nunca teve uma política de personalismo. “Eu 
quero aparecer, porque eu quero aparecer”. Não, era realmente uma questão de estratégia 
porque quanto mais ela aparecesse explicando que tinha feito, evidentemente, que isso 
também havia na cidade, tanto que nós fomos crescendo na campanha do primeiro para o 
segundo turno, apresentando o que nós tínhamos feito e apresentando que isso era feito 
pelo governo da prefeita Luizianne. 
 
Ela acha que houve pouca continuidade e você? 
 
Elmano de Freitas: Não, eu acho que teve uma posição equilibrada. Eu acho que o 
programa apresentava as principais conquistas do governo e eu acho que, na verdade na 
verdade, eu não acho que nós perdemos a campanha pela batalha da comunicação. Eu 
acho que nós perdemos a campanha por outras questões. Eu acho que nós perdemos a 
campanha por um grau de mobilização do adversário no segundo turno, no que diz 
respeito a compra de voto e acho que nós perdemos a eleição porque nós tivemos um 
conjunto de forças, praticamente todos os candidatos do primeiro turno, juntos, contra a 
nossa candidatura. Eu acho que isso foi mais significativo do que qualquer questão que 
possa ter havido na comunicação, porque eu acho normal que na comunicação tem 
programa que você tem um resultado eleitoral melhor, tem programas que tem o resultado 
eleitoral menor, tem debate que eu fui que eu me saí melhor, tem debate que eu não me 
saí tão bem, tem debate que eu fui mal né? Mas eu não acho que reside aí as principais 
explicações da nossa derrota. Acho que a nossa derrota se dá mais por outros motivos. 
 
Mas, enquanto tinham todos esses candidatos apoiando o Roberto Cláudio, por 
outro lado tinha o Lula te apoiando e vocês trouxeram várias inserções de ministros 
da Dilma, além da Marina Silva... Você acha que deu uma equilibrada ou que o Lula 
teria mais peso do que esses candidatos? 
 
Elmano de Freitas: Ele tinha também o governador Cid, que também tinha uma 
avaliação positiva na cidade. Eu acho que isso emparelhou a eleição. Exatamente esse 
motivo que você está apresentando, junto com as políticas corretas do governo da 
Luizianne, junto com a liderança da Luizianne, junto com a presença do Lula é que fez 
emparelhar a eleição. E é por isso que eu acho que, ao emparelhar, a força de articulação 
de tantos candidatos contra nós - e candidatos não são só os candidatos, é o candidato, os 
vereadores que se elegeram e os que não se elegeram, as lideranças comunitárias entorno 
desses vereadores que se elegeram e que não se elegeram. É uma força política viva dentro 
da cidade, com muita estrutura financeira para comprar voto. Então, esta força foi 
utilizada como nunca a cidade viu. Então, numa eleição muito parelha isto faz a diferença 
no resultado final. 
 
Analisando os programas eleitorais elaborados para a televisão, eu percebi que 
existia uma ênfase na questão da continuidade, quando o Lula sempre falava que 
você seria aquele que daria a continuidade ao projeto de governo do PT. Por outro 
lado, a campanha mostrava você como “um cara novo, um cara diferente”. Você 
acha que existiu uma tensão entre novidade e continuidade? 
 
Elmano de Freitas: Não, isso eu acho que não. Eu tenho a impressão de que, o fato de 
ser novo como figura pública, é efetivamente... foi uma coisa positiva para a nossa 
campanha, porque 2013 mostrou que há um cansaço com quem está na política há muito 
tempo. Porque como há avaliação do eleitorado e da população muito negativa da política 
e, especialmente, dos políticos quem está nela há muito tempo recai sobre si todos os 
desgastes, ainda que alguns casos sejam injustos né? E o fato de ser novo como figura 
pública, evidentemente, que você não tem o mesmo desgaste de quem está há mais tempo 
na luta política. Isso foi apresentado como alguém novo, mas que iria dar continuidade 
ao Governo da Luizianne, mas o fato de ser novo, provavelmente, deu credibilidade de 
que aquela mudança que se falava que eu iria fazer, se ele era novo ele realmente poderia 
fazer. Se fosse alguém com mais tempo, não. Só que, ao mesmo tempo, o fato de ser novo 
também dava a ideia, talvez, de que o Elmano não fosse realmente comandar o Governo, 
fosse ser alguém que a Luizianne pudesse manobrar ou manipular no Governo. Eu acho 
também que essa ideiafoi construída pelo nosso adversário e eu acho que um eleitor ou 
outro pode ter sido convencido por essa ideia. 
 
Como se deu a participação do presidente Lula na campanha? Como você avalia os 
efeitos da presença de Lula na sua campanha em 2012? 
 
Elmano de Freitas: Eu considero que a presença do presidente Lula foi decisiva primeiro 
para a vitória do primeiro turno. Eu andei na rua, antes do presidente Lula, e eu andei 
depois do presidente Lula. Antes do presidente Lula, nós já vínhamos crescendo na 
campanha com a força do nosso governo e da prefeita Luizianne e com a presença do 
presidente Lula nos permitiu um crescimento maior, porque, efetivamente, há na cidade 
uma leitura de confiança de admiração com o presidente Lula que nenhuma outra 
liderança política, de nenhum partido político, tem. Então, isso é muito mais amplo, 
inclusive, do que o PT, é como uma liderança política da sociedade. Então, a prefeita 
Luizianne nos permitiu, com o governo e a sua liderança, um crescimento e o presidente 
Lula nos permitiu, ao meu ver, ir ao ponto de ganhar no primeiro turno. Então, eu 
considero a presença do presidente Lula aquela marca que, inclusive, alguns desgastes 
que nós tínhamos, efetivamente, em virtude de ter 8 anos de governo e é normal que tenha 
desgaste; o presidente Lula meio que contrabalançou esses desgastes que teria, porque se 
há um candidato apresentado e apoiado pelo presidente Lula, esse jovem que é 
desconhecido da população e é jovem e é novo e o Lula está indicando, então é porque 
esse rapaz deve ter boas intenções. Eu acho que o Lula trouxe essa credibilidade para a 
candidatura. 
 
Vocês tentaram inserções com a Dilma? 
 
Elmano de Freitas: Não. Desde o começo eu sempre achei que a presidenta Dilma 
deveria ter uma postura de não se envolver na eleição. Eu sempre achei que se o presidente 
Lula estivesse na campanha, para nós, eu ficaria extremamente satisfeito. Por que? Porque 
eu achava que era insignificante o número de eleitores que gosta da Dilma, mas não gosta 
do Lula. A princípio, todo eleitor, toda pessoa que simpatiza com a Dilma, simpatiza com 
o Lula, ainda mais na cidade de Fortaleza. Aquele eleitor que não gosta do Lula também 
não gosta da Dilma. Tem alguém que gosta da Dilma e não gosta do Lula? Tem, mas eu 
pensava sempre que era insignificante diante do problema que seria ela apoiar o 
candidato, tento apoio e relação com o governador do Estado, que tinha outro candidato. 
Eu acho que foi razoável o que foi feito da presidente Dilma não se envolver, manter 
relações com o governador e o presidente Lula fazer a campanha para o candidato do PT. 
Eu acho que foi uma solução equilibrada. 
 
E a equipe de comunicação em algum momento cogitou a possibilidade de gravar 
com ela? 
 
Elmano de Freitas: Cogitar, cogitou. Mas não colocou como uma questão fundamental 
e decisiva. 
 
Alguns autores afirmam que as campanhas hoje em dia são marcadas por uma 
“personalização”, havendo um declínio das ideologias e dos partidos. Figuras de 
maior projeção pública, como Lula, seriam determinantes para influenciar o 
eleitorado (inclusive mais importantes que os partidos). Você acredita nessa 
concepção? 
 
Elmano de Freitas: Não, eu acho que a cultura brasileira não é personalizada nos últimos 
anos. Ela é personalizada na sua história. Ela foi assim com Getúlio Vargas, com João 
Gourlat, ela foi assim com os presidentes da Ditadura Militar, ela foi assim nas lideranças 
dos partidos comunistas, nas décadas de fundação dos partidos comunistas, é só olhar a 
história de Luiz Carlos Prestes. Então, a cultura brasileira tem uma cultura muito forte de 
personificação das lideranças políticas, porque nós temos uma pouca cultura de partido 
político. Isso é um processo que eu creio que será ainda longo, nós não vamos fazer isso 
em uma mudança de comportamento de cultura de uma maneira rápida. No sistema 
presidencialista é fortalecido, porque no sistema presidencialista, a campanha majoritária 
de prefeitos e governadores e presidente da república fortalece essa questão de votar na 
pessoa, diferente do parlamentarismo, que você escolhe os parlamentares, em alguns 
locais do mundo, com votação em lista e, no parlamento, se escolhe o dirigente do país. 
Então eu não acredito que isso é algo que vem mudando no último período, isso vem de 
uma tradição brasileira de partidos políticos muito frágeis e que nós do PT devemos lutar 
para ter um regime político com partidos mais fortes e com mais participação popular. Na 
medida em que a população participe mais, nós temos também uma cultura política de 
muita delegação. Eu voto no vereador e no prefeito e vou cobrar depois. Eu não me coloco 
no dever de participar cotidianamente da política para que as políticas públicas 
aconteçam. Isso tem um certo lado de comodismo do eleitor também. Para mim é cômodo 
votar em alguém e depois, para saber se ele fez ou não, cobrar. Eu não me coloco no dever 
de participar para encontrar soluções que a cidade, meu bairro ou país tem. Então, essa 
cultura vai levar um tempo e ela não foi criada nas últimas décadas. 
 
Esses autores falam que a personalização fortalece o indivíduo. No caso, quando eu 
analisei, eu vi que a figura do Lula acabava enfraquecendo o partido. Você acha que 
no HGPE houve um enfraquecimento do PT e um tipo de exaltação da personagem 
Lula? 
 
Elmano de Freitas: Grandes lideranças políticas são naturais na política. Mesmo no 
sistema parlamentarista, é normal que, no partido, se tenham grandes líderes. Na história 
dos partidos, na história dos políticos, sempre foi assim e creio que vai ser assim na 
humanidade. O fato de você ter muitas pessoas participando, não impede que você tenha 
pessoas que se destaquem e não é ruim que isso seja assim e não é da essência que seja 
ruim. Uma se destaca como liderança na área da educação, outro se destaca como 
liderança na área da cultura, outro na área da saúde e tem aqueles que vão se destacar 
porque tem uma visão mais completa de todas as áreas e de todas as dimensões. Grandes 
lideranças é muito bom para a política, desde que sejam sérias e tenham compromissos 
com os projetos que elas defendem. Então, isso não é problema. O problema que eu vejo 
é você ter grandes lideranças com estruturas partidárias muito frágeis, porque aí você tem 
uma lógica das pessoas que definem os projetos e não o coletivo. Porque, quando você 
tem um coletivo, significa que essas ideias vão ganhando capilaridade na sociedade. 
Então, você tem uma sociedade mais politizada. Quando se tem pessoas com projetos 
políticos, você cria um fosso entre as lideranças e a população e, portanto, a política fica 
empobrecida porque você tem pouca participação da sociedade. 
 
Se a campanha fosse hoje, quais mudanças você sugeriria no tom dos programas 
eleitorais? 
 
Elmano de Freitas: No tom dos programas, eu não faria nenhuma grande alteração. O 
nosso crescimento e o emparelhamento na campanha no segundo turno... Eu achei que, 
fundamentalmente, a campanha de comunicação foi correta. Eu não teria grande 
alteração. Eu diria que nós tínhamos que nos preparar mais e melhor para os últimos dias 
da campanha, para a disputa do corpo a corpo com o eleitorado e para evitar que o nosso 
adversário pudesse, de maneira tão tranquila e tão frouxa de fiscalização, comprar tanto 
voto. Eu tenho a impressão que se nós tivéssemos tido uma campanha mais massiva e 
organizada, na última semana de campanha, o resultado poderia ter sido outro. Ou se as 
instituições de fiscalização funcionassem, mas, infelizmente, a Justiça Eleitoral não tem 
estrutura de fiscalização do processo eleitoral. O que ela consegue fiscalizar é muito 
pequeno diante do que é o processo eleitoral como um todo. E eu não acho que é porque 
ela não quer, é porque ela não tem a estrutura suficiente. 
 
Na última semana, o Lula veio e teve aquele grande comício na Praça do Ferreira. 
Vocês colocaram muita parte do Horário Eleitoral. Você não acha que influenciou? 
 
Elmano de Freitas: Maseu acho que influenciou positivamente. Eu acho que se nós não 
tivéssemos o comício e não tivéssemos colocado o comício na televisão, talvez o 
resultado fosse mais favorável ao adversário. O que eu acho é que aquilo pode ter gerado 
na nossa campanha uma certa ideia de vitória antecipada e com isso a gente não se 
preparar, devidamente, para os últimos dias após o comício. O comício teve um aspecto 
muito importante de animar a militância, de a cidade fazer uma homenagem ao Lula mais 
do que merecida. Eu acho que o comício foi uma grande homenagem ao presidente Lula. 
As pessoas iam lá para prestigiá-lo também. Então, eu acho que foi muito bom. Agora, 
uma campanha tem que ser capaz de fazer um grande comício e, ao mesmo tempo, 
preparar os últimos dias para a disputa eleitoral voto a voto numa eleição que tem 41% a 
41%, 42% a 41%. Então, evidentemente, aí eu acho que nós falhamos. 
 
Quando a equipe de marketing terminava um programa eleitoral, antes de ir ao ar, 
vocês olhavam, vocês avaliavam, diziam o que queriam e o que não queriam? 
 
Elmano de Freitas: Tinham pessoas responsáveis para isso. Eu vi vários, mas não pude 
ver todos, mas tinham companheiros e companheiras que tinham responsabilidade não só 
de ver o programa antes de ele ser veiculado, como também de acompanhar pesquisas 
qualitativas de repercussão no eleitorado do programa. 
 
Houve mais a opinião da equipe política ou dos consultores de comunicação na 
elaboração dos HGPE? Como você colocaria? 
 
Elmano de Freitas: O que foi da campanha foi o que foi possível de construir de 
concepção de equilíbrio de continuidade e mudança. Se fosse hoje, poderia ser diferente. 
Não tem fórmula. Isso é aquele momento, com aquelas impressões, com aquela 
experiência que aquele conjunto de militantes tem né? Com as suas sensibilidades. Eu 
acho que nós não tivemos um grande problema de divergência da campanha com a 
comunicação. Eu acho que existiam problemas pontuais com uma pessoa ou outra. Eu 
também tinha. Uma hora a Luizianne tinha uma opinião, outro companheiro tinha outra. 
Teve horas em que eu também tive outra. Mas acho que, no geral, nós tivemos um 
alinhamento bom, mas evidentemente com a tensão natural entre o tema continuidade e 
mudança. 
 
 
 
Transcrição e edição: Aline Carneiro

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