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Gestão Operações ede ESTOQUES Péricles José Pires Gestão de Operações e Estoques Péricles José Pires Os departamentos não são silos isolados, por isso a compreensão do seu inter-relacionamento é necessária, requerendo aos gestores da área de produção o emprego de uma visão sistêmica, que busca o entendimento estratégico e operacional correlacionado às demais áreas próximas do seu ambiente, como vendas, marketing, logística, suprimentos, estoques e outras. Nesse sentido, é necessário que a produção esteja capacitada com os recursos adequados e que serão aplicados a processos e sistemas, com apoio de softwares, hardwares, profissionais habilitados para a realização das atividades e um amplo entendimento do negócio da firma e de seus produtos, clientes, fornecedores, concorrentes do mercado onde atua, além de outros requisitos do ambiente externo. Desse modo, esta obra procura oferecer em cada capítulo a compreensão estrutural e funcional da gestão de operações e suas implicações com os estoques. Código Logístico 59056 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6563-9 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 6 3 9 Gestão de operações e estoques Péricles José Pires IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P746g Pires, Péricles J Gestão de operações e estoques / Péricles José Pires. - 1. ed. - Curiti- ba [PR] : IESDE, 2020. 164 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6563-9 1. Logística empresarial. 2. Controle de estoque. I. Título. 19-60664 CDD: 658.787 CDU: 658.787 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Péricles José Pires Mestre em Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Análise e Gerência de Sistemas e graduado em Administração pela Faculdade Católica de Administração e Economia (FAE). Autor de artigos científicos, nacionais e internacionais, e de capítulos de livros relacionados à administração estratégica. Professor adjunto no curso de graduação em Administração da UFPR e administrador sênior na Petrobras, atuando na gerência de comercialização da refinaria em Araucária (PR). Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Operações e estoques 9 1.1 Origens da manufatura 10 1.2 Conceito de operações e de estoques 13 1.3 Política de estoques 20 2 Previsão de demanda 27 2.1 A importância das previsões 28 2.2 Abordagens de previsão 31 2.3 Tipos de regressão 43 3 Estratégia de operações e administração de estoques 56 3.1 A gestão de estoques 57 3.2 Tipos de estoques 59 3.3 A utilização de estoques nas operações 70 4 Planejamento e controle da produção 83 4.1 Produção empurrada versus produção puxada 84 4.2 Manufatura e o sistema produtivo 90 5 Sistemas de informação em operações e estoques 127 5.1 Sistemas de informação de estoques 128 5.2 ERP (Enterprise Resource Planning) 139 5.3 Tipos de aplicação em software e hardware 146 6 Gabarito 156 A área de operações representa o principal núcleo (core business) para muitas organizações industriais e comerciais, pois está diretamente relacionada às atividades fins ou principais de uma empresa. Ela envolve uma grande soma de recursos financeiros internalizados em máquinas, equipamentos, instalações, sistemas, computadores, capital humano e, principalmente, estoques. A manufatura sempre esteve presente na vida da sociedade, desde os primórdios, com os artefatos rudimentares dos caçadores, passando pelas habilidades manuais dos artesãos, inseridos nas revoluções industriais, que depois foram substituídos por novos recursos em termos de máquinas, processos e tecnologia. Com a disseminação das indústrias nos diversos segmentos da sociedade, a importância da produção em atender às demandas do mercado consumidor por produtos e serviços cresceu. Desse modo, foi preciso que a manufatura acompanhasse esse crescimento com novos modelos de gestão e atenção às demandas da cadeia de suprimentos, visando ao tratamento de insumos para a geração de estoques de produtos acabados ou em processo. Como os departamentos não são silos isolados, a compreensão do seu inter-relacionamento é necessária, requerendo aos gestores da área de produção o emprego de uma visão sistêmica, que busca o entendimento estratégico e operacional correlacionado às demais áreas próximas do seu ambiente, como vendas, marketing, logística, suprimentos, estoques e outras. Para que isso ocorra, é necessário que a produção esteja capacitada com os recursos adequados e que serão aplicados a processos e sistemas, com apoio de softwares, hardwares, profissionais habilitados para a realização das atividades e um amplo entendimento do negócio da firma e de seus produtos, clientes, fornecedores, concorrentes do mercado onde atua, além de outros requisitos do ambiente externo. Desse modo, nesta obra, procuramos oferecer em cada capítulo a compreensão estrutural e funcional da gestão de operações e suas implicações com os estoques. O primeiro capítulo apresenta o surgimento da manufatura em um ambiente de produção em massa, assim como o seu relacionamento com os estoques na organização e as suas políticas. O capítulo seguinte se preocupa APRESENTAÇÃO com a demanda e as suas necessidades de previsão, as técnicas empregadas nos modelos qualitativos e quantitativos, com vários exemplos de aplicação a curto, médio e longo prazo. O terceiro capítulo foca a gestão de estoques e seu relacionamento com as operações, apresentando os principais tipos de estoques e suas aplicações. No campo do atendimento à demanda de clientes com a destinação dos estoques a partir das operações, podemos adotar alguns modelos de transformação, antecipando a venda e produzindo em larga escala, gerando estoques ou, mais recentemente, utilizando a produção puxada, iniciando o processo por meio da sinalização da demanda, mais enxuta e ágil, e com menos estoques. Além desses modos de produção, o quarto capítulo trata do detalhamento do planejamento e controle da produção (PCP) com a integração do processo de planejamento de longo alcance e a relação das previsões de venda com os planos da produção de médio e curto alcance. Por exemplo: planejamento agregado de vendas e operação (S&OP); planejamento mestre (MPS) e planejamento das necessidades de materiais (MRP). Por fim, o quinto capítulo aborda os principais conceitos e aplicações dos sistemas de informações de estoques e o tratamento sobre os dados e resultados gerados por todo processo produtivo. Nesse capítulo, são apresentados alguns exemplos de softwares e hardwares aplicados no planejamento e controle da produção, como o ERP (sistema de planejamento de recursos empresariais) e as tendências de sistemas e dispositivos com base na emergente Indústria 4.0. Desejamos bons estudos! Operações e estoques 9 As organizações, como conhecemos hoje – constituídas de pessoas, máquinas e recursos financeiros –, são resultado de evoluções sociais, econômicas e políticas, que acompanharam a história da humanidade. Como marcos iniciais de tais evoluções, podemos destacar a Primeira Revolução Industrial, que aconteceu na Inglaterra no período de 1760 a 1850, e a Segunda Revolução Industrial, que ocorreu entre 1850 e meadosde 1950, inicialmente, na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos. Esses acontecimentos deram origem a muitas inovações aplicadas à produção industrial, dentre elas máquinas e equipamentos, possibilitando atender à demanda de produtos e serviços em maior escala, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945. Além disso, no mesmo período, iniciou-se o processo de transformação de insumos – como matéria-prima e mão de obra – em bens acabados ou na produção de serviços solicitados. Diante desse processo e da maior demanda de produção, houve necessidade de operação sobre os estoques de materiais, possibilitando que houvesse produtos disponíveis para consumo imediato ou direcionados para estoques. Dessa forma, a área de operações de uma empresa necessita de insumos para serem processados e transformados em bens para estoques, sendo que a manutenção deles é um requisito básico para as organizações que trabalham com mercadorias e produtos físicos, como fabricantes e atacadistas. De modo similar, os atacadistas e os varejistas precisam manter essas reservas de mercadorias para que estejam disponíveis aos seus clientes. Portanto, neste capítulo, vamos compreender a importância das operações, desde o surgimento, os estoques e sua política de aplicação nas organizações. Operações e estoques 1 1.1 Origens da manufatura Vídeo À medida que a sociedade evoluía por meio da descoberta de materiais (como ferro, aço e carvão), de máquinas e de ferramen- tas, moldada pela situação econômica da Europa antes da Revolução Industrial, algumas classes, como os artesãos, deixaram o campo e partiram em busca de trabalho nas cidades, as quais ofertavam em- pregos em novas indústrias e que utilizavam equipamentos para a produção em maior escala. Acompanhando essa evolução, a produção artesanal foi gradativa- mente substituída pela manufatura industrial, que contava também com a divisão do trabalho, em que cada trabalhador era responsável por determinada tarefa, tornando-se especialista na área de atuação, o que resultou em aumento da produtividade e em redução de custo dos produtos elaborados. No fim do século XIX, a utilização de peças intercambiáveis pos- sibilitou a produção de diversas partes de um mesmo produto, a qual consistia em peças padronizadas e que se encaixavam na montagem final, em um fluxo constante de produção. A aplicação inicial de tais peças foi no setor de armas de fogo e, depois, nos setores de máquinas de costura, bicicletas e muitos outros. Vy nt ag e Vi su al s/ Sh ut te rs to ck Figura 1 Produção com a utilização de peças intercambiáveis No início do século XX, a montagem utilizando peças intercambiáveis possibilitou a produção em massa, principalmente nas fábricas de automóveis. peças intercambiáveis: peças padronizadas, que se encaixam umas nas outras. Glossário 10 Gestão de operações e estoques Operações e estoques 11 1.1 Origens da manufatura Vídeo À medida que a sociedade evoluía por meio da descoberta de materiais (como ferro, aço e carvão), de máquinas e de ferramen- tas, moldada pela situação econômica da Europa antes da Revolução Industrial, algumas classes, como os artesãos, deixaram o campo e partiram em busca de trabalho nas cidades, as quais ofertavam em- pregos em novas indústrias e que utilizavam equipamentos para a produção em maior escala. Acompanhando essa evolução, a produção artesanal foi gradativa- mente substituída pela manufatura industrial, que contava também com a divisão do trabalho, em que cada trabalhador era responsável por determinada tarefa, tornando-se especialista na área de atuação, o que resultou em aumento da produtividade e em redução de custo dos produtos elaborados. No fim do século XIX, a utilização de peças intercambiáveis pos- sibilitou a produção de diversas partes de um mesmo produto, a qual consistia em peças padronizadas e que se encaixavam na montagem final, em um fluxo constante de produção. A aplicação inicial de tais peças foi no setor de armas de fogo e, depois, nos setores de máquinas de costura, bicicletas e muitos outros. Vy nt ag e Vi su al s/ Sh ut te rs to ck Figura 1 Produção com a utilização de peças intercambiáveis No início do século XX, a montagem utilizando peças intercambiáveis possibilitou a produção em massa, principalmente nas fábricas de automóveis. peças intercambiáveis: peças padronizadas, que se encaixam umas nas outras. Glossário No entanto, segundo Snow (2014), a precisão das ferramentas me- cânicas só começou a inspirar total confiança no início do século XX, quando passou a atender às exigências do setor automotivo. No início do século passado, nos Estados Unidos, sob iniciativa do empresário norte-americano Henry Ford (1863-1947), iniciou-se a montagem em série de veículos, revolucionando a fabricação de auto- móveis e substituindo o uso de carroças. A produção começou com o Ford A, em 1903, e alcançou grande sucesso em 1908, com o modelo T. Em seguida, em 1913, Henry Ford aprimorou a linha de produção por meio da descoberta da linha de montagem móvel, pois até então a produção era estacionária, e trouxe o estoque mais próximo da linha de montagem. Nas fábricas de Detroit, Ford implantou algumas técnicas de pro- dução, como a integração vertical, a qual consistia na utilização da pró- pria estrutura fabril para produzir todas as peças necessárias para a montagem de quase todo o veículo, diferentemente de hoje, em que as montadoras utilizam fornecedores que entregam as peças para o acabamento de um automóvel. Henry Ford almejava redução de custos e tinha em mente a produ- ção de veículos em larga escala. Dessa forma, sendo estratégico, utili- zou no Ford T, predominantemente, a cor preta, visto que secava mais rapidamente, podendo ser entregue em poucos dias aos clientes. No entanto, havia um problema na época: a grande quantidade de peças geradas e armazenadas para atender à linha de produção. Diante disso, para competir com as grandes fábricas da época, como a General Motors e a Ford, a empresa japonesa Toyota revolu- cionou a manufatura, reconsiderando o modo de produzir por meio da produção enxuta, o que reduziu a quantidade de estoques e de custos. O Japão, que sofreu com a Segunda Guerra Mundial, não tinha como viabilizar a produção em massa, visto que seu mercado domés- tico era limitado: alto custo com combustível, leis trabalhistas rígidas e falta de mão de obra e de capital. Sendo assim, a saída adotada pela Toyota, em 1946, foi produzir em pequenos lotes e com qualidade, sem retrabalho, reduzindo custos com menores estoques e envolven- do os funcionários com ideias e sugestões para a melhoria do proces- so no próprio ambiente de trabalho, assim como outras iniciativas no chão de fábrica. produção enxuta: produção sem desperdício, sem estoque. Glossário chão de fábrica: trabalha- dores que realizam tarefas operacionais em uma empresa. Glossário 12 Gestão de operações e estoques A base desse modelo japonês de produção tinha como objetivo a qualidade, ou seja, o fazer certo na primeira vez, sendo que cada ope- rário ficava responsável por parar a linha caso identificasse defeito ou falha na produção (WOMACK; JONES; ROOS, 2004). Com base nesse conceito, foram concebidos modelos de produção – como o JIT (Just in Time), desenvolvido por Taiichi Ohno, criador do sistema de produção da Toyota –, que otimizaram a utilização de peças em estoque, ou seja, produziam conforme a demanda, reduzindo os custos de armazena- gem, transportes e outros relacionados ao inventário. Empresas japonesas, como a Toyota e a Honda, alcançaram, nos anos 90, o conceito de empresas de classe mundial, oferecendo produ- tos atrativos, não somente pelos preços, mas pela baixa incidência de defeitos, confiabilidade e durabilidade, o que as tornou referência no conceito de satisfação dos clientes diante das capacitações desenvolvi- das pelas operações alinhadas às demandas do mercado. Podemosdefinir esse período histórico evolutivo como uma fase de transição, desde o período artesanal até as operações estratégicas, conforme apresenta a Figura 2. Figura 2 Transição da produção artesanal às operações estratégicas Tempo Produção em massa Altos volumes de produção; produtos padronizados; baixo custo devido à pouca variabilidade; trabalho repetitivo. A área de produção/operação era considerada pouco importante na empresa. Produção artesanal Baixos volumes de produção; variabilidade de produtos; flexibilidade para atender às encomendas; operação manual com alta qualidade e domínio de todo o ciclo produtivo. Presente/futuro da área Customização em massa, em que as empresas têm de ser ágeis, flexíveis, com produção enxuta e a área de manufatura é considerada como estratégica. Requer a força de trabalho motivada, atuando como times de qualidade, focados nos atributos competitivos. A operação passa a ter a capacidade de produzir para atender à demanda dos clientes. Fonte: Elaborada pelo autor. Conforme observamos na Figura 2, a era artesanal foi gradativamente substituída pela produção em massa, a qual se consolidou após 1920, com inventário: lista de bens e materiais de uma empresa, em estoque ou armazenados externamente. Glossário Operações e estoques 13 a produção industrial, e perdurou até o fim dos anos 80. A nova era ini- ciou nos anos 90, resultado da tecnologia desenvolvida e da aplicação da internet, com a possibilidade da customização em massa 1 A customização em massa consiste na produção de bens e serviços em grande escala, visando atender aos desejos individuais de cada cliente, de modo customizado e com cus- tos e processos semelhantes aos de produtos não customizados. 1 , que combina o volume de produção com a personalização requerida pelos clientes, in- terferindo no processo produtivo, como a escolha de acessórios e opções pelo cliente no momento em que um veículo está sendo produzido. As organizações ficaram mais flexíveis, com menos níveis hierár- quicos (planas), ágeis para mudar conforme as demandas externas, configurando a área de operações como estratégica para o sucesso da organização e a busca pela vantagem competitiva. A produção em massa está presente em plantas industriais do seg- mento químico, em refinarias e em outros ambientes de alto volume e baixa variedade de produtos. Contudo, é importante compreender- mos que cada era apresentada não substituiu por completo a ante- rior, visto que ainda existe o trabalho manual e artesanal, como os alfaiates, que produzem roupas sob encomenda, os mecânicos de automóveis, os ourives etc. 1.2 Conceito de operações e de estoques Vídeo Conforme estudamos, a área de operações passou por diversas adaptações, resultando em estratégias muito mais complexas do que há vinte anos, passando da produção interna de produtos para a inclu- são da experiência em serviços, como o fornecimento de alimentação em um restaurante e o atendimento a pacientes em um hospital. Atualmente, devido ao crescente desejo e às necessidades de clientes e usuários, o papel das operações tem conquistado grande importância. A operação consiste em atividades relacionadas à aqui- sição de matéria-prima, à conversão desta em bens ou serviços e à entrega aos clientes. De modo sistêmico, a área de produção tem como escopo o proces- so de transformar os insumos, recebidos pela logística de suprimen- tos, em produtos ou serviços a serem entregues aos clientes, conforme apresenta a Figura 3. 14 Gestão de operações e estoques Figura 3 Processo de transformação (entrada, processo e saída) Entradas que são transformadas dentro da operação ou processo: materiais, informações, clientes etc. Entradas que fazem a transformação dentro da operação ou do processo: pessoas, instalações (tecnologia, máquinas) etc. Feedback Entradas Saídas (produtos e serviços) Operações e processos transformam entradas em produção Fonte: Adaptado de Slack et al., 2013. Ao analisar a Figura 3, podemos perceber que o processo de trans- formação se diferencia conforme a natureza de entradas e saídas. Para melhor entendimento, vamos tomar como exemplo um hospi- tal em comparação a uma fábrica de motores (SLACK, 2018). O primeiro – hospital – é uma operação de serviços relacionados ao estado dos pa- cientes que chegam para atendimento. Já a fábrica de motores é uma operação de manufatura, que produz e entrega produtos transforma- dos. Desse modo, ao focarmos o interior de cada operação, identifi- camos situações diferentes: o hospital trata de diagnósticos, cuidados com a saúde e tratamentos específicos; já a fábrica se ocupa de meca- nismos de montagem e acabamento de motores. Diante dessa compa- ração, podemos compreender que, no caso do hospital, os pacientes formam a parte de entrada e saída da operação, enquanto na fábrica de motores, o aço, o metal e o plástico, por exemplo, são transforma- dos em motor acabado, pronto para os veículos. Essa abordagem sistêmica (entrada, processo e saída) pode ser apli- cada a qualquer produto ou serviço em que fica claro o papel desem- penhado por cada agente no processo produtivo. As entradas são os recursos disponíveis que serão transformados, como materiais, infor- mações ou clientes; já a saída gera produtos (tangíveis), como veículos montados e eletrodomésticos, e serviços (intangíveis), como trabalhos Operações e estoques 15 de consultoria, corte de cabelo ou conserto de equipamentos. Assim, para que o processo de transformação seja eficaz, deve ser adicionado valor às entradas, aplicando o know-how e as competências desenvol- vidas pela empresa, com a qualidade esperada e os custos compatíveis. Além disso, conforme a Figura 3, uma etapa importante é o feedback, que visa corrigir, de modo construtivo, ou melhorar as operações com base no resultado gerado. Por meio desse parecer, os resultados que requerem melhoria são repassados para cada etapa do modelo de transformação, visando assegurar que as programações sejam cumpri- das, os padrões sejam obedecidos e o uso dos recursos seja eficiente. Para melhor compreender, vamos analisar o Quadro 1, o qual apre- senta exemplos de operações, suas entradas, finalidades e saídas. Quadro 1 Tipos de operação em termos de entradas, finalidades e saídas. Operação Entradas da operação Finalidades da operação Saídas da operação Companhia aérea Aeronave Pilotos e tripulação de voo Equipes de terra Passageiros e fretes Mover passageiros e realizar fretes ao redor do mundo Passageiros transportados e fretes realizados Loja de departamentos Mercadoria para venda Equipe de vendas Registro dos produtos Clientes Expor as mercadorias Realizar sugestões de vendas Vender as mercadorias Clientes atendidos com as mercadorias Departamento de polícia Oficiais de polícia Sistemas computacionais Informação pública sobre suspeitos ou acusados Prevenir o crime Investigar o crime Apreender criminosos Cumprimento das leis Segurança Fabricante de comida congelada Comida fresca Operadores Processadores de alimentos Congeladores Preparar a comida Congelar a comida Comida congelada Fonte: Adaptado de Slack et al., 2013. Nos tipos de operação apresentados no Quadro 1, ficam claras, em cada etapa, as ações desempenhadas, os envolvidos no processo de transformação e os resultados gerados. Em termos organizacionais, assim como as demais áreas funcionais de uma empresa, como RH, marketing e finanças, a área de operações know-how: conhecimentos práticos de um profissional ou uma organização. Glossário 16 Gestão de operações e estoques tem papel essencial na estrutura formal, tendo como foco a busca por estratégias que forneçam valor ao cliente e que permitam o alcance da denominada vantagem competitiva. Para demonstrar a importância das operações na cadeia de valor, recorremos ao modelo de Porter (1989), conforme a Figura 4. Figura 4 Cadeia de valorAtividades primárias Logística de saída Operações Marketing e vendas Logística de entrada Serviço M argem Aquisição Desenvolvimento tecnológico Gestão de recursos humanos Infraestrutura da empresa Atividades de apoio Fonte: Adaptada de Porter, 1989. Podemos observar que as Operações, consideradas atividades pri- márias ou fins para a maioria das organizações, situam-se entre a Lo- gística de entrada (entrada de pedidos de clientes, chegada de material em estoque e outros recebimentos) e a Logística de saída. Por exemplo, na área financeira de um banco, a tesouraria é o setor principal; em um hospital, o atendimento clínico é a área principal, e os setores ad- ministrativos são considerados apoios ou atividades-meio; já em um fabricante de copiadoras, a área de operações é a responsável pela fa- bricação de componentes, montagem, ajustes, testes, manutenção e operação de instalações (PORTER, 1989). A associação das empresas com os fornecedores é um fator decisi- vo para a criação de valor e se relaciona com a logística de saída (entre- ga do produto ou serviço ao cliente e atividades de distribuição interna e externa). Desse modo, a vantagem competitiva reside na capacidade de gerar valor ao cliente por meio da integração das atividades meio (apoios) e fim (primárias) de uma empresa. Operações e estoques 17 Esse valor consiste na quantidade que os clientes estão dispostos a pagar por um produto ou serviço provido pela empresa, cujo benefício é superior ao dispêndio efetuado. O valor deve ser analisado de modo competitivo diferente do de custo. Já o estoque é qualquer quantidade de produtos ou materiais, sob controle da empresa, em estado relativamente ocioso, esperando para seu uso ou venda, podendo ser definido como a acumulação de re- cursos materiais armazenada em um sistema de transformação ou, também, certa quantidade de matéria-prima ou produto acabado que ainda não foi consumido, comprado ou entregue ao cliente de determi- nada organização (ROSA, 2011). No início do século XX, devido aos processos de produção em mas- sa, os estoques começaram a despertar atenção na gestão industrial (ACCIOLY; AYRES; SUCUPIRA, 2008). Desse modo, com o crescimento da produção, ou seja, com as grandes quantidades de produtos elabora- dos, os estoques consequentemente se avolumaram. Posteriormente, em 1934, R. H. Wilson 2 desenvolveu a fórmula de cálculo do ponto de reposição estatístico, que consiste no encontro da quantidade ótima de pedido, que é a empregada para a reposição de estoque. Em termos de gestão, iniciou-se a implantação das ordens de produção com base nos pedidos de clientes e na previsão de vendas. A partir da iniciante automação de processos por meio do uso de calculadoras eletromecânicas, as listas de materiais ajudaram nas operações de cálculo do ponto de reposição. Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo entrava em uma nova era, motivado pela crescente demanda de produtos, represada por anos pelos conflitos ocorridos nos diversos países participantes. Assim, por volta dos anos 50 e 60, os grandes desafios da manufatura eram produzir em larga escala e entregar as mercadorias necessárias não produzidas nos locais de consumo. Para isso, contou-se com o apoio da logística, tornando possíveis a produção e a comercialização de produtos em locais distintos, impul- sionadas pelo desenvolvimento das rodovias e ferrovias, e ampliando o escopo de atuação por meio do comércio internacional. Ballou (2006, p. 27) cita o conceito de logística com base na definição promulgada pelo Conselho de Gerenciamento de Logística (CLM): dispêndio: despesa, gasto. Glossário R. H. Wilson será melhor estu- dado no Capítulo 3 deste livro. 2 18 Gestão de operações e estoques logística é o processo de planejamento, implantação e contro- le eficiente e eficaz de mercadorias, serviços, e das informa- ções relativas, desde o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes. Sendo assim, com base nessa definição, podemos compreender que a logística é de fundamental importância para apoio na movimen- tação de estoques, interna e externamente. Além disso, para Bowersox et al. (2014, p. 32): a logística envolve a gestão do processamento de pedidos, esto- ques, transportes e combinação de armazenamento, manuseio de materiais e embalagem, todos integrados por uma rede de instalações. Seu objetivo é apoiar as necessidades operacionais de suprimento, manufatura e atendimento ao cliente na cadeia de suprimentos. De acordo com a definição de Bowersox (2014), observamos que os estoques fazem parte de toda a cadeia de suprimentos e da movi- mentação de mercadorias, desde o pedido inicial dos clientes por um produto ou serviço (fluxo de informações), o seu processamento (trans- formação), até a entrega aos clientes (fluxo de materiais). Para melhor compreensão, na Figura 5, há a representação do fluxo de materiais desde os fornecedores, transformados internamente pela empresa e deliberadamente entregues aos clientes, assim como as in- formações requeridas em cada etapa do processo. Fornecedores Aquisição Operações Distribuição Clientes Requisitos do fluxo de informações Fluxo de materiais Figura 5 Processo de gestão logística Fonte: Adaptada de Christopher, 2018. Diante disso, já podemos compreender que a cadeia de suprimen- tos (CS) abrange todas as atividades relacionadas ao fluxo e transfor- mação de mercadorias, desde o estágio da matéria-prima (extração) até o usuário final. Operações e estoques 19 O gerenciamento da cadeia de suprimentos é a integração dessas atividades, mediante relacionamentos aperfeiçoados na CS, com o ob- jetivo de conquistar uma vantagem competitiva. Em nosso cotidiano, seja em casa, na empresa ou no lazer, é pos- sível que nos deparemos com a falta de produtos em estoque e, para que isso não ocorra, precisamos nos programar ou planejar. O impacto relacionado à ausência de produtos nos negócios, como o comércio em geral, tende a ser maior, podendo ocasionar perdas imediatas, como clientes insatisfeitos, custos com armazenagem, reabastecimento e muitos outros. Além disso, o estoque envolve muitos recursos financeiros. Confor- me estimam Hillier e Lieberman (2006), o valor total, nos Estado Unidos – incluindo produtos acabados, produtos semiacabados e matérias-pri- mas –, soma mais de um trilhão de dólares, o que equivale a aproxima- damente US$ 5 mil para cada habitante do país. Os custos anuais associados ao armazenamento também são sig- nificativos, são equivalentes a um quarto do valor dos estoques, per- fazendo, em escala global, algumas centenas de bilhões de dólares. Diante desse cenário, reduzir custos de armazenagem, evitando gran- des estoques desnecessários, pode aumentar a competitividade de qualquer empresa, independentemente do tamanho ou da finalidade. A maioria das operações necessita manter estoques para que possa garantir o funcionamento da unidade produtiva. Para exemplificar, va- mos analisar o Quadro 2 a seguir, que apresenta situações de estoques mantidos em cada modelo de operação. Quadro 2 Abordagem sistêmica de operações e dos estoques. Operação Estoques mantidos Hotel Alimentação, bebidas, itens de higiene pessoal e materiais de limpeza. Hospital Gaze, instrumentos descartáveis, estoque de sangue e remédios. Armazém Bens armazenados e materiais de embalagem. Manufatura de televisor Componente, matéria-prima, semiacabados, televisores acabados e materiais. Refinaria de petróleo Petróleo cru armazenado em tanques esperando para ser refinado/processado e produtos transformados (como gasolina e óleo diesel) armazenados aguardando para serem transferidos para distribuidoras. Fonte: Adaptado de Slack et al., 2013. 20 Gestão de operações e estoques Os estoques existem para atender ao ritmo entre fornecimento e de- manda. Portanto, em caso de falta de estoques, há o risco de compro- meter a continuidade da cadeia de suprimentos, o desabastecimentoou até mesmo a interrupção do processo produtivo. Além disso, quando se trata de matéria-prima, componente ou produto semiacabado, esse risco é potencializado, pois nem sempre a empresa usuária do material dispõe, no tempo adequado, de um fornecedor alternativo ou até de um produto substituto (ACCIOLY; AYRES; SUCUPIRA, 2008). Em oposição a essa ideia, o excesso de estoques pode gerar efeitos não desejáveis, como: necessidade de recursos para estocagem ou ar- mazenamento (galpões, armazéns, silos, tanques, depósitos e outros); custos com movimentação interna e externa; dispêndio financeiro em aquisição; risco de vencimentos do prazo de validade e garantia; depre- ciações, seguros, possíveis fraudes e controles. 1.3 Política de estoques Vídeo Estudamos que a administração de estoques está relacionada à competitividade das organizações e ao funcionamento das cadeias de suprimento. Nesse sentido, cabe à organização gerir seus negócios por meio de uma política de estoques que ajude na fluidez dos processos, por meio de um planejamento otimizado de recursos que são caros e escassos, suportado pela posição clara da empresa junto aos tomado- res de decisões quanto à gestão de estoques. Uma refinaria, por exemplo, pode definir sua política de estoques de petróleo cru e derivados a partir da análise do cenário externo, como as cotações do barril de óleo no mercado internacional, o valor do câmbio, as demandas sazonais, as entregas programadas a clientes e distribuidores e outros fatores pertinentes ao segmento de energia. Na Figura 6, podemos compreender que a política de estoques ou o padrão de decisões é norteado pelas orientações estratégicas da em- presa, tanto interna quanto externamente. sazonais: temporárias, típicas de certa época. Glossário Operações e estoques 21 Figura 6 Política de estoques Política de estoques Estratégias de cadeia de suprimentos Estratégias de produtos e serviços a clientes Estratégias de suprimentos Estratégias de operações Fonte: Elaborada pelo autor. No âmbito interno, a política de estoques é influenciada pela estra- tégia adotada pela área de operações, definindo se a produção será em lotes ou em fluxo contínuo e como serão os recebimentos, armazena- mentos de matérias-primas e insumos e a entrega. Já no ambiente externo, a política de estoques deve estar orientada para as decisões de canais de atendimento a clientes, com a disponi- bilização de produtos e serviços em lojas, rede de atacadistas, vendas pela internet e outros. A rede de suprimentos também integra o rela- cionamento com fornecedores e até com concorrentes (coopetição), com possíveis parcerias nas atividades que não são estratégicas para a empresa. Por exemplo, o abastecimento de caixas eletrônicos por empresas contratadas e que atendem a diversos bancos. Bowersox et al. (2014) definem a política de estoques como padrões que indicam o que comprar ou produzir, quando e quanto, incluindo também as decisões sobre o posicionamento e a alocação de estoques em fábricas ou centros de distribuição (CD). A política de estoques, como direcionamento estratégico do staff organizacional, será desdobrada junto às unidades internas responsá- veis pelo controle de estoques (armazenamento, distribuição, gestão do pedido e de informações e outros), com a missão de acompanhar as metas e os objetivos estabelecidos. Essa orientação é refletida em de- coopetição: união da cooperação com a competição. Glossário 22 Gestão de operações e estoques terminados padrões que serão orientadores para os gestores do inven- tário em momentos de decisões quanto à aquisição e à movimentação interna e externa dos insumos ou bens acabados. Sob a ótica do cliente, a política de estoques deve estar consoante com o nível de serviço estabelecido em contratos ou acordos, antes de iniciar qualquer atividade, principalmente as envolvidas no processo lo- gístico. Esse serviço pode ser medido em termos de lead time (duração do ciclo do pedido) e taxa de atendimento por unidade, por linha de produção ou pedidos, por exemplo. Em termos práticos, a política empregada se traduz na conside- ração de algumas questões relevantes: com qual frequência deve- ríamos rever a posição de estoques? Periódica ou contínua? Qual deverá ser a quantidade solicitada para a reposição de estoques? Quando solicitar a reposição de estoques? Abaixo do nível crítico ou não? Qual será a política de escolha e desenvolvimento de for- necedores e complementadores 4Complementadores podem ser definidos como aqueles que dão apoio indireto no negócio da empresa, como lojas de pneus e acessórios para uma montadora de veículos. 4 ? A gestão da empresa, com planos estratégicos (longo prazo) e tá- ticos (menor abrangência), voltada para a área de suprimentos, é de fundamental importância, pois permite implementar uma política efi- caz de estoques. No entanto, sua aplicação requer o acompanhamento sistemático com: a. os itens em estoque, classificados por relevância em ter- mos de capital empregado e classificados em uma curva de importância; b. a sua real aplicação no processo produtivo, considerando os requisitos para entrada, transformação e saída. c. o recebimento, a conferência e a adequada armazenagem de insumos ou mercadorias. d. os inventários e as auditorias periódicas para certificação das quantidades disponíveis ou faltantes, além do estado físico das mercadorias estocadas para aproveitamento, devolução ou descarte; e. base nas informações obtidas pelo giro das mercadorias, esta- belecendo o nível ideal de estoques para os principais produtos. As empresas constantemente deparam-se com um grande dilema: com qual quantidade devemos manter o nível de estoques de insumos e produtos acabados? Operações e estoques 23 De certa maneira, a política de estoques deve evitar os conflitos (trade-offs) que podem existir entre áreas internas em uma organiza- ção, como a intenção de a área comercial ou de vendas ter à disposi- ção um estoque elevado para melhor atender aos compradores, ou a área de produção querer operar como maior folga, com um estoque mais elevado, para atuar com uma ampla margem de segurança de estoque, garantindo as entregas. Por outro lado, a área financeira se- ria menos impactada em recursos dispendidos se pudesse trabalhar com estoques reduzidos, que amenizam o capital empregado, melho- rando o fluxo de caixa para cumprir com os compromissos financei- ros a curto e médio prazos. Outro aspecto importante é considerar as necessidades dos clientes, pois, segundo Accioly, Ayres e Sucupira (2008), quando se trata de um pro- duto acabado, a sua falta estimula o consumidor a procurar um produto alternativo ou até um substituto. Já quando a falta é de matéria-prima, componente ou produto semiacabado, o risco é potencializado, pois nem sempre é possível alocar um fornecedor alternativo. Conforme estudamos, o estoque é um importante instrumento de direcionamento das operações na empresa, sendo fundamental seu correto dimensionamento para atender aos requisitos de cada unida- de produtiva. No entanto, é necessária a criação de uma política de estoques bem definida e adequada ao tipo de mercado, evitando, assim, que o setor de produção opere além do necessário de sua margem de segurança, que o setor comercial eleve demasiadamente o estoque para garantir o atendimento aos clientes, que o setor financeiro comprometa o fluxo de caixa e que a empresa exceda seu projeto de capital total investido. Dessa forma, é importante refletir sobre algumas questões: quais são os itens estratégicos para a operação? Quantos são? Qual é a de- manda de cada item em relação ao estoque, à produção e às vendas? Qual é a quantidade necessária para a reposição? Quanto tempo essa reposição demanda? Quais são as alternativas em caso de desabasteci- mento? Quem são os fornecedores? O passo seguinte trata dos métodos para aquisição e armazenagem, dos controles e da manutenção do estoquee de sua movimentação. Com base nessas premissas, permitimos criar elos com os processos de homologação dos fornecedores para a melhor aquisição, o correto 24 Gestão de operações e estoques manuseio dos itens no recebimento e na disposição, o melhor layout na armazenagem e inventários periódicos para a verificação da quan- tidade e do estado dos itens. As verificações para a reposição do esto- que sempre estarão presentes nas etapas dos processos, observando o giro das mercadorias. A consistência de uma política de estoques está relacionada ao com- promisso de todos os envolvidos na definição e na observação das me- tas estabelecidas para o inventário. No entanto, diante das constantes mutações do ambiente externo, que fogem do controle da empresa, como o crescimento ou a ampliação da participação no mercado, nas alterações do ciclo de vida dos produtos (introdução, crescimento, ma- turidade e declínio), é preciso permitir as devidas flexibilizações, aplica- das a cada caso, considerando os impactos a curto e médio prazos na gestão de estoques. O não atendimento a esses aspectos contingenciais pode colocar em risco a harmonia entre os setores, a criação ou inovação de produ- tos e serviços e as iniciativas para a melhoria contínua dos processos de estocagem e seu uso racional, impactando a satisfação de clientes e usuários. Desse modo, a implementação de uma estratégia eficaz de gerenciamento de inventário é crucial para uma organização permane- cer competitiva no cenário dinâmico da cadeia global de suprimentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, observamos que as operações são importantes para as organizações, sejam de pequeno, médio ou grande porte, públicas ou priva- das, com ou sem fim lucrativo. Com um breve resgate histórico, compreende- mos a evolução das organizações, desde o surgimento do trabalho artesanal, passando pelas fábricas que surgiram a partir da mecanização com a produ- ção em massa e culminando com as atuais estruturas organizacionais, cujo papel da área de produção passou a ser estratégico para os negócios. Compreendemos que esse papel desempenhado é relevante, pois na maioria das vezes a área de operações concentra grande parte de recursos financeiros (máquinas, equipamentos) e de capital intelectual (técnicos, enge- nheiros, administradores) empregados pela organização, denotando atenção especial dos gestores. Além disso, observamos que os estoques são grandes protagonistas na gestão das operações, pois sem esses recursos não seria possível completar o ciclo sistêmico (entrada, processamento e saída) do processo de transfor- mação da produção. Além de contribuir com a entrada de insumos e ma- Operações e estoques 25 téria-prima, os resultados esperados serão os produtos e serviços gerados pela empresa, que, ao fim, farão parte dos estoques, de um intermediário (varejista ou atacadista) ou do cliente (consumidor). Por fim, aprendemos que os estoques são orientados por políticas esta- belecidas pela empresa e influenciados pelo ambiente externo, que dita os padrões a serem seguidos no processo de decisão. Tais políticas são fun- damentais, pois visam à melhor gestão de estoques por meio de questões relacionadas a quando comprar, quanto, onde e como armazenar e distribuir os produtos acabados ou serviços gerados. AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS • TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. Elenco: Allan Garcia, Charlie Chaplin, Chester Conklin, Hank Mann, Henry Bergman, Louis Natheaux, Paulette Goddard. Estados Unidos: Charles Chaplin, 1936. (83 min.). Esse filme apresenta críticas relacionadas ao trabalho repetitivo, padronizado, e à linha de produção móvel em série, criada por Henry Ford em 1913. • PIRES, P. J. Há 80 anos saía de produção o carro que revolucionou o mundo: o Ford T. Gazeta do Povo, Curitiba, 27 maio 2007. Opinião. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/automoveis/ ha-80-anos-saia-de-producao-o-carro-que-revolucionou-o- mundo-o-ford-t-ahp9s2umq2weuf58n4079xfta/. Acesso em: 16 out. 2019. Esse artigo trata da linha de montagem móvel, desde 1913, e da fabricação do Ford modelo T, carro que há mais de 100 anos revolucionou o mundo. Dessa forma, para aprimoramento do que foi estudado no decorrer deste capítulo, recomendamos essa leitura. • PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. Esse livro aborda, em detalhes, a cadeia de valor e os seus componentes, tanto para as atividades primárias quanto secundárias. + 26 Gestão de operações e estoques • WOMACK, J. P.; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004. Esse livro apresenta a evolução do automóvel, desde a produção artesanal, a produção em massa na General Motors e Ford até a produção enxuta desenvolvida pela Toyota no Japão. ATIVIDADES 1. Por que a linha de montagem móvel, implantada em 1913 por Henry Ford em suas fábricas, ajudou no processo de produção em massa? 2. Com base nas quatro etapas do sistema de operações (entrada, processamento ou transformação, saída e feedback), preencha o quadro a seguir considerando uma operação de transporte por meio de um aplicativo de celular. Operação Transporte por meio de aplicativo de celular Entradas da operação Finalidade da operação Saídas da operação 3. Qual é a importância dos estoques para uma organização? 4. Por que é necessário definir políticas de estoques? REFERÊNCIAS ACCIOLY, F.; AYRES, A. de P. S.; SUCUPIRA, C. Gestão de estoques. São Paulo: FGV, 2008. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Cengage, 2018. HILLIER, F. S.; LIEBERMAN, G. J. Introdução à pesquisa operacional. 8. ed. São Paulo: McGraw Hill, 2006. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. ROSA, R. de A. Gestão de operações e logística. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2011. SLACK, N. et al. Gerenciamento de operações e de processos: princípios e práticas de impacto estratégico. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018. SNOW, R. Ford: o homem que transformou o consumo e inventou a era moderna. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. WOMACK, J. P.; JONES, D. T.; ROOS D. A máquina que mudou o mundo. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 27 Costumamos prever muitas situações em nosso cotidiano, as quais normalmente envolvem certas tomadas de decisões, como quando está calor e decidimos levar um casaco para o trabalho prevendo que na volta para casa estará mais frio ou, ainda, quando escolhemos determinado trajeto estimando que conseguiremos chegar a uma reunião no horário combinado. As previsões estão presentes em muitos momentos, inclusive na área de operações de uma organização, em que os gerentes necessitam tomar uma série de decisões. Estas podem ser de dois tipos: de curto prazo, como a reposição de estoques segundo a demanda mensal de clientes, e de longo prazo, a construção de uma fábrica ou unidade operativa, o atendimento a uma maior capacidade de fornecimento, o lançamento de novos produtos e serviços ao consumidor, a presença e expansão internacional ente outros. Assim, compreendemos que as previsões de curto, médio e longo prazo contribuem com as decisões estratégicas do planejamento em produção e operações, além de ajudar em outras áreas funcionais, como logística, marketing, finanças e vendas, visto que previsões não baseadas em dados, ou a ausência de previsões, podem levar a más decisões e, consequentemente, a perdas ou prejuízos inesperados nos negócios. Desse modo, estecapítulo tratará de métodos de previsão dentro das organizações, das formas de medir e melhorar a qualidade das previsões e das principais técnicas que podem ser utilizadas pelos gestores da área de operações. Previsão de demanda 2 28 Gestão de operações e estoques 2.1 A importância das previsões Vídeo Por meio de alguns métodos – muitas vezes inexatos ou simples, mas indispensáveis –, a previsão nos auxilia a especificar informações significantes para o ponto de partida do planejamento logístico e para o processo de produção em uma organização, os quais resultarão no futuro da operação. Para previsões detalhadas, esses métodos simples, ou seja, de fácil cálculo e visualização dos resultados, geralmente são mais apropriados do que os muito sofisticados, especialmente para pe- ríodos curtos de tempo. O conhecimento dos padrões de demanda pode ajudar muito o desenvolvimento da previsão. Antes de qualquer venda, por exemplo, devemos realizar muitas atividades logísticas e da cadeia de suprimentos. Assim, a previsão tor- na-se uma habilidade crítica por meio da qual conseguimos identificar quais são os requisitos para a programação do estoque e dos recursos operacionais (BOWERSOX et al., 2014). Portanto, segundo Ballou (2006), a previsão dos níveis de demanda é essencial para toda a empresa, na medida em que proporciona a entrada básica para o planejamento e o controle de todas as áreas funcionais (logística, marketing, produção e finanças) da companhia. Desse modo, a previsão assume importante função em uma organização e é exigida: • no planejamento estratégico e de produção dos fatores externos (demanda e aspectos do mercado e da economia, por exemplo) e dos fatores internos (quebras, ausências, falta de insumos etc.); • na demanda e na necessidade de estoque; • nos sistemas de reposição contínua de estoques e nos siste- mas produtivos. Assim, a previsão possibilita o atendimento à demanda de clientes e do mercado, e a consequente disponibilidade de estoques exige que haja uma ideia da demanda que será atendida. Além disso, a previsão é muito importante, pois, dependendo do prazo estipulado, muitas vezes uma decisão não pode ser mudada. Ainda, as previsões têm efeito direto nas decisões que precisam ser tomadas em determinado momento e que podem gerar consequên- cias para um horizonte de longo prazo. Por exemplo, a instalação de uma fábrica multinacional no Brasil é uma ação que provavelmente de- 29 manda alguns anos, necessitando de um importante processo decisó- rio para a sua realização, conforme apresenta a Figura 1. Figura 1 Efeito das decisões conforme os horizontes de planejamento hoje Horizontes de planejamento Efeito da decisão A Efeito da decisão Bdecisões A B C Efeito da decisão C tempocurto prazo médio prazo longo prazo Fonte: Adaptada de Corrêa; Corrêa, 2017. Conforme podemos observar na Figura 1, os efeitos das decisões são ampliados conforme o horizonte de tempo. As decisões a curto prazo, como a programação semanal ou mensal de determinado pro- duto, podem causar menos impacto nos resultados de uma organiza- ção. Para decisões com uma faixa de alcance a longo prazo, acima de dois anos, por exemplo, os efeitos nos resultados tendem a ser maio- res, como o lançamento de um novo produto, a construção de um par- que fabril ou um pacote de novos serviços. Há, ainda, alguns erros cometidos durante o processo de previsão, tais como os descritos a seguir. 1 Tempo dispendido em demasia: é importante procurar erros ou acertos nas previsões, buscando a melhoria contínua do processo e reduzindo os erros das novas previsões de maneira gradativa. 2 Considerar as previsões como verdades imutáveis: o ideal é tomar decisões sem considerar possíveis contingências, como a mudança das variáveis externas à empresa, tais quais legislação, aspectos ambientais, comportamento do consumidor e suas preferências, entrada de novos concorrentes, ação de importadores em momentos de alta demanda, como o mercado de combustíveis (óleo diesel e gasolina, por exemplo), 30 Gestão de operações e estoques e outros fatores influenciadores pertinentes à característica de cada empresa ou negócio. 3 Desistir de melhorar o processo: não devemos abandonar as previsões por não estarem próximas do que realmente foi realizado. O importante é aprender com os erros incorridos, considerando as estimativas de erro das previsões, o chamado “erro calculado”, em um processo contínuo de aperfeiçoamento. Refazer as estimativas faz parte do processo de previsão. 4 Não adotar previsões por falta de conhecimento: existem métodos muito simples para fazer previsões e que podem ser aplicados em várias situações. Dependendo da complexidade do negócio e dos ativos envolvidos, a empresa poderá adotar modelos mais sofisticados. Desse modo, para melhor orientar as previsões, há alguns passos essenciais a serem considerados, conforme demonstra a Figura 2. Figura 2 Processo de previsão Objetivo do modelo Coleta e análise dos dados Seleção da técnica de previsão Obtenção das previsões Monitoração do modelo Fonte: Elaborada pelo autor com base em Tubino, 2009, p. 16. Conforme o processo apresentado, cada etapa é fundamental para as previsões. Primeiramente, podemos identificar o motivo da previ- são, considerando o que pretendemos prever e qual decisão tomare- mos com base nos dados levantados. 31 Na próxima etapa, destinada à coleta de dados históricos, obtemos os dados que estão disponíveis em registros internos da empresa, como planilhas, sistemas administrativos, vendas, produção, com uma amplitu- de de pelo menos dois anos. Esses dados podem ser oriundos de previ- sões qualitativas, baseadas nas experiências e opiniões de especialistas, ou de previsões quantitativas, conforme os métodos de previsão aborda- dos neste capítulo. Temos o momento de analisar os dados e identificar padrões, reunindo-os em planilhas e gerando gráficos que representem suas semelhanças, relações e outras observações importantes. Na etapa seguinte, selecionamos o modelo de previsão que parece adequado, isto é, analisamos o método conforme a necessidade, de modo que seja acessível aos decisores. O modelo pode ter base em da- dos históricos. Posteriormente, verificamos a validade do modelo por meio de testes, nos quais é possível verificar se os dados se repetem, se há algum tipo de tendência, ciclo ou sazonalidade 1 . Analisamos se a acurácia da previsão é aceitável, se a previsão é factível, se faz sentido para os processos envolvidos e se é possível de se realizar. Por último, monitoramos os resultados e testamos acertos ou erros, visto que o processo de previsão necessita ser sempre aper- feiçoado, com base nos erros e acertos obtidos no processo de de- cisão, os quais podem ser realimentados no processo, desde a sua entrada de dados. Dessa forma, conforme estudamos nesta seção, as previsões são importantes para a programação da produção, pois é com base nelas que atenderemos às demandas dos pedidos dos clientes. A falta de previsão ou uma elaboração incorreta pode gerar atrasos indesejáveis na entrega, falta de produtos na prateleira, excesso de estoques nos depósitos e nos armazéns da organização, entre outros problemas. Sazonalidade diz respeito a variações que podem ocorrer em um espaço de tempo. Por exemplo, o consumo no inverno ou verão, na agricultura em épocas de plantação e colheita e outras situações. 1 2.2 Abordagens de previsão Vídeo A escolha do processo de previsão de demanda depende da neces- sidade da empresa em atender aos requisitos de curto, médio e longo prazo, ao nível de exatidão requerido (médio ou alto), dentre outros aspectos cruciais para as operações e o planejamento dos estoques. Embora a previsão não seja uma ciência exata, o processo de gerencia- mento de previsões deve incorporar dados de diversas técnicas mate- máticas e estatísticas, além de contar com profissionais treinados para 32 Gestãode operações e estoques a análise dos dados obtidos e para a tomada das decisões mais acerta- das para a organização (BOWERSOX et al., 2014). Assim, são necessárias abordagens de previsão, que são melhor de- talhadas a seguir. 2.2.1 Abordagem qualitativa As técnicas qualitativas são opções para previsões de médio a lon- go alcance e são elaboradas a partir de expectativas não numéricas baseadas no julgamento e na experiência de profissionais especialis- tas da organização e que já atuam no mercado, como os consultores de vendas, os gerentes, os executivos ou a pesquisa de mercado com consumidores. Essas previsões são utilizadas pelas áreas envolvidas da organi- zação, como marketing, vendas, produção e logística, quando não há dados históricos disponíveis ou se forem pouco relevantes para análise e julgamento. Algumas vezes, esse método é todo o recur- so disponível para prever o sucesso de novos produtos, aspectos do ambiente externo (oportunidades ou ameaças) que podem influen- ciar internamente uma organização, como políticas governamentais, novas tecnologias, alterações do ambiente natural, como a escassez de matérias-primas, novas licenças ambientais, entradas ou saídas de fornecedores e concorrentes. Os principais métodos de pesquisa qua- litativos são: • Método Delphi: método interativo que obtém a previsão por meio de especialistas, às vezes localizados distantes uns dos outros, que incorporam o consenso de suas opiniões ao pro- cesso de previsão sobre determinado tema no qual são muito conhecedores ou têm plena experiência. Essa técnica conta com a resposta de um questionário, geralmente encaminhado por correspondência ou endereço eletrônico, de 6 a 12 especialistas, que expressam suas razões de entendimento a respeito das pre- visões. Essas opiniões são consolidadas por um coordenador que as devolve para uma nova rodada, repetindo-se até que chegue a um relativo consenso, que pode levar até seis rodadas. • Júri ou comitê de executivos: método que procura obter a opi- nião de pequenos grupos de executivos, em geral de vários de- partamentos da empresa (marketing, operações, vendas etc.) e versa sobre alguma variável do negócio que se pretenda prever. 33 • Analogia histórica: procura identificar dados de produtos simi- lares, comparando os padrões comuns para melhor estimar um novo produto. • Pesquisa de mercado: método que conta com consultas efetua- das diretamente a clientes ou consumidores sobre intenção de compra ou outras questões de interesse, geralmente para previ- sões de longo prazo. Busca, também, identificar as necessidades e a satisfação dos clientes por meio de informações, como o nível atual de satisfação do cliente e o impacto da introdução de novos produtos ou serviços por amostragem e questionários ou entre- vistas visando desenhar as tendências do mercado. • Pesquisa da equipe de vendas: método por meio do qual são consultados os vendedores ou representante de força de vendas, obtendo informações sobre a estimativa de vendas. É uma ótima ferramenta de previsão subjetiva, pois eles estão muito próxi- mos de clientes e concorrentes. As técnicas qualitativas são aplicáveis quando não há dados ou tem- po para a coleta e análise de informações de demandas anteriores, na introdução de um novo produto ou como base para a aplicação de uma previsão quantitativa futura. São aplicáveis no campo da economia e finanças, com projeções de especialistas ou empresas de consultoria que procuram construir cenários atuais e futuros com base no panora- ma instável do mercado nacional e até internacional. 2.2.2 Abordagem de série temporal Uma série temporal pode ser definida como uma sucessão de ob- servações ordenadas no tempo. São exemplos a precipitação diária de chuvas, o número de nascimentos em determinada região ou o volume de vendas anuais de uma empresa. Em diversos campos de investigação, como em estatística, econome- tria, matemática financeira e bioestatística, é comum o estudo de séries temporais que apresentam algum tipo de variabilidade, à qual estão normalmente associadas perturbações aleatórias. O estudo dessas se- quências, ou o princípio de que os dados futuros serão uma possível repetição do passado, permite caracterizar os processos representados por elas, prever o comportamento desses processos em termos futuros e, por último, identificar e avaliar os fatores que podem ter influenciado o seu comportamento. 34 Gestão de operações e estoques O pressuposto da previsão utilizando séries temporais é o de que o futuro pode ser previsto com base no histórico de dados passados (FERNANDES; GODINHO-FILHO, 2017). As séries temporais são prefe- ríveis para previsões de alcance a curto prazo e podem ser caracteri- zadas como tendência, sazonalidade ou de modo aleatório. A Figura 3 apresenta as características da série temporal considerando a deman- da e o tempo. Figura 3 Representação gráfica das séries temporais (Continua) (a) Um padrão de demanda aleatório, ou nivelado, sem tendência nem elementos sazonais 0 Vendas reais Vendas médias 250 200 150 100 50 0 5 10 15 20 25 Ve nd as Tempo (b) Um padrão de demanda aleatório com tendência crescente, mas sem elementos sazonais Vendas reais Vendas médias 0 250 200 150 100 50 0 5 10 15 20 25 Ve nd as Tempo 35 (c) Um padrão de demanda aleatório com tendência e elementos sazonais 0 800 600 500 200 100 0 10 20 30 40 Ve nd as Tempo Vendas atuais Tendência das vendas Vendas de tendência e sazonais continuadas 300 400 700 Fonte: Adaptada de Ballou, 2006, p. 243. Como podemos observar na Figura 3, a tendência considera varia- ções gerais nos resultados para cima ou para baixo, dos dados histó- ricos para uma variável ou muitas variáveis. Por exemplo, a demanda de determinado produto ou serviço aumenta com o passar do tempo, em razão da economia de escala. Já a sazonalidade considera varia- ções em função do tempo cronológico, ou seja, as variações se repe- tem no tempo. Essas características descritas são importantes formas de compor- tamento das séries temporais, as quais apresentam uma tendência ba- seada nos dados históricos da demanda, podendo se manter constante ou aleatória, com tendência crescente, ou seja, constantemente ao lon- go do tempo e sob a influência de sazonalidades. Ainda, a abordagem de série temporal conta com alguns métodos de previsão, como média móvel (simples e ponderada) e suavização exponencial, descritos a seguir. • Média móvel As previsões baseadas em médias móveis consideram os dados históricos ou aqueles registrados no passado recente, como o ano anterior, com a premissa de que o horizonte de análise será uma projeção ou repetição do passado. Desse modo, para uma boa aná- lise dos resultados e das previsões, devemos dispor da quantidade máxima de dados históricos a fim de que possamos conseguir uma boa projeção do futuro. economia de escala: aumen- to da produção ocasionando baixa nos preços. Glossário 36 Gestão de operações e estoques A média móvel é uma forma de previsão obtida pela somatória dos dados de valores históricos dividida pelo mesmo número de dias, ou um outro ponto de referência do período analisado. Os principais mé- todos utilizados nessa condição são Média móvel simples e Média mó- vel ponderada, detalhados a seguir. a Média móvel simples A previsão desejada do futuro é calculada como sendo a média de vários (n) períodos anteriores. Assim, devemos escolher sobre quantos períodos a média será calculada. A fórmula de cálculo para médias móveis simples é: ∑ demanda nos n períodos prévios N Média móvel = Para melhor entendimento, vamos considerar as vendas reais de la- piseiras de uma empresa nos meses de janeiro a dezembro de determi- nado ano. Observe a Tabela 1. Qual seria a projeção de abril até junho? Tabela 1 Média móvel simples para os meses de abril a junho Meses do ano Vendas reais de lapiseiras Média móvel simples Janeiro 135 Fevereiro 120 Março156 Abril 172 135+120+156/3=137 Maio 134 120+156+172/3=149,33 Junho 123 156+172+134/3=154 Julho 156 Agosto 162 Setembro 132 Outubro 176 Novembro 122 Dezembro 143 Fonte: Elaborada pelo autor. Conforme observamos na Tabela 1, para calcular a média móvel sim- ples de abril, foi necessário somar as vendas reais de lapiseiras dos me- ses anteriores (janeiro, fevereiro e março) e dividir o resultado por 3, ou seja, pelo período tido como referência (número de meses somados). Esse cálculo da média móvel simples pode ser aplicado nos demais 37 meses, desde que sejam considerados os meses anteriores. Observe na tabela que se quiséssemos calcular uma previsão com base na mé- dia móvel para os meses de abril a junho, considerando também três períodos como referência, teríamos 137 para abril, 149,33 para maio e 154 para junho. b Média móvel ponderada A previsão desejada do futuro é calculada como a média de vários (n) períodos anteriores, com pesos atribuídos a cada um dos dados, sendo o maior peso para os dados mais antigos. A soma dos pesos será sempre igual a um. Dessa forma, daremos um peso maior também às datas mais próximas, por exemplo: 0,6 para o primeiro mês, 0,3 para o segundo mês e 0,1 para o último mês (0,6 + 0,3 + 0,1) = 1. A fórmula de cálculo para médias móveis ponderadas é: MPt = 1 ∑T(T=T-N+1) wTdT N Assim, temos que: MPt = média móvel ponderada para o período (t) WT dT = pesos atribuídos aos dados reais de demanda Vamos usar o mesmo exemplo das vendas reais de lapiseiras de uma empresa, durante o período de 12 meses (janeiro a dezembro), considerando um peso de 0,1 para janeiro (mês mais antigo); 0,3 para fevereiro (segundo mês); e 0,6 para março (mês mais atual). Podemos perceber que agora o cálculo da previsão dos meses de abril a junho é diferente, pois refletiu uma previsão futura com dados atualizados pela ponderação mais atual, utilizando os pesos 0,1; 0,3 e 0,6. Observe a Tabela 2. Tabela 2 Cálculo usando a média ponderada de = 0,1; 0,3 e 0,6. (Continua) Meses do ano Vendas reais de lapiseiras Média móvel ponderada Janeiro 135 Fevereiro 120 Março 156 Abril 172 (135*0,1) + (120*0,3) + (156*0,6) = 143,10 Maio 134 (120*0,1) + (156*0,3) + (172*0,6) = 162 38 Gestão de operações e estoques Meses do ano Vendas reais de lapiseiras Média móvel ponderada Junho 123 (156*0,1) + (172*0,3) + (134*0,6) = 147,60 Julho 156 Agosto 162 Setembro 132 Outubro 176 Novembro 122 Dezembro 143 Fonte: Elaborada pelo autor. Como podemos notar na Tabela 2, as médias ponderadas são calcula- das com pesos (somatório = 1), conforme os meses, o que diferencia da média móvel simples. Em abril a previsão ficou 143,10 lapiseiras; 162 em maio e 147,6 em junho, mas, de modo prático, adota-se o arredon- damento nos cálculos, ou seja, abril: de 143,10 para 143; e junho: de 147,60 para 148. • Suavização exponencial O modelo de previsão com suavização, suavizamento exponencial ou também conhecido como ponderação exponencial é um método muito utilizado pelas empresas para previsões de curto prazo. Ele parte do princípio de que os dados recentes são os mais representativos nos métodos de previsão, tratando para que aqueles mais antigos tenham proporcionalmente menor peso. Em relação à média móvel pondera- da, os pesos decrescem exponencialmente do tempo presente em di- reção ao passado. A previsão baseada no suavizamento exponencial é uma das técni- cas mais utilizadas pelas organizações, que a aplicam para melhor pro- gramar os estoques em varejistas, atacadistas e agências de serviços, pelos seguintes motivos: • As previsões têm um alto grau de acerto (acurácia). • Os cálculos são simples e existem diversos programas disponí- veis para o uso, inclusive o Excel. • Os usuários da ferramenta têm alto grau de entendimento dos resultados obtidos e da dinâmica do modelo. • Não requer o armazenamento de grande quantidade de da- dos históricos. 39 A abordagem da suavização é a melhor técnica de previsão a curto prazo (BALLOU, 2006), pois prevê a demanda do próximo período con- siderando a demanda real do período atual e a previsão que foi feita anteriormente ao período atual. A fórmula de cálculo para a suavização exponencial é: Nova previsão = [(demanda real do último período) x α] + [(última previsão) x (1-α)] Assim, temos que: α = constante de suavizamento, que é um número entre 0 e 1 e dá a influência percentual da demanda real do último período na previsão do próximo período. É importante observar que em si- tuações práticas os valores da constante alfa em geral situam-se na faixa de 0,05 e 0,35. (1 – α ) = taxa exponencial com que caem os pesos de pondera- ção dos dados históricos, de α (referente ao mês passado mais recente “t”) para α (1 – α), relativo ao mês anterior “t – 1”, α (1 – α)², relacionado ao mês “t – 2”, e assim sucessivamente. Com base no mesmo exemplo das lapiseiras, vamos calcular a pre- visão mensal com o suavizamento exponencial para os meses de fe- vereiro a dezembro, considerando um α = 0,1 e 0,3. A última previsão efetuada no mês de dezembro foi de 130 unidades. Tabela 3 Suavização exponencial para α = 0,1 e 0,3 Mês Venda real Suavizamento exponencial com α = 0,1 Suavizamento exponencial com α = 0,3 jan. 135 130,0 130,0 fev. 120 (0,1)*(135)+(1-0,1)*(130,0) = 130,5 (0,3)*(135)+(1-0,3)*(130,0) = 131,5 mar. 156 (0,1)*(120)+(1-0,1)*(130,5) = 129,5 (0,3)*(120)+(1-0,3)*(131,5) = 128,1 abr. 172 (0,1)*(156)+(1-0,1)*(129,5) = 132,1 (0,3)*(156)+(1-0,3)*(128,1) = 136,4 maio 134 (0,1)*(172)+(1-0,1)*(132,1) = 136,1 (0,3)*(172)+(1-0,3)*(136,4) = 174,1 jun. 123 (0,1)*(134)+(1-0,1)*(136,1) = 135,9 (0,3)*(134)+(1-0,3)*(147,1) = 143,2 jul. 156 (0,1)*(123)+(1-0,1)*(135,9) = 134,6 (0,3)*(123)+(1-0,3)*(143,2) = 137,1 ago. 162 (0,1)*(156)+(1-0,1)*(134,6) = 136,7 (0,3)*(156)+(1-0,3)*(137,1) = 142,8 set. 132 (0,1)*(162)+(1-0,1)*(136,7) = 139,3 (0,3)*(162)+(1-0,3)*(142,8) = 148,5 out. 176 (0,1)*(132)+(1-0,1)*(139,3) = 138,5 (0,3)*(132)+(1-0,3)*(148,5) = 143,6 nov. 122 (0,1)*(176)+(1-0,1)*(138,5) = 142,3 (0,3)*(176)+(1-0,3)*(143,6) = 153,3 dez. 143 (0,1)*(122)+(1-0,1)*(142,3) = 140,3 (0,3)*(122)+(1-0,3)*(153,3) = 143,9 Fonte: Elaborada pelo autor. 40 Gestão de operações e estoques Nessa tabela, é possível observar que calculamos, mensalmente, a previsão da demanda, aplicando a fórmula do suavizamento exponen- cial, apesar de podermos calcular a previsão para o mês seguinte com base na realização anterior e a previsão de demanda fornecida. Exem- plificando melhor, podemos calcular a previsão de demanda para o mês de fevereiro (para α =0,1), cujo resultado seria de 130,5 unidades. O passo seguinte, após calcularmos as previsões para α = 0,1 e α = 0,3, conforme apresentamos na Tabela 3, é validar qual das duas previsões é a mais eficaz, ou seja, a que mais se aproxima das quantidades realiza- das mensalmente. Tal processo chamamos de acurácia das previsões. • Acurácia das previsões Agora podemos listar os resultados durante um ano para veri- ficar qual dos valores de α = 0,1 ou α = 0,3 são mais próximos da realização da demanda, ou seja, qual valor de α devemos usar nas próximas previsões. O cálculo da acurácia das previsões refere-se à diferença entre as previsões e as vendas reais correspondentes. Melhorar a acurácia exi- ge medir e analisar os erros, sendo que a avaliação mais popular é o desvio absoluto médio (DAM) que é definido como a diferença entre a demanda real e a prevista, sendo calculado por: ∑nt = 1 | Demanda reali – demanda previstai| n Na fórmula acima, podemos observar que o cálculo entre as de- mandas está sendo tratado como módulo, ou seja, o resultado sem- pre será positivo. O desvio absoluto médio expressa o tamanho do erro médio sem considerar se é negativo ou positivo. Vamos usar o cálculo de α = 0,1 e 0,3 para comparar o desvio médio absoluto entre a previsão calculada e as vendas reais. 41 Tabela 4 Comparação do erro médio, usandoa suavização exponencial para α = 0,1 e 0,3. Vendas Reais de lapiseiras Suavizamento exponencial com α = 0,1 Suavizamento exponencial com α = 0,3 Desvio absoluto com α = 0,1 Desvio absoluto com α = 0,3 Janeiro 135 130,0 130,0 5,00 5,0 Fevereiro 120 130,5 131,5 10,50 11,5 Março 156 129,5 128,1 26,55 28,0 Abril 172 132,1 136,4 39,90 35,6 Maio 134 136,1 147,1 2,09 13,1 Junho 123 135,9 143,2 12,89 20,2 Julho 156 134,6 137,1 21,40 18,9 Agosto 162 136,7 142,8 25,26 19,2 Setembro 132 139,3 148,5 7,26 16,5 Outubro 176 138,5 143,6 37,46 32,4 Novembro 122 142,3 153,3 20,28 31,3 Dezembro 143 140,3 143,9 2,75 0,9 desvios médios 17,61 19,4 Fonte: Elaborada pelo autor. Conforme apresenta a Tabela 4, a diferença entre a previsão calculada para cada um dos α e a demanda real (vendas reais) é a chamada am- plitude de erros de previsão, como o erro médio ou desvio absoluto. Os cálculos são feitos considerando as diferenças em cada previsão com as vendas reais. Por exemplo, em fevereiro, o desvio absoluto para α = 0,1, foi de 10,50 (120 – 130,5), sempre positivo. Usamos o desvio absoluto (sempre positivo) e a média obtida dos desvios en- contrados, ou seja, 17,61 para α = 0,1 e 19,4 para α = 0,3. Vamos op- tar pela menor média, ou seja, o melhor suavizamento é para α = 0,1. A escolha de valores baixos proporciona previsões muito estáveis e que não serão pesadamente influenciadas pela aleatoriedade nas séries de tempo. Ao transferirmos os resultados para uma análise gráfica, temos a seguinte visualização dos dados. 42 Gestão de operações e estoques Gráfico 1 Suavizamento exponencial Ag os to Se te m br o O ut ub ro N ov em br o D ez em br o 200 150 100 50 0 Ja ne iro Fe ve re iro M ar ço Ab ril M ai o Ju nh o Ju lh o Suavizamento exponencial com α = 0,3 Suavizamento exponencial com α = 0,1 Vendas reais de lapiseiras Fonte: Elaborado pelo autor. No Gráfico 1 é possível observar o efeito da utilização de diferentes valores para α. Ao se aplicar o α = 0,1, a tendência é que a previsão seja bastante “suavizada”, com os efeitos das variações aleatórias atenuados na geração da previsão. No exemplo, aplicando o α = 0,3, há uma tendên- cia para uma previsão, visualmente não tão suave, com menos atenua- ção dos efeitos das aleatoriedades. Em situações práticas do dia a dia, os valores da constante α em geral situam-se na faixa de 0,05 a 0,35. 2.2.3 Abordagem de série causal A abordagem de série causal identifica uma ou mais variáveis (inde- pendentes) que podem ajudar a prever a demanda futura para um pro- duto em questão (variável dependente). Por exemplo, a relação entre a venda de celulares (variável dependente) e os gastos em publicidade (variável independente): a tendência é que quanto maior for o gasto em publicidade, maior será o aumento das vendas de celular. O contrário não se aplica; sendo assim, quanto maior for o valor de venda de celu- lares, não significa que maiores serão os gastos em propaganda, com anúncios em canais e veículos de comunicação, como televisão, rádios, internet, redes sociais e outros. Podemos dizer que a publicidade causa as vendas. Então, pode ha- ver uma relação de causa e efeito, que pode ser descrita por modelos matemáticos que têm efetividade na antecipação de grandes mudan- ças nas séries de tempo e na previsão exata para períodos de médio e longo alcance (BALLOU, 2006, p. 248). 43 O modelo empregado para determinar o melhor ajuste entre duas ou mais variáveis é a regressão linear, que é gerada por uma equação matemática, permitindo que seja previsto o valor da variá- vel dependente a partir dos valores dados de uma ou mais variáveis independentes (FERNANDES; GODINHO-FILHO, 2017). A previsão por regressão estima as vendas de um item com base nos valores de ou- tros fatores independentes. 2.3 Tipos de regressão Vídeo Temos vários tipos de regressão, usados conforme a quantidade de variáveis independentes e o comportamento dos dados (linear ou não linear). É denominada regressão simples se a previsão de um item se baseia em um único fator e regressão múltipla se temos duas ou mais variáveis independentes, conforme estudaremos a seguir. • Regressão simples A expressão do modelo de regressão linear simples é calculada por meio da seguinte fórmula: y = a + b.x y = valor da série histórica em um dado momento a = constante que revela a interseção da reta com o eixo vertical b = outra constante da reta que apresenta o coeficiente angular da reta (inclinação) A Figura 4, ao lado, apresenta um exemplo de relação da variável Y de- pendente (vendas de celulares) com a variável independente X (publicidade). Ao observá-la, veremos que a relação entre as duas variáveis (de- pendentes e independentes) é ge- rada por uma equação matemática, que permite que sejam previstos os valores dessa relação. Os métodos mais usados dentro da abordagem causal são os métodos de regressão. Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 4 Função linear da variável vendas com a variável publicidade Função linear Y = vendas Y = a + b . x X = $ publicidade 44 Gestão de operações e estoques Como exemplo, vamos considerar a demanda de celulares em oito semanas, conforme a Tabela 5. Tabela 5 Demanda de celulares em oito semanas Semana (x) Demanda de celulares (y) 1 450 2 430 3 470 4 480 5 450 6 500 7 520 8 530 Total 3830 Fonte: Elaborada pelo autor. Por meio do modelo de previsão através de regressão linear, po- deremos prever as demandas para períodos futuros, como a décima, décima segunda semanas, entre outras. Para encontrarmos o valor de a e b da fórmula y = a + b. x, temos que utilizar o método dos mínimos quadrados, que basicamente minimiza a somatória dos quadrados dos desvios (diferença entre o valor real (x) e o valor estimado). Para o cál- culo de Y, será necessário aplicar a seguinte fórmula: a = ∑ y - b ∑ x n b = n(∑ x y) - (∑ x)(∑y) n(∑x2) - (∑x)2 e Em que: a = constante que revela a interseção da reta com o eixo vertical b = outra constante da reta que apresenta o coeficiente angular da reta (inclinação) A aplicação dessa fórmula possibilita delinear a equação da reta para futuras previsões. Será necessário preencher a tabela a seguir para obtermos os valores de x e y e as somatórias apresentadas na fórmula para as oito semanas. 45 Tabela 6 Cálculo de x e y Semana (x) Demanda (y) Σx Σx2 xy 1 450 1 1 450 2 430 3 5 860 3 470 6 14 1.410 4 480 10 30 1.920 5 450 15 55 2.250 6 500 21 91 3.000 7 520 28 140 3.640 8 530 36 204 4.240 Total 3.830 17.770 Fonte: Elaborada pelo autor. A somatória de x (Σx) é obtida somando cada semana, semana 1 = 1; semana 2 = 1 + 2 = 3 e assim sucessivamente, tendo o somatório total de 36 no oitavo período. A somatória de x² (Σx²) é obtida através da somatória de cada semana elevada ao quadrado. Por exemplo, para a primeira semana: 1²= 1; para a segunda semana: 1 + 2² ou 1 + 4 = 5 e assim su- cessivamente, tendo o somatório na oitava semana de 204. Agora vamos calcular o valor de x . y e a sua somatória, tendo alcan- çado o valor de 17.770. Aplicando-se na fórmula, temos: 8 x 17.700 - 36 x 3.830 8 x 204 - 36² 4.280 336 = 12,74=b = = 421,46 3.830 - 12,73 x 36 8 a = Logo, a equação de previsão da demanda é Y = 12,74x + 421,46. A expressão mostra como ficou a equação da reta após encontrar- mos os coeficientes. Assim, podemos descobrir o comportamento de consumo para os próximos períodos desejados. Exemplos: Para a nona semana: Y = 12,74x (x = 9) + 421,46 Logo: Y = 114,66 + 421,46 = 536,12 ou 536 celulares. 46 Gestão de operações e estoques Para a décima semana: Y = 12,74x (x = 10) + 421,46 Logo: Y = 124,74 + 421,46 = 546,20 ou 546 celulares. Ao mesmo tempo em que é calculada a equação da regressão, de- vemos calcular os chamados coeficientes de correlação (r) e de deter- minação (r²), que medem os valores das equações de regressão como modelo de previsão. O coeficiente de correlação indica a força
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