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curso 53715 aula 02 v1

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Aula 02
Direito Internacional Público e Cooperação Internacional p/ Polícia Federal (Delegado) -
Pós-Edital
Professores: Equipe Ricardo e Nádia 01, Ricardo Vale, Equipe Ricardo e Nádia 02
 
 
 
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DIREITO INTERNACIONAL P/ DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 
Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 
 
!ULA 02 
TRATADOS!INTERNACIONAIS!(PARTE!!! 
 
Tratados Internacionais – Parte II ................................................................. 3 
1 – Conclusão e Entrada em vigor dos tratados ........................................... 3 
1.1-Processualística dos Tratados: ................................................................ 3 
1.2 - Registro e Publicidade: ........................................................................ 9 
1.3 - Reservas: ........................................................................................ 10 
1.4 - Entrada em vigor: ............................................................................. 15 
1.5 - Aplicação Provisória de tratados: ......................................................... 17 
2 – Observância, Aplicação e Interpretação dos Tratados ......................... 25 
2.1- Tratados x Direito Interno: .................................................................. 25 
2.2 - Irretroatividade dos Tratados: ............................................................ 27 
2.3 - Aplicação Territorial de Tratados: ........................................................ 28 
2.4 - Conflito entre Tratados: ..................................................................... 28 
2.5 - Interpretação dos Tratados: ............................................................... 30 
2.6 - Efeitos dos tratados sobre terceiros Estados: ........................................ 32 
3 – Emenda e Modificação dos Tratados .................................................... 40 
3.1- Modificação expressa: ......................................................................... 41 
3.2 - Modificação Tácita: ............................................................................ 42 
4 – Nulidade, Extinção e Suspensão dos Tratados ..................................... 42 
4.1 - Vícios do Consentimento: ................................................................... 42 
5 – Relação entre o Direito Internacional e o Direito Interno .................... 62 
5.1- Correntes doutrinárias: ....................................................................... 62 
5.2- Hierarquia dos tratados comuns no Brasil: ............................................. 64 
5.3 - Hierarquia dos tratados de direitos humanos no Brasil: .......................... 65 
Lista de Questões ......................................................................................... 81 
Gabarito ....................................................................................................... 95 
 
 
 
 
 
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Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 
 
Olá, amigos do Estratégia, tudo bem? 
Dando continuidade ao nosso de Direito Internacional p/ Delegado da 
Polícia Federal, estudaremos mais sobre os tratados internacionais, conforme 
previsto na Convenção de Viena de 1969. Além disso, veremos como se 
relacionam Direito Internacional e Direito Interno na ordem constitucional 
brasileira. 
Abraços, 
Ricardo Vale 
“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. 
 
 
 
 
 
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Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 
 
Tratados Internacionais – Parte II 
1 – Conclusão e Entrada em vigor dos tratados 
1.1-Processualística dos Tratados: 
Para entender a processualística dos tratados, analisaremos o processo 
convencional sob a ótica brasileira. No Brasil, a celebração de um tratado 
envolve diversas fases, algumas internacionais e outras internas. São elas: i) 
negociações; ii) adoção do texto; iii) assinatura; iv) autorização pelo 
Congresso Nacional; v) ratificação; vi) publicação e promulgação. 
 
1.1.1 - Negociações: 
É a fase inicial do processo de celebração de um tratado. Em regra, as 
negociações ocorrem no âmbito de uma organização internacional ou de uma 
conferência internacional especialmente convocada para esse mister. Em 
virtude da pluralidade de idiomas dos Estados envolvidos em uma 
negociação, é necessário que sejam escolhidos os idiomas em que esta será 
desenvolvida, assim como aqueles em que será produzida a versão autêntica 
do texto convencional.1 
 
1.1.2 - Adoção do texto: 
A adoção do texto do tratado não pode ser confundida com a assinatura, o que 
é bastante comum. A adoção do texto é o momento final da fase de 
negociações, quando se tem um texto convencional produzido pelas partes 
contratantes. O texto adotado é aquele que seguirá para a assinatura. 
Tendo em vista a dificuldade de que um texto convencional seja resultado da 
unanimidade da vontade das partes reunidas em uma conferência 
internacional, o art. 9º da Convenção de Viena de 1969 estabeleceu o 
seguinte: 
Artigo 9 - Adoção do Texto: 
 
1 A versão autêntica do tratado é aquela que é efetivamente assinada pelas partes 
contratantes. Já a versão oficial é aquela que resulta da tradução, para seu próprio 
idioma, feita pelos Estados contratantes. As versões autênticas dos acordos da OMC 
são em inglês, espanhol e francês. No entanto, existe a versão oficial dos acordos da 
OMC em português. 
 
 
 
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1. A adoção do texto do tratado efetua-se pelo consentimento de todos 
os Estados que participam da sua elaboração, exceto quando se aplica o 
disposto no parágrafo 2. 
2. A adoção do texto de um tratado numa conferência internacional 
efetua-se pela maioria de dois terços dos Estados presentes e 
votantes, salvo se esses Estados, pela mesma maioria, decidirem aplicar 
uma regra diversa. 
Pela regra do art. 9º da CV/69, a adoção do texto do tratado ocorrerá, 
prioritariamente, pelo consentimento de todos os Estados envolvidos na 
negociação. Entretanto, caso não seja possível o consentimento unânime, 
admite-se a adoção do texto do tratado pelo quórum de 2/3 dos Estados 
presentes e votantes em uma conferência internacional, salvo se esses 
Estados, pela mesma maioria, decidirem aplicar uma regra diversa. 
 
1.1.3 - Assinatura: 
Após a adoção do texto do tratado, este seguirá para a assinatura. A 
assinatura representa, em regra, o consentimento provisório de um Estado 
em se obrigar ao texto de um tratado. Nos acordos em forma simplificada, a 
assinatura poderá, todavia, representar o consentimento definitivo. 
No Brasil, a assinatura de um tratado é responsabilidade do Presidente da 
República, conforme prevê o art. 84, inciso VIII da CF/88 (“Compete 
privativamente ao Presidente da República celebrar tratados, convenções e 
atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional.”) 
Um fato que nos chama a atenção é o de que a literalidade do texto 
constitucional brasileiro prevê que as competências privativas do Presidente 
da República não podem ser delegadas, salvo em algumas exceções, dentre as 
quais não está relacionado o inciso VIII. Assim, em tese, não seria possível a 
delegação a outros agentes estatais da competência para celebrar tratados 
internacionais. O Presidente seria o único responsável por assinar todos os 
tratados. 
É claro que essa, por ser totalmente desarrazoada, não é a práticaem vigor. 
Podem assinar tratados, por delegação presidencial, o Ministro das 
Relações Exteriores e os agentes que detenham a carta de plenos 
poderes. 2 A solução jurídica para o problema não é, como se pode perceber, 
dada pelo texto constitucional, mas sim por uma interpretação da Constituição 
 
2 Recorde-se que os chefes de missão diplomática e os representantes acreditados 
junto a uma conferência ou organização internacional podem apenas adotar o texto de 
um tratado. 
 
 
 
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Federal à luz do princípio da razoabilidade e de um costume internacional já 
positivado na CV/69. 3 
Mas quais são os efeitos da assinatura de um tratado já que ela representa 
apenas um consentimento provisório? 
A assinatura representa, de fato, o consentimento provisório, mas isso não 
quer dizer que ela seja desprovida de valor jurídico. Ao contrário, são vários os 
efeitos da assinatura. 
O art. 18 da CV/69 estabelece que um Estado é obrigado a abster-se da 
prática de atos que frustrem o objeto e a finalidade do tratado quando 
houver assinado ou trocado instrumentos constitutivos do tratado, sob 
reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, enquanto não tiver 
manifestado sua intenção de se tornar parte no tratado. Com efeito, a 
assinatura representa uma obrigação moral e política do Estado em não atuar 
de forma a comprometer o objeto do tratado. Trata-se de obrigação 
fundamentada no princípio da boa fé. 
Outro efeito da assinatura é o de que ela serve para autenticar o texto de 
um tratado que, a partir de então, não poderá mais ser unilateralmente 
alterado. Ao mesmo tempo, a assinatura significa que o Estado aceita as 
normas costumeiras previstas no tratado.4 Durante muito tempo, a CV/69, 
embora não ratificada pelo Brasil, foi aplicada por esse Estado na condição de 
costume internacional. 
 
1.1.4 - Autorização pelo Congresso Nacional: 
O tratado, após ter sido assinado, não tem o condão de vincular 
definitivamente o Estado, o que ocorrerá somente após a ratificação. A 
ratificação compete ao Chefe do Poder Executivo, que é o responsável pela 
representação externa do Estado. Todavia, a maior parte dos países, assim 
como o Brasil, resolveu permitir a participação do Poder Legislativo no 
processo de conclusão de tratados. 
A participação do Poder Legislativo na processualística dos tratados tem como 
objetivo permitir que o povo faça parte da formação da vontade do 
Estado ao atuar no plano internacional. Ao mesmo tempo, representa um 
controle parlamentar sobre a atuação internacional do Poder Executivo, o 
 
3
	VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 43-
45. 
4
	VARELLA, Marcelo Dias. Op. Cit. pp. 43-45.	
 
 
 
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que está em plena consonância com o moderno sistema de tripartição dos 
poderes, que propugna pela existência de “freios e contrapesos”. 
Após a assinatura do tratado pelo Presidente da República, este poderá 
submetê-lo à apreciação do Congresso Nacional. Ressalte-se que a 
comunicação entre o Presidente da República e o Congresso Nacional se dará 
mediante Mensagem Presidencial. 
A Mensagem Presidencial é, então, enviada, juntamente com uma exposição 
de motivos, à Câmara dos Deputados. Uma vez aprovado o tratado na Câmara 
dos Deputados, ele seguirá para a aprovação do Senado Federal. Caso o 
Senado Federal aprove o tratado, será promulgado, então, um decreto 
legislativo pelo Presidente do Senado. 
O decreto legislativo é o ato que materializa a aprovação do tratado pelo 
Congresso Nacional. Ele representa uma autorização para que o Presidente 
da República ratifique o tratado no plano internacional. Com efeito, o Poder 
Legislativo não tem voz exterior, para fins de representação do Estado 
brasileiro. Assim, a competência para ratificação é do Presidente da República, 
que encarna a representação externa da República Federativa do Brasil. O que 
o Congresso Nacional faz é apenas autorizar que o Chefe do Poder Executivo 
proceda à ratificação. 
Uma leitura mais rápida e descuidada do art. 49, inciso I, da CF/88 pode 
induzir alguns a acreditarem, equivocadamente, que a ratificação é 
competência do Poder Legislativo. Isso porque, segundo o art. 49, inciso I, da 
CF/88, compete exclusivamente ao Congresso Nacional resolver 
definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que 
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio 
nacional. 
Ora, se o Congresso Nacional resolve definitivamente sobre tratados, não seria 
ele o responsável pela ratificação? Essa é a grande pergunta que se faz! 
Grande parte da doutrina reconhece que a redação do art. 49, inciso I, da 
CF/88 é inadequada e imprecisa. A ratificação é competência do Presidente da 
República, sendo o Congresso Nacional competente apenas para autorizá-la. 
Dessa forma, empregando-se a teoria do efeito útil5, a interpretação mais 
adequada do art. 49, inciso I, da CF/88, é a de que o Congresso Nacional 
resolve definitivamente sobre um tratado quando o rejeita.! Quando ele 
 
5
	A teoria do efeito útil prega que expressões ambíguas ou obscuras devem ser interpretadas 
conforme o sentido que lhes atribua maior eficácia possível. 
6
	MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 314-315.	
 
 
 
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o aprovar, a palavra final caberá ao Presidente da República, a quem cabe 
ratificá-lo. 
 
1.1.5 - Ratificação: 
A assinatura dos tratados é vista pelo grande público como o momento mais 
marcante do procedimento convencional. Entretanto, em poucas situações, ela 
representa o comprometimento definitivo do Estado. O compromisso definitivo 
do Estado é, em regra, manifestado apenas pela ratificação. 
A ratificação é o ato internacional pelo qual o Estado se compromete 
definitivamente a vincular-se ao texto de um tratado. Por ser um ato 
internacional, é o Poder Executivo o competente para realizá-la. No caso 
específico do Brasil, o Congresso Nacional apenas autoriza a ratificação, que é 
feita pelo Presidente da República. 
 
No Brasil, a ratificação é competência do 
Presidente da República. O Congresso Nacional 
apenas autoriza a ratificação por meio de decreto 
legislativo. 
O fundamento da existência da ratificação reside, entre outros motivos, na 
necessidade de controle dos atos dos plenipotenciários pelo Chefe do 
Poder Executivo e na importância de o Poder Legislativo, por meio de exame 
prévio, participar da formação da vontade nacional. 
A ratificação é um ato unilateral e discricionário. Nesse sentido, pode o 
Presidente da República, mesmo após autorizado pelo Congresso Nacional, 
deixar de proceder à ratificação. Ou indo ainda mais longe, após ter assinado o 
tratado, o Presidente pode simplesmente deixar de enviá-lo à apreciação do 
Congresso Nacional, frustrando todo o prosseguimento da processualística 
convencional. Por ser um ato discricionário, não há, em regra, um prazo para 
que o Estado ratifique o tratado. 
É possível, todavia, em situações excepcionais, que um tratado preveja um 
lapso temporal dentro do qual os Estados poderão proceder à ratificação. 
Nesse caso, passado o prazo previsto, o Estado não poderá ratificar o tratado.O caminho mais adequado para ingressar no domínio jurídico da norma 
convencional será, então, a adesão. 
A ratificação é ato irretratável, mesmo antes de o tratado ter entrado em 
vigor. Para desfazer o seu vínculo com o tratado, o Estado terá como 
instrumento a denúncia unilateral, nas hipóteses em que esta for autorizada. 
 
 
 
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 A ratificação é também um ato expresso. Assim, não há que se falar em 
ratificação tácita, perfazendo-se esta apenas por meio de documento escrito. 
Os tratados bilaterais, para que entrem em vigor e passem a produzir 
efeitos jurídicos, deverão ser ratificados pelas duas partes contratantes. Há 
dois procedimentos usuais para que isso se realize: a troca dos 
instrumentos de ratificação e a notificação de ratificação. 
A troca dos instrumentos de ratificação é um ato solene pelo qual 
representantes dos dois Estados trocam entre si, simultaneamente, os 
documentos que comprovam as respectivas ratificações. Por sua vez, a 
notificação de ratificação é a comunicação que um Estado faz a outro sobre 
a realização da ratificação. 
Já nos tratados multilaterais, são muitas as partes envolvidas, o que torna 
complicado que cada Estado, ao ratificar o tratado, comunique o feito a todos 
os outros. Surge, então, a figura do depositário, que pode ser um Estado ou 
até mesmo uma organização internacional. O depositário é o responsável por 
receber e manter sob sua guarda todos os instrumentos de ratificação, 
mantendo os Estados contratantes informados sobre o status das ratificações. 
Quando o tratado estiver apto para entrar em vigor, quer por ter atingido um 
número mínimo de ratificações, quer por ter sido ratificado por todos os 
Estados, o depositário irá informar sobre essa condição aos Estados 
contratantes. 
 
1.1.6 - Publicação e promulgação: 
Como vimos, a ratificação é ato internacional de competência do Presidente da 
República que representa o compromisso definitivo do Estado em vincular-se a 
um tratado. Cumpridas as condições previstas no tratado, ele estará, então, 
apto a entrar em vigor no plano internacional para o Estado ratificante. 
Entretanto, a entrada em vigor do tratado no ordenamento jurídico interno 
dependerá, no caso brasileiro, de um procedimento adicional do Chefe do 
Poder Executivo. Após proceder à ratificação, o Presidente da República deverá 
expedir um decreto executivo, por meio do qual irá promulgar e publicar o 
texto do tratado no Diário Oficial da União. A partir da publicação do decreto 
executivo, considera-se que o tratado foi internalizado no ordenamento 
jurídico brasileiro, estando apto a entrar em vigor. Destaque-se que uma 
condição para que um tratado entre em vigor no plano interno é que ele já 
esteja em vigor no plano internacional. Com efeito, não há sentido em aplicar 
um tratado internamente sem que este tenha entrado em vigor internacional. 
 
 
 
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É importante, nesse momento, explicarmos a distinção entre promulgação e 
publicação. A promulgação é o ato pelo qual se atesta que o a lei (no caso, 
o tratado) é válida, executável e obrigatória. Já a publicação é o ato que dá 
conhecimento público à norma (no caso, o tratado). Assim, o decreto executivo 
é responsável por promulgar o texto do tratado, sendo, adicionalmente, 
publicado no Diário Oficial da União. 
Cabe destacar que a doutrina entende que os tratados que necessitam da 
aprovação do Congresso Nacional devem ser promulgados e publicados. 
Já os acordos executivos (que não dependem de autorização do Congresso 
Nacional) são apenas publicados no Diário Oficial da União. 7 
 
1.2 - Registro e Publicidade: 
Uma prática comum na história da diplomacia internacional foi a da celebração 
de acordos secretos entre os Estados, o que, para além de comprometer a 
transparência, colide frontalmente com os princípios democráticos. 
Com vistas a impedir os acordos secretos, o art. 102 da Carta da ONU dispõe o 
seguinte: 
Art. 102 
1. Todo tratado e todo acordo internacional, concluídos por qualquer 
Membro das Nações Unidas depois da entrada em vigor da presente 
Carta, deverão, dentro do mais breve prazo possível, ser registrados e 
publicados pelo Secretariado. 
2. Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo internacional que não 
tenha sido registrado de conformidade com as disposições do parágrafo 
1º deste Artigo poderá invocar tal tratado ou acordo perante qualquer 
órgão das Nações Unidas. 
Da leitura do art. 102 da Carta da ONU, extrai-se a obrigação da Secretaria-
Geral da ONU de registrar e publicar todos os tratados concluídos por 
qualquer de seus Estados-membros. Somente os tratados registrados e 
publicados pela Secretaria-Geral poderão ser invocados perante os órgãos das 
Nações Unidas. Dessa forma, um Estado não poderá invocar, em uma 
 
7 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 324 & REZEK, Francisco. Direito 
Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2008, pp. 78 – 79. 
 
 
 
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controvérsia submetida à Corte Internacional de Justiça8, um tratado que a 
Secretária-Geral da ONU não tiver registrado. 
É relevante destacar que o registro do tratado pela Secretaria-Geral da 
ONU não é condição necessária para que ele entre em vigor. Um tratado 
em vigor que não tenha sido registrado continua obrigando as partes 
contratantes, não podendo, entretanto, ser invocado perante um órgão da 
ONU. 
 
1.3 - Reservas: 
1.3.1- Definição e Generalidades: 
Segundo a CV/69, “reserva é uma declaração unilateral qualquer que seja a 
sua redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, 
aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir 
ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua 
aplicação a esse Estado.” 
As reservas não são admissíveis em todos os casos. O art. 19 da CV/69 
estabelece as situações em que as reservas não poderão ser formuladas. 
Vejamos: 
Artigo 19 - Formulação de Reservas: 
Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou 
a ele aderir, formular uma reserva, a não ser que: 
a) a reserva seja proibida pelo tratado; 
b) o tratado disponha que só possam ser formuladas determinadas 
reservas, entre as quais não figure a reserva em questão; ou 
c) nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva seja incompatível 
com o objeto e a finalidade do tratado. 
Da leitura do art. 19, depreende-se que são três as situações em que há 
restrições à formulação de reservas: 
a) Quando a reserva for proibida pelo tratado: Se o tratado 
dispuser expressamente que não podem ser formuladas reservas a 
nenhum de seus dispositivos, as reservas serão, então, proibidas. É o 
 
8
	A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. 
 
 
 
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caso, por exemplo, do Estatuto de Roma9, que não admite reservas a 
nenhum de seus dispositivos. 
b) Quando o tratado dispuser que somente podem ser formuladas 
determinadas reservas, entreas quais não figura a reserva em 
questão: Como exemplo, imagine que Brasil, Argentina, Uruguai e 
Paraguai celebrem um tratado que preveja expressamente que só podem 
ser apresentadas reservas aos art.30 a art.35. Nessa situação, nenhum 
dos Estados contratantes poderá apresentar reservas ao art. 1º. 
c) Quando a reserva for incompatível com o objeto e a finalidade 
do tratado. Há determinados dispositivos de um tratado que podemos 
considerar como sendo sua parte central, sua “alma”. Por exemplo, o art. 
26 da CV/69, sobre o qual estudaremos mais à frente, instituiu a regra 
“pacta sunt servanda”, que é o fundamento de validade dos tratados 
internacionais. Não existiriam tratados internacionais, muito menos teria 
sentido a CV/69, sem a regra “pacta sunt servanda”. Dessa forma, 
entendemos que nenhum Estado pode apresentar reservas ao art. 26 da 
CV/69, sob pena de violar de forma grave e irreversível o objeto e a 
finalidade da referida convenção. 
Do exposto no art. 19, extrai-se que, para saber se há possibilidade de 
apresentação de reservas a um tratado, é necessário, prioritariamente, 
analisar-se o texto do tratado, uma vez que há alguns que, expressamente, 
vedam as reservas ou as limitam a certos dispositivos. Caso o texto do 
tratado seja silente, a CV/69 determina que as reservas são possíveis, 
desde que não sejam incompatíveis com o texto do tratado. 
Uma controvérsia jurídica bastante importante é acerca da competência para 
a formulação de reservas. Trata-se de competência limitada ao Poder 
Executivo? Ou o Poder Legislativo também pode apresentar reservas a um 
tratado? 
A doutrina não é unânime na resposta a essas perguntas. Para Rezek, apenas 
o Poder Executivo pode apresentar reservas a um tratado internacional. O 
Poder Legislativo, na visão do autor, poderia apenas aprovar com restrições 
um tratado, o que seria, a posteriori, traduzido em reservas pelo Poder 
Executivo no momento da ratificação. 10 
 
9 Estatuto de Roma é o tratado que criou o Tribunal Penal Internacional (TPI) 
10
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 68 – 69. 
 
 
 
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Já no entendimento do Prof. Valério Mazzuoli, é plenamente possível a 
aposição de reservas a um tratado pelo Congresso Nacional11. O autor 
fundamenta sua posição no conceito de reservas trazido pela CV/69, que 
admite sejam elas apresentadas por um Estado ao aprovar um tratado. 
Recorde-se que aprovação é ato por meio do qual o Congresso Nacional 
autoriza a ratificação pelo Presidente da República. Nesse sentido, a própria 
CV/69 autorizaria a aposição de reservas pelo Poder Legislativo. 
 
Para concursos públicos, recomendo que levem o 
entendimento adotado pelo Prof. Valério Mazzuoli. No 
concurso de Procurador da Fazenda Nacional – 2007, 
foi considerada correta questão que afirmava que o 
Congresso Nacional pode apresentar reservas ao 
texto de um tratado, ainda que estas não tenham 
sido feitas no momento da assinatura. 
É relevante destacar que, uma vez que as reservas sejam formuladas 
pelo Poder Legislativo, o Presidente da República somente poderá 
ratificar o tratado com as ditas reservas. A ratificação, no entanto, 
conforme já se comentou, é ato discricionário do Presidente e ele poderá, caso 
não concordar com as ressalvas do Poder Legislativo, simplesmente deixar de 
manifestar o consentimento definitivo do Estado ao tratado internacional. 
Outro ponto controverso relacionado às reservas é quanto à possibilidade de 
que, havendo o Poder Executivo apresentado reservas por ocasião da 
assinatura do tratado, estas sejam suprimidas pelo Congresso Nacional ao 
aprová-lo. 
Mais uma vez a doutrina se divide... 
Para Rezek12, o Congresso Nacional poderia, em seu exame, recomendar o 
abandono de reserva feita pelo governo por ocasião da assinatura do tratado. 
Entretanto, outros autores, como João Hermes Pereira de Araújo, citado por 
Mazzuoli, entendem que, uma vez apresentadas as reservas pelo governo 
no momento da assinatura, não cabe ao Congresso Nacional suprimi-
las. 13 Em outras palavras, se o tratado for assinado com reservas, o 
Congresso Nacional não poderá adotá-lo na íntegra. 
 
11
	MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 217-220	
12
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 68 – 69. 	
13
	MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 219. 	
 
 
 
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Para concursos públicos, vamos adotar a tese defendida 
pelo jurista João Hermes Pereira de Araújo. Na prova de 
Procurador da Fazenda Nacional – 2007, foi considerada 
correta assertiva que afirma o seguinte: 
“Caso o tratado seja assinado com reservas, o 
Congresso Nacional não tem poderes para adotar o 
tratado em sua íntegra.” 
Assim, entende-se que o Congresso Nacional não poderá 
suprimir reservas efetuadas pelo Poder Executivo. 
É importante termos cuidado para não confundir as reservas com as emendas 
a tratados internacionais. Mais à frente, estudaremos com mais calma sobre as 
emendas a tratados. Por ora, basta sabermos que trata-se de 
procedimento por meio do qual os Estados-parte em um tratado 
podem modificar o texto do tratado. 
No Brasil, as emendas devem ser aprovadas pelo Congresso Nacional mediante 
decreto legislativo. Mas, perceba-se, o Poder Legislativo não terá nunca 
poder para formular emendas a um tratado internacional, eis que estas 
são negociadas em conjunto pelos Estados-parte do tratado a ser emendado. 
 
1.3.2 - O processo das reservas: 
Os tratados internacionais podem, em seu bojo, versar sobre o tema das 
reservas, dizendo se estas são ou não permitidas. Quando o tratado 
regulamentar as reservas, não haverá dúvidas quanto à possibilidade de os 
Estados as formularem. Entretanto, caso o tratado seja silente a respeito das 
reservas, é dizer, não as regulamente, estaremos diante de um problema. 
Segundo o art.19 da CV/69, quando o tratado não disser nada a respeito 
das reservas, estas serão possíveis, desde que não sejam 
incompatíveis com o objeto e a finalidade do tratado. 
Mas como saber se uma reserva é ou não incompatível com o objeto e a 
finalidade do tratado? 
Difícil encontrar uma resposta... 
Na verdade, quando o tratado for silente a respeito das reservas e uma 
reserva for apresentada, abre-se a possibilidade para que todos os demais 
Estados-parte no acordo manifestem sua aceitação ou objeção às reservas. 
 
 
 
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A aceitação de uma reserva poderá ser expressa ou tácita. Desde que o 
tratado não disponha diversamente, uma reserva é tida como aceita 
tacitamente por um Estado se este não formulou objeção à reserva no 
prazo de 12 (doze) meses da data da notificação ou, caso o Estado tenha 
ratificado ou aderido ao acordo após a reserva, não tenha formulado, nessa 
data, uma objeção. 
Vamos visualizar com um exemplo! 
É assinado um tratado entre os Estados “A”, “B”, “C” e “D”. O Estado “D”, ao 
ratificar o tratado, formula uma reserva. Como o tratado não regulamenta as 
reservas, abre-se a possibilidade para que osEstados “A”, “B’ e “C” expressem 
sua aceitação ou objeção a elas. Passam-se 12 meses sem que o Estado “A” 
tenha objetado as reservas, logo considera-se que houve aceitação tácita da 
reserva pelo Estado “A”. Da mesma forma, se um Estado “E” adere ao acordo 
e, no momento da adesão (que é posterior à formulação da reserva por “A”), 
não apresenta objeção à reserva, considera-se que ele a aceitou tacitamente. 
Se todos os Estados-parte aceitarem a reserva, não teremos grandes 
problemas. Estes só começam a aparecer quando algum Estado apresentar 
objeção à reserva. Temos várias situações reguladas pela CV/69: 
1)- Se o tratado for o ato constitutivo de uma organização 
internacional: a reserva exigirá a aceitação do órgão competente da 
organização, a não ser que o tratado disponha diversamente. 
2)- Se há um número limitado de Estados negociadores e isso nos levar a 
crer que o tratado deve ser aplicado na íntegra entre todas as partes: a 
reserva irá requerer a aceitação de todas as partes. É o caso, por 
exemplo, de tratados bilaterais, em que uma reserva, a princípio, representa 
um convite à renegociação do texto convencional. 
3)- Se as reservas forem incompatíveis com o objeto e a finalidade do 
tratado e isso nos leva a crer que o tratado deve ser aplicado na íntegra entre 
todas as partes: será necessário que todas as partes aceitem a reserva. 
4)- Se alguns Estados apresentaram objeções e outros aceitaram a 
reserva: nesse caso, haverá uma duplicidade de regime jurídico. Entre o 
Estado autor da reserva e aqueles que apresentaram objeções, vigora o 
tratado sem as disposições da reserva. Já entre o Estado autor da reserva e 
aqueles que a aceitaram, vigora o tratado com as disposições modificadas pela 
reserva. Perceba-se que, mesmo tendo sido apresentadas objeções à reserva, 
isso não impede que o tratado entre em vigor entre o Estado que formulou a 
reserva e o Estado que formulou a objeção. 
 
 
 
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As reservas, assim como as objeções às reservas, podem ser retiradas a 
qualquer tempo, a não ser que o tratado disponha de maneira diversa. Todos 
esses atos (reservas, aceitação expressa e objeções às reservas) devem 
ser formulados por escrito e comunicados aos Estados contratantes e aos 
outros Estados que tenham o direito de se tornar partes no tratado. 
 
1.4 - Entrada em vigor: 
O art. 24 da CV/69 dispõe expressamente que, em regra, um tratado entra 
em vigor na forma e na data nele previstas ou acordadas pelos Estados 
negociadores. Em outras palavras, a entrada em vigor de um tratado será 
determinada pelo próprio texto do tratado. 
É bastante comum, ao lermos o texto de um tratado, que vejamos cláusulas 
dispondo sobre sua vigência. A CV/69, por exemplo, dispõe em seu art. 84 
o seguinte: “A presente Convenção entrará em vigor no 30º dia que se seguir 
à data do depósito do trigésimo quinto instrumento de ratificação ou adesão.” 
Por sua vez, o Tratado de Assunção (que instituiu o MERCOSUL) estabelece 
que entrará em vigor 30 dias após a data do depósito do terceiro instrumento 
de ratificação. 
Perceba, caro (a) amigo (a), que é o texto do próprio tratado que dispõe sobre 
quando ele entrará em vigor. A vigência do tratado pode ser de dois tipos: 
- Vigência contemporânea: são os tratados que passam a produzir 
efeitos jurídicos no exato momento em que as partes manifestam seu 
consentimento definitivo. Ex: tratado entra em vigor após ser ratificado 
por 5 Estados. 
- Vigência diferida: são os tratados que começam a produzir efeitos 
jurídicos somente após um lapso temporal posterior ao momento em que 
foi expresso o consentimento definitivo pelas partes. Em outras palavras, 
são os tratados que começam a operar efeitos apenas depois de uma 
vacatio legis. Ex; tratado entra em vigor 60 dias após a ratificação por 5 
Estados. 
Mas aí cabe uma pergunta importante: o que ocorrerá caso o texto do tratado 
nada disponha sobre sua vigência? 
Nesse caso, precisaremos recorrer ao art.24 da CV/69, que assim dispõe: 
 
 
 
 
 
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Artigo 24 - Entrada em vigor 
1. Um tratado entra em vigor na forma e na data previstas no tratado ou 
acordadas pelos Estados negociadores. 
2. Na ausência de tal disposição ou acordo, um tratado entra em 
vigor tão logo o consentimento em obrigar-se pelo tratado seja 
manifestado por todos os Estados negociadores. 
3. Quando o consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado 
for manifestado após sua entrada em vigor, o tratado entrará em vigor 
em relação a esse Estado nessa data, a não ser que o tratado disponha 
de outra forma. 
4. Aplicam-se desde o momento da adoção do texto de um tratado as 
disposições relativas à autenticação de seu texto, à manifestação do 
consentimento dos Estados em obrigarem-se pelo tratado, à maneira ou 
à data de sua entrada em vigor, às reservas, às funções de depositário e 
aos outros assuntos que surjam necessariamente antes da entrada em 
vigor do tratado. 
Pela leitura do art. 24 da CV/69, percebe-se que, caso o tratado não possua 
qualquer cláusula relativa à sua vigência, este entrará em vigor no 
momento em que todos os Estados negociadores houverem 
manifestado seu consentimento definitivo em obrigar-se pelo tratado. 
Em outras palavras, o tratado somente entrará em vigor após ter sido 
ratificado por todos os Estados contratantes. 
E se o consentimento de um Estado em obrigar-se a um tratado foi 
manifestado apenas após a entrada em vigor do tratado? O que acontece? Isso 
é possível? 
É plenamente possível que isso ocorra, como, por exemplo, no caso de um 
tratado aberto à adesão ou de um tratado que não dependa do consentimento 
definitivo de todas as partes. Segundo o art. 24, §3º, da CV/69, “quando o 
consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado for manifestado 
após sua entrada em vigor, o tratado entrará em vigor em relação a esse 
Estado nessa data [data do consentimento], a não ser que o tratado 
disponha de outra forma.” 
Destaque-se que o art. 24, §3º, da CV/69, ao usar a expressão “a não ser que 
o tratado disponha de outra forma”, abre a possibilidade para a chamada 
irretroatividade relativa. A irretroatividade relativa fica caracterizada 
quando um Estado, tendo manifestado seu consentimento após a entrada em 
vigor do tratado, sofrerá os efeitos do tratados a contar de data anterior 
àquela em que manifestou o consentimento. 
 
 
 
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Questão importante, para a qual a CV/69 não apresenta solução jurídica, é 
acerca da entrada em vigor dos tratados bilaterais. Segundo a doutrina, a 
entrada em vigor dos tratados bilaterais ocorrerá somente após a 
manifestação do consentimento definitivo das duas partes 
contratantes. É comum que isso ocorra mediante um ato solene no qual 
representantes dos dois Estados trocam entre si, simultaneamente, os 
instrumentos de ratificação. 
 
1.5 - Aplicação Provisória de tratados: 
A Convenção de Viena de 1969 reconhece a possibilidade de que alguns 
tratados sejam aplicados provisoriamente, é dizer, sejam aplicados antes 
de sua entrada em vigor. Segundo o art. 25 da CV/69, um tratado ou uma 
parte do tratado aplica-se provisoriamente enquanto não entra em vigor se o 
próprio tratado assim dispuser ou os Estados negociadores assim acordarem 
por outra forma. 
Vejamos o art. 25 da CV/69: 
Artigo 25 - Aplicação Provisória: 
1. Um tratado ou uma parte do tratado aplica-se provisoriamenteenquanto não entra em vigor, se: 
a) o próprio tratado assim dispuser; ou 
b) os Estados negociadores assim acordarem por outra forma. 
2. A não ser que o tratado disponha ou os Estados negociadores acordem 
de outra forma, a aplicação provisória de um tratado ou parte de um 
tratado, em relação a um Estado, termina se esse Estado notificar aos 
outros Estados, entre os quais o tratado é aplicado provisoriamente, sua 
intenção de não se tornar parte no tratado. 
Da leitura do art. 25, é possível extrairmos que a aplicação provisória de 
um tratado será possível quando uma de suas cláusulas assim o 
prever. A aplicação provisória de tratados por um Estado independe de 
comunicação a outros Estados. No entanto, esta se encerra em relação a um 
Estado se este notificar aos outros Estados entre os quais o tratado é aplicado 
provisoriamente sua intenção em não se tornar parte no tratado. 
Cabe destacar que o Brasil não reconhece a aplicação provisória de 
tratados, tendo ratificado a CV/69 com reservas ao art. 25. Mas por que o 
Brasil não reconhece a aplicação provisória de tratados? 
 
 
 
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O Brasil formulou reservas ao art. 25 da CV/69 em virtude da 
incompatibilidade desse dispositivo com o art.49, inciso I da CF/88, 
segundo o qual o Congresso Nacional é competente para resolver 
definitivamente sobre tratados internacionais. Assim, salvo raras exceções 
(acordos executivos), para que o Brasil possa se comprometer em nível 
internacional, é fundamental a manifestação do Poder Legislativo. 
Com efeito, se admitíssemos que um tratado fosse aplicado provisoriamente 
pelo Brasil, ou seja, anteriormente à ratificação, isso significaria que teriam 
sido assumidos compromissos sem que o Poder Legislativo fosse ouvido. É por 
isso que se pode alegar a incompatibilidade entre a aplicação provisória 
de tratados e o ordenamento constitucional brasileiro. 
Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 
 
 
1. (Defensor Público da União – 2014) Segundo a Convenção de 
Viena sobre Direitos dos Tratados, o Estado é obrigado a abster-se de 
atos que frustrem o objeto e finalidade do tratado, quando houver 
trocado instrumentos constitutivos do tratado, sob reserva de 
aceitação. 
Comentários: 
É exatamente o que prevê o art. 18, da CV/69. O Estado é obrigado a 
abster-se da prática de atos que frustrem o objeto e a finalidade do 
tratado, quando houver assinado ou trocado instrumentos constitutivos do 
tratado, sob reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, enquanto não tiver 
manifestado sua intenção de não se tornar parte no tratado. Questão correta. 
2. (Delegado Polícia Federal – 2013) A Convenção de Viena sobre o 
Direito dos Tratados estabelece que o Estado que tenha assinado um 
tratado, ainda que não o tenha ratificado, está obrigado a não frustrar 
seu objeto e finalidade antes de sua entrada em vigor. 
Comentários: 
O art. 18, da CV/69, estabelece que um Estado é obrigado a abster-se da 
prática de atos que frustrem o objeto e a finalidade do tratado quando o 
 
 
 
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houver assinado. Esse é, portanto, um dos efeitos da assinatura. Questão 
correta. 
3. (25º Concurso- Procurador da República-2011)- Quando um 
Estado faz reserva a cláusula de tratado: 
a) está diferindo sua entrada em vigor. 
b) está declarando que não quer se vincular a esta cláusula 
c) tem que contar com a aquiescência de todas as demais partes do tratado 
com a reserva, para tornar-se parte deste. 
d) está exercendo um direito soberano que é inerente à adesão a todo tratado. 
Comentários: 
A reserva é uma declaração unilateral por meio da qual um Estado busca 
excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua 
aplicação a esse Estado. Assim, se um Estado apresentou reservas a uma 
cláusula de um tratado, isso significa que ele não quer se vincular a esta 
cláusula. A resposta é, portanto, a letra B. 
4. (25º Concurso- Procurador da República-2011)- A assinatura de 
um tratado sob reserva de ratificação, segundo a Convenção de Viena 
sobre o Direito dos Tratados de 1969: 
a) é ato de solenidade política, sem conseqüência jurídica. 
b) apenas indica o término da negociação. 
c) encerra compromisso de boa fé, porque Estados não podem praticar atos 
que inviabilizem a ratificação posterior do tratado. 
d) não veda a governos que recomendem ao parlamento, incontinentemente, a 
rejeição do tratado, como o fez o então Presidente Bill Clinton, ao recomendar 
a rejeição do Estatuto de Roma. 
Comentários: 
Letra A: errada. A assinatura produz efeitos jurídicos. 
Letra B: errada. O término da negociação é materializado pela adoção do texto 
do tratado. 
f
 
 
 
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Letra C: correta. Segundo o art. 18 da CV/69, quando um Estado houver 
assinado um tratado, ele será obrigado a abster-se da prática de atos que 
frustrem o objeto e a finalidade do tratado. 
Letra D: errada. A assinatura encerra compromisso de ordem política, não 
podendo o Estado praticar atos que frustrem o objeto e a finalidade do tratado. 
5. (Advogado CEF/2010)- A entrada em vigor de um tratado 
internacional com mais de duas partes apenas se dá a partir do 
momento em que todas as partes tenham concluído o processo de 
ratificação, não surtindo efeito para nenhuma delas antes que todas 
tenham concluído este processo. 
Comentários: 
A entrada em vigor de um tratado multilateral (com mais de duas partes) 
ocorrerá na forma e na data previstas no tratado. Apenas caso o tratado seja 
silente a respeito é que a entrada em vigor se produzirá com a ratificação de 
todos os Estados contratantes. Questão errada. 
6. (Juiz Federal 2º Região / 2009)- Segundo a Carta da ONU, os 
tratados não registrados não podem ser invocados perante órgãos das 
Nações Unidas. 
Comentários: 
Segundo o art. 102 da Carta da ONU, os tratados não registrados não poderão 
ser invocados perante um órgão das Nações Unidas. Nesse sentido, um Estado 
não poderá, em uma controvérsia submetida à apreciação da CIJ, invocar um 
tratado não registrado. Questão correta. 
7. (Procurador – Banco Central/1997)- O tratado internacional 
entra em vigor internacionalmente, na data nele prevista e, caso seja 
silente a esse respeito, tão logo as partes manifestem o seu 
consentimento em obrigar-se por ele. 
Comentários: 
Segundo o art. 24 da CV/69, o tratado entra em vigor na data e na forma nele 
prevista. Caso seja silente a respeito, a vigência terá início tão logo seja 
ratificado por todos os Estados contratantes. Questão correta. 
8. (Procurador – Banco Central/1997) O tratado internacional 
torna-se obrigatório, internacionalmente, com a troca dos 
instrumentos de ratificação. 
c
 
 
 
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Comentários: 
Um procedimento usual nos tratados bilaterais é a troca dos instrumentos de 
ratificação. Trata-se de ato solene por meio do qual os representantes estatais 
trocam entre si os documentos comprobatórios da ratificação, marcando a 
entrada em vigor do tratado bilateral. Questão correta. 
9. (Consultor Legislativo / Senado-2002)- De acordo com 
renomados internacionalistas, o Poder Legislativo não tem a faculdade 
de formular emendas aos tratados internacionais submetidosà sua 
apreciação, cabendo-lhe tão-somente aprová-los ou rejeitá-los no 
todo. Por outro lado, havendo a possibilidade de apresentar-se 
reservas no tratado internacional sob apreciação, o Poder Legislativo 
poderá fazê-lo, cabendo ao Poder Executivo julgar da conveniência e 
oportunidade de ratificar o tratado com as ditas reservas congressuais. 
Comentários: 
Várias informações importantes na questão: 
1) O Poder Legislativo não pode formular emendas a tratados internacionais. 
2) Embora não haja consenso doutrinário, para concursos públicos, o 
entendimento que deve prevalecer é o de que o Poder Legislativo pode 
formular reservas a tratados internacionais. 
3) Se o Poder Legislativo formular reservas a um tratado, o Poder Executivo 
somente poderá ratificar o tratado com as ditas reservas. No entanto, a 
ratificação é ato discricionário do Poder Executivo, que deverá fazê-lo com 
base em exame de conveniência e oportunidade. 
Por tudo isso, a questão está correta. 
10. (Procurador – Banco Central/2002)- Uma “reserva” visa, tão-só, 
a excluir o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua 
aplicação ao formulador da “reserva”. 
Comentários: 
A reserva também poderá modificar o efeito jurídico de certas disposições do 
tratado em sua aplicação ao formulador da reserva. Questão errada. 
11. (Juiz Federal 16ª Região/ 2003)- O Tratado Internacional, no seu 
processo de conclusão, atravessa apenas as seguintes fases: 
negociação, assinatura, retificação, promulgação e publicação. 
6
 
 
 
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Comentários: 
Não existe essa tal de retificação! Questão errada. 
12. (PFN/2004) No que toca às obrigações e compromissos 
internacionais, assumidas pelos Estados em forma de tratados, têm-se 
as reservas, corretamente identificadas como: 
a) qualificativos de consentimento, pelos quais os Estados pactuantes emitem 
declarações unilaterais visando a excluir ou modificar o efeito jurídico de certas 
disposições de tratados. 
b) indicativos de entendimento, pelos quais os Estados pactuantes emitem 
declarações multilaterais visando a incluir ou potencializar efeito jurídico de 
certas disposições do tratado, mediante prévia concordância dos demais 
signatários. 
c) quantitativos de aferição, pelos quais os Estados pactuantes medem os 
efeitos possíveis dos tratados em relação a seus desdobramentos internos, 
especialmente no plano normativo. 
d) incentivos de adesão, pelos quais os Estados pactuantes acenam com 
vantagens econômicas, de modo a justificarem a ampliação do conjunto de 
signatários. 
e) referenciais de submissão, pelos quais os Estados pactuantes justificam 
internamente a transigência para com normas jurídicas internas. 
Comentários: 
A reserva é um ato unilateral por meio do qual o Estado exclui ou modifica o 
efeito jurídico de certas disposições do tratado. Portanto, ela qualifica o 
consentimento do Estado ao assinar, ratificar ou aderir a um tratado. A 
resposta é, portanto, a letra A. 
13. (AFRFB/2005) Nos termos e na definição da Convenção de Viena 
sobre Direito dos Tratados, e para seus fins, a expressão “reserva” 
tem significado normativo e características específicas, 
nomeadamente a reserva é uma declaração unilateral feita por um 
estado, seja qual for o seu teor ou denominação, ao assinar, ratificar, 
aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de 
excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado 
em sua aplicação a esse estado. A reserva, sua aceitação expressa e 
sua objeção devem ser formuladas por escrito e comunicadas aos 
Estados contratantes e aos outros estados com direito de se tornarem 
partes no tratado. 
d
 
 
 
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Comentários: 
É exatamente isso o que dispõe a CV/69 sobre as reservas. Trata-se de uma 
declaração unilateral feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar, aprovar 
ou aderir a um tratado, por meio do qual visa a excluir ou modificar o efeito 
jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado. A 
reserva, a aceitação expressa e as objeções são atos formulados por escrito. 
Questão correta. 
14. (OAB 2006.2)- O instituto da reserva, por ser um instituto geral 
de direito internacional, é aplicável, sem impedimentos, a todos os 
tratados. 
Comentários: 
Nem todos os tratados podem ser alvo de reservas. Há alguns que 
expressamente proíbem as reservas e outros cuja apresentação de reservas 
viola seu objeto e finalidade. Isso é o que se depreende do art. 19 da CV/69. 
Questão errada. 
15. (OAB 2006.2)- A adoção do texto de um tratado em uma 
conferência internacional efetua-se por maioria de dois terços dos 
Estados presentes e votantes, a menos que estes Estados decidam, por 
igual maioria, aplicar uma regra diferente. 
Comentários: 
A adoção do texto de um tratado no âmbito de uma conferência internacional 
obedece ao quórum de 2 / 3 dos Estados membros e votantes, a menos que se 
decida, por igual maioria, aplicar uma regra diferente. Questão correta. 
16. (Juiz Federal 1ª Região- 2009)- Um Estado pretende ratificar um 
tratado, mas, para fazê-lo, almeja adaptar alguns de seus dispositivos 
à interpretação que seus tribunais internos dão a determinado direito 
contido no tratado. Nessa situação, o instrumento mais adequado a ser 
utilizado por esse Estado é 
a) a denúncia. 
b) a cláusula rebus sic stantibus. 
c) a suspensão. 
d) o jus cogens. 
e) a reserva. 
e
 
 
 
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Comentários: 
De acordo com a CV/ 69, a reserva é “... uma declaração unilateral, qualquer 
que seja a sua redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar, 
ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de 
excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua 
aplicação a esse Estado.” 
Na situação apresentada pela questão, é exatamente isso o que ocorre. O 
Estado quer se tornar parte do tratado, mas deseja afastar ou modificar alguns 
de seus dispositivos. Assim, ele ratifica o tratado, mas o faz com reservas. A 
resposta é, portanto, a letra E. 
17. (Procurador da Fazenda Nacional – 2007-adaptada)- A empresa 
brasileira XYZ tem investimentos de grande vulto no país ABC. De 
forma arbitrária, o novo governo de ABC, ao tomar posse, apropria-se 
do patrimônio que XYZ detinha em ABC. Inconformada, a empresa XYZ 
recorre ao Governo brasileiro para que lhe conceda proteção 
diplomática, encampando o problema da empresa e recorrendo à Corte 
Internacional de Justiça em sua defesa. O ato por meio do qual o 
Estado brasileiro assume a reclamação da empresa XYZ, fazendo-a 
sua, e dispondo-se a tratar da matéria junto ao Estado autor do ilícito 
é denominado ratificação. 
Comentários: 
A ratificação é o ato internacional por meio do qual um Estado se 
compromete definitivamente a vincular-se ao texto de um tratado. O ato por 
meio do qual um Estado assume a reclamação de uma empresa, fazendo-a 
sua, e dispondo-se a tratar da matéria junto ao Estado autor do ilícito é 
denominado endosso. Questão errada. 
18. (Procurador da Fazenda Nacional -2007-adaptada)- Se o tratado 
nada dispuser sobre o assunto, entende-se que as reservas a um 
tratado internacional são possíveis, a não ser que sejam incompatíveis 
com seu objeto e finalidade. 
Comentários: 
Para saber se há possibilidade de apresentação de reservas a um tratado, é 
necessário, prioritariamente, analisar-se o textodo tratado, uma vez que há 
alguns que, expressamente, vedam as reservas ou as limitam a certos 
dispositivos. Caso o texto do tratado seja silente, a CV/69 determina que as 
reservas são possíveis, desde que não sejam incompatíveis com o texto do 
tratado. Questão correta. 
 
 
 
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19. (Procurador da Fazenda Nacional -2007)- Caso o tratado seja 
assinado com reservas, o Congresso Nacional não tem poderes para 
adotar o tratado em sua íntegra. 
Comentários: 
Embora não haja consenso doutrinário a respeito, para concursos públicos, o 
entendimento que deve prevalecer é o de que o Congresso Nacional não 
poderá suprimir reservas feitas pelo Poder Executivo por ocasião da assinatura 
do tratado. Questão correta. 
20. (Procurador da Fazenda Nacional -2007)- Caso o tratado admita 
reservas, essas podem ser feitas pelo Congresso Nacional, mesmo que 
não tenham sido feitas pelo Presidente da República (ou outro 
plenipotenciário) no momento da assinatura. 
Comentários: 
O entendimento que você deve levar para a prova é o de que é possível a 
aposição de reservas a um tratado pelo Congresso Nacional. Destaque-se que, 
quando estas forem elaboradas pelo Poder Legislativo, o Presidente da 
República somente poderá ratificar o tratado com as reservas. Questão 
correta. 
 
2 – Observância, Aplicação e Interpretação dos Tratados 
2.1- Tratados x Direito Interno: 
O fundamento de validade dos tratados internacionais é a regra “pacta sunt 
servanda”, que foi expressamente reconhecida pelo art. 26 da CV/69, ao 
dispor que “todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido 
por elas de boa fé”. Trata-se de princípio fundamental do direito dos 
tratados, sem o qual não haveria qualquer segurança nas relações 
internacionais. 
O descumprimento de um tratado viola, portanto, a regra fundamental do 
direito internacional, qual seja, a de que os compromissos assumidos devem 
ser cumpridos. E aqui cabe ressaltar que não interessa ao direito internacional 
público o porquê do descumprimento de um tratado. Em geral, não há razões 
para um Estado descumprir um tratado, sob pena de ser responsabilizado 
internacionalmente. Tampouco interessa ao direito internacional se o 
responsável pela violação do tratado foi um ato do Poder Executivo, uma lei 
editada pelo Poder Legislativo ou uma decisão do Poder Judiciário. Os atos 
 
 
 
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dos três Poderes, caso incompatíveis com um tratado, configurarão ilícito 
internacional e darão ensejo à responsabilização do Estado. 
Buscando enfatizar a necessidade de respeito às normas de direito 
internacional, o art. 27 da CV/69 estabeleceu uma relação hierárquica entre 
o direito internacional e o ordenamento jurídico interno. Nesse sentido, dispõe 
que uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno 
para justificar o inadimplemento de um tratado. Em outras palavras, as 
regras positivadas em um tratado internacional devem ser observadas pelos 
Estados, independentemente da existência de normas de direito interno que a 
ela sejam contrárias. 
Vejamos um exemplo de como isso funciona na prática! Qualquer semelhança 
com a realidade, é mera coincidência! J 
O Brasil, por meio de acordos celebrados no âmbito da OMC, assumiu o 
compromisso de conceder, em matéria de tributos internos, tratamento 
nacional aos bens estrangeiros. Assim, se sobre um automóvel nacional incide 
uma alíquota de IPI de 5%, essa mesma alíquota deverá incidir sobre um 
automóvel estrangeiro similar. Caso seja editada uma lei (ou mesmo um 
decreto) que estabeleça uma alíquota de IPI mais gravosa para os automóveis 
estrangeiros, teremos aí uma clara violação de um tratado. 
O Brasil poderá, então, ser responsabilizado internacionalmente tendo em 
vista a edição de uma lei ou decreto contrário ao direito internacional. E 
trazendo à tona o art. 27, o Brasil não pode alegar disposições de seu 
direito interno (a lei ou o decreto) para justificar o inadimplemento 
(descumprimento) do tratado. Reforçando ainda mais a nossa 
argumentação, a regra “pacta sunt servanda”, segundo a qual os 
compromissos assumidos devem ser cumpridos, veda que o Brasil desrespeite 
um tratado em vigor. 
Vamos dar uma olhada no que diz o art. 27 da CV/69? 
Artigo 27 - Direito Interno e Observância de Tratados 
Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para 
justificar o inadimplemento de um tratado. Esta regra não prejudica o 
artigo 46. 
Percebe-se que o art. 27 da CV/69 ressalva o art. 46 da mesma convenção. 
Isso quer dizer que a única situação em que um Estado pode invocar 
disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de 
um tratado é na hipótese do art. 46. 
Mas o que diz o art. 46 da CV/69? 
 
 
 
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Artigo 46 - Disposições do Direito Interno sobre Competência 
para Concluir Tratados 
1. Um Estado não pode invocar o fato de que seu consentimento em 
obrigar-se por um tratado foi expresso em violação de uma disposição de 
seu direito interno sobre competência para concluir tratados, a não ser 
que essa violação fosse manifesta e dissesse respeito a uma norma de 
seu direito interno de importância fundamental. 
2. Uma violação é manifesta se for objetivamente evidente para qualquer 
Estado que proceda, na matéria, de conformidade com a prática normal e 
de boa fé. 
O art. 46 da CV/69 dispõe sobre o tema das “ratificações imperfeitas”, 
sobre o qual nos aprofundaremos mais à frente. Por ora, basta sabermos que 
quando o consentimento estatal em obrigar-se por um tratado foi 
expresso com manifesta violação de uma norma de direito interno de 
importância fundamental sobre competência para concluir tratados, 
abre-se a possibilidade para que se pleiteie a nulidade do tratado. Enfatize-se 
novamente, trata-se da única situação em que o Estado invocar seu direito 
interno para justificar o inadimplemento de um tratado. 
 
2.2 - Irretroatividade dos Tratados: 
Os tratados são celebrados para regular situações futuras, ou seja, produzem 
efeitos a partir de sua entrada em vigor (efeitos ex nunc). Esse é, inclusive, o 
que o art.28 da CV/69 prevê como regra geral para os tratados internacionais: 
Artigo 28 - Irretroatividade de Tratados 
A não ser que uma intenção diferente se evidencie do tratado, ou seja 
estabelecida de outra forma, suas disposições não obrigam uma parte 
em relação a um ato ou fato anterior ou a uma situação que 
deixou de existir antes da entrada em vigor do tratado, em relação 
a essa parte. 
Destaque-se que, apesar de os tratados serem, em regra, irretroativos, é 
possível que, excepcionalmente, ele regule situações pretéritas, desde 
que isso esteja previsto no texto do próprio tratado. 
A Convenção de Viena de 1969, reforçando o princípio da irretroatividade dos 
tratados, dispõe, ainda, no seu art. 4º, que ela mesma somente se aplicará 
aos tratados concluídos por Estados após sua entrada em vigor em 
relação a esses Estados. Assim, a CV/69 prevê, explicitamente, que ela 
regulará apenas situações futuras. 
 
 
 
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2.3 - Aplicação Territorial de Tratados: 
O art. 29 da CV/69 determina que, em regra, um tratado obriga cada uma 
das partes em relação a todo o seu território.Todavia, caso uma intenção 
diferente se evidencie do tratado, ou seja estabelecida de outra parte, o 
tratado poderá aplicar-se apenas a parte do território das partes contratantes. 
 
2.4 - Conflito entre Tratados: 
O art. 30 da CV/69 regula as diferentes situações em que há conflito entre 
tratados sucessivos sobre o mesmo assunto. Vejamos: 
Artigo 30 - Aplicação de Tratados Sucessivos sobre o Mesmo 
Assunto 
1. Sem prejuízo das disposições do artigo 103 da Carta das Nações 
Unidas, os direitos e obrigações dos Estados partes em tratados 
sucessivos sobre o mesmo assunto serão determinados de conformidade 
com os parágrafos seguintes. 
2. Quando um tratado estipular que está subordinado a um tratado 
anterior ou posterior ou que não deve ser considerado incompatível com 
esse outro tratado, as disposições deste último prevalecerão. 
3. Quando todas as partes no tratado anterior são igualmente partes no 
tratado posterior, sem que o tratado anterior tenha cessado de vigorar ou 
sem que a sua aplicação tenha sido suspensa nos termos do artigo 59, o 
tratado anterior só se aplica na medida em que as suas disposições 
sejam compatíveis com as do tratado posterior. 
4. Quando as partes no tratado posterior não incluem todas a partes no 
tratado anterior: 
a) nas relações entre os Estados partes nos dois tratados, aplica-se o 
disposto no parágrafo 3; 
b) nas relações entre um Estado parte nos dois tratados e um Estado 
parte apenas em um desses tratados, o tratado em que os dois Estados 
são partes rege os seus direitos e obrigações recíprocos. 
5. O parágrafo 4 aplica-se sem prejuízo do artigo 41, ou de qualquer 
questão relativa à extinção ou suspensão da execução de um tratado nos 
termos do artigo 60 ou de qualquer questão de responsabilidade que 
possa surgir para um Estado da conclusão ou da aplicação de um tratado 
 
 
 
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cujas disposições sejam incompatíveis com suas obrigações em relação a 
outro Estado nos termos de outro tratado. 
O art. 30, §1º, faz menção ao art. 103 da Carta da ONU, o qual consagra a 
primazia da Carta da ONU na solução de conflitos entre tratados. 
Segundo o referido dispositivo, “no caso de conflito entre as obrigações dos 
membros das Nações Unidas em virtude da presente Carta [leia-se, Carta da 
ONU] e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, 
prevalecerão as obrigações assumidas em virtude da presente Carta.” 
 O art. 30, §2º, por sua vez, se refere à situação em que um tratado 
expressamente dispõe que está subordinado a um tratado posterior ou 
anterior e que não deve ser considerado incompatível com este. Por 
óbvio, esse conflito resolve-se a favor do principal dos tratados, isto é, aquele 
ao qual o outro está subordinado. Em nosso entendimento, a CV/69 disse 
muito mais do que precisaria ter dito, uma vez que se um tratado se 
autodeclara subordinado a outro, assim ele deverá ser interpretado. 
O art. 30, § 3º, busca dirimir os conflitos entre tratados quando todas as 
partes em um tratado anterior são também parte do tratado posterior. 
O conflito, nesse caso, é resolvido pela aplicação do brocardo “lex posterior 
derogat priori”. O tratado posterior prevalece naquilo que for incompatível 
com o tratado anterior. Em outras palavras, o tratado anterior somente irá 
aplicar-se na medida em que as suas disposições sejam compatíveis com as do 
tratado posterior. 
Identificamos duas situações reguladas pelo art. 30, § 3º: 
- Situação nº 1 – Há identidade da fonte de produção normativa, 
isto é, as partes no tratado posterior são exatamente as mesmas do 
tratado anterior. Nesse caso, não há grandes dúvidas: prevalecerá o 
tratado posterior. Exemplo: tratado A (anterior), celebrado entre Brasil e 
Argentina x tratado B (posterior), celebrado também entre Brasil e 
Argentina. Prevalecerá o tratado B, naquilo que este for incompatível 
com o tratado A. 
- Situação nº 2- Todas as partes no tratado posterior são partes no 
tratado anterior, entretanto, o tratado posterior possui outros 
Estados signatários. Nesse caso, também irá prevalecer o tratado 
posterior. Ex: tratado A (anterior), celebrado entre Brasil Argentina x 
tratado B (posterior), celebrado entre Brasil, Argentina e Uruguai. 
Prevalecerá o tratado B, naquilo que este for incompatível com o tratado 
A. 
O art. 30, § 4º, a seu turno, tenta resolver os conflitos entre tratados quando 
as partes no tratado posterior não incluem todas as partes no tratado anterior. 
==fc6de==
 
 
 
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Seria o caso, por exemplo, de um tratado A (anterior) celebrado entre Brasil, 
Argentina e Uruguai e um tratado B (posterior) celebrado entre Brasil e 
Argentina. 
Nesse caso, não é possível simplesmente aplicar o princípio “lex posterior 
derogat priori”, uma vez que o Uruguai não é parte no tratado posterior. A 
solução será o estabelecimento de uma duplicidade de regimes jurídicos. 
Nas relações entre Brasil e Argentina (que são parte nos dois tratados) será 
aplicado o tratado posterior. Já nas relações entre Brasil e Uruguai aplica-se o 
tratado A, que é o tratado em que ambos os Estados são parte. Isso também 
vale para as relações entre Argentina e Uruguai. 
Rezek chama a atenção para um típico caso de conflito entre tratados não 
solucionado pela CV/69. Imaginemos que o Estado X celebra um tratado de 
aliança ofensiva com o Estado Y e um tratado de aliança defensiva com o 
Estado Z. Caso o Estado Y invada o Estado Z surge o dilema: o Estado X 
deverá honrar seu pacto de aliança ofensiva e apoiar o Estado Y no ataque ou 
deverá honrar seu pacto de aliança defensiva e apoiar o Estado Z na defesa de 
seu território?14 
Trata-se de conflito real entre tratados, que não pode ser solucionado pela 
aplicação de princípios jurídicos. Qualquer que seja a escolha adotada pelo 
Estado X, ela irá violar um dos tratados. Até mesmo se ele decidir não se 
envolver, haverá violação dos compromissos assumidos: nesse caso, ele 
deixará de cumprir ambos os tratados. A opção do Estado X, nesse exemplo, é 
totalmente baseada em considerações extrajurídicas.15 
 
2.5 - Interpretação dos Tratados: 
A interpretação dos tratados pode ser feita de duas formas: autêntica 
(realizada pelos próprios Estados) ou não autêntica (realizada pelos tribunais 
internacionais). Com o processo de aperfeiçoamento do direito internacional e 
sua crescente jurisdicionalização, com a proliferação de instâncias de solução 
de controvérsias, a interpretação não autêntica ganha cada vez maior espaço.16 
Se a interpretação é resultado do exame de um caso concreto por um 
organismo (permanente ou “ad hoc”) com jurisdição sobre as partes litigantes, 
 
14
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 94-96. 
15
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 94-96.	
16
	VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 103-
109. 	
 
 
 
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estaremos diante de uma interpretação jurisdicional. Quando esta advir de 
um tribunal de caráter permanente, diz-se, ainda, que trata-se de 
interpretação judiciária. Caso provenha de um órgão de natureza “ad hoc”, 
será uma interpretação jurisdicional, porém não judiciária. 17 
O art. 31 da Convenção deViena de 1969 dispõe que “um tratado deve ser 
interpretado de boa fé, segundo o sentido comum atribuível aos termos do 
tratado em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade.“ 
Do exame do referido dispositivo, é possível extrair que a CV/69 erigiu a boa 
fé a princípio de interpretação dos tratados. A boa fé consiste na aplicação de 
um juízo de razoabilidade na interpretação do texto convencional, de forma 
que isso resulte na satisfação dos direitos de todas as partes, sem injustiça 
para nenhuma delas. 
Outro princípio é o da interpretação literal, que fica nítido quando a CV/69 
diz que os tratados devem ser interpretados segundo o sentido comum 
atribuível aos seus termos. Reforçando esse entendimento, a CV/69 dispõe que 
um termo apenas será entendido em seu sentido especial se estiver 
estabelecido que era essa a intenção das partes. Também na interpretação dos 
tratados deve-se levar em consideração o contexto em que estes foram 
celebrados. 
Quando a interpretação realizada aos moldes do que prevê o art. 31 deixa o 
sentido ambíguo ou obscuro ou conduz a um resultado manifestamente 
absurdo ou desarrazoado, podem ser usados meios suplementares de 
interpretação, inclusive os trabalhos preparatórios do tratado e as 
circunstâncias de sua conclusão. 
Questão que merece nossa análise é o fato de alguns tratados terem versões 
autênticas em mais de um idioma. Os acordos da OMC, por exemplo, foram 
celebrados tendo como versão autêntica o inglês, o espanhol e o francês. Sem 
dúvida, a pluralidade de idiomas é fator que pode causar dificuldades ao 
intérprete. Com efeito, determinadas expressões empregadas em um idioma 
não tem seu equivalente exato em outro. 
Daí surge a pergunta: qual idioma deve ser utilizado para fins de 
interpretação do texto do tratado, quando este possuir mais de uma versão 
autêntica? 
Segundo o art. 33 da CV/69, se um tratado for autenticado em duas ou mais 
línguas, seu texto faz igualmente fé em cada uma delas, a não ser que o 
tratado disponha ou as partes concordem que, em caso de divergência, 
 
17
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 90-93.	
 
 
 
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prevaleça um texto determinado. Presume-se que os termos do tratado 
têm o mesmo sentido nos diversos textos autênticos. Caso a comparação dos 
textos autênticos revele diferença de sentido, deve-se adotar aquele sentido 
que, tendo em conta o objetivo e a finalidade do tratado, melhor conciliar seus 
textos. 
 
2.6 - Efeitos dos tratados sobre terceiros Estados: 
Há três formas de um tratado propagar seus efeitos sobre terceiros Estados: i) 
efeitos difusos; ii) efeito aparente e; iii) previsão convencional de 
direitos e obrigações para terceiro Estado.18 
 
2.6.1- Efeitos Difusos: 
Existem alguns tratados que criam situações jurídicas objetivas entre as 
partes, mas que repercutem sobre toda a sociedade internacional, nem que 
seja apenas para o mero efeito de reconhecimento. Como exemplo, podemos 
citar um tratado que define a linha de fronteira entre dois Estados. Esse 
tratado gera obrigações a ambas as partes, também operando um efeito 
difuso sobre os outros Estados integrantes da sociedade internacional. 
Destaque-se que, no campo do direito internacional, não há obrigatoriedade 
de reconhecimento das situações jurídicas objetivas pelos demais 
Estados, em razão de a sociedade internacional ser descentralizada e não 
possuir nenhum poder supranacional com capacidade para determinar o 
cumprimento de regras.19 
 
2.6.2 - Efeito aparente: 
Alguns tratados produzem efeitos sobre terceiros Estados na condição de fatos 
(e não de normas jurídicas!). Nesse sentido, estes tratados tem o condão de 
produzir apenas um “efeito aparente” sobre terceiros Estados. 
 
18
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 81-83. 
19
	MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 240. 	
 
 
 
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O exemplo de efeito aparente mais festejado pela doutrina é o que envolve a 
aplicação da cláusula da nação mais favorecida.20 Imaginemos que seja 
celebrado um tratado bilateral entre os Estados A e B por meio do qual estes 
concedem preferências tarifárias mútuas. Ainda por meio desse tratado, os 
Estados estabelecem uma cláusula de nação mais favorecida. Isso significa que 
se o Estado A conceder uma preferência para um terceiro Estado, deverá 
estendê-la para o Estado B automática e incondicionalmente. Da mesma 
forma, o Estado B, ao conceder uma preferência para um terceiro Estado, 
deverá estendê-la para o Estado A automática e incondicionalmente. 
Firmado esse tratado entre A e B, suponha agora que o Estado B celebre um 
acordo de preferências tarifárias com o Estado C. Em virtude da cláusula de 
nação mais favorecida, o país B deverá estender automaticamente ao país A a 
preferência tarifária concedida ao país C. Agora é que vem a pergunta: não 
estaria o segundo tratando operando efeitos sobre o país A quando obriga que 
toda e qualquer preferência seja a ele estendida? 
A resposta é sim! O segundo tratado produz efeitos sobre A. No entanto, 
segundo Rezek, este “pacto ulterior não produz efeito como norma 
jurídica, mas como simples fato”.21 Dessa forma, no caso de efeito 
aparente, não cabe dizer que o tratado produz efeitos jurídicos sobre terceiro 
Estado. 
 
2.6.3 - Previsão convencional de direitos e obrigações para um terceiro 
Estado: 
O art. 34 da CV/69 determina que, em regra, um tratado não cria 
obrigações nem direitos para um terceiro Estado sem o seu 
consentimento. A contrario sensu, caso haja aquiescência do terceiro Estado, 
um tratado poderá gerar-lhe obrigações e direitos. 
Para que uma obrigação surja para um terceiro Estado, é necessário que esse 
Estado a aceite expressamente e por escrito, nos termos do art. 35 da 
CV/69. Nada mais natural, uma vez que seria totalmente ilógico admitir-se que 
alguns Estados possam, por meio de um tratado, atribuir obrigações a um 
 
20 Os alunos que já estudaram Comércio Internacional devem se recordar de que a 
cláusula da nação mais favorecida é um princípio basilar do sistema multilateral de 
comércio, vedando o tratamento discriminatório entre membros da OMC. Destaque-
se, todavia, que a cláusula NMF (que é uma obrigação de tratamento não 
discriminatório) também pode estar prevista em outros tipos de normas 
internacionais. 
21
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 82 
 
 
 
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terceiro Estado sem a certeza do seu consentimento. Um exemplo de 
obrigação atribuída a terceiro Estado é a função de depositário. O 
depositário até pode ser um Estado-parte de um tratado, mas isso não é uma 
condição sine qua non para que ele exerça suas atribuições. Assim, um Estado 
que tenha assumido a condição de depositário de um tratado, mas não o tenha 
ratificado, continuará vinculado à responsabilidade assumida. 
Vejamos o que nos diz a literalidade do art. 35 da CV/69: 
Artigo 35 - Tratados que Criam Obrigações para

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