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Conceitos básicos em imunologia APRESENTAÇÃO Sejam bem-vindos! Nesta Unidade de Aprendizagem, estudaremos sobre um dos principais sistemas do corpo humano, o sistema imune. Ele é o responsável por nos livrar diariamente do ataque de seres minúsculos, invisíveis ao nosso olho. Assim, nosso corpo cria uma resposta imunológica, "livrando-nos" das mais variadas doenças. Bons estudos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os elementos formadores da resposta imune.• Determinar quais eventos/agentes ativam a resposta imune.• Estabelecer parâmetros de diferenciação das respostas imunes inata e adaptativa.• DESAFIO "A influenza é uma doença respiratória infecciosa de origem viral, que representa um problema de saúde pública no Brasil. Essa patologia pode causar complicações graves e até óbito. A principal intervenção preventiva para esse agravo é a vacinação. A campanha anual, realizada desde 1999, vem contribuindo ao longo dos anos para a prevenção da gripe nos grupos vacinados." (BRASIL, 2014) Como você sabe, o sistema imunológico adaptativo produz uma resposta duradoura (memória imunológica), permitindo que encontros posteriores possibilitem uma resposta mais rápida e eficiente. Sendo assim, elabore uma campanha de imunização, conscientizando a população para a necessidade da vacinação contra o vírus da gripe. Para realizar esta atividade, você deverá atender aos seguintes itens referentes ao quadro: - Oriente sobre os perigos da não imunização. - Demonstre como funcionará o sistema imunológico de uma pessoa imunizada, explicando quais mediadores de memória imunológica serão desenvolvidos pelo corpo. - Atente para o fato de que grande parte da população já se vacinou no ano anterior, mas deve retornar ao posto de saúde para uma nova imunização. Justifique essa necessidade com base em seus estudos. INFOGRÁFICO Veja, na ilustração, uma representação dos tipos de sistemas que defendem nosso corpo de organismos invasores: CONTEÚDO DO LIVRO A resposta imune consiste em uma série de eventos coordenados que visam à manutenção da homeostasia do organismo por meio da eliminação de agentes ou moléculas estranhas. Para reforçar seu aprendizado, leia o trecho do livro Imunobiologia de Janeway. Inicie sua leitura em no capítulo 1 Conceitos básicos em imunologia. Boa leitura. IMUNOLOGIA Felipe Valle Fortes Rodrigues Conceitos básicos em imunologia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve aprender os seguintes tópicos: Reconhecer os elementos formadores da resposta imune. Determinar quais eventos/agentes ativam a resposta imune. Estabelecer parâmetros de diferenciação das respostas imunes inata e adaptativa. Introdução O termo imunidade, derivado do latim immunis (isento), foi adotado para designar essa proteção naturalmente adquirida contra doenças como sarampo. O surgimento da imunologia como disciplina estava intimamente ligado ao desenvolvimento da microbiologia. O trabalho de Pasteur, Koch, Metchnikoff e muitos outros pioneiros dos estudos e descobertas de bactérias, fungos e parasitas resultaram na rápida iden- tificação de novos agentes infecciosos. O impacto de imunização contra doenças infecciosas, como coquelu- che, difteria e varíola, pode ser percebido quando refletimos sobre o fato de que essas doenças, que eram causas significativas de mortalidade e morbidade, estão agora tidas como erradicadas. De fato, é justo discutir que o impacto da vacinação e saneamento no bem-estar e na expectativa de vida dos seres humanos está no topo entre os avanços científicos. Na segunda parte do século XX, a imunologia começou a transcen- der seus limites iniciais relacionados à microbiologia e a tornar-se mais abrangente, correlacionando-se com diversas outras ciências. O estudo dos mecanismos de defesa imunológica ainda é uma importante área de pesquisa, e os imunologistas estão envolvidos em uma gama ainda mais ampla de áreas, tais como, controle de diferenciação do tecido, transplante, imunoterapia do câncer, entre outras (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Neste capítulo, você aprenderá sobre os elementos formadores da resposta imune, os eventos/agentes que ativam a resposta imune e parâmetros de diferenciação das respostas imunes inata e adaptativa. Origem e vigilância A imunologia pode ser compreendida como o estudo da defesa do corpo contra a infecção. Estamos continuamente expostos a microrganismos, muitos dos quais são patogênicos. O mecanismo celular pelo qual o corpo contrapõe a infecção por esse patógeno, como ele é identifi cado e eliminado são processos e mecanismos abordados pela imunologia que estudamos para entender as defesas do nosso organismo. A resposta e a detecção inicial são realizadas pela imunidade inata através de várias células distintas capazes de reconhecer alguns organismos. Já a res- posta de máxima especificidade é realizada pela imunidade adaptativa, a qual produz anticorpos específicos contra alvos selecionados nos microrganismos e ainda é capaz de gerar memória imunológica. Os seres humanos e outros mamíferos vivem em um mundo densamente povoado por microrganismos patogênicos e não patogênicos e que contém uma vasta gama de substâncias tóxicas ou alergênicas que podem ameaçar a homeostase corporal humana. A comunidade de microrganismos inclui também os organismos benéficos e comensais, que o hospedeiro deve tolerar e manter sob controle, a fim de manter o funcionamento normal dos tecidos e órgãos. Os patogênicos possuem uma coleção diversificada de mecanismos pelos quais se replicam, disseminam e ameaçam as funções normais do hospedeiro. Ao mesmo tempo que o sistema imunológico está eliminando microrganismos patológicos e proteínas tóxicas ou alergênicas, deve evitar respostas que produzam danos excessivos nos tecidos próprios ou que possam eliminar microrganismos benéficos e comensais. Além disso, nosso ambiente contém uma enorme variedade de barreiras imunológicas que desafiam o hospedeiro por uma ampla seleção de mecanismos. Conceitos básicos em imunologia2 O sistema imunológico usa uma matriz complexa de mecanismos de pro- teção para controlar e, geralmente, eliminar organismos invasores e toxinas. Genericamente, o sistema imune baseia-se na detecção de características estruturais que marcam como alvo um determinado elemento estranho ao organismo (antígeno), sumariamente determinando-o como distinto das células próprias. Essa discriminação é essencial para permitir que o organismo elimine a ameaça sem danificar seus próprios tecidos. O reconhecimento de antígenos ocorre porque os receptores do nosso sistema imune reconhecem e ligam-se a partes determinadas desses agentes externos ou agressores. Dessa forma, a especificidade contra esses agentes, que podemos chamar de proteína ativadora, ou antígeno, é uma característica-chave. Por exemplo, a imunização contra o vírus da poliomielite protege apenas contra poliomielite, não contra o vírus H1N1 da gripe (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). O sistema imunológico é tão importante para a existência da vida humana que, quando suprimido, leva a infecções oportunistas por microrganismos que normalmente não seriam considerados patogênicos. A formação celular do nosso sistema imunológico começa quando uma célula-tronco hematopoiética, presente na medula óssea, diferencia-se em célula progenitora mieloide comum ou na progenitora linfoide comum. O progenitor linfoide comum se diferencia nas principais populações de linfócitos maduros: células B, células T, células natural killer (NK). É importante pensar sobre como as funções e como todos os prota- gonistas do sistema imune são determinados. Inicialmente, quando se pesquisava e ainda não havia nomenclatura atribuída às células NK, por exemplo, somente via-se ao microscópio células que atacavam bactérias. Com a melhoria da tecnologia,novas descobertas aconteceram e foram-se atribuindo marcadores de superfície, ou seja, um conjunto de caracterís- ticas que as células expressam em sua membrana e que as caracterizam. Os marcadores de superfície, também chamados de CD (do inglês cluster of diferentiation), associam a presença daquela proteína na membrana a várias características celulares, como função, origem, estágio de diferenciação, possível interação com outras células; assim, o conjunto de CD determina várias características da célula, concedendo sua identidade. É assim que pesquisadores e professores do mundo todo podem identificar células diferentes, pois elas possuem o mesmo CD ou um mesmo padrão de CD (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 3Conceitos básicos em imunologia Nosso sistema imune normalmente mantém microrganismos comensais sob controle, assim como microrganismos que já combatemos corriqueiramente. Em alguns casos, o sistema imune se torna comprometido, como quando temos uma baixa muito grande em seus números (por exemplo, durante uma quimioterapia) ou estamos combatendo grandes infecções (como o caso de sepse), e podemos ter infecções por esses organismos normalmente controlados, as chamadas infecções oportunistas. Para saber mais sobre esse assunto, no artigo científico do link a seguir, você encontra informações de relevância clínica a respeito de infecções oportunistas. https://qrgo.page.link/T63jv Células-tronco mieloides (Figura 1) dão origem a diferentes formas de granulócitos. Células da linhagem de granulócitos que desempenham funções imunes proeminentes incluem neutrófilos, monócitos, macrófagos, eosinófilos, basófilos e mastócitos. Em nós, humanos, plaquetas liberam moléculas que agem favorecendo algum processo ou comunicação celular — chamamos esses elementos de mediadores, e eles são vitais no processo imune e expandem sua função além de seu papel na hemostasia. Neutrófilos produzem grandes quantidades de espécies reativas de oxigênio que são citotóxicas para diversos microrganismos. Eles também produzem enzimas que parecem participar na remodelação e no reparo dos tecidos após a lesão. Os neutrófilos se acumulam em grandes quantidades em locais de infecção bacteriana e lesão tecidual e possuem capacidades fagocíticas proeminentes que lhes permitem sequestrar microrganismos e antígenos particulados internamente, onde podem ser destruídos e degradados. Assim, fica claro que desempenham um papel importante na depuração de patóge- nos microbianos e no reparo de lesões teciduais (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Os eosinófilos são facilmente reconhecidos pelos grânulos citoplasmáticos proeminentes que contêm moléculas tóxicas e enzimas que são particularmente ativas contra parasitas. Já os mastócitos e basófilos desempenham papéis importantes na indução da resposta imune alérgica. São eles que respondem ao pólen e a outros alérgenos na sua rinite alérgica. Células fagocíticas da linhagem de monócitos/macrófagos também desempenham papéis-chave na resposta Conceitos básicos em imunologia4 imune, pegando partes de organismos invasores, processando-os por pro- teólise, reduzindo a peptídeos fragmentados e apresentando-os através de MHC. A apresentação de antígenos pelas células da imunidade inata é parte fundamental na sua comunicação com a imunidade adaptativa — é assim que células dendríticas ativam os linfócitos T. Nessa mesma linha- gem, temos células de Langerhans na epiderme, células de Kupffer no fígado e células da microglia no sistema nervoso central. Dentre as células apresentadoras de antígeno, a mais impactante é a célula dendrítica, que está presente na maioria dos tecidos do corpo e concentrada nos tecidos linfoides secundários (gânglios linfáticos) (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Figura 1. Demonstração da gênese a partir da medula. Fonte: Lopes (2017, documento on-line). 5Conceitos básicos em imunologia A especificidade da resposta imune é resultante da forma de reconhecimento dos linfócitos, que, após o contato com um ativador, sofre edição gênica para produzir um receptor que reconhece aquele peptídeo; assim, o sistema imune age como se ele fosse um vigilante ao receber a foto de um alvo a ser combatido. Portanto, os linfócitos com receptores específicos para o antígeno-alvo são ativados em condições normais de homeostase (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Além disso, como podemos ser expostos aos mesmos patógenos mais de uma vez, nosso corpo precisa ser capaz de responder mesmo anos após o primeiro contato ao antígeno. Dessa forma, a evolução nos concedeu a capacidade de desenvolver memória imunológica, o que significa que uma ou mais exposições a um determinado antígeno provocam progressivamente respostas melhores. A maioria das imunizações envolve administração repetida do composto imunizante, com o objetivo de estabelecer uma resposta protetora duradoura. O aumento da magnitude e duração da resposta do sistema imunológico pela exposição repetida ao mesmo antígeno se deve à proliferação de linfócitos específicos para o antígeno após cada exposição. O número de células respondentes permanecerá aumentado mesmo após o combate daquele antígeno e seu desaparecimento do nosso sistema. Portanto, sempre que o organismo é exposto novamente àquele antígeno em particular, há uma população de linfócitos específicos prontamente disponíveis para ativação e, como consequência, o tempo necessário para resposta será mais curto e a magnitude da resposta será maior (MURPHY, 2014; ABBAS; LI- CHTMAN; PILLAI, 2019). Determinando os atores principais do sistema imunológico Um conceito-chave para defi nir como o sistema imune funciona é o conceito de antígenos e sua apresentação, sejam ele próprios ou não, os quais se ligam a receptores celulares e/ou anticorpos. Para serem capazes de envolver os elementos da imunidade específi ca, os antígenos devem ser processados e apresentados às células imunes. Isso ocorre através das moléculas chama- das complexo principal de histocompatibilidade (MHC, do inglês, major histocompatibility complex). Quando falamos exclusivamente do sistema de reconhecimento presente nos humanos, o MHC é chamado de HLA pelo sistema de reconhecimento de antígenos leucocitários (é a abreviação para human leukocyte antigen). A apresentação do antígeno é mediada por Conceitos básicos em imunologia6 moléculas de MHC de classe I e as moléculas de classe II encontradas na superfície de células apresentadoras (APC, do inglês antigen presenting cells) e algumas outras células. As moléculas do MHC de classe I e classe II são similares: elas fornecem peptídeos curtos à superfície celular e devem ser reconhecidas por células T CD8+ (citotóxicas) e CD4+ (auxiliares), res- pectivamente. A diferença é que os peptídeos são originários de diferentes fontes: endógenas ou intracelulares para o MHC classe I, e exógenas ou extracelulares para o MHC classe II. Há também a chamada apresentação cruzada, na qual os antígenos exógenos podem ser apresentados por moléculas MHC classe I. Os antígenos endógenos também podem ser apresentados pelo MHC classe II quando degradados por autofagia (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Moléculas de MHC classe I são expressas pelas células nucleadas e são montadas diretamente no retículo endoplasmático (RE). As proteínas, tanto próprias quanto patogênicas, após serem processadas pelo proteassomo, têm seus peptídeos translocados para o RE, associados ao MHC de cIasse I, for- mando o complexo MHC-peptídeo e enviando para a membrana da célula. Existem diferentes proteassomas que geram peptídeos para a apresentação da classe I do MHC: o proteassoma 26S, que é expresso pela maioria das células; o imunoproteassoma, que é expresso por muitas células do sistema imune; e o proteassoma, expresso pelas células epiteliais do timo. O reconhecimento de MHC-1 é interpretado por linfócitos T citotóxicos e células natural killer,permitindo vigilância dentro da célula e a detecção de eventos importantes, como infecção viral. Complexos MHC de classe I na membrana celular são cíclicos, sendo internalizados no endossomo e podem ser apresentados por moléculas de MHC de classe II, que são expressas por APC, tais como células dendríticas, macrófagos. Moléculas da classe II do MHC se ligam a peptídeos oriundos de proteínas degradadas na via endolítica. Desse modo, microrganismos invasores são fagocitados e têm seus antígenos apresentados. O MHC de classe II é ligado aos peptídeos no complexo de Golgi e transportado para a membrana celular para apresentar os antígenos para linfócitos, como o T CD4+. Ao contrário do MHC classe I, as moléculas do MHC de classe II não se dissociam da membrana. Os mecanismos de controle da ciclagem do MHC de classe II na membrana envolvem ubiquitinação para, então, depois, serem internalizados e reciclados (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Os linfócitos são as principais células que podem reconhecer o antígeno e produzir um anticorpo a fim de eliminar os alvos. Os linfócitos B são as únicas células do corpo capazes de produzir anticorpos. Os linfócitos B reconhecem 7Conceitos básicos em imunologia os antígenos extracelulares e são diferenciados em plasmócitos, produtores de anticorpos. Dessa forma, podemos traçar um paralelo simplificado em que a célula apresentadora de antígeno mostra o alvo para a célula B, e ela marca os alvos para serem eliminados, principalmente pelos linfócitos T. As células T existem em vários subtipos e subconjuntos funcionalmente significativos. As células NK são definidas morfologicamente como grandes linfócitos gra- nulares e são distintas pela ausência do receptor específico de célula T (T cell receptor — TCR). Eles reconhecem sua célula infectada por microrganismo ou tumor-alvos usando uma coleção complexa de receptores ativadores e inibidores da superfície celular (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). O sistema imune também apresenta componentes solúveis, os quais podem ligar-se aos microrganismos e ajudar na sua fagocitose, atrair mais células para combater uma infecção ou ainda eliminar diretamente os patógenos. As citocinas são as proteínas secretadas por algumas células envolvidas nos processos regenerativos ou inflamatórios e são os agentes de processos das imunidades inata e adaptativa. As citocinas servem como mensageiras entre células, de modo que o equilíbrio entre essas mensagens pró-inflamatórias ou anti-inflamatórias influencia o comportamento das células naquele lo- cal. As interleucinas, abreviadas como IL-número, por exemplo IL-10, são citocinas secretadas pelos linfócitos. É importante frisar que as citocinas são transitórias e não são armazenadas por longos períodos no tecido. Uma vez necessárias, as ILs são sintetizadas e secretadas buscando um efeito (por exemplo, IL-1 são potentes pró-inflamatórias, enquanto IL-10 têm forte efeito anti-inflamatório). Em uma lesão, há um processo fisiológico que envolve um conjunto de células e substâncias como citocinas e interleucinas tanto para combater bacté- rias quanto para promover a regeneração da lesão. É importante compreender que interleucinas e quimiocinas, em geral, não funcionam como uma chave de liga e desliga: existe um equilíbrio na função das células naquele local e o deslocamento desse equilíbrio leva aos processos de resolução do processo inflamatório e ao retorno do tecido a sua homeostase; tomando novamente um exemplo de contexto de uma lesão, inicialmente, temos um ambiente pró-inflamatório ou com processo infeccioso, focado mais no combate de patógenos, enquanto já no final migra-se para um equilíbrio que busca a resolução da lesão, diminuindo, mas não cessando, a função combativa do sistema imune. Além disso, as citocinas podem ter ação sistêmica, ou endócrina, parácrina ou autócrina (MURPHY, 2014). As células do sistema imune não estão presentes em grande número em todos os locais o tempo todo. Nossas células atuam como se estivessem em Conceitos básicos em imunologia8 estado de constante vigilância e, quando necessário, pedem reforços, que podem vir através da multiplicação ou de um processo chamado quimio- taxia. Durante a quimiotaxia, uma célula deve determinar a direção geral da fonte do sinal e se orientar para ele. Isso é possível pois as células são muito sensíveis a pequenas diferenças nas concentrações de quimiotáticos, elementos que exercem quimiotaxia. A regulação da força de adesão é essencial para permitir a movimento, sendo vital para o extravasamento e intravasamento de células através do tecido, o que ocorre durante o processo quimiotáxico. A regulação da adesão celular e a polarização do formato da célula não apenas estabiliza a passagem de uma célula entre outras, mas também fornece as forças de tração que movem uma célula da circulação através do endotélio para o tecido conjuntivo. Outros fatores solúveis são os anticorpos e os elementos do sistema complemento, que consiste em uma série de proteínas que circulam na forma de precurso- res inativos. No entanto, uma vez ativado, cada componente pode atuar como uma proteína que ativa a próxima em uma reação em cascata e que também desempenha várias funções, como quimiotaxia, aumento de efeito dos anticorpos e lise de microrganismos (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). No link a seguir, você encontrará um artigo que revisa o processo de cicatrização de ferimentos, com várias informações sobre como a inflamação e o sistema imune são importantes. https://qrgo.page.link/zM6yZ Imunidade natural e imunidade adquirida A proteção do organismo contra agentes infecciosos envolve muitos mecanismos, que são subdivididos em não específi cos e específi cos. Os inespecífi cos são similares e genericamente aplicáveis a muitos organismos patogênicos diferentes, enquanto os específi cos têm seu efeito dirigido para um antígeno específi co ou um microrganismo específi co. As defesas inespecífi cas, via de regra, são capazes de uma resposta rápida, chamada de imunidade inata ou natural, de modo que 9Conceitos básicos em imunologia os indivíduos saudáveis nascem com ela e a manifestam como primeira linha de resposta de defesa. Elas incluem: barreiras mecânicas, como a integridade da epiderme e das membranas mucosas; barreiras físico-químicas, como a acidez do fl uido estomacal; presença de substâncias antimicrobianas, como, por exemplo, a lisozima presente em secreções externas, muito importante na proteção dos olhos e algumas defensinas, substância antimicrobiana que protege os epitélios contra patógenos invasores; presença de células com capacidade fagocitária, células dendríticas e as NK; presença das proteínas citocinas que orientam as células da imunidade inata; presença de proteínas mediadoras da infl amação, entre elas, as que compõem o sistema complemento. As respostas imunes inatas são a primeira linha de defesa contra patógenos invasores e dependem da capacidade do corpo de reconhecer características conservadas de patógenos que não estão presentes no hospedeiro não infectado. Esses incluem muitos tipos de moléculas nas superfícies de bactérias, parasi- tas e fungos e o material genético de alguns vírus. Muitas dessas moléculas específicas de agentes patogênicos são reconhecidas por proteínas receptoras do tipo Toll. Nos vertebrados, essas moléculas de superfície também ativam o complemento, um grupo de proteínas sanguíneas que atuam juntas para romper a membrana do microrganismo, atraindo para fagocitose por macrófagos e neutrófilos e para produzir resposta inflamatória por quimiotaxia. As células fagocíticas usam uma combinação de enzimas degradativas, peptídeos anti- microbianos e espécies reativas de oxigênio para matar esses seres invasores (DELVES et al., 2010). Alguns microrganismos resistem à defesa inicial, sendo necessários para sua destruição de mecanismos mais específicos,em que se destaca a imuni- dade adquirida ou adaptativa. Como regra, essa resposta é induzida durante a vida do indivíduo como parte da complexa sequência de eventos envolvendo reconhecimento e apresentação de antígeno. As APC liberam moléculas sina- lizadoras que desencadeiam uma resposta inflamatória e começam a reunir as forças do sistema imune adaptativo. Células infectadas com vírus produzem interferons, que induzem uma série de respostas celulares para inibir a repli- cação viral e ativar as atividades de morte exercidas pelas células NK e dos linfócitos T citotóxicos. Assim, o segundo conjunto de respostas constitui a resposta imune adaptativa. Como o sistema adaptativo é composto de um pequeno número de células com especificidade mais alta, as células que respondem devem proliferar depois de encontrar o antígeno para obter números suficientes e montar uma resposta efetiva. Assim, a resposta adaptativa geralmente tem efeito temporalmente após a resposta inata na defesa do hospedeiro. Uma característica fundamental da Conceitos básicos em imunologia10 resposta adaptativa é que ela produz células de vida longa que persistem em um estado aparentemente inativo, mas que podem reexpressar funções efetoras rapi- damente após outro encontro com seu antígeno específico. Isso fornece à resposta adaptativa a capacidade de manifestar memória imunológica, permitindo que ela contribua de maneira proeminente para uma resposta mais eficaz do hospedeiro quando eles são encontrados uma segunda vez (CRUVINEL et al., 2010). Correlacionando-se o funcionamento do sistema imune como um todo, incluindo a interação da imunidade inata com a adaptativa, da apresentação de antígenos a resposta efetora, didaticamente nesse momento introdutório, você pode pensar em etapas sequenciais separadas de introdução, sequência e efeito (Quadro 1). O primeiro estágio (indução) envolve um uma população de células com receptores específicos capazes de reconhecer um antígeno ou um fragmento gerado por células apresentadoras de antígeno (APC). A proliferação e a diferenciação de linfócitos que respondem ao antígeno são geralmente reforçadas por sistemas de amplificação envolvendo APC e subpopulações de células T especializadas (T CD4+ e CD8+) e seguidas pela produção de molé- culas efetoras (anticorpos) ou pela diferenciação de células efetoras (células que direta ou indiretamente medeiam a eliminação de elementos indesejáveis) (MESQUITA JUNIOR et al., 2010). O resultado final, portanto, é a eliminação do microrganismo ou composto que desencadeou a reação imune (MURPHY, 2014; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Introdução Sequência Efeito Células APCs e linfócitos APC e linfócitos T auxiliares Anticorpos/com- plemento; linfóci- tos T citotóxicos; macrófagos Mecanismos Processamento e/ ou apresentação de antígeno; reconhe- cimento por recep- tores específicos em linfócitos Libertação de cito- quinas; sinais media- dos pela interação entre moléculas de membrana celular Lise mediada por complemento; fagocitose; citotoxicidade Consequências Ativação de linfóci- tos T e B Proliferação e dife- renciação de linfóci- tos T e B Neutralização de toxinas/vírus/ microrganismos Quadro 1. Visão genérica da ativação imune 11Conceitos básicos em imunologia No link a seguir, você pode conferir imagens de células do sistema imune atacando células de câncer e bactérias (algumas células foram coloridas artificialmente para ficarem mais didáticas). https://qrgo.page.link/sCj8N ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. CRUVINEL, W. M. et al. Sistema imunitário: Parte I. Fundamentos da imunidade inata com ênfase nos mecanismos moleculares e celulares da resposta inflamatória. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 50, n. 4, p. 434-447, ago. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042010000400008&ln g=en&nrm=iso. Acesso em: 11 out. 2019. DELVES, P. J. et al. Roitt: fundamentos de imunologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan, 2010. LOPES, R. J. Cientistas criam receita para fabricar sangue. São Paulo, 2017. Disponível em: https://panoramafarmaceutico.com.br/2017/05/29/laboratorio-segue-na-lideranca/. Acesso em: 11 out. 2019. MESQUITA JUNIOR, D. et al. Sistema imunitário: parte II: fundamentos da resposta imu- nológica mediada por linfócitos T e B. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 50, n. 5, p. 552-580, out. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0482-50042010000500008&lng=en&nrm=isso. Acesso em: 11 out. 2019. MURPHY, K. M. Imunobiologia de Janeway. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Leituras recomendadas BALBINO, C. A.; PEREIRA, L. M.; CURI, R. Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma revisão. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 27-51, jan./mar. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- -93322005000100004&lng=en&nrm=isso. Acesso em: 11 out. 2019. Conceitos básicos em imunologia12 MACEDO, D. P. C. et al. Infecções oportunistas por leveduras e perfil enzimático dos agentes etiológicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 42, n. 2, p. 188-191, abr. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0037-86822009000200019&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 11 out. 2019. NAOUM, P. C. Avanços tecnológicos em hematologia laboratorial. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, São José do Rio Preto, v. 23, n. 2, p. 111-119, ago. 2001. 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B) Patógeno. C) Comensal. D) Endêmica. E) Atenuada. 3) Quais das seguintes opções são características da imunidade inata? A) Anticorpos. B) Melhora no reconhecimento do patógeno durante a resposta. C) Resposta rápida. D) Altamente específica para um dado patógeno. E) Memória imunológica. 4) Os neutrófilos são os componentes celulares mais abundantes do sistema imune. Em relação a eles, qual das seguintes afirmações é falsa? A) Os neutrófilos fazem parte dos chamados leucócitos polimorfonucleares. B) Os neutrófilos são ativos somente em condições aeróbias. C) Os neutrófilos são fagocitários. D) Os neutrófilos formam o pus, que é constituído de neutrófilos mortos. E) Os neutrófilos mortos são removidos dos locais de infecção pelos macrófagos. 5) Qual dos tipos de linfócitos tem a função de secretar imunoglobulinas? A) Linfócitos virgens. B) Linfócito T citotóxico. C) Linfócito B. D) Linfócito T auxiliar. E) Linfócitos efetores. NA PRÁTICA Por que a vacina BCG deixa uma cicatriz? SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Microbiologia Médica e Imunologia Levinson, Warren, Capitulo 57. ed. 13 - McGraw-Hill/Artmed
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