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Sintese Artigto Dimensões da Desigualdade Educativa no Brasil

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O artigo Dimensões da Desigualdade Educativa no Brasil, apresenta uma análise sobre três dimensões da desigualdade educacional: de acesso aos diferentes níveis educacionais, de tratamento e de desempenho, tendo como referência a formulação de Marcel Crahay (2000), que estabelece três tipos de igualdade na educação, a igualdade de acesso, a de tratamento e a de resultados. Apesar de inter-relacionadas, estas dimensões devem ser examinadas isoladamente para a melhor compreensão de suas causas e implicações, o que possibilita, a formulação de políticas públicas a cada uma delas, e sua associação aos indicadores utilizados para medi-las. 
A primeira dimensão da desigualdade é medida pela taxa de acesso à escola por parte de grupos diferentes. O objeto de discussão é a garantia da matrícula e da manutenção de frequência à escola. Oliveira et al. (2013) defende que a ação pedagógica deve ser proporcional aos méritos e potencialidades dos indivíduos, ou seja, o tratamento dado a cada aluno e seus resultados são desiguais, pois aqueles com maiores potencialidades devem receber mais. A igualdade aqui é a do acesso ao sistema escolar: todos devem ter a matrícula e a frequência à escola garantidas. Seria o primeiro sentido da qualidade educação. As políticas públicas criadas passam então a garantir a obrigatoriedade e gratuidade do ensino, além da construção de novos prédios escolares. 
Com o tempo, conceito de qualidade passa a focar o prosseguimento dos estudos com aprovação ou do fluxo escolar, pois problemas internos do começam a impedir o prosseguimento dos estudos da população recém-chegada à escola, que não possui as experiências culturais extraescolares dos grupos que já tinham acesso à escola. A década de 90 fica marcada então, pela criação de políticas que garantissem a regularização deste fluxo, como a adoção de ciclos, a promoção automática e de programas de aceleração de aprendizagem.
Apesar de obrigatório, o acesso à Educação Básica ainda não é universal. Por isso, o PNE apresentou, dentre suas metas: a universalização da Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade, e do Ensino Fundamental para toda a população de 6 a 14 anos e que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada; a ampliação da oferta de Educação Infantil em Creches; o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos; e a elevação, até o final do período de vigência do PNE, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85% (BRASIL, 2014). 
Esta última meta confirma que, quanto a progressão escolar, o PNE define que não seja totalmente resolvida ao final de sua vigência, pois se até 2024, 85% dos adolescentes deverão estar no Ensino Médio, significa uma aceite de que 15% ainda estejam em séries anteriores ou fora da escola. O sistema público busca diminuir as desigualdades através de um movimento do em que as características pessoais de cada indivíduo causem menos interferência. 
A concepção de tratamento as condições da oferta do ensino, que devem possuir tratamento homogêneo, ou seja, serem iguais para todos. Dentro dessa concepção ainda existe desigualdade nos resultados, pois o sucesso escolar depende do mérito individual de cada aluno. 
A exemplo, a expansão de Educação Básica brasileira define a concepção de tratamento. No Brasil Império, com a criação da Lei Geral de 1827, às províncias ficaram responsáveis pela educação primária e o poder central, pela superior. Essa divisão, segundo Abrucio (2010), gerou desigualdades, pois nas províncias mais ricas do Sul e Sudeste a capacidade orçamentária era superior do que nas do Norte e Nordeste, que acabaram por se omitir, deixando às responsabilidades para os municípios. 
As criações do Fundef e do Fundeb são exemplos destas iniciativas, pois buscaram redistribuição horizontal de recursos entre estado e municípios, em função da quantidade de matrículas de cada rede, além de garantirem um complemento da União para os fundos com menores valores per capita. Entretanto, segundo Abrucio (2010), “...mexeram pouco com as desigualdades regionais que marcam a federação brasileira...”. Pode-se afirmar que as políticas públicas que buscam a homogeneização do tratamento por financiamento são atualmente incipientes Brasil.
O Brasil também regula dos gastos municipais através da vinculação das receitas municipais ao gasto em políticas específicas. Para Arretche (2010), políticas descentralizadas reguladas, “aquelas nas quais a legislação e a supervisão federais limitam a autonomia decisória dos governos subnacionais, estabelecendo patamares de gasto e modalidades de execução das políticas” (p. 603), também podem contribuir para a redução das desigualdades nos gastos. 
Outro exemplo brasileiro de política pública de tratamento é o estabelecido pela Lei nº 11.738, que define um mínimo de Piso Salarial Profissional Nacional e deveria ser cumprido por todos os entes federados, porém, de acordo com Fernandes (2013), muitos governos tomaram como teto o valor colocado como mínimo e alguns municípios encontraram dificuldades. 
Sobre as políticas públicas destinadas a uma uniformização do ensino, tem-se a ideia presente no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, que defendia “a escola oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15, todas ao menos que, nessa idade, sejam confiadas pelos pais à escola pública, tenham uma educação comum, igual para todos” (MEC, 2010, p. 44).
Para entender a uniformização do ensino, é necessário compreender o papel do governo federal em relação à Educação Básica é importante. De acordo com Abrucio (2010), ao longo do século XX o governo federal foi aumentando a participação na Educação Básica, por meio de ações normativas e programas federais. No governo militar, observa-se uma centralização decisória e uniformização da implementação das políticas. E, após a democratização, surgiriam ações da União via programas federais, com o objetivo de criarem parâmetros nacionais e que as desigualdades fossem combatidas pela da distribuição de recursos aos governos subnacionais ou às próprias comunidades escolares. Destacam-se os programas: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, Mais Educação, o Programa Nacional do Livro Didático, Programa Nacional Biblioteca na Escola, Proinfo e o Plano de Ações Articuladas. 
O próprio Plano Nacional de Educação (PNE) é exemplo de instrumento de uniformização das condições de oferta do ensino brasileiro, pois suas metas e estratégias que buscam reduzir as desigualdades de tratamento no Brasil, através da padronização do ensino, formação adequada dos professores, infraestrutura mínima das escolas e objetivo e direitos de aprendizagem comum a todos os alunos.
No Brasil, poucos indicadores diagnosticam a desigualdade no tratamento. Quanto ao do financiamento, são inexistentes indicadores a nível escolar e, em relação à infraestrutura, o INEP, através do Censo Escolar por região, é possível identificar as desigualdades.
O Censo Escolar separa as escolas em quatro níveis de infraestrutura: elementar, básica, adequada e avançada. Em 2011, 44,5% das escolas brasileiras tinham infraestrutura elementar, que se trata de escolas que têm apenas itens elementares como água, sanitário, energia, esgoto e cozinha; 40% tinham infraestrutura básica onde, além dos itens elementares possuem itens como sala de diretoria e equipamentos como TV, DVD, computadores e impressoras; e 15,5% das escolas tinham infraestrutura mais sofisticada.
O Brasil tem a educação marcada por desigualdades causadas, tanto pela falta de acesso ao sistema escolar, quanto pelo próprio sistema e padrões diferentes de qualidade educacional. Estas desigualdades geram diversos efeitos negativos para a população excluída do direito à educação de qualidade. 
Por último, a desigualdade de conhecimento, que é relacionada aos conhecimentos adquiridos ao longo do sistema educacional. Essa dimensão é associada à concepção de igualdade de conhecimentos, para a qual deve haver justiça corretiva que reduza as desigualdadesiniciais por meio de ações afirmativas e de compensação aos menos favorecidos (Oliveira et al., 2013).
Essa dimensão de desigualdade foi contatada nas décadas de 60 e 70, a partir da observação das diferenças existentes entre os resultados finais dos alunos: a equidade das condições de ensino não foi suficiente para reduzir a diferença nos resultados dos alunos de diferentes classes sociais. Um relatório produzido nos anos 60, sob a supervisão de Coleman (2008) concluiu que as diferenças socioeconômicas entre os alunos norte-americanos eram as principais responsáveis pelas diferenças entre seus desempenhos e, portanto, a escola não cumpria o papel de instituição equalizadora de oportunidades.
Nesta mesma época, Bourdieu (2007) formulou a teoria da reprodução e, através da sociologia, examinou a ação reprodutora de desigualdades do sistema educacional. De acordo com essa teoria, o êxito escolar das crianças é influenciado pela condição socioeconômica de sua família, pois o sistema escolar requer o domínio prévio de alguns códigos que estão mais próximos do código das elites. Então, quanto mais distante é o código familiar do estudante do código usado na escola, maiores são as dificuldades encontradas pelo aluno para obter o sucesso escolar.
A partir destes dois estudos, foi possível observar que os alunos mais pobres tinham menos chaces de sucesso escolar. Num sistema educativo equitativo ideal, todos devem ter a mesmas probabilidades de sucesso educacional e desempenho. Neste cenário a discriminação positiva passa a ser defendida. Nesse modelo, os recursos variam de acordo com a necessidade do aluno ou da escola, ou seja, aquelas, maior quantidade de alunos pobres devem receber mais recursos. 
Um exemplo de documento que defende a discriminação positiva é um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (2012), pela promoção de políticas públicas voltadas à melhoria da educação, que propõe que os sistemas de ensino ter mecanismos de financiamento de escolas que considerem custos maiores, dependendo das necessidades dos alunos atendidos.
O sistema equitativo busca a garantir que os alunos de todos os grupos sociais tenham probabilidade de sucesso, através da mesma chance de aquisição de conhecimentos. O sistema educativo para tanto, deveria garantir um mínimo cultural comum que todos a alunos, abaixo do qual a desigualdade não é aceitável. Os objetivos educacionais devem ser comuns a todos, permitindo-se diferenciar os meios para atingi-los, de acordo com a diversidade do alunado (SEABRA, 2009).
No Brasil, são poucas as políticas federais de discriminação positiva. O que existe são algumas políticas no atendimento de populações mais vulneráveis, como o Mais Educação, que prioriza o atendimento a escolas com a maioria dos alunos beneficiários do Programa Bolsa Família. No PNE, a equidade está em uma de suas diretrizes e aparece uma vez no anexo que tem as metas e estratégias:	
Art. 2o São diretrizes do PNE: [...] VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; [...] Estratégia 7.9) orientar as políticas das redes e sistemas de ensino, de forma a buscar atingir as metas do Ideb, diminuindo a diferença entre as escolas com os menores índices e a média nacional, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo pela metade, até o último ano de vigência deste PNE, as diferenças entre as médias dos índices dos Estados, inclusive do Distrito Federal, e dos Municípios; (BRASIL, 2014).
Por fim, apesar de discutidas separadamente é importante ressaltar a interdependência as dimensões de desigualdades apresentadas e os deslocamentos das desigualdades existente nelas e nos níveis de ensino. Políticas públicas educacionais que promovam acesso mais igualitário são importantes tanto para a plena cidadania quanto para a redução da desigualdade em nossa sociedade.

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