Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MACRO E MICRONUTRIENTES Marianne Rocha Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 ESTRUTURA QUÍMICA, FUNÇÕES E NECESSIDADES ��������������������������������������������� 4 Carboidratos �������������������������������������������������������������������������� 4 Proteínas ����������������������������������������������������������������������������� 13 Lipídios �������������������������������������������������������������������������������� 21 Vitaminas e minerais ���������������������������������������������������������� 30 UTILIZAÇÃO DURANTE O EXERCÍCIO ��������� 37 FATORES CONDICIONANTES DA UTILIZAÇÃO DURANTE O EXERCÍCIO ��������� 41 Fatores que influenciam a utilização dos sistemas energéticos durante o exercício físico������������������������������� 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������47 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, entenderemos mais sobre a com- posição química dos macros e micronutrientes, que são substâncias essenciais para o bom fun- cionamento do organismo e também verificaremos suas funções e necessidades diárias. A ingestão nutricional adequada para o praticante de atividade física e atleta permite melhor recupe- ração, redução do risco de lesões, melhor controle de composição corporal e prevenção de doenças. Desse modo, iremos discutir de forma mais pro- funda como os nutrientes são utilizados durante os exercícios físicos e quais fatores influenciam sua utilização na prática de atividade física. Assim, ao final do módulo, analisaremos também aspectos bioquímicos e fisiológicos na Nutrição Esportiva, para que tenhamos mais segurança na orientação e prescrição de programas de treino para indivíduos fisicamente ativos. 3 ESTRUTURA QUÍMICA, FUNÇÕES E NECESSIDADES Os nutrientes têm importância fundamental para o corpo humano pois fornecem energia, ajudam no reparo e construção de tecidos, regulam funções metabólicas, protegem o corpo contra doenças e traumas, entre tantas outras coisas. Neste tópico, conheceremos mais sobre as estru- turas químicas de cada macro e micronutriente e as funções que desempenham no corpo humano, bem como, as necessidades de cada um para o bom funcionamento do organismo e rendimento esportivo. Para facilitar a compreensão, cada classe de nu- trientes será abordada nos seguintes subtópicos. CARBOIDRATOS Funções Os carboidratos são nutrientes que têm como função primordial o fornecimento de energia para o homem. Em um grama de carboidrato há quatro calorias, sendo esta uma energia amplamente disponível para todas células na forma de glicemia 4 (glicose no sangue) ou na de glicogênio (estoque de glicose). Além de sua função energética, os carboidratos desempenham as demais funções no organismo humano: y Poupar proteína: ao ingerir carboidratos em quantidade adequada, o indivíduo impede que as proteínas contidas em suas estruturas sejam retiradas para a produção de energia, o famoso catabolismo, que pode levar a problemas no tecido muscular e em órgãos como coração, rins e fígado; y Melhora da saúde intestinal: as fibras alimen- tares (que são um tipo de carboidrato) são fonte de energia das células intestinais e ajudam na forma- ção e eliminação das fezes, colaborando para boa saúde intestinal ao prevenir constipação intestinal (prisão de ventre), hemorroidas e divertículos; y Principal fonte energética do sistema nervoso central: a maior parte do sistema nervoso central e cérebro dependem do suprimento constante de glicose e sua ausência pode gerar danos irrever- síveis a esse sistema; y Ativação metabólica lipídica: quando o indivíduo não consome fontes de carboidratos na quantidade correta, há falta de glicose para ser utilizada pelas células, os lipídios são oxidados e geram corpos cetônicos. Caso ocorra produção excessiva desses corpos cetônicos, o corpo pode entrar em acidose 5 metabólica com consequências sérias para saúde, se a situação não for revertida. Para além da saúde geral, os benefícios da ingestão de carboidratos para um praticante de atividade física são diversos, conforme observamos na tabela a seguir: Tabela 1: Benefícios da ingestão de carboidratos por indi- víduos fisicamente ativos 1 Manutenção de foco e concentração, visto que é a fonte de energia principal para o sistema nervoso central. 2 Fornecimento de energia rápida para várias intensidades de treino e competição, pois pode ser metabolizado tanto em vias aeróbias quanto anaeróbias. 3 Fornece mais adenosina trifosfato (ATP) comparado a molécula de gordura por volume de oxigênio, quando há esforço de alta intensidade. 4 Aumento da performance do indivíduo em exercícios in- termitentes de alta intensidade quando encontra-se dis- ponível, seja na glicemia ou nas reservas de glicogênio. 5 Desempenha papel importante para a adaptação muscu-lar ao treinamento. Fonte: Adaptado de Wendling, 2018, p. 104 Para atletas e praticantes de atividade física, o baixo consumo de carboidratos reduz suas habili- dades motoras, prejudica concentração, aumenta a percepção de fadiga e atrapalha a intensidade do ritmo na atividade e sabe o porquê de tudo isso? Porque a oferta baixa de carboidratos faz o orga- nismo usar outras fontes para produzir energia, 6 como é o caso dos lipídios e proteínas, porém, ao utilizar lipídios é possível gerar excesso de corpos cetônicos, consequências deletérias ao cérebro e ao sistema nervoso central e, ao usar proteínas, os músculos podem ser afetados, proporcionando fadiga, mais chance de lesões e piora no desem- penho físico. Sabia que se o carboidrato fosse o único nutriente a fornecer energia, em uma partida de futebol com 90 minutos, as reservas energéticas dos jogadores seriam esgotadas? Por isso, é importante o consumo adequado desse nutriente ao longo do dia para manter e repor seus estoques a fim de não comprometerem seus de- sempenhos no esporte. Considerando isso tudo, ainda é importante saber- mos que o consumo excessivo de carboidratos também pode prejudicar o atleta, aumentando a chance de acúmulo de gordura corporal e risco de doenças como diabetes melito (tipo 1), obesidade e síndrome metabólica. Estrutura química Em relação a sua estrutura química, carboidratos são compostos por carbono, hidrogênio e oxigênio, podendo também conter em sua estrutura enxofre, REFLITA 7 fósforo e nitrogênio. Quimicamente, representa- mos os carboidratos como: (CH2O)n , onde n é no mínimo 3 e no máximo 8. A classificação dos carboidratos ocorre pelo número de moléculas em: monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos Monossacarídeos Os monossacarídeos são os famosos açúcares simples. Ou seja, são o produto final da digestão dos carboidratos. Os mais importantes são: glicose, frutose e galactose� A glicose pode ser encontrada em frutas, vegetais, mel e é o produto final da digestão da maltose (um dissacarídeo), do amido (um polissacarídeo), da dextrina (um oligossacarídeo) e um dos produtos finais da sacarose (um dissacarídeo) e lactose (um dissacarídeo). É importante lembrarmos que a glicose é a fonte de energia imediata para nossas células e tecidos. A frutose é considerada o açúcar mais doce de todos e podemos encontra-la no mel e nas frutas. É um dos produtos finais da digestão da sacarose. No corpo humano, a frutose é convertida em glicose para ser usada como fonte de energia. A galactose é o açúcar que aparece combinado com a glicose na molécula de lactose. É utilizada 8 para produção de galactolipídios e cerebrosídeos no sistema nervoso. Dissacarídeos Dissacarídeos são aqueles representados por duas moléculas de carboidrato ligadas. São eles: y Sacarose: glicose mais frutose, encontrada no açúcar de mesa, na cana de açúcar, na beterraba; y Lactose: glicose mais galactose, encontrada no leite; y Maltose: glicose mais glicose, obtida através dafermentação do amido e verificamos, por exemplo, na cerveja. Oligossacarídeos São compostos de 3 a 10 moléculas de carboi- dratos ligadas. Dentre os oligossacarídeos, en- contramos maltodextrinas, rafinose, estaquiose, fruto-oligossacarídeos. A maltodextrina é um tipo de oligossacarídeo e é comu- mente utilizado como suplemento para fornecer energia mais rapidamente ao praticante de atividade física. FIQUE ATENTO 9 Polissacarídeos São carboidratos formados pela combinação de mais de 10 moléculas e também são chamados de carboidratos complexos. Têm como represen- tantes o amido, glicogênio, celulose, hemicelulose. O amido é a principal forma de armazenamento de carboidrato nos vegetais e é formado por amilose e amilopectina. Já o glicogênio é o principal estoque de carboidrato nos animais. A celulose e hemicelulose são compostas por glicose, porém, não são absorvidas pelo organis- mo humano, por isso, fazem parte do grupo das fibras alimentares visto que não há enzimas para digeri-las. Fontes alimentares Pensando nas fontes alimentares, em geral de carboidratos, podemos encontrar carboidratos (CH2O)n, principalmente em alimentos de origem vegetal e processados como cereais, tubérculos (batata, mandioca, inhame), raízes, sementes, fru- tas, pães, bolos, massas, doces, como podemos observar na tabela a seguir: 10 Tabela 2: Exemplos de alimentos fonte de carboidratos, medida usual e quantidade de carboidratos Alimento Medida usual Quantidade de CH2On (g) Arroz branco cozido 4 colheres de sopa (125g) 40,4 Batata cozida 1,5 unidade (175g) 35,2 Macarrão cozido 3,5 colheres de sopa (105g) 24,2 Pão francês 1 unidade (50g) 28,7 Pão integral 2 fatias 34,5 Fonte: Adaptado de Egashira et al., 2018, p. 58. Necessidades de carboidratos Na elaboração de um plano alimentar, tendo em vista sua importância energética, os carboidratos compõem a maior parte da alimentação dos indi- víduos e são distribuídos ao longo das refeições diárias. As novas diretrizes de consumo recomendam que crianças e adultos consumam, no mínimo, 130 gramas de carboidrato por dia para terem a glicose mínima disponível para o funcionamento cerebral, o que é facilmente atingido pela alimentação. Segundo as recomendações para população em geral feitas pelo Food and Nutrition Board (IOM, 2002), deve-se oferecer entre de carboi- dratos do valor energético total de consumo de um 11 indivíduo. Ou seja, se um indivíduo precisa consumir , ele precisará que entre dessas sejam alimentos fontes de carboidratos. Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) reco- menda que a dieta seja composta entre de carboidratos e que os açúcares simples não ultrapassem do valor efetivo total (VET) de consumo. As necessidades diárias de carboidrato de um praticante de atividade física variam conforme o treino, composição corporal, frequência, tipo, du- ração e intensidade de treino, como vemos abaixo: y Indivíduos com frequência de treino entre 3 e 4 vezes por semana, com duração média de 30 a 60 minutos, necessitam, em média, de 3 a 5 gramas de � y Indivíduos com frequência entre 5 e 6 vezes por semana, com duração de 2 a 3 horas por ses- são, necessitam, em média de de peso corporal por dia. Em muitos casos, é preciso necessário o uso de suplemento de carboidrato para atender essa demanda� Para exemplificar, consideremos um homem de que pratica musculação 5 vezes por semana durante ( de peso corporal por dia). Conforme a recomendação, ele deveria consumir entre de carboidratos por 12 dia, que seriam distribuídos em seu cardápio com alimentos e suplementos, se necessário. Para um atleta, o posicionamento do American College of Sports Medicine (2009) orienta que o consumo de carboidratos deve variar entre 6 e 10g/kg de peso corporal, porém, já sabemos que a quanti- dade real dependerá do tipo de esporte, do gênero e de condições ambientais do indivíduo. Ao calcular a quantidade adequada de carboidratos para um indivíduo fisicamente ativo, é preciso que os nutricionistas também verifiquem a tolerância gastrointestinal, absorção intestinal, efeitos na insulinemia (insulina no sangue), índice glicêmico (IG) e taxa de oxidação do mesmo. PROTEÍNAS Estrutura química e funções As proteínas são macromoléculas compostas por aminoácidos ligados por ligações peptídicas, conforme indicado na figura a seguir: 13 Figura 1: Processo de formação de uma molécula de proteína Aminoácidos Peptídeo Proteína Fonte: Macromealsuk A principal função das proteínas é formar as estru- turas corporais, como ossos, pele, cabelos, unhas, músculos, entre outras. Assim, elas fazem parte de todas as células do nosso corpo, como enzimas, moléculas de transporte, anticorpos, queratina, colá- geno, hormônios, matriz extracelular, miosina, actina, hemoglobina, etc. Observemos na tabela a seguir: Tabela 3: Tipos de proteínas existentes no corpo humano Tipo de proteína Exemplos Proteínas estruturais Colágeno, queratina, elastina Motoras Actina, miosina Hormônios Insulina, glucagon, ocitocina Proteínas do sistema imune Anticorpos, peptídeos de superfície Proteínas de transporte Albumina, hemoglobina Nucleoproteínas Proteínas associadas ao DNA Enzimas Proteases, amilases, etc. Proteínas de membrana - Fonte: Elaboração Própria. 14 Além disso, não podemos esquecer que a proteína também fornece energia, mesmo que não de forma primordial. Em 1 grama de proteína, há � Em relação à estrutura química das proteínas, os aminoácidos que formam as proteínas são com- postos por carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N) e apresentam os grupamentos carboxila, amínico e uma cadeia lateral distinta (R), que difere cada aminoácido do outro em termos estruturais, como observamos na figura a seguir: Figura 2: Estrutura geral de um aminoácido H CNH2 (Grupo Amino) (Grupo carboxílico) (Cadeia orgânica lateral) COOH R Fonte: Adaptado de ROGERO; ARAÚJO JUNIOR; TIRAPE- GUI. In: BIESEK; ALVES; GUERRA, 2015, p. 18 Normalmente, encontramos 20 aminoácidos nas proteínas que ingerimos diariamente e, 11 deles podem ser sintetizados pelo nosso corpo, cha- mados então de aminoácidos não essenciais� Os outros 9 aminoácidos não conseguimos sintetizar e devem ser obtidos através da dieta, os chamados aminoácidos essenciais. Há ainda os aminoácidos 15 condicionalmente essenciais, que devem ser inclu- ídos na dieta em condições especiais em que sua produção pelo corpo é limitada, como em casos de imunossupressão. Observemos a classificação desses aminoácidos na tabela a seguir: Tabela 4: Classificação dos aminoácidos conforme sua essencialidade Classificação Aminoácidos Não essenciais Alanina, arginina, asparagina, aspartato, cisteína, glutamato, glutamina, glicina, prolina, serina e tirosina Essenciais Histidina, isoleucina, leucina, lisina, me- tionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina Condicionalmente essenciais Arginina, cisteína, glutamina, glicina, proli- na e tirosina Fonte: Elaboração Própria. Fontes alimentares Podemos encontrar proteínas ( ) em alimentos de origem animal, como carnes, peixes, aves, ovos, laticínios e em alimentos de origem vegetal como leguminosas (feijões, soja, grão de bico, ervilha, lentilha, fava, amendoim) e cereais integrais, con- forme indica a tabela a seguir: 16 Tabela 5: Exemplos de alimentos fonte de proteínas, medi- da usual e quantidade de proteínas Alimento Medida usual Quantidade de Patinho bovino sem gordura grelhado 1 bife pequeno (54 gramas) 19 Peito de frango sem pele grelhado 1 filé médio (100 gramas) 32 Atum ralado em conserva 1 lata (170 gramas) 40 Bisteca de porco grelhada 1 unidade sem osso (100 gramas) 29 Ovo de galinha cozido 1 unidade (50 gramas) 7 Leite integral 1 xícara de chá (182 mililitros) 6 Iogurte natural ¾ copo de requeijão (210 mililitros) Ricota 2 fatias (100 gramas) Amendoim 22 unidades (9 gramas) Feijão cozido 3 colheres de sopaErvilha verde cozida 2 ½ colheres de sopa Lentilha cozida 2 colheres de sopa Amêndoa 9 unidades Fonte: Adaptado de Phillippi, 2018 Classificação das proteínas Quando falamos das proteínas de origem animal, classificamos elas como Proteínas de Alto Valor Biológico (PAVB), por fornecerem todos os amino- ácidos essenciais em quantidades e proporções adequadas para a síntese proteica. Enquanto as 17 proteínas de origem vegetal são classificadas como Proteínas de Baixo Valor Biológico (PBVB), por não fornecerem todos os aminoácidos essenciais em quantidade e proporcionalidade adequada para a síntese de proteínas� Assim, caso o indivíduo seja vegetariano ou ve- gano, busque auxílio de um nutricionista pode ser necessário, pois é essencial que ocorra o consumo de fontes variadas de cereais integrais, verduras, legumes e leguminosas. Síntese proteica é o processo pelo qual as proteínas são produzidas, sendo essencial para que nossas células e tecidos possam crescer e se reparar. Necessidades proteicas Para quem pratica atividade física, as proteínas são essenciais na construção e reparo dos mús- culos, visto que estimulam a síntese de proteínas musculares, melhoram as estruturas de tendões e ossos e realizam o reaproveitamento da proteína corporal (turnover proteico). Além disso, os amino- ácidos presentes também atuam como substrato energético de emergência no esforço, ajudando a poupar o glicogênio. FIQUE ATENTO 18 A recomendação de ingestão de proteínas do IOM (2002) para a população saudável sedentária é de de proteína por de peso corporal por dia. Assim, uma pessoa com deveria ingerir de proteínas por dia � Para praticantes de atividade física e atletas, con- forme o posicionamento do American College of Sports Medicine (2009), as necessidades proteicas aumentam conforme o tipo de exercício realizado, intensidade, duração e frequência, independen- temente do sexo. Assim, atletas de endurance e força devem ingerir entre de peso corporal de proteínas para atender suas necessi- dades, devendo também ter o consumo energé- tico adequado para garantir a otimização do uso das proteínas. Para exercícios que têm o objetivo de aumento na massa muscular, a sugestão de consumo é de 1,6 a 1,7g de proteína/kg de peso corporal. Importante ressaltar que essa ingestão proteica pode ser alcançada através da dieta com alimentos fontes de PAVB e/ou da suplementação de proteínas ou aminoácidos. 19 Segundo o Dicionário de Esportes, endurance, atualmente, “denomina a prática esportiva que coloca à prova a ha- bilidade do atleta de resistir ao desgaste físico e mental por longos períodos de tempo para alcançar um objetivo, seja ele em grupo ou individual, competitivo ou não.” Outras recomendações para atender às neces- sidades de indivíduos fisicamente ativos estão resumidas na tabela a seguir, elaborada a partir dos estudos de Rogero, Araújo Junior e Tirapegui. Tabela 6: Recomendações de ingestão de proteínas para atendimento das necessidades de indivíduos fisicamente ativos conforme tipo de atividade física Tipo de atividade física Recomendação de ingestão proteica Endurance moderado e regular (5 a 6 vezes por semana durante 60 minutos) Endurance de elite Endurance de modo recreativo (de 4 a 5 vezes por semana, por 30 minutos com intensidade inferior a do máximo (consumo máximo de oxigênio)) Treino de força (indivíduos que estão começando) Treino de força (indivíduos já treinados e atletas) Praticantes de treino de força (não atletas) Fonte: Elaboração Própria. FIQUE ATENTO 20 É importante também ressaltarmos aqui que o ex- cesso de proteínas não proporciona mais síntese proteica ou melhora o desempenho físico de seus atletas e alunos, ok? No mundo esportivo e de academias, existem mitos de que apenas o consumo proteico influencia o volume muscular e de que quanto maior a ingestão proteica, maior o ganho. Entretanto, isso não é verdade! Além do consumo proteico, o ganho de massa muscular é diretamente afetado pela genética, intensidade de treinamento de força, descanso, controle do stress e alimentação equilibrada em todos os nutrientes, não só proteico. LIPÍDIOS Definição e características químicas Os lipídios, também conhecidos como gorduras, são moléculas compostas por carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O) e se diferem dos carboidratos pelo tipo de ligação entre os átomos e pela maior proporção de moléculas de hidrogênio comparada à de oxigênio em sua estrutura. Apresentam como característica química a sua insolubilidade em água e constituem um grupo heterogêneo composto por óleos (lipídios que se REFLITA 21 mantêm líquidos em temperatura ambiente, como os óleos vegetais que conhecemos), gorduras (lipídios que se mantém sólidos em temperatura ambiente, como o caso da manteiga), ceras (lipídios que são semissólidos em temperatura ambiente, como a cera de abelha) e todos seus respectivos derivados. Fontes alimentares Podemos encontrar lipídios em alimentos de origem vegetal e animal, sendo que deles estão em forma de triglicerídeos, tendo ácidos graxos insa- turados (poli e mono) e saturados, o que confere o sabor e aroma característico de cada alimento. Assim, são fontes alimentares de lipídios óleos vegetais, margarinas, manteigas, coco, abacate, açaí, carnes, ovos, leite e derivados e produtos feitos com alta concentração de lipídios como bolos, bolachas, sobremesas. Observemos na tabela a seguir, alguns exemplos: 22 Tabela 7: Exemplos de alimentos fonte de lipídios, medida usual e quantidade de lipídios Alimento Medida usual Quantidade de Lipídio (grama) Abacate 1 colher de sopa (20 gramas) Amendoim cru com pele 22 unidades (9 gramas) Leite integral 1 copo (200 mililitros) Queijo prato 1 fatia (15 gramas) Óleo de soja 1 colher de sopa (8 gramas) 8 Manteiga ½ colher de sopa (10 gramas) Sorvete de chocolate 1 bola (60 gramas) Fonte: Adaptado de SANTOS; AQUINO. In: PHILLIPPI, 2018, p. 312. Funções desempenhadas no organismo As principais funções que os lipídios desempenham no organismo são fornecimento de energia (1 gra- ma de lipídio fornece 9 ), isolamento térmico, proteção dos órgãos contra traumas mecânicos, transporte de vitaminas lipossolúveis, formação de membranas celulares, síntese de hormônios e sais biliares. O tecido adiposo representa também a maior reserva energética no corpo humano. Você sabia que da gordura corporal ajuda a proteger os órgãos vitais contra traumas e que a gordura subcutânea auxilia no isolamento térmico, permitindo ao indivíduo se 23 expor com mais facilidade à baixas temperaturas? Muito legal, não é mesmo?! No caso de quem pratica atividade física ou é atleta, o isolamento térmico é importante para mergulho e travessias à nado ou para proteger atletas de futebol americano contra traumas. Porém para quem faz endurance, o excesso de gordura subcutânea pode atrapalhar a regulação da temperatura corporal, retardando a dissipação do calor do organismo durante a atividade. Junto ao carboidrato, os lipídios são substân- cias utilizadas como combustível para a prática esportiva na forma de ácidos graxos. Você deve estar se perguntando como o corpo escolhe qual “combustível” utilizará, pois bem, tudo dependerá da intensidade do exercício. Portanto, para quem faz atividade física ou exercício físico regularmente, os lipídios são fontes de energia importantes, além de serem essenciais para boa saúde ao fornecerem ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis. De modo geral, é importante orientarmos os indi- víduos a não exagerarem nos alimentos ricos em lipídios, pois as pesquisas mostram que o excesso de lipídios da dieta é relacionado a ganho de peso, maior risco de hipertensão arterial, diabetes melito tipo 2, hiperlipidemias e doenças cardiovasculares 24 (KIM, e GIOVANNUCCI, 2021; SCHWINGSHACKL et al., 2021). Além disso, o American College of Sports Medicine (2009) alerta que dietasricas em gorduras não trazem benefícios aos atletas. Classificação química Pode-se classificar os lipídios conforme o tamanho de sua cadeia de carbonos, nível de saturação, forma ou de acordo com o processo tecnológico aplicado. Porém, basicamente, classificamos eles em lipídios simples, compostos, e derivados, con- forme descrito a seguir: y Lipídios simples: são aqueles compostos ba- sicamente por triglicerídeos. No nosso organismo, os triglicerídeos são as estruturas lipídicas mais predominantes e eles são formados por glicerol e ácidos graxos; y Lipídios compostos: são formados por uma mo- lécula de triglicerídeo combinada a outro elemento químico, como é o caso do fosfolipídio (responsá- vel por formar as membranas celulares), formado por ácido graxo, fósforo e uma base nitrogenada; y Lipídios derivados: são compostos por lipídios simples e compostos, como é o caso do colesterol, que é a base para produção de todos compostos estoroidais do organismo, como hormônios se- xuais (estrogênios, androgênios e progesterona), vitamina D, sais biliares, hormônios adrenocorticais e fazem parte da membrana de todas as células. 25 Podemos obtê-lo pela alimentação (exógeno) ou produzirmos (endógeno). O colesterol pode ser obtido através da dieta pelo consumo de alimentos de origem animal, como leite integral, ovos, carnes, peixes, frutos do mar e aves. Não há colesterol em alimentos de origem vegetal, como óleos. Em relação aos ácidos graxos, eles podem ser classificados conforme o número de átomos de carbono, seu nível de saturação e configuração. Ácidos graxos, que apresentam menos de 6 átomos de carbono em sua cadeia, são chamados de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC); se apresentam de 6 a 12 átomos de carbono, são classificados como ácidos graxos de cadeia média (AGCM) e aqueles com 14 ou mais átomos de carbono são chama- dos de ácidos graxos de cadeia longa (AGCL)� O tamanho da cadeia de carbono influencia o método de digestão e absorção dos lipídios, assim como suas propriedades e funções no organismo. Quanto ao nível de saturação, os ácidos graxos são classificados em saturados (apenas uma ligação simples entre os átomos de carbono), monoinsa- turados (uma ligação dupla ao longo da cadeia FIQUE ATENTO 26 de carbonos) ou poli-insaturados (duas ligações duplas ou mais ao longo da cadeia). Os alimentos de origem animal acabam sendo as principais fontes das gorduras saturadas, como é o caso das carnes, manteiga, leite, queijos, mas também encontramos ácidos graxos saturados no coco e óleo de palma. Verifica-se maior quantidade de gordura insaturada em alimentos de origem vegetal, como óleos de canola e de oliva, amendoim, amêndoas, castanhas, abacate. Dependendo da saturação, as funções dos lipídios em nossos corpos mudam, assim como seus efeitos sobre a saúde. Podemos também classificar os ácidos graxos em cis ou trans, segundo sua configuração, ou seja, a partir da posição do átomo de hidrogênio em tor- no da dupla-ligação. O ácido graxo cis apresenta ambos átomos de hidrogênio (H) paralelos em relação à dupla-ligação, já os ácidos graxos trans apresentam os átomos de hidrogênio em posições opostas em relação à dupla-ligação, sendo bem mais raro de encontrar na natureza. Os ácidos graxos trans são mais vistos em produtos alimentícios industrializados como bolos, tortas, sorvetes, bolachas e margarinas, pois ajudam a aumentar o prazo de validade dos alimentos e auxiliam a melhorar características físico-químicas 27 dos alimentos. O problema desse tipo de ácido graxo é que o excesso é relacionado a maior risco de doenças cardiovasculares, pois interferem no metabolismo do colesterol. Por fim, os ácidos graxos podem também ser classificados em essenciais e não essenciais� Es- senciais são aqueles que o nosso organismo não consegue sintetizar e, por isso, devem ser obtidos pela alimentação como o ômega-3 (encontrado nos óleos de canola, de soja, atum, salmão, truta) e ômega-6 (encontrado nos óleos de soja, de canola, de milho e de amendoim). Os ácidos graxos essenciais são importantes para a boa visão, imunidade, saúde cerebral e cardiovascular. Desempenham papel também na coagulação sanguínea, pressão arterial, vasodila- tação e frequência cardíaca, tendo um destaque especial para aqueles que fazem atividades físicas regularmente. Em atletas, os principais sinais da deficiência de ômega-3 e ômega-6 são lesões na pele, redução da imunidade e infertilidade. FIQUE ATENTO 28 Necessidades de lipídios na dieta A recomendação mais recente de ingestão de lipídios para quem é fisicamente ativo é que o per- centual de lipídios em relação ao VET corresponda entre 20 e 35%. Tal percentual é suficiente para produção de ácidos graxos e triglicerídeos, que serão utilizados para produzir energia durante o exercício físico. Dentre os alimentos ricos em gor- duras, recomenda-se evitar excesso de alimentos ricos em gorduras saturadas e colesterol, como leite integral, queijos amarelos, carnes vermelhas, embutidos e manteiga. E sim priorizar o consumo de alimentos fontes de gorduras insaturadas, como azeite de oliva, óleos vegetais, chia, linhaça, abacate, castanhas, nozes, peixes, entre outros (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION ET AL, 2009). Para conhecer mais sobre as recomendações nutricionais para indivíduos fisicamente ativos, leia o posiciona- mento do American College of Sports Medicine (2009), disponível em inglês em: https://journals.lww.com/ acsm-msse/Fulltext/2009/03000/Nutrition_and_Athle- tic_Performance.27.aspx SAIBA MAIS 29 VITAMINAS E MINERAIS Apesar de não fornecerem energia, vitaminas e minerais são nutrientes essenciais para o mecanis- mo da produção de energia, para síntese e reparo do tecido muscular, na manutenção da saúde ós- sea, na melhora da resposta imune, na proteção do corpo contra radicais livres e na produção de hemoglobina. Dependendo da rotina de exercício, o indivíduo pode ter maior perda desses micronutrientes ou maior necessidade, tendo em vista o stress pro- porcionado causado pelo exercício físico nas vias metabólicas. As vitaminas e minerais mais relacionadas à prá- tica de esporte e atividade física são: vitamina C, vitamina D, vitamina E, vitaminas do complexo B, cálcio, ferro, zinco, magnésio, potássio, selênio. Desse modo, a seguir, conheçamos melhor o desempenho físico e as estruturas dos minerais. Classificação dos minerais Os minerais são classificados em: y Macrominerais: cálcio, magnésio, sódio, po- tássio e fósforo. São chamados assim por serem necessários em maiores quantidades comparado aos oligoelementos; 30 y Oligoelementos: boro, cromo, cobre, cloro, germânio, iodo, ferro, molibdênio, selênio, sílica, enxofre, vanádio e zinco. Funções, necessidades e fontes alimentares dos minerais Os minerais atuam na regulação do metabolismo corporal, na regulação do sistema cardiovascular, na composição de líquidos corporais, na formação de ossos, do sangue e na manutenção do sistema nervoso. Esses micronutrientes também funcionam como coenzimas, ajudando o corpo a realizar adequa- damente suas funções enzimáticas, a produzir energia e atuam no crescimento e reparo. Os minerais são nutrientes que devem ser ingeri- dos em pequenas quantidades, em miligramas ou microgramas. Uma alimentação bem planejada consegue fornecer tais micronutrientes na quan- tidade correta, porém, em determinados casos, é importante a avaliação de um nutricionista es- portivo, para verificar se o indivíduo necessita de suplementação. Para simplificar nosso entendimento, observemos na tabela a seguir as funções resumidas e as reco- mendações de ingestão dos macros e microminerais mais envolvidos no exercício físico. 31 Tabela 8: Principais minerais envolvidos na prática de exercício físico, funções, recomendações e fontes alimentares Mineral Funções Recomendação de ingestão Fontes alimentares Magné- sio Participa de diversasreações metabólicas (ciclo de Krebs, meta- bolismo lipídico, ativação de amino- ácidos, etc.); Participa da síntese de gluta- tiona (importante antioxidante); Essencial para contratilidade muscular; Impede a calcifi- cação dos tecidos moles; Ajuda a absorver o cálcio e a função da calcitonina. Homens de 19 a 30 anos: ; Homens acima de 30 anos: ; Mulheres de 19 a 30 anos: ; Mulheres acima de 30 anos: ; Atletas: doses variam até de peso corporal por dia – não de- vendo exceder Folhas verdes, no- zes, cacau, feijões, grãos inte- grais, aveia, sementes, amendoim, pasta de amendoim, abacate, carnes, semente de abóbora� 32 Mineral Funções Recomendação de ingestão Fontes alimentares Cálcio Importante para formação e manutenção da massa óssea e dos dentes; Desempenha papel importante na coa- gulação sanguínea; Essencial para a contração dos músculos e condu- ção dos neurônios; Influencia no equi- líbrio ácido-base do organismo e a permeabilidade das membranas� Adolescentes: ; Adultos de 19 a 50 anos: de 1000 a 1200mg/dia ; Adultos com mais de 50 anos: Atletas com ausência de menstruação (amenorreia), risco de osteo- porose precoce e transtornos alimentares: � Leite, iogur- tes, queijos, manteiga, sardinha, folhas ver- de-escuras, gergelim, brócolis, couve-flor. Ferro Compõem a mio- globina, hemoglo- bina, desidrogena- ses, citocromos e algumas enzimas mitocondriais que são importantes para o transporte de oxigênio no cor- po e para produção de energia; Essencial para exercício enduran- ce e função normal dos sistemas imune e nervoso. Homens acima de 18 anos: ; Mulheres de 18 a 50 anos: ; Mulheres acima de 50 anos: ; Atletas vegeta- rianos e doado- res regulares de sangue: acima de para mulheres e acima para homens. Carnes, vísceras, peixes, ameixa, pas- sas, feijões, folhas ver- de-escuras. 33 Mineral Funções Recomendação de ingestão Fontes alimentares Zinco Importante para crescimento e reparo muscular; Essencial para pro- dução de energia, fortalecimento do sistema imune e metabolismo; Está associado ao bom funcionamen- to dos hormônios da tireoide; Regula a ativida- de das glândulas sebáceas. Homens acima de14 anos: ; Mulheres acima de 14 anos: � Carnes, ostras, fru- tos do mar, sementes de abóbora, de girassol e gergelim, castanhas, quinoa, aveia. Selênio Auxilia a produção de hormônios tireoidianos; Protege o corpo contra os radi- cais livres (efeito antioxidante). Homens a par- tir dos 14 anos: ; Mulheres a par- tir dos 14 anos: ; Atletas: � Castanha do Pará, soja, atum, sar- dinha, peru, espinafre, carnes, ar- roz integral, fígado, ovos. Sódio Homeostase do organismo; Condução de im- pulsos elétricos; Estímulo da ação muscular. Homens e mulheres de 9 a 50 anos: ; Homens e mu- lheres a partir dos 70 anos: � Sal, carnes, leite, ovos, temperos industria- lizados, conservas. 34 Mineral Funções Recomendação de ingestão Fontes alimentares Cloro Homeostase do organismo; Formação do ácido clorídrico. Homens e mulheres de 9 a 50 anos: ; Homens e mu- lheres a partir dos 70 anos: � Sal de cozinha. Potássio Homeostase hidroeletrolítica; Atua na condu- ção do impulso nervoso; Essencial para con- tração muscular e funcionamento cardíaco; Compõem enzimas. Homens e mu- lheres a partir dos 14 anos: � Pistache, ameixa seca, maris- cos, abaca- te, melado, iogurte, amêndoas, batata, banana, semente de abóbora, amendoim, castanhas, alcacho- fra, avelã, feijões. Fonte: Elaboração Própria Deficiências de qualquer mineral podem trazer malefícios à saúde e prejudicar o desempenho esportivo, mas é preciso atenção especial ao cálcio e ferro. A deficiência de cálcio em atletas e praticantes de atividade física pode levar a redução da densidade mineral óssea e fraturas por estresse. Além disso, é importante atenção específica às mulheres, que 35 por conta dos hormônios femininos apresentam maior chance de ter menor densidade mineral em relação aos homens. A necessidade de ferro em praticantes de atividade física pode aumentar em até e sua deficiên- cia e costuma ser a mais comum entre atletas e praticantes de atividade física, especialmente em mulheres (por conta da menstruação e, por vezes, baixo consumo alimentar). Além disso, por ocorrerem perdas consideráveis de sódio, cloro e potássio pelo suor, é importante que os mesmos sejam repostos através da alimentação e do consumo de bebidas isotônicas. 36 UTILIZAÇÃO DURANTE O EXERCÍCIO Os nutrientes desempenham diversas funções importantes para quem pratica atividade física, assim, neste tópico, conheceremos mais sobre como os eles de fato são utilizados durante as fases do exercício físico. Após o processo de digestão e absorção dos nu- trientes, eles ficam em seus locais de função ou de reservas prontos para serem recrutados conforme as necessidades. Quanto mais uma refeição for variada em relação ao teor nutricional com carboidratos, proteínas e gorduras, como um prato com arroz, feijão, bife e salada, maior o tempo para a conclusão de sua digestão, visto que cada nutriente tem um tempo diferente de digestão. Por isso, é importante priorizar refeições mais leves em momentos próximos ao treino para evitar desconforto gastrointestinal e piora do desempenho. Quando se inicia o exercício, o nutriente a ser escolhido para produzir energia dependerá da característica do esforço, que pode ser anaeróbio (sem uso de oxigênio), aeróbio (que utiliza oxigê- FIQUE ATENTO 37 nio) ou misto (intercalando momentos das duas anteriores). Esportes coletivos como basquete, futebol, vôlei e alguns individuais, como o parkour, são exemplos de atividades com característica de esforço mista. Assim, os substratos para produção de energia no exercício vêm de reações químicas corporais de reaproveitamento das reservas energéticas arma- zenadas (glicogênio, tecido adiposo e músculos) ou são obtidos através da dieta planejada para o momento� É importante que entendamos que as diferenças dos substratos energéticos preferenciais para os sistemas metabólicos: y O sistema anaeróbio do fosfagênio utiliza como substratos energéticos adenosina trifosfato (ATP) e fosfocreatina (PC) para refazer rapidamente a ATP e fornecer energia rapidamente por até 10 segun- dos. Nesse sistema, são utilizados os substratos energéticos presentes nas células, ou seja, não é preciso que eles sejam transportados até o local em que são necessários, entretanto, não conse- guem ser estocados em grandes quantidades e, por isso, duram pouco; y O sistema anaeróbio glicolítico metaboliza a glicose do sangue e o glicogênio muscular para formação de ATP. Provê energia para exercícios de alta intensidade que duram de 10 segundos a 38 3 minutos. Diferentemente do anterior, esse siste- ma utiliza substratos energéticos presentes nas células ou aqueles que chegam rapidamente pelo aumento do fluxo sanguíneo, porém, seus estoques são limitados. Também possibilita a saturação dos músculos com glicogênio pela dieta e que o glico- gênio muscular seja reposto parcialmente durante esforços mais demorados, através do uso de outras fontes de energia para manter o movimento, como os lipídios. Verifica-se a maior utilização desse sistema em exercícios de alta intensidade e com duração de alguns minutos como musculação, resistência, lutas e atividades de velocidade. Por conta disso, não se utiliza lipídios para obtenção de energia, visto que sua oxidação ocorre de forma mais lenta, impossibilitando a oferta quase que imediata de energia aos músculos; y O sistema aeróbio oxidativo usa oxigênio para obter energia dos substratos e participa do forne- cimento de energia elevada durante o esforço que ultrapassa 2 minutos. Importante sabermos que este sistema é predominante após 4 minutos de esforços contínuos em baixa intensidade eutiliza como substratos os lipídios presentes dentro dos músculos e os triglicerídeos do tecido adiposo, também podendo usar os aminoácidos dos tecidos magros. Tal sistema proporciona maior versatili- dade no fornecimento de energia em relação aos substratos, porém, requer alguns minutos para 39 disponibilizar o ATP para o esforço. No sistema aeróbio, os carboidratos e lipídios são os subs- tratos preferidos para produção de energia e esse sistema que é ativo em atividades com intensidade moderada ou baixa como maratonas, caminhadas, ciclismo e natação. Independentemente do sistema metabólico ser ati- vado imediatamente ou precisar de alguns minutos para fornecer energia, eles são utilizados quase que ao mesmo tempo, sendo que um predomina sobre o outro, dependendo do esforço. Quanto maior a quantidade de oxigênio disponível para o músculo em trabalho, maior o uso de sistemas aeróbios para produzir energia e menores os usos de fosfagênio e da glicose anaeróbia. Por isso, é importante que entendamos quais são os outros fatores que fazem nosso corpo decidir por um ou outro sistema de energia durante a prática de exercício ou atividade física. 40 FATORES CONDICIONANTES DA UTILIZAÇÃO DURANTE O EXERCÍCIO Já compreendemos que a duração do exercício é um dos fatores que influenciam na utilização do sistema de produção de energia durante a práti- ca de atividade física. Desse modo, neste tópico, entenderemos quais são os demais fatores con- dicionantes para tal escolha e utilização durante o exercício físico. FATORES QUE INFLUENCIAM A UTILIZAÇÃO DOS SISTEMAS ENERGÉTICOS DURANTE O EXERCÍCIO FÍSICO y Intensidade do exercício: exercícios de alta intensidade necessitam mais de sistemas anaeró- bios do que aeróbios, visto que apresentam como características a velocidade, explosão e força, assim, precisam de mais carboidratos para sua utilização. Caso o esforço seja mantido por mais de 60 minutos, haverá maior uso dos sistemas aeróbios, pois após esse tempo, as reservas anaeróbias já foram depletadas e estão em fase de regeneração. Modalidades esportivas intermi- tentes como o futebol, basquete e vôlei utilizam sistemas anaeróbios e aeróbios com alternância 41 de predominância de um sobre o outro, visto que são modalidades que aliam características de alta intensidade com momentos mais lentos e apresentam tempo de duração elevado, como é o caso de uma partida de futebol com 90 minutos, por exemplo. Em esforços mais prolongados, é utilizada a prote- ína para obtenção de energia através do processo de gliconeogênese; y Tipo de treinamento do atleta: dependendo do tipo, a utilização de um sistema energético é maximizada, proporcionando, por exemplo, que o sistema aeróbio se adapte para ser ativado imedia- tamente após o esforço e poupando o glicogênio para as últimas etapas do exercício; y Adaptação metabólica: leva o organismo a utilizar diferentes substratos energéticos durante o exercício ou a poupar substratos específicos, aumentando, por exemplo, o número de moléculas transportadoras de nutrientes através das mem- branas e a quantidade de enzimas que ativam ou regulam vias metabólicas, melhorando a tolerância ao ácido lático e/ou aumentando o tamanho das reservas musculares de energia; y Nível de condicionamento físico: também pro- porciona que o organismo desenvolva maneiras de economizar substratos energéticos para manter o esforço por mais tempo e é o nosso quarto fator 42 condicionante do uso dos sistemas de energia. Sabia que é por isso que pessoas menos condi- cionadas fisicamente queimam mais energia do que aquelas que já treinam regularmente por mais tempo? Esse fato pode auxiliar alunos que buscam redução de gordura corporal e emagrecimento a partir do treinamento� y Disponibilidade de substratos: faz com que atletas com bom estoque de glicogênio nos músculos consigam participar de mais cargas de exercício de alta intensidade comparado aqueles com reservas depletadas. Por isso, a importância da alimentação para fornecer nutrientes visando a recuperação pós-treino e para o preenchimento dos estoques de energia nos músculos antes do próximo treino. Indivíduos que não recebem nutrien- tes durante os exercícios prolongados, ou de alta intensidade, ou que apresentam dietas inadequadas usam mais a oxidação das reservas de lipídios e, por fim, os aminoácidos dos músculos, do fígado e dos intestinos, gerando perda de massa magra, maior estresse oxidativo e aumento do tempo de recuperação necessário antes da próxima sessão de treinamento� 43 Buscando o emagrecimento ou por motivos religiosos, muitos atletas e praticantes de atividade física treinam em jejum e isso pode levar à diminuição do desempenho físico. No caso de atletas muçulmanos, que chegam a ficar em estado de jejum de 18 horas no ramadã, isso influencia na performance em esportes coletivos, ma- ratonas e ultramaratonas que necessitam de grande quantidade de fluidos e carboidratos. O jejum não é de todo ruim para o atleta, visto que sua utilização pode ser feita com o objetivo de proporcionar uma adaptação metabólica favorá- vel à utilização de outros substratos energéticos diferentes do glicogênio. Assim, o atleta é treinado para poupar glicogênio durante o esforço e, com isso, economiza suas reservas para os momen- tos mais críticos do exercício. Porém, isso só é recomendado para atletas de alto nível, pois eles já apresentam outras adaptações metabólicas importantes para que isso ocorra e não sejam prejudicados por treinar em jejum. Ainda não se sabe como, mas nosso corpo para de recrutar as próprias reservas de energia e passa a obter energia dos nutrientes que acabaram de ser ingeridos, poupando então o glicogênio. Assim, o momento que os alimentos são consumidos REFLITA 44 pode ajudar a melhorar o desempenho físico de indivíduos fisicamente ativos. O livro “Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte”, das autoras Simone Biesek, Letícia Azen Al- ves e Isabela Guerra é uma ótima opção para entender mais sobre a nutrição esportiva e conhecer ferramentas que auxiliam a elaboração de um plano alimentar para atletas e praticantes de exercício físico de modo geral. SAIBA MAIS 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos esse módulo aprendendo mais sobre o quão importante os carboidratos, proteínas e lipídios são para a saúde global de um indivíduo e para a prática de exercício físico, conhecemos suas estruturas químicas, em qual alimentos podemos encontra-los e as recomendações para atender às necessidades de indivíduos fisicamente ativos. Em seguida, conhecemos mais a fundo o con- ceito de minerais e como eles são classificados nutricionalmente, bem como, quais deles são os mais relacionados à prática de atividade física. A partir disso, verificamos quais são suas principais funções, fontes alimentares e recomendações de ingestão diária. A partir das análises sobre os nutrientes e sua re- lação com a prática de exercício físico, estudamos sobre como os mesmos são utilizados durante o exercício e quais fatores influenciam a utilização dos nutrientes para a produção de energia na prá- tica esportiva e atividade física. Com tudo isso, verificamos como todos os aspec- tos bioquímicos e fisiológicos estão interligados na nutrição esportiva para possibilitar que um indivíduo possa ter um bom desempenho físico e, assim, atingir seu objetivo. 46 Referências Bibliográficas & Consultadas AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION et al. Nutrition and athletic performance. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 41, n.3, p. 709-3, 2009. Disponível em: https://journals.lww.com/ acsm-msse/Fulltext/2009/03000/Nutrition_and_ Athletic_Performance.27.aspx� Acesso em: 27 jun. 2022. ASKER, J.; GLEESON, M. Nutrição no esporte: diretrizes nutricionais e bioquímica e fisiologia do exercício. 3. ed. Barueri: Manole, 2021. [Minha Biblioteca]. BIESEK, S.; ALVES, L.A.; GUERRA, I. Estratégias de nutriçãoe suplementação no Esporte� 3 ed� Barueri: Manole, 2015. CLARK, N. Guia de nutrição esportiva: recursos nutricionais para pessoas ativas. 6. ed. Barueri: Manole, 2021. [Minha Biblioteca]. DIETARY reference intakes: applications in dietary planning. National Academies Press, 2002. Disponível em: https://nap. nationalacademies.org/catalog/9956/dietary- reference-intakes-applications-in-dietary- assessment. Acesso em: 27 jun. 2022. ENDURANCE. Dicionário do esporte. Vegan Way. Disponível em: https://veganway.com.br/ dicionario-do-esporte-endurance/. Acesso em: 04 jul. 2022. FARIAS, G. Nutrição esportiva. 1. ed. Curitiba: Contentus, 2020. [Biblioteca Virtual]. INSTITUTE of medicine (IOM). Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein and amino acids. Food and Nutrition� Board. Washington (DC): National Academy Press, 2002. KIM, Y.; JE, Y.; GIOVANNUCCI, E.L. Association between dietary fat intake and mortality from all-causes, cardiovascular disease, and cancer: a systematic review and meta-analysis of prospective cohort studies. Clin Nutr., v. 40, n.3, p. 1060-70, 2021. LANCHA JR., A. H.; LONGO, S. Nutrição: do exercício físico ao esporte. 1. ed. Barueri: Manole, 2019. [Minha Biblioteca]. LANCHA JR., A.H.; PEREIRA-LANCHA, L.O. Nutrição e metabolismo aplicados à atividade motora. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2012. LANCHA JR., A. H.; ROGERI, P. S.; PEREIRA- LANCHA, L. O. Suplementação nutricional no esporte. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. [Minha Biblioteca]. MAHAN, L.K; ESCOTT-STUMP, S. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 14ed. São Paulo: Roca, 2018. McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Nutrição para o esporte e o exercício. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. [Minha Biblioteca]. MUTTONI, S. Nutrição na prática esportiva� Porto Alegre: SAGAH, 2017. EGASHIRA, E.M. et al. Grupo do arroz, pão, massa, batata, mandioca. In: PHILIPPI, S.T. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. 3 ed. Barueri: Manole, 2018, p. 33-78. ROGERO, M.M.; ARAUJO JUNIOR, J.A.; TIRAPEGUI, J. Proteínas e exercício físico. In: BIESEK, S.; ALVES, L.A.; GUERRA, I. Estratégias de nutrição e suplementação no Esporte� 3 Ed� Barueri: Manole, 2015, p. 18-36. ROSSI, L. Nutrição em academias: do fitness ou wellness. 1. ed. São Paulo: Roca, 2018. [Minha Biblioteca]. SANTOS, A. M. O mundo anabólico: análise do uso de esteroides anabólicos nos esportes. 3. ed. Barueri: Manole, 2018. [Minha Biblioteca]. SANTOS, K.M.O.; AQUINO, R.C. Grupo dos óleos e gorduras. In: PHILIPPI, S.T. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição� 3� ed. Barueri: Manole, 2018, p. 281 - 334. SCHWINGSHACKL, L. et al. Total Dietary Fat Intake, Fat Quality, and Health Outcomes: A Scoping Review of Systematic Reviews of Prospective Studies., Ann Nutr Metab., v. 77, n.1, p. 4-15, 2021. WENDLING, N.M.S. Introdução à nutrição esportiva. 1 Ed. Curitiba: InterSaberes, 2018.
Compartilhar