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AFYA PARTICIPACOES S.A INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ LTDA CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI BACHARELADO EM MEDICINA WILLIAM CÁSSIO RODRIGUES MOREIRA PORQUE A ANEMIA FALCIFORME É MAIS COMUM EM POPULAÇÕES AFRICANAS TERESINA-PI 2021 PORQUE A ANEMIA FALCIFORME É MAIS COMUM EM POPULAÇÕES AFRICANAS Cavalcanti (2011) fala que a Anemia Falciforme surgiu no continente africano e resulta de uma mutação genética, que tem em sua origem um evento micro evolutivo. O processo seletivo ocorreu possivelmente há milhares de anos, como resultado de coevolução entre algumas populações humanas e o protozoário causador da malária (Plasmodium falciparum). A seleção natural favoreceu os indivíduos que possuíam a mutação em sua hemoglobina, em detrimento da hemoglobina considerada normal, representada por HB*AA. Indivíduos heterozigotos, representados por HB*AS, são mais resistentes à infecção pelo Plasmodium e desenvolvem uma forma mais branda da doença, que permite a sobrevivência de um maior número de indivíduos. À medida que o evento de fluxo gênico entre as populações ocorria – como ainda ocorre –, em algumas gerações, os heterozigotos (AS) geravam descendentes homozigotos (SS), herdando um alelo HB*S do pai, outro da mãe, e outros heterozigotos, segundo proporções Mendelianas (CAVALCANTI, 2011). Várias alterações no funcionamento dos eritrócitos e estrutura química das hemoglobinas surgiram em decorrência de pressões seletivas contra os efeitos letais das infecções causadas por Plasmodium spp. (malária) observadas em regiões da África, Índia e Ásia. Na África, as hemoglobinas variantes mais frequentes são a hemoglobina S (HbS) e a hemoglobina C (HbC), que se distribuem de forma heterogênea nas diversas regiões do continente. Ser portador dessas hemoglobinas representa um fator adaptativo importante nos locais onde a malária é endêmica como é mostrado na figura, pois garante maior resistência à infecção causada pelo parasita, o que significa maior proteção contra a doença. Na imagem na qual foi usada para se fazer a correlação entre a anemia em populações africanas, é mostrado as frequências do alelo da anemia falciforme (à esquerda) e as regiões de endemia da malária (à direita), causada pelo Plasmodium falciparum, na África. Regiões com maior quantidade de indivíduos heterozigotos para a anemia falciforme são as que apresentam maior incidência de malária. A anemia falciforme se caracteriza por ser uma doenças das células sanguíneas, mais especificamente, os glóbulos vermelhos (ou eritrócitos), que apresentam problemas na sua maturação e são enviados para a corrente sanguínea em um formato de "foice" e, assim, não realizam sua função corretamente, que seria o transporte de gases através da corrente sanguínea, principalmente o oxigênio. A anemia falciforme é uma doença genética alossômica, determinada por um gene recessivo, mas que se houver heterozigose, diz-se que a pessoa tem "traço falciforme". É sabido que pessoas com anemia falciforme são "protegidos" contra o Plasmodium, protozoário que transmite a malária. Isso ocorre porque a malária infecta as hemácias, mas como elas se encontram como foice, o agente não consegue invadí-la. Pessoas com traço falciforme também tem essa "proteção", então tem maior chance de sobrevivência. Deve ficar bem claro, então, que a anemia falciforme não é uma "doença de negros" nem uma “doença africana”, mas sim uma doença eminentemente geográfica, produto de uma estratégia evolucionária humana para lidar com a malária causada pelo Plasmodium falciparum. Podemos, com esse exemplo, perceber o papel fundamental das doenças infecciosas na evolução do genoma humano e a notável importância do território endêmico dessas enfermidades na seleção de certos genes em determinadas populações humanas. É totalmente desnecessário invocar conceitos arcaicos como “raça” e “doenças raciais” para explicar a variação de prevalência de doenças genéticas em diferentes grupos continentais. REFERÊNCIAS GUYTON, A. C. e Hall, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier.13ª ed.,2017. CAVALCANTI, Juliana Manzoni; MAIO, Marcos Chor. Entre negros e miscigenados: a anemia e o traço falciforme no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro , v. 18, n. 2, p. 377-406, June 2011 . Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 59702011000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 28 de março de 2021. ZAGO, Marco. 2001. Anemia falciforme e doenças falciformes, In: Secretaria de Políticas Públicas. (org.). Manual de doenças mais importantes, por razões étnicas, na população brasileira afro-descendente. Brasília: Ministério da Saúde, 2001, p. 13-35.
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