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TEMAS CONTEMPORÂNEOS SOBRE O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO Autoria: Daniel Vicentini de Oliveira Indaial - 2020 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. O48t Oliveira, Daniel Vicentini de Temas contemporâneos sobre o processo de envelhecimento. / Daniel Vicentini de Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 114 p.; il. ISBN 978-65-5646-251-6 ISBN Digital 978-65-5646-252-3 1. Envelhecimento. - Brasil. 2. Velhice no mundo contemporâneo. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 305.26 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 O Envelhecimento e a Velhice no Mundo Contemporâneo ..... 7 CAPÍTULO 2 Aspectos Biopsicossociais e Culturais do Envelhecimento ...................................................................... 47 CAPÍTULO 3 Processos Organizativos e a Construção de Atores Sociais Na Área Gerontológica ................................... 85 APRESENTAÇÃO Olá! Seja bem-vindo à disciplina Temas Contemporâneos sobre o Processo de Envelhecimento. Eu sou o professor Doutor Daniel Vicentini de Oliveira, e o acompanharei nessa jornada. Esta disciplina abordará informações sobre o envelhecimento e a velhice no mundo contemporâneo, os desafios do envelhecimento na sociedade contemporânea, os aspectos biopsicossociais e culturais do envelhecimento. Ainda, abordará os processos organizativos e a construção de atores sociais na área gerontológica, assim como os princípios universais para o envelhecimento digno e saudável. Esta disciplina está dividida em três capítulos. O primeiro – O envelhecimento e a velhice no mundo contemporâneo –, tem como objetivos compreender o processo de envelhecimento humano, conhecer os princípios universais para o envelhecimento digno e saudável, conhecer e avaliar os conceitos e definições que permeiam o processo de envelhecimento humano, e estudar o envelhecimento demográfico (populacional) e suas características. O segundo capítulo – Aspectos biopsicossociais e culturais do envelhecimento –, tem como objetivos compreender os aspectos biológicos do envelhecimento humano, conhecer os aspectos psicológicos e cognitivos do envelhecimento humano, e estudar os aspectos sociais e culturais do envelhecimento humano. Por fim, o terceiro capítulo – Processos organizativos e a construção de atores sociais na área gerontológica –, objetiva compreender o papel do idoso no mercado de trabalho, conhecer o idoso nas relações intergeracionais e na família atual, estudar o idoso no mercado de trabalho, e enquanto ser pertencente à família intergeracional. Tenha uma boa experiência acadêmica! Professor Dr. Daniel Vicentini de Oliveira. CAPÍTULO 1 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: compreender o processo de envelhecimento humano; conhecer os princípios universais para o envelhecimento digno e saudável; conhecer e avaliar os conceitos e defi nições que permeiam o processo de envelhecimento humano; estudar o envelhecimento demográfi co (populacional) e suas características. 8 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento 9 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Olá! Seja bem-vindo ao Capítulo 1 desta disciplina que tem como título “O envelhecimento e a velhice no mundo contemporâneo”. Neste capítulo, você retomará conhecimentos básicos sobre defi nição, conceito e princípios que permeiam o processo de envelhecimento e a velhice com ênfase no mundo contemporâneo, como a velhice é vista atualmente. O envelhecimento aqui é entendido como um processo progressivo e dinâmico, que se caracteriza não apenas por alterações funcionais, morfológicas e bioquímicas, mas também por alterações psicológicas e sociais. Essas alterações irão determinar progressivamente a perda da capacidade do indivíduo em se adaptar ao meio ambiente, o que ocasiona maior vulnerabilidade e maior incidência de doenças e disfunções, que podem levar o indivíduo à morte. Você estudará também as teorias biológicas, psicológicas e sociológicas do envelhecimento. Nos últimos anos, houve um aumento signifi cativo no número de estudos sobre o envelhecimento humano, fazendo com que a atenção sobre as teorias do envelhecimento também aumentasse. São elas que tentam explicar as alterações que passamos com o decorrer da idade. O segundo tópico abordará dados importantes e mais atuais sobre o envelhecimento populacional, ou seja, o envelhecimento demográfi co. Entender que o mundo, assim como o nosso país, está envelhecendo é primordial para o profi ssional que atuará com essa população. Temos que entender as causas e, principalmente, as consequências desse aumento signifi cativo do número de pessoas mais velhas para sabermos dos empecilhos e desafi os que teremos de enfrentar para um bom atendimento a clientela idosa. Por fi m, estudaremos os princípios universais para o envelhecimento digno e saudável. A educação em saúde dessa população é muito importante e essencial, tanto para o convívio quanto para o próprio envelhecimento digno e saudável do idoso e seus familiares. Lembre-se que o envelhecimento não é um fato social isolado, pelo contrário, é um fato biológico, que possui especifi cidades e consequências que irão se estabelecer na sociedade em que vivemos, e isso requer entendimento adequado e preparação de todos nós. 2 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO HUMANO Caro pós-graduando, o envelhecimento é um evento natural para todo ser humano (Figura 1) e tem como características ser dinâmico, progressivo 10 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento e universal. Está caracterizado por alterações morfológicas, fi siológicas, bioquímicas, psicológicas e físicas que podem refl etir nas condições de vida e na vulnerabilidade da pessoa idosa. Esse envelhecimento pode ser bem-sucedido, quando há baixa suscetibilidade a doenças e considerável capacidade funcional, ou com fragilidade, quando há maior vulnerabilidade em geral às doenças. A imagem a seguir mostra um indivíduo idoso, já apresentando características básicas do processo de envelhecimento humano. Conseguimos confi rmar isso por meio da sua pele já envelhecida e seus cabelos brancos. FIGURA 1 – IDOSO FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:India_-_Delhi_portrait_of_a_man_- _4780.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2020. O envelhecimento é um evento natural para todo ser humano e, desta forma, iniciaremos com a conceituação do termo envelhecimento mesmo que este seja difícil de ser conceituado, haja vista a impossibilidade de estabelecer parâmetros universais. A velhice é estabelecida por fatores biológicos e sociais, e é constituída progressivamente e acontece dentro de variáveis tanto biológicas quanto sociais. O envelhecimento se refere a um fato que ocorre naturalmente em todos os indivíduos, afetando fi siologicamente o comportamento social e biológico. Alguns estudos expressam sobre o envelhecimento psicossocial relatando que, em virtude do declínioda performance motora – como redução da força muscular e equilíbrio –, as perspectivas psicossociais dos idosos são prejudicadas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera, do ponto de vista cronológico, um indivíduo idoso aquele com 60 anos ou mais, em países em desenvolvimento, e com 65 anos ou mais, em países desenvolvidos. E ainda, o muito idoso é aquele com 80 anos ou mais no Brasil e em outros países em desenvolvimento, e 85 anos ou mais nos países desenvolvidos. Esta diferença relaciona-se à maior expectativa de vida nos países desenvolvidos, uma vez que a população possui mais acesso aos serviços de saúde e melhores condições de vida. Veja na fi gura a seguir, o conhecido logotipo da OMS. 11 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 FIGURA 2 – LOGOTIPO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flag_of_WHO.svg?wprov=srpw1_22>. Acesso em: 11 ago. 2020. Caro pós-graduando, leia este documento da Organização Mundial da Saúde que trata a respeito do envelhecimento ativo como uma política de saúde: https://bibliotecadigital.mdh.gov.br/jspui/ handle/192/401. Em suma, para chegar à condição de idoso, o indivíduo passa pela etapa do envelhecimento, quando ocorrem diversas transformações em todos os aspectos da sua vida. Sendo que o envelhecimento não é um estado, mas sim um processo de degradação que se caracteriza por ser progressivo, irreversível e universal, levando a diversas alterações no organismo que repercutem em âmbito biológico (morfológico, funcional e bioquímico), social e psicológico. Esse processo contribui para o aumento da vulnerabilidade e incidência dos processos patológicos que, infl uenciados pela estrutura genética do indivíduo, estilo de vida e meio ambiente, tendem a resultar na morte, seja de uma célula, um tecido, um órgão ou mesmo do indivíduo. No âmbito biológico, as modifi cações morfológicas são caracterizadas pelo aparecimento de rugas (Figura 3), redução na estatura, cabelos brancos, queda dos cabelos e pelos (Figura 4) e outras. As modifi cações fi siológicas se relacionam com as alterações das funções orgânicas, e as modifi cações bioquímicas estão ligadas às transformações das reações químicas que ocorrem no organismo. 12 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento FIGURA 3 – ENVELHECIMENTO CUTÂNEO FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aging_Woman.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2020. FIGURA 4 – ALTERAÇÕES DO ENVELHECIMENTO: IDOSO COM CABELOS BRANCOS E CALVO FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Russia_-_elderly_man_in_a_gray_ sweater.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2020. No âmbito social, as modifi cações se referem ao papel, aos estatutos e aos hábitos da pessoa em relação aos outros membros da sociedade. No âmbito psicológico, a modifi cação ocorre mediante a adaptação imposta ao indivíduo durante o envelhecimento incluindo a inteligência, a memória e a motivação. O envelhecimento humano pode sofrer infl uências tanto intrínsecas como extrínsecas: a primeira é caracterizada pelo componente genético individual, determinando a longevidade máxima; e a segunda, representada pelos fatores ambientais e hábitos de vida (poluentes, alimentação, atividades sociais, ambiente familiar etc.), que infl uenciam de forma diferente cada indivíduo, dependendo da velocidade e da gravidade com que ocorrem. Assim, podemos dizer que o envelhecimento ocorre de forma bastante heterogênea e que, em muitos casos, 13 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 as idades biológica, social e psicológica podem ser muito diferentes da idade cronológica (FARINATTI, 2008). Logo, você estudará sobre essas “idades”. Agora, vamos abordar rapidamente a diferença entre senescência e senilidade. Os termos envelhecimento e senescência são usados como sinônimos, porque ambos se referem ao processo de envelhecimento normal que ocorre com o passar dos anos, diminuindo a reserva funcional (sem distúrbios de conduta, esquecimentos graves, entre outros). Quando o envelhecimento ocorre de forma patológica, ou seja, quando surgem alterações que acometem a saúde do idoso ou doenças crônicas (perda grave da capacidade de memorizar, desorientação, desatenção etc.), é denominado senilidade. O envelhecimento representa a consequência ou os efeitos da passagem do tempo no organismo e psiquismo. Todas as dimensões são igualmente importantes na medida em que são auxiliares para a manutenção da estabilidade somática e psíquica, indispensáveis para o idoso cumprir a sua meta, que é ser feliz. A busca pela liberdade e pela paz de espírito é a meta do idoso. É preciso que o indivíduo se liberte dos impulsos cegos e dos preconceitos e busque a virtude, com serenidade e equilíbrio. A única batalha que traz satisfação é aquela em que o indivíduo conquista a si mesmo, que integra a necessidade de aperfeiçoamento moral, de uma ideia correta do mal e do bem. A livre procura do saber garante o clima para a refl exão, mas é preciso ter em mente que a visão do idoso é subjetiva e deve ser objetivamente testada na realidade. O indivíduo deve ter atitude crítica também perante as tradicionais ideias e os postulados já arraigados, e começar a análise do mundo pela busca de conhecimento de si próprio. O envelhecimento de cada pessoa depende do grau de fragilidade do organismo de cada um e do psiquismo: • Fragilidade física e cristalização psíquica: o envelhecimento somático é considerado patogênico, com incapacidades e/ou limitações físicas, e o psiquismo fi ca cristalizado na infância psíquica. • Fragilidade física e maturidade psíquica: o psiquismo de cada pessoa evolui conquistando a maturidade mental. O seu viver é baseado na aceitação da realidade e na tolerância à dor, e seus estados de equilíbrio são cada vez mais fl exíveis, pois seus dispositivos de segurança são cada vez mais efi cazes na relação com o universo. A felicidade pode ocorrer, caso não sejam sufi cientemente graves as limitações físicas para comprometer os mecanismos homeostáticos do organismo. • Robustez física e cristalização psíquica: o envelhecimento somático não está associado a alguma limitante perda física, mas a pessoa apresenta perturbação do seu psiquismo, impedindo de compreender o sentido da vida. 14 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento • Robustez física e maturidade psíquica: o envelhecimento somático não está associado a limitante perda física e o psiquismo alcança a maturidade mental, a sabedoria e a paz. A defi nição do envelhecimento pode também ser compreendida a partir de três subdivisões: Envelhecimento primário; Envelhecimento secundário; Envelhecimento terciário. Confi ra conforme Rebellato (2013). 2.1 ENVELHECIMENTO PRIMÁRIO O envelhecimento primário, também conhecido como envelhecimento normal ou senescência, atinge a todos os humanos pós-reprodutivos, pois é uma característica genética típica da espécie. Esse tipo de envelhecimento atinge o organismo de forma gradual e progressiva, possuindo efeito cumulativo. O indivíduo nesse estágio está sujeito à concorrente infl uência de vários fatores determinantes para o envelhecimento como exercícios, dieta, estilo de vida, exposição a eventos, educação e posição social. Este tipo de envelhecimento é geneticamente determinado ou pré- programado, sendo presente em todas as pessoas (universal). É referente às mudanças universais com a idade numa determinada espécie ou população, sendo independente de infl uências ambientais e doenças. 2.2 ENVELHECIMENTO SECUNDÁRIO O envelhecimento secundário ou patológico, também chamado de senilidade, refere-se a doenças que não se confundem com o processo normal de envelhecimento. Essas enfermidades variam desde lesões cardiovasculares, cerebrais, até alguns tipos de câncer (podendo ser oriundo do estilo de vida do sujeito, dos fatores ambientaisque o rodeiam, como também de mecanismos genéticos). O envelhecimento secundário é referente a sintomas clínicos, incluindo os efeitos das doenças e do ambiente. 2.3 ENVELHECIMENTO TERCIÁRIO Já o envelhecimento terciário ou terminal é o período caracterizado por profundas perdas físicas e cognitivas, ocasionadas pelo acúmulo dos efeitos do envelhecimento como também por patologias dependentes da idade. 15 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 2.4 ENVELHECIMENTO CRONOLÓGICO, BIOLÓGICO E PSICOSSOCIAL A idade cronológica (do calendário) ordena pessoas de acordo com sua data de nascimento, enquanto a idade biológica (individual) é demonstrada pelo organismo com base nas condições teciduais, quando comparados a valores normativos. A idade psicológica é evidenciada por aspectos como desempenho, maturação mental e soma de experiências. Já a idade social (sociológica) é indicada pelas estruturas organizadas de cada sociedade: cada indivíduo pode variar de jovem a velho em diferentes sociedades. O envelhecimento cronológico é iniciado na infância e facilmente mensurável, enquanto que as mudanças biológicas associadas à idade são de aferição difícil. Resumindo: o envelhecimento pode ser biológico, no qual há alterações biológicas, assim como o envelhecimento psicossocial, que apresenta alterações sociais e psicológicas. Essas alterações são defendidas por diferentes teorias que veremos adiante. As alterações da idade biológica, psicológica e social serão abordadas com mais detalhes no Capítulo 2. O envelhecimento biológico, em especial, está diretamente ligado ao declínio das funções orgânicas do ser humano, sendo um processo paulatino e desenvolvido conforme eventos fi siológicos degenerativos que ultrapassam os regenerativos. Nesse sentido, o envelhecimento biológico é um processo que se inicia no nascimento e continua até que ocorra a morte. É o processo que determina o potencial de cada indivíduo para permanecer vivo, e que diminui com o passar dos anos. O processo de envelhecimento biológico é ininterrupto no decorrer da vida e apresenta diferenciações de um ser humano para outro, havendo, inclusive, diferenciações no mesmo indivíduo, haja vista que alguns órgãos envelhecem mais rápido que outros. Desse ponto de vista, o envelhecimento biológico é um processo que começa no nascimento e perdura até a morte de um ser humano (CHMIELEWSKI, 2020). Vale a pena destacar que o envelhecimento biológico é o processo que estabelece o potencial de cada pessoa para permanecer vivo, e que reduz com o passar dos anos. Há também na literatura outras abordagens que sugerem que o processo de envelhecimento biológico é ininterrupto e se estabelece no decorrer da vida, apresentando diferenciações de um indivíduo para outro e passando, inclusive, por diferenciações na mesma pessoa, sendo que alguns órgãos do nosso corpo envelhecem mais rápido que outros (FECHINE; TROMPIERI, 2012). 16 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento O idoso não sofre apenas com as perdas biológicas; a velhice vem acompanhada de mudanças psicológicas e sociais que resultam na difi culdade desses idosos a se adaptarem a novos papéis sociais, levando à baixa autoestima, isolamento social, solidão e depressão, inclusive potencializando o declínio cognitivo desses indivíduos. O estado psicológico dos idosos está diretamente infl uenciado pelo domínio motor. Desta forma, a redução da força muscular proporcionada pelo envelhecimento e a inaptidão da realização de atividades domésticas prejudicam signifi cantemente as interações sociais e psicológicas dos idosos. Assim, é possível relacionar as alterações das funções psicológicas do envelhecimento com desuso aliado ao isolamento social, podendo ocasionar doenças emocionais como a depressão. FIGURA 5 – IDOSA DEPRIMIDA FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sad_Old_Woman.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2020. O envelhecimento social é responsável pela alteração do status do idoso, alterando a relação desses indivíduos com as demais pessoas de sua comunidade, sendo essas alterações relacionadas com a crise de identidade (ausência do papel social, causando baixa autoestima e isolamento). 17 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 FIGURA 6 – IDOSO ISOLADO FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dalian_Liaoning_China_An-elderly- Chinese-at-Xinghai-Bay-01.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2020. O indivíduo na sociedade é defi nido como idoso a partir do momento em que deixa o mercado de trabalho, ou seja, quando se aposenta e deixa de ser economicamente ativo. A sociedade atribui aos aposentados o rótulo de inativos e improdutivos. Com a aposentadoria, muitas vezes se percebe um rompimento abrupto das relações sociais com outras pessoas com as quais a pessoa conviveu durante anos. Ocorre, ainda, uma diminuição salarial considerável e a falta de atividades alternativas fora do ambiente laboral. A aposentadoria é um rito de passagem para a velhice, ela acentua sua vinculação à terceira idade em uma sociedade de consumo na qual apenas o novo é cultuado como fonte da renovação, de posse e de desejo. A aposentadoria deixou de ser um momento de descanso e recolhimento e se tornou um período de lazer e atividade. Mais uma vez, nota-se o quanto a velhice é uma experiência complexa e heterogênea, pois para alguns a aposentadoria pode signifi car o desengajamento da vida social, enquanto para outros, o começo Diversas são as alterações que ocorrem com o processo de envelhecimento. Você as conhecerá melhor no Capítulo 2. Porém, adiante seus conhecimentos básicos sobre o assunto lendo este artigo disponível em: http://www.interscienceplace.org/isp/index.php/ isp/article/view/196. 18 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento 2.5 TEORIAS DO ENVELHECIMENTO O dinamismo do processo de envelhecimento da população mundial refl etiu na busca por soluções que visem minimizar ou retardar os efeitos desse processo, fato que, nos últimos anos, tem proporcionado o aumento de pesquisas voltadas para esse tema, cada qual com um conjunto de conceitos, fatos e indicadores, surgindo várias teorias com o propósito de explicar as causas desse fenômeno complexo. No entanto, ainda há muita controvérsia, uma vez que muitas teorias formuladas se apoiam somente em uma alteração biológica isolada, sem considerar as alterações sociais e psicológicas que também caracterizam o envelhecimento. Várias teorias estão descritas na literatura e buscam explicar o processo de envelhecimento. Entretanto, em virtude da complexidade desse processo, inúmeros confl itos existem entre as teorias propostas pelos pesquisadores (SANTOS et al., 2019). Nessa caminhada em busca do estudo do processo de envelhecimento biológico, alguns autores já propuseram teorias de grande abrangência, que vão desde a base celular até sistemas; outros estudos se fundamentaram em órgãos de base genômica e fi siológica; há também os que buscam explicar o envelhecimento por meio de teorias evolutivas e não evolutivas. Caro pós-graduando, confi ra este artigo sobre as teorias biológicas do envelhecimento, do genético ao estocástico: https:// www.scielo.br/pdf/rbme/v8n4/v8n4a01 A primeira teoria é a Teoria de Uso e Desgaste. Seus defensores destacam que a carga de agressões ambientais que acontece diariamente, tem capacidade de provocar um paulatino decréscimo da efi ciência do organismo que se encerra com a morte (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2020). Determinar que as alterações que ocorrem nas moléculas proteicas, logo em seguida da fase de tradução, no momento da síntese das proteínas, culminando em mudanças enzimáticas que provocariam a diminuição da efi ciência das células é a afi rmativa da Teoria das Proteínas Alteradas, segundo a qual essas modifi cações descritas estariam relacionadas com o decréscimo da funcionalidade dosidosos (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2020). 19 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 A próxima é a Teoria da Desdiferenciação. Os pesquisadores que a defendem destacam que as células do organismo se distanciam do seu estado apropriado de diferenciação ocasionando erros de mecanismos que fariam as células sintetizarem as proteínas desnecessárias e, assim, reduzindo a efi ciência celular, do que decorre a morte da célula (YU; MCCAULEY; DANG, 2020). A Teoria das Mutações Somáticas é classifi cada no âmbito das teorias biológicas, pois aponta que, ao longo da vida do indivíduo, existem funções celulares que são extintas devido às agressões sofridas pelo DNA e pelo RNA. Outra possibilidade é a Teoria do Dano Oxidativo e Radicais Livres que, segundo indicam seus defensores, grande parte das insufi ciências fi siológicas inerentes à velhice deve ser facultativa ante aos danos que ocorrem em uma dimensão intracelular. Estes são oriundos dos radicais livres e também das espécies reativas de oxigênio geradas a partir do dano que ocorre na célula (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2020). A Teoria de Erro Catastrófi co é uma das que é oposta à Teoria das Mutações Somáticas, pois as afi rmações são de que os erros ocorrem nas moléculas e não no DNA. Além disso, propõe que ao longo dos processos de transição dos ácidos nucleicos, podem acontecer erros que levariam a uma redução da efi ciência das células que, por conseguinte, promove a morte do ser humano (YU; MCCAULEY; DANG, 2020). Há outras teorias biológicas do envelhecimento e a Teoria Imunológica é uma delas. Ela é baseada em dois princípios relacionados à senescência. Veja quais são: • o primeiro princípio está relacionado aos genes do sistema imunológico de uma pessoa, fato esse que compromete o sistema mencionado e reduz a resistência do indivíduo durante infecções; • o segundo princípio liga-se automaticamente ao crescimento da propriedade autoimune do nosso corpo. Uma outra teoria que se fundamenta no fato de que os acúmulos de substâncias intracelulares são produtos do metabolismo e responsáveis pelo envelhecimento da célula é a chamada Teoria Lipofuscina e do Acúmulo de Detritos (FARINATTI, 2002). Conforme se sustenta nessa teoria, tais produtos não podem ser destruídos ou eliminados, e disso decorre a ocupação do espaço e, por fi m, a danifi cação das atividades celulares normais. A Teoria Neuroendócrina tem uma defi nição de envelhecimento que parte da ideia de que a principal consequência desse processo é que as modifi cações 20 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento endócrinas e, principalmente, neurais, levariam à progressiva morte de células específi cas integradoras (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2020). A longevidade pode ser notada como uma função do declive metabólico por meio da Teoria Metabólica. Ela se divide em dois grupos que ilustram a decaída metabólica, são eles: • Dano à mitocôndria: os danos que se acumulam do oxigênio, sofridos pela mitocôndria, têm a capacidade de levar ao declínio fi siológico celular. • Taxa de vida: a taxa de longevidade é díspar em relação à taxa metabólica. Em continuação, outras teorias, tais como as genéticas e as sistêmicas, também buscam justifi car as peculiaridades do processo de envelhecimento. Quando elencamos as teorias sistêmicas, estas se baseiam em explicações que focam o resultado sistêmico das interações entre o meio ambiente e os genes de indivíduo (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2020). Vale a pena destacar que as interações podem ser fundamentadas e até mesmo subdivididas na genética para clarifi car o processo de envelhecimento. Em relação às teorias baseadas na genética, estas ditam que as alterações na sentença genética apresentam como produtos fi nais modifi cações senescentes nas células, podendo ser tanto gerais, quanto específi cas (FARINATTI, 2002). Como visto até aqui, não existe apenas única teoria que, por si só, consiga explicar todo o processo do envelhecimento. Assim, na busca por encontrar uma teoria que separe as causas dos efeitos da senescência, destacamos também as teorias psicológicas e as sociológicas. Indicamos a leitura do artigo científi co intitulado Atividade, Engajamento, Modernização: teorias sociológicas clássicas sobre o envelhecimento. Acesse: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/27274/000677539.pdf?se. 21 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 As teorias psicológicas procuram explicar o desenvolvimento psicológico e identifi car os traços associados ao envelhecimento bem-sucedido. Essas teorias buscam proporcionar descrição e explicação das mudanças comportamentais que ocorrem ao longo da velhice; a caracterização das diferenças entre indivíduos e grupos; a diferenciação entre os aspectos inatos à senescência e àqueles decorrentes do contexto sócio-histórico e à história pessoal; a identifi cação das diferenças entre idosos e outros grupos de idade, a descrição sobre como se alteram e como se relacionam nesta fase da vida, os diferentes processos psicológicos e, por fi m; identifi car se os processos psicológicos se modifi cam ou se mantêm com a velhice (NERI, 2017). O Paradigma Mecanicista e as teorias a ele vinculadas foram fundamentais para o despertar da experimentação em Psicologia com indivíduos mais velhos, porém tiveram infl uência modesta na explicação do desenvolvimento. A ideia central deste paradigma é a do ser humano como uma máquina que reage a forças externas. Liberdade, decisões, pensamentos e “o próprio eu” não são vistos como condições causais, mas como constructos teóricos (NERI, 2017). Experimentos sobre aprendizagem, tempo de reação e inteligência no adulto mostraram que pessoas mais velhas apresentavam desempenhos piores e que, quanto mais velhos, maior a discrepância entre seu desempenho intelectual e o dos mais jovens (NERI, 2017). Esses resultados talvez decorressem não só de infl uências biológicas, mas também da bagagem cultural, das experiências pessoais e do nível educacional dos participantes. Mas, na época, o estudioso não recebeu devida atenção e prestígio. Por outro lado, no Paradigma Organicista, as noções centrais são de processo, integração, organização e desenvolvimento como processo ativo de mudança na direção de um alvo superior. O desenvolvimento passa a ser considerado uma sucessão de estágios regulados por princípios intrínsecos, na qual os determinantes sociais, históricos e culturais oferecem as condições para a manifestação. Esse paradigma é norteado por: (1) sequencialidade das transformações ao longo do tempo; (2) unidirecionalidade; (3) orientação à meta; (4) irreversibilidade; (5) natureza estrutural qualitativa das transformações; (6) universalidade dos processos de mudança. De acordo com Erikson (1959, 1968), o potencial para o desenvolvimento está totalmente presente no indivíduo já no nascimento e caberia ao ambiente sociocultural dar oportunidades para a manifestação desse potencial. Sendo assim, sua teoria foi denominada de epigenética, termo cuja etimologia remete à noção de algo que se origina, aparece ou se manifesta de dentro para fora, por desdobramento, como no crescimento do embrião. Para o autor, o desenvolvimento ocorre em fases que se sucedem em ciclos, cada um caracterizado pela 22 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento emergência de uma crise evolutiva. Cada crise é sistematicamente relacionada às demais e o desenvolvimento adequado depende da vivência de todas elas, uma após a outra ao longo da vida, do nascimento à velhice (ERIKSON, 1959,1968). As infl uências socioculturais seriam as responsáveis pela contextualização da manifestação e da sua resolução. No Quadro 1, encontram-se as oito fases ou idades da vida propostas em sua teoria. O autor ainda defende a ideia de que o enfrentamento ativo de cada crise resultaria no domínio e refl etiriano cumprimento de tarefas específi cas. QUADRO 1 – FASES DO DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO FASE DA VIDA CRISE PSICOSSOCIAL TAREFAS EVOLUTIVAS QUALIDADE DO EGO Fase bebê Confi ança vs. Desconfi ança Formação de vínculo com a fi gura materna, confi ança nessa fi gura e em si mesmo; confi ança na própria capacidade de fazer com que as coisas aconteçam. Esperança Início da infância Autonomia vs. Vergonha e dúvida Desenvolvimento da liberdade de escolha; controle sobre o próprio corpo. Vontade/ Domínio Idade do brinquedo Iniciativa vs. Culpa Atitudes orientadas à meta; autoafi rmação. Propósito Idade escolar Trabalho vs. Inferioridade Aquisição de repertórios escolares e sociais básicos exigidos pela cultura. Competência Adolescência Identidade vs. Difusão da identidade Subordinação do self a um projeto de vida; senso de identidade; capacidade crítica, aquisição de novos valores. Fidelidade 23 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 FONTE: Adaptado de Erikson (1959,1968) Idade adulta Intimidade vs. Isolamento Desenvolvimento de relações amorosas estáveis que implicam conhecimento, respeito, responsabilidade e doação como base; capacidade de se revelar sem medo de perda da identidade. Amor Maturidade Geratividade vs. Estagnação Geração de fi lhos, ideias e valores; transmissão de conhecimentos e valores à geração seguinte. Cuidado Velhice Integridade do ego vs. Desemprego Integração dos temas anteriores; formação de um ponto de vista sobre a morte; preocupação em deixar um legado espiritual e cultural. Sabedoria 3 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL A população idosa está em crescente expansão no Brasil. Você já percebeu? Isso pode ser explicado pelos avanços da ciência em diversas áreas, principalmente na médica, na qual houve melhora signifi cativa dos tratamentos e técnicas terapêuticas, desenvolvimento de vacinas, de medicamentos. Em consequência, a melhora das condições de vida e o aumento da expectativa de vida estão diretamente relacionados com a redução das taxas de fecundidade e mortalidade. Chamamos este aumento do número de idosos no Brasil e no mundo de envelhecimento populacional. 24 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento O artigo O envelhecimento populacional brasileiro: desafi os e consequências sociais atuais e futuras traz informações muito interessantes sobre esta temática que estamos estudando. Confi ra em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1809- 98232016000300507&script=sci_arttext&tlng=pt. O envelhecimento populacional é uma das mais signifi cativas tendências do século XXI. Apresenta implicações importantes e de longo alcance para todos os domínios da sociedade. No mundo todo, a cada segundo duas pessoas celebram seu sexagésimo aniversário – em um total anual de quase 58 milhões de aniversários de 60 anos. Uma em cada nove pessoas no mundo tem 60 anos de idade ou mais, e estima-se um crescimento para um em cada cinco, por volta de 2050. O envelhecimento da população é um fenômeno que já não pode mais ser ignorado. Confi ra a pirâmide etária do Brasil de 2012 e 2018. FIGURA 7– PIRÂMIDE ETÁRIA 2012 E 2018, BRASIL FONTE: IBGE - Pesquisa nacional por amostra de domicílio contínua (PNAD CONTÍNUA), 2018. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18318- piramide-etaria.html>. Acesso em: 11 ago. 2020. 25 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 Não só no Brasil, mas o envelhecimento da população está ocorrendo em todas as regiões do mundo, em países com diferentes níveis de desenvolvimento. Está progredindo mais rapidamente nos países em desenvolvimento, inclusive naqueles que também apresentam uma grande população jovem. Dos atuais 15 países com mais de 10 milhões de idosos, sete são países em desenvolvimento. O envelhecimento é um triunfo do desenvolvimento. O aumento da longevidade é uma das maiores conquistas da humanidade. As pessoas vivem mais em razão de melhorias na nutrição, nas condições sanitárias, nos avanços da medicina, nos cuidados com a saúde, no ensino e no bem-estar econômico. A expectativa de vida no nascimento, atualmente, está situada acima dos 80 anos em 33 países; há apenas cinco anos, somente 19 deles haviam alcançado esse patamar. Presentemente, apenas o Japão conta com uma população de mais de 30% de idosos. Estima-se que por volta de 2050, 64 países se juntarão a ele com uma população idosa de mais de 30% do total. O Brasil será um desses países. A população é classifi cada como em processo de envelhecimento quando as pessoas idosas se tornam uma parcela proporcionalmente maior da população total. Como você já viu, o declínio das taxas de fecundidade e o aumento da longevidade têm levado ao envelhecimento da população. A expectativa de vida ao nascer aumentou substancialmente em todo o mundo. De 2010-2015, a expectativa de vida ao nascer passou a ser de 78 anos nos países desenvolvidos e 68 nas regiões em desenvolvimento. Estima-se que entre 2045-2050, os recém-nascidos podem esperar viver até os 83 anos nas regiões desenvolvidas e 74 naquelas em desenvolvimento. Em 1950, havia 205 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no mundo. Em 2012, o número de pessoas mais velhas aumentou para quase 810 milhões. Projeta-se que esse número alcance 1 bilhão em menos de 10 anos e que duplique até 2050, alcançando 2 bilhões. Há diferenças bem delineadas entre as regiões mundiais. Por exemplo: em 2012, 6% da população africana tinha 60 anos ou mais, comparada com 10% na América Latina e Caribe, 11% na Ásia, 15% na Oceania, 19% na América do Norte e 22% na Europa. Em 2050, estima-se que 10% da população africana terá 60 anos ou mais, comparada com 24% na Ásia, 24% na Oceania, 25% na América Latina e Caribe, 27% na América do Norte e 34% na Europa. As mulheres formam a maioria das pessoas idosas. Hoje, para cada 100 mulheres com 60 anos ou mais em todo o mundo, há apenas 84 homens, e para cada grupo de 100 mulheres com 80 anos ou mais, existem apenas 61 homens. O envelhecimento é um processo que atinge homens e mulheres de forma diferente. As relações de gênero estruturam todo o curso da vida, infl uenciando o acesso a recursos e oportunidades com um impacto que é tanto contínuo quanto cumulativo. 26 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento Em muitas situações, as idosas são mais vulneráveis à discriminação: menos acesso ao trabalho e ao atendimento à saúde; estão mais sujeitas ao abuso; têm o direito negado de possuir propriedades e receber heranças; e lhes falta renda básica e previdência social. Mas, os homens idosos, particularmente após a aposentadoria, também podem se tornar vulneráveis devido à maior fragilidade de suas redes de suporte social, podem também estar sujeitos a abusos – inclusive abusos fi nanceiros. Essas diferenças têm importantes implicações para as políticas de planejamentos de programas públicos. A geração mais velha não é um grupo homogêneo para o qual bastam políticas generalistas. É importante não padronizar os idosos como uma categoria única, mas reconhecer que essa população apresenta características tão diversas quanto qualquer outro grupo etário em termos, por exemplo, de idade, sexo, etnia, educação, renda e saúde. Cada grupo de idosos, tais como os de baixa renda, de mulheres, de homens, de idade mais avançada, de indígenas, de analfabetos, da população urbana ou rural, tem necessidades e interesses específi cos que precisam ser tratados especifi camente, por meio de programas e modelos de intervenção adequados a cada segmento. A estrutura populacional continua demonstrando a manutenção da tendência de envelhecimento da população brasileira, que chegou a 201 milhões de habitantes em 2013, por meio do estreitamento da base da pirâmide populacional do Brasil. Este novo perfi l demográfi coformatado pelo processo de envelhecimento traz grandes desafi os na área da previdência social, saúde, cuidado e integração social dos idosos. Sugerimos a leitura deste artigo https://www.scielo.br/scielo. php?pid=S0102-69922012000100010&script=sci_arttext que versa a respeito do envelhecimento populacional. Em 2013, a população do Brasil era constituída por 13% de idosos (pessoas com 60 anos ou mais de idade). A Região Sul tem 14,5% de sua população constituída de idosos e o Estado do Paraná alcançando a marca 12,7% de idosos em sua população. A população idosa brasileira tem 55,5% de mulheres, 53,4% que se consideram de cor branca e 83,9 % residem em áreas urbanas. 27 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 Como citado anteriormente, o aumento do envelhecimento da população e o estreitamento da base da pirâmide populacional vêm alterando o perfi l demográfi co da população brasileira. Esta mudança demográfi ca da população associada à concentração de renda e ao aumento da desigualdade social têm sido fatores para o aumento da procura por ambientes de cuidado de saúde. As oportunidades sociais que essa evolução demográfi ca apresenta são infi ndáveis quanto às contribuições que uma população em envelhecimento, social e economicamente ativa, segura e saudável, pode trazer à sociedade. A população em envelhecimento também apresenta desafi os sociais, econômicos e culturais para indivíduos, famílias, sociedades e para a comunidade global. Com o número e a proporção de pessoas idosas aumentando mais rápido do que em qualquer outra faixa etária e em escala cada vez maior de países, surgem preocupações sobre a capacidade das sociedades de tratar dos desafi os associados a essa evolução demográfi ca. Algumas abordagens, como formas de estruturação das sociedades, forças de trabalho e relações sociais e intergeracionais, devem se apoiar em um forte compromisso político e uma sólida base de dados e de conhecimento que assegurem uma efetiva integração do envelhecimento global no seio dos processos mais amplos de desenvolvimento. As pessoas, em todos os lugares, devem envelhecer com dignidade e segurança, desfrutando da vida com a plena realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. Considerar tanto os desafi os quanto as oportunidades é a melhor receita para o sucesso em um mundo em envelhecimento. 4 PRINCÍPIOS UNIVERSAIS PARA O ENVELHECIMENTO DIGNO E SAUDÁVEL Para serem classifi cadas em sua idade funcional, não basta dizer que duas pessoas idosas tenham, coincidentemente, a mesma idade. Isso vai depender ainda do contexto social no qual cada idoso se insere e de como vivem o envelhecimento – de maneira mais ativa ou não. Sendo assim, podemos ter duas pessoas com a mesma idade, porém com estilos de vida diferentes que afetem, de maneira positiva ou não, a sua estética e disposição. De maneira ampla, sabemos que o envelhecimento é caracterizado pela diminuição geral das capacidades que se realizam diariamente. Alguns idosos 28 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento chegam a perder a sua independência. Porém, atualmente, conseguimos perceber que os idosos estão se cuidando mais, sendo orientados para se manterem ativos e funcionais, cultivando assim seu bem-estar. O idoso deveria ter uma equipe multidisciplinar de profi ssionais para assistir seu processo de envelhecimento: fi sioterapeutas, profi ssionais de educação física, médicos geriatras, clínicos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos entre outros, com o objetivo de promover e tratar de sua saúde. A promoção da saúde é a primeira questão nessa prática, pois o foco é prevenir a perda da funcionalidade física, psicológica e social do idoso. Para isso, hábitos saudáveis devem ser adquiridos durante a vida, principalmente na velhice. Mesmo estando claros os benefícios de manter hábitos saudáveis, fatores como aderir a uma alimentação saudável e praticar regularmente atividade física são modifi cáveis importantes à saúde do idoso, mas isso nem sempre é de conhecimento de toda a população. Nesse sentido, para promover a saúde, é necessário informar e orientar, contribuindo positivamente na autonomia dos indivíduos que promoverão o suporte necessário no cuidado ao idoso. Alguns programas educativos têm surgido com o intuito de orientar a respeito de prevenção e auxílio no tratamento de diversas doenças decorrentes do envelhecimento (COELHO et al., 2013). Esses programas educacionais para idosos buscam atender as necessidades, trabalhando com diversos procedimentos pedagógicos com o intuito de despertar a consciência crítica para a busca do envelhecimento bem-sucedido. Nesse sentido, por exemplo, foi criada a Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI), que proporciona maior inserção na sociedade, pois essas instituições com abordagens multidisciplinares priorizam o processo de valorização da terceira idade, analisando constantemente os diversos aspectos biopsicológicos, político, espiritual e sociocultural, com o objetivo de integrar esses cidadãos ao cotidiano, tornando-os mais ativos, alegres e participativos. Outras práticas grupais de educação têm sido utilizadas por profi ssionais como alternativa para as práticas assistenciais e educativas, pois se nota que esses espaços produzem conhecimentos que favorecem o empoderamento individual e coletivo dos envolvidos, por meio da valorização dos diversos saberes e da possibilidade de intervir criativamente no processo de saúde e doença de cada ser. Embora existam ações e intervenções com resultados positivos na saúde do idoso e na manutenção das boas condições de saúde da população idosa, evidencia-se a necessidade de se ampliar a discussão de como promover a saúde e a qualidade de vida para os idosos na sociedade global em um futuro próximo. 29 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 A trajetória da saúde pública possui três agendas: promoção de saúde e prevenção primária, que requer muito da educação em saúde para desenvolver hábitos de vida saudáveis e melhorar a compreensão do processo de envelhecimento; tratamento de saúde apropriado, incluindo profi ssionais qualifi cados e atualizados, visando obter diagnósticos precoces e abordagens interdisciplinares para manutenção da capacidade funcional; reabilitação das funções comprometidas, promovendo a independência funcional e a autonomia mental, em qualquer tipo de incapacidade ou limitação (FREITAS; PY, 2017). A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), aprovada pela Portaria n° 687 MS/GM, de 30 de março de 2006, dá diretrizes e aponta estratégias de organização das ações de promoção da saúde nos três níveis de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo a integralidade do cuidado. A Promoção da Saúde é uma das estratégias do setor de saúde para buscar melhoria da qualidade de vida para a população. Seu objetivo é produzir a gestão compartilhada entre usuários, movimentos sociais, trabalhadores do setor sanitário e de outros setores, gerando autonomia e corresponsabilidade. O objetivo geral da PNPS é promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidades e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, bem como acesso a bens e serviços essenciais. Para alcançar esse objetivo geral, a PNPS está organizada em eixos, nos quais o idoso deve estar contemplado: alimentação saudável; práticas corporais/ atividades físicas; tabagismo; álcool e outras drogas; acidentes de trânsito; cultura de paz; e desenvolvimento sustentável. Em relação à alimentação saudável, ela deve ser acessível, saborosa, variada, colorida, harmônica e segura; quanto aos aspectos sanitários, deve-se considerar também as práticas alimentares culturais e valorizar o consumo de alimentossaudáveis regionais. Além disso, deve ser adequada às necessidades biológicas e sociais dos indivíduos, estando de acordo com as fases do curso da vida. Vale lembrar que a promoção da alimentação saudável é respaldada pelas Políticas Nacionais de Alimentação e Nutrição (PNAN) e de Promoção da Saúde (PNPS). Já com relação à prática do exercício físico, esta tem sido difundida no mundo como um fator de proteção para a saúde dos idosos. Além dos benefícios já conhecidos – como a melhoria da circulação sanguínea e o aumento da disposição para as atividades diárias –, ressaltam-se os aspectos de socialização e de infl uência na redução de estados de ansiedade e estresse, o que confere à 30 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento prática da atividade física a capacidade de melhorar o bem-estar dos indivíduos praticantes. Isso melhorará o processo de envelhecimento, fazendo com o que o idoso não chegue a ter alterações que o impossibilite de ter qualidade de vida. É preciso evitar que ocorra agravos como as ocasionais quedas, originadas pela falta de controle postural consequente do processo de envelhecimento e sedentarismo. Um dos fatores negativos do envelhecimento é o sedentarismo, ou seja, a falta de atividade física, então, qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos é considerado atividade física. A modalidade mais comum de atividade física é a caminhada, utilizada como deslocamento e indicada para todas as faixas etárias, inclusive idosos. A atividade física coopera para o envelhecimento saudável, reduz os riscos de doenças crônicas, melhora os marcadores cardiometabólicos, diminui a pressão arterial e contribui para a saúde mental. Já o exercício físico é toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que tem como objetivo a melhoria e a manutenção de um ou mais componentes da aptidão física. Esta, por sua vez, pode ser defi nida em duas vertentes: relacionadas à saúde e à performance. FIGURA 8 – IDOSO REALIZANDO EXERCÍCIO FÍSICO FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elderly_exercise.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2020. O sedentarismo gera um estilo de vida negativo e representa uma das principais causas de queda da qualidade de vida e/ou morte prematura, particularmente nos países industrializados. A atividade e a aptidão físicas foram associadas à melhora da qualidade de vida dos indivíduos de todas as faixas etárias, sobretudo dos idosos. Qualquer atividade física é um recurso muito importante para minimizar as degenerações provocadas pelo envelhecimento, ou seja, as perdas do domínio cognitivo e as limitações físicas, que podem 31 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 levar a pessoa idosa à dependência em várias funções do aparelho locomotor, impedindo-a de viver satisfatoriamente e limitando sua participação na sociedade. Indivíduos idosos com condições específi cas de saúde, como doenças cardiovasculares e diabetes, podem precisar de precauções extras e devem procurar orientação médica antes de se esforçarem para atingir os níveis recomendados de atividade física para idosos. Existem várias maneiras pelas quais os idosos podem acumular 150 minutos de atividades semanais. O conceito de acumulação se refere ao cumprimento da meta de 150 minutos por semana realizando atividades em vários períodos mais curtos, de pelo menos 10 minutos cada, por exemplo: 30 minutos de atividade de intensidade moderada, cinco vezes por semana, resultam em 150 minutos. Essas recomendações são aplicáveis a todos os idosos, independentemente de sexo, raça, etnia ou nível de renda. As recomendações podem ser para idosos com defi ciência, no entanto, com ajustes para cada indivíduo, considerando sua capacidade de exercício, riscos e limitações específi cas. Idosos que estão inativos ou que tenham algumas limitações de doenças terão benefícios adicionais para a saúde se passarem da categoria de nenhuma atividade para alguns níveis de atividade. Os idosos que atualmente não cumprem as recomendações para atividade física devem ter como objetivo aumentar a duração, a frequência e, fi nalmente, a intensidade como objetivo para alcançá-las, melhorando assim sua aptidão física. A aptidão física relacionada à saúde contempla atributos biológicos (força e resistência muscular, fl exibilidade, capacidade aeróbica e controle ponderal), que oferecem alguma proteção ao aparecimento de distúrbios orgânicos provocados pelo estilo de vida sedentário; a aptidão física relacionada à performance envolve uma série de componentes relacionados ao desempenho esportivo ou laboral, como agilidade, equilíbrio, coordenação, potência e as velocidades de deslocamento e de reação muscular. Diante disso, deve-se estimular a população idosa à prática de atividades físicas capazes de promover a melhoria da aptidão física relacionada à saúde. Segundo estudos epidemiológicos, a prática de atividades físicas proporciona benefícios nas áreas psicofi siológicas. Na área motora e da saúde, observa-se a redução do risco de morte prematura, doença do coração, acidente vascular cerebral, câncer de cólon e mama, diabetes tipo II, bem como atua na prevenção e redução da hipertensão arterial, prevenindo o ganho de peso e o risco de obesidade, auxiliando na prevenção e redução da osteoporose, promovendo também bem-estar, com a redução de estresse, ansiedade e depressão. Por outro lado, quando as pessoas 32 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento possuem um estilo de vida inativo ou pouco ativo, são classifi cadas como sedentárias. Considera-se sedentário o indivíduo que tenha um estilo de vida com o mínimo de atividade física, sendo este equivalente a um gasto energético inferior a 500Kcal por semana. O sedentarismo pode ser decorrente de diversos fatores, como: o desenvolvimento tecnológico, que proporcionou mais comodidade à vida, incentivando a hipocinesia; maior vivência do lazer doméstico (por exemplo, televisão, videogames e jogos de computador), em virtude do crescimento da insegurança e do esvaziamento dos espaços públicos nos centros urbanos; carência de espaços e equipamentos de lazer comunitários que permitam a prática de atividades físicas, dentre outros fatores. Em virtude do aumento da quantidade de indivíduos inativos, podemos fazer os seguintes questionamentos: por que algumas pessoas são ativas e outras não? Por que tantas outras pessoas que iniciaram um programa de atividades físicas o abandonam? A adesão às atividades físicas é um fenômeno complexo e depende da relação de diversas variáveis que geram os chamados fatores associados. A probabilidade de um indivíduo e/ou comunidade ser fi sicamente ativa está relacionada à infl uência da análise de fatores individuais micro e macroambientais. Os fatores macroambientais incluem as condições gerais socioeconômicas, culturais e ambientais. As infl uências resultantes dos microambientes incluem a ligação do local onde se vive e trabalha, bem como o suporte das normas sociais e das comunidades locais. Nos fatores individuais, as atitudes em relação à atividade física, o acreditar em sua própria possibilidade de ser ativo ou o conhecimento de oportunidades no dia a dia pode infl uenciar a probabilidade de ser ativo ou de alguém tentar novas atividades. Apesar de o ambiente ser uma chave infl uente nos níveis de atividade física, alguns fatores psicossociais infl uenciam nas decisões das pessoas sobre estilos de vida e escolhas quanto a um comportamento saudável ou de risco. Esses fatores psicossociais são classifi cados em positivos ou facilitadores e em negativos ou barreiras. Os facilitadores são compreendidos em: autoefi cácia (acreditar na própria capacidade para ser ativo); intenção e prazer no exercício; nível percebido de saúde e aptidão física; automotivação; apoio social; esperança de benefícios do exercício; e benefícios percebidos.Já as barreiras são classifi cadas em: percepção da falta de tempo; percepção de que não se é do “tipo desportivo” (particularmente para as mulheres); preocupações sobre a segurança pessoal; sensação de cansaço e preferência em descansar e relaxar no tempo livre; e autopercepções (por exemplo, assumir que já é sufi cientemente ativo). Ao 33 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 analisarmos estas variáveis é possível perceber uma inter-relação entre o comportamento, as barreiras e a adesão para a prática das atividades físicas. Como informado anteriormente, outro eixo da promoção da saúde é o controle do tabagismo. Desde 1989, o Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional de Câncer, articula a gestão e a governança do Programa Nacional de Controle do Tabagismo no Brasil, que tem como objetivo geral reduzir a prevalência de fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco. Para tanto, ações educativas, bem como de comunicação, de atenção à saúde, junto a ações legislativas e econômicas, potencializam- se para prevenir a iniciação do tabagismo, promover sua cessação e proteger a população dos riscos do tabagismo passivo. As estratégias essenciais para o alcance desses resultados têm sido o fomento da rede de parcerias junto às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde com outros setores do Ministério da Saúde e do governo, assim como as organizações não governamentais. FIGURA 9 – IDOSO TABAGISTA FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elderly_Man_Smoking_-_Lviv_-_ Ukraine_(27177188685)_(2).jpg>. Acesso em: 12 ago. 2020. Sabemos que o tabagismo é uma doença crônica que causa dependência física e psíquica, além de ser reconhecida pela Organização Mundial de Saúde que, sendo crônica, está sujeita a recaídas frequentes, as quais nem sempre são reconhecidas pelos profi ssionais de saúde. 34 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento Sabemos que o tabagismo é uma doença crônica que causa dependência física e psíquica, além de ser reconhecida pela Organização Mundial de Saúde que, sendo crônica, está sujeita a recaídas frequentes, as quais nem sempre são reconhecidas pelos profi ssionais de saúde. Existem vários fatores que contribuem para a dependência do tabaco. O mais importante é a presença da nicotina, a substância psicoativa que tem uma elevada capacidade de desenvolver a dependência física e psicológica por meio de processos que se assemelham às dependências provocadas por outras drogas. O fumo do tabaco é uma suspensão constituída por mais de 4.000 substâncias com efeitos tóxicos e irritantes, como o monóxido de carbono, metais pesados e substâncias radioativas. Diante de várias consequências que se originam do tabaco, o fumante passivo é muito prejudicado, pois, ao conviver com o tabagista, inala diariamente a fumaça derivada do tabaco e dos outros componentes. As evidências apresentadas pela literatura correlacionam a inalação de fumaça pelos não fumantes a alguns efeitos adversos no sistema respiratório e circulatório, ação carcinogênica em adultos e impactos da saúde do idoso. O câncer de pulmão, as doenças respiratórias, as doenças cardiovasculares, as doenças de reprodução e outras doenças estão associadas aos fumadores ativos. No entanto, nos últimos anos, o impacto do fumo do tabaco expõe os não fumadores aos mesmos malefícios que o fumador ativo. As doenças respiratórias como asma, alergia e doenças pulmonares, podem conduzir à exclusão social e laboral. Os idosos sofrem e podem desenvolver pneumonia, bronquite, asma e problemas na orelha (audição). FIGURA 10 – CÂNCER DE PULMÃO FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lung_cancer.jpg>. Acesso em: 13 ago. 2020. 35 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 A exposição ao fumo do tabaco é um problema de Saúde Pública de grande magnitude e os profi ssionais de saúde podem ter um papel fundamental ao informar aos seus doentes sobre os riscos provenientes desta exposição, incluindo as equipes de serviço e os locais prestadores de cuidados à saúde. A cessação do tabagismo gera importantes benefícios em longo prazo na saúde das pessoas. Parar de fumar antes dos 50 anos provoca uma redução de 50% no risco de morte por doenças relacionadas ao tabagismo após 16 anos de abstinência. Além da importante redução no risco relacionado às doenças crônicas, há outros benefícios relevantes com a cessação do tabagismo: melhora da autoestima, do hálito, da coloração dos dentes e da vitalidade da pele; melhora do convívio com pessoas não tabagistas; melhora no desempenho de atividades físicas; redução dos danos ao meio ambiente, pois uma árvore é derrubada para cada 300 cigarros produzidos e o fi ltro do cigarro leva cerca de 100 anos para ser degradado na natureza. Todos esses fatos justifi cam o esforço mundial de controle do tabaco, incluindo as ações de cessação do tabagismo. O apoio da equipe multidisciplinar deve promover, sempre que possível, ações de informação, incentivo e apoio ao abandono do tabagismo não só do idoso em si, mas também dos familiares e cuidadores de seu convívio. As estratégias usadas para o tratamento de cessação do tabagismo podem ser divididas em intervenções psicossociais e tratamentos medicamentosos. As intervenções psicossociais incluem aconselhamentos e abordagens cognitivo-comportamentais (alicerce do tratamento). O tratamento medicamentoso aumenta as chances do fumante alcançar a cessação completa. Antes do tratamento farmacológico, deve-se motivar o indivíduo à cessação defi nitiva por meio de entrevista motivacional e abordagens centradas na pessoa. As respostas adaptativas ao processo do envelhecimento englobam o sentimento de se perceberem mais jovens, em um bom estado de saúde física e mental, prevenindo que ocorram incapacidades. Sendo assim, intervenções interdisciplinares se fazem necessárias com atuações diretamente a este grupo populacional, enfatizando ações de promoção e prevenção da saúde. Agora, vamos conhecer os aspectos relacionais ao envelhecimento digno, saudável e à cognição. A senescência está associada a prejuízos na capacidade cognitiva decorrentes de alterações estruturais e funcionais. A perda da capacidade cognitiva impacta diretamente na independência e autonomia e, consequentemente, na qualidade de vida dos idosos. É importante estimular 36 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento atividades que promovem a cognição dos idosos. O desempenho cognitivo sofre declínio com a senescência. Alguns determinantes interferem na cognição, sendo a idade o principal. No entanto, o sexo, fatores ambientais como níveis inferiores de renda e educação, sintomas de depressão, inatividade física e alimentação também são fatores determinantes. O consumo de vegetais, frutas e peixes apresenta efeitos positivos pela presença de nutrientes, antioxidantes e vitaminas. O impacto negativo na saúde cognitiva também está associado ao consumo de carnes gordas e fontes de ácidos graxos poli-insaturados. Além disso, as alterações biopsicossociais acompanham o processo de envelhecimento e, deste modo, inicia-se o decréscimo dos processos funcionais e cognitivos. Ao envelhecer, o indivíduo relata difi culdade de memorizar fatos do cotidiano, e este declínio das funções cognitivas pode estar relacionado à idade e/ou estilo de vida. Algumas funções cognitivas são de suma importância, como o tempo de reação a um estímulo, memória de atenção – que planeja a realização das atividades diárias –, e memória de curto prazo – que recorda informações recentes. Já as capacidades verbais permanecem preservadas com o envelhecimento normal, porém, ao avançar da idade, observa-se que há uma difi culdade na realização de atividades que relacionam a memória com a linguagem. Existem evidências de que a alimentação saudável podedesempenhar um papel na prevenção e adiar o processo de fragilidade do idoso. Alimentos ricos em vitaminas, proteínas e antioxidantes podem retardar este declínio. A manutenção da saúde também depende da alimentação saudável, evidenciando-se o consumo de frutas, legumes e verduras. A presença destes alimentos na alimentação auxilia o suprimento de micronutrientes, fi bras e demais componentes com características funcionais, protegendo o DNA contra agravos. Notam-se diversas modifi cações nos padrões alimentares da população em diversos países, até mesmo no Brasil, onde há consumo de gorduras, açúcares, produtos industrializados ricos em sódio e, em contrapartida, a diminuição do consumo de arroz e feijão, além da ausência de frutas e hortaliças. Uma dessas grandes alterações é a defi ciência de vitamina B-12, comumente presente nos idosos de todo o mundo. Concentrações baixas da vitamina têm sido associadas a danos neuropsiquiátricos. Também associada ao envelhecimento, a perda progressiva de proteína infl uencia em um grande risco de quedas e fraturas, redução da mobilidade, independência, e declínio da função imunológica, o que aumenta a predisposição a infecções. A manutenção da massa muscular de idosos requer maior quantidade de proteínas. A fragilidade delas nos idosos agrava em mudanças no metabolismo, 37 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 propiciando um aumento no catabolismo proteico muscular e redução da massa muscular. Existe um consenso internacional que baseia a prevenção da fragilidade à administração de vitamina D, tornando mais efi caz a saúde dessa faixa etária. É importante destacar que os fatores socioeconômicos interferem diretamente nos hábitos nutricionais. O excesso de peso (principalmente a obesidade), hábitos alimentares inadequados e o sedentarismo (já discutido anteriormente) contribuem como fatores de risco para o aparecimento de doenças como a hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus. As ações de nutrição e alimentação realizadas por profi ssionais de saúde na abordagem para as mudanças de hábitos alimentares são necessárias, pois o foco das fontes alimentares e os aspectos dos nutrientes promovem mudanças no comportamento alimentar. Em função disso, é de grande importância a realização de uma avaliação nutricional nos idosos. Outro grande problema de saúde pública que impacta no envelhecimento digno e saudável é a queda. A queda é descrita como um evento em que a pessoa, desavisadamente, vai ao chão ou ao encontro de um local num nível inferior que o ocupado anteriormente, seja de forma consciente ou inconsciente, com ou sem lesão (FREITAS; PY, 2017). Cada queda possui fatores de riscos específi cos. É imprescindível uma análise cuidadosa da situação em que ela ocorreu para que se possa realizar avaliação clínica e investigação epidemiológica. Ao pesquisar a incidência das quedas, leva-se em conta as que não são intencionais e resultam em um contato com o chão, e não apenas as que ocorrem quando se cai de costas de lugar em que está sentado. As quedas em idosos são constantes, e os com idade mais avançada são mais pré-dispostos em decorrência da perda da autonomia. Normalmente, as quedas são resultado de um desequilíbrio em vários sistemas, graves o bastante para comprometer a habilidade de compensação do idoso. A parte emocional também gera um impacto psicológico em pessoas mais velhas. A queda acontece geralmente quando existe uma perturbação do equilíbrio e uma falha do sistema de controle postural que não se pode compensar. Podem ocorrer, não com muita frequência, quedas devido a uma perturbação interna fi siológica que impede, de forma passageira, a atuação do sistema de controle postural, acontecendo uma intervenção na perfusão dos centros posturais cerebrais, do tronco encefálico ou dos sistemas sensório-motores. Devemos diferenciar os idosos que sofrem quedas por possuírem uma fragilidade devido a uma instabilidade daqueles que têm um risco maior de cair 38 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento por serem saudáveis e ativos e caem justamente por participar de atividades arriscadas e vigorosas. É mais sensato dizer que existe uma interação de fatores associados às quedas do que a causa ser relacionada somente a um elemento. Alguns fatores, como função cognitiva e idade, são correlatos, apenas com um indicativo de relação causal frente a uma avaliação multivariada. Conheça alguns elementos associados às quedas em brasileiros: o risco de novas quedas é maior em idosas, viúvos, solteiros ou desquitados; o risco de quedas recorrentes é mais elevado em idosos que já sofreram fraturas que comprometem as atividades de vida diária; existência de várias doenças; problemas psicológicos com comprometimento cognitivo, ansiedade e depressão; baixo índice de massa corporal; acidente vascular cerebral; incontinência urinária; uso de remédios benzodiazepínicos e miorrelaxantes (REBELATTO, 2013). Grande parte das quedas se dá nos períodos diurnos, de maior atividade, e apenas 20% no período noturno. Em dias mais frios e no inverno, a frequência de quedas e fraturas aumenta nas mulheres. A maioria das quedas acontece dentro das residências e uma incidência menor ocorre no jardim ou na área externa da casa. No que se refere aos locais em que os idosos mais caem em casa, esse evento acontece nos cômodos em que permanecem mais tempo como na cozinha, no quarto e na sala de jantar. As quedas que não foram por síncope estão atreladas a uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos no momento da queda. Doenças crônicas ou alterações decorrentes da idade aumentam o risco de quedas e fazem parte dos fatores intrínsecos estáveis. Os fatores intrínsecos que afetam o equilíbrio se devem à principal causa de queda, que é a falta de controle postural. Essa falta pode ocorrer por: redução dos sinais sensoriais, como visão, propriocepção ou sistema vestibular; redução do processamento do sistema nervoso central, como na demência; redução da resposta motora, como na osteoartrite e miastenia. Alguns fatores intrínsecos sofrem infl uência com o decorrer do tempo ou permanecem por pouco tempo, como em casos em que há mudança na medicação ou em doença aguda. Ambos os fatores, extrínsecos ou intrínsecos, desencadeiam o início da queda e alguns determinam se haverá uma lesão pós-traumática. Os fatores que potencialmente geram lesões são: o local de impacto do corpo no momento da queda; a presença de respostas protetoras que cessam a queda; a massa óssea. As fraturas acontecem comumente quando o idoso cai e tem um impacto direto no punho ou na pelve. 39 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 Os fatores extrínsecos que alteram o equilíbrio são os riscos ambientais nas atividades diárias em idosos mais frágeis. Ao se virar, inclinar-se ou se estender para conseguir pegar algum objeto. A maioria dos idosos cai durante as atividades do dia a dia em suas casas, andando, subindo e descendo escadas. Em metade dos casos, os riscos ambientais estão presentes, porém a incidência é menor em idosos com idade mais avançada. Em situações nas quais o estímulo sensorial é reduzido, como em locais pouco iluminados ou com muito brilho, o risco de quedas está presente. Alterações consideráveis na resposta do equilíbrio ao se deslocar rapidamente o centro de massa, como escorregar no tapete ou em uma superfície lisa, também são fatores de risco (SPIRDUSO, 2005). A queda da própria altura e aquelas em que é possível se agarrar em algo para diminuir o impacto são as que menos geram fraturas. A fratura do colo do fêmur é mais comum em idosos com baixo índice de massa corporal (abaixo de 19kg/m²). A combinação dos seguintes fatores: baixa densidade óssea, instabilidade postural, diminuição da força do músculo quadríceps, história de quedas e já ter sofrido alguma fraturarevelam grandes chances de ocorrer uma fratura no quadril. Para evitar que o idoso caia novamente, acrescentam-se as várias causas reconhecidas à intervenção de fatores identifi cados na avaliação multifatorial. Os métodos mais efi cientes são: adaptar ou mudar as causas ambientais na residência; retirar ou usar, em doses e em um menor tempo possível, a administração de psicotrópicos; retirar ou fazer o uso mínimo possível de outros medicamentos; controlar a hipotensão postural; tratar as complicações nos pés e analisar o tipo de sapato usado; trabalhar atividades de condicionamento do equilíbrio, força e deambulação; usar suplementos de vitamina D; intervenções cirúrgicas para aqueles que têm catarata; evitar o uso de óculos multifocais ao caminhar; uso de marca-passo para os casos de hipersensibilidade cardioinibitória do seio carotídeo; orientações educacionais adaptadas de acordo com a cognição e o nível de instrução do paciente; exercícios domiciliares e em academias. A prevenção secundária também é efi caz, salientando que o indivíduo que já caiu uma vez tem mais chances de cair novamente. Durante a consulta, até mesmo de um clínico geral ou em emergências, a identifi cação dos fatores causais é passível de ser verifi cada. Em alguns casos específi cos, é necessária uma avaliação mais detalhada após a queda devido aos traumas por ela provocados. Em idosas, deve-se verifi car se existiram fraturas anteriores por osteoporose, se a mobilidade foi afetada pelo uso de andador ou bengala, se falta capacidade para se levantar de uma cadeira sem a ajuda dos membros superiores, caminhar instável e problemas de cognição. 40 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento 1 O envelhecimento é um evento natural para todo ser humano, ou seja, todas as pessoas irão envelhecer. É caracterizado por um processo universal, heterogêneo, progressivo, que gera alterações diversas de caráter físico, psicológico e social. Considerando as informações apresentadas sobre o envelhecimento, analise as afi rmativas a seguir: I- Conforme a Organização Mundial da Saúde, no Brasil, a pessoa idosa é aquela com 65 anos ou mais. II- Nos países desenvolvidos, as pessoas possuem maior expectativa de vida, sendo consideradas idosas pessoas com 60 anos ou mais. III- O processo de envelhecimento contribui para o aumento da vulnerabilidade da pessoa idosa e da incidência de doenças. IV- O envelhecimento pode sofrer infl uência genética, do estilo de vida e do meio ambiente em que a pessoa vive. Está CORRETO o que se afi rma em: a) ( ) III e IV, apenas. b) ( ) I, II e III, apenas. c) ( ) I, II, III e IV. d) ( ) II e IV, apenas e) ( ) II e III, apenas. 2 O envelhecimento pode ser classifi cado da seguinte forma: envelhecimento primário, envelhecimento secundário e envelhecimento terciário. Alguns fatores do dia a dia, além da genética, podem impactar nesses tipos de envelhecer. Diante do exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O envelhecimento secundário também é denominado senilidade, em que há alterações patológicas. b) ( ) Alterações normais e patológicas da idade compreendem o envelhecimento terciário ou senescência. c) ( ) O envelhecimento primário também é conhecido como senilidade, em que há alterações normais da idade. d) ( ) As alterações normais da idade, como queda dos cabelos e pelos, são denominadas senilidade. e) ( ) O envelhecimento terciário, ou senilidade, é uma somatória de alterações normais e não normais da idade. 41 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 3 Na gerontologia se utilizam conceitos, defi nições e termos específi cos, que permeiam o estudo do envelhecimento. Esses termos são utilizados também para universalizar a pesquisa, a avaliação e o diálogo em gerontologia. A respeito do envelhecimento e alguns termos utilizados na gerontologia, analise as afi rmativas a seguir e assinale V para a(s) Verdadeira(s) e F para a(s) Falsa(s). ( ) A idade cronológica classifi ca as pessoas conforme a sua data de nascimento. ( ) A idade biológica classifi ca as pessoas com base nas condições teciduais, quando comparadas a valores de normalidade. ( ) A idade psicológica é evidenciada por aspectos como maturação mental, desempenho e soma de experiências na vida. ( ) A idade social é indicada pelas estruturas organizadas de cada sociedade; cada pessoa pode variar de jovem a velho, em diferentes sociedades. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F, V, F, V. b) ( ) V, V, F, F. c) ( ) V, V, V, V. d) ( ) F, F, F, F. e) ( ) V, V, F, V. 4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Caro pós-graduando! Chegamos ao fi nal deste primeiro capítulo da disciplina Temas contemporâneos do Processo de Envelhecimento Humano. Todo este conteúdo o ajudará a entender melhor o processo de envelhecimento de uma forma geral, possibilitando dar continuidade nas demais unidades e pôr em prática o melhor atendimento possível à população idosa. Foi possível perceber que o envelhecimento é um evento natural para todo ser humano, sendo dinâmico, progressivo e universal, e que está caracterizado por alterações morfológicas, fi siológicas, bioquímicas, psicológicas, físicas e sociais que refl etirão nas condições de vida e na vulnerabilidade da pessoa idosa. O envelhecimento é um processo que pode ser bem-sucedido, digno, saudável ou não. 42 Temas Contemporâneos soBre o Processo de Envelhecimento Esse processo contribui para o aumento da vulnerabilidade e incidência de patologias que, infl uenciadas pela estrutura genética do indivíduo, estilo de vida e meio ambiente, tendem a resultar na morte de uma célula, de um tecido, de um órgão ou mesmo do indivíduo. Em especial para esta disciplina, temos que lembrar que o envelhecimento social é responsável pela alteração do status do idoso, dessa forma alterando a relação desses indivíduos com as demais pessoas de sua comunidade, sendo essas alterações relacionadas com a crise de identidade (ausência do papel social causando baixa autoestima) e isolamento. E que além dessas, todas as demais alterações da idade são defendidas por diversas teorias que buscam explicar o processo de envelhecimento biológico, psicológico e social. Por que devemos nos atentar tanto ao processo de envelhecimento, sendo que é algo comum a tudo e a todos? O envelhecimento populacional é uma das mais signifi cativas tendências do século XXI. Apresenta implicações importantes e de longo alcance para todos os domínios da sociedade. E as oportunidades sociais que essa evolução demográfi ca apresenta são infi ndáveis quanto às contribuições que uma população em envelhecimento, social e economicamente ativa, segura e saudável, pode trazer à sociedade. A população em envelhecimento também apresenta desafi os sociais, econômicos e culturais para indivíduos, famílias, sociedades e para a comunidade global, que irão impactar na sua dignidade, saúde e qualidade de vida. REFERÊNCIAS CHMIELEWSKI, P. P. Human ageing as a dynamic, emergent and malleable process: from disease-oriented to health-oriented approaches. Biogerontology, v. 21, n. 1, p. 125-30, 2020. COELHO, F. G. M.; GOBBI, S.; COSTA, J. L. Exercício físico no envelhecimento saudável e patológico: da teoria à prática. Curitiba: Editora CRV, 2013. ERIKSON, E. H. Identity: youth and crisis. New York: Norton, 1968. ERIKSON, E. H. Childhood and society. New York: Norton, 1959. FARINATTI, P. D. T. V. Envelhecimento: promoção da saúde e exercício. São Paulo: Manole, 2008. FARINATTI, P. D. T. V. Teorias biológicas do envelhecimento: do genético ao estocástico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 8, n. 4, p. 129-138, 2002. 43 O ENVELHECIMENTO E A VELHICE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Capítulo 1 FECHINE, B. R. A.; TROMPIERI, N. O processo de envelhecimento: as principais alterações que acontecem com o idoso com
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