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< DESCRIÇÃO Apresentação das formas farmacêuticas auriculares e nasais, além dos fatores relacionados a seu preparo e aplicação, com ênfase na apresentação dos veículos e excipientes. Diferenciação de formulações nasais e pulmonares, com destaque para as formas farmacêuticas de liberação pulmonar e influência do tamanho de partícula na deposição dos fármacos. PROPÓSITO Conhecer diferentes vias de administração de fármacos e suas particularidades para o desenvolvimento, manipulação e controle de qualidade de produtos com características adequadas à via a que se destina. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o uso de excipientes farmacêuticos em formulações auriculares MÓDULO 2 Identificar o uso de adjuvantes farmacotécnicos adequados às formulações nasais MÓDULO 3 Reconhecer as particularidades da região pulmonar e aplicações de uso farmacêutico INTRODUÇÃO A via de administração oral ainda é a mais utilizada devido a sua facilidade de administração e comodidade para o paciente. Se pensarmos nos medicamentos que tomamos com mais frequência, por exemplo, para dor de cabeça, vamos perceber que na maioria das vezes os consumimos por via oral. Apesar disso, atualmente, possuímos várias outras vias que podem ser mais vantajosas em determinados casos. Algumas dores e doenças acometem certas regiões de maneira mais específica, tal como a congestão nasal, que afeta diretamente as vias aéreas respiratórias, assim como a asma afeta a região pulmonar e a otite, a região auricular. Nesses casos, formulações pensadas especificamente para as particularidades dessas vias podem ser mais adequadas. Por isso, neste tema, vamos conhecer as vias de administração nasal, auricular e pulmonar e entender as características importantes das formulações administradas através delas. Vamos começar? MÓDULO 1 Identificar o uso de excipientes farmacêuticos em formulações auriculares SOLUÇÕES AURICULARES ANATOMOFISIOLOGIA DA REGIÃO AURICULAR A região auricular pode ser dividida em externa, média e interna. Entender essa divisão é importante pois, de acordo com a região acometida, as formulações farmacêuticas precisam ter diferentes características. ATENÇÃO Os incômodos mais comuns geralmente atingem o canal auditivo externo e médio. A seguir, compreenda os aspectos do ouvido médio e interno. OUVIDO MÉDIO OUVIDO INTERNO https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps1 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps1 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps2 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps2 OUVIDO MÉDIO Conectado à faringe nasal pela tuba auditiva (ou trompa de Eustáquio) e ao ouvido interno pela janela redonda e janela oval. OUVIDO INTERNO Formado por uma região auditiva, chamada de cóclea, e por uma região responsável pelo equilíbrio, que é o sistema vestibular (labirinto). Essas regiões se encontram embutidas no crânio e têm um acesso extremamente difícil, protegido por uma barreira sangue-labirinto, que é anatômica e funcionalmente similar à barreira hematoencefálica, e pela membrana da janela redonda, sendo um fator complicador para o tratamento medicamentoso local. Quando ondas sonoras atingem o tímpano (entre o canal externo e médio), movimentos nos ossos do ouvido são gerados e transferidos para o líquido presente no ouvido interno. Nesta região, células ciliadas convertem os movimentos em impulsos nervosos e os sinais são enviados ao cérebro através do nervo auditivo. Observe os aspectos físicos que caracterizam o canal auditivo externo, médio e interno: Foto: Shutterstock.com O QUE É CERÚMEN? O cerúmen, ou cera de ouvido, é uma substância secretada para limpar e lubrificar a região auricular. Em condições normais, ele é expelido naturalmente para fora do canal auditivo, sem a necessidade de intervenção. No entanto, em algumas situações, esse processo de expulsão não ocorre de forma adequada e a limpeza se faz necessária, com o uso de medicamentos e/ou remoção mecânica por um profissional. APLICAÇÕES DA VIA DE ADMINISTRAÇÃO AURICULAR A principal queixa relacionada à região auricular é referente à sua inflamação, que chamamos de otite. De acordo com a parte do canal auditivo atingida, podemos chamá-la de: OTITE EXTERNA (OE) OTITE MÉDIA (OM) OTITE INTERNA (OI) Foto: Shutterstock.com RECOMENDAÇÃO Para a OE e OM recomenda-se a utilização de soluções auriculares tópicas. Já para a OI e outras patologias na região interna, geralmente opta-se por um tratamento sistêmico ou por procedimentos mais invasivos, como a administração intratimpânica (direto no tímpano) ou intracoclear (direto na cóclea), feita por meio de injeção no ouvido médio. A remoção de cerúmen também é uma das aplicações das formulações otológicas. Neste caso, geralmente utiliza-se uma formulação no ouvido externo, capaz de amolecer o cerúmen e facilitar sua retirada. Dependendo da gravidade, a remoção mecânica por um profissional se faz necessária. Foto: Shutterstock.com ATENÇÃO Não é recomendado fazer o uso frequente de hastes flexíveis em casa, pois elas podem empurrar o cerúmen para a parte mais interna do ouvido. Que tal entendermos as vantagens e desvantagens das formulações otológicas? Analise o quadro abaixo com atenção: Quadro: Vantagens e desvantagens das formulações otológicas. Elaborado por: Michelle Alvares Sarcinelli. AS FORMULAÇÕES OTOLÓGICAS E ADJUVANTES FARMACÊUTICOS: O QUE PRECISAMOS COMPREENDER? Formulações otológicas podem ser preparações líquidas, semissólidas ou sólidas destinadas à aplicação no canal auditivo. Foto: Shutterstock.com Na maioria das vezes, elas são administradas na forma de solução, em gotas, contendo uma ou mais substâncias ativas em um veículo adequado. Dentre os ativos comumente utilizados, os mais comuns são os corticoides e os antimicrobianos para inflamações e infecções. Existe, ainda, o uso de ativos cerumenolíticos, ou seja, capazes de auxiliar na remoção do cerúmen. Como exemplos, temos o bicarbonato de sódio e o peróxido de carbamida que, quando entra em contato com a água, libera peróxido de hidrogênio. O oxigênio liberado forma bolhas que auxiliam no amolecimento e remoção do excesso de cerúmen. AGENTES CERUMENOLÍTICOS Neste vídeo, a especialista Patrícia Dias comenta sobre a cera, sua função e a ação dos agentes ceruminolíticos: Vamos falar agora sobre os adjuvantes utilizados. VEÍCULO O veículo em formulações otológicas pode ser: Aquoso → Usado quando o fármaco é solúvel em água, como o fosfato de prednisolona sódica. Ex.: água purificada. Não aquoso → Usado principalmente para a remoção do cerúmen, pois seu caráter lipofílico auxilia na solubilização da cera. Ex.: óleos minerais ou vegetais. Não aquoso, mas miscível com água → Usado quando o fármaco não é tão solúvel em água (Ex.: hidrocortisona). Pode ser usado sozinhos ou em uma mistura com água. Ex.: glicóis (propilenoglicol, glicerol). Dentre as propriedades interessantes do propilenoglicol, está sua higroscopicidade, que faz com que haja a retirada de líquido do ouvido médio e de exsudatos de tecidos inflamados, o que leva à redução da pressão. Além disso, em concentrações maiores que 30%, ele parece ter propriedades conservantes. EXSUDATOS Saída de líquidos orgânicos através das paredes e membranas celulares, geralmente relacionada com processos inflamatórios. PH O pH adequado dependerá da região de aplicação da formulação. O canal auditivo externo é capaz de suportar valores de pH mais baixos, que podem contribuir para o tratamento de otites externas. Para o ouvido médio, o ideal é uma faixa de pH entre 6 e 8, e a estabilidade do fármaco na formulação também deve ser considerada. O ajuste pode ser feito com ácido bórico, tetraborato de sódio, ácido clorídrico diluído ou solução de hidróxido de sódio. VALOR OSMÓTICO Formulações otológicas não devem ser necessariamente iso-osmóticas,mas essa é uma característica desejável. O cloreto de sódio pode ser utilizado com a finalidade de ajustar essa osmolaridade. VISCOSIDADE Uma formulação mais viscosa que a água é recomendada para o uso tópico, pois facilita a administração e aumenta a retenção do fármaco no local de aplicação. Isso porque ela evita que as gotas escorram do javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) ouvido e que o paciente precise permanecer por muito tempo com a cabeça inclinada. Além disso, também diminui as chances de a formulação passar para regiões mais internas. Outra situação em que o aumento da viscosidade é desejável, é quando a formulação se encontra na forma de suspensão, porque o aumento da viscosidade ajuda a manter o fármaco suspenso. O ajuste pode ser feito utilizando polímeros hidrofílicos, como a hipromelose, ou solventes um pouco mais viscosos, como os glicóis. PRESERVAÇÃO Quando destinadas ao ouvido externo, não há a necessidade de esterilidade da formulação. Dependendo da concentração do fármaco, de sua natureza (antimicrobianos, por exemplo) e do conteúdo de água na formulação, o uso de conservantes pode ser dispensado. No entanto, no caso de formulações que são soluções aquosas diluídas e administradas em embalagens multidose, o uso de conservantes é necessário. Como conservantes, pode-se utilizar cloreto de benzalcônio, timerosal, combinação de parabenos, clorobutanol, entre outros. Por outro lado, se as formulações forem destinadas ao ouvido médio ou houver maior chance dessa região ser atingida (por exemplo, quando o tímpano está perfurado ou em casos de lesões graves), a esterilidade é uma exigência. Nestes casos, faz-se necessária, ainda, a ausência de conservantes e, por isso, a embalagem deve ser de dose unitária. ANTIOXIDANTES Os antioxidantes podem ser incluídos em formulações otológicas para melhorar a estabilidade de medicamentos que são propensos à degradação oxidativa. Sua escolha deve ser baseada nas características de solubilidade da formulação. Vejamos uma formulação comercial para avaliar os seus componentes: Foto: Shutterstock.com COMPOSIÇÃO FUNÇÃO Fluocinolona acetonida Ativo Sulfato de neomicina Ativo Sulfato de polimixina B Ativo Cloridrato de lidocaína Ativo Ácido cítrico Ajustar o pH da formulação Propilenoglicol Veículo / Aumentar a viscosidade da formulação Água de osmose reversa Veículo Quadro: componentes de um medicamento otológico. Elaborado por Michelle Alvares Sarcinelli. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Com base no que vimos até aqui, vamos praticar! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE A VIA DE ADMINISTRAÇÃO AURICULAR GERALMENTE É UTILIZADA PARA TRATAMENTO DE INFECÇÕES OU INFLAMAÇÕES NA REGIÃO DO OUVIDO E PARA A REMOÇÃO DO CERÚMEN. SOBRE ESSAS APLICAÇÕES, ASSINALE A AFIRMAÇÃO CORRETA: A) Para a remoção do cerúmen, a formulação deve ser aplicada no canal auditivo externo B) As gotas otológicas são a formulação de escolha para o tratamento de inflamações no ouvido interno. C) A otite é uma das principais queixas relacionadas à região auricular e pode acometer as regiões externa e média, mas não a interna. D) Para o tratamento da otite externa é recomendada a injeção intratimpânica. E) Formulações para a remoção do cerúmen devem ser aplicadas rotineiramente pelo paciente para auxiliar na limpeza da região auricular. 2. DE ACORDO COM O QUE VIMOS SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS DAS FORMULAÇÕES AURICULARES E OS ADJUVANTES QUE PODEM SER ADICIONADOS PARA ALCANÇÁ-LAS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) A viscosidade é desejável pois facilita a homogeneidade da formulação. B) O uso de conservantes na formulação é essencial em todos os casos. C) Somente veículos aquosos são recomendados para uso na região auricular. D) O pH deve estar entre 6 e 8, ainda que o faixa de estabilidade do fármaco seja outra. E) A viscosidade é desejável pois facilita a administração da formulação e aumenta seu tempo de retenção. GABARITO 1. Vimos que a via de administração auricular geralmente é utilizada para tratamento de infecções ou inflamações na região do ouvido e para a remoção do cerúmen. Sobre essas aplicações, assinale a afirmação correta: A alternativa "A " está correta. A remoção do cerúmen deve ser realizada somente em casos extremos e a formulação deve ser aplicada no canal auditivo externo. A otite realmente é uma das principais queixas relacionadas à região auricular, mas pode acometer o ouvido externo, médio e interno. Para o tratamento da otite externa, recomenda-se a utilização tópica de formulações otológicas. A injeção intratimpânica é recomendada em casos de patologias que acometam as regiões mais internas, sendo um procedimento mais invasivo. 2. De acordo com o que vimos sobre as características desejáveis das formulações auriculares e os adjuvantes que podem ser adicionados para alcançá-las, assinale a alternativa correta: A alternativa "E " está correta. A viscosidade é uma característica importante das formulações auriculares, pois facilita sua administração e aumenta seu tempo de retenção. Isso ocorre porque com a viscosidade elevada a formulação tende a escorrer menos, evitando que o paciente precise ficar com a cabeça deitada por muito tempo. O uso de conservantes na formulação não é necessário em casos de embalagem de dose única ou em que o fármaco tenha propriedades antimicrobianas e esteja presente em concentração adequada para exercer a conservação da formulação. Veículos não aquosos também podem ser utilizados, principalmente quando o fármaco possui baixa solubilidade em água, ou para atuar na remoção do cerúmen. O pH deve estar preferencialmente entre 6 e 8 para a formulação ser mais tolerada pela região auricular. Porém, a faixa de estabilidade do fármaco precisa ser contemplada. MÓDULO 2 Identificar o uso de adjuvantes farmacotécnicos adequados às formulações nasais SOLUÇÕES NASAIS ANATOMOFISIOLOGIA DA REGIÃO NASAL Para entendermos o funcionamento das formulações nasais e suas aplicações, é importante primeiro conhecermos a anatomofisiologia da região. As principais funções da cavidade nasal são: A RESPIRAÇÃO O OLFATO A PROTEÇÃO DAS VIAS AÉREAS Ainda sobre a cavidade nasal, é ela quem filtra, aquece e umidifica o ar inspirado, além de reter partículas estranhas. Essa retenção é feita por uma camada de muco que aprisiona física e enzimaticamente as partículas, impedindo que entrem no organismo junto ao ar inalado. Após retidas, essas partículas são removidas pelo movimento de propulsão dos cílios nasais, que também estão presentes na região (figura a seguir). Tal processo de retenção e eliminação de partículas estranhas pela camada de muco e pelos cílios é chamado de depuração mucociliar (DMC). Foto: Shutterstock.com Camada de muco e cílios presentes na cavidade nasal. Anatomicamente, a cavidade nasal preenche o espaço entre a base do crânio e o céu da boca e tem um volume total de 15 a 20 µL e uma área superficial alta de aproximadamente 150 cm2. É dividida pelo septo nasal, que se estende posteriormente à nasofaringe, em duas metades simétricas, e possui três zonas funcionais: vestibular, respiratória e olfatória. ÁREAS SUPERFICIAIS Áreas superficiais altas permitem uma maior interação entre dois sistemas sendo, geralmente, regiões importantes para processos de absorção. Por exemplo, o intestino possui alta área superficial devido às microvilosidades intestinais, e isso favorece a absorção de nutrientes. Os pulmões possuem alta área superficial devido ao tamanho reduzido dos alvéolos, o que facilita as trocas gasosas. A alta área superficial da região nasal permite a absorção sistêmica de fármacos. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com. Adaptado por Asafe Ferreira Anatomia da região nasal. Veja a função de cada uma das áreas da cavidade nasal: REGIÃO VESTIBULAR REGIÃO RESPIRATÓRIAREGIÃO OLFATÓRIA REGIÃO VESTIBULAR É a parte mais anterior da cavidade nasal. Possui cílios que retém as partículas inaladas. Assim, proporciona alta resistência a substâncias ambientais perigosas e, por isso, a absorção de fármacos nessa região é muito difícil. REGIÃO RESPIRATÓRIA Constitui a maior parte da cavidade nasal e se divide em cornetos superiores, médios e inferiores. São eles os responsáveis por umidificar e regular a temperatura do ar inalado. A mucosa respiratória nasal é a região mais importante para a absorção, sendo constituída por células epiteliais com muitas vilosidades, que https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps11 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps11 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps12 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps12 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps13 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps13 aumentam a área superficial, e cílios, que auxiliam no transporte do muco em direção à nasofaringe. REGIÃO OLFATÓRIA Está localizada no topo da cavidade nasal e se estende um pouco abaixo do septo e parede lateral. Possui um neuroepitélio, que é a única parte do Sistema Nervoso Central (SNC) que está diretamente exposta ao ambiente externo. Possui células receptoras olfatórias especializadas, importantes para a percepção do olfato, e pequenas glândulas serosas (glândulas de Bowman), produtoras de secreções que atuam como solvente para substâncias odoríferas. Acompanhe agora o raciocínio para a aplicação via nasal. APLICAÇÕES DA VIA DE ADMINISTRAÇÃO NASAL A administração nasal de fármacos é uma via altamente eficiente para o tratamento de doenças locais sendo, nesses casos, considerada a via de primeira escolha. Isso ocorre pois, além da facilidade de administração, ela permite um rápido alívio sintomático. Dentre as diversas patologias que acometem a região nasal, podemos destacar a sinusite (figura a seguir), que é a inflamação dos seios paranasais, a polipose, que é uma reação inflamatória da mucosa nasal, e as doenças causadas por alérgenos. Foto: Shutterstock.com Pessoa com os seios paranasais inflamados (sinusite). É comum que as células ciliadas sejam as primeiras a serem afetadas, o que gera um aumento na produção de muco, causando a congestão nasal. RECOMENDAÇÃO DE MEDICAMENTOS Normalmente, nesse caso, a medicação local consiste no uso de descongestionantes, anti-histamínicos e corticosteroides. Recentemente, o uso da via nasal para tratamento sistêmico tem sido também explorado. Isso acontece normalmente nos casos em que as vias de administração mais comuns, a oral e a parenteral, apresentam algum inconveniente. Por exemplo, no caso de fármacos que sofrem intensa metabolização hepática (efeito de primeira passagem) ou de fármacos sensíveis ao pH ácido do estômago. Do ponto de vista do paciente, a via nasal também oferece várias vantagens: é um método não invasivo, normalmente indolor, cuja administração é fácil e pode ser feita sem a necessidade de auxílio profissional. A região nasal fornece acesso à mucosa altamente vascularizada, o que facilita o processo de absorção de fármacos e a distribuição sistêmica. Além disso, essa região possui uma ligação direta com o sistema nervoso central, que tem sido estudada para facilitar o tratamento de doenças neurológicas, como a doença de Alzheimer. Por fim, outra possível aplicação da via nasal é para a veiculação de vacinas. A administração de antígenos, como um vírus atenuado, é capaz de gerar uma resposta imune celular e humoral, tanto em nível local quanto sistêmico. Foto: Public Domain Images Veja no quadro abaixo alguns exemplos de medicamentos administrados na cavidade nasal: FÁRMACO CLASSE DO FÁRMACO INDICAÇÃO FORMA FARMACÊUTICA USO Dipropionato de beclometasona Corticosteroide Rinite Gotas nasais/spray com medição Local Cloridrato de efedrina Simpatomimético Congestão nasal Gotas nasais Local Clorexidina e neomicina Antibacteriano Eliminação de Staphylococcus Creme Local Nicotina Alcaloide Cessação do tabagismo Spray com medição Sistêmico Sumatriptano Agonista 5HT 1 Enxaqueca Spray com dose unitária Sistêmico Vacina Influenza Vírus vivo atenuado Vacinação Seringa pré-cheia de dose unitária Vacina Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Exemplos de medicamentos administrados na cavidade nasal. Adaptado de AULTON (2016). FATORES QUE AFETAM A ABSORÇÃO NASAL DE FÁRMACOS Para que o processo de absorção seja efetivo, alguns fatores devem ser levados em consideração. Vários candidatos a fármacos promissores não podem ser explorados por via nasal porque não são absorvidos o suficiente para produzir efeitos terapêuticos. Para ser absorvido, um fármaco precisa primeiramente ultrapassar o epitélio nasal, o que geralmente ocorre por difusão passiva (através de transporte transcelular ou paracelular). TRANSCELULAR Por dentro das células. Principal via de absorção para moléculas lipofílicas. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) PARACELULAR Por entre as células. Via de absorção para pequenas moléculas hidrofílicas. Para garantir que esse processo ocorra de forma efetiva, devemos prestar atenção nas propriedades físico-químicas dos fármacos e nas características das formulações finais (falaremos sobre elas no próximo tópico). Além disso, fatores fisiológicos e patológicos relacionados à mucosa nasal também podem comprometer a extensão da absorção e eficácia do tratamento. Vamos ver um pouco mais sobre as propriedades físico-químicas dos fármacos? PESO MOLECULAR DO FÁRMACO LIPOFILICIDADE GRAU DE DISSOCIAÇÃO PESO MOLECULAR DO FÁRMACO Quanto maior o peso molecular do fármaco administrado, menor a quantidade de fármaco absorvida através da mucosa nasal. LIPOFILICIDADE Quanto maior a lipofilicidade do fármaco, maior a capacidade de ultrapassar o epitélio nasal e ser absorvido. GRAU DE DISSOCIAÇÃO Quanto maior o grau de dissociação, menor a capacidade de ultrapassar o epitélio nasal e ser absorvido. Os fatores fisiológicos são: https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps21 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps21 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps22 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps22 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps23 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01979/index.html#collapse-steps23 DEPURAÇÃO MUCOCILIAR (DMC) A DMC remove poeira, alérgenos e partículas consideradas estranhas para o organismo. Este é um mecanismo inespecífico de defesa fisiológica que pode, também, eliminar fármacos administrados. O tempo normal de trânsito mucociliar em humanos é de aproximadamente 12 a 15 minutos. Esse tempo é suficiente para a absorção de fármacos lipofílicos, de baixo peso molecular ou que já estão em solução. No entanto, para partículas que ainda precisam se dissolver ou moléculas grandes e polares, a DMC reduz significativamente sua absorção. PRESENÇA DE ATIVIDADE ENZIMÁTICA A cavidade nasal possui enzimas capazes de afetar a estabilidade do fármaco. Proteínas e peptídeos, por exemplo, podem sofrer degradação por proteases e amino-peptidases dentro da cavidade nasal. Enzimas do citocromo P450 também estão presentes nessa região. No entanto, a atividade metabólica ainda é menor que a do trato gastrointestinal. CAPACIDADE DA REGIÃO NASAL A cavidade nasal tem capacidade limitada e a administração de concentrações ou volumes muito altos podem impactar negativamente na absorção do fármaco e, em alguns casos, gerar dano à mucosa nasal. Assim, o volume paraadministração nasal deve ser relativamente baixo (cerca de 150 μL). Sabendo os fatores que afetam o processo de absorção, podemos pensar em alternativas que favoreçam sua ocorrência. Observe as possíveis estratégias que podem ser adotadas neste quadro: FATOR QUE AFETA A ABSORÇÃO NASAL ALTERNATIVA Baixa permeabilidade Adição de adjuvantes que aumentem a solubilidade (cossolventes, por exemplo) Depuração mucociliar (DMC) Adição de agentes mucoadesivos à formulação (para aumentar o tempo de retenção na mucosa nasal) Presença de atividade enzimática Proteção por meio de tecnologias de encapsulamento (nanocápsulas, por exemplo) Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Alternativas para aumentar a absorção nasal de fármacos. Elaborado por: Michelle Alvares Sarcinelli. AS CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS DE UMA FORMULAÇÃO NASAL Formulações nasais são, em sua maioria, líquidas (solução ou suspensão, na forma de gotas ou sprays) ou pós. Cremes e pomadas também podem ser utilizados, geralmente com o objetivo de aumentar o tempo de retenção da formulação na cavidade nasal. Foto: Shutterstock.com Uma formulação ideal para a administração nasal, independente se o uso é local ou sistêmico, não deve ser agressiva para a mucosa, deve ser confortável para o paciente e auxiliar na manutenção do fármaco na cavidade nasal pelo maior tempo possível. Já vimos que a DMC tende a eliminar qualquer corpo considerado estranho em aproximadamente 15 minutos. Vejamos agora com mais detalhes como alcançar as características ideais de uma formulação nasal: TAMANHO DE PARTÍCULA Foto: Shutterstock.com O tamanho de partícula do fármaco influenciará diretamente na sua deposição na região nasal. Este deverá estar entre 10 e 50 µm, uma vez que, se for muito grande (maior que 50 µm), sua eliminação ocorrerá de maneira rápida devido a DMC. Por outro lado, se for muito pequeno (menor que 10 µm), poderá ser direcionado à região m. PH Foto: Shutterstock.com O pH de uma formulação nasal deve ser ajustado para não causar irritação nasal, para manter a estabilidade do fármaco e, preferencialmente, mantê-lo em sua forma não ionizada, a fim de facilitar sua absorção. ISOTONICIDADE Foto: Shutterstock.com Formulações nasais devem ser isotônicas, a menos que, em casos muito específicos, haja a intenção de “puxar” muco da região. Nesse caso, uma solução hipertônica pode ser utilizada, com cautela. ISOTÔNICAS Soluções isotônicas são aquelas que possuem a mesma tonicidade em relação ao meio fisiológico, ou seja, uma solução que possua a mesma pressão osmótica que o meio e, assim, não tenha a capacidade de fornecer e nem retirar fluidos das células. VISCOSIDADE Foto: Shutterstock.com Formulações um pouco mais viscosas são desejáveis pois podem auxiliar no aumento do seu tempo de retenção, evitando o retorno por gotejamento após o uso, bem como a necessidade de o paciente permanecer por muito tempo com a cabeça virada para cima (que frequentemente acontece com formulações muito líquidas). javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) ISOTONIA Neste vídeo, a especialista Patrícia Dias explica o que são soluções isotônicas, hipertônicas e hipotônicas e porque a isotonia é uma característica importante para as formulações nasais. Assista: ADJUVANTES FARMACÊUTICOS No que tange à utilização de adjuvantes, é importante sempre pensarmos que “menos é mais”. Para evitar irritações, o ideal é utilizar o mínimo de excipientes possível para manter a estabilidade do fármaco e facilitar sua veiculação. Dependendo da forma farmacêutica, do tipo de embalagem e do objetivo de uso, excipientes diferentes serão necessários. Vejamos caso a caso: Para formulações líquidas, se a embalagem for de dose múltipla, um conservante se faz necessário para evitar a proliferação microbiana. No entanto, sua utilização contínua pode gerar irritação na mucosa nasal. Para evitar que isso aconteça, pode-se utilizar um dispositivo de dose única (o que provavelmente aumentará o custo do produto) ou recomendar ao paciente que administre o medicamento cada vez em uma narina (no caso de múltiplas aplicações diárias). Do ponto de vista farmacotécnico, umectantes podem ser adicionados à formulação para reduzir irritações. No caso de amostras muito líquidas, é comum que a formulação alcance a garganta e a boca. Nesses casos, se o sabor da formulação for muito desagradável, a adição de um flavorizante pode ser necessária. RECOMENDAÇÃO A adição de um adjuvante capaz de auxiliar no tempo de retenção da formulação é uma estratégia que vem sendo utilizada. Eles são chamados agentes potencializadores de permeabilidade e normalmente constituem em excipientes mucoadesivos, como hidrogéis bioadesivos, microesferas de amido ou dextrana e formulações à base de quitosana. Ao permitir uma maior adesão da formulação à cavidade nasal, eles aumentam o tempo de residência na região, permitindo uma maior permeabilidade. Este quadro resume os principais adjuvantes utilizados em formulações nasais e suas funções: ADJUVANTE FARMACÊUTICO FUNÇÃO EXEMPLO Isotonizante Tornar a formulação isotônica Cloreto de sódio Conservante Impedir a contaminação microbiana da formulação Cloreto de benzalcônio Umectante Diminuir a irritação da formulação e auxiliar na molhabilidade dos pós em casos de suspensão Glicerina Flavorizante Mascarar sabores desagradáveis Flavorizante mentolado Regulador de pH Ajustar o pH da formulação Ácido clorídrico Potencializador de permeabilidade Aumentar a permeabilidade do fármaco Quitosana Agente de viscosidade Aumentar a viscosidade da formulação Derivados de celulose Quelante “Sequestrar” íons da formulação EDTA Antioxidante Impedir a oxidação da formulação Vitamina C Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Principais adjuvantes utilizados em formulações nasais e suas funções. Elaborado por: Michelle Alvares Sarcinelli. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE A VIA DE ADMINISTRAÇÃO NASAL POSSUI DIVERSAS APLICAÇÕES E PERMITE UMA AÇÃO LOCAL OU SISTÊMICA DO FÁRMACO. SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DESTA VIA DE ADMINISTRAÇÃO, ASSINALE A AFIRMAÇÃO CORRETA: A) É uma via alternativa à via oral quando o fármaco sofre intenso efeito de primeira passagem, pois não apresenta metabolismo enzimático. B) É uma via que permite a rápida absorção de fármacos ionizados. C) É uma via adequada para a administração de moléculas de alto peso molecular, uma vez que o transporte ativo ocorre preferencialmente nessa região. D) É uma via que dificulta a absorção de fármacos através da atuação conjunta entre a camada de muco e os cílios presentes na região. E) É uma via que não possui nenhuma barreira à absorção de fármacos. 2. NÓS VIMOS SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS DAS FORMULAÇÕES NASAIS E OS ADJUVANTES QUE PODEM SER ADICIONADOS PARA ALCANÇÁ- LAS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE DESCREVE UMA CARACTERÍSTICA DESEJÁVEL DAS FORMULAÇÕES NASAIS, ACOMPANHADA CORRETAMENTE DO ADJUVANTE QUE PODE SER ADICIONADO PARA ALCANÇÁ-LA. A) Isotonicidade e agente conservante B) Viscosidade e EDTA C) Estabilidade e NaCl D) Tolerabilidade e agente conservante E) Isotonicidade e NaCl GABARITO 1. Vimos que a via de administração nasal possui diversas aplicações e permite uma ação local ou sistêmica do fármaco. Sobre as características desta via de administração, assinale a afirmação correta: A alternativa "D " está correta. A depuração mucociliar é um sistema de defesa do organismo que atua removendo partículas estranhas da cavidade nasal. Esse sistema consiste na atuação conjunta entre a camada de muco, que prende as partículas, e os cílios, que fazem o movimento para eliminá-las. Os fármacos também são eliminados através desse sistema. Apesar de ser realmente uma via alternativa à via oral, quando o fármaco sofre intenso efeito de primeira passagem, a região nasal também possui metabolismoenzimático, mas ele é menos intenso que o do trato gastrointestinal. Em relação à absorção, quanto menos ionizado e de menor peso molecular for o fármaco, mais fácil ela será, devido à sua maior facilidade de ultrapassar o epitélio nasal. 2. Nós vimos sobre as características desejáveis das formulações nasais e os adjuvantes que podem ser adicionados para alcançá-las. Assinale a alternativa que descreve uma característica desejável das formulações nasais, acompanhada corretamente do adjuvante que pode ser adicionado para alcançá-la. A alternativa "E " está correta. Uma das principais características desejáveis das formulações nasais é a isotonicidade, que garante que não haverá a remoção e nem captação de fluidos para o interior das células nasais. Essa característica pode ser alcançada com o uso de agentes isotonizantes, sendo o NaCl o mais utilizado. A viscosidade também é uma característica desejada de formulações nasais, mas o EDTA age como quelante e não tem função de aumentar a viscosidade. A estabilidade é alcançada com o uso de agentes conservantes e a tolerabilidade com o uso de reguladores de pH ou de umectantes, capazes de diminuir a irritação causada pela exposição contínua a agentes conservantes. MÓDULO 3 Reconhecer as particularidades da região pulmonar e aplicações de uso farmacêutico ANATOMOFISIOLOGIA DA REGIÃO PULMONAR O trato respiratório pode ser dividido em superior, composto pelas narinas, faringe e laringe, e inferior, formado pela traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos: Foto: Shutterstock.com A primeira região, também chamada de condutora, é responsável pelo transporte do ar, enquanto a segunda, chamada respiratória, é responsável pelas trocas gasosas. Os pulmões possuem a função de realizar as trocas gasosas, ou seja, de retirar o gás carbônico do sangue que chega do organismo e liberar esse sangue, agora rico em oxigênio, para todo o corpo: Foto: Shutterstock.com Para que essas trocas sejam possíveis, algumas características anatômicas importantes se fazem necessárias: Alta área superficial dos alvéolos Fina barreira do epitélio alveolar Alta vascularização da região pulmonar Devido a importante função dos pulmões, é essencial que o sistema respiratório seja protegido de agressores externos por um mecanismo de defesa eficiente. Esses agressores podem ser: Foto: Shutterstock.com A POLUIÇÃO Foto: Shutterstock.com VÍRUS Foto: Shutterstock.com BACTÉRIAS Foto: Shutterstock.com FUMAÇA Foto: Shutterstock.com E ATÉ MEDICAMENTOS Por isso, conhecer esses mecanismos é importante para que possamos desenvolver uma formulação que seja capaz de evitá-los. Ao inalar fumaça de carros na rua, por exemplo, nossa primeira reação é a tosse. Esse ato reflexo de tossir e impedir a entrada de um corpo estranho (nesse caso, a fumaça) é o primeiro mecanismo de defesa. Foto: Shutterstock.com Além dele, temos a presença do muco viscoelástico na região das narinas que, como já vimos, é capaz de reter partículas e eliminá-las. A depuração mucociliar está presente ao longo de todo o trato respiratório superior. Por fim, no trato respiratório inferior temos, ainda, a ação dos macrófagos, que também fazem a eliminação de possíveis agentes agressores. Ao compararmos o sistema respiratório com o sistema digestório, percebemos que a faringe é um órgão comum aos dois sistemas: Foto: Shutterstock.com Divisões da faringe, que é um órgão em comum aos sistemas respiratório e digestório. Pela boca entram ar e comida, mas, a partir da faringe, eles devem seguir caminhos diferentes. O primeiro vai para a laringe e pulmões, enquanto a comida vai para o esôfago e estômago. Para evitar que alimentos sejam direcionados para o sistema respiratório, existe uma espécie de válvula, chamada de epiglote, que abre para permitir a passagem de ar e se fecha para evitar a passagem de alimentos para os pulmões. Quando tentamos falar, respirar e comer ao mesmo tempo, o engasgo pode ocorrer como mais um meio de proteger nosso sistema respiratório. APLICAÇÕES DA VIA DE ADMINISTRAÇÃO PULMONAR Assim como a via de administração nasal, a via pulmonar também é a via de primeira escolha para o tratamento local de doenças, ou seja, para as doenças que acometem a região pulmonar. Tal via de administração é utilizada principalmente para o tratamento de patologias como asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrose cística, cânceres pulmonares, entre outras. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) É caracterizada pela obstrução do fluxo de ar nas vias respiratórias, provocada por um processo inflamatório crônico desencadeado, frequentemente, por agentes agressores ao pulmão, tais como a fumaça do cigarro. Mas os pulmões também vêm sendo estudados como um meio para o tratamento de doenças sistêmicas. Isso ocorre porque, como vimos no tópico anterior, o sangue oxigenado que sai da região pulmonar é enviado para todo os órgãos, permitindo que o fármaco seja transportado para outras regiões do corpo para exercer seu efeito. Independente se o nosso objetivo é local ou sistêmico, para que esse efeito seja exercido, quantidade suficiente do fármaco deve chegar às vias aéreas inferiores. Esse processo é chamado de deposição e é alcançado por meio da inalação de uma formulação. A inalação pode ser feita por: Via nasal Via bucal A inalação via nasal é menos eficiente, devido à grande quantidade de fármaco que fica retida na cavidade nasal e é eliminada (em torno de 50%). Dessa forma, para a liberação pulmonar de fármacos a via inalatória bucal é a escolhida. A via pulmonar apresenta muitas vantagens, sendo as principais delas: Absorção rápida, praticamente instantânea, para o sangue. Ausência de efeito de metabolização hepática. Liberação local dos agentes terapêuticos utilizados para o tratamento de doenças respiratórias. Uma formulação destinada à liberação pulmonar de fármacos, porém, precisa ser desenvolvida com muito cuidado para que não seja deglutida e direcionada ao trato gastrointestinal em vez do trato respiratório. Para que sua chegada ao pulmão seja eficiente, diversos fatores precisam ser levados em consideração. Vamos ver cada um deles? DEPOSIÇÃO PULMONAR DE FÁRMACOS E O EFEITO TERAPÊUTICO Para se depositar nas vias aéreas inferiores, o fármaco precisa percorrer todo o caminho do trato respiratório após sua inalação. A maneira como esse processo ocorrerá depende de suas características aerodinâmicas. Essas características estão diretamente relacionadas com o seu diâmetro, forma e densidade. À medida que engloba todas essas características, é chamada de tamanho aerodinâmico, sendo a característica mais importante de uma formulação destinada à liberação pulmonar de fármacos. ATENÇÃO O tamanho aerodinâmico irá influenciar na velocidade com que o fármaco percorrerá o trato respiratório, no mecanismo de deposição e na região onde ele será depositado. De um modo geral, partículas com tamanhos aerodinâmicos maiores que 10 µm se depositarão na boca e orofaringe, sendo deglutidas e não inaladas; partículas com diâmetros entre 5 e 10 µm costumam se depositar entre a orofaringe e as vias aéreas inferiores, não sendo adequadas para a absorção e efeito sistêmico; partículas entre 1 e 5 µm se depositam no pulmão profundo e alvéolos, sendo as de tamanho ideal para uma deposição adequada à liberação pulmonar de fármacos; partículas entre 1 e 2 µm possuem maior eficiência de deposição na região alveolar, que é onde a absorção ocorre de maneira preferencial; já as partículas menores que 1 µm são fagocitadas ou exaladas com o ar (Figura 10). Foto: Shutterstock.com. Adaptado por Asafe Ferreira Tamanho aerodinâmico e deposição pulmonar de fármacos. O local de deposição do fármaco é de grande importância pois, de acordo com a região, diferentes mecanismos de depuração predominam. Assim, formulações depositadasno trato respiratório superior tendem a sofrer depuração mucociliar, enquanto as localizadas nas vias aéreas inferiores podem ser captadas por macrófagos, majoritariamente, em partículas menores que 1 µm. Assim como na via de administração oral, para que o fármaco exerça o seu efeito, ele precisa passar pelo processo de dissolução. No entanto, ao contrário do trato gastrointestinal, onde o volume de líquido pode chegar a 250 mL, o volume de fluidos pulmonares é muito baixo, em torno de 10 a 30 mL. Isso faz com que o processo de dissolução para fármacos pouco solúveis seja dificultado. Nesses casos em que a dissolução é mais difícil e ocorre mais lentamente, os mecanismos de remoção ocorrem mais rapidamente, de modo que o fármaco não seja absorvido e não exerça seu efeito terapêutico. Por outro lado, para fármacos muito solúveis e cuja dissolução ocorre de forma rápida, a absorção será em torno de 100%. Esse processo é facilitado nas vias aéreas inferiores, onde menos mecanismos de depuração estão presentes. Após a dissolução, o fármaco pode permear através do muco e do líquido das vias aéreas até o epitélio, atingindo o receptor alvo para exercer o efeito terapêutico. O fármaco poderá ou não ultrapassar a barreira alveolocapilar e os efeitos locais dependem do seu tempo de permanência nos pulmões, enquanto os efeitos sistêmicos dependem do transporte do fármaco para a circulação sistêmica. O TAMANHO AERODINÂMICO DE PARTÍCULAS E AS FORMULAÇÕES PULMONARES Confira as considerações da especialista sobre as condições do tamanho aerodinâmico: DISPOSITIVOS DE LIBERAÇÃO PULMONAR DE FÁRMACOS Ao contrário das formulações orais, em que o produto se basta para a administração, as formulações pulmonares precisam do auxílio de um dispositivo que permita o processo de inalação. Os dispositivos mais comuns são: NEBULIZADORES Foto: Shutterstock.com Primeiros dispositivos desenvolvidos, são úteis para a administração de formulações líquidas (soluções ou suspensões), que são nebulizadas em finas gotas por uma fonte de nebulização externa. São capazes de liberar grandes quantidades de fármaco, sendo indicado em casos que a dose terapêutica é muito alta para os outros dispositivos. Muito usado para crianças, idosos e pacientes que possuem dificuldades com os outros dispositivos. Existem três tipos de nebulizadores: nebulizadores a jato, ultrassônicos e de malha. INALADORES PRESSURIZADOS DOSEÁVEIS (PMDI), DO INGLÊS PRESSURIZED METERED DOSE INHALERS. Foto: Shutterstock.com São os dispositivos mais amplamente utilizados, representados pelas “bombinhas de asma”, que liberam o fármaco suspenso em um gás propelente, através de uma válvula de dose calibrada. Essa válvula é de extrema importância para permitir que cada acionamento libere apenas a dose correta de fármaco a ser inalada. Os propelentes geralmente utilizados são gases liquefeitos, como os clorofluorocarbonos, tradicionalmente utilizados e atualmente em desuso e substituídos pelos hidrofluoroalcanos (HFA), devido ao seu impacto na camada de Ozônio. SAIBA MAIS Os CFCs têm a capacidade de reagir com o Ozônio na estratosfera, aumentando o “buraco” nessa camada e a chegada dos raios UVB à Terra. Essa radiação está relacionada ao aumento da incidência de câncer de pele. O Protocolo de Montreal, de 1987, proibiu a produção dos CFCs mais nocivos. Dentre suas principais vantagens está a facilidade de transportá-lo para qualquer lugar, o baixo custo, a reprodutibilidade da dose e o alto número de doses contidas em cada recipiente. Por outro lado, seu uso não é tão intuitivo e seu acionamento deve ser feito durante uma respiração lenta e profunda, seguido por um período de sustentação da respiração, o que nem sempre é fácil para pacientes que estão com o padrão respiratório alterado. Para facilitar esse procedimento, podem ser utilizados espaçadores: Foto: Shutterstock.com Eles são localizados entre o dispositivo e o paciente, de modo que a dose é depositada no reservatório antes da inalação, diminuindo a velocidade inicial das gotículas e excluindo a necessidade de sincronia entre a inalação e o acionamento da válvula. INALADORES DE PÓ SECO (DPI, DO INGLÊS, DRY POWDER INHALER) Liberam o fármaco na forma de pó. Podem ser do tipo unidose, em que o fármaco está armazenado em cápsulas de pó com uma única dose: Foto: Shutterstock.com Também podem ser multidose, em que o fármaco se encontra em um reservatório com múltiplas doses. Foto: Shutterstock.com Dentre suas vantagens, está a simplicidade da formulação, que não necessita de propelente e de muitos excipientes. Além disso, eles são ativados pela respiração, eliminando as dificuldades encontradas nos pMDIs de sincronização do acionamento da válvula com a inalação. Por outro lado, os DPIs costumam ser menos eficientes como sistemas de liberação de fármacos que os pMDIs, de modo que geralmente uma dose muito maior é requerida nesse caso. FORMULAÇÃO DE MEDICAMENTOS INALATÓRIOS Preparações para inalação são formulações líquidas ou sólidas destinadas à administração como vapores ou aerossóis no pulmão, para obter um efeito local ou sistêmico. Estas preparações podem conter com uma ou mais substâncias ativas e, dependendo do tipo, também propelentes, cossolventes, diluentes, conservantes antimicrobianos e agentes solubilizantes e estabilizantes que não prejudicam as funções da mucosa do trato respiratório ou seus cílios. RECOMENDAÇÃO Formulações líquidas para nebulização podem ser soluções ou suspensões que são geralmente formuladas em água para injeção, sendo estéreis e podendo conter também um cossolvente, cuja função é a de auxiliar na solubilização do fármaco. Etanol e propilenoglicol podem ser utilizados com essa função. Em geral, soluções isotônicas são desejadas, uma vez que soluções hipo ou hipertônicas podem causar broncoespasmos. Assim, um agente isotonizante, como o cloreto de sódio, pode ser necessário. ATENÇÃO Outros excipientes como antioxidantes e conservantes também podem causar broncoespasmos e, por isso, a não ser que sua adição seja extremamente necessária, devem ser evitados. Dessa forma, as formulações para nebulização geralmente são veiculadas em embalagens de dose única, dispensando o uso de agentes conservantes. Em relação ao pH, uma variação considerável pode ocorrer devido às doenças pulmonares. Assim, as preparações líquidas para uso em nebulizadores devem estar entre 3 e 8,5, mas preferencialmente acima de 4,5 pois valores de pH mais baixos também podem causar broncoespasmo, principalmente em pacientes asmáticos. O uso de tampões pode ser feito para auxiliar nesse controle (Ex.: tampão fosfato). Como já falamos aqui, os pMDIs precisam de um gás propelente em sua formulação. Alguns problemas de solubilidade surgiram com a substituição dos CFCs pelos HFAs e, em alguns casos, a adição de um cossolvente no gás propelente é necessária para auxiliar na dissolução do fármaco. Quando a formulação se encontra na forma de suspensão, deve-se atentar para os fenômenos de instabilidade física usualmente encontrados para esta forma farmacêutica (caking, por exemplo). Nesse caso, o uso de agentes suspensores, como polímeros (PEG, PVP) e surfactantes, como lecitina, ácido oleico e trioleato de sorbitano, podem ser úteis. Outro ponto importante a ser considerado para as formulações inalatórias, sejam na forma de pó ou de suspensão, é o tamanho das partículas, que deve estar preferencialmente entre 2 e 5 µm, para que a deposição pulmonar seja efetiva. Para isso, comumente se aplica um processo de micronização, ou seja, de redução de tamanho até a escala micrométrica, que pode ser realizado em equipamentos como moinhos ou em um spray dryer: Foto: Shutterstock.com Os pós micronizados, no entanto, possuem uma alta energia superficial e propriedades de fluxo ruins devido às altas forças de coesão e adesão, além de suas propriedades estáticas. RECOMENDAÇÃO No caso de formulações sólidas, geralmentesão utilizados carreadores, que são partículas de maior tamanho, às quais as partículas micronizadas de fármaco se aderem, melhorando as propriedades de fluxo e a uniformidade de enchimento do dispositivo. Na grande maioria das vezes, o carreador utilizado é a lactose. Esse agregado fármaco-carreador deve ser desfeito durante a liberação do dispositivo, com o fluxo de ar turbulento que é gerado, permitindo que as partículas micronizadas de fármaco se depositem no trato respiratório inferior. Assim, as formulações comerciais existentes são, quase todas, constituídas apenas de fármaco e lactose, não sendo necessário o uso de outros excipientes. CARACTERIZAÇÃO DE FORMULAÇÕES INALATÓRIAS Além das análises de controle de qualidade comumente realizadas para formulações destinadas a outras vias de administração, a caracterização de formulações inalatórias inclui a avaliação do tamanho aerodinâmico das partículas que é o principal fator que influencia na deposição pulmonar de fármacos. Para isso, um equipamento chamado impactador em cascata é utilizado. Imagem: AUTON (2016) Impactador em cascata do tipo Andersen. Ele é formado por um conjunto de peneiras com diâmetros sucessivamente menores, por onde a formulação inalatória é forçada a passar, com um fluxo controlado. Esses diâmetros simulam, in vitro, as regiões nas quais o material seria depositado in vivo, de acordo com o tamanho aerodinâmico das partículas. Foto: Shutterstock.com Impactador em cascata do tipo NGI. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS SOBRE A DEPOSIÇÃO PULMONAR DE FÁRMACOS E SUA IMPORTÂNCIA PARA O EFEITO TERAPÊUTICO. SOBRE O PROCESSO DE DEPOSIÇÃO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O principal fator que influencia o processo de deposição de fármacos é o tamanho geométrico. B) O principal fator que influencia o processo de deposição de fármacos é o diâmetro. C) O principal fator que influencia o processo de deposição de fármacos é a densidade. D) O processo de deposição de fármacos não é influenciado por apenas um fator, sendo a forma e a densidade os fatores mais importantes. E) O principal fator que influencia o processo de deposição de fármacos é o tamanho aerodinâmico. 2. SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS DAS FORMULAÇÕES PULMONARES E OS ADJUVANTES QUE PODEM SER ADICIONADOS PARA ALCANÇÁ-LAS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) DPIs não exigem muitos excipientes, sendo geralmente compostos somente do fármaco e de um carreador, que auxilia nas propriedades coesivas do material. B) pMDIs não exigem muitos excipientes, sendo geralmente compostos somente do fármaco e de um carreador, que auxilia nas propriedades coesivas do material. C) Nebulizadores, não exigem muitos excipientes, sendo geralmente compostos somente do fármaco e de um carreador, que auxilia nas propriedades de fluxo do material. D) DPIs não exigem muitos excipientes, sendo geralmente compostos somente do fármaco e de um carreador, que auxilia na conservação microbiológica do material. E) pMDIs podem conter, além do fármaco e do propelente, um cossolvente, cuja função é regular o pH da formulação. GABARITO 1. Estudamos sobre a deposição pulmonar de fármacos e sua importância para o efeito terapêutico. Sobre o processo de deposição, assinale a alternativa correta: A alternativa "E " está correta. A deposição pulmonar de fármacos depende das características aerodinâmicas das partículas que, por sua vez, estão diretamente relacionadas com o seu diâmetro, forma e densidade. O tamanho aerodinâmico é um parâmetro que engloba essas 3 características, sendo o principal fator que influencia no processo de deposição pulmonar de fármacos. 2. Sobre as características desejáveis das formulações pulmonares e os adjuvantes que podem ser adicionados para alcançá-las, assinale a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. DPIs não exigem muitos excipientes, sendo geralmente compostos somente do fármaco e de um carreador, o qual auxilia nas propriedades coesivas do material micronizado que, sem os carreadores, tendem a agregar e a terem propriedades de fluxo ruins. pMDIs e nebulizadores contém diversos outros excipientes, dentre eles os cossolventes, cuja função é auxiliar na solubilização do fármaco. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste tema, conhecemos três vias de administração: a auricular, a nasal e a pulmonar. Vimos que essas vias são muito úteis para o tratamento local de doenças que acometem regiões específicas, mas que as vias nasal e pulmonar também têm sido recentemente exploradas para a administração sistêmica de fármacos. Para cada uma das vias, conhecemos sua anatomofisiologia, que nos ajuda a entender as particularidades de cada região e como isso influencia em uma formulação farmacêutica. Por fim, entendemos quais os excipientes necessários para cada caso, de acordo com as características desejáveis para as formulações. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALLEN Jr., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas Farmacêuticas e Sistemas de Liberação de Fármacos. 9. ed. São Paulo: Artmed, 2013. AULTON, M. Delineamento de Formas Farmacêuticas. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. JONES, D. Pharmaceutics – Dosage Form and Design. 1. ed. Londres: Pharmaceutical Press, 2008. BOUWMAN, Y; FENTON, V; LE BRUN, P. Practical Pharmaceutics - An International Guideline for the Preparation, Care and Use of Medicinal Products. 1. ed. Springer International Publishing, 2015. COSTA, A.; PINHEIRO, M.; MAGALHÃES, J.; RIBEIRO, R.; SEABRA, V.; REIS, S.; SARMENTO, B. The formulation of nanomedicines for treating tuberculosis. In: Advanced Drug Delivery Reviews, 2016. v. 102, n. August, p. 102–115. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, leia: Protocolos de Montreal e Kyoto: pontos em comum e diferenças fundamentais, sobre a proibição de uso dos CFCs pelo protocolo de Montreal. Assista: BUCHI Spray Dryer B-290 Application Video, da Buchi, fabricante de um dos equipamentos mais usados em laboratórios, para ver um spray dryer em uso. Bead mill, para saber mais sobre o funcionamento de um moinho de pérolas. CONTEUDISTA Michelle Alvares Sarcinelli CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);
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