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Aula 1 – Princípios Básicos da Ventilação Mecânica Fisiologia Respiratória O ar é composto, principalmente, por nitrogênio (78%) e oxigênio (21%). Já a respiração é um processo controlado pelo sistema nervoso central, onde há o uso de músculos respiratórios e da caixa torácica, criando um ambiente propício para a troca gasosa, sendo a inspiração um processo ativo, no qual há contração do diafragma, que desce e permite criar um ambiente de baixa pressão para que o ar entre. Enquanto a expiração é um processo passivo, no qual há o relaxamento do diafragma e a expulsão de ar, por conseguinte. Nesse processo, existem forças que resistem à ventilação pulmonar, dificultando a abertura dos alvéolos, como a retração elástica dos pulmões e da parede torácica e a resistência das vias aéreas. Nesse processo, há o conceito de espaço morto anatômico, o qual corresponde às estruturas por onde o ar passa, mas que não ocorre troca gasosa por conta da barreira física, como a traqueia. Há também o espaço morto fisiológico, o qual é quando o ar chega a entrar nos alvéolos, mas não consegue realizar a troca de gases. Também existe o volume corrente que é o volume de ar que entra e sai dos pulmões, sendo de aproximadamente 500 ml. Outro conceito é o volume de reserva expiratório, o qual consiste na quantidade de oxigênio que fica reservada dentro dos pulmões e pode ser eliminada durante a expiração forçada, podendo chegar a 1100 ml. Já o volume de reserva inspiratório é o contrário, ou seja, é a quantidade de oxigênio capaz de entrar durante uma inspiração forçada, possuindo cerca de 3000 ml. Por fim, há o volume residual que não sai e nem entra dos pulmões, sendo responsável por evitar o colabamento do pulmão, consistindo em cerca de 1200 ml. Dessa forma, é possível calcular as capacidades pulmonares. A capacidade inspiratória é a soma do volume de reserva inspiratória e do volume corrente. Já a capacidade vital é a soma do volume de reserva inspiratória, do volume corrente e do volume de reserva expiratório. Também existe a capacidade residual funcional, que consiste na soma do volume de reserva expiratório e do volume residual. Por fim, existe a capacidade pulmonar total, que é a soma de todos os volumes. Por outro lado, há um fenômeno que ocorre nos pulmões onde o fluxo sanguíneo diminui da base em direção ao ápice, juntamente com a ventilação, mas esta ocorre com menor intensidade. Isso faz com que existam três zonas dentro do pulmão: a zona 1, onde há boa ventilação (V) e pouca perfusão (Q), a zona 2, onde há relativo equilíbrio entre V e Q e a zona 3, que existe pouca ventilação, mas boa ventilação. A partir desse processo, há a criação do conceito de efeito shunt onde há perfusão adequada, mas não há ventilação adequada, gerando hipoxemia. Outro conceito é o efeito espaço morto, que é exatamente o contrário, ou seja, há boa ventilação, mas não há perfusão, criando áreas do pulmão que não participam de trocas gasosas, gerando hipercapnia a qual é o aumento da concentração de CO2 no sangue. Ventilação Mecânica São indicações para a ventilação mecânica: • Perda do Controle Neurológico (TCE, AVC, coma induzido, etc.); • Reduzir o Trabalho Respiratório; • Insuficiência Respiratória Aguda Hipoxêmica; • Insuficiência Respiratória Aguda Hipercápnica; • Insuficiência Respiratória Crônica Agudizada; Ou seja, a ventilação mecânica é aplica em situações clínicas em que o paciente desenvolve insuficiência respiratória, sendo, dessa forma, incapaz de manter valores adequados de O2 e CO2 sanguíneos. Porém, a respiração fisiológica possui diferenças da respiração mecânica. Na respiração mecânica, a ventilação ocorre por pressão positiva, onde o controle dos parâmetros respiratórios não é mais feito pelo sistema nervoso central, podendo correr o risco de gerar barotrauma por pressão elevada, hipoxemia ou hipercapnia por fornecimento incorreto de ar e o risco de volutrauma por fornecimento de volume maior que a capacidade dos alvéolos. Ainda, a pleura não possui mais pressão negativa, uma vez que o ar está sendo empurrado, dessa forma, o alvéolo tende a colabar na expiração, sendo necessário que o ventilador exerça uma pressão mínima (PEEP) no final da expiração para evitar tal efeito. Portanto, a mecânica ventilatória do paciente é alterada na ventilação mecânica. Dessa forma, durante a inspiração, são necessárias: a força gerada pela ventilação mecânica e a força muscular do paciente, as quais aumentam a pressão dentr1o do alvéolo. Contudo, a força muscular do paciente será zero na ventilação mecânica, pois ele estará sedado e com bloqueadores musculares. Já na expiração, há a atuação de forças que resistem à ventilação pulmonar, como a retração elástica dos pulmões e da parede torácica, mais a resistência das vias aéreas e vias artificiais. Portanto, em um equilíbrio, é possível concluir que a pressão do ventilador mais a pressão muscular é igual a pressão resistiva mais a pressão elástica. Sendo assim, para gerar os movimentos respiratórios, deve haver um desequilíbrio dessa fórmula. 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑑𝑜 𝑉𝑒𝑛𝑡𝑖𝑙𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑀𝑒𝑐â𝑛𝑖𝑐𝑜 + 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑀𝑢𝑠𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 = 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑖𝑣𝑎 + 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝐸𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑎 Dentro dessa fórmula, é possível aprofundar para entender melhor esses conceitos. A pressão resistiva é a pressão necessária para vencer a resistência do sistema respiratório, contando com a resistência dos tubos e das vias aéreas (80% do total), podendo ser calculada pelo produto entre o fluxo e a resistência. Por outro lado, a pressão elástica é a pressão necessária para distender as estruturas pulmonares e o tórax, além de vencer a tensão superficial dos alvéolos. Essa variável pode ser calculada pela razão entre o volume corrente e a soma da complacência do pulmão e da caixa torácica. A complacência, por sua vez, é a razão entre a variação do volume e a variação da pressão, sendo a variação do volume o que entra no sistema, enquanto a variação da pressão pode ser calculada pela pausa inspiratória.