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1. Análise crítica do documentário “Carne e osso”
O documentário “Carne e Osso”, dirigido por Caio Cavechini e Juliano Barros, aborda a
realidade do cotidiano dos trabalhadores em frigoríficos brasileiros, pessoas que estão frente a
frente com a dor, com os riscos do ofício e sobretudo com a desvalorização. Nessas empresas
de frigorífico o ser humano não é o foco, o foco é a produção para a geração de lucros, os
funcionários dão parte de suas vidas nesse trabalho - em máquinas que exigem um grande
esforço físico e psíquico- desempenham suas funções quase como que robôs e sob pressão
psicológica, se adaptando ao ritmo de esteiras, repetindo os movimentos por várias horas
seguidas (estes movimentos são padronizados, por exemplo: “x” movimentos devem ser feitos
em “x” minutos), a produtividade é o foco, o ambiente e condições de trabalho estão em
segundo plano e são na maioria das vezes degradantes, o trabalhador é alienado e executa a
sua função porque não teve outra escolha a não ser estar ali e não há de sua parte nenhum
controle sobre o trabalho que executa.
O corpo do trabalhador é quem sofre com as consequências de tudo isso- stress, depressão,
ansiedade, lesões, acidentes de trabalho (cortes com faca, acidentes com as máquinas) - são
comuns. Os empregadores fazem vista grossa, os médicos da organização também, exploram
o trabalhador ao seu ponto máximo e quando este se encontra exaurido e doente,
despedem-no, ou seja, se isentam de qualquer responsabilidade; sem saúde, sem formação,
esses trabalhadores dificilmente conseguem se inserir novamente no mercado de trabalho,
depois da varrição o que lhes resta é buscar emprego no setor de trabalho informal.
A forma como a organização banaliza o trabalhador e o seu corpo neste sistema de produção
desenfreada e desumanizada é chocante, a organização é em suas ações uma criminosa,
porque se isenta de deveres trabalhistas estabelecidos constitucionalmente- os trabalhadores
são submetidos a uma velocidade e intensidade de trabalho estarrecedoras, executam
movimentos repetidos para cortar, separar e desossar a carne, a esteira é veloz e eles deixam
bem nítido em seu discurso o quanto é difícil “vencer” a máquina, ou seja, precisam
despender um esforço físico e psicológico enorme e há riscos de acidentes.
Esses trabalhadores têm que produzir, independentemente de qualquer coisa, a subjetividade
de cada um deles não tem espaço nesse esquema. Os fiscais e empregadores querem
resultados, querem números e lucros e não se preocupam com o que custa para estes
trabalhadores em termo de saúde física e psíquica atender a essa demanda, eles trabalham
num ritmo de movimento três vezes maior que o recomendado, mas a produção é mais
importante e invisibiliza essa irregularidade; os ossos do ofício incluem trabalhar em baixas
temperaturas e enfrentar a variação desta, ir trabalhar no dia seguinte sem nem estar ainda
totalmente recuperado do cansaço gerado pela carga de trabalho do dia anterior, ficar horas de
pé, em uma posição “x” ou sentado, são tolhidos quanto a conversa com os colegas de
jornada, são muitas vezes impossibilitados de deixar a tarefa por alguns minutos e ir ao
banheiro, altas metas são cobradas e não há o direito a questioná-las ou reclamar de qualquer
imposição.
Pode-se perceber também que estes trabalhadores estão na organização por questões de
necessidade financeira, porque precisam sustentar a família, porque é o único emprego que
conseguiram, ou seja, o vínculo que fazem com a empresa é de caráter mais
calculista/normativo, devido às condições degradantes a que são submetidos não há como se
vincularem afetivamente, afinal de contas não vivenciam emoções de alegria, de prazer, de
bem-estar.
Não há como não lembrar do filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin e a fusão do
homem com a máquina, o corpo do homem fundido com as engrenagens de ferro da máquina-
o homem que ali posicionado em frente a máquina para fazer seu trabalho é apenas uma parte
dela, uma peça, porque não é sujeito, não reflete sobre o trabalho, não decide sobre o trabalho
e não aprende nada de novo com o trabalho- apenas se presta a executar sequenciais
movimentos.
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● DE 1 PÁGIN

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