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DIREITO CONSTITUCIONAL AULA 1 Prof. Silvano Alves Alcantara A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL No tema de hoje, início de nossos estudos, abordaremos o Estado e seus poderes, assim como a teoria da Constituição. Faremos uma introdução sobre o conceito de constituição, suas classificações e seus fundamentos. Em relação às normas constitucionais, estudaremos sua aplicabilidade por meio do exame de suas eficácias. TEMA 1 – O ESTADO O Estado é criado pela sociedade, para administrá-la e gerir seus interesses. Portanto, e no entendimento de Hack (2012, p. 20): “o Estado é uma decorrência da sociedade, que o cria como um ente que tem a função de manter a ordem. Para cumprir com seus objetivos, o Estado recebe uma serie de prerrogativas, dentre as quais a mais importante é o monopólio da força”. O Estado determina, pois, o Direito, iniciando pela elaboração de uma constituição, e em seguida pela definição de todo o ordenamento jurídico que a ela deverá obediência. Para que possa desempenhar seu poder, que é uno, o Estado o divide em três funções, que são a função executiva, a legislativa e a judiciária, funções estas também denominadas de poderes, assim afirmados em nossa Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988): “Art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”, aplicando ao mesmo tempo o princípio da separação dos poderes e o sistema de pesos e contrapesos checks and balances. Assim, por mais que cada poder seja independente, ele não é absoluto, pois os demais têm a prerrogativa de conter os abusos que eventualmente sejam cometidos pelo outro. As funções desses poderes do Estado são assim definidas por Silva (2017, p. 71): - A legislativa consiste na edição de regras gerais (leis), abstratas, impessoais e inovadoras da ordem pública; - A executiva resolve os problemas concretos e individualizados, de acordo com as leis; - A jurisdicional tem por objeto aplicar o direito aos casos concretos a fim de dirimir conflitos de interesse. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 3 É bem verdade que estas são as funções precípuas desses poderes, existindo outras de caráter secundário, mas de igual importância. TEMA 2 – CONSTITUIÇÃO E DIREITO CONSTITUCIONAL Dentro do ordenamento jurídico de um Estado Democrático de Direito, a Constituição é seu diploma mais importante, sendo ela escrita ou não. Normalmente, ela é conhecida e chamada por vários nomes, como Carta Magna, Lei Maior, Lei das Leis, Lei Fundamental, entre outros. Mas, a bem da verdade, não se trata de uma lei, propriamente dita. Ela simplesmente determina as normas de base para todo o direito, dispondo sobre o Estado e sua organização política e jurídica, como também sobre as garantias e direitos individuais do cidadão, e sobre todos os demais assuntos que considere importantes e relevantes para aquela determinada coletividade sobre a qual tem abrangência e onde deverá ser aplicada. Para corroborar com esse entendimento, trazemos o ensinamento de José Afonso da Silva (2017, p. 39): A constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias; em síntese, é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado. O direito constitucional, por sua vez, é o ramo do Direito Público que estuda as normas constitucionais, interpretando e explicando-as. TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES Para facilitar o estudo das constituições, os renomados autores que escrevem sobre o Direito Constitucional dividem as constituições de diversas maneiras. Vamos nos ater à classificação adotada pelo mestre José Afonso da Silva (2017, p. 40), que assim as classifica: quanto ao conteúdo: materiais e formais; A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 4 quanto à forma: escritas e não escritas; quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas; quanto à origem: populares (democráticas) ou outorgadas; quanto à estabilidade: rígidas, flexíveis e semirrígidas. A seguir, algumas características de cada uma delas. A constituição material está ligada à organização do Estado, ao regime político e aos direitos fundamentais, podendo ser com as normas escritas (não necessariamente codificadas em um documento) ou baseadas nos costumes. Já a constituição formal é escrita e em um único documento, elaborado solenemente pelo poder constituinte. Suas alterações ou modificações estão atreladas a formalidades por ela mesma estabelecidas. A constituição escrita é aquela elaborada em texto único, pelo poder constituinte, determinando toda a estrutura e organização do Estado, com seus poderes e limites de atuação, como também, definindo os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Já na constituição não escrita, não existe um documento, pois suas normas são baseadas nos costumes da sociedade e do Estado, na jurisprudência, nas convenções e em outros diplomas legais esparsos. A constituição dogmática é a elaborada pela Assembleia Constituinte, composta por dogmas, que são doutrinas políticas ou filosófica dominantes no momento de sua criação, que a princípio são indiscutíveis. A constituição histórica, também chamada de costumeira, tem a própria história e os costumes daquela sociedade e daquele Estado como base para a sua criação, baseando-se em suas tradições e em acontecimentos sócio- - políticos. A constituição é popular quando é elaborada por um poder constituinte devidamente eleito, que representa aquela determinada sociedade. Já a constituição outorgada é imposta pelo poder dominante, sem que a sociedade possa dela participar. A constituição rígida é aquela cujas modificações ou alterações somente podem acontecer por meio de processos especiais. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 5 Por sua vez, a constituição flexível pode ser modificada pelo legislador com mais facilidade, utilizando-se do mesmo processo para a elaboração de leis ordinárias. A constituição semirrígida é aquela que possui uma parte rígida e uma parte flexível. TEMA 4 – APLICABILIDADE E EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS Será que todas as normas constantes da Constituição poderão ser aplicadas de imediato, assim que ela for promulgada? Na atual Constituição vigente no Brasil, todas as normas são autoaplicáveis? A depender da norma, para que ela possa ser aplicada, dependerá de outros processos ou procedimentos, como uma lei infraconstitucional que venha a regulamentá-la. Estamos falando da eficácia da norma constitucional. Segundo Hack (2012), as normas constitucionais podem ser de eficácia plena, contida ou limitada, pelo menos sob a ótica mais clássica. As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que podem ser aplicadas de imediato, desde a entrada em vigor da Constituição. As normas de eficácia contida já possuem uma determinada regulamentação imposta pela Constituição, mas mesmo assim necessitam de outros requisitos para que possam ser aplicadas. Já as normas de eficácia limitada precisam, necessária e obrigatoriamente, de uma lei que as regulamente para que possam ser aplicadas. TEMA 5 – PODER CONSTITUINTE A própria Constituição determina quem tem a competência de elaborá-la e de alterá-la. Aquele que pode elaborar uma constituição detém o chamado Poder Constituinte Originário e quem pode alterar umaConstituição detém o Poder Constituinte Derivado, também chamado de Poder Reformador. Na Constituição vigente no Brasil, a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988), o Poder Constituinte Originário vem já do parágrafo único, de seu art. 1º, A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 6 quando afirma que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Exercendo este poder, o povo brasileiro elege uma Assembleia Nacional Constituinte para elaborar e promulgar uma nova Constituição, que pode ser o Congresso Nacional, composto do Senado e da Câmara Federal, como foi para a criação da Constituição Federal de 1988. Esta Assembleia Nacional Constituinte se desfaz após a promulgação da nova Constituição. Já a Constituição em vigor pode ser alterada, por meio de emendas constitucionais, não mais por quem possui o Poder Constituinte Originário, mas por quem detém o Poder Constituinte Derivado, que também pelo povo é eleito. No caso da Constituição de 1988, quem o exerce é o próprio Congresso Nacional, com poderes dados pela Constituição. Nos ensina Jose Afonso da Silva (2017, p. 49) que: [...] a Constituição conferiu ao Congresso Nacional a competência para elaborar emendas a ela; o próprio poder constituinte originário, ao estabelecer a CF, instituiu um poder constituinte reformador; no fundo, o agente ou sujeito da reforma, é o poder constituinte originário, que, por esse método, atua em segundo grau, de modo indireto, pela outorga de competência à um órgão constituído para, em seu lugar, proceder às modificações na Constituição [...]. Assim dispõe a Constituição Federal de 1988 em seu art. 60 (Brasil, 1988): [...] § 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. [...] É verdade que nem todas as normas existentes na Constituição podem ser modificadas pelo Poder Constituinte Derivado; são as “cláusulas pétreas”, como a determinação do mesmo art. 60, em seu parágrafo 4º (Brasil, 1988): [...] § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 7 [...] São essas as principais características do Poder Constituinte. NA PRÁTICA A Constituição do Brasil vigente desde 1988, chamada de Constituição Cidadã, tem como um de seus objetivos fundamentais, de acordo com o art. 3º, inciso III (Brasil, 1988), erradicar a pobreza e a marginalização. Como você define e caracteriza esse tipo de norma constitucional, será uma norma de eficácia plena, contida ou limitada? FINALIZANDO Estudamos nesta aula o Estado e seus poderes constituídos. Pudemos também abordar a Constituição, suas classificações e sua aplicabilidade por meio do estudo das eficácias das normas constitucionais, bem como, de que maneira ela pode ser elaborada e posteriormente modificada. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 8 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. HACK, É. Direito constitucional: conceito, fundamentos e princípios básicos. Curitiba: InterSaberes, 2012. SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 40 ed. São Paulo: Malheiros, 2017. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com
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