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EDUCAÇÃO INFANTIL – CONTEÚDOS, TENDÊNCIAS E METODOLOGIAS AULA 1 Profª Janice Mendes 2 CONVERSA INICIAL Você já parou para pensar nos elementos que envolvem a infância e como os conceitos e práticas foram se constituindo ao longo dos tempos? De que forma os espaços formais e as práticas pedagógicas interferem nos pressupostos teóricos e metodológicos dessa etapa de ensino? Nesta aula, vamos compreender um pouco mais sobre os aspectos fundamentais da educação infantil, no contexto cultural e histórico, e como as mudanças legais influenciaram no processo de ensino e aprendizagem dessa fase. TEMA 1 – EDUCAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA INFÂNCIA Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá- los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente (quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação. (Brasil, 2017) Com isso, para ampliar o processo de aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, o diálogo, a autonomia e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição escolar e a família, é preciso conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade (Brasil, 2017) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ao falar sobre o compromisso com a educação integra das crianças, define que: Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades. (Brasil, 20017.) 3 Assim, é possível compreender a criança um sujeito histórico e de direitos, por isso é fundamental pensar que a fase da infância é o momento da vida que integra a categoria geracional da infância e, para além do pertencimento etário, a criança é um ator social que pertence a uma sociedade, um gênero, uma raça/etnia e um espaço geográfico e cultural. Corsaro (2002) explica com clareza a ação da criança como ator social: A ação da criança como um ator social competente vai ao encontro da abordagem denominada reprodução interpretativa, que representa a socialização com base na da adaptação passiva da criança. Mas atenção ao utilizar o termo reprodução! É preciso entender que as crianças não apenas se apropriam da cultura em que estão inseridas, mas também participam das mudanças culturais. Já o termo interpretativa refere-se aos aspectos inovadores da sua participação na sociedade e na cultura que está inserida, pois as crianças criam e participam da cultura de pares, entendida como “um conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores e interesses que elas produzem e compartilham na interação com seus pares” (Corsaro, 2009, p. 30). Agora que você já compreendeu os aspectos fundamentais da infância, vamos seguir os estudos compreendendo a trajetória histórica da educação infantil! 1.1 Educação infantil e seus aspectos históricos Você sabia que a etapa da educação infantil nem sempre teve um lugar de destaque na formação da criança pequena? A etapa da educação infantil surgiu nas décadas de 1970 e 1980 como uma instituição assistencial com objetivo de atender as crianças e de ocupar, em muitos aspectos, o lugar da família. Até a década de 1980, a educação infantil era vista como educação não formal. Utilizava-se no Brasil expressão pré-escolar, etapa anterior, independente e preparatória para a escolarização, que só teria seu começo no ensino fundamental. A Constituição Federal de 1988 apresentou novas compreensões sobre o conceito, concepção e atendimento em creche e pré-escola, pois, a partir dessa época, o processo escolar de crianças de 0 a 6 anos de idade torna-se dever do Estado. 4 Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB, 1996), a educação infantil passa a integrar a educação básica, juntamente com o ensino fundamental e o ensino médio. Em 2006, outras mudanças aconteceram na etapa da educação infantil, pois essa etapa passou a atender crianças de 0 a 5 anos de idade. As modificações inseridas na Lei n. 11.274 de 6 de fevereiro de 2006 anteciparam o acesso ao ensino fundamental para os 6 anos de idade, e a educação infantil passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos. É preciso lembrar que, somente após a Emenda Constitucional n. 59/2009, a matrícula na etapa da educação infantil passa a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos e reconhecida como direito de todas as crianças e dever do Estado. Essa mesma emenda determina a obrigatoriedade da educação básica dos 4 aos 17 anos (Brasil, 2009). Agora que você já compreendeu um pouco sobre a evolução histórica da educação infantil, acompanhe a linha do tempo em seus aspectos históricos conceituais: No Brasil, os jardins de infância surgiram de acordo com a necessidade do mercado de trabalho, com ênfase na Revolução Industrial, marcado devido ao capitalismo. As mulheres começaram ocupar o mercado de trabalho, e por meio da reivindicação dos operários, de um lugar para deixarem seus filhos, surgiram os jardins de infância. As creches preenchiam a necessidade para a classe trabalhadora feminina, firmando-se, assim, o cuidar como atividade principal dessas instituições. Na década de 1980, a educação infantil teve um avanço, pois houve a produção de pesquisas e estudos de relevante interesse nessa área. Havia ênfase sobre a função da creche/pré-escola na vida escolar e no desenvolvimento das crianças. Com base nisso, entendeu-se que a educação da criança pequena é fundamental, além de ser uma demanda social básica. Outro momento importante na história da educação infantil é a Constituição de 1988, que definiu a creche e a pré-escola como direito de família e dever do Estado em oferecer esse serviço não apenas em sua forma assistencialista, mas com sua função pedagógica. Além disso, a educação infantil ficou assegurada 5 como parte do Sistema de Ensino da Educação Básica e também das políticas públicas. Foi somente a partir do marco legal da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 que há a complementaridade entre as instituições de educação infantil e a família; a preocupação sobre a formação do profissional da educação infantil e da avaliação dessa etapa de ensino, que assumiu um caráter de acompanhamento, e não de reprovação. Após a LDB, Lei n. 9.394/96, muitas outras normativas direcionaram o papel da educação infantil no contexto educativo. É possível perceber, com a trajetória histórica,que o atendimento às crianças e o desenvolvimento das instituições de educação infantil no Brasil estiveram fortemente ligadas aos ideais capitalistas e de modernização do país. Continuando nossos estudos sobre educação infantil, é preciso compreender a cultura escolar presente na educação infantil, e relacioná-la ao desenvolvimento infantil. TEMA 2 – CULTURA ESCOLAR PRESENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL A cultura desenvolve-se naturalmente, faz parte da ação humana, que está em constante evolução. As pessoas, ao verem o mundo através das lentes da sua cultura, usam-na como referência para sua conduta. Há mudanças em cada meio cultural, por isso é importante perceber as diferenças que ocorrem dentro de uma mesma cultura. A cultura denota um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas. Por meio delas, os indivíduos e grupos formadores de uma nova geração apreendem a cultura, reproduzem-na e a transformam. Os fatos nascem e evoluem numa reprodução espontânea e despercebida pelos sujeitos. A cultura é, pois, um fenômeno social, cuja sua manutenção e transmissão dependem dos sujeitos sociais. (Geertz, 1978) Para iniciar os estudos sobre cultura escolar presente na educação infantil, vamos compreender o significado de cultura escolar. A escola é um espaço formal de desenvolvimento dos sujeitos, assumindo um papel particular na socialização, na preservação e na transmissão de valores e herança cultural. A escola é o espaço de aprendizagens e saberes, gerados em função do resultado do fazer pedagógico e dos significados construídos pelos sujeitos 6 envolvidos, ou seja, a escola é campo de expressão e produção humana, portanto receptora e formadora de cultura. Assim, compreendemos que a escola é a instituição responsável pela mudança e desenvolvimento do homem, consequentemente produtora de cultura, pois está imersa em um momento histórico, social, econômico e político. Esse conjunto de fatores influencia diretamente na formação cultural do sujeito. Portanto, como afirma Carvalho (2006, p. 3): não havendo educação que não esteja imersa na cultura e, particularmente, no momento histórico em que se situa, não se podem conceber experiências pedagógicas e metodologias organizativas, promotoras dessas modificações, de modo “desculturalizado”. Para Sarmento e Cerisara (2004, p. 23), a criança vive num mundo heterogêneo, pois está em contato direto com inúmeras realidades (escola, igreja, família, atividades sociais, os seus pares), permitindo, assim, a formação da sua identidade pessoal e social, levando-se em conta a cultura de seus pares. Você já ouviu falar em cultura de pares? A cultura de pares se estabelece quando as crianças compartilham do mesmo espaço e se relacionam entre elas, promovendo o desenvolvimento integral e favorecendo a aprendizagem. A interação entre pares é um dos fatores culturais da infância, pois “demonstra que a criança é um ser conotativo e atuante que realiza suas atividades sempre de uma forma distinta das culturas dos adultos sendo necessário que viva em contato com realidades distintas” (Sarmento; Cerisara, 2004, p. 23). Além da interação com seus pares, é importante também promover a construção de um ambiente que favoreça todos os tipos de interações e possibilite à criança se desenvolver dentro de um espaço satisfatório para a sua inserção no mundo e expressão de suas riquezas e realidades, considerando o contexto cultural inserido. Todos os contextos e espaços são fundamentais para a criança atuar na perspectiva da interatividade, e da construção cultural. A cultura direciona o comportamento humano. Uma realidade em constante transformação e exigências culturais, enfatiza a construção e aquisição de novos conhecimentos, gerando assim valores e princípios, próprios daquela cultura. E, por meio da educação escolar, projetos educativos e sociais são delineados, disseminando valores que promovem sentidos no cotidiano das pessoas, aqui representadas pelos professores. As pessoas produzem, no interior da escola, modos de pensar e de fazer que proporcionam a todos os envolvidos estratégias e práticas para, dessa maneira, executar as finalidades da instituição escolar. (Curitiba, 2020) 7 TEMA 3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE REGEM A INFÂNCIA Você sabia que a palavra infância tem origem do latim e significa a “ausência de fala e dependência”? Com base nos estudos de Lajolo (2006), desde os primórdios há muitas concepções de infância, em que a criança era vista como um adulto em miniatura, depois como um ser diferente do adulto, mas ainda considerado como uma tábula rasa, predeterminada pelo adulto, pela sociedade. No entanto, o conceito de infância foi evoluindo ao longo dos anos: Bebês e crianças se desenvolvem nas interações, nas relações e nas práticas cotidianas que lhes proporcionamos e naquelas que estabelecem com os adultos, outros bebês e outras crianças, nos grupos e contextos culturais nos quais estão inseridos. Nessas condições, enquanto sujeitos ativos nos processos, ambos interagem, investigam, brincam, imaginam, desejam, aprendem, observam, conversam, experimentam, questionam, opinam, criam e dão sentidos para o mundo e suas identidades pessoal e coletiva. (Curitiba, 2020, p. 14) A BNCC, ao destacar a educação infantil no contexto da educação básica, consolida a concepção de educar e brincar, e nessa direção potencializa as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, assegurando situações em que a criança possa desempenhar seu papel ativo na sociedade. Com isso, passou a ser destaque na BNCC os direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil: Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. 8 Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. (Brasil, 2017, p. 40) Na infância, o brincar caracteriza o cotidiano da infância e traz consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças Brasil (2017). Ao observar as interações entre as crianças, e entre crianças e adultos, é possível identificar expressão como afetos, mediação das frustrações, resolução de conflitos e regulação das emoções. Os processos de desenvolvimento motor, social, emocional, cognitivo elinguístico da criança decorrem da interação entre maturidade biológica e as experiências adquiridas pelo meio físico e social. As experiências proporcionadas pelos contextos sociais e físicos constituem oportunidades de aprendizagem, que vão contribuir para o seu desenvolvimento. Assim, podemos dizer que a aprendizagem influencia e é influenciada pelo processo de desenvolvimento físico e psicológico da criança, por isso, desenvolvimento e aprendizagem são indissociáveis na infância. Essa interligação das características intrínsecas de cada criança (o seu património genético), do seu processo de maturação biológica e das experiências de aprendizagem vividas faz de cada criança um ser único, com características, capacidades e interesses próprios, com um processo de desenvolvimento singular e formas próprias de aprender. Portanto, o processo de aprendizagem e desenvolvimento esperados para uma determinada faixa etária não pode ser compreendida como predeterminadas e fixas, para todas as idades, pois cada criança passa por referências que permitem situar um percurso individual e singular de desenvolvimento e aprendizagem. Mesmo que muitas aprendizagens das crianças aconteçam de forma espontânea, e em ambientes diversos, em que as diferentes experiências e oportunidades de aprendizagem têm sentido a ligação entre si. No contexto da infância sempre existe uma intencionalidade educativa. Isso deve-se ao fato do ambiente ser culturalmente rico e estimulante, para o desenvolvimento de um processo pedagógico coerente e consistente. A criança se desenvolve e aprende não apenas no contexto de educação infantil, mas em todos os espaços que está inserida, sobretudo no meio familiar, cujas práticas educativas e cultura influenciam o seu desenvolvimento e aprendizagem. O reconhecimento da capacidade da criança para construir o seu desenvolvimento e aprendizagem supõe encará-la como sujeito e agente do processo educativo, o que significa partir das suas 9 experiências e valorizar os seus saberes e competências únicas, de modo a que possa desenvolver todas as suas potencialidades. É papel do professor apoiar e estimular o desenvolvimento e a aprendizagem, aproveitando o meio social e as interações que os contextos de educação de infância possibilitam, de modo a que, progressivamente, as escolhas, opiniões e perspectivas de cada criança sejam explicitadas e debatidas. Dessa forma, a criança aprende a defender as suas ideias, a respeitar as dos outros e, simultaneamente, contribui para o desenvolvimento e aprendizagem de todos. A primeira infância vai até aos seis anos de idade, e essa é a fase que além do crescimento físico e do desenvolvimento motor, as crianças adquirem capacidades de aprendizado, sociabilidade e afetividade que serão levadas para toda a vida. (Brasil, 2017) TEMA 4 – A CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: CUIDAR E EDUCAR O que você entende por cuidar, no contexto da educação infantil? vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá- los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação.. (Brasil, 2017, p. 38) Cuidar é um dos elementos essenciais das instituições de caráter educativo para crianças pequenas, pois, “envolve questões afetivas, biológicas, como alimentação e cuidados com a saúde e higiene da criança e que não há como ter educação se não há cuidado, ou seja, o cuidar é parte integrante da educação” (Brasil, 1998). É importante dar ênfase aos direitos das crianças, pois são seres ativos em todo o processo. Deve-se haver eficiência no trabalho ao desenvolvimento da criança, verificando a necessidade da mesma. E o que envolve educar na educação infantil? É preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. . (Brasil, 2017, p. 40) 10 Para as crianças pequenas, segundo a BNCC (Brasil, 2017), é preciso haver uma intencionalidade educativa nas práticas educativas: Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré- escola. (Brasil, 2017, p. 40) A etapa inicial da Educação infantil, de acordo com a BNCC, contribui para o processo de desenvolvimento pleno da criança: Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. (Brasil, 2017, p. 38) Nesse sentido, e para ampliar a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, o diálogo e a divisão de responsabilidades entre a instituição de educação infantil e a família são essenciais. De acordo com a BNCC (Brasil, 2017, p. 39), as práticas pedagógicas dessa etapa da educação básica devem: caracterizar o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções. A interação da criança com o processo do brincar caracteriza o cotidiano da infância e traz muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento. O professor ou o adulto, ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças, pode identificar as expressões de afeto, frustrações, conflitos e a regulação das emoções. TEMA 5 – DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA CONTEMPORANEIDADE Para acompanhar os desafios da educação infantil na contemporaneidade, o professor precisa refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações necessárias para o 11 desenvolvimento da autonomia da crianças, garantindo a pluralidade de situações que promovam a ampliação do conhecimento das crianças. Paulo Freire (2002) destaca que: Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Sendo assim, através do lúdico o educador da educação infantil pode proporcionar essa produção e construção do conhecimento. (Freire, 2002) Na contemporaneidade, há muitos desafios, e o professor necessita trabalhar com alunos criando situaçõespor meio de interação social para ampliar suas capacidades de apropriação dos conceitos, dos códigos sociais e das diferentes linguagens, por meio da expressão e comunicação de sentimentos e ideias, da experimentação, da reflexão, da elaboração de perguntas e respostas, da construção de objetos e brinquedos. É necessário o professor dar importância às singularidades das crianças de diferentes idades, assim como também à diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças, etnias etc. das crianças com as quais trabalha, respeitando suas diferenças e ampliando suas pautas de socialização. Nos momentos atuais, o papel do professor é de mediador, e a criança é a protagonista. É preciso propiciar espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano. NA PRÁTICA Agora você já conhece os aspectos fundamentais da infância e da educação infantil, além da forma como ocorre o processo de constituição da cultura nesse espaço, os pressupostos teóricos e metodológico que embasam o fazer pedagógico. Com base nos estudos realizados nesta aula, reflita sobre a forma como o professor de educação infantil poderá desenvolver um trabalho em sala que auxilie na formação de sujeitos mais colaborativos e éticos no trato consigo, com o outro e com a natureza, considerando os princípios do cuidar, educar e brincar. Considerando que vivemos em uma sociedade que prima pela formação individualista e meritocrática, você acredita que isso realmente é possível? 12 Destaque exemplos de atividades e brincadeiras que possam auxiliar nessa transformação e trazer à tona uma formação mais humanista e preocupada com o próximo. FINALIZANDO Finalizamos esta aula. Durante nossas discussões, você conheceu um pouco mais a respeito da educação infantil, principalmente no que se refere aos aspectos da infância, à cultura que orienta e organiza essa etapa do ensino e a seus princípios do cuidar, brincar e educar. Esses conteúdos são fundamentais para sua formação, pois embasam o conhecimento dos demais conceitos que estão por vir, além de auxiliá-lo em sua prática com a educação infantil. Esses conhecimentos podem ajudar você a compreender realidade escolar, as relações estabelecidas, sejam elas políticas, econômicas, sociais, culturais, históricas, éticas ou estéticas. Esperamos que tenha gostado! Aguardamos você numa próxima etapa com um pouquinho mais sobre a educação infantil, sua realidade e o desenvolvimento de seu trabalho. 13 REFERÊNCIAS BRASIL. Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 nov. 2009. _____. Lei n. 9.394, 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2017. Disponível em: <http://www.basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ve rsaofinal_site.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Departamento de Política da Educação Fundamental. Coordenação Geral de Educação Infantil. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 1998. CARVALHO. R. G. Cultura global e contextos locais: a escola como instituição possuidora de cultura própria. 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