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Aula 1 - Educação infantil e cultura escolar

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EDUCAÇÃO INFANTIL – 
CONTEÚDOS, TENDÊNCIAS E 
METODOLOGIAS 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Janice Mendes 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Você já parou para pensar nos elementos que envolvem a infância e como 
os conceitos e práticas foram se constituindo ao longo dos tempos? De que 
forma os espaços formais e as práticas pedagógicas interferem nos 
pressupostos teóricos e metodológicos dessa etapa de ensino? 
Nesta aula, vamos compreender um pouco mais sobre os aspectos 
fundamentais da educação infantil, no contexto cultural e histórico, e como as 
mudanças legais influenciaram no processo de ensino e aprendizagem dessa 
fase. 
TEMA 1 – EDUCAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA INFÂNCIA 
Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o 
início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche 
ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação 
das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se 
incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nas últimas 
décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que 
vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável 
do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao 
acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças 
no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-
los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o 
universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas 
crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando 
de maneira complementar à educação familiar – especialmente 
(quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem 
pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois 
contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a 
comunicação. (Brasil, 2017) 
Com isso, para ampliar o processo de aprendizagem e o desenvolvimento 
das crianças, o diálogo, a autonomia e o compartilhamento de responsabilidades 
entre a instituição escolar e a família, é preciso conhecer e trabalhar com as 
culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da 
comunidade (Brasil, 2017) 
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ao falar sobre o 
compromisso com a educação integra das crianças, define que: 
 
Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da 
criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como 
sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu 
acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas 
singularidades e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de 
aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática 
coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às 
diferenças e diversidades. (Brasil, 20017.) 
 
 
3 
Assim, é possível compreender a criança um sujeito histórico e de direitos, 
por isso é fundamental pensar que a fase da infância é o momento da vida que 
integra a categoria geracional da infância e, para além do pertencimento etário, 
a criança é um ator social que pertence a uma sociedade, um gênero, uma 
raça/etnia e um espaço geográfico e cultural. 
Corsaro (2002) explica com clareza a ação da criança como ator social: A 
ação da criança como um ator social competente vai ao encontro da abordagem 
denominada reprodução interpretativa, que representa a socialização com base 
na da adaptação passiva da criança. 
Mas atenção ao utilizar o termo reprodução! É preciso entender que as 
crianças não apenas se apropriam da cultura em que estão inseridas, mas 
também participam das mudanças culturais. 
Já o termo interpretativa refere-se aos aspectos inovadores da sua 
participação na sociedade e na cultura que está inserida, pois as crianças criam 
e participam da cultura de pares, entendida como “um conjunto estável de 
atividades ou rotinas, artefatos, valores e interesses que elas produzem e 
compartilham na interação com seus pares” (Corsaro, 2009, p. 30). 
Agora que você já compreendeu os aspectos fundamentais da infância, 
vamos seguir os estudos compreendendo a trajetória histórica da educação 
infantil! 
1.1 Educação infantil e seus aspectos históricos 
Você sabia que a etapa da educação infantil nem sempre teve um lugar 
de destaque na formação da criança pequena? 
A etapa da educação infantil surgiu nas décadas de 1970 e 1980 como 
uma instituição assistencial com objetivo de atender as crianças e de ocupar, em 
muitos aspectos, o lugar da família. 
 Até a década de 1980, a educação infantil era vista como educação não 
formal. Utilizava-se no Brasil expressão pré-escolar, etapa anterior, 
independente e preparatória para a escolarização, que só teria seu começo no 
ensino fundamental. 
A Constituição Federal de 1988 apresentou novas compreensões sobre o 
conceito, concepção e atendimento em creche e pré-escola, pois, a partir dessa 
época, o processo escolar de crianças de 0 a 6 anos de idade torna-se dever do 
Estado. 
 
 
4 
Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB, 1996), a educação 
infantil passa a integrar a educação básica, juntamente com o ensino 
fundamental e o ensino médio. 
Em 2006, outras mudanças aconteceram na etapa da educação infantil, 
pois essa etapa passou a atender crianças de 0 a 5 anos de idade. As 
modificações inseridas na Lei n. 11.274 de 6 de fevereiro de 2006 anteciparam 
o acesso ao ensino fundamental para os 6 anos de idade, e a educação infantil 
passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos. 
É preciso lembrar que, somente após a Emenda Constitucional n. 
59/2009, a matrícula na etapa da educação infantil passa a ser obrigatória para 
as crianças de 4 e 5 anos e reconhecida como direito de todas as crianças e 
dever do Estado. Essa mesma emenda determina a obrigatoriedade da 
educação básica dos 4 aos 17 anos (Brasil, 2009). 
Agora que você já compreendeu um pouco sobre a evolução histórica da 
educação infantil, acompanhe a linha do tempo em seus aspectos históricos 
conceituais: 
 No Brasil, os jardins de infância surgiram de acordo com a necessidade 
do mercado de trabalho, com ênfase na Revolução Industrial, marcado devido 
ao capitalismo. 
As mulheres começaram ocupar o mercado de trabalho, e por meio da 
reivindicação dos operários, de um lugar para deixarem seus filhos, surgiram os 
jardins de infância. As creches preenchiam a necessidade para a classe 
trabalhadora feminina, firmando-se, assim, o cuidar como atividade principal 
dessas instituições. 
Na década de 1980, a educação infantil teve um avanço, pois houve a 
produção de pesquisas e estudos de relevante interesse nessa área. Havia 
ênfase sobre a função da creche/pré-escola na vida escolar e no 
desenvolvimento das crianças. Com base nisso, entendeu-se que a educação 
da criança pequena é fundamental, além de ser uma demanda social básica. 
Outro momento importante na história da educação infantil é a Constituição de 
1988, que definiu a creche e a pré-escola como direito de família e dever do 
Estado em oferecer esse serviço não apenas em sua forma assistencialista, mas 
com sua função pedagógica. Além disso, a educação infantil ficou assegurada 
 
 
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como parte do Sistema de Ensino da Educação Básica e também das políticas 
públicas. 
Foi somente a partir do marco legal da Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional n. 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 que há a 
complementaridade entre as instituições de educação infantil e a família; a 
preocupação sobre a formação do profissional da educação infantil e da 
avaliação dessa etapa de ensino, que assumiu um caráter de acompanhamento, 
e não de reprovação. 
Após a LDB, Lei n. 9.394/96, muitas outras normativas direcionaram o 
papel da educação infantil no contexto educativo. É possível perceber, com a 
trajetória histórica,que o atendimento às crianças e o desenvolvimento das 
instituições de educação infantil no Brasil estiveram fortemente ligadas aos 
ideais capitalistas e de modernização do país. 
Continuando nossos estudos sobre educação infantil, é preciso 
compreender a cultura escolar presente na educação infantil, e relacioná-la ao 
desenvolvimento infantil. 
TEMA 2 – CULTURA ESCOLAR PRESENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
 A cultura desenvolve-se naturalmente, faz parte da ação humana, que 
está em constante evolução. As pessoas, ao verem o mundo através das lentes 
da sua cultura, usam-na como referência para sua conduta. Há mudanças em 
cada meio cultural, por isso é importante perceber as diferenças que ocorrem 
dentro de uma mesma cultura. 
A cultura denota um padrão de significados transmitidos 
historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções 
herdadas expressas em formas simbólicas. Por meio delas, os 
indivíduos e grupos formadores de uma nova geração apreendem a 
cultura, reproduzem-na e a transformam. Os fatos nascem e evoluem 
numa reprodução espontânea e despercebida pelos sujeitos. A cultura 
é, pois, um fenômeno social, cuja sua manutenção e transmissão 
dependem dos sujeitos sociais. (Geertz, 1978) 
Para iniciar os estudos sobre cultura escolar presente na educação 
infantil, vamos compreender o significado de cultura escolar. A escola é um 
espaço formal de desenvolvimento dos sujeitos, assumindo um papel particular 
na socialização, na preservação e na transmissão de valores e herança cultural. 
A escola é o espaço de aprendizagens e saberes, gerados em função do 
resultado do fazer pedagógico e dos significados construídos pelos sujeitos 
 
 
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envolvidos, ou seja, a escola é campo de expressão e produção humana, 
portanto receptora e formadora de cultura. 
Assim, compreendemos que a escola é a instituição responsável pela 
mudança e desenvolvimento do homem, consequentemente produtora de 
cultura, pois está imersa em um momento histórico, social, econômico e político. 
Esse conjunto de fatores influencia diretamente na formação cultural do sujeito. 
Portanto, como afirma Carvalho (2006, p. 3): 
não havendo educação que não esteja imersa na cultura e, 
particularmente, no momento histórico em que se situa, não se podem 
conceber experiências pedagógicas e metodologias organizativas, 
promotoras dessas modificações, de modo “desculturalizado”. 
Para Sarmento e Cerisara (2004, p. 23), a criança vive num mundo 
heterogêneo, pois está em contato direto com inúmeras realidades (escola, 
igreja, família, atividades sociais, os seus pares), permitindo, assim, a formação 
da sua identidade pessoal e social, levando-se em conta a cultura de seus pares. 
Você já ouviu falar em cultura de pares? 
A cultura de pares se estabelece quando as crianças compartilham do 
mesmo espaço e se relacionam entre elas, promovendo o desenvolvimento 
integral e favorecendo a aprendizagem. 
A interação entre pares é um dos fatores culturais da infância, pois 
“demonstra que a criança é um ser conotativo e atuante que realiza suas 
atividades sempre de uma forma distinta das culturas dos adultos sendo 
necessário que viva em contato com realidades distintas” (Sarmento; Cerisara, 
2004, p. 23). 
Além da interação com seus pares, é importante também promover a 
construção de um ambiente que favoreça todos os tipos de interações 
e possibilite à criança se desenvolver dentro de um espaço satisfatório 
para a sua inserção no mundo e expressão de suas riquezas e 
realidades, considerando o contexto cultural inserido. Todos os 
contextos e espaços são fundamentais para a criança atuar na 
perspectiva da interatividade, e da construção cultural. A cultura 
direciona o comportamento humano. Uma realidade em constante 
transformação e exigências culturais, enfatiza a construção e aquisição 
de novos conhecimentos, gerando assim valores e princípios, próprios 
daquela cultura. E, por meio da educação escolar, projetos educativos 
e sociais são delineados, disseminando valores que promovem 
sentidos no cotidiano das pessoas, aqui representadas pelos 
professores. As pessoas produzem, no interior da escola, modos de 
pensar e de fazer que proporcionam a todos os envolvidos estratégias 
e práticas para, dessa maneira, executar as finalidades da instituição 
escolar. (Curitiba, 2020) 
 
 
 
7 
TEMA 3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE REGEM A INFÂNCIA 
Você sabia que a palavra infância tem origem do latim e significa a 
“ausência de fala e dependência”? 
Com base nos estudos de Lajolo (2006), desde os primórdios há muitas 
concepções de infância, em que a criança era vista como um adulto em 
miniatura, depois como um ser diferente do adulto, mas ainda considerado como 
uma tábula rasa, predeterminada pelo adulto, pela sociedade. No entanto, o 
conceito de infância foi evoluindo ao longo dos anos: 
Bebês e crianças se desenvolvem nas interações, nas relações e nas 
práticas cotidianas que lhes proporcionamos e naquelas que 
estabelecem com os adultos, outros bebês e outras crianças, nos 
grupos e contextos culturais nos quais estão inseridos. Nessas 
condições, enquanto sujeitos ativos nos processos, ambos interagem, 
investigam, brincam, imaginam, desejam, aprendem, observam, 
conversam, experimentam, questionam, opinam, criam e dão sentidos 
para o mundo e suas identidades pessoal e coletiva. (Curitiba, 2020, p. 
14) 
A BNCC, ao destacar a educação infantil no contexto da educação básica, 
consolida a concepção de educar e brincar, e nessa direção potencializa as 
aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, assegurando situações em 
que a criança possa desempenhar seu papel ativo na sociedade. Com isso, 
passou a ser destaque na BNCC os direitos de aprendizagem e desenvolvimento 
na educação infantil: 
Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes 
grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de 
si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as 
pessoas. 
Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e 
tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e 
diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, 
sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, 
corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. 
Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do 
planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo 
educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais 
como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, 
desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, 
decidindo e se posicionando. 
Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, 
emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, 
elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes 
sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a 
ciência e a tecnologia. 
Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas 
necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, 
descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes 
linguagens. 
 
 
8 
Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, 
constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de 
pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, 
brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu 
contexto familiar e comunitário. (Brasil, 2017, p. 40) 
Na infância, o brincar caracteriza o cotidiano da infância e traz consigo 
muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças 
Brasil (2017). Ao observar as interações entre as crianças, e entre crianças e 
adultos, é possível identificar expressão como afetos, mediação das frustrações, 
resolução de conflitos e regulação das emoções. Os processos de 
desenvolvimento motor, social, emocional, cognitivo elinguístico da criança 
decorrem da interação entre maturidade biológica e as experiências adquiridas 
pelo meio físico e social. As experiências proporcionadas pelos contextos sociais 
e físicos constituem oportunidades de aprendizagem, que vão contribuir para o 
seu desenvolvimento. Assim, podemos dizer que a aprendizagem influencia e é 
influenciada pelo processo de desenvolvimento físico e psicológico da criança, 
por isso, desenvolvimento e aprendizagem são indissociáveis na infância. Essa 
interligação das características intrínsecas de cada criança (o seu património 
genético), do seu processo de maturação biológica e das experiências de 
aprendizagem vividas faz de cada criança um ser único, com características, 
capacidades e interesses próprios, com um processo de desenvolvimento 
singular e formas próprias de aprender. 
Portanto, o processo de aprendizagem e desenvolvimento esperados 
para uma determinada faixa etária não pode ser compreendida como 
predeterminadas e fixas, para todas as idades, pois cada criança passa por 
referências que permitem situar um percurso individual e singular de 
desenvolvimento e aprendizagem. Mesmo que muitas aprendizagens das 
crianças aconteçam de forma espontânea, e em ambientes diversos, em que as 
diferentes experiências e oportunidades de aprendizagem têm sentido a ligação 
entre si. No contexto da infância sempre existe uma intencionalidade educativa. 
Isso deve-se ao fato do ambiente ser culturalmente rico e estimulante, para o 
desenvolvimento de um processo pedagógico coerente e consistente. 
A criança se desenvolve e aprende não apenas no contexto de 
educação infantil, mas em todos os espaços que está inserida, 
sobretudo no meio familiar, cujas práticas educativas e cultura 
influenciam o seu desenvolvimento e aprendizagem. O 
reconhecimento da capacidade da criança para construir o seu 
desenvolvimento e aprendizagem supõe encará-la como sujeito e 
agente do processo educativo, o que significa partir das suas 
 
 
9 
experiências e valorizar os seus saberes e competências únicas, de 
modo a que possa desenvolver todas as suas potencialidades. É papel 
do professor apoiar e estimular o desenvolvimento e a aprendizagem, 
aproveitando o meio social e as interações que os contextos de 
educação de infância possibilitam, de modo a que, progressivamente, 
as escolhas, opiniões e perspectivas de cada criança sejam 
explicitadas e debatidas. Dessa forma, a criança aprende a defender 
as suas ideias, a respeitar as dos outros e, simultaneamente, contribui 
para o desenvolvimento e aprendizagem de todos. A primeira infância 
vai até aos seis anos de idade, e essa é a fase que além do 
crescimento físico e do desenvolvimento motor, as crianças adquirem 
capacidades de aprendizado, sociabilidade e afetividade que serão 
levadas para toda a vida. (Brasil, 2017) 
TEMA 4 – A CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: CUIDAR E EDUCAR 
O que você entende por cuidar, no contexto da educação infantil? 
vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula 
educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do 
processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao 
acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças 
no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-
los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o 
universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas 
crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando 
de maneira complementar à educação familiar – especialmente 
quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, 
que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar 
e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação.. (Brasil, 
2017, p. 38) 
Cuidar é um dos elementos essenciais das instituições de caráter 
educativo para crianças pequenas, pois, “envolve questões afetivas, biológicas, 
como alimentação e cuidados com a saúde e higiene da criança e que não há 
como ter educação se não há cuidado, ou seja, o cuidar é parte integrante da 
educação” (Brasil, 1998). 
É importante dar ênfase aos direitos das crianças, pois são seres ativos 
em todo o processo. Deve-se haver eficiência no trabalho ao desenvolvimento 
da criança, verificando a necessidade da mesma. E o que envolve educar na 
educação infantil? 
É preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens 
das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e 
de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e 
aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes 
momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como 
relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível 
evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem 
intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” 
e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. . 
(Brasil, 2017, p. 40) 
 
 
 
10 
Para as crianças pequenas, segundo a BNCC (Brasil, 2017), é preciso 
haver uma intencionalidade educativa nas práticas educativas: 
Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta 
hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói 
conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio 
da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar 
no confinamento dessas aprendizagens a um processo de 
desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a 
necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas 
pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-
escola. (Brasil, 2017, p. 40) 
A etapa inicial da Educação infantil, de acordo com a BNCC, contribui para 
o processo de desenvolvimento pleno da criança: 
Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do 
processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, 
na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus 
vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de 
socialização estruturada. (Brasil, 2017, p. 38) 
Nesse sentido, e para ampliar a aprendizagem e o desenvolvimento da 
criança, o diálogo e a divisão de responsabilidades entre a instituição de 
educação infantil e a família são essenciais. 
De acordo com a BNCC (Brasil, 2017, p. 39), as práticas pedagógicas 
dessa etapa da educação básica devem: 
caracterizar o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas 
aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das 
crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças 
e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão 
dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a 
regulação das emoções. 
A interação da criança com o processo do brincar caracteriza o cotidiano 
da infância e traz muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento. O 
professor ou o adulto, ao observar as interações e a brincadeira entre as 
crianças, pode identificar as expressões de afeto, frustrações, conflitos e a 
regulação das emoções. 
TEMA 5 – DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA CONTEMPORANEIDADE 
Para acompanhar os desafios da educação infantil na 
contemporaneidade, o professor precisa refletir, selecionar, organizar, planejar, 
mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações necessárias para o 
 
 
11 
desenvolvimento da autonomia da crianças, garantindo a pluralidade de 
situações que promovam a ampliação do conhecimento das crianças. 
Paulo Freire (2002) destaca que: 
Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para 
a sua própria produção ou a sua construção. Sendo assim, através do 
lúdico o educador da educação infantil pode proporcionar essa 
produção e construção do conhecimento. (Freire, 2002) 
 Na contemporaneidade, há muitos desafios, e o professor necessita 
trabalhar com alunos criando situaçõespor meio de interação social para ampliar 
suas capacidades de apropriação dos conceitos, dos códigos sociais e das 
diferentes linguagens, por meio da expressão e comunicação de sentimentos e 
ideias, da experimentação, da reflexão, da elaboração de perguntas e respostas, 
da construção de objetos e brinquedos. 
 É necessário o professor dar importância às singularidades das crianças 
de diferentes idades, assim como também à diversidade de hábitos, costumes, 
valores, crenças, etnias etc. das crianças com as quais trabalha, respeitando 
suas diferenças e ampliando suas pautas de socialização. 
 Nos momentos atuais, o papel do professor é de mediador, e a criança é 
a protagonista. É preciso propiciar espaços e situações de aprendizagens que 
articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas 
de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes 
aos diferentes campos de conhecimento humano. 
NA PRÁTICA 
 Agora você já conhece os aspectos fundamentais da infância e da 
educação infantil, além da forma como ocorre o processo de constituição da 
cultura nesse espaço, os pressupostos teóricos e metodológico que embasam o 
fazer pedagógico. 
Com base nos estudos realizados nesta aula, reflita sobre a forma como 
o professor de educação infantil poderá desenvolver um trabalho em sala que 
auxilie na formação de sujeitos mais colaborativos e éticos no trato consigo, com 
o outro e com a natureza, considerando os princípios do cuidar, educar e brincar. 
Considerando que vivemos em uma sociedade que prima pela formação 
individualista e meritocrática, você acredita que isso realmente é possível? 
 
 
12 
Destaque exemplos de atividades e brincadeiras que possam auxiliar 
nessa transformação e trazer à tona uma formação mais humanista e 
preocupada com o próximo. 
FINALIZANDO 
Finalizamos esta aula. Durante nossas discussões, você conheceu um 
pouco mais a respeito da educação infantil, principalmente no que se refere aos 
aspectos da infância, à cultura que orienta e organiza essa etapa do ensino e a 
seus princípios do cuidar, brincar e educar. 
Esses conteúdos são fundamentais para sua formação, pois embasam o 
conhecimento dos demais conceitos que estão por vir, além de auxiliá-lo em sua 
prática com a educação infantil. 
Esses conhecimentos podem ajudar você a compreender realidade 
escolar, as relações estabelecidas, sejam elas políticas, econômicas, sociais, 
culturais, históricas, éticas ou estéticas. Esperamos que tenha gostado! 
Aguardamos você numa próxima etapa com um pouquinho mais sobre a 
educação infantil, sua realidade e o desenvolvimento de seu trabalho. 
 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
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Superintendência de Gestão Educacional, Departamento de Educação Infantil, 
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NÓVOA, A. As organizações escolares em análise. Lisboa: Nova 
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14 
SARMENTO, M. J.; CERISARA, A. B. Crianças e miúdos: perspectivas 
sociopedagógicas da infância e educação. Lisboa: Asa Editores S.A., 2004. 
VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

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