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SISTEMA FINANCEIRO E MERCADO NACIONAL PROF. DR. KOFFI DJIMA AMOUZOU 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Prof. Dr. Koffi Djima Amouzou Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4 Introdução ..............................................................................................................................................................................6 Capítulo 1 ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ..........................................................7 Capítulo 2 ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN .............. 13 Capítulo 3 MERCADO DE CAPITAIS ............................................................................................................................................ 25 Capítulo 4 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES .................................................................................................................. 37 Capítulo 5 PRODUTOS E INSTRUMENTOS FINANCEIROS NEGOCIADOS NOS MERCADOS FINANCEIROS ...... 47 Capítulo 6 METODOLOGIAS DE CÁLCULO NA AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS EFETIVOS DOS PRODUTOS FINANCEIROS COM BASE NAS TAXAS DE JUROS ............................................................................................ 55 Referências .......................................................................................................................................................................... 89 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGANIzAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução O mercado financeiro é o mercado em que os recursos excedentes da economia (poupança) são direcionados para o financiamento de empresas e de novos projetos (investimentos), é como as empresas conseguem captar recursos para aumentar seu patrimônio e ampliar os negócios a fim de competir no mercado. No mercado financeiro tradicional, o dinheiro depositado em bancos por poupadores é utilizado pelas instituições financeiras para financiar alguns setores da economia que precisam de recursos. Por essa intermediação, os bancos cobram do tomador do empréstimo (no caso, as empresas) uma taxa – spread, a título de remuneração, para cobrir seus custos operacionais e o risco da operação. Quanto maior for o risco de o banco não receber de volta o dinheiro, maior será a spread. Sendo assim, esta disciplina explica o funcionamento do sistema financeiro e o mercado financeiro nacional, apresentando no Circuito Inicial o Sistema Financeiro Nacional; e no Circuito Intermediário o mercado de capitais, e no Circuito Final o mercado de ações e os mecanismos de formação de preço das ações e no Circuito de Competência, é apresentado estudo de casos sobre o mercado financeiro e os seus produtos e a formulação de metodologias para cálculo de resultados efetivos para tomada de decisão de investimento. Objetivos No final desta disciplina, você será capaz de: » Entender o funcionamento do sistema financeiro e os diferentes orgãos de sua composição. » Compreender o funcionamento do mercado de capitais. » Apresentar e discutir a estrutura e a composição do Sistema Financeiro Nacional, assim como as funções dos órgãos normativos e supervisores do SFN. » Apresentar os mecanismos de negociação no mercado de capitais. » Apresentar os produtos e serviços do mercado financeiro. » Compreender os instrumentos de análise de resultados efetivos dos produtos do mercado financeiro. 7 Apresentação O Sistema Financeiro Nacional foi estruturado e regulado pela Lei de Reforma Bancária de 1964, Lei do Mercado de Capitais de 1965 e, mais recentemente, com a Lei de Criação dos Bancos Múltiplos de 1988. É constituído por todas as instituições financeiras, públicas ou privadas do País. Assim, neste capítulo, será destacado a estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e as principais atribuições dos seus órgãos constituintes. As instituições financeiras permitem, dentro das melhores condições, a realização dos fluxos de fundos entre tomadores e poupadores de recursos na economia. Objetivos No final deste capítulo você será capaz de: » Entender a estrutura e a composição do Sistema Financeiro Nacional. » Identificar a composição dos órgãos normativos do SFN. » Identificar a composição das entidades supervisoras do SFN. » Identificar a composição das entidades operadoras do SFN. O que é Sistema Financeiro Nacional (SFN) Na 10ª edição do seu livro Mercado Financeiro, Assaf Neto Alexandre define, no terceiro capítulo, o Sistema Financeiro Nacional como um conjunto de instituições financeiras e instrumentos financeiros que visam, em última análise, transferir recursos dos agentes econômicos (pessoas, empresas, governo) superavitários para deficitários. Diante dessa definição, podemos entender o SFN como a composição de um conjunto de instituições financeiras públicas e privadas cujo órgão normativo supremo é o Conselho Monetário Nacional. 1 CAPÍTULO ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 8 CAPÍTULO 1 • ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Figura 1. Papel do SFN. • INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS • INSTRUMENTOS FINANCEIROS SFN • INVESTIDORES AGENTES SUPERAVITÁRIOS • TOMADORES DE RECURSOS AGENTES DIFICITÁRIOS • POUPADORES Fonte: Elaborado pelo autor. A Figura 1 resume o papel do SFN, que consiste na transferência de recursos de agentes superavitários para os deficitários. As instituições financeiras públicas e privadas captam recursos financeiros por meio de instrumentos financeiros dos agentes superavitários considerados poupadores de recursos para os agentes deficitários considerados os tomadores de recursos. Estruturado SFN O Sistema Financeiro Nacional é composto de órgãos normativos, de entidades supervisoras e de entidades operadoras, que formam um conjunto de instituições financeiras públicas e privadas, e seu órgão normativo supremo é o Conselho Monetário Nacional (CMN). Como mostra o economista Assaf em seus estudos, por meio do SFN viabiliza-se a relação entre agentes carentes de recursos para investimento e agentes capazes de gerar poupança e, consequentemente, em condição de financiar o crescimento da economia (ALEXANDRE, 2018). Agentes tomadores de recursos são aqueles que assumem a posição de tomadores no mercado, isto é, que despendem em consumo e investimento valores mais altos que suas rendas. Os agentes superavitários, por sua vez, são aqueles capazes de gastar em consumo e investimento menos do que a renda auferida, formando um excedente de poupança. Podemos resumir na figura a seguir a estrutura e a composição do Sistema Financeiro Nacional. Atenção A principal função do SFN é transferir recursos dos agentes econômicos superavitários para deficitários. 9 ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL • CAPÍTULO 1 Figura 2. Estrutura e Composição do SFN. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ÓRGÃOS NORMATIVOS ENTIDADES SUPERVISORAS ENTIDADES OPERADORAS Fonte: Elaborado pelo autor. Composição dos órgãos normativos do SFN Os órgãos normativos do Sistema Financeiro Nacional são responsáveis pela definição das políticas e diretrizes gerais do SFN, e são responsáveis pelo funcionamento do mercado financeiro e de suas instituições, fiscalizando e regulamentando suas atividades por meio, principalmente, do Conselho Monetário Nacional. São órgãos colegiados com atribuições específicas. São considerados órgãos normativos do Sistema Financeiro Nacional atualmente no Brasil: » Conselho Monetário Nacional (CMN). » Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). » Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC). Figura 3. Órgãos Normativos do SFN. ÓRGÃOS NORMATIVOS CMN CNSPCNPC Fonte: Elaborado pelo autor. 10 CAPÍTULO 1 • ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Composição das entidades supervisoras As entidades supervisoras cumprem as funções executivas tais como a fiscalização das instituições sob sua responsabilidade e as funções reguladoras das decisões tomadas pelos órgãos normativos. As entidades supervisoras do Sistema Financeiro do Brasil são: » Banco Central do Brasil (Bacen). » Comissão de Valores Mobiliários (CVM). » Superintendência de Seguros Privados (Susep). » Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Figura 4. Entidades Supervisoras. ENTIDADES SUPERVISORAS BACEN CVM SUSEP PREVIC Fonte: Elaborado pelo autor. Entidades operadoras As entidades operadoras são todas as demais instituições financeiras, monetárias ou não, oficiais ou não, como, também, instituições auxiliares responsáveis pela intermediação de recursos entre poupadores e tomadores ou pela prestação de serviços. Importante O principal órgão normativo do SFN é o Conselho Monetário Nacional. Os órgãos normativos são responsáveis pela definição das políticas e diretrizes gerais do SFN. 11 ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL • CAPÍTULO 1 As instituições financeiras podem ser classificadas em dois tipos: bancárias ou monetárias e não bancárias ou não monetárias. As instituições financeiras bancárias são aquelas a quem se permite a criação de moeda por meio de recebimento de depósitos à vista como moeda escritural ou bancária com liquidez equivalente à moeda legal em circulação. Os depósitos à vista geram aplicações (empréstimos) que, por sua vez, podem resultar em novos depósitos. Preocupado com o funcionamento de todo o sistema bancário, o Bacen criou contas de depósitos exclusivas aos bancos comerciais com o objetivo de abrigar recursos provenientes de: » Depósitos compulsórios, representados por um percentual dos fundos recolhidos pelas instituições financeiras junto ao público e regulamentados por instrumentos legais. » Depósitos de livre movimentação, representados pelo dinheiro em poder dos bancos, visando promover o encaixe necessário às operações correntes de pagamentos e recebimentos verificados nas agências bancárias, e pelas reservas de moeda escritural registradas em contas de depósito no Banco Central, as quais objetivam lastrear eventuais saldos negativos de compensação. Tabela 1. Estrutura e Composição do SFN. ÓRGÃOS NORMATIVOS ENTIDADES SUPERVISORAS OPERADORES Conselho Monetário Nacional (CMN) Banco Central do Brasil (Bacen) » Instituições financeiras captadoras de depósito à vista » Demais instituições financeiras Outros intermediários financeiros e administradores de recursos de terceiros Comissão de Valores Mobiliários (CVM) » Bolsas de Mercadorias e Futuros » Bolsas de Valores Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) Superintendência de Seguros Privados(Susep) » Resseguradores » Sociedades Seguradoras » Sociedades de Capitalização » Entidades Abertas de Previdência Complementar Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) Fonte: Elaborado pelo autor. Importante Existem dois tipos de depósitos exclusivos aos bancos comerciais definidos pelos órgãos normativos do SFN: depósito compulsório e depósito de livre movimentação. 12 CAPÍTULO 1 • ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Sintetizando Neste capítulo aprendemos a estrutura e composição do Sistema Financeiro Nacional. Nós vimos que o SFN é composto por órgãos normativos, entidades supervisoras e entidades operadoras. Ainda assim, os órgãos normativos são responsáveis pela definição das diretrizes do SFN, e que as entidades supervisoras executam e fiscalizam as decisões da regulamentação definida pelos órgãos normativos. As instituições do SFN intermedeiam as relações entre as pessoas, administrando a oferta dos recursos dos agentes superavitários para os deficitários finais. 13 Apresentação Após entender da estrutura do SFN, e a composição de seus órgãos normativos, das entidades supervisoras e operadoras do SFN, agora é nossa vez de entender as atribuições dos órgãos e entidades constituintes do SFN. Neste capítulo serão apresentadas as principais atribuições dos órgãos normativos, entidades supervisoras e as operadoras e suas respectivas composições. Objetivos No final deste capítulo você será capaz de: » Entender as atribuições dos órgãos e entidades constituintes do Sistema Financeiro Nacional. » Entender as relações entre os diversos órgãos e o sistema financeiro. Atribuições dos órgãos normativos Vimos anteriormente que o SFN é composto de três órgãos normativos e a seguir descreveremos as atribuições de cada um desses órgãos começando pelo Conselho Monetário Nacional. Conselho monetário nacional É o órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. O CMN não desempenha função executiva, apenas tem funções normativas. Atualmente, o CMN é composto por três representantes: » Ministro da Fazenda (Presidente). » Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão. » Presidente do Banco Central. 2 CAPÍTULO ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN 14 CAPÍTULO 2 • ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN Figura 5. Composição do CMN Ministério da Fazenda (Presidente) Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão Presidente do Banco Central Fonte: Elaborado pelo autor. Trabalhando em conjunto com o CMN funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (Comoc), que tem como atribuições o assessoramento técnico na formulação da política da moeda e do crédito do País. As matérias aprovadas são regulamentadas por meio de resoluções, normativos de caráter público, sempre divulgadosno Diário Oficial da União e na página de normativos do Banco Central do Brasil. Algumas das principais atribuições do CMN expostos por Assaf (2018), são: » Fixar as diretrizes e as normas da política cambial. » Regulamentar as operações de câmbio, visando ao controle da paridade da moeda e ao equilíbrio do balanço de pagamentos. » Regulamentar, sempre que julgar necessário, as taxas de juros, comissões e qualquer outra forma de remuneração praticada pelas instituições financeiras. » Regular a constituição e o funcionamento das instituições financeiras, bem como zelar por sua liquidez. Importante O CMN está revestido de amplas atribuições, que podem ser identificadas na finalidade principal de sua criação: formulação de toda a política de moeda e do crédito, objetivando atender aos interesses econômicos e sociais do País. 15 ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN • CAPÍTULO 2 » Estabelecer as diretrizes para as instituições financeiras por meio de determinação de índices de encaixe, de capital mínimo, de normas de contabilização etc. » Acionar medidas de prevenção ou correção de desequilíbrios econômicos, surtos inflacionários etc. » Disciplinar todos os tipos de créditos e orientar as instituições financeiras no que se refere à aplicação de seus recursos, tendo como objetivo promover desenvolvimento mais equilibrado da economia. » Regular as operações de redescontos e as operações no âmbito do mercado aberto. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) O CNSP desempenha, entre outras, as atribuições de fixar diretrizes e normas da política de seguros privados, regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades Abertas de Previdência Privada, Resseguradores e Corretores de Seguros. Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) O CNPC tem a função de regular o regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar (Fundos de Pensão). Entidades supervisoras No capítulo 1 vimos que as entidades supervisoras são compostas pelo Banco Central (Bacen) pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) e pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). A seguir, vamos identificar as atribuições das entidades supervisoras. Banco Central do Brasil (Bacen) O Banco Central do Brasil (Bacen) foi criado em 1964 com a promulgação da Lei da Reforma Bancária (Lei no 4.595, de 31/12/1964). Sua sede é em Brasília e possui representações regionais em Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. 16 CAPÍTULO 2 • ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN O Bacen é o principal poder executivo das políticas traçadas pelo CMN e órgão fiscalizador do SFN. Atendendo a uma conceituação mais abrangente de sua atuação, pode-se tratar como um banco fiscalizador e disciplinador do mercado financeiro, ao definir regras, limites e condutas das instituições, banco de penalidades, ao serem facultadas pela legislação a intervenção e a liquidação extrajudicial em instituições financeiras, e gestor do Sistema Financeiro Nacional, ao expedir normas e autorizações e promover o controle das instituições financeiras e de suas operações. É também considerado um órgão executor da política monetária, ao exercer o controle dos meios de pagamento e executar o orçamento monetário e um banco do governo, na gestão da dívida pública interna e externa. Entre as principais atribuições do Bacen destacam-se: » Fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessário, as penalidades previstas em lei. Essas penalidades podem ir desde uma simples advertência aos administradores até a intervenção para saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição. » Conceder autorização às instituições financeiras no que se refere ao funcionamento, instalação ou transferência de suas sedes e aos pedidos de fusão e incorporação. » Realizar e controlar as operações de redesconto e as de empréstimos dentro do âmbito das instituições financeiras bancárias; isso significa que concede empréstimos aos bancos e caixas de poupança e recebe depósitos destes. » Executar a emissão do dinheiro e controlar a liquidez do mercado. » Efetuar o controle do crédito de capitais estrangeiros e receber os depósitos compulsórios dos bancos; isso significa a centralização das reservas de divisa, ou seja, dispõe de moeda estrangeira que pode ser vendida aos agentes econômicos do país em troca da moeda nacional. » Efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais. » Supervisionar os serviços de compensação de cheques entre instituições financeiras. » Receber depósitos compulsórios das instituições financeiras e executar operações de política monetária. Atenção O Bacen é uma autarquia federal que tem como principal missão institucional assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda nacional e um sistema financeiro sólido e eficiente. A partir da Constituição de 1988, a emissão de moeda ficou a cargo exclusivo do Bacen. E considerado um executor da política monetária. No Brasil, o presidente do Bacen e os seus diretores são nomeados pelo Presidente da República após a aprovação prévia do Senado Federal, que é feita por uma arguição pública e posterior votação secreta. 17 ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN • CAPÍTULO 2 No desempenho dessas funções, o Banco Central pode ser, em resumo, entendido como: » Banco dos bancos, por captar depósitos dos bancos (compulsórios e livres) e preservar a liquidez do sistema bancário. » Executor da política monetária do governo, ao exercer controle sobre os meios de pagamento de taxas de juros da economia. » Instituição emissora de moeda, ao coordenar a distribuição do dinheiro emitido pela Casa da Moeda aos bancos. » Entidade que detém o poder fiscalizador do sistema financeiro, ao controlar e fiscalizar as instituições financeiras, aplicar penalidades e decretar intervenções, e elaborar normas. » Banco do Governo, ao manter, entre outras atribuições, depósitos em moeda nacional e internacional do País, representar o País no sistema financeiro internacional, e assim por diante. Figura 6. Principais Atribuições do Bacen Índice de Liquidez Seca Fonte: Elaborado pelo autor. Banco dos Bancos Executor da Política Monetária do Governo Instituição Emissora de Moeda Entidade que detém o Poder Fiscalizador do SFN Banco do Governo BA N CO C EN TR AL (B AC EN ) Captar depósitos dos bancos (compulsórios e livres) e preservar a liquidez do sistema bancário. Exercer controle sobre os meios de pagamento de taxa de juros da economia. Coordenar a distribuição do dinheiro emitido pela Casa da Moeda aos bancos. Controlar e fiscalizar as instituições financeiras, aplicar penalidades e decretar intervenções, e elaborar normas. Manter, entre outras atribuições, depósitos em moeda nacional e internacional do País, representar o País no sistema financeiro internacional, e assim por diante. Fonte: Elaborado pelo autor. 18 CAPÍTULO 2 • ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN Comissão de Valores Mobiliários (CVM) A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi criada em 7 de dezembro de 1976 pela Lei no 6.385, para fiscalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil. É uma autarquia vinculada ao Poder Executivo (Ministério da Fazenda), que age sob a orientação do Conselho Monetário Nacional. É administrada por um presidente e quatro diretores que formam o colegiado da CVM, todos nomeados pelo Presidente da República com aprovação do Senado com mandato de cinco anos. Sua sede é localizada na cidade do Rio de Janeiro com SuperintendênciasRegionais nas cidades de São Paulo e Brasília. A CVM tem como função principal básica a normatização e o controle do mercado de valores mobiliários, representado principalmente por ações, partes beneficiárias e debêntures, commercial papers e outros títulos emitidos pelas sociedades anônimas e autorizados pelo Conselho Monetário Nacional. São consideradas funções básicas da CVM, entre outras, promover medidas incentivadoras da canalização das poupanças ao mercado acionário; estimular o funcionamento das bolsas de valores e das instituições operadoras de mercado acionário, em bases eficientes e regulares; assegurar a lisura nas operações de compra e venda de valores mobiliários e promover a expansão de seus negócios; dar proteção aos investidores de mercado. Essas são as principais atribuições da CVM: » Estimular a formação de poupança e a sua aplicação em valores mobiliários. » Assegurar e fiscalizar o funcionamento eficiente das bolsas de valores, do mercado de balcão e das bolsas de mercadorias e futuros. » Proteger os titulares de valores mobiliários e os investidores do mercado contra emissões irregulares de valores mobiliários e contra atos ilegais de administradores de companhias abertas ou de carteira de valores mobiliários. » Evitar ou coibir modalidades de fraude ou de manipulação que criem condições artificiais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários negociados no mercado. Saiba mais No Brasil, a cunhagem (impressão) da moeda é realizada com exclusividade pela Casa da Moeda, e a emissão da moeda (entrega do numerário ao sistema bancário) é de responsabilidade do Banco Central. O Banco Central atua na negociação de títulos públicos de emissão do Tesouro Nacional, tendo por objetivo regular a demanda e a oferta da moeda na economia e as taxas de juros. 19 ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN • CAPÍTULO 2 » Assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários negociados e sobre as companhias que os tenham emitido. » Assegurar o cumprimento de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários. » Assegurar o cumprimento, no mercado, das condições de utilização de crédito fixadas pelo Conselho Monetário Nacional. » Realizar atividades de credenciamento e fiscalização de auditores independentes, administradores de carteiras de valores mobiliários, agentes autônomos, entre outros. » Fiscalizar e inspecionar as companhias abertas e os fundos de investimento. » Apurar, mediante inquérito administrativo, atos ilegais e práticas não equitativas de administradores de companhias abertas e de quaisquer participantes do mercado de valores mobiliários, aplicando as penalidades previstas em lei. » Fiscalizar e disciplinar as atividades dos auditores independentes, consultores e analistas de valores mobiliários. Superintendência de Seguros Privados (Susep) A Susep é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. Criada em 1966 pelo Decreto-Lei no 73/1966, que também instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, de que fazem parte o CNSP, o IRB, as sociedades autorizadas a operar em seguros privados e capitalização, as entidades de previdência privada aberta e os corretores habilitados. É uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, administrada por um Conselho Diretor, composto pelo Superintendente e por quatro Diretores. Essas são algumas de suas atribuições: » Fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades Abertas de Previdência Privada e Resseguradores, na qualidade de executora da política traçada pelo CNSP. Saiba mais A atuação da CVM abrange três importantes segmentos do mercado: » Instituições financeiras do mercado. » Companhias de capital aberto cujos valores mobiliários de sua emissão encontram-se em negociação em bolsa de valores e mercado de balcão. » Investidores, à medida que é seu objetivo atuar de forma a proteger seus direitos. 20 CAPÍTULO 2 • ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN » Atuar no sentido de proteger a captação de poupança popular que se efetua por meio das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e resseguro. Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) Com previsão nos arts. 5o e 74 da Lei Complementar no 109, de 2001, e tentada em 2005 com a Medida Provisória no 233, foi criada, pela Lei no 12.154, de 23 de dezembro de 2009, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc, que inaugurou um novo ciclo na história de 31 anos da previdência. (PINHEIRO, 2010). A Previc atua como entidade de fiscalização e de supervisão das atividades das entidades fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o regime de previdência complementar operado por essas entidades. É uma autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social. Tendo por princípios norteadores, a estabilidade de regras, aumento da transparência, celeridade na análise dos processos e ação preventiva contra os desequilíbrios financeiros e atuariais, a Previc foi, então, concebida e criada. Nesse esforço de institucionalização, ficou então estabelecido um contrato de gestão e desempenho entre a autarquia e o Ministério da Previdência Social, com acompanhamento trimestral formada por uma comissão formada por três Ministérios da Administração Pública (MPS, MPOG e Casa Civil). A Previc é uma autarquia especial vinculada ao Ministério da Previdência Social, sediada no Distrito Federal, com autonomia administrativa e financeira, destinada a fiscalizar e supervisionar os fundos de pensão, com quadro próprio de carreira de servidores concursados, e um orçamento anual de R$ 36 milhões. Esse orçamento é proveniente da inédita cobrança de uma taxa de fiscalização (Tafic), para exercício do poder de política, a ser paga quadrimestralmente pelas entidades fechadas de previdência complementar (EFPC), segundo o patrimônio financeiro do plano de benefícios. Entidades operadoras Como visto no capítulo anterior, as entidades operadoras são compostas por: » Instituições financeiras captadoras de depósito à vista. » Demais instituições financeiras. » Bolsas de Mercadorias e Futuros. 21 ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN • CAPÍTULO 2 » Bolsas de Valores. » Resseguradores. » Sociedades Seguradoras. » Sociedades de Capitalização. » Entidades Abertas de Previdência Complementar. » Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão). A seguir, analisaremos as atribuições das instituições financeiras mais importantes que atuam junto com as políticas governamentais. Banco do Brasil (BB) O Banco do Brasil é uma sociedade anônima de capital misto, cujo controle acionário é exercido pela União. Até 1986, a instituição era considerada uma autoridade monetária, atuando na emissão de moeda no País por meio do acesso à conta-movimento do Tesouro Nacional. Por decisão do CMN, esse privilégio do BB foi revogado, conservando, ainda, a função de principal agente financeiro do Governo Federal. No desenvolvimento de suas atividades, o BB assume três funções, conforme discutidas a seguir: » Agente Financeiro do Governo Federal. » Banco comercial. » Banco de Investimento e Desenvolvimento. Figura 7. Atribuições do Banco do Brasil. Agente Financeiro do Governo Federal Banco Comercial Banco de Investimento e Desenvolvimento Fonte: Elaborada pelo autor. 22 CAPÍTULO 2 • ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Criado em 1952 como autarquia federal, o BNDES, hoje, é uma empresa pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com personalidade jurídica de direito privadoe patrimônio próprio. É responsável pela política de investimentos a longo prazo do Governo Federal, necessários ao fortalecimento da empresa privada nacional. Com o objetivo de fortalecer a estrutura de capital das empresas privadas e desenvolvimento do mercado de capitais, o BNDES conta com linhas de apoio para financiamentos de longo prazo a custos competitivos, para o desenvolvimento de projetos de investimentos e para a comercialização de máquinas e equipamentos novos, fabricados no País, bem como para o incremento das exportações brasileiras. Os financiamentos são feitos com recursos próprios, empréstimos e doações de entidades nacionais e estrangeiras e de organismos internacionais, como o BID. Também recebe recursos do PIS e Pasep. O objetivo principal do BNDES é o de reequipar e fomentar, por meio de várias linhas de crédito voltadas para os setores industrial e social, as empresas consideradas de interesse ao desenvolvimento do País. O BNDES possui quatro subsidiárias, cujas atuações básicas são descritas a seguir: » Finame: Agência Especial de Financiamento Industrial: voltada para o financiamento de máquinas e equipamentos industriais a empresas nacionais. » Embramec: Mecânica Brasileira S.A.; objetiva fundamentalmente impulsionar o processo de substituição de importações de bens de capital, ampliando, como consequência, a capacidade de produção instalada no País. » Fibasa: Insumos Básicos S.A., Financiamento e Participações: objetiva desenvolver empreendimentos nacionais voltados à produção de insumos básicos. » Ibrasa: Investimentos Brasileiros S.A.: visa reforçar a capitalização da empresa nacional participando, como acionista minoritário, do capital social. 23 ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN • CAPÍTULO 2 Figura 8. As Quatro Subsidiárias do BNDES FINAME EMBRAMEC FIBASA IBRASA Fonte: Elaborada pelo autor. Caixa Econômica Federal (CEF) Criada em 12 de janeiro de 1861 por Dom Pedro II com o propósito de incentivar a poupança e de conceder empréstimos sob penhor. É a instituição financeira responsável pela operacionalização das políticas do Governo Federal para habitação popular e saneamento básico. A Caixa é uma empresa 100% pública e não possui ações em bolsas, atuando de forma autônoma com um objetivo claramente social. Dessa forma, é considerada um órgão auxiliar do Governo Federal na execução de sua política creditícia. O Sistema Financeiro de Habitação foi criado em 1964 com o intuito de desenvolver o segmento de construção civil no País e promover, ao mesmo tempo, as melhores condições para aquisição da casa própria. O órgão executivo e fiscalizador desse sistema, o Banco Nacional de Habitação (BNH) foi extinto, sendo incorporado pela CEF. A CEF executa atividades características de bancos comerciais e múltiplos, como recebimentos e depósitos à vista e a prazo, cadernetas de poupança, concessões de empréstimos a financiamentos em consonância com as políticas governamentais, adiantamentos a governos com garantia na arrecadação futura de impostos, empréstimos sob consignação a funcionários de empresas com desconto em folha de pagamento. Pode, também, executar operações de arrendamento mercantil e promover o crédito direto ao consumidor, por meio do financiamento de bens duráveis. Além das atividades comuns de um banco comercial, a CEF também atende aos trabalhadores formais – por meio do pagamento do FGTS, PIS e seguro-desemprego, e aos beneficiários de programas sociais e apostadores das Loterias. 24 CAPÍTULO 2 • ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS NORMATIVOS E DAS ENTIDADES CONSTITUINTES DO SFN Sintetizando O Bacen é o principal poder executivo das políticas traçadas pelo CMN e órgão fiscalizador do SFN, o Bacen tem oito atribuições e cinco funções. A CVM tem como funções principais básicas a normatização e o controle do mercado de valores mobiliários, representado principalmente por ações, partes beneficiárias e debêntures, commercial papers e outros títulos emitidos pelas sociedades anônimas e autorizados pelo Conselho Monetário Nacional. O Banco do Brasil é uma sociedade anônima de capital misto, cujo controle acionário é exercido pela União. O Banco do Brasil tem três atribuições. O BNDES, hoje, é uma empresa pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio. É responsável pela política de investimentos a longo prazo do Governo Federal, necessários ao fortalecimento da empresa privada nacional. A Caixa Econômica Federal é a instituição financeira responsável pela operacionalização das políticas do Governo Federal para habitação popular e saneamento básico. 25 Apresentação O mercado de capitais faz parte do Sistema Financeiro Nacional, como visto no Circuito Inicial, em que explicamos a estrutura e composição do Sistema Financeiro Nacional. Nele, os recursos dos poupadores são destinados à promoção do desenvolvimento econômico de forma direta, isto é, de projetos e empresas. É no mercado de capitais que empresas que precisam de recursos conseguem financiamento, por meio da emissão de títulos, vendidos diretamente aos poupadores/ investidores, sem intermediação bancária. Dessa forma, os investidores acabam emprestando o dinheiro de sua poupança a empresas, também sem a intermediação bancária. Assim, no mercado de capitais, não há intermediação dos bancos. Neste terceiro capítulo do Circuito Intermediário, analisamos como os investimentos individuais e os administradores financeiros que desejam tomar decisões acertadas devem entender como os fundos fluem por toda a economia e como os mercados financeiros operam e se relacionam. Objetivos No final deste capítulo você será capaz de: » Conhecer a composição do mercado de capitais e suas operações. » Entender as diferenças entre os mercados primários e secundários e entre os mercados monetários e de capitais. » Compreender os principais tipos de títulos negociados no mercado de capitais. » Identificar os tipos diferentes de instituições financeiras e os serviços que cada uma oferece. Mercado de capitais: definições e composição Antes de começar a entender o funcionamento do mercado de capitais e suas operações, é importante entender o princípio de que as operações de mercado de capitais são de médio e longo 3CAPÍTULOMERCADO DE CAPITAIS 26 CAPÍTULO 3 • MERCADO DE CAPITAIS prazo, e de prazo indeterminado, envolvendo títulos representativos do capital das empresas e de operações de crédito sem intermediação financeira. O mercado cambial inclui as operações de conversão (troca) de moeda de um país pelo de outro, determinada principalmente pela necessidade da prática de comércio internacional. O mercado de câmbio destaca os títulos e instrumentos de dívida com vencimento em um ano ou menos. Características do mercado de capitais O mercado de capitais é constituído pelas instituições financeiras não bancárias, instituições componentes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e diversas instituições auxiliares. Entre o mercado de capitais e o mercado financeiro tradicional existem duas diferenças básicas, que tornam o primeiro mais eficiente do que o segundo: » No mercado de capitais a captação de recursos por empresas é mais barata, pois não há necessidade do pagamento do spread aos bancos. » Para o investidor é vantajoso, pois ele pode desfazer-se do título a qualquer momento, o que não seria possível num empréstimo tradicional. Ou seja, se o investidor mudar de opinião quanto ao risco de investir em determinada empresa, pode vender os títulos no mercado. Essa liquidez (facilidade de compra e de venda) reduz o seu risco de perda. Assim, o mercado de capitais faz com que o repasse de recursos dos poupadores às empresas seja mais interessante para ambas as partes. A colocação inicial dos títulos no mercado é chamada de lançamento no mercado primário. Quando essacolocação é feita pela primeira vez, no caso de ações, por exemplo, diz-se que a empresa está sendo listada em bolsa – em inglês, Initial Public Offering (IPO). A negociação desses títulos após a oferta inicial é feita em mercados secundários específicos. No Brasil, temos: » As bolsas de valores para as ações. » A Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados (Cetip) para os títulos de dívida das empresas. » O Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) para títulos públicos. Atenção O mercado de capitais é fundamental para o crescimento de um país, pois sem ele muitos projetos não conseguiriam sair do papel por falta de capital e financiamento. Muitas empresas perderiam sua competitividade e dificilmente conseguiriam desenvolver-se. Poucas sobreviveriam num ambiente sem a injeção de capital de investidores. 27 MERCADO DE CAPITAIS • CAPÍTULO 3 Figura 9. Mercado Secundário Bolsa de Valores Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados (Cetip) Sistema de Especial de Liquidação e Custódia (Selic) Fonte: Elaborada pelo autor. Composição do mercado de capitais O Mercado de Capitais no Brasil é dividido em quatro mercados: » Mercado de renda variável ou mercado de ações que será visto no capítulo 4 com todos os detalhes possíveis quanto aos procedimentos de negociação de ações neste mercado. » Mercado de renda fixa ou de títulos públicos. » Mercado de derivativos composto de subprodutos: opções e derivativos ainda chamado de mercado de futuros. » Mercado de câmbio com suas operações de arbitragem no Brasil. Figura 10. Composição do Mercado de Capitais Mercado de Câmbio Mercado de Venda Variável Mercado de Derivativos Mercado de Renda Fixa Fonte: Elaborado pelo autor. 28 CAPÍTULO 3 • MERCADO DE CAPITAIS A seguir, analisamos os mercados de acordo com suas funções e as formas de negociação, lembrando, entretanto, que o mercado de renda variável ou de ações será visto com muito mais detalhes no próximo capítulo como objeto de análise e, também, serão analisados os produtos financeiros que compõem o mercado de capitais. Mercado de renda variável – ações Mesmo assim, já que você vai saber com mais detalhes sobre modelos de cálculo de remuneração de ações no próximo capítulo, vamos introduzir esse tema no seu vocabulário financeiro e é bom que você vá se acostumando com essas palavras técnicas. De acordo com Bertolo, uma ação representa a menor parcela do capital de uma empresa. As ações são títulos que não garantem remuneração predeterminada aos investidores. Como parte do capital de uma empresa, a ação tem sua remuneração determinada pela capacidade da empresa em gerar lucro. Essas propriedades serão vistas com todos os detalhes possíveis no próximo capítulo. Os detentores de ações são sócios da empresa e, como tal, correm o risco de sucesso ou fracasso das estratégias adotadas por ela. Se o investidor mudar de opinião quanto à capacidade da empresa em conseguir lucro no mercado, pode comprar ou vender os papéis. Essa negociação é feita nas bolsas de valores, um mercado livre e aberto. Tipos de ações negociados no mercado de renda variável Existem tecnicamente, dois tipos de ações no mercado de renda variável: » Ações Ordinárias (ON): conferem a seu detentor, chamado de acionista, o direito de voto nas assembleias de acionistas da empresa. Na assembleia são definidas as estratégias de negócios, são escolhidos os conselheiros e os diretores da empresa. Os dividendos – parte do lucro que a empresa distribui entre seus acionistas – podem não ser prioritários para esse tipo de ação. » Ações Preferenciais (PN): o acionista não participa das decisões estratégicas da empresa, mas, por outro lado, tem prioridade no recebimento de dividendos. Também em situações em que a empresa entra em processo de falência ou de dissolução, esse acionista tem prioridade no recebimento dos recursos oriundos da venda dos ativos da companhia. As ações preferenciais são as mais procuradas por investidores, apresentando maior Atenção O funcionamento desse mercado é regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cujo objetivo é garantir transparência nos negócios realizados em bolsa e das informações fornecidas pelas empresas. 29 MERCADO DE CAPITAIS • CAPÍTULO 3 liquidez (facilidade de compra e de venda no mercado). Por isso, é comum as ações preferenciais terem preço superior ao das ordinárias. Figura 11. Tipos de Ações no Mercado de Renda Variável Tipos de Ações Preferenciais Ordinárias Fonte: Elaborado pelo autor. Procedimentos de negociação das ações no mercado de renda variável A seguir, discutimos as formas de negociação e os procedimentos legais que envolvem a negociação de ações: Formação de preço: O preço das ações está diretamente relacionado à oferta e à procura, o que será visto com mais detalhes no próximo capítulo, que trata do modelo de precificação no mercado de ações. Quando as perspectivas de crescimento dos lucros de uma empresa aumentam, ampliando suas chances de valorização no mercado, a procura pelas ações da empresa também cresce e, consequentemente, seu preço. Importante As perspectivas envolvem fatores como a política econômica, estratégias da empresa, lançamentos, inovações tecnológicas e aumento da competitividade dentro de seu setor. Fusões, aquisições ou a possibilidade de fechamento de capital (recompra de todas as ações em circulação no mercado) também influenciam no preço das ações. 30 CAPÍTULO 3 • MERCADO DE CAPITAIS Lotes redondos e fracionados Ao comprar ações na bolsa de valores por meio de corretoras é preciso determinar a quantidade de ações, isto é, os lotes que se quer adquirir. Em geral, são negociados lotes com 1.000 ações. Isso significa que o preço de negociação em bolsa se refere a 1.000 ações. Apenas algumas ações são negociadas em lotes unitários. Os lotes fechados são chamados no mercado de lotes redondos. Há, ainda, a opção de compra de lotes menores do que os mínimos. São os lotes fracionados. O mercado fracionário tem liquidez menor, além de preços menos atraentes para o investidor. Tipos de ordem de compra e venda Existem quatro tipos de ordens no mercado das ações: » Ordem a mercado: o investidor especifica apenas a quantidade e o tipo de ação que quer comprar ou vender, sem estabelecer o preço, definido pelo mercado. » Ordem limitada: o investidor limita o preço de compra ou de venda das ações para a corretora, que só executará o pedido se o mercado estiver operando de acordo com os limites estabelecidos. » Ordem casada: o investidor especifica uma ordem de compra ou de venda de ações a determinado valor, que só será executada se ambas as ordens forem atendidas. » Ordem de financiamento: o investidor especifica uma ordem de compra ou de venda de uma ação e outra ao mesmo tempo de venda ou de compra da mesma ação, no mesmo mercado ou em outro. Figura 12. Tipos de Ordens de Compra e Vendas de Ações Elaborada pelo autor. 31 MERCADO DE CAPITAIS • CAPÍTULO 3 Bolsa de Valores A bolsa de valores é um local, físico ou eletrônico, em que são negociados títulos e valores mobiliários emitidos por empresas. As ações são os títulos mais comprados e vendidos nas bolsas. Como local físico (pregão), a bolsa de valores pode ser comparada a uma feira livre, onde os vendedores gritam os preços pelos quais estão dispostos a vender seus títulos. A freguesia também grita os preços que quer pagar pelos títulos. Dessa forma, a aparente confusão que se imagina existir no pregão das bolsas de valores nada mais é do que compradores e vendedores tentando chegar a um acordo quanto ao preço das ações. No caso da bolsa eletrônica ou pregão eletrônico, as ordens de compra e de venda são enviadas eletronicamente pelas corretoras. O fechamento da operação somente se dá no momento em que os dois preços (de compradores e vendedores) coincidem. Exemplo: Supondo que uma corretoraenvie uma ordem de compra de uma ação no valor de R$ 100,00. Essa ordem é registrada no sistema e fica à espera da primeira ordem de venda enviada ao mesmo preço. No momento em que a ordem de venda coincidir com a de compra, o negócio será automaticamente fechado. Bovespa A Bovespa é a Bolsa de Valores de São Paulo, fundada em agosto de 1890. Sua sede administrativa fica na Rua XV de Novembro, no 275, no centro da cidade de São Paulo. Atualmente, a Bovespa é a instituição com maior destaque no mercado acionário brasileiro por abrigar o maior centro de negociação dentre as nove bolsas de valores do País. A Bovespa é uma instituição formada por associações civis sem fins lucrativos, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Toda regulamentação é supervisionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Bovespa é integrada por sociedades corretoras que operam por meio de dois sistemas: o físico (Pregão – Viva-Voz) e o eletrônico (Megabolsa). Além de ações, a Bovespa negocia também outros valores mobiliários de emissão ou corresponsabilidade de companhias abertas, como debêntures, notas promissórias (commercial paper), opções, bônus de subscrição e cota de fundos que são discutidos no nosso último capítulo. Pela sua importância na América do Sul, a Bovespa também compra e vende certificados de Importante É importante lembrar que Bolsa não é cassino. Por isso não deve ser vista como tal. Como descrito no item Mercado de Capitais, os investidores compram ações com o objetivo de tornarem-se sócios de uma empresa. No Brasil, temos um total de nove bolsas de valores, sendo uma única operante, a Bovespa. 32 CAPÍTULO 3 • MERCADO DE CAPITAIS depósitos de ações de empresas do Mercosul, chamados Brazilian Depositary Receipts (BDRs), negociados de forma semelhante à dos ADRs. Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Como visto no capítulo anterior, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é responsável pela regulamentação e fiscalização do mercado de capitais no Brasil. Como autarquia, sua administração é autônoma, embora a nomeação de seu presidente e de seus quatro diretores seja feita pelo Presidente da República. A principal função da CVM é garantir aos investidores do mercado de capitais segurança em suas operações. Essa segurança é possível por meio de normas, de maneira que as empresas possam ter suas ações negociadas em bolsa. A CVM também normatiza operações societárias (mudanças na estrutura acionária) e financeiras que possam colocar em risco a correta avaliação das empresas abertas (listadas em bolsa) por parte dos acionistas minoritários. Companhias listadas na Bovespa para uma empresa ter suas ações negociadas em bolsa deve ser uma companhia ou Sociedade Anônima (S.A.) de acordo com a Lei no 6.404, de 15 dezembro de 1976, além de estar regulamentada pela CVM, apresentando seu balanço patrimonial como relatório de sua situação financeira periodicamente. American Depositary Receipts (ADR) Os American Depositary Receipts são recibos emitidos por bancos americanos, lastreados em ações de empresas de outros países, como o Brasil, por exemplo. Os ADRs são negociados nas bolsas americanas como se fossem ações. Todos os direitos e proventos são enviados ao investidor. O ADR também é utilizado por empresas para captar recursos no exterior. Existem três tipos de ADR: » Nível I: recibos emitidos para dar liquidez às ações das empresas no mercado secundário americano, não permitindo que os recursos sejam captados pela empresa emissora da ação. Têm custo de emissão menor e só podem ser negociados no mercado de balcão americano, por investidores pré-qualificados pela SEC, órgão americano com funções semelhantes às da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). » Nível II: os ADRs de Nível II têm as mesmas características dos de Nível I, podendo, no entanto, ser negociados em bolsa por qualquer investidor, uma vez que cumprem todos os requisitos de negociação de ações de empresas americanas estabelecidos pela SEC, inclusive as normas de contabilidade americanas (USGAAP). » Nível III: recibos que cumprem todos os requisitos de negociação de ações americanas estabelecidos pela SEC. São emitidos por empresas que desejam captar recursos (mercado primário). 33 MERCADO DE CAPITAIS • CAPÍTULO 3 Mercado de renda fixa O mercado de renda fixa tem como característica a negociação de títulos de dívida, que permitem aos investidores receber a quantia emprestada (principal) mais juros previamente determinados. Diferenças entre títulos de renda fixa e de renda variável Uma maneira de entender melhor esse mercado é entender a diferença entre o rendimento de títulos de renda variável (ações) e títulos de renda fixa: Os títulos de renda variável (ações) não garantem ao investidor rendimento definido, não pagam juros sobre o capital, mas, dependendo do desempenho da empresa, o rendimento pode ficar muito acima dos títulos de renda fixa. Além disso, tem-se, ainda, a vantagem de conseguir dividendos quando uma empresa tem lucro em determinado período. Os títulos de renda fixa garantem ao investidor rendimentos predeterminados, como, por exemplo, a taxa de juros prefixada ou pós-fixada. Esses títulos são seguros para os investidores, uma vez que a possibilidade de perda de patrimônio é tendente a zero, isto é, dificilmente o valor na data de resgate será inferior ao valor investido. Os títulos são chamados de privados, quando emitidos por instituições privadas, e públicos, quando emitidos pelo governo municipal, estadual ou federal. Funções e Composição de Selic/Cetip O Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) foi criado em 1979 e é administrado pelo Banco Central do Brasil por meio do Comitê de Política Monetária (Copom). Tem por finalidade administrar o Mercado de Papéis Públicos, predominantemente os federais, de responsabilidade de órgãos públicos: Banco Central do Brasil (Bacen) e a Associação Nacional das Instituições dos Mercados Abertos (Andima). É por meio desse sistema que as instituições financeiras conseguem negociar títulos federais com liquidação imediata. Mercado de câmbio No mercado de câmbio são negociados ativos financeiros (não todos da mesma moeda) com vencimento determinado, cujos papéis em determinada moeda podem ser negociados contra papéis em outra moeda. Esse mercado existe porque as nações querem manter seu direito Importante Os títulos públicos federais são negociados entre bancos e instituições financeiras por meio do Selic. Os títulos privados, públicos estaduais e municipais são negociados e liquidados na Cetip. O investidor só tem acesso aos títulos públicos indiretamente, por meio dos fundos de investimentos. 34 CAPÍTULO 3 • MERCADO DE CAPITAIS soberano de ter e controlar suas moedas próprias. Caso todos os países do mundo usassem a mesma moeda, o mercado de câmbio não existiria. O início de uma operação no mercado de câmbio ocorre quando, por exemplo, uma empresa dos EUA exporta produtos para o Japão. O fabricante dos EUA precisa ser pago em dólares americanos, já o comprador no Japão possui yen, com o qual pagará o fabricante nos EUA. Assim, existem duas possibilidades dessa operação entre os EUA e o Japão, pois o exportador americano fatura o importador japonês em dólares ou em yens: » Se o exportador americano faturar em dólares, o importador japonês venderá yens para comprar dólares americanos no mercado de câmbio. » Se o exportador americano faturar em yens, o exportador deve vender os yens para comprar dólares. Figura 13. As Quatro Cotações do Mercado de Câmbio Fonte: Elaborada pelo autor. Importante Qualquer que seja a moeda da fatura, alguém irá ao mercado de câmbio vender yens para comprar dólares. Saiba mais A principal moeda negociada é o dólar. São quatro as taxas atuais de cotação do dólar: » Comercial: formada pelas operações oficiais de compra e venda de moedas entre bancos e empresas, como exportações, importações, captações ou empréstimos.» Interbancário: formada pela negociação entre bancos, com prazo de liquidação financeira D+2. » Paralelo: formada pelas operações informais de negociação de moeda realizadas em casas de câmbio ou doleiros. » Turismo: formada pela negociação de dólares entre pessoas que irão viajar para o exterior e casas de câmbio autorizadas. 35 MERCADO DE CAPITAIS • CAPÍTULO 3 A formação da taxa de câmbio é determinada diretamente pela oferta e procura da moeda (dólar). Constantemente o Banco Central interfere na oferta e/ou procura em função de fatores como: conjuntura socioeconômica interna e externa, política monetária e nível de reservas cambiais. 1998 certamente foi o ano em que a comunidade empresarial brasileira começou a se preocupar com medidas mais concretas para aumentar o volume de exportações, principalmente em função das desvalorizações das moedas dos países do sudeste asiático (alguns economistas até falavam em dumping cambial). A maioria das nossas médias e pequenas empresas têm pouco know-how para exportar, sem mencionar a carência de linhas de financiamento e instrumentos financeiros adequados para alavancar a participação do Brasil no mercado global. Nesse contexto, é muito importante que principalmente os profissionais da área de tesouraria, vendas e suprimentos entendam corretamente a formação e as nuanças acerca do mercado de câmbio. Operações de Arbitragem É o conjunto de operações realizadas pelos operadores de câmbio. Consiste na compra de uma moeda estrangeira e na venda de outra moeda noutro mercado, conseguindo, com isso, uma diferença de taxas. Quando uma empresa nacional tem uma dívida, em moeda de baixa liquidez, com uma empresa estrangeira, ela contrata um banco para receber os reais e compra dólares no mercado local. Esse mesmo banco remete esses dólares a um banco no exterior, que, por sua vez, troca-os pela moeda original da dívida, pagando a empresa. Mercado de derivativos O mercado de derivativos é resultante do mercado à vista, isto é, de todos os produtos negociados nesse mercado, assim como a formação de seus preços é derivada do mercado à vista. Geralmente ouve-se falar que os derivativos são produtos de risco e de alavancagem financeira (utilização de recursos de terceiros para aumentar o lucro sobre o próprio capital). Entretanto, o mercado de derivativos é um instrumento que tem como principal objetivo proteger o investidor de grandes oscilações de preços no mercado. Outra característica do mercado de derivativos é a negociação de commodities. Commodities são ativos negociados na Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F) Importante Quando ocorre uma crise ou um descontrole na cotação do dólar, o Banco Central intervém no mercado interbancário vendendo ou comprando grandes lotes de dólares com o objetivo de equilibrar a cotação e tranquilizar o mercado. 36 CAPÍTULO 3 • MERCADO DE CAPITAIS como ouro, índice Bovespa, moedas, cupom cambial, juro interbancário, títulos da dívida externa (C-Bonds, I-Bonds, FRB) e ativos agropecuários (boi gordo, bezerro, algodão, soja, açúcar, álcool, milho e café). Principais Produtos do Mercado de Derivativos » Contratos futuros: são contratos realizados entre duas contrapartes com vencimento futuro, da qual são fixados os montantes e valores de compra e venda de determinada commodity, obedecendo a um ajuste diário de posições e de margens. » Opções sobre o disponível: opção por meio da qual um investidor adquire o direito de comprar ou vender uma commodity a um preço e a uma data preestabelecidos de outro investidor. » Opções sobre o futuro: opção da qual um investidor adquire o direito de comprar ou vender um contrato futuro a um preço e uma data preestabelecidos, de outro investidor. » A termo: contratos de compra e venda de commodities futuro com preços e prazos definidos, diferenciando-se dos contratos futuros por não apresentarem ajustes diários. A liquidação física e financeira se dá na data determinada no contrato a termo. Existe a necessidade de depósito de margem para o comprador do contrato. » Swaps: troca de índices entre dois investidores com o objetivo de evitar riscos. A maioria dos investidores utiliza o swap para proteger-se de desvalorizações de moedas. Um exemplo: Imagine que um investidor “x” tenha uma dívida (passivo) em dólar, com vencimento daqui a um ano. Sua renda é em reais. Para pagá-la, ele estaria trocando reais por dólar na data de vencimento. Mas durante esse período o real se desvalorizou a um patamar inviável. Esse mesmo investidor então estará gastando muito mais reais para cobrir sua dívida em dólar. Se ele tivesse feito um swap e trocado seu risco de dólar para reais, teria evitado essa brusca oscilação do mercado. Esse mecanismo de proteção se chama hedge. Sintetizando Neste capítulo aprendemos a estrutura e composição do mercado de capitais e seus principais instrumentos. Vimos que o mercado de capitais é composto por quatro mercados: o mercado de renda variável ou de ações, o mercado de renda fixa ou de títulos, o mercado de câmbio o mercado de derivativos e o mercado. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é responsável pela regulamentação e fiscalização do mercado de capitais no Brasil. O mercado de câmbio é composto por quatro cotações: comercial, interbancário, paralelo e turismo. O mercado de derivado é resultante do mercado à vista, isto é, de todos os produtos negociados nesse mercado, assim como a formação de seus preços é derivada do mercado à vista. 37 Apresentação Após entender o funcionamento do mercado de capitais e os diferentes tipos de instrumentos e produtos negociados nesse mercado, vamos, a seguir, entender melhor como se fazem os cálculos para negociação de ações no mercado de capitais. Para avaliarmos ações, precisamos conhecer os fluxos de caixa esperados que um investidor receberá e o custo de capital adequando com qual descontar esses custos de caixa. Ambos os valores podem ser difíceis de estimar, e muitos dos detalhes necessários para fazê-lo serão desenvolvidos nessa parte de métodos de avaliação de ações. Assim, nesta parte, começaremos nosso estudo de avaliação de ações identificando os fluxos de caixa relevantes e desenvolvendo as principais ferramentas que os profissionais da área utilizam para avaliá-las. Objetivos No final deste capítulo você será capaz de: » Calcular os valores das ações com uso dos modelos de descontos de dividendos e crescimento constante. » Calcular o valor das ações de uma empresa com taxa de crescimento variável. » Avaliar os valores relativos de ações a partir do modelo do índice preço/lucro (P/L). Metodologias de avaliação de ações Nossa análise começa considerando os dividendos e os ganhos de capital recebidos pelos investidores que detêm as ações por diferentes períodos. A partir daí, desenvolvemos o modelo de desconto de dividendos para avaliação de ações. Depois, aplicaremos as ferramentas de método de orçamento de capital vistos na disciplina de Administração Financeira para avaliar ações com base nos fluxos de caixa livres gerados pela empresa. 4CAPÍTULOMÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES 38 CAPÍTULO 4 • MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES Existem duas fontes potenciais de fluxos de caixa quando possuímos uma ação. Em primeiro lugar, a empresa pode realizar pagamentos a seus acionistas na forma de um dividendo. Em segundo lugar, o investidor pode gerar dinheiro decidindo vender as ações em alguma data futura. A quantia total recebida em dividendos e com a venda das ações dependerá do horizonte de investimento do investidor. Modelo de Desconto de Dividendos (MDD) A avaliação das ações usa o princípio de valor presente dos dividendos futuros e o preço de venda futuro. Mas é claro que tanto a incerteza sobre a elevação do preço como sobre os fluxos de caixa futuros de pagamento de dividendos complicam a avaliação de ações. Para tanto, vamos aqui considerar um caso simples de avaliação de ações para serem mantidas por umperíodo de um ano, mostrado no diagrama seguir: Quando um investidor compra ações, ele paga o preço corrente de mercado P0. Enquanto detiver as ações, ele terá direito a quaisquer dividendos pagos por elas. Seja D1 o total de dividendos pagos por ação durante o ano. No final do ano, o investidor venderá suas ações pelo novo preço de mercado, P1. Supondo, para maior simplicidade, que todos os dividendos sejam pagos no final do ano, como apresentado no diagrama de fluxos de caixa. Se D1 o total de dividendos pagos por ação durante o ano. No final ano, o investidor venderá suas ações pelo novo preço de mercado P1. A taxa de juros ou taxa de capitalização do mercado usada para descontar os fluxos de caixa é mostrada como k. Supondo, para maior simplicidade, que todos os dividendos sejam pagos no final do ano e usando a equação do valor presente resulta em: Figura 14. Modelo de Desconto de Dividendos. P0 k 0 D1+ P1 1 ano Fonte: Elaborada pelo autor. Importante Se o preço atual das ações for menor do que esta quantia, o investimento terá um valor presente positivo. Portanto, seria de se esperar que os investidores corressem para comprá-las, fazendo o preço das ações subir. Se o preço das ações excedesse essas quantias, vendê-las teria um valor presente positivo e o preço das ações cairia rapidamente. 39 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES • CAPÍTULO 4 Os preços das ações, no entanto, mostram muito mais volatilidade do que o histórico dos dividendos. Enfrentamos muita incerteza em tentar prever os preços das ações a curto prazo. O uso de um período mais longo para estimar o valor das ações reduz um pouco a incerteza. Um período de dois anos será assim: Figura 15. Fluxo de Caixa do Valor Presente de uma Ação. P0 D1+ P1 0 k 1 ano D2+ P2 2 anos Fonte: Elaborada pelo autor. O valor presente dos fluxos de caixa nos anos 1 e 2 é o valor das ações hoje: ( ) 1 2 2 0 2 D D PP 1 k 1 k + = + + + Observe que o divisor para o segundo termo no lado direito da equação é elevado à segunda potência. Isso reflete os dois anos sobre os quais esses fluxos de caixa devem ser descontados. Para um período de n anos, o valor de uma ação é medido pelo valor presente de dividendos durante os n anos, e o preço de venda eventual, Pn. ( ) ( ) 1 2 n n 0 2 n D D D PP 1 k 1 k 1 k + = + +…+ + + + Onde P0 é soma do valor presente de cada pagamento de dividendo recebido. Essa fórmula é chamada de modelo de desconto do dividendo dos preços das ações que diz que o preço da ação deveria ser igual ao valor presente de todos os dividendos futuros esperados perpetuamente. Ela incorpora os dividendos e a apreciação do capital ou sua perda, e inclui totalmente os principais componentes do retorno integral do investidor sobre o investimento. Como ocorre muitas vezes em Finanças, a implementação dessa equação apresenta problemas para algumas empresas em termos práticos. Quais serão os dividendos futuros da empresa? Qual será o preço das ações em três, cinco ou dez anos? 40 CAPÍTULO 4 • MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES Um exemplo de modelo de desconto de dividendo Em janeiro de 2017, você estava avaliando as ações da Memu S.A., no início desse mesmo ano para comparar seu valor ao seu preço de mercado. O preço de mercado corrente é de R$ 84,50. Dado o histórico dos dividendos da Memu S.A, você acredita que a empresa pagará dividendos totais em 2017 de R$ 2,48 por ação. Sua análise indica que o total de dividendos em 2018 e 2019 será, respectivamente, de R$ 2,60 e R$ 2,72. Além disso, você acredita que o preço das ações da Memu S.A. no final de 2019, será de R$ 120,00 por ação. Se a taxa de desconto apropriada é de 11,50%, qual é o preço atual dessa ação? Você deve comprar ou não, as ações da Memu S.A.? Resolução do exemplo Antes de começar a resolver o exercício, recomendo a leitura atenta até você ter certeza de que entendeu o enunciado. Figura 16. Fluxo de Caixa dos Investimentos. P0 =? 0 k = 11,50% D2 = R$ 2,60 2018 2017 D3 = R$ 2,72 + P3 = R$ 120,00 2019 D1 = R$ 2,48 Fonte: Elaborada pelo autor. É importante que você saiba o que está sendo pedido para você. Depois, comece, então, a organizar os dados do enunciado criando o diagrama mostrando os fluxos de caixa dos três anos consecutivos de investimentos como mostrado em cima e em seguida, use a equação: ( ) ( ) 1 2 0 2 D DP 1 k 1 k 1 + = + +…+ + + + n n n D P k Você deve se lembrar de que n = 3 e que o investidor somente decidiu vender as ações em 2019 ao preço de mercado de R$ 120,00, sendo assim: o valor de mercado da ação em 2017, é: ( ) ( )0 2 3 2, 48 2,60 2,72 120P 2,22 2,09 88,53 R$ 92,84 1 0,1150 1 0,1150 1 0,1150 + = + + = + + = + + + Uma interpretação do resultado é que: o valor contábil das ações da Memu S.A. é de R$ 92,84 sendo que elas estão sendo negociadas no valor de R$ 84,50; nesse caso, podemos concluir que elas estão sendo um pouco desvalorizadas e que é uma boa hora de comprar. Dessa forma, recomendamos a compra dessas ações, uma vez que seu preço de mercado é menor que seu valor contábil. 41 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES • CAPÍTULO 4 Modelo de desconto de dividendo de crescimento constante A equação do modelo de desconto de dividendo ainda não é muito útil para avaliar uma ação porque esta exige previsões de dividendos para cada ano, até um futuro indefinido. Para tornar esse modelo prático, precisamos introduzir algumas suposições simplificativas. Um primeiro passo útil e comum para o problema é supor que os dividendos tenham a tendência de subir a uma taxa de crescimento constante ou estável, a qual chamaremos de g. Então se g = 5% a.a., e o dividendo pago mais recentemente foi D0 = 3,81, os dividendos futuros esperados são: D D 1,05 Usando essas previsões de dividendos na equação do modelo de desconto de dividendos encontramos o valor intrínseco da ação como a seguir: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2 3 n 0 0 0 0 0 2 3 D 1 g D 1 g D 1 g D 1 g P 1 k 1 k 1 1 + + + + = + +…+ +…+ + + + + n k k Esta equação pode ser simplificada para D k D k Observe nesta última equação que dividimos D1 (não D0) por (k – g), para calcular o valor presente ou valor intrínseco ou, ainda, valor contábil da ação. Essa equação é chamada de modelo de desconto de dividendo de crescimento constante, ou modelo Gordon, em homenagem a Myron J. Gordon, que popularizou o modelo. Esta deve lembrá-lo da fórmula para o valor presente de uma perpetuidade. Exemplos de resolução do modelo de desconto de dividendo de crescimento constante As ações preferenciais que pagam um dividendo fixo podem ser valorizadas com o uso do modelo de desconto do dividendo, com crescimento constante. A taxa de dividendo com crescimento constante é, simplesmente, zero. Por exemplo, para valorizar uma ação 42 CAPÍTULO 4 • MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES preferencial pagando dividendos fixos de R$ 2,00 por ação quando a taxa de desconto é de 8%, computamos 0 2P R$ 25,00 0,08 0 = = − Para entendermos melhor esse princípio do modelo de Gordon, vamos considerar o exemplo prático a seguir: A Petrobras acabou de pagar o seu dividendo anual de R$ 3,00 por ação. Espera-se que o dividendo cresça a uma taxa constante de 8%, indefinitivamente. O risco da ação da Petrobras é consistente com a taxa de capitalização de mercado de 14%. Qual é o valor intrínseco da ação? Qual seria a sua estimativa do valor intrínseco se você acreditasse que a ação era mais ariscada e garantisse uma taxa de desconto de 16%? Resolução Antes de iniciar, leia com bastante atenção o enunciado e interprete os dados. Sendo assim, pelo fato de um dividendo de R$ 3,00 ter sido pago considera-se que D0 = R$ 3,00 e a taxa de crescimento dos dividendos ser de g = 8%, a previsão de crescimento para o dividendo no final do ano é: D1 = D0*(1+g) = 3*(1+0,08) = 3*1,08 = R$ 3,24. Usando a taxa de capitalização de mercado de 14%, o valor intrínseco da ação da Petrobras é de:1 0 3, 24P R$ 54,00 k g 0,14 0,08 = = = − − D Se a ação for vista como mais arriscada, o seu valor deve ser mais baixo. Na taxa de capitalização de mercado mais alta de 16%, a ação valeria apenas: 1 0 3, 24P R$ 40,50 k g 0,16 0,08 = = = − − D Algumas implicações e limitações do mdd de crescimento constante O MDD de crescimento constante é válido apenas quando g é menor do que k. Se esperássemos que os dividendos crescessem a uma taxa mais rápida do que k, o valor da ação seria infinito. Se um analista derivar uma estimativa de g que seja maior do que k, esta taxa de crescimento seria, a longo prazo, insustentável. O modelo de valorização apropriado para ser usado neste caso é o MDD de múltiplos estágios, tal como o que discutiremos a seguir. 43 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES • CAPÍTULO 4 O MDD de crescimento constante é tão usado pelos analistas do mercado acionário que vale a pena explorar algumas de suas implicações e limitações. Assim, o MDD de taxa de crescimento constante implica que o valor de uma ação será maior: » Quando maior for o seu dividendo esperado por ação. » Quando menor for a taxa de capitalização de mercado k. » Quando mais alta for a taxa de crescimento esperada dos dividendos. Taxa de retorno esperado Os modelos de avaliação de ação requerem uma taxa de desconto, k, para poder calcular o valor presente dos fluxos de caixa futuros. A taxa de desconto usada deve refletir o nível de risco de investimento. Os investimentos com riscos mais altos devem ser avaliados por meio do risco das taxas de juros mais altas. Do mesmo modo, os investidores exigem taxas de retorno mais altas de ações com riscos mais altos do que ações com riscos mais baixos. Entretanto, um método para determinar qual retorno os investidores em ações requerem de uma ação é usar o modelo da taxa de crescimento constante. Se o preço corrente das ações reflete o seu valor, então a taxa de desconto, k, na equação de MDD de crescimento constante deverá ser o retorno esperado para as ações. Para encontrar os resultados do retorno esperado na equação a seguir: 1 01 0 0 P PDRetorno Total Esperado da Ação k P P − = = + Observe que o retorno esperado da ação vem de duas fontes: rendimento do dividendo e apreciação esperada do preço da ação, ou ganho de capital, vemos que g, nesse caso, é igual à taxa de ganho de capital, ou seja: 1 0 0 P Pg P − = Com essa última equação do ganho de capital, podemos reescrever o retorno esperado substituindo g por sua expressão como sendo: 1 0 DRetorno Esperado da ação k g P = = + A soma da rentabilidade de dividendo e da taxa de capital chama-se retorno total das ações. O retorno total é o retorno esperado que o investidor obterá por investir nas ações por um ano. Assim, a última equação declara que o retorno total das ações deve ser igual ao custo de capital 44 CAPÍTULO 4 • MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES próprio. Em outras palavras, o retorno total esperado das ações deve ser igual ao retorno esperado de outros investimentos disponíveis no mercado com risco equivalente. Dividendos versus investimento e crescimento Na equação 1 0 DP k g = − o preço das ações da empresa aumenta com o nível de dividendos e a taxa de D1 e a taxa de crescimento esperado, g. Para maximizar o preço de suas ações, uma empresa teria que aumentar ambos os valores. Porém, geralmente a empresa enfrenta um tradeoff: aumentar o crescimento pode exigir investimento, e o dinheiro não pode ser utilizado para pagar dividendos. Podemos utilizar o modelo de dividendos de crescimento constante para compreender melhor este tradeoff. Modelo simples de crescimento O que determina a taxa de crescimento de uma empresa? Se definirmos o layout dos dividendos ou taxa de pagamento de dividendos de uma empresa como a fração de seus rendimentos que ela paga como dividendos a cada ano, então podemos escrever os dividendos por ação na data t para uma empresa como: EPSt t t t t Lucros D Taxa de Pagamento de Dividendos Ações em Circulação = × Isto é, os dividendos, a cada ano, são os rendimentos por ação (EPS) da empresa divididos por sua taxa de pagamento de dividendos. Assim, a empresa pode aumentar seus dividendos de três maneiras: » Aumentando seus lucros (lucro líquido). » Aumentando sua taxa de pagamento de dividendos. » Diminuindo suas ações em circulação. Atenção O retorno total esperado das ações deve ser igual ao retorno esperado de outros investimentos disponíveis no mercado com risco equivalente. Isso significa que a empresa tem que pagar a seus acionistas um retorno proporcional ao que eles podem obter em outro lugar com o mesmo risco. Se as ações oferecessem um retorno mais alto do que outros papéis com mesmo risco, os investidores venderiam esses outros papéis e comprariam as ações. Esta atividade elevaria o preço atual das ações, diminuindo sua rentabilidade de dividendo e sua taxa de ganho de capital até a equação de retorno total esperado ser válida. Se as ações oferecessem um retorno esperado mais baixo, os investidores venderiam as ações e impulsionariam seu preço para baixo até que a equação novamente fosse satisfeita. 45 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES • CAPÍTULO 4 Suponhamos por enquanto que a empresa não emita novas ações (ou compre de volta suas ações existentes), de modo que o número de ações em circulação seja fixado e exploremos o tradeoff entre a primeira e a segunda opções. De acordo com Berk Jonathan (2017), uma empresa pode fazer duas coisas com seus lucros: » Ela pode pagá-los a seus investidores. » Ela pode retê-los e reinvesti-los. Ao investir dinheiro, hoje, uma empresa pode aumentar seus dividendos futuros. Em nome da simplicidade, suponhamos que se não for feito nenhum investimento, a empresa não crescerá, então o nível atual de lucros gerados pela empresa permanecerá constante. Se todos os aumentos nos lucros futuros resultarem exclusivamente de novos investimentos feitos com lucros retidos, então: Mudança nos Lucros = Novos Investimentos ×Retorno sobre os novos investimentos Novos investimentos é igual a lucros multiplicados pela taxa de retenção da empresa, a fração de lucros correntes que a empresa retém: Novos Investimentos = Lucros x Taxa de Retenção Substituindo a fórmula dos novos investimentos na equação anterior e dividindo pelos lucros, temos uma expressão para a taxa de crescimento dos lucros: Mudança nos Lucros Taxa de Crescimento dos Lucros Taxa de Retenção x Retorno sobre novos investimentos Lucros = = Se a empresa decidir manter sua taxa de pagamento de dividendos constante, então o crescimento nos dividendos será igual ao crescimento nos lucros: g=Taxa\ de\ Retenção ×Retorno sobre Novos Investimentos Crescimento Rentável A equação anterior da taxa de crescimento de dividendos, g, mostra que uma empresa pode aumentar sua taxa de crescimento retendo uma parte maior de seus lucros. Entretanto, se a empresa retiver mais lucros, ela poderá usar menos desses lucros como pagamento de dividendos, o que, segundo a equação do modelo simples de crescimento significa que a empresa terá que reduzir seus dividendos. Se uma empresa deseja aumentar o preço de suas ações, ela deve reduzir os dividendos e investir mais, ou ela deve reduzir os investimentos e aumentar seus dividendos? Não é de surpreender que a resposta dependa da rentabilidade dos investimentos da empresa. Detalharemos isso no Circuito de Competência com exercícios práticos. 46 CAPÍTULO 4 • MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AÇÕES Sintetizando Vimos neste capítulo os modelos de análise de investimento em ações, em que existem duas fontes potenciais de fluxos de caixa quando possuímos uma ação. Em primeiro lugar, a empresa pode realizar pagamentos a seus acionistas na forma de um dividendo. Em segundo lugar, o investidor pode gerar dinheiro decidindo vender as ações em alguma data futura. A quantia total recebida em dividendos e com a venda das ações dependerá
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