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Direito em Computação

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DIREITO EM COMPUTAÇÃO
Newton de Lavra Pinto Moraes
SUMÁRIO
Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU-
PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for-
ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os 
direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É 
proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita.
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC
Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS 
REITOR
Claudino José Meneguzzi Júnior
PRÓ-REITORA ACADÊMICA
Débora Frizzo
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Altair Ruzzarin
DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD)
Rafael Giovanella
Desenvolvido pela equipe de Criações para o ensino a distância (CREAD)
Coordenadora e Designer Instrucional 
Sabrina Maciel
Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem
Igor Zattera, Júlia Oliveira, Thais Munhoz
Revisora
Luana dos Reis
DIREITOS FUNDAMENTAIS E INFORMÁTICA 4
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS 6
CONTEÚDO DAS CONSTITUIÇÕES 7
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PROPRIAMENTE DITOS 8
DIREITOS NÃO FUNDAMENTAIS 12
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O AMBIENTE DIGITAL 12
DADOS PESSOAIS E A PRIVACIDADE 17
IDENTIFICANDO A PRIVACIDADE. 18
A PRIVACIDADE NO AMBIENTE VIRTUAL 27
DO DIREITO AO ESQUECIMENTO E/OU À DESINDEXAÇÃO 31
LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD 38
AS BASES LEGAIS PARA O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS E DADOS SENSÍVEIS 54
DIREITO PENAL DIGITAL 66
A CIBERCRIMINALIDADE RECONHECIDA NO DIREITO COMUNITÁRIO 72
FECHAMENTO 80
3ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA II
APRESENTAÇÃO
Olá! Sejas bem-vindo à disciplina de Direito em 
computação!
O direito em computação é um dos ramos das ciências ju-
rídicas que mais cresce em importância e em conteúdo. Diaria-
mente, nos deparamos com perguntas, processos, manifesta-
ções, notícias de jornal, ações governamentais, dentre outras 
tantas movimentações do cenário jurídico, envolvendo dados 
pessoais, dados de empresas, comércio eletrônico, privacidade e 
crimes praticados em âmbito eletrônico.
Com essa visão, apresento a você este e-book e os demais 
materiais que integram esse curso, para analisarmos alguns dos 
temas mais relevantes do direito em computação. O conheci-
mento não é apenas um programa ou um caminho que se per-
corre até determinado ponto de chegada. O conhecimento é uma 
jornada interminável, pois sempre haverá algo a aprender, no-
vos acontecimentos para compreender e, no nosso caso, novas 
situações que despertarão e manterão acesa nossa vontade de 
crescer e aprimorar habilidades para resolver problemas.
Sabemos que a inteligência artificial assume, a cada ins-
tante, mais espaço no mercado de trabalho. As tarefas repeti-
tivas, em regra, serão cada vez mais realizadas por máquinas, 
mas há algo que os sistemas eletrônicos, computadores e robôs 
não conseguirão realizar. Essa será nossa função, como profis-
sionais das mais diversas áreas, resolver problemas que deman-
dem raciocínio lógico, em conjunto com a percepção humana do 
mercado e das circunstâncias locais. Esse feeling humano é in-
substituível! 
Para essas atividades, exclusivamente humanas, precisa-
mos estar preparados, e essa preparação se dá com o estudo e a 
discussão prática dos casos para que possamos tomar as decisões 
com a qualidade que os sistemas automatizados não conseguem.
Vamos juntos nessa jornada de conhecimento 
e crescimento!?
Dividi o programa do nosso curso em tópicos que, embora 
não esgotem a matéria, conferem uma visão macro dos temas 
mais contemporâneos, todos já atualizados às normas brasi-
leiras, incluídas análises de situações decorrentes da pandemia 
COVID-19.
Já que você aceitou meu convite, vamos começar!?
4
DIREITOS 
FUNDAMENTAIS E 
INFORMÁTICA
Você sabe o que é direito em computação?
5DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Para que se analisem os preceitos jurídicos, no âmbito da informática, o que também é 
chamado de “direito em computação” ou direito informático”, importa registrar, ainda que 
de modo breve, que o próprio conceito de direito ainda não se encontra consolidado nem mes-
mo entre os juristas.
Vamos situar o direito em computação no cenário social e jurídico, com alguns passos 
pela tradição normativa, percebendo o caminho percorrido até os dias atuais, sinalizando o 
futuro.
De certa forma, num primeiro olhar, temos a tendência de perceber o direito como si-
nônimo de lei, de normas ou de regras, notadamente escritas pelo legislador, contendo, em 
grande parte de seus termos, proibições, determinações e sanções à sociedade, ao indivíduo 
(pessoas naturais), aos governantes e às empresas (pessoas jurídicas de direito público ou 
privado).
Nessa esteira, podemos citar Kelsen (1997) , que define o direito como “uma ordem nor-
mativa da conduta humana, ou seja, um sistema de normas que regulam o comportamento 
humano”, sendo que a “norma” é, ou seria, “o sentido de um ato através do qual uma conduta 
humana é prescrita, permitida ou, especificamente, facultada”. Segundo essa relevante no-
ção, o Direito consistiria, pois, em uma “ordem de conduta humana”, cabendo observar que 
“ordem”, para Kelsen, pode ser compreendida como sistema de normas que apresentem uma 
unidade de origem fundamental que lhes confira validade.
Relevante, também, a ideia de Hart (1994), que percebe o direito como sistema jurídico, 
integrado por um complexo de união entre regras “primárias e secundárias”, onde as regras 
primárias são aquelas que impõem deveres, obrigações ou abstenções a certos atos, enquanto 
que as secundárias estabelecem poderes, tais como reconhecimento, alteração e julgamento. 
Ao contrário de Kelsen, para quem a validade das normas depende da origem em uma norma 
fundamental, na obra de Hart, a validade depende da aceitação por parte da comunidade.
Norberto Bobbio (1994) acredita em uma conceituação mais orgânica do direito, pro-
pondo, em síntese, o direito como “uma linguagem não só lógica ou axiomática, mas como 
uma linguagem natural multiproblemática, envolvida com complexas circunstâncias histó-
ricas”.
Como se vê, conceituar direito não é tarefa simples e permanece o debate, cada vez mais 
enriquecido com elementos históricos e, principalmente, sociológicos, porquanto se pode 
afirmar que o direito é um dos fios condutores da sociedade e da forma como essa sociedade se 
organiza e indica as expectativas em relação às condutas dos seus membros, podemos enten-
der essa sociedade como organizada em pequenos grupos, como um condomínio, que dispõe 
de regras de condutas e expectativas elaboradas pelos próprios condôminos, até as complexas 
relações internacionais entre países, que, no mais das vezes, seguem modelos até mesmo em 
caso de guerra.
6DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Nessa esteira, temos obras importantes analisando a sociedade e o direito como a So-
ciedade de Risco, de Ulrich Beck (2013), a análise da Sociedade em Rede de Castells (2006) e a 
Vida na Sociedade da Vigilância, de Rodotà (2008).
Embora escrita nos anos 1980, a obra de Beck é extremamente atual, porquanto traz a 
percepção de que a evolução científica da humanidade traz, além do progresso e da agilidade 
da vida moderna, a exposição crescente, de modo exponencial, aos riscos como os decorren-
tes de acidentes nucleares, biológicos, pela contaminação do ar e das águas, bem como tec-
nológico, como em um vazamento de usina nuclear que pode, com ainda maior facilidade, ser 
adotado na presente quadra histórica, pelos vazamentos de dados, ou até mesmo pela pande-
mia COVID-19, que surge em um país, antes extremamente distante, mas que, em pouco tem-
po, contamina sua população e não apenas seus vizinhos, mas praticamente todo o planeta.
Como se percebe, nesses grandes eventos, não há fronteiras geopolíticas, nem barreiras 
físicas capazes de isolar alguma área, embora haja circunstâncias que devam ser monitoradas 
e disciplinadas por normas nacionais e internacionais, uma vez que osprejuízos decorrentes, 
por exemplo, de acidentes nucleares ou de danos ambientais e, também, de invasões de com-
putadores, não encontram limites nas fronteiras geopolíticas estabelecidas.
Também cumpre ao Direito normatizar, disciplinar ou indicar as legítimas expectativas 
de uma sociedade em que o progresso tecnológico permite a interconexão em rede, transmi-
tindo e absorvendo toda sorte de conteúdos, sendo que esse tráfego de dados, muitas vezes, 
pessoais e sensíveis1, pela relevância relativa à privacidade, é reconhecido como Direito Fun-
damental, constituindo-se no maior ativo da atualidade.
E essa nova sociedade, que assume características jamais enfrentadas pela humanidade, 
evidencia que se está sob permanente vigilância, vigilância efetivada por equipamentos de 
alta tecnologia e inteligência artificial, como abordado por Stefano Rodotà.
Feita essa breve análise sobre o direito e seu conteúdo, podemos reconhecer que os di-
reitos não são iguais, ou não apresentam a mesma relevância e, portanto, não devem receber 
o mesmo tratamento pelos ordenamentos jurídicos e reconhecimento pela sociedade.
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Os direitos fundamentais reconhecidos, no Brasil, de forma expressa na Constituição 
Federal de 1988, a partir do art. 5º, constituem-se nos pilares da sociedade brasileira, assim 
como das sociedades minimamente civilizadas que adotam a Constituição como norma da 
mais alta hierarquia.
As Constituições, como a brasileira de 1988, devem ser entendidas como o ápice do am-
biente normativo, em que constam as normas mais importantes de um Estado (país), e podem 
ser, inclusive, não escritas, como ocorre na Inglaterra.
 1Vide conceitos, por exemplo, no âmbito da União Europeia, no Regulamento Geral de Proteção de Dados GDPR e, no 
Brasil, na Lei 13.709/2018 – Lei Geral de Proteção de Dados.
7DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Grande parte dos ordenamentos jurídicos mais contemporâneos, como o brasileiro, o 
chileno, o alemão, adotam textos escritos, sendo um dos mais duradores, a Constituição dos 
Estados Unidos da América, de 17 de setembro de 1787, famosa, tanto por seu conteúdo, quan-
to pelo fato de apresentar apenas 7 artigos, enquanto que a brasileira, de 1988, apresenta 250 
artigos, com vários parágrafos, incisos e alíneas.
Essa estabilidade deve ser uma característica das constituições. É fato que, quanto mais 
longeva uma constituição, mais estável o ordenamento jurídico e a própria sociedade, por-
quanto não é salutar que seja fácil e rápido modificar as regras fundamentais de convivência 
de um grupo social. Em países democráticos, a alternância do exercício do poder é decorrência 
da própria democracia, em que a vontade do povo é respeitada como consectário do prestígio 
e do respeito às normas, especialmente as fundamentais.
Isso não significa a absoluta impossibilidade de adequações dos preceitos constitucio-
nais em razão da natural evolução das relações intersubjetivas, o que ocorre por intermédio 
de emendas constitucionais, em grande número verificadas não apenas no Brasil, mas, inclu-
sive, em relação à Constituição dos EUA.
CONTEÚDO DAS CONSTITUIÇÕES
É na Constituição que se encontram as opções mais relevantes de um povo, e quanto 
mais democrática for a sociedade, maior participação popular deve haver na elaboração des-
sas normas, especialmente quanto aos limites ao poder do Estado, pois como diz o parágrafo 
único do art. 1º, assim grafado: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de re-
presentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Na Constituição Federal do Brasil, também constam os fundamentos de nosso país, como 
se percebe do art. 1º:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
V - o pluralismo político.
Vamos perceber que é na Constituição Federal que constam, por exemplo, se e como, 
além de quais as hipóteses em que uma pessoa pode ser presa e, até, como no Brasil, os casos 
em que pode haver a pena de morte2 - sim, no Brasil há a previsão de pena de morte para al-
guns crimes militares próprios em época de guerra declarada -, ou seja, é o berço normativo 
especialmente para as limitações do poder do Estado sobre os particulares, bem como os de-
veres de uns em relação aos outros e à coletividade.
2Art. 5º, inciso XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
8DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Além da estabilidade, as constituições apresentam as estruturas da sociedade e as op-
ções de um povo sobre como quer ser governado, como esse poder deve ser exercido, além de 
outras normas e, principalmente, os direitos fundamentais, como os individuais, e sociais, 
além dos sistemas e das formas de governo, indicando, por exemplo, se o país é uma monar-
quia ou república, bem como se a opção foi pelo parlamentarismo ou presidencialismo.
Pode haver a combinação de monarquia com o parlamentarismo, em que o rei ou a rai-
nha, exercem as funções de Chefe de Estado, mas não as de governo, a cargo de um Primeiro 
Ministro, como no Reino Unido, em que há um Primeiro Ministro como Chefe de Governo e 
um rei ou rainha, como Chefe de Estado, ou a república, em que pode haver a concentração 
das figuras do Chefe de Estado e de Chefe de Governo em um Presidente, como no Brasil, ou 
haver a distinção em duas pessoas distintas, o Presidente da República, como Chefe de Esta-
do, e o Primeiro Ministro, como Chefe de Governo, como ocorre na Itália ou Espanha.
No Brasil, essa estrutura do poder também contempla a divisão interna das funções do 
Estado, entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Diz o art. 2º.:
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Exe-
cutivo e o Judiciário.
Como vimos acima, no art. 1º., também consta a formatação territorial, sendo que, em 
nosso país, a escolha constitucional foi pela união indissolúvel de estados, municípios e o 
Distrito Federal3 ao dividir o território em três entes, a União, que desempenha as funções em 
relação a todo o território, como a manutenção das Forças Armadas, Polícia Federal, insti-
tuições federais de ensino, além do Poder Legislativo, composto pela Câmara dos Deputados, 
Senado Federal e, quando previsto, o Congresso Nacional, e o Poder Judiciário, integrado pela 
Justiça Federal, Justiça Militar Federal, Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e tribunais supe-
riores, STF, STJ, TSE, STM, TST.
Temos, em seguida, os Estados, com obrigações e funções regionais como segurança 
pública (Polícia Civil e Militar), escolas e universidades estaduais, Assembleia Legislativa, 
justiça estadual e Poder Judiciário Estadual, dentre outras normas estruturantes da sociedade 
brasileira.
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PROPRIAMENTE DITOS
Considerando os direitos fundamentais como os mais relevantes na condição de direi-
tos constitucionalmente assegurados, eles possuem uma abrangência em parte distinta dos 
direitos humanos, porquanto os direitos humanos são posições jurídicas de âmbito interna-
cional, referentes a toda a humanidade, enquanto que os direitos fundamentais individuais 
ou sociais possuem aplicação interna, embora a regra seja de convergência entre as previsões, 
dependendo da maior ou menor sinergia entre as positivações internas e externas.
3Desde a Constituição Federal de 1988 não se tem mais os entes federativos “territórios”.
9DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Exemplo disso é o direito fundamental à proteção dos dados pessoais e à privacidade, 
previsto nos arts. 7º. e 8º. da Constituição da Comunidade Europeia, enquanto no Brasil, ainda 
se encontra em tramitaçãoa PEC17 de 2019, que tem por objeto a inserção desse direito no rol 
dos preceitos expressos no art. 5º. da Constituição Federal.
Para a compreensão adequada dos Direitos Fundamentais, importa perceber que não 
basta o fato importante de constarem do texto constitucional, mas, conforme a mudança de 
paradigma percebido após o término da Segunda Guerra Mundial, em que a ordem jurídica 
internacional precisou ser reescrita e, especialmente, ressignificada, a densidade como esses 
preceitos comprometem e vinculam a sociedade em que estão inseridos.
Isso ocorreu porquanto, a partir da Alemanha, em 1949, restou evidenciado o conteúdo 
eminentemente público desses direitos, devendo operar como filtro, tanto para as ativida-
des públicas, quanto privadas. Houve tempo em que, inclusive no Brasil, em obras publicadas 
logo em seguida ao texto da Constituição Federal de 1988, reconheciam-se alguns direitos 
fundamentais como normas “meramente programáticas”, sem vinculação direta do Estado e 
dos particulares, logo, os alemães, na Lei Fundamental de 1949, inseriram cláusula expres-
sa (artigo 1º, III) dispondo que “os direitos fundamentais, constituem direitos diretamente 
aplicáveis e vinculam os poderes legislativo, executivo e judiciário”, no artigo 1, item 34, em 
texto que substitui a “Constituição de Weimar”, de 1919.
4(3) Die nachfolgenden Grundrechte binden Gesetzgebung, vollziehende Gewalt und Rechtsprechung als unmittelbar 
geltendes Recht.
Como leciona Ingo Sarlet (1998), “os direitos fundamentais passaram a ser considera-
dos autênticos “trunfos contra a maioria” (Dworkin), ou, na acepção de Robert Alexy, "posi-
ções jurídicas subtraídas à plena disposição dos poderes constituídos.” Não é à toa que a todo 
momento se invoca a afirmação de Herbert Krüger no sentido de que, "na época de Weimar, 
os direitos fundamentais se encontravam na dependência da lei e que, com a Lei Fundamental 
de 1949, a lei é que passou a estar na dependência dos direitos fundamentais”.
Cumpre notar, igualmente, que embora a força da previsão dos direitos fundamentais 
como vinculantes aos três poderes do Estado, também na Alemanha foi percebido que para 
essa densificação dos direitos fundamentais era necessária a criação de um Tribunal Cons-
titucional, para que um órgão do Poder Judiciário assumisse a missão, igualmente, de velar 
pelo adequado e efetivo cumprimento dos dispositivos referentes aos direitos fundamentais, 
podendo esse controle da constitucionalidade ser exercido, também, por intermédio de re-
clamação.
No Brasil, essa missão de interpretar a Constituição Federal e, ao fim e ao cabo, dizer 
o que a Constituição “diz” cabe, por expressa previsão Constitucional, ao Poder Judiciário, 
sendo pelo Supremo Tribunal Federal – STF, a análise do conteúdo objetivo da norma consti-
tucional, e aos demais juízes e tribunais, os conflitos subjetivos envolvendo a matéria cons-
titucional, e aqui também se tem a Reclamação como um instrumento jurídico “com status 
constitucional que visa preservar a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) e garan-
tir a autoridade de suas decisões. Originalmente, ela é fruto da construção jurisprudencial do 
STF que, com o decorrer do tempo, foi sendo incorporada ao texto constitucional (artigo 102, 
10DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
inciso I, alínea “i”, da Constituição Federal), regulamentado pelo artigo 13 da Lei 8.038/1990 
e pelos artigos 156 e seguintes do Regimento Interno da Corte (RISTF). O instituto pertence à 
classe de processos originários do STF – ou seja, deve ser ajuizada diretamente no Tribunal, a 
quem cabe analisar se o ato, questionado na ação, invadiu competência da Corte ou contrariou 
alguma de suas decisões”5. 
Portanto, uma sociedade deve, para ser democrática e igualitária, ser regida por um sis-
tema normativo que disponha de uma lei fundamental que se sobreponha às demais normas e 
regras, inclusive com força vinculante à atividade do próprio Estado e particulares. 
Direitos fundamentais são absolutos?
A resposta é negativa.
O Art. 5º. da Constituição Federal, que inaugura o Título II – Dos direitos e garantias 
fundamentais, contempla no seu caput:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
5http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=271852
Com efeito, em nenhum momento há a indicação de que deveriam os direitos, nem mes-
mo à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, ser tratados de modo abso-
luto.
Ao contrário, ao longo dos 73 incisos, adotando o sistema de freios e contrapesos, ine-
rente aos textos fundamentais, o texto constitucional brasileiro conduz que, em determina-
das situações, um direito prepondere sobre o outro.
É o que se dá, por exemplo, com o direito à vida, de relevância incontestável, mas que 
pode, por exemplo, ser relativizado, na ocorrência de guerra declarada, se um dos soldados 
brasileiros cometer, por exemplo, o crime de deserção, como se percebe da leitura do art. 5º, 
inciso XLVII, que admite, ainda que de forma excepcional, a pena de morte em caso de guerra 
declarada, nos termos do art. 84, XIX6.
Outro exemplo, é o direito à propriedade, referido no caput do art. 5º, como fundamen-
tal, mas que admite diversos temperamentos, como a desapropriação, igualmente prevista no 
art. 5º, inciso XXIV7, além de exigir que seja exercida conforme sua função social, conforme o 
inciso XXIII, do mesmo verbete8.
6No caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no inter-
valo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional.
7XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse 
social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
8XXIII - a propriedade atenderá a sua função social.
11DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Quanto ao direito à liberdade, temos a histórica possibilidade de que condutas crimino-
sas tenham como sanção penas privativas de liberdade, como permitido pelo texto constitu-
cional, nos incisos LXII a LXVIII, todos do art. 5º, disciplinando o cerceamento de liberdade, 
previsto nas leis penais, como o Código Penal, notadamente nos arts. 339 e seguintes.
Todavia, embora não sejam absolutos, os direitos fundamentais, ao lado da separação 
dos poderes, dos princípios atinentes ao federalismo, ao exercício do voto e demais direitos 
políticos, gozam de especial tutela do texto constitucional, a ponto de serem cláusulas pétre-
as, ou seja, que não toleram sua abolição, conforme garantido no artigo 60, § 4º, da Consti-
tuição Federal:
Diz o preceito:
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
Como podemos perceber, ao vedar emendas constitucionais com tal teor, o Poder Cons-
tituinte, por óbvio, proibiu, também, que tal abolição ocorra mediante leis de hierarquia in-
ferior, como as Leis Complementares, Leis Ordinárias, Medidas Provisórias, Decretos, dentre 
outras.
Além dos direitos fundamentais individuais, lançados especialmente no art. 5º da Cons-
tituição Federal, consistentes nas liberdades públicas, ou em comandos ao Estado para que 
não interfira na esfera privada, ou o faça com limites, temos no art. 6º o rol expresso dos di-
reitos fundamentais sociais, como a saúde, a educação:
Diz o art. 6º:
 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, 
o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social,a proteção à maternidade e à 
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Esses direitos, igualmente fundamentais, dizem respeito a prestações positivas do Es-
tado, enquanto os direitos individuais do art. 5º determinam abstenções, tais como não pren-
der os indivíduos, a menos que seja em flagrante delito ou com ordem judicial escrita e fun-
damentada. Diferentemente, os do artigo 6º determinam que o Estado faça algo, por exemplo, 
que forneça medicamentos, que garanta o acesso à educação às crianças e adolescentes, de-
senvolvendo programas de habitação popular, entre outros.9DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE: Reclusão e detenção.
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime se-
miaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
12DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Outra característica relevante dos direitos fundamentais é que além do próprio titular, 
seja pessoa natural, jurídica ou mesmo o poder público, a garantia e a tutela desses direitos 
pode ocorrer de modo coletivo, como é uma das missões institucionais do Ministério Público 
em relação ao direito ao meio ambiente, preservação do patrimônio histórico e cultural, da-
dos pessoais, direitos dos consumidores, e por entidades de tutela setorial, como o PROCON.
DIREITOS NÃO FUNDAMENTAIS
Esses direitos, embora não fundamentais, integram a esfera jurídica das pessoas, físi-
cas ou jurídicas, tais como os direitos de vizinhança, direito a indenizações por atos ilícitos, 
ao recebimento de determinadas prestações pecuniárias, como os previstos, por exemplo, no 
Código Civil, de 2002 e outras leis esparsas.
Embora nem todos os direitos sejam fundamentais, o ordenamento jurídico tem o esco-
po principal de prever direitos e elencar medidas e instrumentos que permitam a tutela desses 
direitos pelos titulares.
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O AMBIENTE DIGITAL
O ambiente digital ou cibernético não apresenta diferenças materiais, ou seja, quanto ao 
conteúdo em relação aos direitos fundamentais, se comparado com os demais meios físicos.
De regra, são aplicáveis os mesmos artigos da Constituição Federal e demais preceitos 
normativos, assim entendidas as regras e os princípios.
Contudo, as condutas lesivas perpetradas no ambiente digital podem ser de gravidade 
exponencialmente maior, como ocorre por uma ofensa realizada no ambiente das redes so-
ciais, ou propagada em aplicativos de mensagens, porque o ambiente virtual, por suas carac-
terísticas de rede e de interconectividade subjetiva, praticamente, ilimitada, tem a capacidade 
de difundir as ofensas e, portanto, as lesões aos demais direitos, como o direito à proprieda-
de, à saúde, à vida e, uma das maiores lesões que se percebem diariamente, à privacidade e aos 
dados pessoais, todos direitos igualmente de índole fundamental.
De outro lado, o ambiente digital é o ecossistema mais relevante para que o exercício 
de direitos fundamentais como a liberdade de expressão e a manifestação do pensamento se 
efetivem.
Esses direitos fundamentais estão reconhecidos de modo mais expresso, porquanto não 
exclusivo, no rol dos direitos fundamentais individuais, art. 5º, inciso IX, que prevê:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença.
13DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Aqui, importa reafirmar a total rejeição do sistema jurídico-constitucional brasileiro à 
censura. Isso quer dizer que, sempre ressalvando a inexistência de direito absoluto, a mani-
festação do pensamento e a liberdade de expressão devem prevalecer, sendo que, por óbvio, 
os danos causados pelo eventual abuso desse direito igualmente conferem ao ofendido o di-
reito à reparação proporcional ao agravo.
Vejamos como o Supremo Tribunal Federal interpreta o tema da censura, com absoluta 
relevância ao ambiente digital:
A própria Constituição da República delineou as regras de sopesamento entre os valores 
da liberdade de expressão meios de comunicação e da proteção da criança e do ado-
lescente. Apesar da garantia constitucional da liberdade de expressão, livre de censura 
ou licença, a própria Carta de 1988 conferiu à União, com exclusividade, no art. 21, XVI, 
o desempenho da atividade material de “ exercer a classificação, para efeito indicativo, 
de diversões públicas e de programas de rádio e televisão.” A CF estabeleceu mecanis-
mo dos apto a oferecer aos telespectadores das diversões públicas e de programas de 
rádio e televisão as indicações, as informações e as recomendações necessárias acerca 
do conteúdo veiculado. É o sistema de classificação indicativa esse ponto de equilíbrio 
tênue, e ao mesmo tempo tenso, adotado pela Carta da República para compatibili-
zar esses dois axiomas, velando pela integridade das crianças e dos adolescentes sem 
deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão. A classifica-
ção dos produtos audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos pais a existência 
de conteúdo inadequado para as crianças e os adolescentes. O exercício da liberdade 
de programação pelas emissoras impede que a exibição de determinado espetáculo 
dependa de ação estatal prévia. A submissão ao Ministério da Justiça ocorre, exclusi-
vamente, para que a União exerça sua competência administrativa prevista no inciso 
XVI do art. 21 da Constituição, qual seja, classificar, para efeito indicativo, as diversões 
públicas e os programas de rádio e televisão, o que não se confunde com autorização. 
Entretanto, essa atividade não pode ser confundida com um ato de licença, nem con-
fere poder à União para determinar que a exibição da programação somente se dê nos 
horários determinados pelo Ministério da Justiça, de forma a caracterizar uma imposi-
ção, e não uma recomendação. Não há horário autorizado, mas horário recomendado. 
Esse caráter autorizativo, vinculativo e compulsório conferido pela norma questionada 
ao sistema de classificação, data venia, não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, XVI; e 
220, § 3º, I, da Constituição da República. Permanece o dever das emissoras de rádio e 
de televisão de exibir ao público o aviso de classificação etária, antes e no decorrer da 
veiculação do conteúdo, regra essa prevista no parágrafo único do art. 76 do ECA, sendo 
seu descumprimento tipificado como infração administrativa pelo art. 254, ora questio-
nado (não sendo essa parte objeto de impugnação). Essa, sim, é uma importante área 
de atuação do Estado. É importante que se faça, portanto, um apelo aos órgãos compe-
tentes para que reforcem a necessidade de exibição destacada da informação sobre a 
faixa etária especificada, no início e durante a exibição da programação, e em intervalos 
de tempo não muito distantes (a cada quinze minutos, por exemplo), inclusive, quanto 
às chamadas da programação, de forma que as crianças e os adolescentes não sejam 
estimulados a assistir a programas inadequados para sua faixa etária. Deve o Estado, ain-
da, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver pro-
14DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
gramas educativos acerca do sistema de classificação indicativa, divulgando, para toda 
a sociedade, a importância de se fazer uma escolha refletida acerca da programação 
ofertada ao público infanto-juvenil. Sempre será possível a responsabilização judicial 
das emissoras de radiodifusão por abusos ou eventuais danos à integridade das crian-
ças e dos adolescentes, levando-se em conta, inclusive, a recomendação do Ministério 
da Justiça quanto aos horários em que a referida programação se mostre inadequada. 
Afinal, a CF também atribuiu à lei federal a competência para “estabelecer meios legais 
que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou 
programações de rádio e televisãoque contrariem o disposto no art. 221” (art. 220, § 3º, 
II, CF/1988). Ação direta julgada procedente, com a declaração de inconstitucionalidade 
da expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 da Lei 8.069/1990.
[ADI 2.404, rel. min. Dias Toffoli, j. 31-8-2016, P, DJE de 1º-8-2017.]
De outra banda, vale observar que o meio digital também se mostra essencial ao exercí-
cio do direito de informar e de ser informado, sendo incompatível com o ordenamento jurídi-
co brasileiro qualquer censura prévia à atividade jornalística10.
Sobre o jornalismo, já se manifestou a Suprema Corte do Brasil – STF:
O jornalismo é uma profissão diferenciada por sua estreita vinculação ao pleno exercício 
das liberdades de expressão e de informação. O jornalismo é a própria manifestação e di-
fusão do pensamento e da informação de forma contínua, profissional e remunerada. Os 
jornalistas são aquelas pessoas que se dedicam profissionalmente ao exercício pleno da 
liberdade de expressão. O jornalismo e a liberdade de expressão, portanto, são atividades 
que estão imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de 
forma separada. Isso implica, logicamente, que a interpretação do art. 5º, XIII, da Constitui-
ção, na hipótese da profissão de jornalista, se faça, impreterivelmente, em conjunto com 
os preceitos do art. 5º, IV, IX, XIV, e do art. 220 da Constituição, que asseguram as liberda-
des de expressão, de informação e de comunicação em geral. (...) No campo da profissão 
de jornalista, não há espaço para a regulação estatal quanto às qualificações profissionais. 
O art. 5º, IV, IX, XIV, e o art. 220 não autorizam o controle, por parte do Estado, quanto ao 
acesso e exercício da profissão de jornalista. Qualquer tipo de controle desse tipo, que 
interfira na liberdade profissional no momento do próprio acesso à atividade jornalística, 
configura, ao fim e ao cabo, controle prévio que, em verdade, caracteriza censura prévia 
das liberdades de expressão e de informação, expressamente vedada pelo art. 5º, IX, da 
Constituição. A impossibilidade do estabelecimento de controles estatais sobre a profissão 
jornalística leva à conclusão de que não pode o Estado criar uma ordem ou um conselho 
profissional (autarquia) para a fiscalização desse tipo de profissão. O exercício do poder de 
polícia do Estado é vedado nesse campo em que imperam as liberdades de expressão e 
de informação. Jurisprudência do STF: Rp 930, rel. p/ o ac. min. Rodrigues Alckmin, DJ de 
2-9-1977. [RE 511.961, rel. min. Gilmar Mendes, j. 17-6-2009, P, DJE de 13-11-2009.
Portanto, o ambiente virtual e o meio digital potencializam, e muito, tanto as consequ-
ências dos atos ilícitos, como a propagação ilimitada de ofensas e ameaças, quanto o exercício 
dos direitos fundamentais, como se vê nos demais pontos deste curso.
10http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=30.
15DIREITO EM COMPUTAÇÃO
SÍNTESE SUMÁRIO
Colegas! Com essa leitura, percebemos que o direito em computação é um dos ramos do Direito, ciência que tem como objeto de estudo as 
relações intersubjetivas, de conteúdo jurídico, as quais, na atual quadra histórica, realizam-se em grande parte no meio eletrônico. Essa percep-
ção também se deu no sentido de que o Direito pode ser melhor compreendido se analisado como um sistema integrado não apenas pelas normas 
(princípios e regras), mas também pela valoração que se procede em relação aos fatos.
Vimos que a Constituição Federal é a norma mais importante de uma nação, como no caso do Brasil. É na Constituição que a sociedade evi-
dencia, dentre outras, suas opções políticas, econômicas e sociais, prevendo a estrutura do Estado, a forma de acesso e de exercício dos pode-
res Executivo, Legislativo e Judiciário, e, especialmente os direitos fundamentais, como, no caso brasileiro, divididos em direitos fundamentais 
individuais e direitos fundamentais sociais. Esses direitos, apesar da relevância de que dispõem, não são absolutos, porquanto há casos em que 
poderão ser relativizados, como se pode perceber com o direito fundamental à liberdade, que poderá ser contraposto pelo cumprimento de pena 
restritiva de liberdade, em caso de prática de crime ao qual seja cominada tal pena.
16DIREITO EM COMPUTAÇÃO
EXERCÍCIOS SUMÁRIO
1. Quando você pensa em “direito”, qual a ideia que lhe ocorre?
2. Como você definiria os direitos fundamentais?
3. Tendo como parâmetro o direito à vida e à liberdade, são eles direitos absolutos? Justifique:
4. Os direitos fundamentais são todos iguais? Justifique a resposta:
5. Pesquisa de desenvolvimento das competências: complementando o conhecimento para além deste capítulo, explique a diferença entre direi-
tos e garantias? Cite um exemplo, indicando os dispositivos constitucionais:
17
DADOS PESSOAIS E A 
PRIVACIDADE 
Conhecendo os dados pessoais.
18DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Os dados pessoais são o principal ativo da economia atual, sendo muito mais valiosos 
do que commodities como petróleo e outros minérios, ou mesmo bens, o que se percebe com 
o fato de que as maiores empresas do mundo, como Google, Facebook, Amazon têm em seu 
modelo de negócio, o tratamento dos dados pessoais, entendidos como disposto na Lei Fe-
deral brasileira nº 13.709/2018, basicamente como aqueles dados que identificam ou tornam 
identificável uma pessoa natural.
O estudo dos dados pessoais deve dar-se no âmbito da privacidade, já acolhida na Cons-
tituição Federal Brasileira, também como direito fundamental.
Inserido no cenário internacional, o Brasil tem comportado estudos quanto ao próprio 
conceito de privacidade. Essa relevância contempla a complexidade da investigação porquan-
to inerente aos direitos da personalidade11.
A propósito, também com base no Código Civil Brasileiro, art. 2 o, “personalidade civil 
da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os di-
reitos do nascituro, em relação às pessoas naturais, e as pessoas jurídicas, desde o registro de 
seus atos constitutivos no álbum competente, ou, quando de natureza pública, pela lei que a 
instituir.
Quanto às características, houve momento em que chegaram a ostentar a noção de que 
seriam absolutos, porquanto imprescritíveis, inalienáveis e indisponíveis, inerentes, pois, à 
própria concepção de pessoa, como atributos mínimos preservados aos seres humanos (Silva, 
1998, p. 6), com matriz teórica na dignidade da pessoa humana12, objetivando a proteção das 
garantias dos cidadãos (Limberger, 2007, p. 116), consolidada essa dignidade após o fim da 
Segunda Guerra Mundial.
Essa concepção, como se observou no primeiro capítulo, de que determinados direitos 
seriam absolutos, resta superada porquanto há hipóteses, em conformidade com a lei, nas 
quais todo e qualquer direito pode ceder em favor de outro que prepondere, adotados os cri-
térios da proporcionalidade.
IDENTIFICANDO A PRIVACIDADE.
Conforme também vimos na primeira aula, por se tratar de um direito que integra a per-
sonalidade, a privacidade já foi relacionada aos princípios do Estado Liberal, assumindo, sob 
esse prisma, conotação negativa, em relação à intromissão do Estado, na esteira dos direitos 
fundamentais de primeira geração, relativos às liberdades dos cidadãos.
11Código Civil Brasileiro, arts. 11 e 12: Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são 
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. “Art. 12. Pode-se exigir que 
cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções pre-
vistas em lei.
12A dignidade da pessoa humana trata-se do valor-síntese que reúne os aspectos essenciais de desenvolvimento e reali-
zação da pessoa humana. O seu conteúdo não pode ser descrito de modo rígido, devendo ser apreendido por cada socie-
dade em cada momento histórico, baseado na sua cultura(SCHREIBER, 2014, p. 8). Nesse sentido, a dignidade da pessoa 
humana foi incorporada ao ordenamento jurídico com o propósito de proteger a condição humana, em seus mais varia-
dos aspectos e manifestações, tomando a pessoa “sempre como um fim e nunca como um meio” de Kant.
19DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Isso mostrava-se adequado à ideia liberal e, pois, à função limitadora do texto Consti-
tucional, de impedir que o Estado atuasse, deixando ao alvedrio do titular a disposição sobre 
sua privacidade, nos moldes da ideia do constitucionalismo da época, que reconhecia ao texto 
constitucional as funções básicas de limitar o poder do Estado e garantir os direitos funda-
mentais (LIMBERGER, 2007, p. 198).
Nessa senda, a ideia de privacidade, ou privacy, pode ser compreendida a partir do sis-
tema jurídico dos Estados Unidos, desde o século XIX, como o interesse individual de “ser 
deixado só”, reconhecido no caso Wheaton V. Peters, decidido pela Suprema Corte, no ano 
de 1834. Embora, naquele tempo, a privacy não tenha merecido, de modo formal, o reconhe-
cimento como direito, ou right, o que somente ocorre com a publicação do célebre artigo de 
Samuel D. Warren e Louis D. Brandeis (WARREN e BRANDEIS, 1890, p. 196).
Cumpre referir, também nos Estados Unidos, o juiz Thomas Cooley, que em 1880, publi-
ca “A Treatise on the Law of Torts”, adotou, o que se tem como sendo a primeira oportunidade, 
na doutrina, expressão right to be let alone, constando do trabalho sobre responsabilidade ci-
vil (torts) como parte do seguinte trecho: “The right to one’s person may be said to be a right 
of complete immunity: to be let alone” (COOLEY, 1880, p. 29, apud ZANINI, 2005, p. 11).
Demonstrado que não se trata de tema novo, uma vez que o marco inicial, na literatura 
jurídica, deu-se em 1890, com o artigo The Right To Privacy, publicado na Harvard Law Re-
view, escrito em coautoria pelos advogados Samuel Warren e Louis Brandeis, motivados pe-
las frequentes e detalhadas notícias nos jornais de Boston sobre as reuniões sociais na casa de 
Warren e, em especial, a curiosidade em torno da festa de casamento da sua filha. Essa moti-
vação explica o sentido individualista que assumiu, no texto, o direito à privacidade, chama-
do de “direito a ser deixado só” (right to be let alone) (WARREN e BRANDEIS, 1890).
No Brasil, já há previsão expressa, por exemplo, no art. 5º, inciso X, da Constituição 
Federal, que refere como “invioláveis à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das 
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua 
violação”, bem como no art. 927 do Código Civil de 2002, onde se lê que “a vida privada da 
pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências 
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.
Nessa senda, importa, embora sem esgotar a matéria, uma vez que permanece a polê-
mica terminológica, referir a diferenciação entre os termos, no ponto em que a intimidade 
poderia ser considerada, no âmbito do exclusivo, sem qualquer tipo de repercussão social, 
enquanto que vida privada, por mais isolada que seja, sempre se caracteriza pelo viver entre 
outros (por exemplo, em família, no trabalho, no lazer em comum) (FERRAZ JUNIOR, 1992, 
p. 54).
Para Pontes de Miranda, o “direito à intimidade” integra a órbita dos “direitos da per-
sonalidade”, os quais são inerentes ao próprio homem e têm por objetivo resguardar a dig-
nidade da pessoa humana (Pontes de Miranda, 1971, p. 5), privilegiando o indivíduo em face 
do império estatal, contando com reconhecimento em normas jurídicas internacionais como 
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, a Declaração Universal dos Direi-
20DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
tos do Homem, de 1948 (art. 12), a 9ª Conferência Internacional Americana de 1948 (art. 5º), 
a Convenção Europeia dos Direitos do Homem de 1950 (art. 8º), a Convenção Panamericana 
dos Direitos do Homem de 1959, Conferência Nórdica sobre o Direito à Intimidade, de 1967, 
dentre outros importantes documentos internacionais.
Elimar Szaniawski (1993, p. 118), considera a vida privada em dois sentidos: em sentido amplo, 
como sendo as regras jurídicas que objetivam à proteção da vida pessoal e familiar; e sentido restrito, 
como sendo o conjunto de regras que visam a proteger as pessoas em razão de ofensas particulares, 
reconhecendo que a vida pessoal e familiar necessitam de esferas de segredo para o desenvolvimen-
to, a ponto de considerá-los relativos à liberdade, do que impositiva a proteção dessa esfera secreta 
em face dos atentados dirigidos à liberdade.
Quanto à origem do termo, Danilo Doneda refere o “right to privacy”, no sentido de que a pri-
vacidade (privacy) pode ser definida como o direito de estar só, ou, talvez, mais preciso, o direito 
de ser deixado só (“right to be let alone”) (Doneda, 2006, p. 07), podemos perceber a exposição da 
privacidade a ataques causadores de desgastes e dores até muito maiores que uma injúria corporal 
(WARREN e BRANDEIS, 1890, p. 193).
A primeira noção, há mais de um século, era a de que a privacidade deveria ser interpretada 
como o “direito de ser deixado a sós”, como nítido anteparo a não interferência do Estado na vida do 
indivíduo, ideia que foi ampliada com o poder de se reivindicar ao Estado a tutela dessa privacida-
de, com a proteção também de ataques perpetrados por terceiros (GAVISON, 1980, p. 438, tradução 
livre).
Cabe lembrar que alguns autores distinguem o direito à intimidade do direito à vida privada. 
Adriano De Cupis, por exemplo, entende que a esfera íntima da pessoa se divide em direito à riser-
vatezza e o direito à segretezza (DE CUPIS, 1959, p. 90). Reforçando essa ideia, Kayser classifica os 
direitos de personalidade em direito de se opor à divulgação da vida privada, direito de se opor a uma 
investigação na vida privada e, ainda, direito de resposta (KAYSER, 1984, apud HIRATA, 2014, p. 21).
A privacidade, de modo harmônico, diz respeito ao direito à paz e à tranquilidade. O exemplo 
também é retratado por Hirata, com base em Kayser, no sentido de que ninguém poderia ser foto-
grafado na rua sem seu conhecimento, e, ainda, ter usada sua imagem para qualquer finalidade sem 
essa autorização, enquanto que o direito de se opor à divulgação da vida privada, segundo o autor 
(KAYSER, 1984 apud HIRATA, 2014), visa à proteção da vida privada de alguém contra a divulgação 
de fatos da vida que lhe são íntimos, propondo o reconhecimento de outros níveis de privacidade ati-
nentes ao direito ao segredo, por exemplo, que objetiva a proteção das cartas e comunicações confi-
denciais13.
O direito, há várias décadas, ocupa-se também com o direito à própria imagem, relativo à opo-
sição mesmo que artística ou, especialmente mercadológica, da figura, bem como à captação e à 
divulgação da voz, como possibilidade de tratamento em sede biométrica, sem consentimento14. So-
memos a isso, o direito à proteção da esfera íntima contra escutas através de aparelhos eletrônicos 
de voz e imagem, ainda que por equipamentos eletrônicos, cada dia mais em voga nas residências 
brasileiras e mundiais.
13Essa violação de correspondência também atrai olhares sob o prisma penal, em conjunto com outras condutas que se-
rão estudadas na aula específica.
14Sobre o consentimento, dispõe o art. 5º, inciso XII, da Lei 3.7 9/ 8 ser a “manifestação livre, informada e inequívoca 
pela qual o titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais para uma finalidade determinada” (BRASIL, 2018).
21DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Em relação aos terceiros, o direito à intimidade pode ser reconhecido como aquele com o ob-
jetivo de resguardar as pessoas dos sentidos alheios, (visão e audição, precipuamente) excluindo 
ou protegendo do acesso por terceiros tudo que se relacione com a intimidade (Pontes de Miranda, 
idem 124), correspondendoao dever de que terceiros não se imiscuam na intimidade alheia, como 
diz Milton Fernandes (Fernandes, 1984, p. 17), ensejando eventual oposição às violações perpetra-
das, por meio de investigação e/ou divulgação de informações sobre a vida alheia ou, sugerimos 
como adaptação aos tempos contemporâneos, cuidados quanto à subtração de dados pessoais ou 
ao acesso indevido aos bancos de dados onde estão armazenados esses dados, sem causa justa ou 
autorização dos titulares, estejam os dados armazenados em meio físico ou eletrônico.
Todavia, essa noção da privacidade limitada à pretensão de isolamento ou tranquilidade, 
como o right to be let alone, revelou-se insuficiente na sociedade contemporânea em razão da re-
ferida superexposição da privacidade, movimentada pelos avanços tecnológicos (Doneda, 2006, 
p. 10), em circunstâncias em que o próprio titular é o responsável pela exposição de dados pesso-
ais, até mesmo sensíveis, como ocorre na utilização das redes sociais.
Com efeito, ao “postar” imagens, localização, preferências alimentares, clubísticas, ou, até 
mesmo, sexuais e políticas, o titular desses dados torna pública tais informações, todavia, não 
implica demissão absoluta da disposição sobre esses dados pessoais, até mesmo sensíveis, isso 
porque, embora o §4º do art. 7º da LGPD (BRASIL, 2018) dispense o consentimento do titular para 
o tratamento dos dados tornados “manifestamente” públicos, no mesmo verbete há a expressa 
limitação ao fato de que permanecem “resguardados os direitos do titular e os princípios” pre-
vistos nesta lei, conforme pode ser verificado:
Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar a boa-fé e os 
seguintes princípios:
I. finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e in-
formados ao titular, sem possibilidade de tratamento posterior de forma incompatível com 
essas finalidades;
II. adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular, de 
acordo com o contexto do tratamento;
III. necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas finali-
dades, com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação 
às finalidades do tratamento de dados;
IV. livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e a duração 
do tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais;
V. qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de exatidão, clareza, relevância e atualização dos 
dados, de acordo com a necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento;
VI. transparência: garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente acessíveis 
sobre a realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os 
segredos comercial e industrial;
VII. segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pes-
soais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, 
alteração, comunicação ou difusão;
VIII. prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do tratamen-
to de dados pessoais;
22DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
IX. não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins discriminatórios 
ilícitos ou abusivos;
X. responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de medidas 
eficazes e capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de proteção 
de dados pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas (BRASIL, 2018).
É notável a dificuldade da doutrina e dos tribunais em diferenciar os termos privacidade 
e intimidade. Não se encontra diferenciação consistente entre os termos, levando a uma outra 
solução mais prática e menos artificial: a unificação desses conceitos.
Podemos entender que os termos “vida privada” e “intimidade” dizem respeito à am-
plitude do desenvolvimento da proteção da privacidade”, uma vez que a utilização do termo 
privacidade mostra-se uma opção razoável e eficaz, porquanto suficiente para distingui-la 
de outros como imagem, honra ou identidade pessoal, sendo também clara o bastante para 
especificar seu conteúdo na atualidade (DONEDA, 2006, p. 111-112).
 Nesse aspecto, a conhecida teoria das esferas, de origem no direito alemão, que divide 
o direito à privacidade em camadas de proteção, conforme tornem a intervenção externa cada 
vez mais restrita, até à impossibilidade de que ocorra.
Para tanto, a esfera privada é a primeira delas (Privatsphäre), abrangendo as questões 
que o indivíduo deseja que sejam mantidas em resguardo, fora do conhecimento público; a 
segunda camada é chamada da intimidade (Intimsphäre), nesta, já existe uma maior confi-
dencialidade, as informações seriam de conhecimento apenas do núcleo mais próximo do in-
divíduo, de familiares e amigos; a terceira, e última camada, é a do segredo (Geheimsphäre), 
concebendo os atributos no âmago pessoal e sigiloso do ser humano, reunindo os aspectos 
pessoais que cada um reserva para si. Esta última esfera foi protegida pela Corte alemã (em 
1969) como inviolável por parte do Estado, em qualquer hipótese (WEINGARTNER NETO, 
2002, p.72 - 73).
Aqui percebemos, a densidade do estudo da privacidade, não apenas como o direito à 
vida insular, mas, notadamente, à autodeterminação quanto às informações disponibilizadas, 
a terceiros, por intermédio dos dados pessoais, seu acesso, e o compartilhamento, bem como 
às demais formas de tratamento dos dados pessoais, observadas no curso dos próximos itens, 
sinalizando, tal relevância, no sentido da relevância, também penal da tutela, para que não 
se tenha, na sociedade contemporânea, proteção deficiente a esse direito fundamental. Para 
que se tenha uma noção mais adequada da privacidade, importa perceber a própria sociedade 
humana, e o processo civilizador. Para isso, adotamos Norbert Elias (1994) como referência.
23DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
O autor, em “O processo civilizador”, adotando como pano de fundo a cogitação, no 
sentido de que um homem da sociedade ocidental contemporânea fosse, de inopino, trans-
portado para uma época remota, tal como o período medieval-feudal. Segundo Elias, esse 
viajante no tempo descobriria hábitos e modos que, segundo os padrões modernos, julgaria 
selvagens, porquanto, diferentes dos seus, não condizem com a forma como foi educado, por 
isso os homens os abominariam. É possível que encontrasse um modo de vida muito diferente 
do seu, com hábitos e costumes inaceitáveis ou inadequados, ao lado de outros que até pode-
riam lhe ser atraentes, convenientes e aceitáveis.
Essa sociedade medieval, com tais hábitos e costumes, sequer seria, segundo os parâ-
metros do viajante no tempo, civilizada, uma vez que civilizados são, ou seriam, os costumes 
do seu tempo, de seu povo, de sua terra. 
A propósito, Landini (2005, p. 1), abordando a obra de Elias, refere-se à análise do de-
senvolvimento dos diferentes conceitos de cultura e civilização na Alemanha, Inglaterra e na 
França, explorando a civilidade como transformação dos costumes, desde a postura à mesa, 
no momento das refeições, na forma de comer, em relação às funções corporais, tais como 
espirrar ou tossir, escarrar, arrotar ou expelir gases, até o comportamento no quarto de dor-
mir ou no controle da agressividade, podemos, com facilidade, observar a privacidade duran-
te diversos momentos da humanidade, como levado a efeito em seguida.
Para Oliveira e Mendes (2007), a orientação dos costumes, como prática docente exi-
be, como partida, Erasmo de Roterdã (1469-1536), especialmente nas duas obras destinadas 
à educação do filho de um príncipe. Em “De Pueris” e “Civilidade pueril”, nas quais Roter-
dã procurou ensinar como a criança deve se comportar no convívio social, com o objetivo de 
mostrar que o comportamento social necessitade polidez, etiqueta e requinte, à necessida-
de de se ter “bons modos” à mesa, nos salões, como forma de convívio social, retratando a 
exigência histórica de que os homens aprendam a se comportar dentro das condições de seu 
tempo (OLIVEIRA e MENDES, 2007, p. 328). 
O autor tornou evidente a preponderância dos princípios como inclusões da estrutura 
mental e emocional da aristocracia, apropriados pela burguesia, no fim da Idade Média, ou 
seja, são a propagação dos pensamentos, sentimentos, costumes e hábitos da burguesia, que 
chegaram ao poder, entendendo-se necessária a “civilização”. 
24DIREITO EM COMPUTAÇÃO
 SUMÁRIO
Essa “civilização” já foi sinônimo até de atendimento das regras de etiqueta como “boas 
maneiras”. Segundo Elias (1994), a história das boas maneiras está diretamente relaciona-
da às regras de comportamento social, não apenas à questão da etiqueta, mas à moral, à éti-
ca, ao valor interno dos indivíduos e aos aspectos externos que se revelam nas suas relações 
com os outros. Todas as sociedades, ao longo da história, criaram normas e princípios com a 
finalidade de orientar as relações entre grupos e pessoas, sendo que a extensão em que esta 
situação, muito longe de ser evidente por si mesma, constitui mais um resultado do processo 
civilizatório, só é entendida se observarmos o comportamento das pessoas em um estágio di-
ferente de desenvolvimento (ELIAS, 1994, p. 169-170). 
Outro prisma adotado por Elias diz respeito ao exercício da sexualidade, com referências 
à sociedade aristocrática da corte, onde a vida sexual era por certo muito mais escondida do 
que na sociedade medieval, como orientação rumo à privacidade (ELIAS, 1994, p. 178). O pro-
cesso civilizador constitui uma mudança a longo prazo, na conduta e sentimentos humanos.
Essa visão é relevante, uma vez que a privacidade e a proteção dos dados pessoais estão 
absolutamente inseridas no contexto atual, podendo ser identificadas como um marco dos 
presentes dias, porquanto, talvez, não se tenha estudo mais inerente às mudanças sociais do 
que as decorrentes do tratamento dos dados pessoais, na condição de direito fundamental, e 
maior ativo econômico mundial.
Com efeito, os dados pessoais já assumiram o papel de maior ativo do momento, supe-
rando o petróleo, a ponto das empresas mais valiosas do momento significarem as que têm 
essas informações como seus escopos, criando novas formas de relacionamentos intersubje-
tivos e comerciais.
Podemos, com facilidade imaginar alteração do destino do viajante de Elias, trazendo o 
aristocrata para 2020, momento em que os manuais de conduta são instrumentalizados, por 
exemplo, nas políticas de privacidade às quais se comprometem as organizações, ao tratar os 
dados pessoais, indicando a revalorização da intimidade e da privacidade, ao lado da superex-
posição levada a efeito pelos próprios titulares dos dados, como ocorre nas redes sociais.
25DIREITO EM COMPUTAÇÃO
SÍNTESE SUMÁRIO
Colegas! Esses são alguns dos mais relevantes insights sobre a privacidade, entendida com um espectro mais amplo do que a intimidade. 
Está inserida no âmbito dos direitos da personalidade, inerente à própria natureza da pessoa natural. Evoluindo do direito a ser deixado a sós à 
autodeterminação informativa, conectada à modernização social em que a conexão em rede aprimora e incrementa as relações sociais, unindo 
pessoas dos mais diversos lugares, tornando sem relevância, distâncias físicas e fronteiras geopolíticas. Nessa quadra, os dados pessoais e o tra-
tamento desses dados pessoais, de forma monetizada, enseja a geração de riquezas e se revela campo fértil a violações, demandando atenção às 
finalidades com que ocorrem para que se tutele o titular dos dados. 
26DIREITO EM COMPUTAÇÃO
EXERCÍCIOS SUMÁRIO
1. Há diferenças entre privacidade e intimidade?
2. Como você explica o direito de ser deixado a sós em comparação com o direito à autodeterminação informativa?
3. Analise o caso: um ator famoso, assíduo frequentador das redes sociais abertas e de acesso liberado ao público, publicou o resultado dos seus 
testes relativos à COVID-19. Um internauta, de posse desses dados, notadamente nome, CPF e endereço, todos do ator, inscreveu-se em ope-
radora de TV a cabo, TVBOA, passando a receber o sinal sem qualquer pagamento. A operadora TVBOA, embora sem cobrar mensalidade dos 
usuários, veicula comerciais entre os programas que veicula. Você percebe alguma conduta irregular por parte do ator, internauta e TVBOA?
27
A PRIVACIDADE NO 
AMBIENTE VIRTUAL 
 A sociedade conectada.
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 SUMÁRIO
Conforme analisado com mais profundidade no primeiro capítulo, a sociedade humana 
experimenta constante e exponencial desenvolvimento tecnológico e científico , permitindo 
o acesso a bens e a serviços que, de um lado facilitam a vida, o trabalho e a geração de outras 
rendas, mas também incremental, de modo gigantesco, os riscos aos quais a sociedade do sé-
culo XXI está exposta, porque a circulação de bens e de pessoas, na escala atual, torna o que 
há algumas décadas poderia se constituir em desastre ou acidente de efeitos limitados a de-
terminado local, assumindo proporções mundiais.
Essa observação, começamos a perceber na segunda década dos anos 1900, quando a 
humanidade enfrentou a pandemia da “gripe espanhola”, que ceifou milhões de vidas huma-
nas, nos anos 1918 – 1919, mortes concentradas na população mais jovem, registrando mais 
de 35 mil mortes no Brasil, passando pelo vazamento do reator atômico de Chernobyl, desas-
tres ambientais com vazamentos de óleo, como o do petroleiro Exon Valdez e o recentemente 
ocorrido na costa brasileira, sendo que agora, em 2019 – 2020, a pandemia da COVID-19 ex-
põe de modo gigantesco essa relativização das fronteiras geopolíticas, porquanto desastres 
ambientais e sanitários não reconhecem fronteiras ou outros limites.
Contudo, nas últimas décadas, com maior ênfase agora, em tempos de pandemia e pós 
COVID-19, a tecnologia produz verdadeira reinvenção da sociedade. A evolução cibernética 
facilitando o acesso global à tecnologia, permite, como também já se observou no primeiro 
capítulo, a interconexão subjetiva em rede de forma praticamente ilimitada.
15Artigos 155 e 157, ambos do Código Penal.
O aprimoramento de tecnologias para home working, reuniões virtuais e a incessante 
troca de mensagens, permite essa integração em parâmetros gigantes, que praticamente des-
conhecem limites de espaço, pois, de modo praticamente instantâneo, pessoas em diversos 
lugares do mundo podem se conectar, compartilhando arquivos, imagens, sons, experiências.
Nesse sentido, para Castells (1999, p. 46), a sociedade informacional é uma sociedade 
em rede, a partir do novo espectro emerge uma nova morfologia social, e esta nova organiza-
ção, em rede, ganhará primazia econômica, social, política e cultural . 
Todavia, esse compartilhamento de vivências, saberes e afetos implica à reinvenção do 
modo como se lida com a intimidade e a privacidade.
Cada dia mais comuns, os vazamentos de dados pessoais, os acessos indevidos e mali-
ciosos, bem como manifestações que também violam direitos fundamentais são reiteradas, 
como se o ambiente cibernético fosse verdadeira “terra de ninguém”, um “território” sem 
leis, em que os indivíduos atuam protegidos por uma armadura tecnológica, e são alimenta-
dos pelos próprios titulares dos dados pessoais.
Ao contrário do que ocorre no meio físico, em que, de regra, o malfeitor subtrai para 
si coisas alheias, com ou sem ameaça ou violência física, como ocorre nos crimes de furto e 
roubo16, no meio digital, os titulares dos dados informam, compartilham e permitem o acesso 
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 SUMÁRIO
às suas informações como nome, endereço, CPF, endereços eletrônicos, e, até mesmo, dados 
sensíveis, relativos à saúde, biometria, orientação sexual, simpatia político-partidária, não 
raras vezes, relativos também a pessoaspróximas, como familiares e amigos.
O sistema jurídico, há bom tempo, deverá ser incrementado a partir de agora, conferin-
do olhares sob o prisma digital a direitos já consagrados a partir do meio físico, percebendo 
lacunas, que deverão ser supridas pela interpretação do operador do direito ou, em muitos 
casos, pela elaboração de novas regras.
Com efeito, em uma análise fechada, estreita e pontual da Constituição Federal de 1988, 
não se percebe referência expressa à proteção de dados e à privacidade, como já se dispõe na 
Carta Fundamental da União Europeia, nos seus arts. 7º e 8º.
Todavia, embora seja perfeitamente normal essa morosidade legislativa e de reformas 
do texto constitucional, o ordenamento jurídico não pode conviver com vácuos atinentes a 
tão relevante fato social. Perceberemos que os dados pessoais chegam ao ponto de, na opinião 
de diversos escritores, ser considerados como configuradores do “corpo eletrônico”.
Sobre o “corpo eletrônico”, Cristiano Colombo (2015) refere:
A necessidade de uma “legislação própria”, dado o “aparecimento muito rápido de no-
vos problemas”, faz com que os governos, paulatinamente, venham a regular o mundo 
virtual, assim como já ocorrido no mundo físico. Dessa forma, o corpo eletrônico da 
pessoa humana, bem como as obrigações, os contratos, à propriedade, que transitam 
pela internet, migram do real (físico) para o virtual, devendo o operador do Direito pas-
sar a ter um “espírito inovador” e “compreender as novas regras do jogo.
Nesse particular, a tutela jurídica das pessoas naturais superou os limites do corpo físi-
co. Devemos considerar o direito ou proibição de acesso ou não aos bancos de dados, a tutela 
da exposição de informações que dizem respeito à pessoa, bem como promover a sua retifi-
cação, cancelamento ou integração dessas informações, passando, em razão de suas novas 
extensões, a existir uma personalidade além do corpo físico, porquanto os dados pessoais 
passam a ser “elemento constitutivo” da identidade, merecedora de proteção. 
A propósito, Colombo (2015) traduz trecho de Bauman, no qual refere que: “em um sí-
tio, já está presente um elenco de características do nosso corpo, com todas peculiaridades da 
nossa mente […].”
Por seu turno, Danilo Doneda (2006) utiliza a expressão “avatar” para significar a es-
truturação de dados que representa virtualmente a pessoa humana:
Nossos dados, estruturados de forma a significarem para determinado sujeito uma 
nossa representação virtual – ou um avatar –, podem ser examinados no julgamento 
de uma concessão de uma linha de crédito, de um plano de saúde, a obtenção de um 
emprego, a passagem livre pela alfândega de um país, além de tantas outras hipóteses 
(DONEDA, 2006, p. 2).
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 SUMÁRIO
A relevância dos dados pessoais, fruto da imaginação e da engenharia humana, cons-
titui universo em que opera a realidade virtual, integrado pela automatização complexa dos 
processos de elaboração e circulação de dados e informações, numa velocidade e modo extre-
mamente superiores à capacidade humana de assimilação racional, e este fato, por si só, já 
representa desafios às tentativas dos sistemas jurídicos em regulá-lo completamente.
Podemos notar que malfeitores se utilizam da tecnologia com robôs, compostos por al-
goritmos e inteligências artificiais para minerar esses dados pessoais, captando, processando 
e estruturando informações que serão utilizadas em desfavor do titular e demais pessoas, fí-
sicas e jurídicas, que restarão violadas em direitos e posições subjetivas.
A realidade digital mostra-se ainda mais complexa do que a física, substituindo a ação 
humana nas tarefas repetitivas também para violação de direitos com mais eficiência e “pro-
dutividade”, ao utilizar máquinas com poder de processamento inimaginável, há alguns anos, 
não dependemos de comandos humanos para cada ação, chegando ao ponto de “aprender” 
como reagir a situações não previstas com antecedência, entregando ao programador ou uti-
lizador da tecnologia resultados gigantescos.
Nessa esteira, decisões são tomadas por máquinas, comandadas por algoritmos que, 
originalmente, até foram pensados e programados pela mente humana, mas, em seguida, há 
uma certa emancipação da máquina, que toma decisões de forma independente, com base em 
critérios desenvolvidos pela própria. Contudo, para que se chegasse a essa emancipação da 
máquina, teve de ocorrer a “emancipação intelectual do homem”, o que é retratado por Lu-
ciano Feldens (2005, p. 29), ao relatar que “esse fenômeno identifica-se, temporal e metodo-
logicamente, com a fase racionalista do jusnaturalismo (Direito natural racional, dos séculos 
XVII e XVIII) e seu ulterior declínio (século XIX), com a secularização do Estado e a positiva-
ção do Direito.
Percebe-se que, no mundo virtual, o contingente de informações e dados é tão vasto e de 
procedências tão difusas que a certeza sobre as suas origens (lícita ou ilícita, confiável ou não, 
científica ou não) está constantemente ameaçada. Com base em tais elementos que juízos de 
cognição e valor são forjados, escolhas são feitas e manifestações de vontade geram atos e 
consequências, as mais diversas, as quais, em regra, se perpetuam, pois já é comum a ideia de 
que “a internet não esquece”.
Com efeito, o fenômeno contemporâneo da digitalização revolucionou irrevogavelmen-
te todos os aspectos essenciais das relações humanas. Esses impactos se fazem sentir na “in-
ternet das coisas”, no âmbito da segurança digital, em seu impacto para direitos individuais 
como o direito à privacidade e à autodeterminação informacional, na introdução de moedas e 
meios de pagamento puramente digitais, na introdução de máquinas autônomas (ou semiau-
tônomas) que interagem com seres humanos, etc.
Pelo avanço tecnológico, na presente quadra histórica, a esfera privada deve ser levada 
em conta como a esfera “pessoal” e não necessariamente “secreta”, pois a tecnologia como 
um todo contribuiu para a reconstrução da esfera privada, na medida em que diminuiu a ne-
cessidade de se estabelecer determinados contatos sociais cotidianos, como por exemplo, as 
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 SUMÁRIO
compras a distância, a realização de transações bancárias e as videoconferências, atraindo, 
sobretudo, na área das comunicações, a necessidade de proteção mediante vigilância e for-
mas de controle social que, no passado, ruindo a possibilidade do indivíduo se fechar na sua 
“fortaleza eletrônica”, porquanto subtrair a pessoa natural ao controle social, significaria o 
rompimento do liame com os seus semelhantes (RODOTÀ, 2008, p. 93-95).
É de Habermas a lição de que hoje “a tecnologia proporciona igualmente a grande ra-
cionalização da falta de liberdade do homem e demonstra a impossibilidade “técnica” de ser 
autônoma, de determinar pessoalmente a sua vida. Com efeito, esta falta de liberdade não 
surge nem irracionalmente nem como política, mas antes como sujeição ao aparelho técnico 
que amplia a comodidade da vida e intensifica a produtividade do trabalho. A racionalidade 
tecnológica protege, antes a legalidade da dominação, em vez de a eliminar, e o horizonte 
instrumentalista da razão abre-se uma sociedade totalitária de base racional”.
DO DIREITO AO ESQUECIMENTO E/OU À DESINDEXAÇÃO
Esse conjunto de informações e a inesgotável possibilidade de processamento dos dados 
pessoais, cuja combinação pode levar a inúmeros efeitos, integrando o titular a perfis elabo-
rados ao alvedrio do controlador dos dados, como por exemplo, homens, mulheres, brancos, 
negros, dessa ou daquela profissão, com este ou aquele domicílio, com determinadas prefe-
rências de compra e venda de mercadorias, etc., implica facilidades, mas que jamais sejam 
essas informações deletadas ou apagadas de todo e qualquer equipamento.
Segundo Bruce Schneier, a internet causou e segue causando, na sociedade, verdadeiro 
“maremoto” de dados pessoais, sendo que, nos moldesda produção e da poluição industrial, 
em larga escala, há a geração de “resíduos” consubstanciados nos dados que poderão perma-
necer “registrados para sempre, sendo necessário regular sua geração, seu uso e seu descar-
te”.
 Os chamados “prints” ou “fotografias” das telas, e informações por praticamente to-
dos os que tiverem acesso a elas, causa ou poderá causar, severos danos e prejuízos econômi-
cos e, notadamente, morais.
As informações sobre as pessoas são objetos de buscas na internet, por intermédio de 
algoritmos e computação de altíssimo poder de processamento que vasculha bancos de dados 
e, em instantes, fornecem verdadeiros dossiês, tendo por base a camada lícita da internet, 
sem a necessidade de acesso por intermédio da deep web ou dark web, que veremos no capí-
tulo dedicado à criminalidade virtual.
Rodotà observa que “a novidade fundamental introduzida pelos computadores é justa-
mente a transformação da informação, antes dispersa, torna-se organizada”.
Ocorre que essa exposição constante e perene pode trazer prejuízos à própria existência 
da pessoa, tanto física quanto jurídica, pois eventual erro, delito ou mácula, mesmo cometido 
há muito tempo, seguirá acompanhando as buscas efetivadas pelos programas e aplicativos. 
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 SUMÁRIO
Isso leva à impossibilidade de que haja o esquecimento de condutas, as quais alguém não mais 
queira ser ligado. As pessoas podem mudar, adotar outros hábitos, converter-se a outras re-
ligiões, optar por este ou aquele partido político, ou simplesmente desligar-se de fatos.
Tal esquecimento, ainda que com os limites, por exemplo, da prescrição cível ou penal, 
e outras implicações de lei, era possível e viável até uma ou duas décadas, pois a notoriedade 
perene, a exposição perpétua era característica praticamente percebida em relação às pessoas 
mais famosas, que houvessem desempenhado cargos de alto escalão, artistas de renome ou 
ao âmbito familiar. Atualmente, basta digitar o nome, apelido em buscadores, que haverá, de 
regra, a exibição de dados públicos, privados e até mesmo íntimos, gerando vexames, inquie-
tudes e desassossegos com os quais o direito necessitou ocupar-se, porquanto, com base em 
expresso ditame constitucional, o sistema jurídico brasileiro deve responder de modo mini-
mamente satisfatório aos pleitos que ordenam os incisos XXXIV e XXXV, ambos do art. 5º que 
“são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição 
aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; (...)”, bem 
como que nem mesmo a lei poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão 
ou ameaça a direito”. Tanto em países estrangeiros, quanto no Brasil, há decisões judiciais e 
precedentes jurisprudenciais que reconheceram o direito ao esquecimento.
Em 2013, com o intuito de harmonizar os preceitos do texto constitucional com os do 
Código Civil de 2002, sob o prisma da dignidade da pessoa humana, o direito ao esquecimen-
to mereceu o Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil com a proposta de que “a tutela da 
dignidade da pessoa humana, na sociedade da informação, inclui o direito ao esquecimento”.
A propósito, Rafael Santos de Oliveira, Bruno Mello Correa de Barros e Marília do Nas-
cimento Pereira referem as justificativas do enunciado, exatamente no sentido de que “os 
danos provocados pelas novas tecnologias de informação acumulam-se nos dias atuais. O di-
reito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações criminais. Surge 
como parcela importante do direito do ex-detento à ressocialização. Não atribui a ninguém o 
direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a possibilidade 
de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade 
com que são lembrados”20.
Nessa esteira, o Superior Tribunal de Justiça – STJ, Corte responsável pela unidade da 
legislação ordinária do Brasil21, em dois julgados de 2013, reconheceu esse direito.
16O DIREITO À PRIVACIDADE NA INTERNET: DESAFIOS PARA A PROTEÇÃO DA VIDA PRIVADA E O DIREITO AO ESQUE-
CIMENTO, in Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 70, pp. 561 - 594, jan./jun. 2017.
17“Embora criado pela Constituição Federal como guardião do direito infraconstitucional, no estado atual em que se en-
contra a evolução do direito privado, não me parece possível a esta Corte de Justiça analisar as celeumas que lhe aportam 
"de costas" para a Constituição Federal, sob pena de ser entregue ao jurisdicionado um direito desatualizado e sem las-
tro na Lei Maior. Em síntese, o Superior Tribunal de Justiça, cumprindo sua missão de uniformizar o direito infracons-
titucional, não pode conferir à lei uma interpretação que não seja constitucionalmente aceita (REsp 1.183.378/RS, Rel. 
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/10/2011). Nesse sentido, já decidiu o STF não haver 
usurpação, pelo STJ, no julgamento de demanda com "causa de pedir fundada em princípios constitucionais genéricos, 
que encontram sua concreta realização nas normas infraconstitucionais" (Rcl 2.252 AgR-ED, Relator(a): Min. MAURÍ-
CIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 18/03/2004)”.
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 SUMÁRIO
Com efeito, ao julgar os Recursos Especiais nº 1.334.097 - RJ (2012/0144910-7) e 1.335.153 
- RJ (2011/0057428-0), o STJ consolidou a tese de que as pessoas têm o direito ao esqueci-
mento, tanto pela opinião pública, quanto pela imprensa22, por fatos dos quais participaram 
como atores ou vítimas, e também se pode pensar em outras participações.
Esse esquecimento deve dar-se notadamente após decorrido o lapso prescricional, em-
bora não se possa e nem se deva apagar registros como os efetivados em autos de processos, 
ou outros documentos impressos. A limitação imposta pelo STJ, no que segue acompanhado 
pelos demais Tribunais regionais, em razão da necessária unidade de entendimento juris-
prudencial acerca da aplicação da legislação federal, sob o fundamento de que o ordenamento 
jurídico brasileiro não convive com punições eternas.
Vale notar que ambos os casos dizem respeito a reportagens da emissora de TV, no pri-
meiro deles, um dos acusados, absolvido, pelo episódio que ficou conhecido como a Chaci-
na da Candelária, no Rio de Janeiro, e o outro por familiares de vítima de estupro (os nomes 
constam das decisões, mas aqui não serão expostos, exatamente para dar densidade às deci-
sões), e morta em 1958 por um grupo de jovens. 
Para tanto, o ministro Luis Felipe Salomão, relator de ambos os casos, consignou:
“Não se pode, pois, nestes casos, permitir a eternização da informação. Especificamen-
te no que concerne ao confronto entre o direito de informação e o direito ao esqueci-
mento dos condenados e dos absolvidos em processo criminal, a doutrina não vacila 
em dar prevalência, em regra, ao último”.
Em decisão de 2018, foi reconhecido o direito das pessoas a essa desindexação, notada-
mente quando as informações estiverem incorretas, forem irrelevantes à sociedade, ou mes-
mo estiverem desatualizadas, e que caso revigoradas, ou revisitadas mediante os buscadores, 
haja, ainda que de modo potencial, danos aos titulares desses dados e informações.
Pode-se diferenciar o direito ao esquecimento do direito à desindexação, porquanto o 
esquecimento diz respeito à relação indivíduo-imprensa, no âmbito analógico, embora a ir-
refreável migração dos periódicos para o meio digital, sendo que a desindexação é atinente à 
relação entre o titular dos dados e os buscadores.
Vale referir que além da Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD, o direito fundamental à 
privacidade e à proteção dos dados pessoais, quando o tratamento dos dados ocorrer no âm-
bito da internet, tem-se por aplicável a Lei Federal nº. 12.965/2014 – Marco Civil da Internet, 
expressa à consagração desses direitos, nos termos dos artigos 2º e 3º.
A desindexação implica apenas

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