Prévia do material em texto
FABRÍCIO FORCATO DOS SANTOS RELATÓRIO TÉCNICO SOBRE COLETA E ANÁLISE DE FONTES Relatório apresentado à disciplina de Seminário de Dissertação em Espaço e Sociabilidades II, do programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal do Paraná – UFPR – ministrada pelo Profo Dr. Luiz Geraldo Silva. CURITIBA 2006 1 O corpo documental da nossa pesquisa é formado por fontes manuscritas e impressas. As primeiras correspondem aos processos-crime, fonte principal desse estudo, que tramitavam na Vigaría da Vara Eclesiástica de Paranaguá no decorrer do século XVIII. Grande parte dessa documentação é da primeira metade do setecentos sendo rara, em nosso trabalho, a presença de fontes dessa natureza que ultrapassam os limites da década de 1760. A grande concentração de processos nos quais são relatadas tensões entre eclesiásticos e leigos – nosso principal foco de inquirição – durante esse período foi responsável pela caracterização do nosso recorte cronológico que vai de 1718 até 1774. Ainda referente a essa questão, também levamos em consideração a disponibilidade dessas fontes em condição satisfatória para utilização na pesquisa. Entretanto, alguns documentos se encontram mutilados e com a sua leitura prejudicada devido ao seu estado de conservação, o que diminui consideravelmente o número de páginas da versão original dos mesmos para sua versão transcrita. Um dos processos com o qual iremos trabalhar, o de “Prisão Ilegal de um clérigo” que envolveu Sebastião Pina (réu) e o padre Antonio de Andrade em 1731 na vila de Curitiba, por exemplo, possuí vinte e quatro páginas, mas sua transcrição não ultrapassa duas laudas. Nesse sentido buscamos coletar, nesses casos, informações que possibilitem identificar o sentido geral de cada um desses processos, inventariando, quando possível, o ou os autores, o réu, as testemunhas e as acusações nas quais se sustenta cada denunciação. A maioria desses processos já está digitalizada e transcrita, o que torna muito mais fácil a coleta de dados e a catalogação dos testemunhos presentes nas devassas. As fontes impressas correspondem, por sua vez, às legislações eclesiásticas aplicadas na América Portuguesa, notadamente as “Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia”, de 1701 e o “Regimento do Auditório Eclesiástico”, de 1835. Toda documentação é de fácil acesso para consulta: os processos-crime originais pertencem ao Arquivo Dom Leopoldo Duarte de São Paulo, mas há cópias microfilmadas no CEDOPE (Centro de Documentação e Pesquisa dos Domínios Portugueses, sécs XV a XIX da Universidade Federal do Paraná) e muitos dos mesmos já estão com suas cópias particulares realizadas. As fotocópias das legislações eclesiásticas, por sua vez, já foram providenciadas junto ao CEDOPE. Dessa forma, segue abaixo a listagem dos documentos a serem utilizados com as devidas observações sobre sua digitalização e transcrição. Referente a observação “Nomes” 2 destacamos que os mesmos são os que aparecem em cada uma das capas dos processos. Nesse sentido, não iremos citar aqui as testemunhas envolvidas em cada um dos processos a fim de não nos alongarmos demasiadamente na listagem da documentação Documentação manuscrita para a vila de Curitiba: • Processo de: “Auto de Devassa” (Transcrito e digitalizado). Ano: [1718]. Nomes: Padre André da Silva Ribeiro (vítima); Gabriel Alves (capitão); Antonio Martins e Manoel de Farias Martins (culpados). Número de páginas do original: 27. Número de páginas da transcrição: 03. • Processo de : “Agressão, ofensas, prisão ilegal” (Transcrito e digitalizado). Ano: [1730]. Nomes: Padre Antonio de Andrade (vítima); Manoel Gonçalves da Costa (Sargento Mor) e Miguel Paes (Alferes) (culpados). Número de páginas do original: 28. Número de páginas da transcrição: 02. • Processo de: “Prisão Ilegal de um clérigo” (Transcrito e digitalizado). Ano: [1731]. Nomes: Sebastião de Pina (réu). Pe Antonio de Andrade (citado). Número de páginas do original: 24. Número de páginas da transcrição: 02. • Processo de: "O réu sem receber a côngrua da fazenda real, não desobrigava ninguém e faltava com os sacramentos”. (Transcrito e digitalizado). Ano [1734]. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão (réu). Autores do processo: Os moradores e povo da vila de Curitiba. Número de páginas da transcrição: 09. • Processo de: “Preços abusivos para a desobriga, comunhão e confissão dos fregueses”. (Transcrito e digitalizado). Ano: [1740]. Nomes: Câmara (autor); Padre Manoel Domingues Leitão (réu). Número de páginas do original: 79. Número de páginas da transcrição: 16. • Processo de: “Cobrança ilícita dos sacramentos” (Transcrito). [1741]. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão (embargado). Número de páginas do original: 32. Número de páginas da transcrição: 02. • Processo de: “Usura, negócios ilícitos”. (Transcrito) [1750]. Processo originário da devassa geral e correição. Anos 1748 e 1749. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão (réu). Número de páginas da transcrição: 20. 3 • Processo de: “Ouvidoria geral e correição secular da vila de Paranguá”. (Transcrito e digitalizado). Ano: [1752]. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão. (réu). Número de páginas da transcrição: 01. • Processo de: “Devassa da correição geral”. (Transcrito). Ano: [1752-1753]. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão. (réu). Número de páginas da transcrição : 19. • Processo de: “Falta de sacramentos”. (Transcrito). Ano: [1753]. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão. (réu). Número de páginas da transcrição: 13. • Processo de: “Falta de sacramentos e outros” (Transcrito). Ano: [1773]. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão. (réu). Número de páginas da transcrição : 06. • Processo de: “Falta de sacramentos”. (Transcrito). Ano: [1774]. Nomes: Padre Manoel Domingues Leitão. (réu). Número de páginas da transcrição: 09. Documentação manuscrita para a Vila de Paranaguá: • Processo de: “Prisão ilegal de um clérigo”. Ano: [1731]. Nomes: Antonio Carneiro - Mestre Sapateiro (réu), Padre Antonio De Andrade (citado). Número de páginas da versão microfilmada: 21. Documento ainda não digitalizado • Autos de Denúncias. Ano: [1747]. Nomes: Padre Antonio Sampaio (réu). Número de páginas da versão microfilmada: 18. Documento ainda não digitalizado • Processo de: “O réu deflorou e a desonrou de sua honra e virgindade” (Transcrito). Ano: [1747]. Nomes: Rita de Maria de Jesus (autora), Padre Antonio Esteves Ribeira (réu). Número de páginas da transcrição : 18. • Processo de: “Concubinato; falta de sacramentos; havia envenenado um inimigo; havia maltratado um seu escravo até a morte; fazia retiradas ilícitas da fábrica da igreja; desonrara algumas mulheres”. (Transcrito). Ano: [1748]. Nomes: Padre Antonio Esteves Ribeira (réu). Número de páginas da transcrição : 17. • Processo de: “O réu recebia suborno para inocentar diversos denunciados nas devassas, concubinato, o réu deflorou e maltratou uma carijó”. Ano: [1749]. 4 Nomes: Padre Antonio da Costa Montalvam, Promotor do Juízo Eclesiástico. (réu). Documento ainda não digitalizado. • Processo de: “Concubinato”. (Transcrito). Ano: [1750]. Nomes : Maria Tavares de Assunção (ré), Padre Antonio da Costa Montalvam (Compadre da ré. Concubino). Número de páginas da transcrição: 17. • Processo de “ O réu desonestou uma mulher casada, concubinato” (Transcrito). Ano: [1751]. Nomes: Padre Antonio da Costa Montalvam. (réu). Número de páginas da transcrição : 12. • Processo de: “Blasfemia contra o pároco, concubinato”. Ano: [1752]. Nomes: A Justiça por seu reverendo promotor (autora); Joze Jacome de Azevedo, Casado (réu). Número de páginas da versão microfilmada: 114. Documento ainda não digitalizado. • Processo de : “Autos de Devassa; Omissão de Sacramentos”. Ano: [1755]. Nomes: Padre Antonio Pereira de Macedo.(réu). Número de páginas da versão microfilmada: 196. Documento ainda não digitalizado. Documentação Impressa: • Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. São Paulo : Thypografia 2 de Dezembro, 1720. • Regimento do auditório eclesiástico. São Paulo : Thypografia 2 de Dezembro, 1853. Possibilidades de análise Como salientamos anteriormente, os processos crime constituem grande parte do nosso corpo documental. Dessa forma, será por meio deles, juntamente com as legislações eclesiásticas apontadas acima, que iremos auferir as informações que norteiam nosso estudo. Nesse sentido listamos a seguir um breve rol das possibilidades de análise que os documentos permitem: 5 1) Natureza dos conflitos entre eclesiásticos e leigos. Qual é o teor de cada denunciação? As devassas contemplam quais assuntos com mais freqüência? 2) Concepção moral da sociedade: ética e valores. Quais valores estão sendo tratados em cada processo? 3) Relação entre clero e fiéis: expectativas de comportamento de um grupo em relação ao outro. 4) Modalidade jurídica presente nos processos. 5) Discussão acerca do comportamento considerado próprio a um homem da sociedade colonial. Fontes auxiliares Em conjunto com os processos crime e legislações eclesiásticas iremos utilizar um corpo de documentos auxiliares em nossa pesquisa composto por listas nominativas de habitantes das Vilas de Curitiba e Paranaguá. Esses censos, que a partir do ano de 1765 passaram a ser realizados anualmente na capitânia de São Paulo, visavam arrolar as potencialidades de toda a população da América Portuguesa1. Nossa intenção em aglutinar essas fontes aos nossos documentos principais é a de identificar as pessoas presentes nos processos crime dos quais dispomos. Ou seja: “quem é quem” em cada uma das denunciações que compõe nosso corpo documental. Possuíam cargos representativos dentro daquela sociedade? Quais eram suas ocupações? Do que viviam? Qual era a distribuição espacial dos envolvidos em cada um dos processos? São algumas indagações que visamos responder com esse tipo de documentação. A lista nominativa mais antiga que possuímos para a Vila de Curitiba pertence ao ano de 1765. Já para a Vila de Paranaguá o censo mais antigo do qual dispomos é o do ano de 1767, porém, iremos utilizar todas as listas nominativas existentes no século XVIII para as duas vilas. Da mesma forma que os processos crime, as listas estão disponíveis no CEDOPE da Universidade Federal do Paraná e, em sua grande maioria, já estão transcritas e sob nosso domínio. 1 NADALIN, Sérgio Odilon. História e Demografia Elementos para um diálogo. Campinas : Associação Brasileira de Estudos Populacionais-ABEP ,2004. p. 48. 6 Além do acervo documental do CEDOPE, tentaremos localizar junto à coleção “Documentos interessantes para a História e Costumes de São Paulo” outras fontes que possam ser pertinentes para nosso estudo, como cartas e ofícios redigidos durante nosso período de inquirição que exponham tensões entre eclesiásticos e leigos. Da mesma forma que a documentação presente no CEDOPE, a coleção citada é de fácil acesso para consulta, pois se encontra localizada no setor de periódicos, terceiro andar, da Biblioteca da Universidade Federal do Paraná (campus Reitoria). Etapa de desenvolvimento da pesquisa A título de conclusão, destacamos que neste momento da pesquisa possuímos como prioridade o término da digitalização e da transcrição dos cinco processos-crime que listamos logo acima. Esses documentos, que foram localizados recentemente, apresentam número de páginas elevado, porém, não realizamos até o momento uma análise mais efetiva acerca do estado de conservação dos mesmos e de suas possibilidades de leitura. Dessa forma, o número de páginas das transcrições pode vir a ser consideravelmente menor em relação ao número de páginas dos originais. Em conjunto a essa atividade estamos elaborando um catálogo dos testemunhos presentes em cada um dos processos já transcritos na medida que identificamos o teor de cada denunciação e sua recorrência neste conjunto de fontes. Por fim, salientamos que o rastreamento das pessoas citadas nos processos será realizado em uma etapa posterior do trabalho, após todos os testemunhos dos processos terem sido inventariados, tarefa esta que não ultrapassará o mês de outubro de 2006. Levantamento das fontes de pesquisa, sua transcrição e leitura: Número de documentos principais a serem utilizados: processos-crime/ documentação impressa. Número de processos-crime já transcritos: processos- crime/documentação impressa. Documentos já lidos: processos- crime/documentação impressa. 21/2 16/2 16/2 Total: 23 Total: 18 Total: 18 7 FABRÍCIO FORCATO DOS SANTOS CURITIBA Possibilidades de análise Fontes auxiliares Etapa de desenvolvimento da pesquisa Levantamento das fontes de pesquisa, sua transcrição e leitu