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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS LUANA MEIRINHO DECOSIMO Alcaloides de Erythrina velutina como possíveis agentes bioativos para transtornos cognitivos NATAL/RN 2022 LUANA MEIRINHO DECOSIMO Alcaloides de Erythrina velutina como possíveis agentes bioativos para transtornos cognitivos Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciências Farmacêuticas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientadora: Prof. Dra. Raquel Brandt Giordani Coorientadora: Prof. Dra. Ana Carolina Luchiari NATAL/RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Decosimo, Luana Meirinho. Alcaloides de Erythrina velutina como possíveis agentes bioativos para transtornos cognitivos / Luana Meirinho Decosimo. - 2022. 63f.: il. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Natal, RN, 2022. Orientadora: Dra. Raquel Brandt Giordani. Coorientadora: Dra. Ana Carolina Luchiari. 1. Alcaloides - Erythrina velutina - Dissertação. 2. Doença de Alzheimer - Dissertação. 3. Memória - Dissertação. 4. Zebrafish - Dissertação. I. Giordani, Raquel Brandt. II. Luchiari, Ana Carolina. III. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 547.94 Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 Luana Meirinho Decosimo Alcaloides de Erythrina velutina como possíveis agentes bioativos para transtornos cognitivos Banca Examinadora: _________________________________________ Prof. Dr. Cícero Flávio Soares Aragão Presidente – UFRN _________________________________________ Profa. Dra. Ana Carolina Luchiari Coorientadora – UFRN _________________________________________ Profa. Dra. Percilia Cardoso Giaquinto Examinador Externo – UNESP _________________________________________ Dr. Fabiano Peres Menezes Examinador Interno – UFRN Natal, 21 de fevereiro de 2022 NATAL / RN 2022 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E CONTRATOS FOLHA DE ASSINATURAS Emitido em 21/02/2022 DOCUMENTOS DE ACEITAÇÃO Nº 4/2022 - PPGCF/CCS (15.27) (Nº do Protocolo: NÃO PROTOCOLADO) (Assinado digitalmente em 25/02/2022 12:41 ) ANA CAROLINA LUCHIARI PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR DFS/CB (17.12) Matrícula: 1644341 (Assinado digitalmente em 24/02/2022 22:17 ) CICERO FLAVIO SOARES ARAGAO COORDENADOR DE CURSO PPGCF/CCS (15.27) Matrícula: 1492900 (Assinado digitalmente em 25/02/2022 11:22 ) FABIANO PERES MENEZES ASSINANTE EXTERNO CPF: 811.318.790-15 (Assinado digitalmente em 04/03/2022 11:50 ) PERCILIA CARDOSO GIAQUINTO ASSINANTE EXTERNO CPF: 137.665.028-24 Para verificar a autenticidade deste documento entre em https://sipac.ufrn.br/documentos/ informando seu número: 4 , ano: 2022, tipo: DOCUMENTOS DE ACEITAÇÃO, data de emissão: 24/02/2022 e o código de verificação: 01a0380c3c https://sipac.ufrn.br/public/jsp/autenticidade/form.jsf RESUMO A doença de Alzheimer (DA) caracteriza-se por um transtorno neurodegenerativo que causa a perda irreversível de memória, sendo a principal causa de demência na população idosa. A memória é uma função fundamental para o nosso dia a dia e a terapia da DA pode apenas melhorar a qualidade de vida, mas não evita a progressão da doença e dos sintomas. O arsenal terapêutico para o tratamento desta doença limita-se a algumas substâncias com ação na inibição da enzima colinesterase, que bloqueia os efeitos da redução da acetilcolina, resultando em neuroproteção. Por isso, novas opções de produtos naturais tornam-se interessantes. Devido à grande biodiversidade de plantas medicinais encontradas no Brasil, principalmente no bioma da Caatinga que é exclusivo do território brasileiro. A Erythrina velutina é uma dessas plantas com potencial bioativo, que apresenta uso popular terapêutico consagrado e possui em sua composição alcaloides isoquinolínicos que demonstraram atividades psicoativas. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial biológico in vivo de frações enriquecidas em alcaloides de sementes de E. velutina sobre aspectos cognitivos utilizando como modelo experimental o zebrafish (Danio rerio). A partir das sementes da planta foi obtida uma fração enriquecida em alcaloides a qual foi utilizada nos testes biológicos em zebrafish para avaliação toxicológica em embriões e adultos. A fração tem concentração letal para embriões em 17,40ug/ml, mas não é toxica para adultos. Em adultos, a fração causou resposta de diminuição de comportamento tipo-ansioso. Em testes de memória de curta duração, o tratamento com a fração melhorou o desempenho dos animais, mas não foi observada ação da fração para a memória de longa duração. Ao final deste trabalho observamos que a fração enriquecida em alcaloides apresenta potencial ansiolítico e melhora a resposta mnemônica de curto prazo, mostrando assim potencial bioativo frente a aspectos relacionados à memória. Palavras-chave: Doença de Alzheimer, Erythrina velutina, alcaloides, memória, zebrafish. ABSTRACT Alzheimer’s disease (AD) is characterized by a neurodegenerative disorder that causes irreversible memory loss, being the main cause of dementia in the elderly population. Memory is a key function for our everyday life and AD therapy can only improve quality of life but does not prevent the progression of disease and symptoms. The therapeutic arsenal for the treatment of this disease is limited to some substances with action in the inhibition of the enzyme cholinesterase, which blocks the effects of acetylcholine reduction, resulting in neuroprotection. Therefore, new natural product options become interesting. Due to the great biodiversity of medicinal plants found in Brazil, mainly in the Caatinga biome that is exclusive to the Brazilian territory. Erythrina velutina is one of these plants with bioactive potential, which has a popular therapeutic use and has in its composition isoquinolinic alkaloids that have demonstrated psychoactive activities. Thus, the objective of this study was to evaluate the in vivo biological potential of fractions enriched in E. velutina seed alkaloids on cognitive aspects using as an experimental model the zebrafish (Danio rerio). A fraction enriched in alkaloids was obtained from the seeds of the plant, which was used in zebrafish biological tests for toxicological evaluation in embryos and adults. The fraction has a lethal concentration for embryos at 17.40ug/ml but is not toxicto adults. In adults, the fraction caused a response of decreased anxiety-type behavior. In short-term memory tests, treatment with the fraction improved the performance of the animals, but no action of the long-term memory fraction was observed. At the end of this study, we observed that the fraction enriched in alkaloids presents anxiolytic potential and improves the short-term mnemonic response, thus showing bioactive potential in the face of memory-related aspects. Keywords: Alzheimer’s disease, Erythrina velutina, alkaloids, memory, zebrafish. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fisiopatologia cerebral característica da Doença de Alzheimer: A - Imagem ilustrativa de um corte transversal no cérebro com um lado saudável e outro lado acometido pela DA avançado; B - Demonstração da presença de placas senis sobre as células com Alzheimer e saudáveis; C - Imagem sobre microscópio da região de uma célula em formação de emaranhados neurofibrilares e outra região saudável; D - Demonstração de um processo de neurotransmissão por meio de sinapses em um cérebro saudável; E - Cérebro acometido pela DA, com os processos de neurotransmissão afetados. ...................................................................................... 16 Figura 2: Mecanismo molecular de dano neuronal e progressão da Doença de Alzhmeir (DA). .......................................................................................................... 18 Figura 3: Biossíntese de alcaloides e outros metabólitos secundários de plantas. E4P, eritrose 4-fosfato; G3P, gliceraldeído 3-fosfato; PEP, fosfoenolpiruvato; PYR, piruvato; DOX5P, desoxixilulose 5-fosfato; IPP, pirofosfato de isopentenilo. .......................... 22 Figura 4: Estrutura geral dos alcaloides eritrínicos e subclasses desses alcaloides. .................................................................................................................................. 24 Figura 5: Fases de obtenção do Extrato Bruto Hidroalcóolico: A- Maceração hidroalcoólica; B- Filtração a vácuo; C- Rotaevaporação. ........................................ 29 Figura 6: Obtenção de frações enriquecidas com alcaloides: A- Solubilização da amostra com diclorometano (DCM) + metanol (MeoH) - 8:2; B- Extrato com diclorometano/metanol + ácido clorídrico 5%; C- Extrato com diclorometano/metanol + ácido clorídrico 5% no funil; D- Após alcalinizar com NH4OH a 75% a fração aquosa ácida, foi feita a extração com diclorometano 6x; E- Última extração com diclorometano; F- fração DCM alcaloidica; G- Fração submetida a rotaevaporação a 35°C; H- Fração enriquecida em alcaloides pronta. ................................................. 30 Figura 7: Esquema experimental. ............................................................................ 38 Figura 8: Cromatografia em camada delgada das frações enriquecidas em alcaloides obtidas de sementes de Erythrina velutina: A- Frações sobre a luz UV; B- Frações reveladas com o reagente Dragendorff..................................................................... 39 Figura 9: Frações enriquecidas em alcaloides obtidas de sementes de Erythrina velutina reveladas com Dragendorff sob luz UV: A e C- frações sobre a luz UV; B- frações reveladas com vanilina; D- frações reveladas com Dragendorff. ................. 40 Figura 10: Cromatograma obtido por CG-EM das frações enriquecidas em alcaloides. 42 Figura 11: Espectro de massas do pico com tempo de retenção em 28.293 min. ... 42 Figura 12: Espectro de massas do pico com tempo de retenção em 31.682 min. ... 42 Figura 13: Estrutura da erisodina e erisovina. ......................................................... 44 Figura 14: Curva de Kaplan-Meier seguida pelo teste Log-rank para comparação da taxa de sobrevivência entre os grupos. Nível de significância foi estabelecido em p <0,05. ........................................................................................................................ 44 Figura 15: Análise de parâmetros locomotores de zebrafish submetidos ao teste de tanque novo por 6min: A- Distância total percorrida; B- Velocidade Média; C- Velocidade enquanto móvel. (*) indica diferença entre os grupos. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. ........................................... 46 Figura 16: Análise dos parâmetros locomotores que indicam atividade ansiolítica para os animais expostos as FEA (50 ug/L e 100 ug/L): A- Ângulo de giro absoluto; B- Tempo nas zonas do tanque. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. Letras diferentes indicam diferença estatística entre os grupos (a b c). ................................................................................................................. 47 Figura 17: Gráfico representando a latência para o peixe sair do braço inicial na fase de treino e de teste do T-maze. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. (*) indica diferença entre os grupos. ................................... 48 Figura 18: Gráfico representado o tempo que o peixe permaneceu nos braços na fase de treino (a) e de teste (b). As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. (*) indica diferença entre os grupos. ................................... 50 Figura 19: Gráfico de exploração dos objetos entre a fase de memorização e fase discriminação, todos os grupos exploraram mais o objeto novo da fase de discriminação. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. Letras diferentes indicam diferença estatística entre os grupos (a b c). .. 52 Figura 20: Regressão linear onde o índice de memorização é representado pelo eixo X e o índice de discriminação, representado pelo eixo Y (variável dependente). (a) grupo controle DMSO, (b) grupo 50 ug/L de FEA, (c) grupo controle água. ............. 53 Figura 21: Análise dos parâmetros locomotores dos animais submetidos ao teste de discriminação de objetos. O gráfico mostra a distância percorrida (A), velocidade média (B) e alterações na direção da natação (C). A significância foi estabelecida em p <0,05. (*) indica diferença entre os grupos. ........................................................... 54 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Medicamentos aprovados pela agência Food and Drug Administration (FDA) para a terapia da Doença de Alzheimer. ................................................ 20 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................... 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 14 2.1 Doença de Alzheimer ............................................................................. 14 2.2 Memória .................................................................................................. 18 2.2.1 Tratamentos farmacológicos ................................................................ 19 2.3 Caatinga como celeiro de alcaloides bioativos ................................... 21 2.3.1 Erythrina spp. como fonte de agentes neurais ................................... 24 2.4 Zebrafish ................................................................................................. 25 3 OBJETIVOS ............................................................................................ 28 3.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 28 3.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 28 4 METODOLOGIA ...................................................................................... 29 4.1 Identificação do material vegetal .......................................................... 29 4.2 Obtenção do extratohidroalcoólico ..................................................... 29 4.3 Obtenção das frações enriquecidas .................................................... 29 4.4 Isolamento dos alcaloides majoritários ............................................... 30 4.5 Análises cromatográficas ..................................................................... 31 4.6 Atividade biológica ................................................................................ 32 4.6.1 Zebrafish ................................................................................................. 32 4.6.2 Toxicidade .............................................................................................. 32 4.6.3 Testes de memória ................................................................................ 34 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 38 5.1 A análise química preliminar do extrato e seus alcaloides através da Cromatografia em Camada Delgada (CCD) .................................................. 38 5.2 Análise por Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (CG-EM) ............................................................................................. 41 5.3 ATIVIDADE BIOLÓGICA ........................................................................ 44 13 5.3.1 Toxicidade .............................................................................................. 44 5.3.2 Teste de tanque novo ............................................................................ 45 5.3.3 Teste de memória de curta duração (T- maze) .................................... 48 5.3.4 Discriminação de objetos...................................................................... 50 6 CONCLUSÕES ........................................................................................ 55 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 56 14 1 INTRODUÇÃO GERAL A Caatinga possui alto potencial medicinal devido sua ampla diversidade vegetal (SÁ-FILHO et al., 2021), por isto torna-se um bioma propício para a obtenção de biomoléculas como os metabólitos secundários (SANTOS, 2012). Esses metabólitos secundários são sintetizados por plantas para auxiliarem na sua sobrevivência e reprodução, dentre os quais destacam-se: alcaloides, fenois, esteroides, glicosídeos, taninos, terpenoides e fitoalexinas (DEBNATH et al., 2018). Dentre estas moléculas, os alcaloides apresentam ampla variedade de estruturas químicas (COQUEIRO; VERPOORTE, 2015), além de se destacarem por serem a principal classe a originar fármacos comercializados no mercado (HEINRICH; MAH; AMIRKIA, 2021). Alguns estudos sugerem que os alcaloides do gênero Erythrina podem agir em receptores do sistema nervoso central (SNC) por modificação colinérgica (DECKER et al., 1995; SETTI-PERDIGÃO et al., 2013) ou por alteração da neurotransmissão do glutamato (FAGGION et al., 2011). A classe dos alcaloides isoquinolínicos, presente em diversas famílias de plantas, demostraram atividade inibidora da acetilcolinesterase (AChE) (LÓPEZ et al., 2002; PAGLIOSA et al., 2010), cuja ação tem sido proposta como uma das principais abordagens terapêuticas para o tratamento da Doença de Alzheimer (DA) (BECKER et al., 1988; SHARMA, 2019), condição ainda sem cura ou tratamento eficaz (ALZHEIMER'S ASSOCIATION, 2021). Assim uma das estratégias é explorar o potencial de produtos naturais, como os alcaloides, e para isso a realização de ensaios biológicos torna-se importante. Neste estudo objetivamos estudar alcaloides provenientes das sementes de Erythrina velutina sobre aspectos cognitivos relacionados a memória e aprendizagem que estão alterados na Doença de Alzheimer, visando abrir novas oportunidades para o uso dos alcaloides de E. velutina e contribuir para a busca de tratamentos para doenças neurodegenerativas. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Doença de Alzheimer A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais comum de demência que afeta cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo (PATTERSON, 2018). É um transtorno heterogêneo e multifatorial, caracterizado por comprometimento cognitivo 15 com perca progressiva da memória, além de desorientação, alterações de personalidade e autocuidado prejudicado. A característica principal da DA é a presença de placas senis (figura 1B) resultantes do metabolismo anormal da proteína precursora do peptídeo amiloide (APP), acarretando a formação de agregados b- amiloide e emaranhados neurofibrilares (figura 1C), que se formam a partir do colapso do citoesqueleto neuronal, decorrente da hiperfosforilação da proteína tau (FORLENZA, 2005). Devido à presença de altas concentrações de placas e emaranhados na progressão da DA, ocorre a infiltração microglial ao redor das placas. As micróglias executam um papel importante na manutenção da plasticidade neuronal e na remodelação das sinapses, já que são fagócitos residentes no SNC (JI et al., 2013). O acúmulo de proteínas ativa as micróglias, que agem como um gatilho patológico, iniciando respostas imunológicas inatas (Figura 2) e a secreção de citocinas pró- inflamatórias e quimiocinas (HENEKA et al., 2015; TIWARI et al., 2019). Na progressão da DA o cérebro exibe atrofia significativa predominantemente nos lobos temporais e parietais, apresenta também deposição de placas senis e degeneração neurofibrilar, inicialmente no córtex entorrinal, no hipocampo e nos córtices acústico e visual. Em estágios mais avançados, as placas se encontram no lobo frontal e no cerebelo. As patologias dendrítica e espinhal, bem como perda de sinapses, também são características neuropatológicas importantes (MAVROUDIS, 2019). Estas alterações resultam na atrofia acentuada do córtex cerebral e perda dos neurônios corticais e subcorticais, observando-se redução na massa encefálica (figura 1A) do portador de DA (ARENDT, 2015). Outra característica da DA é a redução da síntese de acetilcolina (ACh) no cérebro, que pode ser crítico para a demência (BECKER et al., 1988; SHARMA, 2019). A acetilcolina é um neurotransmissor que está amplamente distribuído no SNC, está envolvido nos processos de regulação da memória, aprendizagem e controle motor. Quando seus níveis estão baixos, a neurotransmissão colinérgica é comprometida (Figura 1E), afetando a regulação dos processos cognitivos (RANG et al., 2016). A deterioração de neurônios colinérgicos no cérebro e a perda da neurotransmissão são as principais causas do declínio da função cognitiva em pacientes com DA. Por isso, uma das estratégias terapêuticas potenciais é baseada no aumento dos níveis colinérgicos no cérebro, por meio da inibição da atividade biológica da acetilcolinesterase (AChE), que é a enzima responsável por degradar acetilcolina. 16 Portanto, os inibidores da AChE são usados para limitar a degradação de ACh (SHARMA, 2019). Os medicamentos aprovados para tratar a DA estão listados na Tabela 1, dentre eles alguns com características de inibição da colinesterase. Figura 1: Fisiopatologia cerebral característica da Doença de Alzheimer: A - Imagem ilustrativa de um corte transversal no cérebro com um lado saudável e outro lado acometido pela DA avançado; B - Demonstração da presença de placas senis sobre as células com Alzheimer e saudáveis; C - Imagem sobre microscópio da região de uma célula em formação de emaranhados neurofibrilares e outra região saudável; D - Demonstração de um processo de neurotransmissão por meio de sinapses em um cérebro saudável; E - Cérebro acometido pela DA, com os processos de neurotransmissão afetados. Fonte: Alzheimer's Association (2021) e adaptado de http://alhumairoh.files.wordpress.com/2008/12/alzheimers-disease.jpg A DA é caracterizada por sua intensa heterogeneidade em relação ao tipo que acomete os indivíduose a gravidade dos sintomas apresentados. Por isso, a classificação da DA baseia-se em três subtipos com base na distribuição da patologia relacionada à tau e a atrofia cerebral regional, que incluem: (I) típica, (II) com predominância límbica e (III) com preservação do hipocampo. A DA típica apresenta patologia e atrofia referentes à proteína tau tanto no hipocampo como no córtex. No subtipo predominante límbico, atrofia e presença de tau são predominantes no sistema límbico enquanto o subtipo poupador do hipocampo, apresenta atrofia mínima desta região cerebral. As diferenças entre os subtipos foram encontradas na distribuição do sexo, idade de início, idade na avaliação, estado cognitivo global, about:blank 17 duração da doença, anos de educação, genótipo APOE ε4 e níveis de biomarcadores de líquido cefalorraquidiano (LCR) (FERREIRA et al., 2020). Duas características microscópicas auxiliam na caracterização da DA: as placas amiloides e aglomerados neurofibrilares. Estes elementos são considerados responsáveis pela deterioração lenta e gradual da memória que afeta a linguagem, a personalidade ou o controle cognitivo (PICANCO et al., 2018). Para o diagnóstico da DA, não existe um só teste, são necessárias várias abordagens que incluem: histórico médico, exames físicos, testes de diagnósticos cognitivos mentais, exame neurológico e imagens cerebrais (ALZHEIMER'S ASSOCIATION, 2021). Os testes neuropsicológicos são realizados em diferentes esferas das funções cognitivas, mas como nem todas as funções cognitivas são afetadas, biomarcadores do líquido cefalorraquidiano são usados junto com esses testes (PICANCO et al., 2018). Segundo dados da Alzheimer's Association (2021), nos Estados Unidos o número de mortes pela DA aumentou em 145%, entre 2000 a 2019. Mais de 6 milhões de Americanos com 65 anos ou mais estão vivendo com Alzheimer e estima-se que em 2050 esse número aumentará para 13 milhões. Um em cada três idosos morrem em decorrência da DA ou outra demência. No Brasil, cerca de 1 milhão de pessoas estão vivendo com algum tipo de demência e em todo o mundo cerca de 44 milhões de pessoas apresentam demência. Estima-se que a DA e outras demências custam em torno de 355 bilhões para a nação dos EUA e estes custos podem ser ainda maiores caso não haja um tratamento para retardar, prevenir ou interromper a doença (ALZHEIMER'S ASSOCIATION, 2021). Nota-se que a DA (e as demais demências) é um problema global de saúde que necessita do investimento para a busca por novos tratamentos. 18 Figura 2: Mecanismo molecular de dano neuronal e progressão da Doença de Alzheimer (DA). Fonte: Adaptado de TIWARI et al., 2019. 2.2 Memória Memória diz respeito à capacidade de armazenamento de informações, bem como ao resgate e acesso às informações armazenadas. As memórias são originadas pela capacidade plástica do sistema nervoso, pois ocorre pela formação de novas conexões entre neurônios, novas sinapses. Algumas áreas do SNC são bastante importantes para a formação de memórias, entre elas o hipocampo. Esta região, localizada centralmente no cérebro, recebe conexões de várias origens sensoriais, por onde as informações obtidas do meio ambiente são inicialmente processadas. O hipocampo permite o armazenamento de curto prazo das informações e posteriormente codifica e prepara a memória para ser transmitida para o córtex. Grande parte dessas informações são armazenadas no córtex, no cerebelo e nos gânglios da base (FOTUHI, 2020), porém ainda não é sabido de que forma as memórias são armazenadas e onde se localizam. O armazenamento de informações na forma de memórias é um processo mental fundamental para o ser o humano e para os animais (OKANO; HIRANO; BALABAN, 2000). Segundo Robertson (2002), existem diversas formas de se adquirir memórias, como por exemplo através da experiência de eventos, através de vivencias https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Tiwari%20S%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=31410002 19 ligadas a respostas emocionais, e também através do tempo. A memória de acordo com o tempo pode ser classificada em memória de curto prazo, que dura cerca de segundos ou minutos e memória de longo prazo, que pode durar meses ou anos. O processo de formação de memórias pode ser comprometido por fatores diversos, como doenças neurológicas e psicológicas, problemas metabólicos, medicamentos, drogas de abuso (álcool, fumo), intoxicação, etc. No entanto, durante o envelhecimento, é natural que o córtex cerebral reduza as atividades e fatores genéticos e ambientais podem acelerar esse processo, como é o caso da Doença de Alzheimer (DA) (KANDEL, 2014). O sintoma mais comum presente no início da DA está associado ao déficit de memória de curto prazo, que afeta as atividades diárias (BEKRIS et al., 2010; LANGE et al., 2017). Tanto o resgate de memória já armazenada quanto a formação de novas memórias são funções fundamentais para o nosso cotidiano. Assim, investigar as bases moleculares e neurais da memória torna-se bastante relevante, e o investimento em tratamentos novos e alternativos que diminuam os déficits de memória em pacientes de DA podem ser de grande valia. 2.2.1 Tratamentos farmacológicos O tratamento farmacológico da DA apresenta diversas substâncias psicoativas recomendadas para preservar ou restabelecer a cognição e controlar o comportamento e as habilidades funcionais do paciente com demência. Porém, os resultados dos fármacos hoje aprovados para o tratamento da DA permitem apenas uma melhora temporária do estado funcional e na qualidade de vida do paciente. Não existem atualmente tratamentos que curem, previnam ou interrompam a progressão da doença (FORLENZA, 2005; SIMMONS et al., 2016; ALZHEIMER'S ASSOCIATION, 2021). A principal abordagem terapêutica aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) atua na melhora dos níveis de acetilcolina, minimizando os efeitos deletérios causados pela deficiência colinérgica. Sendo assim, preconiza-se o uso dos inibidores da enzima acetilcolinesterase (IACHE). Juntamente com esta abordagem, se utiliza outra estratégia de tratamento que apresenta como mecanismo a inibição de ação do glutamato (SHARMA, 2019; TIEDEMAN et al., 2011). Na tabela 1 estão descritos os medicamentos aprovados pela FDA para a terapia DA. 20 Tabela 1: Medicamentos aprovados pela agência Food and Drug Administration (FDA) para a terapia da Doença de Alzheimer. Princípio Ativo Nome Comercial Mecanismo de Ação Tacrina Tacrinal® Inibidor de colinesterases Galantamina Reminyl ER® Inibidor de colinesterases Donepezila Eranz® Inibidor de colinesterases Rivastigmina Rivastigmina® Exelon Patch® Inibidor de colinesterases Memantina Ebix® Alois Gotas® Antagonista não competitivo de receptores NMDA Aducanumab Aduhelm Redução das placas beta amilóides Dentre as drogas disponíveis para o tratamento da DA, quatro medicamentos têm em comum a ação de inibição da enzima acetilcolinesterase, porém não são aprovados para o uso na fase avançada da doença (BRASIL, 2017). Diferente das drogas de ação colinérgica, a memantina apresenta como mecanismo de ação o antagonismo não competitivo dos receptores NMDA, impedindo a ligação do glutamato. Assim, a droga gera neuroproteção em relação a excitotoxicidade do neurotransmissor (glutamato), permitindo a neurotransmissão e os mecanismos de neuroplasticidade dos neurônios funcionais (ENGELHARDT et al., 2005). Outro medicamento, recém aprovado para tratar a DA é o aducanumab, um anticorpo. De acordo com a FDA (2021), este medicamento reduz as placas beta amilóides, podendo diminuir o declínio cognitivo e funcional dos portadores da doença. Aducanumab foi aprovado de acordo com a via de aprovação acelerada, que permite o uso do medicamento quando há chance provável de gerar benefício clínico para os pacientes com doençasgraves ou quando há risco de vida. Este medicamento ainda está passando por ensaios confirmatórios e caso não haja benefício clínico, poderá ser retirado do mercado. Dentre os princípios ativos dos medicamentos de ação anti-colinesterase, tacrina, rivastigmina, donepezil e galantamina, destaca-se a atividade de alcaloides. A rivastigmina é um derivado semissintético do alcaloide indólico fisiostigmina, enquanto a galantamina é um alcaloide isoquinolínico obtido principalmente de espécies da família Amaryllidaceae (MARCO; CARREIRAS, 2006; ROBERTS, 2013). Embora a DA acometa grande parte da população, principalmente nas faixas etárias mais avançadas, e seja considerada um problema de saúde pública, o arsenal https://www.fda.gov/drugs/information-health-care-professionals-drugs/accelerated-approval-program 21 terapêutico para a DA ainda é muito limitado. É necessário e urgente a proposição de novas estratégias farmacológicas, torna-se interessante o estudo com produtos naturais oriundos de plantas, devido à grande biodiversidade de plantas medicinais encontradas no Brasil. 2.3 Caatinga como celeiro de alcaloides bioativos A Caatinga corresponde a um ecossistema encontrado exclusivamente no território brasileiro e apresenta o total de 4.332 espécies de plantas com sementes, sendo 744 espécies endêmicas deste bioma. Sua vegetação tem características arbustivo-arbórea, com folhas caducifólias no verão. Folhas modificadas em espinhos, com presença em cactos e bromélias, tornam possível a sobrevivência dessas plantas nas condições do solo e clima do semiárido nordestino (FORZZA et al., 2010). Devido a sua ampla diversidade vegetal, a caatinga possui alto potencial medicinal (SÁ-FILHO et al., 2021). De especial interesse são os metabólitos secundários, compostos naturais produzidos por plantas, pois apresentam várias ações farmacológicas (BORGES; AMORIM, 2020). Os alcaloides são um dos vários grupos de metabólitos secundários encontrados em organismos vivos e são isolados tradicionalmente de plantas, mas também de animais, insetos, invertebrados marinhos e microorganismos. Estes alcaloides possuem uma variedade de tipos de estrutura, vias biossintéticas e atividades farmacológicas (ROBERTS, 2013). São substâncias nitrogenadas produzidas predominantes por angiospermas a partir de aminoácidos (figura), com caráter alcalino (KUREK, 2019). 22 Figura 3: Biossíntese de alcaloides e outros metabólitos secundários de plantas. E4P, eritrose 4-fosfato; G3P, gliceraldeído 3-fosfato; PEP, fosfoenolpiruvato; PYR, piruvato; DOX5P, desoxixilulose 5-fosfato; IPP, pirofosfato de isopentenilo. Fonte: Adaptada de Borrelli e Trono, 2016. Segundo Simões (2000), os alcaloides são classificados por aspectos biossintéticos, químicos e farmacológicos. Os aspectos biossintéticos são relacionados ao aminoácido precursor de cada alcaloide, o qual é a origem do átomo de nitrogênio heterocíclico de um alcaloide verdadeiro. A classificação química dos alcaloides considera a função do sistema heterocíclico e se é alcaloide do tipo primário, secundário, terciário ou quaternário. Já a classificação farmacológica é baseada na atividade terapêutica, como por exemplo, depressores do SNC, anestésicos, antipiréticos, antiespasmódicos, entre outros (SIMÕES, 2000). Os tipos de alcaloides são denominados de acordo com seu esqueleto molecular, por exemplo, os dois maiores grupos são os alcaloides indólicos e alcaloides isoquinolínicos (cada um com mais de 4000 substâncias). Outros grupos importantes são alcaloides tropânicos (∼300), alcaloides esteroidais (∼450) e, piridina e alcaloides pirrolizidínicos (respectivamente, ∼250 e 570) (VERPOORTE, 2005). Os alcaloides possuem uma variedade de classes de substâncias com os mais distintos mecanismos de ação, além 23 de serem os principais compostos que originam novos medicamentos (QIU et al., 2014). Erythrina velutina é uma planta característica da região semiárida nordestina e é também encontrada nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. É conhecida popularmente como mulungu e muito utilizada popularmente devido às propriedades medicinais (DANTAS et al., 2004; VASCONCELOS et al., 2003; VASCONCELOS et al., 2004; RIBEIRO et al., 2006). Apresenta como constituintes químicos alcaloides, flavonoides, isoflavonoides, sendo a principal fonte de alcaloides tetracíclicos do tipo eritrina (NKENGFACK et al., 2000). Os alcaloides eritrínicos pertencem ao grande grupo dos alcaloides isoquinolínicos e possuem em sua estrutura básica uma espiroamina tetracíclica (figura 2A) que pode se apresentar de forma livre ou conjugada a um carboidrato (ESTRADA, 2011). De acordo com Amer (1991), os alcaloides eritrínicos são classificados em três subclasses: os dienoides, os alcenoides e as lactonas. Os dienoides apresentam dupla ligação entre os carbonos 1 e 2 e entre os carbonos 6 e 7 (figura 4B), já os alcenoides possuem dupla ligação entre os carbonos 1 e 6 (figura 4C) e a subclasse das lactonas são representadas por uma lactona no anel D (figura 4D). Os alcaloides mais abundantes no gênero Erythrina são os dienoides, entre eles destacam-se a erisovina, erisodina, eritralina e erisotrina (FEITOSA, 2014). 24 Figura 4: Estrutura geral dos alcaloides eritrínicos e subclasses desses alcaloides. Fonte: Adaptado de FEITOSA, 2014. 2.3.1 Erythrina spp. como fonte de agentes neurais O gênero Erythrina é amplamente estudado, no entanto dentre suas 115 espécies apenas 35 já foram investigadas sob os aspectos farmacológicos (MAJINDA, 2018). No Brasil são conhecidas 12 espécies, das quais 8 se encontram no Nordeste, como Erythrina velutina (LORENZI, 2002). A espécie E. velutina tem diferentes efeitos biológicos no SNC já comprovados cientificamente, como antinociceptivo, hipnótico, depressor do SNC, anticonvulsivante, ansiolítico e anti-inflamatório (SOUSA, 2015). Rauppa et al. (2008) verificaram que a partir do extrato aquoso-alcoólico da casca do caule de E. velutina um efeito semelhante ao ansiolítico foi observado em camundongos. A planta também vem sendo estudada quanto a seus efeitos neuroprotetores, como no estudo de Silva et al. (2016), estes autores testaram o extrato etanólico padronizado de E. velutina e investigaram o potencial neuroprotetor do extrato bruto e do ácido rizônico (RA) de E. velutina em células neuronais. Eles observaram atividade antioxidante sobre os neurônios, sugerindo um possível mecanismo para o efeito neuroprotetor. No trabalho de Rodrigues et al. (2017), o extrato etanólico de E. velutina, apresentou efeitos neuroprotetores e reverteu danos de memória induzidos em camundongos que foram submetidos a isquemia cerebral. 25 Outro resultado relevante foi encontrado por Almeida et al. (2020), que isolaram alcaloides das sementes de E. velutina (eritralina e erisodina) para avaliações biológicas em Caenorhabditis elegans mutantes para super expressão do peptídeo beta- amiloide (mutantes CL2006). Os animais selvagens não apresentaram resposta de toxicidade aos alcaloides, e os animais mutantes tiveram seu tempo médio de vida aumentado em 40% em comparação aos animais não tratados com os alcaloides. Em análises in sílico observou-se que erisodina e eritralina têm potencial interação com o sítio ativo da proteína BACE-1 (beta secretase humana – 1), indicando a potencial relevância desses alcaloides. Embora bastante utilizado, o modelo nematoide apresenta a impossibilidade de análises comportamentais e a maior distância filogenética com vertebrados, impondo algumas limitações ao uso. Assim, os estudos desenvolvidos nesta dissertação focaram outro modelo in vivo, o zebrafish, que permite a aplicação de testes comportamentais como a avaliação da resposta cognitiva. O uso de modelos alternativos é praxe em nosso grupo e segue diretrizes internacionais parareduzir o uso de roedores em experimentos in vivo. É importante destacar que não há modelos animais que possam mimetizar todos os sintomas cognitivos, comportamentais, bioquímicos e anormalidades histopatológicas observadas no contexto da DA em humanos. O processo de neurodegeneração latente envolvido na doença ocorre espontaneamente apenas em seres humanos. Entretanto, a reprodução parcial da neuropatologia e dos déficits cognitivos provenientes da doença de Alzheimer tem sido alcançado através de abordagens genéticas e farmacológicas (YAMADA; NABESHIMA, 2000). 2.4 Zebrafish O zebrafish é um pequeno teleósteo da espécie Danio rerio, popularmente conhecido como paulistinha, nativo de regiões tropicais do sudoeste da Ásia onde habita riachos de água doce, rasa e de lento fluxo (SUBBIAH; KAR, 2013). Apresenta como vantagem a prática e experimentação executável em espaços reduzidos, por serem peixes de porte pequeno com tamanho de três a quatro centímetros. Apresenta rápido desenvolvimento (em cerca de 24 a 48 horas um óvulo fertilizado se desenvolve em larva com batimento cardíacos e olhos (KIMMEL et al., 1995), alta taxa de fecundidade (200 a 300 ovos por ovoposição), cerca de 70% de genes homólogos em 26 seres humanos, além de oferecer um modelo de baixa complexidade para manutenção em laboratório. Estas características tornam este peixe um modelo promissor e seguro (HILL et al., 2005). O zebrafish tem sido empregado como modelo experimental animal para estudos comportamentais, genéticos, toxicológicos, para descrever os mecanismos de doenças humanas e também para testar novos potenciais agentes terapêuticos (SILVEIRA, 2012). O modelo apresentou-se vantajoso em alguns estudos de avaliação de toxicidade e potencial terapêutico de várias substâncias em larga escala (RESENDE; SOCCOL, 2015). Ainda tem se destacado como modelo para estudar a atividade do cérebro, como aprendizado, tomada de decisão e interações socias (ORGER; POLAVIEJA, 2017), isso porque o cérebro do zebrafish segue plano geral do cérebro de um vertebrado em termos de morfologia e composição, por volta de 1 dia após a fertilização as principais regiões do cérebro já são morfologicamente percebidas (ITURRIAGA-VÁSQUEZ et al., 2020). Além disso, possui os sistemas de neurotransmissores clássicos, como sistemas dopaminérgicos, serotoninérgicos, colinérgicos, purinérgicos, histaminérgicos, nitrérgicos, glutamatérgicos, glicinérgicos e GABAérgicos, semelhante aos vertebrados (RICO et al., 2011). Diante dessas características, o zebrafish tem se demonstrado um excelente modelo animal para avaliar produtos naturais, tendo em vista que a partir dele é possível testar a bioatividade de compostos inéditos produzidos por plantas, além da possibilidade de usar pequenas quantidades, como microgramas de compostos ativos, frações e extratos brutos para induzir a resposta biológica inicial (CHALLAL et al., 2012; BOHNI et al., 2013). Alguns trabalhos mostraram formas de avaliar a memória e aprendizado em zebrafish, como no trabalho de Lucon-Xiccato e Dadda (2014) que avaliaram a memória do animal através da discriminação de um objeto familiar por um objeto novo, que se diferenciavam pela forma e cor, os resultados mostraram a capacidade do animal em discriminar os objetos, outros trabalhos que fizeram testes semelhante a este também mostraram essa capacidade (PINHEIRO-DA-SILVA et al., 2017; SANTOS et al., 2016; LOBÃO-SOARES et al., 2018). Outro trabalho mostrou a capacidade do zebrafish em aprender e alternar para ter uma recompensa alimentar através de uma tarefa de alternância espacial. Para isso, os animais foram alimentados em lados diferentes do tanque e um cartão vermelho foi usado para servir como pista visual (WILLIAMS; WHITE; MESSER, 2002). Blank (2009) realizou um 27 teste que teve como objetivo desenvolver um novo paradigma de esquiva inibitória para zebrafish com o intuito de avaliar mecanismos celulares e moleculares da formação de memória em vertebrados, onde obteve resultados positivos de aprendizagem e formação de memória após a punição com eletrochoque por 5s, ainda ressaltou que após o choque os animais foram monitorados e não foi observado nenhum dano visível, nenhuma alteração de natação, lesão externa ou vulnerabilidade de desenvolver alguma patologia. Assim, observamos a capacidade que o zebrafish apresenta para estudar o processo de formação e resgate de memória. Neste estudo, utilizamos o modelo zebrafish para testar o potencial bioativo de alcaloides de Erythrina velutina em respostas cognitivas. 28 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Avaliar o potencial biológico de alcaloides de Erythrina velutina nas respostas cognitivas em zebrafish (Danio rerio) 3.2 Objetivos Específicos • Obtenção de extrato etanólico (bruto) e frações enriquecidas em alcaloides a partir de sementes de E. velutina; • Elucidação estrutural dos alcaloides das sementes de E. velutina por meio de métodos cromatográficos e espectroscópicos; • Testar a toxicidade e potencial teratogênico das frações enriquecidas em alcaloides das sementes de E. velutina in vivo utilizando o modelo de zebrafish; • Avaliar o efeito das frações enriquecidas em alcaloides nas respostas de memória em curto e longo prazo em zebrafish. 29 4 METODOLOGIA 4.1 Identificação do material vegetal Sementes de Erythrina velutina foram doadas pela Floresta Nacional de Nísia Floresta (FLONA – Nísia Floresta), oriundas de seu banco de sementes. O acesso ao patrimônio genético está regularizado junto ao SISGEN (A4D2E0B). 4.2 Obtenção do extrato hidroalcoólico As etapas relacionadas aos aspectos fitoquímicos foram realizadas conforme protocolos já estabelecidos (ALMEIDA, 2018; CHACON, 2018). As sementes selecionadas foram fragmentadas, trituradas em liquidificador industrial e tamisadas, para obter uma maior área de contato com o solvente extrator, aumentando a eficiência da extração. O extrato bruto (EB) foi obtido através da maceração hidroalcóolica (figura 5A) (96:4, v/v - etanol:água), durante 48 horas em temperatura ambiente na proporção de 1 g de planta para 10 mL de solvente, seguido de filtração a vácuo (figura 5B) e rotaevaporação (figura 5C). O processo foi repetido 5 vezes. O EB foi armazenado em recipiente fechado ao abrigo da luz, umidade e calor até ser utilizado para obtenção da fração enriquecida de alcaloides utilizando o método de partição liquido-liquido. Figura 5: Fases de obtenção do Extrato Bruto Hidroalcóolico: A- Maceração hidroalcoólica; B- Filtração a vácuo; C- Rotaevaporação. Fonte: Elaborada pelo autor, 2019. 4.3 Obtenção das frações enriquecidas A obtenção da fração enriquecida em alcaloides (FEA) ocorreu através do procedimento de extração com variação do pH, caracterizando a extração ácido-base, 30 conforme previamente padronizado pelo grupo de pesquisa. Inicialmente, o extrato bruto foi solubilizado em mistura de diclorometano:metanol (8:2, v/v). Para obtenção da FEA foi realizada a extração com solução de ácido clorídrico (HCl) a 5%, pois com a adição do ácido, ocorre protonação na amina livre do alcaloide que estará no extrato, tornando-o mais solúvel em água e culminando em uma solubilidade do alcaloide na fração aquosa ácida. Na sequência, a fração aquosa já ácida foi alcalinizada em hidróxido de amônia (NH4OH) a 75%, com um volume suficiente para atingir pH 10. Nesse caso ocorreu o processo inverso à extração com ácido, pois o alcaloide voltou a ser uma amina de base livre resultando em uma maior solubilidade na fase orgânica. Esse fato justifica a próxima etapa do processo, que foi a extração com o solvente orgânico diclorometano (DCM), para obtenção da fração DCM alcaloídica (fração enriquecida em alcaloides), sendo em seguida submetida à rotaevaporação a 35°C. Na figura 6 é demonstrado comofoi realizada a obtenção das frações enriquecidas em alcaloides. Figura 6: Obtenção de frações enriquecidas com alcaloides: A- Solubilização da amostra com diclorometano (DCM) + metanol (MeoH) - 8:2; B- Extrato com diclorometano/metanol + ácido clorídrico 5%; C- Extrato com diclorometano/metanol + ácido clorídrico 5% no funil; D- Após alcalinizar com NH4OH a 75% a fração aquosa ácida, foi feita a extração com diclorometano 6x; E- Última extração com diclorometano; F- fração DCM alcaloidica; G- Fração submetida a rotaevaporação a 35°C; H- Fração enriquecida em alcaloides pronta. Fonte: Elaborada pelo autor, 2019. 4.4 Isolamento dos alcaloides majoritários Dois procedimentos foram realizados com o objetivo de isolar os alcaloides presentes na fração enriquecida. Para o primeiro, uma massa de 250 mg da fração enriquecida em alcaloides de sementes de E. velutina foi submetida à Cromatografia 31 em Coluna Clássica (CCC) 15x1 cm, usando alumina como fase estacionária, clorofórmio e metanol como fase móvel. A eluição da coluna foi realizada empregando inicialmente 100% clorofórmio e posteriormente foi empregada a mistura de clorofórmio:metanol (7:3, 5:5, 3:7, v/v, v/v, v/v), finalizando com 100% metanol, foram coletados um total de 55 frascos. Na segunda tentativa, novamente com a CCC foi usada a mesma quantidade da massa de fração, a mesma fase móvel e estacionária, o que foi modificado quanto ao primeiro isolamento foi à proporção da eluição da coluna, inicialmente 100% de clorofórmio e em seguida a mistura de clorofórmio/ metanol (8:2, 5:5, 3:7 v/v, v/v, v/v) e por fim 100% metanol, foram coletados um total de 38 frascos nesse isolamento. Para ambos isolamentos foi usada uma lâmpada ultravioleta para monitorar a eluição e os resultados foram analisados por cromatografia em camada delgada. 4.5 Análises cromatográficas As análises preliminares do extrato e das frações enriquecidas em alcaloides foram realizadas através da Cromatografia em Camada Delgada (CCD) utilizando cromatoplacas de sílica gel 60GF254 (Macherey-Nagel) de fase normal como fase estacionária e clorofórmio, hexano e metanol (5:5:0,5 v/v/v) como fase móvel. A Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (CG-EM) foi utilizada como ferramenta de análise de pureza e caracterização estrutural dos constituintes da FEA, bem como dos alcaloides tentativamente isolados. Foi utilizado um método previamente padronizado pelo grupo de pesquisa onde a análise foi feita com o injetor do modo split, a uma temperatura da coluna de 100°C e temperatura de injeção de 250°C. O gás de arraste empregado foi o gás Hélio, com um fluxo total de 48,1 mL/min e 1,10 mL/min da coluna. O programa de temperatura foi: 100°C por 0 min, 220°C por 10 min e 290°C durante 11 min em coluna DB5. Conforme o trabalho de Chacon (2018) foram usados dois reagentes para confirmação de alcaloides, um é o reagente Dragendorff, que é um teste qualitativo que indica a possível presença de alcaloides por meio de coloração cuja cor varia de acordo com o tipo de composto, desde amarelo a vermelho acastanhado e o outro é a vanilina, um reagente universal para identificar classes de metabólitos secundários, os quais apresentam colorações características e distintas de acordo com as respectivas estruturas químicas. 32 4.6 Atividade biológica 4.6.1 Zebrafish Para os testes in vivo foram usados peixes da espécie Danio rerio, (zebrafish) adultos, com aproximadamente 6 meses de idade, provenientes do Biotério de Peixes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os animais foram mantidos em sistema de armazenamento (4 tanques de 50 L). Cada conjunto de quatro tanques de 50 L formaram um sistema de recirculação com filtração de vários estágios, incluindo filtro mecânico, filtro biológico, filtro de carvão ativado e uma unidade de esterilização por luz ultravioleta/ozônio. A água do sistema foi mantida em 28°C de temperatura, 6,7 de pH e 6mg/L de oxigênio. O ciclo de luz de 12h claro e 12h escuro (12C:12E) foi mantido no ambiente de criação e experimentação. Os animais foram alimentados duas vezes ao dia com ração comercial peletizada (alcon Basic®, 45% de proteína, 5% de gordura, Alcon, Brasil) e náuplios de artêmia (Direct grill brine shrimp, Direct, EUA). Os procedimentos foram autorizados pelo Comitê de Ética em Animais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (protocolo 002/2021). 4.6.2 Toxicidade A toxicidade foi avaliada de acordo com as diretrizes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, protocolos 215 e 236) para peixes. As frações enriquecidas em alcaloides (FEA) foram solubilizadas em dimetilsulfóxido 2% (DMSO) e obtida uma solução mãe de 50 mg/mL de FEA. Essa solução foi diluída para realização dos testes posteriores, incluindo a construção de uma curva de concentração para determinar o valor de LC50 (lethal concentration) usando o teste de toxicidade de renovação estática. 4.6.2.1 Embriões Inicialmente realizamos o teste de toxicidade em embriões. Para isso, peixes adultos (3 fêmeas e 2 machos) foram colocados em tanques de reprodução de 1L e 1,5L de água do sistema. Na parte inferior do tanque de reprodução, uma placa de acrílico com pequenos orifícios favorece a decantação dos ovos e impede o acesso dos peixes. Plantas de plástico foram usadas visando o enriquecimento do tanque para a reprodução. Os animais reprodutores foram colocados à tarde (por volta das 33 17h) e mantido fisicamente isolados por uma barreira acrílica transparente e nas mesmas condições do biotério (28 ˚C, 12C:12E). A barreira foi removida ao acender das luzes e a fertilização foi realizada por desova natural, que geralmente ocorre na primeira hora da luz da manhã. Os ovos coletados foram acondicionados em placas de petri e mantidos em estufas a 28°C. Vinte e quatro horas pós fertilização (hpf), os ovos foram distribuídos em placas com 24 poços (3 ovos/poço) contendo diferentes concentrações de FEA. Foram testadas as seguintes concentrações: 100, 50, 10, 9 e 8 ug/ml de FEA de E. velutina. Dois grupos controles foram adicionados: DMSO 2% (controle) e água do sistema (controle água). Em cada concentração, 18 embriões foram mantidos por 2h, para garantir que os alcaloides tivessem tempo de atingir o SNC dos animais, depois foram lavados em água do sistema e observados por 5 dias, duas vezes ao dia. As observações diárias do desenvolvimento dos embriões foram feitas em 27, 32, 48, 55, 72, 79, 96, 103 e 120 hpf. Os embriões foram fotografados a cada estágio de desenvolvimento. O número de animais mortos em cada estágio foi contabilizado. A curva de Kaplan-Meier foi construída e uma comparação da taxa de sobrevivência entre os grupos foi realizada usando o teste Log-rank, o nível de significância foi estabelecido em p <0,05. A avaliação da taxa de mortalidade embrionária foi feita a partir da curva dose-resposta, usando o software R (versão 4.0.5). 4.6.2.2 Adultos Para os peixes adultos (4 a 5 meses), as concentrações testadas foram 100, 50, 25, 10, 5 ug/L de FEA, além dos controles 0,05% DMSO (controle) e água do sistema (controle água). Para as exposições crônicas por 96h, as soluções foram dispostas em tanques de 2L que receberam 15 zebrafish adultos cada. As soluções foram trocadas diariamente devido à meia-vida desconhecida da FEA e para garantir a qualidade da água. Os peixes não foram alimentados durante o procedimento. A mortalidade foi verificada quatro vezes ao dia em busca da determinação da LC50. Devido à ausência de mortalidade, procedemos com um teste de tanque novo. O teste é um protocolo comumente usado para obter dados sobre endpoints comportamentais, como locomoção e ansiedade, com o objetivo de identificar efeitos tóxicos de compostos no cérebro de diferentes espécies animais (FERGUSON; BOWMAN, 1990; KARL etal., 34 2003; BLASER et al., 2010). O tanque novo em zebrafish pode revelar semelhanças entre modelos animais e métodos relacionados à exploração ambiental (EGAN et al. 2009; BLASER; ROSEMBERG, 2012). Assim, após 96h de exposição às concentrações mais elevadas de FEA (100 e 50 ug/L), os peixes foram testados no paradigma do tanque novo. O teste consiste em um aquário trapezoidal (22x 15 x 10 cm) de 2L, em que o comportamento dos animais é registrado individualmente por 6 min. Os grupos para o teste foram: 0,05% DSMO (controle), água do sistema (controle água), 100 ug/L de FEA e 50 ug/L de FEA (n=15 por grupo). Para o registro, foi usada uma webcam (Logitech® C920 Full HD) e posteriormente o comportamento foi analisado por um software de rastreamento denominado ANY-maze (Stoelting Co.). Os seguintes parâmetros foram avaliados: tempo na zona inferior do aquário, tempo na zona intermediária e tempo na zona superior, ângulo de giro absoluto e parâmetros locomotores (velocidade média, distância total percorrida e velocidade média em movimento, que desconta o tempo que o animal permaneceu parado no tanque). Os dados comportamentais foram comparados pelo teste de ANOVA one-way ou Kruskal-Wallis seguido pelo teste post-hoc Student-Newman-Keuls ou Dunn, a depender da parametricidade dos dados. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. 4.6.3 Testes de memória 4.6.3.1 Tratamento com a fração enriquecida em alcaloides De acordo com os resultados obtidos no teste de tanque novo (ver na seção de resultados), definimos a concentração de 50 ug/L para os testes de memória em zebrafish. Assim, 60 animais adultos foram divididos em 3 grupos (n=20) e expostos a 50 ug/L de FEA, 0,05% de DMSO (controle) e água do sistema (controle água) durante 1 hora por dia por 7 dias. Em seguida, os animais foram testados quanto a memória de curta duração (T-maze) e de longa duração (discriminação de objetos). 4.6.3.2 Teste de memória de curta duração (T-maze) Para avaliar a aprendizagem espacial e a memória de curta duração, adaptamos o protocolo de Cognato et al. (2012). 35 Usamos um tanque em forma de T cujas dimensões dos braços eram: 30 cm de comprimento, 10 cm de altura e 10 cm de largura. Cada braço tinha as paredes cobertas com papel adesivo preto para evitar estímulos visuais externos, e o chão foi coberto com papel branco para contraste com a cor dos peixes. Diferentes formas geométricas (triângulos, quadrados e círculos) feitos em papel branco foram distribuídos ao longo de cada braço do labirinto para servir como uma pista visual diferente. O teste ocorreu em duas fases: treino e teste. Na fase de treino, um dos braços foi fechado e os peixes puderam explorar o braço inicial (onde foi colocado inicialmente) e outro braço por 10 minutos. Após 1h de intervalo, a memória espacial foi testada no mesmo ambiente, porém com os três braços abertos e os peixes (inicialmente colocados no braço inicial) tiveram acesso aos três braços (o inicial, o outro e o braço novo). No teste, a atividade locomotora foi registrada por 10 min e era esperado que o animal aumentasse a exploração do braço novo (indicador de memória), pois o peixe lembra dos dois braços anteriores e reconhece o braço novo. Para ambas as fases experimentais, o braço inicial foi o mesmo. Outros braços e novos braços foram escolhidos aleatoriamente para cada peixe. Cada animal foi testado individualmente. Tempo e latência para sair do braço inicial foi medido. Padrões locomotores, como distância total percorrida e velocidade média durante o movimento foram analisados (controle DMSO: n=20, controle água: n=20 e 50 ug/L de FEA: n=20). Todo o comportamento foi filmado usando uma webcam (Logitech® C920 Full HD) e analisado pelo software de rastreamento ANY-maze. A comparação entre os grupos e fases, assim como, o tempo gasto em cada braço, foi analisado por ANOVA two-way, considerando como fatores o tratamento (água, DMSO e E. velutina), a fase experimental (treino e teste) e a interação entre os dois fatores, seguindo pelo teste de post-hoc de Student-Newman-Keuls. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas quando p <0,05. A análise estatística foi realizada pelo software SigmaStat 5.0. 4.6.3.3 Discriminação de Objetos Para acessar a memória de longa duração, utilizamos o protocolo de Oliveira et al. (2015), que implica em um intervalo de 24h entre as sessões de treino e teste. O teste ocorre em três fases: (1) aclimatação no tanque (40 x 20 x 20 cm, completamente forrado com papel contact branco), (2) fase de memorização e (3) fase 36 de discriminação. Para os objetos a serem discriminados, foram utilizados cubos de plástico Lego® (4x4x4 cm) com cores completamente randomizadas para evitar preferência entre objetos. A fase de aclimatação (1) teve duração de cinco dias. Os peixes foram individualmente colocados no tanque e exploraram por 15 min cada dia, sem objetos, para se acostumar com a nova arena e reduzir o estresse da novidade. Para reduzir o estresse do isolamento, devido à alta sociabilidade do zebrafish, 5 peixes exploraram o tanque de teste juntos no primeiro dia, e o número de animais foi progressivamente reduzido até que apenas um animal explorasse o tanque no 5º dia de aclimatação. A fase de memorização (2) ocorreu no dia 6º dia. Dois objetos 3D (chamados A e A’) com as mesmas cores, tamanho e forma foram introduzidos no tanque, cada um posicionado ao lado de cada parede menor e cerca de 30 cm um do outro. Os peixes foram individualmente colocados no tanque para explorar os dois objetos por 15 min. O comportamento foi gravado usando uma webcam (Logitech® C920 Full HD). Depois disso, os peixes foram alocados individualmente em recipientes de 400 ml até o próximo dia de teste. No dia seguinte, a fase de discriminação (3) ocorreu. Para isso, o objeto A’ da fase de memorização foi substituído por um objeto desconhecido (chamado objeto B), com o mesmo tamanho e forma, mas com cor diferente. O comportamento de exploração dos peixes foi novamente filmado por 15 min. Em ambas as fases, a permanência do animal em uma área de 3 cm ao redor dos objetos foi considerada comportamento de exploração (LUCON-XICCATO; DADDA, 2014). O comportamento registrado em vídeo foi analisado usando o software de rastreamento ANY-maze e foram avaliados os seguintes parâmetros comportamentais: velocidade média e máxima de natação, distância percorrida e tempo de exploração de cada objeto. Os parâmetros de velocidade média e máxima de natação e distância total percorrida foram avaliados por teste de ANOVA one-way para comparação entre os grupos experimentais. O tempo gasto em torno dos objetos (exploração) foi comparado entre as fases de memorização e discriminação para cada grupo experimental (controle DMSO: n=20, controle água: n=20 e 50 ug/L de FEA: n=20) pelo teste de ANOVA two-way (considerando tempo de exploração de cada objeto e dia de teste, além da interação entre os fatores). Em casos de resultado significativo, comparações post-hoc usando Student-Newman-Keuls (SNK) foram feitas. 37 O índice de exploração para a fase de memorização (exploração da memorização = Em = A1 + A2) e o índice de discriminação para a fase de discriminação (índice de discriminação = Di = B-A3) foram calculados para cada grupo para estabelecer se havia diferenças no tempo de exploração do objeto. A análise de regressão linear foi realizada para determinar se Em foi preditivo de Di, ou seja, para avaliar se o tempo gasto explorando os objetos na fase de memorização se relaciona com a exploração de novos objetos na fase de discriminação. As análises foram realizadas pelo SigmaStat 5.0. Para todas as comparações, o nível de significância foi estabelecido em p <0,05. A seguir a figura 7 resume as etapas da metodologiadiscutida neste trabalho. 38 Figura 7: Esquema experimental. Fonte: Elaborado pelo autor. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 A análise química preliminar do extrato e seus alcaloides através da Cromatografia em Camada Delgada (CCD) Foi realizada a partir da CCD uma análise preliminar para confirmação de alcaloides nas amostras das frações e dos alcaloides isolados. Inicialmente para análise das frações foram usadas cromatoplacas de sílica de gel, como fase estacionária e como fase móvel clorofórmio, hexano e metanol (5:5:0,5 v/v/v). As amostras foram diluídas em DCM e aplicadas na placa. Em seguida foram observadas Identificação e coleta do material vegetal Obtenção do Extrato hidro- alcoólico Obtenção das Frações Enriquecidas Isolamento dos alcaloides majoritários Análises Cromatográficas Ensaios biológicos Toxicidade Testes de Memória e Cognição Análises Cromatográficas 39 sob luz UV para visualização das bandas. Para esta análise foram feitas duas placas iguais, cada uma exposta a um reagente diferente. Na figura 8 estão ilustradas as frações sob a luz UV e reveladas com o reagente Dragendorff. Figura 8: Cromatografia em camada delgada das frações enriquecidas em alcaloides (F1, F2, F3, F4, F5) obtidas de sementes de Erythrina velutina: A- Frações sobre a luz UV; B- Frações reveladas com o reagente Dragendorff. Fonte: Elaborada pelo autor. Na imagem da figura 8A, observamos algumas bandas evidentes de absorção das frações quando em contato com a luz UV, corroborando com o resultado da imagem da figura 8B, que indica a presença de alcaloides nas frações. Também foi realizada uma CCD das frações com clorofórmio/hexano/metanol (5:5:0,5 v/v/v) como fase móvel, que foram observadas na luz UV e reveladas tanto com Dragendorff quanto com vanilina. Este último reagente indica classes de metabólitos e compostos que não são alcaloides, considerado impurezas. Na figura 9, estão ilustradas as frações sob a luz UV, as frações reveladas com o reagente vanilina e com o Dragendorff. 40 Figura 9: Frações enriquecidas em alcaloides (F1, F2, F3) obtidas de sementes de Erythrina velutina reveladas com Dragendorff sob luz UV: A e C- frações sobre a luz UV; B- frações reveladas com vanilina; D- frações reveladas com Dragendorff. Fonte: Elaborada pelo autor. Após a exposição das placas sob a luz UV, uma placa foi exposta ao Dragendorff, no qual foram reveladas bandas alaranjadas, que corroboram com as bandas observadas sobre a luz UV, indicando a presença de alcaloides. A outra placa foi revelada com vanilina, e não foi observada banda ou cor que pudesse indicar outro composto. As duas placas foram feitas com as mesmas amostras, com o objetivo de identificar se as amostram possuíam alcaloides ou algum outro composto. Na imagem A e C da figura 9, foram verificadas zonas de absorção vistas na luz UV. Na imagem B, revelada com vanilina, foram visualizadas as mesmas bandas da imagem D, revelada com Dragendorff, indicando a presença de alcaloides. Foram feitas também análises preliminares para confirmação de alcaloides nas amostras que foram isoladas a partir da CCC, essa análise foi feita também por CCD, usando a fase móvel clorofórmio/hexano/metanol (5:5:0,5 v/v/v) e observadas na luz UV para demonstração das bandas. Em seguida, as placas foram reveladas com Dragendorff, que revelou bandas alaranjadas de acordo com as bandas observadas sob luz UV, indicando a presença de alcaloides nessas amostras. Porém, foi observado um baixo rendimento dos alcaloides isolados e a cada vez que a CCD era repetida, um novo perfil era observado sugerindo a ocorrência de degradação. Assim, foi escolhida a amostra enriquecida em alcaloides como amostra de trabalho e para avaliação das respostas biológicas. 41 5.2 Análise por Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (CG-EM) Através da análise do extrato dos alcaloides totais por CG-EM, foi obtido o cromatograma conforme está representado na figura 10. Entre os componentes detectados, dois se apresentaram entre os majoritários, representando 67% da área total do cromatograma (pico I e II). O pico I com tempo de retenção em 28.293 min apresentou espectro de massas com íon molecular de 299 u.m.a., e pico base em m/z 268 (figura 11), além de outros fragmentos importantes como: m/z 266, m/z 284, m/z 299, m/z 215, m/z 228, m/z 241. Esses padrões são característicos do alcaloide eritrínico dienoide erisodina (FEITOSA, 2014), que possui a fórmula molecular C18H21NO3. O pico II no tempo de retenção em 31.682 min, apresentou o espectro de massas similar ao citado anteriormente (figura 12), com os mesmos íons característicos do alcaloide erisodina. Esses dados sugerem tratar-se de isômeros estruturais com mesma massa molecular, o que é comum aos alcaloides eritrínicos apresentando diferenças quanto à posição dos mesmos substituintes em anéis aromáticos, posição de insaturações e mesmo presença ou não do grupamento metilenodioxi-fenila. Essa quimiodiversidade dos alcaloides com pequenas alterações estruturais que dificultam a análise inequívoca estão sendo exploradas e investigadas por nosso grupo (CHACON et al., 2021). 42 Figura 10: Cromatograma obtido por CG-EM das frações enriquecidas em alcaloides. Figura 11: Espectro de massas do pico com tempo de retenção em 28.293 min. Figura 12: Espectro de massas do pico com tempo de retenção em 31.682 min. Estudos anteriores (FEITOSA, 2014; AMER et al., 1991; LEAL, 2018) identificaram o alcaloide erisodina e seu isômero erisovina em amostras de E. velutina 43 e E. verna. Ambos os alcaloides apresentaram a mesma fragmentação no espectro de massa em diferentes tempos de retenção e a mesma forma molecular C18H21NO3 condizente com os isômeros erisodina (figura 10) e erisovina (figura 10), que se diferenciam apenas com alteração na posição do grupo metoxila e hidroxila em R1 e R2. Esse resultado foi evidenciado por Singh et al. (1981) através de dados de espectrometria de massas com ionização por eletrospray (IES-EM), infravermelho (IV) e ressonância magnética nuclear (RMN 1H). Esses dados estão de acordo com os padrões descritos de fragmentação para estes isômeros (FEITOSA, 2014; AMER et al., 1991). A diferenciação de isômeros de forma geral já representa um dos grandes desafios na área química e requer o uso de diferentes técnicas analíticas (EBERLIN; BENASSI, 2012). Sobretudo nos alcaloides eritrínicos, cuja elevada diversidade molecular é atribuída principalmente aos padrões de substituição como –OH, –CH3, - OCH3, geralmente encontrados em C3, C8 e C11 do esqueleto do núcleo principal do alcaloide, diferentes técnicas são indispensáveis (CHACON et al., 2021). A distinção entre os isômeros não foi possível pela análise deste estudo, pois para maiores informações estruturais de cada componente seria necessário realizar o isolamento em situação que garanta a integridade química e análises complementares de ressonância magnética nuclear (RMN), conforme executado por Feitosa (2014). Considerando a diferença entre o tempo de retenção entre os isômeros apresentado por Feitosa (2014) e a identificação estrutural, sugere-se que na fração de alcaloides totais de E. velutina tem-se a erisodina no tempo de retenção menor (28.2 min) e a erisovina no tempo de retenção maior (31,6 min). 44 Figura 13: Estrutura da erisodina e erisovina. Fonte: adaptado de FEITOSA, 2014. 5.3 ATIVIDADE BIOLÓGICA 5.3.1 Toxicidade Após o teste de toxicidade aguda com embriões de zebrafish expostos por 2h às diferentes concentrações de FEA, a curva de Kaplan-Meier gerada (figura 14) indica baixa sobrevivência para as concentrações de 100 e 50 ug/ml (p<0,0001), em que os embriões apresentaram coagulação nas primeiras horasde observação. Segundo a OECD 236 (2013), esse ponto é um indício de toxicidade aguda. Os embriões expostos às concentrações de 0,5 e 8 ug/ml tiveram maior taxa de sobrevivência e não apresentaram qualquer anormalidade morfológica até 120 hpf. A LC50 da FEA foi estimada em 17,40 ug/ml. Figura 14: Curva de Kaplan-Meier seguida pelo teste Log-rank para comparação da taxa de sobrevivência entre os grupos. Nível de significância foi estabelecido em p <0,05. 45 No teste de toxicidade crônica para animais adultos, nós não observamos mortalidade decorrente da exposição a FEA durante as 96h. Até o presente momento, não é de nosso conhecimento qualquer outro estudo que tenha observado toxicidade de FEA de E. velutina em zebrafish. O estudo de Craveiro et al. (2008) avaliou a toxicidade aguda do extrato aquoso das folhas de E. velutina em ratos wistar adultos por via oral, com uma dose limite de 5g/kg do extrato por 14 dias e não houve mortalidade ou sinais de toxicidade nesses animais. No trabalho de Chacon (2018), o extrato das sementes de E. velutina nas concentrações de 1mg/mL, 5mg/mL e 10mg/mL, e os alcaloides isolados, eritralina e erisodina, nas concentrações de 10μM, 50μM e 100μM não causaram efeito tóxico em C. elegans. Portanto, a toxicidade do extrato ou de FEA devem estar relacionadas ao estágio de desenvolvimento do SNC. Em zebrafish, os primeiros estágios de desenvolvimento embrionário são bastante sensíveis a elementos químicos, e diversos estudos mostram alterações morfológicas e comportamentais da exposição embrionária a alcaloides como cafeína (CHEN et al., 2008), nicotina (MORA-ZAMORANO et al., 2016), arecolina (PENG et al., 2015), e matrina (TROPEPE; SIVE, 2003). No presente estudo, FEA de E. velutina causou toxicidade apenas em embriões, mas não houve mortalidade em zebrafish adultos. Assim, realizamos o teste de tanque novo para verificar se os animais apresentavam alterações comportamentais indicativas de toxicidade das concentrações mais elevadas de FEA. 5.3.2 Teste de tanque novo Após 96h de exposição crônica a 50 e 100 ug/L de FEA de E. velutina, os dados comportamentais de zebrafish adultos em tanque novo foram avaliados (figura 15 e 16). O teste de ANOVA one-way indicou efeito significativo para os parâmetros locomotores analisados: distância total percorrida (F = 11,793; P = 0,008; figura 15A), velocidade média (F = 11,793; P = 0,008) e a velocidade média em movimento (F = 3.697; P=0,017; figura 15B). O teste post hoc de SNK mostraram que os indivíduos que foram submetidos a FEA reduziram os comportamentos de locomoção e exploração do tanque em comparação aos animais dos grupos controle. 46 Figura 15: Análise de parâmetros locomotores de zebrafish submetidos ao teste de tanque novo por 6min: A- Distância total percorrida; B- Velocidade Média; C- Velocidade enquanto móvel. (*) indica diferença entre os grupos. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. Os dados referentes ao ângulo de giro absoluto (Anova one-way F = 9,639; P = 0,022), tempo despendido na zona superior do tanque (Kruskal-Wallis H = 24,348; P <0,001) e na zona inferior do tanque (Kruskal-Wallis H = 25,017; P <0,001) também foram estatisticamente significativos. Os testes post hoc (SNK e Dunn) indicaram que os animais expostos a FEA de E. velutina apresentam natação com ângulos mais fechados (mais zig-zag) e maior tempo de locomoção na área superior do tanque. Este tipo de comportamento indica menor ansiedade e mais rápida habituação ao ambiente novo (menor estresse) (WIPRICH et al., 2020). Os animais expostos a 50 ug/L passaram mais tempo na zona superior em comparação aos outros grupos, assim observamos resposta dependente da concentração de FEA. 47 Figura 16: Análise dos parâmetros locomotores que indicam atividade ansiolítica para os animais expostos as FEA (50 ug/L e 100 ug/L): A- Ângulo de giro absoluto; B- Tempo nas zonas do tanque. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. Letras diferentes indicam diferença estatística entre os grupos (a b c). Estes resultados demonstraram que a FEA reduz a ansiedade, reduz parâmetros locomotores e aumenta o tempo na área superior do tanque e nas viradas de ângulo de giro absoluto. A Erythrina velutina já apresenta efeitos farmacológicos descritos sobre aspectos relacionados a ansiedade (SILVA, 2020). No estudo de Silva et al. (2009), tanto o extrato bruto quanto a fração alcaloídica de E. velutina geraram efeito ansiolítico em camundongos. Raupp et al. (2008) sugerem que a administração crônica do extrato de hidroalcóolico das cascas de E. velutina em camundongos exerce efeito ansiolítico, assim como Ribeiro et al. (2006) mostraram usando o extrato hidroalcóolico das cascas de Erythrina velutina em ratos. Em nosso estudo, o primeiro a usar o zebrafish como modelo experimental para testar frações enriquecidas em alcaloides obtidas a partir das sementes de E. velutina, as concentrações mais elevadas de FEA reduziram o comportamento tipo-ansioso, corroborando estudos anteriores com a mesma planta. De maneira geral, as concentrações de 50 e 100 ug/L de FEA não mostraram efeitos diferentes. Apenas para o comportamento de natação na região superior/inferior do tanque, a concentração de 50 ug/L induziu efeito significativamente diferente da concentração de 100 ug/L. Desta forma, apenas 50 ug/L foi escolhida para seguir com os testes de memória. 48 5.3.3 Teste de memória de curta duração (T- maze) Este teste teve como objetivo avaliar a memória de curta duração do zebrafish. Esse tipo de memória indica a capacidade de retenção de informação em estado ativo e prontamente disponível durante um curto período de tempo. A principal função da memória de curto prazo (ou curta duração) é garantir acesso imediato às informações recém adquiridas, dentro de um curto período de tempo. Neste caso, a redução do estresse, menor ansiedade e habituação ao ambiente favorece a formação de memória de curta duração, pois o indivíduo pode focar nas informações relevantes do meio. O resultado encontrado para este estudo mostra que o zebrafish tratado com FEA ou controle apresentam similaridade na latência para deixar o braço inicial do T- maze (figura 17). ANOVA two-way indicou resposta não significativa relacionada ao fator tratamento (F= 0,826; P= 0,44) e não significativa relacionada à interação tratamento vs. fase (F= 0,267; P= 0,766), porém indicou resultado significativo para o fator fase (F= 5,957; P= 0,016). Este resultado mostra que os animais se comportaram de forma semelhante para sair do braço inicial, mas todos os grupos apresentaram menor latência de saída no segundo momento no labirinto, indicando ter havido reconhecimento do ambiente. Isso pode se dar pelo fato de que no primeiro momento, na fase de treino, o ambiente ser desconhecido para o peixe (aumento de ansiedade), enquanto no segundo momento, na fase de teste, o ambiente já conhecido provoca redução de ansiedade e permite maior exploração. Figura 17: Gráfico representando a latência para o peixe sair do braço inicial na fase de treino e de teste do T-maze. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas a p <0,05. (*) indica diferença entre os grupos. 49 Na fase de treino, o tempo de permanência no braço inicial e no outro braço (apenas esses dois braços podiam ser explorados nesta fase) não foi estatisticamente significativo (figura 18a). ANOVA two-way não indicou significância para o fator tratamento (F=0,054; P =0,94), para o fator braço (F=0,88; P =0,35), ou para a interação entre os fatores (F=0,008; P =0,99). Desta maneira, podemos concluir que todos os grupos exploraram de maneira semelhante os 2 braços do labirinto durante a fase de treino, tendo permanecido tempo
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