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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR Brena Karisa Campos de Melo QUIMIOTERAPIA EXPERIMENTAL ANTIMALÁRICA COM EXTRATOS DE PÓLEN APÍCOLA DE Cocos nucifera DESIDRATADO NATAL/2022 Brena Karisa Campos de Melo QUIMIOTERAPIA EXPERIMENTAL ANTIMALÁRICA COM EXTRATOS DE PÓLEN APÍCOLA DE Cocos nucifera DESIDRATADO Orientador: Professor Doutor Valter Ferreira de Andrade Neto Natal/2022 Dissertação de Mestrado do Curso de Pós- graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do Título de Mestre em Bioquímica e Biologia Molecular na área de Parasitologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Melo, Brena Karisa Campos de. Quimioterapia experimental antimalárica com extratos de pólen apícola de cocos nucifera desidratado / Brena Karisa Campos de Melo. - 2022. 82 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Programa de Pós-Graduação em Bioquimica e Biologia Molecular, Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. Valter Ferreira de Andrade Neto. 1. Malária - Dissertação. 2. Pólen apícola - Dissertação. 3. Plasmodium berghei ANKA - Dissertação. 4. Antimaláricos - Dissertação. I. Andrade Neto, Valter Ferreira de. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 616.936 Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262 Agradecimentos A minha família, em especial minha avó, Maria Salete, mãe, Ângela Maria, pai, José Sergio, e irmã, Bruna Melo, pelo apoio que sempre tive e ainda tenho durante a minha formação acadêmica e profissional, sou eternamente grata. Também incluo aqui os membros de quatro patas da família, Snoopy e Amora, pois me enchiam de alegria ao pensar que quando chegasse em casa teria os lambeijos e carinho deles. Ao meu companheiro Damião Paz, que me acompanha nessa caminhada desde o meu TCC, e agora na dissertação, pude perceber que é mais guerreiro que eu, pois aturar uma aluna de pós-graduação em época de pandemia e reforma de laboratório não é fácil, (foram muitas batalhas cheias de estresse). Ter alguém para te fazer erguer a cabeça após um dia cansativo e as vezes desanimador de experimento, é vital. Ao meu orientador Valter Andrade, que me acolheu em seu laboratório e confiou em mim para manter a cepa de Plasmodium berghei ANKA viva em tempos de pandemia e reforma, e por ter nesses quase 3 anos de mestrado me mostrado o caminho para seguir firme e não desistir da vida acadêmica. A Jully Anne, a maior, mestre em parasitologia, Zootecnista, organizadora de comes e bebes, pessoa maravilhosa que sempre me ajudou nos experimentos, podia fazer chuva ou sol, sem ela os dias no laboratório não teria graça. As também mestres que passaram pelo laboratório, Hannah Inez, Brenna Melo, Ana Rafaela e Ramayana Brito, em vocês eu me inspirei durante esse processo. As amigas de turma que Nadja Melo, Amanda Barros, Kariely Moura, obrigada por me ajudarem e estarem juntas em dias de luta e gloria. Ao Departamento de Microbiologia e Parasitologia. Ao Instituto de Química em especial a professora Renata Mendonça e suas alunas Sarah e Janine. Ao professor Hugo Rocha e Raimundo Fernandes, por me concederem acesso nos laboratórios e ajudar nas análises. Ao laboratório de Nutrição Animal, em especial ao Professor Marcone Costa e Adriana. Ao produtor apícola Joaz, que nos presenteou com seu maravilhoso pólen. Ao Biotério Central da UFRN, tenho muito carinho a Debora que fez o que estava ao seu alcance para conseguir animais de experimentação. E as vidas dos animais que foram necessárias para que esse trabalho pudesse acontecer, saibam que foram para um bem maior. A CAPES e CNPq pelo apoio financeiro. A todos os pesquisadores brasileiros que lutam grandiosamente contra a COVID-19, e sabem driblar os obstáculos que existem para se fazer pesquisa no Brasil. A todos que participaram e colaboraram para que esta pesquisa pudesse ser realizada, meus eternos agradecimentos. "Os humanos se distanciaram da terra, como um filho que tem vergonha da mãe." - Ailton Krenak RESUMO A malária é uma doença tropical infecciosa aguda causada por parasitas do gênero Plasmodium. Existem cinco espécies de Plasmodium que causam malária em humanos, P. falciparum, P. vivax, P. malariae, P. ovale e P. knowlesi. Em 2020, foram registrados 241 milhões de casos de malária, permanecendo como uma das principais doenças infecciosas do mundo. A maioria das pesquisas sobre malária se concentra na busca de novos medicamentos antimaláricos, pois há recorrência contínua de cepas de Plasmodium resistentes ao tratamento antimalárico atual, incluindo terapias combinadas à base de artemisinina (ACTs). O uso terapêutico de plantas medicinais há muito contribui para o tratamento de doenças. Em relação ao tratamento da malária, muitos medicamentos, como quinina e artemisinina, são derivados de plantas. Estudos utilizando compostos bioativos, extraídos de plantas, têm demonstrado atividades biológicas como anti-inflamatória, antimicrobiana, antifúngica, anticancerígena e inseticida. Nesse contexto, o presente trabalho buscou investigar o potencial antiplasmódico de um extrato de pólen apícola de Cocos nucifera. Para analisar a supressão da parasitemia, camundongos Swiss fêmeas pesando 27 ± 2 g com 6 a 10 semanas de idade foram divididos em grupos de 5 animais cada. Os camundongos foram infectados com 1x106 de hemácias parasitadas por Plasmodium berghei ANKA, e tratados oralmente, “por gavage” por 4 dias consecutivos. Foram utilizados cinco grupos experimentais: (I) grupo controle negativo tratado com água; grupos teste com 250 mg/kg (II), 500 mg/kg (III) e 1000 mg/kg (IV) com extrato de pólen apícola; e (V) grupo controle positivo com 25 mg/kg de cloroquina. A atividade antimalárica foi avaliada pela porcentagem de inibição do crescimento do parasita nos grupos teste em relação ao grupo controle negativo. Adicionalmente, o ensaio in vivo teve a mortalidade cumulativa, toxicidade aguda do extrato e análise histopatológica realizada; durante o ensaio in vitro, a atividade citotóxica do extrato foi avaliada em células HepG2, usando seis concentrações, de 0,01-1.000 μg/mL por 24 h. Análises da composição química do extrato GC/MS e LC/MS também foram realizadas. A análise da composição química do extrato de pólen revelou a presença de ácidos graxos, cumarinas, flavonóides e terpenos. No teste de toxicidade aguda in vivo não foram observados sinais de toxicidade e mortalidade, assim como as análises histopatológicas não mostraram alterações em relação ao controle. Na avaliação da citotoxicidade in vitro, foi possível observar que o extrato manteve 100% de viabilidade celular em todas as concentrações aplicadas. O ensaio antiplasmodial demonstrou a supressão da parasitemia nas concentrações de 500 mg/kg. Em resumo, é possível observar os resultados promissores do extrato bruto de pólen de abelha contra a infecção por Plasmodium. O tratamento com o extrato foi capaz de reduzir significativamente a parasitemia em camundongos, sem induzir toxicidade in vivo e in vitro. No entanto, estudos complementares ainda são necessários para isolaros componentes bioativos do extrato e avaliar sua atividade contra cepas de Plasmodium. Palavras-chave: Malária. Pólen apícola. Plasmodium berghei ANKA. Antimaláricos. ABSTRACT Malaria is an acute infectious tropical disease caused by Plasmodium parasites. There are five species of Plasmodium causing malaria in humans, P. falciparum, P. vivax, P. malariae, P. ovale and P. knowlesi. In 2020, 241 million cases of malaria were registered, remaining as one of the main infectious diseases in the world. Most of the malaria research focus on the search for new antimalarial drugs, as there is ongoing recurrence of Plasmodium strains resistant to the current antimalarial treatment, including Artemisinin-based combination therapies (ACTs). The therapeutic use of medicinal plants has long contributed to the treatment of diseases. Regarding malaria treatment, many drugs such as quinine and artemisinin are derived from plants. Studies using bioactive compounds, extracted from plants, have shown biological activities such as anti-inflammatory, antimicrobial, antifungal, anticancer and insecticidal. In this context, the present work sought to investigate the antiplasmodial potential of an extract of bee pollen from Cocos nucifera. To analyze the suppression of parasitemia, female Swiss mice weighing 27 ± 2 g at 6 to 10 weeks of age were divided into groups of 5 animals each. Mice were infected with 1x106 of red blood cells parasitized by Plasmodium berghei ANKA, and treated orally, “per gavage” for 4 consecutive days. Five experimental groups were used: (I) negative control group treated with water; test groups with 250 mg/kg (II), 500 mg/kg (III) and 1000 mg/kg (IV) with bee pollen extract; and (V) positive control group with 25 mg/kg of chloroquine. Antimalarial activity was evaluated by the percentage of parasite growth inhibition in the test groups compared to the negative control group. Additionally, the in vivo assay had the cumulative mortality, acute toxicity of the extract and histopathological analysis performed; during the in vitro assay, the cytotoxic activity of the extract were evaluated in HepG2 cells, using six concentrations, from 0.01-1,000 μg/mL for 24 h. Analyzes of the extract chemical composition GC/MS and LC/MS were also performed. The analysis of the pollen extract chemical composition revealed the presence of fatty acids, coumarins, flavonoids and terpenes. In the in vivo acute toxicity test, no signs of toxicity and mortality were observed, as well as the histopathological analyzes showed no changes in relation to the control. In the in vitro cytotoxicity evaluation, it was possible to observe that the extract maintained 100% cell viability at all concentrations applied. The antiplasmodial assay demonstrated the suppression of parasitemia at concentrations of 500 mg/kg and 1000 m/kg, with 49% and 57% of suppression, respectively. In summary, it is possible to observe the promising results of bee pollen crude extract against Plasmodium infection. Treatment with the extract was able to significantly reduce parasitemia in mice, without inducing toxicity in vivo and in vitro. However, complementary studies are still necessary to isolate the extract bioactive components and evaluate its activity against Plasmodium strains. Keywords: Malaria. Bee pollen. Plasmodium berghei ANKA. Antimalarials drugs. Lista de figuras e tabelas Figura 1: Incidência global da malária, mostrando a progressão da doença de 2015 até 2020.................................................................................................................................13 Figura 2: Casos de malária confirmados por 1.000 habitantes na América Latina........14 Figura 3: Mapa da incidência parasitária anual, mostrando o risco de contrair a malária no Brasil..........................................................................................................................16 Figura 4: Casos de malária notificados no Brasil, 1959 a 2019, e a relação das de casos das espécies P. vivax e P. falciparum.............................................................................16 Figura 5: Mapa mostrando a distribuição geográfica das espécies de vetores da malária no continente Americano................................................................................................21 Figura 6: Ciclo biológico do Plasmodium......................................................................22 Figura 7: Tipos de polinização em flores monóicas e dióicas..............................................................................................................................30 Figura 8: Processo de elaboração do extrato hidroalcóolico..................................................................................................................37 Figura 9: Etapas do ensaio antiplasmodial com o Plasmodium berghei ANKA..............................................................................................................................45 Figura 10: Viabilidade celular após 24h de incubação com diferentes concentrações do extrato bruto..................................................................................................................47 Figura 11: Perfil cromatográfico do extrato apícola de Cocos nucifera por LC/MS....49 Figura 12: Estruturas químicas dos compostos encontrados por análise metabolômica em bibliotecas espectrais do GNPS...............................................................................51 Figura 13: Taxa de ganho de peso dos animais..............................................................53 Figura 14: Corte histológico do fígado análise de toxicidade aguda............................54 Figura 15: Corte histológico do rim esquerdo da análise de toxicidade aguda.............55 Figura 16: Corte histológico do baço da análise de toxicidade aguda..........................56 Figura 17: Atividade antiplasmódica do EHPA (mg/kg) ..............................................57 Figura 18: Análise histológica de secções do fígado de animais não tratados...............58 Figura 19: Análise histológica de secções do fígado de animais tratados com cloroquina......................................................................................................................59 Figura 20: Análise histológica de secções do fígado de animais tratados com 250mg/kg do EHPA.......................................................................................................................59 Figura 21: Análise histológica de secções do fígado de animais tratados com 500mg/kg do EPA............................................................................................................................60 Figura 22: Análise histológica de secções do fígado de animais tratados com 1000mg/kg do EHPA.........................................................................................................................60 Tabelas Tabela 1: Esquema de tratamento recomendado pela OMS na região Africana, e esquema Brasileiro recomendado pelo Ministério da Saúde...............................................................................................................................24 Tabela 2: Primeiros relatos de resistência, genes e envolvidos e principais mecanismo de resistência...................................................................................................................26 Tabela 3: Composição físico-químicas de pólen das 5 regiões brasileiras......................31 Tabela 4: Médias e desvio padrão das análisesfísico-químicas......................................48 Tabela 5: Substâncias do extrato encontradas por análise cromatográfica LC-MS........50 Tabela 6: Composição do EHPA determinado por análise cromatográfica....................52 Tabela 7: Parâmetros bioquímicos avaliados no ensaio de toxicidade aguda do Extrato de pólen apícola de Cocos nucifera.................................................................................54 Tabela 8: Atividade antimalárica do extrato de pólen apícola de Cocos nucifera em diferentes experimentos...................................................................................................57 Tabela 9: Atividade antimalárica in vivo do pólen apícola de Cocos nucifera em relação ao controle não tratado....................................................................................................58 Lista de abreviaturas e siglas AL - Arteméter-lumefantrina ART - Artemisinina AS-MQ - Artesunato-mefloquina AQ – Amodioquina-artesunato CSP – Proteína circunsporozoíta CQ – Cloroquina APYR – Artesunato-pironaridina AS+SP – Artesunato-sulfadoxina-pirimetamina DHA – Diidroartemisinina-piperaquina DMAPP – Dimetilalilo pirofosfato DMSO - Dimetilsulfóxido EHPA – Extrato hidroalcóolico de pólen apícola FDA – Food and drug andminstration GA3P – Gliceraldeído3-fosfato IDH - Índice de desenvolvimento humano IPP – Isopentenil difosfato MQ – Mefloquina MEP – Metileritritol fosfato OMS – Organização mundial de saúde PbA – Plasmodium berghei ANKA PfMDR1 – Plasmodium falciparum multidrug resistente 1 PfMRP1 – Plasmodium falciparum multidrug resistance protein 1 PQ – Primaquina PPQ – Piperaquina SNPS – Polimorfismos de nucleotídeo único TRAP – Trombospondina TLRS – Receptores tipo Toll-like Sumário 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10 2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 13 2.1 Epidemiologia da malária ................................................................................. 13 2.2 A Malária: doença e imunologia ...................................................................... 17 2.3 Agente etiológico e vetor .................................................................................. 19 2.4 Ciclo evolutivo do Plasmodium ....................................................................... 21 2.5 Mecanismos de ação de antimaláricos de referência ........................................ 23 2.6 Mecanismos de resistência aos antimaláricos .................................................. 24 2.7 Tratamentos fitoterápicos e a procura de novos antimaláricos ........................ 27 2.8 Pólen apícola e sua atividade biológica ............................................................ 29 2.9 Cocos nucifera e sua atividade biológica ......................................................... 31 3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 33 4 OBJETIVOS ............................................................................................................ 35 4.1 Geral ................................................................................................................. 35 4.2 Específicos ........................................................................................................ 35 5. MATERIAL E METÓDOS .................................................................................... 36 5.1 Obtenção do pólen apícola de Cocos nucifera desidratado .............................. 36 5.1.2 Método de Extração – Preparo do Extrato etanólico ..................................... 36 5.1.3 Maceração ...................................................................................................... 36 5.1.4 Rendimentos dos extratos do pólen apícola .................................................. 37 5.2 Análises físico-químicas ................................................................................... 38 5.2.1 Sólidos totais ................................................................................................. 38 5.2.2 Cinzas ............................................................................................................ 38 5.2.3 pH .................................................................................................................. 38 5.2.4 Proteínas ........................................................................................................ 38 5.2.5 Lipídeos ......................................................................................................... 39 5.3 Determinação do teor de fenólicos totais ......................................................... 40 5.4 Determinação do teor de flavonóides totais ..................................................... 40 5.5 Caracterização fitoquímica ............................................................................... 41 5.5.1 Cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-MS) ........ 41 5.5.2 Cromatografia Líquida Acoplada à Espectrometria de Massas (LC-MS/MS) ................................................................................................................................ 41 5.6 Teste de citotocixidade – Ensaio de MTT ........................................................ 42 5.7 Avaliação da toxicidade aguda in vivo ............................................................. 43 5.8 Atividade antiplasmodial in vivo ...................................................................... 44 5.9 Análise Histopatológica .................................................................................... 45 5.10 Análise Bioquímica ........................................................................................ 46 5.11 Análises estatísticas ........................................................................................ 46 6. RESULTADOS ...................................................................................................... 47 6.1 Rendimentos do extrato bruto........................................................................... 47 6.2 Teste de citotoxicidade ..................................................................................... 47 6.3 Análises físico-químicas ................................................................................... 47 6.4 Análise da composição química ....................................................................... 49 6.4.1 Cromatografia Líquida Acoplada à Espectrometria de Massas (LC-MS/MS) ................................................................................................................................ 49 6.4.2 Cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-MS) ........ 52 6.5 Análise da Toxicidade Aguda in vivo ............................................................... 53 6.6 Atividade antiplasmódial in vivo ...................................................................... 56 7. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 61 8. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 67 9. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 68 ANEXO 1 ............................................................................................................... 94 10 1. INTRODUÇÃO A malária, doença tropical parasitária infecciosa aguda, é causada por protozoários do gênero Plasmodium. Dentre as doenças infecciosas conhecidas a malária é uma das que merece maior atenção, pois apesar dos avanços da medicinapara sua erradicação, ela ainda continua endêmica no mundo. Com altos índices de mortalidade e cerca de 241 milhões de casos confirmados em 2020, a maioria dos casos ocorre na África Subsaariana e em países mais pobres e com condições sanitárias precárias (WHO, 2019, 2020). No Brasil a área endêmica está na região amazônica com 99% dos casos, devido ao clima, o aumento no desmatamento dessa área do país a torna propícia para a transmissão da doença, os casos confirmados na região extra-amazônica são derivados de áreas endêmicas. Com a pandemia de COVID-19, e os esforços de governos e companhias farmacêuticas para fabricação de testes diagnósticos e tratamento, houve uma diminuição e demora na entrega de medicamentos antimaláricos, o que faz as projeções de casos e mortalidade por malária aumentarem. Segundo a OMS em seu último relatório de 2021 é estimado que 19.000 mortes adicionais ocorram se 10% do acesso ao tratamento for suspenso na África Subsaariana (WHO, 2021). Existem aproximadamente 150 espécies de Plasmodium, dentre eles 5 infectam humanos, Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malariae, P. ovale e P. knowlesi. A espécie mais endêmica no Brasil é o P. vivax (WHO, 2016), com 71% do total de casos, nas áreas endêmicas do país. Com o plano da OMS em reduzir em torno de 90% os casos de malária até 2030, avanços das terapêuticas e prevenção da malária devem ser realizados. Os casos de resistência aos antimaláricos são um problema recorrente. O primeiro relato de falha terapêutica foi datado de 1910, para a quinina, posteriormente foi associado ao gene de resistência Pfmdr1, e até o momento a espécie P. falciparum apresenta resistência contra os principais antimaláricos de referência. O uso indiscriminado da cloroquina, como sal de cloroquina em meados da década de 50, provocou boas condições para o desenvolvimento de resistência pelo Plasmodium falciparum a esse medicamento de referência; bem como a outros antimaláricos (PAYNE, 1988; VERDRAGER, 1995). Atualmente, os protocolos de tratamento consistem em terapias combinadas com derivados da quinina e da artemisinina que vem 11 apresentando boa eficácia, com falha terapêutica em cerca de 10-20% dos casos (WHO, 2020). A fim de enfrentar a problemática da resistência de algumas espécies de Plasmodium aos antimaláricos, pesquisas com abordagem racional a partir de produtos naturais, em especial com plantas com potencial terapêutico, vêm sendo conduzidas em todo o mundo. Dada a imensa biodiversidade de flora do Brasil, o uso de plantas medicinais por populações em áreas endêmicas, para diversas doenças é bastante utilizada; sendo a etnobotânica e a etnofarmacologia bem difundida (ALVES et al., 2009). Além disso, as principais substâncias ativas de alguns antimaláricos são derivadas de plantas como o exemplo da artemisinina e cinchonina, o qual vários estudos têm aprimorado o seu potencial terapêutico por meio de modificações em sua estrutura química (KRETLLI et al., 2001; KRETLLI et al., 2009). Neste cenário, devido às problemáticas existentes em relação à malária, substâncias terapêuticas como as derivadas do pólen apícola, que tem como definição o resultado da agregação de pólen das flores coletado pelas abelhas por meio de adição de substâncias salivares e néctar (KOMOSINSKA-VASSEV, 2015). Portanto, o pólen apícola de Cocos nucifera é um possível recurso, por seu poder etnofarmacológico de suas substâncias químicas em medicamentos fitoterápicos (KOMOSINSKA-VASSEV, 2015). Alguns estudos observaram o potencial anti-inflamatório, antioxidante, antibacteriano, antiparasitário, anticancerígeno de extratos derivados de casca e água do C. nucifera, correlacionando essas atividades aos seus compostos bioativos (COSTA CT et al., 2010; MENDONÇA-FILHO RR et al., 2004; FREITAS JCC et al., 2011; NACZK ZK M et al., 2004; KOSCHEK PR et al., 2007; LOKI AL et al., 2003). A variedade de substâncias bioativas encontradas em pólens apícolas, assim como no C. nucifera são: compostos fenólicos, terpenos, saponinas e taninos, e estão relacionados a atividades antiparasitárias (COSTA CT et al., 2010; MENDONÇA- FILHO RR et al., 2001; SATTLER et al., 2015), por consequência o potencial terapêutico do pólen apícola de C. nucifera se fortalece devido ao fato das abelhas adicionarem néctar e substâncias salivares, além de suas propriedades nutricionais (MORAIS et al., 2011; LOPES et al., 2011). Neste contexto, é notável a necessidade de investigações sobre novos fármacos com potencial anti-plasmódio. Sendo assim, o conhecimento da etnofarmacologia, e dos compostos existentes, nos dá uma compreensão de como os medicamentos utilizados na medicina fitoterápica podem ajudar na descoberta de novas substâncias, tanto para 12 potencializar medicamentos já existentes, com terapias combinatórias, como encontrar substâncias inéditas bioativas. 13 2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Epidemiologia da malária A malária é uma doença epidêmica em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, está concentrada nos continentes africanos e asiáticos, e em alguns países da América do Sul e Central. Segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde publicado em dezembro de 2021 estima-se que em 2020 ocorreram 241 milhões de casos de malária no mundo, observando assim um aumento de 14 milhões de casos em relação a 2019 que obteve 227 milhões de casos. O continente Africano ainda possui as maiores taxas de incidência da doença, com 215 milhões de casos (95%) em 2019 e 2020 (figura 1) (WHO, 2020). Figura 1: Incidência global da malária, mostrando a progressão da doença de 2015 até 2020. Os países foram classificados em 8 categorias que vai de zero incidência de malária até aumento de incidência em 40%. Países em marrom escuro apresentaram um aumento de 40%, em marrom médio de 25 a 40%, países em marrom claro apresentaram incidência menor de 25%, bege nenhuma mudança desde 2015. Países na cor verde claro teve redução de menos de 25% na incidência, verde médio obteve redução entre 25 e 40%, em verde houve diminuição em mais de 40%, verde escuro não apresentou nenhum caso de malária até 2020. Países em branco ou cinza, são áreas não endêmicas ou sem transmissão (fonte: GTS – WHO, 2020). 14 Observando o cenário mundial a taxa de ocorrência de malária por 1.000 habitantes em 2020 foi de 59 casos, indicando que houve aumento em relação a 2019 que foi de 57. Houve redução na taxa de mortalidade da malária entre os anos de 2010 e 2018 de 594.000 para 411.000, uma redução de 30,77% casos, porém no ano de 2020 houve aumento nas mortes para 627.000. Percebe-se que as regiões que possuem os maiores índices de casos e mortes estão em regiões cujo países tem os mais baixos IDH’S (índice de desenvolvimento humano), como os países do continente Africano, Sul da Asia e América do Sul, como mostrado no relatório da OMS em 2020. Todavia a OMS traçou metas de controle e erradicação da malária, um dos principais objetivos é a diminuição da incidência e mortalidade em pelo menos 90% até 2030, sendo que no cenário atual essa meta está atrasada (WHO, 2020). Fazendo uma análise dos índices das Américas, onde o Brasil se localiza, o continente obteve 653.000 casos em 2020 (figura 2), havendo uma redução nos casos de malária em relação ao relatório de 2019, com diminuição do número de mortes de 509 para 409 no mesmo período, com um índice de mortes por habitantes de 0,8 em 2000 para 0,4 em 2020 (WHO, 2021). Os países que possuem a maioria dos casos são Venezuela, Brasil e Colômbia. O mesmo relatório mostra que aproximadamente 138 milhões de pessoas de 19 países das Américas estão em risco de contrair a doença. Figura 2: Casos de malária confirmados por 1.000 habitantes na América Latina. As áreas em branco não apresentam casos da doença.Áreas em amarelo apresentam registros de 0 até 0,1 casos por 1000 habitantes. Áreas em laranja claro indicam 0,1 a 1 casos por 1000 habitantes. Áreas em laranja indicam registros de 1 a 10 casos por 1000 habitantes. Áreas em laranja escuro apresentam registros de 10 a 50 por 1000 habitantes. Áreas em vermelho apresentam registros de 50 a 100 casos por habitantes. Áreas em vermelho escuro apresentam registros superior a 100 casos por 1000 habitantes. Fonte: World Malaria Report 2021. Disponível em https://www.who.int/publications/i/item/9789240040496 Fonte 15 No Brasil a região que concentra a maioria dos casos é a região norte com cerca de 99% dos casos, sendo autóctones (figura 3). Os outros 1% dos casos no Brasil são trazidos desta área endêmica e também de outros países, caracterizando a malária importada. Em 2020 ocorreram 145.188 casos de malária no país (figura 4), sendo o estado do Amazonas, aquele que concentrou a maioria dos casos. O estado da região extra-Amazônica com mais casos foi São Paulo, que registrou 5 casos (BRASIL, 2020). No boletim epidemiológico de 2021 o Ministério da Saúde informou os seguintes estados com casos noticiados, 16 no Amazonas (39,0%), 8 no Pará (19,5%), 7 em Roraima (17,1%), 4 no Amapá (9,8%), 3 no Acre (7,3%), 2 em Rondônia (4,9%) e 1 no Mato Grosso (2,4%). Comparando com 2019 ao ano de 2020, os casos da doença sofreram redução de 7,8% sendo 157.454 de casos em 2019 e 145.188 em 2020 (BRASIL, 2021). Dos casos encontrados nas Américas a espécie de Plasmodium mais prevalente é P. vivax, com 68% dos casos e 89,3% no Brasil; já P. falciparum é responsável por 10,7% (BRASIL, 2020; WHO, 2021). Os casos de malária mista no Brasil, que é a infecção causada por duas espécies de Plasmodium, são os que mais preocupam o governo e especialistas, pois é a que causa mais letalidade. Sobre a incidência de óbitos no país houve um aumento de 2019 a 2020, passando dos 37 para 44 óbitos respectivamente. Porém, houve redução dos óbitos na região extra-amazônica. Em 2019 foram registrados 11 óbitos e em 2020, 10 óbitos. Já na região amazônica os óbitos neste período foram de 26 em 2019 e 34 em 2020, um aumento de 30,8% (BRASIL, 2021). O possível crescimento no número de óbitos pode estar relacionado a pandemia de COVID-19, que atrasou a entrega de medicação, e ao desmatamento ilegal e garimpos, o que ocasionou um aumento da proliferação do vetor Anopheles darlingi e, como consequência, os casos de malária em região indígena e de garimpo. (ABRASCO, 2021). 16 Figura 4: Casos de malária notificados no Brasil, 1959 a 2019, e a relação das de casos das espécies P. vivax e P. falciparum. Fonte: SHM, SISMAL, Sivep-Malária/SVS/MS e Sinan/SVS/MS. Excluídas lâminas de verificação de cura. P. Vivax incluem casos de malária por P. vivax, P. malariae ou P. ovale. Casos de malária falciparum incluem casos de malária por P. falciparum ou malária mista. Dados do Sivep-Malária atualizados em: 17/8/2021. Dados do Sinan atualizados em: 26/7/2021. Figura 3: Mapa da incidência parasitária anual, mostrando o risco de contrair a malária no Brasil. Em bege, muito baixo risco (IPA < 1 caso/1.000 habitantes), em laranja, baixo risco (IPA entre 1 e 10 casos/1.000 hab.), em vermelho, médio risco (IPA entre 10 e 50 casos/1.000 hab.) em vermelho escuro, alto risco (IPA ≥ 50 casos/1.000 hab.) Fonte: Sivep-Malária, Sinan/SVS/MS e IBGE. Data de atualização: 4 de agosto de 2020. *Dados sujeitos a alteração. 17 2.2 A Malária: doença e imunologia A sintomatologia da malária vai variar de acordo com a espécie de plasmódio, assim como a resposta do organismo pela interação parasito-hospedeiro. Portanto, a doença se apresenta com picos febris, dor de cabeça e calafrios (OPAS, 2017). Os primeiros sintomas se apresentam com 10 a 15 dias após a picada do mosquito, onde ocorre a fase hepática no hospedeiro vertebrado, com a diferenciação dos esporozoítos em merozoítos, os quais se evadem em grupamentos dos hepatócitos envolvidos por membrana merossomal, que lhes conferem a capacidade de driblar o sistema imune inato, para iniciar a invasão das hemácias na corrente sanguínea. Nessa fase, denominada fase eritrocítica ou sanguínea, o parasito precisará fazer nova diferenciação esquizogônica nas hemácias. Essa diferenciação de merozoíto para esquizonte ocorre dentro do vacúolo parasitóforo; formado após a invasão. Esse processo de parasitismo nos eritrócitos leva à degradação da hemoglobina, que libera os dímeros e monômeros do grupamento heme no próprio vacúolo. Porém, o heme é tóxico para o parasito pois ajuda na formação de radicais livres derivados do oxigênio, peroxidação lipídica e oxidação de proteínas e DNA (OLIVEIRA et al., 2005). Uma maneira de contornar esta toxicidade é modificar o heme em β-hematina, que é mais conhecido como hemozoína ou pigmento malárico, se caracterizando por sua cor marrom amarelácea. Portanto, a cada ciclo de esquizogonia e ruptura das hemácias há liberação e de novos merozoítos, consequentemente haverá liberação de metabólitos do parasito, como da hemozoína, proteínas, DNA, ativando o sistema imune e, assim, apresentando os sintomas e sinais clínicos da doença (SLATER & CERAMI, 1992; SULLIVAN, 2002). Os antígenos lançados na corrente sanguínea ativam os macrófagos, que realizam fagocitose, iniciando o processo infeccioso com ativação e liberação de citocinas pró-inflamatórias, como por exemplo, IL-6, IL-12, IL-18, IL-10, IFN-γ, TNF- α, este último está associado a acessos febris. A inflamação sistêmica mediada pelo Plasmodium é central para a doença da malária e suas complicações. Como os parasitos infectam hemácias, teoricamente podem atingir todos os tecidos do hospedeiro através da circulação. No entanto, as interações reais entre os eritrócitos parasitados e os tecidos do hospedeiro, juntamente com os consequentes danos e alterações patológicas, são limitadas a locais específicos do tecido. Tal especificidade tecidual do parasito pode alterar o desfecho da doença da malária, determinando se ocorrem complicações agudas ou crônicas (COBAN et al., 2018). 18 Totino PR et al., 2016, observaram que o IFN-γ está associado com a diminuição da invasão do P. falciparum em hemácias. Na complexidade da imunomodulação pelo parasito o IL-18 parece ter uma participação na proteção contra a malária mais grave, já que também está envolvido com a produção de IFN-γ (SHERRATT et al., 2020). Padrões moleculares associados a diversas formas evolutivas do parasito na circulação sanguínea, sozinhos ou em associação com hemozoína, são potentes indutores de citocinas ativadoras de células NK, incluindo IL-12, IL-18 e interferons do tipo 1 (GOWDA & WU, 2018). As citocinas inflamatórias estão associadas tanto ao controle da parasitemia do estágio sanguíneo quanto ao início da patologia da malária (DODOO et al., 2002; CHAIYAROJ et al., 2004; PERKMANN et al., 2005; GOWDA et al., 2012). Estudos em camundongos em modelo murinho-Plasmodium chabaudi mostraram que IFN-γ e TNF-α induzem, cooperativamente, a expressão de óxido nítrico sintase no baço para controlar o pico de carga parasitária (JACOBS et al., 1996). Da mesma forma, em humanos, as respostas iniciais do IFN-γ ao Plasmodium se correlacionam com uma melhor imunidade antiparasitária (MCCALL et al., 2010). Além disso, os polimorfismos em TLRs (receptores tipo Toll-like) influenciam os níveis de citocinas circulantes durante o curso da malária (COSTA et al., 2018). A associação de diferentes TLRs para os quadros clínicos da malária sugere que componentes do plasmódio, de natureza diversa, são desencadeados pela modulação das respostas inatas que, por sua vez, determinam o curso de infecção (MOCKENHAUPT et al., 2006; PENHA-GONÇALVES, 2019). Assim, o curso da infecção pelo plasmódio dependede múltiplos fatores, incluindo patogenicidade por diferentes genótipos do parasito, dinâmica de transmissão e composição genética do hospedeiro, que determinam desequilíbrios entre a expansão do parasito e as respostas do hospedeiro que por sua vez, conduzem a diferentes manifestações clínicas (BURGNER et al., 1998; PARIKH et al., 2004; GAZZINELLI et al., 2014; SOARES et al., 2017; COBAN et al., 2018). Uma condição específica de P. vivax e de P. ovale é a capacidade de induzirem uma recaída no hospedeiro humano sem haver a necessidade de uma picada infectante pelo anofelino fêmea, ou seja, o parasito tem a competência de ser recrudescente. Isso se deve a formação de hipnozoítos, que são formas quiescentes decorrente da merogonia hepática, alguns autores observaram essa dormência por meses e até anos. Assim a infecção pode ser reativada, por exemplo, quando há um desequilíbrio no sistema imune do hospedeiro (SATO, 2021; FLANNERY et al., 2013). Porém, esse processo tem características multifatoriais, a periodicidade pode ser gerada de várias maneiras em 19 sistemas biológicos. Existe de fato um relógio biológico, que é mais evidente nos genótipos em climas temperados, determinando a latência no P. vivax. Este relógio, que pode ser intrínseco ao parasito ou pode ainda refletir uma consequência da interação parasito-hospedeiro, determinando a duração do intervalo antes que o hipnozoíto se torne suscetível à ativação, mas existe um mecanismo de detecção separado que determina se a ativação ocorrerá ou não (GETHING et al, 2011). A doença em geral (e os perfis de resposta imune decorrentes de citocinas associadas) ou a malária, especificamente, podem fornecer os estímulos ativadores ou inibitórios necessários para gerar recaídas periódicas na malária-vivax. De modo geral, parece mais provável que a doença associada à infecção em si seja o gatilho nas recaídas de P. vivax (WHITE, 2011). Com isso, deve-se ter atenção a possíveis reincidências por essas espécies em áreas endêmicas, o que significa, como mencionado por Hay et al., 2007, que o P. falciparum conseguiu ser erradicado em algumas áreas, mas o P. vivax não, o que configura um potencial reservatório da doença. 2.3 Agente etiológico e vetor O agente etiológico da malária pertence a um grupo de protozoários do gênero Plasmodium, do supergrupo Alveolata, grupo Apicomplexa, que se diferencia por vesículas achatadas e um complexo apical que tem função de invasão na célula hospedeira. Atualmente existem mais de 100 espécies desse agente que acometem mamíferos incluindo os humanos, as cinco espécies de Plasmodium que infectam o ser humano são, P. falciparum que causa uma maior patogênese e mais letal, P. vivax, P. malariae, P. ovale e P. knowlesi com variações em sua patogenicidade (ADL et al., 2005; ADL et al., 2012). Cada espécie tem sua particularidade, como disseminação geográfica, fisiopatologia da doença, resistência aos medicamentos de referência, dentre outras características. Uma das características biológicas marcantes deste protozoário é a sua diferenciação em gametócito (forma reprodutiva), fase importante na propagação da doença, pois os mesmos se reproduzem de forma sexuada no mosquito e se diferenciam em formas infectantes (esporozoítos), por exemplo. Os gametócitos de P. falciparum passam por um longo período de maturação de 7 a 10 dias, durante o qual se desenvolvem do estágio I para o estágio V. Os gametócitos imaturos que vão dos estádios I ao IV, conseguem se evadir para a medula óssea a fim de evitar a sua 20 supressão pelo baço, quando chegam a sua maturação no estádio V circulam na corrente sanguínea do hospedeiro, tornando-os disponíveis para o desenvolvimento no mosquito vetor, após repasto sanguíneo (NEVEU et al., 2020). Outra característica que distingue bem as espécies está associada aos ciclos febris, que, por sua vez está ligado ao final do ciclo esquizogônico, ou seja, o tempo que o parasito leva até se multiplicar, romper a hemácia e assim infectar novas hemácias. Esses ciclos são, a cada 24 (P. knowlesi), 48 (P. falciparum, P. ovale, P. vivax) ou 72 (P. malariae) horas. (HAWKING, F. et al., 1971; CAO et al., 2019). Os gametócitos, formas importantes na propagação da doença, amadurecem em macro e microgametas, e se recombinam geneticamente, na matriz peritrófica do Anopheles fêmea, para se diferenciarem em esporozoítos (formas infectantes), após passarem pelas formas evolutivas de oocineto e oocisto (fase esporogônica). O hospedeiro invertebrado do Plasmodium é o mosquito da ordem Diptera, Família Culicidae e Gênero Anopheles, com cerca de 450 espécies distribuídas em todos os continentes, dos quais 70 são vetores da malária, como mostra a figura 5. Nas américas existem cerca de 9 espécies mais prevalentes de Anopheles, são elas: Anopheles albimanus, Anopheles albitarsis, Anopheles aquasalis, Anopheles darlingi, Anopheles freeborni, Anopheles marajoara, Anopheles nuneztovari, Anopheles pseudopunctipennis e Anopheles qudrimaculatus. Nem todas são vetores da malária, porém a espécie que devemos maior atenção é a An. darlingi, pois é mais importante transmissor da malária na América do sul (SINKA et al., 2012). Para seu desenvolvimento o Anopheles sp. precisa de um clima úmido, pois nos estádios de larva e pupa se desenvolvem em água, e em biomas com bastante vegetação; quando adultos as fêmeas hematófagas precisam fazer o repasto sanguíneo para que os ovos possam amadurecer (FORATTINI, 2002). No Brasil a espécie em maior abundância é An. darlingi, principalmente na região norte sendo vetor do P. vivax, P. falciparum e P. malarie, por isso é o principal vetor de malária no Brasil. Outras espécies como An. albimanus, An. albitarsis, An. Marajoara já foram consideradas vetores do Plasmodium (CONN et al., 2002; WILLIAMS, 2012). 21 2.4 Ciclo evolutivo do Plasmodium O ciclo de vida do Plasmodium é heteroxênico, ou seja, necessita de dois hospedeiros para completar seu ciclo (figura 6). No hospedeiro vertebrado ocorre a fase assexuada, chamada de esquizogonia. Nessa fase, a fêmea do Anopheles spp. durante o repasto sanguíneo inocula as formas infectantes chamadas de esporozoíto diretamente na corrente sanguínea e estes se instalam no fígado. Antes da invasão dos hepatócitos, podem atravessar os macrófagos conhecidos como células de kupffer, e para isso o esporozoíto expressa em sua superfície a proteína circunsporozoíta (CSP) e a proteína adesiva relacionada à trombospondina (TRAP), que interage com proteoglicanos de heparan da superfície do hepatócito (KAPPE et al., 2004; POUDEL S.S et al., 2008; EJIGIRI E SINNIS, 2009; YUDA E ISHINO, 2004). A partir de então, nos hepatócitos acontece a fase pré-eritrocítica, que dura em média uma ou duas semanas a depender da espécie de plasmódio. Os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos, multiplicando-se por esquizogonia, formando os esquizontes e sucessivamente merozoítos. Assim estão aptos para a fase eritrocítica, invadindo os eritrócitos: P. falciparum se liga a glicoforinas na superfície da hemácia; já P. vivax se liga a glicoproteína do grupo sanguíneo Duffy. Além disso, o mesmo tem tropismo por hemácias jovens (reticulócitos) (MILLER LH et al., 1976; KANO FS et al., 2018). Os merozoítos se desenvolvem até esquizontes e depois novos merozoítos, assim infectando novas hemácias. Após a sua reprodução em várias gerações, o parasito se diferencia em Figura 5: Mapa mostrando a distribuição geográfica das espécies de vetores da malária no continente Americano. Fonte: HYPERLINK "https://malariaatlas.org " https://malariaatlas.org 22 formas sexuadas, chamadas de gametócitos (JOSLING GA et al., 2015; BANCELLS C. et al., 2019; CAO et al., 2019). No hospedeiro invertebrado ocorre a fase sexuada chamada esporogonia,na qual a fêmea de Anopheles ingere os gametócitos durante o repasto sanguíneo, e cada gametócito se diferencia em macrogameta (feminino) e microgameta (masculino). Isso ocorre no estômago do mosquito (BENNINK et al., 2016), e depois no seu intestino médio ocorre a fusão desses gametas, formando um zigoto que se desenvolve em oocineto (SICILIANO et al., 2020), migrando para a parede do intestino médio, que incorpora um envoltório protetor, se transformando em oocisto. Dentro deste começa a multiplicação esporogônica, com vários esporozoítos filhos, que rompem o oocisto e migram até as glândulas salivares de onde serão inoculados na corrente sanguínea durante a alimentação do Anopheles fêmea em um ser humano (SMITH RC et al., 2010). Figura 6. Ciclo biológico do Plasmodium. As fêmeas do gênero Anopheles infectadas com o Plasmodium durante o repasto sanguíneo inoculam os esporozoítos no hospedeiro invertebrado pela sua saliva. Na corrente sanguínea os esporozoítos migram para o fígado e infectam hepatócitos, onde se multiplicam, formando esquizontes hepáticos, que eventualmente explodem, liberando milhares de merozoítos na corrente sanguínea 2 a 16 dias após a infecção inicial. Infectando os eritrócitos, e multiplicam-se de maneira assexuada em trofozoítos, que possuem forma de anel e depois em esquizonte. Então a hemácia se rompe liberando de 8 a 32 merozoítos, levando a sintomas da doença. Os novos merozoítos invadem novas células ou se diferem em gametócitos (microgametas ♂ e macrogametas ♀), onde são ingeridos pelo mosquito fêmea durante o repasto sanguíneo. No mosquito o processo de diferenciação ocorre de maneira sexuada, onde os microgametas e macrogametas se fundem para formar um zigoto que se desenvolve em oocineto, para então penetrar na parede do intestino, nessa fase inicia a divisão esporogônica, e quando rompe a parede do intestino, agora o oocisto libera, os esperozoítos formados para serem liberados e atingirem as glândulas salivares do mosquito. Adaptado por, Flannery 2014. 23 2.5 Mecanismos de ação de antimaláricos de referência O tratamento da malária foi por milhares de anos a base de produtos naturais, por conseguinte com os avanços da ciência se pode extrair compostos de plantas como é o caso da cinchona, que possui em sua casca um alcaloide, a quinina (QN), sendo a primeira droga extraída para o tratamento (PACKARD, 2014). A fim de buscar e desenvolver drogas sintéticas mais poderosas se pode aperfeiçoar a quinina, sendo seus derivados: cloroquina (CQ), mefloquina (MQ), primaquina (PQ), piperaquina (PPQ), amodiaquina (AQ). O antimalárico inicialmente utilizado foi a cloroquina no começo da década de 50, devido a uma ação global da OMS para a erradicação da doença. Porém o seu uso por décadas como agente único, fez com que a espécie P. falciparum se tornasse resistente no começo da década de 70 (PAYNE 1987; LITSIOS 1996; WELLEMS, PLOWE 2001; WHITE 2004; WHO 2010). O mecanismo de ação da quinina e seus derivados ocorre no parasito na fase eritrocítica em suas formas assexuadas, no vacúolo alimentar. Ela se liga a ferroprotoporfirina IX, que é um composto derivado da digestão da hemoglobina (vias metabólicas do heme), impedindo a polimerização a hemozoína, consequentemente a sua desintoxicação, lesionando a membrana lisossomal do parasito; atua também na degradação dos ribossomos e RNA ribossomal dos parasitos (FITCH, 2004; SAIFI et al., 2011). Outra droga derivada da planta Artemisia annua, a artemisinina, foi isolada, e seus derivados endoperóxidos (farmacóforo), tais como arteméter, artesunato e diidroartemisinina, possuem ação rápida, tanto nas formas assexuadas como sexuadas precoces (gametócitos), sendo importante no combate a transmissão. Os endoperóxidos citados têm um papel importante no modo de ação, pois realizam a redução da sua ponte de endoperóxidos pelo ferro ferroso e heme que são liberados pela hemoglobina digerida, e os radicais liberados alquilam o heme e as proteínas do parasito, levando a sua morte (VENNERSTROM JL et al., 2004; KLONIS N, et al., 2011; WICHT, KATHRYN J et al., 2020). O tratamento com a artemisina e derivados sempre se dá com associações a outros fármacos devido a sua meia vida curta, da mesma forma com a quinina e seus derivados, devido a ocorrência de parasitos resistentes. A principal terapia utilizada atualmente em regiões endêmicas e com casos de resistência é combinações que envolvem arteméter-lumefantrina (AL), e amodiaquina-artesunato (AQ), 24 diidroartemisinina-piperaquina (DHA) e artesunato-pironaridina (APYR) (tabela 1). Arteméter e artesunato são conhecidos como a única classe capaz e combater parasitos multirresistentes como o P. falciparum, entretanto a única droga capaz de suprimir o P.vivax e P.ovale, é a primaquina, esse dado é importante já que essas espécies possuem estágios dormentes no fígado, causando recaídas, entretanto o seu uso em áreas endêmicas deve ser limitado, pois é bastante tóxica em indivíduos como deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (BEUTLER E. 1959; ANTHONY MP et al., 2012; FLANNERY et al., 2013). Tabela 1: Esquema de tratamento recomendado pela OMS na região Africana, e esquema Brasileiro recomendado pelo Ministério da Saúde. Espécies Região/País Tratamento P. falciparum P. vivax Africana ● AS+AQ; AL ● AS+AQ+PQ P. falciparum P. vivax Brasil ● AL+PQ; AS+MQ 3 dias +PQ dose única ● CQ 3 dias + PQ de 7 a 14 dias Fonte: Tabela adaptada de World Health Organization, (2020). Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. (2015) AS: artesunate; AQ: artesunato/amodiaquina; AL: artemeter/lumefantrina; PQ: primaquina; MQ: mefloquina; CQ: cloroquina 2.6 Mecanismos de resistência aos antimaláricos Antes de tudo, a resistência é a habilidade do agente patológico sobreviver e se desenvolver mesmo com o tratamento preconizado pelas autoridades sanitárias com a absorção e a dose recomendada (POPOVICI, 2019). Shibeshi et al., 2010, em seu trabalho cita que os principais mecanismos de resistência são: fatores genéticos como mutação do parasito, carga parasitária, eficiência do medicamento, dosagem, farmacocinética, medicamentos falsificados, e a correta conduta de tratamento. Nas últimas décadas devido ao avanço da resistência aos antimaláricos utilizados no tratamento da doença, pesquisas sobre o surgimento de novas drogas se fazem necessárias. O relatório da OMS fala sobre algumas regiões com resistência há alguns medicamentos, como a região Africana com taxa de resistência de 10% para artemeter- 25 lumefantrina (AL). No Sudeste Asiático, a resistência a AL ultrapassou os 10% em três estudos, porém na região nordeste o artesunato-sulfadoxina-pirimetamina (AS + SP) foi o tratamento com maiores taxas de resistência, fazendo com que a Índia mudasse o tratamento para AL. Já nas Américas, a cloroquina (CQ) apresenta uma taxa de resistência de 10,4%. Diante disso, a vigilância da resistência dos principais antimaláricos exerce papel importante para que não se tenha um aumento nos casos e principalmente na taxa de mortalidade (OMS, 2020). Sobre o tratamento de P. vivax e P. ovale ocorre resistência à cloroquina em alguns países como Papua-Nova Guiné, onde surgiu o primeiro relato em 1989, Etiópia, e em áreas da Indonésia e da Oceania. O P. falciparum é a espécie com maior resistência a cloroquina, sendo observada com frequência em quase todos os continentes. (PLUCINSKI et al., 2015). O uso da cloroquina como um antimalárico iniciou-se na década de 50 no Sudeste Asiático sendo autorizada pela Food and Drug Administration (FDA), em 1949. Contudo naquela época os medicamentos possuíam poucas informações sobre a quantidade de hidroxicloroquina e cloroquina, além de seu uso indiscriminado e generalizado como sal de cloroquina,o que contribuiu para o parasito desenvolver mecanismos de resistência. O mecanismo de resistência do Plasmodium à cloroquina envolve os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) e as proteínas de resistência PfCRT (transportador de resistência à cloroquina), que são PfMDR1 (Plasmodium falciparum multidrug resistente 1) e PfMRP1 (Plasmodium falciparum multidrug resistance protein 1). A artemisinina (ART) foi introduzida em 1980 e é um antimalárico mais efetivo e com ação mais rápida, porém a aquisição de genótipos de P. falciparum resistentes foi relatada em 2008 (DONDORP, et al. 2009; MENARD, DONDORP, 2017), devido a mutações do domínio da hélice Pfk13, fazendo com que os parasitos possuam uma capacidade maior de entrar em um estado quiescente, quando em formas jovens, e se desenvolvendo rapidamente quando a artemisina é eliminada (ARIEY et al., 2014). Outro fator é o fato de a ART possuir ação rápida, ou seja, uma meia vida de 0,5 – 1,4 h, o que levou a ser combinada com outros medicamentos, para amenizar os problemas citados. A tabela 2, adaptada por Lucie Paloque et al. (2016), descreve os principais antimaláricos e seus principais mecanismos de resistência. 26 Tabela 2: Primeiros relatos de resistência, genes e envolvidos e principais mecanismos de resistência. Drogas antimaláricas Introdução Primeira resistênci a Genes de resistência Principais mecanismos de resistência Quinina 1632 1910 Pfmdr1 Interrupção do acúmulo de droga dentro do vacúolo alimentar por redução da propensão do transportador de droga PfMDR1 para se ligar e transferir o antimalárico (SANCHEZ CP et al., 2010; KOENDERINK JB et al., 2010). Cloroquina 1945 1975 Pfcrt/Pfmdr1 Expulsão da droga a partir do vacúolo digestivo pelo transportador de droga mutado PfCRT devido à maior lipofilicidade e negatividade do transportador, permitindo o efluxo de cloroquina ionizada (IBRAHEEM ZO et al., 2014; SETTHAUDOM C et al., 2011). Atovaquona- proguanil 1948 1949 Pfdhfr Modificação do alvo da droga: redução da inibição da atividade enzimática pela droga (GREGSON A et al., 2005). Sulfadoxina + Pirimetamina 1967 1967 Pfdhps-Pfdhfr Modificação do alvo da droga: redução da inibição da atividade enzimática pela droga (GREGSON A et al., 2005). Mefloquina 1977 1982 Pfmdr1 Redução da suscetibilidade do parasita à mefloquina pela amplificação do número de cópias Pfmdr1 (PRICE RN et al., 2004). Atovaquona 1996 1996 Pfcytb Modificação do alvo da droga pela ruptura do complexo 27 Citocromo bc1 (KESSL JJ et al., 2007). Artemisinina 1980 2008 Pfk13 Quiescência (WITKOWSKI B et al., 2010; ARIEY F et al., 2014). Fonte: Adaptada por Lucie Paloque et al., (2016). https://www.hal.inserm.fr/inserm-01322524 A monoterapia já não é recomendada, justamente pela resistência encontrada, em vista disso a OMS recomenda a terapia dupla ou tripla, mas sempre considerando não associar os medicamentos que já possuem alta resistência estabelecida. Atualmente o tartamento recomendado são arteméter + lumefantrina, artesunato + amodiaquina, artesunato + mefloquina, artesunato + sulfadoxina-pirimetamina e dihidroartemisinina + piperaquina, o padrão ouro atual para o tratamento da malária (SHIBESHI et al., 2020). Com isso o monitoramento dessas novas terapias deve ser feito com rigor, para que novos mecanismos de resistência sejam controlados. 2.7 Tratamentos fitoterápicos e a procura de novos antimaláricos Em consequência do aumento da resistência e falhas no tratamento com os medicamentos existentes, torna-se urgente os incentivos a pesquisa para a busca de novos antimaláricos. Alguns estudos buscam novas drogas a partir de plantas medicinais, pois existe grande biodiversidade mundial, com grande quantidade de compostos bioativos, favorecendo o possível surgimento de novos compostos. (DI STASI, 2002; PEDROSO, ANDRADE e PIRES, 2018). Pesquisando plantas medicinais da mata atlântica, Di Stasi et al. (2002) encontraram 628 usos medicinais em 114 espécies de plantas. Guerra et al., 2001, mostram que apenas 8% da biodiversidade fitoterápica tem sido avaliada e 1.100 espécies foram estudadas quanto as suas propriedades medicinais. Isso mostra que é grande nossa diversidade farmacológica e os alcances com a etnofarmacologia para impulsionar na busca por novos antimaláricos (ANDRADE-NETO et al., 2004). Em vista disso, a investigação da fitoterapia utilizada nas áreas endêmicas com a utilização de plantas ou seus derivados para o tratamento da malária, tem sido estudada por vários autores, verificando a ação de plantas e seus derivados contra o P. falciparum resistente a CQ. Dondorp et al. 2012 investigaram a atividade da planta V. maderensis muito utilizada em regiões endêmicas da África Central e Ocidental. Silva e Rocha et al. 28 2013 verificaram a atividade da Tachia grandiflora Maguire utilizada na região Amazônica. Os mesmos autores em 2015 observaram a ação de um metabólito derivado da raiz de Piper peltatum, todos com boa atividade anti-plasmódio. No caso da malária, um exemplo de substância derivada de plantas para o seu tratamento é a quinina, uma droga proveniente de uma planta das florestas peruanas, do gênero Cinchona L., Família Rubiaceae. A partir dessa substância, a quinina, puderam ser produzidos diferentes tipos de compostos, como amodiaquina, primaquina, piperaquina, mefloquina e cloroquina, amplamente utilizados no tratamento contra a malária (MÜLLER & HYDE, 2010). Os metabolitos secundários de plantas são compostos que as plantas produzem para se protegerem contra herbívoros, contra infecções, ou para atrair insetos polinizadores, e também produzidos durante o seu crescimento e desenvolvimento. Esses compostos vão apresentar variações de acordo com a época do ano, horário da coleta, e espécie vegetal associados aos processos bioquímicos, evolutivos e ecológicos (NUGROHO e VERPOORTE, 2001; GOBBO-NETO & LOPES, 2007; BORGES; AMORIM, 2020). Além disso, essas substâncias são usadas atualmente para diversos fins, o mais importante é sua utilização como potencial farmacológico, pois possuem uma alta atividade biológica. Estima-se que mais de 100.000 metabólitos foram reconhecidos, porém há muito a se descobrir, pois esse número representa apenas 10% do que se considera ter na natureza (ZHONG e YUE, 2005). Essas moléculas biológicas têm sido estudadas para o tratamento do câncer, doenças infecciosas e parasitárias com altos índices de resistência. Os compostos bioativos derivados de plantas são divididos em grupos: terpenos carotenóides, fitoesteróis, flavonóides, fosfolipídios, organosulfurados e polifenóis, que se diferenciam a partir da sua estrutura química e função biológica (MORAIS et al., 2011). Especificamente os terpenos, que são alcenos naturais, estão classificados de acordo com a quantidade de carbono em na sua estrutura, como monoterpenos, sesquiterpenos, diterpenos e triterpenos. Dependendo de mudanças na sua estrutura química, esses compostos podem se modificar em terpenóides/isoprenóides (DUDAREVA et al. 2006). Diversos estudos vêm mostrando a ação de alguns compostos terpenóides contra o Plasmodium, atuando na inibição da prenilação de proteínas do vacúolo digestivo, na isoprenilação dos estágios intraeritrocíticos (MÜLLER & HYDE, 2010). O estudo de Rodrigues Goulart et al. (2004) é um exemplo, pois investigou diferentes tipos de terpenos na inibição do dolicol, um isoprenóide que favorece o crescimento dentro da 29 hemácia, fazendo assim a inibição dos estágios de trofozoíto e esquizonte. O nerolidilcatecol, um metabolito secundário de uma planta endêmica da Amazônia a Piper peltatum, mostrou decaimento na produção de hemozoína em 50% indicando supressão da replicação do P. falciparum (ROCHA & SILVA et al., 2015). Partindo desse panoramade abordagem, a investigação de novos antimaláricos e o grande potencial de metabolitos secundários de plantas podem dar um direcionamento para descobrir novas moléculas com potencial contra o Plasmodium, já que a via dos isopronóides é importante para o parasito e não é compartilhada com o hospedeiro humano. 2.8 Pólen apícola e sua atividade biológica O pólen nada mais é do que o gameta sexual masculino das plantas angiospermas, localizado na extremidade do estame, denominada de antera (BRASIL 2001). O tipo de fecundação das plantas vai depender de vários fatores, um deles é o tipo de flor que poderá estar presente na planta. Os tipos de flores são hermafrodita, onde se encontra o androceu (órgão reprodutor masculino) e o gineceu (órgão reprodutor feminino), e unissexuada, onde na flor pode haver apenas o gineceu ou o androceu. Dessa forma, se na planta tiver flores distintas com o gineceu ou o androceu chama-se dióica, e planta que na mesma flor existir o androceu e gineceu chama-se monóica. A polinização é o ato de transferir o gameta masculino, pólen, para o gameta feminino, óvulo, localizado no estigma (figura 7). Essa transferência se dá por vários fatores, o principal é por entomofilia, que envolve a polinização feita por insetos como por exemplo abelhas. Elas são essenciais para a produção de alimento, pois são responsáveis por 73% da polinização agrícola mundial, o que significa que a maioria dos alimentos produzidos precisam da polinização desses insetos. Sendo o Brasil um país em que a agricultura é essencial para a economia, os efeitos da polinização são bem presentes, visto que 60% dos cultivos agrícolas necessitam de agentes polinizadores para uma boa produção. Além disso a polinização é importante para manter a variabilidade genética das plantas, mantendo o ecossistema saudável, com produtos agrícolas de excelente qualidade (LAPLANE, 2017). 30 O pólen apícola é o resultado da colheita e aglutinação do pólen das flores realizadas pelas abelhas operárias, que coletam o pólen e adicionam néctar e substâncias salivares, e transportam em suas corbícolas (localizada nas pernas traseiras). O pólen tem um papel importante, pois é a única fonte de proteína para a colmeia, sendo essencial para seu desenvolvimento, pois as abelhas o utilizam para alimentar as larvas, zangões e operarias até o seu terceiro dia de vida, sendo útil na produção de geléia real e nutrição da abelha rainha (ALVES, 2013; MORETI 2006; ANDELKOVIC et al., 2012; BRASIL, 2001). Com a crescente procura por produtos naturais e saudáveis por grande parte da sociedade para minimizar os efeitos de diversas patologias, como alergias, intolerâncias, entre outras, o pólen apícola veio como um alimento funcional devido ao seu alto valor nutricional e medicinal (SOUZA, et al., 2003; MILFONT; FREITAS; ALVES, 2011). Segundo Bogdanov (2017), as propriedades terapêuticas do pólen são derivadas dos compostos bioativos que favorecem atividade antioxidante, antienvelhecimento, anticarcinogênica, anti-inflamatória, antiaterosclerose, cardioprotetor, além de efeitos antidepressivos e cicatrizantes. Porém o potencial nutricional desse alimento está sujeito a variações ambientais, como flora, estações do ano, idade e estado nutricional da planta (SZCZESNA et al., 2006). Alguns trabalhos revelam as variações nutricionais em cada região brasileira, como mostrado na tabela 3. Figura 7. Tipos de polinização em flores monoicas e dioicas Fonte: Raven, 2007 31 Tabela 3. Composição físico-químicas de pólen das 5 regiões brasileiras Umidade Proteínas Lipídios Cinzas Referências Nordeste 4,7% 20% 10,1% 3,6% Almeida et al., 2012 Norte 49,1% 19,1% 3,6% 1,8% Souza et al., 2004 Centro- oeste 6,7% 2,02% 7,2% 4,7% Arruda 2013 Sudeste 23,6% 21,5% 3,5% 2,8% Marchini et al. 2006 Sul 7,47% 20% 6% 2,2% Almeida- Muradian et al., 2005 De acordo com a legislação brasileira alguns pólens não estão seguindo os requisitos para a comercialização, como umidade e cinzas, nas regiões Norte e Centro- oeste, respectivamente. O máximo de umidade prevista na legislação para pólen é de 30% e pólen desidratado 3%. Já para cinzas em pólen desidratado, o valor máximo é de 4% (BRASIL, 2001). Em relação a proteína, alguns trabalhos mostram diferenças entre 15 a 25%, o que confirma que a grande diversidade botânica do Brasil influencia na composição do pólen (PINTO et al., 2012; BARRETO et al., 2012, MUNIZ et al., 2020). 2.9 Cocos nucifera e sua atividade biológica O Cocos nucifera L. é da família Arecaceae, subfamília Cocoideae, com 27 gêneros e 600 espécies, e do gênero Cocos, com 3 variações: Gigante (var. Typica), Anão (var. Nana) e o Intermediário (var. Aurantiaca). É mais conhecido como coqueiro e é uma palmeira com ampla distribuição, originado do continente asiático, bastante resistente a tempestades e inundações oceânicas periódicas, portanto os seus frutos foram se dispersando através das correntes oceânicas, e no Brasil foi introduzido na época das grandes navegações. O coqueiro foi de fácil adaptação no Brasil em razão do clima tropical, umidade, pluviosidade, abundante radiação solar, tipo de solo com nutrientes adequados para o crescimento e produção. A introdução da cocoicultura no Brasil se deu pela Bahia, se 32 expandindo pelo litoral do Nordeste, e atualmente possui cultivo no sudeste do país. Por ser distribuído mundialmente, o Cocos nucifera é cultivado em aproximadamente 90 países. O Brasil é um dos principais produtores, produz cerca de 1.562 milhões de frutos por ano (BRAINER, 2020), perdendo apenas para a Indonésia, Filipinas, Índia e Siri Lanka. Vários produtos são derivados do coqueiro como coco seco, óleo de coco, coco ralado, água de coco, leite de coco, que possuem boa aceitação pelos consumidores. O coco tem várias funcionalidades. Além de ser um alimento rico em nutrientes, está sendo utilizado na construção civil pelas suas fibras resistentes, podendo também ter uso religioso e medicinal. Vários trabalhos avaliaram o seu potencial terapêutico para proteção de doenças cardíacas, diabetes, prevenção da obesidade, anticancerígeno, além de proteção na quimioterapia, possui potencial antioxidante, antimicrobiano, anti- inflamatório, sendo usado também no tratamento e prevenção de esteatose hepática. Os trabalhos que avaliam a composição química de Cocos nucifera encontraram grandes quantidades de compostos fenólicos e flavonóides, assim como ácidos graxos e isoprenóides (ESQUENAZI et al., 2002; PADUMADASA et al. 2016, 2015; TAYLER et al., 2019) e os pesquisadores atribuem o potencial terapêutico de Cocos nucifera a esses compostos. Essa afirmativa é comprovada por alguns trabalhos que analisaram o seu potencial terapêutico, como o de Loki et al. (2003) que avaliaram a água de coco, demonstrando a sua função hepatoprotetora frente a intoxicação por tetracloreto de carbono. Nesse estudo foi possível observar níveis normais e equilibrados de glutationa, que é uma enzima importante nos processos de defesa antioxidante do corpo, em relação aos grupos controles. Esquenazi et al. (2002) avaliaram o efeito dos polifenóis, mais especificamente as catequinas e seu potencial antiviral, constatando um efeito viricida e de proteção contra infecções virais, e o alto teor de compostos fenólicos resultou em ação antimicrobiana. A atividade antiparasitária contra L. amazonenses foi observada por Mendonca-Filho et al. (2004), que usaram o extrato rico em polifenóis de Cocos nucifera para avaliar a sua viabilidade in vitro, mostrando que foi capaz de matar 100% das formas promastigotas e amastigotas. 33 3. JUSTIFICATIVA A ineficácia de alguns antimaláricos seja em razão do uso indiscriminado desses medicamentos levando a resistência, ou pornão apresentar efeito sobre determinadas espécies de Plasmodium e ainda por sua toxicidade no hospedeiro, tornou a malária uma doença de difícil controle e com altos índices epidemiológicos (RIDLEY, 2002; WHO, 2020). Portanto as pesquisas relacionadas na busca de novos compostos com potencial anti-plasmódio surgiram devido às problemáticas citadas, e como já discutido, os principais antimaláricos têm os princípios ativos derivado de plantas. Além disso, os estudos mais promissores estão associados a este segmento, mostrando assim a importância de buscar novos fármacos com potencial biológico a partir de plantas medicinais (FATTORUSSO e SCAFATI 2009). Em termos estatísticos: cerca de 40% da produção dos medicamentos utilizados, são derivados direta ou indiretamente, de produtos naturais. E também, das drogas que a OMS considera básicas e essenciais, cerca de 11% das 252 são derivadas de plantas. Isso se deve a grande biodiversidade, cerca de 250.000 plantas com potencial terapêutico a ser explorado (CALIXTO, 2001; RATES, 2001; VERPOORTE, 1998). Os avanços escassos na elucidação dos mecanismos de resistência de Plasmodium aos antimaláricos têm sido atribuídos às dificuldades de cultura in vitro (especificamente do P. vivax), baixa eficiência e elevada dificuldade na transfecção estável e à impossibilidade de utilização das tecnologias utilizando RNA de interferência. Devido à resistência, o número de pesquisas com produtos naturais e com novos alvos de drogas específicos do parasito aumentou. Dentre os isolados de plantas naturais, o LaBMAT/UFRN já vem estudando alguns compostos como a elipticina, isolada da Aspidosperma vargasii, e o 4-nerolidilcatecol, isolado da Pothomorphe peltata, que apresentaram inibição significativa do P. falciparum em estudos in vitro, mostrando-se mais ativos que a quinina (QN) e a cloroquina (CQ) em linhagens K1 multi-resistentes aos antimaláricos (ANDRADE-NETO et al., 2007; SILVA et al., 2011). Diversos estudos (FIDOCK et al., 2008, 2004; JANA et al., 2007) vêm discutindo novos alvos de drogas em P. falciparum, envolvendo várias vias, distribuídos pelo apicoplasto, citosol, vacúolo digestivo, mitocôndria, núcleo e membrana plasmática, em conjunto com as pesquisas para o desenvolvimento de novas drogas. 34 Neste cenário, um produto de origem animal e vegetal, que tem chamado atenção por seus componentes químicos com conhecidas atividades biológicas, é o pólen apícola, que já é empregado como complemento alimentar humano e tratamentos terapêuticos (MILFONT; FREITAS; ALVES, 2011). Sendo assim, o trabalho buscou fornecer conhecimento sobre atividade antimalárica do pólen apícola, empregando o modelo murino in vivo nos ensaios pré-clínicos, com o objetivo de contribuir para o enriquecimento e desenvolvimento de tratamentos para o combate e controle da malária. 35 4 OBJETIVOS 4.1 Geral • Avaliar a atividade antiplasmódica do extrato bruto do pólen apícola de Cocos nucifera em modelo de malária experimental in vivo 4.2 Específicos • Caracterizar fitoquimicamente o extrato bruto do pólen apícola de Cocos nucifera • Avaliar a toxicidade aguda in vivo usando protocolo OECD/OCDE 423 (2001), e seus efeitos histopatológicos e bioquímicos; • Investigar a citotoxicidade in vitro de extrato bruto do pólen apícola de Cocos nucifera em cultivo de células Hep-G2; • Analisar o potencial antimalárico in vivo do extrato bruto do pólen apícola de Cocos nucifera utilizando o modelo murino-Plasmodium berguei ANKA; • Examinar a supressão de parasitemia em modelo murino de Plasmodium berghei ANKA; 36 5. MATERIAL E METÓDOS 5.1 Obtenção do pólen apícola de Cocos nucifera desidratado O pólen apícola desidratado a 42ºC de abelhas Apis mellifera foi doado pelo produtor Joaz Ferreira da Silva, seu apiário está localizado na zona rural do município de Maxaranguape – RN. Com tamanho de grãos entre 2 a 4 mm (figura 8a). 5.1.2 Método de Extração – Preparo do Extrato etanólico A obtenção dos extratos vegetais foi realizada no Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no laboratório de Isolamento e Síntese de Compostos Orgânicos (LISCO), pela coordenação da professora Dra. Renata Mendonça. Realizou-se o tipo de extração a frio por maceração. 5.1.3 Maceração Através deste método de extração foram obtidos os extratos brutos do pólen apícola, denominados extrato hidroalcoólico de pólen apícola (EHPA). Foram adicionados cerca de 200g da amostra de pólen em um béquer (400 mL), utilizou-se uma proporção de 1:3 (70% de etanol puro e 30% de água destilada). O béquer tampado foi então mantido durante 7 dias em condições ambientais (figura 8b). Após esse período, a solução foi filtrada vertida em balão de fundo redondo, e levada ao rotoevaporador (Fitsom) com pressão reduzida, à temperatura de 78°c e 35 rpm (figura 8c). Em seguida, essa solução foi ressuspendida em metanol e desidratada em um novo béquer (tarado e pesado), o qual foi conduzido a uma placa secadora, onde permaneceu até ocorrer a secagem completa do extrato (figura 8d). Por fim, o béquer (400 mL) contendo o extrato seco foi selado, pesado para obter a massa do extrato, identificado e armazenado em temperatura ambiente até ser utilizado nos ensaios. 37 Figura 8. Processo de elaboração do extrato hidroalcóolico. a) pólen apícola de Cocos nucifera b) pólen apícola de Cocos nucifera mantido em solução hidroalcóolica. c) processo de separar os solventes em rotaevaporador. d) béquer contendo o extrato para secagem em placa aquecedora. Fonte: Arquivo pessoal 5.1.4 Rendimentos dos extratos do pólen apícola Após a obtenção dos extratos, o procedimento para cálculo do rendimento foi a partir da pesagem dos frascos de vidro vazios, seguido da pesagem após evaporação do solvente, quantificando, dessa forma, a massa seca do extrato bruto. A determinação do percentual de rendimento (%) de cada extrato seco foi realizada utilizando a equação 1: % R = mes / mpc x 100 (1) Na qual; % R = Percentual de rendimento mes = Massa do extrato sólido mpc = Massa do extrato de pólen apícola total (base seca) d d c a b 38 5.2 Análises físico-químicas As análises físico-químicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da Escola Agrícola de Jundiaí/UFRN. Todas as análises foram feitas em triplicata. 5.2.1 Sólidos totais As análises foram realizadas com base nas normas do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008). Os cadinhos previamente higienizados e codificados foram colocados em estufa de secagem a 105ºC por duas horas, modelo TE-393/80L, marca Tecnal®, fabricado no Brasil. Logo após esfriados em dessecador e pesados 1g de amostra. Em seguida, levados a estufa a 105ºC durante 6 horas. Depois de esfriar em dessecador foram repesados. A percentagem de sólidos totais foi dada pela seguinte equação: ST = 1 – ((P2-R)/P1*100, onde ST é a percentagem de sólidos totais (%), P1 é o peso inicial da amostra (g), P2 representa o somatório dos pesos do cadinho e R o repeso (g). 5.2.2 Cinzas A percentagem de cinzas das amostras foi com base nas normas do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008). Cadinhos previamente higienizados e identificados foram colocados em estufa por uma hora. Após esfriar em dessecador, foi feita a pesagem e adicionados 1 g de amostra. Em seguida submetidos a forno Mufla modelo Q318M24 fabricante Quimis, fabricado no Brasil a 600ºC por 4 horas e depois de esfriar, repesados. O percentual de cinzas será dado pela seguinte equação: C = ((R-P)/B)*100, onde C significa teor de cinzas (%), P peso do cadinho (g), B amostra (g) e R repeso (g). 5.2.3 pH A análise foi realizada conforme procedimento descrito pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008). Para isso,
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