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AmorTemposInternet-Xavier-2014

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MARIA RITA PEREIRA XAVIER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O amor em tempos de internet: as expectativas amorosas na Rede Social Badoo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN, 2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Maria das Dores da Rocha Medeiros-CRB-15/0544 
 
X3a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Xavier, Maria Rita Pereira. 
 O amor em tempos de internet: as expectativas amorosas na 
Rede Social Badoo / Maria Rita Pereira Xavier. – Natal: 2014. 
 109 f. 
 
 Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, 
Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 
Natal, 2014. 
 
 Orientador: Prof. Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas. 
 
1. Internet. 2. Relacionamentos amorosos. 3. Modernidade 
líquida. 
I. Dantas, Alexsandro Galeno Araújo. II. Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte. III. Título. 
 
CDU 316.472.4 
MARIA RITA PEREIRA XAVIER 
 
 
 
 
 
 
 
O amor em tempos de internet: as expectativas amorosas na Rede Social 
Badoo 
 
 
Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do 
título de Mestre, Programa de Pós-Graduação em Ciências 
Sociais, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 
Orientação do professor Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas. 
 
 
 
 
 
Natal/RN, 2014 
MARIA RITA PEREIRA XAVIER 
 
 
O amor em tempos de internet: as expectativas amorosas na Rede Social Badoo 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof. Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas – PGCS/UFRN 
Orientador 
 
Profa. Dra. Kenia Maia – PPGEM/UFRN 
Examinador interno 
 
Profa. Dra. Vergas Vitória Andrade da Silva – IFRN 
Examinador externo 
 
Prof. Dr. Orivaldo Pimentel Lopes Júnior – PGCS/UFRN 
Examinador interno (Suplente) 
 
 
 
Natal, Março de 2014 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Rita Eulália, Pedro, Conceição, Maria Clara e Matheus. 
 Com amor. 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço imensamente aos meus pais, Pedro e Conceição, por me proporcionarem os 
meios para chegar até o Mestrado, pelos esforços e renúncias realizados em meu 
benefício, e sei que não foram poucos. Muito obrigada Painho e Mainha. 
Agradeço a minha família, aos meus irmãos Maria Clara e Matheus pela companhia 
diária (e por me desconcentrar sempre que podiam também); aos meus tios Tota, Arlete 
e Izabel pela constante disponibilidade em ajudar no que for preciso. 
Agradeço aos meus amigos e companheiros de pós-graduação, Ana Eliza Soares e 
Thiago Tavares por estarem sempre presentes pro que der e vier. 
Agradeço ao meu Orientador Alex Galeno, por me auxiliar a encontrar meu caminho na 
Sociologia, pela paciência e estímulo sempre que necessário. 
Agradeço a Kenia Maia e Vergas Vitória por estarem presentes na minha banca e 
também por terem acompanhado e aconselhado academicamente meu trabalho desde a 
banca de pré-qualificação até a banca de defesa. 
A todos, os meus sinceros agradecimentos. 
Maria Rita Pereira Xavier 
RESUMO 
 
 
A pesquisa propõe-se a analisar o fenômeno dos relacionamentos amorosos através da 
observação da Rede Social Badoo. Como meio para atingir este objetivo, foram 
realizadas entrevistas qualitativas em profundidade on-line. O principal questionamento 
é entender como se configuram as expectativas amorosas na modernidade líquida. 
Agregado a isto ainda há como categorias de análise a visão sobre relacionamentos e as 
experiências amorosas proporcionadas pelo uso da Rede Social Badoo. São três as 
hipóteses iniciais: 1) vivencia-se um momento de transição, no qual o amor líquido nos 
termos propostos por Bauman (2004) estaria ganhando terreno e, como consequência, 
os relacionamentos estariam se apresentando mais curtos, mais abertos e com outras 
propostas interativas para as relações. 2) As práticas de consumo da modernidade 
líquida conseguem interpelar as práticas relacionais moldando-as de acordo com a sua 
lógica. 3) Supõe-se que o raciocínio, inerente ao mercado, do uso seguido do descarte se 
instala no comportamento social e que esta prática é acentuada pela tecnologia, através 
do uso da internet para o estabelecimento de relacionamentos amorosos. A análise 
empírica demonstra que tanto a visão sobre os relacionamentos quanto as expectativas 
amorosas na modernidade líquida têm como referência o modelo de relacionamento 
amoroso sólido, inerente à modernidade tradicional. Todavia demonstra também que as 
experiências e práticas amorosas remetem ao modelo de relacionamento líquido. 
Portanto, a partir dessas afirmações defende-se que há na modernidade líquida a 
coabitação dos modelos líquido e sólido de relacionamentos amorosos. Em resumo, esta 
pesquisa tem o intuito de compreender os relacionamentos amorosos contemporâneos 
através do espectro das relações que se desenvolvem na Rede Social da internet: Badoo. 
Palavras-chave: Expectativas. Experiências. Relacionamentos amorosos. Badoo. 
Modernidade líquida. 
 
 
ABSTRACT 
This research aims to examine the phenomenon of sexual relations by observing the 
Social Network Badoo. As a means to achieve this objective, qualitative in-depth 
interviews were conducted online. The main question is to understand how the amorous 
expectations in the liquid modernity are configured. Added to that, there is as analysis 
categories the insight about relationships and the love experiences provided by the use 
of the Social Network Badoo. There are three initial hypotheses: 1) a time of transition 
is experienced, in which the liquid love in the proposed terms by Bauman (2004) was 
gaining ground and, as consequence, the relationships would be presenting themselves 
shorter, more open and with another interactive proposals for the relations. 2) The 
consuming practices of the liquid modernity can interpellate the relational practices 
molding them according to your logic. 3) It is assumed that the reasoning, inherent to 
the market, of the use followed by the disposal settles itself in the social behavior and 
this practice is accentuated by technology, through the use of the internet for the 
establishment of romantic relationships.the empirical analysis shows that both the vision 
on relationships as the amorous expectations in liquid modernity have as references the 
model of solid loving relationship, inherent to the traditional modernity. However it also 
demonstrates that the romantic experiences and practices refer to the liquid relationship 
model. Therefore, from these statements it is argued that there is in liquid modernity the 
cohabitation of the liquid and solid models of romantic relationships. In summary, this 
research aims to understand the contemporary love relationships across the spectrum of 
relationships that develop on the Internet Social Network: Badoo. 
 
Keywords: Expectations. Experiences. Romantic relationships. Badoo. Liquid 
Modernity 
 
ÍNDICE DE FIGURAS, TABELAS E QUADROS 
 
FIGURAS 
 
Figura 1: Perfil da pesquisa no Badoo _____________________________________ 37 
Figura 2: Perfil de usuário ______________________________________________ 42 
Figura 3: Ferramenta síncrona de aproximação do sistema: mensageiro instantâneo _ 46 
Figura 4: Ferramenta Assíncrona - Comentários _____________________________ 47 
Figura 5: Ferramenta Assíncrona: jogo Encontros ____________________________ 48 
TABELAS 
Tabela 1: Perfis participantes da pesquisa __________________________________ 41 
Tabela 2: Descrição dos perfis ___________________________________________ 44 
 QUADROS 
Quadro 1: (Opinião) relacionamentos mais comuns no Badoo __________________ 65 
 
SUMÁRIO 
 
 ENTER ____________________________________________________________ 10 
Start _____________________________________________________________ 11 
Sobre os relacionamentosamorosos ___________________________________ 15 
Sobre a modernidade líquida _______________________________________________ 22 
Sobre as categorias _______________________________________________________ 26 
SEARCH IN _________________________________________________________ 29 
Sobre o Badoo _____________________________________________________ 34 
Sobre a pesquisa empírica ___________________________________________ 37 
Sobre Perfis _______________________________________________________ 42 
SIGN IN ____________________________________________________________ 50 
Os relacionamentos amorosos no Badoo ______________________________________ 51 
1) Visão: o que se pensa sobre relacionamentos no Badoo _________________ 51 
2) As expectativas no Badoo __________________________________________ 57 
2.1) As expectativas: o que se procura no Badoo? _______________________________ 57 
2.2) As expectativas: o que se encontra no Badoo? __________________________ 64 
2.3) As expectativas: a flecha do consumo perpassa as relações no Badoo? _______ 69 
3) As experiências __________________________________________________ 73 
3.1) O comportamento on-line na Rede Social Badoo ___________________________ 73 
3.2) As experiências dos usuários entrevistados no Badoo ________________________ 84 
SIGN OUT __________________________________________________________ 96 
Apontamentos finais ________________________________________________ 97 
Apontamentos futuros _____________________________________________ 103 
ANEXOS __________________________________________________________ 109 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________________________ 106 
10 
 
ENTER 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Enquanto o mundo vive lá fora, dentro de cada um tem um pedaço do outro. E 
mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz.” 
Tati Bernardi
11 
 
Start 
 
O ritual era quase sempre o mesmo, acordar, escovar os dentes e ligar o 
computador. E só se notava que não era algo natural quando a luz ou a internet caia e 
quebrava aquela rotina. Fazia-se parte de uma geração que tem um membro a mais, 
talvez se possa ousar a descrever desse modo. Uma invenção que chegou há duas 
décadas e tornou-se uma parte inseparável a ponto de ser feita uma comparação assim, 
tão radical. Esta pode ser tanto a descrição da minha rotina quanto a de milhões de 
outras pessoas que coabitam na modernidade líquida. A internet sempre me encantou, 
mas nas Ciências Sociais tem certo mantra que persegue os estudantes, especialmente os 
da graduação, “você não pode estudar aquilo que lhe é muito próximo, você precisa se 
distanciar do objeto”. O final da história, todos provavelmente já conhecem, pois 
sempre se acaba estudando aquilo pelo qual se é apaixonado e pronto. E está aí outra 
coisa pela qual eu me interessava profundamente, paixões. Os mais próximos também já 
sabiam, se alguém tivesse uma história de amor, um caso, um lance ou qualquer coisa 
do tipo e estivesse disposto a contar, lá estaria eu pra ouvir e falar no assunto. A partir 
disso passei a perceber que as histórias eram sempre muito parecidas, especialmente as 
que não deram certo, mas os motivos do ponto de vista social não estavam muito claros. 
Afinal deveria haver uma resposta para entender o porquê dos relacionamentos 
amorosos se mostrarem tão difíceis de compreender. 
 No entanto, o primeiro projeto tratava sobre relações de amizade no Facebook, 
pois a curiosidade sociológica era entender de onde vinha à dependência da sociedade 
atual pelas redes sociais. Logo percebi que, do ponto de vista metodológico, o Facebook 
seria inviável, pois a rede é muito fechada entre pessoas que já se conhecem. Diante 
desse entrave metodológico, surgiu como novo campo empírico escolhido para a 
pesquisa uma rede que possui a proposta de aproximar pessoas desconhecidas que estão 
à procura de relacionamentos, o Badoo. A partir da delimitação do campo, percebi a 
necessidade de utilizar outra estratégia e até outras perguntas para conseguir responder a 
inquietação que se tratava dos problemas recorrentes nas relações amorosas atuais. 
12 
 
Já dizia o poeta “Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar” 1e desse 
modo o objetivo de pesquisa foi se materializando. O recorte se deu sobre quais as 
expectativas das pessoas a respeito dos relacionamentos amorosos na 
contemporaneidade, para compreender os laços sociais frágeis que segundo Bauman 
(2004) se inauguram na modernidade líquida. 
Todavia, se tiver havido um estopim para este trabalho, dir-se-ia que Bauman 
(2004) foi o responsável por adicionar a pólvora. O ensaio sobre a fragilidade dos laços 
humanos na modernidade líquida, contido em Amor líquido (2004) desencadeou o 
interesse sociológico pelo tema dos relacionamentos amorosos na atualidade. Tema este 
que foi aliado às relações sociais na internet. Assim nasceu este trabalho, com a 
pretensão de analisar as relações amorosas na contemporaneidade através da internet. 
 
 
 
*** 
 
 
O presente trabalho apresenta uma ordem organizacional ligeiramente distinta da 
maioria das dissertações de Mestrado. As mudanças são poucas, mas são justificadas 
porque se tem a proposta de expor a pesquisa através de um modo relacional mais 
dinâmico entre teoria e empiria. Não há, por exemplo, uma parte especificamente 
introdutória; visto que a tarefa de introdução do trabalho é designada pelo presente 
capítulo, denominado Enter. Nesta parte tratar-se-á de alguns dos elementos que 
permeiam o contexto teórico no qual a pesquisa está baseada. São, por exemplo, as 
definições sobre o que se entende por amor, emoções, relacionamentos afetivos e 
também o contexto geral no qual se insere a concepção de Bauman (2001) sobre a 
modernidade líquida. Neste capítulo também estão explicitadas as informações 
pertinentes sobre quais os objetivos, hipóteses e categorias que tornaram possível a 
realização da análise empírico-teórica desta dissertação. 
 
1“(...) caminante, no hay camino, se hace camino al andar (...)” – Provérbios e Cantares – Antonio 
Machado (1875 – 1939) 
13 
 
Todavia, o principal aspecto diferenciador na estrutura do trabalho é a proposta 
de mesclar teoria e empiria ao longo de todo o percurso da dissertação. Para desvendar 
quais os modelos de relacionamentos amorosos preponderantes atualmente e sob quais 
ideais de amor esses modelos estão baseados, relaciono e exponho os aspectos teóricos 
de análise diretamente a partir dos depoimentos recolhidos na pesquisa qualitativa 
executada no Badoo. O resultado desta mistura é que não há capítulos tão específicos de 
descrição empírica e análise teórica; ainda que em alguns momentos a empiria esteja em 
maior destaque e em outros a teoria se sobressaia mais. 
Por exemplo, no segundo capítulo denominado Search In, será explanado 
discussões teóricas sobre o papel fundamental da tecnologia e da mudança nos modelos 
de interação social depois do advento da comunicação através da internet. Pois, entende-
se que a rede ao promover uma grande possibilidade de contato entre as pessoas alterou 
o modo como às relações afetivas são iniciadas, mantidas e encerradas. De acordo com 
este pressuposto teórico, realizo ainda neste capítulo a descrição da rede social da 
internet Badoo e explicito o porquê de esta rede social ter sido escolhida como campo 
empírico para a pesquisa. São apresentados os dados recolhidos sobre as 
funcionalidades da sua plataforma e de que maneira essas ferramentas interferem nas 
interações estabelecidas entre os usuários. Em seguimento a isto, apresento a 
metodologia utilizada, o passo-a-passo da pesquisa empírica e as especificidades com as 
quais me deparei no decorrer do tempo em que estive presente no Badoo. 
No capítulo seguinte denominado Sign In, será demonstrada a pesquisa 
realizada, através da descrição de cada uma das categorias utilizadaspara a realização 
da análise dos dados empíricos. Visão, Expectativas e Experiências dos usuários da rede 
social Badoo são as categorias apresentas com o objetivo de demonstrar empiricamente 
os objetivos e hipóteses que fecundaram esta dissertação. A principal característica é 
que empiria e teoria são mobilizadas simultaneamente nos resultados da análise que são 
descritos ao longo do capítulo. As definições teóricas trabalhadas se baseiam, 
principalmente, no conceito de liquidez em Zygmunt Bauman (2001) e nas proposições 
decorrentes deste conceito aplicado aos relacionamentos amorosos, que estão expressas 
em Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (2004). A principal 
justificativa para esta escolha se dá pela exposição das especificidades da modernidade 
líquida e das mudanças culturais estabelecidas nas últimas décadas pelo advento de 
14 
 
fatores como o consumo2 e a tecnologia. Fazem-se presentes explanações sobre a 
proximidade virtual e as características da tecnologia as quais se atribui o seu sucesso. 
A partir do entendimento dos processos sociais que levaram a tecnologia a se instaurar 
no cotidiano dos indivíduos da sociedade líquido moderna, autores como Bauman 
(2011), Sloterdijk (2006), Santaella (2007) e Turkle (2012) são mobilizados em uma 
tentativa de entender quais as consequências do advento das novas tecnologias, 
especialmente das Redes Sociais da internet, para o futuro das relações afetivas. 
No capítulo conclusivo Sign Out, são apresentadas notas conclusivas a respeito 
de cada uma das categorias analisada durante o processo empírico deste trabalho, 
através da reflexão sobre os objetivos já alcançados por esta pesquisa, dos desafios 
incitados a partir do seu empreendimento e das possíveis formais com as quais se 
poderá dar continuidade à este estudo. 
 
2 Consumo aqui entendido nos parâmetros da obra de Zygmunt Bauman. 
15 
 
 
Sobre os relacionamentos amorosos 
 
“O que é o amor?” Bem, eu gostaria de conseguir definir propriamente, mas 
essa é uma das perguntas milenares da humanidade e acredito que possui tantas 
respostas quanto o número de habitantes do planeta Terra. Deste modo, o que me cabe é 
tentar apreender “Como está o amor?” em termos sociais e culturais na 
contemporaneidade. Entendo que pensar através deste pressuposto, seria pensar o amor 
como estar mais do que como ser; é muito comum que se confunda o uso dos verbos 
Ser e Estar, usando-os como se fossem sempre a mesma coisa, mas até mesmo no inglês 
aonde são o mesmo verbo (To be), ainda assim possuem significados distintos. O Ser é 
permanência3. O Estar é condição4. Nós, humanos, “somos” seres que “estão” com os 
outros, visto que os relacionamentos desde a mais tenra infância nos constroem 
socialmente. 
Não existem dúvidas de que o ser humano depende das conexões que estabelece 
socialmente para progredir nem de que há inúmeras maneiras de afetar e ser afetado 
pelo outro. De acordo com Bauman (2011), o contato é indispensável para a 
sobrevivência humana, a possibilidade de estar a sós nos apavora, por isto procuramos a 
todo o momento nossos pares, sempre na esperança de estabelecermos conexões. No 
entanto, este não é um fenômeno recente eis que acontece desde os tempos mais 
remotos. Sloterdijk (2006) corrobora ao definir o humano como o ser que só existe a 
partir do contato com o outro. Por sermos configuradores e habitadores de esferas, 
somos também seres culturais, que criam zonas de imunidade a partir de relações de 
aproximação e afastamento com os outros. 
Para Le Breton (2009), o homem está afetivamente presente no mundo e a 
existência é um fio contínuo de sentimentos mais ou menos vivos ou difusos, que 
podem mudar e se contradizer com o passar do tempo e de acordo com as 
circunstâncias. Este autor define concisamente a perspectiva na qual se entende o 
 
3 Do Aurélio: 26. Filos. O que se põe como existente. Dicionário de Filosofia (1) afirma a existência, a 
realidade atual de uma coisa. o fato ou ato de ser. "Esta proposição: Eu sou, eu existo, é necessariamente 
verdadeira todas as vezes que a pronuncio ou que a concebo em meu espírito" (Descartes). 
4 Ser em um dado momento; achar-se (em certa condição). 
16 
 
sentimento e a emoção neste trabalho. Entende-se o sentimento como a tonalidade 
afetiva aplicada sobre um objeto, a qual é marcada por sua duração e por ser homogênea 
em seu conteúdo senão em sua forma; e que manifesta “uma combinação de sensações 
corporais, de gestos e de significados culturais apreendidos por intermédio das relações 
sociais”. Já a emoção é a própria propagação de um acontecimento passado, presente ou 
vindouro, real ou imaginário, na relação do indivíduo com o mundo; consiste num 
momento provisório, originando-se de uma causa precisa onde o sentimento se cristaliza 
com uma intensidade particular. 
São exemplos de emoção a alegria, a cólera, o desejo, a surpresa ou medo. A 
emoção preenche o horizonte, ela é breve e explícita em seus termos gestuais; o 
sentimento instala a emoção no tempo. São exemplos de sentimento o ressentimento, o 
sofrimento, a simpatia, o amor, etc. Em resumo, sentimento e emoção nascem de uma 
relação sujeito-objeto, baseada sobre um repertório cultural que distingue as diferentes 
camadas da afetividade, misturando as relações sociais e os valores culturais ativados 
pelos sentidos. (Le Breton, 2009, p.114). 
Os relacionamentos, por serem portadores de sentimento e emoção também se 
localizam sob a égide das circunstâncias culturais e sociais, e pode-se afirmar que estes 
não são sempre os mesmos, não têm obrigatoriamente o mesmo impacto e, 
principalmente, não são imutáveis em seus conteúdos e formas. Se os relacionamentos, 
especificamente os amorosos, podem ser entendidos como um status 5 significa dizer 
que as relações são simultaneamente produto e produtoras dos indivíduos. No trecho 
abaixo Primo (2011) corrobora com essa perspectiva, 
Existe uma reflexividade entre o relacionamento e o si mesmo de cada 
participante. Além de participarem da definição de suas relações, os 
participantes são definidos pelos relacionamentos. Isto é, as relações 
afetam os seus participantes como também seus relacionamentos 
futuros (Primo, p.103, 2011). 6 
Complementando este raciocínio, Le Breton (2009) afirma que a afetividade, 
ainda que pareça ao senso-comum um refúgio para a individualidade, um jardim secreto 
onde se cristaliza a intimidade e de onde brota uma indefectível espontaneidade, é de 
 
5 Do inglês: Status. Termo normalmente utilizado em Redes Sociais, para indicar uma espécie de Estado 
Civil informal dos usuários. Do Aurélio: (1) Modo de ser ou estar. (2) Situação ou disposição em que se 
acham as pessoas ou as coisas em um momento dado. 
6 Apud Fisher, 1987, p.8 
17 
 
fato uma emanação característica de certo ambiente humano e de determinado universo 
social de valores. A história das mentalidades revela e “destaca a característica 
cambiante e convencional das emoções e de suas atuações nos diversos grupos sociais e 
nas diferentes circunstâncias.” (Le Breton, 2009, p.113). A emoção é consequência de 
um aprendizado social e de uma identificação com os outros e são essas duas dimensões 
que alimentam conjuntamente a sociabilidade e assinalam ao sujeito o que ele deve 
sentir, de qual maneira e em quais condições precisas. Em uma crítica ao naturalismo Le 
Breton (2009) diz que, 
As emoções não existem desvinculadas da formação da sensibilidade 
que o relacionamento com os outros enseja no seio de uma cultura e 
num contexto particular. Elas não têm realidade em si, elas não se 
fundam numa fisiologia indiferente às circunstâncias culturais ou 
sociais: não é a natureza do homem que se exprime através delas, mas 
a situação e a existência socialdo sujeito (Le Breton, 2009, p.120). 
Ainda citando este autor, as emoções são, portanto, emanações sociais ligadas a 
circunstâncias morais e à sensibilidade particular do indivíduo. Elas não são 
espontâneas, mas ritualmente organizadas; reconhecidas em si e exibidas pelos outros, 
mobilizam um vocabulário e discursos e provêm da comunicação social. 
Neste sentido, a construção social do sentimento amoroso, por exemplo, pode 
ser considerada como uma circunstância cultural e social do movimento de 
modernização das sociedades ocidentais. Pois, como afirma Aboim (2006), o amor já 
foi considerado uma força ameaçadora da instituição matrimonial, visto que o 
casamento era realizado por meio de critérios patrimoniais, econômicos, genealógicos, 
etc. A paixão do amor cortês sobrevivia à margem do matrimônio, foi o romantismo o 
responsável por reconciliar amor-paixão com a instituição familiar; através somente 
depois da sentimentalização da vida privada que a escolha do cônjuge baseada no amor 
tornou-se critério legítimo para a formação de um casal. Reafirmando este exemplo Le 
Breton (2009) afirma, 
As emoções são modos de afiliação a uma comunidade social, uma 
maneira de se reconhecer e de poder se comunicar em conjunto sobre 
a base da proximidade sentimental. “Existem pessoas que nunca 
teriam se apaixonado se jamais tivessem ouvido falar do amor”, diz La 
Rochefoucauld. Não existe naturalidade no gesto, na percepção, numa 
emoção ou em sua expressão. O corpo é parte integrante da 
simbologia social (Le Breton, 2009, p.127). 
18 
 
Assim, não restam dúvidas do quanto os relacionamentos afetivos e as emoções 
criadas a partir deles são importantes para os seres humanos, visto que os indivíduos 
podem ser considerados resultado do cruzamento de diversos relacionamentos e 
histórias relacionais ao longo da vida. Para Primo (2011), os relacionamentos geram um 
tipo de comunicação que não se trata apenas das ações de uma pessoa em direção a 
outra. Mas sim, da interação criada pelas ações de ambos. 
 Diante das características acima descritas se torna claro que os relacionamentos 
afetivos e/ou emocionais são construídos e modificados socialmente através das ações 
recíprocas entre os agentes inseridos na relação e o seu meio social. Neste sentido, os 
relacionamentos podem ser “definidos como estruturações sociais emergentes criadas 
conjuntamente pelos membros no processo mutuamente influente, inter-relacionado de 
comunicação.” (Primo, p.117, 2011). Se relacionamentos afetivos são frutos da ação e 
comunicação entre agentes, circunscrita em um contexto, pode-se concluir que as 
emoções e sentimentos desses agentes têm participação inegável na construção das 
formas relacionais. 
Para entendermos até que ponto cultura e sociedade moldam a expressão e a 
experiência cultural dos relacionamentos, mobiliza-se Koury (2009) que corrobora com 
a perspectiva proposta por Primo (2011) e Le Breton (2009) ao reafirmar as emoções 
como uma representação coletiva que se impõe à consciência individual, mas como 
representação ela tornar-se-ia inconsciente. Ou seja, como uma categoria de bases 
universais, porém, sempre reconstituída histórica e socialmente. Nesta perspectiva, os 
indivíduos sociais apreenderiam os significados culturais das emoções antes mesmo de 
vivenciarem-nas, diante da sua configuração em forma de construtos sociais, as 
emoções e as maneiras de portar-se diante delas seriam ensinadas pela sociedade. Pois, 
é uma cultura emocional dada e específica de um espaço e tempo quem provê aos 
indivíduos nela inseridos conceitos simbólicos, linguísticos e comportamentais e a partir 
dessas ferramentas o sujeito dará sentido às próprias emoções e norteará suas ações nas 
relações afetivas. 
Em resumo, as experiências emocionais singulares, sentidas e vividas por um 
ator social específico são produtos da relação entre os agentes interacionais, a cultura e 
a sociedade. Os conteúdos simbólicos e as práticas culturais de contextos sociais 
específicos são responsáveis por promover, agenciar, permitir ou ponderar determinadas 
19 
 
emoções, ao mesmo tempo em que negam, restringem ou impõem interditos a outras. 
As situações emocionais são inscritas dentro de modelos relativamente contínuos e 
duradouros de relações sociais. Costa (2008) corrobora com essa concepção ao usar o 
exemplo do sentimento amor, 
Há que se ter em mente que o amor, a princípio, é uma crença 
emocional. Como toda e qualquer crença, pode ser mantida, alterada, 
dispensada, trocada, melhorada, piorada ou abolida. Nenhum dos seus 
constituintes afetivos é fixo por natureza. (Costa, 1998, p. 12). 
Associada a essa perspectiva do amor passível de alteração, pode-se pensar as 
transformações conjugais da modernidade como exemplo prático dessa afirmação, visto 
que os modelos de conjugalidade entre casais seguiram as Mudanças Sociais da 
modernidade, ao sofrerem repetidas transformações ao longo do tempo. 
 Conforme afirma Aboim (2006), os casais, no início da modernidade se 
organizavam em um funcionamento nuclear, dependente, fusional e bem adaptado às 
exigências do sistema social, industrializado e urbanizado. Porém, a modernidade mais 
avançada levaria a configuração do ciclo de vida tradicional da vida familiar a um 
processo maior de individualização; a partir deste ponto, ao casal não seria suficiente só 
soltar as amarras com a comunidade e o parentesco, mas o indivíduo também se veria 
dividido entre a liberdade individual e as gratificações amorosas da vida a dois. 
Seguindo essa lógica, as conjugalidades contemporâneas estariam divididas entre o 
ideal de fusão afetiva e o ideal de investimento na realização individual. O imaginário 
do casal de hoje é marcado por contradições e entendido como o "paradoxo conjugal 
contemporâneo” 7. Por um lado o casal não mais usa os critérios anteriores utilizados 
para o casamento e se apoia nos aspectos afetivos; por outro, a individualidade tem uma 
importância crescente nas aspirações dos sujeitos. Desse modo, o mito do “príncipe 
encantado” faz parte de um desejo emocional e de uma satisfação afetiva que se 
mostram cada vez menos realistas quando se deparam com os hábitos conquistados pela 
autonomia. 
 Neste sentido, os indivíduos almejam ser "livres em conjunto” 8, utiliza-se o 
termo "dupla vida" para definir o paradoxo do individualismo contemporâneo que 
deseja "ser com o outro" através de uma vida conjugal, ao mesmo tempo em que 
 
7 (grifo do autor) 
8 (grifo do autor) 
20 
 
também se deseja "ser a sós" através de uma vida pessoal autônoma. Na ótica 
interacionista esse casal se organizaria tanto em torno da fusão, na qual a prioridade 
seria o nós e assim os recursos, o tempo, os espaços e até a identidade intentariam se 
unir. Quanto em torno do outro polo, que seria a organização sob a autonomia, aonde 
seria privilegiado o eu e as diferenças; e projetos, espaço e tempo de cada um seriam 
preservados. (Aboim, 2006). O trecho abaixo relata o tipo de relação desejada pelo 
entrevistado ao mesmo tempo em que demonstra empiricamente o tipo de conjugalidade 
que é esperada das relações; 
Anderson — Primeiro, acho que não existe um relacionamento 
perfeito, existe sim aquele que se encaixa à você, para mim o mais 
importante é a confiança, confiar é fundamental, a pior coisa do 
mundo é ter que pedir permissão de tudo o que você vai fazer, cada 
um é cada um, você não precisa estar junto da pessoa pra saber que ela 
gosta de você. 
O importante a atentar é que entre um polo e outro há muitas possibilidades de 
conjugalidades, pois a sociedade contemporânea abriu um novo leque de possibilidades 
para as relações afetivas. Relações estas, que exibem características importantes na 
constituição dos indivíduos e interações específicas que precisam ser analisadas 
propriamente. Diante disto, cabe considerar que as interações mútuassão resultantes de 
um processo caracterizado pela interconexão dos subsistemas envolvidos e que os 
contextos sociais e temporais conferem às relações construídas uma contínua 
transformação. Uma interação mútua não pode ser vista pela soma de ações individuais, 
pois de acordo com o princípio sistêmico da não-somatividade esse tipo de interação é 
diferente da mera soma das ações e características individuais de cada interagente, pois 
a interação é mais que a soma de seus elementos constituintes. (Primo, 2011). 
A problemática temporal da interação sentencia que o relacionamento nunca é, 
ele está sempre vindo a ser, entende-se a comunicação aqui como uma série de eventos 
conectados para salientar que os relacionamentos estão em permanente redefinição. 
“Nada é mais constante que a própria mudança.” (Primo, p.111, 2011). 9 
Uma relação entre pessoas permanece inexplicável enquanto a observação não 
for suficientemente ampla para abarcar o contexto no qual ocorre o fenômeno. O 
contexto, como já dito, determina as contingências e tem também um efeito limitador da 
 
9 Apud Fisher, 1982, p. 209. 
21 
 
comunicação. Esta afirmação, também “vale para encontros mediados pelo computador 
na medida em que uma conversa entre duas pessoas com mediação informática não está 
isolada do contexto expandido socialmente.” (Primo, p.109, 2011). Pois, a interação 
entre pessoas através de um mensageiro instantâneo, por exemplo, se constrói também 
em virtude de fatores contextuais mais abrangentes. 
A partir deste pressuposto, a internet se caracteriza aqui como o contexto 
delimitador de contingências dos relacionamentos analisados nesta pesquisa. As 
relações virtuais10 costumam ser rotuladas de frágeis, volúveis e flexíveis, mas é preciso 
levar em conta que os indivíduos usuários da internet são também produto do meio 
social em que vivem e as suas ações no ambiente virtual precisam ser interpretadas 
como provenientes da cultura geral, na qual estão inseridos. Dessa forma, diz-se que 
esta pesquisa trabalha junto a essa perspectiva, no intuito de entender quais 
circunstâncias sociais presentes na modernidade líquida atuam sobre a visão, as 
expectativas e as experiências que os usuários da Rede Social Badoo têm a respeito dos 
relacionamentos amorosos atuais. 
*** 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 “Os namoros que se iniciam na internet são virtuais e reais ao mesmo tempo: reais porque os casais 
existem na concretude das relações presenciais, virtuais porque a possibilidade de concretização do 
namoro num encontro físico-presencial existe em potência, em algo que ainda anuncia-se, como um devir. 
São virtuais ainda, pois os casais encontram-se em tempos e espaços diferentes.” (Silva e Takeuti, p.67, 
2010) 
22 
 
Sobre a modernidade líquida 
 
O sugestivo título “modernidade líquida” é designado por Bauman (2001) para 
dar conta das incertezas que rondam as condições cambiantes, maleáveis, fluidas, 
excessivas, transbordantes e fugazes das complexas contradições das sociedades 
contemporâneas. Santaella (2007) expande esta concepção ao explicitar que, 
A metáfora da “liquidez” foi emprestada para caracterizar o estado da 
sociedade moderna, porque esta, como os líquidos, singulariza-se por 
uma incapacidade de manter as formas. Diferentemente da sociedade 
moderna anterior, chamada por Bauman de “modernidade sólida”, 
agora tudo está em permanente estado de desmontagem, sem nenhuma 
perspectiva de permanência, pois “manter os fluidos em uma forma 
requer muita atenção, vigilância constante e esforço perpétuo”. O 
advento da modernidade líquida produziu profundas mudanças na 
condição humana, o que requer quer repensemos os velhos conceitos 
que costumavam cercar as narrativas das estruturas sistêmicas agora 
derretidas pelos fluidos. (Santaella, 2007, p.14). 
Bauman (2001) afirma que os tempos modernos encontraram os sólidos pré-
modernos em estado avançado de desintegração e um dos motivos por trás da urgência 
em derretê-los era o desejo de descobrir ou inventar outros. Estes, talvez, com uma 
solidez duradoura 11, que não seria mais derretida, que se pudesse confiar e que tornaria 
o mundo previsível e, portanto, administrável. 
O derretimento dos sólidos levou à progressiva libertação da economia de seus 
tradicionais embaraços políticos, éticos e culturais, sedimentando uma nova ordem que 
foi definida na modernidade principalmente em termos econômicos. E, ao contrário da 
maioria dos cenários distópicos, este efeito não foi alcançado via ditadura, 
subordinação, opressão, escravização; nem através da “colonização” 12 da esfera privada 
pelo “sistema”. A situação presente surgiu do derretimento radical dos grilhões e das 
algemas que eram suspeitos de limitar a liberdade individual de escolher e agir. 
(Bauman, 2001). 
 “A rigidez da ordem é o artefato e o sedimento da liberdade dos agentes 
humanos.” (Bauman, 2001, p.11). Essa rigidez é o resultado de “soltar o freio”, da 
desregulamentação, da liberalização, da “flexibilização”, da “fluidez” crescente, do 
 
11 Grifo do autor 
12 Grifo do autor. 
23 
 
descontrole dos mercados financeiro, imobiliário e de trabalho, tornando mais leve o 
peso dos impostos, etc. 
Santaella (2007) diz que Bauman (2001) foi capaz de estabelecer com clareza a 
distinção entre a modernidade passada, já desenraizadora, e a modernidade presente. 
“Enquanto lá desenraizava-se para dar um passo avante rumo a um novo enraizamento, 
agora todas as coisas – empregos, relacionamentos, afetos, o amor, know-hows etc. – 
tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexíveis.” (Santaella, 2007, 
p.15). 
Outro ponto importante a salientar, é o de que na modernidade o tempo adquire 
história e não se apresenta mais como aspecto entrelaçado ao espaço, como era ao longo 
dos séculos pré-modernos. Na modernidade, o espaço e o tempo são separados da 
prática da vida e entre si, se tornam categorias distintas e mutualmente independentes da 
estratégia e da ação. A velocidade do movimento através do espaço se torna uma 
questão do engenho, da imaginação e da capacidade humanas e juntamente com o 
acesso a meios mais rápidos de mobilidade chega aos tempos modernos à posição de 
principal ferramenta do poder e da dominação. Segundo Bauman (2001) é essencial 
entender que na modernidade líquida o poder pode se mover com a velocidade do sinal 
eletrônico, pois o tempo requerido para o movimento de seus ingredientes se reduziu à 
instantaneidade. Em termos práticos, o poder se tornou extraterritorial, não é mais 
limitado nem desacelerado pela resistência do espaço. Não importa mais onde está 
quem dá a ordem e a diferença entre “próximo” e “distante” está a ponto de desaparecer. 
As principais técnicas do poder agora são a fuga, a astúcia, o desvio e a evitação, 
a efetiva rejeição de qualquer confinamento territorial. Agora é o menor, mais leve e 
mais portátil que significa melhoria e “progresso”. Os recursos de poder pertencem 
àqueles que se mostram capazes de mover-se leve e não mais aferrar-se a coisas 
confiáveis e sólidas que são pesadas, substanciais e capazes de gerar resistência. Numa 
notável reversão da tradição milenar, são os grandes e poderosos que evitam o durável e 
desejam o transitório, enquanto os da base da pirâmide lutam para fazer suas posses 
frágeis e transitórias durarem mais tempo. (Bauman, 2001). 
 A concepção a ser percebida é que para que o poder tenha liberdade de fluir, o 
mundo deve estar livre de cercas, barreiras, fronteiras fortificadas e barricadas. 
24 
 
Quaisquer redes densas de laços sociais, em particular as territorialmente enraizadas, 
são obstáculos a serem eliminados. Os poderes globais se inclinam a desmantelar tais 
redes em proveito de sua contínua e crescente fluidez, principal fonte de suaforça e 
garantia de sua invencibilidade. “A extraordinária mobilidade dos fluidos é o que os 
associa à ideia de leveza.” (Bauman, 2001, p.8). A permissão para que isto aconteça e 
esses poderes operem é proveniente da derrocada e da fragilidade dos laços e redes 
humanos. 
Os líquidos são associados à modernidade presente porque não têm uma forma 
determinada, são representados pela fluidez, por se moldarem conforme o recipiente no 
qual estiverem inseridos e por se diferenciarem dos sólidos, que têm como característica 
a rigidez e que precisam sofrer uma tensão de forças para moldar-se a novas formas. Os 
fluidos se movem facilmente, eles fluem, escorrem, esvaem-se, respingam, 
transbordam, vazam, inundam, borrifam, pingam; são filtrados, destilados e não são 
facilmente contidos. Contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou 
inundam seu caminho. “Do encontro com sólidos emergem intactos, enquanto os 
sólidos que encontraram, se permanecem sólidos, são alterados – ficam molhados ou 
encharcados.” (Bauman, 2001, p.8). 
O que as características dos fluidos mostram, em linguagem simples, é 
que os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma 
com facilidade. Eles não fixam o espaço nem prendem o tempo. 
Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam 
o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo, os fluidos 
não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e 
propensos) a mudá-la; assim, para eles, o que conta é o tempo, mais 
do que o espaço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem 
apenas “por um momento”. Em certo sentido, os sólidos suprimem o 
tempo e para os líquidos o tempo é o que importa. Ao descrever os 
sólidos, podemos ignorar inteiramente o tempo; ao descrever os 
fluidos, deixar o tempo de fora seria um grave erro. Descrições de 
líquidos são fotos instantâneas, que precisam ser datadas. (Bauman, 
2001, p.8). 
A partir disto, pressuponho que semelhante às outras instâncias sociais, as 
relações desenvolvidas através da internet, em sua maioria, se constituem líquidas tal 
qual o mundo contemporâneo. Pois as entendo como relações fluídas, que “escorrem 
entre os dedos”, “transbordam”, “vazam” tal qual os líquidos são capazes de fazer. Estas 
são relações que preenchem vazios com leveza e fluidez, mas tal qual o líquido não se 
mantêm duradouras em suas formas. 
25 
 
 Bauman (2004) apresenta uma definição interessante sobre as relações 
amorosas na internet ao dizer que “estar conectado é menos custoso do que estar 
engajado.” (Bauman, 2004, p.39). E também que é mais seguro, do ponto de vista da 
manutenção de vínculos não desejados. O namoro pela internet tem vantagens, pois 
sempre se pode apertar a tecla pra deletar e terminar sem dramas, sem remorso. O autor 
justifica que na modernidade líquida as oportunidades são fluidas, os valores são 
cambiantes e as regras são instáveis. Neste cenário a possibilidade de reduzir riscos, ao 
mesmo tempo em que se evita a perda de opções, parece uma escolha bem racional. 
Portanto, é possível afirmar que as relações mantidas pela internet se ajustam bem a 
esses novos padrões, ao contrário do modo relacional convencional que pressupõe a 
negociação do compromisso. 
*** 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
Sobre as categorias 
 
A internet e a Rede Social Badoo são neste estudo interpretados como espaços 
que possuem a capacidade promover novos encontros e novos formatos relacionais. 
Através desta perspectiva se deu a eleição das categorias analíticas da pesquisa, pois o 
campo teórico central deste trabalho situa-se no livro Amor líquido (Bauman, 2004) e 
teve como objetivo analisar quais as expectativas dos usuários da Rede Social Badoo a 
respeito dos relacionamentos amorosos contemporâneos, amplificando o recorte 
também para os ideais, formatos e concepções do amor e relações amorosas que 
pudessem se fazer presente nas falas. 
Por meio desse pressuposto se deu a investigação a respeito das expectativas 
amorosas dos indivíduos da sociedade atual através dos relacionamentos amorosos na 
internet. O intuito da pesquisa é apreender quais são as expectativas amorosas 
preponderantes na Rede Social Badoo; as hipóteses utilizadas neste trabalho são as de 
que: 
1) Ao vivenciar-se um momento de transição, no qual o amor líquido nos 
termos propostos por Bauman (2004) estaria ganhando terreno e, como 
consequência, os relacionamentos estariam se apresentando mais curtos, 
mais abertos, com outras propostas interativas para as relações. 
2) As práticas de consumo da modernidade líquida conseguem interpelar as 
práticas relacionais moldando-as de acordo com a sua lógica. 
3) Supõe-se que o raciocínio, inerente ao mercado, do uso seguido do descarte 
se instala no comportamento social; e que esta prática é acentuada pela 
tecnologia, através do uso da internet para o estabelecimento de 
relacionamentos amorosos. 
Essas hipóteses intentam dar conta de formatos relacionais não muito 
conhecidos até o momento, discrepantes dos tradicionais, causadores de estranheza e 
espanto em alguns, mas facilmente aceitos por outros. São essas reações que justificam 
a palavra “transição”, pois as regras sociais mais frouxas, tanto desencadeiam modelos 
tradicionais quanto modelos inovadores. A proposta é que em uma situação de Mudança 
Social, a tendência é a convivência e aceitação de ambos os modelos. 
27 
 
O enfoque do trabalho diz respeito ao comportamento e opinião dos indivíduos 
contemporâneos sobre esses novos formatos de relações, a partir dos relacionamentos 
estabelecidos na Rede Social da internet Badoo. A partir de entrevistas qualitativas em 
profundidade, a pesquisa se constituirá em uma cartografia da Visão, Expectativas e 
Experiências nos relacionamentos amorosos dos usuários do site. O intuito é entender 
sob quais perspectivas essas novas relações estão sendo estabelecidas, para apreender de 
que maneira a tecnologia e a cultura, vigente na modernidade líquida, atuam sobre as 
relações no campo emocional. 
Sugere-se que tais processos podem ter fatores oriundos tanto da modificação 
dos ideais referentes à intimidade quanto das recentes revoluções tecnológicas de 
informação. Bauman (2004) problematiza a cultura amorosa ao chamar a atenção para a 
ressignificação do amor enquanto valor ético-moral, para uma mudança nos padrões do 
amor romântico, do casamento, da família, etc. na sociedade atual, bem como para a 
intervenção significativa das lógicas de consumo presentes na sociedade líquida 
moderna. 
A primeira categoria, denominada Visão, intenta-se compreender sob quais 
modelos de relacionamento as Expectativas e Experiências amorosas estão baseadas. 
Utilizo as categorias, dos modelos de relacionamento líquido e sólido, sugeridas por 
Bauman (2004), como ponto de apoio conceitual para esta reflexão. 
Na categoria principal Expectativas, são duas as questões que se mostram 
essenciais, a primeira trata-se das principais expectativas que usuários da rede mantem 
para si, para procurar entender o que as pessoas estão em busca ao se conectarem a 
Rede. E a segunda questão, tem o intuito de compreender qual o cenário relacional 
proporcionada pelo Badoo, ou seja, entender quais as expectativas das outras pessoas. 
1. Quais são as suas expectativas no Badoo? Como seria o relacionamento 
perfeito para você? 
2. A partir da sua experiência como usuário, o que você acha que a maioria 
das pessoas está procurando aqui? Quais as principais expectativas das 
pessoas no Badoo? 
A terceira categoria analisada trata das Experiências de relacionamentos 
proporcionadas pelo Badoo relatadas pelos entrevistados, as quais serão aqui definidas 
como encontros de passagem e/ou encontros duradouros. Outro ponto que aparece como 
28 
 
campo secundário, trata da relação entre a técnica e o comportamento social dos 
usuários frente à tela do computador,no intuito de saber em que esses encontros do 
ciberespaço se diferem dos encontros off-line e de que forma estar diante do 
computador pode desencadear mudanças de atitude e comportamento. 
3. Você já teve algum tipo de relacionamento através do site? Poderia 
relatar sua experiência? 
4. Como você explicaria o comportamento das pessoas aqui no Badoo se 
comparado ao off-line? 13 
Dado esse viés metodológico, associo-o à possível transformação no campo dos 
relacionamentos amorosos, partindo dos pressupostos de que estas relações são 
passíveis à interferência de diversos fatores. Tais como a interação das ações dos 
agentes participantes da relação, a incursão de novas tecnologias no cotidiano desses 
agentes, a interferência cultural e social desempenhada pelo consumo nas emoções e 
relações. Por fim, argumento que esses fatores contribuem para o processo de 
transformação do ideal de amor na contemporaneidade para o do amor líquido, a partir 
da proposta de Bauman (2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 O questionário completo encontra-se em Anexos. 
29 
 
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Tá Combinado 
 
Então tá combinado, é quase nada 
É tudo somente sexo e amizade. 
Não tem nenhum engano nem mistério. 
É tudo só brincadeira e verdade. 
Podemos ver o mundo juntos, 
Sermos dois e sermos muitos, 
Nos sabermos sós sem estarmos sós. 
Abrirmos a cabeça 
Para que afinal floresça 
O mais que humano em nós. 
Então tá tudo dito e é tão bonito 
E eu acredito num claro futuro 
de música, ternura e aventura 
Pro equilibrista em cima do muro. 
Mas e se o amor pra nós chegar, 
De nós, de algum lugar 
Com todo o seu tenebroso esplendor? 
Mas e se o amor já está, 
se há muito tempo que chegou 
E só nos enganou? 
Então não fale nada, apague a estrada 
Que seu caminhar já desenhou 
Porque toda razão, toda palavra 
Vale nada quando chega o amor... 
 
 
Caetano Veloso
30 
 
 
A casa do ser humano neolítico era uma sala de espera que girava em torno dos 
períodos de plantação e colheita. Depois de semear era tempo de esperar até o 
amadurecimento para que se pudesse colher. Assim, as casas se constituíram para serem 
lugares de parada, salas de espera até a chegada de certo acontecimento. O lugar de 
parada significa a espera pelo (fruto) maduro e a habitação se torna uma máquina de 
hábitos geradora de redundância, cuja tarefa é dividir a massa de sinais que chega do 
mundo de fora em um sinal familiar ou não familiar. Todos os sistemas de imunidade 
sociais humanos reivindicam um direito à defesa frente a transtornos, sem que haja 
necessidade de justificação. A espera pelo amadurecimento adquiriu na modernidade 
uma característica que amplia os sinais que anunciam o que acontece sobre e junto a 
nós. Essa espera receptiva foi projetada pelo mundo moderno em dispositivos técnicos, 
tais como aparelhos de rádio e telefone. A sua evolução foi marcada pela criação do 
walkman, um dos primeiros eletrônicos portáteis que possibilitaria escutar o mundo e 
não mais estar só, seguido pela televisão que passou a estar presente em todos os 
cômodos da casa, como um dispositivo de espera mais recente, aparece o computador, 
já seguido dos smartphones. (Sloterdijk, 2006). 
O preenchimento dos dias por esses ruídos aos poucos se tornaram as 
companhias para aliviar a dolorosa solidão. Este fato permite supor que as casas 
humanas têm sido sempre estações receptivas “do que vem de fora”. Isto também 
significaria dizer que os seres humanos “presos” em suas habitações estão buscando 
sempre libertar-se da trivialidade da espera pelo óbvio, estão sempre à espera que 
alguém chame. (Sloterdijk, 2006). 
A criação do computador permitiu que o homem pudesse recriar situações antes 
dependentes de uma série de fatores externos para acontecer. O surgimento da internet 
deu seus primeiros passos na década de 1960 através do conceito de comunicação em 
rede entre computadores e obtendo sua consolidação nos anos de 1990 com o 
surgimento de protocolos convencionais que permitem o cruzamento de várias redes e 
uma comunicação abrangente e acessível. Em menos de vinte anos foram desenvolvidos 
muitos conceitos sobre o fenômeno da internet e esta já se implantou implacavelmente 
no dia-a-dia das pessoas. Nenhuma invenção foi absorvida tão rápida e intensamente em 
31 
 
toda a história. O estudo das redes complexas teve início nas ciências exatas, físicos e 
matemáticos trouxeram as maiores contribuições que posteriormente foram absorvidas 
pela sociologia ao se interessar pela perspectiva da análise estrutural das redes sociais. 
Segundo Recuero (2004), a teoria das redes em si começou a se desenvolver 
através do matemático Ëuler14 que criou o primeiro teorema da teoria dos grafos. Um 
grafo é uma representação gráfica de um conjunto de nós conectados por arestas, que 
em conjunto formam uma rede. Para analisar o contexto que permeia o surgimento da 
internet e dessas novas ferramentas de comunicação, a teoria das redes pode ser 
interpretada como uma representação da junção de diversas pessoas que se unem em 
torno de algum interesse em comum, seja este afetivo ou profissional. Esse encontro é o 
que dá origem a ideia de rede. Neste sentido, podemos perceber que há a presença de 
redes em tudo ao nosso redor e que fazemos parte de várias delas. O conceito de rede se 
dá através de uma estrutura física desde os seus princípios conceituais e estruturais e 
que é definida por complexos de ligações entre nós, sejam estes de caráter matemático 
ou sociológicos. (Castells, 2003). 
A Internet é um objeto tecnológico inovador porque instituiu uma alteração no 
espaço e no tempo, Silva e Takeuti (2010) atestam que essas mudanças instituíram 
novas regras e novos espaços de contato social. As relações amorosas estariam sendo 
diretamente influenciadas e alteradas pela tecnologia da informação, visto que no 
passado só eram possíveis, em sua maioria, presencialmente. O ingresso das máquinas 
informacionais abriu caminhos que levam a novas formas de subjetivação e à 
reinvenção de vínculos afetivos, tais como os relacionamentos virtuais que podem ser 
considerados exemplos de uma renovação do comportamento causada pela interferência 
das novas tecnologias no cotidiano das pessoas. O argumento parte da ideia de que os 
homens têm a capacidade de adaptar-se aos feitos da tecnologia relacionando-se com ela 
de forma simbólica e cultural. (Silva e Takeuti, 2010). 15 
 
14 Ëuler trabalha na solução de seu enigma das pontes para acesso da cidade prussiana de Königsberg por 
volta do século XVIII. O problema consistia em atravessar todas as sete pontes que conectavam a cidade 
sem passar duas vezes pela mesma ponte. Ele demonstrou que isso não poderia ser feito através de um 
teorema em que tratava as pontes como arestas e os lugares que deveriam ser conectados como nós. 
(Recuero, 2004) 
15 Apud Arendt (1995) 
32 
 
O ciberespaço inovou ao estabelecer um espaço de sociabilidade que não apenas 
promoveu novas formas de relações sociais, mas também criou códigos e estruturas 
advindos de uma restruturação das formas conhecidas de sociabilidade. Como explicita 
Ben-Ze’ev (2004), 
Embora o ciberespaço envolva personalidades imaginárias, tipos de 
eventos e magnitude não vistos antes, realidades virtuais menos 
desenvolvidas sempre foram parte integral da vida humana. Todas as 
formas de arte, incluindo os inscrições rupestres feitas pelos nossos 
ancestrais da Idade da Pedra, envolvem algum tipo de realidade 
virtual. Nesse sentido, o ciberespaço não oferece uma dimensão 
totalmente nova à vida humana. O que é novo sobre o ciberespaço é a 
sua natureza interativa e essa interatividade tem feito é uma realidade 
psicológica como também uma realidade social. É um espaço aonde 
pessoas reais tem interações concretas com outras pessoas reais, 
enquanto é capaz de modelar,ou até mesmo criar, suas próprias 
personalidades e de outras pessoas também. A mudança de realidade 
imaginária passiva para a realidade virtual interativa do ciberespaço é 
mais radical do que a mudança de fotografias para filmes. 16 (Ben-
Ze’ev, 2004, p.2, tradução nossa). 
A interatividade da tecnologia criou artifícios que contribuem para que 
encontros relacionais e afetivos sejam mais frequentes. O contato ampliou-se graças a 
esta invenção que está se tornando uma extensão da vida dos indivíduos na maior parte 
das sociedades. Assim, a internet pode ser interpretada como uma nova zona de 
imunidade estabelecida no mundo moderno, pois possui a capacidade de gerar o contato 
ao mesmo tempo em que garante o isolamento. Visto que a tecnologia é um fenômeno 
que se institui pelo curso das ações humanas, então, não deve ser entendida fora dos 
significados culturais. Recuero (2004) alerta que as conexões nem sempre são feitas de 
modo aleatório e defende a necessidade da análise dessas motivações. O estudo sobre o 
teor das interações e laços sociais que são estabelecidos na rede se faz necessário porque 
não se trata apenas de uma simples acumulação de laços. A relação entre as pessoas não 
deve ser meramente reduzida a uma adição de amigos, como se não houvessem 
quaisquer custos emocionais envolvidos. Em cada interação online existe tanto contexto 
 
16 Tradução livre para: Although cyberspace involves imaginary characters and events of a kind and 
magnitude not seen before, less developed virtual realities have always been integral parts of human life. 
All forms of art, including cave drawings made by our Stone Age ancestors, involve some kind of virtual 
reality. In this sense, cyberspace does not offer a totally new dimension to human life. What is new about 
cyberspace is it interactive nature and this interactivity has made is a psychological reality as well a social 
reality. It is a space where real people have actual interactions with other real people, while being able to 
shape, or even create, their own and the other people’s personalities. The move from passive imaginary 
reality to the interactive virtual reality of cyberspace is much more radical than the move from 
photographs to movies. (Ben-Ze’ev, 2004, p.2) 
33 
 
quanto capital social envolvido. Silva e Takeuti (2010) se utilizam de Pierre Levy 
(1999) para corroborar com esse pensamento, visto que o autor argumenta não existir 
uma relação de dicotomia entre tecnologia e cultura, sendo uma a causa e a outra o 
efeito. Ao invés disso, é preciso levar em conta os atores humanos que agem incidindo 
significados sobre as técnicas; inventando-as, produzindo-as, utilizando-as e 
interpretando-as das mais diferentes maneiras. (Silva e Takeuti, 2010 apud Levy, 1999). 
Pode-se concluir que com o surgimento das redes de convívio social online não 
há mais necessidade dos círculos familiares restritos ou dos espaços públicos 
determinados para que a convivência se estabeleça entre as pessoas. Assim como o 
conflito, inerente ao ser humano, entre o desejo da aproximação e o do afastamento 
também parece se diluir diante das novas propostas interativas do ciberespaço. A partir 
destes pressupostos, ousa-se afirmar que em meio a toda esta expansão comunicacional, 
o fenômeno que se destaca dentro do ciberespaço é representado pelos chamados sites 
de relacionamento ou redes sociais da internet, representadas neste trabalho pela Rede 
Social Badoo. 
*** 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
Sobre o Badoo 
 
 Os sites de relacionamento na internet sempre orbitaram em torno de dois 
modelos, o mais popular deles é representado por empresas como Facebook ou Linked 
In que se apoiam na ideia da reunião de amigos e/ou pessoas conhecidas. O outro 
modelo é o dos sites de namoro como Match.com e E-harmony que buscam aproximar 
pessoas que não se conhecem, mas que procuram alguém para relacionamento 
duradouro, nesta situação as pessoas, normalmente, deixam a rede quando iniciam um 
relacionamento. Optou-se por escolher a Rede Social Badoo porque esta tem o seu 
sucesso atribuído justamente à descoberta de um ponto intermediário entre esses 
modelos de redes sociais da internet predominantes até agora. No Badoo é possível 
conhecer pessoas ao mesmo tempo em que o abandono da rede por causa disto não é 
comum. Segue a descrição disponível no site para responder “O que é o Badoo?”: 
O Badoo é um ótimo lugar para conhecer pessoas legais, seja perto de 
você ou ao redor do mundo. Está repleto de pessoas interessantes que 
querem conversar e talvez até encontrar-se para compartilhar 
experiências, interesses e amizades. Nós trazemos vida à Rede Social, 
para que você possa conversar, fazer novas amizades, compartilhar 
fotos e talvez até namorar. Você também pode contar às pessoas sobre 
você e seus interesses e jogar jogos divertidos para conhecer novas 
pessoas. Você nunca sabe quem você pode encontrar no Badoo. 
(Badoo, 2012). 17 
 O núcleo da proposta é facilitar a mediação de contatos entre pessoas que não se 
conhecem e servir de intermédio para relacionamentos em geral; amizades, sexo casual, 
relacionamentos estáveis, casamentos, cabe aos usuários decidir. A opção por 
entrevistar os usuários desta Rede Social se deu porque o site já se propõe a viabilizar 
todos os formatos de relacionamentos afetivos. Como confirma uma das entrevistadas 
abaixo: 
Eloize — é uma forma de conhecer pessoas, um meio... embora um 
pouco mais arriscado...mas por isso se torna interessante. Tem uns que 
querem só bater papo, outros querem algo sério, outros querem só se 
divertir, outros passar o tempo, outros estão em Natal a trabalho e 
entram aqui pra conhecer mulheres, pra ficar, aqui nesse site tem de 
tudo. Diversão, sexo, homens que querem casar, só precisamos 
 
17 Disponível em: https://badoo.com/help/?section=1 Acesso em: 04 set. 2013. 
35 
 
escolher e conhecer aqui é uma forma interessante de conhecer 
pessoas e pode da certo sim. 18 19 
O Badoo tem o formato atual desde 2008, sua sede oficial fica no Reino Unido e, 
como já dito, é uma Rede Social voltada para conhecer pessoas e expandir o círculo de 
amizades. A proposta da sua criação era fazer algo diferente em termos de redes sociais 
e ao mesmo tempo não concorrer diretamente com o Facebook. É sabido que muitas 
pessoas procuram mais do que amizade na rede, assim a inovação desse site consiste na 
promessa de auxiliar as pessoas que querem e/ou pensam em se relacionar afetivamente 
na internet. O intuito é fazer com que elas se conheçam e estendam os encontros 
também para fora do mundo virtual. 
A ideia atual surgiu quando o fundador, o russo Andrey Andreev, estava 
visitando São Petersburgo e viu um café onde havia uma fila enorme. Neste lugar, cada 
pessoa sentava em uma mesa com um telefone do lado e caso se interessasse por alguém 
podia discar o número que identificava cada mesa. A partir disto, ele percebeu que este 
poderia ser um formato interessante a ser transferido para a internet, o que deu bastante 
certo segundo a diretora de marketing da empresa no Brasil, 
“O Badoo ocupa um terceiro espaço entre redes sociais comuns e os 
sites de namoro. No Facebook, por exemplo, há um constrangimento 
em tentar adicionar gente nova. Já no site de namoro, após achar uma 
pessoa, o usuário tende a deixar o serviço”, explica Alice Bonasio, 
diretora de marketing da empresa no Brasil. (Simão, 2012). 
A rede Badoo explodiu em popularidade, os números só aumentam: em 04/09/13 
eram 190.367.86820 usuários, já em 18/01/14 eram 202.087.654. O site está atualmente 
disponível em 41 idiomas e possui usuários em 80 países. O serviço é gratuito até certo 
ponto, pois há recursos chamados superpoderes que são pagos porque proporcionam ao 
usuário premium maior destaque dentro da Rede. No entanto, o usuário gratuito dispõe 
de ferramentaso suficiente para interagir dentro da Rede. O site também permite que se 
crie uma conta ou utilize o login de outras redes sociais como o Facebook, Yahoo, 
 
18 Neste trabalho optou-se por modificar a linguagem das entrevistas para o uso correto da língua 
portuguesa, visto que estavam em linguagem de internet que possui muitas abreviações. Isto se deu na 
tentativa de tornar as mensagens mais claras para o leitor. Todavia, nenhuma palavra foi acrescentada ou 
retirada em nenhuma das entrevistas. 
19 Entrevista realizada no Badoo em 27 nov. 2013. 
20 Esse número se altera diariamente. Os valores citados correspondem aos dias 04 set. 2013 e 18 jan. 14. 
36 
 
Google21, etc. Após o cadastro, pode-se interagir com outros usuários através de um 
mensageiro instantâneo da própria rede e há várias funções destinadas a aproximar 
afetivamente seus usuários. Algumas destas ferramentas são particularmente 
interessantes porque induzem a interação entre os usuários, por meio de uma espécie de 
anúncio dos perfis na caixa de entrada de mensagens dos usuários com interesses 
semelhantes. 
A escolha por este site de relacionamentos se deu por entendê-lo como um 
dispositivo para possíveis encontros amorosos, o motivo para tal se dá pelo caráter mais 
aberto que a plataforma se propõe. Ao se cadastrar no Badoo supõe-se que o intuito seja 
o de conhecer e se conectar a novas pessoas. Desta maneira, a escolha por esse campo 
empírico foi proposital, já que se trata de uma pesquisa sobre relacionamentos afetivos 
com formatos mais fluídos e abertos através da internet. 
 
*** 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 Facebook, Yahoo e Google são empresas que possuem Redes Sociais na internet. 
37 
 
Sobre a pesquisa empírica 
 
A ação inicial para a empiria da pesquisa aconteceu em meados do mês de Maio 
de 2012 e deu-se através da criação do perfil “Pesquisadora” na Rede Social Badoo, a 
fim de viabilizar a realização das entrevistas presentes nesta dissertação. 
Figura 1: Perfil da pesquisa no Badoo 
 
Os primeiros contatos com os usuários da rede foram estabelecidos através das 
ferramentas técnicas de aproximação disponibilizadas pelo próprio site: visitas a perfis e 
conversas por meio do mensageiro instantâneo, que se caracteriza como o principal 
recurso da rede para entrar em contato com os participantes do Badoo. Esta foi a 
principal ferramenta utilizada para realizar as entrevistas qualitativas on-line com os 
perfis dos usuários do Badoo e apreender quais são as suas intenções, expectativas e 
opiniões em relação aos relacionamentos amorosos contemporâneos. O site foi utilizado 
como recorte empírico, a fim de entender questões sociológicas contemporâneas mais 
abrangentes que serão expostas mais adiante. 
 No perfil denominado “pesquisadora” estava explícita a intenção da pesquisa 
sociológica para os usuários, o que os proporcionava a opção de aceitar ou não 
participar das entrevistas. No geral, as pessoas que se mostravam solícitas em participar 
e responder as questões, algumas chegaram ao ponto de realizar confidências, de 
empreender investidas de paquera para com a pesquisadora, em resumo: de ir além do 
38 
 
esperado. Mas também houve aquelas que se mantiveram em silêncio e preferiram não 
se pronunciar, as que se negaram a participar ou simplesmente que pararam de 
responder no meio da entrevista. Esta atitude não foi surpreendente, já que essa é umas 
das características à qual se credita o sucesso da internet, não há necessidade de dar 
desculpas, nem de obedecer às regras sociais quando se pode simplesmente ficar off-
line. 
Segundo Gil (2009) no que diz respeito à coleta de dados, a entrevista é bastante 
adequada para a obtenção de informações no âmbito das Ciências Sociais, porque ela 
vai além da técnica e se apresenta como uma forma em si de interação social. “Toda 
pesquisa com entrevistas é um processo social, uma interação ou um empreendimento 
cooperativo, em que as palavras são o meio principal de troca.” (Bauer e Gaskell, 2002, 
p.73). O uso de entrevistas se mostra bastante adequada para a obtenção de informações 
acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, 
fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas 
precedentes. “A entrevista qualitativa, pois, fornece os dados básicos para o 
desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação.” 
(Bauer e Gaskell, 2002, p. 65). 
As entrevistas aqui realizadas podem ser descritas como um misto de duas 
técnicas: entrevista por pautas e entrevista semiestruturada. É necessário deixar isto 
claro, visto que nem todos os entrevistados foram aplicados na mesma ordem. Pois, 
apesar de haver um questionário semiestruturado a priori, as perguntas foram sendo 
colocadas de acordo com o desenvolvimento das entrevistas, o que se assemelha mais 
com a técnica das entrevistas por pauta. “A entrevista por pautas apresenta certo grau de 
estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador 
vai explorando ao longo de seu curso.” (Gil, 2009, p.112). Todavia, apesar de 
selecionadas segundo os assuntos sobre os quais o entrevistado mais demonstrava 
interesse em se aprofundar, todas as questões postas nas entrevistas pertenciam ao 
questionário inicial, disponível nos Anexos. Seguindo este raciocínio Bauer e Gaskell 
(2002) explicam: 
 
39 
 
A pesquisa qualitativa se refere a entrevistas do tipo semi-estruturado 
com um único respondente (a entrevista em profundidade) ou com um 
grupo de respondentes (o grupo focal). Essas formas de entrevista 
qualitativa podem ser distinguidas, de um lado, da entrevista de 
levantamento fortemente estruturada, em que é feita uma série de 
questões predeterminadas; e de outro lado, distingue-se da 
conversação continuada menos estruturada da observação participante, 
ou etnografia, onde a ênfase é mais absorver o conhecimento local e a 
cultura por um período de tempo mais longo do que fazer perguntas 
dentro de um período relativamente limitado. (Bauer e Gaskell, 2002, 
p.64). 
O critério de seleção dos participantes de início foi totalmente aleatório, na 
verdade, em muitas das entrevistas foram os participantes que realizaram a abordagem; 
esta é a principal característica pela qual eu escolhi o Badoo como campo empírico, lá 
as pessoas procuram umas as outras, puxam assunto e interagem com desconhecidos. 
Segundo Bauer e Gaskell (2002), na pesquisa qualitativa o termo “seleção” é 
empregado explicitamente em vez de “amostragem” porque este termo carrega 
conotações dos levantamentos e pesquisa de opinião, a partir de uma amostra estatística 
sistemática da população, os resultados podem ser generalizados dentro de limites 
específicos de confiabilidade. Na pesquisa qualitativa, a seleção não pode seguir os 
procedimentos da pesquisa quantitativa porque isso possibilitaria relatórios de pesquisa 
qualitativa com detalhes numéricos ou quantificadores vagos a respeito da distribuição 
de opiniões ou experiências entre os entrevistados; e seria um erro interpretar estes 
números como se eles fossem pesar na interpretação e na legítima generalização para 
uma população maior. O que deve ser levado em conta é que na verdade a finalidade 
real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário disto, sua 
finalidade é explorar o espectro de opiniões e as diferentes representações sobre o 
assunto em questão, em síntese seu objetivo é apresentar uma amostra do espectro dos 
pontos de vista. (Bauer e Gaskell, 2002). 
Diante deste entendimento, gostaria de explicitar como se deu o 
desenvolvimento da pesquisa em aspectos mais gerais. As entrevistas foram realizadas 
no Badoo a partir dos pressupostos mencionados acima e para o desenvolvimento do 
perfil fizuso consciente da minha imagem, dos meus interesses e do próprio fato do 
perfil ser destinado a uma pesquisa, ou seja, o perfil foi pensado exatamente no sentido 
de despertar curiosidade nos usuários. A principal justificativa para isso se dá devido ao 
sistema do Badoo só permitir que os usuários gratuitos entrem em contato com um 
40 
 
número limitado de pessoas por dia, assim havia a necessidade de que as pessoas 
também entrassem em contato com o meu perfil, já que a média de resposta à minhas 
investidas girava em torno de apenas 10% por dia. No entanto, após um tempo percebi 
que essa estratégia atingia em sua maioria os usuários masculinos, a partir disto, optei 
pelo critério de entrar em contato com a maior quantidade de mulheres possível a fim de 
obter equilíbrio entre os gêneros. O número de entrevistas foi dividido igualmente entre 
a perspectiva de homens e mulheres, distribuídos aleatoriamente em uma faixa-etária 
que corresponde a participantes entre 18 e 32 anos de idade, residentes no Brasil e 
representantes dos estados de Alagoas, Pernambuco, Rio de janeiro, Rio Grande do 
Norte e São Paulo. A descrição da Rede Social Badoo e as entrevistas demonstradas 
neste estudo foram realizadas no período que compete aos meses entre Junho de 2013 e 
Janeiro de 2014. 
Nas investigações qualitativas, diferentemente da amostra do levantamento 
aonde a amostra probabilística pode ser aplicada na maioria dos casos, não existe um 
método para selecionar os entrevistados. Devido ao fato de o número de entrevistados 
ser necessariamente pequeno, o pesquisador deve usar sua imaginação social científica 
para montar a seleção dos respondentes e decisão sobre a quantidade de entrevistados 
ideal vai depender da natureza do tópico estudado. Contudo, uma chave para a 
resolução dessa questão pode ser o princípio de que permanecendo todas as coisas 
iguais, mais entrevistas não melhoram necessariamente a qualidade do estudo ou levam 
a uma compreensão mais detalhada. As razões para esta afirmação estão baseadas na 
ideia de que por mais que as experiências possam parecer únicas ao indivíduo, essas 
experiências são resultado de processos sociais e as representações de um tema de 
interesse comum, ou de pessoas em um meio social específico são, em parte, 
compartilhadas. Este fato, a certa altura das entrevistas, eventualmente pode gerar no 
pesquisador a compreensão de que não aparecerão novas surpresas ou percepções. Este 
é o chamado ponto de saturação do sentido que concerne ao pesquisador à percepção da 
hora certa de parar. Outra questão é que entrevistas em profundidade tendem a ser mais 
longas; se cada entrevista possuir uma média entre 10 e 15 páginas, a certa altura o 
pesquisador já possuirá corpus de textos suficientes para dar andamento à avaliação do 
fenômeno estudado. (Bauer e Gaskell, 2002). Baseado neste princípio, este trabalho 
contém trechos de 16 entrevistas qualitativas em profundidade sobre as expectativas 
41 
 
para os relacionamentos amorosos na contemporaneidade, realizadas on-line através do 
mensageiro instantâneo da Rede Social Badoo. 
NOME IDADE CIDADE 
Samara 23 Recife/PE 
Nataly 18 Maceió/AL 
Eloize 21 Pium/RN 
Leandro 29 Natal/RN 
Thiago 22 Villar/RJ 
Roberta 29 Natal/RN 
Alice 18 Natal/RN 
Rafaela 22 Ribeirão Pires/SP 
Elisângela 32 Guarulhos/SP 
Liliane 19 Natal/RN 
Parte I: Nomes reais 
Jéssica 22 Natal/RN 
Roberto 20 Natal/RN 
Mikaela 26 Natal/RN 
Anderson 30 Natal/RN 
Pedro 29 Natal/RN 
Davi 24 Natal/RN 
Parte II: Pseudônimos 
Tabela 1: Perfis participantes da pesquisa22 
 As entrevistas foram baseadas metodologicamente no conceito explicitado por 
Recuero (2012), ao afirmar que as práticas de conversação na mediação do computador, 
comumente chamadas na literatura de Comunicação Mediada por Computador (CMC), 
são relevantes por terem se tornado um produto da apropriação social, geradas pelas 
ressignificações que são construídas pelos atores sociais ao darem sentido a essas 
ferramentas do cotidiano. A CMC diz respeito à área de estudo dos processos de 
comunicação humanos realizados através da mediação das tecnologias digitais e é 
caracterizada também por ser um motor de relações sociais, que não apenas estrutura 
essas relações, mas que proporciona um ambiente para que elas ocorram. “A 
Comunicação Mediada por Computadores é um conceito amplo, aplicado à capacidade 
de proporcionar trocas entre dois interagentes via computadores”. (Recuero, 2012, 
p.24). Este trabalho se baseia no conceito de que é na CMC que as relações sociais são 
forjadas pelas trocas de informação entre os indivíduos e é principalmente através das 
 
22 Essa tabela corresponde aos participantes que possuem trechos de suas entrevistas presentes nesta 
dissertação. Os quais estão apresentados da seguinte maneira: 
Parte I: entrevistados que permitiram o uso dos seus nomes reais. 
Parte II: entrevistados que não permitiram o uso dos seus nomes reais e que tiveram pseudônimos 
atribuídos a cada um deles. 
42 
 
conversações que essas práticas são estruturadas e por este motivo se deu a escolha de 
realizar a pesquisa através de entrevistas qualitativas on-line com perfis da Rede Social 
Badoo. 
*** 
Sobre Perfis 
 
 
Figura 2: Perfil de usuário 
 
 
As entrevistas qualitativas on-line foram pensadas, realizadas e analisadas a 
partir do pressuposto de que estou trabalhando com perfis. A interpretação dos atores da 
pesquisa desse modo baseia-se na ideia de que a representação da presença dos 
interagentes é um elemento característico da mediação por computador. Recuero (2012) 
afirma que no ciberespaço, os indivíduos não são conhecidos em sua forma imediata, 
por isso se torna necessário que a presença seja construída por meio de atos 
performáticos e identitários, tais como a construção de representações do eu, que se dão 
através de elementos capazes de representar o indivíduo no ciberespaço, ainda que este 
43 
 
não se encontre sempre conectado. Tal representação pode ser constituída por um perfil 
em uma Rede Social, um nickname23 em uma sala de chat, um blog pessoal, etc. Ainda 
segundo Recuero (2012), uma explicação com mais detalhes sobre a importância dos 
perfis: 
Essas ‘representações do self’ têm características semelhantes àquelas 
explicitadas por Goffman (1967) em sua construção: elas referenciam 
indivíduos que interagem através da CMC e são cuidadosamente 
montadas por espaços pessoalizados, que trazem impressões 
construídas para dar uma ou outra impressão para a possível audiência 
através de pequenas pistas, através de performances de identidade. 
Trata-se de uma reinscrição de elementos que são característicos dos 
indivíduos no ciberespaço. (Recuero, 2012, p.59). 
 Os perfis podem ser identificados como formas de construir performances, pois 
possibilitam à audiência sinais sobre quem são os interagentes com quem se mantêm a 
Conversa Mediada por Computador (CMC). No caso do site analisado, as 
representações se dão através do preenchimento de um perfil semiestruturado pelas 
ferramentas do sistema, mas que permite a personalização e individualização; esse perfil 
ainda que esteja no espaço virtual se torna fundamental para a conversação e interação 
no ciberespaço ao oferecer informações essenciais sobre os interagentes envolvidos e os 
contextos criados. Outro ponto importante a ser esclarecido é o de que a criação de um 
perfil pode não ser fiel à representação imediata do indivíduo no mundo off-line; há a 
possibilidade de inventar personagens na internet, ainda que as redes sociais da internet 
tenham criado mecanismos de verificação de perfis, como a interligação de várias redes 
sociais e a checagem de dados entre elas, ainda assim faz-se necessário esclarecer este 
aspecto. Na tabela a seguir, exemplos de relatos dos entrevistados sobre suas descrições 
no perfil do Badoo: 
 
— Fale um pouco

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