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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL MARLENE ALVES DANTAS A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: UMA ANÁLISE DAS BOLSAS DE PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN NATAL/RN JULHO/2015 MARLENE ALVES DANTAS A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: UMA ANÁLISE DAS BOLSAS DE PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª Drª Carla Montefusco de Oliveira NATAL /RN JULHO/2015 Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Dantas, Marlene Alves. A assistência estudantil: uma análise das bolsas de permanência na Universidade Federal do Rio Grande Do Norte - UFRN / Marlene Alves Dantas. - Natal, RN, 2015. 94f. Orientadora: Profa. Dra. Carla Montefusco de Oliveira. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço social. 1. Serviço social – Monografia. 2. Assistência estudantil - UFRN – Monografia. 3. Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) - UFRN – Monografia. 4. Programa de permanência estudantil – Monografia. I. Oliveira, Carla Montefusco de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA CDU 364+787.7 MARLENE ALVES DANTAS FOLHA DE APROVAÇÃO A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: UMA ANÁLISE DAS BOLSAS DE PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social, no curso de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Data da defesa:___/___/____ BANCA EXAMINADORA: _____________________________________________________ Profª. Drª. CARLA MONTEFUSCO DE OLIVEIRA (Orientadora) ______________________________________________________ Msc. BRUNILLA THAÍS QUEIROZ DE MELO (Membro externo – CAPAP/PROAE/UFRN) _________________________________________________________ Profª. Drª. ILKA DE LIMA SOUZA (Membro interno – DESSO/UFRN) Dedico este trabalho, primeiramente, a minha mãe, em razão do amor incondicional que existe entre nós, sempre me apoiando e incentivando e, em segundo lugar, dedico a meus filhos: Giulliano, Jaerton Júnior, e Vanessa Milena, por todo o apoio, carinho e compreensão em todo processo do desenvolvimento desta monografia. AGRADECIMENTOS Ao término desse Trabalho, agradeço primeiramente a Deus, por permitir que eu chegasse até esse momento com saúde e perseverança para que eu pudesse finalizar esta monografia. Dando-me força e coragem para superar os obstáculos e jamais desistir do meu objetivo. Obrigada senhor! Desde que entrei em 2011.2 foram anos de profunda aprendizagem e crescimento, crescimento esse que não se limitou somente a condição acadêmica, mas principalmente pessoal. Ampliei muitos conhecimentos, com muita dedicação e amor. Aprendi um pouco de tudo, mas, para tanto foi necessário saber driblar os obstáculos que apareceram pelo caminho, e a cada desafio que vinha pela frente eu interpretei como um estímulo para ultrapassar tais dificuldades, os quais foram superados pela finalização e entrega deste Trabalho. Agradeço a toda minha família, meus filhos, minha mãe, minhas irmãs e irmãos, por todo o apoio e força recebidos durante a realização desse trabalho, apoio importantíssimo para que continuasse sempre instigada, apesar do cansaço e das noites mal dormidas. Obrigada família, amo todos vocês! Agradeço aos meus filhos: Giulliano, Jaerton Júnior e Vanessa Milena, confesso que a presença diária de vocês, meus filhos, foi imprescindível para que eu conseguisse essa conquista, sempre me apoiando e confortando nos momentos mais difíceis, para que eu não perdesse o foco e a esperança. Obrigada filhos, amo vocês! Um agradecimento em especial vai para a minha filha Vanessa Milena, que tirou parte do seu tempo para me ajudar a fazer o Abstract da monografia, apesar de suas atividades diárias. Obrigada filha! Agradeço ao corpo docente do DESSO-Departamento de Serviço Social da UFRN, o qual através dos seus ensinamentos me possibilitou que eu tivesse todo o aparato para eu chegar a desenvolver esse trabalho de forma coerente, concisa e organizada. Destaco principalmente as/os docentes Andréa, Ilka, Eliana Andrade, Josivânia, Rita, Fernando, Antoinette, Mirian, Edla e Mônica. Obrigada professoras (res)! Agradeço também a todos da Coordenação do curso, principalmente a Karla Matos e Profª Ilka, que tantas vezes tirou minhas dúvidas em relação às diversas atividades que me envolvi e desenvolvi. Obrigada Karlinha e Ilka! Agradeço a minha querida amiga, Carla Priscila, da secretaria do DESSO, com quem convivi por quase dois anos, quando fui bolsista, e pude conhecer essa pessoa amiga, humana e compreensiva. Obrigada Priscila! Agradeço as minhas queridas amigas de sala, “o meu grupo de atividades acadêmicas”: Jaqueline, Larissa, Patrícia, Eveliny, Samara, Ludmilla e Farah, com quem, seja nos momentos bons assim como nos ruins, estavam sempre apoiando e incentivando umas as outras, de forma carinhosa e compreensiva. Além disso, compartilhamos experiências e conhecimentos. Amigas, cada uma de vocês, com suas peculiaridades, fizeram a diferença nesse processo do trabalho! Obrigada amigas! Como também quero agradecer o carinho e a amizade das minhas amigas Gleyca e Layssa, por quem tenho muito afeto e gratidão. Vocês, sempre a me apoiar e incentivar em tudo que faço! Obrigada amigas! Um Agradecimento especial a minha supervisora de campo, a assistente social da CAPAP-PROAE Brunilla Thaís, com quem, no desenvolvimento deste trabalho, em todas as vezes que a procurei para coletar alguns dados no processo da pesquisa para a monografia, sempre se mostrou disposta a me apoiar, de forma acessível e paciente. Sua contribuição, com direcionamentos acertados e necessários foram fundamentais para que eu tivesse propriedade e me aprofundasse melhor na temática em questão, me auxiliando sempre com respeito, educação e consideração. Como também agradeço a disponibilidade e a colaboração de todos os profissionais da CAPAP/PROAE/UFRN, estes, sempre dispostos a ajudarem quando foram solicitados. Obrigada Brunilla! Um agradecimento especial a minha orientadora Profª Drª Carla Montefusco, a quem sou grata por ter aceitado ser minha orientadora e acreditado no meu trabalho. Com sabedoria, paciência e compreensão, soube me guiar de forma que eu não perdesse o foco em questão. Sempre solícita e acessível nos nossos encontros, passando seus conhecimentos de uma forma clara mostrando leveza nas discussões apesar das leituras densas. Orientando-me e indicando o melhor caminho para que eu conseguisse com plenitude o desenvolvimento do meu objetivo para finalizar este Trabalho. Obrigada Profª Carla! Agradeço também aos atores envolvidos na pesquisa de campo, os/as bolsistas das duas modalidades de bolsas Permanência, a do MEC e a da UFRN. Eles, ao proporcionar-me a realização das entrevistas, contribuíram com o fornecimento de dados de fundamental importância para o desenvolvimento deste trabalho. Obrigada bolsistas! E, por fim agradeço também, a todas as outras pessoas que, direta e indiretamente, de alguma forma me apoiaram. A todos meu muito OBRIGADA! “A classe dominante tem usado a política de assistência social para se fortalecer politicamente, criando o mito social da inclusão, da cidadania e da redução das desigualdades a fim de despolitizar e obscurecer a raiz da questão social”. Cislaghi e Silva (2012) RESUMO A finalidade do presente trabalho é fazer uma análise acerca da Assistência Estudantil na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Assim, o objetivo geral é analisar a visão dos discentes assistidos pelos Programas de Assistência Estudantil da UFRN no que se refere ao acesso e à permanência dos mesmos no ensino superior. Para tanto, desenvolvemos pesquisa qualitativa na qual utilizamos como procedimentos metodológicos a investigação bibliográfica e pesquisa documental, além da pesquisa de campo a partir de entrevistas semi- estruturadas realizada na UFRN com seis discentes inseridos nos Programas de Permanência desta instituição, assim distribuídos: dois bolsistas da bolsa Permanência de apoio técnico, quatro bolsistas da bolsa Permanência do MEC, sendo dois alunos da comunidade quilombola e dois alunos do curso de medicina. Buscou-se abordar alguns pontos sobre as mudanças, os desafios e as perspectivas enfrentadas na educação e no ensino superior no Brasil até a atualidade, com enfoque no surgimento e expansão das Universidades e do ensino no Brasil, as políticas de educação e a Política de Assistência Estudantil no âmbito do Brasil. A análise dos dados foi feita a partir da apreciação do conteúdo das entrevistas. No resultado da pesquisa, evidenciou-se diante da realidade relatada, alguns limites e dificuldades que os estudantes favorecidos destas bolsas perpassaram no contexto desta universidade para permanecerem e concluírem sua graduação de uma forma menos árdua. Vimos também que diante da expansão das universidades e do ensino superior através do incentivo do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), foi necessário criar políticas de acessos e permanência, para abarcar com a demanda produzida pela entrada de novos ingressantes nas IFES, dentre elas o Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, a partir destas, tendo em vista que grande parte dos novos estudantes não tem condições de suprir com as despesas surgidas no decorrer do curso universitário, foram criados os Programas de Assistência estudantil que são executados na UFRN, e em todas as IFES do Brasil. Na realidade específica da UFRN, foram observados ainda alguns elementos que associam a Política de Assistência Estudantil como sendo uma politica de caráter seletiva e focalizada. Diante disso, percebeu-se que os estudantes beneficiários da assistência estudantil passam por diversas dificuldades, desde o acesso até a concessão dos benefícios, assim como algumas limitações que não são superados mesmo sendo contemplados com as bolsas/auxílios. Palavras-chave: UFRN. Programas de Permanência. Assistência Estudantil. ABSTRACT This study aims analyze about Student Assistance program at Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN), Therefore, the general purpose is analyze the visions of students assisted by the Student Assistance programs regarding the access and their permanence in the higher education. To do so, we developed a qualitative research where bibliographical and documental research were made as methodology tools, as well as field research from semi- structured interviews performed at UFRN with 6 students inserted into Permanence programs offered by the university, distributed as follows: two Permanence program´s scholarship students of technical support, four Permanence program´s scholarship students of Ministry of Education (MEC), of which two of them from quilombola community and the other from Medicine program. We tried to discuss a few topics about changes, challenges and expectations faced in education and in universities in Brazil until nowadays, focusing on appearance and expansion of both Universities and education in Brazil, education policies and the Student Assistance policies in Brazil. Data analysis was made from content assessment of the interviews. In results from research, from facing the reality described, it was evidenced a few limitations and difficulties which assisted students went through in order to remain at the university and graduate in a less arduous way. We also have seen that in view of expansion of both universities and higher education by the Restructuring and Expansion of Federal Universities Support Program (REUNI), it was necessary to create access and permanence policies to deal with the high demand of newcomers at the Federal Institutions of Higher Education (IFES), which resulted in the National Program of Student Assistance (PNAES). As a result of this program, since the majority of students do not have financial conditions to pay for costs along graduation, Student Assistance programs were created and are performed at UFRN and all IFES in Brazil. Regarding UFRN reality, it was seen a few elements that associate the Assistance Student Policy as having a selective and focused character. Having done this, we realized that assisted students got through difficulties, not only with the access but also with the concession of benefits, besides a few limitations which are not overcome even when they are being assisted with these aids. Keywords: UFRN. Permanence Programs. Student Assistance. LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Principais Programas de Assistência Estudantil Desenvolvidos pela CAPAP/PROAE em 2014.........................................................................................................51 Quadro 2 – Distribuição Interna 2014 dos Recursos do Tesouro Nacional e Outras Despesas Correntes da Assistência Estudantil..........................................................................................63 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Quantitativo dos Atendimentos por Atividade – CAPAP/2014.........................55 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANEP - Associação Nacional de Empresa de Pesquisa ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento BM - Banco Mundial CAPAP - Coordenadoria de Apoio Pedagógico e Ações de Permanência CF-88 – Constituição Federal de 1988 CAE - Comissão de Assuntos Estudantis CONSUNI - Conselho Universitário CONSEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão CONSAD - Conselho de Administração CONCURA - Conselho de Curadores CARU - Conselho Administrativo das Residências Universitárias CORU - Conselho do Restaurante Universitário CERES - Centros de Ensino Superior do Seridó DESSO – Departamento de Serviço Social DCEs- Diretórios Centrais Estudantis DEAE - Departamento de Assistência ao Estudante EOPs – Estudantes de Origem Popular EAJ - Escola Agrícola de Jundiaí EAD – Ensino a Distância FACISA - Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi FMI - Fundo Monetário Internacional FONAPRACE - Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis IFES – Instituição Federal de Ensino Superior IES – Instituição de Ensino SuperiorIRA – Índice de Rendimento Acadêmico INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação e Cultura ME – Movimento Estudantil ONU – Organização das Nações Unidas PROAE - Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis PNAE - Plano Nacional de Assistência Estudantil PNAES - Programa Nacional de Assistência Estudantil PNE - Plano Nacional de Educação PROUNI - Programa Universidade para Todos PRONASEC - Programa de Ações Sócio-educativas e Culturais para o meio rural PRODASEC - Programa de Ações Sócio-educativas e Culturais para as populações carentes urbanas PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional PROGRAD – Pró- Reitoria de Graduação PEC-G - Programa de Estudantes-Convênio de Graduação PROMISAES - Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior PROAD - Pró-Reitoria de Administração PROAES/UFPE - Pró-Reitoria para Assuntos Estudantis PUC - Pontifícia Universidade Católica PRH - Pró-Reitoria de Recursos Humanos PPI - Projeto Pedagógico Institucional REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais SAE - Secretaria de Assuntos Estudantis SIGAA - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas SIPAC – Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos. SIGRH – Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos SISU - Sistema de Seleção Unificada SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior TCC – Trabalho de Conclusão de Curso UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFG – Universidade Federal de Goiás UFAL – Universidade Federal de Alagoas UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UNE - União Nacional dos Estudantes UEEs - Uniões Estaduais dos Estudantes SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................16 2 EDUCAÇÃO E ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: MUDANÇAS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS....................................................................................................................21 2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO SURGIMENTO E EXPANSÃO DAS UNIVERSIDADES E DO ENSINO NO BRASIL....................................................................................................................................21 2.2 AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO E A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ÂMBITO DO BRASIL....................................................................................................................................29 3 OS PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: A REALIDADE DA UFRN........................................................................................................................................42 3.1 CONTEXTO HISTÓRICO E ATUAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN........................................................................................................................................42 3.2 CARACTERIZAÇÃO TÉCNICA DA PROAE-CAPAP: OS PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DESENVOLVIDOS NA CAPAP......................................................................................................................................47 3.3 A VISÃO DOS ALUNOS ACERCA DOS PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E DAS BOLSAS PERMANÊNCIA DAS QUAIS ELES ESTÃO INSERIDOS. ............................................................................................................................69 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................78 REFERÊNCIAS......................................................................................................................83 APÊNDICES............................................................................................................................92 16 1 INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresenta uma discussão acerca da Assistência Estudantil na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sobretudo no que concerne as Bolsas Permanência, como forma de possibilitar as condições de permanência e conclusão do curso, na vida acadêmica de graduandos de baixa renda familiar. As razões da escolha por esta temática se justifica pela forma como a bolsa Permanência de apoio técnico e administrativo é operacionalizada na UFRN indo de encontro ao que versa a Política Nacional de Assistência Estudantil (PNAE), que de acordo com seus princípios, trata que deve haver igualdade de condições para o acesso a permanência e a conclusão de curso nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), com objetivos da promoção ao acesso, à permanência e a conclusão do curso. Nesse sentido, está dentro de uma perspectiva da inclusão social e democratização do ensino, para que ocorra viabilização na igualdade de oportunidades a tais estudantes das IFES, a partir do ponto de vista do direito social assegurado pela Carta Magna. O objetivo, então, das bolsas, é contribuir no avanço para a eficiência e a eficácia do sistema universitário evitando a propagação da retenção e a evasão de tais estudantes, além de oportunizar que eles alcancem meios necessários ao pleno desempenho acadêmico (PNAE-2010). Então, a principal aproximação com essa temática tem fundamento no fato de ter trabalhado quase dois anos, no período de 2012 a 2013, como bolsista de apoio técnico administrativo no Departamento de Serviço Social (DESSO), e juntamente com outras colegas bolsistas, vivenciar no dia a dia a importância desse tipo de auxílio para nós enquanto discentes de classe popular. Nesse contexto, percebemos quão difícil seria se nós não tivéssemos esse tipo de bolsa para podermos permanecer na instituição e termos condições de avançar e concluir a graduação. Araújo (2003) debate a Assistência estudantil como sendo de grande relevância no Brasil, por nosso país apresentar taxas enormes de desigualdade social, fato que se apresenta dentro da própria universidade, onde um demasiado número de estudantes que superaram a difícil barreira do vestibular, ao entrar em situação desfavorável frente aos que vieram de uma classe melhor e oriundos de escolas privadas, sem ter as mínimas condições financeiras de começar, e se manter nos cursos optados (ARAÚJO, 2003, p. 99). Portanto entendemos que a política de assistência estudantil se configura como uma política que deve contribuir na efetivação do direito à educação superior para qualquer 17 cidadão que não tenha condições financeiras para custeá-la sozinho, o que sem ela ocasionaria dificuldades na continuidade no curso. Então, essa política se faz necessária não só pelo acesso, mas também como uma forma de permanência do estudante para que o mesmo tenha êxito em sua graduação. Uma vez que o discente ao adquirir esse direito ao acesso à assistência estudantil, essa contribuição será de grande valia para que o mesmo alcance seus objetivos que é a sua formação com qualidade, e assim se tornar um profissional capaz de atuar no mercado de trabalho e construir um novo padrão de vida. A assistência oferecida aos estudantes de classe popular nas instituições públicas federais tem como objetivo fornecer os recursos mínimos para a permanência de tais alunos, sobretudo no que se refere aos programas de apoio que ofereçam moradia, alimentação, transporte e apoio financeiro, de forma que tais ações sejam direcionadas para uma política que amplie a discussão sobre a questão do acesso e da permanência dos discentes no ensino superior de forma democrática. Foi somente em 2007, por meio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), que foi aprovadopelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) o Programa Nacional de Assistência Estudantil 1 (PNAES). Foi também a partir desse ano que o governo federal começou a repassar verbas específicas, para a assistência estudantil, de todas as universidades federais, ocorrendo certa melhora em relação ao acesso e a permanência dos estudantes nas IFES. Sendo assim é por meio do PNAES - 2010, que o governo financia as universidades federais para o atendimento dos discentes com necessidades diversas de se manter em relação à moradia, alimentação, transporte, bolsa de apoio técnico, atenção à saúde, dentre outros. Este programa apoia especialmente os alunos advindos da rede pública de educação básica ou com baixa renda familiar, que estejam matriculados em cursos de graduação presencial nas Instituições Federal de Ensino Superior (IFES). Quando esse repasse de verbas começou a funcionar para a assistência estudantil, tal medida de certa forma representou a redução das desigualdades sociais na permanência de estudantes de baixa renda, vinculados aos cursos de graduação presenciais, na educação 1 Embora, o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) tenha sido aprovado e instituído pelo MEC em 2007, através da portaria normativa Nº 39, de 12 de dezembro de 2007, ele só foi implementado em 2010, através do Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010 nas IFES. Grifos da autora. 18 superior pública federal, permitindo-lhes a expressão do seu potencial na sua trajetória acadêmica. Assim, como dito anteriormente, pelo fato de estar inserida nesse universo e passar pelas mesmas angústias, dificuldades e necessidades que muitos colegas passam, vemos a relevância desses programas assistenciais para alunos de classe popular, os quais, não teriam condições, nem possibilidades, de levar adiante seu curso se não tivesse tal apoio. Apoio esse extremamente fundamental e determinante para a permanência de milhares de discentes da graduação. Atualmente, conforme a Pró- reitoria de Administração (PROAD/UFRN), a UFRN oferece em torno de mais de 2.950 só de bolsas de apoio técnico. Quanto ao quantitativo de todas as bolsas/auxílios concedido na UFRN, de janeiro a dezembro do ano de 2014, totalizou-se em 6.624 bolsistas de diversas modalidades, somando-se o valor total de R$ 22.055.430,00. (Seção de Bolsas da Pró- Reitoria de Administração/PROAD/UFRN, 2015). Foi por vivenciar e compartilhar de relatos de outros bolsistas relacionados às suas dificuldades e por ter uma aproximação muito forte com essa questão, que me motivou a pretensão de, no período do estágio curricular durante o ano de 2014, escolher estagiar na assistência estudantil, mais precisamente na Coordenadoria de Apoio Pedagógico e Ações de Permanência (CAPAP- PROAE-UFRN), para poder ter mais conhecimentos e saber um pouco mais sobre as bolsas de assistência estudantil, assim como as formas e exigências para tais bolsas. Além disso, pesou nessa decisão, o fato de julgar de extrema importância os programas estudantis como suporte para que tais estudantes consigam o desenvolvimento de suas atividades com mais tranquilidade, enquanto não conseguem sua independência financeira. Logo, através da experiência no campo de estágio, visualizamos também, o outro lado, ou seja, como os/as assistentes sociais atuam nesse campo, enquanto mediadores dessa expressão da questão social. Assim sendo, no período do Estágio curricular, foi possibilitada a oportunidade de conhecer e observar as diversas modalidades de bolsas, auxílios e suas especificidades, como também apropriar dos autores e legislações da temática abordada, tanto no âmbito nacional como da UFRN. Com o decorrer do estágio, foi necessário aprofundar mais sobre os diversos Programas de Assistência Estudantil. Assim sendo, pela necessidade e motivação diante de tal questão foi imprescindível e instigante saber mais sobre a bolsa permanência de apoio técnico e administrativo da UFRN e a bolsa permanência do MEC tendo em vista que ambas perante as legislações em vigor são 19 destinadas a alunos de baixa renda como forma de se manterem na instituição. Mas, há uma contradição diante dessa primeira bolsa, tendo em vista que na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) ela se configura, na sua ampla maioria, como bolsa trabalho, porque se exige como contrapartida que o aluno trabalhe para poder recebê-la. Para melhor compreender as questões que envolvem a temática das bolsas de permanência o presente trabalho teve como objetivo central, analisar a visão dos discentes assistidos pelos programas de assistência estudantil da UFRN no que se refere ao acesso e à permanência dos mesmos no ensino superior. Especificamente objetivamos traçar o perfil socioeconômico dos usuários das bolsas de Permanência; analisar o entendimento dos discentes usuários acerca da assistência estudantil como direito; caracterizar em linhas gerais como está na atualidade a assistência estudantil na CAPAP/PROAE/UFRN. Constatamos assim, a relevância social e acadêmica desse trabalho, haja vista que, será capaz de contribuir para as reflexões acerca da temática do acesso e permanência do discente de baixa renda na Educação Superior, extrapolando as barreiras do senso comum, atribuindo rigor metodológico e científico à discussão, bem como contribuir substancialmente para o avanço acadêmico da área pesquisada, na medida em que poderá propiciar a ampliação dos direitos humanos e a consolidação da cidadania. Para o desenvolvimento deste trabalho, foi desenvolvida uma pesquisa de cunho quanti-qualitativo, através da realização de pesquisa bibliográfica e documental. Os principais documentos acessados foram a CF de 1988, LDB, PNE, PNAES, PNAE, resoluções da UFRN. Como também artigos, sites relacionados à temática em questão, livros, monografias, relatório de atividades anual da CAPAP, dentre outros. Em termos de pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas semi – estruturadas (Apêndice A) com seis estudantes desta instituição, assim distribuídos: dois bolsistas da bolsa Permanência de apoio técnico, quatro bolsistas da bolsa Permanência do MEC, sendo dois alunos da comunidade quilombola e dois alunos do curso de medicina. Quaresma; Boni (2005, p.71) aponta que a entrevista, por ser uma técnica de coleta de dados utilizada em pesquisas nas Ciências Sociais, o seu maior objetivo é no sentido de num terceiro momento da pesquisa, o pesquisador ao desejar obter informações ou coletar dados que não seriam possíveis somente através da pesquisa bibliográfica e da observação participante. 20 Já em relação à observação participante nessa investigação, ela foi possibilitada pela inserção da discente/autora na CAPAP/PROAE/UFRN no período do estágio curricular no ano de 2014. A observação participante supõe a interação pesquisador/pesquisado e que as informações obtidas, as respostas que são dadas às suas indagações, dependerão, do seu comportamento e das relações desenvolvidas com o grupo estudado. E também, ela traz que a observação participante implica no saber ouvir, escutar, ver, fazer uso de todos os sentidos para o conhecimento da realidade (VALLADARES, 2007). Diante dos procedimentos metodológicos elencados, os resultados desta pesquisa são aqui apresentados da seguinte forma: Além desta introdução, o trabalho se constitui ainda de mais dois capítulos e as considerações finais. Desse modo, no segundo capítulo buscou-se abordar alguns pontos sobre as mudanças, os desafios e as perspectivas enfrentadas na educação e no ensino superior no Brasil até a atualidade. O terceiro capítulo apresenta um esboço dos Programas de Assistência estudantil que são executados na UFRN, especialmente no que concerne as Bolsas de Permanência, sobretudo a de Apoio técnico administrativo,assim como sua materialização no âmbito desta instituição. Conclui-se este capítulo com a discussão de alguns dados da pesquisa sobre a Política de Assistência Estudantil no contexto da UFRN, e com a análise das entrevistas a partir da visão dos alunos acerca dos Programas de Assistência Estudantil, sobretudo no que concernem as Bolsas Permanência dos quais estão inseridos. Por fim, nas considerações finais expomos uma síntese das apreensões que foram realizadas a partir dos estudos com os autores que discutem a assistência estudantil no âmbito da UFRN e nacional. 21 2 EDUCAÇÃO E ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: MUDANÇAS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS. A complexidade que permeia a discussão sobre a política de educação superior está diretamente relacionada ás mudanças nas ações do Estado ocasionado pela sua nova forma organizacional, ocorrida a partir da década de 1990, sobretudo com a adesão do Brasil às exigências do grande capital, estabelecidas a partir do “Consenso de Washington,” 2 no qual foram propostas reformas de cunho neoliberal 3 . Deste modo, a partir de então, os organismos internacionais passaram a “determinar” as reformas que incidem nessa temática e, com isso, as direções que levaram a configuração da educação superior subsumida à logica do mercado. A educação, enquanto direito de todos, foi incorporada no plano jurídico com a Constituição Federal de 1988 e reforçada na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional. No entanto, a educação, na prática, ainda não se transformou de fato em um direito social como poderemos evidenciar no desenvolver deste trabalho. Assim sendo neste capítulo buscaremos abordar alguns pontos sobre as mudanças, os desafios e as perspectivas enfrentadas na educação e no ensino superior no Brasil até a atualidade, que serão evidenciados nos seguintes tópicos, quais sejam: Contextualização Histórica do Surgimento e Expansão das Universidades e do Ensino no Brasil, As Políticas de Educação e a Política de Assistência Estudantil no âmbito do Brasil. 2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO SURGIMENTO E EXPANSÃO DAS UNIVERSIDADES E DO ENSINO NO BRASIL Apesar da promessa da expansão da educação pública ser demonstrada desde as primeiras manifestações da “propaganda republicana”, na década de 1870, apenas nos primeiros anos da década de 1920 é que são realizadas algumas reformas educacionais. E somente no trajeto do século XX, a partir da década de 1920, é percebido que o Brasil teve 2 Reunião realizada em novembro de 1989, na capital dos Estados Unidos, que envolveram representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial, funcionários do governo norte-americano e economistas latino-americanos. 3 O Neoliberalismo quando surgiu se fundamentou por teorias e ideopolíticas do modo de produção capitalista, ideologias que foram fomentadas por uma drástica redução dos gastos sociais em detrimento de uma expansão econômica que se vislumbra somente o lucro. Seu auge hegemônico foi no período pós anos 1970. Assim sendo, Anderson (1995, p. 01) ao fazer um “balanço do neoliberalismo” afirma que este surgiu para uma reação teórica ao bem estar e ao Estado intervencionista sendo que “seu propósito era combater o keynesianismo e o solidarismo reinante e preparar as base para um outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro”. 22 certa consolidação da educação até porque houve um crescimento cada vez maior da predominância urbana. As primeiras iniciativas de cursos superiores eram apenas as escolas, instituições isoladas e com a expansão desse processo no Brasil no início do século XX surgem a tentativa de instituição da primeira universidade, a partir da década de 1920. Desse modo é importante ressaltar a revisão da constituição de 1926, que foi um marco importante na historia do ensino superior, porque foi a partir dela que pôde legislar a criação e organização de instituições de ensino superior, quando se teve mais visibilidade nesse âmbito. Segundo Saviani (2010), um importante passo para o melhoramento da universidade no Brasil, somente aconteceu após a Revolução de 1930 com o retorno ao protagonismo do Estado nacional na educação quando se criou o Ministério da Educação e Saúde Pública e com os decretos da chamada Reforma Francisco Campos em 1931, quando estabeleceu o “Estatuto das Universidades Brasileiras” e que reformou a Universidade do Rio de Janeiro. Esta foi à primeira legislação referente às universidades no país e deve-se em parte a revolução de 1930 e ao regime político implantado. O autor afirma que a política educacional é um reflexo da luta por direitos que a sociedade civil realiza sobre o Estado, e essa luta pelo direito a uma educação pública de qualidade é uma ação antiga da sociedade civil e de profissionais da área, e que faz parte de um contexto mais amplo. Assim sendo, demonstra-se em certa medida que há outros interesses envolvidos por trás de tudo isso que está acontecendo em relação à expansão da educação superior no Brasil (que é o interesse econômico por uma parcela da classe dominante) se conformando numa educação mercantilista aos moldes dos órgãos financeiros internacionais, de tal modo, que compromete a qualidade da educação, porque se vislumbra em maior peso a quantidade e não a qualidade do ensino. Portanto, é uma expressão da questão social, que apesar de algumas conquistas importantes ocorrida no século XX, as quais serão explanadas na sequência deste trabalho, é evidente que ainda têm muitos desafios a serem superados, como podemos demonstrar no decorrer deste trabalho. Neste sentido, resgatando os determinantes históricos das mudanças nas políticas sociais no Brasil, a partir da década de 1930, vemos que já começavam a dar um tratamento mais político à questão social com a criação de políticas que visavam o atendimento das necessidades sociais. Assim sendo, mesmo passando a ser tratada politicamente, a questão social é subordinada aos interesses econômicos, o que podemos observar no setor educacional. 23 A questão social conforme Iamamoto (2005, p. 27), também é apreendida como: [...], o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. Diante disso, enfatizamos que a questão social é o conjunto das injunções ou consequências sofridas ou oriundas do modo de produção capitalista. Na década de 1930, a Educação passa a ser reconhecida como um direito público regulamentada pelo Estado. Expandindo universidades públicas em 1934 e 1935 nos estados de São Paulo e Distrito Federal respectivamente. Ressaltamos também que foi nessa década, que houve a organização do movimento estudantil com a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1938. E em 1941 surgiu a Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e, logo depois, em 1946, surgiu a PUC de São Paulo. No final da década de 1940, e em toda a década de 1950 ocorreram as federalizações das universidades. Esse processo se estendeu pelas décadas de 1960 e 1970, quando foram criadas universidades federais em todo o Brasil. Nessa época foi criada pelo menos uma universidade em cada estado, principalmente nas capitais dos estados federados, além de universidades estaduais, municipais e particulares (SAVIANI, 2010). Na década de 1950, a sociedade brasileira passa por um momento de desenvolvimento, com uma rápida urbanização que vem juntar-se a uma considerável expansão do sistema industrial. Nesse sentido, o acesso ao ensino superior torna-se cada vez maisnecessário, passando a ser solicitado como um direito social. Já nos anos de 1960, inicia-se com uma grande mobilização, pela reforma universitária, sob a liderança da UNE, no âmbito das chamadas “reformas de base”, quando os estudantes vão às ruas para exigir seus direitos. Esta década também se caracteriza pela tomada do poder pelos militares 4 no ano de 1964. Nesse período a educação ganha nova ótica, pautada pelo autoritarismo e pelas reformas institucionais. Desse modo, em concomitância a essa pressão pelo acesso e reforma à universidade por esses jovens, a questão da universidade assumia uma dimensão de ordem social e política bem mais ampla, sendo um dos componentes da crise que desembocou na queda do governo 4 O Regime militar foi o período da política brasileira em que militares conduziram o país. Essa época ficou marcada na história do Brasil através da prática de vários atos Institucionais como a prática da censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que eram contrários ao regime militar. A Ditadura militar no Brasil teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964 e durou até a eleição de Tancredo Neves em 1985. Esse período ficou marcado pela derrubada do governo João Goulart e o início da ditadura militar em 1964 a qual se estendeu até o final da década de 1980. 24 João Goulart, ocorrida na madrugada do dia 31 de março de 1964, e a consequente instalação do regime militar. Assim sendo, Saviani, (2010, p. 09) faz uma reflexão sobre esse período ao afirmar que: A chegada do golpe militar em 1964, por um lado, procurou cercear as manifestações transformadoras mas, por outro, provocou no movimento estudantil o aguçamento dos mecanismos de pressão pela reforma universitária. O movimento pela reforma ganhou as ruas impulsionado pela bandeira “mais verbas e mais vagas” e culminou com a ocupação, em 1968, das principais universidades pelos estudantes que instalaram comissões paritárias e cursos-piloto, ficando no controle das escolas durante o mês de julho e todo o segundo semestre. Nesse contexto resultou necessário efetuar o ajuste do sistema de ensino à nova situação decorrente do golpe militar. Com isso, é notório que o Estado militar necessitava legitimar-se e para isso era necessário à adesão dos intelectuais, da classe média e também da classe subalterna. Desse modo, diante de tal pressão, o Estado, com o intuito de se fortalecer, cedeu no ano de 1968 a reforma do ensino superior, como uma forma de conter a população, e também para atender as necessidades de uma sociedade excluída do círculo do poder de privilégios e, do direito aos serviços sociais. Vale salientar que a “reforma universitária” no contexto do regime militar seria a incorporação de demandas anteriores acrescidas das recomendações privatistas, criadas para analisar e propor modificações do ensino superior brasileiro (GERMANO, 1993). Diante disso, o Estado fez o ajuste pela Lei n. 5.540/68 5 , que reformulou o ensino superior e pela Lei n. 5.692/71 6 , que alterou os ensinos primário e médio modificando sua denominação para ensino de primeiro e de segundo grau. Com isso os dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4.024/61) correspondentes às bases da educação consubstanciadas na estrutura do ensino primário, médio e superior foram revogados e substituídos pelas duas novas leis, permanecendo em vigor os primeiros títulos da LDB de 1961 (Dos fins da educação, do direito à educação, da liberdade do ensino, da administração do ensino e dos sistemas de ensino) que enunciavam as diretrizes da educação nacional. Com a expansão do ensino superior na década de 1950, a qual é acelerada na década de 1970, se configurou em um momento muito importante para a população brasileira. Contudo, o Brasil não estava preparado para lidar com essas transformações, visto que as consequências do aumento do número de vagas nas universidades se acentuaram e o Governo, 5 Lei foi aprovada em 28 de novembro de 1968. 6 Lei foi aprovada em 11 de agosto de 1971. 25 com a impossibilidade de atender as demandas que surgiam, permitiu que o Conselho Federal de Educação aprovasse cursos novos. Essa falta de planejamento acarretou numa queda na qualidade do ensino, e com isso, a imagem “mercantilista” da iniciativa privada que prossegue até os dias atuais. Apesar disso, o incentivo do governo para o acelerado crescimento do ensino superior continua, quando no início da década de 1970, é implementado os vestibulares classificatórios como forma de entrada nas universidades. Diante dessa situação, é percebido neste período certo queda do elitismo nas universidades, pois estas passam a receber mais estudantes vindos das classes menos privilegiadas. Porém, para essas pessoas a principal dificuldade após o ingresso no ensino superior, será conseguir manter-se dentro da universidade. Porque se acentuam os problemas como alimentação, transporte, moradia, material didático, entre outros problemas que farão com que muitos estudantes desistam do curso. Os anos de 1980 foi marcado por uma grave crise econômica onde se percebe o agravamento da taxa de desemprego e o aumento da inflação, a diminuição da produção industrial e a compressão dos salários. Estes fatores contribuíram para o aumento das desigualdades sociais, ampliando-se assim a miséria relativa e absoluta da população. No contexto dessa crise, a política educacional será dirigida especificamente para os pobres. Como exemplo dessas políticas é possível identificar o Programa de Ações Sócio- educativas e Culturais para o meio rural (PRONASEC) e o Programa de Ações Sócio- educativas e Culturais para as populações carentes urbanas (PRODASEC). Dessa forma Germano (1993) explica que os programas sociais serviam para manter a subalternidade do exército industrial de reserva, ou seja, a preocupação não estava em diminuir as desigualdades, mas apenas maquiá-las. Então, vimos que mesmo após as tentativas de consolidação das políticas de proteção social para a educação ocorrida na década de 1970, a partir da década de 1980, no Brasil, acontece uma reviravolta nas políticas sociais, econômicas e civis com importantes transformações na sociedade, ancoradas na reestruturação produtiva, na contra reforma do Estado, na propagação do ideário neoliberal e na financeirização do capital. Apesar disso, a década de 1980, com a redemocratização do Brasil, ficou marcada pelos importantes avanços principalmente na área dos direitos civis, políticos e sociais e que trouxe a assistência social como uma política social pública. Portanto, enfatizamos que a promulgação da Carta Magna de 1988 foi fundamental para a extensão e os avanços das políticas sociais, especificamente no que diz respeito ao 26 processo da garantia do desenvolvimento da política de educação no Brasil. Contudo, ressaltamos que após a promulgação da Constituição Federal de 1988, logo no início dos anos de 1990, com o Governo Collor (1989 – 1992), o Estado brasileiro passa a adotar um conjunto de medidas de cunho neoliberal. Tais medidas foram determinantes para o desenvolvimento de uma política econômica voltada para o lucro em detrimento dos avanços sociais. Com isso, desencadeou nessa época uma crise econômica a qual foi conduzida por um Estado que não assumiu compromissos redistributivos de modo que o “conceito retardatário, híbrido, distorcido ou inconcluso da seguridade social brasileira, [...], encontrou dificuldades antigas e novas ainda maiores para se consolidar” (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 158). De tal forma que se percebe que os avanços sociais conquistados na CF de 1988, começam aperder força, com seu desmonte, quando nesse período o governo brasileiro em comum acordo com os órgãos financeiros internacionais (FMI, ONU, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Banco Mundial (BM)) se aliam, com o pretexto que é necessário fazer enxugamentos na economia brasileira, principalmente o Banco Mundial e com isso, começa a atacar principalmente no que concernem as políticas públicas sociais, ou seja, os direitos dos cidadãos, ao alegar que não tem recursos financeiros para tais políticas. Ficando dessa forma o Estado desresponsabilizado de suas obrigações, deixando a sociedade apenas com o mínimo, e com isso agrava-se a questão social, tendo um aumento da pauperização da massa trabalhadora, o que se reflete também na área da educação. Assim sendo, segundo Vasconcelos (2010), na década de 1990, a educação foi influenciada pela política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso (1994 – 2002). E, conforme a autora citada, as análises desse período evidenciam uma grande defasagem salarial, falta de verbas para manutenção, para o desenvolvimento de pesquisa, ocorrendo o êxodo dos professores das universidades públicas para as privadas. Vasconcelos (2010) corrobora com Romano (1999) ao afirmar que tal modelo de política: É fundamentada no próprio liberalismo, doutrina que pode trazer consigo atitudes libertárias e democratizantes, que se contraponham ao absolutismo, mas pode trazer também teses contrárias à democracia, baseadas na propriedade privada, mercados soberanos e liberdade somente para alguns “proprietários”, em detrimentos das proposições apresentadas pela sociedade organizada. (ROMANO, 1999 apud VASCONCELOS, 2010, p. 606). Nessa perspectiva, a universidade pública é um bem ameaçado pela ideologia neoliberal que direciona os gastos públicos para as empresas privadas. Por um lado, a expansão das Instituições de Ensino Superior (IES) privadas pode significar mais oportunidades de acesso ao ensino superior, por outro lado, a maioria dos estudantes oriundos 27 de classes populares não seria privilegiada com esse acesso, mas sim com políticas de permanência nas universidades públicas cujo financiamento é fomentado, em parte, pelo Estado para o setor privado que ganha cada vez mais espaço pela imposição do neoliberalismo ao investir nas IES privadas invés das IFES públicas. Segundo Ranieri (1994) uma universidade deve possuir: organização da metodologia de ensino, das pesquisas a serem executadas e dos projetos de extensão; autonomia científica, se basear no fato de que a universidade deve estar livre para empreender qualquer pesquisa que ache ter relevância para a ciência, seja ela em qualquer campo ou área de atuação. Assim a universidade como uma instituição social, significa dizer que ela realiza e exprime de modo determinado a sociedade de que é e faz parte. Dessa forma, apreende-se que no âmbito das Universidades, a autonomia institucional vem facilitar a realização de suas funções, pois, as universidades poderão dispor de seus recursos como bem queiram desde que cumpram com suas obrigações junto à sociedade. No entanto, esta autonomia está de certa forma relacionada à prestação de contas ao Estado, pois deverá apresentar por meio de relatórios, as melhorias, as pesquisas empreendidas e também os resultados. Com isso a autonomia universitária baseia-se em seus serviços específicos (ensino, pesquisa e extensão) e deve atender as necessidades socioculturais, econômicas e políticas da sociedade em que a instituição se encontra. Assim sendo, salientamos que a Reforma de Educação Superior, no Brasil, vem sendo implementada desde 1995 pelo Ministério da Educação (MEC), seguindo as orientações advindas dos organismos financeiros multilaterais. E, faz parte desta Reforma a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (dezembro 1996, incluindo-se o Decreto nº 2.306/97, que alterou artigos no que se refere à diversificação das Instituições Federal de Ensino Superior (IFES)); a Lei de Inovação Tecnológica (Lei nº 10.973/04), as Parcerias Público-Privadas (Lei nº 11.096/05); a regulamentação das Fundações de Apoio privadas nas IFES (Decreto Presidencial nº 5.205/04); o Programa Universidade para Todos (PROUNI) (Lei nº 11.096/05); a Educação à Distância (EAD), que na prática, institui a abertura do mercado educacional nacional para o capital estrangeiro. De todas essas medidas, Leite (2008) explica que a que mais consolida a Reforma Universitária é o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), quando em seu Art. 1º afirma-se que O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) tem por objetivo criar condições para 28 ampliação de acesso e permanência na Educação Superior. Art. 2º. O Programa terá as seguintes diretrizes, dentre outras [...], conforme inciso V – ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil (BRASIL, 2007, s/p. grifos da autora). No final da década de 1990, a expansão do ensino superior ganha destaque, sobretudo no que diz respeito ao crescimento significativo de instituições privadas de ensino aliada ao processo de sucateamento das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Porém, a ampliação da política de Educação foi maior a partir do ano 2000, quando se inicia o processo de ampliação e democratização do acesso ás universidades públicas federais, sobretudo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), por meio do Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), trazendo novas tendências relativas à interiorização do ensino superior. Verificou- se nesse período, também, o aumento da demanda por assistência estudantil, como estratégia para permanência institucional. Permanência essa necessária, como é colocada pela autora Zago, (2006), haja vista que “a expansão quantitativa do ensino superior brasileiro não beneficiou a população de baixa renda, que depende essencialmente do ensino público” (p.228). Porque mesmo com a expansão da universidade pública, as políticas mercantilistas do ensino superior só fortaleceram o setor privado, que segundo o INEP, (2004, p. 8-19, apud Zago, p.228), hoje detém aproximadamente 90% das instituições e 70% do total de matrículas. Portanto, segundo Zago (2006), houve de fato uma ampliação do número de vagas apreciável na atualidade, porém sua polarização no ensino pago não reduziu as desigualdades entre grupos sociais. Porque, conforme Pacheco e Ristoff, (2004, p. 9 apud Zago, 2006, p. 228) em dados registrados num estudo do Observatório Universitário da Universidade Cândido Mendes, em 2004, revelou “que 25% dos potenciais alunos universitários são tão carentes que ‘não têm condições de entrar no ensino superior, mesmo se ele for gratuito”. Nesse sentido, a autora supracitada afirma em sua pesquisa que “A efetiva democratização da educação requer certamente políticas para a ampliação do acesso e fortalecimento do ensino público, em todos os seus níveis, mas requer também políticas voltadas para a permanência dos estudantes no sistema educacional de ensino”. (ZAGO, 2006, p. 228). Logo, só teremos de fato uma democratização efetiva da educação, com políticas que favoreçam não só a ampliação do acesso e o fortalecimento do ensino público, em todos os seus níveis, mas solicita também que criem políticas com ações voltadas para a permanência dos estudantes no sistema educacional de ensino. Neste contexto, e ainda corroborando com 29 Zago (2006), e esses fatos são reais, pela grande demanda ocasionada pelo acesso dos novos ingressantes as IFES, os quais ocorreram pelos incentivos do governo federal, principalmente através do REUNI, quando nesse momento, houve um aumento da classe subalterna às universidadespúblicas federais. Diante de tal fato, foi verificado através de estudos, que não basta somente criar políticas para o ingresso no ensino superior, mas, é preciso também políticas que garantam a permanência dessa massa de estudantes novos de origem popular. Porque, ao entrarem na universidade, eles se deparam com as dificuldades de se manter nos seus cursos, por ser de família de baixa renda. Portanto entendemos que não satisfaz apenas expandir/desenvolver a educação, mas para que se efetive tal expansão se faz necessário também que haja além da ampliação das universidades para que possam suportar a grande contingência de novos estudantes ingressantes, políticas e ações pertinentes a amenizar tais questões passadas por esses estudantes de origem popular, para que assim possam desenvolver seu curso com êxito. Para tanto, os apoios através dos Programas de Assistência Estudantil são muito importantes para que possibilitem que esses estudantes de origem popular e que estão acessando a universidade pela primeira vez consigam amenizar suas dificuldades de permanência e assim concretizar de fato seu sonho de se formar em uma universidade pública federal. 2.2 AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO E A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ÂMBITO DO BRASIL As políticas sociais, tanto no Brasil como em outros países, surgiram como resposta do Estado à questão social. Sendo evidenciada, a partir da Revolução Industrial, entre o século XVIII a meados do século XIX, com a intensificação do trabalho em massa, principalmente na Inglaterra, França, Alemanha e EUA, quando os trabalhadores reivindicaram direitos trabalhistas por melhores condições de trabalho e de vida. Netto (2003, p.15) em suas reflexões afirma que as políticas sociais são “[...] respostas do Estado burguês do período do capitalismo monopolista a demandas postas no movimento social por classes (ou estratos de classes) vulnerabilizados pela ‘questão social’”, e o autor coloca também que as políticas sociais constituem-se em “campos de tensões entre os interesses do proletariado e a burguesia” (NETTO, 2003, p.16). Corroborando com o pensamento de Netto, o autor Celso Hotz (2008) aponta que os embates e conflitos são advindos do modo de produção. Assim sendo, ele enfatiza que as 30 políticas sociais representam reivindicações da classe proletária, e tem no Estado, o seu principal implementador, ao passo que: Não tem havido, pois, política social desligada dos reclamos populares. Em geral, o Estado acaba assumindo alguns destes reclamos, ao longo de sua existência histórica. Os direitos sociais significam antes de mais nada a consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores. Não significam a consagração de todas as reivindicações populares, e sim a consagração daquilo que é aceitável para o grupo dirigente do momento (VIEIRA, 1992, p.23 apud HOTZ, 2008, p. 06-07). Neste contexto, as políticas públicas sociais surgiram para superar as crises do capital, a qual ela aparece também, como uma forma de amenizar os ânimos dos manifestantes quando esses reivindicam seus direitos. Assim sendo, é entendido que as políticas públicas sociais aparecem também como uma necessidade do capital, pela intensificação do trabalho nas indústrias, pelo avanço das forças produtivas e do modo de produção capitalista, consubstanciada pelas lutas de classe. Já no contexto da assistência educacional, as politicas públicas sociais aparecem no enfretamento pela busca por minimizar e controlar os conflitos sociais, as estruturas educacionais e assistenciais no Brasil. No entanto, elas cresceram, como componente de uma estratégia da burguesia de buscar atender as demandas imediatas, sem nenhum projeto prévio nestas áreas (da educação e da assistência), (RISSI, 2013). Deste modo, pela necessidade da permanência dos novos estudantes nas universidades, as discussões no âmbito da assistência estudantil ganham relevância no ano de 1987 por meio do Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE) e da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES). Porque, segundo Vasconcelos (2010), esses dois segmentos educacionais defendiam a integração regional e nacional das Instituições de Ensino Superior (IES), com objetivo de: Garantir a igualdade de oportunidades aos estudantes das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) na perspectiva do direito social, além de proporcionar aos alunos as condições básicas para sua permanência e conclusão do curso, contribuindo e prevenindo a erradicação, a retenção e a evasão escolar decorrentes das dificuldades socioeconômicas dos alunos de baixa renda (VASCONCELOS, 2010, p. 604). Com isso percebe-se que esses dois segmentos educacionais queriam atender as necessidades sociais dos estudantes brasileiros, buscando formas de incluir e manter os jovens 31 e adultos oriundos de classes populares e assim oportunizar sua inserção às universidades públicas. Diante disso, a política de assistência estudantil está sendo uma política importante de fortalecimento da educação como direito social. Reforçando essa importância, nos últimos dias de dezembro de 2010, chega ao Congresso Nacional o PL 8.530/2010 de autoria do Poder Executivo, que institui o Plano Nacional de Educação (PNE), para o decênio 2011-2020 (PNE-2011/2020). Com 11 artigos e 20 metas, o PNE estabelece as metas a serem alcançadas pelo país até 2020. Cada uma das metas vem acompanhada das respectivas estratégias que buscam atingir os objetivos propostos (PNE, 2010, p.01). Ainda, no que tange a PNE, é importante enfatizar principalmente a Meta 09 7 , 12 8 e 20 9 do referido Plano e os seguintes artigos, da Constituição Federal, principalmente o que dispõe o art. 214 que está em consonância com o art. 2º que dispõe as diretrizes do PNE – 2011/2020 e o Art. 214- da CF de 1988 o qual enfatiza que, “A lei estabelecerá o Plano Nacional de Educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do Poder Público que conduzam a”: I- erradicação do analfabetismo; II- universalização do atendimento escolar; III- melhoria da qualidade de ensino; IV- formação para o trabalho; V- promoção humanística cientifica e tecnológica do País; VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto (BRASIL, 1988). E no Art. 205, é afirmado que – A educação, direito de todos e dever do Estado e da família será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Como também no Art. 206 da Constituição Federal de 1988 o qual explana que “o ensino será ministrado com base nos princípios dispostos nos incisos I ao V”, do referido artigo. E no Art. 207, é posto que “As Universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988). 7 Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. 8 Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta. 9 Meta 20: Ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do produto interno bruto do país. 32 Já em relação à assistência social o Art. 203 – determina que “A assistência social seráprestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, conforme os objetivos dispostos nos incisos I ao V” da Constituição Federal de 1988. Nesse contexto, compreendemos que a Constituição Federal, traz a tona uma nova concepção acerca das políticas sociais, proporcionando desse modo que a Educação seja vista como um direito social e dever do Estado. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988). Araújo (2003) corrobora com a PNE-2011-2020 quando afirma que. A discussão sobre a assistência estudantil é de grande relevância, o Brasil é um dos países em que se verifica as maiores taxas de desigualdade social, fato visível dentro da própria universidade, onde um grande número de alunos que venceram a difícil barreira do vestibular já ingressou em situação desfavorável frente aos demais, sem ter as mínimas condições socioeconômicas de iniciar, ou de permanecer nos cursos escolhidos (ARAÚJO, 2003, p. 99). Assim, a assistência estudantil na educação superior, se expressa como agente mobilizador de recursos para garantir a trajetória dos estudantes no processo de formação profissional, igualmente á todos os segmentos sociais. Então, seguindo essa mesma linha de pensamento VASCONCELOS (apud LOPES, 2010, p. 406) afirma que. A assistência estudantil, enquanto mecanismo de direito social, tem como finalidade prover os recursos necessários para transposição dos obstáculos e superação dos impedimentos ao bom desempenho acadêmico, permitindo que o estudante desenvolva-se perfeitamente bem durante a graduação e obtenha um bom desempenho curricular, minimizando, dessa forma, o percentual de abandono e de trancamento de matricula. Portanto, a assistência oferecida aos Estudantes de Origem Popular - EOPs nas universidades públicas, objetiva prover os recursos mínimos para a permanência do estudante, principalmente no que concerne os programas que ofereçam moradia, alimentação, transporte e apoio financeiro, direcionando suas ações para uma política que amplie a discussão sobre a questão do acesso e da permanência dos estudantes no ensino superior de forma democrática. Conforme Lopes (2011) explana: Se tais estudantes, na grande maioria, oriundos de escolas públicas, já apresentam desvantagens em competir com jovens bem preparados na disputa por vagas nas universidades públicas; após vencer a barreira do acesso à educação superior, é pertinente evitar que estes desistam da difícil permanência. (LOPES, 2011 p. 46). 33 De acordo com Souza et al., (2008, p. 02), “A Universidade não pode isentar-se da responsabilidade social e do compromisso com a formulação de alternativas para o enfrentamento dos problemas sociais das comunidades populares”. Contudo, sabemos que a assistência estudantil disponibilizada pelas IFES aos estudantes populares aparece como um investimento, não somente social, mas também acadêmico visto que se exige do discente que se tenha a contrapartida acadêmica favorável para que assim se concretize seu direito aos benefícios oferecidos pela universidade. Concordamos com Araújo (2003, p. 99) quando afirma que “[...] a assistência estudantil pode ser trabalhada sob diferentes perspectivas: de um lado como direito, e de outro, como investimento.” Ou seja, é uma forma de investir no desenvolvimento dos estudantes de baixo poder aquisitivo que objetivam uma formação social e acadêmica de qualidade, gratuita e laica (ARAÚJO, 2003). Assim sendo é compreendido que a política de assistência social veio no intuito de atender às necessidades de quem dela precisa, e que, para tanto, os recursos financeiros são essenciais. Corroborando com Lopes (2011), quando ela afirma que a Assistência Estudantil se constitui, como mecanismo necessário ao enfrentamento das desigualdades sociais, porém, enquanto não houver uma expansão de investimentos nesta área, os serviços oferecidos permanecerão focalizados, seletivos e emergenciais. Porque sabemos que por muitos anos, a Assistência Estudantil efetivou-se sem um financiamento próprio e que somente em 2007, por meio da ANDIFES, é aprovado e instituído pelo MEC o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). A partir de então, o governo federal começou a repassar verbas para as instituições de ensino superior, para a assistência estudantil, ocorrendo certa melhora em relação a essa questão. Conforme o Art. 1º desse decreto, o PNAES será executado no âmbito do Ministério da Educação (MEC), através da Portaria Normativa nº 39 de 12 de dezembro de 2007 e tem como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior federal. E coadunando com isso, também no Art. 2º mostra os objetivos do PNAES que são: I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal; II - minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior; III - reduzir as taxas de retenção e evasão; e IV - contribuir para a promoção da inclusão social pela educação. Sendo assim é por meio do PNAES (2010), que o governo financia as universidades federais no atendimento aos estudantes com necessidades diversas como: moradia; 34 alimentação; transporte; atenção à saúde; inclusão digital; cultura; esporte; creche; apoio pedagógico; bolsa de apoio técnico, dentre outros. Esse Programa apoia, prioritariamente, estudantes oriundos da rede pública de educação básica ou com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, matriculados em cursos de graduação presencial nas Instituições Federal de Ensino Superior (IFES). Assim sendo, o financiamento da assistência estudantil passou a funcionar com repasse de verba diretamente para as IFES, como responsáveis pela implementação dos programas e pela determinação dos critérios de seleção que definirão os estudantes a serem beneficiados. A conquista da aprovação do PNAES pelo MEC, por meio da ANDIFES, representa a “possibilidade” de redução das desigualdades sociais na permanência de estudantes de baixa condição socioeconômica, vinculados aos cursos de graduação presenciais, na educação superior pública federal, permitindo-lhes a expressão do seu potencial na sua trajetória acadêmica. Contudo, apesar destes avanços, a política de Assistência Estudantil é seletiva e focalizada e, como toda política de assistência social, ela não escapa às decisões do sistema capitalista, que a torna uma política que inclui e ao mesmo tempo exclui, conforme explana Yasbek (2001) quando cita que tal política, “trata-se de uma inclusão que se faz pela exclusão, de uma modalidade de inserção que se define paradoxalmente pela não participação e pelo mínimo usufruto da riqueza socialmente construída” (YASBEK 2001, p. 34). Porém, sabemos que esta contradição é intrínseca aos fenômenos da sociedade que vivenciamos que é uma realidade capitalista e como tal é movida pelo ideário neoliberal do “Estado Mínimo”, que desde suas origens, até os tempos atuais, esse tipo de política limita as ações destinadas ao público. Desse modo, no âmbito das Universidades, em que a Assistência Estudantil é compreendida como “[...] um conjunto de políticas realizadas através dos programas de Promoção, Assistência e Apoio que tem como objetivo principal criar condições que contribuam para a permanência dos estudantes” (FONTE, 2003, p. 25). O Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAE), (2007/2008), vem contribuir no sentido de ser um Plano Que apresenta as diretrizes norteadoras para a definição de programas e projetos dessa natureza busca satisfazer essas demandas da sociedade e dos alunos, constituindo-se, assim, em meta prioritária para a Andifes. Nele tem- se um marco histórico que representa o compromisso da Associação com a inclusão e a permanência dos jovens nas IFES. (BRASIL, PNAE,gestão 2007/2008, p.02). 35 Diante deste contexto apreendemos que o Plano Nacional de Assistência Estudantil abrange seu propósito e que a universidade cumpre sua missão à medida que gera, sistematiza e socializa o conhecimento e o saber, formando profissionais e cidadãos capazes de contribuir para o projeto de uma sociedade justa e igualitária. Mostrando que a busca pela redução das desigualdades socioeconômicas faz parte do processo de democratização da universidade e da própria sociedade, haja vista que a universidade é uma expressão da própria sociedade brasileira, ou seja, abriga em seu espaço também as contradições que nela existem (PNAE, 2007, p. 02). Contudo, como já foi dito anteriormente, os governantes não devem efetivar apenas o acesso à educação superior gratuita, mais criar mecanismos que viabilizem a permanência e a conclusão do curso, a fim de atender às necessidades básicas desses estudantes oriundos de classe popular. Objetivando reduzir os efeitos das desigualdades que são apresentadas por um conjunto de estudantes provenientes de segmentos sociais cada vez mais pauperizados e que apresentam dificuldades concretas de prosseguirem sua vida acadêmica com sucesso. Diante desse contexto, trazemos os aportes jurídicos mais atualizados que nos acoberta diante de tal expressão da questão social, que é a Constituição Federal de 1988 quando em seu bojo ela está em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 10 ), fortalecendo a politica da educação quando no Título II do Art. 2º afirma que a educação é dever do Estado e da Família (art. 205, caput) e tem como princípio a igualdade de condições de acesso e permanência na escola (art.206, I). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação contém dispositivos que amparam a assistência estudantil, entre os quais destacamos o Art. 3º, quanto enfatiza que “O ensino deverá ser ministrado com base nos seguintes princípios: inciso I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;...". A LDB traz também em seu artigo 1º, parágrafos 2º e artigo 3º, inciso XI determinam ainda que "a educação deve englobar os processos formativos e que o ensino será ministrado com base no princípio da vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais" (BRANDÃO, 2010). Percebemos que há um fortalecimento entre os dois maiores e importantes arcabouços jurídicos do Brasil acerca da política de educação como forma de garantir e assegurar as condições básicas necessárias tanto para o acesso do estudante quanto da sua permanência. Além disso, para dar mais consistência á essa questão tem-se também a Lei 10.861, de 14 de Abril de 2004, que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), quando afirma que a avaliação das instituições de educação superior terá por 10 A LDB, Lei nº 9.394/96 foi aprovada em 20 de dezembro de 1996. 36 objetivo identificar o perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas atividades, seus cursos, seus programas, seus projetos e seus setores, considerando as diferentes dimensões institucionais, dentre as quais, e em caráter obrigatório, a responsabilidade social da instituição com relação à inclusão social e às políticas de atendimento a estudantes e egressos (IX dimensão). E o Decreto 6.096 de 24 de abril de 2007, que institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), quando em seu artigo 1º, afirma que esse ”tem por objetivo criar condições para ampliação do acesso e da permanência na Educação Superior”. E, em seu artigo 2º, item V, diz também que “o Programa terá as seguintes diretrizes, entre outras: ampliação de políticas de inclusão e de assistência estudantil” (PNAE, 2007, p.03). Ainda no que concerne a Política Nacional de Assistência Estudantil tem-se a mais recente conquista no âmbito da assistência estudantil que é o Programa Nacional de Bolsa- Permanência, que veio como um suplemento aos outros programas já existentes. O seu lançamento foi no dia 09 de maio de 2013, pelo Ministério da Educação, e é uma ação atrelada a Política Nacional de Assistência Estudantil. Esse Programa de Bolsa Permanência (PBP) vem em forma de auxílio financeiro para estudantes de baixa renda das instituições federais de ensino superior. Mas vale salientar que os estudantes para serem beneficiados tem que está dentro dos critérios de exigência do Manual de Gestão que foi produzido pelo MEC. Neste Manual está estabelecido, as orientações, regras e procedimentos para a inserção do estudante de baixa renda em tal programa. De acordo com o Manual, o Programa de Bolsa Permanência é fruto de esforço coletivo com os parceiros, assim como do engajamento daqueles que assumiram o compromisso com a democratização do acesso e da permanência no ensino superior gratuito no país, sobretudo de indígenas, quilombolas e estudantes de baixa renda (BRASIL, 2013, p. 05). Compreendemos que apesar de todos esses preceitos legais vale salientar que o Plano Nacional de Assistência Estudantil viu a necessidade de se fazer a revisão das práticas institucionais, demonstrando para todos os estudantes/cidadãos, que compete às IFES assumirem a assistência estudantil como direito e espaço prático de cidadania e de dignidade humana, buscando ações transformadoras no desenvolvimento do trabalho social com seus próprios integrantes, o que irá ter efeito educativo e, consequentemente, multiplicador. Do mesmo modo, o PNAE, como parte do processo educativo, deverá articular-se ao ensino, à pesquisa e à extensão, e permear essas três dimensões do fazer acadêmico para assim viabilizar, de fato, seu caráter transformador da relação universidade e 37 sociedade. Apesar disso, mesmo estando acobertados por esses arcabouços jurídicos, é importante ponderar que a Assistência Estudantil, regulamentada pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES/2010), é um instrumento legítimo de intervenção no âmbito da educação federal superior, contudo, o seu atual desenho não se encontra sintonizado com a perspectiva do direito, uma vez que se fundamenta pela seletividade e focalização. Além do mais, cada Instituição Federal de Ensino Superior tem suas próprias resoluções que regem tais programas como também suas limitações. Portanto, a política de assistência estudantil, se configura, como uma política que deve proporcionar o direito à educação superior para qualquer cidadão que não tenha condições financeiras suficientes para custeá-la sozinho, o que sem ela ocasionaria dificuldades na continuidade no curso. Assim, essa política se faz necessário não só pelo acesso, mais também como uma forma de permanência do estudante para que o mesmo tenha êxito em sua graduação. Porque o discente ao adquirir o acesso à assistência estudantil, essa contribuição será de grande valia para que o mesmo alcance seus objetivos que é a sua formação e assim se tornar um profissional capaz de atuar no mercado de trabalho e ter uma perspectiva de futuro diferente dos seus pais / família. Nas entrevistas destacadas abaixo, esses fatos se confirmaram quando todos os entrevistados apontaram essas mesmas deficiências, ressaltando até que desistiriam do curso caso não tivessem o apoio financeiro institucional como constataremos abaixo: Olhe... assim... tenho, porque como eu vinha falando, infelizmente eu... é... tinha dificuldade, de... pra ficar na, na universidade, eu tinha até pensando é... em desistir do curso, teve um período que ... que eu passei um semestre inteiro sem, sem bolsa alguma, sem auxílio algum e, foi bem complicado pra mim, por que eu tive que arcar com despesa alimentação, e transporte e como é...eu tava com...minha mãe estava desempregada..[...] eu cheguei
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