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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CÍNTIA PAIXÃO DA SILVA A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO CONTEXTO DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: uma análise das ações nos semestres de 2020.1 e 2020.2 na UFRN NATAL/RN 2021 1 CÍNTIA PAIXÃO DA SILVA A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO CONTEXTO DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: uma análise das ações nos semestres de 2020.1 e 2020.2 na UFRN Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Drª Larisse de Oliveira Rodrigues. NATAL/RN 2021 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Silva, Cíntia Paixão da. A assistência estudantil no contexto do ensino remoto emergencial: uma análise das ações nos semestres de 2020.1 e 2020.2 na UFRN / Cíntia Paixão da Silva. - 2022. 64f.: il. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2021. Orientadora: Profª. Drª. Larisse de Oliveira Rodrigues. 1. Ensino Superior - Monografia. 2. Ensino Remoto Emergencial - Monografia. 3. Assistência Estudantil - Monografia. I. Rodrigues., Larisse de Oliveira. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 378:364 Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 3 CÍNTIA PAIXÃO DA SILVA A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO CONTEXTO DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: uma análise das ações nos semestres de 2020.1 e 2020.2 na UFRN Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Aprovado em: 09/02/2022 BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Profª. Drª Larisse de Oliveira Rodrigues (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte ___________________________________________________ Profª. Drª Miriam de Oliveira Inácio Universidade Federal do Rio Grande do Norte ___________________________________________________ Profª. Drª Ilena Felipe Barros Universidade Federal do Rio Grande do Norte 4 Ao meu filho. 5 AGRADECIMENTOS Hoje encerro mais um ciclo na minha vida, e no meu coração só consigo sentir gratidão por esse momento, me sinto feliz por chegar até aqui e por ter aproveitado cada momento dessa experiência. Eu gostaria de agradecer a todos que de alguma forma me apoiaram na realização deste trabalho. Em especial a minha mãe, Márcia Cristina, que em meio ao cansaço e desgaste da sua própria rotina, arrumou tempo e dedicação para me auxiliar nos cuidados do meu filho, para que eu pudesse escrever o meu TCC. Gratidão ao meu companheiro Ítalo, que sempre me incentivou a continuar a caminhada, tornando esse momento mais leve para nós. Gratidão ao meu filho Stefan, que me faz querer ser uma pessoa melhor. Gratidão a Deus por me permitir viver esse momento. 6 RESUMO O presente trabalho discute a respeito da assistência estudantil no contexto do ensino remoto emergencial, trazendo uma análise das ações nos semestres de 2020.1 e 2020.2. A pesquisa tem como objetivo geral analisar as mudanças na Política de assistência estudantil da UFRN a partir da adesão ao ensino remoto emergencial nos semestres de 2020.1 e 2020.2. No que tange à metodologia, a pesquisa qualitativa de caráter exploratório por intermédio da pesquisa documental e pesquisa bibliográfica, apoiado ao referencial teórico materialismo histórico dialético que busca compreender as mudanças sociais a partir da totalidade, ou seja, sempre levando em conta o contexto histórico. O trabalho traz discussão da expansão do ensino superior brasileiro mediante a implementação de políticas educacionais, destacando as seguintes políticas: O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), Programa Universidade Para Todos (PROUNI), o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), O Programa Nacional de Assistência Estudantil/PNAES e a Política de Cotas. Em seguida, o TCC faz uma discussão acerca das transformações na política de educação com a adesão ao ensino remoto emergencial (ERE), sendo assim, é discutida a concepção de educação nesse contexto e quais as suas características. É apresentado o percurso histórico da assistência estudantil brasileira, discorrendo desde a sua primeira forma de assistência até chegar à implantação do PNAES e como está organizada a assistência estudantil na UFRN. Posteriormente, é discutido sobre o impacto da entrada do ERE nas universidades, analisando as suas fragilidades e o processo de precarização do trabalho docente nesse contexto. Por fim, apresenta-se o perfil do estudante assistido pela assistência estudantil da UFRN e as condições de vida do estudante e seus familiares por meio de dados fornecidos pela PROAE. Palavras-chave: Ensino Superior. Ensino Remoto Emergencial. Assistência Estudantil. 7 ABSTRACT The present work discusses about student assistance in the context of emergency remote teaching, bringing an analysis of actions in the semesters of 2020.1 and 2020.2. The research has as general objective to analyze the changes in the UFRN student assistance policy from the adhesion to emergency remote teaching in the semesters of 2020.1 and 2020.2. Regarding the methodology, qualitative research with an exploratory character through documentary research and bibliographic research, supported by the theoretical referential historical dialectical materialism that seeks to understand social changes from the totality, that is, always taking into account the historical context. The work discusses the expansion of Brazilian higher education through the implementation of educational policies, highlighting the following policies: The Student Financing Fund (FIES), the University for All Program (PROUNI), the Support Program for Restructuring and Expansion Plans Federal Universities (REUNI), The National Student Assistance Program/PNAES and the Quota Policy. Then, the TCC discusses the changes in education policy with the adhesion to emergency remote teaching (ERE), thus, the conception of education in this context and what are its characteristics is discussed. The historical course of Brazilian student assistance is presented, from its first form of assistance to the implementation of the PNAES and how student assistance is organized at UFRN. weaknesses and the process of precariousness of teaching work in this context. Finally, the profile of the student assisted by the UFRN student assistance and the living conditions of the student and their families are presented through data provided by PROAE. Keywords: Higher Education. Emergency Remote Teaching. Student Assistance. 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Relação e descrição de intervençõesna infraestrutura concluídas e em execução no período 2008-2012. ................................................................................................................... 28 Tabela 2 - Investimentos em edificações, infraestrutura e equipamentos pactuados e disponibilizados no período 2008-2012. .................................................................................. 28 Tabela 3 - Modalidades e número de bolsas pactuadas e disponibilizadas como auxílio financeiro a estudantes no período 2008- 2012. ....................................................................... 29 Tabela 4 - Relatório de discentes prioritário por faixa etária (masculino - 2020.1) ................ 53 Tabela 5 - Relatório de discentes prioritário por faixa etária (masculino -2020.2) ................. 54 Tabela 6 - Relatório de discentes prioritário por faixa etária (feminino - 2020.1). ................. 54 Tabela 7 - Relatório de discentes prioritário por faixa etária (feminino - 2020.2) .................. 55 Tabela 8 - Infraestrutura do local de moradia da família (2020.1) .......................................... 57 Tabela 9 - Infraestrutura do local de moradia da família (2020.2) .......................................... 57 Tabela 10 - Sua participação na renda familiar (2020.1) ......................................................... 57 Tabela 11 - Sua participação na renda familiar (2020.2) ......................................................... 58 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - PROUNI em milhares ........................................................................................... 24 Gráfico 2 - Prejuízos ao projeto de formação .......................................................................... 50 Gráfico 3 - Adesão ao ERE pelos discentes ............................................................................ 51 Gráfico 4 - Evasão Escolar no ERE ......................................................................................... 52 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social CAE Comissão de Assuntos Estudantis CF Constituição Federal COVID-19 Coronavírus CRESS Conselho Regional de Serviço Social DAE Departamento de Assistência ao Estudante EAD Ensino a Distância ENEM Exame Nacional do Ensino Médio FHC Fernando Henrique Cardoso FIES Financiamento Estudantil IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES Instituições de Ensino Superior IFES Instituições Federais de Ensino Superior INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC Ministério da Educação OMS Organização Mundial da Saúde PNAES Programa Nacional de Assistência Estudantil PROAE Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis PROUNI Programa Universidade Para Todos PT Partido dos Trabalhadores RANI Registro Administrativo de Nascimento Indígena REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais RU Restaurante Universitário SIGAA Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas SiSU Sistema de Seleção Unificada THE Teste de Habilidade Específica UFMA Universidade Federal do Maranhão UFPR Universidade Federal do Paraná UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNB Universidade de Brasília 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12 2 EDUCAÇÃO SUPERIOR E O PROGRAMA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL ........................................................................................................................ 16 2.1 A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL A PARTIR DOS ANOS 2000 .................................................................................................................................................. 16 2.1.1 A política de educação superior no contexto da pandemia da COVID-19 ............... 19 2.2 POLÍTICAS DE ACESSO E PERMANÊNCIA AO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO .................................................................................................................................................. 22 2.3 ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NA UFRN ................................................................ 32 3 O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL E A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA UFRN ....................................................................................................................................... 36 3.1 CONTEXTUALIZANDO A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E O PNAES ..................... 36 3.2 A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA UFRN: LIMITES, POSSIBILIDADES E DESAFIOS ............................................................................................................................... 38 3.3 O IMPACTO DA ADESÃO DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL NA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA UFRN ............................................................................ 48 3.4 PERFIL DO ESTUDANTE ASSISTIDO PELA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DA UFRN NO CONTEXTO DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL .................................... 53 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 63 12 1 INTRODUÇÃO O Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) em Serviço Social da UFRN “A assistência estudantil no contexto do ensino remoto emergencial: uma análise das ações nos semestres de 2020.1 E 2020.2 na UFRN.”, tem como objetivo geral analisar as mudanças na Política de assistência estudantil da UFRN a partir da adesão ao ensino remoto emergencial nos semestres de 2020.1 e 2020.2. E o TCC tem como objetivos específicos: refletir sobre as transformações da Política de Educação no contexto da pandemia da COVID-19; conhecer as principais demandas apresentadas pelos discentes da UFRN no período do ensino remoto emergencial nos semestres de 2020.1 e 2020.2; e conhecer as novas estratégias (serviços, programas, auxílios) da Política de assistência estudantil da UFRN no período do ensino remoto emergencial nos semestres de 2020.1 e 2020.2. A assistência estudantil sempre fez parte da minha trajetória acadêmica, pois foi um dos meios que contribuíram para a minha permanência na universidade. Sendo assim, através dos auxílios e bolsas da assistência estudantil, pude dar continuidade a minha graduação com mais tranquilidade, pois não precisei me inserir no mercado de trabalho de maneira precoce. Diante disso, com o aumento do interesse pela temática resolvi estudar com mais profundidade na disciplina de Pesquisa I e II, onde desenvolvi um trabalho intitulado: O acesso e assistência a pessoas com deficiência visual na UFRN, no qual tive a oportunidade de apresentar o trabalho no Congresso Brasileiros de Assistentes Sociais (CBAS) em 2019. Sendo assim, essa temática sempre esteve presente durante a minha graduação em Serviço Social. A educação superior brasileira se origina elitista, ou seja, foi fundada para atender as necessidades da classe dominante, sendo assim, apresenta um caráter excludente, pois o acesso ficava restrito apenas para elite, ficando de fora a classe trabalhadora. Atualmente, o perfil dos estudantes nas universidades públicas está mudando, pois aumentou a presença de grupos que foram originalmente excluídos, sendo eles: trabalhadores pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. A partir de meados dos anos 2000, ocorreu o processo de expansão do ensino superior brasileiro mediante a implementação de políticas educacionais,na esfera da educação superior privada foi direcionado os seguintes programas: O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e o Programa Universidade Para Todos (PROUNI). No ensino superior público foram criadas as seguintes políticas: o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), O Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e a Política de Cotas. Portanto, essas ações possibilitaram o 13 contínuo processo de expansão da educação superior, mediante a criação de novos cursos, campi, vagas e instituições, favorecendo assim a entrada de estudantes da classe trabalhadora. Na trajetória da política de assistência estudantil é notória a constante reivindicação para que essa política seja entendida como um direito e não como um favor. Diante disso, cabe destacar o binômio existente entre ser fruto dos processos de lutas e resistência do movimento estudantil, e também ser uma forma de controle, tendo em vista que ‘’atende’’ de forma básica e precária as necessidades dos indivíduos com a finalidade de controlar as manifestações e mostrar um lado mais humanizado do capitalismo. A assistência estudantil brasileira em sua origem carrega em si um caráter focalista e emergencial, atendendo as demandas de forma pontual e sistêmica. Dentre as inúmeras concepções da assistência estudantil destaco a de Moraes e Lima 2011 (apud ALMEIDA, 2019, p. 121-122), pois evidencia bastante essa contradição presente na assistência estudantil, além de incentivar a reflexão sobre a necessidade de se pensar tanto nas condicionalidades para o acesso a essa política quanto nos indicadores sociais. as políticas de assistência estudantil no âmbito educacional são muito importantes na permanência dos estudantes, mas ainda têm alguns resquícios de uma perspectiva assistencialista, são programas segmentados, fragmentados e em alguns casos muito restritos, que se baseiam em critérios de elegibilidade (MORAES; LIMA, 2011 apud ALMEIDA, 2019, p.121-122). Diante disso, cabe destacar a dificuldade do acesso à assistência estudantil, pois os auxílios são limitados, além de possuir muitas condicionalidades para acessar, tendo como indicador fundamental a renda. Dessa forma, acaba excluindo diversos estudantes de acessar a assistência estudantil, o que contribui para evasão dos discentes, devido à falta de acesso ao Programa Nacional de Assistência Estudantil. Dentre o arcabouço legislativo que trata a educação e assistência estudantil, podemos destacar a constituição de 1946 e 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o Plano Nacional de Assistência Estudantil e entre outros. A constituição de 1946 se constitui como um marco importante para a assistência estudantil, pois a colocou como obrigatória em todos os níveis de ensino. “Art. 172 - Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar”. As leis fundamentam que o acesso à educação básica é um direito de todos, ou seja, limitado aos três níveis de ensino que compõe a educação básica, sendo eles: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Diferentemente do acesso à educação superior que não é assegurado como um direito de todos e sim segundo a capacidade de cada um, 14 conforme apresenta a Constituição Federal (CF), art. 208º, V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um (BRASIL, 1988). A partir disso, é necessário assegurar não somente o acesso, mas também a permanência na instituição. E um dos meios para isso é através da assistência estudantil, tendo em vista que esse ponto compõe um dos objetivos da assistência, além de também constar tanto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996): “Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I- Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” quanto na Constituição de 1988: Art. 205: A educação direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988. Com o enfrentamento da emergência de saúde pública, em decorrência do Novo Coronavírus - (Covid-19), foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia em março de 2020. A partir disso, surge um novo cenário na educação brasileira, sendo assim, temos a entrada do ensino remoto emergencial tanto na esfera pública, quanto na esfera privada, além do mais, cabe ressaltar que vai desde a educação básica até a educação superior. Portanto, é necessário refletir a respeito das mudanças na política de educação superior no contexto do ensino remoto emergencial, ou seja, compreender como foi realizada a adesão e quais os impactos para os alunos, docentes, técnicos administrativos e a sociedade. Em relação à metodologia, desenvolvi uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório por intermédio da pesquisa documental e pesquisa bibliográfica, apoiado ao referencial teórico materialismo histórico dialético que busca compreender as mudanças sociais a partir da totalidade, ou seja, sempre levando em conta o contexto histórico. Para a realização deste trabalho de conclusão de curso utilizarei de diversas bibliografias, como, por exemplo: Revista: Universidade e Sociedade (Pandemia da COVID 19: trabalho e saúde docente), Revista: Em tempos de pandemia: proposta para a defesa da vida e dos direitos sociais, As Bolsas, o crédito e os fundos: a financeirização do ensino superior no capitalismo dependente no Brasil- Tatiana Brettas, As Particularidades do Ensino Superior Brasileiro nos Marcos do Capitalismo Dependente - Fabiana Maria Costa- Revista Temporalis. Além das legislações, sendo elas: Decreto n. 7.234, de 19 de julho de 2010. Dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil — PNAES; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996; Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934); Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1946); Constituição 15 da República Federativa do Brasil (1988). Também utilizaremos documentos, tais como: Regimento Interno da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis/PROAE, Edital Nº 001/2019.1 – PROAE, portaria nº 544, de 16 de junho de 2020, resolução nº 249/2018-CONSEPE, de 20 de dezembro de 2018, resolução nº 047/2020 – CONSEPE, de 08 de setembro de 2020. Documento: A Formação em Serviço Social e o Ensino Remoto Emergencial, Mapa do ensino superior do Instituto Semesp e entre outros. Além dos dados fornecidos pela PROAE, que tem como objetivo compreender e analisar as mudanças referentes à assistência estudantil no contexto do ensino remoto emergencial (BRASIL, 2020a). Diante do que foi exposto, é de suma importância destacar a necessidade de se acumular teoricamente sobre a temática da assistência estudantil, tendo em vista que essa área também compõe um dos espaços socioocupacionais da profissão. O TCC está estruturado da seguinte forma: 1- Introdução, 2- Educação Superior e o Programa Nacional de Assistência Estudantil, 3- O Ensino Remoto Emergencial e a Assistência Estudantil na UFRN, 4- Considerações finais. Portanto, na introdução apresento o meu objeto de pesquisa, o motivo da escolha da temática e a sua relevância, além de destacar o objetivo geral e específico e, por fim, a metodologia. O capítulo dois traz a discussão acerca da expansão do ensino superior brasileiro, apresentando desde a sua origem até os dias atuais. Além de debater sobre o acesso ao ensino superior na UFRN. Em seguida, no capítulo três apresento a discussão de como está estruturada a assistência estudantil na UFRN, expondo seuslimites, possibilidades e desafios. Além de analisar o impacto da adesão do Ensino Remoto Emergencial (ERE) nas universidades. Por último, apresento o perfil dos estudantes assistidos pela assistência estudantil na UFRN. Por fim, serão apresentadas as considerações finais sobre o TCC. 16 2 EDUCAÇÃO SUPERIOR E O PROGRAMA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL 2.1 A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL A PARTIR DOS ANOS 2000 De acordo com Demerval Saviani (2010), a expansão do ensino superior brasileiro iniciou-se em 1808 com os cursos superiores criados por D. João VI, estes eram cursos isolados, ou seja, não estavam articulados no âmbito das universidades, essa característica da educação superior brasileira se manteve até o império. Com a primeira república surgem as universidades ditas livres, isto é, instituições não oficiais com predominância na iniciativa privada. O autor também destaca as seguintes décadas: em 1930 ocorreu a retomada do protagonismo público no tocante à educação superior, sendo assim de 1940 a 1960 realizou-se o processo de federalização das instituições estaduais e privadas, além de no contexto da ditadura militar de 1964 a 1985 ter ocorrido a criação de novas universidades federais. Com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, a educação passa a ser reconhecida como um direito de todos, em seu artigo 205, capítulo III - Da Educação, da Cultura e do Desporto -, Sessão I: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Todavia, vale frisar que esse ponto está direcionado para o nível de educação básica, ou seja, está direcionada para os três níveis que compõem essa etapa, sendo eles: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. No que tange a educação superior, a CF aponta em seu artº 208 – “V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”, portanto, o acesso a esse nível de ensino ainda está alicerçado ao mérito da pessoa. No governo de Fernando Henrique Cardoso - FHC (1995- 2003), ocorreu o aprofundamento projeto neoliberal através das contrarreformas do Estado, sendo assim podemos destacar as seguintes medidas adotada pelo governo: a privatização de empresas estatais, a expansão da abertura do país para entrada do capital estrangeiro, flexibilização das legislações e entre outros. No que tange ao ensino superior, ocorreu a expansão de instituições privadas, possuindo estas autonomias para criar novos cursos e expandir o número de vagas ofertadas. Além do mais, cabe destacar os ataques a universidade pública nesse período, sendo eles: defasagem salarial, corte de verbas para manutenção das IFES e desenvolvimento de 17 pesquisa, o que ocasionou na migração de professores das universidades públicas para as instituições privadas e no contínuo sucateamento das IFES públicas. Nos anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), a expansão do ensino superior se manteve constante, sendo assim podemos destacar o processo de ampliação da educação superior que ocorreu mediante a implementação de programas e políticas educacionais, como por exemplo: PNAES, REUNI, PROUNI e entre outros. Diante disso, vale destacar que com a entrada desse governo ocorreu uma ampliação da política de transferência de renda e consequentemente uma ampliação dos direitos sociais, portanto a classe trabalhadora passou a ter um maior poder aquisitivo ocasionando assim melhorias nas condições de vida, limitadas ao acesso ao consumo. Diante disso, cabe destacar a dualidade apontada por Dermeval Saviani no que tange a educação superior nesse governo, sendo assim o autor apresenta a contradição existente, ou seja, se por um lado houve um aumento de investimentos nas IFES, promovendo assim a expansão de vagas e a interiorização dos campi, por outro lado houve a continuação dos repasses de verbas pública para iniciativa privada, mediante programas, como o PROUNI e o FIES. Em 2011, Dilma Vana Rouseff assumiu a presidência com cerca de 55 milhões de votos, sendo a primeira mulher a assumir a presidência da república do Brasil (2011-2016), dando continuidade ao projeto do Partido dos Trabalhadores (PT), a presidente implementou alguns projetos, como, por exemplo: a Rede Cegonha, o Plano Brasil Sem Miséria, amplia o Pronatec e o Bolsa Família, além de expandir o programa Minha Casa, Minha Vida criado nos anos finais do governo Lula. A partir disso, cabe destacar a conjuntura que antecede o golpe institucional parlamentar sofrido pelo governo de Dilma em 2016 que resultou em seu impeachment como presidenta sendo assim é preciso salientar o contexto econômico mundial, que se recuperava de uma crise financeira internacional, portanto a crise de 2008 iniciada nos Estados Unidos logo se alastrou por todo o mundo. No Brasil o impacto da crise chegou na transição dos governos Lula e Dilma e ocasionou uma forte recessão econômica. Diante disso, é importante destacar as manifestações que ocorreram nesse período, sendo assim, vale destacar as de 2013 e 2015. Portanto, em 2013 ocorreram diversas manifestações, inicialmente a reivindicação visava a redução das passagens dos transportes públicos e se potencializou. Nas manifestações de 2015, haviam dois movimentos distintos, sendo eles: um era formado pelos os trabalhadores que reivindicavam a manutenção dos 18 direitos, em defesa da Petrobras, além de ser contra o pacote econômico do governo. O segundo movimento era em oposição ao governo e contra a corrupção do PT. (Recessão e Golpe.) Um ponto muito importante foi o escândalo da operação Lava Jato investigada pela Polícia Federal, a investigação teve início em março de 2014 e consiste no desvio e lavagem de dinheiro com a Petrobrás, por meio das investigações foi constatado que empreiteiras pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes políticos e assim recebiam vantagens nas escolhas das empresas que executarão as obras para a estatal. Portanto, o esquema contava com a participação de doleiros, agentes políticos, empresários e entre outros. Sendo assim, esse escândalo contribuiu para descredibilizar ainda mais o governo, tendo em vista que durante as investigações foi divulgado envolvimento de agentes políticos do PT no escândalo. Apesar disso, Dilma Vana Rousseff foi reeleita em 2014. Em 2016 com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, que se caracteriza enquanto um golpe institucional parlamentar, o seu vice-presidente Michel Miguel Elias Temer Lulia (2016-2019) assumiu a presidência, por meio do seu projeto de governo intitulado: uma ponte para o futuro põe em prática com mais ênfase a agenda neoliberal, sua ascensão à presidência se caracteriza como uma vitória para a burguesia, pois as medidas tomadas nesse governo têm como maior beneficiado a classe dominante. Diante disso, podemos destacar as seguintes medidas: Emenda Constitucional 241 (PEC-241) que foi transformada na Emenda Constitucional 95 (EC-95), em dezembro de 2016 que tem como finalidade alterar o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências, sendo assim impõem um teto de gastos “investimento e gasto público em educação, saúde, assistência, pagamento de salários e aposentadoria dos servidores públicos, infraestrutura e obras públicas, ciência e tecnologia públicas, cultura, programas sociais”, portanto podemos observar um ataque aos direitos garantidos à população brasileira (MORAES, 2016, p. 108). A reforma do ensino médio proposta pela medida provisória 746 de 2016 e efetivada pela lei federal 13 415 de 2017 que tem como finalidade instituir aPolítica de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. No governo de Jair Messias Bolsonaro (2019 - em curso) podemos observar um constante ataque às universidades públicas por meio de ações, como, por exemplo: a perseguição aos professores que são citados como comunistas e doutrinadores e o ataque aos 19 cursos da área de humanas sob a ideia de promoverem um “marxismo cultural”1 nas universidades, além do constante e grande corte de recursos. Além disso, cabe destacar os caminhos apontados pelo presidente para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus apresentados por Tatiana Brettas (2020), no artigo “Defender a vida é preciso, a economia não”, da revista “Em tempos de Pandemia: Proposta para a defesa da vida e de direitos sociais (ESS- UFRJ)”. Portanto, a autora aponta que os ideais seguidos pelo presidente são: I- divulgar medicamentos sem eficácia comprovada para o combate ao vírus. II- na defesa pelo fim do isolamento social para a continuidade da atividade econômica. Promovendo assim “o discurso produzido pela extrema direita de que as pessoas devem desconsiderar os riscos sanitários de romper com o isolamento social para garantir a sua sobrevivência” (BRETTAS, 2020, p.12), colocando assim a economia acima da vida dos cidadãos brasileiros e desresponsabilizando “o Estado de prover as condições de vida até o momento em que a saúde das pessoas não estejam em ameaça sob a pandemia” (BRETTAS, 2020, p. 17). No seu projeto de governo, intitulado: o caminho da prosperidade, o presidente afirma a necessidade de pensar o ensino a distância como uma alternativa para áreas rurais de grande distância que impossibilitam o acesso ao ensino presencial, sendo assim cabe destacar que essa proposta está sendo feita até mesmo para o ensino fundamental, portanto é notório a tentativa de inverter os papéis, ou seja colocando a responsabilidade de promoção do processo de formação dos alunos nos responsáveis e assim contribuindo com a desresponsabilização por parte do Estado. No que tange a educação superior, o plano de governo aponta a necessidade de promover o empreendedorismo nos alunos, incita a parceria e pesquisa com a iniciativa privada e coloca como prioridade do governo apenas o ensino fundamental, médio e técnico. 2.1.1 A política de educação superior no contexto da pandemia da COVID-19 Com o enfrentamento da emergência de saúde pública, em decorrência do Novo Coronavírus - (Covid-19), que é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-COV 2 e tem alta taxa de contaminação, o que ocasionou em uma pandemia decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020. No Brasil os números são assustadores, pois o 1 Marxismo cultural se caracteriza como uma teoria elaborada pela direita. Segundo esse setor, o marxismo cultural apresenta uma perspectiva assumida pela esquerda ao deixar de buscar o poder pelas armas, e passar a fazer sua disputa política no âmbito da cultura (COSTA, 2020, p. 37-38 apud SILVA, 2020, p 78.) 20 país já bateu a marca de 19.917.855 no número total de casos, com 17,8m de recuperados e com mais de 555.460 vítimas da doença. As principais formas de enfrentamento da pandemia, são a vacinação em massa (que consiste em vacinar um grande percentual da população) e isolamento social (é uma medida que ajuda a diminuir a propagação do vírus, por meio do distanciamento físico). Tendo em vista que uma preocupação importante neste momento é a não sobrecarga do sistema de saúde pública, uma medida que deve ser prezada e se consegue pela via dos dois primeiros pontos. Como mencionado anteriormente, a política de combate ao Novo Coronavírus - (Covid- 19) adotada pelo governo do presidente Jair Messias Bolsonaro se caracteriza como uma postura negacionista diante do vírus. Sendo assim, como aponta Farage, Costa e Silva (2021) no artigo: A Educação Superior em Tempos de Pandemia: A Agudização do Projeto do Capital Através do Ensino Remoto Emergencial publicado pela revista Germinal, o governo fez uso constante das Fake News para impulsionar a manutenção das atividades econômicas, sendo assim divulgou remédio sem eficácia comprovada contra ao vírus e incentivou o fim do isolamento social, além de não seguir as medidas preventivas incentivadas pela OMS, isto é usar máscara e manter o distanciamento social, tendo em vista que o presidente apareceu diversas vezes descomprimindo as premissas. Por fim, destaco as inúmeras declarações do presidente que remetem o seu negacionismo diante do vírus e a sua constante falta de empatia com todos os cidadãos que perderam um ente querido “e daí?”, “não sou coveiro”, “é só uma gripezinha”, “chega de frescura e mimimi”, “comprar vacina só se for da sua mãe” Em meio ao contexto pandêmico, surgem as transformações na política de educação. A partir disso, podemos destacar a entrada do Ensino Remoto Emergencial (ERE) na educação superior brasileira, sendo assim, de acordo com os autores Dermeval Saviani e Ana Carolina Galvão (2021), o Ensino Remoto Emergencial é um arremedo do EaD, mas que possui um caráter de excepcionalidade, tendo em vista que vem como alternativa para a retomada das aulas de forma remota durante a pandemia de Covid-19. Cabe destacar que diversos nomes foram utilizados para implantação do Ensino Remoto Emergencial, como, por exemplo: Ensino por meio de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), Calendário Complementar, Estudo Remoto Emergencial e entre outros. Os autores também apontam sobre a necessidade de pensar nas condições primárias que antecede a adesão do Ensino Remoto Emergencial, sendo elas: acesso ao ambiente virtual propiciado por equipamentos adequados, ou seja, esse acesso não deve ser limitado apenas ao celular, acesso à internet de qualidade; que todos estejam devidamente familiarizados com as tecnologias. 21 Contudo, como aponta Farage, Costa e Silva (2021), o ensino remoto emergencial serve ao capital, tendo em vista que essa alternativa de implantação do ensino remoto não surge com a pandemia, pois já é algo idealizado pelo capital há mais de três décadas e consiste na mediação da tecnologia para o processo de ensino-aprendizagem. Apesar do ERE ter um caráter de excepcionalidade, ele contribui com a disseminação das ideologias do EaD, além de ser uma forma de reduzir custos com a educação. Os autores apontam que há severos prejuízos na qualidade do ensino, além de impactar a saúde docente e discente, tendo em vista que rompeu a fronteira do espaço privado e de trabalho. Diante disso, cabe destacar que a concepção de educação apresentada nesse contexto é que: “A educação é simplesmente reduzida ao ensino, desconsiderando-se a complexidade que envolve o espaço pedagógico da aprendizagem e da produção do saber” (SANTOS NETO; ARAÚJO, 2021, p. 27). Sendo limitada a transmissão e reprodução do conhecimento, quebrando assim o tripé da universidade pública, que consiste em ensino, pesquisa e extensão. Podemos destacar as seguintes características da educação no contexto da pandemia do coronavírus, sendo elas: educação limitada a transmissão e reprodução de ensino, exclusão tecnológica, precarização e intensificação do trabalho docente, o aprofundamento da conversão da educação enquanto mercadoria, o fim da barreira entre espaço privado e de trabalho. Para elucidar o processo de exclusão ocasionado pelo ERE destaco o seguinte dado: Entre os quase 56 milhões de alunos matriculados na educação básica e superior no Brasil, 35% (19,5 milhões) tiveram as aulas suspensas devido à pandemia de Covid-19, enquanto que 58% (32,4 milhões) passaram a ter aulas remotas. Na rede pública, 26% dos alunos que estão tendo aulas online não possuem acesso à internet (AGÊNCIA SENADO, 2020 apud SAVIANI; GALVÃO, 2021, p. 37). Dessa forma, a imposição da Portaria do Ministério da Educação(MEC) Nº 544, de 16 de junho de 2020 que revoga as portarias nº 343, de 17 de março de 2020, nº 345, de 19 de março de 2020, e nº 473, de 12 de maio de 2020. E dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus - Covid-19. Destaco o artigo 1º e o inciso 2º: Art. 1º Autorizar, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais, em cursos regularmente autorizados, por atividades letivas que utilizem recursos educacionais digitais, tecnologias de informação e comunicação ou outros meios convencionais, por instituição de educação superior integrante do sistema federal de ensino; § 2º Será de responsabilidade das instituições a definição dos componentes curriculares que serão substituídos, a disponibilização de recursos aos alunos que permitam o acompanhamento das atividades letivas ofertadas, bem como a realização de avaliações durante o período da autorização de que trata o caput (BRASIL, 2020b, p. 1). 22 A portaria vem para responder a demanda por volta às aulas nas universidades públicas, tendo em vista que a retomada e a adesão do ensino remoto emergencial se deram de forma gradativa em comparação com as universidades privadas. Contudo, cabe ressaltar que as alterações foram impostas à sociedade, sendo assim não ocorreu um diálogo com a comunidade acadêmica para a sua implementação. As mudanças ocorreram desde a educação básica até a educação superior e perpassam tanto as instituições públicas quanto as privadas. Com a adoção do ensino remoto emergencial nas universidades públicas e também em diversos campos da educação pública e privada, a partir disso se fez necessário uma mudança na assistência estudantil, pois com a entrada do ensino remoto nas IES públicas se fez necessário pensar formas de atender às novas demandas por assistência estudantil, como, por exemplo: o precário acesso a equipamento tecnológicos e internet. 2.2 POLÍTICAS DE ACESSO E PERMANÊNCIA AO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO Como citado anteriormente, o reconhecimento da educação como um direito universal ocorreu através da CF de 1988 que reconhece a educação como um direito de todos. A partir disso, foi necessário construir formas de garantia desse direito, sendo assim o acesso à educação deve ser pensado para além do ingresso do estudante na instituição, portanto é necessário oferecer condições de permanência ao ensino, como frisa no Art. 206 da constituição: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Diante disso, vale ressaltar as principais políticas de acesso e permanência ao ensino superior brasileiro, no que tange ao acesso ao ensino superior pela esfera privada, temos o fundo de financiamento estudantil (FIES) e o programa universidade para todos (PROUNI), além do incentivo à educação à distância (EAD), no acesso ao ensino superior pela esfera pública, temos o programa nacional de assistência estudantil (PNAES), programa de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais (REUNI) e a política de cotas. De acordo com o Ministério da Educação - MEC, O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em cursos superiores não gratuitos na forma da Lei 10.260/2001. O FIES foi criado em 1999, substituindo o Programa de Crédito Educativo (CREDUC) que possuía o objetivo de conceder empréstimos a estudantes para o pagamento de mensalidades e o custeio de despesas durante o desenvolvimento do curso de graduação. 23 Ao longo da sua trajetória, o FIES passou por diversas mudanças, atualmente tem o modelo chamado: Novo FIES que consiste em dividir o programa em várias modalidades, possibilitando um financiamento proporcional a renda familiar do candidato, tendo como pilares: a maior ampliação do acesso ao ensino superior, a maior transparência para estudantes e sociedade e a melhoria na governança e sustentabilidade do fundo. Diante disso, cabe destacar os números do FIES apontados por Almeida (2019 apud Sampaio, 2014; Santos & Guimaraes-Iosif, 2017, Sampaio, 2014; Carvalho, 2016) Em cinco anos (2011-2015), foram firmados 2,1 milhões de contratos passando de 76 mil, em 2010, para 732 mil, em 2014, equivalente a um salto de 963% (Sampaio, 2014; Santos & Guimaraes-Iosif, 2017). Em 2015, mesmo com a diminuição dos recursos para o FIES, foram assinados 287 mil contratos. Ao longo dos 17 anos do FIES, foram realizados mais 2,6 milhões de financiamentos (Sampaio, 2014; Carvalho, 2016). Sendo assim, apesar de ter contribuído com a expansão do ensino superior brasileiro, o Fundo de Financiamento Estudantil - FIES contribui também para uma tendência de uma educação mercadológica, pois contribui com o processo de privatização e mercantilização do ensino superior, através do repasse contínuo de recursos públicos para a iniciativa privada em detrimento do serviço público. O Programa Universidade para Todos - PROUNI foi criado em 2005, através da Lei nº 11.096. Com a finalidade de conceder bolsas de estudo integrais e parciais de 100% ou 50% para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. Tendo como público alvo: I - a estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral; II - a estudante portador de deficiência, nos termos da lei; III - a professor da rede pública de ensino, para os cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação básica, independentemente da renda a que se referem os §§ 1º e 2º do art. 1º desta Lei. Uma estratégia adotada pelo governo para incentivar a adesão ao PROUNI, foi oferecer às instituições que aderissem ao programa, isenções de alguns tributos, portanto o maior beneficiário desse programa é o setor privado, pois preenche as vagas ociosas dos cursos e consegue isenções importantes do governo. De acordo com o Mapa do Ensino Superior do Instituto Semesp, podemos destacar o gráfico a seguir que expõe o crescimento do PROUNI. Sendo assim, é notório quanto o programa cresceu desde a sua origem e consequentemente contribui com o processo de expansão do ensino superior brasileiro. 24 Gráfico 1 - PROUNI em milhares Fonte: Instituto Semesp (2021) Contudo, vale salientar que ao mesmo tempo em que contribui com a expansão do ensino superior, contribui também com o processo de mercantilização e privatização da educação superior mediante o sucateamento contínuo das universidades públicas e do demasiado repasse de recursos públicos para a iniciativa privada. Para exemplificar isto, destaco as citações a seguir apontadas por Tatiana Brettas no artigo: “As bolsas, o crédito e os fundos: a financeirização do ensino superior no capitalismo dependente no Brasil”. Ao mesmo tempo em que o FIES e o PROUNI ganham força e canalizam montantes maiores do fundo público, houve uma redução no orçamento destinado aos investimentos nas universidades públicas (BRETTAS, 2019, p. 13). “A queda na verba para as universidades públicas se dá no mesmo período em que cresce o montante de recursos do fundo público direcionado à ampliação do setor privado, como o FIES e o PROUNI” (BRETTAS, 2019, p. 13). A partir disso, podemos ver o rumo dado à educação superior pelo Capital. As políticas educacionais voltadas para o setor privado se dão por meio do crédito estudantil e da bolsa integral ou parcial destes dois programas, sendo assim o estudante não tem nenhum outro apoio institucional para fortalecer a sua permanênciana universidade, a política educacional nessas IES privadas está voltada apenas para o acesso à universidade. Desta forma, destaco a citação de Carvalho (apud ALMEIDA, 2019, p. 72), que afirma que a necessidade de apoio estudantil não é abarcada no setor privado, portanto a assistência estudantil de maneira 25 mais ampliada e visando a permanência dos discentes na Universidade está na esfera pública, mesmo que ainda de maneira insuficiente. Tendo em vista que estes necessitam de apoio estudantil para permanecer no ensino superior, que mesmo ainda sendo insuficiente, só pode ser encontrada nas instituições públicas (CARVALHO, 2016, apud ALMEIDA, 2019, p. 72). Outro ponto muito importante é o crescimento e o incentivo às Instituições de Ensino Superior (IES) à distância, sendo um pilar muito importante na expansão do acesso ao ensino superior brasileiro. Tanto a iniciativa privada quanto o setor público investiram na ampliação dos cursos à distância, com o mesmo discurso de democratização do acesso à educação superior aliado à flexibilização de horário e com preços abaixo do mercado, o que costuma atrair alunos trabalhadores. Segundo o Mapa do Ensino Superior do Instituto Semesp, que tem como finalidade coletar dados para compreender o cenário da educação superior no Brasil. Destaco os dados sobre o ensino à distância de 2019, as matrículas na modalidade Ead registrou um salto de aproximadamente 19,1%, sendo esse aumento com maior concentração na rede privada (21,7%), portanto vale ressaltar a expansão do ensino EAD, tendo em vista que em 2019, 28,5% das matrículas do ensino superior brasileiro estavam na modalidade EAD. Outro ponto apresentado no documento do Instituto Semesp é que uma das propostas do EAD é que ele permite a entrada na educação superior à estudantes de regiões mais isoladas, todavia os dados do documento demonstram que maior concentração de matrículas na modalidade EAD está concentrada na região Sudeste com aproximadamente 39,7% e no Sul com 22,2%, sendo assim o Norte registra apenas 10,7%, portanto indo na contramão em uma das proposta do EAD. Na perspectiva de expansão do ensino superior público, visando a ampliação de vagas nas IFES, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva aprova o decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, que Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI. O Programa tem como objetivo criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais. Portanto, visando promover a expansão da estrutura física, acadêmica e pedagógica das Instituições de Ensino Superior da rede federal, as ações do programa contemplam o aumento de vagas nos cursos de graduação, a ampliação da oferta de cursos noturnos, a promoção de 26 inovações pedagógicas e o combate à evasão, entre outras metas. O REUNI estabelece as seguintes diretrizes: Art. 2o O Programa terá as seguintes diretrizes: I - redução das taxas de evasão, ocupação de vagas ociosas e aumento de vagas de ingresso, especialmente no período noturno; II - ampliação da mobilidade estudantil, com a implantação de regimes curriculares e sistemas de títulos que possibilitem a construção de itinerários formativos, mediante o aproveitamento de créditos e a circulação de estudantes entre instituições, cursos e programas de educação superior; III - revisão da estrutura acadêmica, com reorganização dos cursos de graduação e atualização de metodologias de ensino-aprendizagem, buscando a constante elevação da qualidade; IV - diversificação das modalidades de graduação, preferencialmente não voltadas à profissionalização precoce e especializada; V - ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil; e VI - articulação da graduação com a pós- graduação e da educação superior com a educação básica. O REUNI surgiu para atender as reivindicações por mais vagas nas IFES, sendo assim, contribuiu para expansão da rede pública federal de ensino superior. Segundo a página do REUNI do Ministério Da Educação, a expansão da Rede Federal de Educação Superior teve início em 2003 com a interiorização dos campi das universidades federais. Com isso, o número de municípios atendidos pelas universidades passou de 114 em 2003 para 237 até o final de 2011. Desde o início da expansão foram criadas 14 novas universidades e mais de 100 novos campi que possibilitaram a ampliação de vagas e a criação de novos cursos de graduação. Diante disso, apesar de o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais ter contribuído com a expansão da educação superior pública, contribui também para a precarização da mesma, pois ao mesmo tempo em que há um anseio por ampliar o número de vagas nas IFES, criar mais cursos no período noturno, promover a expansão física e de recursos humanos das universidades, em contrapartida não há uma adequação real de recursos para garantir o ensino de qualidade na academia, ou seja há um desequilíbrio entre buscar expandir as IFES por meio das ações citadas anteriormente e a real garantia da efetividade das ações, isto é entregar a obra no prazo, contratar mais servidores, desde técnicos administrativos à professores para atender o aumento significativo da demanda, não superlotar as salas de aulas. A partir disso, é necessário que a expansão das IFES siga o mesmo ritmo da contratação efetiva de docentes, técnicos administrativos, ampliação da infraestrutura e entre outros. Para que assim não tenha prejuízo na qualidade do ensino, pesquisa e extensão e que todos os discentes possam receber o apoio institucional por meio da assistência estudantil. De acordo com Projeto de Reestruturação e Expansão (REUNI/UFRN) Relatório 2008- 2012, a UFRN adere ao REUNI em 2008, buscando “promover a revisão da estrutura 27 acadêmica, de modo a possibilitar a elevação da mobilidade estudantil, a criação de vagas, especialmente no período noturno, e o completo aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes, otimizando a relação aluno/docente e o número de concluintes dos cursos de graduação, fixadas através das seguintes grandes metas”: Elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento; – relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para dezoito, ao final de cinco anos, a contar do início da assinatura do referido termo (UFRN, 2013, p. 14). Para evidenciar o processo de expansão da UFRN pelo REUNI na modalidade de graduação presencial, podemos destacar os seguintes dados contidos no relatório citado anteriormente: Em 2007, a UFRN tinha 20.838 alunos matriculados em seus 82 cursos de graduação presenciais, em 2012, já havia um total de 27.482 alunos matriculados em 120 cursos. Portanto, com a expansão foram criados 43 novos cursos e ampliado a oferta de vagas nos cursos existentes, sendo assim com o percentual total de alunos dos cursos de graduação presencial mais o percentual de alunos dos cursos de graduação à distância, a UFRN atinge o total de 31.914 alunos de graduação em 2012. No que tange a contratação de servidores técnicos administrativos o relatório destaca o seguinte dado: Em 2008, a UFRN contava com 3.098 técnicos efetivos em seu quadro permanente e, em 2012, esse número passou para 3.259. Quanto aos dados da contratação de docentes é apresentado a seguinte informação: Em 2008, a UFRN contava com 1.545 docentes efetivos em seu quadro permanente e, em 2012 esse número passou para 1.927, dentre os quais 1.394 são doutores. Quanto aos dados da infraestrutura, o relatório apresenta a tabela 1 - Relação e descrição de intervenções na infraestrutura concluídas e em execução no período2008-2012 que apresenta 4 metas e tem os seguintes dados: área pactuada, Área executada ou em execução, Status, Objeto da licitação, Orçamento estimativo pactuado, Orçamento executado. Conforme indica a tabela a seguir: 28 Tabela 1 - Relação e descrição de intervenções na infraestrutura concluídas e em execução no período 2008-2012. Fonte: SIPAC/UFRN E também apresenta a Tabela 2 – que mostra um resumo de investimento em edificações, infraestrutura e equipamentos pactuados e disponibilizados no período 2008-2011. Além de informar que a expansão e recuperação das condições de infraestrutura são prioridades contidas no plano institucional e que apesar das obras entregues ainda há um longo percurso para que a infraestrutura se adeque a demanda institucional. Tabela 2 - Investimentos em edificações, infraestrutura e equipamentos pactuados e disponibilizados no período 2008-2012. Fonte: SIPAC/UFRN No que se refere aos dados referentes à assistência estudantil, o documento apresenta quatro metas, sendo elas: Meta 1 – Atender a 400 alunos com a concessão de auxílio financeiro no período de 2008 a 2012, além das outras modalidades já contempladas nas várias dimensões consideradas neste projeto, como de assistência estudantil; Meta 2 – Ampliar a estrutura física do Restaurante Universitário, com a construção de ambientes operacionais e de lazer, possibilitando o atendimento diário a 2.900 usuários, gradativamente, de 2008 até 2012. Meta 3 – Aumentar o número de vagas nas Residências Universitárias, por meio da ampliação dos imóveis atuais e com a construção de mais 05 Residências, sendo 03 no Campus central e 02 nos campi de Caicó e Santa Cruz, atendendo a 432 novos residentes, em um período compreendido entre 2008 a 2012. Meta 4 – Implementar o Projeto Qualidade de Vida nas Residências, visando minimizar os conflitos diante das diversidades de comportamento, crenças 29 e valores no ambiente coletivo, objetivando atender 900 residentes de 2008 a 2012 (UFRN, 2013). Além de apresentar as tabelas que evidenciam o relativo aumento nas ações da assistência estudantil, como, por exemplo: Tabela 3 – Modalidades e número de bolsas pactuadas e disponibilizadas como auxílio financeiro a estudantes no período 2008- 2012, “que sintetiza a concessão de auxílio financeiro a estudantes ofertado pela UFRN no período 2008- 2012 através do REUNI, cuja meta está sendo integralmente cumprida”. Tabela 3 - Modalidades e número de bolsas pactuadas e disponibilizadas como auxílio financeiro a estudantes no período 2008- 2012. Fonte: SIPAC/UFRN Diante disso, é evidente o desequilíbrio entre a expansão dos números dos discentes, da criação de cursos em relação a contratação efetiva de técnicos administrativos, docentes e na adequação da infraestrutura. Dessa forma, fica o questionamento de que ao promover em grande escala a expansão das IFES, o programa também promove de forma adequada os subsídios necessários? A política de cotas foi efetivada pela Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio, que traz a obrigatoriedade da reserva de vagas para a população que foi excluída ao longo da história, sendo eles: pobres, pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência. Destaco os artigos um e três da lei. Art. 1º As instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (BRASIL, 2012, p. 1). 30 Art. 3º Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (BRASIL, 2012, p. 1). As ações afirmativas, surgiram nos Estados Unidos em 1960, “os norte-americanos viviam um momento de reivindicações democráticas internas, expressas principalmente no movimento pelos direitos civis, cuja bandeira central era a extensão da igualdade de oportunidades a todos” (MOEHLECKE, 2002, p. 2). Sendo assim, exigiam a extinção das leis segregacionista e lutavam por melhoria de vida da população negra, tendo como principal ator: o movimento negro. Logo a discussão se alastrou pelos demais países, tendo suas particularidades. De acordo com Santos (apud MOEHLECKE, 2002, p. 8), o primeiro registro no Brasil datado do que hoje é entendido como ação afirmativa remete o ano de 1968, quando técnicos do Ministério do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho manifestaram-se favoráveis à criação de uma lei que obrigasse as empresas privadas a manter uma percentagem mínima de empregados não brancos (20%, 15% ou 10%, de acordo com o ramo de atividade e a demanda), contudo a referida lei não foi instituída, tendo em vista o período da ditadura militar. Posteriormente, em 1983 o então deputado federal Abdias Nascimento propõe o projeto de Lei nº 1.332, que consiste em uma ação compensatória que estabeleceria mecanismos de compensação para o afro-brasileiro após séculos de discriminação, contudo o projeto não foi aprovado pelo congresso nacional. Segundo Moehlecke (2002), a primeira política de cotas adotada no Brasil, foi por meio da legislação eleitoral que estabeleceu uma cota mínima de 30% de mulheres para as candidaturas de todos os partidos políticos, essa política é fruto da reivindicação e pressão do movimento feminista. Dessa forma, é de suma importância trazer o conceito de ações afirmativas, sendo assim Ação Afirmativa é uma iniciativa pública cujo objetivo principal é adotar medidas quem reparem e compensem os grupos que sofreram no passado perdas em razão de abusos de quaisquer tipos. São exemplos de abusos: exploração, discriminação, violência, preterição, tratamento degradante e impedimento sistemático ao desenvolvimento do indivíduo. Portanto a Ação Afirmativa cuida de reparar prejuízo acumulado ao longo do tempo. Isso se dá mediante o estabelecimento de uma efetiva igualdade de oportunidades Santos (SANTOS, 2001 apud MOCELIN; MARTINAZZO, 2017, p. 8). 31 Diante disso, destaca-se que algumas universidades brasileiras já tinham políticas de ações afirmativas, como, por exemplo: Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Sendo a UnB pioneira na temática por meio da adoção do sistema de cotas raciais no seu processo seletivo que consistia na reserva de 20% das vagas do vestibular para estudantes pretos ou pardos, sendo instituída a partir de 2004. Diante disso, a lei de cotas é de suma importância, pois unifica o processo e traz um modelo único para todas as Universidades, além de impor a sua obrigatoriedade. Dentre as diversas concepções a respeito da política de cotas, sendo elas algumas a favor e outras contrárias a sua realização, destaco a de Garlet, Guimarães e Bellini (2010): Os que defendem a política de cotas acreditam na necessidade da redução das amplas desigualdades de acesso ao ensino superior brasileiro, entendendo que as concepções de cidadania universal e igualdade estritamente jurídica servem apenas para mascarar e perpetuar as desigualdades existentes na sociedade capitalista (GARLET; GUIMARÃES; BELLINI, 2010, p. 12). Deacordo com Ribeiro (2016 apud SOUZA et al., 2018, p.7), a política de cotas possui um caráter emergencial, pois necessita existir até que tenhamos uma educação básica de qualidade para todos, sendo assim visa reparar danos sofridos por grupos que foram historicamente excluídos do processo educacional, contribuindo assim com uma reparação histórica do Estado com a população, sendo assim é imprescindível reconhecer o seu valor no processo de inclusão ao ensino superior público. Dessa forma, cabe destacar alguns dados referentes a implementação da política de cotas raciais para compreender a sua importância para a sociedade brasileira. Segundo a matéria: ‘’Cotas foram revolução silenciosa no Brasil, afirma especialista escrita por Débora Fonseca no site Agência Brasil, tendo como fonte o IBGE e o Censo do Ensino Superior elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Portanto, vale destacar que o percentual de pretos e pardos diplomados cresceu de 2,2%, em 2000, para 9,3% em 2017. E que aumentou o número de matrículas de estudantes pretos e pardos nos cursos de graduação, isto é, em 2011 do total de 8 milhões de matrículas, 11% foram feitas por alunos pretos ou pardos. Em 2016, ano do último Censo, o percentual de pretos e pardos matriculados nos cursos de graduação subiu para 30%. Destarte, a política de cotas altera o perfil dos ingressantes das universidades públicas, ou seja, a universidade passa a ter um perfil mais popular, através do ingresso de alunos pretos, pardos e indígenas, pessoas com deficiência e alunos de baixa renda. Portanto, a partir disso, aumenta a demanda por assistência estudantil nas IFES, tendo em vista que além do acesso ao 32 ensino superior é necessário pensar estratégias de permanência nas universidades, como, por exemplo: adequação da infraestrutura, o acesso ao restaurante universitário, as bolsas estudantis e entre outros. 2.3 ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NA UFRN A educação superior tem em sua origem, um caráter elitista, portanto vem para atender a demanda da elite brasileira, sendo assim, a classe trabalhadora não tinha acesso a esse espaço, pois era visto como um privilégio para poucos. Para elucidar isso, destaco a citação a seguir: Desenvolvida para atender a essas necessidades, o papel da universidade brasileira esteve voltado, historicamente, aos interesses prioritários dessa burguesia, que buscava assegurar a consolidação da sua dominação, de modo a criar uma base política necessária à continuidade da transformação capitalista no país, sem ruptura com os padrões conservadores da sociedade, buscava assegurar a manutenção da imensa disparidade entre as classes (COSTA, 2018, p. 31). De acordo com Santos Neto e Araújo (2021), a educação superior se estendeu à classe trabalhadora de forma lenta e tardia, conforme foi surgindo a necessidade de mão de obra mais qualificada, sendo assim, servindo a necessidade do Capital. Para elucidar esse ponto, destaco a citação a seguir: Não é possível tratar da educação sem considerar que essa se forjou no interior de uma sociedade formada por classes sociais, que somente estendeu a educação à classe trabalhadora quando precisou de força de trabalho dotada do domínio da palavra escrita e das habilidades fundamentais para a reprodução do capital, mediante uma intensificação da divisão social do trabalho. (SANTOS NETO; ARAÚJO, 2021, p.22). A tendência da perspectiva de que o ensino superior é um privilégio, ainda está muito presente na sociedade e nas legislações, como, por exemplo: a CF de 88 traz em seu art 208º “V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”. Portanto, o acesso e a permanência ao ensino superior brasileiro não são pensados como um direito de todos, como é no caso da educação básica. Sendo assim, o que rege é a ideia de competitividade e meritocracia, onde o sujeito tem que “merecer”, para alcançar esse nível de ensino. Portanto, ainda há um longo caminho a percorrer em busca de que o acesso e a permanência na educação superior sejam entendidos como um direito de todos e não como um privilégio para poucos. A partir disso, cabe destacar a mudança no perfil dos estudantes universitários, tendo em vista que o perfil está cada vez mais diversos, com a presença de grupos que foram originalmente excluídos, sendo eles: pobres, pretos, pardos, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas com 33 idade mais avançada e entre outros. Essa alteração no perfil dos estudantes se dá muito em decorrência da constante expansão do ensino superior brasileiro, que como vimos é fruto da implementação de políticas educacionais, voltadas tanto para a esfera pública, quanto para esfera privada, podemos destacar as seguintes políticas: O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade Para Todos (PROUNI). o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), O Programa Nacional de Assistência Estudantil/PNAES e a Política de Cotas. O TCC tem como lócus o Campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), localizado na Av. Sen. Salgado Filho, 3000 - Lagoa Nova, Natal - RN. A UFRN é uma universidade pública e foi instituída em 25 de junho de 1958, a universidade oferece atualmente 119 cursos, subdividido em graduação e pós-graduação, nas modalidades presencial e a distância, sendo predominante na modalidade presencial. Conta ao todo com 4 Campi, sendo eles: Campus Natal Central, Campus Caicó, campus Currais Novos, Campus Santa cruz e o campus Macaíba. O acesso à Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN no nível de graduação se dá por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) articulado com o SISU (Sistema de Seleção Unificada), sendo essa a principal forma de ingresso nos cursos de graduação, organizada da seguinte forma: seleção no primeiro semestre letivo do ano com entrada tanto para o primeiro semestre quando para o segundo. De acordo com o MEC, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 e tinha como objetivo avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Podem participar do exame alunos que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores. Posteriormente, a partir do Parecer nº 98/1999, o conselho nacional de educação incentivou o uso do ENEM ‘’para ser utilizado como critério de ingresso ao ensino superior, isolado ou concomitantemente com outro processo seletivo, igualmente universal e democrático.’’ Com a adesão crescente do ENEM por parte dos estudantes, devido a isenção a alunos de escolas públicas e por causa da vinculação do exame à disponibilização de bolsas em instituições privadas por meio do PROUNI em 2004, o ENEM se popularizou e ganhou destaque no cenário da educação pública brasileira. Em 2009, ocorre a reforma do ENEM, intitulada: ‘’O novo ENEM’’, portanto de acordo com o Ministério da Educação, a proposta tem como principais objetivos democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade 34 acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio e foi instituída pela a Portaria MEC nº 462. O Sistema de Seleção Unificada (SISU) foi instituído através da Portaria Normativa MEC nº 2, de 26 de janeiro de 2010, é um sistema informatizado gerenciado pela Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação. Dessa forma, o sistema seleciona estudantes a vagas em cursos de graduação disponibilizadas pelas IES públicas e gratuitas de ensino superior que dele participarem, sendo assim, o processo seletivo tem como base os resultados obtidos pelos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio - Enem. Outra forma de ingresso é através das vagas residuais que consiste em vagasque são geradas por cancelamento de curso, podem participar do processo seletivo estudantes da UFRN e de outras IES, tendo requisitos distintos, como, por exemplo: estudantes de outras universidades só podem se inscrever no mesmo curso de origem e o discente da UFRN só pode se inscrever em um curso distinto. O processo seletivo consiste em duas etapas, a primeira é Avaliação do Resultado do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM é de caráter eliminatório e classificatório, os candidatos são classificados de acordo com a nota do Enem. A segunda etapa consiste na Avaliação Institucional e Acadêmica que é de caráter classificatório. Outras formas de ingressos descritas no site da Pró- reitoria de Graduação - PROGRAD, são: transferência compulsória, transferência voluntária, reopção, reingresso graduado, Reingresso de 2º Ciclo, vestibular a Distância, Cursos com Teste de Habilidade Específica (THE), aluno especial, Pec- G, mobilidade nacional. Dessa forma, cabe destacar que em 2021 por meio da resolução nº 047/2020 de 08 de setembro de 2020 que “Estabelece o procedimento de heteroidentificação nos processos seletivos para cursos técnicos de nível médio, cursos de graduação e cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu e institui a Comissão de Verificação Étnica e Racial e suas Bancas de Heteroidentificação”, no artigo 1º a resolução traz que o procedimento é complementar a autodeclaração. Art. 1º Instituir o procedimento de heteroidentificação, complementar à autodeclaração, para todos os candidatos autodeclarados negros (pretos e pardos) e indígenas nos processos seletivos para ingresso em cursos de graduação e em cursos técnicos de nível médio (UFRN, 2020, p. 1). Diante disso UFRN passa a realizar o procedimento de heteroidentificação para candidatos autodeclarados negros (pretos e pardos) e indígenas. O procedimento consiste em: 1 - para candidatos autodeclarados negros é feito a identificação pelo aspecto exclusivamente fenotípico do candidato, sendo excluído o aspecto genotípico do candidato e o fenotípico de sua 35 família. 2 - para candidatos autodeclarados indígenas tem como critério o pertencimento etnico- racial, sendo aferido pela declaração de etnia e de vínculo com comunidade indígena, que deve ser assinada por uma liderança e duas testemunhas da comunidade à qual pertence o candidatos, além do registro administrativo de nascimento indígena – RANI (UFRN, 2020). Sendo assim, vale ressaltar que as comissões de heteroidentificação surgem inicialmente para responder às inúmeras denúncias de fraude, isto é, pessoas brancas estavam ocupando vagas destinadas a alunos negros por meio da autodeclaração, portanto as comissões são fruto de denúncia da sociedade, em especial de jovens estudantes negros que lutam para garantir que as reservas de vagas sejam destinadas a quem realmente tem direito. Um ponto muito importante é a mudança na perspectiva a respeito do procedimento de heteroidentificação, pois não tinha adesão das universidades, tendo em vista que o procedimento era tratado como um “tribunal racial”, já que a identificação é a realizado por terceiros, na resolução nº 047/2020 da UFRN em seu artigo 6º traz a importância de que a banca seja composta preferencial por pessoas negras atuantes do movimento de igualdade racial e pesquisadoras da temática, sendo assim é de suma importância frisar pela garantia desse artigo para que o procedimento de heteroidentificação venha para garantir direitos e não para tirar. Art. 6º A Comissão de Verificação Étnico-Racial deverá ser constituída prioritariamente por pessoas negras ligadas aos movimentos de promoção da igualdade racial ou que atuam com esse tema no ensino, pesquisa ou extensão, vinculadas à UFRN (UFRN, 2020, p. 2). Diante do exposto, é relevante frisar a importância de se pensar formas de acesso e permanência na educação superior, sendo assim podemos observar o processo de democratização da educação superior por meio da implementação de programas e políticas, que se dá tanto na esfera privada quanto na pública. No âmbito da esfera pública, podemos destacar o REUNI, PNAES, Política de Cotas e na esfera privada podemos destacar o FIES e o PROUNI. 36 3 O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL E A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA UFRN 3.1 CONTEXTUALIZANDO A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E O PNAES No âmbito do ensino superior público, temos o programa nacional de assistência estudantil (PNAES), que é fruto de muita luta e reivindicações da sociedade, em especial dos alunos e professores que lutam por uma educação pública, gratuita e de qualidade, sendo assim, as diversas manifestações por melhoria na educação pública superior, buscavam assistência qualificada e contínua ao estudante de nível superior das Instituições Federais de Ensino, por meio de auxílios, bolsas e infraestrutura nas universidades. Para adentrar sobre o percurso histórico da assistência estudantil brasileira é de suma importância destacar que o acesso à educação superior era tido como um privilégio, pois nesse período histórico somente tinha acesso a esse nível de educação a elite brasileira. De acordo com Aline Kowalsk (2012), a primeira forma de assistência estudantil foi direcionada a classe dominante, ou seja, foi no governo de Washington Luís em 1928, que foi destinado recursos para a construção da casa do estudante do Brasil, localizada em Paris, que tinha como finalidade auxiliar os filhos de famílias ricas em sua formação acadêmica por meio do custeio de despesas básicas. Sendo assim, a assistência estudantil foi criada inicialmente para atender a demanda da elite brasileira, tendo em vista que apenas estes tinham acesso à educação superior. Posteriormente, na era Vargas em 1930, a assistência estudantil passou a ter uma atenção maior, sendo assim, foi criada a casa do estudante brasileiro, que ficava localizado no Rio de Janeiro, o estabelecimento tinha quartos e um restaurante popular para os estudantes. Diante disso, vale destacar os seguintes decretos: nº 19.850 de 1931 e o de nº 19.851 de 11 de abril de 1931, o primeiro dispõe sobre o conselho nacional de educação, onde apresenta o seu regimento, isto é, a sua composição, finalidade, atribuições e entre outros. O segundo decreto que é mais conhecido como a reforma Francisco Campos ou como a lei orgânica do ensino superior que dispõe sobre a organização das universidades brasileiras, portanto estabelece um modelo padrão de universidade que pode variar conforme a região, consolidando assim a reforma do ensino superior, este decreto também previa a concessão de bolsas estudantis, para estudantes que atendessem os requisitos, porém era extremamente focalizada, pois era voltada para estudantes “pobres”. Portanto, vale destacar que estes decretos contribuíram com a regulamentação da assistência estudantil brasileira. 37 Além do mais, após essas ações, a assistência estudantil foi regulamentada mediante a promulgação da Constituição de 1934, em seu art 157 inciso § 2º - Parte dos mesmos fundos se aplicará em auxílios a alunos necessitados, mediante fornecimento gratuito de material escolar, bolsas de estudo, assistência alimentar, dentária e médica, e para vilegiaturas. E foi reafirmada na Constituição de 1946 por meio do Art 172 - Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar. Contudo, na constituição de 1988 não há menção de assistência estudantil para o ensino superior. O Programa Nacional de Assistência Estudantil/PNAES foi aprovado pela portaria normativa 39, de 12 de dezembro de 2007 e instituído pelo decreto nº 7.234 de 19 de julho de 2010. O PNAES tem como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal. O decreto estabelece em seu
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