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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E INCLUSÃO EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS ARTICULAÇÕES ENTRE DOCENTES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E DA SALA DE AULA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: TECENDO REDES DE DIÁLOGO E COLABORAÇÃO CLÁUDIA ROBERTO SOARES DE MACÊDO NAZÁRIO NATAL/RN 2021 CLÁUDIA ROBERTO SOARES DE MACÊDO NAZÁRIO ARTICULAÇÕES ENTRE DOCENTES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E DA SALA DE AULA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: TECENDO REDES DE DIÁLOGO E COLABORAÇÃO Versão final da tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Profª Dr.ª Rita de Cássia Barbosa Paiva Magalhães. Linha de Pesquisa: Educação e Inclusão Social em Contextos Escolares e não Escolares. NATAL/RN 2021 Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes – CE Nazário, Cláudia Roberto Soares de Macêdo. Articulações entre docentes do atendimento educacional especializado e da sala de aula nos anos finais do ensino fundamental: tecendo redes de diálogo e colaboração / Cláudia Roberto Soares de Macêdo Nazário. - 2021. 323 f.: il. color. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação. Natal, RN, 2021. Orientadora: Profa. Dra. Rita de Cássia Barbosa Paiva Magalhães. 1. Inclusão escolar - Tese. 2. Docência - Tese. 3. Atendimento educacional especializado - Tese. 4. Ensino fundamental - Anos finais - Tese. I. Título RN/UF/CE/ Biblioteca Setorial Moacyr de Góes CDU 376 Elaborado por Jailma Santos - CRB-15/745 CLÁUDIA ROBERTO SOARES DE MACÊDO NAZÁRIO ARTICULAÇÕES ENTRE DOCENTES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E DA SALA DE AULA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: TECENDO REDES DE DIÁLOGO E COLABORAÇÃO Versão final da tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Profª Dr.ª Rita de Cássia Barbosa Paiva Magalhães. Linha de Pesquisa: Educação e Inclusão Social em Contextos Escolares e não Escolares. BANCA EXAMINADORA Profª Drª Rita de Cássia Barbosa Paiva Magalhães – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Profª Drª Ivanilde Apoluceno de Oliveira – Examinadora Externa Universidade do Estado do Pará (UEPA) Profª Drª Mariângela Lima de Almeida – Examinadora Externa Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Profª Drª Luzia Guacira dos Santos Silva – Examinadora Interna Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Profª Drª Maria Aparecida Dias – Examinadora Interna Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Profª Drª Sinara Mota Neves de Almeida – Examinadora Suplente Externa Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) Profª Drª Gessica Fabiely Fonseca – Examinadora Suplente Interna Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) NATAL/RN 2021 À MINHA FAMÍLIA. Aos meus pais, Aluízio (in memoriam) e Luzinete; fontes de vida, amor, inspiração, coragem e força para os dias de luta e glória. Ao meu esposo, Albertino, por me preencher com amor, garra, entusiasmo, palavras de alegria, compreensão e incentivo ao longo dessa jornada. Ao meu irmão, Cláudio, pelo afeto, admiração, apoio e estímulo nesse percurso. À minha cunhada, Amanda, pelas escutas, incentivos e vibrações durante o processo. AGRADECIMENTOS Agradecer significa para mim o ato de assumir que a produção de conhecimentos é uma ação partilhada e construída com o outro (Mariângela Lima de Almeida) Tenho a sensação de ter chegado ao topo de uma grande montanha... Que escalada, e que paisagem! A chegada não é fruto de uma escalada solitária, mas de um coletivo colaborativo e investigador. Agradeço a Deus. Pelas vezes em que eu não tive forças para a continuidade e o Senhor esteve comigo, me tomou pelos braços e me lançou à frente. Aos meus pais, Aluízio e Luzinete. Pela inspiração, incentivo e lançamento aos passos para os melhores caminhos da minha vida! Em especial, agradeço à minha mãe. Por ter me segurado e puxado pelos braços na escalada sempre que precisei de mais forças. Mãe, companheira fiel nos momentos de angústia e êxito, a cada passo da seleção, da pesquisa e da escrita, muito obrigada pela motivação e insistência! Ao meu esposo, Albertino. Pelo amor, admiração e incentivo nos meus projetos de vida. Pelo apoio e compreensão nos momentos de ausência e dedicação à seleção, à pesquisa e à escrita da tese. Ao meu irmão e à minha cunhada, Cláudio e Amanda. Pelos afetos, incentivo, força e apoio ao longo dessa jornada. À Professora Rita. Agradeço, imensamente, pelo carinho, cuidado, compreensão e incentivo, já na graduação, quando me incentivou na continuidade dos meus estudos acadêmicos. E, mais especificamente, por ter estado durante esses últimos anos comigo, diretamente na orientação dessa pesquisa, apresentando-me possibilidades e desafios, que sem as devidas orientações e créditos, jamais eu teria condições de superar. Palavras seriam insuficientes para demonstrar meu enorme carinho, admiração e gratidão a ti. Sem ti, eu não estaria diante dessa vista encantadora do topo da montanha, Professora Rita! Meu muito obrigada! Aos professores do PPGEd. Em especial aos que estiveram presentes nos Seminários de Pesquisa e/ou na Banca de Qualificação I. Aos Professores Doutores: Débora Nunes, Enicéia Mendes, Luzia Guacira, Lúcia Martins, Jefferson Alves, Aparecida Dias, Mariângela Almeida, Flávia Roldan, Gessica Fonseca. Pelas reflexões e contribuições ao longo do processo de doutoramento. Às professoras da Banca de Qualificação II. Professoras Doutoras: Ivanilde Oliveira, Mariângela Almeida, Gessica Fonseca. Pela disponibilidade em ler nosso trabalho e apresentar possíveis caminhos para a versão da defesa dessa produção. Às professoras da Banca de Defesa. Professoras Doutoras: Ivanilde Oliveira, Mariângela Almeida, Luzia Guacira, Aparecida Dias, Sinara Almeida, Gessica Fonseca. Pela presteza em colaborar conosco na leitura cuidadosa do nosso trabalho e apontamentos para a versão final da tese. A Érica Arrais. Por ter me ajudado na escolha do lócus da pesquisa; e, mais especificamente, por ter me apresentado a Escola Municipal Arco-íris; além de ter estado comigo, em parceria do início ao fim dessa jornada, trocando as alegrias e os desafios desse processo. Gratidão, minha amiga! À equipe da Escola Pública Municipal “Arco-íris”, lócus de nossa pesquisa. Pela confiança na nossa proposta de investigação e abertura às possibilidades do estudo, contribuindo com pesquisas na área da inclusão, em uma perspectiva colaborativa. Em especial, aos professores “Azul, Amarelo e Rosa”. Pela acolhida inicial. Ao professor “Azul”, professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Pela confiança e abertura mediante o nosso estudo, pela ousadia, inovação e colaboração no campo, pelas tardes singulares vividas durante o processo da escalada juntos, meu muito obrigada, Professor Azul! A Ritiane. Pelas observações nas tardes de intervenção da pesquisa. Pela tessitura reflexiva,no seu diário de campo, com cuidadosas descrições e ponderações. Agradeço também pela amizade que nasceu desse percurso, por nossos momentos de conversas, incentivos e trocas, meu muito obrigada! Aos meus amigos e familiares. Pela escuta e palavras de incentivo: Clarice, Thaísa, Kelly, Thais, Laryssa, Gessica, Renata, Pedro, Alcio, Patricia Regina, Patrícia Lúcia, Marianne, Erica, Verinha, Márcia, Abigail. A Gessica, agradeço de um modo muito afetuoso e especial. Pelas valiosíssimas contribuições, dicas, participações, incentivos, inspirações, orientações, escuta e força em todo o percurso dessa escalada e até mesmo antes dela. Muito obrigada, minha amiga! A Laryssa, também agradeço de um modo especial. Pela companhia no trajeto dessa escalada. Nossos momentos de união e troca me encheram de esperança, motivações e alegrias, minha amiga. Muito obrigada! A Patrícia Regina. Pela escuta atenta e sensível, palavras de fé, esperança, sabedoria e força, sempre que precisei de um colo amigo. Muito obrigada, minha amiga! Por fim, sou grata a todos os professores que se movem em busca de práticas para a continuidade da construção de uma escola mais inclusiva para todos. E, em especial, aos estudantes com deficiência. A vocês, agradeço e desejo um AEE articulado com toda a escola. Sem vocês, essa escalada não faria sentido. Meu muito obrigada! A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos. (Marcel Proust) RESUMO A inserção de estudantes com deficiência no Ensino Fundamental, notadamente nos Anos Finais deste nível de ensino, tem gerado novos desafios aos processos de educação especial em uma perspectiva inclusiva. Nesse viés, o professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) pode ser considerado, por um lado, importante no atendimento de demandas individuais dos estudantes com deficiência e, por outro, pode ser um pivô na organização das práticas curriculares inclusivas, superando uma perspectiva de atendimento individualizado em educação especial. O objetivo dessa tese foi analisar possibilidades de articulação entre professores do AEE e da sala de aula nos Anos Finais do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal do Natal/RN. Em termos metodológicos, utilizamos uma abordagem qualitativa e seguimos os caminhos de uma pesquisa-ação colaborativa. Tivemos oito colaboradores: um professor do AEE; cinco professores atuantes nos Anos Finais do Ensino Fundamental; uma coordenadora e uma diretora pedagógica. Para fins de construção dos dados, utilizamos: análise documental, observações registradas em dois diários de campo, questionários e entrevistas. As entrevistas foram analisadas e categorizadas à luz de Bardin (1977) e Franco (2003). No aporte teórico, discutimos aspectos conceituais relacionados ao AEE e ao diálogo, à colaboração e à articulação entre os profissionais do AEE e da sala de aula e os efeitos dessa relação na escola que se pretende inclusiva. A pesquisa-ação no campo ocorreu com base em dados construídos com os participantes. Quanto à natureza colaborativa, desenvolvemos momentos de planejamentos e estudos coletivos, suscitados pelo professor do AEE, a partir de nossa chegada na escola. Adicionalmente, desenvolvemos um curso de extensão, o qual implicou em momentos de reflexão e diálogo em torno de concepções e práticas inclusivas. Como resultados, evidenciamos que a inserção da pesquisa na escola provocou mudanças nas atitudes dos professores, reverberando no planejamento e ação de momentos dialógicos e reflexivos sobre a escolarização de estudantes com deficiência. Podemos inferir que houve o surgimento de uma possibilidade de rede colaborativa na escola, ainda que haja a necessidade de maiores investimentos na construção da articulação entre os professores do AEE e da sala de aula com vistas à organização de estratégias inclusivas. Ressaltamos com os participantes, diálogos e reflexões acerca da articulação docente com vistas à realização de planejamentos coletivos, trocas de experiências, compartilhamento de saberes, que pudessem colaborar com o desenvolvimento profissional docente e com o aprimoramento de práticas com estudantes com e sem deficiência. Quanto ao AEE, ressaltamos a necessidade de superação do atendimento individualizado ao estudante com deficiência, geralmente de modo apartado e descontextualizado do todo escolar. Asseveramos, ainda, a importância das redes de diálogos e colaborações entre os professores do AEE e da sala de aula, de modo a tecerem os primeiros caminhos para a construção de uma prática em busca de alternativas para minimizar as barreiras atitudinais e conceituais ainda presentes na escola e que dificultam o processo de escolarização de estudantes com e sem deficiência. Enquanto tese, defendemos que o desenvolvimento da Educação Especial nos Anos Finais do Ensino Fundamental exige a articulação entre os docentes da sala de aula e do AEE em uma perspectiva dialógica, colaborativa e inclusiva. Palavras-chave: Inclusão Escolar. Docência. Atendimento Educacional Especializado. Anos Finais do Ensino Fundamental. ABSTRACT The entry of students with a disability in Elementary School, notably in the Final Years of this teaching level, has created new challenges to the processes of special education in an inclusive perspective. In these terms, the teacher from the Specialized Educational Assistance – abbreviated in Portuguese as AEE – may be considered, on the one hand, as valuable in the reception of individual demands from students with disability and, on the other hand, may be a pivotal element in the organization of inclusive curricular practices, overcoming a perspective of individualized service in special education. The goal of this thesis was to analyze articulation possibilities between the AEE teachers and the Final Years of Elementary School classroom from a public municipal school from Natal/RN. In methodological terms, we utilized a qualitative approach and followed the paths of a collaborative action research. We had eight collaborators: an AEE teacher; five Elementary School teachers; and a pedagogical coordinator and principal. In order to build the data, we utilized: document analysis, registered observations in two field diaries, questionnaires, and interviews. The interviews were analyzed and categorized in light of Bardin’s (1977) and Franco’s (2003) perspective. In the theoretical contribution, we discussed conceptual aspects related to the AEE and the dialogue, to the collaboration and to the articulation between AEE professionals and the classroom and the effects of this relationship in the school which seeks inclusion. The action research in the field occurred based on the constructed data with the collaborators. As for the collaborative nature, we developed moments for planning and collective studies, raised by the AEE teacher, since our arrival at the school. Additionally, we developed an extension course, which implicated in moments of reflection and dialogue around inclusive practices and conceptions. As results, we have proven that the insertion of the research in the school provoked changes in the teacher’s attitudes, reverberating in the planning and action of dialogical and reflexive moments of the education of students with disability. We can infer that there was an appearance of a possibility for a collaborative network in school, even though there is a need for larger investments in the creation of the articulation between AEE teachers and the classroom with views to the organization of inclusive strategies. We reinforced with the collaborators the dialogues and reflections regarding the teacher with views turned to the completionof collective planning, experience exchange, sharing of knowledge, which could contribute with the teacher’s professional development and with the enhancing of practices with students with and without disability. As for the AEE, we emphasize the need for the overcoming of the individualized assistance to the students with disability, generally done apart and decontextualized from the whole school. We assert even so the importance of the networks of dialogues and collaborations between AEE teachers and the classroom, in a way to build the first paths for the construction of a practice in search for alternatives to minimize the behavioral and conceptual barriers still present in a school and which make the schooling process of students with or without disability hard. As a thesis, we defend that the development of Special Education in the Final Years of Elementary School requires the articulation between the classroom and AEE teachers in a dialogical, collaborative and inclusive perspective. Keywords: School inclusion. Teaching. Specialized Educational Assistance. Final Years of Elementary School. RESUMEN La inserción en la escuela primaria, especialmente en los últimos años, de estudiantes con deficiencia, ha generado nuevos desafíos al proceso de la educación especial desde una perspectiva inclusiva. En ese contexto, el docente de la Atención Educativa Especializada – abreviatura en portugués es AEE – puede ser considerado, por un lado, importante en la asistencia de las demandas individuales de los estudiantes con deficiencia y por otro lado, puede ser un pivote/soporte en la organización de las prácticas curriculares inclusivas, superando de esa forma, una perspectiva de atención individual en la educación especial. El objetivo de esta tesis fue analizar las posibilidades de articulación entre los docentes de AEE y los maestros de la clase regular de los últimos años de la escuela primaria de una escuela pública municipal de Natal/RN. En términos metodológicos, utilizamos un abordaje cualitativo y seguimos los caminos de una investigación-acción colaborativa. Contamos con ocho colaboradores: un docente de AEE; cinco docentes de los últimos años de la escuela primaria; una coordinadora y una directora pedagógica. Para la construcción de datos utilizamos: análisis de documentos, observaciones que fueron registradas en dos diarios de campo, cuestionarios y entrevistas. Las entrevistas fueron analizadas y categorizadas a la luz de Bardin (1977) y Franco (2003). Como fundamentación teórica, discutimos, aspectos conceptuales del AEE; concepciones relacionadas al diálogo, a la colaboración y a la articulación entre los profesionales del AEE y los de la clase regular como así también sobre los efectos de esa relación en la escuela que se considera inclusiva. La investigación-acción en campo se basó en datos construidos con los participantes. El aspecto colaborativo del estudio se hace evidente en la planificación conjunta y en los estudios realizados de forma colectiva, que fueron propuestos por el docente del AEE a partir de nuestra llegada a la escuela. Adicionalmente, desarrollamos un curso de extensión que produjo momentos de reflexión y diálogo en torno a concepciones y prácticas inclusivas. Como resultados evidenciamos que la incorporación de la investigación en la escuela provocó cambios de actitudes en los docentes; reverberante en la planificación y acción de momentos dialógicos y reflexivos sobre la escolarización de estudiantes con deficiencia. Podemos inferir que surgió una posibilidad de red colaborativa, aunque todavía exista la necesidad de mayores inversiones en la construcción de la articulación entre los docentes de AEE y los de las clases regulares, con vistas a la organización de estrategias inclusivas. Junto con los participantes, destacamos diálogos y reflexiones acerca de la articulación docente con miras a planificar de forma colectiva, intercambiar experiencias y saberes. Esas acciones tienen el propósito de colaborar con el desarrollo profesional docente y optimizar las practicas con estudiantes con y sin deficiencia. En relación al AEE resaltamos la necesidad de superar la atención individual del estudiante con deficiencia que generalmente es llevada a cabo de forma descontextualizada de todas las actividades escolares. Señalamos la importancia de las redes de diálogo y colaboración entre los docentes de AEE y los de la clase regular para la construcción de prácticas que busquen alternativas que minimicen las barreras actitudinales y de conceptos que todavía están presentes en la escuela y que dificultan el proceso de escolarización de los estudiantes con y sin deficiencia. Como tesis, defendemos que el desarrollo de la Educación Especial en los Últimos Años de Educación Primaria requiere la articulación entre los maestros de la clase regular y los docentes de AEE en una perspectiva dialógica, colaborativa e inclusiva. Palabras-clave: Inclusión Escolar. Docencia. Atención Educativa Especializada. Últimos Años de la Escuela Primaria. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AEE Atendimento Educacional Especializado ATP Assessoria Técnica e de Planejamento BNCC Base Nacional Comum Curricular CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética EAM Experiência de Aprendizagem Mediada GAEE Grupo Auxiliar de Estatísticas Educacionais IBGE Índice Brasileiro de Geografia e Estatística INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação MEC Ministério de Educação ONEE Observatório Nacional de Educação Especial ONU Organização das Nações Unidas PDN Plano Diretor de Natal PEI Plano Educacional Individualizado PIBID Programa de Incentivo à Bolsas de Iniciação à Docência PPGEd Programa de Pós-Graduação em Educação PROF. Professor(a) RN Rio Grande do Norte SciELO Portal Scientific Eletronic Library Online SEEC Secretaria de Educação SEESP Secretaria de Educação Especial SRM Sala de Recursos Multifuncionais SME Secretaria Municipal de Educação TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TEA Transtorno do Espectro Autista TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Esquema da organização da pesquisa .................................................153 Figura 2 – Colaboradores presentes na Apresentação do Projeto de Pesquisa ....169 Figura 3 – Natal – Região Administrativa Norte .....................................................172 Figura 4 – Entrada da Escola Municipal Arco-íris ...................................................174 Figura 5 – Registros da Semana Pedagógica da Escola Municipal Arco-íris ........197 Figura 6 – Registros dos Encontros Colaborativos AEE e Sala de Aula ................238 Figura 7 – Registros dos Momentos Dialógicos e Reflexivos .................................256 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Formulações sociais e científicas sobre deficiência ............................50 Quadro 2 – Número de matrículas do Ensino Fundamental por Dependência Administrativa, Ano 2019 ...........................................................................................55 Quadro 3 – Comparativo de matrículas nos Anos Finais do Ensino Fundamental, 2019 ......................................................................................................... ..................55 Quadro 4 – Quantidade de estudantes matriculados nos Anos Finais do Ensino Fundamental, 2018-2019 ..........................................................................................56 Quadro 5 – Matrículas darede de ensino municipal, Natal/RN – 2018 ..................57 Quadro 6 – Matrículas de estudantes público-alvo da Educação Especial da Rede de Ensino Municipal, Natal/RN – 2018 ......................................................................57 Quadro 7 – Demarcações Educacionais Legais relativas ao Ensino Fundamental .............................................................................................................................. ......58 Quadro 8 – Quantidade de trabalhos encontrados no Portal SCieLo (2015-jun./2020) que versam sobre Anos Finais do Ensino Fundamental ...........................................65 Quadro 9 – Pesquisas encontradas no Portal SCieLo (2015-2017) que versam sobre a articulação entre professores do AEE e da sala de aula comum ...........................79 Quadro 10 – Pesquisas encontradas no Portal SciELo (2017-2020) que versam sobre a articulação entre professores do AEE e da sala de aula comum .................88 Quadro 11 – Objetivos, procedimentos e instrumentos de construção de dados, foco e realização das atividades .....................................................................................160 Quadro 12 – Relação dos colaboradores presentes na apresentação do Projeto de Pesquisa ..................................................................................................................168 Quadro 13 – Salas de Recursos Multifuncionais públicas – Natal – 2017 ..............170 Quadro 14 – Salas de Recursos Multifuncionais, segundo Dependência Administrativa – Natal – 2017 ..................................................................................171 Quadro 15 – Unidades de Ensino do Bairro Potengi .............................................173 Quadro 16 – Estudantes com deficiência matriculados nos Anos Finais do Ensino Fundamental (turno vespertino) em 2018 ...............................................................176 Quadro 17 – Perfil dos colaboradores entrevistados ..............................................178 Quadro 18 – Quantidade de participantes e participações nos Encontros Colaborativos promovidos pelo professor do AEE ..................................................237 Quadro 19 – Quantidade de participantes por disciplina/função nos Encontros Colaborativos promovidos pelo professor do AEE ..................................................237 Quadro 20 – Síntese dos Momentos Dialógicos e Reflexivos ............................... 251 SUMÁRIO 1 DIÁLOGOS INICIAIS ................................................................................ 19 1.1 MOTIVAÇÕES .......................................................................................... 23 2 DIÁLOGOS COM PESQUISAS ................................................................ 37 2.1 UM POUCO DE HISTÓRIA ....................................................................... 42 2.2 ENSINO FUNDAMENTAL ......................................................................... 52 2.2.1 Apontamentos do contexto .................................................................... 54 2.2.2 Apontamentos da legislação .................................................................. 58 2.3 REVISÃO DE LITERATURA: DIÁLOGOS COM AUTORES ...................... 63 2.3.1 Anos Finais do Ensino Fundamental ..................................................... 63 2.3.2 Currículo .................................................................................................. 68 2.3.3 Atendimento Educacional Especializado .............................................. 77 3 DIÁLOGOS COM VIGOTSKI .................................................................. 106 4 DIÁLOGOS COM O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E O PRINCÍPIO DA COLABORAÇÃO ....................................................... 118 4.1 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO EM UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA .................................................................... 118 4.2 A COLABORAÇÃO COMO TRANSVERSAL À INCLUSÃO ESCOLAR .. 125 5 DIÁLOGOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ................................... 141 5.1 DESENHO DA PESQUISA ...................................................................... 141 5.2 CAMINHOS DA PESQUISA .................................................................... 149 5.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA CONSTRUÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................... 156 6 DIÁLOGOS COM OS RESULTADOS DA PESQUISA ........................... 164 6.1 A ESCOLHA DO LÓCUS DA PESQUISA ............................................... 165 6.2 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E AS SALAS DE AULA DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UM OLHAR SOBRE COMO AS COISAS FUNCIONAM NA ESCOLA MUNICIPAL ARCO-ÍRIS .............................................................................................. 171 6.2.1 De onde e de quem falamos? Um desvelar sobre os participantes e contexto da pesquisa ............................................................................ 171 6.2.2 Como se organizam? Descobertas sobre as práticas na Semana Pedagógica, Sala de Aula e AEE .......................................................... 184 6.2.3 Como pensam? Uma apreciação das concepções que norteiam o AEE e a inclusão de estudantes com deficiência na Escola Municipal Arco- íris ........................................................................................................... 212 6.2.3.1 Concepções em torno do Atendimento Educacional Especializado . 213 6.2.3.1.1 “Ele articula, né?” .................................................................................... 213 6.2.3.1.2 “É um serviço da Educação Inclusiva, né?” ............................................. 221 6.2.3.2 Concepções em torno da Inclusão Escolar ......................................... 226 6.2.3.2.1 Ação importante e eticamente válida, mas não há preparo profissional que garanta sua efetivação ............................................................................ 226 6.2.3.2.2 Garantia de acesso via AEE .................................................................... 230 6.3 AÇÕES COLABORATIVAS NA ESCOLA MUNICIPAL ARCO-IRIS ........ 235 6.3.1 Articulação entre os professores do AEE e da sala de aula em uma perspectiva inclusiva na Escola Municipal Arco-íris .......................... 235 6.3.2 Momentos Dialógicos e Reflexivos ...................................................... 246 7 DIÁLOGOS FINAIS ................................................................................. 266 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 272 APÊNDICE A – CARTA DE ANUÊNCIA ................................................ 296 APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE .................................................................................................... 297 APÊNDICE C – PANORAMA GERAL DE OBSERVAÇÕES NA ESCOLA ................................................................................................................ 301 APÊNDICE D – ESPAÇOS DA ESCOLA MUNICIPAL ARCO-ÍRIS ....... 304 APÊNDICE E – TEXTO-BASE USADO PELO PROFESSOR AZUL (DE AEE) EM UM DOS ENCONTROS COLABORATIVOS ........................... 308 ANEXO A – OFÍCIO DE ENCAMINHAMENTO ....................................... 311 ANEXO B – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO À SALA DE AULA ............. 312 ANEXO C – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO AO AEE ............................. 313 ANEXO D – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO - ESCOLA .......................... 314 ANEXO E – QUESTIONÁRIO E ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA – AO PROFESSOR DO AEE ..................................................................... 315 ANEXO F – QUESTIONÁRIO E ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - AOS PROFESSORES DO 6º AO 8º ANO ...............................................317 ANEXO G – QUESTIONÁRIO E ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - AOS GESTORES E COORDENADORES .............................................. 319 ANEXO H – DADOS DA AÇÃO DE EXTENSÃO ................................... 321 19 1 DIÁLOGOS INICIAIS Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar uma coisa diferente (Roger Von Oech) A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), ao preconizar o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para um grupo específico em complemento/suplemento à escolarização comum a todos, abre espaço para questionamentos, desdobramentos, reflexão e diálogo sobre o lugar da diferença, do AEE e do papel da escola para todos. De início, portanto, faz-se necessário o reconhecimento da diversidade que compõe a cultura brasileira e de investigações acerca da efetivação de políticas de inclusão, de modo a contribuir para que o funcionamento da educação escolar para todos seja garantido, com base em um sistema inclusivo, sem haver restrições a nenhum dos grupos da sociedade brasileira. Permitindo-se um recorte no campo da diversidade que compõe a cultura brasileira, destaca-se nessa pesquisa, um olhar acerca da articulação de práticas docentes com vistas à inclusão escolar de um grupo: o das pessoas com deficiência. Para apresentarmos nossa concepção acerca de Pessoas com Deficiência, consideramos o conceito citado na Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada em 2009, com valor constitucional no Brasil: pessoas “que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas” (BRASIL, 2009a). Revelando-se nas palavras de Magalhães (2011a, p. 92) que: “embora podendo ser demarcado por aspectos orgânicos é criação humana”. Esse pensamento rompe e critica a visão biologizante da deficiência. Assim, “a deficiência em si (aspecto orgânico) é um problema na medida em que o sujeito entra em interação com uma cultura avessa às suas peculiaridades e necessidades” (MAGALHÃES, 2011a, p. 99-100). Nesse caso, não é para a deficiência em si que devemos olhar, mas para as pessoas que lidam com ela e para os contextos em que elas estão inseridas. Essa é uma máxima vigotskiana, também defendida por Omote (1994) e Magalhães (2011a). 20 Se tomarmos como referência o contexto da escola brasileira atual, ainda são comuns práticas homogeneizadoras, como referem Magalhães e Cardoso (2011) e Magalhães (2002, p. 2): “apesar dos professores terem certa clareza de que existem diferenças no âmbito intergrupal, interindividual, os alunos ainda são avaliados e considerados numa perspectiva homogeneizadora”. Desse modo, as pessoas com deficiência, apesar da ampliação do acesso ao sistema de ensino, tendem a permanecer à margem dos processos de participação e aprendizagem promovidos na escola. Em geral, em decorrência de peculiaridades físicas e/ou cognitivas próprias, que se diferem dos demais alunos. Para Magalhães e Cardoso (2011), o anseio pela universalização da escola, nos coloca diante de um grande desafio, o qual seja dentro de uma escola que acolhe a todos, portanto uma instituição de massa, atentar para a diversidade de sujeitos e grupos, para suas particularidades, motivações, ritmos, interesses, experiências, promovendo acessibilidade, permanência, participação e aprendizagem para todos. As práticas homogeneizadoras correspondem àquelas que tendem a dissimular a heterogeneidade discente presente na sala de aula comum. Isso se materializa na organização de turmas, formadas por estudantes com um tipo de deficiência, como se todos fossem iguais; ou por turmas cujos educandos tenham obtido os maiores rendimentos no ano anterior, e outras formadas por estudantes repetentes, por exemplo. Esse modo de organização das turmas, reverbera na oferta de currículos que desconsideram e inferiorizam as diferenças e as singularidades que há entre o alunado, seja com ou sem deficiência. O que existe, portanto, é um pensamento pautado na meritocracia e exclusão. Em contrapartida ao pensamento da lógica de exclusão, defendemos uma escola pautada na inclusão. Considerar tal lógica é permitir que todos, apesar das particularidades e singularidades tenham a possibilidade e o direito de aprender e se desenvolver no âmbito escolar, compartilhando de um mesmo currículo. Fonseca (2016) nos chama a atenção para a importância da oferta de um currículo que seja construído no coletivo escolar e que contemple as particularidades e pluralidades dos sujeitos que há no contexto escolar, independentemente da presença de estudantes com alguma deficiência física, intelectual, sensorial, em suas dimensões históricas e sociais. 21 Ao invés de práticas homogeneizadoras, defendemos um currículo baseado na diversidade humana e de oportunidades, que conforme Miotto (2010, p. 55-56): [...] se baseia na diversidade, desconstrói todo o modelo de hierarquização e de relações de poder que inferiorizam o diferente, dando lugar à pluralidade, ao reconhecimento das diferenças, à consciência do individual e ao mesmo tempo do todo, ou seja, o direito à igualdade de oportunidades e não de um modo igual de educar a todos. Esse pensamento de Miotto (2010) parte da concepção de uma escola em que todos tenham os mesmos direitos ao acesso, à participação e à aprendizagem. Essa compreensão dialoga com a construção e valorização do pensamento de que a escola é e/ou deveria ser inclusiva, erguendo-se igualitariamente a todos sob o pensamento dos quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser (DELORS, 2001). Assim, Não há como limitar todas as expressões da diversidade e seus coletivos como “modalidades de ensino”. As lutas por uma educação que respeite a diversidade e os modos de ser, de viver, os saberes e processos educativos vividos e desenvolvidos por uma variedade de coletivos sociais e étnicos brasileiros impele a uma reconfiguração da escola e dos sistemas de ensino, uma outra visão de educação e de gestão que articule o escolar e as dimensões mais profundas das diferentes culturas que formam o país. (DOURADO, 2011, p. 226). É importante, desse modo, que a escola seja repensada, e que o professor, sujeito com mais experiência, capaz de ser mediador entre o aluno e o conhecimento, sistematize e planeje de forma flexível e intencional seus encontros pedagógicos, de modo a considerar e avaliar o estudante de forma contínua e em sua totalidade, tendo ou não alguma deficiência ou outra peculiaridade. Nesta abordagem, a avaliação da aprendizagem, por exemplo, é uma ferramenta, a qual poderá tanto “aferir” o conhecimento construído/ampliado pelo estudante ao longo dos encontros, como também o modo como a prática curricular torna-se ou não barreira para alguns deles. Defendemos que os estudantes com e sem deficiência não sirvam apenas para a contagem de matriculados na escola. É preciso desmistificar a ideia de que apenas as pessoas com deficiência possuem dificuldades e peculiaridades no contexto educativo, é imperativa a remoção dos rótulos e das barreiras impostas a tais pessoas, que as impedem, algumas vezes, de aprender e se desenvolver na escola comum, e, portanto, de serem de fato, incluídas. 22 Para ancorar nossa defesa, dialogamos com Carvalho (2000, p. 57-58) quando afirma: O que se constata é que os obstáculos à aprendizagem não são exclusividade de cegos, surdos, retardados mentais1, dos que têm paralisia cerebral, dos autistas, dos disléxicos, dos disgráficos, dos oriundos das camadas populares, dos que vivem em situação de desvantagem, dentre outros... Barreiras à aprendizagem (temporárias ou permanentes) fazem parte do cotidianoescolar dos alunos (deficientes ou ditos normais2) e se manifestam em qualquer etapa do fluxo de escolarização. Barreiras existem para todos, mas alguns requerem ajuda e apoio para seu enfrentamento e superação, o que não nos autoriza a rotulá-los como alunos “com defeito”. Independentemente de se possuir deficiência, ninguém é igual. Somos todos diferentes e precisamos ser inclusos na sociedade e na escola com nossas diferenças. A própria diferença que há entre os estudantes, caracterizando-os com ritmos diferentes, interesses específicos, dificuldades em determinados períodos e/ou em determinadas disciplinas/conteúdos, é suficiente para a defesa e para a necessidade de a escola ser inclusiva para todos e não apenas para aqueles com deficiência. As adequações empreendidas para os estudantes com deficiência, podem beneficiar a todos, tornando as aulas mais acessíveis e atrativas (SOARES, 2015; MARA; MARA, 2012). Ou seja, a inclusão escolar traz ganhos para todos os estudantes. Dito de outro modo, não é preciso ter o estudante com deficiência matriculado na escola, apresentando especificidades, para que defendamos a inclusão escolar. Ela é uma necessidade atrelada à existência escolar (SOARES, 2015). Toda ela permeada por pessoas singulares que mantém similitudes com outras que compartilham o espaço escolar. Para isso, defendemos a articulação entre os docentes (da Educação Especial e comum), como um caminho para a construção coletiva de práticas colaborativas e inclusivas para todos. Mediante essas notas introdutórias e, por considerar que a trajetória acadêmico-profissional do pesquisador justifica o seu lugar de fala e influencia em suas escolhas investigativas, trazemos, a seguir, as motivações que levaram a essa investigação. 1 Nomenclatura hoje em desuso, atualmente, esse termo seria equivalente à deficiência intelectual. Nesse caso, “retardo mental”, leia-se: deficiência intelectual. 2 “Ditos normais”, leia-se: sem deficiência. 23 1.1 MOTIVAÇÕES Muitas são as questões que nos movem à investigação aqui empreendida. Uma delas se refere à chegada de estudantes com deficiência nos Anos Finais do Ensino Fundamental, por exemplo, porque gera dúvidas e questionamentos entre os professores, e o modo como eles concebem a deficiência, reverbera na organização de suas práticas, que podem ser inclusivas ou excludentes. Além disso, de acordo com os levantamentos que realizamos no Portal Scientific Electronic Library Online (Portal SciELO), que poderão ser visualizados na revisão de literatura mais adiante nesta tese, há escassez de trabalhos investigativos na área inclusiva envolvendo esses anos de ensino. Também há demandas de pesquisas que envolvam a inclusão escolar de estudantes com deficiência, na perspectiva da análise da efetivação de políticas inclusivas e da articulação entre professores do AEE e da sala de aula nesse mesmo seguimento de ensino. Esses aspectos explicam sumariamente o objeto de interesse investigativo nesta pesquisa. Mas, ao iniciar as primeiras linhas dessa tese, senti3 a necessidade de situar o leitor sobre o meu lugar de fala, por, provavelmente, ter influenciado as escolhas aqui empreendidas. Para isso, selecionei alguns fatos vividos em decorrência das experiências do meu percurso acadêmico-profissional, que colaboraram para a construção do meu olhar para a pessoa com deficiência ao longo de minha trajetória, estabelecendo estreita relação com as escolhas teórico-metodológicas que fizemos durante a investigação. O intuito é a tentativa de revelar as motivações para o desenvolvimento de estudos na área da Educação Especial em uma perspectiva dialógica, colaborativa e inclusiva. O interesse pela investigação da escolarização de pessoas com deficiência surgiu durante a minha trajetória acadêmica, iniciada no Curso de Pedagogia, em 2008.2, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Esse tema tornou-se particularmente instigante quando vivenciei, enquanto aluna da 3 Apenas ao me referir à minha trajetória acadêmico-profissional, usarei a primeira pessoa do singular, por entender que nesse momento estou me apresentando, situando o leitor sobre quem sou e de onde falo. Adiante, usarei a primeira pessoa do plural por ponderar a natureza dialógica com os interlocutores na pesquisa-ação [Nota da pesquisadora]. 24 graduação, a disciplina de Introdução à Educação Especial ministrada pela Profª Drª Lúcia de Araújo Ramos Martins. A partir das experiências nessa disciplina, a professora nos levou a compreender alguns conceitos relativos à Educação Especial, a partir de uma síntese histórica da educação de pessoas com deficiência intelectual, sensorial, física e múltiplas. Também foi possível conhecer as etiologias de algumas deficiências, assim como discutir elementos sobre as altas habilidades/superdotação e algumas de suas implicações para o processo de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano; além disso, pude conhecer os marcos legais que garantem a inclusão social e educacional de pessoas com deficiência, bem como discutir questões relativas à família, sociedade, trabalho, acessibilidade, sexualidade e deficiência. Nessa época, esse era o único componente curricular obrigatório no curso de Pedagogia, em torno da Educação Especial. A construção desse conhecimento despertou meu interesse em poder continuar os estudos na área da Educação Especial em uma perspectiva inclusiva. A posteriori, cursei uma disciplina, como componente curricular optativo: Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), ministrada pela Profª Ms. Heloisa Lima Perales, que contribuiu para a formação de noções básicas sobre a educação de surdos e a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Nesse momento de minha trajetória acadêmica, iniciei contato com a atuação profissional docente, através da inserção em um estágio remunerado em uma escola privada da cidade do Natal – Rio Grande do Norte (RN) para auxiliar a professora de uma turma da Educação Infantil que tinha uma criança que apresentava aspectos comportamentais e sociocomunicativos que demandavam uma atenção mais específica. Participar das duas disciplinas supracitadas foram meus primeiros passos na construção do conhecimento em Educação Especial, as quais me despertaram para o interesse em atuar, enquanto pesquisadora e profissional, na área educacional em uma perspectiva inclusiva. As disciplinas me faziam conciliar o conhecimento teórico universitário com a prática da experiência profissional surgida. Para Paulo Freire (2002), a prática desassociada da teoria, se constitui mero ativismo; de igual modo, a teoria apartada da prática, se constitui um discurso vazio, por isso, defendemos as experiências práticas do estágio para a formação inicial de professores e a formação continuada em serviço permanentemente, para os professores já formados, atuantes na escola. 25 Durante o percurso acadêmico, guardo na memória a vivência da realidade escolar em dois momentos, esse: como professora auxiliar estagiária na Educação Infantil; e, posteriormente: como bolsista do Programa de Iniciação à Docência (PIBID) por 2 anos, sob a coordenação da Profª Drª Erika dos Reis Gusmão Andrade. Dessa experiência do PIBID, lembro-me dos estudos realizados, das participações em eventos, das escritas de projetos e capítulo de livro, dos planejamentos e ações realizadas nos Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental em uma escola pública estadual do Natal/RN. O que mais me marcou das experiências do PIBID, além do contato direto com a realidade da escola pública e no Ensino Fundamental, foi a participação em um curso intitulado: “Aprendendo com Vigotski”. Foi uma rica oportunidade de aprofundar conhecimentos sobre o psicólogo LevSeminovich Vigotski, outrora introduzidos pelas disciplinas de Psicologia Educacional. Por meio do curso “Aprendendo com Vigotski” ministrado pela Prof. Drª Rita de Cássia Barbosa Paiva Magalhães e suas colaboradoras (duas bolsistas de Iniciação Científica), “os pibidianos” estudaram acerca das contribuições de Vigotski para os processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento. Lembro-me que me encantava ouvi-las dizer, com base em Vigotski, que a aprendizagem era o motor do desenvolvimento humano e que, por isso, deveríamos interagir com os estudantes a partir de seus conhecimentos prévios e na oportunização de experiências que lhes fossem significativas, possibilitando-lhes desafios para a ampliação dos conhecimentos já adquiridos. Era nessa perspectiva, enquanto profissional em formação, que me movia o desejo de praticar, estudar e realizar pesquisas. A partir dessas experiências, tive o desejo de vivenciar a iniciação científica na Base de Pesquisa sobre Educação de Pessoas com Necessidades Especiais (GCE 044-00), na linha de pesquisa Educação Inclusiva, sob a orientação da Prof. Drª Rita de Cássia Barbosa Paiva Magalhães. Contudo, ao ingressar como bolsista de iniciação científica voluntária nessa base, fui chamada para assumir o cargo de Professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, promovida pelo Concurso do Estado do Rio Grande do Norte, realizado em 2011. O desejo de me tornar pesquisadora nascia, quando precisou ser interrompido às pressas pela escrita de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Não pude mais participar da Base de Pesquisa, mas ganhei a Professora Drª Rita 26 Magalhães como orientadora de TCC e escrevemos um artigo4 sobre as contribuições de Vigotski na escola, o qual foi reorganizado e publicado como capítulo de livro em 2017. Concluí o curso de Pedagogia em 2012 e passei a assumir o, então, cargo de professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Estado. Nasciam aí os primeiros desafios profissionais e as primeiras aproximações com estudantes público-alvo da Educação Especial5, agora como professora recém-formada. Durante o exercício profissional que me deparava, o desejo de ser também pesquisadora foi retomado. Na perspectiva freireana de que ao ensinar, aprendemos; e ao aprender, ensinamos (FREIRE, 2002), experimentava os desafios de ensinar e de aprender com meninos e meninas do 4º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública. A busca por estudos e teorias que pudessem subsidiar a minha prática passava a ser uma necessidade e, por isso, se fazia presente no meu dia-a-dia. O grupo era bastante heterogêneo e havia um estudante com uma necessidade específica que não o encaixava na categoria de estudante público-alvo da Educação Especial, mas exigia de mim e dos seus colegas de turma e demais profissionais da escola, uma postura sensível de acolhimento e intervenções específicas. Foi a partir do contanto com esse grupo que o meu desejo de retornar à universidade, de fato, se tornou mais latente. Nesse percurso que iniciara, gostava de refletir sobre o que apresentava aos estudantes e sobre como eles reagiam às experiências oportunizadas, e ao mesmo tempo, gostava de observar o lugar que ocupava no que se referia à tentativa de compreender como os colegas professores pensavam e se organizavam em torno da escolarização dos estudantes com deficiência da instituição. Nos estudos iniciados nesse período, pude observar que algumas pesquisas referendavam o vivido nessa experiência (ARTIOLI, 2006; DENARI, 2008; CARMO, 2008; BEZERRA; ARAÚJO, 2011), pois eu percebia que havia um descompasso entre concepções de cunho inclusivas, ancoradas em discursos politicamente corretos e práticas profissionais ainda tão excludentes. 4 O artigo, tem como título: Ensinar e aprender na escola contemporânea: diálogos com Vigotski; e compõe um capítulo no livro: Aprendiz, docência e escola: novas perspectivas, cujo organizador é Paulo Meireles Barguil. 5 A legislação brasileira refere que os alunos público-alvo da educação especial são aqueles com deficiência (física, auditiva, visual ou intelectual), transtornos globais do desenvolvimento – TGD – e/ou altas habilidades/superdotação – AH/SD (BRASIL, 2008). 27 Adicionalmente, nessas minhas primeiras experiências docentes, pude observar que ao ter estudantes com deficiência matriculados na sala de aula, e ao me interessar por tentar compreender suas dificuldades e possibilidades, indo em busca de ajuda na escola para expor tais preocupações e chamar o grupo de professores para pensar coletivamente sobre os casos, passava a ser vista como a pessoa referência para lidar com aqueles estudantes no âmbito escolar. Os colegas alegavam não saberem o que fazer, como agir com tais estudantes. Como consequência, pude observar que os educandos com deficiência eram vistos como “do professor x”, e não da escola; isso passou a me incomodar, pois percebia que fragilizava a construção sistemática e contínua de ações inclusivas no contexto escolar. Essa concepção de que apenas um professor toma a frente do trabalho com os estudantes com deficiência, prejudica a perspectiva de responsabilidade da coletividade escolar e pode ser um indício de segregação/exclusão escolar do estudante com deficiência. A inclusão escolar que defendemos requer, necessariamente, ações coletivas sistemáticas, colaborativas e de continuidade entre os profissionais da escola, expressas no projeto político pedagógico, na organização curricular, nos planejamentos pedagógicos e nas práticas dos docentes da sala de aula e do AEE. Além da necessidade da coletividade para incluir estudantes com deficiência no contexto escolar, é preciso reconhecer que os estudantes são todos diferentes uns dos outros, quer seja por alguma deficiência específica, pelo nível socioeconômico, pela cor da pele, quer seja pela idade, sexo, credo religioso, ou alguma necessidade educacional especial. Importa compreender que: Não há diferenças drásticas entre o processo de aprendizagem de alunos deficientes e não deficientes. Cabe à escola considerar que os caminhos de aprendizagem e desenvolvimento em alunos com deficiência têm peculiaridades e que não importa a deficiência em si, mas como o meio cultural e a escola lida com isto (MAGALHÃES, 2011a, p.100). Essa compreensão leva à necessidade de uma reorganização do sistema educacional através de estruturas acessíveis, adaptadas e flexíveis de ensino, do ponto de vista físico e da utilização de técnicas e/ou recursos apropriados ao atendimento dos estudantes, entendendo que suas aprendizagens percorrem caminhos e formas peculiares (DANTAS, 2016; MAGALHÃES, 2011a; GLAT; NOGUEIRA, 2002). 28 O confronto entre os vários desafios de início da carreira docente, como as escolhas acadêmico-profissionais que precisaram ser empreendidas, a busca por estratégias para propiciar a inclusão escolar dos estudantes com deficiência, as observações feitas na escola que comecei a trabalhar e as necessidades de continuidade de estudos que emergiam da minha prática, me levavam a querer aprofundar estudos voltados para a Educação Especial em uma perspectiva inclusiva. Isso porque, compreendia que a formação inicial vinculada à continuada seria essencial à qualificação profissional e ao aperfeiçoamento da prática do professor. Foi com o desejo de me aperfeiçoar tanto em termos de teoria, quanto de prática, de poder mergulhar no conhecimento científico com viés inclusivo e colaborar com ele e com a instituição pesquisada, que me lancei à seleção de Mestrado da UFRN no mesmo ano, 2012, em que me formei e assumi a função de professora do Estado. Para compor minhas experiências acadêmico-profissionais e colaborar com a construção do conhecimento científico na área em estudo, fui aprovada e ingressei,em 2013, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN – PPGEd/UFRN sob a orientação da Profª Drª Débora Regina de Paula Nunes. A partir dessa aprovação, o desejo de ser pesquisadora acadêmica pôde se efetivar. Os motivos pessoais se misturaram aos acadêmicos e sociais na área em estudo. Desenvolvemos uma pesquisa que versou sobre os efeitos de uma proposta de intervenção baseada na Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM)6 no desempenho social/acadêmico de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), inserida no 4º ano do ensino fundamental (MACÊDO, 2015). O mergulho no mestrado me fez ficar mais encantada com essa área e o desejo de tentar ir adiante foi sendo construído paulatinamente. Em 2014, migrei da função de professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para a função de professora do AEE em uma escola dos Anos Finais do Ensino Fundamental do Estado. 6Um estilo de interação qualitativa entre o organismo e seu meio ambiente. Esta qualidade é assegurada pela interposição intencional de um ser humano que medeia os estímulos capazes de afetar o organismo (FEUERSTEIN; KLEIN; TANNENBAUM, 1994). Para Feuerstein, as dimensões de intencionalidade (o verdadeiro objeto do mediador) e a transcendência (fazer o mediado pensar sobre o que acontece) são essenciais para uma efetiva Experiência de Aprendizagem Mediada. É ela que assegura a mudança de natureza estrutural. 29 Segundo o Decreto nº 7.611, o AEE é compreendido como um conjunto de atividades – que se diferenciam daquelas realizadas na sala de aula e, por isso, não assume caráter substitutivo (BRASIL, 2008). O AEE dispõe de recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente, de modo a complementar a formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na frequência dos estudantes às Salas de Recursos Multifuncionais (SRM’s); ou suplementar à formação de estudantes com altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 2011). Esse atendimento visa a autonomia e independência desses estudantes na escola e fora dela (BRASIL, 2008). Em conformidade com Mendes e Cabral (2016, p. 53-54): Em 2005, a extinta Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (MEC) lançou o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) para apoiar os sistemas de ensino a criarem SRM com materiais pedagógicos e de acessibilidade para a realização do Atendimento Educacional Especializado (AEE). A Sala de Recursos Multifuncionais (SRM7) é um espaço de realização do AEE, mas quando compreendemos a importância de haver articulação entre as práticas docentes do profissional do AEE e da sala de aula, concebemos que a SRM não é o único espaço para a realização do AEE, o professor do AEE pode possibilitá-lo também em outros espaços da escola. As SRM’s, conforme Alves (2006, p. 13), são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado para alunos com necessidades educacionais especiais, por meio do desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar. No art. 5º do Decreto 7.611/11 (BRASIL, 2011), as SRM’s são definidas como ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especializado. 7 Entre 2005 e 2011, o MEC apresentava a distribuição de 39.301 SRMs no país (MENDES; CABRAL, 2016). 30 A aproximação com a experiência profissional supracitada foi estreitando ainda mais a minha relação com a Educação Especial e foi essencial para a continuidade dos meus interesses na área. Após minha saída pela segunda vez da UFRN, então Mestra em Educação, me dediquei a um concurso para Professor do Município do Natal/RN, de modo que fui aprovada e comecei a dividir essa função (de professora do AEE do Estado em uma escola de Anos Finais do Ensino Fundamental) com a de professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, no Município de Natal/RN. Nesse momento, comecei a vivenciar a dupla jornada com demandas específicas para cada cargo, assumido nas duas redes de ensino, onde pude observar como ocorriam o planejamento e a construção de práticas que pretendiam ser inclusivas. As vivências dessa experiência justificam, pessoal e profissionalmente, minha implicação direta com o presente estudo. Como professora de sala de aula na rede municipal, percebia a presença de estudantes com deficiência e a escassez de profissionais especializados que pudessem dar um suporte nos planejamentos de estratégias que viabilizassem os processos de escolarização desses estudantes em sala de aula (comum a todos). Como professora do AEE na rede estadual, sentia dificuldades ao tentar sensibilizar os professores para a compreensão de que os estudantes com deficiência tinham o direito de serem inclusos na escola comum, e que uma maneira de podermos construir essa inclusão seria por meio da coletividade, das trocas de experiências, da formação continuada. Observava pelos dois ângulos, que não havia um tempo destinado ao planejamento coletivo de atividades diversificadas que atendessem às demandas dos educandos com e sem deficiência, mesmo quando havia a necessidade de flexibilização e adaptação curricular. Conforme Honnef (2015), o trabalho docente articulado surge como uma alternativa que concilia ações do ensino colaborativo e do AEE em escolas comuns. No trabalho docente articulado, não necessariamente precisa haver a presença dos dois professores: da educação especial (nesse caso, professor do AEE) e do ensino comum (nesse caso, estamos chamando de professor de sala de aula) no desenvolvimento das aulas, como é uma exigência do ensino colaborativo em si assinalado por alguns autores, como veremos adiante. No trabalho docente articulado, 31 o planejamento e a avaliação considerando as características de todos os educandos são elementos do trabalho docente articulado, e precisam sempre ser permeados por um processo de diálogo, de articulação entre professores de educação especial e da classe comum, em se tendo na classe comum crianças com deficiências (HONNEF, 2015, p. 3). A falta de articulação entre os professores que lidam com o especial (AEE) e com o comum (sala de aula) no contexto escolar, se reflete nas práticas a que os estudantes estão submetidos. A literatura investigada ressalta essa percepção, ao sinalizar que em contextos em que não há tal articulação, os professores da sala de aula comum tendem a dissimular a presença dos estudantes com deficiência na escola. A dissimulação do estudante com deficiência se materializa na escola, através das práticas organizadas com atividades que se restringem a cópias do quadro e/ou do livro didático (quando conseguem copiar), ou mesmo pela realização de atividades descontextualizadas com o ano de ensino e/ou idade dos estudantes, ou ainda por práticas que privilegiam um empobrecimento curricular para esses estudantes, ou a realização arbitrária das atividades propostas em sala (CRUZ, 2009; NUNES; LEMOS, 2009; PEDROSA, 2010; GOMES; MENDES, 2010; NUNES, 2012; ROLIM; LIMA; LAGARES, 2017). A submissão a práticas curriculares improvisadas e descontextualizadas e a exclusão propriamente dos contextos comuns de ensino, vivenciadas por estudantes com deficiência, geram outras consequências, como a evasão escolar (BEZERRA, 2017; PADILHA, 2013; ANTUN, 2013; BARTON, 2003). Para Kasper, Loch e Pereira (2008, p. 242): Destaca-se o fato de esse fracasso e evasão escolar estarem diretamente ligados ao despreparo das escolas em recebere atender essas crianças. Essa realidade pode ser modificada se as escolas estivessem preparadas para lidar com as diferenças, respeitá-las e ultrapassá-las, fazendo delas parte de suas rotinas, sem privilegiar um ou outro aluno. Que está havendo exclusão dos estudantes com deficiência nesse molde apresentado é um fato, e que muitos profissionais alegam que falta preparo para a lida com eles, também; no entanto, nos questionamos acerca desse preparo. Kasper, Loch e Pereira (2008) nos instigam a refletir sobre o despreparo profissional que os professores estão a fazer menção, na perspectiva de compreender se tal despreparo seria gerado por lacunas na formação inicial e/ou continuada para atender a demandas educacionais de estudantes com deficiência e 32 se os professores se sentem preparados para a lida com as demandas dos demais estudantes. Diante dessa realidade e inquietações, via a necessidade de pensarmos coletivamente sobre como a escola, em suas configurações e contradições, podia ser reinventada para oferecer um atendimento de qualidade para todos, inclusive para estudantes com deficiências e sabia que uma das formas de atingir a qualidade do ensino a todos, poderia ser por meio da flexibilização do currículo. Sobre isso, vemos que: A flexibilização não pode ser entendida como uma mera modificação ou acréscimo de atividades complementares na estrutura curricular. Ela exige que as mudanças na estrutura do currículo e na prática pedagógica estejam em consonância com os princípios e com as diretrizes do Projeto Político Pedagógico da escola, na perspectiva de um ensino de qualidade para todos os alunos (FONSECA; CAPELLINE; JÚNIOR, 2010, p. 26). Portanto, é importante que haja questionamentos sobre as práticas escolares. É importante que os professores sejam pesquisadores de suas próprias práticas, e estejam abertos à reflexão e ao diálogo com seus pares, em busca de alternativas para um ensino que ultrapasse as atuais configurações. Para Mendes (2005) esse é um exercício que precisa ser diário, e a formação continuada de professores em serviço pode ser um caminho para a busca de soluções para questões do cotidiano da escola. O processo reflexivo que precisa estar presente na prática diária do professor é um exercício que necessita ser instigado não apenas na sua formação inicial, mas também e, sobretudo, na formação contínua, em seu desenvolvimento profissional docente. Tendo essa compreensão aliada às inquietações advindas do percurso acadêmico-profissional sumariamente aqui apresentado, e tendo como pressuposto a educação como um direito de todos, via a necessidade de retornar à academia, para a continuidade de estudos na área de Educação Especial em uma perspectiva inclusiva. Portanto, em 2017 retornei à UFRN para o desenvolvimento da pesquisa de doutoramento aqui apresentada. Algumas das atribuições do professor do AEE está diretamente relacionada à necessidade de articulação desse serviço com a escola. São atribuições desse profissional, por exemplo, estabelecer parcerias com áreas intersetoriais; orientar professores e famílias e estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum; todas essas ações têm como intuito a promoção da participação dos 33 estudantes público-alvo da Educação Especial nas atividades escolares (BRASIL, 2009b). O presente trabalho, portanto, está diretamente relacionado ao desenvolvimento das atribuições do profissional do AEE no que se refere à articulação com os demais membros da escola. Nesse caso, a pesquisa é uma das vozes que busca ecoar a necessidade da coletividade para pensar, construir e praticar a inclusão escolar entre estudantes com e sem deficiência. Mais especificamente, nossa defesa é pelo investimento na articulação entre professores do AEE e da sala de aula que atendem a estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental, em uma perspectiva dialógica, colaborativa e inclusiva. Em síntese, a justificativa pessoal, profissional, científica e social da escolha de analisar a articulação entre os professores do AEE e dos Anos Finais do Ensino Fundamental, está diretamente relacionada com: a) o meu fazer docente; b) o que preconiza a Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009, que institui Diretrizes Operacionais para o AEE na Educação Básica, modalidade Educação Especial (BRASIL, 2009b); c) demandas de estudos e formações que envolvam a articulação entre os fazeres profissionais do âmbito especial e comum no contexto da escola inclusiva; e, d) a carência de estudos e a necessidade de investimentos em pesquisas voltadas para os Anos Finais do Ensino Fundamental, conforme nossa revisão de literatura que será apresentada na seção 2.3. A delimitação do nosso tema de pesquisa e objeto de estudo foram delineados com base no que postulam Beaud e Weber (2007, p. 21): A escolha do tema de pesquisa é um momento determinante que irá condicionar todo seu trabalho posterior. Essa escolha é tão difícil quão delicada. O que você empenha de você mesmo, de suas experiências, de sua relação com a sociedade e a sociologia? [...] Para alguns será um momento de perplexidade e de inquietação. Para outros, a escolha está feita. [...] é imperativo assegurar-se de que seu tema de pesquisa possa ser abordado no contexto de uma pesquisa de campo. [...] preferimos usar, num primeiro momento, a noção mais ampla e mais vaga de “tema de pesquisa”. Isso serve para marcar o caráter provisório e o vir a ser dessa escolha. A experiência do campo prova que é através de longos desvios e não sem modificação (radical, por vezes) que o tema transforma-se e fixa-se definitivamente em objeto de pesquisa. Uma vez realizada tal operação, poderemos empregar, sem abuso de linguagem, o termo objeto de pesquisa. Em conformidade com as orientações contidas por esses autores, a escolha do nosso tema de pesquisa está interligada a vivências acadêmico-profissionais que emergiram nas relações estabelecidas com profissionais, pesquisadores e com 34 estudantes com deficiência, presentes nas nossas experiências na universidade, escolas e sociedade. Assim, o tema de pesquisa desta tese relaciona-se à articulação entre formação docente; práticas curriculares; sala de aula dos Anos Finais do Ensino Fundamental e AEE; e o nosso objeto de estudo é a articulação entre os profissionais do AEE e da sala de aula em uma perspectiva dialógica, colaborativa e inclusiva. Fonseca (2016) evidencia em seu estudo que a articulação entre professores pedagogos para planejar coletivamente ações pedagógicas que visem ao desenvolvimento e aprendizagem de todos os estudantes, independentemente de possuírem deficiência, colabora para planejar práticas curriculares inclusivas no Ensino Fundamental. A ideia de nossa investigação foi focar especificamente na articulação entre os professores do AEE e da sala de aula dos Anos Finais do Ensino Fundamental, com vistas a produzir conhecimentos que pudessem atender a demandas científicas, sociais e do próprio contexto pesquisado, em relação à inclusão escolar de estudantes com deficiência. Com base nessas ponderações evidenciamos nosso problema de pesquisa: Pode ocorrer articulação entre professores do AEE e da sala de aula nos Anos Finais do Ensino Fundamental numa perspectiva dialógica, colaborativa e inclusiva? Como objetivo geral, temos: Analisar possibilidades de articulação entre professores do AEE e da sala de aula nos Anos Finais do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal do Natal/RN. E, como objetivos específicos, temos: 1) Caracterizar as práticas do professor do AEE e de professores da sala de aula dos Anos Finais do Ensino Fundamental de uma escola; 2) Investigar como se dá a articulação entre os professores do AEE e da sala de aula; 3) Discutir as concepções dos docentes, colaboradores do estudo, acerca do AEE e do processo de inclusãoescolar de estudantes com deficiência; 4) Propiciar, junto aos colaboradores da pesquisa, atividades de planejamento e formação, a partir da construção de Momentos Reflexivos e Dialógicos, sobre inclusão escolar de estudantes com deficiência. Enquanto tese, defendemos que o desenvolvimento da Educação Especial nos Anos Finais do Ensino Fundamental exige a articulação entre os docentes da sala de aula e do AEE em uma perspectiva dialógica, colaborativa e inclusiva. 35 Para o estudo e escrita da tese, consideramos a contribuição da abordagem sócio-histórica para o processo de ensino e aprendizagem de pessoas com deficiência, nas relações estabelecidas com os pares com fulcro em Vigotski (1997; 2007; 2008). Quanto às questões do Currículo, consultamos autores tais como Silva T. (2010); Oliveira e Machado (2007); Miranda (2008); Santos e Santos (2007); Klein (2010); Magalhães e Ruiz (2011); Duarte (2012); Mara e Mara (2012); Leite, Borelli e Martins (2013); Kratochvílováa e Havel (2014); Vrasmas (2014) e Sacristán (2000). No aprofundamento das questões de Inclusão escolar, autores, como: Amaral (1994); Paim (1996); Sassaki (1997); Bueno (1999); Martins (1997); Stainback e Stainback (1999); Kupfer (2000); Aranha (2000); Martins (2008); Goffman (2006); Pletsch e Braun (2008); Orru (2009); Magalhães (2011a), Omote (1994). Como eixos formativos da pesquisa, situamos um diálogo com pesquisas que versam acerca da reflexão sobre a Prática e a Formação Docente. Nesse caso, foram consultados: Alarcão (1998; 2003); Pimenta e Ghedin (2002); Padilha (2005); Imbermón (2006); Perrenoud (2008), dentre outros. O presente estudo está divididido em seis seções, que as intitulamos como diálogos: Diálogos iniciais; Diálogos com as Pesquisas; Diálogos com Vigostki; Diálogos sobre Atentimendo Educacional Especializado e o pirnícipio da Colaboração; Diálogos metodológicos da pesquisa; Diálogos sobre os resultados da pesquisa e Diálogos finais. Na seção I – DIÁLOGOS INICIAIS: apresentamos notas introdutórias de nossa defesa – por uma educação pautada na articulação entre os docentes e na inclusão escolar, e, portanto, curricular, de todos os estudantes; apresentamos também as motivações que levaram à escolha do objeto investigativo e ao desenvolvimento do estudo. Na seção II – DIÁLOGOS COM PESQUISAS: discutimos a relevância do nosso objeto a partir da literatura consultada. Na seção III – DIÁLOGOS COM VIGOTSKI: apresentamos nossa visão sobre escola, deficiência e ser humano em uma perspectiva vigotskiana. Na seção IV – DIÁLOGOS COM O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E O PRINCÍPIO DA COLABORAÇÃO: compartilhamos nossas escolhas teóricas acerca do AEE em uma perspectiva inclusiva e discutimos acerca do princípio da colaboração e a formação continuada como possibilidades para a 36 inclusão escolar de estudantes com deficiência. Na seção V – DIÁLOGOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA: explicitamos nosso percurso metodológico, as escolhas dos procedimentos, instrumentos, análise dos dados adotados. Na seção VI – DIÁLOGOS COM OS RESULTADOS DA PESQUISA: apresentamos como se deu a escolha do lócus da pesquisa; os principais dados de nossas observações, entrevistas e momentos dialógicos e reflexivos realizados na Escola Municipal Arco-íris8, com vistas a revelar elementos do lócus: o perfil dos colaboradores, algumas práticas dos docentes, concepções dos professores acerca do AEE e do processo de inclusão escolar de estudantes com deficiência, além de apresentarmos possibilidades de articulação entre professores do AEE e de salas de aula dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Na seção VII – DIÁLOGOS FINAIS: situamos nossos limites e sinalizamos a abertura a novas possibilidades de estudos no campo da articulação entre a Educação Especial e Comum no contexto inclusivo. A seguir, apresentamos diálogos sobre escola, paradigmas educacionais, ensino fundamental, currículo e AEE. 8 Prezamos pelo anonimato da instituição e dos participantes, pois não temos o objetivo de identificá-los no estudo. Para tanto, usamos nomes fictícios. 37 2 DIÁLOGOS COM PESQUISAS Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido. (Rubem Alves) A escola precisa garantir a ação articulada e conjunta de todos os partícipes que a integram. Será que essa garantia está sendo praticada na escola? Se não, é preciso refletirmos, minimamente, acerca de como a escola como instituição social foi sendo organizada, pois está diretamente relacionada às causas da não articulação entre os docentes. A partir daí, talvez seja possível problematizá-la e planejar estratégias para a sua revisão. Historicamente, a instituição escola não promove espaços coletivos de decisão e reflexão. Desde o início do século XX, a escola se organizou dentro da lógica taylor-fordista, separando inclusive da ação a dimensão epistêmica e operando com disciplinas. Os estudos voltados para o currículo, emergem nos Estados Unidos com a obra de Bobbit – The curriculum. O texto, datado de 1918, disseminou os fundamentos da teoria tradicional de currículo. Nesse contexto, Bobbit e Tyler buscavam equiparar o aparelho educacional ao aparelho industrial. Nesse caso, o currículo era pautado à luz de ideais organizacionais de desenvolvimento e eficiência (SILVA, T., 2010). A organização da escola, na sua gênese, inspirada em uma racionalidade técnico-fabril, prevê uma organização para que os sujeitos não se encontrem e realizem tarefas fragmentadas, sem o conhecimento global do todo, pensadas por “especialistas”. Talvez seja resquício desse contexto, a organização escolar atual e o discurso comum de que não se tem tempo para o encontro entre os colegas na escola para o planejamento coletivo da dinâmica escolar. No entanto, afirmamos que frente ao modo como a escola foi se constituindo, ao longo dos anos, é preciso ponderarmos que as concepções de ensino, de aprendizagem, de estudante, de professor, de prática pedagógica, de currículo e de acesso foram se modificando. 38 A escola vem sendo questionada em uma sociedade dita da informação, assim faz-se oportuno o repensar da escola: suas prioridades, seus tempos e espaços, consciente de que se situa em um contexto que requer uma organização diferente de como foi pensada inicialmente. Além disso, exerce um papel político e social, mesmo que o sistema educacional passe por contradições e inconsistências em dados momentos. Nesse sentido, no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola precisa estar garantida a articulação entre os agentes da escola, o diretor pedagógico e o coordenador, no que diz respeito à inclusão escolar de estudantes público-alvo da Educação Especial. Promover essa articulação não deve ser responsabilidade apenas do professor do AEE, tal como preconizado no art. 25, item VII, da Resolução nº. 3/2016 – CEB/CEE/RN, 23 de novembro de 2016 que trata da necessária articulação entre os docentes da sala de aula e do AEE na disponibilização de recursos, serviços e estratégias que visem a participação dos estudantes nas atividades promovidas pela escola. Entendemos que deve ser uma ação conjunta de toda a escola, logo, os documentos internos da instituição escolar precisam assegurar ações nesse sentido. Os profissionais do AEE e da sala de aula podem pensar de modo articulado, colaborativo e em conjunto, estratégias inclusivas para a exclusão de configurações que propiciem a alunos com deficiência em sua passagem por salas de aula, sentimentos de repúdio e, às vezes, a evasão escolar por não obterem o desempenho necessário para a continuidade da trajetória escolar, conforme apontam algumas
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