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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS VICTOR DE LIMA SOARES AVALIAÇÃO DO PERFIL IMUNOMOLECULAR DE PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA PHILADELPHIA POSITIVA NATAL/RN 2022 1 VICTOR DE LIMA SOARES AVALIAÇÃO DO PERFIL IMUNOMOLECULAR DE PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA PHILADELPHIA POSITIVA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientador: Prof. Dr. Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior Coorientador: Prof. Dr. Aldair de Souza Paiva NATAL/RN 2022 2 3 4 Dedico este trabalho a Deus e à minha família, que tem acreditado em mim e me concedido suporte para que eu consiga alcançar minhas metas. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos pacientes que foram ou não incluídos neste trabalho e que tem suas vidas transformadas no momento que descobrem serem acometidas de uma patologia tão severa. Desejo do fundo do coração o melhor a todos. Ao meu orientador Dr. Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior pela oportunidade, ensinamentos, apoio, compreensão e generosidade em todos os momentos. Certamente o senhor faz muita diferença na minha vida e de todos os alunos que passaram pela sua mentoria. Ao meu coorientador Dr. Aldair de Souza Paiva que me auxiliou a dar meus primeiros passos no caminho da hematologia e que sempre me presenteia com bons conselhos e muita sabedoria. Ao Hemocentro Dalton Cunha Barbosa (HEMONORTE/RN), aos gestores e todos os colaboradores, mas principalmente a equipe do Laboratório de Hematologia/Laboratório de Citometria de Fluxo e que auxiliaram durante todo o processo e a equipe de médicos hematologistas que se destaca por sua competência e responsabilidade. A CAPES que concedeu a tão almejada bolsa de mestrado colaborando para que essa dissertação se tornasse viável. Agradeço à minha mãe Cilene, à minha filha Valentina, à minha amiga Rosana Leão, à minha equipe do DNA Center por todo o suporte que me deram, a Dra. Andrea Fernandes, Dra. Gioconda Leão, Dr. Roberto Chaves e a Rene Castro, diretores do DNA Center que possibilitaram a realização deste trabalho, ao PPGCF em especial a coordenação nas pessoas de Marcelo Silva e Vivian Silbiger, a secretaria do PPGCF Fabia e a tantas outras pessoas especiais que me cercam e têm sempre ajudado e acreditado no meu potencial. 6 EPÍGRAFE “I would rather have questions that can't be answered than answers that can't be questioned.” ― Richard P. Feynman. 7 RESUMO Introdução: Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) é uma doença maligna do sistema linfo-hematopoiético caracterizada pelo acúmulo de precursores linfoides neoplásicos (linfoblastos) de origem B ou T na medula óssea (MO)e/ou sangue periférico (SP). O diagnóstico e classificação, dessas leucemias, ocorre pela classificação morfológica Franco-Americana-Britânica (L1, L2 ou L3) associada a características do perfil imunológico de malignidade de células T ou B, com base no perfil de expressão de anticorpos monoclonais (AcMo) dirigidos contra os antígenos de diferenciação celular por citometria de fluxo (CF). Vários estudos têm demonstrado que imunofenótipos de células blásticas nem sempre exibem característica de diferenciação linfoide normais, mas exibem imunofenótipos aberrantes. Assim, blastos de alguns casos de LLA B podem possuir antígenos T ou mielóides assim como de células T de LLA podem possuir antígenos B ou mielóides. Objetivos: Determinar o perfil imunofenotípico pela CF em 88 pacientes com LLA (linhagem B ou T) diagnosticados no Laboratório de Citometria de Fluxo do Hemocentro Dalton Cunha – HEMONORTE, do estado do Rio Grande do Norte, Basil. Metodologia: Todas as amostras de SP e/ou MO foram submetidas à imunofenotipagem por CF usando um painel de AcMo específico para o diagnóstico de leucemias agudas (LA) diretamente conjugados a fluorocromos. Resultados: A faixa etária dos pacientes variou de 1 mês a 84 anos, com mediana de 13 anos sendo 62,5% do sexo masculino. A cepa observada mais frequente foi a B e o subtipo mais evidente foi a LLA Pré-B Comum. Dentre os marcadores celulares avaliados, os mais expressos na linhagem B foram CD19, CD10 e cCD79a e os antígenos mais expressos na linhagem T foram CD3, CD7, CD5 e CD2. Uma pequena porcentagem (6,8%) eram células T duplamente positivas. Conclusão: Conclui-se que os indivíduos com LLA neste estudo apresentam características demográficas, clínicas e imunofenotípicas semelhantes às observadas em outros estudos, demonstrando que a CF é uma metodologia essencial no diagnóstico e seguimentos dessas leucemias. Palavras-Chave: Leucemia linfoide aguda. Imunofenotipagem. Citometria de fluxo. 8 ABSTRACT Introduction: Acute Lymphoblastic Leukemia (ALL) is a malignant disease of the lympho-hematopoietic system characterized by the accumulation of neoplastic lymphoid precursors (lymphoblasts) of origin B or T in the bone marrow (BM) and/or peripheral blood (PB). The diagnosis and classification of these leukemias occurs by the French-American-British morphological classification (L1, L2 or L3) associated with characteristics of the immune profile of T or B cell malignancy, based on the expression profile of monoclonal antibodies (MoAb) directed against cell differentiation antigens by flow cytometry (FC). Several studies have found that blast cell immunophenotypes do not always have the characteristics of normal lymphoid differentiation, but exhibit aberrant immunophenotypes. Thus, the blasts of some cases of ALLB may have T or myeloid antigens, as well as T cells of ALL may have B or myeloid antigens. Objectives: To determine the immunophenotypic profile by FC in 88 patients with ALL (lineage B or T) diagnosed at the Flow Cytometry Laboratory of the Hemocentro Dalton Cunha - HEMONORTE, in the state of Rio Grande do Norte, Brazil. Methodology: The samples, such as PB and/or BM, were subjected to FC immunophenotyping using a specific MoAb panel for the diagnosis of acute leukemia (AL) directly conjugated to fluorochromes. Results: The age of patients ranged from 1 month to 84 years, with a median of 13 years, with 62.5% being male. The most frequent strain observed was B and the most evident subtype was the Common Pre-B ALL. Among the cell markers emitted, the most expressed in lineage B were CD19, CD10, HLADR and cCD79a and the most expressed antigens in lineage T were CD3, CD7, CD5 and CD2. A small percentage (6.8%) was doubly positive T cells. Conclusion: It is concluded that the individuals with ALL in this study have demographic, clinical and immunophenotypic characteristics similar to those observed in other studies, demonstrating that FC is an essential methodology in the diagnosis and follow-up of these leukemias. Key-Words: Acute lymphoid leukemia. Immunophenotyping. Flow citometry. 9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12 2. OBJETIVOS........................................................................................................................... 15 2.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................................ 15 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................................15 3. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................. 16 3.1. LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA.............................................................................................. 16 3.2. CLASSIFICAÇÃO DAS LEUCEMIAS LINFOIDES AGUDAS ................................................ 16 3.2.1. Classificação morfológica .................................................................................................. 16 3.2.2. Classificação Imunofenotípica ........................................................................................... 19 3.2.2.1. Leucemia Linfóide Aguda de Linhagem B ............................................................................. 22 3.2.2.2. Leucemia Linfoide Aguda de Linhagem T ............................................................................. 22 3.3. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO .............................................................................................. 24 3.4. LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA PHILADELPHIA POSITIVA ................................................. 25 4. METODOLOGIA .................................................................................................................... 31 4.1. SELEÇÃO DOS PACIENTES ................................................................................................ 31 4.2. IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO ...................................................... 31 4.2.1. Marcação de Antígenos de Superfície ............................................................................... 32 4.2.2. Marcação de Antígenos Intracitoplasmáticos .................................................................. 33 4.2.3. Aquisição e Análise no Software Cell Quest .................................................................... 33 4.3. HEMOGRAMA E CITOMORFOLOGIA DE ASPIRADO MEDULAR ...................................... 35 4.3.1. Coleta e Extensão e Coloração .......................................................................................... 35 4.3.2. Avaliação Morfológica e Contagem Relativa .................................................................... 36 4.3.3. Hemograma .......................................................................................................................... 36 4.4. CITOGENÉTICA CONVENCIONAL ...................................................................................... 36 4.5. PESQUISA DE BCR/ABL POR REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE ........................... 39 4.6. ANÁLISES ESTATÍSTICAS ................................................................................................... 40 5. RESULTADOS ...................................................................................................................... 41 5.1. CASUÍSTICA.......................................................................................................................... 41 5.2. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E HEMATOLÓGICAS ........................................................ 42 5.3. IMUNOFENOTIPAGEM ......................................................................................................... 46 5.4. PERFIL MOLECULAR E CARIOTÍPICO ................................................................................ 47 6. DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 51 7. CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 59 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 60 APÊNDICE A: Artigo a ser Submetido .............................................................................................. 73 APÊNDICE B: Artigos Publicados ..................................................................................................... 95 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS Figura 1. Esquema da diferenciação dos linfócitos B e seus correspondentes malignos .................................................................................................................... 23 Figura 2. Esquema da diferenciação dos linfócitos T e seus correspondentes malignos .................................................................................................................... 24 Figura 3. Representação de um caso de LLA de células B IgM+ .............................. 34 Figura 4. Representação esquemática de uma LLA T por citrometria de fluxo com representação tipo dotplot. ........................................................................................ 35 Figura 5. Cariótipo. .................................................................................................... 38 Figura 6. BCR ABL. ................................................................................................... 40 QUADROS Quadro 1. Classificação morfológica (FAB) da leucemia linfoblástica aguda. ........... 18 Quadro 2. Principais antígenos de diferenciação utilizados para identificar diferentes tipos celulares durante a hematopoiese normal e leucêmica. ................................... 21 Quadro 3. Painel de Anticorpos Monoclonais utilizados no estudo de caracterização imunofenotípica das leucemias agudas. ................................................................... 32 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição dos pacientes com leucemia linfóide aguda em relação à faixa etária e sexo .............................................................................................................. 41 Tabela 2. Distribuição do perfil imunofenotípico das leucemias linfoides aguda investigadas. ............................................................................................................. 42 Tabela 3. Frequências dos dados clínicos dos pacientes com lla da linhagem b ..... 44 Tabela 4. Dados laboratoriais dos pacientes de lla de linhagem b analisados ......... 45 Tabela 5. Dados laboratoriais dos pacientes de lla de linhagem t analisados .......... 46 Tabela 6. Frequência de reatividade dos acmo nas llas de linhagem b .................... 48 Tabela 7. Frequência de reatividade dos acmo nas llas de linhagem t ..................... 49 Tabela 8. Perfil molecular e citogenético dos pacientes investigados ....................... 50 12 1. INTRODUÇÃO As leucemias agudas (LA) compreendem um grupo de neoplasias caracterizadas pela proliferação clonal e acúmulo na medula óssea (MO) e/ou sangue periférico (SP) de células hematopoéticas imaturas anormais denominadas blastos, que proliferam e se infiltram no ambiente medular inibindo o crescimento e maturação normal dos precursores eritróides, mielóides e megacariocitários (GOASGUEN, 1996; GREAVES, 2002; OLIVEIRA et al., 2004; PUI et al., L., 2011). Elas diferem entre si com respeito à célula de origem, apresentação clínica, curso e resposta terapêutica. À medida que se acumulam na MO, as células leucêmicas suprimem a expansão das células progenitoras hematopoéticas normais, refletindo as manifestações clínicas comumente observadas nas LA no momento do diagnóstico, tais como anemia, infecções e hemorragias, que são resultantes da escassez de hemácias, leucócitos maduros funcionais e plaquetas, respectivamente (GOASGUEN, 1996; GREAVES, 2002; OLIVEIRA et al., 2004; PUI et al., L., 2011). Nas LA dois estágios de desenvolvimento hematopoético são prováveis alvos para a transformação maligna em as células precursoras mielóides e linfóides (B ou T), originando respectivamente a leucemia mielóide aguda (LMA) e a leucemia linfóide aguda (LLA). As LA são diagnosticadas e classificadas com base na célula de origem presumida, sendo possível na maioria dos casos, identificar o estágio dediferenciação celular. A determinação do estágio e/ou linhagem celular onde esta transformação ocorreu pode ser determinada por técnicas de imunofenotipagem por citometria de fluxo tendo importantes implicações clínicas, terapêuticas e prognósticas onde a resposta clínica inicial e a chance de cura variam de acordo com o estágio onde as células são afetadas (FIALKOW, 1987; GOASGUEN et al., 1996; OLIVEIRA et al.,., 2004; PAMNANI, 2009). Dentre estas, destacam-se a: i) citomorfologia de acordo com os critérios propostos pelo grupo French-American-British (FAB), podendo ser complementada pela citoquímica; ii) técnicas de imunofenotipagem por citometria de fluxo; iii) citogenética e iv) biologia molecular (BENNET et al., 1976; GREAVES, 1993; CAVALCANTI JR et al, 1995; OLIVEIRA et al., 2004; Lai, Kondo, 2008; Pui et al., 2008). Nas pesquisas sobre câncer e no delineamento do perfil imunofenotípico de tumores, atualmente a imunofenotipagem por citometria de fluxo (CF) é considerada 13 um instrumento importante no diagnóstico de doenças onco-hematológicas, particularmente nas LA (OLIVEIRA et al., 2004; VARDIMAN et al., 2009; BÉNÉ et al., 2011). A CF mede as propriedades de células em suspensão, orientadas em um fluxo laminar e interceptadas, uma a uma, por um feixe de laser. As modificações ocasionadas nesse feixe de luz devidas à presença de células serão então detectadas e mensuradas por sensores (detectores). A luz dispersa é coletada por um sistema óptico que permite identificar as células pelo seu tamanho e granularidade interna. Hemácias, plaquetas, linfócitos, monócitos e granulócitos podem ser então identificados e quantificados. Os diferentes fluorocromos que marcam cada antígeno absorvem a luz e emitem-na num comprimento de onda maior e específico. Cada fluorocromo possui um padrão espectral distinto de absorção e emissão, de tal maneira que até três cores de luz podem ser opticamente separadas com os filtros seletivos encontrados nos citômetros comuns ( SALES VASCONCELOS et al, 2013). A técnica de ICF, usando pelo menos três, e preferencialmente quatro ou mais cores, possibilitou a identificação e quantificação dessas células, mesmo quando presentes em pequeno número, permitindo a detecção de pequenas quantidades de células leucêmicas, viabilizando o acompanhamento clínico dessas leucemias durante e após o seu tratamento como ocorre no teste de doença residual mínima (DRM) (IKOMA et al., 2015). Nas LLAs, a CF é mandatória para a definição da origem celular T ou B, além de identificar os subtipos imunofenotípicos, que são de relevância no prognóstico e no tratamento dos pacientes. A CF permite estabelecer uma classificação imunológica de acordo com o grau de diferenciação B ou T das células leucêmicas, pois, as suas expressões antigênicas refletem de certa forma, a ontogenia linfoide normal (ALVES G et al, 2013). As LLA de linhagem B podem ser diagnosticadas pela expressão dos Clusters of Differentiation (CD), como o antígeno Pam-B CD19 na grande maioria dos casos, além de CD79a e o CD22 citoplasmático e ou de superfície, podendo o CD20 estar expresso. Para LLA de linhagem T são marcadores: o antígeno pam-T CD3 citoplasmático ou de superfície, o CD7, CD2 e CD5 (SALES; VASCONCELOS et al, 2013). 14 A ICF também é indispensável no diagnóstico dos subtipos de LMA: indiferenciada, minimamente diferenciada, megacariotítica/megacarioblástica, alguns casos de monoblástica e eritroide pura, nas quais a morfologia muito imatura não permite identificar a linhagem celular. Além disso, ela também é essencial para o diagnóstico das LA de linhagem ambígua. Os marcadores mais frequentemente expressos e importantes para esse diagnóstico são: a mileoperoxidase (MPO), mais sensível que adetecção pela citoquímica, pois o AcMo identifica também formas pró- enzimáticas, CD13, CD33, CD65, CD117; CD41, CD42 e CD61 nas células da linhagem megacariocítica; CD36, CD64 e CD14 na linhagem monocítica; glicoforina- A (CD235a), receptor para transferrina (CD71) e CD36 na linhagem linhagem eritroide; e os marcadores de imaturidade CD34, CD38, HLADR. Os antígenos associados à linhagem linfoide B (CD19,CD20 e CD22), T (CD3, CD7, CD2 e CD5) e NK(CD56) são incluídos no painel para a determinação das LA ambíguas (SALES; VASCONCELOS et al 2013). Ainda no que diz respeito à LLA, seu manejo clínico está diretamente relacionado à resposta ao tratamento. Atualmente, a forma estabelecida para avaliar esta resposta é a pesquisa da DRM que se baseia na observação da cinética de descrição da massa tumoral em resposta ao tratamento e avaliação de sua implicação prognóstica (CAMPANA, 2010). A literatura já aponta benefícios do diagnóstico preciso e do acompanhamento do curso da doença para o desfecho clínico demonstrando dessa forma a importância de estudos de caracterização de leucemias e do aprimoramento da detecção de DRM e ressalta a importância da ICF nesse contexto (THEUNISSEN et al., 2017). A pesquisa que serviu de base para a dissertação de mestrado pelo programa de Pós graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) aqui apresentada, teve como objeto de estudo o estudo do imunofenotipos de casos LLA Philadelphia positiva e sua associação com dados clínicos e tendo sido desenvolvida no Laboratório de Hematologia do Hemocentro Dalton Cunha – HEMONORTE e no e Laboratório DNA-Center onde foram diagnosticados 59 pacientes diagnosticados com LLA/Ph1+ através citomorfologia, imunofenotipagem por citometria de fluxo, pesquisa da translocação BCR/ABL e análise de cariótipo convencional. 15 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Investigar e caracterizar o perfil imunofenotípico e molecular das Leucemias Linfóide Aguda Philadelphia Positiva (LLA/Ph1+). 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Determinar a distribuição das LLA/Ph1+ por gênero e faixa etária; Avaliar as características clínicas e hematológicas dos pacientes afetados; Correlacionar as LLA/Ph+ com os subtipos imunofenotípicos determinados pela citometria de fluxo e classificação citomorfologica pela classificação FAB; Investigar a incidência de fenótipo aberrante determinada pela citometria de fluxo nas LLA/Ph1+; Correlacionar dados citogenéticos e diferentes padrões moleculares dos transcritos BCR/ABL das LLA investigadas. 16 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA A leucemia linfoide aguda (LLA) é uma LA derivada de células blásticas linfoides (linfoblastos) que se infiltram na MO, timo e gânglios linfáticos em diferentes etapas de maturação, mantendo a capacidade de multiplicação, porém com parada de diferenciação antes das células afetadas atingirem as formas maduras e funcionais (HOFFBRAND; PETIT; MOSS, 2001). Embora a LLA possa ocorrer em qualquer faixa etária, sua incidência é maior entre crianças de 2 a 5 anos, numa porcentagem em torno de 70% dos casos, diminuindo na adolescência, voltando a crescer após 60 anos de idade (ALVES; FERNANDES, 2012). Dentre as crianças, a doença é mais comum naquelas de cor branca e do sexo masculino (ALVES G, 2013). A LLA pode se apresentar com linfadenopatia, hepatomegalia e esplenomegalia. Também podem se manifestar sintomas prodromais como febre, suor noturno e perda de peso ou ser assintomática, embora em um número reduzido de casos. Menos comumente dores ósseas e/ou articulares podem surgir no curso da LLA (ROSE-INMAN; KUEHL, 2017). 3.2. CLASSIFICAÇÃO DAS LEUCEMIAS LINFOIDES AGUDAS 3.2.1. Classificação morfológica A LLA representa quase 25% dos cânceres pediátricos e pode afetar tanto adultos quanto crianças, embora esta seja o tipo de leucemia mais comum da infância (80% dos casos), apresentando um pico de incidência entre os 2 e 5 anos de idade, decrescendo para um índice de cerca de 20% em adultos,voltando a aumentar a incidência nesses pacientes após os 60 anos (ARMSTRONG; LOOK, 2005). A estimativa nos EUA (Estados Unidos da América) é de 3.000 casos novos ao ano e 2/3 deles são crianças (3,4 casos/100.000 crianças menores de 15 anos (MEENAGHAN; DOWLING; KELLY, 2012) 17 As LLA são leucemias caracterizadas pelo acúmulo de precursores linfóides neoplásicos (linfoblastos) na MO e/ou no SP. Segundo os critérios da classificação FAB podem ser diagnosticadas pela presença de mais de 30% de células blásticas na MO (LILLEYMAN et al., 1986). A WHO-World Health Organization ou Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma contagem maior que 20% o suficiente para o diagnóstico dessa doença (ONCIU, 2009; WANDT et al., 2010). As LLA são classificadas pelo aspecto morfológico associado às características do perfil imunológico das células malignas. A FAB classificou as LLA em três subtipos distintos, L1, L2 e L3, baseados somente em critérios morfológicos de MO e de SP corados pelo May-Grünwald-Giemsa (BENNETT et al., 1976, 1981; SACHDEVA et al., 2006; WANDT et al., 2010). A classificação do sistema FAB é baseada em sistemas de escores e analisa a relação tamanha do núcleo/citoplasma, presença de nucléolos, regularidade da membrana nuclear e tamanho da célula como critérios para a distinção entre os subgrupos morfológicos L1, L2 e L3 (Quadro 1) (BENNETT et al., 1976, 1981; SACHDEVA et al., 2006; WANDT et al., 2010). O subtipo L1 caracteriza-se por apresentar em seus esfregaços de MO ou de SP blastos pequenos homogêneos com núcleo redondo de contorno regular. A cromatina é levemente condensada e os nucléolos não são visíveis em, pelo menos, 75% dos blastos. O citoplasma é escasso resultando em uma alta relação núcleo/citoplasma (BENNETT et al., 1981; LEWIS; BAIN; BATES, 2006; WANDT et al., 2010). O subtipo L2 é constituído por células de tamanhos variados. O citoplasma geralmente é mais abundante que o observado na L1, os núcleos mostram um contorno irregular em mais que 30% dos blastos, apresentando clivagem ou fendas. A cromatina nuclear é frouxa e os nucléolos são sempre visíveis citoplasma (BENNETT et al., 1981; LEWIS; BAIN; BATES, 2006; WANDT et al., 2010). O subtipo L3 (Tipo Burkitt) é constituído por células grandes de aspecto homogêneo, o citoplasma é caracteristicamente hiper basofílico com presença de vacúolos; a cromatina nuclear é frouxa, exibindo 1 a 2 nucléolos proeminentes. A presença de células em mitose é outra constante neste subtipo de LLA (BENNETT et al., 1981; LEWIS; BAIN; BATES, 2006; WANDT et al., 2010). O subtipo L1 é mais frequente em crianças (76 a 89%) do que em adultos (31 a 43%), o subtipo L2 é mais frequente em adultos (49 a 60%) que em crianças (14 a 18 22%) e o subtipo L3, raramente encontrado, é mais frequente em crianças do que em adultos (ALVES G et al, 2012; PLASSCHAERT et al., 2004; PUI; RELLING; DOWNING, 2004). O tipo L3 é um tipo de LLA de células B maduras com características distintas, associado ao vírus Epstein Barr, colocando-o como uma entidade única de genótipo e imunofenótipo (ALVES; FERNANDES, 2012; PEGORARO et al., 1984; RAWLINSON; BAKER; KAHWASH, 2011). A precisão do diagnóstico de LLA tipo 3 tem uma importância crítica para a sobrevida dos pacientes, pois este tipo de leucemia não responde satisfatoriamente aos tratamentos que são normalmente bem-sucedidos em outros tipos de LLA (KONDO; O’BRIEN; LAI, 2009; RAWLINSON; BAKER; KAHWASH, 2011). Quadro1. Classificação morfológica (FAB) da leucemia linfoblástica aguda. CRITÉRIOS MORFOLÓGICOS L1 L2 L3 Diâmetro Celular Células pequenas e homogêneas Células Grandes e heterogêneas Células Grandes, homogêneas Cromatina Nuclear Fina ou aglomerada Fina Fina Forma do núcleo Regular Irregular, podendo apresentar fendas ou indentação Regular, redondo ou oval Nucléolos Indistintos ou não- visíveis Um ou mais por célula, grandes e proeminentes Um ou mais por célula, grandes, proeminentes Citoplasma Escasso Moderadamente abundante Moderadament e abundante Basofilia citoplasmática Ligeira Ligeira Intensa Vacúolos citoplasmáticos Ausentes Ausentes Evidente Fonte: Bennet JM, 1976 19 3.2.2. Classificação Imunofenotípica Nas LLA a ICF é mandatória para a definição da origem celular T ou B, além de identificar os subtipos imunofenotípicos, que são de relevância no prognóstico e no tratamento dos pacientes (ALVES; FERNANDES, 2012). Os blastos leucêmicos expressam o antígeno leucocitário comum CD45 em fraca ou moderada intensidade. A expressão do CD45 afasta a maioria das outras neoplasias não hematológicas, como neuroblastoma, carcinoma ou sarcoma (CD45 negativo) e doenças linfoproliferativas crônicas ou linfomas não Hodgkin (LNH) que se caracterizam pela forte expressão desse antígeno (SALES et al., 2017). Em 1995, European Group of Imunological Characterization of Leukaemias ou EGIL, propôs que a classificação imunológica para as LA fosse uniformizada, apresentando como base o perfil de expressão dos marcadores celulares determinado por painéis de AcMo direcionados contra os antígenos de diferenciação celular, exemplificado no Quadro 2 (BENE MC, CASTOLDI G, KNAPP W, 1995; MARTINS; FALCAO, 2000). Baseando-se no princípio de que no processo de diferenciação e maturação os linfócitos apresentam antígenos de superfície e de membranas citoplasmáticas, e que algumas destas moléculas são perdidas ou adquiridas, podem-se estabelecer perfis de diferenciação maturativa. Considerando também que as leucemias representam a expansão clonal de uma célula em determinado estágio maturativo, o emprego de painéis de AcMo permitiu classificar as LLA conforme suas expressões antigênicas em LLA de linhagem B e T. Aproximadamente 20% dos casos são de origem de células T, 75% de precursores de células B e 5% de células B maduras (BENE MC, CASTOLDI G, KNAPP W, 1995; DAVIDSON et al., 2012; GORCZYCA, 2011). Essas expressões passam a predizer, a partir dos fenótipos B ou T, que as alterações biológicas associadas à resposta terapêutica, monitorização da doença residual mínima e estratificação de grupos em maior ou menor risco, hoje em dia são sabidamente bem mais importantes que os critérios estritamente morfológicos (BENE MC, CASTOLDI G, KNAPP W, 1995; GORCZYCA, 2011). A LLA de linhagem B é demonstrada pela expressão do antígeno pan-B CD19 na grande maioria dos casos, CD79a e o CD22 citoplasmáticos, podendo o CD20 estar expresso. O CD79a foi considerado um marcador citoplasmático para essas 20 leucemias, porém pode estar expresso em raros casos de LLA-T ou mesmo LMA.. Para a as LLA linhagem T são marcadores: CD3 citoplasmático ou de superfície, CD7 com forte intensidade, CD2 e CD5. A CF nas LLA permite estabelecer uma classificação imunológica de acordo com o grau de diferenciação B ou T das células leucêmicas, pois as suas expressões antigênicas refletem de certa forma, a ontogenia linfoide normal (ALVES G, 2012). 21 Quadro 2. Principais antígenos de diferenciação utilizados para identificar diferentes tipos celulares durante a hematopoiese normal e leucêmica. ANTICORPO LOCALIZAÇÃO FUNÇÃO CD1a Células T tímicas, subgrupo de células B, células de Langerhans Glicoproteína 48kD que se liga a β2- microglobulina CD2 Todas as céls T, maioria das NK ligante de LFA-3 CD3 Céls T tímicas e maduras Estrutura do TCR, transdução de sinal CD4 Céls T auxiliadoras, monócitos, macrófagos Co-receptor de MHC classe II, receptor do HIV CD5 Céls T maduras e tímicas, subgrupo de céls B (Células B1) Ativação de céls T, ligante de CD72 CD7 Todas as céls T, céls NK Ativação de céls T e NK CD8 Subgrupo de céls T tímicas, T supressora/citotóxica, subgrupo de NK. Co-receptor do MHC de classe I CD10 Precursor B e Céls B do centro germinativo, PMN Endopeptidaseneutra CD13 Céls Mielóides Aminopeptidase N CD14 Monócitos maduros e precursores CD15 Célsmielocíticas e monocíticas Antígeno Lewis-X, adesão celular e fagocitose CD16 Céls Natural Killer, Granulócitos Receptor para cadeia pesada das Imunoglobulinas CD19 Céls B precursoras e maduras Ativação de céls B CD20 Céls B precursores tardios e maduros Canal de Ca++. Ativação de céls B CD22 Céls B precursoras e maduras Molécula de adesão celular CD33 Céls mielóides e monocíticas Molécula de adesão do ácido siálico CD34 Céls Progenitoras CD38 Célslinfóides progenitoras, Céls. Plasmáticas, Céls T ativadas Ativação leucocitária CD41 Megacariócitos e plaquetas gpIIb/IIIa, CD45 Pan-hematopoético Transdução de sinal: tirosina-fosfatase CD56 Céls NK e céls T citotóxicas Molécula de adesão celular CD61 Megacariócitos e plaquetas GPIIb/IIIa, molécula de adesão celular com CD41, receptor de fibrinogênio CD79a Céls B precursoras transdução de sinal da Ig de superfície para o citoplasma CD117 Céls mielóides precursoras receptor de c-kit HLA-DR Céls B, monócitos, progenitores mielóides e céls T ativadas Antígeno de apresentação, MHC classe II IgM * Céls pré-B, Linf B naive Reconhecimento da cadeia pesada da imunoglobulina M TdT Céls linfóides imaturas Rearranjo de Igs e TCR Fonte: Martins SLR et al., 2000. Nota: *Cadeia pesada de imunoglobulina; TCR (Receptores de células T); TdT (Deoxinucleotidil transferase Terminal). 22 3.2.2.1. Leucemia Linfóide Aguda de Linhagem B Aproximadamente 85% das LLA são de linhagem B (CHAN, 2002).O grupo EGIL propôs a subclassificação da LLA de origem B em 4 subtipos: o primeiro grupo expressa apenas antígenos relacionados à resposta imune HLADR, além do CD19, CD34 e o TdT, sendo denominada LLA do tipo Pró-B. O segundo tipo corresponde as LLA Pré-B do tipo Comum ou CALLA Positivo, cujo fenótipo apresenta HLADr+, CD19+ e o antígeno comum da LLA (CALLA) ou CD10+, expressando também o CD22 intracitoplasmático (cCD22). As características do terceiro grupo desta linhagem de LLA é a presença intracitoplasmática da cadeia pesada “mü” das imunoglobulinas (c), além do HLADR, CD10, CD19, CD22 de superfície (sCD22) e o CD20. Finalmente, no quarto e último estágio, encontram-se as leucemias que morfologicamente correspondem ao tipo Burkitt com padrão L3 da classificação FAB, além de estar associado à translocação 8q24, caracterizando-se imunologicamente pela expressão completa de Imunoglobulina de superfície M (sIgM) e negatividade do CD34 e do TdT (CHAN et al., 2003). 3.2.2.2. Leucemia Linfoide Aguda de Linhagem T Aproximadamente 15% das LLAs infantis e cerca 25% das que acometem os adultos apresentam blastos leucêmicos de linhagem T, sendo a expressão do antígeno CD3 intracitoplasmático (cCD3) ou de superfície (sCD3), o melhor critério para a identificação de células dessa origem. O antígeno CD7 encontra-se expresso na maioria dos casos (ROSE-INMAN; KUEHL, 2017). Os casos de LLA-T podem ser subdivididos de acordo com os estágios de diferenciação, em LLA pré-T, LLA-Tintermediária e LLA-T medular. A LLA Pré-T é encontrada em aproximadamente 6% dos adultos e em 1% das crianças e os seus blastos expressam cCD3 e CD7 além de expressar antígenos de imaturidade como HLADR, TdT e CD34 sendo negativos para os demais marcadores. Na LLA T Intermediária, o CD3 pode ser encontrado no citoplasma (cCD3) ou na superfície (sCD3), associado a expressão de CD2, CD1a, CD5, CD4 e CD8 concomitantemente. Finalmente em um estágio maturativo mais avançado encontra- se a LLA T Medular ou madura em que os blastos expressam as moléculas CD2, 23 CD5, CD7, sCD3 e está presente CD4 ou CD8. Estas leucemias geralmente acometem indivíduos do sexo masculino, apresentando elevada leucometria, infiltração no SNC e massa mediastinal sendo consideradas de mau prognóstico (ROSE-INMAN; KUEHL, 2017). Figura 1 - Esquema da diferenciação dos linfócitos B e seus correspondentes malignos Fonte: Cavalcanti Júnior GB, 1995, baseado em Uckun FM, 1990. LLC (Leucemia Linfocítica Crônica), LNH (Linfoma Não-Hodgkin), LCP (Leucemia de Células Plasmáticas), MM (Mieloma Múltiplo). 24 Figura 2 - Esquema da diferenciação dos linfócitos T e seus correspondentes malignos Fonte: Cavalcanti Júnior GB, 1995, baseado em Uckun FM, 1990. Nota: LPL-T (Leucemia Prólinfocítica de célula T), SS (Síndrome de Sjögren), LNH-T (Linfoma não- Hodgkin de Células T), ATLL (Leucemia/linfoma de Células T do Adulto). 3.3. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO O manejo da LLA, tanto em crianças quanto em adultos, está vinculado a várias decisões clínicas e na resposta ao tratamento uma vez que o rastreamento de células neoplásicas residuais ao fim da primeira fase de quimioterapia possui 25 elevado valor prognóstico. Atualmente, a estratégia do tratamento após a realização do diagnóstico, se baseia na avaliação do risco de recidiva, já que a intensidade do tratamento será modulada essencialmente de acordo com a probabilidade do risco de recidiva (THEUNISSEN et al., 2017). A recaída inicial é definida pelo grupo Berlin-Frankfurt-Munster (BFM) como a recaída que ocorre dentro de 6 meses da terapia primária completa. Vários exames auxiliam a estratificação de risco no diagnóstico inicial, entretanto poucos são aplicados durante a recaída. Entre os que são aplicados encontra-se o Tempo de Recaída (TR), o Sítio de Recaída (SR) e o Imunofenótipo (BHOJWANI; PUI, 2013). No Grupo Brasileiro para Tratamento de Leucemias da Infância (GBTLI) além dos critérios clássicos como, remissão morfológica no 8° dia e/ou 28° dia de indução, a quantificação de DRM em LLA será de fundamental importância para avaliação da resposta terapêutica. Portanto, a detecção de novos fatores (prognóstico) capazes de estabelecer previsão de cura nas fases iniciais do tratamento é fundamental na definição das diretrizes do tratamento da LA e determinação de doença residual mínima (DRM) (IKOMA et al., 2015) 3.4. LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA PHILADELPHIA POSITIVA A Leucemia linfóide aguda (LLA) é uma neoplasia do sistema linfohematopoético caracterizada pelo acúmulo de células imaturas da linhagem linfoide na medula óssea, sangue periférico e órgãos linfóides, sendo seu pico de incidência por volta dos 5 anos de idade. O prognóstico da LLA é determinado pela idade; perfil imunofenotípico; características cito-morfológicas (L1, L2 e L3), além de alterações genéticas. A translocação entre os loci 12p13 e 21q22 (t(12;21) (p13:q21)), envolvendo os genes TEL e AML1 é predominante nas crianças, estando associada a uma sobrevida livre de doença de 85% a 90% dos casos (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008) A LLA com translocação t(9;22) (q34;q11) ou cromossomo Philadelphia positiva (LLA Ph+) constitui um subtipos de LLA de alto risco e mau prognóstico. A t(9;22) (q34:q11.2) ou cromossomo Philadelphia (Ph1 ou Ph) é a anormalidade citogenética mais comum associada à LLA em adultos, ocorrendo em 20% a 40% 26 dos casos, sendo também detectada em 2% a 5% das crianças com LLA (5) e em aproximadamente 1% dos pacientes com LMA (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008) O cromossomo Ph1 é o resultado de uma translocação recíproca de material genético entre os cromossomos 9 e 22. Essa translocação, descrita como t (9; 22), funde parte do gene ABL1, do cromossomo 9, com parte do gene BCR, do cromossomo 22, criando um gene de fusão anormal chamado BCR-ABL. A t (9; 22) é adquirida durante a vida de uma pessoa estando presente apenas em células sanguíneas anormais, tratando-se, portanto, de uma mutação somática (SCHAFFEL R. SIMÕES BP 2008). Estas proteínas BCR-ABL apresentam constitutivamente atividade de tirosina quinase ativa que é consideravelmente maior do que o produto do gene ABL normal de 145 kDa. (SCHAFFEL R. SIMÕES BP 2008). A proteína BCR-ABL, resultante datranslocação, está constantemente ativa, levando a uma atividade desregulada nas células afetadas, induzindo-as a se dividirem constantemente independentemente da influência de fatores de crescimento. Impedindo tambem sua apoptose (morte celular programada), levando à superprodução das células anormais e diminuição das células sanguíneas normais, sendo responsável pelo fenótipo maligno da LMC (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP). O rearranjo entre os cromossomos 9 e 22 resulta em duas isoformas: BCR- ABL p190 e BCR-ABL p210. A isoforma p210 é característico da LMC, enquanto a p190 ocorre na maioria das LLA das células B. Cerca de 1% dos pacientes com LMC apresentam também a isoforma p190. Diferenças nas interações de proteínas e vias de sinalização ativada que podem estar associadas com as diferentes doenças dirigidas por p210 e p190 são desconhecidas. A presença da t(9;22) (q34:q11.2), envolvendo os genes BCR e ABL em adultos está associada a uma sobrevida livre de doença de apenas 10% - 20% dos casos a despeito de tratamentos quimioterápicos muito intensos, apresentando sobrevida a longo prazo inferior a 10% do total dos casos (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP). Recentemente, surgiram vários inibidores da proteína bcr-abl, como o mesilato de imatinibe (Glivec®) que se mostraram extremamente eficazes no tratamento da LMC/BCR-ABL+. Estas drogas já foram incorporadas ao tratamento 27 da LLA Ph1+ com resultados promissores, o que se justifica uma investigação desta anomalia genética em todos pacientes (adultos e pediátricos) no momento do diagnóstico da LLA bem como na investigação de resposta ao tratamento ou doença residual mínima (DRM) SCHAFFEL R,. SIMÕES BP. A t (9;22) ocorre em cerca de 25% dos casos de LLA do adulto, sendo a alteração citogenética mais comum da LLA nesta faixa etária. A idade mediana ao diagnóstico da LLA Ph1+ recém diagnosticada é de 45 anos. Nos pacientes pediátricos a prevalência é em torno de 3% em LLA de crianças com menos de 15 anos, aumentando para cerca de 30% a partir dos 30 anos, ocorrendo em mais de 50% dos casos das LLA diagnosticados após os 65 anos de idade (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008). A LLA Ph1+ pode ocorrer ao diagnóstico ou como uma fase de crise blástica linfóide da LMC. Esta forma secundária à crise blástica apresenta uma maior heterogeneidade clínica decorrente da presença das alterações próprias da LMC. Do ponto de vista clínico, a LLA Ph1+ acomete pacientes com idade média de 45 anos, apresenta menor frequência de anemia e maior leucocitose ao diagnóstico que as LLA do adulto Ph1 negativas (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008). Em termos morfológicos ela é semelhante aos outros tipos de LLA, ou seja, pode ser do tipo L1 ou L2 (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008) A LLA Ph1 positiva ocorre em mais da metade dos casos de LLA do idoso, grupo etário com maior número de comorbidades e sem possibilidade de realização de transplante de medula óssea (TMO). Estes fatores tornam a LLA Ph1+ nesta faixa etária de prognóstico mais desfavorável (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008) Devido à raridade cos casos, a LLA Ph1+ em crianças tem sido pouco investigada (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008). O diagnóstico de LLA de linhagem B por citometria de fluxo é confirmado pela positividade ao CD79a intracitoplasmático (cCD79a), CD19, CD22 de superfície (sCD22) e / ou intracitoplasmático (cCD22) e HLA-Dr, associado à negatividade para os antígenos de linhagem T. Segundo os critérios do grupo EGIL, a LLA de linhagem B é classificada em pró-B (CD10 negativo, IgM citoplasmática negativa); Comum (CD10 positivo, IgM citoplasmática negativa); pré-B c+ (IgM citoplasmática positiva com ou sem CD10 positivo) e B madura (cadeias leves das imunoglobulinas kappa ou lambda citoplasmática ou de superfície além de IgM de superfície positiva) (VASCONCELOS G, 2012) 28 A LLA Ph1+ pertence ao grupo comum ou pré-B na quase totalidade dos casos. O antígeno CD34 é positivo em mais de 90% dos casos de LLA Ph1+, ocorrendo com frequência expressão aberrante de antígenos mielóides: CD33 e / ou CD13, além do receptor para IL-2 (CD25) na maioria dos casos (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008). Nestes casos, quando diagnosticado uma LLA de linhagem B com co-expressão de antígenos mielóides ou CD25 é recomendável investigar a presença do cromossomo Ph1, sendo também necessário o emprego de um painel de anticorpos monoclonais ampliado para diferenciar a LLA Ph+ da leucemia aguda bifenotípica (SCHAFFEL R,. SIMÕES BP 2008). Os testes de diagnóstico que permitem detectar, especificamente, a anormalidade do cromossoma Ph1 e do gene de fusão BCR-ABL, e baseiam-se em testes “standard” de citogenética convencional, hibridização in situ por fluorescência (FISH), e a reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR). A detecção do RNA BCR-ABL por PCR é atualmente o método mais utilizado para o diagnóstico da LLA Ph1+. Este teste apresenta uma elevada sensibilidade, sendo capaz de detectar uma célula positiva em 10.000 células, o que o torna particularmente útil para o acompanhamento da doença residual mínima. Na LLA, o material biológico para exame é preferencialmente a medula óssea, onde existe até dez vezes mais positividade para o BCR/ABL do que no sangue periférico. O exame de PCR no sangue periférico é recomendado apenas nos casos em que o aspirado de medula óssea é seco. A citogenética é a parte da genética que estuda os cromossomos, sua estrutura e sua herança. Os cromossomos que se encontram dentro dos núcleos das células são estruturas complexas constituídos por agregados de genes. Nos organismos superiores, os cromossomos são formados por DNA e diversos tipos de proteínas, podendo ser visualizados em microscópio na fase da divisão celular conhecida como metáfase. Embora os cromossomos sejam visíveis como estruturas distintas apenas nas células em divisão, eles conservam sua integridade, inclusive entre as divisões celulares Cada espécie tem um conjunto cromossômico típico em termos de número e morfologia, denominado cariótipo. Os 46 cromossomos das células somáticas humanas constituem 23 pares, nos quais 22 pares são semelhantes em ambos os sexos, denominados autossomos, e o par restante representa os cromossomos sexuais, que são: XX no sexo feminino e XY no sexo masculino. Os membros de um 29 par autossomo possuem informações genéticas equivalentes, ou seja, possuem os mesmos locus gênicos na mesma sequência em cromossomos homólogos denominados alelos. Um membro de cada par dos cromossomos é herdado do pai e o outro da mãe (71). A citogenética convencional constitui um dos ensaios mais importantes na detecção do cromossoma Ph1 e na monitorização da DRM de pacientes com leucemias agudas e LMC. As preparações cromossômicas podem ser feitas de todos os tecidos e de todas as suspensões que contenham mitose. Nos humanos podem ser usadas as preparações de curto prazo de medula óssea, sangue periférico, sangue de cordão, material fetal e vilosidade coriônica, ou de longo prazo, de líquido amniótico, fibroblastos ou outras células cultivadas. O material que permitiu o grande desenvolvimento da citogenética humana foi o sangue periférico, pois há um grande número de linfócitos no sangue circulante e são eles que, quando estimulados, entram em divisão (GIL E, 2011). As desvantagens deste método é a baixa sensibilidade, o que limitada a uma ausência de positividade a um intervalo de 1-5% dos casos; o material obtido no aspirado de medular da LLA pode ser escasso com consequente possibilidade da não obtenção do número de metáfases suficiente para análise. Além de ser um método que pode demorar de 15 dias, o que, com a introdução dos inibidores de tirosino quinase na terapêutica destas doenças, retardaria o início do tratamento específico. A citogenética convencional deve ser sempre realizada para investigação de outras alteraçõescitogenéticas que podem ocorrer paralelamente tais como cariótipo complexo ou presença de duplo cromossomo Ph1, quando os dois alelos estão envolvidos na t(9;22), o que caracteriza evolução desfavorável da doença, além disso, a citogenética convencional têm a vantagem de não necessitar qualquer tipo de sonda molecular, sendo um exame de menor custo (GIL E, 2011).. Relativamente ao cariótipo Ph-negativo na LMC e na LLA, os rearranjos BCR- ABL podem ser encontrados tanto em casos com um cariótipo negativo (normal), como em casos com cariótipo complexo em que a t (9;22) não é detectada por análises citogenéticas convencionais. A localização, mais comum, do gene de fusão BCR-ABL no cariótipo é na primeira banda, da região 1, do braço longo do cromossoma 22, (22q11), e, em menos casos, está localizado na quarta banda, da região 1 do braço longo do cromossoma 9 (9q34) (GIL E, 2011). 30 A hibridização in situ por fluorescência (FISH) é um método em que são utilizadas sondas fluorescentes (sequências de DNA) complementares à região alvo no cromossomo a ser pesquisado. Esta técnica é indicada para detecção da translocação BCR/ABL principalmente quando não há células em metáfase para a análise do citogenética convencional ou nos casos em que o cariótipo é normal, mas o quadro clínico do paciente sugere a presença do rearranjo. Trata-se de uma técnica mais rápida que o cariótipo, pois não depende de cultura celular para sua realização pois as análises podem ser realizadas em células na fase de interfase. Na pesquisa da translocação BCR/ABL por FISH, utiliza-se sondas de dupla fusão específicas para os genes ABL1 (9q34) e BCR (22q11.2) marcadas com fluorescência vermelha e verde, respectivamente. A presença do rearranjo é detectada ao microscópio através da visualização de fusões e/ou sobreposições de dois sinais, um verde e um vermelho, além da presença de um sinal vermelho e um verde isolados, correspondentes aos cromossomos 9 e 22 normais (GIL E, 2011). Com o uso de sondas de dupla fusão algumas situações anormais e variantes também podem ser detectadas, como por exemplo, a presença de um cromossomo derivado adicional, deleção no cromossomo der (9q) e elucidação de rearranjos complexos envolvendo os genes BCR e ABL. 31 4. METODOLOGIA 4.1. SELEÇÃO DOS PACIENTES Os pacientes foram recrutados para o presente estudo no Laboratório de Hematologia do Hemocentro Dalton Cunha – HEMONORTE e no Laboratório DNA- Center na cidade do Natal, Rio Grande do Norte. Ao total, foram analisados 59 pacientes diagnosticados com LLA pela imunofenotipagem por citometria de fluxo (CF). O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, protocolo CAAE: 51300215.6.0000.5292 (2015). O diagnóstico inicial das LLA foi realizado por critérios clínicos e laboratoriais, sendo a avaliação clínica realizada por médicos especialistas. Dados laboratoriais relevantes e complementares ao diagnóstico clínico foram realizados, constando de hemograma, mielograma, colorações citoquímicas de negro de Sudan Black ou Mieloperoxidase para exclusão dos casos de LMA. Dados clínicos relacionados à doença foram realizados pelos médicos hematologistas e registrado no prontuário dos pacientes, constando de astenia, febre, linfadenopatia, hepatomegalia, esplenomegalia e sinais hemorrágicos, dentre outras. Exames complementares também foram realizados quando necessário tal como biópsia de MO, tomografias exames de imagem. Realização de exame de cariótipo e análises moleculares da pesquisa de BCR/ABL foram realizados objetivando a confirmação dos casos de LLA philadelphia positivo. Dados dos pacientes foram obtidos dos prontuários arquivados dos pacientes. Entre os dados obtidos constando de: gênero (sexo), idade, leucometria, níveis de hemoglobina, hematócrito, contagem de plaquetas, dosagem de LDH e porcentagem de blastos no SP ao diagnóstico e mielograma. 4.2. IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO Para a realização das análises de citometria de fluxo foram realizadas coletas de SP e MO. As amostras de SP foram colhidas em tubo contendo EDTA (BD- Vacutainer, EDTA-K2 5.4 mg Plus Plastic) e as amostras de MO foram colhidas por 32 punção da crista ilíaca ou externo em seringa contendo heparina (Liquemine, Roche, USA). A imunofenotipagem por CF após marcação com os AcMo seguiu duas etapas, conforme mostra o Quadro 3. Quadro 3. Painel de Anticorpos Monoclonais utilizados no estudo de caracterização imunofenotípica das leucemias agudas. ANTÍGENOS B ANTÍGENOS T ANTIGENOS MIELOIDES ANTÍGENOS NÃO ESPECÍFICOS PAINEL PRIMARIO (TRIAGEM) cytCD79a; CD19, sCD22 sCD3; cytCD3 CD7 CD13, CD33, anti-MPO CD45 PAINEL SECUNDARIO (COMPLEMENTAR) cytIgM;sIgM CD1a; CD2; CD4; CD5; CD8 CD15; CD11b; CD14; CD41; CD61; CD117; CD235a CD34; CD123; HLA-Dr; TdT; CD10, CD25 Nota: sIg: Imunoglobulina de superfície, cyIg: Imunoglobulina citoplasmática, sCD3: CD3 de superfície, cyCD3: CD3 citoplasmático, MPO: mieloperoxidase, CD235: Glicoforina alfa, TdT: Terminal deoxinucleotidil Transferase, *CD13 (em alguns casos, cytCD13 foi utilizado). Todos os anticorpos monoclonais são da Becton Dickinson Immunocytometry Systems, San Jose, CA, USA. 4.2.1. Marcação de Antígenos de Superfície Para realizar a marcação de antígenos na membrana celular foram distribuídos 50μL da amostra previamente homogeneizada em cada tubo. A amostra em seguida foi incubada por 30 minutos (min.) a temperatura ambiente (TA) ao abrigo da luz juntamente com 10μL do AcMo. Em seguida, foram adicionados 4 mL da solução hemolisante FACS lysingsolution (Becton Dickinson, San Jose, CA, USA) previamente diluída 1/10 (v/v) em água destilada. As amostras foram novamente incubadas no escuro por 10 min. com a finalidade de romper as hemácias. Depois de passados os 10 min. as amostras foram centrifugadas a 1.500 rotações por minuto (rpm) por 5 min. e posteriormente foi retirado o sobrenadante. Por fim, foram adicionados à amostra 4 mL de tampão salina fosfato (PBS Tablets, PH 7.2, Sigma- 33 Aldrich Ltda, Brazil) e em seguida centrifugadas a 1.500 rpm por 5 min. e retirado o sobrenadante (ALVES, 2013). 4.2.2. Marcação de Antígenos Intracitoplasmáticos Por se tratar de antígenos cujos epítopos celulares encontram-se no citoplasma foi necessária a permeabilização prévia possibilitando, dessa forma, o direcionamento e reatividade do AcMo. Para este procedimento foi utilizado o protocolo de permeabilização da membrana citoplasmática celular empregando solução permeabilizante (BectonDickinson´s FACS lysingsolution, San José CA, USA) (BRADSTOCK et al., 1994; IKOMA et al., 2015a; TONG et al., 2009). Cerca de 50µL de amostra de SP e/ou MO por tubo foi incubada com solução hemolisante (Facs-Lysing, Becton Dickinson, San José CA, USA) previamente diluída a 10% em água destilada por 10 minutos a TA, seguido de uma centrifugação a 1.500 RPM por 5 minutos, em seguida realizou-se o descarte do sobrenadante e homogeneização do sedimento. Após a homogeneização foram adicionados 5µL dos AcMo seguido de uma incubação por 30 minutos à TA e ao abrigo da luz. O sedimento foi homogeneizado em 3 mL de solução de PBS seguida de centrifugação a 1.500 RPM por 5 minutos. Desprezado o sobrenadante o sedimento foi ressuspenso e submetido a mais uma lavagem com PBS. Após o descarte do sobrenadante foi adicionado 1 mL de PBS ao sedimento final e estocado na geladeira ao abrigo da luz até o momento da leitura no citômetro de fluxo (ALVES, 2013) Para cada amostra foi utilizado um tubo controle de marcação inespecífica (Gama 1FICT/gama 2PE/gama 3PerCP;- Becton Dickinson, San José CA, USA). 4.2.3. Aquisição e Análise no Software Cell Quest A aquisição e a análise das amostras foram realizadas em Citometro de Fluxo de 4 cores(FACS Calibur - Beckton Dickinson, CA, USA) em plataforma machintosh (Apple), onde foi utilizado o programa Cell Quest (Cell Quest software Beckton Dickinson, CA, USA) com aquisição (leitura) de um total de 50.000 células por tubo, 34 levando-se em conta os parâmetros Forward Scatter (FSC) em escala linear que avalia o tamanho celular e Side Scatter (SSC) também em escala linear, o qual avalia a complexidade e granulosidade celular, FL1, FL2, FL3 e FL4 em escala logarítimica que detectam as fluorescências verde, laranja, vermelha e rosa ou seja, a reação antígeno-anticorpo conjugado ao isotiocianato de fluoresceína (FICT), ficoeritria (PE), complexo protéico piridina clorofila (PercP) e aloficocianina (APC) respectivamente. Para cada amostra analisada foram empregados controles isotípicos de marcação inespecífica, os quais serviram de referencial para calibração do citômetro de fluxo. As imunofenotipagens foram consideradas positivas quando mais que 20% das células foram positivas para os AcMo, exceto para os AcMo CD34 e TdT que foram considerados positivos quando mais de 10% das células fossem positivas para esses anticorpos. Os resultados foram expressos em porcentagem de células positivas. O limiar de positividade foi baseado no controle negativo do tubo controle das amostras (Figuras 3 e 4). Figura 3. Representação de um caso de LLA de células B IgM+ Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE. Nota: A) Paramentos morfológicos FSCxSSC; B) Expressão do antígeno CD45; C) Expressão do CD19; D) Expressão da sIgM; E e F) positividade para cadeia leve lambda e negatividade para cadeia leve kappa. 35 Figura 4. Representação esquemática de uma LLA T por citrometria de fluxo com representação tipo dotplot. Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE. Nota: A) Paramentos morfológicos FSCxSSC; B) Positividade para o CD3 e negatividade ao CD19; C) Negatividade aos antígenos mielóides CD13 e ao Antígeno Comum das leucemias linfóides agudas (CD10); D)Positividade para enzima nuclear Terminal deoxinucleotidil Transferase; E) Positividade ao antígeno CD4 e negatividade ao antígeno CD8 e F)Dupla positividade aos antígenos T Cd7 e CD2. 4.3. HEMOGRAMA E CITOMORFOLOGIA DE ASPIRADO MEDULAR 4.3.1. Coleta e Extensão e Coloração Foram obtidas amostras de SP e/ou MO ao momento do diagnóstico para realização do hemograma e citomorfologia. O SP foi coletado por punção venosa na fossa antecubital do braço após assepsia com álcool 70% e transferido para tubos contendo anticoagulante ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) (BD-Vacutainer, EDTA-K2 5.4 mg Plus Plastic). No instante da coleta foram realizados esfregaços sanguíneos em lâmina de vidro utilizando-se extensoras adequadas e os esfregaços foram corados por corantes May GrumwaldGiemsa (MGG, Laborclin, Brazil). 36 4.3.2. Avaliação Morfológica e Contagem Relativa Os esfregaços de SP e/ou MO depois de corados foram observados em microscópio óptico (Olympus Corporation, Tokyo, Japan) em objetiva de 10X, 20X, 40X e em objetiva de 100X com a finalidade de avaliar o aspecto morfológico das células e a presença de blastos linfóides associados a alterações eritrocitárias e plaquetárias e realizar a contagem diferencial dos leucócitos. Análise de aspirado medular (mielograma) foram avaliados em objetiva de 40X e 100X, procedendo a contagem convencional e a classificação FAB em L1, L2 e L3. 4.3.3. Hemograma Os hemogramas foram realizados utilizando amostras de SP por automação no analisador hematológico (Cell-Dyn 3.000, UnipathCorp., Mountain View, CA, USA) para obtenção das contagens de leucócitos, plaquetas e níveis de hemoglobina. 4.4. CITOGENÉTICA CONVENCIONAL A análise citogenética dos pacientes foi realizada no setor de citogenética do laboratório DNA Center. Para a obtenção dos cromossomos metafásicos em amostras de medula óssea e/ou sangue periférico (quando a contagem de células blasticas for > 20%), utilizando foi utilizado o método descrito na literatura, com modificações (temperatura, água utilizada, tempo de incubação). Amostra de medula óssea (MO) coletada por punção aspirativa medular pelo médico e /ou o sangue periférico (SP) será obtido por punção venosa. O material foi enviado ao laboratório em isopor com gelo, no prazo máximo de 24 a 48 horas para se iniciar os processos de cultura, em seguida a pós-cultura e finalizando com o bandeamento G (GIL 2011). A. Cultura de Células para obtenção de células metafasicas. Para a cultura de medula óssea foi necessário que seja colhido no mínimo 2mL de material em 37 seringa heparinizada. São suficientes de 0,1 a 1mL de amostra (dependendo do número de células contadas) para cada tubo cônico estéril (média de 4 tubos por cultura) contendo meio RPMI 1640, suplementado com glutamina e soro bovino fetal (5 ou 10mL). O tubo será levado à estufa à 37ºC por 24 e/ou 48 horas, visto que é ao redor desse período que a taxa de mitoses se eleva exponencialmente. Transcorrido este período acrescenta-se até 0,1 mL de colchicina ao meio de cultura, homogeneíza-se e incuba-se novamente a 37ºC, por mais uma hora. Ao término, o conteúdo do tubo é centrifugado por aproximadamente 10 minutos, a 1.500 rpm (GIL 2011)). Depois, desprezou-se o sobrenadante e procedeu-se a hipotonia (choque hipotômico) acrescentando uma solução de KCl 0,075M pré- aquecida a 37ºC, colocando-se em estufa a 37ºC por 20 minutos. Após o procedimento da hipotonia é seguida da fase de fixação das células. Para isto, faz- se a centrifugação dos tubos por 10 minutos, a 1500 rpm, seguido do descarte do sobrenadante. Acrescenta-se à cultura aproximadamente 7 mL de fixador (álcool metílico e ácido acético (3:1), homogeneizando lentamente. O tubo é submetido a uma nova centrifugação por 10 minutos a 1500 rpm, e repete-se o mesmo ciclo de operações com o fixador por duas ou mais vezes, se necessário, até que o sedimento de células fique transparente (GIL 2011). Depois da última centrifugação não se deve esgotar o fixador, mas deixar, aproximadamente, 0,5 mL dele sobre o sedimento de suspensão celular, considerando a quantidade de material obtido. É importante ressaltar que a primeira etapa da fixação não precisa ser seguida imediatamente pelas outras, pois as células podem permanecer no primeiro banho de fixador por muitas horas, de acordo com a conveniência do laboratório. As células fixadas estão prontas para serem distribuídas em lâminas. Devem ser utilizadas, sempre, lâminas novas e devidamente limpas, mantidas em geladeira com fixador. No centro das lâminas distribuem-se duas ou três gotas da suspensão celular e a secagem é feita em placa aquecedora. A primeira lâmina servirá de guia para a quantidade necessária de lâminas a serem pingadas. Ela deverá ser corada com a coloração clássica, que consiste em banhar a lâmina durante 10 minutos com corante Giemsa a 4%, (diluir 4 mL de Giemsa em 96 mL de tampão fosfato), lavar em água corrente, secar a temperatura ambiente e observar ao microscópio óptico. Deve-se pingar a quantidade necessária de lâminas, para cada paciente, e deixar envelhecer em temperatura ambiente, para o bandeamento (GIL 2011). 38 Para o bandeamento cromossômico baseou-se no desenvolvimento das técnicas de bandeamento por Caspersson e colaboradores (1970) trouxe um avanço significativo para a citogenética, porque, a partir delas, foi possível a identificação de cada par cromossômico pelo padrão característico das bandas que eles apresentam, após tratamento adequado. Este tratamento é feito depois da distribuição do material nas lâminas. Para o bandeamento G, os cromossomos são submetidos à digestão pela tripsina, que desnatura as proteínas cromossômicas, sendo coradoscom Wright ou Giemsa (origem do nome banda W e banda G) ou com várias técnicas adicionais (GIL 2011). O Bandeamento G com Tampão Fosfato / Wrigtht As lâminas envelhecidas por no mínimo um dia foram colocadas em uma solução tampão Sorensen (KH2PO4-Merck diluídos em água destilada e Na2HPO4- Merck diluídos em água destilada) a 37°C por aproximadamente 30 min. Após o tampão, a lâmina será corada pelo Wright/fosfato por aproximadamente dois minutos, depois foi lavada em água corrente para logo após ser analisada no microscópio óptico (Nikon- E200) com objetiva de 20x e 100x. Serão analisadas pelo menos 20 metáfases. A nomenclatura para descrição de aberrações cromossômicas é atualizada regularmente pelo Comitê do Sistema Internacional de Nomenclatura em Citogenética Humana (ISCN). A última atualização foi realizada em 2008 e publicada em 2009 (GIL 2011). Figura 5. Cariótipo. Fonte: Setor de citogenética do Laboratório DNA Center 39 4.5. PESQUISA DE BCR/ABL POR REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE Amostras de aspirado de medula óssea ou sangue periférico (contagem de blastos > 25%) foram processadas segundo recomendação de Artigas et al (ARIGAS 2002) e do grupo Fleury (28). Amostras foram coletados com EDTA, centrifugadas a 3000 rpm e pelet de leucócitos tratados imediatamente com Trizol, e posteriormente fixados com soluções alcoólica (isopropano e etanol v:v). Após esta fase as amostras de concentrado de leucócitos serão armazenadas a -70° C até à extração do ARN, que será realizada de acordo com o método de trizol. As análises serão realizadas pelo método do RT-PCR, técnica que amplifica sequências de DNA do RNA mensageiro. Através do uso da enzima transcriptase reversa, M-MLV (Gibco), obtêm-se uma cópia do DNA. Uma PCR simples foi utilizada como controle interno, utilizando um par de primers direcionados ao gene DRB134. Subsequentemente PCR foi realizada em cerca de 30 e 35 ciclos e 64 ° C Temperatura de recozimento 6 usando iniciadores, as quais amplificam os segmentos de genes de fusão que codificam os transcritos da proteína p210 BCR/ABL (456 ou 385 pb) e p190 BCR/ABL (444pb) 15,28. Os segmentos amplificados serão analisados por um equipamento de real time PCR. Como controle positivo, serão utilizadas células de LMC e LLA/Ph1 + previamente armazenadas em nosso laboratório, correspondendo aos transcritos p210 BCR-ABL e p190 BCR/ABL. Amostras negativas usados como controle negativo para o gene de fusão BCR/ABL. Ambos os controles foram processados simultaneamente com as amostras testadas. 40 Figura 6. BCR ABL. Fonte: Setor de biologia molecular do Laboratório DNA Center. 4.6. ANÁLISES ESTATÍSTICAS Os dados obtidos nos serão armazenados em um computador em forma de planilha eletrônica do tipo Exell e analisados por diferentes testes estatísticos, comparando os diversos grupos de LLAPh+, faixa etária, dados clínicos, resultados do hemograma mielograma e fatores prognósticos para leucemias agudas estabelecidos na literatura. Serão realizados testes do Qui-quadrado e Wilcoxon e Man Wtney através do software estatístico Statistic Pack for Social Sciences (SPSS for Windows versão 9.0; Copyright ® SPSS, INC) e considerados estatisticamente significativos quando p < 0,05. Poderão ainda ser utilizados outros testes para análise, como o teste não paramétrico de Wilcoxon ou coeficientes de correlação de Spearman 41 5. RESULTADOS 5.1. CASUÍSTICA Neste trabalho foram selecionados 59 pacientes recém diagnosticados com LLA, entre 5 meses de vida até 69 anos de idade, com a seguite distribuição: 04 casos na faixa etária de lactente (≤ 2 anos de idade); 30 casos na faixa etária de > 2 até 10 anos de idade; 16 casos na faixa de 11 até 20 anos de idade e 09 casos com idade acima de 20 anos. No tocante ao sexo, 36 eram do sexo masculino e 23 do sexo feminino (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição dos pacientes com leucemia linfóide aguda em relação à faixa etária e sexo FAIXA ETÁRIA SEXO Total n(%) M n(%) F n(%) Crianças/ adolescentes ≤ 1 ano 03 (75,0) 01 (25,0) 04 (100) > 2 a 10 anos 19 (63,3) 11 (36,7) 30 (100) > 10 a 20 anos 13 (81,3) 03 (18,7) 16 (100) Adultos > 20 anos 08 (88,9) 01 (11,1) 09 (100) TOTAL 43 (72,9) 16 (27,1) 59 (100) Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE e Laboratório DNA Center. Dentre as LLA de linhagem B, obtiveram-se as frequências de 01/59 LLA pró- B, 40/59 LLA Calla+ e 01/59 caso de LLA-B sIgM+. Podendo ser observada a predominância das LLA calla+ dentro do subgrupo B e mesmo dentro do total de LLAs. Nas LLAs de linhagem T obtiveram-se as frequências de 17/59 (Tabela 2). 42 Tabela 2. Distribuição do perfil imunofenotípico das leucemias linfoides aguda investigadas. DIAGNÓSTICO SEXO Total n (%) Masc / n (%) Fem / n (%) LLA pró-B 01 (100) 00 ( - ) 01 (100) LLA calla+ 23 (57,5) 17 (42,5) 40 (100) LLA pré-B cμ+ 00 ( - ) 00 ( - ) 00 ( - ) LLA-B sIgM+ 01 (100) 00 ( - ) 01 (100) Total LLA - B 25 (59,5) 17 (40,5) 42 (100) Total LLA - T 13 (76,5) 04 (23,5) 17 (100) TOTAL 55 (62,5) 33 (37,5) 59 (100) Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE e Laboratório DNA-Center. 5.2. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E HEMATOLÓGICAS Na tabela 3 estão registrados os principais sintomas e sinais clínicos referentes aos diferentes perfis das LLA investigadas tais com linfadenopatia, esplenomegalia, hepatomegalia, presença de massas tumorais (mediastinal e abdominal), febre e presença de infiltração extra-medular (pele, glândula supra-renal e sistema nervoso central), devendo ser ressaltado que um único paciente apresentou mais de um sintoma clínico. Também foi observado que cada grupo de LLA apresentou alguns sinais específicos de acordo com o perfil imunofenotípico. A linfadenopatia foi o sinal clínico mais observado nesses pacientes. Na LLA de linhagem B ela foi observada em 40/48 casos (83,3%). Nas LLA-T, a linfadenopatia foi observada em todos os casos avaliados. A esplenomegalia, apesar de ser o segundo sintoma clínico mais relatado, ocorreu em um número inferior de casos quando comparado a linfadenopatia, ocorrendo também em sua maioria nas LLA de linhagem, sendo menos observadas nas LLA-T de linhagem T. A hepatomegalia também foi constatada nesses pacientes, porém com uma distribuição de casos mais homogênea entre dois grupos de LLA. A presença de massa mediastinal ocorreu majoritariamente em todos os pacientes com LLA-T. Outros sintomas ou sinais clínicos foram pouco observados 43 no momento da coleta, que incluíam: infiltração da pele em 02 pacientes com LLA de linhagem B; presença de massa abdominal em 01 paciente com LLA-B; infiltração da glândula supra-renal em 01 paciente com LLA-T e infiltração no sistema nervoso central (SNC) em 02 pacientes com LLA-T. A febre, apesar de ser um sintoma inespecífico, é classicamente associada aos primeiros sintomas de pacientes diagnosticados com LA e foi referida em apenas 7 pacientes, sendo 4 em LLA da linhagem B e 3 em LLA-T. Parâmetros laboratoriais/hematológicos encontram-se resumidos nas tabelas 4 e 5, constando de leucometria, níveis de hemoglobina, contagem de plaquetas e de células blásticas em SP, além do resultado do mielograma (Classificação FAB). A leucometria mostrou-se elevada na maioria dos casos estudada sendo esta uma característica das LLAs Ph1+. Os níveis da dosagem de hemoglobina variaram de 2,7 a 19,6 g/dL, com mediana de 8,8 g/dL. A maioria dos subtipos de LLA estudadas, apresentaram níveis de hemoglobina menor ou igual a 10,0 g/dL. A contagem de plaquetas no SP variou de 10.000 a 383.000/mm3 com mediana de 53.000/mm3, A contagem relativa (percentual) de células blásticas no SP variou de 21 a 100%,com mediana de 91%. Dos 88 pacientes investigados um caso (01,1%) apresentou contagem menor ou igual a 20%, 20 (22,7%) apresentaram mais que 20 a 70%, e a maioria dos casos, 67/88 (76,1%), apresentou contagem de blastos no SP acima de 70%. 44 Tabela 3. Frequências dos dados clínicos dos pacientes com LLA da linhagem B Dados Clínicos NT / N+ % LLA de linhagem B Linfadenopatia 40 / 42 95,2 Esplenomegalia 10 / 42 23,8 Hepatomegalia 30 / 42 71,4 Massa Mediastinal 00 / 42 ( - ) Massa tumoral 01 /42 02,4 LLA de linhagem T Linfadenopatia 17 /17 100 Esplenomegalia 10 /17 58,8 Hepatomegalia 10 /17 58,8 Massa Mediastinal 17 /17 100 Massa tumoral 01 /17 05,9 Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE; Laboratório DNA-Center. Nota: NT – Número de pacientes testados; N+ - Número de pacientes positivos. 45 Tabela 4. Dados laboratoriais dos pacientes de LLA de linhagem B analisados Leucometria (cel/mm3) Frequência (%) ≤5.000 00/42 ( - ) >5.000 a 10.000 01/42 02,4 >10.000 a 20.000 01/42 02,4 >20.000 a 50.000 01/42 02,4 >50.000 39/42 92,8 Total 42 100 Hemoglobina (g/dL) Frequência (%) ≤10 40/42 95,2 >10 02/42 04,8 Total 42 100 Plaquetas Frequência (%) ≤ 20.000 05/42 11,9 > 20.000 a 50.000 05/42 11,9 > 50.000 a 100.000 30/42 71,4 > 100.000 a 150.000 00/42 ( - ) > 150.000 00/42 ( - ) Total 42 100 Blastos (SP) Frequência (%) ≤20% 00 ( - ) >20% a 70% 00 ( - ) >70% 42 100 Total 42 100 Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE, laboratório DNA-Center. 46 Tabela 5. Dados laboratoriais dos pacientes de LLA de linhagem T analisados Leucometria (cel/mm3) Frequência (%) ≤5.000 00 ( - ) >5.000 a 10.000 00 ( - ) >10.000 a 20.000 00 ( - ) >20.000 a 50.000 04 42,2 >50.000 13 76,8 Total 17 100 Hemoglobina (g/dL) Frequência (%) ≤ 10 17 100 > 10 00 ( - ) Total 17 100 Plaquetas Frequência (%) ≤ 20.000 13 76,6 > 20.000 a 50.000 02 11,7 > 50.000 a 100.000 02 11,7 > 100.000 a 150.000 00 ( - ) > 150.000 00 ( - ) Total 17 100 Blastos (SP) Frequência (%) ≤ 20% 00 ( - ) > 20% a 70% 00 ( - ) > 70% 17 100 Total 17 100 Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE, laboratório DNA-Center. 5.3. IMUNOFENOTIPAGEM Os dados referentes à ICF das LLA de linhagem B e T encontram-se organizados nas tabelas 6 e 7 respectivamente. Ao definir os critérios de reatividade de cada AcMo adotou-se o valor 10% de positividade para os AcMo CD34 e TdT, pois são muito sensíveis e específicos, já os demais AcMo foram considerados positivos a partir de 20% de expressão dentro dos eventos avaliados. Avaliando-se a frequência de expressão dos antígenos relacionados aos linfócitos B, aqueles que apresentaram destaque na frequência foram o CD19 e o 47 cCD79a em 100% dos casos, seguidos do CD10 (84,8%). O CD22 apresentou 42,8% de positividade em apenas 3,4% dos pacientes com LLA B testados apresentaram algum nível de positividade para o CD20. Quanto aos antígenos não específicos e de maturidade o HLADr e CD38 destaca-se com 100% de positividade, seguido do TdT em 83,9% e CD34 em 82,3% dos casos. O antígeno leucocitário comum (CD45) também esteve presente em todos os casos investigados. Expressão de antígenos relacionados à LLA ph+, destacou-se a positividade ao CD25, CD34 e expressão aberrante para antígenos mielóides com o CD33, CD13 e CD65 (Tabela 6). Na Tabela 7 está distribuída a frequência de positividade dos antígenos nos pacientes com LLA de linhagem T. Entre os antígenos pan-T pode ser observada elevada positividade do CD7 e CD3 citoplasmático em 100,0% dos casos, do CD5 e do CD2. Nenhum paciente com LLA T expressou positivamente algum antígeno de linhagem B. Entre os antígenos de maturidade e não específicos o CD45 obteve uma frequência de expressão em todos os casos assim como o CD38. O CD34 foi expresso em 58,9% dos pacientes e o HLADR e o CD13/CD33 foram expressos em 41,2% dos pacientes testados. O CD25 mostrou-se positivo na maioria dos casos investigados. 5.4. PERFIL MOLECULAR E CARIOTÍPICO Na Tabela 8, observou-se presença da t (9;22) na maioria dos casos. Em alguns casos, observou-se outras alterações citogenéticas. O perfil genético do transcrito do BCR/ABL, observou-se p190 na maioria dos casos, destacando nos casos da LLA comum em todos os casos. 48 Tabela 6. Frequência de reatividade dos AcMo nas LLAs de linhagem B LLA da Linhagem B Anticorpo N Testados N Positivos % Antígenos Relacionados às Células Mieloides CD14/CD64 42 00 ( - ) sCD13 42 40 95,2 CD33 42 40 95,2 MPO 42 00 ( - ) CD65 42 30 95,2 CD42b 42 00 ( - ) CD117c-kit 42 00 ( - ) Antígenos pan-T sCD3 42 00 ( - ) CD4 42 00 ( - ) CD8 42 00 ( - ) CD7 42 00 ( - ) CD2 42 00 ( - ) CD5 42 00 ( - ) Antígenos pan-B CD10 42 40 95,2 CD19 42 42 100 CD20 42 01 23,8 sCD22/cCD22 42 42 100 cCD79a 42 42 100 cIgM 42 01 23,8 sIgM 42 01 23,8 Outros Antígenos Celulares CD34 42 40 95,2 HLA-DR 42 42 100 CD38 42 42 100 TdT 42 42 100 CD45 42 42 100 CD25 42 42 100 CD16-56 42 00 ( - ) Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE; Laboratório DNA-Center. 49 Tabela 7. Frequência de reatividade dos AcMo nas LLAs de linhagem T LLA da Linhagem T Anticorpo N Testados N Positivos % Antígenos Relacionados às Células Mieloides CD14 17 00 ( - ) sCD13 17 10 58,9 CD33 17 07 41,2 MPO 17 00 ( - ) CD65 17 07 41,2 CD42b 17 00 ( - ) CD117c-kit 17 00 ( - ) Antígenos pan-T sCD3 17 07 41,2 cCD3 17 17 100 CD4 17 ( - ) 26,3 CD8 17 ( - ) 15,8 CD7 17 17 100 CD2 17 14 82,4 CD5 17 16 94,1 Antígenos pan-B CD10 17 00 ( - ) CD19 17 00 ( - ) CD20 17 00 ( - ) sCD22 17 00 ( - ) cCD79a 17 00 ( - ) cIgM 17 00 ( - ) Outros Antígenos Celulares CD34 17 10 58,9 HLA-DR 17 07 41,2 CD38 17 17 100 TdT 17 17 100 CD45 17 17 100 CD25 17 17 100 CD16-56 17 01 05,9 Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE e Laboratório DNA-Center. 50 Tabela 8. Perfil molecular e citogenético dos pacientes investigados BCR/ABL Cariótipo T (9;22) P190 N (%) P210 N (%) LLA Pro-B (n= 01) 00 ( - ) 01 (100) 01 (100) LLA Pré-B Calla+ (n = 40) 38 (95,0) 02 (05,0) 38 (95,0) LLA-B (IgM+) (n = 01) 00 ( - ) 01 (100) 01 (100) LLA-T (n = 17) 00 ( - ) 17 (100) 06 (35,0) Fonte: Serviço de Citometria de Fluxo / Laboratório de Hematologia. Hemocentro Dalton Cunha / HEMONORTE; Laboratório DNA-Center. 51 6. DISCUSSÃO As leucemias agudas (LA) compreendem um grupo heterogêneo de neoplasias que afetam a MO, subdividindo-se em subtipos biologicamente diferentes, primariamente de acordo com a linhagem celular em mielóides (Leucemia Mielóide Aguda ou LMA) e linfóides (Leucemia Linfóide Aguda ou LLA). A leucemia linfóide aguda e caracterizada pela proliferação de células B ou T precursores. E a doença maligna mais comum na infância, principalmente na faixa etária entre três a 10 anos de idade com pico entre um a quatro anos, sendo menos frequentes nos adultos. Há predominância do sexo masculino (CORNET et al., 2014; MIRANDA- FILHO et al., 2018), (HAMMERSCHLAK, 2010; HENTRICH; BARTA, 2016). O diagnóstico é confirmado pelo aspirado medular que indica mais que 20% de células blásticas leucêmicas. Nessas amostras também devem ser realizadas análises citomorfológicas, colorações citoquímicas, imunofenotipagem por citometria de fluxo além de citogenética e análises molecular. A caracterização imunofenotípica tem sido o método preferencial para a determinação da linhagem celular e análise da maturação das células nas
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