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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS
A GESTÃO SOCIAL DO MEDO NA CIDADE DE NATAL/RN: CULTURA, MEDO E
VIOLÊNCIA URBANA 
DALTON LUÍS BATISTA PAULO DOS SANTOS
NATAL/RN
2017
DALTON LUÍS BATISTA PAULO DOS SANTOS
A GESTÃO SOCIAL DO MEDO NA CIDADE DE NATAL/RN: CULTURA, MEDO E
VIOLÊNCIA URBANA 
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos
e Regionais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre, sob a orientação do
Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz.
NATAL/RN
2017
Santos, Dalton Luís Batista Paulo dos.
 A gestão social do medo na cidade de Natal/RN: cultura, medo
e violência urbana / Dalton Luís Batista Paulo dos Santos. -
2017.
 136f.: il.
 Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa
de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais.
 Orientador: Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz.
 1. Insegurança social. 2. Violência. 3. Espaços públicos. 4.
Medo. I. Cruz, Fernando Manuel Rocha da. II. Título.
RN/UF/BS-CCHLA CDU 364.652.2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -
CCHLA
AGRADECIMENTOS
Ao meu Pai Eterno, que sempre me orientou durante todo o trabalho.
À minha amada Sara, que é meu remédio, minha paz.
À Dálete, Jonathas e Débora, que são as minhas alegrias.
Aos meus pais, que me deram muitas oportunidades.
Ao meu orientador Prof. Dr. Fernando, que não tem sido, apenas, um orientador mas,
sobretudo, um amigo.
Aos meus mestres, que são meus exemplos.
RESUMO
A cidade, desde sua origem, caracteriza-se por ser um lugar de proteção do ser humano.
Mesmo sendo símbolo de segurança e de melhores condições de sobrevivência, o medo
permeia o imaginário dos seus moradores. A violência e a criminalidade também fazem parte
dessa história. Apesar de, em certa medida, não passar de uma sensação, a insegurança na
cidade tem influenciado ,subjetivamente, as pessoas, afastando-as do convívio com os outros
e dos espaços públicos. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva compreender a relação do
indivíduo com a cidade sob a égide da cultura do medo, na cidade de Natal, no estado do Rio
Grande do Norte. Ademais, visa conhecer quais as estratégias dos cidadãos e do poder público
utilizadas para a gestão do medo na cidade e o consequente uso dos espaços públicos. A
presente investigação é qualitativa, tendo por base entrevistas semiestruturadas junto aos
gestores estaduais e municipais da segurança pública e também a representantes de entidades
da sociedade civil. De maneira geral, os gestores públicos foram categóricos em afirmar que o
cidadão não deve ter medo da criminalidade. Os representantes das entidades da sociedade
civil apontaram a cidade como tendo um elevado índice de criminalidade e, em consequência,
uma sensação de insegurança bastante preocupante. Para eles, o Estado deixa a desejar na
prestação do serviço, seja em virtude de falta de efetivo, falta de investimento ou a ausência
do Estado na Educação como sendo o principal fator de geração da criminalidade. 
Palavras-Chave: Cidade. Cultura. Espaços públicos. Medo. Violência.
ABSTRACT
The city since its origin is characterized by being a place of protection of the human being.
Even being a symbol of security and better survival conditions, fear permeates the
imagination of its residents. Violence and crime are also part of this story. Although to a
certain extent it is no more than a sensation, insecurity in the city has subjectively influenced
people away from socializing with others and public spaces. Therefore, the present work aims
to understand the relationship between the individual and the city under the aegis of the
culture of fear, in the city of Natal, in the state of Rio Grande do Norte. Next, to know the
strategies of the citizens and of the public power used for the management of the fear in the
city and the consequent use of the public spaces. The present investigation is qualitative,
based on semi-structured interviews with state and municipal public security managers and
also with representatives of civil society entities. In general, the public managers were
categorical in affirming that the citizen should not be afraid of the criminality. Representatives
of civil society organizations have pointed to the city as having a high crime rate and, as a
consequence, a feeling of insecurity that is very worrying. For them, the State is no longer
willing to provide the service, either because of lack of staff, lack of investment or the
absence of the State in Education as the main factor in generating crime.
KEYWORDS: City. Culture. Public spaces. Fear. Violence.
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 – Densidade Demográfica de Natal, por Bairro, 2014.................................................79
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Taxas de homicídios, por regiões do Brasil (2010-2012).....................................80
Gráfico 2 – Taxas de homicídio, região Nordeste do Brasil (2000-2012)...............................81
Gráfico 3 – Taxas de Homicídio, comparando Brasil, região Nordeste, Rio Grande do Norte,
Região Metropolitana de Natal, e Natal (1996 – 2013)............................................................81
Gráfico 4 – Taxas de homicídios por 100.000 habitantes, na Região Metropolitana de Natal,
comparando número de homicídios entre homens e mulheres.................................................83
Gráfico 5 – Quantidade de Crimes Violentos Letais Intencionais em 2015 comparado com
2014 por região Administrativa de Natal e sua variação.........................................................85
Gráfico 6 – Crimes violentos letais intencionais por tipo de ação criminosa em comparação
com o ano de 2014....................................................................................................................86
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Taxas de homicídio, comparando Brasil, região Nordeste, Rio Grande do Norte,
Região Metropolitana de Natal e Natal.....................................................................................82
Tabela 2 - Índice de vitimização masculina por homicídio e razão entre os riscos de
mortalidade por homicídio masculina e feminina na região Metropolitana de Natal – 1998-
2007...........................................................................................................................................84
Tabela 3 - Número de registros de ocorrências de roubos seguidos de morte (latrocínios) e
taxa por 100 mil habitantes referente aos anos de 2011 a 2014, no Rio Grande do Norte e no
Brasil.........................................................................................................................................84
Tabela 4 – Efetivos da Polícia Militar e da Polícia Civil, por sexo, segundo as Grandes
Regiões e as Unidades da Federação – Brasil – 2014...............................................................89
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
ABRASEL - Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
AMOCISA - Associação de Moradores do Conjunto Habitacional Cidade Satélite - 
BBC – Corporação Britância de Radiodifusão
BNH - Banco Nacional de Habitação 
CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal
CID 10 - Classificação Internacional das Doenças número 10 
CID 9 - Classificação Internacional das Doenças número 9
CODIMM - Coordenadoria de Defesa dos Direitos das Mulheres e da Minoria 
CPTED (Crime Prevention Trough Environmental Design) - Prevençãoda criminalidade
através do design ambiental
CRAS - Centros de Referência em Assistência Social 
CREAS - Centros de Referência Especializados em Assistência Social 
CVLI Crimes Violentos Letais Intencionais 
DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde 
DEAM - Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher
FJP - Fundação João Pinheiro – 
GMN - Guarda Municipal de Natal
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
OMS - Organização Mundial de Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
PMRN – Polícia Militar do Rio Grande do Norte
PNUD – Programa das Nações Unidas paa o Desenvolvimento
RM - Regiões Metropolitanas
RMN – Região Metropolitana de Natal
SINTRO - Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Rio Grande do Norte
SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste 
UDH - Unidades de Desenvolvimento Humano
UNESP – Universidade Estadual de São Paulo
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS 4
RESUMO 5
ABSTRACT 6
LISTA DE MAPAS 7
LISTA DE GRÁFICOS 7
LISTA DE TABELAS 7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 8
INTRODUÇÃO 11
1. PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E METODOLOGIA 15
2. CIDADE: PRODUTO E PRODUTOR DE CULTURA 23
2.1. Cultura: ferramenta de transformação do homem e da construção da
cidade 24
2.2. Cidade: produto da ação humana 31
2.3. A expansão demográfica das cidades e suas consequências sobre o 
homem 37
2.4. A cidade: cenário de atuação do capital 44
3. A CIDADE COMO OBJETO DE MEDO 50
3.1. Segregação social e espacial 54
3.2. A cultura do medo 59
3.3. O papel do estado na gestão do medo 64
3.4. A relação entre a configuração urbana e a criminalidade 69
4. NATAL: URBANIZAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, MERCANTILIZAÇÃO 74
4.1. Evolução urbana e caracterização sócio-demográfica 75
4.2. A criminalidade na cidade 81
5. DOIS OLHARES SOBRE A SEGURANÇA PÚBLICA 92
5.1. Perfil dos entrevistados 93
5.2. O olhar dos representantes da sociedade civil 94
5.3. O olhar dos gestores de segurança pública 102
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 110
REFERÊNCIAS 121
APÊNDICE 134
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, de forma mais exacerbada, o medo da criminalidade urbana tem se
intensificado. Os sentimentos de medo e insegurança têm envolvido de tal maneira as pessoas
que esses temas têm pautado, cotidianamente, as suas conversas e ações. A violência e a
criminalidade urbanas têm assumido destaque, em uma progressão geométrica, entre as
preocupações da população brasileira. De certo modo, não é sem razão que isso tem
acontecido. Diversas pesquisas têm indicado que os números de homicídios, roubos a
veículos, latrocínios e outros crimes tiveram um aumento substancioso e o pior é que as
curvas de mensuração dos índices apresentam uma forte tendência de continuidade no
crescimento desses crimes. Ou seja, os crimes vão continuar aumentando enquanto os
governantes de plantão não se posicionarem no sentido de adotar uma abordagem científica
para buscar soluções para a segurança pública.
O Estado do Rio Grande do Norte e a cidade de Natal não estão desvinculados desse
cenário; ao contrário, enquanto as cidades do Sul e Sudeste do país que, historicamente,
apresentavam os índices mais altos de criminalidade, hoje devido a uma série de ações do
poder público local, esses crimes e seus executores migraram para as regiões Norte e
Nordeste. Em decorrência da histórica falta de investimento e inadequada gestão na área,
esses criminosos encontraram um espaço, até certo ponto, fácil para agir. Especialmente,
devido ao seu know-how, adquirido nos confrontos com as polícias do Sul e Sudeste, e ao seu
nível elevado de equipamentos letais bem superiores aos utilizados no Nordeste têm obtido
êxito, principalmente nas ações de grande monta como, por exemplo, os assaltos a bancos e a
carros fortes.
Como resultado desse quadro, mais do que nunca esse assunto tem sido objeto de
conversas nos mais variados grupos das mais distintas cidades do Estado do Rio Grande do
Norte. Nas diversas faixas etárias, idosos, jovens e até crianças têm essa temática como parte
significante de suas conversas. O mesmo ocorre entre as diversas classes econômicas. As
discussões têm caracteres diferenciados mas a essência é a mesma. Há uma fala básica que
está presente em todos os grupos de amigos, colegas, vizinhos, familiares e outros. Esse
discurso vai, paulatinamente, ganhando eco e provocando reações de medo em quem nem
mesmo foi vítima, influenciando, decisivamente, sua relação com a cidade.
11
O medo na e da cidade, apesar do paradoxo, existiu desde seu surgimento, haja vista
ela ter sido elaborada, entre outros fatores, a partir do medo. Esses elementos referidos são
socialmente construídos, isto é, resultam da maneira como o homem apreende seu ambiente e
atua sobre ele com base nas elaborações dos significados e significantes que o auxiliam nessa
relação com a realidade que o envolvem. Contemporaneamente, o medo na e da cidade e a
sensação de insegurança dele resultante têm se constituído com tamanha potência que ganhou
o atributo de ubíquo. As pessoas, de maneira geral, têm sido impactadas pelas “falas do
medo” que se constituem em discursos que vão se construindo a partir do imaginário que
introjeta possíveis ameaças e as reelabora definindo lugares e pessoas ameaçadores
(FERNANDES; RÊGO, 2012, p. 51).
Assim sendo, a cidade transmuda-se de ambiente de integração, de ambiente de
acolhimento para um ambiente de presenças indesejadas, de lugares indesejados, de vínculos
fluidos, de interações fragmentárias. Os que fazem a cidade, que dão vida à cidade, que são a
sua razão de ser passam a se constituir, paradoxalmente, naqueles que são a escória da cidade,
se convertem ou são convertidos em objetos de repugnância. Os nós dessa cidade-teia que são
interdependentes e foram construídos sócio-historicamente assim, também sofrem esse
processo e, da mesma forma, tornam-se, ou são tornados repugnantes. A partir daí, esses,
categorizados, rejeitos da cidade, sejam as pessoas ou os lugares que não se enquadram no
padrão da normalidade construída passam a ser evitados. Nesse diapasão e, como resultado
dele, tem-se a emergência da hipótese predatória da cidade, caracterizada como estrutura que
se interpõe entre os indivíduos e os lugares, mediatizando as relações e estabelecendo
comportamentos nos espaços da cidade ( FERNANDES, 2003, p. 57-60).
Com base nessas percepções a presente investigação busca, principalmente,
compreender o papel da violência e da criminalidade urbanas na relação do cidadão com a
cidade. Assim, o objetivo principal do trabalho consiste em identificar quais as estratégias
sociais de gestão do medo da criminalidade urbana. Os objetivos específicos são, por
conseguinte, compreender a relação entre o cidadão e a cidade sob a perspectiva do medo;
identificar as estratégias de gestão do medo sob a perspectiva da hipótese predatória na
cidade; e, por fim, cotejar as percepções da população e dos gestores públicos sobre o medo
da criminalidade urbana e sua gestão.
12
Logo, inicia-se o trabalho no primeiro capítulo pela revisão de literatura sobre a
produção do conhecimento científico. O cientista ou aquele que se propõe a realizar um
trabalho de caráter científico deve, obrigatoriamente, conhecer do que se trata tal
empreendimento. Deve também conhecer as diversas visões a respeito do tema e buscar se
posicionar em relação a eles. Com isso, constrói-se uma pesquisa norteada por um paradigma
de fazer ciência que foi escolhido previamente com o objetivo de oferecer um produto que
tenha condições de ser compreendido pela academia como frutoe resultado de sua própria
lavra e de sua existência enquanto instituição de fazer ciência, por excelência.
No segundo capítulo, são discutidos elementos que têm um caráter de essencialidade
para a existência humana e também para toda e qualquer relação dessa espécie com o
ambiente que a envolve. Desse modo, é discutido o papel da cultura enquanto ferramenta
essencial de existência do ser humano, no sentido de ser o instrumento primordial de
apreensão e compreensão dos elementos que o constituem. Nesse capítulo, apresenta-se a
espécie humana com base em uma peculiaridade quando comparada a outras. As diversas
espécies agem ou se comportam com base em instintos, enquanto o homem age com base no
que aprende ao longo de sua existência. Esse aprendizado se dá através da cultura que é a
ferramenta que o dota de capacidade para apreender o mundo que o cerca e, a partir daí, atuar
reflexivamente sobre ele. Com base nessa percepção e, fundado nela, discute-se a cidade
como um empreendimento humano eminentemente sócio-histórico e cultural, humano por
excelência. Em seguida, são examinadas suas origens com o fulcro na compreensão da relação
entre cultura e cidade, entre o ser humano e o ambiente. A partir desse processo sistemático e
dialético de produzir e ser produzido, o homem elabora e realiza diversos empreendimentos
que resultam de sua ação sobre a natureza em busca de comida, abrigo e proteção. A cidade
surge, assim, como produto desse motor humano, como consequência, inicialmente do
controle sobre a produção de alimentos e da criação de animais, que possibilitou a sua fixação
em regiões que ofereciam melhores condições de sobrevivência. Posteriormente, foi motivado
pelo desejo de se proteger dos fenômenos climáticos, dos animais e dos inimigos; além de
motivações religiosas que promoviam a sociabilidade e interdependência dos indivíduos.
O capítulo terceiro tem como fio condutor de sua discussão, além dos elementos
apresentados a seguir, o medo da cidade como construto social e, como tal, realizado com as
ferramentas da cultura. Esses elementos são socialmente construídos, isto é, resultam da
13
maneira como o homem apreende seu ambiente e atua sobre ele a partir das elaborações dos
significados e significantes que o auxiliam nessa relação com a realidade que o envolve
(FERNANDES; RÊGO, 2012, p. 51). Nesse capítulo, entende-se como fundamental para a
compreensão da cidade, como objeto de medo, alguns elementos, tais como: (1) a questão da
segregação sócioespacial, que resulta em preconceito, baixa auto-estima e violência tanto
simbólica, quanto real para com os excluídos; (2) a elaboração subjetiva do medo de uma
ameaça irreal, como se o crime estivesse presente em todos os lugares indistintamente. As
pessoas têm sido impactadas pelas “falas do medo” (FERNANDES; RÊGO, 2012, p. 51) que
se constituem em discursos que vão se construindo a partir do imaginário que introjeta
possíveis ameaças e as reelabora, definindo lugares e pessoas ameaçadores; (3) influenciados
principalmente pelos meios de comunicação de massa que espetacularizam a notícia, dando a
ela uma importância tal que a torna a tônica de programas inteiros; (4) por fim, entram nessa
equação o Estado e a configuração dos espaços públicos, por meio da Gestão das Políticas
Públicas que, muitas vezes, tem levado a efeito um trabalho baseado no senso comum, como
se houvesse uma rejeição ao trabalho científico, quer seja por desconhecimento, quer seja por
falta de recursos.
O capítulo quatro busca caracterizar a cidade de Natal articulando com o contexto da
presente pesquisa. Desde a sua origem, passa por informações sociais e demográficas e, por
fim, os dados referentes à criminalidade na cidade. Os dados referentes aos crimes de maior
ofensividade, tais como os homicídios e os chamados crimes violentos letais intencionais,
serão mais bem explicitados ao longo do capítulo.
As entrevistas e suas análises estão apostas no capítulo cinco. A leitura crítica das
entrevistas foi realizada a partir de um dinâmico e sistemático movimento continuado e
cíclico de interligação entre a realidade apresentada pelos entrevistados, os conceitos
esposados no trabalho e os dados que auxiliaram na compreensão da realidade, construindo,
assim, gradualmente, uma trama, um tecido carregado de significado e de informações
compreensíveis. 
14
1. PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E METODOLOGIA
O presente capítulo traz breves considerações sobre a produção do conhecimento
científico. Apresenta, também, as estratégias metodológicas adotadas no presente trabalho,
nomeadamente aquelas que se distanciam da visão tradicional de fazer ciência, mais
especificamente o denominado paradigma cartesiano ou mecanicista. Assim, se aproxima de
uma abordagem sistêmica, voltada para a valorização de outros saberes.
O homem, desde seus primórdios, vem transformando o seu ambiente movido por um
desejo de melhorar suas condições de vida, pela perfectibilidade. Essa faculdade o levou a
construir saberes em sua relação com os obstáculos que lhe eram apresentados (ROUSSEAU,
1999, p. 173). Assim, o conhecimento foi sendo, gradualmente, agregado, e esse homem, na
interação com a natureza e com os outros, foi estruturando um conjunto de soluções que, com
o passar do tempo, o fez evoluir em termos cognitivos. Essa evolução o conduziu a
desdobramentos que redundaram então, não apenas em transformações da natureza ou em
superação de obstáculos, mas, agora, em uma nova etapa, em questionamentos menos
pragmáticos e mais transcendentes, como: o que é o corpo luminoso que aquece e ilumina o
seu dia, ou, quem é ele, de onde veio, para onde vai, o que são as estrelas, como elas
aparecem no céu, e tantas outras dúvidas que passaram a intrigá-lo (LAVILLE; DIONE,
1999).
Nessa sucessão sistemática de questionamentos e busca de respostas, o homem
continuou seu processo de evolução cognitiva passando a procurá-las em suas experiências
pessoais e em suas observações imediatas. Essas explicações foram resultantes de percepções
espontâneas, intuitivas, ou revelações divinas, assim denominadas de “senso comum”, que se
consolidaram e tornaram-se tradição. Entretanto, o homem percebe que essas explicações são
extremamente limitadas e passa a buscar compreender o mundo a partir de processos mentais
mais bem elaborados e pensados de forma sistematizada (LAVILLE; DIONE, 1999). Com
isso, “a ciência deixa de ser uma interpretação contemplativa da natureza, para se tornar
experiência ativa” (BAZZANELLA, 2009).
A produção do conhecimento científico moderno, fundada em pensamentos como “a
teoria heliocêntrica de Copérnico, as leis de Kepler sobre as órbitas dos planetas, as leis de
Galileu sobre a queda dos corpos, a ordem cósmica de Newton e a consciência filosófica de
Bacon e Descartes” (MIRANDA, 2005, p. 241), nas ideias de reprodução dos experimentos
15
com base em receitas ou formulações matemáticas e geométricas, na absoluta certeza de uma
empresa em princípios matemáticos fundamentais que prescindem de demonstração (CAPRA,
2006, p. 53), também a preocupação com o desenvolvimento de uma metodologia própria da
ciência, além da vontade de se distanciar da experiência sensorial. Todo esse conjunto de
características, embora tenha se consolidado, se solidificado como o modelo de se fazer
ciência, de se reproduzir o real, tem apresentado abalos, falhas, respostas incongruentes,
quando submetido a confrontar as mais recentes descobertas científicas (HENRY, 1998, p. 20-
36).
Com o surgimento dos conhecimentos produzidos pela teoria da relatividade de
Einstein, pelo princípio da incerteza de Heisenberg, pela teoria quântica de Planck e
Schrödinger, pelos modelos atômicosde Dalton, Thompson, Rutherford e Bohr, pela
dualidade onda/partícula de De Broglie, e diversas outras descobertas realizadas entre o fim
do século XIX e o início do século XX, o racionalismo científico e seu rigor
matemático/geométrico são abalados. Todos eles foram progressivamente minando o alicerce,
até então intocado, da ciência moderna, cartesiana, mecanicista, matemática, mensurável,
quantificável, reproduzível, demonstrável. O eletromagnetismo e a eletrodinâmica de Michael
Faraday e Clerk Maxwell, especialmente, provocaram as primeiras lacunas na até então
considerada a “teoria fundamental dos fenômenos naturais”, a mecânica newtoniana. Essas
disciplinas principiaram, no pensamento científico, a ideia de desenvolvimento, evolução,
mudança, que acabaram por permear toda a produção de conhecimento seguinte (CAPRA,
2006, p. 65-84).
A teoria da relatividade, especialmente, e a teoria quântica contribuíram
significativamente, no primeiro quarto do século XX, para a deterioração da cosmovisão
cartesiana, newtoniana (CAPRA, 2006, p. 69). A teoria da relatividade apresenta a ideia de
que “a noção de matéria, da forma que a conhecemos, é uma ilusão; tudo, absolutamente tudo
é pura energia, tudo pode ser fracionado, dividido e transformado em um nada absoluto, em
energia pura” (SILVA; CAVALCANTE, 2013, p. 51).
Portanto, o paradigma mecanicista de ciência não é capaz de atender aos experimentos
e questionamentos que ocorrem no nível infinitamente pequeno, na ciência das partículas
subatômicas, e no nível infinitamente grande, a ciência das distâncias e das velocidades
astronômicas (CAPRA, 2006, p. 95). Há um esgotamento do modelo que desvela suas
limitações em algumas áreas do conhecimento.
16
Em face do exposto, é possível inferir que está em andamento um inexorável processo
de crise nesse paradigma, que resultou, de modo especial e paradoxalmente, dos enormes
arcabouço e repertório de conhecimentos reunidos ao longo de, aproximadamente,
quatrocentos anos. Ainda mais, pode-se afirmar que está em progresso uma intensa
transformação no modo de se enxergar a produção de conhecimento. E por fim, ainda não é
possível prever quais as características do modelo que se manifestará após findado esse
momento de convulsão nas estruturas do modelo em vigor (SANTOS, 1988, p. 54).
Segundo Capra (2005, p. 244), o novo paradigma de ciência apresenta seis
características. A primeira se refere à ligação da parte com o todo e do todo com a parte.
Diferentemente da ciência moderna, que procura compreender o todo a partir da compreensão
de seus fragmentos de modo a se buscar a parte, ou partes constituintes fundamentais desse
todo, no novo paradigma o essencial é o todo. Parte-se da leitura global de sua dinâmica para
daí se inferir sobre o funcionamento de suas partes. A segunda característica é um
desdobramento da primeira, visto que se trata do deslocamento da ideia de que os elementos
fundamentais constituintes interagem entre si, gerando uma sucessão sistemática de
fenômenos, para a ideia de que essa sucessão concatenada de fenômenos, é que são fundantes,
essenciais, originários e que as partes observadas, percebidas pelo experimento científico são,
na verdade, resultantes, consequentes dos fenômenos (CAPRA, 2005, p. 244). 
A produção do conhecimento científico, no modelo de ciência moderna, tem como
estatuto o distanciamento, a separação entre o observador e o objeto a ser observado. A
terceira característica do novo paradigma desconstrói essa ideia ao afirmar que não há
possibilidade de ocorrer, de fato, essa separação. O conjunto de ações para a aquisição de
determinado conhecimento se dá, inexoravelmente, com a participação, o envolvimento do
observador independente de sua vontade. Toda a ciência moderna está fundamentada em um
conhecimento construído sobre alicerces sólidos, sobre elementos basilares, blocos, ou partes
que formam o todo desse conhecimento firmemente estruturado, edificado. No entanto, esse
edifício por, muitas vezes, passou por abalos e, agora, passa por mais um, embora
diferentemente delineado. Esse novo abalo configura não mais a ideia de uma construção
sólida, de um edifício estável, formado pelo conjunto de suas partes bem concatenadas, mas
por uma malha de relações, uma rede de fenômenos interconectados, caracterizada pela
ausência de hierarquia desses fenômenos, sendo isso a quarta característica do novo
paradigma. A quinta característica é a concordância, a admissão de que todas as ideias
17
sistematizadas, todas as descrições sobre o conhecimento científico propiciam uma visão
incompleta, parcial, restrita do real. Não há mais respostas definitivas. A última característica
do novo paradigma se baseia, ao contrário da visão baconiana de exploração, de extração, de
dominação, na maneira de tratar a natureza, em valores de solidariedade, respeito, cooperação
e de não-violência (CAPRA, 2005, p. 245-248).
Outros dois aspectos a serem destacados são: primeiro, o desprezo da ciência moderna
pelo conhecimento que não passa pelo seu crivo, construído sem a submissão aos seus
estatutos, mas que responde aos questionamentos “comezinhos e corriqueiros”; segundo, seria
questionar se a ciência tem, de fato, melhorado a vida das pessoas, em que medida e de que
forma, visto que presenciou-se na primeira metade do século, a ciência ser responsável pela
morte e destruição em massa da vida de um sem número de pessoas (SANTOS, 1988, p. 47).
Para Giddens (1996, p. 177), as Ciências Sociais, dissociadas do modelo das Ciências
Naturais, devem basear sua produção tendo, como referência, pensamentos como:
o mundo social, ao contrário do mundo da natureza, tem de ser
entendido como uma realização engenhosa de sujeitos humanos
activos; a constituição desse mesmo mundo como «significante»,
«relevante» ou «inteligível» depende da linguagem, vista, contudo,
não como um simples sistema de signos ou símbolos, mas como um
meio de actividade prática; o cientista social, por necessidade, faz uso
do mesmo tipo de capacidades que aqueles cujo comportamento
procura analisar por forma a descrevê-lo; gerar descrições do
comportamento social depende da incumbência hermenêutica de
penetrar nos quadros de significado que os próprios actores não
especialistas utilizam na constituição e reconstituição do mundo
social. (GIDDENS, 1996, p. 177)
Define, ainda, o que chama, as “novas regras do método sociológico”, sem a
pretensão, no entanto, de estabelecer um estatuto para a investigação social, mas diretrizes, ou
pressupostos para a produção do conhecimento no âmbito do mundo social. Primeiro, a
investigação social se debruça sobre um universo construído por ações dos indivíduos. A
natureza é transformada socialmente por eles que, nesse processo, produzem história, e
também são, ao mesmo tempo, transformados por ela de tal maneira que “vivem na história”.
Essa ação, apesar de deliberada e volitiva, não é, muitas vezes, totalmente consciente ou
inexorável. Um segundo aspecto a se observar é que, apesar de produzirem e se reproduzirem
enquanto sociedade, os indivíduos o fazem em um processo de tênue tensão entre saber e não
saber o que estão fazendo, uma vez que são conduzidos, ou levados a agir dessa ou daquela
maneira por uma estrutura social, que tem um caráter de tornar o sujeito da ação capaz de a
18
realizar. Sendo, portanto, tal estrutura social também objeto de um processo dialético
construcionista, que se dá através da ação social. Outra diretriz diz respeito ao papel do
pesquisador em sua práxis. Para o autor, “a imersão numa forma de vida é o meioúnico e
necessário através do qual um observador é capaz de produzir” (GIDDENS, 1996, p. 181-
184) descrições de suas observações, que sejam produzidas em linguagem científica. Por fim,
compreende que a investigação social tem por principais metas
a) A explicação e mediação hermenêuticas de formas divergentes de
vida dentro das metalinguagens descritivas das ciências sociais;
b) A explicação da produção e reprodução da sociedade como
resultado acabado da actividade humana. (GIDDENS, 1996, p. 185)
Em face do exposto, foram adotados, como referências para a produção do presente
trabalho, os pensamentos, baseados em uma perspectiva de fazer científico que se distancia da
visão mecanicista, cartesiana e ortodoxa. Uma ciência social que tem características próprias,
que diferem das ciências naturais, consequentmente, tem suas próprias regras. Trabalhar-se-á
sob a égide de um modelo científico que valoriza a individualidade e o subjetivismo, cientes
de que o objeto de estudo como também o observador estão em constante mutação, em
contínua e inexorável construção mútua. Igualmente, será construída a pesquisa sem a
intenção, claro, de dar respostas definitivas, mas apresentando uma leitura aprofundada do
recorte da realidade objeto de questionamento.
Visando realizar uma pesquisa que terá, como fulcro de estudo, os discursos de
entrevistados que encerram em si experiências, vivências, interações, relações, princípios,
valores e história, será adotada, para o presente trabalho, a metodologia aplicada a uma
investigação científica de natureza qualitativa, na qual 
o investigador sempre faz alegações de conhecimento com base
principalmente ou em perspectivas construtivistas (ou seja,
significados múltiplos das experiências individuais, significados social
e historicamente construídos, com o objetivo de desenvolver uma
teoria ou um padrão) ou em perspectivas
reivindicatórias/participatórias (ou seja, políticas, orientadas para a
questão; ou colaborativas, orientadas para a mudança) ou em ambas.
Ela também usa estratégias de investigação como narrativas,
fenomenologias, etnografias, estudos baseados em teorias ou estudos
de teoria embasada na realidade (CRESWELL, 2007, p. 35).
Na pesquisa qualitativa, o investigador pretende estudar o mundo, o país, o estado, a
cidade, as comunidades, os grupos sociais, visando compreender suas dinâmicas,
questionamentos, dúvidas, certezas, problemas e soluções. Ademais, foram coletados dados e
19
informações permeados de sentimentos, desejos, histórias, vivências, dificuldades,
superações, analisando-os e tratando-os dentro dos parâmetros estabelecidos pelo modelo.
Depois, procurou-se descrever e explicar esse campo amostral em que foi realizada a
pesquisa. O trabalho pode ser efetivado tendo como origem a realidade cotidiana das pessoas
utilizando-se de documentos, observações das práticas ou das relações, e, por meio da
entrevista pessoal, ouvir os relatos e histórias das pessoas que compõem o grupo a ser
investigado. O objetivo é “ler” o mundo que rodeia essa população de forma indireta
utilizando todos esses elementos e, em seguida, traduzí-lo para uma linguagem acadêmica e
clara. Assim, é possível fazer uma reprodução ainda que aproximada, tendo em vista a
subjetividade do objeto, do experimento (ANGROSINO, 2009, p. 8-9).
Para levar a efeito essa investigação foram utilizadas algumas técnicas que serão
apresentadas a seguir. Segundo Marconi e Lakatos (2002, p. 62), técnica é “um conjunto de
preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a habilidade para usar esses
preceitos ou normas, a parte prática.”.
Em uma primeira fase do presente estudo, procedeu-se a uma revisão bibliográfica
com recurso à literatura nacional e internacional afeta à temática do trabalho. Essa técnica
objetiva familiarizar o pesquisador com a temática com a qual trabalhará em seu estudo
(MARCONI; LAKATOS, 2002, p. 62). Após a reunião de informações resultantes da revisão
bibliográfica, percebeu-se a necessidade da realização de entrevistas semiestruturadas, com
perguntas abertas, com gestores públicos e líderes de entidades representativas de grupos
sociais. A entrevista, como técnica de pesquisa, é
[...] um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de um determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional.
[...] trata-se, pois de uma conversação efetuada face a face, de maneira
metódica; proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação
necessária.
[...] tem como objetivo principal a obtenção de informações do
entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. (MARCONI;
LAKATOS, 2002, p. 92).
Em relação à entrevista semiestruturada, entende-se ser a técnica mais apropriada para
a pesquisa em questão. Assim,
o pesquisador [pode] seguir um conjunto de questões previamente
definidas, mas ele o faz em um contexto muito semelhante ao de uma
conversa informal. O entrevistador deve ficar atento para dirigir, no
momento que achar oportuno, a discussão para o assunto que o
20
interessa fazendo perguntas adicionais para elucidar questões que não
ficaram claras ou ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o
informante tenha “fugido” ao tema ou tenha dificuldades com ele
(BONI; QUARESMA, 2005, p. 75).
A pergunta aberta oferece ao respondente a condição de, usando suas próprias
palavras, responder sem limitações e expressar sua opinião (MARCONI; LAKATOS, 2002, p.
94-101).
Como consequência, pretemdeu-se compreender e interpretar, de maneira
aprofundada, as falas dos entrevistados em busca do sentido daquilo que foi expresso. Na
esteira dessas diretrizes, será utilizada, como estratégia de pesquisa, a Análise de Conteúdo.
Essa estratégia de investigação
é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata
de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior
rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande
disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito
vasto: as comunicações (BARDIN, 1977, p. 31).
Assim, os objetivos de uma pesquisa e o formato dos dados a serem analisados
estabelecerão os procedimentos de investigação, em consonância com as características de
uma pesquisa qualitativa que busca garimpar as respostas à pergunta de pesquisa com base
nas falas dos sujeitos.
Em face do exposto e, visando compreender a percepção dos entrevistados, foram
apresentadas a eles, tanto aos gestores públicos quanto aos representantes das entidades da
sociedade civil, questões relacionadas à criminalidade na cidade de Natal, tais como: como
veem a criminalidade em Natal nos últimos anos, considerando que houve aumento na
quantidade de ocorrências, como eles mensurariam essa questão, quais suas opiniões, como se
posicionam diante desse questionamento. Outro questionamento, para ambos os grupos, foi
em relação à qualidade do serviço prestado pelo Estado na área da Segurança Pública, se
consideravam suficiente, eficiente, se as demandas são atendidas adequadamente. Um terceiro
questionamento foi sobre as orientações aos cidadãos para minimizar o risco de ser vitimado
pelos criminosos. Na sequência, foram questionados se o cidadão deve ou não ter medo da
criminalidade, se ele deve usar ou ocupar a cidade, qual o nível de cautela. E, por fim quais as
diretrizes fundamentais que norteiam seus trabalhos. Para tanto, foram feitas entrevistas
semiestruturadas com questões abertas para que fosse possível compreender as práticas e os
princípios que regem o trabalho de cada um. Essas perguntas acima foram feitas aos gestores,
21
em relação aos entrevistados do grupo de entidades civis;as perguntas foram essencialmente
quase as mesmas, as exceções foram as questões voltadas para o volume de vitimização de
seus representados e quais as estratégias por eles utilizadas para diminuir a possibilidade de
ser vítima. 
22
2. CIDADE: PRODUTO E PRODUTOR DE CULTURA
O presente capítulo tem por finalidade discutir o papel do ser humano e seus
elementos culturais na idealização, elaboração e realização desse importante empreendimento
humano que é a cidade. Esse empreendimento teve, como ideário primordial, a proteção e
que, ao longo do tempo, constituiu-se, paradoxalmente, em objeto de medo. Foi construído,
primariamente, com o auxílio do aparato biológico do ser humano, mas principalmente
arrimado no instrumental cultural que complementa a estrutura de suporte à sobrevivência do
ser humano. 
Inicialmente, com o objetivo de contextualização, serão apresentadas questões
relativas à etimologia da palavra, às definições, seus significados e sua função enquanto
instrumento de mediação e apreensão da realidade. O objetivo da discussão, nesse sentido, é
buscar compreender esse caminho percorrido pelo homem em sua relação com a cidade. 
Na sequência, serão discutidos a origem das cidades, seu germe primitivo e os fatores
responsáveis pelo seu surgimento, além da sua função primeva. Um terceiro ponto de
discussão é a influência do crescimento urbano sobre a subjetividade e a percepção da
realidade, bem como da construção social do modo pelo qual foi e é percebida.
23
2.1. Cultura: ferramenta transformadora do homem e da construção da cidade
Há diferentes modos de se analisar a cultura. Ela pode ser: uma forma de se viver em
grupo, uma forma de encarar a vida e o mundo, a herança de uma posição social em uma
sociedade, um conjunto de conhecimentos, modos de agir e ser, uma série de regras sobre
como se comportar, um acúmulo de experiências. Essas características das definições do
termo cultura estão ligadas a fatores individuais - na esfera das vivências da individualidade
ou da subjetividade - ou coletivos - na esfera das vivências em comunidade - adquiridos pelos
indivíduos. Esses fatores são caracterizados, ainda, por resultar de uma superposição histórica
ou sucessiva de elementos construtivos do intelecto e da subjetividade dos indivíduos. Outra
perspectiva com a qual é possível se perceber essas proposições é que elas encerram em si,
tanto representações do modo de viver, dos princípios e valores de um sujeito ou de um grupo,
como também dos preceitos e ditames, baseados nos princípios que devem ser seguidos
(CRESPI, 1997, p. 13-14).
Em termos etimológicos, a palavra cultura tem origem em um campo semântico que
abrange palavras ligadas à agricultura, tais como: cuidar da terra, cultivar, lavrar, lavoura,
colheita, isto é, ações realizadas com e na terra. Entretanto, o termo ganhou, ao longo do
tempo, outra conotação, passando de um fundamento material para um fundamento abstrato.
Seu conceito passou a fazer parte de um campo semântico que se vincula ao conhecimento, às
artes e ao refinamento. Alude ao “processo de formação da personalidade humana através da
aprendizagem” (CRESPI, 1997, p. 14). Essa compreensão foi dada, particularmente, pelos
gregos e pelos romanos. Ambos os povos tinham a preocupação em formar cidadãos
oferecendo-lhes conteúdos, contendo conhecimentos mais elevados, de modo a fazê-los
indivíduos que melhor convivessem em comunidade. Há, ainda, outras duas derivações do
termo que apresentam uma o caráter sagrado, de crença divina e outra relativa à moradia,
lugar de guarda ou de proteção (EAGLETON, 2005, p. 10; CRESPI, 1997, p. 15).
Essa transição pode conter em si uma similaridade com a transição do homem do
campo para a cidade, do rural para o urbano, do rústico para o civilizado. É interessante notar
que essa mudança também carrega uma contradição, uma vez que o indivíduo que cuida da
terra é representado como tendo pouco ou nenhum refinamento, não tem cultura, por não ter
acesso à formação intelectual, e aquele da cidade a tem. Com isso, se conclui que a palavra
cultura, por carregar ideias de cuidado com a terra, proteção dos produtos dela advindos,
24
denota um processo de ação sobre a natureza e, consequentemente, um processo reflexivo de
ação da natureza sobre o homem, sugerindo então, uma mútua e sistemática sucessão de
mudanças provocadas entre si. Com isso, o vocábulo encerra em si um processo cíclico de
argumentos e contra-argumentos construtivos, destrutivos, desconstrutivos e reconstrutivos
entre o ser humano e o ambiente natural que o circunda. Um embate contínuo e recíproco
entre elementos que simultaneamente constroem e destroem, mas que se somam e formam
história. Entretanto o homem e a natureza não são simples objetos submetidos ao agir um do
outro, ambos estabelecem fronteiras. O indivíduo enquanto parte da cultura – ainda que
também faça parte, ao mesmo tempo, da natureza – é moldável, é plástico, no entanto essa
plasticidade está vinculada a sua subjetividade, é de caráter volitivo. Logo o aspecto
prescritivo da cultura está limitado à liberdade de ação do indivíduo. Dessa forma, “a ideia de
cultura, então, significa uma dupla recusa: do determinismo orgânico, por um lado, e da
autonomia do espírito, por outro.” (EAGLETON, 2005, p. 10-14).
Outro aspecto que merece registro é que o repertório de ferramentas utilizado para a
modificação do ambiente é originário da cultura, portanto, histórico. Desse modo conclui-se
que não há contradição entre a natureza e a cultura, apesar de a cultura ser, muitas vezes,
apresentada como oposta àquela. Uma maneira metafórica de explicar isso é observar a
atividade de um indivíduo nas águas ao nadar. Este exerce uma ação, uma força sobre a
natureza - as braçadas e pernadas na água - gerando uma força contrária que o impulsiona
para frente, mantendo-o na superfície. Apesar de usar a força contra a natureza e, de certo
modo, a atacar ou a agredir, isso é que permite a manutenção do indivíduo numa posição
adequada a ele, e só ocorre a manutenção da posição devido à reação da natureza ao ataque
sofrido. Portanto há uma agressão recíproca, que poderia redundar em destruição, mas
redunda em construção (EAGLETON, 2005, p. 12).
Com base em uma percepção imediata, ou melhor, pouco refletida, simplista, a espécie
humana, assim como as demais, é dotada de uma natureza própria, intrínseca da qual não
pode se desvincular. Daí, se falar em características peculiares de toda a espécie. Ao mesmo
tempo, se fala, também, em diferenças pontuais ligadas, por exemplo à compleição física, a
determinados comportamentos próprios de homens e mulheres, ou de determinados povos,
algo semelhante ao que acontece com espécies vegetais ou animais. Desse modo, existe uma
relação de causa e efeito, ligada aos princípios e leis universais da natureza, tornando o ser
25
humano um autômato despossuído de vontade. Assim, haveria um “mundo do homem no
sentido em que se pode falar em um mundo do cão ou de um mundo do cavalo [com o qual]
têm uma relação fixa [...], do qual participam com todos os outros membros da respectiva
espécie.” (BERGER; LUCKMAN, 2003, p. 59). No entanto esse mesmo olhar simplista, do
senso comum se depara com uma série de contradições que, ao serem submetidas ao crivo do
processo de produção científica, são desconstruídas e ressignificadas, estabelecendo, com
isso, um corpus de saberes que deixam claro e peremptório o fato de que não existe uma
natureza humana. Na verdade, o que acontece é a naturalização de “comportamentos, ideias,
valores e formas de viver e de agir […] porque os seres humanos são culturais ou históricos”
(CHAUÍ, 2000, p. 367-369).
A natureza enquanto cultura a constrói com elementos existentes dentro do indivíduo e
também fora dele,de modo que o homem que é cultural é, ao mesmo tempo, natural. As
tensões ou mesmo as desordens que possam ocorrer na natureza podem, igualmente,
acontecer no interior do ser humano. Logo, a cultura torna-se um preceptor desse homem,
prescrevendo normas, comportamentos, aperfeiçoamentos, refinamento nos modos e
configurando uma relação entre natureza, cultura e indivíduo no nível mental. Da mesma
maneira que a natureza é transformada através de uma ação contundente, muitas vezes até
violenta, igualmente o homem, para ser transformado, passa por esse processo, só que
diversamente é possível que este realize uma autotransformação o que não é possível para a
natureza. Portanto incrementar o arcabouço cultural é algo que ocorre, não espontaneamente,
mas como resultado de uma colaboração e de um embate, simultâneos, entre a natureza e a
cultura que constituem o ser humano. Para se efetuar, é necessário, também, um aporte de
forças de caráter volitivo que afastem o homem da inércia, ou de uma condição técnica
inferior para que se chegue a uma condição técnica superior. Em decorrência dessa relação
emerge uma capacidade inata, uma possibilidade de se atingir patamares maiores
(EAGLETON, 2005, p. 15-16).
Enquanto as outras espécies de animais têm seu comportamento definido
biologicamente e estão condicionadas inexoravelmente a agir de forma determinada e
imutável, o ser humano é diferentemente composto. De início, não há um ambiente humano
fixamente constituído, com base na sua instintualidade, e, como as outras espécies, tampouco
hermético, não permeável ao trânsito delas entre si. Em que pese o fato de que o aparato
26
biológico humano é um instrumental para auxiliar na sobrevivência não é, por si só, suficiente
para garanti-la, apesar de capacitá-lo para diversas atividades. No entanto a habilidade inata
de, por exemplo, se adaptar aos mais diversos ambientes e modificá-los de acordo com suas
necessidades, faz do animal humano uma espécie diferente das demais. Conclui-se, portanto,
que há um segundo aparato instrumental que complementa e incrementa a sua existência e o
seu “mundo”, quando se fala em um mundo ou em um ambiente intrínsecos ao humano. Esse
aparato capacita-o para as mais variadas circunstâncias, de modo que a formação integral
desse ser se dá na relação com o ambiente e a sociedade na qual está inserido. Essa última é
responsável pela introdução no seu “mundo” (BERGER; LUCKMAN, 2003, p. 59-60).
Esse cuidado com o incremento da competência técnica pode ser realizado, não só
pelo indivíduo na sua relação com os outros e com o ambiente. Mas também por outros
indivíduos ou instituições, que podem exercer esse papel de dinamizador do potencial inato
que possui o ser humano, visto que existe, entre os membros de um grupo, uma tensão
constante, decorrente das conveniências individuais. Assim, as instituições têm, também, a
função de mediar essas tensões realizando o processo cultural de formação dos indivíduos, de
modo que aconteça o afloramento de um agir paradigmático, caracterizado por um espírito de
cidadania e de adequada convivência. Esse viver em coletividade denota o papel da política,
que dessa forma deve se valer de elementos éticos mais robustos e sólidos a fim de
proporcionar a apropriada formação de cidadãos, capazes de desempenhar, de maneira ideal,
sua função de habitante da cidade. Assim é construído, um caminho que se origina na política,
passa pela cultura e redunda na convivência pacífica dos indivíduos que formam a
comunidade. Com isso, é possível concluir que as instituições e a cultura são entes com
existências que abrangem todos, mas que atuam, individualmente, nos sujeitos que formam a
sociedade (EAGLETON, 2005, p. 16-18).
Com a teoria do relativismo cultural no âmbito dos estudos antropológicos, emerge a
percepção de que os símbolos são importantes para a construção da subjetividade e do
psiquismo do indivíduo. Para os povos primitivos em que os grupos se uniam por laços de
parentesco e havia uma organização simplificada, os símbolos eram tidos como algo real,
enquanto, para as sociedades modernas, devido ao nível de conhecimento científico, os
símbolos são vistos, apenas, como representações do real. Essa mudança de paradigma
promoveu a desconstrução de ideias até então inquestionáveis, vistas como naturais, que, no
27
entanto, não passavam de uma construção histórica, ou seja, eram elementos que faziam parte
de um determinado contexto histórico e social. Ao mesmo tempo, nessa transição, tem início
um processo de amadurecimento intelectual que conduz o homem a um exame criterioso da
relação entre o simbólico e o real. A já referida superposição de experiências e de
conhecimento sistemático levou o homem a questionar as assertivas que lhe foram legadas de
maneira determinista, levando-o à compreensão de que a realidade é diferente das suas
representações (CRESPI, 1997, p. 18).
Na esteira desse processo e, em consonância com a relação entre o simbólico e o real,
a geometria urbana se inscreve nesse conjunto de elementos que representam a maneira com a
qual os indivíduos apreendem o ambiente. A disposição das construções que compõem a
cidade tem um significado, não sendo aleatórias, tem uma gramática própria que se vincula às
características de cada comunidade. Além disso, ocorre, também, e, de modo concomitante, o
surgimento de um léxico próprio com a finalidade de comunicar algo sobre essa cidade para
aqueles que a veem. Desse modo, configura um resultado da cultura (BARROS, 2011, p.
101).
A observação e a análise imediatas dos fenômenos sociais, da enorme diversidade de
fatos que ocorrem no cotidiano dos indivíduos, dos grupos e das sociedades, podem levar a
uma compreensão incompleta da realidade desses fenômenos. Há uma propensão “natural” de
associá-los às nossas próprias práticas de modo que são feitas leituras pelo prisma de um
indivíduo, pela nossa visão de mundo, pelos nossos princípios e valores, pelo nosso “senso
comum”. Contudo, o fato de a espécie humana haver alcançado o patamar de cognição que a
habilita a se perceber como um sujeito que sabe da sua existência, que reflete sobre ela e suas
ações foi o responsável pelo rompimento com as ações imediatas ou espontâneas. Os
comportamentos dos sujeitos humanos a priori são dados, estabelecidos e vistos como
naturais (CRESPI, 1997, p. 21).
Nessa vivência do homem de se perceber como espécie, de ter noção de sua existência
e se questionar sobre ela, a cultura exerce um papel de mediação e de categorização da
realidade. Ao estabelecer conjuntos de elementos vivenciais semelhantes ou com
características comuns, a cultura torna essa realidade menos complexa e mais compreensível.
Todavia como ela não consegue, em seus modelos simbólicos de interface com o real,
abranger todo ele, sistematicamente ocorrem transformações e adaptações desses modelos aos
28
novos contextos sócio-históricos dos indivíduos. Evidente que essas transformações também
resultam, como já foi referido, do processo sucessivo e ininterrupto de superposição de
vivências individuais e coletivas, redundando, assim, na produção de novas formas de
compreensão do mundo por parte dos seres humanos através de sua capacidade de responder
aos estímulos, provenientes de mudanças contextuais, sejam elas sociais ou ambientais
(CRESPI, 1997, p. 23).
A cultura é constituída de dois fatores que apresentam abordagens diversas, mas o
mesmo valor. A diferenciação ocorre devido à conclusão de que há uma parte da cultura que
se efetua no âmbito da individualidade e subjetividade humanas, e outra parte no âmbito das
relações entre os indivíduos. Assim tem-se a abordagem antropológica e a abordagemsociológica. Na abordagem antropológica, os indivíduos constroem o arcabouço de
representações que imprimem sentido a sua existência na relação, fundamental, com os outros
e com o ambiente, numa perspectiva geral e abrangente. Nesse caso, essas representações são
responsáveis por ajudar o indivíduo a enxergar o mundo como um todo de modo que lhe seja
compreensível. São elaboradas com base nos diversos aspectos que formam a subjetividade,
tais como: o gênero, os gostos, os hábitos, as crenças, a idade, a etnia, entre outros. Enquanto,
na perspectiva sociológica, as construções de sentido não são gerais, mas especiais para
circunstâncias determinadas. São elaboradas para a relação do indivíduo com elementos
específicos (BOTELHO, 2001, p. 74).
A cultura, enquanto sucessão de superposições temporais de camadas de experiências,
símbolos, valores, crenças, princípios adquiridos na construção histórica da vida individual e
coletiva, está sediada na memória. A memória é, também, uma sucessão de reelaborações de
conteúdos passados, baseadas em conteúdos presentes, que dialogam ambos entre si. A partir
disso, a consciência emerge como instrumento que processa os significados já existentes,
distanciada deles e originando novos significados. Assim, a cultura é produzida pelo ser
humano e produz esse mesmo ser humano, num processo dialético, dialógico, continuado e
cíclico, cultura e homem se retroalimentam (CRESPI, 1997, p. 26-28).
O legado cultural, transmitido às gerações seguintes, vincula os indivíduos do presente
à sua própria história e, ao mesmo tempo, às histórias dos indivíduos do passado e da
comunidade onde vive. Ademais, promove fixidez à consciência do indivíduo enquanto ser
humano e oferece uma série de opções de soluções já experimentadas e aprovadas para as
29
dificuldades que surgirem, uma competência técnica. Esse legado é o agrupamento das
vivências individuais e coletivas passadas e impulsiona a sociedade mantendo-a em
movimento. Essas soluções constituem o resultado da capacidade humana de criar e superar
os obstáculos encontrados ao longo da sua existência. Essas soluções são mais uma categoria
de elementos que se superpõem em camadas, contribuindo para a construção da cultura de
uma sociedade. Esse conjunto passa pelo crivo das gerações seguintes, sofrendo uma
reformulação e se adaptando ao novo contexto sócio-histórico (LANDRY, 2008, p. 6-7).
30
2.2. Cidade: produto da ação humana
A cidade é resultante desse processo da relação do ser humano com o ambiente natural
em que a cultura é o instrumento que possibilita sua consumação. Sua origem ainda é objeto
de discussões, não havendo consenso em relação ao surgimento dos primeiros assentamentos
urbanos. No entanto, há convergências, em especial, de que foi com a sedentarização
proveniente do surgimento da agricultura “depois de uma revolução agrícola, durante a qual
as plantas e os animais foram domesticados e surgiram pequenos povoamentos permanentes
de agricultores.” (LYNCH, 2007, p. 11). Igualmente, o consequente excedente do que é
produzido, como também a relação do homem com o transcendente, as deidades e seus
templos são elementos responsáveis pela fixação do homem em um determinado local
(POZZER, 2003, p. 61).
As descobertas arqueológicas apontam para, inicialmente, o surgimento de pequenos
grupos de indivíduos seminômades, com relações de parentesco, que caçavam e coletavam
para sua sobrevivência, que tinham, até certo ponto, a mesma importância dentro dessa
comunidade e também funções, relativamente, determinadas. Devido aos constantes
deslocamentos em busca de regiões mais adequadas para a caça e a coleta, esses grupos
encontram, especialmente nas margens dos rios, grandes rebanhos de diversos animais
selvagens e vastas áreas cobertas por plantações de diferentes cereais. Essas descobertas
levaram à sedentarização e à consequente domesticação das plantas e dos animais (SOJA,
2008, p. 52-54).
Como desdobramento dessa fixação, ocorre o crescimento dos grupos populacionais -
o que era difícil de acontecer com o nomadismo devido à necessidade quase constante de
deslocamentos, e isso seria um óbice para os grandes grupos -, o surgimento do excedente da
produção – dessa vez, com a agricultura, sob o domínio dos indivíduos -, a divisão do trabalho
e as primeiras construções voltadas à solução de problemas - a irrigação, por exemplo (SOJA,
2008, p. 55-56).
Igualmente, a cidade é uma construção humana fundada em uma ação coletiva, ou
comunitária, que subjuga a natureza conformando-a à vontade humana e que se dá sob a égide
da cultura, esse instrumento de apreensão do real. Outro aspecto, como consequência dessa
reunião social, é o surgimento da demanda pela adequada gestão das atividades nela
desenvolvidas. Vale destacar o fato da necessidade de autoproteção e sustento dos indivíduos,
31
das famílias e dos grupos, levando-os a convergir para a cidade, visto que ela se mostra o
ambiente mais adequado para isso (ROLNIK, 1995, p. 8; GLOTZ, 1929, p. 3).
De modo geral, pode-se dizer que
A origem das cidades é considerada frequentemente como o resultado
de um pacote integrado de influências causais: as demandas
administrativas da irrigação em grande escala e da tecnologia para o
controle das inundações; as novas oportunidades econômicas surgidas
do comércio e o intercâmbio com lugares distantes; a criação de um
excedente de alimentos [...] mais confiável e contínuo; o crescente
desenvolvimento institucional da monarquia e sua burocracia
administrativa; a propagação de atividades religiosas e cerimoniais, e
de sua capacidade para manter e reproduzir comunidades de maior
tamanho [...]; a crescente necessidade de proteger-se das [intempéries]
e da invasão de estrangeiros [...] (SOJA, 2008, p. 56-57, tradução
nossa).
Essa apropriação, ocupação de um determinado território pelo homem e suas
consequentes ações para construir elementos que tornem adequada, ou minimamente
satisfatória sua vida - como o domínio sobre a produção do alimento, a construção de
soluções para o transporte e o armazenamento de água e, especialmente, os templos religiosos
- acabavam por provocar, primeiramente, uma atração nos indivíduos; em seguida, pensava-se
na cidade como lugar de habitação. Igualmente, no ambiente urbano, os altares religiosos
promoviam o ajuntamento dos indivíduos. Além disso, há, na cidade, em sua forma, em seu
desenho, elementos que carregam, ao mesmo tempo, a subjetividade dos indivíduos e do
conjunto dos indivíduos, de certa maneira, encerrando em si, também, os costumes, valores,
ideias, memória, a cultura desse povo, e, ainda, um significado, uma identificação, tendo seus
elementos, suas construções como significantes dessa escrita, desse alfabeto, que é a cidade
(ROLNIK, 1995, p. 13-17).
O convívio e a interação entre os indivíduos e destes com o ambiente urbano são
características intrínsecas das cidades. É na cidade e com a cidade que as pessoas reconhecem
e constroem parcela significativa da sua identidade. Os diversos elementos que a compõem
são responsáveis por produzir lembranças que auxiliam a identificação e a distinção dos
indivíduos, gerando a sensação de pertencimento. É no interior dessa sucessão sistemática de
fenômenos individuais e coletivos, dialéticos e dialógicos, que se dá a socialização dos seres
humanos, e esse processo de socialização ocorre na ação recíproca com o meio físico. Esse
meio não é apenas natural e físico, mas também socialmente construído. Assim, essa ação
32
recíproca se dá também com o conjunto de comportamentos, atitudes, princípios e valores do
grupo que está inserido (BERGER; LUCKMAN, 2007, p.71; PESAVENTO, 2007, p.1).
Mais um fator a serconsiderado é a necessidade própria, intrínseca da gestão dos
conflitos resultantes dessa vida comunitária, que são consequências da complexificação da
vida em uma comunidade. Dessa demanda de organização, manifesta-se, então, a necessidade
de uma forma de controle baseado em um poder conferido, ou legitimado pela comunidade,
visando promover a organização. Como resultado disso e, igualmente, do excedente da
produção, ocorre a divisão do trabalho, sendo assim emerge da comunidade os que fazem a
sua gestão, os que a protegem, os que cuidam do templo e o restante (ROLNIK, 1995, p. 19-
20).
Com o desenvolvimento dos incipientes aglomerados urbanos surgem as grandes
cidades por volta de 5000 a.C., apresentando, mais claramente, o objetivo de proteger sua
população e o armazenamento do que foi produzido, além de elementos que denotam
desigualdades entre os indivíduos que a compõem. Aquela vida comunitária em que os
membros do grupo tinham, de certo modo, a mesma importância foi progressiva e lentamente
se deteriorando. Do mesmo modo, ocorreu, também, um distanciamento, relativo à
importância dentro do grupo, entre os indivíduos. Outro aspecto é o incremento do processo
de diversificação e complexificação das diversas atividades realizadas e sua gestão,
sucedendo nos primeiros sinais dos fatores que constituiriam a sociedade formada por classes
sociais, a propriedade privada e a divisão social do trabalho. Igualmente, na esteira do
processo, as diferentes construções, como os templos, os palácios, as casas simples,
encerravam em si um simbolismo hierárquico ligado a esses fatores (LYNCH, 2007, p. 11-
12).
Em uma etapa seguinte – aproximadamente 2000 a.C. – algumas cidades já se
tornavam enormes complexos habitacionais, com muralhas e/ou fossos para proteção e
delimitação da área urbana. Há também canais de irrigação que percorrem tanto a área
interna, quanto a externa. A área interna é distribuída entre os habitantes, enquanto a externa,
já modificada pelo cultivo agrícola, é de uso comunitário – de maneira geral, de propriedade
dos deuses –, mas administrada pelos representantes das divindades. As construções – as
casas, os templos, os armazéns - são em tijolo e argila. Os templos são construções que se
destacam em relação às demais; de modo geral, são grandiosos, formados por diversos
33
pavimentos. Além das funções de santuário, são também pontos de observação e vigia da
cidade e armazenamento dos alimentos. Nele, são desempenhados diversos tipos de funções,
como: padeiros, cervejeiros, ferreiros, escravos, fiandeiras, tecelãs, escribas e sacerdotes
(BENEVOLO, 1997, p. 27). Além disso,
o excedente [da produção] se concentra nas mãos dos governantes das
cidades, representantes do deus local; nesta qualidade recebem os
rendimentos de parte das terras comuns, a maior parte dos despojos de
guerra, e administram essas riquezas acumulando as provisões
alimentares para toda população, fabricando ou importando os
utensílios de pedra e de metal para o trabalho e para a guerra;
registrando as informações e os números que dirigem a vida da
comunidade (BENEVOLO, 1997, p. 26).
Desde sua origem comunitária, baseada em relações fraternais, passando pelo
desenvolvimento com o objetivo de proteção de seus indivíduos e guarda de seus bens, a
cidade progride a ponto de se tornar parte essencial da vida dos indivíduos inclusive
contribuindo para a construção da sua subjetividade. No entanto, essa concepção inicial é
reformada e a cidade passa a ter uma nova atribuição, uma nova aptidão. Torna-se um
instrumento com o objetivo de atender a uma determinada demanda, uma finalidade
específica. Pode-se citar, como exemplos, as “cidades construídas por empresas [...] tendo
como razão de ser motivos evidentes de exploração e de rentabilidade econômica” e “a cidade
colonial [...] criad[a] para controlar um recurso ou para atenuar o excesso de população do
local de origem.” (LYNCH, 2007, p. 19).
Em face do exposto, emerge um questionamento sobre como se deu essa mudança no
caráter da cidade. O que provocou esse processo? Quais os fatores responsáveis pela
concepção de cidade que existe hoje? Como todo processo lento e gradual de mudança, o da
cidade abrange diversos elementos. Particularmente, na Idade Média, as cidades cresceram
graças ao comércio e à indústria incipiente. É importante notar que parte desse processo se
deu, em especial, pelo papel das trocas comerciais existentes entre as cidades, originando,
assim, uma relação de mútua dependência entre povos diversos. Além disso, muitas cidades se
desenvolveram às margens das rotas comerciais. De certo modo, a cidade não existiria sem o
dinamismo provocado pela economia, pelas trocas econômicas (PIRENNE, 1973, p. 103).
O principal deles e, sem dúvida, o mais implacável, é o capitalismo. Sua visão e seu
referencial voltado, integralmente, para a obtenção de lucros promoveram mudanças no modo
34
das pessoas pensarem, verem as cidades em suas configurações, em especial, nas vias e
espaços públicos voltados para o comércio. A construção de estruturas dirigidas para os
diversos tipos de produção, inclusive a industrial, foi responsável pela criação de enormes
áreas tanto de habitação para os seus trabalhadores como para suas máquinas. Devido à
expansão provocada pelo desenvolvimento do comércio e da indústria, particularmente com a
extensa ocupação das terras urbanas, continua o círculo virtuoso (ou vicioso) da chegada
massiva de trabalhadores despossuídos, uns oriundos do campo e outros imigrantes, que vão
retroalimentar o processo de crescimento e transformação das cidades (LYNCH, 2007, p. 29-
31).
O rápido crescimento da indústria dá continuidade ao processo de mudança das
cidades, dessa vez, de grandes centros comerciais para centros industriais, o que também
provoca acentuadas transformações na sua forma, de fato uma diferenciação territorial
baseada na especialização das atividades. É interessante notar que muitas dessas
transformações, apesar de serem de interesse privado, foram financiadas pelo poder público.
Outro elemento relevante é a habitação dos operários. De maneira geral, eles e suas famílias
ocupavam cubículos imundos que eram compartilhados com diversas outras famílias,
provocando, assim, graves doenças, provenientes dessa convivência insalubre. Não obstante
como parte desse processo pelo qual passou a cidade, e, ainda, a cidade como instrumento do
capitalismo, ocorreu de modo significativo a segregação espacial. As áreas ocupadas pela
população de menor poder aquisitivo foram, gradualmente, sendo transformadas em áreas
voltadas para os de maior renda (LYNCH, 2007, p. 32-35).
Em relação à sua constituição enquanto organismo, a cidade formou-se fundada em
elementos singulares que favoreceram a necessária coesão para seu crescimento. A família,
com seus laços de parentesco, e a religião, com seu poder coativo baseado em percepções
transcendentais, são os principais constituintes da cidade. A religião, particularmente,
promoveu a aproximação entre os indivíduos, com seus rituais e cerimônias que demandavam
a participação de todos do grupo. Além disso, foi responsável por instilar a ideia da existência
de seres sobrenaturais, com poderes sobre-humanos que exigiam dos indivíduos determinados
comportamentos, além de oferendas e dádivas para aplacar os elementos naturais, tais como, o
clima, a terra, as plantas, que impediam a produção (DONNE, 1979, p. 16-17).
35
A religião doméstica tinha, como norma, o culto aos ancestrais, o que resultou na
garantia da continuidade da família, no surgimento de normas para reger o casamento. O
direitode propriedade e o direito de sucessão atribuíram ao líder poder total sobre a família e
também ao ancestral mais velho. Isso deu origem à ideia de moralidade. É da religião que
surgem as diretrizes que vão nortear a convivência familiar e social, decorrendo, daí, o direito
de propriedade (DONNE, 1979, p. 17-18).
Assim, a religião, ao se sedimentar, institucionaliza as ideias de família e propriedade
privada. Ao mesmo tempo, a religião influenciava o poder político, de maneira direta, ou
indireta. Em muitos casos, o rei era o sacerdote maior e também o magistrado; logo, seu
poder, sua autoridade tinha um caráter, até certo ponto, onipotente, haja vista fazer crer que
possuía a mesma capacidade dos deuses. Desse modo, a população o temia e não se propunha
a contrariar os deuses. A religião se fazia presente em todas as instituições urbanas (GLOTZ,
1929, p. 3).
Nesse cenário de surgimento e crescimento da cidade,
[...] veremos em luta [...]: a família, a cidade e o indivíduo. Cada uma
delas foi-se tornando sucessivamente predominante. Toda a história
das instituições é formada por famílias que conservam ciosamente o
seu direito primordial e submetem todos os outros membros ao seu
interesse colectivo; no segundo, as Cidades subordinam a si as
famílias chamando em sua ajuda os indivíduos libertados; no terceiro,
os excessos do individualismo, causam a ruína à cidade, a ponto de se
tornar necessária a constituição de Estados mais vastos (GLOTZ,
1929, p. 5, tradução nossa).
Dessas fases iniciais, ou primevas desse fenômeno multidisciplinar conhecido como
cidade, até aqui expostas, serão apresentadas a seguir informações sobre uma fase que se
considera de vital importância em virtude da grande expansão, especialmente, demográfica, e,
sobretydo, econômica, ocorrida. Assim procedendo, será deslocado o olhar das regiões do
Oriente Médio no Sudoeste da Ásia, onde se acredita terem surgido as primeiras e grandes
cidades, para a Europa. Esse procedimento se dá em virtude, principalmente, da relativa
estagnação expansionista ocorrida naquela região quando comparada com esta. Igualmente,
esse fenômeno não foi exclusividade da Europa, ocorreu, também, nas Américas e na Ásia
(ZUCCONI, 2009. p. 16).
36
2.3. A expansão demográfica das cidades e suas consequências sobre o homem
As cidades, em especial, os grandes centros urbanos, no século XIX assistiram a uma
expansão nunca vista. Esse período legou elementos basilares para o fenômeno da expansão,
como as estações ferroviárias e as indústrias, sendo responsável, também, por estabelecer
categorias de cidades, que se tornaram paradigmáticas. No início do século XIX, a população
europeia era de 190 milhões; cem anos depois, esse número mais que dobrou e chegou a 473
milhões de pessoas. Esse crescimento não foi equânime, ocorrendo de maneira mais
acentuada em determinadas regiões, ou países. Vale destacar que a população urbana em
relação à população rural – o que seria uma medida da urbanização – na Grã-Bretanha se
iguala em 1850, na Alemanha em 1900, na França em 1930 e na Itália em 1950 (ZUCCONI,
2009. p. 13-16).
Como resultado desse crescimento demográfico acentuado, surge, também o fenômeno
da metropolização em diversas cidades, haja vista que, apenas, Londres tinha uma população
de 1 milhão de habitantes no início do século XIX e no início do século seguinte 22 cidades
têm essa população. Isso se estende, a partir da Europa, para outras regiões, especialmente, as
portuárias e naquelas que são o fim de linhas ferroviárias. A América do Norte é responsável
por contribuir, significativamente, com a metropolização, mais especificamente, com as
cidades de Chicago que foi de 5.000 habitantes para 1.700.000 no período de 1850 a 1900, e
Nova York que tinha uma população de aproximadamente 50.000 habitantes por volta do ano
1800 e chegou ao ano 1900 com 3.500.000 (ZUCCONI, 2009. p. 16-18).
No Brasil, diferentemente, o processo de urbanização teve início dos anos 1930, na
esteira de transformações econômicas e sociais. Apesar das cidades terem papel fundamental,
foi apenas, em 1970, que a população urbana se tornou maior que a rural. Em 1940, a
população urbana era de 31,2% e em 1970 chegou a 55,9%. Com a emergência da primeira
fase de industrialização e a pujança da produção de café, ocorre a expansão do comércio
interno desse produto. Em consequência, as regiões cafeeiras, estados como São Paulo e Rio
de Janeiro, tornam-se polos de atração de migrantes (BRITO; HORTA, 2002, p. 1-2).
A expansão da população de forma exponencial ocorreu em diversas regiões e, de
modo díspar, dessemelhante, promovendo o crescimento das cidades-polo de regiões. A
melhoria nos meios de transporte – particularmente as ferrovias e os portos - e o comércio são
fatores que contribuíram para a expansão, uma vez que facilitaram o fluxo de pessoas, bens e
37
produtos em direção a essas cidades. A conjugação desses elementos favoreceu, também, de
maneira relevante, o surgimento de novas cidades, industriais e comerciais, com grandes
populações (ZUCCONI, 2009. p. 19).
Essa expansão acentuada, ocorrida em curto período de tempo, não permitiu que as
cidades tivessem condições para se adaptar, às circunstâncias dela decorrentes. Toda a
infraestrutura das cidades não tinha capacidade de suportar, satisfatoriamente, essa nova
população, o que fez com que esses habitantes tivessem uma significativa diminuição em seu
nível de qualidade de vida. Nesse momento, as cidades são marcadas pelo amontoamento dos
habitantes, pelas inadequadas condições sanitárias e pela indiscriminada e imoral mistura de
indivíduos, inclusive a literatura da época encarou o fenômeno e suas consequências como
algo nocivo para as pessoas. Entretanto, é importante salientar que o crescimento demográfico
resultou, também, de um acesso maior à alimentação, à educação e às condições sanitárias
(ZUCCONI, 2009. p. 19-20).
Apesar de haver uma compreensão de que esse processo de expansão demográfica se
deveu, muito especialmente, à denominada revolução industrial, é possível concluir que, de
fato, ela foi uma das variáveis que contribuíram para que isso ocorresse. As outras seriam: a
existência de cidades localizadas em nós de redes ferroviárias, fluviais e viárias, que já
apresentavam características de grandes centros mercantis, inclusive com portos, o que lhes
conferia capacidade para atrair investimentos e trabalhadores. Isso também possibilitou a
repentina transformação de centros rurais, onde não havia quase nada, em centros urbanos,
com a economia baseada na indústria (ZUCCONI, 2009. p. 22-26).
A cidade passa a ser vista, dessa vez, como um ser vivo, ela é dinâmica, transforma-se,
ou pode ser transformada, pode ser moldada de acordo com as necessidades que se
apresentarem. Tem início como que um processo de criação, destruição, construção,
reconstrução em que o homem explora esse território por ele dominado, a natureza se dobra,
ou é dobrada pelo homem, de modo que há uma continuada e cíclica demanda pela realização
de obras e equipamentos que sirvam para facilitar a vida na cidade. De certo modo, ocorre
uma sucessão sistemática de remodelagens, com um aparente viés de produção de uma cidade
com a marca de atualidade, com o objetivo de inscrever, ou indicar que há uma nova maneira
de enxergar o mundo, uma outra cultura, um desejo de escrever uma nova cidade. Assim, o
suporte comporta a disposição que se desejar dar ao alfabeto pelo qual é escrita a cidade.
38
Disso, resultam novas construções para necessidades já existentes ou novas funções para as
antigas construções. Em alguns casos, a finalidade é tentar apagar as memórias, libertar-se de
elos que prendem a cidade e seus habitantes a momentos que apresentavam situações,
circunstâncias e práticas incômodas, ouopressivas, de fato a intenção era se diferenciar do
passado (ROLNIK, 1995, p. 15-16; ZUCCONI, 2009. p. 28-31).
Nessa grande cidade, em extensão, em população, em problemas, com sua convulsa
sucessão de cenários e imagens que provocam o aumento da atividade mental, o indivíduo
apresenta características próprias que resultam de uma harmonização com esse ambiente.
Ademais, sua convivência com uma inumerável quantidade de interações, ou de relações
cotidianas, demanda de seus processos cerebrais a construção de um psiquismo fundado,
principalmente, na racionalidade e na reflexão problematizadora. Essas interações e relações
se dão superficialmente, com o uso de regiões bem menos profundas da consciência, e não
reúnem as características suficientes para que a mente as absorva e tornem-nas ações
automáticas e inconscientes. Igualmente, a emoção é alijada dessa sucessão de
sistematizações a fim de que haja o completo funcionamento das atividades mentais, uma vez
que, no limite, essas são afetadas por aquela. Assim, as faculdades do entendimento, da
compreensão são responsáveis por cuidar da mente como um todo, visto que filtram ou tratam
os elementos nocivos, provenientes da grande cidade (SIMMEL, 1967, p. 11).
Em síntese, esse produto da cultura humana constrói um indivíduo com elementos que
se inscrevem em um campo semântico atrelado às incertezas, ao inesperado, ao fluido, ao
fugaz. De fato, o indivíduo tem que caminhar sobre um terreno movediço desagradável,
desconfortável, novo, desconhecido, sobre o qual não há condições de enraizamento,
tampouco de manutenção das referências anteriores, é o lugar do “desamparo”. Nesse
ambiente urbano, o indivíduo tem subtraídos os elementos identitários, que são desconstruídos
de modo que esse não se vê como parte desse produto. Assim, “cada um vive sua própria
experiência de exílio” (LEITÃO, 2014, p. 126).
Parte das características do indivíduo metropolitano, produto da grandiosidade urbana
seja da quantidade de pessoas ou da quantidade de formas, é a ausência de afinidade com a
essência, ou o conjunto das qualidades que caracterizam a pessoa. As relações altruístas,
baseadas em uma ligação afetiva ou emotiva entre as pessoas, nas quais se conhecem, se
identificam, têm afinidades e são desvalorizadas. Nessa interação com a metrópole, o homem
39
é reduzido a uma quantidade, passa a representar uma unidade de valor, tornando as relações
interpessoais em meros negócios, ou em meras relações de troca, baseadas na racionalidade,
desconstruindo as relações humanas baseadas no afeto e, ao mesmo tempo, provocando a
somatização dessa cultura (LEITÃO, 2014, p. 126 ; SIMMEL, 1967, p. 12).
Logo, essa fugacidade própria desse período da história humana encarrega-se de
transformar, ou fazer das pessoas e das coisas fluidos, os quais se esvaem por entre os dedos.
Não há nada em que se agarrar, a fixidez das instituições, dos relacionamentos, do trabalho,
dos cenários se liquefazem. A solidariedade não mais faz parte da vida das pessoas, ela foi
fagocitada pelo novo padrão cultural, construído com base no individualismo. Na ideia
laboriosamente criada, inventada pelo regente de todos os tipos de relações, de que não está
mais na comunidade e na coletividade o modelo adequado de reprodução da vida humana. Ao
contrário, é, na individualidade, que deve se dar a construção de um novo caminho para a
consecução de uma superior qualidade de vida. Gradualmente, essa ideia vai ganhando espaço
e a priori alcança as relações comerciais ou industriais, aquelas ligadas aos negócios, à
reprodução do capital, do dinheiro. A posteriori, inexorável e sub-repiticiamente, atinge de
morte, mas de forma velada as relações pessoais, que se quedam diante da suposta obviedade
vendida pelo citado regente, o mercado. Portanto, “o dinamismo inato da economia moderna e
da cultura que nasce dessa economia aniquila tudo aquilo que cria – ambientes físicos,
instituições sociais, ideias metafísicas, visões artísticas, valores morais – a fim de criar mais,
de continuar infindavelmente criando o mundo de outra forma”. E, esse discurso é de tal
maneira envolvente que seduz muito facilmente até mesmo os que virão a ser suas próprias
vítimas (BAUMAN, 2009, p. 4-5; BERMAN, 1986, p. 286-287).
Os elementos constituintes e distintivos do ser são relegados, fomentando uma
degeneração da subjetividade e organizando sua identidade em vinculação com outras tantas,
no entanto sem se constituir em profundidades subjetivas e formando um imperioso conjunto
de funções que são assumidas inconscientemente. Essas características tornaram a vida
metropolitana em uma sucessão interdependente de atividades. Devido, principalmente, à
importância dos fatores econômicos e à profusão de fatores ativadores das funções cerebrais
no ambiente metropolitano, emerge, no cidadão, uma postura de indiferença e pouca
reatividade em face das inumeráveis circunstâncias cotidianas. Especialmente em relação ao
elemento econômico presente na metrópole que estabelece suas regras e seu modo de viver,
40
confere a tudo e a todos um valor monetário. As interações entre os indivíduos se realizam de
forma superficial e aligeirada. Apesar disso, ocorrem, ainda, agregações produzidas por
similaridades de interesses estéticos, ou prazeres, contrastando com os primórdios, que tinham
uma cultura que provocava a desindividualização. Assim, os indivíduos introjetavam as ideias
do grupo, gerando coesão interna, preparando-os para a proteção contra as investidas dos
outros grupos. Na grande cidade, contrariamente, tem-se a intensificação da divisão do
trabalho como resultado da cultura urbana e também do “caráter segmentário e as feições
utilitaristas das relações interpessoais” (PARK, 1967, p. 36-63; SIMMEL, 1967, p. 13-17;
WIRTH, 1967, 100;)
A partir daí e com o crescimento do grupo, tem início um concomitante e gradual
processo de degeneração do ideário de coletividade, haja vista a dificuldade para sua
disseminação em uma associação com um elevado número de pessoas. Essas variáveis de
unidade e tamanho, dos ajuntamentos humanos, são inversamente proporcionais, ou seja, à
medida que o grupo cresce, a coesão diminui. Os limites culturais circunscreviam os
indivíduos a uma socialização exclusivamente voltada para a proteção, e a unidade da
comunidade sofre rupturas. O crescimento origina a necessidade de uma maior divisão do
trabalho. Essa divisão enseja uma especialização e faz emergir uma sucessão sistemática de
fenômenos que redundam no desenvolvimento de uma incipiente individualidade que, ao
término, resulta da expansão do grupo. No limite desse fenômeno, surgem as metrópoles e
seus cidadãos com suas características próprias. Em consequência, “a metrópole, fenômeno da
formação social moderna por excelência, tem pouca coesão interna e limites indefinidos,
abrindo-se a infinitas conexões com o espaço exterior” (KAPP, 2014, p. 112). 
Outro aspecto relevante que influencia, de forma decisiva, no estilo de vida na
metrópole é o econômico. Cidade e economia estão intimamente relacionadas, à medida que a
cidade cresce, cresce também sua riqueza e o inverso é verdadeiro, ou seja, quando a riqueza
da cidade cresce, ela cresce também. No entanto, essa relação não é direta, a riqueza de uma
cidade sempre cresce mais que a cidade; haja vista os aumentos no valor das propriedades que
ocorrem devido a melhoras na infraestrutura. Essa relação resulta no crescimento da cidade
não só em termos físicos, mas também a cidade tem acrescida sua influência. Ela passa,
gradativamente, a exercer seu poder, além de seus limites. Com isso, os elementos referentes à
constituição moral do indivíduo são traduzidos em números e valores.Somando-se o aspecto
41
econômico a todos os aspectos referidos anteriormente, estes incidem sobre o indivíduo,
influenciando sua subjetividade (SIMMEL, 1967, p. 17-18).
Diante disso, o capitalismo contemporaneamente é um dos principais responsáveis
pela conformação da subjetividade humana, e está fundado sobre a ideia da acumulação de
capital. Portanto, à medida que ocorre o aumento da acumulação de capital, é imprimido ao
sistema capitalista um crescimento global. Entretanto, esse crescimento se dá, na verdade, de
forma exponencial. Assim, o sistema capitalista tem uma característica básica que favorece o
seu desenvolvimento e decorre de componentes internos do sistema, que funcionam de forma
interdependente, mas, ao mesmo tempo, de forma caótica. Outrossim se relacionam com o
meio externo de maneira que essa parafernalia que compõe o sistema sofre com forças
exógenas, todavia, dialeticamente, influencia todo o conjunto de aspectos que o envolvem,
não apenas os humanos, mas também os inumanos. Ele depende, fundamentalmente, de
processos dinâmicos que o impulsionam. Como consequência, disso tem-se um ciclo quase
que contínuo e inexorável, um moto-perpétuo, salvo nas poucas crises pelas quais passa, de
mudanças em todos os aspectos da vida humana (HARVEY, 2005, p. 43-44).
Ainda como resultado do processo de acumulação intrínseco e necessário ao
capitalismo, um outro aspecto deve ser levado a efeito: o fato de que o capitalismo, ao se ver
premido por uma crise, busca soluções por meio de sua reestruturação interna, sem contudo
modificar-se estruturalmente. Uma dessas soluções é a sua dispersão, ou espraiamento ao
longo das diversas regiões que apresentam potencial de oferecer acolhimento e posterior
crescimento. Logo, isso tem ocorrido gradual e continuamente de tal sorte que, cada vez mais,
o sistema capitalista está presente nas mais variadas e improváveis regiões do mundo,
constituindo, assim, o que se convencionou chamar de mercado mundial. Nessa
conformidade, as diversas componentes econômicas que formam o sistema, tais como: a
indústria, o comércio, o transporte, os serviços, as informações – contemporaneamente -,
buscam estar mais próximos de seus mercados consumidores, quer seja fisica, quer seja
virtualmente, mas sempre com o foco na minimização dos custos. Isso resulta na modificação
das paisagens locais onde se instalam as grandes corporações. Quase sempre esses locais são,
anteriormente à intervenção capitalista, bucólicos e com características eminentemente
habitacionais, com uma população ainda baseada em valores solidários. A partir da
implantação dos diversos parques fabris e, em consequência, da modificação da paisagem,
42
essas populações se transformam individual e socialmente, abrindo mão de seus princípios
primeiros e tornando-se vítimas do sistema. Com isso, adota-se o padrão por ele apresentado
como a melhor solução para suas vidas, de individualidade e individualismo como solução
para alcançar o sucesso, ou fazer parte do sucesso com o qual o sistema se traveste
(HARVEY, 2005, p. 49-54).
43
2.4 A cidade: cenário de atuação do capital
A cidade, para além de sua estrutura física e administrativa, é um modo de ser, de
pensar e agir que permeia o conjunto das faculdades mentais das pessoas que a compõem. Ela
influencia, diretamente, na construção dos processos constitutivos do indivíduo, de maneira
que está ligada estruturalmente, essencialmente a eles. “a cidade é a realização humana mais
complexa, a produção cultural mais significante que recebemos da história” (BORJA, 2003, p.
26, tradução nossa). A cidade é, especialmente, o resultado da capacidade humana de pensar e
planejar uma determinada construção ou um conjunto delas e torná-la realidade, não apenas
com finalidades funcionais, para moradia, ou guarda de alimentos, ou culto religioso, mas
também com finalidades estéticas, ou de encontros, de promoção de interação. Assim, esses
projetos e realizações que formam a cidade se constituem em símbolos carregados de
significados para essa sociedade (BORJA, 2003, p. 26).
Essa cidade, com essas características, mais recentemente, tem vivenciado
transformações rápidas que a distanciam do paradigma estabelecido e resultam em novas
formas de constituição subjetiva. Caracterizada pela descontinuidade em sua configuração,
essa nova cidade apresenta novos desenhos, particularmente com os condomínios fechados, a
deterioração das regiões centrais com funções específicas, o surgimento de várias regiões com
diversas funções, a ocupação de áreas anteriormente degradadas por populações de classe
média provocando a expulsão das classes pobres. Primordialmente, de uma união de
indivíduos que formam uma comunidade, constituída de partes indivisíveis com suas
características intrínsecas, próprias, chegou-se a uma grande aglomeração de pessoas que não
apresentam mais unidade, mas uma fragmentação social e individual (SALGUEIRO, 1998, p.
40-42).
Parte dessas mudanças decorre do crescimento populacional das grandes cidades.
Atualmente, 54% da população global vive nas cidades. Cerca de 12,5% dessa população está
em cidades com mais de 10 milhões de habitantes. Projeções apontam que haverá, até 2050,
um incremento na população urbana de 2,5 bilhões de pessoas o que representará 66% da
população mundial (ONU, 2014, p. 1). A cidade configurou um símbolo de poder e status, o
lugar de oportunidades para a obtenção de melhores condições de vida, com possibilidade de
se conseguir maiores rendimentos, uma moradia confortável, o acesso a serviços públicos
minimamente eficientes, infraestrutura urbana funcional. Tornou-se a meta a ser alcançada por
44
grande parte dos habitantes das regiões distantes e pobres. Nessa perspectiva, vem ocorrendo
de modo, cada vez mais, acelerado o processo de crescimento populacional das cidades.
O avanço científico que proporcionou o surgimento e desenvolvimento de tecnologias
no campo das telecomunicações e do processamento de dados, e a globalização, que conduz a
vida urbana a uma exacerbação das relações sociais fundadas no dinheiro, são outros fatores
responsáveis por ocasionar essas mudanças na cidade (SANTOS, 2001, p. 9). Ademais,
houve, também, transformações nessas relações sociais cotidianas dos cidadãos cujas bases
eram vinculadas à interação direta entre os indivíduos, estabelecendo-se ligações de caráter
identitário e até afetivo. No entanto, com a emergência da, assim denominada, pós-
modernidade1, as interações se dão em plataformas virtuais, de modo que é possível interagir
com um grande número de pessoas sem a necessidade de um contato direto, o que gera
relações superficiais e fugazes. Isso influencia, diretamente, a subjetividade e a constituição
moral, ética, intelectual, principiológica dos indivíduos, consequentemente, a relação com a
cidade (LIMONAD, 2000a, p. 3; 2000b, p. 92).
Ademais, observam-se as mudanças nas características essenciais da cidade e o
acelerado processo de urbanização mundial. Associados ao mito da cidade como porta de
acesso para uma vida de melhor qualidade, emerge o questionamento se, de fato, a cidade tem
realizado esse sonho, tem atendido aos anseios das pessoas, não apenas no sentido do
atingimento de um melhor poder aquisitivo, mas também no sentido de uma série de
condições infraestruturais que ofereçam aos cidadãos melhor qualidade de vida; por exemplo:
a adequada prestação de serviços em áreas como mobilidade urbana, qualidade do ar,
segurança, saúde e educação públicas. Não há cidades sem as pessoas e as interações entre si;
elas só têm razão de ser devido aos cidadãos que as constroem e ocupam. De fato, esse
fenômeno eminentemente humanosó se concretizou por sua ação. O tornar-se cidadão,
membro da comunidade, se dá na relação com os outros membros que já se constituíram
como cidadãos e também na relação com o ambiente, com a cidade (SEIXAS, 2013, p. 29-
30).
A cidade, mesmo com todas as expectativas oníricas que gera, tem se mostrado pouco
eficiente em seu mister na medida em que, ao contrário do que se idealizou a seu respeito, tem
1 Segundo Juremir Machado a Pós-Modernidade pode ser definida como o momento em que os pilares
sobre os quais se assentavam a sociedade começam a ruir. Já não sustentam mais as ideias 
estabelecidas (MACHADO, 2009).
45
ofertado aos cidadãos poucas ou nenhumas chances de mudança de vida, quando, na verdade,
“a cidade nasce para unir homens e mulheres e para protegê-los, em uma comunidade que se
legitima negando aparentemente as diferenças” (BORJA, 2003, p. 27, tradução nossa). Na
realidade, diversos problemas afligem os moradores das cidades. Seu crescimento
descontrolado, sem planejamento, de maneira geral, baseado em uma lógica econômica que
não leva em consideração as pessoas, tem sido deletério em vários aspectos. De fato, a cidade
está associada a “stress, poluição, [alto] custo de vida, solidão, segregação e violência”
(SEIXAS, 2013, p. 30) além de desemprego, falta de moradia, de saneamento básico, e tantos
outros problemas, quase todos redundando em um baixo nível de qualidade de vida em
especial, como é comum acontecer, para as classes menos favorecidas (SEIXAS, 2013, p. 30-
31).
No entanto, o cidadão, enquanto membro dessa sociedade na qual vive, tem por
obrigação exercer o papel de construtor da cidade, ou seja, de produtor de mudanças que
atendam às suas necessidades. Mas nem sempre é assim. Há muitos que não se sentem no
direito de reivindicar, ou de promover as transformações necessárias. De maneira geral, essas
pessoas que têm condutas passivas são assim por serem produto, ou resultado da ausência de
políticas voltadas para seu empoderamento. Mesmo diante de tantos problemas que, de
maneira geral, os oprimem, ou de inércias que os desprezam ainda assim não esboçam reação.
Não tem a capacidade de perceber que são eles que fazem a cidade, que a constroem e
também são construídos por ela. Entretanto aceitam apenas o papel de produto e não o
complementar e dialético papel de produtores (BORJA, 2003, p. 25).
A adequada oferta de serviços urbanos e seu usufruto se vinculam ao conceito de
“direito à cidade”. Esse direito está inscrito na perspectiva dos direitos humanos tão em causa
hodiernamente. A cidade eminente e originariamente é um fenômeno social, resultante de um
processo dialético, já referido neste trabalho, de mútua construção entre dois fatores
fundamentais que são a sociedade urbana e a urbe. Esse processo não se dá divorciado de um
desses elementos e são complementares. Assim, o direito à cidade passa essencialmente pelo
“direito de mudar a nós mesmos pela mudança da cidade” (HARVEY, 2012, p. 73-74). Mas,
quais os direitos dos cidadãos à cidade? O que eles devem esperar encontrar? O que a cidade
deve oferecer? É óbvio que as respostas estão vinculadas aos contextos temporais, culturais,
históricos nos quais esta ou aquela civilização ou sociedade estão inseridos. No entanto,
46
oferecer as melhores condições possíveis de acordo com suas capacidades é dever da cidade,
ou dos que fazem a cidade. Esses direitos cidadãos que se constituíram, ao longo da história,
têm sido relegados, menosprezados, ainda que uma pequena parte da sociedade seja alcançada
por esses direitos. Claro que essa parcela da sociedade é, sem dúvida, aquela que está próxima
do centro das decisões, ou o influenciam diretamente; principalmente através do poder
econômico, uma vez que as cidades surgem, particularmente, como resultado do excedente da
produção. Logo, o processo de urbanização caracterizou-se por ser um fenômeno pautado pela
desigualdade social. Essa injustiça, porém, deve ser alvo de ações que equalizem as forças e
promovam o direito à cidade para todos os cidadãos (BORJA, 2003, p. 33; HARVEY, 2012, p.
73-74).
De fato, a cidade, no passado, apresentou, em muitos momentos, desequilíbrios em
diversos aspectos, desigualdades de toda natureza, seja social, econômica, de classe, de
gênero. Desse modo, se poderia referir os problemas atuais àqueles. No entanto, os problemas
atuais se mostram mais aprofundados, de natureza estruturais, com características próprias da
atual conjuntura. Derivam do processo de globalização pelo qual passa o planeta, que, por sua
vez, resultam do atual período pelo qual passa o capitalismo, e é caracterizado pela situação
de somenos importância da indústria e a exacerbação da financeirização, com a volatilidade
do capital que migra com muita facilidade para onde houver melhor remuneração. Isso gerou,
na cidade, como consequência da “chamada nova revolução urbana: a fragmentação espacial,
a desestruturação social e o enfraquecimento do papel do Estado” (BORJA, 2003, p. 47,
tradução nossa).
Como consequência desse processo, “os direitos sociais conquistados foram
transformados em serviços, mercadorias a serem vendidas” (CANETTIERI; VALLE, 2015, p.
36). Isso resultou, também em um aprofundamento da segregação urbana com uma extremada
concentração de riqueza em poder de um pequeno número de pessoas. Assim a cidade
contemporânea configura um sistema de relações, mesmo as pessoais, de consumo. As
pessoas são envolvidas pelo discurso capitalista que abrange, inclusive, o psiquismo dos
indivíduos, que são cooptados a fazer parte e a reproduzir esse discurso. Com isso, a cidade,
que deveria ser de todos, torna-se a cidade de alguns poucos privilegiados e adere à lógica
mercantilista, caracterizando também, a cidade como o novo território de atuação do capital e
47
tornando-a “mercadoria essencial para a sobrevivência do capitalismo” (BORJA, 2003, p.
164; CANETTIERI; VALLE, 2015, p. 36).
A cidade, então, se insere, ou é inserida, ou é conduzida, quase que sub-repticiamente,
para o rol de produtos a serem adquiridos por quem pode pagar. De maneira geral, quem pode
pagar é uma parcela muito pequena da sociedade que compõe a urbe. Afinal, os valores dos
diversos elementos que compõem esse produto, em especial os mais importantes, são
elevados. Assim, como exemplo, a mobilidade urbana é pensada para os que possuem
automóveis, a oferta de saúde pública é sofrível para que se possa vendê-la no mercado
privado por um bom preço, a educação pública, da mesma maneira, não atende às
necessidades dos urbanitas para que se possa, também, torná-la um bem a ser comprado.
Assim, a gestão da cidade “deve ser entregue a quem entende de negócios e é indissociável de
um projeto de cidade autoritária porque dentro de uma empresa vige o despotismo do capital”
(COSTA 2010, p. 157). Essa inserção se dá em resposta ao capital, especialmente ao
imobiliário, que, ao produzir seus excedentes, tem a premente necessidade de reproduzi-lo.
Com isso “o espaço público é invadido e controlado pelo espaço de consumo, substituindo o
ato de cidadania pelo de consumo”, de modo a construir um padrão urbano de apresentação
adequada dessa mercadoria que é a cidade (CRUZ, 2011, p. 114-115; HARVEY, 2012, p. 74-
76)
Em face disso, aquele ideal de cidade se deteriora e a segregação urbana torna-se sua
principal característica. Esse fenômeno é de tal maneira impositivo que ele influencia até a
forma da cidade, seu desenho, que acaba reproduzindo. Dessa maneira, o capitalismo
penetrou, de modo furtivo, o processo de urbanização fazendo dele mais um de seus
instrumentos. Em consequência, ocorre a produção de “um triplo processo negativo:
dissolução, fragmentação e privatização[que] se reforçam mutuamente contribuindo para o
desaparecimento do espaço público como espaço de cidadania” (BORJA, 2003, p. 163).
Assim, sucede a exacerbação das mazelas que caracterizam a cidade pós-moderna, a cidade
inserida nesse fenômeno de transição em todas as áreas do conhecimento humano, como
também a emergência dos processos de rarefação das interações sociais, da segregação entre
classes e a especialização de áreas urbanas (BORJA, 2003, p. 164; CANETTIERI; VALLE,
2015, p. 36-37).
48
Essa nova cidade emerge plasmada pela perspectiva pós-modernista de valorização de
um processo de disrupção, de descontinuidade do tecido urbano. Isso se dá sob a égide do
capital especulativo que impõe sua vontade deteriorando o já combalido encargo do cidadão
na produção da cidade. Dessa forma, a economia urbana, no sentido da organização e do
desenvolvimento racional das sociedades urbanas, é pautada não mais por valores éticos, mas
agora por valores estéticos. Isso redunda em exacerbação das diferenças sociais e o
aprofundamento da exclusão das classes menos favorecidas. Ao mesmo tempo, gera, com a
valorização da estética, a anestesia dos cidadãos que são cooptados pela ideia de vender a
cidade e, em consequência, da necessidade de se realizar uma adequada apresentação desse
produto (CRUZ, 2011, 50-51) 
Tudo isso conduziu a cidade a um novo conjunto de características que a representam.
Conduziu-a, também, para uma situação de impasse. Ela se encontra em um ponto de
inflexão. Deve retomar seu lugar de protagonista na sua reprodução de lugar e objeto mítico
de desejo, de lugar de perspectivas de transformação na vida das pessoas. Para tanto, é
necessário que haja a reocupação dos espaços públicos pelos cidadãos, que eles interajam com
o objetivo de promover o debate político sobre a cidade, sejam apresentados e discutidos seus
problemas. Isto é, o fazer política deve voltar ao centro das ações públicas, deve haver uma
retomada do papel da cidadania na produção da cidade. É fundamental que os cidadãos
libertem a cidade do jugo mercantilista apoderando-se dela. Ao mesmo tempo, esse mesmo
cidadão deve ser empoderado, cientificando-se do papel fundamental de sua participação na
construção da cidade (SEIXAS, 2013, p. 221-222).
49
3. A CIDADE COMO OBJETO DE MEDO
Este capítulo tratará da contradição entre a cidade idealizada como local de proteção,
de boa qualidade de vida, de boa prestação de serviços públicos, lugar de sociabilidade e a
cidade lugar de conflitos, insegurança, injustiça social e com problemas infraestruturais.
Apesar de seu planejamento primordial baseado na ordem celestial2, apresentou diversos
problemas resultantes de sua produção humana. Essa produção ocorreu durante toda a sua
história em um esforço humano para a manutenção da ordem, inclusive com o uso da força
por parte dos grupos sociais de maior poder que viam, nos grupos de menor poder, os
elementos de promoção da instabilidade social e estrutural.
Ao longo de sua história, a cidade tornou-se símbolo de organização estrutural e
social, local de proteção e de oferecimento de condições adequadas para sobrevivência, além
de centro religioso. Essa construção humana se realizou como resultado do desejo do homem
de buscar ordenar suas produções visando reproduzir a mesma ordem que era observada no
céu. Essa ordem deveria ocorrer tanto na forma quanto nas relações sociais da cidade. Para
tanto, foi adotado um padrão de rede reticular quase sempre orientada pela trajetória dos
corpos celestes, com os templos religiosos ocupando o centro ou locais destacados dessa rede.
De fato, a religiosidade é o fator preponderante na atração e manutenção da estabilidade
social. Além disso, e, em observância também à organização celeste, foi adotado o modelo de
ordem social, baseado na subordinação sucessiva de determinados grupos (LYNCH, 2007, p.
15; TUAN, 2005, p. 231-232).
Essa organização, porém, baseada nesses fundamentos, como todo empreendimento
humano, apresentou falhas ao longo de sua existência. Isso resultou no surgimento de novos
padrões de organização para garantir a manutenção da estabilidade social. Estabeleceu-se,
então, a coerção por meio da imposição de normas que definiam o modo de agir dos cidadãos.
No entanto, essa forma de controle e de tentativa de manutenção da ordem e da estabilidade
social malogrou também, tanto nos momentos em que havia uma maior coerção, quanto nos
momentos de menor coerção, provocando desajustes sociais variados. Diversas outras formas
de controle surgiram, mas todas elas malsucedidas, resultando em instabilidade social e risco
de perda do poder da classe dominante (TUAN, 2005, p. 233).
2 Para os povos que edificaram e habitaram as primeiras cidades, essas tinham uma origem e eram a
representação dos seus deuses. Cada deus possuía sua residência e sua cidade preferida. Para esses povos
tudo tinha um objetivo divino. Assim como os deuses tinham origem celestial, as cidades também o tinham
por pertencerem a essas divindades (POZZER, 2003). 
50
Contemporaneamente, em que pese o fato de a cidade e de os cidadãos terem
características diferentes, esta mantém sua essência de produto humano, fruto de um desejo de
organização e de modificação da natureza, de ação sobre ela. No entanto, mesmo tendo, como
característica intrínseca, o fato de ser fruto de elaboração e pensamento sistemáticos sobre sua
construção, apresenta claros paradoxos. Problemas diversos se abatem sobre ela e seus
ocupantes, provocando, em certa medida, a deterioração da ideia onírica que, normalmente, se
tem a seu respeito. Problemas tais como criminalidade e violência urbana, acidentes de
trânsito, pragas urbanas que podem provocar graves e extensos problemas, como a peste
bubônica, por exemplo, que, no século 14, matou 50 milhões de pessoas (BBC, 2015), falta de
saneamento básico, de acesso à água tratada, falta de moradia, congestionamentos, incêndios,
guerras e tantos outros problemas, uns mais recentes e outros nem tanto, que influenciam
diretamente na qualidade de vida urbana (TUAN, 2005, p. 233).
Muitos desses problemas provocavam, na população, o sentimento de medo. No
entanto, com o processo de modernização da cidade, ao longo do tempo, o medo dela foi se
reconfigurando “começando a gerar um tipo de medos distintos daqueles que gerava quando
era um espaço pré-moderno” (FERNANDES; RÊGO, 2011, p. 169). Desse modo,
“Poderíamos dizer que a insegurança moderna, em suas várias manifestações, é caracterizada
pelo medo do crime e dos criminosos” (BAUMAN, 2009, p. 2). De fato, esse tipo de medo,
que, muitas vezes, não passa de uma sensação de insegurança, por algo que pode vir a
acontecer, é resultante da ideia de que, com o emprego da força, da energia e dos meios
apropriados é possível se proteger suficientemente. Mas ao se deparar com a realidade dele,
busca-se justificá-la pela má ação do outro que, então, se torna objeto de medo. Ainda no
século XIX, tem início o processo de construção subjetiva do medo dos espaços urbanos, com
o consequente surgimento do medo do outro. Determinadas pessoas, o morador de rua, o
menino abandonado, tornam-se símbolo do perigo e causadores de insegurança
(FERNANDES; RÊGO, 2011, p. 169; BAUMAN, 2009, p. 2).
Em consequência, emerge uma visão maniqueísta da cidade, resultado de uma
percepção subjetiva e simplista. Assim, há os lugares onde se pode andar com tranquilidade e
os lugares onde há diversos riscos de se sofrer violência. Do mesmo modo, há as pessoas
perigosas, por causa de determinadas características, e as pessoas que não oferecem riscos
(REGUILLO, 1999, p. 137). É evidente que essa preocupação com a criminalidade urbana
51
não se trata de algo novo. Ao contrário,sempre fez parte do cotidiano urbano, entretanto, no
mesmo nível de importância que outras angústias que assolavam os cidadãos, os roubos ou
assaltos não representavam um problema maior que os outros.
Na verdade, as ações que causavam mais medo nas pessoas eram as provenientes das
guerras, em que os membros dos exércitos não tinham nenhuma noção de respeito aos direitos
humanos, sendo muito comum a ocorrência de vandalismos, saques, roubos, estupros, torturas
excruciantes por parte dos soldados, que faziam questão de deixar um rastro de destruição.
Mas, naquele período, se delineia uma perspectiva em que a criminalidade e a violência
urbana ganham destaque, particularmente os crimes que atingem os bens das pessoas
(SOUZA, 2008, p. 38).
Na primeira metade do século XX, as preocupações se voltam para as duas grandes
guerras mundiais e outros conflitos de grande magnitude que se assemelham a estas.
Praticamente, todos os países europeus, com poucas exceções, os países da América do Norte,
os da Oceania, alguns países asiáticos e africanos, participaram do primeiro conflito mundial.
A principal exceção foram os países da América Latina. Semelhantemente, a Segunda Guerra
Mundial envolveu quase todo o mundo, ainda que, em alguns casos, de forma indireta. Para se
ter uma noção do tamanho da destruição ocasionada, nesses eventos, aproximadamente 2
milhões de pessoas morreram. Mais alguns conflitos internacionais de menor proporção
aconteceram, nesse período, quando todas as atenções estavam voltadas para as suas
consequências (HOBSBAWN, 1995, p. 31-32).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, tem-se o surgimento de dois poderosos países
em termos econômico, político e bélico com influência mundial, que são os Estados Unidos
da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que, após a Segunda
Guerra Mundial deram início a um novo período belicoso entre elas. Esse conflito apresenta
características próprias e muito particulares. Tratou-se de uma guerra de ameaças veladas com
a promessa de uso do poderio bélico por qualquer um dos lados e a qualquer momento. Isso
gerou uma tensão entre eles e também de todos os outros países que se alinharam a cada um
dos lados. Com isso, logo após o fim da Segunda Guerra ocorre, de maneira geral, uma fase
de estabilidade em todo o planeta. Os conflitos eram resolvidos de forma diplomática; até
mesmo aqueles, poucos, é verdade (como a guerra da Coréia e a crise dos mísseis cubanos),
52
que extraoficialmente envolviam os dois países, parte das querelas eram solucionadas
diplomaticamente (HOBSBAWN, 1995, p. 223-226).
Essa estabilidade se refletiu no cotidiano das cidades, nas quais, de maneira geral, a
lembrança dos horrores da guerra ainda era vívida. No entanto, essa situação vai se
deteriorando em termos globais com a emergência de novas guerras e em termos locais com a
exacerbação dos crimes contra a vida e o patrimônio. Desse modo, é percebido,
subjetivamente, como algo clamoroso quando comparado ao período anterior de estabilidade
recentemente vivido. Portanto o aumento da violência urbana e da criminalidade passa a ser
vistos como um novo fenômeno, de tamanha importância que “as ameaças mais
frequentemente referidas na maioria dos estudos sobre as cidades e áreas metropolitanas dos
países em desenvolvimento são a criminalidade e a violência e os desastres ambientais”
(LOURENÇO, 2013, p. 19). Evidente que o que se está comentando aqui trata-se de questões
relativas à cidade, haja vista que, no campo, a situação não se compara à da cidade; visto que
havia outras dinâmicas relativas à criminalidade (SOUZA, 2008, p. 39).
Essa intensificação da violência urbana e criminalidade resultam, também, da
precipitação do processo de urbanização e das injustiças sociais presentes, particularmente,
nos países em desenvolvimento, especialmente no Brasil (LOURENÇO, 2013, p. 19). Isso foi
consequência da deterioração do padrão de Estado Keynesiano associado a um trabalhador
fordista, que baseava sua práxis em princípios solidários, ao mesmo tempo que surgiu um
Estado com uma visão darwinista defensor e pregoeiro da competitividade, do individualismo
e da desresponsabilização com os interesses comuns (WACQUANT, 2010, p. 201).
53
3.1. Segregação social e espacial
A cidade não mais representa o lugar de se buscar melhores condições de vida, é
também o lugar onde são vivenciados múltiplos problemas que acabam por condicionar os
cidadãos em seu nível de qualidade de vida. As expectativas de se alcançar um patamar
melhor em termos de renda, ou moradia, por exemplo, são frustradas e a cidade torna-se, para
o cidadão, não mais o lugar de soluções, mas de dificuldades e de pesadelos. A cidade é
percebida então como um produto cindido, dividido entre aqueles que possuem muito mais do
que precisam, os que possuem o que precisam e os que não possuem nem o mínimo para viver
(SOUZA, 2005, p. 20). Como resultado disso, emerge, entre outras disfunções, a
criminalidade, sendo o fator que mais causa preocupação para os cidadãos, em paralelo com
os danos ao meio ambiente e esta resulta particularmente das desigualdades sociais. Tanto que
“A pobreza e a exclusão social têm sido associadas ao quadro de violência e de insegurança
que caracteriza as cidades dos países em desenvolvimento” (LOURENÇO, 2013, p. 19).
Essa cisão se torna mais patente ao se observar a topografia da cidade. É possível se
perceber setores urbanos completamente diferentes uns dos outros, ou seja, algumas poucas
áreas centrais adequadamente servidas de infraestrutura como saneamento básico,
pavimentação e drenagem de ruas, e áreas quase sempre periféricas que não têm nenhum tipo
de serviço que atenda a sua população, com os ricos ou a classe média morando na primeira e
os pobres na segunda. Essa divisão é quase sempre resultando do planejamento estatal que
privilegia as classes mais abastadas. É importante destacar que mais recentemente essa
separação entre classes e suas diferenças infraestruturais têm se dado não apenas em áreas
completamente distintas e distantes, mas também em regiões contíguas (CALDEIRA, 2000, p.
211; CEZÁRIO; CAETANO, 2010, p. 237-238).
Esse novo modelo de segregação configura a construção de “muralhas” em torno de
determinadas áreas delimitando-as. São os chamados condomínios fechados e são ocupadas
pelas classes com maior poder aquisitivo (essas construções remetem às cidades antigas que
possuíam muralhas e apenas uma entrada e saída a fim de oferecer segurança aos seus
moradores). Essas áreas estão localizadas, em muitos casos, ao lado da pobreza e da
marginalidade. O objetivo é o de impedir o livre acesso de pessoas e se encastelar de modo a
se distanciar dos pobres, seus problemas e, particularmente, da criminalidade. Isso acaba por
criar descontinuidades no tecido urbano, gerando subculturas dentro de uma mesma cidade e
54
padrões diferentes de sociabilidade (CEZÁRIO; CAETANO, 2010, p. 240), ao mesmo tempo
impedindo a interação das pessoas e deteriorando a característica essencial de promoção das
relações interpessoais entre os moradores que constituem a cidade (VAZ DE MELO, 2008, p.
11). Essa separação entre pobres e ricos em diversas modalidades tem sido a marca das
cidades ao longo do tempo, inclusive, paradoxalmente, com a anuência estatal com a
ferramenta de que dispõe: a regulação, tem favorecido as classes de maior poder aquisitivo
(CALDEIRA, 2000, p. 211).
Em relação ao papel estatal, considera-se importante pontuar que o poder público que
é constituído para fazer a adequada distribuição dos bens públicos e que deveria realizar a
equalização das desigualdades socioespaciais, paradoxalmente, acaba por se tornar parcial
colocando-se ao lado das classes de maior renda. A ela,destinam os setores urbanos que
possuem melhor infraestrutura para as classes de maior renda ou constroem a melhor
infraestrutura nos setores cuja população possui maior renda, de modo que está sempre em
oposição aos de menor poder aquisitivo. Como resultado, surgem as áreas periféricas ou
mesmo centrais ocupadas, quase sempre ilegalmente por essa parcela da população que vê
essa possibilidade como alternativa para superar obstáculos aos direitos de moradia ou
transporte coletivo, por exemplo (CEZÁRIO; CAETANO, 2010, p. 241).
Os espaços murados e fechados para moradia e outras atividades foram denominados
“enclaves fortificados” e se caracterizam por serem “espaços privatizados, fechados e
monitorados para residência, consumo, lazer e trabalho” cuja “principal justificação é o medo
do crime violento” (CALDEIRA, 2000, p.211). Objetivam atender àquela parcela da
população, de maior poder aquisitivo, que compreende não haver outro caminho para
solucionar os problemas presentes na cidade que não seja o de blindar-se deles, junto a seus
iguais, criando barreiras na tentativa de impedir que esses problemas tenham condição de
atingi-los. Isso resulta na concepção de uma nova maneira de se fazer o urbano, caracterizada
pela negação do embate, do debate, do conflito de ideias, de visões divergentes que se
enfrentam e produzem convergências. Assim, gera o empobrecimento e a involução das
relações sociais que passam a ocorrer quase que, exclusivamente, entre pessoas de estratos
semelhantes (CALDEIRA, 2000, p. 211).
Ainda em relação à segregação socioespacial, esta apresenta uma característica
importante quanto a sua reprodução. Em certa medida, as suas consequências redundam na
55
sua retroalimentação e também na produção de outros problemas que a gravitam. O baixo
nível de infraestrutura e a baixa qualidade de vida em relação às dificuldades enfrentadas no
cotidiano dessas áreas, por exemplo, são responsáveis por gerar preconceitos tanto contra os
moradores como contra as áreas propriamente ditas, promovendo, também, a emergência de
um sentimento de baixa auto-estima por parte de seus moradores que se veem como pessoas
de menor importância social, de certa maneira, como cidadãos de segunda classe (SOUZA,
2008, p. 83). Além disso, há o problema da violência que colabora para a construção tanto do
preconceito quanto da baixa autoestima, inclusive alguns estudos mostraram que há “uma
relação direta entre espacialidade e violência” o que é percebido ainda que pelo senso comum,
mas acaba por reverberar, ganhando visibilidade (MARICATO, 2000, p. 28).
Há ainda o fato de que a violência se concentra em áreas que reúnem um certo
conjunto de fatores como “níveis baixos de renda e escolaridade, maior proporção de negros
entre os moradores, maior desemprego, maior número de moradores de favelas, piores
condições de moradia e urbanísticas.”3 (MARICATO, 2008, p. 28). Outros elementos que
auxiliam na configuração desse fenômeno são o fato de que, nessas áreas referidas, há muitas
pessoas ociosas em diversas moradias e onde o desemprego tem um caráter mais estrutural,
além da “ausência de atividades culturais e esportivas, falta de regulação social e ambiental,
precariedade urbanística” e a falta de serviço de transporte público. Tudo isso resulta na
deterioração das relações intra e interpessoais de modo que “é impossível dissociar o território
das condições socioeconômicas e da violência.” (MARICATO, 2008, p. 29-30).
A principal representação dessas áreas segregadas social e espacialmente são as
favelas. É caracterizada “como um espaço destituído de infra-estrutura urbana – água, luz,
esgoto, coleta de lixo; sem arruamento; globalmente miserável; sem lei; sem regras; sem
moral. Enfim, expressão do caos” (SILVA, 2009, p. 16). Seu surgimento, no Brasil em
especial, e no Rio de Janeiro principalmente, está associado aos processos de urbanização e
industrialização. Obviamente, o surgimento de moradias precárias se deu ainda no período
colonial com destaque para os cortiços, que eram casas com diversos quartos ocupados por
famílias inteiras e, em muitos casos, apenas um banheiro. Essas casa eram desprovidas de
higiene e tinham focos de doenças e promiscuidade. Essas moradias eram extremamente
insalubres; por isso, tornaram-se objeto de políticas públicas sanitaristas. No entanto, as
3 Nesse artigo Ermínia Maricato (2008, p. 29) apresenta dados referentes a cidade de São Paulo, no entanto
ressalta que essas informações são reais também em outras cidades latino-americanas.
56
favelas começam a surgir com as ações públicas que visavam destruir os cortiços. Assim,
tornaram-se alvo do poder público em suas políticas de limpeza e saneamento da cidade. Em
alguns casos, os cortiços eram destruídos e seus moradores ocupavam as áreas livres mais
próximas, em geral, os morros (QUEIROZ FILHO, 2011, p. 34-35).
Um segundo fator era a presença, em grande número, de soldados do exército que
haviam lutado na Guerra do Paraguai e, ao retornarem para a capital, não tinham alojamentos
suficientes para hospedá-los, de modo que essa problemática tem início ainda no século XIX.
Outro aspecto importante para esse fenômeno foi a abolição da escravatura que promoveu um
fluxo de ex-escravos para as cidades que não possuíam capacidade de absorver esse
contingente de pessoas completamente despossuídas que buscavam na cidade oportunidades
para sobreviver (QUEIROZ FILHO, 2011, p. 35-36).
Apesar de não se enquadrar no modelo de ocupação do solo urbano estabelecido como
adequado pelo poder público e o mercado imobiliário, a favela constitui-se, inexoravelmente,
como parte integrante da paisagem urbana. Tem características próprias e diferenciadas que
devem ser levadas em consideração no planejamento urbano. As políticas públicas voltadas
para esse território devem ser construídas com base nessas características e não ter um caráter
planificado ou semelhante às ações destinadas a outros locais de referência, considerados
adequados e categorizados nas teorias de fundo elitista hegemônico (SILVA, 2009, p. 21-22).
Historicamente, esses territórios são credores tanto do poder público que sempre os
relegou à própria iniciativa, quanto do mercado que sempre o percebeu como um ponto fora
da curva em matéria de ocupação da cidade. Essa dívida foi a responsável por produzir um
território privado da presença estatal e redundou na ausência de diversos serviços
fundamentais para a concretização da cidadania, tais como: água tratada, esgoto, coleta e
limpeza urbanas, iluminação das ruas, escolas, unidades de saúde, equipamentos para esporte,
lazer e cultura. Com isso, as favelas se tornaram territórios “sem garantias de efetivação de
direitos sociais, fato que vem implicando a baixa expectativa desses mesmos direitos por parte
de seus moradores.” (SILVA, 2009, p. 96).
Um outro aspecto é em relação à economia. Nas favelas, estão os maiores índices de
subempregados e desempregados de modo que “há, portanto, distâncias socioeconômicas
consideráveis quando se trata da qualificação do tempo/espaço particular às favelas e o das
condições presentes na cidade como um todo.” (SILVA, 2009, p. 96). Em relação à forma e à
57
regulação, a favela se caracteriza pela ocupação e pela construção ilegais configurando “uma
morada urbana que resume as condições desiguais da urbanização brasileira, ao mesmo
tempo, a luta de cidadãos pelo legítimo direito de habitar a cidade.” (SILVA, 2009, p. 97). Por
fim, “a favela é um território de expressiva presença de negros (pardos e pretos) e
descendentes de indígenas” o que corrobora a ideia de dívida social com essas áreas urbanas,
para as quais os negros foram “empurrados”, a fim de que deixassem o centrodas cidades e
suas habitações insalubres, produtoras de doenças, pelas elites e o poder público higienistas
(SILVA, 2009, p. 97).
Some-se a tudo isso e como resultado disso, a violência que sofrem os moradores
dessas comunidades; seja a violência simbólica configurada pelo medo e o preconceito que os
moradores de outras áreas nutrem contra a favela e seus moradores, seja a violência real em
que são obrigados a conviver, cotidianamente, com bandidos armados, tráfico de drogas e
invasões ou abusos policiais. Em consequência “dessas questões, o pobre, o negro, o morador
de favela e a própria favela em si ficam no imaginário da sociedade como os legítimos
representantes da violência e de tudo o que ela significa.” (NAIFF, 2005, p. 108). Tudo isso
redunda em mais preconceito e distanciamento entre as classes sociais, retroalimentando,
assim, o processo que constitui um círculo vicioso.
58
3.2. A cultura do medo
O medo é uma sensação que acompanha o homem desde o seu surgimento. Outrossim
trata-se de “um sentimento complexo, no qual se distinguem claramente dois componentes:
sinal de alarme e ansiedade.” (TUAN, 2005, p. 10). Não é privilégio apenas da espécie
humana, mas, de fato, é, também, uma das faculdades responsáveis pela manutenção da vida
animal. É ele o motor que impulsiona os animais superiores a reconhecer e fugir de situações
e circunstâncias que possam vir a causar danos físicos. Essa sensação, especialmente para a
espécie humana, tem uma origem assente na consciência de sua finitude, sendo a única
espécie que tem a certeza de que morrerá. É gerado a partir de uma necessidade fundamental
de segurança não satisfeita. Assim, ao par dicotômico segurança e insegurança, associam-se,
respectivamente, vida e morte. Apesar de ser uma sensação de características similares em
todas as espécies, constitui-se de diferentes maneiras e intensidades no ser humano.
(DELUMEAU, 2009, p. 23-24).
Caracteriza-se como elemento partícipe da subjetividade e, como tal, constitui um
resultado da construção sócio-histórica dos indivíduos (SOUSA FILHO, 2007, p. 3). Apesar
de se situar como um fenômeno mental e interior, que ocorre no âmbito do psiquismo ele é
encetado por estímulos exteriores, de modo que vem a ser o resultado da relação entre os
indivíduos e os ambientes natural e social que os envolvem. Devido a isso, apresenta diversas
nuances em suas manifestações, seja na intensidade ou nas categorias. Na espécie humana,
particularmente, resulta não apenas de situações que ameacem a vida, mas também de
situações que envolvam a moralidade, a honra, a culpa, o sobrenatural, entre outras, chegando,
inclusive, a ser gerado até na ausência de ameaças. Nesse sentido, a complexidade do nosso
conjunto dos estados e processos psíquicos, constituído de diversos elementos e fenômenos,
gera uma manifestação como o medo também complexa e multiforme (TUAN, 2005, p. 11-
12).
A espécie humana, particularmente, apresenta um desdobramento desse medo
essencial e primordial. Uma manifestação de temor resultante, especialmente, de uma
reestruturação do primeiro assente numa situação real de ameaça a sua integridade física que
foi tratada pelo aparato psicossociocultural do indivíduo. Decorre de um novo conjunto
mental de representações da realidade que vão conduzir a decisões, atitudes e
comportamentos baseados não, apenas, em situações concretas de ameaça, mas também e,
59
principalmente, na ausência dessas, sendo gerados sob a ação residual da experiência concreta
e ameaçadora vivida anteriormente. Nessa conformidade, paira sobre o indivíduo um contínuo
sentimento de insegurança que emerge de uma sensação de vulnerabilidade e especialmente
de um perigo irreal, inexistente, provocando comportamentos, atitudes e reações somáticas
semelhantes ao perigo real. Ou seja, esse outro esquema resulta, também, em uma sensação de
que o indivíduo pode ser alvo de alguma possível ameaça, no entanto ainda inexistente ou
irreal (BAUMAN, 2008, p. 9).
É evidente que a construção desse sentimento se dá, fundamentalmente, pelo fato de
que o ser humano tem suas percepções de mundo, resultantes de um processo, intrínseco a
essa espécie, que se constitui através da relação entre sua mente e o ambiente mediado pelo
arcabouço instrumental da cultura. A espécie humana, apesar de apresentar todo o aparato
instintivo próprio, esses instintos não são completamente desenvolvidos ao se comparar com
outras espécies. E essas faculdades instintuais são complementadas pelas faculdades
intelectivas, especialmente a cultura; consequentemente essa característica permite a essa
espécie uma gama enormemente maior de possibilidades de percepções de mundo. Além
disso, a constituição biológica também toma parte nessa equação de maneira que a reunião
desses elementos dota a espécie humana de uma grande capacidade de adaptação (BERGER;
LUCKMAN, 2004, p. 60-61)
Em face do exposto, é natural que ocorra o surgimento de um medo específico na
relação do indivíduo com a criminalidade violenta. Esse medo resulta, primordialmente, do
embate entre o aparato mental que trata esse sentimento e a situação real vivida. O medo de
ser vítima de crime não é nenhuma novidade, entretanto há cada vez mais intensamente um
sentimento generalizado de que a possibilidade de ser vítima de violência é muito grande e
está em todo lugar. Há uma sensação de que o crime é ubíquo, uma vez que o crime pode
atingir, e atinge, pessoas indiscriminadamente, não importando a classe social da qual se faz
parte ou o lugar onde se mora. Nem mesmo os diversos aparatos de segurança são capazes de
impedir a ação de criminosos. Logo, essa percepção teria fundamento. Ao mesmo tempo
emerge também a ideia de que há, particularmente, lugares e pessoas perigosos. Determinadas
características configurariam o lugar de risco, do qual não se deve se aproximar, ou passar por
ele. Da mesma maneira, ocorre com as pessoas perigosas, que ao apresentarem determinadas
características são definidos como indivíduos os quais se deve temer (SOUZA, 2008, p. 54).
60
Nesse sentido, pode-se concluir que há uma espécie de “sombra” do medo da
criminalidade que tem envolvido parcela significativa da sociedade e tem moldado seu
comportamento. Além disso, esse fenômeno tem assumido tamanha força que tem gerado,
mesmo nas pessoas que não foram vítimas de violência, a prática de reverberar o discurso do
medo. De fato, o medo do crime influencia, diretamente, os diálogos e as relações
interpessoais, transformando as práticas habituais e as configurações das cidades e fazendo do
crime o assunto principal das conversas. Os discursos sobre o crime se seguem,
continuamente, de modo que um enseja o outro em uma espiral de observações e opiniões dos
mais diversos gêneros. Uma série de narrativas monótonas e repetitivas que parecem objetivar
a expurgação desse mal dos planos real e virtual ou imaginário numa espécie de terapia de
grupo. Promovendo a proliferação da cultura do medo, reforçando-a e sedimentando essa
“sombra” referida anteriormente (CALDEIRA, 2000, p. 27). Desse modo, o sentimento de
insegurança adquire uma grande intensidade, mas está totalmente desvinculado da realidade.
Vale destacar que isso decorre do fato de que a espécie humana apresenta uma necessidade de
dar uma maior dimensão a problemas que nem sempre merecem (GLASSNER, 2003, p. 30).
O medo da morte causada por danos infligidos por indivíduos com maior poder físico,
econômico ou político conduziu as sociedades a estabelecer regras de respeito mútuo. Em
consequência dessa necessidade de convivência entre os membros de determinadas
sociedades, surge, em decorrência de um pacto conjunto com a anuência de todos, um poder
regulador superior a todos os outros. A esse poder é conferidoo direito de sanção contra
aqueles que se não submetem à regulamentação, de modo que o aparato jurídico tinha por
finalidade conformar os comportamentos dos indivíduos tornando-os previsíveis e, em
decorrência, gerar estabilidade e evitar os conflitos. Com isso, o medo do poder superior,
comumente estabelecido, responsável pela aplicação das penalidades resultantes das
transgressões às normas, cumpria e cumpre o papel de controlador, limitador das ações
sociais e individuais (SILVA, 2011, p. 16-17)
Nesse processo de construção social dessa cultura do medo, os meios de comunicação
exercem papel preponderante na sua reprodução, especialmente, os programas que se utilizam
do sensacionalismo ao apresentar notícias que, apesar de verdadeiras em sua essência, estão
travestidas de forma exagerada com a intenção de causar choque no público. De maneira
geral, estão distanciados do compromisso profissional de comunicar a verdade de forma
61
imparcial. Dessa forma e, em especial, os grandes veículos de comunicação que estão, como
toda corporação, vinculados à lógica capitalista, interessam-se apenas em auferir lucros, em
alcançar cada vez maiores índices de audiência. Com isso conseguirão mais patrocinadores e
terão mais renda. Então espetacularizam a notícia a fim de torná-la um produto de
entretenimento. Até mesmo a população ao ser questionada sobre o medo do crime se reporta
às notícias dos jornais, de tal sorte que são os meios de comunicação social, e não a
experiência real, que têm instilado esse sentimento em uma parcela majoritária da sociedade
(GLASSNER, 2003, p. 31-33; PASTANA, 2003, p. 72-73).
A seguir, são apresentados alguns recortes jornalísticos que trazem informações sobre
violência e criminalidade no Estado do Rio Grande do Norte: 
RN tem final de semana violento: O Rio Grande do Norte voltou a
registrar um final de semana violento. Somente entre a madrugada de
sexta-feira (7) e a noite de domingo (9), 27 pessoas foram vítimas de
homicídios, sendo os crimes ocorridos, principalmente, na Grande
Natal (BARBALHO, 2016, grifo nosso). 
RN já registra 61 casos de estupro este ano: As Delegacias
Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM) já registraram 61
casos de estupro no Rio Grande do Norte no período de janeiro a
agosto deste ano. O número representa 68,5% dos casos que
aconteceram em todo o ano passado, quando foram registrados 89
crimes sexuais no Estado, de acordo com dados da Coordenadoria de
Defesa dos Direitos das Mulheres e da Minoria (CODIMM)
(TAVARES, 2016, grifo nosso). 
No RN, homicídios têm alta de 23,61% este ano: O Rio Grande do
Norte computou mais 11 homicídios no fim de semana e, com isso, o
Estado acumula 1.403 crimes violentos letais intencionais neste ano,
de acordo com dados até esta segunda-feira (19). em comparação ao
mesmo período do ano passado, o Rio Grande do Norte teve 268 a
mais, o que significa um aumento de 23,61% no número de
homicídios (TRIBUNA DO NORTE, 2016, grifo nosso). 
RN já teve mais de 1.400 homicídios em 2016: O Rio Grande do
Norte computou mais 11 homicídios no fim de semana e, com isso, o
Estado acumula exatos 1.403 crimes violentos letais intencionais em
2016, com dados até esta segunda-feira (19) (TRIBUNA DO NORTE,
2016, grifo nosso).
Insegurança prejudica aulas no RN: O Rio Grande do Norte é o
Estado do país onde os alunos mais perderam aula por motivo de
segurança, relaciona à violência (BARBALHO, 2016, grifo nosso). 
62
Em 10 anos, homicídios crescem 445%: Em uma década, o Rio
Grande do Norte 'mais que quadruplicou' os índices de homicídios por
armas de fogo. Ao lado de Alagoas, Ceará, Maranhão e Sergipe, o
estado potiguar “enfrenta uma pandemia de violência para a qual
estava pouco e mal preparado” (ARAÚJO, 2016, grifo nosso).
Importa observar que as frases iniciais das reportagens têm um caráter alarmista. Visto
que a intenção da reportagem é espetacularizar a notícia, acabando por reforçar o medo da
criminalidade. Nessa conformidade, a imprensa, de modo geral, torna-se uma das principais
responsáveis por disseminar a sensação de insegurança. Na esteira da lógica capitalista ,
chegam ao termo de objetivar unicamente a venda de suas notícias, que se tornaram
mercadorias, e atingir elevados índices de audiência para conseguir mais e mais
patrocinadores. Com isso, há um exacerbado destaque aos fatos que envolvem crimes
violentos e morte ou barbarização das vítimas. As informações são sempre tratadas de acordo
com diversos interesses de tal maneira que a sociedade é conduzida, acriticamente, para
conclusões preconcebidas pelos meios de comunicação sob interesses quase sempre mercantis
(GLASSNER, 2003, p. 33-35; PASTANA, 2003, p. 72-77; ZALUAR, 2000, p. 247)
Um outro aspecto relevante na constituição desse sentimento de insegurança está
ligado ao medo do outro. Elaborou-se, como marca da contemporaneidade, gradativamente, a
ideia de que indivíduos com tais e quais características representam perigo (BAUMAN, 2009,
p. 3). A fim de conferir representatividade simbólica a esse sentimento, constrói-se, no
imaginário, uma figura maligna oposta ao bem que é o criminoso categorizando-o como
aquele que não se enquadra às regras sociais de convivência, o marginal. Alguém que se
constitui como antípoda da sociedade formada pelos homens de bem, criando-se, assim, os
estereótipos da criminalidade. Quase sempre esses indivíduos são: os vagabundos, sem-teto,
moradores de rua, viciados, negros, favelados, maltrapilhos, de maneira geral os pobres. Em
decorrência disso, se estereotipa também os lugares do mal, os lugares de onde se originam
esses indivíduos. Logo, os crimes e os criminosos estão ligados às favelas, a locais
abandonados pelo poder público que acabam por serem infestados desse tipo de gente
(CALDEIRA, 2000, p. 78-79).
63
3.3. O papel do Estado na gestão do medo
A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 5o, que a segurança é um direito
fundamental, portanto, universal. Compõem, em nível federal, o Sistema de Segurança
Pública os órgãos: Polícia Federal e Rodoviária Federal; e em nível Estadual: Polícias
Militares e Civis; e os municípios através das Guardas Civis cujo escopo da competência é a
proteção patrimonial. No entanto, já há entendimento jurídico de que os municípios podem
efetivamente realizar o trabalho de proteção não só aos bens, mas também à sociedade.
Especialmente, por meio da articulação entre os diversos atores com o foco na vertente da
prevenção, colaborando, assim, no desenvolvimento de políticas de gestão, disponibilizando
recursos que otimizarão as ações e se inserindo no ciclo das políticas públicas o ente federado
que tem relação mais próxima com o cidadão (CORREIA; FERREIRA; PINTO, 2014, p. 3-
11). Assim, como o foco desse trabalho é a cidade, serão apresentadas ações que o poder
público municipal pode realizar para que possam colaborar para a diminuição dos índices de
criminalidade urbana.
A partir, especialmente, da elaboração do Programa “Cidades Mais Seguras”
implementado pela Organização das Nações Unidas em 1996, tem início a preocupação com o
papel fundamental dos governos locais na questão da Segurança Pública particularmente no
que toca à prevenção da criminalidade; haja vista que outras esferas de governo constituem
estruturas excessivamente grandes para que suas ações consigam alcançar os bairros, as
comunidades, por exemplo. Para tanto, são necessárias algumas condições: (1) destinar
recursos humanos e financeiros exclusivamente para essa finalidade; (2) assumir o papel de
articulador das ações preventivas; (3) garantir a participação da sociedade civil organizada;
(4) garantir que a transparência permeietodas as etapas das políticas. A ideia, ao delegar as
ações de Segurança Pública às localidades, é fazer com que o Estado (no caso brasileiro os
municípios) esteja mais próximo dos cidadãos para que estes possam participar do processo.
Além disso, como a gestão local tem papel eminentemente preventivo, fazendo-se necessário
envolver diversas pastas para o processo de elaboração e implementação das políticas, ela se
caracteriza, em tese, por ser mais dinâmica e ágil na busca de soluções (ONU, 1996, p. 9-10).
Essa percepção torna-se relevante, a partir do término dos governos autoritários na
América Latina. Com o objetivo de desvincular a segurança pública das forças militares,
policiais e forças armadas, emerge o conceito de “segurança cidadã” que é construído para
64
promover o envolvimento da sociedade civil nessas questões. Além disso, objetivava imprimir
um caráter democrático em consonância com os novos momentos de liberdade vividos,
quando, então, torna-se possível a construção de políticas públicas transparentes, legítimas e
sob a égide da sociedade e dos direitos humanos. Desse momento, surgem as políticas
municipais de segurança cidadã; pautadas pelo caráter preventivo e destinadas à mitigação do
medo e do sentimento de insegurança. São constituídas, principalmente, pela qualidade de
serem muito mais proativas do que reativas, buscando, ao mesmo tempo, reduzir os índices de
criminalidade mediante ações que diminuam as possibilidades de práticas delituosas
(MESQUITA NETO, 2006, p. 6-8).
De maneira geral, há dois modelos básicos de abordagem na questão da segurança
pública: o modelo repressivo ou tradicional e o preventivo ou comunitário. O primeiro é
centrado no emprego da força como elemento dissuasório, além de ter um caráter fortemente
reativo. Tem como finalidade precípua controlar o crime através da prisão dos delinquentes.
Baseia a execução das suas atividades no uso intensivo de veículos, armamentos e
equipamentos de intercomunicação, sendo as ações executadas após o acionamento pela
população na ocorrência ou na iminência de ocorrer um crime. Nesse caso, o objetivo é
alcançar e prender o criminoso logo após o cometimento do ato delituoso, antes que aconteça
ou durante a ocorrência. O segundo modelo está fundamentado na ideia de que todos somos
responsáveis pela segurança pública. Com isso, busca-se envolver todos em ações
preventivas, que é a essência do modelo. Tanto as instituições públicas diretamente ligadas à
segurança quanto a população são envolvidas no processo de elaboração e implementação das
ações. O princípio basilar desse modelo é o de que, ao reunir a técnica policial com o
conhecimento da população sobre o seu local de habitação, ocorre, sinergicamente, uma
potencialização de saberes e consequentes soluções que melhor se ajustam a cada situação
( SARAIVA; SOARES, 2014, p. 8-10).
Um dos primeiros passos que podem ser dados pelo Estado é a implantação de
políticas pontuais de prevenção à criminalidade com ações focadas, localizadas em situações
que resultam em maior volume de ocorrências; como, por exemplo, políticas de curto prazo
que não prescindem das ações estruturais de longo prazo, mas que podem gerar um círculo
virtuoso, especialmente na economia, ao promover a diminuição da criminalidade em
determinados locais. Assim, hodiernamente, se concebe, de maneira geral, a ideia de que o
65
crime é também responsável pela crise social e econômica. É importante destacar que o crime
afeta não só as pessoas em seu psiquismo e, em consequência, a sociedade, mas também e,
em grande medida, a economia das áreas que são alvo de uma maior quantidade de ações
delituosas o que provoca uma série de problemas, como, por exemplo: o fechamento de
empresas gerando desemprego, que redundam em aumento do crime. Logo, as ações
localizadas têm como finalidade manter o funcionamento da economia, dinamizando-a
também, e a reboque vem a melhora de diversos serviços públicos. Assim “políticas
preventivas eficientes dependem de diagnósticos locais (técnicos e interativos), gestão
participativa, circunscrição territorial, autoridade política e articulação intersetorial”
(SOARES, 2006, p. 94-96).
É necessário que, com base em certos pilares gerais, sejam desenvolvidos programas
próprios de atuação em cada local. As ações a serem delineadas devem ser baseadas nas
particularidades de cada região a ser objeto dessas ações. Daí, a importância de se conhecer,
pormenorizadamente, toda a sua configuração, como também os diversos cenários que podem
se desenhar como desdobramentos de cada uma das atividades que integram o programa.
Além disso, todo o modelo de intervenção deve conter um levantamento minucioso das
características sociais, econômicas, estruturais, dos serviços públicos disponíveis, das ofertas
de lazer, de cultura e as potencialidades dos indivíduos e do local. Como resultado dessa
complexidade multicausal que envolve o problema, tem-se na construção de uma solução um
conjunto de dimensões a serem observadas. Dessa forma, as abordagens devem ser pautadas
pela multi e a intersetorialidade. Entretanto, apesar dessa necessidade de integração na
construção do modelo de intervenção, a realidade dos governos municipais aponta para uma
desarticulação nas ações das diversas pastas. Daí, a importância da criação de um ente gestor
vinculado diretamente ao chefe do executivo municipal e que tenha autoridade gerencial por
ele delegada para promover a integração dos setores que comporão o programa e acesso
disponível aos recursos necessários (SOARES, 2006, p. 96-97).
Um outro aspecto de extrema relevância para as ações de prevenção à criminalidade
no âmbito dos municípios são as informações. As instituições que prestam serviço de
segurança pública de caráter moderno têm, na coleta e no tratamento das informações, sua
principal ferramenta. Ela subsidia todas as fases do processo de gestão desse serviço, como
também de todo o ciclo de desenvolvimento das políticas públicas do setor, inclusive para o
66
monitoramento e a avaliação das ações implementadas. No entanto o componente
fundamental do processo de coleta e tratamento da informação são os servidores que
exercerão suas atividades nessa área. Há que se ter uma densa preparação desse profissional
haja vista as ferramentas e os instrumentos para execução das atividades informacionais
apresentarem tecnologias de última geração, demandando, assim, profissionais com elevado
nível de conhecimento. Com isso, apesar das limitações do poder público municipal, esse
pode buscar construir sua base de dados com informações relacionadas ao contexto
socioeconômico das áreas de maior incidência de crimes, como também, utilizando-se de
ferramentas de georreferenciamento, identificar essas áreas a fim de alimentar os processos de
planejamento de outros níveis estatais. Esse banco de dados deve conter, basicamente, a
cartografia urbana, sistema de endereçamento, sistema viário, dados demográficos, além de
toda a geografia das áreas finalitárias (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2004, p. 129-159).
Nesse sentido, o Estado tem uma responsabilidade fundamental no desenvolvimento e
implementação de políticas públicas que auxiliem na mitigação do medo do crime. Diversos
tipos de intervenções podem gerar, nas potenciais vítimas, a sensação de segurança e, ao
mesmo tempo, inibir a ação dos criminosos, ou até reduzir, efetivamente, os índices de
criminalidade. De modo geral, alterações, nos desenhos ou na distribuição dos espaços
urbanos, levam as pessoas a modificar suas percepções e seus comportamentos. Logo,
conclui-se que é possível interferir na subjetividade docriminoso, em sua maneira de agir, ao
se realizar alterações ambientais; como também no sentimento de insegurança das pessoas.
Intervenções, tais como: a iluminação pública adequada e contínua; o paisagismo planejado
não apenas para o aspecto estético, mas também com o objetivo de promover a vigilância
natural; a adequada disposição dos equipamentos e espaços públicos que também pode
influenciar nos índices de criminalidade, são medidas que podem colaborar para a diminuição
das ações criminosas. Dessa maneira, o Estado, seja em que esfera for, tem condições de
atuar, visando gerenciar o medo do crime com ações relativamente simples e exequíveis
(EVANGELISTA, 2012, p. 198-201) .
Promover a ampla visibilidade em todos os logradouros e em qualquer horário é uma
medida que diminui a possibilidade de uma ação delituosa. Além disso, gera, nas pessoas, o
sentimento de segurança. Mesmo que não seja possível fazer frente a um criminoso de forma
direta, quando um ambiente está bem iluminado, natural ou artificialmente, existe a
67
possibilidade de que as pessoas vejam umas as outras; isso, por si só, já é uma circunstância
dissuasória. As áreas escuras ou mal iluminadas das cidades são aquelas onde há maior
volume de ocorrências criminais. Logo, o poder público deve manter em bom estado a
iluminação pública visando facilitar o controle visual dos transeuntes. Quanto ao paisagismo,
torna-se uma ferramenta de fundamental importância para dificultar as ações criminosas.
Quando é bem planejado, transforma-se em um obstáculo natural, auxiliando na definição de
limites de acesso a áreas a serem protegidas e, ao mesmo tempo, permitindo a visualização de
todos os que usam essas áreas. Entretanto pode ter efeito contrário no caso de não passar por
constante manutenção – a falta de manutenção provoca o crescimento desordenado da
vegetação, causando um aspecto de desleixo e ausência estatal - haja vista poder tornar-se
local de esconderijo e facilitador das ações delituosas (EVANGELISTA, 2012, p. 202-203).
Com base no modelo preventivo, uma das soluções que têm sido utilizadas pelos
municípios para colaborar com as ações de Segurança Pública é o monitoramento das cidades
utilizando-se câmeras. Um exemplo dessa solução é o município de Ipatinga em Minas Gerais
que, em parceria com a Polícia Militar do estado, adotou esse sistema. Foram instaladas 43
câmeras em toda a cidade, sendo 19 delas na região central. O projeto apresentou importantes
resultados na mitigação das ações delituosas. A cidade fica no interior de Minas Gerais
distando, aproximadamente, 200 km da capital. Apresentava, à época da implantação do
projeto, aproximadamente 240.000 habitantes. A implantação ocorreu em dezembro de 2009 e
apresentou redução, no período de 2009 a 2010, nos crimes da seguinte forma: redução de
38,71% nos roubos à mão armada entre 2009 e 2010; nos arrombamentos a residências ou
comércio redução de 49,06%; quanto ao furto de veículos, diminuição de 45,15%.
Lamentavelmente, por falhas de gestão, o programa passou a apresentar deficiências e devido
à falta de recursos em alguns momentos sofreu paralisações já no ano de 2011 e chegando ao
fim em agosto de 2012 (SARAIVA; SOARES, 2014, p. 14-17).
68
3.4. A relação entre a configuração urbana e a criminalidade 
De maneira geral, todo e qualquer objeto construído pelo ser humano tem a sua
utilidade já definida e definitiva, tem uma operacionalidade própria, a qual não se questiona.
A partir da correta junção de diversos componentes constituindo um determinado construto
com sua funcionalidade intrínseca, é possível, em uma segunda etapa, acrescentar uma outra
característica a esse objeto. Então, nesse processo, são adicionadas, por exemplo,
características que não têm uma funcionalidade própria e direta, como os elementos estéticos.
Logo, esses objetos, agora, carregam em si um repertório de características permeadas de
significados, vinculados não mais à operacionalidade, mas também características que se
vinculam a fatores identitários, culturais e sociais. Portanto, todo construto humano encerra
em si dois domínios: um funcional e outro simbólico e, ao mesmo tempo, tornam-se um meio
de eternizar aquelas época e sociedade na qual estão sendo produzidos (HILLIER; HANSEN,
p. 1). 
Os edifícios, enquanto construtos humanos, estão inseridos nesse contexto. Entretanto
essa inserção não é incontroversa, haja vista que os edifícios, ao serem construídos, acabam
por também definir os espaços não construídos. Desse modo, emerge uma função secundária e
indireta, resultante do ordenamento do espaço proporcionado pelo edifício, que é seu
propósito primário. Não se objetiva o construto em si apenas, mas ele se torna um meio para
um determinado fim. Portanto, o edifício também transforma o espaço através de si. Nessa
conformidade, o edifício constrói a relação entre a função e o significado social. O
ordenamento do espaço, resultante do construto, é reflexo do ordenamento das relações entre
as pessoas. Com isso, as pessoas tornam-se tanto a matéria-prima quanto a forma do edifício.
São produtos físicos resultantes de construção humana, mas também são produtos sociais,
carregados da cultura dessa sociedade (HILLIER; HANSEN, p. 1-2).
Nesse contexto, um outro aspecto a ser levado em consideração, nas ações de
prevenção ao crime, é a configuração de todo o conjunto de elementos que formam a
paisagem urbana. Essa percepção foi, gradualmente, sendo constituída com base nas
observações e nos estudos de diversos atores4 do processo de discussão das cidades, como, por
4 Jane Jacobs (Ativista), Elizabeth Wood (Socióloga), Shlomo Angel (Pesquisador), C. Ray Jeffery
(Criminólogo), Oscar Newman (Arquiteto), Paul e Patricia Bratingham (Criminólogos), Sally E. Merry
(Antropóloga), Alice Coleman (Geógrafa), Timothy Crowe (Criminólogo) (MACHADO; NEVES, 2011, p. 32-
33).
69
exemplo, ativistas urbanos, pesquisadores, arquitetos, sociólogos, criminólogos, antropólogos,
geógrafos de diversos países que foram responsáveis por construí-la. A partir daí, surgiram
ideias que redundaram em conceitos como o de “espaço defensável” ou o de “prevenção do
crime através do espaço construído” cuja sigla em inglês é CPTED (Crime Prevention Trough
Environmental Design), que são as estratégias de configuração do espaço urbano para
prevenção do crime mais utilizados, ultimamente, em vários países (MACHADO; NEVES,
2011, p. 30-33).
Os principais elementos da estrutura urbana são as ruas e as calçadas. De maneira
geral, ao se falar, em uma cidade, logo se imagina suas ruas. As ruas são o principal elemento
de constituição simbólica. Uma cidade é considerada limpa se suas ruas são limpas, animada
se suas ruas têm diversão; bonita se as pessoas que usam a rua são bonitas; segura se não há
crimes nas ruas. Com isso, pode-se dizer que a cidade é a rua e, em consequência, as calçadas.
De maneira geral, o medo da cidade nasce a partir das experiências inseguras, vivenciadas nas
ruas. Logo, se não há experiências de medo, não há medo da cidade, ou, de fato, não há medo
das ruas e calçadas. No entanto, basta uma experiência de violência, seja de que grau for, um
assalto, um estupro, um furto, um homicídio, para que essa ganhe uma grande repercussão e
acabe por se reproduzir ainda que virtualmente, resultando no esvaziamento da rua e em
consequência no aumento da probabilidade de acontecer novos casos, e gerando um círculo
vicioso de ausência das pessoas nas ruas e o aumento da criminalidade. Nesse contexto a
manutenção da segurança das ruas e calçadas ocorre, fundamentalmente, pela presença e pelo
uso das ruas pelas pessoas (JACOBS, 2003, p. 29-32). Jane Jacobs descreve uma situação
emblemática em relação aessa assertiva:
Frank Havey, diretor da União no North End, associação comunitária local,
afirma,: “Moro no North End há 28 anos, e em todo esse tempo não ouvi
falar de um só caso de estupro, roubo, abuso de criança ou outro crime
urbano desse tipo. Se tivesse havido algum, eu teria sabido mesmo que os
jornais não tivessem publicado.” Meia dúzia de vezes, nas três últimas
décadas, diz Havey, supostos molestadores tentaram seduzir uma criança ou,
altas horas da noite, atacar uma mulher. Em todos os casos, a tentativa foi
frustrada por transeuntes, pessoas nas janelas e comerciantes (JACOBS,
2003, p. 34).
Assim, para que uma rua seja segura, deve ter três características: (1) é necessário
haver uma clara distinção entre o que é espaço público e espaço privado, de tal maneira que
não pode haver margem para confusão; (2) toda e qualquer edificação deve ter muitas
aberturas voltadas para a rua; com isso, a rua se torna alvo de diversos observadores; (3) a rua
70
deve ter muitos transeuntes o tempo todo a fim de promover a vigilância por parte deles,
como também para atrair as pessoas das casas a se entreter com o movimento da rua,
tornando-se, também, vigilantes dela, fazendo com que haja o maior número de olhos atentos.
Com isso, é possível controlar o comportamento tanto dos moradores da localidade quanto
dos estranhos, principalmente. Entretanto não é simples manter toda essa ocupação e
vigilância das ruas. É necessário desenvolver ações que promovam a ocupação desse espaço.
Uma das maneiras mais eficazes é a instalação de comércios os mais variados, como: bares,
restaurantes, cafeterias, lanchonetes, lojas e tantos outros estabelecimentos que possam
utilizar, também, as calçadas, ocupando-as com mesas. Isso torna essas localidades vivas,
fazendo delas polos de atração para convivência entre as pessoas (JACOBS, 2003, p. 35-37).
O conceito de “espaço defensável” é caracterizado, principalmente, por mudanças no
desenho urbano e na participação efetiva das pessoas nas ações de vigilância da comunidade.
Preconiza a adequada alocação das diversas componentes da estrutura urbana comunitária a
fim de que os cidadãos possam ter o domínio visual das áreas circunvizinhas e das ruas,
inclusive as áreas externas das casas e suas partes frontais e laterais. De maneira geral, a
proposta é que as pessoas consigam manter o usufruto das áreas comuns sem a preocupação
com a criminalidade. Propõe-se a ser um programa de ajuda mútua entre os moradores da
comunidade e também uma ação social. Objetiva se antecipar às ações oficiais visando evitar
as soluções de continuidade que ocorrem quando se dá a retirada da presença estatal em
situações de contenção de gastos. Além disso, depende da participação de todos para que se
consiga reduzir os índices de criminalidade, inibindo a presença dos criminosos. Tem a
capacidade de agregar pessoas de diferentes níveis sócioeconômicos e de raças com o mesmo
objetivo. Outrossim permite que as pessoas de menor poder aquisitivo se sintam incluídas
(NEWMAN, 1996, p. 9).
A estratégia de enfrentamento à criminalidade, conhecida como Crime Prevention
Through Environmental Design (CPTED), surge no final dos anos 1960 e início dos anos
1970 com a percepção de que a configuração do espaço onde se vive tem o poder de
influenciar o comportamento dos criminosos visando dissuadí-los ou persuadi-los a agir ou
não em determinado local. Os rudimentos do conceito foram apresentados, nos anos de 1971 e
1973, por C. Ray Jeffery e Oscar Newman respectivamente (BELL, 2014, p. 1). Essa
abordagem, atualmente, tem se tornado em todo o mundo uma das mais eficazes para a
71
redução dos índices de criminalidade e tem apresentado resultados muito significativos nos
lugares mais diversos, desde pequenas lojas até comunidades inteiras. A ideia essencial é a de
que o crime pode ser prevenido através da adequada distribuição das construções na área que
forma a comunidade; isso permitiria, ao mesmo tempo, a redução do medo do crime como
também do crime em si, promovendo melhoria na qualidade de vida da população (CROWE;
ZAHM, 1994, p. 22).
Essas abordagens se fundamentam sobre quatro pilares principais: (1) a vigilância
natural exercida pelos próprios usuários dos espaços, de modo que a simples presença dos
transeuntes e a mútua observação podem intimidar um criminoso; (2) o controle do acesso a
determinados locais através de barreiras naturais ou artificiais com o objetivo de definir
limites, o que pode causar, no potencial criminoso, a sensação de estar sendo monitorado por
haver ultrapassado um determinado limite; (3) o comportamento territorial das pessoas
através da sensação de pertencimento e de identificação com um determinado local as torna
mais responsáveis com a atenção e o cuidado a esse local, logo isso se torna perceptível e
pode dissuadir um possível infrator; e por fim (4) a adequada manutenção dos espaços bem
como o zelo por parte dos usuários leva as pessoas a agirem da mesma maneira, causando
uma sensação de segurança. Para tanto, é possível se fazer da seguinte maneira:
Controle de acesso usa portas, arbustos, cercas, portões e outros elementos
de design físico para desencorajar o acesso a uma área por todos, exceto
pelos usuários pretendidos. A vigilância é conseguida através da colocação
de janelas em locais que permitem que os usuários pretendidos para ver ou
ser visto, garantindo que os intrusos serão observados também. A vigilância
é reforçada por fornecer iluminação adequada e paisagismo que permitem
vistas desobstruídas. Finalmente, o território é definido por calçadas,
paisagismo, varandas e outros elementos que estabelecem as fronteiras entre
áreas públicas e privadas. Estas estratégias trabalham juntas para criar um
ambiente no qual as pessoas se sintam seguras para viver, trabalhar, viajar ou
visitar (CROWE; ZAHM, p. 22-23). (Tradução nossa)
Portanto, é possível concluir que a disposição, ou o desenho do espaço urbano tem relação
com a questão da segurança pública, em especial o caráter preventivo das abordagens
apresentadas, e particularmente na promoção da sensação de segurança da população
(MACHADO; NEVES, 2011, p. 35-36).
É importante esclarecer que as abordagens, acima descritas, baseiam-se em
observações empíricas que mostram, por exemplo, que a configuração de uma rua que facilite
o acesso às casas e a fuga de um potencial criminoso pode encorajá-lo a agir naquela via. Ou,
72
ainda, uma rua cujo uso tenha elementos que atraiam a atenção, como comércio volumoso e
concentrado, ou grande fluxo de dinheiro. Uma rua com essa característica tem uma
incidência de crimes bem maior que uma com características industriais. Acúmulo de lixo e de
entulhos, ao longo das vias, serve como pontos de esconderijo ou de dissimulação. Bares,
boates, raves, bailes ao ar-livre são lugares que têm o potencial de gerar crimes, enquanto que
casas lotéricas, bancos, casas de câmbio, terrenos baldios são locais com potencial de atrair os
crimes (TABANGIN; FLORES; EMPERADOR, p. 31, 2008).
As estratégias de prevenção à criminalidade, baseadas no conceito denominado
CPTED, se tornaram bastante populares em todo o mundo, sendo utilizadas, em larga escala,
por diversos países5 para mitigar os problemas provenientes de áreas deterioradas que sofrem
com a criminalidade. De maneira geral, a população dessas áreas mais expostas ao crime
apresenta uma maior tendência ao medo do crime. Ambientes como esses prejudicam mental
e fisicamente seus moradores que acabam por não utilizar as ruas para a prática de atividades
físicas. Com isso, diversos projetos de prevenção ao crime foram baseados nas abordagens do
padrão CPTED para reduzir índices, mitigar a sensação de insegurança e gerar ambientes
seguros para o usufruto dosurbanitas. No entanto, em pesquisa6 realizada na cidade de Seul na
Coréia do Sul, alguns resultados revelaram que parte das medidas preconizadas pelo padrão
CPTED são eficazes e parte delas não são tanto quanto as outras. Assim, circuitos fechados de
TV, iluminação pública e a manutenção das ruas são medidas importantes na diminuição do
medo do crime. No entanto, outras medidas, tais como: cercas removíveis, cercas que
permitem a visualização externa e interna, pavimentação de ruas, estacionamentos
comunitários e centros comunitários têm pouca eficácia. Com isso, esses resultados são
importantes para a reavaliação do modelo CPTED (LEE; PARK; JUNG, 2016, p. 12-13).
5 Diversos estudos e aplicações do padrão CPTED foram realizados em países como Estados Unidos,
Inglaterra, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Holanda, França, Alemanha, Espanha (FERREIRA, 2013, p.
108)
6 LEE, J. S.; PARK, S.; JUNG, S. Effect of crime prevention through environmental design (CPTED)
measures on active living and fear of crime. Basel: MDPI, 2016.
73
4. NATAL: URBANIZAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, MERCANTILIZAÇÃO
Este capítulo tem como objetivo apresentar as características da cidade de Natal em
seus aspectos socioeconômicos, demográficos, geográficos e administrativos, outrossim os
números que caracterizam o cenário da criminalidade. Natal não está fora do que se poderia
chamar de “circuito do medo” da criminalidade urbana. Esse fenômeno tem um caráter
ubíquo, ou quase isso. Essa sensação de se estar inseguro nos mais diversos lugares ou,
mormente, em determinados lugares com características específicas, ocorre não só nos países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, mas também e, cada vez mais, nos países
desenvolvidos. De maneira geral, resulta não apenas dos casos objetivos de vitimização como
também ultrapassa os limites individuais e atinge a sociedade como um todo, tornando seus
membros vítimas invisíveis, não materiais. Os meios de comunicação colaboram,
decisivamente, para esse cenário ao apresentar, em noticiários sensacionalistas, os
acontecimentos cotidianos com um verniz de entretenimento e não de comunicação social.
Como consequência, tem-se uma sociedade que vive sob uma aura de medo que define
comportamentos e pode desencadear uma série de doenças psicossomáticas (AGUIAR, 2008,
p. 1; SOARES; MIRANDA; BORGES, 2006, p. 52-57).
O capítulo também tem como finalidade apresentar como se deu o processo de
urbanização da cidade, processo esse que tem influência direta sobre a criminalidade. Apesar
de tardio pelo fato de ser uma cidade distante dos polos dinâmicos da economia brasileira, a
urbanização de Natal não foi, ou está sendo, muito diferente de outras cidades que já
consolidaram seu processo. Segregação social e espacial e gentrificação são sua tônica. Tendo
início, efetivamente, em meados do século XX logo após o fim da Primeira Guerra Mundial,
especialmente, com diversos marcos, como: a instalação da Base Aérea de Parnamirim e da
Base Naval de Natal, a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE) e o Banco Nacional de Habitação (BNH). Merece destaque o período entre 1940 e
1950 quando ocorreu a duplicação da população (SANTOS, E., 2016, p. 41-43).
74
4.1. Evolução urbana e caracterização sóciodemográfica
Natal é a capital do estado do Rio Grande do Norte e está localizada no litoral leste do
estado. Possui uma área de 168,53 km2, sua população é de, aproximadamente, 869.954
habitantes, a densidade demográfica é de 5.201 hab/km2 e a taxa de crescimento no período
entre 2010 e 2015 foi de 1,60% (NATAL, 2015, p. 65-69). Seu PIB foi de R$ 19.992.607.000
em 2013 o que equivale a 16a posição em relação às capitais e 36a posição em relação aos
outros municípios brasileiros (IBGE, 2015, p. 30). O Índice de Desenvolvimento Humano de
Natal era 0,664 em 2000 e, em 2010, passou para 0,763, considerado alto. O indicador que
mais contribuiu para esse aumento foi o de Educação. A cidade com esse índice ocupa a 320a
posição entre os municípios brasileiros segundo o Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM7). A esperança de vida ao nascer, ou a dimensão Longevidade que compõe
o IDHM, cresceu 5 anos entre 2000 e 2010, foi de 70,1 anos para 75,1 anos. A mortalidade
infantil decresceu nesse período de 32 óbitos por mil nascidos vivos para 14,4. Outro
indicador que decresceu foi o índice de Gini8 que, em 2000, era de 0,63 e, em 2010, passou a
0,60 (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL9).
A cidade de Natal teve origem com a construção da Fortaleza dos Reis Magos que teve
início em 6 de janeiro de 1598. Uma construção militar com o objetivo de proteger a foz do
Rio Potengi dos diversos invasores que tentaram conquistar o território e, também, marcar a
posse da região por parte das coroas ibéricas que, à época, estavam unidas. No ano seguinte,
em 25 de dezembro, é fundada, oficialmente, a cidade. Essa edificação e posterior ocupação
foram resultado de uma determinação do rei Felipe II, que regia Portugal e Espanha, para que
ocorresse a efetiva ocupação da capitania do Rio Grande do Norte. Isso se deu em decorrência
das diversas tentativas de invasão perpetradas pela França e a invasão realizada pela Holanda.
7O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é uma medida composta de indicadores de três
dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais
próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. Fonte: PNUD.
8 É um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença
entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam
de zero a cem). O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um
(ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza. Fonte: PNUD.
9 O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil engloba o Atlas do Desenvolvimento Humano nos Municípios
e o Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas. O Atlas é, uma plataforma de consulta ao
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 5.565 municípios brasileiros, 27 Unidades da
Federação (UF), 20 Regiões Metropolitanas (RM) e suas respectivas Unidades de Desenvolvimento Humano
(UDH). O Atlas traz, além do IDHM, mais de 200 indicadores de demografia, educação, renda, trabalho,
habitação e vulnerabilidade, com dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. É elaborado
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – IPEA e pela Fundação João Pinheiro – FJP do governo do estado de Minas Gerais. Fonte: PNUD.
75
Através da repartição de terras para os colonos oriundos da península ibérica é que se dá, de
fato, a ocupação por meio do estatuto das sesmarias. Natal se desenvolve, inicialmente, às
margens do rio Potengi, particularmente na área onde hoje é o porto e também no chamado, à
época, e, até hoje, Passo da Pátria. A Cidade Alta e a Ribeira são os primeiros bairros da
cidade (TEIXEIRA, 2015, p. 2-3).
Um efetivo e significante crescimento populacional e urbano em Natal só veio a
ocorrer no final do século XIX e início do século XX, quando surgiram vários elementos
dinamizadores da economia e, em consequência a atração de migrantes para a cidade,
imprimindo uma maior intensidade ao processo de crescimento. Alguns desses elementos
foram: a Junta Comercial de Natal, responsável por fomentar o crescimento do comércio, as
primeiras indústrias, diversos estabelecimentos de ensino, além de vários órgãos públicos
federais civis e militares. Os serviços de iluminação pública e água encanada surgem,respectivamente, em 1859 e 1882. Esse crescimento também se deu pelo fato de Natal ter se
tornado o principal entreposto comercial e a capital da capitania. Outro aspecto a ser
considerado é o intenso processo migratório, resultante dos seguidos períodos de seca na
região semiárida. Assim, Natal se torna, como é intrínseco às cidades, especialmente, as
capitais, um lugar de acolhimento dos sonhos de adequada sobrevivência e de vida mais digna
para os que deixam seu lugar rural (ARAÚJO, 2014 p. 46; SANTOS, E., 2016, p. 42).
Ainda no início do século XX, os governos provinciais passam a ter mais autonomia
política e financeira com o fim do Império e a implantação da República. Com isso, a cidade
começa a ser pensada e planejada. A administração local, à época, então cria o novo bairro
denominado Cidade Nova, cuja configuração é baseada em modelos racionalmente
planejados. Entretanto, como é próprio das elites que detinham o poder, o novo bairro foi
construído com base em desocupações, na verdade expulsões, de moradores de menor poder
aquisitivo. Esses moradores que habitavam barracos, casebres ou cabanas deslocando-os para
locais sem nenhuma infraestrutura concorreram para que houvesse uma incipiente favelização
em áreas como a Praia do Meio e o Passo da Pátria, sinalizando, assim, uma deliberada ação
oficial de segregar social e espacialmente essa população menos favorecida. Ao mesmo
tempo, a ação tinha um caráter higienista. A pretensão era oferecer à elite natalense uma área
afastada do bairro central que já estava tomado por moradias sem adequadas condições
sanitárias. Ademais, não havia interesse em organizar o espaço urbano; na verdade, o objetivo
76
era meramente estético. O projeto do novo bairro ficou conhecido como Plano Polidrelli ou
Master Plan Polidrelli por haver sido idealizado pelo agrimensor italiano Antônio Polidrelli.
Essa intervenção tornou-se referência para outras seguintes e estabeleceu o padrão de largas
avenidas na cidade (NATAL, 2007, p. 18-21).
Após essas ações, novas intervenções de vulto só foram realizadas na década de 1920.
Daí, emerge uma preocupação com as condições sanitárias da cidade, a preocupação com
ações que prevenissem as doenças, decorrentes da falta de água tratada e do adequado
descarte dos esgotos. Com isso, surgem medidas sanitárias de caráter preventivo. Ainda nesse
período, surge o Plano Geral de Sistematização de Natal, elaborado pelo arquiteto italiano
Giácomo Palumbo. O plano teve como objetivo preparar a cidade para uma população de
100.000 habitantes e, naquele final de década, tinha, apenas, 35.000. A ideia fundamental do
plano era a inserção da cidade na modernidade com base na técnica e estética urbanísticas da
época. Destaque-se o fato de que era um plano claramente de estado. O gestor, à época, e
idealizador das mudanças pensou em um conjunto de intervenções que pudessem ser
executadas não apenas no período de sua gestão, mas também ao longo dos anos e
envolvendo outros administradores que viessem. Ou seja, uma incipiente configuração de um
real planejamento urbano, com a sugestão, inclusive, de criar uma comissão exclusiva para a
implementação do plano (FERREIRA; DANTAS, 2012, p. 5-8).
 A terceira intervenção de grande monta ocorreu sob o regime ditatorial militar. Em
1968, na administração do prefeito Agnelo Alves é desenvolvido e tem início a
implementação do Plano Urbanístico e de Desenvolvimento de Natal. Considerado, por
estudiosos do urbanismo, tais como Pedro Lima e João Maurício, o primeiro Plano Diretor de
Natal, haja vista haver sido elaborado com base em levantamentos de dados e pesquisas de
campo. Apesar de não ter a participação popular, foi, de fato, tido como inovador para o
urbanismo da cidade. Esse plano foi responsável por formar um corpo técnico preparado para
as ações de planejamento urbano da municipalidade (NATAL, 2007, p. 31-34).
Em 1974, surge o primeiro Plano Diretor da cidade, sendo seguido por diversos outros
até hoje. Foi elaborado por uma equipe própria da prefeitura. Apresentou poucas inovações
em relação ao ordenamento urbano e do ponto de vista estrutural. O plano seguinte foi
implementado, em 1984, regulamentava a ocupação do solo, incluindo o zoneamento da
região administrativa norte. O Plano Diretor de 1994 apresenta uma característica inovadora
77
haja vista contar com a participação popular em sua elaboração. Tinha preocupação com as
questões da sustentabilidade, social e com a qualidade de vida da população. Em 2007, ocorre
uma revisão desse plano ficando contemplados, de forma mais aprofundada, a regularização
fundiária e a questão ambiental; além disso, o macrozoneamento, gabarito das edificações e
as zonas de proteção ambiental são mais bem explicitados e detalhados (TAQUARY;
FAGUNDES, 2010, p. 3-5).
A Segunda Guerra Mundial imprimiu a Natal um intenso dinamismo econômico,
social e urbano. Devido a sua posição geográfica estratégica, a cidade, mais precisamente, o
distrito de Parnamirim recebeu a construção de uma Base Aérea norte-americana que foi
responsável por atrair um grande número de militares. Ao mesmo tempo ocorreu uma
intensificação da migração de outras cidades, especialmente das regiões semiáridas, para a
capital e também para Parnamirim, provocada pela possibilidade de ter renda devido ao,
então, grande volume de dinheiro circulante. Em consequência, ocorre um crescimento
populacional vertiginoso no período compreendido entre as décadas de 1940 e 1950 10, indo de
54.836 habitantes para 103.215. No início desse período, a área da cidade compreendia os
bairros da Ribeira, Cidade Alta, Rocas, Petrópolis e Alecrim, aproximadamente 90 km2. Como
resultado dessa intensa procura, já não havia espaço suficiente para abrigar todos os que
acorriam para a capital. Em decorrência, tem início a ocupação das áreas periféricas da cidade
que se tornam grandes loteamentos. Todos eles sem nenhuma infraestrutura, seja por
conveniente inércia ou por falta de qualificação do poder público. (FERREIRA;
MEDEIROS; QUEIROZ, 1992, p. 180-181; OLIVEIRA; PONTUAL, 2005, p. 1).
O processo de urbanização de Natal teve continuidade seguindo, inicialmente, o eixo
sul da cidade. Isso se deu em virtude, principalmente, da pretérita dinâmica econômica,
promovida pela presença da Base Aérea de Parnamirim, que foi responsável por fazer essa
ligação. Em um segundo momento, essa urbanização segue para as demais regiões
administrativas sobressaindo a região Norte. Importante destacar que o processo de expansão
urbana foi eminentemente horizontal, resultando em elevados custos de infraestrutura, como
também assentou-se, fundamentalmente, na ideia de ocupação de áreas periféricas, distantes
do centro da cidade. Como é próprio da produção capitalista da cidade, essa expansão urbana
promoveu, concomitantemente, em larga medida, um processo de segregação sócioespacial.
10 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940, 1950. Disponível em:
<http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=6&uf=00>.
78
Dessa forma, os conjuntos habitacionais, construídos com o financiamento do BNH (Banco
Nacional de Habitação), se caracterizaram, especialmente e de forma explícita, por distribuir,
espacialmente, os mais pobres em áreas com menor infraestrutura e mais distantes, e os com
maior renda de modo contrário (MEDEIROS, 2015, p. 108). O Mapa 1, abaixo, apresenta a
atual distribuição da população na cidade por bairros, sobressaindo os bairros com maior
densidade demográfica nas regiões: Norte com os bairros de Igapó, N. S. Da Apresentação,
Pajuçara, Potengi e Lagoa Azul; Leste com os bairros de Mãe Luíza, Areia Preta, Rocas e
Praia do Meio; Oeste os bairros de Dix-sept Rosado, Quintas, N. S.Nazaré, Cidade da
Esperança e Felipe Camarão; já a região Sul, de maneira geral, não apresenta destaque quanto
à densidade demográfica. 
79
Mapa 1 – Densidade Demográfica de Natal, por Bairro, 2014.
Fonte: SEMURB, 2015.
80
4.2. A criminalidade na cidade
Como não poderia ser diferente, a cidade de Natal está inserida nesse contexto da
criminalidade urbana patogênica. À guisa de contextualização, observado-se os dados
referentes a homicídios em Natal, no período de 2005 a 2014, a quantidade de homicídios
passou de 144 para 557. Isso representou um crescimento no número de homicídios da ordem
de 386,8%, ou seja, um aumento totalmente díspar quando comparado aos números do Brasil.
O país, nesse mesmo período, foi de 47.578 para 59.681 homicídios, o que representa um
incremento de 25,4%11. De maneira geral, há que se destacar o fato de que, entre o início dos
anos 2000 e o início dos anos 2010, as taxas de homicídio apresentaram uma inversão na
relação entre as regiões Sudeste e Nordeste. O gráfico 1 aponta esse salto nos números de
homicídios ocorridos na região Nordeste. Isso, por si só, já denota um deslocamento da
criminalidade de caráter regional (RIO GRANDE DO NORTE, 2015, p. 6-7).
Gráfico 1 – Taxas de homicídio, por Regiões do Brasil (2010-2012)
Fonte: Diagnóstico da Situação da Segurança Pública no Rio Grande do Norte, 2015.
11 Os dados referentes a homicídios foram retirados do Departamento de Informática do Sistema Único de
Saúde (DATASUS) no site http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/ext10br.def. Os dados do
Datasus/MS, tratam das agressões que resultaram em morte, conforme a Classificação Internacional das
Doenças número 10 (CID- 10), que desde 1996 vigora no âmbito das informações sobre mortalidade por‐
causas externas no âmbito da Saúde Pública e que eram anteriormente chamadas de homicídios até a CID- 9.‐
Entretanto para melhor compreensão será utilizado nesse trabalho o vocábulo homicídio.
81
Nesse período de 2000 a 2012, tendo como referência exclusivamente a região
Nordeste, todos os estados, exceto Pernambuco, apresentaram uma linha ascendente nas
ocorrências de homicídio. O Gráfico 2, abaixo, corrobora essas informações. 
Gráfico 2 – Taxas de homicídio, região Nordeste do Brasil (2000-2012)
Fonte: Diagnóstico da Situação da Segurança Pública no Rio Grande do Norte, 2015.
Gráfico 3 – Taxas de Homicídio, comparando Brasil, região Nordeste, Rio Grande do Norte,
Região Metropolitana de Natal, e Natal (1996 – 2013).
82
Fonte: Diagnóstico da Situação da Segurança Pública no Rio Grande do Norte, 2015.
Confrontando os números de homicídios, no período de 1996 a 2013, no Gráfico 3
acima, entre o Brasil, a região Nordeste, o Estado do Rio Grande do Norte, a Região
Metropolitana de Natal (RMN) e Natal, é possível observar que os índices do país e do
Nordeste eram maiores que os índices do Estado, da Região Metropolitana e da Capital.
Entretanto, o Brasil, em certa medida, permanece estável e o Nordeste apresenta um
crescimento lento, gradual e contínuo ao longo desse período. Enquanto o Estado, a RMN e a
capital apresentavam os mesmos índices e uma certa estabilidade com pequenas oscilações,
contudo em meados do período considerado tem início uma repentina tendência de
crescimento que se acentua ao longo do tempo. Essa tendência se confirma a ponto de ocorrer
o descolamento dos índices nacional e regional. Outrossim, a RMN e Natal apresentam uma
tendência ainda mais forte de crescimento chegando ao número de 62,30 óbitos por 100.000
habitantes, o que dá, aproximadamente, 6 vezes mais do que recomenda a OMS (Organização
Mundial de Saúde) que é 10 óbitos por 100.00012. As taxas de homicídios, apresentadas na
Tabela 1, contribuem para uma maior clareza na compreensão do estado em que se encontram
os homicídios no Rio Grande do Norte, na RMN e, particularmente, em Natal em relação ao
Brasil e à região Nordeste, mostrando o exacerbado incremento ocorrido naqueles (RIO
GRANDE DO NORTE, 2015, p. 7-8).
Tabela 1 – Taxas de homicídio, comparando Brasil, Região Nordeste, Rio Grande do Norte,
Região Metropolitana de Natal e Natal
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
RN 9,4 9,1 8,5 8,4 9,3 11,4 10,5 14 11,6
Natal 14,8 14,5 14,4 7,8 6,7 12 13,1 18,5 12,3
RMN 13,4 13,4 12,8 8,1 9,1 13,2 11,5 15,5 12,7
Nordeste 18,2 19,3 18,5 17,6 19,4 21,9 22,5 24 23
Brasil 24,8 25,4 25,9 26,2 26,8 27,9 28,5 29,1 26,9
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
RN 13,5 14,9 19,1 23 25,5 25,6 33 34,79 42,86
Natal 17,2 18,9 25,7 31,8 36 36,5 45,5 50,03 56,8
RMN 15,6 17,2 23 29,8 33,2 31,5 41,6 47,71 59,36
Nordeste 25,6 28 29,6 32,2 33,5 35,7 36,4 38,02 39,46
Brasil 26,1 26,6 25,5 26,7 27,2 27,8 27,4 29,05 29,26
12 A informação referente à taxa de homicídios recomendada pela OMS foi obtida no Observatório de
Segurança Pública da UNESP, através do site http://www.observatoriodeseguranca.org/node/3960.
83
Fonte: Diagnóstico da Situação da Segurança Pública no Rio Grande do Norte, 2015.
Ainda em relação aos homicídios, o Gráfico 4 apresenta a disparidade entre as taxas de
homicídios entre homens e mulheres na RMN. Há uma evidente responsabilidade dos homens
no incremento desses números (ANDRADE; SOUZA; FREIRE, 2013, p. 80).
Gráfico 4 – Taxas de homicídios por 100.000 habitantes, na Região Metropolitana de Natal,
comparando número de homicídios entre homens e mulheres
Fonte: Homicídios nas Regiões Metropolitanas de Natal, Observatório das Metrópoles, 2013.
É interessante observar que há uma expressiva tendência de crescimento das taxas de
homicídios masculinas que se coadunam com as taxas globais referentes à RMN e à Natal.
Nessa conformidade, é possível inferir que o principal elemento, responsável pelo
crescimento global dos homicídios nessas regiões, são aqueles que envolvem o gênero
masculino. Com isso, a probabilidade de morte masculina por homicídio, em 1998, era de
14,86 vezes maior que a de uma mulher ser vítima de homicídio. A Tabela 1 mostra essa
relação ao longo do período compreendido entre os anos de 1998 e 2007. Diversos fatores
contribuem para esse fenômeno, mormente, o envolvimento maior de homens com o tráfico
de drogas; no entanto há fatores contribuintes que são de menor importância como a
necessidade de autoafirmação masculina e a facilidade do acesso a armas de fogo. Esse
fenômeno vem impactando, diretamente, os números da População Economicamente Ativa.
84
Os homens jovens são as principais vítimas de homicídios, concentrando-se na faixa etária de
15 a 29 anos na RMN (ANDRADE; SOUZA; FREIRE, 2013, p. 81-83).
Há, no país, um acelerado processo de mortes de jovens, ocasionando não apenas a
vitimização direta, mas também redundando em uma série de vítimas indiretas dessas mortes.
A melhoria nos índices de nascidos vivos e na diminuição das mortes de jovens foi elemento
que contribuiu para dinamizar o desenvolvimento econômico dos países que promoveram
essas mudanças (SOARES, 2003, p. 22),
Tabela 2 - Índice de vitimização masculina por homicídio e razão entre os riscos de
mortalidade por homicídio masculina e feminina na Região Metropolitana de Natal – 1998-
2007
Fonte: Homicídios nas Regiões Metropolitanas de Natal, Observatório das Metrópoles, 2013. 
Em relação aos latrocínios, a Tabela 2 aponta para um gradual crescimento, não
obstante a falta de informações relativa ao ano de 2011, baseado nos anos de 2012 com uma
taxa de 0,28, de 2013 com uma taxa de 0,3 e de 2014 com uma taxa de 0,6. O período que
compreende o ano de 2013 ao ano de 2014 apresentou um aumento da ordem de 100% no
número de latrocínios. Isso associado aos índices de homicídios demonstra essa tendência de
aumento da criminalidade na RMN e em Natal em alguns aspectos, apesar das taxas
relativamente estáveis emnível nacional.
Tabela 3 - Número de registros de ocorrências de roubos seguidos de morte (latrocínios) e
taxa por 100 mil habitantes referente aos anos de 2011 a 2014, no Rio grande do Norte e no
Brasil.
2011 2012 2013 2014
85
Registro de
Ocorrência
Taxa por
100 mil
habitantes
Registro de
Ocorrência
Taxa por
100 mil
habitantes
Registro de
Ocorrência
Taxa por
100 mil
habitantes
Registro de
Ocorrência
Taxa por
100 mil
habitantes
NI NI 9 0,28 11 0,3 20 0,6
1454 0,72 1725 0,85 1806 0,89 1762 0,87
Fonte: Portal SINESP, SENASP, Ministério da Justiça, 2016.
De maneira geral, os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI13), segundo a
Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Norte (RIO GRANDE DO
NORTE, 2015, p. 7) apresentaram um decréscimo de 14,7% em 2015 na comparação com
2014. 
Gráfico 5 – Quantidade de Crimes Violentos Letais Intencionais em 2015, comparado com
2014 por Região Administrativa de Natal e sua variação.
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Relatório Anual de CVLI - 2015
É interessante destacar que o tipo de crime com mais volume de ocorrências, no
Gráfico 6, apresenta os números absolutos dos CVLI por tipo de ação criminosa, mostrando a
acentuada discrepância entre a quantidade de homicídios e os demais crimes, apesar do
decréscimo de 10% no período aferido. Em relação à composição dos CVLI's, a taxa de
homicídio representou 84,9%, enquanto os outros crimes representaram juntos 14,1%.
Distribuídos por lesão corporal seguida de morte com 4,2%, latrocínio 3,5%, as ações típicas
13 A categoria “Crimes Violentos Letais Intencionais” abrange os crimes de: Homicídio doloso, Roubo seguido
de morte ou Latrocínio, Lesões seguidas de morte e Mortes a esclarecer (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006,
p. 12).
86
de Estado 3,9%, os feminicídios 3,3% e os demais 0,2%. Em 2015, mais uma vez, a
componente de maior expressão, no conjunto dos Crimes Violentos Letais Intencionais, é o
homicídio com 81,5%; os demais representaram: a lesão corporal seguida de morte 8,1%;
latrocínio 3,5%; a ação típica de Estado 4,6%; o feminicídio 2,2%; e as outras causas 0,06%.
Os dados apontam para uma redução nos homicídios em 10,0%, um extremo crescimento em
termos percentuais nas lesões corporais seguidas de morte, nos latrocínios uma redução de
6,5%, as ações típicas de Estado tiveram um crescimento de 10,1%, os feminicídios um
decréscimo bastante significativo da ordem de 36,2% e as outras causas, uma expressiva
redução de 75,0% .
Gráfico 6 – Crimes violentos letais intencionais por tipo de ação criminosa em comparação
com o ano de 2014.
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Relatório Anual de CVLI – 2015
A criminalidade no Rio Grande do Norte e, mais especificamente em Natal, tem se
intensificado, motivada pela ausência de investimentos em outras macroestruturas, da
adequada gestão dos recursos investidos no setor de segurança pública ao longo dos últimos
25 anos. De fato, houve investimentos, no entanto isso não se refletiu em melhoria nos índices
de criminalidade. Outrossim, todo o aparato de segurança pública, isto é, as polícias civil e
militar e a estrutura organizacional da secretaria de segurança não se modernizaram em
termos gerenciais e estruturais. O levantamento de dados, bem como seu tratamento são
87
arcaicos, consequentemente impedindo os adequados diagnósticos, elaboração e
implementação de ações públicas. Dessa forma, ocorreu uma complexificação da dinâmica do
crime, particularmente no âmbito do tráfico de drogas e dos roubos a bancos, entretanto o
Estado, de maneira geral, se manteve inerte. Some-se a isso o fato de que há um déficit no
número de policiais e suas remunerações estão aquém da realidade nordestina (RIO
GRANDE DO NORTE, 2015, p.126-127). 
Um outro aspecto a ser considerado é o modelo de duas polícias: uma
preventiva/ostensiva; a outra repressiva/judiciária. Com isso, as ações de persecução criminal
sofrem solução de continuidade, tendo em vista não haver ligação entre ambas instituições.
São organismos estanques com formações diferenciadas e que desempenham papéis bastante
delimitados legalmente. Além disso, há uma questão de “ego” que envolve principalmente a
cúpula das duas instituições, que não fazem nenhum esforço para romper esses obstáculos
por receio de perderem poder. Como resultado disso tem-se uma solução incompleta ou
claudicante que não atende ás necessidades da população baseada especialmente em ações
reativas que não atingem os objetivos desejados (HERMES, 2013, p. 20).
Em termos gerenciais, urge destacar que o estado não possuía, até 2014, um Plano de
Segurança Pública, instrumento necessário para acesso aos recursos federais do Fundo
Nacional de Segurança Pública. Outros instrumentos preconizados pela União para a
adequada gestão das políticas de Segurança Pública são: o Plano de redução/prevenção de
homicídios, a Lei de Diretrizes/Plano Diretor de Segurança Pública e o Fundo Estadual de
Segurança Pública, no entanto o Estado do Rio Grande do Norte não possuía nenhum deles
até 2014 (IBGE, 2014, p. 75). É importante, também considerar os efetivos policiais atuais.
Tanto a Polícia Militar, a Polícia Civil, como também a Guarda Municipal, segundo seus
representantes nas entrevistas realizadas, apresentam déficits de servidores. A Polícia Militar
do Rio Grande do Norte dispõe, atualmente, de 8.926 policiais o que equivale a 1 policial para
cada 378 habitantes. A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda, como ideal, a
relação de 1 policial para cada 450 habitantes, o que colocaria o Rio Grande do Norte em uma
posição satisfatória nesse aspecto (MARTINS, 2015). Vale ressaltar que, desses policiais,
aproximadamente, 500 se encontram em desvio de função em outros poderes. Isso aumentaria
um pouco a relação, sem contudo afetar em demasia a posição do Estado. Por seu turno, a
Polícia Civil dispõe de 1.929 servidores entre agentes, escrivães e delegados. Entretanto para
88
a Polícia Civil a quantidade de servidores mínima ideal seria de 5.000 servidores. De fato, a
Polícia Civil é a instituição com maior dificuldade em termos de efetivo, pois, além dos
serviços intrínsecos a ela, há ainda o problema da vultosa quantidade de presos nas
delegacias. Quanto à Guarda Municipal de Natal, segundo seu Comandante, essa possui 460
servidores, o ideal, de acordo com a legislação municipal, seriam 680 e, com a promulgação
da Lei 13.022/2014 que dispõe sobre o Estatuto Geral das Guardas Municipais, o efetivo ideal
seria 1.700 servidores. 
A Tabela 4 apresenta as quantidades de Policiais Militares e Civis, por sexo, nas Unidades da
Federação e seus índices de policiais por habitantes (ANUÁRIO BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA 2015, p. 94; IBGE, 2015, p. 80; RIO GRANDE DO NORTE, 2015,
p. 85).
89
Tabela 4 – Efetivos da Polícia Militar e da Polícia Civil, por sexo, segundo as Grandes
Regiões e as Unidades da Federação – Brasil – 2014
 
Fonte: Perfil dos Estados e dos Municípios Brasileiros 2014, IBGE, 201514.
Todos esses elementos têm contribuído de forma decisiva, para o aumento da
criminalidade em Natal, de modo especial em relação aos homicídios que cresceram
exacerbadamente. Como tem ocorrido em outras cidades, a má gestão dos poderes públicos
14 Informação retirada da Publicação: “Perfil dos Estados e dos Municípios Brasileiros 2014”. Publicado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em 2015. Disponível em:
<http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94541.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2017.
90
estadual e municipal em relação às suas competências constitucionais têm fomentado a
criminalidade violenta na cidade, mormente, no caso da Prefeitura deNatal, que não tem
percebido a importância do cuidado com os espaços públicos para a promoção de uma
sensação de segurança. Tem sido recorrente a falta de manutenção com os equipamentos
públicos, tais como: praças, ajardinamentos, ruas. As recém-implantadas academias da
terceira idade estão, em alguns casos, mal manutendidas e suas áreas ocupadas por usuários
de drogas, e isso tem afastado a população desses locais. Esse fator tem sido um dos
principais causadores do não uso, por exemplo, dos calçadões para caminhadas, visto que
causam medo nos usuários. O Estado, por sua vez, tem sido impotente para elaborar planos de
segurança compatíveis não só com as orientações da SENASP mas também com os
conhecimentos científicos internacionalmente utilizados nessa área. Com isso, entende-se,
como fundamental, a compreensão dos poderes públicos municipais, visando atuar com base
em procedimentos científicos para o atingimento dos objetivos almejados pela população.
91
5. DOIS OLHARES SOBRE A SEGURANÇA PÚBLICA
O presente capítulo tem a finalidade de problematizar e analisar15 as respostas emitidas
pelos entrevistados às perguntas que lhes foram formuladas. A partir dessa tarefa, objetiva-se,
então, buscar percepções e compreensões dos entrevistados a respeito da temática tratada pela
presente investigação. Com base na escuta e observação detalhadas das falas, serão buscadas
as suas semelhanças e dessemelhanças para, em seguida, fazer as inferências que
corroborarão, ou não os pressupostos anteriormente apresentados, tendo, como lastro, todo o
aparato conceitual, bem como os dados e informações expostos ao longo do trabalho e
cotejando-os com as falas das entrevistas. Assim, pretende-se alcançar a confirmação ou a
infirmação das teses levantadas e dos pressupostos discutidos nessa investigação (ALVES;
SILVA, 1992, p. 61-62).
É importante destacar que foram entrevistados dois grupos de pessoas que, de certo
modo, estão em campos opostos na questão da segurança pública. Assim, primeiro se
entrevistou um grupo de representantes de entidades da sociedade civil, ou seja, contribuintes
e, em consequência, o objeto finalístico dos serviços públicos nessa área. De maneira geral,
tem cada vez mais se empoderado do seu papel e exigido uma prestação de serviço,
sobretudo, em segurança pública, com melhor qualidade. O segundo grupo é formado por
representantes do Estado responsáveis pela prestação dos serviços de segurança pública.
Quase todos com larga experiência nas áreas operacionais e de gestão, portanto conhecedores
de suas atribuições e dos trâmites burocráticos, próprios do setor público. Trata-se de
servidores públicos que têm como mister primordial o atendimento às demandas da sociedade
na área em que labutam. Como algo intrínseco a qualquer prestador de serviço, esse deve
buscar, continuamente, aprimorar-se para a adequada prestação desse serviço. No entanto, as
falas do primeiro grupo apontam para uma prestação de serviço deficitária. O capítulo foi
dividido em três subcapítulos; o primeiro apresenta o perfil dos entrevistados. No segundo, é
feita a análise das falas dos entrevistados do primeiro grupo em todas as perguntas. E, no
terceiro, o mesmo procedimento com o segundo grupo de entrevistados.
15 Análise de conteúdo: conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas
de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande
disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações (BARDIN, 1977,
p. 31).
92
5.1. O perfil dos entrevistados
No grupo, que é composto por representantes de entidades da sociedade civil, optou-se
por entrevistar as seguintes pessoas:
 Anizio Lúcio Barbosa Neto. Presidente da Associação de
Moradores do Conjunto Habitacional Cidade Satélite -
AMOCISA. A entidade representa os moradores do bairro
Cidade Satélite. 
 Antônio Augusto Medeiros de Carvalho Vaz. Presidente da
Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal. A entidade representa
uma parcela dos comerciantes de Natal. Tem, como missão,
desenvolver o setor.
 Antônio Júnior da Silva. Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Rio Grande do
Norte. A entidade representa todos as categorias de
trabalhadores do setor.
 Max Fonseca é Presidente da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes. A entidade congrega empresas do segmento de
alimentação fora do lar. Tem como missão representar e
desenvolver o setor de alimentação fora do lar.
No segundo grupo, composto por gestores públicos da área de Segurança Pública,
optou-se por entrevistar as seguintes pessoas:
 Daniel Henrique Bandeira do Nascimento é Secretário
Municipal de Segurança Pública e Defesa Social. É advogado
militante e não é oriundo do sistema de segurança pública.
 Caio César Marques Bezerra é Secretário Estadual da
Segurança Pública e da Defesa Social. É Delegado da Polícia
Federal há 13 anos, atuando no combate aos crimes
previdenciários, fazendários e ao crime organizado.
 Michel Dantas é Comandante da Guarda Municipal de Natal. É
Guarda Municipal de Natal há 8 anos. Desempenhou suas
funções sempre nas atividades operacionais.
 José Francisco Correia Júnior é Delegado-Geral Adjunto da
Polícia Civil do Rio Grande do Norte. É Delegado da Polícia
Civil do RN há 20 anos. Exerceu diversos cargos tanto de
natureza operacional quanto administrativa.
93
5.2. A percepção dos representantes de entidades da sociedade civil
Quanto às impressões dos entrevistados sobre o modo como a criminalidade é
percebida em Natal, é possível perceber, logo no início das falas, o tom de desalento, ou
desencanto com uma cidade que era considerada, até há bem pouco tempo, como, senão a
mais, uma das mais seguras do Brasil. E, agora tem tanta violência quanto qualquer outra
grande cidade ainda que não esteja no patamar de grande cidade. São feitas referências às
cidades do Sul e do Sudeste do Brasil que apresentavam tamanha violência já nos anos 1980 e
1990, como também à cidade de Recife que, nessa mesma época, já apresentava elevados
índices de criminalidade; Natal era tida como um “porto seguro” um “lugar tranquilo”
(Augusto Vaz). Essa visão de local de proteção e segurança se coaduna com o que Lynch
destaca ao dizer que a cidade “é uma expressão gloriosa do orgulho, do conforto e do temor
humanos” (LYNCH , 2007, p. 15). Natal, naquele tempo e até o início da década de 2000,
tinha ares de cidade do interior (Michel Dantas). Daí, provocar a migração de alguns dos
entrevistados ou de seus pais, com a finalidade de se livrar da violência substanciosa que
havia onde moravam para virem morar em um lugar tranquilo. Termos como: guerra, caos,
crise, delírio, pânico, desespero, terror, medo, morte, entre outros, foram utilizadas pelos
entrevistados ao falarem do nível de criminalidade em Natal. A sensação descrita, em alguns
casos, é de terror e total abandono. Com isso, ocorre, então, uma desconstrução daquele
modelo onírico primordial de cidade, redundando, paradoxalmente, em diversos problemas,
entre os quais, a criminalidade (TUAN, 2005, p. 233). E em consequência, nesse hiato, tem
início a construção social de um medo do lugar. Ao comentar sobre a questão, o Presidente do
SINTRO disse que
na prática o que ocorre hoje o bandido vai no terminal de ônibus faz o
arrastão e pra provar que é bandido, que é macho, dá umas coronhadas
na cabeça dos companheiros arrasta pelos pés e bota lá pra fora e diz
que vai matar e todo mundo fica dentro daquele...ou carrega um...dá
porrada na cabeça, às vezes dá tiro e a gente pensa que o colega foi
embora, por sorte não foi (Antônio Júnior da Silva, Presidentedo
SINTRO)
Nos bairros, diversas ações criminosas têm acontecido, como, por exemplo,
arrombamentos e/ou invasões de casas, especialmente quando as pessoas chegam ou saem. Os
criminosos aproveitam a distração das pessoas nesse momento, abordando-as e cometendo os
delitos. Tem sido uma prática recorrente o assalto às pessoas que estão aguardando o ônibus
nas paradas. Recentemente, ocorreu um latrocínio, quando um morador saía de seu
94
condomínio e foi abordado por criminosos que queriam tomar-lhe seu veículo e, devido a sua
demora em sair, os criminosos efetuaram disparos contra esse senhor, que foi a óbito ainda no
local. Os moradores têm se sentido acuados e conforme disse o Presidente da AMOCISA “os
comerciantes estão trabalhando atrás das grades”. Segundo ele, “o nosso bairro tem sofrido
muito” e “os moradores clamam por segurança pública”. É interessante observar a maneira
como são expostas as palavras do senhor Anizio; em sua fala, há uma clara indicação de um
estado de ânimo, de uma sensação de prostração e de impotência diante dos crimes ocorridos
no bairro os quais ele toma conhecimento (Anízio L. B. Neto). 
Descreve-se, como percebido claramente, um aumento gradual da criminalidade.
Segundo o Presidente da CDL, “isso foi aumentando ano após ano”. A impressão é de que o
crime está cada vez mais perto deles. Ainda que alguns não tenham sido vítimas diretas, mas
há casos de pessoas muito próximas que foram vítimas. Fica patente o fato da vitimização
indireta daqueles que ainda não foram alvo de ações criminosas. No entanto, sentem-se como
se vítimas fossem, ou, pelo menos, têm a sensação de que, a qualquer momento, serão
atacados (Augusto Vaz). Não há dúvidas de que, dentro em pouco tempo, serão as próximas
vítimas (SOARES; MIRANDA; BORGES, 2006, p. 52-57).
No caso dos comércios de rua, são corriqueiros os casos de arrombamentos, assaltos
aos caixas das lojas e até homicídios, em estabelecimentos os mais diversos, tais como:
mercadinhos, padarias, açougues, farmácias, postos de gasolina, entre outros. Assim, percebe-
se como um fenômeno que teve um aumento exacerbado (Augusto Vaz). Tem-se como
resultado a construção do medo da cidade. A qualidade de vida é diretamente afetada. Esse
ambiente passa a ser visto como hostil aos que o ocupam (FERNANDES; RÊGO, 2011, p.
169). Está patentemente caracterizada a insegurança moderna fundada no medo do lugar e do
outro e esses como ameaças reais ou virtuais à vida das pessoas (BAUMAN, 2009, p. 2).
O Presidente da ABRASEL senhor Max Fonseca, ao ser questionado, direcionou sua
resposta para a questão econômica que é afetada diretamente pela criminalidade. Apesar de
reconhecer que, de fato, houve um aumento exacerbado na criminalidade nos últimos anos,
sua preocupação está na influência do fenômeno sobre as finanças dos bares e restaurantes. Os
custos de manutenção dos seus representados aumentaram e, ao mesmo tempo, devido à
diminuição da frequência aos estabelecimentos provocada pela criminalidade, ocorreu
também a queda nas vendas. Muitos deles investiram, pesadamente, em segurança privada,
95
visando oferecer aos clientes alguma sensação de segurança dentro dos estabelecimentos.
Entretanto, foi enfático, ao apontar os noticiários sensacionalistas, como um dos principais
responsáveis pela ausência das pessoas aos bares e restaurantes. Segundo ele, “os noticiários
potencializam“ a questão da criminalidade na cidade. Corroborando o que diz Glassner a
respeito dos noticiários ao afirmar que “entre as diversas instituições com mais culpa por criar
e sustentar o pânico, a imprensa ocupa indiscutivelmente um dos primeiros lugares” (Max
Fonseca). Toda e qualquer notícia comunicada pela imprensa é tida, por grande parte da
população, como verdadeira e inquestionável. Logo, como são produtos a serem vendidos, as
notícias recebem embalagens que provoquem nas pessoas o desejo de comprá-las, tendo em
vista que as empresas de comunicação fazem parte do mercado capitalista, são corporações
mercantis, cujos produtos são as notícias (GLASSNER, 2003, p. 31-33).
O que os entrevistados dizem a respeito da prestação de serviço de segurança pública,
oferecida pelos poderes públicos municipal e estadual, em suas competências de atuação,
deixou clara a sensação dos entrevistados de que não há efetivo policial suficiente para fazer
frente à criminalidade atual. A impressão é de que o Estado estagnou em relação à Segurança
Pública de modo que não só o efetivo é pequeno, mas também os equipamentos utilizados
pelas polícias são obsoletos em relação aos utilizados pelos criminosos. As polícias, de
maneira geral, estão fragilizadas a ponto de os criminosos terem certeza da impunidade.
Assim, conseguem cometer vários delitos em série, como que deixando um rastro de crimes e,
de certo modo, apontando o caminho que vão seguir, mas, mesmo assim, não encontram
nenhum tipo de empecilho a sua ação por parte das forças policiais. Para o Presidente da
AMOCISA “nós estamos totalmente desprovidos de segurança”. Acredita que há a
necessidade de uma total reforma nas Polícias Civil e Militar. Esse pensamento se coaduna
com uma proposta de reforma necessária nas polícias, tendo em vista que, na transição
democrática, em que ocorreram mudanças em todas as instituições públicas, aquelas
instituições ficaram esquecidas (SOARES, 2003, p. 1).
“A prestação do serviço de segurança pública é um descaso” disse o Presidente do
SINTRO. Entende-se que um dos principais problemas da Segurança Pública é a gestão
inadequada, visto que os profissionais que estão à frente do setor não têm qualificações
gerenciais, é notório que todo o serviço público passa por problemas de falta de recursos
financeiros, mas há diversos casos de sucesso quando há gestão adequada (SOARES, 2006, p.
96
94). Nesse diapasão, “é necessário colocar um comandante que tenha capacidade e pulso e
não uma indicação política” (Antônio Júnior da Silva, Presidente do SINTRO). O senhor
Anizio da AMOCISA compreende que não há sensibilidade, tampouco conhecimento sobre
segurança pública, haja vista que para ele,
os nossos governantes não sabem da importância do que se chama
segurança, eu acho que eles precisam se reciclar pra poder abrir a boca
e falar de segurança. Esse pra mim é o ponto mais estratégico aonde
todos estamos sofrendo e o nosso bairro é muito agredido, bastante
violento (Anizio L. B. Neto, Presidente da AMOCISA).
Logo, os entrevistados entendem que o problema passa pelos erros na administração
dos parcos recursos; como também nas atividades corriqueiras, uma vez que seria impossível
que as instituições que compõem o aparato de segurança pública não soubessem, por
exemplo, onde se localiza um local de venda de drogas, que é, hoje, o maior problema gerador
de insegurança (Anízio L. B. Neto). De modo geral, os delinquentes que cometem os
pequenos delitos o fazem para sustentar a drogadição (SOARES, 2003, p. 76). 
Outro aspecto apontado é a falta de manutenção nas praças e ajardinamentos, que é
responsabilidade da prefeitura. No bairro Cidade Satélite, por exemplo, há 10 (dez) praças e
01 (um) calçadão e, segundo o senhor Anizio, todas elas estão precisando de manutenção e o
calçadão está deixando de ser utilizado devido à vegetação que o invadiu. A iluminação
pública também é outro problema que diz respeito à Prefeitura e que tem deixado a desejar.
Há muitas lâmpadas queimadas o que gera ambientes propícios para a realização de crimes
(Anízio L. B. Neto). É importante destacar que essas ações de manutenção de áreas de
responsabilidade do poder público municipal fazem parte de um programa de prevenção à
insegurança ambiental conhecido e utilizado internacionalmente e que prevê, entre suas
diretrizes,a manutenção dos espaços públicos, bem como a adequada iluminação (CROWE;
ZAHM, 2014, p. 22-23). Outro motivo que tem levado as pessoas a deixar de usar as praças e
o calçadão é a presença de usuários de drogas. Em sua maioria, jovens estudantes que deixam
as escolas próximas para se encontrar com os vendedores de drogas e, ali, a utilizam (Anízio
L. B. Neto). Vale destacar que esses espaços públicos poderiam ser policiados pela Guarda
Municipal de Natal que tem, entre suas competências, a proteção aos equipamentos públicos
municipais (SOARES, 2006, p. 95).
97
Um fato que tem se tornado comum, segundo o senhor Augusto Vaz, é o menor
infrator que comete assaltos em um determinado estabelecimento, é preso, logo depois, por
ser menor, é solto e, em seguida, volta a cometer o mesmo crime às vezes no mesmo
estabelecimento. Isso dá impressão ao leigo que a legislação é extremamente permissiva e
condescendente. Todavia, para esse mesmo entrevistado, “a criminalidade também é
combatida com outros serviços públicos que deveriam ser oferecidos” (Augusto Vaz). O
presidente da ABRASEL também concorda com essa afirmação e chega a citar uma
declaração do célebre antropólogo e professor brasileiro Darcy Ribeiro que, em 1982, disse:
“se hoje não se investir em escolas em 20 anos faltará dinheiro para se investir em presídios”.
Segundo ele, havia conversado com um membro da cúpula da Polícia Militar do Rio Grande
do Norte e esse disse que “se hoje na PMRN fossem incorporados novos 10.000 policiais
mesmo assim não se resolveria o problema de segurança”. Portanto sua compreensão é que é
necessário se investir, maciçamente, em educação de qualidade para as camadas menos
favorecidas da sociedade para que o crime não seja uma alternativa para eles. Deu, como
exemplo, a prostituição para as garotas da periferia de Natal, integrantes das classes de menor
poder aquisitivo. Para muitas pessoas, era um comportamento degradante que deveria ser
combatido. Mas, por muito tempo, foi uma alternativa viável, quando, em Natal, havia uma
presença substanciosa de turistas estrangeiros. E concluiu dizendo que “é o que resta se a
sociedade se nega a oferecer oportunidades a seus pares eles vão buscar oportunidades onde
elas existem”. Destaca, ainda, que há uma pressão muito forte do mercado consumidor, que
pressiona as pessoas a consumir, tendo em vista as massivas propagandas na TV, em
Outdoors, em revistas e nas redes sociais. Assim, as pessoas que estão fora do mercado são,
de certo modo, impelidas para fazer parte dele (Max Fonseca). E muitos, por falta de
princípios, vivendo em famílias desestruturadas, acabam por escolher a opção mais próxima
(SOARES, 2006, p. 93). Nesse sentido, o problema da criminalidade é estrutural:
Então eu acho que é um problema muito profundo da sociedade, não
adianta ficar tratando de paliativo, condomínio fechado, segurança
privada, aumento de efetivo da polícia, construir mais presídios, não é
uma alternativa, a alternativa é uma reforma social. (Max Fonseca
Presidente da ABRASEL).
Nas representações dos entrevistados a respeito do nível de vitimização dos associados
às suas entidades, eles afirmaram categoricamente que seus representados já foram vítimas de
crimes em maior ou menor grau. Direta ou indiretamente há inúmeros casos de assaltos,
98
arrombamentos, invasões de residências, roubo de veículos, latrocínios, entre outros (Anízio
L. B. Neto). Segundo o Presidente do SINTRO, os motoristas, por incontáveis vezes, foram
“vítima do crime, de espancamento, de homicídios, de assaltos, tentativas de homicídios”.
Ainda segundo ele, “esses casos acabam por gerar em todos os trabalhadores a sensação de
insegurança não só nas vítimas”, mas também àqueles que não foram vítimas diretamente
acabam por sofrer emocionalmente com a sensação de que podem, a qualquer momento ser
alvo de algum criminoso (Antonio Júnior da Silva). O Presidente da ABRASEL respondeu
que “claro, como todos os outros setores da sociedade, como todo mundo.”. O Presidente da
CDL chega a citar, desolado que “o pior de tudo é quando a gente recebe uma notícia de que
um comerciante acabou sendo morto nesse processo, porque revidou ou fez alguma coisa
desse tipo”. E confirma o aumento dos casos de violência contra seus associados ao afirmar
que “é constante a notícia de problema de criminalidade no comércio de nossa cidade[...]nos
últimos anos têm chegado muitas reclamações, o assunto criminalidade faz parte das pautas
de reuniões” (Max Fonseca). 
A quantidade de reclamações ou notícias sobre ações criminosas contra os associados
das diversas entidades tem se multiplicado nos últimos anos de forma alarmante. Os
presidentes dessas entidades têm sido demandados constantemente, na qualidade de
representantes, têm sido instados a buscar junto ao poder público uma presença mais efetiva
da polícia nas ruas a fim de, se não evitar, pelo menos, minimizar as inúmeras ocorrências
criminosas das quais têm sido vítimas. No entanto, mesmo com a pressão por eles exercida,
legitimamente, sobre os gestores da segurança pública, pouco ou quase nada tem sido feito .
Os pleitos são pautas de diversas reuniões com essas e outras entidades da sociedade civil,
como também com a própria população, mas não tem havido a resposta necessária (Anízio L.
B. Neto). O senhor Anizio Presidente da AMOCISA informou que foram feitas diversas
mobilizações pela comunidade, inclusive, foi realizada 
na nossa sede mesmo aonde nós colocamos mais de 500 pessoas numa
assembleia buscando e clamando por segurança tanto é que nós
trouxemos pra aqui toda a cúpula, não conseguimos trazer o secretário
na época porque ele estava em Brasília, mas veio o adjunto, veio o
comandante geral, o sub-comandante e todos aqueles que fazem parte
do primeiro escalão e segundo escalão da Polícia Militar e da Polícia
Civil, até os Direitos Humanos nós conseguimos trazer. Então isso
mostra a preocupação que nós moradores temos hoje dentro da nossa
comunidade (Anizio L. B. Neto, Presidente da AMOCISA).
99
Isso vem demonstrar que os esforços dos gestores do sistema de segurança pública
estão quase sempre dirigidos para ações reativas, de modo que as ações proativas são
relegadas a segundo plano ainda que sejam consideradas importantes. Outrossim, esses se
aferram à necessidade de se enfrentar os macroproblemas que envolvem fatores estruturais e
de solução a longo prazo, sem, no entanto, se aperceber da igual importância das ações
tópicas e aparentemente superficiais (SOARES, 2006, p. 94-95).
O que os entrevistados dizem sobre as estratégias utilizadas pelos seus
associados/representados, para minimizar a possibilidade de ser vítima do crime, é que a
ferramenta fundamental de prevenção e autodefesa é a atenção; sem ela, todas as estratégias
utilizadas se tornam inócuas. A unanimidade dos entrevistados apontou, como principais
estratégias utilizadas para tentar evitar ou minimizar a incidência de crimes em seus
estabelecimentos comerciais, ou suas residências, ou durante o trabalho como motorista de
ônibus, são os equipamentos de monitoramento por câmeras, alarmes, sensores, e outros afins.
A segurança privada, de forma geral, também tem sido muito utilizada . Em que pese o fato de
ter um custo bastante elevado, o uso de seguranças armados tem sido uma opção para oferecer
uma certa sensação de segurança para os clientes dos estabelecimentos comerciais. Os postos
de gasolina, além do vídeo monitoramento e dos seguranças, têm utilizado os chamados
cofres boca de lobo. Esse é um equipamento no qual é colocado o dinheiro arrecadado pelos
frentistas dos postos a cada fração de tempo determinado. Geralmente, o equipamento é
fixado no chão ou embutido em uma parede de maneira que é quase impossívelretirá-lo ou
arrombá-lo em um tempo curto. Outra maneira encontrada pelos comerciantes para evitar ser
vítima é aproximar-se, informalmente, da polícia, oferecendo algum tipo de vantagem. Muitas
vezes, são oferecidas refeições ou, até mesmo, retribuições pecuniárias para que os policiais
deem uma atenção especial a esses estabelecimentos. Outra forma utilizada é a contratação
informal de policiais em suas folgas para fazer a segurança desses locais (Augusto Vaz). Essa
prática é muito comum, chegando a alcançar o patamar de 60% a 80% dos policiais militares,
civis e, também, bombeiros (SOARES; ROLIM; RAMOS, 2009, p. 78).
No caso das residências, a estratégia mais utilizada também é o uso do
videomonitoramento. Entretanto, há, também, as cercas elétricas com concertinas, os portões
automatizados, os sensores de presença nos diversos ambientes da casa, o uso de cães de
guarda. Quanto ao comportamento dos moradores, esses, em alguns casos, têm o hábito de
100
ficar atentos a pessoas estranhas, próximo as suas casas. Ao entrarem e saírem de casa
observam, cuidadosamente, se há algum veículo estranho próximo, ou algo incomum e então
evitam entrar ou sair até que a situação anormal se dissipe e encontrem uma situação normal
em sua rua (Anízio L. B. Neto). O senhor Anizio, Presidente da AMOCISA, descreve a
situação que vive o bairro de forma dramática ao dizer que 
dentro da comunidade, se você passar em todas as ruas do nosso
bairro você vai ver que uma sim, outra não tem o muro chamado
presídio. Com concertina, com câmera para que possa ter uma
sensação maior de segurança. Então isso é uma das coisas que agride
muito a todos nós. A gente deixa de fazer outros investimentos até na
educação e na saúde dos nossos filhos pra poder investir nessa
segurança. Porque quer queira, quer não é muito, muito interessante
nós termos hoje uma casa com grades em todas as partes, uma casa
com muro alto, uma casa com câmera, uma casa com cão, uma casa
com concertina...em todas as ruas do bairro você vai ver que a maioria
das casas, todas elas estão se comportando dessa forma para proteger
suas famílias (Anizio L. B. Neto, Presidente da AMOCISA).
É interessante observar, na fala acima, os momentos em que o entrevistado demonstra
um certo abandono, ou prostração diante da impossibilidade de se proteger e proteger sua
família bem como dos associados da entidade diante de algo que parece, ao analisar sua fala,
um poder descomunal que está na iminência de se abater sobre ele e os seus entes queridos de
forma inexorável. A impressão que se depreende é de que os moradores do bairro estão
fadados ao aprisionamento e à impossibilidade de viver em outro espaço e de outra forma que
não seja enclausurado em sua casa. Essa percepção, entretanto, é, também, fruto de uma
construção que tende a naturalizar a presença do crime e da insegurança como por exemplo,
sombras, ou nuvens sombrias, densas e indissipáveis que surgem de forma implacável
(FERNANDES, 2003, p. 56). Esse mesmo entrevistado informou a respeito de um vultoso
projeto de segurança comunitária, inicialmente, para uma parte do bairro como estratégia para
diminuir a insegurança. Por meio de uma assembleia da AMOCISA, será apresentado o
projeto, que funcionará da seguinte forma: três seguranças em motocicletas, com celulares e
hand talks para cada um deles e usando uniformes, a instalação de câmeras em 42 ruas do
bairro. Todos os moradores, através da internet, terão acesso às imagens das ruas monitoradas
e eles mesmos, ao perceberem alguma anormalidade, acionarão os seguranças. A ideia é não
esperar que o sistema de segurança pública os ajude, ou atenda às suas demandas de
segurança, pois, segundo o senhor Anízio, “se nós formos esperar pelo poder público nós não
101
vamos chegar a lugar nenhum e vamos perder as nossas famílias e nossas vidas” (Anízio L. B.
Neto).
102
5.3. A percepção dos gestores de segurança pública
Concernente à criminalidade em Natal, os entrevistados entendem que houve um
aumento significativo em poucos anos. Cada um deles fez questão de conduzir suas respostas
no sentido de demonstrar que há um esforço das administrações que representam. Dois deles
entenderam necessário fazer uma rápida retrospectiva sobre a situação da cidade em alguns
anos atrás e chegando até às atuais circunstâncias que vivemos. Assim, o Delegado-Geral
falou sobre o período de sua infância e adolescência em Natal quando era possível brincar e
andar de bicicleta nas ruas sem medo de ser vítima de crimes. Segundo ele, “dificilmente a
gente via situações de furto, de roubo e homicídios” e, em seguida, reconhece que “a gente
não pode negar que, nesses 20 últimos anos, houve um aumento da criminalidade em Natal”.
No entanto pontua que os órgãos de segurança pública têm feito esforços visando oferecer
uma melhor sensação de segurança para a população, mas reconhece que esses esforços não
têm surtido o efeito esperado. A verdade é que a sociedade, cada vez mais, está assustada,
insegura. A insegurança está em toda parte: dentro de casa, fora de casa, nas ruas da cidade;
enfim, onde quer que as pessoas estejam, não há tranquilidade. As pessoas ficam preocupadas
com o que pode acontecer com elas ou com seus familiares (José Francisco Correia Júnior).
Igualmente, o Comandante da Guarda Municipal de Natal lembrou que Natal há não muito
tempo era tranquila e tinha ares de cidade do interior. Era um lugar onde pouco se ouvia falar
a respeito de crimes e, quando ocorriam, tornavam-se o assunto de alguns dias tanto da
imprensa quanto das pessoas em suas conversas informais (Michel Dantas). A esse propósito
ele afirma que 
os governantes que estiveram à frente da nossa cidade, da nossa
capital, eles não se importaram de acompanhar os indicadores de
criminalidade das outras regiões, acho que eles pensavam é que o
crime nunca chegaria em Natal, e o que nós enfrentamos hoje é uma
criminalidade realmente organizada. (Michel Dantas, Comandante da
GMN)
Os gestores do sistema de segurança e, em especial, os chefes dos executivos
municipal e estadual não conseguem perceber a dimensão do problema que é o nível da
criminalidade em Natal. Com isso, as polícias locais não têm preparo e tampouco
equipamentos para fazer frente aos criminosos que aqui atuam. Não há investimentos, que são
fundamentais, em qualificação e em aquisição de novos e modernos equipamentos. Ademais
os salários pagos aos operadores que desempenham suas tarefas na atividade-fim, que lidam
103
diretamente com os criminosos, estão muito aquém de suas necessidades. O serviço oferecido
é, na verdade, realizado de forma a escamotear a realidade pela qual passa o sistema de
segurança pública. Os efetivos das polícias são totalmente insuficientes e estão longe do ideal,
nem mesmo o ideal estabelecido em lei. O sistema precisa ser revisto em seus procedimentos
organizacionais, seus planejamentos e programas, como também a quantidade de recursos
destinados ao setor, tanto em nível estadual, quanto em nível municipal. Segundo ele, o
principal programa de governo na área, o Ronda Cidadão, não é, de fato, um programa com
recursos destinados, exclusivamente, para ele, nem recursos financeiros, nem recursos
humanos, tendo em vista que os policiais utilizados no programa são remanejados de outros
locais e não são repostos na origem. Outra falácia são as viaturas utilizadas no programa que
da mesma maneira que os servidores as viaturas também são retiradas de outros locais e não
são repostas. Em relação à Guarda Municipal, a situação é a mesma. O chefe do executivo
municipal não entende quanto é importante a participação do município nas ações de combate
ao crime. Dessa forma, também, não há novos equipamentos, as viaturas utilizadas pela GMNsão todas doadas pela União e não têm manutenção regular (Michel Dantas).
O Secretário Municipal de Segurança Pública admite que, de fato, a criminalidade em
Natal tem crescido, no entanto enfatiza que esse fenômeno não é privilégio de Natal apenas,
mas de todo país. O fenômeno é provocado por diversos fatores. O aumento exacerbado, no
consumo de drogas, redundando no aumento do tráfico. Além disso, o aumento do
desemprego é proveniente da crise econômica por que passa o país. Os índices têm
demonstrado o “aumento de homicídios, do uso de drogas, prisão de jovens, os jovens cada
vez mais cedo consumindo drogas. Então, esse aumento tem sido perceptível a toda a
sociedade”. Apesar de reconhecer que a responsabilidade pelo policiamento ostensivo e pelas
polícias judiciária e científica, é da União, a Prefeitura de Natal, através de políticas públicas
voltadas para a redução de danos e prevenção da criminalidade, tem feito a sua parte. Ainda
em relação à Guarda Municipal, com a promulgação da Lei 13.022/2014 que dispõe sobre o
Estatuto Geral das Guardas Municipais deu maior poder a essas instituições; então, a partir
disso, a Prefeitura tem tentado fazer mais pela segurança pública (Daniel Henrique Bandeira
do Nascimento).
O secretário de Segurança Pública do Estado afirma que esses elevados índices de
criminalidade resultam da falta de concursos públicos para a recomposição dos efetivos das
104
polícias. A Polícia Militar e a Polícia Civil não realizam concurso há 10 anos e a Polícia
Científica há 15 anos. De certo modo, ocorreu um desmantelamento do sistema de segurança
pública por falta de investimentos. Além disso, há o problema da falta de dispositivos legais
normativos para essas instituições o que dificulta sua gestão, como, por exemplo na realização
de concursos, na aquisição de equipamentos e na estruturação das carreiras (Caio César
Marques Bezerra).
As representações dos entrevistados sobre o serviço prestado pelo Estado, na área de
Segurança Pública, apontaram para esforços pontuais, mas sem efeito sobre a criminalidade.
No âmbito da Secretaria Estadual de Segurança Pública, foi implantado o projeto de
policiamento comunitário, denominado Ronda Cidadão. A ideia básica do programa é
aproximar o policial da população para que o cidadão conheça o policial que trabalha em seu
bairro e se sinta confiante com a sua presença. A intenção é fazer o trabalho preventivo de
policiamento, é fazer com que a polícia cuide dos 98% da população que, até pouco tempo,
era esquecido, haja vista que a preocupação, anteriormente, era com 2% da população que são
os criminosos. Pretende-se, com isso, não relegar o serviço repressivo, mas realizar um
serviço repressivo mais qualificado, buscando investigar melhor. Sem dúvidas, há muito a
avançar e melhorar na prestação do serviço. O concurso público é fundamental, como também
a implantação de novas unidades policiais. É extremamente necessário melhorar o
atendimento nas Delegacias e, para isso, o primeiro passo está sendo dado: a implantação de
um sistema de informática para o registro de ocorrências policiais (Caio César Marques
Bezerra).
A Secretaria Municipal de Assistência Social tem contribuído, significativamente, para
a prevenção da criminalidade, especialmente com as políticas voltadas para as pessoas em
situação de rua, com o adequado funcionamento dos albergues noturnos que abrigam essas
pessoas, oferecendo-lhes um lugar para dormir e uma alimentação de qualidade. Com o
funcionamento dos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) instrumentos
fundamentais de prevenção à criminalidade, haja vista terem a função de proteger as famílias
e pessoas em situações de vulnerabilidade social. Como também os Centros de Referência em
Assistência Social (CREAS) que têm, como função, oferecer apoio e assistência social a
famílias e indivíduos em situação de ameaça ou de violação de direitos. Além disso, os
Programas de Saúde Mental voltados para os usuários de drogas com o objetivo de tratar o
105
vício e, ao mesmo tempo, evitar o envolvimento do adicto com os furtos e/ou roubos para
sustentar o vício. Uma outra ação importante, na área da prevenção, é o atendimento aos
pleitos de reposição de iluminação pública e de limpeza e poda de árvores e de vegetação
rasteira em áreas como praças ou academias da terceira idade. Há, ainda, dois projetos
voltados para o atendimento às crianças em situação de vulnerabilidade. O primeiro é o
Agente Mirim Ambiental que contempla crianças de 9 a 12 anos que estudam em um turno e
no contraturno são levadas para o Parque da Cidade e recebem aulas sobre meio ambiente. O
segundo é o Semente Cidadã que funciona levando atividade física para crianças, que no
contraturno da escola participam de diversas modalidades esportivas. Ambos os programas
são realizados por Guardas Municipais que têm formação em áreas afins. Por fim, estão em
funcionamento no município, aproximadamente, 55 câmeras de monitoramento que auxiliam
a Secretaria Estadual de Segurança Pública que tem acesso direto a elas (Daniel Henrique
Bandeira do Nascimento). Todas essas ações se coadunam com as prescrições mais modernas
no campo da segurança pública em especial no âmbito dos governos locais. Nesse caso, esses
podem contribuir, de forma bastante significativa, para a prevenção da criminalidade com
diversas políticas como as acima citadas (CORREIA; FERREIRA; PINTO, 2014, p. 7).
A Polícia Civil tem envidado esforços para atender à população do Estado a tempo e
modo, não obstante as dificuldades de recursos financeiros e humanos. Além disso, por falta
de recursos, as instalações físicas das delegacias têm deixado a desejar. Quanto às viaturas, a
situação é relativamente confortável uma vez que há um contrato de locação de veículos em
funcionamento, de modo que não há falta de viaturas. Foram distribuídos alguns armamentos,
recentemente, que supriram as necessidades. Um exemplo claro dos esforços individuais e
institucionais para atender à sociedade foi o caso da rebelião nos presídios ocorrida no ano de
2016. Essa rebelião teve reflexos na cidade com atos de vandalismo, incêndios a ônibus e a
veículos públicos, todos comandados por parte dos presos rebelados (José Francisco Correia
Júnior). No entanto, ao terem início os atentados 
imediatamente os policiais se colocaram à disposição, inclusive os que
estavam de férias, de folga e de licença, em seguida instalamos uma
delegacia exclusiva para apurar os incêndios a ônibus. Prisões foram
feitas, vários inquéritos foram instaurados e remetidos à justiça,
pessoas estão aguardando julgamento. Então no momento necessário a
Polícia Civil vai estar presente mesmo com um efetivo pequeno nós
fazemos tudo que é possível para atender o povo do Rio Grande do
106
Norte (José Francisco Correia Júnior, Delegado-Geral da Polícia
Civil).
A questão dos recursos financeiros também tem sido uma dificuldade constante. Devido a
isso, têm ocorrido atrasos nos pagamentos aos fornecedores, de modo que, apenas, os
materiais básicos têm sido adquiridos. Um destaque nessa situação por que passa a Polícia
Civil é a capacitação dos policiais. Foi realizado, no ano passado, um grande programa de
capacitação com recursos advindos de um convênio com o Banco Mundial. Com isso, foi
possível capacitar 1.400 policiais em diversas áreas de conhecimento (José Francisco Correia
Júnior).
De modo geral, há uma total desestruturação no sistema de segurança pública. O serviço
prestado é de baixíssima qualidade devido à falta de seriedade das cúpulas das instituições
com o sistema. O tempo-resposta aos pedidos de apoio feitos através da Central de
Informações Operacionais de Segurança Pública é muito superior ao momento da ocorrência
propriamente dita. Comisso, o cidadão fica esperando a presença da Polícia Militar por vários
minutos depois de ter sido vítima do crime, contrariando o fundamento preventivo do trabalho
da PM, a ideia de que sua presença constante coiba as práticas delituosas. São poucas as vezes
em que a polícia consegue evitar a ocorrência do crime, se antecipar a ação criminosa. Uma
área que merece destaque é o sistema carcerário que se encontra em estado deplorável. Nos
presídios, os presos andam livremente e são eles que comandam as áreas internas. Essas áreas
são divididas por facções criminosas. Não há nenhuma cela com grade, assim os presos têm
acesso total às áreas internas. Não sem razão, via de regra são encontrados túneis para fugas
ou mesmo fugas têm ocorrido com uma certa frequência. Em relação à Guarda Municipal, não
é diferente. Conforme já foi dito, as viaturas utilizadas pela GCM são provenientes de
convênios com a União, mas não têm manutenção e, com isso, sua maioria está sucateada
(Michel Dantas).
Quanto ao comportamento dos cidadãos para evitar ser vítima de crimes, os
entrevistados destacaram que uma orientação comum dada a todos é a necessidade de se ter
atenção ao andar nas ruas, ou usar uma parada de ônibus, sempre que estiverem expostos
demais, especialmente ao utilizar o celular, ou portar algum bem de valor. Todos
desaconselharam, enfaticamente, o uso de celulares, correntes de ouro ou outras joias
valiosas, quando estiverem caminhando nas ruas. Caso o façam, devem agir com muita
cautela sempre mantendo a atenção no que acontece ao seu redor ou nas proximidades.
107
Observar a aproximação repentina de pessoas a pé, em bicicletas ou em motocicletas. Evitar
se distrair utilizando o celular em redes sociais ou lendo algo. De maneira geral, os criminosos
agem contra pessoas nas quais eles veem fragilidades ou desatenção (Caio César Marques
Bezerra). Outra orientação considerada fundamental é a total atenção ao chegar e ao sair de
casa. É necessário observar se há algo diferente nas proximidades de sua residência, se
alguém desconhecido está sentado na calçada ou de pé encostado nos muros, ou ainda uma
mesma pessoa que passa várias vezes olhando indiscretamente para o interior das casas como
se estivesse procurando algo, ou, ainda, se há um carro desconhecido parado nas
proximidades da casa. Entre outros, são esses comportamentos estranhos e pouco comuns que
se verificam no dia a dia. Tudo isso deve gerar, nas pessoas, um sinal de alerta e algumas
atitudes devem ser tomadas. No caso de pessoas em atitudes incomuns, ou suspeitas nas
proximidades da residência deve-se evitar entrar ou sair, se a pessoa está chegando em casa o
ideal é continuar o deslocamento sem parar em frente a sua casa e dar algumas voltas
aguardando a saída do veículo ou da pessoa suspeitos daquele local. Ao entrar ou sair de casa,
essa manobra deve ser feita com rapidez e o portão deve ser fechado rapidamente. É
totalmente desaconselhável permanecer dentro do carro na rua conversando com alguém ou
usando o celular (Michel Dantas). Para ilustrar isso ocorreu um caso com 
uma senhora que chegou na frente de sua casa e pela câmera deu pra
perceber mesmo a filha dela ali no portão ela passou cerca de 3
minutos parada na frente de casa olhando as redes sociais, não foi
identificado, olhando o celular alguma coisa e foi o tempo necessário
que chegou uma dupla de moto, rendeu ela, colocou ela pra dentro da
residência dela, colocaram os pertences mais valiosos dentro de casa e
levaram o carro dela com todos os pertences. Então isso poderia ser
evitado? (Michel Dantas, Comandante da Guarda Municipal)”
Caso o suspeito não deixe o local, então deve ser acionada a Polícia Militar através do
telefone 190, informando toda a situação. Deve-se evitar comer em bares e restaurantes que
ficam em locais ermos, ou isolados. Têm sido comum arrastões nesses locais (Michel Dantas).
Ainda nessa conformidade, é muito interessante, para se evitar ou minimizar a
possibilidade de ser vítima de crime, o uso de equipamentos de video-monitoramento, como
também grupos de whatsapp formado pelos moradores de uma rua, por exemplo. Ou de
estudantes de uma escola que vêm sendo vítimas de assaltos em determinados locais e
horários. Esses grupos auxiliam as pessoas a evitar esses locais. No caso dos vizinhos ou
mesmo de um bairro, um exemplo de sucesso é o que foi feito nos bairros de Nova
108
Descoberta e Morro Branco. Os moradores se uniram e compraram diversas câmeras e
instalaram em diversas ruas dos bairros. Em seguida, adquiriram um contêiner e o montaram
como se fosse uma base da Polícia Militar, com toda estrutura, inclusive internet e monitores
ligados às câmeras que foram instaladas (José Francisco Correia Júnior). E criaram um grupo
de whatsapp para trocar mensagens, exclusivamente, sobre situações suspeitas, 
onde você tá lá 03:00h da manhã com sua câmera...ah, passa um carro
aqui não parou, parou na esquina, deu ré. Aí alguém vai e coloca no
grupo: olha tem um carro em atitude suspeita rodando dessa forma.
Esse grupo o pessoal da PM que trabalha nesse local através das
câmeras monitora essa situação (José Francisco Correia Júnior
Delegado-Geral da Polícia Civil)
Em relação ao uso do banco, deve-se evitar totalmente o saque de somas vultosas. É
muito mais seguro o uso da internet para fazer transferências ou pagamentos que envolvam
grandes quantidades de dinheiro mesmo que se pague uma taxa para isso. Sempre utilizar os
caixas eletrônicos que estão localizados em lugares de grande movimentação e, ao utilizá-lo,
ficar atento a qualquer comportamento anormal de pessoas próximas. Por exemplo, uma
pessoa que está próxima do caixa eletrônico, mas não faz uso dele apenas observa as pessoas
que o utilizam ou um caixa eletrônico que não tem ninguém utilizando, mas há uma pessoa
próxima nesse caso não deve ser utilizado. Deve-se aguardar a saída da pessoa ou procurar
outro equipamento. Em estacionamentos, ao se aproximar do seu veículo, observar se há
alguém próximo encostado em outro veículo, ou que começou a andar ao observar o
desacionamento do alarme. Nesse caso, deve afastar-se, imediatamente, e, se possível, pedir
ajuda a algum vigilante caso haja. É muito importante conhecer os vizinhos e se relacionar
bem com eles; com isso, é possível criar um grupo de proteção através do aplicativo
whatsapp, por exemplo. Nesse caso, a pessoa que está em casa e percebeu algo anormal do
lado de fora imediatamente informa ao grupo para que todos tomem conhecimento. Nesse
caso, se todos os vizinhos começarem a observar de forma que o suspeito perceba que muitas
pessoas da rua o estão olhando e estranhando sua presença, ele, sem dúvida deixará o local
(José Francisco Correia Júnior).
A respeito do medo da criminalidade pelos cidadãos, os entrevistados indicaram que o
cidadão nunca deve se deixar dominar pelo medo. Ao contrário, é necessário enfrentar o crime
com os instrumentos legais. “Jamais”, “de forma nenhuma”, são expressões usadas para
rechaçar a ideia de que o cidadão deva ter medo do crime. Ao contrário, por sermos em
109
número muito maior que os criminosos nós devemos enfrentá-los. Claro que esse
enfrentamento não deve ser direto. Não se está incentivando o cidadão a pegar uma arma e
tentar fazer o papel da polícia; não é isso. Na verdade, é utilizar-se de diversos meios
modernos que estão disponíveis para esse enfrentamento. O cidadão deve se comportar não
com medo, mas de forma preventiva visando se antecipar ao criminoso e escapar da possível
ação. De fato, o que é fundamental, atualmente, é um comportamento cauteloso, cuidadoso,
quando se está em algum lugar que haja a possibilidade deuma ação criminosa. É importante
destacar que o medo pode resultar em uma sensação de pânico ao se deparar com uma ação
criminosa. Nesse caso, não se consegue raciocinar, muitas vezes nem mesmo ouvir ou
entender o que diz um criminoso. Pode levar a reações involuntárias que denotem ao bandido
uma intenção de reação por parte da vítima e então acontecer algo indesejável como um
disparo do bandido contra a vítima. Com isso, é necessário autocontrole para se evitar
situações de maior risco. Repetindo, o sentimento que deve estar presente no cidadão é o de
cautela e também atenção ao que acontece em seu entorno.
Pode-se concluir, com base nas análises das entrevistas, que os poderes públicos
municipal e estadual não têm atendido, adequadamente, à população em relação ao serviço de
segurança pública. Bem como seus gestores apresentam um quadro pouco condizente com o
quadro apresentado pelo segundo grupo de entrevistados. Esses gestores, apesar de
concordarem com o fato de que ocorreu um aumento na criminalidade em Natal, procuram
dar diversas justificativas para tanto, de certo modo tergiversando das questões a eles
formuladas. No caso dos entrevistados que representam entidades da sociedade civil, esses
apresentaram um cenário de caos, de má gestão, de insuficiência de recursos na prestação do
serviço de segurança pública. Tudo isso tem lhes causado medo da criminalidade na cidade.
110
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cultura pode ser definida de diversas formas, no entanto todas essas definições
encerram em si uma ideia principal. Há um fio condutor que está presente em quase todos os
significados da palavra. A ideia de construção cuidadosa e elaborada, de forma gradual e
sistemática, visando conduzir o ser humano como objeto da ação cultural a um conjunto de
percepções, de visão de mundo diferenciadas em relação aos momentos anteriores. O ser
humano não nasce pronto; na verdade, sua completude se dá fora do útero materno. Diversos
órgãos ainda não estão prontos, após o nascimento. Logo, esse ser precisa de cuidados básicos
para se manter vivo e alcançar a maturidade orgânica e intelectiva, que ocorre na relação com
o outro e com o ambiente. E a cultura é essa ferramenta que capacita o ser humano a se
relacionar com o outro e a modificar a natureza.
O arcabouço cultural que é legado aos indivíduos e às sociedades une seu passado e
seu futuro e auxilia na sedimentação da percepção consciente de que o ser humano,
diferentemente dos outros animais, sabe da sua existência. E que é capaz de realizar ações
transformadoras no ambiente, como também torna-se o elemento dinâmico da sociedade que
vai levá-la a novos níveis de conhecimento e de consciência de si. É evidente que a cada
geração esses elementos transmitidos são reformulados, ressignificados, uma vez que as
gerações que se sucedem encontram circunstâncias diferentes.
Uma dessas circunstâncias é a sedentarização que ocorre em um certo momento da
história humana. Ela vai permitir o crescimento de pequenos grupos nômades. Desses
primordiais agrupamentos de indivíduos que tinham em comum a finalidade de proteção e
alimentação, de sobrevivência, surgem então as primeiras cidades. Com o crescimento da
população e a consequente complexificação da vida em comunidade, surge a necessidade de
novas construções. Ao longo do tempo, a distribuição das edificações vai se tornando mais
elaborada. Os deuses “influenciam” a moradia humana, a disposição dos espaços são reflexos
sócio-históricos-culturais, mas também são resultado da sua relação com as divindades.
Doravante, esse empreendimento humano, nascido, segundo as suas necessidades, torna-se
um polo de atração de outros indivíduos estranhos aos originais.
Numa fase posterior, o capitalismo começa a dar os primeiros passos e, claro, em
união com a cidade. Ambos amalgamados, ainda que o sistema capitalista tenha nascido bem
depois, mas, como é sua característica, ele sub-repticiamente se entremete e se conforma a
111
tudo que possa oportunamente lhe oferecer condições de reproduzir-se. Desse momento em
diante, a cidade definitivamente abandona qualquer resquício de seus propósitos primevos.
Essa união começa a produzir frutos. As pessoas, os, agora, cidadãos começam a ver a cidade
como lugar de lucro, de fazer dinheiro, de reproduzir ou produzir seu capital. Os espaços
urbanos públicos e privados começam a ser pensados com fundamentos nessas premissas. 
A cidade começa a ser reelaborada, ressignificada mais uma vez, só que agora com
base num sistema que transforma tudo e todos em moeda. O objetivo principal das edificações
é direcionado para atender ao comércio e à indústria. Até as habitações são feitas para os
trabalhadores. Enormes espaços vazios, ou, melhor dizendo, enormes áreas verdes, são
transformados em parques industriais e em edifícios habitacionais para seus trabalhadores. O
agora portentoso empreendimento humano continua com seu poder de atração de pessoas
cheias de esperança. Entretanto agora o mote é outro, a atração tem que acontecer. Do
contrário, não haverá quem faça o trabalho de reprodução do capital. A cidade, agora, torna-se
um poder insofismável, que fagocita as solidariedades, digere as subjetividades e excreta
individualismos, egoísmos, egocentrismos e misantropias.
Como parte desse processo, tem início o fenômeno da segregação espacial. Muitas
áreas centrais das cidades que eram ocupadas pelos mais pobres, passam a ser ocupadas pelos
ricos. Através de ações de caráter higienista, esses pobres são retirados à força de suas
moradias infectas e colocados em áreas distantes do centro, onde trabalhavam. Nesses locais,
não havia nenhuma infraestrutura, por mínima que fosse. Nem ao menos transporte público
que levasse esses trabalhadores até seus locais de trabalho. Os próprios trabalhadores deviam
construir suas casas que, claro, na verdade eram barracos, muitas vezes, construídos com
madeira e cobertos com palhas ou zinco.
Em seguida, como resultado da expansão exponencial da cidade, surge o processo de
metropolização. Àquelas que polarizavam determinadas regiões e que eram, principalmente,
nós de redes comerciais ou que eram pontos estratégicos de sistemas de transportes, foram as
que mais se desenvolveram, ganhando enormes dimensões. Outro fator que contribuiu para
esse fenômeno foi a Revolução Industrial. Há um conjunto de novas construções associadas a
esse novo momento, consequentemente, há um novo alfabeto e, uma nova escrita de uma
nova cidade. Há a intenção de marcar, na história, a presença de um novo padrão de ver o
mundo. Novos princípios, valores, ideias, pensamentos, atitudes, comportamentos deixam
112
claro essa nova etapa que vive a atual cidade. Como é próprio acontecer, é preciso se
diferenciar do passado ou se libertar do incômodo que ele causa.
A metrópole, esse novo modelo de cidade, tem seu estatuto próprio, além de pouca
coesão interna e limites indefinidos. Cabe ao cidadão metropolitano, ao imergir nesse
gigantesco emaranhado de representações da realidade que é a grande cidade, se enquadrar
nesse padrão estabelecido para quem se aventura nessa selva. A sucessão de quadros e de
imagens variegados, com incontáveis matizes, bem como o encontro com a multidão que o
leva à solitude, conduzem o indivíduo a um estado de consciência diferenciado. É interessante
notar que, nessa união indissolúvel entre o capital e a cidade, que resultam em uma nova
razão de ser dessa e também a redução das relações com as coisas e as pessoas a uma
dimensão eminentemente econômica, produz essa grande cidade e em consequência esse novo
cidadão que segue os ditames padronizados, tornando-se um produto dessa excrescência
cidade e capital. 
Desse modo, esse indivíduo se apresenta,ainda que inconscientemente, como aquela
excreção da cidade, acima referida. Logo, ele é desprovido de qualquer sentimento de
solidariedade e sua subjetividade é refém do estatuto da metrópole. Não há essência, não há a
pessoa, o que há contido nele é a metrópole. Não há valores humanos, no sentido primordial
de colaboração e solidariedade, tendo em vista que o indivíduo é só o indivíduo ele não é mais
a espécie humana, no sentido de fazer parte da comunidade de seres humanos. Tais
percepções estão muito distantes. São como luzes tênues que tremulam bem longe. Como
estrelas no céu que, de tão distantes, têm brilhos débeis. Não o mobilizam. O que o mobiliza
são os interesses que constam no estatuto da metrópole: superficialidade, dinheiro, negócios. 
Como resultado desse padrão e dos desdobramentos dele advindos, a cidade tem
passado por transformações que redundam no surgimento de descontinuidades no tecido
urbano. Novas áreas com novos perfis têm surgido e a fragmentado ainda mais. A segregação
sócioespacial tem se afirmado, a exemplo das favelas e dos condomínios de luxo. Os pobres
continuam sendo expulsos de suas moradias, de seus lugares. Dessa vez, no entanto estão
sendo retirados daqueles lugares distantes do centro para onde outrora foram alijados. Esses
locais, com o crescimento das cidades, tornaram-se locais de interesse para as classes de
maior poder aquisitivo, tendo em vista que, agora, estão localizados nos novos centros das
cidades. 
113
Nesse sentido, as classes menos favorecidas estão sendo empurradas para locais ainda
mais distantes, da mesma forma que antes, sem nenhuma infraestrutura, sem nenhum apoio, e
de novo com a anuência do poder público. Com isso, a cidade, mais uma vez, inscreve em sua
história a marca da injustiça tornando-se a cidade de uns poucos privilegiados e preterindo
uma multidão de despossuídos, aderindo à lógica do mercado. De novo, o capital se reinventa
e através da especulação imobiliária, que é uma vertente do capital especulativo e volátil, faz
da cidade mais um produto do seu portfólio a ser adquirido por quem pode pagar. 
Como resultado desse novo paradigma cultural urbano, pode-se perceber o avanço da
criminalidade e, em consequência, o medo da cidade. Sem dúvida, o medo dos cidadãos com
o que poderia se abater sobre eles, no âmbito da cidade, é algo que sempre existiu. No
entanto, sob a influência desse novo paradigma, já referido, o medo assume outros contornos.
O sentimento de insegurança, atualmente, é fundamentalmente relacionado com o medo do
crime e dos criminosos. É importante acrescentar a isso um medo virtual de uma ameaça
inexistente no momento, mas envolve o indivíduo a ponto de ele modificar seu
comportamento ao usar os espaços públicos ou, até mesmo, nem usá-los. 
A criminalidade tem imobilizado as pessoas de tal maneira que elas se sentem
impedidas de sair de suas casas por terem certeza de que serão atacadas. Esse medo subjetivo
é consequência de uma construção sócio-histórica a partir da disseminação espetacularizada
dos casos reais de vitimização. Outra consequência também resultante dessa construção é o
medo de determinadas pessoas, com determinadas características e também de lugares
determinados, com características determinadas. Assim, é possível ouvir, em muitas falas
cotidianas, frases como: “Não passe perto de tal lugar, pois ali ficam moradores de rua”,
“Cuidado com aqueles maltrapilhos, sem dúvidas eles assaltam quem passa perto deles”,
“Aquele bairro é muito perigoso, eu vi na TV”, “Fulano disse que tem ocorrido muitos
assaltos a pedestres no nosso bairro”. Esses discursos têm feito parte do cotidiano das pessoas,
têm sido pauta de muitas conversas informais, que os replicam, dando uma dimensão de
ubiquidade do crime. 
Interessante que há, também, os lugares e pessoas dos quais não precisa ter medo.
Mais uma vez a segregação social e a segregação espacial se afirmam, como se fossem algo
imperioso para a vida das pessoas e da cidade. Esse fenômeno de exacerbação da
criminalidade também resulta do processo de urbanização brasileiro, que ocorreu e ocorre em
114
algumas cidades ainda, sob a ação da segregação e da injustiça social presentes no Brasil e em
Natal não é diferente. Outro aspecto que influenciou o fenômeno foi a implantação de uma
visão competitiva de mercado, na qual o mais preparado deve vencer o menos preparado. O
que vende mais e bate metas é o trabalhador ideal e deve permanecer na empresa, enquanto o
trabalhador que não bate as metas deve ser demitido.
Mais um elemento a ser considerado nessa equação do medo da cidade é a imprensa
com seus noticiários que reproduzem essa sensação de insegurança. Os diversos programas
sensacionalistas que apresentam notícias sobre os crimes ocorridos na cidade, têm, como
única finalidade, atingir índices elevados de audiência. Como consequência, não há
compromisso com o padrão de se fazer comunicação social corretamente. O compromisso é
com os números tanto de audiência quanto de patrocinadores que geram renda para as
emissoras e os apresentadores. A intenção quase sempre é causar impacto, chocar a população
e não informá-la. Portanto, a notícia passa a ser um produto e, como tal, deve receber a
embalagem adequada para que se torne um objeto de desejo dos consumidores que estão
assistindo a esses programas. 
 Esses espectadores são de tal modo envolvidos que têm suas mentes, gradativamente,
programadas por esses noticiários para encarar esse tipo de notícia como algo digno de medo.
Isso ocorre não só na imprensa televisionada, como também na imprensa escrita. De maneira
geral, as manchetes sobre notícias que envolvam crimes são alarmistas. É evidente que o
objetivo é vender jornais, logo a imparcialidade e a comunicação sensata dos fatos são
preteridos. Isso contribui, também, para a disseminação da sensação de insegurança na cidade.
É importante notar que os programas e os jornais escritos, ao mostrarem os criminosos e os
lugares onde acontecem os crimes bárbaros, apresentam sempre o mesmo perfil, dessas
pesoas, a mesma cor de pele, o mesmo lugar onde moram, quanto aos lugares, sempre os
periféricos, os sem infraestrutura, os mais pobres. Colaborando com a construção simbólica
dos estereótipos da criminalidade; mais uma vez é essa pessoa, com essas características, é
esse lugar, com essas características.
O Estado, em suas três esferas de poder, tem a responsabilidade de coibir as ações
criminosas, seja prevenindo, seja reprimindo. No entanto, é, no nível estadual, de acordo com
a Constituição Federal, que está a competência de coibir diretamente a criminalidade. Na
esfera da União, estão as Polícias Federal e Rodoviária Federal que têm competências
115
diversas das esferas estadual e municipal. Assim, às Unidades da Federação, através das
Polícias Militar e Civil, competem reprimir e prevenir a criminalidade. Visando garantir ao
contribuinte a posse de seus bens e de sua vida. Ela atinge não só diretamente as pessoas
como também indiretamente vitimizando, psicologicamente, aqueles que não foram vítimas
diretas. O crime também tem influência direta na economia do país; é também um dos
elementos que contribuem para a crise econômica. Esse combate através da repressão se dá
com a Polícia Militar de forma ostensiva presente nos espaços públicos e, ao mesmo tempo,
pela Polícia Civil mediante procedimentos investigativos após o acontecimento dos crimes.
São fundamentais, para o sucesso das ações, os adequados planejamento e execução. Para
tanto, é preciso qualificação adequada. Modernamente uma das principais ferramentas de
combate à criminalidade é o uso de informações, que devem ser adequadamente coletadas e
tratadas, para subsidiarem asações.
Em relação a ações preventivas, tanto o poder público estadual, quanto o poder
público municipal podem atuar de forma articulada, implementando políticas sociais que
envolvam os jovens em atividades lúdicas, por exemplo. É possível promover, nos
contraturnos, atividades esportivas, artísticas ou de lazer que mantenham os jovens longe do
contato com os bandidos e as drogas. Outras políticas podem ser implementadas nas áreas de
assistência social através dos CRAS e CREAS. Como também em programas de superação da
drogadição. Os municípios, ao realizarem suas atividades de manutenção dos espaços
públicos, estão colaborando com a prevenção.
Em relação a Natal, os índices mostram que houve, de fato, um crescimento
exacerbado nos casos de homicídios; no entanto os outros indicadores, apesar de apontarem
uma tendência de crescimento, esses não foram tão intensos quanto os homicídios. Os CVLI's,
entre 2014 e 2015, tiveram uma redução de 14,7%, apesar de ainda serem números absolutos
muito elevados para os padrões nacionais. A Polícia Militar do Rio Grande do Norte
apresenta, hoje, uma quantidade de 8.926 servidores e a Polícia Civil 1.929. A Guarda
Municipal de Natal possui 460 servidores. 
As entrevistas realizadas com representantes de entidades da sociedade civil e com
gestores da segurança pública deixaram claro, no caso dos representantes das entidades da
sociedade civil, que eles se encontram extremamente assustados com o que vem acontecendo
em Natal nos últimos anos. Segundo eles, a criminalidade, de certa maneira, tomou conta da
116
cidade, e o poder público não tem mais condições de combatê-la. Eles apontaram que a
explicação, para essa situação, seria a má gestão no sistema de segurança pública. Não haveria
compromisso com a efetiva proteção da sociedade. Há um desânimo em suas falas e pode-se
perceber uma sensação de prostração e abandono por parte do poder público à população.
Essa sensação se dá porque, há bem pouco tempo, Natal era considerada a mais segura capital
do Brasil, inclusive alguns entrevistados ou seus pais migraram para Natal devido a isso. E,
em pouco tempo, esse quadro se reverteu; daí, essa sensação de insegurança tão intensa. Há
termos usados pelos entrevistados que definem bem suas sensações; são os seguintes:
“guerra”, “caos”, “crise”, “delírio”, “pânico”, “desespero”, “terror”, “medo”, “morte”.
São descritas diversas ações criminosas seja nas residências, com arrombamentos,
invasões, assaltos; seja nos comércios com arrombamentos, assaltos, latrocínios; seja nos
ônibus com mortes, espancamentos, tentativas de homicídio. Citaram, também, muitos casos
de assaltos a pedestres nos bairros, ou a passageiros nos ônibus, ou a caixas de comércios,
inclusive com mortes. Diversos estabelecimentos têm sido alvo de crimes, tais como:
mercadinhos, farmácias, padarias, postos de gasolina.
Os entrevistados falam em prejuízo à qualidade de vida. Já não há mais condições de
frequentar os espaços públicos e privados sem alguma preocupação com a possibilidade de ser
vítima. Além disso, no caso dos restaurantes, esses têm sido atingidos em suas economias
diretamente, tendo em vista a diminuição da frequência a esses estabelecimentos, como
também o aumento dos custos com a adoção de medidas para coibir ou minimizar os crimes.
Para eles, os serviços prestados são totalmente deficitários. Acreditam que um dos
principais problemas é o efetivo insuficiente da Polícia Militar. Além disso, têm a convicção
de que o Estado, por falta de investimento, não tem mais condições de fazer frente aos
criminosos. Há a impressão de que os gestores não têm conhecimento suficiente para
gerenciar o sistema. Considerando que há poucos recursos, é necessário um elevado nível de
conhecimento e experiência para geri-los. Falaram, também, sobre a falta de cuidado do poder
público municipal com as praças e a iluminação pública, uma vez que as praças do bairro
Cidade Satélite, que são 10, estão sem manutenção há dois anos e há muitos postes com luzes
queimadas em todo o bairro.
As principais estratégias, para tentar evitar ser vítima do crime, é o uso de segurança
privada seja armado ou desarmado que tem sido uma opção bastante eficiente para oferecer
117
aos usuários dos estabelecimentos comerciais alguma sensação de segurança. Nos casos dos
bares e restaurantes, também têm sido muito utilizadas a segurança privada e a contratação de
policiais em suas folgas para trabalhar como segurança desses locais. Para os motoristas de
ônibus, o que é prática comum para minimizar a possibilidade de serem assaltados é não parar
em determinados locais e horários e, como muitos deles, já conhecem os criminosos, ao vê-los
não atendem a sua solicitação de parada. Um elemento que não tem impedido a ação dos
bandidos dentro dos ônibus é a câmera de monitoramento, instaladas em muitos ônibus. Os
bandidos não se sentem constrangidos com elas. Uma outra solução que foi tentada foi o uso
do botão de pânico, mas que não obteve sucesso porque os criminosos assim que anunciavam
o assalto já impediam o motorista de acionar o botão.
 Os postos de gasolina têm utilizado como estratégias o vídeo monitoramento, os
seguranças armados, quase sempre policiais em folga, os chamados cofres boca de lobo que é
um equipamento no qual é colocado o dinheiro arrecadado pelos frentistas dos postos.
Geralmente, o equipamento é fixado no chão ou embutido em uma parede de maneira que é
quase impossível retirá-lo ou arrombá-lo em um tempo curto. Assim, a cada fração de tempo
determinada, os frentistas devem colocar, na verdade jogar através de uma abertura, o
dinheiro que arrecadam. Não podem ter, em sua posse, grandes somas e são orientados,
enfaticamente, a manter consigo pequenas quantidades de dinheiro apenas para trocos de
pequeno valor.
Os moradores de residências têm adotado como estratégias o uso de portão
automatizado, de maneira que, ao se aproximarem de suas residências, acionam a abertura e,
assim que entram, acionam o fechamento. Outras estratégias são o uso de grades de ferro em
todas as janelas e portas, muros altos, cães de guarda, câmeras de vídeo-monitoramento,
sensores de presença nos ambientes internos e na parte externa da casa, cercas elétricas com
concertinas de arame farpado e também vigilantes de rua, que entretanto não têm nenhum tipo
de vínculo empregatício com nenhuma empresa, os quais oferecem seus serviços e muitos
moradores aceitam pagar-lhes mensalmente. Alguns moradores têm o hábito de ficar atentos
às pessoas estranhas próximo as suas casas. Ao entrarem e saírem de casa, observam,
cuidadosamente, se há algum veículo estranho próximo, ou algo incomum e, então, evitam
entrar ou sair até que a situação se normalize. A AMOCISA pretende implantar um projeto de
segurança comunitária que funcionará com 3 (três) motociclistas diuturnamente com celulares
118
e hand talks cada um, e também câmeras de monitoramento em, inicialmente, 42 (quarenta e
duas) ruas do bairro a título de experiência.
Os gestores públicos apontaram diversas estratégias para minimizar a possibilidade de
vitimização. De modo geral, todos destacaram a necessidade de uma atenção redobrada ao
estar nas ruas, praças, estacionamentos, enfim, em lugares abertos. Sempre redobrar a atenção
ao perceber a aproximação de uma motocicleta ou bicicleta e se antecipar a uma suposta ação,
saindo desse local ou se abrigando atrás de muros ou carros próximos, mas sem que os
prováveis criminosos vejam. Ainda quando estiverem, nesses locais abertos, não se deve
utilizar celular de espécie alguma, correntes, brincos, pulseiras, ou anéis de ouro, jóias; de
maneira geral, todos esses elementos chamam muito a atençãodos criminosos devido à
facilidade de vender rapidamente. É importante destacar que os criminosos sempre procuram
atacar as pessoas menos atentas, descuidadas. Esse mesma postura deve ser adotada ao andar
de ônibus e também não andar com vultosas somas de dinheiro, apenas o suficiente para a
passagem. O dinheiro da passagem deve estar separado antes de entrar no ônibus.. Ao
caminhar nesses locais, deve-se usar o meio da calçada e no sentido contrário ao trânsito para
que seja possível perceber qualquer aproximação de veículos. Evitar o uso de dinheiro é uma
medida importante; recomenda-se o uso do cartão. Não pedir orientações a estranhos. Não
andar sozinho à noite nas ruas. Evitar passar por locais sem iluminação, ermos, becos, vielas,
terrenos ou construções. Não parar para atender pedido de estranhos. Manter seus pertences
sempre à frente do corpo. Desconfiar de pequenos grupos aglomerados, não passar próximo a
eles e, ao passar, manter a atenção. Procurar conhecer os policiais do seu bairro e onde há uma
unidade policial.
Quando no trânsito, dirigindo ou como passageiro, é preciso manter as janelas
fechadas se for possível; caso contrário, deve-se evitar todo e qualquer elemento que possa
chamar a atenção dos bandidos. Não manter notebooks, tablets, smartphones, bolsas,
mochilas, maletas ou pastas sobre qualquer um dos bancos; esses objetos devem estar no
porta-luvas, ou embaixo do banco ou dentro do porta-malas, fora da visão de alguém que
esteja fora do carro. Ao se aproximar de um semáforo que está fechado e não tenha outros
veículos, deve-se diminuir a velocidade esperando que o semáforo abra, caso não seja
possível pare bem antes dele em um local que não tenha próximo nada que possa servir de
esconderijo. Ao chegar ou sair de casa, é necessária toda a atenção, observar a rua, se há
119
alguma coisa ou pessoa estranha, se há veículos desconhecidos parados próximos à sua casa.
Caso haja, não se aproximar da casa. Dar voltas no quarteirão e aguardar; ao tentar
novamente, se a situação estranha se mantiver, chamar a polícia através do 190. Passar todas
as informações e detalhes possíveis. Ao entrar ou sair de casa, essa manobra deve ser feita
com rapidez, como também a abertura e o fechamento do portão devem ser rápidos. Não
permanecer dentro do carro do lado de fora da casa, na rua em hipótese alguma. Caso queira
desembarcar algum volume, faça dentro de casa, na garagem. Ao deixar alguém em casa, não
ficar conversando com essa pessoa dentro do carro do lado de fora da casa; caso precise
conversar, entre na casa.
Uma estratégia que tem sido utilizada pelas pessoas é a criação de grupos de whatsapp
entre vizinhos para troca de informações sobre o que acontece na rua. Assim, quando há algo
estranho, a primeira pessoa que percebe passa a informação, imediatamente, para o grupo e,
com isso, todos ficam atentos; inclusive quem está saindo ou chegando em casa. A postura de
vigilância e de atenção para com a situação ou pessoa estranha pode inibir a ação criminosa.
Essa vigilância deve ser feita com segurança, mas não muito discreta; é necessário que o
estranho perceba que está sendo vigiado. Esses mesmos grupos podem ser criados em
diversas outras situações, por exemplo entre estudantes de uma escola cujos caminhos de
acesso podem oferecer risco de uma ação criminosa. Desse modo, o primeiro estudante que
perceber algo ou alguém estranho em um determinado caminho imediatamente informa para o
grupo que deverá evitar esse caminho.
Quando for necessário utilizar o banco, deve-se evitar o saque de somas vultosas. O
uso da internet, atualmente, é mais seguro para fazer movimentações bancárias. Sempre
utilizar os caixas eletrônicos que estão localizados em lugares de grande movimentação e, ao
utilizá-los, ficar atento a qualquer comportamento anormal de pessoas próximas. Por
exemplo, uma pessoa que está próxima do caixa eletrônico, mas não faz uso dele apenas
observa as pessoas que o utilizam ou um caixa eletrônico que não tem ninguém utilizando,
mas há uma pessoa próxima nesse caso não deve ser utilizado. Deve-se aguardar a saída da
pessoa ou procurar outro equipamento. Em estacionamentos, ao se aproximar do seu veículo,
observar se há alguém próximo encostado em outro veículo, ou que começou a andar ao
observar o desacionamento do alarme. Nesse caso, deve afastar-se, imediatamente, e, se
possível, pedir ajuda a algum vigilante caso haja.
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Por fim, em caso de assalto, manter a calma, não fazer gestos rápidos, responder,
somente, ao que lhe for perguntado, ou informar ao criminoso sobre qualquer movimento que
precise fazer, não discutir, entregar o que ele pedir, não fazer brincadeiras, não o encarar e
principalmente, nunca reagir, o que pode ser fatal.
Quanto aos gestores, esses admitem que, de fato, houve um aumento da criminalidade
em Natal nos últimos anos. Atribuem o fato à crise econômica que gerou desemprego o que
acaba levando algumas pessoas ao crime. Esforços têm sido feitos, no entanto não têm surtido
o efeito desejado. Isso tem levado à população a viver assustada e insegura. Para o
Comandante da Guarda Municipal, os gestores não conseguem perceber a dimensão do
problema da criminalidade em Natal, e isso resulta em baixos investimentos e,
consequentemente, equipamentos de baixa qualidade e obsoletos, que não fazem frente aos
criminosos. Outro fator importante é a questão salarial; os policiais ganham salários bastante
aquém de suas necessidades. As ações policiais são pontuais e espaças e são realizadas apenas
para dar a impressão de que estão se esforçando para coibir a criminalidade. Um programa,
implantado pelo Governo do Estado em um determinado bairro como um projeto piloto, está
sendo levado a efeito com a retirada de policiais e viaturas de outros locais que ficam
desguarnecidos.
Concluindo, a sociedade civil não dispõe de um serviço de segurança pública
minimamente adequado para o nível de criminalidade existente na cidade. A população sente-
se insegura, assustada, abandonada e enclausurada nas suas residências, prejudicando, assim,
a sociabilidade. Além disso, há as somatizações provocadas pelo medo do crime. Há diversas
orientações e estratégias que podem e devem ser adotadas para que as pessoas evitem ou, pelo
menos, minimizem a possibilidade de ser vítima de um criminoso. 
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134
APÊNDICE
Roteiro de entrevista com gestores de Segurança Pública
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS
ORIENTADOR: PROF. DR. FERNANDO MANUEL ROCHA DA CRUZ
ORIENTANDO: DALTON LUÍS BATISTA PAULO DOS SANTOS
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PARA PESQUISA ACADÊMICA
Encontro-me a fazer Mestrado em Estudos Urbanos e Regionais no Departamento de Políticas
Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A presente entrevista é relevante
para minha dissertação e objetiva identificar quais as estratégias de gestão do medo da
criminalidade urbana prescritas pelos gestores de segurança pública, como também sua
compreensão sobre essa questão. Os dados levantados nessa entrevista poderão serutilizados
na elaboração da dissertação, com exceção das informações para as quais me peça
expressamente confidencialidade. Gostaria também de solicitar autorização para gravar esta
entrevista.
1. Qual a sua opinião, como gestor de segurança pública, em relação à criminalidade na
cidade de Natal?
2. Qual a sua opinião, como gestor de segurança pública, em relação ao serviço prestado pelo
Estado nessa área?
3. Como o cidadão deve se comportar para evitar ser vítima de crimes?
4. O cidadão deve ter medo da criminalidade?
5. Na qualidade de gestor da segurança pública, quais as diretrizes básicas que norteiam seu
trabalho? 
135
Roteiro de entrevistas com representantes de entidades da Sociedade Civil
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS
ORIENTADOR: PROF. DR. FERNANDO MANUEL ROCHA DA CRUZ
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PARA PESQUISA ACADÊMICA
Encontro-me a fazer Mestrado em Estudos Urbanos e Regionais no Departamento de Políticas
Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A presente entrevista é relevante
para minha dissertação e objetiva identificar quais as estratégias de gestão do medo da
criminalidade urbana utilizadas pelos moradores de Natal e mais especificamente dessa
entidade. Os dados levantados nessa entrevista poderão ser utilizados na elaboração da
dissertação, com exceção das informações para as quais me peça expressamente
confidencialidade. Gostaria também de solicitar autorização para gravar esta entrevista.
1. Qual a sua opinião, como representante de um determinado grupo, em relação à
criminalidade na cidade de Natal?
2. Qual a sua opinião, como representante de um determinado grupo, em relação à segurança
pública provida pelo Estado?
3. Seus representados têm sido vítimas de crimes como o roubo?
4. Quais as estratégias utilizadas por seus representados para minimizar a possibilidade de ser
vítima do crime?
136

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